amazônia sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

71
Amazônia SustentÆvel: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural Robert R. Schneider EugŒnio Arima Adalberto Veríssimo Paulo Barreto Carlos Souza Jœnior BANCO MUNDIAL

Upload: gavoluntaria

Post on 28-Nov-2014

1.668 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

TRANSCRIPT

Page 1: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

Amazônia Sustentável:

limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

Robert R. SchneiderEugênio Arima

Adalberto Veríssimo Paulo Barreto

Carlos Souza Júnior BANCO

MUNDIAL

Page 2: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

Amazônia Sustentável:limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

Page 3: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

Os dados, interpretações e conclusões que constam deste trabalho expressam exclusiva-mente as idéias dos autores e não deverão ser atribuídos sob qualquer pretexto ao Banco Mun-dial, às suas organizações afiliadas ou aos membros do Conselho de Diretores Executivos, bemcomo aos países que representam.

Page 4: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

Amazônia Sustentável:limitantes e oportunidades para o

desenvolvimento rural

Robert R. SchneiderEugênio Arima

Adalberto VeríssimoPaulo Barreto

Carlos Souza Júnior

Page 5: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

CATALOGAÇÃO NA FONTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO

Copyright © 2000 by Banco Mundial e Imazon

Tradução:Tatiana Corrêa

Revisão:Karen Souza

Editoração eletrônica e Capa:Jânio Oliveira

Apoio:Fundação Ford

Todos os direitos desta edição reservados aoBanco Mundial

SCN Quadra 2 Lote AEd. Corporate Financial Center, cj. 303/304 C

70712-900 - Brasília -DFImazon

Caixa Postal 510166.613-970 - Belém, Pará

Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades parao desenvolvimento rural/ Robert R. Schneider...[et

al.]; [tradução: Tatiana Corrêa]. - Brasília: BancoMundial; Belém: Imazon, 2000.

58 p; il.col; cm - (Parcerias; n. 1)

-ISBN 85-88192-01-2 (Banco Mundial)-ISBN 85-7300-084-8 (Imazon)

Inclui bibliografia.

1. Desenvolvimento sustentável - Amazônia. 2.Desenvolvimento econômico - Aspectos ambientais -Amazônia. 3. Economia agrícola - Amazônia. I.Schneider, Robert R. II. Banco Mundial. III. Instituto doHomem e Meio Ambiente da Amazônia. IV. Série.

CDD-363.7009811

A489

Page 6: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

vi

Agradecimentos

Agradecimentos especiais a Ken Chomitz e Tim Thomas, do Banco Mundial, pordisponibilizarem dados inéditos e pela colaboração na concepção do estudo. Agradecemos aJeffrey Richey (Universidade de Washington), por compartilhar conosco dados pluviais e pelosimportantes comentários ao relatório, e a William Magrath, por ter assumido, com habilidade, opapel de revisor técnico deste relatório. Agradecemos os valiosos comentários e sugestões fei-tos por André Guimarães (A2R), Dennis Mahar (Universidade da Flórida), David Kaimowitz(Cifor), Daniel Nepstad (Ipam e Woods Hole Research Center), Lee J. Alston (Universidade deIllinois), Mary Alegretti (MMA), Mário Menezes (MMA), William F. Hyde (Instituto Politécnicoda Virgínia - VPI), Roberto Smeraldi (Amigos da Terra - Programa Amazônia), Steve Vosti(Universidade da Califórnia) e colegas do Banco Mundial: Christoph Diewald, Gobind Nankani,Josef Leitmann, Joachim Von Amsberg, Sérgio Margulis e Uma Lele. Agradecemos a RodneySalomão (Imazon), pela elaboração dos mapas no SIG, e a Adriana Moreira (Banco Mundial),pela edição do quadro �Mecanismo de Desenvolvimento Limpo�.

Agradecemos também a equipe do Programa Nacional de Florestas (Ministério do MeioAmbiente), em especial Raimundo Deusdará Filho, Newton Zerbini, Hélio Pereira e AntônioCarlos Prado, por repartirem conosco seu conhecimento sobre a área florestal.

Este relatório é uma contribuição do Imazon e Banco Mundial aos estudos para o �Desen-volvimento do Setor Florestal� no âmbito do Programa Nacional de Florestas (PPA 2000-2003).

Este trabalho utiliza uma ampla base de dados de estudos realizados pelo Imazon. Essesestudos tiveram o apoio da Fundação Ford, Fundo Mundial para Natureza (WWF), AgênciaNorte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e Projeto de Pesquisa Dirigida(PPD- PPG7-MCT-Finep).

Os erros e equívocos que por ventura existirem neste relatório são de responsabilidadeexclusiva dos autores.

Page 7: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural
Page 8: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

viii

PREFÁCIO

José Carlos CarvalhoSecretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente

Atualmente, há um rico debate na sociedade brasileira sobre o futuro da Amazônia. Nes-sas discussões, pesquisadores, tomadores de decisão, agentes econômicos, lideranças sociais eorganizações ambientais têm reconhecido a vocação florestal dessa importante porção do nos-so território. Todos consideram que é possível assegurar o desenvolvimento da região e ao mes-mo tempo garantir a conservação de seu imenso patrimônio natural. Esse caminho sustentávelganha ainda maior respaldo técnico e econômico no relatório elaborado pelo Banco Mundial eInstituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e intitulado �Amazônia Susten-tável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural�.

O relatório do Banco Mundial e Imazon contém três mensagens relevantes para o futuroda Amazônia. Primeira, há severas restrições naturais (em especial, climáticas) à expansão daagropecuária em vastas áreas da região. Utilizando uma sólida argumentação econômica e vastaliteratura, os autores revelam que na medida em que a precipitação pluviométrica aumenta, ocor-re uma redução da produtividade agrícola e uma conseqüente redução da rentabilidade econô-mica. Para os autores, a agropecuária tem maior possibilidade de êxito econômico na chamadaAmazônia seca (17% das terras), uma zona caracterizada por chuvas moderadas (menos de 1.800mm por ano), situada ao sul da Amazônia Legal. No restante da Amazônia Legal (83%), osautores demonstram que a melhor opção de uso do solo é o manejo florestal sustentado.

Segunda, se não houver controle das forças de mercado na região, o uso do solo serábaseado na exploração madeireira predatória e pecuária extensiva. Nesse caso, os autores alertamque a economia dos municípios da Amazônia tenderá a seguir o ciclo �boom-colapso�. Ou seja,nos primeiros anos de atividade econômica ocorre um ilusório e rápido crescimento (boom)seguido de um severo declínio em renda, emprego e arrecadação de impostos (colapso). Paraevitar esse ciclo insustentável, o relatório sugere uma série de instrumentos econômicos e estra-tégicos entre os quais a adoção de uma taxa sobre a madeira de origem predatória, pagamentopelos serviços ambientais prestados pelas florestas, ampliação das Florestas Nacionais e Estadu-ais de Produção e incentivos para o manejo em áreas privadas.

Page 9: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

ix

Finalmente, o relatório enfatiza a importância da política de ampliação e consolidação dosistema de Florestas Nacionais (Flonas) do governo federal. Os autores reconhecem essa inici-ativa como a maneira mais promissora para estabilizar o setor madeireiro e promover o manejoflorestal nas novas fronteiras econômicas da região. Para os autores, a boa notícia é que há umamplo apoio do setor produtivo e da sociedade civil organizada para a criação dessas Unidadesde Conservação. Além disso, o relatório demonstra que as Flonas podem compor um mosaicode áreas protegidas atuando como zona tampão ao redor dos Parques e Reservas (Áreas deProteção Integral).

Em síntese, o relatório do Banco Mundial e Imazon propõe uma política de desenvolvi-mento na Amazônia com forte ênfase no manejo florestal. Os autores constatam que as alterna-tivas de uso do solo economicamente viáveis (manejo e agricultura intensiva) correspondemtanto aos interesses da população local como aos interesses nacionais e globais. Para os diversosatores envolvidos no debate e implementação de iniciativas de uso e conservação, essa notíciasoará como algo excepcional, pois revela que há oportunidades concretas para uma economiasustentável na Amazônia com base na própria floresta. Cabe a nós trabalhar com competência edeterminação para transformar essas oportunidades em realidade.

Com o lançamento do Programa Nacional de Florestas (PNF), o Ministério do MeioAmbiente (MMA) deseja estimular as iniciativas de promoção do uso dos recursos florestaisbrasileiros estabelecendo novas bases para o aproveitamento de nossas riquezas naturais emsubstituição ao modelo clássico do desmatamento que tem caracterizado o setor florestal brasi-leiro.

Page 10: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

x

Sumário

Índice de Figuras ............................................................................................... xi

Índice de Tabelas .............................................................................................. xii

RESUMO.............................................................................................................1

INTRODUÇÃO ...................................................................................................3

O EFEITO DAS CHUVAS SOBRE O DESEMPENHO .....................................DA AGROPECUÁRIA NA AMAZÔNIA ..........................................................5

“BOOM-COLAPSO” OU ECONOMIA SUSTENTÁVEL: ................................O DILEMA DA COMUNIDADE .....................................................................15

O PAPEL DO GOVERNO ................................................................................21

O PAPEL DAS FLORESTAS NACIONAIS ....................................................26

QUESTÕES CRUCIAIS PARA O FUTURO DA AMAZÔNIA ......................30

CONCLUSÃO ...................................................................................................32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................33

ANEXOS ...........................................................................................................35 Anexo I ............................................................................................................37 Anexo II ..........................................................................................................47 Anexo III .........................................................................................................53

Page 11: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural
Page 12: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

xii

Índice de Figuras

Figura 1. Número de meses consecutivos com pluviosidade .................................inferior a 10 mm. .......................................................................................... 6

Figura 2. Principais zonas de pluviosidade na Amazônia. .................................... 8

Figura 3. Áreas em uso agrícola (%) em relação à pluviosidade: ............................menos de 25 km da estrada. ....................................................................... 11

Figura 4. Áreas em uso agrícola (%) em relação à pluviosidade: ..........................mais de 25 km da estrada. .......................................................................... 12

Figura 5. Renda bruta: manejo florestal vs. exploração predatória .........................e pecuária na Amazônia úmida. ................................................................. 16

Figura 6. Renda bruta: manejo florestal vs. exploração predatória .........................e pecuária na Amazônia úmida com boa infra-estrutura. ........................ 16

Figura 7. Empregos: manejo florestal vs. exploração predatória ............................e pecuária na Amazônia úmida. ................................................................. 17

Figura 8. Custos sociais e benefícios privados da economia �boom-colapso�. ... 18

Figura 9. Migração da exploração madeireira na Amazônia. .............................. 19

Figura 10. Ocupação na floresta amazônica. ....................................................... 27

Figura 11. Áreas potenciais para Flonas...................................................................(Veríssimo et al., 2000). ............................................................................... 28

Figura 12. Áreas prioritárias para conservação da ...................................................biodiversividade (ISA et al., 1999). ............................................................. 29

Figura 13. Sobreposição de áreas potenciais para Flonas........................................e biodiversidade na Amazônia. (Veríssimo et al., 2000). ........................... 29

Page 13: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

xiii

Índice de Tabelas

Tabela 1. Uso do solo por zona de pluviosidade na Amazônia. ................... 13

Tabela 2. Uso das áreas agrícolas (%) por zona de .............................................pluviosidade na Amazônia. ...................................................................... 13

Page 14: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

1

O objetivo deste relatório é forneceruma base de informações para que ostomadores de decisão, agentes econômicos ea sociedade civil possam garantir que o solona Amazônia seja mantido em seu mais altovalor de uso econômico e biológico. Para isso,analisamos o atual padrão de uso do solo (ex-ploração madeireira e pecuária) e as condi-ções naturais do ecossistema amazônico, emespecial o regime pluviométrico, a duração doperíodo seco e a drenagem. A seguir, os prin-cipais resultados do relatório.

Primeiro, o sucesso da agricultura naAmazônia é fortemente influenciado pelototal de chuvas e duração da estação seca. Namedida em que a pluviosidade aumenta, ocor-re uma redução da produtividade agrícola econseqüente diminuição da rentabilidade eco-nômica. Isso porque, nos trópicos, o climaquente e úmido e a ausência de estações dis-tintas oferecem as condições ideais para a pro-liferação de pragas e doenças. Além disso, aausência de uma estação seca marcante au-menta os custos de construção e manuten-ção de estradas e torna onerosa a colheita me-canizada.

Em nossa analise, dividimos aAmazônia Legal (5 milhões de km2) em trêszonas de chuva: seca (menos de 1.800 mm/ano), de transição (entre 1.800 mm e 2.200mm/ano) e úmida (> 2.200 mm/ano).

A análise estatística mostra que, man-tendo-se outros fatores constantes, níveis mai-ores de pluviosidade na Amazônia reduzem aconversão da terra para agricultura e a produ-tividade do pasto. Além disso, nas áreas maischuvosas ocorre um aumento da taxa de aban-dono e degradação do solo.

O abandono da terra cresce à medidaque o nível de pluviosidade aumenta, atingin-do aproximadamente 20% de toda área emuso agrícola na zona úmida. Essa taxa de aban-dono cresce na zona úmida mesmo em áreasmais próximas a grandes cidades (mercado) ecom boa infra-estrutura de transporte. Istosugere que mesmo essas condições favoráveisnão são suficientes para superar os prejuízoscausados pelo excesso de chuvas.

Segundo, se as forças de mercado atua-rem livremente na região, o uso do solo serábaseado na exploração madeireira predatóriaassociada à pecuária extensiva. Nesse caso, ouso do solo dos municípios da Amazônia ten-derá a seguir o ciclo �boom-colapso� econô-mico. Ou seja, nos primeiros anos ocorre umrápido crescimento (boom) seguido de um se-vero declínio em renda e emprego (colapso).Esse padrão é evidente nas fronteiras madei-reiras mais antigas como Paragominas, no les-te do Pará.

O efeito do esgotamento dos recursosmadeireiros sobre a economia local tem sidomenor na Amazônia seca (< 1.800 mm/ano)e nas áreas mais secas da zona de transição,tais como as antigas fronteiras madeireiras:Sinop (centro-norte do Mato Grosso) e cor-redor Vilhena-Ji Paraná (Rondônia). Isso por-que nessas áreas tem sido possível desenvol-ver uma economia alternativa com base naagricultura (em especial, grãos).

Terceiro, na maioria das terras daAmazônia (em especial, na zona úmida) a ex-ploração madeireira manejada poderia ofere-cer uma economia mais estável (renda, em-pregos e impostos) do que aquela gerada pelaagricultura.

RESUMO

Page 15: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

2

Quarto, é essencial ampliar e consoli-dar um sistema de Florestas Nacionais(Flonas) como parte de uma estratégia de pro-moção do uso sustentável e proteção dabiodiversidade. A criação de Flonas poderia:i) compor um mosaico de áreas protegidascom Parques e Reservas, no qual as Flonasdesempenhariam a função de zona tampão;(ii) prevenir a colonização rural em áreas sempotencial agrícola; e (iii) separar as fronteirasagrícola e florestal, reduzindo o incentivo quea agricultura insustentável atualmente recebeda exploração madeireira predatória.

O estudo de Veríssimo et al. (2000) re-vela que há 1,15 milhão de km2 de florestascom potencial para o estabelecimento deFlonas na Amazônia. Desse total, aproxima-damente 38% coincidem com áreas de altaimportância para a conservação dabiodiversidade. Nos casos de sobreposição,recomendamos a destinação dessas áreas paraproteção absoluta. Ainda assim, restariamaproximadamente 0,7 milhão de km2 a seremdestinados para a criação de Flonas; uma áreacapaz de suprir de forma sustentável a deman-da atual do setor madeireiro da Amazônia.

Para assegurar o sucesso das Flonas éfundamental estabelecer um sistema deconcessão gerencialmente eficiente eambientalmente responsável. Além disso, écrucial criar um imposto sobre a madeira deorigem predatória extraída fora das Flonas.

Finalmente, as forças econômicas locaise regionais dificultam a ação política capazde ordenar o desenvolvimento da fronteira.Pois, seus interesses estão voltados para umdesenvolvimento rápido (em geral, insusten-tável). No entanto, os interesses nos benefí-cios de um crescimento sustentável, porémmais lento, são freqüentemente nacionais eglobais.

Dessa forma, é necessário que o gover-no assuma a responsabilidade de garantir odesenvolvimento sustentável na Amazônia. Ogoverno deve estabilizar a economia local atra-vés de instrumentos ecônomicos, estratégi-cos e de comando e controle. Esses instru-mentos incluem aumento da rentabilidade domanejo, aplicação de um imposto sobre a ma-deira de origem predatória, criação de Flonase aperfeiçoamento do sistema de monitoraçãoe controle.

Page 16: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

3

A elaboração deste relatório ocorre emum momento oportuno no debate amazôni-co. Depois de quase duas décadas sem inves-timentos expressivos na Amazônia, o gover-no federal está planejando ações que podemalterar profundamente a paisagem regional.Primeiro, uma ampliação significativa do sis-tema de transporte regional através do Pro-grama Eixos Nacionais de Integração e de De-senvolvimento. Essa iniciativa, a mais impor-tante desde a pavimentação da BR 364 (Cuiabá- Porto Velho) no início dos anos 80, aumen-tará dramaticamente a oferta de recursos na-turais (em especial, madeira) e terras para aagropecuária.

Segundo, o Ministério do Meio Ambi-ente está implantando uma nova política flo-restal, cujo ponto central é a ampliação e con-solidação de uma rede de Florestas Nacionaise Estaduais na Amazônia Legal (referida norestante deste relatório como Amazônia)1. Ameta do governo é destinar 500 mil km2 (10%da Amazônia) para a criação de Florestas Na-cionais (Flonas), a fim de garantir a oferta demadeira manejada e evitar a formação de gran-des latifúndios. E, finalmente, o governo fe-deral assumiu o compromisso internacionalde proteger a biodiversidade na Amazôniaatravés da ampliação das Unidades de Prote-ção Integral (proteção absoluta) a partir deum limite mínimo de 10% do território.

Essas iniciativas governamentais ofere-cem oportunidades e riscos. Os riscos deri-

vam dos investimentos em infra-estrutura (osquais por vezes desconsideram os impactosambientais negativos das obras) e das dificul-dades de ordenar o avanço da fronteira agrí-cola e controlar o desmatamento na região.As oportunidades derivam do acúmulo de ex-periências e informações (socioeconômicase biológicas) que revelam uma Amazônia comdiferentes vocações, incluindo agropecuária(em áreas mais restritas), produção florestal,serviços ambientais e proteção dabiodiversidade.

Não há como o governo ficar passivo.Ou ele procura redirecionar as forças econô-micas que estão degradando a Amazônia ouesse patrimônio nacional será apropriado parafins privados, perpetuando a visão imediatistae predatória que tem caracterizado o desen-volvimento da região até o presente.

O objetivo geral deste relatório é auxi-liar os tomadores de decisão, agentes econô-micos e a sociedade civil a garantir que os re-cursos naturais da Amazônia sejam mantidosem seu mais alto valor de uso econômico ebiológico.

O relatório está organizado em quatroseções. Na primeira seção, revemos o efeitodas chuvas na produtividade agrícola daAmazônia. Avaliamos o uso do solo de acor-do com os índices pluviométricos a partir doCenso Agropecuário de 1995-1996 (IBGE).Em seguida, revisamos o desempenho eco-nômico das principais atividades de uso do

INTRODUÇÃO

1 As Florestas Nacionais, Estaduais ou Municipais são Unidades de Conservação de Uso Sustentável, cuja finalidade é produzirbens (produtos madeireiros e não-madeireiros) e serviços ambientais. O governo pode manejar diretamente essas florestas ouconceder, temporariamente, o direito de uso para instituições privadas ou de economia mista (Veríssimo et al., 2000).

Page 17: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

4

solo. Para isso, consideramos um municípiotípico da Amazônia úmida, cuja economia estábaseada em pecuária extensiva e exploraçãomadeireira predatória. Na terceira parte, exa-minamos a função estratégica, que cabe ao go-verno federal, de assegurar um desenvolvi-

mento econômico estável na Amazônia. E, fi-nalmente, analisamos o plano do governo fe-deral de ampliar e consolidar as Florestas Na-cionais e Estaduais (áreas públicas de uso sus-tentável) como parte de uma economia flo-restal com base no manejo sustentável.

Page 18: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

5

Nesta seção, resumimos as informaçõesdisponíveis na literatura sobre o desempenhoda agricultura na Amazônia. Em seguida, di-vidimos a Amazônia em três zonas de acordocom os índices pluviométricos. Por fim, utili-zamos os dados do Censo Agropecuário 1995-1996 (IBGE) para avaliar o efeito das chuvassobre a produtividade e o desempenho eco-nômico da agricultura.

Literatura

Há uma ampla literatura destacando obaixo potencial agrícola da maior parte daAmazônia (Goodland & Irwin, 1975; Moran,1981; Smith, 1982; Cochrane & Sanchez, 1982;Hecht et al., 1988; Mattos & Uhl, 1994).Schubart (2000), por exemplo, conclui queaproximadamente 90% dos solos daAmazônia são ácidos, quimicamente pobrese possuem umidade excessiva, o que favorecede maneira significativa o desenvolvimentode pragas e doenças. Goodland & Irwin (1975)afirmam que o clima quente e úmido daAmazônia está freqüentemente associado àalta pressão biótica e solos ácidos e infertéis.Smith (1982) revela que o excesso de chuvaspode tornar a queimada inviável em muitasáreas úmidas. Mesmo quando a queimada serealiza, os retornos em fertilidade obtidoscom a operação são perdidos pela chuva ex-cessiva. Cochrane & Sanchez (1982) conclu-em que, além dos solos e umidade, o excessode chuvas e solos saturados, especialmente naAmazônia Central, impõem uma barreira na-tural ao desenvolvimento da agricultura.

Gallup & Sachs (2000) observam que o climaé um dos fatores-chave para o relativo fracas-so da agricultura nos trópicos. Os autoresconstatam que, apesar dos esforços de pes-quisa, os trópicos úmidos continuam apresen-tando uma baixa produtividade em suas prin-cipais culturas (milho, arroz, tubérculos, hor-taliças) e pecuária bovina e suína. A exceçãosão os cultivos perenes como banana, coco edendê (Gallup & Sachs, 2000).

Um estudo sobre o estado de arte daagricultura nos trópicos úmidos, encomenda-do pelo Conselho Norte-Americano de Pes-quisa sobre Agricultura Sustentável e MeioAmbiente nos Trópicos Úmidos, resumiu oslimites biológicos da agricultura nos trópicosdesta maneira:

“ Um clima quente e úmido oferece as condi-

ções ideais para a proliferação de pragas e doenças. A

estação de crescimento é essencialmente contínua e

facilita o desenvolvimento de pragas persistentes. As

perdas de culturas para pragas nos trópicos úmidos

são grandes. As perdas na pré-colheita são estimadas

em 36% da produção, e as perdas na pós-colheita, em

14%. Os impactos dos fungos, bactérias e vírus

patogênicos em países em desenvolvimento têm sido

menos estudados do que os dos insetos. No entanto,

os estudos mais abrangentes sugerem que as perdas

causadas por patógenos são aproximadamente iguais

àquelas causadas por insetos. O crescimento de ervas

daninhas é freqüentemente tão intenso e difícil de con-

trolar que se acredita ser a principal causa da queda

da produção.”(National Research Council, 1993).

Discussões científicas recentes têm re-alçado o papel do clima na determinação daprodução agrícola na Amazônia brasileira. Pri-

O EFEITO DAS CHUVAS SOBRE ODESEMPENHO DA AGROPECUÁRIA NA AMAZÔNIA

Page 19: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

6

meiro, a análise feita por Win Sombroek (iné-dito) enfatiza a necessidade de uma estaçãoseca expressiva para o sucesso da agricultura(em especial, grãos). Segundo, um estudo re-cém-concluído por Ken Chomitz & TimothyThomas (Banco Mundial) oferece uma veri-ficação estatística da hipótese do efeito nega-tivo da alta pluviosidade sobre a produtivida-de agrícola na Amazônia. Finalmente, em umseminário recente promovido pela Embrapasobre o potencial para a produção de soja naAmazônia, extraíram-se conclusões similaresàs de Sombroek (inédito) e Chomitz &Thomas (no prelo). A seguir, o resumo des-ses estudos.

Sombroek (inédito) enfatiza a neces-sidade de uma estação seca distinta para o es-tabelecimento da agricultura (em especial,grãos). Utilizando como critério para definirestação seca um mínimo de dois meses compluviosidade inferior a 100 mm, o autor con-clui:

Estradas: a construção e a manutenção deestradas são problemáticas onde não há esta-

ção seca expressiva.Armazenamento: a construção e a manu-

tenção de armazéns e silos são mais caras emregiões úmidas. Nessas áreas, onde não há es-tação seca expressiva ocorre maiores perdasna secagem de grãos por causa do ataque depragas e doenças.

Saúde humana e animal: é severamente afe-tada em áreas úmidas sem um período secodefinido. A estação seca é um fator positivo,pois restringe a multiplicação de doençasendêmicas e seus vetores.

Agricultura: em áreas sem um períodoseco definido, a queimada de áreas recém-desmatadas tende a ser incompleta.

Culturas como arroz, feijão e milho re-querem uma estação seca para o amadureci-mento e secagem dos grãos, bem como paraprevenir o seu apodrecimento.

A soja requer particularmente uma es-tação seca expressiva por causa da suavulnerabilidade ao ataque de pragas e doen-ças em seu estágio vegetativo, especialmentese a umidade do ar próximo à superfície do

solo permanece alta durante boaparte do dia.

O uso de máquinas pesadasem uma escala comercial somen-te é viável onde a superfície dosolo é relativamente seca no perí-odo de plantio e colheita. NaAmazônia, esse uso estaria restri-to às zonas que possuem ao me-nos um mês com pluviosidadeabaixo de 10 mm, o que implicauma umidade atmosférica baixadurante a estação seca (Figura 1).

Figura 1.Número de meses consecutivos compluviosidade inferior a 10 mm.

Page 20: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

7

Em resumo, o efeito das chuvas é maissignificativo para os grãos (em especial, soja)e um pouco menos para a pecuária. No casodas culturas perenes, o efeito das chuvas é maissignificativo para culturas como pimenta-do-reino, no entanto, não tem sido um fatorlimitante para cultivos como dendê, banana ecoco.

Chomitz & Thomas (no prelo) reali-zaram uma análise estatística do CensoAgropecuário 1995-1996 (IBGE) relacionan-do o uso do solo e a intensidade de uso dosolo (por exemplo, animal por hectare de pas-to), pluviosidade, acesso ao mercado edesmatamento ao longo do tempo. A vanta-gem dessa análise multivariada é que ela tor-na possível a separação estatística do efeitoda pluviosidade dos outros efeitos (estradas,distância para o mercado e fertilidade dosolo). Os autores verificaram que, controlan-do todos esses fatores, a pluviosidade tem umefeito negativo significativo sobre a produti-vidade agrícola.

O efeito independente da pluviosidadepode ser observado considerando uma pro-priedade da Amazônia com as seguintes ca-racterísticas: (i) localização: oeste do Pará; (ii)solos: oxisols; (iii) distância da estrada princi-pal: 25 km; (iv) distância da área mais próxi-ma desmatada em 1996: entre 100 km e 200km; e (v) distância da cidade mais próxima:200 km.

A previsão do efeito da pluviosidadenesse caso, mantendo-se todos os outros fa-tores constantes, é a seguinte:

2 Como seria esperado, o tamanho da propriedade também tem um efeito importante sobre a taxa de lotação, mantendo-se osoutros fatores constantes.

O efeito da pluviosidade sobre a inten-sidade de uso do solo em uma fazenda de 500hectares2 com as mesmas características doexemplo anterior seria o seguinte:

De maneira consistente com as obser-vações de Sombroek (inédito), Chomitz &Thomas (no prelo) apontam que a soja repre-senta uma proporção ampla de produção agrí-cola em áreas onde a pluviosidade atinge en-tre 1.600 e 2.000 mm anualmente; onde há trêsou quatro meses secos consecutivos; onde ossolos possuem alto nível de fósforo, nitrogê-nio e retenção de matéria orgânica; e onde avegetação básica é o cerrado. Curiosamente,a pecuária leiteira também parece serfavorecida por um clima seco, estando locali-zada quase exclusivamente em áreas compluviosidade anual abaixo de 2.200 mm.

Embrapa: Conferência sobre Soja.Em dezembro de 1999, a Embrapa-Cpatupromoveu um seminário em Belém para dis-cutir o potencial e as limitações técnicas docultivo da soja na Amazônia úmida. NelsonFerreira Sampaio, diretor geral da Embrapa-Rondônia, em sua apresentação fez as seguin-tes observações, as quais são fortemente con-sistentes com as conclusões de Sombroek(inédito) e Chomitz & Thomas (no prelo).

Primeiro, clima e fatores edáficos e agro-nômicos são fundamentais para o cultivo dasoja. Grande parte da Amazônia é coberta porflorestas sob um regime de chuvas intenso,

Pluviosidade (mm)

1.6002.0002.300

Terra em uso agrícola (%)

228

~0

Pluviosidade(mm)

1.6002.0002.300

Lotação(animal por hectare de pasto)

0,380,310,27

Page 21: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

8

com um período de estiagem reduzido. Essacondição elimina a oportunidade para a pro-dução de grãos em larga escala na maioria doterritório amazônico, seja por causa da flo-resta ou da inviabilidade climática para a me-canização intensiva do solo.

Segundo, o potencial para grãos é en-contrado em campos naturais e cerrados daAmazônia, a maioria em áreas periféricas (sulda Amazônia e Roraima), onde o clima apre-senta uma estação seca definida.

E, finalmente, as florestas que recobrema maior parte da Amazônia representam a vo-cação natural da região, o que implica umamaior necessidade de definir os espaços eco-nômicos a serem ocupados pelas populaçõespresentes e futuras.

Zonas de Pluviosidade naAmazônia

A análise de Chomitz & Thomas (noprelo), com base no Censo Agropecuário1995-1996 (IBGE), permitiu identificar trêszonas de pluviosidade com diferençasmarcantes no desempenho agropecuário (Fi-gura 2). Usamos os dados do Projeto RadamBrasil (1973-1978) para descrever as condiçõesbiofísicas e o potencial agrícola dessas zonas.A classificação do potencial agropecuário doRadam foi feito com base em informaçõessobre clima, relevo, geologia, solo e vegeta-ção. O Radam Brasil cobriu uma área de apro-ximadamente 3,7 milhões de km2, ou o equi-valente a 74% da Amazônia. As regiões de cer-rado e pantanal do Mato Grosso não foramincluídas.

Figura 2.Principais zonas depluviosidade naAmazônia.

Page 22: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

9

Amazônia seca (pluviosidade abaixo de1.800 mm/ano). A Amazônia seca, compluviosidade abaixo de 1.800 mm/anocorresponde a aproximadamente 17% do ter-ritório. Essa área está concentrada no sul da ba-cia amazônica e em áreas isoladas de camposnaturais situadas principalmente no norte deRoraima. Nessa região, as condições climáticassão relativamente favoráveis para a agricultu-ra. Ainda que os solos sejam predominante-mente pobres, existem trechos de solos fér-teis (por exemplo, terra roxa) em Rondônia,Pará e Mato Grosso. O solo é geralmente bemdrenado, e o relevo é relativamente favorávelpara a agricultura mecanizada. A vegetação éem sua maioria cerrado, com algumas áreasesparsas de florestas abertas e semi-deciduais.Essas florestas contêm baixo volume de es-pécies madeireiras de valor comercial.

Amazônia de transição (pluviosidade en-tre 1.800 mm e 2.200 mm). A zona de transiçãorepresenta aproximadamente 38% da Amazô-nia e está localizada entre a região central(zona úmida) e o arco de desmatamento aosul da Amazônia (zona seca). Essa região égeralmente coberta por floresta densa comzonas de floresta aberta no Mato Grosso esul do Pará. Em geral, os solos são quimica-mente pobres (embora existam trechos de so-los férteis) e razoavelmente bem drenados. Orelevo é em sua maioria ondulado com eleva-ções significativas em Roraima e norte doPará. Além disso, há elevações isoladas no cen-tro (Carajás) e sul (Cachimbo) do Pará e cen-tro do Mato Grosso (Parecis).

O excesso de chuvas e o curto períodode estiagem criam dificuldades agrícolas e eco-nômicas para a produção de grãos. Culturasperenes têm tido um sucesso agrícola melhor,ainda que doenças como o mal-das-folhas(Microcyclus ulei) que ataca a seringueira; vas-

soura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) que infes-ta o cacau; fusarium (Fusarium solani ) que afe-ta a pimenta-do-reino; e o amarelão fatal queprejudica o dendê (causa desconhecida) têmrestringido sua viabilidade econômica. No en-tanto, pequenos proprietários que praticamsistemas agrícolas diversificados têm obtidouma melhoria razoável em sua qualidade devida (Moran, 1989; De Almeida, 1992; Joneset al., 1992; Schneider, 1994; Toniolo & Uhl,1994). No caso da pecuária, Mattos & Uhl(1994) documentaram o relativo sucesso dapecuária intensiva em Paragominas, leste doPará. Cálculos feitos pelos autores (ver Ane-xo 1) demonstram retornos econômicos ra-zoáveis somente sob condições tecnológicasrelativamente avançadas.

Amazônia úmida (pluviosidade maior que2.200 mm). Nesta zona, a pluviosidade é su-perior a 2.200 mm/ano, com algumas áreasregistrando níveis tão altos quanto 4.000 �4.500 mm/ano. Em geral, os solos são quimi-camente pobres e em muitas áreas possuemuma drenagem insuficiente. Nas áreas com de-clive, as chuvas intensas aumentam o risco deerosão. Esta zona, compreendendo 45% daAmazônia, está localizada principalmente naregião central, ocupando grande parte do Es-tado do Amazonas e Amapá; noroeste deRondônia; sudoeste e noroeste do Pará, alémda ilha de Marajó e Região Bragantina (nor-deste do Pará). A maior parte dessa área é co-berta por floresta densa. As condições natu-rais adversas (excesso de chuvas e drenageminsuficiente) tornam a agricultura (em espe-cial, o cultivo de grãos) economicamente não-competitiva. As atividades rentáveis ocorremsomente em áreas com melhor infra-estrutu-ra e mercado. Por exemplo, há cultivos pere-nes (principalmente pimenta-do-reino, malva,dendê, maracujá, laranja e mamão papaya) nas

Page 23: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

10

proximidades de Belém, onde predominamboas condições de mercado e infra-estrutura.Entretanto, essas iniciativas enfrentam umadifícil batalha contra pragas e doenças.

Ao combinarmos as zonas depluviosidade com os dados do Radam Brasil(área de estudo com 3,7 milhões km2) encon-tramos que 84% dessa área possui potencialmédio ou alto para a exploração madeireira.Em contraste, apenas 7% (aproximadamente0,25 milhão km2) têm potencial expressivopara a agricultura, enquanto 93% apresentampotencial agrícola baixo ou insignificante.

Analisamos os dados do Censo

Agropecuário 1995-1996 (IBGE) para verifi-car a consistência da atual produção agrícolacom a previsão do Radam Brasil. Ainda que arevolução em genética de plantas esteja emdesenvolvimento desde os anos 70, a Ama-zônia úmida é uma das áreas do mundo coma mais alta probabilidade de abrigar um pre-dador natural para qualquer cultura agrícolaintroduzida pelo homem. Além disso, as mo-dificações introduzidas para controlar umapraga particular possuem uma probabilidadealta de tornar a cultura vulnerável a outraspragas. A história dos fracassos agrícolas naAmazônia é instrutiva (ver Quadro).

Região Bragantina (Pará). As tentativas de trans-formar a Amazônia em uma grande área de produçãoagrícola remontam o início do século XX. Nesse perí-odo, o governo federal apoiou a ocupação agrícola naRegião Bragantina, nordeste do Pará. Em mais de cemanos de �experimento agrícola� quase todos os culti-vos fracassaram. O excesso de chuvas (> 2.200 mm/ano) e a curta duração da estação seca têm inviabilizadoeconomicamente o cultivo de hortaliças e de grãos emgeral. Culturas perenes como pimenta-do-reino tam-bém fracassaram, por causa de doenças (fusariose).Atualmente, a paisagem da região é dominada por áre-as degradadas e abandonadas, pecuária extensiva, agri-cultura de corte e queima e cultivos isolados (maracu-já, mamão, acerola, pimenta, dendê).Perimetral Norte (Amapá). A ocupação recente deuma extensa área no noroeste do Amapá para a refor-ma agrária resultou em fracasso. As chuvas excessivase os solos pobres tornaram o cultivo de grãos anti-econômico. Apesar da infra-estrutura (estrada, energiaelétrica e casas de alvenaria), a grande maioria dos lo-tes encontra-se abandonada.Transamazônica (Pará). O excesso de chuvas tornao custo de abertura e manutenção de estradas proibitivo.Há mais de três décadas de ocupação os agricultoresenfrentam enormes desafios naturais (chuva e umida-de) e de infra-estrutura (estradas) para desenvolver aagricultura. As tentativas de cultivo de grãos fracassa-

ram. Apenas os cultivos perenes (em especial, frutífe-ras) revelam potencial econômico.Pecuária. No Acre, aproximadamente 550 mil hecta-res de pastagens estão em acelerado processo de de-gradação. A grande maioria do pasto é formada porBrachiaria brizantha, um capim que não tolera solos maldrenados. Esse tipo de solo ocorre em extensas áreasda Amazônia (aproximadamente 20% do território), in-cluindo o Acre e o sul do Amazonas.Soja. No final dos anos 90, o governo do Amazonasincentivou o plantio de soja em Humaitá, sul do Esta-do. Apesar dos incentivos fiscais, a iniciativa fracassou.Os solos encharcados e o excesso de chuvas tornaramo cultivo anti-econômico. Problemas similares ocorre-ram em Santarém (Pará) com um plantio experimentaldo grupo Quincó. Não foi possível colher em um ter-ço de um total de 600 hectares plantados, por causa doexcesso de chuvas.Perenes de ciclo longo. As experiências com o culti-vo homogêneo de seringueira e castanha-do-brasil fra-cassaram. No caso da seringueira, o fungo Microcylusuley, potencializado pela elevada umidade, é o fatorlimitante ainda intransponível. A produtividade da cas-tanha-do-brasil em condições de campo (região deItacoatiara, Amazonas) foi significativamente menor doque nos experimentos da Embrapa. Esse fracassodesestimulou o plantio da castanha em outras partesda Amazônia (Dean, 1989).

FRACASSOS DA AGRICULTURA NA AMAZÔNIA

Page 24: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

11

Há um certo risco em generalizar a par-tir do sucesso ou fracasso individual sem terum período suficientemente longo para ana-lisar essas experiências agrícolas ou para ca-racterizar as diferenças geográficas. Os resul-tados de Chomitz & Thomas (no prelo) per-mitem que generalizemos com segurança oimpacto negativo dos altos níveis depluviosidade sobre a produtividade agrícola.Uma revisão dos dados do censo mais recen-te ajudar-nos-ão a conduzir um teste adicio-nal da validade das generalizações contra asobservações no campo.

Desempenho Agrícola deAcordo com a Pluviosidade

A informação mais recente relativa àcondição do uso do solo na Amazônia éfornecida pelo Censo Agropecuário de 1995-1996 (IBGE). Essa informação pode ser so-breposta aos dados de pluviosidade para ob-

0%

10%

20%

30%

40%

50%

1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600

Chuva anual em mm

Uso agrícola Pecuária Abandonada

Figura 3.Áreas em uso agrícola(%) em relação àpluviosidade: menos de25 km da estrada.

ter informação adicional sobre a relação en-tre os padrões de chuva na Amazônia e o usodo solo na região (Chomitz & Thomas, noprelo). As Figuras 3 e 4 estão baseadas nosdados sobre uso do solo no nível da unidadecensitária (menor fração de análise do censo)e nos dados de pluviosidade derivados dainterpolação entre as medidas de pluviosidadeda Aneel (Agência Nacional de Energia Elé-trica) e do Projeto EOS Amazônia da Uni-versidade de Washington (EUA). Como seriaprevisto pelo Radam Brasil, esses dados mos-tram uma redução severa na área agrícola namedida em que os níveis de pluviosidade au-mentam. O efeito do acesso a estradas é in-corporado nas análises.

Para diferenciar o efeito da distância dapropriedade até a estrada principal conside-ramos dois casos representados pelas Figu-ras 3 e 4. A Figura 3 inclui somente áreas docenso a menos de 25 km de uma estrada prin-cipal. A Figura 4 inclui as áreas do censo a

Page 25: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

12

mais de 25 km da estrada. Curiosamente, am-bos os gráficos mostram a mesma quedaabrupta na porcentagem da área do censo emagricultura nas áreas com pluviosidade maiorque 1.800 mm/ano. Abaixo de 1.800 mm, am-bos os gráficos mostram que 30%-40% da ter-ra é destinada para a agricultura. Este núme-ro cai expressivamente para 5% à medida quea pluviosidade aumenta para 2.200 mm. Nes-sa mesma faixa de chuva em áreas situadas amais de 25 km da estrada, a porcentagem deterra para a agricultua não cobre mais de 5%.No caso da terra mais próxima à estrada, ouso agrícola aumenta para aproximadamente23% na faixa de 2.800-3.000 mm e, em segui-da, cai de forma abrupta para aproximadamen-te zero.

A baixa produtividade agrícola na Ama-zônia é freqüentemente justificada pela infra-estrutura precária e ausência de mercado aoinvés de fatores climáticos. O ápice na curvado uso agrícola permite julgar até que pontoum bom sistema de transporte e mercado

pode superar o efeito negativo do excesso dechuvas. Por exemplo, as microrregiões Belém-Bragança (Pará) e Macapá-Mazagão (Amapá),situadas a 25 km de uma estrada principal ecom acesso fácil a grandes mercados, reve-lam um inexpressivo uso do solo e uma pro-porção maior de áreas abandonadas se com-paradas à zona úmida como um todo. Umahistória de colonização mais antiga (aproxi-madamente um século), a qual resultou emuso mais prolongado do solo, pode ser a cau-sa desse baixo uso e maior abandono da ter-ra.

Esses indicadores de um desempenhoeconômico marginal, ainda que nas melhorescondições de mercado, sugerem que o gover-no tem um papel a desempenhar noredirecionamento da economia na Amazôniaúmida. Isso porque, nessas áreas, a expectati-va de rentabilidade econômica tende a ser piordo que nas áreas convertidas nas zonas secase de transição.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600

Chuva anual em mm

Uso agrícola Pecuária Abandonada

Figura 4.Áreas em uso agrícola(%) em relação àpluviosidade: mais de 25km da estrada.

Page 26: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

13

Classificamos os dados do censo em trêscategorias de pluviosidade de acordo com ouso do solo. Essas zonas correspondem a 17%(seca); 38% (de transição); e 45% (úmida) daAmazônia.

Na Tabela 1, apresentamos a proporçãoentre as áreas do censo que estão em estabe-lecimentos agrícolas e a área desses estabele-cimentos atualmente destinada ao uso agrí-cola.3 O efeito da pluviosidade é evidente:

56% das terras na zona seca são estabeleci-mentos agrícolas e 38% dessas terras estãosendo usadas para a agricultura, enquanto nazona úmida essa proporção atinge somente7,5% e 3,2%, respectivamente.4

Na Tabela 2, mostramos o tipo de usodo solo em cada zona de pluviosidade. Apro-ximadamente 83% da terra em uso na zonaseca é pasto, e cerca de 8% estão abandona-dos. O pasto cai para aproximadamente 60%

3 O uso agrícola inclui pasto, culturas anuais, culturas perenes, extrativismo e terras abandonadas.4 Ao interpretar esses dados é importante observar que a maioria das áreas públicas protegidas está na zona úmida, o que reduz aporcentagem de áreas do censo em agricultura. Esta alta porcentagem em áreas protegidas é sem dúvida parcialmente influenciada pelobaixo potencial agrícola da terra.

Tabela 2. Uso das áreas agrícolas ( %) por zona de pluviosidade na Amazônia.

Tabela 1. Uso do solo por zona de pluviosidade na Amazônia.

1. As categorias de pluviosidade correspondem a menos de 1.800 mm (seca); entre 1.800 mm e 2.200 mm (detransição); e mais de 2.200 (úmida).2. Inclui floresta plantada e terra de pousio.3. Corresponde a Belém-Bragantina (Pará) e Macapá-Mazagão (Amapá). Essa área é úmida, mas possuirelativamente boas condições de mercado e infra-estrutura.

Terrasabandonadas %

8,4

7,7

20,9

28,5

Zona depluviosidade 1

Seca

De transição

Úmida

Úmida comcolonizaçãoantiga 3

% em usoagrícola

100

100

100

100

Pasto%

83,3

77,7

56,8

54,4

Culturasanuais %

5,1

9,1

7,2

5,8

Culturasperenes %

0,5

1,9

4,4

4,6

Outros 2

%

2,6

3,6

10,7

6,7

1. As categorias de pluviosidade correspondem a menos de 1.800 mm (seca); entre 1.800 mm e 2.200 mm (de

transição); e mais de 2.200 mm (úmida).

Área (km2)

836.572

1.816.240

2.194.887

4.847.700

Zona depluviosidade 1

Seca

De transição

Úmida

Total

% da zona nototal

17

38

45

100

% da zona emestabelecimentos

agrícolas

55,6

28,7

7,5

24

% da área dos estabele-cimentos em uso agrícola

38,2

13

3,2

13

Page 27: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

14

em zona úmida, enquanto as áreas abandona-das somam 20%. Uma infra-estrutura melhore a proximidade ao mercado parecem não me-lhorar a economia agrícola nessa zona (ver ocaso da Região Bragantina).

As taxas relativamente altas de conver-são da terra na zona seca, observadas no Cen-so Agropecuário 1995-1996 (IBGE), são con-sistentes com as evidências apresentadas narevisão dos estudos sobre colonização feitapor Schneider (1994) a partir dos trabalhosde De Almeida (1992), Moran (1989), FAO/UNDP (1992) e Jones et al. (1992). Nessa re-

visão, Schneider (1994) constatou um relati-vo sucesso agrícola. Em termos econômicos,o desempenho foi considerado moderado,quando comparado a indicadores de rentabi-lidade em outras partes do Brasil. Entretan-to, os dados do censo mais recente mostramque esse sucesso moderado não pode ser es-perado em 45% da Amazônia compluviosidade acima de 2.200 mm. Para essasáreas, o cenário mais provável é o baixo ren-dimento agrícola, fraco desempenho econô-mico e abandono das terras.

Page 28: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

15

Com base nos dados das principais ati-vidades econômicas rurais (exploração madei-reira e pecuária) e na literatura, é possível pre-ver o futuro econômico de um município tí-pico da Amazônia úmida (45% da região). Seas forças de mercado atuarem livremente naregião, o uso do solo será baseado na explo-ração madeireira predatória associada à pecu-ária extensiva. Nesse caso, a economia dos mu-nicípios da Amazônia tende a seguir o ciclo�boom-colapso� econômico. Ou seja, nos pri-meiros anos ocorre um rápido crescimento(boom) seguido de um severo declínio em ren-da e emprego (colapso).

Usos do Solo

Exploração madeireira. A Amazôniaproduz aproximadamente 90% da madeira na-tiva do Brasil. O setor madeireiro é a princi-pal atividade econômica de uso do solo naregião, representando aproximadamente 15%do Produto Interno Bruto (PIB) dos Esta-dos do Pará, Mato Grosso e Rondônia. Em1998, o rendimento bruto do setor foi esti-mado em US$ 2,5 bilhões.5 Além disso, a ati-vidade madeireira gera aproximadamente 500mil empregos diretos e indiretos (Veríssimoet al., inédito).

A Taxa Interna de Retorno (TIR) da ati-

vidade de exploração madeireira manejada6 eprocessamento foi estimada em 71%; enquan-to no sistema de exploração predatória essataxa atingiu 122%.

Pecuária. A criação de gado bovino éo uso dominante nas áreas desmatadas, repre-sentando 77% da área convertida em uso eco-nômico (Chomitz & Thomas, no prelo). Orebanho atual é estimado em 32 milhões decabeças de gado. A lotação média é de apenas0,7 animal por hectare. A pecuária gera apro-ximadamente 118 mil empregos permanen-tes. Em geral, a pecuária apresenta uma TIRmuito baixa (4,2%) atingindo, em casos isola-dos (pecuária de corte em pastos reformados),até 13% (Anexo 1).

O Dilema do Município

Vamos considerar um município con-tendo 1 milhão de hectares de floresta densa.Os madeireiros migrantes começam a chegarno município em busca de novos estoques demadeira. A comunidade discute se tenta con-trolar o fluxo de madeireiros e instituir umsistema de manejo sustentável ou se permitea exploração florestal predatória, o que resul-ta em desmatamento para a implantação depastos de baixa produtividade.

Se as forças de mercado atuarem sem

5 A receita líquida é estimada em US$ 500 milhões, assumindo-se uma margem de lucro de 20% (a margem de lucro oscila de ummínimo de 15% a um máximo de 25% (Veríssimo et al., inédito).6 Este sistema de manejo florestal tem sido desenvolvido e descrito pelo Imazon, Embrapa e Fundação Floresta Tropical (FFT).Ele consiste basicamente em corte seletivo baseado no inventário das árvores comerciais; planejamento de estradas, pátios e ramaisde arraste; corte prévio de cipós; derrubada direcionada das árvores; e arraste planejado. Além disso, o plano de manejo deve contertécnicas para estimular a regeneração e o crescimento das árvores comerciais e um cronograma de exploração anual.

�BOOM-COLAPSO� OU ECONOMIA SUSTENTÁVEL:O DILEMA DA COMUNIDADE

Page 29: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

16

controle na região, a comunidade pode espe-rar um rápido crescimento seguido de umdeclínio em renda e emprego como mostramas Figuras 5 e 6. A atividade econômica cres-ce relativamente rápido nos primeiros oitoanos à medida que as árvores são extraídas eos pastos, estabelecidos. Porém, a economiacomeça a declinar depois de oito anos quan-do as árvores de alto valor são exauridas e umsegundo ciclo de extração de árvores de mé-dio e baixo valor se inicia. Aproximadamenteno vigésimo ano ocorre uma exaustão total

de madeiras de valor comercial e a economialocal entra em crise. A atividade econômicamedida pela renda bruta da atividade madei-reira (extração e processamento) e pecuárianeste ciclo �boom-colapso� (modelo predató-rio) poderia atingir um máximo de US$ 100milhões no oitavo ano e cair para menos deUS$ 5 milhões no vigésimo terceiro ano. Nes-se período, as madeireiras já teriam abando-nado o município deixando para trás somen-te uma pecuária de baixa produtividade. Se acomunidade obrigar os madeireiros a adotar

Figura 5.Renda bruta:manejo florestalvs.exploraçãopredatória epecuária naAmazônia úmida.

Figura 6.Renda bruta:manejo florestalvs.exploraçãopredatória epecuária naAmazônia úmidacom boa infra-estrutura.

-

20

40

60

80

100

120

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Anos desde o início da colonização

Milh

ões

de U

S$

Manejo florestal

Madeira predatória+ pecuária

-

20

40

60

80

100

120

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Anos desde o início da colonização

Milh

ões

de U

S$

Manejo florestal

Madeira predatória+ pecuária

Page 30: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

17

o manejo florestal sustentável, a renda brutaatingiria US$ 70 milhões, ao invés de US$ 100milhões obtidos no modelo predatório. Noentanto, seria sustentável em US$ 70-80 mi-lhões, ao invés de cair abruptamente com aexaustão da madeira de valor comercial no vi-gésimo terceiro ano como ocorre no modelopredatório.

As implicações para o emprego sãoigualmente dramáticas. Ambos os modelosempregam aproximadamente o mesmo núme-ro de pessoas durante os primeiros oito anos.Após esse período, o modelo predatório atin-ge 4.500 empregos tanto na exploração flo-restal como na pecuária, enquanto o modelosustentável, baseado no manejo florestal, per-manece estável com 3.500 empregos (Figura7). Contudo, com a exaustão da madeira co-mercial no vigésimo terceiro ano, a base eco-nômica do modelo predatório migra para ou-tro município, deixando para trás menos de500 empregados envolvidos em pecuária. Seo recurso madeireiro do município fosse sus-tentavelmente manejado, os 3.500 empregosseriam mantidos indefinidamente.

Em áreas com infra-estrutura e merca-do bons, o emprego de longo prazo do ma-nejo florestal não é atrativo quando compa-rado ao emprego do modelo predatório. Issoporque o mercado que conduz à pecuária geramais benefícios a curto prazo. Entretanto, onúmero de empregos diretos neste modelocai pela metade a partir do vigésimo primeiroano.

Essa análise indica claramente que a baseeconômica do manejo florestal é melhor doque a da exploração predatória adotada naAmazônia. Pois, o manejo florestal pressupõeum investimento de longo prazo, fortaleci-mento da comunidade e investimento em ca-pital humano.

As Figuras 5, 6 e 7 comparam o desem-penho econômico do sistema manejado versuspredatório na vida da comunidade, enquantoa Figura 8 ilustra o relacionamento entre oscustos e benefícios privados e sociais de ummodelo de desenvolvimento �boom-colapso�.Essa figura ilustra um período de rápido cres-cimento da economia local e de seus benefí-cios sociais (boom), na medida em que a nova

Figura 7.Empregos:manejo florestalvs.exploraçãopredatória epecuária naAmazônia úmida.

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

5.000

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Anos desde o início da colonização

Empr

egos

Manejo florestal

Madeira predatória +pecuária

Page 31: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

18

Figura 8.Custos sociais e benefíciosprivados da economia “boom-colapso”.

atividade atrai migrantes e oferece oportuni-dades econômicas para os serviços do setorpúblico e privado. O �colapso� surge quan-do um recurso natural que sustenta essa ativi-dade (no caso, madeira) é exaurido e a econo-mia atinge um novo equilíbrio baseado na pe-cuária extensiva. Nessa fase, embora ainda hajabenefícios econômicos, há custos elevados as-sociados ao desemprego, migração de empre-sas e pessoas e redução nos serviços públicosresultante da perda da base econômica da co-munidade. Além disso, os custos ambientaisna forma de perda de biodiversidade e emis-são de carbono são elevados.

ciativas de sucesso de manejo florestal, elasainda representam uma parcela modesta (me-nos de 5% do volume extraído). O padrãodominante é a exploração madeireira preda-tória caracterizada por danos excessivos à flo-resta, pressão excessiva sobre espécies de altovalor econômico e aumento da suscetibilidadedas áreas exploradas ao fogo (Uhl et al., 1997).

A exploração predatória tem levado àexaustão os recursos florestais em pólos ma-deireiros antigos. No final da década de 90, aexploração ocorria principalmente nas seguin-tes áreas: fronteiras antigas incluindoParagominas (Pará), Sinop (Mato Grosso),

Vilhena-Ji Paraná - Ariquemes (Rondônia);fronteiras intermediárias como o norte deMato Grosso e Tailândia-Marabá (Pará); e, fi-nalmente, novas fronteiras como Novo Pro-gresso (Pará), Novo Aripuanã-Apuí (Amazo-nas) e Senador José Porfírio-Portel (Pará). Es-timamos que a escassez de madeira na velhafronteira obrigará a maioria das madeireiras a

A Dinâmica da ExploraçãoMadeireira

A maior parte da atividade florestal temocorrido de forma complementar à agricul-tura. Como resultado, a fronteira de explora-ção madeireira tem acompanhado a expansãoda fronteira agrícola. Embora haja diversas ini-

Page 32: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

19

migrar ou fechar nos próximos cinco anos.Nas fronteiras intermediárias, o estoque na-tural de madeira é suficiente para 10-20 anosde exploração, enquanto nas novas áreas esseperíodo estende-se para 30-40 anos.

Os madeireiros de Rondônia estão sedeslocando em direção à Bolívia e Estado doAmazonas, enquanto os madeireiros da velhafronteira do Pará e Mato Grosso estão mi-grando para fronteiras mais recentes (oestedo Pará e sudeste do Amazonas). Nessas re-giões, os madeireiros freqüentemente tomamposse de terras devolutas e exploram de for-ma ilegal áreas indígenas e protegidas(Figura 9).

A migração das madeireiras e o efei-to sobre a economia local. O atual modelode exploração madeireira causa um forte im-pacto sobre a economia dos municípios da

Amazônia. Após o período de expansão daatividade, a conseqüente exaustão dos recur-sos pode ocasionar uma severa recessão naeconomia local. A gravidade desse colapso de-pende do potencial agrícola local. Isto é, se épossível ou não substituir a economia madei-reira por uma economia agrícola capaz de ge-rar renda e empregos nos níveis anteriores.Por exemplo, Paragominas, a fronteira madei-reira mais antiga da Amazônia, estabelecidano final dos anos 70, enfrenta no final dosanos 90 uma grave crise de matéria-prima porcausa da exaustão das florestas. Aproximada-mente 50 madeireiras fecharam ou migraramnos últimos cinco anos, e o volume de ma-

Figura 9.Migração daexploração madeireirana Amazônia.

deira processada caiu cerca de 30%. Um fe-nômeno similar é observado nos municípiosde Sinop (Mato Grosso), um dos maiores pó-los madeireiros nos anos 80, e em Redenção

Page 33: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

20

(sul do Pará). Entretanto, pelo fato de essesmunicípios estarem localizados em áreas defloresta aberta (caracterizada por baixa den-sidade de madeira comercial) situadas na zonaseca, o declínio da exploração madeireira temsido mais rápido do que em Paragominas. EmSinop, o número de serrarias caiu de aproxi-madamente 400 no final da década de 80 paramenos de 100 no final dos anos 90. No en-tanto, esse município está compensando odeclínio da atividade madeireira com o rápi-do crescimento agrícola, principalmente soja.Isso é possível por causa de um maior poten-cial agrícola na Amazônia seca. Por outro lado,Paragominas, localizada na fronteira da zonade transição e úmida da Amazônia, apresentauma taxa de declínio da floresta mais baixapor causa das suas florestas densas (maior vo-lume de madeira por hectare). Contudo, ape-sar de uma relativa longa história de experi-ências em usos do solo, uma agricultura con-sistentemente lucrativa capaz de manter a vi-

talidade da economia local ainda não emer-giu.7

À medida que a fronteira se move paraas zonas de transição e ainda mais para o in-terior de áreas úmidas, o desempenhoagropecuário tende a piorar. Com a falta deintervenção governamental, as fronteiras deexploração madeireira assumirão cada vezmais as características do boom florestal, semgerar economias e comunidades sustentáveis.

Se as forças de mercado não forem con-tidas, o modelo �boom-colapso� na nova fron-teira será quase uma certeza, especialmentenas regiões úmidas. Como discutiremos a se-guir, os tomadores de decisão locais tambémpossuem pouco incentivo para adotar um mo-delo de desenvolvimento sustentável. Abor-daremos o potencial para a elaboração de umapolítica governamental que previna o fenô-meno �boom-colapso� e contribua para o de-senvolvimento de qualidade com uma melhordistribuição de renda.

7 Paragominas foi estabelecida nos anos 60 como uma fronteira de pecuária, estimulada por incentivos fiscais. Mattos & Uhl(1994) entrevistaram 27 fazendeiros no início dos anos 90 e observaram uma Taxa Interna de Retorno (TIR) sobre a pecuária de13%. Cálculos feitos por esse estudo (ver Anexo 1) revelam uma TIR de 3,1% para as técnicas tradicionais e 10%-14% para asoperações tecnologicamente mais avançadas. Evidências de campo indicam descapitalização significativa ocorrendo na área. Entre-tanto, ainda é necessário determinar se isso levará ao abandono ou à consolidação da área rural sob a tecnologia avançada. Plantiode grãos (soja e milho) vem sendo testado, mas a produtividade ainda é inferior à média nacional.

Page 34: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

21

O PAPEL DO GOVERNO

seus interesses de longo prazo associados aosda comunidade. Finalmente, a terceira e maisimportante razão: ainda que a comunidadeopte pelo modelo sustentável seria difícil as-segurar que as madeireiras adotem boas prá-ticas de manejo florestal. Como mostra oAnexo 1, a Taxa Interna de Retorno (TIR)para a exploração predatória e processamentode madeira é de 122%, enquanto no sistemasustentável, também incluindo oprocessamento de madeira, essa taxa é de 71%.Entre trabalhar em uma comunidade que osobriga a adotar o manejo florestal e em ummunicípio que permite a exploração predató-ria, os madeireiros tenderiam a escolher o sis-tema predatório.

Evitar o imediatismo dos governoslocais. O problema da perspectiva imediatistados governos locais e a sua tendência para se-rem �capturados� por interesses econômicosde curto prazo têm sido reconhecidos mundi-almente. Em geral, o fenômeno de esses gover-nos hipotecarem seu futuro através de benefí-cios de curto prazo é conhecido na literaturacomo �competição regulatória�. Essa compe-tição envolve uma variação de práticas preda-tórias, abrangendo desde regulamentosambientais e sociais negligentes até subsídio eredução de impostos oferecidos por esses go-vernos para atrair indústrias e corporações.Essas práticas, guiadas por benefícios econô-micos e políticos de curto prazo,freqüentemente ameaçam a estabilidade fis-cal da comunidade. No longo prazo, elas sãoinsustentáveis para todos os níveis da socie-dade.

O governo tem um papel crucial na de-finição da qualidade do desenvolvimento naAmazônia e na proteção dos interesses da so-ciedade brasileira. A política governamentaldeve conciliar: i) os interesses sociais de cur-to e longo prazo; e ii) os interesses dos diver-sos atores na sociedade, o que envolve os ní-veis local, estadual, nacional e global.

Estabilizar a EconomiaLocal e Regional

Nas áreas de fronteira, a instabilidade nouso do solo tem como causa principal forçaseconômicas influentes. Portanto, criar umacoalisão política capaz de ordenar o desenvol-vimento da fronteira é uma tarefa difícil. Os in-teresses em um desenvolvimento mais rápido(em geral, insustentável) são locais e regionais,enquanto os interesses nos benefícios do cres-cimento sustentável, porém mais lento, são na-cionais e globais (Schneider, 1994).

O caso do �dilema da comunidade� dis-cutido na seção anterior é instrutivo. Na ausên-cia de intervenção do governo central, a comu-nidade terá de decidir por si mesma entre omodelo �boom-colapso� (predatório) e o mo-delo de desenvolvimento sustentável. Há aomenos três razões para a comunidade escolhero modelo �boom-colapso�. Primeira, o curtoperíodo dos mandatos municipais não per-mite que os líderes políticos adotem uma pers-pectiva de longo prazo com objetivo de esta-bilizar e melhorar a qualidade de vida. Segun-da, muitos líderes políticos estão envolvidoscom a economia de �garimpagem� predató-ria dos recursos naturais e não consideram

Page 35: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

22

Instrumentos para Estimular oUso Sustentável da Floresta

Há várias alternativas para incentivar ouso sustentável dos recursos florestais de modoa estabilizar a economia local. A seguir, umresumo dessas alternativas.

Aumentar a rentabilidade do mane-jo. A renda do manejo aumentaria se houves-se, por exemplo, mercado para os serviçosambientais prestados pela floresta. Um des-ses serviços é a retenção de carbono, que con-tribui para o equilíbrio do clima global. O pa-gamento por esse serviço vem sendo objetode debate internacional, mas até agora nenhu-ma decisão foi tomada. Calculamos que a re-muneração entre US$ 2 e US$ 3 por toneladaadicional de carbono seqüestrada no manejoflorestal (comparado à exploração predató-ria) seria suficiente para que o madeireiro ado-tasse práticas de manejo florestal.8

Reduzir a vantagem comparativa daexploração predatória. O aperfeiçoamentodo sistema de comando e controle, bem comoa adoção de uma taxa sobre a madeira de ori-gem predatória podem reduzir essa vantagem.Estimamos que se o imposto sobre a madeirade origem predatória ficasse entre US$ 1 e US$4 por metro cúbico em tora (dependendo dataxa de desconto), os madeireiros não migra-riam do município para evitar as restrições domanejo (ver Anexo 3).

Respeito à lei. É fundamental assegu-rar o respeito à legislação florestal (em espe-cial, o Código Florestal) que mantém a reser-va legal em 80% da área das propriedades pri-vadas e exige o manejo florestal. A regulamen-

tação da lei de crimes ambientais ofereceoportunidades concretas para o cumprimen-to das leis florestais. É importante uma divi-são de responsabilidades entre os governoslocais (estadual e municipal) e a União paraassegurar um sistema eficiente e rigoroso demonitoração e controle.

Ordenar a ocupação regional. O go-verno pode prevenir a dinâmica da ocupaçãoterritorial desordenada na Amazônia. Esse pa-drão de ocupação catalisa o desmatamento, aexploração predatória e a grilagem de terrasdevolutas. Uma ação promissora para regularessa ocupação é a ampliação e consolidação deuma rede de Florestas Públicas (Florestas Na-cionais ou Estaduais) na Amazônia (ver deta-lhes na próxima seção).

Medidas compensatórias. O governofederal pode adotar medidas compensatóriaspara: i) aumentar o apoio político para as ini-ciativas de redução do crescimento da eco-nomia local no curto prazo; e ii) evitar a com-petição regulatória entre os municípios. Es-sas iniciativas podem incluir melhoria nos ser-viços públicos como saneamento, educaçãoe saúde. Em muitos casos, as empresas pre-feririam se instalar em municípios dotados deum bom sistema de saúde, educação, opçõesde lazer e cultura, baixa criminalidade e am-biente saudável do que naquelas localidadescujo único atrativo são os regulamentos ne-gligentes e incentivos fiscais.

Repartir os Benefícios doUso do Patrimônio Nacional

O governo deve garantir que os benefí-cios da exploração florestal e da agricultura

8 Este valor, US$ 2-3 por tonelada, equipara o Valor Presente Líquido (VPL) das técnicas de manejo sustentáveis e predatórias sobtaxas de desconto variando de 10% a 20%.

Page 36: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

23

na Amazônia sejam distribuídos de maneiraapropriada na sociedade brasileira. A situaçãoatual revela uma série de disparidades sociais.De um lado, 1% das propriedades, aquelascom mais de 2.000 hectares, detêm 47% daterra agrícola. Em outro extremo, 54% daspropriedades, aquelas com menos de 20 hec-tares, detêm apenas 1,1% da terra agrícola.

No setor madeireiro, os benefícios tam-bém são repartidos de forma desigual. As em-presas madeireiras pagam atualmente menos de20% do ICMS devido, e a maioria é isenta depagamento de imposto de renda. Além disso,os madeireiros não pagam pelo uso dopatrimônio nacional. Não há, por exemplo, umvalor a ser pago pela madeira em pé extraídadas terras devolutas, um procedimento comumem outros países florestais.

Por razões econômicas, ambientais e deeqüidade social, a política de colonização dogoverno (aplicável nas áreas com efetiva voca-ção agrícola) deveria favorecer os pequenosproprietários. Primeiro, a aquisição dessas ter-ras encoraja atividades predatórias desenvolvi-das apenas para garantir o direito de posse.Segundo, as grandes propriedades improdu-tivas ou abandonadas encorajam a especula-ção da terra e subseqüentes conflitosfundiários. E, finalmente, distribuir terras deboa qualidade para os pequenos proprietáriosmelhora a qualidade de vida das populaçõesde baixa renda e garante a distribuição eqüi-tativa dos recursos nacionais.

Preservar a Opção do UsoEconômico Futuro da Amazônia

No futuro, as mudanças tecnológicas ede atitude podem gerar benefícios econômi-cos para os trópicos úmidos (biodiversidade,produtos não-madeireiros, ecoturismo, explo-

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

O clima mundial vem registrando alteraçõessignificativas. O acúmulo dos chamados gases deefeito estufa na atmosfera, em especial o gáscarbônico (CO

2), emitidos pela queima de combus-

tíveis fósseis desde a Revolução Industrial, provo-ca o aquecimento da Terra e o aumento do níveldos oceanos. Desde 1990, governos e organismosmultilaterais iniciaram discussões a respeito das pro-vidências a serem tomadas para enfrentar e rever-ter a tendência de aquecimento global.

O Brasil tem uma participação importantenessas discussões. A Convenção do Clima foi apro-vada durante a Rio-92 e o seu primeiro signatáriofoi o então presidente Fernando Collor. Além dis-so, em 1997, a delegação oficial brasileira teve umpapel importante na viabilização do chamado Pro-tocolo de Kioto e protagonizou a introdução deum dos instrumentos de flexibilização previstos noProtocolo, o MDL (Mecanismo de Desenvolvimen-to Limpo). Esse mecanismo permite que os paísesindustrializados cumpram parte das suas metas deredução de emissões, através do financiamento deprojetos que promovam o seqüestro de carbononos países em desenvolvimento.

No entanto, uma questão importante aindaa ser considerada é se o seqüestro de carbono po-derá advir de projetos relacionados com a mudan-ça no uso do solo, principalmente se os projetos demanejo florestal e conservação de florestas serãoconsiderados. Essas questões deverão ser defini-das durante a 6° Conferência das Partes (COP 6) aser realizada em Haia, Holanda, em novembro de2000.

Estima-se que o volume global de transaçõesem crédito de Redução de Emissões Certificadas(REC) pode alcançar 20-30 bilhões de dólares anu-almente, dos quais parte seria destinada aos paísesem desenvolvimento para investimentos em proje-tos de MDL. Se permitido sob a convenção, o or-çamento da redução dos gases que provocam oefeito estufa poderia tornar viável uma série de pro-jetos de manejo florestal. Se esses projetos foremadmitidos, o Brasil poderá atrair 5% a 10% do mer-cado.

Page 37: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

24

ração madeireira sustentável, agricultura eco-lógica etc.) acima dos valores atuais. Ao pre-venir a degradação da floresta no presente,estaríamos preservando este ecossistema parauso potencial no futuro. Esse argumento jus-tifica a criação de Unidades de Conservaçãode Uso Sustentável (por exemplo, FlorestasNacionais e Reservas Extrativistas) como ummecanismo para manter a opção de uso dosolo no seu valor econômico e biológico maisalto possível.

Proteger a Biodiversidade

A Amazônia brasileira abriga a mais ricabiodiversidade e informação genética domundo. O governo brasileiro está compro-metido a assegurar a proteção dessa riquezapara as futuras gerações. As Florestas Nacio-nais (Flonas) podem desempenhar o papel-chave de zona tampão entre áreas de prote-ção integral (Parques e Reservas) e terras pri-vadas.

Estabilizar o Setor Madeireiro

O esgotamento dos recursos florestaisnos pólos madeireiros mais antigos tem oca-sionado a migração das serrarias para as áreasde fronteira. Esse processo de migração in-tensificar-se-á nos próximos cinco anos. A mi-gração desordenada pode resultar em ocupa-ção irregular das terras devolutas (grilagem),conflitos com populações indígenas, explo-ração madeireira predatória, desmatamento epecuária extensiva. Nesse cenário, a indústriamadeireira seria indutora de um processo deocupação do tipo �boom-colapso�.

Entretanto, a maioria dos madeireirospreferiria funcionar num sistema de maiorestabilidade econômica e certeza (regulamen-tos definidos, posse segura da terra e esto-ques de madeira sustentáveis). Uma pesquisarecente com 96 empresas madeireiras (Barreto& Arima, 2000) revela que a grande maioria(80%) dos empresários quer substituir o atualprocesso desordenado pela exploração ma-nejada com base em um sistema de conces-são florestal (Flonas).9 Houve diferença emrelação ao papel do governo, com 41% prefe-rindo um sistema no qual o governo apenasfaria concessões, responsabilizando as empre-sas pelo manejo, e 56% preferindo que o go-verno fosse responsável pelo manejo. Opini-ões similares foram obtidas entre as ONGs,profissionais liberais da área florestal e insti-tuições acadêmicas da Amazônia (Barreto &Arima, 2000).

Como mostra a Figura 9, o processomigratório das empresas na Amazônia já co-meçou. Nem os madeireiros nem as comuni-dades receptoras estão seguros com o pro-cesso atual. Portanto, este é o momento opor-tuno para iniciar uma transição para uma in-dústria florestal baseada em manejo em áreasprivadas e públicas (Florestas Nacionais eEstaduais).

Ordenar a Ocupação Regional

Para assegurar a conservação e o uso sus-tentável, é necessária a intervenção do gover-no no controle das forças de mercado. Comoilustra a seção � O Dilema da Comunidade�,com a ausência de pagamentos para os servi-ços ambientais, o governo federal deve pre-

9 Os resultados das entrevistas são os seguintes: 80% eram favoráveis às Florestas Nacionais (Flonas), 17% não tinham opiniãoclara, e 3% eram contra.

Page 38: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

25

venir a competição regulatória. Ou seja, pre-venir que os Estados e municípios estabele-çam uma competição para atrair a indústriamadeireira predatória e a pecuária extensiva,a fim de obter o �boom�, apesar dainevitabilidade a longo prazo do �colapso�.A prevenção da competição regulatória deveassegurar a aplicação de regulamentos quegarantam práticas sustentáveis. O governo fe-deral deve evitar que Estados e municípiosusem regras tênues de monitoração e contro-le para atrair investimentos transitórios e não-

sustentáveis.O papel do governo federal de preve-

nir a competição regulatória é interesse detodos. Pois, ao insistir que os interesses delongo prazo sejam considerados, o governofederal fortalece a autoridade da comunida-de. Os madeireiros responsáveis são protegi-dos da competição injusta praticada por ma-deireiros que exploram madeira ilegalmente.A legalidade também garante uma maior con-tribuição tributária dessas empresas para a re-ceita pública.

Page 39: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

26

A estabilização do setor madeireiro re-quererá a adoção de manejo florestal tantoem áreas privadas como em áreas públicas. Oesgotamento das florestas privadas em anti-gos pólos madeireiros (Sinop, Paragominas,Ji-Paraná) tem impulsionado a migração deserrarias para as terras devolutas no oeste doPará e sudeste do Amazonas. Nessas regiões,o governo pode evitar o modelo predatóriode uso dos recursos florestais e a privatizaçãode terras públicas. A alternativa mais promis-sora é a criação de Florestas Nacionais(Flonas).

As Florestas Nacionais, Estaduais ouMunicipais são Unidades de Conservação deUso Sustentável, cuja finalidade é produzir bens(madeira e produtos não-madeireiros) e servi-ços ambientais. O governo pode manejar dire-tamente essas florestas ou conceder, tempora-riamente, o direito de uso para empresas pri-vadas ou de economia mista (Veríssimo et al.,2000). Em particular, a exploração dessas flo-restas deveria ser certificada de acordo compadrões internacionalmente reconhecidos, talcomo o FSC (Forest Stewardship Council).

Nas florestas privadas, o governo deveassegurar a adoção do manejo florestal. Amonitoração de indicadores de bom desem-penho do manejo deve ser desenvolvida e pos-ta em prática. Se o sistema de monitoraçãonão é federal, a União deve periodicamenteavaliar a integridade do sistema estadual oulocal. Para incentivar o manejo florestal, é im-

O PAPEL DAS FLORESTAS NACIONAIS

portante que haja um imposto sobre a madei-ra oriunda de autorização de desmatamento,cuja soma equivalha à diferença de custo en-tre a madeira manejada e a não-manejada.Assim, elimina-se a competição injusta damadeira de origem predatória.

Florestas Nacionais

As Florestas Nacionais e Estaduais re-presentam uma parcela modesta, 83 mil km2,ou 1,6% do território regional. Essa área se-ria suficiente para abastecer de forma susten-tável apenas cerca de 10% da demanda atualpor madeira em tora da região. Para suprir deforma sustentável essa demanda, o governoprecisaria destinar aproximadamente 700 milkm2, ou 14% da Amazônia, para a criação deFlonas.10

Veríssimo et al. (2000) desenvolveramum método para identificar áreas com poten-cial para a criação de Flonas. A seguir, os prin-cipais critérios utilizados nesse estudo.

Ausência de uso competitivo. Para re-duzir os possíveis conflitos de uso do solo, asnovas Flonas devem ser estabelecidas nas áre-as que possuem usos competitivos mínimos,evitando áreas de ocupação agrícola e terrasprotegidas.

As áreas protegidas representam apro-ximadamente 1,4 milhão de km2, ou 28% daAmazônia, dos quais 1 milhão são terras in-

10 Esta seção está baseada no documento do MMA: Identificação de Áreas com Potencial para Criação de Florestas Nacionais(Flonas) na Amazônia Legal (Veríssimo et al., 2000). Os dados e metodologia são descritos em maiores detalhes nesse documento.

Page 40: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

27

dígenas (Veríssimo et al., 2000). As áreas deantropismo foram identificadas por focos decalor, assentamentos de reforma agrária doIncra e sede dos municípios. A sobreposiçãodesses mapas revela que aproxidamente 9%das áreas florestadas e não protegidas possu-em ocupação humana expressiva (Figura 10).

humana; e iv) está dentro do raio de acessibi-lidade econômica da indústria madeireira.

Biodiversidade. Para proteger as áreasde alta importância biológica é necessário cri-ar um mosaico de Unidades de Conservaçãocombinando Flonas (uso sustentável) comParques e Reservas Biológicas (proteção in-

Figura 10.Ocupação na florestaamazônica.

Potencial econômico. A Figura 11mostra os resultados da análise do potencialflorestal (mapa de vegetação) e acessibilida-de econômica. O resultado é uma área de 1,15milhão de km2 (23% da Amazônia) que pode-ria ser destinada ao manejo florestal, a qualcombina as seguintes características: i) não éprotegida; ii) possui cobertura florestal de va-lor comercial; iii) apresenta baixa ocupação

tegral). Nesse sistema, as Flonas formariamuma zona tampão ao redor dos Parques eReservas. Dessa forma, podem proteger asáreas de conservação contra a invasão e pro-piciar corredores para migração de espéciesde uma área para outra. A fim de explorar opotencial para a criação desse mosaico de usodo solo, combinamos o mapa de áreas compotencial para Flonas (Figura 11) com o mapa

Page 41: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

28

Figura 11.Áreas potenciais paraFlonas (Veríssimo etal., 2000).

de áreas prioritárias para conservação dabiodiversidade (Figura 12) (ISA et al., 1999).A sobreposição desses mapas revela que 38%da Amazônia (462 mil km2) possui alta priori-dade para conservação da biodiversidade, bemcomo importância para a criação de Flonas(Figura 13).

Esta análise destaca o alto potencial decomplementaridade entre uma política base-

ada em uso sustentável da floresta e conser-vação da biodiversidade. Ela mostra que, semcompetição significativa para o uso do solo,seria possível criar aproximadamente 700 milkm2 de Flonas (aproximadamente 14% daAmazônia); uma área suficiente para suprir deforma sustentável a demanda atual por ma-deira amazônica.

Page 42: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

29

Figura 12.Áreas prioritárias paraconservação dabiodiversividade(ISA et al., 1999).

Figura 13.Sobreposição de áreaspotenciais para Flonas ebiodiversidade naAmazônia.(Veríssimo et al., 2000).

Page 43: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

30

Este relatório propõe uma política dedesenvolvimento na Amazônia baseada nomanejo florestal. A implementação dessa po-lítica requerer estudos adicionais (econômi-cos, gerenciais, jurídicos, sociais e biológicos)e realização e documentação de experiênciaspiloto. A seguir, esboçamos algumas questõesimportantes a serem consideradas para o fu-turo da Amazônia.

Aprender as lições do zoneamento. Otema �zoneamento do uso do solo na Ama-zônia� está uma vez mais surgindo no debatepolítico regional. A discussão recente no Con-gresso sobre a revisão da Medida Provisóriarelativa à porcentagem da reserva legal temestabelecido as bases do zoneamento. Entre-tanto, a discussão futura não será uma meraargumentação sobre a porcentagem de reser-va legal nas propriedades individuais. Ao con-trário, será uma discussão sobre zoneamentono contexto local e regional e exigirá uma aná-lise profunda das questões físicas, econômi-cas e sociais que são tópicos deste estudo. Ogoverno deve estar preparado para participarde maneira pró-ativa nesta discussão emergen-te. Felizmente, o Plano Plurianual do gover-no reservou R$ 300 milhões para que o Mi-nistério do Meio Ambiente promova ozoneamento nos próximos três anos. Esta po-lítica inclui experimentos de zoneamento nonível estadual, realizados com o apoio do Ban-co Mundial em Rondônia, Mato Grosso eTocantins, bem como o zoneamento para re-giões prioritárias em cada Estado da Amazô-nia (no Acre, em todo o Estado) realizado sobo Programa Piloto para Preservação da Flo-resta Tropical Brasileira.

Eliminar a abundância. Migração,abandono e �garimpagem� dos recursos na-turais são formas extremas de uso extensivo,estimuladas pela abundância de terra e seu bai-xo preço conseqüente. A decisão de abando-nar a terra ao invés de manejá-la através detécnicas agrícolas e silviculturais sustentáveisé guiada pelo custo relativo de compra da ter-ra e seu manejo. Políticas que reduzem artifi-cialmente a disponibilidade de terra (porexemplo, zoneamento, criação de Flonas) oca-sionarão a intensificação do seu uso.

Separar as fronteiras de exploraçãomadeireira e agrícola. Historicamente, asfronteiras de exploração madeireira e agríco-la evoluíram de um modo mutuamente bené-fico. Em geral, os fazendeiros vendem árvo-res a fim de financiar o desmatamento paraagricultura. Para os madeireiros, comprar ma-deira oriunda de áreas de conversão é maisfácil e barato do que obtê-la através de pla-nos de manejo.

Os madeireiros, por sua vez, abrem es-tradas de acesso para agricultura e oferecemtransporte. Eles freqüentemente estão envol-vidos em abertura de estradas como parte deinteresses políticos locais. O estabelecimen-to de Flonas (em especial, nas áreas úmidas),o qual efetivamente separa a fronteira agríco-la da atividade madeireira, teria dois possíveisefeitos. Primeiro, a redução das florestas dis-poníveis para uso agrícola e, portanto, do sis-tema predatório de exploração madeireira ba-seado em autorização de desmatamento. Se-gundo, a redução do subsídio natural para fu-turos desmatamentos através da criação de umimposto sobre a madeira de origem predató-ria.

QUESTÕES CRUCIAIS PARA O FUTURO DA AMAZÔNIA

Page 44: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

31

Entender a agropecuária. Apro-ximadamente 80% das terras agrícolas naAmazônia são usadas para pecuária ou estãosem uso por mais de quatro anos. Cerca de40% do pasto atualmente utilizado tem umalotação de menos de 0,5 animal por hectare,com uma média de 0,3 (Chomitz & Thomas,no prelo). Nossos cálculos indicam que umafazenda usando tecnologia típica recebe umaTaxa Interna de Retorno (TIR) sobre o in-vestimento de menos de 4%. Sob as hipóte-ses mais otimistas em relação à tecnologiaagropecuária, calculamos a TIR em 14%.

A conversão de floresta em pasto, alémde gerar poucos benefícios privados e soci-ais concentra as terras da Amazônia nas mãosde poucas pessoas. Algumas hipóteses podemexplicar o investimento em uma atividade compouco retorno, a saber: i) especulação de ter-ra baseada no aumento potencial de preços(geralmente por causa da expectativa de cons-trução de uma estrada); ii) comportamentoinfluenciado por impostos relacionados a lu-cros obtidos em outras atividades; e iii) apli-cação de recursos oriundos de atividades eco-nômicas ilegais como tráfico de drogas ecorrupção.

Page 45: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

32

CONCLUSÃO

O desempenho da agricultura na Ama-zônia é fortemente determinado pelos pa-drões de pluviosidade; a experiência com aagricultura na Amazônia está baseada princi-palmente no desenvolvimento de áreas rela-tivamente secas. As evidências sugerem queo desempenho da agricultura nos trópicosúmidos seria ainda pior do que o desempe-nho marginal observado até agora na Ama-zônia seca e de transição.

Na floresta úmida, a exploração flores-tal sustentável poderia oferecer mais empregos,comunidades mais estáveis e melhor retorno doinvestimento em infra-estrutura do que aagropecuária.

Se as forças de mercado atuarem livre-mente na região, a exploração madeireira pre-datória associada à pecuária extensiva predo-minará. Nesse caso, a economia dos municí-pios da Amazônia tende a seguir o ciclo �boom-colapso� econômico. Ou seja, nos primeirosanos ocorre um rápido crescimento (boom) se-guido de um severo declínio em renda e em-prego (colapso).

O modelo de exploração madeireira pre-datório tem ocasionado o esgotamento dosrecursos florestais nos pólos madeireiros maisantigos. Em resposta, as empresas estão mi-grando de forma desordenada para as novasfronteiras como Novo Progresso (Pará) e

Apuí-Nova Aripuanã (Amazonas). Nessas re-giões, o governo pode evitar a repetição dociclo predatório e a privatização (�grilagem�)de terras devolutas. A alternativa mais pro-missora é a criação de uma rede de FlorestasNacionais (Flonas). Essas florestas públicasseriam parte de um mosaico de áreas protegi-das incluindo as Unidades de Proteção Inte-gral (Parques e Reservas). Um estudo recente(Veríssimo et al., 2000) revela que há pelo me-nos 700 mil km2 de florestas (14%) com po-tencial para a criação de Flonas na Amazônia.Essa área seria suficiente para atender demaneira sustentável a demanda atual do setormadeireiro da região.

O uso sustentável dos recursos naturaisresultaria em maiores benefícios (emprego erenda) no longo prazo. Porém, no curto pra-zo, os benefícios financeiros e políticos da ex-ploração predatória tendem a ser maiores. Por-tanto, é necessário que o governo assuma aresponsabilidade de garantir o desenvolvi-mento sustentável. O governo deve estabili-zar a economia local através de instrumentosecônomicos, estratégicos e de comando e con-trole. Esses instrumentos incluem aumentoda rentabilidade do manejo, aplicação de umimposto sobre a madeira de origem predató-ria, criação de Flonas e aperfeiçoamento dosistema de monitoração e controle.

Page 46: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barreto, P. & Arima, E. (2000). As Florestas Nacio-nais na Amazônia: uma consulta a empresáriosmadeireiros e a atores afins à política florestal.Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Or-ganização das Nações Unidas para Agricul-tura e Alimentação (FAO).

Chomitz, K. & Thomas, T. (in press). GeographicPatterns of Land Research Use and Land Intensityin the Brazilian Amazon. Washington D.C.:World Bank.

Cochrane, T. & Sanchez, P. 1982. Land resources,soil and their management in the Amazonregion: a state of knowledge report. In S.Hecht (ed.) Amazon: Agriculture and Land Use.Cali, Colômbia, CIAT. pp. 137-209.

De Almeida, Ozorio A. L. 1992. Deforestationand turnover in Amazon colonization.Discussion Paper. Washington, D.C.: The WorldBank.

Dean, W. 1989. A Luta pela Borracha no Brasil: umestudo de história ecológica. São Paulo: Nobel.286 p.

Embrapa-Cpatu. 1999. Seminário Sobre ProduçãoIntensiva de Soja e Outros Grãos na Ama-zônia: potencialidades e limitaçõestecnológicas e ambientais. Belém, 15-16 de-zembro.

FAO/UNDP/MARA. 1992. Principais IndicadoresSocioeconômicos dos Assentamentos de ReformaAgrária. FAO/PNUD - Ministério da Agri-cultura e Reforma Agrária. Projeto BRA-87/022.

Gallup, J. L. & Sachs, J. D. 2000. Agriculture,climate, and technology: why are the tropicsfalling behind? American Journal ofAgricultural Economics 82: 731-737.

Goodland, R. J. & Irwin, H. S. 1975. Amazon Jungle:green hell to red desert? New York: Elsevien.155 p.

Hecht, S.; Norgaard, R. & Posio, G. 1988. Theeconomics of cattle ranching in the easternAmazon. Interciencia 13: 233-240.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). 1996. Censo Agropecuário 1995-1996. Rio de Janeiro.

Instituto Socioambiental (ISA); Instituto do Ho-mem e Meio Ambiente da Amazônia(Imazon); Instituto de Pesquisa Ambientalda Amazônia (Ipam), Instituto Sociedade,População e Natureza (ISPN), Grupo deTrabalho Amazônico (GTA) e ConservationInternational. 1999. Seminário Consulta deMacapá 99: avaliação e identificação de açõesprioritárias para a conservação, utilizaçãosustentável e repartição dos benefícios dabiodiversidade na Amazônia.

Jones, D. W. et al. 1992. Farming in Rondônia. OakRidge National Laboratory for the USDepartment of Energy and Department ofUrban and Regional Planning. Blacksburg:Virginia Polytechnic Institute and StateUniversity.

Mattos, M. & Uhl, C. 1994. Economics andecological perspectives on ranching in theeastern Amazon in the 1990s. WorldDevelopment 22 (2): 145-158.

Page 47: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

34

Moran, E .T. 1981. Developing the Amazon .Bloomington: Indiana University Press.292 p.

Moran, E. T. 1989. Adaptation and maladaptationin newly settlet areas. In D. A. Schumannand W. L. Partridge (eds.) The Human Ecologyof Tropical Land Settlement in Latin America.Boulder, Colorado: Westview Press.

National Research Council. 1993. SustainableAgriculture and the Environment in the HumidTropics. Washington, D.C.: National AcademyPress. 702 p.

Projeto Radam Brasil. 1973-1978. Levantamento deRecursos Naturais. Ministério das Minas eEnergia. Departamento Nacional de Produ-ção Mineral.

Schneider, R. 1994. Government and the economyon the Amazon frontier. World BankEnvironment Paper Number 11, Washington,D.C. 65 p.

Schubart, H. 1999. Biodiversidade e território naAmazônia. In III Congresso Sul-Americano deAlternativas de Desenvolvimento Resgatando aAmazônia: uma nova história. Manaus.

Smith, N. 1982. Rainforest Corridors: the transamazoncolonization scheme. University of CaliforniaPress. 248 p.

Sombroek, W. (unpublished). Annual rainfall anddry-season strength in the Amazon regionan their environmental consequences.

Toniolo, A. & Uhl, C. 1994. Economic andecological perspective on agriculture in theeastern Amazon. World Development 23: 959-973.

Uhl, C.; Barreto, P.; Veríssimo, A.; Barros, A. C.;Amaral, P.; Gerwing, J.; Johns, J. & Vidal,E. 1997. An integrated research approachto address natural resource problems in theBrazilian Amazon. Bioscience 47 (3): 160-168.

Veríssimo, A.; Souza Jr., C.; Salomão, R. & Barreto,P. 2000. Identificação de Áreas com Potencial paraa Criação de Florestas Públicas de Produção naAmazônia Legal. Ministério do Meio Ambi-ente (MMA), Organização das Nações Uni-das para a Agricultura e Alimentação (FAO).35 p.

Veríssimo, A.; Souza Jr., C. & Lima, E. (inédito).Bases para o zoneamento da atividade ma-deireira na Amazônia Legal. Imazon.

Page 48: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

ANEXOS

Page 49: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural
Page 50: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

37

Anexo I

Métodos Utilizados na Análise Econômica daAtividade Madeireira e Pecuária

Dividimos os métodos em três partes. Inicialmente, explicamos o procedimento para amodelagem da exploração madeireira predatória e manejada. Em seguida, descrevemos os valo-res e coeficientes técnicos utilizados nos cálculos da receita bruta da pecuária. Finalmente, apre-sentamos o cálculo dos empregos gerados e as análises financeiras da pecuária e exploraçãomadeireira.

Modelagem da Exploração Madeireira

Utilizamos na simulação uma área de aproximadamente 10.000 km2 ( 1 milhão de hectares)(Figura 1). Essa área é cortada por uma rodovia e por duas estradas secundárias à direita. O pólode processamento madeireiro está localizado no centro da área. Consideramos que toda a área écoberta por florestas nativas intactas no tempo inicial (t=0).

Figura 1.Área utilizada na simulação da exploração madeireira.

Estrada

Floresta

Page 51: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

38

[2]

[3]

A. Exploração madeireira predatória

A simulação da exploração madeireira predatória foi baseada no conceito de �ondas deextração� de acordo com os trabalhos de Stone (1998) e Schneider et al. (inédito). Os madeirei-ros de um único pólo maximizam o lucro explorando árvores com o mais alto lucro líquido(subtraído o custo de transporte). O lucro líquido (π) da extração do grupo de espécies k loca-lizada na célula i pode ser descrito como:

( )[ ]ikkkiki CtStCeCpPX −−−−= φπ ,, [1]

onde:X

i,k é o volume de madeira do grupo de espécies k extraído na célula

φ é o fator de conversão de madeira serrada para madeira em tora (0,35)P

k é o preço da madeira serrada (US$/m3 serrado)

Cp é o custo variável de processamento (US$/m3 serrado)Ce é o custo variável de extração (US$/m3 em tora)St

k é o valor da madeira em pé (US$/m3 em tora)

Cti é o custo de transporte da célula i até o pólo de processamento (US$/m3 em tora/km).

O objetivo da indústria é, portanto, maximizar a soma dos lucros, considerando uma res-trição na capacidade de processamento:

∑∑

∑∑

≤i k

ttki

i ktki

YX

quetal

Max

,,

,,π

3

0

000.207.1,

)1(,

mYe

rYYonde

MAX

tt

=

+=

onde tY é a capacidade de processamento do pólo no tempo t. A capacidade deprocessamento varia no tempo. Nesse exercício, consideramos a capacidade inicial de processamento

0Y de 190 mil m3 de tora/ano, crescendo a uma taxa r de 0,26 ao ano [valor observado emParagominas por Veríssimo et al. (1992) e utilizado por Stone (1998) como taxa máxima de cresci-mento]. Essa capacidade cresce até o limite de 1,2 milhão de m3

de tora/ano (metade do valor

encontrado no pólo de Paragominas)1 . Agrupamos as espécies em três classes de valor: alto,médio e baixo.

1 A área da simulação é correspondente à metade da área do município de Paragominas, o mais importante pólo madeireiro daAmazônia.

Page 52: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

39

Os cálculos de otimização foram feitos utilizando simultaneamente o Sistema de Infor-mação Geográfica ArcView e uma planilha eletrônica do Excel, como descrito por Stone (1998).

Modelamos os custos de transporte utilizando o algoritmo cost grow do ArcView. As fric-ções foram definidas de acordo com trabalhos de Veríssimo et al. (1992; 1995; 1998; inédito) eStone (1998). Os parâmetros utilizados tanto no cálculo dos custos de transporte como nocálculo da lucratividade são apresentados na Tabela 1.

No caso da exploração predatória, sem manejo, assumimos que os madeireiros transpor-tam apenas 84% do volume de madeira extraída para o pátio e serrarias. De acordo com Barretoet al. (1998), o volume restante (16%) é simplesmente esquecido na mata ou perdido por imperí-cia no corte das árvores.

A receita bruta no ano t , de acordo com [1] e [2] é

ki k

kiki PXRB ∑∑= ,, φ , onde Xi,k

otimiza a equação [2].

B. Exploração madeireira manejada

A legislação atual que regula o manejo florestal não permite que haja �ondas de extração�.Uma vez que uma determinada área é explorada, ela não pode sofrer uma nova exploração antes queo ciclo de corte estimado em 30 anos se complete. O problema a ser maximizado pode ser

Tabela 1. Parâmetros utilizados na modelagem da exploração madeireira.

Fonte: Veríssimo et al., 1992; 1995; inédito.

Parâmetro

Preço da madeira serrada de alto valor (US$/m3)Preço da madeira serrada de médio valor (US$/m3)Preço da madeira serrada de baixo valor (US$/m3)

Preço da madeira em pé � alto valor (US$/m3)Preço da madeira em pé � médio valor (US$/m3)Preço da madeira em pé � baixo valor (US$/m3)

Custo variável médio de extração (US$/m3)Custo variável médio de processamento (US$/m3)

Custo de transporte � estrada asfaltada (US$/km)Custo de transporte � mata fechada (US$/km)Custo de transporte � mata explorada (US$/km)

Volume de madeira de alto valor (m3/ha)Volume de madeira de médio valor (m3/ha)Volume de madeira de baixo valor (m3/ha)

Valores

280,00 239,00 158,00

9,38 5,21 3,75

7,59 24,58

0,10 2,00 1,30

3,5017,50

14,00

Page 53: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

40

descrito da mesma forma como na equação [2]. Existem duas diferenças cruciais. Primeira, osignificado do subscrito k muda. O problema agora é escolher as células que oferecem o maiorlucro possível. Para cada célula existem três opções:

k=1 extrair as espécies dos três grupos (alto, médio e baixo valor) simultaneamentek=2 extrair as espécies dos grupos de alto e médio valork=3 extrair apenas as espécies do grupo de alto valor

A segunda diferença está no crescimento da capacidade de processamento do pólo. O cresci-mento do pólo foi limitado para que o volume total economicamente viável fosse extraído (Ytotal)ao longo dos trinta anos de acordo com a equação [5]. A Figura 2 mostra a capacidade deprocessamento durante os trinta anos.

YtotalXi

tkik t

tki =

>∑∑∑ 0| ,,,, π [4]

Crescimento da capacidade de processamento. Calculamos a taxa de crescimento (r) doprocessamento de tal forma que:

26,0

)30()1(0

0

=−++∑=

r

YtotalYTrY T

T

t

t

[5]

Figura 2.Evolução na capacidade de processamento do pólo madeireiro sob manejo florestal.

-

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Anos desde o início da colonização

Volu

me

proc

essa

do p

or a

no (

em 1

00 m

il m

3 )

Page 54: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

41

C. Pecuária

Área em pastagem

A área em pastagem considerada para o cálculo da renda bruta era proporcional às tabulaçõesfeitas por Chomitz & Thomas (no prelo). Em regiões secas, 31,8% da área total dos estabeleci-mentos agrícolas eram pastos; na zona de transição os pastos representaram 10,1%; e na zonaúmida essa proporção era de 1,8%. Nas áreas úmidas com boa infra-estrutura e acesso ao merca-do (Região Bragantina, Pará) esse valor subia para 13% (Tabela 2).

Figura 3.Evolução da área em pastagem nas zonas de chuva.

Consideramos que o plantio das pastagens ocorria logo após a exploração de madeira demédio valor (entre os anos 4 e 22). A cada período, uma área proporcional à porcentagem depastagem em cada região era convertida após a exploração madeireira. Desse modo, ao final dovigésimo segundo ano, a área em pastagem na região seca correspondia a 31,8% da área total. Omesmo procedimento foi adotado para calcular a área em pastagem nas zonas de transição eúmida (Figura 3).

Tabela 2. Pastagem plantada por zonas de chuva e lotação média dos pastos.

Zonas de Chuva

Seca

De transição

Úmida

Úmida � (boa infra-estrutura)

% de pastos

na área total

31,82

10,10

1,82

13,00

Lotação média dos pastos

(animal/ha)

0,67

0,67

0,40

0,67

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31

Anos desde o início da colonização

Áre

a em

pas

to (

Km

2 )

Seca

De Transição

Úmida

Úmida (boa infra-estrutura)

Page 55: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

42

ργ r

ttr MAP =,

t = 4�22

onde,AP

r,t = área convertida em pastagem no ano t na região r

Mt = área explorada de madeira de médio valor no ano t

γr = proporção de pastagem na região r (Tabela 2)

ρ = proporção da área total explorada possuindo madeira de médio valor em todo operíodo (0,788)

O número de bovinos foi determinado da seguinte forma: para cada ano, calculamos orebanho da área em pastagem, de acordo com a soma da lotação de pasto de cada célula. Alotação dos pastos em cada célula variou de acordo com a idade da pastagem. A lotação médiadurante o período foi de 0,67 animal por hectare (Tabela 3). Por exemplo, pastos com 2 anos deidade suportavam uma lotação de dois animais por hectare e pastos com 12 anos, apenas 0,2animal por hectare. Na zona úmida, utilizamos uma lotação de pasto constante de 0,4 animal porhectare, de acordo com Chomitz & Thomas (no prelo). Após doze anos de uso, assumimos queas pastagens seriam replantadas e o ciclo começaria novamente.

Tabela 3. Lotação dos pastos.

Fonte: Hecht et al., 1988.

Lotação (animal/ha)

0,252,001,251,001,000,750,500,300,200,200,200,20

Idade do Pasto

123456789101112

Page 56: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

43

i

N

iait CLbanho ∑

=

=1

,Re

onde,Rebanho = número de animais no ano tN = número total de células em pastagens no ano tL = lotação do pasto de idade a na célula i (animais/km2)C = área da célula i (km2)t = 4�30

Após termos obtido o número total de animais em cada ano (Rebanho), simulamos a com-posição do rebanho de acordo com os índices zootécnicos descritos na Tabela 4. A simulaçãodo rebanho também fornece o número de animais vendidos. Assumimos que todo o rebanho éde cria-recria-engorda, o caso mais comum na Amazônia (Tabela 5).

Tabela 4. Índices zootécnicos.

Tabela 5. Exemplo de composição do rebanho.

3 a 4 anos 2 a 3 anos 1 a 2 anos 0 a 1 ano

Composição do rebanho: cria-recria-engorda

Touros

2.402

721

-

-

721

2.402

Vacas

60.054

-

-

1.201

9.008

49.845

machos

17.814

-

-

356

17.457

-

fêmeas

17.814

-

-

356

7.248

10.209

machos

18.177

-

-

364

-

17.814

fêmeas

18.177

-

-

364

-

17.814

Existentes

Compra

Natalidade

Mortalidade

Venda

Saldo

machos

19.337

-

-

1.160

-

18.177

fêmeas

19.337

-

-

1.160

-

18.177

machos

-

-

21.019

1.682

-

19.337

fêmeas

-

-

21.019

1.682

-

19.337

TOTAL

173.112

721

42.038

8.324

34.434

173.112

Fonte: Arima & Uhl, 1997.

Índices zootécnicos

Taxa de natalidade

Taxa de mortalidade de bezerros

Taxa de mortalidade de novilhos

Taxa de mortalidade de garrotes

Taxa (%)

70

8

3

2

Page 57: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

44

D. Empregos gerados

A exploração madeireira predatória emprega pessoas nas etapas de extração, transporte eprocessamento. São necessários 283 m3 de madeira em tora para gerar um emprego. Já a explora-ção manejada emprega pessoas também nos tratamentos silviculturais e no planejamento daextração. São necessários 258 m3 de madeira para gerar um emprego no sistema com manejo. Onúmero de empregos foi calculado utilizando coeficientes técnicos da literatura (Veríssimo et al.,1992; Barreto et al., 1998).

A pecuária gera um emprego para cada grupo de 39 animais, incluindo empregos perma-nentes e temporários. Coeficientes de emprego foram calculados com base nos trabalhos deMattos & Uhl (1994) e Arima & Uhl (1997).

E. Valor Presente Líquido

O Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR) da atividade madeirei-ra, incluindo a extração e o processamento de madeira, foram obtidos através da metodologiadescrita nos itens A e B (Tabela 7). Os valores dos equipamentos, investimentos e vida útilforam obtidos de Veríssimo et al. (1992) e Barreto et al. (1998).

Tabela 7. Taxa Interna de Retorno (TIR) e Valor Presente Líquido (VPL) da extração e processamento demadeira e pecuária.

Tabela 6. Valor de venda dos animais.

A renda bruta da pecuária foi calculada multiplicando-se os animais vendidos pelos preçosda Tabela 6.

Atividade

Extração e processamento de madeira

Pecuária (zonas secas; 31,82% da áreaem pastagem)

TIR(%)

122

4

VPL a 6%(US$)

138.615.463

-9.672.789

VPL a 10% (US$)

97.980.954

-14.733.392

Animal

Touro descarte

Vaca descarte

Boi gordo

US$/unid.

420,00

252,60

346,50

Fonte: Arima & Uhl, 1997.

Page 58: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Arima, E. & Uhl, C. 1997. Ranching in the Brazilian Amazon in a national context: economics, policy, andpractice. Society and Natural Resources 10: 433-451.

Barreto, P.; Amaral, P.; Vidal, E. & Uhl, C. 1998. Costs and benefits of forest management for timberproduction in the eastern Amazon. Forest Ecology and Management 108: 9-26.

Chomitz, K. & Thomas, T. (in press). Geographic Patterns of Land Use and Land Intensity in the BrazilianAmazon. Washington D.C.: World Bank.

Hecht, S.; Nogaard, R. & Posio, G. 1988. The economics of cattle ranching in the eastern Amazon.Interciencia 13: 233-239.

Mattos, M. & Uhl, C. 1994. Economic and ecological perspectives on ranching in the eastern Amazon.World Development 22 (2): 167-195.

Stone, S. 1998. Using a geographic information system for applied policy analysis: the case of logging inthe eastern Amazon. Ecological Economics 27: 43-61.

Schneider, R.; Veríssimo, A. & Viana, V. (unpublished). Logging and tropical forest conservation. WorldBank.

Veríssimo, A.; Barreto, P.; Mattos, M.; Tarifa, R. & Uhl, C. 1992. Logging impacts and prospects forsustainable forest management in an old Amazonian frontier: the case of Paragominas. Forest Ecologyand Management 55: 169-199.

Veríssimo, A.; Barreto, P.; Tarifa, R. & Uhl, C. 1995. Extraction of a high-value natural resource fromAmazon: the case of mahogany. Forest Ecology and Management 72: 39-60.

Veríssimo, A.; Souza Jr., C. Stone, S. & Uhl, C. 1998. Zoning of timber extraction in the Brazilian Amazon.Conservation Biology 12 (1): 1-10.

Veríssimo, A. & Lima, E. (inédito). Caracterização dos pólos madeireiros na Amazônia Legal. Imazon.

Page 59: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural
Page 60: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

47

Anexo II

Retornos Financeiros da Exploração Madeireirae Pecuária na Amazônia

O objetivo desta breve revisão da literatura é comparar os retornos financeiros da explora-ção madeireira e pecuária, apresentados neste trabalho, com outros estudos publicados sobre oassunto. A comparação torna-se difícil na medida em que os estudos assumem diferentes pers-pectivas. Por exemplo, nenhum artigo sobre retornos financeiros da exploração madeireira en-globa a fase de extração e processamento da madeira ao mesmo tempo em que considera au-mentos nos custos de transporte resultantes da escassez de madeira próximo às serrarias.

A. Atividade madeireira

Recentemente, Pearce et al. (1999) fizeram uma revisão da literatura sobre os retornosfinanceiros da exploração madeireira predatória e manejada em florestas tropicais. A Tabela 1resume esse artigo e mostra os casos em que o manejo florestal é voltado somente para a produ-ção de madeira.

Tabela 1. Revisão da literatura (Fonte: Pearce et al.,1999; Tabela 2, pp.16-18).

Estudo

Bann, 1997

Haltia and Keipi, 1997

Howard et al., 1996

Kishor and Constantino, 1993

Kumari, 1996

Mendoza and Ayemou, 1992

Richards et al., 1991

Southgate and Elgegren, 1995

País

Cambódia

Costa Rica

Bolívia

Costa Rica

Malásia

Costa do Marfim

México

Peru

VPL (US$/ha)

EP = 1,697EM = 408

Manejo florestal melhor que a pecuária

EP= 334-449EM= 204-263

EP=1292EM = 854

EP = 860-1380EM = 322-944

EM + processamento= 160

14-15% retorno anual sobre o capital,incluindo o processamento

VPL negativo

Taxa dedesconto do VPL

6%

10%

8%

10%

Obs: EP = exploração madeireira predatória; EM = exploração madeireira manejadaReferências citadas na tabela: ver Pearce et al. (1999).

Page 61: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

48

Em geral, essa revisão aponta que o manejo florestal não é competitivo quando compara-do com a exploração predatória. Em quase todos os casos, o manejo gera Valores PresentesLíquidos (VPL) positivos (taxa de desconto variando entre 5% a 20%). A única excessão é oestudo de Southgate e Elgegren (1995) no Peru, onde o VPL é negativo (Tabela 1).

Praticamente, todos os Valores Presentes Líquidos (VPL) dos sistemas convencionais sãosuperiores aos encontrados em nosso trabalho (Tabela 2). Essa diferença ocorre por causa daescala de análise. Os trabalhos citados analisam o retorno financeiro na escala da propriedade.Nosso estudo foi feito na escala do município, onde os custos de transporte têm um grandepeso nos retornos financeiros.

Somente dois artigos incorporam tanto a fase de extração como a de processamento.Mendoza e Ayemou (1992), na Costa do Marfim, observaram um VPL/ha de US$ 160, utilizan-do uma taxa de desconto de 10%. A essa mesma taxa, nosso estudo encontrou um valor deaproximadamente US$ 100/ha (Tabela 2). Richards et al. (1991), no México, observou uma taxade retorno anual sobre o capital de 14%-15%. Infelizmente, não é possível comparar esses resul-tados com o nosso estudo, pois utilizamos um horizonte de trinta anos.

Os estudos de exploração madeireira na Amazônia brasileira, em sua maioria, são do Imazon.Os estudos de Uhl et al. (1991); Veríssimo et al. (1992; 1995); Barros e Uhl (1995); e Johns et al.(1996) analisaram os retornos financeiros da extração e processamento predatórios em diferen-tes regiões da Amazônia. A escala da análise foi uma serraria típica. Em geral, as margens delucros anuais (lucro/receita bruta) eram superiores a 25%. Barros e Uhl (1995) observaram Ta-xas Internas de Retorno (TIR) de 124% para pequenas serrarias que utilizavam transporte fluvialno estuário do baixo Amazonas. Serrarias maiores de terra firme obtiam TIR de 14%-62%,extraindo madeira a 100 km das serrarias.

Almeida e Uhl (1995) utilizaram dados de Veríssimo et al. (1992) e calcularam a TIR daatividade madeireira na escala do município. A extração e processamento predatórios geravamTIR de 108%, enquanto a extração manejada e processamento geravam TIR de 103%. Conside-rando somente a etapa de extração, os retornos foram de 29% e 33% sem e com manejo, respec-tivamente. As diferenças entre os retornos obtidos em Almeida e Uhl (1995) e no presenteestudo (122% sem manejo e 71% com manejo) ocorreram principalmente porque Almeida e

Tabela 2. Valores Presentes Líquidos (VPL) por hectare.

VPL/hectare

Manejo

163,2799,6058,5436,8216,46

Exploraçãopredatória

150,41106,3272,0350,7527,53

Taxa de desconto(%/Ano)

610152030

Page 62: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

49

Uhl (1995) não incorporaram explicitamente as diferenças no custo de transporte no espaçonem e as �ondas de extração� descritas no Anexo 1.

Tabela 3. Área explorada.

Barreto et al. (1998) analisaram os custos e benefícios do manejo florestal em uma escalaexperimental (100 ha). Os autores observaram um VPL por hectare de US$ 430 utilizando umataxa de desconto de 20%. Além disso, concluíram que o manejo é mais lucrativo, quando com-parado à exploração predatória, por causa da maior eficiência no uso de maquinário e maioraproveitamento das toras.

Um outro estudo, do USDA Forest Service, conduzido recentemente por Holmes et al. (sub-metido) na região de Paragominas, observou resultados semelhantes ao trabalho de Barreto et al.(1998). Holmes et al. (submetido) compararam uma exploração manejada em escala industrial(500 ha) com o sistema predatório e observaram que o manejo é mais lucrativo (US$ 11,6/m3

versus US$ 9,84/m3, ou US$ 294/ha versus US$ 250/ha).Stone (1998) utilizou um SIG e um modelo de otimização do lucro da indústria (extração

e processamento) e projetou a exploração madeireira no Estado do Pará entre 1996 e 2006. Nocenário no qual o preço da madeira sobe 3% ao ano e a capacidade de processamento cresce ataxas de 16% ao ano, uma área de 22 milhões de hectares seria explorada durante esse período,gerando uma receita bruta de US$ 1.677 por hectare em valores presentes (taxa de desconto de5%). Em nosso estudo, o valor presente da receita bruta foi US$ 940 por hectare para o sistemapredatório e US$ 965 por hectare para o manejo, utilizando-se a mesma taxa de desconto (5%).

B. Pecuária

A literatura sobre a pecuária em terra firme na Amazônia brasileira pode ser dividida emtrês fases. Na primeira fase, na década de 60 e 70, os trabalhos tinham um enfoque agrícola ezootécnico e mostravam que a região amazônica era apropriada para a criação de gado, pois oscapins cresciam vigorosamente e os animais obtinham bons ganhos de peso (Falesi, 1976).

Os artigos da segunda fase da literatura, na década de 80, mostravam que a pecuária nãotinha um desempenho financeiro satisfatório. Hecht et al. (1988) observaram que a Taxa Interna

Classe de valorda madeira

Alta, média, baixaAlta, médiaAlta

Total

Manejo

456.400382.80059.100

898.300

Exploraçãopredatória

492.200303.600125.800

921.600

Área explorada

Page 63: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

50

de Retorno (TIR) era negativa com o uso de tecnologia tradicional. As taxas de retorno erampositivas (entre 5% e 31%) somente quando havia uma combinação de dois ou mais dos seguin-tes fatores: i) quando as fazendas recebiam incentivos fiscais e crédito subsidiado; ii) quando opreço da terra aumentava (especulação); iii) quando existia sobrepastejo no período inicial; ouiv) quando existia uma alta razão entre preços de gado/insumos. Conclusões semelhantes foramobtidas em Browder (1988) e Fearnside (1980).

Na década de 90, diversos estudos sobre pecuária foram publicados. Em geral, esses traba-lhos davam suporte às conclusões dos trabalhos das décadas anteriores, mas também demons-travam a viabilidade econômica para alguns modelos de pecuária como, por exemplo, a produ-ção de leite em pequena escala.

Mattos e Uhl (1994) analisaram fazendas em Paragominas e observaram que a pecuáriapraticada de forma extensiva gerava TIR menores que 5%. A pecuária leiteira em pequena escalagerava retornos de 12%, e a pecuária de corte em pastagens reformadas1 obtinha retornos de12%-21%.

Muchagata et al. (1999) realizaram um levantamento detalhado em 20 pequenas proprieda-des na região de Marabá (PA) durante um ano. Os autores observaram rendas anuais (líquida decustos variáveis e depreciação) negativas de R$ 39 por hectare para fazendas muito pequenas (12hectares de pasto) até valores positivos de R$ 42 por hectare para fazendas um pouco maiores(85 hectares de pasto). Essas propriedades vendiam leite e animais e, em alguns casos, alugavamos pastos.

Faminow et al. (1998) demonstraram que a predominância de pastos e gado em pequenaspropriedades deve-se ao menor risco dessa atividade quando comparada com sistemasagroflorestais. Além disso, mostrou que os riscos de variação de preços e de produção limitam aadoção de tecnologias mais intensivas. Os lucros médios por fazenda eram de R$ 6.000, bemmais altos que o PIB per capita brasileiro.

Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos de Arima & Uhl (1996). A pecuária emterra firme (sul do Estado do Pará), em sistema extensivo tradicional, gerava TIR de 3%-5%.Fazendas pequenas, especializadas em produção de leite, obtinham TIR maiores, cerca de 9%.Esses números são consistentes com um estudo feito pelo Sindicato Rural de Araguaína (TO)(Nehmi Filho, 1999). A TIR obtida foi de 5% em Redenção (sul do Pará), 7% em Araguaína(TO) e 5% em Guaporé (MT).

Em resumo, os trabalhos demonstram que a pecuária extensiva praticada pela maioria dosfazendeiros gera um retorno muito baixo. Pequenas fazendas de leite, localizadas próximo arodovias, obtêm retornos satisfatórios (~10%). Entretanto, o aumento do rebanho bovino e dapecuária extensiva de grande e pequeno porte continua sem uma justificativa econômica/finan-ceira. Várias hipóteses como, por exemplo, ganhos de capital com valorização da terra necessi-tam de verificação empírica.

1 A reforma de pasto consiste em derrubar a vegetação invasora, destocar, gradear a área, plantar capins mais adaptados e, emalgumas vezes, fertilizar.

Page 64: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, O. & Uhl, C. 1995. Developing a quantitative framework for sustainable resource use planning inthe Brazilian Amazon. World Development 23: 1745-1764.

Arima, E. & Uhl, C. 1996. Pecuária na Amazônia Oriental: desempenho atual e perspectivas futuras. SérieAmazônia N°1, Belém: Imazon.

Bann, C. 1997. An Economic Assesment of Tropical Forest Land Use Options, Ratanakiri Province,Cambodia. EEPSEA Research Report Series, Economy and Environment Program for ShouteastAsia, Singapore.

Barreto, P.; Amaral, P.; Vidal, E. & Uhl, C. 1998. Costs and benefits of forest management for timberproduction in the eastern Amazon. Forest Ecology and Management 108: 9-26.

Barros, A. & Uhl, C. 1995. Logging along the Amazon river and estuary: patterns, problems, and potential.Forest Ecology and Management 77: 87-105.

Browder, J. 1988. Public policy and deforestation in the Brazilian Amazon. In R. Repeto and M.Gillis(eds.) Public Policy and the Misuse of Forest Resources. Cambridge: Cambridge University Press.

Falesi, I. 1976. Ecossistema da pastagem cultivada na Amazônia brasileira. Boletim de Pesquisa. Embrapa-Cpatu, Belém.

Faminow, M.; Dahl, C.; Vosti, S.; Witcover, J. & Oliveira, S. 1998. Smallholder risk, cattle, and deforestationin the western Brazilian Amazon. Paper presented at FAO Expert Consultancy on Policies foranimal production and natural resource management. Brasília, May.

Fearnside, P. M. 1980. The effects of cattle pasture on soil fertility in the Brazilian Amazon: consequencesfor beef production sustainability. Tropical Ecology 21: 125-137.

Haltia, O. & Keipi, K. 1997. Financy Forest Investiments in Latin America: the issue of incentives. EnvironmentDivision, Inter-American Development Bank, Washington D.C.

Hecht, S.; Norgaard, R. & Posio, E. 1988. The economics of cattle ranching in the eastern Amazon.Interciencia 13: 233-240.

Holmes, T.P.; Blate, J.; Zweede, C. J.; Pereira Jr., R.; Barreto, P. & Bauch, R.(submitted).Financial andecological indicators of reduced impact logging performance in the eastern Amazon. Forest Ecologyand Management.

Howard, A.; Rice, R. & Gullison, R. 1996. Simulated financial returns and selected environmental impactsfrom four alternative silvicultural prescriptions applied to the neo-tropics: a case study of the ChimanesForest, Bolivia. Forest Ecology and Management 89: 43-57.

Page 65: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

52

Johns, J.; Barreto, P. & Uhl, C. 1996. Logging damage in planned and unplanned logging operations and itsimplications for sustainable timber production in the eastern Amazon. Forest Ecology and Management89: 59-77.

Kishor, J. & Constantino, L. 1993. Forest Management and Competing Land Uses: an economic analysisfor Costa Rica. Laten Dissemination Note, World Bank, Washington D.C.

Kumari, K. 1996. Sustainable forest management: myth or reality? Exploring the prospects for Malasya.Ambio 25 (7): 459-467.

Mattos, M. & Uhl, C. 1994. Economic and ecological perspectives on ranching in the eastern Amazon inthe 1990s. World Development 22: 145-158.

Mendonza, G. & Ayemou, A. 1992. Analysis of some forest management strategies in Cote d´Ivore: aregional case study. Forest Ecology and Management 47: 149-174.

Muchagata, M.; Rendeiro, W. & Machado, R. 1999. Sustentabilidade da Atividade Pecuária. Relatório doEncontro entre Agricultores e Pesquisadores. ODG/DEV, Norwich � UK, março.

Nehmi Filho, V. A.1999. Relação terra/gado define o preço da propriedade. Informativo Rural, Ano V, N°38, Sindicato Rural de Araguaína.

Pearce, D.; Putz, F. & Vanclay, J. 1999. A sustainable forest future. CSERCE Working Paper GEC 99-15.

Richards, E.M. 1991. The forest ejidos of southeast Mexico: a case study of community based sustainedyield management. Commonwealth Forestry Review 70 (4): 20-311.

Southgate, D. & Elgegren, J. 1995. Development of tropical timber resources by local communities: a casestudy from the Peruvian Amazon. Commonwealth Forestry Review 74 (2): 142-146.

Stone, S.1998. Evolution of timber industry along an aging frontier: the case of Paragominas (1990-95).World Development 26 (3): 433-448.

Uhl, C.; Veríssimo, A.; Mattos, A.; Brandino, Z. & Vieira, I. 1991. Social, economic, and ecologicalconsequences of logging in the Amazon frontier the case of Tailândia. Forest Ecology and Management46: 243-273.

Veríssimo, A.; Barreto, P.; Mattos, M.; Tarifa, R.& Uhl, C. 1992. Logging impacts and prospects forsustainable forest management in an old Amazon frontier: the case of Paragominas. Forest Ecologyand Management 55: 169-199.

Veríssimo, A.; Barreto, P.; Tarifa, R.& Uhl, C. 1995. Extraction of a high-value natural resource fromAmazon: the case of mahogany. Forest Ecology and Management 72: 39-60.

Page 66: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

53

Anexo III

Cálculo dos valores de compensação de carbonoe taxa sob a exploração madeireira predatória

Este anexo explica como foram obtidos os valores de compensação pelo carbono e dosimpostos necessários para equiparar os rendimentos entre a exploração madeireira predatória emanejada.

A. Análise do rendimento bruto

A Tabela 1 mostra os Valores Presentes Brutos (VPB) sem compensação pelo carbono oucobrança de taxas.

O cálculo dos valores de compensação pelo carbono são simples. Assumimos que os paga-mentos pelo carbono adicional retido no sistema sob manejo era feito no ano t=0, segundo aequação [1]. Descontaram-se no tempo apenas os valores dos benefícios (renda bruta). Os valo-res obtidos estão descritos nas Tabelas 2a e 2b.

CPr

Bm

r

Bt

tt

t

tt

t ++

=+ ∑∑

==

30

1

23

0 )1()1( [1]

onde,Bt = rendimento bruto do sistema predatório (extração+processamento+pecuária)Bm = rendimento bruto do manejo (extração+processamento)CP = pagamento pelo carbonor = taxa de desconto

Tabela 1. Valor Presente Bruto (VPB) na situação atual: zona úmida (1,83% em pasto, sem pagamentos pelocarbono e sem impostos) e áreas de transição.

Obs: sob a taxa de desconto de 4,92%, a sociedade seria indiferente entre o VPB da exploração predatória + pecuária (áreasúmidas) e do manejo. Sob a taxa de desconto de 3,86%, a sociedade seria indiferente entre o VPB da exploração predatória+pecuária (áreas de transição) e do manejo.

Exploração predatória +pecuária (úmida)

Exploração predatória+pecuária (de transição)

Manejo

VPB a 10% (US$)

525.713.391

539.133.403

463.900.558

VPB a 4,92% (US$)

876.524.943

876.524.943

VPB a 3,86% (US$)

1.021.434.609

1.021.434.609

Page 67: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

54

Parâmetro Exploração predatória Exploração manejada

TIR 122% 71%VPL a 10% 97.980.955 89.468.031

B. Análise privada � compensação pelo carbono

A análise para o setor privado foi semelhante ao cálculo acima. A diferença está no uso dosvalores líquidos {equação [2]}. Os valores atuais sem compensação estão descritos na Tabela 3 eos valores da compensação de carbono, na Tabela 4.

CPr

CmBm

r

CtBt

tt

tt

tt

tt ++−

=+− ∑∑

==

30

1

23

0 )1()1( [2]

Bt, Ct = custos e benefícios da extração + processamento predatóriosBm, Cm = custos e benefícios do manejoCP = pagamento pelo carbonor = taxa de desconto

Tabela 3. Desempenho econômico da exploração predatória e manejada.

Tabela 2a. Valor dos pagamentos pelo carbono para equiparar o VPB do sistema predatório (zona úmida) edo manejo, sob diferentes taxas de desconto.

Tabela 2b. Valor dos pagamentos pelo carbono para equiparar o VPB do sistema predatório (zona de transição)e do manejo, sob diferentes taxas de desconto.

Taxa de desconto VPB (US$) Valor dos créditos Preço do carbonode carbono (US$/ton)

10 525.713.391 114.384.172 8,6715 343.775.327 111.823.577 8,4820 239.838.181 96.709.188 7,33

Obs: assumindo pagamentos pelo carbono ao ano t0.

Taxa de desconto VPB (US$) Valor dos créditos Preço do carbonode carbono (US$/ton)

10 539.133.403 129.146.186 4,0515 350.650.557 119.730.092 3,7620 243.686.326 101.326.961 3,18

Obs: assumindo pagamentos pelo carbono no ano t0.

Page 68: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

55

C. Análise privada - impostos

Calculamos a taxa π cobrada sobre a exploração convencional necessária para equiparar osretornos financeiros em relação ao manejo florestal {equação [3]}.

∑∑== +

−=

+−× 30

0

23

0 )1()1(

)(

tt

tt

tt

tt

r

CmBm

r

CtBt π[3]

ondeπ < 1 é a taxa cobrada

O valor da taxa por metro cúbico de madeira explorada ( __

X ) foi obtido dividindo-se o

valor total da taxa pelo volume total explorado (Tabela 5).

Vol

XX

XBtt

t

=

=−×∑=

__

23

0

)1( π

[4]

onde,

=__

X valor do imposto (US$/m3)

Vol = volume total extraído (m3 de tora)

Tabela 4. Valor dos pagamentos pelo carbono a fim de equiparar os VPL sob diferentes taxas de desconto.

Obs: assumindo pagamentos pelo carbono no ano t0.

VPL (US$) Valor dos créditos Preço do carbonode carbono (US$/ton)

Equiparar TIR (122%) ------------- 1.749.196 0,19VPL a 10% 97.980.955 18.311.019 2,01VPL a 15% 66.384.009 23.750.838 2,61VPL a 20% 46.773.192 23.049.966 2,54

Page 69: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

56

D. Emissão de carbono

A quantidade adicional de carbono liberada entre a exploração predatória e manejo (∆Ci,m

)foi obtida segundo [5]. As quantidades de carbono liberadas em cada nível de exploração (C

i e

Cm) estão descritas na Tabela 6.

∑∑==

−=∆3

1

3

1 mmm

iiiim NCNCC [5]

ondeC

i = quantidade de carbono liberada sob exploração predatória no nível de extração i (ton/

ha)C

m = quantidade de carbono liberada sob manejo no nível de extração m (ton/ha)

N = area extraída no nível i,m (ha)

Tabela 6. Emissão de carbono por hectare.

Tabela 5. Valor dos impostos sobre a madeira de origem predatória a fim de equiparar o VPL sob diferentestaxas de descontos.

VPL (US$) Valor do impostoa (US$/m3)

Equiparar TIR (71%) ��- 6,20VPL a 10% 89.468.031 1,03VPL a 15% 52.590.772 2,41VPL a 20% 33.077.864 3,30

a Valor de uma taxa fixa por metro cúbico de tora.

Fonte: Gerwing,J.; Salomão, R. & Uhl, C. Land cover and carbon density maps for the Brazilian Legal Amazon. Imazon,manuscrito preparado para o projeto Globay Overlay do Banco Mundial.a Assumindo-se que o manejo reduz a emissão de carbono proporcionalmente em um alto nível de intensidade (17/31=0,548).

Carbono emitido (ton/ha)

Nível de extração Exploração predatória Manejo

Altoa 4 2,19Alto e médio a 13 7,13Alto, médio, baixo 31 17,00Pasto 240,1 �-

Page 70: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural

57

A exploração madeireira predatória libera cerca de 9 milhões de toneladas adicionais decarbono quando comparada à exploração manejada (Tabela 7). Os pastos liberam cerca de 4milhões de toneladas de carbono adicionais em apenas 1,83% da área total, quando comparadosà quantidade de carbono liberada no manejo florestal na mesma área. Em áreas de transição(10,1% de pasto), essa diferença atinge 22,7 milhões de toneladas.

Tabela 7. Emissão de carbono em cada atividade.

Atividade Toneladas de carbono emitidas Adicionalidade

(base=exploração manejada)

Exploração manejada 10.617.432 �-

Exploração predatória 19.708.200 9.090.768

Pasto � áreas úmidas (1,83% da área total) 4.407.698 4.095.616

Pasto � áreas de transição (10,1% da area total) 24.495.026 22.760.684

Page 71: Amazônia Sustentável: limitantes e oportunidades para o desenvolvimento rural