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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Jean Raphael Salata EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Jean Raphael Salata

EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

CURITIBA 2012

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EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

CURITIBA 2012

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Jean Raphael Salata

EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Georgia Sabbag Malucelli

CURITIBA 2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

Jean Raphael Salata

EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do Título de Bacharel em Direito no curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de ____________________ de 2012.

__________________________________ Professor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador de Monografia

Orientador: _________________________________ Professora Georgia Sabbag Malucelli

Universidade Tuiuti do Paraná

Banca: _________________________________

Banca: _________________________________

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DEDICATÓRIA

Dedico a Deus, aos familiares que tão

próximos estiveram de mim nesta

empreitada, à minha avó materna, Ana

Maria Rodrigues, que hoje não mais está

conosco para compartilhar desta alegria,

aos meus pais, irmãos, ao meu padrinho

Jackson Luiz Salata, namorada e amigos

que souberam por diversas vezes

entender minha ausência.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, e a Nossa

Senhora do Perpétuo Socorro, pois era no

silêncio de minha fé, que obtive respostas

e ensinamentos, aos meus pais Jefferson

Luiz Salata e Rosalba Maria Rodrigues

Salata, pelos momentos de ensinamentos

e força a mim oferecidos, aos irmãos

Halan Richard Salata e Yhan Robert

Salata, pela paciência, a namorada

Jéssica Félix Rodrigues pelos momentos

de ausência e compreensão. A minha

Professora Orientadora Georgia Sabbag

Malucelli, pelas horas de aprendizagem

que juntos passamos e jamais serão

esquecidos.

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EPÍGRAFE

"Seja você quem for, seja qual for a

posição social que você tenha na vida, a

mais alta ou a mais baixa, tenha sempre

como meta muita força, muita

determinação e sempre faça tudo com

muito amor e com muita fé em Deus, que

um dia você chega lá. De alguma maneira

você chega lá."

Ayrton Senna.

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RESUMO

Será abordado neste trabalho de conclusão de curso, como tema principal, as exceções à impenhorabilidade do bem de família, mas antes disto veremos como ocorreu e qual o seu surgimento, para que fora criado e qual era o principal benefício bem como suas garantias, com o surgimento de tal instituto. Após analisarmos o surgimento histórico, abordaremos de forma breve, o que podemos denominar de bem de família, quais os bens resguardados pelo instituto, da impenhorabilidade do bem de família, bem como os bens que não levam tal garantia as chamadas exceções à impenhorabilidade do bem de família. Em se tratando das exceções, abordaremos com mais ênfase o art. 3º da Lei 8.009/90, na qual poderemos analisar caso a caso que correspondem as exceções à impenhorabilidade do bem de família de forma mais abrangente, e ainda verificar as 7 (sete) hipóteses de penhora de bem de família, aquelas situações em que a simples alegação ou o fato de o bem configurar-se como asilo familiar, de nada incide o instituto da impenhorabilidade, e de uma forma cautelosa, verificar todas as situações do mencionado dispositivo legal.

Palavras Chave: Impenhorabilidade, Penhorabilidade, Bem de família, Exceções, Lei 8.009/90, Convencional, Legal.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................09

2 HISTÓRICO.............................................................................................................10

2.1 HOMESTEAD.......................................................................................................10

2.1.1 SURGIMENTO..................................................................................................10

2.2 SURGIMENTO HISTÓRICO NO BRASIL...........................................................11

3 BEM DE FAMÍLIA...................................................................................................14

3.1CONCEITO............................................................................................................14

3.2 O BEM DE FAMÍLIA.............................................................................................14

4 IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA.....................................................24

5 EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA............................27

5.1 ART.3º, INCISO I, LEI 8.009/90...........................................................................29

5.2 ART.3º, INCISO II, LEI 8.009/90..........................................................................31

5.3 ART.3º, INCISO III, LEI 8.009/90.........................................................................33 5.4 ART.3º, INCISO IV, LEI 8.009/90.........................................................................34 5.5 ART.3º, INCISO V, LEI 8.009/90..........................................................................37 5.6 ART.3º, INCISO VI, LEI 8.009/90.........................................................................39

5.7 ART.3º, INCISO VII, LEI 8.009/90........................................................................42 CONCLUSÃO............................................................................................................45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 INTRODUÇÃO

Mostra-se relevante o tema, pois, o instituto em que consiste a manutenção,

o que é o bem de família, no que diz respeito a sua impenhorabilidade e suas

exceções, sem dúvida é um dos mais importantes no ordenamento jurídico

brasileiro.

O princípio da dignidade humana estará sempre atrelado às ações

relacionadas a este tema, pois, é ele quem norteia o bem de família em si, é nele

que verificamos que todos têm direito a um lar e que estes imóveis ou móveis são

impenhoráveis.

Porém, em sentido contrário, existem as exceções relacionadas à

impenhorabilidade do bem de família conforme analisaremos na Lei nº 8.009/90.

Assim, este princípio, conjuntamente com a norma, torna-se importante no

ordenamento jurídico, bem como quais são as formas e sua aplicação. É inspirado

em tal princípio e amparado em determinada norma que nos nortearemos no sentido

de até que ponto o bem de família é impenhorável e o que se caracteriza bem de

família.

O presente tema tem por escopo abordar alguns aspectos da Lei de

impenhorabilidade do bem de família – Lei nº 8.009/90 - (sendo mais preciso o art.

3º da lei na qual estão enumeradas as situações relacionadas à exceção da

impenhorabilidade) legislação condizente com o direito moderno, onde norteia o que

é bem de família e quais são as hipóteses de penhorabilidade.

E é nesta legislação e de forma taxativa em seu art. 3º, conforme abordado

anteriormente visualizaremos os casos em que existem as exceções de

impenhorabilidade, situações essas totalmente legais e hipóteses reais de

penhorabilidade do bem de família, não deixando dúvidas em relação a sua redação.

Iremos abordar de forma sucinta e breve a origem histórica do bem de

família, tendo o modelo adotado no Brasil origem Norte-americana, mais conhecida

como Homestead, instituída no ordenamento jurídico americano devido a uma

grande crise econômica.

Neste sentido é que iremos abordar em que tange a penhorabilidade do bem

de família até que ponto podemos exercer sua “constitucionalidade” seu cabimento

ou não, se terceiros podem ser prejudicados pela má-fé de um devedor, analisando

sempre o princípio da dignidade humana, conjuntamente com a Lei 8.009/90.

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2 HISTÓRICO

2.1 HOMESTEAD

2.1.1 SURGIMENTO

A palavra homestead significa lei da propriedade rural, trata-se de uma

norma instituída na República do Texas em 1839 com o intuito de fixar famílias em

sua região, garantindo determinadas áreas de terras, sendo estas isentas de

penhora.

Seu surgimento deu-se pelo fato de haver no território americano terras até

então improdutivas, iniciando-se aí uma imigração para estas localidades. O estado

do Texas, ao contrário do que ocorria com o restante do país, estava de certa forma

superpopuloso, tendo, além de tudo, que administrar uma enorme crise que

arrasava a cidade, empresas eram fechadas e famílias corriam o risco de serem

desabrigadas.

Foi então que surgiu a norma que protegia tais famílias, para que ao menos

tivessem seu abrigo assegurado, não causando desestruturação, tornando assim

impenhorável quaisquer imóveis em posse destas famílias.

Conforme mencionado anteriormente, em localidades não tão habitadas,

instaurou-se a norma para que famílias viessem a habitar determinadas regiões com

o intuito de colonizá-las e tornar produtivas suas terras, criando-se o instituto no

sentido de que famílias que cultivassem ou explorassem a agricultura nestas regiões

seriam também beneficiadas pelo homestead, bastando que ali residissem por 5

(cinco) anos, para obtenção do benefício da inalienabilidade e impenhorabilidade do

bem.

O instituto utilizado pelo estado do Texas é chamado de homestead

estadual. Já a outra forma mencionada, trata-se do homestead federal, sendo que,

tanto um quanto o outro, são utilizados para garantir às famílias um determinado

local, seja ele por crise ou pelo desenvolvimento da região.1

http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1168/1118 - Acesso em 01-09-2012 às 23h: 24m.

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2.2 SURGIMENTO HISTÓRICO NO BRASIL

O autor, Hélio Chin da Silva Lemos nos mostra em seu artigo publicado na

internet, como se deu a origem e o surgimento do instituto bem de família bem como

a impenhorabilidade do bem de família no ordenamento jurídico brasileiro 2:

O primeiro instituto semelhante ao do bem de família, a ser introduzido no ordenamento jurídico brasileiro, veio através do regulamento 737 de 25.11.1850, o qual isentava de penhora certos bens do devedor executado. Contudo, o imóvel utilizado pelo devedor como residência não era abrangido pelo benefício. O bem de família foi inserido definitivamente no Código Civil de 1916, sendo regulado de início na parte geral desta legislação no “Livro das Pessoas”, e somente após muita discussão houve a transferência do tema para o “Livro dos Bens”, nos artigos 70 a 73. Com a promulgação da Lei 8.009/90, o imóvel destinado ao bem de família garantiu-se pela regra impenhorável, ressalvadas as exceções contidas na própria Lei. Em 2002, com a entrada em vigor do novo Código Civil, o tema foi tratado na nova legislação civil, que trouxe nos artigos 1.711 a 1.722 algumas inovações. Dentre elas destacam-se a possibilidade do bem de família abranger os valores mobiliários, ser instituído por terceiros e a execução de despesas condominiais, sendo esta última, exceção à regra da impenhorabilidade.

Juliano Dobler, em artigo publicado também nos mostra de forma mais

abrangente como efetivamente surgiu o instituto bem de família em nosso Código

bem como fora reconhecido3:

O Bem de Família foi, inicialmente, colocado no Código Civil de 1916, em sua Parte Geral, no livro das pessoas, sendo posteriormente tal matéria transferida para o livro dos bens. Tal matéria só voltou a ganhar destaque em meados do ano de 1990, quando a economia brasileira passava por considerável crise. A inflação em um ano de março de 1989 a março de 1990 foi absurda e no governo anterior vários foram os planos fracassados de conter a inflação. Em 15 de março de 1990, inicia-se o mandato do primeiro presidente eleito por voto direto desde 1960, Fernando Collor de Mello. Ele organizou um pacote de medidas econômicas visando o fim da crise econômica, conhecido como Plano Collor. No início do plano Collor, a inflação foi reduzida, mas em ordem inversa, apresentou-se a maior recessão da história no Brasil. Entretanto com o avanço legal, com destaque para a Lei n.° 8.009, de 29 de março de 1990, o instituto Bem de Família adquiriu uma maior abrangência, e, a família em face da atual crise foi protegida novamente.

http://www.unibrasil.com.br/arquivos/direito/20092/helio-chin-da-silva-lemos.pdf - Acesso em 22-09-2012 às 18h: 43m. 3 http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3587/Consideracoes-sobre-o-instituto-bem-de-familia - Acesso em 29-09-2012 às 17:52

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A Lei nº. 8.009, de 29 de março de 1990, manifestou de maneira nítida essa preocupação do Estado de proteger a residência da família, principalmente em tal período de recessão. De certo modo, fez com que o instituto do "Bem de Família voluntário" caísse em desuso, já que estendeu a todos os imóveis residenciais da entidade familiar a impenhorabilidade que era peculiar apenas àqueles instituídos, previamente, como bens de família, desta forma criando o Bem de Família legal. A proteção da família então, na criação do Bem de Família legal, mister se fez em período tão crítico pelo qual o Brasil atravessava. A expressão da Lei 8.009/90, além de suas conseqüências jurídicas no mundo social, teve maior enaltecimento face ao período de crise econômica, onde toda a sociedade brasileira estava à mercê de execuções por provável insolvência generalizada. Mais do que importante, a relevância do preceptivo legal que trata da impenhorabilidade do Bem de Família, urge-se em momento histórico de recessão. As exceções da impenhorabilidade do Bem de Família podem ser justificadas pela imaturidade da Constituição Federal de 1988, que ainda engatinhava por sobre seus princípios, e a sociedade como um todo, ainda se encontrava em processo de adaptação à nova ordem legal constitucional no tempo em que a Lei da Impenhorabilidade fora editada. A inclusão do instituto no Direito de Família é sem dúvida, ideal uma vez que o instituto do Bem de Família visa à intervenção do Estado, de forma categórica e soberana na proteção de sua menor, mas mais importante célula, a família, através do Ordenamento Jurídico.

Conforme demonstrado, verificamos claramente que o instituto bem de

família fora instituído em nosso ordenamento desde o Código Civil de 1.916, em

local diverso de onde realmente deveria constar, mas logo fora alterado para o livro

dos bens, mais correto. Muito embora já instituído em nosso ordenamento,

verificamos que realmente veio a ganhar destaque no início da década de 90, tendo

em vista a crise econômica em que o país se encontrava. Em decorrência da

inflação que assustava a todos, o presidente Fernando Collor de Mello, na época,

aprovou a Lei 8.009/90, que visava proteger a família brasileira.

Com a Lei 8.009/90 em vigor verificou-se que bem de família voluntário caiu

em desuso, tendo em vista a abrangência da nova norma e que a mesma recaia sob

todos os bens familiares e que previa todas as formas de impenhorabilidade, da

mesma forma como também havia em nosso Código Civil, porém, com menos

burocracia, o que não quer dizer que as normas instituídas em nosso Código Civil de

nada mais serviriam, mas a Lei 8.009/90 veio a beneficiar todos, sem a necessidade,

por exemplo, de registro em cartório do imóvel como bem de família.

Desta forma, podemos classificar o instituto bem de família de duas formas,

o “Bem de Família Voluntário” que seria o bem destinado ao asilo familiar, existente

em nosso Código Civil, tratando-se do bem em que o interessado, por vários

motivos, declara o imóvel como bem de família. E temos também o “Bem de Família

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Legal”, regido pela Lei 8.009/90, que são os casos em que todos nós temos direito,

tendo a norma efeito erga omnes, na qual encontram-se formas de

impenhorabilidade e também as exceções a esta impenhorabilidade, exceções

essas que serão vistas adiante.

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3 BEM DE FAMÍLIA

3.1 CONCEITO

Conceitua Gediel Claudino, em sua obra, que “bem de família é o imóvel

destinado, ou afetado, ao domicílio familiar e eventuais valores mobiliários cuja

renda destina-se a renda da família, com cláusula de inalienabilidade e

impenhorabilidade” 4.

Veremos adiante posicionamentos de outros doutrinadores, mas o

pensamento em relação ao bem de família é sempre o mesmo, trata-se de bem

imóvel, podendo até mesmo tratar de bem móvel, aqueles destinados a abrigar ou

assegurar o mínimo de dignidade à entidade familiar.

Ainda no sentido de conceituar bem de família, ensina Arnaldo Rizzardo que,

“vem a ser a destinação de parte do patrimônio, para a moradia e conservação a

subsistência da família, não podendo ultrapassar a um terço do patrimônio liquido

então existente” 5.

Notamos aqui que não são todos os imóveis ou móveis que são destinados

ou reconhecidos como bem de família, existindo algumas regras e imposições para

que sejam reconhecidos e vistos como tais. Exemplo claro de normas a serem

seguidas é visto no posicionamento de Arnaldo Rizzardo, deixando bem claro de

que não é todo o patrimônio que pode ser considerado como bem de família e sim

apenas um terço dos bens que pode ter este “benefício” atrelado.

3.2 O BEM DE FAMÍLIA

O bem de família fora instituído em nosso novo Código Civil de 2002, nos

artigos 1.711 ao 1.722, nas quais encontram-se previstas todas as hipóteses e

formas de aquisição e incidência do instituto bem de família a um imóvel ou até

mesmo móvel.

4 JUNIOR, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª edição. Editora Atlas. Pág.85. 4 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª edição. Editora Forense. Pág.781.

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Nota-se que o rol de bem família instituído em nosso código é taxativo,

tendo, por exemplo, algumas regras a serem respeitadas. Um exemplo é o artigo

1.711 no qual se lê:

Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.

Notamos aqui que é facultado aos cônjuges instituir o imóvel como bem de

família. Quando se diz facultado, é pelo fato de o imóvel dever ser reconhecido

como asilo familiar em escritura pública, somente assim recaindo sobre o bem as

regras da impenhorabilidade.

Haviam dúvidas pertinentes ao imóvel a ser resguardado, se o mesmo

poderia ser rural, ou se apenas móvel urbano. O artigo 1.712 veio solucionar esta

dúvida, ao dispor:

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

Nota-se ainda, no dispositivo acima indicado, que será resguardada as

pertenças do imóvel. Neste sentido leciona Silvio de Salvo Venosa em sua obra

Direito de Família (p. 394, p. 395) 6: O art. 1.712 inova e esclarece dúvida da doutrina no passado, autorizando que as pertenças e os acessórios integrem a instituição, podendo também abranger valores mobiliários, “cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família”. O atual diploma encara o bem de família em seu sentido global e social: de nada adianta para a família ter seu prédio residencial imune a execuções se não há possibilidade de mantê-lo e de manter ali os integrantes da família. Neste sentido, permite o código de 2002 que o instituidor destine recursos para essa manutenção que poderá consistir em aplicações financeiras, alugueres etc.

5 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Familia. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 394 e 395.

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A dúvida da maioria da doutrina relacionada ao artigo em comento, era no

sentido de saber se as pertenças seriam ou não penhoráveis, o que hoje ficou claro

com a redação do dispositivo legal, não havendo divergência doutrinária e

jurisprudencial.

A análise do artigo 1.713, deve ser realizada em conjunto com o dispositivo

legal que o antecede, a fim de evitar dúvidas sobre sua aplicação:

Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no artigo antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à época de sua instituição. § 1o Deverão os valores mobiliários ser devidamente individualizados no instrumento de instituição do bem de família. § 2o Se se tratar de títulos nominativos, a sua instituição como bem de família deverá constar dos respectivos livros de registro. § 3o O instituidor poderá determinar que a administração dos valores mobiliários seja confiada a instituição financeira, bem como disciplinar a forma de pagamento da respectiva renda aos beneficiários, caso em que a responsabilidade dos administradores obedecerá às regras do contrato de depósito.

O doutrinador Silvio de Salvo Venosa nos norteia da seguinte forma em sua

obra Direito de Família (p. 395) 7, escreve:

O art. 1.713 dispõe que os valores mobiliários desse jaez não poderão exceder o valor do prédio instituído, à época da instituição. O texto não é muito claro e pode dar a idéia de que outro um terço do patrimônio atual possa ser destacado para o bem de família, o que, em síntese, poderia somar 2/3 do patrimônio e contrariar o art. 1.711. Parece a melhor interpretação ser no sentido de que o prédio, suas pertenças e acessórios e os bens afetados para a sua manutenção e sustento de sua família deverão, no total, limitar-se a um terço do patrimônio líquido atual do instituidor.

No mesmo sentido é o entendimento do doutrinador Gediel Claudino de

Araújo Júnior, em sua obra Prática no Direito de Família (p. 86) 8: Estes títulos cujo valor não poderá exceder o valor do prédio devem ser devidamente individualizados no instrumento de instituição de bem de família, podendo o instituidor estabelecer que a sua administração seja confiada à instituição financeira, bem como disciplinar a forma de pagamento da respectiva renda aos beneficiários.

7 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Família. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 395. 8 ARAÚJO, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 86

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Passamos a análise do artigo 1.714, que não traz maiores dificuldades

acerca de sua interpretação e compreensão:

Art. 1.714. O bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-se pelo registro de seu título no Registro de Imóveis.

O doutrinador Silvio de Salvo Venosa novamente nos ajuda a interpretar o

dispositivo em questão, em sua obra Direito de Família (p. 395) 9:

O art. 1.714 dispõe que, em sendo a instituição formalizada pelos cônjuges ou por terceiros, constituir-se-á pelo registro do título no Registro de Imóveis. Se constituída por terceiros, será feita a transcrição. Esta última solução deverá ser adotada, como regra geral, quando se tratar de entidade familiar.

Não temos maiores problemas a interpretar o dispositivo em comento, que

novamente ressalta a importância do registro do imóvel em local determinado, sendo

um requisito indispensável para a destinação do bem como bem de família.

O art. 1.715, do Código Civil, disciplina que dívidas provenientes após a

aquisição do bem de família não trarão nenhum dissabor para o imóvel, sendo

assim, o imóvel é impenhorável, exceto para as dívidas provenientes de taxas,

tributos ou despesas oriundas do próprio imóvel.

É notório que o artigo nos mostra que o bem de família é isento de execução

pelas dívidas posteriores a sua constituição, exceto aquelas provenientes de tributos

relativos ao próprio bem, sejam elas de condomínio, IPTU, hipóteses que serão

tratadas oportunamente.

Relacionado ao parágrafo único do artigo, traremos o posicionamento de

alguns doutrinadores. Silvio de Salvo Venosa novamente nos ensina na obra Direito

de Família (p. 395) 10:

Esclarece o parágrafo único desse artigo que, na execução dessas dívidas afeitas ao próprio prédio, o saldo remanescente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz. O interesse a ser visto pelo magistrado, nesse caso, é o da entidade

9 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Família. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 395. 10 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Familia. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 395.

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familiar: poderá não ser a solução mais conveniente à aplicação do saldo eventualmente remanescente em títulos da dívida pública.

Gediel Claudino de Araújo Júnior, em sua obra Prática no Direito de Família

(p. 87) 11, no mesmo sentido leciona:

Nas execuções arrimadas nessas hipóteses, eventual saldo apurado em favor de executado deverá ser aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz.

Arnaldo Rizzardo nos traz um posicionamento no mesmo sentido dos

anteriores, na obra Direito de Família (p. 786) 12:

O parágrafo único do art. 1.715, embora de difícil incidência prática, inclui em outro bem de família ou em títulos da dívida pública, facultando-se ao juiz ordenar outra forma de aplicação mais vantajosa, eventuais saldos que sobrarem na execução ou cobrança de tributos incidentes no imóvel ou de despesas de condomínio: “No caso de execução por dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz”. Nota-se que, na aplicação em títulos, a renda destinar-se-á para o sustento da família.

O raciocínio neste caso é o mesmo não tendo posicionamentos divergentes

algum ao assunto, e neste sentido torna-se fácil a compreensão.

Já o art. 1.716 determina que a isenção durará enquanto viver os cônjuges

ou na falta destes, até que os filhos completem a sua maioridade.

Nos mostra o artigo que enquanto perdurar a entidade familiar, o na

ausência ou falta dos cônjuges o bem de família irá, ser considerado até que os

filhos completem a maioridade, algo óbvio, e repetido pelo legislador.

Arnaldo Rizzardo nos traz seu posicionamento, (p. 786 e 787) 13:

As seguintes situações emergem: se a instituição atingir unicamente os cônjuges, perdura o benefício pelo tempo de dívida dos cônjuges; se abranges também os filhos até que eles atinjam a maioridade, e, sobrevivendo os progenitores, mantem-se enquanto estes viverem. Cumpre observar que a matéria diz respeito à isenção que protege os bens, perdurando na forma da previsão do art. 1.716. Não se trata da extinção do bem de família, que consta contemplada no artigo 1.722.

11 ARAÚJO, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 87. 12 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª. ed. Atual. – Editora forense, Pág. 786. 13 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª. ed. Atual. – Editora forense, Pág. 786 e 787.

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A análise do art. 1.717 se revela importante, pois, a sua não compreensão

poderá até mesmo incidir em fraudes, tentando burlar situações e tirar vantagens

sobre terceiros. Trata-se de uma situação na qual por vezes, não havendo o amparo

de autoridades judiciais, poderíamos até presenciar várias fraudes ao instituto, bem

como possivelmente alienação de imóveis tidos como bem de família.

Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.

Para melhor compreendermos o artigo iremos verificar dois

posicionamentos, a começar por Silvio de Salvo Venosa, na obra Direito de Família

(p. 396) 14:

A alienação do prédio e respectivos valores mobiliários não poderão ter destino diverso, somente sendo utilizados para domicílio familiar e somente podendo ser alienados com o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público. Trata-se da extinção voluntária do bem de família descrita no art. 1.717. Caberá ao juiz, em síntese, a palavra final sobra a extinção.

Sobre o assunto escreve Arnaldo Rizzardo, (p. 787) 15:

O art. 1.717 veda a destinação do prédio e dos valores mobiliários, que formam o conjunto de bem de família, para fins diversos daqueles que constam do art. 1712, e que consistem no uso ao domicílio familiar, na conservação desses bens e no sustento da família, a não ser que se consiga autorização judicial, com a ouvida dos interessados ou seus representantes, devendo participar o Ministério Público.

Aqui notamos que não há a possibilidade do particular exercer de forma

espontânea a disposição ou alienação dos bens dados como bem de família,

dependendo do poder público para que possa rever sua situação.

Dando prosseguimento, passaremos a análise do art. 1.718, juntamente com

o entendimento de Silvio de Salvo Venosa, na obra Direito de Família (p. 396)16, que

nos ensina, Importante é a disposição do art. 1.718. Qualquer forma de liquidação das entidades administradoras dos valores mobiliários não deverá atingir os

14 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Familia. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 396. 15 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª. ed. Atual. – Editora forense, Pág. 787. 16 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Família. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 396.

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valores a ela confiados, devendo o juiz ordenar sua transferência para outra instituição semelhante. Na falência, possibilita-se o pedido de restituição. Como vimos, a responsabilidade da instituição é a do depositário.

O art. 1.719 institui que o bem de família poderá ter sua finalidade alterada

ou até mesmo sub-rogada, quando comprovada a impossibilidade de sua

manutenção, mediante requerimento a ser apresentado ao Juiz e oitiva do instituidor

e do representante do Ministério Público.

O mencionado dispositivo legal trata de uma das formas de extinção do bem

de família sendo esta a extinção realizada de forma motivada, são os casos por

exemplo na qual o bem de família é dado em inventário como cláusula, por exemplo,

de inalienabilidade, na qual por muitas vezes o beneficiário do imóvel não pode

suportar ou até mesmo custear os gastos provenientes do imóvel e desta forma

requerer judicialmente autorização para desfazer-se do bem, e possivelmente,

adquirir um bem que tenha uma manutenção com um custo mais baixo.

É o que nos mostra Gediel Claudino de Araújo Júnior em sua obra Prática no

Direito de Família (p. 87) 17:

Inicialmente, o bem de família pode ser extinto voluntariamente pelos beneficiários, mediante autorização judicial. Com efeito, sobrevindo algum fato que impossibilite a manutenção do bem de família na forma como foi instituído, poderá o interessado requerer ao juiz que autorize a sua extinção ou a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos o instituidor, se possível, e o Ministério Público.

Escreve Arnaldo Rizzardo, (p. 789) 18:

Como se extrai da regra, são os beneficiados pela instituição que não tem interesse na destinação. Devem comprovar que não podem manter as condições impostas pelo instituidor, como a conservação do imóvel, o pagamento de tributos, a proteção contra invasores, a residência nele, a sua exploração econômica. Se os favorecidos não revelam interesse e não querem a destinação que se deu, não perdura a finalidade da instituição. Assim, obviamente o juiz determinará a extinção, ou a sub-rogação em outros bens, se for da vontade dos interessados. Sempre, no entanto, em vista das razões apresentadas. Se maiores ou capazes os interessados, não se encontram razões para desacolher o pedido. Opondo-se o instituidor, deve-se examinar a razoabilidade de suas razões. Se forem os cônjuges, naturalmente os filhos são ainda menores, justificando-se a recusa. Tendo alcançado a maioridade, remanesce a

17 ARAÚJO, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 87. 18 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª. ed. Atual. – Editora forense, Pág. 789.

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instituição para a proteção dos cônjuges, não tendo sentido eles postularem a extinção e ao mesmo tempo se oporem. Se tratar-se de terceiro, não lhe socorre a mera inconformidade, como a pretexto de ficar garantida a inalienabilidade do bem. Acontece que, ao fazer a instituição, e, naturalmente a doação, transferiu-se o poder da disponibilidade. Justificar-se-ia a não concordância se resta evidenciada alguma anormalidade na pessoa dos favorecidos ou interessados. Acompanhará o Ministério Público.

Ressaltam-se os posicionamentos aqui levantados, de que trata o artigo de

situações nas quais os “beneficiados” pelo bem de família não conseguem suportar

com o ônus inserido ao bem, seja em razão dos impostos, benfeitorias,

manutenções, entre outros, é uma forma de não comprometer a pessoa beneficiada,

tendo para si um “presente de grego”.

O art. 1720 reafirma que compete aos cônjuges a manutenção e

administração do bem de família e, havendo conflito ou divergência, cabe ao

magistrado resolver o impasse. Não havendo a presença dos cônjuges por motivo

de falecimento, cabe ao filho mais velho administrar o bem de família, caso ainda

não seja o filho capaz, passará a reponsabilidade ao seu tutor. Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência. Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.

Para maior entendimento, verificaremos o entendimento de Arnaldo

Rizzardo, (p. 789) 19:

Conforme exsurge do dispositivo, não está alijado o ajuste de vontades diferente, passando um dos cônjuges ou companheiros a administrar. Na eventualidade de se formarem controvérsias ou divergências, a via judicial será a própria para a devida solução. Falecendo os cônjuges, passa a administração para o filho mais velho, se maior; sendo ainda menores os filhos, há de se nomear um tutor ao mais velho, que o representará ou assistirá na administração, em acato ao parágrafo único do cânone acima “Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor”. É de apontar certa insuficiência da regra, ao incumbir ao filho mais velho, se maior, a administração direta. Presume-se ainda existam filhos menores. Se todos atingiram a maioridade, automaticamente cessa ou extingue-se a instituição.

19 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª. ed. Atual. – Editora forense, Pág. 789.

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A dúvida que paira em relação ao artigo, justamente seria a solucionada pelo

doutrinador, de forma que havendo mais de um filho e tendo, ambos atingido a

maioridade, a instituição do bem de família seria extinta.

Chegamos ao artigo 1.721 o penúltimo a encerrar o instituto bem de família

inserido em nosso ordenamento, Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família. Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.

Gediel Claudino de Araújo Júnior em sua obra, Prática no Direito de Família

(p. 87) 20, explica a aplicabilidade do dispositivo legal,

Também no caso de falecimento de um dos cônjuges o sobrevivente poderá pedir ao juiz a extinção do bem de família, se for o único bem do casal (art. 1.721, parágrafo único, CC).

Trata-se no presente caso de uma faculdade do cônjuge sobrevivente, não

de uma obrigação, pois, pode o cônjuge deixar tudo como está, sendo o imóvel

ainda bem de família. Tal faculdade se dá pelo fato de o cônjuge não ter a obrigação

de conviver no lar onde conviviam juntos anteriormente, e no presente não mais

residam, é uma hipótese para que possa os cônjuges sobreviventes dar um novo

rumo a sua vida, não carregando consigo as lembranças do cônjuge falecido, no

local onde viveram.

Verificamos também que o término da relação através do divórcio não

extingue o bem de família, não tendo o mesmo efeito no caso de falecimento. Desta

forma, o bem de família está assegurado também de possível fraude, ao bem

destinado à família.

O último dispositivo relacionado ao bem de família é o artigo 1.722, que

determina, Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.

Fácil é o entendimento referente ao artigo exposto, exposto por Gediel

Claudino de Araújo Júnior, em sua obra Prática no Direito de Família (p. 87) 21: 20 ARAÚJO, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 87.

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Além dos casos de extinção por autorização judicial, nas hipóteses supra-apontadas, o bem de família também se extingue em razão do término da sua função natural, que é dar abrigo e sustento a entidade familiar. De fato, com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos à curatela, extingue-se a entidade familiar e com ela o bem de família (art. 1.722, CC).

Este também é o entendimento de Silvio de Salvo Venosa, na obra Direito

de Família (p. 396) 22:

O bem de família extingue-se também pelo término de seu destino natural, com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela (art. 1.722).

Encerram-se aqui as análises realizadas em face ao instituto bem de família

inserido em nosso Código Civil, porém, para complementar ou dar maior utilidade na

forma prática, fora instituído em lei especifica a lei 8.009/90, na qual de forma mais

abrangente e eficaz, dita o ritmo deste significante instituto de nosso ordenamento,

este meu raciocínio vem de encontro com o que leciona Silvio de Salvo Venosa,

obra Direito de Família (p. 396) 23. “Embora muito bem detalhado o bem de família

no presente código, e por isso mesmo de complexa efetivação, tudo é no sentido de

que continuará com pouca utilização, em face do bem de família legal da lei nº

8.009.”.

21 ARAÚJO, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 87. 22 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Família. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 396. 23 VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Família. – 8ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 396.

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4 IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

Muito embora tenhamos visto o que vem a ser bem de família e quais são os

bens impenhoráveis, no rol do Código Civil, veremos agora na lei 8.009/90 que

algumas regras para que o imóvel seja de fato impenhorável, fogem um pouco do

que fora mencionado anteriormente. Na lei específica, não se exige que o imóvel

tenha sido registrado no Registro de Imóveis para que seja configurada sua

impenhorabilidade, bastando apenas o casal residir no imóvel, comprovando apenas

que o imóvel seja de uso familiar.

Para melhor entender o que será dito adiante, devemos analisar o artigo 1º

da Lei 8.009/90, pois, é nela que nos basearemos para analisarmos de fato a

impenhorabilidade do bem de família.

As divergências que podem nos parecer claras são em face à

impenhorabilidade do bem familiar, e analisando os artigos subsequentes, notamos

as exceções à impenhorabilidade, mas antes de entrarmos neste tema, veremos os

posicionamentos e esclarecimentos em relação a impenhorabilidade, para que

posteriormente possamos analisar caso a caso as exceções.

Para todo entendimento analisaremos o artigo 1º e 2º da Lei 8.009/90.

LEI Nº 8.009, DE 29 DE MARÇO DE 1990. Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.

Para Arnaldo Rizzardo, (p. 790 e 791) 24, foi de grande valia instituir a lei

específica, em que tange a impenhorabilidade do bem de família.

24 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª. ed. Atual. – Editora forense, Pág. 790 e 791.

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Teve grande difusão e aceitação tal impenhorabilidade, que abrange o imóvel residencial e os móveis ou bens de uso doméstico que o guarnecem (art. 1º, paragrafo único), excluídos os veículos, as obras de artes e adornos suntuosos (artº2º), desde que a entidade familiar tenha no imóvel a residência permanente. Cuida-se da impenhorabilidade coativa ou obrigatória, ex lege,que dispensa escritura pública, vez que impositiva. Eis a redação do art. 1º: “O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais e filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei”. Abrange a proteção o imovel sobre o qual estão assentadas a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados (parágrafo único art. 1º). Estende-se esta impenhorabilidade aos móveis quitados que se encontram em imóvel locado (parágrafo único art. 2º). Salienta-se a condição para os móveis: exige-se que se encontrem pagos ou quitados. Aqueles cujas prestações estão sendo saldadas ficam excluídos, com o claro intuito de evitar fraudes. Na hipótese do casal ou da entidade ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, um único a lei protege, recaindo a escolha no de menor valor (art.5º e parágrafo único).

Seguindo este raciocínio nos ensina Gediel Claudino de Araújo Júnior em

sua obra, Prática no Direito de Família (p. 88) 25:

Em síntese, a impenhorabilidade prevista na Lei nº 8.009/90 compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, os móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, as obras de arte e adornos suntuosos. A fim de melhor delimitar o tema, registre-se que recente jurisprudência do STJ tem considerado, nos termos dos arts. 1º, parágrafo único, e 2º caput, da referida lei, impenhoráveis: aparelhos de som, televisão, forno de micro-ondas, máquina de lavar roupas, máquina de lavar louça, geladeira, secadora de roupas, freezer, computador, impressora e teclado musical.

Para Araken de Assis, a impenhorabilidade do bem de família nada mais é

do que uma impenhorabilidade relativa, tendo em vista as várias exceções

demonstradas no art. 3º da própria lei de 8.009/90.

Muito embora não mencionado, o bem de família pode ser instituído em face

de pessoa que more sozinha no imóvel, nada impede que o fato desta pessoa não

ter constituído família, ou nela morar só que o instituto não seja atribuído para si.

Ainda sobre a impenhorabilidade do bem de família vale o entendimento de

Elisete Antoniuk e Marly Célia Utime, A proteção do bem de família (p. 50 e 51) 26:

25 ARAÚJO, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª. ed. Atual. – Editora Atlas, Pág. 88.

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Sua finalidade é a proteção do imóvel de moradia da família e dos respectivos bens móveis que a guarnecem. É a salvaguarda que atende às aspirações básicas mínimas da família. Não deve ela servir de instrumento para acobertar injustiças, favorecer maus pagadores e prejudicar credores. De forma que, nesse sentido de proteção em caso de fraude a credores, a interpretação deste diploma deve ser restritiva à vontade do legislador. Conforme o art.1º, a moradia familiar, urbana ou rural, e seus objetos domésticos, não podem ser garantia de execução, independentemente de escritura pública. Segundo o art.1º parágrafo único, a impenhorabilidade se estende tanto ao imóvel como a tudo que estiver construído no terreno, assim como os objetos domésticos que já estiverem quitados. Os móveis a que se refere são aqueles considerados estritamente necessários no cotidiano do devedor e de sua família, e que conferem um mínimo de vida digna. Atualmente, pode-se considerar que certos eletrodomésticos tem função vital para as atividades do lar. Assim vem entendendo a maioria da jurisprudência quanto à não suntuosidade de aparelhos domésticos.

Encerrando o assunto notamos quais os bens guarnecidos pela

impenhorabilidade, muitas vezes bens considerados de valia alguma, podem ser

considerados como bem de família, um exemplo é o ar condicionado de residência

localizada em estado muito quente, pois não há, como nesta hipótese, dizer que o

bem não seja de vital importância para a família.

Como tudo no direito, cada caso é um caso, devendo sempre ser analisado

o caso concreto e a real importância dos fatos, pois, muito embora a lei possa nos

causar confusão, o entendimento doutrinário é sempre no mesmo sentido, sendo

considerado bem de família as hipóteses disciplinas do art. 1º da Lei e excluindo da

impenhorabilidade as hipóteses do art. 2º da mesma norma.

Conforme já demonstrado acima, tratam-se de impenhorabilidade relativa,

tendo como sempre suas exceções, não sendo plena ou absoluta.

26 ANTONIUK, Elisete e UTIME Marly Célia. A Proteção do Bem de Família. 1ª. ed. – Sérgio Antonio Fabris - Editor, Pág. 50 e 51.

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5 EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

Entraremos agora ao assunto principal deste trabalho, após analisarmos

passo a passo a que se refere a impenhorabilidade do bem de família, verificaremos

agora que a impenhorabilidade é relativa e não absoluta como aparenta ser.

Analisaremos com maior ênfase o art. 3º da Lei 8.009/90, onde estão

inseridas todas as formas de exceções à impenhorabilidade do bem de família, não

sendo o bem familiar impenhorável em todos os sentidos.

Para iniciarmos este entendimento nada melhor que analisarmos a Lei

8.009/90 em seu inteiro teor, dando ênfase maior ao seu art. 3º,

LEI Nº 8.009, DE 29 DE MARÇO DE 1990. Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo. Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias; II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III -- pelo credor de pensão alimentícia; IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

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VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991) Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. § 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor, transferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execução ou concurso, conforme a hipótese. § 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural. Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. Art. 6º São canceladas as execuções suspensas pela Medida Provisória nº 143, de 8 de março de 1990, que deu origem a esta lei. Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário. Senado Federal, 29 de março de 1990; 169º da Independência e 102º da República.

Vários são os entendimentos quando se inicia a discussão relacionada as

exceções à impenhorabilidade, sendo a mais corriqueira de todas aquela

relacionada ao fiador, existem entendimentos de que o bem do fiador não se deve

de modo algum ser dado como garantia, para que possa quitar divida de terceiros,

bem como outros entendimentos são favoráveis a penhorabilidade do imóvel desde

que haja uma garantia firmada, porém veremos adiante que o entendimento

jurisprudencial é totalmente favorável a penhorabilidade de bens relacionados ao

fiador.

E são estes os pontos sobre os quais iremos tratar agora as hipóteses de

penhorabilidade do bem familiar conforme constam no dispositivo 3º da Lei 8.009/90,

as chamadas exceções à impenhorabilidade do bem de família.

O art. 3º em comento fora redigido da seguinte forma:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

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5.1 ART. 3º, INCISO I, LEI 8.009/90:

Para iniciarmos, verificaremos o inciso I, que nos leva a analisar que em

razões de débitos em favor de trabalhadores da própria residência e das respectivas

contribuições previdenciárias o bem de família é penhorável.

Nada mais justo que esta resolução, pois, não poderia um empregado

doméstico laborar em determinada residência e nada receber em troca, tendo em

vista que o empregado, neste caso, seria a parte mais frágil nesta relação, sendo

assim, justo e compreensível o raciocínio do legislador.

A expressão “trabalhadores da própria residência” utilizada pelo legislador,

são os empregados domésticos (empregada mensalista, governantas, motorista),

entre outros, não estando atrelados a esta categoria os trabalhadores eventuais,

dentre eles pedreiros e pintor.

A doutrinadora Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos nos ajuda a

interpretar o dispositivo em questão, em sua obra A Impenhorabilidade do Bem de

Família (p. 61) 27:

Os trabalhadores que a Lei se refere são aqueles que exercem atividade profissional na residência do devedor, incluídos nessa categoria os considerados empregados domésticos – empregadas mensalistas, governantas, copeiros, mordomos, cozinheiros, jardineiros e mesmo faxineiros diaristas se caracterizando vinculo empregatício -, bem como os motoristas particulares dos membros da família. Não se enquadram nessa categoria pessoas que, embora realizem atividade profissional na residência do devedor, não são seus empregados, exercendo trabalho autônomo ou vinculado a outro empregador. Nesse contexto estão os pedreiros, pintores, marceneiros, eletricistas, encanadores, e outros profissionais que trabalham no âmbito da residência apenas em caráter eventual.

Da mesma forma é o entendimento de Fabrizio Rodrigues Ferreira, no artigo

Da penhorabilidade do bem de família, publicado na internet28:

Ao permitir a penhora em bem de família quando em choque com “créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias” sofre clara influência do direito social laboral e previdenciário. Visa-se afastar lesão a crédito trabalhista e previdenciário daquele trabalhador que laborou em prol da própria família a princípio beneficiada; não se olvidando que ele trabalhador também possui família a

27 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 61. 28 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8919 – Acesso em 29-09-2012 às 15h: 28m.

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ser sustentada, e assim, em último caso, a Lei ainda almeja tutelar interesse da família (neste caso, a do trabalhador). Não se pode ainda afastar o intento de resguardo dos princípios gerais (sempre basilares) da boa-fé/eticidade e do repúdio ao enriquecimento ilícito. Em regra, o trabalhador encontra-se de boa-fé e com a justa expectativa de receber seu salário, em contraponto ao empregador que, por ter empregado, subentende não necessitar de qualquer benesse protetiva a bem seu. Vem daí também a incidência da razoabilidade e do próprio bom senso. No particular a esta hipótese é quase unânime a interpretação restritiva que se faz de que a Lei almejou aos trabalhadores da própria residência, em detrimento daqueles que laboraram na construção ou reforma do bem.

Desta forma também é o entendimento de Fernanda Tenório Ribeiro

Machado, em seu artigo Bens de família excluídos da impenhorabilidade e

penhorabilidade do bem de família do fiador, publicado na internet29:

O inciso I, do Art. 3º prevê a primeira exceção a impenhorabilidade do bem de família, que se dá nas execuções de créditos trabalhistas e contribuições previdenciárias. A lei refere-se aos trabalhadores da própria residência, ou seja, os empregados domésticos e os trabalhadores que prestam serviços e estão intimamente vinculados a residência. Não serão beneficiados por esse dispositivo os trabalhadores que prestam serviços eventualmente na residência do devedor.

Neste sentido temos os seguintes posicionamentos jurisprudenciais30:

PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. EMPREGADO DOMÉSTICO. POSSIBILIDADE. Não é oponível a impenhorabilidade do bem de família em processo trabalhista movido em razão de créditos de trabalhadores da própria residência, conforme inteligência do art. 3º, inciso I, da Lei nº 8.009/90. (TRF22. Agravo de petição 1426199700222005. Relatora: Enedina Maria Gomes dos Santos, julgado em 23/03/2006). PROCESSUAL CIVIL. IMPENHORABILIDADE DE BEM DE FAMÍLIA. EMPREGADOS SEM VINCULO DOMÉSTICO. LEI 8.009/90. 1-Trata-se de agravo de instrumento, interposto em relação à decisão prolatada em sede de execução fiscal, que indeferiu pedido de penhora sobre imóvel dos executados, tendo em vista a impenhorabilidade do bem de família. 2- As garantias da propriedade e dos institutos relativos à garantia real sofrem atenuação ou redução quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana, conforme a redação do art. 3º, I da Lei 8.009/90 3- No entanto, o caso em apreço refere-se às contribuições previdenciárias de empregados da construção civil do respectivo imóvel, que não coincidem com a excepcionalidade da regra de impenhorabilidade de bem de família que cinge sobre empregados domésticos. 4- Somente seria possível aplicar a exceção da impenhorabilidade se as contribuições previdenciárias adviessem da

29 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 04m. 30http://www.trf3.jus.br/ – Acessado em 05-10-2012 às 08h: 10m.

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relação de emprego entre o executado e o empregado doméstico, caracterizando vínculo empregatício, o que não persiste. 5- Desta forma, nego provimento ao agravo interposto. (TRF3. Agravo de Instrumento 259374. Relatora: Suzana Camargo, julgado em 29/05/2006)

5.2 ART. 3º, INCISO II, LEI 8.009/90:

O inciso II, do art. 3º, disciplina sobre a possibilidade de penhora de bens

familiares em razão da realização de financiamento para a construção ou aquisição

do próprio imóvel, ou seja, não há a possibilidade de se financiar um imóvel e ao

mesmo passo que se adquire o bem alegar a impenhorabilidade por se tratar de

bem de família, resguardando o legislador o direito da pessoa ou instituição que lhe

forneceu o crédito.

Novamente a doutrinadora Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos nos ajuda

a interpretar o dispositivo, em sua obra A Impenhorabilidade do Bem de Família (p.

62)31:

O imóvel residencial e móveis que o guarnecem são também penhoráveis na execução por “crédito decorrente do financiamento destinado a construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato”. Inicialmente, cabe observar que o inc. II refere-se unicamente ao imóvel destinado à residência do devedor e de sua família, e não a qualquer imóvel indistintamente. A exceção aqui prevista é plenamente justificável, pois seria ilógico imaginar que alguém pudesse contrair obrigações para construir ou adquirir seu imóvel residencial, furtar-se ao cumprimento de tais obrigações e ainda arguir a impenhorabilidade desse mesmo imóvel por se tratar de bem de família. Estão abrangidos por esta regra todos os financiamentos com a finalidade apontada, obtidos junto a particulares ou a instituições financeiras, entre estes os do Sistema Financeiro da habitação.

Também é o entendimento de Fabrizio Rodrigues Ferreira, no artigo Da

penhorabilidade do bem de família, publicado na internet 32:

Aí se torna patente o sobrelevo da boa-fé e probidade contratual advinda do artigo 422 do CC, bem assim, o repúdio ao enriquecimento ilícito. Não se pode chancelar a má-fé, inconseqüência ou ganância, daquele que obtém empréstimo para construção ou aquisição do imóvel residencial (mesmo que destinado à família), sob pena inclusive de quebra da confiança e segurança nas relações contratuais em geral – havendo, inclusive, interesse

31 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 62. 32 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8919 – Acesso em 29-09-2012 às 15h: 35m.

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público à estabilidade e ordem nos negócios jurídicos. Via reflexa a esta segurança negocial, a razão ainda desta excepcionalidade está em facilitar a própria aquisição da residência familiar, já que visa àquele agente de má-fé (exceção) em benefício daquele que honra com as suas obrigações (maioria), gerando assim confiança ao credor no disponibilizar financiamento a tal desiderato.

Leciona Fernanda Tenório Ribeiro Machado, em seu artigo, Bens de família

excluídos da impenhorabilidade e penhorabilidade do bem de família do fiador,

publicado na internet33:

Esse inciso trata da hipótese de o titular de um bem contrair um empréstimo por meio de financiamento para construir ou adquirir um imóvel que será destinado a moradia familiar. O seu titular não poderá alegar que por se tratar de bem destinado ao uso da família deverá ser beneficiado pela impenhorabilidade legal, pois esse bem deverá ser penhorado no limite da dívida com os devidos acréscimos legais, caso contrário a lei estaria contribuindo para o enriquecimento sem causa do dono do imóvel. Além do valor correspondente ao empréstimo, o dispositivo legal abrange também aos acréscimos decorrentes do financiamento, como é o caso dos juros, correção monetária e multas. Enfatiza-se que a penhora estabelecida no caso em questão não poderá incidir sobre o imóvel residencial do fiador ou do avalista de tal empréstimo, pois o fiador não assumiu e nem foi beneficiado por esse financiamento. Sendo assim, o único imóvel estabelecido como bem de família do fiador não poderá ser penhorado.

Para encerrar o entendimento relacionado ao inciso, chegamos à conclusão

de que, assumida a dívida para construção de moradia ou para obtenção de imóvel,

não se aplica a regra da impenhorabilidade, conforme disciplina o art. 1 da Lei

8.009/90, bem como o entendimento jurisprudencial descrito34:

Bem de família. Financiamento para aquisição do bem penhorado. Aplicação do art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90. Precedente da Corte. 1. Reconhecido pelas instâncias ordinárias que a execução alcança financiamento feito pela construtora para a aquisição do bem imóvel penhorado, aplica-se a regra do art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90, afastando-se a impenhorabilidade. 2. Recurso especial não conhecido. (REsp 310004/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/09/2001, DJ 18/02/2002, p. 417).

33 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 15m. 34http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=310004&b=ACOR# - Acessado em 29-09-2012 às 18h: 24m.

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5.3 ART. 3º, INCISO III, LEI 8.009/90:

O incido III trata da impossibilidade do devedor de pensão alimentícia arguir

a impenhorabilidade do bem de família em relação ao alimentando, sendo

importante frisar que os alimentos que o legislador nos remete são aqueles oriundos

de pensão alimentícia familiar e não pensão disciplinada pelo Código Civil de caráter

indenizatório.

Na hipótese do alimentante já ter constituído nova família, a penhora do bem

de família deverá resguardar a meação do novo cônjuge ou companheiro, nos

termos das lições de Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, em sua obra A

Impenhorabilidade do Bem de Família (p. 65) 35:

Se o devedor constituir nova família, a penhora do imóvel residencial e móveis que o guarnecem deverá resguardar a meação da nova esposa, ou as cotas da companheira no caso de condomínio em união estável. Como última observação, vale dizer que, quando os credores dos alimentos residem no imóvel que pertence ao devedor, não se pode pretender a penhora desse bem, pois além de estar destinado à moradia da família, a habitação é forma indireta de prestação alimentar.

Também é o entendimento de Fabrizio Rodrigues Ferreira, no artigo Da

penhorabilidade do bem de família, publicado na internet 36:

O inciso III do referido artigo 3° sobreleva a tutela do crédito de pensão alimentícia à tutela do bem de família pelo óbvio motivo de visar à sobrevivência daquele que necessita dos alimentos (podendo-se traduzir na própria dignidade da pessoa humana). Talvez seja, das exceções à impenhorabilidade do bem de família, a mais patente – dado o seu alto grau social. O único apontamento que se faz nesta hipótese é acerca da dúvida quanto à extensão da “pensão alimentícia” abarcar também o credor vítima de ato ilícito- aqui se defendendo, desde já, o posicionamento favorável a que tais credores também se beneficiem do dispositivo.

Neste mesmo sentido, ainda leciona Fernanda Tenório Ribeiro Machado, em

seu artigo, Bens de família excluídos da impenhorabilidade e penhorabilidade do

bem de família do fiador, publicado na internet 37:

35 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 65. 36 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8919 – Acesso em 29-09-2012 às 15h: 38m. 37 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 18m.

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O inciso III, do art. 3º, estabelece a penhorabilidade do bem de família em caso de execução de pensão alimentícia. O devedor de alimentos poderá ter seu bem de família penhorado, pois não está protegido pelo benefício de lei 8.009. A jurisprudência dominante enquadrou na exceção do Art. 3º, III, apenas os alimentos decorrentes do Direito de Família e não outras dívidas que resultem do ato ilícito. Uma pequena parcela de julgados tem considerado que essa interpretação seja feita de forma ampliativa. Esse entendimento justifica-se até certo ponto, imaginemos um credor de pensão alimentícia decorrente de indenização imposta por morte e que depende da mesma para a sua subsistência, deverá valer-se dessa exceção para que o credor cumpra com sua obrigação, não podendo este alegar a impenhorabilidade do seu bem de família.

Ainda comentando o inciso III, fora demonstrado pelos ensinamentos da

doutrinadora que não há a possibilidade de penhora do bem de família quando os

cônjuges separados ainda restarem morando na mesma residência, tendo em vista

que a moradia é forma de prestação alimentar. Muito embora possa nos causar

estranheza esse tipo de relação, trata-se de uma hipótese muito comum em nosso

meio, no qual casais já separados ainda residem de forma conjunta.

Para melhor visualização segue entendimento de nossos tribunais

superiores 38:

Ação de indenização. Condenação na prestação de alimentos. Constituição de capital na forma do art. 602, § 1º, do Código de Processo Civil. Alegação de impenhorabilidade com base no art. 1º da Lei nº 8.009/90. 1. A impenhorabilidade com base na alegação de ser o bem dado em garantia para o pagamento dos alimentos, na forma do art. 602 do Código de Processo Civil, de família, não é oponível, movida a execução pelo credor de pensão alimentícia, a teor do art. 3°, III, da Lei nº 8.009/90. 2. Recurso especial não conhecido. (REsp 374332/RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 29/11/2002, DJ 24/02/2003, p. 223)

5.4 ART. 3º, INCISO IV, LEI 8.009/90:

Continuando a verificar as hipóteses de penhorabilidade, o inciso IV nos

mostra a hipótese de penhorabilidade pelo não adimplemento dos impostos, taxas e

contribuições referentes ao imóvel, são elas IPTU, taxa de condomínio, até mesmo

multas aplicadas pelo condomínio.

Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, novamente leciona sobre o assunto

em sua obra A Impenhorabilidade do Bem de Família (p. 65 e 66) 39:

38http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=374332&b=ACOR# - Acessado em 29-09-2012 às 18h: 29m.

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O benefício da impenhorabilidade legal, por força do inc. IV do art. 3º, não se aplica à “cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar”. A ressalva existe, também, no bem de família voluntário, que não está isento de execução por dividas provenientes de tributos a ele relativos e de despesas de condomínio (CC, art. 1.715). As taxas e contribuições a que a Lei se refere consistem em remuneração por serviços públicos prestados e contribuições de melhoria instituídas em virtude de obras públicas que valorizam o imóvel (CF, art. 145, II e III).

Leciona Fabrizio Rodrigues Ferreira, no artigo Da penhorabilidade do bem

de família, publicado na internet 40:

A contemplação inserida no inciso IV do artigo 3° - permite a penhora em bem de família por dívida almejada advinda de “impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições” em função do próprio imóvel familiar. Abarca-se aí não só impostos (tais como o IPTU) e taxas públicas ordinárias, como também despesas condominiais hodiernas do imóvel a princípio tutelado. Tem-se nesta hipótese, diante do fato gerador ser o próprio imóvel familiar, o relevo público e imperativo contido nos tributos em geral. Além disso, mais diretamente no caso das despesas condominiais, há que se ter em mente que a dívida almejada em juízo reverteu em proveito deste mesmo bem imóvel familiar (em tese, o sustentáculo do imóvel corresponde às despesas condominiais). Sem descurar que a natureza da obrigação devida em comento é “propter rem” e/ou “ob rem”, gerando-se um vínculo direto ao titular do bem e em função dessa sua condição de proprietário.

Neste sentido também é o entendimento de Fernanda Tenório Ribeiro

Machado, em seu artigo, Bens de família excluídos da impenhorabilidade e

penhorabilidade do bem de família do fiador, publicado na internet 41:

O art. 3º, inciso IV, prevê que não é oponível a impenhorabilidade legal do bem de família em razão de débitos derivados de impostos, taxas e contribuições devidas em função do imóvel. Assim o bem de família poderá ser objeto de penhora quando o seu titular for devedor dos tributos mencionados anteriormente. O art. 70 do Código Civil de 1916 já previa essa exceção, pois ressalvava da impenhorabilidade “as dívidas que provieram de impostos relativos ao mesmo prédio”. O Código Civil atual em seu art. 1715 recepcionou a norma do Código Civil anterior e acrescentou as despesas de condomínio, esse art. dispõe que: “O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua

39 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 65 e 66. 40 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8919 – Acesso em 29-09-2012 às 15h: 45m. 41 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 25m.

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instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio”. É certo que, seria inviável a moradia em condomínio de edificações se o condômino inadimplente pudesse valer-se da impenhorabilidade do imóvel residencial destinado a moradia da família para se eximir do pagamento das despesas de conservação e manutenção da casa comum. Ademais, na hipótese de inadimplência das taxas condominiais por parte do locatário do bem, o responsável pela dívida será o locador, pois este é o titular da unidade, e por esse motivo deverá pagar as despesas. Restando apenas para o locador o direito de recorrer à ação regressiva em face do locatário inadimplente. A esse locatário cabe ainda argüir a impenhorabilidade do bem de família e aí o credor irá cobrar do fiador, tema que iremos tratar mais adiante.

Para análise ao caso concreto, segue jurisprudência 42:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. EXCEÇÃO. DÉBITO PROVENIENTE DO PRÓPRIO IMÓVEL. IPTU. INTELIGÊNCIA DO INCISO IV DO ART. 3º DA LEI 8.009/90. 1. O inciso IV do art. 3º da Lei 8.009/1990 foi redigido nos seguintes termos: "Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;" 2. A penhorabilidade por despesas provenientes de imposto, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar tem assento exatamente no referido dispositivo, como se colhe nos seguintes precedentes: no STF, RE 439.003/SP, Rel. Min. EROS GRAU, 06.02.2007; no STJ e REsp. 160.928/SP, Rel. Min. ARI PARGENDLER, DJU 25.06.01. 3. O raciocínio analógico que se impõe é o assentado pela Quarta Turma que alterou o seu posicionamento anterior para passar a admitir a penhora de imóvel residencial na execução promovida pelo condomínio para a cobrança de quotas condominiais sobre ele incidentes, inserindo a hipótese nas exceções contempladas pelo inciso IV do art. 3º, da Lei 8.009/90. Precedentes. (REsp. 203.629/SP, Rel. Min. CESAR ROCHA, DJU 21.06.1999.) 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1100087/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/05/2009, DJe 03/06/2009)

Conforme podemos notar, em nada pode se opor o sujeito que, de certa

forma, está sendo beneficiado por determinada “melhoria” em não adimplir pelo valor

que está sendo cobrado, ou seja, as taxas cobradas em razão de melhorias que irão

valorar o imóvel são legais e ensejam a penhorabilidade do bem, caso não sejam

pagas, da mesma forma o IPTU, o fato de não adimplir e não cumprir com a

obrigação enseja a penhorabilidade do bem, igual ocorre com a falta de pagamento

de taxa de condomínio.

42http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=1100087&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i1# - Acessado em 29-09-2012 às 18h: 34m.

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5.5 ART. 3º, INCISO V, LEI 8.009/90:

O inciso V trata da hipótese do casal ter oferecido o bem de família como

garantia real, ou seja, como hipoteca. Trata-se de uma hipótese dos cônjuges abrir

mão da impenhorabilidade do bem de família, é uma renúncia de certa forma, mas

também trata-se de uma garantia, seja lá por qual motivo, muito comum a hipoteca,

e em Estados norte-americanos, não muito utilizado aqui em nosso país essa

possibilidade. Enfim é uma das situações na qual o bem de família é dado como

garantia e de modo algum poderá ser arguida a impenhorabilidade do bem.

Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, leciona sobre o assunto em sua obra

A Impenhorabilidade do Bem de Família (p. 68) 43:

A impenhorabilidade do bem de família não poderá ser arguida “na execução de hipoteca sobre o imóvel residencial oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar” (art. 3º, V), desde que, evidentemente, a garantia hipotecária esteja validamente registrada na respectiva circunscrição imobiliária. A exceção ao benefício da impenhorabilidade legal prevista nesse dispositivo deixa claro que os bens impenhoráveis não são necessariamente inalienáveis, podendo o titular dispor. Assim, o imóvel residencial oferecido como garantia real apresenta-se penhorável em face do credor hipotecário.

Nos ensina Fabrizio Rodrigues Ferreira, no artigo Da penhorabilidade do

bem de família, publicado na internet 44:

Em continuidade, o inciso V do dispositivo em comento permite a penhora de bem familiar na “execução de hipoteca sobre o imóvel, oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar”. Trata-se de hipótese que guarda íntima relação com a segurança nos negócios jurídicos em geral (em especial àqueles que envolvem financiamento com garantia hipotecária), com o princípio da obrigação e com a boa-fé/eticidade (logicamente do casal ou da entidade familiar que obtém empréstimo em contrapartida à garantia hipotecária) – notadamente em face à natureza de garantia real da hipoteca. Nesta circunstância, de se acrescer o entendimento de que, em função desta garantia ter sido oferecida pelo “casal” ou pela “entidade familiar”, o financiamento reverteu em proveito da própria família (no mais das vezes, em prol do imóvel hipotecado). Há que se fazer a ressalva de que a jurisprudência tem entendido interpretar referido dispositivo de forma restrita – diante da máxima “exceptiones sunt strictissimae interpretacionis” -, não dando ensejo à penhora em execução comum, tão somente na execução hipotecária propriamente dita.

43 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 68. 44 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8919 – Acesso em 29-09-2012 às 15h: 48m

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No mesmo sentido leciona Fernanda Tenório Ribeiro Machado, em seu

artigo, Bens de família excluídos da impenhorabilidade e penhorabilidade do bem de

família do fiador, publicado na internet 45:

O inciso V do Art. 3º, prevê a impossibilidade de argüir a impenhorabilidade do bem de família “na execução de hipoteca sobre o imóvel residencial oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar”. Sendo indispensável para a validade do ato que a garantia hipotecária seja devidamente inscrita no Registro Imobiliário competente. Observa-se que quando o dispositivo legal fala em hipoteca oferecida pelo casal ou entidade familiar, ele quis estabelecer a obrigatoriedade da autorização do outro cônjuge, prevista no Art. 1647, I do Código Civil 2002.

Muito embora a impenhorabilidade do bem familiar seja um benefício para

com a entidade familiar, existem também as hipóteses em que pode-se, abrir mão

deste. Hipotecar o imóvel familiar é uma destas hipóteses, é uma forma para a

entidade familiar, obter algo, dando seu imóvel como garantia, mas também é uma

forma de se perder o imóvel e não poder reavê-lo tendo em vistas que o bem fora

dado como garantia. Assim é um tanto quanto arriscada essa hipoteca do imóvel, se

não tiverem os cônjuges, bem orientados e cientes dos males que pode trazer uma

atitude pouco pensada. Para este entendimento, segue jurisprudência46: CIVIL. BEM DE FAMÍLIA. OFERECIMENTO EM GARANTIA HIPOTECÁRIA. BENEFÍCIO DA ENTIDADE FAMILIAR. RENÚNCIA À IMPENHORABILIDADE. 1. A exceção do art. 3º, inciso V, da Lei nº 8.009/90, que permite a penhora de bem dado em hipoteca, limita-se à hipótese de dívida constituída em favor da entidade familiar. Precedentes. 2. A comunidade formada pelos pais e seus descendentes se enquadra no conceito legal de entidade familiar, inclusive para os fins da Lei nº 8.009/90. 3. A boa-fé do devedor é determinante para que possa se socorrer do favor legal, reprimindo-se quaisquer atos praticados no intuito de fraudar credores ou retardar o trâmite dos processos de cobrança. O fato de o imóvel dado em garantia ser o único bem da família certamente é sopesado ao oferecê-lo em hipoteca, ciente de que o ato implica renúncia à impenhorabilidade. Assim, não se mostra razoável que depois, ante à sua inadimplência, o devedor use esse fato como subterfúgio para livrar o imóvel da penhora. A atitude contraria a boa-fé ínsita às relações negociais, pois equivaleria à entrega de uma garantia que o devedor, desde o início, sabia ser inexequível, esvaziando-a por completo. 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1141732/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/11/2010, DJe 22/11/2010)

45 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 29m. 46http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=1141732&b=ACOR# - Acesso em 29-09-2012 às 18h: 38m.

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5.6 ART. 3º, INCISO VI, LEI 8.009/90:

Chegamos ao inciso VI, na qual serão penhoráveis os bens adquiridos com

produtos de crime e execução de sentença penal condenatória, trata-se de duas

situações em apenas um inciso.

Há de se ressaltar que o inciso em comento refere-se apenas a crime, mas

deve ser também aplicado por analogia quando o bem é adquirido através de

atividade contravencional.

A primeira situação é de fácil compreensão, estão incluídos aí os produtos

adquiridos em face de crimes, os casos mais visíveis são os de traficantes os quais

através de crimes chegam a riquezas, esbanjando luxos e bens.

Para esta primeira parte também leciona Rita de Cássia Corrêa de

Vasconcelos, em sua obra A Impenhorabilidade do Bem de Família (p. 70) 47:

Considerando a instituição voluntária do bem de família (CC, art. 1.711), importante ressaltar que, se a aquisição do imóvel residencial impenhorável por ato voluntário foi feita com produto de crime e o devedor, posteriormente, foi condenado pela prática do delito, torna-se ineficaz a instituição do bem de família, pois, do contrário, estaria o ordenamento jurídico protegendo o enriquecimento ilícito e absurdamente tutelando a atividade criminosa.

No que tange a primeira hipótese também leciona Fernanda Tenório Ribeiro

Machado, em seu artigo, Bens de família excluídos da impenhorabilidade e

penhorabilidade do bem de família do fiador, publicado na internet 48:

O art. 3º, inciso VI, prevê duas situações distintas em que não poderá arguir a impenhorabilidade do bem de família. A primeira ocorre quando o bem imóvel é adquirido com produto de crime, nesse caso a lei não leva em conta a qualidade do crédito e sim a origem do bem. Nessa hipótese, a norma não refere-se apenas aos crimes de vantagem econômica imediata a exemplo do estelionato o extorsão. Os crimes que trazem vantagem econômica não imediata a exemplo de furto para posterior revenda também estão abrangidos pelo dispositivo excluindo desse rol apenas os crimes que não assumem nenhuma conotação econômica, a exemplo dos crimes contra a honra. Um fator importante que deve ser ressaltado é a necessidade da condenação transitada em julgado imputando o crime a determinado devedor, pois o Art. 5º, LXII, CF, estabelece que: “ninguém será

47 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 70. 48 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 34m.

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considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

Para a segunda parte do enunciado, interpretamos o inciso da seguinte

forma, não havendo a possibilidade do sujeito já condenado reparar os danos

causados a sociedade ou a vitima, deve-se o seu bem de família ser penhorado para

arque com estas indenizações, é o que disciplina o Código Penal e também a Lei

8.009/90.

É o que nos traz, Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, em sua obra A

Impenhorabilidade do Bem de Família (p.71) 49:

Quando à sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens, de que trata a segunda hipótese do inc. VI a Lei refere-se ao título executivo judicial previsto no art. 584, II, do CPC. O Código Penal também estabelece que o criminoso deve indenizar as vítimas do crime, quando inclui, entre os efeitos da condenação, “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (art. 91, I). Não é necessário, aqui, ao contrário da primeira hipótese, que os crimes tenham conotação econômica, pois a indenização nem sempre está vinculada a prejuízo patrimonial. É o caso, por exemplo, dos crimes contra a honra, onde o agente pode ser condenado a indenizar a vitima por danos morais. É irrelevante, também, que o imóvel tenha sido adquirido com o produto de crime, sendo possível e bastante provável, até a incidência cumulativa das duas hipóteses do inc. VI, quando na execução relativa à indenização devida pelo criminoso, a penhora recai justamente sobre o imóvel adquirido com o produto da atividade criminosa. Enquanto que na primeira hipótese – como dito linhas acima _ o credor não precisa ser a vitima do crime, nos casos da sentença penal condenatória somente as vitimas ou os seus herdeiros poderão promover a execução civil. Se terceiros também sofreram prejuízos com a conduta criminosa, deverão, previamente, propor ação de conhecimento; na execução da respectiva sentença, entretanto, não se aplica a exceção do inc. IV, que beneficia somente os portadores do titulo executivo do art. 584, II, do CPC.

Para esta segunda parte também nos traz Fernanda Tenório Ribeiro

Machado, em seu artigo, Bens de família excluídos da impenhorabilidade e

penhorabilidade do bem de família do fiador, publicado na internet 50:

49 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 70. 50 http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29567&seo=1> - Acesso em 29-09-2012 às 16h: 34m.

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A segunda hipótese inclui a impenhorabilidade do bem de família no caso de execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. Nesse caso, não é necessário que os crimes tenham resultados econômicos, pois a indenização pode ser proveniente tanto de um dano moral quanto patrimonial, a exemplo dos crimes contra a honra.

Para o presente caso leciona Fabrizio Rodrigues Ferreira, no artigo Da

penhorabilidade do bem de família, publicado na internet 51:

A hipótese seguinte (inciso VI) guarda co-relação com expresso dispositivo constitucional, com evidente escopo de se rechaçar a má-fé e/ou o enriquecimento ilícito, ao permitir a penhora do bem fruto “de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”. Tem inspiração ainda no repúdio à prática de ato ilícito contemplado no artigo 186 e “caput” do artigo 927, e pelo princípio da imputação civil dos danos advinda do artigo 391, todos do CC. Patente também o combate a toda ação e/ou efeito de crime em nosso Ordenamento; daí a direta ligação com feito criminal, fonte da penhora em bem tido como de família – extraindo-se assim, numa interpretação gramatical/lógica, não ser possível que a penhora se dê em razão de ajuizamento autônomo de Ação na seara civil. A sentença penal, neste sentido, tem efeitos civis.

Encerrando os comentários referente ao inciso VI ficou claro que o bem de

família pode e deve ser penhorado para arcar com indenizações, relacionadas a

crimes cometidos, nada mais justo que arcar o infrator com este tipo de sanção,

também pudera o legislador promover tal hipótese de pena além da já penalmente

fixada.

Para uma melhor visualização, passamos a análise prática, segue

jurisprudência, referente a hipótese do inciso em comento 52:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO. FURTO QUALIFICADO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. EMBARGOS DO DEVEDOR. PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. EXCEÇÃO DO ART. 3°, VI, DA LEI N° 8.009/90. POSSIBILIDADE. 1. O art. 3°, VI, da Lei 8.009/90 prevê que a impenhorabilidade do bem de família é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo quanto tiver "sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens". 2. Entre os bens jurídicos em discussão, de um lado a preservação da moradia do devedor inadimplente, e de outro o dever de ressarcir os prejuízos sofridos indevidamente por alguém em virtude de conduta ilícita

51 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8919 – Acesso em 29-09-2012 às 15h: 50m. 52http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=947518&b=ACOR# - Acesso em 29-09-2012 às 18h: 42m.

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criminalmente apurada, preferiu o legislador privilegiar o ofendido, em detrimento do infrator, criando esta exceção à impenhorabilidade do bem de família. 3. No caso, faz-se possível a penhora do bem de família, haja vista que a execução é oriunda de título judicial decorrente de ação de indenização por ato ilícito, proveniente de condenação do embargante na esfera penal com trânsito em julgado, por subtração de coisa alheia móvel (furto qualificado). 4. Para a admissibilidade do recurso especial, na hipótese da alínea "c" do permissivo constitucional, é imprescindível a indicação das circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, mediante o cotejo dos fundamentos da decisão recorrida com o acórdão paradigma, a fim de demonstrar a divergência jurisprudencial existente (arts. 541 do CPC e 255 do RISTJ). 5. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 947518/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 08/11/2011, DJe 01/02/2012)

5.7 ART. 3º, INCISO VII, LEI 8.009/90:

Passaremos ao último inciso do art. 3º da Lei 8.009/90, talvez o dispositivo

que mais traz posicionamentos divergentes e o que mais gera discussão entre os já

comentados, trata-se da hipótese de penhorabilidade decorrente de fiança

concedida em contrato de locação.

Muito embora nos pareça uma situação exposta pelo legislador de forma

equivocada, tendo em vista que o fiador sofrerá todos os ônus por conta de

terceiros, trata-se de uma obrigação assumida de livre e espontânea vontade pelo

fiador, ninguém indica um fiador e sim este se apresenta como tal, desta forma

assume uma obrigação caso o verdadeiro responsável não arque com a mesma.

É mais ou menos a situação do sujeito que dá seu imóvel como garantia,

quase igual a situação constante no inciso V, no caso de hipoteca, porém com a

diferença de que o seu imóvel garante a dívida de um terceiro e não as suas, ou

aquelas adquiridas pela sua entidade familiar.

Para melhor entendimento passaremos a verificar os posicionamentos de

alguns doutrinadores.

É o que nos traz Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, em sua obra A

Impenhorabilidade do Bem de Família (p.74) 53:

Alvo de muitas críticas, a exceção do inc. VII coloca o fiador em situação escancaradamente inferior em relação ao afiançado. Lembre-se que até mesmo os móveis que guarnecem a residência do locatário são impenhoráveis (art. 2º, parágrafo único); não há, então, entendimento

53 VASCONCELOS, Rita de Cássia Corrêa de. A Impenhorabilidade do Bem de Família. – V.51 ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 74.

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razoável que justifique a penhorabilidade do imóvel residência ldo fiador e de sua família, bem como dos móveis que o guarnecem. A discriminação é flagrante e incompreensível. Maior é o absurdo quando se verifica, na hipótese de cobrança regressiva por parte do fiador, que o locatário poderá arguir a impenhorabilidade legal de seu imóvel residencial – se possuir -, mesmo que o fiador tenha perdido o seu bem de família para honrar a garantia prestada.

Leciona Araken de Assis, em sua obra Manual de Execução (p.263) 54:

Vários argumentos assoalham o terreno da inconstitucionalidade, desde o mínimo existencial até o tratamento desigual conferido ao locatário e ao fiador. Com efeito a residência familiar do locatário, adquirida no curso ou após o término da locação, permanecerá impenhorável, enquanto a do fiador responderá pela divida alheia. Todavia, há um pormenor decisivo, bem realçado no julgamento do STF: o fiador assumiu a obrigação, voluntariamente, expondo o bem a excussão.

Neste mesmo sentido é o entendimento de Maria da Glória Perez Delgado

Sanches, em artigo publicado na internet 55:

O tema do fiador e o bem de família foi discutido recentemente pelo STF e existe o entendimento firmado de que, ainda que o fiador possua um único imóvel, utilizado para a moradia de sua família, responde ele pelos débitos devidos pelo devedor (RE 407.688, rel. min. Cezar Peluso, de 8.2.2006), não resultando a penhora em ofensa ao direito de moradia, previsto no Art. 6º da C.F. Com a morte do fiador, os herdeiros respondem pelas dívidas do garante, até as forças da herança.

Verificamos que nesta situação não há nada que possa fazer o fiador para

que seu bem não seja de fato executado, não há garantia alguma em face do

verdadeiro devedor é uma situação complicada para quem se encontra nesta

hipótese, na qual a única garantia é não se enquadrar na hipótese de fiador. Outro

fato que nos chama muita atenção é que em eventual execução em face do

locatário, este mesmo poderá alegar a impenhorabilidade do seu bem de família,

fato este que não ocorre na hipótese de fiador.

Muito pode nos soar esta situação sendo inconstitucional, mas como já

demonstrado no STF já houve julgamento neste sentido e contrariando a muitos,

decidindo pela constitucionalidade da norma, desta forma cabe a quem está

interessado em ser fiador que tome algumas cautelas se é que existem cautelas a

serem tomadas nesta situação.

54 ASSIS, Araken. Manual de Execução. – 12ª ed. – Editora Revista dos Tribunais, Pág. 263. 55 http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/2949617. Acesso em 22-09-2012 às 18h: 00m.

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Neste sentido apontou a constitucionalidade da norma, segue entendimento

do Supremo Tribunal Federal 56:

EMENTA: FIADOR. Locação. Ação de despejo. Sentença de procedência. Execução. Responsabilidade solidária pelos débitos do afiançado. Penhora de seu imóvel residencial. Bem de família. Admissibilidade. Inexistência de afronta ao direito de moradia, previsto no art. 6º da CF. Constitucionalidade do art.3º, inc. VII, da Lei nº 8.009/90, com a redação da Lei nº 8.245/91. Recurso extraordinário desprovido. Votos vencidos. A penhorabilidade do bem de família do fiador do contrato de locação, objeto do art. 3º, inc. VII, da Lei nº 8.009, de 23 de março de 1990, com a redação da Lei nº 8.245, de 15 de outubro de 1991, não ofende o art. 6º da Constituição da República. (STF, RE n°407688, Pleno, j. 08.02.06).

Sendo assim segue julgado realizado no STJ, em relação a penhorabilidade

do bem do fiador 57:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE IMÓVEL DO FIADOR. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. O Superior Tribunal de Justiça, na linha do decidido pelo Supremo Tribunal Federal, tem entendimento firmado no sentido da legitimidade da penhora sobre bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. 2. Os argumentos expendidos nas razões do regimental são insuficientes para autorizar a reforma da decisão agravada, de modo que esta merece ser mantida por seus próprios fundamentos. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 160852/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/08/2012, DJe 28/08/2012).

56 http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1466. Acesso em 22-09-2012 às 18h: 20m. 57http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=160852&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1. Acesso em 29-09-2012 às 19m: 07m.

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CONCLUSÃO

Chegamos ao fim do tema, e podemos notar duas situações relacionadas ao

bem de família, aquela impenhorabilidade do nosso Código Civil, correspondentes

aos art. 1.711 ao 1.722, na qual existe um interesse maior dos cônjuges em declarar

a impenhorabilidade do bem de família através de registros públicos afim de garantir,

seu asilo familiar, para que em caso de imprevistos ou mudanças em suas vidas

tenham ao menos um lar e condições dignas de moradia assegurados, tanto para si,

quanto para sua família.

Também podemos notar certas diferenças relacionadas ao bem de família

estipulado em Lei especifica (8.009/90), na qual não há a necessidade de registro do

imóvel familiar para que exista a possibilidade de garantir um bem familiar, trata-se

de uma possibilidade prevista pelo legislador, não havendo necessidade ou maiores

burocracias para que possam todos os cidadãos ter ao menos o direito e garantia de

impenhorabilidade de seu asilo familiar, da mesma forma como ocorre, com os

casos previstos em nosso Código Civil, porém sem toda aquela burocracia.

Em contra partida, muito tenhamos falado sobre a impenhorabilidade do

bem, mas o tema principal deste trabalho, são as exceções à impenhorabilidade do

bem de família, situações estas que conforme observamos, são corriqueiras em

nosso dia a dia e muitas vezes nos passam despercebidas, são os casos previstos

no art. 3º da Lei 8.009/90, na qual constam as 7 (sete) possibilidades de

penhorabilidade do bem de família, cada qual com a sua peculiaridade, mas todas

declaradas sua constitucionalidade, e vimos uma a uma entendimentos e breves

comentários, sobre sua moralidade.

Muito embora não seja o entendimento da maioria, mas estou convencido de

que todas as hipóteses arroladas, no art. 3º da Lei 8.009/90, são de grande valia

para com o nosso meio, muito chamou a atenção, os incisos I e VII do art. Em

comento, teve o legislador uma sensibilidade enorme para a situação do inciso I, no

qual verificou-se que talvez a garantia do asilo familiar do empregador, poderia

causar danos enormes a um empregado, sendo este em uma relação de emprego a

parte mais frágil, e desta forma optou o legislador por, dar como penhorável o bem

familiar, para que pudesse arcar com os compromissos de empregador.

Outra situação que também chamou muito a atenção, trata-se da hipótese

do inciso VII, na qual o fiador, por muitas vezes tendo a intenção de ajudar ou

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colaborar, acaba de certa forma abrindo mão de seu imóvel, até então bem de

família, e em muitos casos o acaba perdendo, por dívida contraída por terceiros, e

nos chama atenção, é que este terceiro até então devedor, este sim, tem o benefício

da impenhorabilidade do bem de família, e o fiador ora de boa fé, não é beneficiário

deste instituto jurídico.

E assim chegamos ao fim desta pesquisa, podendo claramente analisar as

duas formas de impenhorabilidade do bem de família, e claramente verificarmos que

tal impenhorabilidade, conforme já exposto, nada mais é que uma impenhorabilidade

relativa, e não absoluta como podíamos imaginar, fatos que comprovam esta

conclusão são as hipóteses arroladas ao art. 3º da Lei 8.009/90.

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JUNIOR, Gediel Claudino de Araújo. Prática no Direito de Família. 3ª edição. Editora

Atlas.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8ª edição. Editora Forense.

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VENOSA, Silvio de Salvo. Curso de Direito Civil/Direito de Família. – 8ª. ed. Atual. -

Editora Atlas.