tratamentos para laminite equina: uma revisão...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
BRENDA VENTURA LOPES CARVALHO
TRATAMENTO PARA LAMINITE EQUINA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
BELÉM 2019
BRENDA VENTURA LOPES CARVALHO
TRATAMENTO PARA LAMINITE EQUINA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Monografia apresentada ao Curso de
Medicina Veterinária da Universidade
Federal Rural da Amazônia como
requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Medicina Veterinária.
Área de concentração:
Clínica Veterinária
Orientador:
Prof. Dr. Rinaldo Batista Viana
BELÉM 2019
Brenda Ventura Lopes Carvalho
TRATAMENTO PARA LAMINITE EQUINA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Monografia apresentada ao Curso de
Medicina Veterinária da Universidade
Federal Rural da Amazônia como
requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Medicina Veterinária.
_____________________
Data da aprovação
_______________________________________
Prof. Dr. Rinaldo Batista Viana
Orientador/Presidente da Banca Examinadora
Instituto da Saúde e Produção Animal
Universidade Federal Rural da Amazônia
_______________________________________
Prof. Dr. Bruno Moura Monteiro
Membro Titular da Banca Examinadora Universidade Federal Rural da Amazônia
Campus Paragominas
_______________________________________
MV. MSc. Rodrigo dos Santos Albuquerque
Membro Titular da Banca Examinadora Universidade da Amazônia
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
4
Carvalho, Brenda Ventura Lopes
Tratamento para Laminite Equina: uma revisão sistemática / Brenda Ventura Lopes Carvalho. – Belém, 2019.
27 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina
Veterinária) – Universidade Federal Rural da Amazônia, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Rinaldo Batista Viana.
1. Laminite Equína. 2. Equinos – Tratamento Terapêutico.
3.
Laminite – Possibilidades Terapêuticas. 4.Equinos -
Casqueamento. 5.
Equinos - Ferrageamento. I. Viana, Rinaldo Batista (orient.) II.
Título.
CDD – 636.1089671
AGRADECIMENTOS
À energia que rege o mundo e todas as coisas, por guiar meus passos e minhas escolhas,
por manter-me no caminho do bem e do correto, por me dar forças para continuar apesar das
adversidades.
Ao meu pai e meu avô, Edvaldo e Expedito, por terem me levado desde tão pequena a
amar a vida no campo, na fazenda, por jamais terem ousado me dizer “isso não é para
meninas” e sempre se orgulhado de quem eu escolhi ser.
À minha mãe, Keila, por ter me ensinado a importância do estudo e de imprimir esforço e
dedicação em tudo o que se faz, a senhora sempre será meu maior exemplo de perseverança e
garra.
A toda minha família, por sempre apoiar minhas decisões e torcer pelo meu sucesso;
nenhuma distância importa para mim pois, onde quer que eu vá, sei que carrego comigo a
torcida e o amor de todos vocês.
Ao meu orientador, Prof. Rinaldo, pelos conselhos, por insistir em mim e acreditar no meu
potencial desde aquela entrevista de seleção do PETVet, e por ter sido meu guia nas decisões
acadêmicas desde então. Sem a sua liderança e sua ajuda eu não chegaria até aqui tão
realizada, muito obrigada.
À dupla dinâmica, Marina e Sandy, pois mesmo escolhendo outra área da Veterinária,
jamais me deixaram na mão nos momentos de dúvida e desespero. Disse e continuo dizendo:
metade do meu diploma é de vocês duas. Obrigada por todo amor que fazer parte desse trio
me proporcionou.
Aos melhores amigos e companheiros de trabalho que a UFRA poderia me dar, Anderson,
Brunna, Carol, Douglas, Elisa, Jimmy, Louise, Luís, Luise e Raysa. Por todas as aulas que
assistimos amando ou odiando juntos, por cada piada e cada risada nos momentos mais
aleatórios, pelas madrugadas de estudo em grupo e desespero coletivo. Por terem se tornado
minha família durante os anos que passamos juntos, por termos nos mantido assim durante a
separação do estágio e para que continuem sendo sempre parte do que eu sou.
Aos membros do PETVet/Gaia, pela parceria de trabalho, pela amizade e
companheirismo em todas as missões a nós confiadas, por me ensinarem como trabalhar em
equipe pode ser difícil e feliz ao mesmo tempo.
Por último, mas não menos importante, à Isabella. Por estar comigo em cada momento, por ser
quem é e, assim, jamais me deixar esquecer quem eu sou. Obrigada por tudo, linda.
SUMÁRIO
RESUMO ....................................................................................................................... 7
ABSTRACT ................................................................................................................... 8
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
2 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 11
3 RESULTADOS ......................................................................................................... 13
4 DISCUSSÃO ............................................................................................................ 15
4.1 Utilização de Anti-inflamatórios em Equinos com Laminite .................................. 15
4.2 Agentes vasoativos, para controle da dor e inflamação (anestésicos,
analgésicos, sedativos e anticoagulantes) ................................................................. 20
4.3 Crioterapia ............................................................................................................. 21
4.4 Toxina Botulínica ................................................................................................... 22
4.5 Homeopatia ........................................................................................................... 22
4.6 Tratamentos cirúrgicos .......................................................................................... 23
4.7 Terapias de suporte .............................................................................................. 24
5 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 26
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 27
RESUMO
Laminite é a inflamação das lâminas sensíveis do casco, uma afecção perivascular
periférica, que pode levar a processos isquêmicos, necrose, rotação da falange
distal e perda de função do membro acometido. O desconhecimento acerca da
etiopatogenia e dos tratamentos disponíveis e recomendados, torna difícil a conduta
médica frente a escolha do tratamento mais adequado para cada animal acometido.
Deste modo, objetiva-se com essa revisão sistemática sintetizar evidências
científicas relevantes acerca do tratamento preconizado para laminite equina nos
últimos vinte anos. A população elegida foi a espécie equina e a intervenção foi os
tratamentos recomendados para casos de laminite. Utilizou-se a base de dados
ScienceDirect, usando-se os seguintes termos: equine OR horse AND laminitis AND
treatment OR therapy OR therapeutic. Dos 3.099 artigos coligidos, restaram 897
após a remoção de duplicatas. Foram incluídos nesta pesquisa somente os
resultados classificados como Research Articles e Review Articles, publicados entre
os anos de 1999 a 2019. A primeira seleção consistiu na exclusão de estudos cujo
título, palavras-chave ou abstract não contivessem os termos da pesquisa ou não
respondessem à pergunta científica, resultando em 37 artigos. Após a leitura
completa destes artigos triados, foram escolhidos 13 resultados a serem incluídos e
discutidos nesta revisão. O tratamento farmacológico aparece como destaque nas
recomendações terapêuticas dos autores coligidos, especialmente o uso dos anti-
inflamatórios não-esteroidais (61,54% das preconizações), seguido das estratégias
de manejo dos cascos, como casqueamento e ferrageamento terapêuticos (53,84%).
Além disso a crioterapia e a tenotomia do tendão flexor digital profundo também
foram recomendadas pelos autores (30,77%). A laminite nos equinos é uma doença
descrita há mais de um século, todavia o tratamento não tem sido uma pauta muito
discutida na atualidade ou no passado recente. Apesar disso, percebe-se uma gama
de possibilidades terapêuticas disponíveis, destacando-se que os anti-inflamatórios
ainda são a principal recomendação para tratamento dos equinos com laminites,
seguida dos tratamentos de suporte como casqueamento e ferrageamento.
Palavras-chave: Equino. Laminite. Tratamento. Revisão sistemática.
ABSTRACT
Laminitis is the inflammation of the hoof sensitive laminae, a peripheral perivascular
disorder, which can lead to ischemic processes, necrosis, distal phalanx rotation and
loss of function in the affected limb. Lack of knowledge about the etiopathogenesis
and the available and recommended treatments makes it difficult to choose the most
appropriate treatment for each affected animal. Thus, this systematic review aims to
synthesize relevant scientific evidence about the recommended treatment for equine
laminitis in the last twenty years. The chosen population was the equine species and
intervention was the recommended treatments for cases of laminitis. ScienceDirect
database was used, with the following search terms: equine OR horse AND laminitis
AND treatment OR therapy OR therapeutic. Of the 3,099 articles collected, 897
remained after duplicates removal. Only results classified as Research Articles and
Review Articles published between 1999 and 2019 were included in this study. The
first selection consisted in excluding studies whose title, keywords or abstract did not
contain the research terms or did not respond to the scientific question, resulting in
37 articles. After the complete reading of these articles, 13 results were elected to be
included and discussed in this review. Pharmacological treatment appears as a
highlight in the therapeutic recommendations of the authors, especially the use of
non-steroidal anti-inflammatory drugs (61.54% of the recommendations), followed by
hoof management strategies such as therapeutic trimming and shoeing (53.84%). In
addition, the authors (30.77%) also recommend cryotherapy and tenotomy of the
digital flexor tendon. Laminitis in horses is a disease described more than a century
ago, but its treatment has not been currently discussed, or in the recent past. Despite
this, a range of therapeutic possibilities is available, emphasizing that anti-
inflammatory drugs are still the main recommendation for treatment of horses with
laminitis, followed by support treatments such as trimming and shoeing.
Keywords: Equine. Laminitis. Treatment. Systematic review.
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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1 INTRODUÇÃO
Laminite, em sua definição mais simples, é a inflamação das lâminas sensíveis
do casco (FERREIRA, 2008). Mas, mais do que isso, é uma afecção perivascular
periférica, que afeta em especial a vascularização dos membros, podendo levar a
processos isquêmicos e até necrose e, nos casos crônicos, rotação da falange distal
e perda de função do membro acometido (THOMASSIAN et al., 2000; POLLITT,
2004; BUSCH, 2009).
Esta condição tem sido reconhecida há anos como uma das principais causas
de claudicação em equinos (PATTERSON-KANE; KARIKOSKI; MCGOWAN, 2018),
apesar de ser uma enfermidade de ocorrência esporádica, mas que pode acometer
diversos animais em um mesmo local, pois muito tem a ver com as condições de
criação e manejo (THOMASSIAN et al., 2000; VERONEZI et al., 2008).
Hoje em dia, a laminite é classificada como uma síndrome, com diversas
alterações sistêmicas (PATTERSON-KANE; KARIKOSKI; MCGOWAN, 2018) sendo
enfermidade de origem multifatorial, em que as principais teorias sobre sua etiologia
incluem: vascular, traumática, enzimática e por privação de glicose (WYLIE et al.,
2011). Quatro estádios podem ser identificados no desenvolvimento da laminite: 1)
prodrômico (ou de desenvolvimento), quando ocorre o contato inicial com o agente
etiológico; 2) agudo, quando aparecem os sinais iniciais de desconforto no membro;
3) subagudo, ao instituir tratamento que seja capaz de amenizar a claudicação e; 4)
crônico, quando não houve sucesso no controle do processo e já ocorreu
agravamento da afecção vascular (PARKS; O’GRADY, 2003; BUSCH, 2009)
O principal sinal clínico é a dor, seguida da relutância em apoiar o membro
acometido e elevação das frequências cardíaca e respiratória e da pulsação da
artéria digital (FERREIRA, 2008). O tratamento geralmente é instituído a partir da
fase aguda, quando o animal começa a apresentar claudicação e, tendo em vista
que objetiva reduzir a dor e minimizar os danos secundários às lâminas do casco
bem como corrigir os distúrbios hemodinâmicos, deve ser instituído o mais
precocemente possível (THOMASSIAN et al., 2000; BUSCH, 2009).
Os tratamentos são recomendados de acordo com a fase em que se encontra
a doença (LASKOSKI et al., 2016); embora controvérsias ainda existam, é essencial
que o tratamento também seja dirigido à causa primária dos distúrbios que podem
ter levado ao quadro de laminite, e não apenas à claudicação ou inflamação em si
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(O’GRADY, 2011). O desconhecimento acerca da etiopatogenia e dos tratamentos
atuais disponíveis, por parte dos clínicos, torna cada vez mais difícil a escolha da
terapêutica a ser instituída e faz com que a decisão frequentemente seja tomada
com base em conhecimentos empíricos (EADES; HOLM; MOORE, 2002).
Dentro da rotina médica, é cotidiano conviver com a dúvida. Ela está presente
na análise dos conhecimentos científicos e empíricos para a tomada de decisão
frente a um problema (NOBRE; BERNARDO; JATENE, 2003). A chamada Prática
Baseada em Evidência (PBE) é usada não somente na rotina clínica veterinária, mas
também no ensino da medicina (SANTOS; PIMENTA; NOBRE, 2007).
Na busca por facilitar estudos e diminuir a quantidade de divergências com as
quais se pode esbarrar durante uma pesquisa, surgiu a revisão sistemática da
literatura, cujo objetivo é compilar e triar os estudos de melhor qualidade sobre
determinado assunto, desde que se encaixem no delineamento experimental
estabelecido. Revisões sistemáticas visam identificar, selecionar, avaliar e sintetizar
a evidência científica, diferentemente das revisões narrativas; onde não há critério
para busca e seleção das evidências (GALVÃO; PEREIRA, 2014).
A elaboração de uma pergunta científica bem definida é parte determinante no
processo de encontrar a resposta à dúvida (NOBRE; BERNARDO; JATENE, 2003).
A estratégia PICO (Population, Intervention, Comparison and Outcome) é
amplamente usada para PBE e consiste em requisitos fundamentais na construção
da pergunta para a pesquisa bibliográfica (BERNARDO; NOBRE; JATENE, 2004;
SANTOS; PIMENTA; NOBRE, 2007).
Neste contexto, a aplicabilidade das revisões sistemáticas na clínica médica
aparece quando esta decisão demanda pesquisa, tendo na revisão sistemática um
compilado de toda a evidência considerada relevante sobre determinado assunto,
espera-se que o clínico disponha de um método rápido, eficiente e criterioso para
consultar informações.
Assim, a finalidade desta revisão sistemática foi identificar e sintetizar as
evidências científicas acerca do tratamento da laminite, publicadas entre os anos de
1999 a 2019, e discutir as principais terapêuticas instituídas na literatura coligida.
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2 MATERIAL E MÉTODOS
Através da estratégia PICO, a população escolhida foi a espécie equina e a
intervenção consistiu nos tratamentos recomendados para casos de laminite. A
comparação ocorreu entre a opinião dos autores acerca dos diversos tratamentos
estabelecidos ao longo dos anos e, como resultado, avaliou-se a evolução e as
mudanças nas terapêuticas recomendadas.
Após a definição da pergunta científica, a base eletrônica de dados selecionada
para a pesquisa foi a ScienceDirect. Com o objetivo de encontrar estudos que
abordassem tratamentos para casos de laminite na espécie equina, as pesquisas na
base de dados foram feitas utilizando-se os seguintes termos: equine OR horse AND
laminitis AND treatment OR therapy OR therapeutic, conforme combinações
apresentadas na Tabela 1. Somente termos em inglês foram utilizados. Foram
incluídos na pesquisa somente os resultados classificados pelo ScienceDirect como
Research Articles e Review Articles, publicados em inglês entre os anos de 1999 a
2019. Nesta revisão, não foram incluídos resultados classificados como literatura
cinza.
Tabela 1. Resultados apresentados na busca pelo ScienceDirect para cada uma das combinações
entre os termos da pesquisa
Termos da Pesquisa Research Articles
Review Articles
Total
Equine AND laminitis AND treatment 487 277 764
Equine AND laminitis AND therapy 193 215 408
Equine AND laminitis AND therapeutic 173 168 341
Horse AND laminitis AND treatment 520 291 811
Horse AND laminitis AND therapy 198 222 420
Horse AND laminitis AND therapeutic 183 172 355
Total 1.754 1.345 3.099
Todos os artigos apresentados pela base de dados foram triados. A primeira
seleção consistiu na exclusão de estudos cujo título, palavras-chave ou abstract não
contivessem os termos da pesquisa (equine ou horse; laminitis; treatment ou therapy
ou therapeutic) e informações pertinentes à pergunta científica. A segunda fase da
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triagem foi feita através da leitura dos estudos em sua forma completa, analisando a
concordância de cada um com os objetivos desta revisão e definindo quais estariam
aptos à etapa de síntese das informações. Foram escolhidos estudos cujo foco foi o
tratamento da laminite, seja de maneira experimental ou através de relatos e
revisões.
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3 RESULTADOS
A busca na base de dados produziu, somadas todas as combinações entre os
termos de pesquisa 3.099 artigos (Figura 1). Após a busca com as diferentes
palavras-chave e operadores booleanos, verificou-se que muitos artigos apareciam
em mais de uma das combinações realizadas e, para remover as duplicatas e
chegar ao número real de artigos triados, foi utilizado o gerenciador de referências
Mendeley©, encontrando o número de 897 artigos coligidos pela base de dados
através das diferentes estratégias de buscas. Feita a pesquisa, iniciou-se a primeira
triagem dos resultados, onde somente foram acessados aqueles que contivessem
os termos da pesquisa em título, palavras-chave e/ou abstract e informações
pertinentes à pergunta científica. Nessa etapa foram selecionados 37 resultados,
sendo 20 do tipo Research Article e 17 do tipo Review Article.
Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão sistemática sobre
tratamentos para laminites nos anos de 1999 a 2019.
A elegibilidade dos estudos para esta revisão foi determinada a partir do
acesso ao conteúdo completo e leitura cuidadosa de cada um deles. Por fim,
Estudos identificados a partir de buscas na
base de dados 3.099
Artigos restantes após remoção de duplicatas
897
Artigos elegíveis por leitura de título,
palavras-chave e abstract
37
Artigos excluídos após leitura completa
24
Artigos incluídos na revisão
13
Critérios de elegibilidade e exclusão: Somente foram incluídos Research Articles e Review Articles,
Artigos publicados em inglês entre os anos de 1999 a 2019.
Nesta revisão, não foram incluídos resultados classificados como literatura cinza (tese, dissertações, abstracts e short communication).
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restaram sete Research Articles e seis Review Articles a serem analisados e
sistematizados para inclusão nos resultados e posterior discussão (Tabela 2).
Tabela 2. Artigos selecionados para discussão após todas as etapas de triagem.
Ano Título Autores Categoria
1999 The pharmacologic basis for the treatment of developmental and acute laminitis
BRUMBAUGH, G.W.; LÓPEZ, H.S.; SEPÚLVEDA, M.L.H.
Research
1999 Pharmacologic and alternative therapies for the horse with chronic laminitis
LÓPEZ, H.S.; SEPÚLVEDA, M.L.H.; BRUMBAUGH, G.W.
Research
1999 Treatment of acute laminitis PARKS, A.H.; BALCH, O.K.; COLLIER, M.A.
Research
2003 Chronic laminitis: current treatment strategies
PARKS, A.; O’GRADY, S.E. Review
2008 COX inhibitors: making the best choice for the laminitic case
DIVERS, T.J. Research
2008 Evidence-based treatment for laminitis – what works?
MOORE, R.M. Research
2009 A novel approach to the treatment and prevention of laminitis: botulinum toxin type a for the treatment of laminitis
CARTER, D.W.; RENFROE, J.B. Research
2010 The pharmacologic basis for the treatment of developmental and acute laminitis
BELKNAP, J.K. Review
2010 Neuropathic pain management in chronic laminitis
DRIESSEN, B.; BAUQUIER, S.H., ZARUCCO, L.
Review
2010 The use of the wooden shoe (steward clog) in treating laminitis
STEWARD, M.L. Review
2010 Acute laminitis: medical and supportive therapy
VAN EPS, A.W. Review
2011 Long-term prognosis using deep digital flexor tenotomy and realignment shoeing for treatment of chronic laminitis
MORRISON, S. Research
2012 Treating laminitis - Beyond the mechanics of trimming and shoeing
BAKER JR, W.R. Review
Os artigos selecionados para síntese dos dados e discussão consistiram de
estudos que abordaram um ou mais tratamentos para laminite; na forma de
experimentos, relatos de experiência ou revisões de literatura. Publicações que
abordavam a laminite de diversas maneiras, mas não apresentavam o tratamento
como foco, foram desclassificadas durante a triagem.
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4 DISCUSSÃO
Esta revisão não pretendeu explicar ou discutir a farmacologia ou mecanismo
de ação dos tratamentos abordados, o objetivo foi tão somente apresentá-los
conforme as recomendações dos autores (Tabela 3). Além disso, foram adicionados
somente os tratamentos descritos e recomendados pelas literaturas coligidas, não
sendo levados em consideração tratamentos citados como “não-recomendado” ou
“informação insuficiente acerca do assunto”. Os tratamentos para as enfermidades
primárias (tais como endotoxemia, cólica, distocia, fraturas, entre outras) que podem
levar ao desenvolvimento da laminite de forma secundária também não foram
abordados.
4.1 Utilização de Anti-inflamatórios em Equinos com Laminite
Dos trabalhos coligidos, cerca de 61,54% (8/13) mencionaram a utilização de
anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) no tratamento de cavalos acometidos por
laminite (Tabela 3). Os principais fármacos recomendados foram fenilbutazona (4,4
mg kg-1), flunixin meglumine (1,1 mg kg-1), cetoprofeno (2,2 mg kg-1) e meloxicam
(0,6 mg kg-1).
O emprego dos AINEs no tratamento da laminite é, certamente, uma das mais
antigas alternativas utilizadas pelos clínicos veterinários ao redor do mundo,
podendo muitas vezes ser erroneamente aplicada, pela popularização excessiva que
sofreu. Os anti-inflamatórios são utilizados, principalmente, para o combate da dor
de origem central e decorrente da inflamação, sendo sua ação analgésica não
imediata (BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999; LÓPEZ; SEPÚLVEDA;
BRUMBAUGH, 1999; MOORE, 2008; BAKER JR, 2012).
O tratamento instituído depende da experiência do clínico e do caso em
questão, alguns animais adaptam-se bem a tratamentos diários enquanto outros
precisam da medicação duas vezes ao dia, podendo também a dose necessária
variar para cada indivíduo. Isso depende da base farmacológica escolhida.
Fenilbutazona, por exemplo, apresenta respostas rápidas em animais com laminite
aguda, enquanto nos animais em estado crônico são necessários aproximadamente
três dias para visualizar os efeitos do fármaco (BRUMBAUGH; LÓPEZ;
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
16
SEPÚLVEDA, 1999; LÓPEZ; SEPÚLVEDA; BRUMBAUGH, 1999; DRIESSEN;
BAUQUIER; ZARUCCO, 2010).
O uso de dois ou mais anti-inflamatórios não-esteroidais em associação não é
justificável, tampouco recomendável, tendo em vista que a abundância de efeitos
adversos superaria os benefícios de tal associação (LÓPEZ; SEPÚLVEDA;
BRUMBAUGH, 1999). Deste modo, a escolha da base a ser utilizada pode não ser
tão simples quanto se espera. O nível de dor e inflamação a ser combatida são os
principais fatores a serem levados em consideração (DIVERS, 2008).
Fenilbutazona e flunixin meglumine são, sabidamente, os AINEs mais
comumente utilizados para tratamento das laminites. A fenilbutazona seria o melhor
fármaco para modulação da dor provocada pela laminite, enquanto o flunixin
meglumine tem nas inflamações advindas de endotoxemias a sua melhor
aplicabilidade (BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999; DIVERS, 2008;
BELKNAP, 2010; DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO, 2010; VAN EPS, 2010).
Um fármaco seguro para uso em animais que apresentem lesões hepáticas,
renais e/ou gastrointestinais, ou estejam em risco de desenvolvê-las, é o
cetoprofeno, por ser considerado pouco tóxico (DIVERS, 2008; BELKNAP, 2010).
Entretanto, há controvérsias quanto à eficácia analgésica deste medicamento,
Divers (2008) afirmou que o cetoprofeno pode ser comparado à fenilbutazona no seu
potencial analgésico enquanto Belknap (2010) o considerou um analgésico fraco e
que deve ser utilizado em doses elevadas para se alcançar o efeito esperado.
A utilização de meloxicam e firocoxib (0,1 mg kg-1) como moduladores da dor
nos casos de laminite é mais recente e constantemente colocada em cheque. Estes
fármacos são conhecidos por provocar menos efeitos adversos ao organismo
animal, entretanto, sua eficiência no controle da dor decorrente das laminites é
questionável, sendo eles recomendados apenas para casos crônicos onde o
tratamento é longo e necessita-se proteger o animal contra os efeitos adversos dos
AINEs tradicionais (BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999; DIVERS, 2008;
DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO, 2010; VAN EPS, 2010).
O DMSO (dimetilsulfóxido) está incluso na lista dos fármacos com propriedades
semelhantes aos anti-inflamatórias utilizados nos tratamentos para laminite, sendo
considerado um bom antioxidante. É utilizado no controle da dor e na redução do
edema tecidual pela atividade osmótica no plasma e indução da diurese
(BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999; MOORE, 2008; BAKER JR, 2012).
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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Tabela 3. Tratamentos descritos para laminite em equinos pelos autores coligidos no período de 1999 a 2019 (Parte 1 de 3)
Ordem Estudo, ano (referência) Tratamentos sugeridos Recomendações
1 BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999
Agentes vasoativos, sedativos, analgésicos ou anticoagulantes
Acepromazina 0,1 mg kg-1
Promazina 1 mg kg
-1
Clorpromazina 1 mg kg-1
Dimetilsulfóxido 1g kg-1
Heparina 100 UI kg-1
Anti-inflamatórios não-esteroidais Fenilbutazona 4,4 mg kg
-1
Flunixin meglumine 1,1 mg kg-1
Cetoprofeno 2,2 mg kg-1
2 LÓPEZ; SEPÚLVEDA; BRUMBAUGH, 1999
Anti-inflamatórios Fenilbutazona
Manejo alimentar Fornecer forragem de alta qualidade e limitar a ração
Homeopáticos
Arnica montana Aconitum napellus Antimonium crudum Apis mellifica Atropa belladonna Bellis perenis Calendula officinalis Papaver somniferum Pulsatilla nigricans
Acupuntura ----
3 PARKS; BALCH; COLLIER, 1999
Stall resting Manter o animal estabulado em espaço restrito e com cama alta
Suporte mecânico Casqueamento corretivo Ferraduras de elevação Ferraduras de correção de apoio
Tenotomia do TFDP ----
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Tabela 3. Tratamentos descritos para laminite em equinos pelos autores coligidos no período de 1999 a 2019 (Parte 2 de 3).
Ordem Estudo, ano (referência) Tratamentos sugeridos Recomendações
4 DIVERS, 2008 Anti-inflamatórios
Firocoxib Fenilbutazona Meloxicam Flunixin meglumine Cetoprofeno
5 MOORE, 2008 Crioterapia 48h
Agentes vasoativos Acepromazina 0,04 mg kg-1
6 CARTER; RENFROE, 2009 Toxina botulínica 25 unidades por local de aplicação
7 MORRISON, 2011 Tenotomia do TFDP ----
Suporte mecânico Ferraduras de correção do apoio
8 PARKS; O’GRADY, 2003
Suporte mecânico Casqueamento e ferrageamento corretivo
Anti-inflamatórios Fenilbutazona Flunixin meglumine Dimetilsulfóxido
Agentes vasoativos, sedativos, analgésicos, anestésicos ou
anticoagulantes Acepromazina
Tenotomia do TFDP ----
Drenagem cirúrgica de conteúdo purulento
----
Ressecção cirúrgica da parede do casco
----
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Tabela 3. Tratamentos descritos para laminite em equinos pelos autores coligidos no período de 1999 a 2019 (Parte 3 de 3).
Ordem Estudo, ano (referência) Tratamentos sugeridos Recomendações
9 BELKNAP, 2010
Vasoativos Acepromazina
Anti-inflamatórios não-esteroidais
Fenilbutazona 4,4 mg kg-1
Flunixin meglumine 1,1 mg kg-1
Cetoprofeno 2,2 mg kg-1
Anestésicos locais Lidocaína
10 DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO, 2010
Anti-inflamatórios não-esteroidais
Fenilbutazona 4,4 mg kg-1
Flunixin meglumine 1,1 mg kg-1
Cetoprofeno 2,2 mg kg-1
Meloxicam 0,6 mg kg-1
Sedativos, anestésicos e analgésicos
Morfina 0,2 mg kg-1
Butorfanol 0,4 mg kg
-1
Acepromazina 0,08 mg kg-1
Detomidina 30 mg kg
-1
Lidocaína 1,5 mg kg-1
Ketamina 800 µg kg-1
Bupivacaina/Ropivacaína 0.125 - 0.25% Xilazina 0,17 mg kg
-1
11 STEWARD, 2010 Suporte mecânico Ferrageamento corretivo Sapatos de madeira “Steward clog”
12 VAN EPS, 2010
Stall resting Manter o animal estabulado em espaço restrito e com cama alta
Sedativos Acepromazina 0,04 mg kg-1
Crioterapia ----
Manejo nutricional ----
13 BAKER JR, 2012
Anti-inflamatórios AINEs DMSO
Vasodilatadores Acepromazina
Crioterapia ----
Suporte mecânico Casqueamento e ferrageamento corretivo
Tenotomia do TFDP ----
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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4.2 Agentes vasoativos, para controle da dor e inflamação (anestésicos,
analgésicos, sedativos e anticoagulantes)
Dos trabalhos compilados 30,77% (4/13) mencionaram o uso de agentes
vasoativos, anestésicos, analgésicos, sedativos ou anticoagulantes no tratamento da
laminite em equinos, sendo os agentes mais recomendados o cloridrato de
lidocaína, maleato de acepromazina e ketamina (Tabela 3).
O uso da Lidocaína por via intravenosa, em bolus (1,5 mg kg-1) seguida de
infusão contínua (0,05 mg kg-1 por minuto) demostrou-se eficiente na modulação da
dor em pacientes com dores crônicas e não responsivas aos AINEs; enquanto o uso
dos opioides em suas doses tradicionais (morfina 0,1 mg kg-1 e butorfanol 0,01 mg
kg-1) não promoveu analgesia de maneira comprovada em equinos (BELKNAP,
2010; DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO, 2010; VAN EPS, 2010). Entretanto, a
administração de doses elevadas (Tabela 3) de opioides tem sido eficaz na
antinocicepção e analgesia, porém, devido aos efeitos adversos de
hiperexcitabilidade, precisam ser combinados com fármacos sedativos, como
acepromazina e detomidina; além disso seus efeitos deletérios à motilidade intestinal
impedem o uso prolongado em equinos (DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO,
2010).
A acepromazina (0,1 mg kg-1), além do uso supracitado, como sedativo
juntamente aos opioides, é comprovadamente capaz de aumentar o fluxo sanguíneo
no dígito equino, por um curto período, após administração intramuscular, podendo
então ser utilizada nos estádios de desenvolvimento (prodrômico) e subclínico da
laminite, na tentativa de melhor irrigar as lâminas do casco (BELKNAP, 2010).
Clorpromazina e promazina também podem ser utilizadas na tentativa de melhorar o
fluxo sanguíneo no dígito equino (BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999).
Em animais com laminite crônica dos membros posteriores e apresentando dor
intensa e contínua, a administração de analgésicos, com ou sem associação a
anestésicos, por via epidural caudal pode auxiliar na modulação da dor por longos
períodos; nestes casos pode-se utilizar morfina (0,1 mg kg-1) ou xilazina (0,17 mg kg-
1) em associação com bupivacaína (0,25%). A infusão continua de ketamina, em
doses inferiores à dose padrão (<2 mg kg-1), também pode ser utilizada
adicionalmente à outras terapias, como tentativa de controlar a dor de origem central
(DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO, 2010).
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21
O bloqueio dos nervos periféricos com anestésicos locais (bupivacaína ou
ropivacaína de 0,125 a 0,25%) através da fixação de cateteres também pode ser
uma alternativa à terapia sistêmica e promove controle eficiente da dor (DRIESSEN;
BAUQUIER; ZARUCCO, 2010), além de inibir a vasoconstrição neurogênica e
melhorar o fluxo sanguíneo do dígito (BRUMBAUGH; LÓPEZ; SEPÚLVEDA, 1999).
A utilização de inibidores de agregação plaquetária, como a heparina (100 UI
kg-1) é mais comum durante as fases de desenvolvimento da laminite, como forma
de evitar o aparecimento da enfermidade (BELKNAP, 2010). Porém, durante a fase
aguda, pode ser combinada com os demais tratamentos na tentativa de melhorar o
fluxo sanguíneo no dígito em casos de isquemias ou injúrias relacionadas à perfusão
(DRIESSEN; BAUQUIER; ZARUCCO, 2010).
4.3 Crioterapia
Cerca de 30,77% (4/13) dos estudos citaram o tratamento com gelo e água
fria para redução da temperatura nos membros de equinos acometidos por laminite.
Durante o estádio prodrômico ou de desenvolvimento, a utilização da
crioterapia pode retardar ou evitar o aparecimento da laminite, porém sua eficácia
não é comprovada para o combate da doença a partir de quadros agudos já em
curso . Entretanto, a crioterapia é eficiente na promoção de analgesia e redução da
ação enzimática na inflamação (VAN EPS, 2010; BAKER JR, 2012).
Apesar da crioterapia ter sua eficácia comprovada somente para a fase de
desenvolvimento, a técnica tem ganhado espaço entre os clínicos e sido
amplamente utilizada durante os tratamentos para laminite. Deve-se ressaltar que,
caso seja realizada, deve ser contínua por, pelo menos, sete dias e é principalmente
recomendada para casos em que o edema do membro possa atrapalhar a circulação
local no dígito, além de que, o resfriamento do membro pode ajudar a manter o
conforto do cavalo, ao limitar a intensidade da resposta inflamatória e a sensibilidade
local à dor (PARKS; BALCH; COLLIER, 1999; BAKER JR, 2012).
A crioterapia é capaz de reduzir a temperatura do casco em torno 2,8ºC e
mantê-la assim por um período de 48 horas, sendo bem tolerada pelos animais, sem
apresentar efeitos adversos nem anormalidades no casco. A perfusão sanguínea no
dígito e, consequentemente, as taxas metabólicas, mantem-se consideravelmente
baixas durante a crioterapia (MOORE, 2008).
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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4.4 Toxina Botulínica
Dentre os artigos triados, somente o estudo de Carter e Renfroe (2009)
abordou o uso da toxina botulínica (botox) como alternativa de tratamento para a
laminite. Os autores propuseram realizar a “denervação química” do tendão flexor
digital profundo através da toxina botulínica. Segundo Carter e Renfroe (2009) sete
cavalos que apresentavam graus variados de claudicação (3 – 4) acometidos por
laminite em estádios diferentes de evolução clínica (de laminite aguda a crônica com
rotação de falange) foram tratados com doses que variaram de 200 a 400 unidades
de botox diluído em solução fisiológica na proporção de 100 unidades para cada
2mL e administrado em injeções de 0,5mL por sitio de aplicação, por via
intratendínea. De todos os cavalos tratados, apenas dois não demonstraram êxito no
tratamento: o proprietário de um dos animais optou por encerrar a terapia e realizar
eutanásia, devido às intensas dores que o animal apresentava; quanto ao segundo
animal, não foi possível manter contato com o proprietário após encerrarem-se os
procedimentos. Todos os demais cavalos apresentaram remissão dos sintomas a
partir dos 60 dias de aplicação do botox, e permaneceram saudáveis até, pelo
menos, 36 meses após tratamento. De acordo com os autores, a injeção da toxina
botulínica pode ser comparada à tenotomia do TFDP, porém de efeito mais curto e
sem sequelas permanentes. Afirmaram ainda que seu experimento foi seguro e
eficaz no tratamento e prevenção das laminites, porém concordam que são
necessários mais testes para consolidar o uso da técnica de maneira ampla.
4.5 Homeopatia
O estudo de López, Sepúlveda e Brumbaugh (1999) descreveu extensamente
terapias alternativas que podem ser utilizadas para o tratamento da laminite; a opção
por este tipo de tratamento acontece principalmente devido ao insucesso das
terapias tradicionais. Neste caso, a utilização de ervas e plantas medicinais é uma
das principais escolhas, amparada pelos conhecimentos da etnomedicina
veterinária. Aconitum napellus e Atropa belladonna apresentam ação anti-
inflamatória, assim como Bellis perenis, que apresenta, além dessa propriedade,
também a capacidade de reduzir hematomas; a Arnica montana tem esse mesmo
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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potencial, além de reduzir a dor local. O extrato de Apis mellifica é mais um
homeopático utilizado para tratamento da dor e inflamação. Além desses, o
Antimonium crudum é utilizado como analgésico nas dores agudas, além de
estimular o crescimento do casco de maneira organizada e saudável, sem
deformidades. Já o óleo de calêndula (Calendula officinalis) tem propriedades
cicatrizantes e antissépticas, podendo ser utilizado em laminites com características
infecciosas ou que apresentam lesões. A Pulsatilla nigricans, que tem características
antioxidantes, também auxilia na drenagem dos fluidos inflamatórios. O ópio, extrato
de Papaver somniferum, pode ser utilizado para estimular o fluxo sanguíneo na
região do casco.
4.6 Tratamentos cirúrgicos
Dentre os tratamentos cirúrgicos, a tenotomia do tendão flexor digital profundo
(TFDP) é recomendada por 30,77% (3/8) dos estudos aqui discutidos e a ressecção
cirúrgica parcial da muralha do casco para descompressão e/ou drenagem
recomendada por por 15,38% (2/13) dos autores.
A secção do TFDP é indicada quando a cronicidade do processo levou à
rotação da falange distal, quando ocorrem deformidades flexurais decorrentes da
lesão ou quando a dor nas laminites crônicas não é mais controlável
farmacologicamente. As taxas de sucesso da cirurgia são altas, o procedimento
resulta em benefício imediato, entretanto, há riscos de lesão articular provocada pelo
desprendimento do osso navicular após a secção do tendão (PARKS; BALCH;
COLLIER, 1999; PARKS; O’GRADY, 2003).
A escolha dos casos para efetuar a tenotomia do TFDP deve ser criteriosa,
levando-se em consideração o estádio no qual o animal se encontra, não se
esquecendo da terapia de suporte como casqueamento e ferrageamento corretivo,
fisioterapia e realização de exercícios controlados, imprescindíveis no tratamento
pós-cirúrgico para auxiliar na recuperação do animal (MORRISON, 2011).
A ressecção cirúrgica parcial da muralha do casco pode ser utilizada como
técnica para o alívio da pressão lamelar por acumulo de líquido inflamatório; em
adição, este procedimento é benéfico à circulação e estimula o crescimento
saudável dos tecidos (BAKER JR, 2012). No caso das laminites infecciosas, a
drenagem cirúrgica pode ser uma saída para, além de aliviar a pressão interna do
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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casco, remover material purulento e necrótico; porém, a recomendação é que este
procedimento seja realizado somente quando há certeza da presença de conteúdo
purulento; de outra maneira, poderá servir como porta aberta à entrada de agentes
contaminantes. A utilização da drenagem para alívio da pressão em associação ao
ferrageamento corretivo é eficaz de tal maneira que pode corrigir até mesmo o
processo infeccioso, por melhorar a circulação local (PARKS; O’GRADY, 2003).
4.7 Terapias de suporte
Sete dos 13 estudos (53,84%) incluíram em sua lista de tratamentos para
casos de laminite, as terapias de suporte, sendo o casqueamento e ferrageamento
corretivo os principais métodos citados (Tabela 3).
Diversas podem ser as etiologias das laminites e, portanto, as terapias de
suporte podem variar com o caso clínico. A terapia de suporte tem como objetivo
promover conforto e bem-estar ao animal de maneira que o reparo natural das
lâminas do casco seja possível com o mínimo de perturbação, além de prevenir
danos secundários às estruturas do dígito (PARKS; BALCH; COLLIER, 1999;
PARKS; O’GRADY, 2003; STEWARD, 2010; BAKER JR, 2012).
Em laminites induzidas pela sobrecarga de carboidratos, o fornecimento de
rações e outros alimentos ricos em açúcar deve ser interrompido ou estritamente
controlado, concomitantemente devem ser oferecidos alimentos ricos em fibras de
boa qualidade e água. Caso o animal não beba água como esperado, deve ser feita
a reposição através de sonda nasogástrica ou, em caso de desidratação grave, por
via parenteral (VAN EPS, 2010).
Para animais que atingiram o estádio crônico da laminite, a terapia inicial pode
ser a continuidade daquela instituída na fase aguda, porém outras medidas devem
ser tomadas visando limitar injúrias futuras às estruturas do casco, controlar a dor e
dar suporte ao organismo na tentativa de renovar a região lesada (PARKS;
O’GRADY, 2003).
A sustentação do peso corporal é uma função que não pode ser
completamente retirada dos cascos, desta maneira, é necessária a limitação do
espaço destinado ao animal (stall resting) portador de laminite para impedir a
movimentação desnecessária, além da utilização de material tenro ou almofadado,
macio, para forrar o piso das baias. (PARKS; BALCH; COLLIER, 1999; VAN EPS,
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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2010). Associado a isso, o cuidado com os cascos é também uma medida protetiva
contra lesões futuras; o casqueamento e ferrageamento terapêutico tem a
capacidade não apenas de modificar a estrutura mas também de prevenir futuras
injúrias, controlar a dor e estimular o crescimento saudável do casco (BAKER JR,
2012; PARKS; O’GRADY, 2003).
A utilização de ferraduras comercialmente disponíveis para ferrageamento
corretivo pode ser eficaz, mas, algumas vezes, é preferível utilizar ferraduras
artesanalmente feitas para cada animal, conforme suas necessidades. O objetivo do
procedimento é oferecer suporte mecânico para as áreas lesionadas e reduzir a
pressão nas áreas mais sensíveis do casco, além das forças exercidas sobre o
tendão flexor digital profundo (BAKER JR, 2012; PARKS; O’GRADY, 2003).
Outros métodos disponíveis como terapia de suporte para os animais com
laminite crônica são os “sapatos” de madeira (Steward Clog), borracha, silicone.
Estes artefatos reduzem as forças sobre as regiões lesionadas ao redistribuí-las,
estimulam o fluxo sanguíneo da região e, principalmente, estabilizam a falange
distal. Todas essas características aumentam as chances de melhora do quadro de
laminite (BAKER JR, 2012; STEWARD, 2010).
O uso das ferraduras com elevação para os cascos, especialmente após a
realização de tenotomia do TFDP, é benéfico, pois previne a hiperextensão da
articulação interfalangeana. A elevação ajuda a reduzir as forças aplicadas sobre o
TFDP e os tecidos das lâminas sensíveis (PARKS; BALCH; COLLIER, 1999;
PARKS; O’GRADY, 2003; MORRISON, 2011; BAKER JR, 2012).
O estudo de López, Sepúlveda & Brumbaugh (1999) descreveu as técnicas de
acupuntura e eletroestimulação que podem ser utilizadas em casos de laminite. Para
os autores, a aplicação da acupuntura é especialmente válida como terapia de
suporte, mas precisa ser feita por profissional especializado e pode ser de realização
dificultosa em alguns animais.
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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5 CONCLUSÕES
A laminite nos equinos é uma doença descrita há mais de um século, todavia o
tratamento não tem sido uma pauta muito discutida na atualidade ou no passado
recente. Apesar disso, percebe-se uma gama de possibilidades terapêuticas
disponíveis, destacando-se que os anti-inflamatórios ainda são a principal
recomendação para tratamento dos equinos com laminites, seguida dos tratamentos
de suporte como casqueamento e ferrageamento.
Gaia/Ufra Tratamentos para laminite equina: uma revisão sistemática
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