a importancia da odontologia na pratica clinica equina

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  • 7/30/2019 A Importancia Da Odontologia Na Pratica Clinica Equina

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    UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    A IMPORTNCIA DA ODONTOLOGIA NA PRTICA CLNICA EQUINA

    DIANA LUSA DE OLIVEIRA MOREIRA PAULO

    CONSTITUIO DO JRI ORIENTADOR

    Doutor Joo Jos Martins Afonso Dr. Lus Miguel Rolhas BandeirasDoutor Rui Jos Branquinho Bessa CO-ORIENTADOR

    Dra. Paula Alexandra Botelho Garcia Mestre Nuno Filipe Gomes Bernardes

    de Andrade Pimenta Tilley

    2010

    LISBOA

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    UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    A IMPORTNCIA DA ODONTOLOGIA NA PRTICA CLNICA EQUINA

    DIANA LUSA DE OLIVEIRA MOREIRA PAULO

    DISSERTAO DE MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINRIA

    CONSTITUIO DO JRI ORIENTADOR

    Doutor Joo Jos Martins Afonso Dr. Lus Miguel Rolhas BandeirasDoutor Rui Jos Branquinho Bessa CO-ORIENTADOR

    Dra. Paula Alexandra Botelho Garcia Mestre Nuno Filipe Gomes Bernardes

    de Andrade Pimenta Tilley

    2010LISBOA

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    DEDICATRIA

    Dedico esta dissertao minha av materna e grande amiga que me acompanhou, ajudou e

    apoiou desde sempre nos bons e maus momentos. Sei que um dos seus maiores desejos era

    ver-me terminar o curso.

    Tenho pena que j c no esteja para poder testemunhar esse momento.

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    AGRADECIMENTOS

    Terminada esta dissertao, gostaria de agradecer a todos aqueles que contriburam para a sua

    realizao, e sem os quais a mesma no teria sido possvel.

    Agradeo ao meu orientador, Dr. Lus Bandeiras, por me permitir acompanhar o dia-a-dia da

    sua prtica clnica, pela disponibilidade sempre demonstrada, pela orientao cientfica e

    aprendizagem durante o perodo de estgio, pela sua ajuda, interesse, transmisso de

    conhecimento e pela sua colaborao neste trabalho cuja realizao dificilmente teria sido

    possvel sem o seu apoio pessoal.

    Agradeo ao meu co-orientador, Dr. Nuno Bernardes, todo o tempo, dedicao, crticas,exigncia e empenho ao longo do desenvolvimento desta dissertao. Agradeo tambm a sua

    orientao na escolha do tema e pesquisa bibliogrfica para a realizao deste trabalho.

    Agradeo ao meu grande amigo Nuno Rocha pela sua ajuda na produo desta dissertao,

    por todo o seu apoio, motivao e incentivo nos momentos difceis e pela sua amizade e

    prontido prestadas ao longo da execuo deste trabalho.

    Agradeo a todos os outros amigos pelo positivismo que me transmitiram durante a realizao

    deste trabalho e por todo o carinho e apoio nos bons e nos maus momentos, eles sabem quem

    so.

    Agradeo ainda aos meus pais por todo o carinho, pacincia, compreenso, apoio e incentivo

    que me dedicaram, no s nesta fase da minha vida, mas desde sempre.

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    A importncia da odontologia equina na prtica clnica equina

    RESUMO

    A odontologia equina uma rea da prtica clnica que se encontra em ascenso.

    O domnio desta rea tem-se revelado bastante importante quando se pretende estimar a idade

    de um cavalo atravs da sua dentio. No entanto, a sua mxima importncia prende-se com a

    preveno de alteraes que eventualmente possam surgir na cavidade oral do equino e com a

    identificao e resoluo destas aquando da sua presena.

    tambm de grande importncia saber que, de entre a enorme variedade de patologias queesta cavidade pode apresentar, as alteraes que se encontram com maior frequncia so as

    malocluses dos incisivos, os padres de desgaste anormais nos pr-molares e molares, as

    complicaes devidas presena dos dentes de lobo e/ou dos dentes caninos e alteraes

    que podem surgir em qualquer tipo de dente como os diastemas, a reteno de dentesdecduos, a polidontia e a oligodontia, as fracturas dentrias, as cries, a doena periodontal e

    as fracturas maxilares e mandibulares rostrais.

    Para que a preveno, identificao e resoluo destas alteraes odontolgicas tenha xito,

    importante que o clnico se encontre familiarizado com os principais mtodos de inspeco da

    cavidade oral do equino, com os sinais mais comummente apresentados pelo animal aquando

    de alteraes odontolgicas e com os principais instrumentos e mtodos teraputicos

    utilizados para a sua resoluo.

    Nesta dissertao so abordados os quatro casos clnicos considerados mais representativos da

    variedade de alteraes odontolgicas encontradas durante o estgio curricular: uma gua com

    ondas cuja resoluo levou a posteriores complicaes, um cavalo com fractura rostral da

    mandbula, um poldro bastante afectado pela muda dos dentes e um cavalo com arcadas

    assimtricas e dentes de lobo que lhe causavam desconforto.

    Palavras-chave: Odontologia, dentes, extraco, nivelamento, equino

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    The importance of odontology in equine clinical practice.

    ABSTRACT

    Equine odontology is an ascending area in clinical practice.

    The relevance of this area has been of great importance when estimating horse's age by its

    dentition. However, its greatest potential lies in prevention, diagnostic and treatment of the

    changes which may appear in equine's oral cavity.

    The clinician should also be aware of the most important pathologies and physiologic changes

    occurring within the oral cavity. Incisive malocclusions, abnormal premolar and molar wearpatterns, wolf tooth and canine tooth associated complications, diastemata, retained deciduos

    teeth, polidontia, oligodontia, dental fractures, caries and periodontal disease, fractures of the

    rostral portion of the mandible and maxilla, are some of the most frequent odontologic

    alterations.

    The prevention, identification and treatment of these odontological alterations require good

    practice. Clinician should be familiarized with the main methods and protocols of inspection

    of the oral cavity. Professionals should also know the main signs and symptoms manifestedby the animal. Finally, he should be acquainted with the instruments and therapeutic approach

    used for their resolution.

    In this thesis the most frequent and relevant clinical cases are discussed. These cases were

    observed, followed and treated during the curricular internship and represent the most

    frequent and common odontologic changes. A mare with with wave mouth and iatrogenic

    complications. A horse with a rostral mandibular fracture. A colt affected by the growth of

    definitive teeth. A horse with shear mouth and uncomfortable woolf teeth.

    Keywords: Odontology, teeth, extraction, reduction, equine

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    NDICE GERAL

    DEDICATRIA .......................................................................................................................... iAGRADECIMENTOS ............................................................................................................... iiRESUMO .................................................................................................................................. iiiABSTRACT .............................................................................................................................. ivNDICE GERAL ........................................................................................................................ vNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................ viiNDICE DE GRFICOS ........................................................................................................ viiiNDICE DE QUADROS ........................................................................................................... ixNDICE DE ABREVIATURAS ............................................................................................... xRELATRIO DE ESTGIO ..................................................................................................... 11. INTRODUO E OBJECTIVOS ......................................................................................... 32. ESTRUTURA E ANATOMIA DENTRIA ......................................................................... 43. ESTIMATIVA DA IDADE ATRAVS DO EXAME DENTRIO ..................................... 94. ESTRUTURA DA CAVIDADE ORAL .............................................................................. 134.1 PROCESSOS ALVEOLARES .......................................................................................... 134.2 MANDBULA .................................................................................................................... 134.3 ARTICULAO TEMPOROMANDIBULAR ................................................................ 134.4 OSSOS MAXILARES ....................................................................................................... 144.5 OSSOS INCISIVOS ........................................................................................................... 154.6 SEIOS PARANASAIS ....................................................................................................... 154.7 DUCTO NASOLACRIMAL .............................................................................................. 164.8 INERVAO DENTRIA ............................................................................................... 164.9 IRRIGAO SANGUNEA .............................................................................................. 174.10 SISTEMA LINFTICO ................................................................................................... 174.11 MSCULOS DA MASTIGAO .................................................................................. 184.12 LNGUA ........................................................................................................................... 184.13 MUCOSA ORAL ............................................................................................................. 194.14 GLNDULAS SALIVARES ........................................................................................... 195. FISIOLOGIA DA MASTIGAO ..................................................................................... 206. INSPECO DENTRIA .................................................................................................. 226.1 ELABORAO DA HISTRIA PREGRESSA ............................................................... 236.2 INSPECO EXTERNA .................................................................................................. 236.3 VERIFICAO DA MOBILIDADE DA CABEA E MANDBULA ........................... 236.4 INSPECO INTERNA SEM ABRE-BOCAS ................................................................ 246.5 INSPECO INTERNA COM ABRE-BOCAS ............................................................... 257. SINAIS CLNICOS DEMOSTRADOS AQUANDO DA PRESENA DE ALTERAESDENTRIAS ........................................................................................................................... 268. MTODOS COMPLEMENTARES DE DIAGONSTICO .............................................. 289. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS ODONTOLGICOS ..................................................... 299.1 ABRE-BOCAS ................................................................................................................... 309.2 LIMAS ................................................................................................................................ 329.3 ELEVADORES DE INCISIVOS E DE DENTES DE LOBO ....................................... 339.4 ELEVADORES DE PR-MOLARES E MOLARES ....................................................... 339.5 EXTRACTORES DE DENTES DE LOBO ................................................................... 339.6 FRCEPS DE EXTRACO ........................................................................................... 349.7 FRCEPS SEPARADORES ............................................................................................. 349.8 CORTADORES ................................................................................................................. 359.9 BROCAS ............................................................................................................................ 35

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    10. PRINCIPAIS ALTERAES DA CAVIDADE ORAL DO EQUINO E RESPECTIVAABORDAGEM TERAPUTICA ............................................................................................ 3610.1 MALOCLUSES DOS INCISIVOS ............................................................................... 3710.1.1 Braquignatismo .............................................................................................................. 3710.1.2 Prognatismo ................................................................................................................... 3810.1.3 Curvaturas ventral e dorsal e mordida em diagonal ...................................................... 3810.2 PADRES DE DESGASTE ANORMAIS NOS PR-MOLARES E MOLARES ........ 3910.2.1 Rampas e ganchos ......................................................................................................... 3910.2.2 Ondas ............................................................................................................................. 4010.2.3 Degraus .......................................................................................................................... 4110.2.4 Cristas transversas exageradas....................................................................................... 4210.2.5 Pontas excessivas de esmalte e arcadas assimtricas .................................................... 4310.3 DENTES DE LOBO ..................................................................................................... 4410.4 DENTES CANINOS ........................................................................................................ 4510.5 OUTRAS ALTERAES ODONTOLGICAS ............................................................ 4610.5.1 Diastemas ...................................................................................................................... 4610.5.2 Reteno de dentes decduos ......................................................................................... 4710.5.3 Polidontia e oligodontia ................................................................................................. 4810.5.4 Fracturas dentrias ......................................................................................................... 4910.5.5 Cries ............................................................................................................................. 5010.5.6 Doena periodontal ........................................................................................................ 5210.5.7 Fracturas rostrais maxilares e mandibulares .................................................................. 5311. ANESTESIA, SEDAO E ANALGESIA ...................................................................... 5412. PRINCIPAIS ABORDAGENS TERAPUTICAS A NVEL DENTRIO ..................... 5612.1 NIVELAMENTO DENTRIO ........................................................................................ 5612.2 EXTRACO DENTRIA ............................................................................................ 5713. APRESENTAO DE CASOS CLNICOS ..................................................................... 6113.1 CASO CLNICO 1 ........................................................................................................... 6213.2 CASO CLNICO 2 ........................................................................................................... 6413.3 CASO CLNICO 3 ........................................................................................................... 6513.4 CASO CLNICO 4 ........................................................................................................... 6614. DISCUSSO ...................................................................................................................... 6815. CONCLUSO .................................................................................................................... 73BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 74

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    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1: Esquema representativo dos quatro diferentes grupos de dentes de um equino ......... 5Figura 2:Anatomia de um dente incisivo do equino .................................................................. 6Figura 3: Esquema representativo do sistema anatmico para os dentes incisivos permanentes

    .................................................................................................................................................... 8Figura 4: Esquema representativo do sistema Triadan modificado para dentes permanentes. .. 9Figura 5: Esquema representativo do movimento circular exercido pela mandbula aquando damastigao ................................................................................................................................ 22Figura 6: Inspeco interna a duas mos sem abre-bocas ........................................................ 24Figura 7: Inspeco interna a uma mo sem abre-bocas .......................................................... 25Figura 8: Inspeco interna com abre-bocas ............................................................................ 26Figura 9: 1Cabresto; 2Fonte de luz; 3Espelho oral; 4Seringa de lavagem; 5Sondaodontolgica; 6Aziar ............................................................................................................ 29Figura 10: Abre-bocas moldelo Schoupe ................................................................................. 30Figura 11: Abre-bocas modelo Bayer ....................................................................................... 31Figura 12: Abre-bocas completo .............................................................................................. 31Figura 13: 1 Diferentes tipos de limas manuais; 2 Angulaes mais comummenteutilizadas ................................................................................................................................... 33Figura 14: 1 Diversos tipos de elevadores dentrios; 2 Diversos tipos de frcepsextractores ................................................................................................................................. 34Figura 15: Frcep de separao de dentes pr-molares e molares ........................................... 35Figura 16: Diversos tipos de cortadores manuais ..................................................................... 35Figura 17: Diversos tipos de brocas ......................................................................................... 36Figura 18: Braquignatismo ....................................................................................................... 37Figura 19: Prognatismo ............................................................................................................ 38Figura 20: Curvatura ventral (1); Curvatura dorsal (2); Mordida em diagonal (3) .................. 39Figura 21: Exemplo de padres de desgaste anormais nos pr-molares e molares .................. 42Figura 22: Pontas excessivas de esmalte e consequente assimetria das arcadas ...................... 44Figura 23: Repulso dentria .................................................................................................... 59Figura 24: 1Realizao de uma bucotomia para expor a coroa de reserva de um pr-molardo lado esquerdo da arcada mandibular ; 2 Sutura da bucotomia e poro de gazeremanescente na inciso adjacente ........................................................................................... 60Figura 25: 1- Extraco do dente canino; 2 Alvolo dentrio aps extraco do dentecanino; 3Sutura do retalho gengival ..................................................................................... 61Figura 26: Cavalos com corrimento nasal purulento unilateral ................................................ 63Figura 27: Tcnica cirrgica aps fractura rostral da mandbula ............................................. 65

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    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1: Casustica geral da clnica ambulatria de equinos observada entre Outubro de2009 e Janeiro de 2010 em visitas pontuais aos distritos de Setbal e vora mas sobretudo narea da Grande Lisboa, com particular incidncia na zona de Sintra ......................................... 2Grfico 2: Alteraes odontolgicas vistas durante o perodo de estgio. ............................... 62

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    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1: Tempos de erupo aproximados dos dentes decduos e definitivos: ..................... 10Quadro 2: Idades de alterao da forma da mesa dentria dos incisivos definitivos da arcadainferior. ..................................................................................................................................... 11Quadro 3: Idades aproximadas de rasamento, aparecimento da estrela dentria, aparecimentodo ponto branco e nivelamento. ................................................................................................ 12

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    NDICE DE ABREVIATURAS

    AINE Anti-inflamatrio no esterideATM Articulao temporomandibularcm Centmetros

    IM IntramuscularIV Endovenosamg miligramasmm Milmetroskg KilogramaUV Ultravioleta

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    RELATRIO DE ESTGIO

    A presente dissertao surge na sequncia do estgio curricular realizado em clnica

    ambulatria de equinos e teve lugar entre os meses de Outubro de 2009 e Janeiro de 2010 na

    rea da Grande Lisboa, com particular incidncia na zona de Sintra sob orientao do Dr. Lus

    Bandeiras e co-orientao do Dr. Nuno Bernardes. Para alm destas regies foram ainda

    efectuadas deslocaes pontuais aos distritos de Setbal e vora.

    O facto dos sectores agrcola e pecurio de Sintra se encontrarem em declnio desde a dcada

    de 80 e esta ser j considerada uma zona semi-urbana com uma posio socioeconmica

    privilegiada, fez com que houvesse tambm um declnio na utilizao do equino como animal

    de trabalho/traco (excepo feita ao servio de transporte turstico efectuado pelos trens na

    Vila de Sintra), ou mesmo como reprodutor. Por este motivo a maioria dos cavalosobservados tem uma utilizao essencialmente desportiva ou ldica, chegando muitas vezes a

    atingir o estatuto de animal de estimao. O facto de estes animais possurem ento um

    elevado valor econmico e/ou afectivo exige uma assistncia quase permanente por parte do

    mdico veterinrio.

    Durante o referido perodo de tempo em que decorreu o estgio foram feitas 302 observaes

    clnicas, sendo muitas delas seguidas mais do que uma vez.

    Seguidamente sero apresentadas as reas clnicas com maior relevncia e o respectivogrfico elucidativo (Grfico 1):

    Profilaxia vacinal e anti-parasitria (40,40%); Ortopedia (17,22%) claudicaes devidas a: abcessos do casco, leses dos tendes

    flexores sobretudo dos membros anteriores, osteoartrite trsica, tambm designada por

    esparavo sseo, sobrecanas, que na sua maioria correspondiam a leses do ligamento inter-

    sseo ou fracturas dos ossos metacarpianos ou metatarsianos acessrios, e laminites;

    Gastroenterologia (11,92%)sndrome abdominal agudo, vulgarmente designado por

    clicas, e diarreias;

    Traumatologia (8,28%) leses abrasivas da pele sobretudo em zonas de maiorprotuberncia e outras leses provocadas por objectos inanimados ou outros equinos;

    Identificao com micro-chip e elaborao de resenho (6,29%); Odontologia (5,63%) rampas e ganchos, pontas excessivas de esmalte com

    consequente assimetria das arcadas, cristas transversas exageradas, ondas, degraus, fracturas

    rostrais da mandbula, extraco de dentes de lobo, reduo de dentes caninos, diastemas e

    outras alteraes e complicaes. Muitos dos animais observados apresentavam alteraes

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    odontolgicas concomitantes. Esta rea tem vindo a sobressair e a desenvolver-se nos ltimos

    anos devido influncia que a sade oral tem na conformao, desempenho desportivo e

    bem-estar do equino;

    Pneumologia (4,30%) doena pulmonar obstrutiva crnica e processos infecciososagudos;

    Cirurgia (2,65%)orquiectomias incluindo tambm asininos; Dermatologia (2,32%)melanomas, dermatofitose e alergias; Oftalmologia (0,99%)sobretudo leses com origem traumtica devidas a quedas ou

    embates contra objectos slidos.

    Grfico 1: Casustica geral da clnica ambulatria de equinos observada entre Outubro de2009 e Janeiro de 2010 em visitas pontuais aos distritos de Setbal e vora mas sobretudo na

    rea da Grande Lisboa, com particular incidncia na zona de Sintra

    Uma vez que o Dr. Luis Bandeiras tambm faz diariamente clnica de animais de companhia

    das 19h s 22h, para alm do acompanhamento da clnica ambulatria de equinos, foi ainda

    possvel assistir e participar em muitas das suas consultas e cirurgias nessa rea.

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    1. INTRODUO E OBJECTIVOS

    O cavalo moderno (Equus caballus) evoluiu do Hyracotherium, cujos dentes apresentavam

    pequeno desenvolvimento da coroa (sendo por isso designados braquidontes). As grandes

    alteraes climticas sofridas aquando do perodo neognico provocaram enormes mudanas

    na vegetao, tornando-se esta mais abrasiva, exigindo um maior perodo de mastigao.

    Consequentemente, comearam a surgir modificaes nos descendentes do Hyracotherium

    que se traduziram num aumento do comprimento dentrio (dentes hipsodontes) e

    prolongamento do tempo de erupo, esta que no cavalo actual dura cerca de 20 anos nos

    dentes permanentes (Gorrel, 1997).

    Assume-se que o Hyracotherium passava 3-4 horas por dia a alimentar-se, uma vez que a sua

    dieta era maioritariamente composta por plantas ricas em protenas facilmente digerveis,sobretudo folhas. O facto do actual Equus caballus selvagem se alimentar sobretudo de

    pastagem, que possui valores nutritivos bastante inferiores, justifica a necessidade de ingesto

    de uma maior quantidade de alimento para suprir os requisitos energticos, o que resulta num

    perodo de alimentao de cerca de 16 horas dirias (Kreling, 2003).

    Com a domesticao e confinamento, a dieta dos equinos sofreu drsticas alteraes uma vez

    que passou a ser essencialmente composta por alimentos concentrados em detrimento de

    forragem. O facto dos concentrados apresentarem um teor calrico elevado predispe a umadiminuio do perodo de ingesto dirio e altera significativamente o movimento

    mastigatrio, passando a mandbula a exibir movimentos mais verticais e a exercer pouca

    excurso lateral (movimentao deste osso de um lado para o outro).

    A natureza do material mastigado em consonncia com outros factores tais como a existncia

    de processos dolorosos, o tempo de mastigao e as caractersticas fsicas dos dentes ditam

    ento a intensidade e o movimento das foras exercidas entre as duas superfcies oclusais,

    conduzindo a uma maior ou menor taxa de desgaste oclusal devida ao atrito. Este fenmenopode incitar o aparecimento de alteraes dentrias que, ao progredirem so susceptveis de

    provocar danos severos nos tecidos adjacentes (ex. leses, ulceraes, doena periodontal,

    etc.).

    Estas alteraes odontolgicas tm tambm sido associadas perda de peso e diminuio do

    desempenho desportivo do animal afectado como consequncia da diminuio da ingesto de

    alimento devido s dificuldades mastigatrias (Dacre, 2006d).Com o objectivo de colmatar estas alteraes, a prtica clnica equina tem vindo a enfatizar

    cada vez mais a importncia da odontologia. Esta rea da medicina equina estuda e trata todo

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    o sistema estomatogntico do cavalo, compreendendo, para alm dos dentes e periodonto,

    diversas estruturas como a mandbula, maxila, articulaes temporo-mandibulares, msculos

    da mastigao e acessrios, glndulas salivares, pele e mucosa de revestimento destas

    estruturas, bem como elementos linfticos, vasculares e nervosos que as inervam e

    vascularizam.Uma boa prtica odontolgica requer inspeces peridicas, preferencialmente bianuais, que

    permitam um diagnstico atempado de eventuais alteraes e a preveno da evoluo destas

    sobre o estado clnico do equino (Johnson et al., 2006c) .

    Tendo em conta a importncia desta rea da medicina equina, a presente dissertao comea

    por focar a anatomia e estrutura dentria da cavidade oral do cavalo, fornecendo informaes

    acerca da fisiologia da mastigao e enfatizando a relevncia da dentio aquando da

    estimativa da idade do animal. Pretende-se tambm sensibilizar para a importncia da prticaodontolgica em equinos, explicando e analisando as melhores tcnicas de inspeco da

    cavidade oral, as principais alteraes passveis de serem encontradas e respectivos sinais

    clnicos, os mtodos de diagnstico e tratamento mais utilizados, abordando ainda como

    complemento os principais instrumentos e tecnologias utilizados na prtica corrente.

    2. ESTRUTURA E ANATOMIA DENTRIA

    semelhana dos restantes mamferos domsticos, a dentio do cavalo classificada como

    heterodonte, ou seja, composta por diversos tipos ou grupos de dentes - incisivos, caninos,

    pr-molares e molares - cada um dos quais com caractersticas e funes especficas, sendo

    que os incisivos cortam, os caninos seguram e rasgam, e os pr-molares e molares esmagam e

    trituram os alimentos (Dixon, 1999).

    Nos equinos o espao existente entre os caninos e os pr-molares presentes numa arcada,

    designa-se barra ou diastema e particularmente grande quando os caninos se encontramausentes (Silva et al., 2003, p.104), o que acontece sobretudo na fmeas .

    Nos dentes que ainda no sofreram desgaste, o local de ocluso do dente com o seu oposto da

    arcada dentria antagonista denominado de bordo oclusal, sendo que, uma vez iniciado o

    desgaste, o local adquire a designao de mesa dentria ou face oclusal (Silva et al., 2003).

    A mesa dentria dos incisivos dos cavalos apresenta (num dente virgem), uma cavidade que

    corresponde a uma invaginao do esmalte, com mais de 1centmetro (cm) de profundidade e

    que designada por cavidade dentria externa, infundbulo ou corneto (Junqueira & Carneiro,

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    1995; Silva et al., 2003). Esta cavidade est revestida por uma camada de cemento que se

    denomina germe da fava (Silva et al., 2003, p. 104).

    A face do dente voltada para o vestbulo (espao da boca compreendido entre os dentes e os

    processos alveolares dum lado e os lbios e faces do outro), designada face vestibular, labial

    ou bucal. A designao labial s utilizada para os dentes incisivos e caninos que se opemaos lbios e a bucal apenas se usa quando se pretende fazer referncia aos dentes pr-molares

    e molares que se opem s faces.

    A face interna dos dentes que contacta com a lngua denominada de face lingual, podendo

    no maxilar superior ser tambm designada por face palatina (Silva et al., 2003).

    As superfcies que contactam com os dentes vizinhos so designadas face mesial e face distal

    ou caudal, correspondendo a primeira superfcie de contacto virada para o plano mdio e a

    segunda superfcie oposta (Silva et al., 2003, p. 104).Uma vez que os equinos possuem duas denties, sendo a primeira, decdua, temporria ou de

    leite e a segunda, permanente ou definitiva, estes animais so tambm classificados como

    difiodontes (Silva et al., 2003).

    Figura 1: Esquema representativo dos quatro diferentes grupos de dentes de um equino

    Fonte: Kreling, 2003 (adaptado)

    Cada dente composto pela coroa e pela raiz, sendo a estreita zona de separao destas

    denominada colo do dente (Silva et al., 2003).

    A coroa possui uma poro exposta, denominada de coroa funcional e uma poro inclusa,

    designada por coroa de reserva (Lowder & Mueller, 1998).

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    No interior do dente encontra-se a cavidade pulpar cuja forma se assemelha a este. Na raiz

    esta cavidade termina num orifcio designado formen apical, por onde passam os vasos e os

    nervos que suprem o dente.

    Os principais componentes dentrios so o esmalte e a dentina, que constituem os

    componentes mineralizados do dente, e a polpa, que corresponde ao componente nomineralizado. A maior parte do dente constituda por dentina e encontra-se sob o esmalte,

    este que forma uma fina camada sobre a superfcie dentria (Junqueira & Carneiro, 1995;

    Silva et al., 2003).

    A polpa, tecido conjuntivo inervado e altamente vascularizado que constitui a estrutura

    interna do dente, encontra-se na cavidade ou cmara pulpar, sendo que os dentes incisivos

    apenas possuem uma cmara, o segundo pr-molar e terceiro molar possuem seis e o terceiro

    e quarto pr-molares, bem como os dois primeiros molares possuem cinco cmaras pulparesque se desenvolvem no sentido oclusal e surgem de uma cavidade pulpar comum (Silva et al.,

    2003; Dacre, 2006b; Johnson & Porter 2006b).

    Cerca de dois a seis milmetros (mm) de dentina secundria esto depositados entre a

    superfcie oclusal dos pr-molares (com excepo do primeiro) e molares e a respectiva polpa

    (Dacre, 2006b).

    O periodonto, designao das estruturas responsveis pela fixao dos dentes, inclui o

    cemento, o ligamento periodontal e o osso alveolar (Silva et al., 2003).

    O cemento, tecido mineralizado especializado, cobre a raiz dos dentes (Junqueira & Carneiro,

    1995; Silva et al., 2003).

    Figura 2:Anatomia de um dente incisivo do equino

    Fonte: Lowder & Mueller, 1998 (adaptado)

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    Devido ao facto de apresentarem razes curtas e uma coroa longa que continua a erupcionar

    cerca de 2-3 mm por ano ao longo de toda a vida, os dentes dos equinos so ainda

    classificados como hipsodontes. A velocidade de erupo sensivelmente a mesma a que

    feito o desgaste da face oclusal com excepo dos caninos e primeiros pr-molares ou dentesde lobo (Kobluk, Ames & Geor, 1995; Dixon, 2000; Dacre, 2006c) .

    Esta constante erupo ocorre para compensar o enorme desgaste a que a mesa dentria destes

    dentes est sujeita devido s necessidades de mastigao exigidas pela elevada quantidade de

    fibra que compe a dieta destes animais (Dixon, 1997).

    Na dentio decdua os equinos possuem 24 dentes, habitualmente representados pela frmula

    2(incisivos 3/3, caninos 0/0, pr-molares 3/3) = 24 dentes. Os caninos decduos so vestigiais

    e, como tal, no erupcionam, j os molares, so de todo inexistentes.A frmula dentria para a dentio permanente em cavalos adultos a seguinte: 2(incisivos

    3/3, caninos 0-1/0-1, pr-molares 3-4/3-4, molares 3/3) = 36 ou 44 dentes. Esta variao de

    nmero explicada pela presena ou ausncia do primeiro pr-molar, designado dente de

    lobo e dos caninos. Nas fmeas estes ltimos apresentam tamanho bastante reduzido ou no

    chegam sequer a erupcionar, enquanto nos machos se encontram habitualmente presentes,

    exibem maior comprimento que o dente de lobo e localizam-se na metade rostral da barra

    ou diastema Os que se localizam na arcada inferior encontram-se numa posio mais rostral

    que os da arcada superior.

    Quando presente, o primeiro pr-molar ou dente de lobo varia bastante em forma e

    tamanho. Por norma bastante mais pequeno que os outros, encontrado com maior

    prevalncia na arcada superior e pode apresentar-se justaposto ao segundo pr-molar ou

    alguns mm afastado deste no sentido anterior (Beeman, 1987; Lowder, 1998).

    A utilizao de uma nomenclatura dentria concisa facilita bastante a comunicao entre

    profissionais, permitindo a elaborao de registos precisos e uma examinao oral mais

    organizada. So dois os sistemas actualmente utilizados: o sistema descritivo anatmico e o

    sistema Triadan modificado.

    No sistema anatmico, o tipo de dente a ser descrito definido por uma letra, sendo os

    decduos representados por letras minsculas (i = incisivos, p = pr-molares) e os

    permanentes por maisculas (I = incisivos, C = caninos, P = pr-molares, M = molares). A

    esta letra ento anexado um nmero que define a localizao do dente na cavidade oral, esta

    que se admite estar dividida em quatro quadrantes, sendo o lado direito da arcada maxilar

    considerado o primeiro, seguindo-se os restantes (segundo, terceiro e quarto), por ordem no

    sentido dos ponteiros do relgio. A localizao do dente ento representada pela letra e o

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    nmero em torno desta, posicionando-o assim num dos quatro quadrantes (ex. 1I = primeiro

    incisivo permanente direito da arcada mandibular; M = terceiro molar permanente direito da

    arcada maxilar; p = segundo pr-molar temporrio esquerdo da arcada maxilar; i3 = terceiro

    incisivo temporrio esquerdo da arcada mandibular).

    Este sistema tem vindo gradualmente a entrar em desuso (Lowder, 1998; Foster, 2008).

    Figura 3: Esquema representativo do sistema anatmico para os dentes incisivos permanentes

    Fonte: Foster, 2008 (adaptado)

    No sistema Triadan modificado, que um sistema exclusivamente numrico, cada dente

    descrito atravs de trs dgitos. O primeiro refere-se ao quadrante, sendo a dentio

    permanente numerada de 1 a 4 (no sentido dos ponteiros do relgio), e a decdua de 5 a 8. Por

    exemplo: 1 identifica o quadrante superior direito de dentes permanentes, 7 identifica o

    quadrante inferior esquerdo de dentes decduos. O segundo e terceiro dgitos desta

    nomenclatura identificam o dente dentro do respectivo quadrante (ex. 1 identifica o primeiro

    incisivo e 11 o ltimo molar).

    Para uma melhor compreenso e a ttulo de exemplo: o nmero 311 identifica o ltimo molar

    permanente esquerdo da arcada inferior, o nmero 108 identifica o quarto pr-molarpermanente direito da arcada superior, o nmero 601 refere-se ao primeiro incisivo decduo

    esquerdo da arcada superior, o nmero 806 indica o segundo pr-molar decduo direito da

    arcada inferior. (Dixon, 1999; du Toit, 2006; Jonhson, 2009).

    Este sistema o mais utilizado actualmente (Lowder, 1998).

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    Figura 4: Esquema representativo do sistema Triadan modificado para dentes permanentes.

    Fonte: Foster, 2008 (adaptado)

    3. ESTIMATIVA DA IDADE ATRAVS DO EXAME DENTRIO

    Embora no seja o nico mtodo para estimar a idade de um equino, o exame da dentio de

    todo, o mais utilizado por requerer baixos custos e ser facilmente exequvel. baseado nofacto de, ao longo da vida do equino, ocorrerem uma srie de alteraes especficas na

    morfologia dos dentes devidas erupo e desgaste contnuos. realizado essencialmente ao

    nvel dos incisivos, uma vez que os pr-molares e os molares no se encontram to acessveis

    e os caninos no alteram a sua aparncia com a idade. O grau de confiana deste exame

    diminui na razo inversa da idade do animal (Silva et al., 2003).

    Aquando da estimativa da idade so tidas ento em conta: a arcada inferior, relativamente

    erupo dos dentes temporrios e permanentes, o desenvolvimento destes at ser atingido onvel da arcada e as subsequentes alteraes da superfcie oclusal devidas ao desgaste; a

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    arcada superior, relativamente formao da cauda de andorinha e do sulco de Galvayne

    (temas que sero abordados mais adiante nesta dissertao); e o perfil do ngulo de ocluso

    das duas arcadas (Silva et al., 2003).

    Nesta avaliao deve tambm considerar-se a importncia de determinados factores como a

    raa, o tipo de dieta do animal, o tipo de maneio e ambiente em que este se encontra, adiferena de comportamento individual durante a mastigao e a variao individual na

    dureza dos dentes (San Romn & Sanmartn, 2002; Silva et al., 2003).

    Os incisivos temporrios dos equinos distinguem-se dos definitivos pela sua colorao mais

    branca, pelo seu menor volume, pelo colo mais marcado, pela ausncia de sulcos na face

    vestibular ou labial e pela menor profundidade do corneto (Silva et al., 2003, p.105) .

    Conforme a sua localizao, os dentes incisivos designam-se, em cada arcada: pinas, os

    dois mais prximos do plano mdio, mdios, os dois que se seguem aos pinas, cantos, osdois mais distais, que se seguem aos mdios (Silva et al., 2003, p. 104).

    Diz-se que o animal tem a boca feita quando a substituio dos incisivos, tambm designada

    desfecho, est completa e todos os dentes atingiram o nvel da arcada (Silva et al., 2003).

    Quadro 1: Tempos de erupo aproximados dos dentes decduos e definitivos:

    Dentes

    Decduos PermanentesPinas nascimento - 1 semana 2,5 anosMdios 4 - 6 semanas 3,5 anosCantos 6 - 9 meses 4,5 anos

    Caninos no existem 3,5-5 anos1 Pr-molar no existem 6 meses a 3 anos2 Pr-molar nascimento - 1 a 4 semanas 2,5 anos3 Pr-molar nascimento - 1 a 4 semanas 2,5-3 anos4 Pr-molar nascimento - 1 a 4 semanas 3,5-4 anos

    1Molar no existem 9-15 meses2 Molar no existem 2-3 anos3 Molar no existem 3,5-4 anos

    Fonte: Lowder & Mueller, 1998; Silva et al., 2003; Linkous, 2006 (adaptado)

    Os dentes incisivos do cavalo tm a forma de uma pirmide, cujo vrtice corresponde raiz

    do dente, enquanto a base corresponde extremidade livre. O dente encurvado no sentido

    antero-posterior e achatado e inclinado em sentido lbio-lingual na regio da base,correspondente superfcie oclusal (Silva et al., 2003, p.105).

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    Da extremidade livre para a raiz, a seco dos incisivos evolui de uma forma

    aproximadamente elptica para oval, redonda, triangular e finalmente de novo oval (Silva et

    al., 2003, p.105).

    Quadro 2: Idades de alterao da forma da mesa dentria dos incisivos definitivos da arcadainferior.

    Mesa dentriaoval/redonda

    Mesa dentriatriangular

    Mesa dentriaoval

    Pinas 8 anos (6-12) 13-18 anos > 18 anosMdios 9 anos (6-13) 15-19 anos > 19 anosCantos 10 anos (7-14) 17-20 anos > 20 anos

    Fonte: San Romn & Sanmartn, 2002; Silva et al., 2003 (adaptado)

    A erupo e desgaste dos dentes incisivos feita a partir do plano mdio para os extremos

    (Silva et al., 2003, p.105).

    medida que o desgaste progride, o corneto diminui em largura e profundidade (Silva et

    al., 2003, p.105).

    Quando esta depresso desaparece, ficando apenas evidente o esmalte central, diz-se que o

    dente est raso (Silva et al., 2003).

    Como consequncia do desgaste, surge na mesa dentria a estrela dentria, mancha amarela

    ou acastanhada caracterstica de dentes hipsodontes, que se encontra em posio labial

    relativamente cavidade dentria externa e resulta da proliferao de dentina secundria que

    cobre a cavidade pulpar de forma a impedir a exposio desta. A estrela dentria comea por

    ter a forma de uma linha transversal, tornando-se entretanto ovalada e por ltimo arredondada.

    Com o passar do tempo a sua localizao tambm alterada, passando a ocupar o centro da

    mesa dentria (Muylle, Simoens & Lauwers, 2002; San Romn & Sanmartn, 2002; Silva et

    al., 2003; Klugh, 2006).

    Tem-se verificado que cavalos em regime de pastoreio apresentam uma estrela dentria

    bastante evidente, o que contrasta com a estrela de animais estabulados, de aparncia muito

    tnue e praticamente indistinguvel da restante dentina (Muylle et al., 2002).

    Com o avanar da idade a estrela dentria deixa de apresentar uma colorao uniforme e

    passa a exibir um ponto branco no centro, este que aparece de forma sequencial nos pinas,

    mdios e cantos (Muylle et al., 2002; San Romn & Sanmartn, 2002).

    Algum tempo aps o rasamento, o esmalte central acaba finalmente por desaparecer,

    dizendo-se ento que o dente est nivelado (Silva et al., 2003)

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    Quadro 3: Idades aproximadas de rasamento, aparecimento da estrela dentria, aparecimentodo ponto branco e nivelamento.

    Rasamento

    Aparecimento da estrela

    dentria Aparecimento do ponto branco NivelamentoPinas 5-8 anos 5-8 anos 7-8 anos 16 anos (12-23)Mdios 7-11 anos 6-10 anos 9-11 anos 17 anos (13-23)Cantos 9-15 anos 7-12 anos 11-13 anos 18 anos (14-23)

    Fonte: San Romn & Sanmartn, 2002; Silva et al., 2003 (adaptado)

    Os dentes incisivos da arcada inferior tendem mais rapidamente horizontalidade que os da

    arcada superior, o que justifica que a ocluso das mesas dentrias dos cantos no seja total. Aregio posterior da superfcie oclusal dos cantos superiores fica ento sem oposio nos

    cantos inferiores. Uma vez que no sofre desgaste, aquela zona exibe habitualmente, entre os

    sete e os doze anos de idade do animal, uma proeminncia designada cauda de andorinha, esta

    que posteriormente tende a desaparecer, quando a arcada superior adquire uma posio mais

    oblqua e a regio posterior das mesas dentrias dos cantos homlogos contactarem.

    Esta proeminncia no , por si s, um indicador fidedigno da idade de um equino.

    Outro indicador, que isoladamente no muito preciso para estimar a idade de um cavalo mas

    que juntamente com os outros parmetros j descritos auxilia na avaliao da mesma, o

    sulco de Galvayne. Este no mais que uma depresso pouco profunda de colorao escura

    que aparece no bordo gengival da face vestibular dos cantos superiores em animais com mais

    de 11 anos, habitualmente entre os 10 e os 30, e se prolonga at face oclusal, atingindo-a por

    volta dos 20 anos de idade. Em animais geritricos este sulco inicia o seu desaparecimento a

    partir do bordo gengival, chegando mesmo a desaparecer num animal muito velho.

    A observao do perfil de ocluso das arcadas tambm uma importante ajuda na

    determinao da idade de um equino uma vez que a angulao destas sofre alteraes com o

    avanar da idade em consequncia da forma e do desgaste dos incisivos, passando de quase

    vertical em animais jovens a mais horizontal em animais idosos (San Romn & Sanmartn,

    2002; Silva et al., 2003).

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    4. ESTRUTURA DA CAVIDADE ORAL

    4.1 PROCESSOS ALVEOLARESEstes processos constituem uma parte da mandbula/maxila formando como que uma base

    para os dentes e encontram-se em constante remodelao de modo a acompanhar as mudanas

    de forma e de tamanho das estruturas dentrias neles contidas. A sua principal funo distribuir e reabsorver as foras geradas pela mastigao e por outros contactos dentrios.

    So compostos por uma fina camada de osso compacto, o osso alveolar propriamente dito ou

    lmina dura, que circunda a raiz dos dentes, mantendo-os no lugar devido insero das

    fibras colagneas do ligamento periodontal, e por osso alveolar de suporte que rodeia a lmina

    dura e por sua vez no se diferencia do resto da mandbula/maxila (San Romn, Castejn &

    Calvo, 2002).

    4.2 MANDBULAA mandbula o maior osso da cabea do cavalo sendo composta por duas hemimandbulas

    que se fundem no poldro aos dois ou trs meses de idade na regio mentoniana, constituindo a

    snfise mandibular. Cada hemimandbula composta por um corpo e um ramo, sendo que o

    corpo contm os alvolos dentrios para insero dos dentes na arcada inferior. O ramo

    termina rostralmente no processo coronide, onde se insere o msculo temporal e

    caudalmente no cndilo mandibular ou processo condilar. Entre os incisivos localizados naporo rostral da mandbula e os pr-molares e molares que se situam no corpo deste osso,

    encontra-se a barra ou diastema, onde, quando presentes, se localizam os dentes caninos. Este

    osso articula com o osso temporal atravs da articulao temporomandibular. O nervo

    mandibular passa atravs do formen mandibular na poro medial do ramo da mandbula, ao

    nvel da superfcie oclusal dos pr-molares e molares, e continua ao longo do canal

    mandibular como nervo alveolar mandibular, podendo a ser anestesiado para a realizao de

    procedimentos odontolgicos.Num cavalo jovem, o bordo ventral da mandbula largo e arredondado, sendo esta zona

    muitas vezes foco de inchaos devido erupo dos pr-molares e molares definitivos.

    Contudo, medida que a idade avana e a erupo dos pr-molares e molares progride, este

    bordo vai assumindo uma forma mais aguada (San Romn et al., 2002; Dacre, 2006f).

    4.3 ARTICULAO TEMPOROMANDIBULAR

    A articulao temporomandibular (ATM) uma articulao sinovial que se encontra situadaaproximadamente 15 cm acima da superfcie oclusal e engloba duas superfcies

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    osteoarticulares: no lado temporal, a superfcie articular o conjunto da fossa mandibular com

    o tubrculo articular e no lado mandibular o cndilo da mandbula. Cada uma destas

    superfcies osteoarticulares recoberta pela cartilagem articular. Entre estas duas cartilagens

    existe um disco articular que tem como funes melhorar a coaptao entre o processo

    cndilar e a fossa mandibular e absorver os impactos gerados pela mastigao. semelhanadas outras articulaes, a temporomandibular encontra-se envolvida pela cpsula articular

    que, juntamente com ligamentos laterais e caudais, nomeadamente o estilomandibular, o

    esfenomandibular e o temporomandibular, a suportam.

    esta articulao que permite que a mandbula execute movimentos de depresso, elevao,

    protuso, retraco e lateralizao. Nos equinos os movimentos lateromediais so bastante

    amplos enquanto os verticais e os rostrocaudais so mais limitados (Baker, 2002; San Romn

    et al., 2002; Dacre, 2006f).

    4.4 OSSOS MAXILARESOs ossos maxilares apresentam-se sob a forma de dois largos ossos pares que so limitados

    rostralmente pelo osso incisivo, dorsalmente pelos ossos nasais e caudalmente pelos lacrimais

    e zigomticos.

    Contm os alvolos dos dentes caninos, quando estes se encontram presentes, pr-molares e

    molares superiores. A posio dos alvolos dos dentes pr-molares e molares, embora possaser varivel, costuma ser a seguinte: os dois ltimos dentes molares encontram-se sob o seio

    maxilar caudal, o primeiro molar e quarto pr-molar encontram-se sob o seio maxilar rostral,

    enquanto o segundo e terceiro pr-molares no se encontram sob nenhum seio paranasal

    (Dacre, 2006f).

    Em cavalos jovens, a rea maxilar rostral pode sobressair lateralmente devido presena de

    coroas de reserva do segundo, terceiro e quarto pr-molares. A camada de osso que cobre

    estes dentes pode ser demasiado fina chegando mesmo a ocorrer uma perda temporria destaem torno dos pices em desenvolvimento. Aquando da erupo destes dentes, alguns animais

    chegam mesmo a desenvolver inflamaes graves na poro rostral do osso maxilar (San

    Romn et al., 2002).

    A crista facial uma proeminncia lateral da maxila que se continua caudalmente com o

    processo zigomtico, este que, juntamente com os ossos zigomtico e temporal, formam a

    arcada zigomtica (Dacre, 2006f).

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    O orifcio ou formen infraorbitrio situa-se 5 cm dorsalmente poro rostral desta crista e

    dele emerge o nervo infraorbitrio. Antes de emergir este nervo ramifica-se rostralmente para

    inervar os incisivos superiores.

    O processo palatino de cada osso maxilar une-se na linha mdia para formar grande parte do

    palato duro. O restante completado caudalmente pelo osso palatino e rostralmente pelosincisivos (San Romn, Castejn & Calvo, 2002).

    4.5 OSSOS INCISIVOS

    Os ossos incisivos formam a parte rostral da maxila. A sua poro anterior alberga os alvolos

    dos dentes incisivos e a posterior, mais estreita, forma a poro rostral do palato duro.

    Entre este osso e o maxilar existe uma linha de unio bastante atreita a fracturas. Os dentes

    caninos, quando presentes, encontram-se no lado maxilar desta linha (San Romn, Castejn &

    Calvo, 2002; Dacre, 2006f).

    4.6 SEIOS PARANASAISO cavalo possui os seguintes pares de seios paranasais: conchal dorsal, conchal mdio,

    conchal ventral, esfenopalatino, maxilar caudal, maxilar rostral e frontal.

    O seio maxilar caudal e rostral so considerados os mais importantes no que concerne

    odontologia. Encontram-se separados por uma fina parede ssea, comunicando apenas por um

    pequeno orifcio, a abertura ou meato nasal, que estabelece o meio se sada atravs do qual os

    seios drenam para a cavidade nasal, criando uma conexo com o exterior que torna possvel a

    sua ventilao atravs das narinas.

    Uma vez que o septo nasal separa o crnio em duas metades, estes seios apresentam o mesmo

    tamanho sendo iguais aos contralaterais (Kreling, 2003). Esto contidos no interior da maxila,

    sendo percorridos longitudinalmente pelo canal infraorbitrio. Os alvolos do quarto pr-

    molar e primeiro molar encontram-se incorporados no seio maxilar rostral, enquanto os do

    segundo e terceiro molares se encontram no seio maxilar caudal. Consequentemente, a

    presena de alteraes num destes dentes pode despoletar o aparecimento de infeco

    periapical com consequente sinusite bacteriana aguda secundria.

    A infeco periapical pode surgir devido a doena periodontal, exposio pulpar da superfcie

    oclusal, cries, fracturas dentrias ou distenses sseas da mandbula/ maxila, constituindo

    uma infeco que se estende aos ossos maxilar ou mandibular de suporte e/ou aos seios

    paranasais sobrejacentes (Dixon, 2006a).

    A sinusite bacteriana aguda secundria geralmente manifestada atravs da presena de umcorrimento nasal unilateral purulento de odor desagradvel e de halitose (Knottenbelt &

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    Pascoe, 1994; Kreling, 2003; Dacre, 2006f). Em certos casos pode tambm verificar-se

    intumescncia da face, presena de rudos respiratrios anormais, intolerncia ao exerccio

    e/ou atitude defensiva (Beard & Hardy, 2001)

    4.7 DUCTO NASOLACRIMALEste ducto estende-se desde o canto interno do olho, pelo interior dentro da maxila, at ao

    tecto do seio maxilar caudal, continuando-se pelo seio maxilar rostral at s narinas. A sua

    inflamao, quando sucede, pode dever-se a infeces de dentes da arcada superior (Kreling,

    2003).

    4.8 INERVAO DENTRIAA inervao das estruturas dentrias assegurada pelo nervo trigmio, este que se divide em

    trs ramos: oftlmico, maxilar e mandibular.

    O ramo maxilar entra na poro caudal da maxila ventralmente orbita atravs do formen

    maxilar, segue ao longo desta no canal infraorbitrio como nervo alveolar maxilar originando

    ramos para os dentes pr-molares e molares e abandona a maxila atravs do formen

    infraorbitrio numa posio rostral e dorsal crista facial (Dacre, 2006f).

    A injeco de um anestsico local neste formen assegura o tratamento indolor dos dentes

    incisivos, caninos, pr-molares e molares daquele lado da arcada superior (Kreling, 2003).

    O nervo mandibular segue medialmente ao longo da mandbula e ramifica-se em nervos de

    menor calibre. Um destes nervos, o alveolar mandibular, entra no canal mandibular na poro

    caudomedial da mandbula e inerva os dentes pr-molares e molares mandibulares.

    O nervo mentoniano, que um ramo do nervo alveolar mandibular, abandona o canal

    mandibular atravs do formen mentoniano na poro rostral da mandbula, rostralmente aos

    dentes pr-molares e molares, e inerva os incisivos e caninos ipsilaterais.

    O conhecimento da posio anatmica destes nervos e formens pode ser til para a anestesia

    destas estruturas dentrias aquando da realizao de procedimentos odontolgicos (Dacre,

    2006f).

    No entanto, e uma vez que o nervo mandibular no de fcil localizao por se encontrar

    bastante profundo, aquando da necessidade de realizao de uma interveno mais

    complicada ou da extraco de dentes molares, deve recorrer-se anestesia geral (Kreling,

    2003).

    Os nervos pulpares so constitudos por fibras sensitivas do nervo trigmio e fibras simpticasdo gnglio cervical cranial entrando nos dentes atravs do formen apical.

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    As fibras sensitivas so mais abundantes na polpa onde formam um plexo. As fibras

    simpticas inervam o msculo liso e regulam o fluxo sanguneo da polpa (Dacre, 2006f).

    O nervo facial, que se encontra ao longo da linha dos dentes molares, inerva as estruturas

    superficiais da cabea. Sendo tambm ele bastante superficial, est mais sujeito a ser

    facilmente afectado. Um golpe neste nervo pode provocar danos temporrios ou mesmopermanentes como paralisia dos msculos da face (Kreling, 2003).

    4.9 IRRIGAO SANGUNEA

    A irrigao sangunea dos dentes feita atravs da polpa e, como tal, atinge-os atravs do

    formen apical formando em seguida uma extensa rede capilar em particular na regio coronal

    da polpa.

    A drenagem desta ento feita atravs de uma complexa rede venosa existente ao nvel do

    formen apical.Um vaso de importante meno na cavidade oral a artria palatina maior que corresponde a

    um ramo da artria palatina descendente que por sua vez uma ramificao da artria

    maxilar, e que percorre o bordo lateral do palato duro. Devido ao facto de comunicar com

    ambas as artrias maxilares, qualquer leso provocada neste vaso aquando da extraco de um

    dente de lobo ou dos restantes dentes pr-molares e molares maxilares, pode ser

    responsvel pela ocorrncia de hemorragia severa (Dacre, 2006f).

    Tambm a mucosa das bochechas, gengivas e lbios provida de uma intensa rede decapilares sanguneos, razo pela qual estas estruturas sangram ao mais pequeno ferimento

    (Kreling, 2003).

    4.10 SISTEMA LINFTICOOs vasos linfticos suprem os dentes atravs de uma trajecto semelhante ao dos vasos

    sanguneos. Apresentam-se mais densamente distribudos pela gengiva e encontram-se em

    todos os tecidos periodontais com excepo do cemento.

    Estima-se que existam duas vias de drenagem, uma superficial atravs da gengiva e que

    desemboca no linfonodo mandibular, e uma profunda atravs da poro esponjosa dos ossos

    maxilar e mandibular e que desemboca nos linfonodos mandibulares e retrofarngeos.

    Aquando de uma infeco dentria periapical frequente verificar-se um aumento de tamanho

    no linfonodo mandibular ipsilateral (Dacre, 2006f).

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    4.11 MSCULOS DA MASTIGAO

    Os msculos que elevam a mandbula e consequentemente promovem o seu encerramento so

    o masster, o temporal e o pterigoideu medial.

    Os msculos depressores da mandbula e que, como tal, promovem a sua abertura, so o feixe

    anterior do digstrico, o geniohioideu, as fibras inferiores do genioglosso, o esternohioideu eo omohioideu.

    Devido grande amplitude de movimentos lateromediais presente aquando da mastigao, os

    msculos pterigide e masster encontram-se bastante desenvolvidos na espcie equina. O

    msculo masster origina-se ao longo da crista facial e da arcada zigomtica e possui largas

    inseres na poro caudolateral da mandbula. O trajecto das suas fibras superficiais faz-se

    quase na vertical enquanto o das fibras profundas apresenta uma orientao ventrocaudal.

    Este msculo no s puxa a mandbula para o lado ipsilateral como tambm contribui para o

    seu encerramento.

    Os msculos pterigide lateral e medial tm origem e inseres semelhantes s do masster e

    fixam-se na poro medial da mandbula.

    Outro msculo importante o digstrico, este que se origina no osso occipital, unindo-se

    poro caudal da mandbula e apresenta um tamanho reduzido devido ao tambm reduzido

    esforo requerido para a abertura mandibular, que bastante facilitado pela aco da fora da

    gravidade.

    O msculo temporal, cuja funo o encerramento da mandbula, tambm pequeno e pouco

    desenvolvido uma vez que a abertura vertical permitida pela articulao temporomandibular

    bastante limitada.

    Todos os msculos da mastigao so inervados pelo nervo trigmio (Dacre, 2006f).

    4.12 LNGUAA lngua do cavalo apresenta grandes dimenses e preenche completamente o espao que se

    encontra entre os ramos da mandbula. Por esta razo, a presena de alteraes nos dentes pr-

    molares e molares, como por exemplo rampas, ganchos e pontas excessivas de esmalte (temas

    que sero abordados mais adiante nesta dissertao) lhe provocam laceraes.

    maioritariamente composta por tecido muscular, coberta por uma membrana mucosa

    endurecida em certas zonas e estabilizada pelo osso hiide, este que bastante fino e mvel.

    A lngua encontra-se ainda fixada mandbula atravs do frnulo e move-se com o auxlio

    dos longos msculos linguais intrnsecos e extrnsecos. Os msculos linguais prprios

    constituem os msculos intrnsecos enquanto os msculos estiloglosso, hioglosso e

    genioglosso constituem os msculos extrnsecos. A abertura da mandbula aquando da

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    mastigao, bem como toda a sua mecnica, so grandemente influenciadas pela aco destes

    msculos (Kreling, 2003; Budras, Sack & Rock, 2004; Holcombe, 2006).

    4.13 MUCOSA ORAL

    A mucosa oral pode ser mastigatria, de revestim5ento ou especializada. Exibe uma

    constituio particularmente resistente e em certas zonas apresenta-se mesmo endurecida.

    A mucosa do palato duro, que forma o tecto da boca, possui 18 cristas horizontais em forma

    de meia-lua que se encontram no centro do palato e cuja funo prevenir a queda de comida

    da boca durante a mastigao.

    A mucosa do lbio superior altamente sensitiva, podendo mesmo chegar a percepcionar

    odores atravs de receptores especficos (Kreling, 2003).

    Grande parte da gengiva cresce sobre o osso subjacente e est aderente a este, apresentandocontudo uma zona mais mvel que circunda os dentes e que denominada gengiva livre ou

    marginal. Entre esta e o dente encontra-se uma depresso designada sulco gengival. Na zona

    mais profunda deste sulco encontra-se o epitlio de unio com o cemento perifrico do dente,

    que se designa gengiva aderente e que se continua com o ligamento periodontal. Uma vez que

    nos equinos a erupo dos dentes se faz do modo contnuo, o ligamento periodontal e a

    gengiva aderente esto em constante remodelao.

    Em certas ocasies, devido sobretudo a irritao localizada e subsequente inflamao, agengiva marginal encontra-se edemaciada e este sulco encontra-se aumentado, constituindo

    uma bolsa periodontal (San Romn et al., 2002, Jeffrey, 2009).

    4.14 GLNDULAS SALIVARESO cavalo possui trs pares de glndulas salivares, as partidas, as mandibulares e as

    sublinguais polistomticas. A partida a maior podendo produzir uma quantidade de saliva

    superior a 50ml por minuto quando estimulada. Encontra-se localizada em posio caudal

    relativamente ao ramo horizontal da mandbula, ventralmente base da orelha e rostralmente

    asa do atlas (San Romn et al., 2002) .

    Esta glndula pode aumentar bastante de tamanho devido a uma condio enigmtica

    denominada parotidite idioptica.

    O ducto parotdeo, que resulta da unio de trs ou quatro ductos mais pequenos, cruza

    ventrolateralmente a poro caudal do ramo horizontal da mandbula em conjunto com a

    artria e a veia faciais, entrando na cavidade oral rostralmente ao primeiro molar. Quando sepretende realizar uma bucotomia (tcnica explicada mais adiante nesta dissertao), devem

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    ser tidos cuidados acrescidos para no atingir o ducto no seu trajecto atravs da mandbula, de

    forma a evitar o desenvolvimento de uma fstula permanente (Dacre, 2006f).

    A secreo de saliva por parte desta glndula apenas ocorre durante a mastigao e pode ser

    suprimida pela administrao de atropina ou atravs da anestesia da mucosa oral. A saliva

    segregada pela partida hipotnica quando comparada com o plasma e possui uma elevadaconcentrao de clcio, podendo mesmo chegar a haver deposio de clculos nos ductos.

    A segunda maior glndula salivar, a mandibular, estende-se desde a base do atlas at ao corpo

    do osso hiide, curvando-se por baixo da partida e da mandbula. O seu ducto nasce na parte

    cncava da glndula, percorre quase toda a cavidade oral na prega sublingual e desemboca

    lateralmente carncula sublingual, junto regio de localizao dos dentes caninos (quando

    presentes) (Baker, 1998; San Romn et al., 2002).

    A terceira glndula salivar, de dimenses mais reduzidas, a glndula sublingualpolistomtica que se encontra entre a lngua e a mandbula, abaixo da prega sublingual,

    estendendo-se desde a snfise mandibular at ao primeiro molar e drenando na cavidade oral

    atravs de mltiplos ductos (Baker, 1998; San Romn et al., 2002).

    Para alm destas, existem diversas glndulas produtoras de saliva que podem ser encontradas

    nos lbios, lngua, gengivas e na membrana mucosa da boca (Kreling, 2003).

    5. FISIOLOGIA DA MASTIGAO

    O acto de mastigar baseado na repetio de movimentos cclicos resultantes da contraco

    rtmica e controlada dos vrios grupos musculares associados abertura e encerramento das

    duas arcadas. Cada ciclo possui trs fases: fase de abertura, fase de encerramento e fase de

    triturao (San Romn et al., 2002).

    Como j foi referido anteriormente, os msculos masster, temporal e pterigideo medial so

    os implicados no encerramento da mandbula, enquanto o feixe anterior do msculo digstricojuntamente com o msculo geniohioideu, as fibras inferiores do genioglosso, o esternohioideu

    e o omohioideu participam na sua abertura (Baker, 2002).

    A musculatura de encerramento da mandbula mais numerosa por vrias razes: aquando do

    encerramento da boca os msculos tm que vencer a fora da gravidade; para triturar os

    alimentos necessria a aplicao de uma fora superior utilizada apenas para elevar a

    mandbula; os msculos mastigatrios contraem-se mais rapidamente que outros msculos

    estriados (San Romn et al., 2002).

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    Certos equinos aparentam mastigar preferencialmente de um dos lados. Isto deve-se ao facto

    da presso ser exercida inicialmente num deles e s depois ser transferida para o outro. Como

    resultado desta variao na fisiologia mastigatria possvel a existncia de um desgaste

    desigual.

    Ao comer, o cavalo usa os lbios como instrumentos para seleccionar e puxar o alimento paradentro da boca por entre os incisivos. Estes dentes, por terem superfcies oclusais planas e

    exercerem uma mordedura em torqus, ao praticarem curtos movimentos de deslizamento,

    agarram e cortam o alimento. Este ento esmagado na cavidade oral intradental e

    pressionado contra as cristas palatinas pela lngua (desenhadas especificamente para

    direccionar o alimento para os dentes molares). S quando a parte rostral da boca se encontra

    repleta de comida que se d inicio triturao levada a cabo pelos dentes pr-molares e

    molares, cujas superfcies oclusais so irregulares. Esta triturao conseguida pela excursolateral da mandbula que corresponde ao movimento permitido pelas articulaes tmporo-

    mandibulares, e pela angulao de cerca de 15 graus das arcadas maxilar e mandibular (como

    ser abordado mais adiante nesta dissertao).

    Em suma, durante o processo de mastigao o alimento pressionado entre as arcadas num

    movimento vertical, seguindo-se a movimentao lateral da mandbula. A compresso

    exercida pelas bochechas e a aco rotatria praticada pela lngua durante a mastigao

    permitem o deslocamento caudal do alimento em forma de espiral (Dixon, 1999; Dixon et al.,

    1999a; Baker, 2005).

    Um cavalo mastiga em mdia 60 a 70 vezes por minuto (Kreling, 2003; Baker 2005).

    Quando o bolo alimentar atinge a orofaringe esta contrai-se e consequentemente h elevao

    do palato mole, retraco da epiglote e contraco larngea, permitindo a passagem do bolo

    alimentar para o esfago, ou seja, a deglutio (San Romn et al., 2002).

    O principal factor extrnseco que influenca a mastigao o tipo de alimentao.

    Alimentos ricos em slica como o feno ou silagem promovem um desgaste dos dentes numa

    taxa semelhante da erupo dos mesmos. Em contrapartida, dietas ricas em alimentos

    concentrados reduzem o desgaste da superfcie oclusal, sendo que a taxa de erupo no se

    altera. Em suma, cavalos cuja alimentao seja base de concentrado apresentam um elevado

    movimento vertical no ciclo mastigatrio e um baixo movimento de excurso lateral da

    mandbula comparativamente aos equinos alimentados com feno ou silagem.

    Devido ao seu elevado teor calrico, as dietas base de concentrados reduzem o tempo de

    mastigao uma vez que uma pequena poro chega para suprir as necessidades energticas

    do equino. Isto predispe a um sobrecrescimento dentrio devido ao reduzido desgaste a que

    os dentes esto sujeitos.

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    Outro factor que influenca os movimentos mastigatrios o teor de humidade do alimento.

    Quanto mais seca for a alimentao menor ser a excurso lateral da mandbula (Dixon, 1999;

    Dixon et al., 1999a; Baker, 2005; Dacre, 2006d).

    Figura 5: Esquema representativo do movimento circular exercido pela mandbula aquando damastigao

    Fonte: Kreling, 2003 (adaptado)

    6. INSPECO DENTRIA

    As repercusses de alteraes dentrias ao nvel da conformao e desempenho do animal so

    muitas vezes subestimadas. No entanto sabe-se que uma regular examinao da cavidade oral,

    com particular incidncia ao nvel dos dentes, de preferncia bianual, considerada suficiente

    para a preveno destas alteraes e/ou sua identificao precoce, possibilitando, deste modo

    um tratamento atempado, antes do surgimento de quaisquer complicaes.

    A realizao de uma boa inspeco dentria deve obedecer a uma determinada ordem,

    comeando pela elaborao da histria pregressa, seguida da inspeco externa do equino,

    verificao da mobilidade da cabea e mandbula e s por ltimo a inspeco interna da

    cavidade oral sem abre-bocas e com abre-bocas.

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    6.1 ELABORAO DA HISTRIA PREGRESSA

    A anamnese deve ser o mais completa possvel e incluir os dados bsicos do animal, tais

    como sexo, idade, raa, utilizao do equino (traco, desporto) e hbitos alimentares.

    Relativamente a este ltimo importa particularmente saber o que come, a quantidade de

    alimento que come, se engorda proporcionalmente ao que come, se deixa cair comida da boca,se tem clicas ou alteraes digestivas; se faz movimentos estranhos com a cabea ao comer,

    se a alimentao sofreu alguma variao recentemente, se molha o alimento...

    Sempre que possvel, deve-se tentar observar o animal a comer para verificar como mastiga.

    A observao das fezes tambm importante pois permite ficar com uma ideia do processo de

    mastigao e digesto do alimento.

    O comportamento do animal quando montado pode tambm ser um indicador precioso da

    existncia de alguma patologia oral devendo ter-se em especial ateno todos os movimento

    da cabea, pescoo, dorso e membros aquando da marcha.

    As alteraes de carcter, a frequncia com que ocorrem, e os perodos em que ocorrem,

    devem tambm ser tidos em considerao (como ser abordado mais adiante) (Beeman, 1987;

    Rose & Hodgson, 2000; San Romn & Manso, 2002).

    6.2 INSPECO EXTERNA

    A inspeco externa pode ser realizada em trs fases: visual, olfactiva e tctil. Durante ainspeco visual deve ter-se em especial ateno o estado geral do animal, a simetria,

    conformao e forma da cabea, a presena de inflamaes, deformaes, abcessos na

    mandbula e maxila ou eventual corrimento nasal; a simetria das articulaes temporo-

    mandibulares, entre outros. Na inspeco olfactiva pesquisa-se a presena de halitose que

    pode ser indicativa de patologia oral. Na fase de inspeco tctil deve palpar-se externamente

    a zona dos pr-molares e molares, as articulaes temporo-mandibulares, o espao existente

    entre a mandbula e as asas do atlas, os gnglios da cabea e glndulas salivares. Devem

    procurar-se alteraes, deformaes ou eventuais zonas dolorosas palpao (San Romn &

    Manso, 2002).

    6.3 VERIFICAO DA MOBILIDADE DA CABEA E MANDBULARelativamente mandbula, deve observar-se o animal a comer sempre que possvel. Este

    simples gesto pode fornecer grande quantidade de informao acerca da capacidade de

    realizao de todos os movimentos sem impedimento. O veterinrio deve tambm tentarmover a mandbula manualmente para comprovar o seu grau de mobilidade e simetria.

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    Quanto mobilidade da cabea e sempre que possvel, deve observar-se o animal montado de

    forma a avaliar os movimentos laterais, de rotao, de extenso e de flexo. Deve tambm

    deslocar-se manualmente a cabea para detectar impedimentos aquando da movimentao

    (San Romn & Manso, 2002).

    6.4 INSPECO INTERNA SEM ABRE-BOCASEsta examinao sem abre-bocas deve ser feita levantando os lbios com suavidade de forma

    a permitir a inspeco dos incisivos. Deve verificar-se o nmero de dentes presentes, se so

    dedcuos ou permanentes, a forma e o tamanho de cada um, a presena de trtaro e/ou de

    leses periodontais, a mobilidade e/ou sensibilidade de cada dente, a presena de eventuais

    infeces e a simetria dos incisivos inferiores e superiores. Relativamente aos caninos deve

    verificar-se a sua existncia ou ausncia, o nmero, a forma e a simetria, se so cortantes, se

    se verifica a presena de trtaro e se dificultam a mobilidade da lngua. No palato deveverificar-se a presena de sinais de palatite. A mucosa oral dever apresentar-se intacta,

    hmida, coberta de saliva, indolor e com colorao rosada podendo apresentar zonas

    pigmentadas. A presena de petquias, hemorragias, neoplasias ou outras leses na mucosa

    oral indicativa de patologia oral. Relativamente aos lbios e lngua deve observar-se a

    possvel presena de leses avaliando a forma e mobilidade destas estruturas.

    Aquando da inspeco interna sem abre-bocas pode fazer-se a palpao da boca com uma ou

    duas mos (San Romn & Manso, 2002).Segundo a tcnica a duas mos a lngua puxada cuidadosamente para um dos lados atravs

    do diastema onde ento segura. Este procedimento vai fazer com que o animal mantenha a

    boca aberta, permitindo a utilizao de uma fonte de luz para melhor visualizao da cavidade

    oral e evitando que o cavalo morda o operador. A mo livre posteriormente inserida do lado

    oposto ao que se encontra a lngua entre as arcadas dentrias e a bochecha, com a palma

    virada para os dentes. Os pr-molares e molares podem ento ser palpados com os dedos

    (Rose, 2000; Len Marin, 2002).

    Figura 6: Inspeco interna a duas mos sem abre-bocas

    Fonte: Len Marn, 2002 (adaptado)

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    A tcnica a uma mo considerada um mtodo alternativo em que o operador insere a mo

    atravs do espao inter-dentrio e com o dorso desta empurra a lngua para o lado oposto,

    ficando a palma voltada para os dentes que se pretende examinar. A mo encontrar-se- ento

    entre a superfcie lingual dos pr-molares e molares a examinar e a lngua. Este movimentopermite ao operador utilizar o polegar ou o indicador para palpar as superfcies bucal, lingual

    e oclusal dos dentes de lobo, aquando da sua existncia, e dos pr-molares mais rostrais,

    bem como reas da mucosa, gengiva e partes da lngua (Rose, 2000; Lon Marin, 2002).

    Figura 7: Inspeco interna a uma mo sem abre-bocas

    Fonte: Jeffrey, 2009 (adaptado)

    6.5 INSPECO INTERNA COM ABRE-BOCASUma boa inspeco do interior da cavidade oral deve garantir que esta seja palpada na sua

    totalidade. Para o fazer de forma segura aconselhvel a utilizao de um abre-bocas bilateral

    completo. A utilizao de uma fonte de luz e de um espelho dentrio tambm pode ser

    vantajosa pois facilita a visualizao das estruturas da boca.

    Esta inspeco deve permitir a palpao e avaliao do dente de lobo quanto forma e

    tamanho, localizao e direco, sensibilidade e mobilidade. Deve tambm possibilitar a

    avaliao dos restantes pr-molares e molares quanto ao nmero, tamanho, forma, simetria,

    presena de trtaro ou cries e presena de dentes decduos. Deve ainda permitir a avaliao

    da mucosa oral quanto presena de feridas e cicatrizes, da gengiva quanto presena de

    leses periodontais, dos lbios quanto presena de mazelas na zona das comissuras, dos

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    palatos mole e duro quanto presena de inflamao, feridas e cicatrizes, e da lngua quanto

    forma e tamanho e presena de leses (San Romn & Manso, 2002).

    Figura 8: Inspeco interna com abre-bocas

    Fonte: Manso & San Romn, 2002 (adaptado)

    7. SINAIS CLNICOS DEMOSTRADOS AQUANDO DA PRESENA DEALTERAES DENTRIAS

    So vrios os sinais clnicos apresentados por um equino com alteraes na cavidade oral etendem sobretudo a ser manifestadas ao nvel da alimentao, do carcter e do

    comportamento do animal quando montado ou aparelhado.

    Tambm se podem verificar outras alteraes: deformaes faciais, fstulas, sada de

    corrimento pelas fossas nasais, aparecimento de sinusite, alteraes a nvel respiratrio,

    presena de sangue na cavidade oral, problemas neurolgicos, alteraes na lngua e infeces

    do palato.

    As alteraes a nvel respiratrio podem surgir como consequncia de deformaes sseas no

    interior das vias respiratrias devidas a tumores, infeces, reteno de pr-molares decduos,

    entre outros. As deformaes faciais maxilares e mandibulares aparecem sobretudo como

    consequncia da reteno de pr-molares temporrios, tumores e traumatismos. As fstulas

    resultam habitualmente de infeces nos pr-molares e molares. A sada de corrimento

    unilateral mucopurulento pelas fossas nasais pode ser indicativa de infeces a nvel dentrio.

    O aparecimento de sinusite pode dever-se a infeces nos quartos pr-molares e nos molares.

    A presena de sangue na cavidade oral quando o animal est montado ou quando come pode

    aparecer como consequncia da presena de leses. Podem tambm surgir ainda problemas

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    neurolgicos associados a alteraes da articulao temporo-mandibular, como consequncia

    de distrbios a nvel dentrio. Alteraes da lngua como cortes ou cicatrizes e/ou infeces

    do palato so tambm passveis de ser encontradas (Manso, San Romn & Llorens, 2002).

    As alteraes na alimentao costumam ser o primeiro indcio da existncia de patologia na

    cavidade oral. Torna-se por isso bastante importante observar o animal a alimentar-se eregistar e interpretar as observaes de forma a conseguir fazer um bom diagnstico.

    So vrios os comportamentos evidenciados: o cavalo deixa de comer como consequncia de

    dor insuportvel e, consoante a alterao a que est sujeito, pode ter deixado de o fazer de

    forma repentina ou progressiva. Quando o faz de forma repentina os principais motivos so a

    reteno de dentes decduos, feridas profundas, fracturas sseas ou dentrias.

    O animal pode tambm continuar a alimentar-se mas, uma vez que as alteraes lhe afectam a

    mastigao, faz-lo com dificuldade, ou seja, apresentando disfagia oral. Exibe movimentosestranhos com a cabea, engole rapidamente a comida impropriamente mastigada ou opta por

    tentar mastigar o alimento vagarosamente, selecciona apenas um tipo de alimento que lhe seja

    de mais fcil mastigao, molha a comida no bebedouro com o intuito de a amolecer ou deixa

    cair comida inteira ou semi-mastigada da boca. Uma outra evidncia o facto do equino no

    engordar proporcionalmente quantidade de alimento que ingere, havendo um mau

    aproveitamento deste como consequncia de uma mastigao pouco eficaz. Pode ainda

    verificar-se uma excessiva salivao durante a alimentao. Clicas e outras alteraes

    digestivas e metablicas podem tambm ocorrer devido a complicaes na mastigao.

    Alteraes nas fezes resultantes das alteraes digestivas ou halitose como consequncia de

    infeco na cavidade oral podem tambm estar presentes (Manso, San Romn & Llorens,

    2002).

    As modificaes de comportamento apresentadas pelo equino quando montado ou aparelhado

    so tambm indicadoras do tipo de alterao presente na boca do animal uma vez que os

    movimentos da cabea e, consequentemente toda a biomecnica da locomoo, so alterados.

    Quando montado o animal pode mostrar-se perturbado essencialmente devido a padres

    anormais de desgaste ao nvel dos dentes pr-molares e molares que lesionam e magoam a

    lngua e a mucosa, e presena de dentes de lobo ou caninos que contactem com a

    embocadura, provocando grande dor e desconforto.

    Como consequncia destas alteraes dentrias podem ento ser observados certos

    comportamentos por parte do equino tais como a execuo de movimentos com a cabea que

    podem variar na intensidade e frequncia com que ocorrem, a tendncia a inclinar a cabea,

    desviando-a sempre para o mesmo lado como resposta alterao dentria, o baixo

    rendimento desportivo como consequncia da dor, a dificuldade em deixar-se controlar

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    devido mais uma vez, dor, a rejeio do freio ou do brido em animais com leses profundas

    da mucosa oral na zona das comissuras ou no diastema, a recusa em virar a cabea para um

    dos lados como consequncia da presena de pontas excessivas de esmalte nos pr-molares

    e/ou molares, de dentes de lobo e/ou de ganchos (entre outros) que lesionam a mucosa.

    Outras alteraes como dificuldade em flectir e esticar o pescoo, o que pode provocar dor nodorso e consequentemente dificultar a movimentao dos membros so tambm passveis de

    ser encontradas. ainda tambm frequente a movimentao assimtrica dos membros como

    consequncia do desequilbrio resultante das alteraes na mobilidade da cabea e pescoo.

    Aquando da presena de alteraes dentrias, e sobretudo como consequncia da dor por elas

    provocada, podem tambm verificar-se mudanas ao nvel do carcter do animal. Este pode

    apresentar-se particularmente nervoso reagindo mal tentativa de aparelhamento e chegando

    mesmo a impedir o contacto fsico (Manso, San Romn & Llorens, 2002).

    8. MTODOS COMPLEMENTARES DE DIAGONSTICO

    Em alguns casos, a utilizao de mtodos complementares de diagnstico aquando da

    presena de leses na cavidade oral pode ser bastante vantajosa. Os mais comummente

    utilizados so a radiografia simples, a radiografia de contraste, a ultrassonografia, a biopsia, a

    cmara intra-oral e a endoscopia.A radiografia simples o mtodo imagiolgico de eleio devido eficcia e capacidade de

    deteco de alteraes no osso e dentes. A radiografia de contraste til para verificar o

    envolvimento dentrio em casos de tractos fistulosos. A ultrassonografia constitui um ptimo

    mtodo para caracterizao dos tecidos moles e pode auxiliar na caracterizao de fracturas

    patolgicas, abcessos ou aquando da suspeita de lise ssea. A biopsia realizada sobretudo

    aquando da presena de massas. A cmara intra-oral e a endoscopia auxiliam na visualizao

    das estruturas, sendo que esta ltima aumenta a deteco de alteraes odontolgicas. Emborade utilizao no to frequente devido sobretudo aos elevados custos a que esto associados,

    existem ainda outros mtodos auxiliares de diagnstico como a tomografia computadorizada e

    a medicina nuclear. A primeira til pois revoga a sobreposio da arcada dentria ipsilateral

    inerente s radiografias, sendo a segunda bastante vantajosa aquando da necessidade de

    verificar o envolvimento sseo na regio dentria em casos em que os sinais apresentados so

    vagos ou no facilmente localizveis (OBrien & Biller, 1998; San Romn & Manso, 2002;

    Goff, 2006).

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    9. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS ODONTOLGICOS

    Devido grande variedade de alteraes que podem ser encontradas na boca de um equino, ao

    aumento da procura de servios odontolgicos nesta espcie e ainda devido ao aumento do

    recurso a sedativos e analgsicos que possibilitam uma melhor conteno do animal, temvindo a ser desenvolvida uma vasta gama de instrumentos com o intuito de melhorar em

    quantidade e qualidade a prtica odontolgica nos equinos.

    A escolha dos instrumentos varia consoante a patologia presente, o conhecimento, a

    experincia e os gostos pessoais do veterinrio, sendo que deve obedecer a requisitos de

    facilidade de manuseamento, conforto de utilizao e permitir garantia de bons resultados

    (Easley, 1998).

    Aquando da prtica odontolgica, a utilizao de certos instrumentos cuja finalidade a

    conteno do animal, tais como o cabresto ou o aziar, tem-se revelado de grande utilidade,

    representando uma ajuda preciosa ao trabalho do veterinrio.

    Instrumentos que auxiliem a visualizao da cavidade oral e a desimpeam de partculas

    alimentares so tambm bastante teis. Para o efeito so habitualmente utilizados utenslios

    como uma fonte de luz, que ilumine a poro distal da cavidade oral, um espelho oral ou

    fibroscpio, que auxilie na visualizao dos espaos interproximais dos dentes, uma seringa

    de lavagem, que promova a limpeza e desobstruo da cavidade oral e uma sonda

    odontolgica, que remova restos de alimentos presos entre os dentes (Easley, 1998; Kreling,

    2003).

    Figura 9: 1Cabresto; 2Fonte de luz; 3Espelho oral; 4Seringa de lavagem; 5Sondaod