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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE JULIA MOREIRA KENSKI GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM CONTEXTO DE HOME OFFICE São Paulo 2015

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

JULIA MOREIRA KENSKI

GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM

CONTEXTO DE HOME OFFICE

São Paulo

2015

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JULIA MOREIRA KENSKI

GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM

CONTEXTO DE HOME OFFICE

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Administração de Empresas da Universidade

Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do

título de Doutora em Administração de

Empresas.

ORIENTADORA: Profa Dra Darcy Mitiko Mori Hanashiro

São Paulo

2015

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 K33g Kenski, Julia Moreira Gestores virtuais e os eventos do cotidiano de trabalho em um contexto de home office / Julia Moreira Kenski - 2015. 198 f. : il. ; 30 cm Tese (Doutorado em Administração de Empresas) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015. Orientação: Profa. Dra. Darci Mitiko Mori Hanashiro Bibliografia: f. 181-185

1. Eventos de trabalho. 2. Gestores virtuais. 3. Virtualidade. 4. Características dos eventos. 5. Eventos virtuais. I. Título.

CDD 331.117

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JULIA MOREIRA KENSKI

GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM CONTEXTO DE HOME OFFICE

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Doutora em Administração de Empresas.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________________

Profa. Dra. Darcy Mitiko Mori Hanashiro Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Luisa Mendes Teixeira Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________________________ Prof. Dr. Tales Andreassi Fundação Getúlio Vargas

_____________________________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Camargo Oliva

Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul

_____________________________________________________________________ Profa. Dra. Silvia Marcia Russi de Domenico

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Aos meus pais, Vani e Victor Kenski, por

estarem sempre ao meu lado e me

apoiarem durante toda a trajetória. Vocês

são o meu melhor exemplo de vida.

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Agradecimentos

Há muitas pessoas e instituições sem as quais essa pesquisa não seria possível, mas

antes de tudo, o agradecimento vai à energia maior, a que chamamos Deus. Nada é possível

ao homem se não houver ajuda divina. Neste sentido, eu me sinto abençoada, pois, em todos

os caminhos trilhados, senti a Sua presença e o Seu apoio.

Em primeiro lugar, agradeço à minha orientadora, Profa. Dra. Darcy Hanashiro, pelo

apoio e incentivo constante, por acreditar na minha capacidade desde o princípio e estar do

meu lado, mesmo quando eu estive fisicamente distante, em outros países. Com toda certeza

eu não teria conseguido concluir esta etapa da minha vida acadêmica sem o seu apoio, carinho

e atenção.

Duas pessoas fundamentais para essa pesquisa foram minha mãe Vani e meu pai

Victor. É muito bom ter como pais dois ótimos pesquisadores para incentivar, discutir, e que

entendem os momentos de uma doutoranda. Nunca será suficiente agradecer a essas duas

pessoas maravilhosas por tudo o que fazem por mim sempre.

Agradeço as contribuições das Profas Dra. Maria Luisa Mendes Teixeira e Dra. Silvia

Marcia Russi de Domenico desde o princípio, na qualificação e pré-qualificação e nos

seminários de pesquisa. Muito do caminho trilhado pela pesquisa reflete essas contribuições.

Não podia deixar de agradecer aos colegas de doutorado, que estiveram aos meu lado

durante esses três anos, especialmente Leonardo Santos, Jusmeire Fieni, Ana Carolina BRG,

Juliana Saliba e Mario Kuniy. Desculpem a todos os demais colegas que não mencionei

nominalmente. A família Mackenzista é muito grande, mas levo vocês no coração e como

contatos no Facebook. O apoio dos colegas é o que nos dá força para seguir e fazer melhor a

cada dia.

Há muito a agradecer ao Colégio Doutoral Tordesilhas que me possibilitou o estágio

na Universitat de Valéncia na Espanha. Agradeço a dedicação das Profas Dra. Ana Zornoza,

Dra. Virginia Orengo e do Prof Dr. José Maria Peiró. Agradeço muito também o apoio e

amizade da Dra. Eva Lira, que me ajudou desde o primeiro momento. Minha estada não seria

tão boa se não fosse essa ajuda. Agradeço também aos colegas e amigos que fiz durante os

meses em que estive lá, especialmente Rima Abu, Yarid Ayala, Jésus Sanchez, Lorrí Garcia e

todos os demais que tornaram a minha estada tão especial.

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Essa pesquisa não seria possível sem o apoio financeiro da CAPES, tanto pela bolsa

modalidade Taxa, como pela possibilidade de realizar o Sandwich no exterior, junto à Florida

Atlantic University.

Meu agradecimento especial ao Prof. Dr. Mark Peterson e a sua esposa Susan, por

toda atenção e carinho comigo. Não há como descrever tudo o que fizeram por mim. Me senti

parte da família desde o primeiro momento e sinto saudades sempre.

Da minha estada na Florida Atlantic University também tenho muito a agradecer as

minhas irmãs de coração Kati Brant e Juanita Woods. Também tenho muito a agradecer a

todos os colegas de lá pela recepção e atenção que tiveram comigo sempre, especialmente

Selen Savas e Leon Faifman.

Só tenho uma gratidão muito grande à UNIFIEO, especialmente à área de EAD por

aceitarem o meu afastamento pelo tempo em que estive no exterior e ainda me manter

empregada, por diminuírem a minha carga de aulas e responsabilidades e tornarem possível a

minha dedicação à pesquisa.

Agradeço muito ao Marc Bonhomme por toda a paciência e apoio. Imagino que não

deve ser fácil namorar uma doutoranda, ainda mais que passa 10 meses longe. As mensagens

diárias fizeram a diferença. Agradeço também por ter se envolvido na busca por respondentes

e ter bloqueado a minha agenda para tudo o que não fosse estudo.

Tenho muito à agradecer a todos os respondentes dessa pesquisa, que não serão

mencionados para manter o anonimato. Espero ter preservado as vozes de todos e trazido para

a pesquisa o que cada um percebe se seu cotidiano.

Agradeço a Alessandra Filippini e todos os instrutores e colegas do Método DeRose

Alphaville. Se eu cheguei ao final da pesquisa inteira, devo muito à Ale, que não desistiu nem

enquanto estava fora, fazendo as minhas aulas por Skype e conversando comigo, sempre que

precisei de apoio.

Finalmente, mas não menos importante, preciso agradecer ao meu filho de quatro

patas, o Joca. Esse cachorrinho de 6 anos e meio é o que alegra a minha vida, meu grande

companheiro de todas as horas.

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RESUMO

A evolução que acompanhou a disseminação das novas tecnologias de comunicação alterou

diferentes aspectos do ambiente de trabalho, não só na forma como é desenvolvido e

acompanhado o trabalho, mas também permitindo um novo modelo de trabalho: o trabalho

virtual. Os gestores virtuais são gerentes de equipes e projetos, que atuam remotamente ao

ambiente do escritório físico da organização, em um contexto de home office. A presente

pesquisa pretende identificar e analisar a forma como os gestores virtuais reconhecem os

eventos do seu cotidiano de trabalho virtual. Para isso, foi utilizado o conceito de eventos de

trabalho desenvolvido por Smith e Peterson (2005) e aplicado em pesquisas empíricas em

diferentes países. Os eventos de trabalho são situações sociais, abstraídas de processos

organizacionais, que exigem uma ação do gestor em um ambiente não virtual. Por meio de

abordagem qualitativa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com vinte e dois

gestores virtuais, com diferenciados perfis quanto ao tipo de vínculo profissional, forma de

composição da equipe e grau de virtualidade. Das entrevistas foram depreendidos eventos

relacionados à entrada de novos membros, de tarefa, de controle e avaliação e de

comunicação. Esses eventos foram analisados quanto às suas características, com relação à

frequência, importância, incerteza, complexidade, urgência e pessoas envolvidas. Essa foi a

primeira vez que as seis características dos eventos foram pesquisadas conjuntamente. Os

resultados evidenciaram que o perfil profissional, o tipo e as características dos eventos

interferem na forma como cada evento foi percebido pelos gestores virtuais. Há evidências

também de que as características, em algumas situações, podem se relacionar entre si, como a

maior frequência de um evento interfere na forma como a incerteza é percebida. O contexto,

tanto do trabalho realizado desde a residência do gestor, como do ambiente virtual de

trabalho, também exerceram influência na forma como os eventos são percebidos, fato que

levou a descoberta de situações próprias do cotidiano de gestores que atuam em home office.

A interação com os demais stakeholders também se apresentou modificada pelo modelo de

trabalho em diferentes aspectos. Este estudo apresenta como contribuições a análise conjunta

das seis características dos eventos, em um contexto virtual de trabalho, que possui situações

diferenciadas e específicas desse modelo de trabalho.

Palavras chave: Eventos de trabalho; Gestores virtuais; Virtualidade; Características dos eventos; Eventos virtuais.

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ABSTRACT

The evolution that followed the dissemination of new communication technologies altered

several aspects of the work environment, not just on the way the work is done and controlled

but also allowing a new work model: the virtual work. Virtual managers are team and/or

project leaders that act remotely to the organization office, in a home office context. This

research aims to identify and analyze the way these virtual managers perceive events from

their quotidian virtual work. In order to accomplish that, It is used the concept of work events

developed by Smith and Peterson (2005), already applied in empirical researches in different

countries. Work events are social situations abstracted from organizational processes that

demand an action by the manager in a non-virtual environment. The research uses a

qualitative method, with twenty-two semi-structured interviews with virtual managers, all

holding different profiles related to professional bond, team composition and virtuality.

Events inferred from the interviews were related to the entrance of new members, task

accomplishment, control and evaluation and communication. These events were analyzed

according to six characteristics related to frequency, importance, uncertainty, complexity,

urgency and parties involved. This was the first time all six characteristics were analyzed

together. Results showed that professional profile, kind of event and characteristics of these

events interfere in the way each event is perceived by virtual managers. The virtual work

context also exerts influence on the way events are perceived. There are evidences that also

the characteristics, in some cases, are related to each other, as the frequency that intervenes in

the uncertainty perception. The context, not only from the home office, but also from the

virtual work environment, exerted influence on the way events are perceived. Interaction with

other stakeholders also presented changes due to the work model in several aspects. This

research contributes to the analyze of the six characteristics of the events, in a virtual work

environment, that present different situations, specific of this work model.

Keywords: work events; Virtual Managers; Virtuality; Events Characteristics; Virtual Events.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Ponto de vista de análise dos eventos...................................................................33

Quadro 02 - Publicações sobre virtual em periódicos e congressos nacionais.........................41

Quadro 03 - Publicações sobre virtual em periódicos internacionais.......................................41

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Componentes da analise de dados: modelo interativo.............................................56

Figura 2 - Estrutura de análise dos eventos..............................................................................59

Figura 3 - Eventos de tarefa......................................................................................................82

Figura 4 - Eventos de tarefa causados pelo trabalho virtual.....................................................83

Figura 5 – Eventos de tarefa alterados pelo trabalho virtual.....................................................89

Figura 6 – Eventos de tarefa que não se alteraram pelo trabalho virtual..................................96

Figura 7 – Eventos de controle e avaliação............................................................................110

Figura 8 – Eventos de controle da equipe...............................................................................111

Figura 9 – Eventos de controle do projeto..............................................................................114

Figura 10 – Eventos de controle pessoal.................................................................................118

Figura 11 – Eventos de controle externo................................................................................122

Figura 12 – Eventos de comunicação.....................................................................................136

Figura 13 – Eventos que surgiram com o trabalho virtual......................................................137

Figura 14 – Eventos que foram alterados pelo trabalho virtual..............................................149

Figura 15 – Eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual.............................................156

Figura 16 – Estrutura de análise dos eventos..........................................................................174

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Perfis dos respondentes em relação ao vínculo......................................................61

Gráfico 2 - Distribuição dos entrevistados em relação à composição da equipe......................62

Gráfico 3 - Distribuição dos entrevistados em relação à virtualidade......................................62

Gráfico 4 - Frequência dos eventos de novos membros...........................................................75

Gráfico 5 - Importância dos eventos de novos membros..........................................................76

Gráfico 6 - Incerteza dos eventos de novos membros..............................................................77

Gráfico 7 - Complexidade dos eventos de novos membros......................................................78

Gráfico 8 - Urgência dos eventos de novos membros..............................................................79

Gráfico 9 - Pessoas envolvidas nos eventos de novos membros..............................................80

Gráfico 10 - Frequência dos eventos de tarefa........................................................................100

Gráfico 11 - Frequência dos eventos de tarefa para os três grupos.........................................100

Gráfico 12 - Importância dos eventos de tarefa......................................................................101

Gráfico 13 - Importância dos eventos de tarefa para os três grupos.......................................102

Gráfico 14 - Incerteza dos eventos de tarefa...........................................................................103

Gráfico 15 - Incerteza dos eventos de tarefa para os três grupos............................................103

Gráfico 16 - Complexidade dos eventos de tarefa..................................................................104

Gráfico 17 - Complexidade dos eventos de tarefa para os três grupos...................................105

Gráfico 18 - Urgência dos eventos de tarefa...........................................................................106

Gráfico 19 - Urgência dos eventos de tarefa para os três grupos............................................106

Gráfico 20 - Pessoas envolvidas nos eventos de tarefa..........................................................107

Gráfico 21 - Pessoas envolvidas nos eventos de tarefa para os três grupos............................108

Gráfico 22 - Frequência dos eventos de controle e avaliação.................................................125

Gráfico 23 - Frequência dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.....................126

Gráfico 24 - Importância dos eventos de controle e avaliação..............................................127

Gráfico 25 - Importância dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação...................128

Gráfico 26 - Incerteza dos eventos de controle e avaliação....................................................128

Gráfico 27 - Incerteza dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação........................129

Gráfico 28 - Complexidade dos eventos de controle e avaliação...........................................130

Gráfico 29 - Complexidade dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação...............130

Gráfico 30 - Urgência dos eventos de controle e avaliação....................................................132

Gráfico 31 - Urgência dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação........................132

Gráfico 32 - Pessoas envolvidas nos eventos de controle e avaliação...................................133

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Gráfico 33 - Pessoas envolvidas nos quatro grupos de eventos de controle e avaliação........134

Gráfico 34 - Frequência dos eventos de comunicação............................................................159

Gráfico 35 - Frequência dos eventos de comunicação para os três grupos.............................160

Gráfico 36 - Importância dos eventos de comunicação..........................................................160

Gráfico 37 - Importância dos eventos de comunicação para os três grupos...........................161

Gráfico 38 - Incerteza dos eventos de comunicação...............................................................162

Gráfico 39 - Incerteza dos eventos de comunicação para os três grupos................................162

Gráfico 40 - Complexidade dos eventos de comunicação......................................................163

Gráfico 41 - Complexidade dos eventos de comunicação para os três grupos.......................164

Gráfico 42 - Urgência dos eventos de comunicação...............................................................165

Gráfico 43 - Urgência dos eventos de comunicação para os três grupos................................165

Gráfico 44 - Pessoas envolvidas nos eventos de comunicação...............................................166

Gráfico 45 - Pessoas envolvidas nos eventos de comunicação para os três grupos................167

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................... 21

2.1 Contexto do Trabalho Virtual................................................................................ 21

2.1.1 Virtualidade.............................................................................................................. 22

2.1.2 Dimensões da Virtualidade..................................................................................... 22

2.2 Trabalho virtual....................................................................................................... 23

2.2.1 Trabalho virtual....................................................................................................... 23

2.2.2 Equipes virtuais........................................................................................................ 26

2.2.3 Gestores virtuais....................................................................................................... 29

2. 3 Eventos...................................................................................................................... 31

2.3.1 Definição de eventos................................................................................................. 32

2.3.2 Consequência dos eventos....................................................................................... 34

2.3.3 Tipos de eventos....................................................................................................... 35

2.3.4 Características do eventos....................................................................................... 37

2.4 Identificação dos Eventos de Gestores Virtuais de Equipes............................... 40

2.4.1 Eventos de Comunicação......................................................................................... 42

2.4.2 Eventos de Tarefa.................................................................................................... 44

2.4.3 Eventos relacionados à entrada de novos membros na equipe............................ 45

2.4.4 Eventos de controle e avaliação.............................................................................. 48

3 PERCURSO METODOLÓGICO.......................................................................... 50

3.1 Método de Pesquisa.................................................................................................. 51

3.2 A escolha dos sujeitos da pesquisa.......................................................................... 52

3.3 Estratégia de coleta de dados.................................................................................. 54

3.4 Coleta de dados........................................................................................................ 54

3.5 Análise dos dados..................................................................................................... 55

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................................... 60

4.1 Perfil dos sujeitos da pesquisa................................................................................ 60

4.2 Contexto das entrevistas.......................................................................................... 67

4.3 Análise dos eventos relacionados à entrada de novos membros na equipe........ 67

4.3.1 Evento 1: Necessidade de aumentar a equipe........................................................ 68

4.3.2 Evento 2: Decisão sobre forma de composição da equipe.................................... 69

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4.3.3 Evento 3: Quando há problemas com a contratação de pessoas inadequadas ao

modelo de trabalho................................................................................................... 70

4.3.4 Evento 4: Realização do primeiro contato com o novo membro da equipe....... 71

4.3.5 Evento 5: Acesso aos recursos tecnológicos do projeto........................................ 72

4.3.6 Evento 6: Quando precisa explicar o trabalho ao novo membro........................ 73

4.3.7 Evento 7: Decisão sobre o momento de iniciar o trabalho em home office........ 73

4.3.8 Análise das Caraterísticas dos eventos relacionados à entrada de novos

membros................................................................................................................... 75

4.4 Análise dos eventos de Tarefa................................................................................. 81

4.4.1 Eventos causados pelo trabalho virtual................................................................. 82

4.4.2 Eventos alterados pelo trabalho virtual................................................................. 88

4.4.3 Eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual............................................. 95

4.4.4 Influência do perfil dos respondentes nos eventos de tarefa................................ 98

4.4.5 Análise das características dos eventos de tarefa.................................................. 99

4.5 Análise dos eventos de Controle e Avaliação....................................................... 109

4.5.1 Controle da equipe................................................................................................. 110

4.5.2 Controle do projeto................................................................................................ 114

4.5.3 Controle Pessoal..................................................................................................... 117

4.5.4 Controle Externo.................................................................................................... 122

4.5.5 Influência do perfil dos respondentes nos eventos de controle e avaliação...... 124

4.5.6 Características dos eventos de Controle e Avaliação.......................................... 124

4.6 Análise dos eventos de comunicação.................................................................... 135

4.6.1 Eventos que surgiram com o Trabalho Virtual.................................................. 136

4.6.2 Eventos que foram alterados pelo Trabalho Virtual.......................................... 148

4.6.3 Eventos que não se alteraram pelo Trabalho Virtual......................................... 155

4.6.4 Influência do perfil dos respondentes nos eventos de comunicação.................. 158

4.6.5 Características dos eventos de comunicação....................................................... 158

4.7 Discussão dos Resultados...................................................................................... 168

4.7.1 O gestor como trabalhador virtual....................................................................... 168

4.7.2 O contexto do trabalho virtual.............................................................................. 170

4.7.3 Interação com os demais....................................................................................... 172

4.7.4 Retomada da estrutura tridimensional de análise.............................................. 173

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 176

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 180

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APÊNDICE A – LISTA DOS EVENTOS DESTACADOS DA LITERATURA

.................................................................................................................................. 187

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS.............................................. 191

APÊNDICE C – LISTA DE EVENTOS.............................................................. 193

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1 INTRODUÇÃO

Foi com a revolução industrial que houve a separação entre o trabalho produtivo -

realizado fora de casa, para um empregador, em uma organização- e os outros trabalhos

realizados dentro do lar, para a sobrevivência da espécie. O primeiro - ou seja, o trabalho

produtivo- é caracterizado por um tempo de dedicação definido, para a realização de tarefas

pré-estabelecidas de acordo com a especialização de cada pessoa- considerada ‘profissional’-

que recebe o pagamento, em valor monetário, ao final de um período. É com o resultado desse

trabalho que se mantém o segundo - ou seja, o lar-, que é o espaço no qual este trabalhador

pode exercer a sua vontade e realizar as atividades determinadas por ele, ou por aqueles a

quem ele se associa para formar uma família (JACKSON; VAN DER WIELEN, 1998).

Neste cenário, o profissional consegue manter-se empregado desenvolvendo

diferentes atividades. Elas são percebidas como tendo valor para a empresa em um

determinado tempo, com início e fim, e em um espaço determinado, no qual ele chega ao

início do período e o deixa ao final do tempo acertado com o empregador. Terminado este

tempo, o profissional pode retornar ao seu espaço de descanso e lazer, no qual ele irá

recuperar as energias para um novo período.

Os avanços tecnológicos e a globalização trouxeram uma nova perspectiva à

composição desse trabalho a partir do momento que possibilitaram que profissionais de todo o

mundo fossem mobilizados para trabalhar remotamente em empresas de diferentes

localidades. Assim, os dois principais aspectos do trabalho - ou seja, o tempo e o espaço-

deixaram de ser a caracterização do trabalho profissional remunerado. Nesse aspecto,

Kugelmass (1996, p. 15) sustenta que “a força de trabalho global é usada para tarefas grandes

ou pequenas através das telecomunicações”. Isso significa que as Tecnologias de Informação

e Comunicação (TIC) colocaram em evidência o modelo de trabalho virtual, como uma forma

de se atuar profissionalmente, distante dos espaços físicos das organizações.

Como afirmam Meseguer, Torrent e Vilaseca (2008) - após amplo estudo de equipes

virtuais na Catalunha- as organizações empresariais estão experimentando mudanças mais ou

menos significativas em muitos de seus elementos de valor e em muitas de suas atividades.

Esses trabalhadores virtuais, como são atualmente chamados, atuam em espaços diferenciados

do ambiente organizacional – podendo, muitas vezes, trabalhar de suas residências - e

desenvolvem as atividades de acordo com regras indicadas pela organização.

O atual trabalho virtual se originou do termo teletrabalho (do inglês teleworking ou

telecommuting), tradicionalmente utilizado para designar os funcionários que atuam em um

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tempo e espaço diferente dos demais, que se situam dentro do ambiente organizacional, em

horário comercial.

Os trabalhadores virtuais da era globalizada são, muitas vezes, altamente

especializados e difíceis de serem encontrados na área próxima à organização (BRANSON,

STEELE; SUNG, 2010). Este é um dos principais motivos pelo qual as empresas precisaram

buscá-los em outros lugares mais distantes e abrir concessões sobre a sua presença física no

espaço de trabalho presencial.

Outros problemas que levaram ao surgimento dos teletrabalhadores incluem as

questões de mobilidade, especialmente nas grandes metrópoles, em que os profissionais

podem gastar muito tempo se locomovendo entre a casa e o trabalho, e de escassez de

recursos, como água, luz e até espaço físico para alocação do profissional dentro da empresa.

No Brasil, um exemplo significativo do impacto e força do trabalho virtual é a

resolução de 01/02/2012, na qual o Tribunal Superior do Trabalho adotou esta modalidade

como forma alternativa de trabalho para 30% dos seus próprios funcionários, podendo ser

ampliado para até 50% de cada lotação. Em nota do dia 18/07/2014 o Tribunal informou ter

tomado esta decisão pela maior produtividade e melhoria da qualidade de vida dos

funcionários migrados para esta modalidade de trabalho (BRASIL, 2014). Dessa forma, o

órgão que regulamenta e controla o trabalho em todo o território nacional vê o trabalho virtual

como forma de atuação válida para os seus próprios colaboradores.

A discussão acerca do trabalho virtual normalmente tem foco nos ganhos financeiros

decorrentes de funcionários trabalhando de suas casas ou contratados em outros países, com

salários inferiores (PARDINI et al., 2013). Apesar de se tratar de outra modalidade de

trabalho, a estrutura organizacional continua a se sustentar nas mesmas regras de trabalho e

oferece os mesmos recursos tanto para os funcionários, como para os gestores, esperando por

resultados, no mínimo, similares.

Como se trata de uma nova categoria profissional- com características próprias de

atuação – os trabalhadores virtuais merecem ser investigados, pois representam um grupo

distinto, com particularidades, comportamentos, valores e modos de relacionamento

específicos (HICKEL; SCHRADER, 2012).

Para as empresas que utilizam o trabalho virtual, é necessário prover uma nova

estrutura de apoio que possa oferecer as condições para que o trabalho seja desenvolvido

remotamente. Mas só isso não é suficiente. Os gestores também devem possuir novas

capacidades para lidar com tecnologias de ponta e assim conseguirem estar em contato com

colaboradores espalhados ao redor do mundo (ZIVICK, 2012).

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Apesar de ser utilizada por organizações de diferentes formatos, tamanhos e áreas de

atuação, as peculiaridades das equipes de trabalho virtual, e especialmente dos gestores que

atuam nesta modalidade, carecem de estudos mais aprofundados. Neste sentido, não há

clareza sobre quais as situações - ou eventos - do cotidiano que exigem alguma forma de

decisão dos gestores. Além disso, é preciso saber quais profissionais e recursos

organizacionais o gestor pode se valer para tomar as decisões que ele perceba como

necessárias. Assim, os eventos, enquanto situações cotidianas que necessitam de decisão,

pelos quais os gestores virtuais passam e necessitam lidar, podem não ser os mesmos que os

gestores tradicionais enfrentam em seu dia-a-dia. Mesmo que sejam semelhantes, a conotação

dada aos eventos pelos gestores virtuais pode não ser a mesma.

A abordagem teórica de Smith e Peterson para a gestão de eventos de trabalho, que

serviu de base para esta pesquisa, foi construída com um número determinado de eventos,

como situações pelas quais todos os gestores, em algum momento do seu cotidiano

profissional, irão ter que lidar, para chegar a uma solução que eles percebam como efetivas.

Essas pesquisas, aplicadas em dezenas de países, permitiram mensurar a influência da cultura

nacional na forma como os gestores lidavam com os mesmos eventos (PETERSON et al,

1990; SMITH; PETERSON, 1994; PETERSON et al, 1995; SMITH; PETERSON; WANG,

1996; PETERSON, 1998; MUNENE; SCHWARTZ; SMITH, 2000; PETERSON; RUIZ-

QUINTANILLA, 2003; SMITH; PETERSON, 2005; PENG; PETERSON, 2008; SMITH;

PETERSON; THOMASON, 2010).

Os autores defendem que os eventos que foram utilizados nos estudos anteriores,

principalmente por Peterson, desde a década de 1990, seriam os mais prováveis de ocorrer no

trabalho de qualquer gestor, de qualquer tipo de organização, em qualquer nação (SMITH;

PETERSON; THOMASON, 2010). Até que ponto essa universalidade dos eventos engloba

diferentes contextos de trabalho, como o que é realizado em um ambiente de trabalho remoto

e conectado?

A partir dessa primeira inquietação, foi realizada uma pesquisa bibliográfica

exploratória realizada em artigos acadêmicos sobre trabalho, equipe e gestores virtuais de

2.000 até 2.013 - publicados em periódicos científicos da área de administração de empresas e

psicologia organizacional, a serem apresentados no referencial teórico.

Parte dos eventos depreendidos dos artigos sobre estes temas (trabalho, equipe e

gestores virtuais) não só eram diferentes dos apresentados nas pesquisas de Smith e Peterson,

como também compreendiam situações que não fazem parte do cotidiano dos gestores que

atuam de forma presencial. Nesse sentido, um gestor de projetos que trabalha de sua casa, por

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exemplo, nem sempre terá que ‘indicar um novo funcionário para o departamento’ como

evento de seu cotidiano, mas sim estará envolto em outro grupo de situações que são mais

representativas da sua realidade, enquanto gestor que atua de forma virtual.

Assim, a discussão que deu origem à presente pesquisa é a de que ao se alterarem

aspectos da base da relação do trabalho - como o tempo e local - as situações pelas quais os

gestores virtuais precisam lidar em seu cotidiano e a percepção dessas situações, ou eventos,

também se alteram. Dessa forma, a adaptação de modelos de trabalho e gestão presenciais

podem não ser suficientes para explicar um cotidiano de trabalho virtual, envolto em novos

estímulos do ambiente – tanto físico como online - no qual o trabalho é desenvolvido,

desafios diferenciados trazidos pelo uso de diferentes mídias, separação dos demais

profissionais da empresa e falta de controle direto.

Visto que a literatura acadêmica pesquisada sobre gestores e trabalhadores virtuais foi

insuficiente para oferecer subsídios que tornassem possível compreender quais as situações do

cotidiano dos gestores virtuais, optou-se por focar o estudo para investigar as situações que

são pertinentes ao trabalho cotidiano do gestor virtual. Para obter essas informações e

trabalhar com os dados coletados de forma primária - junto aos gestores de equipes e projetos,

que trabalham virtualmente, ao menos parte do tempo - decidiu-se realizar uma pesquisa

qualitativa para entender - a partir do que apresentam sobre as situações da sua prática

profissional cotidiana - quais as situações que efetivamente acontecem durante a rotina

profissional dos gestores virtuais.

Foram poucos os estudos publicados do ano 2.000 a 2.013 que tinham foco no

trabalho remoto e virtual, sendo somente cinco artigos publicados em periódicos nacionais e

94 artigos em periódicos internacionais nesses 13 anos. Mesmo entre esses estudos, o

cotidiano do gestor que atua profissionalmente desde a sua casa não foi o objeto central de

nenhuma das pesquisas.

Para os gestores virtuais, o fato de trabalharem em um ambiente separado da equipe e

do escritório da empresa, agrega novos desafios - provenientes de diferentes fontes, como o

meio, estímulos internos e externos ao ambiente de trabalho, o novo modelo de trabalho, entre

outros - e uma percepção diferenciada das situações que acontecem em seu cotidiano

profissional. É dentro deste panorama que se apresenta o problema de pesquisa, que norteia

esta tese: Quais eventos são percebidos e interpretados pelos gestores virtuais em seu contexto

de home office e quais as características desses eventos?

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Para que seja possível responder a este questionamento, colocou-se como objetivo

geral da pesquisa o de identificar e analisar a forma como os gestores virtuais reconhecem os

eventos em seu contexto de trabalho home office.

Finalmente, para o alcance deste objetivo, os seguintes objetivos específicos foram

definidos:

1. Caracterizar o contexto do trabalho virtual;

2. Caracterizar os principais eventos de trabalho pelos quais os gestores virtuais se

deparam em seu cotidiano e como eles enfrentam;

3. Analisar as características percebidas pelos gestores virtuais sobre os principais

eventos do seu cotidiano, com relação à frequência, importância, incerteza,

complexidade, urgência e pessoas envolvidas.

A existência de pouca literatura no campo dos estudos organizacionais voltados ao

ambiente virtual de trabalho - especificamente, com pesquisas sobre o trabalho, equipes e

gestores virtuais- é a contribuição da pesquisa à área de estudos organizacionais. Ao pesquisar

um grupo específico do ambiente organizacional - os gestores virtuais - o presente estudo

pretende agregar maior conhecimento sobre este público e os eventos do seu cotidiano.

Como contribuições práticas da pesquisa, espera-se que possa auxiliar no exercício

profissional dos gestores virtuais; na relação deles com o ambiente profissional; durante os

diferentes eventos cotidianos que necessitam de decisão; além de outros momentos de

interação com os demais agentes do cotidiano profissional.

O texto da tese a ser apresentado foi construído considerando – além desta introdução

– partes distintas que se interconectam e dialogam, durante todos os momentos da pesquisa.

Para efeitos de apresentação, elas estão reunidas em capítulos em que são expostos: o

referencial teórico, a metodologia, a análise e discussão dos resultados e as considerações

finais.

No primeiro capítulo situa-se o referencial teórico, onde são apresentadas as bases

teóricas da pesquisa, desde a apresentação dos aspectos da virtualidade, o sentido do trabalho

virtual e a ação de equipes e gestores virtuais, além das explicações teóricas sobre a definição

de eventos.

A seguir, no capítulo sobre a Metodologia são apresentadas as bases, os sujeitos,

forma de coleta e a análise dos dados. O próximo capítulo é dedicado à análise e discussão

dos dados coletados. Nele, são apresentadas, de forma estruturada, a voz dos entrevistados e

os eventos de seu cotidiano profissional, analisados por diferentes óticas, sendo encerrado

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com a discussão da literatura. Por último, nas considerações finais são apresentadas as

limitações e sugestões para estudos futuros na área.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Contexto do Trabalho Virtual

Muito se especula sobre o termo ‘trabalho virtual’, como não apresentando nada de

novo. Em sua defesa é possível dizer que, de um lado, ele não é o mesmo que o trabalho

tradicional - desenvolvido dentro do escritório, em um espaço e tempo claramente definidos

pelo empregador-, mas só isso não seria suficiente para caracterizar um novo modelo. De

outro lado, o uso das tecnologias já ultrapassa diferentes limites pessoais e profissionais, não

estando restrita ao ambiente profissional. A inovação está em integrar o trabalho remoto às

tecnologias para, assim, criar o ‘trabalho virtual’ (MIHHAILOVA, 2009).

Não é de hoje que se alteraram duas das características principais do trabalho – o

tempo de trabalho e o local (espaço) de trabalho - criando diferentes modelos, que foram os

precursores do que hoje entendemos como trabalho virtual. Antes de tudo temos o trabalho

externo, de vendedores, atendentes, prestadores de serviços e outros, que mesmo trabalhando

para uma empresa, têm como característica do trabalho a mobilidade, indo de um à outro

espaço, especialmente para acompanhar clientes e fornecedores. As empresas sempre

precisaram de pessoas, especialmente das equipes de vendas, que estivessem externas,

demonstrando os produtos e assim trazendo novas vendas.

A partir dos anos 1970 houve o advento do teletrabalho, como resposta,

principalmente ao consumo de energia e necessidades de deslocamento (JACKSON; VAN

DER WIELEN, 1998). Este modelo veio como solução aos problemas de mobilidade, em que

as pessoas deixavam de se deslocar até a empresa em determinados dias e horários, para

desenvolver suas atividades profissionais em espaços mais próximos a suas residências -

como escritórios virtuais ou estações de apoio perto dos centros residenciais - ou mesmo a

possibilidade da pessoa trabalhar na própria residência.

Em alguns casos, as pessoas só se deslocavam até o escritório quando era realmente

necessário, para entregar as atividades desenvolvidas e receber novas tarefas, ou para o

acompanhamento do trabalho, por meio de reuniões periódicas. Na visão original de Toffler

(1980), este modelo pensava na reintegração do trabalho, família e sociedade.

Foi este modelo que deu origem ao trabalho virtual, quando as Tecnologias Digitais de

Informação e Comunicação, especialmente a Internet, passaram a fazer parte dos ambientes

corporativos.

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2.1.1 Virtualidade

O advento das telecomunicações trouxe uma quebra entre a distância geográfica e

temporal, característica principal da virtualidade (PARDINI et al, 2013), com informações e

conteúdos sendo transmitidos por longas distâncias em períodos extremamente curtos de

tempo e a interação feita com a presença ‘virtual’ em tempo real.

Atualmente, a virtualidade está presente no nosso cotidiano de diferentes formas: nos

nossos telefones celulares, Internet, e-mail, além de muitas outras formas que nos possibilitam

projetar a nossa presença em outro lugar e nos comunicarmos, independente da distância. Nas

organizações, não há uma só forma de desenvolvimento tecnológico, nem uma só forma de

adoção de Tecnologias de Informação, mas sim a transformação/adaptação das tecnologias

para as necessidades organizacionais (JACKSON; VAN DER WIELEN, 1998). Desta forma,

a distância física já não representa uma barreira à disseminação da cultura organizacional, ao

trabalho em diferentes espaços e integração das pessoas.

Nesse sentido, Gibson e Gibbs (2006) alertam para o fato de que o termo ‘virtual’ vem

sendo utilizado imprecisamente para representar diferentes tipos de equipes ‘distantes’, como:

dispersão geográfica em mais de uma localidade; mediação por diferentes tecnologias;

estrutura dinâmica, com mudança frequente de membros na equipe, papeis e relações entre

estes. Deve-se ter cuidado para não considerar como virtual algo que seja somente remoto,

sem o uso das tecnologias digitais para a comunicação entre as pessoas.

2.1.2 Dimensões da Virtualidade

É difícil especificar uma só virtualidade, pois ela se apresenta de diferentes formas e

gradações, especialmente no ambiente profissional. Pesquisa desenvolvida por Gibson et al

(2014), em 392 artigos publicados em diferentes áreas do conhecimento sobre o tema

virtualidade no período de 2000 a 2013, encontrou três dimensões de virtualidade: a dispersão

geográfica, dependência eletrônica e diversidade nacional ou cultural. A dispersão geográfica

está presente em 94,9% desses artigos; 86% dos artigos são relacionados a dependência

eletrônica e 39% com a diversidade nacional ou cultural, sendo que, desses últimos, somente

4,6% continham pesquisas empíricas. Para os autores, a dependência eletrônica é o aspecto

central que caracteriza a virtualidade como algo além do que é considerado ‘remoto’, ou ‘a

distância’, tanto para o trabalho, como ensino ou outras áreas.

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De acordo com Orengo, Zornoza e Peiró (2011), a virtualidade pode ser considerada

um contínuo relacionado à dispersão geográfica e dependência tecnológica. Ela tem, de um

lado, o grupo que nunca se encontra presencialmente e só se relaciona com o auxílio das

Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC - (uma ou várias); e, do outro, o grupo que

interage face-a-face diversas vezes na semana (ou que só se relaciona quando estão presentes

no mesmo espaço). Kirkman e Mathieu (2005, apud GIBSON et al, 2014) ainda incluíram

uma nova dimensão, com relação à sincronicidade na transmissão de informações de valor, ou

seja, um grupo é considerado mais virtual quanto menor for o seu uso de ferramentas de

comunicação síncrona para a transmissão de informações relevantes ao trabalho.

Com relação ao trabalho virtual, de acordo com Barros e Silva (2010), ele pode ser

flexível de diferentes maneiras. A flexibilidade torna o trabalho virtual uma relação mais

complexa, com reflexos nos eventos. Ela pode ter relação ao local, horário, tipo de contrato,

entre muitos outros arranjos que seriam difíceis de se adequarem à realidade profissional do

trabalho no escritório.

Para esta pesquisa, se considera a virtualidade por duas dimensões, a saber: a

quantidade e frequência de encontros presenciais, como forma de mensuração da dispersão

geográfica e a dependência tecnológica na comunicação, tanto por ferramentas síncronas,

como assíncronas.

2.2 Trabalho virtual

2.2.1 Trabalho virtual

O trabalho remoto não é um conceito novo, como muitos pensam. Seu primeiro uso

foi registrado em 1957 quando J. Edgar Thompson usou os telégrafos de sua empresa para

gerenciar divisões remotas (KUGELMASS, 1996). Além disso há todo o sistema de vendas

por catálogo, representado pela Avon, Tupperware e muitas outras, que se utilizam dos

correios há décadas para se comunicar por meio de materiais impressos, com a gigantesca

equipe de vendas que trabalha desde suas residências. A palavra telecommuting, que originou

a palavra teletrabalho em português, foi cunhada pelo norte-americano Jack Nilles em The

Telecommunications-Transportation Trade Off, em 1976. (SAKUDA; VASCONCELOS,

2005). Para Mihhailova (2009), é indicado utilizar-se do termo trabalho virtual, ao invés de

teletrabalho, quando envolver o uso massivo das TIC.

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O teletrabalhador é visto como a pessoa que trabalha remotamente ao escritório

central, em diferentes espaços, dependendo do tipo de trabalho desenvolvido e com diversas

configurações de vínculo com a organização (JACKSON; VAN DER WIELEN, 1998). De

acordo com Qvortrup (1998), o teletrabalhador dos anos 1970 e 1980 na Europa, era visto

como um trabalhador não especializado. Mesmo quando este possuía alguma especialização,

o trabalho era sempre solitário, desenvolvido remotamente em atividades de apoio, e enviado

à organização. Assim, eles não faziam parte dos quadros funcionais, não tinham carreira e

muitas vezes tinham contratos de trabalho diferenciados, com menos tempo de dedicação

semanal, ou mesmo como freelancers contratados em casos específicos e pagos por tarefa.

Mas há muitas outras diferenças entre o trabalho virtual e o trabalho em domicilio da

era anterior, como apontam Alemão e Barroso (2012). Dentre eles, está a natureza do trabalho

- exercido por programadores altamente especializados - além, é claro, do uso intensivo das

TIC como parte, não só da interação e comunicação, mas do próprio processo produtivo. O

trabalho virtual (PARDINI et al., 2013, p. 88) é a “forma de trabalho efetuada em lugar

distante do escritório central e/ou do centro de produção, que permite a separação física e o

uso de uma nova tecnologia facilitadora da comunicação.” Apesar do uso das TIC ser parte da

definição do trabalho virtual, o foco principal está na localização do trabalho, e não no uso

das tecnologias, como alerta Mihhailova (2009). Assim, é considerado trabalho virtual o

trabalho remunerado que é desenvolvido, principalmente desde a residência do trabalhador e

entregue ao cliente ou empregador pela Internet (TREMBLAY, 2002). As tecnologias entram como o meio que torna possível que esta forma de arranjo do

contrato de trabalho aconteça. Assim, as organizações passam a operar em um ‘espaço

informativo’, ao invés de um espaço físico, com limites organizacionais fluidos e menos

interação presencial (JACKSON; VAN DER WIELEN, 1998). Em alguns casos, o uso das

tecnologias pode melhorar a comunicação entre as pessoas, facilitando uma participação mais

ampla e igualitária, menor dominação pela hierarquia e rapidez no fluxo de informações

(ELRON; VIGOTA-GADOT, 2006).

O trabalho virtual pode se apresentar de diferentes formas, dependendo da natureza da

interação e quantidade de pessoas envolvidas. De acordo com Herter, Geister e Konradt

(2005), ele vai desde o teletrabalho/telecommuting, quando o trabalho é feito fora do

escritório da empresa, com apoio das TIC; os grupos virtuais em que vários teletrabalhadores

se reportam ao mesmo gestor; equipes virtuais nos quais os membros unem forças para atingir

um objetivo comum; comunidades virtuais formadas por grandes grupos com interesses

comuns; e, finalmente, as empresas virtuais que existem sem um espaço físico, mas somente

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na ‘nuvem’ ou Internet, e tem seus membros interagindo virtualmente com os demais

stakeholders. Outras formas de teletrabalho incluem o hoteling, com estações de trabalho em

hotéis; hot desking em que vários empregados compartilham a mesma mesa quando em

‘visita’ ao escritório da empresa; e os centros de teletrabalho, perto de áreas residenciais que

oferecem mini-escritórios de apoio ao trabalho.

Há muitos benefícios em se adotar o trabalho virtual, tanto para a empresa como para

a comunidade e demais stakeholders. De acordo com Cascio (2000), as empresas reduzem os

custos com o imóvel, por ter um escritório menor e muitos trabalhadores virtuais; aumento na

produtividade, pelas pessoas estarem mais focadas em seus trabalhos; maiores lucros, com a

diminuição dos gastos de escritório; melhoria nos serviços ao consumidor, por ter os

funcionários trabalhando mais próximos dos clientes e vinte e quatro horas por dia, no caso

das Equipes Virtuais Globais (ou Global Virtual Teams, do Inglês); além dos benefícios

ambientais, com menor emissão de poluentes no deslocamento para o escritório. Outros

benefícios incluem o acesso às pessoas mais qualificadas para o trabalho, independente de sua

localização, e a capacidade de resposta rápida à competição, pela alta flexibilidade dos times

que podem ser reorganizados sempre que for conveniente (BELL; KOZLOWSKI, 2002),

além da diminuição do absenteísmo (STEIL; BARCIA, 2001). Tremblay (2002) acrescenta

ainda, como consequência, uma melhoria na qualidade do trabalho.

Para Perin (1998), os lares se tornaram espaços, nos quais se consegue fazer o

‘trabalho real’ de leitura e reflexão, concentração e desenvolvimento de atividades sem as

interrupções frequentes de reuniões de utilidade questionável, demandas indisciplinadas de

superiores, atmosferas tensas e competitivas, políticas do escritório e perdas de tempo em

geral. Para a autora, as pessoas até passam a estar mais disponíveis eletronicamente depois de

estarem alocadas em casa, por não ter muito para onde fugir, como têm no escritório.

Em pesquisa de campo realizada junto a trabalhadores virtuais, os trabalhadores

entrevistados apontaram a maior autonomia na condução das suas atividades e solução de

problemas como uma vantagem e que, por isso, adquiriram novas habilidades e

conhecimentos (TREMBLAY, 2002). Muitos dos pesquisados, disseram não querer retornar

ao trabalho tradicional. Um dos argumentos mais utilizados pelas empresas para convencerem

os funcionários para migrar a esta modalidade é a melhoria na qualidade de vida (BARROS;

SILVA, 2010). Pesquisa realizada por Wiesenfeld, Raghuram e Garud (1999) apresenta que

os trabalhadores virtuais que estavam mais satisfeitos e eram mais produtivos tinham seus

superiores também em regime de trabalho virtual, pois eles conseguiam entender as

dificuldades e limitações do meio.

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Como toda forma de trabalho, não há só vantagens na adoção do trabalho virtual. As

principais desvantagens apontadas por Cascio (2000) são: os custos de implantação e

manutenção, pois há aumento nos gastos com tecnologia; perda de eficiência de custos, já que

algumas estruturas precisam ser replicadas em cada estação de trabalho remota; questões

culturais relacionadas ao fato de se trabalhar desde a residência; sentimento de isolamento,

especialmente para as pessoas que moram sozinhas; e falta de confiança para aqueles que

nunca se encontram face-a-face. Além disso, de acordo com Mihhailova, Õun e Turk (2011),

os empregados tendem a se sentir excluídos das questões organizacionais, especialmente os

que possuem maior dificuldade de lidar com as tecnologias; há mais chances de

desentendimentos e conflitos, não só pela comunicação mediada pelas tecnologias, mas

também pela falta de laços sociais. Há ainda o risco de se trabalhar mais; a dificuldade em se

automotivar e o conflito entre a vida profissional e familiar.

Muitas vezes é esperado que o trabalhador virtual trabalhe além do horário e nos finais

de semana para cumprir com as suas tarefas. Para Perin (1998), isso faz parte do contrato

psicológico entre a empresa e o trabalhador, com base nas expectativas, direitos e obrigações.

Um dos problemas apresentados por Jackson e van der Wielen (1998) está na

capacidade de gerir os limites psicológicos e sociais entre o que é considerado trabalho e não

trabalho. Para os autores, a partir do momento em que as atividades produtivas invadem o

espaço não-produtivo de descanso e recreação, ele passa a competir pela atenção com

atividades de sobrevivência pessoal, que historicamente, estariam em um espaço deslocado e

próprio para isso e que ele só teria como obrigações após finalizado o horário de trabalho. Em

casa, o funcionário tentar incorporar a imprevisibilidade das ocorrências do lar, dentro da

previsibilidade do cronograma de trabalho (PERIN, 1998).

Para Wiesenfeld, Raghuram e Garud (1999) as estruturas organizacionais devem ser

alteradas para se adaptarem ao trabalho virtual, especialmente com relação à governança e

novos papeis e capacidades esperadas dos gestores. Para eles, ainda não há uma forma clara

de como as organizações devem ser, mas é certo que as estruturas tradicionais deixam muito a

desejar, ao lidar com o trabalho virtual.

2.2.2 Equipes virtuais

A interação é uma peça-chave de todas as equipes, tanto presenciais como virtuais,

com a diferença de que nas equipes virtuais, toda a base das relações em diferentes níveis e

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funções, com superiores e mesmo as áreas de apoio, é mediada pelas Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC), especialmente a Internet.

As características para que uma equipe seja considerada virtual, são as seguintes: deve

ser formada por um grupo de pessoas (mais de duas) (HERTEL; GEISTER; KONRADT,

2005; TANNENBAUM et al, 2012); que colaboram de forma interdependente para alcançar

um objetivo comum (HERTEL; GEISTER; KONRADT, 2005; MILLWARD;

KYRIAKIDOU, 2004; ORENGO, ZORNOZA; PEIRÓ, 2011; TANNENBAUM et al, 2012);

com a maior parte da comunicação e coordenação feita por meio das TIC (ELRON;

VIGODA-GADOT, 2006; HERTEL; GEISTER; KONRADT, 2005; ORENGO; ZORNOZA;

PEIRÓ, 2011); em condições virtuais, ou seja, dispersos geograficamente no tempo e espaço

(ELRON; VIGODA-GADOT, 2006; HERTEL; GEISTER; KONRADT, 2005; ORENGO;

ZORNOZA; PEIRÓ, 2011); e reconhecidos como uma mesma equipe pelo restante da

organização (MILLWARD; KYRIAKIDOU, 2004).

As equipes virtuais globais – do inglês Global Virtual Team – possuem, além das

características apresentadas, profissionais vivendo e trabalhando em diferentes países e

regiões, com o mesmo vínculo organizacional, normalmente para desenvolver ou implementar

decisões com componentes ou implicações globais (MAZNEVSKI; CHUDOBA, 2000).

A maior parte das equipes possuem algum tipo de dispersão, que pode ser espacial,

temporal, cultural, de configuração e/ou background organizacional. Mas isso não representa

que eles estejam separados ou distantes. Por ser uma equipe - e não simplesmente um grupo-,

deve haver uma conexão entre os membros que os faça trabalhar em unidade, focados no

mesmo objetivo (MILLWARD; KYRIAKIDOU, 2004; ORENGO, ZORNOZA; PEIRÓ,

2011). Desta forma, como apontam Edwards e Sridhar (2005), a diferença temporal possui um

papel ambíguo, pois ao mesmo tempo em que oferece a possibilidade de se ter um período de

trabalho contínuo, dificulta os momentos de comunicação síncrona, que são essenciais no

fortalecimento dos laços entre os membros da equipe.

A distância social - pela falta de contato não profissional e falta de afinidade entre as

pessoas - tem um papel importante no comportamento das equipes, ou seja, a distância física

que separa os indivíduos não é tão importante quanto o efeito que essa separação tem na

maneira como eles interagem (BELL; KOZLOWSKI, 2002). Assim, mesmo equipes que

possam estar espalhadas por todo o globo podem ter afinidades que as façam trabalhar em

uníssono, independente da distância e fuso-horário.

É importante lembrar que, como qualquer outra equipe, as equipes virtuais possuem

um tempo específico para amadurecer e criar laços entre os membros, independentemente da

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tecnologia utilizada. O que as diferencia é a dificuldade de se relacionar face-a-face. Em

alguns casos, dependendo da complexidade da tarefa, Bell e Kozlowski (2002) recomendam

algumas colaborações síncronas pois elas dão a sensação de proximidade, como quando se

fala ao telefone, ou em uma comunicação por Skype, por exemplo.

Além das vantagens já apresentadas para trabalho virtual, as equipes virtuais ainda

apresentam outras vantagens, como: a economia de tempo e de gastos com viagens e

deslocamentos (MAZO; NOTARIO, 2004; ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ, 2011); acesso a

especialistas (CASCIO, 2000); menores barreiras de tempo e espaço na estruturação de

equipes, que podem estar fisicamente separadas e serem rearranjadas de acordo com as

necessidades de projetos (CASCIO, 2000; MAZO; NOTARIO, 2004); as empresas podem

usar consultores externos sem incorrer em gastos com viagem e diárias; expansão do mercado

de trabalho, possibilitando a contratação e retenção dos melhores profissionais independente

de sua localização física, ou se são portadores de necessidades especiais; possibilidade de

acomodar a realidade pessoal e profissional (CASCIO, 2000); melhoria da criatividade e

inovação por conta da maior diversidade (ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ, 2011);

possibilidade de um mesmo funcionário colaborar em diferentes equipes simultaneamente

(CASCIO, 2000; MAZO; NOTARIO, 2004; ORENGO, ZORNOZA; PEIRÓ, 2011);

facilidade na criação de uma memória de práticas organizacionais, uma vez que a

comunicação e relatórios se encontram em locais ‘virtuais’ (CASCIO, 2000; MAZO;

NOTARIO, 2004).

Por outro lado, a maior desvantagem das equipes virtuais, de acordo com Orengo,

Zornoza e Peiró (2011) está relacionada à ausência de contato face-a-face e linguagem não-

verbal, que leva a desentendimentos, falta de confiança, menor controle sobre atividades e

emoções. “Esse empobrecimento da comunicação gera também dificuldades de compartilhar

informações que, embora não se incluam entre as tarefas cotidianas, ajudam a entender o

contexto e a cultura da empresa” (BARROS; SILVA, 2010, p. 80). Muitas vezes a

participação é mais dinâmica, com pessoas entrando e saindo em uma frequência maior, o que

leva a fragilização dos laços, por falta de tempo para cultivar um relacionamento mais

profundo. Para Elron e Vigoda-Gadot (2006) um dos maiores desafios está na coordenação,

juntamente com a criação e manutenção de relacionamentos, confiança e entendimentos

compartilhados.

A falta de confiança é um dos aspectos-chave das equipes virtuais, pois esta leva um

tempo para ser conquistada, além de muitas interações antes de que as pessoas possam

descobrir afinidades e assim, passar a confiar nos demais membros. Esta falta de confiança

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pode ser agravada pela dificuldade de momentos síncronos e presenciais; diferenças culturais,

em diferentes níveis, desde nacionalidades até formações profissionais e tempo de empresa;

ou mesmo a diferença de idade. Gibson e Gibbs (2006), alertam também sobre o alto

turnover. Para as autoras, a principal consequência da falta de confiança é uma dificuldade de

inovação da equipe, pois para inovar é necessário ter confiança e, só então, compartilhar os

seus achados e descobertas, além, de auxiliar o desenvolvimento dos demais.

A integração de atividades dispersas demandam novas formas de cooperação,

coordenação e controle. Consequentemente, o trabalho virtual se torna, não somente um

experimento de produção eficiente em custos, mas um exercício de auto-gestão pelos próprios

trabalhadores (JACKSON; VAN DER WIELEN, 1998), que precisam de auxílio para

desenvolver as habilidades necessárias ao modelo de trabalho virtual.

Desta forma, para concluir, não há como afirmar que uma equipe virtual seja melhor

ou pior que as equipes presenciais, mas sim que, por serem criadas em bases diferenciadas, é

possível acreditar que elas sejam melhor identificadas com realidades distintas, para se atingir

outros tipos de objetivos.

2.2.3 Gestores virtuais

Diante do exposto anteriormente, as normas e práticas da gestão tradicional de equipes

precisa ser repensada para as equipes virtuais, de forma a estar adequada não só às funções,

mas a todo o modelo de trabalho e limites da atuação em um espaço não tão delimitado

(ELRON; VIGODA-GADOT, 2006). O gestor virtual tem o grande desafio de lidar tanto com

novas questões impostas pelo meio, quanto com as atividades mais usuais, que são desafiadas

por esta nova realidade ainda, em parte, desconhecida. Para Mihhailova (2009), com certeza

surgem problemas quando os gestores utilizam técnicas comuns de gestão de equipes, para as

equipes virtuais.

Ao se abordar o termo ‘gestor de equipe’ já se remete a uma figura do cotidiano

organizacional dotada de comportamentos esperados e expectativas sobre o que representa o

papel. As equipes virtuais são estruturadas em diferentes bases de trabalhos, tarefas, métricas,

além de um cenário único. Assim, não tem como esperar que essa nova ‘realidade virtual’

consiga ser gerida pelas mesmas bases e teorias desenvolvidas para lidar com uma realidade

presencial. Também não é suficiente ao gestor virtual saber lidar com as tecnologias. Ele deve

possuir novas habilidades para saber projetar a sua presença por meio de mídias, as quais não

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consegue comunicar da mesma forma que nas relações face a face, e que se configuram como

aspectos subjetivos como expressões faciais, gestos e inflexões de voz (ZIVICK, 2012).

Para Cascio (2003), os gestores adequados para lidar com o trabalho virtual devem

possuir uma atitude aberta e positiva, focando em soluções para os problemas e em

resultados; que facilitem, encorajem e definam a performance para os membros da equipe;

habilidade em comunicação efetiva, tanto formal como informal, que inclua o uso de

diferentes procedimentos e tecnologias; prevenindo que os membros possam se sentir isolados

e que os motive e agregue, independente da distância geográfica e cultural; precisa ter

habilidade para saber delegar e acompanhar o trabalho de forma a garantir o cumprimento de

prazos; e saber como e quando utilizar cada TIC e como balancear momentos síncronos e

assíncronos.

Nas equipes virtuais, a cobrança e controle direto é muito difícil de acontecer, mesmo

com o apoio das tecnologias. A confiança na equipe se torna, assim, um aspecto primordial no

desenvolvimento e manutenção da união da equipe, uma vez que não há a co-presença nem a

mesma quantidade de afinidades culturais das equipes presenciais (ALTSCHULLER;

BENBUNAN-FICH, 2010).

Para a maioria dos trabalhadores virtuais, o único contato que possuem com a

organização é por meio de seu superior imediato, sendo mais sensíveis às questões que

envolvem esta relação (WIESENFELD; RAGHURAM; GARUD, 1999). Para Bell e

Kozlowski (2002), é responsabilidade do gestor fornecer objetivos, estruturas e normas que

auxiliem os membros da equipe a se auto-gerenciarem.

As responsabilidades de um gestor de equipes virtuais se iniciam com a percepção das

necessidades da equipe, providenciando os recursos necessários para que cada um desenvolva

as suas atividades. Para Zivick (2012), eles são responsáveis por dar feedbacks e

comunicações sistemáticas e substanciais, dando poder à equipe para que possam operar com

maior autonomia, estruturar um bom ambiente de trabalho, garantir o sacrifício

compartilhado, especialmente para reuniões síncronas com funcionários em diferentes fusos

horários, além da definição de regras, normas e papéis. Para Barros e Silva (2010), o gestor

virtual é também responsável por registrar a mudança na forma de trabalho, garantir o

desenvolvimento próprio e da equipe, implementar as rotinas da equipe, manter a equipe

integrada e motivada e trabalhar as dificuldades de adaptação.

Devido ao fato de que a comunicação é, em grande parte, mediada pelas TIC, o tempo

até que os membros da equipe possam confiar nos demais é maior, levando à necessidade de

dedicação e esforço extra do gestor para que todos se comprometam com a tarefa (ELRON;

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VIGODA-GADOT, 2006). Alguns aspectos da gestão podem se tornar um pouco mais

fragilizados pela falta de controle direto dos subordinados, que leva à necessidade de uma

relação de maior confiança e liberdade para que cada funcionário possa tomar as decisões

relativas às suas atividades.

Dentre outras atividades que devem ser feitas pelos gestores virtuais, estão o processo

de coaching para desenvolvimento das habilidades necessárias para atuar como trabalhador

virtual; monitoramento da performance e processos da equipe; monitoramento do ambiente

interno e externo, filtrando as informações de terceiros; e coordenando a entrada e

socialização de novos membros da equipe (BELL; KOZLOWSKI, 2002; CASCIO, 2000).

Apesar de todas as responsabilidades específicas do gestor virtual de equipes, para

Konradt e Hoch (2007), o repertório de papéis que eles desempenham é mais limitado por não

terem acesso a todas as atividades que exigem contato face-a-face. Para os autores, a distância

ocasiona diminuição da troca de significados do trabalho e percepções de efetividade. Assim,

independente do fato de o gestor ser virtual ou não, os aspectos simbólicos que definem e

fortalecem a identificação como ‘gestor’ – especialmente os artefatos, como mesa e sala

diferente, placa de identificação e privilégios organizacionais - se alteram no contexto virtual,

muitas vezes ameaçando pontos chave do autoconceito, como a identidade, autoestima e

senso de controle (WIESENFELD; RAGHURAM; GARUD, 1999).

Há ainda muito a ser pesquisado sobre o trabalho dos gestores virtuais, desde as

características do trabalho e as competências necessárias, até as maneiras de conseguir uma

boa performance de trabalho e as peculiaridades do trabalho virtual. Neste sentido, a presente

pesquisa pretende investigar quais são os eventos do cotidiano dos gestores virtuais de equipe.

2. 3 Eventos

Uma dificuldade dos estudos organizacionais está em identificar com clareza as

atividades nas quais o gestor gasta seu tempo e quais as que possuem maior peso e

representatividade. De acordo com Smith e Peterson (1994), muito desse tempo é gasto em

comunicações com subordinados, pares e superiores, ou como porta voz de um para o outro,

filtrando e decodificando a mensagem para atingir os objetivos desejados.

A atividade de gestão compreende diferentes papéis, que podem estar em conflito,

uma vez que o gestor age como intermediador de diferentes necessidades, segundo a função, a

organização e a cultura. Para Smith e Peterson (1994) o maior conflito de papel está na

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diferença entre a forma como a vida na organização é experienciada pelo gerente e a soma

total das exigências impostas sobre ele pelos demais.

2.3.1 Definição de eventos

Neste sentido, situações de trabalho podem ser vistas como séries de episódios ou

eventos que são apresentados ao gestor e que exigem uma ação dele (PETERSON et al,

1990). A maior parte desses eventos é recorrente e muitas vezes não se percebe que

demandam por uma ação, especialmente quando são pouco complexos ou fáceis de

compreender. Algumas situações podem representar partes da estrutura organizacional, ou

estratégias. “Do ponto de vista organizacional, os eventos podem ser percebidos como

segmentos abstraídos de processos organizacionais habituais e contínuos, que podem estar

apenas separados artificialmente” (SMITH; PETERSON, 1994, p. 91).

De acordo com Peterson (1998), para ser considerado um evento e assim poder ser

analisado, estes precisam ser destacados do ambiente, como se fossem colocados entre

parênteses, para serem vistos como situações isoladas. Nesse sentido, o processo de

construção e interpretação dos eventos se inicia no momento em que ele é abstraído do

contexto por percepção individual. Somente após este processo é que a situação de decisão

consegue ser vista e analisada como um evento, que vai além de um único momento.

Diferentes unidades podem ser representadas como eventos, desde fragmentos de

situações rotineiras, unidades de processos ou situações mais complexas. No entanto, Peterson

(1998) alerta que os eventos podem ser mais ou menos complexos e de fácil compreensão,

mas eles nunca serão estruturalmente maiores ou menores. Eles continuam sendo a unidade

focal do processo de discussões filosóficas sobre a relação entre o espaço físico, a percepção,

a interpretação pessoal e o que é construído socialmente.

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Quadro 01 - Ponto de vista de análise dos eventos. Ponto de vista: Conceito-chave Unidade de Análise

Partícula Coisa Incidente

Onda Tempo Tipo de evento

Campo Contexto Situações

Pluralismo Perspectiva Situações Políticas

Valores Potenciais, Normas, Questões, Problemas

EXEMPLOS: Episódio de conflito

Conflito expresso

Conflito latente Consequências do conflito Histórias de conflito Outros conflitos

Situação e história organizacional Indústria, situação e história social Situação e histórias pessoais

Informação e situação das partes envolvidas

Objetivos políticos dos envolvidos Valores, propósitos e pontos de vista relevantes ao conflito

Processo de orçamento anual

Propostas de orçamento

Experiências de prioridade de orçamento

Situação e história organizacional Situação atual da negociação Histórias de orçamento Outros processos de orçamento

Informação e situação das partes envolvidas Indústria, situação e história da sociedade Situação e histórias pessoais

Objetivos financeiros dos envolvidos Valores e propósitos relevantes

Fonte - Adaptado de Peterson (1998)

Conforme apresentado no Quadro 1 adaptado de Peterson (1998), os eventos podem

ser vistos como partículas, quando são pedaços da realidade social abstraídos por um

observador; como ondas, quando são eventos únicos que acontecem em uma sequência ou

fluxo, com alguma frequência (como as atividades em um dia de trabalho); e como campos,

formados por diversas partículas ou ondas.

Para Smith e Peterson (1994, p. 56) com base em Russel (1961) e Whitehead (1929),

os eventos “correspondem tanto a segmentos de experiências quanto de realidade”,

englobando diferentes tempos e espaços, considerando também o contexto e o relacionamento

prévio entre duas pessoas. “Um contexto compreende várias ocasiões e é estruturado a partir

da informação disponível a um observador, seja este um ator ou um objeto externo”.

Os eventos “são construídos a partir da experiência de um observador com base tanto

nas estruturas de conhecimento interno (como os esquemas), quanto nos processos externos

observáveis” (SMITH; PETERSON, 1994, p. 91). O fator chave da natureza dos eventos é

que eles são elementos em uma situação social e por isso os atores sociais envolvidos dão um

significado específico, resultado da interpretação pessoal (PETERSON, 1998; PETERSON et

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al., 1990), que nem sempre é vivenciada por ele mesmo. Assim, o significado dos eventos é

constantemente definido e redefinido, de acordo com as ações e reações dos envolvidos na

situação (SMITH; PETERSON, 1994).

O processo de dar sentido ao evento, para Peterson et al. (1996) ocorre em duas fases,

sendo a primeira de percepção, quando o ator social constrói o evento a partir das

oportunidades do contexto. O evento é então abstraído do contexto. A segunda fase, chamada

pelos autores de interpretação, é quando a energia se concentra em atribuir sentido ao evento,

que pode incluir a relação explícita com outros eventos, a expansão das implicações do

contexto, a verificação a partir de diferentes pontos de vista e projeção de implicações futuras.

Para Peterson et al. (1996) muito da interpretação pode permanecer tácito.

Em outras palavras, processos de gestão de eventos são estruturas em uso de

informação pela qual os membros interpretam e respondem às situações de trabalho que

encontram (PETERSON et al., 1990). Desta forma, um mesmo evento pode ser relevante a

vários problemas organizacionais.

Para esta pesquisa, entende-se eventos como situações sociais de trabalho, abstraídas

de processos organizacionais, que exigem uma ação. Eles são constituídos por segmentos – de

tempo, espaço, contexto e/ou relacionamento - destacados do fluxo normal de trabalho que

podem ter as seguintes características:

-­‐ Serem recorrentes ou não;

-­‐ Podem representar partes da estrutura e estratégia organizacional;

-­‐ Podem ser fragmentos de situações rotineiras, unidades de processos ou situações mais

complexas.

2.3.2 Consequência dos eventos

Eventos de trabalho carregam em si ambiguidades categóricas, por não se encaixarem

nos modelos interpretativos das pessoas; geram sobrecarga; e ocasionam inconsistências em

prioridades e expectativas (PETERSON et al., 1996). Todos os eventos são inicialmente

ambíguos e, por isso, o significado atribuído pelos gestores vai afetar substancialmente a

forma como eles são identificados e a percepção de efetividade dos resultados (MUNENE;

SCHWARTZ; SMITH, 2000).

A interpretação envolve o processo de traduzir informação em conhecimento sobre o

ambiente. Para sobreviver no ambiente organizacional, gestores devem tentar dar sentido a

todos os eventos que os cercam e também influenciar o significado do seu grupo de contato

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(DAFT; WEICK, 1984). Desta forma, os gestores, deliberadamente estruturam os significados

que são convenientes de serem disseminados a seus subordinados (SMITH; PETERSON;

WANG, 1996).

A construção de significados sobre o ambiente organizacional é um pré-requisito dos

indivíduos e pode ser influenciada por várias coisas, como as características do ambiente,

experiência prévia e processo de investigação (DAFT; WEICK, 1984), além de relacionar a

possíveis futuros ou implicações (PETERSON, 1998). De acordo com Smith, Peterson e

Thomason (2010), a função central dos gestores envolve o processo de influenciar o

significado que os outros dão ao eventos de trabalho, especialmente àqueles que são

relacionados diretamente a eles. Neste sentido, o processo de gestão dos eventos envolve

estruturas em uso de informação pela qual os membros interpretam e respondem às situações

que encontram. Como consequência, isso irá afetar a maneira como os eventos são

manuseados e a percepção dos resultados, como sendo efetivos ou não (MUNENE;

SCHWARTZ; SMITH, 2000).

A percepção de efetividade de um gestor pode ser vista como a habilidade de

influenciar não só o significado que os outros dão aos eventos de trabalho, mas também

prever a ocorrência de eventos futuros (SMITH; PETERSON, 2005) ao adaptar as estruturas

institucionais e o processo de tradução de informações de uma pessoa a outra em diferentes

níveis da estrutura organizacional. O impacto ou percepção final sobre quão bem foi

solucionado é a mais evidente consequência do processo anterior de influenciar o significado

que os demais dão ao evento (SMITH; PETERSON; THOMASON, 2010).

2.3.3 Tipos de eventos

Originalmente, as pesquisas se basearam em oito eventos como sendo os que

acontecem em todo tipo de organização e que os gestores devem lidar em seu cotidiano

profissional. Os oito eventos originais (SMITH; PETERSON, 2005; SMITH; PETERSON;

THOMASON, 2010) são descritos como ‘indicar um novo funcionário para o departamento’;

‘um dos seus subordinados têm feito um bom trabalho regularmente’; ‘um dos seus

subordinados têm feito um trabalho ruim’; ‘algumas máquinas ou equipamentos do

departamento precisam ser trocados’; ‘outro departamento não fornece os recursos ou apoio

que você necessita’; ‘há conflito de opiniões em sua equipe’; ‘você percebe a necessidade de

introduzir novos procedimentos em seu departamento’; e ‘chegou o momento de avaliar o

sucesso dos novos processos de trabalho’. Para os autores, esses eventos são os mais

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prováveis de acontecer com todos os gestores, em todos os tipos de instituição, em todas as

nações.

Complementarmente aos estudos anteriores, esta pesquisa pretende discutir se os

eventos que são encontrados pelos gestores virtuais em um ambiente de trabalho deslocado do

escritório da organização são realmente os mesmos das pesquisas de Smith e Peterson. Outro

fato que contribuiu para a discussão que se apresenta é o tempo em que esses eventos vêm

sendo estudados pelos autores, tendo os primeiros estudos mais de 25 anos (PETERSON et

al., 1990). Em conversas orais com o Prof. Dr. Peterson durante o estágio doutoral, informou

que atualmente voltou a discutir sobre a universalidade dos eventos originais. Para ele, há que

se investigar se os eventos que são relevantes a cada grupo profissional diferem de outros

grupos. Atualmente várias pesquisas estão sendo desenvolvidas por ele, seus alunos e colegas

pesquisadores que pretendem investigar os eventos para grupos profissionais específicos. Por

sugestão do Prof. Dr. Peterson, retornou-se às origens do seu projeto de gestão do significado

dos eventos, que reside principalmente em Perrow (1972) e Mintzberg1 (2003).

São quatro os tipos de eventos considerados para esta pesquisa, por indicação oral do

Prof. Dr. Peterson: eventos de comunicação, de tarefa, de controle e avaliação e relacionados

à entrada de novos membros.

a) Eventos de comunicação: Os eventos de comunicação tratam de todos os

relacionamentos interpessoais dentro da organização. São situações que focam no

contato direto tanto como forma de trocar informações, como também os problemas

que podem ser originados da falta de comunicação, ou barreiras que fazem com que

ela não flua de maneira tranquila. Para Perrow (1972, p. 75) “a maioria dos problemas

tem origem no relacionamento pessoal”.

Ainda, os eventos de comunicação podem dizer muito sobre a forma com a qual o

trabalho está estruturado, uma vez que ele pode ser um substituto de liderança, quando

a cobrança e interdependência pelos pares funcionam como forma de autorregulação.

Para Mintzberg (2003), a comunicação também pode funcionar como forma de

diminuir a incerteza dos profissionais, em ambientes instáveis e de alto risco.

b) Eventos de tarefa: Os eventos de tarefa estão relacionados ao desenvolvimento do

trabalho, ou às situações que podem ser causadas quando se está impossibilitado de

seguir da forma usual ou planejada para a atividade. “As vezes a variedade [dos

estímulos] é grande e cada tarefa parece exigir um trabalho diferente, de uma certa                                                                                                                1  A data de referencia é do livro traduzido para o português, que foi usado nessa pesquisa. O original em inglês data de 1979.

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magnitude” (PERROW, 1972, p. 103). As tarefas tanto podem ser previsíveis e

rotineiras, como complexas e até difíceis de prever seu desenvolvimento.

Para Mintzberg (2003), as tarefas, ainda podem dizer sobre o tipo de padronização

utilizado pela instituição - dos processos (quando as atividades são previsíveis e

sequenciadas); ou das habilidades (quando é necessário um especialista que conheça

sobre o assunto).

c) Eventos relacionados à entrada de novos membros na equipe: a entrada de novos

membros na equipe coloca em evidência a forma como as coisas são feitas na

instituição. É nesse momento em que se podem questionar práticas, ou reforçá-las pela

repetição. Para Mintzberg (2003) o momento de socialização dos novos membros

mostra o peso das práticas e mecanismos de coordenação. Perrow (1972) ainda

complementa que por mais que a pessoa venha com outras práticas de mercado, em

pouco tempo ela estará familiarizada com às mesmas atividades e posicionamento de

seus colegas.

d) Eventos de controle e avaliação: “O propósito do controle é avaliar se o padrão foi ou

não alcançado”. (MINTZBERG, 2003, p. 89) Desta forma, os eventos de controle e

avaliação estão relacionados com a forma como o trabalho está estruturado e qual o

‘mecanismo de coordenação’ deste. Para Mintzberg (2003), a coordenação pode ser

por ajuste mútuo, quando é feita pelos pares; por supervisão direta, quando há um

superior para indicar e avaliar as atividades; por padronização dos processos de

trabalho, quando o conteúdo é especificado (linha de montagem); padronização dos

resultados, quando o importante é o resultado final; e padronização das atividades,

quando todos passam pela mesma qualificação.

2.3.4 Características dos eventos

São seis as características que os eventos possuem. Essas características são parte do

projeto de gestão do significado do evento de Smith e Peterson (SMITH; PETERSON, 2005;

SMITH; PETERSON; THOMASON, 2010). Elas também tiveram como base Perrow (1972)

e Mintzberg (2003).

As características, também chamadas de categorias dos eventos, estão presentes em

estudos anteriores de Peterson (PETERSON et al., 1996; PETERSON et al., 1990;

PETERSON; RUIZ-QUINTANILLA, 2003; PENG; PETERSON, 2008). Embora não haja

estudos publicados pelos pesquisadores com todas as características reunidas, estas fazem

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parte do modelo proposto por eles. Pode-se perceber em diferentes momentos dos artigos

publicados sobre a gestão dos eventos, alguma referência a essas, que foram incluídas nas

explicações a seguir.

O contexto social e institucional afetam a saliência de categorias particulares dos

eventos (PETERSON et al., 1996). Assim, o contexto de trabalho dos gestores virtuais pode

influenciar a forma como os eventos são percebidos por esses. As características que podem

ser atribuídas aos eventos são: frequência com a qual ocorrem; importância; grau de incerteza;

complexidade; urgência na resolução e pessoas envolvidas. Cada uma dessas características

será apresentada a seguir.

a) Frequência:

A rotina de trabalho diário é marcada por eventos de alta frequência, com

alguns episódios de problemas com os quais ainda não estamos familiarizados

(PETERSON et al., 1990). Desta forma, o conceito de frequência, de um lado

está marcado pelas situações familiares do cotidiano, tendo, no extremo

oposto, as situações ocasionais, que acontecem muito raramente. Um extremo

para as situações que raramente acontecem, apresentado nos estudos

conduzidos no Japão por Peterson et al. (1996) dizem respeito aos desastres

naturais. Esse extremo não foi considerado na presente pesquisa.

A frequência de repetição das tarefas identifica a natureza do trabalho,

especialmente com relação à previsibilidade, pois ao repetir a mesma tarefa, os

resultados se tornam previsíveis (PERROW, 1972). A mecanização das tarefas

rotineiras aumenta a especialização e qualificação exigida dos profissionais.

Para Perrow (1972), o aumento da frequência de um evento também está

relacionado a estruturas burocráticas e previsíveis. Contrariamente a isso,

quanto menos frequente, maior a pesquisa necessária para saber como lidar

com o evento.

b) Importância:

As situações de trabalho podem ser de maior importância, quanto maior o seu

impacto nos objetivos do trabalho (PETERSON; RUIZ-QUINTANILLA,

2003), em mais pessoas e com implicações a longo prazo (PETERSON et al.,

1996). Desta forma, um evento é considerado muito importante quando a

situação impacta em outras atividades relacionadas aos objetivos da tarefa,

especialmente em outras áreas da empresa e que podem trazer implicações

diversas. Já um evento de baixa importância ocorre quando a situação não tem

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impacto em outras ações. Assim, é de se esperar que quanto mais importante o

evento, maior o nível hierárquico que pode ser envolvido para lidar com ele.

c) Incerteza:

O trabalho é caracterizado por ter um grau consistente de autonomia e certeza

sobre as ações a serem desenvolvidas (PETERSON et al., 1990). Os eventos

que geram maior incerteza são os que não há uma forma pré-determinada para

lidar com eles, causada, principalmente por situações que fogem da rotina e

problemas difíceis de resolver (MINTZBERG, 2003). Assim, os eventos de

alta incerteza ocorrem quando não se sabe o que deve ser feito e nem as

consequências da ação. Em outro sentido, os eventos de baixa incerteza

ocorrem quando se sabe o que deve ser feito (o que é esperado).

A falta de certeza sobre o desenvolvimento do trabalho, pode direcionar ao

erro ou dúvidas sobre o desenvolvimento. Para Mintzberg (2003), a repetição

de tarefas, mesmo que complexas, diminui a incerteza. Outra forma de

diminuição da incerteza está no uso de regras, normas e estruturação de

processos (PETERSON et al., 1996). Para Peng e Peterson (2008), feedbacks

não contextualizados podem gerar maior incerteza sobre o que é esperado do

profissional e as consequências da ação. Para estes autores diferenças ou falta

de clareza sobre os objetivos institucionais também aumentam a incerteza.

d) Complexidade:

A complexidade, também chamada de recursos em estudos anteriores

(PETERSON et al., 1996) é maior, quanto mais áreas da instituição e recursos

diferentes do que se tem disponível usualmente estão envolvidos no evento

(PERROW, 1972). Os recursos podem incluir pessoas, recursos financeiros e

materiais. Quanto mais alta a complexidade, maior o envolvimento de outras

áreas e recursos. A baixa complexidade, por outro lado, existe quando a

solução do evento só envolve recursos já disponíveis.

Para Mintzberg (2003), quanto mais complexa a situação, maior o nível

hierárquico que precisa ser envolvido na solução, pois há a necessidade de

integrar áreas e recursos de diferentes partes do organograma institucional.

e) Urgência:

A urgência dos eventos está relacionada ao impacto que o evento possui sobre

o andamento normal das demais atividades. Desta forma, quanto mais urgente

um evento, maior a necessidade de que ele seja solucionado com brevidade.

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Um evento pode ser considerado muito urgente quando a situação têm

prioridade máxima de solução, ou pouco urgente, quando o evento pode

esperar para ser solucionado em um momento mais conveniente.

Para Mintzberg (2003), quanto maior a estabilidade exigida pelo ambiente,

mais urgentes as situações parecem ser.

f) Pessoas envolvidas:

O evento pode ter somente uma pessoa envolvida na sua criação, ou a

integração de diferentes competências, de pessoas da mesma área, de

diferentes partes da instituição, ou até, eventualmente, pessoas externas à

instituição. Quanto maior o número de pessoas envolvidas na situação, menor

o controle direto por um superior e maior o controle por pares (autorregulação)

(PERROW, 1972).

As pessoas envolvidas podem ser as que geraram o evento, ou necessidade que

levou a criação do evento, como solicitações de clientes, interrupções do fluxo

normal de trabalho por terceiros, demandas e necessidades específicas internas

ou externas à organização.

Na presente pesquisa se pretende identificar os eventos de trabalho mais relevantes

para os gestores virtuais de equipe e as suas características, como será apresentado

posteriormente.

2.4 Identificação dos Eventos de Gestores Virtuais de Equipes

Pesquisa bibliográfica realizada junto a artigos acadêmicos publicados entre os anos

2.000 e 2013 com os termos ‘gestores virtuais’, ‘equipes virtuais’ e ‘trabalho virtual’, além de

‘teletrabalho’ e ‘trabalho remoto’ nos principais periódicos nacionais de administração, de

Qualis A2 e B1. Para os periódicos internacionais, foram buscados os termos equivalentes em

inglês, em periódicos de relevância indicados pelas Profas Dra Ana Zornoza e Dra Virginia

Orengo2.

Esses eventos foram discutidos junto ao Prof Dr Peterson3 e Profa Dra Darcy

Hanashiro (orientadora) para se chegar a uma relação de 17 eventos, que englobam os

diferentes aspectos apresentados pela literatura, sobre as principais situações de decisão dos

gestores virtuais de equipes.                                                                                                                2 Durante o período de Sanduiche, na Universitat de Valéncia na Espanha. 3 Durante o período do Sanduiche, na Florida Atlantic University, com o Prof Dr. Peterson.    

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No Brasil, foram pesquisados nove periódicos nacionais de 2.000 a 2.014, resultando

em 05 artigos publicados, distribuídos conforme são apresentados no Quadro 02.

Quadro 02 – Publicações sobre trabalho virtual em periódicos e congressos nacionais. Periódicos e congressos Qualis Quantidade de artigos

BAR A2 0

Brazilian Business Review A2 0

Cadernos EBAPE B1 3

Psicologia e Sociedade A2 0

RAE A2 1

RAC A2 0

RAM B1 0

RAUSP A2 1

REAd B1 0

TOTAL 05

Fonte - Elaborado pela autora.

Internacionalmente, foram pesquisados 14 periódicos indicados como sendo os que

possuem afinidade com trabalho virtual e estudos voltados à tecnologias nas organizações,

dentro da área de estudos organizacionais, gestão humana e psicologia organizacional.

Conforme informado anteriormente, estes periódicos foram indicados pelas Profas Dra Ana

Zornoza e Virginia Orengo, que pesquisam a área de trabalho virtual e teletrabalho há mais de

10 anos. A pesquisa resultou em 94 artigos publicados no mesmo período, conforme

apresentado no Quadro 03.

Quadro 03 – Publicações sobre virtual em periódicos internacionais.

Periódicos

Quantidade de

artigos

Academy of Management Journal 3

Academy of Management Review 1

Administrative Science Quarterly 1

Behavior on Information Technology 1

Communication Research 4

Computer in Human Behavior 14

Decision Analysis 0

European Journal of Work and Organizational Psychology 4

Information Systems Research 10

Journal of Computer-Mediated Communication 4

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Journal of International Business Studies 0

Management Information Systems Quarterly 10

Organization Science 14

Small Group Research 28

TOTAL 94

Fonte - Elaborado pela autora.

Neste levantamento foram desconsiderados os trabalhos desenvolvidos somente com

dados bibliográficos (ensaios teóricos), ou os que a parte empírica foi desenvolvida em

laboratório, com alunos e em situações simuladas, desconectadas do ambiente organizacional.

Para se chegar na lista final dos eventos virtuais, foi feita categorização temática dos

artigos, destacando as passagens em que alguma situação de tomada de decisão era

mencionada. Com base nesses resultados, chegou-se a uma lista de 66 eventos mais

relevantes, apresentada no Apêndice A.

Esta lista foi discutida junto ao Prof Dr Mark Peterson, durante o estágio PDSE

(Programa de doutorado sanduiche no exterior) na Florida Atlantic University, e Profa Dra

Darcy Hanashiro (orientadora) e outros colegas que pesquisam sobre eventos, durante a

estada da pesquisadora nos Estados Unidos, para se chegar a 17 eventos que melhor

representam o universo de tomada de decisão dos gestores virtuais de equipe, trabalhados

nessa pesquisa.

2.4.1 Eventos de Comunicação

A comunicação é um aspecto sensível do relacionamento do gestor virtual, tanto com

a sua equipe, como os colegas, superiores e demais stakeholders. Como mencionado no item

anterior, muito do tempo de gestão é gasto na troca de informações com os demais (SMITH;

PETERSON, 1994). Os eventos de comunicação são os que envolvem problemas ou

dificuldades na troca de informações entre os membros da equipe.

Quando um trabalhador se torna virtual, ele/ela normalmente passa a utilizar um novo

grupo de comportamentos e formas de comunicar-se com colegas, clientes e o supervisor

imediato (MIHHAILOVA, 2009, p. 82). Neste caso, por conta da distância entre os diferentes

atores organizacionais, todo o relacionamento deve ser mediado pelas TIC, acarretando as

dificuldades e os problemas já mencionados na primeira parte do Referencial Teórico.

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Evento 01: Quando não se tem certeza sobre o significado de uma mensagem

recebida.

As diferenças culturais entre os membros da equipe faz com que a troca de mensagens

possa não ser clara, especialmente se também possuem línguas-maternas diferentes. A falta de

outros indicadores não verbais na comunicação interpessoal também acarreta maior

dificuldade na interpretação das mensagens, que pode levar a maior quantidade de mal

entendidos entre os membros (ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ, 2011), caso o evento não seja

conduzido de maneira acertada.

Evento 02: Quando uma mensagem sua não é respondida.

Sendo a comunicação feita por mídias e muitas vezes de forma assíncrona, com

mensagens trocadas em tempos diferentes do emissor, para o receptor, a falta de resposta a

uma comunicação pode ser interpretada de diferentes formas e ter consequências bem

diferentes. Se, do lado do receptor isso pode indicar problemas tecnológicos, de compreensão

da mensagem, falta de clareza sobre o que se espera como resposta; de outro lado, também

pode remeter a descaso, problemas pessoais, entre outros.

A falta de uma contrapartida de comunicação face-a-face, ou mesmo as dificuldades

em se ter comunicação síncrona regular, pode levar à ansiedade quanto a falta de resposta e o

tempo de espera.

Evento 03: Quando há um problema com as TIC (Tecnologias de Informação e

Comunicação).

As falhas de tecnologias podem ocorrer por diferentes razões, em diferentes momentos

e com pessoas distintas no cotidiano profissional. De um lado temos os problemas

relacionados ao fato do trabalhador ser virtual e ter acesso, muitas vezes, a equipamentos,

redes e sistemas desenvolvidos para uso doméstico. Por outro lado, a organização pode ter

problemas de dimensionamento das tecnologias oferecidas aos trabalhadores virtuais,

esperando coisas que não são possíveis ou não oferecendo as condições necessárias ao pleno

desenvolvimento do trabalho. Há também problemas esporádicos e difíceis de prever ou de se

evitar.

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Em todos os casos, as falhas tecnológicas impossibilitam o trabalho de ser

desenvolvido ou entregue, além da possibilidade de dificultar a comunicação entre os gestores

e os demais atores organizacionais. Isso pode trazer diferentes implicações para o trabalho, ou

na forma de condução da solução deste problema.

Evento 04: Quando os limites de contato profissional ultrapassam barreiras

pessoais.

O fato do trabalho ser desenvolvido desde a casa do trabalhador virtual torna mais

difícil a separação entre o espaço profissional e pessoal. O conflito entre o trabalho e a vida

familiar é um dos fatores que afetam o desempenho do trabalhador e todo o desenvolvimento

do trabalho (TREMBLAY, 2002), juntamente com a dificuldade de se automotivar e o

isolamento. Desta forma, os limites profissionais podem ser ultrapassados tanto do ambiente

familiar invadindo o espaço profissional, como o sentido inverso.

Evento 05: Quando há problemas com o agendamento de reuniões.

As responsabilidades de um gestor de equipes virtuais se iniciam com a percepção das

necessidades da equipe, providenciando os recursos necessários para que cada um desenvolva

as suas atividades. Para Zivick (2012), eles são responsáveis por dar feedbacks e

comunicações sistemáticos e substanciais, dando poder à equipe para que possam operar com

maior autonomia, estruturar um bom ambiente de trabalho, garantir o sacrifício

compartilhado, especialmente para reuniões síncronas com funcionários em diferentes fusos

horários, além da definição de regras, normas e papéis.

2.4.2 Eventos de Tarefa

Os eventos de tarefa englobam as situações que têm relação direta com o

desenvolvimento do trabalho diário e a produtividade da equipe virtual, como por exemplo, as

condições de trabalho, recursos, sistemas e equipamentos.

Evento 06: Quando há a necessidade de trocar um sistema de software.

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A forma como as Tecnologias de Informação e Comunicação são escolhidas e usadas

afetam o desenvolvimento e manutenção da equipe virtual, criando barreiras ou,

contrariamente, dissolvendo os obstáculos na colaboração entre os membros. De acordo com

Bell e Kozlowski (2002), a natureza da tarefa (mais ou menos complexa, que pode exigir mais

interações síncronas), que irá determinar a tecnologia a ser usada. Muitas vezes a tecnologia

mais cara e atual pode não oferecer os recursos necessários para o desenvolvimento da tarefa.

Dentre as responsabilidades do gestor virtual estão incluídas a eliminação de

contratempos e providencia dos recursos necessários ao trabalho. Para que isso seja possível,

os equipamentos e tecnologias devem estar adequados e serem validados continuamente

(CASCIO, 2000).

2.4.3 Eventos relacionados à entrada de novos membros na equipe

A entrada e socialização de novos membros na equipe é de extrema importância para o

sucesso do projeto e por isso deve ser acompanhada diretamente pelo gestor (BELL;

KOZLOWSKI, 2002).

O processo de aculturação do novato possui diferentes nuances, pois ele deve conhecer

a estrutura e a organização, além dos colegas e a forma de trabalho. Este é o momento em que

ele também deve ser conhecido pelos demais. Cascio (2000) recomenda que, no primeiro

momento, o trabalhador fique um tempo trabalhando presencialmente, para só se tornar um

trabalhador virtual depois de estar familiarizado com a organização, o trabalho e a equipe.

Deve-se considerar também que o trabalhador virtual necessita apresentar e

desenvolver outras competências, como por exemplo, a forma correta de se comunicar com

colegas virtuais, a capacidade de gestão do seu próprio trabalho e processos, além de outras,

de acordo com o trabalho a ser desenvolvido (MIHHAILOVA, 2009). Para Bell e Kozlowski

(2002) o processo de coaching para desenvolvimento das habilidades necessárias para atuar

como trabalhador virtual é uma das tarefas dos gestores virtuais.

Evento 07: Quando existe a necessidade de contratar um especialista.

Uma das principais vantagens das equipes virtuais é a possibilidade de contratar as

pessoas mais qualificadas para o trabalho, independente de onde elas se encontrem (GIBSON;

GIBBS, 2006).

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Como uma das principais vantagens de se contratar um especialista está a capacidade

que este possui de saber tomar as decisões mais acertadas com relação ao seu trabalho

(BELL; KOZLOWSKI, 2002). De outro lado, os problemas de mediação tecnológica e de

familiaridade com o restante da equipe e com o gestor podem fazer com que este tenha menos

colaboração e se sinta excluído do grupo (BAZAROVA; YUAN, 2013).

Evento 8: Quando um novo membro da equipe não é proativo na comunicação

com os demais.

A distância torna mais difícil o acompanhamento direto dos membros da equipe e

troca de informações que, de acordo com Orengo, Zornoza e Peiró (2011), pode levar a

desentendimentos, falta de confiança e menor controle de atividades e emoções. A

comunicação espontânea, para Hins e Mortensen (2005) está associada com um maior

compartilhamento de identidade e contexto, que ainda faltam nos novos membros da equipe.

Assim, em uma pessoa recém-chegada na equipe, a proatividade na comunicação é essencial,

por ser a maneira de ser visto pelos demais e assim, estreitar os laços (BARROS; SILVA,

2010).

Evento 9: Quando um novo membro da equipe comete erros de iniciante4 na

comunicação interpessoal.

Como apresentado anteriormente, a comunicação é essencial para a formação de

qualquer equipe. No caso das equipes virtuais, a comunicação mediada pelas TIC, sem muitas

opções para momentos presenciais, ou mesmo com limitados momentos síncronos, deixa o

processo bastante frágil. Desta forma, uma pessoa que está entrando na equipe pode possuir

dificuldades antes de efetivamente ter uma participação plena. Para Bell e Kozlowski (2002),

a distância social, representada na forma como os membros de uma equipe virtual se

relacionam e estreitam seus laços, é mais importante que a distância física para o

comportamento e resultado grupal.

                                                                                                               4  Coisas que os membros mais experientes da equipe sabem como falar e participar em uma reunião, por exemplo, mas que os novatos não estão familiarizados com a forma pela qual as pessoas se relacionam.  

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Evento 10: Quando um novo membro da equipe comete erros de tarefa5.

Deve-se ter em mente que o trabalhador virtual desenvolve suas atividades de maneira

solitária, desde sua residência. Assim, ele deve ter maior autonomia e experiência para saber o

quê e como deve ser feito. Mesmo assim, a probabilidade de ter erros é maior, especialmente

para os iniciantes que ainda não possuem uma ideia clara do que é esperado deles. De acordo

com Barros e Silva (2010) o gestor é responsável por trabalhar as dificuldades de adaptação

dos novos funcionários ao modelo de trabalho e às tarefas, apesar da maior dificuldade em

manter um controle direto (ELRON; VIGODA-GADOT, 2006).

Evento 11: Quando um novo membro da equipe comete erro de procedimento6.

É bastante comum que o contato do trabalhador virtual esteja concentrado em seu

gestor, para as mais diferentes atividades e dúvidas. Desta forma, quando há procedimentos e

atividades não usuais, a chance de cometer erros, é ainda maior, e agravada, como nos demais

casos, por um desconhecimento sobre procedimentos e os demais atores organizacionais. Para

a maioria dos trabalhadores virtuais, o único contato que possuem com a organização é por

meio de seu superior imediato (WIESENFELD; RAGHURAM; GARUD, 1999). Desta

forma, a chance de um novo membro da equipe cometer erros de procedimento pode ser

maior no ambiente virtual.

Evento 12: Quando uma pessoa precisa deixar o projeto durante o

desenvolvimento.

Faz parte do trabalho dos gestores, independente de serem ou não virtuais, possuírem

sempre planos de contingência para o caso de algum membro da equipe precisar deixar o

grupo durante o desenvolvimento (BELL; KOZLOWSKI, 2002). No caso das equipes

virtuais, isso se torna ainda mais crítico devido a falta de controle direto sobre o trabalho, que

faz com que os gestores não tenham uma ideia precisa sobre o andamento do trabalho e como

ele é desenvolvido por cada um dos trabalhadores remotos.

                                                                                                               5  Por exemplo, quando o resultado do trabalho não está adequado e precisa ser consertado.  6  Como por exemplo não mandar a informação para a pessoa certa, ou não seguir os passos ao realizar uma atividade.  

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2.4.4 Eventos de controle e avaliação

Não é uma tarefa fácil manter o controle sobre a equipe virtual. As mesmas

características que fazem de uma equipe ‘virtual’ são as que fazem a gestão tradicional ser

inadequada, especialmente no que diz respeito à dispersão temporal – como nas equipes

virtuais globais, por exemplo, em que podem ter os membros trabalhando as 24 horas do dia –

e na dispersão geográfica. Para Hertel, Geister e Konradt (2005) todas as formas de controle

direto são dificultadas quando os gestores não se encontram no mesmo local que os membros

da equipe. Para estes, é recomendado o controle sobre os resultados e desenvolvimento das

tarefas, ao invés de controlar sobre o tempo e disponibilidade.

Evento 13: Quando o cronograma do projeto precisa ser alterado.

Muito se discute sobre a produtividade das equipes virtuais, não havendo consenso

sobre o fato de serem ou não mais produtivas que as equipes presenciais. Para Cascio (2000),

isto depende de monitoramento ativo do gestor, para acompanhar o desenvolvimento do

projeto e a usabilidade do produto final. Caso contrário, os benefícios de se ter uma equipe

virtual, como a capacidade de estar em mais de um projeto ao mesmo tempo (CASCIO, 2000;

MAZO; NOTARIO, 2004; ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ, 2011) e a economia de tempo

(MAZO; NOTARIO, 2004; ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ, 2011), nunca serão válidos.

Desta forma, ao redefinir o cronograma do projeto, pode-se ter consequências que prejudicam

outras áreas e projetos, além da própria equipe.

Evento 14: Quando há a necessidade de acompanhar a performance da equipe.

A distância também torna mais difícil ao gestor, acompanhar individualmente o

desenvolvimento de cada um dos membros da equipe e moderar os processos, pois para isso

deveria haver interação direta entre eles (KONRADT; HOCH, 2007). “Parte da falta de

visibilidade dos teletrabalhadores é atribuída também à dificuldade dos supervisores, em

termos de acompanhar subjetivamente o desempenho e estabelecer com os indivíduos uma

relação de confiança.” (BARROS; SILVA, 2010, p. 82)

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Evento 15: Quando é necessário dar um feedback construtivo por escrito a

equipe.

As responsabilidades de um gestor de equipes virtuais se iniciam com a percepção das

necessidades da equipe, providenciando os recursos necessários para que cada um desenvolva

as suas atividades. Para Zivick (2012), eles são responsáveis por dar feedbacks e

comunicações sistemáticas e substanciais, empodeirando a equipe para que possam operar

com maior autonomia, estruturar um bom ambiente de trabalho, garantir o sacrifício

compartilhado, especialmente para reuniões síncronas com funcionários em diferentes fusos

horários, além da definição de regras, normas e papéis. Cascio (2000) afirma que os gestores

devem fornecer feedbacks honestos sobre o comportamento individual e os resultados finais

alcançados pelo grupo.

Evento 16: Quando é necessário recompensar a equipe pelo bom trabalho.

A forma como os gestores administram as recompensas e punições individuais

influencia a performance e satisfação dos funcionários (PODSAKOFF; TODOR, 1985),

sendo a recompensa contingencial individual uma forma de motivação para trabalhar sozinho,

instigando a competição e diminuindo a cooperação. Já a recompensa grupal auxilia no

cooperação entre os membros da equipe. Para Mihhailova, Ôun e Turk (2011), o sistema de

feedback baseado em resultado juntamente com as recompensas baseadas nos resultados são a

melhor e única forma sensível de se utilizar em situações de trabalho com alta distância entre

os membros, como acontece no trabalho virtual.

Evento 17: Quando a performance do grupo está abaixo das expectativas.

Este evento não se reflete somente no trabalho virtual, mas em qualquer situação de

gestão da equipe, para o recebimento de atividades fora do padrão aceitável. O que se altera

para as equipes virtuais, é que, como mencionado anteriormente, o controle direto é mais

difícil, o que dificulta acompanhar o desenvolvimento (ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ,

2011), levando a maior parte das equipes a serem cobradas somente pelos resultados. Desta

forma, muitas vezes só se consegue verificar o trabalho após a entrega de cada tarefa, que

pode ocasionar retrabalho de todo o desenvolvimento.

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3 PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa de campo foi realizada em dois momentos. No primeiro, foi realizada uma

pesquisa quantitativa de caráter exploratório, utilizando-se os 17 eventos destacados da

literatura de trabalho virtual, conforme apresentado no Referencial Teórico. Foi elaborado um

questionário com esses eventos. Para cada situação apresentada, perguntava-se sobre as seis

características dos eventos (frequência, importância, incerteza, complexidade, urgência e

pessoas envolvidas). Foram encaminhados de forma eletrônica mais de 150 questionários para

gestores e trabalhadores virtuais. Foram obtidas 32 respostas completas e válidas de

profissionais com o perfil definido para a pesquisa.

Infelizmente muitos dos profissionais convidados para a pesquisa não responderam o

questionário inteiro. Em conversas com parte desses profissionais, solicitados a darem

feedback, alguns pararam de responder a partir do momento em que uma das situações

apresentadas não fazia parte do seu cotidiano. Outros interromperam as respostas devido ao

tamanho do questionário, que demandava mais de 40 minutos para responder a todas as

perguntas.

Dessa forma, a pesquisa quantitativa se mostrou inviável por não refletir o ambiente

cotidiano do gestor virtual, como foi constatado em conversas com alguns dos respondentes,

solicitados a darem feedback sobre essas questões e a realidade vivida no cotidiano do

trabalho virtual. Foram relatadas situações que não estavam contidas na literatura consultada e

que eram muito específicas da ação em home office desses trabalhadores. Percebeu-se que os

eventos levantados na literatura não cobriam a amplitude dos eventos que os gestores lidavam

em seu dia a dia de trabalho. Outra percepção inicial foi a de que os próprios gestores tinham

peculiaridades em relação ao seu vínculo de trabalho, à estrutura da equipe com a qual

trabalhavam e ao grau de virtualidade.

Surgiu então a necessidade de se conhecer melhor a realidade desses gestores virtuais

na sua origem, ou seja, indagando-os sobre suas ações e tentando identificar os eventos

percebidos por essa nova categoria funcional, com suas características e especificidades. Para

isto, seria inviável a utilização de questionários e perguntas predefinidas em entrevistas

estruturadas.

Esse motivo levou à opção em dar prosseguimento ao campo, por meio de uma

pesquisa qualitativa a fim de descobrir os eventos pelos quais os gestores virtuais precisam

lidar em seu cotidiano de trabalho e a forma como esses são reconhecidos por eles.

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3.1 Método de Pesquisa

Para alcançar os objetivos desse estudo, portanto, optou-se pelo uso da Pesquisa

Qualitativa. Este método se mostrou o mais adequado por diversos fatores, dentre os quais os

apontados por Deslauriers e Kérisit (2008), para quem a Pesquisa Qualitativa possui como

principais objetivos: aprofundar processos ou fenômenos complexos, comportando variáveis

ainda não delimitadas; além de referenciar a sociedades desconhecidas ou estruturas

inovadoras, dentro de processos organizacionais, com suas relações informais e não-

estruturadas, entre outros. Nesse sentido, a presente pesquisa, ao tratar sobre os eventos que

os gestores virtuais lidam em seu cotidiano, para os quais ainda não há uma delimitação sobre

quais são, se mostra adequada ao método escolhido.

Apesar dos estudos anteriores sobre os eventos que os gestores lidam em seu cotidiano

profissional serem todos de caráter quantitativo (PETERSON et al, 1990; SMITH,

PETERSON, 1994; PETERSON et al, 1996; SMITH; PETERSON; WANG, 1996;

PETERSON, 1998; MUNENE; SCHWARTZ; SMITH, 2000; PETERSON; RUIZ-

QUINTANILLA, 2003; SMITH; PETERSON, 2005; PENG; PETERSON, 2008; SMITH;

PETERSON; THOMASON, 2010), este método não se mostrou o mais adequado para esta

pesquisa por várias razões. Em primeiro lugar, pelos indicativos de campo prévio de que os

eventos apresentados nos estudos anteriores não representavam a realidade dos gestores

virtuais. Nesse sentido, apesar da proposição de que os oito eventos das pesquisas de Smith e

Peterson são situações pelas quais todos os gestores de todas as nações passam, não há uma

explicação sobre a forma como estes eventos foram definidos.

Em segundo lugar, da mesma forma, como não havia o trabalho virtual no momento

em que esses autores iniciaram suas pesquisas, o caráter temporal, da distância de 25 anos

entre as primeiras pesquisas e o momento atual também influíram na decisão por não aceitar

os eventos iniciais.

O terceiro fator que influiu na decisão por realizar uma pesquisa de caráter qualitativo

foi a falta de estudos mais amplos e profundos sobre os gestores virtuais, que se mostrou

como uma lacuna importante a ser investigada. Não havia como ignorar o fato de que pouco

se sabe sobre este profissional e seu modelo de trabalho. Assim, optou-se por realizar uma

pesquisa que permitisse entender o cotidiano dos gestores virtuais e os eventos com os quais

precisam lidar, além de incluir as seis categorias (frequência, importância, incerteza,

complexidade, urgência e pessoas envolvidas).

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O objetivo de uma pesquisa qualitativa, para Deslauriers e Kérisit (2008, p. 130)

“pode ser o de dar conta das preocupações dos atores sociais, tais quais elas são vividas no

cotidiano.” Para que desta forma apresentem-se as formas pelas quais as pessoas entendem,

explicam, agem e gerenciam as situações cotidianas (MILES; HUBERMAN, 1994).

A pesquisa qualitativa se baseia, essencialmente, em dados escritos. Para Miles e

Huberman (1994) os dados qualitativos são fonte de descrições e explicações de processos

bem embasadas e densas, em contextos identificáveis. Para os autores, com dados qualitativos

é possível preservar o fluxo cronológico, ver precisamente que eventos levaram a quais

consequências e derivar explicações frutíferas.

Diante do exposto, a metodologia qualitativa foi a escolhida, por demostrar condições

de tratar do objeto de pesquisa em conformidade com o modelo teórico para a análise dos

eventos de trabalho que os gestores virtuais precisam lidar em seu cotidiano.

3.2 A escolha dos sujeitos da pesquisa

O interesse da pesquisa está nos gestores virtuais de equipe, como apresentados no

referencial teórico, ou seja, profissionais que atuam remotamente ao escritório, ao menos em

parte do tempo, sendo responsáveis por pessoas (equipes) e/ou projetos.

O critério utilizado para selecionar entrevistados com o perfil desejado foi definido a

partir do modelo em cascata, corrente ou bola de neve, em que depois de localizar alguns

participantes-chave que facilmente atendem aos critérios estabelecidos, eles indicam outros e

assim a amostra cresce até o tamanho desejado. Para Fragoso, Recuero e Amaral (2011, p.80)

em seu livro “Métodos de pesquisa para Internet”, a “ partir de um primeiro caso ou elemento

de interesse, identifica-se outro(s), a partir desse(s), ainda outro(s), e assim por diante.” As

autoras apresentam este modelo, como sendo válido também para se chegar aos respondentes

também por meios eletrônicos. Como está sendo investigada uma categoria profissional que

tem como ambiente preferencial de trabalho o meio virtual, esta orientação foi importante

para encontrar os respondentes, independente de suas localizações físicas e do tempo

determinado para entrevistá-los. Todos se encontravam no mesmo ambiente, a internet.

Assim, os primeiros entrevistados indicaram outras pessoas para serem entrevistadas com o

mesmo perfil. Normalmente eles mesmos já indicavam quais as experiências que a pessoa

indicada teria a acrescentar ao estudo. Outras pessoas que trabalhavam em áreas de interesse,

mas não em home-office, foram contatadas e indicaram novas pessoas para entrevistar. Nesse

sentido, muitas vezes um entrevistado, ao final, já indicava alguém com experiência

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diferenciada, como por exemplo, o fato de ter muitas viagens durante a semana, a gestão de

equipes diferentes por projeto, pessoas que trocaram de emprego mas permaneceram no

modelo de home office, ou que foram pioneiras, dentro da percepção do entrevistado.

Para Miles e Huberman (1994) as amostras precisam de limites para o que serve ou

não e da construção de uma moldura que auxilia a descobrir, confirmar, ou qualificar os

processos ou construtos do estudo. Nesse sentido somente foram aproveitadas as entrevistas

de pessoas que efetivamente eram gestores de equipe e que trabalhavam, ao menos parte do

tempo, virtualmente, desde suas casas.

A quantidade de pessoas entrevistadas foi selecionada por meio do critério de

saturação teórica em que o número de entrevistados é ampliado até o ponto em que novos

entrevistados não agregam novas descobertas ao estudo. Merriam (2009) recomenda aumentar

a amostra até o ponto de saturação ou redundância, não sendo possível, assim, determinar esse

número a priori. Dessa forma, a partir do momento em que novos entrevistados não

contribuíram com informações diferentes e relevantes para a pesquisa, o processo de coleta de

dados foi suspenso. Nesse sentido, considerou-se os seguintes critérios de utilidade dos dados

apresentados por Miles e Huberman (1994, p. 31):

a) Identificam novas fontes/caminhos de importância;

b) Reforçam tendências principais;

c) Reforçam outras informações já coletadas.

3.3 Estratégia de coleta de dados

O primeiro movimento para a elaboração do roteiro foi reunião conjunta entre a

pesquisadora, o Prof Mark Peterson, PhD (Florida Atlantic University) e a Profa Dra Darcy

Hanashiro. Neste momento foram identificados os grandes temas fundamentais para a

investigação. Para isso, utilizou-se como base o questionário aplicado de forma exploratória,

na fase inicial da pesquisa. Foram considerados os seguintes temas: perfil dos respondentes;

grau de virtualidade; experiências prévias em trabalho virtual; situações vivenciadas em cada

tipo de evento; particularidades da forma como lidou com cada característica dos eventos. À

medida que as entrevistas foram sendo realizadas, algumas questões foram modificadas, sem

perder a relação com as áreas de interesse para a pesquisa.

3.4 Coleta de dados

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A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas com gestores

virtuais de equipe. O roteiro de entrevista se encontra no Apêndice B. As características das

entrevistas semi-estruturadas, segundo Merriam (2009) e que foram seguidas nessa pesquisa,

compreendem:

-­‐ Guia de entrevistas inclui uma mescla de questões mais e menos estruturadas;

-­‐ Todas as questões são flexíveis;

-­‐ Normalmente são solicitados dados específicos de cada respondente;

-­‐ Maior parte da entrevista é guiada por uma lista de questões ou assuntos a serem

tratados;

-­‐ A ordem das questões e termos utilizados podem ser alterados para se adequarem a

cada respondente.

As entrevistas foram agendadas por e-mail para os potenciais indicados que

apresentavam perfis pertinentes aos objetivos da pesquisa. Na primeira mensagem era

explicado o objetivo da pesquisa e o perfil desejado do respondente. Algumas vezes, nesse

primeiro contato a pessoa já se posicionava como não possuindo o perfil desejável e, assim,

não era entrevistada. Alguns desses indicaram outras pessoas com perfil mais adequado. A

escolha dessa mídia para o primeiro contato se deu por ser esse um dos principais meios de

contato dos gestores virtuais.

A partir desse contato, a mídia para a entrevista foi escolhida por cada um dos

respondentes, sendo uma entrevista presencial, nove por telefone, em viva-voz, onze por

Skype e uma pela ferramenta desenvolvida pela empresa na qual o respondente trabalha. Para

Merriam (2009), muitas das formas de coleta de dados disponíveis online refletem

características das formas mais familiares, ampliando o escopo dos dados disponíveis aos

pesquisadores.

As entrevistas por telefone, segundo Gil (1999, p. 122) possuem como principais

vantagens os custos muito mais baixos, rapidez e a possibilidade de agendar o momento mais

apropriado para a entrevista. Como limites, a falta de contato face-a-face torna impossível que

se percebam os gestos, movimentos da face e dos olhos, importantes quando se pretende

entender o que está além das palavras ditas pelo entrevistado.

As entrevistas por Skype, além de agregar todas as vantagens da comunicação via

telefone, para Deakin e Wakefield (2013) facilitam a comunicação face-a-face com pessoas

dispersas geograficamente, o que diminui parte das limitações encontradas na entrevista por

telefone. Mesmo assim, o Skype possui limitações, especialmente de ordem tecnológicas, pois

existe a necessidade das duas pessoas possuírem uma internet rápida e constante. Este modelo

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também exige que ambos tenham kit multimídia, com câmera de vídeo, microfone e caixas de

som, ou fones de ouvido.

Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas literalmente, para que

pudessem ser analisadas de forma textual. A gravação das entrevistas garante que tudo o que

for falado, será preservado para análise (MERRIAM, 2009). Para Flick (2004, p. 45), os

textos “representam não somente os dados essenciais nos quais as descobertas se baseiam,

mas também a base das interpretações e o meio central para a apresentação e a comunicação

das descobertas”.

Para cada entrevistado, também foi considerado o seu contexto pessoal de trabalho.

Sendo o ambiente da casa o espaço de onde ele atua profissionalmente, foram também

considerados na análise, de acordo com a ênfase dada pelos depoentes aos obstáculos, como

os ruídos, interrupções e outros problemas encontrados antes e durante as entrevistas e que

não são diferentes dos que habitualmente enfrentam em suas atividades cotidianas de trabalho

remoto.

As entrevistas foram feitas em dois momentos: o primeiro, quando foram realizadas as

entrevistas 1 a 13, foi entre janeiro e fevereiro 2015. As demais realizadas entre junho e

primeira quinzena de julho 2015. Entre os dois momentos, foi feita a primeira análise dos

conteúdos das entrevistas, quando foi percebida a necessidade de retornar ao campo, não só

para ampliar o número de profissionais entrevistados, mas principalmente para checar e

validar os aspectos percebidos durante a primeira análise.

3.5 Análise dos dados

Para a análise dos dados foram adotados os procedimentos de redução e organização

dos dados, apresentados por Miles e Huberman (1994) e que serão descritos a seguir.

A análise de dados foi feita em dois momentos: o primeiro, com os dados obtidos nas

13 entrevistas iniciais. E o segundo considerando os depoimentos de todos os 22

entrevistados. Como foi apresentado anteriormente, esta divisão ocorreu pela necessidade

verificada após as entrevistas iniciais, de se obter maior quantidade de dados que pudessem

ampliar a compreensão de alguns aspectos da análise inicial.

A primeira fase da análise consistiu em depreender os eventos de cada entrevista. Eles

foram identificados nos depoimentos obtidos, considerando cada um dos quatro tipos de

eventos: de comunicação, de tarefa, relacionados à entrada de novos membros, e de controle e

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avaliação. Essa identificação teve como base o referencial teórico já apresentado nesta

pesquisa.

Após a identificação dos tipos de eventos, foi dado um rótulo, ou código, para cada

evento apresentado em cada entrevista, com um nome para a situação. Códigos são rótulos

para designar unidades de significado para a informação descritiva ou inferida compilada no

estudo, estando relacionada a pedaços de dados (textuais), que dessa forma podem ser

rapidamente encontrados, destacados e organizados. (MILES; HUBERMAN, 1994).

Segundo recomendação de Miles e Huberman (1994), o pesquisador pode isolar temas

e expressões, mas estes devem se manter na forma original. O processo de codificação, para

os autores, envolve a forma pela qual se diferenciam e combinam-se os dados coletados e as

reflexões sobre eles (MILES; HUBERMAN, 1994).

A partir dos códigos, eles foram organizados em termos de grupos e sub-grupos, de

forma a fazer sentido nas suas relações. “O objetivo dessa etapa é elaborar a categoria

essencial em torno da qual as outras categorias desenvolvidas possam ser agrupadas e pelas

quais elas são integradas.” (FLICK, 2004, p. 194). Foram feitas muitas tentativas de

agrupamento até o momento em que alguma pudesse apresentar todas as situações em uma

organização que fizesse sentido. Muitas vezes o agrupamento teve de ser reorganizado com a

entrada de novas situações, trazidas pela análise de novas entrevistas.

Figura 1: Componentes da analise de dados: modelo interativo.

Fonte: adaptado de Huberman e Miles (1998, p. 181)

Conforme o modelo de Huberman e Miles (1998), a análise de dados ocorre em três

momentos distintos, antes, durante e depois da coleta de dados. Segundo Huberman e Miles

(1998), em todos os momentos da análise é possível retornar à coleta de dados para

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complementar com novas informações, de acordo com os objetivos da pesquisa. Os

momentos da análise são os seguintes:

• Redução de dados: a partir do momento em que os dados estejam disponíveis, eles

são codificados, organizados por temas, agrupados e descritos.

• Apresentação de dados: as informações são estruturadas e organizadas, para que

seja possível desenhar as conclusões ou tomar novas ações.

• Desenho e verificação de conclusões: envolve a interpretação por parte do

pesquisador, com o uso de diferentes táticas, para que se possa chegar a diferentes

resultados.

Com base no modelo de Huberman e Miles (1998), a partir do momento em que as

primeiras entrevistas foram transcritas, começou o trabalho de análise, primeiramente

destacando as passagens das falas de cada um dos entrevistados. Para cada trecho, foi

indicado o tipo de evento: novos membros; tarefa; controle e avaliação, e; comunicação.

Após isso, cada trecho foi rotulado com um nome de evento correspondente. A lista

final com todos os eventos de cada um dos quatro tipos encontra-se no Apêndice C. Esse

processo foi repetido para todas as 13 entrevistas iniciais.

Esses eventos foram então numerados, impressos em papel e recortados. Foram várias

as tentativas de organização dos eventos de cada tipo em grupos, até se chegar a uma estrutura

que fizesse sentido e, ao mesmo tempo, contemplasse todos os eventos. Nesse momento

foram utilizados post-its coloridos de diferentes tamanhos para organizar a árvore de análise

dos eventos, desde o primeiro nível de análise dos quatro tipos de eventos, até cada evento

separadamente.

A partir do momento em que a estrutura se mostrou completa, foram analisadas as

lacunas de informações que faltavam; precisavam ser esclarecidas; ou mesmo necessitavam

de mais exemplos práticos. Foi nesse momento em que alguns pontos foram alterados no

roteiro de entrevista e se voltou ao campo, para mais 9 entrevistas.

Essas novas entrevistas também foram trabalhadas da mesma forma que as anteriores,

com as passagens sendo destacadas, rotuladas e, então, voltava-se a estrutura para verificar se

o evento já existia, ou não. Caso fosse um novo evento, tentava-se categorizá-lo na estrutura

já da forma como estava. Em alguns casos a organização teve que ser repensada para que o

novo evento fosse agregado ao conjunto. Somente a partir do momento em que as novas

entrevistas não trouxeram eventos não previstos e a estrutura conseguiu manter-se estável é

que foram suspensas as entrevistas.

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A partir desse momento a análise foi feita de maneira ‘tridimensional’, como mostra a

Figura 2. De um lado foi considerado o perfil dos respondentes; do outro o tipo de evento e, o

terceiro ponto focal partiu das características do eventos.

Para a análise das características dos eventos, se retornou às transcrições das

entrevistas e mesmo às gravações originais e cada um dos trechos identificados como evento

foi analisado em seu contexto original a fim de identificar a frequência, importância,

incerteza, complexidade, urgência e pessoas envolvidas. Muitas vezes foi necessário ouvir

diversas vezes a passagem até ter clara qual a percepção do entrevistado para a característica.

Ao final, essas características identificadas para cada trecho de entrevista foram

inseridas em uma planilha separada, para que pudessem ser agrupadas e relacionadas à análise

dos tipos de eventos. Apesar de os resultados serem apresentados de forma agrupada, toda a

análise foi qualitativa, considerando não só o que estava expresso na fala dos entrevistados,

mas também a inflexão de voz, pausas, repetições, gaguejar, ênfases e outros aspectos sutis da

fala dos entrevistados.

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Figura 2 – Estrutura de análise dos eventos.

Fonte: Elaborado pela autora.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão analisados os eventos, que foram depreendidos da análise

das entrevistas com Gestores Virtuais. A análise se inicia com a apresentação do perfil dos

sujeitos da pesquisa, seguida da análise dos eventos relacionados à entrada de novos

membros, os eventos de tarefa; de controle e avaliação e de comunicação. Na última parte da

análise, são apresentados os eventos de acordo com a quantidade e perfil dos respondentes.

De acordo com a teoria de eventos apresentada na quarta parte do referencial teórico,

foram considerados como eventos todas as situações sociais de trabalho, que exigem uma

ação posterior, por mais que esta nem sempre esteja evidente, como afirmam Smith e Peterson

(1994).

4.1 Perfil dos sujeitos da pesquisa

Os 22 gestores virtuais entrevistados possuem diferentes perfis, que serão

apresentados brevemente a seguir. Como forma de garantir o anonimato de cada um, os dados

pessoais, dados sobre a empresa e cargo foram tratados de forma geral.

Verificou-se que os entrevistados possuem diferentes tipos de vínculo com a empresa,

composição da equipe e grau de virtualidade.

Com relação ao vínculo, eles poderiam ser contratados pelo modelo tradicional com

‘carteira assinada’, sendo funcionários exclusivos da empresa; ou possuírem um vínculo não

tão formal, com contrato por tempo determinado ou não, para prestação de determinado

serviço, ou seja, semi-vínculo. Nesse caso, embora os entrevistados dedicassem boa parte de

seu tempo para um empregador, não eram exclusivos. Isso é apresentado como uma das

vantagens das equipes virtuais para Cascio (2000), Mazo e Notario (2004) e Orengo, Zornoza

e Peiró (2011). O terceiro tipo são os que não possuem vínculo formal. Nesse terceiro grupo

se encontram tanto os que são gestores (sócios) de suas próprias empresas, ou prestadores de

serviço freelancer.

Com relação à composição da equipe foram percebidos três grupos distintos: com

equipes fixas, que sempre se mantém com o mesmo gestor; equipes transitórias, que se

alteram por projeto; e sem equipes no momento, apesar de terem auxiliares. Todos os

entrevistados possuíam subordinados no momento das entrevistas, porém, nos dois primeiros

casos, foram considerados como equipe, segundo Millward e Kyriakidou (2004) e Orengo,

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Zornoza e Peiró (2011), um grupo com conexão entre seus membros que os faça trabalhar em

unidade, com foco no mesmo objetivo.

Em relação à virtualidade, foram consideradas: total, quando o gestor passa todo o

tempo de trabalho fora do escritório, em geral em sua residência, somente se deslocando até a

empresa em situações específicas; ou parcial, quando o gestor trabalha parte do tempo no

escritório da empresa e parte remotamente.

No Gráfico 1, apresentado a seguir, está representada a distribuição dos entrevistados

em relação ao vínculo com a empresa. Dos 22 entrevistados, 12 possuem vínculo formal com

a empresa onde trabalham. Apenas 6 possuem semi-vínculo e 4 não possuem vínculo formal.

Gráfico 1 - Perfis dos respondentes em relação ao vínculo.

Fonte - Elaborado pela autora.

O Gráfico 2 apresenta a distribuição dos entrevistados em relação à composição da

equipe. Neste caso, dos 22 entrevistados, 12 possuem equipes transitórias por projeto. Outros

7 entrevistados trabalham com equipes fixas e apenas 3 não possuem equipe formal e sim

auxiliares.

0  

5  

10  

15  

Com   Semi-­‐vínculo   Sem  

Distribuição  dos  entrevistados  em  relação  ao  vínculo  com  a  empresa  

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Gráfico 2 - Distribuição dos entrevistados em relação à composição da equipe.

Fonte - Elaborado pela autora.

O Gráfico 3 apresenta a distribuição dos entrevistados em relação à virtualidade. Entre

os entrevistados, 14 trabalham todo o tempo remotamente (virtualidade total). Os demais (8

entrevistados) trabalham parte do tempo no escritório.

Gráfico 3 - Distribuição dos entrevistados em relação à virtualidade.

Fonte - Elaborado pela autora.

Cada gestor entrevistado foi identificado com uma sigla, da seguinte forma:

• G para gestor, (ordem em que foi entrevistado)

• Tipo de vínculo com a empresa: V, para os que possuem vínculo formal com a

empresa onde trabalham (registro em carteira); SV, semi-vínculo, para os que

trabalham a maior parte do tempo para uma só empresa e atuam também como

autônomos, recebendo por projeto; e N para os que não possuem nenhum

0  

5  

10  

15  

Fixa   Transitória   Sem    

Distribuição  dos  entrevistados  em  relação  à  composição  da  equipe  

0  

5  

10  

15  

Total   Parcial  

Distribuição  dos  entrevistados  em  relação  à  virtualidade  

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vínculo com empresa, sendo prestadores de serviços autônomos para diferentes

empresas.

• Tipo de equipe: F, para equipe fixa; R para equipe provisória, que se

reorganiza por projeto; S para os que possuem subordinados de apoio, mas que

não estão organizados em equipe, como secretária, estagiários, etc.

• Virtualidade: T para total, quando o gestor trabalha todo o tempo de casa; ou P,

para parcial, quando ele trabalha parte do tempo de casa e parte do tempo do

escritório da empresa.

A seguir, cada um dos gestores entrevistados será brevemente apresentado:

G1-SV-R-T

Gestora de projetos de pesquisa de mercado. Depois de muitos anos

trabalhando em uma empresa de pesquisa de mercado, ela saiu e montou uma

pequena empresa, que presta serviços para seu antigo empregador, recebendo

por projeto. Ela mesma escolhe as equipes para seus projetos, tanto com

pessoas de dentro da empresa, como autônomos. Mora sozinha, na cidade de

São Paulo.

G2-V-F-P

Trabalha há sete anos na área de relações com o mercado em uma

multinacional de tecnologia. É argentina e veio morar no Brasil quando foi

transferida pela empresa. Possui equipe fixa, mas também auxilia outras

equipes de projeto. Mora sozinha na Grande São Paulo.

G3-N-R-T

Trabalha há mais de dez anos em projetos de tecnologias, especialmente na

venda e implantação de novas tecnologias em empresas. Por muitos anos foi

funcionário de uma só empresa, mas tinha relação com outras empresas

parceiras na implantação dos projetos, fato que fez com que ele saísse para

abrir sua própria empresa há três anos e assim poder representar não só o seu

antigo empregador, como também, os demais parceiros. Vive com uma

companheira na cidade do Rio de Janeiro.

G4-N-R-T

Há quatro anos ela criou um blog em paralelo com o seu emprego como

jornalista. Em pouco tempo o blog cresceu e deu muitos frutos, inclusive com

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a criação de projetos sociais e uma empresa. Ela realiza todo o trabalho de casa

e conta com pessoas que ela contrata por projeto. Vive com o marido e animais

de estimação.

G5-SV-R-T

Largou o emprego há cerca de três anos quando sua esposa passou no

doutorado em uma universidade no nordeste. Passou a prestar serviços para o

antigo empregador, além de ser contratado meio período para um projeto de

longa duração com o Banco Mundial. Atua como designer de jogos e

infográficos. Trabalha todo o tempo de casa e possui equipes que forma para

cada projeto.

G6-V-F-P

Trabalha como diretor em uma editora de pequeno porte. Mora sozinho e perto

do escritório, na cidade de São Paulo. Alterna a permanência entre a casa e o

escritório, dependendo da atividade que precisa realizar. Um dos motivos por

ter deixado o emprego anterior era a falta de mobilidade.

G7-V-R-T

Trabalha em uma multinacional americana da área de tecnologia. Mora com a

esposa e uma filha pequena na cidade do Rio de Janeiro. Está envolvido em

projetos relacionados à infraestrutura tecnológica para a Olimpíada, tendo

equipes móveis, todas com funcionários da organização. Trabalha todo o

tempo em casa, na cidade do Rio de Janeiro.

G8-V-R-T

Trabalha na mesma multinacional do G7-V-R-T, também em projetos

relacionados ao legado olímpico. Vive na cidade do Rio de Janeiro, com sua

cadelinha (que tem guarda compartilhada com a ex-mulher).

G9-V-S-P

Vive no interior de São Paulo e trabalha na capital, em uma multinacional da

área de tecnologia. Trabalha um a dois dias por semana no escritório e os

demais de casa. Seu superior hierárquico e demais membros da equipe não se

encontram no Brasil. Vive com a esposa e uma cadelinha.

G10-N-R-T

Criou uma empresa de consultoria junto com uma amiga, quando a empresa

em que estavam saiu da cidade do Rio de Janeiro. Ainda presta serviços de

tecnologia para o antigo empregador e outras empresas. As equipes são

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organizadas por projeto, na maior parte das vezes com outras pessoas com as

quais já trabalhou. Vive com os pais e dois cachorros.

G11-SV-S-T

Vive na Grande São Paulo, porém se desloca bastante pois seu empregador

principal situa-se no centro da cidade de São Paulo. Presta serviços de

jornalismo relacionado à tecnologias para uma grande editora, mas também

aceita serviços de outras empresas, desde que não tenham encontros

presenciais. Viaja bastante, tanto pelo trabalho como por lazer. Vive com os

pais.

G12-N-R-T

Sócia da G10-N-R-T na empresa de consultoria. Vive na cidade do Rio de

Janeiro com o marido, dois filhos pequenos e um cachorro.

G13-V-S-T

Contratada de uma empresa que auxilia estudantes a irem para universidades

americanas em diferentes níveis. Responsável por coordenar o processo de

preparação dos estudantes para as provas e entrevistas. Vive na Grande São

Paulo com o marido (que é americano e está há pouco tempo no Brasil) e um

cachorro. A empresa se situa na Cidade de São Paulo.

G14-V-R-P

Trabalha em uma empresa de tecnologia do Rio Grande do Sul, tendo

escritório de apoio na cidade de São Paulo, onde mora. Prefere ir ao escritório

quando precisa se concentrar, pois vive com dois cachorros, que fazem

bastante barulho.

G15-V-F-P

Trabalha em uma empresa de consultoria em RH e cuida de grandes projetos

de demissão em massa, ou quando há alterações que envolvem muitas pessoas.

Vive com o marido e uma filha pequena na cidade de São Paulo. Passou a

trabalhar de casa quando estava planejando a gravidez.

G16-V-F-P

Trabalha em uma empresa multinacional de telefonia, na área operacional. Está

parte do tempo em casa, especialmente quando precisa se concentrar, ou está

de sobreaviso para ocorrências emergenciais. Coordena duas equipes fixas, em

pontos diferentes da cidade de São Paulo. Vive com a esposa.

G17-V-F-P

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Trabalha em uma empresa de tecnologia de médio porte, da qual é sócio.

Passou a trabalhar de casa quando fez cirurgia no joelho e não podia se

locomover. Vive com a esposa e dois filhos na cidade de São Paulo.

G18-SV-R-T

Decidiu trabalhar em casa depois que sua filha nasceu, quando ela passou a ter

dificuldade em conciliar o longo período de trabalho com a vida familiar.

Atualmente é contratada meio período em uma instituição de ensino,

coordenando equipes de tutores que também trabalham remotamente. No resto

do tempo se prepara para prestar doutorado e, eventualmente, realiza trabalhos

para outras empresas. Vive com o marido e a filha de um ano na cidade do Rio

de Janeiro.

G19-V-F-P

Trabalha em uma multinacional de equipamentos agrícolas e foi transferida

para os Estados Unidos há mais de um ano. Atualmente vive no interior dos

Estados Unidos com o marido e dois filhos pré-adolescentes. Possui equipe

fixa em mais de um país. Passou a trabalhar parte do tempo em casa após ir

para os Estados Unidos, para poder conciliar os horários e atividades com os

filhos.

G20-SV-R-T

Desligou-se do emprego na área de eventos há sete anos, quando nasceu seu

filho. Há alguns anos voltou a trabalhar por projetos para a mesma empresa

anterior, além de prestar serviços de eventos também para outras empresas.

Mora com o marido, o filho, um cachorro e um gato na cidade de São Paulo.

G21-V-F-T

Trabalha em uma empresa de tecnologia de médio porte da qual é sócio.

Passou a trabalhar em casa há um ano e meio, quando sua esposa faleceu. Hoje

vive com dois filhos pequenos (de 3 e 4 anos) e dois gatos.

G22-SV-R-T

Trabalha na área de publicidade e presta serviço para duas indústrias, além de

outros projetos eventuais. Por ter muitas viagens, deixa a equipe no contato

direto com os clientes. Vive com os pais e um cachorro na cidade de São

Paulo.

Os respondentes, em sua maioria são casados ou vivem com um companheiro/a (14

respondentes); 9 respondentes possuem filhos , sendo só um com filhos adolescentes e dez

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dos respondentes possuem algum animal de estimação, sendo gato ou cachorro (um possui

gato e cachorro). Essas características se mostraram relevantes em diferentes momentos das

entrevistas, como por exemplo, para as depoentes do sexo feminino, os filhos influenciaram

na decisão por trabalhar em casa. No caso dos depoentes que têm animais de estimação, estes

são vistos como companheiros que ajudam quando os gestores virtuais permanecem

trabalhando sozinhos em casa por um longo período de tempo.

4.2 Contexto das entrevistas

Como apresentado na metodologia, as entrevistas foram agendadas por email. O

entrevistado escolheu a melhor forma de comunicação – desde presencial até telefone e Skype

– e o melhor horário para ser contatado. Desta forma, as entrevistas aconteceram todos os dias

da semana, inclusive sábado e domingo, e em diferentes horários.

Alguns dos problemas mais comuns durante as entrevistas foram ruídos externos -

como barulho de cachorros latindo, caminhão de gás e lixo, etc - além de problemas com as

tecnologias, especialmente quedas na conexão do telefone ou da internet.

O dia e horário marcados também foram significativos na compreensão dos perfis dos

entrevistados, com alguns marcando a entrevista para ‘depois que os filhos já estavam na

cama’ ou ‘já tinham ido para a escola’. Para outros, que atuam com clientes e fornecedores, o

horário da entrevista era escolhido pelo ‘horário de almoço dos clientes’. Isso se mostra

consonante com a recomendação de Miles e Huberman (1994), que afirmam que os dados são

coletados em proximidade com a situação específica e que a influência do contexto precisa ser

considerada, pois possibilita a compreensão de questões latentes, subliminares e não óbvias.

4.3 Análise dos eventos relacionados à entrada de novos membros na equipe

A entrada de novos membros na equipe é um momento único, em que a pessoa precisa

se familiarizar com práticas, ritmo e esquemas de trabalho. Desta forma, como afirmam Bell e

Kozlowski (2002), esse momento deve ser acompanhado diretamente pelo gestor. Para as

equipes virtuais, isso ainda agrega mais desafios trazidos, não só pela distância do ambiente

presencial de trabalho e do restante da equipe, mas por um novo modelo de trabalho.

Nem todos os gestores virtuais entrevistados lidam com a entrada de novos membros

na equipe, ou na empresa. Os que podem escolher suas equipes - tanto de empresas grandes

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quanto das pequenas, ou que possuem equipes que são organizadas por projetos - preferem

selecionar pessoas já conhecidas para compor seu grupo. Nas grandes empresas e

multinacionais muitas vezes há outra área que se responsabiliza pela contratação e integração

e, só depois que a pessoa se familiariza com a organização e seus processos, é que começa a

atuar na equipe. Desta forma, as pessoas somente entram para a equipe depois que já

conhecem seus membros, entendem os processos e estão suficientemente integradas aos

demais participantes, para poder acompanhar o andamento do trabalho.

São sete os eventos depreendidos e que são relacionados à entrada de novos membros

nas equipes virtuais. Para facilitar a apresentação e agrupamento desses eventos, preferiu-se

dar um caráter temporal – como em processo – iniciando pela necessidade de aumentar a

equipe, até quando o profissional deixa de ser um ‘novo’ membro da equipe.

4.3.1 Evento 1: Necessidade de aumentar a equipe

Estou colocando uma outra pessoa para me ajudar a fazer umas entrevistas, porque está coincidindo horário e tal. (G1-SV-R-T)

Quando eu lanço algum projeto e ai, de um dia para o outro eu recebo 30 e-mails de pessoas querendo ser voluntárias, pô, que legal, sabe?! (G4-N-R-T)

Este é o primeiro evento vivenciado pelo gestor virtual, antes da entrada do novo

membro na equipe, quando ele percebe que há a necessidade de agregar mais um membro. A

análise dos depoimentos mostra que, para eles, são muitos os motivos para se perceber a

necessidade de agregar um novo membro na equipe, como a sobrecarga de trabalho, os

conflitos de horário e falta de mobilidade para ir à clientes. A definição de aumentar a equipe

cabe ao gestor virtual, mas nem sempre é ele quem viabiliza o ingresso deste novo

profissional. A partir da tomada de consciência pelo gestor para a necessidade de aumentar a

equipe é preciso que ele defina o perfil e o prazo para que este membro passe a integrar a

equipe.

Neste sentido, segundo os depoentes, é muito comum o ingresso de um novo

profissional para realizar apenas um trabalho mais exclusivo. Esta situação mais extrema - e,

muito comum - diz respeito às contratações de profissionais com perfis bem específicos,

como especialistas, para atuações pontuais nos projetos. Para Gibson e Gibbs (2002), uma

das vantagens do trabalho virtual é ter acesso a profissionais com diferentes qualificações, por

mais que eles não estejam disponíveis nas proximidades da empresa.

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Novos projetos, por exemplo, que tomem rumos inesperados, fazem com que se

necessite de pessoas com especialidades distintas, como colocado pela G12-N-R-T: “a gente

monta as equipes por projeto. Então, por exemplo, às vezes eu preciso só de um consultor, às

vezes eu preciso só de um designer, às vezes eu preciso de um programador, de um designer

instrucional...”

4.3.2 Evento 2: Decisão sobre forma de composição da equipe

Todos trabalham à distância. E a gente tem uma equipe para aquele projeto. A [empresa] não tem nenhum funcionário, vamos dizer assim, com contrato longo ou CLT. A gente sempre faz contrato por projeto. (G10-N-R-T).

As contratações de novos membros para a equipe, podem ser feitas de diferentes

formas, de acordo com a necessidade e o perfil desejado. Para alguns projetos, o recrutamento

e seleção são feitos de forma ágil, a distância, como apresentado pela G4-N-R-T, que precisou

com urgência de voluntárias para auxiliar em um projeto para uma ONG. “Eu acabo usando

muitas voluntárias que são recrutadas pela internet. As vezes, muitas delas eu não vi nem a

cara. Não vi nem o rosto.” Nesse caso, todo o processo foi feito pela internet, sem um

encontro presencial.

Quando se trata de organizar o processo de ingresso de novos membros à equipe

virtual, há variedade de formatos. Os mais tradicionais são os definidos pelo processo seletivo

das empresas – sobretudo as grandes empresas – e que envolvem, , a integração dos novos

profissionais, antes de incorporá-los à equipe virtual.

Em empresas com maior número de empregados, existe a possibilidade que o gerente

virtual escolha, preferencialmente, dentre os perfis dos profissionais disponíveis na

organização, aqueles com os quais deseja trabalhar.

A variedade de formatos de contratação de profissionais para as equipes virtuais afeta

a definição do espaço, tempo e período que ele irá dedicar ao trabalho. Dependendo do perfil

e do tempo e espaço que este profissional irá atuar, ele pode morar em outra cidade – ou

mesmo país – e ligar-se apenas remotamente à equipe e à empresa que o contratou. Segundo a

G10-N-R-T, alguns profissionais, como os gerentes de projeto, são mais difíceis de conseguir

por um período específico ou que tenham dedicação exclusiva à empresa. Dessa forma, é

possível contratar o melhor especialista ou a pessoa mais adequada para a função,

independente da sua localização, porque ele pode atuar de forma totalmente remota, em home

office.

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70  

Foram apresentadas pelos depoentes G19-V-F-P, G9-V-S-P e G7-V-R-T situações em

que o novo contratado para ingresso em uma equipe virtual seja alocado na empresa de algum

cliente que pode ser próxima de onde ele vive e distante da sede da empresa. Outros

profissionais são contratados para trabalhar em tempo parcial na empresa e, outra parte do seu

tempo, realizar o serviço virtualmente, em sua residência. Para alguns perfis, especialmente os

próprios gestores, é preciso ter uma maior vivência presencial para conhecer a forma de

trabalho da empresa.

A decisão sobre o formato de contratação, é influenciada, portanto, pelo trabalho, pelo

projeto, ou mesmo pelo perfil requerido do profissional.

4.3.3 Evento 3: Quando há problemas com a contratação de pessoas inadequadas ao

modelo de trabalho

Ano passado eu tive que pegar [pessoas sem experiência de trabalho remoto], e aí foi horrível, porque, assim, eu peguei umas pessoas que também não tinham experiência nenhuma em pesquisa. (G1-SV-R-T)

Outro evento relacionado à entrada de novos membros diz respeito aos problemas com

a contratação de pessoas inadequadas ao modelo de trabalho. Segundo alguns entrevistados,

como a G1-SV-R-T e a G4-N-R-T, é comum que pessoas queiram iniciar no formato de

trabalho remoto e oferecer seus serviços por projetos, mas que não possuem o perfil para isso.

Muitos dos entrevistados já tiveram problemas com profissionais que não cumpriram prazos

ou mesmo que não sabiam fazer as atividades para as quais foram contratados, como contou a

G4-N-R-T:

E poxa, tem uma programadora que também a gente conversa a distância e ela também trabalha de casa, ela também começou a fazer home office, né?! Tentando abrir o próprio negócio e foi o ano inteiro de atraso, de erro, de comunicação travadíssima, sabe?! Isso foi muito complicado, foi muito cansativo, não conseguia conversar com ela, sabe?! A gente não conseguia se entender; ela me deu vários perdidos.

Orengo, Zornoza e Peiró (2011) afirmam que a distância torna mais difícil o

acompanhamento direto dos membros da equipe e a troca de informações. Nesse sentido, uma

pessoa que pretende trabalhar remotamente precisa saber controlar o seu fluxo de trabalho

independente da vigilância ou imposição de uma chefia e das regras da estrutura

organizacional.

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Muitas vezes as equipes remotas possuem diferentes formas de contratação para cada

membro da equipe. A preferência de mais de 50% dos entrevistados é a de trabalhar com

pessoas conhecidas, pois sabem que já estão acostumadas a trabalhar – e fazer parte de uma

equipe - remotamente. As parcerias entre gestores virtuais também são comuns. Assim, o

mesmo profissional que é gestor em um projeto hoje, pode ser só um membro da equipe de

outro gestor no projeto seguinte, tanto para os que possuem vínculo com uma empresa como

os que não possuem.

A G10-N-R-T possui um banco de dados das pessoas com quem já trabalhou ou que

foram recomendadas, com a avaliação de cada uma. Ela diz:

Se a gente já conhece a pessoa, por exemplo, eu vou trabalhar com ela todo dia. Eu vou pegar lá, primeiro quem eu conheço pessoalmente. Porque é claro, se ela te conhece há vinte anos, você chega, faz uma reunião por Skype e explica tudo. Já manda um e-mail lá, adiciona no Dropbox, já compartilha a pasta do projeto. As coisas são tão naturais, que não tem jeito. (G10-N-R-T).

4.3.4 Evento 4: Realização do primeiro contato com o novo membro da equipe

Um possível terceirizado que quer me conhecer, ou que eu quero conhece-lo para um possível trabalho junto, geralmente terceirizado, também não tem escritório, e marcamos um local que seja bom para os dois. (G3-N-R-T)

Este é um momento importante, em que é definido o tipo de integração do novo

membro à equipe. Em um modelo de trabalho virtual, os encontros nem sempre são

frequentes e só acontecem por um motivo específico. Assim, esse primeiro contato precisa ser

algo representativo do trabalho e que ofereça subsídios para que o novo membro da equipe

possa começar a trabalhar, já sem uma supervisão direta frequente, diminuindo a distância

social entre eles (BELL; KOZLOWSKI, 2002).

Normalmente em uma equipe remota, as pessoas interagem pelas TIC e têm poucas

oportunidades de encontros presenciais. Esta situação faz com que para a apresentação e

integração do novo funcionário também se use dessas mídias. Segundo alguns depoentes, é

preciso esclarecer para todos os integrantes o papel da pessoa que está entrando e abrir o seu

caminho de comunicação com os demais membros da equipe para que ela possa passar a

interagir diretamente com colegas, dependendo menos do contato com o superior. Para o G7-

V-R-T, que entrou na empresa há oito meses: “A pessoa se apresenta, uma copiada no e-mail

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para o resto do time e aí começa todo mundo a conhecê-la. Eu já fui apresentado em uma

conferência para 30, 40 pessoas.”

Em alguns casos, como relata a G10-N-R-T, pode acontecer de fazer a apresentação

presencialmente com toda a equipe reunida. Segundo ela, assim aproveita para integrar com o

restante da equipe, que têm poucos encontros presenciais, e também tratar de assuntos do

projeto, que são importantes tanto para o novo membro que não sabe o que está acontecendo,

como para os demais, que muitas vezes não conseguem ter uma compreensão global do

projeto.

Já a G15-V-F-P programa uma reunião presencial quinzenal com sua equipe e

aproveita esse momento para apresentar novos membros e explicar sobre os projetos que

estão sendo desenvolvidos pela equipe. Para a G18-SV-R-T, o melhor é quando o novo

membro já conhece, ao menos, um membro da equipe, pois ele se sente mais seguro e passa a

interagir melhor com os demais desde o princípio.

Esse encontro pode evitar, ou ao menos minimizar, os problemas apresentados na

literatura, que dão origem a erros de iniciante.

4.3.5 Evento 5: Acesso aos recursos tecnológicos do projeto

A percepção de presença do funcionário virtual se dá pela interação com os demais

agentes do ambiente profissional, especialmente o superior. Assim, segundo os depoentes que

possuem vínculo corporativo, a primeira providência do novo funcionário ou novo membro

em uma equipe é que ele possa ter acesso aos meios de comunicação, como email e grupos do

Whatsapp, além de recursos do projeto, como pastas compartilhadas no Dropbox. Este acesso

representa o ingresso do profissional no cenário da equipe em que irá atuar porque a partir

desse momento é que ele consegue acompanhar os acontecimentos e ter condições de se

comunicar com os demais membros da equipe. Para a G18-SV-R-T, o primeiro contato do

novo profissional com a empresa sempre é para receber as senhas de acesso. Enquanto isso

não acontecer, o novo membro não estará integrado à equipe e não conseguirá saber sobre o

andamento do projeto e das atividades.

Segundo o G8-V-R-T, muitas vezes o novo funcionário demora alguns dias para

acessar o e-mail e ligar o comunicador, fato que complica a comunicação inicial, pois

enquanto ele não está conectado, nada acontece. Este fato é corroborado pela literatura, em

que Hinds e Mortensen (2005) afirmam que a falta da comunicação espontânea dos novos

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membros da equipe está associada a um maior compartilhamento de identidade e contexto,

que estes não possuem ainda.

4.3.6 Evento 6: Quando precisa explicar o trabalho ao novo membro

Ainda no processo de entrada do novo membro na equipe, ele também precisa estar

familiarizado com as tarefas e saber o que é esperado dele. Há diferentes formas de tratar

desse assunto, tanto presencialmente como de forma remota. No caso da G18-SV-R-T e a

G19-V-F-P a empresa oferece treinamentos a distância ao novo funcionário, sobre os

procedimentos da empresa, antes que ele comece a trabalhar. Na empresa na qual a G19-V-F-

P trabalha, o novo funcionário tem prazo para cumprir cada treinamento no qual ele é inscrito,

tendo que finalizar todos em, no máximo quatro semanas.

Para Barros e Silva (2010), o gestor é o principal responsável por trabalhar as

dificuldades de adaptação dos novos funcionários ao modelo de trabalho e às tarefas. Esta

afirmação é confirmada pelos entrevistados que assumem ser responsabilidade do gestor

decidir como as informações serão transmitidas ao novo funcionário e como será feito o

acompanhamento. Para a G1-SV-R-T, por exemplo, é importante explicar o trabalho com o

máximo de detalhes possível, pois a pessoa estará trabalhando sozinha e nem sempre irá

perguntar, ou mesmo encontrar o gestor disponível, quando tiver alguma dúvida.

4.3.7 Evento 7: Decisão sobre o momento de iniciar o trabalho em home office

Um evento presente na fala dos depoentes que trabalham virtualmente somente parte

do tempo e o restante do escritório é a escolha do momento para iniciar a trabalhar parte do

tempo em casa. Para estes, o funcionário precisa passar os primeiros dias/semanas

trabalhando presencialmente, como forma de conhecer e ser conhecido pelas demais pessoas

da organização, entender a forma de trabalho, processos e fluxos tanto de sua área como de

outras áreas parceiras e de apoio. Na organização do G16-V-F-P, esse primeiro momento é

chamado de ‘período de adaptação’, que pode ser maior ou menor, dependendo da área e da

decisão do gestor. O G9-V-S-P, mesmo não tendo sido solicitado a cumprir um prazo de

trabalho presencial, preferiu ir até o escritório nos primeiros dias:

Na verdade não teve muita regra, nunca me foi dito nada a respeito. Eu, por conta própria, preferi ficar mais presencial nas primeiras semanas, digamos

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assim. Até para conhecer o pessoal, para ser conhecido, enfim, para entender melhor o trabalho e tal.

Para os depoentes, a responsabilidade de dizer qual é o momento de iniciar o home

office, é do gestor, tanto para si como para a sua equipe. É dele também a responsabilidade

por auxiliar os demais na transição, especialmente para os que nunca trabalharam de forma

remota. Como afirma o G6-V-F-P, “A única coisa que a gente sempre pede é, quando a

pessoa vem de um esquema fixo, se ela tem, sei lá, um dia, três dias na residência, para que

ela não tenha nenhuma reunião marcada aqui.”

No caso de pessoas que ficam em outra cidade longe do escritório, como acontece

com a equipe do G14-V-R-P, eles são enviados para uma integração de uma semana na matriz

da empresa e, em um segundo momento, vão conhecer as filiais dos diferentes estados do

Brasil, mesmo que a integração com as pessoas da equipe seja mais remota.

Já a G19-V-F-P, que foi deslocada para outra localidade para assumir um cargo em

uma nova filial, a situação foi diferente. Ela diz: “no começo, fizemos todo mundo, porque o

escritório não estava pronto, estava reformando. Então, todo mundo realmente ficou em casa

fazendo [home office] porque estavam reformando o escritório.”

Ao relacionar os eventos relacionados à entrada de novos membros com o perfil dos

respondentes, pode-se verificar três eventos que se sobressaíram:

1. O evento 1, ‘Necessidade de aumentar a equipe’, se apresentou relacionado aos

respondentes sem vínculo formal com a organização, que possuem equipes

temporárias por projetos e com virtualidade total.

2. O evento 2, ‘Decisão sobre a forma de composição da equipe’, está relacionado aos

gestores sem vínculo com a organização, ou com vínculo parcial; todos com equipes

temporárias por projetos, como era de se esperar; e virtualidade total.

3. O evento 7, ‘Decisão sobre o momento de iniciar o trabalho em home office’,

contrariamente, está relacionado somente com os respondentes que possuem vínculo

formal com a organização, que possuem equipes fixas e virtualidade parcial.

Os demais eventos não se mostraram relacionados a um só perfil de respondentes, mas

sim foram depreendidos de entrevistas com gestores de diferentes vínculos, tipos de equipe e

formas de virtualidade.

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4.3.8 Análise das Caraterísticas dos eventos relacionados à entrada de novos membros

Cada evento relacionado à entrada de novos membros foi analisado de acordo com as

seis características seguintes: frequência, importância, incerteza, complexidade, urgência e

pessoas envolvidas. No conjunto, foram depreendidas das entrevistas, 40 situações diferentes

relacionadas aos sete eventos de entrada de novos membros, indicadas por 17 dos 22

entrevistados. Estas foram rotuladas com o nome do evento que representavam, integrando-se

nos sete eventos apresentados anteriormente. Apesar de cada gestor lidar com o evento de

uma forma diferente, o evento em si é o mesmo. Por este motivo que houve a redução para

essa quantidade de eventos.

Cinco entrevistados não conseguiram apresentar nenhuma informação sobre este

assunto, pois três estão com a mesma equipe há mais de cinco anos e dois não estão

envolvidos no processo de entrada de novos membros. A análise das seis características dos

eventos - que englobam essas 40 situações selecionadas - estão apresentadas e analisadas a

seguir.

1. Frequência

O conceito de frequência do evento diz respeito à quantidade de vezes em que a

mesma situação se repete, tornando-se mais familiar ao gestor, ou não. Desta forma, quanto

mais frequente, espera-se que o desenrolar da situação seja mais previsível. Já para as

situações menos frequentes, a condução do evento exige outros cuidados. O Gráfico 4 mostra

a frequência dos eventos relacionados à entrada de novos membros.

Gráfico 4 - Frequência dos eventos de novos membros.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  5  10  15  20  25  30  

alta   média   baixa  

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76  

Nos eventos relacionados à entrada de novos membros, a baixa frequência

apresentada no Gráfico 4, para a maior parte das situações pode ser explicada pela pouca

entrada de novas pessoas nas equipes virtuais. Somente teve um dos sete eventos que

apresentou maior frequência, para as situações relacionadas à necessidade de aumento da

equipe, para a decisão de quando iniciar o trabalho virtual e a escolha da forma de

composição da equipe para um novo projeto.

Dados da SOBRATT (Sociedade Brasileira de Teletrabalho) apresentados por

Carneiro (2015) confirmam que a rotatividade dos trabalhadores virtuais é menor que o

considerado como normal para diferentes áreas de atividade e cargos. Assim, com menor

rotatividade, também temos uma menor frequência de entrada de ‘novatos’ nas equipes

virtuais.

2. Importância

Para Peterson e Ruiz-Quintanilla (2003), as situações de trabalho são consideradas

mais importantes, quanto maior o impacto que elas têm nos objetivos do trabalho. Assim,

quanto mais importante um evento, mais ele influencia em outras atividades relacionadas ao

desenvolvimento normal do trabalho. O Gráfico 5 apresenta a importância dos eventos

relacionados à entrada de novos membros.

Gráfico 5 - Importância dos eventos de novos membros.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

alta   média   baixa  

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A maior parte dos eventos relacionados à entrada de novos membros, foi considerada

importante para os entrevistados, como mostra o Gráfico 2. A única situação que foi

percebida como tendo menor importância para diferentes gestores virtuais entrevistados foi o

treinamento corporativo oferecido aos novos funcionários. Esse fato não foi explorado nessa

pesquisa, porém pode-se pensar que talvez isso se deve pelo fato de este treinamento não ter

nenhuma relação com a atividade do gestor e nem impactar diretamente no desenvolvimento

das demais atividades que o gestor espera do novo membro.

3. Incerteza

A incerteza com relação à situação diz respeito ao quanto ela pode, ou não, ser

prevista pelo gestor, por ter uma forma predeterminada de lidar com a situação apresentada

(MINTZBERG, 2003). O Gráfico 6 apresenta a incerteza para os eventos relacionados à

entrada de novos membros.

Gráfico 6 - Incerteza dos eventos de novos membros.

Fonte: Elaborado pela autora.

O maior número de situações percebidas como tendo baixa incerteza, apresentado no

Gráfico 6, pode representar uma maior previsibilidade de grande parte dos eventos

relacionados à entrada de novos membros para os gestores virtuais entrevistados. Os únicos

eventos desse grupo que apresentaram maior grau de incerteza estavam relacionados à decisão

sobre quando a pessoa deve iniciar o home office.

4. Complexidade

0  

5  

10  

15  

20  

25  

alta   média   baixa  

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A complexidade dos eventos relacionados à entrada de novos membros está

relacionada à quantidade de informações, recursos e áreas da organização que estão

envolvidas na situação (PERROW, 1972). O Gráfico 7 apresenta a complexidade para os

eventos relacionados à entrada de novos membros.

Gráfico 7 - Complexidade dos eventos de novos membros.

Fonte - Elaborado pela autora.

Os eventos relacionados à entrada de novos membros, foram considerados, em sua

maioria, pouco complexos para os depoentes, como mostra o Gráfico 4. Somente foram

percebidas como tendo alta complexidade, as situações relacionadas à formação da equipe

para um novo projeto.

5. Urgência

A urgência do evento diz respeito ao impacto que ele possui no desenvolvimento

normal das demais atividades cotidianas, ou seja, se a situação pode esperar para ser

solucionada em um momento conveniente, ou se, contrariamente, exige uma atitude rápida do

gestor, muitas vezes com a interrupção das demais atividades profissionais e até pessoais. O

Gráfico 8 apresenta a urgência dos eventos relacionados à entrada de novos membros.

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

alta   média   baixa  

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Gráfico 8 - Urgência dos eventos de novos membros.

Fonte - Elaborado pela autora.

Para os eventos relacionados à entrada de novos membros apresentados no Gráfico 8,

os que foram percebidos como tendo maior urgência foram os seguintes: decisão sobre o

aumento da equipe, início do home office e explicação do trabalho para o novo membro. Para

as situações que somente envolviam o novo membro, sem impacto direto na produtividade

deste, ou da equipe, a urgência foi considerada baixa.

6. Pessoas envolvidas

São muitas as pessoas que podem ser envolvidas na entrada de novos membros, mas o

grande destaque está no envolvimento dos demais membros da equipe nesse tipo de evento.

Eles se envolvem desde o primeiro momento, quando há a necessidade de ampliar a equipe,

posteriormente auxiliando a integração do novo membro com os demais e com as atividades

relacionadas ao entendimento sobre as tarefas. O Gráfico 9 apresenta as pessoas envolvidas

nos eventos relacionados à entrada de novos membros.

0  2  4  6  8  10  12  14  16  18  

alta   média   baixa  

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Gráfico 9 - Pessoas envolvidas nos eventos de novos membros.

Fonte - Elaborado pela autora.

Além disso, as demais áreas de suporte da empresa estão envolvidas em alguns dos

eventos, como na integração, treinamento, entre outras. A área de suporte técnico, por

exemplo, foi nomeada por um dos entrevistados como sendo parte desse processo, na

distribuição de senhas de acesso e criação de e-mail. O superior hierárquico do gestor virtual

também foi mencionado quando do evento relacionado à aprovação de aumento da equipe e

na decisão de quando iniciar home office.

Em síntese, em relação às caraterísticas dos eventos relacionados à entrada de novos

membros pode-se perceber uma relação direta entre os eventos de maior incerteza e os de

maior complexidade. Ou seja, quanto mais recursos, pessoas e áreas estão envolvidas ao lidar

com o evento, maior a incerteza do gestor sobre qual a melhor solução a ser dada. Para as

demais características, frequência, importância e urgência, não pôde ser percebida nenhuma

relação como sendo mais evidente.

No geral, os gestores entrevistados preferem trabalhar com as pessoas que já

conhecem de outros projetos e que sabem que podem contar. É como se as equipes formassem

pequenos “clusters” em que, como em um grupo privativo, os que estão fora, dificilmente

entram sem indicação e, os que já fazem parte desse grupo, dificilmente vão se desligar do

modelo. Para os que pensam em iniciar-se em algum tipo de trabalho virtual, é preciso ter

consciência de que há muito trabalho e dedicação envolvida na modalidade. Nas falas dos

depoentes transparece a sensação do esforço e comprometimento com os serviços

demandados quando dizem que eles conseguiram se manter nesse modelo, ou que

0  5  10  15  20  25  30  

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conseguiram ser lembrados para novos projetos, ou ainda que a empresa fez questão que eles

continuassem como prestadores de serviços e se mantivessem como líderes da equipe, mesmo

depois que deixaram de ser funcionários e passaram a ter o que chamamos de semi-vínculo.

4.4 Análise dos eventos de Tarefa

Os eventos de tarefa estão relacionados ao desenvolvimento do trabalho, ou as

situações que podem ser causadas quando se está impossibilitado de seguir da forma usual ou

planejada para a atividade. Dentre os eventos de tarefa, estão incluídas as condições de

trabalho, recursos e equipamentos, e problemas relacionados a cada um deles. “As vezes a

variedade [dos estímulos] é grande e cada tarefa parece exigir um trabalho diferente, de uma

certa magnitude” (PERROW, 1972, p. 103). As tarefas tanto podem ser previsíveis e

rotineiras, como complexas e até difíceis de prever seu desenvolvimento.

Para Mintzberg (2003), as tarefas também podem dizer sobre o tipo de padronização

utilizada pela instituição: dos processos (quando as atividades são previsíveis e sequenciadas);

ou das habilidades (quando é necessário um especialista que conheça sobre o assunto). Desta

forma, as situações destacadas das entrevistas e que foram analisadas dizem respeito a forma

como as pessoas conduzem o trabalho, ou o que fazem quando não podem seguir conforme o

planejado, ou nas situações em que precisam alterar algo especialmente no ambiente de

trabalho virtual, para conseguir desenvolver o trabalho.

De forma a facilitar a visualização dos eventos de Tarefa, estes foram classificados em

três grupos, como mostrados pela Figura 2. O primeiro grupo é composto pelos eventos que

foram causados pelo trabalho virtual, ou seja, as situações que não aconteceriam em um

ambiente de trabalho presencial tradicional. No segundo grupo foram incluídos os eventos

que tiveram o significado alterado pelo trabalho virtual, pois, de alguma forma, a situação

teve uma percepção ou desdobramento diferente por influência do meio. Por fim, no terceiro

grupo estão os eventos que já aconteciam no cotidiano profissional do gestor, antes desse

entrar no trabalho virtual.

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Figura 3 - Eventos de tarefa.

Fonte - Elaborado pela autora.

4.4.1 Eventos causados pelo trabalho virtual

Os eventos causados pelo trabalho virtual foram reunidos em sete grupos, como

mostra a Figura 3. Eles representam as situações de decisão que os gestores passaram a

assimilar no seu cotidiano a partir do momento que começaram a trabalhar em home office.

São eles: decisão sobre as tarefas a serem feitas nos dias de home office; quando precisa

organizar a infraestrutura de home office; quando precisa aumentar o tempo de home office;

decisão sobre quando trabalhar do escritório; quando há problemas com a infraestrutura de

home office; decisão sobre o local de trabalho remoto; e quando há acúmulo de papéis em

home office.

CAUSADOS  PELO  

TRABALHO  VIRTUAL  

ALTERADOS  PELO  

TRABALHO  VIRTUAL  

EVENTOS  DE  

TAREFA  

NÃO  FORAM  ALTERADOS

PELO  TRABALHO  VIRTUAL  

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Figura 4 - Eventos de tarefa causados pelo trabalho virtual.

Fonte - Elaborado pela autora.

Evento 1: Decisão sobre as tarefas a serem feitas nos dias de home office

Como primeiro evento desse grupo está a decisão sobre quais tarefas/atividades a

serem feitas nos dias de home office. Este evento é representativo dos gestores que trabalham

somente parte do tempo em home office. Para estes, é importante saber quais atividades deixar

com a equipe em cada momento e escolher o que irá fazer quando estiver fora do escritório e

do convívio com os demais. Nessa escolha pesam atividades urgentes, atividades que

precisam de maior concentração, ou que não necessitam de recursos do escritório. Nesse

sentido, a G2-V-F-P aproveita os dias de home office para realizar as atividades que exigem

maior concentração ou que são prejudicadas com interrupções, como ela têm no escritório.

Para ela, a preferência está em realizar reuniões só quando vai ao escritório.

Contrariamente, o G14-V-R-P prefere o escritório para atividades mais complexas,

pois consegue se isolar. Para ele, em casa está mais exposto a agentes externos ao trabalho,

especialmente a família.

O G6-V-F-P auxilia a sua equipe a decidir sobre quais atividades eles irão realizar em

casa, “se você precisa fazer uma planilha muito complicada, talvez você queira ficar cinco

horas nessa planilha, né?! Sem ter ninguém falando sobre nada, né?! Até porque não pode

Eventos  causados  pelo  trabalho  virtual  

Decisão  sobre  as  tarefas  a  

serem  feitas  nos  dias  de  home  of'ice  

Quando  precisa  

organizar  a  infraestrutu-­‐ra  de  home  of'ice  

Quando  precisa  

aumentar  o  tempo  de  home  ofMice  

Decisão  sobre  quando  

trabalhar  do  escritório  

Quando  há  problemas  com  a  

infraestrutu-­‐ra  de  home  of'ice  

Decisão  sobre  o  local  de  trabalho  remoto  

Quando  há  acúmulo  de  papéis  em  home  of'ice  

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errar os números e tal.” O mesmo acontece com o G17-V-F-P, que é da área de vendas “um

dia que eu tiro para ficar em casa, eu acabo efetivamente fazendo o pós-venda, o trabalho de

pré-venda, de outros relacionamentos. Quer dizer, você consegue fazer um trabalho gerencial,

operacional, muito melhor, sem a interrupção de ninguém.” Nos demais dias, ele acredita que

a energia do escritório ajuda no relacionamento e motiva a equipe de vendas.

Em outro sentido, o G21-V-F-T acredita que as atividades urgentes conseguem ter

uma resposta melhor sem ter o deslocamento, especialmente quando teria que se deslocar até

o escritório do cliente. Segundo ele, só é necessário estar presente em dez por cento dos casos,

“quando há problemas físicos”. O restante pode ser resolvido mais tranquilamente de casa,

inclusive atendendo a mais de um chamado de uma vez.

Então, por exemplo, ontem eu tive uma emergência na Vila Mariana. Remotamente eu consegui resolver em 40 minutos uma situação, que se eu tivesse que me deslocar até lá, eu demoraria no mínimo quarenta minutos para chegar lá. E com isso, o que importa para o cliente? Eu resolver o problema dele em 40 minutos e não em uma hora e meia. Mas isso é uma característica específica da minha área ou da área de tecnologia, no meu caso. (G21-V-F-T)

Também pesa nesse evento os momentos em que a presença em casa é necessária, seja

para realizar algum serviço de manutenção do lar, ou receber encomendas e prestadores de

serviços, por exemplo.

Por exemplo, se eu tenho uma reunião de pais, eu consigo ir a uma reunião de pais, tranquilamente, na paz, sem estar nervosa porque tem chefe na minha cola, de horário. Eu consigo ir à reunião, voltar e compensar aquele horário que eu estava fora. Eu acho que a liberdade de remanejar o tempo é muito boa. (G12-N-R-T)

Alguns dos gestores entrevistados, como as depoentes G15-V-F-P, G18-SV-R-T e

G20-SV-R-T optaram pelo trabalho virtual como forma de conseguir conciliar as atividades

do lar, especialmente com relação a filhos pequenos, ou demais situações em que a presença

em casa é exigida.

Evento 2: Quando precisa organizar a infraestrutura de home office

Nesse sentido, o segundo evento trata exatamente da organização da infraestrutura de

trabalho em home office. A partir do momento em que o lar se torna também o espaço de

trabalho, toda a infraestrutura deve ser alterada para tornar esse espaço organizado para o

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desenvolvimento de atividades profissionais. Há diferentes decisões que envolvem a

organização e manutenção dessa estrutura e algumas podem, inclusive, serem exigências

organizacionais, como aponta a G15-V-F-P: “A empresa montou um escritório para mim,

com uma mesa boa, uma cadeira boa, ergonomicamente correta. Enfim, tudo isso, para não

ficar aquela história de trabalhar de pijama.”

Os gestores virtuais G3-N-R-T e G7-V-R-T também apontam que ter um espaço

próprio de trabalho, em um escritório que muitas vezes até está separado do restante da casa,

auxilia no comprometimento com as atividades profissionais e na separação física e mental

entre a casa e o trabalho.

Evento 3: Quando precisa aumentar o tempo de home office

O terceiro evento complementa os anteriores no sentido de que ele se apresenta na

situação ‘quando precisa aumentar o tempo de home office’. Este também é um evento

específico das pessoas que dividem o seu tempo de trabalho entre a empresa e a casa,

trabalhando cada dia de um local diferente.

São várias as situações que fazem com que a pessoa precise aumentar o tempo de

home office, que vão desde situações particulares, inclusive de saúde ou familiares. Isto é o

que acontece com a G19-V-F-P que possui dois filhos pequenos e que não tem com quem

deixa-los, caso tenham problemas de saúde que impeçam de ir para a escola; e com o G6-V-

F-P, que tem uma pessoa de sua equipe com problemas de locomoção:

Ela tem um puta problema de joelho. Ela vai ter que fazer cirurgia e tal. Então, as vezes, ela tem uma puta crise de joelho, então ela trabalha de casa, né?! Então, foi um negócio que eu falei pra ela, ‘pô, você me entregando, ficando tudo certinho, não me importa, não força o teu joelho, sabe?! Entrega o que você precisa entregar’ e faz de casa.

Outras situações que podem levar ao aumento do tempo de home office incluem

atividades que exigem maior concentração, uma dedicação de várias horas na mesma

atividade, ou quando precisa lidar com questões sigilosas, entre outras. É isso o que acontece

com a G13-V-S-T. “A minha responsabilidade é ir lá, inicialmente uma vez por semana. Mas

tem algumas semanas, quando eu estou muito ocupada ou se não existe nada muito urgente,

que eu precise resolver com eles lá, a gente faz por Skype mesmo e eu fico por aqui.” Assim,

ela vê que muitas vezes a ida ao escritório e as reuniões com a equipe podem representar uma

perda de tempo de trabalho.

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O mesmo acontece com o G6-V-F-P. “Então, quando a gente possui atividades

picotadas, aí com muita reunião, o escritório é ótimo. Mas se precisa de grandes horas de

concentração, silêncio, ou um projeto que vai demorar bastante tempo, aí eu prefiro ficar de

casa.”

Outro motivo para aumentar o tempo de home office são os deslocamentos e a

diminuição do tempo de transporte, que se torna mais tempo de trabalho. Como afirma o G16-

V-F-P, “eu já vejo que não compensa, eu vou perder muito tempo de deslocamento indo para

o escritório, eu já prefiro ficar de casa, para poder desenvolver o trabalho de forma mais

rápida e não perder esse tempo no deslocamento.” Outros gestores, como G8-V-R-T e G17-

V-F-P colocaram a questão do trânsito como sendo uma perda de tempo, que não têm quando

trabalham de casa. Muitas vezes eles começam a trabalhar na hora que estariam saindo de

casa e só param de trabalhar quando estariam retornando, incorporando todo o tempo gasto de

deslocamento nas atividades profissionais.

Evento 4: Decisão sobre quando trabalhar do escritório

Não adianta, também, ninguém vai querer estar todos os dias de home office porque você tem reuniões, também, porque você também precisa utilizar sei lá, uma impressora, por exemplo. Fazer reuniões com o teu chefe, precisa ter reuniões com o teu time, então, na verdade, implementar dentro da tua forma de trabalho. (G7-V-R-T)

Nesse sentido, o quarto evento desse grupo diz respeito à decisão de quando trabalhar

do escritório. Este evento é característico dos gestores que possuem virtualidade total e que

somente se deslocam ao escritório em situações bem especificas. Como no anterior, são várias

as razões que levam a pessoa a ir trabalhar ou passar mais tempo no escritório. As razões

predominantes são reuniões (G8-V-R-T e G13-V-S-T) e uso da infraestrutura do escritório

(G7-V-R-T e G14-V-R-P).

Em sentido contrário, o G21-V-F-T brinca que vai disponibilizar a sua mesa, pois

atualmente ele só vai até o escritório para buscar equipamentos ou ferramentas. Mesmo

reuniões de equipe, para ele, estão cada vez mais difíceis de serem feitas presencialmente. Já a

G22-SV-R-T usa o escritório só como ponto de apoio, quando tem reuniões do ‘outro lado da

cidade’.

Evento 5: Quando há problemas com a infraestrutura de home office

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Quando há problemas com a infraestrutura de trabalho do home office a pessoa tanto

pode ir para o escritório como tomar muitas outras decisões, como o G7-V-R-T apresenta

“tem uma equipe que prefere trabalhar do escritório, que em casa não tem estrutura. Desde o

mais ‘canguinha’ que não quer ligar o ar condicionado em casa, até quem tem filho que não o

deixa trabalhar de casa, ou qualquer outro problema familiar.”

Para o G9-V-S-P, “o calor, eu citaria como dificuldade, é claro, porque não tem ar

condicionado em casa. Então, a infra do escritório geralmente é melhor do que a que a gente

tem em casa.” Assim, muitas vezes, ele prefere ir para o escritório trabalhar com mais

conforto.

A G15-V-F-P apresenta outra dificuldade relacionada à problemas de infraestrutura.

“Porque aí vem um técnico na sua casa, puxar o fio de um lugar para o outro ou instalar

alguma coisa. Você parou tudo, porque não tem o que fazer. Você não pode sair para visitar

cliente, porque você tem que esperar o técnico, não pode fazer nada basicamente.” Esse

sentimento é compartilhado por outros entrevistados, como a G1-SV-R-T e a G12-N-R-T pois

a partir do momento que se trabalha de dentro de casa, a responsabilidade pela manutenção da

infraestrutura, muitas vezes é da própria pessoa e não da empresa. Assim, essas atividades

acabam por consumir uma parte do tempo de trabalho. Os imprevistos técnicos também fazem

parte dos problemas de infraestrutura, como lembra o G17-V-F-P sobre os dias em que falta

luz e não há o que fazer, além de esperar que retorne.

Evento 6: Decisão sobre o local de trabalho remoto

O sexto evento que surgiu com o trabalho virtual diz respeito à ‘decisão sobre o local

de trabalho remoto’. A maior parte dos entrevistados já passou por diferentes situações nas

quais resolveram viajar durante a semana, ou o período de trabalho, sem deixar de trabalhar.

Como conta o G8-V-R-T

E dia 06, que foi segunda passada, até domingo passado, eu estava trabalhando na Holanda. Acordei de manhã na Holanda, peguei a minha bicicleta, pedalei para o escritório, parei a bicicleta na porta do escritório. Achei uma baia vazia, coloquei meu notebook, loguei meu telefone e quem me ligou do Rio de Janeiro, tocou na Holanda, eu atendi e falei alô.

A decisão sobre o local também pode se basear nos recursos necessários para a tarefa,

como conexão de internet, e o fato de eles estarem disponíveis em outros lugares. Como

apresenta a G10-N-R-T “Eu virei remoto. Eu não tenho pudor de sentar em um restaurante,

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abrir e começar a trabalhar como se fosse o meu escritório.” O lugar, para ela é o que menos

importa, pois todas as atividades e recursos que precisa estão no laptop. O mesmo acontece

com a G11-SV-S-T e a G20-SV-R-T, que correm para lan houses e cafés quando tem

problemas de conexão com a Internet.

Evento 7: Quando há acúmulo de papéis em home office.

O último evento que surgiu com o trabalho virtual é o acúmulo de papéis por estar em

home office. A falta de estrutura dentro de casa e a distância do escritório fazem com que os

profissionais tenham que assumir outras responsabilidades e fazer outras atividades que não

teriam caso estivessem no escritório, com o apoio constante da equipe e serviços de

secretárias, suporte técnico, entre outros, como apresenta a G22-SV-R-T. “Eu deveria estar

mais vendendo a empresa do que no operacional. Mas eu concentro muito o operacional em

mim ainda. Porque eu gosto dessa coisa de o trabalho ser bem artesanal, eu ir lá, visitar o

cliente e tal. “

Assim, foi uma constante na fala dos entrevistados ter que fazer outras atividades que

não fariam antes e que, muitas vezes, não possuem relação direta com as atividades

profissionais.

4.4.2 Eventos alterados pelo trabalho virtual

Foram 13 os eventos alterados pelo trabalho virtual. Esta maior quantidade de eventos

de tarefa para este grupo levou ao aumento de um nível de agrupamento, no qual as situações

similares foram apresentadas conjuntamente.

Esse aumento na quantidade de eventos de tarefa alterados pelo trabalho virtual pode

ser explicado pelo fato de que o que se alterou foi o local de trabalho, mas não as atividades e

nem as responsabilidades.

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Figura 5 – Eventos de tarefa alterados pelo trabalho virtual.

Fonte - Elaborado pela autora.

Os eventos de tarefa alterados pelo trabalho virtual estão separados em cinco grupos,

como mostrado pela Figura 4: dedicação ao trabalho; quantidade de trabalho; tecnologias e

equipamentos; questões pessoais, e falta de informações relevantes à tarefa.

Grupo 1: Eventos relacionados à quantidade de trabalho

O primeiro grupo, quantidade de trabalho, é composto por dois eventos: um com

relação ao excesso de trabalho e o segundo que é a imposição do trabalho na vida

pessoal/familiar.

O excesso de trabalho é uma constante na fala de boa parte dos entrevistados, com

muitas situações em que passaram toda a noite trabalhando para cumprir prazos (G1-SV-R-

T); esgotamento por trabalhar muitas horas seguidas (G8-V-R-T); e ir além do horário de

trabalho para não deixar pendências (G9-V-S-P; G1O-N-T-T). Isso pode ser percebido na

angústia da fala da G12-N-R-T: “Porque trabalhar de casa não quer dizer que você possa ir à

academia mais, ficar lá malhando horas. Nem meia hora, nem dez minutos, a gente não

Eventos  alterados  pelo  trabalho  virtual    

Eventos  relacionados  à  quantidade  de  trabalho  

Questões  pessoais  

Dedicação  ao  trabalho  

Questões  relacionadas  à  tecnologia  e  equipamentos  

Falta  de  informações  relevantes  à  

tarefa  

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consegue ir para lugar nenhum.” Para esta Gestora Virtual, a rotina de trabalho em home

office, somada ao fato de ter dois filhos pequenos, não deixa tempo para nada mais.

Relacionado a isso, o segundo evento desse grupo é a imposição do trabalho na vida

pessoal/familiar. Nesse sentido, há uma constância na fala dos entrevistados de não conseguir

realizar as refeições durante a semana sem interrupção (G4-N-R-T; G8-V-R-T); trabalhar

durante os finais de semana (G1-SV-R-T; G5-SV-R-T); interromper atividades pessoais,

inclusive viagens com a família no feriado, para dar prosseguimento a assuntos urgentes (G4-

N-R-T; G5-SV-R-T; G14-V-R-P).

Como os meios de comunicação pessoal e profissional são os mesmos, acontece da

pessoa ser contatada fora do horário de trabalho por diferentes meios, inclusive telefone

celular e telefone residencial, WhatsApp e o comunicador do Facebook (G4-N-R-T; G5-SV-

R-T; G6-V-F-P; G11-SV-S-T; G14-V-R-P), como fala o G14-V-R-P: “Tem suporte, tem

garantia, e o cliente acaba usando a via que ele mais conhece”. Nesse sentido, muitas vezes os

empregadores, clientes e superiores questionam fatos do cotidiano da pessoa, como na

passagem apresentada pela G11-SV-S-T:

Te dão prazo: até sexta. Hoje é terça e o cara está lá cobrando, perguntando como está, como está, como está. E de repente você diz: “-Ah, não, não comecei ainda.” E o cara vai falar: “-Mas eu vi que você postou no Facebook que você está viajando.” Sabe umas coisas meio invasivas? A pessoa não tem o hábito de trabalhar com este modelo novo e ela aplica relações de modelos antigos.

A interferência do trabalho na vida pessoal também pode comprometer outras partes

da vida na casa e do relacionamento familiar, como o G21-V-F-P que teve o escritório

‘invadindo’ outras partes da casa: “a minha mesa da sala virou hoje um CPD. Hoje eu tenho

dois monitores na mesa da sala. Ou seja, não faço as minhas refeições na mesa da sala, que

virou uma extensão do meu escritório.” Esse mesmo gestor teve o seu filho cobrando um

momento para brincarem juntos, porque ele nunca tem tempo livre, pois está sempre

trabalhando.

Grupo 2: Questões Pessoais

Não é somente o trabalho que interfere nas questões familiares e pessoais, mas o

contrário também acontece. As questões pessoais compreendem muitos dos eventos

cotidianos dos gestores virtuais. Nesse sentido, a partir do momento que a pessoa passa a ser

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um trabalhador virtual, a ‘casa’ se torna um agente de interrupção, com os seus barulhos,

obras, vizinhos, assim como todos os demais habitantes da casa, inclusive animais de

estimação, filhos, pais.

A G18-SV-R-T apresenta sua angústia com relação a ter recebido mais atribuições

com a manutenção da casa, que antes era dividida com o cônjuge. “Então, assim, por conta

dessa flexibilidade do horário, eu conquistei essa atribuição. Infelizmente, foi uma conquista

que eu não gostei.”

A falta de entendimento da seriedade do trabalho por outros membros da família

também apareceu na fala de muitos entrevistados. “Então, eu demorei um tempo para que ele

[o marido] entendesse que eu estou trabalhando. Eu ganho para fazer aquilo e ganho para

produzir. Então, eu precisava produzir. Não para ele, só produzir para a empresa.” (G15-V-F-

P) Esta é a visão de parte dos demais membros da família, especialmente para os gestores que

são casados, ou vivem com os pais.

Enfim, as pessoas acham, algumas pessoas têm até uma certa dificuldade, algumas, poucas, mas algumas pessoas da família, agora não, mas eles tinham dificuldade de assimilar que realmente eu estava trabalhando. Então, eu comecei a trancar a porta para trabalhar. (G10-N-R-T)

Vários entrevistados tiveram que se isolar da família para conseguir trabalhar e não

serem interrompidos, ou mesmo terem problemas com o trabalho, como cachorros e gatos

roendo fios, ou brigas entre animais que conseguem dar curto-circuito no computador (G20-

SV-R-T). Até mesmo problema com crianças curiosas, como aponta o G21-V-F-T “Em casa

eu tenho mãozinhas, com 15 dedos em cada mãozinha. Em casa eu tenho três gatos, que

adoram teclados. No escritório eu não tenho isso.” A G12-N-R-T complementa com a questão

dos barulhos da casa:

A gente está em uma reunião, o cachorro resolve latir. Sei lá, coitado, é a forma de ele se expressar. Mas esses fatores externos, eu acho que aborrecem um pouco. Às vezes você escuta criança chorando. E eu acho que esses fatores são mais perturbadores. (G12-N-R-T)

Nesse sentido, a G19-V-F-P complementa que são esses barulhos que ‘denunciam’

que se está trabalhando de casa, mas se eles não acontecem, ninguém vai saber que se trabalha

de casa.

Algo interessante da fala dos entrevistados é que algumas interrupções são favoráveis,

como os filhos desenhando ao lado da mesa, ou fazendo a lição de casa ao lado do pai/mãe

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(G12-N-R-T), os cachorros e gatos que vem pedir carinho em momentos de maior tensão

(G22-SV-R-T), ou mesmo as coisas que precisam fazer fora de casa e que conseguem ser

acomodadas durante o dia, como médico, ginástica, cabelereiro, entre outras atividades. Nesse

sentido, alguns entrevistados incluíram atividades que eles percebem que auxiliam na

melhoria da produtividade, como a G11-SV-S-T, que para tudo na metade do dia para correr e

a G13-V-S-T, que faz Pilates e Yoga durante o dia.

Grupo 3: Dedicação ao trabalho

O terceiro grupo de eventos que já existiam anteriormente mas foram alterados pelo

trabalho virtual é o de dedicação ao trabalho, sendo composto pelos eventos de conflito de

horários, alteração dos processos de trabalho e pela escolha dos projetos em que quer estar

envolvido.

Os conflitos de horário no trabalho do gestor virtual algumas vezes são influenciados

pela distância do escritório, em que as demais pessoas agendam reuniões, eventos e

entrevistas, primeiro com clientes e demais pessoas da empresa e, por último, comunicam à

quem está em home office (G1-SV-R-T; G11-SV-S-T). Assim, tanto o gestor como sua equipe

passam por diferentes questões para solucionar essas situações.

Quando é necessário alterar um processo de trabalho remoto, muitas vezes é preciso

passar pela aprovação de diferentes áreas, inclusive o suporte técnico (G14-V-R-P), para

analisar o impacto que terá no fluxo de informações no servidor. Assim, alguns dos gestores

virtuais entrevistados dizem que o tempo gasto para alterar é bem maior e mais burocrático

(G16-V-F-P).

Sobre a escolha de projetos para participar, o gestor e sua equipe muitas vezes se

valem de diferentes comunicações, métricas e inclusive informações externas na tomada de

decisão, como a quantidade de encontros presenciais previstos (G11-SV-S-T; G20-SV-R-T) e

quem será o cliente do projeto. Sempre que podem, eles preferem escolher os projetos para

participar e as pessoas que irão compor as suas equipes.

Grupo 4: Questões relacionadas às tecnologias e equipamentos

No penúltimo grupo dos eventos de tarefa que foram alterados pelo trabalho virtual

estão as questões relacionadas às tecnologias e equipamentos, que tem como eventos a

escolha dos recursos de trabalho e os problemas que encontram com estes. Para Bell e

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Kozlowski (2002) é a natureza da tarefa que determina a tecnologia a ser utilizada, tendo

grande influência o intercâmbio de informações exigido entre a equipe na condução das

atividades.

A partir do momento em que os depoentes passaram a trabalhar remotamente, mesmo

que a empresa ofereça os equipamentos aos que possuem vínculo de emprego, as pessoas têm

a opção de usar esses, ou adquirir outros equipamentos e mesmo sistemas com os quais se

sintam mais confortáveis em utilizar. A G18-SV-R-T, que usa o computador pessoal, diz que

ela mesma teve que arcar com os custos de upgrade de sistema quando migrou para o home

office.

Tem gente, por exemplo, a empresa tem laptop. As pessoas, no trabalho, elas podem optar entre laptop e desktop. Eu uso, por exemplo, eu uso o desktop da empresa quando trabalho aqui e o meu desktop em casa, quando estou em casa. Tem gente que usa só o equipamento da empresa em casa ou fora daqui. Tem gente que prefere usar o seu computador pessoal pra trabalhar, tanto em casa quanto aqui.

A maior parte das equipes possuem algum tipo de repositório de conteúdos e

informações, como o Google Drive, Dropbox, servidores privados e sistemas proprietários,

fornecidos pela empresa. Quando a empresa não fornece diretamente – especialmente no caso

dos gestores sem vínculo formal - ou mesmo quando o sistema de compartilhamento aparenta

ser menos prático que outras soluções comerciais, o gestor opta pelo que acredita ser melhor.

Nesse sentido, nenhum dos depoentes disse possuir uma política clara sobre que sistemas

podem ou não ser utilizados pela equipe remota.

Sobre os problemas com as tecnologias de trabalho, todos os entrevistados já tiveram

algum tipo de problema, mas com diferenças grandes na forma de condução da solução. Há

quem faça a manutenção por conta própria (G3-N-R-T; G21-V-F-T), ou usam informalmente

conhecidos, especialmente parentes e vizinhos (G1-SV-R-T; G4-N-R-T; G12-N-R-T). Isso

acontece, de acordo com os depoimentos, por conta do tempo de espera por uma solução

corporativa, que é considerado um tempo não trabalhado. Algumas empresas oferecem um

canal de manutenção remoto, inclusive com números de 0800, o que auxilia também a que a

pessoa não fique muito tempo sem os equipamentos. “Mas a parte de helpdesk da empresa,

como é terceirizada, é bem deficiente ainda. [ ] A gente acaba tendo que se virar, tem que

pedir na amizade para alguém dar uma ajuda, para ter agilidade.” (G15-V-F-P). Sempre há os

casos em que a empresa deixa a desejar, ou que a pessoa, mesmo tendo uma estrutura

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fornecida pela empresa, acaba por ter que utilizar a estrutura da casa, como na fala da G15-V-

F-P:

Eu tive que formatar diversas vezes, eu tive que fazer um montão de coisas. Enquanto isso, eu acabava usando o meu telefone de casa. Então, para mim isso era muito básico e eu não gostava. Era um negócio bem feio que acontecia e teve muita discussão por causa disso.

Para os depoentes que possuem o escritório da empresa em uma distância viável, eles

acabam por levar os seus equipamentos até a empresa para que possa ter manutenção (G9-V-

S-P). A Dell oferece um sistema de apoio a pessoas e empresas que as entrevistadas G10-N-

R-T e G12-N-R-T adquiriram, para ter mais uma forma de garantir que elas não fiquem sem

equipamentos, mesmo que tenham outros canais de manutenção.

Eu aprendi, que é ridículo falar isso, mas, por exemplo, você está imprimindo uma coisa, na hora em que você está imprimindo o documento mais importante é que acaba a tinta. Não é assim? (G12-N-R-T).

Nesse sentido, quinze dos vinte e dois entrevistados possuem mais de um computador,

sistema e servidor de acesso à internet, sendo oferecido pela empresa ou não. “Tem que ter

uma boa internet, você tem que ter um respaldo de um técnico que possa vir. Tipo, deu um

problemão, você consiga, se a pessoa vier naquele dia tentar resolver o seu problema. É uma

infraestrutura.” (G12-N-R-T).

Grande parte dos problemas dos entrevistados está relacionada com a falta de conexão

com a internet. Como todos são ‘trabalhadores virtuais’, o trabalho é quase totalmente

dependente de conexão para acontecer. Sem internet não há como participar de reuniões, ter

acesso e enviar documentos e atividades finalizadas. “Porque eu dependo de duas internets

para trabalhar, a minha internet, na minha casa, e a internet do meu escritório.” (G17-V-F-P).

Da mesma forma, para viabilizar o trabalho independente do local onde estejam, muitos dos

softwares utilizados pelos trabalhadores virtuais estão na nuvem, como acontece com os do

G3-N-R-T. Esta solução é essencial para ele e outros trabalhadores pois, o tempo

desconectado, muitas vezes representa um tempo não trabalhado. Por outro lado, ter as

informações na nuvem também pode facilitar a mobilidade, como pontuado pela G22-SV-R-

T, “Então, de qualquer lugar do mundo que eu estiver, mesmo se eu não estiver com o meu

computador, eu consigo acessar.”

Grupo 5: Falta de informações relevantes à tarefa

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O último grupo de eventos de tarefas que foi alterado pelo trabalho virtual diz respeito

a falta de informações relevantes à tarefa. São três os eventos desse grupo: quando há

situações em que não se sabe como lidar; quando falta especificação sobre o responsável pela

tarefa e quando precisa de recursos/informações que estão no escritório.

Os três casos poderiam não ser considerados eventos em um ambiente de trabalho

presencial pois, ao ter alguma dúvida, muitas vezes, seria só perguntar ao colega do lado, ou

andar pelo escritório até descobrir de quem é a responsabilidade pela atividade, ou quem

possui as informações necessárias à tarefa. Essas situações se alteram profundamente quando

o trabalho é feito em home office e o acesso às demais pessoas depende de uma tecnologia de

apoio. Para a G19-V-F-P, por exemplo, a empresa alterou o processo de tratar as dúvidas,

“Então, a gente tem todo um processo para escalar qualquer assunto que realmente você fique

na dúvida ou alguma coisa assim.” Já a G15-V-F-P possui uma assistente que fica no

escritório, justamente para dar o apoio a ela e sua equipe nas questões burocráticas. Para o

G18-SV-R-T, “por exemplo, questões administrativas, eu tenho um pouco de dificuldade de

obter um retorno rápido dos órgãos centrais a quem eu me reporto.”

Desta forma, são cinco os grupos de eventos de tarefa que foram alterados pelo

trabalho virtual. Eles compreendem a forma e grau de dedicação exigida pelo trabalho

remoto; a forma como se lida com uma grande quantidade de trabalho; as questões que

envolvem as tecnologias e equipamentos, desde a escolha do que pareça ser mais eficiente e

eficaz, até as situações em que há problemas com as tecnologias que prejudiquem o

andamento do trabalho; todas as questões pessoais, que o trabalhador envolvido pelo seu

ambiente familiar não consegue fugir; e, finalmente, os problemas relacionados à falta de

informações relevantes ao desenvolvimento da tarefa, e a forma de buscar essas informações.

4.4.3 Eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual

Grande parte das tarefas não se alterou pela troca do ambiente no qual o trabalho é

desenvolvido, especialmente porque os resultados esperados pela empresa são os mesmos, ou

até melhores dos que a pessoa já tinha, antes de se tornar um trabalhador remoto. Há três

grupos de eventos de tarefa que não se alteraram pelo trabalho virtual, mostrados na Figura 5:

os problemas com o desenvolvimento da tarefa; as situações em que há problemas com a

especificação da tarefa; e as situações que envolvem o fechamento de um projeto.

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Figura 6 – Eventos de tarefa que não se alteraram pelo trabalho virtual.

Fonte - Elaborado pela autora.

Grupo 1: Problemas no desenvolvimento da tarefa

O primeiro grupo é formado pelas seguintes situações: quando há imprevistos durante

o desenvolvimento da tarefa; quando a atividade é feita fora de padrão; quando o material

enviado precisa de ajustes; quando há incidentes críticos; ou quando as atividades fogem da

área de competência da pessoa.

Com relação aos problemas, ou imprevistos, no desenvolvimento das tarefas, seis

entrevistados contaram sobre situações em que tiveram que recomeçar tudo do zero, ou alterar

muito a tarefa, especialmente por não terem recebido todas as informações detalhadas logo no

início, como aponta a G15-V-F-P:

Porque principalmente quando trabalha em RH, você tem um plano. Mas dentro da empresa e dentro do projeto, as coisas vão acontecendo de uma maneira diferente. Então, muita coisa vai mudando durante o projeto, um monte de coisa mesmo.

Eventos  que  não  se  alteraram  pelo  trabalho  

virtual  

Problemas  no  desenvolvimen-­‐to  da  tarefa  

Problemas  com  a  especiMicação  da  tarefa  

Situações  que  envolvem  o  

fechamento  do  projeto  

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O fato de não ser muito conhecido pelos demais gestores, segundo o G16-V-F-P é o

que faz com que tenham casos mais críticos, em que ele precisa parar tudo e ir até o escritório

para resolver junto com as demais equipes. Já o G21-V-F-T diz, em tom de brincadeira, que

“o pessoal nunca me liga para falar que está tudo bem, sempre no momento de pânico.”

É comum para alguns dos gestores virtuais que eles acabem por assumir outras

atividades além daquelas que desempenhavam no escritório. Muitas vezes o maior contato

com clientes e outros departamentos, ou a dificuldade de contato com esses, acaba por fazer

com que ele assuma outras responsabilidades, ou simplesmente desenvolva as tarefas para não

perder tempo passando a tarefa ao responsável e esperando pelo retorno. Para o G14-V-R-P, a

falta de ter uma secretária por perto acaba atrasando o desenvolvimento de algumas

atividades. O mesmo se dá com o G18-SV-R-T, que acha as atividades administrativas

extremamente difíceis de lidar. Para os gestores que possuem vínculos formais, esses afirmam

que as empresas esperam esses novos papéis do gestor virtual, como parte da sua maior

autonomia. A G15-V-F-P muitas vezes acaba assumindo outros papéis menores no projeto,

para não ter que chamar alguém com quem ela não trabalhou, ou quando o recurso não está

disponível.

Grupo 2: Problemas com a especificação da tarefa

O segundo grupo é formado pelos eventos relacionados à especificação da tarefa, seja

pela entrada de nova demanda de trabalho; definição da forma de contratação do trabalho; a

definição dos parâmetros do trabalho; e, quando há problemas na especificação do trabalho.

Na entrada de novas demandas, há momentos em que a equipe precisa discutir,

juntamente com superiores, atendimento e outros setores que possam ser envolvidos no

projeto as competências existentes na equipe e se podem assumir a nova demanda de trabalho.

Há, também, diferentes aprovações que precisam acontecer no momento de assumir um

trabalho, além de fazer com que todos conheçam as especificações e o que se espera, como

lembra a G22-SV-R-T, sobre o maior cuidado que deve ser dado ao lidar com novos clientes.

A definição dos parâmetros do trabalho é especialmente importante quando é

necessário coordenar o trabalho de muitas pessoas de localidades diferentes, especialmente se

não há um histórico anterior para saber a forma de trabalho de cada um. Assim, a definição

dos parâmetros pode tomar um bom tempo de dedicação do gestor virtual, mas pode evitar

dificuldades de especificação do trabalho, que vão trazer problemas maiores posteriormente.

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98  

A G18-SV-R-T, por exemplo, diz que assuntos que antes ela resolveria subindo um andar,

agora precisa fazer por e-mail e aguardar a resposta.

Nesse sentido, também há problemas com especificações que vem da matriz, em outro

pais, e que não se aplicam ao Brasil, como apresentado pela G15-V-F-P, que disse ser mais

difícil ‘vender’ a ideia de que os parâmetros precisam ser alterados.

Grupo 3: Situações que envolvem o fechamento do projeto

O terceiro grupo de eventos de tarefa que não se alteram pelo trabalho virtual é

formado pelas situações que compõem o fechamento do projeto. O envio e validações das

atividades já podem ser bastante complexos, motivo pelo qual o fechamento pode ser um

evento em si. Para a G15-V-F-P, só o fato de precisar da aprovação do seu superior em um

relatório de um projeto que ele não acompanhou já causa muita dor de cabeça.

Nesse momento podem haver desentendimentos, cobranças diferenciadas, ou mesmo

problemas com a aceitação, ou não. Muitas vezes a única reunião presencial do projeto

acontece no momento da entrega, tanto com clientes e agentes externos, quanto com a equipe

de desenvolvimento, que pode só vir a se conhecer presencialmente nesse momento.

Assim, as diferentes situações e decisões que envolvem os momentos finais do

projeto, como a entrega do produto/resultado final, testes, aceites, etc., por mais que não se

alterem com o ambiente remoto, ainda são grandes estressores e demandam cuidados

especiais.

Para finalizar, os eventos que não se alteraram pela mudança no ambiente de trabalho

do gestor é composto por situações que já demandavam grande atenção e cuidado anterior à

mudança no local e modelo de trabalho: os problemas com o desenvolvimento da tarefa,

como imprevistos; as situações em que há problemas com a especificação da tarefa, que

exigem diferentes abordagens; e os muitos eventos que envolvem o fechamento de um

projeto.

4.4.4 Influência do perfil dos respondentes nos eventos de tarefa

Para a forma de vínculo com a empresa, alguns eventos se destacaram em diferentes

sentidos. Todos os perfis de entrevistados tiveram problemas causados pelas tecnologias, mas

o que mais chamou a atenção foram os problemas com a infraestrutura de home office, que só

esteve presente nas falas dos profissionais que possuem vínculo formal. Isso pode servir de

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99  

alerta, não só para os profissionais, mas para as empresas que tornam os seus funcionários

remotos e podem não estar oferecendo a estrutura necessária.

Para esses profissionais com vínculo formal e que também possuem equipes fixas,

outras situações características estão na definição sobre quando trabalhar do escritório e na

definição das tarefas para os dias de home office.

Já os depoentes com virtualidade total, ou seja, todo o tempo de trabalho é remoto,

eles foram os únicos que apresentaram situações com acúmulo de papéis e problemas de

conflito de horário. Pode-se entender que o fato de estar distante da empresa todo o tempo,

pode fazer com que esses acabem por assumir outras tarefas que não teriam caso fossem em

algum momento ao escritório e também terem problemas com reuniões sendo marcadas sem

consulta anterior.

4.4.5 Análise das características do eventos de tarefa

Todos os entrevistados apresentaram situações que puderam ser depreendidas e

classificadas como eventos de tarefas. No total, foram depreendidas 171 situações das

entrevistas pelas quais os 22 gestores passaram e que estavam relacionadas ao

desenvolvimento das tarefas do trabalho, ou problemas causados quando as tarefas não

puderam ser desenvolvidas ou foram desenvolvidas de uma forma não prevista.

Cada evento de tarefa foi analisado de acordo com as seis características seguintes:

frequência, importância, incerteza, complexidade, urgência e pessoas envolvidas. Conforme

explicação anterior, esta análise, embora de caráter subjetivo, contou com as expressões,

inflexão de voz e outros recursos para que o sentido atribuído pelos gestores pudesse ser

depreendido de cada passagem.

A seguir serão apresentados os resultados dessa análise das características dos eventos

de tarefa.

1. Frequência

A frequência dos eventos de tarefa representa a quantidade de vezes que as situações

relacionadas ao desenvolvimento das atividades de trabalho acontecem com os entrevistados.

Desta forma, como pode ser percebido pelo Gráfico 10, a maior parte das situações destacadas

pelos gestores possui alta frequência.

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100  

Gráfico 10 - Frequência dos eventos de tarefa.

Fonte - Elaborado pela autora.

Quando separam os eventos de tarefa nos três grupos apresentados anteriormente,

porém, se percebe uma diferença entre os eventos causados pelo trabalho virtual, os que

foram alterados pelo trabalho virtual e os que não se alteraram. Em primeiro lugar, a maior

parte dos eventos de tarefas foram alteradas pelo novo modelo de trabalho, como mostra o

Gráfico 11 em que os eventos alterados pelo trabalho virtual são mais numerosos tanto em

alta, como média e baixa frequência.

Gráfico 11 - Frequência dos eventos de tarefa para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  10  20  30  40  50  60  70  80  

alta   média   baixa  

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

35  

40  

45  

50  

alta   média   baixa  

Causados  pelo  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  home  ofMice  

não  se  alteraram  

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101  

Os eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual foram os que ocorreram com

menor frequência. Uma das razões para isso pode ser pelo fato de que essas são as situações

menos frequentes dentro do cotidiano do gestor virtual.

2. Importância

O Gráfico 12 apresenta a importância percebida para os eventos de tarefa. Nele, pode-

se perceber que a maioria das situações é considerada de alta importância. Esse fato pode ser

explicado pela própria natureza desses eventos que representam o desenvolvimento do

trabalho, ou problemas que impedem ou, ao menos, atrapalham a realização das atividades.

Como os funcionários remotos são cobrados de acordo com a sua produtividade, esses

problemas podem representar a forma como a empresa percebe o gestor, ou mesmo a forma

como ele encara as suas responsabilidades profissionais.

Gráfico 12 - Importância dos eventos de tarefa.

Fonte - Elaborado pela autora.

Nos três grupos de eventos de tarefa mostrados no Gráfico 13, a alta importância se

manteve para todos. Algumas das razões que podem explicar a importância que os

entrevistados atribuem aos eventos de tarefa seriam, em primeiro lugar, o comprometimento

que possuem com o trabalho e, em segundo lugar, a falta de visibilidade pelas demais áreas da

empresa, que faz com que a percepção de produtividade esteja atrelada à entrega das tarefas.

0  

50  

100  

150  

alta   média   baixa  

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102  

Gráfico 13 - Importância dos eventos de tarefa para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

Nenhum dos eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual foi considerado como

de baixa importância. Uma das razões pelas quais isso pode ter acontecido é que nesse grupo

estão as situações que exigem contatos externos, especialmente com clientes.

Assim, pode-se dizer que os eventos de tarefas são percebidos, em sua grande maioria,

como sendo de alta importância por todos os gestores entrevistados.

3. Incerteza

A incerteza para os eventos de tarefa está mostrada no Gráfico 14. Nele, pode-se

perceber que a quantidade de eventos percebidos como tendo alta, média e baixa incerteza

varia muito pouco.

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

70  

80  

90  

alta   média   baixa  

Causados  pelo  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  trabalho  virtual  

Não  se  alteraram  

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103  

Gráfico 14 - Incerteza dos eventos de tarefa.

Fonte: Elaborado pela autora.

A análise dos três grupos de eventos de tarefa, apresentada no Gráfico 15, mostra uma

situação diferente, na qual cada um dos grupos se comporta de uma maneira única.

O primeiro grupo apresentado no Gráfico 15, dos eventos causados pelo trabalho

virtual, possui a maior parte das situações sendo percebidas como tendo baixa incerteza, com

bem menos situações de média incerteza e ainda menos com alta incerteza, representados por

situações pontuais apresentadas por poucos entrevistados.

Gráfico 15 - Incerteza dos eventos de tarefa para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

70  

80  

alta   média   baixa  

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  

Causados  pelo  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  trabalho  virtual  

Não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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104  

Os eventos alterados pelo trabalho virtual tiveram incerteza baixa, como era de se

esperar, pois nesse grupo estão situações mais comuns ao cotidiano do gestor virtual.

A situação se mostra invertida na terceira parte do Gráfico 15, dos eventos que não se

alteraram com o trabalho virtual. Esses foram percebidos, em sua grande maioria, como sendo

de alta incerteza. Um dos motivos que pode ter contribuído para essa diferença pode estar nas

situações em que há interação com agentes externos à empresa, especialmente no trato com

clientes, que não podem ser totalmente previstos.

Desta forma, a percepção de maior incerteza para os eventos que não se alteraram pelo

trabalho virtual foi capaz de alterar a percepção geral de incerteza, apresentada anteriormente

no Gráfico 14.

4. Complexidade

Diferentemente dos grupos anteriores, a complexidade percebida para os eventos de

tarefa se colocou em dois extremos, sendo um de complexidade alta e outro de complexidade

baixa, como mostra o Gráfico 16. Uma das razões que pode explicar esse resultado é o critério

de mensuração dessa característica, na qual um evento possui complexidade baixa caso a sua

solução só envolva pessoas e recursos já disponíveis, ou é considerada alta caso envolva

outras pessoas e recursos que não estão ao acesso do gestor virtual.

Gráfico 16 - Complexidade dos eventos de tarefa.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  10  20  30  40  50  60  70  80  90  

alta   média   baixa  

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105  

A maior quantidade de eventos percebidos como de baixa complexidade mostra que o

gestor virtual possui os recursos, ou acesso às pessoas, que necessita para a condução da

maior parte das situações do seu cotidiano profissional, como mostra o Gráfico 17. Por ele,

pode-se perceber que tanto os eventos causados pelo trabalho virtual, como os que foram

alterados por este, têm a maior parte das situações de baixa complexidade.

Gráfico 17 - Complexidade dos eventos de tarefa para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

A complexidade se mostra diferente para os eventos que não foram alterados pelo

trabalho virtual. Para esse grupo, a maior parte das situações é percebida como de alta

complexidade, como mostram as colunas da direita do Gráfico 17. A causa, mais uma vez,

pode estar nos eventos que compõe esse grupo, com situações que exigem outros recursos

externos.

Em resumo, a complexidade percebida para os eventos de tarefa é, na maioria dos

casos, baixa, com exceção para os eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual.

5. Urgência

Os eventos de tarefa se apresentam como sendo na maioria dos casos, muito urgentes,

como mostra o Gráfico 18. Isso pode ser explicado por serem as situações relacionadas ao

desenvolvimento das tarefas as mais representativas do trabalho do gestor virtual. Assim,

qualquer situação que dificulte o desenvolvimento das atividades profissionais, acaba por ter

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

Causados  pelo  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  trabalho  virtual  

Não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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106  

que ser solucionada o mais breve possível, pois pode atrapalhar a produtividade, não só do

gestor, mas de toda a sua equipe, ou mesmo das demais equipes envolvidas em um projeto,

por exemplo.

Gráfico 18 - Urgência dos eventos de tarefa.

Fonte - Elaborado pela autora.

A apresentação separada dos três grupos, no Gráfico 19 mostra uma realidade

diferente, na qual foi atribuída uma urgência muito maior aos eventos alterados pelo trabalho

virtual que os demais grupos.

Gráfico 19 - Urgência dos eventos de tarefa para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  

20  

40  

60  

80  

100  

120  

140  

alta   média   baixa  

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

70  

80  

Causados  pelo  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  trabalho  virtual  

Não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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Para os eventos que surgiram com o trabalho virtual, que estão à esquerda do Gráfico

19, estes possuem a mesma quantidade de situações com alta e média urgência. Assim,

mesmo que a maior parte dos eventos de tarefa tenha sido considerada como urgente, as

atividades que foram causadas pelo trabalho virtual se mostraram menos urgentes que os

demais eventos dos outros dois grupos, especialmente os eventos alterados pelo trabalho

virtual.

6. Pessoas Envolvidas

As pessoas envolvidas nos eventos de tarefa se mostraram bastante específicas,

dependendo da situação. No geral, como apresentado no Gráfico 20, o próprio gestor é a

primeira pessoa e as vezes a única a lidar com o evento.

Gráfico 20 - Pessoas envolvidas nos eventos de tarefa.

Fonte: Elaborado pela autora.

Assim, por exemplo, nos eventos de tarefa alterados pelo trabalho virtual teve uma

quantidade expressiva de envolvimento do suporte técnico, explicado pelas situações em que

há problemas com os computadores e tecnologias utilizadas.

0  

20  

40  

60  

80  

100  

120  

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Gráfico 21 - Pessoas envolvidas nos eventos de tarefa para os três grupos.

Fonte: Elaborado pela autora.

O Gráfico 21 apresenta as pessoas envolvidas em cada um dos grupos. Nele, pode-se

perceber que a família está envolvida, especificamente, no grupo dos eventos alterados pelo

trabalho virtual, por este contemplar as situações em que o trabalho interfere na vida

pessoal/familiar, ou quando acontece o contrário, ou seja, que a família interfere no

desenvolvimento do trabalho. Já nos eventos que não foram alterados pelo trabalho virtual, há

uma representatividade maior de clientes envolvidos nos eventos, que também pode ser

explicado pelo eventos possuírem relação com os clientes e projetos.

Assim, sobre as pessoas envolvidas nos eventos de tarefa, pode-se dizer que, em

primeiro lugar, o próprio gestor é o mais envolvido, como era de se esperar, sendo a pessoa

por meio da qual os eventos passam a existir e que dá sentido a esses. Outras pessoas podem

estar envolvidas esporadicamente, quando o evento diz respeito à esses, ou quando a

necessidade parte de outra pessoa.

Desta forma a análise das características dos eventos de tarefa mostrou que esses são

percebidos como sendo, na sua maioria, bastante frequentes e muito importantes. Além disso,

eles também são percebidos como sendo de baixa incerteza do gestor, que sabe como

conduzi-los e também de baixa complexidade, pois o gestor já possui todos os recursos e

pessoas que necessita para o seu desenvolvimento. Eles são também bastante urgentes, o que

pode ser explicado pela grande importância dada a eles, além desses eventos tratarem do foco

do trabalho do gestor. Por fim, com relação às pessoas envolvidas, o primeiro é o próprio

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  

Causados  pelo  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  trabalho  virtual  

não  se  alteraram  

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gestor. As demais pessoas estão envolvidas somente nos eventos que dizem respeito a elas

próprias.

O gestor virtual não deixa de entregar os resultados esperados e fazer as atividades

previstas. O meio pode influenciar, de forma a agregar novos eventos, seja por questões

relacionadas às tecnologias, à distância, podendo trazer dificuldades a atividades rotineiras,

como o simples fato de esclarecer uma dúvida com um colega. Por outro lado, o meio facilita

o desenvolvimento de algumas partes do trabalho, como a concentração em um ambiente

tranquilo, a falta de controles diretos pelas cobranças frequentes e reuniões de

acompanhamento.

4.5 Análise dos eventos de Controle e Avaliação

Acompanhar as atividades de diversas pessoas, com capacidades diferenciadas, já é

uma tarefa bastante complexa, ainda que todos estejam trabalhando no mesmo ambiente e se

conheçam. A partir do momento em que estas pessoas são colocadas em diferentes

localidades - provavelmente cada uma em sua casa, indo eventualmente ao escritório e a

clientes, para reuniões esporádicas- o trabalho do gestor dessa equipe passa a ser bem mais

difícil, com outras preocupações e um novo cenário de trabalho. Isto é o que observam Hertel,

Geister e Konradt (2005) quando afirmam que todas as formas de controle direto da equipe se

tornam dificultadas a partir do momento em que o gestor passa a não estar mais no mesmo

local que os membros de sua equipe.

O gestor virtual precisa adaptar a forma de controlar e mensurar os resultados dos

membros de sua equipe e dos projetos nos quais estão envolvidos; precisa de uma nova forma

de lidar com todos os agentes externos, especialmente pela forma como são cobrados e

demostram seus resultados; além de o próprio gestor precisar alterar a sua forma de trabalho e

o posicionamento frente a diferentes estímulos/desafios profissionais.

Na análise das entrevistas com os 22 gestores virtuais, foram encontrados 11 eventos

de controle e avaliação, apresentados em 120 passagens distintas depreendidas das

entrevistas, que representam as situações de acompanhamento do próprio trabalhador em

home office, do seu trabalho e de sua equipe.

Diferentemente dos eventos de tarefa, não foi possível fazer a separação das situações

representativas de controle e avaliação específicos do trabalho em home office, ou que tiveram

o seu significado alterado pelo trabalho remoto. Assim, no primeiro nível de análise, foram

encontrados quatro grupos de controle, apresentados na Figura 7: o controle da equipe; do

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projeto; o controle pessoal; e o controle externo. A análise das respostas dos gestores virtuais

sobre cada um deles será apresentada a seguir.

Figura 7 – Eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

4.5.1 Controle da equipe

Para Mintzberg (2003) há diferentes formas de coordenar o trabalho da equipe, que

pode ir desde ajuste mútuo, supervisão direta, padronização dos processos de trabalho,

padronização dos resultados, até a padronização das atividades. Essas situações se

apresentaram de diferentes formas durante as entrevistas com gestores virtuais. Nas

entrevistas, foram encontradas situações vinculadas a dois eventos de controle e avaliação da

equipe, como mostrados na Figura 8. São elas: a decisão sobre a melhor forma de controle da

equipe remota e a decisão sobre a forma de acompanhar o andamento do trabalho da equipe

remota.

Eventos  de  controle  e  avaliação  

Controle  da  equipe  

Controle  do  projeto  

Controle  pessoal  

Controle  externo  

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111  

Figura 8 – Eventos de controle da equipe.

Fonte - Elaborado pela autora.

Evento 1: Decisão sobre a forma de controle da equipe remota

O primeiro evento diz respeito à decisão sobre a forma de controle da equipe remota.

Algumas formas de controle, especialmente o controle direto sobre o tempo de trabalho é

mais difícil de ser feito e exige maior atuação direta do gestor virtual. Para Konradt e Hoch

(2007), o acompanhamento individual de cada membro da equipe é bastante dificultado pelo

trabalho virtual, por haver menos possibilidades de contato direto entre gestor e subordinado.

Outras formas de acompanhamento das atividades, ou entregas, conseguem se adequar à

flexibilidade do trabalho remoto. Para os profissionais que trabalham em multinacionais, a

estrutura de controle possui parâmetros unificados, como aponta a G15_V-F-P

Muitas formas de reporte são globais. Então, você tem que usar formatos e coisas, tudo que têm lá, dentro da empresa, na matriz, e replica para todo mundo a forma que as coisas acontecem, metodologia, tipo de relatório, em que momento acontece cada coisa. Isso é tudo meio padrão.

Também no caso da G19-V-F-P, que atua em uma multinacional americana, os

objetivos e as métricas são definidos no começo do ano, e são acompanhadas regularmente,

por meio de sistemas e pessoas responsáveis pela verificação do desempenho das equipes

remotas.

Contrariamente, algumas empresas que não possuem a estrutura de trabalho virtual

muito definida, acabam por ter problemas com os controles, como no caso do G21-V-F-T que

Controle  da  equipe  

Decisão  sobre  a  forma  de  controle  da  equipe  remota  

Decisão  sobre  a  forma  de  acompanhamento  do  trabalho  da  equipe  remota.  

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afirma que “Isso é um problema para mim, porque eu acabei deixando a minha equipe muito

solta.” Para a G13-V-S-T, por exemplo, “antes não tinha um acompanhamento muito

específico, mas agora [ ] vai ter um acompanhamento mais específico em termos das metas

que são estabelecidas para cada pessoa.” Assim, por mais que ela possa fazer outras

atividades pessoais durante o tempo de trabalho, ela sabe quais resultados a empresa espera e

se programa para entregá-los no prazo.

Tanto o controle como avaliação dos funcionários da equipe são pontos chave na

mudança para o trabalho virtual, como afirma a G2-V-F-P. “Faz muito tempo que venho

trabalhando com avaliação das pessoas não por horários mas por objetivos. A gente avalia as

pessoas tanto pelo que ela conseguiu e como ela conseguiu isso.” Assim, o tempo de

dedicação às tarefas deixa de ser importante, para que a produtividade tenha um papel central

na relação de trabalho. O mesmo acontece com a G18-SV-R-T, que afirma que “a eficácia

número um é o atendimento dos prazos”. Para ela, ao conseguir cumprir com os prazos e fazer

as coisas da forma esperada, todos têm muitos elogios. No caso dessa depoente, o

planejamento é feito de forma integrada, embora ela considere mais difícil fazer essa

integração no planejamento de toda a equipe remotamente.

Nesse sentido, no caso do G5-SV-R-T e outros depoentes, conciliar os horários da

equipe para fazer encontros síncronos, sendo presenciais ou não, é bastante difícil e somente é

feito quando extremamente necessário. A melhor opção, segundo vários depoentes é a

centralização na coordenação das atividades de todos. Assim, por mais que o gestor acumule

mais uma atividade, o controle individual consegue ser feito regularmente.

A possibilidade de poder administrar assuntos da vida pessoal e familiar e ainda assim

ser produtivo e cumprir com as atividades é o que agrada a maior parte dos gestores virtuais

entrevistados. Para mais de 50% dos depoentes, o acompanhamento deles e de suas equipes é

feito pelos resultados apresentados, o que agrega a percepção de maior carga de trabalho para

conseguirem apresentar os resultados no prazo determinado.

Evento 2: Decisão sobre a forma de acompanhamento do trabalho da equipe remota

O segundo evento diz respeito ao acompanhamento do trabalho da equipe remota.

Para Orengo, Zornoza e Peiró (2011) a principal forma de cobrança das equipes virtuais é por

meio das entregas. Assim, é essencial ter uma estrutura de acompanhamento bem definida.

O acompanhamento do andamento do trabalho da equipe remota pode ser feito por

meio de sistemas, planilhas e até reuniões sistemáticas de follow up, como os gestores virtuais

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entrevistados G15-V-F-P e G16-V-F-P, que fazem reporte diário das atividades da equipe.

Isso está bastante caracterizado na fala do G16-V-F-P, que “Eu tenho uma equipe abaixo e se

não entregam, eu vou ter que acabar às vezes resolvendo, para poder cumprir a meta ou o

prazo da gerência.” Assim, o controle permanente também é uma forma de garantir que as

atividades sejam feitas pelos responsáveis e não pelo gestor. Para a G18-SV-R-T “É um

contato de rotina, para ver como está o andamento, para acompanhar as atividades.” Este

contato é feito com a equipe dela uma vez por semana, de forma virtual.

Na organização onde atua a G2-V-F-P, cada funcionário tem uma lista de atividades,

coordenada por um software da empresa, quanto a prazos, pendências e entregas. Tanto o G3-

N-R-T como o G5-SV-R-T usam planilhas, que todos têm acesso, inclusive clientes, e que

podem acompanhar cada atividade finalizada. Da mesma forma, o G21-V-F-T acompanha o

trabalho da equipe por um sistema de registro dos chamados abertos pelos clientes e a forma

de condução das atividades, até o encerramento de cada ‘incidente’ do sistema.

A falta de controle do tempo de trabalho leva a diferentes situações a fim de garantir o

cumprimento de prazos e padrões de qualidade das entregas. Se, de um lado, para os

depoentes a cobrança por resultados é uma forma de poder integrar os diferentes interesses,

por outro, a falta de um controle direto pode causar insegurança nos trabalhadores de home

office, como conta a G13-V-S-T:

O que eu sentia no começo, agora nem tanto mais, é que eu achava que porque o meu chefe não estava em contato comigo sempre, ele não tinha noção do que eu estava fazendo. E isso foi uma das coisas que quando eu comecei a me sentir um pouco sobrecarregada, eu senti que se eu estivesse lá [no escritório], ele ia ver o quanto eu estava fazendo.

Tanto a G13-V-S-T como o G7-V-R-T apresentaram em suas falas essa sensação de

insegurança por precisar ter o que mostrar. “Então se eu não fizer nada, não anda e depois na

reunião de update eu vou falar que nada aconteceu e vou me dar mal” (G7-V-R-T). Nesse

sentido, a G14-V-R-P também compartilha da mesma percepção de que “tem que dar

resultado, independente do ambiente que a gente ocupe”.

A sobrecarga de trabalho é uma consequência direta para 12 dos 22 entrevistados, pois

é pelas entregas que eles conseguem aparecer para os superiores e restante da empresa, além

de ser a forma de garantir que continuarão com a mesma estrutura de trabalho. Para o G8-V-

R-T “Eu nunca trabalhei, nunca produzi tanto quanto eu produzo hoje na minha vida. Eu

achava que era impossível fazer o que eu faço hoje. E eu ainda consigo enforcar um dia de

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114  

semana.” Assim, mesmo que ele trabalhe mais, consegue fazer outras atividades e até tirar um

dia para questões pessoais.

Assim, os dois eventos de controle da equipe representam as preocupações dos

gestores virtuais em acompanhar o trabalho e as entregas de suas equipes, respeitando as

peculiaridades do trabalho virtual, especialmente com relação à dificuldade de controle direto

do tempo de trabalho, mas focando nas ações e resultados, até como forma de diminuir a

incerteza sobre o trabalho de cada membro da equipe e do próprio gestor.

4.5.2 Controle do Projeto

Doze dos vinte e dois gestores entrevistados trabalham com a estrutura de projetos, ou

seja, possuem um objetivo central para a equipe, de algo que precisa ser entregue em um

prazo determinado, e têm a equipe estruturada de acordo com esse objetivo, sendo os

membros integrados à equipe, na medida em que são necessários para cumprimento dos

objetivos, por um prazo determinado (KENSKI, 2015). A estrutura de projetos pode, por um

lado, facilitar o controle de entregas, prazos e fluxo do trabalho, mas, por outro lado, dificulta

a integração dos membros, uma vez que eles entram na equipe conforme a sua utilidade ao

projeto e saem no momento em que suas habilidades deixam de ser necessárias ao projeto.

Dessa forma, são três os eventos relacionados ao controle do projeto, como mostrado pela

Figura 9.

Figura 9 – Eventos de controle do projeto.

Fonte - Elaborado pela autora.

Controle  do  projeto  

Decisão  sobre  o  envolvimento  em  projetos  

Gestão  do  cronograma  e  prazos  do  projeto  

Decisão  sobre  a  forma  de  mensuração  dos  resultados,  entrega  e  fechamento  do  projeto  

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115  

Evento 1: Decisão sobre o envolvimento em projetos

O primeiro evento diz respeito à decisão sobre se envolver ou não em um projeto. A

autonomia dada ao gestor virtual torna possível que ele escolha os projetos em que quer estar

envolvido, não só para si como para cada membro da equipe. Essa decisão envolve diferentes

variáveis, para cada um dos entrevistados, em cada caso. A G2-V-F-P, por exemplo, precisa

de aprovação superior para que ela e sua equipe se envolvam em um novo projeto. Tanto o

G9-V-S-P como a G11-SV-S-T consideram a quantidade de encontros presenciais antes de

aceitar se envolver em um novo projeto, pois isso prejudica toda a sua rotina diária, já que

eles vivem em cidades diferentes do escritório da empresa. Alguns gestores também

colocaram o fato de somente aceitar projetos que já têm as pessoas necessárias na equipe,

como forma de evitar novas contratações, ou ter que integrar um novo membro.

Para o G8-V-R-T, que está envolvido em um projeto de longa duração, ele nem

considera deixar o projeto, antes da conclusão desse, por mais que tenham surgido boas

oportunidades, para participação em projetos que ele considera mais estratégicos. No geral, os

gestores virtuais entrevistados podem escolher os projetos que querem participar ou não,

como afirma a G18-SV-R-T:

Porque eu, se eu quiser, eu nego aquele trabalho, nego aquela demanda. Eu não sou obrigada pelo meu chefe, necessariamente a pegar. Isso não implica necessariamente em falta de responsabilidade com os prazos que já foram acordados, de forma alguma.

Outro lado da possibilidade de escolher os projetos, foi apresentado pelo G5-SV-R-T,

que coloca uma dificuldade do home office, que é ser lembrado para um novo projeto, por não

estar em evidência. “É muito legal quando alguém entra em contato que você nem está

esperando, porque ela ficou sabendo do seu trabalho via outra pessoa.” Para ele, o mais

importante é fazer os projetos com qualidade e dentro do prazo, pois é o que garante que

continue sendo convocado para bons projetos.

Evento 2: Gestão do cronograma e prazos do projeto

A gestão do cronograma e dos prazos é o segundo evento desse grupo. A falta de um

acompanhamento diário das ações e de ter todos envolvidos no mesmo espaço, faz com que

muitas questões de prazo sejam mais difíceis de serem negociadas. Para evitar isso, por

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116  

exemplo, a G18-SV-R-T cria um acompanhamento pessoal dentro do cronograma do projeto,

“eu já posso pensar e então fazer um planejamento prévio de alguma atividade do

cronograma. Eu fico com o cronograma aqui do lado. Está vendo?”.

Para auxiliar na gestão dos prazos, quatro depoentes disseram que preferem

compartilhar todo o cronograma do projeto tanto com os envolvidos no desenvolvimento,

como com os clientes e a gestão da organização, como coloca o G14-V-R-P “A gente tem um

sistema interno, esse sistema é um sistema de workflow e toda a gerência do projeto é feita por

esse sistema.” É isso o que acontece, também, com a GV 15-V-F-P, que coleta diariamente as

informações da equipe sobre o andamento dos projetos. Esta gestora costuma utilizar a sexta-

feira a tarde para rever o cronograma e passar para a equipe na semana seguinte.

Uma das questões sobre a gestão do cronograma, diz respeito aos imprevistos. “Ou o

cliente pede mais coisas, ele não entende que se está pedindo mais ele tem que ampliar o

prazo.” (G3-N-R-T). Em um projeto de longa duração, por exemplo, como o realizado pelo

G5-SV-R-T, ele conta que, no meio do prazo determinado para o projeto, o cliente precisou

adiantar todas as datas, fazendo a equipe ter que sacrificar muitas atividades, especialmente

pessoais, para conseguir cumprir com os novos prazos mais curtos.

Alguns depoentes preferem colocar prazos curtos e assumir o excesso de trabalho,

como a G4-N-R-T e a G11-SV-S-T. Outros depoentes têm prazos curtos por imposição dos

superiores e clientes, como forma de diminuir os custos do projeto. Já a G1-SV-R-T prefere

criar cronogramas de trabalho que tenham espaço para assumir imprevistos sem precisar

sacrificar as demais atividades nem entregas, o que não acontece com a G11-SV-S-T e a G12-

N-R-T que, muitas vezes, precisam renegociar os prazos.

Evento 3: Decisão sobre a forma de mensuração dos resultados, entrega e fechamento do

projeto

A finalização de cada fase do projeto, ou o encerramento final podem estar repletos de

questões que, na maioria dos casos, já existiam antes dos membros da equipe estarem

trabalhando virtualmente, mas que foram alterados pela mudança no ambiente de trabalho,

especialmente devido à distância física existente entre as pessoas. Assim, nesses casos, a

forma de conduzir o fechamento, fazer as entregas e até receber feedback de clientes é

diferente.

Para o G3-N-R-T, a forma como os clientes recebem cada fase é o melhor feedback.

“Você percebe a maneira como ele está recebendo aquilo.” Assim é possível saber se está no

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caminho certo ou se deve alterar o rumo do projeto. Apesar disso, a falta de momentos de

interação, para mostrar o que está sendo feito, pode prejudicar, especialmente no caso de um

projeto que tenha muitos pedidos de ajustes ou alteração a cada entrega. Como forma de

evitar isso, a G11-SV-S-T tenta não aceitar projetos que ela perceba que podem ter muitos

ajustes, pois isso pode atrapalhar o seu cronograma pessoal, a sua avaliação como gestora e de

sua equipe e até comprometer a produtividade, a disponibilidade para novos projetos e os

pagamentos das pessoas que recebem de acordo com as entregas.

Também sobre a forma de mensurar os resultados, a G4-N-R-T afirma que,

dependendo do projeto, especialmente se envolve o uso massivo de tecnologias no

acompanhamento da equipe e prazos, o resultado pode vir muito rápido. Outros entrevistados

afirmam que quanto mais estruturado é o acompanhamento do projeto, especialmente quando

usam sistemas de controle, têm maior facilidade de comprovar a eficiência da equipe e os

resultados dos projetos que desenvolvem.

Alguns dos depoentes, como o G5-SV-R-T, tem o seu pagamento vinculado ao

fechamento de projetos, ou fases. Assim, mais do que somente o acompanhamento e

mensuração de resultados, são as entregas bem feitas que garantem que ele consiga se manter

trabalhando para a mesma empresa, nesse modelo de trabalho.

Desta forma, os eventos de controle do projeto envolvem diferentes decisões, desde a

decisão de aceitar ou não um projeto, que é feita de acordo com diferentes interesses,

passando por todas as questões do desenvolvimento do projeto, especialmente com relação à

prazos, até a entrega de cada fase do projeto e o encerramento final. Por mais que esses

eventos não sejam específicos do trabalho do gestor virtual, mas sim de diferentes gestores de

projeto, o fato do trabalho ser desenvolvido remotamente trouxe outra conotação para muitas

das situações já conhecidas dos gestores que atuam presencialmente.

4.5.3 Controle Pessoal

Os eventos de controle pessoal dizem respeito à organização do próprio gestor virtual.

Há quatro eventos, mostrados na Figura 10, a saber: a estrutura do trabalho; controle dos

tempos de trabalho; definição de metas e prioridades, e ; controle do excesso de trabalho.

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118  

Figura 10 – Eventos de controle pessoal.

Fonte - Elaborado pela autora.

Evento 1: Definição da estrutura de trabalho em home office

A estrutura do trabalho de home office, como primeiro evento, diz respeito à forma

como o trabalho está organizado e é acompanhado. Uma fala bastante ilustrativa da G11-SV-

S-T: “trabalhando em casa, eu vendo a entrega, eu não vendo as minhas horas, porque as

minhas horas valem muito. Tipo, o tempo vale muito mais que dinheiro. [ ] O empregador

não é dono do meu tempo.” Assim, para mais da metade dos entrevistados, a relação que

possuem com a empresa/empregador é a de venderem a sua produtividade, mas não o seu

tempo, e realizam as atividades no momento em que acreditam ser melhor. É o que faz a G20-

SV-R-T: “Então, eu sou uma pessoa que sou muito produtiva de noite, eu produzo muito bem

de noite, faço um monte de coisa na parte da noite.” Por este motivo, ela prefere fazer outras

coisas da casa e passar mais tempo com o filho durante o dia e produzir no período noturno.

Da mesma forma, a G22-SV-R-T diz que no período noturno consegue ter menos

interrupções, fato que a leva a realizar as atividades de maior concentração nesse horário.

Nesse sentido, para a G10-N-R-T, a cada dia todos os trabalhadores virtuais de sua

equipe têm a sua estrutura e as atividades programadas pelo cronograma, inclusive ela, e cada

um faz no horário que acredita ser mais conveniente. Para o G6-V-F-P, o mais importante é

que todos cumpram os seus prazos, independente de quando isso irá acontecer.

Com relação à estrutura do trabalho, para o G9-V-S-P “O ideal é tentar manter o

negócio bem formalizado, bem registrado, para não fugir do controle.” Para ele o

Controle  pessoal  

DeMinição  da  estrutura  de  trabalho  em  home  of'ice  

Controle  dos  tempos  de  trabalho  

DeMinição  de  metas  e  prioridades  

Controle  do  excesso  de  trabalho  

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acompanhamento periódico é o que torna possível lidar tranquilamente com vários clientes, e

se reportar diretamente à matriz americana.

Evento 2: Controle dos tempos de trabalho

A relação entre o gestor virtual e o tempo/horário de trabalho é bastante delicada. Se,

de um lado, ele tem os prazos que precisam ser cumpridos, de outro, todos os trabalhadores

remotos, de alguma forma, querem ter a flexibilidade de horário para poder acomodar outras

atividades não profissionais durante o dia.

Cerca de 80% dos entrevistados (17) disseram trabalhar mais tempo por estarem em

casa. Nesse sentido, apesar do horário de dedicação não se alterar, ele acaba por ser ampliado,

ao somar o tempo que seria dispendido com o deslocamento até o escritório, como conta o

G14-V-R-P: “Quando eu dirijo, eu não posso falar ao celular, não posso ter acesso ao

notebook, não posso ter acesso à comunicação que atrapalhe a direção.” Assim, ele prefere

gastar o tempo de trânsito trabalhando por mais tempo, de casa.

O mesmo acontece com horário de almoço para alguns entrevistados, como o G8-V-

R-T, que acaba até fazendo as refeições na frente do computador. Mesmo depois do final do

horário de trabalho, por estar ao lado do computador, muitos acabam resolvendo questões

urgentes, ou pontuais, junto com questões pessoais.

A gente tem essa pequena vantagem, que você consegue administrar um pouco melhor ou às vezes: “-Agora não deu tempo. Mas tudo bem, agora eu vou fazer tal coisa e assim que eu voltar, eu trabalho um pouco até mais tarde e faço.” Então, você consegue administrar melhor o seu tempo. Você tem mais flexibilidade, eu acho. E até assim, de você, por exemplo, ter que marcar um médico ou tem alguma coisa que você tem que marcar, você consegue marcar e recuperar o seu tempo de trabalho mais tarde. (G20-SV-R-T).

Mais da metade dos entrevistados, não são cobrados para estarem disponíveis durante

todo o horário comercial, exceto em caso de reuniões agendadas. Assim, outras atividades

podem ser acomodadas, como colocado pelo G8-V-R-T: “Eu saí as quatro e pouco de casa,

fui para a praia, tomei uma água de coco, esfriei a cabeça, peguei uma meia horinha de sol,

voltei para casa, sentei e continuei a trabalhar.” Para a G19-V-F-P, é importante ter o tempo

do home office também para poder ficar com filhos doentes, ou receber alguém que vai prestar

um serviço em casa.

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120  

A flexibilidade do home office também é o que atrai a G11-SV-S-T: “uma coisa que

eu gosto muito do meu trabalho é isso de eu poder, sei lá, passar a noite trabalhando, se eu

quiser, e no dia seguinte ir viajar”. A G22-SV-R-T também compartilha da mesma ideia,

quando fala que se trabalhasse das 09h00 às 18h00, estaria perdendo qualidade de trabalho.

Para o G17-V-F-P, que mora na cidade de São Paulo, é essencial estar em casa, especialmente

nos dias de rodízio, “eu prefiro ficar trabalhando em casa, do que levantar 05h15, para sair de

casa às 06h00 e chegar às 07h00 no meu escritório.”

Outra questão colocada por dez entrevistados é quanto a disciplina de trabalhar

durante o período determinado. Muitas vezes eles precisam se munir de autocontrole para

trabalhar e deixar outras coisas da casa e da família de lado.

Evento 3: Definição de metas e prioridades

Com relação à gestão das metas e prioridades de trabalho, os entrevistados dizem que

a falta de controle externo do meio torna mais difícil o controle interno. Em outras palavras, o

fato de estar em casa sozinho, muitas vezes, exige um grande autocontrole para conseguir

deixar de lado outras atividades e responsabilidades não profissionais e se focar somente no

trabalho.

Nesse sentido, os entrevistados se cobram muito no sentido de saberem escolher o que

fazer e em que sequência, dando prioridade ao que parece certo a eles. As prioridades são

alteradas pelo ambiente de home office, uma vez que as pressões externas muitas vezes

conseguem ser controladas, a fim de que somente possa dar atenção àquilo que parece mais

importante no momento. Mesmo assim, para alguns entrevistados, a definição das prioridades

é dada a partir do momento em que abrem a caixa de entrada de e-mails e verificam as

solicitações, ou quando chegam solicitações urgentes, por qualquer meio (como telefonemas,

WhatsApp, Messenger e comunicadores corporativos, ou mesmo o e-mail).

Por outro lado, as emergências profissionais também interferem em situações pessoais,

como viagens que precisam ser interrompidas para resolver questões profissionais (G5-SV-R-

T; G8-V-R-T; G11-SV-S-T); ser contatado no meio das férias, ou mesmo, como foi comum

na fala de alguns entrevistados, virar a noite trabalhando por conta de problemas diversos.

O mesmo acontece com as metas. Nas entrevistas, muitas vezes surgiram questões em

que os objetivos profissionais são meios para se alcançar metas pessoais, especialmente para

conseguir se manter trabalhando no modelo virtual, aumentar o tempo em casa e diminuir as

idas ao escritório, ou mesmo conseguir outros benefícios da empresa.

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Evento 4: Controle do Excesso de Trabalho

O último evento de controle e avaliação de controle pessoal se refere ao controle do

excesso de trabalho. Como mencionado anteriormente, o gestor virtual acaba, muitas vezes,

tendo uma maior carga de trabalho para que possa cumprir com as metas estabelecidas, o que

faz com que o trabalho interfira em diferentes pontos de sua vida pessoal/familiar. Assim, o

gestor virtual precisa saber fazer a gestão do trabalho, de forma a que a essa quantidade não

comprometa outras partes do seu cotidiano.

Então, no fim do ano passado é que era trash, eu tinha que ficar no computador o horário comercial mesmo, porque eles precisavam de mim. Agora, chegando março, abril, já vai ficar bem mais tranquilo e eu não vou precisar ficar tanto ali conectada, falando com as pessoas pelo Skype, porque eles estarão fazendo outras atividades. (G13-V-S-T)

Tanto a G13-V-S-T, como a G19-V-F-P têm boa parte do seu trabalho relacionado ao

atendimento e acompanhamento de clientes em um processo sazonal, em que a exigência se

torna maior em alguns períodos do ano.

Eu estou com duzentos e-mails na minha caixa lá. Agora há pouco estava com duzentos. Aí eu olhei e falei assim: “-Não, deixa eu tentar reduzir isso aqui.” E fui respondendo alguns, vendo algumas coisas, deletando alguns que são só informação e alguma coisa. E agora eu estou com 187 e-mails na minha caixa. Mas assim, porque não dá conta de você responder tudo, porque é muito e-mail. (G19-V-F-P)

Muitos gestores virtuais disseram que passam por situações difíceis, para que

consigam cumprir prazos e, muitas vezes, acabam gastando muito mais tempo do que o que

seria normal de trabalho. A G20-SV-R-T, afirma que não há diferença de quando trabalhava

todo o tempo do escritório. Para ela, o lado bom de ter se tornado Gestora Virtual é que agora

ela está virando a noite trabalhando de casa, e não do escritório, como iria acontecer se ela

não trabalhasse remotamente.

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122  

4.5.4 Controle Externo

O último grupo de eventos de controle e avaliação é o de controle externo. Ele é

representado por todos os mecanismos organizacionais, e até governamentais, de estruturação

e acompanhamento do trabalho do gestor e sua equipe. Este evento está mais relacionado aos

gestores que possuem vínculo formal com a organização. Cada organização possui diferentes

formas de realizar esse controle, tanto para os funcionários presenciais, como virtuais. São

dois os eventos de controle externo, como mostra a Figura 11.

Figura 11 – Eventos de controle externo.

Fonte - Elaborado pela autora.

Evento 1: Necessidade de acompanhamento e/ou aprovação superior

O primeiro evento diz respeito à necessidade de acompanhamento e/ou aprovação

superior. Enquanto muitas vezes essa ‘necessidade’ é muito normal e até passa despercebida

na maior parte dos momentos do cotidiano do escritório - em que o trabalho é acompanhado

e os funcionários podem ser acessados em um ‘passeio’ pela divisão - no momento em que se

passa a realizar o trabalho remoto, as duas partes se encontram em diferentes locais, muitas

vezes com horários desencontrados de trabalho. Assim, para trocar informações sobre as

tarefas, pode ser necessário marcar uma reunião, ou trocar muitas mensagens.

Da mesma forma, o registro de aprovações muitas vezes se torna uma exigência, que

faz com que sistemas comunicadores empresariais tenham a possibilidade de gravar reuniões

e até compartilhar documentos. A formalização de decisões, com atas e envio de e-mail de

confirmação, também faz parte do cotidiano de parte dos gestores virtuais entrevistados.

Controle  externo  

Necessidade  de  acompanhamento  e/ou  aprovação  superior  

Receber  feedbacks  positivos  

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123  

As vezes também há desconfiança sobre a forma como o gestor virtual realiza o seu

trabalho, como apresentado pela G18-SV-R-T e o G16-V-F-P. Para eles, muitas vezes há

várias ligações por dia, para saber informações sobre o trabalho, o projeto, entre outras

questões, até externas ao trabalho. Esse é um problema quando prazos precisam ser

renegociados. Muitos gestores preferem trabalhar muito além do horário para conseguir

cumprir os prazos acordados do que tentar negociar novos prazos. Segundo alguns dos

gestores virtuais entrevistados, as pessoas não ‘gostam’ de flexibilizar os prazos para os

trabalhadores virtuais, pois muitos acreditam que a pessoa que está trabalhando de casa, têm

todo o tempo para se dedicar à sua demanda. Em diferentes momentos das entrevistas, eles

afirmaram que ‘quem está do outro lado’ não sabe se estão jogando, se passam o dia na

academia ou na frente da TV, ou se trabalham.

O contrário também existe, ou seja, receber as solicitações com prazos muito curtos. A

maior parte dos gestores virtuais acabam aceitando solicitações com prazos curtos, por

diferentes motivos, como: para ajudar colegas (G10-N-R-T), por empatia ao problema do

outro (G20-SV-R-T) ou até para ter poder de barganha em outras situações (G5-SV-R-T). No

caso de clientes, há o problema de solicitar alterações depois do prazo, ou em cima da hora.

Muitos gestores virtuais entrevistados reclamaram dessa situação, mas todos acabam

realizando as atividades solicitadas.

Evento 2: Receber Feedbacks positivos

Em uma situação de trabalho remoto, é mais difícil a percepção sobre como o trabalho

e a condução das atividades acontece. Muito da forma de interação, das conversas informais e

mesmo dos gestos é perdido, sobrando as avaliações formais. Assim, os gestores

entrevistados, muitas vezes, ao serem questionados sobre como eles sabiam que o seu

trabalho estava sendo bem avaliado, informaram que isso foi percebido quando receberam

outras responsabilidades como, por exemplo: conduzir reuniões com diretores da matriz da

empresa (G7-V-R-T); ter o feedback de clientes, inclusive antes do superior (G13-V-S-T;

G18-SV-R-T; G20-SV-R-T); ou de clientes que retornam com novos contratos (G3-N-R-T).

Nesse sentido, muitos entrevistados sentem falta de um feedback formal sobre a sua

atuação, como o G16-V-F-P, que diz que mesmo a empresa tendo as ferramentas necessárias,

o seu superior não preenche as avaliações.

Em síntese, os eventos de controle externo, como apresentados, focam em três pontos,

sendo o primeiro com relação ao acompanhamento feito pelas instâncias superiores da

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124  

organização; o segundo com relação à decisão sobre a estrutura de contratação dos

trabalhadores virtuais e o terceiro com relação à necessidade de receber feedbacks positivos.

Agora serão apresentadas as características dos eventos destacados das entrevistas.

4.5.5 Influência do perfil dos respondentes nos eventos de controle e avaliação

Alguns pontos do perfil dos respondentes com relação aos eventos de controle e

avaliação merecem ser destacados.

Somente os respondentes que possuem vínculo formal e equipes transitórias estiveram

envolvidos nos eventos de definição do tempo de trabalho home office e os com vínculo, mas

equipes fixas e virtualidade parcial, na definição dos dias de trabalho em home office.

Também somente os gestores com vínculo formal necessitam de aprovação superior, como

era de se esperar, mas o evento que mais chamou a atenção é que somente esses profissionais

tiveram eventos relacionados ao controle do excesso de trabalho.

Um evento que chamou a atenção foi a decisão sobre o envolvimento em novos

projetos, que esteve presente tanto em gestores com vínculo, como semi-vínculo, embora

ambos tinham a equipe estruturada por projetos e virtualidade total.

Os respondentes com virtualidade total foram os únicos que apresentaram como

evento as questões que envolvem a alteração no cronograma do projeto. Um dos motivos para

que isso possa ter acontecido é que para esses, a situação pode ser mais delicada.

4.5.6 Características dos eventos de Controle e Avaliação

As características dos eventos de controle e avaliação possuem algumas

peculiaridades, como serão apresentadas a seguir. Essas particularidades resultam das

distinções e da influência do meio virtual, que agrega uma grande quantidade de ferramentas

de controle tecnológico, tornando possível o acompanhamento das atividades desenvolvidas

de forma remota. Por outro lado, a distância física entre as pessoas torna alguns tipos de

controle direto bastante dificultado (ORENGO; ZORNOZA; PEIRÓ, 2011), se não

impossível.

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-­‐ Frequência

Os eventos de controle e avaliação, como mostra o Gráfico 22, possuem, em sua

maioria, alta frequência. Por este motivo, pode-se entender que as situações depreendidas

como evento de controle fazem parte dos controles regulares do gestor virtual.

Gráfico 22 - Frequência dos eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

De acordo com Peterson et al (1990), a rotina de trabalho diário é marcada por eventos

de alta frequência, com alguns episódios de problemas com os quais ainda não estamos

familiarizados. Assim, a frequência dos eventos de controle e avaliação está relacionada à

forma como o trabalho está organizado, tanto para o gestor, como para a equipe; à forma

como os projetos são acompanhados durante o seu desenvolvimento; e, por fim, à forma como

a empresa consegue saber que as pessoas estão desenvolvendo as atividades, por mais que

elas não estejam presentes dentro do espaço físico do escritório.

0  

20  

40  

60  

80  

100  

alta   média   baixa  

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126  

Gráfico 23 - Frequência dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

Como pode ser observado no Gráfico 23, a maior frequência se dá nos eventos de

controle pessoal. Isso pode ser explicado pela maior necessidade de autocontrole (CASCIO,

2000) que o gestor precisa ter para conseguir organizar as atividades diárias do trabalho no

ambiente do home office e ainda garantir a sua produtividade. O controle da equipe também

possui uma frequência mais alta, como era de se esperar, pois o acompanhamento das pessoas

da equipe deve ser feito com frequência. O controle do projeto, pela fala dos entrevistados, é

bastante previsível, o que leva a uma frequência maior para as atividades rotineiras. A

diferença no gráfico da frequência do controle externo se deu muito mais pela diferença da

forma com a qual os gestores são acompanhados em diferentes organizações, que não é nada

uniforme.

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

35  

40  

Controle  da  equipe  

controle  do  projeto  

controle  pessoal  

controle  externo  

alta  

média  

baixa  

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127  

-­‐ Importância

Gráfico 24 - Importância dos eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

A importância dos eventos de controle e avaliação foi muito alta para todos os

eventos, como mostra o Gráfico 24. Um dos motivos que pode explicar isso deve estar no fato

de que todo o resultado depende de um acompanhamento e controle bem feito.

Peterson e Ruiz-Quintanilla (2003) afirmam que as situações de trabalho são mais

importantes à medida que têm maior impacto no objetivos do trabalho. Desta forma, a alta

importância atribuída aos quatro grupos de eventos de controle pode ser entendida, inclusive,

pelo motivo que leva os controles à existirem.

A maior importância percebida também pode representar a forma como o gestor

atribui sentido ao evento ao percebê-lo como tendo maior importância, por estarem

relacionados a diferentes focos do controle da equipe, do projeto, pessoal e externo.

0  

20  

40  

60  

80  

100  

120  

alta   média   baixa  

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128  

Gráfico 25 - Importância dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora. O gráfico 25 mostra a importância de cada tipo de controle. Todos os quatro grupos

dos eventos de controle e avaliação foram considerados muito importantes para todos os

gestores entrevistados.

-­‐ Incerteza

O Gráfico 26 mostra a incerteza para os eventos de controle e avaliação. A menor

incerteza apresentada para os eventos de controle e avaliação era esperada, pois os controles

são desenvolvidos como forma de diminuir, ou ao menos controlar a incerteza

(MINTZBERG, 2003).

Gráfico 26 - Incerteza dos eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

35  

40  

Controle  da  equipe  

controle  do  projeto  

controle  pessoal  

controle  externo  

alta  

média  

baixa  

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

alta   média   baixa  

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129  

Ao separar os quatro grupos de eventos de controle, mostrados no Gráfico 27, a

situação geral se altera um pouco. Para os eventos de controle pessoal, a incerteza é realmente

muito baixa, o que faz com que o resultado final tenha sido bastante afetado por isso. O

gestor, ao definir os mecanismos de controle pessoal do tempo, produtividade, entre outros,

pode estar se cercando de mecanismos para diminuir a incerteza do trabalho virtual, mas a

incerteza geral é um pouco maior.

Gráfico 27 - Incerteza dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

Para o controle da equipe e do projeto, a média incerteza mostra que, em parte, a

incerteza não é tão grande, mesmo com a influência do meio. Já a maior parte dos eventos de

controle externo possui alta incerteza. Um dos motivos que pode explicar esse resultado é a

falta de um contexto e identidade compartilhados no trabalho virtual que, para Hinds e

Mortensen (2005), podem levar à maior desconfiança e à maior incerteza do gestor.

-­‐ Complexidade

A quantidade de recursos envolvidos ao lidar com um evento é o que atribui maior ou

menor complexidade. Dessa forma, um evento mais complexo precisa de mais informações,

conhecimentos, recursos próprios e/ou de terceiros na solução. Eventos menos complexos são

os que qualquer pessoa conseguiria lidar sem maiores dificuldades e sem nenhum recurso

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

Controle  da  equipe  

controle  do  projeto  

controle  pessoal  

controle  externo  

alta  

média  

baixa  

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130  

diferente do que já possua. O Gráfico 28 mostra a complexidade dos eventos de controle e

avaliação.

Gráfico 28 - Complexidade dos eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

De acordo com o Gráfico 28, a quantidade de eventos de complexidade alta, média e

baixa não difere muito. A análise individual das respostas, mostrou que para as mesmas

situações, as percepções dos gestores variaram bastante, ou seja, enquanto para um depoente,

o evento era tratado como sendo de baixa complexidade, outro tratava como sendo mais

complexo.

Gráfico 29 - Complexidade dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  50  

alta   média   baixa  

0  

5  

10  

15  

20  

25  

Controle  da  equipe  

controle  do  projeto  

controle  pessoal  

controle  externo  

alta  

média  

baixa  

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131  

Ao observar o Gráfico 29, que apresenta a complexidade para os quatro grupos de

eventos de controle, pode-se perceber que os eventos de controle do projeto são considerados

mais complexos, como era de se esperar, pois esses controles necessitam de outros recursos

externos e interação com outras pessoas e áreas.

Para o controle externo, as percepções dos depoentes foram diferentes, fato que fez

com que houvesse praticamente a mesma quantidade de situações tratadas como tendo alta,

média e baixa complexidade. Um dos motivos para que isso possa ter acontecido reside no

fato de que o controle externo não depende do gestor entrevistado, que, neste caso, é a parte

avaliada.

Já as atividades de controle pessoal se apresentaram nos dois extremos, ou seja, como

tendo alta e baixa complexidade. Isso pode ser explicado pelos eventos que fazem parte desse

grupo. De um lado há o controle de situações em que há muitas variáveis a serem

consideradas, como na organização de metas, prioridades e tempos de trabalho, com os

excessos de atividades e prazos muito curtos. De outro lado, há as atividades de controle da

própria estrutura de trabalho do gestor, seus horários normais de trabalho e a organização

geral, que dependem somente da forma como o gestor virtual entrevistado se sente mais

confortável.

-­‐ Urgência

A urgência de um evento está relacionada ao impacto que ele tem sobre o andamento

normal das atividades. Assim, as atividades de controle e avaliação possuem diferentes

percepções de urgência, como pode ser observado no Gráfico 30.

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132  

Gráfico 30 - Urgência dos eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

De um lado encontram-se as atividades em que o controle é essencial e, por isso, a

urgência ao lidar com esses eventos é esperada. De outro lado, há atividades de controle e

acompanhamento que podem ser feitas em momentos mais tranquilos, ou esperar a

finalização das atividades para que se consiga ter um feedback, por exemplo.

Gráfico 31 - Urgência dos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

De acordo com o Gráfico 31, nenhum dos quatro grupos de controle teve a maior

incidência em eventos percebidos como de alta urgência. Também nenhum dos grupos teve a

urgência mais baixa como característica, mantendo-se todos em um nível médio de urgência

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

alta   média   baixa  

0  

2  

4  

6  

8  

10  

12  

14  

16  

18  

Controle  da  equipe  

controle  do  projeto  

controle  pessoal  

controle  externo  

alta  

média  

baixa  

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para todos os eventos. Um dos motivos que pode ter levado a isso, é que os controles

precisam ser feitos com frequência, para que não haja emergências nem imprevistos no

desenvolvimento das atividades profissionais. Assim, os controles possuem um tempo de

implantação e depois, um tempo de acompanhamento das atividades, mas que não são as

atividades mais urgentes do trabalho do gestor virtual.

-­‐ Pessoas envolvidas

As pessoas envolvidas nos eventos de controle e avaliação dizem respeito àqueles que

trouxeram a necessidade do controle, ou apresentaram um fato/situação que levou à percepção

da situação como um evento e, neste caso, necessitando de controle. A maior parte dos

eventos teve somente o gestor como envolvido na criação do evento de controle, como

mostrado pelo Gráfico 32.

Gráfico 32 - Pessoas envolvidas nos eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

As demais pessoas envolvidas no evento foram mais específicas de um dos quatro

grupos de eventos, como mostra o Gráfico 33. Nele, pode-se perceber, por exemplo, que os

clientes são envolvidos nos eventos de controle do projeto; os membros da equipe envolvidos

na definição dos eventos de equipe; o superior nos eventos de controle externo e assim por

diante.

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  50  

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134  

Gráfico 33 - Pessoas envolvidas nos quatro grupos de eventos de controle e avaliação.

Fonte - Elaborado pela autora.

É interessante destacar que mesmo que o gestor se envolva em tudo, a sua atuação

como único envolvido ficou bem mais restrita aos eventos de controle pessoal. Já os colegas e

parceiros somente apareceram nos eventos de controle do projeto e, ainda assim, em uma

quantidade muito pequena.

Pode-se concluir da análise das características dos eventos de controle e avaliação que

estes são bastante frequentes, tendo alguns tipos de controles até diários. Eles são

considerados muito importantes para todas as situações de controle; a maior parte dos eventos

de controle é de baixa incerteza por parte do gestor; não são percebidos como muito

complexos, exceto o controle do projeto; são medianamente urgentes, devendo ser feitos, mas

não precisando parar todas as demais atividades para isso; e, finalmente, com o envolvimento

principal do próprio gestor, tendo outras pessoas como coadjuvantes nos eventos de controle

relacionados à esses.

Os eventos de controle e avaliação foram muito representativos do cotidiano dos

gestores virtuais entrevistados. Alinhado aos tipos de coordenação de Mintzberg (2003), foi

verificado o uso de padronização dos resultados, pois não há controle sobre a forma como as

atividades são desenvolvidas, mas sim em relação à entrega final no prazo e da forma

esperada. Também foi verificado o uso da padronização das atividades por qualificação, pois

tanto os gestores entrevistados quanto as indicações fornecidas por estes sobre os membros de

sua equipe, mostram que são altamente especializados. Assim, a supervisão cotidiana direta se

0  5  10  15  20  25  30  35  40  

Controle  da  equipe  

controle  do  projeto  

controle  pessoal  

controle  externo  

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135  

torna desnecessária para o gestor virtual, pois o resultado estará de acordo com o esperado

pela sua qualificação.

Os recursos tecnológicos agregam formas de controle que independem da presença

física. O acompanhamento das pessoas se torna secundário quando a sua produtividade é

aumentada, quando os resultados são positivos e todos estão satisfeitos. Para as organizações,

o importante é ter o retorno esperado. Para o gestor virtual, são as entregas satisfatórias que

garantem a manutenção dos privilégios trazidos pelo modelo de trabalho. Para os membros

das equipes virtuais, é o resultado positivo que mantém cada um no grupo. Aos agentes

externos e demais stakeholders, resta aceitar o modelo como está colocado, ou tentar

negociar.

4.6 Análise dos eventos de comunicação

O gestor gasta muito do seu tempo de trabalho na interação com colegas, equipe,

superiores, clientes, fornecedores e parceiros, entre outros (SMITH; PETERSON, 1994).

Assim, é de se esperar que ao se tornar um gestor virtual, ele continue a manter interação com

os demais, dotando os eventos de comunicação de grande relevância no cotidiano profissional

desse gestor virtual.

Os eventos de comunicação englobam todas as situações sociais de trabalho nas quais

há relacionamento interpessoal entre o gestor e as demais pessoas da sua rotina profissional.

De acordo com Mihhailova (2009), a partir do momento em que o gestor se torna virtual, ele

passa a agregar um novo conjunto de comportamentos e formas de se comunicar com colegas,

clientes e o superior imediato. Dentre os eventos de comunicação, estão todas as situações

geradas pelo relacionamento entre diferentes profissionais, ou mesmo a falta e problemas de

contato, tanto pela distância, como pelo fato do contato ser mediado.

Todas as situações a seguir foram depreendidas das entrevistas com gestores virtuais,

que posteriormente foram rotuladas com um nome de evento, de acordo com o que melhor

representavam e só então agrupadas. Não foi encontrada na literatura uma forma indicada

para a organização das situações de trabalho dos gestores virtuais. Nesse sentido, os eventos

de comunicação foram agrupados da forma que fazia mais sentido para esta pesquisa, como

apresentado na Figura 12.

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136  

Figura 12 – Eventos de comunicação.

Fonte - Elaborado pela autora.

No primeiro nível de análise, os eventos foram separados em três grupos, como mostra

a figura 11. O primeiro grupo contempla os eventos que foram gerados pelo trabalho virtual,

ou seja, situações que não existiriam se a pessoa estivesse trabalhando em um escritório

físico; no segundo grupo estão os eventos que já existiam em um espaço presencial, mas que

teriam outra conotação, ou seja, que foram beneficiados, se tornaram mais complexos, ou

mesmo passaram a envolver diferentes recursos. Dentre esses há situações que não seriam

consideradas como ‘eventos’, ou seja, seriam tão corriqueiras e fáceis que não precisariam de

uma reflexão do gestor, como tirar dúvidas com colegas. O terceiro e último grupo é

composto pelos eventos que não se alteraram pela mudança para o home office, ou seja, já

existiam e continuam iguais, independente do local de trabalho. Nesse grupo está incluída

grande parte do contato com clientes e parceiros, que já estavam em um espaço diferente do

escritório físico antes da mudança para o home office. Essas situações serão detalhadas a

seguir.

4.6.1 Eventos que surgiram com o Trabalho Virtual

Como já mencionado, os eventos enquadrados nessa categoria englobam todas as

situações que não existiriam caso o trabalho fosse feito de forma presencial, no escritório. São

Eventos  de  comunicação  

Surgiram  com  o  trabalho  virtual  

Alterados  pelo  

trabalho  virtual  

Não  se  alteraram  

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seis os tipos de eventos que surgiram com o trabalho virtual, mostrados na Figura 13: Os

eventos que envolvem a escolha das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); os

eventos que envolvem momentos e encontros presenciais; as reuniões online; as dificuldades

em contatar outras pessoas; questões com o horário e; situações causadas pela não aceitação

do trabalho virtual.

Figura 13 – Eventos que surgiram com o trabalho virtual.

Fonte - Elaborado pela autora.

Grupo 1: Eventos que envolvem a escolha das TIC

O primeiro e um dos grupos mais significativos dos eventos de comunicação

relacionados ao trabalho do gestor virtual é o dos eventos de comunicação relacionados à

questões tecnológicas.

A comunicação mediada pelas TIC é parte da essência do que faz o trabalho ser

considerado ‘virtual’ e não somente remoto (MIHHAILOVA, 2009). Praticamente toda a

comunicação/interação do gestor virtual com os demais stakeholders se dá por meio de

alguma tecnologia digital de informação e comunicação e são muitos os eventos que

envolvem a comunicação mediada, sobretudo os inúmeros recursos da internet. Nas situações

em que é preciso ocorrer a interação remota síncrona, ela irá depender da conexão e

disponibilidade das pessoas envolvidas no mesmo instante.

Qualquer problema que faça com que o trabalhador não apareça como disponível para

os demais pode ser considerado como ‘ausência virtual’. No caso do gestor virtual a situação

é ainda mais complexa porque ele precisa estar “disponível” virtualmente para sua equipe e

Eventos  que  surgiram  com  o  trabalho  virtual  

Eventos  que  envolvem  a  escolha  das  TIC  

Momentos  /  Encontros  presenciais  

Reuniões  Online  

DiMiculdade  em  contatar  pessoas  

Questões  de  horário  

Não  aceitação  do  trabalho  virtual  

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138  

todos os demais envolvidos no projeto. Para que o gestor esteja presente no ambiente de

trabalho virtual ele necessita apresentar algum tipo de interação com o mundo externo,

mesmo que seja somente estar online, disponível para eventuais esclarecimentos.

Nesse sentido, e para evitar a percepção de ausência, a G13-V-S-T, por exemplo,

afirma que “no fim do ano passado a gente sentiu a necessidade de eu ter um telefone da

empresa”. Assim, a decisão de agregar mais uma tecnologia de informação como forma de

acesso foi tomada entre ela e seu superior, o diretor da empresa, para complementar a

comunicação, que era feita principalmente por Skype e e-mail.

A maior parte dos entrevistados possui um celular oferecido pela empresa, que

também faz a manutenção, com a inclusão de aplicativos de mercado ou proprietários. “Então,

o celular acaba se tornando uma ferramenta muito útil de trabalho, para a comunicação. Sejam

sistemas ou programas, aplicativos próprios nossos ou os públicos mesmo: Skype, no celular,

o WhatsApp, SMS e aí vai.”(G14-V-R-P).

Uma situação de comunicação está relacionada à escolha da tecnologia apropriada

para se comunicar com cada pessoa – clientes, parceiros, equipe, superior, demais áreas da

empresa - em cada situação. A maior parte das empresas dos entrevistados que possuem

vínculo oferecem os softwares de comunicação para a equipe, especialmente para garantir a

segurança na troca de informações. Cada um dos gestores virtuais entrevistados possui suas

preferências na escolha das tecnologias de comunicação, inclusive com meios diferentes para

cada pessoa com quem se comunica, como afirma o G16-V-F-P:

Eu tenho o celular da empresa, que é 24 por 7, que eu falo com os clientes. Com a minha equipe no trabalho, da operação, eu já tenho a forma de trabalho sempre de acionamento por e-mail e telefone. Então, eu falo bastante com eles. Quando eu estou fora, e-mail e telefone.

Nesse sentido, a G22-SV-R-T normalmente usa o e-mail para tratar com clientes. Usa

também outras formas digitais (sobretudo Skype e WhatsApp) para falar com a equipe e

parceiros. Ela também afirma que “se precisar acelerar o processo, coloco o cliente junto, que

o cliente vai respondendo na mesma hora.” Assim, mesmo que a tecnologia seja mais

informal, o ganho de tempo é justificado e o próprio cliente, segundo a entrevistada, aceita

estar integrado à equipe pelas tecnologias.

As tecnologias móveis, especialmente o telefone celular, são ferramentas de trabalho

bastante usadas por todos os entrevistados, em diferentes momentos. “Hoje em dia o celular é

muito mais do que apenas um sistema de voz, não é? Então, por exemplo, hoje eu integro toda

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a minha equipe através do WhatsApp.”(G21-V-F-T). No caso da G4-N-R-T que possui uma

equipe espalhada por diferentes partes do Brasil, ela afirma que “Eu uso muito e-mail. Uso

demais o Google Drive, também, onde a gente consegue criar documentos que outras pessoas

podem editar.”

O G9-V-S-P afirma que “Inclusive, hoje em dia, mesmo quando eu estou no escritório,

a minha equipe, o meu chefe direto, a quem eu me reporto, não fica no Brasil. Então, de

qualquer forma, eu acabo falando com ele por comunicador assim.” Desta forma, não há

como ele, seu superior e sua equipe estarem trabalhando de uma mesma localidade

normalmente, o que faz com que as TIC sejam parte do processo normal de comunicação do

trabalho.

E isso está presente não só para as comunicações formais, mas para todo o tipo de

comunicação. Para o G7-V-R-T, a comunicação informal é feita quase que totalmente por

WhatsApp “Aquelas mensagens rápidas, aquele aviso que você vai ter, aquele lembrete.

‘Lembra de mandar e-mail, não sei o que’. É tudo por WhatsApp, porque as pessoas estão

sempre viajando, estão sempre rodando, então nem sempre estão conectadas.” Muitos dos

entrevistados possuem grupo de comunicação no WhatsApp com sua equipe para troca rápida

de mensagens sobre as questões do trabalho e dos projetos.

Já a G20-SV-R-T prefere outras formas de comunicação pelo computador, “Só que

assim, como eu trabalho em casa, eu tenho o mau hábito de não acionar o meu wi-fi no meu

celular em casa, porque se eu estou no computador, não precisa. Então eu, pessoalmente, não

tenho muito o hábito de usar o WhatsApp”. É interessante notar que ela sabe que as pessoas

usam muito a comunicação pelo aparelho móvel, tanto que considera um ‘mau hábito’ não

utilizar.

Algumas situações podem ser facilmente solucionadas com uma mensagem por

WhatsApp, como contada pela G12-N-R-T, que gerencia equipes de projeto e lida diretamente

com clientes externos, “O cliente tem dúvida, ele me manda um WhatsApp e a gente vai

conversando.” Já outras situações dependem de softwares proprietários e comunicadores

corporativos, além de formalização por e-mail, com o envio de atas. Para Cascio (2003), o

gestor virtual deve saber escolher a tecnologia adequada para cada situação, de forma a

conseguir atingir os resultados esperados, com a participação efetiva de todas as pessoas.

O G3-N-R-T, por exemplo, que atua no relacionamento com clientes externos, optou

por não usar o Skype para suas comunicações, pois não lhe pareceu a forma de contato mais

eficiente. Contrariamente, o G17-V-F-P usa bastante o Skype, pois acha que a possibilidade de

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ver a pessoa que está do outro lado diminui a sensação de distância. O mesmo acontece com a

G18-SV-R-T, que prefere fazer todas as reuniões por Skype.

Outra questão dos eventos de comunicação envolve as falhas de tecnologia,

especialmente por problemas de fornecimento. A maior parte dos entrevistados são os

responsáveis pela contratação do serviço de internet utilizado e também por solucionar os

problemas que venham a ter com este serviço. Assim, muitos eventos cotidianos e

interrupções do trabalho acontecem quando há a quebra no fornecimento de internet, como

conta a G18-SV-R-T:

Então, eu já tive problema e foi justamente nessa reunião de planejamento integrado que a gente fez no Skype. Toda hora caía a conexão e eu recorria ao celular e tal. E a gente já estava se ajeitando com o que a gente tem. E aí entra celular e a gente gasta um pouco mais de uma outra tecnologia, que é o celular, telefone. E se deixar de usar, encerra mais rápido a reunião, se torna mais objetiva. As trocas não são tão ricas quanto deveriam.

Nesse sentido, o G8-V-R-T possui o comunicador da empresa em seu celular, para

conseguir participar de reuniões mesmo quando não está em casa, ou quando há problemas

com a Internet. Essa decisão foi tomada em conjunto com seu superior, para que ele pudesse

ser contatado, mesmo durante traslados ou fora do horário de trabalho, quando os meios

usuais de comunicação não estão ativos. Tanto ele como as G10-N-R-T e G12-N-R-T

possuem duas contas de Internet, para evitar a falta de conexão. Ao menos um terço dos

entrevistados já ficou mais de um dia sem receber e nem conseguir enviar e-mails. Os

problemas com Skype também são frequentes, com queda e falhas durante a comunicação.

Outra questão colocada por alguns entrevistados é quando o aparelho da outra pessoa

é ruim, especialmente com o uso de fones sem fio ou bluetooth, que perdem o contato ao se

afastar da base (G7-V-R-T; G19-V-F-P).

Grupo 2: Momentos/Encontros presenciais

As situações que envolvem encontros presenciais são eventos significativos para a

maior parte dos gestores virtuais entrevistados. Isso se deve porque os momentos presenciais

passam a significar também quebras no fluxo normal de trabalho virtual.

O fato de trabalhar virtualmente, dentro da própria casa, representa uma melhoria na

qualidade de vida de muitos entrevistados. Isso se projeta no ganho de tempo por não ter o

deslocamento, nem o fato de se arrumar para sair e poder acordar e já iniciar o trabalho

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141  

imediatamente, muitas vezes respondendo mensagens durante o café-da-manhã. Nesse

sentido, os momentos presenciais podem atrapalhar e até atrasar o desenvolvimento do

trabalho normal, no sentido de que o tempo de deslocamento se torna tempo não trabalhado,

além do que algumas tarefas se tornam prejudicadas pela ausência do espaço ‘usual’ de

trabalho, como conta o G21-V-F-T: “Mas para mim, reunir a equipe é difícil. Até porque

muitas vezes, quando eu chego no escritório, quando eu resolvo todas as emergências da

manhã e vou para o escritório, os meninos já foram para a rua”. Assim, o momento presencial

representa uma queda de produtividade, por não estar trabalhando nesse tempo, nem mesmo

durante o tempo externo ao seu ‘escritório’ de casa.

Outra questão que foi apresentada por alguns entrevistados é o fato de nunca

receberem os clientes, parceiros e mesmo colegas e subordinados em suas casas. “Os clientes

nunca vem até o meu escritório, que é a minha casa mesmo. Mas, as vezes acontece de termos

reuniões em locais públicos.” (G3-N-R-T) Para a G1-SV-R-T, mesmo o contato com o sócio é

feito sempre em espaços externos.

Os locais de encontros presenciais e o planejamento desses momentos também exigem

escolhas e sacrifícios, com o envolvimento de outras pessoas na decisão e ajuste em

prioridades. Desta forma, um evento desse grupo está relacionado à escolha de locais para as

reuniões presenciais, que pode envolver o uso de parceiros, o aluguel de espaço de terceiros,

uso de escritórios virtuais, ou mesmo ida a cafés e restaurantes. “Na verdade, eu costumo

fazer reuniões em um co-working na Vila Madalena, ou até mesmo em café.” (G4-N-R-T). O

co-working também é uma das soluções utilizadas pela G10-N-R-T.

A G12-N-R-T prefere alugar um escritório virtual para reuniões, quando estas não

podem ser feitas nas dependências do cliente. Diferentemente, o G3-N-R-T possui uma rede

de parceiros para os quais ele pode pedir uma sala quando precisa. Ainda nesse sentido, a

G22-SV-R-T usa o escritório para diminuir o sentimento de solidão por estar todo o tempo

trabalhando de casa.

Às vezes eu vou lá, porque quem trabalha em home office às vezes tem a vida muito solitária. Então, às vezes o meu escritório me ajuda para dar uma oxigenada e tal. E além do escritório, eu também participo de um grupo de empresários, que se encontra toda terça de manhã. Também isso me ajuda a oxigenar também, porque senão eu fico muito sozinha, não troco com outras pessoas.( G22-SV-R-T)

Uma outra decisão sobre os momentos e encontros presenciais é saber quais dias e em

quais situações é melhor estar presente fisicamente, ou participar remotamente. Este evento

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pode envolver diferentes aspectos e pessoas, como apresentado pela G4-N-R-T “não tendo

um lugar onde eu possa receber tanta gente, prefiro fazer por Skype”.

De outro lado há a necessidade de maior interação com o restante da empresa, que

pode representar a decisão por aumentar o tempo de presença física no escritório, ou definir

uma periodicidade para essas reuniões, como faz a G15-V-F-P “a gente tem reuniões sobre o

projeto ou não, mas mais para a parte corporativa, de 15 em 15 dias.” A G18-SV-R-T, as

vezes, programa seminários para que as pessoas contem as descobertas do projeto que estão

envolvidas.

Nesse sentido, alguns depoentes contaram sobre a necessidade de maior contato social

com colegas, como o G5-SV-R-T, que mudou para o Nordeste por questões pessoais e faz

todo o trabalho remotamente.

Uma coisa boa é quando eu estou fazendo um projeto com amigos, com pessoas que eu gosto, é a gente parar tudo, fazer um hangout rapidinho, começar a falar de trabalho e terminar não falando, falando de outra coisa, e depois voltar para o trabalho, e aí, esse processo criativo, assim, se torna agradável e supre aquela necessidade do contato, assim, social, né? (G5-SV-R-T)

Alguns gestores também contaram que chegam a marcar encontros sociais com

colegas e membros da equipe para não perder a proximidade que tinham com as pessoas

quando estavam no escritório.

Grupo 3: Reuniões Online

O terceiro grupo de eventos de comunicação é composto por uma situação

característica do trabalho virtual, que são as reuniões online. As reuniões online ocupam boa

parte do dia do gestor virtual, pois é a principal forma de contato síncrono com os agentes

externos ao ambiente de home office. Para Bell e Kozlowski (2002), esse contato síncrono traz

sensação de maior proximidade para as pessoas que trabalham remotamente, sendo essencial

para o fortalecimento de laços e aumento da confiança.

As reuniões online podem ser pré-agendadas, ou de emergência, muitas vezes de

poucos minutos, para solucionar questões pontuais ou mesmo para tirar dúvidas e

acompanhar as atividades cotidianas. “Então, às vezes você tem aqui um espaço de dois

minutos na sua agenda. Então, tu sempre podes jogar um convite, por exemplo, para vir em

uma reunião como essa, naquele espacinho de tempo” (G8-V-R-T). Por serem tão centrais do

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143  

trabalho do gestor virtual, qualquer situação que possa acontecer envolvendo as reuniões

online possui destaque.

A G18-SV-R-T criou um grupo de discussão com sua equipe. Eles tinham reuniões

sistemáticas, com a discussão de um dos temas do projeto, para a solução de questões e

desenvolvimento de alternativas.

E ficou muito legal, a gente ia trocando, através de Skype e eu ia montando o material. Depois fizemos uma síntese de todas as ideias e cada um apresentou através do Skype, criamos um grupo e cada um apresentava a sua ideia. Foi legal. (G18-SV-R-T)

Um evento das reuniões online diz respeito sobre a quantidade de pessoas conectadas

simultaneamente para que a reunião possa ser considerada produtiva. Se em uma reunião

presencial muitas vezes são chamadas pessoas que não estão diretamente relacionadas aos

assuntos tratados, em uma reunião online isso é algo que pode comprometer toda a reunião,

tornando a rede mais carregada e ocupando tempo de outras pessoas que não precisariam.

“Por exemplo, o Skype não é bom para fazer conferência com muita gente. Embora ele seja

bom, uns, dois, três, podem. Começam quatro ou cinco, começa a dar “tilt” no Skype.” (G12-

N-RT).

Mesmo o processo de agendamento de reuniões e convocação algumas vezes pode ser

considerado um evento, com diferentes variáveis à serem consideradas, como o horário de

trabalho do outro, envio de solicitação e tempo para confirmação, entre outros fatores.

Todo o processo de acompanhamento e integração da equipe muitas vezes acontece

em reuniões online. A falta de laços sociais, para Mihhailova et al (2011) pode trazer maiores

desentendimentos e conflitos entre os membros da equipe. Nesse sentido o G16-V-F-P conta

que “Eu perco a vantagem da sinergia com as equipes que estão próximas durante o trabalho,

eu tenho que ficar acionando-os por telefone ou por e-mail.” O G17-V-F-P complementa que,

para as equipes de venda, o bom resultado de um, afeta a energia de toda a equipe que está

próxima. Ele acredita que isso fica prejudicado quando as pessoas não estão no mesmo

ambiente.

Outro evento relacionado às reuniões online é saber qual o encaminhamento a ser

dado quando há problemas, especialmente com as TIC, que impossibilitam o gestor, ou a

outra parte de se conectar para realizar, ou pelo menos acompanhar a reunião.

Há muitas situações também que fazem com que alguma das partes perca a conexão

no meio da reunião e não consiga retornar. Os encaminhamentos a serem dados após as

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reuniões também geram outros eventos, com a formalização de decisões, atas, criação de

documentos compartilhados de compromisso durante as reuniões, entre outras situações.

A flexibilidade do trabalho virtual também faz com que as pessoas tenham diferentes

horários de disponibilidade, o que leva algumas pessoas a terem horário de trabalho

expandido para acomodar diferentes reuniões. Algumas reuniões online podem acontecer em

horários e locais considerados ‘impróprios’, ou que não são previstos para serem horários de

trabalho.

Então, quando você esquece alguma janelinha aberta na sua agenda, às vezes entra uma reunião muito importante e era um tempo que você estava de repente se deslocando de algum lugar para o outro, você acaba tendo que abrir isso no meio do shopping, gastar uma ligação do celular, arrumar um lugar que não tenha barulho, pôr fone de ouvido. (G8-V-R-T).

O conflito de horários de reuniões é bastante comum para, pelo menos, quatro

depoentes, inclusive com a situação de ter mais de uma reunião acontecendo

simultaneamente. Para o G8-V-R-T é comum “ter que desligar uma reunião, parar no meio de

uma para resolver outra”. Outros gestores também chegaram a acompanhar mais de uma

reunião ao mesmo tempo, ou pedir que alguém da equipe realize uma das reuniões em seu

lugar.

As reuniões online são um dos principais pontos de conflito de horário pois, se por um

lado pode haver uma programação, por outro, se não houver o controle da agenda, os horários

podem se encavalar. Diferentemente do presencial - em que a pessoa da próxima reunião teria

que esperar na recepção - no caso do trabalhador virtual, a solicitação para conectar-se à

próxima reunião vem no momento marcado e, muitas vezes, não há como se fazer esperar.

Muitas reuniões acontecem também fora do horário de trabalho regular, especialmente

se há fornecedores freelance, como acontece com a G4-N-R-T; ou são contatos de outros

países – com diferentes fusos horários - como os gestores G8-V-R-T, G9-V-S-P e G19-V-F-P.

Neste caso, pela facilidade de conectar-se com a pessoa pelas TIC, o gestor virtual muitas

vezes se vê tendo que fazer reuniões em locais inadequados, horários diferenciados e mesmo

durante outras atividades, profissionais ou não.

Diferentemente das reuniões das equipes presenciais, nas equipes virtuais é comum ter

pessoas de diferentes localidades, mesmo que não sejam equipes globais. Assim, um dos

problemas encontrados pelos entrevistados que possuem contato com pessoas que falam

outros idiomas (como o G7-V-R-T) é a dificuldade de acompanhar reuniões online em que a

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língua seja diferente da língua materna do gestor, ou mesmo quando há pessoas de diferentes

sotaques não nativos, falando inglês.

São reuniões que tem que prestar atenção porque eu falo bem inglês mas as pessoas falam muito rápido e por telefone a qualidade da voz não está 100%. Tem que focar o tempo inteiro. Então uma coisa que tem acontecido muito no meu dia-a-dia são reuniões em inglês, 3, 4 vezes por semana, 3 horas, mais ou menos, cada uma. Que a gente tem que ficar focado o tempo todo. (G7-V-R-T)

Alguns gestores virtuais entrevistados mencionaram que fazem outras atividades ao

mesmo tempo em que acompanham uma reunião. Como responder e-mails, revisar materiais e

fazer tarefas que exijam menos concentração.

Grupo 4: Dificuldade de contatar pessoas

Um dos eventos que é muito comum na fala dos entrevistados diz respeito à

dificuldade de encontrar, ou mesmo de entrar em contato com a pessoa que precisa. Essa é

uma dificuldade que existe no home office e que as empresas que buscam se estruturar para

esse modelo de trabalho procuram facilitar o contato entre seus funcionários para minimizar

essa situação.

Porque não é sempre que você tem que resolver um assunto, que a outra pessoa está online também ou poderia estar. De repente você pegar essa pessoa no corredor e falar assim: “-Ah, eu preciso falar dois minutos com você.” Facilita bastante. Então, isso é um ponto negativo. Se você for pensar, às vezes as coisas demoram mais do que elas precisariam demorar. (G15-V-F-P)

Muitos dos entrevistados, especialmente os que possuem vínculo com grandes

empresas multinacionais, possuem estruturas que facilitam o contato entre seus funcionários.

“A gente, ao longo do tempo, começou a resolver. Então a gente bombardeia por todos os

lados: liga, manda mensagem no Facebook, WhatsApp, SMS, e diz ‘alerta vermelho, preciso

falar com você o quanto antes’.” (G6-V-F-P). Nesse sentido, os escritórios virtuais

apresentam vantagens, pois conseguem concentrar os contatos externos e filtrar, para que

depois os gestores possam tomar as ações necessárias no tempo certo, como fala o G14-V-R-

P: “O escritório virtual nos proporciona uma recepção de telefonia. Caso não tenha ninguém

aqui para atender, nós temos uma recepção que passa as ligações para a gente ou o recado,

que seja, e também o celular.”

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Como apresentado anteriormente, uma pessoa que não consegue ser encontrada, no

mundo virtual, representa uma ausência. Para o G21-V-F-T, ele diz que as tecnologias

funcionam como um ‘dedo-duro’, “porque está escrito, não somente está escrito, mas eu sei

quando o cara leu”. Outros gestores entrevistados também possuem estratégias para

acompanhar o desenvolvimento das atividades da equipe e demais stakeholders, quando

necessário.

Grupo 5: Questões de horário

Os eventos que envolvem questões relacionadas ao horário de trabalho e a

determinação dos tempos presenciais e remotos também se destacam dentre as situações que

somente ocorrem com as pessoas que trabalham em home office.

O rompimento do vínculo entre a distância temporal e geográfica trazida pela

virtualização (PARDINI et al, 2013), além de possibilitar o trabalho virtual, trouxe novas

questões ao gestor. O problema com os horários começa pelo motivo pelo qual muitos

funcionários partiram para o home office, ao menos em parte do tempo. É comum que o home

office seja introduzido aos poucos, com somente um dia na semana, mas que vai se ampliando

com o tempo e os resultados.

O primeiro evento desse grupo é exatamente na definição dos dias e horários de home

office. A flexibilidade de horário nos dias de home office é apontada como um dos maiores

benefícios. Mas, se por um lado há a flexibilidade, do outro também há a cobrança por

resultados e pela presença virtual. Nos eventos de comunicação isso fica bastante claro, pelo

tempo de disponibilidade online, chegando ao extremo do funcionário ser obrigado a estar

online todo o tempo de trabalho, como afirma a G10-N-R-T: “Quando você fala assim, que

você está à distância, a gente tem que estar disponível e conectada.”

Outra questão colocada por mais da metade dos gestores entrevistados foi a falta de

um horário de trabalho fixo. Nesse sentido, a G18-SV-R-T conta que tenta estar disponível

para responder as questões o mais rápido possível, para que a distância não seja um problema

e nem que isso se torne uma justificativa para que eles tentem fazer com que ela tenha mais

tempo de trabalho presencial. Se algumas pessoas optam pelo home office como solução para

acomodar diferentes necessidades no horário comercial, sem prejudicar o rendimento do

trabalho, acontece também dos momentos presenciais se tornarem um evento, pois eles

rompem com essa característica.

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Grupo 6: Não aceitação do trabalho virtual

O último grupo de eventos que passaram a existir quando as atividades se tornaram

virtuais são os que, de alguma forma, apresentam-se como a não aceitação do trabalho e/ou o

trabalhador de home office.

São situações em que alguns colegas, clientes e outras áreas da empresa não

entendem, ou não aceitam o trabalho em home office. Há episódios em que o cliente exige que

o trabalho seja presencial, inclusive no escritório dele, pois quer acompanhar o

desenvolvimento das atividades e saber o que e como é feito.

Nesse sentido, a G22-SV-R-T possui uma agenda com muitas viagens, o que causa estranheza

para um dos seus clientes, “que é uma indústria. E essa indústria é uma empresa mais

tradicional, uma empresa que é de japoneses. Então, eu não posso assim, falar para eles, por

exemplo, que eu estou do outro lado do mundo.” Dessa forma, ela deixa sempre uma pessoa

de sua equipe fixa no atendimento desse cliente, para não ter problemas.

Para o gestor virtual, a falta de aceitação do trabalho virtual pode vir a se tornar uma

questão bastante delicada quando ele precisa, por exemplo, informar que o seu trabalho e de

sua equipe é feito de forma virtual. Mesmo internamente, há áreas, ou pessoas, que são

proibidas de trabalhar remotamente, tanto pela natureza do trabalho como pela falta de

preparo da empresa, da área ou de gestores. Isso pode fazer com que sejam criadas

dificuldades de interação para os trabalhadores remotos, até com a criação de regras que

fazem com que eles precisem se deslocar ao escritório para tratar de determinados assuntos,

ou para alguns tipos de reunião.

Existe uma falsa noção de que trabalho assim, ter uma reunião de trabalho é muito mais produtivo, é muito mais sério, é muito mais respeitável, do que você economizar tempo, ou falando por telefone ou por e-mail. Assim, tem muitas pessoas que não estão acostumadas a trabalhar com profissional remoto e que ficam criando isso, de fazer reunião, reunião. Mas assim, é muito desagradável, porque eu estimo que 60% das reuniões que eu faço poderiam ser completamente eliminadas, elas não são necessárias. (G11-SV-S-T)

Como mencionado anteriormente, a falta de um horário de trabalho fixo também faz

com que seja comum a ‘invasão’ dos horários pessoais, seja para reuniões, para tirar dúvidas,

ou lembrar de atividades pendentes. Para a G11-SV-S-T, “acontece de o cliente invadir o

espaço mesmo.” Muitas dessas questões de invasão do espaço acontecem, como colocado

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pela G22-SV-R-T, quando o cliente, ao saber que ela trabalha em home office, acredita que

todo o tempo do gestor está livre para atender a ele.

Às vezes eu estou em uma reunião, um cliente me liga, eu não vou poder atender, aí eu ligo depois. Porque também se é muito urgente, às vezes o cliente manda uma mensagem. E em uma reunião você consegue ler a mensagem, ou até se você vê que é muito urgente, pede licença e paciência. (G22-SV-R-T)

De acordo também com outros entrevistados, é comum receber mensagens durante a

noite, finais de semana e, até, feriados, por diferentes mídias, como o WhatsApp,

comunicador do Facebook, SMS e e-mail. Essa invasão do espaço de trabalho virtual pode vir

tanto internamente, de pessoas da empresa e da equipe, até clientes, parceiros e fornecedores.

Os próprios trabalhadores/gestores virtuais acabam por misturar as atividades profissionais no

seu cotidiano pessoal, respondendo mensagens ou atendendo ligações sempre que elas

aconteçam.

4.6.2 Eventos que foram alterados pelo Trabalho Virtual

O segundo grupo de eventos de comunicação é formado pelas situações de trabalho

que já existiam no trabalho desenvolvido de forma tradicional, no escritório presencial, mas

que, de alguma forma, foram alteradas pela mudança para o home office. Essa alteração pode

compreender mudanças e inclusão de diferentes práticas, outros recursos que precisam ser

envolvidos na condução do evento, ou tiveram uma compreensão diferenciada sobre o que

representam no cotidiano profissional do gestor. A Figura 14 apresenta os eventos que foram

alterados pelo trabalho virtual.

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Figura 14 – Eventos que foram alterados pelo trabalho virtual.

Fonte - Elaborado pela autora.

Grupo 1: Eventos que envolvem o deslocamento ao escritório físico

Se antes o normal era ir ao escritório todos os dias e realizar de lá todas as atividades

profissionais, para o gestor virtual, muitas vezes, ir para o escritório significa um tempo de

trabalho perdido. Para a G11-SV-S-T, que mora em um dos municípios do entorno da Grande

São Paulo e que tem o escritório da empresa no centro da cidade, só o deslocamento é tempo

de trabalho perdido, como ela coloca: “Mas só que ultimamente eu tenho deixado bastante

implícito isso. Porque já aconteceu de eu me deslocar 30 quilômetros em um dia, chegar a

uma reunião e ficar apenas 15 minutos.”

Quando há uma situação que exige a ida ao escritório presencial, seja por solicitação

de superiores, para interagir e pedir auxílio a outras áreas da empresa, ou mesmo para reunir

as pessoas envolvidas em questões mais delicadas e urgentes, isso pode ser considerado um

evento, pois interrompe o fluxo normal de trabalho, muitas vezes gerando inconsistência e

sobrecarga, e exigindo ações posteriores.

No caso do G7-V-R-T, a demanda para ir ao escritório normalmente vêm de seu

superior. “Só se o meu gerente chegar para mim e falar ‘Vamos lá para o escritório hoje para

a gente almoçar, trocar uma ideia? Eu preciso falar com você. A gente conversa melhor.’”

Nos demais dias, segundo ele, “consegue trabalhar de casa normalmente”. Essa situação está

presente na fala de oito dos demais depoentes, em que consideram como o ‘trabalho normal’ o

que é desenvolvido pelo espaço virtual de trabalho, em home office.

Eventos  que  foram  alterados  pelo  trabalho  virtual  

Eventos  que  envolvem  o  deslocamento  ao  escritório  Mísico  

Situações  de  resposta  urgente  

Questões  de  horário  /  agenda  

Eventos  de  comunicação  relacionados  à  condução  de  projetos  

Relacionamento  com  clientes  

BeneMícios  do  trabalho  virtual  

Contato  com  colegas  e  parceiros  

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Grupo 2: Situações de resposta urgente

Tratar de questões urgentes em um ambiente de trabalho virtual envolvem diferentes

fatores, como encontrar e contatar simultaneamente todas as pessoas, ainda estando na

dependência de todos terem acesso à mesma tecnologia naquele momento.

Então, seria, teoricamente, uma vantagem do trabalho presencial, porque você pode colocar todo mundo em uma sala de reunião e resolver aquilo ali. Mas tem como funcionar remotamente também, se você usar a tecnologia para isso. O que não falta hoje são opções para você fazer reunião virtual, com vídeo ou sem vídeo, compartilhando a sua tela ou não, ou só áudio, você pode falar desde um telefone até um Skype. (G9-V-S-P)

Ainda há o agravante da distância ser um fator que dificulta o acesso imediato às

demais pessoas da empresa, pois essas nem sempre se dispõem a parar as suas atividades para

atender solicitações externas. Mesmo para as pessoas que também trabalham em home office,

há a possibilidade de se colocar como ‘ausente’ e não responder às solicitações no momento

em que chegam, o que pode agravar as situações urgentes, que são mais difíceis de lidar.

Então, a dificuldade principal era essa, de você demorar um pouco para se comunicar com as pessoas. Eu achava uma certa demora. E outra coisa é a seguinte: as próprias pessoas olham lá e-mail de cliente e e-mail seu, eles dão prioridade para e-mail de cliente. Até é uma coisa okay, mas não é tão okay, porque o seu trabalho também depende do que você vai entregar para o cliente. (G15-V-F-P)

Assim, as demais áreas da empresa, muitas vezes, encaram as solicitações dos

funcionários remotos com uma prioridade menor que a de clientes e de funcionários que

atuam presencialmente. Em outras palavras, algumas áreas das empresas percebem os

funcionários remotos como uma ‘segunda classe’ de funcionários. A solução encontrada pela

G15-V-F-P foi ter uma secretária presencial para atuar em seu favor junto às demais áreas. Já

o G16-V-F-P tem o contato com as demais áreas sempre remoto. Para ele, mesmo tendo

situações muito urgentes para solucionar, diz não ter problemas de interação.

Grupo 3: Questões de horário / agenda

Os conflitos de horário e agenda, mesmo já acontecendo antes do gestor passar ao

trabalho virtual, possuem outro enfoque por diferentes motivos. Primeiro, porque o

acompanhamento do trabalho se dá, muitas vezes, pelas entregas, ou pelos serviços prestados.

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Ao ter complicações de horário, isso não só atrapalha o desenvolvimento das atividades, mas

também influencia em outras atividades profissionais, pessoais e até mesmo na percepção que

se tem do gestor sobre a sua capacidade de trabalhar neste modelo.

Nesse sentido muitos Gestores Virtuais, como a G1-V-F-P e a G22-SV-R-T, possuem

pessoas com quem podem contar, quando é impossível estar presencialmente em uma reunião,

ou com quem podem dividir as obrigações de estar em mais de uma reunião, ou situação ao

mesmo tempo.

Em segundo lugar, a agenda com diferentes atividades seguidas, ou com várias

reuniões em sequência, que podem amontoar-se. Nesse caso, acontece de a pessoa ter que

estar em mais de uma reunião ao mesmo tempo (G8-V-R-T), ou ter de desmarcar outros

compromissos. Alguns entrevistados, diante dessas situações preferem comprometer

atividades cotidianas não profissionais, especialmente o tempo das refeições, de convivência

com a família, o tempo de descanso e especialmente o tempo pessoal, do que as atividades

profissionais.

Grupo 4: Eventos de comunicação relacionados à condução de projetos

Todos os projetos possuem peculiaridades que tornam a sua gestão diferenciada. Os

eventos de comunicação que envolvem a gestão de projetos, são alterados em diferentes

aspectos, apresentados a seguir:

Tudo começa no início do projeto, quando há a necessidade de apresentar o projeto

para diferentes stakeholders. Nesse momento também é necessário escolher as pessoas que

farão parte da equipe e conhecer cada uma delas; além de fazer a reunião inicial do projeto.

Nesse sentido, muito se altera na comunicação entre pessoas que ainda não se conhecem, nem

tem familiaridade com a forma do outro trabalhar. Para o G5-SV-R-T, que faz todo o seu

trabalho virtualmente com a mesma equipe para um projeto por mais de um ano:

a primeira vez que eu fui [até o escritório] foi mais uma apresentação minha e conhecer a equipe e eles apresentarem a proposta do que eles queriam e tal. Mas aí acabou mudando a gestão também. Aí eu tive que voltar lá para conhecer o novo gestor e aí, ele não mais sentia essa necessidade de estar ali presente, de ir até lá, então a gente conseguiu ir tocando o projeto a distância mesmo.

As tecnologias, por mais que facilitem a comunicação, também podem restringir a

troca de informações ao que pareça ser essencial no primeiro momento, mas que

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posteriormente podem trazer diferentes interpretações sobre o que deve ser feito, às

necessidades, diretrizes e mesmo sobre o entendimento do projeto como um todo. Este caso

aconteceu com a G1-SV-R-T “as vezes acontece, por exemplo, do cliente na empresa solicitar

um projeto, então está intermediando com o cliente final, e já fechou o contrato, a proposta,

então vai ter que entregar aquilo, só que aí você fica sabendo no meio do processo que então o

resultado tem que vir de tal forma num relatório, né?!”

Em um ambiente virtual de trabalho muitas coisas se alteram e a exigência de um

gestor mais presente na condução do projeto pode ser imprescindível para o bom andamento.

A G10-N-R-T, que faz a gestão de alguns projetos simultaneamente, explica que precisa de

uma pessoa para intermediar a comunicação entre a equipe e o cliente, sendo ela a pessoa que

normalmente faz isso. “Eu geralmente faço um filtro, vou abrir primeiro, antes de distribuir

para a equipe. Vai que eu tenho alguma dúvida. Eu entro no Skype para falar com o cliente. E

quando necessário, eu faço interlocução.”

Em alguns casos, os membros da equipe do projeto acabam por exigir uma dedicação

muito grande do gestor para sanar dúvidas e verificar se as atividades estão ocorrendo

conforme o esperado. “Às vezes, sei lá, deu um nó no projeto. E aí um erro de comunicação

às vezes gerou uma bola de neve. Ou então, às vezes uma dúvida, que não foi bem-entendida,

que se acumulou com outra coisa.” (G10-N-R-T). Para não correr o risco de ter mal

entendidos e acabar cometendo erros nas tarefas, a G20-SV-R-T diz que “prefiro perguntar

vinte vezes, a tomar uma decisão baseada no que eu acho e que muitas vezes não é o que o

cliente quer, por mais sentido que faça para mim.”

Outro aspecto que mesmo já existindo anteriormente, se altera com o trabalho virtual é

o treinamento da equipe remota. Muito do treinamento, normalmente é feito ‘on the job’, com

um funcionário acompanhando e auxiliando outro, para assim adquirir as capacidades

necessárias. A partir do momento em que cada um trabalha da sua residência, esse tipo de

treinamento se torna mais complexo, pois envolve o deslocamento dos dois para um espaço

diferente por um tempo, ou o uso de outras formas digitais de interação para que o

treinamento seja feito a distância.

Grupo 5: Relacionamento com clientes

Muitas das questões que envolvem o relacionamento com clientes já existiam antes do

home office, mas foram alteradas. Uma dela é a forma pela qual os clientes entram em contato

e o desenrolar das situações, como apresentado na fala do G17-V-F-P, que começa as

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reuniões avisando que está trabalhando em casa, para que os barulhos da casa não causem

estranhamento nas pessoas com quem interage. “Eu, como eu faço algumas reuniões, algumas

conversas via Skype, com alguns clientes e fornecedores, quando eu estou em casa, eu já aviso

que eu estou em casa, para ninguém ser pego de surpresa.” (G17-V-F-P).

Foram reportadas várias situações delicadas em que as pessoas passam por estarem

trabalhando de casa, que aconteceram com os respondentes e outros com quem estavam em

reuniões. Em uma situação apresentada pelo G7-V-R-T, a mãe da pessoa com quem ele estava

em reunião, entrou de camisola no escritório para entregar um sanduiche no meio da reunião.

O filho da G12-N-R-T entra no escritório quando reconhece a voz de conhecidos e as vezes

interrompe as reuniões da equipe. Há também relatos de barulhos com o caminhão de gás,

cachorros latindo e gatos que deitam na frente da câmera. Para alguns clientes, isso pode

trazer complicações ao relacionamento.

Um fator que envolve muitas das questões com o cliente é que ele já está em um

espaço físico diferente da empresa, então a forma de comunicação depende, ou de visitas

presenciais, inclusive para outras localidades, ou do uso de recursos tecnológicos, como

telefones e mensagens por e-mail. Para o G5-SV-R-T, “Eu acho que tem poucos clientes que

ligam, assim, que usam telefone. Mas, noventa por cento é comunicação virtual mesmo”. A

G22-SV-R-T, como alguns outros preferem usar o e-mail para comunicações com o cliente,

pois desta forma tudo fica registrado e pode ser recuperado quando precisa. Nesse sentido, o

home office possibilitou uma ampliação na escolha de recursos tecnológicos, inclusive com o

uso de comunicadores corporativos para falar com clientes, como é o caso da G19-V-F-P e a

G10-N-R-T que, inclusive, possuem clientes que atuam também em home office.

Conference [call] a gente faz muito, tem cliente que já tem Skype. Então, já está acostumado a trabalhar assim, porque ele trabalha com outros fornecedores assim. Às vezes o cliente também trabalha home office. Então, ele gosta. (G10-N-R-T)

É interessante perceber que quando os clientes também atuam virtualmente, eles se

tornam mais tolerantes para as questões que envolvem o modelo de trabalho e até se sentem

mais confortáveis de lidar com outras pessoas que também trabalham de suas casas, como

colocado pela G10-N-R-T.

Para o G20-SV-R-T, “Geralmente os clientes me acionam sempre que há um

momento de pânico.” Por esse motivo, o fato de trabalhar em casa possibilita que ele esteja

sempre com os recursos para atender às solicitações dos clientes. A G22-SV-R-T

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complementa que “às vezes o cliente demora para responder se está okay, demora para pedir

alteração e aí você fica de mãos atadas.” Assim, ela diz que o trabalho dela tem momentos de

maior tranquilidade e outros de muitas atividades urgentes.

Há casos também em que a proximidade física com o cliente foi um dos fatores que

pesou na decisão por trabalhar virtualmente. Outros casos, como o da G19-V-F-P que interage

com pessoas de diferentes partes do mundo, com vários fuso-horários, o fato de estar em casa

facilita o contato em horários de trabalho diferentes e agrega maior legitimidade para o

modelo de trabalho.

Há outros problemas apresentados pelos gestores entrevistados, como o fato do cliente

querer acompanhar o andamento do trabalho, ou exigir que o serviço seja executado em suas

dependências, como já foi mencionado anteriormente. Para a G20-SV-R-T, isso acontece

mais quando o cliente não está habituado a contratar o tipo de serviço que eles prestam, ou

está inseguro sobre qual o seu papel no processo. A confiança sobre a prestação do serviço em

outra localidade também pode pesar nessa situação. Apesar de que isso já poderia acontecer

antes, para o gestor virtual, isso não implica somente a mudança do trajeto de um escritório ao

outro, nem para ele, nem para sua equipe, mas sim a mudança na estrutura do trabalho e em

outros aspectos que foram decisivos para migrar ao trabalho virtual, inclusive questões

pessoais.

Grupo 6: Benefícios do Trabalho Virtual

Dentre os eventos que já existiam mas foram alterados pelo home office, merecem

destaque as situações que foram beneficiadas pelo trabalho virtual. Metade dos entrevistados

falaram especialmente da questão da diminuição de interrupções e aumento no foco nos dias

em que trabalham em home office. Para a G2-V-F-P, isso é uma das situações que mais altera

nos dias de home office:

Algo que pode mudar é que as pessoas te procurarem e atrapalhar uma vez. Se você está aqui no escritório, qualquer pessoa que passa, que vê você, ‘ah, que eu tenho uma pergunta’, ‘ah, eu tenho uma dúvida’, ‘ah, eu tenho...’ e aí você perde mais tempo. É bom que você ajuda muito mais gente, o trabalho das outras pessoas, mas é uma coisa que em casa não acontece.

Isso levou alguns dos entrevistados a perceberem que a produtividade deles melhorou,

mesmo quando trabalham a mesma quantidade de horas por dia. Para os que não estão todo o

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tempo de trabalho remoto, a decisão sobre quais atividades são feitas em casa considera a

tranquilidade de não ser interrompido durante o trabalho.

Um dos benefícios tem relação com as reuniões marcadas fora do horário de trabalho.

Por mais que antes essas reuniões já existissem, a facilidade de ser uma reunião remota, em

que o gestor já está em sua residência e consegue participar mais tranquilamente, para depois

voltar para as demais atividades não profissionais, coisa que antes ele não teria como fazer

sem gastar, ao menos, o tempo de deslocamento para casa ao final da reunião.

Essa semana eu tive só uma [reunião] às 06h00 e uma às 18h30, que foi a mais tarde ou mais cedo. Mas, olha, semana passada teve uma às 05h00, para poder conciliar com o pessoal da China. Então assim, tinha China e Índia na mesma reunião. Então assim, você fica com reuniões espalhadas (G19-V-F-P).

Um outro benefício percebido foi com relação ao atendimento a clientes, pois, ao

terem menos distrações profissionais, podem dar maior atenção às questões que envolvem os

clientes.

Grupo 7: Contato com colegas e parceiros

Um último ponto que se alterou com a ida do gestor para o home office foi o contato

com colegas e parceiros. Se no escritório, muitas vezes, o gestor pode somente virar para o

lado e pedir conselhos e dicas a colegas, no ambiente virtual isso precisa do uso de uma

ferramenta, mesmo que por um comunicador, ou contato por telefone, sms, etc. Toda a

comunicação e trocas entre colegas se torna dificultada, o que acaba por, muitas vezes, estar

restrita a questões pontuais mais sérias, em que isso seja realmente necessário.

O que mais é prejudicado é o contato social, que se torna dificultado de acontecer

normalmente, por falta de um espaço, como o café, ou bebedouro, e tempo de contato fora do

trabalho, como seria o horário de almoço, por exemplo.

4.6.3 Eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual

O terceiro grupo é composto pelas situações que se mantiveram da mesma forma,

independente da mudança do gestor para o home office. Elas se apresentam em três grupos

distintos, como apresentado na Figura 15: na forma de organização do trabalho, no

atendimento e acompanhamento de clientes e na comunicação com fornecedores e parceiros.

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156  

Figura 15 – Eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual.

Fonte - Elaborado pela autora.

As vezes, mesmo as situações que acontecem no escritório, precisam do uso das

tecnologias para envio das solicitações, como na afirmação do G9-V-S-P: “Até porque

geralmente é por e-mail, quando você precisa de alguma coisa mais formal. Mesmo que você

esteja dentro do escritório, você formaliza por e-mail. Então, não tem tanto problema.” Outros

entrevistados colocaram situações de interação e comunicação que não se alteraram muito.

Grupo 1: Sobre a forma de organização do trabalho

A forma de organização do trabalho engloba questões como: a forma de organizar a

agenda; os conflitos de interesse no trabalho; escolha dos projetos em que quer (e pode) ou

não participar; problemas com os parâmetros do projeto; quando é necessário realizar

solicitações e comunicações formais em diferentes níveis; toda a comunicação em língua

estrangeira, especialmente para os que não são fluentes; além dos momentos em que há a

necessidade de acompanhar o andamento do trabalho e tomar decisões de maior incerteza.

Para a G11-SV-S-T, a questão sobre a escolha dos projetos para participar pela

empresa depende de quanto tempo ela tem que estar no escritório por semana. “Sempre vai

depender do tipo do trabalho e do quanto eu preciso do trabalho. Tipo assim, se tem que ir

uma vez por semana, ficar duas horas em uma reunião. Dá para negociar? Dá, tem dias que dá

e tem dias que não.” Tanto para a G2-V-F-P, como para o G8-V-R-T, solicitações muito

Eventos  que  não  se  alteraram  pelo  trabalho  virtual  

Forma  de  organização  do  trabalho  

Situações  de  atendimento  ao  cliente    

Comunicação  com  fornecedores  e  parceiros  

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157  

diferentes, que eles chamam de ‘extraordinárias’, teriam que ser aprovadas pelo superior,

independente de estar trabalhando do escritório ou não.

Grupo 2: Situações de atendimento ao cliente

Normalmente o cliente já está em um local diferente, o que faz com que o atendimento

a ele não se altere pelo fato do gestor estar trabalhando em home office, especialmente com

relação às apresentações dos resultados do projeto (G1-SV-R-T), entender novas demandas de

trabalho (G14-V-R-P) e ser apresentado a um novo cliente (G19-V-F-P).

No atendimento presencial ou remoto (por telefone e e-mail principalmente) com

clientes, como fala o G3-N-R-T, “o cliente não vai comprar só porque eu estou ligando para

ele, conversando por telefone. Ele quer, no mínimo, me ver uma vez.” A G20-SV-R-T,

contrariamente, fala que muitas vezes é convocada para estar em reuniões quando ela não

conseguiria. Tanto ela como a G11-SV-S-T muitas vezes deixam de aceitar projetos que

dependem de reuniões presenciais, mas afirmam que muitos aceitam trabalhar com elas,

mesmo que não possam estar fisicamente nas reuniões. “Hoje em dia nós temos tantas opções,

que é quase impossível ser um empecilho isso.” (G20-SV-R-T).

Outras questões que envolvem o entendimento das necessidades do cliente (G1-SV-R-

T), orientações a serem dadas durante o oferecimento do serviço (G22-SV-R-T) e

recebimento de feedback não se mostraram alteradas por conta do home office. Mesmo

problemas envolvendo o atendimento, cobrança, solicitações de coisas fora do escopo do

projeto, ou quando o cliente não aceita a estrutura do projeto. “Mas enfim, às vezes a gente

gosta de mostrar como ficou, até para receber um elogio. Sei lá, até para ver se está tudo okay,

se todas as coisas estão lá.” (G10-N-R-T).

Grupo 3: Comunicação com fornecedores e parceiros

Os clientes, fornecedores e parceiros já estão em outra localidade, fora do escritório, o

que faz com que as solicitações, acompanhamento e mesmo os problemas de comunicação

não sejam questões exclusivas do home office ou que se alterem por esse.

Muitos depoentes acionam fornecedores e parceiros nos momentos em que esses são

necessários, seja pelo excesso de trabalho, ou por não possuírem as capacidades necessárias

para desenvolver as tarefas. “Então, a gente acaba criando uma rede de informação entre

quem nos fornece os equipamentos, os nossos fornecedores e também os nossos próprios

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técnicos na matriz” (G14-V-R-P). Nesse sentido, os fornecedores são os mesmos do tempo

em que este gestor trabalhava presencialmente e que isso faz com que sejam de maior

confiança, pois conhecem o seu estilo de trabalho.

Os três grupos de eventos de comunicação apresentam situações de interação com

diferentes stakeholders, a maioria das quais já aconteciam antes do gestor se tornar um

trabalhador virtual, mas nem todas se mantiveram da mesma forma. Muitas situações que

poderiam não ser consideradas eventos anteriormente, ao mudar o local de trabalho para o

virtual, passaram a serem percebidas como situações relevantes, podendo ser consideradas

eventos.

4.6.4 Influência do perfil dos respondentes nos eventos de comunicação

Sobre o perfil dos respondentes, somente os que possuem semi-vínculo, equipes

transitórias e virtualidade total tiveram eventos relacionados a conflito de horário e agenda,

exigência para reuniões presenciais e clientes que não aceitam a estrutura de trabalho virtual.

Os depoentes sem vínculo formal e também com equipes transitórias e virtualidade

total foram os que tiveram eventos relacionados à falta de espaço para reuniões presenciais.

Já os depoentes com vínculo formal e equipes fixas foram os únicos que apresentaram

eventos relacionados à dificuldade de contatar pessoas da equipe, funcionários de outras áreas

e parceiros. Os que possuem vínculo, mas diferentes tipos de equipe, também foram os únicos

contatados em horários e locais inadequados.

4.6.5 Características dos eventos de comunicação

Os eventos de comunicação tratam de todos os relacionamentos interpessoais dentro

da organização. São situações que focam no contato direto tanto como forma de trocar

informações, como também os problemas que podem ser originados da falta de comunicação,

ou barreiras que fazem com que ela não flua de maneira tranquila. Para Perrow (1972, p. 75)

“a maioria dos problemas tem origem no relacionamento pessoal”.

Ainda, os eventos de comunicação podem dizer muito sobre a forma com a qual o

trabalho está estruturado. Para Mintzberg (2003), a comunicação também pode funcionar

como forma de diminuir a incerteza dos profissionais, em ambientes instáveis e de alto risco.

Assim, as seis características dos eventos de comunicação – frequência, importância,

incerteza, complexidade, urgência e pessoas envolvidas - serão analisadas a seguir.

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1. Frequência

A frequência dos eventos de comunicação se manteve alta na maior parte dos casos,

como mostra o Gráfico 34. Isso era de se esperar, por ser esta uma parte importante do

trabalho do gestor, ocupando bastante tempo de dedicação.

Gráfico 34 - Frequência dos eventos de comunicação.

Fonte - Elaborado pela autora.

A maior parte dos eventos de comunicação depreendidos das entrevistas surgiram com

o trabalho virtual, como mostra o Gráfico 35. Com relação à frequência, tanto os eventos que

surgiram, como os que se alteraram pelo trabalho virtual são os de maior frequência, o que

mostra que o trabalho do gestor virtual realmente foi alterado pelo meio virtual, no que diz

respeito aos eventos de comunicação.

0  10  20  30  40  50  60  70  80  90  100  

alta   média   baixa  

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160  

Gráfico 35 - Frequência dos eventos de comunicação para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

Já os que não se alteraram pelo trabalho virtual, a maior parte deles é composta por

eventos de média frequência. Esse grupo contempla as situações de comunicação com

clientes, parceiros e fornecedores. Assim, a comunicação com esses pode ser entendida como

sendo menor que as situações de comunicação interna.

2. Importância

Gráfico 36 - Importância dos eventos de comunicação.

Fonte: Elaborado pela autora.

A importância percebida para os eventos de comunicação apresentados pelos gestores

virtuais entrevistados foi muito alta para todos os eventos de comunicação, como mostra o

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  50  

surgiram  com  o  trabalho  virtual  

alteraram  com  o  trabalho  virtual  

não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

0  20  40  60  80  100  120  140  160  

alta   média   baixa  

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161  

Gráfico 36. Vale notar que não houve nenhum evento de comunicação percebido como sendo

de baixa importância.

Gráfico 37 - Importância dos eventos de comunicação para os três grupos.

Fonte: Elaborado pela autora.

Os três grupos de eventos de comunicação apresentaram as mesmas características, ou

seja, todos sendo percebidos como de alta importância, como apresentado pelo Gráfico 37.

3. Incerteza

Lidar com pessoas é uma tarefa incerta, por mais que haja planejamento e as situações

possam se repetir com frequência. O fato da comunicação ainda ser mediada pelas

tecnologias, especialmente a Internet, pode aumentar a percepção de incerteza dos gestores

virtuais ao lidar com os eventos de comunicação. Mesmo assim, a maior parte dos eventos de

comunicação foi considerada como sendo de média e baixa incerteza, como mostra o Gráfico

38.

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

70  

surgiram  com  o  trabalho  virtual  

alteraram  com  o  trabalho  virtual  

não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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162  

Gráfico 38 - Incerteza dos eventos de comunicação.

Fonte - Elaborado pela autora.

Alguns dos motivos que podem ter levado a este resultado de menor incerteza para os

eventos de comunicação podem ser explicados pela alta frequência em que esses eventos

acontecem. Para Mintzberg (2003) a maior repetição de uma situação diminui a incerteza

sobre ele. Outro motivo pode estar no tempo de experiência dos depoentes, pois todos os

gestores entrevistados já possuem mais de um ano trabalhando neste modelo.

Gráfico 39 - Incerteza dos eventos de comunicação para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

Nesse sentido é importante observar que, proporcionalmente, a menor incerteza é dada

pelos eventos que surgiram com o trabalho virtual, como mostra o Gráfico 39. Os eventos de

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

70  

alta   média   baixa  

0  

5  

10  

15  

20  

25  

30  

35  

40  

surgiram  com  o  trabalho  virtual  

alteraram  com  o  trabalho  virtual  

não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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163  

comunicação que já existiam quando o gestor trabalhava no ambiente do escritório físico

possuem incerteza maior.

4. Complexidade

Há muitas variáveis a serem consideradas para os eventos de comunicação com os

quais os gestores virtuais precisam lidar. Se de um lado eles têm as dificuldades do meio e dos

problemas com as tecnologias, do outro há diferentes pessoas e interesses envolvidos nas

interações. O Gráfico 40 mostra a complexidade dos eventos de comunicação.

Gráfico 40 - Complexidade dos eventos de comunicação.

Fonte - Elaborado pela autora.

É interessante observar que a maior parte dos eventos de comunicação teve média /

baixa complexidade. Ao analisar separadamente os três grupos de eventos, apresentados no

Gráfico 41, pode-se perceber que o resultado geral foi influenciado pela grande quantidade de

eventos de baixa complexidade que surgiram com o trabalho virtual.

Para os demais grupos, a complexidade percebida foi média, o que se pode inferir que

são integrados alguns recursos e conhecimentos para lidar com situações de comunicação,

mas que não são de alta complexidade.

0  10  20  30  40  50  60  70  80  

alta   média   baixa  

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164  

Gráfico 41 - Complexidade dos eventos de comunicação para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

As situações analisadas como tendo baixa complexidade estavam relacionadas a

questões tecnológicas. Nesse sentido há muitas hipóteses para que esse fato possa ter

acontecido, mas chama a atenção a forma como os gestores entrevistados encaram as

tecnologias. Nenhum deles viu as tecnologias como problemas, mas sim como facilitadoras da

comunicação. Todos encaram de uma forma positiva o fato de estarem trabalhando

remotamente, o que pode ter levado a tratarem com maior simplicidade as questões de

comunicação que surgiram quando eles se tornaram gestores virtuais.

5. Urgência

A situação se altera bastante com relação à urgência percebida para os eventos de

comunicação. Como pode ser percebido pelo Gráfico 42, a maior parte dos eventos foi

considerada como de alta e média urgência. Era de se esperar esse resultado uma vez que a

presença virtual se faz pela interação com os demais e entrega das tarefas.

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  50  

surgiram  com  o  trabalho  virtual  

alteraram  com  o  trabalho  virtual  

não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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165  

Gráfico 42 - Urgência dos eventos de comunicação.

Fonte - Elaborado pela autora.

Nas falas dos entrevistados, em diferentes momentos, eles colocaram que o

atendimento às solicitações dos demais eram tratadas com destaque. O mesmo se deu nas

situações em que os próprios gestores precisavam de informações ou contatar outros, em que

eles precisavam das informações com urgência e se incomodam quando suas solicitações são

deixadas em segundo plano.

Mesmo assim, o fato da urgência ter um enfoque mais para ‘média’ e não ‘alta’, pode

se referir ao fato de que nem todos os contatos e situações são lidadas no momento em que

recebem a demanda: nem eles, nem as pessoas com quem interagem.

Gráfico 43 - Urgência dos eventos de comunicação para os três grupos.

Fonte - Elaborado pela autora.

0  10  20  30  40  50  60  70  80  90  100  

alta   média   baixa  

0  5  10  15  20  25  30  35  40  45  

surgiram  com  o  trabalho  virtual  

alteraram  com  o  trabalho  virtual  

não  se  alteraram  

alta  

média  

baixa  

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O Gráfico 43 mostra que a mesma proporção ocorre com os três grupos, tendo maior

quantidade de eventos com média urgência, seguido pelas situações de urgência alta e, por

último, os percebidos como baixa urgência. Um fato que vale mencionar é o de que todos os

eventos que se referiam às tecnologias foram percebidos como sendo de alta urgência,

provavelmente porque as falhas de tecnologia interferem em diferentes momentos do

cotidiano do gestor virtual.

6. Pessoas envolvidas

Não há como não ter diferentes pessoas envolvidas nos eventos de comunicação.

Muitas vezes os contatos e solicitações que geram os eventos surgem de clientes, parceiros,

colegas, superiores e mesmo da equipe. Os casos em que o evento se origina somente do

gestor são bem menores, como mostrado no Gráfico 44.

Gráfico 44 - Pessoas envolvidas nos eventos de comunicação.

Fonte: Elaborado pela autora.

Era de se esperar que a maior parte dos eventos de comunicação tenha o cliente

envolvido. Há muitas razões para que isso possa ter acontecido, como o fato de que qualquer

solicitação que venha deste, mesmo que seja somente um contato, não é considerado uma

situação simples, mas podem ser caracterizados como evento, ou seja, são situações sociais

que exigem uma ação, destacadas do fluxo normal de trabalho, como rupturas, ou quebras.

Este resultado se alterou bastante para os três grupos, como apresentado no Gráfico

45. Nos eventos que surgiram com o trabalho virtual, o destaque está para o envolvimento da

0  

10  

20  

30  

40  

50  

60  

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167  

equipe nos eventos de comunicação. Os colegas também tem um papel destacado para esse

grupo de eventos. Já os dois outros grupos de eventos relacionados à comunicação, o destaque

está para o envolvimento dos clientes. Uma hipótese para que isso possa ter acontecido está

no fato de que a maior parte dos eventos que surgiram com o trabalho virtual não está

relacionada à comunicação com clientes.

Gráfico 45 - Pessoas envolvidas nos eventos de comunicação para os três grupos.

Fonte: Elaborado pela autora.

Desta forma, as características dos eventos de comunicação se mostraram, no geral,

como muito frequentes; importantes, sem ser demasiado importante; de menor incerteza;

baixa para média complexidade; não extremamente urgentes, embora de média para alta e

tendo os clientes e a equipe envolvidas na maior parte das situações de comunicação do

cotidiano do gestor.

Muitas hipóteses foram levantadas sobre os motivos que possam ter levado a tais

resultados para as características dos eventos de comunicação, porém não há como se ter

certeza sobre os motivos sem que seja feita uma nova pesquisa, de caráter quantitativo, para

que assim se possa verificar se esses resultados se mantém em um grupo maior, além de

entender e poder afirmar com precisão sobre quais as características dos eventos de

comunicação.

A comunicação agregou novos eventos, com o uso das TIC; a distância dos demais; a

necessidade de se fazer presente em diferentes espaços; a capacidade de coletar e transferir

0  

5  

10  

15  

20  

25  

surgiram  com  o  trabalho  virtual  

se  alteraram  pelo  trabalho  

virtual  

não  se  alteraram  

somente  o  gestor  

equipe  

superior  

demais  áreas  

suporte  

cliente  

colegas  

fornecedor  

parceiros  

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informações desde um espaço físico isolado, em que muitas vezes a pior alternativa na

solução de um problema é o deslocamento físico ao escritório.

4.7 Discussão dos Resultados

4.7.1 O gestor como trabalhador virtual

Os resultados obtidos com a presente pesquisa trouxeram informações novas e

relevantes sobre o trabalhador virtual. É importante destacar, primeiramente, a melhor

compreensão sobre o perfil do gestor virtual. Segundo os estudos feitos, não há um único

perfil para este profissional, ou seja, eles não atuam em formatos padronizados de

comportamento e nem na forma como se relacionam com seus respectivos empregos. Ao

contrário, o estudo revelou que eles devem possuir capacidades diversas de acordo,

principalmente, com o tipo de contrato de trabalho que possuem, o tipo de equipe e/ou

subordinados que comandam e o quão virtual é o seu trabalho.

Nesse sentido, o trabalho virtual se apresentou, de acordo com os próprios

respondentes, como um modelo de trabalho que precisa de capacidades diferenciadas e um

perfil de profissional que consiga se adaptar a esse modelo. Este profissional necessita de

maior autocontrole, tanto para conseguir determinar os horários de trabalho quanto para

definir a prioridade das atividades, independente das influências externas. Como se espera de

bons profissionais, ele deve saber onde buscar respostas e integrar recursos. Também deve ser

proativo, pois é no contato com o ambiente externo e as demais pessoas que ele se faz

percebido pela equipe e demais pessoas do contato profissional.

De acordo com os respondentes, o trabalho virtual não é recomendado para pessoas

que precisam de contato e interação presencial constante com outras pessoas, nem para os que

são altamente competitivos e gostam de se posicionar em relação aos demais colegas de

trabalho. Profissionais que precisam de incentivos constantes, necessitam de limites e

cobranças periódicas também não se adaptam ao modelo de trabalho virtual. Segundo os

depoimentos dos gestores, as pessoas com estes perfis, quando inseridas no contexto do

trabalho virtual podem, inclusive, tornarem-se deprimidas, por ficar muito tempo isoladas.

Esta situação, no entanto, não pode ser comprovada pois, entre os depoentes não foram

obtidas informações sobre problemas pessoais de adaptação ou experiências ruins nesse

sentido e que quisessem contar sobre isso.

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169  

Por outro lado, os próprios respondentes, especialmente os que estão somente parte do

tempo trabalhando de casa, informam sobre as vantagens deste tipo de trabalho e enfatizam

até o quanto utilizam o tempo em home office para realizar atividades que seriam impossíveis

ou muito difíceis de serem feitas em seus escritórios presenciais. Atividades, por exemplo,

que precisam de maior concentração, ou quando precisam se dedicar por muito tempo a um

determinado projeto, ou mesmo quando precisam de mais espaço do que teriam dentro do

escritório. Para Perin (1998), a casa consegue ser o espaço do trabalho ‘real’, em que se

consegue realizar as atividades em uma atmosfera tranquila, capaz de maior concentração e

com menos interrupções.

A autonomia foi um ponto bastante presente nas entrevistas. São os próprios gestores,

muitas vezes que escolhem as atividades e projetos que querem participar, além das pessoas

da equipe com as quais se sentem confortáveis em trabalhar. Talvez esse seja um dos

principais benefícios do trabalho virtual, pois em um escritório, muitas vezes, não há como

negar o trabalho, ou deixar de integrar uma pessoa disponível à sua equipe. Como colocado

por uma entrevistada, muitas vezes é preferível acumular tarefas a aceitar uma pessoa que não

considere adequada na equipe ou com a qual nunca trabalhou antes.

O trabalho virtual também apresentou novas formas de participação na empresa e nos

projetos, não só para os gestores, mas também para os membros de suas equipes. A maior das

alterações do contrato de trabalho foi sentida pelos entrevistados que possuem semi-vínculo,

com pagamento, normalmente, pela dedicação a cada projeto. No caso desses entrevistados,

todos possuem mais de dois anos trabalhando a maior parte do tempo para uma mesma

empresa, mas não possuem carteira assinada e nem benefícios. Todos são profissionais

altamente qualificados e reconhecidos na empresa. Os motivos para aceitarem esse modelo de

contratação foram diferentes para cada respondente, sendo alguns por motivos pessoais,

outros por interesse da empresa, como no caso em que a pessoa era ‘cara demais’ para se

manter fixa, mas que poderia ser agregada aos custos do projeto; outra pessoa não conseguia

se encaixar na hierarquia, por não ter como ser promovida sem deixar de ser especialista.

Nenhum dos entrevistados, sobretudo os que possuem vínculo formal com a empresa,

percebeu como negativo o fato de ter aberto mão de símbolos como sala e vaga de

estacionamento privativas, placa de identificação e outros signos que diferenciam o gestor dos

demais funcionários. Porém, todos os que já possuíam secretárias, fizeram questão de mantê-

las. Estas passaram a também agregar uma nova função, a de representar os gestores virtuais

para o resto da organização. Contanto, nenhum dos gestores entrevistados fez qualquer

menção à carreira, seja na visualização de possibilidades de crescimento ou promoções. Isso

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pode ser interpretado de diferentes formas. Em primeiro lugar, talvez eles realmente tenham

menos acesso à promoções e estão acomodados com a situação. Em segundo lugar, pode ser

que uma promoção possa significar a perda dos privilégios de trabalhar em home office, que

talvez pesem mais na decisão do que um cargo maior na organização. Em terceiro lugar, estão

os profissionais com semi-vínculo, que já estão em uma estrutura separada das promoções

organizacionais. Por mais que esses tenham relações profissionais com a empresa, essas estão

restritas à área de especialização desses e dificilmente seriam reintegrados ao organograma

organizacional.

Os entrevistados se mostraram satisfeitos com o modelo de trabalho e disseram que

dificilmente voltariam ao modelo presencial tradicional. Pesquisas anteriores de Tremblay

(2002), Barros e Silva (2010) e Wiesenfeld, Raghuram e Garud (1999) tiveram resultados

semelhantes quanto à satisfação com o modelo de trabalho.

4.7.2 O contexto do trabalho virtual

O espaço da casa têm grande influência no trabalho. Em primeiro lugar, a casa precisa

de um ambiente que acomode as atividades profissionais, como um escritório. Sem esse

espaço privativo não há nem como considerar se tornar um trabalhador virtual. No caso dos

respondentes, somente três utilizam o seu próprio quarto de dormir para as atividades

profissionais, sendo que esses são solteiros e vivem com os pais.

Para as organizações, há um ganho expressivo em transferir os funcionários para o

trabalho virtual. A empresa de uma das entrevistadas, por exemplo, conseguiu diminuir o

tamanho do escritório para um terço do que era antes de implantar o trabalho virtual, fora os

gastos com luz, telefone, água, entre outros, que foram transferidos para o próprio

funcionário, que passou a gastar dos seus próprios recursos. Nesse sentido, pode haver uma

tendência a aumentar a quantidade de trabalhadores virtuais no futuro, como forma de reduzir

gastos, ganhar tempo e melhorar a produtividade.

Ainda sobre a residência do funcionário, os entrevistados muitas vezes mencionaram,

em tom de brincadeira, sobre problemas que não teriam em um escritório, como o fácil acesso

à geladeira, televisão, filhos, animais de estimação, hobbies e outras atividades exclusivas dos

momentos de ócio. Por exemplo, nos momentos em que uma atividade não é muito agradável,

ou não há nada urgente a fazer, é necessário muito autocontrole e responsabilidade para não

deixar as atividades profissionais de lado.

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171  

O espaço virtual de trabalho faz parte de um contexto mais amplo, composto por todos

os recursos e as mídias utilizadas durante o horário de trabalho. Vão desde o computador,

telefone e aplicativos de comunicação, como Skype, comunicadores corporativos, e-mails,

além de aplicativos de dispositivos móveis, como o SMS e WhatsApp. Pelo menos um terço

dos entrevistados teve que refazer, ou fazer um novo plano de telefonia e internet depois de

ter se tornado trabalhador virtual. As tecnologias foram vistas pelos entrevistados como

facilitadoras para as diferentes situações, inclusive e especialmente na manutenção do modelo

de trabalho virtual.

Foi bastante comum na fala dos entrevistados a ‘invasão’ dos espaços de trabalho

virtual. Essas acabam por acontecer pois as mesmas mídias e dispositivos são utilizados tanto

no horário de trabalho como de ócio, fazendo com que a pessoa possa ser contatada mesmo

quando não está trabalhando. Para um dos entrevistados, os tempos se confundem, por

exemplo, porque gosta de jogar no computador depois do horário de trabalho e acaba por

responder mensagens de trabalho, durante a noite e finais de semana. Assim, o espaço virtual

muitas vezes não é reconhecido como um ‘espaço’ de trabalho, com tempo determinado.

O tipo de acesso virtual também se confunde entre os recursos usualmente utilizados

em situações de trabalho (como e-mail, Skype, WhatsApp, etc.) e os que são mais conhecidos

pela interação social, como o Facebook, por exemplo. Neste caso, dois entrevistados

informaram que receberam mensagens de trabalho pelo Facebook, pois a outra pessoa não

sabia como contatá-lo fora do horário de trabalho. A proximidade social da casa com o

trabalho interfere em outras questões relacionadas à invasão de privacidade, como clientes,

superiores e mesmo os membros da equipe saberem de fatos do cotidiano pessoal e familiar

dos entrevistados que, muitas vezes, não teriam conhecimento em um ambiente de escritório,

sem que o gestor quisesse tornar público, como questões de saúde, datas festivas familiares e

mesmo a decisão por mudança de residência, por exemplo.

Não se pode falar do espaço de trabalho sem falar no tempo do trabalho virtual. Seria

esse outro tempo, como colocado na teoria, de que as pessoas interagem em tempos

diferentes, ou seria a dedicação integral ao trabalho, em todos os tempos de vida, como

apresentado por alguns dos depoentes dessa pesquisa?

Há, sim, grande influência do contexto de trabalho virtual no tempo de trabalho do

gestor. Se há muitas atividades e cobrança por resultados, há maior dedicação de tempo para

alcançar a produtividade necessária, de acordo com oito dos entrevistados, além do direito do

gestor virtual de controlar virtualmente o tempo de dedicação de cada membro de sua equipe

ao trabalho. Por outro lado, há pausas durante o dia. Se o trabalhador virtual trabalha da hora

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que acorda até o horário de dormir, ele também pode passear na praia e tomar água de coco

no meio do dia, brincar com os filhos e animais de estimação, ir a médicos e reuniões das

escolas dos filhos e estar mais presente na vida familiar. Além disso, sua liberdade é tão

ampla que altera, inclusive, o seu tempo e espaço de trabalho, pois ele pode viajar para

diferentes partes do mundo e continuar no trabalho rotineiro, sem provocar interrupções, sem

precisar de autorização e ainda entregar as atividades nos prazos previstos.

4.7.3 Interação com os demais

O que os entrevistados mais sentem falta é a interação face a face com colegas,

especialmente a que era feita de forma espontânea, não intencional, de caráter informal,

somente para tirar uma dúvida, por exemplo. Para Orengo, Zornoza e Peiró (2011), muitos

dos problemas de relacionamento interpessoal dos trabalhadores virtuais são decorrentes da

falta de contato face a face e linguagem não verbal. Para parte dos entrevistados, faltam as

piadas, conversas de corredor, discussão sobre os resultados do futebol às segundas-feiras.

Dois entrevistados vão ao escritório alguns dias por mês somente para almoçar com o chefe e

colegas. Se há esse lado ruim, para outros entrevistados é ótimo estar fora do ambiente de

fofocas, panelinhas e não ter que lidar com a política informal da empresa, na briga por

recursos, espaço e status.

O fato de estar sozinho também trás um pouco de insegurança, pois presumem que os

demais empregados do escritório – por não ter o profissional por perto - não veem o seu

esforço e os desafios enfrentados no cotidiano. Para uma das entrevistadas, tudo seria mais

fácil se o chefe notasse quanto trabalho ela faz em um dia. Para ela, o trabalho em home office

é mais difícil de ser percebido pelos demais empregados. Ao mesmo tempo, o próprio gestor

virtual tem dificuldade de perceber no seu cotidiano se está tudo bem com o seu trabalho para

os demais profissionais da empresa e se está agradando ou não aos seus chefes e diretores.

O mesmo acontece com os membros da equipe dos gestores virtuais entrevistados, que

precisam se adaptar ao modelo de trabalho virtual. Foram apresentadas algumas situações

pelos gestores entrevistados de que as pessoas com quem eles trabalhavam não conseguiam se

adaptar ao home office, ou precisavam de ajuda e maior acompanhamento até que

conseguissem entender o modelo de trabalho virtual. Assim, os gestores precisam rever seus

modelos de gestão das equipes para poder acompanhar os seus subordinados, que também são

virtuais e possuem outros tempos de dedicação, por outras bases, com parâmetros diferentes.

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Nesse sentido, a sobrecarga de trabalho vêm como uma compensação, como forma de

poder ter o que entregar/mostrar aos demais. Parte dos entrevistados prefere comprometer o

seu dia para conseguir cumprir com as tarefas no prazo estipulado, do que tentar renegociar

prazos para as tarefas.

A questão da confiança, que esteve presente em vários estudos anteriores,

especialmente em Elron e Vigoda-Gadot (2006), também se mostrou evidente nos eventos do

cotidiano dos entrevistados, especialmente quando escolhem pessoas que já conhecem para

trabalhar nos seus projetos, quando deixam de aceitar projetos por não ter em sua equipe

pessoas com as qualificações necessárias, e até em algumas situações de interação com

pessoas caracterizadas como não preparadas para o modelo de trabalho virtual. Nesse sentido

percebe-se um esforço muito grande de todos os depoentes para cumprir prazos, mesmo que

eles e suas equipes sejam pessoalmente prejudicados por isso, e não deixar nenhuma

comunicação sem resposta, independente de quando ela seja recebida, entre outras situações.

Mesmo a grande quantidade de eventos de controle da equipe, do projeto, pessoais e externos

podem ser considerados como formas de garantir maior segurança, e confiança nos demais;

além de mostrar aos stakeholders externos que eles, enquanto trabalhadores virtuais, são

confiáveis.

4.7.4 Retomada da estrutura tridimensional de análise

Os três níveis de análise dos eventos, apresentados na Figura 16 se mostraram

interconectadas entre si em diferentes momentos da análise.

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Figura 16 – Estrutura de análise dos eventos.

Fonte – Elaborado pela autora.

A relação dos quatro tipos de eventos como perfil dos respondentes contaram com

situações específicas para cada um deles, como por exemplo os gestores com vínculo formal,

que estão mais relacionados às situações de controle externo; as pessoas sem nenhum vínculo,

que possuem como evento a decisão sobre o local para realizar reuniões presenciais; ou os

gestores com semi-vínculo que apresentaram eventos relacionados ao conflito de horário.

As formas de organização da equipe também mostraram relação com os tipos de

evento em muitos sentidos, com somente as pessoas que possuem equipes fixas, por exemplo,

tendo problemas em contatá-las.

Os eventos que relacionaram a virtualidade com o tipo de evento também tiveram

alguns destaques, como a definição dos dias de trabalho em home office e das atividades a

serem feitas nesses dias, para os gestores que trabalham parte do tempo no escritório; e o

acúmulo de papéis para os gestores com virtualidade total.

Para as seis características dos eventos, além da relação com o tipo de evento,

apresentada na análise, o perfil dos respondentes também exerceu influência no que foi

considerado mais frequente, como por exemplo os contatos e acompanhamento das equipes

estruturadas por projetos; importante, especialmente nas solicitações internas para os que

possuem semi-vínculo e externas para os que possuem vínculo formal; o que é incerto, e as

formas de controle para os três tipos de vínculo; o grau de complexidade, que teve relação

com as pessoas com vínculo formal; a percepção de urgência, que foi influenciada pelo grau

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de virtualidade para diferentes eventos; e quais as pessoas envolvidas, que sofreu influência

tanto do tipo de vínculo, como da forma de estruturação da equipe.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seria muito difícil, a partir dos resultados desta pesquisa, traçar uma linha de

comparação direta entre os estudos anteriores de Peterson e Smith sobre a gestão do

significado de eventos de trabalho, de caráter quantitativo e este estudo. Provavelmente, um

estudo semelhante com os gestores presenciais tradicionais iria chegar a uma quantidade de

eventos muito maior que os oito utilizados nas pesquisas de Peterson e Smith. Por outro lado,

esse estudo não teve o mesmo objetivo de comparações crossculturais. Foi estudado um

pequeno subgrupo, os gestores virtuais, cediados em algumas capitais brasileiras, para poder

identificar e analisar a forma como estes reconhecem os eventos em seu contexto de trabalho

home office.

Com relação a perspectiva teórica de eventos, esse estudo conseguiu integrar, pela

primeira vez, todas as seis características dos eventos, que até então haviam sido trabalhadas

separadamente. Há alguns estudos que investigaram as fontes de apoio usadas para lidar com

eventos de alta incerteza, importância e complexidade, apresentados como ‘recursos’, mas

não com a frequência, urgência e pessoas envolvidas e nem que investigassem quando estas

são percebidas como tendo um grau médio ou baixo. Com a integração das seis

características, se percebeu não só a possibilidade de pesquisar todas ao mesmo tempo, mas

que, dependendo do evento, elas podem se comportar de forma relacionada, ou seja, a maior

frequência em que se lida com um evento diminui a incerteza, por exemplo.

Outra contribuição para os estudos sobre eventos foi o fato de que os depreendidos das

entrevistas com gestores virtuais se mostraram específicos desse grupo. Assim, os eventos

podem ser mais particulares do que é entendido e investigado atualmente. Os resultados da

pesquisa permitem inferir que, talvez a utilização de eventos que sejam mais representativos

de cada grupo profissional possa aportar melhores resultados, do que uma perspectiva

universal, segundo a qual os eventos são comuns para todos os gestores, de diferentes setores

e que atuam em diversas partes do mundo.

Ao final, é possível dizer que a flexibilidade apresentada pelo trabalho virtual, torna o

contexto profissional mais complexo, com variáveis que não estariam inseridas em um

ambiente presencial de trabalho corporativo. Estas novas situações trouxeram alguns reflexos

para os eventos que foram depreendidos das entrevistas.

Assim, a percepção que os gestores têm de seu contexto profissional interfere na

forma como os gestores virtuais percebem os eventos do seu cotidiano. Esses eventos podem

ser reconhecidos pela prática cotidiana, sua experiência pessoal, contatos com os demais

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stakeholders, ocorrências e fatos do cotidiano, e outras variáveis profissionais e

pessoais/familiares que interferem no contexto de trabalho.

O que foi depreendido como evento foram situações sociais da relação do gestor com

o trabalho; com o ambiente real da casa e da família; com o ambiente virtual; com a

organização em diferentes aspectos; com os membros de sua equipe e subordinados em geral,

além de clientes, parceiros, suporte técnico, etc. As tecnologias também influenciaram no que

foi percebido por esses como evento, com relação às diferentes formas de contato com o

mundo externo, ou os problemas decorrentes da falta de contato.

A descoberta da forma como os gestores percebem os eventos do seu cotidiano é só o

primeiro passo para entender a realidade das pessoas que trabalham deslocadas do ambiente

do escritório. Foi possível perceber que não há somente um perfil profissional, nem somente

um tipo de relação com a organização.

Estudos futuros que se interessem em seguir pela mesma linha, podem tentar sintetizar

os eventos aos mais significativos do grupo, ou focar em um dos quatro tipos de evento e

explorar somente as situações de um deles, com as consequências. A partir dos eventos

depreendidos nessa pesquisa, também pode-se tentar escolher os mais influentes para utilizar

em uma pesquisa quantitativa e assim verificar como os gestores lidam com esses para chegar

em uma solução. É possível também, a partir dos eventos destacados neste estudo, validar

com um número maior de gestores virtuais para descobrir quão comum essas ocorrências são

percebidas pelos mesmos.

Com relação à entrada de novos membros nas equipes, pode-se pesquisar a forma

como o profissional ganha a confiança dos demais realizando atividades virtuais, em home

office, por exemplo. Podem ser interessantes estudos que busquem caracterizar o outro lado

do posicionamento em relação ao ingresso de novos membros nas equipes, dos que desejam

se tornar. Será que há um tempo de maturidade profissional desde o ingresso do gestor e dos

profissionais nesse modelo de trabalho? Como é feita a adaptação? E como as organizações

lidam com esse processo de transferência do profissional para o modelo virtual?

Seria oportuno investigar as questões relacionadas à produtividade dos trabalhadores e

gestores virtuais e como as organizações percebem essa questão. O aumento da carga de

trabalho, a cobrança por prazos e o isolamento também poderiam ser investigados, inclusive

com relação à percepção sobre a tensão no ambiente de trabalho virtual e outras questões

relacionadas ao estresse e doenças de trabalho. Mesmo o relacionamento do gestor e do

trabalhador virtual com a empresa, a sua percepção de ser parte do grupo, ou estar isolado

deste, não só fisicamente, mas emocionalmente e até distanciado da cultura corporativa.

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Os controles feitos sobre o gestor virtual e seu trabalho, da mesma forma que o

controle exercido sobre sua equipe também foram percebidos de forma diferenciada. Nesse

sentido, não bastam aplicar modelos existentes de gestão de equipes e projetos, mas sim

adaptar e até desenvolver novos modelos de gestão para esse contexto profissional

diferenciado. Quantos dos controles utilizados no acompanhamento do trabalho virtual atuam

como substitutos de uma liderança? E até que ponto o fato de se fazer presente por meio das

tecnologias pode substituir a presença física? Quanto a falta de contato presencial frequente

pode influir na forma como os trabalhadores e gestores virtuais percebem o seu trabalho no

longo prazo?

Nesse sentido, há peculiaridades em cada tipo de comunicação, formal, informal,

rotineira, ou para solução de problemas urgentes, que poderiam ser melhor exploradas em

estudos futuros, inclusive com a análise das equipes e/ou a comunicação de um projeto em

suas diferentes fases, por exemplo, ou explorar melhor o relacionamento dos gestores virtuais

com suas equipes e como acontece a influência de um sobre o outro.

As equipes virtuais globais, como grupos organizados por pessoas de diferentes

países, para o desenvolvimento de um projeto com um resultado comum, podem apresentar

outras dificuldades e eventos característicos, especialmente pelo fato de integrar pessoas de

diferentes partes do mundo, atuando em diferentes fusos horários e com línguas, costumes e

culturas diversas.

O processo de virtualização das empresas está bastante em voga, inclusive com a

possibilidade de que as organizações passem a existir somente na ‘nuvem’. Essa pesquisa já

pode mostrar que não é um simples processo de retirar o espaço físico do escritório e manter

as mesmas estruturas de trabalho, acompanhamento e cobranças, mas sim a necessidade de

repensar todo o modelo. Nese sentido, foram entrevistados profissionais que trabalham todo o

tempo desde suas casas, alguns até sem escritório físico e vínculo formal. Para virtualizar uma

empresa, é necessário que antes se virtualizem seus funcionários, repensando as bases do

relacionamento entre a organização e as pessoas que fazem parte desta.

Por ser uma modalidade nova de atuação, há ainda muito a ser estudado e descoberto

sobre os gestores virtuais e o trabalho virtual. Não foi pretensão desta pesquisa esgotar o

assunto, mas sim servir como ponto de partida para que muitos outros possam se aprofundar

no tema e expandir o conhecimento.

Como limitação principal dessa pesquisa está o número restrito de entrevistados,

provenientes de algumas capitais brasileiras. Apesar de não poder ser generalizada, a pesquisa

oferece uma base inicial e insights sobre um grupo profissional específico, muito novo e do

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qual ainda há muito a ser desvendado. É necessário, ainda, muito esforço até que haja a

consolidação de conhecimentos para o ambiente virtual, por meio de novas abordagens e

conceitos sobre quem são os gestores virtuais, independente de sua localidade; como vivem

em diferentes partes do mundo; como é o seu cotidiano e, principalmente, quais são os

eventos mais distintivos para esse ambiente.

A presente pesquisa, ao final, pretendeu mostrar as especificidades da atuação deste

novo ator – o gestor virtual – em uma nova realidade profissional que é o trabalho virtual em

home office. Identificar e analisar a forma como os gestores virtuais reconhecem os novos

eventos de seu contexto de trabalho home office possibilitou à pesquisadora o conhecimento

das principais características presentes no cotidiano do trabalho desses profissionais. Mais

ainda, ampliou a compreensão da importância e necessidade de continuidade de pesquisas

sobre essa modalidade de trabalho, em pleno crescimento na sociedade atual.

Como principais contribuições teóricas, a pesquisa sobre os gestores virtuais e os

eventos do cotidiano de trabalho em um contexto de home office proporcionou a descoberta

de aspectos que caracterizam o trabalho de gestores que atuam desde um ambiente destacado

do escritório da empresa. Foram explorados aspectos do contexto que influenciam nas

situações sociais de trabalho e que exigem decisão dos gestões. Estes resultados podem ser de

utilidade para pesquisas não só relacionadas à área de gestão de eventos, mas para as áreas de

gestão de pessoas e comportamento organizacional, ao pesquisar um grupo específico, os

gestores virtuais e a forma como esses se relacionam com a dinâmica organizacional. Para os

estudos organizacionais, há ainda descobertas relacionadas à influência que o uso de

tecnologias trouxe para o ambiente corporativo e o relacionamento entre funcionários e

gestores que atuam em localidades diferentes.

Para as organizações e gestores de equipes, a pesquisa apresenta as vantagens e

desafios de se lidar com a virtualização. Essas descobertas podem ser úteis no processo de

tornar as equipes mais flexíveis, pois mostra que há diferentes arranjos profissionais para

profissionais que queiram atuar em home office. Assim, as empresas podem ganhar ao agregar

bons profissionais que poderiam estar fora do alcance, dentro de uma estrutura presencial.

Como vantagens às organizações, ainda há o menos gasto de recursos e de espaço, pois essas

podem ampliar a sua estrutura e produtividade sem que isso interfira no espaço físico.

Para os profissionais que trabalham, ou consideram atuar de forma virtual, a pesquisa

apresenta a visão de pessoas que já atuam nesse contexto e que se mostram satisfeitas com o

seu modelo de trabalho. Os eventos apresentados pelos entrevistados trazem uma visão rica

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em diferentes situações podem auxiliar outros a iniciarem em home office de forma

estruturada.

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APÊNDICES

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187  

APÊNDICE A – LISTA DOS EVENTOS DESTACADOS DA LITERATURA

virtual event text

modify structure of the

team

recognize necessary modifications in the team

situation KONRADT; HOCH, 2007

delegate resposability

empower team members with leadership

functions KONRADT; HOCH, 2007

control the team

control-related activities / moderate team

processes KONRADT; HOCH, 2007

coach team members

more difficult to coach individual team

member KONRADT; HOCH, 2007

coach team members

manager role will focus more on coaching and

mentoring team members KONRADT; HOCH, 2007

accomplish a task accomplish an organizational task BELL;KOZLOWSKI, 2002

performance

management

Monitoring and management of ongoing team

performance. BELL;KOZLOWSKI, 2002

coach team members team development: entrance of new members; BELL;KOZLOWSKI, 2002

team performance

monitor behaviors of group members to take

actions BELL;KOZLOWSKI, 2002

choice of TIC Choice of communication technology BELL;KOZLOWSKI, 2002

team performance Monitor team member performance BELL;KOZLOWSKI, 2002

monitor environment Monitor changes in environmental conditions BELL;KOZLOWSKI, 2002

synchronicity of team

ability of work in distributed time can be

related to task complexity BELL;KOZLOWSKI, 2002

new group member access of people qualified for the task BELL;KOZLOWSKI, 2002

group membership entrance and leaving of members to the team BELL;KOZLOWSKI, 2002

choice of TIC / Coach use of TICs to develop team members BELL;KOZLOWSKI, 2002

group membership entrance and leaving of members to the team BELL;KOZLOWSKI, 2002

performance

management efect of coordinated processes,

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

new group member assembling a virtual team

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

level of distance each member have a different location

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

level of distance amount of dispersion in the group

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

team performance team social stability

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

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competences of

members

competencies of members SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

delegate resposability promote self leadership

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

performance

management control of the results

SIEBDRAT; HOEGL;

ERNST, 2009

cultural management manage cultural conflits among members

ELRON; VIGODA-

GADOT, 2006

performance

management perception of good performance

ELRON; VIGODA-

GADOT, 2006

choice of TIC tecnology leads to better performance

ELRON; VIGODA-

GADOT, 2006

conflict resolution conflict resolution

GLÜCKLER; SCHROTT,

2007

work arrangements

kind of flexibility in virtual work

arrangements/contract MIHHAILOVA, 2009

team performance evaluation by projects and tasks MIHHAILOVA, 2009

team performance supervise subordinates

WIESENFELD;

RAGHURAM; GARUD,

1999

team performance Monitor team member performance

WIESENFELD;

RAGHURAM; GARUD,

1999

performance

management monitor performance

WIESENFELD;

RAGHURAM; GARUD,

1999

delegate resposability delegate responsibilities

WIESENFELD;

RAGHURAM; GARUD,

1999

empower subordinates delegate responsibilities

WIESENFELD;

RAGHURAM; GARUD,

1999

empower subordinates delegate responsibilities CASCIO, 2000

performance

management monitor performance CASCIO, 2000

delegate resposability delegate and follow results CASCIO, 2000

competences of

members members profile CASCIO, 2000

define processes clear processes CASCIO, 2000

feedback decisions for feedback CASCIO, 2000

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performance

management monitor performance CASCIO, 2000

choice of TIC provide adequate resources CASCIO, 2000

competences of

members new members

MIHHAILOVA; ÕUN;

TÜRK, 2011

team performance problems concerning people

ORENGO; ZORNOZA;

PEIRÓ, 2011

conflict management conflict resolution

ORENGO; ZORNOZA;

PEIRÓ, 2011

work arrangements introduction of new procedures

ORENGO; ZORNOZA;

PEIRÓ, 2011

performance

management work procedures

ORENGO; ZORNOZA;

PEIRÓ, 2011

performance

management work procedures

ORENGO; ZORNOZA;

PEIRÓ, 2011

implementation VT implement a virtual team

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

performance

management performance management

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

team performance evaluation of members

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

performance

management adaptation to technological work procedures

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

performance

management introduction of new procedures

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

delegate resposability delegate responsibilities

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

conflict management conflict resolution

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

empower subordinates

empower team members with leadership

functions

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

disband of teams disbanding and reintegration

HERTEL; GEISTER;

KONRADT, 2005

choice of TIC provide adequate resources

HERTEL; KONRADT;

VOSS, 2006

team composition team composition (dynamic)

TANNENBAUM, et al,

2012

disband of teams disbanding and reintegration

TANNENBAUM, et al,

2012

team composition team composition (dynamic) TANNENBAUM, et al,

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2012

team composition team composition (dynamic)

TANNENBAUM, et al,

2012

performance

management performance management

TANNENBAUM, et al,

2012

delegate resposability delegate responsibilities

TANNENBAUM, et al,

2012

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APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS

Perguntas pessoais

1. Nome: 2. Escolaridade: 3. Cargo: 4. Empresa onde trabalha: 5. Há quanto tempo trabalha na empresa atual: 6. Desde quando você trabalha de home office? 7. Porque você começou a trabalhar em home office?

8. Possui subordinados formais ou informais (subcontratados/terceiros)? Quantos? 9. Eles também trabalham virtualmente? 10. Como é feita a comunicação entre vocês? Com que frequência se comunicam? Quais

os motivos mais comuns para se comunicar? 11. Você se relaciona diretamente com clientes? Como isso é feito? Eles sabem que você

trabalha em home office? 12. Me explica um pouco sobre o que é o seu trabalho.

Trabalho virtual

13. Com que frequência e por que motivos você vai até o escritório? 14. Como é um dia típico de trabalho?

a. Tem alguma atividade que foge a essa rotina? 15. Tem alguma atividade que você precisa fazer por estar trabalhando sozinho de casa,

mas que não teria que fazer se estivesse no escritório? E como você faz isso? Perguntas sobre as características: **** mais importantes

O que é exemplar em um evento de.... 16. Qual a situação do seu trabalho que acontece com maior frequência. 17. Por favor me conte sobre o acontecimento de trabalho que você considera o mais

importante no seu cotidiano (atenção especial). 18. Por favor me conte qual a situação de trabalho mais difícil para você saber o que deve

ser feito. Dê um exemplo. 19. Que tipo de situação do seu cotidiano parece mais complexa, pela quantidade de

pessoas, fases ou aprovações? 20. Há algum tipo de situação que exige que você pare todas as demais atividades para

resolvê-la? Poderia dar um exemplo? 21. E como acontecem as atividades que tem mais pessoas envolvidas.

Perguntas gerais sobre os eventos: *** relacionar com as características.

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22. Você tem algum problema de comunicação com seus colegas, por trabalhar em um local diferente? Se sim, poderia dar um exemplo de uma situação.

a. E com o seu superior? b. Como é a comunicação com o superior e com a equipe?

23. Qual o procedimento quando precisa trocar um equipamento? a. E a troca de um sistema, como é feita? b. Quando um procedimento do seu trabalho precisa ser alterado, como você faz

isso? 24. Quando as pessoas entram na empresa, como é feito o entrosamento com os demais?

a. Elas já podem começar trabalhando remotamente, ou só depois de um tempo? 25. Como você sabe que o seu trabalho está dentro do prazo e das expectativas? 26. Como o seu superior acompanha o seu desempenho? E como você acompanha o

desempenho da sua equipe?

27. O que você vê de melhor no fato de trabalhar a distância? 28. Quais as maiores dificuldades que você encontra por trabalhar a distância? 29. Você acha que rende mais ou menos do que quando trabalhava no escritório?

30. Qual o impacto que teve na sua vida o fato de você trabalhar de home office? Essa

mudança alterou a sua relação com a família, ou algo da rotina deles?

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APÊNDICE C – LISTA DE EVENTOS

EVENTOS RELACIONADOS À ENTRADA DE NOVOS MEMBROS NA EQUIPE

1. Necessidade de aumentar a equipe

2. Decisão sobre a forma de composição da equipe

3. Quando há problemas com a contratação de pessoas inadequadas ao modelo de

trabalho

4. Realização do primeiro contato com o novo membro da equipe

5. Acesso aos recursos tecnológicos do projeto

6. Quando precisa explicar o trabalho ao novo membro

7. Decisão sobre o momento de iniciar o trabalho em home office

EVENTOS DE TAREFA

Eventos causados pelo trabalho virtual

1. Decisão sobre as tarefas a serem feitas nos dias de home office

2. Quando precisa organizar a infraestrutura de home office

3. Quando precisa aumentar o tempo de home office

4. Decisão sobre quando trabalhar do escritório

5. Quando há problemas com a infraestrutura do home office

6. Decisão sobre o local de trabalho remoto

7. Quando há acúmulo de papéis em home office

Eventos alterados pelo trabalho virtual

Grupo 1: Eventos relacionados à quantidade de trabalho

8. Excesso de trabalho

9. Imposição do trabalho na vida pessoal/familiar

Grupo 2: Questões pessoais

10. Interferência da vida familiar no trabalho

11. Quando precisa incluir atividades para melhorar a produtividade

Grupo 3: Dedicação ao trabalho

12. Conflito de horário

13. Quando é necessário alterar um processo de trabalho

14. Escolha dos projetos em que quer estar envolvido

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Grupo 4: Questões relacionadas às tecnologias e equipamentos

15. Escolha das tecnologias de trabalho

16. Escolha dos equipamentos de trabalho

17. Problemas com as tecnologias/recursos de trabalho

Grupo 5: Falta de informações relevantes à tarefa

18. Quando não se sabe como lidar com a situação

19. Falta de especificação sobre o responsável pela tarefa

20. Quando precisa de recursos/informações do escritório

Eventos que não se alteraram pelo trabalho virtual

Grupo 1: Problemas no desenvolvimento da tarefa

21. Quando há imprevistos no desenvolvimento da tarefa

22. Atividade feita fora de padrão

23. Quando o material enviado precisa de ajustes

24. Quando há um incidente crítico no trabalho

25. Quando há atividades que fogem da área de competência

Grupo 2: Problemas com a especificação da tarefa

26. Entrada de nova demanda de trabalho

27. Definição da forma de contratação do trabalho

28. Definição dos parâmetros de trabalho

29. Problemas na especificação do trabalho

Grupo 3: Situações que envolvem o fechamento do projeto

30. Quando há o fechamento do projeto

31. Quando chegam solicitações urgentes de clientes

EVENTOS DE CONTROLE E AVALIAÇÃO

Controle da equipe

1. Decisão sobre a forma de controle da equipe remota

2. Decisão sobre a forma de acompanhamento do trabalho da equipe remota

Controle do projeto

3. Decisão sobre envolvimento em projetos

4. Gestão do cronograma e prazos do projeto

5. Decisão sobre a forma de mensuração dos resultados, entrega e fechamento do projeto

Controle pessoal

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6. Definição da estrutura de trabalho em home office

7. Controle dos tempos de trabalho

8. Definição de metas e prioridades

9. Controle do excesso de trabalho

Controle externo

10. Necessidade de acompanhamento e/ou aprovação superior

11. Receber feedbacks positivos

EVENTOS DE COMUNICAÇÃO

1. Atendimento presencial a clientes

2. Escolha das TICs para comunicação formal/informal

3. Acompanhamento de clientes e parceiros

4. Apresentação do projeto

5. Atendimento a clientes

6. Reuniões presenciais com clientes

7. Auxílio a colegas de trabalho

8. Interrupções na concentração

9. Comunicação com colegas de trabalho

10. Conflito de horário

11. Conflito de agenda

12. Marcação de reuniões fora do horário de trabalho

13. Conflito de interesses de trabalho

14. Contato com parceiros

15. Pedir ajuda a parceiros

16. Convocar para reuniões online

17. Decisão sobre a forma de se comunicar com clientes

18. Decisão sobre a forma de contato com clientes de outras localidades

19. Decisão sobre a tecnologia de comunicação para cada público/situação

20. Escolha da forma de se comunicar

21. Decisão/escolha do horário de reuniões online

22. Quando o cliente invade o espaço de trabalho virtual

23. Decisão sobre o local para reuniões presenciais

24. Decisão sobre o uso de escritórios virtuais para reuniões presenciais

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25. Aluguel/reserva de espaço para reunião presencial

26. Decisão sobre os momentos presenciais

27. Organização dos horários/agenda de reunião

28. Quando há exigência externa (cliente, superior, parceiro) para reunião presencial

29. Decisão sobre quais pessoas estarão online/presencial em uma reunião

30. Decisão sobre a forma de participação em reuniões/conferências

31. Solicitação superior para reuniões presenciais

32. Quando o outro lado (cliente, parceiro, outras partes da empresa) não aceita o trabalho

remoto

33. Quando as reuniões online acontecem em horários/locais inadequados

34. Quando precisa convocar uma reunião de emergência

35. Quando o cliente quer acompanhar o andamento do trabalho

36. Escolha dos projetos para participar

37. Quando é imprescindível ir até o escritório

38. Decisão sobre quantidade de pessoas em uma reunião online

39. Definição do horário de disponibilidade online

40. Entender as necessidades do cliente

41. Tirar dúvidas sobre o trabalho/tarefa

42. Escolha da tecnologia para comunicação com clientes

43. Escolha da tecnologia para comunicações informais

44. Quando você não consegue se conectar para uma reunião

45. Quando você não encontra a pessoa que precisa

46. Quando é necessário fazer uma comunicação/solicitação formal

47. Quando é necessário integrar o trabalho da equipe remota

48. Quando precisa de uma resposta urgente para uma solicitação

49. Quando precisa receber um feedback positivo do cliente

50. Falha das TICs

51. Quando não consegue se conectar

52. Falha de comunicação sobre as diretrizes do projeto

53. Quando o cliente não aceita/entende a estrutura do projeto

54. Forma de acesso aos meios de comunicação corporativos

55. Quando é necessária a formalização do contato online

56. Impossibilidade de contatar pessoas da equipe

57. Necessidade de agendar reuniões online fora do seu horário de trabalho

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58. Necessidade de contato social com colegas

59. Necessidade de comunicação com superior para decidir sobre situações incertas

60. Necessidade de maior tempo de contato presencial

61. Necessidade de encontro presencial

62. Definição dos dias de trabalho em home office

63. Necessidade de conhecer a equipe e o projeto

64. Problema de orientação ao cliente

65. Problema em contatar cliente

66. Problema com fornecimento das TICs

67. Problema de comunicação com fornecedores

68. Problemas de entendimento sobre o projeto

69. Problemas de comunicação em língua estrangeira

70. Necessidade de capacidades além do que a pessoa possui

71. Quando não há resposta para as mensagens enviadas

72. Reuniões online que invadem outros momentos/espaços presenciais

73. Necessidade de interação com outras áreas da empresa

74. Necessidade de apresentar o andamento do projeto para pessoas de outras localidades

75. Necessidade de contatar funcionários remotos

76. Reuniões de follow up com superior

77. Necessidade de treinar a equipe remota

78. Dúvida sobre parâmetros do projeto

79. Necessidade de ficar conectado todo o tempo de trabalho

80. Problema com os parâmetros do projeto

81. Diferentes entendimentos sobre o projeto

82. Conflito de horário de reuniões online

83. Quando precisa informar ao cliente que trabalha em home office

84. Quando há preconceito do resto da empresa com relação aos funcionários em home

office

85. Quando não há certeza sobre o encaminhamento a ser dado em uma situação de

trabalho

86. Quando o cliente exige que o trabalho seja presencial

87. Quando o cliente demanda por coisas fora do projeto

88. Quando precisa pedir ajuda a outras pessoas/áreas no desenvolvimento das tarefas

89. Necessidade de pedir conselhos a colegas

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90. Quando precisa realizar reunião de follow up com a equipe remota

91. Reunião online em uma língua diferente da sua

92. Reunião de início de projeto

93. Estrutura de recebimento de contatos e recados

94. Quando precisa de informações sobre o mercado financeiro