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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO GUSTAVO HENRIQUE MOREIRA SARKOVAS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO PÓS-AQUISIÇÃO: Um estudo de caso no Brasil RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

GUSTAVO HENRIQUE MOREIRA SARKOVAS

PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO PÓS-AQUISIÇÃO:

Um estudo de caso no Brasil

RIO DE JANEIRO

2012

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Gustavo Henrique Moreira Sarkovas

PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO PÓS-AQUISIÇÃO:

Um estudo de caso no Brasil

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do titulo de Mestre em Administração.

Orientadora: Denise Lima Fleck, Ph.D.

RIO DE JANEIRO

2012

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S245p Sarkovas, Gustavo Henrique Moreira.

Processos de integração pós-aquisição: um estudo de caso no Brasil / Gustavo Henrique Moreira Sarkovas. -- Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.

132 f.: il.; 31 cm. Orientadora: Denise Lima Fleck Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, 2013. 1. Mudança organizacional. 2. Administração – Teses. I. Fleck, Denise

Lima. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

CDD 658.4

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Gustavo Henrique Moreira Sarkovas

PROCESSO DE INTEGRAÇÃO PÓS-AQUISIÇÃO:

Um estudo de caso no Brasil

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do titulo de Mestre em Administração.

Aprovada em

___________________________________________

Orientadora

Profª. Denise Lima Fleck, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ)

___________________________________________

Profª. Adriana Victoria Garibaldi de Hilal, D.Sc. (COPPEAD, UFRJ)

___________________________________________

Profª. Mônica Esteves Rodrigues, D.Sc. (CEMPRE – Ltda.)

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Sergio e Maria Helena, que me deram todo o suporte que

precisei durante este período, estando sempre ao meu lado oferecendo bons

conselhos, carinho e segurança.

À Isabela, minha esposa, pela compreensão e incentivo durante a jornada do

mestrado. Sem a sua paciência, o seu apoio e o seu amor eu teria tido muito mais

dificuldade para encarar o período do mestrado.

À minha irmã, Domenica, pela paciência e dedicação nas inúmeras revisões

tanto deste trabalho como em diversos outros durante todo o mestrado.

Aos meus amigos, Diogo Leuzinger, João Schuery, Rodrigo Tasca e Luciano

Pedroso pela amizade e companheirismo durante os dois anos que passamos no

Coppead.

Aos meus “irmãos” de orientadora, Camila Caldeira, Flavia Freitas, Laura

Rielo, Monique Stony, Raphael Assayag e Rodrigo Tasca por tornarem a caminhada

da elaboração da dissertação um pouco menos solitária e estafante.

Aos funcionários do Coppead, em especial aos da Secretaria Acadêmica, pela

paciência, suporte e carinho durante todo o mestrado.

Aos demais amigos da Turma 2010, que tornaram os dias no Coppead mais

divertidos e prazerosos.

À minha orientadora, Denise Fleck, por todos os ensinamentos do primeiro ao

último dia do mestrado.

À Adriana Hilal e Mônica Rodrigues, participantes da banca, por aceitarem o

convite e por contribuírem para a melhoria da qualidade deste trabalho.

À Accenture do Brasil, por ter me concedido a oportunidade de parar de

trabalhar por dois anos sem perder os vínculos com a empresa.

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RESUMO

SARKOVAS, Gustavo Henrique Moreira. Processo de integração pós-aquisição: um estudo de caso no Brasil. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

As atividades de fusões e aquisições estão entre as principais formas de

crescimento das organizações, seja através da melhoria das margens operacionais,

do aumento do market-share ou da ampliação do portfólio de produtos. Porém,

mesmo apresentando números crescentes, muitas aquisições não alcançam os

resultados esperados, porque os processos de integrações pós-aquisição não

recebem a atenção que merecem por parte dos gestores. Diante disso, surgiu o

interesse em aprofundar os estudos nesta etapa da aquisição, buscando identificar

se é possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser

considerado como encerrado. O método de pesquisa escolhido para este trabalho foi

o estudo de caso, devido às suas características exploratórias. A resposta para a

questão central foi obtida através da associação dos tipos de integração

apresentados por Haspeslagh e Jemison (1991) com os níveis de cultura de Schein

(2004). Para isso, foi elaborado um modelo análogo ao modelo de Schein com três

níveis: superficial, intermediário e profundo. A integração de aquisições do tipo

preservação não permite, de antemão, precisar seu encerramento. Essa definição

vai depender de quanto a adquirente deseja preservar após a integração. Assim, seu

encerramento pode ir desde o não identificável até o nível intermediário. Já o tipo

simbiose, que tem como característica uma série de interações entre as duas

empresas com o objetivo de construir uma nova empresa, não é possível

estabelecer sua duração e/ou os marcos limite para que a integração seja

considerada como encerrada. A integração de aquisições do tipo absorção deve ser

considerada como finalizada quando atinge o nível profundo, pois implica numa

consolidação total das operações, organização e cultura das duas empresas. Ou

seja, para responder a questão central é preciso identificar inicialmente qual o tipo

de integração pós-aquisição predominante.

Palavras-chaves: Fusões e Aquisições; Processo de integração pós-aquisição,

Níveis de integração; Organizações brasileiras;

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ABSTRACT

SARKOVAS, Gustavo Henrique Moreira. Processo de integração pós-aquisição: um estudo de caso no Brasil. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

Mergers and acquisitions are some of the main alternatives for organizations to

achieve growth, either through improving operating margins, increasing market share

or expanding its portfolio of products. However, even being increasingly more

common, many acquisitions do not achieve the expected results, because the post-

acquisition integration does not receive the attention they deserve by management.

Therefore, we are interested in studying further the acquisition stage, seeking to

identify whether it is possible to determine when a process of post-acquisition

integration can be considered finished. The research method chosen was a case

study, due to its exploratory characteristics. The answer to the central question was

obtained by combining the integration’s type presented by Haspeslagh and Jemison

(1991) with the levels of culture presented by Schein (2004). For this, it was designed

an analogous Schein’s model with three levels: superficial, intermediate and deep. In

the case of preservation acquisitions, it is not possible to determine beforehand when

the integration is over. This definition will depend on how much the buyer wants to

preserve the company and its current operational model after the integration. Thus,

its closure can range from unidentifiable to the intermediate level. In the case of a

symbiosis integration, where the main goal is to build a new company through a

series of interactions between the two companies, it is not possible to establish the

duration or the milestones for considering the integration finished. The absorption

integration should be considered completed when it reaches the deepest level, which

implies a total consolidation of operations, organization and culture of the two

companies. So, to answer the central question it is necessary to identify the

predominant type of post-acquisition integration.

Key words: Merger and acquisitions; Post-acquisition integration process; Integration levels;

Brazilian organizations.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 2.1 Como o processo de aquisição afeta os resultados. ..........................................................10

Figura 2.2 Visão convencional das aquisições. . .................................................................................11

Figura 2.3 Modelo de Gerenciamento das Fusão/Aquisição. . ............................................................23

Figura 2.4 Tipos de integração pós-aquisição. . ..................................................................................30

Figura 2.5 Framework de Integração. . ..............................................................................................34

Figura 2.6 Fases do processo “High Road”. . ......................................................................................35

Figura 2.7 Níveis de cultura. .............................................................................................................39

Figura 3.1 The building blocks of a scientific study. . ..........................................................................53

Figura 4.1 Níveis de integração pós-aquisição .................................................................................110

Figura 4.2 Macro categorias identificadas na analise do caso organizadas nos níveis de integração pós-aquisição. .................................................................................................................................113

GRÁFICOS

Gráfico 1.1 Total de Transações no Brasil por ano. Adaptação da Pesquisa de Fusões e Aquisições 2012 – 2º trimestre – KPMG............................................................................................................... 4

Gráfico 1.2 Total de Transações no Brasil por ano. Adaptação do Relatório PwC - Fusões e Aquisições no Brasil - Abril de 2012 ..................................................................................................................... 5

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Condições relevantes para a escolha da estratégia de pesquisa. ......................................56

Tabela 3.2 Fontes utilizadas para levantamento de informações das empresas estudadas. ...............59

Tabela 3.3 Codinomes utilizados para manutenção do anonimato. ...................................................60

Tabela 3.4 Resumo das informações das entrevistas realizadas .........................................................61

Tabela 3.5 Organização das entrevistas conforme roteiro. ................................................................64

Tabela 3.6 Organização das entrevistas conforme os pontos de convergência. ..................................65

Tabela 4.1 Relação do tipo de abordagem de integração de Haspeslagh e Jemison (1991) e os níveis de integração definidos pelo estudo. ..............................................................................................112

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FPM - Finance & Performance Management

CEO – Chief Executive Officer

CFO – Chief Finance Officer

WBS – Work Breakdown Structure

CIO – Chief Information Officer

WBS – Work Breakdown Structure

M&A – Merger and Acquisition

BPO – Business Process Operation

RH – Recursos Humanos

HR Rep – Representante de Recursos Humanos

MD&I – Market Development & Initiative

SLA – Service Level Agreement

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PMI – Post-Merger Integration

F&A – Fusões e Aquisições

TI – Tecnologia da Informação

d0 – Data zero

MC - Management Consulting

SAP OM - SAP Organizational Management

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1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 4

1.1. OBJETIVO DO ESTUDO............................................................................................. 4

1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO ........................................................................................ 6

1.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................................... 7

1.4. PERGUNTAS/QUESTÕES ......................................................................................... 8

1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................ 8

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................ 9

2.1. IDÉIA ......................................................................................................................... 12

2.1.1. Abordagem de valor nas aquisições ................................................................... 14

2.2. JUSTIFICATIVA PARA AQUISIÇÃO ......................................................................... 15

2.2.1. O processo de tomada de decisão ...................................................................... 15

2.2.2. Objetivos de uma aquisição ................................................................................ 18

2.2.3. Tipos de aquisição .............................................................................................. 22

2.3. INTEGRAÇÃO PÓS-AQUISIÇÃO ............................................................................. 26

2.3.1. Tipos de abordagem da integração ..................................................................... 29

2.3.2. Gerenciamento da Integração ............................................................................. 32

2.3.3. Níveis de Integração ........................................................................................... 38

2.4. RESULTADOS .......................................................................................................... 43

2.5. PROBLEMAS DE PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO .................................... 44

2.6. PROBLEMAS DE PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ................................................... 48

3. METODO DE PESQUISA ............................................................................................. 53

3.1. DEFINIÇÃO DO TEMA, DO OBJETO DE PESQUISA E DA PERGUNTA ................. 53

3.2. ESTRATÉGIA DE PESQUISA ................................................................................... 55

3.3. ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 57

3.4. COLETA DE DADOS ............................................................................................... 57

3.4.1. Levantamento das informações sobre as empresas ........................................... 58

3.4.2. Levantamento das informações sobre o processo de aquisição ......................... 59

3.5. ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 63

4. ANÁLISE ...................................................................................................................... 66

4.1. HISTÓRICO DAS EMPRESAS ............................................................................... 66

4.1.1. Adquirente .......................................................................................................... 66

4.1.2. Adquirida............................................................................................................. 67

4.1.3. A operação de aquisição ..................................................................................... 68

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4.2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROCESSO DE AQUISIÇÃO .................................... 69

4.2.1. Ideia .................................................................................................................... 70

4.2.2. Justificativa para a aquisição .............................................................................. 72

4.2.3. Integração pós-aquisição .................................................................................... 78

4.2.4. Resultados .......................................................................................................... 85

4.3. MACRO CATEGORIAS INTEGRADAS .................................................................. 86

4.4. IDENTIFICAÇÃO DO ENCERRAMENTO DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO . 108

5. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 121

APÊNDICES ...................................................................................................................... 125

APÊNDICE A – Solicitação de autorização para estudo de caso ............................... 125

APÊNDICE B – Roteiro para entrevistas ..................................................................... 127

APÊNDICE C – Organização das entrevistas conforme roteiro ................................. 129

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1. INTRODUÇÃO

1.1. OBJETIVO DO ESTUDO

Para Tanure e Cançado (2005), as fusões e aquisições (F&A) apresentam a

partir dos anos 90 um crescente papel na economia mundial, e em particular na

economia brasileira. Estudos da consultoria KPMG (2012) revelam a ocorrência de

7.391 operações de F&A no Brasil de 1994 a 2011 (Gráfico 1.1), sendo que mais de

45% ocorreu com investimento de capital nacional.

175212

328372 351

309353 340

227 230299

363

473

699663

454

726

817

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Total de Transações no Brasil por ano

Gráfico 1.1 Total de Transações no Brasil por ano. Adaptação da Pesquisa de Fusões e Aquisições 2012

– 2º trimestre – KPMG

O relatório sobre fusões e aquisições no Brasil da empresa

PRICEWATERHOUSECOOPERS (2012) apresenta números diferentes da sua

concorrente, conforme Gráfico 1.2, porém demonstra a mesma tendência de

crescimento das transações nos últimos anos. Essa tendência só não é verificada no

ano de 2009, provavelmente devido aos reflexos da crise econômica mundial do ano

anterior.

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5

415 389

573

722645 644

798749

0100200300400500600700800900

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Total de Transações no Brasil por ano

Gráfico 1.2 Total de Transações no Brasil por ano. Adaptação do Relatório PwC - Fusões e Aquisições no

Brasil - Abril de 2012

Além do crescimento no número de transações de F&A, o valor investido

nelas também vem apresentando crescimento. Segundo reportagem da Revista

Exame de outubro de 2011, mais de 120 bilhões de reais foram investidos por

empresas brasileiras de capital aberto nos últimos cinco anos. Valor que representa

um recorde na história do país.

O crescimento no número e na quantia investida pode ser explicado devido à

importância que as fusões e aquisições estão representando para a estratégia das

empresas. Segundo Schraeder e Self (2003), as fusões e aquisições estão se

tornando uma opção estratégica popular, pois possibilitam o crescimento, a

diversificação e os ganhos de escala que as empresa buscam. Já para Gupta e

Roos (2001), as fusões e aquisições se tornaram importantes formas de executar a

estratégia corporativa e realocar recursos na economia global. Levando-se em

consideração a visão da firma baseada em recursos de Barney (1991), as fusões e

aquisições podem contribuir para a transformação acelerada do portfólio de recursos

de uma empresa. Para Donahue (2001), em uma economia focada em velocidade, a

forma mais rápida das empresas inserirem um novo produto em seus portfólios,

ampliarem seus canais de distribuição ou a carteira de clientes é através de uma

aquisição e não através do desenvolvimento interno. Lynch e Lind (2002) vão além e

dizem que, nos últimos 20 anos, as atividades de fusões e aquisições estão entre as

principais formas de crescimento das organizações. Seja com o objetivo de melhorar

as margens operacionais, aumentar o market-share, ampliar o portfólio de produtos

ou oferecer mais valor para os acionistas, crescer é fundamental.

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6

As aquisições têm o potencial de transformar as empresas e contribuir para a

modificação da corporação. Elas auxiliam na renovação da posição da firma no

mercado a uma velocidade que dificilmente seria atingida através do

desenvolvimento interno. Oferecem a possibilidade de obter os benefícios da

combinação de ativos e de dividir capacitações que não seriam alcançadas por

parcerias. Mais precisamente, aquisições podem trazer novas capacitações que

seriam difíceis de desenvolver ou podem trazer a oportunidade de alavancar as já

existentes a níveis mais significativos (Haspeslagh& Jemison, 1991).

O interesse por um determinado mercado, normalmente emergente, e a

rapidez em conseguir capacitação para estarem aptas à competição movem certas

empresas a incorporar o conhecimento detido por outras ao invés de desenvolvê-lo

internamente. Como o desenvolvimento do conhecimento necessário pode ter um

custo elevado e requer disponibilidade de tempo muitas vezes incompatível com a

oportunidade de inserção no mercado desejado, a aquisição de outra organização

que já passou pelo processo de aprendizagem e que dispõe de capacitação e de

sucesso no mercado parece uma solução interessante para enfrentar essas

dificuldades. A aparente rapidez da solução esconde, no entanto, problemas típicos

de gestão da mudança em fusões e aquisições, ressaltados os aspectos culturais.

Este estudo buscou entender como ocorreu o processo decisório da

adquirente, passando pela decisão de compra, a forma como isso foi gerido dentro

das duas empresas e como foi feito o processo de integração. Neste ultimo assunto,

o foco principal foi verificar a possibilidade de determinar quando um processo de

integração pós-aquisição poderia ser considerado como encerrado.

Devido à ausência de literatura que tratava deste assunto específico, foi

necessária a elaboração de um novo modelo, associando os tipos de integração

(Haspeslagh e Jemison, 1991) com os níveis de cultura (Schein, 2004).

1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O grande número de operações de fusão e aquisição realizadas no país, o

crescimento na quantia despendida para tal e a diferença na percepção da adquirida

e adquirente em relação ao término do processo de integração das duas empresas

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7

pós-aquisição justificam a busca pela compreensão dos possíveis níveis que uma

integração pode alcançar.

Nesse sentido, a relevância acadêmica do presente trabalho reside em sua

contribuição para o segmento dos estudos de fusões e aquisições, mais

especificamente no que tange ao fenômeno de integração de empresas pós-

aquisição.

A relevância deste estudo para as organizações consiste na contribuição para

as empresas que têm as fusões e aquisições como parte de sua estratégia

corporativa.

A pesquisa também se mostra relevante tanto para estudiosos do assunto e

para executivos que atuem ou queiram atuar neste setor, quanto para aqueles que

busquem mais informações sobre fusões e aquisições, independentemente de as

empresas analisadas serem pertencentes ao setor de prestação de serviços.

1.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A pesquisa delimita-se ao estudo de caso do processo de aquisição de uma

empresa nacional média do setor de prestação de serviços por uma multinacional

com atuação no mesmo setor. O trabalho se propõe a estudar as diversas fases que

um processo de aquisição percorre, focando principalmente na integração das

empresas. Nesta etapa, são estudados os diversos níveis de profundidade de uma

integração, com o objetivo de responder a questão central que busca verificar se é

possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser

considerado como encerrado.

A quantidade de entrevistas realizadas foi limitada – nove no total - pelo

número de gestores, tanto da adquirida como da adquirente, que tiveram

participação no processo pré e pós-aquisição.

Este estudo não aborda as questões financeiras envolvidas na aquisição, pois

quando foi concedida a autorização para a realização desta pesquisa, a adquirente

informou que não seria oferecida nenhuma informação sobre os valores negociados.

Além disso, também foi solicitada a manutenção do anonimato tanto dos nomes das

empresas como das pessoas envolvidas no processo.

No tocante à delimitação temporal, as entrevistas com funcionários das duas

empresas foram realizadas entre os meses de março e julho do ano de 2011. Como

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8

a aquisição ocorreu no início do ano de 2010, não foi possível analisar uma etapa do

framework desenvolvido por Haspeslagh e Jemison (1991) que trata dos resultados

alcançados com a integração.

1.4. PERGUNTAS/QUESTÕES

A principal questão que este trabalho busca responder é: É possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado como encerrado?

Para isso, também serão respondidas questões secundárias como: De que

forma ocorre o processo de integração entre a empresa adquirida e adquirente?;

Existem diferentes níveis de profundidade em uma integração pós-aquisição?; Quais

são esses níveis?

1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho está dividido em cinco capítulos. Primeiro é a introdução, com

apresentação e justificativa da escolha do tema, das questões de estudo e da

organização do trabalho. O segundo capítulo refere-se à revisão de literatura, que

busca fundamentar o estudo com conceitos sobre fusões e aquisições, analisando

todas as etapas dessas operações. Para isso, foi utilizado o framework proposto por

Haspeslagh e Jemison (1991), que apresenta as diversas etapas percorridas por

uma empresa que decide crescer desta forma. O terceiro capítulo refere-se à

metodologia utilizada para a realização deste trabalho. O quarto capítulo destina-se

à apresentação das duas empresas estudadas, a descrição do processo de

aquisição, a identificação dos níveis de integração alcançados e a resposta de se é

possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser

considerado como encerrado.

O ultimo capítulo refere-se às conclusões encontradas no estudo. Os

apêndices apresentam o roteiro utilizado com suporte durante as entrevistas e o

correio eletrônico enviado solicitando autorização da empresa adquirente para

realizar o estudo de caso.

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9

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para Haspeslagh e Jemison (1991) as “aquisições têm o potencial único de

transformar as firmas e contribuir para a renovação da corporação. Elas podem

ajudar a empresa a renovar uma posição no mercado a uma velocidade que não

seria alcançada através de desenvolvimento interno”. Além disso, os autores

afirmam que as aquisições oferecem a possibilidade de combinar recursos e dividir

capacitações, que não seriam possíveis através de parcerias. Se nos aprofundarmos

ainda mais, as aquisições podem trazer para as empresas as capacitações que

seriam difíceis de serem desenvolvidas internamente ou que podem, ainda,

alavancar as existentes a níveis muito mais significativos.

A frase “a diferença entre o sucesso e o fracasso nas aquisições está

intimamente ligada às formas como são conduzidos os processos de tomada de

decisão e a integração pós-aquisição” apresenta, de forma sucinta, as ideias dos

autores. Quando bem estruturados, esses dois processos se tornam a base para a

renovação estratégica da empresa resultante. O problema é que, normalmente, as

decisões são tomadas de forma apressada pelos gestores, que acabam se

frustrando no futuro com os resultados não alcançados. Além do tempo, outro fator

que pode influenciar no sucesso da aquisição é a motivação do negócio. Muitas

vezes, as empresas acreditam que a aquisição trará determinado benefício, mas

quando o negócio é fechado, os executivos percebem que o objetivo nunca foi

alcançado e que, se tivessem tido mais tempo e feito análises mais elaboradas e

completas, os resultados poderiam ter sido diferentes.

Porém, não é só no processo de aquisição que as dificuldades existem.

Mesmo que a aquisição aparente seja positiva para a empresa, ainda é preciso

alcançar as sinergias durante o processo de integração. Ou seja, para que a

empresa tenha sucesso, os dois processos devem ocorrer de forma bem sucedida.

É preciso deixar clara para os funcionários a direção que deve ser seguida durante

esse processo. Não se pode esperar que eles saibam o que a empresa tem como

objetivo e que o alcance sem um direcionamento.

Haspeslagh e Jemison (1991) questionam os motivos pelos quais algumas

empresas conseguem lidar com essas questões melhor do que outras. Dizem que a

resposta pode estar na definição de como as firmas criam valor, como as aquisições

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contribuem para essa atividade e como os gestores solucionam os problemas de

utilização das aquisições como parte da estratégia de renovação corporativa. Eles

dizem que “entender o processo de criação de valor, no entanto, requer uma

mudança conceitual na empresa, de foco no retorno financeiro imediato ou posição

no mercado para capacitações que podem sustentar a posição e os resultados

financeiros no longo prazo”.

Haspeslagh e Jemison (1991) afirmam a existência de quatro tipos de

desafios que as empresas devem enfrentar no gerenciamento das aquisições. São

eles:

Assegurar que estejam alinhadas com a estratégia de renovação

corporativa;

Desenvolver um processo de tomada de decisão pré-aquisição que

permita a avaliação da aquisição “certa” e desenvolva uma justificativa

para a aquisição, independentemente das pressões por maior

velocidade, falta de informações completas e sigilo;

Gerenciar o processo de integração pós-aquisição para criar o valor

esperado;

Promover o aprendizado obtido internamente na empresa.

Em toda aquisição, os processos de tomada de decisão e integração têm

impacto na ideia, na qualidade da justificativa, na forma de integração e nos

resultados. Haspeslagh e Jemison (1991) resumiram essa identificação através da

Figura 2.1.

Figura 2.1 Como o processo de aquisição afeta os resultados. Fonte: Haspeslagh & Jemison, 1991.

O que os autores apresentam com os dois aspectos abordados refere-se à

perspectiva de processo. Essa perspectiva considera a mudança de foco do

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resultado da aquisição para o foco nas forças que causaram o referido resultado,

isto é, “a transferência de capacitações que conduzirão à vantagem competitiva” da

empresa (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.12).

Segundo eles, na perspectiva de processo, a aquisição não é um evento

independente, limitado ao momento em que as empresas se unem. Não é na

transação em si que os benefícios esperados se concretizam, mas sim na forma

como são conduzidos os processos imediatamente após a aquisição. Ainda de

acordo com eles, sob essa abordagem, as aquisições podem ser formas de

renovação das corporações.

Os autores afirmam que a visão de processo é conflitante com a visão

tradicional das aquisições, que é defendida por gestores e acadêmicos. Na forma

tradicional, as aquisições são vistas como processos pontuais efetuados por meio de

negociações únicas, onde o preço é o principal parâmetro. O processo de tomada de

decisão é sequencial, baseado na avaliação financeira e na análise pré-aquisição.

Além disso, acredita-se que o valor da aquisição possa ser medido, de forma

acurada, no momento em que é realizada. Essa visão é apresentada pelos autores

conforme a Figura 2.2.

Figura 2.2 Visão tradicional das aquisições. Adaptação de Haspeslagh & Jemison, 1991.

A partir da diferenciação das duas perspectivas, Haspeslagh e Jemison

(1991) dizem que não existe uma abordagem universal para lidar com as aquisições.

Eles sugerem uma abordagem baseada na “estratégia que deve ser utilizada em

cada aquisição, e na consciência das exigências organizacionais por autonomia,

quando elas são centrais no atingimento dos objetivos da aquisição” (HASPESLAGH

& JEMISON, 1991, pp.13).

A partir das duas visões apresentadas – tradicional e de processo – foi

escolhida a visão de processo como framework para delimitar o escopo deste

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estudo. Essa decisão foi tomada devido à crença de que realmente as fusões e

aquisições não são eventos estanques, mas sim um processo com início, meio e fim

e que devem estar alinhados com as estratégias corporativas. Dessa forma, a

revisão bibliográfica está dividida em ideia, justificativa para a aquisição, integração

pós-aquisição, resultados, problemas de processo de tomada de decisão e

problemas de processo de integração. O primeiro ponto a ser tratado será a ideia, ou

seja, assegurar que a aquisição esteja alinhada com a renovação estratégica da

empresa.

2.1. IDÉIA

O processo de aquisição de uma empresa por outra, segundo Haspeslagh e

Jemison (1991), tem o potencial de transformar firmas e possibilitar a renovação das

corporações de uma maneira mais rápida que um processo natural de crescimento,

ou até de parcerias. Porém, o mais importante é que esse processo pode trazer à

corporação capacitações que não teria desenvolvido sozinha, ou ainda alavancar

capacitações de forma a atingir níveis superiores de serviço e posição de mercado.

O conceito de criação de valor foi revisado pelos autores a partir de diferentes

pontos de vista e, consequentemente, formas de se entender: a) o conceito do

mercado de capitais, b) a abordagem sob a ótica dos envolvidos direta ou

indiretamente no processo (stakeholders), e, finalmente, a mais explorada pelos

autores, c) a perspectiva gerencial, que será abordada nesse trabalho.

a) Valor sob a ótica do Mercado de capitais: Sob esta ótica, a visão do valor nas aquisições está diretamente relacionada à

questão de geração de valor para os acionistas da empresa. Essa visão indica que o

valor de mercado de uma empresa pode ser entendido como uma estimativa

imparcial de todas as informações públicas disponíveis sobre seu fluxo de caixa

futuro e os riscos relacionados a ela.

De acordo com essa ótica, qualquer aquisição que cause um aumento no

valor de mercado da empresa resultante da aquisição – retirando-se todos os efeitos

de flutuações de preço imediatamente subsequentes à aquisição – é positiva. Já a

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aquisição em que há redução no valor de mercado da empresa resultante é

negativa. É possível perceber que esta é uma visão bastante simplista.

Seu aspecto positivo é fazer pensar no resultado, no objetivo de criação de

valor à frente das razões gerenciais. Analisa-se a empresa num contexto de

mercado, de toda a economia e não apenas internamente, fora do contexto dos

interesses gerenciais.

A perspectiva do mercado de capitais está limitada à definição do mesmo, isto

é, ao aumento das receitas ou rendimentos sob seus ativos imobilizados. Por outro

lado, não sugere a maneira como pode ser gerado esse incremento pelos gestores

em processos de aquisição.

b) Valor sob a ótica dos envolvidos direta ou indiretamente no processo (stakeholders):

O valor de uma empresa num processo de aquisição pode também ser visto

na perspectiva de todos os envolvidos nessa transformação, a saber: os

empregados, as comunidades relacionadas direta ou indiretamente à empresa, seus

clientes e fornecedores. Cada um deles se relaciona com o processo e pode ser

fator crítico de sucesso de uma aquisição.

Os empregados apreciam uma empresa por diversos aspectos, como a

empregabilidade, aderência à cultura da organização e formas de se atingir objetivos

pessoais. As comunidades também dão valor a uma empresa pelos benefícios que

ela prove à área em que se situam, como empregos, tipos de pessoas atraídas à

área da comunidade, e o próprio envolvimento dos seus empregados para a vida da

região. Os clientes valorizam uma organização em função de sua habilidade de

atender às demandas por produtos ou serviços. Finalmente, os fornecedores

valorizam o relacionamento pela demanda por seus produtos ou serviços, mas

também por elas fornecerem informações do mercado, que podem ser valiosas para

eles, através dessa demanda.

Todas essas vertentes devem ser estudadas num processo de aquisição, ou

ao menos consideradas, já que decisões podem implicar em reações até adversas.

Nesses casos, dependendo do grau de influência de cada participante no contexto

da aquisição, o processo pode ser dificultado e seus objetivos inviabilizados.

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c) Valor sob a ótica gerencial: Essa visão combina tanto a questão dos resultados financeiros, quanto a

questão dos envolvidos no processo de aquisição. Nesta perspectiva, apesar da

análise do fluxo de caixa ser considerada como base para o estudo de uma

aquisição, os gestores envolvidos tomam a decisão através do julgamento de seus

benefícios de longo prazo, estratégicos, tecnológicos e mercadológicos.

Porém, o que se vê na prática é que muitos gestores acreditam na

importância da visão de longo prazo, mas são pressionados na quantificação e

comprovação dos resultados imediatos que acabam por se adaptar ao conceito

puramente financeiro e de curto prazo. Esse é um dos grandes desafios das

aquisições: “equilibrar a performance dos resultados financeiros de curto prazo com

as demandas estratégicas de longo prazo” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991,

pp.22).

2.1.1. Abordagem de valor nas aquisições

As pesquisas de Haspeslagh e Jemison (1991) apresentam duas formas

distintas de aumentar a riqueza dos acionistas de uma empresa através das

aquisições: a captação e a criação de valor.

A captação de valor através de aquisição envolve a transferência de valor dos

antigos acionistas ou outros stakeholders para os acionistas da empresa adquirente.

Esse processo é geralmente pontual e limitado ao momento em que a transação

ocorre. A captura pode ser feita através da compra de ativos desvalorizados,

benefício de impostos, aumento de dívidas ou desmobilização de ativos.

A capacidade de capturar valor através de aquisições está relacionada à

existência de um grupo de pessoas experientes dentro da empresa que dominem

assuntos referentes a direito, finanças e gestão e consigam analisar e decidir os

melhores negócios.

É valido destacar que focar unicamente na captura de valor “mascara a

necessidade de foco no gerenciamento do processo de legítima criação de valor”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.27). Os autores dizem que, apesar dos

benefícios da captura serem substanciais para decidir por uma aquisição, eles não

são duradouros e, portanto, são contrários à estratégia de longo prazo das

empresas.

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Já a criação de valor, segundo os Haspeslagh e Jemison (1991), é um

fenômeno de longo prazo, que resulta de ações gerenciais e interações entre as

empresas. Ela está relacionada com a obtenção de sinergias, ou seja, com a

transferência de capacitações entre as empresas para melhorar a posição

competitiva e consequentemente sua performance.

A melhor maneira de entender o processo de criação de valor é “ver a firma

como um conjunto de capacitações, inseridas em uma estrutura organizacional, que,

quando aplicadas aos cenários de mercado, podem criar e sustentar elementos de

vantagem competitiva” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.23). Esses elementos

produzem resultados para a empresa e criam valor para os acionistas.

Essa visão está alinhada com a de Barney (1991) que diz que “a firma é dita

como tendo vantagem competitiva quando implementa uma estratégia de criação de

valor que não está sendo implementada simultaneamente por nenhum dos seus

concorrentes atuais ou potenciais” (BARNEY, 1991, pp.102). Já a sustentabilidade

da vantagem competitiva é alcançada quando nenhuma outra empresa é capaz de

alcançar os benefícios da estratégia aplicada.

2.2. JUSTIFICATIVA PARA AQUISIÇÃO

2.2.1. O processo de tomada de decisão

Segundo Haspeslagh e Jemison (1991), muitas vezes a tomada de decisão

sobre uma aquisição é vista como um processo analítico (apresentado na Figura

2.2), realizado em etapas sequenciais que se inicia com a definição dos objetivos,

passa pelas fases de busca e classificação dos candidatos, segue para as

avaliações estratégica e financeira e, finalmente, termina na negociação em si.

Na realidade, essa tarefa é muito mais complexa, pois a motivação para a

tomada de decisão não passa somente pela definição de comprar ou não e o preço

a ser pago. Ela deve ser justificada de acordo com os objetivos estratégicos da

empresa. Nesse sentido, os autores afirmam que “a qualidade da justificativa da

aquisição está intimamente relacionada com a performance da aquisição”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.41). A justificativa da aquisição pode ser

entendida como a forma e/ou os argumentos utilizados para vender internamente a

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ideia para as empresas. Normalmente, essas justificativas são apresentadas para

aqueles que decidem através de dossiês.

Conforme apresentado anteriormente, as aquisições normalmente

apresentam justificativas. Haspeslagh e Jemison (1991) identificaram, através de

suas pesquisas em dossiês utilizados para vender internamente a ideia nas

empresas, justificativas semelhantes sobre os motivos da aquisição, das projeções

financeiras e das sinergias esperadas. Porém, encontraram uma grande variedade

de níveis de detalhamento. Com base nisso, identificaram seis dimensões ou

critérios para julgar cada uma: a) Qualidade da avaliação estratégica; b) Visão

amplamente compartilhada do objetivo da aquisição; c) Especificações detalhadas

das fontes de benefícios e potenciais problemas pós-aquisição; d) Considerações

pelas condições organizacionais; e) Período de implementação; e f) Preço máximo.

a) Qualidade da avaliação estratégica

A qualidade da avaliação estratégica é um ponto chave na justificativa da

aquisição, pois é ela que direciona o potencial de criação de valor da operação.

Essa avaliação leva em consideração a contribuição da aquisição para a estratégia

da empresa, assim como o impacto da estratégia na posição competitiva da

empresa.

b) Visão amplamente compartilhada do objetivo da aquisição

Em um processo de aquisição estratégica é necessário que o objetivo seja

conhecido, aprovado e compartilhado por todos os envolvidos na tomada de

decisão. Em outras palavras, “uma lógica estratégica comum compartilhada por

todos os tomadores de decisão chave é pré-condição para a obtenção de consenso

na abordagem de implementação de uma organização” (HASPESLAGH &

JEMISON, 1991, pp.48).

É importante destacar que a presença de múltiplos argumentos não é

necessariamente um empecilho. O problema pode ocorrer quando não houver um

entendimento comum ou acordo sobre qual desses argumentos será o foco inicial

das atividades de criação de valor.

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c) Especificações detalhadas das fontes de benefícios e potenciais problemas pós-aquisição

Os benefícios devem ser tangibilizados, bem como os potenciais problemas

decorrentes da aquisição. Muitas vezes são considerados apenas os benefícios

imediatos, faltando a indicação de outros ganhos decorrentes do processo. Em

outras, entretanto, não há um estudo dos riscos decorrentes de determinadas

situações pós-aquisição, que podem inclusive afetar o preço estudado para a

aquisição.

d) Considerações pelas condições organizacionais

Apesar dos ganhos de sinergia serem ponderados no processo de tomada de

decisão, muitas vezes estão limitados à estrutura de custos e finanças gerais da

organização. As condições organizacionais sob as quais a aquisição ocorrerá e

como podem ser medidas são muitas vezes ignoradas. Sendo assim, os recursos

organizacionais – pessoas, espaço físico, interfaces de infraestrutura de

comunicação e tecnologia – devem ser analisados dentro do processo de tomada de

decisão, no contexto da empresa pós-aquisição.

e) Período de implementação

Os autores destacam a importância de um estudo de todo o tempo do

processo. É crítico, para uma integração bem sucedida, uma visão clara de “como

começar, o quão rápido se deve proceder, e como chegar lá” (HASPESLAGH &

JEMISON, 1991, pp.50).

f) Preço máximo

O preço máximo deve ser considerado como o último componente de uma

justificativa de qualidade para a tomada de decisão. O preço máximo deve ser

calculado através da expectativa de potencial criação de valor combinado com a

avaliação dos riscos de implementação.

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2.2.2. Objetivos de uma aquisição

As aquisições podem contribuir de diversas formas para a estratégia de

negócio de uma empresa. Haspeslagh e Jemison (1991) apresentam três objetivos

que elas podem ter: aquisição de uma capacitação específica, aquisição de uma

plataforma e aquisição de uma posição de negócio existente.

a) Aquisição de uma capacitação específica: ocorre quando a empresa

demanda uma determinada capacitação com o objetivo de implementar uma

estratégia de negócio e adquire outra empresa com esse intuito.

b) Aquisição de uma plataforma: ocorre quando a empresa adquirida é

viável mesmo antes da compra, mas somente será mantida pela adquirente se

receber investimentos adicionais.

c) Aquisição de uma posição de negócio: ocorre quando a empresa

adquirente deseja ampliar seu porte ou abrangência de mercado através da compra

de uma posição de mercado. Seu principal objetivo é crescer no ambiente

competitivo em que a empresa se encontra.

Já Lynch e Lind (2002) apresentam outros motivos pelos quais as empresas

optam por uma aquisição. Eles dizem que “nos últimos 20 anos, as atividades de

fusões e aquisições estão entre as principais formas de crescimento das

organizações. Seja com o objetivo de melhorar as margens operacionais, aumentar

o market-share, ampliar o portfólio de produtos ou oferecer mais valor para os

acionistas, crescer é fundamental” (Lynch, J.G. & Lind, B., 2002).

Eles continuam dizendo que as racionalizações pela escolha das fusões e

aquisições como forma de crescimento das organizações, mesmo sendo muitas

vezes uma estratégia arriscada, podem ser explicadas pelos seguintes motivos: a

tentativa de crescimento orgânico normalmente demora um grande período de

tempo para alcançar a fatia do mercado desejado; os investimentos em pesquisa e

desenvolvimento provaram ser pouco lucrativos e muito caros; foram identificadas

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como oportunidades únicas no mercado; ou, simplesmente, os executivos acreditam

que podem alcançar o sucesso onde outros falharam.

McGee (2006) corrobora com os pensamentos de Lynch e Lind quando diz

que as “aquisições oferecem uma maneira rápida de ganhar uma posição de

mercado em um produto já estabelecido” (McGEE, J. 2006, pp.1). Ele ainda

apresenta a ideia de que, em comparação com as outras formas de crescimento ou

diversificação, as aquisições superam as dificuldades relacionadas ao tempo e à

escassez de recursos para desenvolvimento interno.

Ele continua afirmando que, em indústrias maduras, com grande número de

concorrentes já estabelecidos, a entrada através de aquisição pode evitar uma

reação competitiva.

Penrose em sua obra clássica “The Theory of the Growth of the Firm”, de

1959, em que descreve as maneiras nas quais as empresas crescem e o quão

rápido elas o fazem, afirma que uma das formas de crescimento é através das

fusões e aquisições. No capitulo que estuda esse assunto, a autora afirma que em

princípio existem dois métodos de expansão de uma firma: através da construção de

um novo estabelecimento e da criação de novos mercados para si, ou então pela

aquisição de um estabelecimento e os mercados de alguma firma já existente. “Se

uma expansão planejada for considerada lucrativa independentemente das posições

vigentes de outros produtores ou na distribuição da propriedade de determinados

ativos produtivos, então a firma somente optará por crescer através de uma

aquisição se essa for considerada menos custosa do que uma expansão interna. Se

por outro lado for procurada uma mudança na posição dos produtores existentes ou

uma alteração na distribuição do controle de determinados ativos produtivos, as

aquisições poderão constituir o único meio para atingir esses objetivos. Em qualquer

caso, somente haverá aquisição se houver firmas desejosas de dispor de seus

ativos, incluindo seus privilégios, a um preço igual ou menor do que o seu valor para

potenciais compradores.” (PENROSE, E. 2006, pp.239-240) Em resumo, podemos

dizer que, sempre que a aquisição for considerada a melhor forma de crescimento

para uma empresa, ela certamente ocorrerá.

Já Bower (2001), em seus estudos sobre as atividades de M&A, patrocinados

pela Harvard Business School, identificou cinco razões pelas quais uma aquisição

pode ocorrer. Ele acredita que, conhecendo cada tipo, as chances de obter sucesso

são maiores. Os tipos apresentados são: Supercapacidade; Desdobramento

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geográfico; Extensão de linha de produto e mercado; Lógica de P&D (Pesquisa e

Desenvolvimento) e Convergência industrial.

A seguir, é apresentada uma breve descrição de cada tipo.

a) Supercapacidade

O objetivo estratégico da empresa adquirente é eliminar parte do excesso de

capacidade, ganhar participação no mercado e criar uma operação mais eficiente.

Esse tipo de aquisição é mais comumente identificado em indústrias maduras como,

por exemplo, automobilística, aço e petroquímica. O adquirente normalmente

encerra as operações das instalações menos competitivas, elimina os gestores

menos eficazes e racionaliza os principais processos. Com isso, a empresa

consegue ampliar sua participação no mercado, ter uma operação mais eficiente, ter

melhores gestores, maior influência no mercado e a indústria como um todo reduz o

excesso de capacidade.

b) Desdobramento geográfico

O objetivo estratégico deste tipo de aquisição é proporcionar a expansão

geográfica de uma empresa de sucesso mantendo suas unidades operacionais

locais, caso isso seja importante para seu relacionamento com os consumidores.

Esse tipo de aquisição, diferentemente do anterior, ocorre normalmente em

indústrias que ainda estão em estágios preliminares no seu ciclo de vida. Busca

alcançar economias de escala e escopo, normalmente associadas às grandes

indústrias. Costumeiramente, são do tipo de negócio ganha-ganha e, por isso, são

mais fáceis de obter sucesso. Ser adquirido por uma empresa grande pode auxiliar

uma menor a resolver uma gama de problemas, como: sucessão, acesso a capital e

tecnologias mais modernas, marketing em nível nacional e a ameaça de

competidores maiores. Já para o adquirente, as vantagens estão relacionadas à

oportunidade de entrar em mercados regionais e ter um gerenciamento local. Além

disso, a imposição dos seus processos possibilita a transformação dos negócios em

mais eficientes. As empresas de contabilidade, os bancos, as cadeias de hotéis e as

consultorias de tecnologia normalmente atuam desta forma.

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c) Extensão de linha de produto e mercado

O objetivo estratégico deste tipo de aquisição é ampliar a linha de produção

ou a cobertura internacional de uma empresa. Muitas vezes se assemelha com o

desdobramento geográfico, pois busca aquisições em cidades ou estados

adjacentes. Em geral, representa um movimento ainda maior, que é a

internacionalização dos mercados.

A obtenção de sucesso nesse tipo de aquisição depende, em parte, do

tamanho relativo das empresas envolvidas. Caso elas sejam do mesmo tamanho, os

problemas enfrentados serão similares ao de Supercapacidade. Por outro lado, se

os tamanhos forem bastante diferentes, as chances para o sucesso são grandes,

pois a maior imporia seus processos e valores à menor.

d) Lógica de P&D

Esse tipo de aquisição normalmente é utilizado por empresas de alta

tecnologia ou biotecnologia que, ao invés de desenvolver internamente em seus

setores de Pesquisa e Desenvolvimento, preferem comprar as tecnologias já

desenvolvidas por outras empresas. O principal objetivo é alcançar uma posição de

mercado de forma mais rápida. Como diz o presidente e CEO da Cisco, John

Chambers, “se você não dispõe dos recursos para desenvolver um componente ou

produto dentro de seis meses, terá que comprar o que precisa ou perderá a

oportunidade” (BOWER, 2001, pp. 99).

Do ponto de vista das empresas adquiridas, esse tipo de aquisição também

tem lógica, pois recebem uma grande quantidade de recursos financeiros que

possibilitam a manutenção do desenvolvimento de novas tecnologias. Além disso,

elas sabem que, por serem normalmente muito menores, não têm como competir de

forma igualitária. Então, ao invés de serem esmagadas pela concorrência, acabam

se aliando às grandes empresas para sobreviverem.

O grande desafio enfrentado pelas empresas adquirentes é a manutenção

das pessoas mais importantes da adquirida. O conhecimento desses indivíduos é

mais importante do que os produtos que eles desenvolvem. O verdadeiro ativo

adquirido é o conhecimento. Por isso, é muito importante que exista alguma forma

de manutenção dessas pessoas. Outro desafio é garantir que os funcionários da

adquirente não atrapalhem a aquisição, principalmente com a síndrome do “not

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invented here”, termo usado para descrever um comportamento de aversão à

compra e uso de produtos já existentes, normas ou conhecimentos por causa de sua

origem externa. Normalmente, é usado de forma pejorativa. As razões para não

querer usar o trabalho dos outros são variadas, mas podem incluir o medo por falta

de entendimento e a falta de vontade de valorizar o trabalho dos outros.

e) Convergência industrial

Esse tipo de aquisição, diferentemente das demais apresentadas

anteriormente, que alteravam o relacionamento entre os diferentes players de uma

indústria, “envolve a invenção de uma indústria ou de um modelo de negócios

baseado numa hipótese não comprovada: a de que grandes sinergias podem ser

alcançadas através da combinação de recursos de indústrias existentes, cujas

fronteiras parecem estar desaparecendo” (BOWER, 2001, pp.100).

O desafio deste tipo é maior do que os demais, pois o “sucesso não depende

somente de como você compra e integra, mas também, e principalmente, da aposta

que se faz a respeito das fronteiras da indústria” (BOWER, 2001, pp. 100).

2.2.3. Tipos de aquisição

Muitas fusões e aquisições podem ser consideradas de sucesso. Lynch e Lind

(2002) afirmam, a partir de suas pesquisas, que é possível identificar tipos de

aquisições, e que algumas parecem ser mais fáceis de serem gerenciadas e

apresentarem sucesso. Das pesquisas, surgiram duas dimensões – disparidade e

goodwill/boa vontade – que, combinadas, podem facilitar a identificação de

candidatas, o planejamento e o resultado da aquisição. Quando são organizadas em

um gráfico com dois eixos, essas dimensões identificam os diferentes tipos de

aquisição, assim como a abordagem que deve ser utilizada e a probabilidade de

sucesso.

Os autores definem disparidade entre os negócios como “o grau em que o

modelo de negócio básico das empresas é diferente ou similar” (LYNCH & LIND,

2002, pp.6). Por exemplo, se uma agência de viagens compra uma seguradora,

pode-se dizer que o grau de disparidade entre as duas é grande. Fusões e

aquisições entre negócios com produtos, mercados e canais de distribuição

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similares - disparidade baixa - tendem a ser mais bem sucedidas do que entre

negócios muito diferentes.

Já goodwill/boa vontade nos negócios é definido como “o prêmio pago” pela

adquirente devido “às expectativas de lucros futuros pagos pela empresa adquirida”

(LYNCH & LIND, 2002, pp.7). Alguns exemplos do que pode ser considerado são:

cultura organizacional, qualidade do corpo gerencial, os conhecimentos contidos na

empresa, e os relacionamentos com clientes e fornecedores.

Analisando a disparidade e o goodwill/boa vontade através do “modelo de

gerenciamento das fusões e aquisições” (Figura 2.3) pode-se identificar quatro tipos

de aquisições:

Aquisição planejada e próspera (The plan and prosper acquisition) Aquisição de retorno em longo prazo (The stand and hold acquisition)

Aquisição de fusão e crescimento (The merge and grow acquisition)

Aquisição de segmentação ou venda (The segment or sell acquisition)

Com exceção da aquisição de segmentação ou venda, não existe um tipo

melhor do que o outro. Eles são diferentes e, por isso, demandam abordagens

diferenciadas para alcançarem o sucesso.

Planejada e Próspera

Retorno em longo prazo

Fusão e Crescimento

Segmentação ou Venda

Alto Goodwill/ boa vontade

Baixo Goodwill/boa vontade

BaixaDisparidade

AltaDisparidade

Figura 2.3 Modelo de Gerenciamento das Fusão/Aquisição. Adaptação de Lynch & Lind, 2002.

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Lynch e Lind (2002) definiram cada um dos tipos da seguinte forma:

a) Aquisição planejada e próspera (Alto goodwill/boa vontade / Baixa disparidade)

Esse tipo de aquisição é caracterizado pela similaridade das indústrias, canais

de distribuição e mercados de atuação das duas empresas. Já as práticas de gestão

e as equipes de vendas apresentam expertises diferentes como, por exemplo, o

relacionamento com os clientes, que é uma forma de criar valor para as empresas.

Dessa forma, o planejamento adequado para a sucessão, a “mistura” de culturas

diferentes e os incentivos para que as pessoas contribuam para o sucesso da

aquisição são algumas estratégias que podem ser utilizadas.

De forma resumida, como a disparidade entre as duas empresas é baixa, é

importante identificar e reter o goodwill/boa vontade, pois é ele que garantirá o

relacionamento com os clientes e a manutenção do know-how da empresa.

b) Aquisição de retorno em longo prazo (Alto goodwill/boa vontade / Alta disparidade)

Este tipo de aquisição pode ser entendido como uma compra de ações como

forma de investimento de longo prazo. A principal preocupação da adquirente é

encontrar formas efetivas de medição da evolução dos negócios, assim como meios

de assegurar a transferência de conhecimento e a sucessão dentro da adquirida.

Por se tratar da aquisição de uma empresa de sucesso, é importante que isso seja

levado em consideração no momento em que a integração for pensada, pois a

tentativa de integração total pode levar à redução ou destruição de valor. A

mensagem deixada pelos autores é simples: “Não estrague o sucesso existente”.

c) Aquisição de fusão e crescimento (Baixo goodwill/boa vontade / Baixa

disparidade)

Este tipo de aquisição é considerado como o tipo clássico, pois sua estratégia

é ganhar market-share. A chave para o sucesso é a integração rápida e cuidadosa,

além da velocidade com que as redundâncias são cortadas. O objetivo principal é

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reduzir os gastos aos valores pré-aquisição enquanto busca-se a maximização das

receitas.

d) Aquisição de segmentação ou venda (Baixo goodwill/boa vontade / Alta disparidade)

Este tipo é o menos desejado pelos executivos por duas razões. Primeiro, os

gestores da aquisição têm pouca chance de alavancar seus conhecimentos do

negócio. Segundo, a empresa adquirida oferece poucos conhecimentos e

relacionamentos que possam ser úteis para o adquirente. Normalmente, este tipo de

aquisição ocorre quando a compradora tem interesse em realizar uma integração

vertical.

Estes diferentes tipos de aquisição demandam estratégias distintas para

serem bem sucedidas, porém elas estão fora do escopo de estudo deste trabalho.

Já Haspeslagh e Jemison (1991) observaram em suas pesquisas que, na

maioria das aquisições, há uma relação entre a estratégia da empresa e o

oportunismo da possibilidade de aquisição. Em um extremo, encontram-se as

aquisições “planejadas”, em situações onde há o planejamento sistemático, com

uma estratégia bem definida resultante desse processo de planejamento ou de

levantamento formal das possibilidades existentes no mercado.

No outro extremo, há as aquisições “oportunistas”, impulsionadas pela

oportunidade surgida no mercado, e não pela busca proativa, onde a justificativa do

processo não leva a esclarecimento da estratégia. Os autores defendem que as

aquisições diferem na questão de se tornarem verdadeiramente estratégicas ou não.

Definem como aquisições estratégicas aquelas nas quais a justificativa do processo

não sirva apenas para a aprovação da aquisição, “mas também para o

esclarecimento da estratégia na qual a aquisição está contextualizada e da base em

que a integração pode ser guiada” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.46).

Sintetizam, em outras palavras, que “oportunismo no início é bom, contanto que a

justificativa final esteja clara e definida” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.46).

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2.3. INTEGRAÇÃO PÓS-AQUISIÇÃO

Conforme destacam Haspeslagh e Jemison (1991), “enquanto há ingredientes

comuns no processo, cada aquisição se apresenta aos gestores de uma maneira

diferente e força uma escolha sobre a abordagem da integração” (HASPESLAGH &

JEMISON, 1991, pp.138).

Há duas dimensões que auxiliam na escolha da abordagem da integração:

sua relação com a empresa adquirida, ou seja, a natureza da interdependência que

deve ser estabelecida entre as empresas para viabilizar a transferência esperada de

capacitação estratégica, e a forma como se espera a criação de valor, isto é, como

preservar intactas essas capacitações adquiridas logo após a aquisição. Elas são

descritas a seguir.

a) Necessidade de Interdependência Estratégica

A criação de valor após a aquisição tende a ser um dos objetivos de uma

empresa ao adquirir outra. Para que o processo de aquisição seja bem conduzido,

devem ocorrer a análise, a negociação, a venda interna e, finalmente, o

entendimento de que operando juntas geram um valor que não ocorreria caso não

existisse a aquisição. Por outro lado, muitas vezes os gestores desse processo não

dão a devida atenção à integração como um todo, “por causa das incertezas sobre

os fundamentos do negócio adquirido, em função das diferenças organizacionais ou

culturais, ou pelo medo de serem rejeitados” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991,

pp.139).

A transferência das capacitações estratégicas, essencial para a geração de

valor, demanda a geração e a administração das interdependências entre as

empresas. Os autores indicam, no entanto, que essa interação é dificultada pelos

gerentes da empresa adquirida que, naturalmente, desejam manter suas identidades

e formas de trabalho. Sendo assim, um fator determinante no processo de

integração é a natureza da interdependência entre as empresas e como essa

dependência recíproca é gerenciada.

A natureza da interdependência na aquisição depende da forma como o valor

será criado. Como o valor pode ser criado de acordo com o tipo de capacitação

transferida, isso pode ocorrer através do compartilhamento de recursos

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operacionais, da transferência de habilidades funcionais ou da transferência de

habilidades gerenciais. Ainda pode ocorrer através da combinação de benefícios

sem transferência de capacitações, mas com benefícios puramente financeiros.

A transferência das capacitações através do compartilhamento de recursos

implica em um processo de dissolução total das fronteiras entre as áreas que serão

compartilhadas pelas empresas. Dessa forma, o valor é criado através da

combinação das duas entidades em nível operacional, de forma que praticamente se

sobreponham e as duplicidades sejam eliminadas.

A criação de valor pela transferência de habilidades funcionais ocorre de

maneira diferente, já que as habilidades são inerentes a pessoas, grupos de

pessoas, práticas e procedimentos. Ela pode acontecer pela transferência das

pessoas nos limites das organizações ou, ainda, através do compartilhamento de

informações, conhecimentos técnicos e funcionais entre as empresas.

O valor também pode ser criado com a transferência de habilidades

gerenciais através da melhora na prática estratégica ou operacional, de

coordenação ou controle das atividades. Eles podem ocorrer de duas formas:

envolvimento direto na tomada de decisão das empresas ou através da utilização de

tecnologia, conceitos e processos de trabalho, uma da outra, de forma a melhorar a

sua atividade operacional e administrativa.

A combinação de benefícios, apesar de não ser uma forma de transferência

de capacitações, pode também contribuir. Isso ocorre através da geração de

benefícios econômicos ou de abrangência, que podem viabilizar outras atividades e

acelerar o crescimento da empresa constituída.

A pesquisa de Haspeslagh e Jemison (1991) sugere que, independente da

variedade e quantidade de sinergias possíveis, o importante é reconhecer um dos

tipos de transferência de capacitação como sendo a dominante na criação inicial de

valor. É através dela que se poderá determinar o grau de interdependência

estratégica necessária para que o processo de integração seja bem conduzido.

b) Necessidade de Autonomia Organizacional

Tão importante quanto o processo de transferência das capacitações

estratégicas é a manutenção das mesmas durante e após o processo de integração.

Entretanto, um dos paradoxos apresentados pelos autores foi que o próprio

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recebimento das capacitações pode destruí-las. De acordo com seus estudos,

“enquanto a transferência de capacitações requer diferentes graus de ruptura ou

dissolução das fronteiras (entre as empresas), a preservação das capacitações

requer proteção dessas fronteiras e, consequentemente, autonomia organizacional”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.142).

O que ocorre nessas circunstâncias é que, em função das pressões por

tomada de decisão e planejamento da integração, os gestores envolvidos no

processo acabam comprometendo-se com determinadas atitudes futuras para

conseguir a adesão e aceitação da aquisição pelos gestores da empresa adquirida.

Muitas dessas atitudes, porém, podem não ser cumpridas em função da realidade

encontrada ou ainda podem ser cumpridas e prejudicar o processo de integração.

Haspeslagh e Jemison condenam essa prática. Eles defendem que as

pessoas devam, sim, ser respeitadas, mas que isso não é sinônimo de fazer tudo o

que elas desejam apenas para obter “aprovações” por parte da organização

adquirida: “se os gestores perdem a noção de que a tarefa estratégica de uma

aquisição é a criação de valor, eles podem conceder muito rapidamente a autonomia

ou incorrer no perigo ‘sem mudanças - porém todas as sinergias esperadas’”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.143).

Um dos maiores desafios de um gestor é saber lidar com a necessidade de

autonomia organizacional pós-aquisição. Os autores sugerem três questões que

podem facilitar a identificação do grau de autonomia mais adequado para cada

situação (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.143):

“(i) a autonomia organizacional é essencial para preservar a capacitação

estratégica que compramos?

(ii) caso positivo, que grau de autonomia deve ser permitido?

(iii) em quais áreas especificamente a autonomia é importante?”

A sugestão é que a autonomia deva ser dada à unidade adquirida se a

sobrevivência das capacitações estratégicas nas quais a aquisição está baseada

dependa da preservação da cultura organizacional de onde veio. Traduzindo, o

importante não é o grau de diferença entre as culturas da empresa adquirente e da

adquirida, e sim “se a manutenção dessas diferenças, em longo prazo, irá servir

como um objetivo útil” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.144).

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Há situações em que uma grande autonomia para a empresa é importante,

quando a adquirente não tem experiência em certo negócio e as habilidades

encontradas na adquirida são inseparáveis da cultura em que se encontram.

Há outros casos em que, pelo contrário, as diferenças organizacionais não

estão como no contexto de benefícios esperados. Existem ainda as situações

mistas, onde a proteção é importante somente nas áreas ou unidades de negócio

em que as capacitações são importantes.

Os gerentes envolvidos nas aquisições dificilmente possuem informações

para julgar a cultura da empresa a ser comprada e o grau de similaridade entre as

organizações previamente à compra. Sendo assim, a abordagem sugerida é a de

“dar um foco inicial nas capacitações estratégicas que devem ser mantidas”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.145). Esse foco facilita aos gerentes a

distinção entre as necessidades estratégicas e as desejadas com a aquisição e,

além disso, auxilia também na análise de custo-benefício de se dar ou não a

autonomia à empresa comprada.

2.3.1. Tipos de abordagem da integração

Analisando as dimensões apresentadas, Haspeslagh e Jemison (1991)

sugerem três abordagens a elas relacionadas dentro do processo de integração. Ou

seja, os tipos de abordagem da integração dependem do nível de autonomia

organizacional demandada e da necessidade de dependência recíproca estratégica,

conforme pode ser observado na Figura 2.4.

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Preservação Simbiose

?? Absorção

Necessidade de interdependência estratégica

Nec

essid

ade

de a

uton

omia

Alta

Alta

Baixa

Baix

a

Figura 2.4 Tipos de integração pós-aquisição. Adaptação de Haspeslagh & Jemison, 1991.

A análise dos níveis de autonomia organizacional e interdependência

estratégica é bastante útil, visto que auxilia uma companhia a determinar as formas

mais adequadas para a transferência e manutenção das capacitações entre as

empresas. Ou seja, são decisões sobre a abordagem da integração que melhor se

adequará dentro do cenário encontrado.

Apenas um dos quadrantes não foi estudado por Haspeslagh e Jemison –

destacado pelo símbolo ‘??’. Ele se refere a aquisições onde a empresa não possui

interesse de integrar e criar valor com algo, exceto ganhos financeiros e

compartilhamento de riscos.

Por isso, foram denominadas atividades de “manutenção”. Será descrito o

passo-a-passo sugerido por Haspeslagh & Jemison para uma integração focada na

geração de valor em função de cada uma das abordagens.

a) Absorção

Aquisições com integração do tipo absorção são aquelas que possuem alta

necessidade de interdependência estratégica, porém baixo grau de autonomia

organizacional para atingi-la. Nesse caso, a integração implica numa consolidação

total das operações, cultura e organização das duas empresas.

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O objetivo dessa forma de aquisição é dissolver quaisquer fronteiras, virtuais

ou não, entre as empresas. A chave do sucesso dessa integração passa “a ser

muito mais uma questão de tempo do que o quanto de integração deve ocorrer”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.147). Devido a esse fato, a empresa

adquirente deve ter em mente suas convicções e habilidades para conseguir

absorver o valor esperado das capacitações e, simultaneamente, ter cuidado com

aspectos culturais que possam limitar e dificultar a não autonomia organizacional.

b) Preservação

Na preservação há uma alta necessidade de autonomia organizacional,

porém baixa interdependência estratégica entre as empresas adquirente e adquirida.

O mais importante nesse processo é a manutenção da fonte dos benefícios

adquiridos intacta.

Em aquisições do tipo preservação é importante identificar como o valor pode

ser criado dado o preço pago pela transação. Nesse tipo de aquisição, a tendência

natural é entender os benefícios como recursos, geralmente financeiros, angariados

à empresa compradora pela comprada. Os autores destacam, porém, que, “nos

casos bem sucedidos de (aquisições do tipo) preservação, o dinheiro não foi o

principal fator” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.148). Segundo eles, o valor

nessas aquisições pode ser traduzido como “educação”, ou seja, “criado através de

uma série de interações que trouxeram mudanças positivas na ambição, tomada de

risco e profissionalização do corpo gerencial da empresa adquirida” (HASPESLAGH

& JEMISON, 1991, pp.148-149).

c) Simbiose

O processo de simbiose é dos mais complexos em termos de desafios

gerenciais. Conforme pode ser visualizado na Figura 2.4, ele demanda tanto alto

grau de interdependência estratégica como de autonomia organizacional, ou seja, a

transferência das capacitações deve ocorrer, porém devem ser preservadas em

contexto diferente do existente na empresa adquirente.

Nesta situação, ambas as empresas continuam a existir e tornam-se

reciprocamente dependentes. Esse processo leva tempo e exige cuidados, em

função da dificuldade de se manter a cultura e a organização das empresas

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enquanto as capacitações são transferidas. Para a integração do tipo simbiose ser

bem sucedida, as empresas devem buscar extrair as qualidades originais uma da

outra.

2.3.2. Gerenciamento da Integração

Como é possível gerar valor através de uma aquisição? Julian Birkinshaw

(1999), em seu artigo, afirma que a resposta para muitos managers é que a criação

de valor se dá depois da formalização do negócio, através do processo de

racionalização dos ativos, das atividades de integração e da mudança de cultura dos

empregados. Mas qual desses processos deve ter a prioridade? Esse é um dos

principais dilemas que a maioria dos managers envolvidos em uma aquisição deve

enfrentar.

Birkinshaw (1999) afirma que, nos últimos anos, a literatura sobre o processo

de integração pós-aquisição apresenta um novo componente que é a velocidade.

Não importa qual será a prioridade dos managers, desde que seja feito rapidamente.

Ele cita diversos autores que falam sobre isso, entre eles está Feldman (1995, apud

BIRKINSHAW, 1999) que diz que “esse é um período para movimentação rápida: o

melhor momento para mudança é quando a mudança já está ocorrendo”. Já Galpin

e Robinson (1997, apud BIRKINSHAW, 1999) dizem que “os adquirentes mais bem

sucedidos são aqueles que se arriscam antes da reviravolta em detrimento da perda

certeira por inatividade”. Smith e Quella (1995, apud BIRKINSHAW, 1999) afirmam

que a integração pós-aquisição é “como arrancar um Band-Aid: pode ser demorado

e dolorido, ou rápido e indolor”.

Existe uma categoria especifica de aquisição que deve ser tratada de forma

diferenciada: aquela em que o conhecimento da empresa adquirida é um ativo

crítico. Nesse caso, um processo de integração lento e focado inicialmente na

“integração das pessoas” é o mais propenso ao sucesso. O autor diz que as

“aquisições de conhecimento intensivo devem ser controladas com mais cuidado”

(BIRKINSHAW, 1999, pp.33), pois tratam com os profissionais que detém o

conhecimento da empresa.

Com foco nas empresas de conhecimento intensivo, o autor apresenta um

framework para a integração.

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2.3.2.1. Caminhos para a integração

Embora uma distinção simples entre rápido e devagar possa ser utilizada para

caracterizar a maioria dos processos de integração, Birkinshaw (1992) afirma que a

realidade é mais complexa porque diversos processos ocorrem concomitantemente.

Baseado nisso, o autor desenvolveu um framework em que o processo de

integração possa seguir por dois objetivos distintos: a integração das tarefas e a

integração das pessoas.

A integração das tarefas se refere a como as atividades das duas empresas

serão combinadas para gerar maior sinergia (adição de valor). Isso envolve a

transferência de aptidões (capabilities) de uma empresa para a outra, e o

compartilhamento dos recursos entre as duas. Tipicamente, envolve a

racionalização das atividades, através de downsizing e da venda de ativos.

Já a integração das pessoas se refere ao processo de gerar satisfação – e,

em consequência, uma identidade compartilhada – entre os funcionários da nova

empresa que se formou através da aquisição. No período imediatamente após a

formalização da aquisição, a integração das pessoas deve evitar qualquer tipo de

atitude negativa que a mudança e a incerteza possam trazer. Nos anos seguintes,

esta integração tem como objetivo gerar uma cultura organizacional unificada.

Birkinshaw (1999) diz que, muitas vezes, as duas formas de integração são

conflitantes. Porém, o objetivo final das duas é muito claro (mesmo que difícil de ser

alcançado): uma aquisição bem sucedida. Desta forma, a rota que será seguida para

alcançar o objetivo, assim como os trade-offs de cada uma, são fontes de conflitos

contínuos entre as pessoas responsáveis pelo processo de integração.

A figura 2.5 apresenta o framework de integração das atividades e das

pessoas.

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Figura 2.5 Framework de Integração. Adaptação de Birkinshaw, 1999.

O caminho “Low Road” é aquele que busca, inicialmente, a integração das

atividades para alcançar as sinergias no processo. Somente em seguida é que a

integração das pessoas com a nova organização é realizada. No caminho “High Road”, ao contrário do anterior, a busca inicial é pela integração das pessoas, sendo

a integração das tarefas deixada para um segundo momento. Esse é um caminho

mais demorado, pois trata das questões humanas antes das questões financeiras.

Birkinshaw (1999) afirma que o caminho “Low Road” pode parecer mais curto,

com a promessa de sinergias imediatas. Porém, se os gestores desconsiderarem os

valores e expectativas dos funcionários, podem acabar criando um processo de

integração mais demorado e com mais problemas. As empresas que decidem pelo

“High Road”, por outro lado, abordam as dificuldades primeiramente das questões

humanas e, depois que estas estão solucionadas, iniciam o processo de busca por

sinergias. O foco da pesquisa do autor está na “High Road” e ele subdivide esse caminho em três fases distintas, conforme a Figura 2.6.

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Figura 2.6 Fases do processo “High Road”. Adaptação de Birkinshaw, 1999.

Fase 1. Ações Iniciais: os primeiros passos para reafirmar a importância dos

funcionários da empresa adquirida e envolvê-los na tomada de decisão da nova

organização são tomados pela gerência da empresa adquirente. Essa fase pode ser

iniciada antes do fechamento do negócio e durar mais de seis meses depois da

oficialização. As principais atividades nessa fase são:

Criar uma liderança para a integração (pessoa ou grupo de pessoas), cuja

principal responsabilidade é gerenciar todo o processo de integração.

Convencer os funcionários da empresa adquirida que eles têm um papel

fundamental a desempenhar na nova organização.

Designar responsabilidades claras para as unidades adquiridas, mesmo que

isso represente a duplicação de atividades.

Fase 2. Acompanhamento:

Enfatizar as interações entre a empresa adquirida e adquirente, pois serão

úteis na evolução da integração das pessoas e das tarefas.

Buscar a integração das tarefas após a integração das pessoas estar

avançada.

Estar preparado para seguir o fluxo dos problemas que aparecerão da

integração das tarefas.

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Fase 3. Segunda Onda: possivelmente essa fase só ocorre na “High Road”.

Uma segunda onda de integração pode ocorrer de três a cinco anos depois da

aquisição. Ela consiste em um esforço para melhorar a eficiência operacional ou a

integração das tarefas. Ela só é possível porque a integração das pessoas já foi

realizada e elas conseguem entender o motivo das mudanças estarem ocorrendo.

As principais atividades nessa fase são:

Avaliar periodicamente os resultados do processo e verificar se uma segunda

onda de integração deve ser feita ou não.

Focar nas atividades de integração das tarefas que não foram tratadas

imediatamente após a aquisição.

Garantir que uma segunda onda não seja percebida pelos funcionários da

empresa adquirida como uma tentativa de centralização por parte da empresa

adquirente.

Birkinshaw (1999) afirma que a decisão de seguir pela “High Road” é mais

indicada quando a empresa adquirida é intensiva em conhecimento, pois seus

principais ativos são as pessoas. Dessa forma, o caminho mais longo e cauteloso é

o mais recomendado, pois considera as questões das pessoas antes de buscar as

sinergias. Porém, o autor diz que outros fatores podem influenciar na decisão de

qual caminho seguir como, por exemplo, o objetivo da aquisição, a pressão de

diferentes grupos de stakeholders e as diferenças na cultura organizacional das

empresas.

2.3.2.2. Características do “Integration Manager”

Conforme descrito por Birkinshaw (1999), uma das atividades que deve ser

realizada na fase denominada de “Ações Iniciais” é a criação de uma liderança para

a integração, cuja principal responsabilidade é gerenciar todo o processo. Os

autores Ronald N. Ashkenas e Suzanne C. Francis escreveram um artigo, em 2000,

intitulado “Integration Managers: Special Leaders for Special Times” que apresenta os papeis e as principais características de um bom “integration manager”. Eles

sugerem que a existência dessa figura pode ser uma solução para o fato de que

“menos da metade de todas as operações de fusão e aquisição consigam alcançar

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os resultados financeiros e estratégicos definidos” (ASHKENAS & FRANCIS, 2000).

Esse insucesso se deve a diversos fatores, como: o time que realiza a due-dilligence

adquire conhecimento da empresa a ser comprada, mas depois do negócio fechado

não tem nenhum envolvimento na integração das duas empresas; ou um time de

gestores é indicado para gerir a empresa, mas ninguém é formalmente responsável

pelo processo de integração. Baseado nessas experiências, Ashkenas e Francis

(2000) sugerem a criação do “integration manager” que é o responsável por guiar a

empresa durante o processo de integração. Porém, para desempenhar essa tarefa é

preciso um novo tipo de líder, alguém que seja capaz de resolver situações

complexas rapidamente, que tenha bom acesso a diferentes níveis hierárquicos, que

faça as pontes entre as culturas e percepções diferentes e, principalmente, que

auxilie os funcionários a alcançar os resultados de negócio esperados no curto-

prazo.

Para que isso seja possível, esse líder deve apresentar uma série de

características que foram enumeradas pelos autores. São elas:

a) Conhecimento profundo da empresa que está fazendo a aquisição – é

necessário ter conhecimento das pessoas chave, as políticas, a cultura, o que a

empresa entende como sucesso, etc.

b) Não querer levar os créditos pela integração – o papel do integrador é fazer

com que a integração seja feita da melhor maneira possível. Os créditos pelo

sucesso são dos executivos, gerentes e staff. c) Confortável com o caos – muitas vezes, o papel do integrador é muito

parecido com um gerente de projetos. Ele precisa orquestrar todas as atividades e

“colocar a maquina para rodar”.

d) Ter independência – apesar de o trabalho ser considerado “pesado” (várias

horas por dias), o integrador deve ter em mente que ele será responsável por tomar

decisões de forma isolada. Ele não pode contar com a ajuda de outras pessoas para

apoiarem as decisões do que deve ou não ser feito.

e) Ter inteligência emocional e cultural – é preciso entender que o processo

de integração é feito com pessoas e não máquinas. Tem que saber balancear entre

o que as pessoas “querem” fazer e aquilo que é preciso fazer. É uma questão de

equilíbrio.

Por se tratar de uma posição que lida com constantes mudanças, o

“integration manager” também enfrenta diversos desafios. O maior deles é a

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definição do seu próprio papel, ou seja, a necessidade de mapear quais as suas

principais atribuições (job description). Além disso, ele também precisa realizar a

integração da forma mais rápida possível, criar a estrutura necessária para as

equipes operarem efetivamente, facilitar as conexões sociais entre as pessoas das

duas empresas e, principalmente, orquestrar o sucesso tangível rapidamente.

2.3.3. Níveis de Integração

Busca realizada na literatura não identificou trabalhos que fizessem menção a

diferentes níveis de integração entre duas empresas após a realização de um

processo de aquisição. Dessa forma, foi necessário recorrer a autores que tratassem

de assuntos que pudessem ser utilizados como inspiração para a criação de uma

graduação. O autor escolhido foi Edgar Schein, responsável pelo desenvolvimento

do modelo de cultura organizacional, onde a cultura da empresa poderia ser

compreendida através de três níveis de profundidade.

Em Organizational Culture and Leadership, de 2004, Schein reserva um

capitulo para tratar dos diferentes níveis de cultura organizacional. Segundo o autor,

a cultura da organização pode ser analisada de acordo com grau em que o

fenômeno é visível ao observador. Esses níveis perpassam desde manifestações

tangíveis e abertas, passíveis de serem vistas e sentidas (os artefatos), até seu

extremo oposto, ou seja, aqueles níveis profundamente arraigados, inconscientes,

que constituem as premissas básicas e são a essência da cultura. Nesses dois

extremos transitam os valores adotados, normas e regras de comportamento que os

membros da cultura utilizam como meio de representar a cultura para si próprios e

para pessoas de fora daquele ambiente.

Dessa forma, o autor elaborou um modelo com três níveis distintos, artefatos,

valores adotados e premissas, conforme Figura 2.7.

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Artefatos

Valores adotados

Premissas

Processos e estruturas organizacionais visíveis

Estratégias, objetivos, filosofias

Percepções, pensamentos e sentimentos inconscientes e arraigados e inquestionáveis

Figura 2.7 Níveis de cultura. Adaptação de Schein, 2004.

a) Artefatos

Segundo Schein (2004), no nível mais superficial estão os artefatos, que

incluem todas as manifestações que são visíveis, audíveis e sentidas quando se tem

o primeiro contato com uma cultura desconhecida. Incluem ainda os produtos

visíveis do grupo tais como a arquitetura do ambiente físico, a linguagem, a

tecnologia e os produtos, as criações artísticas e os estilos tais como os

apresentados em roupas, a gentileza, as emoções, os mitos e as histórias sobre a

organização, os valores publicados, os rituais observáveis e as cerimônias, dentre

outros. Para os propósitos de análise cultural, esse nível também inclui o

comportamento visível do grupo e os processos organizacionais, nos quais tal

comportamento é introduzido na rotina. O aspecto mais importante sobre esse nível

de cultura é a facilidade de ser observado e a grande dificuldade de ser decifrado.

Ou seja, um observador pode descrever facilmente tudo aquilo que ele vê e sente

em uma organização, porém não consegue captar o que os artefatos significam em

um dado grupo cultural ou mesmo se eles refletem importantes premissas básicas.

b) Valores Adotados

O segundo nível de análise cultural foi denominado por Schein (2004) de nível

dos valores adotados. Quando um grupo é criado ou enfrenta uma nova tarefa,

problemas ou desafios, a primeira solução proposta reflete as premissas individuais

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de alguns membros do grupo sobre o que é certo ou errado e o que funcionará ou

não. Os indivíduos que prevalecem, que podem influenciar o grupo a adotar certa

abordagem do problema, são identificados como líderes ou fundadores. Porém, o

grupo ainda não tem nenhum conhecimento compartilhado em função de não

possuir uma ação consensual para o novo problema. Portanto, nesse caso, o que

quer que seja proposto somente pode ter o status de valor sob a ótica do grupo,

independentemente de quão convincente o proponente seja ou acredite naquela

solução. Até que o grupo como um todo tenha realizado a ação e observado seus

resultados, não há nada que corrobore que aquela ação seja a mais adequada.

Schein (2004) apresenta um exemplo em seu trabalho que ilustra essa

situação. Se as vendas de uma organização nova, ainda em desenvolvimento,

começam a apresentar sinais de declínio, o gerente pode sugerir um investimento

maior em propaganda, porque ele acredita que essa ação aumente as vendas. O

grupo, por não ter experimentado essa situação anteriormente, encarará a ação

como uma declaração de valor do gerente. Na realidade, o que ele propôs poderia

ser questionado, debatido, desafiado e testado. Porém, se o gerente convence o

grupo sobre a validade daquela ação e ela funciona e se o grupo compartilha a

percepção de sucesso, então o valor percebido de que a propaganda aumenta as

vendas inicia um processo de transformação cognitiva. Num primeiro momento,

haverá a transformação em um valor compartilhado ou crença e, finalmente, em uma

premissa compartilhada (se a ação continuar a ser bem sucedida durante o tempo).

Esse processo de transformação ocorrerá se a solução proposta continuar a

funcionar, implicando em grande medida a correção da ação e, portanto, refletirá um

preciso retrato da realidade. Assim, os membros do grupo tenderão a esquecer de

tudo aquilo que eles não tinham certeza e que o curso de ação proposto foi debatido

e questionado.

Nem todos os valores sofrem tal sequência de transformação. A solução

baseada em um valor dado pode não funcionar de modo confiável. Somente valores

que são suscetíveis de validação social ou física e que continuam a funcionar

daquele modo na solução dos problemas se tornarão premissas. A seara dos

valores diz respeito a elementos menos controláveis do ambiente ou relacionados a

assuntos pertinentes às esferas moral e estética, que não podem ser testadas. Em

tais casos, o consenso através da validação social é possível, porém não se realiza

automaticamente. Por validação social entende-se que certos valores são

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confirmados somente pela experiência social compartilhada do grupo. Validação

social também se aplica àqueles valores mais universais, que envolvem relações

com o ambiente, porém de forma não empírica ou testável, tais como a religião, a

ética e a estética.

Nesse sentido, o grupo aprende que tais valores, como inicialmente

promulgados por profetas, fundadores e líderes, trabalham no sentido de reduzir

incerteza em áreas críticas no funcionamento do grupo. E, à medida que continuam

a funcionar, transformam-se em premissas não questionáveis (às vezes, dogmas)

embasadas em conjuntos articulados de crenças, normas e regras operacionais de

comportamento. As crenças e regras morais e éticas permanecem no nível

consciente e são explicitamente articuladas, porque servem como guias

normativo/morais para lidar com certas situações-chave e como treinamento para os

novos membros. Consequentemente, um conjunto de valores incorporados numa

ideologia ou filosofia organizacional pode servir como guia e um meio de lidar com a

incerteza de eventos intrinsecamente incontroláveis ou difíceis.

Valores expressos no nível consciente predizem muito do comportamento que

pode ser observado no nível dos artefatos. Porém, se esses valores não são

baseados em aprendizagem prévia, eles podem refletir o que Argyris e Schon (1978,

apud SCHEIN, 2004) chamaram de valores adotados, que predizem precisamente o

que as pessoas dirão em uma variedade de situações, porém contradizem o que

elas realmente fazem em situações onde aqueles valores deveriam ser

operacionais. Assim, uma empresa pode ter um discurso que valoriza o pessoal e os

altos padrões de qualidade para seus produtos, mas a realidade contradiz seu

discurso.

Se os valores adotados são razoavelmente congruentes com as premissas

básicas, então a articulação desses valores em uma filosofia operacional pode ser

útil em conduzir o grupo para um objetivo comum, servindo como fonte de identidade

e missão. Porém, ao analisar valores, deve-se discriminar cuidadosamente aqueles

que são congruentes com as premissas básicas daqueles que são somente

racionalizações ou aspirações para o futuro.

Frequentemente, uma lista de valores não é padronizada, alguns se

contradizem e são contraditórios com o comportamento observado. Assim, muitos

aspectos do comportamento não são explicados, deixando uma sensação que é

possível entender uma particularidade da cultura, mas não tê-la sob controle. Para

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isso, deve-se penetrar no nível mais profundo de compreensão: o nível das

premissas básicas.

c) Premissas

Quando a solução para um problema funciona repetidamente, ela é aceita

como verdadeira. O que foi uma hipótese, apoiada por intuição ou sentimentos,

passa a ser encarada como verdade. Os membros do grupo são levados a crer que

o mundo funciona daquela maneira. Segundo Kluckhohn e Strodtbeck (1961, apud

SCHEIN, 2004) as premissas básicas, nesse sentido, são diferentes do que os

antropólogos chamam de orientações dominantes de valor, as quais refletem a

solução preferida entre diversas alternativas básicas e qualquer membro da cultura

poderia, de tempos em tempos, comportar-se de acordo com as variantes, bem

como com as orientações dominantes.

Quando uma solução torna-se ou é aceita como uma verdade, há pouca

variação dentro de uma unidade cultural. De fato, se uma premissa básica está

fortemente incorporada num grupo, seus membros repelirão qualquer outro

comportamento baseado em outra premissa, como simplesmente inconcebível. Por

exemplo, um grupo que tem como premissa básica que os direitos individuais

suplantam àqueles do grupo achará inconcebível que alguém cometa suicídio ou se

sacrifique em nome do grupo. No sistema capitalista, não se concebe que uma

empresa opere consistentemente sem lucro ou que não se preocupe se seus

produtos funcionam ou não.Argyris e Schon (1974, apud SCHEIN, 2004) afirmam

que as premissas básicas são similares ao que denominaram teorias em uso, ou

seja, as premissas implícitas que realmente norteiam o comportamento, que dizem

aos membros do grupo como perceber, pensar e sentir acerca das coisas.

As premissas básicas, como as teorias em uso, tendem a ser aquelas que

não são questionadas e sequer debatidas e, portanto, são extremamente difíceis de

mudar. Para aprender alguma coisa nova nesse campo, requer-se a recriação, o

reexame e possivelmente a mudança de algumas das mais estáveis porções da

estrutura cognitiva, um processo que Argyris e Schon (1974, apud SCHEIN, 2004)

chamou de aprendizagem de duplo loop ou ruptura da estrutura (). Tal

aprendizagem é intrinsecamente difícil porque o reexame das premissas básicas

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desestabiliza a estrutura cognitiva e interpessoal, causando grande ansiedade e

stress.

Em vez de administrar tais níveis de ansiedade, criam-se mecanismos que

fazem a congruência entre elementos e premissas, mesmo que signifique distorcer,

negar, projetar ou, em outras palavras, falsificar para si próprio o que está

acontecendo. É nesse processo psicológico que a cultura, em essência, exerce seu

poder. A cultura, como um conjunto de premissas básicas, define no que se deve

prestar atenção, qual o significado das coisas, como reagir emocionalmente para o

que está acontecendo e quais ações tomar em uma variedade de situações.

Uma vez desenvolvido e integrado o conjunto de premissas, que pode ser

chamado de modelo mental ou mapa mental, os membros do grupo estarão

confortáveis com outros que compartilham das mesmas premissas e desconfortáveis

e vulneráveis em situações onde operam premissas diferentes, ou porque não se

entende o que está acontecendo ou pior, por má interpretação e má percepção das

ações de outros.

A mente humana requer estabilidade. Portanto, qualquer desafio ou

questionamento de uma premissa básica resultará em ansiedade e resistência.

Nesse sentido, as premissas básicas que compõem a cultura de um grupo podem

ser encaradas nos dois níveis - individual e de grupo - como mecanismos de defesa,

que permitem que o grupo continue a funcionar. O reconhecimento dessa conexão é

importante quando há necessidade de mudar a cultura de um grupo, uma vez que

não é mais fácil mudar o comportamento grupal do que o individual.

2.4. RESULTADOS

Segundo Haspeslagh e Jemison (1991), os resultados obtidos ao longo do

tempo propiciam aos gestores das empresas a oportunidade de aprender a lidar com

as aquisições e quais delas devem ser evitadas. Os autores afirmam que “algumas

empresas realizam esforços para a criação de mecanismos sistemáticos de

aprendizado com cada aquisição. Já outras, ao contrário, deixam seus gestores

aprenderem por experiência própria ou fazem generalizações superficiais sobre o

que aconteceu nas aquisições passadas” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991,

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pp.13). Esse segundo tipo de empresa, normalmente, enfrenta aquisições mal

sucedidas e não tem a capacidade de aprender com os próprios erros.

De forma geral, a realização de uma aquisição permite às empresas

desenvolverem novos “insights” sobre o seus direcionamentos estratégicos. Ou seja,

as aquisições acabam influenciando a organização como um todo, e não somente os

setores envolvidos na aquisição.

2.5. PROBLEMAS DE PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO

Uma série de problemas pode ocorrer durante o processo de tomada decisão,

que pode afetar diretamente a aquisição. Haspeslagh e Jemison (1991) apontam

quatro problemas associados à tomada de decisão e que limitam as empresas no

desenvolvimento de justificativas bem definidas para a aquisição.

a) Perspectivas fragmentadas

Muitas vezes, durante estudo para a tomada de decisão da aquisição,

especialistas externos de determinadas áreas são contratados. Durante o

desenvolvimento desses estudos, o que ocorre é o isolamento de cada um deles,

gerando recomendações sem nenhuma coordenação com o trabalho como um todo.

Além disso, a delegação a especialistas que não conhecem a fundo a organização,

acaba resultando, segundo pesquisa de Haspeslagh & Jemison, na “ênfase na

quantificação das estimativas financeiras ao invés de considerações estratégicas e

organizacionais mais abrangentes” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.59).

Através dessa perspectiva dividida, torna-se difícil também aos gestores

envolvidos na aquisição possuírem uma visão geral da transação. Considerando-se

esse contexto, de vários especialistas com visões superficiais da organização e

pressões sobre tempo e acurácia de diagnóstico, as organizações são, assim,

afetadas em seus processos de tomada de decisão em função de perspectivas

fragmentadas.

Um aspecto adicional que corrobora esse problema na tomada de decisão é a

atenção dada pelo corpo diretivo das empresas a assuntos que são mais facilmente

quantificáveis e de simples comunicação. Em resumo, assuntos financeiros e de fácil

interpretação são priorizados em detrimento de questões qualitativas, voltadas aos

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aspectos estratégicos e organizacionais, e suas implicações durante o processo de

integração.

Os autores destacam, ainda, que a análise financeira, apesar de baseada em

ferramentas bem estruturadas de avaliação de empresas, não passam de

estimativas, já que se fundamentam em sua totalidade em premissas que podem vir

a não ocorrer. Apesar de serem técnicas detalhistas, os modelos quantitativos

geralmente são priorizados em função de sua padronização, isto é, da possibilidade

de serem desenvolvidos facilmente por pessoas (consultores) externas à

organização, enquanto modelos de análise organizacional para aquisições são “mais

subjetivos e, logo, mais abertos a desafios” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991,

pp.61).

b) Aumento na percepção de tempo

A pressão do tempo próximo a uma transação sempre existe, mesmo com

barreiras apresentadas no momento da tomada de decisão de uma aquisição.

Haspeslagh e Jemison (1991) sugerem, pelas suas pesquisas, que existem forças

que aceleram a percepção de tempo e outras que o tornam mais lento. Eles indicam

que as forças que aceleram essa percepção em um processo de aquisição tendem a

ser mais fortes que as que o desaceleram.

O resultado é que, geralmente, há um desejo de agilizar o processo de

aquisição até o momento de se fechar o acordo. O que ocorre nesses casos,

contudo, é a geração de problemas de longo prazo, em função de soluções

prematuras e, muitas vezes, impactando em dificuldades no processo de integração.

Os autores apresentam algumas forças que, segundo eles, pressionam a construção

da percepção de tempo nos processos de aquisição, relatadas a seguir.

i) Aumento do comprometimento das pessoas

Dependendo da pessoa envolvida, pode ocorrer de diferentes maneiras. Os

gerentes envolvidos no processo tendem a fazê-lo da maneira mais ágil e imediata

possível, por entenderem a importância de processos de aquisição em suas

organizações e, certas vezes, até para melhorar suas reputações. Os CEOs, para

provar suas responsabilidades e resultados, tendem também a tornar o processo

mais veloz. Finalmente, até nas empresas a serem compradas essa situação tende

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a ocorrer, já que muitos querem que o processo de transição seja o mais rápido e

menos penoso possível e outros, mostrando resultados, entendem que terão assim

garantia de manutenção de suas posições na nova organização.

ii) Confidencialidade e pressão

A tomada de decisão nas aquisições geralmente ocorre em condições de

confidencialidade e sob intenso estudo. Uma vez que o processo de intenção de

aquisição passa a ser conhecido, “o negócio cessa virtualmente, e um período de

incertezas começa para seus empregados, acionistas, fornecedores, clientes e

competidores” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.63). Dado esse cenário, de

forma a minimizar os impactos decorrentes dessas incertezas, o tempo de análise

acaba sendo estreitado naturalmente pelos gerentes, já que buscam concluir os

acordos antes de sofrerem os impactos direta ou indiretamente (preços de ação,

manifestações de funcionários, dentre outros).

iii) Consultores externos

Consultores externos, especialmente analistas de mercado financeiro, são

contratados para estudar e realizar um acordo de compra. Como na maioria das

vezes eles são contratados em função da transação que irão efetuar, e não do

período envolvido, o tempo tende a ser acelerado em função do resultado desejado,

isto é, da aquisição em si (segundo os autores, as taxas cobradas pelos analistas de

investimento e seus bancos são praticamente independentes do tempo do estudo

dedicado ao processo).

iv) Tornando o processo mais lento

Apesar de menos comuns, existem alguns casos em que a tomada de

decisão acaba sendo desacelerada por determinados eventos. Como exemplos,

tem-se: um acontecimento com a empresa concorrente; a mudança de uma

legislação no meio do processo, que muda todo o cenário de mercado; lentidão em

processos internos de aprovação, em função de problemas pessoais dos envolvidos

ou de condições adversas ao processo; a própria gestão do processo pela empresa

compradora, de forma a evitar que a velocidade acabe com a qualidade da análise;

e, finalmente, obstáculos regulatórios durante a tomada de decisão.

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c) Expectativas ambíguas

Expectativas ambíguas podem se refletir no processo de aquisição. Muitas

vezes, decisões em função de divergências de opiniões são postergadas, a fim de

não comprometerem o planejamento e fechamento do acordo da aquisição. Por

outro lado, o adiamento de importantes divergências pode afetar a qualidade da

tomada de decisão, já que há assuntos que podem mudar os rumos do processo de

aquisição.

Dessa forma, o problema em curto prazo se resolve, mas a situação pós-

aquisição sofre as consequências do adiamento. Haspeslagh e Jemison (1991)

mencionam que, no início do processo, a ambiguidade é essencial para contribuir e

chegar a uma tomada de decisão mais completa, que considere as possibilidades.

Contudo, na integração, “essa ambiguidade se torna a maior fonte de dificuldade e

conflito. Os envolvidos devem, mais cedo ou mais tarde, esclarecer as partes chaves

do acordo previamente deixado ambíguo” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991,

pp.66).

d) Diversos motivos para a aquisição

Outro problema originado durante a tomada de decisão que pode afetar

diretamente a aquisição é a diferença que pode existir com relação aos objetivos

junto à empresa adquirida. Haspeslagh e Jemison (1991) ressaltam que gerentes,

buscando adesões à aquisição de todas as partes envolvidas, podem “vender” o

projeto de diferentes maneiras, com diversos motivos, de acordo com o interesse de

cada um, voluntária ou involuntariamente. Os autores afirmam que “antes da

aquisição, essa adição (de motivos) é útil para ajudar a justificar o prêmio da

aquisição e ganhar comprometimento global. Após o acordo, se torna a base para

múltiplas reclamações em prioridades e envolvimento pós-integração”

(HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.68-69).

Já Lynch e Lind (2002) apresentam outra visão desses problemas. Eles

afirmam que, como os custos do fracasso nas fusões e aquisições são muito altos, o

principal desafio é alcançar melhores taxas de sucesso. Isso pode ser alcançado

através de dois fatores. Primeiro, as empresas e seus consultores devem selecionar

os candidatos a serem adquiridos de uma melhor forma (Justificativa para a

aquisição). Segundo, uma vez selecionado um candidato, os líderes do negócio

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devem definir as prioridades pós-aquisição, ou seja, deve haver um planejamento e

este deve ser seguido (Integração pós-aquisição).

Os autores afirmam que suas pesquisas encontraram alguns pontos em

comum entre as aquisições que fracassaram. “Ficou clara a existência de diversos

passos errados e que erros foram cometidos tanto no planejamento pré-aquisição

como no processo de integração pós-aquisição” (LYNCH & LIND, 2002, pp.6). No

planejamento pré-aquisição os principais erros ocorrem nas três áreas:

i) Due dilligence inadequada do adquirente e/ou do adquirido

Poucos negócios concretizados realizam uma avaliação minuciosa sobre a

real condição da empresa e os riscos em que a operação incorre.

ii) Falta de aderência com a estratégia da empresa

Muitas negociações foram fechadas buscando um incremento de valor para

os acionistas, e não um alinhamento estratégico da empresa. Nesse ponto, muitos

aspectos humanos têm interferência na decisão de fazer uma fusão ou aquisição,

como: pressões no ambiente – interno e externo - levam os executivos a se

mexerem para não serem os últimos a realizarem uma aquisição; imitar o

comportamento de outros executivos; o próprio ego; ou a estagnação da empresa.

iii) Super otimismo na expectativa das sinergias

As fusões e aquisições, normalmente, são realizadas pelo interesse de

adquirir um negócio. Com isso, muitas vezes a falta de sinergias e os impactos

negativos da integração são deixados de lado.

2.6. PROBLEMAS DE PROCESSO DE INTEGRAÇÃO

Da mesma forma que Haspeslagh e Jemison (1991) identificaram barreiras

para a tomada de decisão, existem diversos problemas durante uma aquisição em

função de seu processo de integração. Foram identificados três grandes processos

que dificultam a criação de valor para a transferência das capacitações e, por

consequência, explicam grande parte do fracasso no processo de integração. Nas

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empresas estudadas pelos autores cujas aquisições foram bem sucedidas, as

características também foram encontradas, mas “os gestores foram capazes de

reconhecê-las e lidar com elas” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.121).

a) Determinismo

O determinismo é caracterizado pela tendência natural de se agarrar à

justificativa original da aquisição em face de uma nova realidade encontrada no

momento de efetivação da mesma. Ou seja, a visão da aquisição e de sua

justificativa formal no momento da tomada de decisão tornam-se as principais

barreiras para a mudança e reação frente a uma situação diferente da planejada.

A justificativa da aquisição é “geral e simplificada, de forma que possa

fornecer suporte dos vários envolvidos no processo de tomada de decisão, e provê

explicação facilmente compreendida a uma série de pessoas” (HASPESLAGH &

JEMISON, 1991, pp.124). Porém, é desenvolvida em meio a expectativas de

resultados, sob um contexto de falta de informações e pressões de tempo.

A realidade encontrada após a aquisição é geralmente diferente do que a

esperada, algumas vezes em função da mudança do cenário decorrente de novas

tecnologias ou acontecimentos em outras empresas, outras pela disponibilidade de

informações. A dificuldade decorre não de a realidade ser diferente, mas da

incapacidade das empresas reagirem de acordo com o cenário encontrado e de não

se aterem à justificativa inicial da aquisição como forma de resistência à mudança.

Essa situação foi observada por Haspeslagh e Jemison (1991) através de três

comportamentos, descritos a seguir.

i) Falso senso de segurança

Em função da necessidade de se apresentar a diferentes grupos uma

justificativa para a tomada de decisão da aquisição completa e que atenda a todas

as vertentes envolvidas, muitas vezes, ela é tão persuasiva que traz consigo um

falso senso de segurança de que tudo vai ocorrer conforme o planejamento. Sendo

assim, essa falsa segurança dificulta que os gestores envolvidos mudem suas

premissas em função de realidades diferentes das expectativas.

O falso senso também gera sentimentos de conforto e certeza sobre a forma

fácil como os benefícios podem ser criados. Além disso, no planejamento da

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aquisição são oferecidas muitas vezes condições mais flexíveis sobre a performance

da empresa a ser comprada. Porém, após a aquisição, esse sentimento de relativa

“tranquilidade” tem de ser revertido e é esquecido em função das pressões sobre

resultados no processo de planejamento da nova companhia.

ii) Eventos inesperados

Mudanças de cenários, para a indústria como um todo ou mesmo de um

competidor, podem afetar o processo de integração. Haspeslagh e Jemison (1991)

verificaram que alguns gestores experientes achavam essas mudanças normais.

Porém, em suas pesquisas, verificaram que “há suficientes evidências que as

habilidades gerenciais não são transferidas entre as indústrias e que um

gerenciamento efetivo geralmente depende de uma apreciação das sutilezas da

indústria e do contexto da empresa” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.126).

Na mesma pesquisa, os autores identificaram que eventos inesperados

também ocorrem devido a diferentes comportamentos e opiniões desenvolvidos por

cada uma das empresas, logo após a aquisição. Em suma, eventos inesperados ou

de impactos subestimados podem dificultar o processo de integração de duas

empresas.

iii) Ciclo de confusão e frustração

O ciclo de confusão e frustração pode ocorrer por parte das duas empresas.

Do lado da adquirente, os gestores envolvidos no planejamento da aquisição

sentem-se frustrados, pois suas premissas são questionadas e seus projetos

considerados incorretos. Pela outra parte, há certa confusão e frustração dos

funcionários operacionais que, pela inflexibilidade da direção, não os autorizam à

mudança do projeto original, forçando-os à execução de atividades que muitas

vezes não produzirão os resultados esperados.

A grande dificuldade é que o sentimento de frustração, ao invés de fomentar a

mudança do projeto original, busca nele apenas as justificativas para o desempenho

diferente do esperado. Conforme mencionam os autores: “as frustrações sobre a

divergência geralmente levam o corpo diretivo a reafirmar sua aderência à posição

irreal que haviam abraçado” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.129).

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b) Destruição de Valor

Qualquer processo de aquisição implica numa mudança das atividades e

estruturas das empresas envolvidas. Mudanças criam ambientes desconhecidos e,

naturalmente, geram incertezas e temores. A destruição de valor pode ocorrer pelo

impacto negativo do processo de aquisição no comportamento das pessoas,

individualmente ou em grupos, em função da busca de preservação do ambiente já

conhecido. Tudo o que não está de acordo com o conceito de valor dessas pessoas

pode ser considerado destruição de valor para elas.

O grande impacto dessa situação é a atuação dos envolvidos no processo de

integração no que diz respeito à transferência das capacitações, que pode ser

dificultada nesse sentido, já que a participação dos funcionários é elemento crítico

para tal objetivo. Como para eles o valor é destruído, tornam-se contra o êxito do

processo de aquisição, consciente ou inconscientemente.

A destruição de valor por parte dos funcionários pode ser econômica ou

psíquica. A destruição do valor econômico está relacionada à perda de condições

que podem ocorrer pós-aquisição, como a segurança no emprego, a padronização

dos benefícios, o risco de perda de emprego. Já o valor psíquico pode ser destruído

em função dos rumores, decisões ou ações, reais ou imaginárias, que podem afetar

a vida dos funcionários envolvidos na aquisição.

Haspeslagh e Jemison (1991) concluem por seus estudos que “a combinação

de duas organizações sempre destrói o valor psíquico” (HASPESLAGH & JEMISON,

1991, pp.130). Isso ocorre devido ao processo pós-aquisição que, de certa forma,

força as pessoas das duas empresas a desenvolverem novas formas de executar

procedimentos e ainda a serem leais a essa nova organização.

Em suma, os indivíduos reduzem seus empenhos em fazer a aquisição

acontecer. Isso pode ocorrer em função da mudança na natureza de seus

relacionamentos com a empresa em que trabalhavam e do grau de incertezas que

geram nos valores econômicos e psíquicos das pessoas.

c) Vácuo na Liderança

O vácuo na liderança ocorre em função da falta de habilidade da liderança na

condução do processo de integração pós-aquisição. As pesquisas de Haspeslagh e

Jemison (1991) detectaram que, a menos que seja dado suporte institucional e

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interpessoal em termos de liderança, as possibilidades de criação da atmosfera para

a integração tornam-se limitadas. Após a aquisição, o processo acaba sendo

delegado a gerentes intermediários que sequer participaram de seu planejamento e

têm como desafio fazer com que as empresas unidas funcionem de acordo com as

expectativas da aquisição.

Foi observado que o que ocorre na prática é o foco das lideranças na etapa

de planejamento para a tomada de decisão e que o corpo diretivo acaba dando

prioridade à performance, pura e simplesmente numérica, após a aquisição. Há três

indicações para tal: as análises feitas para justificar a aquisição contêm metas

quantitativas que, após a aquisição, passam a ser, erroneamente, a prioridade

desses líderes; de forma a acompanhar e avaliar o processo objetiva e

imparcialmente, alguns gestores se afastam do dia-a-dia do mesmo; e, finalmente, o

processo de tomada de decisão foca na performance financeira futura da aquisição,

conforme já mencionado previamente.

Foram apresentados, assim, os problemas enfrentados pelas empresas em

seus processos de integração em aquisições, as forças que os geram e o impacto

no processo de integração. A partir daí, é importante contextualizá-los na realidade

de cada empresa, de forma que sejam minimizados e, assim, preparadas as

condições propícias à criação da atmosfera e transferência das capacitações entre

as empresas.

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3. METODO DE PESQUISA

De acordo com a Figura 3.1, uma pesquisa acadêmica é composta por quatro

dimensões principais: teoria, campo, método e pergunta central da pesquisa. Este

capítulo está organizado com base nessa estrutura. Inicialmente, serão tratados o

tema, a unidade de análise do estudo de caso e a pergunta central da pesquisa. Na

sequência, será apresentado o método utilizado para realizar a pesquisa,

descrevendo a estratégia de pesquisa, as fontes consultadas e o processo

sistemático de coleta, tratamento e análise dos dados. A dimensão teórica do

trabalho já foi abordada no capítulo anterior, apresentando as principais referências

da literatura necessárias para se analisar o caso selecionado e responder à

pergunta da pesquisa.

SiteCampo

Método

Questão central da pesquisa

TeoriaModelo

Framework

Figura 3.1 The building blocks of a scientific study. Adaptação de Fleck, 2010.

3.1. DEFINIÇÃO DO TEMA, DO OBJETO DE PESQUISA E DA PERGUNTA

A motivação inicial para a realização desta pesquisa foi o interesse pelo

crescimento do número de operações de aquisições nos últimos anos (Gráficos 1.1

e 1.2), buscando compreender como são realizadas as etapas que se seguem após

a efetivação do negócio. Conforme apresentado na revisão da literatura, as

aquisições podem ser analisadas através da ótica de processo. Haspeslagh e

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Jemison (1991) apresentam essa visão através do modelo que se inicia na ideia,

que busca assegurar que a aquisição esteja alinhada com a estratégia de renovação

corporativa, passando pela justificativa da operação, que busca desenvolver um

processo de tomada de decisão pré-aquisição capaz de avaliar operação “certa”,

seguindo para integração pós-aquisição, que busca gerenciar a etapa criando o

valor esperado, e finalizando com a etapa dos resultados, que busca promover

internamente na empresa os aprendizados obtidos.

Vantrappen e Kilefors (2005) reforçam essa visão dizendo que o valor não é

criado no momento em que o negócio é fechado, mas sim nas etapas subsequentes,

especialmente na integração.

“A takeover is a means to create value. The value is not created at the

moment the transaction is closed and the paperwork gets signed. On the contrary, at the moment of signature, it only starts. The subsequent successful integration of the target will determine how much of the projected value is created in actual fact. To ensure successful integration, one should think through the integration strategy and act correspondingly, from the very start of the takeover process. In other words, a takeover should be handled as a trajectory and not just as a transaction.”

(VANTRAPPEN & KILEFORS, 2005, pp.47)

Já Wood, Vasconcelos e Caldas (2003) afirmam que os mecanismos

estratégicos e organizacionais não são bem entendidos e isso destrói valor das

aquisições.

“Fusões e aquisições estão entre as mais relevantes e dramáticas formas

de mudança organizacional. Entretanto, os mecanismos estratégicos e

organizacionais que contribuem para o sucesso de um processo de

integração pós-fusão ou aquisição não são bem entendidos. Por isso,

muitas fusões e aquisições transformam-se em processos traumáticos e

destroem valor” (WOOD, VASCONCELOS & CALDAS, 2003).

Diante dessas perspectivas, surgiu o interesse em aprofundar os estudos no

processo de integração entre as duas empresas, buscando verificar se é possível

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determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado

como encerrado.

Definido o tema, iniciou-se a busca por empresas que atuassem no Brasil e

que tivessem realizado alguma operação de aquisição nos últimos anos. Partindo

dessas premissas, assim como devido à facilidade de obtenção de informações e

acesso aos entrevistados, por conta de contatos pessoais nas duas empresas, a

Empresa AA foi escolhida como objeto de estudo, uma vez que havia adquirido a

Empresa BB no princípio do ano em que essa pesquisa teve início.

Após as primeiras conversas com os gestores de ambas as empresas em

busca de autorização para realização deste estudo, ficou evidente a existência de

diferentes percepções acerca do andamento da integração. Para a adquirente, o

processo de integração já havia sido encerrado. Já, para a adquirida, este processo

ainda estava em curso, ainda necessitando de algumas atividades para poder ser

considerada como concluída.

Diante dessa diferença de percepção entre as empresas pós-aquisição, a

pergunta a que essa pesquisa pretendeu responder foi a seguinte:

É possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado como encerrado?

3.2. ESTRATÉGIA DE PESQUISA

De acordo com Yin (1989), o método de estudo de caso é uma opção entre

diversas formas de pesquisa científica. A escolha pela estratégia a ser utilizada,

conforme apresentado na Tabela 3.1, depende de três condições: i) o tipo de

questão da pesquisa; ii) o grau de controle que o pesquisador detém sobre os

eventos comportamentais; e iii) o foco na utilização de eventos históricos em

contraposição a eventos contemporâneos.

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Tabela 3.1 Condições relevantes para a escolha da estratégia de pesquisa. Adaptação de Yin, 1989.

Ao comparar o estudo de caso com outros métodos, Yin (1989) afirma que

para se definir o que deve ser usado é preciso analisar as questões que são

colocadas pela pesquisa. De modo específico, este método é adequado para

responder às questões "como" e '"por quê", que são questões explicativas e tratam

de relações operacionais que ocorrem ao longo do tempo mais do que frequências

ou incidências.

Isto também se aplica tanto ao método histórico como ao experimental que

também objetivam responder a estas questões. Contudo, o método histórico é mais

recomendado quando não houver acesso ou controle pelo pesquisador aos eventos

comportamentais, tendo que lidar com um passado "morto" (YIN, 1989, pp.19) sem

dispor, por exemplo, de pessoas vivas para darem depoimentos e tendo que recorrer

a documentos e a artefatos culturais ou físicos como fontes de evidências.

No método experimental, as respostas a estas questões são obtidas em

situações onde o pesquisador pode manipular o comportamento de forma direta,

precisa e sistemática, sendo-lhe possível isolar variáveis, como no caso de

experimentos em laboratório. Ao fazer isto, deliberadamente se isola o fenômeno

estudado de seu contexto.

De acordo com Yin (1989), a preferência pelo uso do Estudo de Caso deve

ser dada quando do estudo de eventos contemporâneos, em situações onde os

comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se

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fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas. Apesar de ter pontos em

comum com o método histórico, o estudo de caso se caracteriza pela "... capacidade

de lidar com uma completa variedade de evidências - documentos, artefatos,

entrevistas e observações." (YIN, 1989, pp.19)

3.3. ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa foi organizada através da separação de três categorias de

atividades: i) pesquisa bibliográfica com o objetivo de suportar o tema analisado; ii)

pesquisa e coleta de dados sobre as empresas envolvidas na operação de

aquisição; iii) pesquisa e coleta de dados sobre a forma como o processo de

aquisição foi conduzido dentro das duas empresas. As duas primeiras atividades

foram conduzidas de forma concomitante. Já a ultima, foi realizada após o

pesquisador obter conhecimentos suficientes para discutir sobre o assunto com os

entrevistados.

3.4. COLETA DE DADOS

De acordo com Yin (1989), a etapa de coleta de dados é regida por três

princípios: i) utilizar múltiplas fontes de evidência; ii) construir, ao longo do estudo,

uma base de dados; iii) formar uma cadeia de evidências. O uso de múltiplas fontes

de evidência permite o desenvolvimento da investigação em várias frentes –

investigar vários aspectos em relação ao mesmo fenômeno. As conclusões e

descobertas ficam mais convincentes e apuradas já que advêm de um conjunto de

corroborações. Além disso, os potenciais problemas de validade de constructo são

atendidos, pois os achados, nestas condições, são validados através de várias

fontes de evidência.

A construção de uma base de dados, segundo Yin (1989), tem como objetivo

garantir a confiabilidade do estudo. Uma vez que os dados encontrados ao longo do

estudo são armazenados, isso possibilita o acesso de outros investigadores. Os

registros podem ser realizados através de: notas, documentos, tabulações e

narrativas (interpretações e descrições dos eventos observados, registrados...).

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A construção de uma cadeia de evidências consiste em configurar o estudo

de caso de tal modo que se consiga apresentar ao leitor as evidências que o

legitimam, desde as questões de pesquisa até as conclusões finais. O relato do

estudo de caso deve assegurar que cada evidência apresentada tenha sido coletada

in loco. Além disso, deve deixar claro que outras evidências não foram ignoradas e

que aquelas que foram apresentadas não estão “contaminadas” por vieses.

Durante a realização desta pesquisa foram coletados dados de diferentes

fontes de evidência: livros comemorativos, site das empresas, documentos internos

(políticas e diretrizes), notícias da imprensa, além das entrevistas realizadas com

atuais funcionários das duas empresas.

3.4.1. Levantamento das informações sobre as empresas

De forma a conhecer mais profundamente as empresas que estavam sendo

estudadas, considerou-se necessário realizar uma análise prévia dos seus

históricos. Dessa forma, foram extraídos dados secundários do livro comemorativo

da adquirente, do site oficial da empresa, de documentos disponíveis na sua

intranet, além de diversos sites disponíveis na internet. Já para a obtenção de

informações referentes à adquirida, foram utilizados os dados secundários obtidos

no site oficial da empresa e no da adquirente, em documentos internos

disponibilizados por funcionários da adquirida, na intranet da adquirente, e em

diversos sites disponíveis na internet. Para ambas as empresas também foram

utilizadas as entrevistas como complemento das informações. A Tabela 3.2

apresenta, de forma resumida, as fontes de informações utilizadas para cada

empresa.

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3.4.2. Levantamento das informações sobre o processo de aquisição

A obtenção de informações referentes ao processo de aquisição foi

basicamente realizada através de entrevistas com funcionários das duas empresas.

Isso se deu devido às regras de sigilo da informação quando uma aquisição é

realizada. Porém, em alguns sites na internet foi possível obter informações sobre a

realização da aquisição, mesmo sem que estes apresentassem muitos detalhes.

Devido às políticas de sigilosidade, quando foi feito o contato com as

empresas para solicitar autorização para a realização das entrevistas que seriam

utilizadas no estudo de casos desse trabalho, foi acertado que os nomes das

empresas, assim como a utilização de qualquer outro nome que pudesse permitir o

reconhecimento no mercado, seriam ocultados para garantir o anonimato (conforme

Apêndice A).

De forma a atender o que foi acordado com os gestores, os nomes foram

alterados conforme Tabela 3.3.

Fontes de informação Empresa AA Empresa BB

Livro comemorativo Sim Não

Documentos da intranet Sim Sim

Documentos internos disponibilizados pelos

entrevistadosNão Sim

Entrevista com funcionários Sim Sim

Site oficial da empresa Sim Sim

Outros sites diversos Sim Sim

Tabela 3.2 Fontes utilizadas para levantamento de informações das empresas estudadas.

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Identificação Nome fictício

Empresa adquirente Empresa AA

Empresa adquirida Empresa BB

Empresa controladora da adquirida Empresa CC

Software de analise de risco desenvolvido pela adquirida Ferramenta BB

Software de analise de risco após a aquisição Ferramenta AB

Nome do entrevistadoEntrevistado X

(seguido da numeração em que a entrevista foi realizada)

Tabela 3.3 Codinomes utilizados para manutenção do anonimato.

Segundo Yin (1989), as entrevistas são uma fonte essencial de evidências

para o estudo de caso, uma vez que os estudos de casos em pesquisa social lidam

geralmente com atividades de pessoas e grupos. Como a principal forma de

obtenção de informação foi através de entrevistas presenciais, considerou-se mais

conveniente relatar este processo em quatro etapas: seleção dos entrevistados,

preparação da entrevista, preparação do roteiro para o entrevistador e entrevista.

3.4.2.1. Seleção dos entrevistados

Para a realização do estudo em questão, foram selecionados para participar

das entrevistas os profissionais das duas empresas em questão. Essa seleção

ocorreu em função de alguns aspectos considerados relevantes, como: a área de

atuação na empresa no momento da aquisição, histórico na empresa e tempo de

empresa.

Sendo assim, os entrevistados deveriam ser pessoas que: tivessem

participado, de alguma forma, do processo de aquisição; fossem funcionários da

empresa adquirente ou adquirida; fossem indicadas por outros entrevistados como

sendo de relevância para a descrição e detalhamento do processo.

Dessa maneira, para a entrevista, buscou-se identificar pessoas chaves da

organização que pudessem apresentar informações relevantes sobre o processo de

aquisição da Empresa BB pela Empresa AA. Ao mesmo tempo, buscou-se pessoas

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de diferentes áreas, posições hierárquicas e com diferentes experiências

profissionais dentro das duas empresas para ampliar as percepções sobre o

processo de aquisição.

Os entrevistados selecionados, assim como o cargo ocupado, o setor e a

empresa à qual pertencem estão resumidos na Tabela 3.4.

3.4.2.2. Preparação da entrevista

Ao fazer contato com os entrevistados, através de telefone ou e-mail, era

informado que o motivo do contato era para o desenvolvimento do trabalho de

encerramento do curso de Mestrado no COPPEAD, que a empresa havia sido

escolhida como objeto de estudo, que o tempo aproximado de realização da

entrevista era de quarenta e cinco minutos, que a realização da entrevista ocorreria

no local que melhor atendesse às necessidades do entrevistado, que ela seria

gravada para futura transcrição e utilização na pesquisa, e era apresentado o

objetivo de maneira genérica, de forma a não enviesar os resultados.

3.4.2.3. Roteiro da entrevista

Visando responder a questão central deste trabalho, elaborou-se, então, um

roteiro de entrevista, apresentado em sua completude no Apêndice B. Este roteiro

em nenhuma entrevista foi apresentado aos entrevistados, sua utilização era apenas

como forma de direcionamento à questão central. De forma resumida, são

apresentadas a seguir as questões do roteiro:

Entrevistado Empresa Cargo Setor Data de ralização da entrevista

Forma de entrevista

Tempo de duração

Entrevistado 1 Empresa BB Diretor Diretoria de Produto 02/04/2011 Presencial 00:45:49

Entrevistado 2 Empresa BB CEO N/A 04/04/2011 Presencial 00:42:21

Entrevistado 3 Empresa BB Gerente Diretoria de Produto 19/04/2011 Presencial 00:24:36

Entrevistado 4 Empresa BB Gerente Diretoria de Produto 28/04/2011 Presencial 00:25:30

Entrevistado 5 Empresa BB Gerente Diretoria de Implantação 29/04/2011 Presencial 00:25:15

Entrevistado 6 Empresa BB Diretor Diretoria de Implantação 29/04/2011 Presencial 00:38:25

Entrevistado 7 Empresa AA Sócio Risk Management 03/06/2011 Telefone 00:34:08

Entrevistado 8 Empresa AA Gerente Diretoria de Recursos Humanos 05/07/2011 Presencial 00:38:39

Entrevistado 9 Empresa AA Gerente Diretoria de Operações 27/07/2011 Telefone 00:22:33

Tabela 3.4 Resumo das informações das entrevistas realizadas

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Conte-me sobre sua trajetória dentro da empresa.

Como você foi envolvido no processo de aquisição da Empresa BB pela

Empresa AA?

Qual foi a sua participação no processo de aquisição?

Quais foram suas principais responsabilidades no processo?

Como estava o mercado competitivo quando a aquisição foi realizada?

O que a empresa estava buscando quando decidiu pela aquisição?

Quais foram as principais dificuldades encontradas antes da realização da

aquisição?

O que aconteceu com as duas empresas depois de oficializada a aquisição?

Como está o relacionamento entre as duas empresas?

O que está funcionando e o que não está depois da aquisição? O que poderia

ser melhorado?

3.4.2.4. A entrevista

No total, foram realizadas nove entrevistas com atuais funcionários das

empresas envolvidas na operação de aquisição, dos quais seis eram funcionários da

adquirida e três da adquirente. O número de entrevistados da Empresa AA não pôde

ser maior, pois quando o sócio responsável pela operação foi questionado sobre

outras pessoas que poderiam contribuir para a pesquisa, ele informou que poucos

funcionários haviam participado da operação no Brasil e indicou apenas uma pessoa

que, na sequência, foi entrevistada.

“Eu acho que uma pessoa que você pode conversar que esteve bastante

envolvida e está até hoje é a nossa representante de RH, porque ela

desde o próprio ‘deal’, até a integração e até hoje é uma pessoa que

acompanha muito de perto a evolução da integração, deve ter opiniões

próprias sobre isso. Pode ser interessante. (...) Posso passar o contato

dela. Do ponto de vista de pessoas, integração, acho que é o ponto mais

crítico na aquisição, acho que é interessante. Os executivos da Empresa

AA... eu acho que . . . não vejo muito. Eu basicamente conduzi esse

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negócio todo localmente . . . praticamente sozinho aqui no executivo.”

(Entrevistado 7)

As entrevistas foram realizadas presencialmente na matriz da Empresa AA e

no escritório da Empresa BB, em dias e horários distintos, de acordo com a

disponibilidade de cada entrevistado. Aqueles que se localizavam fora do estado do

Rio de Janeiro, tiveram suas entrevistas realizadas por telefone. Todas as

entrevistas, independentemente de terem sido realizadas presencialmente ou por

telefone, foram gravadas, com a prévia autorização do entrevistado, e transcritas em

sua integralidade.

As perguntas realizadas foram abertas, porém seguindo o roteiro específico,

apresentado no item anterior. Não houve restrições quanto à duração das

entrevistas e deixou-se o entrevistado livre para ampliar o escopo do roteiro, muito

embora esse não fosse divulgado. O objetivo de ocultar o roteiro foi o de não

comprometer a imparcialidade das respostas em função do que se queria analisar.

Todas as entrevistas foram iniciadas da mesma forma. Inicialmente,

solicitava-se a utilização de gravador, procedimento a que nenhum dos

entrevistados se opôs. Na sequência, realizava-se o questionamento sobre o

histórico do entrevistado na empresa e sua participação no processo de aquisição.

3.5. ANÁLISE DOS DADOS

As entrevistas realizadas com os funcionários das duas empresas foram

gravadas e posteriormente transcritas integralmente em documentos do programa

Microsoft Word. Na sequência, as entrevistas foram analisadas buscando identificar

as passagens que faziam referência às etapas descritas por Haspeslagh e Jemison

(1991) de um processo de aquisição e que respondessem às perguntas definidas no

roteiro de entrevista. Essas passagens foram organizadas em uma planilha do

Microsoft Excel, conforme apresentada na Tabela 3.5. A estrutura completa é

apresentada no Apêndice C. O objetivo dessa forma de organização foi observar os

pontos identificados nas entrevistas que tinham aderência ou não à literatura

existente sobre o assunto de fusões e aquisições.

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Em que estágio está a integração das duas empresas? (Iniciado, não iniciado, parcial,

finalizado)

Como é feito o controle do andamento da

integração?

De que forma está sendo feita a integração?

Existe um “Integration Manager”? Qual seu

papel?

Quais os indícios de que a integração chegou ao

final?

Quais foram os principais desafios enfrentados pelas

empresas durante o processo de integração

(somente se for afirmativo o caso de já

ter iniciado a integração)?

A empresa identificou algum problema durante

esse processo? (Ex: integração pós-

aquisição demorada, conflito entre as

culturas organizacionais, ou falta

de estratégia para gerenciamento de riscos)

Entrevistado 1

"Eu diria que, agora, depois de 1 ano da aquisição a empresa já está mais . . . integrada, de forma mais ampla, os termos

"(...) o relacionamento com a Empresa AA hoje está muito melhor estruturado. O início do processo, como um

"(...) um ponto aqui é que além de a empresa ser comprada pela Empresa AA, ela foi comprada pela

"(...) a Empresa BB, sendo uma empresa, relativamente, pequena, ela tinha uma grande diferença no modo de trabalhar

"A cultura da Empresa AA ainda é . . . pouco introduzida dentro da Empresa BB, por conta, principalmente, de

Entrevistado 2

"O processo tá acabando agora. Eu acho que agora a gente começa a fazer com que as pessoas entrem nos eixos."

"Agora, liderar a integração mesmo, talvez, eu um pouquinho mais do que todos os outros." (pág. 8)

"Lógico que tinha gente da Empresa AA, mas isso já se foi. Tinha uma pessoa . . . tem uma pessoa de RH que ficou,

"O grande problema, que eu acho que começa a entrar no seu mundo da sua tese principalmente, é a separação, talvez .

"Eu acho que depois das pessoas começarem a realizar, aí talvez a gente tenha atrasado um pouquinho o

Entr

evist

ado

Integração Problemas de processo de integração

Verificar se o processo percorreu as etapas apresentadas no estudo. Caso afirmativo verificar qual foi. Em caso negativo, verificar se existe alguma literatura que não foi abordada e deve ser adicionada

Identificar os principais desafios no processo de integração das duas empresas

Outra planilha do Microsoft Excel (Tabela 3.6) foi elaborada com o objetivo de

identificar os pontos que já haviam sido integrados nas duas empresas, segundo os

entrevistados. Seguindo o que é preconizado por Bogdan e Biklen (1994) sobre as

pesquisas qualitativas, as quais são caracterizadas pela obtenção de dados e

informação em forma de “funil”, ou seja, devem partir de uma fase de exploração

alargada (base maior do funil) passando para uma área mais restrita de análise dos

dados (base mais estreita do funil), partiu-se da análise de todos os pontos

identificados para a definição das categorias mais macro. Essas macro categorias,

em seguida, foram analisadas e divididas em três grupos, de acordo com grau em

que o fenômeno é visível ao observador. Ou seja, de forma análoga ao modelo de

cultura organizacional de Schein (2004), apresentado anteriormente, onde a cultura

da empresa poderia ser compreendida através de níveis de profundidade (Figura

2.7).

Tabela 3.5 Organização das entrevistas conforme roteiro.

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Entrevista Pontos de integração Entrevista Pontos de integração

"A noção de grupo . . . a medida que . . . algumas práticas da empresa . . . da Empresa AA, que foi a empresa que adquiriu, elas vão sendo . . . vou se tornando parte do nosso dia-a-dia . . . como por exemplo, treinamentos . .

. uso dos benefícios, participação em celebrações . . . isso ajuda a criar um espírito de grupo melhor. Então, a sensação é de que

as pessoas estão mais . . . se sentem mais inseridas nesse contexto da Empresa AA. "

Treinamentos

Benefícios

Celebrações

"O maior benefício comercial é penetração da empresa, né? A Empresa AA já tem penetração em vários clientes, então

acredito que seja fácil expandir e vender o sistema. . . dentro desses clientes. "

Setor comercial

"dificuldade . . . pessoal é mais em lidar com . . . em saber onde é que estão as

informações, em saber quem são as pessoas corretas. E lidar com um conjunto de . . . a demanda de tempo que não . . . que não

relacionada exatamente com o seu dia-a-dia de trabalho. Por ter uma rotina diferente

para registrar sua alocação de hora, e tal . . . por ser uma consultoria isso é muito mais rígido do que em um modelo de software house que a gente tinha. Isso consome um

tempo maior no nosso dia-a-dia."

Informações

Sistema de alocação de horas

Politicas de RH

"Treinamento é bom também, porque tem toda uma infraestrutura de treinamento da

Empresa AA . . . já preparado, mundial, enfim. Isso é muito bom. "

Treinamento nacional e internacional

Entrevistado 3 Entrevistado 4

A partir das classificações realizadas e da analogia com os níveis de Schein

(2004), procurou-se responder a questão central da pesquisa que buscava descobrir

se é possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser

considerado como encerrado.

Tabela 3.6 Organização das entrevistas conforme os pontos de convergência.

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4. ANÁLISE

Este capítulo está organizado em quatro partes. A primeira apresenta, de

forma resumida, um histórico das empresas adquirente e adquirida, assim como a

descrição da operação de aquisição. A segunda tenta associar os fatos e eventos

encontrados no estudo de caso aos conceitos identificados na literatura. Ou seja,

quando os fatos estão alinhados aos conceitos ou quando parecem se distanciar dos

mesmos. Já a terceira parte apresenta os pontos que puderam ser identificados

como já estando integrados entre as duas empresas. Finalmente, a quarta parte

tenta responder à pergunta central desta pesquisa, é possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado como encerrado?

4.1. HISTÓRICO DAS EMPRESAS

Nessa seção serão apresentados os históricos das duas empresas envolvidas

no processo de aquisição em estudo, assim como uma descrição resumida do

processo de aquisição. Inicialmente será apresentada a adquirente e na sequência a

adquirida.

4.1.1. Adquirente

A Empresa AA, tem origem datada em 2001. Atualmente, pode ser

apresentada como uma empresa global de consultoria de gestão, serviços de

tecnologia e outsourcing com escritórios em mais de duzentas cidades em cinquenta

e três países. Possui cerca de 236.000 profissionais, reunindo as mais variadas

competências técnicas, atendendo a diversos setores da atividade econômica em

mais de cento e vinte países. Gerou receitas líquidas de US$ 25,5 bilhões no ano

fiscal encerrado em 31 de agosto de 2011. Seus principais segmentos de atuação

são: consultoria de gestão, integração de sistemas, consultoria tecnológica,

terceirização de TI (Tecnologia de Informação) e terceirização de processos de

negócio.

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No Brasil, cerca de 7.000 colaboradores atendem localmente organizações de

todos os ramos de atividade. A empresa mantém escritórios em São Paulo, Rio de

Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Vitória, e um centro de soluções tecnológicas em

Alphaville (São Paulo), capacitado para o desenvolvimento de soluções

customizadas a custos competitivos. Além disso, a Empresa AA conta também com

um Centro de Serviços Compartilhados, localizado em Curitiba, onde são criadas

funções de back-office compartilháveis para empresas de todos os portes e áreas.

A empresa atende mais de 75% das maiores empresas globais relacionadas

na revista Fortune Global 500, noventa e seis da Fortune Global 100 e órgãos da

administração pública em mais de trinta países. Dos cem maiores clientes da

Empresa AA em 2009, noventa e nove são atendidos há mais de cinco anos e

noventa e um deles são clientes há mais de dez anos.

Entre as empresas brasileiras, no mesmo ano, trinta e quatro das quarenta

maiores empresas no país, segundo o anuário “Melhores e Maiores 2009” da revista

Exame, estão entre os clientes da Empresa AA. Ela oferece seus serviços por meio

de dezessete grupos industriais concentrados em cinco grupos operacionais. A

indústria é o foco da Empresa AA, que tem profissionais com profundo

conhecimento da evolução industrial, de questões empresariais e tecnologias

aplicáveis, permitindo-lhe entregar soluções adaptadas a cada cliente desse setor.

Seus principais valores são: preocupação com um futuro melhor, obtenção

dos melhores profissionais, criação de valor para o cliente, construção de rede

global de relacionamentos, respeito ao indivíduo e integridade.

4.1.2. Adquirida

A Empresa BB é uma empresa criada a partir da separação (spin-off) da área

de Gestão de Risco de um banco de investimentos. Idealizado pelo banco em 1996,

o Sistema CC foi o primeiro sistema de análise de risco criado com o foco para o

mercado nacional.

Devido à grande demanda por parte dos clientes, inclusive de fora do

mercado financeiro, a Empresa BB foi obrigada a realizar progressivas alterações no

sistema até torná-lo uma plataforma única capaz de oferecer soluções integradas

para análise de riscos, controle financeiro e planejamento estratégico de empresas

de diversas áreas de atuação.

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O sistema, além de apurar e projetar resultados – contábeis e gerenciais – de

operações financeiras, atende ainda a modernos padrões tecnológicos e de

segurança da informação compatíveis com as exigências legais.

4.1.3. A operação de aquisição

O processo de aquisição da Empresa BB pela Empresa AA teve seu início em

2008, quando a holding que controlava a adquirida, decidiu que era o momento de

buscar um comprador para a empresa. Essa decisão se deveu ao fato de a Empresa

BB estar muito concentrada em apenas um grande cliente e este ter decidido reduzir

o relacionamento com a adquirida devido à reorganização interna causada pela crise

econômica mundial que ocorrera no mesmo ano. A redução de trabalho neste

grande cliente causou um forte impacto no caixa da Empresa BB.

Devido a esse fato, a holding começou a questionar os benefícios de ter a

Empresa BB no seu rol de empresas. Analisando mais detalhadamente os riscos

envolvidos, verificou que a empresa apresentava um risco potencial maior à sua

imagem do que trazia de retorno financeiro para o grupo. Por isso, iniciou o processo

de venda mesmo com o cenário econômico não estando favorável.

A Empresa BB contratou um advisor, no final de 2008, para auxiliá-la no

processo de venda. Inicialmente, foram desenvolvidos materiais de venda com

informações como: o que era a Empresa BB, quais os potenciais no negócio, etc.

Depois desse material pronto foi iniciada uma busca por interessados. Foram

identificados três compradores potenciais. Entre eles estava a Empresa AA.

O relacionamento com a Empresa AA data de antes do início das

negociações. Um ano antes, os diretores da Empresa BB sondaram a Empresa AA

para o acerto de um contrato de parceria, onde a Empresa BB terceirizaria a

implantação da sua ferramenta (Ferramenta BB). Porém, a parceria não foi

concretizada.

Então, quando a Empresa AA foi procurada pelo CEO (Chief Executive Officer)

da Empresa BB com a informação de que seu antigo controlador havia decidido pela

venda do ativo e faria um processo competitivo, a primeira identificou que a compra

estava alinhada com sua estratégia, por se tratar de um software muito específico

para uma área que estava buscando crescimento dentro da Empresa AA. Além

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disso, também foi avaliada a formação dos recursos humanos que tinham aderência

às expectativas dos trabalhos de consultoria realizados.

Os gestores da Empresa AA julgaram que seria uma forma interessante de

alavancar a presença no mercado de gestão de risco e em particular gestão de risco

de mercado que é uma área muito técnica, muito especifica. Por conta disso, foi

conduzido um processo de avaliação da adquirida que durou aproximadamente dez

meses.

Esse processo foi conduzido por um grupo interno da adquirente, totalmente

dedicado às aquisições. A empresa de interesse é analisada por diversos aspectos,

desde a due-dilligence, ou seja, a verificação de todos os aspectos fiscais,

trabalhistas, técnicos, contratos e até mesmo de pessoas, até a avaliação do valor

que a empresa oferece.

Após essa avaliação minuciosa e detalhada, finalmente, em fevereiro de

2010, o contrato de aquisição foi assinado entre as empresas. A partir daquele

momento, a Empresa BB passava a ser integrante da prática global de Risk

Management da Empresa AA.

4.2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROCESSO DE AQUISIÇÃO

Nesta seção serão analisados os pontos que permitem evidenciar a aderência

ou não do caso selecionado com a literatura previamente estudada. Essa análise

tem como objetivo contextualizar como ocorreu o processo de aquisição da Empresa

BB pela Empresa AA.

Foi utilizada a denominação “processo de aquisição”, porque segundo os

autores Haspeslagh e Jemison (1991), as aquisições podem ser abordadas através

da perspectiva de processos, ou seja, não são eventos independentes, limitados ao

momento em que as empresas se unem. Segundo essa visão, não é na transação

em si que os benefícios esperados se concretizam, mas sim na forma com que são

conduzidos os processos imediatamente após a aquisição.

Conforme apresentado no Capítulo 2, os autores afirmam que processo de

aquisição pode ser estudado de acordo com as seguintes etapas: ideia, justificativa

para a aquisição, integração pós-aquisição, resultados, problemas de processo de

tomada de decisão, e problemas de integração.

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4.2.1. Ideia

Para Haspeslagh e Jemison (1991), as aquisições têm o potencial de

transformar firmas e possibilitar a renovação das corporações de uma maneira mais

rápida que um processo natural de crescimento, ou até de parcerias. Porém, o mais

importante é que esse processo pode trazer à corporação capacitações que não

teria desenvolvido sozinha, ou ainda alavancar capacitações de forma a atingir

níveis superiores de serviço e posição de mercado.

Na aquisição da Empresa BB pela Empresa AA é possível verificar que essa

forma de pensar direcionava os gestores da adquirente. Segundo o entrevistado 7,

que é funcionário da adquirente, mesmo antes da oportunidade de aquisição da

Empresa BB, a Empresa AA já trabalhava em conjunto, na forma de parceria, para

ampliar suas capacitações e assim melhorar sua posição no mercado.

“Ainda dentro dessa prática de FPM (Finance & Performance Management), a gente desenvolvia alguns projetos na área de Risk Management onde eu comecei a me aproximar de alguns fornecedores de

software no intuito de fazer alianças para eventualmente trabalhar em

parcerias em alguns projetos com nossos clientes. Entre essas empresas,

uma delas era a Empresa BB, especificamente ali na área de risco de

mercado. Começamos a conversar na época (2008/2009) com a Empresa

BB, começamos a formatar algumas coisas juntos. Chegamos até a

submeter algumas propostas juntos.” (Entrevistado 7)

Ele segue afirmando que, a partir do momento que a Empresa AA foi

comunicada sobre a venda da Empresa BB, houve grande interesse devido às

semelhanças das empresas, assim como a possibilidade de alavancar a presença

da adquirente no mercado de gestão de risco.

“Na época, ainda em FPM nós achamos que fazia sentido, pelo tipo de

ativo que eles tinham, que era um software muito especifico, de nicho,

além das pessoas, que tinham uma formação muito boa e um “fit” muito

interessante para o trabalho de consultoria que a gente faz na Empresa

AA. Seria uma forma interessante de a gente alavancar nossa presença

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nesse mercado em gestão de risco e em particular gestão de risco de

mercado, que é muito técnico, muito especifico.” (Entrevistado 7)

Segundo o mesmo entrevistado, a Empresa AA se considerava um novo

entrante no mercado de gestão de riscos e, por isso, optou pela aquisição como

opção estratégica para crescimento.

“A Empresa AA (...) é uma empresa que atua em vários segmentos, em

várias indústrias, em vários tipos de trabalho. No que tange

especificamente à nossa área, finanças e gestão de risco em finanças, já

exercia alguma liderança de mercado, mas éramos de certa forma um

novo entrante na área de risco de mercado. Onde nesse segmento o

mercado, (...), era fortemente dominado pelas empresas de auditoria - “Big

Four” - além de algumas empresas de nicho também aqui do Brasil. Então

concorrência local. Não vou entrar no mérito de concorrência global. Então,

ou seja, nesse contexto nós éramos o novo entrante na área de gestão de

risco, por isso uma aquisição foi o caminho adotado para acelerar alguns

passos de construção da nossa marca nesse mercado. Assim como

também acelerar a própria construção dessa prática. Foi basicamente esse

um dos motivos estratégicos para a aquisição.” (Entrevistado 7)

Conforme apresentado no Capítulo 3 – Método de Pesquisa –, quando a

Empresa AA autorizou o estudo de caso sobre a aquisição da Empresa BB, foi

combinado que os nomes seriam mantidos em sigilo, assim como os valores da

negociação. Porém, analisando as entrevistas realizadas com os Entrevistados 2 e

6, é possível perceber que a adquirente pagou um valor mais baixo pela aquisição

devido ao momento financeiro que o país estava enfrentando no ano de 2008.

“A gente também tinha passado por uns ciclos de investimento muito

grande onde a gente estava se preparando para obter um software muito

melhor, tanto para empresa, quanto para instituição financeira. Tinha

acabado esse ciclo também. Na minha visão, e na visão de muitos, talvez

fosse o pior momento para vender, mas existia a motivação do

controlador.” (Entrevistado 2)

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“(...) na verdade foi um ano logo depois da crise que não foi um ano bom.

Não era um bom momento de crescimento econômico do país que

favorecia a venda da empresa. Então, talvez isso tenha sido muito bom

para a Empresa AA (risos). Porque, na verdade, favoreceu na negociação

dos valores com a família, que era a principal controladora.” (Entrevistado

6)

Analisando os trechos selecionados das entrevistas com colaboradores das

duas empresas e retomando os conceitos apresentados sobre criação de valor, é

possível perceber que a empresa adquirente está aderente à teoria de Haspeslagh e

Jemison (1991), pois se utilizou da ótica gerencial, foco do estudo dos autores, onde

não só os aspectos financeiros são levados em consideração, mas também os

aspectos estratégicos e mercadológicos.

4.2.2. Justificativa para a aquisição

Segundo Haspeslagh e Jemison (1991), a justificativa da aquisição é um

grande desafio no processo de tomada de decisão, pois, com ela, busca-se garantir

que: (i) a criação de valor com a aquisição é possível; (ii) os benefícios não serão

“barganhados” antecipadamente;; e (iii) os potenciais benefícios podem ser

alcançados. Dada a importância da justificativa da aquisição no contexto das

aquisições estratégicas descritas pelos autores, é fundamental que elas sejam bem

definidas e trabalhadas a fim de tornar o processo claro e bem conduzido.

No caso escolhido para estudo, é possível notar que a Empresa AA foi

aderente à teoria apresentada, uma vez que a responsabilidade pela tarefa de

convencer os principais gestores da adquirente sobre os benefícios da aquisição

coube ao líder da prática global de Risk Management. Segundo o entrevistado 7, ele

foi o responsável pela busca de aprovação da aquisição tanto com os líderes da

adquirente no Brasil como com a liderança global. Após a obtenção dessa

aprovação, ele liderou a participação no processo de aquisição junto ao antigo

controlador da Empresa BB.

“Durante 2009 a gente conduziu um estudo para verificar se valia a pena

ou não entrar nessa negociação. (...) implantei essa ideia aqui dentro da

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Empresa AA no Brasil. Escalei isso aqui para o nosso presidente e fomos

escalando isso para fora do Brasil e também junto à liderança global da

firma e conseguimos a permissão para formalizar nossos interesses junto à

Empresa BB, quer dizer, ao antigo controlador da Empresa BB.”

(Entrevistado 7)

No que diz respeito à análise do tipo de aquisição, oportunista ou planejada, é

possível notar que, assim como descrito por Haspeslagh e Jemison (1991), houve

relação entre a estratégia da empresa e a oportunidade surgida. O entrevistado 7

conta que a Empresa AA estava desenvolvendo uma service line focada em

consultoria financeira desde 2006 e que havia procurado a Empresa BB para

parcerias nessa área, pois acreditava que havia similaridade na forma que as duas

empresas trabalhavam. Então, quando em 2009 surgiu a oportunidade de adquirir a

Empresa BB, e mais especificamente a Ferramenta BB, a Empresa AA percebeu

que a inclusão desse software em seu rol de produtos ofertados poderia ser de

grande valia porque estaria alinhada com a estratégia de crescimento da service line.

“Em 2006 a Empresa AA do Brasil resolveu criar uma nova área, uma nova

service line, especializada em fazer consultoria financeira chamada FPM

onde o objetivo era fazer serviços de management consulting, envolvendo

tecnologia na área financeira de nossos clientes independente da indústria.

Ou seja, eu fui para essa área . . . na verdade fui fazer a ‘startup’ dessa

área aqui no Brasil, que não existia. E aí, construímos essa prática. Ou

seja, durante 2006, 2007 até 2010 eu criei, gerenciei, liderei essa prática. A

gente começou lá atrás com 20 pessoas e chegamos a ter mais de 120.

Mas algumas pessoas foram para a Argentina e México. Ainda dentro

dessa prática de FPM, a gente desenvolvia alguns projetos na área de

Risk Management onde eu comecei a me aproximar de alguns

fornecedores de softwares no intuito de fazer alianças para eventualmente

trabalhar em parcerias em alguns projetos com nossos clientes. Entre

essas empresas, uma delas era a Empresa BB, especificamente ali na

área de risco de mercado. Começamos a conversar na época com a

Empresa BB. Começamos a formatar algumas coisas juntos. Chegamos a

submeter algumas propostas juntos. Isso eu estou falando de 2008, 2009.

E aí em março de 2009 a Empresa BB, na época o Entrevistado 2, que era

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o CEO da Empresa BB, entrou em contato dizendo que o antigo

controlador da Empresa BB tinha decidido vender esse ativo. Vender essa

operação. E ia fazer um processo competitivo, ou seja, entrar no mercado,

estava interessado em comprar essa operação e fazer um ‘bid’ competitivo. Na época, ainda em FPM nós achamos que fazia sentido, pelo

tipo de ativo que eles tinham, que era um software muito especifico, de

nicho, além das pessoas, que tinham uma formação muito boa e um ‘fit’ muito interessante para o trabalho de consultoria que a gente faz na

Empresa AA. Seria uma forma interessante de a gente alavancar nossa

presença nesse mercado em gestão de risco e em particular gestão de

risco de mercado, que é muito técnico, muito especifico.” (Entrevistado 7)

Passando para a análise do objetivo da aquisição, diversos autores versam

sobre o assunto. Haspeslagh e Jemison (1991) em sua obra chamada “Managing Acquisitions: Creating Value Through Corporate Renewal”, afirmam que as

aquisições podem contribuir de três formas para a estratégia de negócio de uma

empresa. São elas: aquisição de uma capacitação específica, aquisição de uma

plataforma e aquisição de uma posição de negócio existente.

No caso da aquisição da Empresa BB pela Empresa AA é possível notar que

o objetivo da adquirente foi a aquisição de uma capacitação específica, ou seja, a

empresa demandava determinada capacitação a fim de implementar uma estratégia

de negócio e adquiriu outra com esse propósito.

Baseado no que foi dito anteriormente pelo Entrevistado 7 e acrescentando o

ponto de vista do Entrevistado 9, é possível perceber que a Empresa AA realmente

adquiriu a Empresa BB para ter acesso a uma nova capacitação, que era solicitada

pelo mercado. O último deixa claro que, por não ter essa capacitação, a Empresa

AA já havia perdido alguns negócios para outras empresas, entre elas a Empresa

BB.

“No meio de 2009 a gente começou a pensar em formar uma service line

nova de risk management – Risk Management Consulting. Que é uma

service line de gestão e análise de risco. Que antes esses produtos

ficavam dentro de FPM. Que é outra service line nossa aqui. Aí, com o

tempo esse negócio começou a ficar muito grande, pensaram em

segmentar e transformar em outra service line e daí a coisa veio daí. Para

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montar a service line a gente tinha muito projeto dentro da Empresa AA

que a gente fazia de análise de modelo, de gestão de risco, desenho de

processo, avaliação de critérios de gestão de risco, essas coisas. Só que o

mercado pedia bastante por uma ferramenta, um asset, um ativo, um

software que fizesse . . . ponderasse “n” variáveis e fizesse análise de

risco. E a gente não tinha isso, a gente tinha os famosos Excel e Access

que a gente construía de projeto em projeto. Não eram uma solução

standard e não eram uma solução integrada e mais estruturada. A gente

sempre perdia projeto para algumas empresas no mercado, entre elas a

Empresa BB. A gente . . . , não lembro qual projeto que foi, a gente fez

uma parceria com esses caras no qual a gente desenhou o modelo de risk management para o cliente e a gente usou a solução tecnológica deles

para fazer . . ., implantar o sistema e fazer esse negócio de uma forma

mais estruturada. Daí veio o relacionamento que a gente usou para depois

avaliar, fazer o “valuation” da empresa e comprar a empresa. Foi essa a

motivação do negócio.” (Entrevistado 9)

Já os autores Lynch e Lind (2002) afirmam que os objetivos para a realização

de uma aquisição podem ser: melhorar as margens operacionais, aumentar o

market-share, ampliar o portfólio de produtos ou oferecer mais valor para os

acionistas.

No caso em análise, conforme apresentado pelos entrevistados, os objetivos

da Empresa AA foram a ampliação do market-share e do portfólio de produtos, pois

deixariam de perder projetos pela ausência de um instrumento para realizar a

análise de risco de mercado e, com a possibilidade de realizar mais projetos, seu

faturamento seria maior e, por consequência, ofereceria mais valor para seus

acionistas.

A aquisição da Empresa BB pela Empresa AA foi realizada com todos os

objetivos apresentados anteriormente, porém o principal, conforme apresentado

pelos autores Lynch e Lind (2002), McGee (2006) e Penrose (1959), foi a busca pelo

crescimento da empresa de forma mais acelerada. A Empresa AA já tinha planejado

uma forma alternativa para desenvolver sua service line de gestão de risco no caso

de a aquisição não acontecer. É possível notar que a empresa conseguiu perceber

que a alternativa à aquisição seria mais demorada e difícil, mas que o objetivo seria

alcançado de ambas as formas.

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“A alternativa (a aquisição da Empresa BB) eram outras empresas de

nichos especificamente de gestão de risco. Assim como um caminho mais

difícil que é construir a prática contratando profissionais do mercado e

adaptando eles à cultura da Empresa AA.” (Entrevistado 7)

O autor Bower (2001), em seus estudos, identificou cinco razões pelas quais

uma aquisição pode ocorrer: supercapacidade, desdobramento geográfico, extensão

de linha de produto e mercado, lógica de P&D e convergência industrial. No caso

estudado, é possível perceber, conforme apresentado anteriormente, que a

aquisição ocorreu devido à lógica de P&D e à extensão de linha de produto e de

mercado.

A extensão de linha de produto e de mercado, conforme apresentado no

próprio nome, tem como objetivo a ampliação da linha de produtos oferecidos, assim

como a expansão do mercado consumidor. Esse objetivo já foi tratado

anteriormente. O autor ainda diz que a obtenção de sucesso nesse tipo de aquisição

depende, em parte, do tamanho relativo das empresas envolvidas. Caso os

tamanhos sejam bastante diferentes, como no caso da Empresa AA (com mais de

236 mil profissionais) e da Empresa BB (com aproximadamente 40), as chances de

obtenção de sucesso são grandes, pois a empresa maior acaba impondo seus

processos e valores sobre a menor.

A lógica de P&D normalmente é utilizada por empresas de alta tecnologia ou

biotecnologia, que, ao invés de desenvolver internamente em seus setores de

Pesquisa e Desenvolvimento, preferem comprar as tecnologias já desenvolvidas por

outras empresas. O principal objetivo, assim como o anterior, é alcançar uma

posição de mercado de forma mais rápida. No caso estudado, a empresa adquirente

não é especificamente de alta tecnologia, muito menos biotecnologia, mas sim de

prestação de serviço. Porém, a razão para a realização da aquisição é exatamente a

lógica de P&D, uma vez que a Empresa AA preferiu adquirir um software já

desenvolvido e amplamente conhecido no mercado de gestão de risco de mercado a

ter que contratar pessoas com experiência nessa área para oferecer suporte à área

de tecnologia interna no desenvolvimento de uma ferramenta.

O modelo de Lynch e Lind (2002) apresenta duas dimensões – disparidade e

goodwill/boa vontade – que, combinadas, podem facilitar a identificação de

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candidatas, o planejamento e o resultado da aquisição. Organizadas em um gráfico

com dois eixos, essas dimensões identificam os diferentes tipos de aquisição, assim

como a abordagem que deve ser utilizada e sua probabilidade de sucesso.

Os quatro quadrantes apresentados pelos autores são: planejada e próspera,

retorno em longo prazo, fusão e crescimento, e segmentação ou venda.

A aquisição da Empresa BB se enquadra no primeiro tipo, planejada e

próspera. Esse tipo de aquisição, em que a disparidade é baixa e o goodwill/boa

vontade é alta, é caracterizado pela similaridade das indústrias, dos canais de

distribuição e dos mercados de atuação das duas empresas. Nesse modelo, a

disparidade entre os negócios é definida como “o grau em que o modelo de negócio

básico das empresas é diferente ou similar” (LYNCH & LIND, 2002, pp.6). Já

goodwill/boa vontade nos negócios é definido como “o prêmio pago” pela adquirente

devido “às expectativas de lucros futuros pagos pela empresa adquirida” (LYNCH &

LIND, 2002, pp.7). Como, por exemplo, cultura organizacional, qualidade do corpo

gerencial, conhecimentos contidos na empresa e relacionamentos com clientes e

fornecedores.

Como neste caso a disparidade entre as duas empresas é baixa, pois atuam

praticamente em um mesmo setor, é importante identificar e reter o goodwill/boa

vontade, uma vez que ele garantirá o relacionamento com os clientes e a

manutenção do know-how da empresa. Essa preocupação com a manutenção das

pessoas, principalmente por se tratar de uma empresa intensiva em capital

intelectual, pode ser percebida através do trecho retirado da fala do Entrevistado 6.

“(...) acho que teve essa preocupação. Eu não me envolvi tão diretamente

nessa discussão, mas tinha uma preocupação, com certeza da Empresa

AA. Indiretamente, deu para perceber isso no processo de aquisição. Era

importante manter as pessoas. Eles tinham interesse em manter todas as

pessoas. Na verdade é uma empresa de pessoas e conhecimento muito

específico. Quer dizer, a empresa dependia das pessoas continuarem e

permanecerem ali. (...) Então, teve essa preocupação por parte da

Empresa AA dentro do processo da negociação. Da discussão para tentar

motivar a permanência das pessoas. Então foi discutido um bônus de

permanência para os principais executivos, que estava associada à

permanência na empresa durante certo tempo. Então, parte dos executivos

que tinham alguma participação maior, que eram mais importantes, ficaram

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com esse bônus atrelado a um certo tempo de permanência na empresa.

Assim como quem tinha participação . . . as principais pessoas que tinham

participação (na Empresa BB)” (Entrevistado 6)

Após análise das justificativas para a aquisição da Empresa BB pela Empresa

AA, mais especificamente os objetivos buscados e o tipo de aquisição, é possível

passar para a etapa seguinte que trata da integração pós-aquisição. Nesta etapa, a

aquisição já ocorreu e inicia-se a busca por sinergias.

4.2.3. Integração pós-aquisição

Haspeslagh e Jemison (1991) afirmam que existem três abordagens para a

realização da integração pós-aquisição, conforme apresentado na Figura 2.4. São

elas: preservação, simbiose e absorção. Essas abordagens levam em consideração

o nível de autonomia organizacional demandada e a necessidade de

interdependência estratégica.

A natureza da interdependência na aquisição depende da forma como o valor

será criado. Como ele pode ser criado de acordo com o tipo de capacitação

transferida, isso pode ocorrer através de compartilhamento de recursos

operacionais, transferência de habilidades funcionais, ou transferência de

habilidades gerenciais. Ainda pode ocorrer através da combinação de benefícios,

sem transferência de capacitações, mas com benefícios puramente financeiros.

No caso escolhido para estudo neste trabalho é possível perceber que o valor

pode ser criado através da transferência de capacitações e de habilidades

funcionais. A pesquisa de Haspeslagh e Jemison (1991) sugere que, independente

da variedade e quantidade de sinergias possíveis, o importante é reconhecer um dos

tipos de transferência de capacitação como sendo a dominante na criação inicial de

valor, pois é através dela que é possível determinar o grau de interdependência

estratégica necessária para que o processo de integração seja bem conduzido.

Baseado no que foi coletado durante as entrevistas e no que diz o trabalho de

Haspeslagh e Jemison (1991), que define a transferência das capacitações como o

compartilhamento de recursos implicando em um processo de dissolução total das

fronteiras entre as áreas que serão compartilhadas pelas empresas e que, dessa

forma, o valor é criado através da combinação das duas entidades ao nível

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operacional, de forma que praticamente se sobreponham e as duplicidades sejam

eliminadas, é possível concluir que essa forma é a dominante. O Entrevistado 7

apresenta argumentos que corroboram essa visão.

“(...) uma vez oficializado, pouquíssimas pessoas sabiam, basicamente só

diretoria da empresa, eram 3 diretores. Então, a gente imediatamente

colocou em ação um plano de integração que começou a ser desenvolvido

antes da aquisição. Ou seja, do d0 (data zero) da aquisição até 6 meses

depois tinham ações programadas de integração. Desde integração de

pessoas às práticas da Empresa AA, desde o mais operacional até as

coisas mais ligadas à cultura da empresa, assim como uma série de ações

relativas aos processos financeiros, de RH (Recursos Humanos), jurídico,

controle de projeto, etc. e etc. Então, ou seja, foi uma jornada que

mobilizou, apesar da empresa ser pequena quando comparada a Empresa

AA, muitas pessoas internas. De diversas áreas da Empresa AA. Mobilizou

mais gente da Empresa AA do que funcionários da Empresa BB. Tinham

mais pessoas da Empresa AA mobilizadas para fazer a integração do que

a empresa de 40 pessoas.” (Entrevistado 7)

Sabendo disso, é possível afirmar que a interdependência estratégica das

duas empresas é alta.

Tão importante quanto o processo de transferência das capacitações

estratégicas é a manutenção das mesmas durante e após o processo de integração.

Entretanto, em função das pressões por tomada de decisão e planejamento da

integração, os gestores envolvidos no processo acabam comprometendo-se com

determinadas atitudes futuras somente para conseguir a adesão e aceitação da

aquisição pelos gestores da empresa comprada.

Haspeslagh e Jemison (1991) afirmam que “se os gestores perdem a noção

de que a tarefa estratégica de uma aquisição é a criação de valor, eles podem

conceder muito rapidamente a autonomia à adquirida” (HASPESLAGH & JEMISON,

1991, pp.143). Eles seguem dizendo que um dos maiores desafios de um gestor é

saber lidar com a necessidade de autonomia organizacional pós-aquisição.

No caso em estudo, a autonomia organizacional necessária é baixa, pois as

diferenças organizacionais não estão no contexto de benefícios esperados. Ou seja,

essas diferenças não impedem que a adquirente consiga a obtenção de valor

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planejado. De qualquer forma, é possível perceber que havia preocupação por parte

da adquirente sobre este assunto. Tanto que, inicialmente, houve a manutenção das

lideranças e das operações.

“A gente teve uma preocupação também em não destruir a liderança dessa

empresa, assim como também não desfigurar completamente a operação.

Ou seja, a gente manteve as pessoas juntas desse primeiro grupo com a

mesma liderança. E aos poucos fomos introduzindo um pouco da cultura

da Empresa AA, as políticas da Empresa AA, os mecanismos de

treinamento e avaliação, etc., gestão de projetos da Empresa AA. Então a

gente teve uma preocupação: primeiro da existência da Empresa BB. Em

fazer isso, foi bastante suave, ou seja, garantir que o grupo continuasse

existindo enquanto grupo e ao mesmo tempo adaptando – isso parece

simples, mas na verdade estou falando de discussões, equiparação

salarial, discussões de treinamento, ou seja, uma série de aspectos bem

operacionais que foram feitos pela Empresa BB aqui.” (Entrevistado 7)

Com a identificação do baixo nível de autonomia organizacional demandada e

a alta necessidade de interdependência estratégica é possível enquadrar a

abordagem utilizada pela Empresa AA na aquisição da Empresa BB, levando-se em

consideração somente o que diz a literatura de Haspeslagh e Jemison (1991), como

de absorção. Esse tipo de integração implica numa consolidação total das

operações, da cultura e da organização das duas empresas. Além da dissolução de

quaisquer fronteiras, virtuais ou não, que possam existir entre as empresas. A chave

do sucesso dessa integração passa “a ser muito mais uma questão de tempo do que

o quanto de integração deve ocorrer” (HASPESLAGH & JEMISON, 1991, pp.147).

Devido a esse fato, a adquirente deve ter em mente suas convicções e habilidades

para conseguir absorver o valor esperado das capacitações e, simultaneamente, ter

cuidado com aspectos culturais que possam limitar e dificultar a não autonomia

organizacional.

Baseado nesta definição e na análise do caso pesquisado é possível notar

que a aquisição da Empresa BB pela Empresa AA não pode ser enquadrada

completamente no tipo absorção, pois as fronteiras entre as duas empresas não

foram dissolvidas por completo. Conforme apresentado pelos entrevistados 2, 5 e 6,

o grupo de funcionários da Empresa BB continuou existindo em um escritório

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separado dos escritórios da Empresa AA, ou seja, existe uma fronteira física que

ainda não foi dissolvida por completo.

“O grande problema (...) é a separação. Talvez essa separação que na

cabeça das pessoas ainda exista, mas que não deveria existir mais. E a

separação, na cabeça das pessoas é potencializada até por conta de a

gente estar fisicamente separado.” (Entrevistado 2)

“Talvez as pessoas ainda não saibam utilizar isso da melhor maneira até

por essa questão de estar um pouco isolado fisicamente, de não estar tão

integrado com o mundo Empresa AA.” (Entrevistado 5)

“Inclusive um dos aprendizados era não “splitar” (do inglês - to split) o

grupo de pessoas dentro da companhia. Se não me engano era esse. No

nosso caso, isso foi fundamental porque o conhecimento do software . . .

quer dizer, todo o valor da empresa . . . grande parte do valor era . . .

função dessa interação forte entre quem desenvolve e quem dá o suporte.

As pessoas que estavam em projetos dentro dos clientes têm uma troca de

informação muito grande. A gente trabalhava assim na Empresa BB . . . e

isso, quer dizer, continuou, permaneceu todo mundo junto fisicamente, e

isso foi importante.” (Entrevistado 6)

Com essas evidências e com o que foi mencionado pelo entrevistado 7, é

possível concluir que a aquisição em estudo também apresenta características do

tipo preservação, em que o mais importante é a manutenção da fonte dos benefícios

adquiridos intacta. Ou seja, diferentemente do que é preconizado pelos autores

Haspeslagh e Jemison (1991), em que as aquisições devem ser enquadradas em

somente um tipo, na prática foi possível notar a existência de uma opção hibrida,

com características de mais de um tipo de integração.

O autor Birkinshaw (1999), em seu trabalho sobre os caminhos para a

integração pós-aquisição, também trata sobre a componente velocidade. Ele

apresenta diversos autores, entre eles Feldman (1995), Smith e Quella (1995) e

Galpin e Robinson (1997), que afirmam que o mais importante para o sucesso da

integração e, consequentemente, da aquisição é a velocidade com que ela é feita.

Porém, sua opinião é um pouco diferente. Ele acredita que uma categoria especifica

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de aquisição deva ser tratada de forma diferenciada: aquela em que o conhecimento

da empresa adquirida é um ativo crítico. Como é o caso da aquisição da Empresa

BB pela Empresa AA. Nesses casos, um processo de integração lento e focado

inicialmente na “integração das pessoas” é o mais propenso ao sucesso. O autor, diz

ainda que as “aquisições de conhecimento intensivo devem ser controladas com

mais cuidado” (BIRKENSHAW, 1999, pp.33), pois tratam com os profissionais que

detêm o conhecimento da empresa. Os gestores da Empresa AA tinham em mente a

importância da manutenção das pessoas chave para a continuação do

desenvolvimento da Ferramenta BB, assim como para as melhorias necessárias.

“Com certeza isso (manutenção das pessoas que desenvolveram a

Ferramenta BB e detinham o conhecimento da área de gestão de riscos)

era um dos fatores críticos de sucesso para a aquisição: manter as

pessoas chaves. Então, desde os executivos que tem alguns incentivos

para estarem conosco nos próximos anos, movidos por essa aquisição e

as pessoas mais juniores, que não são os executivos-chave, a gente

também hoje sabe exatamente quem são as pessoas importantes para

ficar na operação.” (Entrevistado 7)

Porém, a integração das tarefas, que se refere a como as atividades das duas

empresas serão combinadas para gerar maior sinergia através da transferência de

aptidões (capabilities) de uma empresa para a outra e o compartilhamento dos

recursos entre as duas, não foi deixado de lado, pois era importante a racionalização

das atividades. O Entrevistado 9 apresenta, de forma clara, todos os pontos levados

em consideração para a realização da integração da Empresa BB à Empresa AA.

“A partir daí eu toquei o PMI (Post-Merger Integration), ou seja, o post-merger integration. O projeto que foi a integração desses caras ou da

empresa inteira (Empresa BB) com a Empresa AA. Basicamente isso.

Durante o PMI a gente teve 16 frentes de trabalho: uma frente de RH, que

o Entrevistado 8 estava envolvido, uma frente de finanças, uma de liga,

uma de tax, uma de facilities and service, uma de tecnology, uma de

procurement, uma de Corporate development, que é vamos dizer modelo

operacional, como funcionava antes e como vai funcionar depois da

integração. Daí teve frente comercial que basicamente via vendas e

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contato com cliente e tal, frente de marketing, frente de comunicações,

uma frente de payroll e teve outras menores de documentação e essas

coisas todas.” (Entrevistado 9)

Analisando as entrevistas realizadas sob a ótica do modelo de Birkinshaw

(1999) é possível perceber que a Empresa AA não seguiu exclusivamente nem o

caminho “High road”, com foco inicial na integração das pessoas, nem o caminho

“Low road”, com o foco inicial na integração das tarefas. Ela optou por seguir um

caminho híbrido, tentando realizar a integração das diversas áreas de forma

simultânea.

Essa decisão pode ser colocada em prática devido à diferença de tamanho

das duas empresas. A adquirida, conforme já apresentado, contava com um total de

aproximadamente 40 profissionais e a adquirente com mais de 236 mil no mundo

todo. O número de profissionais da Empresa AA envolvidos na operação de

aquisição era superior ao numero total de funcionário da Empresa BB.

Além disso, outro ponto importante para o sucesso da integração, segundo

Birkinshaw (1999), é a criação, logo no início do processo, de uma liderança, cuja

principal responsabilidade é gerenciar todo o processo de integração.

Os autores Ashkenas e Francis (2000) trataram deste mesmo assunto, porém

foram mais adiante e denominaram essa figura de liderança com sendo o

“integration manager”. Eles sugerem que a existência desse líder pode ser uma

solução para o fato de que “menos da metade de todas as operações de fusão e

aquisição consigam alcançar os resultados financeiros e estratégicos definidos”

(ASHKENAS & FRANCIS, 2000).

Para desempenhar essa tarefa é necessário um novo tipo de líder, alguém

capaz de resolver situações complexas rapidamente, que tenha bom acesso aos

diferentes níveis hierárquicos, que faça as pontes entre as culturas e percepções

diferentes, e principalmente que auxilie os funcionários a alcançar os resultados de

negócio esperados no curto-prazo.

A Empresa AA teve essa preocupação e definiu uma pessoa da alta gerência

para realizar essa tarefa. Na realidade, a função desta pessoa na empresa é liderar

os processos de integração. No caso da aquisição em estudo, o “integration manager” foi da adquirente por seis meses e, após esse período, a liderança da

integração passou para um antigo sócio da Empresa BB, que era o responsável pelo

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grupo em conjunto com uma responsável pelo setor de recursos humanos da

adquirente.

“Na realidade nos primeiros 6 meses onde tinham muitas atividades de

integração, existia uma Sênior Manager que só faz isso dentro da Empresa

AA. Depois desse processo, as ações adicionais, o próprio Entrevistado 2

era o responsável por isso com o apoio de pessoas do administrativo.”

(Entrevistado 7)

“Por parte da Empresa AA, acho que teve uma proximidade do

Entrevistado 8, do RH. Entrevistado 8 do RH, se eu não me engano. (...)

Então, tinha uma preocupação grande dos líderes das frentes, do

Entrevistado 7 e do Entrevistado 2, mas mais diretamente quem participou,

que eu me lembre, foi o Entrevistado 8 na parte do RH e aqui dentro a

Roberta que liderava um pouco do RH, do administrativo nosso.”

(Entrevistado 6)

Analisando as entrevistas realizadas com profissionais das empresas

adquirente e adquirida é possível notar que eles apresentam pontos de vista

conflitantes no que diz respeito à finalização do processo de integração. De acordo

com o entrevistado 8, funcionário da adquirente, a integração entre as duas

empresas estava encerrada.

"Do ponto de vista da aquisição, a integração está encerrada."

(Entrevistado 8)

Já os funcionários da empresa adquirida acreditam que o processo de

integração ainda não foi concluído. Eles afirmam que diversos pontos já se

encontram integrados, mas que ainda existem aspectos que precisam de integração.

"Eu diria que, agora, depois de um ano da aquisição a empresa já está

mais integrada, de forma mais ampla. Os termos que a Empresa AA usa

nos seus processos, no seu dia-a-dia, já são termos comuns a todo mundo

na empresa. Mas levou uns seis meses para a coisa começar, realmente,

a ganhar essa dinâmica. E ainda tem muito o que fazer. Ainda tem

bastante o que fazer." (Entrevistado 1)

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"O processo tá acabando agora. Eu acho que agora a gente começa a

fazer com que as pessoas entrem nos eixos." (Entrevistado 2)

"(...) não é um processo que ainda se concluiu . . . que tá concluído ainda.

(...) se tivesse que quantificar, diria que está em mais de 70%. Mas ainda

tem um tempinho." (Entrevistado 3)

O entrevistado 6 foi o primeiro a se manifestar, informando sobre uma

possível divergência de opinião entre as duas empresas. Ele informa que, para a

adquirente, o processo estaria finalizado; mas que, para ele, como funcionário da

adquirida, o processo ainda necessitava de ações.

"A minha impressão é que do ponto de vista da Empresa AA está

concluída. Mas existem lacunas em aberto do ponto de vista de integração,

principalmente o pessoal que não é lá da equipe do mundo de projetos.

Pessoal que tem uma realidade mais próxima da equipe da Empresa AA.

Que essas lacunas ainda não estão fechadas sobre plano de evolução,

plano de avaliação dessas pessoas, quais seriam os objetivos e . . . elas

deveriam ser avaliadas com base em qual critério? Que não estão bem

alinhados. Qual vai ser a forma de crescimento dessas pessoas. Então,

acho que isso não está 100% fechado, não." (Entrevistado 6)

Com base nessa diferença de percepção sobre o status do processo de

integração, surgiu o interesse em pesquisar os diversos níveis de integração, assim

como o entendimento da empresa adquirente e da adquirida quanto à finalização do

processo.

4.2.4. Resultados

Devido ao fato de, no momento em que as entrevistas foram realizadas com

os membros da empresa adquirente e adquirida, ainda não ser possível analisar

qualquer forma de resultado do processo de aquisição, esse tópico não foi incluído

no trabalho. Futuros trabalhos podem ser realizados com a finalidade de estudar em

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maior profundidade os resultados obtidos pela adquirente após a aquisição. Ou seja,

verificar se a Empresa AA foi capaz de aprender com a aquisição da Empresa BB.

4.3. MACRO CATEGORIAS INTEGRADAS

O objetivo desta seção é apresentar as evidências de convergência (macro

categorias) que, segundo os entrevistados, já podem ser observadas entre as duas

empresas.

Conforme descrito na metodologia da pesquisa (Seção 3.5) foi utilizado um

“funil”, partindo de muitos pontos de convergência e chegando a oito macro

categorias, que foram nomeadas da seguinte forma: Conduta, Processos, Sistemas

e Ferramentas, Eventos/Celebrações, Setores da empresa, Infraestrutura, Políticas

e Modelo de negócios. Cada uma é exemplificada a seguir.

1) Conduta

Nessa macro categoria foram agrupados itens como a forma de falar e os

termos utilizados pelas duas empresas. De acordo com o entrevistado 1, os termos

utilizados pela empresa adquirente já fazem parte do vocabulário dos funcionários

da empresa adquirida.

“Então, é interessante você já ver as pessoas hoje em dia falando de

termos que, até pouco tempo atrás, não eram conhecidos dentro da

Empresa BB. São termos da Empresa AA.” (Entrevistado 1)

"Eu diria que, agora, depois de um ano da aquisição a empresa já está

mais integrada, de forma mais ampla, os termos que a Empresa AA usa

nos seus processos, no seu dia-a-dia, já são termos comuns a todo mundo

na empresa. Mas levou uns seis meses para a coisa começar, realmente,

a ganhar essa dinâmica. E ainda tem muito o que fazer. Ainda tem

bastante o que fazer." (Entrevistado 1)

A partir de diversas entrevistas é possível notar a utilização de termos em

inglês por parte dos funcionários da empresa adquirida. Isso se deve ao fato de a

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empresa adquirente ser de origem norte americana e fazer vasto uso de termos

nessa língua mesmo em países com idiomas oficiais diferentes.

“O grande problema, que eu acho que começa a entrar no seu mundo da

sua tese principalmente, é a separação que na cabeça das pessoas ainda

existe, mas que não deveria existir mais. E a separação na cabeça das

pessoas é potencializada até por conta de a gente estar fisicamente

separada. Então, hoje a gente evoluiu alguma coisa . . .nós passamos por

um período de “acquisition work force” com . . . em vez de ser

“deployado”, em consultoria, “outsourcing”, ou qualquer outra coisa, você

fica em uma transição. Essa transição é super importante, por um lado,

mas depois vendo, tem algumas desvantagens. Você começa a ser tratado

de forma diferente, as pessoas não sabem exatamente o que é o que,

como é que devem tratar, então você é uma exceção o tempo todo. Aí, por

ser exceção, não tem nenhuma política de treinamento, não tem diversas

coisas. E é fundamental que tenha esse processo de “acquisition work

force”. Não sou contra, não. Mas o grande problema é que todo processo

de você se encaixar toma tempo até você conseguir decidir para que lado

você vai. Tem “trade-offs”. Então você tem que amadurecer, porque um

erro agora pode impactar mais para a frente.” (Entrevistado 2)

“(...) como a Empresa AA tem essa cobrança muito grande para as

pessoas serem “chargeable” e as pessoas não poderem “ficar de bobeira”,

então você trazer uma pessoa para ficar aqui aprendendo durante muito

tempo, tem que ser uma decisão de cima porque é grana que está sendo

jogada fora. Tipo, obvio, é uma opção, está sem projeto em FPM, está sem

projeto de “Supply Chain”, vocês têm interesse de conhecer aquilo, é uma

coisa que teria que ser bancada por cima." (Entrevistado 5)

Além da forma de falar, outro aspecto que também é considerado dentro de

conduta é a forma como os funcionários se vestem. Nesse sentido, o entrevistado 1

comenta que a forma como os funcionários da empresa adquirida estão se vestindo

foi mudada depois da aquisição. Porém, ele ressalta que essa mudança não foi

imposta pela adquirente, mas que aconteceu naturalmente.

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“A Empresa BB, essencialmente era uma empresa de software, mas

sendo uma empresa de software no mercado financeiro, ela não era

“chutada” como as empresas de software, como algumas empresas de

software são. Lá você vê os camaradas de tênis, uma galera de camiseta

pela empresa de vez em quando. Isso, assim, isso já mudou um pouco. O

pessoal hoje em dia raramente aparece lá de tênis. Camiseta eu não me

lembro da última vez que alguém apareceu, mas calça jeans ainda é

padrão da casa.” (Entrevistado 1)

“Não foi um “dress-code” imposto, não. Isso foi naturalmente imposto. Isso

foi naturalmente acontecendo. Foi acontecendo naturalmente com o . . .

você vê o pessoal da Empresa AA que passa lá pelo escritório que acaba

que o escritório é isolado, mas ele não é totalmente isolado. Algumas

pessoas, principalmente dessa nova área de risco, passam lá no escritório

quando estão pelo Rio de Janeiro e precisam de uma base. Elas ficam lá,

usam o escritório também. Então, o pessoal olha para esse pessoal

Empresa AA . . . original . . . e vê como eles estão se vestindo. Começam a

olhar se tá muito diferente. Começam a ir se adaptando e tal, então essa

coisa acontece meio naturalmente.” (Entrevistado 1)

Outro aspecto incluído no agrupamento conduta é a forma como os

funcionários se comportam. Nesse sentido, o entrevistado 1 acrescenta que, devido

à participação em reuniões e treinamentos com equipes das duas empresas, a

forma como elas se comportam começou a ficar bastante parecida.

"(...) o pessoal participando em reuniões e em treinamentos da própria

Empresa AA vê como o pessoal se comporta (...) como as discussões são

conduzidas . . . e acaba . . . ganhando um pouco dessa cultura. Então,

esse aspecto aos poucos vai se ajustando. Vai se adaptando."

(Entrevistado 1)

Resumindo, é possível notar que mesmo sem ter sido imposto pela empresa

adquirente, a conduta dos funcionários da adquirida mudou de forma a se adequar à

nova realidade.

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2) Processos

Nessa macro categoria foram agrupados os diversos processos que a

adquirida passou a executar após a aquisição. É possível notar que os funcionários

da empresa adquirida muitas vezes se referem aos processos definidos pela

adquirente como burocracia.

De acordo com o entrevistado 2 existe a necessidade de se ter processos por

se tratar de uma firma com mais de 210 mil funcionários espalhados por mais de 120

países.

"Até porque você sai de um mundo de uma empresa pequena para um

mundo de empresa grande, onde tem 210 mil funcionários, você tem um

volume de e-mails gigantesco, você tem muita informação, muitas não são

úteis. Tão úteis para esse conjunto de pessoas. Tem processos muito bem

definidos e “caros” para quem está entrando e tendo que gerenciar todos

esses processos.” (Entrevistado 2)

Ele comenta que solicita aos seus funcionários que informem quando o nível

de burocracia, nesse caso mais especificamente o volume de correios eletrônicos

enviados pela empresa adquirente, é tão alto que começa a atrapalhar a realização

das suas funções. O objetivo é transformar os processos em ferramentas úteis para

a empresa e não uma forma de atrapalhá-la.

“(...) a gente não está bem adaptado para a estrutura. Eu peço para gritar.

Vem cá, grita! Grita! ‘Isso aqui não está funcionando. Eu tô gastando 20%,

30% do meu tempo com burocracia.’ A gente tenta resolver. Todo mundo

tem bom senso. Todo mundo quer reverter esse negócio em retorno, então

se por acaso tiver alguma coisa errada, a gente vai corrigir. É um processo

de motivação das pessoas para chamar atenção. Uma empresa global tem

que ter processos, mas esses processos não podem emperrar a ponto de

inviabilizar o negócio." (Entrevistado 2)

Seguindo nessa mesma linha, o entrevistado diz que os funcionários da

empresa adquirida devem seguir os processos definidos pela adquirente para

mostrar aos funcionários da adquirente que eles agora fazem parte de uma mesma

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empresa. E que, se os processos funcionam para uma, deverão funcionar para a

outra também.

"Outro dia eu tive problemas de entrar no servidor de arquivos, aí liguei

para o CIO (Chief Information Officer) e abri um chamado. Eu não quis

incomodar ninguém. Passei o dia inteiro ferrado, mas não queria

incomodar ninguém de produtos, que a gente teve uma perda de duas

pessoas de infra. Chamei a manutenção aqui: ‘Eu estou com um problema.

Não estou conseguindo acessar o servidor de arquivos’. ‘Qual o servidor?’

Eu falei: ‘CRCSPR-Risk01’. Ele falou: ‘O que? (demonstrando espanto)’ O

cara não sabe porra nenhuma. (Risos) Eu falei: ‘É, é esse mesmo!’ Aí, se

vira! O cara passou pelo processo normal de atendimento dele. Se as

pessoas começarem a trabalhar assim, elas vão ver que: As coisas vão

funcionar da forma como deveriam estar funcionando. E mais, vai

funcionar! Vai funcionar por que a Empresa AA vai fazer funcionar. E as

pessoas vão passar a acreditar que a estrutura funciona. (Entrevistado 2)

De acordo com o entrevistado 6, os processos definidos pela adquirente já

foram absorvidos pela adquirida. E, do ponto de vista dele, esses processos podem

ser bastante proveitosos, principalmente nas áreas de controle, qualidade e

prospecção de novas oportunidades. Porém, ele ressalva que esses processos

devem ser utilizados de forma parcimoniosa, para que não sobrecarreguem as

atividades diárias.

"Preocupação com processos, com alguns processos de controle, de

qualidade, metodologia. Eu acho que isso, na medida certa, (...) tende a

beneficiar a Empresa BB. Seja a parte de desenvolvimento, como na parte

de implantação, até na parte de prospecção de novas oportunidades, de

qualificação dessas oportunidades, de ver a melhor maneira de tocar todo

esse processo de venda e de conversar com as pessoas certas e ter uma

proximidade maior. Acho que isso tende a beneficiar também."

(Entrevistado 6)

O entrevistado 1 entende a necessidade da adquirente de controlar os

processos devido ao seu tamanho. Porém, essa nova realidade, com muito mais

processos, é uma dificuldade para a operação da adquirida. Ele apresenta uma

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situação em que, antes da aquisição, ele teria maior liberdade para negociar; mas

que, agora, precisa passar pelas etapas definidas pela adquirente. E, por ter que

passar por essas etapas, as decisões se tornam mais difíceis.

"Assim, na verdade, acho que a Empresa AA é, normalmente, muito

menos sujeita a crises do que a Empresa BB. Principalmente em grandes

crises. Mas pequenas crises são muito difíceis de você lidar dentro de uma

empresa grande como a Empresa AA, que tem burocracia. Que tem a

burocracia natural que é necessária para controlar algo desse tamanho.

Então, assim, a capacidade de você negociar com um analista que está

querendo sair ou com um estagiário que está querendo sair que você vê

potencial nele. Se tem muito menos capacidade. Antes eu tinha liberdade

para dar uma oferta para esse garoto ficar e que hoje não tenho mais essa

capacidade. A Empresa AA regula muito mais esse tipo de coisa. Antes se

você precisava, por exemplo, . . . vamos supor que eu precise comprar um

equipamento especial para fazer um teste ou para resolver um problema

imediato de hardware ou para ,digamos, fazer um teste de algum produto.

Antes eu podia resolver isso muito rapidamente. Falava com o pessoal da

holding. Se não fosse nada demais ele aprovavam rápido e isso se

resolvia. Agora você tem que passar por todo o ciclo de compra da

Empresa AA , que é muito mais demorado." (Entrevistado 1)

Resumindo, é possível notar que os funcionários da adquirida entendem que

é necessário ter processos para controlar uma empresa com as dimensões da

adquirente. No entanto, por ser um grupo muito menor, em torno de quarenta

pessoas, esses processos acabam demandando tempo em excesso e, de certa

forma, limitando a liberdade na tomada de decisão.

3) Sistemas e Ferramentas

Nessa macro categoria foram agrupadas as diversas ferramentas e sistemas

utilizados pelas duas empresas. De forma geral, a empresa adquirida passou a

utilizar as ferramentas e sistemas já utilizados anteriormente pela adquirente. Isso se

deve ao fato de a adquirente ser muito maior do que a adquirida e contar com mais

ferramentas de controle. Entre elas, podemos citar como exemplo a avaliação dos

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funcionários, o lançamento de horas, a bases de conhecimentos, o controle de

custos dos projetos, etc.

De acordo com o entrevistado 3, a oportunidade de qualquer funcionário,

independente do seu nível hierárquico, poder ter acesso à base de conhecimentos

da empresa adquirente é de extrema valia, uma vez que ela conta com informações

(lições aprendidas, metodologias, memória de cálculos, etc.) de diversos projetos já

realizados pela empresa nos países em que atua.

"Uma coisa que eu achei muito importante para a gente: a questão de

trocar ideia, de ter um canal mais amplo para a gente poder coletar

informação de projetos fora e eventualmente de até o que a gente

considerava concorrente. Que eram empresas de software concorrentes

que hoje são parceiras, que para a gente agora são parceiras, porque são

parceiras da Empresa AA. E a Empresa AA acaba implantando soluções

parceiras. Para a gente é interessante buscar informações de projetos.

Como é que os projetos desses antigos concorrentes são feitos? Então,

desse ponto de vista, é uma fonte muito boa de conhecimento. Tem grupos

de diversas partes do mundo fazendo coisas parecidas com a gente,

extensões do que a gente faz, então, nesse aspecto, o acesso fácil à

informação foi um aspecto muito positivo." (Entrevistado 3)

Outros funcionários da adquirida também comentaram sobre a oportunidade

e, em alguns casos, da obrigatoriedade de acessar as ferramentas e sistemas

impostos pela adquirente. Porém, eles já apresentam um ponto de vista mais

negativo. Muitos comentam que as ferramentas e sistemas são burocracias que

tomam tempo e que, antes da aquisição, não eram realizadas.

O entrevistado 6, comenta da dificuldade de utilização das ferramentas de

lançamento de horas trabalhadas e alocação de custos nos projetos.

"Isso dificultou em detalhes do tipo ‘Como é que eu faço para preencher o

time report? Quem aloca o que em cada WBS (Work Breakdown Structure)?’ Todo mundo jogava numa WBS cruzada porque o pessoal de

projetos e suporte ajudava no desenvolvimento. Então, eram vários. Isso

dificultou muito o processo." (Entrevistado 6)

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O entrevistado 3 também comenta sobre a demanda de tempo com a

utilização das novas ferramentas de gestão.

"(...) dificuldade em saber onde é que estão as informações, em saber

quem são as pessoas corretas. E lidar com um conjunto de demandas de

tempo que não estão relacionadas exatamente com o seu dia-a-dia de

trabalho. Por ter uma rotina diferente para registrar sua alocação de hora,

e tal. Por ser uma consultoria isso é muito mais rígido do que em um

modelo de software house que a gente tinha. Isso consome um tempo

maior no nosso dia-a-dia." (Entrevistado 3)

Porém, mais adiante, ele sinaliza que a ferramenta de avaliação dos

funcionários, mesmo gerando burocracia para seu dia-a-dia, é uma boa forma de se

avaliar uma grande quantidade de funcionários de uma forma igualitária.

"O sistema de avaliação é muito bem estruturado também. Embora isso

me gere bastante burocracia, porque a gente tem que lidar com muita

gente. Mas parece ser bastante estruturado com suas limitações, porque

acaba tendo algumas distorções por ser uma empresa muito grande. Mas

eu não acredito em sistema perfeito nesse caso." (Entrevistado 3)

Resumindo, é possível notar que os funcionários da empresa adquirida já

estão bastante familiarizados e fazendo uso dos sistemas e ferramentas impostos

pela adquirente, mas ainda apresentam certa resistência devido ao tempo

necessário para preenchimento de todas as informações. Esse tempo gasto foi

chamado mais uma vez de burocracia.

4) Eventos/Celebrações

Nesta macro categoria foram agrupados os eventos e celebrações que as

duas empresas realizam em conjunto. Dentre eles estão as festas de final de ano,

eventos com o objetivo de integrar as equipes, etc.

O entrevistado 5 relata que existem eventos cujo objetivo é proporcionar a

integração entre as equipes das duas empresas.

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"Quando tem final de ano, tem eventos, sempre que pode tem eventos,

mas não é fácil para integrar pessoas com eventos esporádicos e tem que

ser esporádico mesmo, não tem como ter mais." (Entrevistado 5)

Mais adiante, ele complementa informando que logo depois da aquisição

foram realizados diversos eventos dentro e fora da área de atuação da adquirente.

"No começo, a service line foi criada no mesmo momento, então trouxeram

o pessoal de FPM e tiveram eventos para apresentar o pessoal e para o

pessoal se conhecer. Depois tiveram eventos mais genéricos de

management consulting mesmo, não só necessariamente de Risk

Management. Só que grande parte do pessoal de Risk Management está

em São Paulo (...)" (Entrevistado 5)

De acordo com o entrevistado 3, a participação de funcionários da adquirente

em celebrações oferecidas pela adquirida tem como finalidade aumentar o

sentimento de pertencimento ao novo grupo.

"A noção de grupo, à medida que algumas práticas da Empresa AA, que

foi a empresa que adquiriu, vão se tornando parte do nosso dia-a-dia.

Como, por exemplo, treinamentos, uso dos benefícios, participação em

celebrações. Isso ajuda a criar um espírito de grupo melhor. Então, a

sensação é de que as pessoas se sentem mais inseridas nesse contexto

da Empresa AA." (Entrevistado 3)

Resumindo, a empresa adquirente demonstrou preocupação com a

integração entre as duas empresas, por isso, realizou eventos e celebrações em

conjunto. Inicialmente, somente na área de Risk Management e, em seguida, com

as demais áreas da empresa. Os funcionários da adquirida conseguiram perceber

essa atitude de forma positiva, o que potencializa as chances de sucesso da

integração.

5) Setores da empresa

Nesta macro categoria foram agrupados os setores que, após a aquisição,

passaram a atuar de forma igualitária para atender às solicitações de ambas as

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empresas. De acordo com as entrevistas, é possível notar que os setores da

empresa adquirente já estão sendo utilizados pelas adquirida, porém não de forma

plena.

Segundo o entrevistado 1, existe a expectativa de melhora na penetração da

ferramenta no mercado, uma vez que a adquirente apresenta um setor comercial

com capilaridade muito maior.

"As vantagens, além de toda a segurança de ser uma empresa muito

maior, a Empresa AA tem muito mais capilaridade comercial do que nós

tínhamos antes. Então, antes nós não conseguíamos atingir uma fração

das pessoas que hoje nós temos capacidade de atingir.” (Entrevistado 1)

Essa opinião também é compartilhada pelos entrevistados 4 e 6, que afirmam

que a penetração da empresa adquirente em vários clientes pode ser considerada

como o grande benefício do processo de aquisição.

"O maior benefício comercial é penetração da empresa, né? A Empresa

AA já tem penetração em vários clientes, então acredito que seja fácil

expandir e vender o sistema dentro deles." (Entrevistado 4)

"a Empresa AA tem uma estrutura grande, com bastante proximidade dos

clientes e das empresas e eu acho que isso . . . eu espero que isso facilite

bastante o aumento no volume de negócios para a Empresa BB também."

(Entrevistado 6)

O entrevistado 1 também informou que, logo após a aquisição, as empresas

já iniciaram os trabalhos de forma mais integrada. Em seu discurso, ele lembra que

toda a parte visual da ferramenta que a adquirida havia desenvolvido, era verde

devido às cores da Holding e que, passando para a adquirente, foi necessário mudar

para vermelho. Essas alterações foram realizadas pelo setor de design da

adquirente.

"O sistema em si passou a se chamar Ferramenta AB. Então, logo que ele

foi negociado, nós trocamos toda a parte visual do sistema para tirar a

lembrança da época da Empresa CC. Então, para ter uma ideia de como

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isso afetou, a Empresa CC, essencialmente, a cor da empresa é verde. A

base de cor da empresa é verde, enquanto a Empresa AA é vermelha.

Então, nós trocamos as telas de entrada do sistema e do site. Trocamos

logo do sistema, ícones e tudo o mais que remontava à Empresa CC foi

trocado. Muito de isso aí deu até certo trabalho, porque muitos ícones

pequenos estavam no sistema há mais de 10 anos, remontando a

Empresa CC. Símbolos parecidos com a Empresa CC. Isso tudo teve que

ser trocado, mas isso também teve o apoio grande do pessoal de design

da Empresa AA. Esqueci o nome do grupo lá. Mas teve apoio nesse

sentido." (Entrevistado 1)

Ele continua, informando que os funcionários da empresa adquirida, quando

questionados sobre o nome da empresa em que trabalham, já respondem com o

nome da adquirente e usam o nome da adquirida com uma especificação da área

em que estão lotados.

"Dentro da empresa ainda se fala muito do nome Empresa BB, mas já

como um acrônimo. Quer dizer, trocou. Se você perguntar para uma

pessoa lá de dentro onde ela trabalha. Essa pessoa vai responder:

Empresa AA. E aí, se você pedir mais detalhes: Em que grupo da Empresa

AA? Ai a pessoa vai te falar: Na Empresa BB. Mas essencialmente as

pessoas já sabem e já falam como funcionários Empresa AA. Como a

Empresa AA é muito projetizada, separada em grupos, se você perguntar:

Qual é o grupo? O grupo acaba sendo o Empresa BB. Então, o Empresa

BB passou a ser um complemento. Um segundo nome para a empresa

que eles trabalham, para o grupo em que eles estão trabalhando."

(Entrevistado 1)

O entrevistado 2, por outro lado, ressalta que a expectativa de benefícios por

utilizar os setores da empresa adquirida eram muito grandes, porém até o momento

eles ainda não eram visíveis.

"Eu acho que, na verdade, até agora não teve tanto benefício assim de

oportunidade. Não sei. Mas isso também não significa que eu não espere

benefícios. Eu espero que vá ter e seria difícil ser diferente, mas eu

contava, um pouco mais, com a capacidade de distribuição. A capacidade

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de acesso à capilaridade comercial da Empresa AA. Eu acho que a

Empresa AA tem, mas é difícil, às vezes, colocar isso . . . vamos falar de

Ferramenta AB . . . esquece Risk Management, que Risk Management pode ser tudo e a gente entra com toda a “offering” e o pessoal tá olhando para Risk Management de uma forma . . . com a lupa. Mas do ponto de

vista de Empresa BB, talvez os grandes ganhos esperados fossem

capilaridade e até aumento de preço por você estar acessando . . . com

muito mais proximidade . . . e profundidade os CEOs e os “C” levels.

Então, com isso, você consegue demonstrar o valor da ferramenta . . . e

esses caras têm muito mais orçamento do que as pessoas que a gente

vinha falando . . . falava com o CFO (Chief Finance Officer), falava com . . .

falava . . . mas . . . era muito difícil dado que a gente tinha capacidade

restrita de recursos. Então era um processo muito mais reativo do que

proativo, antes da aquisição. E eu acho que vai ser . . . deve começar a

acontecer um processo proativo de vendas. Já acontece um pouco, mas é

muito pouco. As oportunidades que vieram, por enquanto, boa parte, acho

que 90%, vieram por nossa causa. Que viria de qualquer jeito. Não seria

diferente." (Entrevistado 2)

O entrevistado 3, também apresenta as dificuldades encontradas depois da

aquisição. Ele informa que o processo de recrutamento de novos recursos, por estar

sendo realizado pelo setor de Recursos Humanos da adquirente, perdeu a agilidade

da época em que era feito pela adquirida.

"A gente perdeu um pouco de dinamismo na parte de recrutamento. Por

que que eu digo isso? Não pela área de recrutamento da Empresa AA, não

atender. Já no primeiro processo de recrutamento eu notei que seria bem

diferente do que a gente estava acostumado a fazer, mas aos poucos esse

processo foi se ajustando junto à área de RH da Empresa AA.”

(Entrevistado 3)

O entrevistado 8, relata a preocupação quanto à integração dos recursos

humanos da adquirida nos setores da adquirente.

“Até esse dia a gente também tinha uma lista de pessoas que chamaram

de redundantes, são pessoas que deveriam ser cortadas após a aquisição

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porque não teriam espaço na nova estrutura. Eram pessoas basicamente

do backoffice da Empresa BB. Eram 5, era um menino da expedição, uma

secretária, uma consultora especialista . . . o nosso cargo equivalente aqui

da parte administrativa que passou para a parte de contas a pagar,

receber, admissão e desligamento de funcionários, e tinham dois

estagiários da parte administrativa. Então essas 5 pessoas deveriam ser

desligadas a partir da aquisição, depois de um tempo a partir da aquisição.

(...) Qual foi o saldo final disso? A gente conseguiu recolocar praticamente

todo mundo, a gente tem um menino que até está em BPO (Business Process Operation). (...) esse menino ele era estagiário, aí a gente

conseguiu passar para ele BPO, estava no projeto do Gusmão, se eu não

me engano. Ele está feliz da vida assim, se encontrou, deslanchou. Aí a

outra estagiária do administrativo está com a gente no RH. Começou como

scheduler e agora está com HR Rep. (Representante de Recursos

Humanos) na TGP (gerência de um dos maiores clientes da empresa

adquirente). Também está feliz da vida, super bem. Tem uma outra menina

que era mais experiente, era a consultora que eu falei, ela veio trabalhar

com a gente no RH, veio trabalhar comigo no RH para cuidar de Supply Chain e recentemente em uma reestruturação interna que a gente teve foi

para recrutamento, então continua na empresa. A secretária que era para

ter sido desligada lá atrás, ela também continua na empresa, só que agora

a gente vai ter que ver o que fazer com ela porque ela está ficando muito

cara. Então talvez a gente vá ter que substituir e a gente continua nessa

procurando alguma oportunidade interna. Se não tiver, ela vai ter que ser

desligada. E aí a gente acabou tendo que desligar o . . . na verdade a

gente nem acabou desligando, o contínuo, ele pediu demissão porque ele

resolveu estudar para concurso. Viu que ele não iria conseguir ser

aproveitado e tal . . . então ele se antecipou e pediu demissão. Mas o saldo

final foi super positivo. O pessoal lá de fora está super feliz: “Nossa,

parabéns, não sei o que”. Foi um feito, porque a gente achava que não ia

aproveitar ninguém e conseguiu aproveitar quase 100% das pessoas.”

(Entrevistado 8)

Resumindo, é possível notar que os setores das empresas estão sendo

integrados gradativamente, porém alguns ainda necessitam de mais ajustes para

atender às expectativas da adquirida. Por outro lado, é importante ressaltar que

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houve preocupação por parte da adquirente, conforme apresentado por um dos seus

funcionário entrevistados nesse trabalho (Entrevistado 8), quanto à realocação das

pessoas consideradas redundantes.

6) Infraestrutura

Nesta macro categoria foram agrupados diversos aspectos da infraestrutura

que foram integrados. Dentre eles estão as instalações prediais e as instalações de

lógica, como rede e servidores de internet.

O entrevistado 4 informa que, no escritório da empresa adquirente em São

Paulo, existe uma sala exclusiva para apresentação e divulgação da ferramenta de

análise de risco desenvolvida pela adquirida.

"Sei inclusive que tem uma sala lá na Empresa AA em São Paulo que

serve de apresentação da Empresa BB. Uma sala que foi feita no primeiro

andar que tem um sistema funcionando e tem tipo um workshop lá.

Mostrando o sistema . . .(...) No escritório da Empresa AA em São Paulo.

No térreo. Foi montada uma sala lá de apresentação de algumas coisas . .

. e o sistema da Empresa BB tá lá sendo mostrado e divulgado para quem

tiver interesse." (Entrevistado 4)

O entrevistado 5 também comenta que muitos funcionários da adquirida, por

estarem trabalhando em projetos no escritório da adquirente em São Paulo, estão

usufruindo da infraestrutura oferecida aos funcionários.

"O que acontece é que algumas pessoas, principalmente de projetos,

acabam tendo contato maior com o pessoal da Empresa AA, porque

viajam para o escritório de São Paulo, então vão tendo mais contato com

outros sócios, com outros gerentes (...)." (Entrevistado 5)

Além de estar dividindo os espaços no escritório paulista, o do Rio de Janeiro

também já está na lista de imóveis sob a responsabilidade da adquirente. O

entrevistado 8 comenta sobre o trabalho que está sendo feito no atual escritório, que

era da adquirida, para incluir as cores e identificações da adquirente.

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“Visualmente não houve mudança muito grande para eles porque eles

continuam no mesmo escritório, não existe identidade visual ainda lá, a

gente está dependendo de uma série de coisas aqui do Facilities, a gente

quer transformar aquele escritório, botar com a cara da Empresa AA, mas

por questões burocráticas a gente não conseguiu ainda.” (Entrevistado 8)

E complementa dizendo que a aquisição da empresa BB foi total, ou seja,

desde o software de análise de risco e o conhecimento envolvido no seu

desenvolvimento até as instalações e mobiliário.

“O prédio onde eles estão é um prédio que antes não tinha aprovação

global para eles continuarem lá. Não estava dentro dos padrões de

segurança e uma série de coisas. O que que fizeram? Correram atrás

porque lá é um espaço bom, o valor do aluguel também é um valor que

compensa, tinha essas questões aí de não estar dentro dos padrões, tal,

mas aí correram atrás, fica no segundo andar, conseguiram negociar e tal

e eles foram ficando. Só que o que acontece? Até pouco tempo atrás o

aluguel, a renovação não tinha sido fechada ainda, tinha algumas questões

pendentes que impossibilitava da gente fazer essa questão de identidade

Empresa AA. Aí teve um rolo lá com o ar condicionado . . . que parou de

funcionar . . . Não sei se você sabe, mas quando a gente comprou a

Empresa BB, a gente comprou não só . . . a gente comprou tudo da

Empresa BB. . . assim pessoas entre aspas e todo o mobiliário, tudo é

nosso, telefones, tudo.” (Entrevistado 8)

O entrevistado 2 comenta que, devido a sua posição de liderança, incentiva

os funcionários da empresa adquirida a tratar as instalações onde estão alocados

como parte dos imóveis da adquirente. Por isso, solicita que seu grupo, sempre que

necessário, entre em contato com o setor da adquirente responsável pela

administração predial.

"Esse escritório pertence à Empresa AA. Eu não quero saber do cara do

condomínio ligando para uma pessoa daqui (Empresa BB) ou ligando para

mim para dizer que vai faltar água. Pedi para o “Facilities” (área

responsável pelas “facilities” da Empresa AA) ser o contato. Porque na

hora a própria estrutura da Empresa AA começa a funcionar em sua

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função, as coisas começam a ser percebidas . . . que a gente faz parte do

escritório da Empresa AA." (Entrevistado 2)

A integração da infraestrutura vai além das instalações físicas, passa também

pela parte de lógica. O entrevistado 2 comenta que, da mesma forma que incentiva

seus funcionários a tratarem as instalações físicas como parte de uma empresa

única, ele incentiva que qualquer problema relacionado à tecnologia seja resolvido

com o CIO da adquirente.

"O CIO tem infraestrutura. Vem cá, isso aqui é seu. Tô chamando a

atenção o tempo todo. Problemas de tecnologia nossa, por mais que vocês

consigam resolver com facilidade, liga para o CIO. Abre um chamado e

mostra que está errado. Faz o cara se virar. Se precisarem de ajuda,

ótimo. A gente pode ajudar e pode tentar contribuir. Porque a gente

conhece mais nosso ambiente do que eles. Mas a gente tem que entender

isso. Que eles estão ali para nos atender." (Entrevistado 2)

O entrevistado 1 comenta que a integração da infraestrutura lógica, mais

especificamente no que diz respeito aos servidores, não se deu somente com o

escritório brasileiro, mas sim com diversos outros escritórios da adquirente no

mundo.

"No inicio do processo de integração da parte de hardware, principalmente

dos nossos servidores e tal, foram feitos vários contatos com o pessoal da

Índia, o pessoal até da Republica Tcheca. Teve contato com gente da

Empresa AA de vários locais no mundo." (Entrevistado 1)

Resumindo, é possível notar que a infraestrutura das duas empresas está

sendo integrada de forma gradativa. Algumas áreas já estão completamente

integradas, mas outras ainda evoluindo para uma integração total. É importante

ressaltar que essa integração já é bastante percebida pelas equipes das duas

empresas.

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7) Políticas

Nesta macro categoria foram agrupadas as políticas que estão sendo

aplicadas às duas empresas. Dentre elas estão as de precificação dos serviços e as

de recursos humanos, mais especificamente as que dizem respeito a cargos e

salários, Programa de Mentorado e treinamentos.

Houve quase unanimidade dos entrevistados no que se refere à integração

das políticas de recursos humanos. Os entrevistados 3, 4, 7 e 8 focaram seus

comentários no que se refere aos benefícios oferecidos e no plano de cargos e

salários.

"Do ponto de vista salarial, melhorou. Um pouco. A gente estava numa

empresa pequena que estava com o teto muito baixo. Então, estava difícil

acomodar muitos interesses ali. Acomodar o crescimento. Ainda mais

depois de uma crise. Então, desse ponto de vista, abriu um pouco mais o

caminho . . ." (Entrevistado 3)

"E alguns benefícios: carro para gerente, benefícios financeiros, digamos

assim.” (Entrevistado 4)

"O tratamento que é dado é o mesmo que às pessoas da Empresa AA que

a gente acha relevante também, através do reconhecimento meritocrático

das pessoas." (Entrevistado 7)

“Quando foi mais ou menos em maio, a MC (Management Consulting) fez

um movimento de alteração salarial, de revisão salarial, chamado “off cycle movement”. Então todo mundo de consultoria teve os seus salários

revistos e a gente aproveitou esse movimento para poder fazer também

com esse pessoal de Empresa BB.” (Entrevistado 8)

"Ou seja, a gente fez o levantamento de todas as pessoas que estavam na

Empresa BB e que seriam absorvidas pela Empresa AA. Foi feito um

estudo dos benefícios que elas tinham lá comparados com os benefícios

que teriam aqui (Empresa AA), porque na soma de tudo eles não poderiam

perder benefícios, né? Então a gente fez esse levantamento, essas duas

semanas que antecederam a compra, a gente fez essa equiparação e aí

chegou à conclusão que eles tinham, se eu não me engano, eles tinham . .

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. todos eles tinham ticket alimentação e os executivos não tinham ticket car (benefício de pagamento de gasolina para os carros oferecidos pela

empresa). Então o que a gente fez? A gente equiparou, trocou o ticket alimentação pelo ticket car no caso dos executivos, que eles receberiam o

carro e mais o ticket car, combustível. Na verdade era ticket combustível,

falei errado. E para os não executivos a gente pegou e incorporou o valor

ao salário. Porque eles não poderiam perder esse benefício. E o plano

saúde basicamente era o mesmo, se eu não me engano era o mesmo

plano de saúde, plano dental não tinha, passaram a ter, ticket refeição a

gente deu um valor maior, que é o praticado aqui. E a diferença era essa

do tíquete alimentação que a gente fez dessa forma, para os não

executivos incorporou ao salário e para os executivos trocou o benefício

pelo ticket combustível. Então isso foi feito na semana anterior a

aquisição." (Entrevistado 8)

Outro ponto que foi ressaltado pelos entrevistados (1, 7 e 8) foi o Programa

de Mentoring, em que um funcionário oferece instruções/conselhos para outro

funcionário com dois níveis hierárquicos abaixo. A participação neste programa está

sendo feita com funcionários das duas empresas.

"Outra coisa que me esqueci de falar é que do ponto de vista de RH houve

uma adaptação também às políticas da Empresa AA. Tanto do ponto de

vista da bonificação e da remuneração variável, que nós participamos de

um processo de avaliação nesse sentido. E já estamos preparando para o

próximo. Todo o desenho de RH da Empresa AA de mentor, . . . de . . .

esqueci o outro nome que foi usado no inicio . . . pessoal falava como se

fosse fada-madrinha . . . um negócio assim . . . tipo um . . .(...) Que

“apadrinhava” cada uma das pessoas da então Empresa BB para fazer a

adaptação na Empresa AA. Mas, por exemplo, mentorado já é uma coisa .

. . todo mundo tem seu mentor . . . todo mundo tem . . . algumas pessoas

lá já são mentores de outras. Existem pessoas do grupo de Risk

Management maior, que não são do grupo Empresa BB, que são mentores

de pessoas da Empresa BB. Então já há mais contato. Já existe essa

parte." (Entrevistado 1)

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"Bem, então esse foi um “overview” da integração, tinham algumas outras

frentes... uma delas é de pessoas onde a gente desenvolveu algumas . . .

ações para a integração de pessoas como por exemplo, todo mundo tinha

um mentor e também um mentor espelho, para ensinar o mentor a ser

mentor. Além disso, especialmente o pessoal de gerente para cima, a

gente colocou também um anjo da guarda, alguém do mesmo nível que

poderia ajudar a facilitar a esse executivo navegar dentro da Empresa AA,

dentro dos procedimentos, como as coisas funcionam e etc. " (Entrevistado

7)

“A gente ao invés de colocar mentores dentro da estrutura da Empresa BB,

a gente misturou o pessoal que já estava aqui em Risk Management com o

pessoal da Empresa BB para tentar passar um pouco mais de cultura da

Empresa AA para eles. Então isso ficou bem legal. Aí eles tinham um

mentor formal que era alguém que já estava na empresa há mais tempo e

os mentores informais que eram entre eles mesmos.“ (Entrevistado 8)

Os entrevistados 3 e 4 comentaram sobre o benefício de acesso aos

treinamentos, tanto nacionais como internacionais, oferecidos pela adquirente.

"Tem outro aspecto positivo que eu não falei que é a questão de fazer

treinamentos fora. Isso também é bastante interessante. Te dá uma outra

dimensão de . . . faz um contato diferenciado . . . o pessoal de fora . . . a

possibilidade de fazer projetos diferentes também é uma coisa

interessante. Isso acho que é um aspecto positivo." (Entrevistado 3)

"Treinamento é bom também, porque tem toda uma infraestrutura de

treinamento da Empresa AA já preparado, mundial, enfim. Isso é muito

bom." (Entrevistado 4)

No que se refere à política de preços, o entrevistado 5 ressalta que a

integração já ocorreu, porém não benéfica para a adquirida, pois ela conseguia

praticar preços mais competitivos.

"Então, acho que o peso de virar Empresa AA favorece nesse ponto, talvez

até desfavoreça por conta, de repente, de um preço que aumenta, o valor

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da consultoria é um pouco mais alto do que era na nossa época. Porque o

nosso foco antes, a gente não pretendia ganhar dinheiro com a consultoria,

a gente queria bancar a consultoria de implantação e o foco era vender o

software. Quando a gente vira Empresa AA não, o foco . . . “beleza” a

gente quer vender o software também, é importante vender o software

porque ele vai pagar todos os investimentos, vai pagar toda a “galera” que

ficou dentro de casa, mas o nosso foco é consultoria. Então, temos que

vender consultoria. A consultoria então é bem mais cara do que seria na

nossa época. As coisas acabam se equilibrando um pouco, diminui daqui,

aumenta dali, mas acho que faz uma diferença de preço, mas acho que o

fato de ser Empresa AA, pelo menos para os clientes maiores acho que

tem um impacto positivo." (Entrevistado 5)

Resumindo, é possível notar que as políticas de RH estão completamente

integradas e, de acordo com os entrevistados, foram positivas. Por outro lado, a

política de preços acabou sendo prejudicial para a adquirida, pois ela perdeu sua

competitividade.

8) Modelo de negócios

Esta macro categoria diz respeito à forma como as empresas estão

trabalhando para gerir os negócios após o processo de aquisição. É possível notar

que a empresa adquirida enfrentou grande mudança no seu modelo de negócios,

passando a oferecer mais serviços de consultoria. O entrevistado 1 apresenta essa

mudança na adquirida.

"Até porque a Empresa BB, sendo uma empresa, relativamente, pequena,

ela tinha uma grande diferença no modo de trabalhar da Empresa AA. A

Empresa AA, essencialmente, ela é uma empresa de vender consultoria.

Ela vende consultoria e vende serviços de consultoria. Não que ela não

queira vender outras coisas, mas a referência dentro da empresa é a

prestação de serviços de consultoria. A Empresa BB, ela, essencialmente,

fugia de serviços de consultoria. Porque era mais importante nós termos o

pessoal pronto, disponível para implantar novas versões dos sistemas,

vender novas licenças, do que prestando consultoria e ganhar dinheiro no

grão da consultoria. Então, essa foi uma mudança importante: a filosofia da

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empresa que era de vender licenças, teve que se adaptar, de certa

maneira, a filosofia da Empresa AA de vender consultoria." (Entrevistado 1)

Os entrevistados 2 e 6 ratificam a informação da mudança de modelo de

negócio após a aquisição para o modelo utilizado pela adquirente.

"Fora pessoas, você tem todo um processo de integração de um negócio

que é diferente do negócio da Empresa AA. Então, a gente tem a Empresa

AA Software, tudo bem, mas a Empresa AA Software está mais lá fora do

que aqui. O resto é tudo consultoria. Então, você encaixar esse negócio,

que é diferente, dentro da Empresa AA também não é fácil. Porque se

procura adaptar tudo que é consultoria para dentro do negócio, mas às

vezes não funciona. Por exemplo, oportunidades. Oportunidades você tem

que passar tudo para o SAP OM (SAP Organizational Management), tudo

bonitinho, perfeito! Tem que ter. Mas você tem keyways, tem estágios, tem

satisfação para dar para milhares de pessoas e isso termina custando

caro. A Empresa AA foi preparada para poucas oportunidades de grande

valor. Nós temos muitas oportunidades de pequeno valor. Nossas maiores

oportunidades são de pequeno valor para a Empresa AA. Em alguns

casos, a gente tem a oportunidade de vender mais uma licença para

aquele cliente. É quase isso. Você tem a oportunidade de criar uma nova

funcionalidade no sistema que foi demandado pelo cliente. E eu não posso

dizer não. Se fizer sentido, é lógico se o cara pedir um negócio que não

tem nada a ver com o sistema, não tem por que. Mas se tem a ver. ‘Pô, eu

estou operando esse novo instrumento financeiro, quanto é que você me

cobra para colocar isso para dentro?’ Eu tenho que fazer! Porque se eu

não fizer, ninguém faz. No tempo ele vai falar assim: ‘Esse não me serve

mais!’ Então, eu tenho que fazer. Tenho a oportunidade para criar um outro

tipo de relatório, então tem treinamento de R$2 mil, R$5 mil, R$10 mil no

máximo. Então, você passar por todo esse processo é complicado. Então a

gente tem que buscar a exceção." (Entrevistado 2)

"Além disso, acho que outro fator que dificultou foi um pouco da natureza

da empresa. Na verdade, provavelmente toda a cultura da Empresa AA

está voltada ou foi muito tempo voltada, e agora tá até ampliando, para

uma estrutura voltada para projetos de consultoria. A gente tinha uma boa

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parte da nossa estrutura aqui dentro que era uma estrutura de

desenvolvimento. "(Entrevistado 6)

O entrevistado 2 também relata que houve mudança na forma como eram

alocados os custos de cada funcionário: na empresa adquirente, todos os

funcionários tinham seus custos alocados em algum projeto; já na adquirida, não.

Após a aquisição, a adquirida precisou se adaptar a esse modelo de alocação dos

custos dos funcionários em projetos.

"Tem um mundo de MD&I (Market Development & Initiative). MD&I você

tem um grupo de pessoas aqui que desenvolvem sistema que não é

“deliverable”. Quer dizer, delivery. Não são “chargeable”. Aí, você começa

a pô. . . “vem cá, como é que eu encaixo isso dentro de consultoria, sendo

que um grupo de pessoas que não é 1%, 2% de MD&I?” É 100% MD&I. E

como é que é que eu controlo esse negócio? Se todas as contas foram

feitas para pensar em “chargeability” . . . aí a parte “chargeable” paga a parte não “chargeable”. Se esses caras são 100% não “chargeable”. Aí, você tem a discussão financeira. Tem os contratos. Contrato novo. Então,

até hoje eu estou discutindo contrato. Nosso modelo de contrato de

software (risos)." (Entrevistado 2)

O entrevistado 2 também comenta sobre a mudança na forma de

relacionamento com outros setores dentro da empresa. Com a integração do modelo

de negócios, a adquirida passou a ter que respeitar o Acordo de Nível de Serviço

(SLA – Service Level Agreement).

"Mas tem também a parte administrativa e “fitar” o negócio dentro da . . . se

fosse uma consultoria isso aí estava . . . uma consultoria comprando uma

consultoria . . . isso aí estaria, razoavelmente, endereçado. Entrava no

mesmo modelo. Menos uma coisa para se pensar. Mas você colocar uma

outra coisa dentro de uma muito maior, que rege como deve ser, é

complicado. E as pessoas de “Enterprise” na Empresa AA são guiadas por

SLA, então você tem que fazer com que as coisas funcionem melhor. Eu

acho que a gente tem que melhorar." (Entrevistado 2)

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Resumindo, é possível notar que a empresa adquirida sofreu grandes

transformações para se adaptar ao modelo de prestação de serviço de consultoria

que é aplicado pela adquirente.

Com tudo o que foi apresentado anteriormente é finalizada a seção que trata

das áreas identificadas como já integradas no processo de aquisição da Empresa

BB pela Empresa AA. A próxima seção responderá a pergunta central desse

trabalho: É possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição

pode ser considerado como encerrado?

4.4. IDENTIFICAÇÃO DO ENCERRAMENTO DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO

Para responder à questão central deste trabalho, partiu-se da hipótese de que

seja possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser

considerado como encerrado. A partir daí, foi utilizado, como fonte de inspiração, o

modelo de Edgar Schein de Níveis de Cultura Organizacional. Schein (2004)

preconiza que a cultura de uma empresa pode ser analisada em diferentes níveis. O

termo nível diz respeito ao grau em que o fenômeno cultural é visível a quem faz as

observações. Esses níveis perpassam desde as manifestações tangíveis e abertas

passíveis de serem vistas e sentidas – os artefatos - até seu extremo oposto, ou

seja, aqueles níveis profundamente arraigados, inconscientes, que constituem as

premissas básicas e são a essência da cultura. Entre esses dois extremos transitam

os valores expostos, normas e regras de comportamento que os membros da cultura

utilizam como meio de mostrá-la para si próprios e para pessoas de fora.

Dessa forma, o autor identifica três níveis diferentes de cultura: os artefatos,

os valores adotados e as premissas.

O primeiro nível de análise identificado por Schein (2004) é o nível dos

artefatos. O autor explica que, nesse nível, a cultura é o que se vê, sente e ouve

enquanto se está em uma organização; ou seja, é o ambiente construído pela

mesma, sua arquitetura, layout, a maneira das pessoas se vestirem e falarem,

padrões e comportamentos visíveis e documentos públicos.

O segundo nível de análise foi denominado por Schein (2004) de nível dos

valores adotados. Este nível é onde se começa a fazer perguntas sobre as coisas

que a organização valoriza. Para identificá-lo, é preciso entrevistar os membros-

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chave da organização ou realizar uma análise de conteúdo dos seus documentos

formais.

O terceiro nível de análise, e mais profundo, é o nível das premissas. Ele é

considerado por Schein (2004) dessa forma, pois se refere àqueles pressupostos

que determinam como os membros de um grupo percebem, pensam e sentem.

Neste nível, deve-se pensar na organização do ponto de vista histórico, descrevendo

quais foram os valores, crenças e certezas dos fundadores e dos líderes que a

tornaram bem sucedida. “Se os valores e certezas dos fundadores estão em

desacordo com o que o ambiente da organização permite ou proporciona, a

empresa falha e nunca desenvolve uma cultura inicial.” (SCHEIN, 2004).

Partindo-se do modelo de níveis de cultura organizacional e da definição do

termo nível abordado por Schein (2004), que diz respeito ao grau em que um

fenômeno é visível ao observador, este estudo propõe três níveis de integração pós-

aquisição: superficial, intermediário e profundo. A delimitação de cada um desses

níveis segue a mesma utilizada pelo autor. O primeiro é aquele em que os pontos

integrados podem ser vistos, sentidos e ouvidos enquanto se está na organização.

Nesse nível, a forma como os funcionários da adquirida e da adquirente falam, se

vestem e se comportam é praticamente igual. Os processos internos são os mesmos

para os funcionários das duas empresas. Os setores das empresas já estão

integrados, ou seja, não existe duplicidade de atividades. Os sistemas e ferramentas

utilizados, assim como toda a infraestrutura, já são iguais. Os eventos e celebrações

realizados já abrangem funcionários das duas empresas.

O segundo nível já é identificado com maior dificuldade, pois é necessário

conversar/entrevistar os funcionários para ter acesso aos pontos de convergência.

Aqui, as políticas das empresas, assim como o modelo de negócio adotado, passam

a ser únicos para a adquirida e adquirente.

O terceiro nível é aquele onde não é mais possível identificar diferenças entre

as empresas. Elas estão integradas de forma tão completa que o observador não

consegue mais distinguir o que faz parte da empresa adquirida e o que faz parte da

adquirente. Existe um sentimento de pertencimento (sense of belonging) tão grande

por parte dos funcionários da empresa adquirida que eles já se sentem parte da

adquirente. As empresas apresentam uma cultura única. Este é o nível mais

profundo de integração. A Figura 4.1 apresenta esses níveis.

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Superficial

Intermediário

Profundo

Figura 4.1 Níveis de integração pós-aquisição

A partir da definição dos níveis de profundidade de uma integração, voltou-se

à hipótese inicial para verificar sua validade. Para isso, foram analisadas as

abordagens para aquisição apresentada por Haspeslagh e Jemison (Figura 2.4) –

preservação, simbiose e absorção.

a) Preservação Conforme descrito por Haspeslagh e Jemison (1991), na abordagem de

aquisição do tipo preservação, há uma alta necessidade de autonomia

organizacional, porém baixa interdependência estratégica entre as empresas

adquirente e adquirida. Ou seja, para garantir a autonomia organizacional é

importante a manutenção das fronteiras entre as empresas.

Ainda sobre essa abordagem, os autores afirmam que o valor nessas

aquisições pode ser traduzido como “educação”, ou seja, criado através de uma

série de interações que trouxeram mudanças positivas na ambição, na tomada de

risco e na profissionalização do corpo gerencial da empresa adquirida.

Baseado nessas duas informações a respeito das aquisições de preservação

e na definição dos níveis de integração apresentados anteriormente, não é possível

precisar se uma integração deste tipo pode ou não ter seu encerramento identificado

conforme os níveis apresentados. Essa definição vai depender de o que e quanto a

adquirente deseja preservar após a integração. Ou seja, pode variar de caso para

caso. Se a adquirente tiver como objetivo a preservação de todas as características

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da adquirida, então não ocorrerá processo de integração entre as empresas. Nesse

caso, não é possível determinar quando ocorre o término da integração. Já se a

adquirente tiver como objetivo a integração de aspectos específicos da adquirida,

haverá integração entre as empresas, sendo possível identificar quando ela se

encerrará.

Como o processo de integração nessa situação é finito, para responder

quando ele estaria finalizado seria preciso identificar qual o nível de integração

desejado – superficial ou intermediário. Nos casos de aquisições do tipo

preservação nunca se alcança o nível profundo de integração porque ele demanda a

integração total das duas empresas, fato que não ocorre na preservação.

b) Simbiose A aquisição com abordagem do tipo simbiose é das mais complexas em

termos de desafios gerenciais, pois demanda tanto alto grau de interdependência

estratégica como de autonomia organizacional, ou seja, a transferência das

capacitações deve ocorrer, porém devem ser preservadas em contexto diferente do

atual da empresa adquirente.

Nesta situação, ambas as empresas continuam a existir e, paulatinamente,

tornam-se reciprocamente dependentes. Esse processo leva tempo e demanda

cuidados, em função da dificuldade de se manter a cultura e a organização das

empresas enquanto as capacitações são transferidas.

As aquisições de simbiose têm como característica uma série de interações

entre as duas empresas com o objetivo de construir uma nova empresa. Dessa

forma, não é possível deliberadamente estabelecer a duração e/ou os marcos limite

para que a integração seja considerada como encerrada.

c) Absorção As aquisições com integração do tipo absorção são aquelas que possuem alta

necessidade de interdependência estratégica, porém baixo grau de autonomia

organizacional para atingi-la. Nesse caso, a integração implica numa consolidação

total das operações, organização e cultura das duas empresas. O objetivo dessa

forma de aquisição é dissolver quaisquer fronteiras, virtuais ou não, entre as

empresas.

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Baseado nisso, a integração de uma aquisição do tipo absorção pode ser

considerada como encerrada quando atinge o terceiro nível – o profundo. Nesse

nível, a consolidação das duas empresas é total.

A Tabela 4.1 apresenta, de forma resumida a relação entre as abordagens de

aquisição de Haspeslagh e Jemison (1991) com os níveis de integração definidos

pelo estudo, quando aplicáveis.

Tipos de IntegraçãoHaspeslagh & Jemison

(1991)

Possibilidade de determinação do

encerramentoNível de integração

Preservação Depende do objetivo da adquirente

Varia de Não Aplicávela Intermediário

Simbiose Não Não Aplicável

Absorção Sim Profundo

Tabela 4.1 Relação do tipo de abordagem de integração de Haspeslagh e Jemison (1991) e os níveis de

integração definidos pelo estudo.

Dessa forma, podemos verificar que a hipótese de que seja possível

determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado

como encerrado não é válida para todos os tipos de integração apresentados por

Haspeslagh e Jemison (1991). A análise do caso selecionado permite a verificação da resposta obtida

anteriormente.

A aquisição da Empresa BB pela Empresa AA, não se enquadra somente em

uma abordagem definida por Haspeslagh e Jemison (1991). Ela apresenta

características tanto de preservação como de absorção. Partindo-se da definição

dada para cada tipo de integração, pode-se dizer que o tipo de integração em estudo

somente poderia ser considerado como completo quando atingisse o nível profundo

de integração.

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Analisando as macro categorias integradas, conforme informação dos

entrevistados, verifica-se que somente os níveis superficial e intermediário estão

integrados. No nível superficial, as macro categorias identificadas no caso são:

Conduta; Processos; Setores da empresa; Eventos; Sistemas/Ferramentas e

Infraestrutura. Já no nível intermediário, as macro categorias identificadas são:

Políticas e Modelo de Negócio. A Figura 4.2 apresenta esta classificação no caso

em análise.

Superficial

Intermediário

Profundo

•Conduta; Processos; Setores da empresa; Eventos; Sistemas/Ferramentas; Infraestrutura

•Políticas; Modelo de Negócio

•Não identificado no caso

Figura 4.2 Macro categorias identificadas na analise do caso organizadas nos níveis de integração pós-

aquisição.

É importante ressaltar que a classificação das macro categorias nos níveis de

integração pós-aquisição foi realizado de acordo com o princípio utilizado por Schein

(2004), em que os níveis eram separados de acordo com o grau em que eram

visíveis ao observador. Dessa forma, não foi possível identificar, através das

entrevistas realizadas, pontos de integração do nível profundo. Nesse nível, a cultura

das duas empresas deveria estar integrada.

De acordo com o Entrevistado 3, não existe um sentimento de pertencimento

à Empresa AA. Ou seja, não foi alcançado o terceiro nível de integração pós-

aquisição.

“Eu acho que o fato de estarmos um pouco distante, nosso escritório tá

localizado fisicamente longe de onde acontece a maioria das atividades da

Empresa AA, talvez dificulte, um pouquinho mais, essa noção de pertencer

ao grupo, de pertencer à Empresa AA.” (Entrevistado 3)

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O Entrevistado 2 tem opinião semelhante ao entrevistado anterior. Ele afirma

que, na cabeça dos funcionários da Empresa BB, ainda existe uma separação entre

a adquirente e adquirida.

"O que se tem pós-aquisição é que a gente foi incorporado. Não existe

mais Empresa BB. A Empresa BB não existe. É só o software . . . mas

tinham as pessoas. O grande problema é a separação, talvez essa

separação que na cabeça das pessoas ainda exista, mas que não deveria

existir mais. E a separação na cabeça das pessoas é potencializada até

por conta de a gente estar fisicamente separada. Então, hoje a gente

evoluiu alguma coisa . . .nós passamos por um período de “acquisition work force”, em vez de ser “deployado”, em consultoria, outsourcing, ou

qualquer outra coisa, você fica em uma transição. Essa transição é super

importante, por um lado, mas depois vendo, tem algumas desvantagens.

Você começa a ser tratado de forma diferente, as pessoas não sabem

exatamente o que é o que, como é que devem tratar, então você é uma

exceção. O tempo todo. Aí, por ser exceção, não tem nenhuma política de

treinamento, não tem diversas coisas . . . e que é fundamental que tenha

esse processo de “acquisition work force”. Não sou contra, não. Mas é que

o grande problema é que todo processo de você se encaixar toma tempo

até você conseguir decidir para que lado você vai. Tem “trade-offs”, então

você tem que amadurecer, porque um erro agora pode impactar mais para

a frente. Então, não diria nem que o problema foi a “acquisition work force” porque dentro do processo de integração, no limite, você termina sendo

exceção o tempo todo.(Risos) E aí, você tem o problema de as pessoas se

sentirem não pertencentes à Empresa AA. O que a gente começa a evoluir

agora é um processo de tornar claro esse sentido de pertencimento . . .

você, realmente, sentir que você tem vantagens e desvantagens de estar

em uma outra empresa de um outro porte." (Entrevistado 2)

O Entrevistado 1 também concorda que a cultura ainda não está integrada e,

conforme apresentado por Haspeslagh e Jemison (1991) sobre as aquisições de

absorção, afirma que essa integração deveria ser feita de forma paulatina para que o

valor não fosse destruído.

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"A cultura da Empresa AA ainda é pouco introduzida dentro da Empresa

BB, por conta, principalmente, de estarmos em escritórios separados e tal.

Mas isso, talvez, assim, . . . existe um valor nessa própria cultura. Fazer

essa mudança de forma abrupta também seria alguma coisa . . . teria sido

alguma coisa muito arriscada. Porque você perde a maneira com que a

empresa sabia fazer o seu trabalho e mutuamente a empresa poderia

deixar de funcionar direito em função disso. Só que isso foi feito de uma

forma bem . . . quer dizer, tá sendo feito, né? Tá sendo feito de uma forma

bem incremental." (Entrevistado 1)

Mesmo o processo sendo conduzido de forma lenta para que o valor não

fosse destruído, é possível notar, conforme apresentado anteriormente, que os

gestores da adquirente e da adquirida apresentam pontos de vistas diferentes sobre

o encerramento da integração. Porém, com tudo o que foi apresentado nesse

trabalho, é possível notar que a visão dos adquiridos está mais adequada ao que

este trabalho propõe, pois em se tratando de uma aquisição com características dos

tipos preservação e absorção, ela só poderia ser considerada como finalizada

quando alcançasse o terceiro nível de integração pós-aquisição- as culturas das

duas empresas estivesse totalmente integradas.

O capítulo seguinte apresentará as conclusões do trabalho, suas limitações,

assim como oportunidades para estudos futuros.

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5. CONCLUSÃO

A quantidade de operações de fusões e aquisições no Brasil e no mundo vem

apresentando crescimento nos últimos anos. O principal benefício esperado ao optar

por essas operações é que elas auxiliem na renovação da posição da firma no

mercado a uma velocidade que dificilmente seria atingida através do

desenvolvimento interno. Além disso, também oferecem a possibilidade de obter os

benefícios da combinação de ativos e de dividir capacitações que não seriam

alcançadas por parcerias. Mais precisamente, as aquisições podem trazer novas

capacitações que seriam difíceis de desenvolver ou podem oferecer a oportunidade

de alavancar as já existentes a níveis mais significativos.

Devido a todas essas vantagens, as fusões e aquisições receberam bastante

atenção dos estudiosos na tentativa de identificar quando elas apresentam potencial

para serem bem sucedidas ou indícios de insucesso. Porém, não foram identificados

na literatura estudos sobre as etapas que ocorrem durante o processo de

integração. A partir dessa constatação, foram analisadas diversas teorias sobre o

processo de aquisição para orientar a reflexão que baseou a pergunta central do

presente trabalho, buscando identificar se é possível determinar quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado como encerrado.

Foi escolhido como framework da pesquisa o modelo de Haspeslagh e

Jemison (1991), que trata as aquisições como um processo e não como uma

interação única entre adquirente e adquirida. O modelo apresenta todas as etapas

que as aquisições percorrem, partindo da ideia, passando pelas justificativas para a

realização da operação, como deve ser a integração entre as duas empresas e por

fim, o que pode ser aprendido durante todo esse processo. Os autores ainda

apresentam os principais problemas enfrentados durante os processos de tomada

de decisão e integração.

Para realizar a análise e verificar sua aderência à literatura, foi escolhido o

estudo do caso da aquisição da empresa nacional Empresa BB pela multinacional

Empresa AA. A análise do caso foi conduzida levando-se em consideração as

etapas descritas na obra de Haspeslagh e Jemison (1991). A partir delas, foi

possível inferir que a empresa adquirente, no que diz respeito à ótica gerencial (foco

do estudo dos autores), está aderente à teoria, pois levou em consideração para a

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realização da operação não só os aspectos financeiros, mas também os aspectos

mercadológicos e estratégicos.

Outro ponto de aderência ao modelo descrito por Haspeslagh e Jemison

(1991) diz respeito à análise do tipo de aquisição, oportunista ou planejada. É

possível notar que houve relação entre a estratégia desenvolvida pela empresa e a

identificação de uma oportunidade. Ou seja, a Empresa AA tinha como estratégia o

desenvolvimento de uma linha de serviço de análise financeira e, quando foi

convidada para participar da oferta de venda da Empresa BB, foi capaz de perceber

que esta aquisição estaria totalmente alinhada à sua estratégia. Outro ponto de

aderência apresentado pela Empresa AA diz respeito à capacidade de identificar

que a aquisição de uma capacitação específica - no caso estudado uma ferramenta

de análise risco de mercado e todo o conhecimento relacionado a esta área -

apoiaria a implementação da sua estratégia de negócio.

A aquisição da Empresa BB pela Empresa AA teve como objetivo a melhoria

das margens operacionais, o aumento do market-share, a ampliação do portfólio de

produtos, e a oferta de mais valor para os acionistas. Porém, conforme apresentado

por Penrose (1959), Bower (2001), Lynch e Lind (2002), e McGee (2006), o principal

objetivo identificado a partir das entrevistas com os gestores da adquirente foi o de

promover o crescimento da empresa de forma mais acelerada em contrapartida ao

desenvolvimento interno das capacitações.

Analisando a aquisição da Empresa BB segundo o modelo de Lynch e Lind

(2002), foi possível verificar que se enquadra no tipo “Planejada e Próspera”, onde a

disparidade entre as empresas é baixa e o goodwill/boa vontade é alta. A

disparidade entre as duas empresas foi considerada como baixa, pois ambas atuam

praticamente no mesmo setor. Já o goodwill/boa vontade foi considerada alta, pois a

manutenção dos relacionamentos com os clientes e do know-how da empresa,

principalmente por se tratar de uma empresa intensiva em capital intelectual, foi uma

preocupação apresentada pelos gestores da Empresa AA

Em relação à integração pós-aquisição, Haspeslagh e Jemison (1991)

afirmam que existem três abordagens possíveis: preservação, simbiose e absorção.

Essas abordagens levam em consideração tanto o nível de autonomia

organizacional demandada, como a necessidade de interdependência estratégica. A

natureza da interdependência na aquisição depende da forma como o valor é criado.

Já a autonomia organizacional diz respeito à manutenção das capacitações durante

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e após o processo de integração. A identificação do baixo nível de autonomia

organizacional demandada e a alta necessidade de interdependência estratégica,

permitiu enquadrar a abordagem utilizada pela Empresa AA na aquisição da

Empresa BB como de absorção. Entretanto, o caso não apresenta todas as

características deste tipo de integração, uma vez que as fronteiras entre as

empresas não foram totalmente dissolvidas. Dessa forma, chegou-se à conclusão

que o caso pesquisado apresenta características tanto de absorção como de

preservação. Esse segundo tipo foi identificado devido à manutenção da união do

grupo adquirido, inclusive no que diz respeito ao isolamento físico, para que a fonte

de benefícios se mantivesse intacta.

No que diz respeito à velocidade com que a integração deve ser realizada,

Birkinshaw (1999) afirma que, nas aquisições em que o conhecimento da empresa

adquirida é um ativo crítico, um processo de integração lento e focado inicialmente

na “integração das pessoas” é o mais propenso ao sucesso. Analisando as

entrevistas realizadas sob esta ótica foi possível perceber que a Empresa AA optou

por seguir por um caminho híbrido, tentando realizar a integração das diversas áreas

e das pessoas de forma simultânea. Essa opção pôde ser colocada em prática

devido à diferença de tamanho das duas empresas, onde a adquirente impôs seus

processos à adquirida.

Sobre a existência de uma figura de liderança capaz de conduzir o processo

de integração pós-aquisição, Birkinshaw (1999) e Ashkenas e Francis (2000)

sugerem que a existência de um “integration manager” pode ser uma solução para o

fato de que menos da metade de todas as operações de aquisição consigam

alcançar os resultados estratégicos e financeiros esperados. A Empresa AA

designou uma pessoa da sua alta gerência para desempenhar esse papel durante

os primeiros seis meses de integração; depois disso, a tarefa foi repassada para um

antigo sócio da Empresa BB, que era o responsável pelo grupo em conjunto com

uma responsável pelo setor de recursos humanos da adquirente. Ou seja, foi

possível aferir que a aquisição da Empresa BB pela Empresa AA foi aderente à

literatura estudada.

Todas as conclusões anteriores serviram como base para responder a

pergunta central deste trabalho que buscava verificar a possibilidade de determinar

quando um processo de integração pós-aquisição pode ser considerado como

encerrado.

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A resposta para a questão foi obtida através da associação dos tipos de

integração apresentados por Haspeslagh e Jemison (1991) com os níveis de cultura

de Schein (2004). Para isso, foi necessária a elaboração de um modelo análogo ao

modelo de Schein. O modelo desenvolvido também apresentava três níveis, porém

esses tratavam da integração pós-aquisição. O critério para diferenciar cada nível foi

o mesmo utilizado por Schein, ou seja, de acordo com o grau em que o fenômeno é

visível ao observador. Eles receberam a denominação de superficial, intermediário e

profundo.

A integração de aquisições do tipo preservação não permite, de antemão,

precisar seu encerramento. Se a adquirente tiver como objetivo a preservação de

todas as características da adquirida, então não ocorrerá processo de integração

entre as empresas. Nesse caso, não é possível determinar quando ocorre o término

da integração. Já se a adquirente tiver como objetivo a integração de aspectos

específicos da adquirida, haverá integração entre as empresas, sendo possível

identificar quando ela se encerrará, somente sendo preciso identificar qual o nível de

integração desejado – superficial ou intermediário.

Já a integração de aquisições do tipo simbiose, que tem como característica

uma série de interações entre as duas empresas com o objetivo de construir uma

nova empresa, não é possível estabelecer sua duração e/ou os marcos limite para

que a integração seja considerada como encerrada.

Por fim, a integração de aquisições do tipo absorção deve ser considerada

como finalizada quando atinge o nível profundo, pois implica numa consolidação

total das operações, organização e cultura das duas empresas.

A partir dessas constatações, é possível afirmar que a identificação do

encerramento do processo de integração pós-aquisição depende da abordagem de

integração definida.

O caso selecionado para estudo, conforme citado anteriormente, apresenta

características de uma aquisição tanto do tipo preservação como do absorção.

Dessa forma, sua integração somente deveria ser considerada como concluída

quando alcançasse o nível mais profundo. Porém, analisando as entrevistas, foi

possível perceber que existe uma diferença de percepções sobre a finalização do

processo de integração entre as duas empresas. Os gestores da adquirente

entendem que o processo já foi concluído, enquanto que os profissionais da

adquirida acreditam que ainda existam pontos que necessitam ser integrados.

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Partindo-se dessa constatação foi possível verificar que a falta de clareza ou

desconhecimento dos gestores a respeito do tipo e nível de integração que está

sendo conduzido na empresa pode causar uma considerável diferença de

expectativas nos colaboradores, principalmente naqueles que são oriundos da

adquirida. Essa diferença pode ser considerada como um dos possíveis efeitos

colaterais de processos incompletos de integração, quando se examina a nova

organização, adquirente mais adquirida, de médio a longo prazo.

Outro possível efeito colateral nos processos de integração incompletos é a

não captura ou a perda de valor esperado quando o planejamento da aquisição foi

realizado. Por não executar todas as tarefas necessárias ou passar por todas as

etapas para uma integração completa, as sinergias podem ficar aquém das

esperadas ou até mesmo nunca serem alcançadas.

Para que os efeitos colaterais apresentados nesse estudo, assim como outros

não identificados, possam ser verificados e validados na prática, recomenda-se a

réplica desse estudo em casos de aquisições com características semelhantes,

porém com mais tempo decorrido desde a aquisição. Pois desta forma será possível

avaliar se os efeitos colaterais de uma integração incompleta são realmente os

listados neste trabalho.

Outra proposta de estudo futuro seria a réplica desta análise para aquisições

com outros tipos de integração, como simbiose e preservação, de forma a verificar

se os níveis de integração propostos neste trabalho realmente são aplicáveis, assim

como os possíveis efeitos colaterais nesse novo contexto.

Outra sugestão é a replicação do estudo em aquisições de empresas de

portes semelhantes, já que o caso escolhido para análise se tratava da aquisição de

uma empresa de aproximadamente quarenta funcionários por outra de mais de sete

mil no Brasil e mais de duzentos e dez mil no mundo todo. Nesse novo estudo, seria

possível verificar se os níveis de integração propostos são realmente válidos.

Uma última sugestão para futuro estudo seria a réplica da pesquisa em

empresas de setores de atuação diferentes, já que no caso estudado as duas

empresas são do setor de prestação de serviços.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Solicitação de autorização para estudo de caso

Meu nome é Gustavo Sarkovas, sou funcionário da Empresa AA desde 2007,

lotado no projeto de XYZ (nome fictício). Encontro-me em licença não remunerada

(LOA) para cursar o Mestrado em Administração, com foco em Estratégia, no

COPPEAD/UFRJ. O curso se encerra com o trabalho de dissertação. Escolhi como

tema o crescimento das organizações através de fusões e aquisições, tencionando

examinar em maior profundidade os desafios do processo de integração de duas

empresas, bem como o processo de transferência de conhecimento após a

aquisição.

Minha escolha se deve ao fato de que nos últimos 20 anos as atividades de

fusões e aquisições estão entre as principais formas de crescimento das

organizações. Seja com o objetivo de melhorar as margens operacionais, aumentar

o market-share, ampliar o portfólio de produtos ou oferecer mais valor para os

acionistas, crescer é fundamental (Lynch, J.G. & Lind, B., 2002).

As aquisições têm o potencial de transformar as empresas e contribuir para a

modificação da corporação. Elas auxiliam na renovação da posição da empresa no

mercado a uma velocidade que dificilmente seria atingida através do

desenvolvimento interno. Oferecem a possibilidade de obter os benefícios da

combinação de ativos e de dividir capacitações que não seriam alcançadas por

parcerias. Mais precisamente, aquisições podem trazer novas capacitações que

seriam difíceis de desenvolver ou podem trazer a oportunidade de alavancar as

capacitações existentes a níveis mais significativos (Haspeslagh, P. & Jemison, D.

1991).

O interesse por um determinado mercado, normalmente emergente, e a

rapidez em conseguir capacitação para estarem aptas à competição movem certas

empresas a incorporar o conhecimento detido por outras ao invés de desenvolvê-lo

internamente. Como o desenvolvimento do conhecimento necessário pode ter um

custo elevado e requer disponibilidade de tempo muitas vezes incompatível com a

oportunidade de inserção no mercado desejado, a aquisição de outra organização

que já passou pelo processo de aprendizagem e que dispõe de capacitação e de

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sucesso no mercado parece uma solução interessante para enfrentar essas

dificuldades. A aparente rapidez da solução esconde, no entanto, problemas típicos

de gestão da mudança em fusões e aquisições, ressaltados os aspectos culturais.

O trabalho de dissertação será estruturado com uma revisão da literatura

sobre as teorias de crescimento das firmas, seguindo para uma análise dos tipos de

fusões e aquisições, depois os modelos de integração e, finalmente, as formas de

gerenciar a transferência do conhecimento.

Em seguida, planejo estudar um caso: gostaria de analisar a aquisição da

Empresa BB pela Empresa AA. Para isso, serão realizadas entrevistas pessoais com

os participantes do processo de aquisição. O protocolo de pesquisa permite que se

mantenha anonimato da empresa e dos entrevistados no trabalho. É possível utilizar

uma descrição genérica, no caso da empresa e um “codinome/código” no caso do

entrevistado. Finalmente, a análise buscará identificar padrões de desafios e de

respostas, comparando e contrastando com os modelos disponíveis na literatura.

O objetivo de estudar o caso da aquisição da Empresa AA pela Empresa BB é

tentar entender como se deu o processo decisório da adquirente para crescer

através da compra de outra empresa de serviços, passando pela decisão de

compra, a forma como isso foi tratado dentro das duas empresas, como foi feito o

processo de integração, como está sendo feita a transferência do conhecimento

entre as duas e tentar verificar se os modelos utilizados se encaixam, de alguma

forma, com os modelos teóricos existentes.

Esse trabalho pode ter valor para as duas empresas, pois o estudo trata de

um processo de sucesso, tanto no que diz respeito à aquisição como à integração,

que pode servir de modelo para as demais aquisições realizadas pela Empresa AA.

Além disso, a documentação dessa trajetória, quando comparada com o que existe

na literatura, pode servir para a obtenção de insights, definição de novas estratégias

e até novos pontos de vista para as futuras aquisições. Sem excluir a possibilidade

de ser utilizado como lições aprendidas.

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APÊNDICE B – Roteiro para entrevistas

Roteiro para entrevista

Objetivos específicos da pesquisa O que desejo saber Perguntas

Introdução

Quebrar o gelo através de perguntas sobre o

entrevistado

Situar o entrevistado dentro da organização.

Identificar o papel

desempenhado.

Conte-me sobre sua trajetória dentro da empresa.

Como você foi envolvido no

processo de aquisição da Empresa BB pela Empresa AA?

Qual foi a sua participação no

processo de aquisição?

Quais foram suas principais responsabilidades no processo?

Ideia

Identificar as influências internas e externas à

organização que atuam sobre as estratégias de

fusões e aquisições adotadas pela empresa

Quais as mudanças associadas ao ambiente competitivo foram fatores de influência na decisão de adquirir outra empresa? (Motivações externas)

De que forma a aquisição da Empresa BB está alinhada com o restante da estratégia da Empresa AA? (Alinhamento com a estratégia da empresa)

De que maneira e por qual motivo a Empresa AA decidiu comprar a Empresa BB? (Motivações declaradas)

Como estava o mercado competitivo quando a aquisição foi

realizada? (Buscar as 5 forças de Porter:

- Rivalidade entre concorrentes - Poder de barganha dos clientes - Poder de barganha dos fornecedores - Ameaça de novos concorrentes - Ameaça de produtos substitutos

Justificativa da transação

Identificar os fatores que influenciam a empresa a realizar transações de fusões e aquisições

Como se deu o processo decisório que culminou na decisão de compra da Empresa BB? (Processo decisório)

Quais os objetivos da Empresa AA quando decidiu pela compra da Empresa BB? (Ex: Supercapacidade, desdobramento geográfico, extensão de linha de produto e mercado, lógica de P&D ou convergência industrial)

Por que foi decidido pela compra e não pelo desenvolvimento do conhecimento internamente? (Alternativas à aquisição)

O que a empresa estava buscando quando decidiu pela aquisição?

Problemas de processo de tomada

de decisão

Quais foram os principais desafios enfrentados pela empresa durante o processo

Quais foram as principais dificuldades encontradas antes da

realização da aquisição?

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128

Identificar os principais desafios enfrentados

durante o processo de tomada de decisão da

aquisição

de tomada de decisão da aquisição?

A empresa identificou algum problema no processo decisório? (Ex: Erro durante a due dilligence, falta de aderência com a estratégia da empresa ou super otimismo na expectativa das sinergias)

(Tomar cuidado com o período

tratado pelo entrevistado. Verificar se é o mesmo que me

interessa)

Integração

Verificar se o processo percorreu as etapas

apresentadas no estudo. Caso afirmativo verificar

qual foi. Em caso negativo, verificar se

existe alguma literatura que não foi abordada e deve ser adicionada.

Em que estágio está a integração das duas empresas? (Iniciado, não iniciado, parcial, finalizado)

Como é feito o controle do andamento da integração?

De que forma está sendo feita a integração? Existe um “Integration Manager”? Qual seu papel?

Quais os indícios de que a integração chegou ao final?

O que aconteceu com as duas empresas depois de oficializada a

aquisição?

(Como está o relacionamento entre as duas empresas?)

Problemas de processo de integração

Identificar os principais

desafios no processo de integração das duas

empresas

Quais foram os principais desafios enfrentados pelas empresas durante o processo de integração (somente se for afirmativo o caso de já ter iniciado a integração)?

A empresa identificou algum problema durante esse processo? (Ex: integração pós-aquisição demorada, conflito entre as culturas organizacionais, ou falta de estratégia para gerenciamento de riscos)

Quais as maiores dificuldades

enfrentadas depois da aquisição?

(O que está funcionando e o que não está depois da aquisição? O

que poderia ser melhorado?)

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129

APÊNDICE C – Organização das entrevistas conforme roteiro

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130

Quais as mudanças associadas ao ambiente

competitivo foram fatores de influência na

decisão de adquirir outra empresa?

(Motivações externas)

De que forma a aquisição da Empresa

BB está alinhada com o restante da estratégia da

Empresa AA? (Alinhamento com a

estratégia da empresa)

De que maneira e por qual motivo a empresa

decidiu realizar a transação? (Motivações

declaradas)

Como estava o mercado competitivo quando a

aquisição foi realizada?(Cenário)

Identificar as influências internas e externas à organização que atuam sobre as estratégias de fusões e aquisições adotadas pela empresa

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Como se deu o processo decisório que culminou

na decisão de compra da Empresa BB?

(Processo decisório)

Quais os objetivos da Empresa AA quando

decidiu pela compra da Empresa BB? (Ex: Super-

capacidade, desdobramento

geográfico, extensão de linha de produto e

mercado, lógica de P&D ou convergência

industrial)

Por que foi decidido pela compra e não pelo

desenvolvimento do conhecimento internamente?

(Alternativas à aquisição)

Identificar os fatores que influenciam a empresa a realizar transações de fusões e aquisições

Justificativa da transação

Quais foram os principais desafios

enfrentados pela empresa durante o

processo de tomada de decisão da aquisição?

A empresa identificou algum problema no

processo decisório? (Ex: Erro durante a due dil l igence, falta de

aderência com a estratégia da empresa ou super otimismo na

expectativa das sinergias)

Identificar os principais desafios enfrentados durante o processo de tomada de decisão da

aquisição

Problemas de processo de tomada de decisão

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Em que estágio está a integração das duas empresas? (Iniciado, não iniciado, parcial,

finalizado)

Como é feito o controle do andamento da

integração?

De que forma está sendo feita a integração?

Existe um “Integration Manager”? Qual seu

papel?

Quais os indícios de que a integração chegou ao

final?

Verificar se o processo percorreu as etapas apresentadas no estudo. Caso afirmativo verificar qual foi. Em caso negativo, verificar se existe alguma literatura que não foi abordada e deve ser adicionada

Integração

Quais foram os principais desafios enfrentados pelas

empresas durante o processo de integração

(somente se for afirmativo o caso de já

ter iniciado a integração)?

A empresa identificou algum problema durante

esse processo? (Ex: integração pós-

aquisição demorada, conflito entre as

culturas organizacionais, ou falta

de estratégia para gerenciamento de riscos)

Identificar os principais desafios no processo de integração das duas empresas

Problemas de processo de integração