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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT DEPARTAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL HABILITAÇÃO EM EDIFÍCIOS TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO RAFAELE LOPES DE ALENCAR INTERVENÇÕES FÍSICAS NA REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA COM SIMULAÇÃO. JUAZEIRO DO NORTE-CE 2017

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT

DEPARTAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL – HABILITAÇÃO EM

EDIFÍCIOS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO

RAFAELE LOPES DE ALENCAR

INTERVENÇÕES FÍSICAS NA REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA COM

SIMULAÇÃO.

JUAZEIRO DO NORTE-CE

2017

RAFAELE LOPES DE ALENCAR

ALUNA DO CURSO DE TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL - URCA

INTERVENÇÕES FÍSICAS NA REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA COM

SIMULAÇÃO.

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado à Comissão Examinadora do Curso de Tecnologia da Construção Civil com Habilitação em Edifícios, da Universidade Regional do Cariri – URCA, como requisito para conclusão do curso. Orientador: Dr. Renato de Oliveira Fernandes.

JUAZEIRO DO NORTE-CE

2017

INTERVENÇÕES FÍSICAS NA REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA COM

SIMULAÇÃO.

Elaborado por Rafaele Lopes de Alencar

Aluno do Curso de Tecnologia da Construção Civil - URCA

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Renato de Oliveira Fernandes - URCA

(ORIENTADOR)

Dr. Eliakim Martins Araújo - URCA

Prof. Me. Miguel Adriano Gonçalves Cirino- URCA

Monografia aprovada em ____ / ____ / ______, com nota _____.

JUAZEIRO DO NORTE-CE

2017

A Deus.

A minha mãe Maria do Carmo, que

apostou tudo o que tinha nos filhos.

AGRADECIMENTOS

A Deus, estando sempre vigiando meu caminho e guiando meus paços.

A Jesus Cristo, que me dá forças para sempre seguir em frente e a manter meu

coração calmo perante as dificuldades.

A minha mãe, Maria do Carmo, que me apoia em minhas decisões, sempre está ao

meu lado quando preciso e tem me educado com disciplina e confiança para

conquistar meus objetivos.

A meu orientador, Dr. Renato de Oliveira Fernandes, pelo cuidado de me manter

sempre motivada na execução deste trabalho.

A todos os meus professores, desde o fundamental até aqui, pela atenção, carinho e

por ajudar tantos outros como eu a seguir o caminho do conhecimento.

“As dificuldades são o aço estrutural que

entra na construção do caráter. ”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

RESUMO

O crescimento populacional vem agravando as dificuldades das redes de distribuição

de água de atender a demanda de água. Foi identificado esta problemática na cidade

de Várzea Alegre – CE e comprovada através de um diagnóstico hídrico realizado em

estudos anteriores no ano de 2012. A partir disso, este trabalho tem como objetivo

propor soluções através de intervenções físicas na rede de distribuição de água da

cidade de Várzea Alegre – CE, para adequar os valores de pressão nos nós, os quais

foram identificados anteriormente com valores inferiores ao mínimo preconizado pela

NBR 12.218/1994 que define alguns parâmetros para o projeto de rede de distribuição

de água para abastecimento público. A rede de distribuição de água da cidade Várzea

Alegre apresenta valores insuficientes de pressão nos nós, velocidades excessivas

em diversos trechos das áreas periféricas e perdas de carga excessivas em diversos

trechos. Utilizando o software de simulação hidráulica EPANET foi possível analisar o

desempenho da rede e localizar as áreas problemáticas para propor modificações

viáveis que possam adequar os valores de pressão aos exigidos por norma. A rede

foi simulada em três condições, sendo a primeira com modificação de diâmetros dos

condutos, a segunda com adição de um reservatório elevado e a terceira

considerando as duas condições anteriores, ou seja, com modificação de diâmetros

dos condutos e adição de um reservatório elevado. Os resultados obtidos mostram

também as vantagens de cada intervenção física na rede de distribuição de água com

destaque para as vantagens técnicas, econômicas e sociais. Embora a modificação

das tubulações e acréscimo de um reservatório apresentem o melhor resultado

técnico é necessário avaliar do ponto de vista financeiro e os possíveis transtornos a

mobilidade da população da cidade de Várzea Alegre – CE.

Palavras-chave: simulação, rede de distribuição de água, Várzea Alegre-CE.

ABSTRACT

Population growth has aggravated the difficulties of water distribution networks to meet

water demand. This problem was identified in the city of Várzea Alegre - CE and proved

through water diagnosis carried out in previous studies in the year 2012. From this,

this work aims to propose solutions through physical interventions in the water

distribution network of the city of Várzea Alegre - CE, to adjust the pressure values at

the nodes, which were previously identified with values lower than the minimum

recommended by NBR 12.218 / 1994 that defines some parameters for the water

distribution network design for public supply. The water distribution network of Várzea

Alegre presents insufficient values of pressure at the nodes, excessive velocities in

several stretches of the peripheral areas and excessive losses of load in various

stretches. Using the EPANET hydraulic simulation software it was possible to analyze

the network performance and locate the problem areas to propose feasible

modifications that can adjust the pressure values to those required by the standard.

The network was simulated in three conditions, the first with modification of conduit

diameters, the second with addition of a high reservoir and the third considering the

two previous conditions, that is, with modification of conduit diameters and addition of

a high reservoir. The results obtained also show the advantages of each physical

intervention in the water distribution network, highlighting the technical, economic and

social advantages. Although the modification of the pipes and the addition of a

reservoir present the best technical result, it is necessary to evaluate the financial and

possible disturbances of the population mobility of the city of Várzea Alegre - CE.

Key words: simulation, water distribution network, Várzea Alegre-CE.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema de uma rede malhada em blocos. ............................................. 18

Figura 2 - Esquema de uma rede malhada com quatro anéis ou malhas. ................ 19

Figura 3 - Representação de rede ramificada. .......................................................... 19

Figura 4 - Representação de rede ramificada tipo espinha de peixe (A) e traçado tipo

grelha (B)................................................................................................................... 20

Figura 5 - Representação de rede mista. .................................................................. 20

Figura 6 – Representação esquemática de uma rede: nós ligados entre si nos vértices

por intermédio de nós. ............................................................................................... 25

Figura 7 - Esquema de rede da cidade de Várzea Alegre, Ceará, com a disposição de

pressão por nó. ......................................................................................................... 28

Figura 8 – Cidade de Várzea Alegre – CE. ............................................................... 29

Figura 10 – Representação das áreas com pressão mais baixa da rede, e

representação do nó 80. ........................................................................................... 33

Figura 11 – Indicação dos trechos a serem modificados. ......................................... 35

Figura 12 – Simulação com modificação nos diâmetros dos condutos principais ás

12:00 horas. .............................................................................................................. 36

Figura 13 – Trechos com diâmetros modificados. ..................................................... 39

Figura 14 – Modelo simulado após as intervenções adicionais................................. 40

Figura 15 – Simulação 2: Resultados após adição de RNF 2. .................................. 41

Figura 16 – Valores de pressão e perda de carga no modelo base (A), em comparação

às simulada após as intervenções (B). ...................................................................... 42

Figura 17 – Trechos modificados na simulação 3. .................................................... 44

Figura 18 – Simulação 3, resultados após as modificações propostas. .................... 45

Figura 19 – Valores de perda de carga. Simulação 3 ............................................... 46

Figura 20 – Valores de velocidades. Simulação 3 ..................................................... 46

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Monitoramento da pressão com a instalação às 8:42 horas do dia

19/07/2016 e retirada às 12:42 horas do dia 20/07/2016, do aparelho datalogger, no

endereço localizado na Rua: Inácio Gonçalves da Costa, nº 115 – Bairro: Riachinho –

Várzea Alegre/CE. ..................................................................................................... 27

Gráfico 2 – Variação de pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80, áreas: Bairros

Riachinho e Centro. ................................................................................................... 34

Gráfico 3 – Pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80 após as intervenções. ............. 37

Gráfico 4 – Variação da pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80, após intervenções

adicionais. ................................................................................................................. 39

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultados das medições instantâneas de pressão disponível na rede de

distribuição, realizadas pela ARCE no dia 19/07/2016. ............................................. 30

Tabela 2 – Segmento de trechos com diâmetros modificados. ................................. 35

Tabela 3 – Valores de perdas de carga simulados em comparação aos valores atuais.

.................................................................................................................................. 37

Tabela 4 – Segmento de trechos com diâmetros modificados. ................................. 38

Tabela 5 – Trechos com diâmetros modificados. Simulação 3 ................................. 43

LISTA DE SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ARCE – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará

CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará

FoFo – Ferro Fundido

RNF – Reservatório de Nível Fixo

SAA – Sistema de Abastecimento de Água

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 15

1.1.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 15

1.1.2 Objetivo Específico ................................................................................ 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 16

2.1 Redes de Distribuição de Água .................................................................... 16

2.1.1 Tipos de Redes de Distribuição ............................................................. 17

2.1.2 Condutores ............................................................................................ 21

2.2 O Problema das Perdas ............................................................................... 22

2.3 Modelagem Hidráulica de Rede de Abastecimento de Água ....................... 23

2.4 Calibração de redes ..................................................................................... 25

2.5 Problematização da área de estudo ............................................................. 26

3 METODOLOGIA ................................................................................................. 28

3.1 Instrumentos de Coleta de Dados ................................................................ 28

3.2 Plano de Modelagem ................................................................................... 30

3.3 Análise do comportamento da rede ............................................................. 31

3.4 Avaliação da precisão dos resultados do modelo ........................................ 31

3.5 EPANET 2.0 ................................................................................................. 32

4 RESULTADOS ................................................................................................... 33

4.1 Avaliação da Simulação 1 ............................................................................ 33

4.2 Avaliação da simulação 2 ............................................................................. 41

4.3 Avaliação da simulação 3 ............................................................................. 43

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 48

13

1 INTRODUÇÃO

A rede de distribuição de água é uma solução coletiva para abastecimento de

água em cidades. Entretanto, quando esse sistema não supre a demanda existente,

deixando de cumprir com seu principal objetivo, inicia-se um ciclo de problemas, o que

gera diversos prejuízos. Tais prejuízos atingem tanto a empresa responsável pela

rede de distribuição, quanto a população, que passa a perder direitos básicos que

deveriam ser devidamente cumpridos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2017), a cidade

de Várzea Alegre - CE possuía uma população de 38.434 habitantes no ano de 2010

(ano em que foi iniciado o diagnóstico hídrico do município), com estimativa para 2017

de 40.440 habitantes, tendo área territorial de 835.709 km2.A densidade demográfica

do município é de 45,99 habitantes por km², com uma crescente taxa de urbanização,

atualmente da ordem de 55,30%, perfazendo 19.268 habitantes na sua zona urbana.

Foi constatado no estudo de Jericó, Fernandes e Silva (2013), que havia

pressões insuficientes em vários pontos da rede no ano de 2010, e atualmente, de

acordo com o crescimento populacional, este fato ainda é verídico e está se agravando

com o passar do tempo.

Segundo o relatório de fiscalização da rede de distribuição de Várzea Alegre-

CE, feito pela ARCE - Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado

do Ceará, foi constatado pressões inferiores à 10 mca mediante medição contínua de

pressão na rede de distribuição, da inspeção realizada nos dias 18 à 20 julho de 2016.

A ARCE realizou também, medições instantâneas de pressão em pontos devidamente

espaçados na rede de distribuição, mais especificamente nos cavaletes de ligação,

detectando pressão fora da faixa de 10 a 50 mca.

O estudo atual é a sequência do iniciado por Jericó, Fernandes e Silva (2013),

contribuindo no sentido de propor intervenções físicas na rede de distribuição de água

para possibilitar a adequação das pressões nos diversos pontos de consumo.

Para alcançar os objetivos serão necessárias simulações hidráulicas no

software EPANET (ROSSMAN, 2008), com modificações nos diâmetros de

tubulações específicas e inclusão de outros elementos, como reservatórios elevados,

seguindo o princípio das simulações realizadas na rede de abastecimento de água em

operação, que mostraram como resultado prévio problemas recorrentes como perdas

de carga e pressões excessivas em diversos trechos da rede. A partir dos dados

14

obtidos por Jericó, Fernandes e Silva (2013), serão feitas as intervenções físicas,

seguindo a premissa de que, com maiores diâmetros em alguns pontos das

tubulações, e/ou adição de um ou mais reservatório elevado, num ponto específico e

de cota topográfica favorável, haverá um aumento de vazão e pressão nos pontos de

consumo, melhorando o desempenho da rede.

15

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Esse estudo tem como objetivo propor intervenções físicas da rede de

abastecimento de água da cidade de Várzea Alegre – CE, visando melhorias quanto

ao atendimento das pressões.

1.1.2 Objetivo Específico

Para atingir os objetivos gerais será seguido o seguinte objetivo específico:

Analisar o comportamento do modelo da rede de água em seu estado

atual para identificar as áreas com pressões insuficientes;

Considerar dados atuais da rede de distribuição de água além dos dados

gerados pelo modelo para obtermos resultados mais realísticos;

A partir das conclusões da análise inicial, criar estratégias onde as

intervenções possam corrigir as pressões insuficientes;

Simular a dinâmica da rede com todas as intervenções propostas, como

substituição de tubos e acréscimo de um reservatório.

16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Redes de Distribuição de Água

Segundo Heller e Pádua (2010), rede de distribuição é a unidade do sistema

de abastecimento de água constituída por tubulações e órgãos acessórios instalados

nas vias públicas, objetivando fornecer continuamente água potável em quantidade,

qualidade e pressões adequadas a todos os pontos de consumo.

A forma como a água é distribuída sujeita-se muito as condições gerais do

sistema, que são: a topografia, a dimensão da área abastecida e a localização das

fontes de abastecimento, além de critérios econômicos e sociais. Desse modo, pode-

se usar como classificação de abastecimento: por gravidade, bombeamento e por

bombeamento e armazenamento (SANTANA, 1999).

No caso de a topografia local conceder a condução da água através dos

diferentes níveis do local, é empregado o abastecimento por gravidade. Pelo seu custo

relativamente pequeno e pelo baixo índice de variação da pressão ao longo do sistema

de distribuição, esse tipo de abastecimento é preferível em relação aos outros.

Quando não é possível a utilização das curvas de nível para a condução da

água por gravidade é utilizada o abastecimento por bombeamento. Este tipo de

abastecimento tem grande desvantagem por sua dependência à energia elétrica, pois

a água só chega à rede através de bombeamento contínuo, e também há mais falhas

de distribuição devido às oscilações de pressão e demanda na rede. Por estes motivos

essa é a forma menos utilizada.

Já no caso de abastecimento por bombeamento e armazenamento, os

reservatórios são locados objetivando receber os excessos de água dos momentos

de menor consumo e atuar como fonte de abastecimento nos momentos de maior

consumo ou durante processos de manutenção do sistema ou falhas. Na rede de

distribuição abastecida mediante estação de bombeamento, o dimensionamento das

tubulações depende da cota piezométrica da cabeceira, essa por sua vez, interfere

diretamente no custo da rede. Mantendo o traçado da rede com classes dos tubos

disponíveis constantes, quanto maior for esta cota, menor será o custo, além de que

é possível a seleção de tubos com menores diâmetro, entretanto, menores diâmetros

geram elevados custos com energia elétrica por aumentar a perda de carga. De

maneira oposta, aumentado os diâmetros da tubulação e diminuindo a altura de

17

bombeamento, acarreta o aumento no custo das tubulações e a diminuição do custo

de energia, com isso, acaba fornecendo menor perda de carga (SANTANA, 1999).

2.1.1 Tipos de Redes de Distribuição

Segundo Gomes (1999), para a identificação dos elementos da rede é usado

uma nomenclatura especifica:

Trecho: percursos da rede onde a vazão é constante;

Nó: conexão entre dois trechos (produzem modificações na vazão circulante);

Nó de derivação: conecta dois ou mais trechos;

Ramal: Trechos conectados em série, sem nenhum nó de derivação;

Artérias: percursos principais da rede, formado por ramais agrupados em série;

Traçado da rede: configuração da distribuição das tubulações, indicando a

situação topográfica dos componentes da rede;

Alimentação ou cabeceira de rede: início da rede, geralmente é onde se localiza

o reservatório de distribuição ou bombeamento direto.

Redes são constituídas por canalizações, classificadas em canalizações

principais e secundárias. As canalizações principais, também chamadas de conduto

tronco, têm maior diâmetro e objetiva abastecer os condutos secundários, enquanto

as secundárias de menor diâmetro, objetivam abastecer diretamente os pontos de

consumo do sistema (TSUTIYA, 2006).

De acordo com a disposição dos condutos principais e o sentido de escoamento

das tubulações secundárias, as redes são classificadas como rede malhada, rede

ramificada e mista, casos em que são encontrados os dois tipos em um mesmo

sistema. A parte ramificada geralmente encontra-se nas periferias ou em áreas de

expansão (TSUTIYA, 2006).

A rede de malha em anéis apresenta bom funcionamento desde que tenha sido

criteriosamente dimensionada, mas apresenta maior número de registros a serem

manobrados em comparação com a rede de blocos, dificultando a medição das

vazões. É o traçado que apresenta maior eficiência hidráulica, sendo comumente

usados em áreas onde existe maior número de habitantes por quilômetro quadrado e

com configuração em que as larguras dessas mesmas áreas não sejam muito

reduzidas. (HELLER, PÁDUA, 2010).

18

Na rede de malha em blocos o controle das pressões é mais preciso, há melhor

qualidade na distribuição e na eficiência na manutenção da rede. Nela há maior

facilidade no controle de perdas e existe maior facilidade na medição das vazões, pois,

como ilustrado da Figura 1, as redes internas aos blocos são alimentadas apenas por

dois pontos, favorecendo a medição de vazão e consequentemente, melhora o

controle de perdas na rede (TSUTIYA, 2006).

Figura 1 - Esquema de uma rede malhada em blocos.

Fonte: TSUTIYA, 2006.

Segundo Heller e Pádua (2010), a rede malhada permite a conexão das

tubulações entre si pelas suas duas extremidades, conforme indicado na Figura 2.

Esse tipo de traçado permite maior flexibilidade em satisfazer a demanda e

manutenção da rede com o mínimo de interrupção no fornecimento de água, e devido

19

ao permanente fluxo da água nos dois sentidos das tubulações, gera vantagens em

relação a qualidade da água, evitando as denominadas pontas mortas.

Figura 2 - Esquema de uma rede malhada com quatro anéis ou malhas.

Fonte: ROSAL, 2007

Na rede ramificada, um reservatório abastece uma tubulação tronco, sob

pressão de bombeamento, esta distribuição é ilustrada na Figura 3. Os condutos

secundários são terminais dos condutos principais, chamados de pontas secas.

Figura 3 - Representação de rede ramificada.

Fonte: ROSAL, 2007

Esse tipo de rede tem um único sentido de vazão e escoamento, sendo

comumente utilizado em pequenas comunidades, granjas, sistemas de irrigação etc.

20

O traçado desse tipo de rede pode ser do tipo espinha de peixe ou traçado em grelha,

como mostra a Figura 4 a seguir.

Figura 4 - Representação de rede ramificada tipo espinha de peixe (A) e traçado tipo grelha (B).

Fonte: TSUTIYA, 2006

A principal vantagem dessa rede é o seu baixo custo de implantação em relação

às outras, pois nela há tubulações e conexões em menor quantidade, e também há

maior facilidade de cálculo. Porém, uma rede com esse tipo de traçado impõe que a

distribuição de vazão fique retida à tubulação tronco, de modo que a interrupção nesta

em qualquer ponto, paralise toda a distribuição à jusante deste ponto.

A rede mista (Figura 5) é a associação da rede ramificada com a rede malhada.

Figura 5 - Representação de rede mista.

Fonte: TSUTIYA, 2006.

A NBR 12.218 de 1994, em seu item 5.6, dá orientações para a disposição do

traçado dos condutos, visando melhorias na rede de água nos seguintes aspectos:

21

melhores condições de escoamento hidráulico, qualidade da água, melhores

condições operacionais, redução de custos de implantação e de operação e também

a minimização de transtornos à população:

De acordo com a NBR 12.218 (1994, p. 03),

Os condutos principais devem ser localizados em vias públicas, formando preferencialmente circuitos fechados;

Os condutos secundários devem formar rede malhada, podendo ou não ser interligados nos pontos de cruzamento;

Ao longo de condutos principais, com diâmetro superior a 300 mm, devem ser previstos condutos secundários de distribuição;

A rede deve ser dupla nos seguintes casos: a) em ruas principais de tráfego intenso; b) quando o estudo demonstrar que a rede dupla é mais econômica.

Assim, em relação à disposição dos condutores principais, não é apropriado

que seja feito o traçado em grelha ou espinha de peixe, desde que as distâncias entre

as extremidades abertas de suas tubulações tronco adjacentes sejam mínimas.

Segundo Heller e Pádua (2010, p. 640), ainda com a finalidade de reduzir

custos de implantação e operação, os condutos principais devem ser localizados

preferencialmente em:

Ruas sem pavimentação ou com pavimentação menos onerosa;

Ruas de menor intensidade de trânsito;

Proximidade de grandes consumidores;

Proximidade das áreas e de edifícios que devem ser protegidos contra incêndios.

2.1.2 Condutores

Nas redes de distribuição a pressurização da água implica na distinção das

pressões predominantes dentro das tubulações em relação a atmosférica. Tais

pressões variam em consequência da mudança dos diâmetros, topografia e da

incompressibilidade da água, desconsiderando sua massa específica, sendo

considerada não uniforme. A escolha das tubulações reflete diretamente no seu

dimensionamento, diversos fatores devem ser observados como: diâmetros, custo da

tubulação, pressões, cargas excessivas, custos de implantação e manutenção,

qualidade da água e topografia do terreno (SALVINO, 2012).

Seguindo tal princípio, os modelos de simulação são de grande relevância ao

projetar ou otimizar redes de distribuição de água, pois além de permitir a análise

comportamental da rede de água, contém a presença da variável tempo. Gomes

22

(2009) afirma que o modelo visa não só a obtenção de valores das grandezas

hidráulicas, mas também dispor a variação destas grandezas em um espaço de

tempo, (valores de vazão, pressão, perdas de carga, níveis nos reservatórios etc.)

conforme a rede é simulada. Este recurso possibilita os modelos a representar os

sistemas de forma estática ou dinâmica, onde os modelos estáticos apontam as

condições de operação em um sistema através dos valores das variáveis obtidos, já

nos modelos dinâmicos, existe a variação das grandezas hidráulicas ao longo do

tempo, em função dos consumos de água nos nós da rede.

2.2 O Problema das Perdas

Os elevados incrementos na demanda nos últimos anos tal como a falta de

manutenção adequada nos sistemas de abastecimento de água iniciam uma

deficiência operacional nesses sistemas (MORAIS, ALMEIDA, 2006). Infelizmente,

esse é um problema comum nas redes de abastecimento de água, evidenciando a

necessidade de modernização do setor de abastecimento diante das exigências

impostas pelas sociedades urbanas, especialmente induzidas pelos processos de

democratização e conscientização ecológica. As empresas de saneamento públicas

e privadas acabam enfrentando novos desafios, isso para garantir o atendimento a

uma profusão de aspectos no âmbito da gestão operacional dos sistemas.

Por sua complexidade e características próprias, esses sistemas embutem

certo grau de perda da produção, por isto é utópica a ideia de se obter perda zero

neste setor. Venturini et al. (2001), afirma que os sistemas de abastecimento de água

têm se tornado falho devido à falta de manutenção, planejamento adequado e a

escassez de recursos financeiros, deteriorando-se com o passar do tempo de maneira

natural ou acelerada, em função da frequência de manutenção e/ou operação da rede

de água. A partir disso, surgem problemas operacionais que influenciam diretamente

na minoração da qualidade dos serviços prestados e aumento dos custos

operacionais. Essa deficiência nos serviços é percebida pelos consumidores, além do

aumento das tarifas cobradas que recaem sobre os mesmos para eventuais reparos

no sistema, gerando insatisfação. O abastecimento de água inconstante manifesta-se

diante da incapacidade de suprir a demanda, iniciado por problemas de pressão da

rede fora dos limites normalizados.

23

Como o gerenciamento de sistemas de abastecimento público são de

complexidade no nosso país, as dificuldades encontradas nessa avaliação são de

demasiadas. A análise da situação dos sistemas de abastecimento de água aponta a

existência de 40% de perdas em média, dessa forma concluímos que qualquer

alternativa instaurada trará melhoria ao sistema (MORAIS, ALMEIDA, 2006).

Para a escolha correta do método a ser empregado devemos considerar a

natureza do problema, o contexto estudado, os fatores abrangidos, a estrutura de

preferência e o objetivo que se deseja alcançar, ou seja, qual a problemática de

referência (GOMES, 2002). Nesse caso, o problema em questão, já caracterizado

anteriormente, visa a adequação dos valores de pressão nos nós da rede de

distribuição de água da cidade de Várzea Alegre - CE, modificando os diâmetros da

rede em estudo, para que possa atender aos requisitos mínimos de pressão exigidos

por norma e/ou adicionar um ou mais reservatório elevado, para suprir a demanda

solicitada em todos os pontos da rede.

No estudo elaborado baseado no caso real na cidade de Várzea Alegre - CE,

com população total de 38.434 habitantes, sendo que deste total, 22.065 residem na

zona urbana do município (IBGE, 2010), apresentou pressões abaixo do limite

arbitrado por norma, provavelmente devido aos altos índices de perdas e aumento da

demanda. Observa-se também que as diversas regiões não atendidas, ou com

dificuldades de abastecimento, são decorrentes principalmente da expansão da rede

executada provavelmente sem um planejamento inicial (JERICÓ, 2012).

2.3 Modelagem Hidráulica de Rede de Abastecimento de Água

São muitos os softwares existentes para modelagem de redes de

abastecimento de água e são largamente utilizados no mundo inteiro para simular no

computador, o funcionamento de um determinado sistema físico, representam os

esforços numa estrutura, as variáveis envolvidas na percolação da água no solo, ou o

movimento dos líquidos num escoamento superficial e em outros campos da

engenharia. Segundo Heller e Pádua (2010), softwares como este são capazes de

simular diversos cenários, sejam eles físicos, com modificações do sistema

distribuidor por exemplo; temporais, no caso de diversos tipos de projeção

populacionais ou etapas de uma determinada projeção; ou até mesmo operacionais,

na circunstancia de determinada válvula fechada ou aberta, uma regra de automação

24

para um determinado conjunto "elevatória-reservatório" ou outro tipo de arranjo

operacional.

As ferramentas computacionais são de grande importância nesse contexto, no

entanto, a experiência do modelador ou até mesmo a qualidade dos dados a inserir

no sistema são pontos importantes para base dos dados obtidos, pois influenciam no

resultado final desejado (PINTO, 2010).

Segundo Coelho (2006), a composição de um modelo de simulação hidráulica

de um sistema de abastecimento de água é feita através de: dados que definem as

características físicas do sistema; as solicitações e condições operacionais e pelo

conjunto de equações matemáticas (predominando as não lineares) que reproduzem

o desempenho hidráulico dos componentes individuais e do sistema em geral,

expressas em termos das principais variáveis de estado e instanciadas pelos dados

descritivos e pelos algoritmos numéricos necessários para a resolução desse conjunto

de equações matemáticas.

Na representação esquemática de uma rede da Figura 6, os nós, cuja posição

é definida através de coordenadas planimétricas e de uma cota, são utilizados para

identificar todos os pontos notáveis da rede, como as intersecções de tubulação,

mudanças de material ou de diâmetro da tubulação, pontos de consumo ou de

abastecimento, pontos altos e pontos baixos, pontos de medição, fronteiras de setores

de rede e outros. Os componentes físicos são definidos por um nó de montante e um

nó de jusante e representam condutores, válvulas e bombas. Os reservatórios são

pontos nos quais são impostas condições de fronteira relativamente à superfície

piezométrica, a que podem estar ou não associadas relações entre a altura da água

e um volume de água armazenado (COELHO, 2006).

25

Figura 6 – Representação esquemática de uma rede: nós ligados entre si nos vértices por intermédio

de nós.

Fonte: COELHO, 2006.

Segundo Heller e Pádua (2010, p. 756), o funcionamento dos modelos

hidráulicos baseia-se nos conceitos de conservação de massa e de conservação de

energia. Assim, para cada nó em um sistema hidráulico em conduto forçado, a soma

das vazões de montante deve ser igual à soma das vazões de jusante (normalmente

demandas), e para cada anel, deve ser verificada a equação de perdas de carga.

2.4 Calibração de redes

Para trabalhar com um modelo é necessário inserir cada dado do sistema

cuidadosamente, a realização correta da entrada de dados é fundamental para que a

análise hidráulica se preste verdadeiramente ao que se destina. A inclusão desses

dados, tal como a calibração da rede objeto de estudo foram feitas por Jericó (2012),

entretanto a falta de dados detalhados da rede de água e as diversas incertezas nas

informações de entrada fizeram com que o modelo não representasse fielmente a rede

real, apesar de ser bem aproximado. Isso foi identificado nos estudos posteriores de

Jericó, Fernandes e Silva (2013), através da observação da pressão horária da rede

em comparação ás pressões apresentadas no modelo.

Segundo Coelho (2006), os dados necessários para a construção e calibração

de um modelo de simulação, pode dividir-se em:

26

Descrição das características dos componentes físicos do sistema, tais como

condutores, reservatórios, válvulas e bombas, incluindo a referência de

coordenadas e cotas dos nós que os definem, e o traçado da rede daí

resultante;

Dados de consumo e de vazão, que reproduzem o melhor possível a

distribuição espacial e o comportamento temporal das solicitações ao sistema;

Dados sobre o funcionamento operacional do sistema, que refletem o modo

como válvulas e grupos elevatórios, por exemplo, são operados para os vários

cenários de funcionamento.

Segundo Coelho (2006), a medição da pressão nas redes de distribuição pode

ser realizada com medidores portáteis em marcos de incêndio, estações elevatórias

(no condutor de aspiração ou de compressão), reservatórios e válvulas. É um ponto

de grande importância para a calibração hidráulica dos modelos.

Segundo Heller e Pádua (2010), no processo de calibração é sempre

necessário que haja ajustes na rede, pois por mais que um algoritmo de cálculo possa

ser rápido e preciso, jamais será possível representar fielmente as situações reais

mediante de um método computacional sem haver deficiências, devido à incapacidade

de medir as condições exatas de campo. A admissão de uma série de condições

teóricas é necessária onde envolvem os cálculos em condutos forçados, que

certamente diferem da realidade, como os valores atribuídos para a rugosidade

interna de condutores, valores de consumo e distribuição desse consumo etc.

2.5 Problematização da área de estudo

Nos estudos apresentados por Jericó, Fernandes e Silva (2013), verificou-se

que o crescimento exacerbado da demanda na cidade de Várzea Alegre - Ceará nos

últimos anos, acentuou os problemas de pressão baixa em alguns pontos de consumo

da rede de abastecimento de água na cidade, uma vez que esta foi projetada e

implantada em um período em que não era tão solicitada. Isso exigiu cada vez mais

adaptações e mudanças na forma de expansão da rede de água, executada

possivelmente sem planejamento prévio, e mudanças na operação da rede de

abastecimento de água. Estes dados foram comprovados por medições em campo

realizado pela ARCE (Gráfico 1).

27

Gráfico 1 - Monitoramento da pressão com a instalação às 8:42 horas do dia 19/07/2016 e retirada às

12:42 horas do dia 20/07/2016, do aparelho datalogger, no endereço localizado na Rua: Inácio

Gonçalves da Costa, nº 115 – Bairro: Riachinho – Várzea Alegre/CE.

Fonte:<http://www.arce.ce.gov.br/index.php/relatorios-de-fiscalizacao-saneamento/sistemas-

de-abastecimento-de-agua/category/203-varzea-alegre>, acesso em 12 de novembro de 2016.

Ao analisar a simulação do modelo base, vemos que as pressões nas

tubulações secundárias (com diâmetros de 50 mm), em sua grande maioria, estão

inferiores a 10 mca, valor mínimo recomendado (NBR 12.218,1994), que podem ter

sido causadas pelo crescente número de cadastros na rede, pela demanda com alta

variabilidade na escala diária e mensal, e por possíveis vazamentos no SAA.

As perdas de cargas geralmente têm valores maiores em tubulações de menor

diâmetro, com valor máximo de 8 m/km como sugerido por alguns autores (TSUTIYA,

2006), mas chegam a 25 m/km nas tubulações de FoFo com diâmetros de 200mm

(JERICÓ, 2012), isso ocorre provavelmente devido ao grau de envelhecimento dos

condutos ou possíveis defeitos na rede de água, como juntas desalinhadas,

incrustações etc.

Existem várias dificuldades na calibração de redes de abastecimento de água

devido às inúmeras variáveis e equações envolvidas no processo. Como o EPANET

utiliza uma série de fórmulas para cálculo de perda de carga entre outras diversas

funcionalidades, contém um grupo de ferramentas de cálculo para auxílio a simulação

hidráulica, (ROSSMAN, 2008) que podem facilitar a calibração do modelo.

28

3 METODOLOGIA

3.1 Instrumentos de Coleta de Dados

Através do diagnóstico apresentado por Jericó (2012), foram obtidos diversos

dados a respeito da infraestrutura e funcionamento da rede, como ilustrado na Figura

7.

Figura 7 - Esquema de rede da cidade de Várzea Alegre, Ceará, com a disposição de pressão por nó.

Fonte: JERICÓ, 2012.

A figura 7 representa a simulação do modelo da rede de distribuição de água

ás 12 horas, a partir da legenda de pressões nos nós podemos identificar as áreas

com pressões insuficientes.

Além do trabalho de Jericó (2012), a ARCE – Agência Reguladora de Serviços

Públicos Delegados do Estado do Ceará – disponibiliza dados atuais acerca do

funcionamento da rede em seus relatórios de fiscalizações, apresentando o problema

de pressão na rede.

29

Estes relatórios serão fundamentais para calibração da rede, já que devido à

falta de detalhamento quanto aos dados de entrada fornecidos pela CAGECE, como

o padrão de consumo horário, nível do reservatório associado às pressões

observadas e rugosidade da tubulação, o modelo não pôde representar corretamente

a variabilidade das pressões (JERICÓ, 2013).

Portanto, a necessidade de dados mais detalhados de consumo de água e

pressões impossibilita a real calibração do modelo hidráulico, restando apenas uma

aproximação da real situação, relacionando com os dados coletados nos relatórios da

ARCE.

Na Tabela 1 a seguir, estão os resultados do relatório mais recente, com

pressões abaixo do preconizado por norma geralmente nas áreas periféricas da

cidade, prováveis áreas de expansão da rede, como podemos perceber na Figura 8,

o mapa da área de estudo.

Figura 8 – Cidade de Várzea Alegre – CE.

Fonte: <https://www.google.com.br/maps/@-6.7936453,-39.2986746,2838m/data=!3m1!1e3>, acesso

em 08 de dezembro de 2017.

30

Tabela 1 - Resultados das medições instantâneas de pressão disponível na rede de distribuição,

realizadas pela ARCE no dia 19/07/2016.

Fonte:<http://www.arce.ce.gov.br/index.php/relatorios-de-fiscalizacao-saneamento/sistemas-de-

abastecimento-de-agua/category/203-varzea-alegre>, acesso em 12 de novembro de 2016.

Por meio destas fontes de dados utilizados como ponto de partida para

avaliação de possíveis intervenções físicas, será feito a modelagem e calibração da

rede, com um plano específico de desenvolvimento, que será apresentado no tópico

a seguir.

3.2 Plano de Modelagem

Para analisar o potencial da rede nesse trabalho serão estudados três casos

de simulação iniciais para obter os valores de pressão desejados:

Simulação 1: Substituição de tubulação: serão substituídas as tubulações

principais em pontos específicos da rede por tubulações com diâmetros

maiores, a fim de diminuir a perda de carga e elevar a pressão nos pontos de

consumo à montante.

Simulação 2: Adição de um reservatório elevado: será adicionado um

reservatório elevado em um ponto de cota topográfica elevada e próxima às

áreas onde houver problemas de pressão baixa.

Simulação 3: Adição de um reservatório elevado e substituição de tubulação:

no caso dos métodos adotados anteriormente serem insuficientes para

31

regularizar as pressões nos pontos de consumo, serão aplicados os dois

métodos citados anteriormente simultaneamente.

3.3 Análise do comportamento da rede

Para encontrar as intervenções mais efetivas para o caso, foi feito uma análise

geral do comportamento da rede em relação à pressão e perda de carga. Simulando

a rede nas suas condições iniciais foi verificado que havia apenas duas áreas onde

as pressões são insuficientes, velocidades excessivas em uma dessas áreas e perda

de carga em diversos trechos, principalmente em condutos principais de FoFo.

As áreas que apresentaram pressões baixas são correspondentes ao Bairro

Centro, com apenas dois nós irregulares que variam de 8,01 mca à 9,53 mca às 10:00

horas (horário de maior consumo neste caso), e o Bairro Riachinho, com toda a sua

área apresentando pressões irregulares, que variam de 2,57 mca à 0 mca às 10:00

horas. No Bairro riachinho também estão as velocidades excessivas. As perdas de

carga estão constantemente presentes nos Bairros Centro e Riachinho, mas também

são encontradas nos Bairros Patos e Varjota.

Observado minunciosamente o comportamento da rede, foi identificado uma

anomalia no Bairro Riachinho, apresentando valores extremos de pressão no nó 80,

e também de velocidade e perda de carga no trecho 81, à jusante deste nó. A

rugosidade deste trecho é muito elevada em comparação às demais, não sendo

especificado seu material, o que dificulta a adequação dos dados do trecho.

Pressupõe-se que este fato se deve a simplificação da rede de água no

processo de modelagem feito anteriormente, reduzindo o tamanho da rede ao resumir

uma área com características semelhantes das tubulações e valores de pressão.

Contudo, este trecho sobrecarrega toda a extensão da rede, visto que os

condutos à jusante estão todos apresentando problemas de pressão, velocidade e

perda de carga. Esta área provavelmente é uma área de extensão da rede de água,

feita sem dimensionamento prévio, onde talvez fosse necessário a substituição dos

condutos à jusante, aumentando o diâmetro, ou até acréscimo de um reservatório

nesta região.

3.4 Avaliação da precisão dos resultados do modelo

32

Indisponibilidade de dados prejudicaram a calibração do modelo feito por Jericó

(2012), impossibilitando a criação de um modelo mais próximo da rede real, também

influencia na execução deste trabalho.

Porém, é possível comparar os dados gerados pelo modelo acerca do

funcionamento da rede aos relatórios de fiscalizações realizados pela ARCE. Neste

processo podemos identificar os pontos em que coincidem as áreas problemáticas e

onde essas áreas não puderam ser representadas corretamente pelo modelo.

A partir desta comparação serão feitas as simulações, dando prioridade às

áreas problemáticas representadas pelo modelo, mas verificando também se as

modificações realizadas geraram impactos positivos nas áreas que não puderam ser

representadas, dando maior segurança aos resultados.

3.5 EPANET 2.0

O modelo de simulação hidráulica escolhido para efetuar este estudo foi o

EPANET 2.0, desenvolvido pela United States Environmental Protection Agency

(USEPA). Em seu ambiente gráfico integrado é possível editar e criar cenários a

modelar e dados descritivos da rede, realizar simulações de qualidade da água e

hidráulicas, examinar modelos e visualizar os resultados em vários formatos. Apoiado

nisso, é possível examinar mapas da rede de acordo com os códigos de cores

disponíveis e a partir dos resultados obtidos, criar tabelas, desenhar gráficos em séries

temporais entre outros, e ainda produzir relatórios específicos (energia, calibração e

reação).

As funcionalidades desse software se encaixam perfeitamente aos objetivos

visados, pois este também foi utilizado para realização dos estudos anteriores. A

obtenção de valores de vazão e pressão em componentes da rede individualmente,

de altura de água em reservatórios, de nível variável e de concentração de espécies

químicas através da rede, não servem somente para a calibração de sistemas de

distribuição de água, mas também para análise de estratégias e alternativas de

gestão.

Portanto, criado para ser uma ferramenta de apoio a análise de sistemas de

distribuição, o EPANET 2.0 contribui no sentido de aprimorar o conhecimento do

destino dos constituintes da água e de seu transporte (ROSSMAN, 2008).

33

4 RESULTADOS

4.1 Avaliação da Simulação 1

O Bairro Riachinho é a área em que foram encontrados maiores problemas de

pressões, que chegaram a 0 mca ás 10:00 horas em quase todos os nós. Nesta área

também se encontra o nó com maior consumo corrente, o nó 80, pois corresponde a

simplificação de uma parte da rede, como foi dito anteriormente. Já o Bairro Centro

apresenta dois nós problemáticos, correspondentes ao nó 12 e o nó 13. Na Figura 10

está a representação destas áreas no modelo base.

Figura 10 – Representação das áreas com pressão mais baixa da rede, e representação do nó 80.

No Gráfico 2 a seguir é ilustrado o comportamento das pressões nos nós 12,

13, 75, 76, 77 e 80, antes das intervenções.

34

Gráfico 2 – Variação de pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80, áreas: Bairros Riachinho e Centro.

Note que a partir das 4:00 horas a pressão nos nós já sofrem baixas

significativas, onde essas baixas são mantidas até as 17:00 horas. O nó 12 se mantem

com pressões a baixo de 10 mca em todas as horas do dia, mas também com baixas

entre as 4:00 e 17:00 horas. O nó 80 se manteve com pressão nula em toda a

simulação.

Para a realização das intervenções nessas áreas foi preciso inicialmente

reconhecer as tubulações principais que abastecem os locais com pressões baixas,

facilmente encontrados através do traçado da rede. Os nós problemáticos do Bairro

Centro encontram-se num percurso de condutos principais que seguem do

reservatório elevado ao Bairro Riachinho, sendo este percurso ideal para fazer as

modificações, pois alcança as duas áreas problemáticas e também influencia numa

vasta região central da cidade as quais abastece.

Na Figura 11 a seguir é indicado os trechos nos quais serão feitas as

intervenções nas tubulações, substituídos por tubos com maiores diâmetros.

0

5

10

15

20

25

30

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Pre

ssão

(m

)

Horas do dia

Nó 12 Nó 13 Nó 75 Nó 76 Nó 77 Nó 80 Pressão mínima

35

Figura 11 – Indicação dos trechos a serem modificados.

Nessa intervenção foram substituídos os condutos principais de 200 mm e 150

mm de diâmetros de FoFo e 100 mm de diâmetros de PVC por condutos de 300 mm

dos mesmos materiais. A Tabela 2 a seguir traz mais detalhes sobre as modificações.

Tabela 2 – Segmento de trechos com diâmetros modificados.

Trecho Material Diâmetro atual (mm) Diâmetro modificado (mm)

Condutos principais

154 FoFo 200 300

10 FoFo 200 300

11 FoFo 200 300

14 FoFo 150 300

15 FoFo 150 300

16 FoFo 150 300

17 FoFo 150 300

76 PVC 100 300

77 PVC 100 300

36

Na Figura 12 a seguir podemos ver o comportamento da rede após as

modificações.

Figura 12 – Simulação com modificação nos diâmetros dos condutos principais ás 12:00 horas.

Em comparação aos valores apresentados anteriormente na Figura 10, as

pressões nos nós aumentam consideravelmente e as perdas de carga diminuem nos

condutos principais substituídos. Há também uma resposta positiva nas áreas

correspondentes aos Bairros Patos e Betânia. Os valores de perda de carga mais

elevados encontravam-se nos Bairros Riachinho, todavia, em todo o percurso

modificado as perdas de carga estavam acima de 8m/km.

A Tabela 3 a seguir mostra os valores de perdas de cargas simulados em

comparação aos valores anteriores do modelo base.

37

Tabela 3 – Valores de perdas de carga simulados em comparação aos valores atuais.

Trecho Material Perda de carga anterior (m/km)

Perda de carga simulada (m/km)

Comprimento (m)

154 FOFO 11,22 1,86 113

10 FOFO 10,22 1,72 57,6284

11 FOFO 9,04 1,66 51,047

14 FOFO 24,09 0,86 289,1879

15 FOFO 15,41 0,65 295,4402

16 FOFO 16,16 0,59 250,2312

17 FOFO 15,30 0,56 101,3211

76 PVC 77,30 0,39 140,3856

77 PVC 76,16 0,38 59,1917

Nos trechos onde foram feitas as intervenções os valores de perda de carga

sofrem uma grande redução, porém, ainda existem trechos que apresentem valores

elevados no Bairro Riachinho.

As pressões baixas ainda são encontradas nas áreas problemáticas,

principalmente no Bairro Riachinho. Nos nós 12 e 80, não houve variação significativa.

No Gráfico 3 é apresentado a variação de pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80

após as intervenções.

Gráfico 3 – Pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80 após as intervenções.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

TPre

ssão

(m

)

Horas do dia

Nó 12 Nó 13 Nó 75 Nó 76 Nó 77 Nó 80 Pressão mínima

38

A variação de pressão nos nós 75 e 76 é praticamente a mesma, se mantendo

na faixa de 34 mca, onde antes variavam entre 24 mca e 0 mca. Nos nós 12 e 13 não

houve muita variação de pressão em relação ao modelo base, o nó 12 não alcançou

o valor mínimo recomendado por norma. O nó 77 apresentou variação de pressão

entre 26 e 11 mca, estando de acordo com a NBR 12.218 de 1994. No nó 80

permaneceram as pressões de 0 mca.

Portanto, apenas modificações nos condutos principais não são suficientes

para corrigir os problemas existentes de pressão, inclusive perdas de carga, devido à

sobrecarga que o nó 80 gera na rede.

Dando prosseguimento ás simulações, decidimos substituir também alguns

condutos secundários para poder alcançar mais nós com pressões baixas, devido à

proximidade dos resultados encontrados ao objetivo deste estudo.

Na Tabela 4 a seguir são informadas as modificações dos condutos principais

e secundários dos trechos escolhidos.

Tabela 4 – Segmento de trechos com diâmetros modificados.

Trecho Comprimento (m) Material Diâmetro atual

(mm) Diâmetro

modificado (mm)

Condutos principais

154 113 FoFo 200 300

10 57,6284 FoFo 200 300

11 51,047 FoFo 200 300

14 289,1879 FoFo 150 300

15 295,4402 FoFo 150 300

16 250,2312 FoFo 150 300

17 101,3211 FoFo 150 300

76 140,3856 PVC 100 300

77 59,1917 PVC 100 300

Condutos secundários

78 58,05 PVC 75 300

79 109,5393 PVC 75 200

80 286,2395 PVC 50 75

81 170 PVC 50 150

Na Figura 13 é indicado todos os trechos com substituição de tubulações.

39

Figura 13 – Trechos com diâmetros modificados.

Após estas intervenções foram obtidos os resultados desejados, alcançando

valores de pressão a cima de 10 mca em todos os nós da rede. A pressão mínima

encontrada foi de 10,61 mca, às 10:00 horas no nó 12. O Gráfico 4 mostra os

resultados das pressões nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80.

Gráfico 4 – Variação da pressão nos nós 12, 13, 75, 76, 77 e 80, após intervenções adicionais.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Pre

ssão

(m

)

Horas do dia

Nó 12 Nó 13 Nó 75 Nó 76 Nó 77 Nó 80 Pressão mínima

40

Na Figura 14 a seguir temos o modelo simulado as 10:00 horas após as

intervenções. É possível perceber que ainda são encontrados trechos com perda de

cargas elevadas em condutos secundários de PVC.

Figura 14 – Modelo simulado após as intervenções adicionais.

Contudo, o fator principal considerado neste trabalho são os valores de

pressão, que passaram a estar em conformidade com a NBR 12.218 de 1994.

Apesar de bem-sucedida, existe um ponto negativo nestas modificações: o

transtorno que a obra pode causar a população. Os condutos a serem modificados

vão desde o reservatório principal até o Bairro Riachinho totalizando 1.982 metros de

tubos, e para isso seria necessário a paralização da operação de rede numa vasta

área da cidade durante a obra, inclusive interditar as vias durante o processo. Seria

necessário haver um planejamento detalhado de execução da obra, com realização

rápida, algo muito raro em obras públicas.

41

4.2 Avaliação da simulação 2

A escolha do local para adicionar o reservatório de nível fixo 2 (RNF 2) foi

próximo ao nó 78 no Bairro Riachinho, com cota topográfica de 330 metros (em

relação ao nível do mar), nó com maior cota na área. O RNF 2 tem altura de 18 metros

a partir da cota do nó 78, tendo nível de água de 348 metros. Desta forma o RNF 2

tem as mesmas características do RNF, já existente no modelo base. Foi utilizada

uma tubulação de conexão à rede de 3 metros de comprimento, com diâmetro de 300

mm. Não foram modificadas tubulações para inserção do reservatório, sendo

conectado aos condutos secundários de 75mm. Na Figura 15 é ilustrado a simulação

com adição do RNF 2.

Figura 15 – Simulação 2: Resultados após adição de RNF 2.

A inserção do RNF 2 aumentou a pressão nas tubulações, causando certo

impacto nas pressões dos nós entre os reservatórios e com cotas mais baixas, porém,

não foram suficientes para corrigir todos os problemas de baixa pressão nos nós. Os

nós 80 e 12, às 10:00 horas, continua com pressões abaixo do preconizado por norma.

Os demais nós alcançaram valores de pressão acima de 10 mca, valor mínimo

preconizado por norma. As perdas de carga elevadas continuam presentes na rede

42

de água em alguns trechos, no entanto, as melhorias neste aspecto ainda são

notáveis, como mostra a Figura 16.

Figura 16 – Valores de pressão e perda de carga no modelo base (A), em comparação às simulada

após as intervenções (B).

43

Observando os valores na legenda nas imagens, é notável que as áreas

correspondentes aos Bairros Centro, Patos e Betânia também tiveram melhorias

consideráveis, com valores de pressão maiores e perdas de carga bem menores.

Apesar da diminuição, as perdas de carga não apresentam valores tão bons

quanto os da simulação 1. Em suma, esta intervenção teve impacto positivo na rede,

porém, ainda estão presentes valores de pressão baixa em alguns pontos da rede.

Portanto, apenas a adição de um RNF na rede não é suficiente para erradicar os

problemas de pressão baixa.

Todavia, devemos lembrar que o modelo base é uma versão simplificada da

rede de água real, e não ela em sua totalidade. Não se pode desconsiderar a eficácia

desta intervenção pois pode haver um ponto não ilustrado no modelo onde a adição

de um RNF seja eficaz em relação ao objetivo deste estudo.

4.3 Avaliação da simulação 3

Esta simulação tem como base os resultados da simulação 2, sendo feita a

análise dos nós que ainda apresentaram pressões inferiores ao recomendado pela

NBR 12.218 de 1994 após a adição do RNF 2 e, por conseguinte, a escolha dos

trechos a serem modificados, tendo o mesmo posicionamento e comprimento, com

mudança apenas nos diâmetros.

Além de condutos principais, também foram escolhidos condutos secundários,

de modo a aumentar a pressão no ponto mais problemático da rede, o nó 80.

A Tabela 5 a mostra os trechos selecionados e suas alterações.

Tabela 5 – Trechos com diâmetros modificados. Simulação 3

Trecho Comprimento (m) Material Diâmetro atual

(mm) Diâmetro

modificado (mm)

154 113 FoFo 200 600

10 57,6284 FoFo 200 600

78 58,05 PVC 75 400

79 109,5393 PVC 75 400

81 170 PVC 50 400

44

Para o posicionamento e configuração do RNF desta simulação, seguimos o

princípio da simulação 2, utilizando o mesmo RNF, o RNF 2

A Figura 17 mostra a localização dos trechos modificados na rede, sendo os

trechos 154 e 10 representados em vermelho no Bairro Centro e o restante

representado em amarelo no Bairro Riachinho.

Figura 17 – Trechos modificados na simulação 3.

Foram escolhidos tubos com diâmetros maiores, de 600 mm e 400 mm, visando

alcançar pressões mais elevadas nas áreas próximas aos reservatórios, sendo estas

as áreas com pressões insuficientes representadas no modelo, e também para

diminuir a quantidade de trechos com modificações.

A Figura 18 ilustra os resultados da simulação da rede após as alterações

propostas nessa intervenção.

45

Figura 18 – Simulação 3, resultados após as modificações propostas.

O resultado desta simulação se mostrou suficiente para atender os objetivos

deste estudo. A pressão mais baixa encontrada foi de justos 10 mca no nó 12,

mantendo-se constante durante toda a simulação.

Houve uma grande redução na variação da pressão nos nós em geral, tendo

valores quase nulos, pois a adição de um reservatório seguido da mudança de

algumas tubulações para melhor distribuição das pressões gerou um equilíbrio das

pressões dos nós da rede de água em geral.

Nota-se também que em outros pontos com mca irregular apresentados nos

estudos anteriores de Jericó e nos relatórios da ARCE tiveram melhorias nos valores

de pressão e perda de carga consideráveis. Desta forma, os resultados dessa

intervenção alcançam tanto as problemáticas encontradas no modelo criado, quanto

as que não puderam ser representadas no modelo.

A variação da pressão analisada nos nós, 13, 75, 76, 77 e 80 mostrou-se com

valores insignificantes durante a simulação, sendo praticamente estáticos. O nó 13

próximo dos 12 mca, os nós 75 e 76 próximos a 34 mca, o nó 77 na faixa de 30 mca

e o nó 80 próximo a 22 mca.

46

As Figuras 19 e 20 a seguir mostram os valores de perda de carga e velocidade

na rede, respectivamente.

Figura 19 – Valores de perda de carga. Simulação 3

Figura 20 – Valores de velocidades. Simulação 3

47

Note que apenas 5 trechos representados na Figura 20 estão com valores

excessivos de perda de carga, nos quais todos os trechos são de PVC. O maior valor

foi de 8,84 m/km no trecho 28.

Entretanto as velocidades ficaram na sua maioria a baixo do valor

recomendado por norma de 0,6 m/s, sendo este o ponto negativo da simulação,

apesar de que, este não é o foco do estudo. Contudo, os valores de velocidades não

tiveram grandes melhorias nas simulações realizadas.

Outro resultado importante desta simulação é a metragem de condutos a serem

substituídas, totalizando 509 metros, bastante inferior em relação a simulação 1. Isso

influencia na diminuição do período de paralização da rede, e da obstrução das vias

durante a obra, causando menos transtornos à população.

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5 CONCLUSÃO

Este estudo contribui no sentido de propor intervenções físicas na rede de

distribuição de água da cidade de Várzea Alegre, CE, visando a adequação dos

valores de pressão nos pontos de consumo. Para isso, adotamos três possíveis

cenários de simulação hidráulica, sendo a simulação 1 com modificação de diâmetros

dos condutores, a simulação 2 com adição de um reservatório elevado e a simulação

3 as intenções da simulação 1 e 2.

O trabalho de simulação realizado na rede de distribuição de água alcançou os

objetivos estabelecidos inicialmente nas simulações 1 e 3. As intervenções na

simulação 2 se mostraram insuficientes na correção dos problemas de pressão em

todos os nós. Por outro lado, esta simulação foi de grande importância para avaliação

e comparação do comportamento da rede de água em relação as outras simulações.

Após analisar os valores de pressão na simulação 2 ficou evidente os nós da rede que

necessitavam de maior atenção na análise na simulação posterior.

As simulações 1 e 3 apresentaram valores de pressão de acordo com o exigido

por norma, tendo pressão mínima de 10mca, foram obtidos por aumento dos

diâmetros das tubulações e pelo acréscimo de um reservatório elevado com 18 metros

de altura, principalmente. Essas intervenções geraram diminuição das perdas de

carga e aumento da pressão nos nós.

Na simulação 1 com mudança apenas nas tubulações, foi necessária a

modificação de 1.982 metros de tubos. Apesar dos resultados positivos, tal

modificação poderá causar vários transtornos à população urbana além de ser mais

dispendioso do ponto de vista técnico e econômico. Assim, os impactos que a obra

causaria à população seria uma grande desvantagem por depender de uma vasta

área central da cidade interditada e sem acesso água durante a execução da obra.

Em relação aos valores de pressão nos nós analisados, foram obtidos valores

semelhante nas simulações 1 e 3, porém, a variabilidade da pressão foi menor na

última simulação, com valores quase estáticos uma vez que com adição de outro

reservatório existe um equilíbrio de carga entre os dois reservatórios.

A adição do reservatório na simulação 3 reduziu a necessidade de substituição

de vários tubos na rede de distribuição de água com 1.473 m a menos que na

simulação 1. Com isso, os supostos transtornos que a modificação das tubulações na

simulação 1 causaria à população seriam reduzidos drasticamente na simulação 3,

49

cerca de 74,3% a menos de tubos a serem modificados. Dessa forma, a simulação 3

foi identificada como a melhor opção de intervenções físicas na rede. Uma obra em

menor escala, bem menos impactante à população quando comparado com as

intervenções propostas pela simulação 1 e com resultados semelhantes entre ambas.

A simulação 3 ainda pode eventualmente ser melhorada caso o local sugerido para

implantação do novo reservatório não seja o mais adequado, pois pode haver um

ponto não ilustrado no modelo mais adequado para isso.

Embora a utilização do software EPANET 2.0 tenha mostrado eficiência e

utilidade nas simulações da rede de distribuição de água da cidade de Várzea Alegre,

se faz necessário dados mais atualizados e precisos para melhor validação do modelo

e uma posterior adequação.

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