universidade federal fluminense instituto · pdf fileplanejamento urbano. 4. ... pim - plano...

125
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ANÁLISE GEOAMBIENTAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA AMBIENTAL ISABEL CRISTINA PEREIRA DE OLIVEIRA LIXO NA “ESCADA”: UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS NITERÓI 2006

Upload: dangngoc

Post on 02-Feb-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ANÁLISE GEOAMBIENTAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA AMBIENTAL

ISABEL CRISTINA PEREIRA DE OLIVEIRA

LIXO NA “ESCADA”:

UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

NITERÓI

2006

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

ISABEL CRISTINA PEREIRA DE OLIVEIRA

LIXO NA “ESCADA”: UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Gestão Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. EMILIO MACIEL EIGENHEER

Niterói

2006

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

ii

O48 Oliveira, Isabel Cristina Pereira de Lixo na “Escada”: um estudo sobre a gestão municipal de resíduos sólidos / Isabel Cristina Pereira de Oliveira. – Niterói : s.n., 2006. 108 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universi- dade Federal Fluminense, 2006.

1. Resíduos sólidos. 2. Gestão municipal – Escada (PE). 3. Planejamento urbano. 4. Lixo - Aspectos legais e finan- ceiros. I. Título. CDD 352.63098134

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

iii

ISABEL CRISTINA PEREIRA DE OLIVEIRA

LIXO NA “ESCADA”: UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Gestão Ambiental.

Aprovada em 11 de setembro de 2006.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

Prof. Dr. EMILIO MACIEL EIGENHEER Universidade Federal Fluminense

__________________________________

Profª. Dra. JANIE GARCIA DA SILVA Universidade Federal Fluminense

__________________________________

Prof. Dr. JOÃO ALBERTO FERREIRA Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Niterói

2006

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

iv

Com todo amor que houver nesse mundo,

à minha pequena guerreira Dandara, por

ter resistido tão bravamente à minha

ausência.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

v

AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as bênçãos enviadas.

A minha filha Dandara Nirvana, pelo seu amor, carinho e compreensão.

Um agradecimento especial a Eduardo Silva, todo meu carinho e admiração.

A Tarcísio Augusto, por nunca ter dito “não” ao que me fazia feliz.

A minha família, meu muro de arrimo e porto seguro, muito obrigada por terem me

encorajado a continuar os estudos.

Agradeço de coração ao meu orientador Emilio Eigenheer por ter abraçado esta

causa comigo, no momento em que mais precisei.

A minha querida amiga e “irmã” Patrícia Cabral pelas palavras de incentivo,

carinho, apoio e compreensão nos momentos mais decisivos da minha vida.

Agradeço a minha querida irmã Betânia Oliveira por ter sido mãe da nossa Dandara

nos momentos da minha ausência.

Aos amigos Jailson da Paz e Izabel Santos que foram os responsáveis pela iniciativa

na busca da bolsa de estudo da Fundação Ford.

Ao amigo e professor Clóvis Cavalcanti da Fundação Joaquim Nabuco pelo carinho

e atenção prestados ao longo da pesquisa.

Ao Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford por ter

fomentado a pesquisa e sem pelo qual minha estadia no Rio de Janeiro seria impossível.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal

Fluminense por ter acreditado no desenvolvimento da pesquisa proposta.

A todos os mestres do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental por

terem me proporcionado crescimento pessoal e profissional através de suas experiências

acadêmicas.

A todos os amigos e amigas da Turma 2004 do Programa de Pós-Graduação em

Ciência Ambiental, obrigada pela recepção e por terem feito eu me sentir em casa.

As minhas grandes amigas Thaís Gallo, Márcia Couto e Keyla Farias pelas longas

conversas e tricotagens.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

vi

Aos amigos “vermelhos” Geovani Ferraz, Genésio Gregório, Vitor Cadorin e Vânia

Marques pelas longas discussões que enriqueceram sobremaneira a forma de condução dos

temas sócio-ambientais utilizados na pesquisa.

A amiga Leomar Vazzoler pela partilha do mesmo teto ao longo dessa temporada no

Rio de Janeiro, obrigada pela companhia tão agradável.

Agradeço a colaboração da Prefeitura Municipal da Escada, em especial aos

Secretários de Administração e Finanças, Sr. Franklin Fidelis, e Infra-Estrutura na pessoa

do Sr. Josaildo Gouveia por autorizarem o fornecimento dos dados, possibilitando a

realização deste trabalho.

A Edson Gomes pelas informações prestadas na Secretaria de Infra-Estrutura.

A Rosário Silva, Diretora da Secretaria de Meio Ambiente pelas ótimas conversas

sobre gestão ambiental.

Ao PROMATA, através dos Srs. Ricardo Santos, Jadson Souza e Roberto Filho

pelas informações fundamentais prestadas a respeito do programa de desenvolvimento

sustentável do Governo do Estado de Pernambuco no município.

A todos os líderes das organizações e movimentos populares por terem tão

prontamente respondido as minhas questões através das entrevistas dadas, sem as quais o

desenvolvimento da pesquisa ficaria comprometido, muito obrigada.

A Marcos Borzino, Diretor da Secretaria de Gestão Ambiental Urbana do Ministério

do Meio Ambiente, pelas ótimas contribuições a respeito da Política Nacional de Resíduos

Sólidos.

A todos e todas que direta ou indiretamente se fazem presente ao longo desta

pesquisa, muito obrigada.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

vii

Os conhecimentos fragmentados só servem

para usos técnicos. Não conseguem

conjugar-se para alimentar um

pensamento capaz de considerar a

condição humana no âmago da vida, na

terra, no mundo, e de enfrentar os grandes

desafios de nossa época.

Edgar Morin

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

SUMÁRIO

SUMÁRIO .......................................................................................................................................................1

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................................................3

LISTA DE TABELAS .....................................................................................................................................5

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ......................................................................................................6

RESUMO .........................................................................................................................................................8

ABSTRACT.....................................................................................................................................................9

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................10

1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................................................15 1.1.1 Objetivo Geral........................................................................................................................15 1.1.2 Objetivos Específicos.............................................................................................................15

1.2 JUSTIFICATIVAS...............................................................................................................................15 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ........................................................................................................16

2 A CIÊNCIA ECONÔMICA NO CONTEXTO DA GESTÂO AMBIENTAL ....................................18

2.1 ECONOMIA E SUA DIMENSÃO INTERDISCIPLINAR...........................................................................18 2.2 FUNÇÕES DO MEIO AMBIENTE E EXTERNALIDADES .......................................................................20 2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES .....................................................................24

2.3.1 Classificação..........................................................................................................................25 2.3.2 Formas de Tratamento dos Resíduos Sólidos.......................................................................27 2.3.3 Destinação Final de Resíduos Sólidos..................................................................................29

2.4 CUSTOS DA GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................30 2.5 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: DIFICULDADES, PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS ..........................34

3 PLANEJAMENTO URBANO E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ............................................40

3.1 DIRETRIZES LEGAIS PARA O GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS.....................44 3.2 INSTRUMENTOS LEGAIS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS VOLTADOS À GESTÃO DE

RESÍDUOS SÓLIDOS..................................................................................................................................................48 3.2.1 O conceito legal de taxa e tarifa como componente da gestão de resíduos sólidos .............51

3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONTEXTO DA GESTÃO URBANA................................................................53

4 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................................61

4.1 INSTRUMENTOS DE TRABALHO .......................................................................................................61 4.2 AMOSTRAGEM .................................................................................................................................62

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

2

4.3 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................................................63

5 O MUNICÍPIO DE ESCADA - PE ......................................................................................................65

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................65 5.1.1 Evolução Histórica ................................................................................................................65 5.1.2 Aspectos Físicos.....................................................................................................................66 5.1.3 Aspectos Econômicos ............................................................................................................68 5.1.4 Aspectos Sócio-Ambientais ...................................................................................................70 5.1.5 PROMATA ............................................................................................................................74

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................................80

6.1 RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESCADA: QUADRO ATUAL ..........................................................................81 6.1.1 Escada: custos da limpeza pública........................................................................................90

6.2 RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESCADA: PERCEPÇÃO DAS LIDERANÇAS ...................................................93 6.2.1 Sustentabilidade Técnica-Operacional .................................................................................96 6.2.2 Sustentabilidade Ambiental...................................................................................................98 6.2.3 Sustentabilidade Econômico-Financeira ...........................................................................103

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..........................................................................................108

8 RERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................111

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

3

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Situação das usinas de reciclagem e compostagem no Estado do Rio de Janeiro –

2003.............................................................................................................................. 36

Figura 2: Investimentos da CEF em resíduos sólidos de 1996 a 2002......................................... 37

Figura 3: Resíduos coletados para destino final em aterros sanitários privados.......................... 38

Figura 4: Encerramento de lixões em Portugal............................................................................ 55

Figura 5: Responsabilização da população pela geração de resíduos.......................................... 58

Figura 6: Críticas à cobrança da taxa de lixo em São Paulo........................................................ 59

Figura 7: Localização geográfica do município de Escada...........................................................66

Figura 8: Limites territoriais da cidade de Escada - PE............................................................... 67

Figura 9: Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – M - Escada.......................................... 73

Figura 10: Organograma da estrutura da limpeza pública do município da Escada.................... 82

Figura 11: Caminhão alugado pela prefeitura para coleta do lixo municipal.............................. 83

Figura 12: Funcionário efetivo do Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal

da Escada da Escada..................................................................................................... 84

Figura 13: Coleta do lixo municipal............................................................................................. 85

Figura 14: Lixão do município de Escada.................................................................................... 87

Figura 15: Catadores de material reciclável no lixão................................................................... 88

Figura 16: Materiais recicláveis coletados no lixão..................................................................... 89

Figura 17: Presença de crianças no lixão..................................................................................... 90

Figura 18: Distribuição da amostra por organizações e movimentos populares ......................... 94

Figura 19: Nível de escolaridade dos entrevistados......................................................................95

Figura 20: Motivos pela ineficiência na coleta dos resíduos sólidos no município de Escada.... 96

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

4

Figura 21: Motivos pela ineficiência na disposição final do lixo municipal................................ 97

Figura 22: O que acontece com os resíduos sólidos depois de coletados segundo os entrevista-

dos................................................................................................................................ 99

Figura 23: Responsabilidade pelo lixo produzido segundo os entrevistados............................. 103

Quadro 1: Aspectos físicos do município de Escada (2000)........................................................ 68

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

5

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Destinação final de resíduos sólidos coletados no Brasil............................................. 12

Tabela 2: Brasil – Percentual do orçamento municipal destinado aos serviços de limpeza urbana

e / ou coleta de lixo....................................................................................................... 13

Tabela 3: Brasil – Municípios com serviço de limpeza urbana e / ou coleta de lixo, por existência

e forma de pagamento................................................................................................... 14

Tabela 4: Gastos com a coleta dos resíduos sólidos no Brasil..................................................... 32

Tabela 5: Gastos com o destino final no gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil............. 33

Tabela 6: Déficit dos custos do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil........................... 34

Tabela 7: Produção de açúcar nas safras 73/74, 84/85 e 86/87 das usinas pertencentes à cidade

de Escada...................................................................................................................... 69

Tabela 8: Escada – População por situação de domicílio............................................................. 70

Tabela 9: Taxa geométrica anual de crescimento populacional................................................... 70

Tabela 10: Índice de Exclusão Social – IES – Município de Escada........................................... 73

Tabela 11: Serviço de coleta – Freqüência, horário e quantidade................................................ 85

Tabela 12: Domicílios particulares permanentes segundo o destino do lixo................................ 86

Tabela 13: Composição gravimétrica........................................................................................... 87

Tabela 14: Cobrança do IPTU – Município de Escada................................................................ 91

Tabela 15: Custo mensal com serviço de coleta e destinação final de resíduos em Escada......... 91

Tabela 16: Custo mensal por tonelada.......................................................................................... 92

Tabela 17: Propostas sugeridas pelos entrevistados para melhorar o sistema de gerenciamento

dos resíduos sólidos na cidade de Escada................................................................. 100

Tabela 18: Origem dos recursos destinados para a manutenção do serviço de limpeza pública

segundo os entrevistados.......................................................................................... 104

Tabela 19: Motivos que levariam os entrevistados a pagarem pelo serviço de coleta e destinação

final do lixo no município....................................................................................... 105

Tabela 20: Motivos que levariam os entrevistados a não pagarem pelo serviço de coleta e desti-

nação final do lixo no município............................................................................. 106

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

6

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNH - Banco Nacional de Habitação

CEF - Caixa Econômica Federal

CEMPRE - Compromisso Empresarial para a Reciclagem

CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente

DS - Desenvolvimento Sustentável

FPM - Fundo de Participação Municipal

GRS - Grupo de Resíduos Sólidos

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IES - Índice de Exclusão Social

INSS - Instituto Nacional de Seguro Social

IPT - Instituto de Pesquisa Tecnológica

IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano

OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OGU - Orçamento Geral da União

ONU - Organização das Nações Unidas

PASS – Programa de Ação Social em Saneamento

PEV - Posto de Entrega Voluntária

PGIRS - Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

7

PIB - Produto Interno Bruto

PIM - Plano de Investimento Municipal

PNMT – Programa Nacional de Municipalização do Turismo

PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos

PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPP - Parceria Público-Privada

PROGEST – Programa de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos

PROMATA - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de

Pernambuco

RSU - Resíduos Sólidos Urbanos

SECTEMA - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco

SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

UE - União Européia

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

8

RESUMO

A gestão dos resíduos sólidos tem se tornado uma questão cada vez mais relevante no contexto das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental a serem buscados pela sociedade contemporânea. A complexidade existente principalmente na destinação final dos resíduos sólidos tem causado problemas de ordem social e ambiental com reflexos econômicos negativos para a sociedade em geral. A gestão dos resíduos sólidos é de competência municipal de ordem local, cabendo aos municípios encontrar soluções ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis. Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo discutir a cobrança pelos serviços relacionados ao lixo, como componente de uma gestão integrada de resíduos sólidos junto às lideranças (pessoas-chave) dos principais movimentos populares do município de Escada - PE, assim como analisar as questões relacionadas à gestão dos resíduos sólidos urbanos do município em suas dimensões técnico-operacionais, ambientais, sociais e econômicas. O estudo destaca ainda a relação existente entre os custos do sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos e os financiamentos existentes para a efetivação de tais sistemas e a importância da cobrança da taxa / tarifa de lixo como uma fonte potencial de recursos. Para atingir o objetivo da pesquisa, a metodologia utilizada para buscar informações e dados que respondessem ao problema estabelecido no trabalho foi a utilização de entrevistas qualitativas semi-estruturadas com lideranças de organizações populares e também pesquisas exploratórias para a elaboração do diagnóstico atual do sistema de gerenciamento dos resíduos na cidade. A pesquisa permitiu entender a importância do planejamento urbano como estratégia fundamental para a elaboração de uma política voltada para os resíduos sólidos e também permitiu contribuir com dados e informações para a elaboração do plano de gerenciamento de resíduos da cidade, na construção de estratégias de gestão integrada de resíduos sólidos, atribuindo a esta gestão a proposta de tarifação ou taxação individual como pagamento pelo benefício ambiental.

Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos; Gestão Municipal; Planejamento Urbano; Escada; Taxa / Tarifa de Lixo.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

9

ABSTRACT

The management of solid wastes has become more and more a relevant issue when it comes to the priorities of development and environmental balance to be sought by contemporary society. The complexity which exists mainly in the final destination of solid wastes has caused social as well as environmental problems with negative economic consequences to society as a whole. The management of solid wastes is due to local municipal competence, being expected that the districts find sustainable environmental solutions which are economically acceptable. In this context, the present work aims at discussing the fees charged for garbage services as a component of an integrated management of solid wastes along with the leadership (key- people) of the main popular strata of the district of Escada- PE; as well as analyse the issues related to the management of the district urban solid wastes in its technical- operational, environmental, social and economical dimensions. The study still highlights the current relation between the costs of the solid wastes management system and the financial procedures in order to support such systems, and also, the importance of charging a tax / garbage fee as a potential source of resources. In order to achieve the goal of this research, the methodology implemented to search for information and data which might correspond to the issue established in the present work, we used semi structured qualitative interviews with the leaders of popular organizations. Moreover, exploratory researches were also used to make the present diagnosis of the management system of the city’s wastes. The research enabled us to understand the importance of urban planning as a fundamental strategy to elaborate a policy directed to the solid wastes and also allowed us to contribute with data and information to the creation of the management planning of the city’s wastes, to the construction of integrated managerial strategies of solid wastes, attributing to this management the proposal for charging fees or individual taxes as payment policy for the environmental benefit.

Key words: Urban Solid Wastes; Municipal Management; Urban Planning; Escada; Tax / Garbage Fee.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

10

1 INTRODUÇÃO

A gestão de resíduos sólidos tem se tornado um expediente cada vez mais importante no

contexto econômico da sociedade contemporânea. A complexidade existente principalmente na

destinação final dos resíduos sólidos tem causado em nosso país problemas de ordem social

(associados à pobreza) e ambiental (contaminação do solo, do ar e da água), com reflexos

econômicos (externalidades negativas) para a sociedade em geral.

Tendo em vista que os problemas decorrentes da poluição causada pelos resíduos sólidos

podem trazer problemas para a qualidade de vida de setores da população, sua gestão vai ao

encontro dos preceitos do Desenvolvimento Sustentável - DS, no que diz respeito à satisfação das

necessidades básicas das atuais e futuras gerações (RELATÓRIO BRUNDTLAND, 1991).

Muito poderia ser dito sobre a temática em questão. No entanto, aqui trataremos em linhas

gerais, de custos e financiamentos em função de taxa / tarifa de lixo, para a elaboração de um

plano de gestão de resíduos sólidos. No presente estudo abordaremos o tema a partir do enfoque

dado à gestão dos resíduos sólidos a nível nacional e, analisaremos a temática mais precisamente

no estudo de caso referente ao município de Escada, localizado no interior de Pernambuco.

A problemática existente com relação à gestão dos resíduos sólidos vem se aprofundando

ao longo dos séculos. Da Antigüidade até meados do século XVIII, quando surgiram às primeiras

indústrias na Europa, o lixo produzido era composto basicamente por cinzas e restos de alimentos

(EIGENHEER, 2003). A partir da revolução industrial, houve uma aceleração no processo de

crescimento econômico global, e esse crescimento aumentou sensivelmente a geração de resíduos

provenientes também do processo produtivo, ou seja, produção de objetos de consumo em larga

escala e, conseqüentemente, aumento do volume e da diversidade dos resíduos gerados. Mas, não

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

11

foi apenas isso que aconteceu, pois, um novo padrão de consumo também foi responsável pelo

lançamento de grandes quantidades de resíduos no meio ambiente. Tradicionalmente, as

populações tendem a acumular resíduos em seu entorno e, com o avanço tecnológico, estes

passaram a comprometer o limite ecológico de tempo para decomposição de materiais cada vez

mais estranhos ao ciclo de reciclagem natural.

Outra questão que implica na complexa gestão dos resíduos sólidos é o fato de hoje no

Brasil, a maior parte da população residir nas cidades. Segundo o IBGE (2002), 80% da

população brasileira vive nos centros urbanos. Este dado demonstra que a dinâmica das cidades

deve levar em consideração a demanda pelos serviços de infra-estrutura que essa concentração

populacional produz, como: acesso à moradia, água potável, energia, esgotamento sanitário e

coleta e destinação final de resíduos. Caso não haja o planejamento e o gerenciamento urbano, e

esses não atendam aos requisitos básicos citados, surgirão problemas de ordem social, econômica

e ambiental (BRAGA & CARVALHO, 2002).

No Brasil, os serviços de energia, água e esgotamento sanitário já são bastante difundidos

(apesar de não atenderem a toda população) e os cidadãos pagam por eles. O mesmo não ocorre

com o serviço de coleta e disposição final dos resíduos sólidos, uma vez que, entre outras razões,

não existe parâmetros de mensuração da quantidade de resíduos gerada por unidade residencial.

O parâmetro que poderia ser utilizado seria através do volume de um contêiner padronizado, no

entanto tal estratégia seria inviável no Brasil, uma vez que existe uma tendência na utilização de

terrenos baldios, rios, córregos e canaletas como destino final dos resíduos, principalmente nas

regiões periféricas onde a coleta é precária e algumas vezes até inexistente.

A gestão dos resíduos sólidos é de competência municipal, cabendo a ele, a partir das

diretrizes apontadas pelas esferas federal e estadual, definir sua própria regulamentação para

coleta, tratamento e destinação final. Dentre as várias formas de tratamento destaca-se a

incineração, a reciclagem e a compostagem; quanto ao destino final do lixo, temos: os aterros

sanitários, os aterros controlados e os vazadouros a céu aberto, popularmente conhecidos como

lixões (D’ALMEIDA & VILHENA, 2000). Qualquer tecnologia usada no tratamento ou no

destino adequado do lixo requer investimentos com altos custos operacionais, administrativos,

sociais e ambientais. Assim, a escolha do tipo adequado para o tratamento e para o destino final

dos resíduos sólidos deve levar em conta as especificidades locais e os custos implícitos nas

estratégias de tecnologias adotadas. Em se tratando de gestão de resíduos sólidos municipais a

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

12

determinação dos custos é extremamente relevante para a avaliação da eficiência e do

desempenho do serviço prestado.

No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB do IBGE (2002b),

são coletados diariamente cerca de 228.413,0 toneladas de resíduos sólidos domiciliares. A

destinação desses resíduos é dada conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Destinação final de resíduos sólidos coletados no Brasil.

Destinação Final %Aterros Sanitários 47,1Aterros Controlados 22,3Lixões 30,5Reciclagem 0,1Total 100

Fonte: PNSB/ IBGE, 2002b.

Esta pesquisa parece indicar que houve um avanço significativo na disposição final de

resíduos sólidos brasileiros, entretanto, não é um dado animador se levarmos em consideração o

conceito de aterro controlado, ou seja,

Aterro Controlado: é uma técnica de disposição final de resíduos sólidos

municipais no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais. Esta forma de disposição produz poluição, porém localizada, pois similarmente ao aterro sanitário, a área de disposição é minimizada. Geralmente, não dispõe de impermeabilização de base, nem sistema de tratamento do chorume ou do biogás gerado (D’ALMEIDA & VILHENA, 2000, p. 251)

Mesmo considerando que o aterro controlado é uma forma de destinação final

tecnicamente superior do que o descarte dos resíduos a céu aberto, ele apresenta um nível de

poluição localizada, desta forma, pode-se concluir que mais de 50% dos resíduos sólidos

brasileiros não tem destinação final adequada e eficiente.

No entanto, vale salientar que os dados apresentados pelo IBGE foram bastante

questionados e criticados na época, principalmente quanto a sua validade e/ ou finalidade, haja

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

13

vista que não refletem a realidade do destino final dos resíduos sólidos brasileiros quando aponta

que mais de 47% dos resíduos sólidos no país tem como destino final os aterros sanitários.

Por outro lado, alcançar um elevado nível de extensão da cobertura da coleta, com

tratamento e destinação final adequada dos resíduos sólidos implica em elevados custos

financeiros. Se grande percentual do orçamento municipal for utilizado para torná-los eficiente,

outros setores importantes como educação e saúde podem ser prejudicados. Em decorrência do

alto custo operacional, grande parte das cidades brasileiras dá maior atenção à coleta,

comprometendo a destinação final de seus resíduos sólidos. Tal fato é fundamentado nos dados

do IBGE (2002b) que indicam que 63,6 % do total dos municípios do país usam o lixão como

destino final.

De igual modo, os dados do IBGE (2002b) apontam que quase 80% das cidades destinam

até 5% do orçamento municipal destinado aos serviços de limpeza pública, conforme Tabela 2.

Com esses dados, percebe-se a existência de uma correlação entre o baixo índice de

investimentos no setor por parte dos municípios e o alto índice de existência de lixões como

destino final dos resíduos. Este fato indica que não existe uma garantia na qualidade do serviço,

já que tradicionalmente tal atividade não é uma questão prioritária no orçamento municipal.

Tabela 2: Brasil – Percentual do orçamento municipal destinado aos serviços de

limpeza urbana e/ ou coleta de lixo

Percentual do Orçamento Quantidade de Municípios %Até 5% 4.338 79,23Mais de 5% até 10% 872 15,93Mais de 10% até 15% 123 2,25Mais de 15% até 20% 33 0,6Mais de 20% 31 0,57Sem declaração 78 1,42Total 5.475 100

Fonte: PNSB / IBGE, 2002b.

Outro elemento importante para o entendimento da gestão de resíduos municipais refere-

se aos dados relacionados com a existência da cobrança pelo serviço de limpeza pública. A

Tabela 3 aponta que 42,19% da amostra pagam uma taxa dentro do IPTU, o que seria um dado

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

14

animador se fosse em função da quantidade de resíduos produzida e não fixa. Por outro lado, os

municípios que não cobram nada para a realização dos serviços de limpeza pública correspondem

a 54,62% das cidades brasileiras, utilizando outras fontes de recursos do orçamento municipal

para suprir os custos necessários à realização dos serviços.

Finalmente, pouco mais de 2% dos municípios brasileiros possuem uma taxa específica

para a manutenção dos serviços de coleta, tratamento e destino final do lixo municipal.

Geralmente são os municípios que possuem mais de 100.000 habitantes e pertencentes às regiões

metropolitanas das capitais brasileiras, ou seja, municípios que por pressão populacional, geram

uma maior quantidade de resíduos e, conseqüentemente, além de terem maiores custos

operacionais, também possuem maiores investimentos no setor.

Tabela 3: Brasil - Municípios com serviço de limpeza urbana e/ou coleta de lixo, por

existência e forma de pagamento.

Brasil Quantidade de Municípios %Taxa específica 129 2,36Dentro do IPTU 2.310 42,19Tarifa p/ serviços especiais 13 0,24Outra 25 0,46Sem declaração 7 0,13Não cobram 2.991 54,62Total 5.475 100

Fonte: PNSB / IBGE, 2002b.

Levando-se em conta essas considerações, os municípios, via de regra, não têm sido

capazes de equacionalizar os custos de uma gestão integrada de resíduos sólidos.

A questão que se coloca é: os municípios são capazes de assumir os custos decorrentes da

implantação de um sistema de coleta, tratamento e destino final de resíduos sólidos com as atuais

formas de arrecadação de impostos?

A presente dissertação se volta para o município de Escada, localizado na Zona da Mata

Sul de Pernambuco, que enfrenta como grave problema ambiental urbano, o acúmulo de resíduos

sólidos em um lixão a céu aberto. Semelhante ao que se observa em diversos municípios

brasileiros de pequeno e médio porte, a cidade não dispõe de capacidade de suporte financeiro

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

15

para assumir um manejo eficiente de resíduos, assim como, não possui uma política de gestão

para a problemática em questão.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 OBJETIVO GERAL

Discutir a cobrança pelos serviços relacionados ao lixo, como componente de uma gestão

integrada de resíduos sólidos no município de Escada. A fim de atingir tal meta, elegemos os

seguintes objetivos específicos:

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar a gestão municipal de resíduos sólidos do município de Escada;

Ressaltar a importância da cobrança da taxa / tarifa do lixo como

instrumento econômico financeiro para a gestão integrada de resíduos

sólidos;

Identificar os principais problemas ambientais conseqüentes da disposição

irregular de resíduos sólidos no município.

1.2 JUSTIFICATIVAS

Os caminhos que nos levaram à elaboração da presente pesquisa vêm da época do curso

de graduação em Economia Rural, na disciplina de Economia dos Recursos Naturais. Na ocasião,

a determinação de preços para os recursos naturais vislumbrava a possibilidade de chegar-se a

uma melhor utilização de tais recursos, a partir da disposição a pagar ou não dos consumidores

através do método da valoração contingente, ou seja, quanto a população estaria disposta a pagar

para manter um recurso ambiental ou quanto estaria disposta a receber pela exploração,

destruição ou poluição de um determinado ativo ambiental? A partir do enfoque da “disposição a

pagar”, existiria a possibilidade de dar preço aos resíduos sólidos mesmo não se constituindo

como um recurso natural? Ou seja, quanto os consumidores estariam dispostos a pagar para

manter um serviço adequado de coleta, tratamento e destino final dos resíduos sólidos?

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

16

Com a metodologia existente de mensuração de ativos ambientais, definir preços a partir

da disposição a pagar pela população seria impossível, uma vez que a metodologia permite

mensurar apenas a disposição a pagar pela população para utilização ou não de um recurso

ambiental e no caso dos resíduos sólidos seria a disposição a pagar pelo descarte do que não é

consumido.

Assim, o projeto passou por uma reelaboração no sentido de se discutir a mesma temática

a partir de uma outra perspectiva, ou seja, do ponto de vista da gestão municipal de resíduos

sólidos. À medida que nos aprofundávamos no assunto, nos deparamos com algumas

dificuldades, a saber: mesmo assumindo a falta de dados como um fato, a carência de

informações que definissem a gestão de resíduos no município tornou-se um grande problema,

devido à existência de poucas informações documentadas no município. Com exceção dos dados

obtidos através do Grupo de Resíduos Sólidos - GRS da Universidade Federal de Pernambuco -

UFPE, todas as demais informações obtidas foram levantadas no desenvolvimento da pesquisa.

Por outro lado, ao longo do trabalho de campo, na busca de informações que mapeassem a

realidade da problemática em questão, nos deparamos com um alto nível de pobreza e que

geralmente se encontra no entorno dos lixões das cidades brasileiras. Fruto da falta de alternativas

de trabalho, famílias inteiras tiram seu sustento desses ambientes. Isso nos leva à reflexão sobre a

importância da discussão sobre a possibilidade de inclusão social desses trabalhadores dentro dos

planos de gerenciamento de resíduos sólidos municipais.

A pesquisa justifica-se também pela lacuna existente de estudos com relação às políticas

de gestão de resíduos sólidos em pequenos municípios (KAPAZ, 2004).

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Na introdução apresentamos o tema da pesquisa e os objetivos a serem almejados. O

segundo capítulo é dedicado à inter-relação existente entre a Economia e o Meio Ambiente e

também ao levantamento das principais formas de tratamento e destinação final de resíduos

sólidos, com levantamento de custos e as dificuldades existentes para a obtenção de

financiamentos públicos para obras estruturais de execução dessa atividade, assim como a

dificuldade de capacitação técnica de gestores municipais para a tarefa.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

17

O terceiro capítulo apresenta as legislações pertinentes ao planejamento urbano e à gestão

de resíduos sólidos e suas implicações no equilíbrio de receitas e despesas dos sistemas de gestão.

Apresenta também o levantamento histórico do financiamento dos serviços para os resíduos

sólidos não apenas no nível internacional, mas também algumas experiências adotadas no Brasil,

como o caso da cidade de São Paulo. O quarto capítulo apresenta os materiais e métodos

utilizados para obtenção de dados para a elaboração da pesquisa. O quinto é dedicado à

caracterização do município de Escada em seus aspectos físicos, econômicos e sócio-ambientais.

No sexto apresentamos os resultados e discussões referentes à pesquisa, sendo os

resultados divididos em duas partes: a primeira para a apresentação do quadro atual do

gerenciamento dos resíduos na cidade e a segunda para a apresentação da percepção das

lideranças quanto ao sistema de manejo adotado. Por fim, o sétimo e último capítulo detêm-se nas

considerações finais e recomendações que concluem o estudo.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

18

2 A CIÊNCIA ECONÔMICA NO CONTEXTO DA GESTÂO AMBIENTAL

2.1 ECONOMIA E SUA DIMENSÃO INTERDISCIPLINAR

A ciência econômica nas últimas décadas tem se preocupado também com as variações do

nível de bem estar social das populações originadas da degradação ambiental. Eventos como a

Conferência das Nações Unidas em Estocolmo em 1972 e a Eco 92 no Rio de Janeiro, alertaram

o mundo para questões como a qualidade ambiental do planeta, assim como a grande

dependência do homem no que se refere à utilização dos recursos naturais para a produção de

bens de consumo (PESSÔA, 1996).

Com o aumento dos problemas relativos ao aquecimento global, alterações climáticas e

problemas sociais e ambientais urbanos, tornou-se urgente e necessário uma análise dos

problemas ambientais tanto sob o ponto de vista econômico quanto numa perspectiva integrada

com questões ambientais e sociais. A Economia do Meio ambiente ou Economia Ecológica se

insere nesse contexto, e tem por finalidade propor conceitos e instrumentos capazes de orientar os

gestores públicos e privados a lidarem melhor com o meio ambiente, garantindo assim a

sustentabilidade (PESSÔA, 1996). A Economia Ecológica é definida por MAY1 como: “Ações

conjuntas entre a economia e a ecologia para a formulação de uma nova área, transdisciplinar,

que aborda os interesses humanos e das espécies em diferentes escalas, procurando explicar e

promover políticas orientadas à sustentabilidade”.

Neste sentido, COMUNE (1994) destaca como de fundamental importância, uma

cooperação entre as diversas disciplinas envolvidas no trato com o meio ambiente, na tentativa de

1 Notas de sala de aula. MAY, Peter Herman. Economia e Política dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente. Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade - CPDA, 2004.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

19

buscar uma teoria global que possibilite analisar as inter-relações dos fenômenos ambientais com

os fenômenos econômicos e sociais. De igual modo, SACHS afirma que:

Em vez de pensar nos objetivos ecológicos e econômicos como conflitantes,

deve-se compreender que os sistemas econômicos dependem dos sistemas ecológicos de apoio à vida, e incorporar ao nosso pensamento, e às nossas ações, a noção de complementaridade entre capital natural e capital construído pelo homem (SACHS, 1993).

A gestão dos resíduos sólidos se põe em evidência no contexto mundial por conta do

aumento populacional, do crescente consumo de bens industrializados e dos elevados custos de

coleta, tratamento e disposição final (COHEN, 2003). As implicações relacionadas com tais

mudanças refletem a alto grau de impacto ambiental decorrente do volume de resíduos gerados

com mudanças significativas em suas características, ou seja, resíduos cada vez mais estranhos ao

ciclo de reciclagem natural do planeta.

Assim, o conceito de DS surge como uma alternativa viável para a integração das diversas

dimensões existentes como: a dimensão social, a dimensão ambiental e a dimensão econômica.

Embora o termo DS seja extremamente utilizado pela dimensão econômico-mercadológica,

agrega as questões sociais e ambientais com relação ao uso dos recursos para as atuais e futuras

gerações. Contrariamente ao que o conceito diz, LEROY (2002) afirma que a terminologia DS

está sendo utilizada como um conceito formado por “palavras minadas, desgastadas pelo uso

abusivo e distorcido”. Assim, o autor propõe uma nova conceituação de sustentabilidade,

“entendida como um processo pelo qual as sociedades administram suas condições materiais,

redefinindo os princípios éticos e sóciopolíticos que orientam a distribuição dos seus recursos

ambientais” (LEROY, 2002, p. 18).

Já ACSELRAD (2001) afirma que como não existe uma hegemonia entre os vários

conceitos existentes, o discurso econômico foi o que melhor se apropriou do conceito de

sustentabilidade.

Independentemente da forma em que o conceito é utilizado, a premissa maior do conceito

aponta que a sustentabilidade em suas diferentes abordagens implica na utilização dos recursos de

forma eqüitativa e prudente agregando as dimensões sociais, ecológicas e econômicas no atual

contexto de desenvolvimento. Por princípio, a partir da abordagem ecológica é imprescindível o

respeito à escala e ao tempo na utilização dos recursos naturais disponíveis.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

20

No caso dos resíduos sólidos, a sustentabilidade do sistema de gerenciamento deve

implicar na sustentabilidade econômico-financeira, isto é, na adoção do custo-benefício para

mensuração dos ganhos técnico-operacionais, equilíbrio entre receitas e despesas e no

financiamento de tecnologias mitigadoras. No que se refere a sustentabilidade social, o

gerenciamento dos resíduos sólidos municipais deve facilitar, sempre que possível, a inclusão

social dos catadores atuando como parceiros do sistema, uma vez que a atividade exercida por

esses atores é extremamente relevante por desviarem resíduos recicláveis dos aterros. Com

relação a sustentabilidade ambiental, o sistema de gerenciamento deve compreender sempre que

viáveis, medidas de redução, reutilização e reciclagem no sentido de aumentar a carga de suporte

de recepção dos resíduos em seu destino final e, que este esteja de acordo com as normas

ambientais estabelecidas, de tal forma que o meio ambiente não seja comprometido com

externalidades negativas.

O desequilíbrio existente entre algumas destas ações, compromete sobremaneira o

funcionamento de qualquer tipo de gerenciamento adotado, seja ele mais simples ou mais

complexo, devendo haver uma interligação entre as suas dimensões para garantir a eficiência e a

eficácia do serviço prestado. Todavia, a realidade mostra que este é um ideal ainda distante da

realidade dos municípios brasileiros.

Deste modo, BELLEN (2005) conclui que a sustentabilidade de um sistema começa a ser

ameaçada à medida que este sistema se torna incapaz de responder adequadamente à pressão da

carga que recebe. Esta pressão é função das dinâmicas da tecnologia, da economia e da

população. Assim, tal pressão se constitui na redução das funções que o meio ambiente exerce na

vida do homem.

2.2 FUNÇÕES DO MEIO AMBIENTE E EXTERNALIDADES

O meio ambiente como um todo, exerce inúmeras funções que mantêm o planeta em

equilíbrio. Ou seja, do ponto de vista ecológico, por exemplo, todo resíduo gerado por um

determinado indivíduo dentro do ecossistema, é alimento para outro, de tal modo que a natureza

tem capacidade de carga para receber tais resíduos porque a função tempo é considerada como

um fator de extrema importância nesse contexto (COMUNE, 1994). Por outro lado, à medida que

a quantidade de resíduos gerados vai aumentando, como nas últimas décadas, o meio ambiente

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

21

vai perdendo a capacidade de receber e decompor tais resíduos, comprometendo o equilíbrio

ecossistêmico do planeta. Para melhor entendimento desta questão dividiremos tais funções em

três grandes funções que o meio ambiente exerce na vida do homem (COMUNE, 1994).

É ofertante de recursos naturais: Através desta função, o homem usa o recurso

natural de forma direta ou indireta. Direta quando numa atividade produtiva, ou de

consumo, aproveita a matéria-prima para satisfazer o seu bem-estar. Indireta

quando utiliza o meio ambiente através de suas funções ecossistêmicas, como, por

exemplo, controle das marés exercido pelos mangues, controle da erosão do solo

exercido pelas florestas, entre outros.

É ofertante de amenidades: Inúmeras são as possibilidades de lazer oferecido

pelo meio ambiente. Lazer que pode ser exercido de forma ativa, através de uma

busca completa de seus prazeres, como praias, cachoeiras, parques e trilhas

ecológicas; ou simplesmente pela escolha que se faz viver próximo a algum

refúgio silvestre.

É receptor de resíduos: No exercício dessa função, o meio ambiente é muitas

vezes chamado como ‘fossa do mundo’ (CÁNEPA, 2003). Isto, quando se quer

ressaltar o lixo que nele se acumula, salientando-se a falta de respeito à capacidade

de regeneração que o meio ambiente possui, haja vista que a natureza é capaz de

receber os resíduos da atividade humana e transformá-los, de inúmeras maneiras,

novamente em um recurso a ser ofertado. No entanto, o problema é que para o

exercício de tal função, o meio ambiente exige tempo e as atividades humanas

não têm respeitado tal condição.

Quando cada um desses serviços ambientais é utilizado de forma intensiva, sem nenhuma

preocupação em mantê-los em equilíbrio, o meio ambiente perde a sua capacidade de exercer

essas mesmas funções. Tal desequilíbrio provoca uma série de modificações que têm efeitos

físicos diretos, tais como: perda de capacidade produtiva do solo, escassez de matérias-prima,

perda dos benefícios do lazer, etc. Deste modo, BELLEN (2005) afirma que as ameaças que

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

22

comprometem a sustentabilidade de um determinado sistema só passam a ser objeto de maior

atenção para a sociedade à medida que o sistema ambiental não responde adequadamente as

cargas recebidas, implicando em externalidades negativas para a população. Esses efeitos físicos

se constituem nos prejuízos que a sociedade está suportando pela modificação ambiental. Quando

estes prejuízos são avaliados em termos monetários, eles se expressam na forma de custos que

são repassados à sociedade pela degradação ambiental. Conforme enunciado por COMUNE,

A eliminação desses custos, ou sua redução a valores tão baixo quanto possível,

significa benefícios para a sociedade. Determinar se o custo da alteração ambiental (custo do dano) é maior ou menor que o custo de sua eliminação ou redução (benefício) é uma importante questão que a teoria econômica pode ajudar a resolver (COMUNE, 1994, p. 49).

CÁNEPA (2003) afirma também que, à medida que os recursos ambientais vão se

tornando escassos por conta do desequilíbrio das funções ecossistêmicas, o meio ambiente

precisa ser “economizado”, no sentido de garantir os efeitos positivos exercidos por tais funções.

No que se refere aos resíduos sólidos, o entorno natural está se tornando escasso com relação à

função de reciclagem, dada a expansão contínua das atividades humanas, constituindo-se como

externalidades ambientais negativas.

Assim, externalidade foi um conceito desenvolvido em 1920 pelo economista inglês

Pigou, no qual estabeleceu que quando a produção de um bem por uma determinada empresa ou

pessoa afeta a produção ou a qualidade de vida de terceiros, sem que exista uma transação

comercial entre elas, é considerado externalidade ambiental negativa (MOURA, 2000).

Segundo PESSÔA (1996), as externalidades surgem quando os efeitos de comportamento

de pessoas ou empresas causam prejuízos (externalidade negativa) ou benefícios (externalidade

positiva) a outras pessoas ou empresas, sem que estas sejam efetivamente compensadas através

do sistema de preços. De igual maneira, é definida como:

Externalidades ambientais negativas são custos (...) gerados pela produção que,

tradicionalmente, têm sido repassados para o público em geral. Internalizar estes custos envolve a criação de um mecanismo que force os produtores a assumirem parte destas despesas. O mecanismo que executa esta finalidade é a regulamentação (SILVERSTEIN, 1993, p. 28). (Grifo nosso).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

23

As externalidades segundo TOLMASQUIM (2001) desfrutam de certas características. A

primeira e importante característica da externalidade é o fato de que o objeto causador da

externalidade não seja o objetivo da atividade, produtiva ou de consumo, ou seja, a poluição

gerada é apenas uma conseqüência ou um subproduto de tais atividades. No entanto, apesar de ser

apenas um subproduto, causa danos ao meio ambiente e à população. Danos esses que não são

contabilizados nos cálculos das empresas ou pessoas de uma forma geral.

Por outro lado, quando a externalidade é causada por um agente poluidor facilmente

identificável, tais como indústrias que geram subprodutos como agentes químicos que

contaminam a água, o solo ou o ar, por exemplo, torna-se mais fácil atribuir responsabilidades

para tais gestores, uma vez que as legislações ambientais estão mais restritivas. Quando se trata

de resíduos sólidos, alguns tipos de resíduos já possuem responsabilidade específica por seus

geradores, tais como os resíduos de saúde e os resíduos da construção civil, entretanto, grande

parte dos resíduos gerados é de competência municipal. Isso quando a legislação é respeitada,

haja vista que a existência de depósitos clandestinos é uma constante em diversos municípios

brasileiros (SNIS, 2004).

A segunda característica refere-se ao direito de propriedade. Assim, as externalidades

surgem na maioria das vezes, porque não existem direitos de propriedades bem definidos, ou seja,

a quem pertence o direito de utilizar um determinado recurso natural; seja para mantê-lo limpo e

não poluído, seja para poluí-lo? Na falta de tal definição, a poluição acontece sem que seus

geradores sejam responsabilizados diretamente pela externalidade negativa gerada.

A terceira característica refere-se ao fato que, na existência de uma externalidade, a falta

de controle direto, a um custo nulo, sobre as fontes dos efeitos externos levam ainda a que esta

externalidade se mantenha. Isto é, o responsável pela poluição ou degradação não se estimula a

eliminar a externalidade, porque isto incorre em custos adicionais.

PHILIPPI JR. & MARCOVITCH (1999) reafirmam que qualquer que seja o enfoque seja

ele conseqüência de uma determinada atividade, direitos de propriedade ou custos adicionais, os

problemas ambientais são externalidades negativas impostas a terceiros não envolvidos

diretamente nos processos de produção e de consumo. O fato dos geradores não serem

responsabilizados por tais externalidades não levam os mesmos a buscarem soluções para os

problemas gerados. De igual modo, a responsabilização do causador pelos danos ambientais

implica em atender ao princípio do poluidor-pagador.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

24

Neste sentido, o atendimento a este princípio nas políticas ambientais significa:

Aproximar custos privados e custos sociais;

Acelerar a implantação do controle da poluição;

Induzir a adoção de tecnologias limpas;

Provocar o efeito psicosocial de que o ambiente tem valor monetário e material.

No caso dos resíduos sólidos, o princípio poluidor-pagador será entendido como um

instrumento de intervenção adotado pela gestão municipal através das taxas ou tarifas, uma vez

que a disposição irregular dos resíduos sólidos advindos não apenas das atividades produtivas,

mas também do consumo individual, causam externalidades negativas ao meio ambiente, pois

representam perda de bem-estar para as comunidades do entorno dos depósitos de resíduos e

alterações da qualidade ambiental (água, solo e ar) sem que essas perdas sejam compensadas.

Tal compensação deve ser direcionada para redução dos custos ambientais, sociais e

econômicos ao mínimo de forma que haja uma alocação eficiente dos recursos disponíveis.

Portanto, a avaliação monetária torna-se o ponto de passagem obrigatório para o cálculo de tais

custos e é o único que permite agregar diversos componentes dos custos e benefícios na

determinação de soluções ambientalmente sustentáveis, socialmente justas e economicamente

viáveis (PEARCE & TURNER, 1990).

Neste caso, a identificação dos principais tipos de resíduos gerados, assim como as

principais formas de tratamento e destino final existentes são extremamente relevantes para a

melhor alocação dos investimentos em função dos custos ambientais, sociais e econômicos. O

próximo item será dedicado a este aspecto do gerenciamento de resíduos sólidos municipais.

2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES

Segundo a definição apresentada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT,

(2004) NBR 10.004, os resíduos sólidos são definidos como:

“Resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam da atividade da

comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistema de tratamentos de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

25

poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível no país”.

ROTH et al (1999) denominam resíduos sólidos urbanos como o conjunto de detritos

gerados em decorrência das atividades humanas nos aglomerados urbanos e seu volume é

proporcional à população existente, assim como seu manejo é função das soluções disponíveis,

ou seja,

A geração é proporcional ao aumento da população e desproporcional à

disponibilidade de soluções para o gerenciamento dos detritos, resultando em sérias defasagens na prestação de serviços, tais como a diminuição gradativa da qualidade do atendimento, a redução percentual da malha urbana atendida pelo serviço de coleta e o seu abandono em locais inadequados (ROTH et al, 1999, pág. 26).

Já a palavra lixo, hoje pouco usada na área técnica, é derivada do latim lix, e significa

cinza. Denomina-se lixo todos os restos das atividades humanas, consideradas inúteis pelos

geradores. Para HOUAISS & VILLAR (2001), lixo é definido como qualquer objeto sem valor

ou utilidade, ou detrito oriundo de trabalhos domésticos, industriais, etc. que se joga fora.

Também está associada à palavra lixívia, associado à sujeira ou água de lavagem.

Do ponto de vista cultural, EIGENHEER (2003) resume os resíduos como “algo que deve

ser afastado (já que não se pode evitá-lo) e que sua proximidade não deixa de representar perigo,

não tanto pela saúde/ contaminação, mas, sobretudo no sentido simbólico”.

2.3.1 CLASSIFICAÇÃO

Geralmente os resíduos são apresentados sob estado sólido, semi-sólido ou semi-líquido,

que segundo a ABNT (2004), podem ser classificados quanto à:

Sua natureza física: seco e molhado;

Sua composição química: matéria orgânica e inorgânica;

Seus riscos potenciais ao meio ambiente: perigosos, não-inertes e inertes.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

26

Os resíduos sólidos também podem ser classificados quanto à sua origem. A identificação

da origem dos resíduos urbanos é imprescindível para os gestores municipais definirem que tipo

de tratamento e/ ou destino final é o mais adequado não só nos aspectos financeiros, mas também

nos aspectos técnico-operacionais e ambientais.

Quanto à origem, D’ALMEIDA & VILHENA (2000), classificaram em:

Lixo Domiciliar: Todo lixo produzido nas residências constituído por restos de

alimentos, jornais, revistas, papéis, embalagens, metais, vidros, garrafas, plásticos,

etc.

Lixo Comercial: É o lixo produzido em estabelecimentos comerciais e de

serviços, tais como bares, restaurantes, bancos, lojas, supermercados, etc. É

composto por materiais inofensivos, por resíduos problemáticos quanto à sua

disposição final e por detritos com características de periculosidade real ou com

potencial risco à saúde pública e ao meio ambiente.

Lixo Público: Resultam do somatório dos resíduos originados da limpeza e

varrição de vias públicas, podas de árvores e da limpeza de áreas onde funcionam

eventos de interesse público. São constituídos por poeira, restos de capinas e

podas, animais mortos, etc.

Lixo Hospitalar: São constituídos pela porção infectante ou com potencial

ocorrência de agentes patogênicos. São originados em hospitais, clínicas,

laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias, postos de saúde, etc. São constituídos

por agulhas, gases, algodão, seringas, luvas sépticas, etc. Desde que segregada, a

porção não infectante dos resíduos gerados nestes estabelecimentos são

semelhantes aos resíduos comuns como: papéis, plásticos, restos de alimentos, etc,

não necessitando neste caso de tratamento especial. Entretanto, deve-se assinalar

que, para alguns autores esta distinção não é científica e sim fruto talvez de

interesses econômicos que visam uma coleta e um tratamento especial para esses

resíduos (ZANON, 2000).

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

27

Lixo de Portos, Aeroportos e Terminais Rodoviários e Ferroviários: São

constituídos por resíduos sépticos, ou seja, aqueles que potencialmente podem

conter agentes patogênicos produzidos nestes locais. São constituídos por

materiais de higiene e asseio pessoal e restos de alimentos, os quais podem

veicular doenças originadas em outras cidades, estados ou países.

Lixo Industrial: Originado nas atividades industriais, a sua composição varia

conforme a natureza da indústria, tais como metalúrgica, química, petroquímica,

papelaria, alimentícia, etc.

Lixo Agrícola: São os resíduos gerados nas atividades agrícolas e da pecuária,

basicamente compostos por embalagens de fertilizantes e de defensivos agrícolas,

rações, medicamentos, restos de colheitas, etc.

Diante da quantidade de resíduos gerados nas atividades humanas, a busca de soluções

alternativas para a redução da quantidade de resíduos direcionados para o destino final, têm sido

adotadas como medidas mitigadoras da degradação ambiental provocada pela deposição irregular

dos resíduos sólidos. Citaremos de forma sucinta as principais formas de tratamento existentes.

2.3.2 FORMAS DE TRATAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Usinas de Triagem: As usinas de triagem são os locais utilizados para a triagem

de materiais recicláveis e compostáveis provenientes da coleta domiciliar e

comercial. O objetivo das usinas de triagem é reduzir o volume de resíduos

enviados para os aterros.

Incineração: É utilizada também para os resíduos domésticos, entretanto, vem

sendo utilizada no Brasil, mais especialmente para o tratamento de resíduos

especiais das indústrias, dos resíduos de serviços de saúde, medicamentos fora do

prazo de validade, entre outros. A grande vantagem da incineração é a redução do

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

28

volume dos resíduos que seguirão para o aterro, que pode chegar de 80 a 90%.

Apresenta como desvantagem um alto custo operacional.

Compostagem: Utilizada desde a antiguidade, a compostagem consiste na

degradação dos resíduos orgânicos, através de processos biológicos. Dependendo

da qualidade do composto pode ser utilizado na agricultura e jardinagem.

Reciclagem Industrial: Processo pelo qual o resíduo descartado (matéria-prima

secundária) é convertido em produto semelhante ao inicial ou outro com o objetivo

de poupar energia, recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o resíduo

que é jogado fora.

Coleta Seletiva: Embora a coleta seletiva seja abordada na literatura como uma

forma de tratamento do lixo, trata-se apenas de uma forma diferenciada de coleta

para facilitar o tratamento dos resíduos. Desta forma, a coleta seletiva do lixo é um

sistema de recolhimento de materiais separados previamente para serem

destinados à reciclagem ou reutilização (tais como papéis, plásticos, vidros e

metais) ou para compostagem (material orgânico). Os materiais recicláveis são

destinados aos sucateiros e destes para as indústrias recicladoras. É imprescindível

para a adoção dessa prática a disposição da população em separar tais materiais.

Procedimentos de Educação Ambiental são aqui decisivos. A coleta seletiva pode

ser:

a) Porta-a-Porta – Semelhante à coleta normal de lixo, os veículos coletores recolhem

o lixo em dias e horários específicos normalmente não coincidindo com a coleta

regular.

b) Ponto de Coleta Voluntária (PEV) – Utiliza contêineres ou pequenos depósitos,

localizados em pontos estratégicos do município, cabendo ao cidadão, levar os

materiais solicitados.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

29

2.3.3 DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Há basicamente três formas de destinação final de resíduos sólidos: lixão, aterro

controlado e aterro sanitário, definidos de forma sucinta a seguir:

Lixão: Segundo a ABNT (2004), é uma forma inadequada de disposição final de

resíduos sólidos, caracterizada pela descarga dos resíduos sólidos sobre o solo, a

céu aberto, sem medidas de proteção ao ambiente e à saúde pública. Desta forma,

atuam como agentes de proliferação de vetores, geração de maus odores,

contaminação do solo e de águas superficiais e subterrâneas. Entretanto, é a forma

mais comum de destinação final na maioria das cidades dos países em

desenvolvimento. Nos lixões é impossível o controle dos tipos de resíduos

recebidos, tais como: resíduos tóxicos e radiativos.

Aterro Controlado: Definido como um conceito que fica entre o lixão e o aterro

sanitário, ou seja, após a deposição dos resíduos no solo, o lixo recebe pelo menos,

uma camada de material inerte. Esta medida minimiza odores e a proliferação de

vetores. Entretanto, a adoção desta forma de aterramento deve ser vista como

medida paliativa ao problema.

Aterro Sanitário: Processo utilizado para a destinação final dos resíduos sólidos

no solo, através de um sofisticado projeto de engenharia e que exige também uma

operação bem cuidada. É o que reúne as maiores vantagens considerando a

redução dos impactos ocasionados pelo descarte dos resíduos sólidos urbanos. É

baseado em critérios de engenharia que permite a quase totalidade da inertização

da massa de lixo através da proteção do solo com mantas, disposição de drenagem

superficial para o chorume, sistemas de captação e queima de gases, entre outras

coisas.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

30

2.4 CUSTOS DA GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA nº 001 de 1986 em

seu artigo 1º considera como impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causado por qualquer forma de matéria ou energia

resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetam: a saúde, a segurança e o

bem-estar da população; as atividades econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do

meio ambiente e a qualidade dos recursos naturais.

Por conta do alto grau de impacto ambiental, várias técnicas vêm sendo utilizadas para a

minimização dos efeitos negativos gerados pela disposição irregular dos resíduos, algumas

citadas anteriormente neste capítulo. A busca de alternativas ambientalmente sustentáveis

permitiu o desenvolvimento de tecnologias que ampliaram as possibilidades para o tratamento e

destinação final dos resíduos sólidos urbanos. Todavia, os custos de operacionalização dessas

tecnologias nem sempre correspondem à capacidade financeira dos governos municipais em

assumirem tais despesas, principalmente os municípios de médio e pequeno porte.

Em economia, custos têm um significado muito importante, principalmente porque a

tomada de decisão não é apenas do empreendedor, mas também do consumidor. O conceito de

custo é definido como o valor de mercado de algum bem calculado monetariamente, a partir do

capital e do tempo gastos na sua produção e a margem de lucro do produtor. Podem ser

subdivididos em custos fixos e custos variáveis.

Custos fixos são aqueles cujos valores estão embutidos nos valores de custos totais,

independentemente da variação da taxa de produção, ou seja, não variam em relação à taxa de

produção. Um exemplo de custo fixo seria o aluguel de um imóvel, cujo espaço funcione para a

produção de um determinado bem. Já os custos variáveis são aqueles que variam em função da

taxa de produção, pois incluem, insumos, combustíveis, salários e etc. Isto significa que o custo

de oportunidade do capital investido será aquele cujo valor terá o melhor uso alternativo

(MILLER, 1981).

Para FIGUEROA (2004) algumas questões que incidem no aumento dos custos dos

serviços de tratamento e destinação final dos resíduos sólidos, devem ser colocados em discussão

na escolha da tecnologia a ser adotada, entre eles: custos de investimento de infra-estrutura,

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

31

equipamentos e combustível, principalmente se a tecnologia for importada. Se o sistema adotado

for ineficiente, sua prática de gestão incidirá em maiores custos relacionados.

Em se tratando de gestão de resíduos sólidos municipais a determinação dos custos é

extremamente relevante para a determinação da eficiência e do desempenho do serviço prestado.

Se o serviço é terceirizado, o acesso a esses números auxilia a prefeitura na determinação do

valor a ser pago pelo serviço.

Para D’ALMEIDA & VILHENA (2000), o controle das despesas e o cálculo dos custos

de produção permitem:

Gerenciar adequadamente os recursos humanos e materiais;

Planejar os serviços;

Atualizar a taxa / tarifa de limpeza pública em função dos custos do serviço;

Elaborar gastos a partir do orçamento anual municipal;

Negociar em condições de igualdade com empresas prestadoras de serviços

(quando houver!);

Calcular a taxa / tarifa a ser cobrada ao munícipe pela execução do serviço.

D’ALMEIDA & VILHENA (2000), oferecem algumas ferramentas para enfrentar ou se

possível evitar os problemas relacionados à administração de custos e receitas referentes à gestão

municipal de resíduos sólidos. Para isso, apresentam alguns indicadores para avaliar o

desempenho da empresa ou do responsável pelo serviço, como medidas de produtividade,

referente a quantidade de lixo coletado por viagem, indicadores de eficiência operacional,

relacionados a equipamentos, mão-de-obra e manutenção, indicadores de qualidade referente à

cobertura do serviço prestado e indicadores de segurança, referente a acidentes de trabalho. O

acesso a esses dados é fundamental para a manutenção da qualidade e do desempenho do serviço

prestado.

Para termos algum parâmetro, FIGUEROA (2004), afirma que os custos referentes à

implantação e operacionalização de aterros sanitários variam de US$ 10 a 30 por tonelada e no

caso da incineração uma média de US$ 60 por tonelada, podendo chegar a um custo total do

serviço um valor que varia de US$ 35 a 70 por tonelada. Por outro lado CALDERONI (1997)

apresenta um custo de operacionalização de aterro sanitário um valor de R$ 13,00/t, ou

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

32

correspondentemente a pouco mais de US$ 6/t para operação, não incluindo nestes dados o valor

do custo da implantação dos aterros sanitários.

Um estudo realizado por SAYAGO (1998) voltado para o cálculo dos custos da

operacionalização do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil utilizou os parâmetros de

custos nacionais fornecidos por Calderoni, no qual a pesquisadora apresenta os seguintes dados:

os custos relacionados à coleta, no sentido de buscar a eficiência efetiva do serviço, a partir da

estimativa utilizada a nível nacional, ficaria em torno de R$ 25,00/t. Na época em que a pesquisa

foi realizada 69,2% da população brasileira tinha acesso à coleta regular de lixo, de modo que, o

custo da coleta em relação ao lixo total gerado correspondia a R$ 17,30/t. Este valor foi

encontrado calculando-se os custos estimados para a eficiência da coleta (R$ 25,00/ton)

multiplicada pelo percentual da população atendida pela coleta (69,2%), como mostra a Tabela 4.

Tabela 4: Gastos com a coleta dos resíduos sólidos no Brasil

G a sto s R $ /to n % P o p u la ç ã o G a sto s (R $ /to n )C o le ta 2 5 ,0 0R $ 6 9 ,2 % 1 7 ,3 0R $

Fonte: adaptado de SAYAGO, 1998.

Os custos de transbordo (relacionado a estações de transferências) conforme

CALDERONI (1997) ficariam em torno de R$ 5,00/t. Como não existiam dados sobre a

quantidade real de material reaproveitado na época e, que esse material precisaria ser coletado, a

autora utilizou no cálculo dos custos referentes à transferência de resíduos, o mesmo percentual

da cobertura do serviço de coleta (percentual da população atendida, ou seja, 69,2%) para o

cálculo desse custo.

Para o cálculo dos custos de operacionalização do serviço de gerenciamento dos resíduos

sólidos no destino final, os dados apresentados foram os seguintes: aterro controlado R$ 6,00/t,

incineração R$ 29,39/t, usinas de reciclagem com custo de R$ 24,00/t e o custo com a disposição

final em lixão seria zero, uma vez que não existia nenhum pagamento pelo dano ambiental ou

social causado. Os resíduos com destinação final em aterros sanitários correspondiam a 24,1%,

aterros controlados com 22,6%, lixões com 50,8%, incineradores com 0,2% e para a reciclagem

2,3%. É importante ressaltar que neste estudo a autora considerou a incineração e a usina de

reciclagem como destino final e não como uma forma utilizada para o tratamento dos resíduos

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

33

sólidos como visto anteriormente. Os custos foram calculados em função do valor da disposição

final por tonelada multiplicado pelo percentual coletado e pelo percentual de cada tipo de

disposição. Os resultados desta pesquisa são apresentados na Tabela 5.

Como os custos ambientais não foram calculados diretamente, a autora optou por fazer

uma análise dos dados obtidos em função do déficit encontrado nos custos de gerenciamento dos

resíduos sólidos brasileiros, ou seja, quanto precisaria ser gasto para tornar o serviço eficiente. De

modo que os resultados encontrados são apresentados na Tabela 6, ou seja, se a cobertura da

coleta fosse expandida para toda população seriam necessários gastos com mais R$ 7,70/t para a

melhoria do serviço prestado.

Tabela 5: Gastos com destino final no gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil

Gastos Custo operação/t Pop. Atendida (%) Destino Final (%) R$/tAterro sanitário 13,00R$ 69,2% 24,1% 2,17R$ Aterro controlado 6,00R$ 69,2% 22,6% 0,94R$ Lixão -R$ 69,2% 50,8% -R$ Incineração 29,39R$ 69,2% 0,2% 0,04R$ Usina de reciclagem 24,00R$ 69,2% 2,3% 0,38R$ Total da disposição final 100% 3,53R$ Transbordo 5,00R$ 69,2% 3,46R$ Total do transbordo 3,46R$ Total Geral 6,99R$

Fonte: adaptado de SAYAGO, 1998.

De igual modo, para a efetivação da melhoria do serviço realizado na destinação final,

levando-se em conta que o aterro sanitário significa a melhor opção para o destino final dos

resíduos e uma vez que o país já gasta R$ 3,53 na operacionalização do destino final, seriam

necessários gastos em mais R$ 9,47 por tonelada, representando assim uma outra parcela da

estimativa dos custos ambientais.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

34

Tabela 6: Déficit dos custos do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil

Custo Ambiental R$/tColeta 7,70R$ Disposição final 9,47R$ Transbordo 1,54R$ Total do Custo Ambiental 18,71R$

Fonte: adaptado de SAYAGO, 1998.

Vale Salientar que o estudo apresenta apenas algumas parcelas dos custos do

gerenciamento, de modo que seria necessário gastar cerca de R$ 18,71/t para a melhoria do

serviço de coleta, transbordo e disposição final dos resíduos sólidos brasileiros, não

acrescentando nesses cálculos os custos necessários para a mitigação dos problemas causados por

lixões estabelecidos e posteriormente encerrados, investimentos em obras estruturais, limpeza

pública, programas de educação ambiental e coleta seletiva, assim como no gerenciamento

integrado dos resíduos sólidos municipais com a participação dos atores sociais envolvidos no

sistema, como os catadores, por exemplo.

Independentemente do valor do custo total utilizado para o cálculo dos custos de

gerenciamento dos resíduos, esses custos tornam-se muito altos para os padrões financeiros das

prefeituras municipais. De modo que, quando esses valores são assumidos pelos municípios

causam impactos em suas finanças na ordem de 20 a 50% no orçamento dos municípios de

pequeno porte e de 2 a 10% no orçamento dos municípios de grande porte (FIGUEROA, 2004).

Por conta dos altos custos operacionais, poucos municípios têm capacidade de suporte financeira

para cobrir os custos relacionados à gestão adequada de resíduos sólidos.

2.5 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: DIFICULDADES, PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS

No Brasil, dentro da esfera do saneamento básico, entendido como serviços de água e

esgoto, os resíduos sólidos já foram considerados como um segmento de segundo plano

(MACHADO et al, 2004). Para os autores, em virtude desse status, os resíduos sólidos sempre

foram tratados de maneira negligenciada, enfrentando várias dificuldades com relação às políticas

de gestão.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

35

A primeira dificuldade foi com relação ao financiamento de investimentos no sistema de

manejo adotado pelos municípios. Isto é fundamentado com o número de financiamentos

voltados para o saneamento básico desde as décadas de 70 e 80 do século XX. O Banco Nacional

de Habitação - BNH, atualmente extinto, financiou inúmeros projetos de saneamento voltados

para o sistema de água e esgotos, o que permitiu avanços no sistema de esgotamento sanitário em

todo país. O mesmo não ocorreu com o setor de resíduos sólidos, ou seja, mesmo o setor tendo

uma linha de financiamento no BNH, não recebeu nenhum recurso expressivo ao longo da

existência do banco (MACHADO et al, 2004).

Esta diferenciação no financiamento dos sistemas contribuiu para avanços mais

significativos com relação à água e ao esgoto com 97,9 % e 52,2 %, respectivamente, de

domicílios atendidos por estes serviços, segundo a PNSB (2002), e ao fato de que o Brasil ainda

conta com mais de 60% dos resíduos jogados em lixões. No entanto, há que se considerar que

com relação a situação de esgotos, sua gestão é muito parecida com a situação dos resíduos, ou

seja, a coleta é significativa e abrange um percentual expressivo da população, entretanto, o

destino final dos resíduos, assim como a dos esgotos não possuem um manejo adequado e muito

menos abrangente.

AZEVEDO & DIAS FILHO (2003) afirmam que, se o país tivesse adotado programas de

financiamentos para o setor de resíduos sólidos, talvez a realidade do destino final dos resíduos

sólidos brasileiros fosse um pouco melhor do que a que se encontra atualmente.

Os autores seguem afirmando que a partir da década de 1970, o Governo Federal

disponibilizou linhas de créditos para as prefeituras através do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e da Caixa Econômica Federal – CEF as quais

poderiam ser utilizadas na aquisição de equipamentos, implantação de usinas de triagem e

compostagem e auxílio à infra-estrutura dos sistemas de limpeza. Com esses recursos, vários

municípios candidataram-se a tais linhas de créditos e o tipo de recurso mais solicitado foi

referente à aquisição de equipamentos industriais. Uma vez que a capacitação técnica dos

gestores de limpeza urbana eram mínimas, vários projetos não foram condizentes com a estrutura

do município, tanto na sustentabilidade financeira do projeto como nas condições técnicas e

administrativas numa perspectiva de longo prazo. Um exemplo desses investimentos fracassados

encontra-se no Estado do Rio de Janeiro, em que os municípios através dessas linhas de

financiamento investiram em usinas de reciclagem e compostagem (Figura 1). De modo que mais

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

36

de 28 % dos projetos de usinas de reciclagem no Estado do Rio de Janeiro encontram-se

paralisados ou desativados.

Figura 1: Situação das usinas de reciclagem e compostagem no Estado do Rio de

Janeiro – 2003

Pralisadas ou desativadass

28%

Em operação16%

Em implantação56%

Fonte: adaptado de AZEVEDO & DIAS FILHO, 2003.

Os dados apresentados pela CEF (2002) indicam que entre os anos de 1996 a 2002, o

Governo Federal através da instituição tem investido em ações relacionadas com a gestão de

resíduos sólidos urbanos, operacionalizando programas com recursos do Orçamento Geral da

União – OGU e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS. Contudo, mesmo

apresentando um alto índice no volume dos recursos aplicados, alguns estudos apontam a

necessidade de investimentos em cerca de R$ 2,4 bilhões para erradicação dos lixões e seus

problemas correlacionados. A Figura 2 apresenta investimentos efetuados pela CEF que somam

quase R$ 360 milhões divididos em vários programas de desenvolvimento urbano e saneamento.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

37

Figura 2: Investimentos da CEF em Resíduos Sólidos de 1996 a 2002.

PRO-SANEAMENTO

17%

PROGEST2%

MORAR MELHOR

10%PNMT17%

BRASIL JOGA LIMPO

7%

PASS47%

Fonte: www.caixa.gov.br , 2002.

Tais programas são mais paliativos do que preventivos, apontando claramente a falta de

racionalidade política com relação a gestão de resíduos sólidos municipais. No entanto, vale

salientar que para a maioria dos recursos disponibilizados, inclusive por meio do FGTS através

do Ministério das Cidades, não houve demanda suficiente, talvez explicável em função da baixa

capacitação técnica dos responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos municipais em

apresentarem projetos (BORZINO, 2005). Ou então, pela dificuldade existente com relação à

captação de recursos para financiamento de projetos. Esta questão pode também estar relacionada

com a falta de suporte técnico na elaboração de projetos ou segundo MACHADO et al (2004) na

natureza legal na busca de captação de recursos, haja vista que grande parte dos municípios não

consegue captar recursos na esfera federal, por estarem inadimplentes e não apresentarem as

certidões exigidas.

Também segundo NETO (1999), a falta de projetos bem elaborados, simples, eficientes,

com flexibilidade técnica-operacional e compatíveis com a realidade socioeconômica dos

municípios se constituem como outro entrave.

Outro fator que implica negativamente na gestão de resíduos sólidos municipais refere-se

a grande quantidade de municípios de pequeno porte que não cobram nenhum tipo de taxa para a

cobertura desses serviços, muitas vezes retirando de outras fontes orçamentárias o valor

indispensável para a cobertura dos custos necessários. Isto implica em dificuldades não apenas

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

38

econômico-financeiras, mas também na não garantia da prestação do serviço com qualidade para

a comunidade (IBGE, 2002).

Por outro lado, os dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais – ABRELPE (2005), apontam uma tendência significativa no que se refere a

recepção de resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários privados que se encontram em

operação no Brasil, com cerca de 14% dos resíduos coletados, o que corresponde a cerca de

25.000 toneladas diárias de resíduos com destino final adequado.

É interessante ressaltar que a quantidade de resíduos encaminhados para aterros sanitários

vem aumentando gradativamente na última década, com possibilidade de crescimento

exponencial como mostra a Figura 3:

No entanto, uma ressalva merece ser feita, haja vista que a ABRELPE está presente

apenas em municípios de médio e grande porte. Com relação aos dados dos resíduos

encaminhados para aterros sanitários apontados na Figura 3, é importante ressaltar que só o

município de São Paulo responde por pelo menos metade das toneladas de lixo com destino final

adequado em aterros sanitários.

Figura 3: Resíduos coletados para destino final em aterros sanitários privados

Fonte: Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil – 2005. ABRELPE, 2005.

Isto significa que a tendência de terceirização do serviço de limpeza pública vai se

afirmando nos municípios brasileiros, principalmente nos municípios de grande e médio porte em

detrimento dos municípios de pequeno porte, pois esses não apresentam condições econômico-

financeiras que garantam um gerenciamento adequado dos resíduos sólidos municipais,

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

39

necessitando principalmente de uma legislação adequada que garanta a origem e a aplicabilidade

dos recursos financeiros no tocante a sustentabilidade econômico-financeira dos municípios e das

empresas privadas, assim como, na garantia do serviço prestado de forma ambientalmente

adequada e melhor qualidade de vida para as comunidades do entorno (CASTAGNARI, 2005).

Tendo em vista que os custos para manter a limpeza urbana nos municípios são altos, e

como os recursos financeiros das prefeituras são, via de regra, escassos, cabe aos gestores

encontrar maneiras economicamente viáveis para a manutenção do serviço de limpeza urbana

(BAHIA, sd). A Constituição Federal - CF (BRASIL, 1988) indica a taxa como um instrumento

de remuneração para a retribuição do serviço prestado, embora como todo tributo, só poderá ser

estabelecida mediante aprovação em lei. Outra maneira é a obtenção de recursos através da

implantação de tarifas.

Tal fato é também fundamentado nos dados do IBGE (2002) que revelam uma tendência

na terceirização dos serviços de limpeza urbana em todas as regiões brasileiras. Isto se dá quando

a pesquisa apresenta uma reversão no quadro em que os municípios começaram a instituir alguma

forma de cobrança pelo serviço prestado, se comparados com os dados da PNSB de 1989, talvez

por força da Lei de Responsabilidade Fiscal, no entanto, esta tendência é mais acentuada nos

municípios de grande porte.

Esta tendência é resultado da necessidade de a prefeitura garantir os recursos necessários

para a continuação do serviço prestado junto às empresas contratadas ou para a manutenção dos

compromissos em função dos custos de coleta e destino final dos resíduos sólidos urbanos.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

40

3 PLANEJAMENTO URBANO E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Com o aumento da industrialização, a partir do século XIX e conseqüentemente elevação

do consumo e mudanças tradicionais (por exemplo, embalagens não retornáveis), os resíduos

sólidos tornaram-se um problema universal. No Brasil não se deu de forma diferente. A

quantidade de resíduos gerados atualmente está intimamente relacionada com o aumento de

tecnologias, produção de bens cada vez mais descartáveis, aumento do consumo de produtos

industrializados, o acelerado processo de urbanização desestruturada dos grandes centros, além

de toda problemática de infra-estrutura, atrelada a esse crescimento. Resolver estas questões

estruturais tornou-se fundamental para amenizar as conseqüências causadas pela pressão

populacional no meio ambiente.

Segundo BRAGA & CARVALHO (2002), a gestão urbana pode ser definida “como um

conjunto de atividades e procedimentos que visam garantir a função social das cidades e da

propriedade urbana através do ordenamento do uso, da ocupação e da expansão do solo urbano”.

Pode-se afirmar que este conceito é fundamentado na Constituição Federal de 1988, mas

especificamente em seu artigo 225 que diz o seguinte:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Tal conceito é reafirmado no Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257 de 10 de julho de

2001. Embora o Estatuto não possa substituir uma política nacional que contemple um sistema de

cidades e sua ocupação territorial, ele serve como instrumento de gestão urbana que integra o

planejamento, a legislação e a gestão urbana ambiental. Esta gestão além de estabelecer relações

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

41

éticas entre o setor estatal, privado e comunitário, prevê uma gestão legítima e democrática com a

participação da sociedade.

Para FRANCO (1999) a gestão urbana ambiental é definida tendo como pano de fundo a

intensa modificação do ambiente através dos fluxos de energia e de materiais, ou seja, a partir do

desequilíbrio ambiental surge a necessidade de se pensar, conceber e operar sistemas de gestão do

espaço urbano a fim de atender as necessidades essenciais das populações presentes e futuras.

Neste sentido é de competência municipal defender os interesses de seu patrimônio, sejam

eles de cunho histórico, ambiental, econômico e social. Para o autor, a administração de conflitos

a nível local, exige dos gestores municipais capacitação e preparação com relação à tomada de

decisões referentes à questão ambiental – dimensão pouco explorada nos mais de 5.000

municípios brasileiros, principalmente os de médio e pequeno portes. O autor segue afirmando

que:

Visto que se trata de uma esfera de poder e de decisões que podem ter impactos

econômicos, é preciso atentar para o fato de que há sempre resistências a mudanças, e isto é particularmente verdadeiro quando há em jogo interesses individuais contrários a causa pública (FRANCO, 1999, p. 21).

Desta forma, o planejamento urbano, assim como o estabelecimento de estratégias bem

definidas na busca de soluções de conflitos são extremamente relevantes. A partir deste ponto de

vista, cabe aos gestores municipais a instituição de mecanismos normativos como pano de fundo

para a elaboração de práticas de gestão ambiental a nível local.

OLIVEIRA et al (2005) afirmam que a sustentabilidade urbana está ligada à capacidade

de administração da cidade. Desta forma, os administradores municipais têm a incumbência de

realizar planejamento local e legislar em função do uso, parcelamento, ocupação do solo e outras

questões, sempre que uma lei estadual ou federal for omissa. O que caracteriza a gestão

democrática trazida pelo Estatuto da Cidade é a utilização dos instrumentos arrolados no art. 43:

I. Órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal;

II. Debates, audiências e consultas públicas;

III. Conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e

municipal;

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

42

IV. Iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de

desenvolvimento urbano.

Deste modo, a Lei Fundamental estabeleceu normas com o objetivo de tornar as cidades

brasileiras espaços mais democráticos. Um dos mais importantes mecanismos de gestão do

ambiente urbano local é a implantação de planos diretores. Promulgado desde a Constituição

Federal de 1988 o Plano Diretor é obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes,

integrantes de regiões metropolitanas, com potencial turístico ou com empreendimentos que

possam causar impactos ambientais, ou seja, cabe ao Plano Diretor a definição de áreas para uso

e ocupação do solo, seguindo as diretrizes básicas da gestão ambiental. Os resultados de tal

planejamento devem ser elaborados de tal forma que seja levado em conta a participação dos

atores sociais (FRANCO, 1999).

A utilização do Plano Diretor como um instrumento de gestão de resíduos sólidos,

segundo BRASIL (2005a) deve levantar dados que contemplem um diagnóstico completo da

realidade do gerenciamento do município a fim de implementar uma gestão integrada dos

resíduos sólidos, maximizar a reutilização, a reciclagem e garantir a disposição final de forma

que não comprometa a saúde pública e ambiental, assim como assegurar a inclusão social dos

catadores no sistema de gestão adotado.

Além disso, o município possui alguns instrumentos urbanísticos que fundamentam o

apoio à gestão urbana. Citados por BRAGA & CARVALHO (2002), os mais importantes são: lei

de uso e ocupação do solo urbano (zoneamento), lei de parcelamento do solo urbano, código de

obras e código de posturas municipais. Esses instrumentos serão pontuados a partir do enfoque

dado à gestão de resíduos sólidos municipais.

1. Zoneamento Urbano – Refere-se ao uso e a ocupação do solo, prevendo

segregação de usos: industrial, comercial e residencial. É voltado para a

delimitação da expansão urbana e rural e também com normas voltadas para o uso

e a ocupação do solo. Com relação à gestão de resíduos sólidos, deve ser de

competência municipal promulgar áreas propícias para destino final de resíduos,

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

43

tornando-se um instrumento relevante para a política municipal de meio ambiente.

Como instrumento podem-se definir algumas diretrizes básicas:

Definir áreas adequadas para a instalação de disposição final e tratamento de

resíduos sólidos;

Evitar adensamento urbano próximo às áreas de destinação final de resíduos

sólidos;

Evitar a ocupação em áreas de aterro com resíduos nocivos.

2. Código de Posturas Municipais – Restringe-se as questões de interesses locais,

referentes ao uso dos espaços públicos, ao funcionamento dos estabelecimentos, à

higiene e ao sossego público. Referente aos resíduos sólidos, pode-se destacar os

seguintes aspectos:

Estabelecer normas que disciplinem o acondicionamento, a disposição e a coleta

do lixo;

Disciplinar a disposição e remoção de entulho em logradouros públicos;

Proibir o surgimento de depósitos clandestinos de resíduos em terrenos baldios;

Exigir a correta disposição de resíduos no comércio ambulante e feiras livres.

3. Lei de parcelamento do solo urbano – Subordinada à lei de zoneamento ou de

uso do solo, através do Plano Diretor, tem o objetivo de definir áreas específicas

para o destino final de resíduos sólidos.

4. Código de Obras – Responsável pelas edificações civis e outras instalações e seus

respectivos impactos, é indispensável na atual conjuntura da gestão urbana

considerar a questão dos resíduos sólidos no que diz respeito ao seu

acondicionamento e o seu destino final.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

44

3.1 DIRETRIZES LEGAIS PARA O GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Antes de iniciar este item, é importante rever os conceitos de Gestão e Gerenciamento. A

definição de tais conceitos será a partir das estratégias da PNRS adotadas como discussão desta

política nos Seminários Regionais de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente - MMA.

Segundo a definição do MMA (2005), a Gestão compreende as ações referentes à tomada de

decisões políticas e estratégicas, quanto aos aspectos institucionais, operacionais, financeiros,

sociais e ambientais relacionados aos resíduos sólidos. Envolve os Estados e os Municípios. O

Gerenciamento é onde a política de gestão é implementada, ou seja, a tomada de decisões

estratégicas quanto ao desenvolvimento das ações definidas no Plano de Gestão de Resíduos

Sólidos. A implementação da política envolve os municípios e os demais geradores.

Nesse contexto, D’ALMEIDA & VILHENA (2000) definem um Plano de Gerenciamento

Integrado de Resíduos Sólidos - PGIRS como ações normativas, operacionais, financeiras e de

planejamento para coletar, tratar e dispor o lixo adequadamente. Significa ainda gerir o sistema

de forma interligada com outras ações e participação dos atores sociais envolvidos. Tais ações

devem levar em conta um processo de melhoria contínua a fim de atingir as metas de

sustentabilidade definidas pelo município no longo prazo.

ROTH et al (1999) acrescentam a este conceito o envolvimento de métodos e atividades

que, aplicados de forma integrada, resultam na redução da quantidade de lixo a depositar nos

aterros, permitindo o desvio de materiais que podem ser reutilizados como matérias-primas na

produção de outros bens, gerando benefícios ambientais, sociais, econômicos e a saúde da

população executora dos serviços. Afirma também que, o gerenciamento não é responsabilidade

unicamente do poder público municipal, a quem cabe, por certo, o papel de formular e gerenciar

todo o processo. Tal gerenciamento requer o envolvimento da sociedade como um todo, o que

significa envolver o universo dos geradores de resíduos da comunidade em questão.

Essa proposta de gerenciamento continua muito distante das ações implementadas

atualmente pelo Brasil. Embora existam ações efetivas de implementação de políticas voltadas

para a gestão, elas são pontuais e não refletem a realidade brasileira.

Nesse contexto, o gerenciamento de resíduos sólidos passou a ser uma questão prioritária

para os gestores municipais, tornando-se um desafio encontrar soluções ambientalmente

sustentáveis e economicamente viáveis. A expansão demográfica e a grande concentração

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

45

populacional nos centros urbanos, associadas a um sensível aumento de consumo de produtos

descartáveis ou menos duráveis, aumentaram significativamente o volume de resíduos, assim

como sua diversificação (D’ALMEIDA & VILHENA, 2000).

As políticas setoriais da gestão de saneamento básico no Brasil são de competência

estadual e municipal, compreendendo, entre outros serviços, o abastecimento de água que garanta

o controle e qualidade necessária para atender às necessidades da população, disposição adequada

e segura de resíduos sólidos e esgoto sanitários, controle de águas pluviais e controle de vetores

de doenças transmissíveis (IRIGARAY, 2002). No caso dos resíduos sólidos a gestão compete ao

município e, suas ações, são fundamentais para o gerenciamento integrado do lixo, por se tratar

de problema local, devendo a autoridade local estabelecer parâmetros próprios de regulamentação

(D’ALMEIDA & VILHENA, 2000).

Como o lixo é um problema de ordem local, não existe no plano federal uma lei específica

que discipline ou regulamente sua gestão, cabendo aos municípios estabelecer regulamentos, já

que a eles compete planejar, desenvolver, regulamentar, fiscalizar, executar, manter e operar os

serviços de limpeza urbana (IRIGARAY, 2002). A Lei nº 2.312/54 estabelece que: “A coleta, o

transporte e o destino final do lixo deverão processar-se em condições que não tragam

inconvenientes à saúde e ao bem-estar público, nos termos da regulamentação a ser baixada (Art.

12)”.

Posteriormente, a CF em seus incisos I e V do artigo 30 atribui ao município a

competência de legislar sobre interesses locais como é o caso dos resíduos sólidos. No caso das

regiões metropolitanas e de grandes aglomerados urbanos, os governos Estadual e Federal podem

intervir através do estabelecimento de normas gerais como princípio orientador e tornar

acessíveis programas de financiamento (BAHIA, sd). No entanto, é latente a carência referente a

uma legislação que regulamente o setor de resíduos no nível macro, dificultando uma gestão mais

efetiva em todos os aspectos.

Em virtude dos problemas ambientais globais, assim como a carência na existência de

legislações mais específicas de controle da poluição, a Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, também conhecida como Cúpula da Terra,

realizada no Rio de Janeiro em 1992, em suas discussões aprovou a instituição de cinco

documentos: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

46

Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade Biológica, a Convenção

sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21 Global.

Embora todos esses documentos sejam importantes no contexto ambiental mundial

vividos na época, a Agenda 21 Global tornou-se o principal documento da Conferência,

constituindo-se como um Plano de Desenvolvimento Sustentável onde as questões sociais e

ambientais tornar-se-iam prioridades no que tange a um novo padrão de desenvolvimento em

escala global.

Para atender a esse objetivo, o processo de formação de um diagnóstico global se daria

pela interação e participação dos atores sociais a nível local, onde o planejamento participativo

integrasse a justiça social, a eficiência econômica e a proteção ambiental a partir de

especificidades locais de um país, região, estado ou município.

A partir de tal conjuntura, a Agenda 21 Local torna-se um ótimo instrumento de gestão

local, pois através do planejamento participativo identifica as principais dificuldades, assim como

as potencialidades existentes nos municípios. A atuação das comunidades juntamente com o

Poder Público podem levar à promoção de ações mais eficientes das políticas públicas para a

transformação da realidade local.

Citadas em FERREIRA (2000), as proposições da Agenda 21, consolidadas na CNUMAD

em 1992, definiram o estabelecimento de estratégias para o gerenciamento dos resíduos sólidos

compatíveis com o meio ambiente numa perspectiva de longo prazo, segundo os princípios a

seguir:

Minimizar a produção de resíduos;

Maximizar práticas de reutilização e reciclagem;

Tratar e dispor os resíduos de forma compatível com a preservação ambiental;

Estender a cobertura dos serviços de coleta e destinação final.

Para isso é indispensável que o gerenciamento atenda às especificidades do local no que

se refere ao tipo de destinação final dos resíduos sólidos e à capacidade financeira de pagamento

para assumir tal destinação.

No plano federal, a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda

21 Nacional (2000), diz que: “A adoção de políticas públicas que induzam à redução do lixo, a

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

47

começar por uma legislação que abranja todo o ciclo do produto, leve os produtores a receber de

volta embalagens e sucatas para contribuir na redução do consumo de recursos naturais” (p. 31).

Entretanto, mesmo o Brasil tendo uma das legislações ambientais mais bem elaboradas do

mundo, não dispõe de leis específicas para a gestão de resíduos sólidos. E, mesmo que tivesse, a

fiscalização para a efetivação dessas leis seria insuficiente, não sendo, portanto, tarefa fácil

definir um plano de gerenciamento integrado de resíduos sólidos devido a fatores como:

Inexistência de política pública brasileira voltada para resíduos sólidos;

Limitações de ordem financeira;

Deficiência na capacitação técnica e profissional;

Descontinuidade política e administrativa;

Deficiência de controle ambiental.

Esses fatores apontam por si só a falta de um planejamento dispensado à questão dos

resíduos sólidos, implicando em problemas relacionados à saúde humana e contaminação

ambiental (D’ALMEIDA & VILHENA, 2000).

Para atender aos propósitos da Agenda 21 nacional, a Comissão Parlamentar liderada pelo

então Deputado Emerson Kapaz elaborou a proposta para a criação da Política Nacional de

Resíduos Sólidos - PNRS, a partir dos seguintes objetivos:

Reduzir a quantidade e a nocividade dos resíduos; eliminar prejuízos à saúde

pública e à qualidade do meio ambiente; estimular o consumo de produtos e serviços que não afrontem o meio ambiente e cause menor geração de resíduos; gerar benefícios sociais e econômicos aos municípios que se dispuserem a licenciar instalações que atendam aos programas de tratamento e disposição final de resíduos sólidos industriais, minerais, radioativos, de serviços e tecnológicos (GABEIRA, 2003, p.278).

A proposta dá ênfase à redução e reutilização como princípios básicos para o controle do

lixo, através de incentivos fiscais para empresas recicladoras, com o objetivo de diminuir custos

operacionais com logística e transporte de material reciclado. Embora amplo e importante para

começar a discutir questões estruturais de ordem econômica, social e ambiental, o relatório não

chegou a ser votado pelo Congresso Nacional e ainda encontra-se em tramitação na Câmara

Federal.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

48

Por fim, o Estado de Pernambuco em seu decreto nº 23.941 de 11 de janeiro de 2002,

regulamentado pela Lei nº 12.008 de 1º de junho de 2001, sobre a Política Estadual de Resíduos

Sólidos em seu capítulo V sobre os critérios de gerenciamento de resíduos sólidos em seu artigo

18 diz que: os municípios são responsáveis pela coleta, transporte, tratamento e destino final dos

resíduos sólidos urbanos. Assim como, dar prioridade para estratégias de minimização na geração

de resíduos sólidos mediante coleta seletiva e reciclagem. O artigo 21 diz que os Planos Diretores

Municipais ou qualquer outro instrumento de gestão de políticas de desenvolvimento e expansão

deverão prever áreas adequadas para a instalação do sistema de tratamento e disposição final de

resíduos sólidos urbanos. Já o artigo 70 dispõe que a elaboração do plano de coleta e transporte

deve considerar a quantidade de resíduos produzidos, recursos técnicos, humanos e financeiros

disponíveis.

3.2 INSTRUMENTOS LEGAIS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS VOLTADOS À

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Segundo a Constituição Federal de 1988, como já foi dito, cabe aos municípios organizar

e prestar os serviços públicos de interesse local seja de forma direta ou indireta, através de

concessão ou permissão. Contudo, a Constituição não detalha de forma específica quais são os

serviços públicos municipais, cabendo ao município estabelecer a partir da característica básica

que é o interesse local, a amplitude dos serviços públicos de interesse local (SILVÉRIO et al,

2000).

Desta forma, os serviços de limpeza pública podem ser classificados como serviços

centralizados e descentralizados. Os autores seguem afirmando que, quando o serviço de limpeza

pública é realizado diretamente pelo município, é caracterizado como centralizado. Neste caso,

compete ao município arcar com todo o ônus dos custos operacionais, salários, encargos

trabalhistas e, também assumir os custos com investimento no setor. No caso dos municípios que

cobram pelo serviço, os recursos utilizados para assumir tais custos são provenientes da cobrança

da taxa de lixo ou taxa de limpeza pública cobrada juntamente com o IPTU.

No entanto, existe uma grande dificuldade dos municípios em investir nos setores

estruturais relacionados a saneamento básico em geral, principalmente no setor de resíduos

sólidos. Com o objetivo de buscar soluções para este impasse, os serviços públicos passaram a ser

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

49

terceirizados ou privatizados, a exemplo da água, da energia e da telefonia, de modo que este tipo

de solução já é realidade em alguns setores, ou seja,

Serviços privatizados em que companhias obtiveram as concessões e as operam tendo os investimentos e custos remunerados através de tarifas (...) cobradas aos usuários. Verifica-se recentemente a expansão deste formato, em face da escassez de recursos públicos, mas o grande desafio em sua implantação como um serviço público é o controle social a ser exercido de forma democrática, e que não leve prejuízo às partes mais carentes da população (FRANCO, 1999, pg. 22).

Os serviços públicos descentralizados são definidos por MEIRELLES (1996) como

“técnicas de especialização, em que se retira o serviço de uma entidade, transferindo-o para outra,

que possa executá-lo com maior perfeição e autonomia”. Esta descentralização se efetiva por

meio da lei e podem ser realizadas através de autarquias, empresa pública municipal ou sociedade

de economia mista, definidas a seguir:

Terceirização – A terceirização se dá quando uma empresa particular exerce a

prestação de serviços públicos de forma contínua. Os recursos utilizados para a

remuneração dos serviços advêm do orçamento municipal. No caso dos resíduos

sólidos, a determinação da remuneração de tais serviços é feita em função da

quantidade de lixo coletada ou em função do número de viagens realizadas na

coleta. Entretanto, uma ressalva deve ser feita. Às empresas terceirizadas cabe

apenas a prestação do serviço e não os investimentos necessários ao setor, isto

significa que cabe ao município assumir todos os investimentos que garantam a

qualidade do serviço.

Concessão a Empresa particular – Forma de privatização que transfere a

empresas particulares os serviços públicos, inclusive com investimentos. No caso

da concessão cabe ao gestor privado não apenas a prestação do serviço, mas

também investimentos no setor. A remuneração é feita mediante a cobrança de

tarifa em função dos custos e investimentos a fim de obter equilíbrio econômico-

financeiro.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

50

Consórcios Intermunicipais – os consórcios consistem em “acordos firmados

entre estatais, em geral municípios, para a realização de objetivos de interesse

comum dos partícipes, como obras, serviços e atividades de competência local,

mas interesse de toda região” (MEIRELLES, 1996). No caso dos serviços de

limpeza urbana, os consórcios surgem como uma alternativa viável na redução de

custos e divisão de investimentos.

Parcerias Público-Privadas (PPP) – A criação das PPPs através da Lei Nº

11.079/2004 tornou-se um instrumento importante com relação a investimentos

em infra-estrutura municipais, principalmente na viabilização de projetos voltados

para o manejo dos resíduos sólidos urbanos. A PPP se constitui como um contrato

de concessão em que uma das modalidades é a concessão administrativa, no qual a

administração pública é a usuária direta ou indireta dos serviços concessionados.

A obrigação do setor público é participar com uma parcela dos investimentos

requeridos, geralmente na disponibilização de uma área para a implantação do

aterro sanitário (CASTAGNARI, 2005).

A busca de mecanismos que universalizem a prestação do serviço é o grande desafio da

gestão ambiental urbana. No entanto, mesmo sujeito a várias dificuldades, os sistemas existentes

de prestação de serviços contam, com o princípio do fornecimento de algum produto final para a

sociedade e podem ser facilmente mensuráveis como é o caso da água, da energia elétrica e da

telefonia. O mesmo não ocorre com os resíduos sólidos, ou seja, se constitui como um serviço

público prestado para a sociedade, onde não se dá um fornecimento, isto é, a população não

recebe um bem final. Ela descarta seus restos.

Como os resíduos sólidos por sua natureza são descartes do consumo, a prestação pelos

serviços a eles ligados não são valorizados, via de regra, pela população. No entanto, a ausência

de coleta e destino final tem um impacto ambiental negativo considerável que precisa ser evitado,

de modo que a discussão sobre o tema torna-se relevante no atual contexto de gestão urbana.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

51

3.2.1 O CONCEITO LEGAL DE TAXA E TARIFA COMO COMPONENTE DA GESTÃO DE

RESÍDUOS SÓLIDOS

O serviço de limpeza pública pode ser remunerado por taxa ou por tarifa. Embora, em

todo material bibliográfico consultado para a realização da pesquisa, o termo “Taxa de Lixo”

tenha sido uma constante, esse termo se contrapõe ao que realmente está se discutindo na

proposta da PNRS, isto é, a PNRS propõe a cobrança pelo pagamento do serviço de coleta,

tratamento e disposição final de resíduos sólidos em função dos custos dos serviços prestados.

Por se tratar de um serviço, geralmente oferecido por concessionárias, seus preços são calculados

em função dos custos do sistema implantado, ou seja, uma tarifa.

Para melhor compreensão dos conceitos utilizados nos reportamos à definição dada por

HOUAISS & VILAR (2001):

Tarifa é o valor determinado pelo Estado para ser cobrado dos usuários pelas concessionárias de serviços públicos (água, energia elétrica, telefonia, etc.) Ela é calculada em função das planilhas de custos elaboradas pelas empresas responsáveis pela concessão do serviço prestado a partir da quantidade consumida pelos usuários.

Os autores definem o conceito de Taxa afirmando que:

Taxa é o preço fixo regulamentado por convenção ou pelo uso; tributo;

imposto; tributo arrecadado pela União, ou pelos estados ou pelos municípios, a título de prestar certos serviços à população em geral (taxa de iluminação pública, de esgoto, de incêndio etc.); preço fixado após a aplicação de regulamentação desse tributo.

Ou seja, no caso dos resíduos sólidos, a cobrança da taxa pelo serviço prestado é fixa

independente da quantidade de lixo produzida, ao passo que o pagamento da prestação do serviço

de limpeza pública através da tarifa varia em função da quantidade de resíduos produzidos por

unidade familiar ou por geradores.

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1988) em seu artigo 145 estabelece que a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir impostos, contribuições e taxas

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

52

decorrentes da melhoria de obras públicas; estas em razão do exercício do poder de polícia ou

pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestado aos

contribuintes ou postos à sua disposição. Entretanto, estabelece também a impossibilidade de

criação de taxas que tenham a mesma base de cálculo dos impostos, como vem ocorrendo com a

taxa de lixo embutida dentro do IPTU.

Para LIMA (2003), esta é a primeira análise que deve ser feita para constatar a

constitucionalidade ou não de uma taxa. Por esse motivo, várias tentativas de cobrança pela

prestação de serviços relacionados aos resíduos sólidos foram questionadas em diversas cidades

brasileiras, pois a base de cálculo utilizada era a base de cálculos do IPTU.

Para SILVÉRIO et al, (2000), no caso dos resíduos sólidos, a distinção entre taxa e tarifa

gera muita polêmica, isto porque ao longo do tempo, a remuneração pelos serviços de limpeza

urbana sempre foi cobrada por taxa, geralmente incluída dentro do IPTU. Assim, a taxa se

constitui como um tributo que obedece ao princípio da legalidade e da anualidade. De tal modo, o

princípio da legalidade refere-se ao fato de que o Poder Público só pode criar ou aumentar taxas

mediante a aprovação de lei que o autorize. Já o princípio da anualidade, refere-se ao fato de que

a cobrança do tributo somente deve ser realizada no ano seguinte após a publicação da lei. Isto

demandaria muito tempo caso o gestor municipal instituísse a remuneração da gestão em função

dos custos operacionais e de investimentos incluídos na taxa. E, além disso, correria o risco da lei

não ser aprovada.

Por outro lado, a tarifa segundo SILVÉRIO et al (2000) se constitui mediante a

apresentação de planilhas de custos e investimentos para a determinação do preço público do

serviço e, realizado através de contrato de concessão entre as partes.

Entretanto, para os autores, a questão que deve ser considerada é referente à natureza do

serviço a ser cobrado. Isto é, ao contrário dos serviços de fornecimento, como água, energia e

telefonia, por exemplo, o serviço de limpeza urbana não se constitui como um tipo de

fornecimento, que em caso de inadimplência pode ser cortado. Deste modo, a limpeza pública

torna-se extremamente complexa com relação à medição individual da coleta. Além disso, como

o sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos brasileiros não apresenta uma estrutura que

efetive a cobrança, como fazer para não atender as pessoas que não pagarem pelo serviço?

Haja vista que a não prestação do serviço para os inadimplentes implicaria na disposição

clandestina de resíduos e conseqüentemente externalidades negativas para aqueles que pagam,

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

53

como por exemplo, mau odor e proliferação de vetores. Nesse caso, a busca de mecanismos de

cobrança para garantir a adimplência devem ser considerados em qualquer plano de

gerenciamento de resíduos sólidos.

3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONTEXTO DA GESTÃO URBANA

O pagamento pela prestação dos serviços de limpeza pública é realidade em municípios

de muitos países. A literatura estudada mostra algumas experiências. Especificidades locais à

parte, o objetivo deste item é identificar algumas experiências com a utilização de taxas / tarifas,

no sentido de entender as várias formas de cobrança existentes.

Para WIEDEMANN (1999), um dos países com melhor gestão de resíduos sólidos é a

Alemanha. Entretanto, chegar a essa condição não aconteceu de um dia para o outro. No final do

século XIX, o país já dispunha de vasilhames padronizados para coleta de lixo. Em 1901, 75%

das residências já eram atendidas por esse tipo de serviço e antes de 1851 os proprietários das

casas já pagavam taxas pela remoção de resíduos domésticos. Com o passar do tempo, a gestão

foi se aperfeiçoando e algumas tecnologias introduzidas como, coches de coleta de resíduos para

evitar poeira (já que o lixo era basicamente composto por cinzas) e padronização de vasilhames

para facilitar a coleta e a cobrança de tarifas, a partir do volume de lixo gerado usado como

parâmetro.

Em 1957 com a Lei de Manejo das Águas iniciou-se uma maior pressão para tratamento

dos resíduos sólidos finais, já que um grande número de lixões existentes na Alemanha não

cumpria às novas exigências. Essa lei foi fundamental para direcionar o desenvolvimento das

políticas de manejo dos resíduos domésticos, industriais e perigosos.

O autor segue afirmando que,

O grau de instrução da população alemã é suficiente para compreender a

importância do sistema de gestão de resíduos e suas conseqüências caso essa política não existisse. Além disso, a entrega dos resíduos domiciliares às empresas de limpeza pública é regulamentada e obrigatória. Outro fator importante neste sistema de gestão é que as tarifas cobradas não são caras para o padrão de vida alemão (WIEDEMANN, 1999, p. 12).

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

54

Outro país que vem se esforçando com relação à gestão de resíduos é Portugal. Segundo

POLZIN (2004), a gestão de resíduos sólidos urbanos - RSU no Brasil e em Portugal, eram

similares até 1995, notadamente no que se refere a destino final. Mesmo com a existência de

aterros controlados (13) e unidades para compostagem (5) – próximos aos grandes centros, a

destinação final em Portugal era caracterizada pelo despejo de resíduos em lixões. A entrada de

Portugal na Comunidade da União Européia - UE em 1986 modificou inteiramente o quadro. O

país teve de se adequar às exigências impostas pela entidade: encerramento e recuperação de

lixões, infra-estrutura para a gestão dos RSU e a introdução da coleta seletiva e reciclagem,

favorecidos por financiamentos dos fundos estruturais da UE.

Entretanto, a efetivação do atual sistema não ocorreu de um dia para o outro. Foram quase

dez anos para garantir a implementação das Leis e Decretos ao longo do tempo, no que se refere a

questão ambiental e, mais especificamente na gestão de resíduos sólidos urbanos.

Fruto de uma ação conjunta e de longo prazo, o país investiu cerca de 933 milhões de

Euros para equacionalizar e reduzir a quantidade de lixões existentes, como pode ser observado

na Figura 4. Em 1996, a população servida pelo serviço de destinação final de resíduos sólidos

urbanos correspondia a 26% e em 2002, 100% da população tinha acesso a esse serviço. O país

aplica o princípio poluídor-pagador2 e possui um custo médio de destino final de 25

Euros/tonelada, 50 Euros/tonelada na coleta seletiva e um custo médio de 75 Euros/tonelada na

gestão total dos resíduos sólidos urbanos (MARTINS, 2004).

Segundo MARTINS (2004), cerca de 57% dos municípios portugueses cobram taxas

pelos serviços prestados, sendo que do total desses municípios, 84% cobram de forma

regulamentada e constituída em lei. As taxas cobradas raramente ultrapassam 2 Euros por mês, e

geralmente são fixas ou indexadas ao consumo de água.

2 Princípio poluidor-pagador: parte do princípio que o poluidor deve pagar por danos ambientais, cabendo aos responsáveis arcar com compensações por tais danos. Ver: Economia do meio Ambiente – teoria e prática. Peter Herman May, Maria Cecília Lustosa e Valéria da Vinha (Orgs.) Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

55

Figura 4: Encerramento de lixões em Portugal

0

50

100

150

200

250

300

350

Lixe

iras

ativ

as

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Anos

Fonte: MARTINS, 2004.

Entretanto, CARTEIRO (2002) questiona a atual forma de pagamento da taxa do lixo em

Portugal, pois a mesma não incentiva a redução e a reciclagem, uma vez que é calculada em

função do consumo de água e não em função do lixo produzido. A Organização de Cooperação e

Desenvolvimento Econômico - OCDE em recente relatório sobre o estado do meio ambiente em

Portugal também questiona a forma de cobrança da taxa do lixo e discute a necessidade de se

criar uma tarifa específica em função da produção individual. Essa prática levaria a um resultado

mais efetivo no aumento da reciclagem, uma vez que os consumidores pagariam apenas pelo lixo

que não seriam separados.Vale salientar que o cumprimento às exigências impostas pela UE

foram em função dos benefícios e regalias que a entidade proporciona aos seus países membros.

No caso brasileiro, a primeira referência sobre o pagamento pela prestação do serviço data

do século XVIII quando o engenheiro francês Vauthier em visita à cidade do Recife, descrita por

FREIRE (1940) apud EIGENHEER (2003) discutiu a questão de taxas / tarifas para resíduos

sólidos em relatório datado de 1842. O engenheiro observou que a cidade não oferecia condições

ideais de saneamento e seus resíduos eram jogados em depósitos nos centros e nas periferias dos

bairros. Por esse motivo, Recife foi citada como uma das cidades mais imundas já visitadas por

Vauthier.

Como solução para o problema, Vauthier sugeriu a cobrança de uma taxa pelos despejos

diários. Calculando o número de habitantes da cidade e a quantidade de resíduos gerados a um

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

56

custo operacional fixo, geraria benefício econômico para a cidade. Por mais que o serviço

apresentasse vantagens econômicas, a proposta não foi posta em prática.

Em 1868, aos 20 de abril foi assinada uma lei provincial que legislou sobre a instalação de

latrinas e canos subterrâneos para escoamento de águas servidas em Recife - Pernambuco.

Entretanto, essa legislação não abordou a questão da cobrança pela gestão dos resíduos sólidos, o

que dificulta até hoje a discussão do problema.

É importante ressaltar que a dificuldade em se discutir a questão da taxa / tarifa do lixo,

não se restringe a cidades ou regiões, mas principalmente a nível nacional, uma vez que o país

não possui uma política específica voltada para os resíduos sólidos, na qual tais diretrizes

poderiam ser regulamentadas. Entretanto, algumas iniciativas vêm sendo tomadas no que diz

respeito à cobrança pelos serviços de limpeza pública. Embora indo de encontro à opinião

popular, algumas cidades brasileiras tomaram a iniciativa de enfrentar o problema através da

tarifação dos serviços relacionados à coleta e destinação final do lixo municipal.

Uma delas é a cidade de São Paulo, com cerca de 10 milhões de habitantes e geração de

12 mil toneladas diária de lixo, volume este distribuído em dois aterros sanitários, atualmente

com capacidade de recepção em colapso.

O objetivo da cobrança da tarifa de lixo em São Paulo seria reduzir o volume de resíduos

recebidos nos aterros, incentivar a coleta seletiva e tornar mais eficiente o destino final dos

resíduos dentro do aterro. O principal argumento é a viabilização de investimentos tecnológicos

dentro dos aterros a partir da tarifa do lixo.

Em São Paulo, a proposta para cobrança da tarifa de lixo foi aprovada em 2003 e os

valores pagos mensalmente para a coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos

variavam de R$ 6,14 a R$ 61,36 para unidades residenciais e de R$ 18,41 a R$ 122,72 para as

unidades não-residenciais, segundo a produção de lixo informada pelo próprio produtor. Este

projeto significaria uma economia de até 300 milhões anuais para os cofres públicos (FOLHA

DE SÃO PAULO, 2002). Para esta tarifa, ficariam isentos cerca de 5 % dos domicílios que não

são atendidos pelos serviços de limpeza pública, favelas e imóveis com valor inferior a R$

25.000,00, repassando para os contribuintes de classe média o ônus de tal tributo, ou seja, as

áreas de pobreza que estão no entorno dos centros urbanos implicam como uma grande

dificuldade para instituição e implementação de taxas ou tarifas de lixo (EIGENHEER &

FERREIRA, 2005).

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

57

Essas medidas têm enfrentado muitas resistências e o principal argumento é o de que o

povo brasileiro já tem que conviver com uma série de impostos. Com essa linha de pensamento, a

atual administração da cidade enviou à Câmara Municipal projeto de Lei que extinguiu a

cobrança da tarifa de lixo domiciliar a partir de 1º de janeiro de 2006. Segundo o Prefeito José

Serra, o argumento foi o seguinte:

É importante sublinhar que esta medida está considerada em duas direções:

primeiro na eliminação de tributos inconvenientes, como é o caso da taxa de lixo (...). Segundo, no sentido de maior agilidade, justiça e eficiência no processo de arrecadação de tributação aqui do município. São estas duas vertentes: eficiência e justiça tributária.(Grifo nosso). (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Notícias on-line (29/09/05).

A nova gestão alega também que a cobrança da tarifa de lixo revelou-se ineficiente pela

dificuldade de administração e pelo alto custo de gerenciamento do tributo. O fato é que ao invés

de adequar a cobrança da taxa / tarifa à realidade, acharam preferível acabar com a mesma, ou

seja, uma solução mais prática, embora uma atitude incoerente frente aos altos custos

operacionais do sistema de gerenciamento de resíduos sólidos da cidade de São Paulo. Quando se

trata de gestão de resíduos sólidos, a descontinuidade administrativa torna-se um grande entrave

no estabelecimento de um plano integrado de gerenciamento, já que este requer melhoria

contínua.

É importante ressaltar que a discussão referente à cobrança pelos serviços no que tange

aos resíduos sólidos em São Paulo não é um problema surgido em 2002 com a institucionalização

de uma tarifa para pagamento pelos serviços prestados, mas data de pelos menos 100 anos atrás,

se constituindo como um debate dos mais polêmicos na Câmara Municipal da cidade. Segundo

JANOVITCH (2006), no início do século XX o prefeito Antônio Prado terceirizou o serviço para

limpeza e coleta dos resíduos sólidos da cidade mediante a cobrança de uma taxa pelo serviço

prestado. A justificativa para a efetivação da cobrança era a ausência de recursos financeiros

condizentes com a realidade de custos de investimentos e manutenção do serviço, de forma que a

taxa de lixo seria a solução para a falta de recursos da prefeitura e uma forma de responsabilizar

os geradores individualmente (Figura 5).

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

58

Figura 5: Responsabilização da população pela geração de resíduos

Entretanto, a população como não se encontrava satisfeita com a realização dos serviços

prestados, uma vez que os serviços não foram expandidos para todos os bairros da cidade, viu o

uso da taxa como mais uma forma de arrecadação de verbas para os cofres públicos, de modo que

foi bastante questionada não apenas pela população, mas também pela Câmara Municipal e

jornais da época, como pode ser visualizado na Figura 6.

Em 2002, a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba, através de

um Consórcio Municipal para a Gestão do Lixo, implantou um projeto para cobrança da tarifa de

lixo. Essa tarifa variava de R$ 3,00 a R$ 119,00 por mês de acordo com o volume informado por

cada unidade geradora. Essa forma de cobrança se constitui como uma forma mais justa de

cobrança porque está relacionada à geração de resíduos individualmente. Com relação à forma de

medição, cerca de 90% das unidades geradoras se enquadraram na primeira faixa de volume, ou

seja, 30 litros por dia. A cobrança poderá estar vinculada às contas de água, telefone, energia ou

paga diretamente à concessionária prestadora dos serviços (JORNAL AMBIENTE BRASIL,

2002).

Figura 6: Críticas à cobrança da taxa de lixo em São Paulo

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

59

Desta forma, principalmente nos municípios de grande porte, a discussão e

conseqüentemente implantação de um sistema de cobrança pelos serviços relacionados a resíduos

sólidos tende a crescer e, que tal estratégia pode ajudar a garantir a eficiência do serviço prestado

não apenas em seus aspectos econômico-financeiros, mas também em seus aspectos ambientais.

Assim, especialistas indicam que a tarifa do lixo pode incentivar a redução de embalagens mais

poluidoras já que o pagamento da tarifa varia de acordo com a produção diária de lixo do

consumidor, ou seja, paga menos quem gera menos.

Segundo SLOMP (1999), levando-se em conta que o gerenciamento dos resíduos sólidos

urbanos consomem grande parte do orçamento municipal das cidades brasileiras, a busca de

soluções alternativas que financiem a gestão dos resíduos sólidos torna-se prioridade para os

gestores municipais.

Por outro lado, não basta apenas tributar mais uma vez os consumidores e sim levar esta

discussão para os interessados, ou seja, a população que deseja um serviço eficiente, aos órgãos

ambientais, por conta dos danos ambientais, as empresas, na busca da inserção de menores custos

ambientais e financeiros e aos políticos que são os responsáveis pela efetivação de leis que

garantam que tais necessidades sejam satisfeitas.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

60

Há quem questione a constitucionalidade das cobranças de taxas / tarifas de lixo, mas se a

execução dos serviços se tornar crítica e o problema ambiental insustentável, alguém terá que

arcar com os custos desta externalidade ambiental, e mesmo que esse custo não seja pago de

forma direta, será pago de forma indireta através de outros impostos.

Esta é a discussão a que se propõe este trabalho. Sabe-se que oferecer estes serviços com

base em tarifas ou taxas individuais não é uma questão fácil de ser absorvida pela população,

principalmente por se tratar de lixo, ou seja, algo estigmatizado, que deve ser varrido, que não

presta e não tem valor. Se existe uma certa aversão de cunho histórico e até religioso, como

embutir nas pessoas a possibilidade de cobrança por algo que não serve mais?

Estas reflexões são importantes, principalmente porque as experiências existentes no

Brasil, com relação à taxação e tarifas para os resíduos sólidos têm encontrado muitas barreiras,

isto é, à medida que a população está pagando, ela não consegue perceber ao mesmo tempo o

benefício ambiental que está comprando. Isto é decorrente de vários fatores, como: a má

distribuição da renda, a não satisfação das necessidades básicas, a falta de acesso aos serviços de

infra-estrutura pública, a carga tributária e ao alto índice de corrupção nas esferas públicas do

país.

Entretanto, é algo que deve ser repensado se a sociedade quer alcançar uma gestão de

resíduos eficiente, mesmo que para isso seja necessário aumento de impostos ou pagamento de

tarifas.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 INSTRUMENTOS DE TRABALHO

Para NETO (1994), a pesquisa bibliográfica trata-se de um confronto entre o campo

teórico e a proposta de estudo de interesse do pesquisador, não havendo nenhuma relação direta

entre o pesquisador e os atores sociais envolvidos no objeto de pesquisa. Surgindo daí a

necessidade de se estabelecer este confronto através da utilização de entrevistas junto às

principais lideranças da comunidade.

Conforme MINAYO (2004), a pesquisa qualitativa surgiu da necessidade de aprofundar

os indicadores numéricos, já que a aglomeração dos dados ocultava ou falseava aspectos

relevantes da realidade. A autora ressalta a importância da entrevista qualitativa quando pontua

sua relevância para a pesquisa porque:

a) Compreende os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre

temas específicos;

b) Compreende as relações que se dão entre os atores sociais, tanto nas instituições

como nos movimentos populares;

c) Servem para a avaliação das políticas públicas e sociais, tanto do ponto de vista da

formulação e aplicação técnica quanto para os usuários a quem se destina.

A partir desses aspectos, a discussão abordada sobre gestão de resíduos sólidos

municipais se encaixa perfeitamente neste tipo de metodologia. Como o serviço de coleta e

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

62

destino final de resíduos sólidos é um serviço oferecido para a população através de uma política

pública específica, abordar questionamentos sobre sua gestão junto às principais lideranças do

município é o nosso objetivo.

A metodologia utilizada para buscar informações e dados que respondessem ao problema

estabelecido no trabalho foi a utilização de entrevistas qualitativas abertas e semi-estruturadas. A

investigação teve como público alvo às lideranças (pessoas-chave) dos principais movimentos

populares da cidade e busca analisar as questões relacionadas à gestão dos resíduos sólidos

urbanos do município em suas dimensões técnico-operacionais, ambientais, sociais e econômicas

decorrentes da cobrança de taxa / tarifa de lixo.

MINAYO (2004), conceitua entrevistas como um instrumento utilizado para orientar uma

conversa com finalidade, devendo ser facilitador de abertura, ampliação e aprofundamento na

comunicação. E as entrevistas semi-estruturadas são definidas como a combinação de perguntas

fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o

tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo entrevistador.

Para atender aos objetivos da pesquisa dividimos a metodologia em duas partes. A

primeira parte se constituiu por fazer um levantamento do quadro atual do sistema de

gerenciamento adotado pelo município através de entrevistas abertas com os secretários

municipais e funcionários da Divisão de Limpeza Pública do município, assim como, no

levantamento de dados secundários para a sustentação teórica e qualificação da temática

proposta. A segunda parte foi definida pela utilização de entrevistas qualitativas semi-

estruturadas juntamente com os atores sociais, os quais exercem papéis de lideranças em diversas

organizações sociais e movimentos populares no município.

4.2 AMOSTRAGEM

A opção pela escolha da entrevista qualitativa semi-estruturada para a busca de

informações relevantes sobre o sistema de gerenciamento dos resíduos na cidade foi em função

da distância do município. Foram realizadas duas viagens de campo: a primeira para o

levantamento de dados e informações sobre o quadro de gerenciamento dos resíduos sólidos no

município através das entrevistas abertas e pesquisas exploratórias e a segunda para a aplicação

das entrevistas semi-estruturadas junto às lideranças comunitárias mais representativas.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

63

Tal técnica de seleção da amostra, ou seja, a escolha de pessoas-chave, foi fundamentada

em BRUYNE et al (1977), na qual apresenta vantagens com relação à quantidade e qualidade das

informações sobre problemas mais complexos ou mais carregados afetivamente, assim como, se

mostram como informantes aptos e dispostos a responderem questões representativas para as

comunidades em que exercem papéis de liderança. Essas informações permitem indicar

mudanças de atitudes através da influência exercida e compreender a evolução dos fenômenos

relacionados às questões propostas.

A opção por esta técnica de busca de informações foi em função também da

impossibilidade de entrevistar um número elevado de pessoas, caso a escolha da amostra fosse

probabilística, ou seja, 2% ou 10% da população do município. Desta forma, MARCONI &

LAKATOS (1990) afirmam que, havendo esta impossibilidade, pode-se optar pela amostragem

não-probabilística por tipicidade, que consiste na procura de um grupo representativo da

comunidade em relação à população como um todo. Este tipo de amostragem dispensa o uso de

formas aleatórias de seleção e o uso de aplicação de fórmulas estatísticas, de modo que seus

resultados serão utilizados apenas como indicadores da gestão municipal de resíduos sólidos e

não de forma generalizada para o todo.

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados levantados na primeira parte da metodologia foram utilizados para a construção

do quadro atual do sistema de gerenciamento dos resíduos na cidade, constituindo-se pela

utilização dos dados de forma descritiva. As informações coletadas na segunda parte da

metodologia, através das entrevistas qualitativas, foram divididas em critérios de sustentabilidade

e categorizados de forma a quantificar e qualificar as respostas dadas.

Para atender ao objetivo da pesquisa, dividimos o trabalho em quatro critérios de

sustentabilidade, ou seja, sustentabilidade técnica-operacional, sustentabilidade econômica,

sustentabilidade social e sustentabilidade ambiental do sistema de gestão dos resíduos sólidos

urbanos.

No critério de sustentabilidade técnica-operacional questionamos os entrevistados sobre a

eficiência do sistema de coleta e disposição final dos resíduos sólidos. O critério de

sustentabilidade ambiental procurou buscar respostas a respeito da percepção ambiental que os

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

64

entrevistados faziam a respeito dos resíduos sólidos. Já o critério de sustentabilidade econômico-

financeira teve por objetivo buscar respostas a respeito dos custos e investimentos necessários

para a eficiência na coleta e na disposição final de resíduos sólidos, assim como, questionar os

entrevistados de uma possível tarifação pelo serviço prestado. Como o critério de sustentabilidade

social não estava previsto nos objetivos da pesquisa, o mesmo foi abordado de forma intrínseca

aos critérios de sustentabilidade citados.

Com relação aos dados sobre o sistema de gerenciamento municipal dos resíduos sólidos

municipais utilizamos entrevistas abertas juntos aos secretários de Infra-Estrutura, Gestão

Ambiental, Educação e Administração.

Além da pesquisa qualitativa, fizemos pesquisas bibliográficas sobre o tema em questão,

coleta de dados junto aos órgãos públicos, como IBGE, através de sua Pesquisa Nacional de

Saneamento Básico - PNSB, Índice de Desenvolvimento Humano - IDH e legislação a respeito

de resíduos sólidos no Brasil.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

5 O MUNICÍPIO DE ESCADA - PE

A escolha do município de Escada como objeto de pesquisa deve-se ao fato que a cidade é

representativa no contexto de pequenos e médios municípios brasileiros (73,07% e 22,86%,

respectivamente) que enfrentam dificuldades quanto à gestão de resíduos sólidos municipais, e

também porque se apresenta como um indicador da forma pela qual o gerenciamento dos

resíduos sólidos municipais vem sendo abordado frente à realidade que os municípios de pequeno

e médio porte estão enfrentando atualmente, como aumento dos resíduos produzidos por conta da

pressão populacional nas áreas urbanas, utilização do lixão como destino final e recursos escassos

para viabilização de projetos viáveis e sustentáveis.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

5.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O município de Escada foi originado a partir de três aldeias de índios existentes na região:

as tribos Potiguares, Tabajaras e Mariquitos. O nome de Escada provém do fato de um

missionário responsável pela catequese dos índios ter construído uma escada para dar acesso ao

morro em que se encontrava o altar em louvor a Nossa Senhora da Apresentação, ficando

conhecida na região como Nossa Senhora da Apresentação da Escada.

O distrito de Escada foi criado pela Carta Régia de 27 de abril de 1786 e por Lei

Municipal em 06 de março de 1893. A Lei Provincial nº 326, de 19 de abril de 1854, criou o

município de Escada, com território desmembrado do município do Cabo de Santo Agostinho. A

sede municipal foi levada à cidade pela Lei Provincial nº 1.093, de 24 de maio de 1873.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

66

Atualmente é formada pelos distritos Sede e Frexeiras e pelos povoados das Usinas Barão de

Suassuna, Massauassú e Timbô-Assú.

5.1.2 ASPECTOS FÍSICOS

O município de Escada está localizado a sudoeste da região metropolitana do Recife no

Estado de Pernambuco, estando inserido na microrregião homogênea 112 Mata Sul, e pertencente

à zona fisiográfica da Mata (Litoral-Mata). Possui uma área de aproximadamente 343 Km2, o que

representa 0,34% da área total do Estado de Pernambuco, distante aproximadamente 63 Km da

capital, Recife. Sua localização geográfica pode ser observada na Figura 7.

Figura 7: Localização geográfica do município de Escada

Fonte: PROMATA, 2004.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

67

O município possui 203,5 Km2 de sua área inseridos na bacia hidrográfica do Rio Ipojuca,

ou seja, cerca de 58% de seu território.Também está inserido na bacia hidrográfica do Rio

Serinhaém, entretanto, não se destaca como hidrovia.

Limita-se ao norte com o Cabo de Santo Agostinho e Vitória de Santo Antão, ao sul e

sudeste com Ribeirão e Serinhaém, a leste, com Ipojuca, e a oeste com Primavera. Para melhor

compreensão dos limites territoriais, observemos a Figura 8.

Figura 8: Limites territoriais da cidade de Escada - PE

Fonte: IBGE, 2005. Sua localização geográfica, assim como, alguns dados gerais, são apresentados no Quadro

1 a seguir:

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

68

Quadro 1: Aspectos Físicos do município de Escada (2000)

Área do município: 343 Km2 Altitude: 109 metrosLatitude: 8º 21' 33'' Longitude: 35º 13' 25''Clima: quente e úmido Temperatura Média: 24ºVegetação: Floresta subperenifólia Via de Acesso: BR 101

Informações do Município de Escada

Fonte: www.portaldosmunicípios.pe.gov.br , 2006.

O clima do município pode ser classificado também como tropical chuvoso, com verão

seco e chuvas de inverno. Sua temperatura é suavizada, em parte, pelo relevo, rico em morros e

colinas, sendo os meses de fevereiro e março os que apresentam uma temperatura mais elevada,

em torno de 26º, não sendo registradas, portanto, variações no clima, talvez explicadas pela

proximidade do litoral e pela modesta altitude (MOTA, 2002).

5.1.3 ASPECTOS ECONÔMICOS

A economia do município é baseada na agroindústria açucareira, introduzida na região no

século XVI, pelos colonizadores portugueses. O desenvolvimento desta atividade esteve

condicionado ao mercado externo que gerou os estímulos necessários para a sua implantação e

evolução.

A cana-de-açúcar encontrou no município de Escada condições naturais favoráveis ao seu

desenvolvimento, tais como: solos férteis, rede hidrográfica abundante e permanente, clima

quente, alta pluvisiosidade (a mais alta do Estado) e estação seca bem definida.

O município apresenta uma das maiores concentrações fundiárias do Estado, sendo o

latifúndio por exploração a principal forma de utilização da terra. Estas grandes propriedades

pertencem às usinas Massauassú, Barão de Suassuna e Usina União e Indústria, atualmente

pertencente ao município de Primavera. Na tabela 7 a seguir faz-se uma comparação da produção

de cana-de-açúcar das usinas pertencentes ao município de Escada.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

69

Tabela 7: Produção de açúcar nas safras 73/74, 84/85 e 86/87 das usinas pertencentes

à cidade de Escada.

Safra 73/74 84/85 86/87Usinas (sacos de 60 kg.) (sacos de 50 kg.) (sacos de 50 kg.)Barão de Suassuna 346.153 589.134 576.280Massauassú 409.135 711.804 569.220União e Indústria 443.350 475.350 551.940

Fonte: IAA, 2002.

A indústria sucro-alcooleira apesar de muito marcante, vem perdendo nas duas últimas

décadas um peso significativo na economia de Escada. A crise desse setor pode ser observada

pelo número de usinas e destilarias que vem sendo paralisadas ou desativadas, contribuindo para

o aumento do desemprego. A transferência da Usina União e Indústria para o município de

Primavera e o fechamento das Usinas Massauassú em 1991 e da Usina Barão de Suassuna em

2002, provocou um forte impacto negativo na economia local, atingindo diretamente os setores

de comércio e serviços, diante de consumidores com poder de compra ainda mais reduzido.

Quanto às médias propriedades, pertencem de modo geral a fornecedores de cana e, que

atualmente são os atuais arrendatários das terras anteriormente pertencentes às usinas, tendo sua

produção de cana voltada para o fornecimento de matéria-prima para usinas pertencentes aos

municípios vizinhos.

O fechamento das usinas também motivou a articulação dos trabalhadores rurais no

Movimento dos Trabalhadores sem Terra – MST, com várias áreas de terras ocupadas

pertencentes às usinas. Finalmente, têm-se as pequenas propriedades, que ocupam as áreas menos

férteis ou as áreas próximas aos aglomerados urbanos, dedicando-se a outras atividades não

vinculadas diretamente à agroindústria açucareira.

Nas áreas impróprias para o cultivo de cana-de-açúcar desenvolveu-se a lavoura de

subsistência, a fruticultura e a pecuária. Estas atividades são de pouca expressão no contexto

econômico local (SÉRIE MONOGRAFIAS MUNICIPAIS, 1982). Além da cana-de-açúcar,

destacam-se outras culturas, como as seguintes: mandioca, banana, côco, laranja e manga. Estas

pôr sua vez ocupam as terras não propícias à cana-de-açúcar e são cultivadas em pequenas

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

70

propriedades, visando principalmente o consumo. Quando ocorre excedente na produção, os

produtos são comercializados nos mercados mais próximos (MOTA, 2002).

5.1.4 ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS

Inserida na Zona da Mata de Pernambuco, apresenta um quadro sócio-ambiental que

evidencia a pobreza e a falta de oportunidades que afetam a vida das pessoas, associadas a um

ambiente natural degradado. Esse quadro tem suas raízes históricas pautadas no uso desordenado

dos recursos naturais e na ausência de investimentos em desenvolvimento social e ambiental.

Associado a esse quadro, outros problemas vêm agravando as condições de qualidade de

vida da população local, como: poluição dos recursos hídricos, precário atendimento nos serviços

básicos de saúde, educação e infra-estrutura e, em especial o abastecimento de água, esgotamento

sanitário, coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos.

A população do município, de acordo com o censo demográfico do IBGE de 2000, é de

cerca de 57.209 habitantes, os quais se encontram concentrados principalmente na região urbana

com 79,52%, contra 20,48% da região rural.

Analisando as taxas de crescimento populacional do município, observa-se um aumento

significativo nos períodos 1950/1960 e 1970/1980, conforme Tabelas 8 e 9 abaixo:

Tabela 8: Escada - População por situação de domicílio

PeríodoRegião Urbana 5.843 7.838 14.766 21.605 22.124 37.319 42.326 45.493Rural 16.992 21.158 24.235 21.767 31.180 18.522 15.048 11.716Total 22.835 28.996 39.001 43.372 53.304 55.841 57.374 57.209

20001940 1950 1960 1970 1980 1991 1996

Fonte: IBGE, 2002.

Tabela 9: Taxa geométrica anual de crescimento populacional

Unidade 40/50 50/60 60/70 70/80 80/91 91/96 96/00Escada 2,4 3,1 1,1 2,1 0,5 0,4 -0,1

Fonte: IBGE, 2002.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

71

Vale salientar que até a década de 1990, o município manteve taxas positivas de

crescimento populacional. A principal razão para esse crescimento acelerado é explicada pela

época de ouro da atividade sucro-alcooleira, motivo pelo qual a cidade recebeu o apelido de

“Terra dos Barões” por conta do grande número de senhores de engenho e usineiros residentes no

município.

No entanto, pode-se observar que na década seguinte, o município apresentou uma taxa

negativa de crescimento populacional, segundo o censo demográfico de 2000. É possível

observar também que o contingente da população rural sofreu uma redução no crescimento, se

compararmos com a população da década de 1980 (Tabela 8). A década de 1980 foi uma época

em que a atividade sucro-alcooleira teve seu “boom” econômico, interrompido pela grave crise

econômica que o setor vem passando nos últimos anos.

Ao longo das últimas décadas, mas precisamente a partir de 1980, o município vem

passando por um processo significativo de expansão territorial da área urbana. Fato comum em

diversas cidades brasileiras, o processo de migração das populações rurais para as áreas urbanas

também ocorreu no município de Escada. Esta migração foi provocada principalmente por conta

da desarticulação ocorrida no setor da agroindústria açucareira. O fechamento de diversas usinas

de açúcar na cidade e na região circunvizinha ao município foi provocado pela decadência do

setor nos últimos anos, sendo, portanto, um fator considerável pela existência da grande

quantidade de pessoas que passaram a viver na cidade em busca de melhores condições de vida e

na busca de oportunidades de trabalho. Outro fator que contribuiu para o decréscimo da

população rural no município deve-se ao fato de que com a falência das usinas e dos engenhos de

cana-de-açúcar, os proprietários das terras passaram a derrubar as casas de moradia pertencentes

às unidades produtivas, mantendo apenas o vínculo empregatício.

Este fator provocou um aumento substancial da população urbana, principalmente na

periferia da cidade. Este dado comprova-se com as informações do IBGE (2002) no qual apontou

a existência de 3 (três) favelas consolidadas no entorno da cidade, além do crescimento de bairros

periféricos, tornando o único município da Microrregião 5 da Mata Sul de Pernambuco a ter

bairros com a denominação de favela, conforme conceito atribuído pelo IBGE, são elas: favela de

Firmeza, favela do Cancão e favela do Bananal. Estas transformações ocorridas no espaço urbano

comprometeram sobremaneira os serviços públicos estruturais, pois, tais serviços não se

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

72

expandiram proporcionalmente à demanda provocada por essas transformações. Deste modo, o

município apresenta uma taxa de urbanização com cerca de 79,5%, índice maior do que o

verificado na Zona da Mata Sul e maior que índice do Estado de Pernambuco (PROMATA,

2005).

A mensuração do desenvolvimento e da qualidade de vida da cidade é dada pelo Índice de

Desenvolvimento Humano – IDH adotado pela Organização das Nações Unidas – ONU, o qual

usa basicamente 3 (três) indicadores de desenvolvimento para medir a qualidade de vida das

populações, são eles, educação, longevidade e renda. Um outro índice, ou seja, o Índice da

Exclusão Social - IES apresentado pelo Atlas da Exclusão Social no Brasil ampliou o conceito de

qualidade de vida e inseriu outros indicadores como violência, número de jovens, empregos

formais, desigualdade social e concentração de renda. A partir da inserção desses indicadores é

possível ter um dado mais fundamentado a respeito da realidade que cerca os municípios

brasileiros. Com base nesta metodologia, os resultados gerados para o município de Escada são

os seguintes:

Entre os anos de 1991 e 2000, o IDH – M do município de Escada cresceu 19,22%

passando de 0,541 em 1991 para 0,645 em 2000, como mostra a Figura 9. Segundo a

classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, o município

está classificado como médio desenvolvimento humano, isto é, IDH entre 0,500 e 0,800. Este

crescimento deve-se ao índice Educação que passou de 0,579 em 1991 para 0,713 em 2000,

equivalente a 43,1%.

Pelo IES (Tabela 10), Escada apresenta um índice de 0,368, o que é considerado grave,

isto é, IES de 0,000 a 0,400. O índice de pobreza é de 0,286 e o da desigualdade social chega a

0,022 (PROMATA, 2005).

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

73

Figura 9: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M – Escada

0,713

0,687

0,534

0,645

0,579

0,573

0,471

0,541

0,00 0,20 0,40 0,60 0,80

Educação

Longevidade

Renda

Municipal

19912000

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2000.

Tabela 10: Índice de Exclusão Social – IES – Município de Escada

INDICADORES 2000Pobreza 0,286Juventude 0,556Alfabetização 0,634Escolaridade 0,338Emprego formal 0,119Violência 0,843Desigualdade 0,022Exclusão social 0,368

Fonte: Atlas da Exclusão Social no Brasil, 2003.

Com relação aos problemas ambientais encontrados em Escada, o desmatamento destaca-

se como prática comum no município, uma vez que a cana-de-açúcar é a atividade principal de

cultivo, a qual demanda cada vez mais espaço para a expansão da produção. Em função desta

produção, a ocupação das margens dos rios e riachos se repete nos limites do município de

Escada, principalmente ao longo das margens do Rio Ipojuca, portanto, toda área de preservação

permanente ou preservação da mata ciliar encontra-se ocupada pelo cultivo da cana (PROMATA,

2005).

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

74

Tais ações implicam no assoreamento do Rio Ipojuca e também na qualidade da água,

principalmente pela alta concentração de matéria orgânica depositada no rio por conta do

lançamento de esgotos “in natura” sem a existência de nenhum tratamento prévio. De igual

modo, a atividade de retirada de areia do rio sem nenhum planejamento adequado afeta

diretamente a dinâmica hidrológica do rio, contribuindo para um maior índice de enchentes nos

últimos anos do que as ocorridas normalmente no período de inverno, afetando diretamente a

população que mora às margens do rio.

O relatório do PROMATA (2005) aponta a disposição inadequada do lixo como o

problema ambiental de maior proporção na zona urbana do município. A localização inadequada

do depósito em zona de relevo acidentado aliada à falta de manejo adequado contribui para que

exista a dispersão do lixo, carreado pelo vento e pelas águas pluviais para a drenagem local.

A disposição inadequada dos resíduos sólidos aliados à ausência de saneamento básico

tem causado sobremaneira a contaminação dos recursos hídricos da cidade, comprometendo a

qualidade de vida da população, uma vez que grande parcela da população vem sofrendo através

do surgimento de doenças como a esquistossomose, a leishmaniose e a dengue.

Com o objetivo de diminuir os efeitos desses impactos não apenas no aspecto ambiental,

mas também nos aspectos estruturais, econômicos e sociais, o Governo do Estado de Pernambuco

através do PROMATA vem financiando alternativas de desenvolvimento sustentável para a

cidade e demais municípios da Zona da Mata, o qual se bem articulado e administrado poderá

propiciar maior qualidade de vida para as populações locais. Como o Programa tem um papel

fundamental no sentido de mitigar os danos ambientais provocados pela disposição irregular do

lixo, nos ateremos ao assunto com maior ênfase no tópico a seguir.

5.1.5 PROMATA3

O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco

– PROMATA, conduzido pelo Governo do Estado de Pernambuco, formulou um processo de

Diagnóstico Participativo para a implantação de programas e projetos de desenvolvimento

econômico, social e ambiental. Presente nos 38 municípios que compõe a zona da mata do

3 Fundamentado em registros particulares da Câmara Temática: Meio Ambiente e no Plano de Investimento Municipal do município da Escada. PROMATA, 2003.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

75

Estado, o programa se propõe a identificar problemas e potencialidades que os municípios

apresentam e a partir daí diagnosticar possíveis soluções.

Realizado no ano de 2003 em toda Zona da Mata, é resultado de grande processo

participativo envolvendo o poder público estadual e municipal, associações, Organizações Não

Governamentais e setor privado, assim como a população em geral na formulação de estratégias

de desenvolvimento local para os próximos 10 anos. Seu objetivo é implementar o

desenvolvimento local de modo a promover a melhoria da qualidade de vida e o bem estar social,

a conservação do meio ambiente e a participação ativa e democrática da população, garantindo a

sustentabilidade, e também a continuidade do processo.

Para atender esse objetivo, os atores sociais envolvidos foram divididos em cinco câmaras

temáticas de acordo com suas afinidades: Diversificação Econômica, Educação, Saúde, Meio

Ambiente e Infra-Estrutura.

Tal processo de diagnosticação contou com a efetiva participação dos atores sociais

envolvidos na construção de uma estratégia de desenvolvimento do município, que de forma

conjunta e democrática estabeleceram rumos e propostas a serem alcançadas numa “visão de

futuro” almejada pelos participantes do Fórum de Desenvolvimento Local. O resultado do

diagnóstico participativo foi a formulação do Plano de Investimento Municipal – PIM, a ser

financiado com recursos do PROMATA.

Com relação à Câmara Temática do Meio Ambiente, foram levantados problemas e

potencialidades no município. Para a opção da melhor estratégia, a metodologia utilizada foi a

Matriz de Multicritérios em que dois critérios foram estabelecidos: quantidade de beneficiários e

interação com outros projetos. Através da atribuição de pesos: 0 – não tem relação; 1 – baixa, 2 –

média; 3 – alta, os quais denotaram a “contribuição / impacto de cada projeto frente a cada

critério”4, os projetos foram pontuados e posteriormente divididos em alta, média e baixa

prioridade.

O processo de elaboração do PIM do município de Escada possibilitou apreender a “visão

de futuro”5 que os habitantes têm do município e da realidade em que vivem como pode ser

observado na poesia a seguir.

4 LOCUS. PROMATA. Fase propositiva do PIM. Documento de Orientação Metodológica. Recife, 2003. 5 Poesia construída por vários petas e artistas locais na plenária de discussão no processo de elaboração do PIM.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

76

Visão de Futuro de Escada Nossa terra tem valores Desde o tempo do Barão Com toda nossa cultura Valorizando nosso chão Educação para todos Com tudo que há de bom Espaço adequado Divulgado em bom tom Professor capacitado Em quantidade e bom. Hospitais qualificados Nossa cidade “na plena” Atendendo todo mundo Por isso vale a pena Longe das Epidemias Tudo em paz serena. Ruas bem pavimentadas Com saneamento então Água potável na boca Para todo cidadão Um aterro sanitário O lixo com divisão. Um pólo industrial Trabalho e dedicação Pai de família sorrindo Em boa situação Boa área de lazer É tudo pura emoção

Diversificação Com horta comunitária Assentamento perfeito E também reforma agrária ONG’s bem fortes E até pecuária. Central de abastecimento Pro agricultor vender Tudo que ele plantar Assim dá pra se viver Se você não acredita Venha em Escada ver! Temos paz e segurança Na terra pacata e boa O povo todo feliz Sendo assim não fica à toa O turismo fortalece Toda e qualquer pessoa. Integração governo e povo Todos unidos como irmãos Nossa fé, nossa esperança Na construção do cidadão. Com poderes integrados Com o povo, todos unidos Conseguimos concretizar Pro que fomos instruídos.

A opção estratégica referente ao fortalecimento das Políticas Públicas de

Desenvolvimento Ambiental reflete uma real preocupação dos cidadãos para com o futuro dos

recursos naturais do município.

A preocupação com a conservação da natureza se expressa na luta pela sua integridade,

representada por instrumentos de gestão ambiental, como a existência da Agenda 21 Local, que,

aliada a outros instrumentos pode se tornar essencial para ações mais efetivas de preservação

ambiental em benefício da comunidade.

Atingir um processo de ações que possibilitem um direcionamento voltado para o

desenvolvimento sustentável é imprescindível o fortalecimento das Políticas Públicas de

desenvolvimento Social e Humano a partir dos critérios de sustentabilidade econômica, social e

ambiental.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

77

No que tange a gestão municipal de resíduos sólidos, um dos problemas mais abordados

pelos atores sociais envolvidos na discussão foi a disposição irregular do lixo municipal em

depósito a céu aberto, contaminação do Rio Ipojuca que corta a cidade por lixo, esgoto e descarga

de resíduos industriais. Isso pode ser observado na “visão de futuro” que a população almeja

recitadas nos seguintes versos:

Ruas bem pavimentadas Com saneamento então Água potável na boca Para todo cidadão Um aterro sanitário E o lixo com divisão

Segundo o PIM (2003) os projetos escolhidos pelos representantes das Câmaras

Temáticas, obedeceram ao raciocínio lógico originado a partir da “visão de futuro”, com base na

detecção de problemas e potencialidades observadas, assim como no aproveitamento de

oportunidades e minimização de ameaças que viessem a dificultar o desenvolvimento

socioeconômico do município.

A etapa seguinte à escolha dos projetos priorizados foi o preenchimento de Fichas

Técnicas dos Projetos, instrumento de trabalho que estabelece a qualificação das propostas

identificadas pelas Câmaras.

Em referência a opção estratégica do fortalecimento das Políticas Públicas para a Gestão

Ambiental foram aprovados 10 projetos pela Câmara Gestora Local de Meio Ambiente para o

PIM (2003, pg. 50), hierarquizados a seguir:

Alta Prioridade

Educação ambiental;

Reflorestamento das matas ciliares;

Cooperativa de recepção, triagem e comercialização de material reciclável e

unidade de compostagem;

Monitoramento da qualidade ambiental.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

78

Média Prioridade

Criação e legalização de áreas de proteção ambiental;

Proteção de fragmentos florestais;

Implantação de sementeiras de espécies nativas;

Criação de reservas extrativistas.

Baixa Prioridade

Ecoturismo e turismo rural;

Postos de coleta seletiva de resíduos sólidos.

A ampliação do sistema de coleta de resíduos sólidos municipais e a construção do aterro

sanitário ficaram inseridos na opção estratégica referente a Saneamento Básico e Infra-Estrutura,

sendo alocados como alta prioridade. As fichas técnicas foram encaminhadas para a Comissão

Técnica e Financeira do PROMATA, onde muitas foram reformuladas para atender aos critérios

econômicos, financeiros e ambientais em que estão envolvidos, mas a prioridade é manter a

decisão da participação popular, embora possam vir a ser implementadas de outra forma ou em

menor grau de investimento.

Com financiamento do PROMATA para a implantação dos projetos, cabe a Prefeitura

gerir e manter tais projetos. Passado um ano após a provação do PIM, em que passos andam o

processo de estabelecimento desses projetos? Atualmente, a proposta referente a implantação do

aterro sanitário já se encontra em fase de execução com os recursos do PROMATA. Além da

construção do aterro sanitário no município de Escada, O PROMATA está estudando juntamente

com os municípios de Primavera e Amaraji a formalização de um Consórcio Intermunicipal para

tratamento e destinação final, que irá contemplar além do aterro, uma unidade de triagem e

compostagem em cada município.

O valor estimado para a implantação do aterro sanitário em Escada e pré-operação do

mesmo por até 6 (seis) meses é de R$ 1.500.000,00 aproximadamente. A perspectiva do projeto é

de destinar todo resíduo urbano gerado nesses municípios, além de promover a inclusão social

dos catadores, bem como o encerramento dos lixões. O custo mensal da operação será calculado

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

79

em função da quantidade de lixo aterrado, porém não se sabe exatamente quanto. O cálculo exato

do custo operacional do sistema será dado apenas após a elaboração do modelo de gestão

compartilhada.

Questionada sobre a receita que financiará o sistema, a Secretaria de Administração e

Finanças da cidade não soube informar de onde virá tal recurso. A receita para o custeamento da

operação do aterro deverá vir da conta única do município (FPM), uma vez que a taxa de limpeza

pública tem por finalidade custear a limpeza e não a coleta e a disposição final dos resíduos. Da

mesma forma, cada município participante arcará com a despesa proporcional à sua geração

diária de resíduos.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O curso da civilização, como já salientado, ao longo do tempo foi marcado por grandes

mudanças, principalmente transformações ocorridas no século XX, dentre elas o surgimento das

indústrias, produção de bens de consumo em larga escala, crescimento econômico global e

aumento das populações residentes nas cidades.

Destas transformações surgiram problemas de ordem estrutural para atender a demanda

por serviços que tal concentração populacional produz como acesso a moradia, água,

esgotamento sanitário e serviço de coleta e destinação final de resíduos como apontam BRAGA

& CARVALHO (2002).

Essas transformações não foram diferentes das ocorridas no município de Escada, no qual

quase 80% da população reside na zona urbana, mesmo índice da população urbana brasileira,

conforme dados do IBGE (2002). Isto resultou também na cidade uma pressão por serviços

estruturais como acessibilidade a moradia, água de qualidade e coleta e disposição final de

resíduos sólidos de maneira adequada.

Nesse contexto, a criação da Agenda 21 do município de Escada propõe planos de ações e

estratégias para a consolidação do desenvolvimento sustentável local. No que se refere ao

desenvolvimento socioeconômico da população, dentre outras estratégias sugere a melhoria das

condições de habitabilidade, em especial nas áreas carentes periféricas, mediante investimentos e

implantação de serviços públicos básicos, inclusive com proposta de gerenciamento de resíduos

sólidos. Contudo, tal proposta não se efetiva como prática de ações sociais e estruturais no

município.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

81

O município de Escada também não dispõe de um Plano Diretor, obrigatório para

municípios com mais de 20.000 habitantes, e a única legislação específica para regulamentar a

gestão urbana encontra-se na Lei Orgânica Municipal. A Lei Orgânica do Município da Escada

(1990), no que se refere à gestão dos resíduos sólidos cita apenas uma diretriz de forma

superficial em seu capítulo III da Política Urbana, Seção I do Desenvolvimento Urbano que diz o

seguinte:

Art. 115, § 2º: no estabelecimento de diretrizes e normas relativas ao

desenvolvimento urbano, o município, respeitando o programa na execução deverá assegurar: a administração dos resíduos sólidos no meio urbano, através do procedimento de coleta, captação e disposição final, de forma a assegurar a preservação sanitária e ecológica.

Entretanto, a realidade na gestão de resíduos da cidade não condiz com o que está previsto

em Lei. Porém, existe um plano para a realização de um consórcio intermunicipal de resíduos

sólidos juntamente com as cidades de Primavera e Amaraji, no qual Escada sediará o despejo dos

respectivos resíduos vizinhos.

Com base nas informações coletadas nas entrevistas abertas e dados secundários buscados

em pesquisa bibliográfica pertinente ao assunto, levantamos o atual quadro do sistema adotado

para o gerenciamento dos resíduos sólidos na cidade, atingindo assim os objetivos específicos do

trabalho.

6.1 RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESCADA: QUADRO ATUAL

Segundo o Diagnóstico sobre Resíduos Sólidos em Pernambuco realizado pela Secretaria

de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco – SECTMA em convênio com o Grupo

de Resíduos Sólidos – GRS da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (2002), a limpeza

urbana do município tem sua estrutura organizacional distribuída na Secretaria de Infra-Estrutura,

Departamento de Infra-Estrutura e Divisão de Limpeza Pública (Figura 10).

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

82

Figura 10 – Organograma da estrutura de limpeza pública do município da Escada

Fonte: Prefeitura Municipal da Escada – 2005.

Entretanto, existe uma diferenciação com relação ao gerenciamento dos resíduos, ou seja,

a operação de coleta e transporte ficam a cargo da Secretaria de Infra-Estrutura e a recepção dos

resíduos no lixão fica a cargo da Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Este fato por si só indica a ausência de um plano de gerenciamento dos resíduos, principalmente

por não haver uma articulação entre as secretarias citadas.

Outro fator importante é a ausência de um corpo técnico capacitado na busca de

tecnologias voltadas para a realidade local e viáveis para os padrões econômico-financeiros da

prefeitura, como reforça NETO (1999) com a inexistência de projetos simples, bem elaborados e

viáveis.

Sua estrutura física e operacional é composta por sede, garagem e oficina em condições

satisfatórias de funcionamento. Possui 3 caminhões caçambas Mercedes Benz em bom estado de

conservação e funcionamento para uso exclusivo nos serviços de limpeza pública. A Prefeitura

aluga mais 3 caminhões (Figura 11) não recomendados para o uso na limpeza pública por não

serem caminhões caçambas e nem compactadores.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

83

Figura 11: Caminhão alugado pela prefeitura para a coleta do lixo municipal.

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

Os serviços de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos municipais são

realizados pela Prefeitura, sendo terceirizado apenas a coleta do lixo hospitalar, realizado pela

Empresa SERKIP.

No tocante a recursos humanos, a prefeitura dispõe de 12 garis para coleta e 71 garis para

varrição e capina, com rendimento mensal de 1 salário mínimo e jornada de trabalho com 40

horas semanais. Com relação à proteção contra os acidentes de trabalho, os funcionários efetivos

da limpeza pública responsáveis pela varrição dispõem apenas de botas como equipamento de

proteção individual (Figura 12). Os funcionários responsáveis pela coleta dispõem de luvas e

botas de borracha (Figura 13). A Prefeitura diz ter distribuído máscaras respiratórias, mas que os

funcionários não se adaptaram ao equipamento de proteção individual, sendo pouco utilizado por

eles. O Departamento de Limpeza Pública dispõe também de 4 motoristas com salário mensal da

categoria com jornada de trabalho de 40 horas semanais. Também dispõe de um supervisor de

área, perfazendo um total de 88 funcionários efetivos responsáveis pela limpeza e recolhimento

dos resíduos sólidos do município. A prefeitura também dispõe de mão-de-obra contratada, no

entanto, é um número extremamente flutuante, não existindo um controle efetivo de tais

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

84

funcionários que ficam sujeitos a transferências contínuas de setores dentro da Prefeitura como

escolas, postos de saúde, secretarias etc.

Figura 12: Funcionário efetivo do Departamento de Limpeza Pública da Prefeitura

Municipal da Escada

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

Os serviços de coleta dos resíduos sólidos têm freqüência alternada no município,

passando em média três vezes por semana em cada bairro, ocorrendo de segunda a sábado.

Recolhe-se em média cerca de 18 toneladas diárias de lixo domiciliar (Figura 13). Os resíduos de

feiras e mercados ocorrem nas sextas e sábados e recolhem em média 900 Kg de resíduos. Os

resíduos da construção civil, denominados de metralhas correspondem a 460 Kg do lixo diário do

município, entretanto, embora a coleta de entulho seja regular, não é caracterizada como resíduo

especial, sendo despejado também no lixão. Os resíduos dos serviços de saúde são coletados por

uma empresa prestadora de serviço e são coletados em média cerca de 350 Kg de lixo por

semana. O total de lixo municipal coletado diariamente corresponde a cerca de 24 toneladas ou

711,3 t/mês, conforme pode ser observado na Tabela 11 (SECTEMA, 2002). Entretanto, os dados

fornecidos pela Secretaria de Infra-Estrutura divergem de tal resultado, uma vez que os 6

caminhões perfazem duas viagens diárias, cada um carregando em média 4 toneladas por viagem.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

85

De modo que a produção de lixo diária corresponde a um valor estimado de 48 toneladas, ou

1.440 toneladas por mês.

Tabela 11: Serviço de Coleta – Freqüência, horário e quantidade

Tipo de Coleta Freqüência Horário Quantidade (Kg/dia)Lixo Domiciliar Segunda a Sábado 6h - 11h 13h - 17h 18.000Lixo Urbano Alternada 6h - 11h 13h - 17h 4.000Lixo Hospitalar Semanal 6h - 11h 13h - 17h 350Feiras/mercados Sexta e Sábado 18h - 22h 900Metralha Alternada 6h - 11h 13h - 17h 460Total 23.710

Fonte: adaptado do Diagnóstico de Resíduos Sólidos de Pernambuco, SECTMA/GRS-UFPE, 2002.

Figura 13: Coleta do lixo municipal em terreno baldio

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

O serviço de varrição é feito diariamente nas principais vias e logradouros do município e

eventualmente no distrito de Frexeiras e povoados das Usinas Barão e Massauassú.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

86

Segundo o IBGE (2002), cerca de 67% do município é coberto pelo serviço de coleta de

resíduos sólidos. Em contrapartida, as populações residentes nas regiões periféricas e rurais

utilizam outras formas de destinação final de resíduos, com um alto índice de lixo jogado em

terreno baldio (Figura 13) conforme podemos observar na Tabela 12 abaixo:

Tabela 12: Domicílios particulares permanentes segundo o destino do lixo

Destino do Lixo Total de domicílios %Coletado 9.201 67,33Queimado 882 6,45Enterrado 35 0,26Jogado em terreno baldio 3.360 24,59Jogado em rios 102 0,75Outros 85 0,62Total 13.665 100

Fonte: adaptado do IBGE – Censo Demográfico, 2000.

Na época em que a pesquisa da SECTEMA foi realizada, os resíduos sólidos do

município eram encaminhados para um lixão existente em propriedade limítrofe à BR 101 Sul em

direção ao município do Cabo de Santo Agostinho, distante cerca de 7 Km da sede municipal. A

propriedade pertencia ao Engenho Timbô-Assú, e a Prefeitura pagava um aluguel mensal no

valor de R$ 1.250,00 à Usina Ipojuca, atual arrendatária das terras.

Como a área era inadequada para implantação de um futuro aterro sanitário e também por

estar em propriedade particular, em 2004 os resíduos sólidos do município de Escada passaram a

ser encaminhados para um outro lixão, situado na Fazenda Santa Cristina, distante cerca de 3 Km

da sede, e de propriedade da Prefeitura Municipal (Figura 14).

Levando-se em conta que são coletados cerca de 23.710 kg por dia de resíduos sólidos,

temos uma produção per carpita de 0,410 Kg/hab/dia, entretanto, se usarmos a estimativa dada

pela Secretaria de Infra-Estrutura, esse valor duplica, ou seja, 0,840 Kg/hab/dia. Neste caso, os

dados fornecidos pela SECTEMA são os que mais se aproximam do parâmetro nacional de

produção per capita, ou seja, 0,500 Kg/dia.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

87

Figura 14: Lixão do município de Escada

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

O estudo realizado no ano de 2002 também estimou a composição gravimétrica do lixo

apresentando os seguintes resultados, como mostra a Tabela 13:

Tabela 13: Composição gravimétrica

Resíduos Domiciliares %Vidro 1,23Metal / Alumínio 2,47Papel / Papelão 8,23Matéria Orgânica 56,8Plásticos / PET 16,46Inertes 6,58Outros 8,23Total 100

Fonte: SECTMA / GRS – UFPE, 2002.

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

88

É importante destacar que, dos 23.710 Kg de lixo coletados diariamente, mais de 56 % é

composto por material orgânico e em média 28 % do lixo é composto por material reciclável.

Esses números são comparativos com uma população de cidade interiorana e de renda per capita

baixa (lixo composto em sua maior parte de matéria orgânica).

No que tange à coleta de materiais recicláveis, são recolhidos tanto na cidade como

também no lixão, servindo de complemento financeiro para várias famílias (Figuras 15 e 16).

Segundo informações obtidas em entrevistas semi-estruturadas e abertas realizadas com os donos

de dois depósitos de ferro velho, não existe cooperativa de catadores na cidade, ou seja, cada

família trabalha individualmente e repassa esse material para o ferro velho que é a ponte entre os

catadores e os compradores especializados.

Figura 15: Catadores de material reciclável no lixão

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

89

Figura 16: Materiais recicláveis coletados no lixão

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

Segundo a SECTMA (2002), 19 catadores exercem atividades no lixão, inclusive com a

presença de crianças como pode ser observado na Figura 17. Segundo a Secretaria de Ação

Social foi realizado um cadastramento dos catadores para posterior trabalho de inclusão social.

Mas, até o momento da pesquisa nenhum trabalho de assistência ou inclusão social estava sendo

realizado.

Também não foram incluídas as pessoas que vivem da catação de material reciclável na

cidade, existindo apenas um controle parcial das pessoas que sobrevivem da retirada de material

dentro do lixão.

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

90

Figura 17: Presença de crianças no lixão

Foto: Isabel Oliveira, 2005.

6.1.1 ESCADA: CUSTOS DA LIMPEZA PÚBLICA

Segundo dados obtidos na Secretaria Municipal de Administração e Finanças, a Prefeitura

não dispõe de recursos suficientes para garantir a qualidade dos serviços de limpeza de forma

efetiva, fato comum em cidades brasileiras de pequeno e médio porte. A taxa de limpeza pública

cobrada dentro do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU corresponde a uma média de R$

76.000,00 anuais. Esta taxa corresponde a R$ 10,99 ao ano por unidade residencial cadastrada, de

modo que apenas 6.877 unidades residenciais pagam a Taxa de Limpeza Pública dos 12.848

contribuintes do IPTU, com mostra a Tabela 14. Os motivos alegados pela Secretaria de

Administração e Finanças da Prefeitura para o não pagamento da taxa de limpeza pública por

parte dos 5.971 contribuintes cadastrados no IPTU referem-se ao tamanho do imóvel (menor que

50 m2 ), viúvas de funcionários da prefeitura, pensionistas e pessoas declaradas como pobres

como previsto em Lei.

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

91

Tabela 14: Cobrança do IPTU – Município de Escada

Descrição Valor lançado Contribuintes Tributo MédioImposto Territorial Urbano 894.277,00R$ 4225 210,17R$ Imposto Predial Urbano 213.120,00R$ 8593 24,80R$ Taxa de Limpeza Pública 75.588,00R$ 6877 10,99R$ Taxa de Coleta de Lixo -R$ 0 -R$ Taxa de Serviços Diversos 38.538,00R$ 12846 3,00R$ Total 1.221.523,00R$ 12848

Fonte: Prefeitura Municipal da Escada, 2005.

Com relação ao uso da Taxa de Limpeza Pública como fonte de recursos para a

manutenção do sistema de gerenciamento dos resíduos no município, a cidade de Escada se inclui

dentro do grupo de 42% das cidades brasileiras que se utilizam desta taxa, como apresentada

pelos dados da PNSB (2002).

A Prefeitura gasta em média R$ 104.000,00 mensais com custos de mão-de-obra,

equipamentos, aluguéis de caminhões e máquinas, combustíveis entre outros custos variáveis.

Vale salientar que ao se iniciar a pesquisa, a Prefeitura não dispunha desses dados, ou seja, não

faziam idéia do custo/ benefício apresentados pelos Serviços de Limpeza Pública da cidade. De

modo que os dados dos gastos com a limpeza pública foram calculados para atender à solicitação

da pesquisa. As informações disponibilizadas pela Secretaria de Administração podem ser

observadas na Tabela 15.

Tabela 15: Custo Mensal com Serviço de Coleta e Destinação Final de Resíduos

Descrição Custo Mensal (R$)Funcionários Efetivos (com encargos) R$ 61.526,00Caçambas contratadas R$ 26.500,00Combustível R$ 9.540,00Manutenção das caçambas e equipamentos R$ 1.200,00Aluguel de Máquinas R$ 3.600,00Lixo Hospitalar R$ 1.500,00Total R$ 103.866,00

Fonte: adaptado da Prefeitura Municipal da Escada, 2005.

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

92

Para o cálculo do custo mensal por tonelada, utilizamos os dados fornecidos pela

SECTEMA e pela Prefeitura, de forma que chegamos a resultados também divergentes como os

apresentados em relação à produção per capita. A Tabela 16 apresenta custos diferenciados por

tonelada em função dos dados fornecidos a respeito da quantidade de resíduos gerada

mensalmente, ou seja, da mesma forma que os dados da SECTEMA se aproximam mais da

realidade em relação à produção per capita, os dados da Prefeitura em relação aos custos

financeiros estão mais condizentes com a realidade dos custos de gerenciamento das cidades

brasileiras que ficam em torno de R$ 40,00 a R$ 60,00 por tonelada (SNIS, 2004). Entretanto,

esses dados são muito flutuantes e muitas vezes não correspondem à realidade dos custos de

gerenciamento dos resíduos sólidos municipais, haja vista que apresentam uma diversidade muito

grande no que se refere a investimentos no setor, métodos de gerenciamento utilizados e

quantidade de resíduos gerados. De modo que tais dados podem comprometer

consideralvelmente os resultados encontrados na pesquisa.

As divergências existentes a respeito dos dados obtidos no município de Escada

dificultam sobremaneira o gerenciamento dos serviços de limpeza pública prestados à cidade,

pois não permitem determinar o desempenho e a eficiência do serviço prestado, assim como, não

permite elaborar um plano de gerenciamento de resíduos sólidos em que a variável “cobrança de

taxa / tarifa de lixo” seja atribuída (D’ALMEIDA & VILHENA, 2000).

Tabela 16: Custo mensal por tonelada

Dados Gastos T/mês R$/tSECTEMA 103.866,00R$ 711,3 146,02R$ Prefeitura 103.866,00R$ 1440,0 72,13R$

Sabendo-se que, a receita proveniente da taxa de limpeza pública no município

corresponde a cerca de R$ 76.000,00 anuais e que, se calcularmos o valor médio dos custos de

gerenciamento mensais para um ano, teremos um custo anual de R$ 1.246.392,00 para as

despesas de coleta e destino final dos resíduos sólidos do município. Calculando os custos, grosso

modo, identificamos um déficit de um pouco menos de 94% em média, ou seja, o valor coberto

pela taxa de limpeza pública corresponde a apenas 6,1% do valor necessário para cobrir os custos

do gerenciamento dos resíduos na cidade, ou seja, coleta, varrição, capina e disposição no lixão

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

93

da Fazenda Santa Cristina. Para compensação do déficit nas contas entre receita e despesas do

gerenciamento do sistema, a Prefeitura utiliza os recursos do Fundo de Participação Municipal –

FPM, repassado pela União.

Mesmo a possibilidade de implantação de um aterro sanitário (através dos recursos do

PROMATA) que prevê inclusive o pagamento da operação por seis meses, não foi suficiente para

a Prefeitura se mobilizar para a utilização desses recursos. O entrave está no fato de a Prefeitura

não apresentar de onde sairiam os recursos necessários para a manutenção dos serviços após o

término do projeto. Sem garantias de recursos financeiros para operação, o aterro sanitário corre

o risco de se transformar em lixão. Esta preocupação torna-se relevante principalmente por conta

de uma proposta que vem sendo discutida para uma gestão consorciada dos resíduos sólidos

urbanos com os municípios de Primavera e Amaraji.

Outro ponto a ser considerado é o investimento na cooperativa de recepção, triagem e

comercialização de material reciclável e da unidade de compostagem também com recursos do

PROMATA. Levando-se em conta que tal estratégia não tem se mostrado eficiente tendo em

vista os insucessos por todo Brasil, acompanha na verdade uma lógica de vendas de

equipamentos sem levar em conta os altos custos de operacionalização e administração de tais

unidades (EIGENHEER et al, 2005).

O orçamento da Prefeitura Municipal da Escada para o ano de 2005 foi de R$

30.266.479,00, logo, para a limpeza urbana foram gastos cerca de 4,12% do orçamento. Este

número torna-se extremamente relevante, pois, a cidade de Escada não foge à realidade da

maioria dos municípios brasileiros, uma vez que os dados do IBGE (2002) apontam que quase

80% dos municípios brasileiros gastam até 5% do orçamento municipal com a limpeza pública.

Este dado indica que grande parte dos municípios não apresenta sustentação financeira capaz de

cobrir os custos inerentes a um sistema técnico-operacional eficiente.

6.2 RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESCADA: PERCEPÇÃO DAS LIDERANÇAS

A seleção da amostra para as entrevistas qualitativas semi-estruturadas se deu de forma a

identificar as principais lideranças da comunidade, dentre elas, vereadores, presidentes de

associações de moradores, grupos de mulheres, grupo de terceira idade, grupos de igrejas,

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

94

sindicatos, catadores etc., contabilizando uma amostra de 28 líderes comunitários, das 38

organizações sociais existentes no município, distribuídas conforme a Figura 18:

Figura 18: Distribuição da amostra por organizações e movimentos populares

Partidos políticos14%

Associação de moradores

29%

Outros32%

Sindicatos4%

Conselhos municipais

14%

Organizações religiosas

7%

A escolha da amostra selecionada foi em função das organizações e representações sociais

com participações mais expressivas na cidade e que fizeram parte do Fórum Municipal do

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco. A escolha

da amostra também foi baseada no critério de fácil acesso e disposição dos possíveis

entrevistados em aceitar responder às questões propostas. Após a escolha aleatória da amostra, os

entrevistados foram divididos por organizações e movimentos populares similares conforme

Figura 18, de modo que foram entrevistados 8 presidentes de associações de moradores, 4

representantes de partidos políticos, 4 conselhos municipais, 2 organizações religiosas e 1

sindicato. A categoria denominada “Outros” foi composta por 9 lideranças com expressiva

participação em movimentos populares na cidade como: grupo de mulheres, grupo da terceira

idade, grupo de jovens, professores, diretores de escola, vereadores sem partido, dentre outras.

Outro aspecto importante a ser considerado na pesquisa e na metodologia adotada foi com

relação ao nível de escolaridade da amostra, na qual 57% dos entrevistados apresentaram um

nível de escolaridade alto para os padrões do Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal –

IDH - M, como observado na Figura 19. Tal fato pode ser explicado pelo nível de consciência

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

95

política dos entrevistados, no qual, o acesso à educação superior torna-se um aliado importante

para a inclusão social e participação política na sociedade.

Figura 19: Nível de escolaridade dos entrevistados

Ensino Médio32%

Ensino Fundamental

11%

Ensino Superior57%

Para melhor entendimento dos entrevistados com relação aos vários componentes do tema

da pesquisa, dividimos o roteiro das entrevistas em três partes: técnico-operacional, ambiental e

econômico-financeiro.

Para tanto, o roteiro das entrevistas procurou estabelecer a percepção que a comunidade

tem em relação ao gerenciamento de resíduos na cidade. Outro aspecto abordado foi a questão

social que, embora não estivesse prevista no roteiro da entrevista, surgiu espontaneamente por

parte dos entrevistados, uma vez que tal tipo de entrevista (semi-estruturada) permite que os

entrevistados discorram livremente sobre o tema proposto. Deste modo, a questão social será

abordada de forma intrínseca nos vários aspectos do gerenciamento dos resíduos sólidos do

município de Escada.

Portanto, aqui são apresentados os resultados das entrevistas realizadas com 28 lideranças

obtidas de 8 questões, no município de Escada. Foi esclarecido aos entrevistados que os dados

obtidos seriam utilizados apenas para fins acadêmicos, apresentando-se declaração do Programa

de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense. Os dados obtidos

foram os seguintes:

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

96

6.2.1 SUSTENTABILIDADE TÉCNICA-OPERACIONAL

No critério de sustentabilidade técnica-operacional, procuramos identificar junto às

representações comunitárias como estes avaliam a eficiência do serviço de coleta e destinação

final dos resíduos sólidos na cidade.

Qual a sua opinião sobre a coleta de lixo no município? Porque?

Observou-se que 29% dos entrevistados consideraram a coleta de lixo na cidade como boa

devido à periodicidade em que a coleta é realizada. Por outro lado 71% da amostra afirmaram que

a coleta do lixo era ruim, principalmente nas áreas periféricas do município, alegando os motivos

os mais diversos, como podem ser visualizados na Figura 20.

Figura 20: Motivos pela ineficiência na coleta dos resíduos sólidos do município de

Escada

Ausência de calendário

14%

Não participação da comunidade

14%

Serviço não é prioridade

14%

Lixo na rua14%

Falta de infra-estrutura

44%

A Secretaria de Infra-Estrutura se justificou pela falta de equipamentos e carros coletores.

Além disso, o município não dispõe de apoio técnico que organize o sistema de forma mais

racional, cabendo aos garis e motoristas fazerem sua própria rota de coleta e despejo. Vale

salientar que o município possui um calendário com dias e horários pré-determinados que atende

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

97

a demanda da região central da cidade e dos bairros mais próximos ao centro (Ver Tabela 11). O

quadro técnico-operacional, embora destacado pelo estudo da SECTEMA (2002) como em boas

condições de funcionamento, encontra-se estagnado nos últimos 20 anos, ou seja, o sistema de

manejo e gerenciamento não evoluiu conjuntamente com o crescimento populacional e expansão

territorial da cidade.

Tal constatação indica que as regiões periféricas não são atendidas adequadamente pelo

serviço de coleta dos resíduos. Esta conclusão é fundamentada pelos 71% dos entrevistados que

indicaram a coleta do lixo em tais localidades como ruim.

Qual a sua opinião sobre o destino final do lixo no município? Porque?

Com relação ao gerenciamento do sistema no que se refere ao destino final dos resíduos

municipais, 100% da amostra julgou ruim por serem lançados em lixão a céu aberto, no

conhecido lixão da Fazenda Santa Cristina. Os motivos que levaram os entrevistados a essa

conclusão podem ser visualizados na Figura 21 a seguir:

Figura 21: Motivos pela ineficiência da disposição final do lixo municipal

Vontade política7%

Sistema caro4% Depósito sem

controle11%

Falta de investimento

14%

Falta de capacitação

técnica14%

Não soube informar

18%

Falta de infra-estrutura

32%

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

98

Neste aspecto, o município de Escada ajuda a compor o índice de mais de 60% das

cidades brasileiras que utilizam o lixão como destino final do lixo.

6.2.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Neste critério, buscou-se levantar questões relevantes sobre a associação lixo e meio

ambiente por parte dos entrevistados, assim como, identificar possíveis soluções para o

melhoramento da coleta e disposição final dos resíduos e também perceber qual postura adotada

frente à própria produção do lixo. Neste sentido, apresentamos os resultados a seguir:

Você sabe informar se existe tratamento para os resíduos sólidos depois de

coletados?

Segundo as respostas dos entrevistados, 66% deles afirmaram que o gerenciamento do

lixo na cidade não apresenta nenhum tipo de tratamento, sendo o mesmo apenas despejado no

lixão. Outro dado importante é que 26% dos entrevistados disseram não ter conhecimento do que

acontece com o lixo depois de coletado e finalmente 4% asseguraram que os catadores do lixão

são os responsáveis pela reciclagem de materiais, assim como, 4% afirmaram que a natureza era a

responsável pela degradação desse lixo, como pode ser observado na Figura 22.

Dos 66% dos entrevistados que afirmaram que o lixão não possui tratamento, todos

apontaram uma série de problemas ambientais causados pelo uso do lixão como destino final,

dando ênfase à degradação ambiental. Segundo os entrevistados, o lixão é responsável pela

grande proliferação de moscas que vem ocorrendo na cidade. No intuito de mitigar a proliferação

de vetores, a prefeitura queima os resíduos após o despejo, medida nem sempre bem vinda para a

população circunvizinha por conta da grande quantidade de fumaça gerada.

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

99

Figura 22: O que acontece com os resíduos sólidos depois de coletados segundo os

entrevistados

Natureza degrada4%

Não tem tratamento

66%

Não soube informar

26%

Caradores - reciclagem

4%

Os entrevistados ressaltaram também que o lixão está instalado em uma antiga fazenda de

produção canavieira que fica muito próximo à sede da cidade (cerca de 3Km da sede municipal),

em terreno de relevo acidentado e, além disso, não possui um manejo eficiente, propiciando a

degradação ambiental da área como aponta o relatório do PROMATA (2005). Sabendo-se que o

uso do lixão como despejo final causa externalidades negativas para as comunidades

circunvizinhas à área, no município tais externalidades surgem como: proliferação de moscas e

vetores, contaminação do lençol freático, fumaça e desvalorização imobiliária do entorno. Como

não existe responsabilização pelas externalidades geradas, tais comunidades não são devidamente

compensadas pela perda de bem-estar, como afirma PESSOA (1996).

Você teria alguma sugestão a fazer para melhorar a coleta e a destinação final dos

resíduos sólidos no município?

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

100

Essa questão teve por objetivo identificar as possibilidades de atuação conjunta entre o

poder público e as comunidades alvos, no sentido de se estabelecer parcerias entre todos os atores

sociais envolvidos no gerenciamento dos resíduos sólidos da cidade. Também se tornou uma

questão interessante porque as pessoas discorreram livremente sobre suas propostas para

melhorar a coleta e o destino final dos resíduos do município. Por conta disso não se prenderam a

apenas uma proposta, cada um dando duas ou mais propostas em média para a questão, como se

pode observar na Tabela 17 a seguir:

Tabela 17: Propostas sugeridas pelos entrevistados para melhorar o sistema de

gerenciamento dos resíduos sólidos na cidade de Escada.

Respostas Freqüência %Programa de Educação Ambiental 12 21,5Aterro sanitário 11 19,6Não soube informar 7 12,5Reciclagem 6 10,7Palestras educativas nas comunidades 4 7,1Ampliação da frota de carros coletores 4 7,1Plano de gestão de resíduos sólidos 4 7,1Distribuição de coletores e sacos plásticos 3 5,4Terceirização do serviço 2 3,6Calendário de coleta 2 3,6Coleta seletiva 1 1,8Total 56 100

Observou-se que a questão do lixo municipal, para os entrevistados, está muito atrelada à

Educação ambiental, sendo essa a proposta mais sugerida por eles, com cerca de 21% das

propostas sugeridas. Para os entrevistados, a Educação ambiental poderia contribuir para a

diminuição dos efeitos negativos da disposição irregular dos resíduos sólidos municipais, o que é

uma constatação ingênua, quando atrelam a Educação Ambiental a uma solução efetiva dos

problemas causados pelo lixo, isto é, se não existe aterro sanitário, não tem como se discutir

Educação Ambiental. Segundo os entrevistados, através da Educação Ambiental, existe a

possibilidade de despertar a consciência ambiental nas comunidades, já que é uma questão

cultural não se preocupar com o lixo da porta de casa para fora. Sobre essa questão, em duas

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

101

entrevistas discutiu-se o conceito de casa, ou seja, se, se tem uma visão global do assunto, casa

deixa de ser apenas o espaço físico das residências (TUAN, 1983), sentindo a necessidade de se

estabelecer mudanças de hábitos culturais com relação ao lixo. Abordada sobre essa questão, a

Secretaria Municipal de Educação não tem até o presente momento da pesquisa nenhum

programa de educação ambiental voltado para a rede municipal de ensino.

A segunda proposta mais sugerida foi à implantação do aterro sanitário ficando com 19%

das sugestões feitas, no sentido de diminuir a degradação ambiental do entorno. Um outro dado

importante foi com relação à cerca de 12% das vezes em que os entrevistados não souberam

propor nenhuma ação concreta para o melhoramento do sistema de gerenciamento dos resíduos

na cidade, ao mesmo tempo em que apontavam sugestões de responsabilidade para a Prefeitura.

Este dado pode indicar que não existe uma articulação efetiva dentro das comunidades que

representam, ou então, o assunto “resíduos sólidos” não é interesse principal para a atuação de

tais organizações e movimentos sociais, uma vez que a maioria destas organizações tem

interesses específicos.

Outra questão que as pessoas vêem como solução é a reciclagem dos resíduos (cerca de

11% das propostas), inclusive com utilização desse material para artesanato. Também ressaltaram

que a reciclagem pode ser fonte de emprego e renda para o município, sendo essa uma prática

fundamental para redução de resíduos no lixão. É importante enfatizar que seria importante,

segundo alguns entrevistados, a inclusão dos catadores do lixão no processo de triagem após a

implantação do aterro, proposta também aprovada como alta prioridade como projeto a ser

implantado pelo PROMATA (2003). Para os entrevistados que citaram a coleta seletiva como

sugestão (2%), ela só funcionará se tiver um programa de educação ambiental eficiente.

Uma questão importante a ser observada foi com relação à terceirização do serviço de

limpeza pública. Nas duas entrevistas (cerca de 4%) que colocaram essa questão como solução

foi com relação às pessoas que fazem concurso para garis e que depois de aprovados dão “um

jeitinho” de não trabalharem no setor de limpeza pública. Quando não conseguem, tentam sair da

rua através do Instituto Nacional de Serviço Social - INSS, com a apresentação de atestados

médicos. Essa prática encarece muito o sistema de gerenciamento e as vagas são preenchidas com

pessoal contratado.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

102

As outras propostas sugeridas referem-se a ações nas quais cabe a prefeitura melhorar o

manejo como: distribuição de sacos de lixo e coletores, ampliação da frota, calendário de coleta e

palestras educativas nas comunidades.

Você se sente responsável pela sua produção de lixo? Porque?

Essa questão visou enfatizar o papel de cada cidadão frente à gestão do lixo municipal.

Em todas as questões respondidas o papel do poder público frente a esse problema foi uma

constante em grande parte das respostas. No lado das comunidades representadas a culpa era do

município por não oferecer um serviço eficiente, no outro lado da questão estavam as secretarias

da atual gestão culpando a ineficiência do serviço por falta de verbas e dívidas assumidas da

gestão anterior.

Mesmo a pergunta tendo sido direcionada ao papel do indivíduo, não foi rara às vezes em

que os entrevistados retornavam ao papel do poder público como responsável pela ineficiência do

serviço, sendo necessário repetir a pergunta formulada para o melhor entendimento da questão

por parte dos entrevistados.

Esclarecida a pergunta, 89% dos entrevistados afirmaram se sentir responsáveis pela sua

própria produção de lixo, alegando os motivos dispostos na Figura 23 como condutores desta

responsabilidade. Por outro lado, 11% dos respondentes afirmaram não se sentir responsáveis

pelo lixo produzido, enfatizando que essa é uma responsabilidade exclusiva da Prefeitura.

A questão mais discutida sobre a responsabilidade do lixo produzido foi em função do

nível de respostas relacionadas ao consumo (41%), sendo alvo de várias críticas por parte dos

entrevistados, como: aumento de embalagens, plástico e etc. Um outro fator levantado foi com

relação a consciência ambiental (22%) dos entrevistados. Esta informação pode ter sido

influenciada pelo grau de instrução dos mesmos, muitos com nível médio e superior, mas

também pode ter sido fruto das discussões feitas nos grupo de base a que pertencem. É

interessante enfatizar que as respostas negativas sobre a responsabilidade referente à produção do

lixo pessoal, podem estar relacionadas ao baixo nível de instrução de tais entrevistados, já que os

mesmos possuíam nível fundamental incompleto.

Outro dado importante foi que 19% dos entrevistados afirmaram contribuir para manter a

cidade limpa, respeitando o horário e os dias de coleta estabelecidos pela Prefeitura. Também

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

103

procuram contribuir para a reciclagem de materiais (12%), assim como 6% afirmaram se sentir

responsáveis pelo lixo produzido dando ênfase à questão de que o lixo propicia o surgimento de

doenças. Vejamos os resultados:

Figura 23: Responsabilidade pelo lixo produzido segundo os entrevistados

Conciência ambiental

22%

Limpeza da cidade19%

Faz reciclagem12%

Lixo associado à doenças

6%

Relacionado ao consumo

41%

6.2.3 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA

Este critério de sustentabilidade adotado teve por objetivo identificar custos e

investimentos necessários para viabilizar um gerenciamento de resíduos eficiente no município,

assim como, questionar os entrevistados a respeito da possibilidade de existência de tarifação

para o serviço prestado. Vejamos os resultados:

Você sabe quanto custa manter a cidade limpa?

Toda amostra (100%) respondeu negativamente à questão, não fazendo idéia dos custos

relacionados ao gerenciamento dos resíduos da cidade. Essa questão foi interessante porque nem

mesmo as pessoas envolvidas na gestão municipal, no caso os vereadores, não sabiam nada a

respeito de tais dados, uma vez que são eles que aprovam o orçamento municipal. Esta

informação torna a questão um forte indicador de que o gerenciamento dos resíduos sólidos é um

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

104

caso extremamente complexo não só para a comunidade em geral, mas também para o poder

público municipal.

Entretanto, questionados sobre este ponto, ou seja, falta de dados concretos para uma

análise custo / benefício do serviço prestado, os vereadores ressaltaram que, embora não sabendo

quanto custa o sistema de gerenciamento do lixo na cidade, têm conhecimento de que o sistema

possui um custo elevado para os padrões do orçamento municipal. Deste modo, esse aspecto

relacionado à falta de dados oficiais e, que isto compromete um sistema de gerenciamento mais

eficiente, torna-se um importante indicador de que essas contas precisam ser feitas.

Mesmo sem saber quanto custa manter a cidade limpa você sabe de onde vem os

recursos para a manutenção dos serviços de coleta e destinação final do lixo?

Esta questão teve por objetivo identificar nos entrevistados o conhecimento da origem dos

recursos destinados para o gerenciamento dos resíduos sólidos na cidade. A Tabela 18 apresenta

os seguintes resultados: das respostas dadas, 39% dos entrevistados afirmaram que os recursos

eram provenientes da Prefeitura, de igual modo, 39% dos entrevistados afirmaram que esses

recursos eram originados através da cobrança de impostos, relacionando esta informação à Taxa

de Limpeza Pública dentro do IPTU. E, 21% informaram não ter conhecimento da origem dos

recursos necessários para a manutenção do serviço prestado.

Tabela 18: Origem dos recursos destinados para a manutenção do serviço de limpeza

pública segundo os entrevistados

Origem dos recursos Quantidade %Prefeitura 11 39,29Impostos (IPTU) 11 39,29Não soube informar 6 21,42Total 28 100

Entretanto, é importante ressaltar que, os recursos utilizados para a manutenção do serviço

são originados da Taxa de Limpeza Pública dentro do IPTU, que corresponde a 6,1% do valor

total, em média, e os 94% restante são originados dos recursos do FPM repassados pela União.

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

Você concordaria em pagar pelo serviço de coleta e destino final dos resíduos

sólidos do seu município? Porque?

A questão é importante por conta da sustentabilidade econômica do sistema. As respostas

a essa questão foram surpreendentes. Primeiro porque de certa forma impactou os entrevistados à

primeira vista, sendo necessário repetir a questão por mais de uma vez para um melhor

entendimento. Segundo porque todos que responderam afirmativamente quanto à

responsabilidade pela produção do lixo sentiram que essa responsabilidade poderia estar

associada a despesas com esse tipo de serviço. Geralmente, quando acontece esse tipo de

situação, os entrevistados têm uma menor disposição a pagar, pois isso pode influenciar no seu

consumo pessoal, pois terão maiores custos adicionais na sua renda familiar, se houver um

aumento na sua carga tributária. Entretanto, quando avaliam o benefício ambiental que estão

comprando, tendem a dispor com mais facilidade por esse serviço. Essa também pode ser uma

característica que pode ser influenciada pelo grau de instrução dos entrevistados, assim como da

consciência ambiental que têm em relação ao meio em que vivem.

Das pessoas entrevistadas, 20 ou 71,43% da amostra responderam que pagariam pelo

serviço de coleta e destinação final do lixo. Dentre os motivos que os levaram a responder

positivamente à pergunta podemos destacar as seguintes questões, como apresentadas na Tabela

19:

Tabela 19: Motivos que levariam os entrevistados a pagarem pelo serviço de coleta e

destinação final do lixo no município

Respostas Freqüência %Se fosse um valor acessível 7 26,92Maior benefício ambiental 7 26,92Manter a cidade limpa 4 15,38Se não fosse a prefeitura que assumisse 3 11,54Planos de gestão dependem recursos 2 7,69Quem produz mais, paga mais. 2 7,69Deveria associar ao pagamento da água 1 3,86Total 26 100

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

106

As respostas que mais influenciaram a decisão dos entrevistados foram com relação ao

preço que seria pago pelos munícipes (cerca de 27%), ou seja, deveria ser um preço acessível,

assim como a observância de um benefício ambiental (27%) se existisse um tratamento eficiente

para os resíduos da cidade. Outra questão que merece ser observada foi com relação à limpeza

pública da cidade, na qual os entrevistados associaram a limpeza como cartão postal do

município, dos quais 15% das respostas em aceitar o pagamento foram levadas por esse motivo.

Também foi mencionado o fato de que manter a cidade limpa custa caro (8%). Neste caso, para

manter um plano de gestão de lixo eficiente no município o financiamento recolhido por parte

dos contribuintes seria melhor alocado desde que não fosse a prefeitura que assumisse o

gerenciamento (12%). Outra questão importante, embora pouco destacada pelos respondentes foi

com relação ao fato de que, quem produz mais lixo, pagaria um preço mais elevado (8%). Este

dado indica que mesmo ocorrendo em poucas afirmações, a proposta de cobrança pelo serviço de

limpeza pública já é realidade para aqueles comprometidos com um ambiente urbano mais

sustentável em vários aspectos como visto anteriormente na proposta de cobrança da PNRS.

Com relação às respostas negativas, 8 entrevistados ou 28,57% da amostra, afirmaram não

pagar pela prestação do serviço de coleta e destinação final do lixo municipal. As respostas dadas

já eram esperadas e não destoaram muito da realidade vivida no país, pois foram relacionadas

com a sobrecarga de impostos e também com a existência da taxa de limpeza pública dentro do

IPTU. Vejamos o resultado na Tabela 20:

Tabela 20: Motivos que levariam os entrevistados a não pagarem pelo serviço de

coleta e destinação final do lixo no município

Respostas Quantidade %Carga tributária alta no país 3 37,5Já paga no IPTU 3 37,5Não tinha como haver fiscalização 1 12,5O município recebe verba para isso 1 12,5Total 8 100

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

107

Este argumento é reforçado pela carga tributária no Brasil que em 2004 correspondeu a

35,91% do Produto Interno Bruto – PIB (BRASIL, 2005). De modo que LIMA (1999) afirma que

a carga de tributação no país é a mais alta da América Latina, assim como a mais complexa e ao

mesmo tempo ineficiente, em alguns aspectos, por não atenderem de forma eqüitativa os serviços

de interesse público da sociedade. Ou também pode ser explicado pelo índice de corrupção do

país que em 2004 ocupou o 59º lugar com uma pontuação de 3,9 (sendo a nota 10 considerada o

menor grau de corrupção). Tais corrupções vem ocorrendo principalmente em obras estruturais

do serviço público, principalmente via contratações de empresas privadas e contratos de

concessão. Segundo a Organização Não Governamental Transparência Internacional,

O relatório deste ano apontou a corrupção nos projetos públicos de grande porte

como um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento sustentável ao diminuir os investimentos em setores públicos básicos como educação, saúde e redução da pobreza (Relatório de Transparência Internacional, 2004).

Nesse contexto, é importante salientar que a possibilidade de estruturação para cobrança

futura só seria possível se o município de Escada apresentasse um nível de consciência ambiental

ou se atingisse metas de equidade no atendimento às necessidades básicas da população.

Entretanto, discutir políticas públicas que minimizem os impactos ambientais causados pelos

resíduos sólidos a partir da implementação de uma legislação especifica é extremamente

relevante não só para a questão ambiental, mas também para fomentar diretrizes e metas para a

articulação de uma gestão de resíduos sólidos a nível nacional.

As compensações ambientais e sociais como apresentadas por SILVERSTEIN (1993) só

acontecerão com a internalização dos custos ambientais e sociais pelos geradores, através de

regulamentações. Entretanto, o grande entrave para tal regulamentação é a natureza do serviço

ofertado, isto é, o pagamento individual pela coleta e destino final dos resíduos sólidos

municipais. Haja vista que, a cidade apresenta um alto índice de pobreza, como apresentado pelo

IES (2003), este deve ser um fator a ser considerado, caso o estabelecimento da cobrança pelo

serviço prestado seja uma estratégia utilizada na elaboração de um plano de gestão de resíduos

sólidos para a cidade.

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O gerenciamento de um sistema de resíduos sólidos urbanos tornou-se uma temática

complexa não apenas para os gestores municipais, mas também para os atores sociais que, direta

ou indiretamente, estão envolvidos no processo. Além disso, o sistema sempre que possível, deve

ser gerido levando-se em conta os aspectos econômicos, ambientais, sociais e estruturais.

Deste modo, o município de Escada precisa avançar no sentido de chegar a este patamar

de gerenciamento, no qual os fatores mencionados sejam integrados e voltados para o bem

comum da sociedade. O atual sistema em Escada deixa a desejar em todos essas aspectos.

O município apresenta um indicador satisfatório no que diz respeito à coleta, entretanto

este serviço não foi ampliado para atender o crescimento da cidade o que compromete os bairros

periféricos. Além da falta de pessoal capacitado para melhorar o manejo, o município não tem a

disposição equipamentos e carros coletores suficientes que garantam a qualidade e a ampliação

do serviço.

Com relação à disposição final do lixo municipal, a solução está na implantação de um

aterro sanitário. Todavia, a prefeitura municipal não apresentou de onde sairá os recursos

necessários para a manutenção dos serviços após o término do projeto do PROMATA. Tal atitude

pode comprometer o real objetivo do aterro sanitário que é receber os resíduos de forma

adequada, correndo o risco de transformar o aterro em lixão. Esta preocupação torna-se relevante

principalmente por conta da proposta de gestão consorciada dos resíduos sólidos urbanos com os

municípios de Primavera e Amaraji.

No que se refere às questões econômico-financeiras, o município apresentou os maiores

problemas. Primeiro no sentido de não ter à disposição dados e informações de base confiáveis

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

109

para a elaboração dos custos do serviço de limpeza pública na cidade, o qual compromete

sobremaneira os dados apresentados na pesquisa. Segundo porque apresenta um custo

operacional elevado (duas fontes de dados: SECTEMA e Prefeitura) levando-se em conta que

apenas 67,33% da população é atendida pela coleta e os resíduos sólidos têm como destino final o

lixão.

A utilização da taxa de limpeza pública dentro do IPTU não supre as necessidades de

recursos para a operacionalização do sistema e, mesmo se a taxa fosse estendida para todos os

contribuintes do imposto, tal necessidade também não seria suprida. Outro problema é a

inexistência de um planejamento voltado para a operacionalização do novo sistema de destinação

final com a implantação do aterro sanitário após o término do projeto financiado pelo

PROMATA.

Buscou-se também na pesquisa respostas quanto ao pagamento ou não pelo serviço de

limpeza pública. Mesmo que a utilização dos resultados aqui apresentados sejam usados apenas

como indicadores e não para o todo, as respostas positivas quanto ao pagamento devem ser

consideradas se o município optar por fazer um plano de gerenciamento de resíduos. Por outro

lado, as respostas negativas denunciam a insatisfação dos contribuintes por não receberem

serviços de qualidade de acordo com o alto índice de pagamento de impostos efetuado,

relacionando tal fato ao elevado grau de corrupção em todas as esferas governamentais.

Com relação aos aspectos ambientais e sociais, a maioria dos entrevistados tem

conhecimento do impacto ambiental causado pela disposição irregular do lixo, assim como, do

impacto visual causado pela permanência de lixo nas ruas. Deste modo, as propostas sugeridas

poderiam servir com um canal de articulação entre os gestores municipais e as comunidades de

base existentes nos bairros.

Baseado nos resultados apresentados, o município necessita de uma política pública

específica para a gestão dos resíduos sólidos urbanos, na qual a integração dos vários aspectos

apresentados sejam democratizados a partir da articulação e participação dos vários atores sociais

envolvidos. Tal articulação tenderia na busca de soluções efetivas, nas quais seriam atendidas as

questões voltadas para a prevenção e/ou controle da degradação social e principalmente

ambiental.

Como melhorias recomenda-se:

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

110

Especificar mais detalhadamente na Lei Orgânica Municipal o gerenciamento dos

resíduos sólidos urbanos, apontando metas e diretrizes a serem almejadas com

relação à eficiência do serviço;

Implantar e implementar o Plano Diretor como previsto em Lei, mas

especificamente voltado para o desenvolvimento e expansão urbana, levando em

consideração a participação dos vários segmentos representativos da sociedade;

Implementar a Agenda 21 Local do município;

Discutir leis específicas para a cobrança do serviço relacionado ao lixo, baseado

nas legislações Federal e Estadual;

Incentivar a articulação entre as várias secretarias municipais no que se refere às

questões ambientais da cidade;

Implementar a Educação Ambiental como previsto nos parâmetros curriculares de

educação nas escolas públicas e privadas;

Contratar um corpo técnico capaz de propor e manter um plano de gerenciamento

integrado de resíduos sólidos condizente com a realidade local.

Com base nos resultados apresentados e nas conclusões tiradas foi perceptível em todas as

falas dos entrevistados a necessidade de se estabelecer um plano de gestão de resíduos para o

município. Também foram muitos os agradecimentos em função do objetivo da pesquisa que

contribuirá com dados e informações no plano de gerenciamento de resíduos da cidade. A

pesquisa também poderá contribuir para as discussões em nível nacional a respeito de uma

política voltada para os resíduos sólidos.

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

111

8 RERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT. NBR 10.004. Associação Brasileira de Normas Técnicas , 2004. ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2005. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. São Paulo, 2005. ACSELRAD, Henri (org.). A Duração das Cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP & A, 2001. AZEVEDO, Jeferson & DIAS FILHO, Osmar de Oliveira. Situação das Unidades de Beneficiamento de Resíduos Sólidos Urbanos no Estado do Rio de Janeiro - 2003. In: A Reciclagem Integradora dos Aspectos Ambientais, Sociais e Econômicos. - Rio de janeiro: DP&A: Fase, 2003 BAHIA, Sérgio Rodrigues (Org.). Cartilha de Limpeza Urbana. Centro de Estudos e Pesquisas Urbanas. Ministério da Ação Social, sd. BELLEN, Hans Michael Van. Indicadores de Sustentabilidade: uma análise comparativa. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. BRAGA, Roberto & CARVALHO, Pompeu Figueiredo. Instrumentos Urbanísticos e Gestão de Resíduos: comentários sobre sua aplicação. In: Manejo de Resíduos: pressuposto para a gestão ambiental. Campos, Jayme de Oliveira, Braga, Roberto & Carvalho, Pompeu Figueiredo de (Orgs.). Rio Claro: laboratório de Planejamento Municipal – Deplan – IGCE UNESP, 2002. BRASIL. Normas gerais sobre defesa e proteção da saúde. Lei Federal 2.312/54. ______. Resolução CONAMA Nº 001 de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial da União. Distrito Federal, 1986. ______. Constituição Federal, 1988.

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

112

_______.Lei Nº 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal. Diário Oficial da União, 10 de julho de 2001. ______. Ministério da fazenda. Carga Tributária no Brasil 2004. Brasília, agosto de 2005. Disponível em< www.receitadazenda.gov.br > Acesso em 08 jun. 2006. ______. Ministério das Cidades. Plano Diretor Participativo: guia para elaboração pelos Municípios e cidadãos. 2ª ed. / Coordenação Geral de Raquel Rolnik e Otilie Macedo Pinheiro – Brasília: Ministério das Cidades; Confea, 2005. ______. Ministério do Meio Ambiente. Seminários Regionais de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 2005. BRASIL fracassa em reduzir corrupção, diz estudo. Relatório da Transparência Internacional 2004. Disponível em < http://caea.adm.ufrgs.br/ler-noticia >. Acesso em 05 jun. 2006. BORZINO, Marco Antonio. Política Nacional de Resíduos Sólidos. (mensagem pessoal). Mensagem recebida por: <marco.borzino.mma.gov.br> em 01 dez. 2005. BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques & SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da Pesquisa em Ciências sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. CAIXA Econômica Federal. Desenvolvimento Urbano. Dados de 2002. Disponível em: < http://webp.caixa.gov.br/urbanização/caixacidade >. Acesso em: 25/01/06. CALDERONI, Sabetai. Os Bilhões Perdidos no Lixo. São Paulo: Humanitas Publicações FFLCH / USP, 1997. CÁNEPA, Eugenio Miguel. Economia da Poluição. In: Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. Peter Herman May, Maria Cecília Lustosa & Valéria da Vinha (Orgs.) – Rio de janeiro: Elsevier, 2003. CARTEIRO, Pedro. Resíduos Urbanos: política de reutilização e reciclagem a marcar passo. Quercus aponta falhas e propõe soluções, 2002. Disponível em <http://www.netresiduos.com> Acesso em: 08/06/05 CASTAGNARI, Eduardo. PPP no Serviço de Limpeza Urbana, 18/07/05. Disponível em < http://clipping.planejamento.gov.br > Acesso em 02/03/05. COHEN, Claude. Padrões de Consumo e Energia: Efeitos sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. In: Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. Peter Herman May, Maria Cecília Lustosa & Valéria da Vinha (Orgs.) – Rio de janeiro: Elsevier, 2003. COMISSÃO de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional. Agenda 21 brasileira: bases para discussão. Brasília: MMA/PNUD, 2000.

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

113

COMUNE, Evaldo Antônio. Meio Ambiente, Economia e Economistas: uma breve discussão. In: Valorando a Natureza. Peter Herman May & Ronaldo Serôa da Motta (Orgs.). Editora campus, 1994. CURITIBA terá novo sistema de coleta de lixo. Jornal Ambiente Brasil. 04 abr. 2002. Disponível em < www.ambientebrasil.com.br/noticias > Acesso em: 30 mai.2006. DIAGNÓSTICO dos Resíduos sólidos de Pernambuco: Escada. SECTMA/GRS –UFPE, 2002. D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero & VILHENA, André. Instituto de Pesquisas Tecnológica (IPT) e Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE). Lixo Municipal: manual para gerenciamento integrado. 2ª ed. São Paulo, 2000. EIGENHEER, Emilio Maciel. Lixo, Vanitas e Morte: considerações de um observador de resíduos. Niterói: EdUFF, 2003. EIGENHEER, Emilio Maciel & FERREIRA, João Alberto. Reciclagem e seus equívocos. In: Reciclagem: mito e realidade. Emilio Maciel Eigenheer, João Alberto Ferreira, Roberto Rinder Adler. – Rio de Janeiro: In-Fólio, 2005. EIGENHEER, Emilio Maciel, FERREIRA, João Alberto & ADLER, Roberto Rinder. In: Usinas de triagem e compostagem no Estado do Rio de Janeiro. In: Reciclagem: mito e realidade. Emilio Maciel Eigenheer, João Alberto Ferreira, Roberto Rinder Adler. – Rio de Janeiro: In-Fólio, 2005. ESCADA - Lei Orgânica Municipal. Abril, 1990. FERREIRA, João Alberto. Resíduos Sólidos: perspectivas atuais. In: Resíduos Sólidos, Ambiente e Saúde: uma visão multidisciplinar. Sissino, Cristina Lucia Silveira & Oliveira, Rosália Maria (Orgs.). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. FIGUEROA, Eduardo. Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – Banco Interamericano de Desenvolvimento. In: Seminário Internacional: As melhores práticas em gestão integrada de resíduos sólidos. Governo do Estado do Rio de Janeiro. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, 2004. FRANCO, Roberto Messias. Principais Problemas Ambientais Municipais e Perspectivas de Solução. In: Municípios e Meio Ambiente: perspectivas para a municipalização da gestão ambiental no Brasil. Philippi Jr at al. - São Paulo: Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente, 1999. FREIRE, Gilberto. Um engenheiro francês no Brasil. Rio de janeiro: J. Olympio, 1940. GABEIRA, Fernando. Poder Legislativo. Congresso e Meio Ambiente. In: Meio Ambiente no Século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. André Trigueiro (Coord.). Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

114

GOVERNO do Estado de Pernambuco. Portal dos Municípios. Disponível em < http://www.portaldosmunicipios.gv.pe.br >. Acesso em 12/07/05. HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Sales. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia. Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. IRIGARAY, C. T. J. H. Município e Meio Ambiente: bases para atuação do município na gestão ambiental. Brasília: Embaixada da Itália. Cuiabá: Fundação Escola, 2002. IBGE. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2002a. ______. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. Rio de Janeiro, IBGE, 2002b. JANOVITCH, Paula. O lixo e a cidade. Jornal Ver São Paulo. São Paulo, 21 abr. 2006. Disponível em < www.carbonoquatorze.com.br/versaopaulo/ Acesso em:22 de mai. 2006. KAPAZ, Eduardo. Projeto de lei. Política Nacional de Resíduos: o Brasil já tem uma proposta. Disponível em <http://www.kapaz.com.br >. Acesso em setembro de 2004. LEROY, Jean-Pierre et al. Tudo ao mesmo tempo agora: desenvolvimento, sustentabilidade, democracia: o que isso tem a ver com você? Ilustrações Claudius. Petrópolis, RJ: vozes, 2002. LIMA, Edilberto Carlos Pontes. Reforma Tributária no Brasil: entre o ideal e o possível, 1999. IPEA – Texto para discussão nº 666.Disponível em < www.ipea.gov.br> Acesso em 08 jun. 2006. LIMA, Eduardo Amorim de. Considerações jurídicas sobre a Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares (TRSD), instituída no Município de São Paulo . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 66, jun. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4180>. Acesso em: 22 mai. 2006. MACHADO, Carlos José Saldanha, FERREIRA, João Alberto & RITTER, Elizabeth. A poluição das Águas Doces: Integrando a Gestão dos Resíduos Sólidos na Gestão dos Recursos Hídricos. In: Gestão de águas Doces. Carlos José Saldanha machado (Org.). – Rio de Janeiro: Interciência, 2004. MARCONI, Maria & LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Ed. Atlas, 1990. MARTINS, Carlos. A gestão Integrada de Resíduos na Visão Metropolitana. A Modernização da Gestão de Resíduos Sólidos em Portugal. In: Seminário Internacional: as melhores práticas em gestão integrada de resíduos sólidos. Governo do Estado do Rio de Janeiro. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, 2004. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª ed. Malheiros. São Paulo, 1996.

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

115

MILLER, Roger Leroy. Microeconomia: teoria, questões e aplicações. São Paulo: Editora Mcgraw-Hill do Brasil, 1981. MINAYO, Maria Cecélia de Souza. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. – 8ª ed. – São Paulo: Hucitec, 2004. MOTA, Lúcia Vasconcelos. Consórcio e Intervenção entre três estações ferroviárias e implantação de um roteiro turístico entre as mesmas: Cabo de santo Agostinho - Escada - Ribeirão. Volume 3. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2002. MOURA, Luiz Antônio Abdalla de. Economia Ambiental. Gestão de Custos e Investimentos. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000. NETO, João Tinôco Pereira. Gerenciamento de Resíduos Sólidos em Municípios de Pequeno Porte. In: Ciência & Ambiente / Universidade de Santa Maria. Editora da UFSM – Vol. 18. Jan/jun de 1999. Lixo Urbano.-Santa Maria, semestral. NETO, Otávio Cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Maria Cecília de Souza (Org.). – Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1994. OLIVEIRA, Isabel C. P. et al. Is it Possible to Plan a Self-Sustanable City?. In: Inter-University Consortium for International Social Development, 14. Anais. Recife, 2005. PAULISTANO terá que pagar por seu lixo. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 dez. 2002. PEARCE, David & TURNER, R. Economics of Natural Resources and the Environment. Haviester Weats Sheag, 1990. PERNAMBUCO (Estado). Decreto nº 23.941, de 11 de janeiro de 2002. Política Estadual de Resíduos Sólidos – Pernambuco. Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Recife, 11 de jan. 2002. PESSÔA, Rubem Eurico da Cunha. O Método de Avaliação Contingente: uma tentativa de valoração dos ativos ambientais de Roraima. Tese de Pós-Graduação – PIMES. Recife, 1996. PHILIPPI JR., Arlindo & MARCOVITCH, Jacques. Mecanismos Institucionais para o Desenvolvimento Sustentável. In: Municípios e Meio Ambiente: perspectivas para a municipalização da gestão ambiental no Brasil. Philippi Jr et al. - São Paulo: Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente, 1999. PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro. Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil. Rio de Janeiro, 2000. POCHMANN, Marcio & AMORIM, Ricardo (Orgs.) Atlas da Exclusão Social no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 2003.

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

116

POLZIN, Deolinda Alexandra O. F. Moreira. Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos: análise comparativa entre Portugal e Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense. Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, 2004. PREFEITURA de São Paulo. Prefeitura envia à Câmara projeto de lei que acaba com a taxa do lixo. Notícias On-line. 29/09/05. Disponível em:< http://www.prefeitura.sp.gov.br >Acesso em 30/09/2005. PROGRAMA de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco – PROMATA. Plano de Investimento Municipal – PIM: município de Escada / PROMATA – Recife: Consórcio Diagonal / GTZ, 2003. ______. PROMATA. Linha de base Municipal / Indicadores Sócio-Econômicos. Escada, julho de 2003. ______. LOCUS. PROMATA. Fase propositiva do PIM. Documento de Orientação Metodológica. Recife, 2003. ______. PROMATA. Identificação das Áreas Críticas do Ponto de Vista Ambiental do Território de Escada. Ampla Engenharia. Recife, 2005. CD-ROM. PROGRAMA de Modernização do Setor de Saneamento. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS: diagnóstico da gestão e manejo de resíduos sólidos urbanos – 2002. – Brasília: MCIDADES.SNSA: IPEA, 2004. CD–ROM. RELATÓRIO Brundtland. Nosso Futuro Comum / Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. ROTH et al. In: Ciência & Ambiente / Universidade de Santa Maria. Editora da UFSM – Vol. 18. Jan/jun de 1999. Lixo Urbano.-Santa Maria, semestral. SACHS, Ignacy. Estratégias de Transição para o Século XXI – Desenvolvimento e Meio Ambiente. Editora Vértice, 1993. SAYAGO, Daiane Ely. Resíduos Sólidos: propostas de instrumentos econômicos ambientais / Daiane Ely Sayago, José marcos Domingues de Oliveira, Ronaldo Serôa da Motta. – Brasília, MPO, SEPURB, 1998. SÉRIE Monografias Municipais - ESCADA. Governo do Estado de Pernambuco. Secretaria de Planejamento. FIDEPE/ FIAM. Recife, 1982. SILVÉRIO, Mario Luiz et al (Coord). Proposta de um Novo Modelo Institucional para o Setor de Limpeza Urbana. SELUR- Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo, 2000.

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO · PDF filePlanejamento urbano. 4. ... PIM - Plano de Investimento Municipal ... das prioridades de desenvolvimento e equilíbrio ambiental

117

SILVERSTEIN, Michael. A revolução Ambiental – como a economia poderá florescer e a terra sobreviver no maior desafio da virada do século. Editora Nórdica. Rio de Janeiro, 1993. SLOMP, Mário. Taxa de Lixo junto à Tarifa de Água / esgoto: uma forma alternativa de cobrança, 1999. Disponível em: <http://www.unilivre.org.br>. Acesso em 06/03/05. TOLMASQUIM, Maurício Tiomno. Economia do Meio Ambiente: forças e fraquezas. In: Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. Clóvis Cavalcanti (Org.) – 3ªed. - São Paulo: Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco, 2001. TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. – São Paulo: DIFEL, 1983. WIEDEMANN, Hartmut Ulf. Lixo na Alemanha. Agência Nacional de Meio Ambiente da Alemanha – umweltbundesamt. CIRS / UFF, 1999. ZANON, Uriel. As Teorias da Origem das Doenças e a Suposta Periculosidade do Lixo Hospitalar. In: Lixo Hospitalar: ficção Legal ou Realidade Sanitária? Emílio Eigenheer (Org.). SEMADS: Rio de Janeiro, 2000.