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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

O USO DE BLOGS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Eguimara Selma Branco1 Danielle Durski Figueiredo2

Resumo

O presente trabalho é resultado de uma proposta de pesquisa desenvolvida para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do PR, que teve por objetivo oportunizar situações onde professores de matemática pudessem conhecer, produzir, interagir e socializar dúvidas e conhecimentos por meio do uso de blogs; e ainda nessa utilização, explorá-los de forma crítica, levando-os a refletir sobre as possibilidades e desafios deste uso para a educação. Para tanto, foi criado um grupo de trabalho com encontros semanais envolvendo 3 professoras de matemática do Colégio Estadual Lysimaco Ferreira da Costa. Tais momentos foram analisados por meio da metodologia da pesquisa qualitativa: entrevista e observação participante e, fundamentados nos estudos sobre tecnologias educacionais de Brito e Purificação (2008), Kenski (2003, 2007), Santaella (2007) e Valente (2005); da formação continuada de professores de matemática amparados em Fiorentini (2003), Ferreira (2003) e Miskulin (2005) e do uso de blogs de Bairral (2009).

Palavras-chave: Educação Matemática, Formação de Professores, Blogs, Interação.

Introdução

Diariamente, professores encontram-se diante de novas e inesperadas

situações, em que precisam tomar decisões mesmo não se sentindo preparados.

Esse fato não é algo restrito apenas a professores em início de carreira, mesmo

aqueles com anos de experiência profissional necessitam discutir situações para

1 Professora Pesquisadora. Graduada em Matemática, Especialista em Tecnologias na Educação e

Mestre em Educação Matemática, professora 40 h do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná. E-mail: [email protected] 2 Professora Orientadora. Professora do Departamento de Matemática da Universidade Tecnológica

Federal do Paraná. Mestre em Métodos Numéricos. E-mail: [email protected]

superar problemas oriundos da sala de aula. Entretanto, a correria do dia a dia, o

excesso de atividades e as diversas atribuições, os impede de reservar momentos

para socialização.

Em paralelo, na sociedade contemporânea, as Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC) oportunizam novas maneiras de viver, de organizar a

informação, o conhecimento e as formas de aprender. Computadores, Internet,

celulares, caixas bancários, cartões de crédito, redes, etc., permitem aos usuários

criar, distribuir, receber, consumir e digerir diferentes informações. Vivemos em uma

“nova era” na qual os nativos digitais3 sentem-se muito a vontade ao conversar com

amigos pelo celular ou Internet, acessar sítios, receber todos os tipos de informação,

interagir com naturalidade utilizando diferentes ferramentas - tecnologias que há

vinte anos eram desconhecidas da grande maioria da sociedade.

Por um motivo ou por outro, embora a utilização das novas tecnologias esteja

mais frequente no cotidiano dos indivíduos, sua implementação efetiva pelos

professores, em sua formação ou em atividades escolares, ainda é incipiente, ou

seja, professores e TIC ainda não convergem (BAIRRAL, 2009).

Assim, na busca pela superação dessa problemática, o presente artigo,

resultado de uma pesquisa desenvolvida para o Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE) do Estado do Paraná, apresenta o trabalho realizado com

professores de matemática imersos em alguns recursos tecnológicos. O objetivo

dessa imersão é fazer com que os professores aprendam a explorar esses recursos

de forma crítica, refletindo sobre as possibilidades e os desafios de uso, e que

enxerguem, no recurso blog, a possibilidade de interagir e socializar suas dúvidas e

conhecimentos.

Novas Tecnologias

As tecnologias estão presentes na sociedade desde o início da atividade

humana - do domínio da roda, na sociedade primitiva, até a TV digital, na sociedade

contemporânea. Brito e Purificação (2008) apresentam o desenvolvimento da

3 Nativos digitais são aqueles que nasceram com as tecnologias digitais já presentes em suas vidas.

tecnologia associado ao desenvolvimento da ciência. Conforme essas autoras, “o

homem criou ciência e tecnologias (...). A tecnologia é a aplicação do conhecimento

científico para obter um resultado prático” (BRITO; PURIFICAÇAO, 2008, p. 22). Ou

seja, todas as gerações tecnológicas são frutos de inúmeras pesquisas científicas de

determinado contexto de época. Por essa razão, o desenvolvimento tecnológico é

permanente e seu relacionamento com a cultura da sociedade é constante. Assim,

tanto o conhecimento quanto a atividade humana devem ser analisados sob a ótica

do contexto histórico-social e cultural que estão envolvidos (GRINSPUN, 1999).

Para Kenski (2007), a tecnologia já faz parte da nossa vida. Diariamente

convivemos com ela e nem nos damos conta disso. Por exemplo, para que

possamos ler, escrever e aprender foram construídos equipamentos (tecnologias)

como lápis, cadernos, canetas, lousas, giz e muitos outros (KENSKI, 2007, p. 24).

Além disso, por meio da tecnologia desenvolvemos a técnica, que, segundo essa

autora, é a “habilidade de lidar” com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer

algo.

Porém, para Brito e Purificação (2008), o termo tecnologia vai muito além de

meros equipamentos. Ela permeia em toda a nossa vida. Citando Bueno,4 as autoras

conceituam tecnologia como:

[...] um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir com a natureza, produzindo instrumentos desde os mais primitivos até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos do processo de interação deste com a natureza e com os demais seres humanos (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p.32).

De fato as tecnologias sempre existiram e permeiam nossa vida, porém seu

desenvolvimento não ocorre apenas em termos quantitativos, uma vez que com

essa evolução surgem novas formas de comunicação e interação.

Santaella (2007), analisando o acelerado das invenções tecnológicas nos

últimos séculos, propõe que, se prestarmos atenção, ficará perceptível que grande

parte dessas invenções é constituída por tecnologias que incrementam a capacidade

4 BUENO, L. N. O desafio da formação do educador para o Ensino Fundamental no contexto da

Educação Tecnológica. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 1999.

humana para a produção de linguagem, chamadas pela autora de “tecnologias

comunicativas ou meios de comunicação” (SANTAELLA, 2007, p. 194). Segundo a

autora, a cada tempo, os meios tecnológicos produziram formas diferentes de

relacionamento e comunicação no mundo, resumidas aqui em cinco gerações

tecnológicas:

1. Tecnologias do reprodutível (tecnologias eletromecânicas) - jornal,

fotografia e cinema, que introduziram o automatismo e a mecanização da vida.

2. Tecnologias da difusão (tecnologias eletroeletrônicas) - rádio e televisão,

que deram origem à chamada cultura de massa, que se tornou mais aguda com a

transmissão via satélite.

3. Tecnologias do disponível (tecnologias de pequeno porte) - videocassete,

controle remoto, walkman, DVD, TV a cabo, fotocópia, que personalizaram a

recepção, pois possibilitam gravar um programa ou trocar canais da televisão, ouvir

música andando na rua, tirar cópias de apenas uma parte de uma obra, etc.

4. Tecnologias do acesso (tecnologias da inteligência) - modem, mouse,

software, que alteraram completamente as formas tradicionais de armazenamento,

manipulação e diálogo com as informações; e, principalmente, a Internet, que

permite, em um clique, o acesso a uma infinidade de informações.

5. Tecnologias da conexão contínua (tecnologias móveis) - telefones celulares

e outras tecnologias nômades, que independem de cabos e outros recursos e

operam em espaços físicos não contíguos.

Santaella (2007) ainda defende que cada uma dessas gerações não substitui

a anterior. A nova geração tecnológica pode diminuir o uso das tecnologias

anteriores, mas não a extingue. Portanto, cada cultura de uma época nasce da

mistura do antigo com o mais recente.

Essas gerações tecnológicas, ainda presentes na sociedade contemporânea,

criam impactos sociais, econômicos, culturais e cognitivos, que dependem da

natureza e do grau de adesão em cada cultura.

Em específico, as oportunidades que surgem a partir das “tecnologias do

acesso”, amparadas pelo uso da Internet,5 modificaram de vez as formas de

comunicação e transmissão da informação.

5 Brito e Purificação (2008, p. 102) definem a Internet como uma gigantesca rede interconectada por

milhares de diferentes tipos de redes, que se comunicam por meio de uma linguagem em comum

Essas “novas tecnologias” 6,

[...] rompem com as formas narrativas circulares e repetidas da oralidade e com o encaminhamento contínuo e sequencial da escrita e se apresenta como um fenômeno descontínuo, fragmentado e, ao mesmo tempo, dinâmico, aberto e veloz. Deixa de lado a estrutura serial e hierárquica na articulação dos conhecimentos e se abre para o estabelecimento de novas relações entre conteúdos, espaços, tempos e pessoas diferentes (KENSKI, 2007, p. 31).

Para Kenski (2007), a base da linguagem digital é o hipertexto, ou seja, uma

sequência de documentos interligados que funcionam como páginas sem

numeração, que trazem informações e conhecimento. “O hipertexto é uma evolução

do texto linear, na forma como conhecemos” (KENSKI, 2007, p. 32). Se nesse texto

acrescentarmos outras mídias – imagens, vídeos, sons, etc. -, o que temos é uma

hipermídia. “Hipertextos e hipermídias reconfiguram as formas como lemos e

acessamos as informações” (KENSKI, 2007, p. 32).

Silva (2001, p. 12) defende que o hipertexto é o “novo paradigma tecnológico

que liberta o usuário da lógica unívoca da mídia de massa”. Ainda segundo esse

autor, o hipertexto democratiza a relação do usuário com a informação, gerando um

ambiente que não se limita à lógica da distribuição. O hipertexto seria

essencialmente um sistema interativo e o fato de professores conhecerem e

experimentarem essa nova dimensão pode resultar em novas possibilidades de

práticas em sala de aula.

O espaço onde ocorre a comunicação, no qual as pessoas estão quando

conectadas à Internet, Lévy (1999) define como ciberespaço. Assim, o ciberespaço é

o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores.

Para Lévy (1999, p. 17) o termo especifica “não apenas a infra-estrutura material da

comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele

abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”.

Conforme o autor, o ciberespaço, além de possibilitar a independência da presença

geográfica para relacionamentos, estimula a telepresença, a telecomunicação e a

comunicação assíncrona (independente de tempo). Podemos dizer que, o

(protocolo) e um conjunto de ferramentas que viabiliza a comunicação, a obtenção de informações. Nela, qualquer usuário conectado pode estar em contato com o mundo. 6 Neste texto, chamaremos novas tecnologias as tecnologias que surgiram a partir da geração das

“tecnologias do acesso”, citadas por Santaella (2007).

ciberespaço seria similar a um mundo paralelo virtual, heterogêneo, em constante

transformação.

Assim, esses novos conceitos e espaços, impõem mudanças irreversíveis nas

formas de comunicação e de acesso à informação, à cultura e ao entretenimento.

Cabem a nós, professores, articular essas novas tecnologias à escola e à sala de

aula.

Escola, Sala de Aula e novas Tecnologias

O fato das tecnologias estarem presentes em todos os setores da sociedade

já constitui um justo argumento para sustentar sua necessidade na escola e na

educação. Para Brito e Purificação (2008), a educação e a tecnologia são

ferramentas que propiciam ao sujeito a construção do conhecimento,

[...] preparando-o para saber criar artefatos tecnológicos, operacionalizá-los e desenvolvê-los [...] estamos em um mundo em que as tecnologias interferem no cotidiano, sendo relevante, assim, que a educação também envolva a democratização do acesso ao conhecimento, a produção e a interpretação das tecnologias (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p. 23).

No entanto, as mesmas autoras alertam que é preciso cuidado e

planejamento na sua utilização/proposição, pois qualquer recurso aplicado à

educação pode ser apenas instrumentos, “reprodutores dos velhos vícios e erros

dos sistemas” (BRITO; PURIFICAÇAO, 2008, p. 24).

Conforme Valente (2007), há que se desenvolverem diferentes letramentos

para lidar com tais avanços, visto que há um processo de integração de tecnologias

distintas em um mesmo artefato. Evoluções e junções muito breves, se levarmos em

conta as inovações nas políticas da educação.

Mas como fica então a escola frente a essas transformações?

Brito e Purificação (2008) afirmam que a escola, bem como as demais

organizações, estão sendo pressionadas por esses avanços, pois, todos devem

“(re)aprender a conhecer, a comunicar, a ensinar; a integrar o humano e o

tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social” (BRITO; PURIFICAÇÃO,

2008, p. 24). No entanto, conforme as autoras, a inovação na educação escolar, no

que diz respeito às novas tecnologias, tem causado muita confusão, pois muitas

vezes, apenas é dada uma nova roupagem para o conceito de tecnologia

educacional,7 sendo que o enfoque metodológico que as aborda, permanece

tradicional.

Muitas escolas já contam com laboratórios de informática e acesso à Internet,

porém autores como Moran (2005), Kenski (2003, 2007) e Brito e Purificação (2008)

alertam que não basta apenas à aquisição de equipamentos, mas que o uso das

novas tecnologias ocorram de forma consciente e com conhecimento das

possibilidades de uso. Esses autores consideram que o mais importante é a criação

de uma “cultura” 8 que vise a utilização desses recursos de maneira adequada. “É

preciso respeitar as especificidades do ensino e da própria tecnologia para poder

garantir que o seu uso, realmente, faça diferença” (KENSKI, 2007, p. 46).

Ao aproximar as novas tecnologias e a escola, entendemos que

[...] a comunidade escolar depara-se com três caminhos: repelir as tecnologias e tentar ficar fora do processo; apropriar-se da técnica e transformar a vida em uma corrida atrás do novo; ou apropriar-se dos processos, desenvolvendo habilidades que permitam o controle das tecnologias e de seus efeitos (BRITO; PURIFICAÇAO, 2008, p. 25).

Para as autoras, e concordamos com elas, a terceira opção é a que melhor

viabiliza uma formação efetiva ao cidadão. Assim, faz-se necessário introduzir as

novas tecnologias na escola,

[...] num projeto de reflexão e ação, utilizando-as de forma significativa, [...] realizando um trabalho de incentivo às mais diversas experiências, pois a diversidade de situações pedagógicas permite a reelaboração e a reconstrução do processo ensino-aprendizagem (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p. 26).

7 Brito e Purificação (2008) consideram tecnologia educacional todos os recursos tecnológicos, desde

que em interação com o ambiente escolar no processo ensino-aprendizagem. 8 Ao usarmos o termo nova “cultura” falamos de alteração de comportamento, de reflexão e ação

sobre o uso das novas tecnologias, utilizando-as em sala de aula de forma realmente significativa.

Verifica-se que ações desconcertadas, sem propiciar formação sobre os

conteúdos e os processos de ensino e de aprendizagem, bem como a falta de

orientação aos sujeitos (professor, aluno, equipe pedagógica) que utilizarão as

novas tecnologias em sala de aula, acabam gerando propostas inúteis ou pouca

mudança nos processos de ensino e de aprendizagem.

Outra questão relevante, nesse contexto, é apontada por Kenski (2003), ao

discutir que cada tecnologia é apropriada para um determinado tipo de

aprendizagem e desaconselhável para outro. Em sala de aula, cabe ao professor

decidir qual tecnologia é mais adequada para determinado conteúdo. Para isso, ele

precisa ter formação para o uso dos recursos, e analisar a conveniência de seu uso

pedagógico. É aconselhável que o professor se sinta confortável, que conheça,

domine os procedimentos, avalie suas possibilidades pedagógicas, partindo da

integração desses meios aos processos de ensino.

Portanto, a inserção das novas tecnologias na escola exige a formação do

professor em uma perspectiva que procure desenvolver uma proposta que permita

transformar o processo de ensino em algo dinâmico, constante e desafiador com o

suporte das tecnologias. Não se trata apenas de adaptar modelos superados às

novas tecnologias. “Novas tecnologias e velhos hábitos de ensino não combinam”

(KENSKI, 2003, p. 75).

Esses processos devem englobar uma formação tecnológica, pedagógica e

teórico-metodológica que poderá propiciar aos professores a apreensão de novas

formas de comunicação, aprendizagem e ensino. Professores em formação e

transformação estão abertos às mudanças, “aos novos paradigmas, os quais o

obrigarão a aceitar as diversidades, as exigências impostas por uma sociedade que

se comunica através de um universo cultural cada vez mais amplo e tecnológico”

(BRITO; PURIFICAÇÃO, 2008, p. 29).

Tudo que foi dito até aqui, remete-nos a um sentimento que toma conta,

principalmente, de professores nascidos em uma cultura onde a palavra “mudança”

está impregnada na sociedade, professores que vivem e convivem com a transição,

com a necessidade de transformação. Esses processos causam certo

esvaziamento, bem presente nas falas de professores frutos de uma geração

baseada em verdades absolutas, verdades refutadas por um mundo em que o curso

e o tempo das mudanças passam rápido demais. Mudar é preciso.

Formação Continuada de Professores de Matemática

Até meados de 1980, pouco havia se pesquisado sobre formação de

professores no Brasil. Entretanto, a partir dessa década, o tema começou a delinear-

se e se torna uma das áreas mais ativas de pesquisa (SILVA, 1998). De lá para cá,

importantes trabalhos surgiram, com especial destaque aos desenvolvidos pelo

professor Dario Fiorentini.9 Em sua tese de doutorado, bem como artigos e capítulos

de livros, podemos encontrar elementos importantes acerca do tema “Formação de

Professores”.

Referindo-se ao campo de pesquisa em Educação Matemática, Fiorentini

(2003, p. 10) afirma que “educadores matemáticos, constituem um dos grupos

profissionais que mais procuram se aventurar por novos caminhos e com outros

olhares em relação à formação do professor, aos seus saberes e à sua prática

docente”. Conforme o autor, esse fato ocorre pela situação que se encontra o ensino

da matemática no contexto atual da sociedade contemporânea, onde, dentre os

profissionais da educação, o professor de matemática é o que mais sofre criticas,

como falta de atualização, “tradição pedagógica”, resistência a inovações

curriculares, falta de conexão com outras disciplinas, entre outras.

Fiorentini (2003, p. 10) ainda destaca que, por conta dessa cobrança e tensão

criada, buscou-se conceber e desenvolver a formação e o trabalho docente sob

outros olhares e perspectivas.

Na mesma direção, Ferreira (2003) destaca que, nos últimos anos, os

processos de formação de professores que ensinam matemática vêm sendo um dos

principais temas de pesquisa, onde o próprio conceito de formação de professores

evolui (FERREIRA, 2003). Nesse sentido, Darsie e Carvalho (1998),10 citado por

Ferreira (2003), destacam que as pesquisas apontam uma tendência de mudança

no modo como a formação inicial e continuada de professores é estudada, pois, aos

poucos, a formação de professores passa a ser entendida como um processo

contínuo, resultante da inter-relação de teorias, modelos e princípios extraídos de

9 Professor doutor da Universidade Estadual de Campinas, onde exerce atividades de pesquisa e de

docência na graduação e na Pós-Graduação em Educação (mestrado/doutorado). 10

DARSIE, M. M. P. E; CARVALHO, A. M. P. A reflexão na construção dos conhecimentos profissionais do professor de Matemática em curso de formação inicial. Zetetiké, Campinas, v. 6, n. 10, jul./dez. 1998, p. 57-76.

investigações experimentais e regras procedentes da prática que propiciaram o

desenvolvimento profissional do professor.

No entanto, Ferreira ainda discorre que muitos processos de formação

entendem o professor como objeto de “estudo e reforma (...) relacionando a um

movimento de fora para dentro, no qual o professor deve se esforçar para assimilar

conhecimentos” (FERREIRA, 2003, p. 35).

Na perspectiva do desenvolvimento profissional11, a qual defendemos neste

trabalho, o professor torna-se sujeito ativo e responsável por seu crescimento, ou

seja, [...] de uma “peça” ou até um “obstáculo” que deveria ser superado para a

aplicação de técnicas, currículos e programas elaborados em diferentes instâncias, o

professor passa a ser considerado como um elemento importante do processo

ensino-aprendizagem. Considerado um profissional com capacidade de pensar,

refletir e articular sua prática (deliberadamente ou não) a partir de seus valores,

crenças e saberes (construídos ao longo de toda sua vida), ele passa a ser

valorizado como um elemento nuclear no processo de formação e mudança

(FERREIRA, 2003, p. 25).

Nesse sentido, a reflexão é vista como um processo em que o professor

analisa sua prática, reúne dados, anota/escreve/descreve situações, implementa e

avalia projetos e compartilha suas ideias com outros professores e alunos,

promovendo discussões em grupo. Concordamos com Fiorentini e Castro (2003),

que sem reflexão o professor mecaniza sua ação, “cai na rotina”, trabalha de forma

repetitiva, reproduzindo o que está pronto e o que é mais acessível, fácil ou simples.

Ponte (1998) também atribui responsabilidades ao professor. Para esse

pesquisador o professor é visto como elemento-chave no processo de ensino e de

aprendizagem, e que sem a sua participação é impossível imaginar qualquer

transformação significativa no sistema educativo. Esse autor considera que,

11

Entendemos o desenvolvimento profissional na perspectiva em que o processo de formação “inicia muito antes da formação inicial e que se estende durante toda a trajetória do professor, ou seja, que se preocupa menos com o produto que com o processo que se desenrola por meio de um continuo movimento de dentro para fora, valorizando o professor pelo seu potencial, no qual a prática é a base para um relacionamento dialético entre teoria e prática e, muitas vezes, ponto de partida” (FERREIRA, 2003, p. 35).

[...] para responder aos desafios constantemente renovados que se colocam à escola pela evolução tecnológica, pelo progresso científico e pela mudança social, o professor tem de estar sempre a aprender. O desenvolvimento profissional ao longo de toda a carreira é, hoje em dia, um aspecto marcante da profissão docente (PONTE, 1998, p.2).

Assim, Fiorentini et al. (2002, p. 139), destaca que o crescimento de

pesquisas na área de formação de professores, parece

[...] refletir uma tendência mundial que reconhece o professor como elemento fundamental nos processos em face das novas e mutantes demandas sociais do mundo globalizado, necessita, permanentemente, atualizar-se.

Entendemos então, que há um consenso de que o professor precisa ser

formado para acompanhar as mudanças na sociedade, pois diariamente se

encontram diante de desafios e dilemas, de novas demandas de aprendizagens e de

formação docente que lhe são postas pela sociedade contemporânea. Para esses

professores, configura-se a necessidade de uma maior adaptação às mudanças,

vencer seus medos, inovação, flexibilidade, criatividade, trabalho em grupo e

capacidade para resolver problemas.

Nesse sentido, compactuamos com a ideia de Borba (2000), de que a Internet

e as redes virtuais facilitam o acesso de qualquer pessoa a um conhecimento

produzido por outra em qualquer horário e local, cada um a seu tempo e lugar. A

Internet possibilita a comunicação, em tempo real, entre comunidades situadas a

grandes distâncias geográficas.

Ponte (2003) também defende o uso da Internet na formação de professores.

Para o autor,

[...] a Internet pode ser vista como uma “metaferramenta”12

onde é possível encontrar informação sobre novos desenvolvimentos na matemática e na educação matemática, software, exemplos de tarefas para os alunos, ideias para a sala de aula, relatos de experiências, notícias sobre encontros e outros acontecimentos, etc. Além disso, a Internet permite a divulgação de produções próprias, sejam textos, imagens, sequências de vídeo, pequenos

12

Metaferramenta é uma ferramenta que, por sua vez, permite o acesso a muitas outras ferramentas.

programas (applets) ou documentos hipertexto. Possibilitando a comunicação síncrona e assíncrona, constitui uma ferramenta de grande utilidade para o trabalho colaborativo. Facilitando e estimulando as interacções entre as pessoas, a Internet representa um suporte do desenvolvimento humano nas dimensões pessoal, social, cultural, lúdica, cívica e profissional. Constitui um instrumento de trabalho essencial do mundo de hoje, razão pela qual desempenha um papel cada vez mais importante na educação (PONTE, 2003, p. 160).

Desta forma, partimos do princípio de que professores de matemática que

aprendem as possibilidades de uso dos recursos da Internet e as usam no contexto

da Educação Matemática desenvolvem uma identidade profissional diferenciada, no

que diz respeito ao domínio do recurso, bem como do conhecimento matemático.

Para Miskulin et al. (2005), o uso da Internet na formação de professores têm

apresentado sua contribuição, pois parte de um processo de formação que demanda

envolvimento dos participantes, trocas e colaboração. A autora, também entende

que, faz-se necessário pensar ações coerentes que definam novos percursos, na

medida em que se constituam em espaços de reflexão, análise, investigação,

intercâmbio de experiências e ideias, cooperação, colaboração, integração da teoria

e da prática etc., atitudes essas, em resposta aos atuais anseios da sociedade

(MISKULIN et al., 2003).

Assim, entendemos que se faz necessário pensar em modelos de formação

que consigam superar a “ignorância tecnológica” que muitos professores ainda são

vítimas, ignorância que os leva a banalizar seu uso em lugar de promovê-lo de forma

crítica e reflexiva. Para que o diálogo e a interação entre esses professores sejam

efetivos, é preciso pensar propostas a partir dos recursos tecnológicos que temos

disponíveis, pois são eles que de fato constituirão o ambiente de aprendizagem,

cenário no qual podem ocorrer os processos de formação dos professores.

Organização da Pesquisa

Assim, para atender o objetivo proposto neste trabalho - a implementação

efetiva pelos professores, em sua formação ou em atividades escolares, das novas

tecnologias -, criou-se um grupo de pesquisa formado pela pesquisadora13 e três

professoras de Matemática do Colégio Estadual Lysimaco Ferreira da Costa. Para

formação do grupo, primeiramente foi agendado uma reunião com as pedagogas do

colégio para apresentação da proposta de pesquisa. Nesse momento, buscou-se

organizar os encontros de maneira que pudéssemos concentrar um maior número

de professores de matemática em hora-atividade, momento que estariam na escola,

fora de sala de aula. O dia escolhido foi às quintas-feiras pela manhã, das 08h20min

às 10h (horário correspondente ao 2º e 3º horário escolar). Agendamos esse horário

no laboratório de informática da escola nos meses de setembro a dezembro de

2010, fechando um total de mais ou menos 16 encontros. O laboratório de

informática da escola possui 20 máquinas PRD (Programa Paraná Digital),14 nem

todas funcionando.

Para análise do grupo, optou-se pela metodologia da pesquisa qualitativa, por

meio de entrevista e observação participante. Na entrevista, diagnóstico inicial da

pesquisa, detectou-se que duas professoras do grupo investigado eram bastante

jovens no magistério, menos de dois anos. Essas professoras compõe o quadro de

professores PSS (Processo de Seleção Simplificada). A terceira professora atua há

bastante tempo e pertence ao QPM (Quadro Próprio do Magistério). No que se

referem ao uso pessoal das TIC, as três professoras revelaram possuir computador

em casa, com acesso à Internet, sendo usuárias diárias de e-mail e algumas redes

sociais. Com relação ao uso do laboratório de informática na escola, nenhuma das

professoras havia trabalhado com alunos, por não se sentirem seguras no uso; além

disso, o espaço na escola passou por reformas durante o ano de 2010.

A observação participante, por sua vez, ocorreu naturalmente nos encontros,

uma vez que a pesquisadora foi integrante do grupo investigado. Na pesquisa

qualitativa, a observação ajuda muito o pesquisador, sua maior vantagem está na

possibilidade de obter informações na ocorrência natural dos fatos, vendo,

examinando, entendendo, ouvindo os participes.

No primeiro encontro com as professoras, foi apresentada a proposta de

projeto e questionado sobre suas aspirações em relação aos encontros. As

13

A autora é participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná, para tanto, precisa desenvolver um projeto de intervenção na escola que tem fixação de padrão. Para saber mais sobre o PDE, acesse: http://www.pde.pr.gov.br. 14

Ver: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/paranadigital>

professoras relataram que tinham curiosidade em aprender a usar a TV Multimídia.15

Ainda no primeiro encontro, foi trabalhado e explorado o uso do e-mail (optamos

pelo do Google), além da criação de filtro e redirecionamento de contas.

No segundo encontro, foram apresentadas às professoras algumas iniciativas

do uso de blogs na educação, observando como professores blogueiros divulgam

suas produções, como ocorre o processo de interação, entre outras questões. Ainda

nesse encontro, começamos a criação dos blogs das professoras, um primeiro

esboço.

Segundo Vygotsky (1988), as funções psicológicas superiores, memória e

linguagem, são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação

com o mundo. Os processos voluntários, as ações conscientes e os mecanismos

intencionais - funções psicológicas superiores - dependem de processos de

aprendizagem. O pensamento tem origem na motivação, no interesse, na

necessidade, no afeto e na emoção, e a construção do conhecimento ocorre por

uma interação mediada por essas várias relações feitas com outros sujeitos.

Na Internet, por meio dos diferentes recursos disponíveis, essas relações

podem ser potencializadas de uma maneira bastante evidente. Os blogs

representam um exemplo disso, chamados também de diários virtuais, onde as

pessoas escrevem sobre diversos assuntos, expressam ideias, sentimentos, coisas

cotidianas. Os blogs tem origem no hábito de alguns pioneiros de se conectar à

Internet para fazer anotações, transcrever, comentar, interagir nos diferentes

espaços virtuais. Em sua estrutura de publicação, apresenta-se similar a uma página

web, composta por postagens (ou posts) que ficam dispostas de forma cronológica,

como se fosse um jornal. Cada post vem acompanhado da data da publicação e

também de um espaço para inserir comentários, gerando discussão e socialização

de idéias, além de marcadores que funcionam como palavras-chave. Essas páginas

podem ser acompanhadas de imagens, sons ou vídeos, inseridos de maneira fácil e

dinâmica, permitindo aos usuários participarem do que chamam blogosfera 16.

15

A TV Multimídia é um projeto da Secretaria de Estado da Educação do Paraná que distribuiu televisores de 29 polegadas - com entradas para VHS, DVD, cartão de memória e pen drive e saídas para caixas de som e projetor multimídia - para todas as salas de aula da Rede Estadual de Educação (PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Portal Dia-a-Dia Educação. TV Multimídia: pesquisando e gravando conteúdos no pen drive. Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive), acesso em 10 mar. 2011. 16

“Blogosfera é o termo coletivo que compreende todos os blogs (ou weblogs) como uma comunidade ou rede social.” (Wikipédia – Enciclopédia Eletrônica).

Figura 1 – Blog Professora Ana Paula

Fonte: da Autora

No terceiro encontro, nos concentramos na organização dos blogs, layout,

aplicativos e afins. As professoras ficaram bastante animadas com a proposta.

Também foi solicitada a leitura, durante a semana, do texto Reorganização do

Pensamento,17 para postagem das impressões sobre o texto no blog.

Conforme Bairral (2009), uma das vantagens dos blogs é que seus usuários

podem publicar conteúdos de maneira fácil, prática e rápida, facilitando, dessa

forma, que as pessoas tenham seus espaços próprios dentro da web. “A ideia de um

diário online tem sido bem aceita pelos usuários da internet e, consequentemente,

transformou-se nessa grande ferramenta comunicativa” (BAIRRAL, 2009, p. 70).

Cabe destacar que uma das vantagens da utilização de blogs é a

possibilidade de interação. Por meio dessa ferramenta os usuários podem agir,

interagir, publicar experiências, discutir e apresentar assuntos de interesse conjunto,

criando grandes redes colaborativas. Para Vygotsky (1988), a colaboração entre os

pares contribui para desenvolver recursos para a solução de problemas, por meio do

processo cognitivo implícito na interação e na comunicação. Segundo esse autor, a

linguagem seria um fator fundamental para estruturar o conhecimento.

Ao trazer esses conceitos para os ambientes criados com a tecnologia dos

blogs, destaca-se a interação, elemento básico e inicial, responsável pela abertura

do canal de comunicação. “A interação entre as pessoas e objetos de conhecimento,

17

BORBA, M.; PENTEADO, M. Reorganização do pensamento. In: Informática e Educação Matemática. 3. ed. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2003.

ocorrida nesses ambientes, possibilita processos colaborativos e cooperativos de

aprendizagem” (MANTOVANI, 2006, p. 333).

Figura 2 – Postagem da Professora Ana Paula Fonte: da Autora

No encontro seguinte, tivemos um problema, visto que foi reorganizado o

horário escolar e no horário combinado para o encontro semanal uma das

professoras teria aula. Esse procedimento dificultou um pouco as reuniões

seguintes, uma vez que a professora necessitava deixar os alunos com atividades

para participar do grupo. A partir desse fato, percebeu-se que, para o

desenvolvimento de projetos como este, faz-se necessário ajustar-se à dinâmica da

escola, buscando adequar o projeto a partir de situações inusitadas, além de prever

agendamento do laboratório para os encontros e o horário de atendimento das

professoras.

A cada novo encontro, buscamos implementar as ações de postagem nos

blogs, seja por meio da apresentação de slides (slideshare18), vídeos (youtube19) e

ainda textos grandes (scribd20). Também discutíamos novos referenciais de leitura

sobre o uso de tecnologias e o ensino da matemática, sempre solicitando a

18

Plataforma para compartilhamento de slides. Ver: http://www.slideshare.net/ 19

Plataforma para compartilhamento de vídeos. Ver: http://www.youtube.com/ 20

Plataforma de compartilhamento de documentos. Ver: http://pt.scribd.com/

postagem das impressões dos textos no blog. Além disso, durante as semanas, nos

comunicávamos via e-mail.

Outra questão que vale destacar é que em muitos momentos de interação as

professoras apenas necessitavam falar sobre os alunos; dos problemas de formação

que trazem dos anos anteriores, ou até mesmo de casa; da falta de estrutura

familiar; enfim, de suas angústias diárias. No entanto, percebe-se que nesses

momentos também há crescimento, visto que compartilham histórias e experiências.

Da mesma forma, o uso dos blogs pode ser visto como uma possibilidade

para que os professores possam apresentar suas angústias ao discutirem e

socializarem práticas, e proporem reflexões sobre elas, utilizando-se, neste caso,

das tecnologias de informação e comunicação como linguagem. Muitas das

insatisfações enquanto educadores podem ser “resolvidas” por meio desses

ambientes, uma vez que o “estar junto virtual” (VALENTE, 1999) possibilita

aproximações e abertura para discussões. Inclusive professores que se sentem

tímidos ao fazer questionamentos ou revelar produções, sentem-se à vontade nesse

tipo de ambiente.

Penteado (apud Levy, 2004, p. 286), nos diz que,

[...] a qualidade da ação docente depende da capacidade de interagir com os colegas e outros profissionais. Gosto de pensar o professor como um nó de uma rede que conecta atores tais como: o projeto pedagógico da escola, o computador, outras mídias, os centros de pesquisas, os técnicos, os alunos, as famílias, as regras sociais, o professor, as imagens, os sons, etc., de forma que o movimento de cada um deles ative outras redes e coloque em jogo o contexto e o seu sentido. O trabalho docente pressupõe o estabelecimento de conexões entre esses autores. É a imagem de uma rede.

Ponte (2003) também aponta a colaboração como uma estratégia

fundamental para lidar com problemas difíceis de serem enfrentados

individualmente. Para ele, essa estratégia constitui um elemento importante para

muitos projetos envolvendo professores, uma vez que investigar e socializar a

própria prática, de modo colaborativo, constitui um processo fundamental de

construção do conhecimento. O autor ainda nos diz que professores interagindo

juntos, em grupos colaborativos, podem ajudar a ver o professor de uma nova

maneira, como alguém que pensa e age com intencionalidade, com conhecimento

próprio e com capacidade para decidir e agir de acordo com as necessidades da sua

situação concreta.

Algumas Considerações

Este artigo teve como objetivo apresentar o trabalho realizado com

professores de matemática, imersos em alguns recursos oferecidos pela web, na

intenção de que pudessem, por meio desses espaços, interagir e socializar suas

dúvidas e conhecimentos e, ainda, aprendessem a explorar essa tecnologia de

forma crítica, refletindo sobre as possibilidades e desafios de uso.

Para isso, foi utilizado o blog como espaço de publicação e socialização de

conhecimentos. Da mesma forma, intencionou-se a reorganização da cultura do

professor de matemática, que passaria a ser um profissional imerso e participativo

na rede, que trabalha em conjunto, colabora com o outro, partilhando saberes,

experiências e expectativas.

No entanto, cabe ressaltar que o blog não pode ser visto como único meio. De

fato, os blogs dinamizam e apresentam novos desafios aos professores, porém

caberá a eles aproveitar da melhor forma esse tipo de espaço.

São vários os professores que já utilizam os recursos dos blogs para divulgar,

socializar e difundir suas produções. Um exemplo é o Blogs Educativos21. Este

blogoesfera permite que, a partir de um cadastro, você componha essa rede,

publique, interaja e participe. Para isso, basta ter um blog cujo foco principal sejam

assuntos educacionais. Esse blog também tem um espaço de discussão via e-mail,

hospedado no Yahoo Grupos22.

Outro espaço que também tem a mesma iniciativa de publicação e

socialização, porém com pesquisas voltadas ao uso das tecnologias no ambiente

escolar, é o Gepete (Grupo de Estudos Professor, Escola e Tecnologias)23, criado

pela professora Glaucia Brito, pesquisadora da área na UFPR.

21

Blogs Educativos. Disponível em: <http://blogseducativos.teia.bio.br>. Acesso em: 10 maio 2011. 22

Grupos Yahoo. Disponível em: <br.groups.yahoo.com> . Acesso em: 10 maio 2011. 23

Gepete. Disponível em: <http://gepete.blogspot.com/> . Acesso em: 10 maio 2011.

Especificamente para professores de Matemática, entre muitos outros

espaços, destacamos o Matemática Recreativa24, do professor português Paulo

Afonso. Nesse blog são propostas diferentes tarefas que podem ser trabalhadas em

sala de aula, como jogos, vídeos e outras atividades, tudo aberto a discussões e

contribuições. No Blog do Bigode25, o professor Antonio José Lopes apresenta

encaminhamentos de aula para seus alunos, reflexões, tarefas, entre outros. O blog

Matematizando26, do professor Marcelo Bairral, propõe testar a utilização do blog no

ensino da matemática. Na mesma concepção, a professora Miriam Penteado

desenvolveu o Blog do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática

Inclusiva27.

Aqui destacamos algumas iniciativas, porém vários são os espaços na

Internet onde encontramos professores pesquisadores que se utilizam dos blogs

como espaço para divulgação de seus trabalhos.

Assim, a partir das leituras e da pesquisa, podemos afirmar que as

possibilidades de produção, interação e socialização por meio do uso de blogs estão

vinculadas à dinâmica do professor, da maneira como conduz suas pesquisas e

publicação.

Percebemos que muito ainda há por pesquisar. Afinal, será que ocorreu

alguma mudança nas práticas dos professores em suas aulas de matemática, após

nossas reuniões semanais? Que conceitos eles absorveram nesse processo de

formação? Estes são alguns caminhos para a continuidade desta pesquisa.

Enfim, há a necessidade de mais pesquisas que propiciem a formação de

professores por meio de recursos disponíveis na web, permitindo que os professores

vivenciem e cresçam imersos nos processos, apreendendo com as TIC; e de

pesquisas que discutam as potencialidades das novas tecnologias, suas limitações e

sua continuidade.

Acreditamos que a partir das novas possibilidades, da ousadia, do desafio em

redimensionar o velho, da vontade de desvendar novos saberes e de divulgar e

socializar nossos trabalhos somos estimulados a conhecer outros ambientes, a

caminhar por terrenos desconhecidos e a propor outros encaminhamentos.

24

Recreamat. Disponível em: <http://recreamat.blogs.sapo.pt/>. Acesso em: 10 maio 2011. 25

Blog do Bigode. Disponível em: http://www.matematicahoje.com.br/telas/mat_blogode.asp>. Acesso em: 10 maio 2011. 26

Matematizando. Disponível em: <http://ruralmat.zip.net/>. Acesso em: 10 maio 2011. 27

Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática Inclusiva. Disponível em: <http://devamat.blogspot.com/>. Acesso em: 10 maio 2011.

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