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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA REINTRODUÇÃO DA CUTIA-VERMELHA (Dasyprocta leporina) NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA (RIO DE JANEIRO, RJ): AVALIAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS, DETERMINAÇÃO DO SUCESSO EM CURTO PRAZO E CARACTERIZAÇÃO DOS PADRÕES ESPACIAIS BRUNO CID Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em ecologia da universidade federal do rio de janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de mestre em ciências biológicas (ecologia). RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

REINTRODUÇÃO DA CUTIA-VERMELHA (Dasyprocta leporina) NO PARQUE

NACIONAL DA TIJUCA (RIO DE JANEIRO, RJ): AVALIAÇÃO DOS

PROCEDIMENTOS, DETERMINAÇÃO DO SUCESSO EM CURTO PRAZO E

CARACTERIZAÇÃO DOS PADRÕES ESPACIAIS

BRUNO CID

Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação

em ecologia da universidade federal do rio de janeiro,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do

grau de mestre em ciências biológicas (ecologia).

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

2011

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I

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Dr. Adriano Chiarello

(Universidade de São Paulo)

_________________________________________

Prof. Dr. Marcus Vinícius Vieira

(Universidade Federal do Rio de Janeiro)

_________________________________________

Prof. Dr. Fernando A. S. Fernandez

(Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Suplentes

_________________________________________

Prof. Dr. Helena Godoy Bergallo

(Universidade Estadual do Rio de Janeiro)

_________________________________________

Prof. Dr. Carlos Ramon Ruiz-Miranda

(Universidade Federal do Norte Fluminense)

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II

FICHA CATALOGRÁFICA

Cid, B.

Reintrodução da cutia-vermelha (Dasyprocta leporina) no Parque Nacional da Tijuca

(Rio de Janeiro, RJ): avaliação dos procedimentos, determinação do sucesso em curto

prazo e caracterização dos padrões espaciais.

Rio de Janeiro, 2011

XVII + 133 p.

Dissertação (Mestrado em Ecologia), Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Departamento de Ecologia, 2011

1. Reintrodução

2. Roedores

3. Organização espacial

I. Fernandez, F. A. S. (Orientador)

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro – Departamento de Ecologia

III. Título

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III

AGRADECIMENTOS

À minha família por todo o amor que recebi desde criança, por me

proporcionarem uma infância rica e tranqüila. Especialmente ao meu pai por ser sempre

um exemplo de retidão e por transmitir a mim a paixão que sempre teve pelos animais.

À minha mãe por seu amor incondicional, sempre me defendendo, mesmo quando eu

não tinha razão. À minha irmã por estar ao meu lado todos esses anos, ser uma amiga e

ter sempre uma palavra de razão a oferecer. Por último à minha avó, Maria José, por

chamar minha atenção às maravilhas da natureza e por ser, provavelmente, a maior

razão por eu ter escolhido essa profissão especial. A ela dedico essa dissertação.

À Clarissa por dividir comigo todos os momentos desses últimos anos. Por ser

minha melhor amiga e luz quando tudo parecia escuro. Não tenho palavras para

descrever o que sinto por você e o quanto você é especial pra mim.

Ao meu orientador, Fernando Fernandez, por confiar a mim um projeto que

tinha muito para dar errado. Por ser um exemplo de amor à natureza e por mostrar que a

genialidade e as bobagens do dia a dia podem andar juntas.

À Alexandra Pires por sonhar esse sonho comigo, ser mais do que uma

companheira, mas quase uma orientadora e por dividir comigo as responsabilidades

sobre o projeto.

Também gostaria de agradecer, porque não tive outro espaço para fazer isso

devidamente, ao meu ex-orientador, Emiliano Calderon, por me mostrar que a vida de

cientista de faz com garra e muita vontade, por aturar a minha falta de maturidade em

certos momentos e por me perdoar por quase ter dado fim ao seu doutorado (estagiário

só faz m**da!).

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IV

Aos meus companheiros de laboratório que tanto me ensinaram esses anos, pelos

venenos que passamos juntos, por agüentarem as minhas paranóias e, muitas vezes,

fazerem piada disso. Adriana, Andreas, Bella, Bernardo, Camila, Carin, Carlos, Cissa,

Clarissa, Dani, Everton, Flora, Gabi, Hugo, Jorge, Leandro Macedo, Leandro Travassos,

Manuel, Maron, Melina, Pâmela, Patrícia, Patagônia, Paula, Pelotas, Renatinho, Thiago,

Verônica. À vocês meu muito obrigado! Um agradecimento em particular a Flora e

Bella, que agüentaram as pontas do projeto durante o mês que me ausentei para ir ao

curso de campo da Amazônia, uma das experiências mais espetaculares que tive na

minha vida.

Fica aqui um agradecimento especial a uma dupla que jamais esquecerei, ao

Gustavo, por me ensinar uma das lições mais importantes que um cientista pode

aprender: enxergar beleza na ciência e à Zucco que transforma essa beleza em números

e linhas de comando, que tantas vezes foram importantes para minhas análises. As

discussões ecológicas com vocês são como aulas.

À Fundação Parques e Jardins por ter cedido os animais e, especialmente ao

Isaias, por ser uma mão amiga, preparando o terreno para a captura das cutias, e estar

sempre disposto a ajudar, mesmo que em cima da hora.

À Henrique Zaluar, por ser grande entusiasta do projeto e fazer de tudo que

estava a seu alcance para me ajudar, muitas vezes saindo de baixo de chuva para colocar

a ceva dos animais. À Loreto, por ajudar a dar o pontapé inicial que talvez tenha sido

decisivo para a realização do projeto. À Henrique Guerreiro por sempre perguntar como

estavam os bichos e ter fornecido ajudas pontuais e essenciais em momentos de

dificuldade. À Katyucha por apoiar o projeto e ao Thiago por ajudar com as imagens.

Ao Celso pelo auxílio com a autorização para a captura das cutias. Ao Bernardo e

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V

Loscar por serem entusiastas da divulgação do projeto, importantíssima para mostrar às

pessoas no que acreditamos.

Ainda com a galera do Parque agradeço de coração a todos das equipes de trilhas

que abraçaram o projeto como se fossem deles mesmo. Sempre sorrindo ao executar

uma tarefa e as vezes me assustando quando estava sozinho mergulhado nos “bips” do

receptor em meio a floresta. Suas observações sobre a localização dos bichos e o que

estavam fazendo foi fundamental em várias etapas do projeto.

À Anderson Augusto, por ter apoiado o projeto desde o início e feito tudo que

estava a seu alcance para que ele se realizasse. Daniel Balthazar, por cuidar das cutias e

estar sempre de bom humor, mesmo quando eu ligava várias vezes por semana. Aqui

agradeço também a Alex e Fernando, por estarem sempre dispostos a “ver” os bichos

quando eu precisava. À Luis Paulo Fedullo, por me impulsionar nos momentos difíceis.

E, finalmente, à Rodrigo da Costa, por literalmente salvar esta dissertação quando eu já

me encontrava descrente de que ela poderia acontecer. Aos funcionários do RioZoo por

sempre me receberem com um largo sorriso no rosto e por tratar dos animais com amor.

A todos os meus amigos de verdade que dão o colorido da minha vida. Pelas

viagens, conversas, bebedeiras, conselhos e desvios de caminho que ajudaram a lapidar

a pessoa que sou hoje e os valores que carrego comigo.

Aos financiadores do projeto: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza,

Parque Nacional da Tijuca, Fundação Parque Zoológica da Cidade do Rio de Janeiro e

Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

por entenderem a importância do projeto em momentos decisivos.

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VI

RESUMO - A reintrodução de espécies é uma ferramenta de conservação cada vez

mais utilizada e necessária no cenário de devastação mundial. Para aumentar a eficácia

dos programas de reintrodução é necessária a aproximação da prática com a ciência,

desenvolvendo a biologia da reintrodução. O presente estudo, com cutias (Dasyprocta

leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, teve os objetivos

de: (1) avaliar a importância dos procedimentos adotados durantes as fases da

reintrodução; (2) definir o estado da reintrodução a curto prazo e (3) entender os

padrões espaciais (áreas de vida e territorialidade) dos animais. Entre setembro de 2009

e dezembro de 2010 as cutias foram submetidas a um processo de soltura gradual e oito

delas foram monitoradas. Todos os indivíduos perderam peso durante a quarentena,

quando foi constatada deficiência imunológica nos animais. A aclimatação das cutias

em um cercado construído no local de soltura mostrou-se importante para acostumar os

animais ao novo ambiente e fazê-las ganhar peso antes da soltura. Apesar da maioria

das mortes ter acontecido durante a aclimatação, o cercado promoveu a coesão inicial

dos indivíduos e facilitou seu acesso à suplementação alimentar. Após a soltura, as

cutias adaptaram-se bem ao novo ambiente, consumindo constantemente os itens

alimentares encontrados na natureza. Um indivíduo morreu e três filhotes nasceram

durante o período de monitoramento. As áreas de vida foram semelhantes entre machos

e fêmeas (média = 7,9 ± 2,8 ha), corroborando a hipótese de um sistema de

acasalamento complexo com uma mistura de monogamia e poligamia. Foi evidenciado

um comportamento territorial dinâmico, com os machos defendendo temporariamente

manchas de recursos, que são provavelmente árvores de sementes grandes. A

reintrodução foi considerada bem sucedida a curto prazo e os procedimentos foram

reconhecidos como adequados para as demandas da espécie no local.

PALAVRAS-CHAVE: reintrodução, cutia, áreas de vida, Dasyprocta, Mata Atlântica.

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VII

ABSTRACT – Species reintroduction has become ever more common and useful in the

World’s devastation scenario. To make reintroduction programs work, practice must

join science, developing reintroduction biology. The present study, with (Dasyprocta

leporina) reintroduced in Tijuca National Park, Rio de Janeiro, had the goals of: (1) to

evaluate the importance of the procedures adopted for the reintroduction; (2) to define

the short-term status of the reintroduction and (3) to understand the spatial patterns

(home ranges and territoriality) of the animals. From September 2009 to December

2010 the agoutis were released gradually and eight of them were monitored. All

individuals lost weight during the quarentine, when imunological defficiencies were

detected in the animals. The aclimatation of the agoutis in a fenced pen built in the place

of release was important to get the animals used to the new environment and to allow

them to increase their weights before the release. Although most deaths happened

during the aclimatation, the pen allowed the initial coesion among the individuals and

made easier their access to the food supplementation. After release, the agoutis adapted

well to the new environment, using often the food itens found in nature. An individual

died and three young were born during the monitoring period. Home range sizes were

similar for both sexes (mean = 7.9 ± 2.8 ha), corroborating the hypothesis of a complex

mating system with a mix of monogamy and polygamy. There was evidence of a

dynamic territorial behavior, with males defending temporarily resource patches, which

are probably large-seeded trees. The reintroduction was regarded as successful in the

short term and the procedures were recognized as suitable for the local demands of the

species.

KEY-WORDS: reintroduction, agouti, home range, Dasyprocta, Atlantic Forest.

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VIII

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS III

______________________________________________________________________

RESUMO VI

______________________________________________________________________

ABSTRACT VII

______________________________________________________________________

ÍNDICE DE TABELAS X

______________________________________________________________________

ÍNDICE DE FIGURAS XII

______________________________________________________________________

INTRODUÇÃO GERAL 1

______________________________________________________________________

ESPÉCIE ESTUDADA 5

______________________________________________________________________

ÁREA DE ESTUDO 7

______________________________________________________________________

HISTÓRICO DA CUTIA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA 11

______________________________________________________________________

CAPÍTULO I - REINTRODUÇÃO DE CUTIAS VERMELHAS (DASYPROCTA

LEPORINA) NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA: PROCEDIMENTOS PRÉ

E PÓS-SOLTURA E AVALIAÇÃO DO SUCESSO EM CURTO PRAZO

1.1 – INTRODUÇÃO 14

______________________________________________________________________

1.2 – MATERIAIS E MÉTODOS 19

______________________________________________________________________

1.3 – RESULTADOS 28

______________________________________________________________________

1.4 – DISCUSSÃO 37

______________________________________________________________________

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IX

CAPÍTULO II - PADRÕES ESPACIAIS DE CUTIAS REINTRODUZIDAS:

FIDELIDADE AO CERCADO DE ACLIMATAÇÃO, DEPENDÊNCIA DA

SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR, ÁREAS DE VIDA E

TERRITORIALIDADE

2.1 – INTRODUÇÃO 51

______________________________________________________________________

2.2 – MATERIAIS E MÉTODOS 56

______________________________________________________________________

2.3 – RESULTADOS 65

______________________________________________________________________

2.4 – DISCUSSÃO 80

______________________________________________________________________

CONSIDERAÇÕES FINAIS 91

______________________________________________________________________

ANEXO A 94

_____________________________________________________________________

ANEXO B 99

______________________________________________________________________

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 102

______________________________________________________________________

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X

ÍNDICE DE TABELAS

HISTÓRICO DA CUTIA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

TABELA 1

______________________________________________________________________

Histórico de soltura de indivíduos de Dasyprocta leporina no Parque Nacional da

Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil), descrevendo o número de indivíduos introduzidos e o

local de soltura dos animais.

CAPÍTULO I

TABELA I.1

______________________________________________________________________

Indivíduos de cutia Dasyprocta leporina capturados no Campo de Santana (Rio de

Janeiro, Brasil) para futura reintrodução no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil). F = fêmea e M = macho, colar = cor do colar, captura = data da captura no

Campo de Santana, triagem = primeira triagem realizada no RioZoo, transporte = data

do transporte dos animais do RioZoo para o cercado de aclimatação no Parque Nacional

da Tijuca, soltura = data da soltura e situação atual = condição do indivíduo ao fim do

estudo.

TABELA I.2

______________________________________________________________________

Itens alimentares consumidos na natureza por cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas

no Parque Nacional da Tijuca, RJ. O número de localizações se refere à quantidade de

localizações nas quais foi possível identificar o item alimentar consumido.

CAPÍTULO II

TABELA II.1

______________________________________________________________________

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XI

Indivíduos de cutia (Dasyprocta leporina) monitorados após reintrodução no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do

colar; localizações = total de localizações durante o estudo; erro = erro médio do GPS;

dias de monitoramento = dias não consecutivos de monitoramento.

TABELA II.2

______________________________________________________________________

Estimativas (em hectares), por dois estimadores diferentes, das áreas de vida de cutias

(Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar; localizações = total de

localizações selecionadas para as estimativas das áreas de vida (apenas a estimativa por

MPC 100% levou todas em consideração); MPC 100% = área de vida estimada por

mínimo polígono convexo levando em consideração todas as localizações; kernel 80%

href = área de vida estimada por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de

suavização, excluindo 5% das localizações mais externas.

ANEXO A

TABELA A.1

______________________________________________________________________

Primeiro grupo de indivíduos da cutia vermelha Dasyprocya leporina levados à Floresta

da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para o cercado de aclimatação. A data da chegada ao

cercado se refere ao dia em que os animais receberam os colares e foram transportados

do RioZoo para o Parque Nacional da Tijuca. M = macho e F = fêmea.

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XII

ÍNDICE DE FIGURAS

ÁREA DE ESTUDO

FIGURA 1

______________________________________________________________________

Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e posição no município do Rio de

Janeiro (detalhe no canto direito superior). Fonte: Parque Nacional da Tijuca.

FIGURA 2

______________________________________________________________________

Diagrama ombrotérmico do Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) no ano

de 2010. A linha contínua indica a precipitação mensal e a linha tracejada representa a

temperatura média mensal.

CAPÍTULO I

FIGURA I.1

______________________________________________________________________

Captura das cutias Dasyprocta leporina no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil) a

serem reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) cutia

capturada na armadilha Tomahawk grande e (B) caixa usada para o transporte dos

animais.

FIGURA I.2

______________________________________________________________________

Procedimentos pré-soltura de cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) sexagem (detalhe da genitália

feminina); (B) pesagem; (C) coleta de sangue e (D) cutias em cativeiro durante a

quarentena.

FIGURA I.3

______________________________________________________________________

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XIII

Figura esquemática do cercado de aclimatação construído no Parque Nacional da Tijuca

(Rio de Janeiro, Brasil) para a soltura gradual das cutias Dasyprocta leporina. (A)

detalhe do anexo e (B) detalhe da parte principal.

FIGURA I.4

______________________________________________________________________

Comparação entre os pesos de machos e fêmeas de cutias (Dasyprocta leporina)

capturados no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil). Os pesos usados nesta

comparação foram os obtidos na primeira triagem, tão logo os animais chegaram na

Fundação RioZoo.

FIGURA I.5

______________________________________________________________________

Comparação entre os pesos dos indivíduos na triagem 1 (logo após a captura no Campo

de Santana) e na triagem 2 (no último dia da quarentena) (151,9 ± 35,6 dias). As linhas

conectam as medidas retiradas para o mesmo indivíduo nas duas ocasiões.

FIGURA I.6

______________________________________________________________________

Comparação entre os pesos dos indivíduos na triagem 2 (logo após a captura no Campo

de Santana) e no retorno à Fundação RioZoo (no caso dos animais que precisaram de

tratamento após 15 dias no cercado de adaptação, ver anexo A) (15 dias). As linhas

conectam as medidas retiradas para o mesmo indivíduo nas duas ocasiões.

FIGURA I.7

______________________________________________________________________

Comparação entre o tempo em que cada grupo de cutias liberadas no Parque Nacional

da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) levou para atingir a independência alimentar.

CAPÍTULO II

FIGURA II.1

______________________________________________________________________

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XIV

Localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da

Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas

identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. A cor entre parênteses

identifica o colar de cada animal. Cercado = posição do cercado de aclimatação (ver

capítulo I). As linhas azuis representam cursos d’água.

FIGURA II.2

______________________________________________________________________

Áreas utilizadas durante a fase de dependência da suplementação por cutias

(Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil). As áreas foram estimadas ajustando-se um MPC 100% a todas as localizações

de cada indivíduo durante o tempo em que se alimentaram da suplementação.

FIGURA II.3

______________________________________________________________________

Análise das curvas de acumulação de área de vida (estimadas por mínimo polígono

convexo excluindo 5% das localizações mais externas) para cutias (Dasyprocta

leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada

curva refere-se a um indivíduo monitorado cuja identificação está na legenda da figura.

F = fêmea e M = macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. O

macho M6 é representado por duas curvas, pois apresentou duas áreas de vida durante o

período de estudo (ver métodos – área de vida).

FIGURA II.4

______________________________________________________________________

Relação entre o tamanho das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina)

reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e o número de

localizações usadas para estimá-las. As áreas de vida foram estimadas por kernel fixo

95% usando 80% de href como parâmetro de suavização. O número de localizações se

refere aos conjuntos de 95% das localizações usados para a estimativa das áreas de vida.

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XV

FIGURA II.5

______________________________________________________________________

Comparação entre as áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no

Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) com as descritas em outros trabalhos.

F=fêmeas (pontos pretos) e M=machos (pontos brancos). As áreas de vida estimadas em

Silvius & Fragoso (2003) e Jorge & Peres (2005) são para e mesma espécie estudada no

presente trabalho. As áreas de vida estimadas em Aliaga-Rossel et al. (2008) são para

Dasyprocta punctata na ilha de Barro Colorado.

FIGURA II.6

______________________________________________________________________

Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos reintroduzidas no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). As áreas de vida mostradas nesta figura

foram calculadas por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de suavização.

FIGURA II.7

______________________________________________________________________

Relação entre os tamanhos das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina)

reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e as distâncias

máximas percorridas por elas.

FIGURA II.8

______________________________________________________________________

Distâncias máximas percorridas por cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos,

reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). A distância

máxima percorrida foi calculada como a distância euclidiana entre o ponto de soltura

(cercado de aclimatação, ver capítulo I) e a localização mais distante deste ponto para

cada animal.

FIGURA II.9

______________________________________________________________________

Distribuição das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o monitoramento intensivo. (A)

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XVI

fêmeas - a fêmea F3 não pode ser localizada no primeiro dia de monitoramento, mas

sabe-se que a mesma ficou a uma distância mínima de 300 m do cercado neste dia (ver

texto) e (B) machos. Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações

estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. Cercado = posição do cercado de

aclimatação (ver capítulo I). A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal.

FIGURA II.10

______________________________________________________________________

Índices de agregação (método do vizinho mais próximo, nearest neighbor, Krebs 1989)

das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos durante o

monitoramento intensivo, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil).

FIGURA II.11

______________________________________________________________________

Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da

Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o período do estudo (fevereiro – dezembro

2010). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na

legenda da figura. Cercado=posição do cercado de aclimatação. F=fêmea e M=macho.

A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal.

ANEXO A

FIGURA A.1

______________________________________________________________________

Testes realizados com os protótipos dos colares no RioZoo para avaliar a adaptação dos

animais ao equipamento modificado de 23 de Dezembro de 2009 a 18 de Janeiro de

2010. (A) protótipos dos colares e (B) cutia equipada com protótipo de colar.

FIGURA A.2

______________________________________________________________________

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XVII

Colares usados em cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da

Tijuca, RJ. (A) Colar TXE 311C original (Telenax®; Playa del Carmen, México) e (B)

colar modificado para prevenir ferimentos: transmissor e antena da Telenax fixados a

um cabo de aço utilizando cola Araldite e massa de poliéster, sendo o cabo envolto por

uma mangueira de borracha.

ANEXO B

FIGURA B.1

______________________________________________________________________

Coelho nativo, tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) consumido pela cutia fêmea

F6 reintroduzida no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil).

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1

INTRODUÇÃO GERAL

As diversas intervenções humanas (e.g. agricultura, pecuária e expansão urbana),

impulsionadas pelo avanço tecnológico, populacional e econômico fazem com que as

alterações causadas na natureza sejam cada vez mais catastróficas para a fauna (Hughes

et al. 1997; Terborgh 1999). Essas alterações muitas vezes levam à perda local de

populações (Hughes et al. 1997; Ceballos & Ehrlich 2002) e à extinção de espécies em

escala global (Ehrlich & Ehrlich 1981; Pimm et al. 1995). Para mitigar os efeitos da

ocupação humana sobre as espécies animais, diversas estratégias de conservação são

propostas. Neste contexto, uma ferramenta que vem ganhando espaço no cenário da

conservação mundial e sendo cada vez mais recomendada e usada é a reintrodução de

espécies (Sarrazin & Barbault 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong &

Seddon 2007; Seddon et al. 2007).

O objetivo final de qualquer projeto de reintrodução é o estabelecimento de uma

população selvagem, auto-sustentável (IUCN 1998). Alcançar este objetivo final é

complicado não só porque é difícil definir a partir de que momento uma população se

torna auto-sustentável, mas porque este estado pode ser momentâneo e um diagnóstico

de sucesso prematuro pode comprometer todo o projeto (Seddon 1999). Wolf et al.

(1996) mostraram que quatro dos 74 projetos de reintrodução considerados bem

sucedidos em 1987 apresentavam populações declinando em 1993. Estes fatos

evidenciam a importância do monitoramento dos indivíduos liberados na natureza,

procedimento muitas vezes negligenciado no passado e considerado essencial para

qualquer projeto de reintrodução atualmente (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999;

Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007;

Seddon et al. 2007).

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A incerteza quanto ao estado final dos programas e as altas taxas de insucesso

das reintroduções realizadas no passado, juntamente com o aumento da quantidade de

programas de reintrodução com propósito de conservação de espécies, fizeram com que

surgisse a necessidade de aumentar o conhecimento sobre as causas das falhas

recorrentes (Long 1981; Griffith et al. 1989; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong

& Seddon 2007; Seddon et al. 2007; Jule et al. 2008). Em resposta a essas demandas

surgiu a biologia da reintrodução, que tenta aliar os esforços práticos de conservação à

teoria, visando aumentar o sucesso dos programas de reintrodução (Armstrong &

Seddon 2007; Seddon et al. 2007). Peça fundamental da biologia da reintrodução, o

monitoramento começou a ser cada vez mais recomendado, sendo, hoje em dia,

obrigatório em qualquer programa de reintrodução (Sarrazin & Barbault 1996; Hein

1997; Seddon 1999; IUCN 1998; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon

2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007; IBAMA 2008).

O monitoramento traz informações importantes acerca da ecologia da espécie

em questão, como padrões de movimentação e estabelecimento das áreas de vida,

permitindo a avaliação dos procedimentos adotados na reintrodução (Sarrazin &

Barbault 1996). Valendo-se deste monitoramento é possível acompanhar os animais em

suas atividades diárias e, consequentemente, avaliar o sucesso da reintrodução (Fischer

& Lindenmayer 2000), o que é essencial para futuras decisões sobre o manejo da

população reintroduzida. Johnsingh et al. (2007) consideraram a falta de monitoramento

como uma das principais causas do insucesso na tentativa de reintrodução de uma

população de leões (Panthera leo persica) no santuário de Chandrprabha, Índia. Fischer

& Lindenmayer (2000), por sua vez, mostraram que 51% dos casos analisados por eles

nos anos 90 não chegaram a uma conclusão sobre o estado final do programa de

reintrodução, muitas vezes por falta de monitoramento.

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Sendo a reintrodução uma prática cara (Kleiman 1989; IUCN 1998; Fischer &

Lindenmayer 2000), fica cada vez mais evidente a necessidade da aproximação entre os

projetos de reintrodução e a ciência para a obtenção de melhores resultados (Sarrazin &

Barbault 1996; IUCN 1998; Sanz & Grajal 1998; Ewen & Armstrong 2007).

Consequentemente é necessário planejar os programas de reintrodução como

experimentos e desenhar o monitoramento para responder perguntas estabelecidas a

priori (Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007).

A reintrodução de espécies é essencialmente uma ferramenta que visa aumentar

a persistência de uma espécie em escala global (IUCN 1998). No entanto, dentre as

metas principais encontram-se também o restabelecimento de espécies-chave e

restauração da biodiversidade natural (IUCN 1998), objetivos mais próximos à

restauração de ecossistemas. Esse enfoque, apesar de negligenciado no passado, tem

sido cada vez mais comum nos projetos de reintrodução (Armstrong & Seddon 2007;

Seddon et al. 2007) e o alcance desta meta tem aparecido como o objetivo de alguns

trabalhos de reintrodução recentemente (e.g. Belusova et al. 2005; Donlan et al. 2006;

Rubenstein et al. 2006; James & Eldridge 2007; Licht et al. 2010). A restauração de

ecossistemas pode ser realizada através da recuperação de interações animal-planta,

como a dispersão de sementes. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é utilizar o

potencial da cutia Dasyprocta leporina como dispersora de sementes no Parque

Nacional da Tijuca. Apesar de a espécie aparecer como vulnerável na lista de espécies

ameaçadas do Município do Rio de Janeiro (Vera y Conde et al. 2000), é no contexto

geral de restauração de ecossistemas que o presente trabalho se foca.

A presente dissertação estrutura-se em dois capítulos. No primeiro serão

discutidos aspectos gerais do programa de reintrodução de cutias no Parque Nacional da

Tijuca com ênfase na avaliação dos procedimentos adotados e na determinação da

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situação da reintrodução em curto prazo. O segundo capítulo aborda os padrões

espaciais dos indivíduos reintroduzidos. Por fim, encontram-se as conclusões gerais

sobre os aspectos abordados nos dois capítulos.

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ESPÉCIE ESTUDADA

As espécies do gênero Dasyprocta apresentam patas longas e finas, dorso

posterior longo e fortemente curvado e cauda obsoleta nua. As patas anteriores têm

quatro dígitos e as posteriores, três, sendo estas últimas munidas de garras que se

assemelham a cascos. A pelagem do dorso é formada por pêlos hipertrofiados que se

eriçam em situações de alarme ou estresse, quando o animal pode emitir alguns sons

(Emmons & Feer 1997, Reis et al. 2006). Em Dasyprocta leporina esses pêlos

apresentam coloração amarelo-alaranjada, razão pela qual a espécie é chamada

vulgarmente de cutia-vermelha, cutia-laranja ou cutia-dourada. A espécie em questão, a

forma de D. leporina do sul da bacia Amazônica e leste do Brasil, foi reconhecida como

uma forma distinta do tipo de D. leporina, que ainda não foi formalmente descrita sendo

designada por Ximenes (1999) e Reis et al. (2006) como Dasyprocta aff. leporina. Na

ausência de uma descrição formal deste táxon, e por simplicidade, a espécie estudada

será denominada daqui para a frente apenas como Dasyprocta leporina.

A cutia vermelha está distribuída no sul da bacia amazônica, e no leste do Brasil

(Paraíba, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo) até os estados de São Paulo e Rio de

Janeiro, onde é a única espécie do gênero (Reis et al. 2006). As cutias habitam florestas

pluviais (Amazônica e Floresta Atlântica), florestas semidecíduas, cerrados e caatingas

até 2000m de altitude, geralmente com distribuição associada a cursos d´água. São

diurnas e crepusculares, sendo mais ativas no início da manhã e no final da tarde

(Nowak 1991; Jorge & Peres 2005)

A espécie é monogâmica e territorialista, vivendo em pares ou em pequenos

grupos familiares formados pelos pais e seus filhotes. Apresenta reprodução ao longo de

todo o ano, com um período de gestação de 105 a 120 dias, produzindo geralmente duas

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ninhadas por ano com um a três filhotes. O peso dos animais varia de 3 a 6 kg e o

comprimento corporal total de 49 a 64 cm, sendo as fêmeas maiores do que os machos e

apresentando quatro pares de mamas (Dubost 1988; Emmons & Feer 1997; Reis et al.

2006).

As áreas de vida estimadas para a espécie variam de 3 a 8,5 ha (Jorge & Peres

2005; Rodríguez & Vaughan 1985; Silvius & Fragoso 2003). As densidades

populacionais encontradas diferiram bastante entre os locais estudados, variando de

cinco a 40 indivíduos/km2 (Janson & Emmons 1990; Peres 1999; Silvius & Fragoso

2003; Jorge & Peres 2005).

As cutias se alimentam da polpa de frutos, sementes, raízes, cotilédones, folhas,

fungos e até mesmo invertebrados, mas tem preferência por frutos e sementes (Henry

1999a e 1999b; Silvius & Fragoso 2003). Esses animais apresentam comportamento de

estocagem, acumulando sementes enterradas em diversos locais dentro de sua área de

vida durante a estação de abundância de recursos para posterior consumo em períodos

de escassez (Henry 1999a e 1999b). Em cutias, esse comportamento é mais importante

para algumas espécies arbóreas de sementes grandes (Forget 1990; Peres & Baider

1997; Smythe 1989), sendo essencial na determinação do padrão espacial dos adultos

(Silvius & Fragoso 2003). Tal hábito é fundamental para a dispersão e recrutamento

destas espécies vegetais, sendo considerado uma das principais forças ecológicas que

atuam na estruturação e manutenção da biodiversidade em florestas tropicais (Janzen

1971; Howe & Smallwood 1982). Sendo assim, acredita-se que as cutias poderão ajudar

na dispersão de várias plantas nativas encontradas na Floresta da Tijuca que hoje se

encontram carentes de dispersores.

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ÁREA DE ESTUDO

O Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, RJ, Brasil) é considerado a maior

floresta urbana do mundo, com uma área de 3.953 ha (ICMBIO 2008). O Parque situa-

se no centro da cidade do Rio de Janeiro, nas montanhas do Maciço da Tijuca (22°55‟ –

23°00‟S e 43°11‟ – 43°19‟W, ICMBIO 2008) (Figura 1). Apresenta relevo acidentado

com altitude variando entre 80 e 1.021m.

Parque Nacional da Tijuca

Limites do Parque Nacional da Tijuca

Zona de amortecimento

Parque Nacional da Tijuca

Limites do Parque Nacional da Tijuca

Zona de amortecimento

Parque Nacional da Tijuca

Limites do Parque Nacional da Tijuca

Zona de amortecimento

Parque Nacional da Tijuca

Limites do Parque Nacional da Tijuca

Zona de amortecimento

Figura 1. Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e posição no município do

Rio de Janeiro (detalhe no canto direito superior). Fonte: Parque Nacional da Tijuca.

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A vegetação do PNT é classificada como floresta ombrófila densa secundária em

estágio avançado de regeneração (Alto Montana, Montana e Submontana), típica de

Mata Atlântica. Há algumas espécies exóticas dentre as quais se destacam a jaqueira

(Artocarpus heterophilus), os eucaliptos (Eucalyptus sp.) e a dracena (Dracaena

fragrans), introduzidas durante um programa de reflorestamento conduzido no fim do

século XIX (ICMBIO 2008). O clima da região é tropical com verões chuvosos e

invernos secos. A precipitação anual normalmente excede os 2.000mm e as

temperaturas médias anuais variam entre 18° e 22°C (ICMBIO 2008). Durante o

período no estudo (Fevereiro a Dezembro de 2010) a precipitação total foi de 2601,8

mm e a temperatura média mensal 26,1 ± 1,9°C (Instituto Nacional de Meteorologia,

dados obtidos da estação automática do Alto da Boa Vista, RJ; Figura 2).

0

100

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F M A M J J A S O N D

Figura 2. Diagrama ombrotérmico do Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil) no ano de 2010 (Instituto Naicional de Meteorologia). A linha contínua indica a

precipitação mensal e a linha tracejada representa a temperatura média mensal.

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O histórico do PNT foi retirado do plano de manejo do Parque (ICMBIO 2008) e

é como se segue. As primeiras intervenções humanas consideráveis na área do futuro

Parque Nacional da Tijuca aconteceram a partir do século XVII, quando tiveram início

as atividades da indústria canavieira, com a extração de madeira para ser transformada

em lenha e carvão. As primeiras plantações de cana-de-açúcar ocuparam, a princípio,

grandes extensões de baixada, ganhando depois as encostas. Porém, a maior devastação

da área de floresta aconteceu por volta de 1760, quando o café começou a ser plantado

no Rio de Janeiro. Por quase todo o século XIX, a área da alta tijuca foi ocupada por

numerosas plantações de café, aproveitando o solo florestal rico em nutrientes, e

começou o histórico de introdução de espécies exóticas. Contudo, a ocupação parece

não ter atingido toda a área e alguns locais como a região mais elevada da Serra da

Carioca, situada entre as Paineiras e o Sumaré, permaneceram relativamente bem

preservadas. A vinda de D. João VI para o Brasil, o estabelecimento da corte na Quinta

de São Cristóvão e o rápido crescimento da cidade naquela área tornaram insuficiente o

abastecimento de água proveniente do Rio da Carioca. No decreto de 9 de Agosto de

1817, D. João mandou cercar todos os terrenos do alto da serra, onde se localizavam as

nascentes do Rio da Carioca. A necessidade de assegurar a manutenção dos sistemas de

abastecimento de água fez com que a atenção do governo se voltasse cada vez mais para

as áreas montanhosas. Destas, a mais importante – por sua proximidade com a área

urbana – era a do maciço da Tijuca, cuja exuberante vegetação original encontrava-se

devastada pelo plantio do café e pela extração de madeira. A solução encontrada e

urgentemente executada foi o reflorestamento. Em 1861, a Decisão n° 577 da nova

secretaria baixava "Instruções Provisórias para o Plantio e Conservação das Florestas da

Tijuca e Paineiras". Em 4 de Janeiro de 1862 sob a liderança do major Manuel Gomes

Archer, começou o reflorestamento que durou 13 anos. Durante este período foram

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plantadas mais de 60 mil mudas de várias espécies, em uma área de cerca de 1600 ha.

Devido a este histórico de devastação, muitas interações e processos ecológicos ainda

não foram restabelecidos na área do atual Parque Nacional da Tijuca. A ausência de

muitas espécies animais, por exemplo, faz com que as teias tróficas sejam mais

empobrecidas (Oda 2000) e o recrutamento de algumas espécies de plantas

características de estágios avançados de sucessão seja reduzido (Montezuma et al.

2005).

Para tentar mitigar os problemas causados pelo histórico de devastação do

Parque Nacional da Tijuca, foram iniciados, em 1969, os primeiros repovoamentos

faunísticos (Coimbra-Filho & Aldrighi 1971). A restauração faunística, como foi

chamada, tinha como objetivo reintroduzir espécies já desaparecidas e também realizar

um reforço populacional (sensu IUCN 1998) das espécies existentes. Inicialmente foram

reintroduzidos 423 indivíduos de 15 espécies de aves e 15 indivíduos de cinco espécies

de mamíferos. Em 1971 foram soltas mais 436 aves (pertencentes a 16 espécies) e 17

mamíferos (Coimbra-Filho & Aldrighi 1971).

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HISTÓRICO DA CUTIA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

Durante os repovoamentos faunísticos mencionados acima, as cutias foram

descritas por Coimbra-Filho & Aldrighi (1971) como extremamente escassas. Os

mesmos autores, por sua vez, já consideravam o repovoamento com indivíduos dessa

espécie como sendo de grande importância, existindo preocupação específica com a

dispersão de sementes no Parque (Coimbra-Filho et al. 1973). Em 1971 foi feita a

primeira soltura de cutias no Parque, sendo liberados sete indivíduos. Outras solturas de

D. leporina ocorreram entre 1972 e 1973, quando foram liberados mais 25 indivíduos,

incluindo uma fêmea prenhe (Tabela 1). Nessa época a espécie foi considerada

restabelecida no Parque de onde havia desaparecido havia aproximadamente duas

décadas (Coimbra-Filho et al. 1973). Apesar das cutias serem animais de fácil

visualização (Jorge & Peres 2005), nos últimos anos não há nenhum registro da espécie

no Parque tanto por pesquisadores como por funcionários. Esse fato leva a crer que a

repovoamento faunístico da cutia vermelha falhou e que a mesma estava extinta no

local, antes do início do presente trabalho.

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Tabela 1. Histórico de soltura de indivíduos de Dasyprocta leporina no Parque Nacional

da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil), descrevendo o número de indivíduos introduzidos e o

local de soltura dos animais.

Data Número de indivíduos Local

08/12/1971 7 Estrada Dona Castorina

13/07/1972 2 adultos Vista Chinesa

20/07/1972 3 adultos Vista Chinesa

26/10/1972 2 jovens Vista Chinesa

22/12/1972 4 adultos Vista Chinesa

31/01/1973 3 adultos Vale do Rio dos Macacos

03/03/1973 1 fêmea grávida Vista Chinesa

18/05/1973 3 adultos Vale do Rio dos Macacos

Total de indivíduos 25

Fonte: Coimbra-Filho & Aldrighi (1972) e Coimbra-Filho et al. (1973)

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CAPÍTULO I

REINTRODUÇÃO DE CUTIAS VERMELHAS

(Dasyprocta leporina) NO PARQUE NACIONAL

DA TIJUCA: PROCEDIMENTOS PRÉ E PÓS-

SOLTURA E AVALIAÇÃO DO SUCESSO EM

CURTO PRAZO

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INTRODUÇÃO

A reintrodução de espécies é definida como uma tentativa de estabelecer uma

espécie em uma área que foi parte de sua distribuição histórica, mas da qual ela foi

extinta localmente (IUCN 1998). Essa prática tem como objetivos principais: aumentar

a persistência de uma espécie em longo prazo, restabelecer uma espécie-chave

importante para o ecossistema, manter ou restaurar a biodiversidade natural, prover

benefícios econômicos em longo prazo e promover sensibilização para a conservação

(Kleiman 1989; IUCN 1998). Muitos trabalhos que se propuseram a realizar algum

desses objetivos através da reintrodução de animais na natureza falharam (Long 1981;

Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Seddon et al. 2007;

Jule et al. 2008). Entretanto, com o aumento da quantidade de trabalhos de reintrodução

de espécies nos últimos anos, muito foi aprendido e alguns fatores importantes que

podem contribuir para o sucesso dos programas foram identificados (Sarrazin &

Barbault 1996; Wolf et al. 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon

2007; Seddon et al. 2007; Jule et al. 2008). Dentre estes fatores, que podem agir

sinergeticamente, podemos destacar: extirpação da causa da extinção da espécie,

qualidade do habitat, origem dos animais, escolha da técnica de soltura, estação

climática da soltura, suplementação pós-soltura e monitoramento dos animais

reintroduzidos (Kleiman 1989; Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; IUCN 1998; Wolf

et al. 1998; Seddon 1999; Griffin et al. 2000; Ewen & Armstrong 2007; IBAMA 2008;

Jule et al. 2008; Morhouse et al. 2009).

Uma condição primária para que se realize a reintrodução de uma espécie é que

a causa que tinha levado a população ao declínio/extinção local não mais represente

uma ameaça à população reintroduzida (Sarrazin & Barbault 1996; IUCN 1998; Fischer

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& Lindenmayer 2000; Ewen & Armstrong 2007; IBAMA 2008; Morhouse et al. 2009).

Entre as causas mais comuns descritas em trabalhos de reintrodução/translocação ou

enumeradas em revisões sobre o tema estão: perda de habitat, fragmentação, predação

ou competição com espécies exóticas, caça e conflito com humanos (e.g. Short et al.

1992; Jones et al. 1995; Wolf et al. 1996; Short & Turner 2000; Ostermann et al. 2001;

Chiarello et al. 2004; Faulhaber et al. 2006; Ausband & Foresman 2007; Garret et al.

2007; James & Eldridge 2007; Seddon et al. 2007; Hedrick & Frederickson 2008; Jule

et al. 2008; Rouco et al. 2010). Para extirpar ou reduzir essas causas antes da soltura,

muitos trabalhos tem recorrido a soluções como: soltar os animais em mata contínua ou

fragmentos maiores (no caso da perda de habitat e/ou fragmentação), realizar controle

de espécies exóticas (no caso de predação ou competição) e/ou reduzir a caça e

reintroduzir os animais em áreas cercadas (e.g. Beck et al. 1991; Jones et al. 1995;

Lovegrove 1996; Combreau & Smith 1998; Armstrong & Ewen 2002; Chiarello et al.

2004; Hardman & Moro 2006; Kidjo et al. 2007; James & Eldridge 2007; Gusset et al.

2008).

A garantia de que a causa de declínio/extinção da espécie esteja erradicada

implica na escolha de um local adequado para a soltura. Sendo assim, a qualidade do

habitat é de suma importância, sendo muitas vezes reconhecido como o fator mais

decisivo para o sucesso dos programas de reintrodução (Griffith et al. 1989; Wolf et al.

1996; Wolf et al. 1998; Armstrong et al. 2002; Ewen & Armstrong 2007; Jule et al.

2008). Alguns trabalhos testaram a influência desta variável na

sobrevivência/movimentação dos indivíduos ou persistência/crescimento da população

reintroduzida (e.g. Schadt et al. 2002; Bouzat et al. 2009; Mihoub et al. 2009;

Moorhouse et al. 2009; van Langeveld & Wynhoff 2009), mas poucos realizaram

modificações no habitat de soltura (Catalán et al. 2008). Muitos destes trabalhos

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demonstraram ou inferiram a importância da qualidade do habitat para o sucesso da

reintrodução.

A maioria dos animais usados em programas de reintrodução provém de

estoques de cativeiro e o uso destes tem, freqüentemente, sido decisivo na recuperação

de espécies ameaçadas (Snyder et al. 1996; Fischer & Lidenmayer 2000; Jule et al.

2008). Porém, os animais de cativeiro quando comparados a indivíduos nascidos na

natureza, tem sobrevivência muito reduzida (Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996;

Fischer & Lindemmayer 2000; Jule et al. 2008). Essa dificuldade é, em grande parte,

decorrente de problemas associados com a longa estadia (muitas vezes por gerações)

dos animais a serem reintroduzidos em recintos de zoológicos ou centros de triagem

(Snyder et al. 1996; Griffin et al. 2000; McPhee 2003; Stoinsky et al. 2003; Mathews et

al. 2005; Jule et al. 2008). Antes da soltura, animais de cativeiro precisam passar por

um período de quarentena onde devem ser realizados exames de saúde que servem não

só para evitar que eles levem doenças para o local de soltura, como para evitar

reintroduzir animais debilitados (IUCN 1998; Munson et al. 2004; Mathews et al.

2006). Para esses animais, é recomendado o uso da soltura gradual (soft release), uma

técnica que consiste em mantê-los em um cercado construído no local de soltura para

liberá-los após um período de aclimatação (sensu Beck et al. 1991; Brigth & Morris

1994; Letty et al. 2000). Dentre as funções do cercado de aclimatação estão: acostumar

os animais ao novo ambiente, observar possíveis problemas, fazê-los ganhar peso e

realizar treinamentos pré-soltura (e.g. Beck et al. 1991; Bright & Morris 1994; Snyder

et al. 1996; Vargas & Anderson 1999; Letty et al. 2000; Wanless et al. 2002; Azevedo

& Young 2006; Shier & Owings 2006). Essa técnica tem aumentado a sobrevivência

pós-soltura dos animais de cativeiro e, consequentemente, aumentado as chances de

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sucesso das reintroduções que os utilizam (e.g. Bright & Morris 1994; Biggins et al.

1998; Wanless et al. 2002; Hunter et al. 2007; Maran et al. 2009; Rouco et al. 2010).

Tendo em vista que a abundância de recursos pode flutuar durante o ano (Janzen

1973; Pearson & Derr 1986; Terborgh 1986; Wolda 1978), o sucesso da reintrodução

também inclui a escolha da estação mais favorável para a soltura. Alguns autores já

mostraram que animais soltos na estação de maior abundância têm melhor desempenho

(Hellstedt & Kallio 1999; Ostermann et al. 2001; Oakleaf et al. 2004; Gusset et al.

2008). Porém, o uso da suplementação alimentar pós-soltura pode ajudar a atenuar os

problemas trazidos pela liberação de indivíduos na estação de escassez de recursos

alimentares (Brigth & Morris 1994; Lovegrove 1996). A suplementação alimentar é

recomendada para qualquer programa de soltura que use animais provindos de cativeiro

(Seddon 1999; IUCN 1998). Muitas reintroduções reconheceram sua importância não só

para reduzir as chances de mortalidade pós-soltura dos animais como para mantê-los nas

proximidades do cercado neste período crítico (e.g. Bright & Morris 1994; Passamani et

al. 1997; Armstrong et al. 1999; Biggins et al. 1999; Pople et al. 2001; Armstrong et al.

2002; Banks et al. 2002; Wanless et al. 2002; Armstrong et al. 2007; Ewen &

Armstrong 2007; Garret et al. 2007; Hayward et al. 2007; Catalán et al. 2008; Peignot

et al. 2008; Marnewick et al. 2009). Esses dois efeitos aumentam as chances de sucesso

da reintrodução por aumentar as chances de sobrevivência dos indivíduos soltos e por

facilitar o monitoramento.

O monitoramento deve ajudar os pesquisadores a responder, entre outras

perguntas, aspectos referentes ao estabelecimento pós-soltura, sobrevivência, causas de

morte e reprodução dos animais soltos, além de possíveis benefícios trazidos por estes

ao ecossistema (Sarrazin & Barbault 1996; Hein 1997; IUCN 1998; Seddon 1999;

Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007; Ewen & Armstrong 2007; Jule et al.

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2008). As respostas a todas essas questões ajudam a determinar o status da

reintrodução, fornecendo as bases para definir se está sendo bem ou mal sucedida

(Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Mathews et al. 2005; Armstrong & Seddon

2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007; Fischer & Lindenmayer 2000).

Dentre os critérios de avaliação do êxito da reintrodução em curto prazo estão: consumo

de alimentos na natureza (com conseqüente independência da suplementação alimentar),

sobrevivência dos animais soltos, estabelecimento pós-soltura destes animais e

nascimento da primeira prole selvagem (Sarrazin & Barbault 1996; Sanz & Grajal 1998;

Seddon 1999; Richard-Hansen et al. 2000; Ostermann et al. 2001; Richards & Short

2003; Hayward et al. 2007; Teixeira et al. 2007; Germano & Bishop 2008; Jule et al.

2008).

O objetivo deste capítulo foi descrever os procedimentos adotados durante o

processo de reintrodução da cutia vermelha Dasyprocta leporina no Parque Nacional da

Tijuca, avaliando a contribuição de cada um para a situação final da reintrodução em

curto prazo. Estas informações deverão servir de base para o manejo futuro desta

população e poderão ser úteis para novas reintroduções desta espécie em outros locais,

bem como para programas de reintrodução que tem como alvo outras espécies.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Origem e captura dos animais a serem reintroduzidos

Nos dias 24 de Setembro e 14 de Outubro de 2009 foram realizadas as capturas

dos animais na Praça da República, mais conhecida como Campo de Santana, localizado

no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Campo de Santana, que possui cerca de 13 ha,

é um Parque Municipal onde vivem aproximadamente 600 cutias (estimativa feita pelos

funcionários da Fundação Parques e Jardins) que foram transferidos da Fundação

Parque Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro (Fundação RioZoo) na década de 60

(L.P. Fedullo, comunicação pessoal). O Campo de Santana pode ser considerado como

um ambiente de semi-cativeiro para estes animais, que são alimentados diariamente e

recebem cuidados veterinários esporádicos. Para a captura, foi escolhido um pequeno

grupo de animais entre os que pareciam ser menos receptíveis à presença humana. Estes

animais não deixavam que nos aproximássemos tanto e apresentavam resquícios de

independência alimentar, comendo frutos do chão e os enterrando (Bruno Cid,

observação visual). A captura foi realizada com o uso de armadilhas para captura viva.

Para isso foram utilizadas 10 armadilhas grandes (100 x 80 x 80 cm) e seis médias (81 x

23 x 23cm), da marca Tomahawk (Tomahawk Live Trap Co., Tomahawk, Wisconsin,

EUA), iscadas com banana e doce de leite, além da ceva diária dos animais (Figura I.1,

A). Os indivíduos capturados foram transportados no mesmo dia para a Fundação

RioZoo em caixas de madeira com compartimentos individuais (Figura I.1, B).

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A BA B

Figura I.1. Captura das cutias Dasyprocta leporina no Campo de Santana (Rio de

Janeiro, Brasil) a serem reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil). (A) cutia capturada na armadilha Tomahawk grande e (B) caixa usada para o

transporte dos animais.

Triagem e quarentena

Na Fundação RioZoo, a primeira triagem das cutias foi realizada em três

ocasiões (dias 01, 05 e 22 de Outubro de 2009). A triagem consistiu na contenção física

dos animais com a utilização de puçás de rede e posterior contenção química com

utilização da associação entre quetamina (20mg/Kg) e xilazina (2mg/Kg) sob a

supervisão dos veterinários da Fundação. Após a sedação dos animais foram realizados

exames físicos, sexagem, pesagem, coleta de sangue através da veia safena lateral e

coleta de fezes diretamente da ampola retal quando possível, para análises clínicas.

Além disso, cada indivíduo recebeu um brinco de identificação numerado (Figura I.2,

A, B e C). Para saber se houve diferença no peso entre os sexos foi feito um teste de

Mann-Whitney.

Durante a quarentena as cutias foram mantidas em um cativeiro coberto e com

chão de concreto (Figura I.2, D). A alimentação consistiu de duas porções diárias

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compostas principalmente de batata doce, aipim, beterraba, milho, banana, maçã,

cenoura, repolho, abóbora e ração.

A B

C D

Figura I.2. Procedimentos pré-soltura de cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas no

Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) sexagem (detalhe da genitália

feminina); (B) pesagem; (C) coleta de sangue e (D) cutias em cativeiro durante a

quarentena.

A segunda triagem aconteceu sempre no mesmo dia em que os indivíduos

triados eram transportados da Fundação RioZoo para o cercado de adaptação no PNT.

Esta triagem consistia de uma nova pesagem, nova retirada de sangue, retirada de um

fragmento de orelha para futura análise genética e colocação dos colares de

radiotelemetria TXE-311C modificados (os colares usados inicialmente causaram

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ferimentos aos animais que tiveram que voltar à Fundação RioZoo para troca dos

mesmos, ver anexo A), com sensor de mortalidade (Telenax®; Playa del Carmen,

México). O peso médio (± dp) dos colares foi de 22,7 ± 0,5 g, aproximadamente 1% do

peso dos animais (menos do que 5%, como recomendado por Jacob & Rudran 2003).

Para saber se houve alteração no peso dos indivíduos durante a quarentena, foi

feito um teste t pareado entre o peso dos animais na primeira triagem (logo após a

captura) e o peso do mesmo indivíduo na segunda triagem (no fim do período de

quarentena).

Construção do cercado e aclimatação dos animais

Entre agosto e setembro de 2009, foram feitas três incursões ao Parque para a

escolha do local mais adequado para a construção do cercado de aclimatação. O local

para a construção (22º57‟08” S; 43º51‟9” W) foi definido por um balanço entre o

aspecto estrutural da mata local e presença de riacho (quanto mais preservada a mata e

mais próximo do riacho melhor) e proximidade da sede administrativa do Parque

(quanto mais próximo melhor, para facilitar o transporte de materiais para a sua

construção e posterior manutenção e acompanhamento dos animais durante a

aclimatação). O cercado consistiu de uma base de alvenaria (tijolos e cimento), onde foi

fixada uma tela de arame (2m de altura) com o auxílio de quatro postes de eucalipto

tratado. O cercado, totalizando 10x10m, foi dividido em duas partes desiguais (parte

principal com 8x10m e anexo com 2x10m) com uma conexão entre elas, cada uma com

uma porta (Figura I.3).

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10m

8m 2m A

B

10m

8m 2m

10m

8m 2m A

B

Figura I.3. Figura esquemática do cercado de aclimatação construído no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para a soltura gradual das cutias Dasyprocta

leporina. (A) detalhe do anexo e (B) detalhe da parte principal.

Os animais retirados da Fundação RioZoo após a segunda triagem foram

transportados em compartimentos individuais em caixas de madeira para o cercado de

aclimatação no Parque da Tijuca como parte do procedimento de soltura gradual. No

momento do transporte, aproveitou-se que os animais encontravam-se sedados pela

contenção química; este procedimento facilitou o transporte das cutias, diminuindo o

estresse desta etapa da reintrodução.

Durante o tempo de aclimatação dos animais, foram disponibilizadas três caixas

de madeira que serviram como abrigo para a chuva, dois recipientes contendo água à

vontade e alimento (mistura de batata doce, aipim, beterraba, milho, banana, maçã,

cenoura, repolho e abóbora) uma vez por dia, contendo 500g de alimento para cada

indivíduo. Além disso, foram disponibilizados para os animais alimentos encontrados

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na natureza (e.g. Beck 1991; Clark 2009), neste caso, frutos e sementes de espécies que

estavam frutificando no Parque no momento. Neste período os animais foram

vistoriados diariamente.

Para saber se houve alteração no peso de cada indivíduo durante a aclimatação,

foi feito um teste t pareado comparando o peso dos animais na segunda triagem (no fim

do período de quarentena) com o peso do mesmo indivíduo 15 dias depois (período

mínimo de aclimatação). Ainda, para saber se existe diferença no peso dos animais entre

os sexos foi realizado um teste de Mann-Whitney levando em consideração apenas o

peso na segunda triagem.

Soltura

A soltura dos animais aconteceu de forma sistemática, sempre no primeiro dia da

semana no início da manhã, respeitando o horário de atividade das cutias (Aliaga-Rossel

2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). Nesse dia, de um a três animais foram

liberados para permitir que o monitoramento intensivo acontecesse no decorrer da

semana (ver capítulo II). Nessas solturas, um indivíduo por vez era encaminhado para o

anexo. Uma vez lá e com a divisória entre as duas partes do cercado fechada, a porta do

anexo era aberta e o animal podia sair quando e se quisesse. Após a saída, os indivíduos

não eram perturbados (o observador se ausentava) para que não fosse induzido um

movimento forçado, no qual eles poderiam se perder e não conseguir retornar ao

cercado. O monitoramento começava na tarde do mesmo dia.

Durante um mês após cada soltura, suplementação alimentar (500g de alimento

para cada indivíduo), água à vontade e um abrigo eram disponibilizados diariamente no

anexo que era deixado com a porta aberta, de forma que os indivíduos recém-soltos

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podiam se alimentar e se abrigar quando quisessem. A ceva era retirada se os indivíduos

não dependessem mais dela ou era reduzida gradualmente se estes demorassem muito a

abandoná-la, forçando-os a buscar alimento na natureza gradualmente (e.g. Kleiman

1989; Beck et al. 1991; Peignot et al. 2008).

Monitoramento

Uma vez soltos, todos os animais eram monitorados com o uso de um receptor

VHF TR-4 e uma antena RA-14k (Telonics®, Arizona, EUA). As localizações eram

obtidas utilizando a técnica de homing-in on the animal. Esta técnica consiste em seguir

o sinal do transmissor até que o animal monitorado seja avistado (White & Garrot

1990), ou quando é possível ouvir o sinal do rádiocolar com a antena desconectada do

receptor (Lira et al. 2007). Testes realizados a priori no local do estudo mostraram que,

desta última forma, o animal monitorado estaria a uma distância máxima de cinco

metros do receptor. Para diminuir problemas de autocorrelação dos dados, localizações

consecutivas do mesmo indivíduo foram obtidas com, no mínimo, uma hora de

intervalo (Linders et al. 2004; Endries & Adler 2005), tempo suficiente para que um

indivíduo atravesse toda a extensão de sua área de vida (Doncaster & MacDonald

1997). As localizações foram registradas com o uso de um aparelho de sistema de

posicionamento global portátil (GPS Garmim e Trex H), com base em referências

geográficas (coordenadas na projeção Universal Transverse Mercartor – UTM, South

American Datum 69). A cada localização, era registrado o horário, erro do GPS

(posteriormente incorporado às estimativas das áreas de vida, ver capitulo II), se o

animal estava ativo ou inativo e, quando possível, se ele estava comendo e o que estava

comendo, sempre com o auxílio de um binóculo.

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Esse protocolo foi útil para avaliar os padrões espaciais dos animais (ver

capítulo II), sua independência (em que momento abandonaram a suplementação

alimentar), identificar os itens alimentares consumidos na natureza, estimar a

sobrevivência anual, identificar as causas de morte e registrar nascimentos. A

dependência em relação a suplementação foi avaliada calculando-se os dias entre a data

da soltura e a data da última localização onde o indivíduo foi visto alimentando-se da

ceva. As diferenças neste número de dias entre os animais do primeiro e do segundo

grupo foram avaliadas pelo teste de Mann-Whitney. A sobrevivência anual foi estimada

baseada no calendário de captura das cutias, com correção para intervalos de tempo

diferentes de um ano seguindo Fernandez (1995). Todas essas informações foram

usadas para determinar o status da reintrodução em curto prazo, utlizando os seguintes

critérios: (1) independência da suplementação alimentar e, conseqüente, consumo de

alimentos encontrados na natureza, (2) sobrevivência dos animais soltos, (3)

estabelecimento de uma área de vida e (4) nascimento da primeira prole selvagem.

Análise de dados

Todos os testes seguiram Zar (1999) e foram executados utilizando os

programas Systat 11.0 e R 2.8.1. A normalidade foi averiguada pela análise gráfica da

distribuição dos resíduos segundo Gotelli & Ellison (2004) e pelo teste de Shapiro-

Wilk. A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Levene. No caso

onde essas premissas foram atendidas, foram realizados testes paramétricos. Se as

premissas não foram atendidas, testes não paramétricos foram realizados. Os resultado

dos testes são sempre apresentados como média ± desvio-padrão. Os valores de p

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apresentados são bicaudais, exceto quando houve predição direcional a priori para a

comparação dos grupos.

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RESULTADOS

Captura

O esforço de total de captura realizado no campo de Santana resultou na

obtenção de 12 indivíduos (seis machos e seis fêmeas; tabela I.1). Após a abertura das

caixas de transporte dentro do cativeiro na Fundação RioZoo, a maioria dos animais foi

imediatamente em direção à ceva.

Tabela I.1. Indivíduos de cutia Dasyprocta leporina capturados no Campo de Santana

(Rio de Janeiro, Brasil) para futura reintrodução no Parque Nacional da Tijuca (Rio de

Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar, captura = data da captura

no Campo de Santana; triagem = primeira triagem realizada no RioZoo, transporte =

data do transporte dos animais do RioZoo para o cercado de aclimatação no Parque

Nacional da Tijuca; soltura = data da soltura e situação atual = condição do indivíduo ao

fim do estudo.

Indivíduo Colar Captura Triagem Transporte Soltura Situação atual

F1 negra 24/09/2009 01/10/2009 23/03/2010 07/06/2010 vivo

F2 azul 24/09/2009 01/10/2009 18/01/2010 08/02/2010 vivo

F3 branca 24/09/2009 01/10/2009 18/01/2010 08/02/2010 vivo

F4 - 24/09/2009 01/10/2009 30/11/2009 - morto1

F5 - 24/09/2009 05/10/2009 23/03/2010 - morto2

F6 cinza 24/09/2009 05/10/2009 18/01/2010 01/02/2010 morto3

M1 prata 24/09/2009 01/10/2009 23/03/2010 26/04/2010 vivo

M2 - 24/09/2009 01/10/2009 23/03/2010 - morto4

M3 amarelo 24/09/2009 05/10/2009 23/03/2010 26/04/2010 vivo

M4 - 24/09/2009 05/10/2009 - - morto5

M5 verde 14/10/2009 22/10/2009 18/01/2010 01/02/2010 vivo

M6 laranja 14/10/2009 22/10/2009 18/01/2010 08/02/2010 vivo

5animal debilitado devido a idade,

morto por interações agressivas com outras cutias no RioZoo

1morte por miíase em decorrência de problemas com o primeiro modelo de colar utilizado no cercado (ver Anexo 1)

2morto por interações agressivas com cachorros domésticos que invadiram o cercado

3morto na natureza com grande ferimento na região anal

4morto por hipotermia no cercado

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Triagem e quarentena

A inspeção visual indicou que 11 dos animais estavam em bom estado de saúde,

apresentando pequenas escoriações na pele oriundas de brigas ou traumas durante a

contenção, sem relevância clínica. Um dos animais avaliados (M4) tinha lesões

profundas na pele, causadas por interações agressivas com outras cutias e úlcera de

córnea no olho esquerdo. Este indivíduo foi encaminhado ao hospital veterinário da

Fundação RioZoo, onde veio a óbito poucos dias depois do início do tratamento.

Algumas características observadas (como a condição dos dentes) indicaram que o

animal possuía idade avançada. A primeira triagem revelou que as fêmeas (2898,6 ±

193,2 g; n=7) foram mais pesadas do que os machos (2261,7 ± 276,2 g; n=6) (gl=1;

U=42; p=0,003; Figura I.4).

Fêmea Macho

Sexo

1000

2000

3000

4000

Peso (

g)

Fêmea Macho

Sexo

1000

2000

3000

4000

Peso (

g)

Figura I.4. Comparação entre os pesos de machos e fêmeas de cutias (Dasyprocta

leporina) capturados no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil). Os pesos usados

nesta comparação foram os obtidos na primeira triagem, tão logo os animais chegaram

na Fundação RioZoo.

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Os veterinários da Fundação RioZoo consideraram 15 dias um período adequado

para a quarentena. Mesmo assim, os animais permaneceram no RioZoo por um período

mínimo de 96 dias (151,9 ± 35,6 dias; mais do que os 35 dias recomendados para a

manutenção de roedores em quarentena; IBAMA 2008). O peso médio dos animais na

primeira triagem foi de 2569 ± 445,7 g e o peso médio na segunda triagem foi de 2284,5

± 413,3 g. Todos os indivíduos perderam peso durante a quarentena (gl = 9; t = 4,75; p

= 0,001; Figura I.5).

Triagem 1 Triagem 21500

2000

2500

3000

3500

Peso (

g)

Triagem 1 Triagem 21500

2000

2500

3000

3500

Peso (

g)

Figura I.5. Comparação entre os pesos dos indivíduos de Dasyprocta leporina na

triagem 1 (logo após a captura no Campo de Santana, RJ) e na triagem 2 (no último dia

da quarentena) (151,9 ± 35,6 dias). As linhas conectam as medidas retiradas para o

mesmo indivíduo nas duas ocasiões.

Os exames de fezes revelaram a ocorrência de ovos dos helmintos Strongyloides

sp. e Trichuris sp., assim como oocistos de protozoários. De acordo com os veterinários,

os oocistos e os ovos de helmintos encontrados após os exames de fezes estavam em

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baixas concentrações e são comuns no trato digestório das cutias, onde atuam como

comensais. De qualquer forma, os animais não apresentaram alterações clínicas ou

hematológicas que evidenciassem uma parasitose, de modo que eles foram considerados

aptos para a soltura.

Os exames de sangue mostraram que, de forma geral, as cutias apresentaram

leucopenia leve a acentuada (3273 ± 1400 leucócitos/mm³, n = 12; valores de referência

para roedores em cativeiro = 9545 ± 3906 leucócitos/mm³; Lange & Schmidt 2006).

Aclimatação

Após a modificação dos colares (ver anexo A), foram transportados dois grupos

de animais da Fundação RioZoo para o cercado de aclimatação na Floresta da Tijuca. O

primeiro grupo foi no dia 18 de janeiro de 2010 (dois machos e três fêmeas) e o segundo

no dia 23 de março de 2010 (três machos e duas fêmeas), totalizando 10 indivíduos

(Tabela I.1). Dos animais do primeiro grupo, a fêmea F5 foi encontrada morta por

hipotermia no dia 07 de abril de 2010, logo após a ocorrência de uma forte chuva no

Rio de Janeiro (295,2mm em 06 de Abril de 2010). No mesmo dia, o macho M2, que

apresentava quadro de hipotermia, foi levado de volta ao RioZoo para que tivesse o

tratamento adequado para sua recuperação. Depois de 12 dias em tratamento, o animal

voltou ao cercado de adaptação e veio a óbito pelo ataque de dois cachorros domésticos

(Canis familiaris) que conseguiram entrar no cercado no dia 21 de abril de 2010.

Para os animais que ficaram no cercado de adaptação até a soltura (n = 8), o

tempo mínimo de permanência foi de 15 dias e o tempo de permanência máximo foi de

77 dias (30,37 ± 20,35 dias, Tabela I.1). O mais longo tempo de permanência foi de

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uma fêmea que estava prenhe e que perdeu os filhotes, provavelmente, durante o ataque

dos cachorros ao cercado.

O retorno ao RioZoo dos animais feridos pelo problema com os colares (ver

anexo A) permitiu que uma nova pesagem fosse realizada. A comparação dos pesos da

segunda triagem e no dia em que retornaram à Fundação RioZoo mostrou que os

animais ganharam peso durante a aclimatação (peso antes do cercado = 2070 ± 387,2 g

e peso depois de 15 dias no cercado = 2242 ± 355,9 g) (gl = 4; t = 7,461; p = 0,002;

Figura I.6).

Pesagem no RioZooTriagem 21500

2000

2500

3000

Pe

so (

g)

Pesagem no RioZooTriagem 21500

2000

2500

3000

Pe

so (

g)

Figura I.6. Comparação entre os pesos dos indivíduos de Dasyprocta leporina na

triagem 2 (logo após a captura no Campo de Santana, RJ) e no retorno à Fundação

RioZoo (no caso dos animais que precisaram de tratamento após 15 dias no cercado de

adaptação, ver anexo A) (15 dias). As linhas conectam as medidas retiradas para o

mesmo indivíduo nas duas ocasiões.

Durante a permanência no cercado de aclimatação, 15 espécies vegetais que

estavam em frutificação no Parque foram oferecidas e consumidas pelas cutias. As

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espécies consumidas foram Astrocaryum aculeatissimum (Arecaceae), Caesalpinia

ferrea (Fabaceae), Cassia grandis (Fabaceae), Cecropia sp (Urticaceae), Centrolobium

sp. (Fabaceae), Clusia lanceolata (Clusiaceae), Cupania oblongifolia (Sapindaceae),

Euterpe edulis (Arecaceae), Erythroxylum pulchrum (Erythroxylaceae), Ficus sp.

(Moraceae), Guarea guidonia (Meliaceae), Joannesia princeps (Euphorbiaceae), Plinia

edulis (Myrtaceae), Raphia taedigera (Arecaceae) e Swartzia simplex (Fabaceae).

Soltura

Seguindo os procedimentos descritos acima, oito indivíduos foram soltos no

primeiro semestre de 2010 (Tabela I.1). A maioria dos animais saiu rapidamente do

cercado de aclimatação depois da abertura (17 ± 17,14 minutos). O macho M6 foi uma

exceção a essa regra. Depois de encaminhado para o anexo, que teve sua porta para o

exterior aberta, este indivíduo ficou tentando retornar à parte principal do cercado,

roendo a tela de arame e cavando por baixo dela. Por essa razão, o animal não foi solto,

sendo encaminhado novamente para a parte maior do cercado e liberado uma semana

depois.

Monitoramento

A partir da soltura, os animais foram rastreados de duas a três vezes por semana,

por um período de 247,2 ± 60,9 dias, totalizando 115 dias não consecutivos de

monitoramento (fevereiro a dezembro de 2010) (Tabela II.1, capítulo II). Neste período,

foram obtidas 724 localizações dos oito indivíduos reintroduzidos (90,5 ± 19,2

localizações por indivíduo; Tabela II.1, capítulo II).

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Os animais permaneceram em torno do cercado nos primeiros dias após a soltura

e, neste período, voltavam regularmente para se alimentar da suplementação fornecida

(ver capítulo II). As cutias demoraram 33,7 ± 28,2 dias para abandonar a ceva. No

entanto pode-se perceber uma clara diferença neste tempo entre os indivíduos do

primeiro grupo (15 ± 2,9 dias), que abandonaram a ceva rápida e voluntariamente, e os

do segundo grupo (65,7 ± 20,7 dias), para os quais a quantidade de ceva teve que ser

reduzida gradativamente até que os animais ficassem independentes (U=0,00; p=0,024;

Figura I.7).

Grupo 1 Grupo 20

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Dia

s p

ara

a independência

alim

enta

r

Grupo 1 Grupo 20

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Dia

s p

ara

a independência

alim

enta

r

Figura I.7. Comparação entre o tempo em que cada grupo de cutias (Dasyprocta

leporina) liberadas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) levou para

atingir a independência alimentar.

Dentre as 724 localizações foi possível visualizar os animais em 563

oportunidades (77,8%). Foram obtidos 114 registros (20,2% das localizações visuais)

destes comendo alimentos encontrados na natureza, que puderam ser identificados em

31 ocasiões (27,2% das localizações onde foram avistados comendo) (Tabela I.2).

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Durante o monitoramento, no dia 26 de Março de 2010, foi observado o consumo da

carniça de um tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) pela fêmea F6 (Anexo B).

Tabela I.2. Itens alimentares consumidos na natureza por cutias Dasyprocta leporina

reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, RJ. O número de localizações se refere à

quantidade de localizações nas quais foi possível identificar o item alimentar

consumido.

N° de localizações Item identificado Espécie Família taxonômica Origem

13 Cutieira Joannesia princeps Euphorbiaceae Nativa

6 Jaca Artocarpus heterophyllus Moraceae Exótica

5 Jaboticaba Myrciaria cauliflora Myrtaceae Nativa

3 Semente de Palmito Euterpe edulis Arecaceae Nativa

1 Cambucá Plinia edulis Myrtaceae Nativa

1 Chichá Sterculia chicha Malvaceae Nativa

1 Côco de Attalea Attalea humilis Arecaceae Nativa

1 Jerivá Syagrus romanzoffiana Arecaceae Nativa

Sete das oito cutias liberadas no Parque estão vivas até o momento (dezembro de

2010) e a estimativa da taxa de sobrevivência anual foi de 0,86. A fêmea F6 foi

encontrada morta no dia 11 de julho de 2010, 161 dias após a soltura. O animal foi

encontrado sobre a serrapilheira e aparentava não ter mais do que dois dias de óbito.

Apresentava um grande ferimento na região anal que estava infestado por larvas de

mosca das bicheiras (Cochliomyia hominivorax). Não foi possível identificar a causa do

ferimento.

Todos os animais, inclusive o que veio a óbito, estabeleceram uma área de vida,

onde realizavam suas atividades diárias, depois do abandono da suplementação

alimentar fornecida (ver capítulo II).

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Durante o período de estudo, foi registrado o nascimento de três filhotes. Devido

à proximidade com as fêmeas adultas, acredita-se que dois destes sejam prole da fêmea

F3 e um da fêmea F1, todos nascidos na natureza. Como não foi possível capturá-los e,

conseqüentemente, equipá-los com colares radiotransmissores, não existem informações

quanto à sobrevivência ou os padrões espaciais dos filhotes.

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DISCUSSÃO

Devido ao ambiente onde foram criados, os animais de cativeiro podem

apresentar uma série de problemas que, muitas vezes, dificultam o seu retorno à

natureza. Dentre as principais dificuldades apontadas neste contexto estão: inabilidade

para conseguir alimentos, incapacidade em reconhecer predadores, perda de condições

físicas por falta de exercício, perda de interações sociais e seleção artificial por

indivíduos acostumados à reprodução em cativeiro (Snyder et al. 1996; Griffin et al.

2000; McPhee 2003; Stoinsky et al. 2003; Mathews et al. 2005; Jule et al. 2008). Por

esses motivos, muitos programas de reintrodução que usam animais de cativeiro não

conseguem ser bem sucedidos e tais animais, quando comparados a indivíduos nascidos

na natureza, tem sobrevivência muito reduzida (Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996;

Fischer & Lindemmayer 2000; Jule et al. 2008).

O Campo de Santana pode ser considerado um ambiente semi-cativo, pois

apesar de serem alimentadas diariamente, as cutias comem frutos e sementes caídos.

Esse hábito pode ser importante na medida em que as cutias não perdem o costume de

procurar alimento na natureza, evitando problemas de subnutrição após a soltura (e.g.

Passamani et al. 1997; Banks et al. 2002; Peignot et al. 2008). As cutias também foram

vistas enterrando alimentos no Campo de Santana (Bruno Cid, observação pessoal)

mesmo sem necessidade, já que não é preciso estocá-los para a estação seca, como é de

costume para esses animais (Henry 1999a e 1999b; Silvius 2002; Silvius & Fragoso

2003). Este hábito, porém, é importante para os objetivos desta reintrodução, já que o

comportamento de estocagem é essencial para a dispersão e o recrutamento de muitas

espécies vegetais (Forget 1996; Peres et al. 1997; Asquith et al. 1999).

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Outra característica importante do ambiente semi-cativo do Campo de Santana, é

o convívio das cutias com outras espécies. No Campo de Santana residem muitos gatos

(Felis catus) e cachorros domésticos (Canis familiaris) que atuam como predadores de

filhotes e também de cutias adultas no local. Uma vez que a predação sobre os animais é

um dos grandes problemas enfrentados pelos programas de reintrodução (Beck et al.

1991; Short et al. 1992; Combreau & Smith 1998; Griffin et al. 2000; Rouco et al.

2010), soltar animais acostumados a evitar predadores é de suma importância (McLean

et al. 1996; Griffin et al. 2000). Além disso, não falta espaço para exercícios físicos no

Campo de Santana, onde as cutias correm e se reproduzem livremente, afastando

também problemas relacionados à falta de interações sociais com seus co-específicos.

Por outro lado, o convívio com pessoas pode fazer com que as cutias sejam

dóceis demais, não tendo o instinto necessário para evitar caçadores. Isso já foi o

motivo de dificuldades em programas de reintrodução (e.g. Beck et al. 1991; Paquet et

al. 2001; Vandel et al. 2006) e foi apontado como um dos problemas para a fauna no

Parque Nacional da Tijuca (Coimbra-Filho et al. 1973).

A proximidade também com gatos e cachorros domésticos pode aumentar as

chances de as cutias adquirirem doenças, o que enfatiza a necessidade de exames de

saúde pré-soltura (Cunningham 1996; Mathews et al. 2006), que apesar de muito

recomendados nem sempre são realizados (Griffith et al. 1993; Beck et al. 1994; IUCN

1998). Animais contaminados com patógenos que podem ser nocivos à fauna e à

população humana no local da reintrodução não devem ser soltos (e.g. Munson et al.

2004; Mathews et al. 2006). De forma análoga, é possível identificar através destes

exames indivíduos que tem pouca chance de contribuir para o estabelecimento de uma

nova população e, consequentemente, para o sucesso da reintrodução (Mathews et al.

2006). Esses exames devem ser feitos durante um período de quarentena.

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A diferença encontrada entre o peso de machos e fêmeas está de acordo com a

literatura que diz existir dimorfismo sexual em cutias onde as fêmeas são maiores do

que os machos (Dubost 1988; Emmons & Feer 1997; Henry 1999a). Mesmo sendo

alimentadas duas vezes por dia, a perda de peso dos animais durante a quarentena

mostrou que esta representou um período de estresse (e.g. Rich & Romero 2005;

Dickens et al. 2008). Além disso, um animal morreu por interações agressivas com os

outros neste período. Por esses e outros motivos, a duração da quarentena é controversa.

Enquanto alguns autores consideram que ela deve ser a mais curta possível, para evitar

o risco de contaminação, estresse e problemas relacionados a interações agressivas

(Cunningham 1996; Teixeira et al. 2007), outros recomendam um período mínimo de

30 a 60 dias, para garantir que possíveis doenças não se manifestem depois da soltura

(Snyder et al. 1996, IBAMA 2008).

Os exames de sangue revelaram que os animais apresentavam baixa

concentração de glóbulos brancos quando comparados a roedores de cativeiro. Essa

leucopenia pode ser devida à depressão de endocruzamento (Caughley & Gunn 1996),

comum em animais de cativeiro (Ebenhard 1995), o que é, provavelmente, o estado das

cutias no Campo de Santana, onde estão confinadas em uma área de 13 ha. A causa da

imunodeficiência pode ser também atribuída à série de procedimentos estressantes aos

quais estes indivíduos são submetidos durante as várias etapas da reintrodução (Teixeira

et al. 2007; Dickens et al. 2008), o que tem sido apontado como influência negativa na

sobrevivência de animais reintroduzidos (Haque & Smith 1996; Letty et al. 2003;

Adams et al. 2004). Sua origem e os procedimentos estressantes aos quais são

submetidos desde a captura até o monitoramento, fazem dos animais reintroduzidos

particularmente suscetíveis a doenças e infestações (Mathews et al. 2006), o que pode

dificultar o sucesso da reintrodução.

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Para que uma reintrodução seja bem sucedida é necessário que o fator que levou

a espécies ao declínio ou extinção local inicialmente não mais represente uma ameaça

aos indivíduos soltos (IUCN 1998). Acredita-se que a fragmentação causada pela

devastação da Floresta ocorrida, principalmente, no século XIX (ICMBIO 2008) e a

caça foram responsáveis pela extinção local das cutias no Parque Nacional da Tijuca.

Parte desse problema foi mitigado com o reflorestamento realizado a partir de 1862.

Além disso, atualmente, se espera que a caça esteja bastante reduzida no Parque como

um todo e principalmente na área que foi planejada para a soltura das cutias, onde existe

intenso controle pelos guardas florestais. Sendo assim, confia-se que as causas que

levaram as cutias à extinção no passado estejam extirpadas ou bastante reduzidas

atualmente.

Outro fator que pode contribuir para o sucesso da reintrodução é a escolha da

técnica de soltura. A escolha da soltura gradual (soft release) implica em submeter os

animais a um tempo de aclimatação antes da soltura (sensu Beck et al. 1994; Brigth &

Morris 1994; Letty et al. 2000). A duração deste período é de suma importância para a

reintrodução de algumas espécies, uma vez que mortes podem acontecer dentro do

cercado. Na maioria das vezes, essas mortes são atribuídas ao estresse nas etapas

anteriores e a interações agressivas entre os animais (e.g. Teixeira et al. 2007; Rouco et

al. 2010). Neste caso, três cutias morreram dentro do cercado de aclimatação por razões

diversas: problemas com os colares (ver anexo A), hipotermia e agressão. Os dois

primeiros problemas poderiam ter acontecido com os animais já soltos, já que dentro do

cercado eram disponibilizados abrigos para que estes se protegessem da chuva e do frio.

Problemas com colares que retinham umidade foram causa da morte de dois bugios

(Allouata seniculus) reintroduzidos na Guina Francesa (Richard-Hansen et al. 2000, ver

anexo A) e hipotermia foi apontada como causa de morte de alguns micos-leões-

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dourados (Leontopithecus rosalia; Beck et al. 1991). A agressão por cachorros

domésticos (Canis familiaris) mostra que o cercado pode atuar como uma armadilha. O

odor acumulado pela aglomeração dos animais pode atrair predadores (Banks et al.

2000; Banks et al. 2002) e, se estes conseguirem entrar no cercado, os animais que lá

estão se tornam presas fáceis. Por estes motivos, o tempo de manutenção dos animais no

cercado de aclimatação é muito importante e pequenas alterações neste tempo podem

ser determinantes para a sobrevivência pós-soltura dos animais (e.g. Rouco et al. 2010).

Provavelmente pela procedência dos animais, que vieram de um ambiente ao ar

livre (Campo de Santana), as cutias não demonstraram qualquer estranhamento quando

transportadas para o cercado de aclimatação. Durante o tempo em que ficaram lá, eram

diariamente observadas e pareceram agir sempre com naturalidade. O período de

aclimatação mostrou-se muito importante para avaliar a adaptação dos animais ao

equipamento (sensu Bright & Morris 1994; Banks et al. 2002) já que houve problemas

com o primeiro modelo de colar utilizado (anexo A). Se o período de aclimatação não

tivesse sido usado para observar a adaptação das cutias ao equipamento, é provável que

todas tivessem morrido por conseqüência da infestação depois de soltas na natureza.

Isso faria com que tempo, dinheiro e, o mais importante, animais fossem desperdiçados

trazendo prejuízo para o programa de reintrodução, como aconteceu, pelo mesmo

motivo, com bugios (Allouata seniculus) na Guiana Francesa durante a estação chuvosa

(Richard-Hansen et al. 2000).

Mesmo feridos pelo problema ocorrido com os colares, os animais ganharam

peso durante o período de aclimatação como já observado em outros trabalhos que

usaram a soltura gradual (Bright & Morris 1994; Pople et al. 2001; Wanless et al.

2002). Esse ganho de peso é importante porque os animais provindos de cativeiro

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podem ter dificuldade para encontrar alimento logo após a soltura, muitos emagrecem,

podendo morrer de subnutrição (Banks et al. 2002; Peignot et al. 2008). Sendo assim,

esse período é de suma importância para pequenos mamíferos com autonomia

energética limitada (Kleiman 1989; Stanley-Price 1989) como as cutias. Alguns

trabalhos, especialmente os que tratam da reintrodução de pequenos mamíferos,

mostram que o peso no momento da soltura pode ser um importante preditivo da

sobrevivência pós-soltura (Mathews et al. 2006; Hamilton et al. 2010).

Outra forma de aumentar a sobrevivência pós-soltura e prevenir a subnutrição é

realizar treinamento para reconhecimento e obtenção de alimentos que estarão

disponíveis na natureza com os animais ainda dentro do cercado de aclimatação (Dietz

1987; Kleiman 1989; Beck et al. 1991; Macdonald 2009). As cutias mostraram-se bem

receptivas a quase todos os alimentos encontrados na natureza e postos no cercado para

consumo. Neste caso, não houve necessidade de esconder os alimentos como para os

micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia; Beck et al. 1991) pois existem muitos

frutos caídos no chão da Floresta e os animais não teriam problemas em encontrá-los. O

treinamento aconteceu em função da preocupação de que os animais pudessem

encontrar os alimentos, mas não os reconhecer como tal. Este procedimento ajudou a

prepará-los para a soltura, uma vez que no Campo de Santana existem poucas espécies

frutíferas que serviam de alimento para os indivíduos quando lá residiam.

A reintrodução de animais de cativeiro por soltura gradual muitas vezes acontece

pela abertura da porta do cercado de adaptação para que os indivíduos saiam se

quiserem (e.g. Haque & Smith 1996; Van Heezik et al. 1999; Wanless et al. 2002;

Hardman & Moro 2006; Rouco et al. 2010). A saída rápida das cutias no dia da soltura

mostra que o cercado de adaptação foi eficaz em acostumar os animais ao ambiente, que

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não estranharam ou apresentaram receio algum ao sair. Esse procedimento também foi

importante pelo comportamento apresentado pelo macho M6, que não queria deixar o

cercado. Este foi identificado como “dominante” durante o período de aclimatação, pois

constantemente perseguia o macho M5, não permitindo que este chegasse à ceva. As

cutias são animais que apresentam comportamento territorialista (Smythe 1978; Dubost

1988; Reis et al. 2006). Sendo assim, a relutância mostrada pelo macho M6 em deixar o

cercado pode ser atribuída a este reconhecer o cercado como território. Acredita-se que

o comportamento territorial é regido por um balanço entre a disponibilidade de recursos

no território e o custo energético se sua defesa. O comportamento territorial é portanto

desenvolvido em áreas onde os recursos são limitantes e o custo de defesa é

relativamente baixo (Brown 1969; Brown & Orians 1970; Carpenter & MacMillen

1976; Ostfeld 1985, 1990). Como dentro do cercado comida, água e abrigo foram

disponibilizados à vontade, o recurso que pode ter feito com que o indivíduo ficasse

atrelado ao território foram as fêmeas. Este padrão é similar ao descrito no modelo de

Ostfeld (1990), muito popular para pequenos mamíferos no qual o comportamento

territorial em machos é dependente da distribuição espacial das fêmeas.

A escolha da soltura no início da manhã pode ter colaborado para a redução do

estresse dos animais, uma vez que este horário é considerado um dos picos de atividade

das cutias (Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). Essa técnica já

foi utilizada para outro roedor (o esquilo europeu Spermophilus citellus), e mostrou que

a soltura no pico de atividade da espécie contribui para o sucesso da translocação por

aumentar a probabilidade de estabelecimento dos animais no local de soltura (Gedeon et

al. 2011). As cutias iniciam suas atividades no início da manhã, descansam na sombra

por volta do meio dia e voltam a ficar ativas até o fim da tarde (Aliaga-Rossel 2004;

Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). Sendo assim, a soltura no início da manhã é

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recomendada para as cutias porque elas têm o dia todo para explorar a área em volta e

podem voltar para dormir em segurança dentro do anexo do cercado, que fica aberto.

A suplementação parece ter cumprido seus objetivos neste estudo, uma vez que

os animais apareceram regularmente para se alimentar dela nos primeiros dias após a

soltura. O fato dos indivíduos do primeiro grupo terem abandonado a ceva

voluntariamente, e os do segundo não, corrobora essa hipótese. O primeiro grupo foi

liberado auge da estação chuvosa, onde a abundância de frutos e insetos é maior (Janzen

1973; Pearson & Derr 1986; Terborgh 1986; Wolda 1978). Ambos são itens alimentares

comumente consumidos pelas cutias (Henry 1999a e 1999b; Silvius 2002; Silvius &

Fragoso 2003; Dubost & Henry 2006). Sendo assim, os animais não devem ter tido

problemas para encontrar alimentos na natureza, tendo a ceva sido necessária apenas em

um período curto. Por outro lado, o segundo grupo foi solto no início da estação seca. É

provável que, por este motivo, estes indivíduos tenham tido mais dificuldades de

encontrar alimentos na natureza, ficando dependentes da suplementação por mais

tempo. Outros estudos também já apontaram a relevância da suplementação em solturas

conduzidas na estação de escassez de recursos (Brigth & Morris 1994; Lovegrove

1996). Neste caso, foi necessário que a suplementação fosse reduzida gradualmente para

que as cutias fossem, aos poucos, se acostumando a conseguir alimentos sozinhas

(sensu Kleiman 1989; Beck et al. 1991; Peignot et al. 2008; Marnewick et al. 2009). A

decisão de cessar com a suplementação é importante porque os animais podem não estar

prontos para alimentarem-se por si próprios(Kleiman 1989). Porém, a decisão parece ter

sido acertada uma vez que os indivíduos deste grupo foram vistos muitas vezes se

alimentando de itens encontrados na natureza e encontram-se todos vivos até o

momento (ver monitoramento).

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Não foi feito um estudo prévio da disponibilidade de recursos alimentares no

local, porém, foi realizado, com base na literatura, um levantamento das espécies

arbóreas existentes no Parque que poderiam ser consumidas pelas cutias (e.g. Smythe

1970; Forget & Milleron 1991; Asquith et al. 1999; Brewer & Rejmanek 1999; Pires

2006). Além disso, a presença de pacas (Cuniculus paca) na Floresta da Tijuca pode ser

um bom indicativo de que esta possui um habitat, no mínimo, razoavelmente adequado

para a existência de roedores frugívoros de médio porte como as cutias. Estes fatos,

atrelados ao conhecimento de que as cutias possuem uma dieta abrangente (Dubost

1988; Henry 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006), fazem com que a Floresta da

Tijuca possa ser considerada um habitat de qualidade para a reintrodução da espécie.

A independência dos animais em relação da suplementação alimentar e

conseqüente uso de itens alimentares encontrados na natureza corroboram a hipótese da

adequabilidade do habitat e são fortes indicativos do estabelecimento pós-soltura bem

sucedido (Sanz & Grajal 1998). As cutias parecem não ter tido qualquer dificuldade em

encontrar alimentos na natureza. Isso é, provavelmente, devido à sua origem em semi-

cativeiro (onde não dependiam exclusivamente da ceva) e ao treinamento realizado no

cercado de aclimatação (que apresentou a elas os itens alimentares disponíveis), além da

sua dieta abrangente (Dubost 1988; Henry 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006).

Durante o monitoramento, os animais foram muitas vezes vistos enterrando itens

alimentares, apesar de não ter sido possível identificá-los.

As cutias cumprem importante papel na dispersão de diversas espécies arbóreas,

especialmente as de sementes grandes, por seu comportamento de estocagem (Smythe

1989; Forget 1990; Peres & Baider 1997; Henry 1999a e 1999b; Silvius & Fragoso

2003). Este é o caso de algumas das espécies nativas as quais foram identificadas como

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consumidas pelas cutias durante o estudo (e.g. Joannesia princeps, Plinia edulis e

Sterculia chicha). Um fato previsto foi o consumo de jacas (Artocarpus heterophyllus)

pelas cutias. A jaqueira é uma espécie exótica invasora, que coloniza densamente o

Parque Nacional da Tijuca e representa uma das maiores preocupações em termos de

manejo florestal no Parque (ICMBIO 2008; Abreu & Rodrigues 2010). Por apresentar

distribuição agregada e dispersão barocórica, esta espécie tem alto sucesso de

colonização e dominância (Cunha et al. 2006; Abreu & Rodrigues 2010). Sendo assim,

não necessita de dispersores animais para o seu recrutamento, já tendo sido encontradas

mais de 100 de suas plântulas/m² no Parque Nacional da Tijuca (Abreu & Rodrigues

2010), uma floresta essencialmente defaunada. Por este motivo, acredita-se o papel de

dispersão de sementes que as cutias exercem não será importante para a jaqueira, mas

poderá ser essencial para várias espécies nativas de sementes grandes. Além disso, as

cutias exercem o papel de predadoras das sementes (Forget 1996, Peres et al. 1997,

Asquith et al. 1999). Isso pode contribuir para o manejo de A. heterophyllus no Parque,

pela redução de seu recrutamento como observado na Ilha Anchieta, São Paulo (Mauro

Galetti, comunicação pessoal).

Muitos programas de reintrodução/translocação enfrentam problemas com alta

mortalidade dos indivíduos soltos (e.g. Jones & Witham 1990; McCullough et al. 1997;

Armstrong et al. 1999; Short & Turner 2000; Letty et al. 2003; Adams et al. 2004;

Maran et al. 2009). Consequentemente, poucos obtêm sobrevivências anuais de adultos

superiores ou semelhantes às aqui encontradas (0,86). Além disso, é necessário salientar

que existe um viés na literatura, onde a maioria dos trabalhos publicados refere-se a

reintroduções consideradas bem sucedidas, por relutância dos autores ou dos periódicos

em publicar as falhas (Sarrazin & Barbault 1996; Mathews et al. 2005). Mesmo assim,

esses trabalhos trataram da reintrodução/translocação de animais com longevidades

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muito maiores do que a das cutias, sendo já esperado que apresentassem taxas anuais de

sobrevivência superiores (e.g. urubus (Gyps fulvus) (0,858 ± 0,039) – Sarrazin et al.

(1994); cavalos (Equus emionus) (0,85) – Saltz et al. (2000); ovelhas (Ovis canadensis)

(0,8 ± 0,11) – Ostermann et al. (2001); wallabies (Onychogalea fraenata) (0,85) –

Pople et al. (2001); veados (Dama mesopotamica) (0,86) – Bar-David et al. (2005);

gazelas (Oryx leucorix) (0,915) – Harding et al. (2007). Essas comparações mostram

que as cutias reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca apresentaram alta

sobrevivência anual, sendo este um dos principais objetivos das reintroduções e um dos

mais importantes indicadores de sucesso em curto prazo (Sarrazin & Barbault 1996;

Sanz & Grajal 1998; Seddon 1999; Richard-Hansen et al. 2000; Ostermann et al. 2001;

Richards & Short 2003; Teixeira et al. 2007).

Mesmo se tratando de animais reintroduzidos, a sobrevivência anual aqui

encontrada é superior à de populações naturais de cutias. Smythe (1978) e Aliaga-

Rossel (2004) encontraram taxas de sobrevivência de 0,34 a 0,37 e 0,3,

respectivamente, para Dasyprocta punctata na ilha de Barro Colorado (Panamá). A

principal causa de morte das cutias é a predação, principalmente por jaguatiricas

(Leopardus pardalis) e pumas (Puma concolor), mas também por gatos mouriscos

(Puma yagouaroundi), onças pintadas (Panthera onca), iraras (Eira barbara) e quatis

(Nasua narica) (Galef et al. 1976; Smythe 1978; Aliaga-Rossel 2004; Aliaga-Rossel et

al. 2006; Moreno et al. 2006). Sendo assim, a alta sobrevivência das cutias no Parque

Nacional da Tijuca pode ser explicada pela ausência da maioria destes predadores

(ICMBIO 2008). No caso, o único presente no Parque é o quati (Nasua nasua) que

ocorre em grande abundância, inclusive na área de soltura das cutias (Bruno Cid,

observação pessoal). Porém, acredita-se que a predação pelos quatis aconteça mais

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freqüentemente sobre cutias jovens (Smythe 1978), o que pode ser um problema para os

animais nascidos na natureza.

Apesar de não ter sido possível identificar a razão do ferimento que levou ao

óbito a fêmea F6, é possível que tenha sido causado por interações agressivas com

quatis (Nasua nasua) ou cachorros domésticos (Canis familiaris), duas espécies que

ocorrem dentro do Parque. Interações agressivas com cachorros domésticos já foram

relatadas como causa de morte de micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia)

reintroduzidos (Beck et al. 1991). Os cachorros foram vistos perseguindo as cutias

(Bruno Cid, observação pessoal), além de terem sido responsáveis pela morte de outro

indivíduo, ainda no período de aclimatação (ver seção sobre aclimatação). Além da

predação por quatis e de interações agressivas com cachorros domésticos, outra ameaça

às cutias no Parque é o risco de atropelamento por carros de visitantes, já que os animais

realizam suas atividades diárias próximos a uma estrada (ver capítulo II). A predação e

as causas antrópicas (atropelamento, caça e conflitos com humanos) são relatadas como

os motivos de morte mais comuns em muitos programas de reintrodução (e.g. Beck et

al. 1991; Mosillo et al. 1999; Ostermann et al. 2001; Harding et al. 2007; Hunter et al.

2007; Jule et al. 2008; Aaltonen et al. 2009; Maran et al. 2009; Zidon et al. 2009;

Hamilton et al. 2010; Rantanen et al. 2010).

A falha na reprodução já foi apontada como um dos principais motivos para o

insucesso dos programas de reintrodução (Richard-Hansen et al. 2000), sendo o

nascimento da primeira prole selvagem tido como um indicador de sucesso muito

importante em curto prazo (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Richard-Hansen et

al. 2000; Ostermann et al. 2001; Richards & Short 2003; Hayward et al. 2007; Teixeira

et al. 2007; Germano & Bishop 2008; Jule et al. 2008). Foram registrados os

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nascimentos de três filhotes de cutias durante o estudo, pertencentes a duas fêmeas. Este

número está de acordo com o tamanho da prole de um a três filhotes como descrito na

literatura para cutias (Emmons & Feer 1997; Dubost et al. 2005; Reis et al. 2006). De

acordo com Dubost et al. (2005), os filhotes de cutias nascem precocemente com apenas

3,2% do peso da mãe. Levando isso em consideração, acredita-se que os nascimentos

tenham ocorrido entre outubro e novembro, coincidindo com o início da estação de

abundância de recursos, como reportado por Dubost et al. (2005). Porém, os mesmo

autores dizem que, pelo comportamento de estocagem de sementes, a reprodução das

cutias pode acontecer durante todo o ano como descrito em Emmons & Feer (1997) e

Reis et al. (2006). Apesar do nascimento de prole na natureza ser considerado um bom

indicativo de sucesso em curto prazo para reintroduções, a juventude é um período

crítico para cutias, quando já foi observada mortalidade de 70% (Smythe 1978) e 77,6%

de desaparecimentos (Dubost et al. 2005).

Sendo assim, a independência em relação a suplementação alimentar, a alta

sobrevivência anual encontrada e o estabelecimento de uma área de vida junto com o

registro dos nascimentos na natureza, não apenas indicam que a reintrodução foi bem

sucedida em curto prazo, como abriu caminho para que o crescimento populacional

aconteça, o que é considerado um ótimo indicador de sucesso em médio prazo

(Ostermann et al 2001; Ausband & Foresman 2007; Hayward et al. 2007; Armstrong &

Seddon 2007; Jule et al. 2008). Essa conclusão final mostra que os procedimentos

adotados no programa de reintrodução foram adequados para as exigências da espécie

no local de soltura.

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Capítulo II

PADRÕES ESPACIAIS DE CUTIAS

(Dasyprocta leporina) REINTRODUZIDAS:

FIDELIDADE AO CERCADO DE

ACLIMATAÇÃO, DEPENDÊNCIA DA

SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR, ÁREAS DE

VIDA E TERRITORIALIDADE

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INTRODUÇÃO

A reintrodução de espécies é uma ferramenta de conservação que vem ganhando

espaço como alternativa de manejo (Sarrazin & Barbault 1996; Fischer & Lindenmayer

2000; Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007) e junto com esse crescimento

vem o progresso da biologia da reintrodução como ciência (Armstrong & Seddon 2007;

Seddon 2007). Esse desenvolvimento da reintrodução mostrou que sem monitoramento

dos animais, as chances de falha do programa são muito grandes (Sarrazin & Barbault

1996; Hein 1997; Seddon 1999; IUCN 1998; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong

& Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007; IBAMA 2008). O

monitoramento de todos os indivíduos ou de uma grande proporção da população

reintroduzida é recomendado (IUCN 1998) e a não realização deste procedimento pode

trazer prejuízos ao programa (e.g. Diefenbach et al. 2006). Para que isso seja possível, é

recomendável o uso de radiotelemetria (Kleiman 1989; Teixeira et al. 2006). Através

dessa técnica é possível encontrar qualquer indivíduo marcado a qualquer momento

(Harris et al. 1990; Powell 2000; Jacob & Rudran 2003; Laver 2005) e realizar

intervenções que podem ser importantes para o sucesso da reintrodução (e.g. Passamani

et al. 1997; IUCN 1998; Banks et al. 2002; Peignot et al. 2008; Teixeira et al. 2006). O

uso da radiotelemetria permite acompanhar os animais no período crítico pós-soltura,

trazendo informações importantes sobre o estabelecimento e características das áreas de

vida dos indivíduos e sua distribuição no espaço (Brown & Orians 1970; Harris et al.

1990; Powell 2000; Jacob & Rudran 2003; Laver 2005).

A fase pós-soltura é de grande importância para o programa de reintrodução

como um todo, já tendo sido reconhecida como chave para avaliar o sucesso da

reintrodução (Seddon 1999). Os primeiros dias após a soltura são considerados críticos

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por serem acompanhados de altas taxas de mortalidade e eventos de dispersão

exagerada (e.g. Bright & Morris 1994; Haque & Smith 1996; Biggins et al. 1999; Banks

2002; Wanless et al. 2002; Castro et al. 2004; Tuberville et al. 2005; Hardman & Moro

2006; Teixeira et al. 2006; Armstrong & Seddon 2007; Catalán et al. 2008; Morrel

2008; Maran et al. 2009; Hamilton et al. 2010; Rantanen et al. 2010). A soltura gradual

(com uso de cercado de aclimatação) e a suplementação alimentar fornecida nos

primeiros dias após a soltura podem ajudar a contornar esses problemas, aumentando a

sobrevivência e coibindo dispersões a grandes distâncias logo após a soltura (e.g.;

Bright & Morris 1994; Passamani et al. 1997; Armstrong et al. 1999; Biggins et al.

1999; Pople et al. 2001; Armstrong et al. 2002; Banks et al. 2002; Wanless et al. 2002;

Armstrong et al. 2007; Hunter et al. 2007; Ewen & Armstrong 2007; Garret et al. 2007;

Hayward et al. 2007; Catalán et al. 2008; Peignot et al. 2008; Maran et al. 2009;

Marnewick et al. 2009; Rouco et al. 2010). Por ser um momento relacionado à

exploração do ambiente, a movimentação dos animais pode sofrer alterações em poucos

dias neste período inicial (Bright & Morris 1994; Maran et al. 2009). Sendo assim, faz-

se necessária a realização de um monitoramento pós-soltura específico, mais intenso e,

muitas vezes, diferente do monitoramento subsequente (Armstrong et al. 2002; Gedeon

et al. 2011). Esse monitoramento específico tem funções importantes de acompanhar de

perto os indivíduos soltos e avaliar a fidelidade deles ao local de soltura, evidenciando a

importância da suplementação alimentar em seus movimentos iniciais e o

estabelecimento pós-soltura.

Em qualquer programa de reintrodução, espera-se que os movimentos

exploratórios iniciais dêem lugar ao estabelecimento em uma área, com a formação de

uma área de vida. A formação da área de vida é importante porque os animais tornam-se

familiares aos elementos do ambiente nela contidos, o que facilita o encontro de

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alimento e abrigos e o escape de predadores (Bergallo 1990; Powell 2000). Essas

facilidades ajudam os animais a sobreviver por mais tempo, o que pode ser crucial para

o programa de reintrodução. Conhecer a área de vida de um animal também traz

informações importantes sobre o sistema de acasalamento, organização social,

interações entre os indivíduos, forrageamento, escolhas alimentares e componentes

importantes do habitat (Powell 2000). Todas essas são informações valiosas para guiar

ações de manejo na população, auxiliando o bom andamento da reintrodução.

A definição mais usada de área de vida vem de Burt (1943) (e.g. Hayne 1949;

Sanderson 1966; Brown & Orians 1970; Harestad & Bunnel 1979; Worton 1995). O

autor define área de vida como sendo a “área percorrida por um indivíduo em suas

atividades normais de obtenção de alimento, reprodução e cuidado com os jovens.

Saídas ocasionais fora dessa área, possivelmente de natureza exploratória, não devem

ser consideradas como parte da área de vida”. O tamanho da área de vida está

relacionado com vários fatores como: taxas metabólicas do animal, tamanho corporal,

disponibilidade e distribuição de recursos, dieta, estrutura social e densidade

populacional (McNab 1963; Harestad & Bunnell 1979; Damuth 1981; Mares & Lacher

1987; Swihart et al. 1988; Bergallo 1990; Kelt & Van Vuren 1999, 2001). Em pequenos

mamíferos, acredita-se que a disposição dos animais no espaço seja um reflexo de seu

sistema de acasalamento que, por sua vez, é muito influenciado pela organização social

dos animais (Ostfeld 1985; Hixon 1987; Ims 1987; Ostfeld 1990). Neste contexto, em

um sistema monogâmico é esperado que as áreas de vida de machos e fêmeas possuam

tamanhos semelhantes e sejam muito sobrepostas em cada casal (Ostfeld 1990). Ostfeld

(1990) também diz que quando as fêmeas não apresentam comportamento territorial, os

machos podem fazê-lo, defendendo territórios contra outros machos. Portanto, a

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existência ou não de territorialidade intrassexual pode permitir entender os sistemas de

organização social e, consequentemente, o sistema de acasalamento.

O comportamento territorial exerce grande influência na distribuição espacial de

indivíduos da mesma espécie (Howard 1920). Sua definição mais simples vem de Noble

(1939), onde território é “qualquer área defendida” (Burt 1943). As características

essenciais de um território são: (1) área fixa que pode mudar no tempo, (2) atos de

defesa de território e (3) exclusividade sobre uma área em respeito aos rivais (Brown &

Orians 1970). A existência do comportamento territorial é regida por um balanço entre a

disponibilidade de recursos e o custo de defesa deste território (Brown 1969; Brown &

Orians 1970; Carpenter & MacMillen 1976; Ostfeld 1985; Mares & Lacher 1987;

Ostfeld 1990; Powell 2000; Kelt & Van Vuren 2001). A forma mais comum de

inferência do comportamento territorial em mamíferos é a constatação da existência de

uma área de uso exclusiva dentro da área de vida de um indivíduo, baseada na análise

da sobreposição das áreas de vida entre todos (Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990;

Powell 2000). Essa forma de inferência traz problemas porque a sobreposição das áreas

de vida entre os indivíduos pode variar em um contínuo (Ostfeld 1990) e já foram

encontradas evidências de defesa dinâmica de território, onde o ocupante defende a área

onde está no momento (Smith 1968; Mares & Lacher 1987).

O objetivo deste capítulo foi descrever os padrões espaciais dos animais

reintroduzidos desde os primeiros dias de exploração pós-soltura até o estabelecimento

das áreas de vida e a organização social dos indivíduos no espaço, através da utilização

de técnicas de radiotelemetria. Neste período avaliou-se a fidelidade das cutias ao local

de soltura e a influência da suplementação alimentar nas áreas usadas pelos animais

durante a fase em que dependiam da ceva. Depois, com o estabelecimento pós-soltura e

a formação das áreas de vida, foram feitas comparações entre as áreas encontradas neste

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trabalho e as descritas para cutias em outros estudos. Inferências quanto ao sistema de

acasalamento foram realizadas através de comparações internas nos tamanhos das áreas

de vida entre machos e fêmeas. Por fim, foi testada a presença do comportamento

territorial de duas formas: estática, com a existência de territórios fixos, e dinâmica,

com a existência de territórios temporários.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Os animais foram equipados com colares de radiotelemetria TXE-311C

modificados (os colares usados inicialmente causaram ferimentos aos animais que

tiveram que voltar à Fundação RioZoo para troca dos mesmos, ver anexo A), com

sensor de mortalidade (Telenax®; Playa del Carmen, México). O peso médio (± dp) dos

colares foi de 22,7 ± 0,5 g, aproximadamente 1% do peso dos animais (menos do que

5%, como recomendado por Jacob & Rudran 2003) (ver capítulo 1).

Uma vez soltos, todos os animais foram monitorados com o uso de um receptor

VHF TR-4 e uma antena RA-14k (Telonics®, Arizona, EUA). As localizações foram

obtidas utilizando a técnica homing-in on the animal. Esta técnica consiste em seguir o

sinal do transmissor até que o animal monitorado seja avistado (White & Garrot 1990),

ou quando é possível ouvir o sinal do radiocolar com a antena desconectada do receptor

(Lira et al. 2007). Testes realizados a priori no local do estudo mostraram que, desta

última forma, o animal monitorado estaria a uma distância máxima de cinco metros do

receptor. Para diminuir problemas de autocorrelação dos dados, localizações

consecutivas do mesmo indivíduo foram obtidas com, no mínimo, uma hora de

intervalo (Linders et al. 2004; Endries & Adler 2005), tempo suficiente para que um

indivíduo atravesse toda a extensão de sua área de vida (Doncaster & MacDonald

1997). As localizações foram registradas com o uso de um aparelho de sistema de

posicionamento global portátil (GPS Garmim eTrex H), com base em referências

geográficas (coordenadas na projeção Universal Transverse Mercartor – UTM, South

American Datum 69). A cada localização, era registrado o horário, erro do GPS

(posteriormente incorporado ao erro das estimativas das áreas de vida) e se o animal

estava ativo ou inativo.

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Em termos metodológicos, o presente trabalho incluiu dois tipos distintos de

monitoramento dos animais: o monitoramento intensivo e o monitoramento regular. O

monitoramento intensivo teve o intuito de registrar a movimentação das cutias no

período crítico que são os primeiro dias na natureza. Ele consistiu na obtenção de cinco

localizações por dia de cada animal, sempre durante os picos de atividade da espécie

(início da manhã e fim da tarde, Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al.

2009). As localizações foram adquiridas nos três dias subsequentes ao dia da soltura,

totalizando 15 localizações por indivíduo. Após o monitoramento intensivo todos os

animais soltos foram monitorados regularmente até o fim do período de estudo

(dezembro de 2010) ou até a morte do indivíduo. Animais que perderam os colares

(caso da fêmea F2) continuaram a ser monitorados quando eram ocasionalmente

avistados e sua identidade verificada sem equívocos.

Fidelidade ao cercado de aclimatação e dependência da suplementação alimentar

Os primeiros dias após a soltura são críticos para os animais, que podem se

perder e não conseguir voltar ao cercado de aclimatação para valerem-se da

suplementação alimentar, e para os pesquisadores que podem perder os indivíduos por

eventos de dispersão exagerada (e.g. Bright & Morris 1994; Biggins et al. 1999; Banks

et al. 2002; Tuberville et al. 2005; Hardman & Moro 2006; Morrel 2008). Sendo assim,

o monitoramento intensivo foi desenhado para evitar que esses problemas

acontecessem. Para saber quão longe do cercado os indivíduos foram nos primeiros dias

após a soltura foi feita uma média das distâncias euclidianas de cada localização obtida

durante o monitoramento intensivo para o ponto de soltura (cercado de aclimatação).

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Alguns indivíduos abandonaram a suplementação voluntariamente, ficando

dependentes dela durante menos tempo (grupo 1, ver capítulo I). Para outros a ceva teve

que ser reduzida gradualmente, já que os mesmos ficaram dependentes dela por mais

tempo (grupo 2, ver capítulo I). Para elucidar a importância da redução gradual da

suplementação no uso do espaço pelas cutias foi ajustado um mínimo polígono convexo

(MPC) 100% (ver área de vida) às localizações compreendidas entre o momento da

soltura e a última localização em que cada uma foi vista se alimentando dos recursos

fornecidos (chamada fase de dependência da suplementação). As áreas resultantes

foram comparadas entre os dois grupos pelo teste de Mann-Whitney.

Áreas de vida

Segundo a definição mais aceita de área de vida (Burt 1943), “as saídas

ocasionais fora da área de vida, possivelmente de natureza exploratória, não devem ser

consideradas como parte da área de vida”. Consequentemente, estimar as áreas de vida

de cada indivíduo usando como base todas as localizações obtidas desde o momento da

soltura constituiria um equívoco. Isso acontece porque, logo após a soltura, animais

reintroduzidos encontram-se dependentes da suplementação alimentar fornecida (ver

capítulo I) e ainda estão em uma fase de exploração do habitat, não tendo definido ainda

onde vão se estabelecer e realizar suas atividades diárias normais.

Para a definição das áreas de vida das cutias neste estudo foram realizadas

análises gráficas visuais da distribuição das localizações de cada indivíduo. Análises

visuais subjetivas são, muitas vezes, mais apropriadas na determinação da fidelidade de

alguns animais a um local do que análises estatísticas (Powell 2000). As localizações

utilizadas para a estimativa das áreas de vida foram todas aquelas obtidas após a

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primeira situada dentro da área onde cada indivíduo se estabeleceu definitivamente

depois de solto, já que fidelidade a um local pode ser um indicativo da formação de uma

área de vida (Powell 2000). Porém, este critério foi utilizado apenas a partir do

momento em que cada indivíduo abandonou a suplementação (ver capítulo I), tornando-

se independente em termos alimentares.

Os tamanhos das áreas de vida são fortemente dependentes da quantidade de

localizações consideradas (Seaman & Powell 1996; Seaman et al. 1999; Gitzen &

Millspaugh 2003; Kie et al. 2010) e, de forma geral, as áreas crescem com o aumento

do número de localizações, até o alcance de uma assíntota (Harris et al. 1990; Gautestad

& Mysterud 1995). Sendo assim, a confiabilidade das áreas de vida estimadas foi

analisada através da construção de curvas entre o número de localizações e o tamanho

estimado das áreas de vida (por MPC 95%) para cada indivíduo. As localizações foram

incluídas em sua ordem cronológica. Os resultados plotados em um gráfico foram

analisados visualmente para verificar se houve suficiência amostral para cada indivíduo.

Também com o intuito de verificar a influência do número de localizações no tamanho

das áreas de vida foi realizada uma correlação de Pearson (com aleatorização com 1000

repetições) entre essas duas variáveis.

Dois métodos foram usados para estimar as áreas de vida das cutias. O primeiro

deles foi o mínimo polígono convexo (MPC, Mohr 1947), um estimador simples, que

consiste em conectar as localizações mais externas formando o menor polígono

possível, sem concavidades. Neste caso, foi usado o MPC valendo-se de 100% (MPC

100%) das localizações para possibilitar a comparação do tamanho das áreas de vida

aqui encontradas com as estimadas para cutias da mesma espécie (e.g. Silvius &

Fragoso 2003; Jorge 2000; Jorge & Peres 2005) e também de outra espécie do mesmo

gênero (Dasyprocta punctata) em outros estudos (Aliaga-Rossel 2004; Aliaga-Rossel et

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al. 2008). O outro estimador usado foi o kernel fixo (Kernel, Worton 1989), sendo este

um estimador mais complexo, no qual a área de vida de um animal é descrita como um

modelo probabilístico com base na distribuição das localizações (Silverman 1986;

Seaman & Powell 1996). Aqui, foram usadas 95% das localizações para a estimativa

das áreas de vida por kernel. Essa é uma forma de excluir as localizações mais externas,

evitando contar na área de vida com as saídas ocasionais a que Burt (1943) se refere.

Pela mesma razão, foram excluídos os contornos produzidos pelo kernel que contavam

com apenas uma localização. Este método foi escolhido por ser mais confiável do que o

MPC (Powell 2000; Kernohan et al. 2001). Para este estimador é necessário escolher

um parâmetro de suavização (h) que define a área a ser considerada em torno de cada

localização, influenciando diretamente o tamanho das áreas de vida (Silverman 1986;

Worton 1989, 1995; Seaman & Powell 1996; Gitzen & Millspaugh 2003; Hemson et al.

2005).

Conhecendo os animais e a área onde eles vivem, a escolha visual do parâmetro

de suavização é uma forma poderosa de analisar os dados (Wand & Jones 1995; Jones

et al. 1996). No presente estudo foram realizadas inspeções visuais da adequação de

dois dos parâmetros de suavização mais utilizados, o h calculado por validação-cruzada

dos quadrados mínimos (LSCV, do inglês least squares cross-validation) e o h de

referência (href) (Hemson et al. 2005). O primeiro mostrou-se muito variável e pouco

adequado aos dados, formando um contorno fragmentado sub-suavizado, como

apontado em outros estudos que o aplicaram a dados reais (Hall & Marron 1991; Jones

et al. 1992; Sheather 1992; Jones et al. 1996; Hemson et al. 2005). O segundo, de forma

inversa, pareceu superestimar as áreas de vida dos animais, como evidenciado em outros

trabalhos (Wand & Jones 1995; Worton 1995; Seaman & Powell 1996; Kernohan et al.

2001; Gitzen & Millspaugh 2003). Segundo Hemson et al. (2005), uma forma de lidar

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com esses problemas seria usar um múltiplo menor de href como parâmetro de

suavização, evitando enviesar as estimativas das áreas de vida. Sendo assim, foi

utilizado 80% do valor de href como parâmetro de suavização. Esta adaptação da largura

de banda já mostrou produzir estimativas de áreas de vida pouco enviesadas (Worton

1995) e tem sido usada em outros estudos (e.g. Kie & Boroski 1996; Kie et al. 2002).

As comparações das áreas de vida estimadas no presente trabalho com aquelas

encontradas em outros estudos foram feitas pelo teste de Mann-Whitney, quando houve

tamanho amostral suficiente para tal. Quando não foram possíveis comparações por

testes, os valores brutos foram comparados. Se o estudo em questão evidenciou

diferença nos tamanhos das áreas de vida entre sexos, as comparações foram realizadas

separadamente. A comparação do tamanho das áreas de vida (estimadas por kernel fixo

95% com 80% de href) entre os sexos dos indivíduos foi realizada pelo teste de Mann-

Whitney.

O tamanho da área de vida é relacionado com as necessidades energéticas diárias

dos animais e, muitas vezes, um reflexo de seu sistema de acasalamento (McNab 1963;

Ostfeld 1990). Já as distâncias máximas percorridas podem ser mais relacionadas à

capacidade exploratória dos indivíduos (e.g. Spencer et al. 1990). As distâncias

máximas percorridas foram calculadas medindo a distância euclidiana entre o ponto de

soltura (cercado de aclimatação) e a localização mais distante dele para cada indivíduo.

Para descrever a relação entre as duas variáveis foi realizada uma correlação de Pearson

(com aleatorização com 1000 repetições) entre o tamanho da área de vida e a distância

máxima percorrida. Quando não foi encontrada relação entre o tamanho das áreas de

vida dos animais e a distância máxima percorrida por eles, estas distâncias foram

comparadas entre os sexos dos indivíduos pelo teste de Mann-Whitney.

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62

Comportamento territorial

Monitoramento intensivo

Durante o período de aclimatação (ver capítulo I), foram constatadas interações

agressivas entre machos, mas não entre fêmeas ou entre machos e fêmeas dentro do

cercado (dados não publicados). Sendo assim, foi testada ocorrência de comportamento

territorial por machos durante o monitoramente intensivo. Para isso foi testada a

fidelidade dos indivíduos a um território nos primeiros três dias após a soltura. Para

avaliação desta fidelidade, foi calculado o índice de agregação das localizações baseado

na técnica do vizinho mais próximo (nearest neighbor, como descrito em Krebs 1989).

A comparação dos valores de agregação entre os sexos dos indivíduos foi realizada pelo

teste de Mann-Whitney.

As sobreposições entre as áreas utilizadas durante o monitoramento intensivo

também foram usadas para inferir o comportamento territorial por machos. Para isso foi

ajustado um MPC 100% às localizações realizadas neste período e suas sobreposições

calculadas. Para esta análise foram comparadas apenas as sobreposições entre

indivíduos que estavam no entorno do cercado simultaneamente. A relação das

sobreposições das áreas utilizadas (em porcentagens) com o sexo dos indivíduos foi

avaliada pelo teste de Mann-Whitney.

Monitoramento regular

Interações agressivas entre machos também foram presenciadas durante o

monitoramento regular, com os animais já soltos na natureza. Sendo assim, foram

levantadas duas hipóteses quanto à presença do comportamento territorial. A primeira

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63

foi de que este comportamento seria estático e as cutias defenderiam o mesmo trecho de

sua área de vida durante todo o tempo do estudo. Para testar essa hipótese foram

calculadas as sobreposições das áreas de vida (estimadas por kernel fixo 95% com 80%

de href) entre machos e machos e entre fêmeas e fêmeas, em porcentagens. Sob a

hipótese de que essas sobreposições seriam menores entre machos do que entre fêmeas,

a influência do sexo nelas foi testada por um teste t.

A segunda hipótese foi de que o comportamento territorial dos machos seria

dinâmico, com os machos defendendo a área onde estavam no momento. Para testar

essa hipótese foram selecionadas todas as localizações de diferentes animais que

tivessem menos de 30 minutos entre si (portanto em espaço curto de tempo). Este

intervalo de tempo foi escolhido por ser curto o suficiente para permitir que o indivíduo

localizado permanecesse nas proximidades da localização marcada e assegurar que se

pudesse acessar qualquer outro que vivesse na mesma área. De posse dos pares de

localizações, seguindo esse critério, foram calculadas as distâncias (euclidiana) entre

elas. A diferença entre a média dessas distâncias para localizações entre machos e a

média dessas distâncias para o conjunto todo foi usada como estatística. Para saber se a

média das distâncias entre as localizações entre machos era maior do que a esperada ao

acaso foi realizada uma aleatorização com 1000 repetições. A hipótese nula foi de que a

distâncias entre as localizações de pares de machos não difeririam das distâncias do

conjunto como um todo. A hipótese alternativa foi de que esta distância seria maior nas

localizações de pares de machos quando comparadas ao conjunto todo. A confirmação

da hipótese alternativa seria um indício de que a evitação entre machos e machos em

curto espaço de tempo é maior do que entre machos e fêmeas e fêmeas e fêmeas, sendo

um indício de proteção de território de machos contra outros machos. Para a realização

desta análise foram incluídas apenas as localizações dos indivíduos que viviam na

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mesma região ao mesmo tempo e foram retiradas as cutias que se sabia que formavam

um casal; este foi um procedimento conservador, uma vez que a questão se referia às

distâncias entre indivíduos não obviamente pareados. O mesmo procedimento foi

realizado para testar a territorialidade por fêmeas.

Análise de dados

Todos os testes seguiram Zar (1999) e foram executados utilizando os

programas Systat 11.0 e R 2.8.1. A normalidade foi averiguada pela análise gráfica da

distribuição dos resíduos segundo Gotelli & Ellison (2004) e pelo teste de Shapiro-

Wilk. A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Levene. No caso

onde essas premissas foram atendidas, foram realizados testes paramétricos. Se as

premissas não foram atendidas, testes não paramétricos foram realizados. Os resultados

dos testes são sempre apresentados como média ± desvio-padrão. Os valores de p

apresentados são bicaudais, exceto quando houve predição direcional a priori para a

comparação dos grupos.

RESULTADOS

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A partir da soltura, os animais foram rastreados duas a três vezes por semana,

por um período de 247,2 ± 60,9 dias não consecutivos, totalizando 115 dias de

monitoramento (fevereiro a dezembro de 2010). Neste período, foram obtidas 724

localizações dos oito indivíduos soltos (90,5 ± 19,2 localizações; Figura II.1; Tabela

II.1).

Tabela II.1. Indivíduos de cutia (Dasyprocta leporina) monitorados após reintrodução

no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar =

cor do colar; localizações = total de localizações durante o estudo; erro = erro médio do

GPS; dias de monitoramento = dias não consecutivos de monitoramento.

Indivíduo Colar Localizações Erro (m) Dias de monitoramento Período

F1 negra 83 8 170 Jul - Dez 2010

F2 azul 70 8,1 264 Fev - Out 2010

F3 branca 120 8,3 305 Fev - Dez 2010

F6 cinza 74 8,3 162 Fev - Jul 2010

M1 prata 92 8,1 209 Abr - Out 2010

M3 amarelo 87 8 250 Abr - Dez 2010

M5 verde 119 8 313 Fev - Dez 2010

M6 laranja 79 8,7 305 Fev - Dez 2010

Com algumas exceções temporais, os animais estabeleceram-se todos na mesma

área, onde se encontravam regularmente uns com os outros. A distribuição das

localizações mostra que eles permaneceram durante a maior parte do tempo ao longo do

curso dos rios presentes na área de estudo (Figura II.1).

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F1 (negra)F2 (azul)

F3 (branca)F6 (cinza)M1 (prata)

M3 (amarelo)M5 (verde)M6 (laranja)

Cercado

100m

F1 (negra)F2 (azul)

F3 (branca)F6 (cinza)M1 (prata)

M3 (amarelo)M5 (verde)M6 (laranja)

Cercado

F1 (negra)F2 (azul)

F3 (branca)F6 (cinza)M1 (prata)

M3 (amarelo)M5 (verde)M6 (laranja)

Cercado

100m

Figura II.1. Localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada cor refere-se a um indivíduo

monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. A cor

entre parênteses identifica o colar de cada animal. Cercado = posição do cercado de

aclimatação (ver capítulo I). As linhas azuis representam cursos d‟água.

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Durante o monitoramento intensivo foram obtidas 115 localizações de oito

indivíduos (14,4 ± 1,7 localizações por indivíduo). O valor previsto de 15 localizações

por indivíduo (total de 120 localizações) não pode ser alcançado porque a fêmea F3 não

pode ser localizada no primeiro dia de monitoramento. Ela foi procurada o dia todo e,

por testes previamente realizados com o equipamento no local de estudo, sabe-se que

ela ficou a uma distância mínima de 300 m do cercado neste dia (alcance do receptor na

área). Nas análises subseqüentes que tratam da distribuição de suas localizações foi

usado o conjunto de dez localizações (obtidas no segundo e terceiro dias após a soltura)

e acrescentada uma localização distante 300 m destas. Para as análises que dependiam

da estimativa de uma área com base nas localizações o animal foi excluído.

Dependência da suplementação/cercado

Os animais mantiveram-se a menos de 100 m, em média, em relação ao cercado

de aclimatação nos primeiros três dias após a soltura (93,9 ± 142,2 m). Em metade das

localizações mais próximas eles não passaram de 40 m (21,3 ± 8 m). Além disso, todos

voltaram regularmente para se alimentar da suplementação durante esse período. As

áreas totais utilizadas durante a fase de dependência da suplementação foram menores

para os indivíduos do primeiro grupo (1,25 ± 0,75 ha) do que para os do segundo grupo

(10,7 ± 5,2) (U=0; p=0,034; Figura II.2).

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Grupo 1 Grupo 20

5

10

15

Áre

a u

tiliz

ada (

ha)

Grupo 1 Grupo 20

5

10

15

Áre

a u

tiliz

ada (

ha)

Figura II.2. Áreas utilizadas durante a fase de dependência da suplementação por cutias

(Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil). As áreas foram estimadas ajustando-se um MPC 100% a todas as localizações

de cada indivíduo durante o tempo em que se alimentaram da suplementação.

Áreas de vida

Seguindo o critério estabelecido para formação das áreas de vida (ver material e

métodos) foi selecionado um subconjunto das localizações totais de cada indivíduo para

a realização das estimativas. Para isso, foram obtidas 473 localizações dos oito animais

soltos (59,1 ± 19,5 localizações; tabela II.2). No caso do macho M6, o indivíduo

permaneceu inicialmente na área ocupada por todos os outros animais. Posteriormente

estabeleceu-se em uma área mais distante (sem contato aparente com os outros) durante

um período mínimo de 121 dias, retornando a área inicial no fim do estudo. Sendo

assim, essas foram tratadas como áreas de vida distintas e suas áreas somadas para as

estimativas para este animal.

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É mais difícil atingir uma assíntota com áreas estimadas por MPC do que usando

outros estimadores como o kernel (Gautestad & Mysterud 1995). Mesmo assim, a

análise gráfica visual da relação entre o número de localizações e o tamanho cumulativo

das áreas de vida revelou que, de forma geral, as curvas tenderam a uma estabilização.

Isso mostra que os animais mantiveram uma fidelidade às áreas onde escolheram viver

ao longo do período de estudo (Figura II.3). Outro indício de que os animais atingiram a

suficiência amostral é que não houve correlação entre o número de localizações e o

tamanho das áreas de vida (r=-0,212; p=0,636; Figura II.4).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Número de localizações

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Mín

imo p

olígono c

onvexo (

95%

) F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja AV1)

M6 (laranja AV2)

Figura II.3. Análise das curvas de acumulação de área de vida (estimadas por mínimo

polígono convexo excluindo 5% das localizações mais externas) para cutias

(Dasyprocya leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil). Cada curva refere-se a um indivíduo monitorado cuja identificação está na

legenda da figura. F = fêmea e M = macho. A cor entre parênteses identifica o colar de

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cada animal. O macho M6 é representado por duas curvas, pois apresentou duas áreas

de vida durante o período de estudo (ver métodos – área de vida).

30 40 50 60 70 80 90

Número de localizações

0

5

10

15

Áre

a d

e v

ida (

ha)

30 40 50 60 70 80 90

Número de localizações

0

5

10

15

Áre

a d

e v

ida (

ha)

Figura II.4. Relação entre o tamanho das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina)

reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e o número de

localizações usadas para estimá-las. As áreas de vida foram estimadas por kernel fixo

95% usando 80% de href como parâmetro de suavização. O número de localizações se

refere aos conjuntos de 95% das localizações usados para a estimativa das áreas de vida.

As estimativas das áreas de vida por MPC 100% variaram de 4 a 16,4 ha para os

oito animais liberados (8,3 ± 4 ha; Tabela II.2). Essas estimativas foram comparadas

com as encontradas por Silvius & Fragoso (2003), Jorge & Peres (2005) e Aliaga-

Rossel et al. (2008) (Figura II.5).

Nas comparações com Silvius & Fragoso (2003), em relação aos machos,

acredita-se que não houve diferença entre os tamanhos médios da área de vida por eles

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encontrada (8,5 ha; n=1) e as aqui descritas (10,9 ± 4,1 ha; mínima=7,1 ha e

máxima=16,4 ha; n=4). Para as fêmeas, também não houve diferença nos tamanhos das

áreas de vida no presente estudo (5,6 ± 1,5 ha; n=4) e em Silvius & Fragoso (2003)

(4,95 ± 1,38 ha; n=4) (gl=1; U=10; p=0,564).

A comparação com Jorge & Peres (2005) mostrou que as áreas de vida aqui

encontradas para machos (10,9 ± 4,1 ha; mínima=7,1 ha e máxima=16,4 ha; n=4) são

provavelmente maiores do que a estimada por eles (4 ha; n=1). Em relação às fêmeas

não houve diferença nos tamanhos médios das áreas de vida entre as estimadas no

presente estudo (5,6 ± 1,5 ha; n=4) e em Jorge & Peres (2005) (4,7 ± 1,5 ha; n=3) (gl=1;

U=9; p=0,289).

Para as comparações com Aliaga-Rossel et al. (2008) foram usadas apenas as

estimativas realizadas a partir de localizações obtidas por radiotelemetria, com mais de

30 localizações. Estas mostram que as áreas de vida aqui estimadas para machos (10,9 ±

4,1 ha) são maiores do que as áreas de vida descritas por eles para o mesmo sexo (3,1 ±

0,85; n=5) (gl=1; U=20; p=0,014). Padrão semelhante foi encontrado para as

comparações entre fêmeas neste estudo (5,6 ± 1,5 ha; n=4) e em Aliaga-Rossel et al.

(2008) (1,82 ± 0,52 ha; n=3) (gl=1; U=12; p=0,034).

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F0

5

10

15

20

Áre

a d

e v

ida M

PC

100%

(ha)

MPresente

trabalho

F MSilvius &

Fragoso (2003)

F MJorge &

Peres (2005)

F MAliaga-Rossel

et al. (2008)

F0

5

10

15

20

Áre

a d

e v

ida M

PC

100%

(ha)

MPresente

trabalho

F MSilvius &

Fragoso (2003)

F MJorge &

Peres (2005)

F MAliaga-Rossel

et al. (2008)

Figura II.5. Comparação entre as áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina)

reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) com as descritas

em outros trabalhos. F=fêmeas (pontos pretos) e M=machos (pontos brancos). As áreas

de vida estimadas em Silvius & Fragoso (2003) e Jorge & Peres (2005) são para e

mesma espécie estudada no presente trabalho. As áreas de vida estimadas em Aliaga-

Rossel et al. (2008) são para Dasyprocta punctata na ilha de Barro Colorado.

As estimativas das áreas de vida realizadas por kernel fixo usando 80% do href

como parâmetro de suavização foram usadas para inferir de forma mais acurada os

tamanhos das áreas de vida das cutias neste estudo, pois foram as que mostraram melhor

adequação aos dados. Essas estimativas variaram de 4,5 a 13,4 ha para os oito animais

soltos (7,9 ± 2,8 ha; Tabela II.2). Não houve diferença entre os sexos quanto ao

tamanho das áreas de vida (U=2; p=0,083; Figura II.6).

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Tabela II.2. Estimativas (em hectares), por dois estimadores diferentes, das áreas de

vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio

de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar; localizações = total de

localizações selecionadas para as estimativas das áreas de vida (apenas a estimativa por

MPC 100% levou todas em consideração); MPC 100% = área de vida estimada por

mínimo polígono convexo levando em consideração todas as localizações; kernel 80%

href = área de vida estimada por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de

suavização, excluindo 5% das localizações mais externas.

Indivíduo Colar Localizações MPC 100% (ha) Kernel 80%href (ha)

F1 negra 49 6,7 7,9

F2 azul 52 7,1 7,5

F3 branca 85 4,7 4,6

F6 cinza 47 4 4,5

M1 prata 40 7,1 8,7

M3 amarelo 46 11,6 13,4

M5 verde 93 16,4 9,3

M6 laranja 61 8,5 7

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Fêmeas Machos0

5

10

15

Áre

a d

e v

ida (

ha)

Sexo

Fêmeas Machos0

5

10

15

Áre

a d

e v

ida (

ha)

Sexo

Figura II.6. Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos reintroduzidas

no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). As áreas de vida mostradas nesta

figura foram calculadas por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de

suavização.

Não houve correlação entre o tamanho das áreas de vida e as distâncias máximas

percorridas por cada animal (r=0,357; p=0,546; Figura II.7). As distâncias máximas

percorridas por machos (686,7 ± 109 m) foram maiores do que a das fêmeas (483,6 ±

105,4 m) (U=1; p=0,043; Figura II.8).

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300 400 500 600 700 800 900

Distância máxima percorrida (m)

0

5

10

15

Áre

a d

e v

ida (

ha)

300 400 500 600 700 800 900

Distância máxima percorrida (m)

0

5

10

15

Áre

a d

e v

ida (

ha)

Figura II.7. Relação entre os tamanhos das áreas de vida de cutias (Dasyprocta

leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e as

distâncias máximas percorridas por elas.

Fêmea Macho

Sexo

300

400

500

600

700

800

900

Dis

tância

máxim

a p

erc

orr

ida (

m)

Fêmea Macho

Sexo

300

400

500

600

700

800

900

Dis

tância

máxim

a p

erc

orr

ida (

m)

Figura II.8. Distâncias máximas percorridas por cutias (Dasyprocta leporina) dos dois

sexos, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). A distância

máxima percorrida foi calculada como a distância euclidiana entre o ponto de soltura

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(cercado de aclimatação, ver capítulo I) e a localização mais distante deste ponto para

cada animal.

Comportamento territorial

Monitoramento intensivo

A análise visual da distribuição das localizações durante o monitoramento

intensivo revelou que os machos guardam fidelidade a uma área, sendo esta próxima ou

distante ao cercado, sempre retornando à suplementação para se alimentar (Figura II.9,

A). As fêmeas mostraram-se menos fiéis a qualquer área e também retornaram

regularmente ao cercado para se alimentar da ceva (Figura II.9, B). Esse padrão foi

corroborado pelos índices de agregação, que mostraram que as localizações dos machos

durante o monitoramento intensivo foram mais agregadas (36,8 ± 17,5) do que as das

fêmeas (86,2 ± 35,4) (U=15; p=0,043; Figura II.10). Não houve diferença entre sexos

nas sobreposições das áreas utilizadas pelas cutias durante o monitoramento intensivo:

machos (16 ± 26%) e fêmeas (25 ± 23%) (U=10; p=0,561).

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100m

Cercado

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

A

100m

Cercado

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

B

100m

Cercado

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

A

100m100m

Cercado

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

Cercado

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

A

100m

Cercado

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

B

100m100m

Cercado

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

Cercado

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

B

Figura II.9. Distribuição das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas

no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o monitoramento

intensivo. (A) fêmeas - a fêmea F3 não pode ser localizada no primeiro dia de

monitoramento, mas sabe-se que a mesma ficou a uma distância mínima de 300 m do

cercado neste dia (ver texto) e (B) machos. Cada cor refere-se a um indivíduo

monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho.

Cercado = posição do cercado de aclimatação (ver capítulo I). A cor entre parênteses

identifica o colar de cada animal.

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Fêmeas Machos

Sexo

0

50

100

150

Índic

e d

e a

gre

gação

Fêmeas Machos

Sexo

0

50

100

150

Índic

e d

e a

gre

gação

Figura II.10. Índices de agregação (método do vizinho mais próximo, nearest neighbor,

Krebs 1989) das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos durante o

monitoramento intensivo, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro,

Brasil).

Monitoramento regular

As cutias estabeleceram áreas de vida próximas ou até sobrepostas ao cercado de

aclimatação. Nenhum indivíduo (macho ou fêmea) apresentou uma área de uso

intensamente utilizada que fosse exclusiva, o que significaria a presença de um

território. As áreas de vida de todos os indivíduos apresentaram alguma sobreposição

com as de outros (Figura II.11). Não houve diferença na sobreposição das áreas de vida

entre machos (49 ± 2%) e fêmeas (41 ± 2%) (gl=22; t=0,838; p=0,411).

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100m

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

Cercado

100m

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

Cercado

F1 (negra)

F2 (azul)

F3 (branca)

F6 (cinza)

M1 (prata)

M3 (amarelo)

M5 (verde)

M6 (laranja)

Cercado

Figura II.11. Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o período do estudo (fevereiro –

dezembro 2010). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações

estão na legenda da figura. Cercado=posição do cercado de aclimatação. F=fêmea e

M=macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal.

Foram encontrados 216 pares de localizações entre cutias com menos de 30

minutos de diferença entre elas (37 entre machos, 42 entre fêmeas e 137 entre machos e

fêmeas). Todas as localizações da segunda área de vida (AV2) do macho M6 (Figura

II.11, canto inferior esquerdo) foram excluídas. A fêmea F1 e o macho M1 não foram

considerados para esta análise por formarem um casal. As distâncias entre as

localizações de machos foram maiores do que o esperado ao acaso levando-se em

consideração localizações em curto espaço de tempo (diferença da média entre as

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localizações entre machos e o conjunto todo=44,5 m; p=0,028). As distâncias entre as

localizações entre fêmeas não foram maiores do que o esperado ao acaso (diferença da

média entre as localizações entre fêmeas e o conjunto todo=21,5 m; p=0,279)

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DISCUSSÃO

O cercado de aclimatação é fundamental durante o processo de soltura gradual,

exercendo uma série de funções (sensu Beck et al. 1994; Brigth & Morris 1994; Letty et

al. 2000). Uma dessas funções é a de manter os animais na região de seu entorno nos

primeiros dias após a soltura, evitando dispersões a longas distãncias (e.g. Bright &

Morris 1994; Biggins et al. 1999; Banks et al. 2002; Tuberville et al. 2005; Hardman &

Moro 2006; Morrel 2008). Essa função evita que os animais se percam quando ainda

não estão acostumados com a área onde foram soltos, auxilia a formação de uma

população coesa, permite o acesso dos animais à suplementação e facilita o

monitoramento por parte dos pesquisadores (Diefenbach et al. 1993; Bright & Morris

1994; Biggins et al. 1999; Carrie et al. 1999; Tweed et al. 2003; Hardman & Moro

2006). Eventos de dispersão longa pós-soltura já foram motivos de perda de animais e

dissolução de grupos sociais em programas de reintrodução (e.g. Diefenbach et al.

1993; Passamani et al. 1997; Biggins et al. 1999; Moehrenschlager et al. 2003;

Tuberville et al. 2005; Peignot et al. 2008), o que pode trazer dificuldades para o bom

andamento do projeto (e.g. Tweed et al. 2003; Peignot et al. 2008).

O uso do cercado no presente estudo parece ter cumprido sua função de manter

as cutias em seu entorno nos primeiros dias após a soltura. Duas exceções confirmam

esta regra. A fêmea F3 não pode ser encontrada no primeiro dia de monitoramento,

sabendo-se que foi a uma distância de pelo menos 300 m do cercado. Já o macho M3

percorreu uma distância de 665 m no próprio dia em que foi solto. Apesar disso, ambos,

assim como os outros animais que ficaram mais próximos ao cercado nos primeiros

dias, estabeleceram-se em seu entorno posteriormente. Este é um padrão recorrente em

indivíduos reintroduzidos por soltura gradual (e.g. Armstrong et al. 1999; Banks et al.

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2002; Tweed et al. 2003; Hardman & Moro 2006; Vandel et al. 2006), demonstrado

aqui pelo fato de as cutias terem estabelecido áreas de vida próximas ou até sobrepostas

ao cercado (ver áreas de vida). Esse benefício trazido pelo uso do cercado de

aclimatação pode ter sido determinante para o sucesso em curto prazo da reintrodução

(ver capítulo I). A manutenção dos animais próximos uns aos outros fez com que a

população reintroduzida ficasse coesa, permitindo a reprodução e facilitando o

monitoramento de todos os animais durante o período do estudo (ver capítulo I).

Outra função do cercado de aclimatação que trouxe benefício para os indivíduos

recém reintroduzidos foi a facilitação do acesso deles à suplementação alimentar. Todos

os animais, mesmo os que se moveram a grandes distâncias do cercado nos primeiros

dias, voltaram regularmente para alimentarem-se da ceva, fato comum em programas de

reintrodução que usam a soltura gradual (e.g. Bright & Morris 1994; Passamani et al.

1997; Biggins et al. 1999; Pople et al. 2001; Armstrong et al. 2002; Banks et al. 2002;

Wanless et al. 2002; Armstrong et al. 2007; Garret et al. 2007; Hayward et al. 2007;

Catalán et al. 2008; Peignot et al. 2008; Marnewick et al. 2009). Como discutido no

primeiro capítulo, a suplementação parece ter sido muito importante para todos, mas

especialmente para aqueles soltos na estação seca. Para estes, a suplementação teve que

ser reduzida gradualmente, pois não abandonaram a ceva voluntariamente (ver capítulo

I). A importância da suplementação é mais uma vez evidenciada por sua influência nos

padrões espaciais. Enquanto alimentavam-se da ceva, os animais que a abandonaram

voluntariamente apresentaram áreas utilizadas pequenas. Isso mostra que, durante este

período, não precisavam ficar percorrendo grandes distâncias à procura de alimento. Os

animais para os quais a suplementação teve que ser reduzida gradualmente

apresentaram áreas utilizadas maiores no período em que ficaram dependentes da ceva.

Isso provavelmente reflete o fato de que eles tiveram que andar mais à procura de

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alimentos à medida em que a suplementação ia sendo reduzida, até atingirem sua

independência alimentar. Esse padrão também foi evidenciado por Peignot et al. (2008),

em cujo estudo os comprimentos das jornadas diárias de mandris reintroduzidos

(Mandrillus sphinx) eram maiores na ausência de suplementação do que quando ela era

disponibilizada.

Após atingirem a independência alimentar, todas as cutias estabeleceram-se em

uma área definida, formando uma área de vida. O critério escolhido para a seleção das

localizações que seriam usadas para a realização das estimativas das áreas de vida

parece ter sido correto. Isso pode ser afirmado porque as estimativas aqui realizadas

foram semelhantes a quase todas as estimativas de área de vida descritas para cutias

selvagens da mesma espécie em condições semelhantes (Silvius & Fragoso 2003; Jorge

2000; Jorge & Peres 2005).

A discrepância encontrada entre as áreas de vida de machos estimadas no

presente trabalho e a descrita para um macho em Jorge & Peres (2005) foi baseada na

comparação direta dos valores, já que não foi possível a realização de teste estatístico.

Apesar da ausência de teste e do número amostral insuficiente para esta comparação, era

esperado que as áreas de vida estimadas por Jorge & Peres (2005) fossem menores do

que as aqui encontradas. Isso acontece porque, no local de estudo de Jorge & Peres

(2005) (Pinkaiti, Amazônia, Brasil), a densidade de cutias (37 indivíduos/Km²) é

substancialmente maior do que a densidade encontrada em outras florestas neotropicais

sem caça (Jorge & Peres 2005). A alta densidade de cutias é um reflexo da característica

da área de estudo. Esta área contém alta densidade de árvores de castanha-do-pará

(Bertholletia excelsa) (densidade dos adultos=2 árvores/ha; Baider 2000), que possuem

distribuição agregada e fornecem uma grande quantidade de sementes (39 – 101 Kg de

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sementes/ha/ano) na área onde o macho se encontrava (Jorge et al. 2000; Jorge & Peres

2005). Se compararmos apenas as áreas de vida de fêmeas que viviam no castanhal (4,1

e 3,5 ha) com as aqui encontradas (4; 4,7; 6,7 e 7,1 ha), o padrão é semelhante.

Podemos ver que as duas área de vida são menores do que a maioria das aqui descritas.

Isso acontece pelos mesmos motivos acima discutidos para o macho. As áreas de vida

dos animais são profundamente afetadas pela disponibilidade de recursos alimentares.

Onde a abundância de alimentos é maior, suas áreas de vida são menores, pois eles não

precisam se deslocar tanto para obter a mesma energia (McNab 1963; Brown & Orians

1970; Mares & Lacher 1987; Rolstad & Rolstad 1995).

Apesar de ter sido comparada a outra espécie, as diferenças entre as áreas de

vida encontradas no presente trabalho e as reportadas para D. punctata na ilha de Barro

Colorado, eram esperadas. Em ilhas, de forma geral, as densidades de pequenos

herbívoros (como os roedores) são maiores do que nos continentes (Adler & Levins

1994). Isso acontece porque os grandes predadores estão ausentes por falta de espaço

onde encaixar suas grandes áreas de vida (McNab 1963; Harestad & Bunnel 1979; Kelt

& Van Vuren 1999, 2001). Assim, as populações de herbívoros não tem regulação de

cima para baixo (top-down), atingindo grandes densidades (Terborgh et al. 2001). Em

Barro Colorado, como o esperado, as densidades de cutias (100 ind/Km², Aliaga-Rossel

2004; 84 ind/Km², Wright et al. 1994) são muito maiores do que todas as reportadas

para florestas neotropicais sem caça (5 ind/Km² no Brasil (Urucu, Amazônia), Peres

1999; 5 ind/Km² no Peru (Parque Nacional de Cocha Cachu), Janson & Emmons 1990;

8 ind/Km² no Brasil (Lago Uauaçú, Amazônia); Haugaasen & Peres 2005; 8 ind/Km² na

Guatemala (Tikal), Cant 1977; 31 ind/Km² no Brasil (Pinkaiti, Amazônia), Jorge &

Peres 2005; 40 ind/Km² no Brasil (Ilha de Maracá, Roraima), Silvius & Fragoso 2003).

No entanto, predadores de cutias – jaguatiricas (Leopardus pardalis), pumas (Puma

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concolor), gatos mouriscos (Puma yagouaroundi), onças pintadas (Panthera onca),

iraras (Eira barbara) e quatis (Nasua narica) – estão presentes em Barro Colorado e

eventos de predação sobre elas são frequentes (Galef et al. 1976; Smythe 1978; Aliaga-

Rossel 2004; Aliaga-Rossel et al. 2006; Moreno et al. 2006). Sendo assim, a ausência

de predadores não parece ser uma justificativa plausível para as altas densidades de

cutias na ilha. A disponibilidade de alimento, ausência de pressão de caça, baixa

abundância de grandes predadores (como a onça pintada e o puma) e ausência de

competidores (como o queixada, Tayassu pecari) já foram levantadas como hipóteses

para explicar a alta densidade de cutias em Barro Colorado (Smythe 1978; Glanz 1990;

Glanz 1996 apud Aliaga-Rossel 2004).

As diferenças de tamanho e grau de sobreposição entre as áreas de vida de

machos e fêmeas de roedores da mesma espécie estão intimamente relacionadas com

seu sistema de acasalamento (Ostfeld 1985; Hixon 1987; Ims 1987; Ostfeld 1990). A

semelhança no tamanho das áreas de vida entre os sexos encontradas no presente

trabalho está de acordo com o sistema de acasalamento monogâmico proposto para

cutias (Smythe 1978; Nowak 1991). Nowak (1991) chega a afirmar que cutias são

animais monogâmicos onde o casal pode se juntar até o fim da vida. Dos animais

reintroduzidos (quatro machos e quatro fêmeas), um casal se formou tão logo os

animais foram liberados na natureza. Desde a soltura, o macho M1 e a fêmea F1 foram

sempre vistos juntos, mostrando alto grau de sobreposição de suas áreas de vida (86%

da área de vida do macho sobreposta pela da fêmea e 95% da área de vida da fêmea

sobreposta pela do macho). No fim do período de estudo, a fêmea F1 pariu um filhote

(ver capítulo I), o que confirma o sistema de acasalamento monogâmico proposto para o

gênero (Smythe 1978; Nowak 1991). Contudo, essa estreita relação entre machos e

fêmeas não foi observada para nenhum outro casal. Apesar da fêmea F3 também ter tido

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dois filhotes durante o período do estudo (ver capítulo I), não foi possível estabelecer

relação dela com qualquer outro macho em particular. Essas descobertas confirmam as

encontradas por Aliaga-Rossel (2004) para D. punctata, pois o autor sugere um sistema

de acasalamento complexo, com a existência de alguns pares monogâmicos e, em outros

casos, um sistema poligâmico de acasalamento.

Diversos fatores são responsáveis pela determinação dos tamanhos das áreas de

vida em mamíferos (Harestad & Bunnell 1979; Damuth 1981; Bergallo 1990; Kelt &

Van Vuren 1999, 2001). Porém, todos eles apresentam relação com as necessidades

energéticas, sendo o tamanho da área de vida uma função do metabolismo basal dos

animais (McNab 1963). A ausência de correlação entre os tamanhos das áreas de vida e

as distâncias máximas percorridas mostra que essas duas métricas não têm relação

direta. Enquanto a primeira tem mais a ver com as necessidades energéticas dos animais

(McNab 1963), a segunda pode ser mais relacionada à capacidade/motivação

exploratória de cada individuo (e.g. Spencer et al. 1990).

A capacidade exploratória está relacionada com a capacidade perceptiva dos

animais ao ambiente em sua volta. Por sua vez, em pequenos mamíferos, essa percepção

é maior quanto maior é a massa corporal (Mech & Zollner 2002; Forero-Medina et al.

2009). As maiores distâncias máximas movidas pelos machos quando comparados às

fêmeas mostram que aqueles podem ter maior capacidade/motivação exploratória.

Como as fêmeas são mais pesadas do que os machos (ver capitulo I), acredita-se que o

que rege a maior exploração do ambiente pelos machos, neste caso, não é a capacidade

exploratória, mas sim a motivação. Uma motivação possível para a maior exploração da

ambiente pelos machos seria encontrar bons territórios, que lhes pudessem garantir

recursos e, consequentemente, acesso às fêmeas (Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990).

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A procura de um território parece ter sido realizada pelos machos desde o

momento da soltura. Dos quatro animais soltos, dois (M1 e M5, soltos em momentos

distintos) estabeleceram-se bem próximos ao cercado logo após a liberação. Os outros

dois (M6, solto uma semana depois de M5, e M3, solto concomitantemente a M1), por

causa da presença dos outros nas proximidades do cercado, procuraram estabelecer-se

em áreas mais distantes (M3 andou 660 m no próprio dia da soltura e M6 andou 101 m

também no dia em que foi solto). Seja próxima ou mais distante do cercado de

aclimatação, a distribuição das localizações mostra que os machos guardaram fidelidade

a alguma área nos primeiros dias após a soltura, de forma diferente das fêmeas.

A ausência de diferença nas sobreposições das áreas utilizadas durante o

monitoramento intensivo entre machos e entre fêmeas pode ter acontecido pelo uso da

suplementação. Apesar dos machos que viveram no entorno do cercado

concomitantemente terem mostrado fidelidade a áreas distintas, todos voltaram para se

alimentarem da suplementação, assim como as fêmeas. Isso fez com que todas as áreas

utilizadas apresentassem algum grau de sobreposição no local onde a ceva era

disponibilizada, podendo confundir o padrão de disjunção das áreas. Outro fator que

pode ter contribuído para a ausência de diferença nas sobreposições seria um

comportamento dinâmico de defesa da área. Neste, cada indivíduo defenderia uma área

distinta a cada momento; num período tão curto quanto três dias é difícil elucidar tal

padrão.

Existem algumas evidências de que cutias apresentam comportamento territorial

(e.g. Dubost 1988; Aliaga-Rossel 2004) e são comumente descritas como animais que

defendem territórios (Smythe 1978; Dubost 1988; Emmons & Feer 1997; Silvius &

Fragoso 2003; Reis et al. 2006). Apesar disso, existem dúvidas quanto a existência

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deste comportamento em cutias (Clark & Galef 1977). De forma geral, o

comportamento territorial é inferido quando existem evidências de que uma área está

sendo defendida (como ataque e perseguição) e/ou de que o defensor torna sua presença

conspícua para qualquer invasor (como vocalização e marcas) (Noble 1939; Burt 1943;

Brown & Orians 1970; Powell 2000). Porém, uma condição quase indispensável para

que seja atribuído o comportamento territorial para qualquer espécie é que os indivíduos

apresentem uma área de uso exclusivo dentro de sua área de vida (Brown & Orians

1970; Ostfeld 1990; Powell 2000). Essa condição deve ser evidenciada pela análise da

sobreposição de áreas de vida de animais que vivam na mesma área ao mesmo tempo.

Mesmo assim, um problema na definição de território baseada na exclusividade é que a

sobreposição das áreas de vida pode variar em um contínuo, fazendo que a dicotomia

territorial-não territorial seja artificial (Ostfeld 1990).

No presente estudo, todos os animais foram monitorados concomitantemente e

nenhum indivíduo (macho ou fêmea) apresentou uma área de uso intensamente utilizada

que fosse exclusiva, o que significaria a presença de um território fixo. Além disso, as

sobreposições das áreas de vida entre machos e entre fêmeas foram semelhantes. Essas

duas informações em conjunto mostram que as cutias não mantêm uma área exclusiva,

independentemente do sexo. A existência do comportamento territorial é regida por um

balanço entre a disponibilidade de recursos (quanto mais escassos, mais seria vantajoso

defender uma área que contenha esses recursos) e o custo de defesa deste território

(Brown 1969; Brown & Orians 1970; Carpenter & MacMillen 1976; Ostfeld 1985;

Mares & Lacher 1987; Ostfeld 1990; Powell 2000; Kelt & Van Vuren 2001). Uma das

formas que os animais têm de defender recursos importantes com menor gasto de

energia é defender áreas menores e, portanto, mais fáceis patrulhar ou marcar. Estas

áreas seriam manchas onde os referidos recursos são localmente abudantes. Pelo alto

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gasto de energia com a defesa, essa é uma estratégia prevista para mamíferos (Brown &

Orians 1970) e existem algumas evidências de que isso acontece em roedores (Smith

1968; Mares & Lacher 1987). Por sua lenta renovação e distribuição esparsa em

pequenas manchas, os frutos e sementes são do tipo de recurso que pode desencadear o

comportamento territorial (Ostfeld 1990).

A dieta das cutias é composta principalmente por frutos e sementes (Henry

1999a e 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006) e já foi mostrado que seus

movimentos estão intimamente relacionados com a produtividade de frutos, tanto na

escala de um dia (Lambert et al. 2009) como entre estações (Slivius & Fragoso 2003;

Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Aliaga-Rossel et al. 2008). O mapa cognitivo

de um animal deve mudar na medida em que o indivíduo aprende coisas novas sobre o

ambiente. Com o aparecimento de novos recursos e o esgotamento dos antigos,

mudanças apropriadas devem ser feitas neste mapa (Powell 2000). Silvius & Fragoso

(2003) e Aliaga-Rossel (2004) mostraram que o que mais influenciava o movimento das

cutias era a localização de árvores que estavam frutificando no momento. Jorge & Peres

(2005) relataram que uma palmeira (Attalea sp.) perto dos limites da área de vida de

uma fêmea tornou-se foco de sua atividade de forrageamento durante o pico da estação

seca. Fato semelhante foi evidenciado no presente estudo. O macho M6 saiu da área

onde tinha se estabelecido inicialmente, sendo encontrado depois em um local onde era

constantemente visto forrageando em volta de uma jaqueira (Artocarpus heterophilus),

onde permaneceu por, no mínimo 121 dias. Sendo assim, acredita-se que as cutias

centram suas áreas de vida em árvores que estão frutificando no momento, criando um

mosaico de uso do espaço no tempo (Jorge 2000; Silvius & Fragoso 2003; Aliaga-

Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Aliaga-Rossel et al. 2008).

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O comportamento territorial é um fenômeno que tem como causa principal a

distribuição espacial e temporal de recursos (Brown & Orians 1970). Foi mostrado neste

estudo que os machos mantêm uma distância maior entre si do que a esperada ao acaso

em intervalos curtos de tempo (menos de 30 minutos). Esse fato, juntamente com a

existência de comportamento agressivo entre eles, indica que os machos podem estar

defendendo territórios de forma dinâmica, padrão já relatado para esquilos terrestres

(Mares & Lacher 1987). Neste caso, as cutias defenderiam locais onde existem árvores

frutificando no momento, que seriam manchas com abundância de recursos alimentares

e de fácil defesa. As vantagens não se limitam às trazidas pelo acesso exclusivo a estas

manchas de alimento. Os machos podem estar aumentando as chances de ter acesso às

fêmeas já que fidelidade a uma área associada à hostilidade pode aumentar a

probabilidade de um macho atrair fêmeas para a cópula, aumentando sua aptidão

(Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990). Essas manchas de recursos defendidas são,

provavelmente, aquelas formadas por árvores como a cutieira (Joannesia princeps),

principal item alimentar consumido pelos animais neste estudo, que possuem sementes

grandes com alto conteúdo energético (Carvalho 2003). Essa preferência das cutias por

sementes grandes foi mostrada em outros estudos (Smythe 1978; Forget et al. 2001;

Silvius & Fragoso 2003; Jorge & Peres 2005) e a grande importância desses animais na

dispersão de árvores com este tipo de semente já foi discutida (Hallwachs 1986; Smythe

1989; Forget 1990; Forget & Milleron 1991; Peres & Baider 1997; Peres et al. 1997;

Asquith et al. 1999). Consequentemente, apesar das cutias serem consideradas

predadoras generalistas de sementes, os machos devem estar procurando ativamente por

árvores de sementes grandes e defendendo esses locais. Sendo assim, essa relação se

configura como benefício mútuo entre as árvores de sementes grandes, que tem seus

frutos dispersados, e as cutias, que por sua vez se valem das manchas de recursos

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alimentares. A defesa dessas áreas evidencia a importância dos recursos nelas

encontrados para as cutias e sua densidade pode estar sendo regulada de baixo para cima

(bottom-up) pela abundância local de árvores de sementes grandes, como já havia sido

reconhecido por Jorge & Peres (2005).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As demandas da população humana por recursos naturais trazem devastação

para o meio ambiente (Terborgh 1999). Essa devastação faz com que as extinções

causadas pelo homem aconteçam a taxas de 100 a 1000 vezes maiores do que as taxas

naturais de extinção, reveladas pelo registro fóssil (Myers 1989; Caughley & Gunn

1996; Pimm et al. 2006). O processo de extinção global vem acontecendo pela perda

cada vez mais acelerada de populações em escala local (Hughes et al. 1997; Ceballos &

Ehrlich 2002). Existem muitas estratégias de conservação que ajudam a desacelerar esse

processo, porém a única capaz de revertê-lo é a reintrodução de espécies.

O desenvolvimento da biologia da reintrodução acontece pela experiência

acumulada em estudos de caso como a atual dissertação (Armstrong & Seddon 2007;

Seddon 2007). Sendo assim, esta colabora para aumentar a eficácia dos programas de

reintrodução através da avaliação dos procedimentos adotados. A colaboração do

presente trabalho é mais evidente para futuras reintroduções em florestas tropicais e,

mais especificamente na Floresta da Tijuca que é um remanescente da riquíssima e

muito devastada Mata Atlântica, um dos mais importantes hotspots do mundo (Myers

2000; Pimm 2009; Jenkins et al. 2010; Pimm et al. 2010). A presente dissertação

também tem o potencial de colaborar com o manejo futuro dessa população de cutias

reintroduzidas no Parque, orientando futuras ações.

O reconhecimento de que a quarentena foi uma fase estressante para os animais

leva a repensar a duração deste período, que pode ser encurtado. O estresse trazido por

essa etapa, juntamente com a origem dos animais, provavelmente levou essas cutias a

apresentarem deficiências imunológicas (Caughley & Gunn 1996; Teixeira et al. 2007;

Dickens et al. 2008). Esse fato evidencia a importância de reforçar a população

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reintroduzida com indivíduos de outras populações, aumentando a variabilidade

genética local, o que aumentaria as chances de sobrevivência dos indivíduos (IUCN

1996; Stockwell et al. 1996; Armstrong & Seddon 2007; Bouzat et al. 2009).

A aclimatação foi considerada benéfica para os animais, o que foi evidenciado

pelo seu ganho de peso no período. Apesar disso, a maior parte das mortes aconteceu

dentro do cercado de aclimatação, que foi reconhecido como uma possível armadilha e

parece aumentar as chances de interações agressivas entre os animais. O tempo em que

as cutias permaneceram no cercado foi adequado, porém, a quantidade de indivíduos do

mesmo sexo - principalmente machos - alocados no cercado simultaneamente deve ser

repensada.

Essa agressão entre os machos deve-se à defesa de território, comportamento

muitas vezes notado durante o acompanhamento dos animais nas fases da reintrodução.

O comportamento territorial dinâmico aqui evidenciado dificulta o conhecimento das

reais porções da área de vida defendidas. Sendo assim, é difícil fazer inferências quanto

ao número de cutias que podem conviver em uma determinada área. Conclusões mais

refinadas quanto ao padrão devem ser alcançadas para que o manejo da população seja

efetivo. O comportamento agressivo entre machos pode levar a exclusão reprodutiva de

alguns deles quando a espécie é monogâmica e a razão sexual está desviada para

machos (Brown & Orians 1970). Esse fato deve ser levado em consideração na hora de

planejar novas solturas que possam desviar a razão sexual neste sentido. Além disso,

avaliação da abundância de recursos-chave como as árvores de sementes grandes deve

ser considerada na hora de inferir a capacidade suporte do ambiente para as cutias.

Todos os indicadores escolhidos para a avaliação do sucesso da reintrodução

mostram que essa pode ser considerada bem sucedida em curto prazo e sugerem que

está caminhando para o sucesso em médio prazo. Existem evidências de que populações

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reintroduzidas com as características aqui encontradas (como baixas taxas de

mortalidade e dispersão) podem persistir com pequeno número de fundadores (Taylor et

al. 2005). Apesar disso, deve-se tomar cuidado, pois populações pequenas são muito

frágeis por serem extremamente suscetíveis a eventos de aleatoriedade demográfica,

genética e ambiental (Brown & Kodric-Brown 1977; Nunney & Campbell 1993;

Fernandez 2004), podendo não persistir (Armstrong & Seddon 2007). Sendo assim,

novas solturas são recomendadas para reforçar a população vigente, visando o sucesso

em longo prazo da reintrodução.

O sucesso em longo prazo significaria não apenas mais uma população de cutias

no mundo como a possibilidade da restauração de interações de dispersão de sementes

na Floresta da Tijuca. Espera-se assim, que o sucesso do trabalho chame a atenção para

o uso da reintrodução como ferramenta de restauração de ecossistemas. Esse

reconhecimento seria importante na medida em que a síndrome da floresta vazia é cada

vez mais comum, inclusive dentro de unidades de conservação, onde a caça é de difícil

controle (Redford 1992; Joppa et al. 2008; Adeney et al. 2009). A caça representa uma

das maiores ameaças à manutenção das interações animal-planta (Galetti et al. 2006;

Roldán & Simonetti 2001; Stoner et al. 2007; Wright & Duber 2001; Wright 2003) e a

extinção dessas interações ecológicas uma grande ameaça à manutenção da

biodiversidade em escala global (Janzen 1974; Bond 1994; Jordano et al. 2006).

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ANEXO A

O primeiro grupo de animais foi levado no dia 30 de novembro de 2009 para o

cercado de aclimatação na Floresta da tijuca. Esse grupo foi constituído por seis animais

(três fêmeas e três machos; Tabela A.1). Os animais passaram pelos procedimentos

normais de triagem pré-aclimatação (ver triagem), quando foram equipados com os

colares de radiotelemetria TXE-311C, modelo recomendado para monitoramento de

coelhos e lebres (Telenax®; Playa del Carmen, México). Os colares tinham o peso

médio = 33g, aproximadamente 1,5% do peso dos animais, abaixo de 5%, como

recomendado por Jacob & Rudran (2003).

Os três casais permaneceram no cercado até o dia 15 de dezembro de 2009,

quando, após 11 dias de chuvas intensas na região (275,6 mm de 4 a 15 de dezembro de

2009), percebemos que os animais haviam desenvolvido lesões no pescoço, na região

em contato com o colar radiotransmissor. A fêmea F4 apresentava lesões mais

profundas, e foi imediatamente retirada do cercado e levada à Fundação RioZoo para

tratamento. Durante o transporte o animal veio a óbito, sendo a causa mortis

identificada como miíase (infestação por larvas da mosca das bicheiras Cochliomyia

hominivorax) seguida de infecção generalizada. No dia seguinte (16 de dezembro de

2009) os outros cinco indivíduos foram retirados do cercado e transportados para o

RioZoo, onde foram retirados os colares radiotransmissores e onde os animais

permaneceram até o dia 18 de janeiro de 2010 para o tratamento das lesões (Tabela

A.1).

Tabela A.1. Primeiro grupo de indivíduos da cutia vermelha Dasyprocya leporina

levados à Floresta da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para o cercado de aclimatação. A

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data da chegada ao cercado se refere ao dia em que os animais receberam os colares e

foram transportados do RioZoo para o Parque Nacional da Tijuca. M = macho e F =

fêmea.

Durante o tratamento das feridas, no dia 23 de dezembro de 2009, duas cutias

(fêmea F1 e macho M6) receberam no RioZoo um protótipo do novo colar, composto

por uma mangueira de borracha e um peso, para avaliar a adaptação dos animais ao

novo equipamento e averiguar se este material causaria algum tipo de irritação (Figura

A.1). Até o dia 18 de janeiro de 2010 os dois indivíduos não apresentaram nenhuma

lesão, apenas a perda de pelos na região do pescoço.

A B

Figura A.1. Testes realizados com os protótipos dos colares no RioZoo para avaliar a

adaptação dos animais ao equipamento modificado de 23 de Dezembro de 2009 a 18 de

Janeiro de 2010. (A) protótipos dos colares e (B) cutia equipada com protótipo de colar.

Indivíduo Captura Chegada ao cercado Retorno ao RioZoo Situação

M1 24/09/2009 30/11/2009 16/12/2009 ferimentos leves

M3 24/09/2009 30/11/2009 16/12/2009 início de miíase

M6 14/10/2009 30/11/2009 16/12/2009 irritação no pescoço

F2 24/09/2009 30/11/2009 16/12/2009 ferimentos leves

F3 24/09/2009 30/11/2009 16/12/2009 ferimentos leves

F4 24/09/2009 30/11/2009 15/12/2009 morto

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Depois destes testes e seu resultado promissor o modelo antigo (TXE-311C;

(Telenax®; Playa del Carmen, México) foi modificado para obter outro modelo que não

causasse irritações na pele das cutias. Para tal, foram utilizados os transmissores e

antenas dos colares comprados da Telenax, fixados a um cabo de aço utilizando cola

Araldite e massa de poliéster, sendo o cabo envolto por uma mangueira de borracha.

Para o fechamento do cabo de aço em torno do pescoço das cutias foi utilizada uma

braçadeira de aço (Figura A.2).

A BA B

Figura A.2. Colares usados em cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque

Nacional da Tijuca, RJ. (A) Colar TXE 311C original (Telenax®; Playa del Carmen,

México) e (B) colar modificado para prevenir ferimentos: transmissor e antena da

Telenax fixados a um cabo de aço utilizando cola Araldite e massa de poliéster, sendo o

cabo envolto por uma mangueira de borracha.

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Durante o período em que foram observadas no cercado de aclimatação, todas as

cutias que foram equipadas com os colares modificados apresentaram perda de pelos

mas nenhum ferimentos por baixo dos colares. O monitoramento destes animais depois

da soltura revelou que todas continuaram vivas até o final do estudo ou morreram de

causas não relacionadas. Neste período aconteceram muitas ocasiões de chuvas intensas

(e.g. 99,8 mm em 15 de janeiro de 2010; 87,4 mm em 25 de fevereiro de 2010; 295,2

mm em 6 de abril de 2010).

A modificação dos colares evitou o desenvolvimento de novos ferimentos,

aumentando a sobrevivência dos animais e as chances de sucesso da reintrodução. Uma

vez que a reintrodução é uma estratégia de conservação cara (Kleiman 1989; Fischer &

Lindenmayer 2000), qualquer melhoramento que aumente as chances de sucesso é

importante. Como o monitoramento tem sido cada vez mais recomendado para os

programas de reintrodução (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Armstrong &

Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Jule et al. 2008) o uso de colares transmissores

será cada vez mais comum. Pesquisadores que usam esta ferramenta têm que estar

atentos para minimizar ferimentos causados por este equipamento (White & Garrot

1990) que já mostrou poder causar lesões sérias em várias espécies (Krasman et al.

2004).

Infestações causadas pela mosca das bicheiras foram responsáveis pela morte de

dois bugios (Allouata seniculus) reintroduzidos na Guina Francesa. Como no presente

estudo, a infestação apareceu na estação chuvosa (Richard-Hansen et al. 2000). A chuva

e umidade parecem ter relação com o aparecimento da infestação. Provavelmente, a

umidade retida de baixo dos colares favorece o aparecimento de irritações na pele e cria

um ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos e bactérias. A irritação faz com

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que o animal coce o pescoço e a mosca usa as entradas das feridas para depositar seus

ovos.

As modificações nos colares aqui realizadas ajudaram a prevenir as lesões de

duas formas: reduzindo a largura do colar e reduzindo a retenção da umidade, fazendo o

equipamento impermeável. O colar original tinha 1,8 cm de largura. As alterações

reduziram esta largura em três vezes (0,6 cm), sem acréscimo de peso (~35 g). Esse

procedimento permitiu que os colares tivessem mais mobilidade, reduzindo as chances

de ferir um ponto específico do pescoço dos animais. A redução da retenção de umidade

fez com que as chances do desenvolvimento de fungos também fossem reduzidas.

As empresas que trabalham com fabricação de equipamento de radiotelemetria

(como a Telenax®) possuem muitos modelos de colares – alguns similares ao aqui

modificado – e cada pesquisador deve escolher o mais apropriado para seu estudo.

Portanto, é recomendado aos pesquisadores que fiquem atentos à largura e,

principalmente, capacidade de retenção de umidade dos colares que pretendem colocar

nos animais. Essa recomendação é mais forte quando aplicada a animais de cativeiro

reintroduzidos que podem apresentar baixa imunidade por motivos de estresse nos

procedimentos a que são submetidos e de endocruzamento (Caughley & Gunn 1996;

Ebenhard 1995; Mathews et al. 2006; Teixeira et al. 2007; Dickens et al. 2008).

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ANEXO B

Durante o monitoramento, no dia 26 de março de 2010, foi observado o

consumo da carniça de um tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) pela fêmea F6.

A observação foi iniciada por volta das 13:30h e durou cerca de 1 hora. Quando nos

aproximávamos a cutia se afastava, voltando em seguida a consumir a carniça,

permitindo um acompanhamento detalhado de seu comportamento alimentar. No início

da observação o tapiti encontrava-se praticamente intacto, exceto por uma abertura no

abdômen e a cabeça ensanguentada. Quando nos aproximamos pela segunda vez a cutia

já havia consumido os órgãos internos e parte das patas traseiras (Figura B.1). A cutia

carregou o tapiti morto por cerca de 20m, parando algumas vezes ao longo de seu trajeto

para comê-lo, sentando-se sobre as patas traseiras e segurando o animal com as patas

dianteiras. Assim que nos afastávamos, quase que imediatamente a cutia voltava e

carregava a carniça para outro ponto. Na terceira vez em que nos afastamos, a cutia

pegou o que restava do animal e saiu para um ponto em que não conseguimos mais

observá-la. Não foi possível afirmar se a cutia matou o tapiti, mas a presença de larvas

de mosca na carniça indicou que o mesmo já estava morto havia algum tempo quando

as observações foram iniciadas.

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Figura B.1. Coelho nativo, tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) consumido pela

cutia fêmea F6 reintroduzida no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil).

Esse fato confirma a dieta versátil das cutias que se alimentam de frutos,

sementes, fungos, insetos e material animal (Dubost 1988; Henry 1999b, Silvius 2002,

Dubost & Henry 2006), o que pode favorecer o sucesso da reintrodução. Landry (1970),

em uma revisão sobre os hábitos alimentares de roedores, sugere que as espécies desse

grupo sejam consideradas onívoras devido aos diversos registros de zoofagia. O

consumo de carne, no entanto, ainda é pouco documentado para cutias. Nos três estudos

que reportaram o consumo de carne por Dasyprocta spp. as presas foram mortas pelas

cutias. Em cativeiro Smythe (1978) descreveu o consumo do roedor Liomys pictus

(Heteromyidae) por D. punctata, enquanto Monteiro-filho e colaboradores (1999)

registraram indivíduos de D. azarae matando e consumindo filhotes de galinha (Gallus

gallus) e codorna (Cothurnix japonica). Na natureza Chávez & Duran (2003)

descreveram o consumo de um pequeno vertebrado, provavelmente um roedor, por D.

punctata na Costa Rica.

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Landry (1970) já havia sugerido que a zoofagia em roedores não é apenas um

comportamento anômalo. Apesar da dieta das cutias ser composta basicamente por

frutos e sementes, durante períodos de escassez esses animais fazem uso de outros itens

alimentares, incluindo invertebrados (Henry 1999). O consumo de carniça pela cutia

reintroduzida no PNT pode ser reflexo dos seus hábitos alimentares no Campo de

Santana, onde os animais têm acesso a restos de comida e lixo. No entanto, a existência

de outros registros de consumo de carne por cutias nos leva a concluir que o consumo

de material animal não seja apenas um evento pontual e sim um reflexo do hábito

onívoro desses animais.

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