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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM Eliany Felipe da Silva Ianni Gabrielly Souza Lopes Karla Daniella de Oliveira Leilane Evangelista de Castro Mireili Pazinato SEPSE E INFECÇÃO HOSPITALAR: uma revisão literária Governador Valadares 2009

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE ENFERMAGEM

Eliany Felipe da Silva

Ianni Gabrielly Souza Lopes

Karla Daniella de Oliveira

Leilane Evangelista de Castro

Mireili Pazinato

SEPSE E INFECÇÃO HOSPITALAR: uma revisão literária

Governador Valadares

2009

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ELIANY FELIPE DA SILVA

IANNI GABRIELLY SOUZA LOPES

KARLA DANIELLA DE OLIVEIRA

LEILANE EVANGELISTA DE CASTRO

MIREILI PAZINATO

SEPSE E INFECÇÃO HOSPITALAR: uma revisão literária

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentado à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce. Orientadora: Mônica Valadares Martins.

Governador Valadares

2009

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Eliany Felipe da Silva

Ianni Gabrielly Souza Lopes

Karla Daniella de Oliveira

Leilane Evangelista de Castro

Mireili Pazinato

SEPSE E INFECÇÃO HOSPITALAR: uma revisão literária

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentado à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, 23 de junho de 2009.

Banca Examinadora:

______________________________________________________

Enfª. Mônica Valadares Martins - Orientadora

Universidade Vale do Rio Doce

______________________________________________________

Enfª. Eliana Maria de Oliveira

Universidade Vale do Rio Doce

______________________________________________________

Enfº. Gilberto Gernoht Laube

Hospital São Lucas de Governador Valadares

______________________________________________________

Enfº. Mauro Lúcio de Oliveira Júnior

Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares

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Dedicamos a Deus pela força nessa longa

caminhada e aos nossos pais pelo incentivo e

apoio na realização desse trabalho,

principalmente pelo investimento e confiança a

nós concedido.

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AGRADECIMENTO

Agradecemos à nossa orientadora Profª. Mônica Valadares Martins pela dedicação,

delicadeza, paciência e conhecimento transmitido.

Aos nossos familiares e esposo pelo incentivo, paciência e compreensão diante de nossas

ausências durante a realização deste.

A todos os professores e colegas que nos ajudaram a superar qualquer angústia e ansiedade,

pois vocês nos impulsionaram a vencer.

A todos que, de alguma forma contribuíram para que este trabalho fosse possível.

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RESUMO

A infecção é caracterizada pela invasão e a multiplicação de microorganismos dentro ou nos tecidos do corpo, no qual produz sinais e sintomas e também uma resposta imunológica, que podem produzir efeitos particularmente devastadores no sistema de assistência à saúde, quando alguns fatores combinados deixarem os pacientes especialmente suscetíveis. A infecção hospitalar é um processo infeccioso adquirido após a internação do paciente e que se manifesta durante a internação ou pelo menos 48 horas após a alta quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. A grande maioria é causada por um desequilíbrio da relação existente entre a microbiota humana normal e os mecanismos de defesa do hospedeiro, podendo ocorrer devido à própria patologia de base do paciente, procedimentos invasivos e alterações da população microbiana, geralmente induzida pelo uso inadequado de antibióticos e, em decorrência disto, o paciente poderá evoluir para sepse. A sepse é uma síndrome complexa causada pela resposta inflamatória sistêmica descontrolada do indivíduo, de origem infecciosa, caracterizada por manifestações múltiplas e que pode determinar disfunção ou falência de um ou mais órgãos ou mesmo a sua morte. A sepse grave e o choque séptico representam os espectros mais graves da síndrome, associados aos sinais de hipoperfusão, disfunção orgânica e hipotensão responsiva ou não a ressuscitação volêmica e, embora as causas básicas e os mecanismos fisiopatológicos dos estados de choque sejam variáveis, o denominador comum na maioria deles é hipoperfusão tecidual, manifestada geralmente por metabolismo anaeróbio e acidose láctica. Representando mais do que diferenças em parâmetros hemodinâmicos, as diferentes formas de choque cursam com desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio aos tecidos, cabendo então aos profissionais da saúde, a identificação o mais precocemente possível desta patologia, para que se possa reduzir ao máximo as taxas de mortalidade decorrentes deste agravo – a sepse. Este estudo de revisão literária ressalta a importância da busca de conhecimentos específicos da sepse e seu diagnóstico precoce para maximizar os resultados, a qualidade do tratamento e a melhor compreensão desse agravo. A relevância deste estudo é apontada pela alta ocorrência de complicações decorrentes da resposta inflamatória causada pela sepse, resultando em comprometimento de órgãos diversos com rápida evolução para o quadro de choque e síndrome da insuficiência de múltiplos órgãos, responsáveis pela alta mortalidade, porém, com considerável probabilidade de prevenção. Visou revelar as descrições encontradas na literatura acerca da sepse, sua ocorrência, evolução clínica, complicações, intervenções terapêuticas e sua adequada direção pela equipe de saúde, utilizando o banco de dados do acervo da biblioteca da Universidade do Vale do Rio Doce, como artigos científicos da BIREME e revistas de enfermagem que retratam esse tema. Considerou a importância que as infecções de corrente sanguínea apresentam dentro do contexto de morbimortalidade e custos em pacientes internados em unidades críticas em todo o mundo, com mortalidade variando entre 25-30%. Palavras-chave: Infecção. Infecção Hospitalar. Sepse. Sepse Grave. Choque Séptico.

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ABSTRACT

The infection is characterized by invasion and multiplication of microorganisms within or in the tissues of the body, which produces signs and symptoms and an immune response, which may have particularly devastating effects on the health care system, when several factors combined leave patients particularly susceptible. A nosocomial infection is an infection acquired after admission the patient and that manifests itself during hospitalization or at least 48 hours after discharge when they can be related to hospitalization or hospital procedures. The vast majority is caused by an imbalance in the relationship between normal human microbiota and the host's defense mechanisms and may occur due to the basic pathology of the patient, invasive procedures and changes in microbial population, usually induced by the inappropriate use of antibiotics and, in result, the patient may progress to sepsis. The sepsis syndrome is a complex systemic inflammatory response caused by the discharge of the individual, of infectious origin, characterized by multiple manifestations and that can determine failure or dysfunction of one or more bodies or even their death. The severe sepsis and septic shock spectra represent the more severe the syndrome, associated with signs of hypoperfusion, organ dysfunction and hypotension or not responsive to volume resuscitation and, although the causes and mechanisms of pathophysiological states of shock are varied, the common denominator most of them is tissue hypoperfusion, manifested mainly by anaerobic metabolism and lactic acidosis. Representing more than differences in hemodynamic parameters, the various forms of shock lead to imbalance between supply and demand of oxygen to tissues, then with health professionals, the early identification of this pathology in order to reduce the mortality rates from this disease - to sepsis. The study of literary review highlights the importance of searching for specific knowledge of sepsis and early diagnosis to maximize the results, the quality of treatment and better understanding this disorder. The relevance of this study is indicated by the high incidence of complications arising from the inflammatory response caused by sepsis, resulting in impairment of many organs with rapid changes to the framework of shock syndrome and the failure of multiple organs, responsible for high mortality, but with considerable probability of prevention. Aimed prove the descriptions found in literature on sepsis and its occurrence, clinical course, complications, therapeutic interventions and adequate direction by the health team, using the database of the library collection of the University of Vale do Rio Doce, and scientific articles BIREME and nursing magazines that portray the theme. Considered the importance of infections of the blood present within the context of morbidity and costs in hospitalized patients in critical units worldwide, with mortality ranging from 25-30%. Keywords: Infection. Hospital Infection. Sepsis. Severe sepsis. Septic shock.

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LISTA DE SIGLAS

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CCIH – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

CIH – Controle de Infecção Hospitalar

CIVD – Coagulação Intravascular Disseminada

EV – Endovenoso

FT – Fator Tissular

GIPEA – Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e Efeitos Adversos

Hb – Hemoglobina

IC – Infecção Comunitária

IGEV – Imunoglobulina Humana Endovenosa

IH – Infecção Hospitalar

IkB – Proteína Inibidora de kappa B

IPCS – Infecção Nosocomial da Corrente Sanguínea

IRA – Infecção Respiratória Aguda

ISC – Infecção do Sítio Cirúrgico

ITU – Infecção do Trato Urinário

LBP – Lipopolissacarídeo - binding protein

LPA – Lesão Pulmonar Aguda

LPS – Lipopolissacarídeos

MODS – Síndrome da Disfunção de Múltiplos Órgãos

MS – Ministério da Saúde

NFkB – Fator Nuclear Citosólico kappa B

NO – Óxido Nítrico

O2 - Oxigênio

OMS – Organização Mundial da Saúde

PAI – Inibidor do Ativador Plasminogênio

PAM – Pressão Arterial Média

PAVM ou PAV – Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica

PCArh – Proteína C Ativada humana recombinante

PCIH – Programa de Controle de Infecção Hospitalar

PCR – Proteína C Reativa

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PEEP – Pressão Positiva Expiratória Final

PGRSS – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde

PVC – Pressão Venosa Central

SARA – Síndrome da Angústia Respiratória Aguda

SCIH – Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

SDRA – Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

SIRS – Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica

SGB - Streptococcus do grupo B

SVCO2 – Saturação Venosa Central de Oxigênio

SVO2 – Saturação Mista de Oxigênio

TFPI – Inibidor da Via Fator Tecidual

TNF – Fator de Necrose Tumoral

TRL – Receptor toll-like

UCISA – Unidade de Controle de Infecção Hospitalar

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UTI – Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................11

2 DESENVOLVIMENTO........................................................................................................14

2.1 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................................14

2.1.1 Definição de Sepse ...........................................................................................................14

2.1.2 Aspectos Epidemiológicos ...............................................................................................16

2.1.3 Etiologia............................................................................................................................19

2.1.4 Fisiopatogenia ..................................................................................................................20

2.1.5 Fatores de risco ................................................................................................................24

2.1.6 Manifestações clínicas .....................................................................................................26

2.1.7 Critérios Diagnósticos/Prognóstico ................................................................................27

2.1.8 Complicações....................................................................................................................28

2.1.9 Tratamento.......................................................................................................................30

2.1.9.1 Terapia Combinada.........................................................................................................33

2.1.9.2 Terapêutica Antimicrobiana ...........................................................................................33

2.1.10 Campanha Sobrevivendo à Sepse ................................................................................34

2.1.11 Profilaxia ........................................................................................................................38

2.2 AS INFECÇÕES NOSOCOMIAS.......................................................................................38

2.2.1 Aspectos Históricos da Infecção Hospitalar no Mundo ...............................................38

2.2.2 Aspectos Históricos das Infecções Hospitalares no Brasil ...........................................40

2.2.3 Os Conceitos de Infecção ................................................................................................41

2.2.4 Controle de Infecção Hospitalar ....................................................................................43

2.2.5 Infecções Hospitalares em Grandes Sítios.....................................................................44

2.2.5.1 Infecções do Trato Respiratório .....................................................................................44

2.2.5.2 Infecções do Trato Urinário............................................................................................45

2.2.5.3 Infecções em Sítio Cirúrgico ..........................................................................................46

2.2.5.4 Infecções da Corrente Sangüínea Relacionadas a Dispositivos Intravasculares ............46

2.2.5.5 Infecções Relacionadas a Dispositivos Implantáveis .....................................................48

2.2.6 Infecção Hospitalar e a Sepse .........................................................................................48

2.3 METODOLOGIA.................................................................................................................49

2.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................................51

3 CONCLUSÃO........................................................................................................................53

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REFERÊNCIAS .......................................................................................................................54

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1 INTRODUÇÃO

Sepse é definida como uma resposta inflamatória sistêmica à infecção, associada com

hemocultura positiva, manifestada por duas ou mais das seguintes condições: freqüência

respiratória maior que 20irpm, freqüência cardíaca maior que 90bpm, hipertermia

(temperatura corporal maior ou igual a 38°C) ou hipotermia (temperatura corporal menor ou

igual a 36°C) e leucocitose (contagem global de leucócitos maior que 12.000 células/mm³) ou

leucopenia (contagem global de leucócitos menor que 4.000 células/mm³). Sepse clínica é

considerada quando não há comprovação microbiológica (EGGIMANN, 2001).

Na sepse há uma produção excessiva de mediadores inflamatórios e uma ativação

também excessiva de células inflamatórias. A principal conseqüência desta resposta

inflamatória é o comprometimento de muitos órgãos e o quadro de choque com evolução para

a síndrome da insuficiência de múltiplos órgãos, que é acompanhada de alta mortalidade,

aproximadamente 70% (JUNIOR et al., 1998).

A sepse grave é aquela na qual o quadro de sepse está associado à hipotensão arterial

(pressão sistólica menor que 90mmHg), que pode ser revertida pela administração de fluidos

sem a necessidade de agentes vasopressores (EGGIMANN, 2001).

O choque séptico é definido como sepse relacionada com hipotensão que, apesar da

reposição volêmica necessita de agentes vasoativos (SAKORAFAS et al., 2007).

Nos Estados Unidos, a incidência de sepse grave é de 751.000 casos por ano, que

correspondem a 3 casos por 1000 habitantes e a taxa de mortalidade é de 29,6%. Na Europa,

em 14.364 pacientes admitidos em 28 UTI, 24% das infecções hospitalares nessa clínica

foram correspondentes a sepse grave e 30% ao choque séptico. Lá o tratamento da sepse custa

anualmente 16.7 bilhões de dólares (YU; et al., 2003), enquanto na Europa o total de custos é

superior a 20 bilhões de dólares por ano (ZUEV; KINGSMORE; GESSLER, 2006).

No Brasil, o estudo BASES (Brazilian Sepsis Epidemiological Study) mostrou que

cerca de 25% dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva apresentam critérios

diagnósticos para sepse grave e choque séptico, com as taxas: 34,7% para sepse, 43,7% para

sepse grave e 52,2% para choque séptico (SILVA et al., 2004). As dificuldades resultantes da

inexistência de laboratórios, da baixa qualidade dos existentes e da falta de tradição das

práticas de prevenção e controle nos hospitais, têm um impacto expressivo no tocante às

infecções hospitalares (GONTIJO FILHO, 2002).

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A infecção hospitalar é definida como processo infeccioso adquirido após a internação

do paciente e que se manifesta durante a internação ou pelo menos 48 horas após a alta

quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares, existente há

milhares de anos, basicamente desde a existência dos próprios hospitais, sendo o estudo e

aprimoramento de técnicas assépticas, o uso de materiais estéreis, assim como a adequada

manipulação dos mesmos, fatores contribuintes para amenizar os agravos decorrentes de

infecções e também como comprovante da importância dessa prática (SILVA, 2003).

A infecção hospitalar representa um dos principais problemas de qualidade da

assistência a saúde, um problema econômico devido à importante incidência e letalidade

significativa. A sua ocorrência amplia o prejuízo da instituição, do paciente e da sociedade

como um todo (SILVA, 2003).

O risco de adquirir infecção em um hospital é diretamente proporcional à gravidade da

doença, às condições nutricionais do paciente, aos procedimentos necessários em seu

tratamento, bem como ao tempo de internação. Sua incidência é maior em hospitais

universitários do que em hospitais da comunidade devido a maior gravidade das doenças ou

procedimentos mais complicados que são ali realizados. As internações mais longas e a

interação mais efetiva dos pacientes com vários profissionais de saúde, além de estudantes e

membros da equipe, contribuem para esse aumento (COSENDEY, 2000). Cerca de 250.000

de 2 milhões de infecções hospitalares anuais estão vinculadas a corrente sanguínea, em

decorrência do uso de algum dispositivo vascular, ressalta Oliveira (2005).

Este estudo apresenta a sepse e seu nível de complexidade até a sua forma mais grave

retratado pelo acometimento de um ou múltiplos órgãos por microorganismos afins. Na

atualidade retrata-se a sepse como um agravo responsável por alto número de vítimas devido

aos diversos desencadeadores, tais como pacientes que se enquadram no perfil de

imunodeprimidos, com tempo de internação prolongado ou receptores de procedimentos

invasivos, complexidade da terapêutica e grau de comprometimento do estado de saúde. A

permanência de cateteres e sondas são fortes determinantes para sepse.

Diante de tantas oportunidades a sepse pode se instalar, tornando a terapia mais

complexa, diminuindo as possibilidades de reabilitação do paciente e aumentando os custos

do tratamento. O conhecimento dos fatores predisponentes, sinais clínicos, diagnóstico

precoce e tratamento, constituem critérios de suma importância para lidar com a situação que

exige urgência no tratamento, habilidade na assistência e observação rigorosa da evolução dos

sinais e sintomas.

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Sabe-se que diante da gravidade do potencial de ação da sepse grave, o cuidado com

pacientes em UTI deve ser redobrado para serem minimizadas as possibilidades de se adquirir

esta patologia. Esta situação lábil e de evolução rápida sinaliza para a necessidade de o

profissional enfermeiro, em sincronia permanente com demais profissionais da equipe de

saúde, agir vigilantemente, quanto à esterilização, desinfecção, higiene geral, evitando-se

assim, todas as formas possíveis de contato do paciente com os microorganismos causadores

deste agravo infeccioso. A avaliação e acompanhamento rigoroso do paciente com suspeita ou

diagnóstico comprovado de sepse representam práticas importantes para a satisfatória

evolução do tratamento.

Este estudo de revisão literária ressalta a importância da busca de conhecimentos

específicos da sepse e seu diagnóstico precoce para maximizar os resultados, a qualidade do

tratamento e a melhor compreensão desse agravo. A relevância deste estudo é apontada pela

alta ocorrência de complicações decorrentes da resposta inflamatória causada pela sepse,

resultando em comprometimento de órgãos diversos com rápida evolução para o quadro de

choque e síndrome da insuficiência de múltiplos órgãos, responsáveis pela alta mortalidade,

porém, com considerável probabilidade de prevenção. Visou revelar as descrições

encontradas na literatura acerca da sepse, sua ocorrência, evolução clínica, complicações,

intervenções terapêuticas e sua adequada direção pela equipe de saúde.

Para a condução desse estudo de revisão bibliográfica utilizou-se o banco de dados do

acervo da biblioteca da Universidade do Vale do Rio Doce, como artigos científicos da

BIREME e revistas de enfermagem que retratam esse tema.

A elaboração deste trabalho considerou a importância que as infecções de corrente

sanguínea apresentam dentro do contexto de morbimortalidade e custos em pacientes

internados em unidades críticas em todo o mundo, com mortalidade variando entre 25-30%,

possibilitando proporcionar ao profissional base científica para o reconhecimento de sinais e

sintomas de infecção hospitalar e sepse e assim, facilitar a identificação precoce deste agravo.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 REVISÃO DA LITERATURA

2.1.1 Definição de Sepse

Para Silva (2006), o crescente interesse pelo tema tem mudado o perfil de atuação de

pesquisadores, profissionais, gestores de saúde e órgãos governamentais, não mais encaradas

como uma complicação eventual, pois a sepse direciona as atenções desses profissionais no

sentido de reduzir sua incidência e taxa de mortalidade.

Tanto o diagnóstico precoce da sepse quanto a mudança ou interrupção do seu curso

têm sido persistentemente perseguidas pelos pesquisadores nesses últimos anos. Entretanto, a

má evolução clínica e/ou a manutenção de elevada mortalidade nos pacientes com sepse ainda

não sinalizam para um desfecho próximo ou exitoso na busca de soluções para esse mal, por

isso é muito importante se conhecer bem esta síndrome (CARVALHO; TROTTA, 2003).

Carvalho e Trotta (2003) afirmam que a sepse é uma síndrome complexa causada pela

resposta inflamatória sistêmica à presença de micro-organismos ou alguns de seus

componentes na corrente sanguínea, de origem infecciosa, caracterizada por manifestações

múltiplas, e que pode determinar disfunção ou falência de um ou mais órgãos, entretanto, na

presença de infecção sistêmica a resposta imune é acompanhada de lesão endotelial e dano

tissular difuso podendo levar ao choque séptico e letal. Essas ocorrências têm como principal

causa as pneumonias, infecções urinárias e de ferida operatória.

A Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) é um conjunto de sinais e

sintomas que traduz a reação do organismo à presença de infecção. Portanto, a sepse é

considerada quando há presença de dois ou mais sinais e sintomas secundários a um processo

infeccioso, como a temperatura > 38° C ou < 36°C, frequência cardíaca > 90 bpm, frequência

respiratória >20 rpm entre outros (SILVA, 2006).

Carvalho e Trotta (2003) descrevem ainda que o termo sepse é aplicável somente

quando a resposta sistêmica é clinicamente relevante, podendo manifestar-se por uma

variedade de situações, de complexidade crescente:

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a) sepse grave, entendida como sepse associada à disfunção de órgãos, hipoperfusão

e hipotensão, podendo ocorrer acidose lática, oligúria ou uma alteração aguda do

estado de consciência;

b) choque séptico, entendido como a sepse associada com as alterações da

hipoperfusão mais a hipotensão persistente mesmo após ressuscitação volumétrica

adequada e;

c) síndrome da disfunção de múltiplos órgãos (MODS), que pode representar o

estágio final da resposta inflamatória sistêmica grave.

Sepse Grave manifesta-se quando um paciente séptico desenvolve qualquer disfunção

orgânica induzida, obrigatoriamente pela própria sepse. As disfunções podem ser

cardiovascular, respiratória, renal, hepática, hematológica e sistema nervoso central (SILVA,

2006).

Conforme Silva (2008) o choque séptico é uma condição em que o paciente com

quadro de sepse grave desenvolve hipotensão arterial potencialmente letal refratária à

reposição volêmica, necessitando de drogas vasopressoras para estabilizar a pressão arterial,

ocorrendo mais frequentemente em recém-nascidos, em indivíduos com mais de 50 anos de

idade e naqueles com comprometimento do sistema imune. Além disso, a sua gravidade é

maior quando a contagem leucocitária encontra-se baixa, como ocorre em indivíduos com

câncer e que fazem uso de drogas antineoplásicas ou que apresentam doenças crônicas, como

diabetes ou cirrose.

O choque séptico nada mais é do que um subcenário da sepse grave, sendo definido como sepse associada à hipotensão que persiste apesar da reanimação fluídica adequada acompanhada de hipoperfusão ou disfunção orgânica. O denominador comum na sepse e choque séptico é uma inflamação sistêmica que envolve principalmente a microcirculação, provocada pela ativação do endotélio, que passa de um estado normal anticoagulante para um estado prócoagulante, com aumento na adesividade dos leucócitos e plaquetas (ZAVARIZ et al., 2006, p. 03).

O choque séptico é causado por toxinas produzidas por certas bactérias e por citocinas,

que são substâncias sintetizadas pelo sistema imune para combater as infecções, visto que os

vasos sanguíneos dilatam, produzindo queda da pressão arterial apesar do aumento da

frequência cardíaca e do volume de sangue bombeado, esses vasos sanguíneos também podem

tornar-se mais permeáveis, permitindo o escape de líquido da corrente sanguínea para os

tecidos, causando edema (SILVA, 2008).

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Algumas pessoas desenvolvem uma reação inflamatória sistêmica, fazendo com que

haja lesão à distância, ou seja, em outros órgãos, caracterizado por disfunção de múltiplos

órgãos, grande responsável pelo óbito desses pacientes (SILVA, 2006).

Segundo Silva (2008), o fluxo sanguíneo aos órgãos vitais, sobretudo aos rins e ao

cérebro diminui e, posteriormente, os vasos sanguíneos contraem em uma tentativa de elevar a

pressão arterial, mas o débito cardíaco diminui e, consequentemente, a pressão arterial

permanece muito baixa.

SALLES et al. (1999) descrevem que nos últimos 10 anos, progressos em biologia

celular e molecular mostraram que a agressão bacteriana ou de seus subprodutos, endotoxinas

e lipopolissacarídeos (LPS), não são os únicos responsáveis pela deterioração clínica dos

pacientes em choque e que a resposta do hospedeiro desempenha papel importante nos

diferentes tipos de agressões, quer seja infecciosas ou não, como pancreatite ou trauma, no

entanto, atualmente acredita-se que doenças resultantes de lesão endotelial difusa, causadas

por persistente estímulo inflamatório, são responsáveis pelo comprometimento de múltiplos

órgãos e sistemas.

2.1.2 Aspectos Epidemiológicos

Para SALLUH et al. (2006) a sepse é a principal causa de mortalidade em UTIs em

todo mundo, representando um problema clínico de grande relevância, devido as suas altas

prevalência e letalidade e ao custo elevado, no qual tem se destacado como um pesado fardo

para os sistemas de saúde, tanto do ponto de vista econômico como social.

Aproximadamente dois terços das sepses são decorrentes de infecções hospitalares,

dado esse de suma importância para a prevenção e tratamento. Contudo, mesmo com grandes

processos em antibioticoterapia e melhores condições de assistência médico-hospitalar,

continua bastante elevado o índice de mortalidade nessa afecção relativamente comum e

temida (SALOMÃO; RIGATO JR.; UJVARI, 1999; BRANCHINI; FARHAT, 1999).

É a principal causa de mortalidade em UTIs não-cardiológicas em todo mundo,

especialmente em decorrência de disfunção de múltiplos órgãos, no qual, estima-se uma taxa

de mortalidade média de 40%, sendo que 10% dos leitos dessas unidades são, atualmente,

ocupados por pacientes sépticos. Do ponto de vista populacional, cerca de 18 milhões de

novos casos de sepse grave serão diagnosticados a cada ano em todo mundo, com crescimento

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estimado de 1% ao ano. Só nos Estados Unidos pode-se ter, em poucos anos, cerca de 1

milhão de casos novos de sepse grave a cada ano (SILVA, 2006).

Silva (2006) relata que foi avaliado, em 65 UTIs brasileiras, mais de 3.000 pacientes

dos quais 16% apresentaram sepse em algum momento da internação, uma vez que a taxa de

mortalidade variou de 16%, para aqueles pacientes sem disfunções orgânicas, a 65% nos

pacientes com choque séptico. Além disso, relatou-se que a principal fonte de infecção do

quadro séptico foi a pulmonar e que, entre as culturas positivas, houve predomínio de

bactérias gram-negativas.

Para SALLUH et al. (2006), a sepse representa um problema clínico de grande

relevância, devido as suas altas prevalência e letalidade e ao custo elevado. Sua incidência

anual tem aumentado de maneira preocupante nas últimas décadas, sendo estimada nos

Estados Unidos da América em 1995, em 750.000 casos que causaram 215.000 mortes, a um

custo anual de 16,7 bilhões de dólares. Apesar dos constantes avanços obtidos na terapêutica

de suporte, assim como na antibioticoterapia, sua mortalidade continua sendo extremamente

elevada, variando nas formas mais graves, entre 40% e 80%, sendo assim, a principal causa de

morte nas unidades de terapia intensiva.

No Brasil, estima-se que 28,9% dos pacientes que estão internados há mais de 24

horas na UTI tenham sepse grave e 51,4%, choque séptico. Neste último, que é a forma mais

grave de apresentação da sepse, com taxa de mortalidade em cerca de 80% em alguns centros,

observa-se que idosos, quando comparados aos jovens, apresentam maior número de

disfunções orgânicas e maior mortalidade, em decorrência, provavelmente, da presença de

comorbidades (LEMOS et al., 2005).

Silva (2006) ressalta que ao buscar dados internacionais, o Brasil apresenta taxa de

ocorrência superior a muitos estudos epidemiológicos realizados em outros países,

confirmando a tese da incidência tratada, pois nos países em que há pouca disponibilidade de

leitos de terapia intensiva relativa à demanda, políticas institucionais favorecem a admissão de

pacientes sépticos, o que aumentaria a taxa de ocorrência ou a densidade de incidência. Em

recente revisão o Brasil e o Reino Unido são os países que apresentam maior taxa de

ocorrência de sepse em UTI e possuem semelhantes políticas de admissão e alta nessas

unidades.

Estudos epidemiológicos recentes se ocuparam de diferentes aspectos da

epidemiologia clínica da sepse, sendo analisado 6.621.559 internações hospitalares nos EUA

no ano de 1995 em 847 hospitais e identificados 192.980 casos de sepse grave. A incidência

de sepse foi estimada em 751.000 casos por ano nos EUA, 300 casos por 100.000 habitantes

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ou 2,26 casos por 100 internações hospitalares, sendo que em torno de 383.000, 51,1% destes

receberam cuidados intensivos e a letalidade hospitalar foi 28,6% e a letalidade na UTI foi de

34,1% (SALLUH et al., 2006).

De acordo com SALLUH et al. (2006) houve cerca de 750 milhões de internações

hospitalares nos EUA entre 1979 e 2000, onde foram identificados 10.319.418 casos de sepse,

com importante incremento na incidência do diagnóstico de sepse ao longo desses 22 anos. A

incidência que era de 82,7 casos/100.000 habitantes em 1979, saltou para 240,4/100.000 em

2000. No entanto, a letalidade apresentou um declínio significativo, de 27,8% entre 1979 e

1984 para 17,9% entre 1995 e 2000.

Os dados referentes à epidemiologia da sepse no Brasil ainda são escassos, no entanto

dois estudos recentes procuraram abordar essa questão. O Bases Study avaliou 1383 pacientes

internados em 5 UTIs, 3 em São Paulo e 2 em Santa Catarina durante 5 meses. Do total de

1383 pacientes incluídos, 415 pacientes, 30,5%, desenvolveram sepse, 241, 17,4%, sepse

grave e 203, 14,7%, choque séptico. A taxa de letalidade encontrada foi de 33,9%, 46,9% e

52,2%, para sepse, sepse grave e choque séptico, respectivamente. Um segundo estudo, Sepse

Brasil, incluiu 3128 pacientes em 75 UTIs de 65 hospitais, dos quais 521, 16,7%, foram

identificados como sepse, sepse grave ou choque séptico e foi observada letalidade de 16,7%,

34,4% e 65,3%, respectivamente (SALLUH et al., 2006).

Para SALES JÚNIOR et al. (2006), em torno de 2% a 11% das internações

hospitalares e nas UTIs são por esta doença. A mortalidade varia na maioria dos estudos entre

20% e 80%, destacando um aumento da incidência no período de 1979, 82,7/100.000

população, a 2000, 240,4/100.000 população, em torno de 8,7% ao ano. A mortalidade

reduziu de 27,8% nos primeiros anos para 17,9% nos últimos 05 anos de avaliação, e relatou

também que houve tendência semelhante na incidência e mortalidade quando avaliaram

pacientes com choque séptico em um período de oito anos. As internações na UTI elevaram-

se de 7 em 1993, para 9,7 em 2000, a cada 100 internações e a mortalidade reduziu de 62,1%

em 1993, para 55,9% em 2000. Estimaram uma incidência anual nos EUA de 751.000 casos,

3 casos/1.000 população e uma evolução para óbito em 215.000 casos, 28,6%.

PANCERA et al. (2004) relatam que a mortalidade de crianças com choque séptico

referida nos setores de terapia intensiva não oncológica varia em torno de 10% a 40%, sendo

que esses valores aumentam para 80% a 84% nos casos de pacientes oncológicos com choque

séptico. De acordo como os autores, a taxa de mortalidade foi de 27%, entretanto, deve-se

ressaltar que foram analisados não só os pacientes com choque séptico, mas também aqueles

com sepse grave.

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Sapolnik (2002) afirma que crianças com doenças crônicas, com cânceres e vítimas de

politraumatismos são muito mais suscetíveis às infecções graves, aumentando a incidência de

sepse e choque séptico em pediatria em mais de 150% desde a década de 80. Em países

desenvolvidos, como nos Estados Unidos, até 0,5 mortes/1.000 habitantes ocorrem todos os

anos decorrentes de quadros sépticos e, diversas modalidades terapêuticas têm sido

empregadas, a maioria delas baseadas nos princípios do equilíbrio da oxigenação tecidual,

oferta e consumo de oxigênio, nos estados de choque.

MACEDO et al. (2005) descrevem que 30 pacientes queimados, 61,2%, tiveram seu

primeiro episódio de sepse na primeira semana de internação e no geral, a taxa de letalidade

por sepse foi de 24,5%. Dos 58 episódios de sepse bacteriana em pacientes queimados, 67,2%

foram devidos a Gram-positivos e 32,8% devidos a Gram-negativos.

KOURY et al. (2007) relatam que tanto a incidência quanto a mortalidade por sepse

grave aumentam com a idade.

GOULART et al. (2006) mencionam que nos países em desenvolvimento, a sepse

neonatal alcança níveis de até 15,4 casos para cada 1000 nascidos vivos, enquanto que nos

Estados Unidos a incidência varia de 1 a 5 para cada 1000 nascidos vivos. Neste último, o

Streptococcus do grupo B (SGB) é a bactéria mais comum envolvida na etiologia da sepse

neonatal precoce, sendo responsável por aproximadamente 6000 casos por ano.

A elevada taxa de mortalidade relacionada à sepse, pode exceder 50% e o fracasso de

numerosos estudos ao longo de 20 anos e a tentativa de bloquear a cascata inflamatória com

corticoides, anticorpos contra endotoxinas, antagonistas do TNF-α ou da IL-1, tem motivado

a comunidade científica a uma contínua investigação dos diversos fatores envolvidos na

fisiopatologia e tratamento da sepse (AZEVEDO; CONVERSO, 2006).

2.1.3 Etiologia

Conforme Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999), na era pré-antibiótica, as bactérias

Gram-positivas, como Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus, eram os principais

agentes etiológicos da sepse, porém com o aparecimento da penicilina e seus derivados, as

bactérias Gram-negativas tornaram-se os principais agentes causadores de sepse durante

muitos anos. Atualmente, com o surgimento de novas técnicas invasivas de terapia intensiva,

bactérias Gram-positivas, como estafilococos coagulase-negativos e o próprio S. aureus,

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voltaram a ter grande importância na etiologia. Os fungos, representados principalmente pelo

gênero Cândida, são hoje conhecidos causadores da doença séptica.

Os agentes mais frequentemente incriminados são: E. coli, Klebsiella, Pseudomonas,

Enterobacter, Proteus e Salmonella (BRANCHINI; FARHAT, 1999).

Em estudo realizado por MACEDO et al. (2005) observou-se que as principais

bactérias causadoras de sepse em pacientes queimados foram Staphylococcus aureus,

Staphylococcus coagulase-negativo, Acinetobacter baumannii e Enterobacter cloacae.

Em 38 pacientes observados por HECKSHER et al. (2008), o agente causador da

sepse foi identificado, sendo 52,6% bactérias gram-negativas, 36,8% bactérias gram-positivas,

e 10,5% fungos.

2.1.4 Fisiopatogenia

O conhecimento sobre a fisiopatogenia da sepse vem crescendo muito nos últimos

anos, pois a identificação de mediadores e dos mecanismos envolvidos na produção das

alterações fisiológicas, metabólicas e celulares, o papel das células endoteliais, das moléculas

de interação célula-endotélio e do endotélio do trato intestinal são de grande interesse, por

estarem envolvidos na perda da capacidade de homeostase do organismo (SALLES et al.,

1999).

A patogenia da sepse envolve um processo complexo de ativação celular resultando na

liberação de mediadores pró-inflamatórios, tais como citocinas, ativação de neutrófilos,

monócitos, células endoteliais microvasculares, além de envolvimento neuroendócrino,

ativação do complemento, coagulação e sistema fibrinolítico. Normalmente o processo

inflamatório local é um evento em cascata bem controlado, incluindo respostas celulares,

mecanismos neurohumorais e uma resposta anti-inflamatória para o seu controle, no entanto,

devido à injúria, instabilidade cardiovascular ou imunossupressão, pode ocorrer desrregulação

desta resposta, desencadeando a inflamação sistêmica (BASSO et al., 2008).

BASSO et al. (2008) afirmam que a sepse inicia quando as moléculas presentes na

parede celular do microorganismo invasor se ligam a receptores de reconhecimento,

receptores toll-like (TLRs), na superfície de células imunes, onde os peptideoglicanos de

bactérias gram-positivas e os LPS de bactérias gram-negativas ligam-se ao TLR-2 e TLR-4,

respectivamente.

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LPS é uma molécula glicolipídica onde a atividade biológica maior está no

componente lipídico chamado lipídio A. O LPS liberado na corrente sanguínea é capaz de se

ligar a um receptor de membrana de macrófagos/monócitos e neutrófilos, que é uma

glicoproteína, chamado CD14, seja diretamente ou ligado a uma outra proteína de transporte,

chamada LBP (LPS-binding protein), que facilita a ligação LPS-CD14. Além disso, CD14

também existe como fração solúvel, podendo reconhecer o complexo LPS-LBP circulante e

assim se ligar na superfície de células que naturalmente não expressam aquele receptor, por

exemplo, células endoteliais. Em altas concentrações, a molécula de LPS pode ligar-se a

outros receptores, como TLR2 (Toll-like receptor 2), CD11 e CD18, ou mesmo ser

internalizada através de poros na membrana (SALOMÃO; RIGATO JR.; UJVARI, 1999).

Para BASSO et al. (2008), a ligação de TLR-2 e TLR-4 ativa vias de sinais de

transdução intracelular que conduzem à ativação do Fator Nuclear Citosólico kB (NFkB). O

NF-kB ativado move-se do núcleo para o citoplasma, ligando-se a sítios de iniciação de

transcrição e aumentando a transcrição de citocinas, tais como o fator de necrose tumoral α

(TNF-α), a interleucina 1β e a interleucina 6, estas são citocinas pró-inflamatórias que ativam

a resposta imune adquirida, mas causam injúria direta ou indireta aos tecidos do hospedeiro.

A inflamação sistêmica aumenta a atividade de sintetases indutoras de óxido nítrico (iNOS),

as quais aumentam a síntese de óxido nítrico (NO), que possui potente efeito vasodilatador.

Citocinas causam injúria de células endoteliais, o que induz neutrófilos, monócitos,

macrófagos e plaquetas a se ligarem às células endoteliais, essas células efetoras liberam

mediadores tais como proteases, oxidantes, prostaglandinas e leucotrienos.

Os autores continuam a explicar que a função chave do endotélio é a permeabilidade

seletiva, vasorregulação e provisão de superfície anticoagulante, então, essas proteases,

oxidantes, prostaglandinas e leucotrienos causam injúria de células endoteliais, conduzindo ao

aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação e alteração de equilíbrio pró e

anticoagulante. A vasodilatação resulta em aumento da capacitância vascular devido à

diminuição na resistência periférica, o que conduz à hipovolemia relativa, desencadeando

hipotensão, hipoperfusão tecidual e danos isquêmicos. A isquemia resultará em MODS, no

qual o fígado isquêmico terá o sistema histiolinfoplasmocitário deficiente e, dessa forma, não

poderá detoxificar as substâncias tóxicas provenientes do intestino, via veia porta e essas se

acumularão na corrente sanguínea aumentando a inflamação.

A queda na pressão arterial, segundo BASSO et al. (2008), é detectada pelas células da

mácula densa no aparelho justaglomerular, que ativam o sistema renina-angiotensina-

aldosterona, reabsorvendo sódio e água e expandindo a volemia, no entanto, a hipotensão

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severa poderá resultar em isquemia renal e insuficiência renal aguda. O intestino isquêmico

diminui o peristaltismo favorecendo a necrose e ulceração da mucosa, facilitando a adesão de

bactérias à parede intestinal, isso permite a translocação de bactérias, toxinas e citocinas para

a corrente sanguínea, potencializando ainda mais a SIRS. Enfim, o fator de necrose tumoral

(TNF) e outros mediadores causam depressão miocárdica e diminuição do desempenho

sistólico, conduzindo à falência cardíaca.

Continuam os autores a elucidar que, independentemente do evento inicial, neutrófilos

ativados e plaquetas aderem ao endotélio dos capilares pulmonares e liberam várias

substâncias tóxicas, que conduzem à injúria endotelial difusa e aumento de permeabilidade

vascular, induzindo o edema pulmonar, ao passo que, injúria de células endoteliais alveolares

também conduz à hemorragia microvascular, trombose e perda de surfactante alveolar. O

resultado final é hipoxemia profunda o que é denominado Síndrome da Angústia Respiratória

Aguda (SARA). As lesões contundentes no parênquima desencadeiam processo inflamatório

com retenção progressiva de líquido e hemorragia pulmonar e/ou pneumotórax e devido à

liberação de IL-6 e TNF-α, sepse/SIRS que podem estimular a síndrome de coagulação

intravascular disseminada (CIVD), onde a IL-6 estimula a formação de fibrina, mediada pelo

complexo Fator Tissular/Fator VII ativado (FT/FVIIIa), ao passo que o TNF-α inibe a

antitrombina III, proteína C, proteína S e inibidor da via fator tecidual (TFPI) que são

anticoagulantes naturais e, consequentemente, se inibidos, desencadeiam coagulação

desenfreada, característica marcante da primeira fase da síndrome CIVD (BASSO et al.,

2008).

Além disso, o TNF-α estimula o aumento nos níveis de inibidores dos ativadores do

plasminogênio do tipo I (PAI-I), sendo que o plasminogênio tem a função de degradar a

fibrina em plasmina, dessa forma, na sua ausência, ocorrerá remoção inadequada de fibrina,

contribuindo para a trombose da microvasculatura. Assim, ocorre ativação sistêmica da

coagulação, a fibrina e os microtrombos formados podem causar oclusão dos ramos e

comprometimento da irrigação sanguínea em diversos órgãos, que em conjunto com

alterações metabólicas e hemodinâmicas, contribui para MODS e morte na SIRS (BASSO et

al., 2008).

A resposta imune quando localizada apresenta vantagens ao organismo e envolve a

eliminação da infecção acompanhada de reparo tissular. Na presença de inflamação sistêmica,

porém, a reação inflamatória à injúria tissular é capaz de ativar o sistema da coagulação, inibir

anticoagulantes endógenos e atenuar a resposta fibrinolítica. A relação entre coagulação e

inflamação, segundo Azevedo e Converso (2006), tem sido observada através de estudos da

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resposta fisiológica do organismo frente a diversos tipos de estímulos pró-inflamatórios

capazes de ativar pelo contato a cascata da coagulação e as células fagocitárias. A ativação

dos monócitos e macrófagos na sepse desencadeia o estímulo para a síntese de mediadores

inflamatórios, especialmente a interleucina IL-1β e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-⟨)

através de mecanismos moleculares a ativação do fator nuclear de transcrição Kappa B

(NFκB).

Os autores explicam que o NFκB possui um papel importante em doenças

inflamatórias crônicas, como asma, artrite reumatoide, psoríase e na doença inflamatória

intestinal, assim como na sepse e na síndrome do desconforto respiratório agudo.

Habitualmente, o NFκB encontra-se ligado a uma proteína inibidora (IκB) no citoplasma, que

o impede de alcançar o núcleo e dessa forma, de atuar sobre o gene. Na presença de certos

estímulos como bactérias, citocinas ou vírus, o IκB é liberado e desligado, permitindo a ação

do NFκB no DNA, que inicia a transcrição em RNAm com a síntese de proteínas pró-

inflamatórias. Em pacientes com sepse, a expressão do NFκB é elevada e quando persistente,

está associada a uma maior mortalidade. O TNF-α e IL-1 agem sinergicamente e são os

principais responsáveis pelo desenvolvimento da resposta inflamatória e da lesão tecidual da

sepse, além de induzir a formação e secreção de outros mediadores inflamatórios como: IL-6,

IL-8, bradicinina, leucotrienos, óxido nítrico e prostaglandinas (AZEVEDO; CONVERSO,

2006).

A ação dessas substâncias sobre as células endoteliais é responsável pela alteração do

perfil hemostático, isto é, as células endoteliais passam a assumir um papel trombótico e

antifibrinolítico. Contribuindo para o estado pré-trombótico na sepse, estão os níveis elevados

de TNF, IL-1 e IL-6 que inibem a expressão de trombomodulina, essencial para ativação da

proteína C de função anticoagulante, neutrófilos ativados cuja secreção de elastase é capaz de

degradar a antitrombina III, proteínas de fase aguda como a proteína C reativa (PCR) que

induz a liberação do fator tissular da coagulação e ativação do complemento e a alfa-1

antitripsina que inibe diretamente a proteína C ativada. Em um processo inflamatório ocorre

mobilização de leucócitos da corrente sanguínea para os tecidos e como na sepse esse

processo é sistêmico, esse mecanismo é muito mais intenso, causando uma migração

leucocitária em massa, a ponto de se formarem plugs neutrofílicos em determinados órgãos

com a formação de microabcessos. A liberação do fator tissular, via extrínseca da coagulação,

constitui o principal mecanismo gerador de trombina na sepse e a expressão desse, aumenta

na presença de macrófagos/monócitos e células endoteliais expostas a mediadores

inflamatórios. A geração de trombina por sua vez estimula ainda mais a produção de IL-6,

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potencializando o processo. Níveis elevados de inibidor de ativador do plasminogênio (PAI-

1), observados em pacientes sépticos, atenuam o processo fibrinolítico e contribuem ainda

mais para os eventos trombóticos (AZEVEDO; CONVERSO, 2006).

Na sepse, os mecanismos aqui descritos resultam em lesão microcirculatória difusa

caracterizada por alterações endoteliais que induzem ao aumento da permeabilidade capilar,

trombose, deformabilidade das hemácias e agregação de leucócitos diminuindo o fluxo

sanguíneo e resultando em hipóxia tecidual que determina a disfunção celular e se traduz por

disfunção orgânica. Do ponto de vista filogenético, o estado hipercoagulável talvez tenha

como objetivo fisiológico cercear o processo, evitando a disseminação da infecção.

Entretanto, observa-se um desarranjo do sistema de coagulação que agrava a resposta

inflamatória potencializando a disfunção múltipla de órgãos. Espera-se, portanto, que diante

dessa intrincada cadeia de eventos, o crescente avanço tecnológico e científico venha elucidar

os mecanismos moleculares envolvidos na sepse, no sentido de considerar medidas

terapêuticas eficazes que bloqueiem a disseminação deste processo (AZEVEDO;

CONVERSO, 2006).

Portanto, a fisiopatogenia da sepse está intimamente ligada à interação das células do

hospedeiro com componentes bacterianos presentes na corrente sanguínea, como por

exemplo, a endotoxina das bactérias Gram-negativas, ao passo que, quando estas substâncias

são demasiadamente secretadas ocorre uma resposta inflamatória sistêmica exagerada e

deletéria com lesão tissular, ativação da cascata de coagulação, formação de trombos na

microcirculação, hipóxia e acidose teciduais, depressão miocárdica, culminando com

disfunção orgânica múltipla e choque endotóxico (SALOMÃO; RIGATO JR.; UJVARI,

1999).

2.1.5 Fatores de risco

Silva (2008) explica que a sepse é uma doença aguda que pode afetar qualquer pessoa,

principalmente, aquelas com poucas defesas, onde a imunidade do organismo contribui para o

dano ao funcionamento dos órgãos, sendo o grande responsável pela elevada taxa de

mortalidade, no qual o número absoluto de óbitos supera os decorrentes de câncer de mama

ou de intestino, do infarto agudo do miocárdio e mesmo de AIDS.

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A gravidade do quadro depende de inúmeros fatores, dentre os quais a virulência do

organismo agressor e fatores relacionados ao hospedeiro, tais como idade, genética, sítio da

infecção e presença de comorbidades (CASTRO; BORTOLOTTO; ZUGAIB, 2008).

Muitos são os fatores que favorecem o surgimento da sepse, como a desnutrição

proteico-calórica, as doenças imunossupressoras primárias ou adquiridas, o uso de drogas

imunossupressoras, as anomalias congênitas do sistema nervoso central ou do trato urinário, a

manipulação excessiva de pacientes através de cateteres venosos, arteriais e vesicais, o uso

abusivo de antibióticos que faz emergir cepas de bactérias Gram-negativas (BRANCHINI;

FARHAT, 1999).

Pacientes imunocomprometidos são altamente suscetíveis a processos infecciosos.

Quando esse processo progride, o paciente pode apresentar sepse grave e/ou choque séptico,

necessitando de monitorização e tratamento intensivo, o mais precoce possível (PANCERA,

et al., 2004).

Em pacientes queimados, além da destruição da barreira epitelial, a presença de

proteínas degradadas e tecidos desvitalizados, o uso de três ou mais cateteres, sondas e tubos,

ou seja, procedimentos invasivos, a presença de duas ou mais complicações, a superfície

corporal queimada > 30%, o agente chama aberta, o sexo feminino, a imunossupressão

decorrente da lesão térmica, a possibilidade de translocação bacteriana gastrointestinal, a

internação prolongada e o uso inadequado dos antibióticos, levando ao surgimento de

bactérias com multiresistência antimicrobiana, proporcionam um excelente meio para o

desenvolvimento e proliferação de micro-organismos (MACEDO et al., 2005).

Após os avanços no tratamento e no controle da reposição volêmica, a infecção

emergiu como o principal risco para o paciente queimado, pois as lesões produzidas pelas

queimaduras representam um local suscetível à colonização de organismos endógenos e/ou

exógenos (MACEDO et al., 2005).

Castro, Bortolotto e Zugaib (2008) afirmam que os quadros de sepse de origem

obstétrica são, em geral, de origem polimicrobiana, sendo as bactérias Gram-negativas as

mais frequentes, ao passo que as principais causas são:

a) corioamnionite, tromboflebite pélvica séptica e aborto infectado, que estão ligados

à gestação;

b) endometrite pós-parto, infecção de episiotomia, infecção de parede ou uterina pós-

cesárea, que ocorrem no parto e;

c) infecção pós-cerclagem ou pós-amniocentese e fasciíte necrotizante, que surgem

através da realização de procedimentos invasivos.

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Os fatores de risco na sepse neonatal podem ser agrupados em fatores maternos,

neonatais ou ambientais, como descrevem GOULART et al. (2006), e dentre eles se destacam

o trabalho de parto prematuro, a ruptura de membranas mais de 18 horas antes do parto, a

colonização materna pelo SGB, a febre materna > 38 ºC durante ou imediatamente após o

trabalho de parto, sexo masculino, baixo peso ao nascimento < 2500 g, corioamnionite e filho

anterior com infecção neonatal. Considerando-se que tais fatores acarretam altas taxas de

mortalidade, é de suma importância a detecção precoce desses a fim de prevenir e adotar

medidas específicas para a redução destas.

2.1.6 Manifestações clínicas

De acordo com Carvalho e Trotta (2003), o termo sepse é aplicável somente quando a

resposta sistêmica é clinicamente relevante, podendo manifestar-se por uma variedade de

situações.

O quadro clínico é bastante variável em seu início, mas pode ser observado conforme

o foco de origem ou a lesão infecciosa metastática, como a meningite, pneumonia, infecção

urinária, otite média, peritonite, ectima gangrenoso, entre outros, que levou a suspeita de

sepse (BRANCHINI; FARHAT, 1999).

Castro, Bortolotto e Zugaib (2008) afirmam que a fase inicial da sepse, conhecida

como fase quente, é caracterizada por pele quente e seca devido à vasodilatação periférica,

febre, hipotensão, taquicardia, confusão mental, ansiedade e taquidispneia. Com a progressão

do quadro para a fase fria, a hipoperfusão resulta em acidose láctica, piora da perfusão

tecidual, levando a cianose de extremidades e disfunção orgânica.

No entanto, Branchini e Farhat (1999) descrevem que a fase inicial se caracteriza por

sintomas vagos e difusos, tais como a inapetência, apatia, sucção débil, abatimento,

diminuição de atividade, diarreia, vômitos e pode ocorrer febre ou hipotermia no lactente

menor, no desnutrido grave ou em crianças em uso de corticoides.

KOURY et al. (2007) afirmam que a sepse foi definida como um processo infeccioso

associado a dois ou mais critérios da SIRS, como a temperatura > 38º C ou < 36º C,

frequência cardíaca > 90 bpm, frequência respiratória > 20 rpm, ou PaCO2 < 32 mmHg, ou

necessidade de ventilação mecânica, leucócitos > 12.000 células/mm3, ou < 4.000

células/mm3, ou 10% de células imaturas, os pacientes com sepse além de critérios descritos,

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apresentam ao menos uma disfunção orgânica e, no choque séptico, além de preencherem os

critérios de sepse, apresentam pressão arterial sistólica < 90 mmHg após reposição volêmica

com necessidade de fármacos vasoativos.

Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999) descrevem que as alterações fisiopatológicas

observadas na sepse também podem ser desencadeadas por estímulos não infecciosos, como

trauma, queimadura e outros.

BASSO et al. (2008) definem SIRS como a presença de dois ou mais sinais como a

taquicardia, taquipneia, hipertermia ou hipotermia, leucocitose ou leucopenia. Sepse grave é

definida como a presença de sepse associada com uma ou mais alterações clínicas ou

laboratoriais de disfunção orgânica, como injúria pulmonar aguda, anormalidades de

coagulação, alteração de estado mental, falência renal, cardíaca ou hepática, considerando

ainda que em um paciente em choque séptico, os sinais clínicos de sepse prevalecem depois

de adequada reposição hidroeletrolítica, ou seja, é uma hipotensão refratária. A adequada

reposição pode ser avaliada pela normalização da pressão venosa central (PVC) 5-10 cm H2O,

do débito urinário 1-2 ml/kg/h, da coloração das mucosas, do tempo de reperfusão capilar e

pela estimativa da pressão arterial.

Portanto, SIRS e sepse ocorrem por estímulo excessivo de mediadores pró-

inflamatórios ou da reação à resposta sistêmica inflamatória a uma variedade de estímulos

infecciosos e não-infecciosos, como pancreatite, com liberação de enzimas proteolíticas,

ativação do sistema cinina-calicreína, ativação da cascata fibrinolítica, entre outras (SALLES

et al., 1999).

2.1.7 Critérios Diagnósticos/Prognóstico

É o primeiro dos desafios com os quais se depara o clínico ou intensivista, pois se a

sua identificação não for suficientemente precoce para permitir alguma intervenção, poderá

resultar em choque, falência orgânica ou até a morte do paciente, portanto, o diagnóstico

precoce da sepse continua sendo uma tarefa das mais difíceis, pois as suas primeiras

manifestações clínicas podem passar despercebidas ou podem ser confundidas com aquelas de

outros processos não infecciosos (CARVALHO; TROTTA, 2003).

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Para Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999), o diagnóstico clínico deve ser enfatizado,

pois a introdução precoce de antibióticos adequados é fundamental para uma boa evolução,

devendo-se, portanto, estar atento para os critérios da definição de sepse:

a) sepse - presença de duas ou mais das seguintes condições – febre (T > 38º C) ou

hipotermia (T < 36º C), taquicardia (FC > 90), taquipneia (FR>20) ou PaCO2 < 32

mmHg e leucocitose ou leucopenia, ou ainda mais de 10% de bastonetes. Como

sepse severa, definição semelhante à síndrome séptica, entende-se a sepse

acompanhada de disfunção orgânica, hipoperfusão ou hipotensão;

b) choque séptico - definido como a sepse grave acompanhada de hipotensão, PA

sistólica < 90 mmHg ou diminuição de 40 mmHg na PA sistólica de paciente

previamente hipertenso, apesar da reposição adequada de volume.

O choque séptico ainda é subdividido em inicial ou quente, quando predomina a

vasodilatação e tardio ou frio, quando predomina a vasoconstrição (SALOMÃO; RIGATO

JR.; UJVARI, 1999).

Carvalho e Trotta (2003) afirmam que na prática clínica das UTIs, os limites que

separam a sepse da sepse grave e do choque séptico não são claramente detectados ou mesmo

do ponto de vista conceitual.

Em obstetrícia, alguns fatores contribuem para o melhor prognóstico da sepse, como o

sítio de infecção mais comum ser a pelve, região passível de intervenção cirúrgica e a maior

sensibilidade dos principais micro-organismos à antibioticoterapia de amplo espectro

(CASTRO; BORTOLOTTO; ZUGAIB, 2008).

Portanto, para a obtenção de um diagnóstico preciso antes da adesão da

antibioticoterapia é recomendado pelo menos duas análises de hemoculturas, uma de sangue

periférico e uma proveniente de cateter central, a menos que esse tenha sido inserido há

menos de 48 horas, juntamente com os exames rotineiros de urina, líquor, secreções do trato

respiratório e pontas de cateteres que são prováveis sítios infecciosos (CASTRO;

BORTOLOTTO; ZUGAIB, 2008).

2.1.8 Complicações

As complicações mais comuns na sepse por Gram-negativos são o choque e a CIVD

(BRANCHINI; FARHAT, 1999).

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O choque séptico é a forma mais grave da sepse, em que o indivíduo apresenta

hipotensão arterial, necessitando de medicamentos endovenosos para sustentar uma pressão

arterial próxima do normal, entretanto, a sepse associada com disfunção orgânica,

hipoperfusão ou hipotensão resultará numa sepse grave (SILVA, 2008).

No choque séptico, o processo inicia-se com a infecção, que é provocado pela

presença de toxinas bacterianas na circulação, esse é um fenômeno microbiano caracterizado

por uma resposta inflamatória à presença de micro-organismos, bactérias, vírus, fungos e

outros agentes, ou à invasão de um tecido estéril de um hospedeiro pelos mesmos (ZAVARIZ

et al., 2006).

ZAVARIZ et al. (2006) descrevem que o paciente séptico apresenta alterações

metabólicas como na microcirculação, decorrentes de produtos liberados pelas bactérias ou de

substâncias sintetizadas pelo organismo para combater o agente agressor, no qual, os

mediadores humorais são liberados na reação inflamatória, tais como citocinas, enzimas,

metabólitos teciduais, etc., que podem ser utilizadas como marcadores de choque séptico, que

favorecem um diagnóstico precoce.

O problema em pacientes queimados é complicado ainda mais pela depressão. Além

disso, a obstrução vascular por lesão térmica dos vasos dificulta a chegada de antibióticos e de

componentes celulares do sistema imune na área queimada (MACEDO et al., 2005).

A sepse pode ser autolimitada ou progredir para a sepse grave e choque séptico, onde

as anormalidades circulatórias como a depleção do volume intravascular, vasodilatação

periférica, depressão miocárdica e aumento do metabolismo, levam ao desequilíbrio entre a

necessidade e a demanda de oxigênio, resultando em hipóxia global ou choque. A hipóxia

tecidual reflete a gravidade da doença e é preditiva do desenvolvimento da disfunção de

múltiplos órgãos (KOURY et al., 2007).

A disfunção miocárdica é uma complicação associada com pior prognóstico em

pacientes sépticos. Existem controvérsias sobre as razões que levam à ocorrência de disfunção

miocárdica em pacientes sépticos, como substâncias cardiodepressoras circulantes, aumento

da apoptose miocárdica e hipóxia miocárdica (ISSA et al., 2008).

A sepse durante a gestação é uma complicação rara, no qual o comprometimento fetal

resulta principalmente da descompensação materna onde o tratamento deve ser direcionado ao

bem-estar da mãe (LAKS et al., 2007).

Deve-se ter atenção especial para infecções localizadas, como osteomielite, artrite

séptica, miocardite e endocardite, bem como para falhas no tratamento decorrente do uso de

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antibióticos não-adequados ou em subdosagens, abscessos não-drenados, anomalias renais, e

vasculares (BRANCHINI; FARHAT, 1999).

2.1.9 Tratamento

No início do século XXI ainda busca-se uma compreensão melhor da doença,

destacando-se que houve avanços em relação ao diagnóstico mais precoce, rastreamento

microbiano mais eficaz que possibilita o rápido início do tratamento, o uso mais otimizado

das variáveis hemodinâmicas e das técnicas de suporte orgânico (SALES JÚNIOR et al.,

2006).

O tratamento do quadro séptico, conforme Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999) tem

como finalidade debelar o sítio infeccioso e proporcionar condições satisfatórias para a

manutenção do metabolismo celular.

O tratamento está voltado para o sítio primário da infecção, feito através da anamnese

e do exame físico detalhados, sendo possível determinar na maioria dos casos, o foco

infeccioso inicial. Em alguns casos consegue-se reduzir o número de opções, o que permite

reduzir o espectro do tratamento, todavia, quando não se identifica a fonte, deve-se lançar

mão do diagnóstico por imagem, ultrassonografia ou tomografia computadorizada e a partir

daí, efetua-se a coleta de material para cultura (SILVA, 2008).

Na suspeita de SIRS, se nenhum outro importante evento não infeccioso é detectado, a

conduta deve ser orientada para a sepse, ou seja, além das medidas de suporte de vida, quando

indicadas, outras medidas devem ser tomadas de acordo com a gravidade de apresentação da

respectiva síndrome (CARVALHO; TROTTA, 2003).

HECKSHER et al. (2008) descrevem que em 2004, surgiu a Campanha Sobrevivendo

à Sepse que aprovaram a utilização de anticoagulantes endógenos, com propriedades anti-

inflamatórias que poderiam ser efetivos no tratamento da sepse, equilibrando a resposta

inflamatória e recuperando a homeostase, que foi aprovado para a prática clínica, o uso da

proteína-C ativada e drotrecogina alfa ativada.

Branchini e Farhat (1999); Silva (2008) esclarecem que no tratamento deve-se ter:

a) controle rigoroso do paciente, pois a grande preocupação é evitar as complicações

como choque séptico e CIVD e, para isso, o paciente deve ficar preferencialmente

em UTI, onde serão controlados os sinais vitais como o pulso, as frequências

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cardíaca e respiratória, temperatura, PA média, PVC, débito urinário, saturação de

oxigênio, vômitos e perda fecal, convulsões;

b) antibioticoterapia, iniciada antes mesmo do resultado dos exames, por via

parenteral, de amplo espectro e com drogas bactericidas, após suspeita clínica

fundamentada de sepse e a realização da colheita dos exames subsidiários. O

tratamento antibiótico dura em média 14 dias e o controle é feito através de

culturas de sangue, urina, fezes, líquor e pela resposta clínica à terapêutica;

c) manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico através de hidratação adequada com

monitorização pela PVC, PA média, transporte e extração de O2, realizando

balanço hídrico e calórico adequados com controle de perdas, de déficit de

ingestão e de dados laboratoriais;

d) nutrição parenteral, se possível, enteral, tendo em vista as demandas metabólicas

aumentadas e correção de acidose, da hiponatremia e hiperpotassemia frequentes;

e) monitorização adequada de temperatura com uso de antitérmicos e compressas nas

hipertermias ou aquecimento nas hipotermias;

f) manutenção da permeabilidade das vias aéreas através da aspiração de secreções

faríngeas e traqueais e, se necessário, uso de máscaras ou cateteres e até ventilação

pulmonar mecânica, se indicada e;

g) atuação precoce nas insuficiências cardíaca, renal e hepática, se presentes.

A manutenção do metabolismo celular necessita de adequada oferta de oxigênio e

substratos energéticos, ao passo que, para manter uma oferta tecidual de oxigênio adequada,

necessita-se corrigir as alterações hemodinâmicas, como o débito cardíaco, a pressão arterial,

a resistência vascular periférica e manter um conteúdo arterial de oxigênio satisfatório. O

suporte respiratório da septicemia consiste em aumento da fração inspirada de O2 e correção

das alterações hemodinâmicas a fim de evitar aumento da pressão capilar pulmonar, no qual, a

intubação e a ventilação mecânica devem ser indicadas precocemente (SALOMÃO; RIGATO

JR.; UJVARI, 1999).

As alterações hemodinâmicas necessitam de avaliação contínua e a introdução de

cateter de Swan-Ganz para melhor correção, auxiliando na indicação de drogas vasoativas,

assim como no tipo e dose da droga. Na fase inicial de hipotensão com baixa resistência

vascular periférica, a infusão de volume pode ser suficiente para adequar a pressão arterial e o

débito cardíaco, devendo-se monitorizar a pressão capilar pulmonar no sentido de evitar sua

elevação. Caso a infusão de volume não seja suficiente ou ocorra elevação da pressão capilar

pulmonar, o emprego de drogas vasoativas é indicado, então a dopamina pode ser usada na

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fase inicial com efeito beta, 5 a 10 mg/kg/min, para manutenção da pressão arterial, devendo

ser mantida em dose com efeito dopa, 3 a 5 mg/kg/min, para garantia do fluxo sanguíneo

renal. Nos casos de baixa resistência vascular periférica o uso de noradrenalina, dose inicial

de 0,05 mg/kg/min, tem demonstrado bons resultados e na disfunção do miocárdio, o emprego

de dobutamina pode ser benéfico (SALOMÃO; RIGATO JR.; UJVARI, 1999).

Para Silva (2006), a hipotensão arterial é um achado primário no choque séptico e sua

correção é uma meta terapêutica, no qual, a medida precisa e contínua da pressão arterial é

essencial, sendo assim, deve ser inserido um cateter arterial para monitorização contínua da

pressão arterial. A artéria radial é o sítio mais frequentemente utilizado, mas a artéria femoral

é uma alternativa, sendo importante lembrar que existem diferenças marcantes na pressão

arterial registrada nos dois locais, especialmente nos pacientes que estão em choque,

recebendo vasopressores e hipovolêmicos.

A avaliação da oxigenação celular pode ser realizada pela dosagem seriada de lactato

sérico, com finalidade de manter níveis normais, a persistência de níveis elevados de lactato,

apesar do incremento da oferta de oxigênio pelo aumento da dose de drogas vasoativas ou

infusão de volume, pode ser observada, uma vez que a elevação de lactato pode não ser

decorrente exclusivamente da má oxigenação tecidual. A taxa de extração e captação de

oxigênio é mais indicada para guiar a oxigenação tecidual. Medida de pH da mucosa do trato

gastrintestinal demonstrou ser bom método de avaliação da oxigenação desse tecido, que é um

importante alvo de dano celular na sepse (SALOMÃO; RIGATO JR.; UJVARI, 1999).

Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999) afirmam ainda que o paciente séptico necessite de

requerimento energético basal aumentado, uma vez que seu metabolismo encontra-se

aumentado em 170 a 200%, com maior quantidade de fonte nitrogenada, devido à utilização

de carboidratos e lipídeos estar prejudicada na sepse, sendo necessário a monitorização do

balanço nitrogenado. A proporção de Kcal não-proteicas para cada grama de nitrogênio

diminui para 100/1 na sepse, o fornecimento de glicose não deve ultrapassar 5 g/kg/dia com

risco de hiperglicemia, a oferta máxima de lipídeos por dia é 1 g/kg com monitorização

rigorosa pelo risco de hipertrigliceridemia e esteatose hepática, uma vez que há estímulo para

lipogênese hepática e má utilização celular, a oferta de fonte nitrogenada pode ser baseada no

balanço nitrogenado e na síntese hepática de proteínas.

Recomenda-se noradrenalina ou dopamina como primeira escolha para corrigir a

hipotensão no choque séptico, administrado através de cateter venoso central, logo que esteja

disponível (SILVA, 2006).

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Silva (2006) sugere que a adrenalina, fenilefrina ou vasopressina não sejam utilizadas

como vasopressores inicialmente em choque séptico. Vasopressina 0,03 unidades/minuto

pode ser posteriormente associado à noradrenalina com um efeito equivalente à noradrenalina

sozinha, e sugere ainda que a adrenalina seja a primeira escolha como alternativa quando o

choque séptico for pouco responsivo à noradrenalina ou dopamina.

Muitos pesquisadores concordam que melhores taxas de sobrevida em pacientes com

sepse grave só poderão ser atingidas com terapias adicionais às terapias antimicrobianas

convencionais, levando-se em consideração que outros métodos não-invasivos de

monitoramento hemodinâmico, como ecocardiografia e Doppler esofágico, exigem um alto

grau de treinamento e não estão disponíveis em muitas instituições. Além disso, existe um

grande interesse no desenvolvimento de um marcador biológico da função cardíaca capaz de

fornecer informações prognósticas dos pacientes sépticos (CARVALHO; TROTTA, 2003;

ISSA et al., 2008).

2.1.9.1 Terapia Combinada

Os efeitos da dopamina no suprimento celular de oxigênio do intestino permanecem

indefinidos, e os efeitos da noradrenalina isolada na circulação esplânica podem ser de difícil

previsão. A combinação de noradrenalina com dobutamina parece ser mais previsível e mais

apropriada aos objetivos terapêuticos do choque séptico do que noradrenalina com dopamina

ou dopamina isoladamente (SILVA, 2006).

2.1.9.2 Terapêutica Antimicrobiana

A terapêutica antimicrobiana adequada reduz a mortalidade do paciente séptico. Em

estudo sobre bacteremias/sepses realizado por Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999), foi

observado que os pacientes que receberam antibióticos aos quais as bactérias eram sensíveis

in vitro, apropriada, tiveram mortalidade de 21%, enquanto aqueles que receberam

antibióticos aos quais as bactérias eram resistentes in vitro, inapropriada, tiveram letalidade de

57,1%. Da maior importância, pacientes que inicialmente receberam antimicrobianos ao qual

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o agente etiológico era resistente in vitro e mediante resultados de hemocultura ou piora do

quadro clínico e passaram a receber antibióticos ao qual o agente etiológico era sensível,

terapia corrigida, tiveram mortalidade intermediária de 34,1%. Uma vez que o paciente

desenvolveu choque, a quase totalidade dos pacientes que receberam terapia antimicrobiana

inapropriada evoluiu ao óbito (30/31), comparado com uma proporção significativamente

menor que receberam uma terapia adequada (56%, 29/52).

A escolha da antibioticoterapia baseia-se nos prováveis micro-organismos do sítio

infeccioso em questão. Como exemplo, em sepses secundárias a infecções do trato urinário,

inicia-se antibioticoterapia dirigida para bactérias Gram-negativas, e naquelas secundárias à

infecção associadas a cateteres venosos a cobertura deve ser para Staphylococcus aureus e

estafilococos coagulase-negativos. Nos casos em que o sítio infeccioso é desconhecido ou o

foco provável pode albergar múltiplas espécies de bactéria, como infecção pulmonar ou

intraperitoneal, inicia-se esquema amplo de antibioticoterapia, e no caso das infecções

abdominais, obrigatoriamente amplia-se a cobertura para bactérias anaeróbias, sendo que a

presença de coleções ou abscessos merece abordagem cirúrgica (SALOMÃO; RIGATO JR.;

UJVARI, 1999).

Salomão, Rigato Jr. e Ujvari (1999) descrevem que um importante fator a ser

considerado é se a infecção foi adquirida na comunidade ou no hospital, sendo que, se foi

adquirida no hospital, deve-se considerar a alta prevalência de cepas de bactérias

multirresistentes em hospitais de grande porte e hospitais universitários. Nesse caso,

dependendo do foco primário de infecção, devem-se considerar, entre bactérias Gram-

negativas, as infecções por Pseudomonas sp, Klebsiella sp e, recentemente, o Acinetobacter

sp e, entre outras bactérias Gram-positivas, o Staphylococcus aureus resistente à oxacilina, os

enterococos e estafilococos coagulase-negativos. Optam-se então por esquema antimicrobiano

que inclui um glicopeptídeo, vancomicina 500 mg 6/6h ou teicoplanina 400 mg a cada 12 h

nos primeiros dias de tratamento, e um antimicrobiano com espectro para bactérias Gram-

negativas, muitas vezes uma cefalosporina de terceira ou quarta geração, associados a um

aminoglicosídeo, como a amicacina. Antimicrobianos da classe dos carbapenens, imepenem e

meropenem, e monobactâmicos, aztreonam, devem ser considerados para o tratamento de

infecções por Gram-negativos multirresistentes.

2.1.10 Campanha Sobrevivendo à Sepse

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O que se discute atualmente é o fato de que não basta o reconhecimento das evidências

de diagnóstico de sepse. O grande e real desafio é, efetivamente, o de levar estes

conhecimentos à prática assistencial e, com isso reduzir a mortalidade dos pacientes sépticos.

Foi pensando nisso, muito mais do que na simples revisão da evidência científica disponível,

que a Campanha “Sobrevivendo à sepse” foi criada com meta de reduzir o risco relativo de

óbito por sepse grave em 25% nos próximos cinco anos (SILVA, 2006).

De acordo com Silva (2006), a Campanha Sobrevivendo à Sepse deve corresponder a

um esforço mundial com vistas à redução da taxa de mortalidade por esse agravo e, para isso,

sugere algumas recomendações:

a) a partir da suspeita clínica, medidas iniciais devem ser instituídas o mais rápido

possível, buscando contemplar todas as recomendações dentro das primeiras 6

horas de atendimento;

b) medir rapidamente o lactato sérico em todo caso suspeito de sepse grave, mesmo

sem hipotensão;

c) colher amostras de sangue e outros materiais para exame microbiológico e culturas

antes da administração dos antibióticos;

d) iniciar a terapia antibiótica endovenosa o quanto antes dentro da primeira hora do

diagnóstico de choque séptico;

e) a terapia antibiótica deve incluir uma ou mais drogas com atividade contra todos

os patógenos prováveis, bactéria e ou fungo, e ter boa penetração no foco

presumido de infecção em concentrações adequadas, com duração de 7 a 10 dias;

f) o regime de antibióticos deve ser reavaliado diariamente para otimizar a eficácia,

prevenir o desenvolvimento de resistência bacteriana, reduzir a toxicidade de

drogas e reduzir custos;

g) se a apresentação da síndrome clínica for determinada como não infecciosa, a

terapêutica antimicrobiana deve ser interrompida imediatamente para minimizar a

probabilidade de o paciente desenvolver um patógeno resistente ao antibiótico ou a

um efeito adverso relacionado à droga;

h) um diagnóstico anatômico específico da infecção deve ser investigado e

diagnosticado ou excluído tão rapidamente quanto possível, principalmente focos

emergentes que existem atenção especial para o controle, como exemplo a fasceíte

necrotizante, peritonite, colangite, isquemia intestinal;

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i) todos os pacientes com sepse grave devem ser avaliados quanto à presença de um

foco de infecção abordável por medidas de controle específicas como drenagem de

abscessos, desbridamento de tecidos necróticos infectados, remoção de

dispositivos potencialmente infectados ou o controle definitivo de uma fonte de

manutenção da contaminação microbiana;

j) realizar prontamente exames de imagem na tentativa de confirmar potenciais focos

de infecção. Amostras de materiais de focos identificados devem ser obtidas à

medida que são diagnosticados, no entanto alguns pacientes podem ser

demasiadamente instáveis para justificar determinadas técnicas invasivas ou

transporte para fora da UTI, nessas circunstâncias, procedimentos à beira-leito e

menos invasivos, como a ultrassonografia, podem ser úteis;

k) fazer reposição volêmica agressiva na presença de hipotensão e/ou lactato elevado

induzidos pelo quadro séptico, sendo que a ressuscitação volêmica, nestas

primeiras 6 horas, deve ser feita até que a PVC se estabilize entre 8 e 12 mmHg,

ou entre 12 e 15 mmHg em pacientes sob ventilação mecânica. Administração de

maiores volumes de fluidos, frequentemente, é necessário;

l) pacientes sépticos que, apesar da reposição volêmica inicial 20 ml/kg de

cristaloides ou equivalente, mantiverem sinais de hipoperfusão tecidual, ou seja

hipotensão arterial, Pressão Arterial Média (PAM) < 65 mmHg ou lactato inicial >

4 mmol/l, > 36 mg/dl, devem ser incluídos em um protocolo denominado Terapia

precoce guiada por metas, as quais as metas a serem atingidas nas primeiras 6

horas de tratamento ou de ressuscitação devem incluir:

- PVC entre 8 e 12 mmHg,

- PAM > 65 mmHg,

- débito urinário > 0,5 ml/kg/hora,

- saturação venosa central (SvcO2) ou mista (SvO2) de oxigênio > 70% ou > 65

mmHg, respectivamente;

m) na presença de hipotensão ameaçadora à vida e quando a reposição volêmica

inicial não corrigir a hipotensão arterial, deve empregar vasopressores para atingir

PAM > 65 mmHg e assim que houver correção da hipotensão deve iniciar a

retirada do vasopressor;

n) administrar dobutamina na presença de disfunção miocárdica sugerida pela

elevação das pressões de enchimento cardíaco e baixo débito cardíaco;

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o) administrar hidrocortisona intravenosa em doses baixas, 200 a 300 mg/dia em

pacientes adultos com choque séptico, em que a restauração da pressão arterial for

identificada como pouco responsiva à reposição volêmica e ao uso de

vasopressores;

p) pacientes com disfunção orgânica induzida pela sepse associada a alto risco de

morte, que na maioria dos casos têm escore APACHE II > 25 ou mais de uma

disfunção orgânica, devem receber Proteína C Ativada humana recombinante

(PCArh) se não houver contraindicação, sendo que, contraindicações relativas

devem ser consideradas no processo de tomada de decisão;

q) uma meta de volume corrente máximo de 6 ml/kg de peso ideal, deve ser

empregado em pacientes sob ventilação mecânica e com diagnóstico de síndrome

do desconforto respiratório agudo (SDRA) / lesão pulmonar aguda (LPA);

r) a pressão positiva expiratória final (PEEP) deve ser utilizada para evitar colapso

pulmonar excessivo ao final da expiração, no qual, aumentar o PEEP em pacientes

com SDRA/LPA contribui para abrir e manter unidades pulmonares abertas para

que participem das trocas gasosas e reduz lesão pulmonar induzida pelo ventilador;

s) após estabilização inicial em pacientes com sepse grave ou choque séptico que

apresentem hiperglicemia, recomenda-se o uso de insulinoterapia endovenosa

(EV) com o objetivo de reduzir os níveis glicêmicos;

t) quando o quadro de hipoperfusão tecidual tiver se resolvido e na ausência de

circunstâncias especiais, como isquemia miocárdica em evolução, hemorragia

aguda, cardiopatia congênita cianótica, a transfusão de concentrado de hemácias

deve ser indicada apenas quando a hemoglobina (Hb) cair para valores inferiores a

7 g/dl, objetivando uma meta de Hb 7 a 9 g/dl em adultos e;

u) em pacientes com sepse, plaquetas devem ser administradas apenas quando a

contagem for inferior a 5.000/mm3, na ausência de sangramentos, podendo ser

considerada quando a contagem estiver entre 5.000 e 30.000/mm3 quando há

sangramento ativo ou um risco extremamente elevado de que ele aconteça.

Vale ressaltar que ao classificar uma determinada recomendação, leva-se em

consideração se o efeito final de se adotá-la a superará em benefícios ou possíveis riscos,

incluindo os custos nessa análise. Sempre que houver incerteza sobre o benefício, opta-se por

classificar a recomendação como fraca, isto é, podem ter a certeza de que uma intervenção

leve a prejuízos ao paciente e, portanto, não deve ser realizada (SILVA, 2006).

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2.1.11 Profilaxia

Em função dos dados apresentados, não há dúvidas de que a sepse é hoje um problema

de saúde pública, devendo, portanto, ser abordado com medidas ligadas à saúde coletiva, bem

como, com medidas voltadas para saúde do paciente. Dentre as medidas coletivas, devem

estar incluídas políticas que garantam o acesso dos pacientes ao sistema de saúde,

disponibilização de leitos de terapia intensiva de qualidade conduzida por especialistas,

treinamento dos diferentes níveis do sistema para o diagnóstico e tratamento das principais

doenças infecciosas, prevenção de infecções, utilização racional de antibióticos, entre outras

(SALLUH et al., 2006).

Para SALLES et al. (1999), o entendimento dos principais eventos pró e anti-

inflamatórios que induzem a danos teciduais é, sem dúvida, o primeiro passo na tentativa de

melhorar o prognóstico dessas doenças e estabelecer a terapêutica adequada.

Na verdade o ideal para o paciente é evitar a sepse e suas complicações e para isso

medidas como estimular o aleitamento materno, evitar internações desnecessárias e

prolongadas, evitar o uso abusivo de antibióticos, aderir integralmente às normas de controle

de infecções hospitalares, evitar procedimentos invasivos desnecessários ou encurtar seu

tempo de utilização, imunizações adequadas, são fundamentais e devem ser perseguidas por

todos, pois quando a doença já está presente, todos os riscos aumentam e o prognóstico piora

muito (BRANCHINI; FARHAT, 1999).

2.2 AS INFECÇÕES NOSOCOMIAS

2.2.1 Aspectos Históricos da Infecção Hospitalar no Mundo

Oliveira (2005) descreve que a história da infecção hospitalar (IH) está inserida na

história da medicina que se inicia primeiramente com a luta, tanto pela sobrevivência, quanto

pelo intento de conhecer um mundo aparentemente governado por forças poderosas e ocultas.

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Na Antiguidade o corpo humano era considerado, em toda sua complexidade, uma

incógnita pelos cirurgiões, levando-os a adotar o tratamento clínico como forma no processo

de cura, pois os médicos eram temerosos em operar seus doentes. Os cirurgiões geralmente

não passavam por uma academia, mas por uma educação prática, por um aprendizado não

universitário. Assim, a medicina, que requeria mais reflexão, estudos e percepção por parte

dos médicos, não incorporava a cirurgia como uma de suas disciplinas, sendo então executada

por práticos, chamados cirurgiões barbeiros, que possuíam maior habilidade manual

(POSSARI, 2006).

Ao longo da existência dos hospitais, tornou-se notável a presença da IH

representando-se assim tão antiga quanto à origem dessas instituições. O indício das primeiras

referências à existência de hospitais remonta a 325 d.C. quando, nessa época, foi determinado

pelo concílio de Nicéia que os hospitais fossem construídos ao lado das catedrais. Houve por

muitos séculos, a permanência de doentes internados em hospitais sem distinção quanto à

nosologia que apresentavam. Os pacientes em recuperação ou infectados compartilhavam do

mesmo ambiente. As doenças infecciosas se disseminavam alarmantemente entre os

internados, sendo comum, o paciente ser admitido no hospital com determinada doença e

falecer de outra, especialmente de cólera ou febre tifoide. Isso se devia à precariedade da

condição sanitária nos hospitais, com abastecimento de água de origem duvidosa,

manipulação inadequada de alimentos e até compartilhamento de leitos por mais de dois

pacientes. A internação hospitalar ficava restrita às populações de baixa renda, pois os

pacientes pertencentes à classe mais favorecida recebiam tratamento domiciliar, com maior

conforto e menor risco de contaminação (COUTO et al., 2003).

Em 1848, o médico húngaro Ignaz Filipe Semmelweis, trabalhando na clínica

obstétrica do hospital geral de Viena, descobria a causa da mortalidade pela febre puerperal.

Ele instituía, a partir de 15 de maio de 1947, uma política rigorosa de lavagens das mãos e dos

instrumentos em solução de cal clorada, entre o trabalho de autópsia e o cuidado com os

pacientes. Ele desvendara o segredo da transmissão dos germes infecciosos, por meio das

mãos e de instrumentos dos médicos cirurgiões, revelação essa que seria três decênios depois

a pedra angular da assepsia (POSSARI, 2006).

Em 1860, James Simpson, médico escocês, atribuía a infecção à inoculação acidental

de secreções de outros doentes do hospital, formulando uma consistente teoria de

disseminação por contato. Influenciado pelas teorias miasmáticas da época, valorizava a

poluição do ar hospitalar que considerava proporcional ao tamanho dos hospitais

(OLIVEIRA, 2005).

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Florence Nightingale, enfermeira italiana, descreveu em 1863 uma série de cuidados

de enfermagem e estratégias relacionados aos pacientes e ao meio, ressaltando a importância

da higiene e limpeza no hospital tendo como objetivo a diminuição do risco de IH, além disso,

fez a proposta de manter um sistema de relato dos óbitos hospitalares nas enfermarias, o que

serviu como forma de avaliação do próprio serviço. A devasta experiência de Florence

ocorreu durante sua permanência nos hospitais militares, na Guerra da Criméria, o que foi

refletido em forma de melhoria da sistematização da assistência de enfermagem, dando mais

qualidade ao serviço (COUTO et al., 2003).

De acordo com COUTO et al. (2003) em 1864, em Londres, foi descrita a

disseminação de infecções do tipo hospitalar. Foram evidenciadas diferenças entre hospitais

com e sem isolamento, em que ficou clara a observância alarmante do número de óbitos em

hospitais sem isolamento. Em 1867, Joseph Lister publicou um livro, com importantes

contribuições às práticas de antissepsia, demonstrando o valor do seu uso. Os bons resultados

do tratamento de feridas infectadas com ácido carbônico incitaram o uso deste ácido como

antisséptico da pele. Também valorizando o ar como veículo de disseminação de doença,

passou a preconizar o uso de ácido carbônico aspergido no ambiente para diminuir essa forma

de “contagio”.

No início do século XX, disseminaram-se paulatinamente os princípios de que, tudo

que tocasse o campo cirúrgico deveria ser estéril, e rapidamente se espalhou o uso de luvas,

capote, gorro, máscara e material cirúrgico estéril (COUTO et al., 2003).

2.2.2 Aspectos Históricos das Infecções Hospitalares no Brasil

No Brasil, a assistência hospitalar surgiu no século XVI, com Irmandades de

Misericórdias, as Santas Casas. Acredita-se que a primeira Santa Casa de Misericórdia tenha

sido na cidade de Santos (SP), em 1543, conforme afirma Oliveira (2005).

O problema da IH só foi assumido pelo Estado em 1983, com a portaria 196, que

tornou obrigatória a implantação em todos os hospitais de comissões de controle de IH.

Foram também criadas atribuições para as comissões de IH, como vigilância epidemiológica

com coleta passiva de dados, com a notificação feita pelo médico ou enfermeira, treinamento

em serviço, elaboração de normas técnicas, isolamento de pacientes, controle de uso de

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antimicrobianos, normas de seleção de germicidas e preenchimento de relatórios (OLIVEIRA,

2005).

Oliveira (2005) cita que em 1987 foi criada a Comissão Nacional de controle de IH

com representantes de vários estados e, em 1988, a portaria 232 criou o Programa Nacional de

Controle de Infecção Hospitalar, transformado em 1990, em Divisão Nacional de Controle de

Infecção Hospitalar. Nos últimos 10 anos, 14 mil profissionais foram treinados no curso de

introdução ao controle de IH, ministrado em todo o país com desempenho excepcional das

Comissões de Controle de IH (CCIH), e o Serviço de Controle de IH (SCIH).

Durante a década de 2000, a Gerência de Controle de Risco à Saúde, Agência

Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, dentro do Programa Nacional de Controle de

Infecção Hospitalar, traça metas para o controle de infecção, como, diagnóstico das infecções

hospitalares no Brasil, curso de controle da IH, atualização do Manual de Processamento de

Artigos e Superfícies em estabelecimentos de saúde, reestruturação dos Centros de

Treinamento em Controle de Infecção Hospitalar; reestruturação do Comitê Técnico –

científico em controle de infecção hospitalar, atualização do Manual de Microbiologia;

comemoração do Dia Nacional de Controle de Infecção Hospitalar em 15 de maio, a cada ano

(OLIVEIRA, 2005).

Em 2004 GIPEA/ANVISA, segundo informações de seus técnicos, desenvolveu as

seguintes atividades: Elaboração da RDC sobre reuso de artigos de uso único, Curso de

investigação de surto de vários estados do país. Desenvolvimento de um software – SINAIS,

Sistema Nacional de Informação para Controle de Infecção em Serviço de Saúde, de domínio

público; Curso de educação a distância em controle de infecção hospitalar para profissionais

que atuam nos serviços de Vigilância Sanitária, em convênio com a Universidade Federal de

São Paulo; Estudo da dinâmica de contaminação extrínseca de antissépticos e uso em serviços

de saúde do Projeto Hospitais Sentinela, em convênio com a Fundação de Desenvolvimento

da pesquisa de Minas Gerais; Estudo de prevalência de infecção relacionada à assistência em

Unidades de Terapia Intensiva, em convênio com a Universidade de são Paulo; Revisão e

atualização dos Manuais de Controle de Infecção Hospitalar e de Vigilância Epidemiológica

por componentes NNIS, publicados em 1986 e 1994, respectivamente (OLIVEIRA, 2005).

2.2.3 Os Conceitos de Infecção

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Para COUTO et al. (2003) o termo infecção passa muito mais a ideia de doença do que

a da simples presença de um agente infeccioso sem conotação patológica, podendo a palavra

induzir confusão entre colonização e doença, resultando da interação anormal estabelecida

pelo contato entre o hospedeiro e um micro-organismo qualquer.

Carmagnani (2000) afirma que a infecção é caracterizada pela invasão e a

multiplicação de micro-organismos dentro ou nos tecidos do corpo, no qual produz sinais e

sintomas e também uma resposta imunológica, que podem produzir efeitos particularmente

devastadores no sistema de assistência à saúde quando alguns fatores combinados deixarem

os pacientes especialmente suscetíveis.

Conforme descrição de Smeltzer e Bare (2005) a infecção é reconhecida pela reação

do hospedeiro e por identificação do organismo, apresentando evidência clínica de rubor,

calor e dor.

A gravidade da infecção varia de acordo com a capacidade de produzir doença,

quantidade de micro-organismos invasores, resistência das defesas dos hospedeiros, condições

nutricionais do paciente, procedimentos necessários em seu tratamento, bem como o tempo de

internação, diante desses fatores, a infecção continua sendo a causa mais frequente das

doenças humanas (CARMAGNANI, 2000).

Para PRADO et al. (2005) a infecção hospitalar é um processo infeccioso adquirida

após a internação do paciente e que se manifesta durante a internação ou mesmo 48 horas

após a alta quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. A

grande maioria é causada por um desequilíbrio da relação existente entre a microbiota humana

normal e os mecanismos de defesa do hospedeiro, podendo ocorrer devido à própria patologia

de base do paciente, procedimentos invasivos e alterações da população microbiana,

geralmente induzida pelo uso inadequado de antibióticos.

COUTO et al. (1999) expõe que ao longo dos anos, o ambiente hospitalar tornou-se

bastante propício ao desenvolvimento de infecções por micro-organismos cada vez mais

resistentes aos antibióticos disponíveis, que se deve principalmente, ao uso desnecessário de

antimicrobianos, prescrição inadequada, abandono do ciclo completo do tratamento, além da

capacidade de adaptação e resistência dos micro-organismos aos antibióticos.

Nas infecções hospitalares, os agentes etiológicos têm sido modificados com o passar

dos anos, sendo que, entre 1940 e 1960, o Staphylococcus aureus era o principal agente

etiológico, no qual esse tipo de infecção obteve uma redução através de tratamento com

antibiótico e programas educativos. Hoje em dia, há uma incidência cada vez maior de

Pseudomonas e de outras bactérias Gram-negativas, como a Escherichia coli. As principais

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causas das infecções hospitalares são as infecções do trato urinário dos pacientes com

cateteres urinários de demora, feridas cirúrgicas, infecções das vias respiratórias superiores,

processos infecciosos primários da corrente sanguínea e infecções das vias respiratórias

inferiores, como exemplo a pneumonia, posto que, os responsáveis pela incidência elevada

são as infecções da corrente sanguínea, ou a sepse secundária causadas por cateteres e

respiradores artificiais ou cateteres centrais (CARMAGNANI, 2000).

PRADO et al. (2005) descrevem que algumas infecções hospitalares são evitáveis e

outras não, que são classificadas como preveníveis e não preveníveis. Infecções preveníveis

são aquelas em que se pode interferir na cadeia de transmissão dos micro-organismos, a

interrupção dessa cadeia pode ser realizada por meio de medidas reconhecidamente eficazes

como a lavagem das mãos, o processamento dos artigos e superfícies, a utilização dos

equipamentos de proteção individual, no caso do risco laboral e a observação das medidas de

assepsia. Infecções não preveníveis são aquelas que ocorrem a despeito de todas as

precauções adotadas, como se pode constatar em pacientes imunologicamente

comprometidos, originárias a partir da sua microbiota.

2.2.4 Controle de Infecção Hospitalar

Para Giunta e Lacerda (2006) as práticas de prevenção e controle de IH não dependem

apenas de ações focais no âmbito restrito de um Programa de Controle de IH (PCIH),

dependem também e, fundamentalmente, de ações ampliadas e relacionadas às formas com

que as políticas de saúde são introduzidas e distribuídas à qualidade da assistência em geral.

Desde 1993, o Controle de Infecção Hospitalar (CIH) no Brasil é regido por ações

governamentais, mas somente em 1997, passou a ser obrigatório a Lei nº. 9.431/97, a qual

normatiza a existência de um PCIH em todos os hospitais do país. Em 1998, a Portaria

vigente, n. 2.616, que recomenda o processo de trabalho a ser realizado pelo PCIH foi editada,

devendo o hospital constituir CCIH de um órgão deliberativo de ações de controle e

prevenção de IH e o SCIH e de órgão executivo encarregado de realizar as ações deliberadas

pelo CCIH, no entanto, muitos hospitais têm dificuldades ou não operacionalizam o PCIH

conforme as recomendações governamentais.

Carmagnani (2000) afirma que as fontes de infecção podem ser reduzidas pela

observação rigorosa das normas de controle de infecções, ao passo que, na maioria dos casos,

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a lavagem das mãos reduz a disseminação de quase todas as infecções, com exceção das que

são transmitidas pelo ar.

A Vigilância Sanitária é responsável pelo acompanhamento dos PCIH nos hospitais, a

qual não somente inspecionar, como também deve prestar cooperação técnica aos hospitais,

orientando para o exato cumprimento e aplicação das diretrizes estabelecidas pela legislação

sanitária pertinente, na qual, a avaliação de práticas de CIH é realizada por agentes que a

executam de forma que lhes permitam não apenas compilar as situações encontradas, mas

também realizar um diagnóstico que subsidie a atuação e a orientação para uma maior

qualificação dessas práticas, não sendo apenas uma fiscalização (GIUNTA; LACERDA,

2006).

2.2.5 Infecções Hospitalares em Grandes Sítios

2.2.5.1 Infecções do Trato Respiratório

KAHN et al. (2008) descrevem que as vias aéreas superiores são frequentemente

contaminadas por micro-organismos derivados das regiões nasal, oral e faríngea.

Inversamente, às vias aéreas inferiores onde ocorrem as trocas gasosas são geralmente

mantidas livres de micro-organismos por uma combinação de fatores imunes do hospedeiro e

limpeza mecânica através de reflexo tussígeno, transporte ciliar de contaminantes aspirados e

movimento de secreções das vias aéreas inferiores para a traqueia.

As doenças orais, principalmente a doença periodontal, podem influenciar o curso da

infecção respiratória. As doenças respiratórias são responsáveis por uma significativa parcela

de morbidade e mortalidade em pacientes de todas as idades (KAHN et al., 2008).

Para BARATA et al. (1996) as Infecções Respiratórias Agudas (IRA) constituem uma

das principais causas de morbidade em todo o mundo e de mortalidade nos países em

desenvolvimento, onde os óbitos atingem principalmente as crianças. Estima-se que nesses

países ocorram, anualmente, em menores de 5 anos, cerca de 4 milhões de mortes, a maior

parte delas devido à pneumonia. A maior importância conferida à IRA nos países

subdesenvolvidos está relacionada às infecções do trato respiratório inferior, cujas taxas de

mortalidade são 10 a 15 vezes mais elevadas do que nas regiões industrializadas.

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2.2.5.2 Infecções do Trato Urinário

A infecção do trato urinário (ITU) é definida como a invasão microbiana de qualquer

órgão do trato urinário, desde a uretra até os rins. O processo infeccioso pode afetar o rim, a

pelve renal, os ureteres, a bexiga e a uretra, bem como as estruturas adjacentes, incluindo

próstata e epidídimo, existindo possibilidades de agravamento na dependência do estado geral

do paciente e da sua idade. Pode cursar com ou sem sintomas, nesse caso sendo conhecida

como bacteriúria assintomática (SATO et al., 2005; PIRES et al., 2007).

KOCH et al. (2008) afirmam que é uma condição frequente no sexo feminino, visto

que 20 a 48% das mulheres apresentam pelo menos um episódio de ITU durante a vida. É

também frequente em homens nas faixas etárias extremas da vida.

Já SATO et al. (2005) descrevem que as ITUs acometem homens e mulheres em

qualquer idade, salientando-se que os grupos mais comprometidos são recém-nascidos do

sexo masculino, meninas em idade pré-escolar, mulheres jovens sexualmente ativas, homens

com obstrução prostática e idosos de ambos os sexos. Após o primeiro ano de vida, as

infecções tornam-se mais comuns no sexo feminino, considerando-se que a atividade sexual e

a gravidez favorecem a infecção urinária.

A maioria das infecções urinárias é causada por bactérias gram-negativas, ao passo

que o agente causador mais frequente de ITU adquirida na comunidade, independente da faixa

etária, é a Escherichia coli, cuja prevalência varia de 54 e 81%. Outras bactérias mais

prevalentes de ITU não complicadas em adultos incluem Klebsiella spp, Proteus spp,

Enterococus spp e Enterobacter spp (KOCH et al., 2008).

PIRES et al. (2007) enfatizam que essa é uma das infecções mais prevalentes na

clínica médica, sendo o seu tratamento na maioria das vezes iniciado e até completado de

maneira empírica. Essa conduta é justificada pelo fato da urocultura, padrão ouro, exigir até

mais de seis semanas para expedir o resultado, como no caso das micobactérias, e por ser a

ITU importante causa de morbidade.

Diante da grande incidência de falha terapêutica e visto que o tratamento inicial é

empírico, impõe-se a cada serviço o conhecimento da prevalência e frequência dos agentes,

além também o perfil de sensibilidade dos micro-organismos aos antimicrobianos mais

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utilizados na prática clínica, buscando assim a otimização do tratamento e a redução do

aparecimento de novas resistências (PIRES et al., 2007).

SATO et al. (2005) definem que a importância clínica das infecções do trato urinário

não decorre apenas de sua elevada prevalência, mas sim das consequências e complicações

que podem produzir. O tratamento bem-sucedido dessas infecções depende essencialmente do

diagnóstico clínico e bacteriológico correto, bem como do acompanhamento do doente para

verificar a ocorrência de recidiva da infecção.

2.2.5.3 Infecções em Sítio Cirúrgico

A infecção do sítio cirúrgico (ISC) é definida como infecção que ocorre na incisão

cirúrgica ou em tecidos manipulados durante a operação, sendo que, com finalidade

epidemiológica essa infecção pode ser diagnosticada dentro de quatro a seis dias após o

procedimento. Algumas vezes, são encontrados curtos períodos da manifestação de acordo

com a etiologia da infecção (RABHAE et al., 2000 apud FERNANDES, 2000). Outras vezes,

o período é mais longo, de acordo com a definição de Grinbaum apud RODRIGUES et al.

(1997), a ISC pode ocorrer em até 30 dias após a realização do procedimento, ou em casos de

implante de prótese em até um ano após.

2.2.5.4 Infecções da Corrente Sangüínea Relacionadas a Dispositivos Intravasculares

De acordo com a definição de Richtmann (1997) apud RODRIGUES et al. (1997)

consideram-se Infecções nosocomiais Primárias da Corrente Sanguínea (IPCS) toda infecção

em parte que tenha hemocultura positiva, bactéria ou fungo, colhida 48 horas após a

hospitalização e que caracterize importância clínica.

Os cateteres intravasculares incluem basicamente dois tipos de dispositivos, o cateter

periférico cujo local de inserção destina-se aos vasos periféricos e o cateter central, de

inserção em vasos centrais através de punção periférica ou central em veia subclávia, jugular

interna ou femoral. Tais dispositivos recebem a denominação de curta e longa permanência,

respectivamente, até 30 dias e mais de 30 dias (ROCHA, 2001 apud MARTINS, 2001).

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A medicina moderna tornou indispensável o uso de dispositivos intravasculares que

possibilitam a administração de soluções, medicamentos, hemoderivados e nutrição

parenteral, além de permitirem a monitoração hemodinâmica do paciente sob cuidados

intensivos. Cerca de 60% dos pacientes hospitalizados utilizam cateter endovenoso

(RICHTMANN, 1997 apud RODRIGUES et al., 1997; ROCHA, 2001 apud MARTINS,

2001). Contudo, desde o surgimento do primeiro cateter intravascular, em 1945, tornam-se

consideráveis os riscos de infecção associada a seu uso (PEDROSA; COUTO et al., 2003

apud COUTO et al., 2003).

O risco global de adquirir IPCS relacionadas por cateter intravascular é cerca de 1%.

Esse risco é muito maior nos pacientes internados em UTI submetidos à inserção de vários

cateteres intravasculares (RICHTMANN, 1997 apud RODRIGUES et al., 1997).

As IPCS têm grande importância no contexto das infecções hospitalares, pelo seu alto

custo e, principalmente pela alta taxa de mortalidade a ela atribuída, de 14% a 38%. Um

programa efetivo de controle de infecção pode prevenir de 20% a 40% das infecções,

resultando em redução da morbidade e da mortalidade e, consequentemente, em diminuição

do custo da hospitalização (ROCHA, 2001 apud MARTINS, 2001).

A sepse, infecção da corrente sanguínea associada à inserção e manutenção de cateter

venoso central é a mais grave complicação, prolongando a hospitalização e aumentando os

custos da assistência. O principal agente envolvido é o Staphylococcus coagulase negativa,

mas, Staphylococcus aureus, Candida sp e o Enterococcus têm uma participação

significativa. Os bacilos gram-negativos aeróbicos adquirem grande importância,

principalmente Acinetobacter, Enterobacter e Pseudomonas. Esses micro-organismos podem

originar-se de contaminação a partir da microbiota cutânea durante a inserção ou por

migração ao longo do cateter e através das mãos da equipe que contaminam o canhão do

cateter (HALKER; WEY, 2002 apud VERONESI, 2002).

A bacteremia é definida como a presença de bactérias na corrente sanguínea,

diagnosticada em exames laboratoriais. A fungemia é uma infecção da corrente sanguínea

causada por um agente fúngico. Qualquer dispositivo vascular pode servir de porta de entrada

para uma infecção sanguínea. A contaminação pode acontecer a partir da flora da pele do

próprio paciente ou por micro-organismos transmitidos pelas mãos da equipe de profissionais

de saúde, no momento da inserção do cateter e nos cuidados posteriores (HALKER; WEY,

2002 apud VERONESI, 2002; SMELTZER; BARE, 2005).

A troca rotineira dos equipos utilizados para infusões endovenosas deverá ocorrer a

cada 72 ou 96 horas após o início de seu uso, pois isso reduz o risco de colonização e flebite.

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Em casos onde ocorra a administração de sangue e derivados, emulsões lipídicas,

monitorização de pressão arterial e suspeita de bacteremia relacionada à infusão a troca é

aconselhável a cada 24 ou 48 horas (RICHTMANN, 1997 apud RODRIGUES et al., 1997).

A prevenção básica das infecções relacionadas a dispositivos intravasculares começa

com uma técnica de assepsia rigorosa para inserção (HALKER; WEY, 2002 apud

VERONESI, 2002). As medidas para minimizar o risco de infecção estão diretamente

associadas a programas bem organizados de treinamento, monitoramento e avaliação da

assistência, padronização do processo e equipe adequadamente treinada (COUTO et al.,

2003).

2.2.5.5 Infecções Relacionadas a Dispositivos Implantáveis

As infecções relacionadas a dispositivos implantáveis são classificadas de acordo com

o intervalo de tempo decorrido da implantação à exteriorização do processo infeccioso em

precoces quando a complicação ocorre entre dois e três meses do implante e tardias, após este

período. Tais infecções ainda subdividem em superficiais e profundas. O diagnóstico para

infecção nesse caso deve ser estendido em até um ano da data do implante (YAMAGUTI,

1997 apud RODRIGUES et al., 1997).

Uma grande variedade de dispositivos artificiais é usada na medicina para auxiliar ou

exercer funções fisiológicas importantes. Dentre eles estão as próteses, dispositivos artificiais

usados para substituir parcial ou totalmente estruturas biológicas defeituosas (DIDIER, 2003

apud COUTO et al., 2003).

2.2.6 Infecção Hospitalar e a Sepse

As infecções adquiridas nos hospitais representam uma das principais causas de

morbidade, mortalidade e custos (GASTMEIER et al., 1998) e o problema é mais expressivo

nos hospitais de países em desenvolvimento como o Brasil, onde a inexistência de

laboratórios e a prática de terapêutica antimicrobiana empírica contribuem para uma maior

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freqüência dessas infecções, bem como de fenótipos de resistência dos microrganismos

associados (JUNIOR et al., 2003).

As infecções hospitalares ocorrem em 5 a 17% dos pacientes hospitalizados e em UTI

as taxas de prevalência são ainda mais elevadas, pois os pacientes são expostos à

procedimentos invasivos que favorecem o desenvolvimento de infecção (JUNIOR et al.,

2003).

Nas unidades críticas de tratamento as infecções hospitalares afetam cerca de 30% dos

pacientes, estando associadas com uma maior morbimortalidade, apresentando taxas que

variam significativamente, entre 9 e 37% dependendo do tipo de UTI estudada, segundo os

dados de estudos multicêntricos realizados na Europa descritos por Vincent, (2003) e nos

Estados Unidos (DIEKEMA, 2003).

As infecções hospitalares mais frequentes em pacientes críticos são: pneumonias

(46,9%), infecções urinárias (17,9%) e infecções de corrente sanguínea (12%). De acordo

com estudos baseados no sistema NNIS “National Nosocomial Infections Surveillance”

(RICHARDS, 1999), 83% dos episódios de pneumonia hospitalar foram em pacientes com

ventilação mecânica, e 87% das infecções de corrente sanguínea primárias foram associadas

com cateter vascular central (VINCENT, 2003).

Estima-se que 250.000 casos de infecções de corrente sanguínea são adquiridas em

hospitais anualmente. A incidência de infecção nosocomial de corrente sanguínea é de 2,2 por

1000 admissões hospitalares e 17,4 por 1000 admissões em UTI. As bacteremias/fungemias

referem-se a presença de bactérias/fungos viáveis na corrente sanguínea, comprovados

laboratorialmente e são classificadas em primárias e secundárias. As primárias são aquelas nas

quais não há uma fonte de infecção conhecida, sendo usualmente relacionadas a intervenções

intravasculares (HUGONNET, 2004). Elas são definidas pela presença do microrganismo no

sangue e na ponta do cateter e ausência clínica e microbiológica de outra fonte de infecção.

Na bacteremia/fungemia secundária é conhecido um foco de infecção fora do sistema

vascular, usualmente no pulmão ou em sítio de cirurgia abdominal.

2.3 METODOLOGIA

Para a realização do estudo de revisão bibliográfica referente ao período compreendido

entre 1996 a 2008, optou-se em trabalhar com o banco de dados da biblioteca virtual Bireme,

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base de dados Lilacs e Scielo, sites do Ministério da Saúde, livros, revistas e artigos com

abordagem em sepse, seus determinantes, controle, tratamento e prevenção. A biblioteca

virtual em saúde Bireme é um Centro Especializado da Organização Pan-Americana da

Saúde, estabelecido no Brasil desde 1967, em colaboração com Ministério de Saúde,

Ministério da Educação, Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e Universidade Federal

de São Paulo, que oferece artigos científicos da base de dados do Medline, LILACS, Wholis,

BBO, AdoLec, BDENF, dentre outras.

Bastos (1998) e Rocha (1998) definem revisão bibliográfica como o exame ou

consulta de livros ou documentação escrita que se faz sobre determinado assunto e sua

realização requer muita leitura por parte do pesquisador.

Cervo (1996) descreve pesquisa bibliográfica como um meio de formação por

excelência que busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado

existente sobre um assunto, tema ou problema. A revisão bibliográfica permite uma íntima

relação com o tema de interesse, indagando, buscando informações através de um

levantamento de informações em base de dados, objetivando detectar toda a descrição

existente, seja consensual ou polêmica na literatura (CAMPOS et al., 2007).

Almeida apud Martins (2008, p.62) define revisão bibliográfica como levantamento,

seleção e fichamento de documentos, tendo por objetivos o acompanhamento e a evolução de

um assunto, a atualização e conhecimento das contribuições teóricas, culturais e científicas

publicadas sobre um tema específico. Santos (2006) afirma que através da revisão literária é

possível reportar e avaliar o conhecimento produzido em pesquisa prévia, destacando os

conceitos, procedimentos resultados, discussões e conclusões relevantes para o trabalho.

Ressalta ainda, que a revisão bibliográfica exerce papel fundamental no trabalho acadêmico,

pois possibilita situar o trabalho científico na área de pesquisa da qual faz parte,

contextualizando-a.

O desenvolvimento da pesquisa teve exeqüibilidade após acesso aos artigos científicos

da biblioteca virtual em saúde Bireme e obras literárias relacionadas ao tema. Utilizou-se no

campo de pesquisa os termos infecção hospitalar, sepse, sepse grave e choque séptico, sendo

utilizados 32 artigos referentes ao tema. Foram levantadas informações sobre conceitos,

histórico, evolução e o controle das infecções hospitalares, critérios para diagnóstico,

principais sítios e medidas gerais de prevenção das infecções hospitalares, enfocando a sepse

como grande desafio a saúde pública, sua epidemiologia, patogênese, manifestações clínicas,

fatores de risco, tratamento, prevenção e controle. Durante a leitura seletiva os artigos foram

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separados para o estudo por título, ano e autor, possibilitando assim melhor compreensão,

identificação e análise.

O levantamento do referencial teórico foi realizado no período de outubro de 2008 a

abril de 2009 e, durante este trajeto foi possível identificar que, mesmo com toda evidência

científica acerca dos fatores que interferem nos índices de infecções hospitalares decorrentes

de procedimentos realizados durante a assistência a saúde e dos prejuízos advindos desta

ocorrência, ainda mais do que se faz hoje, poderá o profissional, especialmente da equipe de

enfermagem, atuar no controle das infecções nosocomiais.

2.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A sepse pode ser definida como uma reação inflamatória-vascular sistêmica a presença

de microrganismos ou alguns de seus componentes na corrente sangüínea. Compreende várias

fases evolutivas como bacteremia (presença de bactérias na corrente sangüínea), sepse

(evidência clínica de infecção mais sinais de resposta sistêmica à infecção), síndrome séptica

(diagnóstico clínico de sepse mais evidência de alteração da perfusão cutânea) e choque

séptico (diagnóstico de síndrome séptica mais hipotensão). Aproximadamente dois terços das

sepses são decorrentes de infecções hospitalares, dado este de suma importância para

prevenção e tratamento.

Constitui a principal causa de mortalidade em unidades de terapia intensiva não

cardiológica em todo o mundo, especialmente em decorrência de disfunção de múltiplos

órgãos. Representa alta taxa de mortalidade, sendo cerca de 10% dos leitos de terapia

intensiva ocupados por pacientes sépticos.

O crescente interesse pelo tema tem mudado o perfil de atuação dos pesquisadores,

profissionais e gestores de saúde e órgãos governamentais. Não mais encarada como uma

complicação eventual, sepse direciona a atenção dos profissionais no sentido de reduzir a

incidência e taxa de mortalidade. Dentre as diversas iniciativas, a mais ambiciosa é a

Campanha Sobrevivendo a Sepse, cujo objetivo aponta para a redução da mortalidade em

25% do risco relativo de morte nos últimos cinco anos. Implementadas em diversos países,

inclusive no Brasil, a Campanha vem mobilizando esforços em diferentes instituições e

começa a envolver setores da saúde pública, pois torna-se imperioso o diagnóstico precoce e

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um tratamento adequado e rapidamente instituído na tentativa de reduzir a taxa de letalidade e

os altos custos decorrentes deste agravo.

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3 CONCLUSÃO

Ao tomar conhecimento do que representa a sepse, seus agravos, suas manifestações

através de sinais e sintomas, os profissionais de saúde se tornam mais aptos ao diagnóstico

precoce, a escolha de tratamento adequado, ao controle e prevenção deste agravo, responsável

pelas altas taxas de mortalidade nas unidades de terapia intensiva e por onerosos custos aos

serviços de saúde.

É necessário ressaltar que a pesquisa foi de suma importância para a abrangência e

ampliação de conceitos específicos sobre a sepse, o que representa um grande significado para

a saúde, em especial aos pacientes que se encontram hospitalizados por período prolongado e

expostos a procedimentos invasivos complexos, além de vulneráveis a práticas diversas de

assistência a saúde.

Apesar da alta complexidade retratada por infecções e sepse, o combate a

microorganismos não é algo impossível de se realizar, devendo ser feito através da prevenção

a partir da coerência na realização de técnicas assépticas, assim como o conhecimento da

maneira ideal de lidar com tal situação, que consequentemente deve ser adaptada às

necessidades dos pacientes, relativamente visíveis.

Portanto conclui-se que a prevenção de agravos é o melhor tratamento para a sepse e,

diante do quadro clínico instalado deve-se obter urgência na percepção do diagnóstico e na

introdução precoce do tratamento mais adequado. A implantação de manual detalhando as

principais recomendações e diretrizes propostas pela Campanha Sobrevivendo a Sepse, com

formato que facilita a consulta a beira do leito poderá intervir no atual cenário epidemiológico

da sepse, servindo como instrumento de aproximação entre as evidências científicas

disponíveis e a prática assistencial diária.

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