universidade federal de sergipe nÚcleo de pÓs-graduaÇÃo em geografia grupo de...

51
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA GRUPO DE PESQUISA SOBRE TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO RURAL (registrado no CNPq) CÉLULA DE ACOMPANHAMENTO e INFORMAÇÃO PROJETO DE PESQUISA: GESTÃO DE TERRITÓRIOS RURAIS EDITAL 05/2009/MDA/CNPq. TERRITÓRIO DA CIDADANIA: AGRESTE DE ALAGOAS RELATÓRIO ANALÍTICO 1. INTRODUÇÃO O presente relatório objetiva apresentar os primeiros resultados da execução de pesquisa tendo como referência analítica o Território do Agreste de Alagoas em seu primeiro ano de execução. Por entender que a proposta original do projeto teve como marco a abordagem mista envolvendo pesquisa e extensão, acreditamos que esses requisitos acadêmicos foram cumpridos. No primeiro aspecto, no que se refere às pesquisa de campo realizada a partir dos questionários pre-existentes, envolvendo consecutivamente os seguintes questionários: Q4, Q1, Q3 e Q2. Finalmente no inicio de 2012 é que agregamos os resultados do Q5, referente ao projeto de investimentos. No segundo, pelo conjunto de atividades que foram realizadas juntamente com o CODETER do Território em análise, desde a sua apresentação no início do mês de Outubro de 2011, das diversas reuniões realizadas com a Coordenação do Território durante todo o período, da apresentação dos resultados da pesquisa do Índice de Condições de Vida (ICV) perante o Colegiado (dia 07/07/2011), além da realização de trabalho de extensão com a presença de membros da Coordenação do CODETER em Colóquio realizado

Upload: vutruc

Post on 18-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

GRUPO DE PESQUISA SOBRE TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO RURAL

(registrado no CNPq)

CÉLULA DE ACOMPANHAMENTO e INFORMAÇÃO

PROJETO DE PESQUISA: GESTÃO DE TERRITÓRIOS RURAIS – EDITAL

05/2009/MDA/CNPq.

TERRITÓRIO DA CIDADANIA: AGRESTE DE ALAGOAS

RELATÓRIO ANALÍTICO

1. INTRODUÇÃO

O presente relatório objetiva apresentar os primeiros resultados da execução

de pesquisa tendo como referência analítica o Território do Agreste de Alagoas

em seu primeiro ano de execução.

Por entender que a proposta original do projeto teve como marco a abordagem

mista envolvendo pesquisa e extensão, acreditamos que esses requisitos

acadêmicos foram cumpridos. No primeiro aspecto, no que se refere às

pesquisa de campo realizada a partir dos questionários pre-existentes,

envolvendo consecutivamente os seguintes questionários: Q4, Q1, Q3 e Q2.

Finalmente no inicio de 2012 é que agregamos os resultados do Q5, referente

ao projeto de investimentos.

No segundo, pelo conjunto de atividades que foram realizadas juntamente com

o CODETER do Território em análise, desde a sua apresentação no início do

mês de Outubro de 2011, das diversas reuniões realizadas com a

Coordenação do Território durante todo o período, da apresentação dos

resultados da pesquisa do Índice de Condições de Vida (ICV) perante o

Colegiado (dia 07/07/2011), além da realização de trabalho de extensão com a

presença de membros da Coordenação do CODETER em Colóquio realizado

nas dependências da Universidade Federal de Sergipe (unidade executora), e

da presença também de professores e discentes da graduação e da pós-

graduação da instituição. Evento este realizado no dia 01 de setembro de 2011.

O que tem gerado resultados do nosso trabalho durante esse período foi a

organização da Célula de Acompanhamento e Informação (CAI), com uso da

infra-estrutura disponível no Núcleo de Pós-Graduação em Geografia da

Universidade Federal de Sergipe (UFS), em seu Laboratório de Análise

Regional, onde estar situado o Grupo de Pesquisa Sobre Transformações no

Mundo Rural. Nesse aspecto, a existência de um grupo maior que a CAI e a

experiência já acumulada de pesquisas anteriores, além de sua composição,

formada por estudantes da pós-graduação, titulados e não-titulados; contribuiu

em dar maior celeridade ao cumprimento da agenda da pesquisa, em especial

ao trabalho de campo.

Desse lado, o relatório em tela é uma abordagem analítica das atividades

desenvolvidas pela CAI no referido Grupo. Não podemos desmerecer a

importância do Colóquio sobre Desenvolvimento Territorial realizado na UFS e

que tornou mais próximo a CAI com a Coordenação do Colegiado, em especial

na tentativa de dar apoio à instância diretiva, inclusive para futuros

empreendimentos de natureza técnica, como a proposição de elaboração de

projetos, como apresentamos na parte de propostas e ações para o território,

no final do texto.

É conveniente e justo observar que agregamos a presente introdução, em

função de dar maior clareza nos conteúdos que ora apresentamos em seguida

2. CONTEXTUALIZAÇÃO

O Território Rural do Agreste de Alagoas envolve abrange 19 (dezenove

municípios), composto pelas unidades político-administrativas: Arapiraca,

Palmeira dos Índios, Igaci, Estrela de Alagoas, Craíbas, Taquarana, Limoeiro

de Anadia, Coité do Nóia, São Sebastião, Junqueiro, Teotônio Vilela, Feira

Grande, Girau do Ponciano, Olho d’ Água Grande, Campo Grande (2), Tanque

d’Arca, Traipu, Lagoa da Canoa.

Quanto à dimensão geográfica, o território abrange aproximadamente 4,5 mil

km², representando 17% da área territorial do estado de Alagoas, abarcando

uma população de mais de 550 mil habitantes. Estes municípios estão

localizados em uma faixa espacial conformada em sentido longitudinal (sentido

norte-sul), compreendendo desde áreas de influência do município de Palmeira

dos Índios (Estrela de Alagoas e Igaci), até os contra-fortes do baixo São

Francisco, compreendendo os municípios de Traipu e Campo Grande.

Nessa estrutura espacial, podemos segmentar o Território do Agreste de

Alagoas em três microterritórios (sic), face à diversidade de suas atividades

econômicas, culturais e históricas. A região de influência de Palmeira dos

Índios, de Arapiraca e dos municípios ribeirinhos do vale do São Francisco.

Por outro lado, os municípios que integram o território estão inseridos em

quatro Micro-Regiões Homogêneas (IBGE): Palmeira dos Índios, Arapiraca,

Traipu e São Miguel dos Campos, com IDH de 0,61 e agropecuária contribui

com 30% do PIB do Território. Segundo o Atlas dos Territórios – 2004, da SDT,

63,3% da renda gerada concentram-se nas mãos dos 20% mais ricos e os 20%

mais pobres cabem apenas 1,4% (LOPES & COSTA, 2009; 13,14). Os únicos

municípios que possuem IDH acima da média estadual são os dois mais

importantes do território: Arapiraca (0,656) e Palmeira do Índios (0,666). Por

outro lado o município de Traipu é considerado um dos mais pobres do Brasil,

sendo o mais pobre do estado de Alagoas, com IDH de 0,479 (CARVALHO,

ALCANTARA & COSTA, 2010, p. 139 e 140).

O Território Rural do Agreste de Alagoas apresenta características físico-

geográficas relativamente similares quanto às condições climáticas e

morfológicas, mas é na agricultura familiar com suas diversas estratégias de

reprodução familiar que consideramos o principal elemento de identidade

territorial. Nestes termos, as principais atividades agrícolas desenvolvidas no

Território Rural do Agreste de Alagoas com base familiar destacam-se a

produção da mandioca, do fumo artesanal (e industrial), milho, feijão, hortaliças

e outros cultivos como melancia, abóbora, quiabo em pequenas quantidades, o

que caracteriza a presença da policultura, principalmente, na região Oeste do

território. Por outro lado, em meio aos “latifúndios canavieiros” localizados

predominantemente nos municípios localizados na parte leste do território,

ainda assim, encontramos algumas pequenas propriedades produzindo

mandioca, milho, feijão dentre outros que fazem parte da produção tradicional

da agricultura familiar. Ressalta-se que a pecuária bovina e a avicultura,

também caracterizam as atividades econômicas do território, com considerável

participação do trabalho familiar no trato do rebanho e na comercialização do

leite e das aves.

De forma geral, o território é caracterizado pela regularidade das condições

naturais possibilitando o fortalecimento das atividades realizadas no território

rural do agreste de Alagoas. Portanto, as condições climáticas, graças à

excelente distribuição pluviométrica anual, solos profundos, o que lhe garante

boa fertilidade, bem como da topografia regional, praticamente formada por

terrenos aplainados e morros dissecados de suave inclinação, juntamente com

incentivos técnicos e recursos financeiros, são favoráveis ao desenvolvimento

territorial numa perspectiva de elevação dos índices de condições de vida das

unidades familiares.

Ainda nesse quadro, temos que destacar o forte poder polarizador dos dois

maiores centros urbanos do estado alagoano, situados nesse território na qual

apresenta conjuntamente uma oferta diversificada de serviços, comércio e de

atividades industriais. Efetivamente, esses são os dois centros econômicos

mais importantes do estado de Alagoas, depois de sua capital, Maceió. Daí a

dificuldade de considerarmos que o Território do Agreste de Alagoas é

realmente um território aplicando-se rigorosamente os critérios estabelecidos

institucionalmente.

Entretanto, o acumulo da experiência colegiada, os resultados, avanços e

contradições dos projetos, além da existência de uma agricultura familiar

tradicional na região tenham contribuído na constituição do território, além da

herança latifundiária alagoana; que, de certa forma insere como um dos

estados socialmente mais injustos do Brasil.

3. IDENTIDADE

Esse fator define a unidade territorial ou simplesmente disseca que o território

pode ser fictício, em função da complexidade da sua organização

socioespacial, formando um verdadeiro mosaico territorial. As variáveis

estabelecidas no questionário (recursos naturais, agricultura familiar, atividades

econômicas da região, a pobreza, marginalidade ou os problemas sociais, a

existência de populações tradicionais, o processo de colonização e os

movimentos sociais no campo), a exceção da P9, definiram o quadro da

coesão social e territorial do Agreste de Alagoas, para daí estabelecer sua

identidade.

Observando a Tabela 1 no que se refere à questão para definir que variáveis

são mais pertinentes para estabelecer os limites do Território, podemos

observar que a variável que se destaca dos quesitos subjetivos mais e menos

importante entre os entrevistados: a agricultura familiar. Esse item se destacou

entre os demais, representando 29 dos 38 entrevistados. Observa-se que os

demais itens não possuem tanto destaque assim, vindo em seguida o item dos

recursos naturais e das atividades econômicas da região.

TABELA 1

AGRESTE DE ALAGOAS

Em relação a definição dos limites do território

2011

1-Nenhuma

Importânci

a

2 3 4 5-Muito

Important

e

Recursos Naturais (Ecossistemas, biomas,

fenômenos naturais e respectivas extensões

geográficas) 2 1 9 10 13

Agricultura Familiar 0 0 3 3 29

As Atividades Econômicas da região 0 0 12 10 13

A Pobreza, a Marginalidade ou os problemas

sociais 3 1 11 15 7

A existência de povos e/ou comunidades

tradicionais (índigenas, uilombolas, etc.) 3 4 3 13 12

Os processo de colonização/ocupação 5 6 4 10 9

Os movimentos sociais e/ou políticos 0 2 2 10 21

Fonte: Trabalho de Campo. 2011.

O que torna pertinente como a unidade produtiva familiar de base rural tem

importância na organização socioeconômica da região e para os membros do

Colegiado, que representam os 19 municipios do Agreste alagoano, essa

categoria social é determinante na delimitação territorial. O que torna real essa

concepção entre os protagonistas na medida em que a região agrestina é

definida espacial e economicamente como “portão” do sertão, intermediada

pela região canavieira da zona da mata alagoana, dominada pela grande

propriedade; e a extensão região sertaneja, onde mesclam atividades típicas

da agricultura familiar de baixo rendimento e a grande unidade com base na

atividade da pecuária extensiva.

Nessa esteira, em trabalho que desenvolvemos na região alguns anos atrás

(LOPES & COSTA, 2009), já havíamos observado que o Território do Agreste

de Alagoas tem problemas de coesão territorial, sendo um território que

efetivamente não existe “homogeneidade regional” na medida em que diversos

municípios pouco se coadunam ou se identificam entre si. Ou seja, a existência

de dois grandes pólos urbano-regionais – Palmeira dos Índios e Arapiraca –

praticamente configura uma rede regional polarizadora onde municípios que

estão adjacentes ao território têm um efeito de maior coesão que alguns que aí

integram. Podemos exemplificar o município de Estrela de Alagoas, que estar

muito mais coeso à Palmeira dos Índios do que o maior centro urbano,

Arapiraca e suas atividades econômicas são bem diversas em relação aos

demais municípios do Território.

Entretanto, a agricultura familiar é que sobressaí nesse processo coesivo, o

que torna um elemento fundamental que certamente poderá fortalecer o

Território do Agreste de Alagoas. Por outro lado, entendemos que esse item

seria insuficiente, quando ao menos outros itens poderiam definir a coesão

territorial, como é o caso das atividades econômicas regionais, mesmo

secundariamente apresentadas, mas sabemos que essa região se destaca

pela diversidade econômica, principalmente de natureza não-agrícola.

Em relação a questão da participação das organizações da sociedade no

processo de gestão do território, pela metodologia apresentada, e observando

os dados da Figura 1, mais uma vez os agricultores familiares se destacam

como as organizações corporativas mais importantes. Secundariamente

destacam os movimentos sociais e/ou políticos, na escala 4 e como surpresa,

destaca também a categoria dos produtores e que na verdade reflete entidades

ligadas aos arranjos produtivos locais e não necessariamente a organizações

patronais ligadas ao segmento do agronegócio ou a entidades corporativas

urbanas, como o Clube de Diretores Lojistas. O elemento negativo é a baixa

participação das entidades públicas, não havendo escala dominante entre elas.

O que torna um problema encontrado em praticamente todos os territórios.

Entretanto, podemos observar a importância da secretaria de agricultura do

município de Arapiraca no processo de gestão do território.

Mesmo que existam conflitos entre as personificações do Colegiado, em

especial na postura eventualmente autoritária do secretário de agricultura do

município, ainda assim existe dialogo entre os atores sociais. A grande questão

relaciona-se com a secretaria de agricultura mais importante do estado de

Alagoas e naturalmente esse órgão operacional da prefeitura de Arapiraca

teme perder poder face à institucionalidade do colegiado territorial. Ou seja,

suas ações e decisões administrativas, ás vezes, não se coadunam com as

intencionalidades de gestão e de controle social no território.

Fonte: trabalho de campo. 2011.

Sobre a visão de futuro do território e os níveis de importância dos itens

apresentados, as mesmas análises dos itens anteriores se destacam. A

agricultura familiar é o melhor quadro para o futuro da agricultura no Agreste de

Alagoas e nele os entrevistados do Colegiado depositam suas esperanças. O

que demonstra um elemento extremamente positivo, de confiança e de

apresentar maiores a essa atividade tradicional. O singular dessa questão é

que os demais itens não se destacam como relevantes, ressaltando-se apenas

0 2 4 6 8

10 12 14 16 18 20

FIGURA 1 - AGRESTE DE ALAGOAS Avaliação de Instituições na Gestão do Território

1- Nenhuma Importância 2 3 4 5- Muito Importante Não Sabe

a importância dos recursos naturais e dos movimentos sociais, mas

secundariamente.

Já em relação à importância dos itens do questionário sobre o cumprimento de

metas e objetivos do desenvolvimento territorial, existe certa homogeneidade

entre eles, mas a referência da agricultura familiar é a que mais se destaca,

seguida dos movimentos sociais e dos recursos naturais.

O que se observa é a articulação dessas ultimas questões – visão de futuro e

cumprimento de metas e objetivos – o que impõe uma hipótese incontestável

no Agreste de Alagoas; a excelente combinação entre a permanência e

fortalecimento da agricultura familiar, sua organização através do papel dos

movimentos sociais, e que poderá fortalecer enquanto processo social e a

valorização da sustentabilidade materializada com a importância dos recursos

naturais.

Quanto ás características marcantes do território e a história comum do

território, observamos características diferenciadas entre os itens. Mas, três

deles se destacam: a agricultura familiar, as atividades econômicas da região e

os recursos naturais. Ou seja, a visão atual que marca o território do Agreste

de Alagoas, combina com seus antecedentes e a existência de toda uma

tradição com base no trabalho familiar deve ser cada vez mais consolidado.

Ainda a agricultura familiar é a principal referencia para superar questões

relacionadas ao enfrentamento dos principais conflitos existentes no Território.

Ou seja, a predominância do desenvolvimento da agricultura com base na

gestão familiar tem combinado elementos para diminuição dos conflitos entre

entidades e atores sociais representativos dentro da agenda que integra as

institucionalidades e instituições voltadas para o mundo rural. Em seguida

destaca-se a importância dos recursos naturais existentes no território como

forma de também de dirimir esses conflitos, mostrando o caráter valorativo

dessas reservas existentes nas unidades de produção familiar.

Nesse aspecto, a questão da identidade do Território do Agreste de Alagoas

tem na agricultura familiar, como sua mais importante referência de coesão

social do território. Ainda mais relevante articula-se essa espécie de agricultura

com a valorização dos movimentos sociais, em especial da participação direta

do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra dentro das instancias do

Colegiado e dos sindicatos dos trabalhadores rurais. Outro elemento

importante são os recursos naturais, marcado pela riqueza hídrica da região, a

existência de um solo agricultável presente na boa parte dos municípios do

territóriio, principalmente na região do entorno da cidade de Arapiraca; além de

um clima propicio ao desenvolvimento da agricultura familiar, onde existe

regular distribuição pluviométrica.

Por outro lado, aspectos até mesmo ideológicos, como a rotulação que o

elemento definidor do território seria a existência de grandes bolsões de

pobreza, marginalidade e problemas sociais; praticamente foram observados

pelos entrevistados como aspectos sociais secundários; o que torna importante

analisar com maior profundidade na medida em que o estado de Alagoas

possui boa parte de seus municípios com IDH abaixo da média brasileira.

Agrega-se ao que analisamos em supra em relação ao mosaico político-

administrativo do Agreste de Alagoas e que a coesão econômica não existe,

mesmo que o item atividades econômicas da região em algumas dessas

questões tenham aparecido com relativo peso. Porém, a existência de dois

grandes pólos urbanos, aliada a heterogeneidade territorial, ainda assim, a

coesão a partir da agricultura familiar é o esteio contributivo ao processo de

desenvolvimento territorial rural no Agreste de Alagoas.

4. CAPACIDADES INSTITUCIONAIS

Esse segmento é de suma importância no processo de fortalecimento do

Colegiado Territorial na medida em que a inserção de instituições da sociedade

civil organizada, e dos poderes públicos poderá definir os rumos do

desenvolvimento sustentável do território.

Para o Agreste de Alagoas, as respostas apresentados pelos entrevistados

praticamente contemplam todos os municípios do Território, observando que

municípios como Traipu não possui qualquer entidade efetivamente

representada no Colegiado. O que não desmerece a concepção territorial em

relação às capacidades institucionais operadas internamente e da visão de

seus atores sociais na articulação entre seu município e o Colegiado.

Na representação observada na Figura 2, entre os conselhos municipais mais

presentes nos municípios do Agreste de Alagoas, destacam-se os conselhos

tutelares da infância e da juventude, existentes em todos os municípios, até por

uma questão de imposição legal, a base dessas organizações societárias são

obrigatórias. Em seguida destacam-se os conselhos de saúde existentes em

mais de 80% dos municípios do território. Menos importante, são os conselhos

municipais de desenvolvimento rural sustentável, onde o mesmo estar

representado em menos 50% dos municípios; o que demonstra fragilidade

dessas organizações em um território onde o elemento marcante é a

hegemonia da agricultura familiar.

A surpresa da existência desses conselhos que atuam em nível municipal no

território é a preocupação com a questão ambiental, que, mesmo

representando pouco mais de 40% do total dos municípios, isso representando

em torno de 8 municípios onde efetivamente existe conselhos sobre o meio

ambiente. Esses conselhos articulam-se com a organização administrativa de

alguns desses municípios, facilitado pela proximidade de centros urbanos mais

desenvolvidos, como a cidade de Arapiraca e da ascendência da agenda

ambiental no território. Podemos dizer que algumas dessas prefeituras têm

contribuído nesse processo.

Maior decepção estaria na inexistência em nenhum dos 19 municípios do

conselho de segurança alimentar, o que foi percebido no processo de

discussão no colegiado, onde infelizmente essa agenda ainda não foi

aprofundada e definida como ação prioritária do território.

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

Em relação ao controle social realizado pelos conselhos municipais sobre os

investimentos públicos, o que se observa é que esse processo deixa a desejar

e as respostas dos entrevistados ficaram concentradas como “controle

mediano” realizado por esses conselhos, representando 55% do universo

pesquisado entre os diversos representantes municipais no interior do

Colegiado. Essa questão pode ser explicada em função da existencia de um

processo ainda em evolução das diversas organizações sociais que atuam em

nível municipal e que permeam entre os diversos conselhos, mostrando que

estão ainda em consolidação, até pela importancia desses conselhos no

processo de fiscalização dos investimentos públicos.

Acreditamos que a presença de mais de quatro dezenas de entidades, que, de

forma regular e irregular frequentam às reuniões do colegiado, oferecem um

lastro qualitativo importante, por oferecer possibilidades de acumulação da

discussão e de inserção de entidades nesses conselhos municipais.

Estrategicamente a regularidade operacional e politica do colegiado poderá

fornecer todo esse insumo via ação em escala municipal.

0 5

10 15 20 25 30 35 40

Figura 2 : Agreste de Alagoas - 2011 Conselhos e/ou consórcios públicos atuantes no

Território do Agreste de Alagoas

Na mesma esteira relaciona-se com entidades existentes nos municipios do

agreste e que reflete a presença, ainda que formal, de outros segmentos

sociais que apoiam ações voltadas para ao desenvolvimento rural em escala

municipal. Praticamente todas as entidades dispostas na P10 foram citadas

pelos entrevistados, onde podemos destacar em relevancia de alguns desses

segmentos: os sindicatos dos trabalhadores rurais, associações de agricultores

familiares, naturalmente os grupos de base religiosa e os grupos de jovens

(Figura 3).

O mais interessante nessa classe é a heterogeneidade dessas entidades onde

algumas delas estão inseridas nas instâncias do colegiado, em especial da

inserção dos jovens, da presença marcante dos sindicatos e do grupo de

mulheres na qual rebateu na formação das respectivas câmaras temáticas.

Observamos que essa leitura é positiva e demonstra maior organicidade

desses segmentos da sociedade civil organizada e do papel cada vez mais

importante no processo de gestão e controle social viabilizada pela instância

colegiada e de sua maior articulação de atuação em nível municipal, quando

estritamente voltado ao meio rural. Mais uma vez, o dominio da agricultura

familiar em praticamente todos os municipios do agreste alagoano, demonstra

as amplas possibilidades de fortalecimento e consolidação desses segmentos

sociais atuante na escala municipal.

Fonte: trabalho de campo, 2011.

Estendendo-se a análise da dinamica territorial do agreste de Alagoas a partir

da dimensão das capacidades institucionais, podemos destacar um fator

surpreendente e que, de certa forma contribuí no processo de desenvolvimento

rural do território. Trata-se da importância da formação das cadeias produtivas.

E isso pode ser observado pelo estimulo em escala municipal, onde 52% dos

entrevistados responderam afirmativamente e 62% responderam da existência

de acordos de vontade entre os produtores e os segmentos da comercialização

dos produtos agrícolas.

As cadeias da mandioca, formada a partir do modelo dos arranjos produtivos

locais; seriam alguns desses exemplos de sucesso no território nos últimos

anos. No mesmo sentido relaciona-se com a cadeia do leite, representado por

municípios influenciados por Palmeira dos Índios. Mesmo com a existencia de

estrangulamentos operacionais no segmento da comercialização, face aos

entraves de uma fecularia paralisada já alguns anos e do esqueleto

envelhecido de uma beneficiadora de leite, todas localizadas nos arredores da

cidade de Arapiraca, ainda assim os protagonistas entrevistados reiteraram no

estimulo às cadeias produtivas e da configuração de acordos comerciais entre

0

5

10

15

20

25

30

35

Figura 3 - Agreste de Alagoas - 2011 Segmentos sociais que realizam ações de apoio às áreas rurais

do Município

o segmento produtor (agricultura familiar) e o segmento da comercialização.

Ações como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) tem contribuido no

fortalecimento dessas cadeias.

Quanto os chamados “elefantes brancos participativos”, esse processo estar

sendo retomado, face a necessidade de dar destino a uma ação que

efetivamente não tem dado certo e os investimentos foram signficativos. Os

planos de providências seria uma das estratégias do colegiado visando superar

esses entraves.

Sobre a existência de instituições que operam na prestação de serviços

tecnológicos, ainda são poucas as entidades presentes no território que atuam

nesse segmento especializado. Pelos resultados da pesquisa de campo

realizada entre os entrevistados que integram o colegiado e que representam

entidades ligadas aos municipios do Agreste de Alagoas, ainda são poucas as

entidades que oferecem serviços de base tecnológica, como empresas

públicas de assistência técnica e extensão rural ou serviços de empresas que

realizam pesquisas diretas no segmento produtivo. A maioria dos municipios do

território (28 entre os 38 entrevistados) possui no máximo três entidades. O que

de certa forma demonstra uma relativa distribuição espacial e organização

dessas entidades em todo o território.

Já em relação a disponibilização das informações de natureza comercial e de

mercados nos municipios, são vários os canais de comunicação que operam

no acesso a essas informações, como podemos observar na Figura 4, onde as

informações disponibilizadas pelas prefeituras (32%) e orgãos de assistência

técnica (21%) sobre os segmentos comerciais e de mercado em nível municipal

representaram mais da metade entre esses canais. Entretanto, 23% dos

entrevistados afirmaram que em seus municipios não existem qualquer canal

de informação disponível para o agricultor familiar ter acesso a mercados para

venda de seus produtos.

É evidente que a questão em análise não revela qualquer novidade, quando a

tradição dos agricultores familiares nessa região central do estado de Alagoas

é vender seus produtos na porta de sua propriedade e o simples acesso a

informações de mercado e de comércio também não resolve, quando não

existem ações que possam superar o velho problema do estrangulamento do

escoamento dos produtos.

No mesmo sentido relaciona-se com os meios de divulgação dessas

informações, onde podemos observar, que, quando estas existem, as mesmas

utilizam o recursos dos meios de comunicação de massa (rádio e televisão),

com 52% dos entrevistados e a mídia local, representando 24% do total. O que

torna um problema, à proporção que os canais locais de informações teriam

maior eficiência que os de massa e as informações da grande mídia tem

repercussão em nível nacional, estadual e regional; e com reduzida influência

local. Porém é pertinente observar também um fator relevante existente no

interior do Nordeste: o papel politico das rádios regionais. Geralmente essas

organizações são dominadas por lideranças políticas conservadoras, que,

utilizando o recurso do alcance regional consolidam suas hegemonias,

dominando prefeiturais e câmaras municipais. Daí a afirmativa dos

entrevistados em relação a importancia dos rádios como meios de

comunicação mais comuns no territorio.

32%

21%

0%

13%

23%

11%

Figura 4 - Agreste de Alagoas - 2011

Disponibilização de Informações Comerciais e de Mercado no Município

Informações fornecidas pela prefeitura

Informações fornecidas por órgãos de assistência técnica

Sistema de informação digital

Internet

Não possui nenhum tipo de serviço de informação

Outro

Ampliando a análise sobre o papel das prefeituras municipais na perspectiva

dos entrevistados-membros do colegiado, essa entidade de direito público

interno realiza um bom trabalho na organização do cadastro dos imóveis rurais.

Mas entendemos que a questão pode esconder elementos importantes para a

análise. Uma delas é a existencia de unidades do INCRA nos municipios de

Arapiraca e Palmeira dos Índios e certamente esses cadastros estariam

concentrados nesses escritórios de ambito regional e não nas prefeituras. Pela

forma como a questão foi formulada e pela resposta imediata dos

entrevistados, talvez a informação produzida possa não ser real na medida em

que esses entrevistados poderiam confundir com documentos afins e que as

prefeituras emitem regularmente e que não seriam cadastro de imóveis rurais e

sim documentos básicos que informam a localização dos imóveis e nome do

proprietário. Daí a imprecisão da P16.

Mais desastroso e que reflete o padrão de prefeituras de pequenos municipios

em todo o Brasil, é a inexistencia de um ordenamento juridico nesses

municípios que regula temas relacionados a preservação e conservação de

seus recursos naturais. 45% dos entrevistados afirmaram que nos ultimos dois

anos não houve qualquer tipo de regulamentação. Em seguida destacam-se

algumas dessas regulamentações, claro, em menor proporção entre os

municipios, como a regulamentação para o manejo de residuos, bem como da

existência de normas para avaliação de impacto ambiental das atividades

produtivas. No geral esses conjuntos de normas dessa natureza ainda é uma

novidade entre os municipios do agreste alagoano. É evidente que existem

essas normas, elas são mais encontradas nos dois munícipios mais

importantes do território.

Esse quadro também reproduz na questão do uso de instrumentos de

representação da terra, através da utilização de tecnologias ligadas ao

geoprocessamento para a confecção de mapas e similares que identifiquem

áreas degradas ou que correm riscos de degradação. Pelo resultado entre os

entrevistados, 82% afirmaram que não existe esses recursos tecnológicos. O

que era esperado.

Nesse momento, é pertinente analisar os processos de organização das

entidades representativas que atuam no colegiado e que fazem também uma

leitura dos movimentos sociais reproduzidos no território. Nessa linha, quando

da existência de conflitos de natureza sindical ou politica, são diversas ás

formas de superação dessas pendências. Entre esses mecanismos, os dois

encontrados pela sociedade civil organizada do território para a resolução de

suas contendas coletivas foram o pedido de ajuda das prefeituras e

naturalmente do acesso ao Poder Judiciário através do instrumento processual

dos ajuizamentos de açoes. O que demonstra relativa organização social das

entidades representativas e seu conhecimento sobre a importância do Poder

Judiciário e seu papel na pacificação social, além da valorização de entidades,

mesmo desorganizadas e parcas em recursos financeiras, as prefeituras ainda

não são baluartes na resolução desses conflitos (veja a Figura 5).

Fonte: trabalho de campo, 2011.

Ainda dentro do quadro dos processos politicos e sociais, as manifestações

contestatórias no territorio no último ano não foram muito determinantes. Foram

poucos os protestos na maioria dos municípios, oscilando entre 1 a 3. O que

infere um processo de refluxo desses movimentos. Mas não podemos deixar

de analisar a ambiguidade da P20 na medida em que o numero de movimentos

sociais não define o carater organizativo das entidades e de certa forma

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Recorre-se a membros da comunidade

Recorre-se a autoridades municipais

Recorre-se a juízes

Recorre-se a conselhos

comunitários

Recorre-se às delegacias do

MDA

Outro

Figura 5 - Agreste de Alagoas - 2011 Mecanismos de Negociação e Resolução de Conflitos

Adotados pela Sociedade Civil no Município

mascara agendas politicas mais radicais, como o recurso a greve. Além de

estarmos analisando municipios de pequeno contigente demográfico, o que

obsta qualquer inferência da possibilidade de movimentos contestórios de

maior envergadura política. A exceção, talvez, estaria nas intermitentes greves

dos professores da rede municipal, na qual se torna cada vez mais comum no

interior do Nordeste.

Sobre questões culturais, podemos resumidamente analisar a fragilidade do

capital cultural desses municipios, onde as estruturas existentes mais comuns

relacionam-se diretamente com a atividade que mais cresce nos dias atuais,

principamente em centros urbanos de menor porte: os salões de festa. Essa

estrutura, em função do crescimento da renda familiar e da popularização dos

eventos de entretenimento de caráter privado, os salões de festas tornaram-se

uma grande referência local para encontros e reuniões sociais. Pela Tabela 2

podemos observar essa assertiva onde os salões de festas estão presentes em

80% dos municipios do território; vindo em em seguida as chamadas casas de

cultura e parques, respectivamente presentes em 53,6% e 21,0% dos

municipios pesquisados. Destaca-se o item “outro” com 23,7% do total

pesquisado, podendo abarcar os eventos itinerentes, como as conhecidas

festas regionais de caráter religioso ou profano, as contemporâneas

“cavalgadas”, ‘bandas de forró eletronizadas”, etc. onde sempre são montadas

estruturas de apoio (palanques, banheiros químicos, som ambulante, etc.).

Tabela 2 – Agreste de Alagoas

Estruturas Existentes para Atividades Culturais no Município (% em

relação ao total dos entrevistados)

Casa de cultura 53,6

Teatros 15,8

Salões de Festas 80,0

Parques 21,0

Cinema 15,8

Outro 23,7

Fonte: Trabalho de Campo, 2011.

Ainda na abordagem das questões das capacidades institucionais, no que se

refere da constituição e funcionamento de uma “secretaria municipal de

desenvolvimento rural”, é evidente que esse rótulo administrativo praticamente

é inexistente e sim secretaria similar como as secretarias municipais de

agricultura, estas presentes em 92% das afirmativas dos entrevistados. Mas o

aspecto positivo da funcionalidade dessas secretarias é a existência de quadro

técnico permanente, mesmo que reduzido, sendo observado na opinião de

82% dos entrevistados. Já na Figura 6, em relação às funções

desempenhadas pelas secretarias de agricultura (similar a de desenvolvimento

rural), podemos observar que ações operacionais estão concentradas na

assistência técnica e na formulação de projetos produtivos, bem como na

realização de diagnósticos. Essas respostas eram as mais esperadas, tendo

em menor destaque a ação vinculada na elaboração do plano de

desenvolvimento rural e da inexistência de articulações com instituições,

federal e estadual, vinculadas a questão do desenvolvimento rural. Não

havendo qualquer alteração, concentrando-se nas funções mais comuns das

secretarias municipais de agricultura.

Em relação a existencia de estruturas administrativas em escala municipal,

60% dos entrevistados afirmaram, que, nos seus municípios existem

secretarias de planejamento, o que demonstra relativoa nível em termos de

organicidade, quando comumente sabemos que a secretaria mais presente nos

menores municipios brasileiros é a de finanças. A existência de uma secretaria

dessa natureza é um pressuposto fundamental na elaboração de projetos de

desenvolvimento rural, regional ou similar.

Em relação as parcerias entre as organizações dos produtores e as prefeituras

municipais, as atividades mais comuns nessas articulações estiveram mais

concentradas nas elaboração de propostas relacionadas a constituição de

projetos produtivos (57,9% do total), seguido de projetos de infraestrutura e

atividades culturais (34,2% para essas duas finalidades de parcerias). Em

menor escala aparecem os projetos sociais e de forma inexpressiva projetos

ligados a proteção ambiental. O demonstrado pode ser observado na Tabela 3

abaixo, onde podemos inferir que as parcerias efetivamente existem, mas

0

5

10

15

20

25

Figura 6 - Agreste de Alagoas - 2011 Funções Desempenhadas pela Secretaria de Desenvolvimento

Rural, ou Similar

dentro de um marco tradicional, mas importante, na medida em que projetos

ligados à produção fortalecem a agricultura familiar.

Tabela 3 – Agreste de Alagoas - 2011

Parcerias entre Produtores e Prefeitura Municipal – Finalidades ( % em relação ao total)

Desenvolvimento de projetos produtivos 57,9

Desenvolvimento de projetos de infraestrutura 34,2

Desenvolvimento de projetos sociais 26,3

Desenvolvimento de atividades culturais 34,2

Desenvolvimento de projetos de proteção ambiental 5,3

Nenhuma das anteriores 21,0

Finalmente nas questões relacionadas as capacidades institucionais,

observam-se projetos de iniciativa comunitária ou de produtores são mais

comuns e os que não recebem apoio governamental, estão na mesma linha do

conhecido discurso da “falta de apoio do governo”, permeado no campo dos

projetos sociais, culturais, turísticos e produtivos. O interessante na

abordagem, entretanto, é que não há efetivamentte omissão do parte dos

atores sociais, institucionais e sociais envolvidos. A resposta “nenhuma das

anteriores” é um bom argumento e os citados projetos tem iniciativa e operam

positivamente, mesmo enfrentando problemas eventuais, como falta de

recursos e melhor capacidade técnica na elaboração de projetos.

À guisa da conclusão no que se refere as capacidades institucionais, podemos

extrair algumas conclusões relevantes:

1 – a primeira relaciona-se com a capacidade que as entidades que integram o

colegiado tem para entender os novos processos e ações necessárias que

possam efetivamente melhorar a qualidade de vida da maioria dos agricultores

familiares do agreste de Alagoas. E isso pode ser observado pelas respostas

garimpadas, mostrando conhecimento de arranjos sociais (conselhos,

asociações, grupos de mulheres, jovens, religiosos, etc.) e de seu papel no

processo de desenvolvimento social e territorial em seus municípios.

2 – Outra questão relevante é a configuração de articulações, mesmo que

percebida ainda de forma desconfiada entre os atores sociais do colegiado,

com órgãos das prefeituras municipais. A proximidade entre essas partes é um

quadro que poderá trazer ainda bons resultados no futuro; mesmo sabendo do

sinistro das mudanças institucionais nas prefeituras com as eleições

municipais. No nosso entendimento, é um grande avanço e podemos inferir

esse quadro nas reuniões onde a CAI esteve presente desde o ano passado.

3 – Finalmente foi observada uma questão importante no que se refere a

elaboração de projetos, talvez o maior estrangulamento dos representantes das

0 2 4 6 8

10 12 14 16

Figura 7 - Agreste de Alagoas - 2011 Tipos de Projetos de Iniciativa Comunitária ou de

Produtores são Desenvolvidos no Município sem apoio governamental

entidades dentro do colegiado: a necessidade da dar capacitação aos atores

para a construção de projetos competitivos a serem submetidos aos editais

publicados pelos Ministérios. A concentração em projetos produtivos, e ainda

assim sem consisténcia técnica; engessa a necessidade de dar diversidade a

esses projetos, em especial nos projetos de infra-estrutura (praticamente

inexistentes) e de natureza ambiental.

5 – GESTÃO DO COLEGIADO

Esse segmento é de fundamental importância face a necessidade de dar maior

eficiência na organização, nos processos de decisão das demandas territoriais

e dos encaminhamentos dos projetos aprovados.

Nesse aspecto, o conhecimento do Colegiado como um todo, sua composição,

sua regularidade, seus temas, seus documentos, suas atribuições,

competencias e habilidades; e naturalmente dificuldades e contradições; são

alguns dos indicadores coletados em campo e que envolveu na aplicação de

38 questionários entre os atores sociais presentes. Número estabelecido pela

CAI pela frequencia média dos representantes das entidades no Colegiado nos

ultimos dois anos e de certa forma da maior assiduidade nos ultimos meses

das reuniões na instância.

O primeiro aspecto tem a ver se o assessor técnico do Colegiado do Agreste

de Alagoas apoiava permanentemente o Colegiado. Todos responderam que

sim, mas diferenciaram às respostas em relação ao tempo que o atual

assessor exerce a função, indo desde alguns meses até tres anos de exercício.

Essas diferenças de respostas refletiu a rotatividade e a irregularidade dos

atores nas reuniôes do Colegiado, que, mesmos conhecendo pessoalmente o

assessor, desconhece seu tempo de exercício na função. Esse indicador é de

suma importância, face a regularidade da presença efetiva de um profissional

responsável para mobilizar, suscitar discussões e encaminhar demandas com

a participação direta das entidades internalizadas no Colegiado.

Porém, algumas perguntas poderiam ser inseridas no questionário para

entender, talvez, um dos grandes problemas do Colegiado, que seria a questão

da competência e a capacidade de liderança desses assessores técnicos; além

do perfil do profissional. Esse requisito é importante na medida em que poderia

estabelecer o critério para a escolha dos novos assessores, com enfase em

experiencias na questão do desenvolvimento rural e principalmente do

conhecimento mais pormenorizado do Território (municípios, povoados,

contatos locais, etc.).

O atual assessor técnico do Agreste de Alagoas tem um perfil qualificado, que

preenche os padrões profissionais para o exercício exigido. A mobilização na

constituição de quatro câmaras temáticas, as dificuldades em mobilizar atores

sociais que estavam alheios ao processo de desenvolvimento territorial e a

proposta de realização de parcerias com Universidades e entidades

congeneres visando o aperfeiçoamento dos projetos para submissão aos

recursos disponíveis para o desenvolvimento do território via Colegiado; são

algumas das agendas mais recentes coordenadas pelo assessor. O

monitoramento dessas ações definiram concretamente a visão de futuro do

território na medida em que o procedimento democrático instituído tem dado

certo ao processo de consolidação do Colegiado e do processo de

Desenvolvimento Territorial no Agreste de Alagoas.

Por outro lado, esse assessor técnico é o único do colegiado, não havendo a

participação de técnicos das esferas municipal, estadual e federal; mesmo que

8% dos entrevistados tinham dito que existe um assessor do município,

particularmente do município de Arapiraca, o que concretamente não muda o

quadro da “solidão” do assessor, este vinculado a organização não-

governamental responsável pelos recursos para o pagamento do trabalho

desse profissional. Ou seja, 92% afirmaram que existe apenas o assessor

técnico “oficial”.

Em relação ao processo de escolha dos atores sociais que integram o

Colegiado e as eleiçoes dos membros para a instância, apresentada na Figura

8, as escolhas mais comuns foram realizadas a partir do procedimento da

convocatória aberta aos interessados, bem como de convite direto ás

organizações selecionadas. Esses dois processos abrem condições para

mobilizar tanto entidades mais consolidadas e com acúmulo de experiências

no território (como a convocatória direta para eleição de seus representantes)

como àquelas existentes no território caractrizadas pela forte visibilidade social,

mas indiferentes à dinamica do Colegiado (como os convites formais). Em

segundo lugar destaca-se o convite pessoal, sem muita expressão..

O mais relevante nesse item é o processo democrático de escolhas a partir da

eleição, formalizado por uma convocatória e da possibilidade de novas

entidades integrarem a instância, contribuindo no crescimento das entidades e

principalmente da diversidade social das mesmas.

Quanto ao conhecimento de alguns dados básicos sobre o Colegiado, as

respostas dos entrevistados foram interessantes. Com relação a data de

constituição do Colegiado, a esmagadora maioria simplesmente não sabe ou

nega qualquer conhecimento dessa informação; alcançando assim 89% dos

que ignoram esse dado. O que demonstra uma questão central: a maioria dos

membros do Colegiado é de data bem recente e desconhecem que o

Colegiado do Agreste de Alagoas foi criado em 2004 e entrou efetivamente em

ação a partir de 2006 (LOPES & COSTA, 2009).

Por outro lado, esses mesmos entrevistados reconhecem a dinamica do

Colegiado e mesmo por um periodo de curta participação (de no máximo 3

0 2 4 6 8

10 12 14 16 18 20

Figura 8 - Agreste de Alagoas Forma como se Realiza a Seleção e a Eleição dos Membros do

Colegiado

anos), os mesmos afirmam que o Colegiado já realizou mais de 20 reuniões.

Na mesma esteira relaciona-se com a regularidade das reuniões, e estes

afirmam que realizam mensalmente ou em cada dois meses, como se pode

observar na Figura 9; fato constatado durante parte do ano de 2011, quando a

frequencia dessas reuniões estiveram concentradas a cada dois meses. O

maior obstaculo na realização dos mesmos seria a falta de recursos e as

dificuldades provocadas pela prestação de contas, que muitas vezes atrasam,

rebatendo na não liberação de recursos para esse fim.

Quanto a avaliação dos entrevistados em relação a capacidade de decisão das

diversas entidades que integram o Colegiado, podemos extrair alguns

resultados relevantes. O primerio relaciona-se com a participação muito forte

das entidades mais ativas do território: as associações e sindicatos, os

movimentos sociais e as entidades representativas dos agricultores familiares.

Em seguida destacam-se ás organizações não-governamentais e as

comunidades tradicionais. No lado oposto, as entidades governamentais das

três esferas – federal, estadual e municipal – tem baixa participação; apesar do

território ter uma tradição muito forte na participação das secretarias de

agricultura em nível municipal (Figura 10).

Figura 9 - Agreste de Alagoas - 2011 Frequencia de Reuniões do Colegiado

Mensalmente

A cada dois Meses

A cada três ou quatro meses

A cada cinco ou seis meses

Com intervalos superiores a seis meses

Não Sabe

Não se Aplica

Quanto aos mecanismos de comuniciação utilizados pelo Colegiado do Agreste

de Alagoas para informar suas ações e deliberações á comunidade do

território, as mais encontradas foram as realizadas pessoalmente (65,8% em

relação ao total dos entrevistados), internet (57,9%) e as reuniões comunitárias

(44,7%). As demais não tiveram tanta expressão destacando apenas o quesito

não sabe, com 34,2% mostrando o desconhecimento dos mecanismos de

comunicação, pouco mais de um terço do total (Tabela 4).

0

5

10

15

20

25

Figura 10 - Agreste de Alagoas - 2011 Avaliação da capacidade de decisão a partir das

categorias sociais representativas

1- Muito Baixa 2 3 4 5- Muito alta Não Sabe Não se Aplica

Tabela 4 – Agreste de Alagoas

Mecanismos de Comunicação utilizados pelo Colegiado para divulgação

dos resultados (% em relação ao total)

Reuniões comunitárias 44,7

Mídia de massa (rádio, televisão, carro de som, etc) 13,1

Mídia Focal (cartazes, faixas, folhetos, etc) 7,9

Internet 57,9

Comunicação Pessoal (de boca em boca) 65,8

Parceiros (Organizações da Sociedade Civil) 7,9

Não Sabe 34,2

Não se Aplica 13,1

Quanto aos temas mais abordados internamente no Colegiado, observando a

Figura 11 na escala de “nunca é tratado” até “sempre é tratado”, a questão dos

projetos foi a mais frequentemente tratada, seguida em menor monta de temas

ligados a gênero, raça e etnia, planejamento, educação, reforma agrária e

desenvolvimento agropecuário.

Essa maior frequencia é um excelente indicador de preocupação dos atores

sociais do Colegiado na questão de priorizar projetos, em sua constituição e

execução, tema que tem suscitado acolaradas discussões na instância e da

necessidade de capacitação entre os membros na realização dessa demanda.

Os demais temas que aparecem com maior frequencia tem relação direta com

as cãmaras temáticas existentes, indicando um excelente quadro de

aperfeiçoamento de agendas, agora mais definidas e com possibilidades de

viabilizá-las, desde que tenha capacidade de construção de projetos mais

consistentes. Na mesma esteira, observa-se também que a agenda

apresentada ainda é muito reduzida, e as demandas são bem maiores,

bastando observar como temas de grande importância para o território, como

cidadania e inclusão social, saúde, meio ambiente, e segurança, mas os

resultados apresentaram irrelevantes no âmbito do Colegiado. O que impôe a

necessidade de dar maior empenho da instância coletiva para ampliação

dessas demandas.

No que se refere a frequencia de problemas que efetivamente prejudicam o

desempenho do Colegiado, o que mais se destaca, e isso já esperado, é a

pouca participação dos gestores públicos, seguido da baixa participação de

produtores (não agricultores familiares) e da baixa capacidade técnica para

avaliação dos projetos; o que tem levado a prejudicar o desemprenho do

Colegiado em suas deliberações. Os problemas que prejudicam pouco o

Colegiado relaciona-se com a inserção de interesses diversos da instância, o

que seria um indicador relevante; além da influência política; o que seria

também um outro indicador de suma importancia no processo de autonomia e

de institucionalização do colegiado.

0

5

10

15

20

25

30

Figura 11 - Agreste de Alagoas Temas tratados com maior frequencia no Colegiado

1- Nunca é Tratado 2 3 4 5- Sempre é tratado Não Sabe Não se Aplica

Quanto ao papel desempenhado pelo Colegiado no processo de elaboração do

diagnóstico territorial, como apresentado na Tabela 5, o item que mais se

destacou foi da realização de oficinas para sua formação, o que dar um caráter

inicial mais coletivo no processo de construção do diagnóstico, não havendo,

portanto, qualquer imposição de grupos ou de um conjunto de atores de maior

influência no Colegiado. Destaca-se também a boa participação do coletivo nas

fases de sua concepção e elaboração, esse item respondido por 52,6% dos

entrevistados.

0

5

10

15

20

25

Figura 12 - Agreste de Alagoas - 2011 Problemas que prejudicam o Desempenho do Colegiado

1- Prejudicam pouco 2 3 4 5- Prejudicam muito Não Sabe Não se Aplica

Tabela 5 – Agreste de Alagoas – 2011

Importância do Colegiado na Elaboração do Diagnóstico Territorial

Participou na concepção e elaboração 52,6

Participou das oficinas de discussão para sua formação 71,0

Participou da revisão 36,8

Não Participou 2,6

Não Sabe 7,9

Não se Aplica 0,0

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

Quanto ao papel desempenhado na elaboração da visão de futuro do território

através do Colegiado, 60,5% participou das oficinas de discussão para sua

formação e 55,2% na sua concepção e elaboração, reproduzindo o mesmo

comportamento em relação a constituição do diagnóstico, o que rebate como

valoroso processo na construção de documentos para a realização do

planejamento, decisão, execução e avaliação dos projetos territoriais no

Agreste de Alagoas (Tabela 6).

Tabela 6 – Agreste de Alagoas – 2011

Desempenho do Colegiado na Elaboração da Visão de Futuro do Território

Participou na concepção e elaboração 55,2

Participou das oficinas de discussão para sua formção 60,5

Participou da revisão 34,2

Não Participou 5,3

Não Sabe 18,4

Não se Aplica 0,00

outro 0,00

Fonte: Trabalho de Campo. 2011.

Ainda acompanhando essas questões, os entrevistados também afirmaram que

foi elaborado um documento de conteudo voltado a uma visão de longo prazo

do território. 72% responderam positivamente.

Quanto ao papel desempenhado pelo Colegiado na elaboração do PTDRS,

ainda na esteira das questoes anteriores, como demostrado na Tabela 7, o

resultado foi bem favorável no que se refere da participação dos membros do

Colegiado, e que responderam positivamente, tanto na discussão em oficinas

realizadas, como também na feitura de sua concepção e elaboração final.

Apenas 18,3% dos entrevistados não souberam opinar, porque desconheciam

a natureza e o conteudo do PTDRS do Território.

Tabela 7 – Agreste de Alagoas – 2011

Papel do Colegiado na Elaboração do PTDRS (% em relação ao total)

Participou na concepção e elaboração 55,2

Participou das oficinas de discussão para sua formação 60,5

Participou da revisão 34,2

Não Participou 5,3

Não Sabe 18,4

Não se Aplica 0,0

outro 0,0

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

Quanto aos mecanismos utilizados para a tomada de decisões do Colegiado,

ou seja, dos procedimentos de votação para deliberação, observou-se que o

processo foi o mais democrático possível, concentrando-se nas duas formas

mais abertas para a tomada de decisão: Os acordos por consenso (52,6% do

total dos entrevistados), e votação por maioria (73,7%). Destaca-se nesse

grupo a votação por maioria, o que define um processo consolidado no

Território (inclusive a CAI acompanhou algumas dessas votações nas reuniões

realizadas no ano de 2011). Entretanto, os itens que consideramos

corporativos nessa questão (cada membro defende seus próprios projetos ou

na forma de grupos ou blocos de interesse) foram significativos, representando

nas respostas mais de 70% dos entrevistados. O que seria um tanto

contraditória a assertiva, mesclando a questão dos interesses pessoais e de

grupo com a votação por maioria. O que não desmerece o lado democrático da

tomada de decisão, o que torna valorativa a presença do assessor técnico

nessa dinâmica.

Tabela 8 – Agreste de Alagoas - 2011-09-30

Mecanismos Utilizados pelo Colegiado para a Tomada de Decisão (% em relação ao total)

Acordo por consenso 52,6

Votação por maioria 73,7

O Colegiado avalia, opina, mas não decide 10,5

Cada membro do Colegiado defende seus próprios projetos e iniciativas 28,9

Articulação entre grupos (Blocos) de interesse 42,1

Não Sabe 2,6

Não se Aplica 0,0

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

Sobre a participação do Colegiado no processo de gestão dos projetos de

desenvolvimento territorial, os entrevistados responderam que essas ações no

processo de gestão desses projetos preocupam-se muito mais na questão da

viabilidade técnica (68,4%) e na priorização e seleção dos projetos com base

em determinados critérios, podendo ser técnicos ou não (63,1%). Esses dois

procedimentos relacionam-se diretamente com a efetividade do projeto e da

necessidade de impor maior eficiência em sua gestão. Secundariamente

aparecem os itens de gestão em função da avaliação interna do mérito e da

disponibilização de especialistas, dois procedimentos fundamentais, mas não

encontrados no território, até pela incapacidade de contratação de técnicos

para esse fim (Tabela 9).

Tabela 9 – Agreste de Alagoas – 2011

Ações do Colegiado na Gestão dos Projetos de Desenvolvimento Territorial

(% em relação ao total)

Análise de viabilidade técnica 68,4

Avaliação interna de mérito 34,2

Priorização e seleção com base em critérios 63,1

Disponibilização de especialistas nas áreas do projeto 15,8

Não Sabe 10,5

Não se Aplica 0,0

Fonte; Trabalho de campo, 2011.

Finalmente, ainda na questão do acompanhamento da gestão do colegiado, e

nosso entendimento, um dos itens mais importantes para melhor viabilizar as

ações de desenvolvimento territorial com a participação direta dos membros da

instância; é a necessidade premente da capacitação dos atores sociais

envolvidos. A Tabela 10 dispõe desses resultados de campo da realização de

algumas dessas capacitações e o quadro aparentemente não seria tão

negativo assim. Dos itens apresentados na questão todos eles foram

respondidos, representando na maioria deles com mais de 50% das especies

de capacitação oferecida

A grande questão, entretanto, foram as respostas que podem não retratar a

realidade do território, quando um dos maiores problemas encontrados é

justamente a capacitação voltada para a elaboração de projetos para concorrer

a recursos disponíveis nos Ministérios. Desse lado, as capacitações

apresentadas na questão tiveram importância, até pela existência de cursos

regulares de capacitação, faltando apenas a mais importante: a de elaboração

de projetos. Nesse item, em termos gerais, em relação a esse item, o quadro é

positivo.

Tabela 10 – Agreste de Alagoas

Os Membros do Colegiado Recebem Capacitação

Planejamento participativo 50,0

Elaboração de Projetos 52,6

Organização 42,1

Elaboração de Planos de Desenvolvimento 47,4

Desenvolvimento Territorial 65,8

Planejamento Estratégico 50,0

Controle Social 26,3

Monitoramento e avaliação 26,3

Gestão de Conflitos 10,5

Não Sabe 7,9

Não se Aplica 0,0

Outro 0,0

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

6. AVALIAÇÃO DE PROJETOS

O Território do Agreste de Alagoas tem um conjunto de projetos concluídos e

que se caracteriza pela pulverização espacial dessas ações territoriais. Bem

verdade que essa pulverização não foi tão determinante assim, na medida em

que a orientação desenvolvida desses projetos deu-se em função justamente

do “poder de opinião” de alguns dos atores sociais do Colegiado e que, de

certa forma, influenciavam na deliberação das demandas em seus respectivos

municípios. O que denota um foco de “concentração relativa” dos projetos de

investimento nos municípios territorialmente mais importantes.

Em trabalho de campo, a segmentação entre as três categoriais foi equilibrada

e buscou-se analisar qualitativamente esse processo. Ou seja, desenvolvemos

uma abordagem a partir da opinião dos atores entrevistados e do quadro

situacional dos projetos desenvolvidos no território, uma boa parte

concentrados na figura da “revitalização das casas de farinha”, no processo de

formação de agricultores e jovens da agricultura familiar ou ainda na aquisição

de motocicletas. Basicamente foram esses os investimentos aplicados no

território nos últimos anos. Desse quadro, podemos extrair alguns aspectos.

Primeiro, por serem não apenas projetos concluídos e em andamento, mas que

apresentam problemas estruturais, como a ociosidade dos equipamentos, a

falta de matéria prima e o estrangulamento do escoamento da produção. As

casas de farinha estruturadas no município Girau do Ponciano, por exemplo,

essas unidades de beneficiamento estavam ociosas e problemas ligados a

gestão eram comuns. Somando-se também a irregularidade anual na

operacionalização, onde o maquinário praticamente não é utilizado por quase

seis meses. Porém, nas unidades de beneficiamento da farinha que os atores-

entrevistados referiram-se, sito, nos municípios de Lagoa da Canoa e

Taquarana, as mesmas apresentam boa estrutura em termos de maquinários e

praticamente operam durante todo o ano.

Outra característica desses projetos é que os mesmos podem ser inseridos

como “projetos antigos”, ou seja, estarem operando a mais de cinco anos,

denotando assim que foram poucos os projetos recentemente deliberados e

que estejam em funcionamento. Efetivamente não houve “ampliação”, ou

“renovação” desses projetos no âmbito dos investimentos.

Mas outras questões podem ser também acrescidas, principalmente na fase do

planejamento desses projetos.

Uma primeira questão relaciona-se com a definição dos projetos e, pelas

respostas, todos eles tiveram como nascedouro um projeto indicado no

PTDRS, o que tornou um elemento importante, na medida em que os projetos

tiveram a ciência dos membros do Colegiado, inclusive com deliberações.

Na mesma linha relaciona-se com os objetivos desses projetos, pois a maioria

(mais de 70%) esteve vinculada aos objetivos mais gerais de redução da

pobreza, da geração da renda e do fortalecimento das cadeias produtivas.

Agregando-se também ao fortalecimento da gestão social. Secundariamente

destacaram-se os objetivos vinculados a ao gênero, raça e etnia, além do

fortalecimento. Desse lado, entre os entrevistados, também consolidou um fator

relevante: a da participação dos beneficiários na elaboração do projeto. O que

vincula a um importante elemento: os projetos aprovados além de serem

deliberados na instância colegiada, os beneficiários também participaram do

processo, o que fortalece a articulação entre o público-alvo do projeto e a

decisão coletiva realizada. Ainda mais que a participação operou-se na fase da

definição e concepção do projeto, além da sua concepção.

Entretanto, é pertinente observar que as alternativas do P13 não retrata o

quadro real na relação entre a entidade beneficiária e o Colegiado, quando

tecnicamente não temos essas fases, mas uma agregação de fatores,

operados por procedimentos realizados pelas Prefeituras Municipais, como

também pela instituição financeira, sem necessariamente os beneficiários

apropriarem desse conhecimento técnico. Porém o mais importante é que o

Colegiado Territorial foi quem definiu os critérios para a identificação dos

beneficiários dos projetos. Agregando-se também, que, em função desses

projetos terem sido direcionados aos aspectos produtivos, os critérios de

elegibilidade foram nessa direção. Ou seja, na preocupação do potencial

produtivo, do nível da renda e principalmente de serem agricultores familiares.

Do ponto de vista dos tipos de organizações apoiados pelo projeto, a forma em

“associações formais e informais” foi predominante, geralmente associações

vinculadas aos povoados, o que facilitou na operacionalização dessas ações,

em especial das unidades de beneficiamento das casas de farinha. O que

rebateu no critério de abrangência que foi o político-administrativo e

secundariamente o físico-geográfico, o que dar um caráter territorial (e de certa

forma corporativista), mas necessariamente não acompanhando o modelo dos

territórios rurais do MDA. É evidente que os projetos mais comuns do Território

deu-se em função de atender a infra-estrutura produtiva e social, além da

concepção programática do exercício do direito à cidadania.

Porém a fragilidade dessas ações deu-se em função da inexistência de

procedimentos técnicos vinculados a capacitação/formação, da fragilidade do

levantamento de informações e da assistência técnica em produção. Ou seja,

para o planejamento do projeto, dos concluídos e em operação no Território do

Agreste de Alagoas, os critérios citados eram fundamentais. Porém não

apareceram como determinantes. Apenas um critério foi observado com maior

frequência: a da realização das visitas técnicas e dos intercâmbios. O que seria

insuficiente face as particularidades dos aglomerados rurais do Agreste de

Alagoas.

Do ponto de vista das parcerias, as mais comuns foram as relacionadas com a

prefeitura, por serem as mais comuns. Por sinal, nas plenárias do Colegiado, a

presença dos representantes das prefeituras municipais tem sido assídua, em

especial das prefeituras de menor porte. É pertinente observar que na dinâmica

dessas plenárias, eventualmente existem divergências entre seus atores e

geralmente os representantes das prefeituras estão mais envolvidos ou

interessados na destinação dos recursos e das demandas colocadas em pauta.

Por outro lado, isso tem como consequência, mesmo na escolha dos

beneficiários e do interesse em participar do processo de elaboração do

projeto, em não priorizar o alcance dessa “participação”. Pelos itens elencados

na P24, a mais comum relacionou-se apenas com a constituição do diagnóstico

ou na definição dos componentes do projeto, da definição de áreas de

investimentos e da identificação e definição das soluções. Porém, o mais

importante é que alguns desses projetos tiveram até a participação ativa dos

beneficiários, mas na sua operacionalização isso deixou a desejar (mesmo que

nessa questão não tenha colocado itens para as etapas seguintes na

elaboração do projeto).

É importante observar que o Colegiado tem um papel fundamental no desenho

e na definição dos componentes do projeto, e o que mais destacou foi o

Colegiado em intervir na preparação da proposta, na avaliação ou na consulta,

mesmo que esses procedimentos tenham sido tênues.

Quanto às atividades econômicas, a mais comum, naturalmente, foi da

agricultura, vindo secundariamente da atividade da bovinocultura em projetos

onde as entidades públicas também integram na elaboração da proposta co-

financiam ou até na elaboração da proposta. Destaca-se também o apoio

técnico, evidentemente em função da inexistência desse quadro à disposição

do Colegiado.

Por entender que a maioria dos projetos avaliados ficou concentrada na

construção das casas de farinha comunitária, a figura da cadeia produtiva

poderia aparecer. Entretanto essa cadeia é curta, onde a maioria dos

agricultores do aglomerado rural utilizam os equipamentos da unidade

beneficiadora, inclusive com gestão própria, mas os acordos com fornecedores

geralmente são desvantajosos para os produtores, mesmo que exista um

elemento comum: a certeza das vendas.

Quanto às metas explicitas para o aumento da competitividade, a principal foi à

tentativa da diversificação produtiva, mesmo que concretamente, entre os

atores entrevistados, reveste de grande dificuldade, não apenas em função do

baixo nível de capital circulante disponível, mas da “incerteza de mercado” para

a venda do produto. Afinal não houve estudos ou até mesmo discussões na

instância colegiada em relação ao mercado de produtos e serviços que

pudessem beneficiar os agricultores familiares. É evidente que algumas

respostas apareceram com maior frequência, como a questão da localização,

do transporte ou do preço. Mas no nosso entendimento foram respostas

imprecisas. No mesmo sentido dessa fragilidade, relaciona-se com a absoluta

inexistência de estudo de viabilidade econômica desses projetos.

Entre os projetos em funcionamento no Território do Agreste de Alagoas, as

associações foram as que mais tiveram importância no aspecto da gestão, isso

facilitado pela proximidade territorial dos atores-gestores. E mais importante:

em função da proximidade da gestão do projeto, os beneficiários foram

informados dos respectivos projetos e claro com relativo acompanhamento dos

mesmos. Até porque a natureza da maioria dos projetos (casas de farinha),

naturalmente os beneficiários teriam que acompanhar. Entretanto, não foram

definidos os indicadores de acompanhamento onde os beneficiários pudessem

conhecer. E quanto aos mecanismos de ajustamento do projeto; a resposta

mais comum relacionou-se com os ajustes orçamentários, como também com

os componentes dos projetos. Entretanto, mesmo com essas respostas,

efetivamente não houve o “uso real” desses mecanismos, mesmo que o

monitoramento tenha sido realizado pelo Colegiado ou pelos próprios

beneficiários, rebatendo esse processo nas instâncias de controle social do

projeto de investimento que também estiveram concentrados na instancia do

Colegiado Territorial, como também pelas entidades (associações) onde o

projeto foi implantado. O que demonstra boa possibilidade de efetivação do

controle social.

Nessa esteira, a estratégia mais comum para a realização do controle social do

projeto é a reunião de avaliação, processo inclusive mais fácil de ser efetivado,

pela capacidade que os atores do Colegiado possuem de participar das

reuniões, principalmente entre os mais atuantes na instância

Por outro lado, no que se refere ao processo de gestão dos projetos, as

respostas foram diversas. Partindo desde a articulação entre o Colegiado e os

beneficiários, passando pela ampla participação dos beneficiários, ou ainda

caracterizando pela inexistência do processo de gestão. Porém, devemos

observar que a articulação entre o Colegiado e os beneficiários é meramente

formal, na medida em que a entidade associativa é que exerce a gestão. È o

que se processa nas casas de farinha, onde a associação que representa os

beneficiários – agricultores familiares que plantam mandioca – é que realiza a

manutenção e o uso adequado do equipamento, inclusive com estabelecimento

de escalas de operacionalização.

Somando-se que em termos de capacidade ociosa, esse fenômeno vai

depender do dinamismo do local e mais organização da gestão das casas de

farinha. Um exemplo são as casas de farinha pesquisadas nos municípios de

Taquarana, Igaci e Lagoa da Canoa, onde observamos um uso mais intensivo

do maquinário e da inexistência da capacidade ociosa. É pertinente entender

que essa capacidade ociosa deve ser observada justamente no período da

safra da mandioca e não na entressafra. É o que ocorre com as casas de

farinha localizadas em alguns povoados do município de Girau do Ponciano,

onde, mesmo no período da safra, os equipamentos apresentaram forte

ociosidade, onde sequer existe matéria-prima para o beneficiamento, sendo

necessário comprar mandioca de outros municípios. Um quadro, que, no nosso

entendimento, poderá comprometer essas unidades em futuro próximo.

O que coincide em relação ao não uso dos equipamentos. Justamente nas

unidades de beneficiamento onde a capacidade ociosa é predominante,

existem equipamentos que sequer foram utilizados, como foi observado in loco

nas unidades situadas no município de Girau do Ponciano. E é evidente que a

manutenção desses equipamentos é realizada a partir das receitas geradas no

beneficiamento, o que dar o caráter efetivo da auto-gestão financeira. Essa

manutenção é feita pelos atores/beneficiários e todos cobrem os custos de

produção a partir do ressarcimento de parte de sua produção, sob a

responsabilidade de um “líder comunitário”, que, recebendo essa parcela,

vende para o atacadista e com o dinheiro, realiza essa manuutenção.

Quanto aos aspectos da gestão, as contratações para a operação do projeto

em sua maioria foi feita entre um e dois anos, até pela simplicidade da maioria

desses projetos, havendo maior concentração dos procedimentos

principalmente nos aspectos burocráticos. Quanto ao alcance dos benefícios

atendidos em relação ao plano de trabalho original, o resultado esteve

concentrado entre 40 e 60% e 60 a 80%, em especial na questão das unidades

de beneficiamento da farinha de mandioca. O que deve observar que as

posições mais pessimistas ficaram concentradas entre os

beneficiários/entrevistados, que responderam que esse alcance foi menor em

relação os dois atores entrevistados.

Por outro lado, os públicos atendidos dos projetos foram os agricultores

familiares (como era esperado), seguido de mulheres e jovens, onde

praticamente nenhum outro público foi beneficiado, o que dar o caráter

endógeno do projeto. Quanto a intensidade em relação às expectativas na

visão dos beneficiários, a mesma pode ser considerada como “mediana”, não

havendo pessimismo ou exagerado otimismo em relação ao projeto. O que foi

observado também em relação á melhoria ou não da qualidade de vida, e que

apresentou um resultado médio entre os atores entrevistados. O entendimento

é que essas questões podem ter mais profundidade em médio prazo, e não em

projetos que operam há pouco mais de cinco anos.

Mesmo assim algumas mudanças foram observadas no Território, porém não

tão relevante, quando na verdade o grande gargalo é a questão da

comercialização e o aprimoramento tecnológico. Ainda assim, houve relativa

melhoria da infra-estrutura, na qualidade do produto e integração na cadeia

produtiva, além da redução dos custos. Na verdade, foram poucas as

mudanças observadas. Apenas na questão do curso de capacitação no

município de Estrela de Alagoas, é que efetivamente foi positivo, em função da

tradição da entidade educacional, e quem resultados bons frutos em nível

territorial.

Do ponto de vista dos ganhos obtidos ao em termos institucionais, o que mais

observou foi a formação de alianças entre os produtores e secundariamente

entre os atores do Território e entre este e a comunidade. Mas no nosso

entendimento essas alianças concretamente não existem, havendo mais

intencionalidade entre os atores, o que seria um ponto positivo. Continuando,

em relação a capacidade instalada na operação do projeto, os mesmos

variaram entre 40 e 100%, o que dar variabilidade da operação entre os

projetos, a depender do logradouro. Em relação à cobertura da demanda

identificada após a implantação do projeto, praticamente não houve alteração e

quando existiu, o aumento não foi tão significativo assim. Já em relação a

melhoria da renda dos beneficiários, a mesma também não alterou

significativamente. O que seria natural face ao pouco alcance local dos projetos

e de seus produtos terem um alcance municipal e no máximo territorial.

Quanto aos elementos que alimentam a sustentabilidade do projeto, foram três

os que mais destacaram: a apropriação de novas tecnologias, a contribuição na

consolidação das lideranças locais e do envolvimento de todos os beneficiários

na gestão do projeto. Ainda assim entendemos que as respostas não

apresentam forte representação, em especial na questão da tecnologia voltada

para a agricultura familiar, onde efetivamente no Agreste de Alagoas esse

processo ainda é bastante limitado.

Na mesma linha relaciona-se com as dificuldades encontradas em relação a

materialização dos projetos, foram destacados os problemas relacionados a

gestão, a comercialização e naturalmente do desenvolvimento da tecnologia;

além da questão do problema do capital de giro.

O cerne da questão, pode ser sintetizado no que realmente observamos no

Agreste de Alagoas; a necessidade de desenvolvimento de tecnologias

voltadas para a agricultura familiar, o estrangulamento da comercialização e

que o Colegiado tem encontrado dificuldades, além do baixo nível de

capitalização dos agricultores.

7. ICV

Para a análise do ICV levamos em consideração os resultados tabulados pelos

questionários. Ainda não realizamos os cruzamentos de dados. Esses dados

ainda são preliminares.

Inicialmente destaca-se o papel e a importância da mulher diante do novo

quadro que se apresente no meio rural brasileiro, particularmente nordestino.

Com isto ressalta-se o considerável percentual de mulheres como chefe e/ou

esposa do chefe da família no Território Rural do Agreste de Alagoas

apresentando índice 64,8% do total de entrevistados. No entanto, tal fato não

significa que este percentual corresponda ao índice de mulheres responsáveis

pela unidade de produção familiar, ou seja, o número de chefe de família. Do

total de famílias entrevistas, identificou-se que 46% dos entrevistados são

esposas do chefe da família, mas tal percentual não tira o mérito do papel da

mulher no processo de desenvolvimento no meio rural do agreste de Alagoas e

muito menos sua importância para reprodução social e econômica da unidade

familiar. Neste contexto, também possui relevância o envelhecimento da

população rural, pois 22,7% da população encontram-se na faixa etária com

mais de 60 anos de idade.

As famílias apresentam uma média de 4,1 pessoas por famílias, sendo que

aproximadamente 2 pessoas por cada família trabalha no próprio

estabelecimento, sendo que aproximadamente 30% das famílias possui pelo

menos um membro que desenvolve atividades fora do estabelecimento familiar.

Dentre os estabelecimento que possuem produção agrícola observou-se que

95,1% da mão-de-obra é de base familiar, refletindo a origem da renda, pois

67,2% possui renda derivada das atividades agrícolas.

Tal fato pode estar relacionado ao tipo de estabelecimento predominante no

território, ou seja, aproximadamente 67% do estabelecimento são da

agricultura família no qual a produção é destinada ao consumo e para o

comercio local.

É preocupante as condições educacionais da população do território,

principalmente na faixa etária entre os adolescente e jovens, pois 52,9% dos

entrevistados são considerados analfabetos, e por isso demanda ações

eficazes para transformar estruturalmente o meio rural e atender os objetivos

da política de desenvolvimento dos territórios rurais no Brasil. Neste contexto,

também merece destaque o baixo índice de crianças e adolescentes com idade

escolar que se encontram fora das escolas, pois apenas 57,8% delas estão

matriculadas e que estar frequentando regularmente a escola.

Por outro lado, se considera importante os programas do governo federal

direcionado principalmente para o meio rural, como PRONAF, Bolsa Família e

outras formas de geração de renda como aposentadoria rural e pensões, haja

vista a dinâmica econômica proporcionada no município e no contexto

territorial, possibilitando a diversificação da renda e garantindo a reprodução

das unidades familiares no meio rural.

Com base na percepção dos agricultores familiares do território, constata-se

que as condições de moradia, renda, alimentação e saúde podem ser utilizadas

como referência para analisar o grau de percepção dos agricultores familiares

do território do agreste de Alagoas e suas expectativas em relação ao futuro da

vida no campo.

Nestes termos, durante a realização do trabalho de campo para aplicação dos

questionários sobre o Índice de Condição de Vida dos trabalhadores do

território, se pode constatar a dinâmica econômica e social, mas também a

presença de alguns bolsões de pobreza absoluta como traços marcantes ainda

do desenvolvimento desigual presente no território do agreste de Alagoas,

principalmente, na região leste do território caracterizada pela concentração da

terra, pela monocultura canavieira e consequentemente da renda.

Mesmo assim, através da metodologia elaborada pela SDT para aplicação dos

questionários (ver manual do ICV) identificou-se que a situação econômica das

famílias nos últimos cinco anos melhorou, sendo que dos entrevistados 53,4%

informaram que a situação econômica melhorou e 7,3% estas condições

melhorou muito. Com isto, se levar em conta a junção dessas duas variáveis

pode-se afirmar que aproximadamente 60% dos entrevistados sinalizam

avanços das condições de vidas nos últimos anos.

O referido resultado das condições econômicas vai refletir nas condições de

moradias e de equipamento domésticos, assim como nas ferramentas de

trabalho utilizadas pelas unidades familiares nos estabelecimento produtivos.

Portanto, identificamos que 97,5% dos domicílios rurais possuem energia

elétrica e 73,5% possuem água dentro ou próximo da sua residência. Além

disto, outras variáveis também foram utilizadas como referência para reforçar a

percepção da qualidade de vida das famílias, a saber: 96,6% possuem fogão a

gás; 87,7% geladeira; 56,4% telefone; 49,0% computador, dentre outros

elementos que demonstram indiretamente a dinâmica econômica no território,

como: carros, motocicletas, bicicletas, animais de transporte, etc.

Por tanto, com a finalidade de diagnosticar a percepção do agricultor familiar

sobre a qualidade de vida e as perspectivas do meio rural sobre as questões

relacionadas a renda e inserção econômica, a saúde organizou-se a Tabela 01

para sistematizar as informações da pesquisa de campo.

Tabela 11 – Agreste de Alagoas - 2010

Opinião sobre condições de vida das famílias

Indicadores Moradia (%) Renda (%) Alimentação e Nutrição (%)

Saúde

Péssimo 6,9 8,1 4,2 10,3

Ruins 4,9 12,6 3,8 6,1

Regulares 31,9 49,0 33,6 38,2

Boas 44,6 27,3 48,5 37,8

Ótimas 11,8 3,0 9,9 7,6

Fonte: trabalho de campo, 2010.

A partir dos dados sobre as condições de moradia cujos índices de 44,6% e

11,8% dos entrevistados responderam que as condições de moradia estavam

boas e ótimas, respectivamente, demonstram a percepção de

aproximadamente 60% dos agricultores famílias estão satisfeitos com a

estrutura do domicílio. Tal percepção infere que este resultado de melhorias na

qualidade de vida das famílias no meio rural, assim como também pode ser

reflexo da maior dinâmica econômica e social no meio rural brasileiro por meio

de políticas territoriais, de crédito e de políticas públicas para as famílias mais

vulneráveis no cenário nacional.

No entanto, a percepção favorável da qualidade de vida das famílias não está

limitada apenas as condições de moradias, pois as condições de renda e sua

diversificação também devem ser levadas em consideração em função da

importância para autoestima dos agricultores e autonomia em relação a

aquisição de produtos de necessidades básicas para consumo doméstico.

Nestes termos, é importante destacar aproximadamente 80% dos entrevistados

responderam que as condições de renda estão entre os padrões regular e

ótimo. Talvez, o acesso a renda, mesmo que não seja ligado diretamente a

produção agropecuária, torne-se um dos principais elementos responsável pelo

elevado grau de satisfação das condições de vidas dos trabalhadores rurais do

Território Rural do Agreste de Alagoas.

Como reflexo do acesso a renda, os indicadores de condições de alimentação

e nutrição, assim como os indicadores de saúde das famílias apresentem

também índices favoráveis a respeito da percepção da qualidade de vida,

conforme demonstra a tabela acima cujos índices demonstram que 58,4% dos

entrevistados dizem que as condições de alimentação encontram-se entre os

conceitos bom e ótimo, enquanto 45,4% afirmam que os indicadores de saúde

também apresentam basicamente nas mesmas condições.

Nestes termos, o índice de satisfação dos agricultores familiares pode ser

justificado, em parte, pelo acesso aos serviços básicos como: energia elétrica,

água, fogão, geladeira, telefone entre outros produtos e recursos técnicos que

contribuem para melhorar a qualidade de vida das famílias rurais neste novo

contexto político, econômico e social contemporâneo.

O território rural do agreste de Alagoas é caracterizado pela presença de

famílias agrícolas que se reproduzem basicamente em função das atividades

desenvolvidas no seu estabelecimento, ao tempo que constata-se também

elevado percentual de famílias em que buscam outras atividades agrícolas e

não agrícolas desenvolvidas externamente, além de aposentadorias, pensões e

transferência de renda – Bolsa Família – do governo federal, que contribuem

para diversificar renda e melhorar os indicadores de vida da população rural do

território do agreste de Alagoas.

8. ANÁLISE INTEGRADORA DE INDICADORES E CONTEXTO

Em relação a análise integradora e do contexto observado do Agreste de

Alagoas no periodo de realização da pesquisa, bem como do acompanhamento

e monitoramento do Colegiado, algumas combinações de indicadores podem

ser estabelecidas no que se refere na identidade territorial, da gestão do

colegiado e das capacidades institucionais. Como segue:

7.1 – A identidade mais relevante do território do Agreste de Alagoas foi o

domínio da agricultura familiar, o que denota da importância estratétiga do

Colegiado em priorizar o publico-alvo das politicas de desenvolviimento

territorial. E isso pode ser refletido na concentração de projetos produtivos

voltados para esse segmento. É um fator positivo, mas poderia ter sido

ampliado se projetos sociais, culturais e ambientais ajudariam em oferecer

maior eficiência das ações territoriais. Como é um território de dominio da

pequena propriedade, o dominio da agricultura familiar, observada na pesquisa;

rebate na contextualização historica e econômica do território vinculada a essa

categoria social do mundo rural.

7.2 – A baixa participação dos poderes públicos no Colegiado reflete também

na monotonia de projetos, onde a iniciativa dessas entidades poderia melhor

alavancar as atribuições e competencias da instancia colegiada em projetos de

natureza ambiental, cultural e social.

7.3 – A inserção de sindicatos e associações incrementa ainda mais na

presença das entidades dos movimentos sociais mais organizados, como o

Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, presente em vários municípios do

Território; e a participação dessas entidades é bem alta.

7.4 – A baixa participação dos gestores públicos, principalmente da esfera

municipal, tem direta articulação com a transparência politica da instância

colegiada onde a tomada de decisão é realizada por votação da maioria dos

presentes; isso decorrente da pouca influência política nas instâncias técnica,

diretiva e deliberativa do Colegiado. Entretanto, essa baixa participação dos

gestores públicos é problemática na medida em que obsta um melhor

encaminhamento dos projetos aprovados no Colegiado, quando a presença

das prefeituras municipais é fundamental.

7.5 – A presença significativa da agricultura familiar no Agreste de Alagoas tem

estreita ligação com o ICV constituido no Território pela pesquisa, e que insere

como um indicador intermediário entre os demais Territórios Rurais

pesquisados pelas Células. Porém, para os padrões das condições de vida dos

agricultores familiares e trabalhadores em geral do estado de Alagoas, o índice

apresentado é determinante, demonstrando que a “miséria extrema” pode esta

pulverizada para todo o estado, mas não no Agreste, onde os níveis de

condição de vida das famílias são bem melhores.

Finalmente, é importante observar que outras análises poderiam ser sugeridas

com melhor nível de detalhamento nos questionários, como é o caso dos

impactos das aposentadorias rurais e sua importância na formação da renda

familiar; da questão da pluriatividade como forma social de reprodução das

famílias rurais; quando temos no Agreste de Alagoas dois grandes centros

urbanos interioranos.

Agrega-se também a isso ao melhor detalhamento das políticas de

transferencia de renda e dos impactos do Pronaf como esteio voltado ao

mercado das microfinanças no segmento dos investimentos.

8. PROPOSTAS E AÇÕES PARA O TERRITÓRIO

Em síntese, as atividades desenvolvidas nesse interregno da execução da

pesquisa realizado pela CAI, contribuiu significativamente nas diversas

instâncias do Colegiado do Agreste de Alagoas e da realização da pesquisa do

ICV. A experiência acumulada nesses dois anos, aliado a organização de um

grupo de pesquisadores vinculados a um Programa de Pós-Graduação, dando

apoio direto ao CAI, facilitou todo o processo, visando cumprir os preceitos

necessários às metas pretendidas.

Nesse diapasão, face às questões já discutidas no II Encontro Nacional das

Células de Acompanhamento e Informação realizada em Abril de 2010 em

Brasília, dos problemas observados no trabalho de campo, do processo de

acompanhamento da dinâmica do Colegiado e de suas limitações operacionais,

a CAI do Agreste de Alagoas sugere algumas alterações significativas no que

se refere ao segundo momento da execução da pesquisa:

8.1 – Necessidade de nova pesquisa do ICV para o segundo semestre de

2012 - modificações

Justificativa

Uma nova pesquisa do ICV para 2012 não poderá alterar o quadro do índice

obtido no segundo semestre de 2010, inclusive para efeito comparativo. O

interregno é muito curto. O entendimento é que o comportamento do índice é

de natureza estrutural e não conjuntural. Talvez modificando a metodologia e a

arrumação dos questionários possa aprofundar e aperfeiçoar as variáveis

inseridas na proposta metodológica e na tipologia das perguntas. Dessa

maneira uma pesquisa com uso do método analítico para a constituição do ICV

e sob o procedimento da amostra estratificada, tendo a CAI autonomia para

esse fim, será de grande importância. Quanto ao SGE, deveria existir um

padrão mínimo para constituição do índice e a CAI pesquisar outros

indicadores.

8.2 – Pesquisa sob o perfil socioeconômico da Agricultura Familiar no

Agreste de Alagoas

Justificativa

O Agreste de Alagoas tem toda uma singularidade territorial e histórica.

Entender a constituição da agricultura familiar onde se realizou uma “reforma

agrária natural” como subsídio analítico no corpo desse projeto. Realizar esse

estudo nessa área, como a região mais dinâmica do interior do estado de

Alagoas poderá contribuir e servir como subsídio ao Colegiado. Nos primeiros

contatos com membros do Colegiado, um dos grandes entraves do território

era o desconhecimento sobre a realidade socioeconômica estudada, onde

sempre prevalecia a “boa vontade” dos formadores de opinião e não a real

carência do território. Esse estudo, de caráter complementar, ajudará ainda

mais, em especial na possibilidade de discussão desses resultados no

Colegiado.

OBS. É importante observar que não anexamos os resultados da pesquisa dos

resultados da avaliação dos projetos; na qual estaremos realizando essa

atividade no mês de Outubro do corrente ano.

Face a essa ultima questão, a CAI decidiu que não deveríamos apresentar

propostas de avaliação dos instrumentos de validação e dos procedimentos;

mesmo reconhecendo seus limites e problemas, mas a omissão da avaliação

dos projetos, nos obrigou a não realizar a necessária avaliação desses

instrumentos e dos respectivos procedimentos metodológicos.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA:

CARVALHO, Diana Mendonça de, ALCANTARA, Fernanda Viana de &

COSTA, José Eloízio da. Desenvolvimento Territorial, Agricultura e

Sustentabilidade no Nordeste. São Cristóvão/SE; editora da Universidade

Federal de Sergipe, 2010.

LOPES, Eliano Sérgio de Azevedo & COSTA, José Eloízio da. Territórios

Rurais e Agricultura Familiar no Nordeste. São Cristóvão/SE; editora da

Universidade Federal de Sergipe, 2009.

São Cristóvão/SE, 25 de Agosto de 2012.

José Eloízio da Costa – Coordenador da CAI – Agreste de Alagoas