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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
ESTUDO DAS PROPRIEDADES MINERALÓGICAS E TECNOLÓGICAS DE
ARGILAS DA REGIÃO DO AGRESTE POTIGUAR PARA PRODUÇÃO DE
CERÂMICA ESTRUTURAL
FLÁNELSON MACIEL MONTEIRO
PPgEM
Nº 316
NATAL
Outubro/2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
ESTUDO DAS PROPRIEDADES MINERALÓGICAS E TECNOLÓGICAS DE
ARGILAS DA REGIÃO DO AGRESTE POTIGUAR PARA PRODUÇÃO DE
CERÂMICA ESTRUTURAL
Dissertação submetida à
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Como parte dos requisitos para a obtenção do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA
FLÁNELSON MACIEL MONTEIRO
Orientador:
Prof. Dr. RUBENS MARIBONDO DO NASCIMENTO
NATAL
Outubro/2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
ESTUDO DAS PROPRIEDADES MINERALÓGICAS E TECNOLÓGICAS DE
ARGILAS DA REGIÃO DO AGRESTE POTIGUAR PARA PRODUÇÃO DE
CERÂMICA ESTRUTURAL
FLÁNELSON MACIEL MONTEIRO
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de
MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA
Sendo aprovado em sua forma final.
______________________________________________________________ Orientador
Prof. Dr. Rubens Maribondo do Nascimento Departamento de Engenharia Mecânica
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________ Prof. Dr. Rubens Maribondo do Nascimento
PRESIDENTE
____________________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto Paskocimas - UFRN
___________________________________________ Profª. Drª. Ariadne de Souza Silva – UFRN
____________________________________________ Prof. Dr. Gilson Garcia da Silva – IFRN
“Aos Esfarrapados Do Mundo E Aos Que Neles
Se Descobrem E, Assim Descobrindo-Se, Com
Eles Sofrem, Mas, Sobretudo, Com Eles Lutam”.
(Paulo Freire)
A minha mãe,
Aos meus familiares,
E a todos os profissionais que trabalham para transformar o nosso Brasil numa
nação mais justa e igualitária, especialmente aos Professores.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Rubens Maribondo do Nascimento pela orientação, atenção e paciência.
Aos docentes do PPGEM, pelo aprendizado e disponibilidade em ajudar;
Ao secretário do PPGEM, Luiz Henrique, pelo companheirismo e gentileza;
Ao laboratório de Tratamentos de Minérios e Cerâmica do IFRN, especialmente a
Lana Lopes e Antônio de Pádua, pela compreensão na solicitação das análises;
Ao amigo Raimison, pela ajuda durante a realização do trabalho;
Aos colegas do Laboratório de Cerâmica do Departamento de Materiais, pela
disponibilidade e boa vontade em ajudar.
Aos amigos, Narayanna, Raquel e Jussier, pela disponibilidade em ajudar durante os
momentos crucias do trabalho;
Aos amigos José Leonaldo e Samara Valcacer, pela disponibilidade de ouvir, a boa
vontade de ajudar e pela companhia que é sempre muito prazerosa;
Ao Prof. Tércio Graciano, pelos conselhos dados nas horas mais complicadas e pela
ajuda nunca negada.
RESUMO
Nas últimas décadas, os produtos cerâmicos se tornaram indispensáveis para o
desenvolvimento tecnológico da humanidade, ocupando posições importantes na
produção científica e consequentemente na produção industrial. Uma das áreas da
economia que continua absorvendo grandes quantidades dos produtos desse setor
é a Construção Civil. Entre os ramos do setor ceramista, destacam-se as indústrias
de cerâmica vermelha que é tradicionalmente a base desse segmento econômico.
Entre os motivos pelo quais as indústrias de cerâmicas vermelhas se popularizaram
no país, e especificamente no Rio Grande do Norte, é a abundância dessa matéria
prima, encontrada com facilidade por todo território nacional. Entretanto, constata-se
que a indústria de cerâmica vermelha possui deficiências em tecnologia e mão de
obra qualificada, resultando na produção de peças cerâmicas com baixo valor
agregado. Entre os fatores que determinam a qualidade dos produtos da cerâmica
vermelha, tem-se a formulação adequada da massa cerâmica, a conformação e a
temperatura de queima. Sendo assim, o objetivo geral desse trabalho é estudar as
propriedades mineralógicas e tecnológicas, de duas argilas provenientes da região
do Agreste Potiguar para a indústria ceramista. Para tanto, as matérias primas foram
caracterizadas através das análises de difratometria de Raios-X (DRX), análise de
fluorescência de Raios-X (FRX), análise granulométrica (AG), microscopia eletrônica
de varredura (MEV), microscopia óptica (MO), índice de plasticidade (IP), análise
termogravimétrica (ATG) e análise térmica diferencial (ATD). As propriedades
tecnológicas do material foram analisadas pelos ensaios de absorção de água
(AA%), porosidade aparente (PA%), retração linear (RT%), massa específica
aparente (MEA), perda ao fogo (PF%) e resistência a flexão em três pontos (TRF).
Palavras Chave: Argila, Rio Grande do Norte, Cerâmica Vermelha, Formulações
ABSTRACT
In recent decades, ceramic products have become indispensable to the technological
development of humanity, occupying important positions in scientific production and
consequently in industrial production. One area of the economy that continues to
absorb large amounts of the products of this sector is Construction. Among the
branches of the ceramic industry, there are the red ceramic industry which is
traditionally the basis of that economic sector. Among the reasons for which the red
ceramic industry became popular in the country, and specifically in Rio Grande do
Norte, is the abundance of this raw material, easily found throughout the national
territory. However, it appears that the red ceramic industry has deficiencies in
technology and skilled labor, resulting in the production of ceramic goods with low
added value. Among the factors that determine the quality of the ceramic products
red has the proper formulation of the ceramic mass, the conformation and the firing
temperature. Thus, the overall goal of this work is to study the mineralogical and
technological properties, two clays from the region of the Wasteland Potiguar
industrial ceramist. Therefore, the raw materials were characterized by analysis of X-
ray diffraction (XRD) analysis, X-ray fluorescence (XRF), particle size analysis (FA),
scanning electron microscopy (SEM), optical microscopy (OM ), plasticity index (PI),
thermal gravimetric analysis (TGA) and differential thermal analysis (DTA). The
technological properties of the material were analyzed by water absorption tests
(AA%) porosity (% PA), the linear shrinkage (RT%), apparent density (MEA), loss on
ignition (PF%) and flexural strength three points (TRF).
Keywords: Clay, Rio Grande do Norte, Red Ceramic, Formulations
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Argila de Várzea (Fonte: Ambiente Sedimentar).................................. 25
Figura 2: Zonas de Produção de Cerâmica Vermelha do RN.............................. (Fonte: Adaptado de Carvalho, 2001)
36
Figura 3: Blocos produzidos no Rio Grande do Norte.......................................... (Fonte: Carvalho, 2001)
39
Figura 4: Tipos de telhas cerâmicas..................................................................... (Fonte: Gilbertoni, 2001)
39
Figura 5: Esquema do processo produtivo da cerâmica vermelha...................... (Fonte: adaptado de ABCERAM, 2011)
41
Figura 6: Misturador.............................................................................................. (Fonte: Cerâmica Icargel)
44
Figura 7: Laminador.............................................................................................. (Fonte: Tijolos Cerâmicos)
44
Figura 8 (a): Extrusão de tijolos................................................................................. (Fonte: Baccelli Júnior, 2010)
46
Figura 8 (b): Carimbagem em massa plástica de tijolos antes do corte.................... (Fonte: Baccelli Júnior, 2010)
46
Figura 9: Secagem natural de Telhas ao ar livre................................................. (Fonte: Baccelli Júnior, 2010)
48
Figura 10: Secagem de tijolos dentro de galpões.................................................. (Fonte: Sani do Brasil)
49
Figura 11: Secador Artificial de Tijolos................................................................... (Fonte: Cerâmica Icargel)
49
Figura 12: Forno do Tipo Abóboda......................................................................... (Fonte: INI, 2005)
55
Figura 13: Lateral de um forno Hoffmann............................................................... (Fonte: Freitas, 2007)
55
Figura 14: Saída de Produtos do Forno Túnel...................................................... (Fonte: Arquivo Pessoal)
56
Figura 15: Fluxograma do Procedimento Experimental......................................... 61
Figura 16: Análise granulométrica da argila 1........................................................
74
Figura 17: Análise granulométrica a laser da argila 1............................................
75
Figura 18: Análise granulométrica da argila 2........................................................
76
Figura 19: Análise granulométrica a laser da argila 2............................................
77
Figura 20: DRX da argila 1 - #80 mesh..................................................................
78
Figura 21: DRX da argila 1 - #140 mesh...............................................................
78
Figura 22: DRX da Argila 1 - #200 mesh................................................................
79
Figura 23 DRX da Argila 2 - #80 mesh..................................................................
79
Figura 24 DRX da argila 2 - #140 mesh................................................................
80
Figura 25 DRX da argila 2 - #200 mesh................................................................
80
Figura 26 Análises Térmicas da Argila 1...............................................................
84
Figura 27 Análises Térmicas da Argila 2.............................................................
86
Figura 28 Ensaio de Perda ao Fogo (PF%).........................................................
88
Figura 29 Ensaio de absorção de água (AA%).....................................................
89
Figura 30 Ensaio de Porosidade Aparente (PA%)................................................
91
Figura 31 Ensaio de Retração Linear (RTq%)...................................................... 93
Figura 32 Ensaio de Massa Específica Aparente (MEA)......................................
95
Figura 33 Tensão de Ruptura à Flexão (TRF)......................................................
96
Figura 34 MEV da Formulação F1 (850ºC)...........................................................
97
Figura 35 MEV da Formulação F1 (900°C)...........................................................
97
Figura 36 MEV da Formulação F1 (950ºC)...........................................................
98
Figura 37 MEV da Formulação F2 (850°C)........................................................... 99
Figura 38 MEV da Formulação F3 (850°C)........................................................... 99
Figura 39 MEV da Formulação F4 (850°C)........................................................... 99
Figura 40 MO da Formulação F1 (850°C)............................................................. 100
Figura 41 MO da Formulação F1 (900 °C)............................................................ 100
Figura 42 MO da Formulação F1 (950°C)............................................................. 100
Figura 43 MO da Formulação F2 (850°C)............................................................. 101
Figura 44 MO da Formulação F3 (850°C)............................................................. 101
Figura 45 MO da Formulação F4 (850°C)............................................................. 101
Figura 46 Corpos de Prova (F1)........................................................................... 101
Figura 47 Corpos de Prova (F2)........................................................................... 101
Figura 48 Corpos de Prova (F3)........................................................................... 102
Figura 49 Corpos de Prova (F4)........................................................................... 102
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dados da fabricação dos produtos de cerâmica vermelha...................
34
Tabela 2 - Segmentos cerâmicos e suas respectivas produções..........................
34
Tabela 3 – Distribuição de Cerâmicas do Rio Grande do Norte por Bacias.......... (Adaptada)
37
Tabela 4 – Composição das formulações..............................................................
62
Tabela 5 - Quantidade de amostras distribuídas por queima....................................
65
Tabela 6 – Análise química da argila 1..............................................................
81
Tabela 7 – Análise química da argila 2.........................................................
82
Tabela 8 – Índice de Plasticidades das Argilas......................................................
83
Tabela 9 - Ensaio de Perda ao Fogo (PF%).......................................................... 87
Tabela 10 - Absorção de Água (AA%)....................................................................
89
Tabela 11 – Ensaio de Porosidade Aparente (PA%).............................................. 91 Tabela 12 - Ensaio de Retração Linear (RTq%)....................................................
93
Tabela 13 - Ensaio de Massa Específica Aparente (MEA)..................................... 94 Tabela 14 - Ensaio de Resistência à Flexão (TRF)................................................
95
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
DRX Difração de Raios-X
FRX Fluorescência de Raios-X
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
MO Microscopia Ótica
AG Análise Granulométrica
ATG Análise Termogravimétrica
ATD Análise Térmica Diferencial
AA% Absorção de Água
PA% Porosidade Aparente
RT% Retração Linear
MEA Massa Específica Aparente
PF% Perda Ao Fogo
TRF Resistência a Flexão em Três Pontos
QUALIHAB Qualidade da Construção Habitacional
GNL Gás Natural
LL Limite de Liquidez
LP Limite de Plasticidade
SUMÁRIO
Pág.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
1. INTRODUÇÃOHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH..
18
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
23
2.1. Matérias PrimasHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH..
24
2.1.1. ArgilaHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
24
2.1.2. Propriedades das Argilas.........................................................................
28
2.2. Cerâmica Vermelha.....................................................................................
33
2.2.1. Principais Produtos de Cerâmica Vermelha............................................
38
2.2.2. Processo Produtivo..................................................................................
40
2.2.2.1. Mistura das Matérias Primas........................................................
43
2.2.2.2. Conformação das argilas .HHHHHHHHHHHHHHHH
45
2.2.2.3. Secagem dos ProdutosHHHHHHHHHHHHHHHHHH
47
2.2.2.4. Queima dos ProdutosHHHHHHHHHHHHHHHHHH..
50
2.2.3. Especificações dos Fornos para Queima de Cerâmica Vermelha...........
53
2.2.4. Combustíveis Utilizados na Indústria de Cerâmica Vermelha..................
57
3. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................
60
3.1 Matérias Primas..................................................................................................
62
3.2 Procedimento Experimental das Formulações...............................................
62
3.2.1. Destorroamento e Cominuição.................................................................
63
3. 2.2. Peneiramento...........................................................................................
63
3.2.3. Mistura e Homogeneização...................................................................... 63
3.2.4. Conformação/ Prensagem.......................................................................
64
3.2.5. Secagem..................................................................................................
64
3.2.6. Queima....................................................................................................
64
3.3. Ensaios........................................................................................................
65
3.3.1. Ensaios de Caracterização......................................................................
66
3.3.1.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).................................
66
3.3.1.2. Microscopia Óptica (MO)................................................................
66
3.3.1.3. Difração de Raios X (DRX)..........................................................
66
3.3.1.4. Flourescência de Raios X (FRX)...................................................
67
3.3.1.5. Análise Granulométrica (AG).........................................................
68
3.3.1.6. Análise Termogravimétrica (ATG).................................................. 68
3.3.1.7. Análise Térmica Diferencial (ATD)................................................. 68
3.3.1.8. Índice de Plasticidade (IP)..............................................................
68
3.2.2. Ensaios Tecnológicos............................................................................
69
3.2.2.1. Perda ao Fogo (PF%).....................................................................
69
3.2.2.2. Absorção de Água (AA%)...............................................................
70
3.2.2.3. Porosidade Aparente (PA%).........................................................
70
3.2.2.4. Retração Linear (RTq%)................................................................. 71
3.2.2.5. Massa Específica Aparente (MEA%)HHHHHHHHHHHH..
71
3.2.2.6. Tensão de Ruptura à Flexão (TRF)..............................................
72
4. RESULTADOS E DISCUSSÃOHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
73
4.1. Ensaios de Caracterização Físico –Químicos e MineralógicosH...HH..
74
4.1.1 . Análise Granulométrica (AG)....................................................................... 74
4.1.2 . Análise de Difração de Raios X (DRX)........................................................
77
4.1.3 . Análise de Fluorescência de Raios X (FRX)................................................
81
4.1.4 . Índice de Plasticidade (IP)............................................................................
83
4.1.5 . Análises Termogravimétricas (ATG) e Térmicas diferenciais (ATD)............
84
4.2. Ensaios Tecnológicos HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH.
86
4.2.1. Perda ao Fogo (PF%)HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
87
4.2.2. Absorção de Água (AA%)HHHHHHHHHHHHHHHHHHHH.
88
4.2.3. Porosidade Aparente (PA%)HHHHHHHHHHHHHHHHHH.....
91
4.2.4. Retração Linear (RTq%) HHHHHHHHHHHHHHHHHHH.......
92
4.2.5. Massa Específica Aparente (MEA)HHHHHHHHHHHHHHHH...
94
4.2.6. Tensão de Ruptura à Flexão (TRF)..........................................................
95
4.2.7. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ............................................
4.2.8. Microscopia Ótica (MO) e Análise Visual .................................................
97
99
5. CONCLUSÃO .....................................................................................HHH.. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS..............................................
REFERÊNCIAS.........................................................................................................
104 107
109
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Introdução 19
O homem, nos primórdios da civilização, vivendo em ambientes hostis buscou
maneiras para melhorar sua sobrevivência diante das mais variadas situações. Uma
das ações encontradas para diminuir as dificuldades foi à criação de utensílios
básicos usados, individualmente ou coletivamente, pela comunidade para as mais
diversas operações. Na fabricação desses objetos foram utilizadas matérias primas
de fácil manuseio. Dentre os primeiros materiais usados para esses fins, têm-se as
argilas, que se tornaram um instrumento fundamental no desenvolvimento da
civilização, principalmente por serem encontradas em abundância na crosta
terrestre. Para chegar ao ponto de transformar argila em peças cerâmicas, o homem
percebeu que esse material exposto ao sol forte ficava endurecido, então
começaram a pensar e posteriormente a confeccionar produtos que, na maioria das
vezes, era voltada para a produção de utensílios domésticos, como por exemplo, na
confecção de recipientes para guardar alimentos e bebidas. Conforme destaca
Nascimento (2010), os primeiros povos a utilizar objetos criados a partir de argilas
foram os Mesopotâmicos ainda no ano 25 a.C..
A partir dessas descobertas, o homem buscou o domínio da arte de
fabricação das peças cerâmicas. A produção ceramista dos povos antigos não se
limitou apenas a fabricação de peças para uso doméstico. Com o domínio da técnica
de produção ceramista, a população começou a fabricar casas a partir da argila,
configurando assim, um dos primeiros exemplos do avanço tecnológico que os
produtos cerâmicos trouxeram para os povos.
Desde então os produtos cerâmicos acompanham o homem no decorrer dos
séculos até os dias atuais, abrangendo áreas distintas da ciência. Na arte, por
exemplo, a cerâmica foi usada como tinta, pois os homens primitivos esfacelavam
pedras e misturaram com água, passando nas peças e outros objetos cerâmicos
20
Introdução
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
ainda quentes. Foi através das peças cerâmicas que os povos deixaram suas
principais características, contando seu dia a dia, passando tais fatos para a
posteridade. Diversas passagens da história da humanidade demonstram a
utilização dos produtos cerâmicos como protagonistas para o desenvolvimento
tecnológico. Por exemplo, conforme Inctam (2011), a irrigação dos Jardins
Suspensos da Babilônia e da cidade de Jerusalém, no reinado do rei Salomão, foi
feita utilizando tubos cerâmicos. No Brasil, o primeiro vestígio do uso dos materiais
cerâmicos encontra-se na Ilha do Marajó, localizada na região amazônica.
A presença desses materiais perpassou a sua área fundamental, a indústria
da Construção Civil e de materiais de uso doméstico, para atuarem nos diversos
campos da ciência e tecnologia mundial. De acordo com Nascimento (2007), a
cerâmica hoje auxilia na área científica: na medicina, vem sendo utilizada na prótese
de ossos; na pecuária australiana, reveste os chips injetados nos animais,
possibilitando uma contagem precisa e segura; para os dentistas, nas obturações e
nos implantes dentários. Ainda encontram-se cerâmicas na produção de materiais
duros, como exemplo, as ferramentas de corte cerâmicas para usinagem.
Como enfatiza Baccelli Junior (2010), devido à diversidade de produtos
cerâmicos em atuação nos setores industriais, foi necessária sua divisão,
classificando-os em subsetores, tais como: cerâmica de revestimento, cerâmica
sanitária, isoladores elétricos de porcelana, refratários, louça e porcelanato de mesa,
cerâmica técnica e cerâmica estrutural ou cerâmica vermelha.
É justamente o setor da cerâmica vermelha que mais se popularizou por todo
território nacional, principalmente por ser responsável pelos principais produtos de
base da Construção Civil, principalmente na produção de tijolos e telhas. Esse setor
é um dos pilares da econômica nacional, e consequentemente impulsiona o
21
Introdução
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
faturamento econômico dos Estados e municípios. E é esse setor um dos principais
a serem atingidos beneficamente pela atual fase de crescimento econômico que o
país vem sendo atingido. Devido a essa nova conjuntura econômica, existe uma
demanda crescente pelos produtos da cerâmica vermelha. Para responder a
demanda é necessário que os empresários busquem novas jazidas de matérias
primas, aperfeiçoar a produção e melhorar as propriedades dos produtos,
principalmente padronizando as peças.
No Estado do Rio Grande do Norte, encontram-se espalhadas, pelo seu
território, cerca de duzentas e seis empresas produtoras de cerâmica vermelha
(CARVALHO, 2001). Sendo que a administração dessas empresas é basicamente
de cunho familiar. Os principais produtos confeccionados no Estado são: tijolos,
telhas e as lajotas. Apesar do setor de cerâmica vermelha, na sua forma organizada,
está instalado no Estado há várias décadas e sendo responsável por uma parcela
considerável do PIB estadual, suas deficiências tecnológicas continuam nítidas.
Entre essas dificuldades, pode-se citar: a ausência de ensaios com o objetivo de
identificar qual a melhor formulação para confecção dos produtos desejados; ciclo
de queima inadequado para sinterização das peças e a despadronização do produto
final. Esses são alguns dos pontos do processo de fabricação que necessitam de
aperfeiçoamento e inovação tecnológica.
O processo de fabricação da cerâmica vermelha começa na caracterização
da matéria prima ainda nas jazidas. Em seguida, determina-se a formulação
adequada, faz-se a conformação e após a etapa de queima ou sinterização, obtêm-
se o produto final, com as propriedades mecânicas desejadas.
Entre as etapas do processo de fabricação dos produtos de cerâmica
vermelha, a formulação da massa cerâmica para produção das peças é uma das
22
Introdução
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
mais importantes. Sua confecção deve ser realizada com muita cautela para impedir
qualquer possibilidade de erros nas proporções, que consequentemente propiciam o
surgimento de defeitos nos produtos finais.
Sendo assim, o objetivo geral desse trabalho é estudar as propriedades
mineralógicas e tecnológicas de duas argilas provenientes da região do Agreste
Potiguar para a indústria ceramista local, particularmente para produção de cerâmica
estrutural. Para tanto, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
- Caracterização das argilas provenientes da região do Agreste Potiguar
(mineralógicas e tecnológicas) usadas no trabalho;
- Desenvolvimento de uma formulação com possíveis combinações de argilas
para produção de uma massa cerâmica padrão, com o intuito de produzir peças com
qualidades satisfatórias e dentro das normas vigentes;
- Após sinterização, apontar o ciclo de queima adequado para a produção de
peças cerâmicas utilizando as matérias primas em estudo;
As matérias primas foram caracterizadas através das análises de
Difratometria de Raios-X (DRX), análise de Fluorescência de Raios-X (FRX), Análise
Granulométrica (AG), Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), Microscopia
Óptica (MO), Análise Termogravimétrica (ATG), Análise Térmica Diferencial (ADT) e
Índice de Plasticidade (IP). As propriedades tecnológicas do material estudado
foram analisadas pelos ensaios tecnológicos de Absorção de Água (AA%),
Porosidade Aparente (PA%), Retração Linear (RT%), Massa Específica Aparente
(MEA), Perda ao Fogo (PF%) e Resistência à Flexão em Três Pontos (TRF).
CAPÍTULO 2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Revisão Bibliográfica
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
24
2.1. Matérias Primas
2.1.1. Argila
A argila é um material natural, terroso e de granulação fina, que, geralmente,
adquire certa plasticidade, quando umedecido com água; quimicamente, são
formadas essencialmente por silicatos hidratados de alumínio, ferro e magnésio
(SANTOS, 1989). Granulometricamente, as argilas são formadas por partículas com
o tamanho inferior a 2 µm na forma de lâminas.
Conforme Lucena (2007), as argilas fazem parte dos chamados “minerais
industriais” formados pelo grupo dos silicatos, grupo este de grande importância,
pois cerca de 25% dos minerais conhecidos e quase 40% dos minerais comuns são
silicatos, representando aproximadamente 97% em volume da crosta terrestre.
No Brasil, as argilas recebem nomes diferentes que variam de acordo com
cada região ou até mesmo entre Estados. Para Paschoal (2003), algumas argilas
podem ser encontradas com as seguintes denominações:
− Argilas de Várzea: são facilmente encontradas às margens de rios ou
banhadas, e podendo apresentar as seguintes texturas: terrosa,
esfarelada e em torrões, granulometria fina, o que contribui com
elevação da plasticidade quando umedecidas, tendo papel importante
quando utilizada como ligante ou plastificante da massa, sendo que
sua coloração típica varia do cinza ao preto, que após a queima, varia
do rosa ao vermelho. Neste material normalmente são encontradas
impurezas como: quartzo, mica e matéria orgânica; esta última, por sua
vez, pode ser responsável, quando em teor elevado, pelas perdas de
contração durante a queima do produto. É usada na fabricação de
Revisão Bibliográfica
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
25
produtos de cerâmica vermelha. Na figura 1 encontra-se uma ilustração
de uma jazida de argila de várzea.
Figura 1 – Argila de várzea (Fonte: Ambiente Sedimentar )
− Argila de morro: apresentam na sua concepção, texturas terrosas,
granulares ou em blocos, desfazendo-se em pequenos blocos. Por sua
baixa plasticidade, varia também a sua tonalidade, entre vermelha e
amarelada após a queima. Na sua composição, apresentam-se o
quartzo, às vezes, o feldspato, como impurezas, e pouca matéria
orgânica. Nessas argilas é comum a presença de seixos, cascalhos e
carbonatos;
− Argilas tipo taguá: encontradas em encostas de morros e sob rios em
camadas profundas, são geralmente muito duras e de cores variadas
predominando o vermelho e o cinza. Para a sua extração, são
necessários equipamentos e máquinas pesadas e até mesmo
explosivos; devendo ser moídas antes da mistura final para a
produção.
Revisão Bibliográfica
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
26
Entre os elementos básicos da argila, especificamente na argila vermelha,
destacam-se os argilominerais. Segundo Santos (1989), quimicamente, os
argilominerais são compostos por silicatos hidratados de alumínio e ferro, contendo
ainda, geralmente, certo teor de alcalinos e alcalino-terrosos.
Esses compostos - os argilominerais, são os principais responsáveis pelo
desenvolvimento da plasticidade do sistema argila-água, propriedade de
fundamental importância no processamento por extrusão (SILVA et all, 2011).
Conforme Nascimento (2007), entre os principais componentes argilosos
destacam-se as seguintes fases: Caulinita, ilita e Montmorilonita. Suas principais
características são:
− Caulinitas (Al2Si2O5(OH)4): é um dos principais componentes das argilas,
sendo responsável pela resistência mecânica dos produtos cerâmicos. Na
sua forma pura, são necessárias elevadas temperaturas para adquirir
resistência, por isso, deve ser usada misturada a outros tipos de argila;
− Ilitas (KH3O)Al2Si3AlO10(OH)2: usada na produção de tijolos, telhas e lajotas.
Sua principal função é contribuir com a coloração avermelhada dos produtos.
Possui plasticidade alta, facilitando o processo de conformação dos produtos
cerâmicos;
− Montmorilonitas (Na,Ca)0,3(Al,Mg)2Si4O10(OH)2.nH2O: favorece a plasticidade,
fusibilidade e sinterização das argilas; especialmente nas argilas para
cerâmica vermelha. Por ser expansiva, absorve maior quantidade de água, é
altamente plástica, ocasionando problemas na moldagem e no aparecimento
de trincas.
Além dos argilominerais, outros minerais compõem as argilas, tais como:
sais solúveis, partículas de quartzo, pirita, mica, calcita, dolomita e podem conter
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minerais amorfos. Esse material no seu estado bruto possui impurezas minerais,
matéria orgânica e água intrínseca na estrutura, que aquecida em determinada
temperatura, desaparece.
Os constituintes das argilas podem ser divididos em dois grupos de
características distintas: um de fração argilosa e outro de fração não argilosa. O
primeiro grupo, chamado de fração argilosa, é constituído pelos argilominerais
(minerais de argila), os quais, pela sua natureza, proporcionam à argila
característica plástica; enquanto a fração não argilosa é constituída pelos minerais
assessórios, proporcionando a argila característica não plástica. (DEER, 1992)
Nas argilas para produção de cerâmica vermelha as duas frações contidas
nesse material recebem a denominação de argila gorda (fração argilosa) e argila
magra (fração não argilosa). Ambas possuem características distintas, por exemplo,
os índices de plasticidade diferentes. De acordo com Pradicelli (1997), essas frações
são definidas pelas seguintes características:
a) Argila magra (fração não argilosa) – representada por areias, micas,
óxidos de ferro e outros; reduzem o grau de compactação da massa,
atuando como agente desplastificante. Para que possam agir com
eficácia sobre as características das argilas, devem apresentar
granulometria acima de 60µm e devem ser usadas em quantidades
moderadas;
b) Argila plástica (fração plástica) – Apresentam granulometria fina, mas
precisam de uma considerável quantidade de água para desenvolver
sua plasticidade. Apresentam alta resistência mecânica a seco e após
a queima.
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Na produção da cerâmica vermelha, essas frações argilosas são misturadas
quando uma argila não possui condições para fabricar os produtos com as
características desejadas. Nesse caso, usa-se a mistura de duas ou mais argilas no
processo produtivo para obter-se a qualidade requerida pelas normas e pelo projeto
de execução.
2.1.2. Propriedades das Argilas
A qualidade dos produtos cerâmicos está estreitamente ligada às
propriedades tecnológicas e mineralógicas das argilas. Entre as principais
destacam-se: a plasticidade, a granulometria e a composição mineralógica.
A plasticidade das argilas é uma das propriedades mais importantes,
influenciando diretamente no comportamento dos produtos. Conforme Santos
(1989), define-se plasticidade como o resultado da força de atração das partículas
dos argilominerais e as anisométricas lamelares, sendo estas lubrificadas pela ação
da água.
Conforme Grim (1968), pode-se admitir que a plasticidade seja desenvolvida
quando uma argila tem água suficiente para cobrir toda superfície acessível dos
argilominerais com uma película de água rígida, isto é, mas um pouco de líquido que
age como meio lubrificante, facilitando o deslizamento das placas umas sobre as
outras quando uma tensão tangencial for aplicada. Essas duas águas expressas
percentualmente em relação à massa da argila seca são denominadas de limite de
plasticidade de Attenberg.
Todavia, a plasticidade das argilas depende, também, de fatores da própria
matéria prima, tais como composição mineralógica, dimensões e formato das
partículas, e da presença de outros minerais além dos argilominerais, por exemplo, o
quartzo, e até mesmo de impurezas como matéria orgânica. As argilas muito
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plásticas não devem ser utilizadas na fabricação de produtos cerâmicos, pois requer
muita água, o que permite que os produtos possam ser satisfatoriamente moldados
em função do excesso de umidade. (LUCENA, 2007).
Sobre a plasticidade, Morais (2006) argumenta que as faixas de variação da
água na plasticidade dos grupos de argilominerais são:
a) Caulinita de 8,9 a 56,3%;
b) Ilita de 17,0 a 38,5% e;
c) Montmorilonita de 82,9 a 250,0%.
Segundo Santos (2009), os fatores que influenciam a plasticidade das
argilas são:
- Mineralógicos: são os minerais argilosos a primeira causa da plasticidade
das argilas. Em argilas do mesmo tipo, quanto maior o teor de minerais argilosos,
maior será a plasticidade. De acordo com a plasticidade relativa, as argilas podem
ordenar-se da seguinte forma: bentonita, Ball-clay, fire-clay e caulim;
- Granulométricos: o aumento do percentual de partículas finas corresponde
a um aumento de plasticidade. Quanto maior a superfície especifica, maior é a
quantidade de água que se pode fixar numa superfície.
- Carga Elétrica dos Cristais: a carga elétrica global negativa que os
minerais argilicos possuem, para quase todos os pH’s com a qual está relacionada a
sua capacidade de troca de cátions e o seu potencial eletrocinético. As partículas de
argila que fazem parte de uma massa plástica estão em posição de equilíbrio entre
forças repulsivas devidas as suas cargas elétricas negativas, balanceadas por forças
atrativas com uma componente de Van Der Waals e outra de tensão superficial
devida à água.
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- Natureza dos Cátions de troca e estado de defloculação da argila: uma
argila em que Na+ é o cátion de troca, requer muito menos água para fluir do que
uma argila em que o Ca2+ ou Mg2+ são cátions de troca. Na argila-Ca as partículas
estão fortemente aglomeradas (floculação ou coagulação) e o empacotamento delas
é desordenado formando-se estruturas abertas com espaços preenchidos por água.
Tal sistema implicar uma tensão de cedência elevada requerendo mais água para
fluir. Pelo contrário, na argila-Na a aglomeração das partículas é fraca.
Consequentemente, a argila-Na requer menos água e menos tensão aplicada pra
fluir.
Outra propriedade que exerce forte influência sobre os produtos cerâmicos é
a granulometria. Para Morais (2006), a granulometria das argilas tem íntima relação
com a resistência mecânica dos blocos cerâmicos no estado seco. É uma das
características mais importantes dos minerais argilosos e interfere em muitas outras
propriedades, tais como a plasticidade e a permeabilidade, que são dependentes
além da dimensão das partículas, de sua distribuição granulométrica e forma.
É sabido que as argilas são formadas por materiais plásticos e não plásticos.
Os materiais não plásticos que compõem as argilas são representados pelas micas,
areias, óxido de ferro e outros, atuando como agente desplastificante nas
composições, visto que reduzem a plasticidade destas quando misturados com os
materiais argilosos (PRACIDELLI, 1997). Geralmente a faixa granulométrica desses
elementos é superior a 2µm. As argilas plásticas (denominadas industrialmente por
“argilas gordas”) apresentam granulometria muito fina. Como consequência, o
processamento de uma composição contendo excessivamente esse tipo de argila
torna-se complicado.
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A influência da granulometria fina das argilas, não influência somente na
sua plasticidade, mas estendem-se para outras propriedades, tais como:
comportamento na secagem, retração de secagem, empenamento e resistência à
flexão (LUCENA, 2007).
Ainda no que se refere à interferência da granulometria nas propriedades
das argilas, Pracidelli (1997) argumenta que as argilas de granulometria muito fina
apresentam boa plasticidade, mas precisam de uma considerável quantidade de
água para desenvolver completamente essa propriedade, têm alta resistência
mecânica a seco e após a queima. Todavia argilas com faixas granulométricas
pequenas possuem alto grau de compactação, portanto os canais existentes entre
as partículas são reduzidos, dificultando a eliminação de água durante o processo
de secagem. Com isso, ocorre o aumento do gradiente de umidade no interior do
produto, provocando fortes retrações diferenciais e deformações, aumentando as
perdas no processo de fabricação.
Os desplastificantes, por sua vez, reduzem o grau de compactação da
massa, com diminuição da plasticidade das argilas. De acordo com Pracidelli (1997),
sua introdução nas composições argilosas reduz as contrações sofridas pela massa,
tanto nos processos de secagem como de queima. Para que possam agir com
eficácia sobre as características das argilas, devem apresentar granulometria acima
de 60µm e ser usados em quantidades moderadas.
O conhecimento sobre a granulometria nas argilas, especificamente nas
argilas para cerâmica vermelha, é de extrema importância para obter-se um
diagnóstico sobre as possíveis propriedades dos produtos e consequentemente os
defeitos que estes possam ser acometidos durante o processo de fabricação.
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Destaca-se ainda que esta propriedade seja responsável por provocar modificações
na estrutura dos produtos, principalmente quando as partículas não são uniformes.
Outra propriedade que influi no comportamento dos materiais cerâmicos é a
composição mineralógica das argilas. De acordo com Nascimento (2007) e Santos
(2009), os principais componentes mineralógicos encontrados nas argilas e suas
principais funções na estrutura, são as seguintes:
I. Caulinita (Al2Si2O5(OH)4): é a forma mais pura de argilominerais, sendo
encontrada, geralmente, misturada com grãos de areia, óxidos de ferro e
outros elementos; tem amplo predomínio no caulim, argila muito plástica.
II. Sílica livre (SO2/areia): diminui a retração e facilita a secagem, além de
diminuir a resistência mecânica. Em pequenas quantidades, diminui a cor
avermelhadas das argilas e sua retração (diminuição do volume) durante a
secagem e a queima.
III. Óxido de Ferro (Fe2O3): é responsável pela cor avermelhada dos produtos
cerâmicos e diminui a plasticidade. Além disso, reduz a refratariedade das
argilas;
IV. Alumina (Al2O3): dependendo do tipo, aumenta ou diminui o ponto de fusão da
argila, aparece com teores de 10 a 40%. Além disso, faz com que a argila
suporte temperaturas mais elevadas sem deformar-se.
V. Sais Solúveis: em teores elevados causam manchas (eflorescências) antes e
depois da queima;
VI. Matéria Orgânica: normalmente de origem vegetal. Em excesso causa, trincas
na secagem e na queima, devido à retração. E provoca pontos pretos na
superfície do produto.
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VII. Silicatos e Fosfatos: são fundentes benéficos quando em pequenas
proporções, porém, em maiores quantidades podem acarretar quebra das
peças. Os feldspatos (silicatos hidratados de alumínio) sódicos, potássicos
ou cálcicos diminuem a plasticidade, aumentam a resistência e
impermeabilizam o produto;
VIII. Água: de constituição: (Absorvida ou de inchamento, faz parte da estrutura
das moléculas); de plasticidade (adere às superfícies das partículas
coloidais); de capilaridade (preenche os poros vazios);
IX. Álcalis: baixam o ponto de fusão e dão porosidade, facilitando a secagem e o
cozimento, o teor de álcalis é da ordem de 10%;
X. Cálcio: age como fundente e clareia a cerâmica.
2.2. Cerâmica Vermelha
A palavra cerâmica, originária do grego “Kerameikos”, que quer dizer “feito de
terra”, “coisa queimada”. Tem, modernamente, um sentido amplo que abrange
desde a arte de fabricar objetos de barro cozido até a matéria prima, o artefato ou a
fábrica de tais produtos. (BACCELLI JÚNIOR., 2010).
De uma forma geral, o termo “cerâmica” é empregado aos produtos
fabricados a partir da mistura de matérias primas minerais, fabricados pelos
processos de extrusão ou compactação e obtendo resistência após a sinterização.
Entre os subsetores da indústria ceramista, destaca-se a cerâmica vermelha,
englobando uma variedade de produtos, tais como tijolos, telhas, lajotas e tubos.
De acordo com o IBGE (2008), a cerâmica vermelha é responsável, por 4,8%
do faturamento da indústria da Construção Civil. O faturamento anual desse setor no
Brasil é de 18 bilhões de reais, gerando 293 mil empregos diretos e 900 mil
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indiretos. Na tabela 1, encontram-se os dados da produção dos produtos de
cerâmica vermelha.
Tabela 1 – Dados da fabricação dos produtos de cerâmica vermelha.
Nº de empresas
Aproximado
% Aproximado por
Área
Pro./Mês (Nº de
Peças)
Cons. Ton/Mês
(Matéria Prima)
Blocos/ Tijolos 4346 63% 4.000.000.000 7.800.000
Telhas 2547 36% 1.300.000.000 2.500.000
Tubos 10 0,1% 325,5 Km -
Fonte: IBGE, 2008.
As cerâmicas vermelhas no Brasil são responsáveis por abastecer o setor de
base da Construção Civil. Dados da Anicer (2010) apontam para um total de 6.903
empresas em todo território. Esse segmento industrial é responsável pela maior
porcentagem da arrecadação do setor. Na tabela 2, tem-se a classificação dos
segmentos cerâmicos de acordo com a arrecadação no ano 2000.
Tabela 2 – Segmentos cerâmicos e suas respectivas produções
Segmento Valor da Produção
(1.000 US$/ Ano)
Cerâmica estrutural (vermelha) 2.500.000
Revestimentos (pisos e azulejos) 1.700.000
Matérias primas naturais 750.000
Refratários 380.000
Cerâmica técnica, especiais, outras 300.000
Sanitários 200.000
Louça de mesa e adorno 148.000
Fritas, vidrados e corantes 140.000
Matérias primas sintéticas 70.000
Cerâmica elétrica 60.000
Equipamentos para cerâmica 25.000
Abrasivos 20.000
Fonte: Bustamante e Bressiani (2000).
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Mesmo apresentando este aparente panorama favorável, a indústria de
cerâmica vermelha, em geral, apresenta vários problemas associados a uma
tecnologia antiga, desenvolvida na década de 1950 e 1960, além de uma grande
instabilidade econômica e falta de gerenciamento. Tais fatores caracterizam a
indústria de cerâmica estrutural pela elevada produção e baixa produtividade, baixo
valor agregado, alto índice de produtos não conformes, pouco controle ambiental e
emprego de mão de obra com baixíssimo nível de qualificação. (ANDRADE, 2009).
A indústria de cerâmica vermelha começou a sofrer transformações a partir
dos anos 90 com a iniciação do Programa de Qualidade da Construção Habitacional
– QUALIHAB, onde seu principal objetivo foi a certificação das empresas, produtos e
serviços no setor. A partir desse novo momento, essas indústrias começaram a
buscar melhorias para os produtos, organização da planta de produção das
empresas e aperfeiçoamento dos funcionários.
A região Nordeste, possui no seu território pólos produtores de cerâmica
vermelha, encontrados basicamente em cada Estado, tendo expressão na indústria
nacional, principalmente no nível de produção. Como atualmente essa região tem
sido alvo de um avanço do setor imobiliário, o setor da Construção Civil acaba sendo
o mais afetado beneficamente por essa realidade. Isso não é diferente para indústria
de cerâmica vermelha, que é diretamente impulsionada pela demanda da
Construção Civil.
Entre os Estados do Nordeste o Rio Grande Norte possui no seu território
pólos produtores de cerâmica vermelha, tendo como destaque, a qualidade da
matéria prima. A produção supre a necessidade do mercado local, chegando a
ultrapassar o território para abastecer às demais regiões circunvizinhas.
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De acordo com Carvalho (2001), no ano de 2001 existiam no Estado do Rio
Grande do Norte cerca de 206 empresas existentes no RN, das quais 159 em plena
atividade. Entre as cerâmicas paradas; 12 estão em processo de
implantação/reimplantação, 14 estão improdutivas e 21 desativadas.
Essas empresas ceramistas para Baccelli Júnior (2010), estão distribuídas em
oito regiões, das quais seis localizam-se em bacias de grandes rios (Ceará-Mirim,
Potengi, Trairi/Jacu, Curimataú, Baixo Açu, Seridó), além das empresas da chapada
do Apodi e da região do extremo oeste p\otiguar, de cujos vales são extraídos as
matérias-primas para fabricação dos produtos.
Na figura 2, têm-se o mapa do Estado do Rio Grande do Norte com suas
principais bacias e, consequentemente, os pólos de produção ceramista.
Figura 2 – Zonas de Produção de Cerâmica Vermelha do RN (Adaptado) (Fonte:
CARVALHO, 2001).
A distribuição das indústrias cerâmicas do Rio Grande do Norte em atividade
pelas bacias dos rios encontra-se representada na tabela 3. Todavia uma das
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principais razões para localização focada das cerâmicas em pequenas regiões é
uma suposta semelhança mineralógica da matéria prima. Estrategicamente quando
é encontrada uma jazida com qualidade numa região, outros empresários tendem a
se instalarem nessa região.
Tabela 3 – Distribuição de Cerâmicas do Rio Grande do Norte por Bacias (adaptada)
Regiões Indústrias em Atividade
Bacia do Rio Ceará Mirim 01
Bacia do Potengi 14
Bacia do Trairi/Jacu 13
Bacia do Curimatau 01
Baixo Açu 36
Bacia do Seridó 79
Chapada do Apodi 10
Oeste Potiguar 05
Fonte: Carvalho, 2001.
Entre as quatro mesorregiões que compõem o Estado do Rio Grande do
Norte, encontra-se a Região Agreste. Essa região é composta por vinte e dois
municípios, tendo como principais fontes econômicas: a agricultura, a pecuária,
atividades artesanais e a produção de cerâmica vermelha. Sobre os produtos de
cerâmica vermelha produzidos na região, destacam-se: os tijolos (maciços e
furados) e as telhas. Entre os municípios da região Agreste, merecem destaque por
possuírem indústrias de cerâmica vermelha abastecendo o mercado da construção
civil local: Nova Cruz, Vera Cruz, Ielmo Marinho e São Paulo do Potengi.
No agreste potiguar, a grande maioria das indústrias cerâmicas possui
atrasos tecnológicos na produção, fato não muito diferente das demais regiões
produtoras do Rio Grande do Norte. Um dos mais graves problemas encontrados é a
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ausência maciça de profissionais qualificados, para que, diante de um problema,
encontre uma solução mais eficiente e economicamente acertada, deixando essa
função a cargo de profissionais do convívio da própria empresa.
2.2.1. Principais Produtos da Cerâmica Vermelha
A cerâmica vermelha, segundo Santos e Silva (1995), abrange a atividade de
produção de produtos, como: tijolos maciços, blocos cerâmicos, telhas, lajotas,
tubos, componentes de lajes (tavelas), etc., que podem ser obtidos a partir da
moldagem, secagem e queima da argila. A cor avermelhada que apresentam, após
a queima, faz com que sejam chamados de cerâmica vermelha. Contudo, os
produtos da cerâmica vermelha com maior produção nacional são os blocos (tijolos)
e as telhas.
Segundo Lucena (2007), os blocos cerâmicos podem ser de dois tipos: a)
bloco de vedação, os quais são destinados à execução de paredes e vedações,
suportando o peso próprio e pequenas cargas, geralmente com furos orientados na
horizontal, mas já com tendência atual para furos na vertical, (ABNT, NBR 15270-1)
e b) Bloco estrutural ou auto-portante, os quais além de exercerem a função de
vedação, também são destinados à execução de paredes que constituirão a
estrutura resistente da edificação, em substituição a pilares e vigas de concreto
armado. Estes blocos têm a orientação de furos na vertical (ABNT, NBR 15270-2).
Na figura 3, têm-se exemplos de blocos cerâmicos produzidos no Estado do Rio
Grande do Norte.
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Figura 3 – Blocos produzidos no Rio Grande do Norte (Carvalho, 2001).
As telhas, por sua vez, são divididas nos seguintes tipos: telha de capa e
canal; b) telha colonial; c) telha paulista; d) telha capa e canal plan; e) telha francesa
ou marselhesa; f) telha romana; g) termoplan; h) telha portuguesa e dentre outras
(LUCENA, 2007). Na figura 4, encontram-se alguns tipos de telhas de cerâmica
vermelha.
Figura 4 - Tipos de telhas cerâmicas (Gibertoni, 2001).
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Os produtos cerâmicos apresentam características indispensáveis para o
mercado da Construção Civil. Como sintetizou Baccelli Júnior (2010), as principais
vantagens desses produtos em relação ao seu uso no mercado da Construção Civil
são: durabilidade; elevada resistência mecânica; estrutura leve, resultando em
menor custo para as fundações, possuem boas características de isolamento
térmico e acústico, são resistentes ao fogo; são economicamente mais atrativas
devido ao seu baixo custo; exige pequena ou nenhuma manutenção; não oferecem
dificuldades para treinar mão de obra para sua utilização. Outra vantagem na
produção de produtos da cerâmica vermelha é a abundância da matéria prima
encontrada em todo território nacional.
A nível geral, esses produtos apresentam frequentemente os seguintes
defeitos: trincas, quebras, superfícies irregulares, deformações e desuniformidade
de cor. Na produção ceramista, peças cometidas com tais defeitos são descartadas
sumariamente ou separadas para reclassificação e possível uso em outros produtos.
2.2.2. Processo Produtivo
O processo produtivo para obter os produtos da cerâmica vermelha (tijolos,
telhas e lajotas) passa por etapas específicas de produção, podendo apresentar
variações de acordo com o maquinário empregado.
Conforme Carvalho (2001), o processo produtivo na indústria de cerâmica
vermelha é dividido em cinco fases bem definidas: extração da matéria prima,
estocagem, extrusão, secagem e queima. O organograma do processo produtivo de
produtos cerâmicos está sintetizado na figura 5.
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Figura 5 – Fluxograma do processo produtivo da cerâmica vermelha.
Fonte: Adaptado de ABCERAM (2011).
Nas etapas de produção, o estudo preparatório da matéria prima,
especificamente sobre a jazida que será utilizada, é de fundamental importância
para o estudo sobre a qualidade das peças, estimativa de produção e adequações a
massa padrão do produto, quando houver necessidade. A estimativa de consumo de
matéria prima e o raio de alcance de envio da produção são imprescindíveis para o
desenvolvimento de uma indústria de cerâmica vermelha. Para Bustamante (2011),
o uso de matéria prima por ano é estimado em 60 milhões de toneladas, com
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reflexos nas vias de transportes, e no meio ambiente de lavra de argila. O raio médio
de ação quanto ao envio dos produtos está em torno de 250 km, a partir do qual o
transporte é inviabilizado. Para telhas, o alcance é maior, podendo estar próximo de
500 km, havendo casos de 700 km para telhas especiais.
A indústria de cerâmica vermelha utiliza uma grande quantidade de matéria
prima, geralmente, são retiradas de jazidas localizadas em várzeas, rios, lagoas,
açudes ou encostas de morros.
De acordo com Carvalho (2001), a lavra das argilas é feita como atividade
informal através de retroescavadeiras, tratores de esteira, tratores de pneu com
buldozer, escavadeiras ponklan, etc. Em todos os casos a mina é a céu aberto, com
as cavas apresentando formatos irregulares, de diversas profundidades. Não há um
planejamento da lavra. Como não se conhece a espessura da camada, nem a sua
variação composicional, o processo é todo improvisado. Não há a preocupação
ambiental de recuperar a área lavrada, embora esta atividade necessite de
planejamento e acompanhamento feito por profissionais qualificados.
As argilas são estocadas a céu aberto, uma atividade comum nessa atividade
econômica. Para Nascimento (2007), essa etapa possui como objetivo, aliviar as
tensões nos blocos de argila, melhorar a plasticidade e trabalhabilidade, lixiviar os
sais solúveis e homogeneizar a distribuição da umidade.
Conforme Santos e Silva (1995), é aconselhável que a indústria disponha de
um depósito de matéria prima descoberto, onde as argilas ficarão “descansando” por
um período variável antes de entrar na linha de produção. A argila, depositada neste
local, sofre ação dos agentes climáticos. Com isso, o material desenvolve
completamente suas propriedades plásticas, ocorre a fermentação e oxidação da
matéria orgânica e, em consequência, o processo de moldagem por extrusão fica
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facilitado, evitando principalmente dois inconvenientes: o inchamento das peças logo
após a moldagem, com a ocorrência de deformações, trincas e ruptura das peças no
processo de secagem, e o desenvolvimento de gases no estágio de cozimento, com
o aparecimento desses mesmos defeitos.
As demais etapas do processo produtivo da indústria de cerâmica vermelha
são os seguintes: mistura das matérias primas, extrusão das argilas, secagem dos
produtos e queima.
2.2.2.1. Mistura das Matérias Primas
A homogeneização da matéria prima é uma etapa decisiva para garantir as
propriedades desejadas dos produtos e o melhor funcionamento do maquinário.
Quando é percebida a necessidade de se misturar duas ou mais argilas para obter a
massa cerâmica desejada, o primeiro passo nessa etapa é separar o material,
formando pequenos montes, onde são misturados utilizando, geralmente, máquinas
pesadas. Em seguida, a mistura é levada para o caixão alimentador, onde são
dosadas e levadas para passar pelos desintegradores. Nestes os blocos de argilas
que não foram cominuídos no processo anterior no pátio, são desintegrados e as
pedras que ainda permanecem na mistura, são retiradas através da ação de
centrifugação do aparelho.
Conforme Carvalho (2001), nessa fase do processo, o teor de umidade pode
ser muito variável, de 16% a 25%. Caso esse índice seja muito elevado, alguns
equipamentos perdem eficiência, como é o caso do desintegrador, que não
desistegrará os blocos de argilas, só os amassará. A mistura desagregada é
transportada para o misturador, onde recebe, quando necessário, a adição de água,
sendo então homogeneizada.
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Após a matéria prima passar pelo misturador, esta passa pelo laminador, que
tem como finalidade completar a mistura, e é responsável por um adensamento,
eliminando bolhas de ar ou aglomerados remanescentes, antes de ser levada às
extrusoras. Em alguns casos as extrusoras podem ser um laminador acoplado na
entrada do equipamento. (BACCELLI JÚNIOR, 2010).
As figuras 6 e 7 ilustram exemplos de um misturador e um laminador,
respectivamente, na produção de blocos cerâmicos.
Figura 6 – Misturador. (Fonte: Cerâmica Icargel)
Figura 7 – Laminador (Fonte: Tijolos cerâmicos)
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Conforme Santos e Silva (1995), uma mistura mal executada e sem a massa
passar pelo laminador seguramente traz inconvenientes, tais como:
− Dificuldade na operação da extrusora (maromba);
− Moldagem de peças defeituosas, com superfície irregular;
− Desalinhamento geométrico (empenamento), trincas e quebras de
peças no processo de secagem;
− Variações na retração de secagem e de cozimento, com produção de
peças de dimensões diferentes.
2.2.2.2. Conformação das Argilas
O processo de conformação da argila para obtenção dos produtos,
especificamente de cerâmica vermelha, pode ser realizado através das técnicas de
extrusão e compactação (prensagem). A maioria dos produtos da cerâmica
vermelha são confeccionados por extrusão, mas existem casos que devido a forma
da peça, a economia de produção e as características da matéria prima, opta-se
pelo processo de prensagem. Porém, as peças cerâmicas podem ser produzidas
utilizando ambas as técnicas, como exemplo, os tijolos maciços e as telhas que
podem ser fabricados por extrusão e pela técnica de compactação. A compactação
consiste na utilização de presas automáticas, semiautomáticas e manuais para
prensagem do material. Em alguns casos, especificamente nas olarias, onde não
existem técnicas industriais básicas de produção, são usados para o processo de
prensagem das argilas, um molde de madeira e a força para compactação é
realizada pelos próprios funcionários com os pés.
Já o processo de extrusão das argilas, consiste em dá forma aos produtos
cerâmicos através da passagem da mistura plástica pela abertura da boquilha da
extrusora (PASCHOAL, 2003). Nessa etapa do processo, é necessário que exista
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alta pressão dentro do equipamento, proporcionando a criação de vácuo. A coluna
do material ao sair da extrusora, ou maromba, é cortada nas dimensões adequadas
para cada produto. Para tanto, a massa cerâmica deve possuir plasticidade
suficiente para ser moldada.
Na figura 8, encontram-se o processo de extrusão de tijolos do tipo oito furos
e a marcação com o carimbo da empresa nos produtos cerâmicos, respectivamente.
Figura 8 – extrusão de tijolos (Fonte: Baccelli Júnior, 2010)
Figura 9 - carimbagem em massa plástica de tijolos antes do corte.
(Fonte: Baccelli Júnior, 2010)
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Os defeitos encontrados normalmente nessa etapa são os seguintes:
empenamentos, trincas causadas por falhas no maquinário, falhas no corte dos
produtos e defeitos na estrutura da massa plástica por cominuição e
homogeneização com problemas.
2.2.2.3. Secagem dos produtos:
A secagem dos produtos cerâmicos é importante, pois esse procedimento
pode garantir as propriedades desejadas ou causar graves problemas, como por
exemplo, as trincas.
Para Baccelli Júnior (2010), a secagem começa logo depois da conformação
e do corte das peças permitindo a eliminação da água utilizada na fabricação das
peças, pois a água está distribuída quase que homogeneamente entre as partículas
de argila da peça cerâmica. A água precisa ser retirada homogeneamente, já que
sua saída faz com que as partículas se aproximem, diminuindo o tamanho da peça,
produzindo retração linear em todas as suas dimensões. No caso de não haver uma
eliminação homogênea da água, poderá acarretar trincas ou a quebra da peça. A
umidade de extrusão dos produtos cerâmicos normalmente oscila entre 20 e 30% e,
após a secagem, esta umidade residual deve estar abaixo de 5%.
O percentual de umidade presente no produto pode acarretar em defeitos na
queima, por isso o processo de secagem é crucial na fabricação de cerâmica
vermelha. Para Santos e Silva (1995), o ideal é levar o produto a 1% ou menos de
umidade. Peças com umidade acima de 3% fazem com que a operação seguinte de
sinterização tenha que ser executada com extremo cuidado, principalmente no
estágio inicial (aquecimento), para evitar lascamentos, quebras e deformações das
peças.
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A secagem pode ser natural ou forçada. No primeiro caso, as peças são
colocadas nos pátios das indústrias ceramistas ao ar livre ou organizadas dentro de
galpões (NASCIMENTO, 2007). O processo acontece utilizando a luz solar e o
vento, todavia a secagem natural é susceptível as interferências naturais, tais como:
velocidade do vento, umidade e calor excessivo.
Por outro lado, na secagem forçada utilizam-se, geralmente, para realizar
essa operação, secadores do tipo intermitentes ou contínuos. Os dois secadores são
câmaras fechadas e o que difere um do outro é que nos secadores intermitentes as
peças são colocadas de forma a secarem todas ao mesmo tempo; enquanto no
secador contínuo, vagões ou carrinhos carregados de peças atravessam
continuamente um túnel, estando estas secas ao final do mesmo (NASCIMENTO,
2007). De uma forma geral, a operação consiste em insuflar ar quente nos
secadores, provenientes do forno ou exclusivamente utilizado para o secador.
Na figura 9, tem-se a secagem natural de telhas, através da radiação direta
da luz solar. Na figura 10 encontra-se a secagem natural de tijolos dentro de
galpões.
Figura 9 – Secagem natural de telhas ao ar livre (Fonte: Baccelli Júnior, 2010).
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Figura 10 – Secagem de tijolos dentro de galpões (Fonte: Sani do Brasil).
Ainda existe outro tipo de secador artificial, conhecido como secador
espanhol, em que o ar quente é desviado da chaminé e forçado a sair em
respiradouros no piso de um galpão, sobre o qual estão dispostas as peças,
organizadas em pilhas. Ventiladores colocados acima das peças forçam o ar quente
para baixo, deixando-o mais tempo em contato com as peças (BACCELI JÚNIOR,
2010). Na figura 11, tem-se um secador artificial utilizado para secagem de tijolos.
Figura 11 – Secador artificial de tijolos. (Fonte: Cerâmica Icargel).
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2.2.2.4. Queima dos produtos:
Pode-se descrever a sinterização como um processo no qual, pós cristalinos
ou não, compactados ou não, são tratados termicamente, em uma temperatura
abaixo de sua temperatura de fusão (sinterização por fase sólida), envolvendo uma
mudança na microestrutura desse material, por meio de um ou mais mecanismos de
transporte, que podem ser concorrentes ou consecutivos, para se obter um único
sólido coerente (FLORIO, 1998).
A sinterização é a última etapa do processo de fabricação dos produtos de
cerâmica. Nesse processo os produtos sofrem reações e transformações químicas e
físicas nas estruturas. As propriedades mecânicas requeridas como, por exemplo,
resistência mecânica, cor e dimensões adequadas são efetivamente adquiridas
nessa etapa. Por outro lado, os defeitos não identificados nas etapas anteriores,
aparecem definitivamente nessa etapa. Os principais defeitos que aparecem após a
sinterização são as trincas, coração negro, vazios e outras anomalias.
A queima é de extrema importância para os materiais, pois sua execução
influência nas propriedades dos materiais cerâmicos. Para SILVA (1998), o seu
estudo consiste em relacionar o aspecto estrutural da peça sinterizada (porosidade
residual, fases presentes, tamanho médio de grão e distribuição de tamanho de
grão, homogeneidade estrutural, etc.) às características dos pós usados (tamanho
médio e distribuição de tamanho de partículas), considerando também as condições
de sinterização, tais como temperatura, tempo e atmosfera de sinterização.
Conforme Reed (1995), o processo de queima ocorre em três estágios: (i)
pré-sinterização, a qual inclui perda orgânica e eliminação dos gases de
decomposição e oxidação do material; (ii) sinterização; e (iii) resfriamento.
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De acordo com Lucena (2007), a queima dos produtos cerâmicos é dividida
em:
I. Desidratação – (entre 150°C e 600°C): onde há uma complementação da
secagem;
II. Oxidação (entre 600°C e 950°C): acontece a queima da matéria orgânica e
eliminação do carvão;
III. Vitrificação (entre 950°C e 1200°C): a sílica se funde, formando pequenas
quantidades de vidro que aglutina os demais elementos, fechando os poros.
As principais transformações químicas e físicas que ocorrem na estrutura da
peça cerâmica no processo de sinterização começam com a liberação da água. Isso
acontece até 300°C. Entre os 400°C e 650ºC dá-se a decomposição das argilas,
com a liberação da água de constituição. (LUCENA, 2007)
Ainda conforme Lucena (2007), em torno de 570°C acontece à transformação
do quartzo na forma cristalina de α para β, acompanhada de significativa expansão.
Por volta de 600ºC, a argila começa a dissociar os carbonatos, quando estes
existem. Acima de 700°C, as reações químicas da sílica e da alumina com os
elementos fundentes começam a acontecer. Nesta etapa acontece a formação de
complexos sílico-aluminatos, que são responsáveis pela dureza, pela resistência
física e química e pela estabilidade da peça. Por volta de 800°C tem-se,
normalmente a máxima dilatação. A esta temperatura, pode-se estabelecer um
patamar de queima, mais ou menos amplo, que engloba um intervalo de
temperaturas até 900°C/950°C, quando inicia a retração de sinterização e, portanto,
as transformações mineralógicas.
De acordo com Santos (2001), depois de atingida a temperatura máxima, que
para a cerâmica estrutural pode chegar a 1000°C, o material começa a se retrair e a
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ceder calor ao ambiente do forno, o que ocorre de maneira inversa ao pré-
aquecimento e à fase inicial da queima. Podem-se obter, efetivamente, parâmetros
úteis, para se evitar contrações diferenciais, fissuras e micro fissuras.
Os principais fatores que influenciam o processo de queima são: velocidade
de queima, tempo de queima, a energia fornecida e a eficiência do combustível.
Estes parâmetros, portanto, devem ser observados para que sejam alcançadas as
melhores condições no processo.
Entre estes, tem-se a velocidade de queima, que influi diretamente na
qualidade do produto. Segundo Santos (2009), se a queima é lenta, o produto final
possui maior qualidade, mas há excessivo gasto de combustível. A queima rápida é
mais econômica, mas dá origem a um produto final de qualidade inferior.
A queima dos produtos cerâmicos é feita em três tipos de fornos, os quais são
basicamente uma construção de alvenaria ou metálica, onde é possível elevar a
altas temperaturas a carga utilizada. Os fornos utilizados nessa operação são os
seguintes: fornos intermitentes, fornos semicontínuos e fornos contínuos.
As definições de cada tipo de forno, de acordo com Sattler (2012):
a) Fornos Intermitentes: é o tipo mais antigo e utilizado de fornos para
produção ceramista. É os mais simples, devendo ser cozido um lote de
cada vez. Estes apresentam muitos inconvenientes, como o elevado
consumo de combustível e uso de mão-de-obra, e o desgaste da
estrutura, devido às variações sucessivas de calor e frio. Apresentam,
porém, vantagens como o baixo custo de instalação e a facilidade de
execução.
b) Fornos Semicontínuos: os fornos semicontínuos mais utilizados são do
tipo Hoffmann. Este, normalmente, é dividido em compartimentos,
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denominados poços ou câmaras. A queima se dá poço a poço. Isto é,
enquanto um poço está queimando, os posteriores estão na fase de
aquecimento, aproveitando o calor da queima, e os anteriores estão
resfriando, com o uso de ar ambiente.
c) Fornos Contínuos: nos fornos desse tipo os ciclos de aquecimento,
queima e resfriamento ocorrem de forma contínua, sem interrupção
para descarga ou carregamento das peças. Assim, enquanto uma
vagoneta com um lote de peças está chegando ao final do ciclo, outra
vagoneta, com uma quantidade igual, está iniciando o ciclo, sem
descontinuidade do processo.
2.2.3. Especificações dos Fornos para Queima de Cerâmica Vermelha:
Para o processo de queima dos produtos de cerâmica vermelha no Estado do
Rio Grande do Norte, Baccelli Júnior (2010) sintetiza a utilização dos seguintes tipos
de fornos:
− Forno intermitente do tipo caipira: esse forno possui formato retangular, suas
dimensões variam entre 2 a 4 metros de largura e 4 a 10 metros de
comprimento e 2 a 2,5 metros de altura. É frequentemente utilizado pelas
cerâmicas para produção de telhas.
− Forno do tipo igreja: possui chama reversível, tendo a entrada para
abastecimento pela lateral. Recebeu essa denominação devido a sua
arquitetura, que possui o em formato que característico de uma igreja. É
usado geralmente para queima de tijolos.
− Forno do tipo intermitente tipo caeira: esse tipo de forno é considerado o
menos atraente economicamente, principalmente por possuírem um sistema
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mais antigo de queima. Portando, os fornos caeiras são geralmente
encontrados nas indústrias cerâmicas mais antigas e ultrapassadas
tecnologicamente.
− Forno corujinha: faz parte do grupo dos fornos que possuem chama
reversível. O abastecimento de lenha é feito pela frente e por trás do forno,
sendo utilizados para queima de tijolos e telhas. Suas dimensões são
variadas.
− Forno intermitente do tipo abóboda: esse tipo de forno é um dos mais
conhecidos no Brasil. Faz parte do grupo de chama reversível e seu
abastecimento é feito por fornalhas simétricas. Geralmente são usados para
queima de tijolos e lajotas. Nesses fornos, os gases quentes sobem ao longo
das paredes interiores até a abóbada. Distribuem-se entre as peças,
atravessando-as em sentido descendente, para passar à galeria de gases
através dos orifícios da soleira, chamados de crivos, reunindo-se em um canal
que conduz à chaminé. O resultado desse processo proporciona uma boa
queima dos produtos. Quando construído na forma circular é conhecido como
forno abóboda. Mas quando são constituídos de duas seções retangulares
geminadas, sendo que o duto de gases passa pela parede comum dos dois
fornos, é conhecido como forno catarina. Na figura 12, encontra-se a
ilustração de um forno do tipo abóboda.
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Figura 12 – Forno do Tipo Abóboda (Fonte: INT, 2005).
Além dos fornos já mencionados, também pode-se encontrar no Estado os
seguintes fornos:
- Forno contínuo do tipo hoffmann: Nesse tipo de forno o processo de queima é
realizado ininterruptamente. Enquanto um lote de peças está chegando ao final do
processo, outro, em quantidade semelhante, é colocado para iniciar o processo. Os
fornos Hoffmann são econômicos operacionalmente e adequados para grandes
produções, possuindo como desvantagem o custo elevado de implantação e
manutenção (BACCELLI JÚNIOR, 2010). Na figura 13 pode-se observar a lateral de
um forno Hoffmann.
Figura 13 – Lateral de um forno Hoffmann (Fonte: Freitas, 2007).
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- Fornos contínuos do tipo túnel: É um túnel longo que tem na porção central a
câmara de queima. O material é introduzido sobre vagonetes móveis, passa por um
pré-aquecimento e sai na outra extremidade já na temperatura adequada. O
combustível usual é o óleo, mas o forno pode ser projetado para lenha, carvão, gás
e eletricidade, entre outros. O grande inconveniente do forno do tipo túnel é o seu
alto custo inicial e a necessidade de que sejam feitas adaptações na velocidade de
chama cada vez que se deseja mudar o material a ser cozido (DRUSZCZ, 2002).
Possuem dimensões que giram em torno de 80 a 100 metros de comprimento. A
entrada de um forno do tipo túnel encontra-se na figura 14.
Figura 14 – Saída de produtos do forno túnel (Fonte: Arquivo Pessoal)
- Forno Tipo plataforma: fazem parte dos fornos com queima contínua. As peças
são colocadas sobre uma plataforma e, através da tração mecânica, passam pelas
zonas quentes do forno até chegar à queima uniforme.
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2.2.4. Combustíveis utilizados na indústria de cerâmica vermelha
A produção de cerâmica vermelha possui como aspecto indispensável para o
pleno sucesso do empreendimento industrial, a escolha adequada do combustível
que será utilizado na queima dos produtos. Segundo Shwob (2007), os custos dos
combustíveis em relação ao faturamento nas indústrias de cerâmica vermelha em
2005 variaram numa ampla faixa de 5 a 25%, dependendo do tipo de combustível
utilizado, dos equipamentos empregados e do valor agregado do produto final.
Os produtos cerâmicos, especificamente os de cerâmica vermelha, usam a
lenha como principal combustível para secagem artificial e na queima dos produtos.
Isso não é um fato isolado na cadeia da produção industrial, tendo em vista que
outros setores também utilizam esse material como fonte de energia térmica para
sinterizar seus produtos.
No Rio Grande do Norte, majoritariamente, o combustível utilizado na
indústria de cerâmica vermelha é a lenha, sendo que em algumas indústrias para
ajudar no processo usa-se, também, a casca e as palhas do côco, e podas de
árvores. Basicamente, em cada região do Estado utiliza-se a lenha do bioma
característico da região. Na região Litorânea, por exemplo, a lenha vem da mata
atlântica, já nas regiões do Seridó e Oeste Potiguar utiliza-se, geralmente, a
caatinga para esse fim.
O fornecimento de lenha depende de autorização do IBAMA. Como não
existem florestas artificiais plantadas com a finalidade de abastecer o setor, o
fornecimento fica na dependência de desmatamentos em áreas especificas feitos
para outras finalidades, como por exemplo, o desmatamento para fins agrícolas ou
de formação de pastagem. Como não há desmatamentos legalizados em quantidade
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suficiente, boa parte da lenha consumida no setor é de procedência desconhecida.
(CARVALHO, 2001)
O uso dessa fonte energética para abastecer os fornos das cerâmicas
vermelhas vem causando desequilíbrios ambientais nas regiões, principalmente pelo
aumento do desmatamento que vem contribuindo para o processo de desertificação.
Sendo assim, tem-se buscado alternativas para substituição da lenha por outras
fontes de energia térmica. Estudos apontam como alternativa o uso de briquetes,
fabricados com a compactação de resíduos ligno-celulósicos, sendo também
utilizado serragens, bagaço de cana, casca de arroz e café, entre outros, como fonte
de calor para diminuir gradativamente a utilização da lenha. Outro exemplo que vem
trazendo interesse dos pesquisadores é a substituição da lenha nativa pela de
reflorestamento (cultivada em condições controladas e com fins determinados),
diminuindo o desmatamento e consequentemente a desertificação. A eficiência
energética da espécie e o custo são considerados nesse processo.
Existem várias alternativas de substituição da lenha por outros combustíveis,
diminuindo o uso de vegetais nas indústrias cerâmicas. Uma alternativa é o uso de
Gás-Natural (GNL), que mais tem levantado interesse por parte das empresas
cerâmicas, principalmente pelas vantagens de ser uma fonte de energia eficiente,
economicamente superior e limpa. Conforme Nascimento (2010), as principais
vantagens encontradas na utilização do Gás Natural (GNL) na queima dos produtos
da cerâmica vermelha são:
− Redução do consumo de lenha;
− Preservação de matas nativas com toda favorabilidade dos aspectos
ambientais envolvidos;
− Aumento da eficiência energética e da produtividade industrial;
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− Melhoria da qualidade do processo e do produto industrial;
− Equilíbrio da matriz energética;
− Contribuição para o desenvolvimento estadual.
Outro fator importante para que essa técnica seja empregada com sucesso,
especificamente no Rio Grande do Norte, é o fato do Estado possuir no seu território
reservas desse combustível, o que favorece sua distribuição. A respeito das
reformas dos fornos já existentes para adaptá-los ao uso do GNL, não seria
empecilho, pois estudos mostram que esse processo é possível e viável
economicamente. Portanto, o uso do gás natural representa um ganho em termos
ambientais com a substituição da lenha resultante de desmatamentos, e menor
emissão de particulados na atmosfera; e um avanço em termos tecnológicos, devido
requerer maior controle do processo de queima e fornos de melhor desempenho;
além de proporcionar queima mais uniforme e não tóxica, o que contribui para o
aumento de produtividade da indústria. (GESICKI et all, 2002)
CAPÍTULO 3
MATERIAIS E METÓDOS
Materiais e Métodos
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O presente capítulo está dividido em três tópicos, sendo o primeiro,
direcionado as matérias primas utilizadas no processo. No segundo, encontra-se o
procedimento experimental para produção das formulações de argila. E por último,
tem-se um tópico exclusivamente para explanação dos ensaios tecnológicos e de
caracterização. Na figura 15, tem-se o procedimento experimental do trabalho.
Figura 15 – Fluxograma do Procedimento Experimental
Argila 1 Argila 2
Matérias Primas
Destorroamento
Peneiramento
Caracterização da Matéria Prima: DRX, FRX, IP, MEV, MO, ATG, ADT e AG
Mistura/ Homogeneização
Compactação
Secagem (110°C)
Queima (850° 900° e 950°C)
Absorção de Água (AA%) Porosidade Aparente (PA%) Retração Linear (RL%)
Massa Especifica (MEA%) Tensão de Ruptura à Flexão (TRF)
Perda ao Fogo (PF%)
Materiais e Métodos
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3.1. Materiais Primas
Para realização deste trabalho, foram utilizadas duas argilas provenientes do
município de Nova Cruz, localizado na região Agreste do Estado do Rio Grande do
Norte. O material foi retirado de duas jazidas, com aspectos ambientais diferentes
na mesma região. As argilas foram identificadas com a seguinte nomenclatura:
Argila 1 e Argila 2.
3.2. Procedimento Experimental das Formulações
Neste trabalho, em função das características intrínsecas das argilas
utilizadas, a produção das formulações foi baseada na possibilidade de usar-se
apenas uma argila para confecção dos produtos, visto que uma delas apresentou ID
igual a 24,05 (altamente plástica), ou na mistura de ambas (a outra apresentou ID
igual a 12,09, sendo considerada medianamente plástica) para obtenção do mesmo
objetivo.
Neste caso específico, como se trabalhou exclusivamente com essas duas
argilas e/ou mistura das mesmas, optou-se pelo procedimento experimental prático
para a montagem das formulações, produzindo-se quatro formulações de argilas,
conforme tabela 4.
Tabela 4 – Composição das formulações.
Nome da Formulação Composição
Formulação 1 – F1 100% Argila 1 + 0% Argila 2
Formulação 2 – F2 100% Argila 2 + 0% Argila 1
Formulação 3 – F3 66,66% Argila 1 + 33,33% Argila 2 (2:1)
Formulação 4 – F4 50% Argila 1 + 50% Argila 2 (1:1)
Materiais e Métodos
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O procedimento para produzir as formulações segue o fluxograma
experimental da figura 15. As argilas após serem retiradas das jazidas, foram
colocadas para secagem artificial com o objetivo de retirar a umidade presente.
3.2.1. Destorroamento e Cominuição
O processo de destorroar as argilas foi realizado com o material (argilas)
seco, utilizando-se um almofariz e mão-de-gral. Nessa etapa, tem-se o cuidado de
retirar raízes, pedras e outros materiais não condizentes com o material de partida.
As argilas passaram por essa etapa de forma individual, mantendo-se o controle
para que não houvesse misturas indesejadas.
3.2.2. Peneiramento
O peneiramento das argilas foi feito em uma peneira com malha de 80 mesh,
correspondendo à peneira de nº 80 na ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas). As partículas do material, após o procedimento, giram em torno de
0,177mm. Após essa etapa, as argilas foram condicionadas em sacos plásticos para
a próxima etapa do processo: a mistura.
3.2.3. Mistura e Homogeneização
No caso das formulações com a combinação das argilas 1 e 2, a mistura entre
as argilas foi realizada utilizando um moinho de bolas do tipo excêntrico. Como se
objetivava uma mistura homogênea das matérias primas, optou-se em fazê-la a
seco. Após serem misturadas a seco, as formulações foram umedecidas com água
destilada, até atingirem a umidade de 10%, tendo como objetivo a busca por uma
consistência plástica para o processo de conformação. Em seguida as formulações,
Materiais e Métodos
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64
já úmidas, foram colocadas em sacos plásticos pelo período de 24 horas para
homogeneização.
3.2.4. Conformação por Prensagem
O processo de conformação da massa cerâmica foi realizado através de
prensagem uniaxial com uma prensa hidráulica Marcon com capacidade para 15
toneladas, utilizando uma matriz metálica. A pressão de compactação usada no
processo foi de 25 MPa por 30 segundos.
Os corpos de prova produzidos no processo de compactação possuem as
seguintes dimensões: 60 mm de comprimento, 20 mm de largura e 2 mm de altura.
Foram produzidos sessenta corpos de prova por formulação, totalizando 240 corpos
de prova.
3.2.5. Secagem
Depois de compactados os corpos de prova foram colocados para secagem
numa estufa elétrica pelo período de 24 horas. A temperatura do processo de
secagem foi de 110ºC.
3.2.6. Queima
Para o processo de sinterização dos corpos de prova foi utilizado um forno
tipo mufla, modelo JUNG 0713. A taxa de aquecimento do forno foi determinada em
10°C/min. O patamar de queima ficou em 1 hora na temperatura máxima, com o
objetivo de garantir que todas as transformações ocorram de forma completa. Os
240 corpos de prova confeccionados, foram distribuídos para sinterização de acordo
com a tabela 5, sendo que para cada temperatura utilizou-se 20 CP’s de cada
formulação.
Materiais e Métodos
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Tabela 5 – Quantidade de amostras distribuídas por queima.
Temperatura/
Formulação
850º C 900ºC 950ºC Total
F1 20 20 20 60
F2 20 20 20 60
F3 20 20 20 60
F4 20 20 20 60
Após a sinterização, os corpos de prova foram resfriados naturalmente até a
temperatura adequada para manuseio.
3.3. Ensaios
Os ensaios utilizados neste trabalho foram divididos em ensaios tecnológicos
e de caracterização da matéria prima. A caracterização das argilas utilizadas no
procedimento foi feita utilizando os seguintes ensaios: microscopia eletrônica de
varredura (MEV), microscopia óptica (MO), análise de difração de raios-X (DRX),
análise de fluorescência de raios-X (FRX), análise termogravimétrica (ATG), análise
térmica diferencial (ATD), análise granulométrica (AG) e índice de plasticidade (IP).
Os ensaios tecnológicos estabelecidos para esse trabalho foram: perda ao
fogo (PF%), absorção de água (AA%), porosidade aparente (PA%), retração linear
de queima (RTq%),massa especifica aparente (MEA%) e tensão de ruptura à flexão
(TRF). Os detalhes, especificações e métodos aplicados em casa análise estão
expostos nos tópicos a seguir:
Materiais e Métodos
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66
3.3.1. Ensaios de Caracterização
Os ensaios de caracterização são instrumentos importantes para explicar
fenômenos que acontecem nas etapas de processamento e extrusão dos corpos de
prova. Através dessas técnicas também é possível verificar quais propriedades do
material deve ser mais explorada na confecção dos produtos.
3.3.1.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
As amostras utilizadas nesse trabalho foram analisadas em um microscópio
de varredura (MEV) de bancada, modelo TM-3000. Para esse ensaio as amostras
selecionadas pertencem aos grupos F1 em todas as temperaturas estudadas devido
as propriedades encontradas na argila 1. As outras amostras representam as
formulações sinterizadas na temperatura de 850ºC.
3.3.1.2. Microscopia Óptica (MO)
As amostras do trabalho foram analisadas usando um microcopio do tipo
Olympus Bx60M.
Os critérios utilizados para escolher as amostras para serem analisadas na
microscopia eletrônica de varredura (MEV), foram os mesmos na óptica (MO).
3.3.1.3. Difração de Raios X (DRX)
As amostras utilizadas nesse trabalho foram analisadas através do método do
pó, sendo às argilas e os corpos de prova cominuídos na peneira de nº 200
possuindo granulometria inferior a 0,074mm. Dessa forma, foi utilizado um
difratômetro de Raios-X do tipo (DRX -7000) da SHIMADZU com radiação de Cu-Kα,
tensão de 40KV, com corrente de 30mA com faixa de varredura (2θ) de 10° a 80°.
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3.3.1.4. Fluorescência de Raios-X (FRX)
A espectroscopia de fluorescência de raios-X (FRX) é uma técnica analítica
não destrutiva usada para identificar e determinar as concentrações dos elementos
presentes nos sólidos, nos pós e nos líquidos. (LUCENA, 2007).
Segundo Figueiredo (2008), esta técnica é utilizada principalmente para
amostras sólidas, permitindo a determinação simultânea ou sequencial da
concentração de vários elementos, sem a necessidade de destruição da amostra, ou
seja, de modo instrumental, sem nenhum pré-tratamento químico. Para amostras
líquidas, pode-se recorrer a uma pré-concentração, empregando-se troca iônica,
precipitação e quelação.
A composição química das amostras das argilas é expressa em porcentagens
de óxidos. Para realização dessa análise foi utilizado um equipamento do tipo EDX-
720 da marca Shimadzu. A granulometria das amostras de matéria prima entregues
para análise química obtinham valores inferiores a 0,074mm (peneira ABNT 200°).
3.3.1.5. Análise Granulométrica (AG)
De acordo com Dutra (2007), a análise granulométrica (AG) é de importância
primordial para completa e precisa caracterização das matérias primas,
considerando que em materiais argilosos a granulometria influência no
processamento e nas propriedades finais do material.
Como a granulometria é responsável por muitas propriedades dos
argilominerais, a sua medida é de extrema importância para a caracterização destes
materiais, tais como: plasticidade da massa e textura, permeabilidade, resistência a
verde e a seco dos corpos cerâmicos, densidade, propriedades elétricas e térmicas
(SANTOS, 1989).
Materiais e Métodos
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68
As análises granulométricas das matérias primas utilizadas neste trabalho
foram feitas por dois métodos distintos:
- O primeiro método utilizado para determinar a granulometria das argilas foi
de peneiramento e sedimentação prescrito pela norma NBR 7181/84, da ABNT;
- O outro método para determinação da AG utilizado nesse trabalho, foi
através da granulometria a laser. Para realização, as argilas foram previamente
peneiradas utilizando a peneira nº 80 da ABNT (abertura de 0,177mm). O ensaio foi
realizado em um granulômetro a laser do tipo Cilas 920L.
3.3.1.6. Análise Termogravimétrica (ATG)
As análises termogravimétricas das argilas 1 e 2 foram realizadas em um
analisador termodiferencial do tipo Q600 da marca TA Instruments. As amostras
ensaiadas possuem granulometria inferior a 200 mesh (ABNT n° 200 com
0,074mm). O fluxo de ar sintético utilizado no ensaio foi de 100 ml/min. A taxa de
aquecimento foi de 10°C/min, com temperatura final de 900°C.
3.3.1.7. Análise Térmica Diferencial (ATD)
Para a realização das ATD’s nesse trabalho, a granulometria das amostras
ensaiadas foi de 200 mesh (ABNT n° 200 com 0,074mm). O ensaio foi efetuado
através de um analisador termodiferencial do tipo Q600 da marca TA Instruments. A
taxa de aquecimento foi de 10°C/min com temperatura máxima de 900°C.
3.3.1.8. Índice de Plasticidade (IP)
O processo para obtenção do índice de plasticidade é realizado de acordo
com a equação 1:
Materiais e Métodos
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69
LPLLIP −= (1)
Onde:
LL – Limite de Liquidez;
LP – Limite de Plasticidade.
De acordo com Santos (1989), o limite de plasticidade é o teor de água
expresso em porcentagem de argila seca a 110ºC, de uma massa plástica de argila
acima da qual a massa pode ser enrolada em cilindro de cerca de 3 mm a 4 mm de
diâmetro; as argilas que não podem formar esses cilindros com nenhum teor de
água são consideradas não plásticas. A norma que rege a execução desse ensaio é
a NBR 7180/84. A plasticidade das argilas é classificada de acordo com a projeção
desenvolvida por JENKINS, exposta a seguir:
− Fracamente Plástica - 1 <IP<7; − Medianamente Plástica - 7<IP<15; − Altamente Plástica - IP>15.
3.3.2. Ensaios Tecnológicos
As propriedades tecnológicas das argilas na forma de corpos de prova, foram
analisadas através dos resultados dos ensaios: perda ao fogo (PF%), absorção de
água (AA%), porosidade aparente (PA%), retração linear de queima (RTq%), massa
especifica aparente (MEA) e tensão de ruptura à flexão (TRF).
3.3.2.1. Perda ao Fogo (PF%)
O ensaio de perda ao fogo consiste na determinação da perda de massa dos
corpos de prova durante a queima em forno, sendo realizado nas temperaturas de
850oC, 900oC e 950oC. Para o cálculo deste ensaio foi utilizado a equação (2).
Materiais e Métodos
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70
(2)
Onde:
PF – Perda ao Fogo;
Ms – Massa Seca a 110oC;
Mq – Massa Queimada.
3.3.2.2. Absorção de água (AA%)
Estabelece a relação entre a massa de líquido absorvida pelo organismo
saturado do teste de líquido e do peso do corpo seco do ensaio. O resultado do
ensaio é obtido utilizando a equação (3):
(3)
Onde:
AA (%) – Percentual de absorção de água;
Mu – Massa úmida do corpo de prova;
Ms – Massa seca do corpo de prova.
3.3.2.3. Porosidade Aparente (PA%)
É a relação entre o volume de poros abertos do corpo de prova em relação ao
seu volume total. A equação (5) é responsável por fornecer o resultado desse
ensaio.
(5)
100(%) ×−
=Ms
MsMuAA
MiMu
MsMuPA
−
−=(%)
100(%) ×−
=Ms
MsMqPF
Materiais e Métodos
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71
Onde:
PA - Porosidade Aparente;
Mu - peso do corpo de prova úmido;
Ms - Massa do corpo de prova seco;
Mi - Peso do corpo de prova imerso.
3.3.2.4. Retração Linear de Queima (RTq%)
A retração linear é a variação da dimensão linear do corpo-de-prova, em
porcentagem, depois de submetido às condições especificas de temperatura. Na
equação (4), têm-se os parâmetros para determinação da propriedade:
(4)
Onde:
∆Ls% - Retração linear;
Lo - Comprimento do corpo de prova antes da queima;
Lii - Comprimento do corpo de prova queimado.
3.3.2.5. Massa Específica Aparente (MEA%)
O ensaio de massa específica aparente é o valor da massa por unidade de
volume, dos corpos de prova. O resultado dessa técnica é realizado utilizando a
equação (6).
(6) AA
PAcmgMEA =³)/(
100(%) ×−
=∆Lo
LiiLoLs
Materiais e Métodos
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72
Onde:
PA – Porosidade aparente da amostra;
AA – Absorção de água da amostra.
3.3.2.6. Tensão de Ruptura à Flexão (TRF)
É definida como a máxima tensão de tração, localizado em uma imperfeição
do material, também conhecido como módulo de ruptura. O ensaio foi realizado
utilizando uma máquina de ensaios universal do tipo Autograph AG-X 300KN. O
cálculo da TRF é expresso em kgf e definido pela equação (7).
(7)
Onde:
TRF = Tensão de ruptura à flexão;
F = Carga no momento da fratura;
L = Distância entre os pontos de apoio;
b = Base do corpo de prova;
d = Altura do corpo de prova.
²2
3(%)
bd
FLTRF =
CAPÍTULO 4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados e Discussão
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74
4.1. Ensaios de Caracterização Físico-Químicos e Mineralógicos
Os ensaios de caracterização físico-químicos e mineralógicos tem a
finalidade de determinar as características das argilas utilizadas neste trabalho,
visando a possível utilização das mesmas na produção de produtos cerâmicos; além
da caracterização dos produtos acabados, conforme análises apresentadas a seguir.
4.1.1. Análise Granulométrica (AG)
Os resultados das análises granulométricas das argilas 1 e 2, estão expostos
nas figuras 16, 17, 18 e 19.
Na figura 16, encontra-se a análise granulométrica da argila 1 feita pela
norma 7181, onde tem-se um material com diâmetros de partículas que evidenciam
a predominância de argila e silte, ou seja, a maior parte do material (cerca de 80%),
encontra-se situado granulometricamente na faixa de 0,001mm a 0,06mm. Nota-se
ainda, que existe em torno de 20% do material enquadrando-se na faixa
granulométrica característica das argilas finas e médias.
Figura 16 – Análise granulométrica da argila 1.
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Pe
rce
ntu
al
qu
e P
ass
a
Diâmetro da Partícula (mm)
Curva Granulométrica
Resultados e Discussão
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75
Portanto, para os fins que estas argilas são utilizadas, a ocorrência de faixas
granulométricas com partículas finas, garantem boas condições para o controle das
dimensões finais do produto. No caso, a argila 1, essas características são
atestadas.
Na figura 17, encontra-se a análise de tamanho de partícula produzida pelo
granulômetro a laser da argila 1, com a argila pré-selecionada na peneira nº 80 da
ABNT. A curva dessa argila é caracterizada como bimodal e apresenta o diâmetro
médio 19,7µm. Percebe-se ainda, que cerca de 30% do material apresenta
granulometria na faixa de 0,3 a 6µm e aproximadamente 80% possui diâmetro de
36µm. Outros dados referentes à análise são: D10: 2,09µm, D50: 12,59µm, D90:
43,41µm.
Figura 17 – Análise granulométrica a laser – argila 1
Resultados e Discussão
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76
A curva granulométrica da argila 2, na figura 18, denota que também tem-se
um material com predominância de partículas com diâmetros característicos de
argila e silte, onde são situados na faixa de 0,002mm e 0,06mm. O material possui
na sua distribuição granulométrica cerca de 25% de argila fina, ou seja, partículas
com diâmetros que variam entre 0,06 a 0,2mm.
Figura 18 – Análise granulométrica da argila 2.
Nota-se, através da curva granulométrica da argila 2, que suas partículas
possuem, geralmente, dimensões superiores as encontradas no material anterior.
Percebe-se que o material analisado possui uma menor porcentagem de partículas
com diâmetros inferiores ao intervalo granulométrico de 0,001 a 0,010. Em se
tratando de uma argila para cerâmica vermelha, onde, em geral, seus produtos não
requerem granulometrias com faixas estreitas, o resultado condiz com as
características esperadas para tal material.
Na figura 19, tem-se o resultado da análise granulométrica a laser da argila 2,
com partículas passantes anteriormente na peneira 80 mesh da ABNT. A curva
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Pe
rce
ntu
al
qu
e P
ass
a
Diâmetro da Partícula (mm)
Curva Granulométrica
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
77
granulométrica do material caracteriza-se como bimodal e possui o diâmetro médio
de 34,05µm. Ainda nota-se que argila 2, possui cerca de 20x% de partículas entre
0,3 e 6µm e 84,91% de partículas com diâmetros de 56µm. Os outros dados
referentes a análise granulométrica da argila 2 são: D10: 2,96µm, D50: 30,76µm,
D90: 72,62µm.
Figura 19 – Análise granulométrica a laser – argila 2
4.1.2. Análise de Difração de Raios X (DRX)
As figuras de 20 a 25, referem-se aos resultados das análises de Difração de
Raios-X das argilas 1 e 2. Para cada argila, foram feitos três DRX’s em
granulometrias diferentes, tendo como objetivo comparar as fases mineralógicas
encontradas e assim observar possíveis mudanças. As granulometrias usadas
foram, 80, 140 e 200 mesh.
Resultados e Discussão
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78
F
F
Figura 20 – DRX da argila 1 - #80 mesh
Figura 21 – DRX da argila 1 - #140 mesh
Resultados e Discussão
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79
Figura 22 – DRX da Argila 1 - #200 mesh
Figura 23 - DRX da Argila 2 - #80 mesh
Resultados e Discussão
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80
Figura 24 – DRX da argila 2 - #140 mesh
Figura 25 – DRX da argila 2 - #200 mesh
Resultados e Discussão
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81
Nas figuras de 20, 21 e 22, tem-se os resultados dos DRX’s da argila 1
separadas nas granulometrias utilizadas. A figura 20, onde o material possui
partículas com granulometria menor que #80 mesh, percebe-se como fase de maior
intensidade o quartzo e em seguida tem-se a albita. As outras fases presentes na
referida análise são: anortida, muscovita e ortaclásio. Nas figuras 21 e 22 que
correspondem as granulometrias #140 e #200 mesh, respectivamente. Percebe-se
nas análises que as fases continuam as mesmas, apesar das mudanças
granulométricas do material.
A argila 2, representada na figura 23, apresenta na difração de raios X,
anortita como ponto de maior intensidade, em seguida temos o quartzo e ortoclásio,
respectivamente. Nas figuras 24 e 25, encontra-se o DRX da argila 2 com 140 e 200
mesh, respectivamente. As fases encontradas com predominância nas duas
análises foram o quartzo e a albita.
4.1.3. Análise de Fluorescência de Raios X (FRX)
Os resultados das análises químicas das argilas 1 e 2 estão representados
nas tabelas 6 e 7, respectivamente.
Tabela 6 – Análise química da argila 1
A análise química da argila 1, encontrada na tabela 6, apresenta como
principais constituintes o óxido de silício, alumínio, ferro, magnésio, cálcio, potássio
e sódio. Outros óxidos em pequena quantidade fazem parte da composição química
da argila, sendo os óxidos de sódio, titânio, enxofre, manganês, e fósforo.
Óxidos SiO2
Al2O3
Fe2O3
MgO
CaO
K2O
Na2O
TiO2
SO3
MnO
P2O5
ZrO2
SrO
ZnO
Porcentagem % 48,37 30,78 5,49 3,58 2,48 2,25 1,64 0,75 0,13 0,13 0,10 0,06 0,04 0,01
Resultados e Discussão
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82
O óxido de silício (SiO2) é precursor na formação de silicatos e sílica livre,
tendo o quartzo e outros minerais não-argilosos como os principais exemplos
encontrados nesse material. O segundo óxido em maior quantidade na análise foi o
de alumínio (Al2O3), sendo relacionado ao material argiloso da amostra, responsável
principalmente pela plasticidade do material. O Fe2O3 é responsável pela coloração
avermelhada da cerâmica vermelha, também contribuindo com a diminuição
da plasticidade e retração linear do material. Os óxidos de MgO, CaO K2O, Na2O
são fundentes e, de maneira geral, melhora a vitrificação dos materiais e diminuem a
tendência de refratariedade. O óxido de titânio (TiO2) muda a coloração do material,
levando ao tom alaranjado.
No resultado da análise química da argila 2, nota-se como principal
componente o óxido de silício (SiO2), o qual representa 50,43% do material
analisado. O aparecimento SiO2 na argila aponta para formação de silicatos e sílica
livre do mesmo modo como encontramos na argila 1. Segundo Barba (1992), um
ponto importante sobre a presença da sílica livre nos materiais é o aumento da
permeabilidade e do coeficiente de expansão térmica. Em seguida, tem-se o óxido
de alumínio (Al2O3) que combinado com outros formam os aluminossilicatos como,
por exemplo, a albita e anortita.
Os fundentes encontram-se em maior quantidade nessa argila, estes e os
demais elementos possuem as mesmas funções já destacadas na análise da argila
1.
Tabela 7 – Composição química da argila 2.
Óxidos SiO2
Al2O3
Fe2O3
MgO
CaO
K2O
Na2O
TiO2
MnO
P2O5
SO3
SrO
ZrO2
ZnO
Porcentagem 50,43 30,44 4,39 3,05 2,79 2,44 2,42 0,69 0,09 0,09 0,08 0,04 0,03 0,01
Resultados e Discussão
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83
4.1.4. Índice de Plasticidade (IP)
O índice de plasticidade representa a capacidade de um solo receber uma
determinada quantidade de água, passando do estado plástico para o líquido. Os
resultados do índice de plasticidade das argilas estão apresentados na tabela 8.
Tabela 8 – Índice de Plasticidades das Argilas.
A argila 1, de acordo com os resultados do IP, caracteriza-se como matéria
prima de alta plasticidade. Portanto, esta argila possui alta quantidade de partículas
argilosas, sendo necessária a incorporação de um material desplastificante para que
não haja defeitos no produto final. O resultado do IP da argila 2, apresenta um
material com média plasticidade, podendo ser utilizada como redutora de
plasticidade, especialmente no caso da incorporação com a argila 1 que possui alta
plasticidade. A composição entre as argilas é um ponto economicamente
interessante a ser analisado, pois além de terem sido retiradas de localidades
próximas, as suas características do IP garantem essa possibilidade. Esse processo
de certa forma diminui os gastos com transportes e outras despesas, pois não seria
necessário “a indústria” buscar material para contornar problemas com a
plasticidade do material em outras localidades.
Portanto, utilizando apenas as duas argilas, combinando os percentuais de
ambas para equilibrar a plasticidade e, assim, encontrar uma massa cerâmica
adequada, é necessário para produzir produtos de boa qualidade.
Argila Limite de Liquidez
Limite de Plasticidade
Índice de Plasticidade
Classificação
Argila 1 57,28 33,23 24,05 Altamente Plástica
Argila 2 31,62 18,91 12,69 Medianamente
Plástica
Resultados e Discussão
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84
4.1.5. Análises Termogravimétricas (ATG) e Térmicas diferenciais (ATD)
As figuras 26 e 27 encontram-se os resultadas as análises térmicas das
argilas 1 e 2, respectivamente.
Figura 26 - Análises Térmicas da Argila 1. Curva termogravimétrica (TG/MG) e Térmica diferencial (DT/Derivada)
De acordo com os resultado da análise termogravimétrica (ATG) na figura 26
da argila 1, percebe-se que na faixa de 0 a 120ºC ocorre uma perda de
aproximadamente 0,9mg de massa devido a eliminação da água superficial do
material. Entre a faixa de 200 e 650ºC nota-se uma perda de massa de
aproximadamente 0,7mg na região onde ocorrem as reações de eliminação da
matéria orgânica. Na faixa de 700 a 900ºC ocorre perda de massa de
aproximadamente 0,5mg que corresponde à eliminação de hidroxilas (OH-) e
carbonos (CO3) das transformações de hidróxidos e carbonatos em óxidos.
O resultado da análise térmica diferencial (ATD) da argila 1, demonstra que
no intervalo das temperaturas de 0 a 50ºC ocorreu um pico endotérmico, indicando a
perda de água de umidade; percebe-se que aproximadamente na temperatura de
100ºC ocorre um pico exotérmico, correspondendo a eliminação da água
Resultados e Discussão
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85
higroscópica. Na temperatura em torno de 450ºC ocorre um pico exotérmico, que foi
ocasionado, provavelmente, pelas reações da matéria orgânica. Por volta da
temperatura de 600ºC, nota-se a ocorrência de outro pico exotérmico, o qual está
associado, provavelmente, polifórmica do quartzo-alfa no beta. Portanto, percebe-se
que a perda de massa na argila 1, como demonstra a ATG, ocorreu majoritariamente
pela eliminação de água superficial e reações da oxidação da matéria orgânica. Os
picos exotérmicos apresentados na ADT da argila 1, denotam que o material sofreu
reações devido a eliminação da água e pela formação de gases no processo da
oxidação da matéria orgânica contida no material.
Na análise termogravimétrica (ATG) da argila 2, conforme a figura 27,
percebe-se uma perda de massa entre a faixa de 0 a 150°C de aproximadamente
0,6mg, região que correspondem a eliminação de água superficial que compõe o
material. Entre a faixa de 200 a 700ºC percebe-se uma perda de massa de
aproximadamente 0,8mg, região onde ocorre a eliminação da matéria orgânica. Nas
temperaturas 700 a 900ºC percebe-se que ocorre uma perda de massa de
aproximadamente 0,2mg que corresponde à eliminação de hidroxilas (OH-) e
carbonos (CO3) das transformações de hidróxidos e carbonatos em óxidos.
Analisando a curva da análise térmica diferencial (ATD) da argila 2, nota-se 0
a 80ºC ocorrerem de forma próxima um pico endotérmico e outro exotérmico, que
correspondem a perda de água de umidade e por isso ocasionam um pico
exotérmico. Nota-se outro pico exotérmico ocorrendo na temperatura de 100ºC,
correspondendo à eliminação da água higroscópica contida no material. Outro pico
exotérmico é formado aproximadamente na temperatura de 450ºC ocorre um pico
exotérmico, que foi ocasionado, provavelmente, pelas reações da matéria orgânica.
Entre as temperaturas de 500 e 700ºC, percebe-se um pico exotérmico, mal
Resultados e Discussão
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86
definido, que provavelmente formou-se pela transformação polifórmica do quartzo-
alfa no beta.
Figura 27 – Análises Térmicas da Argila 2. Curva termogravimétrica (TG/MG) e Térmica diferencial (DT/Derivada)
Os resultados das análises térmicas terão influência direta na porosidade
aparente e a absorção de água. Os gases gerados durante a sinterização
provocaram o aparecimento de poros nos problemas confeccionados com os
materiais estudados, como será diagnosticado através dos ensaios tecnológicos.
4.2. Ensaios Tecnológicos
Os ensaios tecnológicos tem o objetivo de analisar as propriedades
tecnológicas das argilas 1 e 2 e do produto final, através da confecção de corpos-de-
prova, verificando através dos dados obtidos a conformidade dos mesmos com as
normas vigentes para a utilização em peças cerâmicas estruturais. As medições
feitas nos corpos de prova foram realizadas utilizando um paquímetro analógico com
resolução de 0,05mm.
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
87
4.2.1. Perda ao Fogo (PF%)
Para determinação da perda de massa das formulações, utilizou-se o ensaio
de perda ao fogo (PF%). Na figura 28 tem-se o gráfico com resultado e na tabela 9
às medidas e os desvios padrões.
Percebe-se que as formulações com maior percentual de argila 1, que
possui IP indicando alta plasticidade, obtiveram os maiores índices de perda ao
fogo. As argilas plásticas, geralmente, possuem alta porcentagem de matéria
orgânica, argilominerais e outros componentes que ao decorrer da sinterização são
eliminados. O processo de eliminação desses componentes das argilas na
sinterização ocasiona o surgimento de poros e outros defeitos microestruturais nos
corpos cerâmicos. Sendo assim, pelas características da argila 1, pode-se concluir,
através deste e dos demais ensaios, que sua composição possui tais elementos e
que ao entrarem nas temperaturas de sinterização escolhidas, são eliminados e
consequentemente resultam nestes índices do ensaio de Perda ao Fogo.
Ainda observa-se que de uma forma geral todas as formulações perderam
pouco mais de 5% de massa após a sinterização. Os desvios padrões das amostras
são pequenos, diminuindo o índice de erro entre as medidas.
Tabela 9 – Ensaio de Perda ao Fogo (PF%).
Formulações/
Temperaturas
F1
F2
F3
F4
850°C 5,55 ±0,737 5,18 ±0,145 5,64 ±0,293 5,43 ±0,011
900°C 5,65 ±0,265 5,24 ±0,413 5,46 ±0,121 5,56 ±0,166
950°C 5,68 ±0,521 5,38 ±0,459 5,78 ±0,693 5,57 ±0,543
Resultados e Discussão
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88
850°C 900°C 950°C
5,2
5,3
5,4
5,5
5,6
5,7
5,8
Pe
rda
ao
Fog
o (
%)
Temperaturas
F1 F2 F3 F4
Ensaio de Perda ao Fogo (PF )
Figura 28 – Ensaio de Perda ao Fogo
No resultado, destaca-se a formulação F2, responsável pelo menor índice de
perda ao fogo, seguida da F4 que possui 50% da sua composição de argila 2.
Seguindo as conclusões tiradas com as formulações com predominância da argila 1,
é importante destacar que nesse caso, onde as formulações F2 e F4 obtiveram
baixo índice de PF% não significa que os corpos cerâmicos possuem uma menor
quantidade de poros que os demais.
4.2.2. Absorção de Água (AA%)
O resultado do ensaio de absorção de água (AA%) encontra-se representado
no gráfico da figura 29 e na tabela 10 com as medidas encontradas e seus
respectivos desvios padrão. Sendo a média dos corpos-de-prova de acordo com
cada temperatura de sinterização.
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
89
Tabela 10 – Absorção de Água (%).
Figura 29 – Ensaio de absorção de água
Analisando os resultados, percebe-se que a absorção de água obteve seu
maior índice no grupo 2, onde têm-se 100% da argila 2. Os grupos com percentual
de argila 2 (F3 e F4), apresentaram comportamento similar ao obtido pelo grupo 2,
ou seja, aumentando-se o percentual de participação da argila 2 na formulação,
ocorre maior absorção de água. O melhor resultado nesse ensaio encontra-se no
grupo F1, com 100% de argila plástica.
É importante destacar que os resultados apontam para níveis aceitáveis de
absorção de água em cerâmica estrutural, conforme as normas NBR 8947 (Telha
Formulações/
Temperaturas
F1 F2 F3 F4
850°C 11,65±0,344 14,17±0,269 12,17±0,325 12,79±0,325 900°C 12,13±0,422 15,65±0,383 13,00±0,288 13,63±0,413 950°C 12,54±0,470 16,13±0,826 14,04±0,755 14,75±0,817
850°C 900°C 950°C
10,0
12,5
15,0
17,5
20,0
Abso
rção
de
Água
(%
)Temperaturas
F1 F2 F3 F4
Ensaio de Absorção de Água (AA% )
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
90
Cerâmica – Determinação da massa e absorção de água) e NBR 6461(Bloco para
Alvenaria – verificação da resistência à compressão), possuindo percentuais
inferiores a 20%.
É perceptível que a absorção de água nos corpos de prova aumentou
proporcionalmente com a temperatura de sinterização. Esse fato ocorreu,
provavelmente, pela produção de gases provenientes da queima da matéria
orgânica contida nas amostras, além da alta velocidade de aquecimento sem
patamares intermediários anteriores; resultando no aparecimento de poros e
alterando, por conseguinte, as propriedades mecânicas do produto final. Em geral,
na queima tradicional da cerâmica vermelha estrutural utiliza-se apenas um patamar
único de queima, reduzindo-se os custos finais, porem tal fato pode propiciar uma
distorção na liberação destes gases formados.
Todavia, nota-se que a diferença entre o percentual absorvido é pequeno. Por
exemplo, na formulação F1, que absorveu a menor quantidade água em todas as
temperaturas, entre a faixa de 850 e 950ºC foi de apenas 0,89%. Do mesmo modo,
a formulação F2, responsável pela maior absorção de água, no intervalo de 850 a
950ºC absorveu 1,96% de água.
Dessa forma, o aumento da absorção de água entre as formulações
estudadas, apesar de ser evidente não traz diferenças tecnológicas que possam
prejudicar uma possível produção de produtos de cerâmica vermelha, pois como já
foi discutido, a absorção de água de todas as formulações, encontram-se no padrão
normatizado pelas instituições regulamentadoras. É preciso entender que essa
característica é resultado da quantidade de poros presentes no material estudado e
influenciará outras propriedades, como por exemplo, a resistência à flexão.
Resultados e Discussão
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91
4.2.3. Porosidade Aparente (PA%)
Na figura 30 e na tabela 12, encontram-se o resultado do ensaio de
porosidade aparente dos grupos de corpos de prova por cada temperatura de
sinterização. O resultado da porosidade mostrou-se coerente com a absorção de
água dos corpos de prova, onde os grupos com F2 e F4 absorveram mais água. Na
PA%, percebe-se que o grupo da formulação F2, composto por 100% da argila 2,
obteve o maior índice de porosidade. Por sua vez, o grupo F1 possui o menor índice
de porosidade em todas as temperaturas. Portanto, a porosidade acompanhou o
ensaio de absorção de água, onde corpos de prova com maior índice de absorção
mostraram-se porosos com a mesma intensidade.
Tabela 12 – Ensaio de Porosidade Aparente
850°C 900°C 950°C17
18
19
20
21
22
Poro
sida
de A
pare
nte
(%
)
Temperaturas
F1 F2 F3 F4
Ensaio de Porosidade Aparente (PA% )
Figura 30 – Ensaio de Porosidade Aparente
Formulações/
Temperaturas
F1
F2
F3
F4
850°C 17,40 ±0,457 19,98 ±0,575 18,18 ±0,611 19,12 ±0,233
900°C 17,42 ±0,744 21,58 ±0,579 18,73 ±0,482 19,31 ±1,43
950°C 17,86 ±0,449 22,19 ±1,031 20,06 ±0,805 20,28 ±1,006
Resultados e Discussão
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92
O maior percentual de porosidade encontra-se na Formulação F2, na
temperatura de 950ºC chegando aos 22,19%. E a variação da porosidade por
diferença simples na formulação F1 foi de 0,40%. Percebe-se ainda que a variação
de porosidade entre o maior índice de porosidade (F2 na temperatura de 950ºC) e o
menor (F1 na temperatura de 850ºC) é de 4,79%.
No tópico do ensaio de perda ao fogo, discutiu-se, também, a ocorrência do
aparecimento dos poros em decorrência da eliminação da matéria orgânica e outros
componentes das argilas no processo de sinterização. Agora nessa etapa, pode-se
notar que a porosidade nas formulações acompanhou o aumento da temperatura de
sinterização. Esse fato ocorreu de forma coerente com o resultado do ensaio de
absorção de água.
4.2.4. Retração Linear de queima (RTq%)
A média da retração linear dos corpos de prova, encontra-se exposta na
tabela 11. Percebe-se que a retração linear aumenta de acordo com a temperatura
de sinterização, sendo exceção o grupo F2. O grupo F1, composto com 100% da
argila plástica, possui a maior retração em todas as temperaturas de sinterização.
Isso ocorreu, pela quantidade de matéria orgânica presente na argila 1, que também
é um dos fatores responsáveis pela alta plasticidade do material, que ao evaporar
durante a sinterização causa a retração das dimensões dos corpos de prova. Por
outro lado, as formulações com as menores retrações, foram aquelas onde o
percentual de argila 2 era igual ou maior a argila 1, como por exemplo, na
formulação F3.
O grupo F2, por sua vez, obteve valores negativos, caracterizando a
expansão linear dos corpos de prova. Essa característica, ocorreu provavelmente
Resultados e Discussão
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93
devido a presença de sílica livre na forma de quartzo na argila 2. De qualquer forma,
pode-se perceber que a variação linear das amostras não ultrapassam os -0,03%.
A presença da expanção linear nas amostras, característica não desejada nos
produtos de cerâmica vermelha, seria um grave problema para a indústria, mas em
decorrência do baixo percentual, no caso estudado, não ocasiona problemas
significativos.
Tabela 11 – Ensaio de Retração Linear (%).
850°C 900°C 950°C-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
Re
tra
ção
Lin
ear
(%)
Temperatura
F1 F2 F3 F4
Ensaio de Retração Linear (RTq%)
Figura 31 – Ensaio de Retração Linear
Apesar dos demais grupos não apresentarem retração linear maior que 1%,
ou seja, temos formulações com baixa retração, a formulação F3, composta com
66% da argila 1 e 33% da argila 2, apresentou melhor desempenho nesse ensaio,
pois além de ter baixa retração linear, não ocorreu expanção das dimensões dos
corpos de prova como aconteceu na F2.
Formulações/
Temperaturas
F1
F2
F3
F4
850°C 0,09 ±0,074 0,03 ±0,03 0,07 ±0,08 0,04 ±0,024
900°C 0,35 ±0,675 -0,01 ±0,04 0,07 ±0,054 0,08 ±0,628
950°C 0,45 ±0,687 -0,03 ±0,04 0,08 ±0,033 0,19 ±0,066
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94
4.2.5. Massa Especifica Aparente (MEA)
Na figura 31 tem-se o gráfico com o resultado do ensaio de massa especifica
aparente (MEA) e na tabela 13, as medidas com os respectivos desvios padrões.
O processo de densificaçao do material é ligado diretamete a retração linear e
logo a MEA (Massa Específica Aparente). No resultado do ensaio, nota-se que a
MEA aumentou proporcionalmente com a predominância da argila 1 nas
formulações da massa cerâmica. A formulação F1, por exemplo, foi responsável pelo
maiores índices, enquanto a F2 obteve os menores. Com exeção da Formulação F1,
que teve uma ligeira diminuição na temperatura de 950ºC, todas as demais
formulações mantiveram um crescimento de acordo com a temperatura de
sinterização.
Tabela 13 – Ensaio de Massa Específica Aparente
Formulações/
Temperaturas
F1
F2
F3
F4
850°C 1,61 ±0,012 1,50 ±0,013 1,54 ±0,014 1,56 ±0,026
900°C 1,63 ±0,081 1,50 ±0,024 1,55 ±0,018 1,58 ±0,020
950°C 1,62 ±0,020 1,56 ±0,014 1,56 ±0,060 1,60 ±0,044
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850°C 900°C 950°C1,40
1,45
1,50
1,55
1,60
1,65
1,70
Mas
sa E
spec
ífica
Apa
rent
e
(g/cm
³
)
Temperaturas
F1 F2 F3 F4
Ensaio de Massa Específica Aparente (MEA )
Figura 32 – Ensaio de Massa Específica Aparente
A Massa Especifica Aparente (MEA), acompanhou a retração linear dos
corpos de prova. A retração aumentou e consequentemente a densificação
(aumento da MEA) do material foi proporcional.
4.2.6. Tensão de Ruptura à Flexão (TRF)
Na figura 32 e na tabela 14, encontra-se o resultado da resistência à ruptura à
flexão em três pontos. O resultado foi obtido através da média dos corpos de prova
ensaiados.
Tabela 14 – Ensaio de Resistência à Flexão (Kgf)
Formulações/
Temperaturas
F1
F2
F3
F4
850°C 3,68 ±0,439 2,20 ±0,209 2,87 ±0,218 2,71±0,132
900°C 3,40 ±0,237 2,17 ±0,179 2,77 ±0,215 2,62 ±0,262
950°C 3,51 ±0,254 2,19 ±0,304 2,66 ±0,314 2,69 ±0,169
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850°C 900°C 950°C2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Tens
ão d
e R
uptu
ra à
Fle
xão
(Kgf
)
Temperaturas
F1 F2 F3 F4
Ensaio de Tensão de Ruptura à Flexão (TRF )
Figura 33 – Tensão de Ruptura à Flexão (Kgf)
O ensaio de resistência à flexão demonstra que com o aumento da
temperatura de sinterização acontece uma variação na resistência dos corpos de
prova. Contudo, os resultados dos ensaios indicaram que quanto maior à
temperatura de queima, menor a resistência dos corpos cerâmicos que, embora
tenha sido pequena, está coerente com os demais ensaios tecnológicos;
especificamente de absorção de água e porosidade aparente. Onde a resistência à
flexão é inversamente proporcional a altos índices de porosidade e
consequentemente a absorção de água.
Entre as formulações trabalhadas, nota-se que a F2 possui a menor
resistência à flexão em todas as temperaturas de sinterização, enquanto a F1,
constituída por 100% da argila 1, obteve o melhor resultado. As formulações F3 e
F4 acompanharam os resultados dos grupos padrões, onde a argila 1, obtém melhor
resistência.
Resultados e Discussão
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97
4. 2.7. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
As figuras 34, 35 e 36, correspondem às microscopias da formulação F1 nas
temperaturas de 850°C, 900°C e 950°C, respectivamente. Todas as figuras possuem
aumento de 500 vezes.
Figura 34 – MEV da Formulação F1 (850ºC)
Figura 35 – MEV da Formulação F1 (900°C)
Resultados e Discussão
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98
Figura 36 – MEV da Formulação F1 (950ºC)
Através das figuras 34, 35 e 36, pode-se analisar a microestrutura dos corpos
de prova da formulação F1. Observa-se que na temperatura de 850ºC (figura 34) a
estrutura do corpo cerâmico é formada por poros com diâmetros variados. Outro
aspecto nessa temperatura é a microestrutura superficial do material, que começa a
sofrer modificações, geralmente ocasionadas pelas mudanças de fases.
Percebe-se que na temperatura de 950°C (figura 36), o material encontra-se
mais unificado devido a maior temperatura de sinterização. Há ainda, a presença de
trincas na superfície do material.
As figuras 37, 38 e 39, representam as formulações F2, F3 e F4 sinterizadas a
temperatura de 850°C. Essa temperatura foi escolhida por representar a temperatura
usada pela maioria das cerâmicas estruturais e por proporcionar uma resistência
satisfatória aos corpos de prova do material estudado. Todas as figuras possuem
100 vezes de aumento. Na figura 37, nota-se irregularidades na superfície da
formulação F2 com a presença de poros e vazios com maior intensidade. As
Resultados e Discussão
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99
formulações F3 e F4, sinterizadas na temperatura de 850°C, possuem
irregularidades nas partículas, formando vazios e descontinuidades estruturais.
Figura 37 – MEV da Formulação F2 (850°C) Figura 38 – MEV da Formulação F3 (850°C)
Figura 39 – MEV da Formulação F4 (850°C)
4.2.8. Microscopia Ótica (MO) e Análise Visual
As figuras 40, 41 e 42, correspondem às microscopias óticas da formulação
F1 nas temperaturas de 850ºC, 900ºC e 950ºC, respectivamente. Todas as imagens
da microestrutura das amostras possui aumento de 100 vezes.
Resultados e Discussão
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100
Figura 40 – MO da Formulação F1 (850°C) Figura 41 – MO da Formulação F1 (900 °C)
Figura 42 – MO da Formulação F1 (950°C)
Analisando as imagens, percebe-se que a formulação F1 na temperatura de
850ºC, representada na figura 40, possui coloração escura, característica comum
em materiais cerâmicos sinterizados em temperaturas relativamente baixas. Na
formulação 1 é perceptível a presença de poros, que tendem a aumentar de acordo
com a temperatura de sinterização.
As figuras 43, 44 e 45, representam as formulações F2, F3 e F4, sinterizadas
na temperatura de 850ºC.
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
101
Figura 43 – MO da Formulação F2 (850°C) Figura 44 – MO da Formulação F3 (850°C)
Figura 45 – MO da Formulação F4 (850°C)
As figuras 46 a 49 correspondem às imagens dos corpos de prova tiradas para
análise visual. Para tanto, o material foi distribuído de acordo com a formulação e a
temperatura de sinterização.
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
102
Figura 46 – Corpos de Prova (F1) Figura 47 – Corpos de Prova (F2)
Percebe-se que os corpos de prova, confeccionados com as argilas 1 e 2,
provenientes da região do agreste potiguar, obtiveram a coloração satisfatória para
produção de cerâmica vermelha, sem grandes modificações entre as temperaturas.
Figura
48– Corpos de Prova (F3) Figura 49 – Corpos de Prova (F4)
Resultados e Discussão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
103
Analisando conjuntamente os ensaios tecnológicos das argilas estudadas
percebe-se que há uma perda ao fogo próxima de 5% que corresponde à presença
de matéria orgânica, argilominerais e outros componentes. Este fato é comprovado
no ensaio por fluorescência de raios-x, onde na totalização dos percentuais de
óxidos presentes (argila 1: 95,81 % e argila 2: 96,99%) o percentual que falta
corresponde a matéria orgânica, que não é percebida pelo ensaio de FRX.
A presença de matéria orgânica nas argilas propiciou o surgimento de poros
nos corpos cerâmicos, com o aumento da temperatura de sinterização, o que
proporcionou notadamente uma maior absorção de água, um incremento na
porosidade das peças; além de propiciar uma redução na resistência mecânica das
peças. Contudo, na maioria das formulações o resultado obtido foi satisfatório,
principalmente por conferir propriedades em conformidade com as normas técnicas
para produção de telhas e blocos de cerâmica vermelha como se observou no
ensaio de absorção de água (NBR 8947 e NBR 6461).
CAPÍTULO 5
CONCLUSÃO
105
Conclusão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
De acordo com os resultados dos ensaios de caracterização e tecnológicos
realizados nas argilas 1 e 2, conclui-se que ambas possuem características que
permitem a confecção de produtos do segmento da cerâmica estrutural.
Para tanto, os resultados dos ensaios de caracterização das argilas,
provenientes da região do Agreste Potiguar, apontaram para materiais com alta e
média plasticidade, conforme foi possível identificar através do índice de plasticidade
(IP). Além disso, através da difração de raios - X (DRX) foi possível concluir que as
argilas apresentam como principais fases mineralógicas: quartzo, albita, microclínio,
muscovita e ortoclásio.
Os resultados dos ensaios tecnológicos apresentaram as seguintes
conclusões:
- A absorção de água e a porosidade aparente aumentaram em todas as
formulações proporcionalmente com a temperatura de sinterização dos corpos de
prova, todavia os resultados se enquadram satisfatoriamente dentro das normas de
padronização da absorção de água para produtos de cerâmica estrutural (NBR 6461
e NBR 8947);
- A retração linear dos corpos de prova, teve ser maior aumento nas
formulações com maior quantidade de argila 1. Sendo que na temperatura de 950°C,
as amostras da formulação F2 tiveram uma pequena expansão dimensional;
- A massa específica aparente (MEA), aumentou proporcionalmente com a
temperatura de sinterização. Ainda constatou-se, que as formulações compostas
com maior quantidade de argila 1, aparecem com os maiores índices de MEA;
- O resultado do ensaio de resistência à flexão realizado nos corpos de prova
apresentou coerência com os demais ensaios tecnológicos, onde concluiu-se que os
corpos de prova sinterizados na temperatura de 950ºC possuem a menor
106
Conclusão
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
resistência, em contra ponto, com os sinterizados à 850ºC que obtiveram os
melhores resultados.
Portando, dentre as quatro formulações estudadas, a formulação F1
apresentou o melhor resultado geral, seguida da formulação F3. Todavia, como a
formulação F1 é composta por apenas uma argila e esta possui um IP de alta
plasticidade, é recomendado seu manuseio junto com outro material com menos
plasticidade, como foi feito na formulação F3 que possui 33,33% da argila 2.
A utilização de matérias primas da Região do Agreste Potiguar apresentaram
resultados satisfatórios para produção de produtos do segmento da cerâmica
vermelha. Tendo destaque para as formulações F1 e F3 dentre as demais,
sugestionando que as mesmas poderão ser utilizadas para produção de peças
cerâmicas, proporcionando um produto de melhor qualidade e atendendo as
solicitações de mercado.
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
108
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
As sugestões para trabalhos futuros são:
- Realizar um estudo para verificar a influência das variáveis do processo de
sinterização para produção. Especialmente a utilização de outros patamares de
queima, da velocidade de aquecimento e resfriamento;
- Estudar a possibilidade da combinação das argilas estudadas para produção de
outras formulações;
- Aplicar numa indústria cerâmica, os resultados obtidos neste trabalho;
- Estudar a possibilidade de incorporação de resíduos industriais nas argilas da
região Agreste, como uma opção para diminuir os danos causados no meio
ambiente;
- Estudar o uso das matérias primas da região agreste na produção de outros
produtos para cerâmica vermelha, tais como, lajotas, tijolos maciços e tubos
cerâmicos.
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
REFERÊNCIAS
110
Flánelson Maciel Monteiro – Pós Graduação em Engenharia em Mecânica
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