universidade tecnolÓgica federal do paranÁ … · de relatório de não conformidade, para que o...
TRANSCRIPT
SISTEMA DA QUALIDADE EM ABATEDOUROS DE AVES
BENEFICIAMENTO E CARA
CTERIZAÇÃO DE
DA INDÚSTRIA DE NA RAGIÃO DE CORUMBATAÍ DO SUL: APROVEITAMENTO
DA CASCA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Campo Mourão
Fevereiro/2014
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Campus – Campo Mourão
Engenharia de Alimentos
ISABELA JORGE MANSO
RESUMO
A garantia de qualidade no mercado de carne de frango consiste no
fornecimento de produtos com padrões de qualidade estáveis, visando à satisfação
e segurança do consumidor. A atuação do engenheiro de alimentos nesse setor é
determinante no alcance dessa excelência das diversas etapas produtivas, desde o
recebimento da matéria-prima e insumos até a comercialização dessa carne.
Perante isto, o objetivo do estágio foi avaliar a gestão da qualidade nos frigoríficos
face às exigências e dinâmica do mercado. Foram realizados estágios nos
abatedouros Frangos Canção (Maringá-PR) e na Tyson Foods (Campo Mourão-PR),
com ambientação inicial de todos os setores das duas instalações industriais. Na
empresa Frangos Canção o foco foi o acompanhamento dos inspetores da
qualidade de cada setor da indústria observando suas funções. O estágio na
empresa Tyson Foods foi direcionado ao controle de quebra de ossos, desde a
recepção das aves até o processamento de cortes, amostrando-se esse produto
para averiguação da principal causa de quebra de ossos tipo jogador,
eminentemente relacionado ao prejuízo no produto final. O acompanhamento das
rotinas em matadouros de aves, com ênfase na garantia da qualidade, possibilitou a
atuação profissional prática e aprofundamento dos conhecimentos teóricos
adquiridos nas disciplinas cumpridas no curso de Engenharia de Alimentos, com
ênfase para Sistema de Qualidade, Tecnologia de Carnes, Operações Industriais,
Instalações Industriais, Fenômenos de Transportes, Refrigeração e Projetos.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL ......................................................................................... 6 2.1 IDENTIFICAÇÕES DAS EMPRESAS ................................................................... 6 2.1.1 FRANGOS CANÇÃO ......................................................................................... 6 2.1.2 TYSON FOODS ................................................................................................ 6 2.2 LOCALIZAÇÃO E INSTALAÇÕES ........................................................................ 6
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................................. 7 3.1 FRANGOS CANÇÃO ............................................................................................ 7 3.1.1 ACOMPANHAMENTO DA GARANTIA DE QUALIDADE ................................... 7 3.2 TYSON FOODS ................................................................................................. 13 3.2.1 CONTROLE DE OSSOS JOGADOR DURANTE A ETAPA DE PRODUÇÃO 13
CONCLUSÕES ......................................................................................................... 17
1. INTRODUÇÃO
A gestão da qualidade adequada às exigências do mercado é indispensável
aos frigoríficos. De acordo com Dorr; Marques (2004) o futuro do comércio da carne
de frango depende fundamentalmente da indústria quanto à garantia da qualidade e
flexibilidade para mudanças, e ainda que os requisitos dos clientes sejam
identificados e atendidos. Para tanto as empresas devem executar as atividades de
abate e processamento reconhecendo e assegurando os padrões de qualidade.
A gestão da qualidade em frigoríficos avícolas está associada a segurança
alimentar, garantindo-se as características da qualidade oculta, aos padrões
microbiológicos, a sanidade e ausência de substâncias nocivas. Dentro desta
perspectiva o estágio, enquanto acompanhamento da gestão da qualidade nos
frigoríficos de abate e processamento de frangos é de suma importância. Através
desse treinamento prático é possível reconhecer os pontos críticos de produção,
fontes e formas de contaminação, possibilitando a implantação, modificação e
melhoria dos sistemas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle (APPCC) e de Procedimentos Operacionais
Padronizados (POP´s).
A equipe de Garantia de Qualidade dos abatedouros Frangos Canção e
Tyson Foodes, além de avalizar a inocuidade e segurança do produto. Um dos
problemas típicos assegurados por essa equipe, é o controle da quebra de ossos,
garantindo a ausência de ossos maiores de 3 mm no produto final, que acarretaria
em desvalorização do produto final. A prevenção de um problema típico como este,
por exemplo, só é possível através do acompanhamento, reconhecimento e análise
crítica do processo culminando na tomada de decisões práticas.
Considerando a importância da garantia da qualidade, os objetivos
alcançados com os estágios foram: acompanhamento do fluxo de produção,
reconhecendo os pontos críticos do processo e do produto da empresa Frangos
Canção; avaliação crítica dos procedimentos na empresa Tyson Foods, através do
apontamento das possíveis causas de quebra de ossos tipo jogador.
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL
2.1 IDENTIFICAÇÕES DAS EMPRESAS
2.1.1 FRANGOS CANÇÃO
Razão social: Gonçalves & Tortolla S/A
Endereço: Rodovia BR 376 estrada Maringá lote 152
CEP: 87070-810 Cidade: Maringá Estado: Paraná
2.1.2 TYSON FOODS
Razão social: Tyson do Brasil Alimentos Ltda
Endereço: Rodovia PR 558, km 4 s/nº - Caixa Postal 53 - Parque Industrial Especial
CEP: 87302-215 Cidade: Campo Mourão Estado: Paraná
2.2 LOCALIZAÇÃO E INSTALAÇÕES
Os produtos manipulados nas empresas são: matéria-prima frango vivo;
frango inteiro ou em pedaços/cortes; partes comestíveis e não comestíveis (aves,
penas, sangue, entre outros) e produtos resfriados ou congelados. A planta industrial
de ambas as empresas possui capacidade de abate de 160 mil aves/dia, distribuídas
em dois turnos de abate, com velocidade de 1.000 aves/hora. A alta velocidade de
produção implica em um número elevado de mão de obra de operários e de
funcionários qualificados, possuindo cada empresa cerca de 3 500 funcionários.
As empresas estagiadas localizam-se fora do perímetro urbano, próximas a
vias de acessos rápidos e dotados de rede rodoviária, facilitando o escoamento da
produção. Os lay-outs são adequados e suficientes às operações unitárias
necessárias, sendo os setores de processamento constituídos, basicamente de:
plataforma de recepção das aves, pendura, sangria, escaldagem/ depenação, sala
de evisceração, sala de resfriamento, sala de cortes, paletização e expedição. Os
principais equipamentos são: ventiladores, nebulizadores, esteiras, nórias,
insensibilizadores, tanques de escaldagens, depenadeiras, cortadores,
evisceradores, extratores de vísceras, chillers e tuneis de congelamento.
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
3.1 FRANGOS CANÇÃO
As atividades desenvolvidas na empresa foram: acompanhamento da rotina
na garantia de qualidade, monitoramento dos programas de autocontrole, análises
dos programas de autocontrole e das fichas técnicas de controle, controles e
padrões de corte e qualidade dos produtos finais.
3.1.1 ACOMPANHAMENTO DA GARANTIA DE QUALIDADE
Fluxograma do processo em abatedouros de aves:
Aves vivas
Recepção e descanso
Desembarque aves vivas
Pendura
Insensibilização
Sangria
Escaldagem
Depenagem
Corte dos pés
Extração da cloaca
Corte abdominal
Eventração
Corte da cabeça
A
Inspeção ante-
mortem
Carcaça
Pré-resfriamento da
carcaça
Vísceras comestíveis
Pré-resfriamento
dos miúdos
d
s
Colocação na
linha de cone
A
Inspeção
Retirada do pacote
de vísceras
Pendura\Gotejamento
Retirada do papo/traqueia
Embalagem primária
Embalagem
secundária e
padronização
Cortes Dorso Produção de CMS
Congelamento/Resfriamento
Paletização
Expedição
Estocagem
As atividades junto ao setor para garantia da qualidade se iniciaram pelo
acompanhamento dos procedimentos para admissão de funcionários: são proferidas
palestras orientando o ingressante sobre os padrões desejados de qualidade,
procedimentos de higiene, Boas Práticas de Fabricação (BPF) e meios possíveis de
contaminação e necessidades desse controle. Esses treinamentos são realizados na
primeira semana de admissão do empregado, sendo repetidos esporadicamente aos
já contratados, dentro do cronograma estabelecido pela empresa.
Os acompanhamentos com os inspetores da qualidade foram feitos
seguindo os fluxos da produção. Na plataforma de recepção, a cada lote, era
conferido o nome e o período de carência dos medicamentos informado na ficha de
acompanhamento do lote; ainda se verificava a conformidade das drogas utilizadas
no lote com os permitidos pela empresa; finalmente se verificava o período de
consumo da ração final (ração de abate). Estando tudo em conformidade,
devidamente documentado e o lote atendendo ao prazo de carência de alguma
droga administrativa, as aves eram liberadas para o abate.
Na insensibilização ocorria o ajuste do atordoador (voltagem, frequência e
intensidade da corrente elétrica) para cada lote: a descarga elétrica é ajustada em
conformidade com o peso médio das aves, conferindo estado de inconsciência e
insensibilidade, mas mantendo as funções vitais até a sangria. Na sangria eram
asseguradas que todas as aves passassem pelo disco que corta os vasos jugulares
e na escaldagem, que a temperatura da água permanecesse em 60±5°C, com
imersão completa das aves no tanque com abastecimento contínuo forçado de água.
Na evisceração asseguravam-se os padrões de qualidade estabelecidos
pela empresa utilizando-se a ferramenta de inspeção visual. No caso do corte
manual verificava se os funcionários deixavam a faca sempre imersa na água do
esterilizador (com temperatura de 85±5°C). Inspecionava-se e corrigia ainda a
possibilidade de acúmulos sólidos na calha dos equipamentos e se as
carcaças/pacote de vísceras que caíam no piso estavam sendo condenadas.
Cuidado especial era tomado evitando exposição de conteúdo intestinal e
contaminação do frango, interna ou externamente, e o rompimento de vísceras
contaminando a máquina de frangos.
O pré-resfriamento é realizado em três estágios com o objetivo do
abaixamento da temperatura das carcaças de frango para 7°C, o que evita a
proliferação de microrganismos. A temperatura da água medida nos pontos de
entrada do pré chiller e saída do chiller 1 e 2 das carcaças no pré-resfriamento não
ultrapassa 16°C e 4°C, respectivamente. A renovação constante de água é em
sentido contracorrente ao movimento das carcaças, na proporção mínima de 1,5 (um
e meio) litros de água por carcaça no pré-chiller e 1,0 litro de água por carcaça no
primeiro e segundo chiller. Este valor é determinado para a carcaça com peso até
2,5 Kg, acima desse peso a renovação muda para 1,5 litros de água por carcaça.
Isto garante a absorção de água em, no máximo, 8% do peso total da carcaça. Para
monitoramento da absorção de água, a cada hora, eram amostradas 10 aves antes
da entrada dos frangos no chiller e esse peso era confrontado com o da saída do
chiller.
No processamento de cortes, estes deveriam estar em conformidade com os
padrões exigidos e sem desperdício dos produtos. Os resíduos eram continuamente
removidos, mantendo-se o fluxo de produção e evitando entupimento das calhas ou
sujidades nos pisos. Peças reprovadas são encaminhadas até o recipiente pulmão
da bomba de vácuo, sendo então direcionado para setor próprio de CMS - Carne
Mecanicamente Separada. Na sala de cortes procediam-se inspeções visuais dos
padrões de idealidade dos produtos, recolhendo-se as bandejas ou os pacotes no
final do processo, antes de ir para o congelamento para averiguar a presença de
penas e furo na pele, presença de hematoma (>1cm), cartilagem (>5mm),
osso(>3mm) e furo na carne, tendão(>3mm), corpo estranho, excesso de
pele(>2cm), furo na carne e furo na pele, anomalia no músculo, erro de corte entre
outros dependendo do produto a ser analisado.
Na sala de CMS além do acondicionamento correto do CMS na embalagem
e o fechamento correto do pacote, monitorava-se o funcionamento da máquina para
produção contínua do produto.
As peças e os miúdos são acondicionados nas embalagens (sacos plásticos
ou bandejas) com peso padronizado conforme a especificação técnica do produto.
Uma quantidade específica de amostras era recolhida aleatoriamente de cada tipo
de produto, e estas pesadas para comparar se o peso da embalagem estava
correto. A rotulagem deveria estar legível, condizente com o produto a ser
embalado, com data de produção e de validade corretas e com o registro do SIF na
etiqueta.
Quando a temperatura dos produtos na entrada do túnel de congelamento
ultrapassa o limite estabelecido (7°C para os mesmos manipulados e 10°C para os
mais manipulados) é comunicado, imediatamente, o encarregado do setor através
de relatório de não conformidade, para que o mesmo verifique a causa do desvio e
torne as medidas corretivas necessárias, como adicionar mais gelo no chiller,
aumentar o tempo de permanência das carcaças no sistema de pré-resfriamento,
aumentar a vazão de água gelada, diminuir a temperatura da sala. A cada hora, as
temperaturas dos produtos na entrada do túnel de congelamento são verificadas,
através de um termômetro calibrado colocado na região intramuscular no peito do
frango. Para obter a temperatura adequada, -12°C, para produtos destinados ao
mercado interno, -18°C, para produtos destinados ao mercado externo e para CMS,
o produto permanece dentro do túnel contínuo por um período aproximado de 12
horas. Para os produtos resfriados (de 1°C a 4°C), o produto permanece dentro do
túnel por um período aproximado de uma hora. Após a saída dos produtos do túnel,
o registrador de tempo e temperatura é removido e a leitura é realizada, na qual é
verificada a demanda do tempo necessário para abaixamento da temperatura. É
monitorado a cada duas horas, a temperatura no interior do túnel, sendo de -25°C ou
mais frio, exceto nos horários de degelo. Para produções comprometidas (tempo e
temperatura inadequados) o Depto. Controle de Qualidade realiza a segregação dos
produtos, na saída do túnel de congelamento, identificado o pallet com etiquetas
específicas e colocação de filme strech.
Na paletização as embalagens primárias e secundárias não devem estar
rompidas e todos os produtos devem estar identificados, com data de produção e
data de validade. O fechamento do pallet deve ser feito somente se a temperatura
estiver em conformidade.
Na câmara de armazenamento são averiguados o controle do tempo e
temperatura de estocagem, para não ocorrer perda da qualidade do produto. Os
produtos devem ser devidamente identificados quanto ao lote, o tipo do produto,
data e hora de fabricação, facilitando a localização.
Durante a expedição, em caminhões devidamente higienizados e
refrigerados, inspecionam-se os lotes quanto ao perfeito estado de conservação,
integridade das embalagens, inexistência de materiais estranhos, rápido e eficiente
fluxo de carregamento, conforme normas estabelecidas pelo SIF.
As temperaturas dos ambientes devem ser mantidas corretamente: na seção
de CMS permiti-se um máximo de 10°C; na sala de cortes e demais seções
climatizadas patamares máximos em 12°C.
Os inspetores responsáveis por cada setor fazem o registro das
conformidades ou não conformidades, em planilha específica. Essas planilhas são
repassadas aos responsáveis da garantia de qualidade Em caso de não
conformidade são executadas correções e melhorias. A Figura 1 ilustra parcialmente
uma dessas planilhas típicas usadas pelos inspetores da empresa Frangos Canção.
Figura 1- Planilha de monitoramento e verificação do departamento da garantia da qualidade da
empresa Frangos Canção (Fonte: Frangos Canção).
3.2 TYSON FOODS
As principais atividades foram o acompanhamento na área de garantia da
qualidade, com padronização de cortes e aplicação de treinamento local, além da
atuação no controle de quebra de ossos durante o processo.
3.2.1 CONTROLE DE OSSOS JOGADOR DURANTE A ETAPA DE PRODUÇÃO
Inicialmente, os ossos de jogador foram avaliados no setor da
insensibilização para avaliar a influência desta operação na quebra deste tipo de
osso. Uma amostragem de 10 frangos era retirada da nória, e estes desossados,
para conferir se não havia quebra. Após, pelo excesso de descarte de frangos e por
adquirir maior prática na avaliação deste tipo de osso, não havia mais a necessidade
das aves serem desossadas. As análises poderiam ser realizadas manualmente
pela sensibilidade dos dedos na região do peito da ave, onde se encontra o osso
jogador. Durante todo o período de avaliação, apenas dois frangos, averiguados
após a insensibilização, estavam com o jogador quebrado.
Figura 2 – Foto retirada do osso tipo jogador quebrado na insensibilização.
Na imagem (Figura 2) pode-se perceber que o osso estava quebrado na
região inferior da ponta do osso, como se estivesse separando a ligação entre eles.
O peso médio do lote deste frango nesse dia desse estudo foi de 2,9 kg. Entretanto,
o osso quebrado encontrado no dia seguinte, apresentava fissura do lado direito na
ponta superior do osso, situação semelhante aos ossos quebrados na linha de cone
pelo corte com a faca (Figura 3). Nesse segundo dia de estudo o peso do lote do
frango encontrado quebrado foi de 2,730 kg.
O estudo na insensibilização não teve número de amostras significativas
para ser conclusivo, por isso, questiona-se a causa da quebra do osso tipo jogador
nestes dois frangos, podendo, eventualmente, estarem quebrados a priori (quebra
ocorrida durante a pendura ou no transporte ou em alguma etapa anterior ao
“choque”), uma vez que apenas duas aves apresentavam essa rachadura. Seria
pertinente conjecturar a regulagem da descarga elétrica, todavia, isso provavelmente
teria afetado outras carcaças. Considerando ainda a mistura do lote e as
significativas irregularidades no tamanho e peso dos frangos, a descarga elétrica
não é de fato adequada a todos os animais, pois a intensidade da corrente elétrica
deve ser inversamente proporcional ao peso médias das aves: as aves pequenas
demais tendem a ficar soltas no gancho onde haverá pouco contato com a solução
salina e portanto, menor será a eficiência da insensibilização, já nas aves grandes
esse contato é maior o que para o bem estar animar esse “choque” deve ser menor.
De qualquer maneira, além do cronograma de abate com o peso médio de cada lote
a ser abatido, o operador responsável pelo choque monitorava os frangos na nória,
para que o ajuste da corrente elétrica fosse feito de maneira correta, ou seja,
verificava visualmente se à maioria dos frangos estavam com um peso médio alto ou
baixo.
Uma verificação para observar se a insensibilização por eletronarcose
estava inadequado poderia ser feito na sala de cortes. Neste caso, é possível
observar o produto na esteira, antes da embalagem primária, constatando se a
maioria dos cortes tipo sassami ou de filé de peito, apresentavam um grande volume
de sangue em sua superfície. A constatação da maioria destes produtos com
excesso de sangue significa que o “choque” está inadequado. A justificativa é o
rompimento das artérias do frango que, por ser muito sensíveis, liberam o sangue
com o corpo do animal ainda quente, permitindo a visualização mesmo após o
resfriamento. Neste caso, como os produtos não apresentavam resíduos de sangue,
pode-se concluir que a descarga elétrica não rompeu veias nem artérias altamente
sensíveis, e, portanto, não poderia ser responsável por causar a quebra de ossos,
muito mais rígidos.
Os frangos analisados logo após a insensibilização foram identificados
com lacres amarelos, e colocados de volta a nória. Logo em seguida estes frangos
deveriam ser retirados novamente da linha ao passarem pela depenadeira para que
os ossos fossem avaliados. A depenadeira também é influenciada pelo tamanho dos
frangos, ou seja, ela é regulada de acordo com o peso médio das aves, no entanto,
pelo fato dos frangos serem de tamanhos assimétricos, o equipamento pode lesionar
aqueles com pesos maiores, caso a máquina esteja regulada para aves pequenas.
Por isso, a depenadeira apresentou um alto índice de quebra de ossos, com média
entre 10 a 20 % do total avaliado.
Os frangos que apresentavam ossos quebrados na depenadeira
deveriam ser repostos por frangos do mesmo lote, para que a quantidade de
amostra, de 10 aves, sempre fosse à mesma, e que pudesse seguir para próxima
etapa, somente frangos em que o jogador não estivesse quebrado. Os frangos
então, após a análise na dapenadeira, eram colocados novamente na nória, com os
lacres de identificação. Estes seriam analisados na evisceração. A evisceradora ao
retirar as vísceras das carcaças, comprimi o peito do frango, o que em alguns casos,
pode acarretar a fissura deste osso. A máquina ao ser ajustada para aves com peso
médio alto (2,8-3,20 Kg), pelo fato de um mesmo lote conter carcaças com pesos
inferiores, o equipamento, na força de compressão, fratura os ossos de jogador
destas aves menores. A evisceradora, assim como a depenadeira, apresentou em
média 10 a 20% de quebra, porém com uma frequência menor do que nesta última.
Os frangos quebrados na depenação, substituídos por outros do
mesmo lote, em conjunto com as outras aves previamente identificadas, seriam
avaliados após a passagem pelo equipamento que faz a retirada do papo e da
tráqueia. Este equipamento apresentou um índice de quebra de 10% do total
analisado, porém, à ocorrência deste problema era inferior quando comparado a
depenadeira e a evisceradora.
Novamente, ocorria a reposição dos que haviam quebrado, para
análise após o chiller. No pré-resfriamento, duas possíveis causas podem prejudicar
a integridade deste osso: durante a transferência das carcaças da nória para a calha
do tanque do chiller ou durante a movimentação destas no interior deste
equipamento. Assim como a depenadeira, a frequência de ossos jogador quebrados
no chiller era constante. Porém o chiller foi o que apresentou maior índice de quebra
(40 - 50%).
Selecionava-se, aleatoriamente, no final da linha de cone, um total de
100 carcaças (dorso), e desde total, analisavam-se quais destes possivelmente
teriam sido quebrados somente nesta etapa. O corte com a faca, durante a retirada
da asa do produto, pode ocasionar a ruptura do jogador. Por isso, a identificação da
quebra deste osso no canto superior direito, indica que o osso foi quebrado nesta
etapa. A figura 3 ilustra esta lesão decorrente da linha de cortes.
Figura 3- Corte do osso da ponta superior direta na linha de cone.
Através das observações realizadas durante o período de análise, foi
possível concluir que de fato, estas operações industriais, nas quais, este tipo de
produto é submetido, pode causar a quebra deste osso, o que prejudicaria a
qualidade do produto final, por este conter a presença de pequenas frações de
ossos. Entre os equipamentos citados, o chiller apresentou o maior índice de
quebra, seguido da depenadeira e por fim da evisceradora.
Na sala de cortes, a garantia da qualidade realiza a inspeção final no peito
de frango, relativo à presença de ossos maiores que 3 mm, provenientes da quebra
do jogador, evitando que este problema que afeta o processo, prejudique a
qualidade do produto que chega ao consumidor.
CONCLUSÕES
O uso de ferramentas para controle de qualidade como o Manual de Boas
Práticas, os Procedimentos Operacionais Padronizados, as Instruções de Trabalho e
as Planilhas de Controle, vêm sendo aplicados cada vez mais nas indústrias
processadoras de carnes e seus derivados, garantindo assim uniformidade no
processo produtivo e resultando em qualidade dos produtos, redução de desperdício
e aumento na segurança alimentar. Essas ferramentas servem de pré-requisitos
para a implantação do sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
(APPCC).
Na faculdade o conteúdo da matéria de Sistema de Qualidade é direcionado
para implantação destes sistemas. Esta nos serve de subsídio para como
Engenheiros de Alimentos podermos implantar ou modificar essas ferramentas de
controle essências para qualquer empresa. A realização deste trabalho permitiu uma
interligação mais coesa entre a teoria e a prática, no domínio do conhecimento e a
visão prática do sistema de BPF, APPCC e dos POP´S da empresa Frangos
Canção.
O estágio na empresa Tyson Foods, considerando a inexistência de
disciplinas que abordassem especificamente a problemática abordada, implicou em
dificuldades práticas. Não havia uma metodologia ou treinamento a ser seguido,
portanto, o método de trabalho foi formulado durante o próprio período de estágio.
Participar do cotidiano de uma empresa, do processo, da organização, estar
em contato com profissionais das áreas de Engenharia, fazer um estudo prático,
como o controle de quebra de ossos, mesmo que por um período curto, é importante
para nos ambientarmos ao funcionamento prático de uma empresa e agregar
experiência para que no futuro se possa ser um profissional mais completo, ter certo
conhecimento na área da qualidade e entender sua importância, mesmo que este
não seja o caminho a ser seguido.