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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ KAROLINE CHENPCIK ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NAS VARAS CÍVEIS CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

KAROLINE CHENPCIK

ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NAS VARAS

CÍVEIS

CURITIBA

2014

KAROLINE CHENPCIK

ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NAS VARAS

CÍVEIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídica da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Rafael Knorr Lippmann.

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

KAROLINE CHENPCIK

ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NAS VARAS

CÍVEIS

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de bacharel no Curso de Bacharelado

em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,____de_______________ de 2014.

_______________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná

________________________ Prof.

Orientador Universidade Tuiuti do Paraná

________________________ Prof.

Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná

________________________ Prof.

Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná

AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado a oportunidade de realizar um sonho. Graças a ele consegui minha bolsa de estudos pelo Prouni, e hoje estou concluindo o curso de Direito com o qual sonhava. Agradeço a minha família pelo apoio em todos os momentos. Agradeço ainda ao meu orientador, pela paciência e empenho dedicado, para a produção desde Trabalho de Conclusão de Curso. Agradeço ainda a todos os professores que me guiaram até aqui com seus ensinamentos. Obrigada.

DEDICATÓRIA

Dedico de maneira especial aos meus pais Nelson Chenpcik e Ana Maria M. Chenpcik pelo apoio e dedicação para essa conquista. Dedico a minha irmã por todo apoio e ajuda que ela me proporcionou. Aos meus amigos da TUIUTI, pela colaboração, quando por alguns motivos de força maior não pude estar presente nas aulas, mas através deles não perdi o conteúdo. Dedico ainda a minha avó Maria da Luz Chenpcik que me apoiou desde o começo, querendo ver sua neta caçula formada, no entanto acabou nos deixando nesse ano, mas sei que na hora que receber meu diploma aonde ela estiver ela estará feliz pela minha conquista.

“Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento de

justiça” Rui Barbosa.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar as audiências conciliatórias,

frente à quantidade de acordos realizados no Cível, buscando conceituar

primeiramente a conciliação, para assim entender com o desenvolver do trabalho a

finalidade da audiência de conciliação.

Ainda irá analisar a audiências nos procedimentos sumário e ordinário,

diferenciando os temas em caso de não composição. Informando ainda a existência

da resolução do CNJ, a qual instituiu centro de soluções de conflitos buscando a

efetividade nas autocomposições.

Será demonstrado através de pesquisa, o motivo da não composição,

informando em seguida uma solução adequada. Observando ainda, como será a

audiência de conciliação nos procedimentos, frente ao projeto do novo Código de

Processo Civil, uma vez que esses procedimentos serão extintos, tornando-se um

procedimento comum.

Por fim, busca apresentar soluções para que a conciliação se torne possível,

buscando um meio alternativo para a solução do conflito e assim receber a almejada

tutela jurisdicional, a qual ira satisfazer a vontade dos juridicionados.

Palavras-chaves: Audiência. Conciliação. Infrutífera.

LISTA DE SIGLAS

CF/88 Constituição Federal de 1988

CPC Código de Processo Civil

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJPR Tribunal de Justiça do Paraná

CNJ Conselho Nacional de Justiça

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9

2 DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. ................................................................... 10

2.1 CONCEITO ....................................................................................................... 10

2.2 CONCILIAÇÃO JUDICIAL ............................................................................... 11

2.3 PRINCIPIOS DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO .......................................... 13

2.4 DA FINALIDADE ............................................................................................ 14

2.5 DA CONCILIAÇAO NOS PROCEDIMENTOS SUMÁRIO E ORDINÁRIO ...... 16

3 RESOLUÇÃO N.125/2010 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ............ 21

4 PROJETO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. (PL 8.046/2010). .............. 24

4.1 DOS PROCEDIMENTOS SUMÁRIO E ORDINÁRIO NO NOVO CPC. .......... 25

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 26

REFERÊNCIA ........................................................................................................... 28

ANEXO I .................................................................................................................... 30

9

1 INTRODUÇÃO

No presente trabalho busca-se analisar o objetivo da audiência de

conciliação, a qual propõe um meio de solução de conflitos mais célere e vantajoso,

bem como avaliar os resultados das audiências.

Contudo, não é uma crítica ao procedimento e sim à conseqüência, que seria

a demora na prestação da tutela, em virtude das pautas congestionadas. Analisando

a opinião de magistrados e as pesquisas feitas em doutrinas, para a finalidade de

fazer uma análise critica acerca da conciliação.

No transcurso do trabalho há que se esclarecer o conceito da conciliação, as

disposições previstas no Código de Processo Civil, bem como os princípios que

regem a audiência, alem de discorrer sobre os procedimentos sumário e ordinário.

Por fim, além dos argumentos expostos, haverá analises de várias decisões

de tribunais e doutrinadores, opiniões de magistrados sobre a ineficácia da

audiência de conciliação com a finalidade de mero andamento processual.

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2 DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO.

2.1 CONCEITO

Na audiência preliminar busca-se a conciliação das partes para assim obter

um meio mais célere da eficácia da tutela jurisdicional. Antes de adentrar na

questão da audiência em si, há que se esclarecer o que é conciliação, segundo o

sitio do Tribunal de Justiça do Paraná:

“É um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo. O conciliador é uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntária e após treinamento específico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício ao entendimento mútuo, à aproximação de interesses e à harmonização das relações.” (CONCILIAÇÃO, TJPR, acessado em 28/09/2014)

Para Maurício Godinho Delgado, conciliação é a forma pacifica pelas qual as

partes chegam a uma decisão consensualmente:

“A conciliação, por sua vez, é o método de solução de conflitos em que as partes agem na composição, mas dirigidas por um terceiro, destituído do poder decisório final, que se mantém com os próprios sujeitos originais da relação jurídica conflituosa. Contudo, a força condutora da dinâmica conciliatória por esse terceiro é real, muitas vezes conseguindo implementar resultado não imaginado ou querido, primitivamente, pelas partes (…). (2010, p.1346).”

Humberto Teodoro Junior, entende como conciliação:

“A conciliação é, em nosso processo civil, uma acordo entre as partes para solucionar o litígio deduzido em juízo. Assemelha-se à transação, mas dela se distingue, porque esta é ato particular das partes da conciliação é ato processual realizado por provocação e sob mediação do juiz.” (p. 498 – 2010).

Para Fredie Didier Jr, “(...) a conciliação revela-se como a melhor e mais

eficaz forma de solução de conflitos.” (2013, p. 585).

Em um artigo de 2011 publicado no sítio do CNJ, o advogado Adolfo Braga

Neto, conceitua conciliação como:

11

Conciliação constitui-se e um método de resolução de conflitos, considerado pela doutrina jurídica brasileira como a autocomposição indireta ou triangular, posto existir um terceiro que as auxilia na composição. É um instrumento antigo que remonta ao Direito Romano. O termo é proveniente do latim “conciliabulum”, que significava nos tempos da antiga Roma um local para se buscar um acordo.

De uma análise dos pareceres dos doutrinadores há que se conceituar

conciliação como uma forma de resolução de conflitos, na qual uma terceira pessoa,

tenta promover a autocomposição, para que o acordo seja benéfico a ambas as

partes. Essa autocomposição disciplina Fredie Didier Jr, como sendo:

“É a forma de solução do conflito pelo consentimento espontâneo de um dos contendores em sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em favor do interesse alheio. É a solução altruísta do litígio. Considerada, atualmente, como legítimo meio alternativo da pacificação social. Avança-se no sentido de acabar com o dogma da exclusividade estatal para solução dos conflitos de interesse. Pode ocorrer dentro ou fora do processo jurisdicional. (2013, p. 116).”

Assim, visando o interesse das partes, é possível promover uma forma

alternativa de solução do conflito, independentemente de intervenção do poder

judiciário.

2.2 CONCILIAÇÃO JUDICIAL

O sítio do Tribunal de Justiça do Paraná, diferencia a conciliação comum da

conciliação judicial, a qual consiste:

“A conciliação é judicial quando se dá em conflitos já ajuizados, nos quais atua como conciliador o próprio juiz do processo ou conciliador treinado e nomeado.” (CONCILIAÇÃO, TJPR, acessado em 28/09/2014).

No nosso sistema processual há duas formas previstas para solução de

conflitos segundo o sitio do TJPR elas são a forma conciliada e a forma impositiva.

“A forma conciliada é a preferida do nosso sistema processual civil, pois está posta em primeiro lugar no Código de Processo Civil, em seus artigos 277, 331 e 448. Esses artigos, postos de modo cogente, mandam o juiz tentar conciliar as partes antes de iniciar a instrução do processo, isso porque a instrução é a fase mais demorada, mais desgastante e mais onerosa do processo. E além desses artigos, há ainda o 125, IV, que coloca dentre os poderes/deveres do juiz na direção do processo o de “tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.” (...)”

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“A forma impositiva, via sentença/acórdão, vem depois, se não houver possibilidade de solução conciliada. Depois de muito desgaste de todos os envolvidos no processo (partes, advogados, juiz, promotor, etc.), com discussões, produção de provas, sentença e recursos que demandam muito tempo e dinheiro (despesas processuais e honorários advocatícios). Nela sempre haverá um lado perdedor que nunca fica satisfeito (no mais das vezes fica mais revoltado do que antes). Nela não há como afastar completamente o risco de injustiça, pois em cada processo sempre há, no mínimo, duas “verdades”, uma de cada lado. E o juiz, para poder proferir uma sentença justa, precisa descobrir qual é a “verdade” verdadeira e isso nem sempre é possível. Daí o risco de injustiça na forma impositiva.” (CONCILIAÇAO JUDICIAL, TJPR, acessado em 28/09/2014)

Em um artigo da ministra Fátima Nancy Andrighi, em que ela foi palestrante

no II Congresso Piauiense de Direito Processual, em setembro de 2003, está

discorreu sobre a conciliação no ordenamento jurídico brasileiro:

“A conciliação no ordenamento jurídico brasileiro deita raízes na Constituição de 1824, art. 161 e art. 162, que instituiu a conciliação prévia como condição essencial de procedibilidade para todos os processos cíveis, repetindo o art. 48 e seguintes do Código de Processo Frances. Sem dúvida, a conciliação prévia, com status constitucional, encerra uma ideologia eu transcende o interesse das partes. Concretiza o ideal maior de evitar a formação de litígios e promove a harmonia entre os cidadãos.” (ANDRIGHI STJ, acessado em 28/09/2014). Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará Processo algum. Art. 162. Para este fim haverá juizes de Paz, os quaes serão electivos pelo mesmo tempo, e maneira, por que se elegem os Vereadores das Camaras. Suas attribuições, e Districtos serão regulados por Lei.

Dentro desse conceito ainda à diferença entre conciliação judicial da

extrajudicial, como já conceituamos acima conciliação judicial é aquela em que

ocorre em conflitos já ajuizados, ou seja o conciliador muitas vezes é o magistrado,

ou então o conciliador nomeado.

Conciliação extrajudicial é alternativa ao processo, é um meio de evitar o

ajuizamento da ação. A diferença entre a conciliação judicial e a extrajudicial

consiste na ausência de processo judicial em andamento.

Ainda cumpre esclarecer que o juiz poderá conciliar as partes em qualquer

fase do processo, sem necessariamente designar audiência conciliatória, conforme o

disposto no art. 125, IV do CPC.

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2.3 PRINCIPIOS DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Em sua obra “Audiência de instrução e julgamento e audiências preliminares”,

Athos Gusmão Carneiro qualifica como um dos princípios norteadores da audiência

de conciliação, o Principio da publicidade da audiência (2002, p. 17).

Principio da Publicidade da audiência: é aquele em que a audiência ocorre

publicamente e qualquer um pode assisti-la. Esta publicidade dos atos processuais

encontra-se disposta no art. 155 do CPC, bem como no art. 93, IX da CF. Athos

Gusmão Carneiro conceitua como:

“... é um principio de caráter democrático e que encontra sua mais ostensiva aplicação na audiência a portas abertas, sujeita ao crivo da opinião publica, evitando-se a desconfiança decorrente dos julgamentos sigilosos, ou assistidos apenas por limitado numero de pessoas.” (2002 – p.17) Art. 155 - Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos: I - em que o exigir o interesse público; II - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores. Parágrafo único - O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo

da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite. Art. 93 - Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Serão realizadas de portas fechadas apenas as audiências regidas por

segredo de justiça, as quais consistem:

Cuida-se de demandas em que com bastante freqüência são devassados assuntos de natureza intima, e feitas revelações que contém seja resguardadas do conhecimento publico, evitando-se às pessoas relacionadas com tais fatos incômodos, vexames e humilhações. (...)” ( 2001, p. 18).

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Nessas audiências realizadas em portas fechadas, os servidores da justiça

vinculam-se ao dever de sigilo, que em caso de descumprimento podem sofrer

sanções criminais e cíveis.

Outros princípios que podem ser aplicados no presente caso são: o principio

do acesso a justiça, considerando conforme as partes entram em consenso e

realizam acordo elas recebem a prestação jurisdicional, e o principio da celeridade

processual, vez que com uma composição o processo termina automaticamente.

Esses princípios estão elencados na CF/88, em seu art. 5, incisos XXXV e LXXVIII:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Assim com base nos princípios acima elencados, a audiência torna-se

pública, rápida e eficaz, salvo nos casos previstos em lei.

2.4 DA FINALIDADE

A finalidade da audiência de conciliação é compor as partes amigavelmente,

e em não sendo o caso seguir com o andamento processual. Nesse sentido Joel

dias Figueira Junior:

“Não se trata de uma simples audiência preliminar com escopo único de tentar a composição amigável entre os litigantes. Essa é tão-somente a primeira faceta deste ato processual que poderá desmembrar-se em outras etapas mais complexas, dependendo apenas do desenrolar de cada caso concreto, ou, em linhas gerais, desde que as partes não acordem, como veremos a seguir. Comparecendo os litigantes e frutificando a proposta de acordo, o processo encontra ali mesmo a sua conclusão, tendo em vista que a composição será reduzida a termo e homologada por sentença, extinguindo-se o feito com julgamento de mérito (art.269, III do CPC). (1996, pg.173).”

O que muitas pessoas acabam esquecendo ao tentar um acordo na

audiência preliminar, é que para chegar a um consenso há que se fazer concessões

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mútuas. Ambas as partes tem que ceder, não há que se falar em mérito quando se

quer acordar, há que se tentar colocar um fim ao litígio concedendo, analisando os

fatos, tentando assim obter uma solução amigável e pacífica.

Ocorre que as partes não tentam resolver conflitos amigavelmente, tentam

direto obter a solução da lide através do judiciário, sem ao menos obter uma

tentativa do que seria a solução mais eficaz, nesse sentido Luiz Guilherme Marinoni:

“A audiência preliminar tem entre os seus principais fins o da tentativa de conciliação, objetivo que, alem de eliminar o conflito mais rapidamente e sem tanto gasto, possibilita a restauração da convivência harmônica entre as partes.” ( p. 243 – 2007).

Quando não se atinge a conciliação no procedimento sumário abre-se prazo

para impugnação da contestação, ai o processo anda normalmente. Mas será que

realmente é necessário obter uma solução somente através de sentença?

Os doutrinadores Luiz Fernando Tomasi Keppen e Nadia Bevilaqua Martins,

discorrem acerca do papel do juiz frente à composição judicial.

“... os juízes frequentemente tentam fazer com que as partes cheguem a um acordo, ora através da sugestão ou intimação, ora através da elaboração de ordens que signifiquem algum ganho para cada parte. Existe uma tendência moderna que determina que os juízes tenham um papel mais ativo na condução dos casos, e que durante o processo sejam menos „árbitros‟ e mais „administrativos‟. Juízes administrativos desempenham funções mediadoras em algumas situações...” – (pg. 94- 2009).

Ocorre que as partes acabam não aceitando, uma composição amigável. Elas

não vêem esses métodos consensuais de solução de conflitos como uma

oportunidade de satisfazer a sua vontade inicial.

No que tange a prestação dos advogados frente à conciliação, parece que

esqueceram um dos principais deveres, o qual seria tentar conciliar as partes sem

precisar adentrar ao judiciário. Esse aconselhamento chama-se advocacia

preventiva, a qual segundo Paulo Lobo “... busca soluções negociadas aos conflitos

ou o aconselhamento técnico que evite o litígio judicial...” (p. 25 – 2007).

Art. 2º O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu Ministério Privado à elevada função pública que exerce. Parágrafo único. São deveres do advogado: (...)

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VI – estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios; VII – aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial;

Ainda acabam esquecendo as vantagens de uma composição, na qual seriam

vantagens financeiras e satisfação da vontade de ambas as partes, Figueira Junior

discorre sobre essas vantagens:

“A primeira vantagem da conciliação e da transação é que ambos os institutos proporcionam a extinção da lide processual, total, ou parcialmente, através de uma sentença de mérito (art. 269, III), sem que dela resultem vencedores ou perdedores. Por conseguinte, não há qualquer espécie de sucumbência, o que, por si só, já atinge um grau bastante elevado, entre as partes, de profunda satisfação. Apenas as despesas processuais serão rateadas, e de acordo com a vontade das partes, previamente estabelecida no ajuste. (p. 177, 2002).” Art. 269. Haverá resolução de mérito: (...) III - quando as partes transigirem; (...) (Código de Processo Civil).

Com uma autocomposição ambas as partes obteriam a satisfação de suas

vontades, obtendo uma vantagem financeira e uma solução benéfica a todos os

evolvidos.

2.5 DA CONCILIAÇAO NOS PROCEDIMENTOS SUMÁRIO E ORDINÁRIO

Antes de adentrar na audiência de conciliação do procedimento sumário, há

que se conceituar o que seria este procedimento, nesse sentido dispõe Luiz

Guilherme Marinoni:

“O legislador entendeu que em alguns casos, contemplados no art. 275, deveriam ser guiados por um procedimento comum sumário, que objetivaria propiciar um tratamento mais simples e rápido a alguns conflitos de interesses. Segundo o referido art. 275, o procedimento sumário deve ser observado – com algumas exceções – em causas que não excedam determinado valor, e naquelas, qualquer que seja seu valor, que, em face de sua natureza, melhor se amoldam ao procedimento sumário, que é mais concentrado e, portanto, mais célere que o ordinário.”(p. 61 – 2007).

No tocante a audiência de conciliação do procedimento sumário, essa é

realizada por meio de um conciliador que muitas vezes é o próprio magistrado,

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nessas audiências o juiz é assessorado por uma pessoa que faz às vezes de um

conciliador.

As audiências designadas aqui apesar das pautas abalroadas dos

magistrados não podem ser entendidas como um malefício do procedimento

sumário, vez que é uma oportunidade das partes através de métodos consensuais

resolverem o litígio.

Em uma entrevista que fiz acerca do presente tema, com o magistrado Dr.

Fernando Augusto Fabrício de Melo, a qual segue em anexo, lhe foi perguntado, se

a conversão do rito sumário para o ordinário, “ante as peculiaridades da causa e a

baixa probabilidade de composição”, ajuda a minimizar a quantidade de audiências

preliminares designadas? O magistrado respondeu:

“A conversão muito embora gere inúmeras outras conseqüências, que podem culminar com uma futura maior demora na conclusão do litígio, tem sido reiteradamente usada como forma de escapar da audiência preliminar, e assim reduzir as pautas notoriamente abarrotadas.”(entrevista realizada no dia 04/08/2014, anexo I).

Na mesma pesquisa foi lhe perguntado: Considerando a porcentagem de

acordos firmados a audiência de conciliação é eficaz e atinge sua finalidade? Sua

resposta:

“O êxito nas audiências de conciliação de um modo geral não é alcançado por um problema cultural do brasileiro de não aceitar métodos compositivos alternativos, que se traduz em partes desinteressadas em trata com “adversário” e mediadores/conciliadores concretamente despreparados em obter o melhor proveito do ato.” (entrevista realizada no dia 04/08/2014, anexo I).

Além desse esclarecimento o magistrado informou que o principal motivo do

não aproveitamento do ato é o fato de:

“O principal motivo como anteriormente dito, é a cultura arraigada do litígio e da não aceitação dos métodos compositivos alternativos.” (entrevista realizada no dia 04/08/2014, anexo I).

Nesses esclarecimentos acima expostos é possível verificar que o problema

acerca do aproveitamento do ato das audiências, é a não aceitação de meios

alternativos para resolução dos conflitos, tornando então pautas abarrotadas de

audiências infrutíferas, deixando assim o processo mais lento do que o seria em

caso de composição.

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Quando a ação tramita pelo procedimento comum ordinário versando sobre

direitos disponíveis, nela poderá ser designada audiência preliminar, segundo Luiz

Guilherme Marinoni:

“... audiência preliminar, ocasião em que deverá ser tentada a conciliação das partes, passando-se, diante de seu insucesso, à decisão das questões pendentes, à fixação dos pontos controvertidos, à definição do ônus da prova e à decisão sobre as provas que devem ser produzidas, designando-se, se necessário, audiência de instrução (art. 331 do CPC).” (p. 242 – 2007).

Nesses termos Nelson Nery Junior justifica a designação:

“... Justifica-se a audiência preliminar, como uma forma de tentar a composição amigável das partes e de dar melhores condições ao juiz de preparar o processo para a fase instrutória. Com a pretensão do autor já deduzida e a resposta do réu efetivada, tem o magistrado o quadro completo das postulações das partes, de modo que pode, eficazmente, tentar conciliar as partes, preparar o saneamento e fixar os pontos controvertidos sobre os quais versará a prova...”(pg. 109 – 1996).

As audiências designadas no procedimento ordinário, estão previstas no

artigo 331 do CPC, e caso não sejam frutíferas, serão fixados os pontos

controvertidos da demanda, para assim se necessário seja designada audiência de

instrução e julgamento.

Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir. § 1

o Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por

sentença. § 2

o Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os

pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário. § 3

o Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da

causa evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o processo e ordenar a produção da prova, nos termos do § 2

o.

No entanto essa audiência não é obrigatória, uma vez que ela é designada

após o contraditório, e em não sendo designada esta não trará nenhum malefício ao

jurisdicionado.

Nesse sentido:

APELAÇÃO AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES NÃO RECONHECIMENTO INSURGÊNCIA DA RÉ

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QUANTO A NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO ARGUIÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA INTERESSE PROCESSUAL PRESENTE PRELIMINAR REJEITADA. EMENTA: PROCESSUAL CIVIL AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 331 DO CPC IRRELEVÂNCIA PROCEDÊNCIA DO PEDIDO SENTENÇA MANTIDA RECURSO IMPROVIDO. A falta de realização da audiência de tentativa de conciliação não acarreta qualquer mácula à r. sentença, uma vez que a regra contida no art. 331 do CPC objetiva dar maior agilidade ao processo e as partes podem conciliar-se a qualquer momento.

(TJ-SP - APL: 00909641920128260002 SP 0090964-19.2012.8.26.0002, Relator: Mendes Gomes, Data de Julgamento: 27/01/2014, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 27/01/2014)

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. ART. 331. 1. Não importa nulidade do processo a não realização da audiência de conciliação, uma vez que a norma contida no artigo 331 do CPC visa a dar maior agilidade ao processo e as partes podem transigir a qualquer momento"(REsp 242.322-SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU de 15.05.00).

Ainda, em casos de ausência de uma das partes a audiência do art. 331 do

CPC, o processo não será extinto, uma vez que a designação é somente para que

seja oportunizada a autocomposição, sendo assim a ausência de qualquer uma das

partes a audiência, não acarretará nenhuma nulidade processual.

Nesse sentindo:

PROCESSO CIVIL . AÇÃO SUMÁRIA DE COBRANÇA. FIES. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. AUSÊNCIA DO AUTOR À AUDIENCIA DE CONCILIAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. RECURSO PROVIDO. 1. Trata-se de Apelação interposta contra sentença que extinguiu o feito sem análise do mérito, aplicando-lhe a pena do art. 277, § 2º do CPC. 2. A ausência da Autora ou de seus procuradores à audiência de conciliação não enseja a extinção do processo, sem exame do mérito, porquanto inexiste previsão de tal sanção no CPC para a questão versada; outrossim, ela apenas sinaliza o seu desinteresse momentâneo na composição amigável. 3. A leitura do art. 331 e parágrafos do CPC não prevê qualquer penalidade às partes pela ausência em audiência preliminar, sendo expresso, inclusive, em estabelecer as diretrizes para a continuidade do feito, com a abertura da fase probatória. Precedentes. 4. Impossibilidade de criar sanções por via análoga, razão pela qual não há como ser aplicada nos presentes autos a sanção prevista, no art. 51, I, da Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), que, diferentemente da Lei Processual Civil, prevê que o processo será extinto, deixando o Autor de comparecer a qualquer das audiências do processo. 5. Anulada a sentença, com o retorno dos autos à Vara de origem para o regular processamento da ação sumária de cobrança. 6. Apelação Provida. (TRF-2 - AC: 201051050010650 RJ 2010.51.05.001065-0, Relator: Desembargador Federal GUILHERME DIEFENTHAELER, Data de Julgamento: 10/04/2012, QUINTA TURMA ESPECIALIZADA, Data de

Publicação: E-DJF2R - Data::25/04/2012 - Página::313/314)

Ainda, Candido Dinamarco discorre acerca desse procedimento:

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“A conciliação, como visto, é apenas uma das possibilidades que comporta o trinômio integrante da audiência preliminar. Não conseguida a autocomposição do litígio, passará o juiz às outras duas atividades para as quais essa audiência existe, decidindo sobre as preliminares e (sendo o caso) preparando o processo para uma correta instrução (art. 331, § 2

o

CPC)” (p.120-121- 1997).

Para fixar os pontos controvertidos o juiz deverá analisar os pontos

importantes para objeto da prova, Athos Gusmão discorre sobre o tema:

“Ao fixar os pontos controvertidos relevantes e objeto de prova, o juiz definirá de logo sua posição quanto a tais aspectos da lide, em provimento cujo conteúdo decisório poderá propiciar a interposição de agravo pelo litigante que considerar suas possibilidades de defesa. Se o magistrado, considera determinado fato como incontroverso, ou notório, ou legalmente presumido, o transcurso in albis do prazo recursal tornará para a parte a matéria preclusa ...” (2002, p. 68-69).

Nesses termos com a designação da audiência preliminar o juiz tenta conciliar

as partes, bem como prepara o processo para a fase instrutória, fixando os pontos

controvertidos da lide.

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3 RESOLUÇÃO N.125/2010 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.

Segundo o sitio do CNJ, esta resolução “institui a Política Pública de

Tratamento Adequado de Conflitos, destacando entre seus princípios informadores a

qualidade dos serviços como garantia de acesso à ordem jurídica justa”. Fredie

Didier Jr, elenca os principais aspectos da resolução.

“(...) CONSIDERANDO que, por isso, cabe ao judiciário estabelecer política Pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e conciliação.(...). (2013, pg. 218)”. Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, além da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. Art. 2º Na implementação da Política Judiciária Nacional, com vista à boa qualidade dos serviços e à disseminação da cultura de pacificação social, serão observados: centralização das estruturas judiciárias, adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e mediadores, bem como acompanhamento estatístico específico. Art. 3º O CNJ auxiliará os tribunais na organização dos serviços mencionados no art. 1º, podendo ser firmadas parcerias com entidades públicas e privadas.

Com esta resolução instituiu-se no Brasil um estimulo para autocomposição.

Fredie Didier Jr, ainda alega que “(...) o estimulo pode ser entendido como um

reforço da participação popular no exercício do poder.” (2013, p. 217).

A resolução tornou obrigatória a criação de centros de soluções de conflitos,

para a possível mediação e conciliação. Nesse sentido, Fredie Didier Junior:

“Estes centros serão preferencialmente responsáveis pela realização das sessões e audiências de conciliaçao e mediação, que ficarão a cargo de mediadores ou conciliadores. Alem disso, estes centros têm o dever de atender e orientar o cidadão na busca da solução do conflito (art. 8º caput)” (p. 221 – 2013). Art. 8º Para atender aos Juízos, Juizados ou Varas com competência nas áreas cível, fazendária, previdenciária, de família ou dos Juizados Especiais Cíveis e Fazendários, os Tribunais deverão criar os Centros Judiciários de

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Solução de Conflitos e Cidadania (“Centros”), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão. § 1º Todas as sessões de conciliação e mediação pré- processuais deverão ser realizadas nos Centros, podendo, excepcionalmente, as sessões de conciliação e mediação processuais ser realizadas nos próprios Juízos, Juizados ou Varas designadas, desde que o sejam por conciliadores e mediadores cadastrados junto ao Tribunal (inciso VI do art. 7º) e supervisionados pelo Juiz Coordenador do Centro (art. 9º). § 2º Os Centros deverão ser instalados nos locais onde exista mais de um Juízo, Juizado ou Vara com pelo menos uma das competências referidas no caput. § 3º Nas Comarcas das Capitais dos Estados e nas sedes das Seções e Regiões Judiciárias, bem como nas Comarcas do interior, Subseções e Regiões Judiciárias de maior movimento forense, o prazo para a instalação dos Centros será de 4 (quatro) meses a contar do início de vigência desta Resolução. § 4º Nas demais Comarcas, Subseções e Regiões Judiciárias, o prazo para a instalação dos Centros será de 12 (doze) meses a contar do início de vigência deste ato.

Assim foram criados alguns centros judiciários que buscam as soluções de

conflitos das partes quando estas informam o interesse em conciliar, não importando

a fase processual em que os autos estejam. Um exemplo é o Centro de Solução de

Conflitos – situado no Fórum Cível 2º andar.

Nos centros contarão com um juiz coordenador, alem de mediadores e

conciliadores.

Art. 9º Os Centros contarão com um juiz coordenador e, se necessário, com um adjunto, aos quais caberá a sua administração, bem como a supervisão do serviço de conciliadores e mediadores. Os magistrados serão designados pelo Presidente de cada Tribunal dentre aqueles que realizaram treinamento segundo o modelo estabelecido pelo CNJ, conforme Anexo I desta Resolução. § 1º Caso o Centro atenda a grande número de Juízos, Juizados ou Varas, o respectivo juiz coordenador poderá ficar designado exclusivamente para sua administração. § 2º Os Tribunais deverão assegurar que nos Centros atuem servidores com dedicação exclusiva, todos capacitados em métodos consensuais de solução de conflitos e, pelo menos, um deles capacitado também para a triagem e encaminhamento adequado de casos. § 3º O treinamento dos servidores referidos no parágrafo anterior deverá observar as diretrizes estabelecidas pelo CNJ conforme Anexo I desta

Resolução. Art. 10. Cada unidade dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania deverá obrigatoriamente abranger setor de solução de conflitos pré-processual, setor de solução de conflitos processual e setor de cidadania, facultativa a adoção pelos Tribunais do procedimento sugerido no Anexo II desta Resolução. Art. 11. Nos Centros poderão atuar membros do Ministério Público, defensores públicos, procuradores e/ou advogados.

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As audiências deverão ser realizadas nesses centros de soluções de

conflitos, para assim oportunizar um andamento processual célere e vantajoso para

ambas as partes.

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4 PROJETO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. (PL 8.046/2010).

O projeto do novo Código de Processo Civil, inseriu um capitulo sobre a

audiência de conciliação ficou assim Capítulo V – DA AUDIÊNCIA DE

CONCILIAÇÃO :

Art. 335. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação com antecedência mínima de trinta dias, devendo ser citado o réu com pelo menos vinte dias de antecedência. § 1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de conciliação, observando o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária. § 2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à mediação e à conciliação, não excedentes a dois meses da primeira, desde que necessárias à composição das partes. § 3º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado. § 4º A audiência não será realizada: I – se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II – no processo em que não se admita a autocomposição. § 5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu, por petição, apresentada com dez dias de antecedência, contados da data da audiência. § 6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes. § 7º A audiência de conciliação pode realizar-se por meios eletrônicos. § 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. § 9º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos. § 10. A parte poderá constituir representante, devidamente credenciado, com poder para transigir. § 11. A transação obtida será reduzida a termo e homologada por sentença. § 12. A pauta das audiências de conciliação será organizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de vinte minutos entre o início de uma e o início da seguinte.

Nesse novo Código de Processo Civil, a audiência de conciliação não ficou

imposta como uma obrigatoriedade, ela vem para realmente buscar a solução do

conflito, pode ser designada mais de uma vez durante o processo.

Prevê ainda a possibilidade da audiência ocorrer por meio eletrônico, ficando

a parte obrigada a comparecer ao ato sob pena de multa, por ato atentatório a

dignidade da justiça.

Analisando os pontos relativos a frutividade do andamento processual, é

passível analisar que com o novo projeto do CPC visando a solução consensual dos

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conflitos poderá reduzir e descongestionar as pautas proporcionando assim, uma

prestação jurisdicional mais benéfica e eficaz para ambas as partes.

4.1 DOS PROCEDIMENTOS SUMÁRIO E ORDINÁRIO NO NOVO CPC.

O procedimento sumário será revogado pelo projeto do novo CPC, ficando

as ações que seguiam esse rito tramitarem pelo procedimento comum do novo

código.

O procedimento comum encontra-se disciplinado na Parte Especial, Livro I -

Do processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença, Título I - Do

Procedimento Comum, Capítulo I - Das disposições Gerais, no art. 319 e seguintes

do novo Código de Processo Civil.

Art. 1.059. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. § 1º As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais, que forem revogadas, aplicar-se-ão às ações propostas até o início da vigência deste Código, desde que ainda não tenham sido sentenciadas. § 2º Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código. § 3º Os procedimentos mencionados no art. 1.218 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e ainda não incorporados por lei submetem-se ao procedimento comum previsto neste Código. § 4º As remissões a disposições do Código de Processo Civil revogado, existentes em outras leis, passam a referir-se às que lhes são correspondentes neste Código. Art. 319. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo único. Também se aplica o procedimento comum aos procedimentos especiais e ao processo de execução, naquilo que não se ache diversamente regulado.

Assim, se o Projeto do novo CPC, for aprovado, revogam-se os

procedimentos sumario e ordinário, tornando-os procedimento comum.

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5 CONCLUSÃO

Com o presente trabalho pretende-se criticar a frutividade das audiências

conciliatórias, vez que analisando as pesquisas feitas, há uma precariedade na

conciliação.

As partes não detém o interesse na autocomposição, não lhes é informado os

efeitos do processo, o tempo que vai perdurar a ação.

E então, qual seria a solução, seria uma instrução a parte no momento da

aquisição do advogado, este deveria informar os pareces dos magistrados quanto ao

possível deslinde da lide, informando que buscar um acordo amigável é mais eficaz

pois ira satisfazer ambas as vontades. Deverá também os advogados informar as

partes que, em caso de execução muitas vezes não haverá como a parte receber.

Mostrando todos esses parênteses, e informando que uma conciliação seria a

maneira mais certa de uma prestação jurisdicional mais favorável, é que teríamos

uma justiça mais célere, sem tantos processos infundados que poderiam ser

resolvidos por uma simples composição.

Concluo com o presente trabalho que a minha crítica não é a audiência de

conciliação em si, mas é sim ao despreparo do conciliador, que muitas vezes é um

cartorário sem treinamento algum para realizar o ato, o despreparo dos advogados

por não informarem as partes os efeitos da continuidade do processo, os efeitos da

demora, bem como se a parte tem chance ou não de obter uma procedência no

pedido.

Ao meu ver, uma forma para resgatar o objeto central da audiência de

conciliação seria a não obrigatoriedade da audiência conforme art. 277 do CPC, bem

como uma instrução das partes acerca da demora para resolução do litígio,

informando os pareces favoráveis e desfavoráveis, para assim conseguirmos

alcançar com destreza a frutividade das audiências conciliatórias, e tentar assim

descongestionar um pouco o judiciário.

Caso seja sanado esses problemas, com a devida instrução do conciliador, o

advogado demonstrar os efeitos do processo, a audiência de conciliação seria

frutífera e enfim atingiria seu objetivo.

Por fim, analisando o projeto do novo Código de Processo Civil, evidenciou

que não será obrigatório a designação de audiência para a finalidade de oferta de

defesa como nos dias de hoje. O novo CPC, vem mais autocompositivo, buscando

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solucionar conflitos sem prolação de sentença terminativa, e sim sentença

homologatória. Nele terá a possibilidade de ser realizada audiência por meio

eletrônico, onde ficaria mais célere o ato processual.

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REFERÊNCIA

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29

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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Volume I. Ed.

Forense. 51 ed. 2010.

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ANEXO I

Questionário sobre a audiência de conciliação no Procedimento Sumário.

Foi entrevistado o magistrado Dr. Fernando Augusto Fabrício de Melo, Juiz

Substituto da 4ª Vara Cível, no dia 04 de agosto de 2014.

1. A necessidade de aguardar pela audiência de conciliação para que ocorra o

andamento processual (ex. audiência de conciliação para apresentação de defesa),

na sua opinião, traz malefícios ao jurisdicionado, considerando o congestionamento

da pauta do magistrado, a demora para sua designação e o conseqüente

retardamento na apresentação de defesa pelo réu?

Resposta: “A audiência de conciliação não pode ser tida isoladamente como

um malefício do procedimento sumário, mas sim como uma oportunidade para a

aplicação de métodos consensuais de solução de conflitos, os quais deveriam ser

culturalmente estimulados, inclusive dentro das próprias faculdades de direito, por

terem grande êxito na efetiva pacificação social e na prevenção de novos litígios”.

2. As audiências preliminares no procedimento sumário, se mostram infrutíferas

e acabam caracterizando mera formalidade legal necessária ao andamento do

processo. Neste caso, não seria mais célere se a audiência fosse designada após a

abertura do contraditório, com a manifestação da vontade das partes sobre conciliar

e compor amigavelmente o litígio?

Resposta: “Na prática, a sugestão constante da questão, de designação da

audiência após a formação do contraditório, não se mostra acertada ou mesmo

viável, tendo em vista o natural acirramento de animus a partir do momento em que

a parte toma contato com a tese contrária, o que constitui muitas vezes em um

impeditivo para a composição”.

3. Alguns magistrados convertem o procedimento sumário para o ordinário,

considerando “as peculiaridades da causa e a baixa probabilidade de composição”.

Na sua opinião, esse método ajuda a minimizar a quantidade de audiências

preliminares designadas?

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Resposta: “A conversão, muito embora gere inúmeras outras conseqüências,

que podem culminar com uma futura maior demora na conclusão do litígio, tem sido

reiteradamente usada como forma de escapar da audiência preliminar, e assim

reduzir as pautas notoriamente abarrotadas”.

4. Considerando o percentual de acordos firmados, na sua opinião, a audiência

de conciliação é eficaz e atinge sua finalidade?

Resposta: “O êxito nas audiências de conciliação de um modo geral não é

alcançado por um problema cultural do brasileiro de não aceitar métodos

compositivos alternativos, que se traduz em partes desinteressadas em tratar com o

“adversário” e mediadores/conciliadores concretamente despreparados em obter o

melhor proveito do ato”.

5. Na sua opinião, qual o motivo pelo qual as partes não vêm preparadas para

resolver o litígio no ato conciliatório, considerando que assim poderiam evitar a

prolongação do processo?

Resposta: “O principal motivo, como já anteriormente dito, é a cultura

arraigada do litígio e da não aceitação dos métodos compositivos alternativos”.

6. Caso exista, qual seria a sua sugestão para o aperfeiçoamento do

procedimento sumário em prol dos princípios da razoável duração do processo e da

efetividade da prestação jurisdicional?

Resposta: “O que poderia ser pensado para compatibilizar a conciliação com

a celeridade procedimental seria a não obrigatoriedade da audiência preliminar do

art. 277, do CPC”.