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25) GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS E GESTÃO INTEGRADA DE
RESÍDUOS SÓLIDOS.
Desde o final dos anos de 1980, iniciou-se um processo geral de mudanças
institucionais, repercutindo em vários setores econômicos, nos serviços
públicos concedidos e nos diferentes níveis da Federação. Essas
transformações comportam, entre outras características, a emergência de um
novo “modelo” de gestão ambiental, e dos recursos hídricos em particular.
Sinteticamente, podemos considerar que esse “modelo” está criando
importantes pressões na agenda jurídico-administrativa e exigindo um
reposicionamento das diversas organizações4 envolvidas na gestão dos
recursos hídricos, bem como uma adaptação de suas respectivas práticas.
Observa-se, em decorrência das mudanças institucionais, um duplo
movimento: de um lado, o Estado concentra-se nas atividades de regulação da
exploração dos recursos e dos serviços concedidos para garantir um
“ambiente” competitivo; do outro, verifica-se a reestruturação das várias
organizações, públicas e privadas, que assumem novos objetivos e estratégias
como respostas aos ajustes do novo ambiente regulatório. Não se trata, de
modo algum, de uma adaptação natural, mas, ao contrário, de um processo
constante de ajustes que interferem na própria institucionalidade. Em outros
termos, não há uma adaptação passiva por parte das organizações aos
mecanismos de regulação, há, nesse caso, uma ação organizada que permite
a aproximação entre concorrência e restrição, autonomia dos agentes e
interdependência estratégica (Crozier e Friedberg. 1977; Friedberg, 1997) face
às mudanças institucionais.
É possível, assim, observar, a partir desse ponto de vista, que a criação de
uma nova institucionalidade transforma situações tidas como estáveis em
situações de incerteza. Nesse contexto, todo o tipo de organização tenta
reduzir o grau de incerteza de modo a assegurar a continuidade de suas
atividades, pressupondo, portanto, práticas e estratégias que acabam por
interferir no ambiente institucional. Não é, pois, difícil supor que essa operação
se faça com conflitos, resistências impondo um processo de negociação. Cabe
Lembrar que não se trata exclusivamente da reformulação de regras e normas
que estruturam a interação entre os agentes, mas igualmente dos instrumentos
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que lhe dão suporte. No que diz respeito à gestão dos recursos hídricos, essa
situação é particularmente sensível. Disputas em torno da outorga, cobrança
pelo uso da água, uso compartilhado do recurso, preservação das fontes são
algumas das questões às quais as organizações estão confrontadas.
Essas considerações suscitam a indagação sobre a possibilidade de
estabelecer, no processo de gestão ambiental - esta última compreendida
como campo estruturado por práticas e estratégias dos diferentes agentes
(Pires do Rio e Galvão, 1996), instrumentos que permitam desvelar os
interesses dos agentes. Admite-se uma resposta afirmativa e propõe-se um
conjunto de procedimentos que possam auxiliar os comitês de bacia a
confrontar diagnósticos e assumir um papel ativo no processo de gestão.
Considera-se que o plano de bacia não constitui em si uma meta a ser
alcançada, ao contrário, trata-se de um instrumento para orientar
investimentos; e como tal, requer princípios metodológicos que possam balizar
sua coordenação.
1. A natureza das mudanças na gestão dos recursos hídricos
Em trabalhos anteriores (Pires do Rio e Peixoto, 2001, Pires do Rio, Peixoto e
Moura, 2001 e 2002; Pires do Rio e Egler, 2003) discutiu-se as alterações no
modelo de regulação dos recursos hídricos e a emergência de novas
institucionalidades no Brasil. Nesses trabalhos, salientou-se o contexto dessas
mudanças, a articulação com o novo papel do Estado e, de modo particular, as
questões sobre a gestão deste recurso a partir da aprovação da Política
Nacional de Recursos Hídricos. Sobre este último ponto, algumas
especificidades referentes ao arranjo institucional e às organizações dele
decorrentes foram consideradas relevantes. A primeira delas reside no fato de
que a Agência Nacional de Águas (ANA) não possui a atribuição de regular a
prestação dos serviços, como ocorre nos casos da telefonia, energia elétrica ou
transporte. Esse é um elemento fundamental para o entendimento da natureza
das ações do ente regulador, uma vez que a regulação e fiscalização dos
serviços de abastecimento e saneamento é atribuição de órgãos estaduais e
municipais. Dessa forma, a ANA tem por atribuição fundamental regular o uso
compartilhado dos recursos hídricos, por meio das diretrizes delineadas na
PNRH. Em outros termos, compete à ANA supervisionar, controlar e avaliar as
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ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal, além de
disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o
controle e a avaliação dos instrumentos da PNRH no território nacional. Suas
principais ações de fiscalização dos usos dos recursos hídricos ocorrem,
portanto, apenas em corpos de água de domínio da União, bem como a
outorga de direito de uso dos mesmos recursos e a arrecadação, distribuição e
aplicação das receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo seu uso
(Pires do Rio e Moura, 2003).
A segunda especificidade no modelo de gestão dos recursos hídricos
relaciona-se à imposição de um recorte espacial específico para as atividades
de gestão e, conseqüentemente, definição das regras que regulam o uso do
recurso. Assim, na própria PNRH definiu-se que bacia hidrográfica constitui a
unidade para implantação de sua gestão. Ao institucionalizar a bacia de
drenagem, a PNRH “criou uma nova arena para diversificadas alianças
intervenientes na gestão territorial e ambiental das quais os recursos hídricos
fazem parte” (Pires do Rio e Peixoto, 2001). Dito de outro modo, a bacia
hidrográfica perde seu conteúdo de substrato natural para assumir importância
como entidade na qual se manifestam os conflitos e torna-se, portanto,
construção política (Pires do Rio e Moura, 2003).
Cabe, nesse ponto, ampliar a argumentação sobre a escolha dessa unidade
natural para fins de gestão. A bacia hidrográfica não comporta, pois, a
naturalidade sob a qual nos é apresentada. Sua função é, assim, “distorcida”,
isto é, de área elementar para compreensão dos processos de drenagem
torna-se espaço institucional caracterizado pela existência de uma organização
cuja ação tem implicações econômicas e políticas. O espaço institucional é
aberto, evolutivo e não pode ser delimitado em termos de linhas naturais, tal
como pressupõe a bacia hidrográfica e como alguns autores a têm
considerado.
O modelo francês, no qual a PNRH se inspira e que baseia-se na construção
de um sistema nacional no qual as ações e os instrumentos de regulação são
concebidos para serem aplicados em bacias hidrográficas, revela que a adoção
de tal unidade como base para a implantação de organizações que compõem o
arranjo institucional para a gestão dos recursos hídricos, como por exemplo as
Agências de Água, não pode ser compreendida como um simples acaso. Em
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sua origem, as bacias hidrográficas e as agências de água guardam estreita
relação com a constituição de monopólios regionais explorados por grandes
companhias de água e saneamento e uma disputa pelo controle das bacias
com maior densidade de usuários de grande porte (Barraqué, 2000).
Um exame cuidadoso, na bibliografia relacionada ao modelo nacional de
gestão de águas, revela uma tendência em se considerar a bacia hidrográfica
como um elemento facilitador da articulação entre agentes e, também, capaz
de induzir a amenização ou, ainda, a resolução dos conflitos. Ver exemplo em,
Salati et al. (1999).
Além disso, o PNRH definiu também que a água é um bem público, podendo
ser de domínio da União ou dos Estados. Notou-se, igualmente, uma tendência
à descentralização, empreendida pela necessidade de criação de instrumentos
e organizações nos níveis estaduais para estabelecerem o conjunto de regras
sobre os corpos d’água de domínio estadual. Em síntese, o arranjo institucional
proposto pelo Sistema Nacional de Recursos Hídricos busca traduzir um
sistema estruturado que inclui a criação de espaços participativos na forma de
Comitês de Bacias.
Instâncias Atribuições Atores Envolvidos Escala de Atuação
Articular o planejamento dos recursos hídricos, arbitrar conflitos.
Representantes dos níveis federal e estadual, usuários e organizações civis
com atuação no gerenciamento ou no uso dos recursos hídricos.
Nacional
Organizar, implantar e gerir o SNRH, definir e fiscalizar condições de operação
de reservatórios, garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos
(órgão técnico) Nacional
Prestar apoio técnico, administrativo e financeiro ao CNRH, coordenar a
elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos.
(órgão técnico) Nacional
Conselhos Estaduais
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Promover debate sobre recursos hídricos, arbitrar conflitos, estabelecer
cobrança pelo uso do recurso.
Entidades públicas e privadas, correspondentes às do CNRH e representantes
municipais Estadual
Comitês de Bacias
Discutir sobre o uso múltiplo da água, outorga e cobrança do uso,
enquadramento dos corpos d’água, desenvolver ações para melhoria ambiental
Representantes dos níveis federal, estadual e municipal, usuários e
organizações civis cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas
áreas de atuação Estadual.
Agências de Águas∗ Cobrar pelo uso dos recursos, gerir os recursos oriundos desta cobrança,
constituindo, de fato, secretarias executivas dos Comitês.
(órgão técnico) Regional/ Local
Consórcios Intermunicipais
Implantar políticas públicas para a gestão dos recursos hídricos
Prefeituras, Associações de Usuários, órgãos de pesquisa e estudo.
Regional/ Local∗ Instâncias inexistentes antes da Lei 9433/97. Fonte: Modificado de ANEEL,
1999; Pires do Rio e Peixoto, 2001.
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), a Agência Nacional de
Águas (ANA) e as Agências de Água constituem as principais inovações desse
sistema. No que diz respeito às atribuições de cada instância, observa-se a
separação das atividades executivas das atividades de planejamento. Ponto
importante, na medida em que a proposta de uma gestão, tal como a
compreendemos, pressupõe a aproximação dessas duas atividades.
Integrando este sistema na qualidade de autarquia, a ANA, aprovada em junho
de 2000, atua em todo o território nacional e funciona de modo relativamente
independente ao CNRH. Tal fato constitui um elemento que conduzirá a um
processo inverso, de centralização, apoiado na figura da dominialidade da
União para cursos d’água interestaduais.
As principais funções de um Comitê são: racionalizar o uso, a quantidade de
água disponível para cada categoria de consumidor, financiar projetos de
saneamento, de educação ambiental, e apoiar e prestar assistência aos
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municípios integrantes de uma mesma bacia no que tange à gestão dos
recursos hídricos. Além disso, constitui o fórum de negociação para solucionar
os conflitos entre usuários de uma mesma bacia. Evidencia-se, desse modo, a
ampliação do quadro da gestão que inclui interações entre um leque variado de
agentes.
Chama atenção ainda o sistema nacional incorporar instâncias como os
consórcios de municípios. Como figura jurídica, os consórcios são constituídos,
de um modo geral, em torno de um problema específico, comum aos
municípios participantes. Vários exemplos podem ser mencionados para
ilustrar a formação desses consórcios. Essa estrutura consiste em uma forma
de cooperação e associação entre entes federativos do mesmo nível de
governo, através de uma organização operacional, sem caráter deliberativo,
com objetivos voltados para a solução de problemas comuns, de modo a
racionalizar os custos para os municípios participantes que, a priori, dividem
igualmente a responsabilidade pela implantação e operação do consórcio
(Fontes, 2001). À diferença dos comitês de bacias, os consórcios de municípios
não constituem esferas de decisão supra municipais.
Não obstante a característica assinalada há, no que diz respeito às bacias
hidrográficas, a transformação de consórcios em outras formas de organização
que, no entanto, permanecem com a denominação de consórcio. Este é o
caso, por exemplo do Consórcio Intermunicipal para Recuperação Ambiental
das Bacias dos rios Santa Maria.
Há, no estado do Rio de Janeiro, dois consórcios intermunicipais, na região dos
Lagos, formados em todo de questões referentes aos serviços de água e
esgoto. Um deles é constituído pelos municípios de Araruama, Saquarema e
Silva Jardim que concederam, de forma conjunta, os serviços mencionados à
concessionária privada Águas de Jurtunaíba; o outro, formado por Arraial do
Cabo (somente serviços de abastecimento de água), Búzios, Cabo Frio, Iguaba
e São Pedro da Aldeia transferiram os serviços à Prolagos. Nestes exemplos,
os municípios uniram-se não para prestar o serviço diretamente, mas para
facilitar o processo de concessão. (Pires do Rio e Sales, 2003).
Vitória e Jucu, Espírito Santo, criado em 1991. Além do governo estadual que
passa a atuar através da Secretaria de Meio Ambiente, agentes como a
Companhia Espírito Santense de Saneamento (CESAN) e da Companhia
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Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. (Escelsa), foram incluídas empresas do
porte da CVRD e da Companhia Siderúrgica de Tubarão (Rangel et al s/data).
Nesse caso, a incorporação do governo do estado em 1994 sinaliza, no nosso
entender, uma ampliação do âmbito das decisões a serem tomadas. Observa-
se neste exemplo a inclusão de representantes de níveis hierárquicos
diferentes, bem como agentes econômicos que têm uma lógica de atuação
bastante distinta daquela dos municípios. Essa mudança não se reduz à uma
formalidade, ao contrário, ela é substantiva.
Por fim, esse novo sistema de gestão dos recursos hídricos, consubstanciado
na lei 9433, insere uma nova escala de gestão, porém, não perde o aspecto
setorial enraizado nas políticas, planos e programas. A contradição reside no
fato de que a regulação como coordenação, estabilidade para as relações
sociais, vem sendo continuamente reduzida à regulação econômica (preço e
volume) e, por conseguinte, compreendida como restrição pela maior parte dos
agentes. É nessa escala, no entanto, que se configuram os padrões de controle
sobre o recurso hídrico bem como as coalisões entre agentes. Dito de outro
modo, o que está em disputa é o modo como os elementos são transformados
em recursos, o que implica na definição dos mecanismos de apropriação e de
acesso.
Os planos de gestão de bacias
A Lei 9.433/97 em seu Art. 7º define os planos de gestão de bacias como
"Planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o
período de implantação de seus programas e projetos". Essa definição implica
em seletividade e simultaneidade. Ao estabelecer um horizonte de longo prazo
impõe-se a seleção do que é hoje prioritário e que deve estar presente em
vários lugares no futuro. Esse procedimento consiste em reduzir as
indeterminações do futuro a partir de uma ideia do presente. Este ponto é
importante na medida em que tais planos buscam na descentralização e
participação da sociedade civil uma legitimidade para as ações que irão
estruturar o futuro.
Essa discussão foge aos objetivos deste trabalho. Lembra-se apenas que a
regulação econômica é em geral apontada como limitação à liberdade de
atuação dos agentes econômicos.
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Função das diretrizes estabelecidas; f) critérios para cobrança pelo uso; g)
definição de áreas de proteção. Verifica-se, assim, que, na forma da lei, os
planos permanecem no campo de uma ação externa à dinâmica social, mesmo
considerando a possibilidade de participação das comunidades em dois
momentos: no levantamento de informações e na apresentação do plano para
discussão.
As etapas e as atividades correspondentes para a elaboração dos planos de
recursos hídricos (Quadro 2) foram regulamentadas pela Resolução nº 17
(maio de 2001) do CNRH. Nesse sentido, conforme enunciado no artigo 8º, os
planos devem ser constituídos por diagnósticos e prognósticos, nos quais
devem ser observados itens como a avaliação quantitativa e qualitativa da
disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica, de forma a subsidiar o
gerenciamento dos recursos hídricos, em especial o enquadramento dos
corpos de água, as prioridades para outorga de direito de uso e a definição de
diretrizes e critérios para a cobrança.
Além disso, na etapa do diagnóstico e prognóstico, os planos devem conter
avaliações do quadro atual e potencial de demanda hídrica da bacia, em
função da análise das necessidades relativas aos diferentes usos setoriais e
das perspectivas de evolução dessas demandas, estimadas com base na
análise das políticas, planos ou intenções setoriais de uso, controle,
conservação e proteção dos recursos hídricos.
Finalizando essa etapa, o plano deve possuir em seu corpo, a avaliação
ambiental e sócio-econômica da bacia, identificando e integrando os elementos
básicos que permitirão a compreensão da estrutura de organização da
sociedade e a identificação dos atores e segmentos setoriais estratégicos, os
quais deverão ser envolvidos no processo de mobilização social para a
elaboração do Plano e na gestão dos recursos hídricos.
A elaboração de alternativas de compatibilização é um aspecto implícito no
quadro, mas que é definido de maneira explícita pela Resolução nº 17, como
conteúdo mínimo do plano, devendo considerar os seguintes aspectos:
prioridades de uso dos recursos hídricos; disponibilidades e demandas hídricas
da bacia, associando alternativas de intervenção e de mitigação dos
problemas, de forma a serem estabelecidos os possíveis cenários; e
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alternativas técnicas e institucionais para articulação dos interesses internos
com os externos à bacia, visando minimizar possíveis conflitos de interesse.
Avaliação dos recursos hídricos
Levantamento e análise de séries fluviométricas e balanço hídrico.
Definição de metas Estabelecimento de metas para o gerenciamento de
recursos hídricos.
Implementação de ações Programas, projetos e estudos para realização de
investimentos voltados para o gerenciamento da água na bacia.
Grupos de gestão Acompanhamento dos planos, avaliação de relatórios,
organização das audiências públicas.
No estabelecimento das metas, estratégias, programas e projetos, deverá ser
incorporado o elenco de ações necessárias à sua implementação, visando
minimizar os problemas relacionados aos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, otimizando o seu uso múltiplo e integrado, compreendendo os
seguintes tópicos: a identificação de prioridades das ações, possíveis órgãos
ou entidades executoras ou intervenientes, avaliação de custos, fontes de
recursos e estabelecimento de prazos de execução; propostas para adequação
e/ou estruturação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos da
bacia; um programa para a implementação dos instrumentos de gestão
previstos na Lei nº 9.433, de 1997. No caso do último item, devem ser
considerados os limites e critérios de outorga para os usos dos recursos
hídricos, as diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso da água, a proposta
de enquadramento dos corpos d'água, a sistemática de implementação do
Sistema de Informações da bacia e ações de educação ambiental consoantes
com a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecida pela Lei nº
9.795, de 27 de abril de 1999.
A participação da sociedade nas etapas de elaboração do Plano dar-se-á por
meio de consultas públicas, encontros técnicos e oficinas de trabalho, de modo
a possibilitar a discussão de alternativas, fortalecendo a interação entre a
equipe técnica, usuários de água, órgãos de governo e sociedade civil, de
forma a incorporar contribuições ao Plano. Nota-se, mais uma vez, que o
caráter técnico impõe-se aos mecanismos de participação da sociedade civil.
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Além disso, o papel desta na elaboração do plano restringe-se, conforme a
ideia anterior explicita, à atuação secundária.
Há ainda que se considerar o fato de que, apesar da composição dos comitês
objetivarem maior equilíbrio e simetria entre os agentes na gestão da água, o
peso político e econômico de alguns deles reforça a assimetria e,
conseqüentemente, viabiliza alianças que intervêm na orientação dos
investimentos que são objeto do plano. Conforme veremos adiante, os agentes
estão em permanente interação, o que confere ao processo de gestão um
caráter dinâmico, político e menos técnico do que se pensa ter.
O questionamento aqui reside na legitimidade de alguns agentes e do próprio
comitê em conduzir a elaboração dos planos. Isso decorre do fato de que os
planos devem ser elaborados pelas Agências de Bacia, órgãos técnicos
vinculados aos comitês, cabendo a estes a supervisão e aprovação dos
mesmos. Por fim, outro ponto destacável é o estágio atual de elaboração dos
planos de recursos hídricos no Brasil. A maioria das bacias hidrográficas de
domínio da União não possui planos. A exceção se faz para bacias que têm
funcionado como experiências-piloto, como as dos rios Paraíba do Sul e São
Francisco, na implementação dos instrumentos da PNRH. Nestas bacias,
entretanto, observa-se que os planos ainda estão sendo discutidos de forma
bastante preliminar e privilegiando aspectos técnicos.
Algumas questões metodológicas
A preocupação operacional com a realização de planos de bacia é
considerada, pelos diferentes agentes públicos, como necessidade cada vez
mais premente em virtude dos sucessivos problemas de contaminação e de
escassez relativa de recursos hídricos: trata-se, nesse caso, da utilização de
um instrumento que tenta principalmente orientar investimentos como
respostas para uma decisão tomada a priori. Se concebemos a gestão como
processo, as respostas às situações emergenciais, de riscos ou de conflitos
pressupõem uma análise continuada da ação das organizações mais
diretamente envolvidas nos usos dos recursos.
Uma situação emergencial é caracterizada pela ocorrência de um evento não
previsível. As inundações são em geral assim classificadas, possuindo,
portanto, uma localização precisa. As situações de risco (ou a maneira como
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são percebidas) não possuem necessariamente uma localização precisa. A
definição de uma situação de risco comporta disputas científicas sobre causas
e efeitos sinérgicos entre um número considerável de variáveis. Envolve,
portanto, disponibilidade de informação e a elaboração de projeções. Os
conflitos existem independentemente das situações anteriores e podem
assumir maior expressividade quando o quadro é agravado pela ocorrência de
eventos de grande magnitude ou quando ações voluntárias ou involuntárias
interferem na quantidade, na qualidade ou na estabilidade de modo de acesso
ao recurso.
A delimitação do problema e sua localização
Na elaboração do diagnóstico do estado atual dos recursos hídricos a proposta
inicia-se com a delimitação do problema e sua localização. Esse ponto de
partida, nos parece, é diferente das análises do tipo ADR (alternative dispute
resolution) típicas da década de 1980 que, por sua vez, apresentavam-se como
alternativas ao modelo decide informa-justifica (Priscoli, 1999). Iniciar pela
delimitação do problema implica em considerar a existência de conflitos
anteriores a qualquer tentativa de implementação de um plano de bacia.
Partir da delimitação do problema implica considerar que um plano de bacia
será concebido numa relação espaço-tempo. Cabe lembrar que nesse ponto há
um deslocamento de ordem metodológica. Quando nos referimos aos conflitos
opera-se um deslocamento da análise para um contexto distinto daquele
proposto pela lei. Como foi anteriormente assinalado, os planos de bacia
partem do diagnóstico a partir de temas isolados tentando estabelecer uma
interação “homem-natureza”. Identificar os conflitos significa partir das
interações sociais ou, dito de um modo mais direto, deslocar a análise para um
contexto de interações entre organizações. Em decorrência desse
deslocamento evidenciam-se as características de ordem estrutural: o acesso
aos recursos. No caso particular do acesso à água potável, por exemplo, as
desigualdades segundo o nível de renda da população constituem um
problema de natureza estrutural, que necessita, entretanto, assumir maior
representatividade nos diagnósticos e planos de bacia. Além disso, os conflitos
de uso estão intrinsecamente ligados aos investimentos anteriores que
comandaram a apropriação do recurso.
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Nesse sentido, alguns pontos precisam ser mapeados: a) delimitação, em
escala compatível, dos problemas ou conflitos de uso dos recursos hídricos
compartilhados; b) delimitação de abrangência espacial de manifestação do
problema/conflito (toda a bacia; apenas numa porção da bacia; em uma sub-
bacia, etc); c) caracterizar as áreas de ocorrência segundo sua localização:
zonas limítrofes, alto, médio, baixo curso; d) caracterizar as áreas de
ocorrência segundo a densidade de ocupação e o uso do solo; e) identificar e
mapear os tipos de usos dos recursos hídricos.
Natureza do Conflito
Tipo de Uso Áreas de Maior Vulnerabilidade irrigação versus energia elétrica
médio curso irrigação versus abastecimento urbano contato rural-urbana
industrial versus abastecimento urbano zonas densamente ocupadas
Quantitativa energia elétrica versus transporte médio e baixo cursos mineração
versus abastecimento urbano zonas de contato mineração versus pesca zonas
de contato indústria versus abastecimento urbano zonas densamente
ocupadas.
Qualitativa agricultura versus abastecimento urbano zonas de contato Fonte :
Adaptado de Pires do Rio e Moura, 2003
Em que pese o grau de generalidade que o quadro acima apresenta, é possível
observar que o cruzamento das informações requer um raciocínio geográfico.
Os conflitos entre irrigação e energia elétrica que ocorrem, por exemplo no
médio São Francisco, explicam-se pelo fato das áreas irrigadas estarem a
montante da geração de energia elétrica, pois o volume de água desviado para
a irrigação diminui substancialmente, em períodos de seca, a capacidade de
geração das usinas hidroelétricas situadas a jusante.
Quando identificamos zonas de contato, é necessário ter claro que os
problemas não se limitam a esta área. Utiliza-se zona de contato para chamar
a atenção para os conflitos sujeitos aos efeitos de proximidade. É evidente que
acidentes como aquele que aconteceu na bacia do Rio Pomba-Muriaé têm
conseqüências muito além do entorno do local de lançamento de efluentes com
elevado potencial de contaminação. Esse ponto é fundamental, pois isso exige
o levantamento de informações e de articulação para a adoção de medidas
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tanto preventivas quanto contingenciais cujo raio de abrangência é
extremamente variável.
Explícitas ou não, as disputas pelo acesso aos recursos hídricos envolvem
valores e projeções de interesse público distintos. Enquanto os modelos do tipo
decide-informa justifica e ADR pressupõem a assistência neutra de quem
decide, informa e possui uma projeção do futuro, a elaboração de planos de
gestão traz, em sua essência, a negociação como base para redução dos
custos da gestão. Nesse sentido, é forçoso reconhecer uma tensão entre o
técnico e o político. Le Moigne e Ténière (1998) chamam a atenção para a
sociedade não-técnica como aquela que se distingue pela capacidade de
resolução política (relação de forças e negociação) e econômica (distribuição
de responsabilidades e identificação de prioridades), indicando, por esta via, a
transferência para o campo político das modalidades de utilização do recurso, a
quantidade destinada aos diferentes usos e os critérios de qualidade. Esse
pressuposto requer, no processo de tomada de decisão, a delimitação clara do
problema.
Identificação das Organizações e suas estratégias
Os conflitos não existem sem sujeitos. Nesse sentido, todos os conflitos
decorrem da ação das organizações e, portanto, a gestão dos recursos hídricos
implica no processo de negociação entre as distintas formas de organização.
Os conflitos ocorrem por suas estratégias e práticas e mesmo que não tenham
objetivos claramente definidos, sua ação contém sentido específico (Crozier e
Friedberg. 1977; Friedberg, 1997). Os traços que diferenciam as organizações
podem ser resumidos do seguinte modo: a) lógica de atuação; b) estrutura
organizacional; c) comprometimento com o ambiente; d) redes formais e
informais de comunicação.
Na gestão dos recursos hídricos o conjunto de organizações envolvidas é
extremamente variável de lugar para lugar. Planos e projetos de grande vulto
podem exercer efeitos mobilizadores entre organizações com objetivos
distintos. Uma identificação tem, portanto, a função de relacionar a natureza do
conflito à ação das organizações que estarão, pelo menos no curto prazo,
mobilizadas por disputas. Nesse sentido, considera-se que os principais pontos
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a serem evidenciados podem ser agrupados em itens que englobam desde a
denominação até a construção de cenários.
GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Mostra que o sistema de gestão integrada, além de ser o caminho conseqüente
para a melhoria do manejo dos resíduos sólidos urbanos, também é capaz de
otimizar a viabilidade de comercialização de Reduções Certificadas de
Emissões com habilitação ao MDL. Esse caminho consolida uma oportunidade
para a sustentabilidade ambiental, social e econômica dos sistemas de gestão
de resíduos sólidos nos municípios.
Conceito, planejamento e oportunidades.
Descreve e analisa os objetivos do Protocolo de Quioto e do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, incluindo o detalhamento das etapas de um projeto,
especificando as metodologias de cálculo de créditos de carbono relacionadas
à gestão de resíduos sólidos existentes e as aprovadas, os modelos
institucionais adequados para o projeto e os investimentos e custos estimados
para a sua implementação. Apresenta ainda as estratégias para a viabilização
de projetos, os riscos, as vantagens e os benefícios ambientais, sociais e
econômicos.
Redução de emissões na disposição final
Apresenta a forma mais adequada para a disposição final de resíduos sólidos
urbanos: os aterros sanitários. Descreve as normas existentes, os
procedimentos para o licenciamento ambiental, os elementos de projetos
exigidos, o monitoramento ambiental e geotécnico dos sistemas de disposição
final de resíduos sólidos, e a remediação dos lixões. Trata ainda do biogás de
aterros e dos modelos mais empregados nas metodologias de projetos
aplicados ao MDL.
Agregando valor social e ambiental
Aborda as oportunidades sociais que se abrem para catadores de materiais
recicláveis e para a população residente no entorno dos locais de disposição
final, a partir de projetos sobre resíduos sólidos no âmbito do MDL. Além disso,
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apresenta as contribuições para o desenvolvimento sustentável do país
hospedeiro em que os projetos serão implementados e sua convergência com
outras agendas e compromissos internacionais.
Diretrizes para a elaboração de propostas de projetos
Apresenta o conjunto de conhecimentos gerais necessários para a elaboração
de propostas de projeto em função de oportunidades visualizadas junto a
entidades financiadoras. Oferece ainda informações sobre a elaboração de
projetos na área de resíduos sólidos urbanos com vistas à redução da emissão
de gases de efeito estufa no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
A situação do manejo de resíduos sólidos no país é preocupante,
principalmente no que diz respeito à questão da disposição final, uma vez que
63,6% dos municípios brasileiros utilizam lixões como forma de disposição dos
resíduos sólidos urbanos, 18,4% utiliza aterros controlados e 13,8% dispõem
os resíduos em aterros sanitários.
Providências urgentes têm que ser tomadas para reverter esse quadro, e a
necessidade de mudança de conceitos e formas de tratar o assunto é premente
para que sejam alcançados melhores resultados no manejo dos resíduos
sólidos urbanos, principalmente na disposição final, segmento em que os
dados são mais aflitivos.
Uma das dificuldades existentes no trato Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico (PNSB/IBGE), de 2000.
do problema está no fato de que os resíduos sólidos apresentam um problema
particular, pois percorrem um longo caminho – geração, descarte, coleta,
tratamento e disposição final – e envolvem diversos atores, de modo que o
tratamento meramente técnico tem apresentado resultados pouco animadores.
Outra dificuldade são os recursos envolvidos, pois devido ao aumento
considerável na produção per capita de resíduos e à aglomeração urbana
acelerada que vem se verificando em nossas cidades, são necessários
investimentos vultosos para a aquisição de equipamentos, treinamento,
capacitação, controle e custeio de todo o sistema de manejo de resíduos
sólidos.
De natureza complexa, o problema deixa de ser simplesmente uma questão de
gerenciamento técnico para inserir-se em um processo orgânico de gestão
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participativa, dentro do conceito de gestão integrada de resíduos sólidos. A
gestão que se propõe envolve a articulação com os diversos níveis de poder
existentes e com os representantes da sociedade civil nas negociações para a
formulação e implementação de políticas públicas, programas e projetos.
No que diz respeito a recursos, um instrumento fundamental para o setor vem
da implementação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), prevista
pelo artigo 12 do Protocolo de Quioto, e da viabilização do comércio de
emissões, que estabelece um mercado de compra e venda do “direito de emitir
gases de efeito estufa”.
Chamados de “créditos de carbono”, esses créditos podem ser conseguidos
com a disposição adequada dos resíduos sólidos urbanos, contribuindo para
diminuir a emissão de biogás tanto pela desativação dos lixões quanto pela
implantação de aterros sanitários, com o conseqüente tratamento dos gases
produzidos pela decomposição da matéria orgânica dos resíduos sólidos.
Finalmente, outro importante elemento no processo de reversão do quadro
relativo aos resíduos sólidos é a Lei no 1.145, de 05/01/07, que estabeleceu
diretrizes nacionais para o saneamento básico, representando um marco
histórico no setor e oferecendo respaldo legal consistente para a melhoria do
manejo dos resíduos sólidos no país.
O conceito é o da integração dos diversos atores, de forma a estabelecer e
aprimorar o processo de gestão dos resíduos sólidos, englobando todas as
condicionantes envolvidas no processo e possibilitando um desenvolvimento
uniforme e harmônico entre todos os interessados, de forma a atingir os
objetivos propostos, adequados às necessidades e características de cada
comunidade.
Contempla os aspectos institucionais, administrativos, financeiros, ambientais,
sociais e técnico-operacionais. Significa mais do que o gerenciamento técnico-
operacional do serviço de limpeza. Extrapola os limites da administração
pública, considera o aspecto social como parte integrante do processo e tem
como ponto forte a participação não apenas do primeiro setor (o setor público),
mas também do segundo (o setor privado) e do terceiro setor (as organizações
não-governamentais), que se envolvem no processo desde a fase dedicada a
pensar o modelo de intervenção e a estabelecer a estratégia de atuação,
passando pela forma de execução e de implementação dos controles.
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O conceito de gestão integrada trabalha na própria gênese do processo e o
envolve como um todo. Não é simplesmente um projeto, mas um processo, e,
como tal, deve ser entendido e conduzido de forma integrada, tendo como
pano de fundo e razão dos trabalhos, nesse caso, os resíduos sólidos e suas
diversas implicações. Deve definir estratégias, ações e procedimentos que
busquem o consumo responsável, a minimização da geração de resíduos e a
promoção do trabalho dentro de princípios que orientem para um
gerenciamento adequado e sustentável, com a participação dos diversos
segmentos da sociedade, de forma articulada.
A Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pode ser entendida como a maneira
de “conceber, implementar e administrar sistemas de manejo de resíduos
sólidos urbanos, considerando uma ampla participação dos setores da
sociedade e tendo como perspectiva o desenvolvimento sustentável”.
Esse sistema deve considerar a ampla participação e intercooperação de todos
os representantes da sociedade, do primeiro, segundo e terceiros setores,
assim exemplificados: governo central; governo local; setor formal; setor
privado; ONGs; setor informal; catadores; comunidade; todos geradores e
responsáveis pelos resíduos.
Deve ser baseada em princípios que possibilitem sua elaboração e
implantação, garantindo um desenvolvimento sustentável ao sistema.
O conceito de desenvolvimento sustentável – “aquele que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações satisfazerem suas próprias necessidades” – apareceu pela primeira
vez durante o desenvolvimento dos trabalhos da Comissão Brutland,
preparatória da ECO-92. O tema ganhou importante espaço nas
representações sociais, sinalizando para a necessidade de articulações
baseadas numa política ambiental e para a importância de haver regras e
limites para a exploração dos recursos naturais. ONU. Nosso Futuro Comum,
1991, p.46
O modelo de gestão integrada de resíduos sólidos pode ser entendido como
“um conjunto de referências político – estratégicas, institucionais, legais,
financeiras, sociais e ambientais capaz de orientar a organização do setor”.
São elementos indispensáveis na composição de um modelo de gestão:
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Reconhecimento dos diversos agentes sociais envolvidos, identificando os
papéis por eles desempenhados e promovendo sua articulação; integração dos
aspectos técnicos, ambientais, sociais, institucionais e políticos para assegurar
a sustentabilidade; consolidação da base legal necessária e dos mecanismos
que viabilizem a implementação das leis;
3O MODELO DE GESTÃO INTEGRADA E A SUSTENTABILIDADE DO
PROCESSO mecanismos de financiamento para a auto sustentabilidade das
estruturas de gestão e do gerenciamento; informação à sociedade,
empreendida tanto pelo poder público quanto pelos setores produtivos
envolvidos, para que haja controle social; sistema de planejamento integrado,
orientando a implementação das políticas públicas para o setor (Lima, 2001).
A elaboração e implementação de um Sistema de Gestão Integrada são um
processo renovador e duradouro, que deve ser internalizado pelos
participantes.
A fase inicial é a elaboração do Plano de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos (PGIRS), que deve privilegiar a gestão participativa com os diversos
setores da administração pública e da sociedade, para garantir que o plano
respeite as características, os hábitos e a cultura dos moradores. A
participação de todos os segmentos da sociedade faz com que o plano seja de
todos e permita a implantação e manutenção de um sistema sustentável que
atenda de fato às demandas da comunidade.
A sustentabilidade do processo está assentada no atendimento às dimensões
ecológica, ambiental, cultural, demográfica, social, institucional, política,
econômica, legal e ética. A relação destas dimensões com a elaboração e
implementação do plano de gestão e com a garantia da continuidade e da
qualidade do sistema de gestão integrada que se deseja, é descrita a seguir,
juntamente com algumas ações práticas que ajudam a garantir a
sustentabilidade do processo.
ECOLÓGICA: é a base física do processo de crescimento e tem como objetivo
conservar e usar racionalmente os recursos naturais.
AMBIENTAL: considera a capacidade de suporte dos ecossistemas de
absorver ou se recuperar da degradação causada pela ação antrópica e busca
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o equilíbrio entre as taxas de geração de resíduos e a recuperação da base
natural de recursos.
É necessária uma preocupação constante com o aperfeiçoamento das matrizes
de produção e de consumo.
Na matriz de produção, devem ser buscadas a melhoria da qualidade dos
produtos e a otimização das embalagens, visando diminuir a quantidade de
materiais desnecessários agregados na cadeia produtiva.
Na matriz de consumo, os usuários podem fazer uma grande diferença,
tratando e se relacionando com seus resíduos de forma responsável. Essa
atuação passa por um consumo com viés ecológico, privilegiando produtos
com selo verde ou selo social, que tragam garantia de pouca ou nenhuma
geração de resíduos, com embalagens retornáveis e recicláveis.
Finalmente, não se deve – e nem se pode – esquecer-se da necessidade de
uma disposição adequada dos resíduos gerados.
Ações práticas na implementação do plano para a garantia da sustentabilidade:
• universalização da cobertura dos serviços de manejo de resíduos sólidos;
• seleção de áreas adequadas para a implantação de aterros sanitários;
• elaboração de projetos para a captação de recursos para construção de
aterros sanitários;
• licenciamento de projetos junto aos órgãos ambientais competentes;
• início da construção de aterros sanitários;
• obediência dos projetos à linha da eco-eficiência.
CULTURAL: engloba a diversidade de culturas e valores, fazendo referência
às minorias e grupos culturalmente vulneráveis, cuidando da sua preservação e
inserção no mercado de trabalho.
O processo participativo, solicitando, incentivando e garantindo a participação
dos setores da sociedade organizada na discussão dos problemas, no
estabelecimento de diretrizes, no posicionamento a respeito dos assuntos
envolvidos e na elaboração e execução dos projetos de interesse geral,
movimenta e resgata valores da cultura local. Isso, facilita o entendimento e a
integração entre os diversos componentes, tornando mais confortável a
participação popular no processo como um todo.
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Ações práticas na implementação do plano para a garantia da
sustentabilidade:
• levantamento dos aspectos culturais da população;
• elaboração de projetos para resgatar e divulgar os aspectos culturais;
• adequação dos projetos aos aspectos culturais e aos hábitos locais;
DEMOGRÁFICA: geração de condições básicas para que os projetos atendam
satisfatoriamente ao crescimento demográfico e à evolução da geração de
resíduos sólidos.
A taxa de crescimento da população da região, o incremento da urbanização e
os hábitos dos habitantes devem ser considerados no planejamento dos
serviços públicos de manejo dos resíduos sólidos, visando ao aumento da
qualidade e da produtividade dos serviços prestados, para atender às
demandas atuais e futuras da população.
Ações práticas na implementação do plano para a garantia da
sustentabilidade:
• levantamento dos dados demográficos existentes e confrontação com a
realidade local;
• levantamento do histórico de crescimento da população por área;
• levantamento do histórico de crescimento da geração per capita de resíduos
sólidos;
• levantamento dos vetores de crescimento locais;
• utilização dos dados e informações conseguidos na elaboração dos projetos;
• cuidado para que o projeto atenda às necessidades da população no tempo
projetado.
SOCIAL: implantação de políticas de distribuição de riquezas e rendas e
contribuição para a redução e eliminação dos níveis de exclusão e de
desigualdade social, mediante a elaboração de atividades voltadas para a
sensibilização e informação da sociedade civil.
A disponibilização de informações, técnicas e instrumentos adequados para
estimular e operacionalizar os sistemas nos quais se inserem os catadores
contribui para fomentar, de forma ambientalmente saudável, a reciclagem dos
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resíduos, e pode ajudar a reverter os níveis de exclusão e de desigualdade
social nesse segmento.
Ações práticas na implementação do plano para a garantia da sustentabilidade:
• criação de uma associação ou cooperativa de catadores;
• implantação de sistema de coleta seletiva;
• participação cada vez mais intensa da população na busca de melhorias para
a cidade, introduzindo o controle social;
• demonstração do interesse na implementação de sistemas de beneficiamento
de materiais recicláveis, para gerar trabalho e renda aos catadores e dar maior
sustentação às organizações de catadores;
• implementação de projetos de arte que utilizem materiais recicláveis, inclusive
com a realização de oficina para capacitação de pessoal;
• comprometimento da comunidade na manutenção de limpeza da cidade;
• participação da população na implementação do PGIRS.
INSTITUCIONAL: promoção de mudança da cultura institucional vigente, que
normalmente é voltada apenas para os aspectos técnicos, de forma a que esta
englobe em seu planejamento e execução as variáveis sociais, ambientais e
econômicas.
Ações práticas na implementação do plano para a garantia da sustentabilidade:
• criação de órgão específico para tratar do manejo dos resíduos sólidos;
• capacitação de equipe e apresentação de projetos de interesse do setor para
órgãos de financiamento visando a obtenção de recursos;
• assinatura de convênios de cooperação técnica entre a prefeitura e entidades
técnicas e científicas;
• divulgação intensiva das ações e do progresso do plano;
• implantação de ações educativas e melhorias operacionais norteadas pelo
PGIRS.
POLÍTICA: estabelecimento de uma ampla participação social, com ênfase na
necessidade da responsabilidade compartilhada e adoção de instrumentos
para o fortalecimento dos mecanismos democráticos, de modo a que os
diversos setores da sociedade envolvidos tenham conhecimento, sejam
ouvidos e participem do processo.
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Ações práticas na implementação do plano para a garantia da sustentabilidade:
• implantação de sistema de coleta seletiva; do PGIRS, com a participação dos
diversos setores da sociedade civil;
• compromisso do prefeito, do secretariado e da equipe de coordenação do
PGIRS em assegurar que o processo participativo ocorra desde a fase de
elaboração do PGIRS e que haja continuidade na implementação das ações do
plano;
• assinatura de convênios de cooperação técnica entre a prefeitura e entidades
técnicas e científicas;
• demonstração do interesse na implementação de sistemas de beneficiamento
de materiais recicláveis, para gerar trabalho e renda aos catadores e dar maior
sustentação às organizações de catadores;
• incremento do uso de equipamentos de proteção individual pelos
trabalhadores;
• divulgação intensiva das ações e do progresso do plano;
ECONÔMICA: valoração econômica dos recursos naturais que são utilizados
como insumos na produção, ênfase na substituição de matérias primas por
outras que sejam mais adequadas à preservação do meio ambiente e na
eficiência energética dos processos e do (re)aproveitamento dos resíduos,
adaptando os padrões de produção e de consumo às necessidades
ambientais, sociais e econômicas.
A forma de entendimento e condução da questão econômico-ambiental passa
por um acentuado processo de mudança. No começo da atuação dos órgãos
de controle ambiental, vivia-se o paradigma do comando-e-controle, entendido
como “regulações governamentais que definem normas de desempenho para
as tecnologias e produtos e estabelecem normas e padrões para efluentes e
emissões”, configurando uma atuação e ação bipolares. Hoje o conceito é da
tri-polaridade, que envolve a participação do primeiro, segundo e terceiro
setores (governo, iniciativa privada e sociedade civil, respectivamente) nas
discussões e ações relacionadas à questão ambiental.
Ações práticas na implementação do plano para a garantia da sustentabilidade:
• definição de orçamento municipal para o setor de resíduos sólidos;
• criação e implementação de uma taxa de coleta de resíduos sólidos;
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• utilização responsável dos recursos captados / recebidos.
ÉTICA: reconhecimento de que no almejado equilíbrio ecológico está em jogo
algo mais do que um padrão duradouro de organização da sociedade, ou seja,
a vida dos demais seres e da própria espécie humana (gerações futuras).
O que se espera de uma organização, seja ela empresa privada, não
governamental ou instituição pública, é que contribua para a construção de
uma sociedade mais justa e ambientalmente sustentável.
Nesse campo, executivos municipais, legisladores, gerentes técnicos,
empreendedores e empresários têm o poder de iniciar e assegurar grandes
mudanças em nossa sociedade por meio da busca de oportunidades rentáveis
aliadas à criatividade, persistência e sinergia com outros empreendedores.
LEGAL: o atendimento aos dispositivos legais existentes é fundamental, bem
como o estabelecimento de uma regulação adequada do setor.
O Ministério Público, instituição que vem se notabilizando pelo trabalho
interessado no equacionamento dos problemas relacionados ao manejo
inadequado dos resíduos, principalmente no que diz respeito à erradicação dos
lixões, à retirada de crianças e adolescentes do trabalho em lixões e à luta pela
implantação de uma disposição final adequada, é um aliado valioso e deve ser
considerado na implantação de um sistema de gestão integrada de resíduos.
Ações práticas na implementação do plano para a garantia da sustentabilidade:
• definição e implementação de lei de resíduos sólidos;
• criação e implementação de um regulamento de manejo de resíduos sólidos;
• elaboração e implementação de legislação para a inclusão social dos
catadores;
• elaboração e implementação de legislação facilitadora de beneficiamento de
materiais recicláveis e de uso de materiais reciclados;
A questão legal, dada a sua importância para a implantação, manutenção e
sustentabilidade dos sistemas de gestão integrada, com ênfase na parte
relacionada ao tratamento e disposição final dos resíduos, é tratada em
detalhes no item a seguir.
É fundamental planejar e implementar as formas de constituição de serviços
mais adequadas, do ponto de vista legal, para suprir com qualidade as
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necessidades locais, pensando sempre na melhor relação custo-benefício. A
Constituição Federal de 1988 trata dessa questão no artigo 175, que diz:
“Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos”.
A prestação do serviço público deve ser objeto de regulação, compreendendo
todo e qualquer ato, normativo ou não, que discipline ou organize determinado
serviço público, incluindo suas características, padrões de qualidade, impactos
socioambientais, bem como os direitos e obrigações dos cidadãos, dos
usuários e dos responsáveis por sua oferta e prestação, e a política e o sistema
de cobrança, inclusive a fixação, reajuste e revisão do valor de tarifas e outros
preços públicos.
Deve ser objeto também de fiscalização, envolvendo todas as atividades de
acompanhamento, monitoramento, controle, avaliação e de aplicação de
penalidades exercidas pelo titular do serviço público, inclusive por entidades de
sua administração indireta ou por entidades conveniadas, e pelos cidadãos e
usuários, no sentido de garantir a utilização, efetiva ou potencial, do serviço
público de forma permanente por parte do órgão ou entidade de direito público
titular dos serviços.
Com o objetivo de prestar um serviço de Baseado no trabalho “O Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de resíduos sólidos urbanos
e o impacto do Projeto de Lei 5.296/05”, de Manesco, Ramires, Perez, Azevedo
Marques Advocacia qualidade com a melhor relação custo benefício, deve ser
considerada a possibilidade de administração integrada entre municípios,
envolvendo todos os serviços ou apenas a coleta, o tratamento ou a disposição
final. A implantação e operação de aterro sanitário é a solução mais fácil de ser
viabilizada, pois além de atender diretamente aos interesses dos municípios
envolvidos, geralmente apresenta maior economia de escala, traz mais
vantagens aos parceiros e apresenta resultados mais significativos do ponto de
vista da gestão integrada nos moldes indicados neste trabalho.
A Constituição Federal de 1988 também trata dessa questão no artigo 241,
cuja redação dada pela Emenda Constitucional no 19, de 1998, diz que “A
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de
lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes
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federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a
transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais
à continuidade dos serviços transferidos”, o que é tratado na Lei Federal no
1.1074.
Em geral, os empreendimentos de limpeza de logradouros, coleta e disposição
final de resíduos sólidos urbanos – esta última envolvendo a construção,
regularização, desativação e recuperação de aterros sanitários ou lixões –
podem ser executados pelo próprio Poder Público das seguintes formas: direta;
ou indireta, a qual é concretizada pela via da delegação, abrangendo a
delegação legal e a contratual. Sem prejuízo dessas formas de execução dos
serviços, o Poder Público poderá adotar, ainda, a gestão associada.
26) PROTEÇÃO AMBIENTAL.
Noções sobre Proteção Ambiental
1. O HOMEM E SUA INTERAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE
1.1. Introdução
As tradições das diferentes culturas, sempre desempenharam o seu papel
quanto ao comportamento humano em relação ao ambiente. O homem
ocidental com seu dogma cristão judaico, segundo o qual, ao contrário de
outras criaturas foi feito à imagem e semelhança de Deus, tendo, portanto o
direito de dominar o mundo.
“As plantas foram criadas por causa dos animais e os animais por causa do
homem” (Aristóteles, 350 a. C). Esta premissa grega da Antigüidade reforça a
noção do mundo destinado ao homem.
A concepção do mundo para os índios americanos que viam na natureza
virgem símbolos do mundo espiritual, na antiga China, determinados aspectos
da terra eram interpretados como manifestações do ser cósmico, a noção
Budista do consumo, sendo o máximo de felicidade com o mínimo de consumo,
contrastando com o pensamento ocidental que prega o aumento de consumo
para um “viver melhor”.
”O homem como elemento da natureza constitui uma noção relativamente
recente no pensamento ocidental, em parte como conseqüência do
darwinismo, que não o descrevia senão como outra forma de vida sobre a
terra”. Alterações prejudiciais ao ambiente, resultantes das atividades
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humanas, acabaram por acarretar na concepção “ecológica”, na qual o homem
não passa de um elemento como outro qualquer do ecossistema geográfico.
Estas abordagens, no entanto, não são necessariamente certas ou erradas,
mas todas elas afetaram vigorosamente como o homem procurou moldar o
ambiente que o cerca. No passado estas diferenças teriam interesse
puramente acadêmico, mas hoje a relação do homem com o meio está
chegando a uma situação crítica, na medida em que as mudanças por ele
processadas talvez se tornem irreversíveis. O homem deixou de ser mero
integrante do ecossistema em que vive, para se tornar cada vez mais um
elemento afastado do meio físico e biológico. “Quando se tornar capaz de
fabricar ou sintetizar alimentos de matérias inorgânicas – perspectiva que não é
improvável -, um vínculo basilar, o do homem com a terra viva, estará rompido”.
Figura 1 – Reação do homem ao ambiente natural
“A teoria segundo a qual as condições naturais governam o comportamento do
homem e até mesmo aspectos do seu caráter chama-se determinismo ou
casualidade”. Esta ideia antiquada de que o homem deve ser controlado pela
natureza e se adaptar a ela, se contrapõe com a noção do possibilismo que diz;
o homem não é um ser passivo e se conformar com os caprichos da natureza e
deve dessa forma prosperar e agir sobre o meio e a modificá-lo, dentro de
limites naturais de espaço e de possibilidades de desenvolvimento.
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É impossível explicar as decisões e atividades humanas com base apenas nas
limitações ambientais. Se assim fosse, uma determinada fábrica para ser
instalada, deveria ser determinada sua localização pela proximidade de
matéria-prima e energia e admitindo a existência de um mercado. Na realidade,
fatores econômicos, sociais e políticos, ou mesmo à vontade do empresário,
têm, no mínimo, importância igual. No entanto, a espécie humana ainda está
sujeita a natureza, a escassez de peixes em determinado local em virtude de
mudanças na temperatura das correntes em determinado ano, as secas no
Sudão e Etiópia, etc.
Ao contrário, há exemplos do homem dominando a natureza, como uma área
urbana em Phoenix, no Arizona nos Estados Unidos, construída no deserto,
através de recursos de irrigação. Nos arredores da cidade, cultiva-se algodão,
frutas e tâmaras, num verdadeiro oásis, são exemplos de interação homem-
ambiente, demonstrando a variedade do domínio do homem sobre a natureza e
vice-versa.
Há sempre desastres noticiados pela imprensa todos os anos em diversas
partes do mundo. “Em certa medida, o esforço que se requer para a obtenção
de um dado retorno é proporcional ao grau de submissão às condições naturais
– contrariar a natureza das coisas” exige mais esforço. As aplicações de
tecnologia ultramoderna têm de ser estudadas com o maior dos cuidados, a fim
de que sejam adequadas ao meio ambiente e não tragam mais prejuízo do que
benefício à população.
Em certos casos, o homem é subjugado pela natureza e aceita suas limitações,
como as áreas áridas, regiões tórridas e desérticas do planeta. É a natureza
dominando o homem.
1.3. Níveis de Interferência
De fato, como vimos à manipulação do meio pelo homem, vai do controle
quase total do ambiente, como uma casa com calefação ou ar condicionado, e
diversos aparelhos, até uma influência mínima sobre o meio físico (indígenas
da Austrália).
A distribuição do homem sobre a superfície da terra está desigualmente
distribuída. Devemos observar que o homem distribuiu-se na terra em larga
escala, basicamente em áreas de potencial agrícola ou florestal e também em
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regiões temperadas e quentes. Devemos atentar também que, as áreas
cobertas de gelo, as subárticas os desertos, densidade demográfica baixa ou
zero. Vale lembrar que a ausência física do homem em determinada área, não
significa que sua influência não está presente. Alterações nos oceanos, no
clima, efeito estufa, etc. podem afetar a terra como um todo.
1.4. Sistemas Naturais
A terra pode ser considerada como um enorme sistema, porém ela pode
também ser dividia em inúmeros subsistemas como:
• Atmosférico;
• Continental ou litosférico;
Noções sobre Proteção Ambiental • Aquático ou hidrosférico.
É na zona de interação desses subsistemas que ocorre a vida (biosfera).
Portanto, a Terra funciona como uma inter-relação de sistemas, todos
parcialmente independentes, mas fortemente vinculados entre si. A intervenção
humana não pode afetar de maneira significativa a atividade dos sistemas em
escala global, como o sistema atmosférico, mas os sistemas de ordem inferior,
principalmente aqueles que envolvem seres vivos (ecossistemas), são bastante
vulneráveis as ações do homem.
Os exemplos abaixo são de subsistemas nos quais houve um percentual de
intervenção do homem, e conseqüentemente alteração do atual sistema.
• Ciclo do Nitrogênio Algumas causas: - Introdução pelo homem de fontes
artificiais;
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- Volume de nitrogênio oriundo de fontes industriais. Um dos efeitos desse
fenômeno é o crescimento excessivo de algas.
• Ciclo do Fósforo Algumas causas: - Encurtamento, pelo homem, da escala
em que o ciclo do fósforo se manifesta;
- Exploração de substâncias naturais ricas em fosfato
- Uso de fosfato mineral como fertilizantes e a fabricação de detergentes. Os
resíduos de detergentes são lançados indiscriminadamente em corpos d’água;
- Lançamento de elevadas cargas de fosfato oriundo dos esgotos vindo a
contaminar sistemas hídricos.
• Ciclo do Mercúrio Algumas causas: - Este metal apresenta-se em pequeninas
quantidades nos sistemas naturais;
- Uso em larga escala para fins industriais;
- Na extração do ouro sendo lançados em rios, vindo a contaminar organismos
marinhos e conseqüentemente ao homem.
1.5. Impactos sobre os meios físicos
1.5.1. Os Solos
Fatores como clima, materiais de origem, topografia, a biota e o tempo
determinam um equilíbrio dinâmico com os solos. Qualquer alteração nesses
mecanismos reverterá ao solo.
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De modo consciente ou não, são exemplos de como o homem modifica os
solos:
1.5.2. Plantas e Animais
A grande mudança na relação do homem e os demais seres vivos ocorreram
com a transição dos hábitos humanos da “caça e coleta” para a da “agricultura,
domesticação”.
Introduções pelo homem de espécies vegetais quando de suas migrações pelo
planeta, deve-se ao fato de serem importantes fontes de alimentos, ou seja,
aonde ele ia, levava aquelas espécies conhecidas para o ambiente
desconhecido.
Animais e insetos muitas vezes foram introduzidos acidentalmente,
transportados por barcos e sementes trazidas com a roupa, etc.
Modificações profundas nos ecossistemas animais, através de desmatamentos
ocasionando transformações no habitat de várias espécies inclusive
promovendo a extinção de insetos, construção de represas para obtenção de
energia hidroelétrica acarretando paralisação da desova de trutas, etc.
1.6. Efeitos na Atmosfera, água, formas de relevo e nos oceanos.
1.6.1. Atmosfera.
A – Alterações microclimáticas:
A construção de um edifício busca obter abrigo criando um clima artificial
inteiramente controlado. Este edifício modifica muitos parâmetros climáticos
ainda que em pequena escala. No entanto, imagine uma grande cidade com
centenas de milhares de edifícios modernos, convertendo em calor a radiação
solar que entra e modificando o padrão do fluxo de ventos nas vizinhanças.
Deste modo estas construções funcionam como ilhas de calor como uma célula
de convecção própria de ar quente ascendente.
B – Alterações mesoclimáticas:
Mudanças no uso da terra nas áreas rurais afetam o clima por centenas ou
milhares de quilômetros quadrados. Os efeitos se fazem maiores junto ao chão,
mas as condições atmosféricas são alteradas numa abóbada de 30 a100
metros de altura daquele ponto.
Queimadas em solos, prática bastante comum, alteram a zona protetora da
vegetação, aumentando a temperatura do solo e ainda a média de temperatura
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de dia e de noite em mais de 10° C. o gradiente térmico aumenta 10
centímetros mais baixos da atmosfera, cerca de 2° positivos.
A falta de árvores, por exemplo, afeta a velocidade do vento, aumenta a
infiltração da água da chuva no solo e em longo prazo, alterará a evolução do
solo (maior lixiviação), e daí a vegetação e novamente, portanto o microclima.
C – Alterações macroclimáticas:
O caso do deserto de Rajputana na fronteira entre o Paquistão e a Índia onde
numa área de cerca de 30 mil quilômetros quadrados, trata-se de um exemplo
extremo de desertificação. Deve-se em grande parte a intensa criação de
cabras que através dos anos acabou com a vegetação baixa existente. Com
isso, a poeira em suspensão na atmosfera faz que este deserto seja mais
poeirento do mundo, ultrapassando os valores de partículas em suspensão no
ar, de muitas cidades industrializadas. Estas partículas de pó fazem decrescer
a quantidade de radiação solar incidente promovendo o rebaixamento da
temperatura na superfície da terra. Por sua vez, isso reduz o volume do ar
elevado por convecção, possível fonte de chuvas.
1.6.2. Água
“Pode-se dizer que a água doce é o mais importante recurso da humanidade,
individualmente considerado”. Setenta por cento do corpo humano é composto
de água, o que a torna vital para nossa sobrevivência.
Especialistas afirmam que é muito mais difícil suportar a sede que a fome. Por
que eu devo me preocupar, afinal, não basta abrir a torneira para ter água?
Normalmente, não temos consciência da importância da água. Somente nos
períodos de estiagem, quando falta água nas nossas casas, lembramos, um
tanto nervoso, que dependemos da água para as mais variadas atividades
domésticas. E, com paciência, temos que esperar. Dificilmente alguém se
pergunta quanto consome de água por mês; a maior parte das pessoas
somente paga a conta no banco. Essa inconsciência pode ser explicada pelo
fato de vivermos em regiões onde a oferta de água é bastante satisfatória.
Os moradores do Sertão, no Nordeste Brasileiro, provavelmente atribuem um
valor bem diferente à água. Em todo o mundo, com exceção da Europa, a
principal utilização da água está na agricultura. Ela é usada na irrigação de
cultura e criação de animais. Em algumas áreas da Ásia, o consumo de água
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na atividade agropecuária chega a ser dez vezes maior que na produção
industrial.
Durante muito tempo, pensou-se que a água, ao circular na natureza, seria
capaz de eliminar todos os seus poluentes e seria um bem infinito, assim os
esgoto industriais e domésticos eram despejados, sem tratamento, nos rios.
Mas, atualmente, a água é concebida pelos especialistas como um recurso
renovável, porém finito, já que a poluição e o uso dos recursos hídricos têm
aumentado tanto, que não permitem a reposição na velocidade necessária ao
consumo.
Numa escala mundial, é o que inibe a expansão da agricultura e
conseqüentemente o povoamento das vastas regiões do planeta. Já em uma
escala local, os recursos hídricos determinam a localização de certas
industriais, como a geração de energia; antigamente, o estabelecimento de
povoações estava em relação estreita com a localização de rios e fontes.
As tecnologias desenvolvidas pelo homem como a construção de represas,
desvios de rios, drenagem de terras, extração de água subterrânea e até
rebocamento de icebergs, interferem no ciclo hidrológico.
O movimento da água entre os continentes, oceanos e a atmosfera é chamado
de ciclo hidrológico. Na atmosfera, o vapor da água em forma de nuvens pode
ser transformado em chuva, neve ou granizo, dependendo das condições do
clima. Essa transformação provoca o que se chama de precipitação. A
precipitação ocorre sobre a superfície do planeta, tanto nos continentes como
nos oceanos.
Nos continentes, uma parte das precipitações é devolvida para a atmosfera,
graças à evaporação, outra parte acaba desaguando nos oceanos depois de
percorrer os caminhos recortados pelos rios. Os oceanos, portanto recebem
água de duas fontes: das precipitações e do desaguamento dos rios, e perdem
pela evaporação. Na atmosfera, o excesso de vapor sobre os oceanos é
transportado para os continentes, em sentido inverso ao desaguamento.
Abaixo a representação do ciclo hidrológico, mostrando grandes e pequenos
pontos da interferência humana.
1.6.3. Formas de Relevo
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As alterações introduzidas no relevo podem ser conseqüências deliberada ou
inadvertida de qualquer outra atividade. Na construção de rodovias e ferrovias,
vales artificiais ou a deposição de sedimentos nos estuários dos rios devido à
erosão do solo carregada pêlos rios, depressões
1.6.4. Oceanos
Os oceanos perfazem sete décimos da superfície do globo. O que se sabe é a
importância dos oceanos no controle dos fluxos globais de energia e no
ambiente geral do planeta. Todos os oceanos estão ligados entre si e as únicas
barreiras são na verdade, as diferenças de salinidade e temperatura. Os
oceanos são considerados a lata de lixo do mundo.
2. A POLÍTICA E A GESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL
2.1 Evolução
Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos, promovendo
significantes transformações no comportamento da sociedade e na
organização política econômica, foi chamada “revolução ambiental”. Com
raízes no final do século XIX, a questão ambiental emergiu após a Segunda
Guerra mundial, promovendo importantes mudanças na visão do mundo. Pela
primeira vez a humanidade percebeu que os recursos naturais são finitos e que
seu uso incorreto pode representar o fim de sua própria existência. Com o
surgimento da consciência ambiental, a ciência e a tecnologia passaram a ser
questionadas.
A exploração dos recursos naturais, o desbravamento do território, o
saneamento rural, a educação sanitária e os embates entre os interesses
econômicos externos, os conservacionistas que defendiam a proteção da
natureza através da exploração controlada como a Fundação Brasileira de
Conservação da Natureza (FBCN), e os nacionalistas que defendiam a
exploração pelos brasileiros como a Campanha Nacional de Defesa e
Desenvolvimento da Amazônia (CNDDA), eram os temas dominantes.
2.1.1. Histórico
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É possível identificar pelo menos três tipos de políticas ambientais: as
regulatórias, as estruturadoras e as indutoras de comportamento.
• Políticas Regulatórias – Dizem á elaboração de legislação específica para
estabelecer ou regulamentar as normas e regras do uso e acesso ao ambiente
natural, bem como à criação de aparatos institucionais que o garantam o
cumprimento da lei.
• Políticas Estruturadoras – intervenção direta do poder público ou de
organismos não governamentais na proteção ao meio ambiente (ex: unidade
de conservação).
• Políticas Indutoras – referem-se a ações que objetivam influenciar o
comportamento de indivíduos ou grupos sociais. (ex: linhas especiais de
financiamento ou de políticas fiscais e tributárias.
Foi somente no século X que a preocupação com o meio ambiente resultou, no
Brasil, na elaboração e implementação de políticas públicas com caráter
marcadamente ambiental, especialmente a partir da década de setenta,
quando a percepção da degradação ambiental aumenta onde os efeitos podem
ser irreversíveis e catastróficos.
27) ESTUDOS E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS.
A AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL-AIA é um instrumento da Política
Nacional do Meio Ambiente, de grande importância para a gestão institucional
de planos, programas e projetos, em nível federal, estadual e municipal.
A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei 6.938/81, tem por
objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o
meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado
e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
I-racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; I-planejamento e
fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV-proteção dos ecossistemas,
com a preservação de áreas representativas; V-controle e zoneamento das
atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
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VI-incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII-acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII-recuperação de áreas degradadas; IX-proteção de áreas ameaçadas de
degradação;
X-educação ambiental a todos os níveis de ensino, incluindo a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio
ambiente.
Para a consecução desse objetivo, a Lei 6.938/81 prevê a Avaliação de
Impacto Ambiental - AIA e uma série de outros instrumentos complementares e
inter-relacionados, como por exemplo:
•o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente
poluidoras, que exige a elaboração de EIA/RIMA e/ou de outros documentos
técnicos, os quais constituem instrumentos básicos de implementação da AIA;
•o zoneamento ambiental, o estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental e a criação de unidades de conservação, que condicionam e
orientam a elaboração de estudos de impacto ambiental e de outros
documentos técnicos necessários ao licenciamento ambiental;
•os Cadastros Técnicos, os Relatórios de Qualidade Ambiental, as penalidades
disciplinares ou compensatórias, os incentivos à produção, a instalação de
equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria
da qualidade ambiental, que facilitam ou condicionam a condução do processo
de AIA em suas diferentes fases.
1.1.2Instrumentos legais de implementação da AIA: EIA/RIMA e/ou outros
documentos técnicos necessários ao Licenciamento Ambiental (PCA, RCA,
PRAD, etc.)
1.1.2.1O Estudo de Impacto Ambiental-EIA e seu respectivo Relatório de
Impacto Ambiental-RIMA
O Estudo de Impacto Ambiental foi introduzido no sistema normativo brasileiro,
via Lei 6.803/80, no seu artigo 10, § 3º, que tornou obrigatória a apresentação
de “estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto” para a
localização de pólos petroquímicos, cloro químicos, carbo químicos e
instalações nucleares.
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Posteriormente, a Resolução CONAMA 001/86 estabeleceu a exigência de
elaboração de Estudo de Impacto Ambiental-EIA e respectivo Relatório de
Impacto Ambiental-RIMA para o licenciamento de diversas atividades
modificadoras do meio ambiente, bem como as diretrizes e atividades técnicas
para sua execução.
De acordo com essa Resolução, o EIA/RIMA deve ser realizado por equipe
multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou indiretamente do
proponente do projeto e que será responsável tecnicamente pelos resultados
apresentados (art. 7º).
Os custos referentes à realização do EIA/RIMA correrão à conta do proponente
(art. 8º).
O artigo 2º define que o EIA/RIMA deve ser submetido à aprovação do órgão
estadual competente e, em caráter supletivo, do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA. A este cabe, também,
a aprovação do EIA/RIMA para o licenciamento de atividades modificadoras do
meio ambiente que, por lei, seja de competência federal.
Os artigos 10 e 1 estabelecem os procedimentos para manifestação de forma
conclusiva do órgão estadual competente ou do IBAMA ou, quando couber, do
Município, sobre o RIMA apresentado. Sempre que julgarem necessário, esses
órgãos realizarão Audiência Pública para informar sobre o projeto e seus
impactos ambientais e discutir o RIMA.
A Constituição Federal de 1988, finalmente, fixou, através de seu artigo 225,
inciso IV, a obrigatoriedade do Poder Público exigir o Estudo Prévio de Impacto
Ambiental para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, despontando como a primeira
Carta Magna do planeta a inscrever a obrigatoriedade do estudo de impacto no
âmbito constitucional.
1.1.2.2. Outros documentos técnicos necessários ao Licenciamento
Ambiental: o Plano de Controle Ambiental, o Relatório de Controle Ambiental e
o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
• O Plano de Controle Ambiental-PCA
O Plano de Controle Ambiental é exigido pela Resolução CONAMA 009/90
para concessão de Licença de Instalação-LI de atividade de extração mineral
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de todas as classes previstas no Decreto-Lei 227/67. O PCA é uma exigência
adicional ao EIA/RIMA apresentado na fase anterior (Licença Prévia-LP).
O PCA tem sido exigido por alguns órgãos estaduais de meio ambiente
também para o licenciamento de outros tipos de atividade.
• Relatório de Controle Ambiental-RCA
O Relatório de Controle Ambiental é exigido pela Resolução CONAMA 010/90,
na hipótese de dispensa do EIA/RIMA, para a obtenção de Licença Prévia-LP
de atividade de extração mineral da Classe I, prevista no Decreto-Lei 227/67.
Deve ser elaborado de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo órgão
ambiental competente.
O RCA tem sido exigido por alguns órgãos de meio ambiente também para o
licenciamento de outros tipos de atividade.
• Plano de Recuperação de Áreas Degradadas-PRAD
O Plano de Recuperação de Áreas Degradadas tem sido utilizado para a
recomposição de áreas degradadas pela atividade de mineração. É elaborado
de acordo com as diretrizes fixadas pela NBR 13030, da Associação Brasileira
de Normas Técnicas, e outras normas pertinentes. Não há diretrizes para
outros tipos de atividade.
1.2. ORIGENS DA AIA E TENDÊNCIAS MUNDIAIS DE SUA APLICAÇÃO
A institucionalização da AIA, no Brasil e em diversos países, guiou-se pela
experiência americana, face a grande efetividade que os Estudos de Impacto
Ambiental demonstraram no sistema legal da “common law” dos Estados
Unidos.
Em 1969, os Estados Unidos aprovaram o “National Environmental Policy Act-
NEPA”, que corresponde, no Brasil, à Política Nacional do Meio Ambiente. O
NEPA instituiu a execução de Avaliação de Impacto Ambiental interdisciplinar
para projetos, planos e programas e para propostas legislativas de intervenção
no meio ambiente. O documento que apresenta o resultado dos estudos
produzidos pela AIA recebeu o nome de Declaração de Impacto Ambiental
(“Environmental Impact Statement-EIS.”) O EIS mostrou-se um instrumento
eficiente, principalmente no que se refere à participação da sociedade civil nas
tomadas de decisão pelos órgãos ambientais, via Audiências Públicas.
Seguramente, o grau de educação e politização, esclarecimento e
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conscientização da sociedade americana foram fatores determinantes para a
efetividade do instrumento.
Ao liderarem o processo de institucionalização da AIA como instrumento de
gestão ambiental, especialmente a partir da realização da Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1972, em Estocolmo, as empresas,
centros de pesquisa e universidades dos países desenvolvidos propiciaram o
florescimento de uma ampla literatura especializada sobre AIA e EIA/RIMA.
Essa produção reorientou a definição de metas, o planejamento, o processo
decisório e a operacionalização de políticas de desenvolvimento e intervenções
econômicas, antes orientadas por parâmetros exclusivamente econômico
financeiros.
O processo de consolidação institucional da aplicação da AIA, em nível
mundial, ocorreu nos anos 80, gerando um avanço na discussão acerca de sua
concepção, fases de execução, atores sociais envolvidos e inserção no
processo de tomada de decisão. Esse avanço tem como denominador comum
a ampliação do caráter participativo da AIA, com a inserção do público em
diferentes fases do processo de avaliação e uma maior transparência e
efetividade da ação administrativa.
Diferentemente dos países desenvolvidos, que implantaram a AIA em resposta
a pressões sociais e ao avanço da consciência ambientalista, no Brasil ela foi
adotada, principalmente, por exigência dos organismos multilaterais de
financiamento (Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID e Banco
Mundial-BIRD).
Essas exigências ocorreram tanto em função das repercussões internacionais
dos impactos ambientais causados pelos grandes projetos de desenvolvimento
implantados na década de 70, como dos desdobramentos da Conferência de
Estocolmo, em 1972, que recomendou aos países, de um modo geral, a
inclusão da AIA no processo de planejamento e decisão de planos, programas
e projetos de desenvolvimento.
Em razão dessas exigências internacionais, alguns projetos desenvolvidos em
fins da década de 70 e início dos anos 80 e financiados pelo BIRD e pelo BID
foram submetidos a estudos ambientais, dentre eles: as usinas hidrelétricas de
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Sobradinho, na Bahia, e de Tucuruí, no Pará; e o terminal porto-ferroviário
Ponta da Madeira, no Maranhão, ponto de exportação do minério extraído pela
CVRD, na Serra do Carajás. No entanto, os estudos foram realizados segundo
as normas das agências internacionais, já que o Brasil ainda não dispunha de
normas ambientais próprias.
A partir de então, foram surgindo outras experiências e a Avaliação de Impacto
Ambiental foi aos poucos ganhando conteúdo legal e administrativo, até
culminar com a aprovação da Resolução CONAMA 001/86.
Após a aprovação da Resolução CONAMA 001/86, seguiu-se um período de
incertezas e de adaptação por parte dos órgãos de meio ambiente existentes.
Tal fato foi atribuído à falta de tradição de planejamento em nosso País, às
diferenças regionais na edição de leis complementares à Resolução, a
problemas de interpretação da legislação federal e à falta de definição de
atribuições e competências em nível dos órgãos ambientais. Esse período foi
marcado por intensa mobilização, busca de informações e intercâmbio em
torno do funcionamento do processo de AIA no País. Foram realizados
diversos eventos nos quais foram definidos os seguintes requisitos básicos
para a operacionalização da AIA no Brasil:
•criar procedimentos de licenciamento ambiental específicos, conforme os tipos
de atividades;
•treinar equipes multidisciplinares na elaboração de EIA/RIMA;
•treinar pessoal dos órgãos de meio ambiente para analisar os casos de AIA no
País;
•gerar instruções e guias específicos para conduzir os diferentes tipos de
estudos, de acordo com as características dos projetos propostos.
Passados mais de 8 anos da institucionalização da AIA no Brasil, pode-se
constatar que o EIA/RIMA tem auxiliado os órgãos de meio ambiente na
tomada de decisão quanto à concessão de licenças ambientais e servido como
instrumento de negociação entre os agentes envolvidos nos projetos propostos.
Todavia, os EIA/RIMA têm contribuído muito pouco para aperfeiçoar a
concepção dos projetos propostos e para a gestão ambiental no seu todo.
1.4.DEMANDAS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL
NA ÁREA DA AMAZÔNIA, PANTANAL E CERRADO.
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No que se refere à aplicação da legislação, de um modo geral, constata-se que
a Resolução CONAMA 00l/86 é a referência básica para os processos de
licenciamento ambiental, nos estados que integram a Amazônia, Pantanal e
Cerrado. A maioria dos órgãos estaduais de meio ambiente utiliza o texto
daquela Resolução como roteiro de trabalho. Há, no entanto, estados que
buscaram adequar as exigências federais às realidades regionais, através de
portarias, instruções normativas e, até mesmo, de leis estaduais específicas.
Para transformar a AIA em um instrumento mais eficiente e eficaz de controle
da qualidade ambiental, na área da Amazônia, Pantanal e Cerrado, necessita-
se de:
•um conhecimento mais aprofundado dos instrumentos legais orientadores da
AIA por parte dos órgãos estaduais, com o objetivo de identificar suas
possibilidades práticas de aplicação e as necessidades de revisão
(complementações e/ou mudanças);
•uma estrutura institucional mais descentralizada, que propicie a adoção de
princípios da gestão participativa. Isso implica, por exemplo, no fortalecimento
dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente (CONSEMAS) e na criação de
Conselhos Municipais de Meio Ambiente, com poder deliberativo e normativo
sobre as questões afetas ao licenciamento ambiental, em nível regional e/ou
municipal;
Impacto Ambiental e documentos semelhantes e para a concessão e
renovação de licenças ambientais;
•a estruturação dos órgãos estaduais de meio ambiente para desempenhar as
tarefas de sistematizar, armazenar e divulgar informações ambientais;
•o aparelhamento dos laboratórios de análise, inclusive integrando-os a outros
laboratórios, para dar suporte às atividades de monitoramento ambiental;
•a definição de política de desenvolvimento de recursos humanos e de plano de
cargos e salários, para adequar os quadros de pessoal às atribuições do
OEMA, especialmente no que se refere à condução de processos de Avaliação
de Impacto Ambiental.
28) UNIDADES DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL.
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A fauna e a flora, os rios, os mares, as montanhas. Cada um dos elementos da
natureza tem um papel a desempenhar. E para que isso ocorra é preciso haver
equilíbrio.
Muitos povos e civilizações reconheceram, ao longo da história, a necessidade
de proteger áreas naturais com características especiais, por motivos os mais
diversos: estas áreas podiam estar associadas a mitos, fatos históricos
marcantes e à proteção de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros
recursos naturais.
Com o passar do tempo, muitas áreas naturais foram sendo destruídas para
dar lugar à ocupação humana. Animais e plantas foram eliminados, alguns
desapareceram e outros, até os dias atuais, ainda correm risco de extinção.
Nosso país é considerado megabiodiverso. Aqui se encontra uma grande
variedade de espécies da fauna e da flora, compondo importantes
ecossistemas que nos proporcionam um dos melhores climas do mundo, água
pura e em grande quantidade, terras férteis e paisagens paradisíacas.
Este é o nosso maior privilégio, esta é a nossa herança: temos uma natureza
que nos oferece todos os recursos de que precisamos para viver bem. E essa
herança deve ser protegida.
O governo brasileiro protege as áreas naturais por meio de Unidades de
Conservação (UC) - estratégia extremamente eficaz para a manutenção dos
recursos naturais em longo prazo.
Para atingir esse objetivo de forma efetiva e eficiente, foi instituído o Sistema
Nacional de Conservação da Natureza (SNUC), com a promulgação da Lei nº
9.985, de 18 de julho de 2000. A Lei do SNUC representou grandes avanços à
criação e gestão das UC nas três esferas de governo (federal, estadual e
municipal), pois ele possibilita uma visão de conjunto das áreas naturais a
serem preservadas. Além disso, estabeleceu mecanismos que regulamentam a
participação da sociedade na gestão das UC, potencializando a relação entre o
Estado, os cidadãos e o meio ambiente.
Há 10 anos, o SNUC faz valer nosso direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado para presentes e futuras gerações, por meio da implantação e
consolidação de unidades de conservação.
O que são Unidades de Conservação – Unidade de Conservação (UC) é a
denominação dada pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
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Natureza (SNUC) (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000) às áreas naturais
passíveis de proteção por suas características especiais. São "espaços
territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público,
com objetivos de conservação e limites definidos, sob-regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção da lei" (art.
1º, I).
As UCs têm a função de salvaguardar a representatividade de porções
significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e
ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o
patrimônio biológico existente. Além disso, garantem às populações
tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais de forma racional e ainda
propiciam às comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades
econômicas sustentáveis.
Uma marcha de bilhões de anos de evolução culminou num planeta capaz de
sustentar vida em vários sistemas ecológicos. Estes ecossistemas, foram (e
são) a base para o desenvolvimento e continuada evolução das mais variadas
espécies existentes, sejam bacterianas, vegetais ou animais. A existência do
meio ambiente, portanto, é condição indissociável à vida. E, como a própria
vida, um direito fundamental a todo o ser humano.
No Brasil, este direito fundamental é garantido aos cidadãos pela Constituição
Federal de 1988 no art. 225: "Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações."
Mas apenas reconhecer o direito não é suficiente. É preciso que haja
instrumento para que se possa concretizá-lo. Assim a Constituição impõe ao
Poder Público o dever de "definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
sua proteção". Este comando foi atendido, enfim, com a promulgação da Lei nº
9.985, de 18 de julho de 2000 e do Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002
que, respectivamente, cria e regula o SNUC.
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Sendo a proteção do meio ambiente uma competência que concorre a todas as
esferas do Poder Público, à iniciativa privada e toda sociedade civil, coube ao
SNUC disponibilizar a estes entes os mecanismos legais para a criação e a
gestão de UCs (no caso dos entes federados e da iniciativa privada) e para
participação na administração e regulação do sistema (no caso da sociedade
civil), possibilitando assim o desenvolvimento de estratégias conjuntas para as
áreas naturais a serem preservadas e a potencialização da relação entre o
Estado, os cidadãos e o meio ambiente.
As unidades de conservação da esfera federal do governo são administradas
pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Nas
esferas estadual e municipal, por meio dos Sistemas Estaduais e Municipais de
Unidades de Conservação.
O SNUC agrupa as unidades de conservação em dois grupos, de acordo com
seus objetivos de manejo e tipos de uso: Proteção Integral e Uso Sustentável.
As Unidades de Proteção Integral têm como principal objetivo preservar a
natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, ou
seja, aquele que não envolve consumo, coleta ou dano aos recursos naturais:
recreação em contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa científica,
educação e interpretação ambiental, entre outras. As Unidades de Uso
Sustentável, por sua vez, têm como objetivo compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável dos recursos, conciliando a presença humana
nas áreas protegidas. Nesse grupo, atividades que envolvem coleta e uso dos
recursos naturais são permitidas, desde que praticadas de uma forma a manter
constantes os recursos ambientais renováveis e processos ecológicos.
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Segundo a legislação vigente, as UCs são criadas por meio de ato do Poder
Público (Poder Executivo e Poder Legislativo) após a realização de estudos
técnicos da importância ecológica dos espaços propostos e, quando
necessário, consulta à população.
Estas áreas estão sujeitas a normas e regras especiais e só podem ser
alteradas e/ou reduzidas mediante lei específica. Entretanto, em 2012, uma
Medida Provisória que previa a redefinição de limites de sete UCs na Amazônia
foi sancionada pela presidente e transformada em Lei Federal. Isso abre um
precedente perigoso para a conservação no país, pois o instrumento elencado
pelo legislador originário foi a lei ordinária que, por possuir, tramitação
legislativa mais longa, atende à exigência original de manifestações populares
e consultas públicas.
29) MONITORAMENTO AMBIENTAL.
Monitoramento ambiental
Monitoramento ambiental (português brasileiro) ou Monitorização Ambiental
(português europeu) consiste num conjunto de observações e medições de
parâmetros ambientais, de modo continuo ou frequente, podendo ser usada
para controle ou alarme.
Micro-Escala
A monitorização será em micro-escala quando se pretende monitorizar e
acompanhar um ou vários parâmetros localizados num contexto geográfico
pequeno e limitado, tal como o controlo de emissões gasosas à saída de uma
fábrica.
Em termos de micro-escala, a monitorização ambiental é geralmente usada
para controle de emissões poluentes, sejam elas gasosas ou liquidas. Através
de medições frequentes, verificam-se a conformidade ou não com os requisitos
legais e/ou operacionais.
Macro-Escala
É considerada em macro-escala nos casos de uma área geográfica vasta,
como o controle da qualidade das águas de um lago, ou a evolução de um
determinado equilíbrio entre espécies numa zona protegida.
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A monitorização ambiental no quadro de uma gestão equilibrada e adaptativa
permite avaliar se a evolução decorre de modo equilibrado, para que se possa
corrigir situações de potencial risco ou desequilíbrio.
Assim, ao fornecer informações sobre o estado do ambiente, quer sejam
relativamente a um dado momento ou referentes a sua evolução com o tempo,
torna-se um importante instrumento para tomadas de decisão no âmbito do
desenvolvimento sustentável.
MONITORAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE
Para garantir que a operação Central Nuclear de Angra não liberasse nenhum
material radiativo para o meio ambiente, a Eletrobras Eletronuclear
desenvolveu um permanente e rigoroso programa de monitoração. Este
trabalho começou em 1978, quatro anos antes da entrada em operação da
primeira usina nuclear brasileira, e foi chamado de programa pré-operacional.
Nessa época foi criado o Laboratório de Monitoração Ambiental. Sua missão
inicial era realizar um vasto diagnóstico ambiental na área do entorno da futura
central nuclear. Esse trabalho incluiu a medição dos níveis de radioatividade
que estavam naturalmente presentes em diversos materiais. Essas matrizes
foram escolhidas em função de sua abundância na região e de sua importância
no cotidiano dos moradores locais. Elas incluem diversos tipos de amostras
coletadas tanto em ambiente marinho quanto terrestre. Também são recolhidas
periodicamente amostras de água de chuva e de partículas do ar retidas em
filtros próprios.
As amostras são coletadas e analisadas regularmente desde antes do início da
entrada em operação de Angra 1 em 1982. Isto permite que os técnicos da
Eletrobras Eletronuclear possam comparar os dados obtidos nestes mais de
trinta anos de monitoração.
O controle de qualidade das análises é realizado através de programas de
intercomparação mantidos pela Agência Internacional de Energia Atômica, pela
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e pelo Instituto de
Radioproteção e Dosimetria, da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
O foco do monitoramento ambiental é a coleta, registro e acompanhamento de
informações sobre substâncias ou outros indicadores representativos.
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O Planejamento De Atividades De Monitoramento Ambiental Envolve:
A definição dos indicadores/ parâmetros a serem avaliados;
A metodologia e os meios a utilizar;
O local da amostragem ou de coleta;
A frequência da obtenção de dados.
O Monitoramento ambiental oferece conhecimento e informações básicas para
avaliar a presença de contaminantes, para compreender os sistemas
ambientais e para dar suporte a politicas de gestão, desta forma, os resultados
do monitoramento ambiental vão subsidiar:
medidas de planejamento, medidas de controle, medidas de recuperação,
medidas de preservação e medidas de conservação.