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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO FORMIGAS E O CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: COMPARANDO ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) E RESERVA LEGAL (RL) Rony Peterson Santos Almeida Mestrado Acadêmico São Cristóvão Sergipe - Brasil 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E

CONSERVAÇÃO

FORMIGAS E O CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO:

COMPARANDO ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) E

RESERVA LEGAL (RL)

Rony Peterson Santos Almeida

Mestrado Acadêmico

São Cristóvão

Sergipe - Brasil

2015

ii

RONY PETERSON SANTOS ALMEIDA

FORMIGAS E O CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO:

COMPARANDO ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) E RESERVA

LEGAL (RL)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe,

como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em

Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Leandro de Sousa Souto

Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Yana Teixeira dos Reis

São Cristóvão

Sergipe - Brasil

2015

iii

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Almeida, Rony Peterson Santos A447f Formigas e o Código Florestal Brasileiro : comparando Áreas

de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) / Rony Peterson Santos Almeida ; orientador Leandro de Sousa Souto. – São Cristóvão, 2015. 47 f. : il. Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação) –

Universidade Federal de Sergipe, 2015.

O 1. Mimecofauna. 2. Diversidade biológica. 3. Complexidade

ambiental. 4. Mata Atlântica. 5. Grupos funcionais. I. Souto, Leandro de Sousa, orient. II. Título

CDU: 595.796

iv

v

AGRADECIMENTOS

O homem é do tamanho do seu sonho. Logo, este é mais um que se realiza dentre

tantos que hei de realizar. Foram dois anos de dedicação e compromisso em uma pós-

graduação, tendo que me privar de muitas coisas e encarar desafios: tensão nas vésperas das

apresentações, campos conturbados, trabalho de bancada... isso tudo veio acompanhado de

boas surpresas em congressos, amigos, passeios, festas... vou sentir saudade de tudo isso!

Não posso terminar essa jornada sem agradecer àqueles que de forma direta ou

indireta formaram minha base. A priori, a indispensável proteção divina. Gratifico também o

exemplo e amor dos meus pais, Nivaldo e Lúcia, que sequer entendiam as “gaiolas de

passarinho” (mini-winkler) na garagem de casa, mas sempre priorizaram e me incentivaram

para que eu chegasse até aqui. Obrigado, meus velhos, por sempre estarem ao meu lado!

Brenda, valeu irmã, por aturar todos os dias que cheguei em casa cansado e “sem cabeça”.

Ademais, Gislaine, minha namorada e amiga, pela compreensão dos percalços que passei e

ainda assim sempre a apoiar a conclusão desse trabalho. Agradeço a minha família, aos meus

avós paternos Manoel e Helena e maternos Maria e Domigos (in memoriam). A todos os tios,

em especial a Nete, Neide, Vânia e Fina, por toda a ajuda e principalmente pelas palavras de

carinho e a tio Loro e Luciano pela presença e apoio constante nessa caminhada. Aos meus

padrinhos Wilson e Bernadete pela preocupação de sempre. E também aos primos.

Ao meu orientador, Leandro Sousa-Souto, por todo apoio e preocupação, alguém que

me espelho genuinamente. Um verdadeiro paizão em todos os momentos que precisei, sempre

com disponibilidade e paciência para dúvidas e explicações. Obrigado pelas sugestões,

broncas, direcionamentos, brincadeiras e por aturar esse “menino do sítio”! A minha co-

orientadora, Yana Reis, pela paciência nas explicações sobre a morfotipagem do material,

quanta trabalheira! Pelas conversas e principalmente por auxiliar na minha formação

profissional. Juro que hoje sou menos “cabeça dura”! Com vocês aprendi muito e agradeço

por toda orientação, pela amizade e por acreditarem no meu potencial, sem dúvida são

exemplos de profissionais que quero seguir. Obrigado, chefia!

A todos do Laboratório de Entomologia (LABENTO) que me receberam tão bem,

pessoas que convivi grande parte desses dois anos e com as quais aprendi muito, Bianca

Ambrogi, Ana Paula, Abel, Ariely, Jusci, Arivânia, Vânia, Rafaella, Mariana, Meggie e

Philippe. A Arleu pela ajuda na estatística, ao Anderson Leite e Sinara Moreira pelas

conversas e dúvidas sobre os insetos em geral e a Andrea pela força na triagem do material.

Obrigado a todos!

Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPEC) pela oportunidade

e aos professores pelo aprendizado oferecido, em especial a Gustavo Hirose e Marcelo Brito

pelas críticas construtivas nas disciplinas e a professora Adriana Bocchiglieri por emprestar o

vi

densiômetro utilizado nesse trabalho e por ser sempre tão atenciosa. As sugestões da banca de

qualificação, em nome de Adenir Teodoro e a Ana Paula Araújo e Frederico Neves, pela

presença na banca de defesa. A secretária, Juliana. Aos colegas de mestrado Pedro, Pablo,

Thomaz, Jeanne e Danyelly por toda bagagem que juntos formamos e Abel, obrigado pela

amizade e por toda discussão nesses dois anos, científica ou não, no laboratório ou fora dele,

valeu lindão!

A toda galera do LABEV (Laboratório de Biologia e Ecologia dos Vertebrados) com

quem convivi durante as pesquisas e campos, no nome do professor Eduardo Dias, e pela

liberação desse espaço nas triagens do material dessa dissertação, valeu Edu! Aos mestres-

amigos da graduação Paulo Maroti, Eduardo Dias, Ricardo Carmo e Márcio Guimarães pelas

oportunidades, confiança e incentivo dado. Um muito obrigado à turma de Ecologia III/2014-

2 pelo aprendizado que tivemos juntos nesse período e a todos os amigos que fiz na UFS,

agradeço a lealdade, conselhos e atenção.

A liberação das áreas onde esse estudo foi feito em nome de Dantas, Abércio e a Ari

juntamente com Agroindustrial Campo Lindo. A FAPITEC/SE pela bolsa de mestrado (ed. n°

01/2013) e auxílio financeiro do projeto geral (FAPITEC/SE/FUNTEC nº. 13/2012-NAP’s) e

ao ICMBio/SISBIO pela licença de coleta concedida.

A todos que ajudaram nas coletas e triagem do material: Sidieres, Daniela (Dany),

Hugo, Aryeli, Iúri, Márcio, Arleu, Bruno, Juliana (Ju), Vânia, Brenda, Adriano e ao Grupo

Ambientalista Dorense (GAD) nos nomes de Luciano e Micael. Ótimas lembranças comendo

“sandubex com morte lenta”, tirando jaca, carro quebrado na volta do campo, triagens

varando tarde/noite adentrando até a madrugada, chuva desmarcando coleta (uma, duas, três...

vezes), jararaca dentro da parcela, ataque de abelhas, Iúri “dando o sangue” durante o trabalho

e a perda do celular na mata (4 meses depois o celular é encontrado no banco do golzinho,

hein Sid? rsrs). Pô galera, o que seria de mim sem vocês? Só tenho a agradecer por toda

colaboração, aprendizado e pela amizade. Meu muito OBRIGADO, vocês são 10!

Agradecer também aos amigos de longas datas: Vinícius, Rodrigo, Floriano, Thiago,

Cicinho, Guedes e Anderson, por todo apoio e compreensão ao dividir comigo as felicidades

em cada encontro, em especial a Marcelo Fontes, por sua saúde (Melhoras irmão! Espero que

esteja conosco logo.). “Us Boa Cepa” sempre marcando presença!

Peço desculpas às pessoas não citadas, as quais não são menos importantes. Cada uma

cumpriu um papel essencial na minha caminhada. Agradeço por terem me ajudado a encontrar

não só uma profissão, mas uma paixão. A todos vocês dedico essa dissertação como forma de

reconhecimento, gratidão, respeito e carinho. Obrigado!

vii

“Que os vossos esforços desafiem as

impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes

coisas do homem foram conquistadas do que

parecia impossível.”

Charles Chaplin

viii

RESUMO

O Novo Código Florestal Brasileiro (NCFB) atualmente em vigor apresenta alguns pontos

polêmicos em seu texto, em especial aqueles relacionados à redução ou substituição de

Reservas Legais (RLs) e Áreas de Proteção Permanentes (APPs) por vegetação não nativa ou

a compensação de uma dessas áreas pela outra, numa mesma propriedade. O NCFB portanto,

considera essas duas áreas estruturalmente similares e passíveis de abrigar e conservar a fauna

e flora regional. O presente trabalho visa analisar se RLs e APPs são, de fato, similares do

ponto de vista ecológico, tendo como itens de analise a complexidade ambiental existente nos

fragmentos e o uso de formigas como bioindicadores. Para tanto, foram realizadas coletas em

seis áreas, sendo três consideradas como RL e três como APP. Em cada área foi feito um

transecto e esse subdividido em 30 parcelas de 5 x 5 m, espaçadas 6 m. Em cada uma das

parcelas foi medida a profundidade da serapilheira, contabilizada a densidade de árvores e

medida a cobertura do dossel. Além disso, na área central de cada parcela foi retirada uma

amostra de 1m² de serapilheira para analise da mirmecofauna (riqueza, composição e grupos

funcionais). A riqueza de formigas, bem como de grupos funcionais foram testadas em

resposta às variáveis ambientais por meio de modelos lineares generalizados (GLMs) e a

composição entre as áreas verificada através da análise de similaridade (ANOSIM) e

escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS). Foram coletadas 116 morfoespécies

de formigas, distribuídas em nove subfamílias e 42 gêneros. Não foi encontrada diferença na

riqueza de espécies de formigas entre RLs e APPs e, dentre as variáveis ambientais

analisadas, apenas houve relação positiva entre a riqueza e a porcentagem do dossel. Além

disso, não houve diferença na composição de formigas nem na riqueza de grupos funcionais e

estes resultados reforçam o texto atual do NCFB de que RLs ou APPs atuam de forma similar

na manutenção da biodiversidade local. Desta forma, utilizar a APP no cômputo da RL (ou

vice-versa) não implica na redução da diversidade local de formigas e consequentemente,

prejuízo de suas funções ecológicas e de interações mediadas por espécies desse grupo já que

essas áreas apresentam similaridade na sua estrutura e na diversidade de espécies.

Palavras chave: diversidade; complexidade ambiental; grupos funcionais; Mata Atlântica;

mirmecofauna.

ix

ABSTRACT

The New Brazilian Forest Code (NCFB) presents some controversial points in its text,

especially those related to the reduction or replacement of legal reserves (LRs) and Permanent

Protection Areas (PPAs) for non-native vegetation or the compensation of these areas by

another, on the same property. The NCFB therefore considers these two areas structurally

similar and able to house and preserve the fauna and regional flora. This work aims to analyze

the existence of similarity between LRs and PPAs, with focus on environmental complexity

on the fragments and the use of ants as bioindicators. For this purpose, samplings were taken

in six areas, three of them considered LR and three as PPA. In each area, one transect was

subdivided into 30 plots of 5 x 5m and 6 m spaced. In each plot, we measured plant litter

depth, density of trees and the canopy cover (%). Furthermore, in the central area of each plot,

we toke a 1m² samples of plant litter to analyze the ant fauna. The relationship between ant

richness and environmental variables were tested using generalized linear models (GLMS),

and the species composition between areas was checked through non-metric multidimensional

scaling analysis (NMDS). As a result, 116 ants morphospecies were collected, distributed in

nine subfamilies and 42 genera. No difference was found in species richness of ants between

LRs and PPAs and only percentage of canopy cover was significantly different. We also did

not find differences of ant assemblages or functional groups between LR and PPA and this

fact reinforces that the NCFB is coherent indicating that LR and PPA are similar in

maintaining of local biodiversity. Thus, using the PPA in the calculation of LR (or vice versa)

does not imply the reduction of local diversity of ants and consequently loss of ecological

functions and interactions mediated by species of this group as these areas have similarity in

structure and species diversity.

Keywords: diversity; environmental complexity; functional groups; Atlantic Forest; ant

fauna.

x

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................ viii

ABSTRACT ............................................................................................................................. ix

SUMÁRIO ................................................................................................................................. x

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

MATERIAL & MÉTODOS .................................................................................................. 15

Área de estudo .................................................................................................................... 15

Descrição dos fragmentos .................................................................................................. 16

Desenho amostral ............................................................................................................... 17

Amostragem de formigas .................................................................................................. 18

Grupos funcionais .............................................................................................................. 20

Análises dos dados ............................................................................................................. 20

Variáveis ambientais e riqueza de formigas entre áreas .............................................. 20

Composição de formigas entre áreas ............................................................................. 21

Diferenças entre grupos funcionais em RL e APP ....................................................... 22

RESULTADOS ....................................................................................................................... 23

Variáveis ambientais e riqueza de formigas entre áreas ................................................ 23

Composição de formigas entre áreas ............................................................................... 24

Diferenças entre grupos funcionais em RL e APP .......................................................... 26

DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 28

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 36

ANEXO .................................................................................................................................... 44

11

INTRODUÇÃO

Hábitats com distintas fitofisionomias, relevo e litologia podem ser consideradas

similares do ponto de vista da sua função ecológica? Perguntas como essa, a princípio

requerem respostas complexas, entretanto, são muitas vezes tratadas de forma generalizada

por gestores ou tomadores de decisão, principalmente pelos órgãos governamentais. Esta

questão foi de certa forma abordada, por exemplo, por ambientalistas durante a reformulação

do Código Florestal Brasileiro (CFB) (Metzger, 2010).

O CFB foi regulamentado inicialmente através da Lei 4.771 de 1965, e pode ser

considerado como o primeiro mecanismo legal para a manutenção de ecossistemas naturais,

tendo por objetivo “a preservação de remanescentes de hábitats nativos, nos diferentes biomas

brasileiros” (Brasil, 1965). Com o passar dos anos, tornou-se necessário esclarecer alguns

pontos e adequar o CFB à realidade econômica e ambiental brasileira, sendo em 2010 iniciado

intenso debate a respeito dessa reforma. Tais discussões envolveram diferentes setores da

sociedade civil, e tiveram como maior ponto de divergência a importância e utilidade das

Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Reserva Legal (RLs), para a manutenção da

biodiversidade, em agroecossistemas (Metzger, 2010; Lewinsohn et al., 2011).

De acordo com o CFB, uma APP é definida como a parte “protegida, coberta ou não

por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a

estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o

solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (Brasil, 2012). São consideradas Áreas

de Preservação Permanente as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e

intermitente, áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, no entorno das nascentes e dos

olhos d’água perenes, encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, restingas,

manguezais, bordas dos tabuleiros ou chapadas, topo de morros, montes, montanhas e serras,

áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros e em veredas (Freitas, 2010;

Brasil, 2012; Lima et al., 2014).

Por outro lado, as RLs são áreas localizadas no interior de uma propriedade ou posse

rural, excetuada a APP, “necessárias ao uso sustentável dos recursos naturais; à conservação e

reabilitação dos processos ecológicos; à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção

de fauna e flora nativas” (Freitas, 2010; Brasil, 2012). São consideradas áreas de Reserva

Legais 80% (oitenta por cento) do imóvel situado em área de florestas (Amazônia Legal),

35% (trinta e cinco por cento) do imóvel situado em área de Cerrado, 20% (vinte por cento)

12

em área de campos gerais e nas demais regiões do país (Caatinga e Mata Atlântica) (Freitas,

2010; Brasil, 2012; Lima et al., 2014).

Após a reforma, o Novo Código Florestal Brasileiro (NCFB), agora regulado pela Lei

nº 12.651, de 25 de maio de 2012 e alterado em 17 de outubro do mesmo ano, pela Lei nº

12.727, não modificou as definições, mas trouxe novidades para o uso da RL e APP. Apesar

do NCFB ter mantido as mesmas regras em relação a área que deve ser preservada nas

propriedades em relação à sua área total (20 a 80%, dependendo da região em questão),

permite agora a recomposição da RL com espécies não nativas e o computo da APP na área

de RL. A área abrangida por uma APP, localizada nas margens de cursos d’água, está

atualmente relacionada à largura da calha regular deste corpo d’água, ou seja, o canal por

onde corre regularmente as águas durante o ano, e não mais a partir do nível alcançado por

ocasião da cheia (leito maior) (Brasil, 2012). Considerando o regime fluvial ao longo do ano,

essa modificação significou uma efetiva redução da faixa de APP, podendo acarretar

alterações nas entradas de material orgânico e inorgânico no corpo d’água, com

consequências para todo o sistema aquático (Lima et al., 2014). Outro ponto relevante do

NCFB é a descaracterização de proteção as nascentes intermitentes, considerando apenas

aquelas produtoras de água de forma perene.

No NCFB, alguns autores afirmam que essas novas mudanças podem afetar a

biodiversidade como um todo, desta forma tanto APPs quanto RLs são fundamentais para a

manutenção das populações de inúmeras espécies, pois exercem funções complementares,

criando na paisagem corredores que permitem a conectividade entre populações previamente

isoladas (Metzger, 2010; Toledo et al., 2010; Galetti et al., 2010). Segundo Metzger (2010), a

diferença está no fato de que, as APPs atuam primariamente na proteção da estrutura

hidrológica e geológica dos agroecossistemas (controle de erosão e lixiviação de nutrientes),

ao passo que as RLs atuam no banco local de sementes, no abrigo e manutenção de agentes

polinizadores e de inimigos naturais de pragas, contribuindo para manutenção da diversidade

local.

Pode parecer óbvio que APP e RL são de fato ambientes distintos, com características

próprias e que ambas devem ser priorizadas. Entretanto, existem poucos estudos que

acompanhem e/ou demonstrem aspectos sobre a contribuição de tais áreas para a manutenção

de grupos específicos de animais e plantas (Metzger, 2010; Lima et al., 2014). Dessa forma,

não se pode precisar sobre os prejuízos para a biodiversidade local e/ou global, caso seja

13

autorizada, pela atual legislação, a redução das APP ou RL, ao ponto de não existir consenso

sobre se tais áreas são, de fato, similares e desta forma, do ponto de vista ecológico, podem

ser consideradas uma coisa só (Chan et al., 2006; Silva et al., 2010; Freitas, 2010; Toledo et

al., 2010, Marques et al., 2010). Essas dúvidas tornam-se mais pertinentes, tendo em vista que

pequenas modificações na estrutura do ambiente podem promover alterações em assembléias.

Por exemplo, Gomes et al., 2014, observaram mudanças na composição de formigas epigéicas

encontradas em uma RL existente em um fragmento de Mata Atlântica, onde o fragmento

preservado apresentou um assembleia diferente das áreas com índices de recuperação iniciais.

Dentre os biomas brasileiros, a Mata Atlântica foi um dos mais prejudicados pela

reforma do NCFB. Desde os anos 80, o complexo da Mata Atlântica vem sendo considerado

um dos hotspots da biodiversidade global (Myers et al., 2000; Ribeiro et al., 2009; 2011), em

virtude do seu histórico de ocupação ao longo do processo de colonização do país. Já é de

conhecimento geral que grande parte de sua área foi substituída por pastagens, áreas

agricultáveis ou urbanizadas ao longo dos anos, se tornando atualmente um ambiente

fragmentado, com pouca conectividade entre fragmentos remanescentes (Ribeiro et al., 2009;

Metzger, 2010; Aragão et al., 2011). Diante destes fatos, as áreas de APP e RL em Mata

Atlântica já eram reduzidas e permitir a supressão ou substituição da sua flora por vegetação

não nativa, se tornará uma ameaça para as populações de animais e plantas,

consequentemente, provocando maior perda de variabilidade genética e/ou extinção de

populações de diversos grupos (Ribeiro et al., 2009; Galetti et al., 2010; Toledo et al., 2010:

Freitas, 2010; Marques et al., 2010).

Os efeitos das alterações no habitat sobre a perda de espécies ou redução das

populações de formigas é bem documentadas na literatura. Na região tropical, a riqueza desse

grupo tende a ser menor em ambientes com baixa heterogeneidade e/ou complexidade

estrutural da vegetação (Leal et al., 2012; Matos et al., 2013, Dáttilo et al., 2013). Além disso,

foram observadas diferenças significativas na composição das espécies de formigas e de

outros grupos em relação à variação ambiental (Neves et al., 2010, Teodoro et al., 2010,

Matos et al., 2013, Dáttilo et al., 2013). Diversos autores têm demonstrado correlação entre

características estruturais dos habitats e padrões de comunidades de formigas (Andersen &

Majer, 2004; Neves et al., 2010; 2013; Castro, 2012; Dáttilo et al., 2013; Gomes et al., 2014).

Mesmo com o isolamento e perda de habitat em muitas comunidades ecológicas, as formigas

14

permanecem sendo um dos grupos dominantes, ocupando todos os espaços disponíveis,

exercendo um grande número de funções (Silva & Brandão, 1999).

Neste sentido, Brown-Jr (1991), analisa as respostas de diferentes grupos de insetos

aos fatores ambientais e suas características ecológicas e biogeográficas. Ele aplicou valores a

aos diferentes táxons usando alguns atributos, tais como: diversificação taxonômica e

ecológica, identificação acessível, presença de indivíduos em todos os meses do ano,

importância funcional no ecossistema, resposta visível aos distúrbios e baixa mobilidade

(hábito sedentário). Como resultado verificou que as formigas obtiveram os maiores valores

entre os insetos analisados, recebendo 21 pontos dentro de uma escala de 0 a 24 (Brown-Jr,

1991).

A partir dessa justificativa, diversos trabalhos utilizam formigas como indicadores

ecológicos, em diferentes abordagens como: sucessão vegetal (Braga et al., 2010; Neves et al.,

2010; Gomes et al., 2014), fragmentação de habitats (Leal et al., 2012) e impactos das

atividades humanas no ambiente (Delabie et al., 2006) como a mineração (Ribas et al., 2012)

e a agricultura (Pacheco et al., 2013). Desta forma, a utilização de formigas pode ser uma

ferramenta promissora para analisar e/ou detectar as possíveis diferenças entre RLs e APPs,

situadas em uma mesma propriedade. De acordo com alguns autores, diferenças na estrutura

do hábitat nessas áreas, podem refletir na riqueza e composição de espécies ou nos grupos

funcionais de formigas (Silvestre & Silva, 2001; Gomes et al., 2014; Leal et al., 2012). Um

exemplo desses grupos são as formigas de correição (nômades), que têm sido utilizadas para

demonstrar qualidade do habitat, uma vez que necessitam de extensas áreas de forrageamento

(Silvestre & Silva, 2001).

Por fim, o presente trabalho teve como objetivo verificar se Reservas Legais e Áreas

de Proteção Permanentes diferem quanto à sua complexidade ambiental ou se essas podem ser

consideradas áreas similares para manutenção da biodiversidade. Desta forma, foram testadas

as seguintes hipóteses: (1) a complexidade ambiental (profundidade de serapilheira, abertura

do dossel e abundância de árvores) irá diferir entre RL e APP; (2) áreas com maior

complexidade ambiental abrigam maior riqueza de formigas; (3) a composição de formigas de

serapilheira irá diferir entre RLs e APPs e (4) haverá diferença quanto aos grupos funcionais

de formigas presentes em cada área.

15

MATERIAL & MÉTODOS

Área de estudo

O presente estudo foi realizado entre fevereiro e novembro de 2013 e conduzido em

três diferentes fragmentos, presentes no domínio de Mata Atlântica sergipano, a saber:

Instituto Federal de Sergipe (-10.9033, -37.1985) em São Cristóvão, Reserva Creuza Ramos (-

10.6555, -37.3275) localizada entre os municípios de Itabaiana e Malhador e a Mata da Boa

Vistam (-10.4592, -37.1271) localizada entre os municípios de Nossa Senhora das Dores e

Capela (Figura 1). Esses municípios foram selecionados em virtude de sua importância como

região agrícola e por sua paisagem já possuir feições que permitem a identificação de

fragmentos de mata isolados em meio a uma matriz de monocultura, geralmente pastagens ou

cultivo de cana-de-açúcar (Aragão et al., 2011; Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais, 2013). Para a execução do experimento, em cada fragmento

foi escolhido duas áreas de acordo com a definição do NCFB, consideradas uma como RL e

outra como APP, as quais consideramos no presente estudo apenas as matas ciliares.

Figura 1: Propriedades particulares sob domínio de Mata Atlântica em Sergipe onde o estudo foi conduzido

(Coordenadas em GD-SAD69).

16

Descrição dos fragmentos

O Instituto Federal de Sergipe (IFS) apresenta uma área de 337 ha que compõem a

“Matinha” ou Reserva Legal da propriedade. No limite oeste a propriedade é cortada pelo Rio

Poxim-Açú, com aproximadamente quatro m de calha regular e com faixa de mata ciliar

(APP) variável de 20 m até uma continuidade com o fragmento da “Matinha”. No entorno da

área do IFS encontramos pastagens e cultivo de mandioca.

A Reserva Creuza Ramos (RCR) apresenta 72 ha de tamanho total onde cinco ha de

sua propriedade é utilizada para o cultivo não intensivo de banana e gado. Está situada em um

prolongamento da serra que compõe o Parque Nacional Serra de Itabaiana (PARNASI), um

dos poucos fragmentos preservados do estado. A propriedade é cortada pela rodovia estadual

SE-245, onde do lado sul encontramos a Reserva Legal que compreende uma mata de porte

primário a secundário e o “Sitio Velho” composto por mangueiras e jaqueiras abandonadas,

totalizando 60 ha. Do lado norte, encontramos a cede da propriedade e o Riacho Cambotá,

esse com aproximadamente um m de calha regular, largura de APP média de 30 m e

apresentando uma mata de porte secundário. Os fragmentos de mata são margeados por

pastagem e nas fronteiras da propriedade encontramos pequenos sítios de cultivo familiar e

pastagens.

A Mata da Boa Vista (MBV) apesenta 54 ha de tamanho total e compõe a Reserva

Legal da propriedade da usina de cana Agroindustrial Campo Lindo. É cortada por uma trilha

com placas informativas para o uso em trabalhos de Educação Ambiental e sofre pressão

antrópica principalmente do seu lado oeste (Gois-Santos et al., 2013), apesar disso é um

fragmento com vegetação secundária. Ao lado da mata, o canavial é cortado pelo Rio da

Aldeia, riacho com um m de calha regular, que apresenta APP da margem direita composta

por mata ciliar preservada, enquanto que a margem esquerda serve como pastagem (Silva,

2013). Os fragmentos de mata e a propriedade têm no seu entorno a pastagem e o cultivo de

cana de açúcar.

Essas informações foram registradas por observação “in loco” e/ou informações

passadas pelo proprietário ou pessoas que conhecem a área e visam um melhor

reconhecimento dos locais utilizados no presente trabalho.

17

Desenho amostral

Em cada área de RL e APP foram estabelecidas 30 parcelas de 25 m², espaçadas 6 m,

ao longo de um transecto de 324 m (Figura 2, A). Respeitou-se uma distância mínima de 20

metros entre o início do transecto e a borda da mata, a fim de tentar minimizar o efeito de

borda (Fisher, 1999), além disso, as parcelas foram demarcadas no centro da RL e da APP,

essa última demarcada a 15 m da margem do curso d’água em sua calha regular.

Figura 2: Representação esquemática das três primeiras parcelas do transecto de 324 m (30 amostras) espaçadas

6 m (A) e detalhe de uma parcela com o ponto de coleta das formigas bem como dos dados ecológicos avaliados

nesse estudo (B).

No centro de cada uma das 30 parcelas foi estabelecido um quadrate de 1 m² de onde

foi mensurada à profundidade média do folhiço e retirada toda à serapilheira (ver

“Amostragem de formigas” abaixo) (Figura 2, B). Após a coleta da serapilheira, foram feitas

leituras da cobertura do dossel com um densiômetro esférico convexo de Lemmon (Lemmon,

1957) (Figura 3, B), a norte, sul, leste e oeste. As leituras foram tomadas a 1 m do solo, por

uma mesma pessoa. Segundo Suganuma et al., (2008) essa metodologia apresenta resultado

18

satisfatório e vantagens quando comparado aos sistemas fotográficos com lentes de 8 mm

(“olho de peixe”).

Em cada parcela foi avaliada a densidade de árvores com diâmetro a altura do peito

(DAP) superior a 15 cm (Figura 3, A) (Dantas et al., 2010).

Figura 3: Retirada do diâmetro da altura do peito (DAP) das árvores com mais de 15 cm de circunferência

localizadas dentro da parcela de 25 m² (A) e densiômetro esférico convexo de Lemmon (B). Fotos: Arleu

Barbosa.

Amostragem de formigas

Para a coleta de formigas, foi retirado no centro de cada parcela uma amostra de 1 m²

de serapilheira (Figura 2, B), respeitando assim uma distância de 10 m entre pontos de coleta

(Baccaro et al., 2011). O material vegetal foi transferido para um peneirador com malha de

0,5 cm² para retirada do excesso de matéria orgânica e desalojamento dos exemplares de

formigas (Figura 4, A). Todo processo foi feito pelo menos 24 horas após a última chuva no

local, pois a eficiência da coleta é afetada com o folhiço úmido (Fisher, 1998). O material

peneirado foi transportado em saco de tecido e posteriormente transferindo ao saco de malha

do extrator de mini-winkler por 48 horas (Figura 4, B) (Delabie et al., 1999; Fisher, 2000;

Bestelmeyer et al., 2000).

A B

19

Figura 4: Material vegetal sendo separado com peneirador de grade de 0,5 cm² para retirada do excesso de

matéria orgânica e desalojamento inicial dos exemplares de formigas (A) e extrator de mini-winkler durante o

período de 48 horas para desalojamento final dos formicídeos (B). Fotos: Arleu Barbosa.

Após o período de 48h, o material foi levado para laboratório, devidamente triado

utilizando lupa estereoscópica e pinça, e os formicídeos acondicionados em Etanol a 70%. A

identificação foi até o menor nível taxonômico possível, para isso, foram utilizadas chaves de

identificação (Bolton 1994; 2003; Baroni-Urbani & de-Andrade, 2007) e por meio de

comparação com coleções de referência do Laboratório de Entomologia do Departamento de

Biologia da Universidade Federal de Sergipe. Foi feito duplicata do material testemunho e

depositados no Laboratório de Entomologia do Departamento de Biologia da Universidade

Federal de Sergipe, São Cristovão-SE e no Laboratório de Mirmecologia do Centro de

Pesquisa do Cacau, Ilhéus-BA.

A licença para coleta foi deferida pelo Sistema de Autorização e Informação em

Biodiversidade (SISBIO) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio) com o número 42620-1.

A B

20

Grupos funcionais

Foi utilizado a classificação de grupos funcionais proposta por Leal et al., (2012),

devido à similaridade entre os biomas, proximidade geográfica entre as áreas e a alta

diversidade taxonômica e ecológica das formigas de Mata Atlântica em outras classificações,

por exemplo, formigas “Especialistas Tropicais” (Andersen, 2010), utilizado em uma

classificação global.

Os grupos aceitos foram: (I) Crípticas predadoras – formigas pequenas que nidificam

no solo, folhas e troncos podres, onde se especializam em artrópodes vivos ou seus ovos; (II)

Crípticas onívoras - formigas pequenas que nidificam no solo, folhas e troncos podres, onde

são predadoras generalistas e catadores; (III) Epigéicas predadoras – espécies de médio a

grande porte que se alimentam na superfície de serapilheira e são predadoras especializadas

de outros artrópodes, (IV) Epigéicas onívoras – formigas de médio a grande porte que se

alimentam na superfície da serapilheira e são predadoras generalistas e catadoras; (V)

Arborícolas dominantes – espécies altamente ativas e agressivas com grandes colônias e

nidificação em árvores; (VI) Arborícolas subordinadas - outras espécies que nidificam em

árvores; (VII) Oportunistas – espécies não especializadas de baixa competitividade ou

associada a espécies invasoras; (VIII) Formigas nômades - altamente agressivass com

recrutamento legionário; (IX) Attini cortadoras de folhas - altamente ativas e agressivas,

polimórficas e que formam grandes colônias que usam as folhas para cultivar o fungo

simbionte; e (X) Attini não cortadoras de folhas – formigas monomórficas, não-agressivas,

com colônias de tamanho reduzido e usam outros materiais orgânicos para cultivar o fungo

simbionte.

As espécies coletadas e não citadas na lista de Leal et al., (2012) foram alocadas em

grupos seguindo a classificação de Delabie (2000).

Análises dos dados

Variáveis ambientais e riqueza de formigas entre áreas

A riqueza de formigas (variável resposta) em resposta ao tratamento (RL ou APP), à

cobertura do dossel, à profundidade da serapilheira e à densidade de árvores (variáveis

explicativas) foi testada por meio de modelos lineares generalizados (GLMs) (Crawley 2007).

21

Tendo em vista que as parcelas estão aninhadas (pseudoréplicas) em um conjunto maior

(transectos), que por sua vez estão aninhados em pares dentro de cada propriedade, utilizou-se

para as análises as médias dos valores de cada área, exceto para os valores de riqueza, que

foram utilizados os dados brutos. Assim, o modelo completo foi composto por seis repetições

(3 transectos para cada tratamento). Para testar se a riqueza de formigas era influenciada pelas

variáveis ambientais adotou-se a distribuição Poisson, após constatação de que a variável

explicativa não obedecia a uma distribuição normal.

Diferenças nos valores das variáveis ambientais (variável resposta) entre APP e RL

(variável explicativa) também foram testadas por meio de modelos lineares generalizados

(GLMs) (Crawley, 2007). Os GLMs foram realizados no software estatístico R (R

Development Core Team, 2014) em nível de significância de 5% (Crawley, 2007).

Composição de formigas entre áreas

Para se testar diferenças na composição das assembléias de formigas de serapilheira

entre as áreas (RL e APP) foi utilizada análise similaridade (ANOSIM) (Clarke, 1993) e uma

análise de escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS), adotando-se ordenação

pelo índice de Jaccard (que considera a presença e ausência de espécies) (Gotelli et al., 2011).

Além do NMDS, adotou-se a análise de agrupamento (CLUSTER) utilizando-se a ordenação

pelo índice de Bray-Curtis, para isso considerou-se a frequência das espécies nas amostras

(n/30) em cada sítio. A análise de Cluster permite a ordenação hierárquica, indicando

possíveis grupos/subgrupos entre áreas e locais de amostragem (RL e APP) ao passo que a

NMDS utilizada permitiu apenas a comparação entre locais.

Além disso, uma análise de similaridade (ANOSIM) (Clarke, 1993) foi realizada para

se testar diferenças entre a composição de espécies entre as 6 áreas. Ao final desta análise,

utilizando-se o software estatístico R (R Development Core Team, 2014) com nível de

significância de 5%, valores de P e R foram estabelecidos e os padrões de similaridade entre

as assembléias definidos por meio destes valores (Hammer et al., 2001).

22

Diferenças entre grupos funcionais em RL e APP

Diferenças na riqueza de grupos funcionais em relação às áreas (RL e APP), bem

como as variáveis ambientais foram testadas usando modelos lineares generalizados (GLMs),

para isso foi utilizado a soma das presenças de cada grupo funcional nas amostras (Clarke,

1993). No GLM, a riqueza de grupos funcionais foi a variável resposta e as variáveis

utilizadas para estimar a complexidade ambiental (profundidade de serapilheira, abertura do

dossel e abundância de árvores) foram as variáveis explicativas. Um modelo completo, com

todas as variáveis foi primeiramente testado, excluindo-se, posteriormente, as variáveis não

significativas por contraste a posteriori. Todas as análises foram realizadas utilizando-se o

software estatístico R (R Development Core Team, 2014), com nível de significância de 5%.

23

RESULTADOS

Foram coletadas 116 morfoespécies, distribuídas em 42 gêneros (Anexo). As

morfoespécies estão inseridas em nove subfamílias, entre as quais a Myrmicinae foi a mais

diversificada (com 74 morfoespécies), seguida por Ponerinae (n = 17), Formicinae (n = 10) e

Ectatomminae (n = 5). Com relação aos gêneros amostrados, Pheidole, Strumigenys e

Solenopsis foram os mais diversificados com 23, 10 e 8 morfoespécies, respectivamente

(Anexo). A RL contribuiu com 86 morfoespécies enquanto a APP registrou 96, havendo entre

elas 66 morfoespécies em comum. Apesar da maior riqueza de morfoespécies, a quantidade

de gêneros foi igual nas duas áreas (n = 36).

Variáveis ambientais e riqueza de formigas entre áreas

Não foi encontrada diferença significativa entre as áreas de RL e APP com relação as

variáveis de heterogeneidade medidas, sendo elas, a serapilheira (p = 0,111; Tabela 1),

abertura do dossel (p = 0,108; Tabela 1) e a abundância de árvores (p = 0,267; Tabela 1).

Tabela 1: Análise do modelo mínimo com as variáveis explicativas (tratamento e as variáveis ambientais) sobre

as variáveis ambientais e a riqueza de espécies de formigas em propriedades particulares sob domínio de Mata

Atlântica em Sergipe, Brasil.

Variável resposta Variável explicativa df Deviância p Distribuição de erro

Serapilheira Tratamento 1 1,411 0,111 Gaussian

Dossel Tratamento 1 18,480 0,108 Gaussian

Abund. árvores Tratamento 1 0,499 0,267 Gaussian

Riq. Formigas Tratamento 1 0,318 0,572 Poisson

Riq. Formigas Serapilheira 1 0,3185 0,914 Poisson

Riq. Formigas Dossel 1 5,566 0,018 Poisson

Riq. Formigas Abund. árvores 1 0,747 0,387 Poisson

Também não foi encontrada diferença na riqueza de morfoespécies de formigas entre

as RLs e APPs (p = 0,572; Tabela 1). Em contrapartida, como podemos observar na Figura 5,

a riqueza respondeu positivamente ao fechamento do dossel (p = 0,018; Tabela 1). As demais

variáveis medidas não explicaram a riqueza de espécies, sendo elas a profundidade da

24

serapilheira (p = 0,914; Tabela 1) e a cobertura do dossel (p = 0,387; Tabela 1) nos locais

amostrados.

Figura 5: Riqueza de formigas total em diferentes médias de aberturas do dossel nas APPs e RLs de

propriedades particulares sob domínio de Mata Atlântica em Sergipe, Brasil.

Composição de formigas entre áreas

Não houve diferença significativa entre as assembléias de formigas nas RLs em

comparação com as APPs (ANOSIM; R = 0,037; p = 0,6) (Figura 6), indicando que tais áreas

são similares não apenas na sua complexidade ambiental, mas também na diversidade local de

formigas.

25

Figura 6: Análise de escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS) para a composição de

morfoespécies de formigas em APPs e RLs em propriedades particulares sob domínio de Mata Atlântica em

Sergipe, Brasil. Círculos e linha pontilhada = APP, quadrados e linha continua = RL.

A análise de similaridade (ANOSIM) mostrou diferença significativa na composição

das assembléias de formigas em todos os sítios amostrados (Tabela 2). Foi possível observar a

partir da análise de agrupamento (CLUSTER) uma nítida separação entre alguns sítios

amostrados, definindo a ordenação das áreas em dois grupos, um com o IFS (65

% de dissimilaridade) e o segundo com as a RCR e MBV (55%), sendo a área MBV tendo a

maior similaridade entre sua RL e APP (Figura 7).

26

Tabela 2: Análise de similaridade (ANOSIM) para a composição de espécies de formigas em APPs e RLs e

propriedades particulares sob domínio de Mata Atlântica em Sergipe, Brasil.

Área 1 Área 2 Valor R Valor P

IFS-APP X IFS-RL 0.2650 < 0,01

IFS-APP X MBV-APP 0.5085 < 0,01

IFS-APP X MBV-RL 0.5198 < 0,01

IFS-APP X RCR-APP 0.3618 < 0,01

IFS-APP X RCR-RL 0.5552 < 0,01

IFS-RL X MBV-APP 0.3817 < 0,01

IFS-RL X MBV-RL 0.2916 < 0,01

IFS-RL X RCR-APP 0.2327 < 0,01

IFS-RL X RCR-RL 0.3945 < 0,01

MBV-APP X MBV-RL 0.1788 < 0,01

MBV-APP X RCR-APP 0.3611 < 0,01

MBV-APP X RCR-RL 0.2918 < 0,01

MBV-RL X RCR-APP 0.2719 < 0,01

MBV-RL X RCR-RL 0.2375 < 0,01

RCR-APP X RCR-RL 0.2531 < 0,01

Figura 7: Método de agrupamento (CLUSTER) utilizando a dissimilaridade de Bray-Curtis para a composição

de espécies de formigas em APPs e RLs e propriedades particulares sob domínio de Mata Atlântica em Sergipe,

Brasil.

Diferenças entre grupos funcionais em RL e APP

Foram encontrados 10 grupos funcionais nas três áreas amostradas (Figura 8) com

ausência de alguns grupos funcionais nas áreas de coleta como as Attini cortadoras de folhas

ausentes na RCR-RL e na MBV (RL e APP). Formigas nômades não foram coletadas nas

áreas do IFS–RL, RCR (RL e APP) e na MBV-APP. O IFS-RL também não apresentou as

27

Attini não cortadoras de folhas e a RCR-APP não apresentou o grupo das Arborícolas

dominantes. A área IFS-APP foi a única com registro de todos os grupos funcionais (Figura

8).

Figura 8: Frequência dos grupos funcionais de formigas em APPs e RLs e propriedades particulares sob

domínio de Mata Atlântica em Sergipe, Brasil.

Apesar da diferença nas frequências dos grupos funcionais entre as áreas e ausência de

alguns em determinados locais, não foi encontrada diferença entre os grupos funcionais das

RLs e APPs (F = 8,657; p = 0,208). Também não foi encontrada relação na riqueza de grupos

funcionais pelo volume de serapilheira (F = 86,012; p = 0,068), cobertura do dossel (F =

37,406; p = 0,103) e abundância de árvores (F = 48,733; p = 0,090).

28

DISCUSSÃO

Apesar da necessidade de se conservar e preservar fragmentos de vegetação, Reserva

Legal e Área de Proteção Permanente podem ser consideradas iguais, do ponto de vista

estrutural. Tais resultados trazem grandes implicações ecológicas para agroecossistemas e são

apoiados pela atual legislação vigente. Dentre as hipóteses estudadas, verificou-se que todas

foram refutadas. Alguns resultados podem ser atribuidos a fatores de escala pontual, que

determinam a riqueza e composição de formigas de serapilheira em diferentes ambientes. Por

exemplo, a riqueza de formigas respondeu a essas variáveis apenas em escala pontual (nas

parcelas). O fato de áreas de APP e RL apresentarem semelhanças estruturais (Tabela 1) abre

a possibilidade de se tratar as respectivas áreas de forma similar.

O número de morfoespécies de formigas no presente estudo foi maior do que em

outros trabalhos na Mata Atlântica no Brasil (62 espécies em Feitosa & Ribeiro, 2005; 110

espécies em Coelho & Ribeiro, 2006; 82 espécies em Gomes et al., 2014). Segundo Wilson

(1976), Pheidole e Solenopsis juntamente com Camponotus e Crematogaster, possuem a

maior diversidade de espécies e de hábitos, maior extensão de distribuição geográfica e de

abundância local, e, por isso, são considerados os gêneros mais prevalentes em escala global.

A alta diversidade de Stumigenys espécies (10 morfoespécies) encontrada no presente estudo

pode ser atribuído ao fato de adotarmos a sinonímia desse gênero com Pyramica (Baroni-

Urbani & de-Andersen, 2007). Essa sinonímia faz a representatividade do grupo aumentar

consideravelmente, por exemplo, no trabalho de Braga et al., (2010) o gênero Strumigenys (9

espécies coletadas) passaria de quarto para o segundo mais representado, atrás apenas de

Pheidole (19 espécies) e a frente de gêneros como Solenopsis (8 espécies) e Hypoponera (7

espécies).

A composição de formigas amostradas é composta pelas principais subfamílias e

gêneros encontrados para a Mata Atlântica em geral (Feitosa & Ribeiro, 2005; Coelho &

Ribeiro, 2006; Braga et al., 2010; Leal et al., 2012; Gomes et al., 2014) e outros ecossistemas

do Brasil como Caatinga (Leal, 2003; Neves, et al., 2013; Sousa-Souto, et al., 2014) e

Restinga (Gomes et al., 2010), ambos biomas amparados pelas mesmas regras do CF. Assim

como em trabalhos anteriores (Braga et al., 2010; Orsolon-Souza et al., 2011), a maior riqueza

da subfamília Myrmicinae neste estudo está relacionada à sua alta riqueza e abundância na

serapilheira da região neotropical (Silva & Brandão, 1999) bem como à sua adaptação a

diferentes ambientes (Fowler, 1991).

29

O fato da riqueza de formigas não ter diferido entre a RL e APP, pode ser explicado

por condições de microhabitats existentes em cada uma dessas áreas. Em outras palavras, cada

habitat independentemente possui um conjunto de variáveis que conferem disponibilidade de

recursos distintos (alimentação, espaço para nidificação, etc) (Queiroz et al., 2013) com

influência até do histórico da área (Kaspari, 2000). Neste sentido, a atenção deve-se voltar

para as especificidades de alguns grupos de formigas que acabam por limitar sua

sobrevivência em determinados habitats. Por exemplo, o gênero Prionopelta, foi registrado no

presente estudo apenas em APP e de acordo com a literatura está relacionado a ambientes

úmidos, como florestas ripárias (Brandão et al., 2009).

Analisando apenas a disponibilidade de recurso registrado nas APPs (maiores medias

de espessura de serapilheira e cobertura do dossel) o esperado seria que houvesse diferença da

riqueza entre as áreas (Leal et al., 2012). Entretanto, como mencionado anteriormente, neste

tipo de análise deve-se observar as especificidades das assembléias de formigas (Brandão et

al., 2009), uma vez que tanto as APPs como as RLs apresentam características similares de

pouca interferência antrópica. Dessa forma, os valores encontrados nas RLs, apesar de

menores, podem não representar uma “simplificação do hábitat” a ponto de interferir na

estrutura dessas assembléias (Neves et al., 2013; Queiroz et al., 2013). Assim, é possível que

as dinâmicas próprias existente em cada área permitem mudanças apenas na composição,

enquanto que os valores de riqueza permaneçam similares entre as áreas.

A cobertura do dossel foi usada como uma variável preditora da qualidade do habitat e

demonstrou ser um fator consistente para explicar a riqueza de formigas. Os resultados aqui

encontrados corroboram os existentes em estudos similares, que mostram o efeito positivo da

estrutura da vegetação sobre essas comunidades (Marinho et al., 2002; Coelho & Ribeiro,

2006; Braga et al., 2010; Leal et al., 2012; Queiroz et al., 2013; Neves et al., 2013). Efeitos

positivos da cobertura do dossel sobre a riqueza de formigas são esperados, pois o dossel

impede a entrada de raios solares e propicia maior umidade e uma vegetação

multiestratificada, ou seja, condições microclimáticas mais adequadas e características a Mata

Atlântica, quando comparado a áreas abertas. De acordo com Neves et al. (2013) a redução da

cobertura do dossel reduz a riqueza de formigas, pois altera as condições microclimáticas

locais bem como a qualidade e quantidade dos recursos ali disponíveis.

A quantidade e qualidade da matéria orgânica em decomposição no solo é um

importante preditor da abundância de espécies de artrópodes (Sayer et al., 2010), e por sua

30

vez serve como alimento para grupos de formigas epigéicas. Utilizando pitfalls de solo,

Queiroz et al. (2013) observaram que a heterogeneidade e peso da serapilheira foram as

variáveis que melhor explicaram a riqueza de espécies de formigas epigéicas, e associaram a

essas duas variáveis a disponibilidade de recursos, de espaço, alimentação e nidificação.

Apesar disso, no presente estudo, não foi encontrado relação entre a riqueza de formigas e o

volume da serapilheira, fato que pode está associado ao encontrado por Sobrinho &

Schoereder (2007), onde notaram uma maior profundidade da serapilheira em áreas de borda

de fragmentos com uma menor riqueza de espécies de formigas. É possível que as coletas,

principalmente na APP por essa sofrer efeito direto da radiação solar da borda, aumento da

temperatura e maior velocidade do vento, tenham mascarado uma possível relação entre

riqueza e serapilheira.

Já a abundância de árvores não foi um fator explicativo para a riqueza de formigas de

serapilheira, e diferiu de outros trabalhos (Leal et al., 2012; Neves et al., 2013). Uma

explicação para o presente resultado pode ser encontrada em Queiroz et al., (2013), onde foi

levantada a hipótese de que as formigas estão fortemente relacionadas às características do

habitat, como por exemplo, um maior fechamento do dossel para as epigéicas e riqueza e

densidade de árvores para formigas arborícolas. De certa forma, a densidade de árvores está

relacionada às duas outras medidas utilizadas no presente estudo (profundidade da

serapilheira e dossel). Entretanto, fatores não mensurados como riqueza, composição de

espécies arbóreas, porte e deciduidade poderiam elucidar e/ou explicar melhor os padrões

registrados para assembléias de formigas (Leal et al., 2012). Além disso, vale ressaltar, que

existem outros fatores que agem em diferentes escalas espaciais, e podem afetar a estrutura de

comunidades de formigas epigeicas, como a variação topográfica (Gunawardene et al., 2012),

tamanho do fragmento (Leal et al., 2012) e isolamento (Ribeiro et al., 2009; Freitas, 2010).

Tais fatores não foram abordados no presente trabalho e deve ser considerados em estudos

futuros, principalmente quando consideramos remanescentes florestais de RL e APP.

Através da análise de similaridade ficou evidente que as assembléias encontradas na

RL e APP são semelhantes, resultado que vai de encontro com a hipótese proposta, mas que

pode ser explicado pela proximidade dos locais amostrados ou pela conectividade entre os

fragmentos (Sobrinho & Schoereder, 2007). Esses resultados estão relacionados também ao

histórico de preservação na propriedade e por sua vez à especificidade de cada grupo ou a

espécie e seus recursos e/ou condições particulares do habitat encontrado nessas áreas (Silva

31

& Brandão, 1999; Brandão et al., 2009). De acordo com Leal et al. (2012), o isolamento em

fragmentos próximos influenciam a composição das espécies de formigas ali presente, por

vezes, motivados pela variação na estrutura do habitat, porém, o tempo de separação dessas

áreas de APP e RL podem não ter sido suficiente para uma modificação estrutural e das

assembléias desses ambientes amostrados.

No entanto, a partir do NMDS observa-se que parte da composição foi similar entre as

RLs e APPs. Estes resultados podem indicar a existência de conexão dentro da matriz

agrícola, possivelmente através de corredores de vegetação, ou o fato de no passado tais áreas

pertencerem a um fragmento contínuo. Dentro deste raciocínio, pode-se propor que áreas mais

próximas ou existentes em um único fragmento, independente se RL ou APP, apresentarão

composição semelhante, resultado observado para as áreas do IFS e da MBV na análise de

agrupamento. A semelhança entre as áreas mais próximas espacialmente pode reforçar a

importância da função da APP como corredor ecológico, para manutenção da biodiversidade

(Ribeiro et al., 2009; Galetti et al., 2010; Metzger, 2010; Toledo et al., 2010; Leal et al.,

2012).

Ainda analisando a análise de agrupamento, observa-se que no caso da RCR a resposta

da assembleia pareceu estar associada à complexidade do ambiente uma vez que a sua RL

apresenta valores da quantidade de serapilheira e cobertura do dossel próximo dos sítios

amostrados na MBV (dados não expostos aqui). Resultado similar foi encontrado também por

Pacheco et al. (2013) onde sugerem que as diferenças na estrutura do habitat entre RL e as

culturas adjacentes têm um efeito muito mais importante nas assembléias de formigas do que

a distância entre os locais de amostragem.

Os resultados obtidos a partir do uso dos grupos funcionais reforçam os resultados

encontrados para a composição de espécies e indicaram que não existe diferença entre APP e

RL, de forma geral Além disso, os grupos funcionais não responderam a nenhuma das

variáveis ambientais tomadas. Fato que vai de encontro ao encontrado na literatura, onde

alguns autores mostram essas variáveis influenciando os habitats de algumas guildas de

formigas, por vezes, causando a exclusão de grupos por não proporcionar condições

favoráveis (Silvestre & Silva, 2001; Leal et al., 2012). No presente estudo isso pode está

relacionado também à presença da maioria dos grupos funcionais nas áreas amostradas, com

uma variação de dois entre a menor e a que teve os 10 grupos de formigas amostrados.

32

Além da composição, os grupos funcionais passam a ser uma importante característica

de comparação entre duas comunidades, pois deixam de comparar apenas uma lista de

espécies e passam a observar um arranjo estrutural da assembleia de determinado local

(Silvestre & Silva, 2001). Dessa forma, os grupos encontrados em cada área apresentam suas

particularidades, essas podem está mantendo as funções ecológicas na propriedade em

equilíbrio uma vez que, assembléias de formigas na RL são, por vezes, complementadas na

APP (e vice versa). Esses dados reforçam a ideia de manter essas duas áreas como prioritárias

dentro da propriedade, visto que essas irão se complementar para manter as funções (Metzger,

2010). No entanto, esta tendência deve ser interpretada com cautela, pois não foi significativa

quando analisada em seu modelo geral. Sendo assim, as funções ecológicas dentro da

propriedade parecem estar relacionadas à “hipótese rebite” de Ehrlich e Ehrlich (1981), onde

essa pressupõe a estabilidade do ambiente baseada em um conjunto de espécies, essas,

divididas em subconjuntos menores desempenhando diferentes funções. A ausência de

algumas espécies pode não acarretar problemas para a manutenção das funções, mas um

conjunto delas pode desestabilizar o ambiente. Com isso, reforçamos a importância de se

manter essas duas áreas na propriedade rural, uma vez que os grupos funcionais são

aparentemente distintos em escala local, acarretando diferenças nas funções ecológicas

desempenhadas dentro da propriedade na RL e APP (Metzger, 2010).

Algumas assembléias podem ser tratadas isoladamente, por exemplo, houve uma

dominância dos grupos considerados generalistas e de acordo com os dados da literatura as

espécies oportunistas e generalistas por apresentarem maiores amplitudes nas dietas e

condições do ambiente podem ser mais facilmente registradas (Brandão et al., 2009; Galetti et

al., 2010; Toledo et al., 2010; Pacheco et al., 2013). Vale ressaltar que vários trabalhos

sugerem as formigas especializadas (por exemplo, Predadoras crípticas e Epigéicas

predadoras) como bioindicadoras da fauna edáfica e consequentemente da qualidade do

ambiente (Silvestre & Silva, 2001; Leal et al., 2012; Pacheco et al., 2013). Dentre esses

grupos, as Formigas nômades são importantes prediletores da qualidade do habitat, pois

algumas espécies necessitam de extensas áreas de forrageamento (Silvestre & Silva, 2001).

Apesar disso, sua ausência nas demais áreas pode ser atribuída à baixa densidade e/ou

limitação da metodologia utilizada na coleta desse grupo em específico (Orsolon-Souza et al.,

2011). Dessa forma, não foi utilizado como grupo resposta devido a sua baixa frequência

(Leal et al., 2012). A ausência do grupo das Attini não cortadoras de folhas na RL do IFS, foi

33

devido a um evento estocástico pontual, uma vez que se trata de um grupo abundante na

serapilheira e com representantes amostrados nessa localidade em outras coletas (piloto).

De maneira geral, APP e RL podem ser consideradas similares, situação condizente

com o NCFB. Os dados aqui encontrados demonstraram que APPs e RLs abrigam

semelhantes assembléias de formigas de serapilheira. Neste sentido, vale ressaltar que

artifícios legais, como a redução de uma delas para compensar a perda da outra,

aparentemente, não prejudicaria a biodiversidade de formigas. Pacheco et al. (2013) reforça a

manutenção da RL na propriedade em áreas de cerrado, por essas apresentarem entre 41-76%

de todas as espécies encontradas, quando analisada a área protegida e a utilizada para o

cultivo. No presente estudo, a exclusividade de cada área em comportar as espécies da

propriedade variou de 64 a 81% na RL e de 74 a 84% na APP, mostrando com isso que ambas

as áreas abrigam parcela significativa da diversidade de formigas local.

Em contrapartida, um argumento relevante e que reforça a manutenção de tais áreas, é

que todas elas estão inseridas no bioma de Mata Atlântica. De acordo com Ribeiro et al.,

(2009) aproximadamente 40% do que resta de Mata Atlântica encontra-se no formado de

fragmento, com menos de 100 ha, e tais fragmentos, como observado no presente estudo,

conseguem abrigar parcela significativa da biodiversidade local. Desta forma chama-se

atenção para a legislação vigente quanto aos meios e/ou ferramentas usadas para classificação,

definição e manutenção desses ambientes. Dados registrados na literatura indicam a

existências de diferenças cruciais nas interações e funções ecológicas desempenhadas por

outros grupos e espécies nesses fragmentos (Chan et al., 2006; Galetti et al., 2010; Silva et al.,

2010; Freitas, 2010; Toledo et al., 2010; Marques et al., 2010).

Outra justificativa é que o NCFB permite aos produtores, nas propriedades que abriga

mais de um tipo de vegetação nativa, escolher aquelas com menor heterogeneidade e

diversidade para servirem de RL, diminuindo desta forma a efetividade dessas na conservação

da biodiversidade. Por exemplo, extensas fazendas de cana-de-açúcar ou eucalipto no Brasil,

podem abrigar distintos ecossistemas ou áreas de transição, como floresta úmida, brejos,

cerrado (savanas), restingas e campos de altitude (Metzger, 2010). Ao se priorizar a

conservação de apenas um tipo de ambiente (geralmente o mais simples) como RL é possível

que muitas espécies especialistas dos demais ambientes sejam eliminadas (Galetti et al.,

2010). E destacamos ainda a importância da RL na mobilidade de animais nesses ambientes,

34

integrando fragmentos e reduzindo o isolamento de Unidades de Conservação através desses

“trampolins ecológicos” (Ribeiro et al., 2009; Galetti et al., 2010; Pacheco et al., 2013).

Apesar dos dados expostos encontrados na literatura, sugerimos, a partir dos nossos

dados, que o NCFB é condizente com a ideia de que APPs podem atuar como RLs e serem

efetivas ao compensar a perda de espécies, uma vez que trata-se de ambientes estruturalmente

similares para a conservação dessas áreas em propriedades localizadas no complexo de Mata

Atlântica em Sergipe.

35

CONCLUSÃO

O Novo Código Florestal Brasileiro foi o foco de polêmicas entre pesquisadores,

políticos e a sociedade civil, sendo criticado por possuir um texto que possivelmente

simplificava a questão da importância de Áreas de Proteção Permanente e Reservas Legais na

manutenção da biodiversidade em áreas dominadas pela paisagem agrícola. Entre os seus

artigos, está o que permite a substituição da RL pelo cômputo da APP como forma de

compensação e anistia por delitos ambientais ocorridos no passado. Apesar das críticas ao

NCFB, o presente estudo não encontrou diferenças marcantes na estrutura do ambiente para

essas áreas, indicando que o texto atual do NCFB é condizente no que se refere a uma

possível substituição da RL pelo cômputo da APP ou vice-versa.

Além disso, a fauna de formigas não diferiu entre as áreas (riqueza, composição e

quantidade de grupos funcionais), corroborando os dados encontrados para estrutura do

habitat. Os grupos funcionais apresentaram diferenças na sua frequência e ocorrência quando

analisados em escala de propriedades, e por apresentar apenas essa diferença, consideramos

que formigas de serapilheira respondem de forma similar aos dois ambientes amostrados. Esse

resultado tem um impacto importante sobre funções ecológicas e de interações mediadas por

formigas, uma vez que essas fazem parte da dieta de outros grupos e que talvez esses grupos

possam responder da mesma forma. Contudo, sugerimos priorizar áreas com um maior

fechamento do dossel, pois, RLs ou APPs com menor cobertura do dossel, pode significar

uma área com baixa riqueza de espécies.

36

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44

ANEXO

Anexo: Lista, grupo funcional e número de ocorrências de cada uma das morfoespécies de formigas coletadas

em 30 amostras de mini-winkler nas APP e RL de propriedades sob domínio de Mata Atlântica em Sergipe.

Locais de coleta

IFS MBV RCR

Subfamílias ou morfoespécies/grupos

funcionais

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

AMBLYOPONINAE

Prionopelta sp.1 I - - 6 - - -

DOLICHODERINAE

Dolichoderus attelaboides (Fabricius,

1775) V - 2 - - - -

Dolichoderus cf. lutosus (Smith, 1858) V 2 - - - - -

Dolichoderus sp.1 V - 4 15 16 - 6

Dorymyrmex sp.1 VII 1 - - - - -

DORYLINAE

Neivamyrmex sp.1 VIII - - - 3 - -

Neivamyrmex sp.2 VIII 1 - - - - -

ECTATOMMINAE

Ectatomma edentatum Roger, 1863 VII 6 4 - - - -

Ectatomma tuberculatum (Olivier,

1792) VII - 1 4 2 5 3

Gnamptogenys gracili (Santschi, 1929) IV - - 5 4 3 4

Gnamptogenys horni (Santschi, 1929) IV - - 3 - 1 -

Gnamptogenys cf. sulcata (Smith,

1858) IV - - - - 1 -

FORMICINAE

Acropyga sp.1 II - - 1 1 5 -

Brachyrmymex sp.1 VII - - 3 13 7 7

Brachyrmymex sp.2 VII - - - - - 4

Camponotus nevagrande Mayr, 1870 IV - - - - 4 1

Camponotus pilosa (Olivier, 1792) IV 6 2 - - 6 -

Camponotus sp.3 IV 5 2 1 4 - 1

Camponotus sp.5 IV - 1 - - - -

Nylanderia sp.1 VII 2 11 25 25 14 25

Nylanderia sp.2 VII - - - - 1 3

Paratrechina sp.1 VII - 3 1 1 - -

MYRMICINAE

Acanthognathus cf. ocellatus Mayr,

1887 I - - - - 1 -

Apterostigma sp.1 X - - 2 - - -

Atta sexdens (Linnaeus, 1758) IX 2 1 - - 1 -

Carebara (grupo lignata) sp.1 II - 1 10 11 7 16

Carebara cf. brevipilosa Fernández,

2004 II - - 3 3 2 4

Cephalotes cf. maculatus (Smith, 1876) VI 1 - - - - -

Cephalotes cf. minutus (Fabricius,

1804) VI 2 1 1 - - -

Cephalotes cf. pusillus (Klug, 1824) VI - 2 - - - - Cephalotes cf. umbraculatus (Fabricius, 1804) VI - 1 - - - -

45

(Anexo, continuação...)

Locais de coleta

IFS MBV RCR

Subfamílias ou morfoespécies/grupos

funcionais

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

Crematogaster sp.1 VI 12 1 15 4 7 15

Crematogaster sp.2 VI 2 - - - - - Cyphomyrmex cf. rimosus (Spinola, 1851) X 13 - 7 2 - -

Cyphomyrmex sp.2 X - - 2 5 3 8

Hylomyrma cf. balzani (Emery, 1894) IV 2 - - - - -

Hylomyrma sp.1 IV - - 1 - - 1

Lachnomyrmex cf. victori Feitosa &

Brandão, 2008 IV - - - - - 1

Megalomyrmex sp.1 IV - - 4 3 - 2

Monomorium sp.1 VI - 1 - - - -

Mycocepurus cf. smithii (Forel, 1893) X - - - 4 - 4

Myrmicocrypta sp.1 X - - - - - 1

Nesomyrmex sp.1 IV 1 - - - - -

Nesomyrmex sp.2 IV - - - - - 1

Nesomyrmex sp.3 IV - - 1 - - -

Nesomyrmex sp.4 IV - 1 - - - -

Octostruma iheringi (Emery, 1888) I 4 - 4 3 8 3

Octostruma sp.2 I - - 2 1 - -

Pheidole sp.1 IV 7 3 22 21 14 24

Pheidole sp.2 IV 8 14 18 11 12 16

Pheidole sp.3 IV 22 3 6 6 7 12

Pheidole sp.4 IV 4 1 20 4 6 9

Pheidole sp.5 IV 16 3 5 1 - -

Pheidole sp.6 IV - - - - 20 5

Pheidole sp.7 IV - - 11 6 - 1

Pheidole sp.8 IV - - 2 17 - -

Pheidole sp.9 IV - - 1 - - 7

Pheidole sp.10 IV - - 1 - 4 1

Pheidole sp.11 IV - - 13 1 - -

Pheidole sp.12 IV - - - - 6 6

Pheidole sp.13 IV 6 - - - 1 -

Pheidole sp.14 IV 2 - - - 2 2

Pheidole sp.15 IV 3 - - - 1 -

Pheidole sp.16 IV 4 - - - - -

Pheidole sp.17 IV - - - - - 3

Pheidole sp.18 IV - - - - 1 1

Pheidole sp.19 IV 1 - - - - -

Pheidole sp.20 IV - - - - 1 -

Pheidole sp.21 IV - - - - 1 -

Pheidole sp.22 IV - - 1 - - -

Pheidole sp.23 IV - 2 - - - -

Rogeria cf. besucheti Kugler, 1994 IV 1 - - - - -

Rogeria cf. germaini Emery, 1894 IV - - - - 1 -

Sericomyrmex sp.1 X - - 6 7 6 4

Solenopsis sp.1 II 27 21 29 26 28 30

Solenopsis sp.2 II 13 6 16 18 20 25

Solenopsis sp.3 II 9 4 13 6 6 14

46

(Anexo, continuação...)

Locais de coleta

IFS MBV RCR

Subfamílias ou morfoespécies/grupos

funcionais

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

Solenopsis sp.4 II 2 5 9 1 - 6

Solenopsis sp.5 II - - - - 2 -

Solenopsis sp.6 II - - 1 - - -

Solenopsis sp.7 II - - 1 - - -

Solenopsis sp.8 II - - - 1 - -

Strumigenys cf. borgmeieri Brown,

1954 I 1 - - - - -

Strumigenys carinithorax Borgmeier,

1934 I - - - 1 3 5

Strumigenys cf. cordovensis Mayr,

1887 I - - - - 1 -

Strumigenys denticulata Mayr, 1887 I 22 18 30 29 24 30

Strumigenys elongata Roger, 1863 I - - 11 7 5 19

Strumigenys cf. hindenburgi Forel,

1915 I - - - - - 1

Strumigenys louisianae Roger, 1863 I 3 1 6 7 2 4

Strumigenys cf. schulzi Emery, 1894 I 2 - - - 1 -

Strumigenys sp.1 I 8 - 3 - 3 4

Strumigenys sp.2 I - - 4 2 - -

Trachymyrmex sp.1 X - - 3 2 - 2

Trachymyrmex sp.2 X - - - 2 - - Wasmannia cf. auropunctata (Roger, 1863) IV 15 16 5 11 16 23

Wasmannia sp.2 IV - - 1 - 1 2

PONERINAE

Anochetus sp.1 III - - - 2 - -

Hypoponera sp.1 II 17 4 19 18 12 5

Hypoponera sp.2 II 2 6 21 19 4 18

Hypoponera sp.3 II - - 4 3 7 2

Hypoponera sp.4 II - - - 2 1 4

Hypoponera sp.5 II - - - - 1 5

Hypoponera sp.6 II 1 1 - 1 - 1

Hypoponera sp.7 II - - 1 1 - -

Leptogenys cf. bohlsi Emery, 1896 III 1 - - - - -

Neoponera cf. apicalis (Latreille, 1802) III - - 2 2 - 1

Neoponera concava (MacKay &

MacKay, 2010) III 1 2 - - - -

Neoponera sp.1 III - - 1 - - 2

Odontomachus haematodus (Linnaeus,

1758) III 9 7 11 12 7 15

Odontomachus meinerti Forel, 1905 III 5 3 8 10 5 15

Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804) III 1 2 7 1 6 4

Thaumatomyrmex sp.1 I - - - 1 - -

PROCERATIINAE

Discothyrea sp.1 I 2 - 2 - 1 4

PSEUDOMYRMECINAE

Pseudomyrmex tenuis (Fabricius, 1804) VI 4 2 - 3 6 6

Pseudomyrmex urbanus (Smith, 1877) VI 1 - 1 - - -

47

Grupos Funcionais: I - Crípticas predadoras; II - Crípticas onívoras; III - Epigéicas predadoras; IV - Epigéicas

onívoras; V - Arborícolas dominantes; VI - Arborícolas subordinadas; VII – Oportunistas; VIII - Formigas

nômades; IX - Attini cortadoras de folhas e; X - Attini não cortadoras de folhas.

(Anexo, continuação...)

Locais de coleta

Subfamílias ou morfoespécies/grupos

funcionais

IFS MBV RCR

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

A

P

P

R

L

Pseudomyrmex sp.2 VI - - - 1 - 2