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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: SIM? NÃO? POR QUÊ? Neimar de Jesus Costa Diamantina 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: SIM? NÃO? POR QUÊ?

Neimar de Jesus Costa

Diamantina

2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: SIM? NÃO? POR QUÊ?

Neimar de Jesus Costa

Orientador: Prof. Dr. Leandro Ribeiro Palhares.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Educação Física, como parte

dos requisitos exigidos para a conclusão do curso.

Diamantina

2018

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA … · ensino da história e cultura africana e afrobrasileira dentro das escolas. Essa Lei não fala em especifico para a Educação

CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: SIM? NÃO? POR QUÊ?

Neimar de Jesus Costa

Orientador: Prof. Dr. Leandro Ribeiro Palhares.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Educação Física, como parte

dos requisitos exigidos para a conclusão do curso.

APROVADO em ... / ... / ...

_____________________________________________

Profª. Dra. Cláudia Mara Niquini

_____________________________________________

Prof. Dr. Gilbert de Oliveira Santos

_____________________________________________

Prof. Dr. Leandro Ribeiro Palhares

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado saúde, força e fé para superar as dificuldades, fazendo com que eu

chegasse até aqui e continuasse vencendo, sempre com humildade e garra.

Aos meus pais João e Teresinha, por estarem sempre me motivando a estudar, além do amor e

carinho nos momentos mais difíceis da graduação. Além de me incentivarem a nunca desistir

dos meus sonhos. Não sou capaz de descrever o que vocês significam pra mim, amo muito

vocês!

Ao meu irmão Maiken e minhas irmãs Tarcimara, Tatiana e Talita eternamente grato pelo

amor e carinho de sempre. Amo muito vocês!

A minha irmã Tatiele (in memoriam) que, com certeza, é o anjo que me guia em toda minha

vida. Te amo!

Ao meu orientador Leandro, serei eternamente grato pela oportunidade de ter realizado este

trabalho com você, fico honrado por todo conhecimento adquirido na elaboração desse

trabalho.

A minha Avó Maria de Lurdes (in memoriam), a partir de hoje, sigo um pouco dos seus

passos que é me formar Professor.

Aos amigos e colegas de curso e da turma 2014/01 em especial Débora, Robson, Jackeline,

Renata, Beatriz, Wallas, Espedito, Geane e Noel que tive o privilegio de conhecer na

graduação, amigos esses que espero levar para toda vida.

Aos amigos, amigas e colegas de treino do Projeto de Extensão “Gingando para a Vida”.

A todos meus familiares.

Aos poucos amigos do ensino médio que até hoje são de grande importância para mim.

Aos diretores e funcionários, em especial os professores de Educação Física que atuam nas

escolas diamantinenses, que fizeram parte da pesquisa.

Ao grupo PIBID por toda experiência aprendida e trocada que foi muito importante na minha

formação quanto professor.

A UFVJM e aos professores do curso de Licenciatura em Educação Física, que oportunizaram

uma janela para que hoje eu pudesse estar vislumbrando uma formação superior. Espero que

esse seja apenas o primeiro passo e que eu encontre com vocês em outros momentos. Fica

aqui o até breve!

Serei eternamente agradecido por todos que, de forma direta ou indiretamente contribuíram

para a conclusão desse trabalho e também do curso. Gratidão!

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo verificar se a Capoeira vem ou não sendo trabalhada nas aulas

de Educação Física nas escolas de Diamantina/MG. Compreendemos que a Capoeira,

enquanto cultura popular de matriz afrobrasileira e pertencente à cultura corporal de

movimentos, se configura como oportunidade de acesso a valores culturais e sociais em uma

perspectiva de educação decolonial. Aplicamos um questionário a 25 professores de Educação

Física, dos ensinos fundamental e médio, de todas as escolas do município de

Diamantina/MG. Dos professores entrevistados, todos disseram conhecer a Capoeira, sendo

que a metade deles dos cursos de graduação em Educação Física. Praticamente todos os

professores (24) disseram da importância de oferecer a Capoeira nas aulas de educação física

escolar, porém sete responderam que proporcionam esta oferta. No geral, a Capoeira não vem

sendo oportunizada como conteúdo educacional nas aulas de Educação Física das escolas

diamantinenses. Refletimos algumas ações que podem, a médio e longo prazo, reverter essa

situação. Uma delas se relaciona aos cursos de formação superior em Educação Física, que

podem ampliar o conhecimento sobre Capoeira por meio da oferta de disciplinas em sua grade

curricular, bem como de projetos de extensão e grupos de estudos. A outra reflexão passa

pelas escolas de educação básica e universidades buscarem um contato mais próximo com

grupos e Mestres de Capoeira para que os acadêmicos e professores de Educação Física se

aproximem da práxis da Capoeira e, principalmente, da sua pedagogia afrobrasileira e visão

decolonial e complexa de entender o mundo em que vivemos.

Palavras-chaves: Capoeira; Educação Física Escolar; Educação.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 7

2. PRIMEIROS APONTAMENTOS PARA UMA RELAÇÃO ENTRE A CULTURA

AFROBRASILEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A CAPOEIRA COMO

MEDIADORA ......................................................................................................................... 10

3. CAPOEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM JOGO POSSÍVEL E

NECESSÁRIO! ....................................................................................................................... 13

4. PERCURSOS METODOLÓGICOS ............................................................................... 15

4.1. Amostra .......................................................................................................................... 15

4.2. Instrumento .................................................................................................................... 15

4.3. Análise dos Dados ......................................................................................................... 16

4.4. Questões Éticas .............................................................................................................. 16

5. RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E REFLEXÕES .................................................. 17

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 24

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 26

APÊNDICE ............................................................................................................................. 30

Apêndice A - Questionário para a categoria ‘professores’. ................................................. 30

ANEXO .................................................................................................................................... 31

Anexo A- Aprovação do Comité de Ética em Pesquisa ........................................................ 31

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1. INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por objetivo verificar se a Capoeira vem ou não sendo

trabalhada como conteúdo programático das aulas de educação física nas escolas de

Diamantina. O ensino da Capoeira na escola é atribuição do professor de Educação Física,

mas normalmente em sua formação acadêmica não tem uma disciplina ou projetos de

extensão que subsidiem o envolvimento com o ensino da Capoeira, o que pode ser um

empecilho para o ensino dessa prática. A qualificação desse profissional vai muito além do

simples ensino da prática esportiva e que esse campo de atuação permeia pelo estudo

multidisciplinar, o que caracteriza o ensino a ser transmitido ao aluno de maneira ampla e

contextualizado, e que minimamente sua formação acadêmica atinja esses requisitos para que

ao ingressar no mercado de trabalho o professor possa trabalhar de maneira correta e segura,

estar ciente dos seus direitos e deveres. Acerca disso, existem alguns documentos balizadores

que podem contribuir para o inicio do ensino da capoeira, e de outros conteúdos, na educação

física escolar.

Um dos documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documento

de orientação a fim de auxiliar os professores na elaboração de uma aula ou uma unidade de

ensino e também como se devem trabalhar os conteúdos curriculares nas diferentes etapas de

ensino. Dentro desse documento, são abordados os temas transversais, áreas de conhecimento

geral e norteadoras que devem estar presentes nas diferentes disciplinas escolares. São elas:

ética, trabalho e consumo, orientação sexual, saúde, meio ambiente e pluralidade cultural

(BRASIL, 1998).

Os PCN podem se relacionar com a Capoeira por meio dos temas transversais, por

exemplo, a pluralidade cultural, pois através do seu conteúdo histórico, musical e corporal

pode auxiliar no desenvolvimento dos aspectos cognitivo, social e motor e contribuir para que

o aluno consiga reconhecer e conviver com as diferenças presentes na sociedade brasileira.

A partir da referência dos PCN, cada Estado teve autonomia para elaborar um

documento próprio que busca aproximar o ensino de maneira similar nas diferentes regiões e

realidades. Com isso, o governo mineiro elaborou um documento que auxilia escolas e

professores na elaboração de projetos e aulas, que é o Currículo Básico Comum (CBC). Sobre

a Educação Física, o CBC nos apresenta temas e conteúdos a serem trabalhados nos ensinos

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fundamental e médio, a saber: as danças, os jogos e brincadeiras, os esportes e a Capoeira

(MINAS GERAIS, 2005).

As aulas de educação física devem englobar diferentes componentes da cultura

corporal de movimento que são “[...] os conteúdos que basicamente sustentaram o referido

componente curricular, no meio escolar, ou melhor, situar os conteúdos que se tornaram

hegemônicos dentro da educação física escolar” (PENHA, 2009, p.18). Segundo Darido e

Rangel (2011a), na escola, o aluno transita por diferentes disciplinas sem a devida crítica e

contextualização, o que não proporciona a capacidade de questionar a realidade em que vive.

Esse modelo de ensino, conhecido por educação científica, pode minimizar formas de

movimento humano acabando assim com seu caráter de fenômeno cultural da humanidade.

O CBC tem relação direta com a Capoeira, pois a cultura popular pode ser aliada

nas aulas de educação física uma vez que, dentro da escola, há vários alunos de diferentes

culturas e cabe ao professor alavancar esse ensino, respeitando a experiência e história de

cada um e promover momentos onde possa haver interação: “num país em que pulsam a

capoeira, o samba, entre outras manifestações, é inconcebível o fato da educação física, ter

desconsiderado essas produções de cultura popular como objeto de ensino e aprendizagem”

(BRASIL, 1998, p.71e 72).

Outro documento balizador é a Lei 10.639/03 que estabelece a obrigatoriedade do

ensino da história e cultura africana e afrobrasileira dentro das escolas. Essa Lei não fala em

especifico para a Educação Física, mas por que esses conteúdos não estão presentes em nossas

aulas, uma vez que não trabalhar com a cultura popular é abrir mão de um leque de

possibilidades para a formação social e crítica do aluno?

Segundo Soares e Julio (2011), a Capoeira é vista como uma manifestação da

cultura popular brasileira, que além de prática corporal, também foi considerada como um

sistema de autodefesa de um povo, trazendo um resgate histórico, sendo um aprendizado

muito importante para os alunos, permitindo o entendimento das transformações

socioculturais ocorridas no Brasil. Com a promulgação da Lei, espera-se oportunizar aos

estudantes uma educação que reconheça e valorize a diversidade cultural.

No entanto é preciso questionar: como foi a formação desses professores durante

sua graduação? O que viram sobre Capoeira? Como esta foi abordada? Este trabalho não tem

por finalidade embarcar nesta discussão de formação acadêmica de professor de Educação

Física e a Capoeira. Para maiores informações sugerimos a leitura de Santos e Palhares

(2010). Tendo em vista que é dever do professor passar a seus alunos todo e qualquer

conteúdo da cultura corporal de movimentos e, como a Capoeira é um deles, cabe ao

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professor buscar formas de se inserir nesse contexto e agregar à sua formação os aspectos

histórico, social, combativo, de jogo, da musicalidade, artístico e ritual da Capoeira.

Souza e Oliveira (2001) destacam que para ensinar Capoeira na escola não precisa

ser capoeirista ou Mestre de Capoeira, mas que o professor seja um apreciador, e que ele

estude, para passar para seus alunos a forma correta de realizar os movimentos e com isso o

aluno passe a usufruir de tudo que a Capoeira tem a lhe oferecer. Todavia, a Capoeira como

uma prática da cultura popular e com raízes culturais africanas, requer seu estudo na prática,

quer dizer, através de treinos e rodas de Capoeira. Nesse sentido, a melhor forma de se

apropriar do conteúdo Capoeira é se permitindo inserir em seu meio social e/ou trazer para o

ambiente escolar os Mestres de Capoeira – verdadeiros guardiões dos saberes ancestrais e

seculares.

Com a perspectiva até aqui apresentada, a capoeira pode ser algo transformador

dentro da escola e na sociedade, pois, por meio de sua práxis, é possível:

Participar e competir, vitória e derrota, persistência para atingir um objetivo,

dedicação, valorizar a derrota como momento de aprendizado, respeitar a vitória do

adversário, trabalhar e produzir em grupo, lidar com bons e maus momentos em

nossas vidas, dentre outros que são responsáveis por construir um ser humano justo

e uma sociedade igualitária (PALHARES, 2012, p.05).

Portanto, cabe ao professor criar formas de tirar melhor aproveito não só da

Capoeira, mas de todas as práticas corporais que serão trabalhadas dentro da escola, para que

haja um sentido do seu ensino, enfatizando a importância do estudo de diferentes culturas

corporais e, em especial, das enraizadas na história do nosso país.

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2. PRIMEIROS APONTAMENTOS PARA UMA RELAÇÃO ENTRE A CULTURA

AFROBRASILEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A CAPOEIRA COMO

MEDIADORA

O ensino da cultura afrobrasileira na educação básica é um processo pedagógico

na busca da formação de sujeitos autônomos e conscientes, uma vez que através desse estudo

podem-se alcançar alguns valores, como identidade cultural, socialização, respeito e

igualdade, entre outros que dentro da sociedade em que vivemos é de total relevância.

Segundo a Lei n° 10.639/03, torna-se obrigatório o ensino da história e cultura africana e

afrobrasileira em todo currículo escolar:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo

da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra

brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do

povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil.§ 2o

Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no

âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de

Literatura e História Brasileira (BRASIL, 2003).

A Educação Física, enquanto disciplina curricular nas escolas também tem

potencial formativo quanto aos aspectos acima citados. Logo, a educação física escolar

utilizando-se da Capoeira como conteúdo, pode abranger diversas exigências citadas na

referida Lei. Tendo em vista o cenário atual da sociedade brasileira, de intolerância e

desigualdade, trabalhar com a Capoeira pode integralizar diferentes temáticas, tais como as

lutas dos negros no Brasil, a formação cultural e identitária do nosso povo e uma releitura da

história do nosso país. A abordagem desses temas pela educação física escolar pode ocorrer

também em parceria com outras disciplinas, como Educação Artística, Literatura e História.

Podemos dizer então que a capoeira é multidisciplinar, e que trabalhar com ela não é

tarefa fácil. O professor deverá ter em mente que ele é o responsável pela aplicação

dos conteúdos pedagógicos, seus objetivos e formas de alcançá-los. Porém é um

ensino prazeroso, diversificado, lúdico, rico em conhecimentos e experiências

(PAULA, BEZERRA, 2014, p.05).

Todavia, todo e qualquer professor lida com contratempos e não é diferente com o

professor de Educação Física que constantemente está sujeito a situações imprevisíveis. E

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uma das situações mais difíceis e polêmicas é a escolha dos conteúdos, pois é dever do

professor de Educação Física ensinar as mais diversas práticas corporais e a Capoeira é uma

delas. O trabalho com a Capoeira requer muito mais que apenas o saber teórico, é necessário

que a graduação em Licenciatura possa oferecer subsídios, formas de agregar e transmitir o

conhecimento Capoeira. Segundo Santos e Palhares (2010), é significativo distinguir que são

os capoeiristas que devem trabalhar com a Capoeira em todos os espaços, mas à frente da

disciplina educação física escolar é dever do professor de Educação Física:

O docente de Educação Física normalmente não é um mestre de

capoeira, dessa forma irá mobilizar o conhecimento adquirido no seu

curso de graduação ou o conhecimento adquirido em um grupo específico de

capoeira para poder ensiná-la na escola. No entanto, uma das

dificuldades de inserção da capoeira no âmbito escolar diz respeito à

falta de segurança desses docentes em relação ao ensino de capoeira (SANTOS,

PALHARES, 2010, p.11).

Segundo Abib (2006), a graduação desses professores necessitaria assegurar o

ensino privilegiado às culturas populares. Em se tratando da Capoeira, esse aprendizado não

deve se limitar apenas na à universidade, é necessário que haja uma formação continuada,

mas esse e outros objetivos de agregar conhecimento devem surgir por parte do professor

buscando formas de obtê-los.

Do mesmo modo, é o ensino da cultura africana que está presente nas escolas, mas

em quase sua totalidade apenas em livros didáticos, que, por sua vez, tratam muito pouco

sobre esse tema, quase sempre está ligado à escravidão. É preciso extrapolar essa ideia, pois

os patrimônios culturais africanos são muito marcantes na história do Brasil para não serem

ensinados na escola. Possivelmente pouco ou nenhum curso superior em Educação Física trata

a cultura africana de maneira especifica, por exemplo, em uma disciplina. E esse seria um

empecilho para o ensino dessa cultura nas aulas de educação física? Em se tratando de

conhecimento prático, seria necessária uma busca para obtê-lo, mas alguns jogos e

brincadeiras de origem africana são de fácil acesso na internet. O ensino da cultura

afrobrasileira nas escolas, em especial a Capoeira na Educação Física, deve ser sem restrições

ou rejeições, buscando através de seus conteúdos, superar possíveis dificuldades.

Possivelmente o ensino da Capoeira nas escolas pode reafirmar a história

brasileira e nossas origens, formando alunos capazes de estabelecer pensamentos críticos sob

uma perspectiva de sociedade desigual. Para Júnior, Abib e Sobrinho (2000, p.165), “vista

sobre essa ótica, a prática da capoeira, adquire dimensões bem mais amplas do que uma

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simples atividade corporal relacionada a uma etnia, e passa a ter um significado de prática

social”.

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3. CAPOEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM JOGO POSSÍVEL E

NECESSÁRIO!

A educação física escolar brasileira, muitas vezes, é tida como esportivista, tendo

em seus conteúdos práticos um caráter competitivo quase sempre, estimulando alunos apenas

a valorizar a vitória. Aulas baseadas na cultura esportiva europeia, com esportes provenientes

do velho continente, cada vez mais limitam a inserção da cultura popular brasileira, em

especial da Capoeira, dentro de um espaço de formação de sujeitos críticos. A Capoeira deve

estar presente dentro das aulas de educação física por ser unidade da cultura corporal de

movimentos, além disso, com seu ensino, pode-se alavancar a identidade cultural brasileira.

A Capoeira tem seu valor especialmente por toda sua história e representatividade

para o Brasil. Ainda assim, sabemos que a Capoeira enfrenta algumas barreiras que dificultam

sua efetivação dentro do espaço escolar:

[...] a capoeira já está presente em algumas instituições sendo praticada no ensino

fundamental, médio e superior. Em algumas universidades, ela faz parte do currículo

de educação física, em muitas escolas as crianças ainda não experenciem a capoeira

por falta de entendimento dos profissionais de educação física, que contemplá-la

como conteúdo não significa necessariamente reproduzi-la de forma

institucionalizada e, ainda esbarramos em alguns confrontos entre o trabalho

pedagógico e a gestão escolar para a inserção da capoeira em aulas de educação

física (QUADROS; MARQUES, 2008, p.450).

A educação física escolar já possui uma estrutura pré-estabelecida, mas não é algo

rígido, engessado, ou seja, passível de mudanças (BRASIL, 2006). A Capoeira pode ter seu

ensino voltado para diversos temas como discutir o racismo, gênero e tolerância, além de

contribuir para minimizar a exclusão dos menos habilidosos das aulas de educação física,

pois:

[...] é notório o número de alunos(as) que possuem vergonha de se expressar

corporalmente, por terem a ideia de que a não realização de práticas corporais

definidas como perfeitas, atléticas, preferidas ou corretas os colocam numa situação

excludente ditada por uma espécie de burocratização do corpo que desconsidera a

diversidade de expressões humanas (KOHL, 2007, p.16-17).

Para o ensino da Capoeira dentro da escola, Darido e Rangel (2011b) apresentam

três dimensões para o ensino – idealizadas por Cézar Coll: o conceitual, procedimental e

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atitudinal. Na dimensão conceitual, o ensino da Capoeira deve evidenciar a importância da

comunidade escolar e da cultura que prevalece fora da escola. Além de objetivar o contexto

histórico da Capoeira, propondo aos alunos leituras de fatos históricos, filmes e outras

atividades para retratar a origem da Capoeira. Em relação à dimensão procedimental, o aluno

deveria vivenciar situações dentro da Capoeira, aprendendo golpes e esquivas, como se deve

formar uma roda e seu ensino deve ser de maneira mais lúdica, não deixando de lado

possíveis brincadeiras. Aqui a musicalidade presente na Capoeira deve ser contextualizada

assim como ritmos de outras manifestações da cultura popular brasileira. Quanto à dimensão

atitudinal, é neste momento que se deve evidenciar a importância de valores como respeito e

tolerância, refletindo criticamente sobre as diferenças, combatendo qualquer forma de racismo

e possíveis difamações dentro do ambiente escolar e social.

Para que o trabalho com Capoeira contemple essas três dimensões educacionais, é

importante desenvolver atividades em grupos que promovam a interação e cooperação assim

como tensões e conflitos entre os alunos. E o fundamental neste processo é que o professor

atue como um mediador, direcionando a atenção dos alunos para os momentos mais agudos e

trazendo a reflexão. Claro que se trabalhar com essas três dimensões não é tarefa fácil para o

professor, mas é justamente esta a intenção da inserção da Capoeira como conteúdo da

educação física escolar: construir uma Educação Física que busque educar e não apenas fazer

exercícios.

Sob essa ótica, a Educação Física como conteúdo da disciplina escolar Educação

Física passa a ter um caráter formativo, buscando através do ensino de diferentes elementos

culturais que possibilitam a constituição de sujeitos críticos, autônomos e emancipados. Cada

uma das diferentes aéreas do saberes tem sua importância, bastando aos professores à

compreensão e utilização desses conhecimentos em prol do bem comum.

Neste tópico, apresentamos cinco argumentos para a efetivação da Capoeira na

educação física escolar: por pertencer à cultura corporal de movimentos; por contribuir para

uma constituição identitária; pela sua constituição histórica; por possibilitar a reflexão sobre

temas transversais e outros; por minimizar a desigualdade (e seus desdobramentos) em termos

de nível de habilidade motora. Nossa hipótese de estudo é que isso não vem acontecendo

devido a alguns obstáculos encontrados dentro da própria escola – não ter o apoio da direção

escolar, rejeição por parte de alguns alunos e a incapacidade do professor (ALVES;

BARRETO, 2007). Para confirmar ou não esta hipótese, refletir os possíveis argumentos e

propor algumas sugestões de intervenção, vamos a campo coletar as informações necessárias.

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4. PERCURSOS METODOLÓGICOS

Por meio do percurso metodológico que seguimos, e que apresentaremos a seguir,

verificamos nossa hipótese de estudo, atingimos nosso objetivo, refletimos sobre as causas e

propusemos possíveis sugestões.

4.1. Amostra

Aplicamos um questionário que foi respondido por todos os professores de

Educação Física dos ensinos fundamental e médio de todas as escolas públicas e particulares

da cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Como critérios de inclusão, valemo-nos de todos

os professores que ministravam a disciplina Educação Física, tivessem formação superior

completa e estivessem trabalhando em alguma escola no período da coleta dos dados. De

acordo com estes critérios, a coleta foi realizada com 25 sujeitos. Neste estudo não se aplicou

nenhum critério de exclusão, pois o questionário foi aplicado com todos os professores, após

leitura e assinatura do TCLE.

4.2. Instrumento

O questionário foi composto por cinco questões. A primeira questão foi ‘você

conhece a Capoeira?’ e as opções de resposta foram: sim ou não. Se a resposta fosse negativa

o questionário seria finalizado. Em caso de resposta afirmativa, prosseguiríamos. A segunda

pergunta foi ‘conhece de onde?’ e foram quatro as opções de resposta: graduação em

Educação Física; grupo folclórico; grupo de Capoeira; outros. Quando a resposta foi ‘outros’,

o sujeito foi encorajado a citar qual. A terceira questão foi ‘conhece como?’ e também teve

quatro opções de resposta: de praticar; de ver/assistir; de ouvir falar/comentários; outros.

Quando a resposta foi ‘outros’, o sujeito foi encorajado a citar qual. A quarta questão foi

‘você entende que a capoeira possa ser conteúdo da educação física escolar?’ e as opções de

resposta foram: sim ou não. Independente da resposta, o sujeito foi questionado do ‘porquê’

da sua resposta. E a quinta e última questão foi ‘você oferece Capoeira em suas aulas de

educação física escolar?’, que teve quatro opções de resposta: falta de conhecimento; falta de

experiência; falta de conhecimento e experiência; outros. Quando a resposta foi ‘outros’, o

sujeito foi encorajado a citar qual.

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Nas questões 2 e 3, os sujeitos puderam optar por mais de uma resposta. O autor

principal desse trabalho foi quem aplicou os questionários, lendo as perguntas e as opções de

resposta, fazendo a marcação das respostas e escrevendo a justificativa, quando foi o caso. O

questionário foi preenchido com caneta para evitar qualquer risco de rasura.

O questionário foi aplicado em local e horário mais apropriado a cada sujeito, a

partir de contato prévio, telefônico ou endereço eletrônico.

4.3. Análise dos Dados

A análise dos resultados se deu pelo percentual de respostas em relação ao total de

professores entrevistados. A discussão dos resultados foi balizada por critérios qualitativos –

tanto na comparação entre os percentuais, quanto nas reflexões desses percentuais em relação

ao referencial teórico adotado nesse estudo.

4.4. Questões Éticas

Esta pesquisa teve seu projeto aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da

UFVJM, sob o parecer número 2.239.807. O questionário foi anônimo e as informações

pessoais que o pesquisador coletou foram gênero (masculino ou feminino), idade (em anos) e

se trabalha em instituição pública ou particular, no ensino fundamental, médio ou ambos. O

pesquisador apresentou aos professores o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

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5. RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E REFLEXÕES

A seguir apresentaremos os resultados obtidos no estudo, e também as discussões

baseadas em referenciais teóricos que corroborem nossa hipótese de estudo: se a Capoeira

vem ou não sendo trabalhada nas escolas de Diamantina e os ‘porquês’.

Dos 25 entrevistados, todos disseram conhecer a Capoeira. Desses, 13 conhecem

da sua graduação em Educação Física, um através de grupo folclórico, 18 através de grupos

de Capoeira e cinco conhecem através da mídia, de oficina no Festival de Inverno, da

literatura e/ou de assistir na rua. Esse conhecimento se dá pela prática para 10 sujeitos; para

19 pessoas, o conhecimento ocorre por ver/assistir; quatro conhecem de ouvir falar e/ou

comentários; e um respondeu que conhece através de estudos (leitura).

Ainda sobre os 25 entrevistados, cinco relataram que a Capoeira deve ser

trabalhada na educação física escolar, por ser conteúdo obrigatório, presente em propostas

curriculares, contidas em documentos como CBC e PCN (MINAS GERAIS, 2005; BRASIL,

1998, respectivamente). Quase a totalidade dos entrevistados, 24 sujeitos, entende que a

Capoeira deve ser conteúdo da educação física escolar; um relatou que a Capoeira não pode

ser conteúdo da educação física escolar devido à falta de materiais adequados para seu ensino.

São sete os professores que oferecem Capoeira em suas aulas de educação física

escolar; outros 18 professores não o fazem por falta de conhecimento e/ou experiência prática,

sendo que desses, seis relataram outros motivos, tais como: falta de instrumentos musicais e

habilidade para tocá-los; planejamento da escola; turmas lotadas; comportamento dos alunos;

insegurança; e questões religiosas, aliadas à pressão familiar e escolar.

A partir de agora, objetivaremos algumas discussões acerca da importância da

Capoeira na escola e, consequentemente, na formação social, cultural histórica e política dos

alunos.

Todos os professores relataram que conhecem a Capoeira – um pouco mais da

metade pela graduação em Educação Física e a maioria pelos grupos de Capoeira. No entanto,

menos da metade vivenciou na prática, ou seja, será que realmente conhecem? A partir desse

questionamento, é necessário pensar qual conhecimento adquirido sobre a Capoeira: como um

professor é capaz de utilizar um conhecimento, que seja ele mínimo, e através dele variar sua

prática pedagógica? Para conhecer o conteúdo Capoeira, é fundamental se ter uma relação

teórico-prática equilibrada, que essa possa ser uma possibilidade a mais para se modificar a

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prática do professor enquanto profissional. Caldeira e Zaidan (2010, p.03) destacam que,

“nessa perspectiva, a prática pedagógica é práxis, pois nela estão presentes a concepção e a

ação que buscam transformar a realidade, ou seja, há unidade entre teoria e prática”.

Em uma concepção decolonial, torna-se necessário ressignificar, descontruir a

ideia de que apenas o conhecimento provido de uma certa ‘elite’ é o que deve ser difundido

nos meios oficiais de ensino (MIGNOLO, 2008). Maldonado-Torres (2006) salienta que as

ciências sociais, naturais e populares devem ser repensadas na atualidade para que haja uma

mudança no seu caráter epistêmico, e que esse seja inovador e progressista, e que essa ideia

possa transcender esse modelo de ensino universitário atual.

Entretanto, se faz necessário que os Professores de Educação Física reconsiderem

sua práxis, de modo que possam aprender (e ensinar) com a cultura popular – de maneira

crítica e condizente com os sujeitos, conteúdos e contextos. Ter a Capoeira como conteúdo da

educação física escolar brasileira seria uma oportunidade fundamental para as instituições

oficiais de ensino se apropriarem de uma nova linguagem didática – uma pedagogia de matriz

afrobrasileira, conhecida como Pedagogia do Segredo (SODRÉ, 2005; PALHARES, 2017;

SOUZA, 2016; ENNES, 2016). Esse modo de compreender o mundo – um pensamento

decolonial – implica em ressignificar conceitos, métodos e relações pessoais, onde o conhecer

significa fazer, aprender implica praticar; os processos de aprendizagem e desenvolvimento

humanos se dão pela presentificação1 (SOUZA, 2016) e a educação e formação dos sujeitos

ocorrem pela qualidade do percurso e não pela objetividade de metas e resultados

quantificáveis.

No entanto, entendemos que, apesar do grande avanço das discussões e dos debates

públicos da questão racial negra no Brasil, em torno do resgate da ancestralidade

africana, da reparação, das ações afirmativas, etc., para a grande maioria dos

afrodescendentes no Brasil ainda está muito presente o mito da democracia racial,

que postula a miscigenação como uma ordem harmoniosa nas relações raciais

brasileiras e estabelece, silenciosamente, um padrão branco de identidade e a

necessidade de se ter referenciais eurocêntricos para o reconhecimento social e

cultural (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p.37).

Utilizando-se da Capoeira ou de outro conteúdo da educação física escolar, é

possível ressignificar a prática docente, criando assim a valorização das experiências, dos

professores e dos alunos. Rangel, Venâncio, Rodrigues, Neto e Darido (2011, p.43) salientam

que “devemos possibilitar as condições para que os alunos tenham uma formação crítica e

1 O termo presentificação remete à Capoeira enquanto linguagem corporal que “[...] engloba uma forma de ver,

de perceber e de expressar o mundo, de modo que, quem a pratica por anos consecutivos, vai gradativamente

incorporando e trazendo ao presente essa linguagem ancestral” (SOUZA, 2016, p.V - Resumo).

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autônoma. Para isso é necessário que fiquem cada vez mais independentes em relação ao

próprio professor”. Segundo Santos (2009, p.128):

As tentativas de definição da capoeira inflamam ainda mais sua capacidade de

transformação. Toda vez que tentamos conceituá-la percebemos que ela é mais do

que nossa capacidade de definição. Será que o desafio do entendimento da capoeira

é perceber que ela proclama a ludibriação? Ou seja, as tentativas de definir a

capoeiragem devem, necessariamente, englobar sua maneira particular de

transformar-se.

Todavia, faz-se necessário rever o formato da oferta da Capoeira nos cursos

superiores em Educação Física. Tal discussão pode ser referendada por outros resultados:

todos os professores relataram que conhecem a Capoeira e quase todos entendem sua

importância como conteúdo da educação física escolar. Daqueles 13 professores que disseram

conhecer a Capoeira das suas graduações, cerca de apenas 25% a oferecem em suas aulas.

Como esse conteúdo vem sendo abordado nos cursos de formação superior? Esse aprendizado

parece não subsidiar, para os egressos, possíveis intervenções na educação básica.

Um parâmetro que nos baliza é que não é necessário formar professores que

dominem as técnicas da capoeira e/ou tenham uma compreensão profunda da

mesma, até mesmo porque se trata de um curso de licenciatura em Educação Física e

não de capoeira. Logo, os docentes devem ter uma compreensão do papel social da

capoeira condizente e orientada para o campo de atuação em escolas. Isso não quer

dizer que seja um conhecimento inferior ou superior ao do mestre de capoeira.

Ambos são conhecimentos de ordem epistemológica e pedagógicas diferentes e que,

portanto, atendem a objetivos diferentes, mesmo ocorrendo dentro do mesmo lugar:

a escola (SANTOS, PALHARES, 2010, p.05).

No momento atual, onde diariamente presenciamos casos de intolerância entre

humanos, é inconcebível que os cursos de formação superior, sobretudo as Licenciaturas, não

contemplem em seus Projetos Político-Pedagógicos (PPP), disciplinas, projetos de extensão,

pesquisa e ensino, grupos de estudos, dentre outras ações, que abordem a Capoeira, bem como

a cultura africana e outros elementos da cultura afrobrasileira. Mesmo porque, ao se

formarem, os professores se depararão com Leis e outros documentos oficiais que regem sua

profissão, que concede o direito às crianças e adolescentes a ter acesso irrestrito a estes

conteúdos no espaço escolar:

[...] as temáticas que versam sobre grupos minoritários, principalmente os negros,

não se fazem presente no cotidiano das salas de aula, preponderantemente nas

instituições de ensino da Educação Básica. Esta situação nos remete a um problema

que é comum, e que surgiu em consequência da formação deficitária, quando não

inexistente, dos professores que atuam nesta modalidade de ensino (FERREIRA,

2009, p.228).

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Alguns professores relataram a falta de instrumentos musicais e habilidade para

tocá-los como os motivos que os impossibilitavam de oferecer a Capoeira nas escolas. Porém,

isso não é um empecilho, pois os instrumentos são essenciais aos grupos de Capoeira; os

professores devem criar estratégias para favorecer suas aulas, utilizando outros recursos

didáticos, tais como: músicas por mídias (CDs, telefones e internet); as palmas; sons extraídos

de partes do corpo (batida dos pés ou das mãos no tronco e nas pernas); uso de materiais

alternativos (caixas de papelão, baldes e latas como tambores).

Os instrumentos musicais que fazem parte da Capoeira podem ser conhecidos e

vivenciados nas aulas de Educação Física de uma maneira mais aprofundada do que

somente a execução de toques e música que fazem parte dessa manifestação. Assim,

cabe ao professor ampliar essa prática, indo ao encontro de novas possibilidades de

intervenções (IÓRIO; DARIDO, 2011, p.280).

Outra questão levantada foi sobre o planejamento escolar, onde cada instituição

tem autonomia para elaborar seu PPP balizado por documentos e Leis – Municipais, Estaduais

e Federais. Entretanto, a escola não deve se limitar apenas aos conteúdos citados nesses

documentos, mas abrir mão deles, que são requeridos como fundamentais, é negligenciar as

Leis. Para Silva e Venâncio (2005, p.54),

Outra grande inovação da LDB foi a grande liberdade e autonomia dada as escolas,

principalmente através do projeto pedagógico da escola que nada mais é do que um

documento que deve ser elaborado por toda comunidade escolar (direção,

professores, alunos e pais) no qual devem constar os objetivos da escola, suas

prioridades e ações, tendo em vista suas próprias características. Ou seja, a proposta

pedagógica é uma oportunidade dada às escolas de elegerem os aspectos que são

fundamentais ao seu desenvolvimento de acordo com sua realidade.

Nesse sentido, abrir mão da Capoeira no ambiente escolar é optar por uma postura

não profissional e, principalmente, por uma concepção restritiva e excludente de educação e

formação humana.

Outra questão, citada por um dos entrevistados é a restrição à Capoeira em suas

aulas por questões religiosas (aliadas à pressão familiar e escolar). Retomando o debate

anterior, mas o conteúdo não é regimentado por Leis e documentos oficiais? O ensino,

especialmente o público, não deve ser laico? Então devemos entender que a religião prega o

cidadão ir contra as Leis? E os grupos de Capoeira evangélicos, católicos, gospel...? Em

paralelo com as discussões apresentadas em Silva e Venâncio (2005), aqui podemos trazer um

questionamento: será que a comunidade escolar está reproduzindo no ambiente de formação

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uma cultura racista, discriminatória e intolerante? Cremos ser mais do interesse e capacidade

profissional do professor argumentar com a direção escolar, realizar reuniões com os pais e

apresentar a importância da Capoeira na formação social e cultural dos alunos.

De acordo com Rigoni e Daolio (2014), dentre todos os conteúdos que

compreendem a educação física escolar, a Capoeira é o que mais gera constrangimento nos

alunos evangélicos. Para essas igrejas, a Capoeira é uma prática corporal absolutamente

relacionada às religiões afrobrasileiras. Nesse sentido, torna-se necessário no ambiente escolar

fazer uma discussão sobre autonomia e liberdade, em que ambas devem ser conquistadas por

cada sujeito em sua formação social; mas não é o que acontece, pois crianças e jovens são

obrigadas a seguir premissas de cunho social e histórico.

Sabemos que diferentes concepções de sociedade e educação são orientadas por

projetos históricos distintos. É o projeto histórico que determina o tipo e qualidade

das interações entre os fenômenos educativos e os processos sociais desenvolvidos

na sociedade em geral. Por isso, não somos indiferentes a realidade que cada dia se

mostra mais assustadora, fruto de um projeto histórico capitalista, expansionista,

destrutivo e, no limite, incontrolável, cuja estruturação, hierárquica, e contraditória,

dificulta e, por vezes, inviabiliza os movimentos de contraposição (FALCÃO, 2004,

p.111).

Nesse sentido, permanecem algumas reflexões sobre as seguintes questões: será

que a Educação Física tem oferecido possibilidades de reflexão e de ressignificação do corpo

a partir dos conhecimentos produzidos e experimentados na escola? A Educação Física tem

sido capaz de construir um saber capaz de contrapor e dialogar com o saber oriundo do campo

religioso?

Como uma arte negra, desenvolvida nos segmentos excluídos da cultura estética

minoritária dominante, a Capoeira não se coloca como adversária da cultura

burguesa, ela se coloca ao lado, como uma forma diferente, como alternativa de

fazer arte e de viver a vida com arte, diversão e alegria, mesmo nas adversidades.

Assim procedendo, atua também para mudar a cultura vigente, na medida em que

vai exercendo sua influência sobre os indivíduos que a praticam, sobre as outras

formas de arte e sobre o próprio caráter nacional (SOUZA, 2016, p.144).

O Professor de Educação Física deve garantir a experiência dos alunos nas

práticas corporais que compõem os conteúdos da educação física escolar. Dessa forma, ele

deve mediar a construção da relação que o aluno cria com as práticas corporais, e o saber que

o aluno adquiriu oriundo do campo religioso. Somente dessa maneira o professor terá a

chance de dialogar com o conhecimento sobre o corpo que os alunos trazem de outras

instituições.

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Se, por um lado, isto pode ser considerado um problema, pois os professores de EF

enfrentam dificuldades ao tentarem envolver alunos evangélicos em suas aulas, por

outro lado isto pode demonstrar o importante papel da escola como instituição

formadora (RIGONI; DAOLIO. 2016. p.370).

A insegurança foi citada em algumas entrevistas, devido a alguns professores não

dominarem o conteúdo Capoeira, e por isso não o oferecer em suas aulas. Será que para

ensinar algo na Educação Física é preciso ter domínio dos conteúdos? Trazemos aqui o

questionamento do mito social do ‘professor atleta’, aquele que sabe bem executar as técnicas

de diversas modalidades. Cabe lembrar que o ambiente universitário não promove a

excelência esportiva, mesmo porque não é um clube ou academia de rendimento. Sendo

assim, não precisa que o professor execute os golpes e as esquivas da Capoeira igual a um

Mestre.

Devido a seu caráter polissêmico, talvez trabalhar com a Capoeira na escola não

seja tarefa fácil. Penha (2009) enfatiza que devido às diferentes possibilidades de se abordar o

conteúdo Capoeira, o professor deve usar isso a seu favor, criando diferentes maneiras de

problematizá-la e tematizá-la e assim criar formas que os alunos possam entender seus

significados e particularidades.

O comportamento dos alunos também foi citado como motivo para o professor

não trabalhar com a Capoeira. Mas será esse um problema inerente à Capoeira (ou

potencializado por ela)? Ou a questão comportamental alcança uma amplitude e

complexidade social para além de um conteúdo ou disciplina escolar? Considerando-se o

comportamento dos alunos em dois aspectos, agressividade e dispersão, necessitamos refletir,

pois essas questões são recorrentes no cotidiano escolar e social e, portanto, na educação

física não seria diferente. A dispersão pode ser ocasionada por uma série de fatores, tais como

didática e modo de socializar do docente; a postura e códigos de conduta adotados por toda a

comunidade escolar; o histórico, afetivo e educacional, familiar dos alunos. Tradicionalmente,

a dispersão sempre foi uma questão levantada nas comunidades escolares e vai muito além da

responsabilização de um conteúdo, disciplina ou sujeito. Quanto à agressividade, ela vem se

tornando um problema social grave em nosso país e que há muito tempo vem se refletindo

dentro das escolas. Isso pode ocorrer também nas aulas de Educação Física, pois muitas vezes

há um contato corporal mais próximo entre os alunos. Rotular um determinado conteúdo pode

incitar a violência é um equívoco, pois essa é uma característica intencional humana, portanto,

construída historicamente e culturalmente. A Capoeira, como qualquer outro conteúdo, não

deve ser julgada como influenciadora no comportamento dos alunos! Os conteúdos devem ser

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abordados de maneira adequada – contextualizada, reflexivamente e, portanto, com cunho

educativo – nas aulas de educação física escolar a fim de problematizar e colaborar para que

os alunos entendam que no meio social e em relações interpessoais é fundamental que haja

respeito e compreensão, e que os conflitos, tensões e discordâncias são benéficos e

necessários para o bem comum.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente estudo foi verificar se a Capoeira vem ou não sendo

trabalhada como conteúdo programático das aulas de educação física escolar. A partir da

pesquisa realizada, confirmamos nossa hipótese de que, em geral, a Capoeira não está sendo

abordada pela Educação Física nas escolas diamantinenses. Baseados em nossas reflexões ao

longo do texto, avaliamos que educadores devem fazer com que esse tema dialogue de

maneira efetiva com a Educação e, em particular com a Educação Física, consolidando a

Capoeira nas escolas, a fim de afirmar um compromisso pedagógico, histórico e cultural com

as futuras gerações.

Tendo em vista essa perspectiva de ressignificação e implementação da Capoeira

na educação física escolar, torna-se fundamental repensar a forma de trabalhar o currículo

escolar, em uma concepção decolonial (MIGNOLO, 2008; SODRÉ, 2005) – que se propõe a

trabalhar com diferentes elementos culturais presentes nas mais diversas experiências sociais

dos sujeitos, incluindo aquelas silenciadas e oprimidas. Os professores de Educação Física

devem estar cientes de sua missão enquanto educadores, mas que existem documentos e Leis

para dar suporte à sua experiência docente; com isso, coletivamente, toda comunidade escolar

deve elaborar propostas curriculares com conteúdos de relevância social na formação dos

sujeitos ali inseridos.

Particularizando as questões norteadoras desse estudo, quanto à formação superior

dos professores de Educação Física aqui questionados, nota-se que a graduação em Educação

Física – Licenciatura possibilitou o conhecimento sobre a Capoeira, porém com uma relação

teoria-prática desequilibrada. O que eles aprenderam na graduação foi suficiente para

detectarem a importância da Capoeira na educação física escolar, porém eles apontam uma

não condição para executá-la. Assim, sugerimos duas propostas que poderiam avançar em

paralelo. Uma se remete às instituições de ensino superior em Educação Física, que podem

ampliar o acesso ao conteúdo Capoeira por meio da oferta de disciplina acadêmica

(obrigatória e/ou optativa), projeto de extensão, grupo de estudos e de produção de

conhecimentos. A outra sugestão passa pela importância de um intercâmbio entre as escolas

e/ou professores de Educação Física com os grupos e/ou Mestres de Capoeira. Seria ideal que

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professores buscassem formas de se inserirem no pluriverso2 da Capoeira para ampliar suas

experiências, possibilitando o contato com um modelo pedagógico de ensino onde se aprende

fazendo sem descontextualizar toda história da capoeiragem (PALHARES, 2017; ENNES,

2016; SOUZA, 2016).

Por fim, os professores de Educação Física são os principais responsáveis por sua

capacitação e atuação, profissional e pedagógica; portanto, necessitam inovar sua práxis

buscando diferentes formas de se trabalhar com a Capoeira (bem como outros conteúdos

menos convencionais e/ou que não foram abordados em suas graduações). Entendemos que o

caminho mais humanizado para uma educação de qualidade – decolonial e complexa – seria

criar formas e saberes interligando conhecimentos acadêmicos com a cultura popular, pois

segundo Freire (1992, p.27), “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as

possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

2 Pluriverso pode ser entendido como a multiplicidade de fatos históricos que coexistem de maneira complexa e

decolonial (MIGNOLO, 2010; PALHARES, 2017).

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APÊNDICE

Apêndice A - Questionário para a categoria ‘professores’.

Questão 1 - Você conhece a capoeira?

( ) SIM

( ) NÃO

Questão 2 - Conhece de onde?

( ) GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

( ) GRUPO FOLCLÓRICO

( ) GRUPO DE CAPOEIRA

( ) OUTROS:

Questão 3 - Conhece como?

( ) DE PRATICAR

( ) DE VER/ASSISTIR

( ) DE OUVIR FALAR/COMENTÁRIOS

( ) OUTROS:

Questão 4 - Você entende que a capoeira possa ser conteúdo da educação física escolar?

( ) SIM. Por que?

( ) NÃO. Por que?

Questão 5 - você oferece capoeira em suas aulas de educação física escolar?

( ) SIM

( ) NÃO. Por que? ( ) FALTA DE CONHECIMENTO ( ) FALTA DE EXPERIÊNCIA ( ) FALTA DE CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIA ( ) OUTROS:

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ANEXO

Anexo A- Aprovação do Comité de Ética em Pesquisa

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AUTORIZAÇÃO

Autorizo a reprodução e/ou divulgação total ou parcial do presente trabalho, por qualquer

meio convencional ou eletrônico, desde que citada a fonte.

_________________________________

Neimar de Jesus Costa

[email protected]

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

Campus JK – Diamantina/MG

Rodovia MGT 367 - Km 583, nº 5000- Alto da Jacuba -CEP 39100-000