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PESQUISA VALIDA Ç ÃO DO PROCESSO DE ESTERILI Ç ÃO DE ARTIGOS MÉ DICO-HOSPITALARE S SEGUNDO DIFERENTES EMBALAGENS VAlIDATION OF THE STER l lIZATION PROCESS OF MEDICAL AN O H OSPITAL DEVICES ACCORDING TO DIFFER ENT PACKAGING TYPES VALlDACIÓN DEl PROCESO D E EST ERILlZACIÓN D E ARTíCULOS MÉDICO-H OSPITALARE S SEGÚN DIF ER ENTES EMBAlAJES Maria de Fátima Paiva Br it01 Cristina Maria Galvã02 Lucilena Franço l in 3 Carmem Silvia Gabriel Rolta 4 RESUMO: A segurança do processamento dos artigos médico-hospitalares, nas instituições de saúde, é uma importa nte medida de controle de infecção hospitalar. A presente investigação teve como objetivo estabelecer o prazo de validade de artigos médico-hospitalares processados por meio de esterilização por vapor saturado sob pressão, utilizando diferen tes tipos de embalagens, em um hospital privado. O procedimento metodológico constou de quatro etapas, a saber: prep aro dos artigos , avaliação do funcionamento do autoclave, ciclo de esterilização e testes microbiológicos. Os resulta dos evidenciaram crescimento bacteriano nos artigos embalados com papel grau cirúrgico sem filme e com filme a partir do 21°dia, papel crepado no 90° dia e ausência de crescimento utilizando a embalagem de tecido de algodão cru. Frente aos resultados, estabeleceu-se na instituição investigada o prazo de validade de esterilização por vapor saturado sob pressão de 21 dias independente das embalagens utilizadas, avaliando também as condições de armazenamento. PALVARAS-CHAVE: enfermagem, esterilização , infecção hospitalar ABSTRACT: Safety in the processing of medical and hospita l devices in healthcare organizations is an important measure of nosocomial infectio n control. This investigation aimed at estab lishing the period during whic h it is safe to use medical and hospital artic les processed through sterilization by saturated steam un der pressure using different types of packagi ng at a private hospital. T he met hodological procedure consisted of four phases: preparation of articles, evaluation of autocl ave functioning, sterilization cycle and microbiological tests. Results showed bacterial growth on a rticles packed in su rg l cal grade paper with and without film on the 21 sI day, in crepe paper on the 90th day and absence of growth when raw cot ton packaging was used. ln face of the resu lts, a 21-day period was estab lished for t he use of articles after sterilization by saturated steam under pressure regardless ofthe type of packaging utilized, considering that storage conditions were El lso evalu ated. KEYWORDS: nursi ng, sterilizatio n, cross infection RESUMEN: La seguridad de i procesam iento y esterilización de los artículos médico-hospita lares, en las institucione s de salud es una importante medi da de control de infección hospitalar. La presente investigación tuvo como objetivo establ ec er el plazo de validad de art iculos méd ico-hospitalares procesados por me dio de esterilización por humo saturado sob pres ión, utilizando difere ntes tipos de embalajes, en un hospital privado. EI procedimiento metodológico constó de cuatro eta pas: preparación de los artícu los, evaluación de i func ionamiento de autoclave, ciclo de esterilización y testes microbiológi cos. Los resultados evidenciaron crecimiento bacteriano en los articulos emba lados con pape l grado quirúrgico sin pe lícu la y con película a partir del 21 ° dia, p apel crepado en e1 90° y ausencia de crecimiento utilizando en emba laje de algodón. Fre nte a los resultados, fue establecido en la institución investigada el p lazo de validad de esteri lización por humo saturado sob presión de 21 dias independiente de las embalajes utilizadas, evaluando también las condiciones de almacenamie nto. PALABRAS CLAVE: enfermería, esterelización, infección hospitalar Recebido em 20/02/2 0 02 Aprovado em 1 9/08/2 0 02 1 Enfermeira encarregada do Centro Cirúrgico, CME e Recuperação do Hospital e Maternidade São Lucas de Rib eirão Preto(SP). Enfermeira Especialista em Centro Cirúrgico, CME e Recuperação pela SOB ECC, Administração Hospitalar e S aúde Pública. 2 Professor Doutor da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem. 3 Enfermeira encarregada do SCIH do Hospital e Maternidade São Lucas de Ribeirão Preto(SP). Docente da Disciplin a de Centro Cirúrgico, CME e Recuperação do Centro Universitário Barão de Mauá de Ribeirão Preto(SP) Enfermeira Especialista em Enfermagem do Trabalho. 4 Diretora do Serviço de Enfermagem do Hospital e Matern idade São Lucas de R ibe irão Preto(SP). Mestre em Enfermagem pela EERP-USP. Doutoranda em Administração Hospitalar pela FSP-USP(SP). 414 Rev. Bras . Enferm ., Brasília, v. 55 , n. 4, p . 414-419, jul./ago . 2002

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PESQU ISA

VALIDAÇÃO DO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO DE ARTIGOS M ÉDICO-HOSPITALARES SEGUNDO DIFERENTES EMBALAGENS

VAl I DATION O F T H E STE R l l IZATION P ROCESS OF M E D I CAL AN O HOSPITAL DEVI CES ACCORD I N G TO D I FFERENT PACKAG I N G TYPES

VAL l DAC IÓN DEl PROCESO D E ESTE R I L lZAC IÓN D E ARTíCU LOS M É D I CO-HOSP ITALARES S E G Ú N D I F E RE NTES E M BAlAJ ES

Maria de Fátima Paiva Brit01 Cristina Maria Galvã02

Luci lena Françol in3 Carmem Si lvia Gabriel Rolta4

RESUMO: A segu rança do processamento dos a rt igos médico-hospita lares , nas institu ições de saúde, é uma importante medida de controle de i nfecção hospita lar. A presente i nvestigação teve como objetivo estabelecer o prazo de va l idade de a rt igos médico-hospita lares processados por meio de esteri l ização por vapor satu rado sob pressão, ut i l izando diferen tes t ipos de embalagens , em um hospita l privado . O proced imento metodológico constou de q uatro etapas, a saber: preparo dos art igos , ava l iação do func ionamento do autoclave , ciclo de ester i l ização e testes m icrobio lóg icos . Os resu ltados evidenciaram crescimento bacteriano nos a rt igos embalados com papel grau ci rú rg ico sem fi lme e com fi lme a part ir do 2 1 °d ia , papel crepado no 90° d ia e ausência de crescimento ut i l izando a embalagem de tecido de algodão cru . Frente aos resu ltados, estabeleceu-se na i nstitu ição investigada o prazo de va l idade de ester i l ização por vapor saturado sob pressão de 21 d ias i ndependente das embalagens ut i l izadas , ava l iando também as cond ições de armazenamento. PALVARAS-CHAVE: enfermagem, esteri l ização, infecção hospita lar

ABSTRACT: Safety in the process ing of medical and hospital devices i n healthcare organ izat ions is an important measure of nosocomial i nfection contro l . Th is investigation a imed at establ ish ing the period d u ring which it is safe to use medical and hospital art icles processed th rough steri l ization by saturated steam under pressure using d ifferent types of packaging at a private hospita l . The methodological procedu re cons isted of fou r phases: preparat ion of a rt ic les, eva luation of autoclave function ing , ster i l ization cycle and m icrobiolog ical tests . Resu lts showed bacterial g rowth on art icles packed in surg lcal g rade paper with and without fi lm on the 21 sI day, in crepe paper on the 90th day and absence of g rowth when raw cotton packaging was used . ln face of the results , a 2 1 -day period was estab l ished for the use of a rt icles after steri l izat ion by satu rated steam under pressure regard less of the type of packaging ut i l ized , consider ing that storage cond it ions were El lso evaluated . KEYWORDS: nu rs i ng , steri l ization , cross i nfect ion

RESU MEN : La segu ridad dei procesam iento y esteri l ización de los art ículos médico-hospitalares , en las instituciones de salud es una importante medida de control de infección hospitalar. La presente i nvestigación tuvo como objetivo establecer el plazo de val idad de articulos médico-hospitalares procesados por medio de esteri l ización por humo saturado sob pres ión , ut i l izando d iferentes t ipos de embalajes , en un hospita l privado . EI proced i m iento metodológ ico constó de cuatro etapas: preparación de los art ícu los , eva luación dei funcionamiento de autoclave , c ic lo de esteri l ización y testes microbiológicos. Los resu ltados evidenciaron crecimiento bacteriano en los articulos embalados con papel g rado qu i rúrgico s in pel ícula y con pel ícula a part i r del 2 1 ° d ia , papel crepado en e1 90° y ausencia de crecimiento ut i l izando en embalaje de algodón. Frente a los resu ltados, fue establecido en la i nst i tución i nvestigada el plazo de val idad de ester i l ización por humo saturado sob presión de 21 d ias independ iente de las embalajes ut i l izadas, evaluando también las cond ic iones de almacenamiento . PALABRAS CLAVE: enfermería , esterel ización , infección hospitalar

Recebido em 20/02/2002 Aprovado em 1 9/08/2002

1 Enfermeira encarregada do Centro C i rú rgico, CME e Recuperação do Hospital e M atern idade São Lucas de Ribeirão Preto(SP) . Enferme i ra Espec ia l ista em Centro C i rú rg ico, CME e Recu peração pela SOBECC, Ad m in istração Hospita lar e Saúde Púb l ica .

2 Professor Doutor da Escola d e Enfermagem de Ribe i rão Preto da U n ivers idade d e São Pau lo , Centro Colaborador da OMS para o d esenvolvimento da pesqu isa em enfermagem.

3 Enferme i ra encarregada do S C I H do Hospital e Matern idade São Lucas d e R ibe i rão Preto(SP) . Docente da Discip l i na de Centro Cirúrg ico , CME e Recuperação do Centro U n iversitário Barão de Mauá de R ibe i rão P reto(SP) Enferme i ra Especia l ista em Enfermagem do Traba lho .

4 Diretora do Serviço de Enfermagem do Hospital e Matern idade São Lucas de Ribe i rão P reto(SP) . Mestre em Enfermagem pela EERP-USP. Doutoranda em Ad min istração Hospita lar pela FSP-USP(SP) .

4 1 4 Rev. B ras . Enferm . , Bras í l i a , v. 55, n . 4 , p . 4 1 4-4 1 9 , j u l ./ago. 2002

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INTRODUÇÃO

A p reocu pação c o m o m ater i a l u t i l i zado e m procedimentos invasivos e com o ambiente , surgiu e m meados do sécu lo XIX na chamada era bacterio lóg ica . A part ir de então mu ito se evo lu iu em relação à esteri l ização desde que Joseph L i ster , o pa i d a moderna c i ru rg i a , d i m i n u i u a morta l idade dos seus pacientes tratando fios de sutura e compressas com solução de fenol . A fervu ra prolongada foi ut i l izada roti neiramente em mater ia is e rou pas até que ficou demonstrado em 1 880 q u e os m icrorgan ismos estavam res istentes e percebeu-se a necess idade de e levar a temperatu ra acima de 1 000e (GRAZIANO; S I LVA;B IANeH I , 2000).

Atualmente, sabe-se que para a escolha mais segura e econômica do método de esteri l ização a ser ut i l izado é m u ito i m portante a c lass i f icação dos a rt igos méd ico­hospita l ares , l evando-se e m conta o r isco potenc ia l de transmissão de infecção para o paciente .

A uti l ização do vapor saturado sob pressão por meio de autociaves , como p rocesso de esteri l ização , é hoje co ns i de rado o méto d o de m a i o r s e g u ra n ça , pois os microrgan ismos são destru ídos pe la ação combinada de te m p e rat u ra , p re s s ã o e u m i d a d e , p ro m ov e n d o a termocoagu lação e desnaturação das prote ínas de sua estrutu ra genética cel u la r (P I NTER; GABR I ELLO N I , 2000) .

O vapor saturado sob pressão dentro da câmara das autoclaves c ircu la por cond ução, penetrando através de objetos porosos, como os invólucros que envolvem os pacotes (PI NTER; GABRI ELLON I , 2000) .

Para Rodrigues (2000) , o vapor saturado sob pressão é o meio de esteri l ização mais comumente usado para todos os a rtigos termorresistentes .

Moura ( 1 996) ressalta q u e quando ut i l izamos o método de esteri l i zação em autociaves devemos levar em consideração o ca lor e a u m idade , temperatu ra e pressão , qua l idade do vapor e tempo de esteri l ização .

A seleção de embalagens para o acondicionamento dos art igos méd ico- hospi ta lares merece atenção especial e devemos cons idera r que o processamento ocorre dentro de uma sequência de etapas até o momento do uso , sendo necessár io cu idados em todas as etapas para evita r a contaminação (P I NTER; GABRI ELLON I , 2000) .

A Associat ion of Operating Room N u rses (AORN , 2000) , recomenda que o sistema de embalagem deve permitir a esteri l ização, manter a ester i l i dade do conteúdo até a abertura do pacote e poss ib i l i ta r a entrega do conteúdo sem contaminá-lo .

Para a AORN (2000) , as embalagens uti l izadas para esteri l ização devem apresentar as segu intes características:

- ser apropriada para o (s) a rt igo (s) e método de ester i l ização;

- prover i nteg ridade adequada de selagem e ser a prova de violação;

- prover barre ira adequada ; - permit ir a adequada remoção do a r; - p roteger o conteúdo do pacote de danos fís icos; - res ist i r a rasgos e perfu rações ; - ter uma relação custo/benefício positiva . Segundo Pinter e Gabriel loni (2000) , as embalagens

recomendadas para ester i l ização por vapor saturado sob

BR ITO , M . de F. P. et a I .

pressão são as seg u intes : - tecido de a l godão cru - d u plo , sem goma , devem

ser man t i das à temperatu ra a m b i ente ( 1 8 a 22 ° e ) , permanecer em u m a u m idade relativa d e 3 5 a 70%. As embalagens de tecido devem ter s ido lavadas recentemente antes do uso . A reesteri l ização sem a lavagem do tecido pode leva r ao superaquecimento e ser um obstáculo para alcançar a esteri l ização . Reparos na embalagem nunca devem ser est icados nem tão pouco costu rados, pois a costu ra cria buracos permanentes reduzindo a eficiência da barreira ;

- papéis - o uso como embalagem para esteri l ização é tão ant igo quanto o tecido de a lgodão cru . Os papéis recomendados podem ser d ivid idos em :

- papel g ra u cirú rg ico - normatizado pela NBR 1 2 946 d a ABNT, d eve ser res i stente ao ca lor, tração e perfu ração , não podendo conter amido e corantes , deve ser permeável ao calor e ao ETO ( óxido de eti leno ) . Ele pode apresentar-se com d uas faces de papel ou uma face de papel e outra com fi lme transparente;

- papel Kraft - d eve ser de superfície regu lar, não podendo apresentar furos . Devido a irregularidade deste papel e a p re s e n ç a d e a m i d o , e s te t i p o de e m b a l a g e m provavelmente venha a ser substitu ído;

- papel crepado - é composto de celu lose tratada , suportando temperatu ras de até 1 500 e e em cond ições de expos ição d e uma ho ra . Apresenta-se como princ ipa l alternativa ao tecido de a lgodão;

- caixas metá l icas - ut i l izadas na ester i l ização à vapor, somente sem tampas ou perfuradas e recobertas com embalagens permeáveis ao vapor;

- não tecido de 1 00% pol i prop i leno - (manta de p o l i p ro p i l e n o ) u s a d a e m ca m a d a d u p l a a p re s e n ta propriedades de barrei ra microbiana .

A escolha da embalagem apropriada para cada artigo deve contemp lar as recomendações da AORN (2000) e as característ icas da cada serviço de esteri l ização.

Para obtermos u m produto fi na l de qua l idade o p rocesso d e ester i l i zação d e ve se r constante m ente monitorado em todas as suas etapas por meio de indicadores q u ím icos e b io lóg icos . As pr inci pa is ferramentas uti l izadas para va l idação do p rocesso d e esteri l ização sob vapor saturado são: mon itoramento dos parâmetros da câmara por meio do teste de Bowie e Dick, ind icador biológico, no mínimo semanal e ut i l ização de i nd icadores qu ím icos.

Após a va l i dação do processo de esteri l ização , questiona-se até q uando estes pacotes independentes das emba lagens ut i l i zadas permanecem estére is para uso , pr inci pa lmente em p roced imentos i nvasivos , garantindo a segu rança para o pac iente e equ i pe mu lt iprofiss iona l .A l iteratu ra é controversa em relação aos prazos de va l idade do método d e ester i l ização em q uestão .

A Secretaria de Estado da Saúde (SÃO PAULO , 1 994) recomenda o prazo d e sete d ias de va l idade para os a rt igos ester i l izados por me io de processo físico , devido à d ificu ldade que a lgumas institu ições têm em real izar estudos microbiológ icos específicos .

Segundo a AORN (2000) , a va l idade é relativa pois depende da q ua l idade do materia l , da embalagem, data de este ri l i zaçã o , cond i ções d e estocagem , tra n sporte e manuse io , essas cond ições devem ser aval iadas antes de

Rev. B ras. Enferm . , Bras í l i a , v . 55 , n . 4 , p. 4 1 4-4 1 9 , j u l ./ago. 2002 4 1 5

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Val idação do processo de esteri l ização . . .

serem co locadas e m prática . De acordo com a Associação Pau l i sta de Estudo e

Controle de Infecção Hospi ta lar (APEC I H , 1 998) , o t ipo de invólucro ut i l izado é o pr inc ipal fato r que determina o tempo du rante o qual artigos estocados mantém a esteri l i dade , ressalta que teoricamente u m art igo esteri l izado deveria manter-se estéri l até que um fator externo contribu ísse para sua recontaminação , independente do método ut i l izado.

A AORN (2000) , aponta i númeras variáveis que podem estar l igadas à questão da va l idade da esteri l i zação sendo elas: t ipo e configu ração da embalagem uti l izada ; número de vezes que o pacote foi manuseado antes do uso; número de pessoas que podem ter man ipu lado o pacote ; estocagem em prate le i ras abertas ou fechadas; cond ições da área de estocagem ; uso de capas de proteção e método de selagem .

Para Padoveze (2000) , a questão do tempo pelo qual os artigos esteri l izados podem permanecer estocados é um componente econômico de grande importância, pois menores prazos imp l icam maiores custos , re lacionados ao consumo dos invólucros , fitas adesivas , fitas i nd icadoras do processo de esteri l ização, mão de obra , embalagem e contro le dos artigos, consumo do equ i pamento ester i l izador e desgaste do art igo processado , entre outros aspectos .

Para Salzano , S i lva e Watanabe ( 1 990, p . 1 03) o Centro de Materia l e Esteri l i zação (CM E) "é a un idade que responde pelo preparo , d istribu ição e controle dos materia is hospitalares e que tem por fina l idade assegurar a quantidade e a qua l idade necessárias a todo o hospita l , para que os pacientes possam ser ass ist idos com seg u rança" . Os au to res acresce n tam q u e com pete ao e nfe rm e i ro o gerenciamento desta un idade, o qua l deve buscar estratégias para a melhoria do controle dos artigos médico-hospita lares, "com a final idade de faci l itar a rea l ização dos procedimentos necessários com a máxima segu rança e qua l idade para o cl iente" .

A segurança do processamento dos artigos méd ico­hospita lares é uma i mportante med ida de contro le de infecção hospitalar. A infecção hospitalar é um grave problema de saúde públ ica , devido a sua com plexidade e imp l icações sociais e econômicas. Assim o conhecimento dos d iferentes fatores de risco na transmissão de i nfecção, das d ificu ldades de processamento dos a rtigos e l im itações ori u ndas dos métodos de ester i l ização e des i nfecção são aspectos de re levada importância para a e laboração de medidas de cont ro l e p e l o e n fe r m e i ro do C M E q u e d i m i n u e m a possib i l idade de i nfecção hospita la r.

F rente ao exposto e d i a nte d a s d ivergênc ias encontradas na l iteratura em relação à determinação do prazo de val idade de esteri l ização dos artigos médico-hospitalares e entendendo que a adoção de medidas fundamentadas em resu ltados de pesqu i sa e na rea l idade de cada institu ição pode m in imizar custos, otimizar os recu rsos humanos e pri nci palmente contri bu i r para a me lhoria da qua l idade da assistência da enfermagem prestada ao paciente/cl iente, a presente investigação tem como objetivo estabelecer o prazo de val idade de esteri l i zação de a rt igos processados em autoclave a vapor satu rado sob pressão, segundo diferentes emba lagens , ut i l i zad a s em u m Cen tro de Mater i a l e Esteri l ização de um hospital privado do mun icípio de Ribeirão Preto(SP) .

PROCEDIMENTO M ETODOLÓGICO

A maioria dos pesqu isadores atua no hospital onde o presente estudo foi conduzido. O desenvolvimento da i n v e st i g a çã o o c o rre u a p a rt i r da n e ce s s i d a d e d e imp lementação de normas fundamentadas e m resu ltados de pesq u isa . Assim , a pós aprovação da d i reção do hospital procedeu-se a coleta dos dados.

Para defin i rmos o prazo de val idade de esteri l ização, selecionamos as embalagens: papel grau ci rúrg ico com fi lme, papel g rau c irúrg ico sem fi lme , papel crepado , tecido de a lgodão cru e os segu intes materia is : gazes e agu lhas de sutura , conforme apresentado na tabela 1 .

Tabela 1 - Distribu ição dos a rtigos médico-hospitalares e em­balagens ut i l izadas. R ibe i rão Preto-SP, 200 1

Embalagem Papel grau ciriKgl(�o Papd grau Papel O"epa<X> Algodão C:f\1 com filme ( 15 x 15 cm ) clrúrgioo sem f�me (9 x 9 0T1) ( 1 2 )( 12 ,.m)

Artigo (9 x 9 an) TOT/-J.. módiCXl hospdaJar

Gaze 33 33 33 33 1 32

Agulha de 33 33 33 33 1 32 sutura

TOTAL 66 66 66 66 264

Em u m mesmo d ia foram preparados 264 pacotes , com as embalagens já citadas , contendo gazes e agu lhas de sutura . Cada pacote d e gaze conti nha 1 0 un idades e cada pacote de agu lha continha 2 u n idades.

Em relação às embalagens de a lgodão cru : os campos mediam 40 x 40cm , eram novos e foram lavados na véspera do preparo dos pacotes . Os pacotes foram preparados com embalagens duplas e os mesmos foram identificados como: frente, meio e fu ndo (Tabela 2) .

Tabela 2- D istribu ição dos a rt igos médico - hospita lares e respectivas embalagens segundo o posiciona­mento dentro da câmara da autoclave. Ribeirão Preto-SP, 200 1

� P;:1pel grau Papel grau Papel grau Papel 9fall Pape Papel algodão algcxlào cru T",,"

lenal cirufglC.o d cirurgico rJ clrúrgico sJ cirúrgic:o sJ crop3ÓO crepaôo com agulha: filma com lilme c:om filme com filrnecom com gazes c= corng.'lZ6S

Posiçoo gales agulhas gazes agulhas agulhas Iln d!lm,"lf;J

Frente 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 8 8

Meio 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 88

Fundo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 88

Total 33 33 33 33 33 33 33 33 264

Após O preparo dos pacotes , efetuamos u ma aval iação do funcionamento do autoclave , com os seguintes testes:

- rea l izou-se uma carga com teste Bowie & Dick conforme precon izado na l iteratura ;

- executou-se uma carga com três pacotes grandes med indo 42 cm de cumprimento por 1 7 cm de altura e 23 cm de largu ra , com ind icadores q u ímicos;

- efetuou - se uma carga com três pacotes grandes med indo 42 cm de cumpri mento por 1 7 cm de altura e 23

4 1 6 Rev. B ras. Enferm . , Bras i l i a , v. 55, n . 4, p. 4 1 4-4 1 9 , j u l .lago. 2002

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cm de la rgu ra , com ind icadores b io lóg icos . O s res u l t a d o s d o s t e s t e s re a l i z a d o s fo r a m

satisfatórios e a part ir d a í , colocamos a carga com o s pacotes prev iamente preparados , d i st ri bu ídos no autoclave nos espaços frente , meio e fundo , sendo a carga mon itorizada o tempo todo por u m membro d a equ ipe de enfermagem previamente escalado.

O c ic lo rea l izad o fo i d e 30 m i nutos (tempo de ester i l ização)e após o término deste foram encam inhados 24 pacotes, sendo u m de cada t ipo de emba lagem (gaze e agulha), para o laboratório de microbiologia para cultura , sendo considerado como d ia zero de ester i l ização . Para maior controle elaborou-se uma tabela para acompanhamento dos resu l tados pa ra cad a t i po de e m ba lagem , mater i a l e posicionamento dentro da câmara , com os d ias previamente estabelecidos para o env io novamente dos pacotes ao laboratório de microbio log ia .

A segu i r, descreveremos o método ut i l izado para l e i t u ra das cu l t u ras , s a l i en ta n d o q u e os dados fo ra m fornecidos pelo microbio logista responsáve l pelo laboratório do hosp ital i nvestigado:

- procedeu-se a n u meração das p lacas onde os pedaços de gazes e as agu lhas de sutura estére is foram colocados;

- abri u-se cada pacote de gaze com auxí l io de uma tesoura estér i l e flambada , cortou-se um pedaço de gaze e

BR ITO , M . de F. P. et a I .

eo mesmo foi colocado na p laca de petri numerada , sendo fechada rap idamente (esse p roced i mento rea l izou -se com todas as amostras de gazes ) ;

- abriu-se os pacotes contendo agulhas e com auxí l io de uma p inça estéri l , a agu l ha fo i colocada dentro da p laca de petr i , fechou -se ra p i d a mente (esse p roced i m ento executou-se com todas as amostras de agu lhas ) ;

- o ca ldo de BH I ( Bra i n Heart I nfus ion) fo i co locado nas amostras cobri ndo todo o materia l ana l isado , as placas foram fechadas e colocadas na estufa para incubação a uma temperatu ra de 37°C por 24 horas . Após a i ncubação , rea l izou-se a semeadu ra de todos os materia is em agar­sangue;

- o materia l semeado permaneceu na estufa por mais 24 horas à 37 °C;

- l i berou-se o resu ltado após 48 horas de incubação, com ausência de crescimento;

- nos materiais onde ocorreu crescimento, procedeu­se a ident ifi cação e a nt i b iograma , segundo as normas da N C C L S ( N at i o n a l C o m m i ttee fo r C l i n i ca l Laboratory Standards ) .

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seg u i r, a p resen tamos tabe las e res u l tados evidenciados na presente investigação.

Tabela 3 - Distri bu ição dos resu ltados dos testes m icrob io lóg icos ut i l izando papel g ra u c i rú rg ico sem fi lme segundo os dias e a rt igos méd ico - hospita lares i nvestigados . R ibe i rão Preto-SP, 200 1

D i a s O 3 5 7 a rt igo Pos i ção a g u l h as F re n te n eg n eg n eg n eg d e M e io n eg n eg n eg n eg sutu ra F u nd o n eg n eg n eg n eg

F re n te n eg n eg n eg n eg Gaze M e io n eg n eg n eg n eg

F u n d o n eg n eg n eg n e g

Podemos observar, na tabela 3 , que na embalagem de papel grau cirú rg ico sem fi lme contendo o a rt igo agu lha , t ivemos uma cultu ra posit iva no 42° . d ia após o método de esteri l i zação na posição frente da câmara e com o a rtigo gaze tivemos três cul turas posit ivas, sendo, uma no 2 1 ° . d ia na posição frente , outra no 28°. d ia também na posição frente e outra no 42°. d ia na posição me io .

Ass im, no papel g rau c irúrg ico sem fi lme t ivemos três cu l tu ras posi t ivas na pos ição frente da a utocl ave , questionamos se ocorreu a lguma fa lha no funcionamento do aparelho ( entrada insufic iente de vapor ) .

E m co n t ra p a rt i d a , s eg u n d o i n fo r m a çõ e s d o laboratório d e microb io log ia a man ipu lação d o pacote de agulhas de sutura é mais d ifíci l , entretanto, t ivemos somente uma cu ltura positiva .

Como encont ramos três cu l tu ra s pos i t ivas , na posição frente , nos pacotes que conti nham gaze e uma cu ltura posit iva , na posição me io , no pacote de agu l has , pode-se concl u i r que o pápe l g ra u ci rú rg ico sem fi lme necess i ta d e m a i ores e st u d o s p a ra u t i l i zação como

1 4 2 1 2 8 3 5 4 2 56 9 0

n eg n eg n eg n eg pos n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg pos pos n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg pos n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg

embalagem de esteri l ização. Podemos inferi r que o fato dele ser pouco ma leável para man ipu lação pode contribu i r para sua recontam inação , po is favorece a abertu ra nas latera is dos pacotes .

O papel g ra u c i rúrg ico com fi lme , apresentou apenas cu l tura posit iva no a rt igo médico - hospita lar gaze , na posição meio da autoclave no 2 1 ° d ia . Consideramos que poderia ter ocorrido contam inação no momento da abertu ra do pacote para aná l ise m icrob io lóg ica , o que foi d iscutido inc lusive com o m icrob io log ista , ou ter havido a lguma fa lha devido as dobras da embalagem interna, pois segundo Cunha et aI . (2000) , "deve-se evitar a uti l ização de embalagem dupla d e pape l g ra u c i rú rg i co e/ou fi l m e p l ást ico , quando a embalagem i nterna for dobrada antes de ser introduzida na embalagem externa , já que as dobras podem formar bolsas de ar e interferi r no processo de esteri l ização" . Recomenda­se ava l iar as cond ições de i ntegridade da selagem quanto à ocorrência de rugas e áreas queimadas; ao real izar a selagem procu rar dar uma margem, no m ín imo , de 3 cm da borda , para permit i r uma abertu ra asséptica .

Rev. Bras. Enferm . , Bras í l i a , v. 55 , n . 4 , p. 4 1 4-4 1 9 , j u l .lago . 2002 4 1 7

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Val idação do processo de esteri l ização . . .

Zanon ( 1 987) recomenda o tempo d e va l idade de esteri l ização em pape l g rau c irúrg ico com fi lme enquanto a embalagem estiver íntegra . SÃO PAU LO ( 1 994) recomenda o prazo de 7 d ias de val idade para todo a rt igo esteri l izado

em processo f ís ico, em d iferentes embalagens; em relação ao papel grau cirúrgico, considera tempo indefin ido, ou seja , estéri l enquanto íntegro.

Tabela 4 - Distribu ição dos resu ltados dos testes microbiológ icos uti l izando papel crepado segundo os dias e artigos mé-d ico - hospita lares i nvestigados . R ibe i rão Preto-SP, 200 1

D i a s O 3 5

a rt igo Pos i ção a g u l h a s F re n te n eg n eg n eg n eg d e M e i o n eg n eg n eg n eg sutu ra F u nd o n eg n eg n eg n eg

Fre n te n eg n eg n eg n eg g aze M e io n eg n eg n e g n eg

F u n d o n eg n eg n eg n eg

Os artigos médico-hospita lares (gaze e agu lhas de sutura) esteri l izados em papel crepado permaneceram estére is por 56 d ias em todas as pos ições, apresentando cu l tura posit iva somente no 90° . d i a , nos pacotes q u e continham gaze n a pos ição meio e fundo da autoclave .

De acordo com APEC I H ( 1 998) , o papel crepado é um tipo de embalagem recentemente desenvolvida a qua l consiste em a lternativa ao tecido de a lgodão , dentre suas características ressa lta-se : res istência a temperatu ras até 1 50°C por 1 hora , pode ser ut i l izada para esteri l ização a vapor saturado e óxido de eti leno , possu i barre i ra efetiva contra a penetração de microrgan ismos , produto atóxico e flexível podendo ser uti l izado para a confecção de aventais e campos cirúrg icos.

Longhi ( 1 997) relata que o algodão cru como barrei ra microbiana possu i o BFE (Bacter ia l F i l trat ion Effic iency) de 34% enquanto o do papel crepado é de 99 ,9% , a autora ressalta a inda , que testes demonstraram que 93% das embalagens de a lgodão estavam contam inadas após 60 d ias e apenas 0 ,4% das de papel crepado .

Os a rt igos méd ico - hospi ta la res (gaze e agu lhas de sutura) este r i l i zados e m tec i d o d e a lgodão cru , permaneceram estéreis por 90 dias em cond ições adequadas de armazenamento. Os tecidos foram lavados na véspera do preparo dos pacotes, eram cam pos novos e duplos .

Segundo Longh i ( 1 997 ) , a l guns aspectos têm d ifi cultado a qua l ificação do tecido de algodão cru como embalagem, a saber : como barre i ra m icrob iana , o BFE (Bacterial F i ltration Effic iency) do campo de a lgodão cru é de apenas 34% , enquanto o papel crepado tem u m BFE de 99,9% ; em relação a repelência ao l íqu ido , o algodão natura l não é tão resistente à àgua , por causa do t ipo de suas fibras ass im , as bactér ias aquosas encontram meio adequado para sua reprodução; fibras quebradas , dev ido as repetidas lavagens e uso, ocas ionando desgastes e fu ros ; testes demonstram que 93% das embalagens de algodão cru , após 60 d ias , estavam contam inados em contraposição a 0 ,4% das de papel crepado.

Long h i ( 1 997 ) ressalta a i n d a , q u e não existe nenhuma norma i nternaciona l para tecido de a lgodão cru e que a Associação Bras i le i ra de N ormas Técn icas (AB NT)

7 1 4 2 1 2 8 3 5 4 2 5 6 90

n eg n eg n eg n eg n eg n eg neg n eg n eg n eg n eg n eg n eg neg n eg n eg n eg n eg n eg n eg neg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg n eg pos n eg n eg n eg n eg n eg n eg pos

também não possu i normatização sobre a ut i l ização deste t ipo de embalagem .

P inter e Gabrie l lon i (2000) afirmam que o a lgodão cru é largamente uti l izado em esteril ização por vapor saturado, entretanto a lguns pontos devem ser observados, tais como:

- lavá-los antes do pr imei ro uso para retirada do amido , que d ificu lta a penetração do vapor;

- observar freqüentemente as cond ições de desgaste e de manutenção da i ntegr idade do tecido e estabelecer, a part i r destes parâ metros , u m a q u a nt idade máxima de reprocessamento por me io de um método de monitorização , contro le e determ inação do tempo de v ida ú t i l do tecido reprocessado , ou seja , até quantas lavagens e esteri l ização cada cam po de tecido a inda mantém a barre ira aceitável ;

- rea l izar testes freqüentes de permeabi l idade com água , comparando o tempo de vazamento a part i r do obtido no pr ime i ro uso. Este teste tem sido fe ito de mane i ra empírica ;

- se r isentos de fu ros e cerzidos, a costura cria bu racos permanentes , red uzindo a eficiência da barre ira ;

- as embalagens de tecido devem ser mantidas à

temperatura ambiente de 1 8 à 22°C e permanecer numa umidade re lativa de 35 à 70%.

Em relação ao p razo de va l idade de esteri l ização por vapor satu rado , tendo o tecido de a lgodão cru , como e m b a l a ge m , Z a n o n ( 1 9 8 7 ) reco m e n d a 3 sema n a s a rmazenado e m p rate l e i ras abertas e 8 semanas e m pratele i ras fechadas; e SÃO PAULO ( 1 994) recomenda 7 d ias .

A APEC I H ( 1 998) afi rma que apesar do tecido de algodão cru ser largamente uti l izado como embalagem para artigos médico-hospitalares, sendo recomendado na l iteratura específica , existem m u itas controvérs ias , pr incipa lmente quanto à d ificu ldade de monitorização do desgaste do tecido, pois as institu ições de saúde não d ispõem de estrutu ra para esse contro le , acarretando gera lmente em prazo de val idade c u rto . Acresc i d a a e s s e a s p e cto , ex i ste a fa l ta d e regu lamentação deste t ipo de embalagem.

Rodrigues (2000 , p .22) desenvolveu sua tese de d o u to r a d o cuj o o bj et i v o fo i "ve r i f i ca r o n ú m e ro d e reprocessamentos q u e a embalagem d e tecido d e algodão

4 1 8 Rev. B ras . Enferm . , Bras í l i a , v. 55, n. 4, p. 4 1 4-4 1 9 , j u l ./ago. 2002

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padron izada pe la A B N T p a ra esteri l i zação , pode ser submetida, mantendo as características orig ina is de barrei ra microb iana" . Frente aos resu ltados evidenciados, a autora conclu iu que o número l im ite de reprocessamento do tecido é de 65 vezes (d im inu ição da g ramatu ra , e lemento que sustenta teoricamente i neficácia da barre i ra m icrob iana do tecido de a lgodão cru ) .

Frente ao exposto e considerando os resu ltados obt idos na presente i nvest i gação , esta be lecemos n a institu ição q u e atuamos o prazo de va l idade de esteri l ização por vapor satu rado sob p ressão de 2 1 d ias , independente das embalagens ut i l izadas, ava l iando também as condições de a rmaze n a m e nto d o s a rt i g o s m é d i co-hosp i ta l a res (prate le i ras abertas , sem cl imatização ambiente e tráfego intenso de pessoa l ) .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A segu rança do processamento dos artigos méd ico­hosp i ta l a re s , nas i n st i t u i ções d e s a ú d e , cons i ste e m importante medida de contro le da infecção hospita lar

Entendemos que a inda existe mu ita controvérsia em re lação ao prazo de va l idade de esteri l ização por vapor saturado sob press ã o . Ass i m , cada i n st i t u i ção d eve estabelecer seu prazo de va l idade com base em pesquisas, não fazendo de uma forma emp í rica ou cóp ia de roti nas de outras inst i tu ições. Comparti l har i nformações em busca da mel horia da qua l idade do atend imento prestado ao cl iente é fundamental Neste estudo , estabelecemos u m prazo de va l idade, dentro da rea l idade da institu ição que trabalhamos podendo ser a lterado de acordo com outros estudos e/ou avanços tecnológicos.

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