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UNIVERSIDADE TUIUTÍ DO PARANÁ CHARLENE BARRETO PONTE AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: uma revisão sistemática. BRASÍLIA-DF 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTÍ DO PARANÁ

CHARLENE BARRETO PONTE

AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS

DE SAÚDE: uma revisão sistemática.

BRASÍLIA-DF 2010

CHARLENE BARRETO PONTE

AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS

DE SAÚDE: uma revisão sistemática.

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Auditoria e Gestão em Saúde da Universidade Tuiutí do Paraná como requisito para obtenção de título de especialista.

Área de concentração: Gestão

Orientadora: Ms Juliana Guedes Ferraz

BRASÍLIA-DF 2010

Ponte, Charlene Barreto. AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: uma revisão sistemática/ Charlene Barreto Ponte. – Brasília, 2009.

47f.

Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em Auditoria e Gestão em

Saúde) Universidade Tuiutí do Paraná, Curitiba, 2010. Orientadora: Ms Juliana Guedes Ferraz

1. Resíduos de serviços de saúde; 2. Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde; 3. Avaliação do gerenciamento de resíduos. I. Título.

CDU xxx.xxx.xxx

CHARLENE BARRETO PONTE

AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS

DE SAÚDE: uma revisão sistemática.

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de especialista em ____/____/______ no

Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Auditoria e Gestão em Saúde da Universidade Tuiutí do Paraná

Brasília, _____ de ____________________ de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Dedicatória

A Deus, minha fortaleza e fonte de sabedoria.

Ao meu marido, Reitômio Gomes Ponte de Sousa, que

sempre está ao meu lado, incentivando-me a prosseguir

no alcance de meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por guiar os meus passos e por se fazer

tão presente nos momentos difíceis.

Ao meu esposo, Reitômio Gomes Ponte de Sousa, por seu amor, incentivo e

paciência.

Aos meus pais, Luis Eranildo Façanha Barreto e Elizeuda Martins Barreto,

pelo exemplo de vida, pela minha formação, pelos conselhos e por torcerem tanto por

mim.

Aos meus irmãos, Erandir Maria Martins Barreto e Evaldo Néco Barreto

Neto, pelo carinho e por serem tão especiais para mim.

A minha orientadora professora Juliana Guedes Ferraz por sua atenção e

colaboração.

Ao professor César Alves de Almeida, pelo conhecimento científico

repassado, experiências e sugestões.

Ao corpo pedagógico do IBEP, em especial à Diretora Pedagógica e

Administrativa, Ana Paula Papa, que sempre esteve prontamente disponível a ouvir as

minhas solicitações, procurando resolver tudo com muita responsabilidade, zelo e

cordialidade.

Aos professores do Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade de

Brasília, em especial Edgar Merchan Hamann, Ana Valéria M. Mendonça e Maria

Fátima de Sousa, que ministraram a disciplina Práticas Interdisciplinares em Educação

Integral e forneceram-me sugestões valiosas na construção deste trabalho.

RESUMO

Diante dos prejuízos gerados ao meio ambiente e riscos à saúde humana, faz-se necessário um gerenciamento adequado dos Resíduos de Serviços de Saúde - RSS. O objetivo deste estudo foi analisar os artigos publicados em periódicos nacionais que abordam aspectos relativos à avaliação do gerenciamento dos RSS, com base nas normas brasileiras vigentes. Trata-se de uma revisão sistemática, que incluiu artigos, dissertações e teses disponíveis on-line, no período de 2004 a 2009. Foram analisados 14 títulos; destes, 10 eram originários das regiões sudeste e sul do país. O ano de 2007 teve maior número de publicações e houve predominância de enfermeiros e engenheiros dentre os autores. Foi possível estabelecer dois eixos temáticos: diagnóstico da gestão dos RSS e propostas para o aprimoramento da gestão destes. Os estudos demonstraram que a maioria dos estabelecimentos ainda não conseguiu implantar efetivamente o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS. Há desconhecimento dos profissionais quanto aos critérios mínimos de classificação dos resíduos, segregação e riscos biológicos, fato que compromete todas as etapas do manejo. Entende-se que é possível obter êxito no processo de gerenciamento do RSS a partir da implantação do PGRSS, realizando adaptações na estrutura já existente, promovendo educação continuada e valorizando medidas de baixo custo, que minimizem a geração de resíduos e evitem desperdícios em geral. Palavras-chave: Resíduos de serviços de saúde; plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde; Avaliação do gerenciamento de resíduos.

ABSTRACT In view of the damages caused to the environment and human health risks, it is necessary to a proper management of wastes of Health Services - RSS. The aim of this study was to analyze the articles published in journals that address issues related to management evaluation of the RSS, based on existing standards in Brazil. This is a systematic review that included articles, dissertations and theses available online, from 2004 to 2009. We analyzed 14 titles; of these, 10 were from the southeast and south. The year 2007 had the highest number of publications and predominance of nurses and engineers from the authors. It was possible to establish two main themes: diagnosis and management of RSS and proposals for improving the management of these. Studies have shown that most businesses have failed to effectively implement the Plan of Waste Management of Health Services - PGRSS. There is a unawareness of professionals as the minimum criteria for the classification of waste, segregation and biological risks, a fact which undermines all the steps. It is understood that you can succeed in the management of the RSS from the implementation of PGRSS, making adjustments in the existing structure, promoting continuing education programs and making low-cost measures that minimize waste and avoid waste in general. Keywords: Waste of Health Services; Plan of Waste Management of Health Services; Evaluation of waste management.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde............................. 23

Quadro 2 - Símbolos de identificação dos grupos de RSS.................................... 25

Quadro 3 - Distribuição dos artigos selecionados, período de 2004-2009, segundo título, periódico, autores, objetivos, 2009..............................

35

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11

1.1 Justificativa.................................................................................................... 15

1.2 Formulação do problema.............................................................................. 17

1.3 Objetivos ....................................................................................................... 17

1.4 Elaboração da hipótese................................................................................. 18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 19

2.1 Aspectos legais............................................................................................... 19

2.2 Classificação dos Resíduos Sólidos............................................................... 21

2.3 Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS)............................ 22

2.4 Identificação dos grupos de RSS............................................................................ 24

2.5 Etapas do manejo dos RSS .......................................................................... 26

2.6 Riscos ocupacionais inerentes aos RSS........................................................ 28

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS…….......................................... 31

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 33

4.1 Diagnóstico da gestão dos resíduos de serviços de saúde (Tema I)........... 37

4.2 Propostas para o aprimoramento da gestão dos RSS (Tema II)............... 40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 42

RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................... 44

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 45

11

1 INTRODUÇÃO

A questão dos resíduos é, atualmente, um dos temas centrais para aqueles que

se preocupam com o ambiente, na perspectiva de garantir a existência de gerações

futuras (FERREIRA, 2000). Uma classe especial de resíduos produzidos pelo homem,

e que será explorada nesse estudo são os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS).

Por muito tempo foi controversa a denominação atribuída aos resíduos gerados

pelas atividades que prestam assistência à saúde, seja de origem humana ou animal.

Dentre estas denominações destacam-se: resíduo sólido hospitalar, resíduo hospitalar,

resíduo biomédico, resíduo médico, resíduo clínico, resíduo infeccioso ou infectante,

resíduo patogênico, ou ainda, mais popularmente conhecido como lixo hospitalar

(SCHNEIDER et al, 2004).

Posteriormente, a denominação de resíduos de serviços de saúde foi adotada

tendo em vista ser mais apropriada e abrangente, uma vez que a ela podem ser

incorporados todos os resíduos gerados pela área de saúde, como por exemplo, os

resíduos líquidos e os semi-sólidos (SCHNEIDER et al, 2004).

De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA)- RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004, os RSS são

classificados em cinco grupos denominados A, B, C, D e E:

GRUPO A: Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção; GRUPO B: Resíduos contendo substâncias químicas que apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente, independente de suas características de corrosividade, inflamabilidade, reatividade e toxidade; GRUPO C: Rejeitos radioativos; GRUPO D: Resíduos comuns, semelhantes aos resíduos urbanos; GRUPO E: Materiais perfurocortantes.

12

Esses resíduos são aqueles gerados em todos os serviços relacionados com o

atendimento à saúde humana e/ou animal, inclusive os serviços de assistência

domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde;

necrotérios e funerárias; serviços de medicina legal; drogarias e farmácias, inclusive as

de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de

controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores,

distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades

móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre

outros similares (ANVISA, 2004 & CONAMA, 2005).

A sociedade mundial produz cerca de 30 milhões de quilos de lixo hospitalar

anualmente (VILELA-RIBEIRO et al, 2009). Essa grande quantidade de resíduos traz

consigo uma enorme variabilidade de substâncias tóxicas e de microorganismos

patogênicos, que afetam a saúde das populações humanas e o próprio ambiente.

Em estudo acerca do Panorama dos resíduos sólidos no Brasil referente ao ano

de 2008, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais (ABRELPE), em um universo de 352 municípios incluindo todas

as regiões brasileiras, atingindo uma população urbana de 69 milhões de habitantes

(44% da população urbana brasileira). Foi constatada uma produção de cerca de

209.350 toneladas/ ano de resíduos sólidos de saúde (Índice de 1,33 Kg/ habitante/

ano) (ABRELPE, 2008 & IBGE, 2008).

O crescimento progressivo da taxa de geração dos RSS é um fato preocupante,

e tem como principais causas o contínuo incremento da complexidade da atenção

médica e o uso crescente de materiais descartáveis (NAIME, SARTOR & GARCIA,

13

2004). Além disso, esse crescimento deve-se também ao aumento da população idosa

que normalmente necessita de mais serviços de saúde e é usuária com mais freqüência

de diversos tipos e níveis de especialidades (SISSINO & MOREIRA, 2005).

Diante dos efeitos globais de comprometimento do meio ambiente, a atuação

na busca de um gerenciamento adequado para os resíduos sólidos deve se dar em todos

os países. A gestão destes resíduos precisa estar voltada para a busca de novas

soluções tecnológicas, que promovam a estabilização da geração de resíduos, bem

como o aprimoramento da coleta, o favorecimento da reciclagem, o aproveitamento

energético dos resíduos ou do biogás gerado pela decomposição dos mesmos, e sua

otimização na disposição final.

No Brasil, no entanto, o gerenciamento dos resíduos de RSS ainda é realizado

de forma precária, decorrendo disto diversos problemas que afetam a saúde da

população, e em geral agride o meio ambiente, como a contaminação da água, do solo,

da atmosfera e a proliferação de vetores, atingindo também a saúde dos trabalhadores

que têm contato com esses resíduos (GARCIA & ZANETTI-RAMOS, 2004).

Diante da atual realidade, têm ocorrido recentes revisões das normas legais

referente ao gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde pela Agência Nacional

de Vigilância Sanitária – ANVISA e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente –

CONAMA. Esses dois órgãos têm como papel orientar, definir regras e regular a

conduta dos diferentes agentes geradores, tendo como foco principal a preservação da

saúde e do meio ambiente, promovendo dessa forma a sustentabilidade de todo o

sistema ambiental (ELETÉRIO, HAMADA & PADIM, 2008).

14

Esses órgãos regulamentadores definem gerenciamento dos RSS como um

conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases

científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de

resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma

eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos

recursos naturais e do meio ambiente (ANVISA, 2004).

Cabe aos geradores de RSS e ao responsável legal pelos serviços, o

gerenciamento desde a geração até a disposição final dos resíduos, de forma a atender

aos requisitos ambientais e de saúde pública e saúde ocupacional (CONAMA, 2005).

Todo gerador deve elaborar o Plano de Gerenciamento de Resíduos de

Serviços de Saúde - PGRSS, que deve estar de acordo com as características dos

resíduos gerados, obedecendo à legislação vigente, especialmente as normas da

vigilância sanitária (CONAMA, 2005).

O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde- PGRSS é um

documento integrante do processo de licenciamento ambiental, baseado nos princípios

da não geração de resíduos e na minimização da geração de resíduos, que aponta e

descreve as ações relativas ao seu manejo, no âmbito dos serviços de saúde,

contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta,

armazenamento, transporte, reciclagem, tratamento e disposição final, bem como a

proteção à saúde pública e ao meio ambiente (CONAMA, 2005).

O plano de gerenciamento de RSS deve ser avaliado periodicamente, com base

em indicadores, verificando se os resultados esperados foram atingidos. Os indicadores

indispensáveis para a avaliação do PGRSS são: taxa de acidentes por perfuro-cortantes

15

em profissionais de limpeza, total de resíduos gerados atualmente diferenciando os

tipos de resíduos, total de resíduos recicláveis, total de pessoas capacitadas em

gerenciamento de resíduos, custos do gerenciamento total, entre outros (BRASIL,

2006).

Portanto, o objetivo deste estudo é analisar os artigos publicados em

periódicos nacionais que abordam aspectos relativos à avaliação do gerenciamento dos

RSS, com base nas normas brasileiras vigentes.

1.1 Justificativa

A gestão compreende ações referentes à tomada de decisões nos aspectos

administrativo, operacional, financeiro, social e ambiental e têm no planejamento um

grande instrumento no gerenciamento de resíduos em todas as suas etapas,

possibilitando que se estabeleçam de forma sistemática e integrada, em cada uma

delas, metas, programas, sistemas organizacionais e tecnologias, compatíveis com a

realidade local (FERREIRA, GORGES & SILVA, 2009).

Tendo em vista o grande volume de resíduos gerados e mal gerenciados pelas

instituições de saúde, é inquestionável a necessidade de se implantar políticas de

gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde nos diversos estabelecimentos, como

hospitais, centros universitários, farmácias, clínicas médicas, laboratórios, clínicas

odontológicas, consultórios, ambulatórios, clínicas veterinárias, entre outros (Idem,

2009).

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Vários podem ser os danos decorrentes do mau gerenciamento dos RSS,

dentre eles destaca-se a contaminação do meio ambiente, a ocorrência de acidentes de

trabalho envolvendo profissionais da limpeza, profissionais de saúde e os catadores de

lixo; a propagação de doenças para a população em geral, por contato direto ou

indireto através de vetores (GUASSÚ, 2007).

A RDC ANVISA n° 306/ 2004, no item relacionado à segurança ocupacional,

destaca que todos os profissionais que trabalham no serviço, mesmo os que atuam

temporariamente ou não estejam diretamente envolvidos nas atividades de

gerenciamento de resíduos, devem conhecer o sistema adotado para o gerenciamento

de RSS, a prática de segregação de resíduos, os símbolos, as expressões, os padrões de

cores adotadas, além de conhecerem a localização dos armazenamentos de resíduos,

entre outros fatores indispensáveis à completa integração ao PGRSS. Isso justifica a

necessidade de capacitação constante dos trabalhadores nos serviços, quanto ao correto

manejo dos resíduos e quanto aos riscos aos quais estão expostos.

A complexidade da questão dos RSS e sua atualidade associada aos fatores

relacionados à saúde humana e ambiental tem sido foco de debates entre gestores e

técnicos, com abordagem interdisciplinar e multiprofissional (FARIAS, 2005).

Muitos trabalhos desenvolvidos no Brasil têm procurado analisar e avaliar a

real situação dos RSS em diferentes estabelecimentos, observando as conformidades e

não conformidades, considerando as determinações legais vigentes. Esse diagnóstico

situacional contribui para o aprimoramento das ações relacionadas ao gerenciamento

correto destes resíduos.

17

Um recurso útil para integrar informações de um conjunto de estudos sobre

uma determinada temática é a revisão sistemática. De acordo com Galvão, Sawada &

Trevisan (2004) a revisão sistemática é uma forma de síntese das informações

disponíveis, em dado momento, sobre um problema específico, de forma objetiva e

reproduzível, por meio de método científico. Ela tem como princípios gerais a

exaustão na busca dos estudos analisados, a seleção justificada dos estudos por

critérios de inclusão e exclusão explícitos e a avaliação da qualidade metodológica,

bem como avaliação das intervenções.

Daí a relevância de analisar criticamente a situação dos RSS no Brasil,

avaliando o gerenciamento a partir dos resultados de diferentes estudos, realizados em

diversas localidades do Brasil.

1.2 Formulação do Problema

O gerenciamento dos RSS nos estabelecimentos de saúde tem ocorrido de

forma adequada, obedecendo às normas brasileiras vigentes?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Analisar os títulos publicados em periódicos nacionais que abordam aspectos

relativos à avaliação do gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), com

base nas normas brasileiras vigentes.

18

1.3.2 Objetivos específicos

• Caracterizar os títulos selecionados quanto às seguintes variáveis: título do

artigo, periódico, autores e principais objetivos;

• Estabelecer eixos temáticos para discussão do gerenciamento dos RSS a partir

da análise do conteúdo explorado nas publicações selecionadas.

1.4 Elaboração da hipótese

Supõe-se que o gerenciamento dos RSS nos estabelecimentos de saúde não

tem sido satisfatório, havendo descumprimento das recomendações legais por parte

dos gestores e trabalhadores.

19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Aspectos legais

Os resíduos de serviços de saúde atualmente dispõem de uma legislação

composta por diversas resoluções publicadas pelos órgãos federais responsáveis pelas

áreas de saúde e meio ambiente, em parte conflitantes, podendo gerar dificuldades de

cumprimento das normas pelo setor regulado.

A legislação sobre o RSS tem como principais formuladores o Ministério da

Saúde (MS), através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, e o

Ministério do Meio Ambiente - MMA, através do Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA (BIDONI et al, 2001; FARIAS, 2005). Além destes, também

merece destaque a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que através da

Comissão de Estudo Especial Temporária de Resíduos sólidos, elaborou a Norma

Brasileira que trata da classificação dos resíduos sólidos- NBR 10004/2004 (ABNT,

2004).

A base legal atual que disciplina a problemática dos resíduos sólidos, tanto na

área de saúde como na área de meio ambiente, está respaldada pela Constituição

Federal de 1988 (CF-88). No artigo 23, incisos VI, VII e IX, a CF-88 estabelece como

competência comum da União, dos Estados, dos Municípios e do DF, a proteção do

meio ambiente e a promoção dos programas de saneamento básico. Em seu título VIII

“Da Ordem Social”, Seção II “Da Saúde”, artigo 196, determina que “a saúde é um

direito de todos e dever do Estado, garantido através de políticas sociais e econômicas

20

que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e

igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL,

1988).

A Constituição Brasileira (artigo 24, XII) estabelece que a limpeza pública,

coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos são de responsabilidade da União,

dos Estados e do Distrito Federal, e a esses cabe legislar sobre a defesa e a proteção à

saúde, entretanto, os municípios possuem autonomia para criar suas próprias leis, e é

ele quem deve se encarregar pela coleta e fins dos RSS (VILELA-RIBEIRO et al,

2009).

Além disso, o CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece

que para qualquer estabelecimento produtor de RSS funcionar é necessário um

processo de licenciamento ambiental que envolve ainda a produção de um Plano de

Gerenciamento de Resíduos de Saúde (PGRSS) que especifique quais são os resíduos

produzidos, qual o manuseio, tipo de coleta interna, acondicionamento, tipo de coleta

externa, além de uma série de outras informações pertinentes ao estabelecimento de

saúde (Resoluções nº283/01 e nº 358/05 do CONAMA).

O PGRSS deve ser elaborado pelo responsável técnico do estabelecimento de

saúde. Além da elaboração do PGRSS, os estabelecimentos de saúde que se utilizam

de quaisquer equipamentos radioativos estão submetidos às normas da Comissão

Nacional de Energia Nuclear (CNEM), que licenciam instalações que se utilizarão de

equipamentos radioativos e ainda certificam aquelas pessoas aptas para lidarem com

os aparelhos. Enfocam também normas referentes à radioproteção (CONAMA, 2005).

21

2.2 Classificação dos Resíduos Sólidos

As normas e resoluções existentes classificam os resíduos sólidos em função

dos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde, como também, em função da

natureza e origem. Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde

pública a NBR 10.004/2004 classifica os resíduos sólidos em duas classes: classe I e

classe II (ABNT, 2004).

Os resíduos classe I, denominados como perigosos, são aqueles que, em

função de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à

saúde e ao meio ambiente. São caracterizados por possuírem uma ou mais das

seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e

patogenecidade (ABNT, 2004).

Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas

classes: classe II-A e classe II-B. Os resíduos classe II-A- não inertes podem ter as

seguintes propriedades: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em

água. Os resíduos classe II-B- inertes não apresentam nenhum de seus constituintes

solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com

exceção dos aspectos cor, turbidez, dureza e sabor (ABNT, 2004).

Com relação à origem e à natureza, os resíduos sólidos são classificados em:

domiciliar, comercial, varrição e feiras livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e

terminais rodoviários e ferroviários, industriais, agrícolas e resíduos de construção

civil (BRASIL, 2006).

22

Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos

pode-se agrupá-los em dois grandes grupos. O primeiro grupo refere-se aos resíduos

sólidos urbanos, compreendido pelos: resíduos domésticos ou residenciais; resíduos

comerciais; resíduos públicos. O segundo grupo, dos resíduos de fontes especiais,

abrange: resíduos industriais; resíduos da construção civil; rejeitos radioativos;

resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários; resíduos agrícolas;

resíduos de serviços de saúde (BRASIL, 2006).

2.3 Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS)

Os resíduos de serviços de saúde constituem parte importante do total de

resíduos sólidos urbanos, não necessariamente pela quantidade gerada (cerca de 1% a

3% do total), mas pelo potencial de risco que representam (BRASIL, 2006).

A classificação dos RSS vem sofrendo um processo de evolução contínuo, na

medida em que são introduzidos novos tipos de resíduos nas unidades de saúde.

Atualmente, os RSS são classificados em função de suas características biológicas,

físicas, químicas, estado da matéria e origem, para o seu manuseio seguro; além de

também considerar os riscos que podem acarretar ao meio ambiente e à saúde. São

classificados pela ANVISA em cinco grupos, conforme demonstrado no quadro 1.

23

Quadro 1- Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde GRUPO A- POTENCIALMENTE INFECTANTES Possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. A1- culturas e estoques de agentes infecciosos, resíduos de fabricação de produtos biológicos, exceto hemoderivados, descarte de vacinas de microorganismos vivos ou atenuados, meios de cultura, resíduos de laboratório de genética. A2- bolsas de sangue ou hemoderivados. A3- peças anatômicas. A4- carcaças, peças anatômicas e vísceras de animais e camas dos mesmos. A5- resíduos provenientes de pacientes que contenham ou sejam suspeitos de conter agentes Classe de Risco IV, que apresentem relevância epidemiológica e risco de disseminação. A6- kits de linhas arteriais endovenosas e dialisadores; filtros de ar e gases oriundos de área crítica. A7- órgão, tecidos e fluídos orgânicos com suspeita de contaminação com proteína priônica e resíduos resultantes de atenção à saúde desses indivíduos ou animais. GRUPO B - QUÍMICOS E MEDICAMENTOS Resíduos contendo substâncias químicas que apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente, independente de suas características de corrosividade, inflamabilidade, reatividade e toxidade. B1- resíduos de medicamentos ou insumos farmacêuticos quando vencidos, contaminados, apreendidos para descarte, parcialmente utilizados e demais impróprios para consumo: produtos hormonais, antibacterianos, citostáticos, antineoplásicos, digitálicos, imunossupressores, imunomoduladores e anti retrovirais. B2- Demais medicamentos não enquadrados no Grupo B1. B3- Resíduos de insumos farmacêuticos dos medicamentos controlados pela portaria do MS344/98 e suas atualizações. B4- Saneantes, desinfetantes e desinfestantes. B5- Substâncias para revelação de filmes de Raio X. B6- Resíduos contendo metais pesados. B7- Reagentes para laboratório, isolados ou em conjunto. B8- Outros resíduos contaminados com substâncias químicas perigosas. GRUPO C - REJEITOS RADIOATIVOS Resíduos contaminados com radionuclídeos. Orientações específicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN -NE - 6.02. GRUPO D – RESÍDUOS COMUNS Resíduos comuns, semelhantes aos resíduos urbanos. Latas, papel, papelão, etc... GRUPO E – PERFUROCORTANTES Todos os objetos perfurocortantes. Lâminas de barbear, bisturi, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, lâminas e outros assemelhados provenientes de serviços de saúde. Fonte: CORRÊA, 2004 apud ANVISA, 2004.

24

2.4 Identificação dos grupos de RSS

A identificação dos grupos de resíduos consiste no conjunto de medidas que

permite o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes, fornecendo

informações ao correto manejo dos RSS.

Os recipientes de coleta interna e externa, assim como os locais de

armazenamento onde são colocados os RSS, devem ser identificados em local de fácil

visualização, de forma indelével, utilizando símbolos, cores e frases, além de outras

exigências relacionadas à identificação de conteúdo e aos riscos específicos de cada

grupo de resíduos (BRASIL, 2006).

No Quadro 2 é possível identificar os principais símbolos dos grupos de RSS,

que devem ser conhecidos por todos os profissionais que lidam direta ou indiretamente

com este tipo de resíduo. Havendo uma correta classificação e identificação dos

resíduos é possível prevenir uma série de danos à saúde dos trabalhadores e da

população em geral.

25

Quadro 2: Símbolos de identificação dos grupos de RSS

Os resíduos do GRUPO A são identificados pelo símbolo de substância infectante, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos.

Os resíduos do GRUPO B são identificados através do símbolo de risco associado e com discriminação de substância química e frases de risco.

Os rejeitos do GRUPO C são representados pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante (trifólio de cor magenta) em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos, acrescido da expressão MATERIAL RADIOATIVO.

Os resíduos do GRUPO D podem ser destinados à reciclagem ou à reutilização. Quando adotada a reciclagem, sua identificação deve ser feita nos recipientes e nos abrigos de guarda de recipientes, usando código de cores e suas correspondentes nomeações, baseadas na Resolução CONAMA o n° 275/01, e símbolos de tipo de material reciclável. Para os demais resíduos do grupo D deve ser utilizada a cor cinza ou preta nos recipientes.

Os produtos do GRUPO E são identificados pelo símbolo de substância infectante, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos, acrescido da inscrição de RESÍDUO PERFUROCORTANTE, indicando o risco que apresenta o resíduo.

Fonte: BRASIL, 2006.

26

2.5 Etapas do manejo dos RSS

O manejo dos RSS é entendido como a ação de gerenciar os resíduos em seus

aspectos intra e extra estabelecimento, desde a geração até a disposição final, incluindo

as seguintes etapas de acordo com a RDC n° 306/ 2004 (ANVISA, 2004):

a) SEGREGAÇÃO - Consiste na separação dos resíduos no momento e local de

sua geração, de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, o seu

estado físico e os riscos envolvidos.

b) ACONDICIONAMENTO - Consiste no ato de embalar os resíduos segregados,

em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e

ruptura. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a

geração diária de cada tipo de resíduo.

c) IDENTIFICAÇÃO - Etapa já mencionada no tópico 3.4.

d) TRANSPORTE INTERNO - Consiste no traslado dos resíduos dos pontos de

geração até local destinado ao armazenamento temporário ou armazenamento externo

com a finalidade de apresentação para a coleta.

O transporte interno de resíduos deve ser realizado atendendo roteiro

previamente definido e em horários não coincidentes com a distribuição de roupas,

alimentos e medicamentos, períodos de visita ou de maior fluxo de pessoas ou de

atividades. Deve ser feito separadamente de acordo com o grupo de resíduos e em

recipientes específicos a cada grupo de resíduos.

e) ARMAZENAMENTO TEMPORÁRIO – Consiste na guarda temporária dos

recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em local próximo aos pontos de

27

geração, visando agilizar a coleta dentro do estabelecimento e otimizar o deslocamento

entre os pontos geradores e o ponto destinado à apresentação para coleta externa.

Não poderá ser feito armazenamento temporário com disposição direta dos

sacos sobre o piso, sendo obrigatória a conservação dos sacos em recipientes de

acondicionamento.

A sala para guarda de recipientes de transporte interno de resíduos deve ter

pisos e paredes lisas e laváveis, sendo o piso ainda resistente ao tráfego dos recipientes

coletores. Deve possuir ponto de iluminação artificial e área suficiente para armazenar,

no mínimo, dois recipientes coletores, para o posterior traslado até a área de

armazenamento externo. Quando a sala for exclusiva para o armazenamento de

resíduos, deve estar identificada como “SALA DE RESÍDUOS”.

A sala deverá dispor de área exclusiva de no mínimo 2 m2, para armazenar,

dois recipientes coletores para posterior traslado até a área de armazenamento externo.

f) ARMAZENAMENTO EXTERNO – Consiste na guarda dos recipientes de

resíduos até a realização da etapa de coleta externa, em ambiente exclusivo com acesso

facilitado para os veículos coletores.

No armazenamento externo não é permitida a manutenção dos sacos de

resíduos fora dos recipientes ali estacionados.

g) COLETA E TRANSPORTE EXTERNOS – Consistem na remoção dos RSS do

abrigo de resíduos (armazenamento externo) até a unidade de tratamento ou disposição

final, utilizando-se técnicas que garantam a preservação das condições de

acondicionamento e a integridade dos trabalhadores, da população e do meio

ambiente, devendo estar de acordo com as orientações dos órgãos de limpeza urbana.

28

h) DISPOSIÇÃO FINAL - Consiste na disposição de resíduos no solo,

previamente preparado para recebê-los, obedecendo a critérios técnicos de construção

e operação, e com licenciamento ambiental de acordo com a Resolução CONAMA

nº.358/05.

2.6 Riscos ocupacionais inerentes aos RSS

Os trabalhadores, diretamente envolvidos com os processos de manuseio,

transporte e destinação final dos resíduos, formam a população exposta. A exposição

se dá notadamente: pelos riscos de acidentes de trabalho provocados pela ausência de

treinamento, pela alta de condições adequadas de trabalho e pela inadequação da

tecnologia utilizada à realidade dos países em desenvolvimento; e pelos riscos de

contaminação pelo contato direto e mais próximo do instante da geração do resíduo,

com maiores probabilidades da presença ativa de microorganismos infecciosos (AN et

al, 1999; FERREIRA, 1997; SIVIERI, 1995; VELLOSO et al, 1998).

O risco é definido como a medida da probabilidade e da severidade de

ocorrerem efeitos adversos de uma ação particular. O risco ambiental pode ser

classificado de acordo com o tipo de atividade, englobando as dimensões de exposição

instantânea, crônica, probabilidade de ocorrência, severidade, reversibilidade,

visibilidade e duração de seus efeitos (FERREIRA & ANJOS, 2001).

No contexto da saúde do trabalhador, o risco está relacionado à probabilidade

de ocorrência de um evento não-desejado (acidente de trabalho). O termo ocupacional

29

sugere risco relacionado ao desempenho de funções específicas de determinada

profissão.

Nesse contexto, um conceito bastante importante é o de biossegurança, que

corresponde a um conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou

eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino,

desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos

animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados (TEIXEIRA &

VALLE, 1996).

Ao cumprir as normas de biossegurança, o gerador de resíduos de serviços de

saúde estará prevenindo acidentes ao ser humano e ao meio ambiente, sendo este o seu

papel e é isso que toda a sociedade espera dele.

A proteção à saúde e segurança dos trabalhadores nos estabelecimentos

prestadores de serviços de saúde em geral deve ser considerada relevante para o

cumprimento das metas estabelecidas no PGRSS.

É necessário que o trabalhador, além de ter condições adequadas de trabalho,

com equipamentos de proteção individual disponíveis, também seja informado, da

melhor forma possível, sobre:

a) características das etapas do processo e da organização do trabalho;

b) os riscos existentes;

c) as causas dos riscos;

d) medidas de controle de risco (ou preventivas), como equipamentos de

proteção coletiva e individual;

30

e) procedimentos em caso de acidentes; incidente; doenças; absenteísmo

(BRASIL, 2006).

31

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, com apreciação crítica e

síntese da informação selecionada.

As revisões sistemáticas são particularmente úteis para integrar as informações

de um conjunto de estudos realizados separadamente sobre determinada terapêutica/

intervenção, que podem apresentar resultados conflitantes e/ou coincidentes, bem

como identificar temas que necessitam de evidência, auxiliando na orientação para

investigações (SAMPAIO; MANCINI, 2007).

O levantamento bibliográfico foi feito a partir de publicações disponíveis no

meio eletrônico, nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online

(Scielo) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs);

ambas são referência na área da saúde. Foram encontrados artigos, dissertações de

mestrado e teses de doutorado referentes ao tema. Para pesquisa de dissertações e teses

também foi utilizado o acervo disponível on-line na biblioteca virtual da Universidade

de Brasília - UnB, que é de acesso livre à comunidade acadêmica.

Foram utilizados os seguintes termos de indexação: resíduos de serviços de

saúde, gerenciamento de resíduos, legislação sanitária, avaliação do gerenciamento de

resíduos, plano de gerenciamento de resíduos.

Os seguintes critérios de inclusão foram estabelecidos: estar disponível on-

line; ser redigido em português; ter sido publicado no período de 2004 a 2009. Foi

estabelecido este recorte temporal dos últimos cinco anos em virtude das últimas

atualizações nas legislações que são referência para o gerenciamento do RSS, que são:

a RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004 e a Resolução CONAMA n° 358, de 29 de

32

abril de 2005. Dessa forma é possível obter informações mais recentes para avaliação

do gerenciamento dos RSS, verificando as conformidades, os déficits e as propostas

para aprimoramento.

Os artigos selecionados foram submetidos à leitura e registrados em um

protocolo de análise dos textos que focava: ano de publicação, natureza do artigo,

procedência dos autores, unitermos utilizados, objetivos, metodologia adotada e

resultados apresentados.

Partiu-se então para o último processo de leitura do material, ou seja, as

leituras interpretativas, consideradas mais complexas que as demais, pois envolvem

análise do conteúdo com identificação dos eixos temáticos.

33

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 35 títulos relacionados ao assunto em questão, porém

somente 14 trabalhos obedeceram aos critérios de inclusão e irão compor os resultados

deste estudo. Destes, sete foram publicados em periódicos, cinco são dissertações de

mestrado e duas são teses de doutorado.

Para melhor visualização e sistematização dos dados, elaborou-se um quadro

resumo no qual constam algumas das variáveis estudadas: título do artigo, periódico,

autores e principais objetivos (Quadro 3).

Das 14 publicações analisadas, 10 foram estudos realizados em cidades das

regiões sudeste e sul do país, com destaque para o estado de São Paulo e Rio Grande

do Sul, seguido da região centro-oeste. Houve maior número de publicações no ano de

2007, seguido do ano de 2009, sendo quatro e três trabalhos, respectivamente.

Em relação aos autores dos trabalhos, verificou-se que os 23 autores eram

formados em diferentes áreas, havendo predominância de enfermeiros e engenheiros.

Havia sete enfermeiros, quatro engenheiros civis, dois engenheiros químicos, quatro

odontólogos, dois biólogos, um agrônomo, um administrador, um químico e um

acadêmico de engenharia civil.

Essa heterogeneidade também foi observada em relação à publicação dos

estudos, que ocorreu em diferentes periódicos. Isso demonstra que as questões

relacionadas aos resíduos, ambiente e saúde estão cada vez mais sendo discutidas por

equipe multidisciplinar, dada à complexidade dos fatores envolvidos, que são de

ordem econômica, social e política.

34

Com relação ao conteúdo explorado nas publicações analisadas, foi possível

estabelecer dois eixos temáticos: diagnóstico da gestão dos RSS e propostas para o

aprimoramento da gestão dos RSS. Durante as discussões dos temas utilizou-se o

intervalo de letras [a até n] para fazer referência aos estudos dispostos no Quadro 3.

Quadro 3: Distribuição dos artigos, teses e dissertações selecionados, período 2004-2009, segundo título, periódico, autores, objetivos, 2009.

Título Periódicos Autores Objetivos a. Resíduos de Serviços de Saúde: gerenciamento no Cento Cirúrgico, Central de Material e Centro de Recuperação anestésica de um hospital do interior paulista.

Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/ USP. 2004

SILVA, Magda Fabbri Isaac

Estudar o gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde em um Centro Cirúrgico de hospital de urgências.

b. Diagnóstico dos resíduos de serviços de saúde no interior do Rio Grande do Sul

Eng. Sanit. Ambient. 2005. Vol.10 - Nº 2 - abr-jun, 146-151

SILVA, Carlos Ernando da; HOPPE, Alessandro Eduardo.

Analisar e avaliar a real situação dos resíduos dos serviços de saúde gerados pelos municípios da bacia hidrográfica do Rio Vacacaí, visando subsidiar informações para o estabelecimento de diretrizes para o gerenciamento correto destes resíduos, levando em consideração normas e legislações vigentes.

c. Impasses e possibilidades do gerenciamento de Resíduos de serviços de saúde no Brasil: um estudo de caso no centro de saúde escola Germano Sinval Faria – ENSP – Fiocruz.

Dissertação (Mestrado) Programa de Pós – Graduação da Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/FIOCRUZ. 2005

FARIAS, Leila Maria Mattos de.

Avaliar a adesão à legislação de resíduos de serviços de saúde em vigor pelos profissionais de saúde, a partir de um estudo de caso realizado em um estabelecimento de saúde pertencente ao Sistema Único de Saúde: Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria.

d. Proposta de plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde para o hospital Beneficiência Portuguesa – Porto Alegre – RS.

Estudos tecnológicos - Vol. 2, n° 2: 99-112 (jul/dez. 2006)

CAETANO, Marcelo Oliveira; GOMES, Luciana Paulo.

Comparar as legislações que regem os RSS no Brasil e no Estado do Rio Grande do Sul; Caracterizar quantitativamente e qualitativamente os resíduos gerados no estabelecimento de saúde estudado; Propor uma rota de coleta de resíduos e um PGRSS para esta instituição, com uma avaliação final do custo/benefício relacionado a todas estas etapas.

e. Avaliação da eficiência do plano de gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde em hospital de Porte III.

Rev. Biociências. Taubaté, v.12, n 3-4, p123-130, jul/dez. 2006

OLIVEIRA, Paula Sampaio de; FORTES NETO, Paulo.

Avaliar o Plano de Gerenciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde (PGRSS) em Hospital de Porte III.

f. Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde: manejo dos resíduos potencialmente infectantes e perfurocortantes em unidades de internação da criança, adulto e pronto-socorro de hospitais públicos no Distrito

Dissertação (mestrado) - Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, 2007.

COELHO, Nádia Maria Gusmão Pontes.

Analisar o gerenciamento dos RSS e o manejo dos potencialmente infectantes e perfurocortantes em Unidades de Internação da Criança, Adulto e Pronto-Socorro de hospitais públicos no Distrito Federal.

36

Federal. g. Diagnóstico da gestão de resíduos de serviço de saúde gerados no município de Inhapim-MG.

Dissertação (mestrado) – Centro Universitário de Caratinga, Curso de Pós-graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, 2007.

GUASSÚ, Danielly Negrão de Oliveira

Avaliar a percepção da gestão de Resíduos de Serviços de Saúde na cidade de INHAPIM- MG. Propor medidas de baixo custo para a operação dos serviços em todas as suas etapas, conforme preconiza a RDC 306/04.

h. Estudo sobre resíduos de serviço de saúde no hospítal universitário de Brasília, Brasil, 2007

Dissertação (mestrado) - Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, 2007.

MELO, Marcelo de Sousa. Analisar a dinâmica dos RSS no Hospital Universitário de Brasília (HUB) com relação ao manejo, produção, segregação, classificação, transporte e destinação, abordando aspectos organizacionais, técnico-operacionais e de controle de risco.

i. Avaliação dos cirurgiões-dentistas sobre o gerenciamento dos resíduos odontológicos produzidos na prática diária.

Arquivos em Odontologia. Volume 43 Nº04. Outubro/ Dezembro de 2007.

PEDROSA, Hugo Leonardo de Oliveira, FIGUEIREDO, Robéria Lúcia de Queiroz, ALBUQUERQUE, Talita Telles Pereira de. COSTA, Ermano Batista

Avaliar o gerenciamento dos resíduos odontológicos gerados por 85 consultórios odontológicos privados da cidade de Campina Grande-PB.

j. Proposta de um modelo de gestão ambiental para os serviços de Nefrologia

Acta Paul Enferm 2008; 21 (Número Especial):192-7.

BURG Geni; SILVEIRA Djalma Dias da.

Propor um modelo de gestão ambiental para os serviços de nefrologia, a partir do diagnóstico situacional realizado em três serviços.

l. Modelo para avaliação de planos de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (PGRSS) para Secretarias Municipais da Saúde e/ou do Meio Ambiente.

Ciência & Saúde Coletiva. 13 (6):1945-1952, 2008.

ZAMONER, Maristela. Apresentar de um modelo que pode ser utilizado por Secretarias da Saúde e/ou do Meio Ambiente municipais para análise de PGRSS dos estabelecimentos de saúde dos municípios.

m. Estudo sobre o gerenciamento de resíduos sólidos de serviço de saúde no Hospital Regional da Asa Norte, Brasília

Dissertação (mestrado em Ciências da Saúde). Universidade de Brasília. Faculdade de Ciências da Saúde, 2009.

DUTRA, Luz Marina Alfonso.

Analisar a dinâmica do gerenciamento dos resíduos sólidos no Hospital Regional da Asa norte, no ano de 2008.

n. Modelo de avaliação do gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (RSS) com uso de indicadores de desempenho. Estudo de caso: Santa Casa de São Carlos- SP.

Tese (Doutorado em Engenharia) - Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2009.

VENTURA, Kátia Sakihama.

Propor um modelo de avaliação do gerenciamento de RSS em estabelecimentos de saúde com uso de indicadores de desempenho.

o. Plano de gerenciamento de resíduos do serviço de saúde: o caso do setor odontológico de uma entidade sindical.

Inter Science Place. Revista científica internacional. Ano 2- Nº09 Setembro/Outubro – 2009.

FERREIRA, Denize Demarche Minatti; GORGES, Janaína; SILVA, Luiz Everson da

Descrever e propor a implantação de um PGRSS no setor odontológico que funciona numa Entidade Sindical, na cidade de Brusque, no estado de Santa Catarina.

37

4.1 Diagnóstico da gestão dos resíduos de serviços de saúde (Tema I)

Dos 14 estudos analisados, 13 realizaram análise da situação do

gerenciamento dos RSS em diversos estabelecimentos de saúde no Brasil, verificando

as conformidades e os problemas apresentados, baseados nas normas legais sobre o

referido assunto.

Houve 8 estudos de caso, que analisaram predominantemente hospitais

públicos. Enquanto que as demais pesquisas envolveram comparativamente mais de

uma unidade de saúde, incluindo também consultórios odontológicos e alguns serviços

privados.

Aspectos técnico-operacionais

Quanto às pesquisas que verificaram a quantidade de RSS gerados nos

estabelecimentos, os valores, em Kg/ leito/ dia, foram os seguintes: 0,86 (g), 1,60 (d),

2,74 (h), 3,24 (b), 3,98 (e), 4,26 (m). Essas quantidades estão em torno da média

brasileira, que é de 2,63 kg/ leito/ dia (SCHNEIDER et al, 2004).

Os estudos demonstram que a maioria dos serviços de saúde ainda não

conseguiu implantar efetivamente o PGRSS, e outros estão em fase mais avançada de

implantação (f, h, j, n).

Em relação à segregação dos RSS, observou-se que a maior parte dos

estabelecimentos não segue as determinações legais quanto à correta disposição dos

37

resíduos de acordo com a classificação nos grupos: A, B, C, D e E (a, b, d, e, g, h, i, m,

o).

O maior problema encontrado foi em relação à mistura de resíduos do tipo A e

D em sacos brancos, sendo que estes deveriam armazenar somente resíduos

infectantes. Além disso, alguns estudos apontaram a não separação dos resíduos

potencialmente recicláveis, os quais são descartados juntos com os resíduos do grupo

D (a, b, d, e, n). Isso contribui para o aumento do volume de resíduos e,

consequentemente, acarreta maiores custos operacionais.

Porém, a consciência ecológica aos poucos está ganhando espaço. Foi

observado em estudo realizado em estabelecimentos de saúde localizados nos

municípios pertencentes à bacia hidrográfica do rio Vacacaí (b) que os resíduos

recicláveis são separados em aproximadamente 70 %, 40 % e 50% dos hospitais,

centros de saúde e laboratórios, respectivamente.

Porém uma dificuldade travada, inclusive por estes estabelecimentos

analisados, é fazer com que esta segregação realmente tenha valor, através do efetivo

funcionamento de programas de reciclagem de resíduos e emprego da coleta seletiva.

Infelizmente o que se observa comumente no Brasil é a coleta conjunta destes

materiais com os demais resíduos e ambos serem dispostos em “lixões” nas periferias

das cidades.

Em relação aos resíduos químicos (grupo B), alguns estudos detectaram não

conformidades com as determinações legais (a, b, d, e, i, j, o). É prudente relatar o

caso de consultórios dentários analisados em dois estudos (i, o), nos quais houve

consenso entre os autores, sendo observada negligência em relação a estes resíduos.

38

Na pesquisa que envolveu 85 consultórios dentários da rede privada de

Campina Grande – PB (i), dentre os 87% dos consultórios que fazem uso de tomadas

radiográficas, 80% relataram descartar as soluções de fixação e revelação diretamente

na pia sem nenhum tratamento prévio. Isso vai de encontro à legislação vigente que

preconiza que componentes químicos (soluções reveladoras, fixadoras e água de

lavagem) devem ser tratados antes de serem lançados direta ou indiretamente no meio

ambiente.

Os resíduos perfuro-cortantes (grupo E) foram apontados, na maior parte dos

estudos, como aqueles de maior preocupação por parte dos profissionais de saúde e

mais adequadamente descartados (a, b, d, h, f, i, m); isso foi respaldado pela existência

de caixas descartex na maioria dos estabelecimentos de saúde avaliados. Entretanto, na

avaliação feita em consultório odontológico de entidade sindical (o), foi observado que

estes resíduos estavam sendo colocado nas caixas ultrapassando o limite de 2/3 da

capacidade total, o que descumpre as normas legais.

As demais etapas referentes ao manejo dos RSS apresentaram não

conformidades em muitos estudos, merecendo destaque as etapas de transporte interno

(a, h) e armazenamento temporário (d, f, h, m, o). Verificou-se que o transporte interno

de resíduos estava sendo realizado em horários coincidentes com períodos de maior

fluxo de pessoas, incluindo pacientes e funcionários, que dividiam em muitas ocasiões

o mesmo elevador (h). Além disso, foi observado que o transporte não estava sendo

feito em recipientes específicos, separadamente, de acordo com o grupo de resíduos.

Em relação aos locais destinados ao armazenamento temporário, observou-se

descumprimento das normas referentes às dimensões mínimas destes, iluminação

39

inadequada, além de não possuírem paredes laváveis, nem abertura para ventilação

mínima (d, f, h, m).

Aspectos relacionados aos recursos humanos

Há concordância entre os autores quando afirmam haver desconhecimento do

PGRSS por parte dos profissionais de saúde de diferentes setores (b, c, e, f, g, m).

Alguns profissionais entrevistados afirmavam conhecer o plano de gerenciamento,

porém não sabiam especificar a norma legal e respondiam incorretamente aos

questionamentos referentes ao manejo dos resíduos (b, c, e).

O desconhecimento da legislação vigente é um dos fatores que mais

prejudicam a implantação do PGRSS e é responsabilidade dos gestores dos serviços

manterem seus trabalhadores informados e capacitados neste sentido.

A carência de capacitação de pessoal através de programas de educação

continuada foi comumente percebida nos serviços (c, e, f, g, i). Verificou-se que os

profissionais estão sendo insuficientemente treinados em relação à correta

classificação dos resíduos, aos princípios da segregação e aos riscos biológicos.

O conhecimento dos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos é

fundamental para a prática de atitudes preventivas, como o correto e constante uso dos

Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Em algumas análises observacionais e

entrevistas a funcionários de estabelecimentos de saúde foi detectado o não uso ou a

inadequada utilização dos EPIs na prática diária (f, g, j, m). Uma das conseqüências

40

desta prática é a constante ocorrência de acidentes por materiais perfuro-cortantes (h, j,

m).

4.2 Propostas para o aprimoramento da gestão dos RSS (Tema II)

Os estudos analisados ressaltam a importância da estruturação do PGRSS em

cada estabelecimento como instrumento direcionador das práticas sustentáveis.

Ressaltam que a elaboração, implantação e desenvolvimento do PGRSS devem

envolver os responsáveis pelos setores de higienização e limpeza, a Comissão de

Controle de Infecção Hospitalar - CCIH ou Comissões de Biossegurança e os Serviços

de Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho – SESMT. É necessário também

abranger toda a comunidade do estabelecimento e trabalhar em consonância com as

legislações de saúde, ambiental e de energia nuclear vigentes.

É necessária a criação de uma comissão para tratar especificamente de

assuntos relacionados ao gerenciamento de resíduos. Ela fará o diagnóstico da situação

atual dos resíduos no estabelecimento de saúde, traçará os objetivos e metas e

elaborará do PGRSS, sendo que a sua implantação deve ser monitorizada e reavaliada

periodicamente (d, f, g, j, l, n, m).

Para adaptação dos estabelecimentos de saúde às normas legais, é fundamental

que estes sigam algumas recomendações de ordem técnico-operacional, como:

adequação dos recipientes de coleta para facilitar a segregação dos resíduos,

adequação na estrutura física dos locais de armazenamento temporário, determinação

de horários para circulação dos carros de transporte interno, entre outros (d, f, g, j, l, n,

41

m). Algumas reestruturações exigirão investimentos financeiros, para a compra de

materiais e reformas necessárias. Porém, os benefícios gerados por esta prática são

comprovadamente maiores.

Em estudo que analisou a relação custo/ benefício antes e após a implantação

do plano de gerenciamento de RSS (d) foi possível verificar uma redução de 40% nos

custos envolvidos, a partir da implantação. Constatou-se uma redução do volume de

resíduos do grupo A e maior percentual de resíduos recicláveis.

Uma prioridade que a maioria dos autores dos estudos analisados cita é com

relação ao investimento em estratégias de educação continuada (a, c, d, e, f, i, j, m).

Afinal, não é possível promover mudanças importantes nas organizações de saúde sem

o envolvimento de todos, valorizando aqueles que estão diretamente envolvidos com o

trabalho nas atividades fins, e que são os principais geradores de resíduos.

42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo foi possível verificar que, embora as últimas atualizações

na legislação que orienta o gerenciamento dos RSS já tenham cinco anos de existência,

os estabelecimentos de saúde ainda encontram dificuldades para a implantação efetiva

do PGRSS.

Há desconhecimento dos profissionais de saúde quanto aos critérios mínimos

de classificação dos RSS, segregação e riscos biológicos, fato que compromete todas

as etapas do manejo dos RSS. Além disso, muitos trabalhadores desconhecem o

PGRSS, o que prejudica o alcance dos objetivos. Isso foi consenso entre os autores dos

estudos analisados, afirmando que:

• Em relação à segregação dos RSS, a maior parte dos estabelecimentos

não segue as determinações legais quanto à correta disposição dos

resíduos de acordo com a classificação nos grupos: A, B, C, D e E.

• O maior problema encontrado foi em relação à mistura de resíduos do

tipo A e D em sacos brancos, que deveriam armazenar exclusivamente

resíduos infectantes.

• Há desconhecimento do PGRSS por parte dos profissionais de saúde de

diferentes setores.

• Em muitos serviços verificou-se déficit na capacitação de pessoal

através de programas de educação continuada.

43

Entende-se que é possível obter êxito no processo de gerenciamento do RSS a

partir da implantação e de sucessivas reavaliações do PGRSS em todos os

estabelecimentos de saúde, realizando adaptações na estrutura já existente,

promovendo programas de educação continuada e valorizando medidas de baixo custo.

Essas medidas são obtidas a partir de estratégias que minimizem a geração de resíduos

e evitem desperdícios em geral.

O desenvolvimento de capacitação técnica, tendo em vista as questões

ambientais e de saúde dos profissionais envolvidos no processo de gerenciamento de

resíduos; poderá, a médio e longo prazo, favorecer o alcance das metas estabelecidas

no PGRSS. Os gestores devem usar a criatividade e incentivar os trabalhadores a

cumprirem o seu papel com responsabilidade, entendendo que os reflexos de uma boa

conduta individual atingirão a coletividade e a qualidade do meio ambiente.

44

RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

• Avaliar a situação do gerenciamento dos resíduos de saúde nos períodos pré e

pós-implantação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

(PGRSS), detectando benefícios/ progressos relacionados às novas práticas;

• Realizar análises nos estabelecimentos de saúde correlacionando a adequada

gestão dos resíduos de serviços de saúde com os aspectos de biossegurança;

• Verificar a percepção dos gestores dos serviços de saúde acerca da

implementação do Plano de gerenciamento de resíduos e da necessidade do

envolvimento de todo o corpo operacional neste processo.

• Realizar balanço dos custos envolvidos antes e após a implementação do Plano

de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde.

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REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução RDC n. 306 de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário Oficial da União, 2004. AN, H.; ENGLEHARDT, J.; FLEMING, L. & BEAN, J. Occupational health and afety amongst municipal solid waste workers in Florida.Waste Management & Research, 17:369-377. 1999.

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