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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA HÉLIO ELIAS DE AGUIAR PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL, SOBRE O BEM-ESTAR DOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO MUNICÍPIO DE CASTANHAL PARÁ NO ANO DE 2021 BELÉM PA 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

HÉLIO ELIAS DE AGUIAR

PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL,

SOBRE O BEM-ESTAR DOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO MUNICÍPIO DE

CASTANHAL – PARÁ NO ANO DE 2021

BELÉM – PA

2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

HÉLIO ELIAS DE AGUIAR

PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL,

SOBRE O BEM-ESTAR DOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO MUNICÍPIO DE

CASTANHAL – PARÁ NO ANO DE 2021

Trabalho de conclusão de curso apresentado junto ao

curso de Zootecnia da Universidade Federal Rural da

Amazônia, como requisito para à obtenção do título

de Bacharel em Zootecnia.

Orientadora: Profª. Dra. Jamile Andréa Rodrigues

da Silva.

BELÉM – PA

2021

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecas da Universidade Federal Rural da Amazônia

Gerada automaticamente mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

AGUIAR, HÉLIO ELIAS DE PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL, SOBRE O BEM-

ESTAR DOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO MUNICIÍO DE CASTANHAL - PARÁ NO ANO DE 2021 / HÉLIO ELIAS DE AGUIAR. - 2019.

34 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de Zootecnia, Campus Universitário de Belém, Universidade Federal Rural Da Amazônia, Belém, 2019.

Orientador: Profa. Dra. JAMILE ANDRÉA RODRIGUES DA SILVA

1. BEM-ESTAR ANIMAL. 2. PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL. 3. PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES. I. SILVA, JAMILE ANDRÉA RODRIGUES DA , orient. II. Título

CDD 000

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HÉLIO ELIAS DE AGUIAR

PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL,

SOBRE O BEM-ESTAR DOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO MUNICÍPIO DE

CASTANHAL – PARÁ NO ANO DE 2021

Banca Examinadora:

Orientadora

Profa. Dra. Jamile Andréa Rodrigues da Silva

Profa. Dra. Dulcidéia da Conceição Palheta

ISPA/UFRA

Prof. Dr. Antônio Vinicius Correa Barbosa

ICIBE/UFRA

Belém – PA

2021

Presidente-Orientador

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de começar este agradecimento em forma de oração ao Meu Deus, que esteve comigo

por estes longos e árduos anos, e é por isso que eu te agradeço Jesus, porque me acolheste na

tua infinita bondade, quando eu tive medo, quis desistir e pensei que não conseguiria, você foi

até mim, aliás, nunca saíste de mim, e me revigorou. Obrigado por ter mantido as portas

escancaradas e sempre ter dado um jeito de me dar aquilo que nem nos meus melhores sonhos,

eu sonhei. Gratidão por tudo, meu Deus, Espirito Santo e a Ti Virgem Maria.

Em seguida, deixo aqui meu agradecimento infinito a minha família, sem vocês eu não

conseguiria. Obrigado aos meus Pais, Hélio Aguiar e Maria Oliveira, em especial a você mãe

que se transformou todos os dias para que eu conseguisse caminhar, por me aceitar como sou,

por sonhar esse sonho junto comigo e me incentivar de mil formas diferentes todos os dias,

você é a mulher mais forte que eu conheço. Meu agradecimento singelo e verdadeiro, é e sempre

foi por você.

Ao meu irmão, minha cunhada e meus sobrinhos Jamile e Lincoln que são os meus grandes

amores, sempre me apoiaram, amaram e incentivaram a caminhar buscando o melhor. De forma

particular e direta, gostaria de te agradecer meu irmão, por ser esse homem forte, inspirador e

de exemplo, sem dúvida alguma é você o meu herói, aquele em quem me inspiro todos os dias,

aquele em que desde pequeno eu vi somente exemplos de vida e caminhada ímpares, se em

minha vida eu conseguir ser um pouco de quem você é, terá válido a pena. Você ensina além

da biologia, da aula de caráter, justiça e lealdade. Obrigado!

Aos meus tios Sebastião e Anália, meus primos e toda a nossa família, por acreditarem e se

orgulharem de mim em cada conquista, serei eternamente grato por tudo que vocês fazem por

mim, todos os dias de minha vida, essa vitória é nossa.

Agradeço a minha orientadora, Professora Jamile Rodrigues, por ter me acolhido, orientado,

escutado e ter sido tão solicita, num ano tão difícil e de tantas lutas com essa pandemia, a

senhora sem duvidar, acreditou, ouviu, me trouxe pra perto e me ajudou muito, obrigado por

cada detalhe, a senhora é grande e sábia. Obrigado pelos ensinamentos, simplicidade e fé, que

sempre vi na senhora.

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Ao meu grupo, Adriane, Johnny, Tiago, Jamylle e Emanuelle, que dividiram esses 5 anos ao

meu lado, trabalhando muito, pegando estrada, descobrindo juntos que podíamos ser felizes

como Zootecnistas, nos estressando e brigando bastante, mas também nos amando e

compreendendo a limitação de cada um, admiro muito vocês e os profissionais que nos

tornamos. A galera do fundão nunca decepcionou e honrou com o que nos foi confiado,

obrigado por serem não somente amigos, mas uma família. A ti Emanuelle Ferreira, minha

eterna dupla, parceira e irmã, deixo aqui minha gratidão e meu amor, estarás sempre em meu

coração, és uma referência para mim, obrigado por ser você, tua força sempre me motivou, e o

que seria de nós sem a tia Nat e o Tio Manoel, obrigado pelo amor.

Agradeço também a minha turma de zootecnia de 2016, que independente de todos os percalços,

lutas, desentendimentos e estresses, foi com vocês que aprendi, cresci, amadureci e dividi

momentos únicos, foi inesquecível. Vivemos a Universidade Federal Rural da Amazônia.

A todos os professores, mestres, orientadores, servidores da zootecnia e grupos que fiz parte

(ENAAG, GEAS, AAS, GEMAM, GERFAM, ACZOO), vocês me moldaram e me fizeram o

profissional que sou hoje.

Aos meus amigos, Karen, Jéssica, Carlos, Allison, Carla, Cizo, Leticia, Ster, Eloane, Debbie,

Lucas, Flávia, Rafael, Raina, Yasmim, Brenda, Clara, Renato, Victoria, Rita, Kyone, Nauara,

Márcia, Rosana, Camilo, Goreth, todos, todos, aos amigos da igreja, cachorrandros, todos vocês

que sempre me ajudaram, motivaram e me incentivaram a ir em frente, amo vocês!!!

Obrigada a todos!

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Resumo

As buscas dos consumidores por produtos de origem animal, e por produtos com

garantia de Bem-Estar Animal (BEA), têm sido muito discutidas no meio acadêmico, social e

comercial. Contudo, para que o BEA seja aplicado de forma abrangente nas propriedades rurais,

é necessário que haja uma demanda vindo dos consumidores por um produto diferenciado e de

qualidade. Por essa razão, o objetivo desta pesquisa foi verificar a percepção do consumidor de

produtos de origem animal sobre o bem-estar dos animais de produção, bem como sua

disposição em adquirir esses produtos com preços diferenciados, em Castanhal – Pará. Desse

modo, foi aplicado um questionário de forma remota, com 10 questões a respeito do BEA, para

400 pessoas, realizando uma amostragem por bola de neve, levando em consideração o sexo,

idade, escolaridade e a renda familiar. Os dados coletados mostraram que grande parte dos

consumidores de produtos de origem animal não possuem conhecimentos reais e suficientes

sobre as questões de produção e abate de Produtos de Origem Animal (POA), porém, os

participantes acreditam que uma produção com aplicação de normas e manejos do BEA pode

imprimir um resultado positivo no produto final. Os consumidores de Castanhal, também estão

dispostos a pagarem mais caro por determinado produto se tiverem certeza que foi oriundo de

animais criados da melhor maneira, e tenham recebido fiscalização de empresas certificadoras

de qualidade.

Palavras-chave: Certificação de qualidade, Produto de origem animal, qualidade, leis de bem-

estar animal.

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Abstract

The searches of consumers of animal products for products with Animal Welfare Guarantee

(BEA), has been much discussed in academic, social and commercial circles. However, for the

BEA to be qualified in a distributed manner on rural properties, it is necessary for consumers

to search for a differentiated and quality product. For this reason, the objective of this research

was to verify the consumer's perception of animal products on the welfare of farm animals, as

well as their willingness to purchase these products at different prices, in Castanhal - Pará. A

remote examination was performed, with 10 questions about the BEA, for 400 people,

performing a snowball sampling, taking into account gender, age, education and family income.

The data collected is unique that most consumers of animal origin do not have real and sufficient

knowledge about the issues of production and slaughter of animal products (POA), however,

believes that a production with the rules and regulations of BEA can print a positive result in

the final product. Consumers in Castanhal are also willing to pay more if it is determined with

certainty that those products were created in a better way and received inspection from

certifying companies regarding a product made with higher quality.

Key words: quality certification, animal product, quality, animal welfare laws.

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Classificação socioeconômica (IBGE). ...................................................................... 18

Tabela 2- Faixa etária. ................................................................................................................ 18

Tabela 3- Escolaridade. .............................................................................................................. 19

Tabela 4- Renda . ....................................................................................................................... 19

Tabela 5- Influência da Faixa etária ............................................................................................ 21

Tabela 6- Influência da Escolaridade .......................................................................................... 24

Tabela 7- Influência da Renda .................................................................................................... 26

Tabela 8- Resultado do qui-quadrado (X²) com as variáveis socioeconômicas. ......................... 30

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 12

2.1. Bem estar animal............................................................................................................... 12

2.2. A legislação e o desenvolvimento ético dos principios de BEA ....................................... 13

2.3. Relação entre bem estar animal e lucratividade ................................................................ 14

2.4. Certificação de Bem-Estar Animal ................................................................................... 15

3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 17

3.1 Local experimental ............................................................................................................ 17

3.2 Análise estatística.............................................................................................................. 18

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 19

4.1. Influência da faixa etária ................................................................................................... 23

4.2. Influência da escolaridade ................................................................................................. 25

4.3. Influência da renda ............................................................................................................ 27

4.4. Sobre a análise do qui-quadrado ....................................................................................... 29

5. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 31

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 32

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1. INTRODUÇÃO

A busca por uma produção de alimentos mais responsável tem aumentado e ganhado

espaço no mercado produtivo. Tratando-se de criação animal, existe uma preocupação cada vez

maior com o bem-estar dos animais (BEA) que produzem alimentos. O BEA é um termo que

expressa preocupações éticas sobre qualidade de vida experimentada pelos animais,

principalmente, animais utilizados como alimento pelos seres humanos (OLIVEIRA, 2010).

Quando tratamos de bem-estar dos animais de produção, existe uma grande preocupação

sobre a percepção dos consumidores, pois, mesmo que seja um assunto que venha gerando

curiosidade, é também uma abordagem que garante o interesse da sociedade e ainda é

necessário disseminar mais conhecimento a respeito de como o BEA pode influenciar na

qualidade dos produtos de origem animal (POA). Essa inquietude com o BEA pode garantir

mais segurança ao consumidor, atrair mais redes de comercialização e proporcionar uma

rentabilidade econômica ainda maior.

As pesquisas no Brasil, a respeito do BEA, ainda são muito recentes, porém com avanços

consideráveis, e vem ganhando visibilidade, devido a todas as exigências dos países

importadores de POA, principalmente os da União Europeia, que são uns dos países mais

criteriosos em relação à produção animal com certificação do BEA. Assim, após essas

exigências, os brasileiros começaram a ter mais intimidade com essa abordagem, e cada vez

mais as mídias começaram a popularizar essa temática (OLIVEIRA, BORTOLI;

BARCELLOS, 2008). No Brasil, essas repercussões têm crescido paralelamente ao

desenvolvimento socioeconômico e tem mudado o perfil dos consumidores de POA (ROCHA;

LARA; BAIÃO, 2008).

Desse modo, o mercado de exportação tem como exigência na compra de produtos de

origem animal a certificação de bem-estar de animais de produção, seja qual for o país de

origem, fazendo com que o Brasil também siga esses métodos de exigência no mercado

(CAMPO et al., 2014; DAWKINS, 2017; GREGORY & GRANDIN, 2007).

Logo, uma mudança na percepção dos consumidores com relação aos conhecimentos a

respeito da produção dos animais pode influenciar na qualidade final na indústria alimentar e

na escolha do produto final de origem animal. Considerando a necessidade de compreender de

que forma o consumidor visualiza e constrói seus critérios de escolha diante do seu consumo,

este trabalho tem por objetivo avaliar a percepção dos consumidores do município de

Castanhal-PA, sobre a importância do bem-estar dos animais de produção e de que forma o

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conhecimento sobre essa temática pode influenciar na escolha e na compra de alimentos com

certificação.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Bem-Estar Animal (BEA)

O conceito de bem-estar animal é subjetivo, induzido por diferentes visões das pessoas e

da diversidade das suas culturas, que juntos, constroem a sociedade. Existe, portanto, uma

grande discussão na comunidade acadêmica a respeito do conceito de “bem-estar animal” e de

sua finalidade aos contextos científicos e produtivos. Observam-se duas vertentes principais no

modo de avaliar o bem-estar de animais criados em cativeiro. Na primeira, avalia-se

principalmente o estado biológico dos animais em certa situação, enquanto na segunda,

considera-se as suas experiências subjetivas (MENDL, 2001).

No intuito de construir um consenso em torno da definição de bem-estar, (FRASER et

al., 1997) harmonizam as três principais questões éticas que, segundo eles, são abordadas pela

sociedade a respeito da qualidade de vida dos animais. Primeiro, os animais precisariam sentir-

se bem, ou seja, deveriam atingir seus interesses e necessidades, os quais consistiriam

basicamente em estar livres de sentir medo e dor e em poder ter experiências prazerosas. Em

segundo lugar, deveriam também ter um bom desenvolvimento, isto é, poder satisfazer as suas

necessidades de crescimento, saúde, fisiologia e comportamento. Por fim, todos os animais

precisariam viver vidas naturais, ou seja, deveriam poder viver e crescer da maneira para a qual

estão habituados. Hipoteticamente, se adicionarmos estas questões éticas na concepção do

termo bem-estar animal, assistiremos melhor à sociedade, que procura apoio na ciência para

materializar seus anseios em propostas e promover mudanças (FRASER, 1999).

O bem-estar dos animais de produção é definido pelo seu próprio sistema de criação e

manejo recebido que, por sua vez, depende dos sinais econômicos que os produtores obtêm do

mercado (SILVA e BORGES, 2015). As teorias econômicas demonstram que os sinais de

mercado tendem a conduzir a padrões de bem- estar abaixo das normas consideradas desejáveis

por algumas sociedades.

A solicitação por transparência na forma de produção dos alimentos tem crescido e, no

caso particular da criação animal, há uma preocupação cada vez maior com o BEA e produtores

de alimento. É importante ressaltar que o BEA é um termo que expressa preocupações éticas

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sobre qualidade de vida experimentada pelos animais, principalmente de animais que são

utilizados como alimento pelos seres humanos (OLIVEIRA, 2010).

2.2. A legislação e o desenvolvimento ético dos princípios de Bem-Estar Animal (BEA)

Os países europeus já dispõem de uma legislação avançada e específica de bem-estar

animal, porém ainda existe o caráter de opção econômica. A obrigatoriedade acarretará possível

elevação de custos, podendo reverter em uma provável descentralização da produção para

países em desenvolvimento. Contudo, com intuito de impedir a completa descentralização,

algumas estratégias estão sendo formuladas, como acordos multilaterais e pagamentos

compensatórios aos produtores (SILVA, 2012). Levando em consideração a disseminação do

conceito de BEA no mercado consumidor europeu, cada dia mais isso se torna um requisito

necessário à produção pecuária. Para atender a estas exigências e adequar a criação de animais

no Brasil aos padrões já discutidos, faz-se então necessário elaborar normas e legislações

emanadas dos entes públicos.

No Brasil, um dos primeiros decretos que estabeleceram medidas de proteção aos animais

foi o Decreto Nº 24.645, de 10 de julho de 1934, que assegura o bem-estar dos animais em

qualquer situação de maus tratos, a pena para esse tipo de prática vai de multa até mesmo a

prisão do proprietário ou tutor. Atualmente, existem leis estaduais de proteção animal e projetos

de lei, como a PL 215/2007, que institui o Código Federal de Bem-Estar Animal. Porém, a

primeira dificuldade da liminar foi a definição sobre o animal e a segunda dificuldade foi

definição sobre a crueldade.

De toda forma, nota-se que o Ministério da Agricultura, Pesquisa e Abastecimento

(MAPA) tem estimulado, nos últimos anos, a adoção de práticas de bem-estar animal, através

de parcerias com outras instituições públicas e privadas. Por meio da divulgação de materiais

informativos, o MAPA tem compartilhado as políticas públicas de incentivo à competitividade

e promovido o desenvolvimento sustentável, especialmente no que se refere ao fomento de

ações visando o bem-estar na produção animal (MAPA, 2008). Contudo, apesar das iniciativas

de fomento de políticas públicas incentivando o bem-estar animal da agropecuária nacional,

ainda há uma carência de legislação.

Entende-se também, que existem regulamentos técnicos para o abate humanitário de

animais de produção, estabelecido por meio da instrução normativa número 03 (MAPA, 2000)

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e pelo Decreto número 9.013 de 29 de março de 2017 (RIISPOA, 2017), especificando normas

do BEA em torno do abate e inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal.

A instrução normativa número 56 (MAPA, 2008) estabeleceu recomendações gerais de

boas práticas de bem-estar para animais de produção do nascimento, criação e seu transporte,

entretanto, sem detalhamento de situações específicas sobre a forma como os animais são

criados, como formas de manejo e alojamento.

A resolução número 675 de 21 de junho de 2017 igualmente estabelece normas

específicas no que tange o transporte de animais de produção, ou interesse econômico, esporte,

lazer e exposição por veículo automotor, de modo a evitar sofrimento desnecessário e garantir

o bem-estar das espécies em trânsito (CONTRAN, 2017).

Além disso, existem normas de proteção animal no Brasil que contemplam todos os

animais, incluindo animais de produção. As legislações brasileiras consideram como crime atos

de crueldade e maus-tratos contra animais (BRASIL, 1988; BRASIL, 1998).

Logo, a legislação somente será utilitária para provocar uma mudança real nas atitudes e

disponibilizar aos animais melhores condições de vida se houver o apoio e entendimento da

população, e preocupação com os animais de produção desde a sua criação até sua

comercialização, buscando aplicar e fiscalizar, além de punição adequada quando necessária.

2.3. Relação entre bem-estar animal e lucratividade

A princípio pode haver um aumento nos custos, uma vez que é necessário realizar

aplicações em tecnologias (em infraestrutura, produção de alimento e sanidade). Contudo, a

longo prazo, o que parece gasto mostra-se como investimento, uma vez que os benefícios

aumentam consideravelmente a produtividade e a qualidade dos produtos finais. Dessa forma,

a rentabilidade do negócio aumenta (PINTO, 2020).

Há uma parte da população, – principalmente o mercado internacional – que está disposta

a pagar mais caro por produtos de qualidade superior, e oriundos de um sistema de produção

que prioriza questões éticas e ambientais. O produtor que imprime o planejamento empresarial

à sua responsabilidade ética e ambiental, trilha, muito provavelmente, um caminho de sucesso

no agronegócio (PINTO, 2020).

Para assegurar aos consumidores de produtos de origem animal que de fato realizou os

protocolos de bem-estar, as empresas alimentícias e as redes de supermercados devem certificar

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seus produtos, tornando-os mais claros para aqueles que procuram através do selo Certified

Humane® (CERTIFIED HUMANE BRASIL).

Acredita-se que o bem-estar animal inadequado pode levar a prejuízos econômicos, além

de ser um produto com menos aceitação pela sociedade; o bem-estar adequado leva a um

equilíbrio econômico e tem aceitação social; o bem-estar ótimo nem sempre é remunerado pelo

consumidor e lucrativo para cadeia produtiva da qualidade de carne (DIAS; SILVA;

MANTEGA, 2014).

2.4. Certificação de Bem-Estar Animal

O processo de certificação surgiu a partir da desconfiança dos consumidores, inicialmente

na União Europeia, em relação à qualidade dos produtos, e aumentou com o aparecimento da

doença conhecida como “vaca louca”. O novo cenário na comercialização mundial de alimentos

exigiu sistemas de certificações, com capacidade de manterem a equidade de processos e

normas de produção, além de garantirem a origem do produto (NICOLOSO, SILVEIRA, 2013).

E proporcionam ao consumidor certa garantia de que os produtos atendem a certas

especificidades.

Os produtos, uma vez certificados, devem ser introduzidos no mercado atendendo-se as

questões de protocolos, inerentes ao setor de negócio (CRUZ et al., 2004). Assim, o MAPA,

implantou o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalino

(SISBOV), instituído por meio da Instrução Normativa n°. 01, de 09 de janeiro de 2002.

Utilizado para a identificação individual de bovinos e bubalinos em propriedades rurais de

caráter voluntário, que tem interesse em vender animais que podem ser utilizados para a

produção de carne para atender mercados que exigem identificação individual e permite o

controle de rastreabilidade do processo produtivo em propriedades rurais (MAPA, 2014).

Nas sociedades onde a demanda por produtos certificados com o bem-estar animal é mais

desenvolvida, existem estudos detalhados do impacto que o padrão de BEA pode ter nas

relações custo-benefício (MOLENTO, 2005). No Brasil a certificação de produtos

agroindustriais pode ser obtida por programas públicos controlados pelo governo e realizadas

por meio do MAPA, que consiste em programas estaduais que fiscalizam propriedades e

proprietários cadastrados, no que se refere a rastreabilidade, registro e identificação de animais,

manejo e controle sanitário, esse programa possui um sistema de dados que registra a

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conformidade do gado destinado ao abate, ou seja, se configura em um agente que regulamenta

e dita normas.

De ordem privada, existem as organizações de auto certificação, consideradas como

quase controláveis, as quais são monitoradas e regulamentadas por normas impostas ao seu

processo regulador, e que emitem atestado de certificação, por exemplo, o Grupo Carrefour

assegura a qualidade e segurança dos seus alimentos, por meio de um programa de garantia,

que foi criado na França em 1992, e vem crescendo desde 1999 quando trazido para o Brasil.

(GRUPO CARREFOUR, 2010).

As certificações de ordem público/privado enquadradas de acordo com requisitos das

certificadoras, conformidades e normas públicas, se configuram como órgãos que coordenam

esses processos, e garantem a sua veracidade, ou seja, em parceria entre entidades públicas e

privadas.

No Brasil a condição de BEA não é recente, foi reconhecida por meio do Decreto nº

24.645 de julho de 1934, que estabelece medidas de proteção animal. A atual Constituição

Federal de 1988, no seu artigo nº. 255, dota o poder público de competência para proteger a

fauna e a flora, vedando práticas que submetam os animais à crueldade (MAPA, 2014). O BEA

pode ser definido pelo estado de harmonia do animal em relação:

Ao ambiente em que vive a boa nutrição, boa saúde, manejo e instalações adequadas.

Devem ser tratados de forma digna durante todo o ciclo de sua vida, a qual os

produtores que adotarem essas práticas podem ser mais produtivos, havendo menos

acidentes com os animais e com as pessoas, acarretando menos prejuízos com a

produção devido às medidas de produtividade, além de uma melhor qualidade da

carne com menos stress. (MAPA, 2013).

Nas sociedades de demanda mais desenvolvida por BEA, existem estudos detalhados do

impacto que o padrão de Bem-Estar pode ter nas relações de custo e benefício (MOLENTO,

2005). A demanda por produtos de bem-estar "amigáveis" aumenta à medida que a consciência

pública e percepção sobre o sistema de produção de gado cresce. O público e os gestores exigem

informação científica para a educação e para orientar processos de decisão. (RAINERI, 2012,

p.123).

Dentre um rol de empresas certificadoras, a filial francesa ECOCERT segue normas da

Humane Farm Animal Care (HFAC), certificadora norte americana, que além dos alimentos,

certifica a atuação extrativista, produção sem uso de mão de obra infantil escrava e cadeias de

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produção livres de transgênicos. A demanda por produtos de bem-estar "amigáveis" aumenta à

medida que a consciência pública e percepção sobre o sistema de produção de gado crescem.

O público e os gestores exigem informação científica para a educação e para orientar processos

de decisão. (RAINERI, 2012).

Assim, o estado do Bem-Estar Animal é definido pela condição de harmonia do animal

em relação ao ambiente em que vive, com boa nutrição, saúde, manejo e instalações adequadas.

Diante desse contexto, maximizam-se a necessidade de gerenciamento dos gastos na atividade

de pecuária de corte.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local experimental

O experimento foi conduzido no Município de Castanhal, no Norte do Pará. A cidade

possui atualmente em torno de 203.251 habitantes. Uma das principais atividades econômicas

da cidade é o comércio, o qual é responsável por grande parte do abastecimento das cidades

vizinhas.

Foi aplicado um questionário, de forma remota, pela plataforma google forms, contendo

dez questões relacionadas ao tema bem-estar animal, necessitando de acordo com a quantidade

de habitantes da cidade um n amostral de 384 entrevistados com nível de confiança em relação

ao quantitativo de habitantes da cidade e um erro amostral de 5%. Foram 400 entrevistados,

escolhidos por bola de neve, considerando-se quatro perguntas de cunho socioeconômico, cujos

entrevistados foram organizados por faixa etária, renda familiar e escolaridade. A pesquisa

podia ser respondida por qualquer cidadão da cidade de Castanhal, maior de 18 anos, em bairros

diferentes, para abranger público com níveis distintos de renda e preferencialmente aqueles que

consumam ou adquiram com rotina produtos de origem animal. A divulgação dos questionários

foi realizada como divulgação virtual para os conhecidos residentes em Castanhal, das

universidades, parentes e conhecidos, para terem acesso ao questionário no google forms, essa

divulgação foi feita principalmente pelo aplicativo de whatsapp e e-mail.

A hipótese experimental a ser testada foi que à condição financeira e o nível de

informação sobre os POA’s pode estar relacionado com o interesse dos consumidores sobre o

BEA. Foi feita classificação socioeconômica, com base em dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE, 2016) ordenadas de acordo com o número de salários-mínimos

mensais conforme a Tabela 1.

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Tabela 1 - Classificação socioeconômica (IBGE).

Classificação econômica Faixa salarial (salário-mínimo)

A > 20

B 10 a 20

C 4 a 10

D 2 a 4

E Até 2

Fonte: IBGE (2016)

O questionário continha as seguintes perguntas, com respostas objetivas (sim ou não):

1. Os produtos de origem animal fazem parte de sua dieta diária? (Carne, queijo, leite,

ovos, entre outros)

2. Você sabe como os animais que originam os produtos que você consome são criados?

3. Você se preocupa em saber quais são os métodos utilizados para criação ou abate dos

animais?

4. Você já ouviu falar em bem-estar animal?

5. Você acha que animais criados sob as normas de bem-estar originarão produtos de maior

qualidade?

6. Você pagaria a mais por um produto para obter a garantia de que os animais foram

criados sob condições de bem-estar?

7. Você acha que os animais de produção são submetidos a algum tipo de sofrimento

durante sua criação?

8. Você sabe que existem leis que asseguram o bem-estar animal?

9. Você passaria a escolher produtos certificados (selos) por agências controladoras do

bem-estar animal?

10. Você gostaria que as redes de supermercado oferecessem produtos originados de acordo

com as normas de bem-estar?

3.2 Análise estatística

Para a análise estatística, a pesquisa foi de natureza qualitativa nominal dicotômica, as

respostas socioeconômicas e as respostas sobre bem-estar obtidas foram analisadas em

percentagem, de forma individual pelo Analyze-Descriptive Statisctis-Crosstabs, através do

Software Estatístico de Análise Preditiva (SPSS). As perguntas foram analisadas com teste não

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paramétrico de significância, através do teste de Person qui-quadrado (x²) ou teste de Fisher,

em relação ao nível de confiança de 95%. O valor do qui-quadrado foi calculado usando a

seguinte fórmula:

𝑥2 = ∑[(𝑓𝑜 − 𝑓𝑒)2

𝑓𝑒]

Onde: x² é o qui-quadrado; fo é a frequência observada para cada classe; fe é a frequência

esperada para cada classe.

Para as frequências esperadas teóricas (fe) o cálculo pela seguinte fórmula:

fo: (total marginal “linha”). (total marginal “coluna”)

n

Onde: fo é a frequência observada pela classe; N é o número total de sujeitos.

Para interpretação do resultado do qui-quadrado foi necessário determinar o número de

graus de liberdade como:

gl = (1 - 1) . (c - 1)

Onde: gl é o número de graus de liberdade e l é o número de linhas na tabela de frequências

observadas; c é o número de colunas na tabela de frequências observadas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante da análise de perfil dos consumidores de produtos de origem animal no município

de Castanhal, observou-se que 51,5% (206/400) são mulheres, e dessas, 98,5% (203/206) são

consumidores de produtos de origem animal. Constatou-se também que 48,5% (194/400) eram

homens, e desses, 99,5% (193/194) consumiam produtos de origem animal. Das mulheres

analisadas, somente 1,5% não consumiam produtos de origem animal e do grupo do sexo

masculino, apenas 0,5% não consumia. A justificativa para essa diferença irrisória pode estar

atrelada ao estilo de vida, cultura, poder aquisitivo e/ou mudanças de hábitos alimentares já que

os 2% que não consumiam produtos de origem animal possuíam renda acima de três salários-

mínimos e possuíam acesso à educação do ensino médio completo e curso superior completo.

Os dados socioeconômicos dos entrevistados como, por exemplo, escolaridade, faixa

etária e renda familiar são razões que podem justificar com clareza as percepções de bem-estar

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20

em animais de produção de alimentos. Se tratando da faixa etária dos consumidores

entrevistados nesta pesquisa, notou-se que o maior percentual (48,5%) tem idade entre 18 a 30

anos (Tabela 2).

Tabela 2 – Faixa etária dos consumidores de produtos de origem animal, em Castanhal - PA,

2021.

Faixa etária Frequência Percentual (%)

18-30 anos 194 48,5

30-40 anos 92 23,0

40-50 anos 54 13,5

50-60 anos 43 10,8

> 60 anos 17 4,2

Total 400 100

A maioria dos consumidores entrevistados possui nível superior completo, o que indica a

probabilidade dessas pessoas terem algum tipo de conhecimento básico ou em pelo menos

alguma vez na vida terem oportunizado o acesso a esse tipo de assunto, é alta, já que mediante

as pesquisas compreendemos que optar por alimentos certificados com selos e entender o

processo de produção com o BEA, ainda são realidades de discussão oferecidas a uma pequena

parcela da sociedade. Na Tabela 3 iremos observar os índices de escolaridade dos entrevistados,

vendo então que 49% dos entrevistados possuem nível superior completo.

Tabela 3– Índice de escolaridade de consumidores de produtos de origem animal, em

Castanhal- PA, 2021.

Níveis de escolaridade Frequência Percentual (%)

Ensino fundamental incompleto 17 4,3

Ensino fundamental completo 14 3,5

Ensino médio incompleto 27 6,8

Ensino médio completo 52 12,9

Ensino superior incompleto 96 24,0

Ensino superior completo 194 49,0

Total 400 100

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21

Com relação à renda familiar, observou-se que a maioria das pessoas recebem de 1 a 3

salários-mínimos (49,7%) (Tabela 4). Uma análise importante em relação a renda x

escolaridade, estima-se que a maioria das pessoas com nível superior completo, tivessem uma

renda salarial maior que 1-3 salários-mínimos e o encontrado foi o inverso, a maioria dos

entrevistados possuem essa média salarial.

Tabela 4 – Renda média familiar dos consumidores de produtos de origem animal, em

Castanhal- PA, 2021.

Faixa de Renda Frequência Percentual (%)

1-3 salários-mínimos 199 49,70

3-6 salários-mínimos 109 27,30

6-9 salários-mínimos 53 13,30

> 12 salários-mínimos 39 9,70

Total 400 100

A respeito do entendimento do modo de criação dos animais de produção, constatou-se

que 33,3% (133/400) das pessoas possui algum tipo de conhecimento a respeito do modo de

criação dos animais de produção e 50,5% (202/400) dos entrevistados conhecem realmente os

métodos utilizados para o abate dos animais de produção. Segundo (SCHNETTLER et al.,

2009), que realizou uma pesquisa no Chile com consumidores de produtos de origem animal,

diziam já ter visitado algum sistema de criação, fazendas de animais de produção, e essa

porcentagem era de 69,1%, todavia, foram médias similares obtidas em Portugal e Grécia, de

29% e 49%, e muito menor nos países escandinavos (90%) (EUROBAROMETER, 2005, citado

por SCHNETTLER et al., 2009).

Ao analisar o conhecimento dos entrevistados sobre como os animais que originam os

produtos de origem animal são criados, se recebem bem-estar ou não, 33,3% (133/400) das

pessoas confirmam conhecer os métodos de produção dos animais, sendo que 43% eram

homens. Dos 400 consumidores entrevistados, 66,3% não tiveram oportunidade de conhecer os

métodos de criação de animais de produção ou nunca tiveram contato com os mesmos, mesmo

que parcialmente. Pessoas que já visitaram fazendas de animais são mais prováveis de

considerar o BEA como fator importante no momento da compra de POA (SCHNETTLER et

al., 2009).

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22

Quando tratamos sobre os métodos de abate dos animais, a maioria dos entrevistados,

50,5% (202/400) afirmaram que compreendem, mesmo que superficialmente, sobre os

procedimentos de abate, embora 49,5% dos consumidores não se preocupem em compreender

sobre o abate de animais que originam alimentos. Resultado semelhante foi encontrado por

(BONAMIGO, BONAMIGO, MOLENTO, 2012), que constataram que 68,5% dos

entrevistados não conhecem os sistemas de produção animal, nem os métodos de abate desses

animais. Estes resultados são desfavoráveis a mudanças na produção, pois (RAINERI et al.,

2012) destacam que a falta de informação é a maior barreira para a aquisição e consumo de

produtos diferenciados em termos de bem-estar.

A maior parte dos entrevistados (72,3%) já ouviu falar ou tem algum conhecimento

prévio sobre o tema bem-estar animal (BEA) e 93,5% concordam que animais bem tratados e

produzidos com manejo específico originam produtos de melhor qualidade e maior rendimento.

Dos 400 consumidores avaliados, 80,3% garantem que pagariam um valor a mais por produtos

certificados, com selo de bem-estar animal e garantia de uma produção mais sustentável. Já

81,8% dos consumidores acham que os animais sofrem de alguma forma durante o processo de

criação, o que dificulta bastante com que o mercado consiga imprimir de fato o que é uma

produção animal associada ao BEA, e 56,8% (227/400) garantem conhecer sobre as leis de

amparo e bem-estar animal. Independentemente do valor de mercado determinado para POA

com certificação, 94,5% (378/400) das pessoas optariam por produtos com certificação, e

97,5% acham interessante que os supermercados ofereçam produtos com selo de bem-estar

animal, acreditam inclusive, que seja um mercado com potencial de crescimento e investimento,

afinal, desmistificar que a produção animal é associada a sofrimento e desrespeito agregaria

valor ao produto final. (FRANCISCO et al., 2007), em pesquisa, em Porto Alegre, Rio Grande

do Sul, verificaram que um selo de garantia de qualidade é extremamente valorizado pelos

entrevistados e que, inclusive, estão dispostos a pagar mais por produtos de origem animal. A

utilização dos selos é a forma de garantir o mínimo de sofrimento durante a criação, e seria

interessante que as redes de supermercados ofertassem esses produtos aos seus clientes.

Resultados semelhantes foram encontrados por (VELHO et al., 2009), através do questionário

aplicado a 111 pessoas, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, os quais constataram que 68%

das pessoas estariam dispostas a pagar até 10% a mais sobre o valor da carne, caso tivesse

certificação, o que indica a preocupação em relação a fatores como origem e segurança dos

alimentos.

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23

4.1. Influência da faixa etária

No que se trata da faixa etária dos consumidores e a percepção sobre bem-estar em

animais de produção (Tabela 5) foi construído o seguinte cenário: 48,5% tinham de 18 a 30

anos, 23%, de 30 a 40 anos, 13,5% de 40 a 50 anos, 10,8% de 50 a 60 anos e 4,2% acima de 60

anos.

Tabela 5 – Influência da faixa etária sobre a percepção de bem-estar em animais de produção,

em Castanhal-PA, 2021.

Perguntas 18-30 Anos 30-40 Anos 40-50 Anos 50-60 Anos >60 Anos

1 99,0% 98,9% 100% 100% 94,1%

2 23,7% 43,5% 40,7% 32,6% 64,7%

3 51,5% 53,3% 48,1% 37,2% 64,7%

4 70,1% 72,8% 79,6% 67,4% 82,4%

5 94,3% 89,1% 96,3% 95,3% 94,1%

6 85,6% 76,1% 77,8% 72,1% 70,6%

7 84,0% 83,7 % 77,8% 79,1% 64,7%

8 55,7 % 54,3% 59,3% 55,8% 76,5%

9 96,9% 93,5 % 88,9% 97,7% 82,4%

10 98,5% 97,8 % 92,6% 100% 94,1%

Notou-se que a maioria dos entrevistados entre todos os grupos de idades diferentes

afirmam que os produtos de origem animal compõem sua dieta diária, tornando-os então

consumidores assíduos destes produtos.

Na pergunta 2 sobre os métodos de criação dos animais, aproximadamente 51% dos

entrevistados de todas as faixas etárias relataram que compreendem como os animais que

originam os produtos são criados. Tendo em vista que, em Castanhal, interior do Pará, a

população estaria mais associada ao conhecimento de produção animal, justamente pela cidade

ter grandes propriedades rurais e alguns frigoríficos de abate bovino, esse resultado poderia ser

um pouco maior, sendo assim, as pessoas deveriam ter um contato maior com esse tipo de

percepção em relação à criação animal. O fato de o questionário ter sido aplicado de forma

remota e compartilhado por bola de neve pode ter ocasionado uma abordagem em parte da

população mais desprovida desse tipo de assunto.

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24

Da mesma forma, cerca de mais da metade dos entrevistados de todas as faixas etárias se

preocupa em saber quais são os métodos utilizados para criação ou abate dos animais, sendo

que as pessoas com idade entre 50 – 60 anos, tiveram o menor percentual (37,2%) de

preocupação em relação aos métodos de abate desses animais.

Quando tratamos do termo “bem-estar animal”, nota-se que os entrevistados acima de 60

anos são os que de alguma forma mais ouviram e mais discutem sobre o assunto e o sabem

conceituar, com 82,4%. Pode-se dizer que as chances dessas pessoas serem produtoras,

comerciantes ou terem oportunizado mais tempo de experiência, de certa forma, seja uma

probabilidade maior de discussão do assunto, já que vem sendo debatido com frequência há

alguns anos.

Mais de 90% das pessoas analisadas de todas as faixas etárias acreditam que os animais

submetidos a uma criação de bem-estar originarão produtos de maior qualidade e as idades

entre 18 e 30 e de 40 a 50 anos apresentaram maior percentual com garantia que pagariam mais

caro por um produto com certificação de condições de bem-estar (85,6% e 77,8%,

respectivamente).

Mais de 75% das pessoas de todas as faixas etárias acreditam que os animais de produção

são submetidos em algum momento a algum tipo de sofrimento durante sua criação, com ênfase

nas pessoas com idade entre 18 e 30 anos, com 84%. Acreditam que em pouquíssimas

propriedades agrícolas usam o manejo racional, se tratando de produções de grande escala,

como aviários, confinamentos bovinos e granjas suinícolas, por exemplo, são locais que essas

pessoas não conseguem visualizar uma produção em massa com possibilidade do BEA. Essas

pessoas também sabem que existem leis que asseguram o bem-estar animal, com maior

percentual (76,5%).

Mais de 90% de todas as faixas etárias passariam a escolher produtos certificados com

selos por agências controladoras do bem-estar animal. Dessa mesma forma, independentemente

da faixa etária, a maior parte dos consumidores gostariam que as redes de supermercado

pudessem oferecer produtos originados de acordo com as normas de bem-estar, existem grandes

chances de abrir uma gama de mercado específico e aumentar as chances de conquistar um

público fixo.

Os consumidores de produtos de origem animal espanhóis percebem negativamente os

sistemas de produção intensiva e mais que 75% deles alegam estar dispostos a pagar mais por

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25

alimentos oriundos de sistemas com melhores níveis do BEA (MARÍA, 2006). Na Escócia,

(SCHRÖEDER & McEACHERN, 2004) concluíram que consumidores evitavam adquirir

carne produzida em sistemas intensivos se o tratamento dos animais afetasse a qualidade da

carne. Já (McCARTHY et al., 2003) verificaram que o BEA não afeta significativamente a

atitude com relação à carne bovina e seu consumo na Irlanda. Sendo assim, notou-se que a

informação sobre BEA tem delimitado preferências e percepções de qualidade pelos

consumidores e o tratamento dado ao animal antes do abate pode ser um atributo importante na

decisão de compra de POA.

.

4.2. Influência da escolaridade

O nível de escolaridade pode ser um fator determinante para declarar o nível de

conhecimento ético e de bem-estar que a sociedade de castanhal possui e de que forma essas

pessoas estão recebendo esse tipo de informação. Na Tabela 6, observa-se que 4,3% e 3,5% dos

consumidores de produtos de origem animal, tinham iniciado ou concluído o ensino

fundamental. Já os consumidores com ensino superior completo equivalem a 49% dos

entrevistados. Os consumidores com níveis de escolaridade mais elevados têm maiores

oportunidades de exigir informações sobre os sistemas de produção de animais para consumo

humano (OLIVEIRA, 2010).

Tabela 6 – Influência da escolaridade de consumidores sobre a percepção a respeito do bem-

estar em animais de produção, em Castanhal, PA, 2021.

Perguntas F. I F M.I M S.I S

1 100% 100% 100% 98,1% 99,0% 99,0%

2 11,8% 57,1% 22,2% 25,0% 27,1% 40,2%

3 17,6% 21,4% 40,7% 46,2% 45,8% 60,3%

4 52,9% 57,1% 59,3% 65,4% 72,9% 78,4%

5 88,2% 85,7% 85,2% 92,3% 91,7% 96,9%

6 47,1% 78,6% 66,7% 69,2% 79,2% 88,7%

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26

7 82,4 % 78,6% 88,9% 82,7% 80,2% 81,4%

8

29,4 % 35,7% 40,7% 50,0% 55,2% 65,5%

9 70,6 % 100% 92,6% 92,3% 95,8% 96,4%

10 94,1% 100% 92,6% 96,2% 96,9% 99,0%

FI: Fundamental incompleto; F: Fundamental; MI: Médio incompleto; M: Médio; SI: Superior incompleto; S: Superior.

Notou-se que independentemente do nível de escolaridade, quase todos os consumidores

relatam que os produtos de origem animal fazem parte de sua dieta, cotidianamente. Entretanto,

a maioria dos entrevistados com nível superior completo e incompleto 58,6% e 27,1%,

respectivamente, dizem conhecer as formas de criação dos animais de produção. Compreendeu-

se também que quanto maior o nível de escolaridade dos entrevistados, mais as pessoas se

preocupam em entender quais são os métodos utilizados para criação ou abate dos animais,

destacando então as pessoas com nível superior completo e incompleto, com 60% e 45%,

respectivo e aproximadamente. O maior percentual dos entrevistados com nível superior

completo foi de 78,4% já ouviram falar sobre o tema de bem-estar animal, com o menor

percentual (52,9%) para as pessoas com nível fundamental incompleto, o que mostra como é

importante o ensino para a sociedade, dessa forma, as chances de a temática sobre o bem-estar

animal ser mais bem discutida e disseminada na sociedade seriam maiores.

Independentemente do nível de escolaridade, 100% dos entrevistados acreditam que

animais criados sob as normas de bem-estar originarão produtos de maior qualidade,

destacando-se com menor percentual (85,7%), as pessoas com ensino fundamental completo.

Ainda que as pessoas com nível fundamental completo tenham menor conhecimento a

respeito das discussões de bem-estar animal e produtos que venham dessa origem de produção,

são um dos grupos com maior porcentagem 78,6% que informaram pagar mais por um produto

para obter a garantia de que os animais foram criados sob condições de bem-estar. Independente

da escolaridade, a maioria dos consumidores de Castanhal, acreditam que os animais de

produção passam por algum processo de sofrimento durante sua criação.

Quanto maior o nível de escolaridade, acredita-se que seja maior o conhecimento sobre

as leis, possivelmente, sobre as que asseguram o bem-estar animal e grande parte das pessoas,

independente da sua escolaridade, optariam por escolher produtos certificados com selos de

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27

garantia por agências controladoras do bem-estar animal e gostariam que as redes de

supermercado oferecessem produtos originados de acordo com as normas de bem-estar.

A crescente demanda do consumidor por alimentos que sejam certificados dentro dos

parâmetros de bem-estar animal, vem transformando ao longo do tempo a cadeia produtiva,

desde o manejo até o abate, devendo alocar-se no mercado com qualidade ética e

ambientalmente sustentável (COSTA et al., 2005). Em pesquisa realizada pelo INSTITUTE OF

GROCERY DISTRIBUTION (2007), 41% dos consumidores citaram o preço como um fator

importante nas suas escolhas, embora apenas 7% deles tenham mencionado o preço como o

principal fator na escolha dos alimentos.

4.3. Influência da renda familiar

Ao analisar à renda familiar dos consumidores e a percepção sobre bem-estar em animais

de produção (Tabela 7), 49,7% destes possuem uma renda salarial de 1 a 3 salários-mínimos,

27,3% correspondem aos que recebem de 3 a 6 salários mínimos, 13,3% aos de 6 a 9 salários

mínimos e 9,7% maiores que 12 salários mínimos. Os maiores índices percentuais dos

consumidores analisados possuíam renda familiar entre um a três salários mínimos. Por esse

motivo, existe a probabilidade, do reflexo social de um menor nível de escolaridade da

população entrevistada.

Tabela 7 – Influência da renda familiar de consumidores sobre a percepção a respeito do

bem-estar em animais de produção, em Castanhal-PA, 2021.

Pergunta 1-3 salários 3 -6 salários 6-9 salários 12 ou

mais

1 99,5% 97,2% 100% 100%

2 22,6% 36,7% 45,3% 61,5%

3 43,2% 55,0% 52,8% 71,8%

4 63,3% 86,2% 71,7% 79,5%

5 93,5% 90,8% 96,2% 97,4%

6 76,9% 83,5% 81,1% 87,2%

7 83,4% 81,7% 77,4% 79,5%

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28

8 47,2% 47,2% 71,7% 66,7%

9

10

94,5%

98,5%

94,5%

95,4%

96,2%

100%

92,3%

94,9%

A maioria dos entrevistados, de todas os grupos de rendas analisados confirmaram que os

produtos de origem animal fazem parte de sua dieta diária, contudo, as pessoas que recebem

renda maior que 12 salários mínimos são as que mais possuem conhecimento sobre como os

animais que originam os produtos que consomem são criados, acredita-se que quanto maior o

poder aquisitivo, mais acesso à educação, mais informações e mais discussões rodeiam essa

parcela da sociedade, até mesmo o privilégio de poder adquirir uma alimentação mais seleta e

melhor produzida, é uma parte da população que consegue ter acesso aos poucos locais na

cidade que importam ou produzem alimentos e produtos com garantia e certificações de bem-

estar animal.

Observou-se que as pessoas que responderam já terem ouvido falar em bem-estar animal,

são as pessoas do grupo de 3 – 6 salários-mínimos com 86,2%, veja bem, o anseio por um

alimento melhor difere da compreensão de entender a importância do bem-estar animal. Pessoas

com essa renda familiar, teoricamente, estão em ascensão em sua carreira e isso pode estar

atrelado a uma idade menor. Pessoas mais jovens, possivelmente, tem mais acesso à tecnologia

e a internet, o que nos leva a uma possibilidade de acesso a discussões sobre bem-estar animal.

Nos últimos anos, essa temática tem sido muito discutida por cientistas, acadêmicos,

produtores, famosos e parte dos comerciantes desse tipo de mercado.

As pessoas com mais conhecimento a respeito dos animais de produção não passarem por

processos de sofrimento quando são submetidos a protocolos do BEA, são as que estão dentro

dos grupos com maior renda familiar, o percentual mais elevado são as do grupo com mais de

12 salários-mínimos, com 97,4%. Percentual esse mais elevado de pessoas cuja renda familiar

é de 3 – 6 salários-mínimos com 90,8%. Observou-se também que quanto maior a renda

familiar, maior o conhecimento a respeito dos entrevistados a respeito da existência de leis que

asseguram o bem-estar animal. Foi possível analisar que os entrevistados, independente da

renda familiar, escolheriam produtos certificados por selos de garantia por agências

controladoras do bem-estar animal, bem como gostariam que as redes de supermercado

oferecessem produtos originados de acordo com as normas de bem-estar.

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29

Do ponto de vista do consumidor uma ferramenta que contribuiria com a disseminação

de informações e esclarecimento de diversas questões, inclusive sobre o BEA, é a internet,

assim facilitaria a disseminação de conhecimento a respeito do conteúdo e faria com que a

população adquirisse produtos mais caros e com certificação. (CARDOSO et al., 2017)

entrevistaram passageiros em um aeroporto de Santa Catarina e verificaram que alguns

respondentes gostariam de ter mais conhecimento sobre como os animais são mantidos nos

sistemas de produção e que suas fontes para coleta de informações seriam a televisão e a

internet. De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), 69% dos brasileiros

utilizavam a internet diariamente em 2012 (CGI, 2012). Considerando que a maioria dos

respondentes possuía acesso à internet, uma forma interessante de ampliar o conhecimento

quanto ao bem-estar de animais de produção é a oferta de textos de fácil acesso via internet.

4.4. Sobre a análise do qui-quadrado

A hipótese experimental para as perguntas 1, 7 e 10 não apresentaram efeito significativo

em nenhuma das variáveis analisadas, nenhum dos P valores apresentados foram menores que

5%, o que demonstra que as respostas dessas perguntas não tiveram influência dos grupos

avaliados (sexo, escolaridade, faixa etária e renda familiar).

Para a pergunta 2, sobre o conhecimento dos consumidores a respeito de como os animais

de produção são criados, houve diferença significativa e todos os grupos avaliados, indicando

influência desses grupos na resposta. Para as perguntas 3 e 4 houve influência do sexo,

escolaridade e renda familiar do consumidor nas respostas.

A análise do qui-quadrado das perguntas 5 e 6 demonstrou hipótese experimental aceita,

para sexo e escolaridade. Nestes casos, as respostas dos consumidores de produtos de origem

animal não foram dadas de forma aleatória, pois as variáveis são dependentes, ou seja, pessoas

que apresentam respostas afirmativas para uma das questões em análise tendiam a responder de

forma positiva para a outra pergunta. Para a pergunta 8 houve influência da escolaridade e renda

familiar nas respostas dos consumidores e na pergunta 9, houve influência da faixa etária e

escolaridade.

Dessa forma, houve interação entre as perguntas, pois pessoas que entendem que os

animais criados sob as normas de bem-estar animal originam produtos de maior qualidade e

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30

estão dispostas a pagar mais caro por um produto de maior qualidade e com garantias de uma

produção segura e proveniente de bem-estar animal. Segundo (BARCELLOS, 2004;

FRANCISCO 2007), resultados demonstram que os consumidores estão cada vez mais

exigentes e bem-informados a respeito da qualidade dos alimentos que são adquiridos e

consumidos.

Tabela 8- Resultado do qui-quadrado (X²) com as variáveis socioeconômicas.

P valor

Perguntas Sexo Faixa etária Escolaridade Renda

1 0,641NS 0,339NS 0,891NS 0,249NS

2 0,002** <0,001** 0,005** <0,001**

3 0,034* 0,301NS <0,001** 0,005**

4 0,021* 0,517NS 0,034* <0,001**

5 0,026* 0,449NS 0,029* 0,503NS

6 0,021* 0,111NS <0,001** 0,339NS

7 0,241NS 0,292NS 0,950NS 0,749NS

8 0,175NS 0,540NS 0,003** 0,002**

9 1,000NS 0,023* 0,007** 0,886NS

10 0,772NS 0,078NS 0,130NS 0,134NS

*Significativo a 0,05%; ** Significativo a 1%; NS: não significativo para P valor >0,05

Fonte: Aguiar, 2021

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31

5. CONCLUSÃO

O consumidor de produtos de origem animal no município de Castanhal demonstra de

forma indireta sua limitação a respeito das discussões de bem-estar animal em resposta ao

produto que está sendo consumido. Todavia, muitos entendem o conceito e a importância,

porém, ainda é baixo o percentual de indivíduos que sabem que este conceito é amparado por

legislação, na qual obrigatoriamente necessita ser garantida e cumprida.

Os dados desta pesquisa reforçam a importância do manejo ideal e adequado para os

animais de produção projetando uma qualidade de vida para esses animais. Muitos dos

consumidores gostariam de ter mais acesso as informações e compreender definitivamente

como os animais de produção são criados e produzidos, e de certa forma até estão dispostos a

pagar mais por produtos de qualidade, que assegurem o bem-estar animal na produção dos seus

alimentos.

Além disso, fica clara a procura por alimentos de origem animal, já que quase 100% da

população consome estes produtos, o que reforça a importância de trabalhar na disseminação

de informações a esse respeito para que dessa forma seja produzida cada vez mais e com mais

qualidade, gerando assim produtos baseados na integridade, respeito e ética dos animais de

produção, para seus consumidores.

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