universidade federal do rio grande do norte centro de … · dança nas universidades pelo...

27
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM DANÇA IANE LICURGO GURGEL FERNANDES O ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: Relatos de professores da rede municipal de Natal Natal/RN 2015

Upload: vudiep

Post on 23-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM DANÇA

IANE LICURGO GURGEL FERNANDES

O ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:

Relatos de professores da rede municipal de Natal

Natal/RN

2015

1

IANE LICURGO GURGEL FERNANDES

O ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:

Relatos de professores da rede municipal de Natal

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Dança.

Orientadora: Profª. Drª. Karenine de Oliveira Porpino.

NATAL/RN 2015

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

FOLHA DE APROVAÇÃO

A apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “O ensino da

dança na educação básica: Relatos de professores da rede municipal de Natal”,

apresentado por Iane Licurgo Gurgel Fernandes, contou com a participação da seguinte

banca:

________________________________________________

Profª. Drª. Karenine de Oliveira Porpino - UFRN

ORIENTADORA

________________________________________________

Profª. Drª Larissa Kelly de Oliveira Marques Tiburcio - UFRN

EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dr. Marcilio de Souza Vieira - UFRN

EXAMINADOR

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus, em primeiro lugar, pela oportunidade de cursar um

sonho. O curso de Dança para mim sempre foi algo quase utópico e que se tornou

realidade. Chegar a essa última etapa foi possível graças a muito esforço da minha parte

e muita graça derramada por Deus. Sem Ele, eu não estaria aqui. Foi por Ele e para Ele.

Agradeço a meus pais, Eli e Túlia, pelo apoio incondicional em todos os momentos. Da

alegria da aprovação no vestibular, às aflições das avaliações. Foram assistir aos

espetáculos, as apresentações, mesmo sem entenderem quase nada, mas sorriam e

aplaudiam como se fosse a coisa mais linda do mundo. E eles são a coisa mais linda do

mundo para mim.

À minha gêmea Iêda Licurgo por ser metade de mim. Por me completar e fazer de mim

quem eu sou. Por estar comigo desde o ventre materno e ser minha companhia fiel

sempre. Agradeço também por dividir o amor que sinto pela dança e fazer com que ele

se multiplique.

À minha orientadora, Karenine Porpino, pelos ensinamentos desde o primeiro semestre

do curso, por sua calma que me acalma, pelo incentivo e todas as correções que me

fizeram crescer.

Aos professores que se disponibilizaram a participar da entrevista e compartilharem

suas experiências para realização dessa pesquisa. Obrigada pelo tempo dedicado ao

ensino de arte às crianças.

Aos professores Larissa Marques e Marcílio Vieira por aceitarem fazer parte da minha

banca examinadora e pelas contribuições ao meu trabalho.

Ao Grupo de Dança da UFRN por ser parte fundamental na minha formação em Dança

e pela compreensão nessa fase final de muito trabalho e faltas aos ensaios. Obrigada

professora Teodora Alves por me deixar fazer parte desse projeto que é uma verdadeira

escola de professores de dança.

Aos amigos da minha turma 2012.1 sou grata pela amizade, pela dança de cada um que

me inspira, me toca e me faz sorrir. Aos que vão se formar e decidiram enfrentar com

garra e vencer o TCC, obrigada por compartilharem comigo as aflições, textos e

orientações.

4

Agradeço a Ana Karla Pires e Jennifer Dias por ser porto, por saber que posso ligar a

qualquer momento e vocês estão sempre presentes, obrigada por orarem por mim, pelos

conselhos, sugestões e risadas e claro, obrigada por dançarem comigo.

À Savio Randy pelo apoio nesses últimos semestres, pela ajuda, pelo carinho e pela

força. Obrigada por me ouvir, por me apoiar, foi fundamental.

Agradeço ao meu PG que durante esses quatro anos ouviram minhas alegrias e se

alegraram comigo, ouviram minhas tristezas e oraram por mim. Grata pela amizade.

5

O ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:

Relatos de professores da rede municipal de Natal

FERNANDES, Iane Licurgo Gurgel

RESUMO

Levando em consideração que a escola tem a função de ensinar a dança como

linguagem artística de forma ética, estética e crítica (tendo como principais

interlocutores MARQUES, 2012; PORPINO, 2012; STRAZZACAPPA, 2012; e

MORANDI, 2012) o presente trabalho discorre sobre o ensino de Dança no currículo da

disciplina de Arte na Educação Básica a partir da fala de professores de escolas

municipais de Natal/RN. A pesquisa foi realizada a partir de entrevistas gravadas e

transcritas, feias com professores participantes da Formação Continuada para

professores de Arte organizada pela Secretaria Municipal de Educação de Natal, e busca

conhecer e entender como a dança tem sido vivida e ensinada nas escolas da rede

municipal de acordo com a análise do discurso desses profissionais. Muitos são os

fatores que influenciam na atuação desse professor, de estrutural à formação. E é

notável que a Dança na escola ainda tem muito caminho pela frente para sua total

consolidação na Educação Básica.

Palavras chave: Dança/Educação; Ensino de dança; Educação Básica.

6

Sumário

Introdução ....................................................................................................................... 7

O ensino da dança na escola no contexto brasileiro........................................................10

Alguns aspectos do ensino da dança em natal a partir de relatos de professores da rede

municipal ....................................................................................................................... 15

01: conteúdos ......................................................................................................16

02: Material Didático ......................................................................................... 18

03: Limites e dificuldades para prática docente ................................................. 20

04: Descrição das aulas ...................................................................................... 23

Considerações finais ...................................................................................................... 23

Referências Bibliográficas ............................................................................................. 25

7

1 INTRODUÇÃO

Durante nossa vida estudantil muitos tiveram a oportunidade de ter contato com

algum tipo de dança dentro do universo escolar. Seja essa dança feita em alguma aula de

Educação Física, em oficinas de Dança dadas periodicamente num horário no contra

turno do aluno, vendo alguma apresentação de grupos convidados, ensaiando para

alguma apresentação num evento (como as festas juninas, dia das mães), em algum

trabalho de algum componente curricular em que o professor solicitou algo diferente, ou

como conteúdo nas aulas de Arte.

Esse último exemplo de possível contato com a dança no ambiente escolar,

como conteúdo, que anteriormente era a forma menos encontrada, hoje está mais

presente graças à lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – 9.394/96), que

tornou obrigatório o ensino de Arte no Brasil como componente curricular, juntamente

com os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em 1997, que contribuíram para

introdução da dança como conteúdo escolar, e não apenas com uma atividade

extracurricular.

O reconhecimento da dança como área de conhecimento vem tomando forma e

ganhando cada vez mais espaço na sociedade brasileira. A criação de novos cursos de

Dança nas universidades pelo Ministério da Educação é um ponto fundamental para o

fortalecimento dessa área de conhecimento e para formação do professor que irá atuar

em múltiplas vertentes, especialmente nas escolas de Educação Básica (PORPINO,

2012).

FERRAZ e FUSARI (2009) afirmam que a escola “é um dos locais onde os

alunos têm a oportunidade de estabelecer vínculos entre os conhecimentos construídos e

os sociais e culturais” (p.19). A implementação da dança nesse universo como conteúdo

dentro do currículo deve levar em consideração diversos fatores sociais, históricos e

culturais. Precisa-se entender que a dança é realizada em diferentes contextos e culturas,

em cerimônias, manifestações e ambientes diversificados, que ela é um conhecimento

produzido por indivíduos de forma significativa, que traduz e representa sua cultura,

uma forma de expressão do ser humano (PORPINO, 2012).

Segundo MARQUES (2012, p. 5) “a escola deve dialogar com a sociedade em

transformação, ela é um lugar privilegiado para que o ensino de dança se processe com

qualidade, compromisso e responsabilidade”. Então, no presente artigo, busco uma

8

aproximação com ensino da Dança no ambiente escolar da Educação Básica em minha

cidade. Ver de uma maneira investigativa como alguns professores de Arte das escolas

públicas da cidade de Natal estão ministrando a dança como conteúdo. Este trabalho

pretendeu descobrir quais são os conteúdos abordados, que materiais didáticos são

utilizados, como os professores organizam as aulas e quais as principais dificuldades e

facilidades dos professores para o ensino da dança na escola.

O objetivo é conhecer o trabalho dos professores de Arte que ensinam Dança na

Educação Básica, e entender como essa manifestação artística tem sido vivida em

escolas da rede pública municipal de Natal.

A pesquisa é de cunho exploratório e foi desenvolvida com professores que

lecionam o conteúdo de Dança dentro do componente curricular Ensino da Arte em

escolas da rede pública municipal de ensino da cidade de Natal/Rio Grande do Norte.

Tomei como critério para escolha desses professores, os que estavam participando da

Formação Continuada para professores de Artes promovida pela Secretaria Municipal

de Educação de Natal.

Apresentei o projeto de TCC aos professores, e fiz a entrevista com aqueles que

já haviam iniciado as aulas de Dança com suas turmas e se disponibilizaram gentilmente

a responder as perguntas. A pesquisa possui um caráter qualitativo, as entrevistas foram

feitas de forma semi-estruturada e os profissionais participantes assinaram um termo de

consentimento permitindo a utilização de suas falas no texto, sem mencionar seus

nomes ou o nome das escolas em que trabalham.

Segundo o Ministério da Educação, no Brasil existem 48 instituições de nível

superior, tanto privadas quanto públicas, que ofertam cursos de graduação em Dança,

sendo eles licenciaturas, bacharelados ou tecnológicos, a maioria no Rio Grande do Sul

e em São Paulo. No Rio Grande do Norte o Curso de licenciatura em Dança foi

implementado no ano de 2009 pela Universidade Federal de Rio Grande do Norte e

poucas turmas foram formadas até hoje, então existe um número muito pequeno

profissionais atuando nas escolas públicas como professores em Natal. No presente ano

de 2015 foram realizados concurso públicos para professores de Artes formados em

Dança e em Teatro para as escolas da prefeitura de Natal, mas até o momento de

realização da pesquisa os aprovados ainda não haviam sido convocados para assumirem

seus cargos.

9

Para esse artigo, trouxe incialmente, uma discussão sobre o ensino da Dança na

escola, sobre a Dança como Educação e Dança e Currículo. Em seguida apresentamos

as análises das entrevistas feitas com os professores. Ao ser, futuramente,

disponibilizado para Secretaria Municipal de Educação e para a coordenação da

Formação Continuada, este trabalho trará um breve panorama do ensino de Dança nas

escolas e poderá ser utilizado para consultadas sobre a realidade que os professores se

encontram, permitindo uma provável mudança, de forma mais positiva, nesse quadro

atual.

O ENSINO DA DANÇA NA ESCOLA NO CONTEXTO BRASILERO

Ao compararmos o ensino da Arte nas escolas com o de outras áreas de

conhecimento, percebemos que ele é bastante recente, visto que só passou a fazer parte

das disciplinas obrigatórias na Educação Básica a partir do ano de 1996, com o decreto

da Lei de Diretrizes e Bases na Educação Nacional (LDB) Nº 9.394, no dia 20 de

dezembro e com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais no ano seguinte.

Outro ponto a considerar é que por muitos anos a arte que era ensinada no ensino

formal predominava, basicamente, as artes visuais (STRAZZACAPPA e MORANDI,

2006), enquanto o teatro, a música e a dança eram deixados de lado. A Dança era vista

como uma atividade extracurricular, quando estava presente no ensino formal era

considerada apenas como um simples conteúdo da disciplina de Arte, assim como da

Educação Física1, e foram os PCN’s (BRASIL, 1998) que “passaram a considerar esses

espaços de aprendizado como componentes curriculares ligados a organização

curricular das escolas e não apenas como atividades” (PORPINO, 2012, p.1).

Ultimamente, esse quadro vem sendo modificado e as demais linguagens

artísticas se tornaram mais presentes na escola, ganharam mais espaço e de forma

obrigatória, principalmente após a aprovação do Parecer nº22/2005 que retifica o termo

“Educação Artística” para “Arte, com base na formação específica plena em uma das

linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro”, se justificando no seguinte trecho:

Entendemos assim que a retificação da denominação “Educação

Artística” por “Arte” está na linha de compreensão do Parecer e da Resolução, define melhor a noção de área de conhecimento, fica em

1 Para Educação Física, a dança é realmente um conteúdo das Atividades Rítmicas e Expressivas, mas

para a Arte ela é uma área de conhecimento autônoma.

10

consonância com a LDB e permite às redes públicas, no âmbito de sua

autonomia, receber, indistintamente, em concursos públicos

licenciados em Educação Artística, em Arte ou em quaisquer linguagens específicas, Artes Visuais e Plásticas, Artes Cênicas ou

Teatro, Música e Dança, que utilizarão os seus conhecimentos

específicos, com a finalidade de atingirem os objetivos preconizados pela legislação em vigor para o Ensino 2 Fundamental e, de modo

mais direto, o objetivo do ensino da arte, que é “promover o

desenvolvimento cultural dos alunos”. (p.2 e 3)

No contexto da Educação Básica, o ensino da Dança é bastante novo e recente.

Há muito que se estudar e refletir sobre as ações e práticas realizadas na escola. Trago,

inicialmente, algumas considerações feitas sobre a dança no contexto escolar feitas por

pesquisadores, artistas e, principalmente, professores de dança.

No texto “Dança na escola: arte e ensino” de Isabel Marques (2012), após citar

diversos questionamentos sobre como essa dança deve ser ensinada e aplicada no

universo escolar, ela afirma que a Arte não deve ser trabalhada apenas como o fazer,

mas também o pensar, ler e contextualizar, relacionado a dança; não se deve apenas

reproduzir alguns ritmos, mas conhecer a história, os processos coreográficos, estéticos

e sociais: “Na verdade, é este o grande papel da escola: integrar o conhecimento do

fazer dança, ao pensá-la na vida em sociedade” (p.5).

Segundo MARQUES (2012), a dança deve ser vista como linguagem, e não

passos organizados numa sequencia que devem ser apreendidos e repetidos, ela integra

o conhecimento corporal ao intelectual.

A dança tem uma função importantíssima na educação do ser humano

comprometido com a realidade, pois possibilita diferentes leituras de mundo. Das manifestações populares à dança contemporânea, a dança

na escola deve ser capaz de possibilitar ao aluno conhecer-se,

conhecer os outros e inserir-se no mundo de modo comprometido e crítico (p.5)

No texto de PORPINO (2012) intitulado “Dança e currículo” não se considera o

currículo como algo fixo, arbitrário e impassível de mudanças, que impõe o que deve

ser ministrado na escola, mas que pode ser dialogado “pode se constituir um espaço de

organização e articulação dos conhecimentos produzidos dentro e fora da escola, assim

como dos modos de compartilhá-los” (p.1).

Mas quais os conteúdos que devem ser ministrados no componente curricular de

Artes quando o assunto abordado for a Dança? Primeiramente deve-se entender que o

11

ensino da Dança não ocorre apenas no contexto escolar, mas em outros espaços sociais

e cada um deles tem sua especificidade.

A dança no currículo deve fazer parte de um projeto educacional previsto pelas instituições escolares e, para tanto, deve ser considerada

como uma expressão do ser humano, uma produção cultural que pode

ensinar muito sobre como os indivíduos vivem e se organizam em

sociedade, como se movimentam e comemoram suas realizações. (PORPINO, 2012, p.10).

Aprender a dança fora do ambiente escolar pode ter como objetivo a formação

de um bailarino, a manutenção de uma tradição, uma forma de lazer ou de relação

social, o que muito diferencia do objetivo que a dança deve atingir na escola da

Educação Básica, que deve

ampliar a compreensão do aluno sobre o ato de dançar, uma vez que,

além do aprendizado do gesto dançante, ele aprenderá, também, a apreciar os vários repertórios da dança, a conhecer seus diversos

significados sociais e a discutir a dança como forma de expressão

artística em diversas culturas, inclusive no contexto social em que ele vive. (PORPINO, 2012, p.11).

Então, não se deve ensinar uma técnica específica, ou a criação de performances

artísticas, cujos movimentos foram apenas cópias dos movimentos que o professor

produziu. A Dança na escola deve permitir que o aluno reconheça as diferentes formas

de produzir a dança, seus diversos estilos, formas e contextos, assim como deve fazer

como que ele se reconheça como um indivíduo dançante capaz de produzir dança, que

tenha a oportunidade de vivenciar a pesquisa gestual numa prática corporal e de ter sua

visão da realidade social que está inserido ampliada sabendo que pode intervir nela de

forma criativa.

De acordo com PORPINO (2012) o currículo de dança na organização escolar

deve considerar três referencias: os documentos oficiais nacionais (PCN, RCNEI,

PCNEM2), os documentos institucionais (Projeto Político Pedagógico) e o contexto

social. “A conexão dessas referências é imprescindível para a organização de um ensino

que esteja adequado às condições em que se realiza e que possa realmente contribuir

com a formação dos indivíduos” (p.12).

No livro “Entre a arte e a docência – A formação do artista da dança”, escrito

por Marcia Strazzacappa e Carla Morandi, existe diversas discussões sobre essa dança

2 PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais RCNEI: Referencial Curricular para Educação Infantil PCNEM: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

12

no ensino. A primeira parte dessa obra é um compendio de alguns artigos escritos por

Strazacappa, recebe o título “A dança e a formação do artista”. A segunda parte recebe

os textos de Morandi, que se encaixam na temática “A dança e a educação do cidadão

sensível”.

STRAZACAPPA e MORANDI (2012) trazem a discussão que a dança tem

conteúdo próprio, que “possui pesquisa própria, estabelece interfaces com outras

linguagens artísticas e dialoga de forma salutar com as ciências” (p.13).

No entanto, STRAZZACAPPA e MORANDI (2012) acrescentam que:

a arte do movimento faz parte da educação quando se compreende que

a dança é a arte básica do ser humano. Quando criamos e nos

expressamos por meio da dança, interpretamos seus ritmos e formas, aprendemos a relacionar o mundo interior com o exterior (p.72).

A dança permite que os indivíduos aprendam a criar pensando, de forma crítica,

adquirindo um conhecimento e compreensão de mundo de forma diferenciada. A escola

deve criar meios para que isso ocorra e seja algo recorrente no cotidiano dos alunos,

quebrando com o histórico do ensino de arte no Brasil que não incluía a dança e que ela

era vista, apenas, nas festividades escolares e em atividades recreativas.

No ensino da dança na escola deve-se proporcionar a consciência dos princípios

que geram o movimento nas crianças, “desenvolver a expressão criativa e preservar a

espontaneidade do movimento, mantendo-a para vida adulta” (idem, p.80), assim como

reforçar as faculdades naturais da expressão.

As aulas de dança na escola não são realizadas para que as crianças aprendam,

somente, a movimentarem-se. Segundo MARQUES (2010) as crianças precisam

aprender a “fazer-pensar-sentir-criticar-perceber a dança, ou seja, ler a dança” (p.44).

Faz-se necessário que o professor procure meios para que o aluno desenvolva essa

capacidade de leitura da dança, que não apenas se preocupe em reproduzir passos, mas

que contextualize e compreenda os papeis daqueles que trabalham com a dança

(intérprete, criador, apreciador, pesquisador, produtor e diretor).

A função pedagógica do professor de dança na escola deve ser de “ensinar, abrir,

construir, desconstruir, relacionar as leituras decorrentes dos diferentes papéis da dança

às leituras que se desdobram e se multiplicam nos corpos dos seus alunos”

(MARQUES, 2010, p.47), quanto mais esses papéis forem entendidos pelos alunos,

13

mais aumentarão as chances deles ampliarem as leituras de dança/mundo de forma

descentralizada, dinâmica e crítica.

ALGUNS ASPECTOS DO ENSINO DA DANÇA EM NATAL A PARTIR DE

RELATOS DE PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL

O grupo de professores que se disponibilizou a responder as perguntas da

entrevista era bastante heterogêneo, mas todos participavam regularmente da formação

continuada para os professores de Arte da rede pública municipal de ensino. Foram

realizadas entrevistas com cinco professores, todos formados pela UFRN, três deles no

curso de Educação artística com habilitação em Artes Cênicas (dentre estes, um também

possuía habilitação em Artes Plásticas), outra com habilitação em Artes Plásticas, e uma

professora formada em Dança, que havia passado no concurso para professor substituto.

A escolha do sujeito professor para realização da pesquisa se deu já que é ele

quem sistematiza os conteúdos e deflagra os processos de ensino. PELLEGIN (2011)

nos fala que

O professor de dança é o sujeito que trata pedagogicamente do

conteúdo dança, que desenvolve com os alunos o conjunto de conhecimentos necessários para que possam efetivamente

apropriar-se desse universo – praticando, assistindo,

pesquisando, discutindo dança – e para que tenham condições de saber o que a dança significa para eles próprios,

individualmente, e para o mundo (suas conexões éticas,

estéticas e políticas). (p.31).

As perguntas da entrevista feita para os professores foram sobre os conteúdos

que trabalhavam em sala, como funciona o planejamento, se existe algum material

didático de suporte, se existe algum limite ou dificuldade no trabalho, se o

conhecimento prévio dos alunos é levado em consideração, se são feitas vivências

práticas, como é a participação dos alunos nessas aulas, qual o espaço físico dessas

aulas, quais os aparelhos multimídia disponíveis na escola, e como é a intervenção

pedagógica da coordenação nas aulas, se é que ela existe. Tais perguntas foram

transformadas em quatro tópicos que serão expostos e comentados na sequencia desse

artigo.

O primeiro tópico é sobre os conteúdos, o planejamento dos professores, e a

intervenção da coordenação pedagógica nas aulas de Arte. O segundo intitula-se

“material didático” e engloba a questão dos recursos que são utilizados na sala de aula

14

com os alunos. O tópico número 3 abordou os limites e as dificuldades encontradas

pelos professores durante a realização da sua prática de ensino. E por fim, o quarto

tópico, está relacionado a uma descrição das aulas e sobre o conhecimento prévio dos

alunos e suas participações nas aulas.

Foram feitas duas tabelas para uma melhor organização didática das respostas.

Uma tabela sobre a característica dos professores, com as perguntas pessoais sobre

formação, local de trabalho, ano que começou a lecionar e outra tabela com as perguntas

da entrevista e as respostas de cada professor. Foi feita a análise por tópico, e não por

professor, trazendo a fala de cada um, mas respeitando sua privacidade, sem divulgar os

nomes dos que responderam a entrevista. Por essa razão, a tabela 1 não conta com os

nomes reais dos professores, nem das escolas em que trabalham.

Prof. Formação Ano Pós

graduação

A quanto tempo

ensina

A quanto tempo

ensina dança

01 Licenciatura em Dança - UFRN 2013 -- Há 2 anos Há 2 anos

02 Educ Artistica - hab em teatro -

UFRN

2002 -- Desde 2014

03 Educ Artistica - hab em teatro e

artes visuais - UFRN

2002 -- Desde 2011 A muitos anos

04 Educ Artística - Hab artes cênicas

- UFRN

2009 Esp em Arte

terapia - 2012

Desde 2004 Na escola desde

2014

05 Educ Artística - Hab artes

plásticas - UFRN

2001 Esp em Ensino

da Musica -

2014

Há 13 anos Desde 2011

Tabela 1- Características dos entrevistados

01: conteúdos

Minha principal interrogação foi motivada por uma curiosidade ao longo da

graduação em saber quais conteúdos que estavam sendo ministrados na escola básica, a

partir de que critérios os professores os escolhiam e como os aplicavam em suas aulas.

15

Então, essa foi a primeira pergunta feita, quais os conteúdos trabalhados. Não delimitei

a separação por ano, deixei que eles falassem no geral.

Segundo Isabel MARQUES (2011) a escola deve promover o acesso à dança,

garantindo continuidade aos projetos (o que em muitas ONG’s pode haver um corte por

falta de verbas ou patrocínio), além de uma ampliação dos conhecimentos da área,

aprendendo a ler o mundo por meio das múltiplas linguagens artísticas. “Historicamente

é papel da escola organizar currículos em que a dança esteja presente, A escola é o lugar

por excelência para que interrelações críticas e transformadoras ocorram de forma

compromissada entre a dança, o ensino e a sociedade” (p.19).

LABAN (1990) afirma que devemos buscar na escola “o efeito benéfico que a

atividade criativa da dança tem sobre o aluno” (p.18). Os PCN’s apontam como

conteúdos específicos de Dança a conscientização e percepção corporal; fatores de

movimento; qualidades expressivas e gestuais do movimento; relacionamento do aluno

consigo, com os outros e com o mundo; elementos históricos e culturais; trabalho com

improvisação e processos de composição.

A maioria dos professores falou sobre o ensino da história da dança como uma

forma de contextualização para os alunos, partindo de uma perspectiva geral para uma

mais local, vendo o surgimento da dança nos primórdios da humanidade até as danças

folclóricas regionais daqui do Rio Grande do Norte. Dois dos professores mencionaram

que ensinaram o Araruna3 para os alunos.

Trazer esse tipo de conteúdo aos alunos é de extrema importância para a

ampliação do conhecimento dos mesmos, além do enriquecimento cultural que ganham,

é uma forma de manter viva e valorizada uma dança que faz parte da "Sociedade

Araruna de Danças Antigas e Semidesaparecidas” que foi fundada pelo Mestre Cornélio

Campina da Silva, repassando aos alunos sobre essa dança que é genuinamente

potiguar.

Nesse sentido, trazemos a fala de Valéria FIGUEIREDO (2013)

É necessário que a arte e a educação assumam a responsabilidade de estruturar trabalhos e projetos integrados e transdisciplinares na

escola. Uma proposta inicial é possibilitar diálogos com a realidade

3 O Araruna é uma dança com origem europeia que mistura a valsa, a polca, o xote, mazurca e passos do

folclore popular. Se dança em pares que executam números denominados "Caranguejo", "Bode", "Besouro" "Araruna", "Camaleão", "Jararaca", "Maria Rita", "Xote Sete Rodas", "Miudinho", "Mazurca", "Maria Rendeira”.

16

social e cultural, valorizando as produções artísticas de cada região e

grupos, e, ainda, poder experienciar as relações sociais e culturais a

partir das experiências com o corpo e o movimento, compreendendo este corpo enquanto fenômeno histórico, cultural e artístico. (p.87)

Os professores entrevistados também falaram sobre conteúdos que envolvem

aulas mais vivenciais, como consciência corporal, expressão corporal, elementos

coreográficos dentre outros. É interessante ver que as aulas da formação continuada

contribuem muito para esses profissionais aprimorarem seus conhecimentos,

principalmente para os que são formados em outras áreas e têm nesses encontros a

possibilidade de adquirirem novos saberes sobre a dança e se utilizarem disso nas aulas.

Vemos um exemplo disso na fala do professor 02: “Eu usei aquelas das formações aqui (se

referindo a ideias dadas na formação), dos deslocamentos, da lateralidade4, e também busco a

diferença de planos”.

Ana de PELLEGRIN (2011) acrescenta que “é necessário também conhecer os

tipos de movimento – padrões e exceções – características do estilo de dança que se

estuda, e conhecer as técnicas e mecanismos que permitam imprimir sentido aos

movimentos” (p.30 e 31).

Os formados em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas

afirmaram que se utilizavam do conteúdo do teatro em suas aulas, fazendo alguns

exercícios ou trazendo textos para os alunos, como disse o entrevistado 02: “E também

eu tento trazer um pouco do teatro para dança. Incluindo, no espetáculo em si, busco um

texto” e o professor 03: “Então, eu fazia um contexto, eu trabalhava o teatro e a dança

com eles. A própria dança e botava um texto antes, ou cantava uma música falando e

tal, não apenas o dançar, né?”. Percebemos que a dança também é utilizada como

conteúdo para outras linguagens, nesse caso o teatro, mas também é trabalhada no

ensino de música, principalmente quando se fala de música popular que possui suas

danças próprias, como coco, frevo, maracatu, por exemplo.

A coordenação da escola está presente, na maioria dos casos, e faz algumas

intervenções na questão do planejamento dos professores, dando dicas, ajudando de

alguma forma. Algumas vezes a escola inteira precisa trabalhar o mesmo assunto, então

a coordenação pede que todos ajustem seus planejamentos ao tema gerador da escola.

Ou haverá alguma festa e os professores de Arte precisam organizar alguma

4 Esses termos são utilizados por um maiores nomes no mundo da dança chamado Rudolf Laban, um teórico, dançarino, coreógrafo, teatrólogo. Seus livros são “Coreotics” (1976), “Domínio do movimento” (1978), “Dança Educativa Moderna” (1990).

17

apresentação dos alunos. Apenas um professor entrevistado afirmou que a coordenação

da sua escola não fazia muita intervenção e que nessas festas os pedagogos que

assumiam os trabalhos e organizavam as apresentações. Essas apresentações artísticas

não devem ser o objetivo da dança na escola, elas são importantes, mas não pode se

reduzir apenas a isso. PORPINO (2012) faz essa discussão:

não é papel da dança no currículo priorizar a execução da dança

visando a performances artísticas excepcionais ou mesmo a um

aprendizado sistemático de uma técnica específica, mas a

sensibilização do aluno para que ele próprio se reconheça como indivíduo produtor desse conhecimento na sociedade em que vive, ao

mesmo tempo em que reconhece como se produz a dança em outros

lugares. (p.9)

02: Material Didático

A segunda pergunta realizada foi motivada por uma curiosidade sobre livros

didáticos para área de Arte. Curiosidade em saber se havia algum material didático que

fosse utilizado nas aulas de dança. Minha esperança era que realmente existisse um que

fosse usado pelos próprios alunos, mas os professores entrevistados não me relataram a

utilização de nenhum.

Os professores têm um livro chamado Referências Curriculares da Prefeitura

Municipal do Natal, eles se referem na entrevista como “livro azul”, pois o livro azul é o

de artes – ensino fundamental anos iniciais e anos finais. Ele funciona como parâmetros

que devem ser seguidos nas aulas, todos conhecem o conteúdo desse livro e o utilizam

para organizar suas aulas.

Para os alunos são preparados materiais avulsos dependendo do assunto a ser

abordado, as fontes de pesquisa para preparação desse material é a própria internet. Os

professores 01 e 04 mencionaram na entrevista que se utilizam de teóricos da dança para

seu conhecimento como Paul Boucier, o 04 também acrescentou que lia Isabel Marques,

Karenine Porpino, Lenira Rengel, da dança, cita dois autores que falam do ensino de

arte, como Ana Mae Barbosa e Cesar Coll, e outros sobre cultura popular como Deífilo

Gurgel5.

5 Paul Boucier: professor de história da dança na Universidade de Paris, escreveu um livro chamado

“História da Dança no Ocidente” (2001). Isabel Marques: Pedagoga pela USP, Mestre em Dança pelo Laban Centre for Movement and Dance, Londres, doutora pela Faculdade de Educação da USP, diretora do Instituto Caleidos, fundado em 2007.

18

Seria desafiadora a realização de uma pesquisa sobre a importância do material

didático para as aulas de Arte na escola, como uma forma de padronização baseada no

que dizem os teóricos e como forma de organização e sistematização do conteúdo para

os alunos, além de uma fonte de pesquisa para eles. Isso acarretaria diversas discussões

relevantes para nossa área de conhecimento.

Em relação aos recursos utilizados nas aulas, o professor 02 disse que comprou o

próprio aparelho de som, pois o da escola não funcionava, ou nunca estava disponível

para as aulas de arte, o entrevistado 01 disse que também comprou o seu, mas a escola

tinha um. Os professores 03, 04 e 05 não tiveram esse problema, e utilizavam os

recursos que a escola disponibilizava e que além de som, tinham data show, televisão,

DVD, uma sala de recursos multifuncionais que facilitava o trabalho do professor dando

a possibilidade de levar os vídeos, filmes e outros materiais para sala de aula.

03: Limites e dificuldades para prática docente

Esse foi o tópico da entrevista que mais me fez refletir sobre o que aguarda o

recém-egresso da universidade que foi aprovado em concurso público e que começará a

trabalhar nas escolas de ensino básico. Pelo simples fato de que o professor quando

chega à escola pública, ele tem muita dificuldade de conseguir turmas suficientes para

ensinar apenas especificamente a linguagem da sua graduação.

Isso se dá, pois as aulas de dança são para serem ministradas para alunos do

quinto e oitavos anos, o professor teria que pegar no mínimo 5 turmas de cada ano para

completar sua carga horária, o que o obrigaria a pegar turmas em diferentes escolas,

Escreveu diversos livros relacionados a Dança na escola como “Dançando na escola” (2010), “Ensino de Dança hoje” (2001), “Interações – Criança, Dança e Escola” (2012). Karenine Porpino: Professora de Dança da UFRN, mestre e doutora em Educação pela mesma universidade, escreveu “Dança é Educação” (2006). Lenira Rengel: Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, Mestre em Artes – Dança pela Unicamp e Bacharel em Direção Teatral pela ECA/USP. Autora do “Dicionário Laban” (2003), “Cadernos de Corpo e Dança” (2006), da “Pequena Viagem pelo Mundo da Dança” (2006). Ana Mae Barbosa: Educadora pioneira em Arte-Educação, professora de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA. Desenvolveu a abordagem triangular para o ensino de artes. Cesar Coll: professor de Psicologia Evolutiva na Faculdade de Psicologia da Universidade de Barcelona, foi um dos principais coordenadores da reforma educacional espanhola e consultor do MEC na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, aqui no Brasil. Deífilo Gurgel: foi um advogado, professor universitário, administrador público, antropólogo, folclorista, poeta e historiador brasileiro. Presidiu a Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore, foi professor da disciplina "Folclore Brasileiro", da UFRN. Escreveu “Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte” dentre outros livros sobre cultura popular.

19

implicando organização dos horários diferenciados de casa escola, gerando uma mão de

obra demasiadamente grande. Esse quadro resulta na permanência do professor numa

escola apenas, obrigando-o a ensinar as quatro linguagens para todas as turmas, mesmo

sem ter tido formação na universidade que abarque todos esses conhecimentos. Há

também a possibilidade do professor, em alguns casos, complementar sua carga horária

com algum projeto relacionado a sua área de atuação.

Assim funciona nas escolas do município de Natal, onde os professores de Arte

dão aula da Educação Infantil (CEMEI) ao Ensino Fundamental I e II. Se um professor

graduado em dança for trabalhar nesse contexto, quantas escolas ele deverá ter para

completar sua carga horária apenas com 8º anos, visto que a maioria delas possuem uma

média de 2 turmas, geralmente, por turno?

Essa conversa com os professores entrevistados me gerou tal questionamento. O

professor 01, graduado em dança, bem exemplificou na sua fala:

“Quando a gente vai para realidade [...] quando fui para o CEMEI,

tinha que dar aula de artes, ne? As 4 linguagens. Então, foi um choque

para mim. Claro que no início eu fui puxar a sardinha para minha área. Só que eu não pude aplicar tudo, né? Tive que também aplicar um

pouco da música, do teatro, dá artes plásticas. Tive que ensinar as 4

linguagens, tive que ser a professora de artes, não era só dança”.

A questão de não se sentir preparado para ensinar as quatro linguagens foi o que

os professores mencionaram nesse tópico sobre os limites e dificuldades enfrentados

para a realização de sua prática docente.

Os formados em Educação Artística sofrem menos com essa situação, pois

puderam estudar alguns semestres na faculdade as outras linguagens, então eles tem

uma noção maior. O professor 05, que possui habilitação em artes plásticas, disse que

estudou a dança na faculdade no componente curricular Técnicas do Teatro e da Dança

I, II e III, mas mesmo assim disse em dois momentos: “é complicado para mim, que não

tenho a formação especifica em dança, trabalhar todos aqueles conteúdos que tem no

referencial curricular” e “e também a questão da minha formação, se eu tivesse uma

formação mais específica na área com certeza seria mais fácil, né?”.

Isabel MARQUES (2012) extenua a importância do estudo e da formação para

um trabalho mais fundamentado e de maior qualidade do professor:

É imprescindível que nos preocupemos, atualmente, com a formação e a educação continuada de nossos professores nesta área específica do

conhecimento, para que as atividades de dança nas escolas não sejam

20

meras repetições das danças encontradas na mídia ou dos repertórios

já conhecidos de nossa tradição (p.5).

Esta pesquisa buscou os professores que participam da Formação, por isso todos

possuem algum tipo de formação em Artes. Mas, quantos professores não lecionam

Artes tendo formação em outras áreas, como pedagogia, apenas para complementar a

carga horária? Segundo a pesquisa “Estudo exploratório sobre o professor brasileiro”

(INEP/MEC, 2009) o índice de professores de Arte formados na área é bem baixo. No

Ensino Fundamental apenas 25,7% dos professores possuem formação em Arte (Belas

artes, artes plásticas, Educação artísticas), 24,1% são pedagogos e 50,2% são de outras

áreas de formação. No Ensino Médio esse número permanece alto (44,7%), mais porque

diminuiu a quantidade de pedagogos (14,1%) do que aumentou o numero dos formados

na área mesmo (41,2%) de forma considerável.

Tais dados apenas fortalecem os pensamentos negativos sobre o ensino de Arte

na escola. MATOS (2011) conclui que

Isso aponta uma absurda inadequação entre o perfil profissional do professor (formação) e a disciplina que leciona, o que com certeza

acarreta sérios prejuízos para ou os alunos bem como sustenta velhos

estereótipos da arte como atividade recreativa e/ou como atividade exclusivamente subjetiva/expressiva, já que os professores que não

tem formação específica não possuem o conhecimento e informações

necessárias para promover um ensino contextualizado e de qualidade em Artes. (p.51)

Vale ressaltar que esses dados são baseados no senso de 2007, e que há a necessidade de

se refazer a pesquisa para saber quais as mudanças ocorreram nesses quase dez anos.

Outra dificuldade mencionada na entrevista é sobre o espaço, uma questão

estrutural enfrentada por eles. O não ter um espaço específico para a realização das

aulas práticas de dança, para ensaios, faz com que o professor tenha que trabalhar na

própria sala de aula, obrigando os alunos a ficarem afastando as carteiras, perdendo

tempo de aula, que já é pouco, para organização da sala. “O espaço não é próprio, a gente

não tem uma sala nossa. Pra você dar dança tem que afastar a carteira o tempo todo” segundo o

professor 02.

Alguns professores tem a possibilidade de utilizarem a quadra da escola, quando

esta não estiver sendo usada pelo professor de Educação Física, às vezes pode haver um

permuta, o professor de Educação Física vai para sala de aula e o de Dança para quadra,

outros não podem, a quadra fica exclusiva do outro componente curricular. Algumas

escolas têm pátio ou um espaço com um pequeno palco onde as crianças podem ensaiar

21

e fazer aula (mas às vezes pode atrapalhar as salas vizinhas por se encontrar muito perto

das salas de aula normais). Apenas o professor 03 disse que na sua escola tem uma sala

específica, para as aulas de dança e teatro, bem ampla e com som para a realização das

aulas.

A falta de um espaço adequado para as aulas de dança é uma realidade que está

presente na maioria das escolas que por terem sido construídas há muitos anos, não

comportavam a exigência de aulas práticas de dança e teatro no currículo dos alunos,

então as escolas não possuem uma sala prática destinada à realização dessas aulas.

Poucas foram as que conseguiram uma verba do governo e se preocuparam em utilizá-la

para organizar uma sala para essa finalidade.

Outro fator, além desses mencionados, é a questão da falta de interesse de alguns

alunos, mas que não ocorre apenas nas aulas de Arte, mas é uma característica de

diversos alunos do sistema educacional atual, que não se interessam em estudar não

importando qual seja a disciplina. Nas aulas de dança, a falta de interesse acontece,

principalmente, com os alunos mais velhos. Faz-se importante que o exercício prático

aconteça nas aulas de dança, pois “quem dança precisa compreender como o corpo

produz o movimento, quais são as variáveis que condicionam e qual é o efeito que os

movimentos produzem no tempo e no espaço” (PELLEGRIN, 2011, p.30).

04: Descrição das aulas

Nesse ponto, os professores explicaram como funciona as suas aulas, com base

no planejamento anual e nos projetos da escola. Todos disseram que dão tanto aulas

teóricas quanto práticas, além de darem exemplos sobre aulas de determinados assuntos.

Eles se utilizam também de aulas com áudios, vídeos, filmes como “Billy Eliot”6

e “Se ela dança eu danço”7, fazem seminários com os alunos mais velhos, leem textos, e

dançam, o professor constrói coreografias com eles ou passa uma parte e eles criam a

continuação, montam pequenas estruturas coreográficas.

6 Billy Elliot é um filme de Stephen Daldry, do ano de 2000. Conta a história de um garoto de 11 anos que

mora numa pequena cidade da Inglaterra e é obrigado a treinar Boxe, mas demonstra um interesse pelas

aulas de ballet ministradas na mesma academia em que pratica a luta. Billy é descoberto pela professora

de dança e resolve enfrentar a intolerância dos que acreditam que homens não dançam ballet.

7 Se ela eu danço (Step up) é uma franquia de filmes sobre dança, mais precisamente sobre Hip Hop e

batalhas de grupo. São 5 filmes lançados até hoje, o primeiro foi em 2006 e o último em 2015.

22

Partindo dessa descrição mais ampla para uma mais específica, alguns

professores deram uma descrição de uma aula com um assunto singular. O professor 03

disse “Eu estava trabalhando com a música aquarela, né? Então, eu pedia para cada um

criar seu movimento. Eu dei o texto, continuei a dizer, falei de cada frase, coisa a tal, e

eles criaram o movimento, cada um fez o seu. Não é uma coreografia feita por mim, foi

um todo.”

Percebemos uma preocupação por parte dos professores de estarem variando

suas aulas, trazendo diferentes atividades e dinâmicas para sala de aula, sem deixar de

aplicar o conteúdo, ou de seguir o projeto motivador da escola.

Sobre a participação dos alunos nessas aulas, os professores disseram que eles

trazem muita coisa e que se aproveitam desse conhecimento prévio dos alunos, que se

utilizam disso para as aulas, o professor 03 diz “tem muita coisa criativa, que se a gente

deixar eles fluírem sai muita coisa maravilhosa”. Nesse ponto FERRAZ e FUSARI(2009)

concluem que quando os alunos produzem seus trabalhos e acompanham a produção

dos colegas, eles adquirem novos entendimentos de arte além de criarem condições para

“identificar, reconhecer e valorizar as diferenças de produções culturais e artíst icas”

(p.22).

Além dos alunos que não quererem por falta de interesse, outros sentem

vergonha de dançar, o professor 05 afirma na entrevista que “ao longo do ano eles vão

se abrindo mais, se soltando mais, a gente faz aquele trabalho de relaxamento, faz jogos,

para socialização para entrosamento, para cooperação e eles vão melhorando mais”.

Algumas crianças não participam por preconceito de alguns pais que não permitem que

seus filhos façam aula de dança, seja por um motivo religioso ou por falta de

conhecimento sobre o que é a dança na escola, mas aos poucos vão conhecendo o

trabalho e permitindo que seus filhos participem da parte prática das aulas.

Marcia Strazzacappa e Carla Morandi (2012) comentaram sobre as crianças e

adolescentes que apresentam indisposição para as aulas de dança:

Deparamo-nos com algumas resistências que vão desde situações que envolvem questões de gênero e/ou convicções religiosas à simples

negação de se movimentar por preguiça e cansaço. [...] Muitos

estudantes são oriundos de práticas corporais pobres ou inexistentes.

(p. 28)

Essas crianças são sedentárias, com desvios posturais por passarem muito tempo

sentadas em aulas ou na tv/computador. Infelizmente, esse quadro só vem crescendo

23

graças ao avanço tecnológico que permite a criação de novos jogos e eletrônicos que

prendem a atenção das crianças, fazendo com que atividades físicas e exercícios sejam

deixados de lado, e criando diversos problemas corporais nelas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que o ensino de dança na escola vem passando por um percurso longo

ao longo dos anos para se concretizar como conteúdo na Educação Básica. Já logramos

um avanço considerável, mas ainda há muito que trilhar. O presente trabalho não teve

como objetivo realizar uma pesquisa que fizesse um retrato da atual realidade da dança

na escola como conteúdo na aula de Arte nas escolas municipais de Natal/RN. Pela

quantidade de professores entrevistados e pelas características que envolvem uma

pesquisa sucinta de um trabalho de conclusão de curso, só foi possível reconhecer um

pequeno recorte dessa realidade.

No entanto, tal recorte permite um reconhecimento dessa realidade. Apesar do

número de professores entrevistados ser pequeno, as vivências em sala de aula e o

trabalho que desenvolvem, demonstram o que diversos outros professores também

vivem em suas escolas. Seria interessante uma continuidade da pesquisa, ampliando as

escolas, fazendo mais entrevistas com outros profissionais para que se faça um trabalho

que abarque a realidade da dança nas escolas da rede municipal de ensino de Natal de

forma ampla e concreta.

Dessa forma, a pesquisa contribuiria de maneira mais efetiva e seus resultados

poderiam ser levados diretamente a Secretaria Municipal de Educação, para que os

gestores da educação pudessem conhecer o contexto em que o ensino da dança se

encontra, e até mesmo, se conhecer onde ela ainda não foi implantada, quais as razões

para isso e que se tome uma medida para que esse quadro seja transformado e a dança

se efetive como conteúdo em todas as escolas.

A escola deve oferecer para os alunos a oportunidade de entender o processo de

criação, sua história e seu contexto de produção de forma efetiva e crítica, não só da

dança, mas da arte no geral e demais linguagens artísticas. A dança na escola não pode

ser vista de forma funcional no sentido de aliviar estresse, relaxar, fazer uma atividade

física, melhorar a postura e a coordenação motora, ou apenas divertir os alunos ao

fazerem uma “aula de dança”.

24

É imprescindível que, na dança na escola, os alunos aprendam a reconhecer o

fenômeno da dança em suas diversas manifestações artísticas. Que possam conhecer e

experiênciar diferentes tipos de dança, de diferentes realidades, suas movimentações,

formas, espaços, e contextos de produção social e cultural.

Os professores devem criar meios para que as crianças vivenciem o expressar-se

através dos movimentos, criando suas próprias significações, intenções e sentidos aos

movimentos que elas mesmas criarem. Que elas sejam estimuladas a apreciarem a

dança, tornando-se também público dessa arte.

Para que tais propostas sejam alcançadas e que esse ensino de dança aconteça de

forma próxima ao ideal nas escolas, se faz necessário que mais professores formados

especificamente na área sejam contratos, por possuírem os conhecimentos necessários

para essa prática pedagógica. Então, o governo deve criar mais concursos públicos para

o cargo, convocar os professores aprovados e inseri-los nas escolas. E aos professores já

efetivos no cargo, e que não são formados em dança, que possam dar prioridade às

formações continuadas, para que se atualizem e utilizem dos conhecimentos adquiridos

para um trabalho mais fundado.

Dessa forma, a dança, a arte, e a cultura, serão mais reconhecidas e valorizadas.

A sociedade compreenderá a importância das aulas de Dança na escola.

25

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Parâmetros curriculares Nacionais (PCNS). Introdução. Ensino

Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

FERRAZ, Maria Heloísa C. de T., FUSARI, Maria F. de Resende e. Metodologia do

ensino de arte: fundamentos e proposições. São Paulo: Cortez, 2009.

FIGUEIREDO, Valéria. A dança, a escola e seus diferentes espaços e tempos. Dança,

Salvador, v.2, n.2, p. 8192, jul./dez. 2013. Disponível em

<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistadanca/article/view/9001>. ISSN 1676

– 1901

LABAN, Rudolf. Dança educativa moderna. São Paulo: Ícone, 1990.

MARQUES, Isabel. Dança: escolha a escola. IN: SANTOS, Rosirene Campêlo dos,

RODRIGUES, Edvânia Braz Teixera. O ensino de dança no mundo contemporâneo:

definições, possibilidades e experiências. Goiânia, Kelps, 2011.

__________. Dança na escola: Arte e ensino. Salto para o futuro. Tv escola. Boletim 2.

Abril de 2012.

__________. Linguagem da Dança: Arte e Ensino. 1 ed, São Paulo: Digitexto, 2010.

MATOS, Lúcia. Breves notas sobre o ensino da dança no sistema educacional

brasileiro. IN: SANTOS, Rosirene Campêlo dos, RODRIGUES, Edvânia Braz Teixera.

O ensino de dança no mundo contemporâneo: definições, possibilidades e

experiências. Goiânia, Kelps, 2011

PELLEGRIN, Ana De. Ensino de dança: finalidades, necessidades e identidades. IN:

SANTOS, Rosirene Campêlo dos, RODRIGUES, Edvânia Braz Teixera. O ensino de

dança no mundo contemporâneo: definições, possibilidades e experiências. Goiânia,

Kelps, 2011.

PORPINO, Karenine. Dança na escola: Arte e ensino. Salto para o Futuro. Tv escola.

Boletim 2. Abril de 2012.

STRAZZACAPPA, Márcia; MORANDI, Carla. Entre a Arte e a Docência: A

formação do artista da dança. Papirus Editora. Campinas – SP. 2012.

STRAZZACAPPA, Márcia, A formação do professor de dança. IN: GONÇALVES, T.,

BRIONTES, H., PARRA, D. & VIEIRA, C. Docência - Artista do Artista – Docente.

Fortaleza: Expresso Gráfica e Editora, 2012. p. 20-31

Estudo exploratório sobre o professor brasileiro Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/estudoprofessor.pdf> Acesso em 02.12.2015

Filme Billy Eliot. Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-11295/>

acesso em: 28.12.205

26

Filme Ela dança, eu danço. Disponível em:

<http://www.adorocinema.com/filmes/filme-217490/> acesso em 28.12.2015

Instituições de Educação Superior no Brasil. Disponível em <http://emec.mec.gov.br/>

acesso em 08.10.2015

Parecer 23001.000167/2005-89. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO

NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Disponível em

<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb22_05.pdf> acesso em 16.11.2015

<http://papjerimum.blogspot.com.br/2012/03/araruna-mais-genuina-das-dancas.html>

acesso em 15.11.2015