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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO WILLANA NOGUEIRA MEDEIROS GALVÃO POLÍTICA DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: O DISCURSO COMO PRÁTICA SOCIAL EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE FORTALEZA, CEARÁ RECIFE 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO

WILLANA NOGUEIRA MEDEIROS GALVÃO

POLÍTICA DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: O DISCURSO COMO

PRÁTICA SOCIAL EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE FORTALEZA, CEARÁ

RECIFE

2017

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1

WILLANA NOGUEIRA MEDEIROS GALVÃO

POLÍTICA DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: O DISCURSO COMO

PRÁTICA SOCIAL EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE FORTALEZA, CEARÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, para a Linha de

Pesquisa Política Educacional Planejamento e

Gestão da Educação, como parte dos requisitos

para a obtenção do título de Mestre em

Educação.

Orientador: Professor Dr. Edson Francisco de

Andrade

RECIFE

2017

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WILLANA NOGUEIRA MEDEIROS GALVÃO

POLÍTICA DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: O DISCURSO COMO

PRÁTICA SOCIAL EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE FORTALEZA, CEARÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em

Educação.

Aprovada em: 30/11/2017

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Edson Francisco de Andrade (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

Prof.ª Dr.ª Eloisa Maia Vidal (Examinadora Externa)

Universidade Estadual do Ceará

__________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Félix dos Santos (Examinadora Interna)

Universidade Federal de Pernambuco

__________________________________________________________

Prof.ª Dr ª. Maria Sandra Montenegro Silva Leão (Examinadora Externa)

Universidade Federal de Pernambuco

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Dedico este trabalho à minha família: meu marido Bruno, meus pais

Ana Célia e Willemar, e meus irmãos Williana, Livia e Alan.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela força e coragem fornecidas para a realização dessa

empreitada.

Ao meu estimado orientador, Profº Dr. Edson Francisco de Andrade, que, respeitando meus

limites, incentivando minha autonomia intelectual e estimulando minhas potencialidades,

soube orientar esse trabalho com leveza, paciência e seriedade.

A todas as pessoas e instituições que contribuíram para a realização dessa pesquisa,

fornecendo documento, entrevistas e informações.

As professoras Sofia Lerche Vieira e Eloisa Maia Vidal, exemplos de mulheres fortes, mães,

profissionais e educadoras competentes, por todo o incentivo, apoio e por compartilharem

comigo este momento.

As professoras Ana Lúcia Fêlix dos Santos e Maria Sandra Montenegro, pelo incentivo e

contribuições direcionadas durante o exame de qualificação e defesa da dissertação.

Aos professores Robério Sacramento e Rosa Barros da Universidade Estadual do Ceará e a

professora Ana Lúcia Borba da Universidade Federal de Pernambuco, pelos ensinamentos

compartilhados, apoio e constante torcida.

Aos professores vinculados ao Mestrado em Educação da Universidade Federal de

Pernambuco pelas contribuições fornecidas durante as disciplinas curriculares que puseram

em relevo elementos importantes para a elaboração da presente pesquisa.

Ao meu amado esposo Bruno César, pela companhia incansável, paciência, torcida e

incentivo, elementos indispensável para essa caminhada.

Aos meus pais, Ana Célia e Willemar, pelo amor, dedicação e incondicional apoio fornecido

durante todo o processo.

Aos meus irmãos, Williana, Lívia e Alan, pela leveza da companhia que tornou a caminhada

menos árdua.

Aos meus amigos Mikaele, Mateus, Alana, Eliane e Paulo que buscaram ao meu lado acesso à

Pós-Graduação em Educação, que acompanharam todas as vitórias e obstáculos vivenciados,

torceram por mim, compartilharam conhecimento, dedicaram profunda amizade e

comemoram comigo esta conquista.

Aos meus companheiros da Linha de Política, Planejamento e Gestão da Educação, em

especial Alberto, Marviael, Crislayne, Alex e Carol, pela troca de experiências e

conhecimento, pelos momentos de amizade e companheirismo.

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Olhe: o que devia de haver, era de se reunirem-se os sábios, políticos,

constituições gradas, fecharem o definitivo a noção - proclamar por

uma vez, artes assembléias, que não tem diabo nenhum, não existe,

não pode. Valor de lei! Só assim, davam tranquilidade boa à gente.

Por que o Governo não cuida?! Ah, eu sei que não é possível. Não me

assente o senhor por beócio. Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é

lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas

misérias... Tanta gente - dá susto se saber - e nenhum se sossega:

todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de

emprego, comida, saúde, riqueza, ser importante, querendo chuva e

negócios bons... De sorte que carece de se escolher: ou a gente se tece

de viver no safado comum, ou cuida só de religião só. (ROSA, 1994,

p.14)

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LISTA DE SIGLAS

ACD- Análise Critica do Discurso

AD- Análise do Discurso

ADTO- Análise do Discurso Textualmente Orientada

ANEB- Avaliação Nacional da Educação Básica

ANPAE- Associação Brasileira de Política e Administração da Educação

ANPED- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa na Educação

ANRESC - Avaliação Nacional do Rendimento no Ensino Escolar

CAED- Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior

CENPEC- Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Cultura e Ação Comunitária

CIPP- Contexto, Inputs, Processos e Produtos

CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

COGERF- Comitê de Gestão por Resultados e Gestão Fiscal

CREDE- Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação

EQ- Estado da Questão

DAEB- Diretoria de Avaliação da Educação Básica

EUA- Estados Unidos da América

FHC- Fernando Henrique Cardoso

FUNDEF- Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização

do Magistério

GIDE- Gestão Integrada da Escola

GPR- Gestão por Resultados

GPPEGA- Grupo de Pesquisa Política Educacional, Gestão e Aprendizagem

GT- Grupo de trabalho

ICE- Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação

IDH- Índice de Desenvolvimento Humano

IDEB- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

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INDG- Instituto de Desenvolvimento Gerencial

INEP- Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC- Ministério da Educação

OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PAIC- Programa de Alfabetização na Idade Certa

PDE- Plano de Desenvolvimento da Escola

PISA- Programme for International Student Assessment

PNE- Plano Nacional de Educação

PPP- Projeto Político Pedagógico

PMMEB- Programa de Modernização e Melhorias da Educação Básica

RBM- Result Based Management

SADRE- Sistema de Acompanhamento do Desempenho e da Rotina Escolar

SAEB- Sistema de Avaliação da Educação Básica

SAEF- Sistema de Avaliação da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza

SECON- Secretaria da Controladoria

SEDUC- Secretaria da Educação Básica

SINAEB- Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

SME- Secretaria Municipal de Educação

SPAECE- Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica

TCC- Trabalho de Conclusão de Curso

TEO- Tecnologia Empresarial Odebrecht

TRI- Teoria da Resposta ao Item

UECE- Universidade Estadual do Ceará

UFJF- Universidade Federal de Juiz de Fora

UNILAB- Universidade da Integração da Lusofonia Afro-brasileira

URSS- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1-Níveis de avaliação............................................................................. 70

Figura 2- Relações entre elaboração e execução de políticas educacionais...... 78

Figura 3- Formas de articulação quanto ao uso dos resultados de avaliações

externas..............................................................................................................

80

Figura 4- Elementos que constituem uma política de accountability................ 83

Figura 5-Abordagem tridimensional do discurso de Fairclough....................... 88

Figura 6-Mapa das Regionais de Fortaleza....................................................... 103

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1-Dissertações e teses sobre Avaliação em larga escala: consulta no

portal da CAPES...................................................................................................

64

Quadro 2-Dissertações e teses sobre Avaliação em larga escala: consulta

Biblioteca Digital..................................................................................................

66

Quadro 3- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta

CAPES...................................................................................................................

68

Quadro 4- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta

ANPED.................................................................................................................

68

Quadro 5- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta

ANPAE................................................................................................................

69

Quadro 6- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta

Estudos em Avaliação Educacional......................................................................

70

Quadro 7- Artigos em anais de eventos sobre Avaliação em larga escala:

consulta reuniões ANPED.....................................................................................

71

Quadro 8- Artigos em anais de eventos sobre Avaliação em larga escala:

consulta encontros ANPAE................................................................................... 81

Quadro 9-Análise do texto.................................................................................... 90

Quadro 10-Análise da prática discursiva............................................................... 92

Quadro 11- Análise da prática social.................................................................... 94

Quadro 12-Seleção da amostra.............................................................................. 104

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RESUMO

Este estudo visa analisar a percepção de professores e gestores escolares do município de

Fortaleza, no que se refere às avaliações em larga escala e às implicações para o trabalho

desenvolvido pela escola. Para tal, baseia-se no pensamento de autores como Almerindo

Janela Afonso, Luiz Carlos de Freitas, Sofia Lerche Vieira, Eloisa Maia Vidal, Boaventura de

Sousa Santos, Roger Dale e Stefan Ball sobre o processo de criação e implementação das

avaliações em larga escala em cenário de gestão por resultados e Estado avaliador. Como

proposta teórico metodológica, este estudo se apoia na teoria da análise do discurso de

Fairclough, e nas contribuições de Foucault, compreendendo discurso como prática social,

que assume diferentes formatos a partir das diferentes configurações sociais em que se

encontre. O estudo empírico foi realizado em seis escolas da rede pública municipal de

Fortaleza-Ceará, através de entrevistas, observações e análise documental. Nesta dissertação,

considera-se que a política de avaliação em larga escala tem se consolidado, na rede e nas

escolas públicas brasileiras, baseada em relações hierárquicas, expressando as disputas de

poder envolvidas nessa construção. As observações realizadas nas escolas, bem como as

entrevistas, explicitaram que a política de avaliação em larga escala tem desencadeado um

processo de cobranças, ranking entre escolas, concorrência, aprovações automáticas,

adaptação curricular de Português e Matemática focando nos conteúdos que são cobrados nas

avaliações, redução da carga horária de História, Geografia e Ciências com o intuito de por

em relevo as disciplinas cobradas nas avaliações, substituição das avaliações internas pelas

externas, com o intuito de utiliza-las como treinamento para as avaliações externas, além de

provocar mudanças no PPP da escola e no trabalho e planejamento dos gestores escolares e

professores. Estes por sua vez, demonstram diferentes percepções sobre o processo, os

diretores tendem a concordar com a proposta, enquanto os docentes demonstram focos de

resistência e (re) significação da política. Espera-se que as reflexões destacadas no presente

estudo contribuam para o avanço do conhecimento na área e instiguem novos estudos sobre o

assunto.

Palavras-chave: Política Educacional. Avaliação em larga escala. Discurso. SPAECE.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the perception of teachers and school administrators in the city of

Fortaleza, regarding large scale evaluations and the implications for the work developed by

the school. For this, we are based on the thinking of authors such as Almerindo Janela

Afonso, Luiz Carlos de Freitas, Sofia Lerche Vieira, Eloisa Maia Vidal, Boaventura de Sousa

Santos, Roger Dale and Stefan Ball on the process of creation and implementation of large

scale evaluations in scenario of management by results and State evaluator. As a theoretical

methodological proposal, this study is based on the theory of Fairclough's discourse analysis,

and on Foucault's contributions, including discourse as social practice, which assumes

different formats from the different social configurations in which it is found. The empirical

study was conducted in six schools of the municipal public network of Fortaleza-Ceará,

through interviews, observations and documentary analysis. In this dissertation, we consider

that the policy of large-scale evaluation has been consolidated, in the network and in the

Brazilian public schools, based on hierarchical relations, expressing the power scatters

involved in this construction. The observations made in the schools, as well as the interviews,

explained that the large-scale evaluation policy has triggered a process of collections, ranking

among schools, competition, automatic approvals, curriculum adaptation of Portuguese and

Mathematics focusing on the contents that are charged in the evaluations, a reduction in the

workload of History, Geography and Sciences with the aim of highlighting the disciplines

charged in the evaluations, replacing internal evaluations with external ones, with the purpose

of using them as training for external evaluations, as well as provoking changes in the PPP

and school work and planning of school managers and teachers. These in turn demonstrate

different perceptions about the process, principals tend to agree with the proposal, while

teachers demonstrate focus of resistance and (re)significance of the policy. It is hoped that the

reflections highlighted in the present study contribute to the advancement of knowledge in the

area and instigate new studies on the subject.

Keywords: Educational politics. Large scale evaluations. Speech. SPAECE.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO: OS CONTORNOS DA INVESTIGAÇÃO..................................... 15

1.1 Questões que movem o estudo: delimitação do problema de pesquisa....................... 18

1.2 Estrutura do trabalho...................................................................................................... 21

2 O PAPEL DO ESTADO AVALIADOR NA ELABORAÇÃO E

IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: FUNDAMENTOS E

EMBATES...........................................................................................................................

23

2.1 Estado-avaliador: concepções e contextos.....................................................................

2.2 Estado-avaliador: a experiência brasileira.....................................................................

2.3 Repercussões do cenário nacional: os desdobramentos cearenses................................

24

34

38

3 AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NO BRASIL.................................................. 45

3.1 Avaliação: tipologias e contextos..................................................................................

3.2 Avaliação em larga escala: conceito e concepção.........................................................

3.3 Avaliação em larga escala na produção cientifica: o estado da questão......................

3.3.1 Avaliação em larga escala em dissertações e teses................................................

3.3.2 Avaliação em larga escala em periódicos...............................................................

3.3.3 Avaliação em larga escala em anais de eventos......................................................

46

50

57

60

63

70

4 ANÁLISE DO DISCURSO NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: PROPOSTA

TEÓRICO-METODOLÓGICA..................................................................................

4.1 O modelo tridimensional de Norman Fairclough..........................................................

4.2 A contribuição de Foucault para a análise critica do discurso........................................

4.3 Análise critica do discurso como metodologia...............................................................

5 O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA

EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO CEARÁ..................................................

5.1 O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Estado do Ceará

(SPAECE).......................................................................................................................

5.2 O SPAECE no chão da escola: o que nos revelam os depoimentos

disponibilizados..............................................................................................................

5.3 O SPAECE nos documentos escolares: quando as avaliações se sobrepõem a função

social da instituição.............................................................................................................

6 AS PERCEPÇÕES DOS GESTORES E PROFESSORES SOBRE O MODELO

DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA IMPLANTADO NO CEARÁ E SUAS

REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS ESCOLARES....................................................

82

83

90

92

103

105

110

o

18

120

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6.1 Política de avaliação em larga escala: o que pensam os sujeitos......................................

6.2 O papel da SME no fortalecimento do modelo de avaliação em larga escala

implantado no estado do Ceará.........................................................................................

6.3 A política de premiação e a (in) coerência nos resultados..............................................

6.4 As políticas de avaliação em larga escala e a prática dos professores e gestores

cearenses...........................................................................................................................

6.5 Avaliações externas e fatores associados ao desempenho escolar: o que fazem os

educadores para alcançar bons resultados?......................................................................

121

129

134

138

145

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................

REFERENCIAS..................................................................................................................

APÊNDICE A- Termo de consentimento livre e

esclarecido............................................................................................................................

APÊNDICE B- Roteiro de entrevista com o

professor..............................................................................................................................

APÊNDICE C- Termo de consentimento livre e

esclarecido............................................................................................................................

APÊNDICE D- Roteiro de entrevista com o

gestor....................................................................................................................................

APÊNDICE E- Roteiro de

observação...........................................................................................................................

149

11153

17

169

1

1

170

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173

175

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1 INTRODUÇÃO: OS CONTORNOS DA INVESTIGAÇÃO

Quando se vê a coisa pronta, tudo parece tão simples. A

complexidade dos processos se esconde por entre as fimbrias

dos resultados. (VIEIRA, 2012, p. 283)

Este estudo pretende refletir sobre as políticas educacionais, a gestão e o trabalho

docente, buscando as conexões entre uns e outros. Para compreender a gestão das políticas

educacionais, toma-se como objeto de estudo a avaliação em larga escala, situando seu

contexto e trajetória. Procura-se identificar elementos de sua gestão, bem como suas

repercussões sobre a escola e o trabalho do professor com o intuito de tecer considerações em

torno dos desafios do trabalho dos gestores escolares e docentes em cenário de implantação de

avaliações externas.

Em tempos de Políticas de avaliação em larga escala, a escola encontra-se envolvida

em um emaranhado de siglas, números e significados, inserida em uma cultura avaliativa que

possui seus pontos positivos e negativos. Se por um lado as avaliações em larga escala tendem

a despertar o interesse e motivam os sujeitos escolares para o sucesso nos resultados, por

outro, pode-se associá-la ao uso exclusivo da preparação das provas, já que, as práticas de

leitura e problemas matemáticos se constituem como o foco de análise da maioria dessas

avaliações, exemplo desse fato é a redução do currículo com vistas a aprovação e melhoria

dos resultados em avaliações externas, realidade presente em muitos municípios brasileiros

(FREITAS; REAL, 2011; VIDAL; VIEIRA, 2011).

Nesse cenário, a justificativa e motivação para desenvolver esta investigação se apoia

em três vertentes. A primeira está articulada à trajetória de formação da autora durante

realização do curso de Pedagogia na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e ingresso na

atividade de pesquisa no Grupo de Pesquisa Política Educacional, Gestão e Aprendizagem

(GPPEGA), assim esse estudo tem como fio condutor um aprofundamento de reflexões

advindas do trabalho de conclusão do curso (TCC) de Pedagogia de mesma autoria.

Enquanto fruto de projeto maior denominado Observatório da Educação no Maciço de

Baturité, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) e coordenado por grupos de pesquisa da UECE e da Universidade da Integração da

Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB), o TCC em questão se propôs a pesquisar quatro

municípios cearenses na região do Maciço de Baturité, sendo dois os que haviam registrado os

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melhores resultados e dois os que atingiram os menores índices na edição do Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2011.

Pretendeu-se observar os mecanismos de atuação da política educacional em relação

aos fatores associados ao sucesso escolar. A pesquisa revelou que as avaliações em larga

escala, tanto na esfera estadual como na federal, norteiam as ações das escolas. O cenário,

marcado por indicadores que começa a se destacar no contexto educacional brasileiro,

encontrou reflexos nos depoimentos dos entrevistados denotando o caráter positivo para os

municípios que registraram os melhores resultado no IDEB e a sensível percepção dos que

atingiram o menor IDEB no ano de 2011. Entretanto, em todas foi possível verificar que os

atores assumem uma perspectiva de responsabilização acerca dos trabalhos e resultados

alcançados.

O estudo obteve importantes pistas, contudo produziu novos questionamentos no que

concernem as semelhanças e diferenças entre os resultados de escolas pertencentes a mesma

rede. Tais reflexões estimularam o interesse por uma nova pesquisa. Tratando-se de

instituições educacionais pertencentes a mesma rede o que acontece para que os resultados

apresentem-se desiguais? Qual a concepção dos gestores e professores acerca da inserção da

cultura avaliativa no interior das escolas?

Assim, o projeto de pesquisa que subsidiou a presente dissertação foi estimulado a

avançar para a dimensão do cotidiano escolar, pondo em relevo como objeto de investigação a

percepção dos sujeitos envolvidos no chão da escola (gestores e professores) no tocante às

avaliações de larga escala na Rede Municipal de Ensino de Fortaleza.

A segunda vertente refere-se ao fato de que o Estado da Questão (EQ), construído

mais adiante neste trabalho, confirma o destaque que as avaliações em larga escala têm

adquirido, impulsionando o crescente número de publicações e estudos produzidos com o

intuito de compreender os objetivos e a implantação dessas avaliações no âmbito das políticas

educacionais. No entanto, sobre a repercussão dessas iniciativas para o trabalho da gestão

escolar e dos seus professores, encontramos escassez de publicações, o quantitativo é de 40

trabalhos entre teses, dissertações e artigos publicados em periódicos e anais de eventos no

âmbito nacional e 6 trabalhos cujo cenário de pesquisa é o Ceará e que apresente relação com

a questão central desse estudo, o que instiga e justifica o interesse que esse trabalho manifesta.

A terceira está associada ao lugar que os gestores escolares e os professores ocupam

no processo educacional, seu envolvimento com questões sobre as avaliações, atuando, no

caso dos gestores com os professores e as secretarias de educação, e no caso dos docentes,

com alunos, pais e com os próprios gestores. Diante desse fato, o presente estudo se

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materializa como uma possibilidade de instigar reflexões e ações no interior da escola e na

Universidade no que se refere ao trabalho de gestores e docentes em cenário marcado por

indicadores como referencial prioritário para se inferir qualidade da educação.

O estudo foi realizado no Sistema Municipal de Educação de Fortaleza, capital do

Ceará, dado seu histórico que a coloca como importante referencial no que diz respeito ao

investimento na gestão por resultados, com foco nas avaliações em larga escala. Este foi

componente estratégico de busca da qualidade educacional no Ceará, que teve o inicio de seu

processo de implementação durante o governo Lúcio Alcântara (2003 – 2006) e

posteriormente ampliada pelo governo Cid Gomes (2007-2014) que já havia demonstrado

interesse no investimento desse tipo de política quando exerceu mandato de prefeito no

município de Sobral (1996- 2005), que se destaca por apresentar bons indicadores

educacionais.

Esse processo de inserção da política de avaliação em larga escala no Ceará se deu não

apenas através de acompanhamento e fiscalização da implementação das avaliações nas

escolas, mas também na criação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica

(SPAECE).

A dimensão da rede municipal de educação de Fortaleza fornece informações

importantes, uma vez que a cidade é geograficamente marcada por diferentes condições

sociais e econômicas nas regionais onde se encontram as escolas. Entendendo que iniciativas

como as de avaliação em larga escala, propostas pelo nível central não são automaticamente

recebidas e implantadas integralmente pelas escolas, redes com essas abrangência e

diversificação permitem investigar estratégias próprias de responder a política em questão que

acabam por passar, no chão da escola, por processos de ressignificação. Compreendendo

ressignificação neste trabalho, como a releitura que a escola faz dessas iniciativas e como

atuam no cotidiano escolar a partir de sua chegada.

A presença das avaliações em larga escala nas escolas supõe, de algum modo, sua

interferência no fazer cotidiano das mesmas, uma vez que a literatura na área vem mostrando

que estariam fortalecendo uma cultura de ensinar para as provas (VIEIRA, 2011a). Essa

estrutura política, que tão cedo já respirava a cultura avaliativa e desenhava um cenário

alimentado por indicadores nos parece interessante campo de investigação, nos instigando a

selecioná-lo como amostra.

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1.1 Questões que movem o estudo: delimitação do problema de pesquisa

A escola pública brasileira durante muitos anos esteve destinada a poucos, sendo

possível apenas nos anos 1990 confirmarmos a sua proposta de universalização quanto ao

acesso. Para Vieira (2008), a conquista da quantidade sugere também a construção da

qualidade, desafio ainda maior, uma vez que envolve a conciliação dos diversos interesses e

dificuldades que permeiam o fazer educativo.

A atual conjuntura trouxe novos desafios à política e gestão dos sistemas educacionais.

O conceito de ―escola para todos‖ propagado, na realidade, encontrou dificuldades e

empecilhos. Em estudo sobre o tema, Vieira, Dantas e Moraes (2014) explicam que as

unidades escolares ainda estão procurando se adaptar a nova clientela que agora precisam

atender, um público advindo de famílias e comunidades para quem o acesso à cultura letrada

foi historicamente negado. Esse desafio se torna ainda mais complexo, quando acrescentamos

à discussão, as reflexões sobre qualidade, avaliação e resultados. Nos últimos anos o tema

―sucesso escolar‖ foi posto em relevo ao ser associado aos sistemas de avaliação em larga

escala e, sobretudo, a partir da criação do IDEB pelo Ministério da Educação (MEC), que

facilitou a comparação dos resultados entre sistemas de educação e unidades escolares.

As avaliações em larga escala ou, como também são conhecidas no chão das

instituições educacionais, as avaliações externas, são assim identificadas por compreenderem

a exterioridade de quem, seja pessoal ou institucionalmente, tenha as elaborado, conduzido,

organizado ou aplicado na escola. Fortalecidas e ampliadas no cenário de reformas

econômicas, sociais e educacionais dos anos 1990, acabou por adquirir destaque nas políticas

públicas educacionais, sendo recomendada e promovida por agências internacionais e pelo

Ministério da Educação, além de estimuladas e incorporadas pelas Secretarias de Educação.

Apresentando uma trajetória que já ultrapassa os vinte anos de experiência no país

desde a criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) no fim da década de

1980, da Prova Brasil em 2005 e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em 2007,

o tema das avaliações externas adquiriu centralidade no contexto da atual política educacional

a partir da década de 1990 (SOUSA e OLIVEIRA, 2010). Esse fato também pode ser

confirmado a partir da observação do crescente número de estados brasileiros que estão

elaborando e desenvolvendo iniciativas de avaliações próprias, o Ceará se tornou exemplo

desse fato quando criou o SPAECE.

Compreendendo a disseminação do discurso oficial de que seriam as avaliações de

larga escala capazes de dar elementos com o intuito de trabalhar em prol da qualidade da

educação, ideia que vem ganhando espaço e adeptos, e ao mesmo tempo, tendo ciência do

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lugar de fala e atuação que os gestores escolares e seus docentes ocupam no processo de

implantação de políticas educacionais, além de considerar, ainda, que esses profissionais têm

sido os mais pressionados no sentido de trabalhar em prol dos resultados, impactando na sua

prática, escolheu-se esse grupo para ser foco do estudo em questão.

A instituição escolar se materializa como local em que se concretizam as políticas

educacionais e é justamente nessa esfera que esse trabalho está situado. Ao analisar esse

cenário podemos observar como as políticas de avaliação chegam às escolas e são por elas

recebidas e ressignificadas, apresentando, como pano de fundo, considerações que sugerem

um quadro no qual as avaliações externas estariam influenciando as propostas pedagógicas da

instituição.

O processo de elaboração e implementação das políticas de avaliação em larga escala

envolve em cada etapa atribuições e especificidades, desde o Ministério da Educação,

passando pelas secretarias estaduais e municipais, até chegar às escolas. Cada uma dessas

etapas demanda organização de um imenso contingente de instituições e sujeitos. As

iniciativas de avaliação em larga escala feitas pelo MEC, são desenvolvidas pelo Instituto

Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) o qual, por sua vez, recorre a

contratações de instituições e pessoas diversas para elaborar os conteúdos das diferentes

provas e técnicos associados à sua aplicação.

As Secretarias de Educação também participam deste processo de diferentes formas.

Aquelas que possuem seus próprios sistemas de avaliação necessitam organizar e dar suporte

a uma estrutura semelhante àquela montada pelo MEC, exemplo que se aplica ao caso do

Ceará. Tanto estas secretarias como as demais participam das avaliações nacionais como parte

de um esforço integrado entre os entes de poder federado (União, Estados e Municípios) para

assegurar que o processo seja cumprido.

Esta é uma empreitada complexa que envolve indivíduos, instituições e recursos de

grande porte. As avaliações em larga escala impõem às instituições um formato de provas que

a escola não pediu ou sequer foi consultada para aplicar e se espera das unidades escolares

bons resultados obtidos por seus alunos, os quais por sua vez tendem a modificar o cotidiano

escolar de diversas maneiras. Em maior ou menor grau, a avaliação em larga escala passa a

ser incorporada à vida da escola, algumas instituições elegem essas avaliações como fonte

permanente de inspiração para o seu trabalho; outras preferem prosseguir sem a utilização de

seus resultados.

Diante desse cenário as questões que se materializam são: 1) Como as políticas de

avaliação em larga escala têm se materializado no chão da escola no que se refere a sua

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organização e operacionalização? 2) As avaliações de larga escala têm

influenciado/modificado a prática/ atuação cotidiana dos gestores escolares e professores? 3)

De que forma os professores e os gestores escolares estariam se apropriando do resultado

dessas avaliações e o que fazem a partir dessa apropriação?

O estudo de Stecher e Bohrnstedt (2002) tem como foco as avaliações externas nos

Estados Unidos. Sua percepção é de que no interior das escolas o quadro se desenha de forma

complexa, uma vez que pode haver impactos dessas avaliações sobre as escolas que possam

ser positivos, negativos ou até, nulos. Segundo o autor, existem escolas nas quais as

avaliações em larga escala são completamente ignoradas, esse caso seria um exemplo de

impacto nulo. Sobre esse aspecto, podemos esboçar ponderações, uma vez que, no cenário

atual brasileiro, o que tem sido possível observar é a adesão massiva das instituições, se não

por vontade própria, pelo receio em relação às possíveis consequências.

Os autores seguem explicando que, em outras escolas, as avaliações em larga escala

têm impactos considerados positivos no sentido em que contribuem para a organização das

atividades de ensino, permitindo que as equipes escolares desenvolvam um olhar mais crítico

sobre seu trabalho. Ou ainda, há casos em que o impacto é negativo, exemplo desse fato é a

redução curricular1 e o direcionamento das atividades didáticas quase que exclusivamente

para preparar para as provas. Isso sem mencionar as denúncias de fraude2 com vistas à

obtenção de melhores resultados. (STECHER e BOHRNSTEDT, 2002)

Diante da problemática até aqui caracterizada, uma questão central norteou a pesquisa:

Qual a percepção de professores e gestores do município de Fortaleza, no que se refere as

avaliações em larga escala e suas implicações para o trabalho desenvolvido pela escola?

Nessa dissertação consideramos, inicialmente, que a criação das avaliações em larga

escala tenha sido gestada com o objetivo oficial de garantir a qualidade da educação,

oferecendo às secretarias de educação a possibilidade de acompanhar o processo de

aprendizagem nas escolas, e a estas a oportunidade de, a partir dos resultados alcançados,

mapear as ações que repercutiram positivamente nas avaliações ou repensar as práticas que

não estão colaborando para o bom desempenho da instituição. No entanto, o que têm-se

percebido, através da literatura, é que, o ranking, a redução curricular e a pressão para que

1 A expressão redução curricular é utilizada nesse texto como referencia ao fato encontrado em escolas

cearenses onde meses antes da prova as disciplinas de ciência, história e geografia deixem de ser ministradas em

detrimento das disciplinas de Português e Matemática. 2 Para aprofundar esse elemento, ver: Os reformadores empresariais da educação e a disputa pelo controle do

processo pedagógico na escola, texto de Luiz Carlos de Freitas.

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gestores e professores trabalhem em prol do alcance da representação numérica tem sido

posto em relevo em detrimento do objetivo inicial, ou seja, do discurso oficial sobre o

propósito e finalidades das avaliações em larga escala.

Face ao exposto, o objetivo geral desse trabalho é analisar a percepção de professores

e gestores escolares do município de Fortaleza, no que se refere às avaliações em larga escala

e às implicações para o trabalho desenvolvido pela escola. Temos como objetivos específicos:

Compreender o contexto de criação do sistema de avaliação do estado do Ceará;

Investigar as percepções dos gestores escolares e professores sobre o modelo de

avaliação em larga escala que chega às escolas cearenses;

Conhecer a perspectiva de atuação dos gestores escolares e professores face ao

processo de apropriação dos resultados das avaliações em larga escala.

Nossa referência para tais questões baseia-se na concepção de que as escolas uma vez

envolvidas nesse cenário de tantas expectativas, indicadores e avaliações precisam

ressignificar as políticas que chegam verticalmente no chão das unidades escolares e utilizá-

las para garantir que o papel essencial da instituição seja efetivamente cumprido. É preciso,

ainda, que as instâncias ligadas à educação nos âmbitos federal, estaduais e municipais

sintam-se corresponsáveis pelo processo e parceiras nessa garantia.

Assim sendo, esse trabalho se justifica por seu intuito pessoal de responder

inquietações gestadas em campo durante realização de trabalhos anteriores; acadêmico, por

subsidiar material teórico e empírico para futuros estudos sobre a presente temática; e social,

uma vez que apresenta como motivação a ampliação dessa discussão, possibilitando reflexos

na prática de professores e gestores envolvidos na melhoria da qualidade da educação pública

no país.

1.2 Estrutura do trabalho

Além desta introdução onde anunciamos a justificativa, problematização, objetivos e

contornos da pesquisa, o presente trabalho está organizado em cinco capítulos e considerações

finais.

O segundo capítulo, a partir de breve introdução histórica, destaca as diferentes

concepções de Estado e sua consequente atuação social até o momento em que se torna

Avaliador, apresentando os desdobramentos dessa concepção também no âmbito das unidades

federativas do Brasil.

O terceiro traz os conceitos centrais que se desenham em torno da avaliação,

aprofundando as questões associadas atualmente às políticas de avaliação em larga escala no

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Brasil e no Ceará. É nesse capítulo ainda que construímos o estado da questão, mapeamento e

análise da produção científica difundida por meio de teses, dissertações, publicações em

periódicos e em anais de eventos- que tematizam as políticas de avaliação em larga escala. A

partir deste levantamento, destacam-se as lacunas encontradas na literatura e que serão

exploradas como categorias no estudo em questão.

O quarto capítulo apresenta a metodologia da pesquisa, apoiado no modelo

tridimensional de Fairclough e nas contribuições de Foucault, aborda com nível maior de

detalhamento, os procedimentos adotados para o trabalho empírico: paradigma, abordagem,

natureza, método, lócus, sujeitos, instrumentos e técnicas de coletas e análise de dados.

Nesse sentido, o segundo, o terceiro e o quarto capítulo discorrem, em conjunto, sobre

a revisão de literatura, o referencial teórico, as categorias de análise, e a análise do contexto

da investigação em foco. O quarto capítulo, além do subsídio teórico, avança para a

perspectiva metodológica da pesquisa.

O quinto capítulo, como primeira seção fruto do trabalho empírico, apresenta o

contexto de criação do sistema de avaliação do estado do Ceará e as expectativas anunciadas

por esse processo, a partir dos registros documentais presentes nas escolas e dos depoimentos

dos sujeitos entrevistados.

O sexto capítulo investiga as percepções dos gestores e professores sobre o modelo de

avaliação em larga escala que chegam às escolas cearenses e as repercussões para o cotidiano

das escolas públicas do município de Fortaleza. A seção apresenta os depoimentos dos

sujeitos e as relações que estabelecem com o cenário em que estão inseridos.

Finalizamos o estudo com a conclusão, tecendo algumas considerações e reflexões

sobre a experiência e os achados.

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2 O PAPEL DO ESTADO AVALIADOR NA ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO

DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: FUNDAMENTOS E EMBATES

Para além da crescente sofisticação na produção de instrumentos de

avaliação de programas, projetos e mesmo de políticas públicas é

fundamental se referir às chamadas ―questões de fundo‖, as quais informam,

basicamente, as decisões tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de

implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a

uma estratégia de intervenção governamental qualquer. E uma destas

relações consideradas fundamentais é a que se estabelece entre Estado e

políticas sociais, ou melhor, entre a concepção de Estado e a(s) política(s)

que este implementa, em uma determinada sociedade, em determinado

período histórico (HÖFLING, 2001, p. 30).

Corroborando com a perspectiva da autora, compreendemos que para o

desenvolvimento de análises e avaliações de políticas implementadas por um governo, é

importante compreender os fatores de diferentes naturezas, as concepções, os contextos e as

determinações que circundam a Política foco da análise.

Estes diferentes aspectos devem ser apresentados levando em consideração o contorno

de Estado em que se desenham. Para se adotar uma compreensão sintética compatível com os

objetivos deste texto, nos apoiaremos na definição da autora no que se refere ao Estado como

um conjunto de instituições permanentes, a exemplo dos órgãos legislativos, tribunais e

exército, que possibilitam a ação do governo; e Governo, como o conjunto de programas e

projetos para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um

determinado governo que desempenha as funções de Estado durante um determinado período.

(HÖFLING, 2001)

Na perspectiva da autora, podemos entender Políticas públicas como o ―Estado em

ação‖, ou seja, é o Estado materializando um projeto de governo, através de programas e de

ações voltadas para setores específicos da sociedade. Caso esse que se aplica a educação. A

autora explica que embora as políticas públicas sejam de responsabilidade do Estado, no que

se refere à implementação e manutenção, não devemos associá-la apenas a este, uma vez que

participam de sua construção sujeitos e associações diversas com raiz estatal e não estatal.

No interior das Políticas Públicas são desenvolvidas as políticas sociais, sendo estas

associadas ao ideário de proteção social implementado por uma determinada concepção de

Estado e se configuram como uma forma de interferência deste no sentido de garantir a

manutenção das relações sociais. A educação é, nesse sentido, uma política pública social de

responsabilidade do Estado, mas não pensada e executada apenas por ele. Nessa perspectiva,

assume desenhos diferentes de acordo com a sociedade e diferentes concepções de Estado,

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não sendo possível pensar o Estado fora de um projeto político e de uma teoria social para a

sociedade (HÖFLING, 2001).

Assistiu-se historicamente a transição entre diferentes concepções de Estado. Não se

configurando como objetivo deste estudo o aprofundamento dessa questão, consideramos

pertinente, no entanto, realizar alguns destaques, movimento a ser realizado neste capítulo. A

partir de breve introdução histórica, pretende-se destacar as diferentes concepções de Estado e

sua consequente atuação social até o momento em que se torna Avaliador. Esta última

concepção se materializa a partir de diferentes fases e repercute internacionalmente e

nacionalmente na educação, apresentando desdobramentos também no âmbito das unidades

federativas do Brasil, situação que nos propomos a discutir no presente capítulo.

2.1 Estado-avaliador: concepções e contextos

Para Habermas (2003), o paradigma é um ―pano de fundo não temático‖ que desenha

de forma direta a compreensão que as pessoas têm do direito numa determinada época (p.

131). A diversidade de paradigmas presentes no Estado moderno significa, assim, a

constituição de visões, perspectivas e interpretações que influencia a concepção que as

pessoas têm da própria Constituição e dos demais documentos jurídicos a serem interpretados.

Esses paradigmas tendem a variar de acordo com o momento histórico e social vivenciado por

cada um.

No que concerne à relação destas concepções de Estados com a sociedade, verificamos

que com o advento do Estado Absenteísta, entendia-se que o seu papel era o de garantir os

direitos civis e políticos dos cidadãos. A compreensão de que a garantia somente das

liberdades e igualdades individuais formais não se refletiam em igualdade real impulsiona a

primeira crise que origina o Estado Social. Observava-se, nesse momento, que a maior parte

dos serviços não estava à disposição da maioria da população. O clima era de desigualdade

social na prática, colocando em pauta a discussão sobre o papel do Estado para aquela época.

Com a queda da bolsa de valores de 1929, a crise econômica acaba por reforçar a necessidade

de o Estado prover os serviços necessários à sociedade, atuando diretamente na economia.

A complexidade da modernidade e o avanço da tecnologia e das necessidades

populacionais desencadearam maior quantidade de serviços a ser oferecido em contexto de

acelerado crescimento populacional. Tal situação se agravou em decorrência da crise fiscal da

década de 1970, ocasião em que não havia mais recursos públicos suficientes para o

provimento dos serviços.

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A crise do petróleo de 1973 e o fim do sistema de paridade internacional culminaram

na crise fiscal, exigindo o provimento estatal dos serviços, sobretudo num contexto de grande

inflação. Com isso, surgiu a concepção de Estado Regulador, que se apoiaria em recursos

privados com o intuito de garantir a prestação de serviços. É a partir do cenário marcado pelo

Estado Regulador que este trabalho localiza sua discussão, uma vez que associado a ele está

também a concepção de Estado Avaliador.

Sobre essa questão da concepção de regulação, Barroso (2005) explica que

[...] a elucidação do significado de regulação conheceu um notável

incremento com o desenvolvimento da teoria dos sistemas. É ela que permite

ao sistema, através dos seus órgãos reguladores, identificar as perturbações,

analisar e tratar as informações relativas a um estado de desequilíbrio e

transmitir um conjunto de ordens coerentes a um ou vários dos seus órgãos

executores. (p. 728).

Corroborando com essa perspectiva, Andrade e Gomes (2012) explicam que sendo a

regulação foco de disputa, especialmente quando efetivada sob a forma de regulamentação, se

constitui como parte da gestão sistêmica, devendo, portanto, ser compreendida a partir dos

diferentes sentidos associados ao conceito de sistema em sua aplicação mais ampla.

Assim, a regulação como ―bandeira de todos‖ pode servir tanto a um sistema

de educação que se articula e se resguarda pela acepção de descentralização

como controle social (participação que se converte em ação política coletiva,

propositiva e reivindicatória), como estratégia de garantia do bem público a

serviço da efetivação de direitos sociais, quanto à descentralização como

transferência de responsabilidades, incumbindo governos subnacionais de

atribuições antes assumidas pelo Governo Federal, alterando, portanto, a

lógica da participação para uma ação individualizada, focada na execução de

ações prescritas por gerências que mantêm a decisão política centralizada

(ANDRADE; GOMES, 2012, p. 136).

Para efeitos desse estudo, aborda-se a perspectiva de Estado Regulador, caracterizado

por sua atuação indireta na economia. Nesse sentido, o Estado regulador objetiva enxugar a

máquina do estado, por um lado, e garantir os direitos essenciais às pessoas, ainda que para

tanto seja necessário a intervenção mercantil.

O Estado passa a regular não só aquelas atividades anteriormente por ele

exercidas (atualmente exercida por particulares mediante delegação estatal),

mas também aquelas já originariamente privadas (exercidas por particulares

sem necessidade de delegação estatal). O poder, então, passa a ser exercido

sobre um número maior de atividades desenvolvidas por particulares. A

intervenção indireta na economia por parte do Estado regulador, nessa linha,

é feita com base em regras e princípios que induzem o mercado a, além de

perseguir seus lucros, satisfazer os interesses sociais em geral (a regulação

busca efetivar vários valores socialmente relevantes). Isso é feito por

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incentivos, premiações, induções, restrições, fiscalizações e punições.

(SOARES, 2013, p.1)

Assim o Estado regulador desencadeou uma série de privatizações de empresas

estatais, sob a justificativa de que, nesse momento, já não cabia mais ao Estado ser

patrimonialista. Sua função seria a de se associar a iniciativa privada para que esta

colaborasse com a satisfação das necessidades da população. Assim, atividades que não se

enquadrem como de responsabilidade inteiramente estatal acabam sendo ofertadas pelos

setores privados, em parcerias com o chamado Terceiro Setor3.

A análise da política educacional foco desse trabalho se localiza nesse cenário de

Estado Regulador, fruto desse processo de reestruturação do Estado que, em parceria com os

organismos internacionais, lança mão de novas estratégias de ação, tanto na condução da

política econômica quanto na conformação social dos países (NEVES, 2005). Nasce assim, o

neoliberalismo como ―resposta teórica à crise econômica do sistema capitalista de produção‖,

fato que se desenha em contexto de questionamento do papel do Estado como instância-chave

no processo produtivo e de crença no ―mercado como a realidade empírica central‖ onde a

privatização é posta em relevo (OLIVEIRA, 1994, p. 11-12).

A concepção neoliberal de sociedade e de Estado ―se apóia na tradição do liberalismo

clássico, dos séculos XVIII e XIX. As teorias políticas liberais associam as funções do Estado

à garantia dos direitos individuais, sem interferência nas esferas da vida pública e,

especificamente, na esfera econômica da sociedade‖. Defende-se a garantia da ―propriedade

privada como direito natural‖, assim como o ―direito à vida, à liberdade e aos bens‖

necessários para que seja possível conservar ambas. A perspectiva neoliberal, absorvendo o

movimento e as transformações da história do capitalismo, se apoia nessas ideias clássicas do

liberalismo que se expressam principalmente na conhecida frase ―menos Estado e mais

mercado‖. (HÖFLING, 2001, p.36)

Assistiu-se, com a ascensão do neoliberalismo, a materialização de um Estado mínimo

em detrimento de um Estado expansivo que antes era o principal fornecedor de serviços

públicos; a contratação de serviços educacionais da iniciativa privada, a busca por

padronização, performatividade, produtivismo, imposição de metas, medidas de desempenho

3 ―Congrega as organizações que, embora prestem serviços públicos, produzam e comercializem bens e serviços,

não são estatais, nem visam lucro financeiro com os empreendimentos efetivados, estando incluídas aqui,

portanto, as associações, sociedades sem fins lucrativos e fundações. podemos dizer que, genericamente, as

entidades do Terceiro Setor ou as ONGs são pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos (sociedades

civis, associações e fundações) e que todas elas podem ser denominadas institutos ou serem consideradas como

tal‖. (Resende, s.d)

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e indicadores. Porém, é importante mencionar que o neoliberalismo não é homogêneo, como

não são homogêneas as suas formas de expressão. As formas de manifestação do

neoliberalismo vão, portanto, variar de um contexto para o outro e assim devem ser

percebidas.

Durante as décadas de 1980 e 1990, com o neoliberalismo ganhando espaço,

intensifica-se a ideia de que a aproximação da gestão e do consumidor, o controle e a

fiscalização são necessários. Ganha materialidade então, reformas que objetivavam promover

a modernização do Estado, principalmente no que diz respeito ao controle dos serviços

prestados. Nasce com isso a ideia de que mudanças administrativas gerenciais eram

justificadas sob o argumento de que o Estado estaria pesado e mais fragilizado quando o

assunto são as questões de mercado.

Nesse contexto, a busca de maior eficiência da Administração Pública é um dos temas

mais discutidos nesse momento, uma vez que as reformas propunham o Estado mínimo,

transferindo grande parte ―da prestação dos serviços públicos ao mercado sob o argumento de

que a alocação dos bens seria nele muito mais eficiente‖. É importante mencionar que mesmo

com essa nova perspectiva de Estado as ―velhas tradições‖ do ―modelo burocrático

weberiano‖ permanecem, ―próprias das práticas de governação que marcaram as décadas

precedentes‖. Um perfil de administração centralizado continua a ser executado, postura

aparentemente contraditória ―quando comparado aos preceitos neoliberais de administração

pública, mas que também adota formas de regulação e controle que discursivamente evocam a

participação e a descentralização do poder‖ (LIMA, 2011a, p.35).

Como mencionado, em relação ao modelo de administração das organizações públicas,

a década de 1990 foi marcada pela perspectiva de superação do modelo burocrático, que seria

então substituído por um modelo gerencial. É importante reconhecer que o chamado

Paradigma Gerencial chamou atenção, de fato, para importantes questões: o cidadão é posto

em relevo, os princípios meritocráticos ganham força, inicia-se um processo de difusão das

ideias de flexibilidade e gestão por resultados, se constituindo como aspectos inovadores

enfatizados pelo novo paradigma, questão que será retomada mais adiante. A questão do foco

no cidadão diz respeito à percepção do cidadão de forma ampla, levando em consideração

suas necessidades e demandas como cliente, contribuinte e ator político. (ABRÚCIO, 1998)

No que se refere a prestação de serviços públicos, a burocratização dos processos

administrativos, o apego excessivo às regras, características marcantes em processos ou

setores de instituições públicas, foram gradativamente substituídas pela maior flexibilidade na

condução dos serviços e políticas públicas pelos gestores.

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Em consonância com essas transformações na concepção de Estado, é importante

destacar também as consequentes mudanças na Administração Pública, uma vez que esta

integra o próprio Estado, entranhando-se em todo o funcionamento do aparato estatal. A

função de administração pública está presente em todos os poderes da União e em todos os

órgãos públicos dos Estados, sejam no âmbito municipal, estadual ou ainda nacional. Para

funcionarem, é preciso planejar, contratar, gerir, além de organização econômica e social.

Assistimos, então, três diferentes noções de Administração Pública no decorrer dessas

diferentes concepções de Estado: patrimonialista, burocrática e gerencial.

A Administração Pública patrimonialista compreende o Estado como sendo

organizado em função da figura do governante. Por outro lado, a Administração Pública que

apresenta como foco a perspectiva burocrática, se organiza a partir de órgãos e setores

institucionais. Abre-se espaço para as noções de profissionalismo e de hierarquia de funções.

O Estado passa a ser associado à suas instituições e a burocratizar a forma como atenderia e

garantiria o bem estar da população.

Por fim, passa-se à chamada Administração Pública Gerencial, sob a justificativa de

que o Estado estaria com seu funcionamento sobrecarregado burocraticamente. Esse momento

está relacionado ao Estado Regulador e ao Poder Executivo caberia ―apenas‖ regular a

prestação do serviço e sua qualidade, direcionando o desenvolvimento do setor, bem como

deixando que a relação de consumo e a prestação do serviço fiquem a cargo da relação

administrador-cliente. Consagra-se, assim, para a Administração Pública, os parâmetros já

utilizados no setor privado, ganhando destaque, por exemplo, a perspectiva da eficiência. A

percepção da Administração Pública burocrática permanece, não é completamente superada,

mas o novo foco é pautado pela eficiência prática em busca de resultados objetivos.

Com essa nova perspectiva de Gestão dos serviços públicos uma categoria central é

posta em relevo: a accountability. Essa categoria estava inicialmente relacionada às novas

demandas da sociedade democrática: a sociedade se viu pressionada a manter estreita

vigilância no que se refere aos governantes escolhidos para representar a população, estes por

sua vez teriam por obrigação prestar contas das suas ações e dar retornos aos cidadãos que os

escolheram. O desafio era de desenvolver formas e instrumentos de accountability, isto é,

processos de avaliação e responsabilização permanentes que permitam ao cidadão controlar o

exercício do poder concedido aos seus representantes. (ROCHA, 2011)

Schedler (1999) afirma que os cientistas políticos têm se preocupado em saber como

manter o poder de forma controlada, evitando abusos, submetendo-o a determinados

procedimentos. Para ele a accountability ―tornou-se o termo da moda‖ por estar associada a

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preocupação contínua com a vigilância em relação ao poder e suas consequentes ―restrições

institucionais‖ em relação ao seu exercício e desenvolvimento.

Esse plano de ação da accountability tem origem nas proposições de O‘Donnell (1998)

que divide o termo em accountability vertical e horizontal. Na primeira é garantida a

sociedade o seu poder de premiar ou punir seus governantes a partir da sua possibilidade de

manutenção ou retirada do poder por intermédio do voto. Já a accountability horizontal se

efetiva a partir da mútua fiscalização entre os poderes (checks and balances), por meio de

órgãos governamentais que controlam a atividade pública. (ROCHA, 2011)

Para o autor, as concepções de accountability podem ser agrupadas em três planos: o

hierárquico, que se consolida mediante controle da conformidade às leis e às normas

procedimentais; o das regras de mercado, que apresenta como foco o controle dos resultados,

sendo esse expresso pela obtenção da máxima produtividade dos recursos públicos pautado

pelos conceitos de eficiência e eficácia/efetividade; e o dos valores democráticos, que enfatiza

a complexidade da atuação do servidor público, sugerindo assim, uma reconceituação do seu

papel, ―na qual sobressaem as questões relativas à responsividade, ao desempenho

responsável, à postura ética, à defesa do interesse público e à ação comprometida com os

princípios democráticos‖. (ROCHA, 2011, p. 93)

O autor segue explicando que, com a construção do cenário que apresenta o Estado

Regulador e Avaliador como pano de fundo, a accountability, abandona uma visão

fundamentalmente pública para associar-se também a uma visão privada, se caracterizando,

nessa perspectiva, por uma visão tipicamente de mercado, ganhando, o termo, nova roupagem

e aplicabilidade. No mercado, os resultados funcionam como elementos que dinamizam e

direcionam a empresa.

Sobre essa questão, Afonso (2014) apoiado nas ideias de Stobart (2010), chama

atenção para a necessidade de avançar no sentido de pensar um modelo de accountability que

supere o que está posto no momento e que tem tensionado as instituições e responsabilizado

seus sujeitos com o intuito de alcançar resultados com pouco recurso e em menos tempo.

[...] não há nenhuma razão para não pensarmos e escrevermos no sentido de

contribuir para resgatar criticamente a problemática da accountabilty,

enclausurada atualmente nas lógicas do pensamento único, neoconservador e

neoliberal. Torna-se necessário, por isso, mostrar que há outras alternativas

que podem e devem ser reflexivamente consideradas e postas em prática,

sobretudo por terem maior densidade teórico-concetual e/ou pertinência

política e educacional. [...]Stobart (2010), por exemplo, propõe o que

designa de ―accountability inteligente‖. Trata-se de uma forma de prestação

de contas e de responsabilização fundamentada em valores, promotora de

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confiança nos professores e nas escolas, mais construtiva do que a dos

modelos atuais (cuja dominância é negativamente sancionatória), e que se

baseia não exclusivamente em exames externos, mas em procedimentos e

instrumentos de avaliação múltiplos, mais sofisticados e diversificados.

(p.477)

O autor segue chamando atenção ainda para a necessidade de os objetivos ou metas

educacionais se tornarem mais realistas, evitando a ambição pragmática e imediatista

impostas pelo governo, desconsiderando ou desconhecendo condições, tempos,

possibilidades, constrangimentos, recursos materiais, escolas, professores e comunidades

educativas existentes. Deve ser, portanto, um modelo de accountability que respeita margens

importantes de autonomia dos sujeitos e das instituições, que pressupõe um tempo mais longo

para propiciar as mudanças e verificar os seus resultados, incluindo todos os grupos sociais de

alunos.

A forma como essa questão tem se materializado nas escolas será explorada no

decorrer desse estudo. No campo educacional, a agenda neoliberal, bem como seus

consequentes elementos, são gradativamente inseridos por organismos internacionais, ainda

na década de 1980, que concebem programas de ―avaliações dos sistemas de ensino e de

projetos de reformas em diversos países da América Latina‖ (WARDE, 1993, p. 11). Esta

discussão tem focalizado a questão da eficiência do Estado na condução do sistema escolar e

em sua capacidade de resposta às demandas educativas.

Um dos pilares basilares dessas reformas tem sido a consolidação e expansão de

mecanismos de avaliação em larga escala, estratégias de ação dos governos para empreender

mudanças no setor. Diante da centralidade das avaliações como instrumento que tem sido

associado à qualidade educacional, pesquisadores do campo explicam que estamos

vivenciando uma nova concepção de Estado, denominada Estado Avaliador (AFONSO,

2009b; FREITAS, 2005; NEAVE, 2001). Essa expressão significa, em um sentido

abrangente, que o Estado tem se apoiado na ―lógica do mercado, através da importação para o

domínio público de modelos de gestão privada, com ênfase no resultado e nos produtos dos

sistemas educativos‖ (AFONSO, 2009b, p. 49). Para o autor, essa questão coloca em relevo

um novo ―darwinismo social‖4, que, a partir da avaliação, promove reformas na administração

pública, fato que tem se desenhado mais fortemente nas últimas décadas.

4 O Darwinismo Social é um pensamento sociológico que surgiu no final do século XIX, que tentava explicar a

evolução da sociedade humana se baseando na teoria da evolução proposta por Charles Darwin. Para essa teoria,

existiriam sociedades humanas superiores a outras, devendo estas, dominar as outras e ajudá-las/direcioná-las no

seu desenvolvimento.

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Essas transformações impactaram no setor da educação a partir da defesa da adesão,

por parte das escolas, de processos de avaliação, prestação de contas e responsabilização

(accountability). O Estado passa, então, a acompanhar e avaliar os resultados obtidos através

das avaliações em larga escala, desencadeando competição, entre redes e escolas.

Assim como no campo econômico, as reformas no âmbito educacional tiveram

associação com as leis do mercado. Os conceitos de competitividade, qualidade, eficiência e

eficácia foram transportados da iniciativa privada para a educação pública. A educação passou

a ser direcionada por leis que configuram o que Afonso (1999) tem chamado de ―quase-

mercado educacional‖ (p.115), repercutindo na diluição de limites entre o setor público e o

privado.

Sobre a expressão ―quase-mercado‖ no campo da educação, Afonso (1999) explica

que as ações desenvolvidas nos últimos anos são consideradas de mercado ―porque

substituem o monopólio dos fornecedores do Estado por uma diversidade de fornecedores

independentes e competitivos‖. Por outro lado, são quase ―porque diferem dos mercados

convencionais em aspectos importantes‖. Um desses aspectos é que, apesar de o cliente ser

elemento central, as instituições educativas públicas não apresentam como objetivo o lucro,

além disso, ―o poder de compra dos consumidores não é necessariamente expresso em termos

monetários e, em alguns casos, os consumidores delegam a certos agentes a sua representação

no mercado‖ (p.115).

É nesse cenário que a expressão Estado Avaliador é posto em relevo e, a partir dessa

perspectiva, os países adotam instrumentos específicos para acompanhar o desempenho das

suas escolas com ―a finalidade de reorientar políticas públicas‖ (FREITAS, 2011b, p.47). É

importante situar ainda o início da utilização do conceito de Estado-Avaliador na literatura em

políticas educacionais.

Neave utilizou a expressão the rise of the evaluative state pela primeira vez no ano de

1988 em um artigo publicado na European Journal of Education - Research, Development

and Policy. O termo, para ele, estava associado a ―ascensão do estado avaliador‖, segundo o

autor, essa expressão diz respeito à racionalização e uma redistribuição geral das funções

entre o centro e a periferia, assim sendo, o centro conservaria o controle global através de

mecanismos políticos menores em número, no entanto mais precisos, constituídos pela

definição de metas para o sistema e processos de controle de qualidade do produto. Nesse

sentido, a avaliação tem sido utilizada para distribuir os recursos humanos e financeiros entre

as instituições que oferecem um serviço. (NEAVE, 2001)

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Segundo o autor, o conceito está relacionado a um modelo de gestão norteado por

resultados, atingidos pela instituição que vai ser beneficiária dos recursos financeiros. Nesse

sentido, o Estado Avaliador não desprende esforço na direção dos processos pedagógicos,

mas nos resultados destes.

Elliot (2002) ampliou essas reflexões sobre o Estado Avaliador, direcionando olhares

para a Inglaterra e seu processo de transformação do Estado. Segundo o autor, o Estado se

deslocava progressivamente da sua função de promotor principal de serviços públicos para se

materializar como ente regulador do mercado. Isso significa ―o abandono do conceito de

educação como bem público, necessário para o desenvolvimento e a perpetuação de uma

ordem social justa e democrática‖. Nesse processo, as escolas passam a ser entendidas como

prestadoras de serviços, e os alunos e suas famílias são transformados em consumidores. O

autor segue explicando que a relação entre o Estado e essas instituições pauta-se no princípio

da ―responsabilidade contratual‖, criando setores responsáveis pelos procedimentos de

auditoria e avaliação externa. (p.59)

A construção desse cenário tem a ver, portanto, com o fortalecimento da perspectiva

neoliberal, associada a medidas de ajuste às da iniciativa privada e estratégias de controle e

responsabilização dos resultados atingidos pelos sistemas educacionais no âmbito nacional,

estadual e municipal.

Afonso (2013) explica que existem três fases na adoção de sistemas de avaliação no

campo da educação. Embora distintos, o autor esclarece que podem existir, ao mesmo tempo,

mais de um desses estágios no momento atual. A primeira fase se desenha na década de 1980.

Essa fase é marcada pela associação entre a ideologia neoliberal, as políticas avaliativas e a

accountability. É nesse momento também que se expande os novos e mais sofisticados

mecanismos de avaliação em larga escala no contexto nacional, além de se introduzir

―mecanismos de accountability baseados em testes estandardizados de alto impacto e em

rankings escolares, indutores de formas autoritárias de prestação de contas e de

responsabilização das instituições‖ (p.272).

A segunda fase, de acordo com o autor, diz respeito à adesão de provas

estandardizadas de âmbito internacional no interior dos países. Esse estágio é caracterizado

pela ―construção de um sistema de indicadores e de avaliação comparada internacional em

larga escala protagonizada‖ em boa medida pela ―presença crescente e incontornável‖ de

organizações internacionais envolvidas na formulação de políticas educacionais nacionais.

(AFONSO, 2013, p. 274)

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Essa fase se materializou de forma mais intensa nos anos de 1990, momento em que a

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou a influenciar

de forma mais ativa o campo das avaliações internacionais o que impulsionou no âmbito dos

países, uma ―aparente consensualidade legitimadora da eficácia da avaliação‖. (AFONSO,

2008, p.14)

Atualmente, as escolas recebem uma gama de avaliações todos os anos, além das

iniciativas nacionais e estaduais, parcela das redes municipais também já criou seu próprio

sistema de avaliação. Na visão de Barroso (2003), esse contexto não é resultado apenas ―da

nova conjuntura política, mas principalmente de um contexto internacional favorável a este

tipo de regulação‖ (p. 83).

Afonso (2013) explica que, com a segunda fase do Estado Avaliador se consolidando,

culminou-se, portanto, com uma ―retração crescente da autonomia relativa do Estado-nação e

maior protagonismo de instâncias internacionais e transnacionais‖ (p.278). É importante

chamar atenção ainda, para o fato de que, embora essas políticas internacionais cheguem as

escolas, estas são submetidas aos processos de reinterpretação e ressignificação no contexto

da prática, por esse motivos, observa-se um esforço cada vez maior, por parte de organismos

multilaterais, no sentido de investir na divulgação de ―boas práticas‖, com o argumento de

melhorar a qualidade dos governos e dos sistemas educativos, com o intuito de construir certo

consenso no uso das avaliações. (BOWE, BALL 1992)

Corroborando com essa ideia, Nóvoa (2010) explica que os organismos internacionais

têm se utilizado do prestígio que apresentam para desenvolver ―pontos de referência‖ e

―práticas de comparação‖ como ―forma principal da política‖. (p. 35)

Para Afonso (2013), a crescente expansão das avaliações em larga escala sinaliza o

surgimento de uma terceira fase: o ―pós Estado-avaliador‖. Está fase seria marcada ―pelos

processos de transnacionalização da prática avaliativa‖. Ainda apresentando características

―fluidas e incertas‖, essa terceira fase estaria associada ao impacto de formas de avaliação

comparada, especialmente em ―países periféricos e semiperiféricos‖ que, ―seduzidos por

ímpetos de progresso (ou de desenvolvimento)‖ (AFONSO, 2013, p. 276), estariam seguindo

exemplo de países mais desenvolvidos com o intuito de empreender reformas educacionais.

O autor explica que ―o que está em curso é uma estratégia de exacerbação e

diversificação de lógicas neoliberais de transnacionalização da educação, com ênfase na

privatização, mercadorização e mercantilização‖. (p. 276) A comparação acaba se

constituindo como um elemento determinante no que se refere à regulação educacional. As

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formas de avaliação em larga escala, já presentes no modelo de Estado-avaliador, estariam

ainda mais acentuadas no terceiro estágio descrito pelo autor em questão.

Corroborando com autores como Afonso (1999; 2009a; 2013) e Freitas (2005, 2011a),

dentre outros, entendemos que esse novo papel assumido pelo Estado para o direcionamento

de políticas educacionais induz à padronização, à competição e à seleção. Essas

consequências tendem a tornar mais distantes a melhoria da qualidade.

As políticas de avaliação em larga escala se materializam como um mecanismo

eficiente para a regulação do processo de reestruturação da função do Estado no que se refere

à educação. De fato, a avaliação das políticas em educação não se configura como uma

iniciativa recente, uma novidade, porém, é a centralidade associada à avaliação na

contemporaneidade que responde às características da lógica neoliberal, com a retirada parcial

das responsabilidades do Estado e o incentivo à competitividade no mercado.

Nesse cenário, o conhecimento passa a ser entendido como fator coresponsável pelo

desenvolvimento econômico do país. Através da avaliação, a proposta seria a de reorientar as

práticas desenvolvidas pelas escolas, as quais tentam dar respostas às novas lógicas postas em

relevo. Diante desse contexto mundial, as preocupações em relação aos impactos sociais e

educacionais do Estado Avaliador no Brasil passaram a ser foco de diversos estudos, situação

que será abordada no próximo tópico.

2.2 Estado-avaliador: a experiência brasileira

O Brasil Colônia apresentou como característica o modelo agrário exportador

dependente, constituindo ―economia pré-capitalista‖, sob o domínio do senhor de engenho,

que ―reeditava a tradição medieval‖, desenhando um cenário em que o Estado e suas leis

permaneceram marginais. Desse modo, ainda que o Estado nacional, instituído no contexto do

Brasil independente, seja ―textualmente apresentado com fundamentos liberais‖, ele foi

marcado por práticas que o caracterizavam como ―instrumento da dominação

patrimonialista‖. (ANDRADE; GOMES, 2012, p. 134)

Os autores seguem explicando que com a Independência do Brasil legitima-se a

criação de um Estado nacional com o intuito de impulsionar

[...] a dominação do senhor rural no campo econômico, sendo que, sem tal

emergência da organização político-administrativa, tornar-se-ia impraticável

resguardar-se dos efeitos nocivos inerentes às relações econômicas no

âmbito da Colônia, sob o crivo da dependência. O aparelhamento do Estado,

assim, significou a constituição de uma estrutura necessária para o

enfrentamento das adversidades impostas pelo mercado, incluindo a

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definição de regras e a organização de espaços decisórios, com função

regulatória, para que os senhores rurais pudessem mobilizá-los,

estrategicamente, em seu favor. O sentido com que o princípio da autonomia

da nação foi incorporado às práticas sociais explicita a necessidade de

desenvolver suportes econômicos protecionistas, que, ao passo que justifica

a existência de práticas de dominação patrimonialista, também garante sua

perpetuação. Aliás, uma conformação administrativa que atendia a esse

cunho político também foi materializada na forma unitarista adotada pelo

país no ―pós-Independência‖, em que se instituiu um governo central com

amplos poderes sobre as províncias e as municipalidades, ainda que esse

formato não significasse a pretensão de homogeneidades constitutivas da

nação. (ANDRADE; GOMES, 2012, p. 136)

Durante o Império, a configuração estatal estava associada a um poder central

exercido pelo imperador sob a organização das províncias. Essa centralidade de decisão

durante o Império gradativamente abre espaço para as oligarquias estaduais, o que significou

a manutenção dos interesses da elite agrária ainda que em uma nova fase. A esta última deu-se

o título de República Velha.

Com a Revolução de 1930, o cenário começa a sofrer alteração, conforme analisa

Azevedo (2003, p. 90), ―o rompimento institucional representou a perda do monopólio

político das oligarquias tradicionais e a incorporação de novos atores sociais, como os

segmentos médios urbanos e o emergente setor empresarial‖.

A partir do primeiro governo Vargas, o processo de industrialização do país é posto

em relevo, dando origem a mecanismos de proteção de setores da economia nacional e

investimentos na construção de uma burocracia estatal com novas características para regular

a economia brasileira. A criação de empresas estatais para impulsionar o desenvolvimento

industrial também ganha destaque. Surge nesse quadro uma série de órgãos federais para gerir

a economia e setores especializados para a regulação de segmentos específicos da economia.

Esse cenário impulsiona a adoção de novas técnicas administrativas de regulação da

economia para criação e acumulação de capital produtivo, além de coordenação dos

investimentos por meio de empresas estatais e privadas. Sobre o contexto em questão,

Andrade e Gomes (2012) explicam que

Com todos os limites e condicionantes que podem ser creditados à Era

Vargas, o processo nela/por ela desencadeado impactou quase todo o século

XX. As fases que reúnem fatos históricos marcantes desse período, iniciando

pela ditadura Vargas (1937-1944), pela hegemonia populista (1945-1964),

pelo regime militar (1964-1985) e pela redemocratização (1985-),

demonstram processos de reestruturação do Estado, verificando-se,

especialmente no Estado Novo, tendências de centralização por meio do

estabelecimento de formas institucionais de controle das diferentes

oligarquias regionais. (p.136)

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Dado esse cenário, percebe-se que o desenvolvimento ocorreu centrado,

essencialmente, no Estado e, consequentemente, na forma como este pensou e organizou o

desenvolvimento econômico por meio da parceria entre capital estatal e privado. Assim, os

autores chamam atenção para a necessidade de considerarmos o formato em que o Estado

brasileiro foi gestado e os diferentes modos como sua ação foi pensada, estas foram

desenhadas, por ―ciclos de centralização e descentralização‖, situação que desencadeou

formas diferenciadas de atendimento à demanda educacional, o que acaba por justificar a

relação entre a concepção/lógica de ação do Estado e a interpretação/ avaliação do contexto

educacional brasileiro.

Diante dessas novas configurações, a emergência de formas de regulação ganha

destaque. O caso Brasileiro se materializa de forma diferente daqueles visualizados nos

Estados Unidos e Europa, em que, na passagem do Estado liberal para o Estado regulador, nos

primeiros houve disputa entre os grupos sociais resultando assim numa forma particular de

organização da burocracia do Estado, já no Brasil, por outro lado, o singelo conflito social não

se materializou como obstáculo. A luta/disputa de poder se restringiu aos grupos que

detinham acesso aos canais de circulação de poder político e controle da máquina do Estado.

(MATTOS, 2006)

Segundo Evans (1979), o Estado regulador brasileiro nasce e se desenvolve associado

a regimes autoritários, exemplo desse fato seria o período histórico marcado pela ditadura

militar, período caracterizado pela supressão dos direitos políticos. Outra característica

mencionada pelo autor foi a concentração dos canais de circulação de poder político na figura

do presidente da República, tornando-se o responsável pelas políticas executadas pelos órgãos

e empresas estatais.

Para Evans (1979), esse cenário reforçou no país a dependência econômica e a

exclusão social. Isso porque as políticas públicas, definidas de forma hierárquica, eram

resultado das relações de poder entre as elites locais e multinacionais, e beneficiaram esses

grupos em detrimento das classes historicamente excluídas.

Os anos que se seguem são marcados pela criação de agências reguladoras

independentes, privatizações de empresas estatais, fortalecimento de processo de

terceirizações e pela regulação da economia segundo técnicas administrativas de correção de

"falhas de mercado", em substituição a políticas de planejamento industrial representou uma

clara descentralização do poder do presidente e de seus ministros, ao mesmo tempo em que se

tentaram criar novos mecanismos de participação de diferentes setores da sociedade civil com

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viés democrático, originando uma nova fase do Estado Regulador no Brasil. (MATTOS,

2006)

Na primeira fase do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) nasce a

reforma do modelo de administração pública voltado para gestão pautada nas características

gerenciais como resposta estatal à política econômica global. O modelo gerencial, como já

mencionado no tópico anterior, se materializa como contraproposta ao modelo de

administração pública burocrática que inicialmente foi adotada com o intuito de romper,

superar, à administração patrimonial.

Para responder às exigências dessa nova ordem em acessão, o Estado acaba por se

apoiar na racionalização. De acordo com Secchi (2009)

A preocupação com a eficiência organizacional é central no modelo

burocrático. Por um lado, os valores de eficiência econômica impõem a

alocação racional dos recursos, que na teoria weberiana é traduzida em uma

preocupação especial com a alocação racional das pessoas dentro da

estrutura organizacional. Por outro lado, o valor da eficiência administrativa

induz à obediência às prescrições formais das tarefas, em outras palavras,

preocupações do ―como as coisas são feitas‖. (p.5)

Com base nesse movimento ideológico, no Brasil, a partir da década de 1990, o

Estado, ao buscar sintonia com o mundo globalizado, instituiu estratégias no campo da

educação, encontrando como alternativa, se materializar como avaliador. Com FHC o Estado

deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social para se

consolidar como regulador desse desenvolvimento. Com a proposta de universalização do

ensino fundamental, projetos de avaliação institucional para acompanhamento desse acesso e

busca da qualidade ganham destaque. Dias Sobrinho (1999) diz que, nesse contexto, a

avaliação é instrumento utilizado como forma de garantir as reformas neoliberais no âmbito

da educação.

As ―novas funções do Estado‖ decorrente do cenário apresentado no tópico anterior e

estendido nesse tópico a partir da perspectiva brasileira, envolvem desde a realização de

pequenas reformas políticas até a formulação de uma nova organização social. Nesse

contexto, ―a educação brasileira passa por um momento de efervescência. Medidas

implementadas por meio de Decretos-lei passaram a modificar a organização da educação no

país‖. No que tange à implantação das reformas, o Banco Mundial destaca a necessidade de

encorajar nos países periféricos, o ―fortalecimento de instituições de governança‖, de apoio à

iniciativa privada e à reforma do ―mercado de trabalho‖, com o propósito de garantir seu

―crescimento sustentável‖ de longo prazo. (SINGH, 2005, p.2).

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Entre as reformas empreendidas, destaca-se a cultura de resultados que passaram a

permear as ações educacionais. Esta tende a provocar mudanças no ensino público a partir da

inserção de incentivos e prêmios oferecidos por fundações. No Brasil, atualmente, há vários

tipos de prêmios concedidos às chamadas ―boas práticas educativas‖.

No Brasil, o uso de ―testes padronizados, de aplicação externa, com foco nos

estudantes, nas escolas, nas redes e ou nos sistemas de ensino‖ ocorreu, pela primeira vez em

1976, por iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior

(CAPES). O objetivo na época seria o de avaliar os professores que atuam no ensino superior

(DURLI; SCHNEIDER, 2011, p. 172).

Apoiados na justificativa de que o país ―carecia de informações sobre o processo de

ensino e o impacto das políticas educacionais‖ (OLIVEIRA, 2012a, p.150), o Sistema

Nacional de Avaliação começa a ser gestado alguns anos depois da primeira experiência

mencionada. Tinha inicio, com isso, uma nova fase na gestão pública no Brasil voltada para o

controle institucional, corte de gastos e ao aumento da eficiência da prestação de serviços.

Oliveira (2012) segue explicando que essa nova fase teria o sistema de avaliação como ―base

da regulação empreendida pelo Estado-avaliador‖ no país (p.150).

O SAEB nasce na década de 1990, e se desenha como exemplo da imersão do Brasil

na lógica do Estado-avaliador. O SAEB abriu espaço para a realização de avaliações que

passaram a fornecer informações, dados que se configuraram como instrumento para o

aprimoramento das políticas educacionais conforme modelo adotado em países mais

avançados.

Corroborando com os pressupostos de Estado que se materializa com base na

regulação e avaliação, iniciativas de avaliação da Educação Básica foram desenvolvidas por

estados e municípios brasileiros ao longo da década de 1990, algumas delas precursoras do

SAEB, exemplo do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará, criado

em 1992, fato que será aprofundado no próximo capítulo.

Uma vez que os cenários internacional e nacional foram aqui apresentados, nos

propomos a discutir no próximo tópico a repercussão desses cenários no processo de

construção da experiência cearense.

2.3 Repercussões do cenário nacional: os desdobramentos cearenses

O Ceará foi marcado, historicamente, por elementos de uma cultura clientelista e

coronelistista. Segundo Farias (1997), foi a partir do Projeto de Mudanças do governador

Tasso Jereissati, no ano de 1987, que houve um processo de distanciamento da ―administração

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pública em relação às antigas lideranças oligárquicas‖, embora ainda que de forma sensível.

Percebeu-se uma continuidade política nas gestões que assumiram após sua saída, porém,

―embora tenha havido crescimento econômico, este não significou melhoria substancial na

qualidade de vida da maioria dos cearenses‖. (Banco Mundial, 2003, p. 15-16).

Apesar das limitações mencionadas, as medidas dos governos, desde 1987, voltaram-

se para a busca de resultados. Em 2001, o Governo do Estado do Ceará, por meio da

Secretaria da Educação Básica (SEDUC), em parceria com a Fundação Brava5 e o Instituto de

Desenvolvimento Gerencial (INDG)6, implementou uma experiência no campo da gestão

escolar, denominado Programa de Modernização e Melhoria da Educação Básica. O foco era

a melhoria dos indicadores educacionais.

O programa mencionado disponibilizava aos gestores ferramentas de gestão, com o

objetivo de contribuir para a construção de bases necessárias para a realização do

gerenciamento do ensino e aprendizagem, entendido como a execução do projeto pedagógico

da escola7. Esse programa foi desenvolvido em duas vertentes: 1) Proposta Pedagógica que

objetivava a melhoria dos indicadores de desempenho; 2) Programa 5S que se materializava

apoiado em cinco sensos: ―utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina‖, visando

uma maior organização, ―economia de tempo, dinheiro, materiais e melhor utilização dos

talentos humanos, além da saúde física, mental e ambiental‖, otimizando assim, a gestão

escolar nas ―áreas patrimonial, recursos humanos, físicos e financeiros‖. Considera-se ainda,

nessa vertente, o estabelecimento de metas para a conservação do patrimônio físico e redução

das despesas, evitando os desperdícios e elaborando um plano de ação anual (VIDAL et al,

2005, p. 20).

O programa apresentava como foco o gerenciamento do ensino e aprendizagem com o

intuito de melhorar os indicadores educacionais, garantindo o desenvolvimento de

competências e habilidades previstas na proposta curricular da escola, dos Parâmetros

Curriculares Nacionais e Referenciais Curriculares Básicos do Ceará. Entendendo que as

escolas utilizavam repetitivamente diferentes ferramentas, instrumentos e procedimentos de

gestão, a SEDUC, com apoio das duas instituições parceiras mencionadas, propôs um único

5 A Fundação Brava foi a instituição que financiou o Programa de Modernização e Melhoria da Educação Básica

do Ceará mediante contratação de consultores. 6 O Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG) foi o órgão contratado pela Fundação Brava para prestar

consultoria e apoio técnico a Seduc, Crede e escolas. 7 Iniciado com um grupo piloto de 23 escolas, em 2003, o programa foi reestruturado e passou a ser disseminado

em 703 unidades escolares que eram sistematicamente acompanhadas pelas equipes da Seduc/Crede e INDG até

2006.

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instrumento de planejamento e gestão de resultados: a Gestão Integrada da Escola (GIDE)8,

que direcionava e incentivava a escola a se responsabilizar pela promoção do sucesso de seus

alunos9.

A GIDE elegeu como metas pedagógicas o ―aumento da aprovação e redução do

abandono, a melhoria dos indicadores do SPAECE e aumento da aprovação em exames

vestibulares e/ou concursos públicos‖ (CEARÁ, 2005, p. 18). Além dessa ferramenta de

gestão, as escolas públicas da rede dispunham do Sistema de Acompanhamento do

Desempenho e da Rotina Escolar (SADRE) que possibilitava a interação on-line de todas as

escolas com a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE) e a

SEDUC.

Foi nesse cenário que iniciou-se a implantação da Gestão por Resultados no Ceará

(GPR) legitimada no Plano de Governo de 2003-2006, denominado Ceará Cidadania,

Crescimento com Inclusão Social, do Governador Lúcio Alcântara. Sobre essa questão da

Gestão por Resultados ou Result Based Management (RBM), oriunda do Canadá, é um

modelo de administração governamental que utiliza instrumentos e práticas de planejamento,

com o intuito de implementar processo de monitoramento e avaliação, bem como

operacionalização de suas ações com o objetivo de subsidiar o alcance das metas e resultados

desejados. (HOLANDA; ROSA, 2004)

De acordo com Aucoin (1995), Result-Based Management (RBM) ou Gestão por

Resultados (GPR), está associada a implantação de uma ―nova prática focada na maior

eficiência e eficácia do uso do recurso público e a maior responsabilização dos gestores

públicos nas prestações de contas do uso dos recursos públicos‖. Para Holanda e Rosa (2004),

―GPR é um modelo em que o setor público passa a adotar uma postura empreendedora,

voltada para o cidadão como cliente e buscando padrões ótimos de eficiência, eficácia e

efetividade, com ética e transparência.― (p.6-7)

Ainda para os autores, o modelo dá ênfase nos impactos e benefícios sobre a vida da

sociedade, rompendo com os aspectos burocráticos e operacionais da gestão tradicional. O

8 A Gestão Integrada da Escola (GIDE) foi uma decorrência do processo de formulação estratégica da Seduc

com o objetivo de melhorar a comunicação entre a Seduc/Crede/Escola com foco na escola. Visava também

evitar a sobreposição de instrumentos de gestão e o retrabalho na Comunidade com a adoção de um único

instrumento de gestão focado em resultados. O trabalho foi desenvolvido a partir de uma análise minuciosa do

Projeto Político Pedagógico (PPP), do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) e das ferramentas disponíveis

no Programa de Modernização e Melhoria da Educação Básica (PMMEB) que conviviam simultaneamente nas

escolas cearenses, provocando expressiva insatisfação por parte dos gestores pelo fato de ter que elaborar três

documentos distintos. Para maiores informações, ver Ceará (2006). 9 Esse instrumento foi disponibilizado para os gestores escolares eleitos para exercício entre 2005 – 2008.

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intuito é a criação de uma cultura de desempenho de excelência em todos os níveis da

administração do Estado.

Conforme Ulrich (1999), a GPR significa decidir a partir do que foi aprendido com o

caminho e resultados anteriores. Envolve também bom planejamento diante dos recursos

disponíveis, melhorando os programas e serviços, sendo responsável e prestando contas aos

cidadãos e aos parceiros.

Para Meyer (2003), ―os inputs são necessários para a produção de produtos (outputs)

que, por sua vez, ensejam efeito de médio prazo (outcomes)‖ que levam a impactos ou

resultados de longo prazo. Este encadeamento de eventos é chamando de ―cadeia de

resultados, uma sequencia causal para estimular o alcance de um objetivo desejado‖. A gestão

por resultados também se configura como uma consequência, ―uma ramificação do Estado

Avaliador‖. (p. 7)

O Governo Lúcio Alcântara (2003-2006) buscou racionalizar o recurso público,

fazendo mais com menos. As estratégias utilizadas foram três: A primeira diz respeito a

―adoção de medidas para o equilíbrio fiscal com estratégias para a elevação das receitas

próprias e, para a redução ainda mais das despesas correntes‖ (HOLANDA; PETTERINI;

BARBOSA, 2006, p. 26-32). A segunda se refere a busca por uma reorganização e

modernização da estrutura administrativa, instituindo: i) ―a Secretaria da Controladoria –

SECON‖ com o intuito de racionalizar e controlar a aplicação dos recursos públicos; ii) ―um

novo modelo de gestão centrado em eixos de atuação‖; iii) ―a criação do Comitê de Gestão

por Resultados e Gestão Fiscal (COGERF), que buscou sedimentar o Modelo da Gestão por

Resultados no Ceará‖. (HOLANDA, MEDEIROS, MACHADO NETO, 2006, p.117).

A terceira estava associada às operações de crédito com agências multilaterais,

―mesmo estando com suas despesas correntes sob controle, a situação era agravada pelo

cronograma de amortizações do serviço de sua dívida, fortemente concentrado nos cinco anos

seguintes‖ (HOLANDA, MEDEIROS, MACHADO NETO, 2006, p.117). Em 2005, o Ceará,

recebeu assistência técnica na implantação de uma política da Gestão por Resultados no

estado. Este foi um mecanismo que alavancou a concepção da GPR.

O ciclo do modelo de GPR adotado no Ceará resumiu-se em três etapas básicas:

―planejamento, implementação, e monitoramento e avaliação‖. A etapa do planejamento foi a

fase que teve duas instâncias: a) A primeira foi a ―definição dos Resultados Estratégicos de

Governo, e o estabelecimento de metas e de seus indicadores, por eixo de atuação do Plano de

Governo‖. Nessa fase, foram estudados os principais Resultados de Governo, que representam

os ―compromissos maiores que o Governo assume com a população a partir dos quais, ele, o

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Governo, poderá ser cobrado‖ e indicadores cujo acompanhamento de sua evolução ―sinaliza

se as políticas governamentais implementadas estão gerando resultados desejáveis.‖ (ROSA et

al, 2006, p.61-67).

Para a concretização dessa etapa foi elaborado o marco lógico do plano de governo,

que foi estruturado em quatro eixos: i) Ceará Empreendedor; ii) Ceará Vida melhor; iii) Ceará

Integração; e iv) Ceará a Serviço do Cidadão. Cada um destes eixos agrupou os resultados

estratégicos do Governo, com os respectivos indicadores de acompanhamento e avaliação.

Para Holanda e Rosa (2004) a segunda instância ocorreu a partir de 2005, momento

em que os planos estratégicos das Secretarias de Estado estavam em processo de elaboração.

A participação ganhou foco durante essa etapa, já que estavam todas as secretarias envolvidas.

Em 2006 e 2007, foram realizados cursos de capacitação de todos os servidores diretamente

ligados às áreas de planejamento de cada secretaria estadual e órgãos afins. Essas foram

―expostas aos conceitos de GPR e seu marco lógico‖. Foi também o ―momento de avaliar a

quantidade e a qualidade dos recursos, bem como a estrutura gerencial, tendo em vista

conduzir o processo de realização do produto da forma mais eficiente e eficaz.‖ (p. 8).

A terceira etapa constituiu-se em Monitoramento e Avaliação. Segundo Holanda e

Rosa (2004), esta fase representa ―um conjunto de atividades que gera o aprendizado para a

melhoria atual e futura de critérios de alocação de recursos.‖ A razão destas atividades é o

acompanhamento, pelo gestor, das metas, resultados e impactos alcançados. Em relação ao

monitoramento, a partir de 2006 o Governo avançou no acompanhamento dos órgãos através

da inclusão obrigatória, pela SECON, de ―um capítulo de análise do Desempenho da Gestão

por Resultados, nos relatórios de prestações de contas anuais ao Tribunal de Contas do

Estado‖. (p.14)

A partir de 2007 novas iniciativas pedagógicas foram desenvolvidas e a gestão por

resultados foi fortalecida com o Governo Cid Gomes (2007-2014) que assume o Estado com o

Plano de Governo O grande Salto que o Ceará Merece. Por meio da Lei nº 13.875, de 07 de

fevereiro de 2007, define seu modelo de governar, ―Gestão por Resultados como

administração voltada para o cidadão, centrada notadamente nas áreas finalísticas,

objetivando padrões ótimos de eficiência, eficácia e efetividade‖. E, este modelo visa à

concretização de uma ―gestão pública empreendedora, inovadora, ética, transparente e voltada

para resultados.‖ (CEARÁ, 2007, p. 74).

Em 2008, uma nova experiência de gestão escolar se materializa na rede estadual do

Ceará, dirigida para as escolas de educação profissional que estavam sendo inauguradas, esse

modelo de gestão tem seus fundamentos no documento intitulado Tecnologia Empresarial

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Socioeducacional (TESE), que por sua vez, constitui-se em um instrumento de apoio à gestão

produzido pelo Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE)10

, adotado nos Centros

de Ensino Experimental de Pernambuco e a partir de 2004 no Centro de Ensino Experimental

Ginásio Pernambucano, em Recife e que foi adaptado da Tecnologia Empresarial Odebrecht

(TEO) para aplicação na educação pública de nível médio (LINHARES (2015); LIMA,

(2014); MAGALHÃES, (2008)).

Segundo Lima (2014), a TESE incorpora conceitos e princípios propostos pelo

Relatório Delors de 1996 e visa à geração de resultados e a formação de um ciclo virtuoso,

que servirá de realimentação de todo o processo educacional. A escolha por esse modelo de

gestão pretende ―dar suporte para que a escola modifique seus processos em prol da qualidade

da prática educativa, priorizando essa vertente como um dos elementos estratégicos da gestão

escolar socialmente responsável‖ (CEARÁ, 2010, p.5).

Nas escolas cearenses, esses modelos de gestão com foco nos resultados, se expressa

através da adesão à cultura avaliativa proposta pelo Estado Avaliador. Ainda nos anos 1990 o

estado avança no sentido de propor avaliações próprias, entretanto são nos anos 2000 que

podemos observar seus reflexos.

Alavarse, Bravo e Machado (2012) em estudo pertinente ao tema, revelam-nos dados

importantes: dos 27 estados da federação, 18 já implantaram avaliações próprias, sendo que

desses, 13 foram implementadas na década de 2000. Os autores afirmam que ―[...] essas

iniciativas foram efetuadas na esteira do fortalecimento da avaliação como diretriz da política

educacional no governo federal tanto no que se refere ao tempo histórico, como também à

forma constituinte dos sistemas‖ (p. 6-7). Essa questão será mais aprofundada no próximo

capítulo

De acordo com Machado (2012) as avaliações desenvolvidas pelos governos estaduais

estão ―obtendo um lugar privilegiado na relação com as escolas e com a gestão das mesmas‖

por se localizarem geograficamente mais próximas que o governo federal. Porém, os autores

ponderam que essa proximidade pode, também, provocar situações que abalam o clima

positivo do processo, como iniciativas de burla dos resultados e insegurança no fornecimento

das informações e dados confidenciais.

Convém salientar, como modo de concluir este capítulo, que buscamos apresentar os

pontos principais da política educacional brasileira, indo ao encontro da eminência da

10

Esse manual apresenta um modelo de gestão que se caracteriza pela incorporação de preceitos da

administração e gestão de instituições privadas no âmbito da gestão pública. Embora com roupagem diferente,

esse modelo de gestão também tem como objetivo o foco nos resultados.

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avaliação educacional das últimas décadas. Com o crescimento das práticas neoliberais no

campo político, econômico e social, a educação passou a sentir fortemente o viés regulador e

fiscalizador do Estado, que aperfeiçoou seus mecanismos de avaliação. Tais práticas

invadiram também o cenário estadual, com o desenvolvimento de sua principal política de

avaliação: o SPAECE. Nos últimos dez anos o sistema cresceu em abrangência, ganhando

destaque com as premiações e com o desenvolvimento da gestão por resultados.

Para compreender de forma mais aprofundada como tem se desenhado os impactos

dessa lógica e das avaliações na gestão escolar e no trabalho docente, construímos o próximo

capítulo Avaliações em larga escala no Brasil.

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3 AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NO BRASIL

A avaliação é uma categoria pedagógica polêmica. Diz respeito ao futuro.

Portanto, mexe com a vida das pessoas, abre portas ou as fecha, submete ou

desenvolve, enfim é uma categoria permeada por contradições. O lugar que a

avaliação ocupa na atividade pedagógica a coloca no topo das atenções de

estudantes e professores. Marcada pelas relações que estão presentes no

interior da escola, relações essas que revelam estreita conexão entre esta

escola e a sociedade que a cerca, a avaliação emerge na sala de aula ora

como fonte de desenvolvimento, ora como ameaça. Curiosamente atinge

todos os atores, a depender do lugar em que se inscrevam no processo de

avaliação, ora como sujeitos avaliadores, ora como objetos de avaliação.

(FREITAS et al, 2011a, p. 7)

Conforme abordado no capítulo anterior, compreendemos que a Educação é um

fenômeno regulado pelo Estado, assim também como a própria escola pública, que recebe a

maior parte da população em idade escolar. A avaliação que tem como fim a escola também

expressa, portanto, a concepção de Estado que se desenha em dado momento histórico, logo

não apresenta consenso no que se refere ao seu conceito, aplicabilidade e repercussões.

Para fins desse estudo corroboramos com a ideia de Luckesi (2002) quando aborda a

diferença entre o conceito de Avaliar e Examinar. Para o autor Avaliar é um ato diagnóstico e

inclusivo, com o objetivo de reorientar e ressignificar uma experiência com o intuito de

produzir o melhor resultado possível, portanto não devendo apresentar caráter classificatório e

seletivo. Essa perspectiva é diferente do ato de examinar, que se materializa como prática

classificatória, seletiva e excludente, centrada no julgamento de aprovação ou reprovação,

dirigindo-se a classificação estática do que é examinado.

É comum, no entanto, observar professores e professoras, em sua prática escolar

cotidiana, associar exames com avaliação, esquecendo que o exame é apenas mais um

instrumento possível de utilização no decorrer de um processo avaliativo continuo.

A prática avaliativa se materializa atualmente influenciada por esses elementos. Outro

aspecto que se faz importante observar é a relação de poder que se desenha no interior das

escolas a partir dessa prática. Bourdieu (1989) explica que ―o poder simbólico, poder

subordinado, é uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e

legitimada, das outras formas de poder‖ (p.15). A avaliação como fruto desse jogo de poder

também se configura como mecanismo que conduz a manutenção ou a eliminação de parcela

dos alunos que estão no interior da instituição escolar. Sobre isso, Bourdieu e Passeron (1975)

afirmam que a seleção é espaço privilegiado para perceber as relações de troca, em uma

sociedade de classes, existentes entre sociedade e educação.

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Esse capítulo se propõe a refletir, portanto, sobre o conceito de avaliação, suas

dimensões, tipologia, propósitos, finalidades e seus desdobramentos como avaliação em larga

escala. Pretende-se discutir as proximidades e distanciamentos do que se espera do processo

de avaliação educacional e o que tem sido proposto como avaliações em larga escala. Sobre

essa última, abordar-se-á seu conceito, histórico, forma como esta tem sido abordada nos

trabalhos científicos sobre o tema e as repercussões de sua presença no chão da escola.

3.1 Avaliação: tipologias e contextos

O conceito e aplicação do processo avaliativo têm sido pauta, historicamente, de

discussões e embates no campo da educação. Do processo de mensuração e descrição das

características intrínsecas a um objeto, instituição, programa ou desempenho do aluno,

passou-se à formulação de um juízo de valor sobre estes.

O estudo histórico da avaliação, bem como sua evolução enquanto objeto de pesquisa

levou autores como Guba e Lincoln (1982), resgatado em Escudero (2003) e Vargas (2004) a

dividirem a avaliação em cinco gerações, detalhadas a seguir.

A primeira geração recebeu destaque no fim do século XIX e início do século XX,

influenciada pela Psicometria11

, o ato de avaliar, durante essa geração estava associado ao ato

de medir, demonstrando a forte influência positivista na educação, buscava-se encontrar

diferentes pontuações que definissem a posição do aluno dentro do grupo ao qual pertencia.

A segunda geração surge por volta de 1930 com Ralph Tyler, considerado o precursor

da avaliação educacional. Tyler buscou fornecer ao conceito de avaliação o caráter científico,

partindo da ideia de determinar os resultados alcançados a partir dos objetivos propostos

previamente, nessa perspectiva, os objetivos preestabelecidos deveriam ser a referência

central na avaliação, pois marcavam o desenvolvimento individual dos alunos.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o contexto histórico dos anos 1950 e 1960 foi

marcado pela disputa da hegemonia política, econômica e militar, período que ficou

conhecido como Guerra Fria e teve como protagonistas os Estados Unidos da América (EUA)

e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Tal disputa estabelecia-se também

no campo científico, e em particular, na corrida espacial. O descrédito direcionado a escola

pública americana na época também foi elemento marcante e transformou-se em estímulo

11

Este campo de estudos possuía em seu formato uma relação íntima entre avaliação e mensuração (ato de

medir). O objetivo da Psicometria era estabelecer as diferenças individuais a partir de modelos de características

que a psicologia da época oferecia. Atualmente o enfoque da Psicometria baseia-se em novos modelos de

medida, conhecidos genericamente pelo nome de Teoria da Resposta ao Item (TRI) (ANDRIOLA, 2010).

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para o aumento de investimentos e a indução aos estudos avaliativos, de modo a alavancarem-

se as reformas promovidas. O estímulo à mudança educacional impulsionou a busca pela

compreensão das deficiências do sistema, as possibilidades de mudança e os resultados pós-

reformas (ESCUDERO, 2003).

Destaca-se, nesse momento, a atividade de prestação de contas (accountability), pois

uma vez injetadas grandes quantias de verbas públicas, esperava-se um retorno que fosse

capaz de justificar e subsidiar novos aportes financeiros. Nesse momento é posto em relevo,

ainda que embrionariamente, os questionamentos acerca do uso dos resultados da avaliação

no contexto das pesquisas científicas, inaugurando, assim, a terceira geração.

De acordo com Escudero (2003), durante os anos 1970 ocorreu a consolidação das

pesquisas em avaliação, gerando diversos modelos avaliativos. Os EUA passam a investir no

desenvolvimento de material de pesquisa para os avaliadores. A questão central girava em

torno dos propósitos da avaliação e a influência dos resultados no cotidiano escolar. Para isso,

vários autores dedicaram-se a organizar desenhos de pesquisa bem fundamentados e

organizados a partir de critérios, enquanto outros buscavam compreender o papel da avaliação

no contexto escolar, criando nomenclaturas de avaliação e promovendo a ―eclosão de

modelos‖ (MATEO, 1986). Importante destacar que Guba e Lincoln (1982) contabilizam

mais de 40 modelos propostos nesta década.

Depresbiteris e Tavares (2009) explicam que Michael Scriven agregou aos estudos

sobre avaliação da época a ideia de mérito, valor do que está sendo objeto da avaliação

(programas, currículos, materiais, desempenhos dos alunos, entre outros). No entanto, um de

seus maiores feitos foi estabelecer os conceitos de avaliação formativa e avaliação somativa.

Para o autor, a avaliação formativa permite identificar o valor de um programa

simultaneamente ao acontecimento de tais atividades. Este tipo de avaliação centra-se no

processo, uma vez que a ação ainda encontra-se em andamento. Seu principal objetivo é

identificar as deficiências para que as intervenções adequadas possam ocorrer

concomitantemente à ocorrência dos processos ou atividades. A avaliação somativa permite

julgar o valor de um processo ao final deste (soma), revelando o foco no resultado. Todas as

avaliações podem ser somativas, ou seja, têm o potencial de servir a uma função somativa,

mas apenas algumas têm a capacidade adicional de servir à função de formação.

Depresbiteris e Tavares (2009) explicam que Daniel Stufflebeam (1971) avançou no

sentido de dar continuidade aos estudos sobre avaliação, acrescentado-lhe a concepção de

tomada de decisão. O autor em questão, juntamente com Guba, Hammond e Provus,

Stufflebeam, concebeu o modelo conhecido pelo anagrama CIPP, para designar contexto,

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inputs, processos e produtos. De acordo com estes autores, em cada uma dessas fases deve-se

avaliar e tomar decisões acerca da próxima fase. A avaliação, nesse contexto, se configuraria

como resultado de um processo sistemático e contínuo, cujas características primordiais

seriam o fornecimento de informações úteis ao julgamento das alternativas de decisão.

As teorias e os autores da quarta geração da avaliação educacional pretenderam

superar as deficiências das gerações anteriores, dentre as quais: ―visão gestora da avaliação,

escassa atenção ao pluralismo de valores e excessivo apego ao paradigma positivista‖

(ESCUDERO, 2003 p. 24). No que se refere à redução do caráter positivista, deixa-se de lado

a verificação e passa-se a ter uma postura de descobrimento, aproximando-se dos fatores

contextuais inerentes ao processo.

David Fetterman (2001) prossegue os estudos durante os anos 1990 e assenta as bases

da quinta geração. Nesta geração, o uso político dos resultados é um princípio primordial da

avaliação. A medida que as gerações avançam, o ranço positivista perde espaço, fala-se nos

sujeitos envolvidos, os resultados e os impactos causados. Haja vista a quantidade de modelos

avaliativos desenvolvidos, muitos confundem-se entre as gerações, uma vez que o surgimento

de uma não anula a existência das demais.

Atualmente a concepção e o conceito de avaliação tem se estruturado envolto em uma

série de concordância e discordância entre os educadores. São inúmeras e, quase sempre,

inconciliáveis as razões que apresentam para que o consenso não seja alcançado, no entanto,

estes sujeitos convergem quando a questão refere-se á complexidade do fenômeno da

avaliação.

Independente da profundidade de análise que fazem ou da lógica que usam

para justificar as razões desta complexidade, há acordo que a avaliação é

uma categoria particularmente especial e árida. As formas práticas de

lidarem com a avaliação, inclusive, tornam a refletir os diferenciados

posicionamentos ético-epistemológicos que embasam as escolhas

aparentemente técnicas que fazem. Como se percebe, identificam-se nas

dificuldades e distanciam-se nas eventuais formas de superação destas. Isso

deve significar alguma coisa (SORDI, LUDKI, 2009, p.314)

Para este trabalho nos apoiamos na ótica de Sant‘Anna (1998), que compreende a

avaliação como: ―um processo pelo qual se procura identificar, aferir, investigar e analisar as

modificações do comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema,

confirmando se a construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou

prático‖. (p.29-30).

Essa perspectiva compreende que a avaliação não está associada apenas ao ato de

avaliar o aluno, mas o contexto escolar na sua totalidade, permitindo a realização de

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diagnóstico para trabalhar em prol da superação das dificuldades de aprendizagem. Para Both

(2007), a avaliação deve estar atrelada a qualidade do ensino, ultrapassando os limites da

verificação. Corroborando com esse autor, Demo (1999) chama atenção para o fato de que

Refletir é também avaliar, e avaliar é também planejar, estabelecer objetivos

etc. Daí os critérios de avaliação, que condicionam seus resultados estejam

sempre subordinados a finalidades e objetivos previamente estabelecidos

para qualquer prática, seja ela educativa, social, política ou outra. (p.01).

O processo avaliativo, portanto, demanda reflexão, planejamento e objetivos para se

atingir, sem esquecer que a proposta de avaliação que se defende em determinado espaço ou

período histórico está associada ao processo educativo, social e político, ou seja, ao projeto

maior de sociedade. Assim, Libâneo (1994) explica que a avaliação é

Uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve

acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através

dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto

do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim

de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as

correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade

do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados

no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são

interpretados em relação a um padrão de desempenho e expressos em juízos

de valor (muito bom, bom, satisfatório, etc.) acerca do aproveitamento

escolar. A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização

de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados

que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim,

cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em

relação as quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento

escolar. (p. 195).

Avaliação é, portanto, um instrumento permanente do trabalho docente, cujo intuito é

observar se a aprendizagem está ocorrendo, utilizando como instrumento para reflexão acerca

da qualidade do trabalho escolar, tanto do aluno quanto do professor, podendo gerar

mudanças significativas.

A avaliação pode se expressar de diferentes formas a depender da proposta, concepção

e objetivos a serem atingidos. Segundo Santos (2005) avaliação é algo bem mais complexo do

que apenas atribuir notas sobre um teste ou prova que se faz, ela deve estar inserida no

processo de aprendizagem do aluno podendo se expressar, das seguintes formas: Cumulativa:

permite reter tudo aquilo que se vai aprendendo no decorrer das aulas possibilitando que o

docente acompanhe o aluno cotidianamente, e utilizar quando necessário;

Diagnóstica: auxiliando o professor a detectar o que já foi apreendido ou não pelos alunos

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diante do que foi trabalhado em sala ou para investigar o conhecimento prévio do aluno, e

assim retomar os conteúdos que o aluno não conseguiu aprender ou desconhece, replanejando

suas ações, trabalhando nas lacunas, necessidades e atingindo os objetivos propostos;

Autoavaliação: podendo ser realizada tanto pelo aluno quanto pelo docente, para se ter

consciência do que se aprendeu ou se ensinou e assim melhorar o processo de ensino e de

aprendizagem. Para além dessas dimensões da avaliação, o processo formativo e somativo

também se materializam como possibilidades, como já foi mencionado anteriormente nesse

tópico.

Importante ressaltar que essas dimensões não apresentam limites bem definidos,

podendo se utilizar mais de uma em um mesmo ano escolar a depender dos objetivos que se

quer atingir. Atualmente a avaliação educacional tem se desdobrado em um tipo de avaliação

que nem sempre dialoga com essa perspectiva reflexiva, dialógica e processual que se discutiu

até aqui. Esse desdobramento tem recebido o nome de avaliação em larga escala e será

explorada no tópico a seguir.

3.2 Avaliação em larga escala: conceito e concepção

Ampliando nosso olhar, podemos inserir a avaliação no sistema das políticas

públicas. Não é preciso muito esforço para notar que a avaliação teve uma

interface muito grande com tais políticas desenvolvidas na última década no

país. Os anos 90 foram marcados pela apropriação das ferramentas

avaliativas por parte das políticas públicas liberais, o que gerou, na outra

ponta, certa recusa a tais ferramentas e à própria avaliação- em especial a

avaliação de sistemas ou de larga escala. Entre o seu uso como ―remédio‖

para todos os males educacionais e a sua simples recusa, vem sendo

construída uma posição menos dicotômica e mais construtivista, que

pretende apropriar-se das ferramentas avaliativas sob outro conceito do que

seja avaliar. (FREITAS et al, 2011a, p. 10)

No capítulo anterior observamos que a partir dos anos 1990 iniciativas de avaliação

em larga escala no âmbito nacional, inspiradas pelo cenário internacional, começam a ser

gestadas e com elas experiências estaduais e municipais passam a ser desenhadas. Por

avaliação em larga entende-se ―instrumento de acompanhamento global de redes de ensino

com o objetivo de traçar séries históricas do desempenho dos sistemas, que permitam verificar

tendências ao longo do tempo, com a finalidade de reorientar políticas públicas‖. (FREITAS

et al, 2011a, p. 47)

Freitas (2007) infere que desde a década de 1930 já se abordava o assunto avaliação

educacional, mesmo não sendo o enfoque das discussões realizadas. Através de estudos

acerca do aparato normativo e do planejamento do Estado Brasileiro, o autor sinaliza o

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caminho percorrido pelo tema medida-avaliação, e defende a ideia de que a partir disso, foram

traçadas as primeiras análises, culminando na instituição da medida-avaliação-informação,

cuja ênfase se dá na análise de resultados que possam auxiliar em futuras intervenções.

Durante o período da Ditadura Militar percebeu-se a intensificação no trabalho de

planejamento educacional, visando à época o controle social. Nesse ínterim a avaliação

ganhou espaço, uma vez que os militares ensejavam observar todo o processo, e ao fim,

avaliar os resultados alcançados (FREITAS, 2007). A princípio, privilegiavam-se os registros

de expansão da rede, dados como número de carteiras, salas e escolas. Admitia-se que o

problema era o acesso, portanto, tais dados eram as pistas para a resolução dos problemas

educacionais. Com a reabertura política, constrói-se um novo ideal de sociedade, na qual a

educação é tida como alavanca social.

Nesse cenário, cria-se no Brasil uma proposta de avaliação, em larga escala, que tem

sido conduzida pelo governo de modo a criar a ilusão que estas avaliações possam, além dos

alunos, avaliar as escolas, seus professores e gestores. Esse tipo de avaliação centralizada

acaba por desconsiderar o fato de que o dado do desempenho do estudante apreendido a partir

da aplicação da prova padronizada, bem como os fatores a ele associados não são suficientes

para que a avaliação sirva a seu propósito de origem. É preciso que a escola se reconheça

nesse dado, sinta-se pertencente ao processo, pense sobre o dado e ressignifique as práticas

futuras.

A avaliação educacional adquiriu novas facetas, a partir desse período, sendo chamada

também de avaliação externa ou em larga escala. As três nomenclaturas têm por princípio

atualmente ―a finalidade de verificar a qualidade do ensino. [...] o objetivo é estabelecer

normas e padrões gerais e assegurar, por meio de amostras, e de maneira periódica, uma

espécie de ‗termômetro‘ nacional do rendimento escolar‖ (DEPRESBITERIS; TAVARES,

2009, p. 36).

O caráter externo diz respeito ao emissor da avaliação ser sujeito alheio a realidade

escolar, enquanto em larga escala, por tratar de uma amostra significativamente ampla, na

qual podem ser inseridos no mesmo rol, escolas, redes municipais e estaduais. As

nomenclaturas diferem, entretanto com o mesmo propósito: inserir-se na escola a fim de aferir

sua qualidade.

Em meados dos anos 1990, o Sistema Brasileiro de Avaliação da Educação Básica e

os seus primeiros exames se consolidaram, os resultados foram apresentando as debilidades

de sistemas, redes e escolas, razão pela qual foram sendo buscadas soluções para corrigir tais

problemas a partir dos próprios resultados.

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Inicialmente o SAEB compreendia escolas públicas e privadas, gerando resultados

agregados por estado, regiões e nacionalmente. Porém, o modelo pelo qual os resultados eram

apresentados não supria determinadas necessidades. De acordo com Vieira (2008):

Face à diversidade e singularidade dos diferentes sistemas educacionais

existentes no país, a forma como o SAEB vinha sendo realizado até 2003

não atendia às demandas de informações, principalmente dos municípios e

escolas que não se reconheciam nos resultados. (p.115)

Para solucionar a questão, em 2005 o SAEB foi ampliado através da Portaria

Ministerial nº 931, constituindo-se em um sistema composto por duas avaliações, a Avaliação

Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação Nacional do Rendimento no Ensino

Escolar (ANRESC). Desta maneira, o SAEB, cujo nome permaneceu por conta de sua

tradição, passou a atender as demandas de informações com indicadores específicos.

Os dois sistemas atuam em conjunto, pois enquanto a ANEB mantém os objetivos do

SAEB, na continuidade da série histórica dos dados de proficiência dos alunos de redes

públicas e privadas, a ANRESC, foi criada no intuito de tornar a avaliação mais detalhada, em

complemento à avaliação já feita pelo SAEB. Conhecida como Prova Brasil, esta avaliação

expandiu o alcance dos resultados, pois passou a oferecer dados detalhados, individualizando

cada escola, respeitando sua localidade e sendo possível comparações dentro da mesma rede

das secretarias de educação (municipais e estaduais).

A Prova Brasil constitui-se como uma avaliação de diagnóstico desenvolvida pelo

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). Seu

objetivo é avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro por

meio de testes padronizados aliados a questionários socioeconômicos.

Em 2007, foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) pelo

INEP como uma iniciativa de identificar o perfil de qualidade das escolas. Os dados

relacionados ao fluxo escolar (aprovação, evasão e abandono) e as médias de desempenho na

avaliação nacional (Prova Brasil) são organizados em um índice que varia de 0 a 10. A ideia é

unir dois fatores importantes para medição da qualidade educacional brasileira, possibilitando

a equiparação entre estados, municípios e até entre escolas. Enquanto um mensura a

aprovação e assiduidade do aluno, o outro tenta desvendar se o mesmo está aprendendo

durante o tempo que permanece na escola.

Com metas estabelecidas até 2021, o IDEB concilia resultados da Prova Brasil, obtido

pelos estudantes no final das etapas de ensino, ou seja, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental,

em Língua Portuguesa e Matemática, juntamente com informações sobre rendimento escolar.

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O IDEB como indicador educacional oferece elementos de controle sobre a relação ensino-

aprendizagem no país, servindo como diagnóstico e um norte para ações políticas com foco na

melhoria do sistema educacional, detectando as escolas com alunos que apresentam baixo

rendimento, bem como monitorando o desempenho dos alunos nessas escolas. Franco, Alves

e Bonamino (2007) sustentam que por suas características e aspectos metodológicos, o IDEB

infere sobre a qualidade da educação, ao pressupor que o aluno aprenda e passe de ano.

Diante de suas características, o SAEB poderia representar a consolidação da primeira

fase do Estado-avaliador no Brasil. A diferença em relação a outros países é que, segundo os

autores, no caso destes, a primeira fase estava associada a processos de accountability e

políticas de avaliação, no caso do contexto brasileiro isso só aconteceu a partir de 2005,

momento em que houve ampliação da abrangência do SAEB. (BAUER et al, 2015)

Schneider e Rostirola (2015) explicam que diante das mudanças no sistema de

avaliação a partir de 2005, o papel do Estado passou a ser o de regulação e controle. Diante

disso, a inserção no

[...] segundo estágio do Estado-avaliador, assim caracterizado em vista de

alguns países, após o desenvolvimento de seus sistemas próprios de

avaliação, terem aderido a programas internacionais de avaliação

comparada, parece ter seguido caminhos pouco convergentes com as

tendências internacionais. Isso porque, enquanto na Europa e nos Estados

Unidos as avaliações comparadas internacionais ganharam vulto somente

após a consolidação dos sistemas nacionais, no Brasil ocorreu o contrário:

foram as avaliações internacionais e, em alguns casos, em perspectiva

comparada, que serviram de referência para a criação de um sistema próprio

de avaliação. Por conta disso, consideramos que, no Brasil, o segundo

estágio do Estado-avaliador desenvolveu-se pari passu ao primeiro,

confundindo-se ou mesmo, em alguns momentos, antecipando-se a este.

(p.502)

O investimento na accountability passou a ganhar espaço no país com a divulgação

dos resultados por escola e redes, disponibilizados com a criação da Prova Brasil. Com a

criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), foi possível observar o

―fortalecimento dos processos de consolidação da accountability” (FERNANDES;

GREMAUD, 2009, p. 231).

Esse tipo de avaliação vem ganhando destaque inclusive na legislação. O Plano

Nacional de Educação (PNE) aprovado para o período 2014-2024, destaca o IDEB na meta 7,

levando este a consolidar-se como uma política de Estado (NARDI, 2014).

Importante registrar que outras iniciativas dessa natureza também buscaram espaço no

Brasil, Programme for International Student Assessment (PISA), adotado em nosso país

desde o ano 2000 com o intuito de avaliar as áreas de Leitura, Matemática e Ciências. O PISA

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tem ocorrido desde então, a cada três anos. Trata-se, segundo Carvalho (2009), ―de uma

avaliação comparada internacional das performances das escolas que vem se afirmando, ao

longo da presente década, como um dos principais meios de ação da OCDE no campo

educativo‖ (p. 1010). O intuito é que o Programa seja reconhecido como ―ponto de passagem

obrigatório para um debate e uma decisão política centrados em evidências científicas‖ (p.

1029).

O PISA se constitui como importante iniciativa no processo de adesão a lógica da

avaliação em escala pelo Brasil, embora não tenha sido a única ―em termos de estudos

comparados internacionais‖ (CASTRO, 2002, p. 6). A partir da década de 1990, o país foi

convidado a participar de várias iniciativas dessa natureza com o objetivo de ―conhecer e

produzir indicadores seguindo parâmetros técnicos já consolidados em estudos internacionais

comparados.‖ (CASTRO, 2002, p. 3).

Afonso (2013) sinaliza que essas evidências se deslocam em duas direções, por um

lado se referem a elementos do segundo estágio do Estado avaliador, por outro lado também

podem indicar ―o desdobramento de uma terceira fase que estaria, nesse caso, caracterizada

pela ampliação de agências de avaliação em conexão internacional‖ e o ―incremento de

políticas de avaliação comuns no âmbito de blocos regionais como a União Europeia (UE) ou

o Mercado Comum do Sul (Mercosul)‖ (p. 278). Nóvoa (2010) explica que, de fato,

vivenciamos atualmente ―lógicas de contrato e redes de trabalho, fortemente respaldadas por

dados, avaliações, resultados, pontos de referência, boas práticas e aprendizagem mútua‖ (p.

36).

Em 2016, o governo Dilma, divulgou uma Portaria ministerial que instituiu o Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Básica (SINAEB). O objetivo era apoiar a Lei de

Responsabilidade Educacional e a própria avaliação do PNE. Freitas (2016) explica que a

proposta teria nascido no próprio INEP, a partir de estudo realizado com o intuito de dar

subsídio a essa proposta12

. Por ser uma Portaria acabou por se materializar como ato isolado

do Ministério sem debate com a comunidade educacional.

Freitas (2016) afirma que o estudo inicial da Diretoria de Avaliação da Educação

Básica (DAEB) procurou retomar orientações que nos remetem à criação do SAEB. Para

além dessa questão, apresentaria como avanço, o alargamento dos fatores a serem avaliados

na Educação Básica.

12

Consultar: https://avaliacaoeducacional.files.wordpress.com/2016/05/docpreliminarinep.pdf.

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Após o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, o vice-presidente em

exercício, Michel Temer, assume o governo e revoga a Portaria em questão, o que não impede

a percepção do espaço que as iniciativas de avaliação desenvolvidas no Brasil têm adquirido,

mesmo com a revogação da portaria.

O SAEB apresentou desdobramentos nos estados e municípios que passaram a propor

sistemas avaliativos próprios. A partir de pesquisa sobre iniciativas municipais de avaliação

Bauer et al (2015) identificaram 1.573 municípios que desenvolveram avaliações próprias

―concebidas, em geral, por profissionais integrantes das redes de ensino, sejam técnicos (77%)

ou professores e/ou gestores da rede (82%)‖. (p. 4) A pesquisa mostra ainda que entre os anos

de 2005 a 2013, esse número cresceu, houve 1.257 novas iniciativas. Apesar de ainda se

apoiarem em assessorias externas para a elaboração, o SAEB se constitui como a referência

da maioria delas.

A exemplo dos municípios que construíram propostas próprias de avaliação, o estado

do Ceará também desenvolveu a sua. De acordo com Vieira (2014), quando tratamos de

políticas ―[...] estamos nos referindo basicamente ao que se faz ou o que está sendo feito, as

propostas e iniciativas desenvolvidas pelo Poder Público ou por este financiadas‖ (p.2). No

Ceará o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica, como uma política de estado

se consolidada atualmente como repercussão do Sistema Nacional de Avaliação.

No início dos anos 1990, e após a participação em experiências nacionais e

internacionais pontuais, o estado conseguiu aplicar sua primeira avaliação em 1992. Assim

como o SAEB, o SPAECE foi ampliando sua abrangência. De acordo com Lima (2007), o

foco do SPAECE está associado aos objetivos do SAEB: desenvolvimento de uma cultura

avaliativa no âmbito das escolas e gestores da Educação do estado, acompanhamento dos

resultados e a análise das dificuldades de aprendizagem diagnosticadas pela avaliação para a

série foco da avaliação. Quando os resultados são computados a SEDUC emite boletins de

resultados da escola, uma espécie de resposta às instituições avaliadas. O processo de criação

da experiência avaliativa cearense será explorada nos capítulos empíricos.

Como se vê, não basta a coerência técnica e do conteúdo da avaliação, existe um lado

político envolvido. Freitas et al (2011a) explica que toda avaliação que se constitua sem

legitimidade política não será bem aceita e terá o uso de seus resultados comprometidos. É

preciso, portanto, repensar a materialização hierárquica das avaliações em larga escala nas

escolas públicas brasileira, onde a discussão em torno do processo ainda não se consolidou de

forma democrática e participativa, e sim permeada por tensões diversas e divisões excludentes

entre o setor que pensa a avaliação e o que aplica.

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Outro aspecto político que permeia a concepção de avaliação em larga escala no Brasil

diz respeito a regulação. Para Dias Sobrinho (2002) é vocação de toda política pública

―regular‖ no sentido abrangente do termo. No entanto, como discutido no capítulo anterior, o

termo ―regulação‖ foi desenhado no interior das políticas públicas neoliberais, cuja aplicação

maior, no Brasil, se deu no governo Fernando Henrique Cardoso, para expressar uma

mudança na ação no próprio Estado, o qual não deveria intervir no mercado, a não ser como

um ―Estado Avaliador‖.

Essa discussão é importante porque considera que as forças políticas que assumem o

poder em determinado momento histórico têm a expectativa de poder materializar na prática

determinado tipo de mudança ou regulação. Como isso, o que será realizado e aplicado vai

depender da natureza de cada política pública. Os sistemas de ensino e seus mais diversos

espaços se tornam campo de disputa de propostas políticas e concepções dos processos

educacionais.

Fazendo frente às políticas neoliberais, tem-se o clamor popular por políticas mais

democráticas e participativas de modo a criar condições propícias para a contrarregulação. As

políticas de avaliação em larga escala encontram-se nesse cenário de disputas diversas e

projetos políticos e educacionais contraditórios.

Sobre esse contexto marcado por uma cultura avaliativa expressa por números, Sordi e

Ludki (2009) explicam que

Esta forma de entender a avaliação e se acostumar com sua feição

classificatória e de vê-la como um ato de comunicação com ares de

neutralidade, no qual alguém assume a prerrogativa de dizer o quanto vale o

trabalho do outro, sem que a este outro seja dada a oportunidade de se

manifestar sobre o processo vivido e suas eventuais idiossincrasias, acaba

por esvair desta prática o seu sentido formativo. Isso interfere no imaginário

social que associa a avaliação práticas repetidas de exames externos que

geram medidas, que viram notas que se transformam em signos que se

distribuem em mapas que permitem comparar, selecionar e, eventualmente,

excluir pessoas/instituições. O discurso da avaliação perde potência quando

os sujeitos da relação e em relação desconhecem a natureza multifacetada

deste fenômeno e tendem a valorizar resultados obtidos em circunstâncias

pontuais, desconsiderando os processos em que se ancoraram. (p. 316)

Os autores refletem sobre o fato de que esse processo avaliativo ―mais afasta do que

aproxima; que mais pune do que ensina, que mais ameaça do que acolhe, que mais conclui do

que contextualiza, que mais rotula do que explica‖ (p.316). Diante disso, chama atenção para

a necessidade de se reagir a esta cultura para que se possa materializar um bom projeto

educativo.

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Desta aprendizagem decorrem outros desdobramentos que podem

beneficiar a escola e os profissionais que nela atuam, especialmente em

função das mudanças nas políticas públicas de educação fortemente regidas

pela lógica economicista. A avaliação vem ganhando centralidade na cena

política e os espaços de sua interferência têm sido ampliados de modo

marcante, ultrapassando o âmbito da aprendizagem dos alunos. Por tratar-

se de campo fortemente atravessado por interesses, diante dos quais

posturas ingênuas não podem ser aceitas, compete aos profissionais da

educação desenvolverem alguma expertise para lidar com a avaliação.

(p.316)

Diante das imposições governamentais que na maioria das vezes chegam às escolas

como decisões de cima para baixo e sem discussão com os setores interessados, é necessário

que os educadores se posicionem sobre o assunto e reflitam esse posicionamento na sua

prática cotidiana.

O tema aqui em discussão é fecundo e tem sido abordado pela literatura da área a

partir de diferentes perspectivas e olhares. O próximo tópico apresenta as principais questões

exploradas pela produção científica atual no que se refere ao contexto até aqui explorado.

3.3 Avaliação em larga escala na produção cientifica: o estado da questão

No estado da questão os achados têm que estar necessariamente ou

diretamente articulados com o tema: devem referenciar especificamente o

que existe em publicações ou estudos com relação a este, na área de

investigação do estudante/pesquisador, na sua profissão, seja em nível local,

nacional ou internacional (Nobrega-Therrien; Therrien, 2004, p. 10)

O Estado da Questão pretende responder a um conjunto de questões relativas à política

de avaliação em larga escala através de análise de produção acadêmica sobre o tema. Este

estudo espera com esse movimento dialogar com outros autores que debatem o assunto e

identificar possíveis espaços, lacunas que este trabalho possa colaborar no sentido de fazer

avançar o conhecimento científico na área.

Merece destaque a compreensão de França (2014) sobre a temática quando esta afirma

que ―é hora do exercício de sair de si para ver a questão da investigação com os olhos dos

outros e retornar para si (trans) formado pela reflexão crítica exercitada e pela articulação

realizada‖ (p.18)

Para contribuir com o avanço do conhecimento sobre o assunto, a presente pesquisa

buscou mapear a produção acadêmica sobre a criação e desenvolvimento da política de

avaliação em larga escala no Brasil no período de 2007 a 2015. O início se justifica pela

criação do IDEB, índice de âmbito nacional que utilizamos para selecionar a amostra dessa

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dissertação. Outros trabalhos já esboçaram investigação nesse sentido, mas não associado a

mesma questão de pesquisa que esse estudo, nem com seu recorte temporal. São exemplos

dessas aproximações: Barretto e Pinto (2001), Poltronieri e Calderón (2012) e Sousa, Pimenta

e Machado (2012).

É importante explicar a importância de se realizar a análise de produção acadêmica

sobre o tema mesmo observando que outros estudos já avançaram nesse sentido. Com a

expansão da produção científica e sua divulgação por meio de diversos canais de

comunicação específicos da área de abrangência do estudo, André (2001) chama atenção para

a necessidade de se estar atento ao processo de elaboração dos trabalhos publicados, seu rigor

e qualidade, assim a análise constante da produção acadêmica seria ponto importante na

elaboração de teses e dissertações.

Assim, nos propomos a, partindo dos trabalhos encontrados, desenvolver, nos

próximos tópicos a revisão de literatura que com apoio do EQ, tem como objetivo

fundamentar teoricamente o tema adotado, ou problema delimitado. De acordo com Matos e

Vieira (2002),

A pesquisa bibliográfica é realizada a partir de um levantamento de material

com dados já analisados, e publicados por meios escritos e eletrônicos, como

livros, artigos científicos, página de Web sites, sobre o tema que desejamos

conhecer (p.40)

Quanto à reunião das fontes, se fez necessário procuramos obter informações sobre a

situação atual do tema pesquisado. Na medida em que as leituras foram sendo realizadas

outras publicações existentes e relevantes para o trabalho foram postas em relevo. O processo

organizacional da pesquisa bibliográfica exige ainda dedicação e técnica para armazenar os

dados. Sobre o assunto, Matos e Vieira (2002) afirmam que:

Ao organizarmos esse tipo de pesquisa, num primeiro momento devemos

fazer o levantamento e seleção do material do nosso interesse. O próximo

passo é realizar uma leitura eficiente, registrando as informações em fichas

(indicação bibliográfica, resumo, citações transcritivas, considerações

pessoais), para facilitar a utilização posterior do que foi lido (MATOS;

VIEIRA, 2002, p.40)

É importante explicar que a produção do EQ nos revelou algumas dificuldades para a

execução de sua elaboração. Uma delas está associada ao fato de que os trabalhos referente às

políticas de avaliação em larga escala aparecem com outras nomenclaturas também, por

exemplo, avaliação de sistemas, avaliação externa, avaliação institucional, dentre outros

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conceitos que aparecem como sinônimos nos resumos. Essa questão pode ser observada nas

tabelas com a listagem dos trabalhos encontrados.

Sobre as diferentes abordagens da avaliação em larga escala observadas nos estudos

encontrados, foi possível identificar três grupos distintos.

1º grupo: trabalhos que discutem o surgimento das políticas de avaliação em larga

escala como resposta ao cenário de reformas educacionais e a metodologia utilizada

para sua operacionalização. Nesse grupo encontramos trabalhos que discutem as

motivações, o cenário internacional e nacional em torno do qual elas se movimentam,

os instrumentos utilizados pela avaliação e suas escalas de proficiência.

2º grupo: trabalhos que discutem os dados coletados a partir das avaliações,

associando-os a questões específicas como, por exemplo, o estudo da aquisição da

linguagem ou o nível de alfabetização matemática em que as crianças se encontram.

Nesse grupo é possível encontrar ainda, embora em menor número, trabalhos que

estudam a relação dos dados com a diversidade de gênero e raça a partir das respostas

dos alunos ao questionário socioeconômico da Prova Brasil.

3º Grupo: esse grupo é o responsável por acolher todos os estudos que apresentam

relação com a questão central da presente dissertação. São estudos sobre as

implicações das avaliações em larga escala no chão da escola. É composto pelos

estudos que discutem os usos e desusos dos resultados, implicações das avaliações no

currículo, na dinâmica escolar e a concepção ou percepção de gestores a cerca desses

processos.

Diante da leitura dos trabalhos listados e que se encaixam no grupo 3, foi possível

destacar categorias que são pouco mencionadas ou que mesmo apresentadas têm elementos

que merecem ter sua discussão ampliada, dada a sua importância para compreensão de como

tem se materializado no chão da escola a política de avaliação em larga escala e suas

implicações para o trabalho de gestores e professores nas instituições educacionais e de que

forma é percebida pelos mesmos. São elas: usos das avaliações externas e o trabalho de

gestores escolares e professores; a política de responsabilização ou accountability; o ranking e

a redução curricular. As categorias mencionadas serão discutidas no decorrer da apresentação

do EQ.

As buscas ocorreram entre março e abril de 2016. Os procedimentos adotados para

identificação dessas produções, bem como seus achados serão apresentados nos subtópicos a

seguir.

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3.3.1 Avaliação em larga escala em dissertações e teses

Iniciam-se os trabalhos tentando identificar essas produções utilizando-se dados

disponíveis no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES)13

do Ministério da Educação, e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do

Ministério da Ciência e Tecnologia14

.

A busca realizada via portal da CAPES, foi feita com o uso da expressão avaliação em

larga escala através da busca avançada. O resultado inclui todas as produções que apresentem

quaisquer dessas palavras, e em qualquer ordem. O filtro, inicialmente realizado pelo título

possibilitou o encontro de 134 trabalhos dos quais, 98 são dissertações de mestrado e 36 teses

de doutorado. Em seguida, com a leitura do resumo, foi possível identificar que das 134

publicações, apenas 29 apresentam algum tipo de relação com o estudo da gestão, sendo 20

dissertações de mestrado e 9 teses de doutorado. Quando a relação é com os professores, o

quantitativo é de 9 trabalhos, sendo 7 dissertações de mestrado e 2 teses de doutorado. Com

uma leitura mais aprofundada, observa-se, no quadro 1, que do quantitativo mencionado,

apenas 14 trabalhos apresentam aproximação com a questão central desse estudo.

Quadro 1-Dissertações e teses sobre Avaliação em larga escala: consulta no portal da CAPES

Autor Ano Trabalho

SANTOS 2012 Gestão democrática nos sistemas municipais de ensino de Santa

Catarina: implicação da avaliação em larga escala

TAVARES 2012 Avaliação de larga escala: resultados e tomada de decisão

FERREIRA 2012 Estudo comparado da ação gestora na apropriação dos

resultados do proalfa: análise de dois casos de sucesso em

Governador Valadares

MELO 2012 Impactos da avaliação nacional do rendimento escolar (anresc/

prova brasil) entre os anos de 2007 a 2009 na gestão do

processo de ensino-aprendizagem em um município baiano

COSTA 2012 Gestão pública escolar e avaliação do índice de

desenvolvimento da educação básica: da reflexão à

transformação da prática pedagógica

GOMES 2012 Monitoramento e gestão do ensino fundamental: práticas

escolares em face de políticas indutoras

SENA 2012 Avaliação sistêmica da educação básica: atuação dos gestores

para a melhoria do ensino; estudo de caso

RAMALHO 2012 Professora, quantas questões eu acertei? Um estudo das

influências da política de exames da secretaria municipal de

educação do Rio de Janeiro no cotidiano das práticas docentes

GALLANI 2012 Avaliação da qualidade da educação: aspectos críticos para a

administração escolar

SILVA 2012 Contribuições pedagógicas para a avaliação em larga escala da

produção escrita nas séries iniciais do ensino fundamental

13

Conferir: http://capesdw.capes.gov.br/?login-url-success=/capesdw/ 14

Conferir: http://bdtd.ibict.br/vufind/

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OLIVEIRA 2012 As estratégias elaboradas por crianças em processo de

apropriação da leitura: uma análise a partir da interação com

instrumentos de avaliação em larga escala

LIMA 2012 Fatores associados à eficácia escolar: um estudo de instituições

educacionais públicas municipais de Fortaleza-CE

ANDRADE 2011 Avaliação em larga escala: perspectiva da gestão democrática.

LIMA 2011b O diretor e as avaliações praticadas na escola

Fonte: elaboração da autora

Do quantitativo apresentado, temos que, em relação à avaliação em larga escala no

Ceará, encontramos apenas 6 trabalhos, sendo 5 dissertações de mestrado e uma tese de

doutorado. Desses apenas 3 trabalhos versam sobre a temática na educação básica. Observa-se

que, apesar de encontrarmos elos entre os trabalhos listados e a questão central desse estudo,

nenhum dos trabalhos apresenta relação direta com a percepção dos gestores e professores em

relação às avaliações externas e os impactos em seu trabalho.

A partir dessa primeira busca, merece destaque alguns elementos:

1) 42,8% dos trabalhos encontrados tiveram como campo empírico o contexto cearense,

uma das hipóteses explicativas para tal situação deve-se ao forte investimento em

avaliações dessa natureza no estado e suas consequentes repercussões diversas.

2) Embora a busca se estenda de 2007 a 2015, existe uma concentração de trabalhos nos

anos de 2011 e 2012, possivelmente por ser o momento histórico de maior

disseminação das avaliações em estados e municípios brasileiros através de iniciativas

próprias e locais de criação de seus sistemas;

3) É importante chamar atenção para o fato de que estes estudos contribuem para a

compreensão do que se entende por avaliação, assim como é interessante observar que

cada um assume uma concepção para discutir tal conceito. Os principais conceitos e

concepções encontradas nos referenciais teóricos dos estudos apresentados na tabela 1

foram: Avaliação Diagnóstica (Luckesi, 2002)- ato acolhedor, integrativo e inclusivo;

Avaliação Informal (Freitas, 2011)- juízos de valor que influenciam os resultados das

avaliações finais, construídos pelos professores e alunos nas interações diárias;

Avaliação Formativa (Afonso, 2009b)- processo amplo, sendo possível recorrer a

diferentes Instrumentos; Avaliação Mediadora (Hoffmann, 2000)- reflexiva e

desafiadora ao professor, sendo possível uma troca de ideias entre e com os seus

alunos; e Avaliação como prática de Investigação (Esteban, 2003)- avaliar é interrogar

e interrogar-se, nos levando assim a considerar os resultados que ora podem ser

instituídos como estáticos, negativos ou definitivos. Essa discussão é relevante uma

vez que hoje podemos realizar o contraponto, o que se espera de uma avaliação e o

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que tem sido proposto com as avaliações estandardizadas. Todas essas concepções

apresentadas fazem oposição à proposta de avaliação em larga escala, uma vez que

tecem criticas a sua proposta classificatória e excludente.

Uma vez concluída a busca no portal da CAPES, iniciamos pesquisa via Biblioteca

Digital de Teses e Dissertações. Seguindo o mesmo procedimento utilizado na busca anterior

através da expressão avaliação em larga escala inserida na busca avançada, encontramos 295

trabalhos, incluindo todas as produções que apresentem quaisquer dessas palavras, e em

qualquer ordem. Destas, 194 são dissertações e 101 teses. A partir desses achados, nos

debruçamos sobre os que tinham relação direta com o tema em questão, o resultado da leitura

dos resumos nos levou a 12 trabalhos, 8 dissertações e 4 teses. Uma vez descartados os

trabalhos que se repetiram, já citados na busca CAPES, e diante de uma leitura mais

aprofundada, tem-se que desse quantitativo, 6 são os trabalhos que apresentam maior

aproximação com nossa questão de pesquisa. O Quadro 2 revela os achados mencionados:

Quadro 2-Dissertações e teses sobre Avaliação em larga escala: consulta Biblioteca Digital

Autor Ano Trabalho ARAÚJO 2014 Desempenho e recompensa: as Políticas das Secretarias

Estaduais de Educação

BEZERRA 2014 O impacto do ensino noturno nos resultados do Spaece: o caso

de duas escolas do Ceará

CARVALHO 2013 O sistema de avaliação do desempenho escolar de Jaguaruana-

Ceará (SADEJ) para a prática pedagógica

ECOTEN 2013 Gestão educacional e avaliação em larga escala: um estudo a

partir da visão dos sujeitos de escolas do município de

Canoas/RS

SILVA 2013 Leitura e Prova Brasil: leitura e avaliação

MOLLMANN 2010 Gestão e avaliação em larga escala: uma análise a partir da

perspectiva de escolas privadas no Rio Grande do Sul

Fonte: elaboração da autora.

Quando voltamos olhares para a temática no Ceará, o quantitativo encontrado é de 8

estudos, sendo 5 dissertações e 3 teses. A partir da leitura do resumo e descartando os já

encontrados e mencionados na lista da CAPES, tem-se 2 trabalhos que mais se aproximam da

nossa questão de pesquisa.

Merece destaque algumas reflexões a partir da aproximação com esses achados:

1) No decorrer da busca, o trabalho de Bezerra (2014) foi o único estudo encontrado

que discutia os impactos da avaliação em larga escala no ensino noturno. Essa é

uma discussão relevante e que merece ser ampliada em estudos posteriores uma

vez que, conforme demonstrou achados da pesquisa ―Ensino médio, educação

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS ...‡… · de viver no safado comum, ou cuida só de religião só. (ROSA, 1994, p.14) 7 ... Figura 3- Formas de articulação

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profissional e desigualdades socioespaciais: avanços e desafios‖, do Centro de

Estudos e Pesquisas em Educação Cultura e Ação Comunitária, tem-se construído

uma prática no Ceará de desinteresse pelo ensino noturno, uma vez que suas

condições de existência e perfil do público assistido tende a baixar os indicadores

da escola. Encontra-se no estado atualmente, o que a pesquisa chamou de ―peneira

estudantil‖, onde os melhores alunos estão no turno da manhã, os medianos a tarde

e os alunos trabalhadores e os que não conseguem acompanhar os outros dois

turnos, seja por dificuldade de aprendizagem ou indisciplina, estão no turno da

noite.

2) Outro elemento a ser discutido diz respeito ao estudo de Mollmann (2010) que

aborda a perspectiva de escolas privadas. É interessante destacar essa discussão

uma vez que há escassez de trabalhos dessa natureza na área. Tende-se a encontrar

como foco da maior parte dos trabalhos a escola pública, mas se observarmos hoje

a importação da lógica mercantil e privada para o ensino público sob a justificativa

de maior eficiência, é interessante compreender como tem se dado na prática o

desenvolvimento do ensino privado, inclusive com o objetivo de verificar se a

justificativa utilizada tem alguma consistência ou se merece ser desconstruída,

descortinada.

No próximo subtópico informamos os procedimentos adotados e resultados

encontrados para o levantamento de produções através da publicação em periódicos.

3.3.2 Avaliação em larga escala em periódicos

Em cenário de sociedade do conhecimento e da informação e de maior expansão da

comunicação e produtividade científica, o acesso a periódicos através dos meios eletrônicos

está sendo cada vez mais utilizado para contribuir com o progresso da ciência, sendo

entendido como um dos principais meios de divulgação de novos conhecimentos.

Nessa perspectiva, para a construção desse EQ nos debruçamos sobre artigos

publicados em periódicos através do portal de periódicos da CAPES, Revista Brasileira de

Educação; Revista de Política e Administração da Educação; Estudos em Avaliação

Educacional. Via Portal de Periódicos da CAPES15

iniciamos a busca utilizando o termo

avaliação em larga escala e encontramos 8 artigos. Desses, a partir da leitura de seu resumo,

tem-se que apenas 3 têm aproximação direta com a questão de pesquisa desse trabalho.

15

Conferir: http://www.periodicos.capes.gov.br/

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Quadro 3- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta CAPES

Autor Ano Trabalho

WERLE 2011 Políticas de avaliação em larga escala

na educação básica: do controle de

resultados à intervenção nos processos

de operacionalização do ensino

SANTOS,

CARBONERA

2010 Gestão democrática da educação e

avaliação em larga escala: implicações

para o contexto escolar

VIEIRA 2007 Gestão, avaliação e sucesso escolar:

recortes da trajetória cearense Fonte: elaboração da autora

Destacamos entre esses achados, o trabalho de Vieira (2007), uma vez que, entre os

resultados da busca esse estudo se materializa como um dos pioneiros no que se refere ao

trato dessa questão. Em seguida acessamos o site da Associação Nacional de Pós-Graduação

e Pesquisa na Educação com o intuito de consultar sua Revista16

. Encontramos 28 volumes

entre os anos de 2007-2015 (v.35 ao v.63), onde a busca foi realizada levando em

consideração primeiro o título e em seguida o resumo. Obtivemos como resultado 9 trabalhos,

destes, apenas 3 apresentavam relação com a questão central desse estudo:

Quadro 4- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta ANPED

Autor Ano Trabalho

BARRERE 2013 Controlar ou avaliar o trabalho docente? Estratégias

dos diretores numa organização escolar híbrida

CORREIA 2010 Paradigmas e cognições no campo da administração

educacional: das políticas de avaliação à avaliação

PARO 2010 Progressão continuada, supervisão escolar e

avaliação externa: implicações para a qualidade do

ensino Fonte: elaboração da autora

Entre os artigos encontrados, chamamos atenção para o estudo de Barrere (2013) que

trás uma discussão interessante sobre o hibridismo das propostas de gestão presente no

cotidiano escolar hoje e que repercutem na relação com a comunidade escolar, especialmente

o professor. Se é verdade que as escolas estão mais democráticas a partir da inserção em seu

cotidiano da ampliação da oferta, da atuação dos conselhos escolares, da construção coletiva

do Projeto Político Pedagógico e da descentralização da figura do diretor, é verdade também

que, a partir das reformas da década de 1990, a lógica gerencialista também ganhou espaço no

16

Conferir: http://www.anped.org.br/site/rbe/rbe

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chão da escola, principalmente com as políticas de avaliação em larga escala e seus

desdobramentos a partir da bonificação e responsabilização. Nesse cenário, é importante

destacar a questão de Barrere (2013) ―Controlar ou avaliar o trabalho docente?‖ O que temos

encontrado nas escolas públicas brasileiras? Essa é uma questão a ser aprofundada no decorrer

da presente dissertação.

O mesmo procedimento foi utilizado para mapeamento na Revista Brasileira de

Política e Administração da Educação17

. Observa-se que do ano de 2007 a 2015, foram

publicados 27 volumes. A busca pelo título nos levou ao encontro de 15 trabalhos sobre a

temática, porém, destes, apenas 6 apresentaram alguma associação com nossa questão de

pesquisa:

Quadro 5- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escala: consulta ANPAE

Autor Ano Trabalho

MACHADO,

ALAVARSE

2014 Avaliação interna no contexto das avaliações externas: desafios

para a gestão escolar

PRESTES,

FARIAS

2014 Face(s) da avaliação da educação em tempos de incertezas

SALGADO

JUNIOR, NOVI

2014 Proposta metodológica: avaliação externa e desempenho dos

alunos

ASSUNÇÃO,

CARNEIRO

2012 O papel do estado e as políticas públicas de educação: uma

análise das avaliações externas no ensino fundamental

RICHIT 2010 Avaliação da educação e a formação continuada docente:

horizontes e contradições nas políticas públicas

MORAIS et al 2009 ―Provinha Brasil‖: monitoramento da aprendizagem e

formulação de políticas educacionais

Fonte: elaboração da autora

O artigo de Machado e Alavarse (2014) é interessante porque nos remete a uma

problemática presente no chão da escola hoje: a descaracterização da avaliação interna em

detrimento das avaliações externas, sendo a primeira, em alguns casos, transformadas em

simulados para a segunda. Fato que compromete a autonomia docente e a construção da

aprendizagem do aluno. Freitas et al (2011a) chama atenção para o fato de que, uma vez

irreversível no momento a prática da avaliação externa, é necessário dialogo entre os três

níveis de avaliação: avaliação da sala de aula, avaliação institucional e avaliação em larga

escala.

17

Conferir: http://seer.ufrgs.br/index.php/rbpae/issue/archive

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66

Figura 1-Níveis de avaliação

Fonte: Freitas et al (2011a, p. 66)

Os autores em questão explicam que não é possível para a avaliação em larga escala

fazer o papel dos outros níveis de avaliação, isso porque a explicação para um determinado

desempenho exige aproximação e familiaridade com o cotidiano das instituições escolares.

Assim, é preciso que os níveis de avaliação trabalhem articuladamente e de acordo com sua

área de abrangência.

Por fim, o último periódico consultado foi Estudos em Avaliação Educacional18

que

apresenta 27 volumes entre os anos de 2007 a 2015. Assim como nas buscas anteriores,

iniciamos o filtro pelo título, buscando pela expressão avaliação em larga escala, o

quantitativo encontrado foi de 24, desses, apenas 3 tem associação direta com a questão

central dessa pesquisa.

Quadro 6- Artigos em periódicos sobre Avaliação em larga escola: consulta Estudos em

Avaliação Educacional

Autor Ano Trabalho

SANTOS, SABIA 2015 Percurso histórico do Saresp e as implicações para o trabalho

pedagógico em sala de aula

ROSISTOLATO et

al

2014 Cobranças, estratégias e ―jeitinhos‖: avaliações em larga

escala no Rio de Janeiro

FERNANDES et al 2010 O conhecimento do professor em avaliação educacional e a

proficiência do aluno Fonte: elaboração da autora

18

Conferir: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/issue/archive?issuesPage=1#issues

Avaliação de

redes Avaliação

institucional

da escola Avaliação em

sala de aula

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O trabalho de Rosistolato et al (2014) põe em relevo uma questão ainda pouco

explorada nos trabalhos sobre o tema: o ―jeitinho‖ ou fraude na aplicação das avaliações de

caráter externo. Os autores mapeiam, nesse estudo, estratégias com vistas a ampliar o

desempenho das escolas, que se configuram como ―jeitinhos‖ e estratagemas orientados pela

expectativa exclusiva de aumentar os índices das escolas. Freitas (2012) explica que ao

permitir que estas avaliações sejam realizadas e os dados obtidos tratados tal qual vem

acontecendo, estamos forçando as escolas a desprender todo seu esforço na produção da nota

do exame, ao invés de preocupar-se com a real aprendizagem dos alunos, como se nota alta no

IDEB fosse sinônimo de boa educação. O autor chama atenção para o fato de que diante desse

cenário, o sistema pode estar entrando em exaustão, colocando as escolas e os sujeitos que

nela atuam sob suspeita permanente, incentivando fraudes e treinando para responder a testes,

inclusive porque o dado da nota em um exame está longe de conseguir explicar a realidade

das instituições educativas.

Ainda sobre os ―jeitinhos‖ que são construídos com o intuito de alcançar os resultados

desejados em Português e Matemática e se destacar no ranking das escolas brasileiras, é

importante destacar a redução curricular como uma estratégia que tem sido utilizada por

diversas escolas. Essa é uma categoria que o presente estudo pretende aprofundar.

Pauta nos principais fóruns de educação, as avaliações em larga escala dividem

opiniões entre os especialistas. Por um lado, são compreendidas como ferramentas capazes de

auxiliar a formulação de políticas educacionais de melhoria da educação básica e superior,

além de mobilizarem a realização de diagnóstico das dificuldades e das melhorias necessárias

para superá-las.

Um sistema nacional de avaliação em larga escala pode prover informações

indispensáveis para aprofundar o debate sobre a situação educacional de um

país e mostrar o que os alunos estão aprendendo, ou o que deveriam ter

aprendido, em relação aos conteúdos e habilidades básicas estabelecidos no

currículo. (CASTRO, 2007, p. 9)

Por outro lado, os gestores escolares e professores acabam por pensar a sua prática

pedagógica e o currículo da instituição com base nas avaliações em larga escala. De acordo

com as características apontadas, Sousa (2003) afirma que a avaliação estimula à competição,

que é refletida na forma de gestão e no currículo.

A avaliação, pautada por tais características, tende a imprimir uma lógica e

dinâmica organizacional nos sistemas de ensino, que se expressam no

estímulo à competição entre as instituições educacionais e no interior delas,

refletindo-se na forma de gestão e no currículo. Quanto ao currículo,

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68

destaca-se sua possível conformação aos testes de rendimento aplicados aos

alunos, que tendem a ser vistos como os delimitadores do conhecimento que

―tem valor‖, entendido o conhecimento como o conjunto de informações a

serem assimiladas pelos alunos e passíveis de testagem. Quanto à gestão, a

perspectiva é o fortalecimento dos mecanismos discriminatórios. (p. 188-

189)

Nesse cenário, o tema currículo passou a fazer parte cada vez mais fortemente das

temáticas envoltas à avaliação e à prática escolar. Para Schneider (2013), ―o currículo é um

campo de lutas, forças e tensões de grupos que tentam assegurar certos conhecimentos para

que estes passem a ser considerados válidos nos textos e nas salas de aula‖ (p.25). Assim,

trabalhar a avaliação envolve estudar o currículo.

A política educacional também passou a olhar com outros olhos a avaliação. Ainda de

acordo com Schneider (2013) embora, por parte do Estado, as determinações curriculares

estejam formalmente mais democratizadas, há forças agindo sobre a escola que podem tornar

tais escolhas praticamente sem significado. A autora infere que mesmo os profissionais tendo

algum controle sobre o currículo, políticas como as avaliações externas são capazes de

direcioná-lo.

Bonamino e Sousa (2012), em estudo pertinente ao tema, traçaram três gerações de

avaliação da Educação Básica no Brasil. A primeira enfatiza a avaliação com caráter

diagnóstico, ―[...] sem atribuição de consequências diretas para as escolas e para o currículo‖

(p. 375). A segunda geração contempla a divulgação pública dos resultados para as escolas e

comunidade em geral. E a terceira, são aquelas que referenciam políticas de

responsabilização, e, com base em seus resultados, impulsionam punições ou recompensas

aos que dela fazem parte. As autoras analisam que o desenho introduzido a partir da segunda

geração ―[...] produzem indicadores capazes de fornecer informações a respeito dos

componentes do currículo que estão chegando aos alunos‖ (p. 386).

As avaliações pertencentes à segunda geração assim, ―[...] parecem estar reforçando o

alinhamento, nas escolas e secretarias de educação, entre o currículo ensinado e o currículo

avaliado‖ (Op. Cit., p. 386). A redução curricular pode ser observada ainda em estudos como

o de Machado (2012), que retrata a relação entre a avaliação externa e a gestão escolar no que

se refere ao uso dos resultados. Nesse estudo, também é possível perceber a relação que se faz

entre os resultados adquiridos e as iniciativas que sugerem a redução do currículo,

favorecendo as disciplinas e conteúdos pertinentes às avaliações externas, ou seja, prioriza-se

o trabalho em sala de aula das disciplinas e conteúdos que costumam estarem presentes nas

avaliações.

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Outro ponto observado pela autora são os rankings promovidos pela mídia, quando da

divulgação dos resultados. Colocar situações diversas no mesmo patamar é para a autora

mascarar históricos de desigualdade. São realidades singulares, que geram resultados distintos

e precisam ser analisadas sob a ótica do seu próprio histórico, e não em comparações

simplistas e midiáticas, que nada acrescentam ao objetivo da escola: a garantia do processo de

ensino e aprendizagem.

Ainda sobre o tema, Vieira (2014, p.11) discorre que a ―[...] parafernália gerencial e

política em torno das provas, aí incluindo o ranqueamento (ranking) entre sistemas e

instituições‖ tem promovido impasses que se situam na contramão de uma cultura

democrática nas escolas (VIEIRA; VIDAL, 2015). A partir dessa lógica o trabalho passa a ser

direcionado em prol dos resultados, esquecendo-se de como estes foram produzidos, o que

implica o trabalho sobre o uso dos resultados, etapa valiosa no processo avaliativo muitas

vezes esquecida ou dispensada.

Ainda sobre essa questão, Coutinho (2012) afirma que:

O modelo de avaliação em larga escala que foi implementado no sistema

educacional brasileiro possui as seguintes características: ênfase nos

resultados, ranqueamento das instituições, desarticulação com a auto-

avaliação da instituição escolar e, quanto ao currículo, uma conformação ou

homogeneização do processo pedagógico, escolha das atividades, preparação

de material didático e a seleção dos conteúdos que passam a ser vistos como

delimitadores do conhecimento oficial, ou seja, o conjunto de informações

que os alunos precisam assimilar, pois são passíveis de testagem. O

professor condiciona a sua prática pedagógica às avaliações externas (p. 22).

Assim, o currículo materializado na escola está orientado pelas matrizes de

referência das avaliações externas a partir de descritores que dão ênfase aos saberes a serem

avaliados, mais conhecidos como habilidades e competências das áreas de Língua Portuguesa

e Matemática. Os estudos realizados por Coutinho (2012) apontam que

O Currículo Mínimo surge com uma proposição de uma reforma curricular

que pode ser interpretada como uma resposta pragmática às pressões que as

avaliações externas exercem sobre as instituições. Isto evidencia que o

objetivo principal das bases curriculares das instituições escolares não é

garantir o aprendizado do aluno, mas sim apresentar os conteúdos que foram

selecionados a partir de uma matriz avaliativa (p. 27).

A avaliação externa tem se configurado como instrumento impulsionador do

redimensionamento dos parâmetros de qualidade da educação brasileira. Por isso, Coutinho

(2012) menciona o processo de reformulação do currículo escolar na perspectiva da cultura da

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70

avaliação, cuja ênfase é o produto, o resultado e não os processos que culminaram nesse

índice.

Tem-se percebido uma tendência em associar o planejamento e o currículo aos

resultados das avaliações, fato que tem impulsionado o processo de uniformização e

hegemonização das práticas curriculares, levando a redução da autonomia dos professores e

gestores. Compreende-se que a escola está envolvida nesse emaranhado de números e

pressões, porém, é necessário que os gestores e professores estejam atentos para o

compromisso social da instituição.

A competição que se instala com o processo de busca dos bons resultados torna-se

evidente quando se encontra nas escolas brasileiras a redução do currículo das disciplinas de

História, Geografia e Ciências em detrimento das disciplinas de Português e Matemática com

o objetivo de alcançar os resultados esperados nas avaliações externas como demonstra

resultados dos estudos realizados por Vieira et al (2011a). Porém, ―não se deve, pois, pensar a

escola como um mero reprodutor passivo nas mãos e a serviço do Estado, do capital ou de

qualquer outro poder externo‖ (ENGUITA, 1989, p. 218). É papel da escola e dos

profissionais que a compõem, percebendo as necessidades de aprendizagem, investir em

estratégias que contemplem as demais disciplinas. É preciso refletir sobre como essas

avaliações tem interferido nas práticas pedagógicas, nas relações interescolares e no currículo

e identidade das instituições.

É importante ressaltar a contribuição significativa desse periódico para a discussão do

processo de criação e implantação da política de avaliação em larga escala no Brasil. Por seu

caráter específico, regularidade de publicações e quantitativo de trabalhos, presta contribuição

essencial para a elaboração de novos trabalhos sobre o tema. Embora o resultado de nossa

busca tenha nos levado ao encontro de apenas três trabalhos relacionados à nossa questão

central, é importante mencionar que outros trabalhos encontrados na plataforma, colaboraram

para a construção da base desse estudo.

3.3.3 Avaliação em larga escala em anais de eventos

Os congressos são espaços democráticos onde circulam trabalhos desenvolvidos por

alunos, professores e outros profissionais que discutem as mesmas temáticas e promovem a

troca de experiências. Dos meios de divulgação do conhecimento científico apresentados

nesse capítulo, os congressos são os que recebem o maior contingente de publicações e que

estão abertos para o grande público. Por esse motivo a elaboração desse EQ realizou consulta

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aos anais dos dois principais eventos da linha de interesse desse estudo, as reuniões anuais da

ANPED e os simpósios da ANPAE.

A busca nos anais da ANPED foram realizados por reunião e GT, para a presente área

de interesse, o GT utilizado para a busca é o 5 ―Estado e Política Educacional‖ 19

: A busca

inicialmente pelo título onde se filtrou pela expressão avaliação em larga escala,

considerando os títulos que apresentassem qualquer uma dessas palavras e posteriormente

pelo resumo, foram encontradas 19 publicações. Dessas, observou-se que 3 trabalhos

contribuiriam com a questão central do presente estudo:

Quadro 7- Artigos em anais de eventos sobre Avaliação em larga escala: consulta reuniões

ANPED

Autor Ano Trabalho

MOTA 2015 Avaliação e cotidiano escolar: usos e desusos da Provinha

Brasil na alfabetização

AUGUSTO 2013 Políticas de resultados e avaliação de desempenho: efeitos da

regulação educativa sobre carreira e remuneração

SILVA 2007 A avaliação institucional e a gestão democrática na escola

Fonte: elaboração da autora

Dentre os trabalhos destacados, o artigo de Augusto (2013) dar ênfase a uma questão

central, mas ainda pouco discutida: a temática avaliações e resultados standardizados e os

consequentes efeitos da regulação. A autora procurou investigar as medidas interventoras,

propostas pelo governo e os seus efeitos sobre o trabalho docente, tendo como foco a carreira,

a remuneração e a avaliação de desempenho dos professores. A constatação foi de que as

escolas e os professores têm o seu desempenho avaliado segundo os resultados obtidos pelos

alunos.

19

A consulta foi realizada nos seguintes endereços: 30ª reunião da ANPED-―30 anos de pesquisa e compromisso

social-2007 (http://30reuniao.anped.org.br/); 31ª reunião da ANPED-"Constituição Brasileira, Direitos

Humanos e Educação-2008 (http://31reuniao.anped.org.br/1trabalho/trabalho05.htm); 32ª reunião da

ANPED-―Sociedade, Cultura e Educação: novas regulações?‖-2009

(http://32reuniao.anped.org.br/trabalho_gt_05.html); 33ª reunião da ANPED-―Educação no Brasil: balanço de

uma década‖-2010 (http://33reuniao.anped.org.br/internas/ver/trabalhos-gt05); 34ª reunião da ANPED-

―Educação e justiça social-2011

(http://34reuniao.anped.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=101:trabalhos-gt05-estado-e-politica-educacional&catid=47:trabalhos&Itemid=59); 35ª reunião anual da ANPED-― Educação, Cultura,

Pesquisa e Projetos de Desenvolvimento: o Brasil do Século XXI‖-2012

(http://35reuniao.anped.org.br/trabalhos/101-gt05); 36ª reunião anual da ANPED-―Sistema Nacional de

Educação e Participação Popular: Desafios para as Políticas Educacionais‖-2013

(http://36reuniao.anped.org.br/trabalhos/163-trabalhos-gt05-estado-e-politica-educacional) 37ª reunião da

ANPED- PNE: tensões e perspectivas para a educação pública brasileira-2015

(http://37reuniao.anped.org.br/trabalhos/).

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72

Augusto (2013) destaca ainda o alto grau de insatisfação dos professores com as

intervenções de controle e centralização das decisões na gestão do sistema e as dificuldades

em lidar com a política de premiação. Essas constatações nos levam a justificar novamente a

importância de voltar olhares para o chão da escola e mais especificamente para os gestores e

professores, com o intuito de dar voz a esses sujeitos. Esse trabalho pretendeu realizar esse

movimento.

Outro trabalho que merece destaque é o de Mota (2015) que discute a questão do uso e

desuso compartilhados dos resultados das avaliações em larga escala. No Brasil, os

municípios foram elevados à categoria de ente federativo, com a promulgação da Constituição

Federal em 1988. Esse fato é reafirmado com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB, nº 9394 de 1996). Os dois documentos compõem o marco legal no

processo de formulação e de implantação de políticas em educação no país. Por isso, tais

documentos passaram a orientar, nessa direção, a União, os estados e os municípios.

O texto constitucional, em seu artigo 18, reconhece o município como componente da

organização político administrativa da Federação, quando afirma: ―A organização político-

administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição‖.

Andrade (2011) explica que a requisição e a justificativa da construção de um Regime

de Colaboração no Brasil está associada a forte assimetria quanto à capacidade de

autofinanciamento entre as esferas administrativas do país. Para o referido autor

A herança da desigualdade de distribuição de renda da população, as

disparidades de potencial tributário entre as regiões, os graves problemas de

discriminação étnica, além de outros, são alguns dos elementos que reforçam

a necessidade de um pacto federativo que faça valer o sentido de sermos uma

federação, que requer relação de reciprocidade entre suas partes

constituintes. (p. 142)

Os processos referentes a efetividade do sistema de ensino atual estão baseados no

regime de colaboração, bem como os dispositivos que cercam estas novas formas de atuação

do poder público, no qual entende-se que o poder local adquire estrutura própria num contexto

que segue a ―lógica do pensar globalmente e agir localmente‖. (VIEIRA, 2011b, p. 9)

Sobre essa ―liberdade relativizada‖, Vieira (2011b) explica que

O local e o global, em suas múltiplas dimensões onde espaço e tempo se

interpenetram, estão a reconfigurar-se em lógicas distintas daquelas legadas

pela geografia que aprendemos na escola. [...] No caso de um país de

dimensões continentais como o Brasil, é imperioso indagar em que medida

as soluções globais oferecem alternativas aos problemas locais [...]

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73

considerando diferentes populações a serem beneficiadas pela educação

escolar, regiões geográficas, cenários urbanos e rurais. (p. 7- 8)

Por outro lado, a LDB 9.394/96 ao tratar da organização da educação nacional repete

determinação constitucional ao propor em seu artigo 8º que: ―A União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de

ensino‖.

Decorrente dessa determinação, a LDB, em seu artigo 11, indica incumbências para o

município na gestão de sua política de educação, descritas sinteticamente a seguir: I.

Organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino;

II. Exercer ação redistributiva em relação às suas escolas, III. Baixar normas para o seu

sistema de ensino; IV. Autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu

sistema de ensino; V. Oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas e VI. Assumir o

transporte escolar dos alunos da rede municipal.

O processo de municipalização da educação se acentua com a Emenda Constitucional

n° 14/96, que cria o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e

Valorização do Magistério (FUNDEF), Lei n° 9.424/96 vigente no país, a partir de 1998.

Para Vieira (2008) o objetivo do FUNDEF foi:

Assegurar a ―universalização do ensino fundamental‖ e a ―remuneração

condigna do magistério‖. (...) o que alterou substancialmente a fisionomia do

sistema educacional brasileiro. Para os municípios, sua criação significou

grande injeção de recursos para a educação, representando cerca de 40% das

receitas advindas de transferências voluntárias a estes repassadas (p. 60).

A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB de

1996 definiram com clareza o papel e a importância do município como ente federativo

autônomo, na formação e na gestão da política educacional, sendo permitido criar, inclusive o

seu próprio sistema de ensino. A colaboração entre a União, estados e municípios passa a ser

definida, do ponto de vista legal, como sendo o regime adequado para a busca de uma

educação de qualidade e não excludente (AZEVEDO, 2011, p. 141).

A figura 2 demonstra a forma como ainda tem se estabelecido a relação construída

entre os diferentes entes que pensam e executam as políticas educacionais mesmo após o

processo de redemocratização: hierarquicamente.

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Figura 2- Relações entre elaboração e execução de políticas educacionais

Fonte: Freitas (2011b, p. 19)

Freitas (2011b) observa que as políticas educacionais são pensadas pelo poder público

sob a orientação do MEC e das Secretarias de Educação (estaduais e municipais). As ações

planejadas pelo Governo Federal são encaminhadas para todo o território brasileiro. A gestão

educacional representa a execução dessas políticas, materializando as ideias, buscando maior

proximidade com a prática.

Ao chegar no âmbito da gestão municipal, está encarrega-se da disseminação de

políticas para o município, que assume a responsabilidade de socializar da mesma maneira

para as escolas. O papel da gestão municipal é de acompanhamento e repasse. Essa ligação

entre as diferentes esferas da gestão educacional estreita as relações das escolas com o poder

público. É nessa esfera que se situa o nosso trabalho. O diretor escolar juntamente com o

coordenador pedagógico implementam as políticas dentro do espaço escolar, adaptando-as

quando necessário. São eles que regem este ambiente, proporcionando organização,

mobilização e articulação para criar um bom clima de aprendizagem.

Por fim, a relação se materializa no chão da escola. A escola representa o local onde

tudo que é pensado na política e na gestão educacional se concretiza. Dantas (2012, p. 40)

afirma que a hierarquia compreende as três esferas, porém na interlocução dos atores, o

registro das políticas pode percorrer diferentes caminhos e alcançar novas formas.

No que se refere à política de avaliação em larga escala, os responsáveis por trabalhar

os dados coletados e sistematizados encontram-se no âmbito da escola, seus gestores e

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professores. Para Pestana (2013, p. 126) ―o primeiro impacto do SAEB no setor educacional

se fez sentir na capacidade de formulação de diagnósticos educacionais, na identificação de

problemas ainda não percebidos e, consequentemente, no processo de formulação e gestão da

política pública‖. No entanto, é na escola que estão os sujeitos principais no processo

educativo. Isto é, diretores, coordenadores, professores e demais funcionários da escola

estarão diretamente em contato com o trabalho que poderá alterar a aprendizagem dos alunos,

tendo, como base, os reflexos da avaliação educacional.

Partindo da premissa que a avaliação aponta a tomada de decisão, e, por conseguinte o

aperfeiçoamento da prática, um tema em voga é o uso pedagógico dos resultados, isto é, como

a escola se apropria dos resultados observados na avaliação. O uso dos resultados das

avaliações (internas e externas) compreende a disseminação, leitura e interpretação destes

processos que ocorrem após todo o ciclo de planejamento e execução das várias atividades

avaliativas e etapas que a compõem. Desse modo, a disseminação e o uso dos resultados das

avaliações são os novos desafios na gestão dos sistemas de avaliação (PESTANA, 2013).

De acordo com Blasis (2013), mesmo ocupando espaço central no desenho das

políticas educacionais de estados e municípios, estudos apontam que as informações

produzidas por essas avaliações ainda não são suficientemente exploradas como subsídio para

a gestão educacional e o trabalho pedagógico.

É necessário que os profissionais de escolas (professores e membros do núcleo gestor)

e de secretarias de educação compreendam os dados e informações produzidos pelas

avaliações, saibam o que significam e como utilizá-las. De tal modo que a articulação entre as

três esferas de gestão: macro (sistema municipal); meso (gestão escolar) e micro (sala de aula)

devem assemelhar-se a uma engrenagem, que unidas, trabalharão de forma mais articulada. É

o que nos apresenta o estudo do Blasis (2013), ilustrado na figura abaixo:

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Figura 3- Formas de articulação quanto ao uso dos resultados de avaliações externas

Fonte: BLASIS (2013, p.257) apud DANTAS (2014)

De acordo com a autora, em cada esfera temos prioridades que devem ser

consideradas. A ação conjunta entre secretaria de educação, núcleo gestor e professores

precisa ser estabelecida a fim de que se possa trabalhar os dados coletados e utilizá-los a favor

do aluno, alcançando assim os objetivos da avaliação educacional, conforme defendem as

teorias da área.

O uso dos resultados das avaliações externas pela escola deve colaborar para repensar

todos os aspectos e gerar transformações. Vianna (2005) explica que os resultados das

avaliações não devem ser usados única e exclusivamente para traduzir certo desempenho

escolar. A sua utilização implica servir de forma positiva na definição de novas políticas

públicas, de projetos de implantação e modificação de currículos, de programas de formação

continuada dos docentes e, de maneira decisiva, na definição de elementos para a tomada de

decisões que objetivem provocar um impacto positivo na instituição.

Se as avaliações externas apresentam diagnósticos da aprendizagem dos alunos, é

importante apropriar-se desses insumos a fim de propiciar ações direcionadas ao

enfrentamento das dificuldades. Na contramão, está a preparação para as avaliações e a busca

pelos resultados. Em meio a esse processo, encontram-se os professores, sujeitos atuantes no

processo educacional e que realizam a gestão do processo de ensino e aprendizagem na sala

de aula, assim, munido das informações coletadas poderá reavaliar o desenvolvimento dos

estudantes e reorientar sua prática.

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77

Face ao exposto, este trabalho busca tecer considerações sobre a percepção desses

sujeitos centrais no processo de apropriação de resultados das avaliações, gestores escolares e

professores cearenses e as consequentes decisões tomadas.

Prosseguindo na ampliação da discussão, utilizamos o mesmo procedimento de

mapeamento já mencionado para a realização da busca dos simpósios promovidos pela

ANPAE no período de 2007 a 2015, com o auxilio da Biblioteca da ANPAE20

. A busca partiu

da expressão avaliação em larga escala, considerando todos os trabalhos com qualquer uma

dessas palavras, o primeiro filtro se deu a partir do título e em seguida do resumo.

Encontramos 146 trabalhos, desses, tem-se que 7 contribuem para a questão central desse

trabalho:

Quadro 8- Artigos em anais de eventos sobre Avaliação em larga escala: consulta encontros

ANPAE

Autor Ano Trabalho

SOUSA,

MELO NETO

2015 Accountability: do conceito em expansão às experiências de

avaliação no contexto educacional

GIGANTE,

VIEIRA

2015 Avaliação da Prova Brasil e o Ideb: percepção das unidades

escolares

SIMÕES,

ZÓZIMO

2015 Concepções de avaliação entre gestores de escolas com alto IDEB

no nordeste

CERDEIRA 2013 A recepção das políticas de avaliação externa pelos gestores

escolares: uma análise dos municípios do Rio de Janeiro e Duque

de Caxias

CUNHA et al 2011 A gestão escolar e as avaliações externas na educação básica

SILVA,

MORAES

2009 Avaliação institucional e gestão democrática - quando a

escola busca ―ser mais‖

SANTOS et al 2007 Avaliação em larga escala: um estudo sobre aspectos da

multifatorialidade que interferem na avaliação Fonte: elaboração da autora

20

A consulta foi realizada nos seguintes endereços: (http://www.anpae.org.br/website/publicacoes/biblioteca-anpae). Acessamos: XXIII SIMPÓSIO Brasileiro de Política e Administração da Educação Por uma escola de

qualidade para todos- 2007-(http://www.anpae.org.br/congressos_antigos/simposio2007/index2.html); XXIV

Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação. Direitos Humanos e Cidadania – desafios para as

políticas públicas e a gestão democrática da educação-2009-

(http://www.anpae.org.br/congressos_antigos/simposio2009/index2.html); XXV Simpósio Brasileiro de

Política e Administração da Educação Políticas Públicas e Gestão da Educação: construção histórica, debates

contemporâneos e perspectivas futuras-2011-

(http://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/trabalhosCompletos01.htm); XXV Simpósio Brasileiro

de Política e Administração da Educação Políticas, Planos e Gestão da Educação: democratização e qualidade

social-2013- (http://www.anpae.org.br/simposio26/index.html); XXVI Simpósio Brasileiro de Política e

Administração da Educação Política, avaliação e gestão da educação: novos governos, novas agendas?-

2015-(http://www.anpae.org.br/simposio2015/index.html#/).

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Entre os trabalhos expostos na tabela 8, merece destaque o estudo de Simões e Zózimo

(2015) que apresentou como objetivo a investigação das concepções de gestores educacionais

que obtiveram altos IDEBs em 2011 na região nordeste. Esse estudo apresentou dois

elementos interessantes, primeiro sua dimensão de abrangência, com amostra regional, o que

nos permite ampliar o olhar sob a temática, segundo por serem gestores de escolas com bons

resultados. O estudo apontou a centralidade da avaliação em larga escala nas falas dos

gestores, ou seja, a associação do termo ―avaliação‖ à avaliação em larga escala. Fica como

questão então: diante do lugar de fala e das representações sociais que este lugar considera,

poderia se desenhar de forma diferente a concepção de avaliação dos gestores de escolas com

baixo IDEB? Refletir sobre esse contraponto é um dos propósitos desse estudo.

Outro trabalho que merece destaque é o de Sousa e Melo Neto (2015) que discute a

problemática da Accountability, uma das categorias que nossa investigação busca por em

relevo. Escolas de redes municipais e estaduais respondem, anualmente, a aplicação de

diferentes avaliações em larga escala. A divulgação posterior dos resultados é um dos fatores

que pode, por um lado, servir de estimulo e combustível para o bom clima escolar e o trabalho

da instituição, por outro, pode gerar uma ―política de responsabilização‖ dos sujeitos

envolvidos.

Sobre o assunto, Afonso (2009a) baseia-se em Schedler (1999), que por sua vez

associa o termo accountability a três dimensões: ―uma de informação, outra de justificação e

outra de imposição ou sanção‖. Numa compreensão inicial, ―a prestação de contas pode ser o

pilar que sustenta ou condensa as duas primeiras: o direito de pedir informações e de exigir

justificações, sendo que, para a concretização de ambas, é socialmente esperado que haja a

obrigação ou o dever de atender ao que é solicitado‖. Essas duas dimensões podem ser

definida, em sentido restrito, como ―obrigação ou dever de responder a indagações ou

solicitações (answerability)‖ (AFONSO, 2009a, p. 59).

De acordo com Afonso (2009b) ao longo da década de 1980, a emergência de políticas

neoliberais veio dar novo impulso aos mecanismos de responsabilização em grande medida

porque se tornou evidente a convergência de valores entre alguns modelos de prestação de

contas e os pressupostos daquelas políticas, nomeadamente entre o direito de escolha da

educação (educational choice) por parte dos pais, redefinidos como consumidores, e sua

relação com a divulgação dos resultados (ou produtos) da educação escolar, necessários para a

fundamentação dessas mesmas escolhas.

Vidal e Vieira (2011) em pesquisa denominada ―Sucesso escolar: um enigma a

decifrar‖, em que investigavam a gestão educacional em dez municípios do Ceará a partir de

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seus resultados no IDEB, observaram que avaliações como a Prova Brasil ―[...] permitiram a

construção de uma valiosa base de dados para a elaboração de diagnósticos precisos e

detalhados sobre problemas relativos ao desempenho de estudantes brasileiros e sobre a

política educacional em geral‖ (VIDAL; VIEIRA, 2011, p. 424), esse fato desaguou

gradativamente na responsabilização dos sujeitos diante dos resultados.

Conforme observado, com base na literatura já apresentada, é visível o espaço que as

avaliações externas têm conquistado em todo o território nacional. Com a criação do IDEB e

com a divulgação dos dados obtidos nas avaliações nacionais, a questão da aprendizagem

passou a ser vista com mais foco.

De posse dos dados, os gestores passam a poder avaliar a eficiência do trabalho que a

escola vem realizando e pensar novas alternativas metodológicas para melhorar o processo de

ensino e aprendizagem, no entanto, o produto da avaliação acaba por gerar uma política de

responsabilização não só pelos resultados, mas também pelas ações dos envolvidos.

Vidal, Vieira e Medeiros (2014) explicam que no quadro político atual, os níveis

centrais tem se desobrigado dos seus resultados, particularmente se eles forem negativos, isto

ocorre mediante a transferência de responsabilidades para as escolas, que devem desenvolver

sua capacidade ―empreendedora‖ e buscar recursos.

Nesse contexto, se pode constatar que, nos últimos anos, vem se implantando de forma

gradativa e sutil um sistema de accountability. A figura 4 revela os elementos que integram

esse sistema político.

Figura 4- Elementos que constituem uma política de accountability

Fonte: VIDAL, VIEIRA, MEDEIROS (2014, p.23)

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80

As autoras explicam que com as avaliações em larga escola, especialmente a Prova

Brasil foi possível a discriminação dos resultados por escola, levando-as a dispor de um

conjunto expressivo de informações a partir de padrões, são inúmeros os dados coletados em

todos os âmbitos, nacional, estadual e municipal, possibilitando a comparação das redes e

escolas. O setor público se defronta com estruturais dificuldades de se regular e de ser

regulado. Tanto a ideia da transformação induzida por mecanismos de ―recompensa e

punição‖, aparentemente embutidos em algumas das iniciativas de uso dos resultados das

avaliações sistêmicas, quanto a ideia de ―difundir uma perspectiva transformadora na ação

educacional, impulsionada por forte estímulo à participação cidadã, implementada por

algumas administrações populares‖, mostraram dificuldade de se estabilizar, estando muito

dependentes da existência de um estímulo à participação ―que vem de cima‖, do uso da

autoridade. (p.23)

As consequências desse cenário podem ser observadas pelos programas, projetos e

benefícios que o próprio MEC cria, selecionando as prioridades de atendimento a partir dos

resultados alcançados. A responsabilização ―está intimamente associada à prestação de

contas, uma vez que ser responsável por um processo ou um resultado implica, sobretudo no

setor público em uma sociedade democrática, em ter que prestar contas dos recursos

aplicados‖. (VIDAL, VIEIRA, MEDEIROS, 2014, p.23)

É importante mencionar, que além de cobrados e responsabilizados, os atores

escolares acabam por serem pressionados direta ou indiretamente a condicionarem suas

práticas aos resultados das avaliações, que impõem diretrizes que levam a uma tendência à

padronização das práticas docentes e dos currículos, subsidiadas pela pressão dos testes e

exames nacionais.

Neste contexto, aquilo que deveria representar mera radiografia de um

momento da vida escolar (a avaliação externa), passa a ser vivido como se

fosse sua essência. Sistemas e escolas passam a viver sob o signo da

avaliação de larga escala sob uma lógica imposta de fora para dentro. De

instituição comprometida com a formação para a cidadania, veiculação e

transmissão do saber, passa a se configurar como uma pequena linha de

montagem onde gestores, professores e estudantes passam a valer pelos bens

que produzem sob a forma de resultados (VIEIRA, 2014, p. 11-12 apud

VIEIRA e VIDAL, 2015, p. 36)

Nesse cenário a corrida por resultados, a disputa para alcançar o topo do ranking

gestam ações que deságuam na redução curricular e no comprometimento da autonomia

docente.

Ludke (sd.) se apoia na metáfora utilizada por Foucault, para a determinação da

loucura ou da criminalidade: segundo está ultima, convive-se, em sociedade, com indivíduos

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81

que desenvolvem comportamentos diversos em relação à saúde mental e a conduta legal. O

que determina, portanto, a definição de um sujeito como doente mental, ou delinquente, é a

comparação de seu comportamento a uma norma estabelecida socialmente. Para o autor, a

escola também submete seus alunos,

[...] a constante comparação com as normas de excelência, que também são

definidas de acordo com a sociedade. E ai se manifesta bem claramente o

caráter sociológico da avaliação: ela reflete diretamente os valores pregados

pelo grupo social ao qual a educação serve. Se quisermos saber o que

determinada sociedade valoriza, basta observarmos seu sistema de avaliação.

Não apenas o conteúdo e a própria divisão das disciplinas (do saber), por ele

sancionados, mas igualmente as formas de conduta, sutilmente passadas

através das normas de excelência perseguidas pela escola. (LUDKE, sd, p.

44)

Parece que a avaliação tem se revelado o instrumento ideal para manter ao mesmo

tempo a função seletiva, mas salvaguardando os assim chamados ideais democráticos da

educação elementar. Isso nos leva a refletir sobre a necessidade de se estudar o fenômeno

avaliativo em uma perspectiva sociológica.

Diante do exposto faz-se necessário organizar a pesquisa de modo a cumprir com

nossos objetivos e aprofundar as questões aqui apresentadas, assim, apoiados na perspectiva

teórico-metodológico da Análise do Discurso, se faz necessário definir os instrumentos de

pesquisa e o método de análise de maneira adequada, cuja apresentação far-se-á no próximo

capítulo.

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4 ANÁLISE DO DISCURSO NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: PROPOSTA

TEÓRICO-METODOLÓGICA

O discurso é um suporte abstrato que sustenta os vários textos (concretos)

que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em

termos de figuras e temas, das estruturas semio-narrativas. Através da

Análise do Discurso é possível realizarmos uma análise interna (o que este

texto diz?, como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que

ele diz?). Ao analisarmos o discurso, estaremos inevitavelmente diante da

questão de como ele se relaciona com a situação que o criou. A análise vai

procurar colocar em relação o campo da língua (suscetível de ser estudada

pela Linguística) e o campo da sociedade (apreendida pela história e pela

ideologia). (GREGOLIN, 1995, p.17)

Compreendendo discurso, portanto, como prática, este capítulo apresenta como

proposta a discussão em torno da Análise Critica do Discurso (ACD) e sua contribuição para a

compreensão das relações de poder e a linguística que envolve o processo de elaboração e

implementação das Políticas de avaliação em larga escala. Para tanto se apoia nas

perspectivas teóricas desenvolvidas por Michel Foucault e Normam Fairclough.

Fairclough (2001) em sua obra Discurso como mudança social aborda o termo como

sendo ―o uso de linguagem como forma de prática social‖ (p. 90). Para o autor, o discurso

constitui a prática social e é por ela também influenciada e segue chamando atenção para duas

afirmações de Foucault que considera importante para a abordagem: ―a natureza constitutiva

do discurso - o discurso constitui o social, como também os objetos e os sujeitos sociais; a

primazia da interdiscursividade e da intertextualidade - qualquer prática discursiva é definida

por suas relações com outras e recorre a outras de forma complexa‖. (p.81)

Ao mesmo tempo em que destaca os pontos de convergência entre sua abordagem e a

perspectiva de Foucault, o autor também aponta as lacunas, no trabalho deste, que precisam

ser discutidas: ―[...] tais como sua negligência para com a análise textual e sua visão

constitutiva do discurso‖ (p.39).

Assim, a partir do modelo de análise tridimensional do discurso proposto por

Fairclough e as contribuições teóricas de Foucault, apresenta-se o caminho metodológico que

esse trabalho pretende seguir.

[...] para pesquisar precisamos de métodos e técnicas que nos levem

criteriosamente a resolver problemas. [...] é pertinente que a pesquisa

científica esteja alicerçada pelo método, o que significa elucidar a

capacidade de observar, selecionar e organizar cientificamente os caminhos

que devem ser percorridos para que a investigação se concretize (GAIO et al

2008, p. 148).

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Este capítulo apresenta, portanto, os pressupostos teóricos que subsidiam as decisões

adotadas a respeito do caminho a ser trilhado na realização do trabalho. Adiante são

explicitados a tipificação do estudo, os sujeitos, método, técnicas e procedimentos escolhidos

para a coleta, processamento e análise dos dados.

4.1 O modelo tridimensional de norman fairclough

A teoria da análise do discurso não apresenta apenas uma perspectiva. Diferentes

grupos, a partir de abordagens variadas se apropriam e adaptam a teoria para utilizá-la a partir

de leituras de mundo diferenciadas. Caregnato e Mutti (2006) explicam que apesar dos

enfoques variarem, os diferentes estilos

[...] parecem ter em comum, ao tomar como objeto o discurso, é que

partilham de uma rejeição da noção realista de que a linguagem é

simplesmente um meio neutro de refletir, ou descrever o mundo, e uma

convicção da importância central do discurso na construção da vida social.

(p. 680)

Assim, a análise do discurso se desenha a partir do sentido e não apenas do conteúdo

do texto, um sentido que, segundo os autores mencionados, não é traduzido, mas produzido.

Estes seguem explicando que o corpus da AD é constituído pela seguinte formulação:

―ideologia + história + linguagem. A ideologia é entendida como o posicionamento do sujeito

quando se filia a um discurso, sendo o processo de constituição do imaginário que está no

inconsciente, ou seja, o sistema de ideias que constitui a representação‖ (p. 680), em outras

palavras, representa o contexto sócio-histórico. Nessa perspectiva, a linguagem é a

materialidade do texto, que direciona, envia dicas, ―pistas‖ do sentido que o sujeito pretende

dar. Portanto, na AD a linguagem vai além do texto. Vinculando-se à perspectiva de análise

crítica do discurso, Fairclough propôs uma abordagem tridimensional, constituída pelas

dimensões: texto, prática discursiva e prática social.

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Figura 5-Abordagem tridimensional do discurso de Fairclough

Fonte: Fairclough (2001, p. 101).

Para compreender os três elementos dessa concepção e como eles se relacionam,

aprofundaremos a discussão a seguir.

A conexão entre o texto e a prática social é vista como mediada pela prática

discursiva: de um lado, os processos de produção e interpretação são

formados pela natureza da prática social, ajudando também a formá-la e, por

outro lado, o processo de produção forma (e deixa vestígios) no texto, e o

processo interpretativo opera sobre ‗pistas‘ no texto. (FAIRCLOUGH, 2001,

p. 35-36. Grifos do autor)

Nessa perspectiva, a prática discursiva seria o processo de produção, distribuição e

consumo do texto, entendendo cada etapa mencionada como um processo social que pode

variar de acordo com os diferentes tipos de discursos e, consequentemente, dos fatores sociais

envolvidos.

No que se refere especificamente ao texto, o autor chama atenção para elementos da

linguística, como: o vocabulário, a gramática, a coesão e a estrutura textual. Quando o foco

está no vocábulo, são postos em relevo neologismos, lexicalizações, superexpressão, relações

entre palavras e seus sentidos. Quando se trata da análise gramatical, as referências são às

palavras combinadas em expressões ou frases. Seguindo para a coesão, associa-se aos elos

entre essas expressões ou frases, como exemplo, o autor se refere às palavras de mesmo

campo semântico, sinônimos e conjunções. Por fim, a estrutura textual, que tem a ver com as

formas de construção do texto, a maneira como os elementos estão relacionados.

Apoiado no subsídio teórico fornecido pelo autor em questão, Pedrosa (s.d) elaborou

quadro que tem como objetivo sistematizar as orientações de Fairclough para análise textual:

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Quadro 9-Análise do texto

Elementos de análise Tópicos Objetivos

Controle internacional

Estrutura textual

Geral

Descrever as características

organizacionais gerais, o

funcionamento e o controle das

interações.

Polidez

Determinar quais as estratégias de

polidez são mais utilizadas na amostra

e o que isso sugere sobre as relações

sociais entre os participantes.

Ethos

Reunir as características que

contribuem para a construção do eu

ou de identidades sociais.

Coesão Geral Mostrar de que forma as orações e os

períodos estão interligados no texto.

Gramática

Geral

Trabalhar com a transitividade

(função ideacional da linguagem),

tema (função textual da linguagem) e

modalidade (função interpessoal da

linguagem).

Transitividade

―Verificar se tipos de processo [ação,

evento...] e participantes estão

favorecidos no texto, que escolhas de

voz são feitas (ativa ou passiva) e

quão significante é a nominalização

dos processos‖ (Fairclough, 2001, p.

287.)

Tema

Observar se existe um padrão

discernível na estrutura do tema do

texto para as escolhas temáticas das

orações.

Modalidade

Determinar padrões por meio da

modalidade, quanto ao grau de

afinidade expressa com proposições.

Vocabulário Significado

de palavras

Enfatizar as palavras-chave que

apresentam significado cultural, as

palavras com significado variável e

mutável, o significado potencial de

uma palavra, enfim, como elas

funcionam como um modo de

hegemonia e um foco de luta.

Criação

de palavras

Contrastar as formas de lexicalização

dos sentidos com as formas de

lexicalização desses mesmos sentidos

em outros tipos de textos e verificar a

perspectiva interpretativa por trás

dessa lexicalização.

Metáfora

Caracterizar as metáforas utilizadas

em contraste com metáforas usadas

para sentidos semelhantes em outro

lugar, verificar que fatores (cultural,

ideológico, histórico etc) determinam

a escolha dessa metáfora. Verificar

também o efeito das metáforas sobre

o pensamento e a prática.

Fonte: Pedrosa (s.d)

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O desenho proposto é importante porque contribui para o momento de realizar a

análise, uma vez que expressa as orientações de Fairclough como caminho possível, embora o

próprio autor chame atenção para o fato de que essa dimensão, textual, não deve ser

compreendida apartada das dimensões da prática discursiva e da prática social, as três são

interdependentes. Foi possível, portanto, apoiado neste, adaptar para realização da pesquisa

que subsidiou a presente dissertação.

Assim, compreende-se que o texto falado ou escrito expressa uma prática discursiva.

Como já mencionado, Fairclough (2001) considera a mesma a partir da produção, distribuição

e consumo do texto e entende que ao analisar textos examinam-se simultaneamente questões

outras, tanto de forma, quanto de significado.

O autor distingue três elementos utilizados na análise da prática discursiva e explica

que embora envolva aspectos textuais, é por meio da prática discursiva que eles se

materializam: ―a força dos enunciados, isto é, os tipos de atos de fala (promessas, pedidos,

ameaças, etc.) por eles constituídos; a coerência dos textos; e a intertextualidade dos textos‖.

(p. 103-104)

A exemplo do quadro apresentado para a análise textual, Pedrosa (s.d) disponibiliza

também quadro com orientações para apoio no momento de realização da análise da prática

discursiva. A base para a construção se deu a partir da obra Discurso como mudança social.

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87

Quadro 10-Análise da prática discursiva

Práticas

discursivas Tópicos Objetivos

Produção

do texto

Interdiscursividade

Especificar os tipos de discurso

que estão na amostra discursiva

sob análise, e de que forma isso é

feito.

―É a amostra discursiva

relativamente convencional nas

suas propriedades interdiscursivas

ou relativamente inovadoras?‖

(Fairclough, 2001, p. 283).

Intertextualidade manifesta

Especificar o que outros textos

estão delineando na constituição do

texto da amostra, e como isso

acontece.

Como ocorre a representação

discursiva: direta ou indireta? O

discurso representado está

demarcado claramente? O que está

representado: contexto, estilo ou

significado ideacional? Como as

pressuposições estão sugeridas no

texto?

Distribuição

do texto

Cadeias

intertextuais

Especificar a distribuição de uma

amostra discursiva através da

descrição das séries de textos nas

quais ou das quais é transformada.

(Quais os tipos de transformações,

quais as audiências antecipadas

pelo produtor?).

Consumo

do texto Coerência

Considerar as implicações

interpretativas das particularidades

intertextuais e interdiscursivas da

amostra. Como os textos são

interpretados e quanto de trabalho

inferencial é requerido.

Condições

da prática

discursiva

Geral

Especificar as práticas sociais de

produção e consumo do texto,

ligadas ao tipo de discurso que a

amostra representa.

A produção é coletiva ou

individual? Há diferentes estágios

de produção?

―As pessoas do animador, autor e

principal são as mesmas ou

diferentes?‖ (Fairclough, 2001, p.

285).

Fonte: Pedrosa (s.d)

No que diz respeito à produção a prática discursiva para Fairclough (2001), está

associada à interpretação e leitura de mundo dos sujeitos que a produzem. Em relação à

distribuição, a atenção deve voltar-se para quem são destinados os textos, e as formas como

são socializados. Sobre o consumo, a compreensão passa pela perspectiva dos sentidos

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atribuídos a partir dos conteúdos textuais. Como explica Meuerer (2007) este último elemento

está associado a como os sujeitos ―estabelecem relações de coerência; como (re) criam a

textualização de possíveis intenções; como se coadunam com outros textos (intertextualidade)

e com outros discursos (interdiscursividade)‖. (p.48)

Por fim, Fairclough (2001) aborda o discurso como prática social. Para o autor, ainda

que as pessoas sejam influenciadas ideologicamente falando, estas têm condições de filtrar o

que recebem do meio externo no sentido de ressignificar suas práticas. ―O equilíbrio entre o

sujeito ‗efeito‘ ideológico e o sujeito agente ativo é uma variável que depende das condições

sociais, tal como a estabilidade relativa das relações de dominação‖ (p. 121).

Uma categoria que aparece como um dos pilares centrais da discussão ao lado da

ideologia é a hegemonia. Apoiando-se nas ideias de Gramsci, Fairclough (2001) considera

que a hegemonia

[...] fornece um modelo de teorização da mudança em relação a evolução das

relações de poder que permite um foco particular sobre a mudança

discursiva, mas ao mesmo tempo um modo de considerá-la em termos de sua

contribuição aos processos mais amplos de mudança e de seu amoldamento

por tais processos. Hegemonia é liderança tanto quanto dominação nos

domínios econômicos, políticos, culturais e ideológicos de uma sociedade.

Hegemonia é o poder sobre a sociedade como todo de uma das classes

economicamente definidas como fundamentais em aliança com outras forcas

sociais, mas nunca atingido senão parcial e temporariamente, como um

'equilíbrio instável'. Hegemonia é a construção de alianças e a integração

muito mais do que simplesmente a dominação de classes subalternas,

mediante concessões ou meios ideológicos para ganhar seu consentimento.

Hegemonia é um foco de constante luta sobre pontos de maior instabilidade

entre classes e blocos para construir, manter ou romper alianças e relações de

dominação/subordinação, que assume formas econômicas, políticas e

ideológicas. A luta hegemônica localiza-se em uma frente ampla, que inclui

as instituições da sociedade civil (educação, sindicatos. família), com

possível desigualdade entre diferentes níveis e domínios. (p.122)

Nessa perspectiva, os elementos da prática discursiva, produção, distribuição e

consumo de textos expressam essa luta hegemônica que podem contribuir tanto no sentido de

manutenção e reprodução ou podem ascender como uma possibilidade de mudança,

transformação da ordem do discurso e das relações sociais existentes.

Avançando para a terceira dimensão, sobre a perspectiva do discurso como prática

social, Pedrosa (s.d) também oferece significativa contribuição ao organizar as orientações de

Fairclough (2001) no quadro a seguir.

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Quadro 11- Análise da prática social

Elementos de análise Objetivos

Matriz social do discurso

―Especificar as relações e as estruturas sociais e

hegemônicas que constituem a matriz dessa instância

particular da prática social e discursiva; como essa

instância aparece em relação a essas estruturas e

relações [...]; e que efeitos ela traz, em termos de sua

representação ou transformação?‖ (Fairclough, 2001,

p. 289-290).

Ordens

do discurso

Explicitar o relacionamento da instância da prática

social e discursiva com as ordens de discurso que ela

descreve e os efeitos de reprodução e transformação

das ordens de discurso para as quais colaborou.

Efeitos

ideológicos

e políticos

do discurso

Focalizar os seguintes efeitos ideológicos e

hegemônicos particulares: sistemas de conhecimento e

crença, relações sociais, identidades sociais (eu).

Fonte: Pedrosa (s.d)

Em relação ao terceiro elemento da análise, a prática social, o autor tece associações

com duas outras categorias para explicá-la: ideologia e hegemonia. Sobre o assunto, Resende

e Ramalho (2006) afirmam que

Na categoria ideologia, observam-se os aspectos do texto que podem ser

investidos ideologicamente, como os sentidos das palavras, as

pressuposições, as metáforas, o estilo. Na categoria hegemonia, observam-se

as orientações da prática social, que podem ser orientações econômicas,

políticas, ideológicas e culturais. (p.188)

Para os fins desse trabalho, o termo ideologia será aplicado e compreendido como um

conjunto de representações no interior de uma sociedade, ou seja, ―uma orientação acumulada

e naturalizada que é construída nas normas e nas convenções, como também um trabalho atual

de naturalização e desnaturalização de tais orientações nos eventos discursivos‖

(FAIRCLOUGH, 2001, p. 119). Partindo do entendimento de que estamos inseridos em uma

sociedade capitalista e, portanto, de classe, é preciso perceber que há várias ideologias em

constante conflito se materializando na sociedade. A ideologia seria, nessa perspectiva, ―a

visão de mundo de determinada classe e a maneira como ela representa a ordem social.

Assim, a linguagem é determinada em última instância pela ideologia, pois não há uma

relação direta entre as representações e a língua‖ (GREGOLIN, 1995, p.17).

O autor segue discutindo ―formação ideológica ou condições de produção do

discurso". Para ele, a sociedade possui diversas formações ideológicas, estando cada uma

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delas associada a uma "formação discursiva (o que se pode e se deve dizer em determinada

época, em determinada sociedade). Por isso, os processos discursivos estão na fonte da

produção dos sentidos e a língua é o lugar material onde se realizam os efeitos de sentido‖

(p.17-18).

Diante das contribuições de Fairclough (2001) como um dos pilares teórico-

metodológicos deste estudo, no tópico a seguir apresentaremos brevemente as contribuições

de Foucault para a análise critica do discurso, perspectiva de apoio deste trabalho.

4.2 A contribuição de Foucault para a análise critica do discurso

Os estudos de Foucault apresentam duas contribuições teóricas essenciais para a

perspectiva crítica do discurso. A primeira se refere a uma visão constitutiva do discurso,

nessa perspectiva o discurso constitui objetos de conhecimento, sujeitos e as formas sociais do

'eu', as relações sociais e as estruturas conceituais. A segunda é uma ênfase na

interdependência das práticas discursivas: refere-se ao fato de um texto recorrer a outros

textos anteriores e transformar as práticas, gerando combinações com outras práticas

discursivas. (FAIRCLOUGH, 2001)

Foucault contribuiu para o avanço dessa discussão, porém, é possível também,

encontrar lacunas em seu trabalho que foram posteriormente objeto de análise de Fairclough.

―A análise do discurso de Foucault não inclui a análise discursiva e linguística de textos reais‖

(FAIRCLOUGH, 2001, p. 82). É nessa lacuna que o autor insere a sua Análise do Discurso

Textualmente Orientada (ADTO) e segue explicando que o problema de Foucault está

associado ao fato de este não propor um discurso de resistência que fosse além de sua própria

formação discursiva e que tal problema centra-se na ―ausência de um conceito de prática [...]

abrangendo a ausência do texto e da análise textual‖. (FAIRCLOUGH, 2001, p. 83).

Para compreender as contribuições da discussão promovida por Foucault, Fischer

(2001) explica que é preciso atenção às coisas ditas, trabalhando com o próprio discurso e

toda a sua complexidade, buscando o sentido das coisas práticas. Para tanto é preciso superar

a compreensão do discurso como um conjunto de signos referentes a determinados conteúdos,

que inclusive quase sempre carrega um significa oculto, intencionalmente distorcidos e

carregado de representações escondidas nos e pelos textos, não sendo imediatamente

identificáveis.

Fischer (2001) afirma que para Foucault tudo é prática e está permeado pelas

relações e conflitos por poder e saber, que se implicam mutuamente, ou seja, enunciados e

visibilidades, textos e instituições, falar e ver constituem práticas sociais por definição

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permanentemente presas, amarradas às relações de poder. Para além das palavras e frases, o

discurso em Foucault, segundo a autora, apresenta regularidades intrínsecas a si mesmo,

através das quais é possível definir uma rede conceitual que lhe é própria.

Foucault propõe uma análise de discurso voltada para a análise de

enunciados, esta se constitui como uma se várias formas de analisar

desempenhos verbais. As demais são uma análise lógica de proposições,

uma análise gramatical de frases, uma análise psicológica ou contextual de

formulações. A análise discursiva de enunciados não substitui esses outros

tipos de análises, mas não pode também ser reduzida a eles. Uma

consequência é que, para Foucault, a analise de discurso não pode ser

equiparada a análise linguística, nem o discurso a linguagem. A análise de

discurso diz respeito não especificação das frases que são possíveis ou

gramaticais mas a especificação sociohistoricamente variável de formações

discursivas (algumas vezes referidas como discursos), sistemas de regras que

tornam possível a ocorrência de certos enunciados, e não outros, em

determinados tempos, lugares e localizações institucionais. (FAIRCLOUGH,

2001, p. 64-65).

Nessa perspectiva, discurso para Foucault representa um conjunto de enunciados que

se apoiem na mesma formação discursiva. Para Fischer (2001) essa é uma das inúmeras

definições de discurso, que o autor destaca na obra A Arqueologia do saber. A autora segue

explicando que nessa perspectiva o enunciado em si não constituiria uma unidade, pois ele se

encontra na transversalidade de frases. Ele é um acontecimento, que nem a língua nem o

sentido podem esgotar inteiramente. Não há enunciado que não esteja apoiado em um

conjunto de signos, mas o importante é o fato de essa função caracterizar-se por quatro

elementos, um sujeito (no sentido de posição a ser ocupada), um campo associado (isto é,

coexistir com outros enunciados) e uma materialidade específica por tratar de coisas

efetivamente ditas, escritas, gravadas em algum tipo de material, passíveis de repetição ou

reprodução, ativadas através de técnicas, práticas e relações sociais (FISCHER, 2001).

Fairclough (2001) destaca três pontos emergentes do trabalho de Foucault e que

avançam no sentido de colaborar com a abordagem por ele defendida:

[...] a natureza discursiva do poder - as práticas e as técnicas do biopoder

moderno (por exemplo, o exame e a confissão) são em grau significativo

discursivas; a natureza política do discurso - a luta por poder ocorre tanto no

discurso quanto subjacente a ele; a natureza discursiva da mudança social -

as práticas discursivas em mutação são um elemento importante na mudança

social. (p. 82)

Por fim, é importante ressaltar que a análise da prática social, presente nas concepções

de discurso em Foucault são retomadas por Fairclough (2001), mas esse último avança no

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sentido de incorporar as concepções de ideologia e hegemonia, conforme já discutido em

tópico anterior.

Uma vez apresentado o suporte teórico, esse capítulo avança para a dimensão

metodológica que este mesmo suporte teórico fornece.

4.3 A análise crítica do discurso como metodologia

Apesar de não existir uma metodologia coerente da Análise crítica do

discurso, muitas características são comuns à maioria dos enfoques da

Análise crítica do discurso: em primeiro lugar, se concentram nos problemas

e não em elementos linguísticos específicos. Não obstante, é obrigatório

possuir uma capacidade linguística para selecionar os aspectos que se tornam

relevantes para os objetivos específicos da investigação. Em segundo lugar,

tanto a teoria como a metodologia são ecléticas: ambas vão unidas desde que

seja útil para a compreensão dos problemas sociais que se submetem à

investigação. (MEYER, 2003, p. 56).

Para o autor, ao se apoiar na análise critica do discurso é preciso compreender a coleta

de dados como algo processual e controlado pelo recorte estabelecido para a pesquisa. As

orientações de Fairclough (2001) servem como caminho, direção, porém, o próprio autor

chama atenção para o fato de que o definidor da metodologia deve ser o objeto, assim, o

enfoque deve seguir o caminho que melhor responder a pergunta de pesquisa, não sendo este

um modelo rígido. Para os fins desse trabalho, o enfoque seguido se apoia nas teorias do

discurso que concebem este como fenômeno social, procurando compreender sua origem,

estrutura e organização.

Pedrosa (s.d) corroborando com esse entendimento, explica que dada a variedade de

enfoques no que se refere à análise crítica do discurso, não existe uma maneira específica de

obtenção de dados. Ainda assim, apresenta alguns possíveis passos metodológicos: ―primeiras

seleções de dados; primeiras análises; identificação dos indicadores para conceitos concretos;

elevação dos conceitos a categorias; reunião de novos dados com base nos primeiros

resultados (amostra teorética)‖. (p.1)

Fairclough (2011) sugere três fases que, uma vez adotadas, responderiam a proposta

de aplicação da análise crítica do discurso em um trabalho científico: os dados, a análise e os

resultados.

Sobre os dados, revela que inicialmente é preciso compreender a análise de discurso

em seu aspecto interdisciplinar. Podendo, os dados serem abordados com base nos tópicos:

definição de um projeto, o corpus, ampliação do corpus e codificação e seleção de amostras

no corpus.

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Essa questão está relacionada com a perspectiva de discurso que o autor defende

[...] a qual envolve um interesse nas propriedades dos textos, na produção, na

distribuição e no consumo dos textos, nos processos sociocognitivos de

produção e interpretação dos textos, na pratica social em varias instituições,

no relacionamento da pratica social com as relações de poder e nos projetos

hegemônicos no nível social. Essas facetas do discurso coincidem com os

interesses de varias ciências sociais e humanistas incluindo a linguística, a

psicologia e a psicologia social, a sociologia, a história e a ciência política. O

que é especifico acerca de uma prática discursiva particular depende da

pratica social da qual é uma faceta. Projetos de pesquisa em análise de

discurso são, portanto, mais sensivelmente definidos. Primeiro em termos de

questões sobre formas particulares de pratica social e suas relações com a

estrutura social; diante do enfoque que tenho adotado, em termos de aspectos

particulares de mudança social ou cultural. (p. 275)

Essa explicação do autor chama atenção para o fato de que, para definição de um

projeto de pesquisa, são essas disciplinas mencionadas que deveriam ser levadas em

consideração em primeiro lugar. Em segundo lugar, a seleção dos dados, a construção do

corpus e a coleta de dados dependerão da abordagem escolhida pelo autor do projeto. Para

isso, Fairclough (2011) oferece algumas orientações a serem seguidas:

A natureza dos dados requeridos variarão de acordo com o projeto e as

questões da pesquisa, mas há certos princípios gerais para ter-se em mente.

Pode-se apenas tomar uma decisão sensível sobre o conteúdo e a estrutura de

um corpus, a luz de informações adequadas sobre o 'arquivo'. [...] Trata-se,

em parte, de um problema prático de saber-se o que é útil, e como chegar até

lá, mas também de ter-se um modelo mental da ordem de discurso da

instituição ou o domínio do que se esta pesquisando, e os processos de

mudança que estão em andamento, como uma preliminar para decidir-se

onde coletar amostras para um corpus. [...] Os analistas de discurso

dependeriam das pessoas nas disciplinas relevantes e das que trabalham na

área da pesquisa para decisões sobre quais amostras são típicas ou

representativas de uma certa prática; se o corpus reflete adequadamente a

diversidade da pratica e as mudanças na pratica mediante diferentes tipos de

situação, ambas consideradas de maneira normativa e inovadora; e se o

corpus inclui ponto critico e momentos de crise. (p. 277)

Assim, esse trabalho se direciona para a definição do processo metodológico que

seguirá baseado nas orientações de Fairclough e Focault. Guba e Lincoln (1994) definem

paradigma como um sistema básico de crenças que guia o pesquisador. Propõe, para a

definição do mesmo, que o investigador responda a três questões básicas: o que é o mundo

(ontologia); o que é o conhecimento sobre o mesmo (epistemologia); e como conhecê-lo

(metodologia). Em seguida desenvolvem e analisam as quatro abordagens que atualmente

estão competindo, ou até recentemente competiram, como norteadores e orientadores da

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pesquisa, especialmente a investigação qualitativa: o positivismo; o pós-positivismo;

interpretativista ou construtivista; teoria crítica e posições ideológicas relacionadas.

Adiante os autores apresentam dez questões relacionadas aos temas centrais de

qualquer investigação (objetivo da pesquisa, natureza do conhecimento, acumulo de

conhecimento, critérios da boa pesquisa, papel dos valores, ética, voz refletida, formação de

pesquisadores e hegemonia) e comparam as respostas obtidas para estas em cada um dos

paradigmas.

Nesse sentido, no desenvolvimento dessa pesquisa compreendemos que, no âmbito da

ontologia, não há apenas uma realidade. Ao contrário, existem muitas, todas construídas

socialmente pelos mais diversos sujeitos em suas mais variadas condições sociais e históricas,

que devem ser objeto de apreciação da investigação.

Em sua dimensão ontológica o modelo interpretativo entende o conhecimento como

uma construção humana, e considerando a possibilidade de existirem várias perspectivas

teóricas sobre o mesmo fenômeno. No campo epistemológico, toma posição subjetivista,

afirmando que o saber é provocado através da hermenêutica e confrontando dialeticamente.

Nessa perspectiva, no que se refere ao aspecto metodológico, a investigação realizada sob

esse prisma adota atitude hermenêutico-dialética.

Nessa perspectiva, à luz dos ensinamentos desenvolvidos e da resposta às questões

levantadas por Guba e Lincoln (1994), o modelo interpretativo, também conhecido como

construtivista ou naturalista, foi o paradigma de investigação adotado para esse estudo.

Referido pensamento ―supõe múltiplas, apreensíveis e, às vezes, conflitantes realidades

sociais que são produtos de intelectos humanos, mas que podem mudar na medida em que

seus construtores se tornam mais informados e sofisticados‖ (p.112).

Para o referido paradigma, o conhecimento é ―criado a partir do estabelecimento de

relações entre investigador e os sujeitos da pesquisa, onde se busca a reconstrução de

construções previamente sustentadas‖ (ALVEZ-MAZZOTTI, 1996). Para esse paradigma a

aproximação do pesquisador com o campo empírico e com os sujeitos envolvidos é essencial.

Em um estudo Interpretativo, o processo de investigação deve ser flexível, aberto à

visão dos atores pesquisados e à sensibilidade do contexto no qual a pesquisa está sendo

realizada. Os métodos utilizados dentro desse paradigma são essencialmente qualitativos,

sendo os mais utilizados: o Estudo de Caso, a Pesquisa-Ação e a Etnografia.

Nessa perspectiva, uma pesquisa não pode ser considerada neutra, sendo necessário

considerar os valores atribuídos aos fatos. Assim, o conhecimento terá uma flexibilidade,

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sendo passível de mutação, posto que, em cada investigação, há a influência do

pesquisador/pesquisado.

Assim, o paradigma interpretativo, a partir de uma ontologia relacional, de uma

epistemologia subjetiva, e de uma metodologia hermenêutico-dialética (ALVES-MAZOTTI,

1996; GUBA; LINCOLN, 1994) consiste no pano de fundo que norteia as escolhas teóricas e

metodológicas para investigar a política de avaliação em larga escala em um município

cearense, objeto desse projeto de dissertação.

A reflexão inicial no planejamento do trabalho de pesquisa consiste na decisão a

respeito da forma pela qual os dados serão coletados, processados e analisados. Assim, cabe

responder sob qual abordagem dar-se-á a investigação: se quantitativa, qualitativa ou mista.

Para superar essa inquietação, resgatou-se o debate realizado por Branner (2005), Flick

(2009), e ainda, Sampieri, Callado e Lúcio (2013).

Brannen (2005) discorreu sobre o ingresso de abordagem qualitativa e quantitativa no

processo de pesquisa. Este trabalho examina como esses enfoques se inter-relacionam, dando

uma atenção especial a dois contextos: o da pergunta, onde as questões da pesquisa são

levantadas, podendo as respostas necessárias demandar métodos diversificados para uma

melhor obtenção de qualidade nas respostas; e o da justificativa, onde se processa a análise e

interpretação dos dados.

Sampieri, Callado e Lúcio (2013) destacam o conjunto de comparações feitas entre os

métodos quantitativo e qualitativo em diversos aspectos e etapas, e que, segundo os autores,

―ambos os enfoques são muito valiosos e contribuíram de maneira notável para o avanço do

conhecimento. Nenhum é intrinsecamente melhor do que o outro‖ (p.41) e ainda que ―são

enfoques complementares, isto é, cada um com a sua respectiva função é utilizado para

conhecer um fenômeno e levar à solução dos diversos problemas e questionamentos‖ (p.42)

No que tange a utilização da pesquisa quantitativa e qualitativa numa mesma pesquisa,

Flick (2009) citando Hammersley (1996) distingue três formas de fazer a ligação entre as

duas, que são:

Triangulação de ambas as abordagens, em que se pode trabalhar na

perspectiva de mais ênfase na avaliação mútua de resultados e menos na

extensão mútua de potenciais conhecimentos.

A facilitação destaca a função de apoio da outra abordagem – cada uma

proporciona hipóteses e inspirações para realizar análises da abordagem

isoladamente.

Ambas as abordagens podem ser combinadas como estratégias

complementares de pesquisa (FLICK, 2009, p. 23-24).

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Sobre essa abordagem mista, Bryman (1999) apud Flick (2009) explicita que enquanto

as características estruturais podem ser analisadas por métodos quantitativos, os aspectos

processuais são objeto da pesquisa qualitativa. Se a perspectiva dos pesquisadores impulsiona

as abordagens quantitativas, a pesquisa qualitativa enfatiza o ponto de vista dos sujeitos (p.

121).

Merece destaque também, a reflexão de Sampieri, Callado e Lúcio (2013), quando

afirmam que os enfoques quantitativos aproximam realidades objetivas, os qualitativos

aproximam realidades subjetivas, e as abordagens que fazem uso de métodos mistos são úteis

para aproximar realidades intersubjetivas.

Após o posicionamento acerca da abordagem de investigação em curso ser

predominantemente qualitativa, com possibilidade de uso de métodos mistos, cabe situar o

posicionamento quanto à tipificação do estudo. As investigações podem ser classificadas

quanto à sua natureza, como pesquisa básica ou pesquisa aplicada (MARCONI; LAKATOS,

2000). No primeiro caso, o processo de produção de novos conhecimentos tem como objetivo

maior o avanço da ciência, não havendo preocupação com o seu uso prático e imediato. É

realizada quando o investigador tenta resolver problemas que tem origem nas inquietações do

campo teórico.

A pesquisa aplicada é realizada para determinar os possíveis usos das descobertas da

pesquisa básica ou para definir novos métodos ou maneiras de alcançar certo objetivo

especifico e pré-determinado. Envolve consideração de conhecimento disponível e sua

ampliação com vistas à solução de problemas específicos. Assim, o que se refere à utilização

dos resultados, a investigação terá por finalidade contribuir para intervir na realidade. É

concebida pelo interesse em adquirir novos conhecimentos, e primordialmente dirigida em

função de um objetivo prático.

Nesse sentido, a presente investigação está situada no segundo grupo, quanto à sua

natureza. É uma pesquisa aplicada, tendo em vista que se propõe a gerar conhecimento para

que sejam utilizados no campo prático, em especial no que se refere à implementação dessa

iniciativa pelos sistemas de ensino.

É importante deixar claro para o leitor que para além da classificação quanto à

natureza, a pesquisa é definida quando ao seu objetivo também. Gil (2007) classifica as

pesquisas em relação aos seus objetivos em três grupos: Exploratória, Descritiva, Explicativa.

A primeira objetiva proporcionar maior aproximação ao problema, tornando-o mais explicito,

de modo a possibilitar a construção de hipóteses. Utiliza como procedimentos técnicos a

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pesquisa bibliográfica ou estudo de caso, fazendo uso de instrumentos como entrevistas,

questionários, análise de exemplos, dentre outros.

Pelo fato de se tratar de fenômeno pouco investigado, que carece de estudos

aprofundados, os quais permitam identificar categorias de análise ou geração de hipóteses

para estudos posteriores, posiciona-se esta investigação como exploratória.

Quanto ao método, optou-se por utilizar o Estudo de Caso, com casos múltiplos, pelo

fato de se tentar ―esclarecer uma decisão ou um conjuntos de decisões: o motivo pelo qual

foram tomadas, como foram implementadas e com qual resultado‖ (YIN, 2005, p.31)

A escolha deste método deve-se ao fato de que

O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos

contemporâneos, mas quando não se pode manipular comportamentos

relevantes. O estudo de caso conta com muitas técnicas utilizadas pelas

pesquisas históricas, mas acrescentam duas fontes de evidencias que

usualmente não são incluídas no relatório de historiador: observação direta

dos acontecimentos que estão sendo estudados e entrevistas com pessoas

neles envolvidas (YIN, 2005, p. 26).

O propósito deste trabalho consiste em uma prática contemporânea: a implementação

da política de avaliação em larga escala. Para melhor justificar a escolha pelo método, seguem

ensinamentos de Scrihamm:

A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de

estudos de caso, é que ele tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de

decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como oram implementadas e

quais os resultados (SCHIRAMM apud YIN, 2005, p. 31)

O processo de inserção das avaliações em larga escala no interior das escolas consiste

em decisões tomadas e implementadas pelos gestores da educação. Compreender melhor a

abrangência e complexidade dessa ação consiste no propósito deste estudo.

Dentre as técnicas utilizadas para a obtenção das respostas às questões levantadas, o

estudo em apreço privilegiou ―a observação direta dos acontecimentos que estão sendo

estudados e entrevistas das pessoas neles envolvidas‖ (YIN, 2005, p. 69)

A condução da pesquisa atentou para as fontes de evidencia mais comumente

utilizadas neste método de pesquisa, a saber, a documentação, os registros em arquivos, as

entrevistas, as observações e, ainda, os artefatos físicos (YIN, 2005).

Este trabalho, como já exposto, pretendeu investigar a política de avaliação em larga

escala em seis escolas localizadas em três regionais I, II e V no município de Fortaleza-Ceará.

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Fortaleza é dividida em seis regionais no que se refere ao mapeamento da educação básica

municipal.

Figura 6-Mapa das Regionais de Fortaleza

Fonte: IPECE

A pesquisa contemplou três regionais, a que apresenta os maiores indicadores de

desenvolvimento (Regional II), a regional em condições medianas (Regional I) e a regional

com maiores marcas de vulnerabilidade (Regional V). Em cada uma, selecionou-se o bairro

de menor IDH, Praia do Futuro I, Barra do Ceará e Siqueira, respectivamente. Os Bairros

selecionados encontram-se em situação de profunda desigualdade socioespacial, onde vivem

as famílias mais pobres da cidade e crianças com a maior dificuldade socioeconômica como

público alvo dessas escolas. No interior de cada um desses bairros, a investigação se debruça

sob duas escolas, sendo uma que atingiu os melhores resultados no IDEB do ano de 2015 e

uma que apresentou o menor resultado no mesmo ano.

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Quadro 12-Seleção da amostra

Regional Bairro IDH-

2010

Escola Maior

IDEB

IDEB-

2015

Escola menor

IDEB

IDEB-

2015

I Barra do

Ceará

0, 215 Escola Municipal

Jader de

Figueiredo Correia

5.7 Escola Municipal

Antônio Mendes

4.5

II

Praia do

Futuro I

0,291 Escola Municipal

Professora

Belarrmina

Campos

5.5 Escola Municipal

Frei Agostinho

Fernandes

5.0

V Siqueira 0,148 Escola Municipal

Herbert de Souza

6.7 Escola Professor

Edilson Brasil

Soarez

5.1

Fonte: Elaboração da autora

A justificativa para serem seis escolas em diferentes regionais e em contextos

socioeconomicamente desfavorecidos, se deve ao fato da possibilidade de variações no uso

dessa política, seja em relação à implementação, a utilização de resultados, o impacto no

trabalho de gestores e professores ou ainda, em relação à vulnerabilidade social dos bairros,

afinal em cenário pouco propício, o que move o trabalho das instituições educacionais?

Tem-se como unidade de análise cada uma das escolas, cujo foco de interesse é o

processo de inserção das avaliações em larga escala no chão das instituições escolares. Para

isto, foram sujeitos da pesquisa os professores do 5º ano (ensino fundamental) que ministram

as disciplinas de Português e Matemática, foco das avaliações externas, e os gestores

escolares representados pela figura do diretor da instituição.

Os mesmos foram entrevistados na perspectiva de responderem às questões levantadas

para a compreensão do processo de recebimento das avaliações e uso de seus resultados. No

que diz respeito à abordagem aos sujeitos entrevistados, utilizou-se a carta de apresentação

disponibilizada pelo orientador e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para fins

deste trabalho, as escolas serão nomeadas, no decorrer do texto, por letras do alfabeto, de A a

F.

Como procedimento de coleta de dados serão considerados a observação, análise

documental e entrevista. Através da observação direta, por ocasião do trabalho de campo,

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procurar-se-á registrar os espaços, as relações e sujeitos envolvidos, além das condições

objetivas e subjetivas que fornecerão elementos para conclusões. Segundo Lakatos & Marconi

(1992), essa técnica não consiste apenas em ver e ouvir, mas também examinar fatos ou

fenômenos que se deseja estudar. Consiste em um tipo de atenção intensa que utiliza os

sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade.

A partir da aproximação com o campo empírico observou-se a infraestrutura das

instituições (estado de conservação do prédio, condições de funcionamento das salas de aula,

estado de conservação dos equipamentos da escola, limpeza do ambiente escolar, espaços

para socialização das crianças, segurança da escola); a organização pedagógica (reuniões

pedagógicas, momentos de planejamento, projetos existentes na escola, material didático,

recursos pedagógicos e atividades complementares).

Observou-se ainda, o perfil dos professores (nível de formação, tempo de experiência,

tempo de atuação na instituição, existência de formação continuada) e da gestão (quantidade

de coordenadores, atividades sob responsabilidade de cada membro do núcleo gestor,

participação dos profissionais da escola nas decisões da gestão, clima escolar); os indicadores

da escola (taxas de aprovação/reprovação/abandono, resultados da escola nas avaliações em

larga escala) e o entorno da instituição (recursos culturais e de lazer, perfil da comunidade,

nível de escolaridade dos pais, roubos, pichações ou depredação do prédio da escola,

violência contra os profissionais da escola, relação entre escola-comunidade)

A entrevista foi do tipo semiestruturada e desenvolvida a partir de um roteiro, com

liberdade ao entrevistador e ao entrevistado para ampliação ou redução das questões e

respostas. Para Triviños, esta ―[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas

também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...] além de manter a presença

consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações‖ (TRIVIÑOS,

2006, p. 152). Questões básicas que são apoiadas em teorias e hipóteses que se relacionam ao

tema da pesquisa são suas características essenciais. Os questionamentos dariam frutos a

novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco principal seria

colocado pelo investigador-entrevistador.

Manzini (1991, p.154) afirma que ―a entrevista semiestruturada está focalizada em um

assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas

por outras questões inerentes às circunstancias momentâneas à entrevista‖. Segundo esse

autor, poderão emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão

condicionadas a uma padronização de alternativas, com o uso desse tipo de entrevistas.

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Para ambos os autores um ponto comum é a necessidade de perguntas básicas e

principais para atingir o objetivo da pesquisa. Assim, faz-se necessário planejar a coleta de

informações através da elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os objetivos

propostos. O roteiro serviu para coletar as informações básicas bem como um instrumento

para apoiar o pesquisador no processo de interação com o informante. Pelos motivos acima se

optou por esse formato de entrevista, a ser utilizada junto às direções das escolas e seus

professores.

A pesquisa ainda desenvolveu análise documental que também constituiu-se

importante técnica desenvolvida nesta pesquisa, seja complementando informações obtidas

por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema. Conforme

Holanda, documento consiste em ―qualquer base de conhecimento, fixada materialmente e

disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo, prova, etc.‖, e ainda, a

―escritura destinada a comprovar um fato; declaração escrita, revestida de forma padronizada,

sobre fato(s) ou acontecimentos de natureza jurídica‖ 21

. Nesse sentido, deverão ser utilizados

documentos diversos solicitados à escola, os quais incluem: o Projeto Político Pedagógico, os

diários de classe dos professores e provas realizadas no período da observação.

Quando buscamos analisar discursos e documentos, textos oficiais sobre as políticas

de avaliação em larga escala, significou antes de tudo tentar escapar da fácil interpretação

daquilo que estaria por trás dos documentos, procurando explorar ao máximo os materiais, na

medida em que eles são uma produção histórica, política; na medida em que as palavras são

também construções; na medida em que a linguagem também é constitutiva de práticas.

Em relação ao processo de análise dos dados coletados a partir do movimento já

explicitado nesse capítulo, destacamos uma dificuldade relatada por Fairclough (2001) que

diz respeito à definição do que fazer em primeiro lugar ao começar a análise, a questão é se

devemos iniciar pela análise textual, pela discursiva, ou ainda pela social. Segundo o autor,

estabelecer uma sequência é sempre útil para organizar o resultado, porém, não há definição

rígida sobre por qual dimensão obrigatoriamente deva-se começar.

Essas três dimensões da análise vão inevitavelmente estar superpostas na

prática; por exemplo, os analistas sempre começam com alguma ideia da

prática social em que se situa o discurso. Mas a sequência e útil para ordenar

o resultado do engajamento de alguém em uma amostra discursiva particular

antes de apresentá-la na forma escrita ou falada. Note-se que envolve uma

progressão da interpretação a descrição e volta a interpretação: da

interpretação da pratica discursiva (processos de produção e consumo de

21

Novo Aurélio Século XXI-O Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Nova Fronteira, Versão 3.0, digital.

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texto) a descrição do texto. A interpretação de ambos a luz da pratica social

em que se situa o discurso. Não é necessário proceder nesta ordem, e os

analistas podem começar da analise do texto, ou de fato da analise da pratica

social. A escolha dependera dos propósitos e das ênfases da analise. (p. 282)

Corroborando com as orientações de Fairclough (2001), Meurer (2000) explica que

Não há um consenso sobre onde iniciar a análise de um texto, se ao nível dos

componentes linguísticos, isto é, o texto em si, e das práticas discursivas

envolvidas, ou se ao nível das práticas socioculturais associadas ao uso do

texto, sendo possível iniciar com qualquer um desses níveis. (p. 161).

Diante das orientações sobre os dados e o processo de construção de sua análise,

Fairclough (2001) chama atenção para os resultados. Para o autor é importante ressaltar que

os pesquisadores não apresentam controle total sobre como os resultados são usados depois

que estes assumem domínio publico. Há, assim, um processo difundido de ―tecnologização do

discurso‖, que se utiliza da pesquisa sobre o discurso para ressignificar determinadas práticas

discursivas e auxiliar outras pessoas a utilizar novas práticas discursivas. Este é um aspecto

que não tem como ser previsto e controlado pelos estudiosos da abordagem, o autor conclui

explicando, portanto, que os estudiosos de discurso serão fortemente pressionados a proteger

suas intervenções, para não acabarem sendo apropriadas pelos detentores do poder e dos

recursos financeiros.

Diante do que foi exposto até aqui em termos de objetivos a serem atingidos e

direcionamentos teórico-metodológico, nos próximos capítulos, empíricos, apresentar-se-á os

achados de campo e a análise em relação aos mesmos.

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5 O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO

BÁSICA DO ESTADO DO CEARÁ

Este capítulo tem por objetivo a análise do processo de criação das políticas

educacionais de avaliação em larga escala instituídas no estado do Ceará. O discurso, segundo

Faircloug (2001), é ―constituindo ou construindo a sociedade em diferentes aspectos: o

discurso constitui os objetos do conhecimento, os sujeitos e as formas sociais do ―eu‖, as

relações sociais e as estruturas conceituais‖ (p.64).

Assim, o discurso se constitui como um ―conjunto das condições segundo as quais se

exerce uma prática, segundo as quais essa prática dá lugar a enunciados parcial ou totalmente

novos, segundo as quais, enfim, ela pode ser modificada‖ (FOUCAULT, 2004, p. 234).

O autor segue explicando que não há enunciados livres, ou seja, independentes, uma

vez que fazem parte de um conjunto e desempenham um papel diante de outros enunciados,

aproximando-se ou distinguindo-se deles, descrevê-lo, portanto, é ―definir as condições nas

quais se realizou a função que deu a uma série de signos (não sendo esta forçosamente

gramatical nem logicamente estrutural) uma existência e uma existência especifica‖

(FOUCAULT, 2004, p.123).

Inseridas em um cenário maior, como já explanado nos capítulos 2 e 3, o processo de

criação do sistema de avaliação do Estado do Ceará iniciou antes da maioria dos estados,

influenciado por um contexto político, social e econômico (VIEIRA, 2011a). Atualmente o

sistema, já consolidado, tem repercutido no fazer cotidiano das instituições educativas,

impulsionando, como mencionado, as políticas de responsabilização/premiação, competição e

incentivado a desconsideração dos fatores de contexto que interferem na aprendizagem e que

não podem ser mensurados pelas avaliações promovidas.

Nesse contexto, considera-se, para os fins desse trabalho, a política de avaliação em

larga escala como uma formação discursiva, com o intuito de compreender suas repercussões

e as mudanças que impõe a realidade das escolas, o que requer a compreensão das condições

de sua construção e inserção no meio educacional, investigando porque um enunciado e não

outro apareceu ―em determinados tempos, lugares e localizações institucionais‖

(FAIRCLOUGH, 2001, p.65).

A retrospectiva histórico-conceitual da Avaliação em larga escala realizada no capítulo

3, visitando os vários momentos, as principais correntes e métodos, propicia elementos para

uma compreensão mais crítica das políticas e dos sistemas de avaliação educacional, e em

específico do SPAECE. Assim, torna-se possível perceber com mais clareza todo o processo

de desenvolvimento do sistema de avaliação cearense, fazendo associações entre suas

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104

características, contornos, intencionalidades, finalidades e os modelos teóricos que o orientam

e o justificam.

O SPAECE, enquanto política pública de avaliação educacional resulta das intenções e

ações do Estado. Por conseguinte, estas não se processam de forma isolada, mas em

articulação contínua e permanente com o ambiente que o cerca e do qual fazem parte.

Seguindo essa lógica, para compreendermos essa política necessita ser inserida nos contextos

em que foram produzidas, permitindo compreender toda a dinâmica deste processo em sua

dimensão histórico-política. Neste sentido, faz-se pertinente um recuo às primeiras

experiências no campo da avaliação no Estado, possibilitando o entendimento dos

antecedentes que colaboraram para a criação do SPAECE.

Mediante a análise dos registros obtidos nos documentos oficiais do governo, como

Leis, Decretos, Portarias publicadas no D.O.E., bem como nas Mensagens enviadas à

Assembleia Legislativa e folders publicados, buscou-se compreender os caminhos desenhados

pelo estado para a criação e consolidação do seu sistema de avaliação.

Segundo o CENSO (2010) o Estado do Ceará conta com população de 8.180.087

habitantes e participa com menos de 2% no PIB nacional e 15% no PIB nordestino. Em

relação aos demais Estados Federativos, o Ceará ocupa a 22ª colocação no Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) e expectativa de vida e encontra-se na 23ª em relação à

renda per capita (CEARÁ, 2010, p. 01).

Capital do Ceará, Fortaleza apresenta uma extensão territorial de 313,14 Km².

Segundo dados do IBGE (2010) a população total do município é de 2.452.185 habitantes,

sendo 1.147.918 homens e 1.304.167 mulheres, o que resulta em uma densidade demográfica

de 7.786,52 habitantes por quilometro quadrado. Deste quantitativo, 70,84% enquadra-se na

categoria de população economicamente ativa.

Ainda segundo dados do IBGE (2010), sobre o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDHM), Fortaleza registrou 0,754. No que diz respeito à pobreza, 5,46% da população é

considerada extremamente pobre. Parcelas significativas da população do município estão

localizadas na periferia, extrapolando os limites territoriais do município, ou seja, se

estendendo aos municípios vizinhos, especialmente Caucaia e Maracanaú.

Quanto à realidade educacional do município, de acordo com dados fornecidos pela

SEDUC-CE, a rede municipal apresentava 234.652 estudantes matriculados no ano de 2014,

sendo 14.329 em creche, 21.172 em pré-escola, 89.591 nos anos iniciais e 90.192 nos anos

finais do ensino fundamental, além de 19.368 na educação de jovens e adultos. É importante

mencionar que Fortaleza ainda apresenta problemas de atendimento no ensino fundamental e

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na pré-escola. Para cumprir as metas do PNE (2014-2024), será necessário incluir 23.417

crianças de 4 e 5 anos em turmas de pré-escola, meta para o ano de 2016 que já se findou e

não foi possível cumprir, estendendo para 2017 essa demanda. No ensino fundamental, os

números totalizam 53.466 crianças de 6 a 14 anos. Para o médio, 66.805 adolescentes de 15 a

17 anos precisam ser incluídos. Quando o assunto é avaliação em larga escala, Fortaleza

atingiu, no IDEB 2015, 5.4, média superior a meta estabelecida para o presente ano. É nesse

cenário que a temática em questão será explorada.

5.1 O sistema permanente de avaliação da educação básica do ceará (SPAECE)

Durante a década de 90, três fatores são decisivos para a criação da avaliação

macro, em larga escala: a ênfase na qualidade, tendo como eixo central a

melhoria nos resultados escolares; a política de descentralização, redefinindo

o papel do estado e das funções do poder público central e, por conseguinte,

exigindo informações cruciais na reorientação dos padrões de financiamento

e alocação de recurso; e a pressão social, no sentido de tornar pública e

transparente a qualidade e excelência das instituições escolares. (LIMA,

2007, p.117)

Fruto desse processo, a avaliação em larga escala se constitui como instrumento de

controle social, atrelado às políticas públicas educacionais. Segundo Pestana (1999), ―não

resta dúvida de que a implementação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

(SAEB) vem contribuindo de forma significativa para a criação de uma cultura de avaliação

no país‖. (p.58) A criação do SAEB influenciou de maneira decisiva no surgimento de

sistemas de avaliação educacionais nos estados brasileiros, a exemplo do caso do Ceará com a

implementação de seu sistema próprio de avaliação.

As ações de avaliação desenvolvidas no Ceará no início da década de 1990

apresentavam associação com o Plano Decenal de Educação Para Todos (1993-2003),

estruturado em três vertentes básicas: Escola de Boa Qualidade; Valorização dos Profissionais

de Ensino e Racionalização e Democratização da Gestão do Sistema de Ensino. Em sua

primeira vertente, dentre as várias estratégias, tem-se o ―acompanhamento, controle e

avaliação do rendimento escolar, utilizando, para tanto, resultados de pesquisas, estudos na

própria escola, encontros e cooperação técnica sistemática‖ (CEARÁ, 1994, p. 66).

Dentre as ações previstas na terceira vertente, encontra-se a ―Criação de um sistema de

acompanhamento das atividades de ensino-aprendizagem e rendimento escolar, nas redes de

ensino estadual e municipal‖ (CEARÁ, 1994, p. 77). Redação semelhante integra o corpo da

Lei Nº 12.30894 que institui o referido plano. É posto em relevo, nos instrumentos de

planejamento e nas ações implementadas pelo Governo, a concepção de avaliação como uma

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estratégia, sobretudo, de controle do Estado, fato que condiz com o momento político e

econômico vigente. Esse desenho revela o pano de fundo histórico e ideológico que acaba por

receber influência internacional e por influenciar as políticas e atuações locais.

No período de 1995 a 1998, o Plano de Desenvolvimento Sustentável, referente ao

segundo governo Tasso Jereissati, intercalado pelo governo Ciro Gomes, é posto em relevo

expressando associações com a política ―Todos pela Educação de Qualidade para Todos‖, na

área da Avaliação, este plano chama atenção para a necessidade de mecanismos avaliativos,

através da manutenção de um sistema permanente de avaliação do desempenho do sistema de

ensino, reproduzindo no âmbito local as exigências internacionais e federais. Essa situação

remete a uma imagem de homogeneização social, cultural, econômica, política e espacial que

tenderia a uma dissolução das identidades locais, fato que resultaria em um espaço global

despersonalizado. Harsbaert e Limonad (2007) explicam que

[...] está em curso uma homogeneização (mesmo que ela se refira apenas à

consciência de que "estamos todos no mesmo barco"), mas que no entanto

não atinge igualmente todos os segmentos sócio-espaciais, pois não somente

ela se processa em pontos seletivamente escolhidos do globo terrestre como,

em muitos casos, é obrigada a adaptar-se e/ou a reelaborar processos

político-econômicos e culturais ao nível local. Há que se considerar, ainda,

que se há uma homogeneização pelo alto, do capital e da elite planetária, há

também uma homogeneização da pobreza e da miséria, considerando-se que,

à medida que a globalização avança, tende a acirrar-se a exclusão

socioespacial. (p.40)

Observando a construção histórica e política desse processo, no Plano de

Desenvolvimento Sustentável (1999 – 2002) do terceiro mandato de Tasso Jereissati, tem-se

estabelecido:

[...] a universalização da cobertura do Sistema Permanente de Avaliação da

Educação Básica do Ceará (SPAECE), que deverá estar presente em todas as

escolas estaduais e em todos os municípios do Ceará até o ano 2002,

proporcionando meios e instrumentos para o melhor acompanhamento da

qualidade das escolas da rede única de ensino público (Ceará, 2000, p.61).

A proposta de realização do SPAECE nos anos 2000 tinha como fonte de renda os

recursos financeiros do acordo de empréstimo com o Banco Mundial, assegurados para esse

fim. Devido a questões de natureza burocrática e financeira, não foi possível o cumprimento

dos prazos previstos para sua operacionalização e a sistemática de premiação acaba por ser

reproduzida nos anos de 2003 e 2004, respectivamente. Contudo, essa política de incentivo

teve desdobramentos posteriores, com a publicação da Lei Nº 13.541, de 22 de novembro de

2004, que vai instituir mais adiante o Programa de Modernização e Melhoria da Educação

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Básica do Estado do Ceará, complementada pela Lei Nº 13.665, de 20 de setembro de 2005,

que merecem ser analisados e aprofundados em outro estudo, uma vez que influenciou os

processos de gestão e de organização dos resultados no estado.

Como se vê com a presença do Banco Mundial e seus acordos políticos e econômicos

hierárquicos influenciavam e conduziam o processo no período. A partir da capacidade de

operacionalização em escala global, ações e instituições, organismos internacionais de uma

forma geral, desembarcam nos territórios na escala local, desenhando a relação entre essas

duas instâncias, confirmando as reflexões de Dale (2004) quando esse explica que forças

econômicas têm operado supra e transnacionalmente para romper, ou ultrapassar, as fronteiras

nacionais, em busca da construção da relação destacada.

O governo Lúcio Alcântara (2003-2006), como já descrito no capítulo 2, deu

continuidade ao processo desenvolvido no governo Tasso e insere no Ceará a gestão por

resultados, fato que impacta diretamente na educação e fortalece a perspectiva do Estado

Avaliador. O Programa de Modernização e Melhorias da Educação Básica acaba por receber

especial atenção em seu governo, trabalhando no processo de acompanhamento dos

indicadores, metas de aprovação, gráficos de acompanhamento por turma e disciplina e

gerenciamento de resultados. A gestão de quatro anos de Lúcio Alcântara é substituída por

oito anos de Governo Cid Gomes que institui a gestão por resultados como uma das

prioridades de seu governo, reproduzindo a lógica já utilizada em Sobral, município do

interior do Ceará que acabou por receber destaque nacional por seus bons indicadores.

Em 2007, com a gestão Cid Gomes, entrou em vigor a Lei nº 14.023 de 17.12.2007.

Com esse novo elemento legal, o imposto dos municípios passou a ser distribuído em função

dos resultados obtidos nas áreas de Educação, Saúde e Meio Ambiente. Desse modo, desde

então, aqueles que alcançam melhores resultados recebem maior repasse de ICMS22

.

Compreendemos essas iniciativas como desdobramentos do Estado Avaliador no cenário

educacional do Ceará.

Bonamino e Sousa (2012) afirmam que esse tipo de postura relacionada à premiação

colabora para a criação de políticas de responsabilização, que em seu teor contemplam ―[...]

22

A legislação anterior previa que a distribuição dos 25% da receita do ICMS aos municípios deveria ser feita da

seguinte forma: 75% de acordo com o Valor Adicionado Fiscal (VAF), que representa o quanto a economia

daquela cidade gerou em ICMS, e os 25% restantes com base: no tamanho da população (5%); nos gastos com

Educação (12,5%) e o restante de forma igualitária entre os municípios (7,5%). Com a mudança de 2007, os 25%

passaram a ser distribuídos da seguinte forma: 18% com base no Índice de Qualidade da Educação (IQE),

calculado em função dos resultados obtidos no 5º ano do Ensino Fundamental e na alfabetização no 2º ano; 5%

no Índice de Qualidade da Saúde e 2% no Índice de Qualidade do Meio Ambiente. (Dantas, 2014)

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sanções ou recompensas em decorrência dos resultados de alunos e escolas. Nesse caso,

incluem-se experiências de responsabilização explicitadas em normas e que envolvem

mecanismos de remuneração em função de metas estabelecidas‖. (BONAMINO; SOUSA,

2012, p. 375). O SPAECE insere-se nesse modelo, uma vez que, o estímulo financeiro

contribui para a pressão e responsabilização dos sujeitos envolvidos no processo. Os autores

seguem explicando que a institucionalização de políticas de bonificação produzem reflexos na

escola nem sempre benéficos

[...] evidências nacionais e internacionais mostram que o uso de resultados

das avaliações pode envolver riscos para o currículo escolar. Um deles é a

situação conhecida como ensinar para o teste, que ocorre quando os

professores concentram seus esforços preferencialmente nos tópicos que são

avaliados e desconsideram aspectos importantes do currículo, inclusive de

caráter não cognitivo. (p. 383)

Essa questão do foco no ensinar para os testes tem se materializado como repercussão

desse processo de pressão, ranking e responsabilização. Bauer et al (2015) apontam que

embora o auxílio estimule o aluno a participar da avaliação, é importante refletir sobre o fato

de que os reflexos produzidos pode estar em desacordo com a proposta real de uma avaliação:

a melhora na aprendizagem discente.

Vidal e Vieira (2015) discorrem sobre a premiação e seu retorno a práticas

tecnocráticas. Para as autoras, as iniciativas de premiação adotadas por grande número de

Estados e Municípios, por sua vez, têm gerado padrões de conduta que se distanciam do

princípio da gestão democrática, impondo uma cultura de gestão por resultados.

É importante chamar atenção para o fato de que, desde 2008, a SEDUC iniciou

parceria com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAED) pertencente à

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A presente instituição tem se materializado

como elaboradora das provas, aplicação, divulgação dos resultados e construção de boletins

pedagógicos que são encaminhados às escolas para interpretação dos dados e uso dos

resultados.

Entre 2008 e 2013, o sistema se fortaleceu, passando a integrar o planejamento

escolar, planejamento docente e em todas as ações e programas implantados pela SEDUC que

têm um objetivo comum: elevar os indicadores do SPAECE considerando-os como reflexo da

melhoria da aprendizagem dos alunos e da qualidade do sistema de ensino. O desenho atual

do SPAECE se apresenta de três formas:

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Avaliação da Alfabetização (SPAECE-Alfa - 2º ano Ensino Fundamental): Avaliação

externa censitária com periodicidade anual que tem por objetivo avaliar o nível de

proficiência em leitura dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental das escolas da

rede pública estadual e municipal do Ceará.

Avaliação do Ensino Fundamental (5º e 9º anos): Avaliação externa censitária com

aplicação anual. É realizada ao final de cada etapa do Ensino Fundamental (5º e 9º

anos). Seu objetivo é o diagnóstico sobre o estágio das competências e habilidades dos

estudantes nas disciplinas de Língua Portuguesa, com foco em leitura, e Matemática.

Avaliação do Ensino Médio (1ª, 2ª e 3ª séries): Avaliação externa e censitária que

envolve as três séries do Ensino Médio da rede pública do Estado. Tem como objetivo

fazer um diagnóstico do desempenho dos alunos nas disciplinas de Língua Portuguesa

e Matemática.

Na atualidade, o SPAECE segue os moldes da Prova Brasil, no entanto, uma das

diferenças principais entre os dois sistemas é quanto a sua ocorrência. A Prova Brasil

acontece de dois em dois anos e o SPAECE é aplicado anualmente. Este fato por si só indica

que todos os anos as escolas cearenses passam por avaliações de larga escala, hora por parte

do governo estadual, hora por parte do governo federal. Os documentos analisados indicam

ainda, que

[...] o esforço que cada grupo, em disputa no campo discursivo, mobiliza,

com o intento de naturalizar sua posição ideológica, perpassa o movimento

de controle sobre o que se pode pôr em discussão. Esse trabalho corresponde

a um exercício que tem por função ocultar posições assumidas por quem

exerce a autoria do discurso, de modo que a apreensão da mensagem seja

difundida como que destituída de interesses. Assim, um texto produzido em

uma instância governamental, ainda que congregue toda uma carga

ideológica que se vincula ao grupo no poder, precisa incorporar um conjunto

de enunciados que transcenda o conjunto de convicções circunscritas a este

único grupo. Na realidade, o que se apresenta como caracterização dos

documentos traduz a constituição do discurso que, em princípio, congrega a

conciliação das pretensões dos diferentes grupos, ainda que persistam

discordâncias. (ANDRADE, 2011, p. 23)

Como esse sistema, pensado no interior do contexto maior aqui apresentado, tem

chegado ao chão das instituições educativas, a partir do olhar dos professores e diretores, é o

que será posto em relevo no próximo tópico.

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5.2 O SPAECE no chão da escola: o que nos revelam os depoimentos disponibilizados

Com o intuito de compreender o processo de criação e chegada da política de

avaliação estadual nas escolas cearenses, direcionamos questionamentos aos gestores

escolares e professores. A ideia era observar como se materializou a criação do SPAECE na

escola após as determinações legais apresentadas no tópico anterior. Os sujeitos chamaram

atenção para a hierarquização do processo e das decisões que chegam à escola sem consulta

ou orientações:

Essas políticas chegaram lá de cima para a escola, aquela exigência. Muitas

vezes não passa por nós, eles já chegam ―vocês vão fazer dessa maneira,

dessa forma‖, e muitas vezes o que nos frustra é que como nós estamos na

escola, estamos dentro da sala de aula, nós conhecemos melhor do que eles,

você vê que hoje em dia quando se coloca um secretário de educação muitas

vezes é um médico, por exemplo, um médico veterinário. Não tem nada a

ver com a nossa área, então, uma pessoa dessa não vai pensar igual a mim,

que estou em sala de aula e que sei qual é a realidade. Então muitas vezes

nos frustra isso, de já chegar lá de cima algo pronto já. Exigindo dessa

maneira, dessa forma. Nós estamos aqui, porque não fazem uma pesquisa

com a gente? (Professor-Escola B)

A professora da escola B destaca que o sistema chegou ―de cima para a escola‖ e

impondo ―vocês vão fazer dessa maneira, dessa forma‖, para a mesma, a consequência é a

frustração que causa ao corpo docente por não ser consultado, ainda que sejam eles que irão

efetivamente aplicar a política e conhecem o chão da sala de aula.

Segundo Bruno (1997), vivenciamos uma forma de participação controlada e de uma

autonomia meramente operacional, situação necessária para a garantia do atendimento às

condições no âmbito local, sem ao mesmo tempo ameaçar a estabilidade de toda a rede que

está sob o controle da organização, ou seja, embora em uma sociedade democrática, em que é

possível participar de processos sociais, não significa que há, por parte dos sujeitos da escola,

por exemplo, controle sob as instâncias decisórias. Assim, vivenciamos tempos em que os

mecanismos de controle são relativamente invisíveis e as hierarquias perdem sua forma

piramidal típica de formas convencionais de organização e exercício de poder, assume-se a

falsa aparência de participação e autonomia que não se efetivam na prática.

Corroborando com o depoimento da professora B, a professora D, quando questionada

sobre o que significou o processo de criação do sistema de avaliação do Ceará, chama atenção

para a massificação e unificação que se instalou com o processo de criação do SPAECE e que

isso tem uma raiz anterior, que seria o PAIC:

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Na verdade houve uma massificação e uma unificação para todo mundo

trabalhar fazendo a mesma coisa e eu sou extremamente contra isso. Eu acho

que cada escola tem suas características, cada escola tem suas

particularidades, então, eu acho que isso tem que aparecer dentro do projeto

pedagógico da escola e desde que surgiu essa política do PAIC que na

verdade é uma política para preparar para as avaliações, foi unificado, às

vezes mandam até aula pronta para a gente aqui. Eu fico indignada. Não que

eu não queira ajuda, mas tem coisas que eu não concordo, que eu não quero

essa aula. Eu vou dar a aula que eu acho que é melhor para eles. Eu sou meio

rebelde, assim, eu olho, se tiver como eu aproveitar, se eu achar que é

positivo eu aplico, mas se eu achar que não, eu não uso... eu consigo

perceber que isso aqui não é bom, mas tem escola que tem muita

rotatividade e a professora muda muito e vai só executando, eu acho que vai

deixando as escolas fracas, superficiais, formando alunos que não sabem

pensar, não sabem escrever bem. (Professora-Escola D)

A professora da escola D informa que com a criação do SPAECE houve ―uma

massificação e uma unificação para todo mundo trabalhar fazendo a mesma coisa‖, e que por vezes

chega ―até aula pronta para a gente aqui‖. Apesar do cenário descrito, a professora ressignifica o

processo em sua sala de aula e opta pela decisão de ―dar a aula que eu acho que é melhor para eles. Eu

sou meio rebelde, assim, eu olho, se tiver como eu aproveitar, se eu achar que é positivo eu aplico mas

se eu achar que não, eu não uso‖, mas chama atenção para o fato de que essa liberdade é relativa.

Percebe que a autonomia para o exercício da docência tem sido comprometida em detrimento das

demandas oriundas das avaliações externas, sendo necessária a subversão da professora, para que

consiga trabalhar da forma que acredita ser melhor. Situação mais grave é encontrada em escolas onde

a rotatividade de professores é intensa, a professora revela que há cenário onde há escassa

possibilidade de resistência ―eu consigo perceber que isso aqui não é bom, mas tem escola que tem

muita rotatividade e a professora muda muito e vai só executando, eu acho que vai deixando as escolas

fracas, superficiais, formando alunos que não sabem pensar, não sabem escrever bem‖.

Essa questão da resistência ou reprodução da política por parte do professor tem a ver

com os ―novos papéis e subjetividades produzidos à medida que estes são transformados em

produtores/fornecedores, empresários da educação e administradores‖, e ficam sujeitos à

avaliação e análise periódicas e a comparações de desempenho. ―Novas formas de disciplina

são instituídas pela competição, eficiência e produtividade‖. (BALL, 2005, p.546-547).

Outro ponto importante diz respeito às aulas prontas que chegam à escola e a forma

como a professora reage a proposta: ―as vezes mandam até aula pronta para a gente aqui. Eu

fico indignada. Não que eu não queira ajuda, mas tem coisas que eu não concordo, que eu não

quero essa aula. Eu vou dar a aula que eu acho que é melhor para eles‖. A professora

novamente ressalta sua discordância com o processo e sua liberdade para escolher cumprir ou

não as determinações hierárquicas. O tempo de experiência da professora parece ter relação

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com sua segurança para aceitar ou não as orientações fornecidas. A LDB 9394/96 define, em

seu art. 3º, que o ensino será ministrado com base no pluralismo de ideias e de concepções

pedagógicas, percebe-se, no entanto, que a partir do momento em que há esse processo de

ruptura com a autonomia docente, o que foi previsto em lei, parece ter sido desconsiderado,

definindo um concepção de educação a ser implementada em todo o território nacional.

A política de avaliação em larga escala, concebida inicialmente como uma iniciativa

transnacional, pensada em âmbito global, chegou aos diferentes países, estados e municípios,

escolas de diferentes características localizadas em diferentes territórios e são sentidas e

percebidas em menor ou maior grau. Embora o local seja fortemente influenciado por essas

iniciativas, é importante ressaltar que, no contexto de implementação, a forma como a política

é ressignificada pelos sujeitos locais permite uma resposta à proposta global que nem sempre

é a esperada, fato observado no depoimento da professora da escola D.

Foi possível verificar, ainda, que alguns sujeitos se mostraram contra o processo de

criação do SPAECE no momento de seu nascedouro, mas que atualmente compreendem sua

importância e acreditam em sua necessidade como parte do fazer pedagógico:

Eu mudei muito meu olhar sobre as aplicações de avaliação em larga escala.

Eu hoje consigo ver a importância dessas avaliações e o quanto elas são úteis

para a gente, para a escola e que houve realmente um crescimento muito

grande e que não foi o acaso que proporcionou isso nas escolas de Fortaleza,

não foi o acaso, foi um trabalho da secretaria de educação com muito

compromisso, dedicação. Que nos cobram demais, mas eu não vejo isso

como um fator que dificulta meu trabalho, essa cobrança faz com que a

gente se preocupe mais... tudo é feito pensando nisso. (Diretora-Escola C)

A diretora C inicia seu depoimento informando que mudou seu olhar sobre a aplicação

das avaliações, no momento de criação do sistema pensava de uma forma e atualmente

concebe o processo de outra maneira. Revela ainda que isso tem relação com a forma como

passou a compreender as cobranças e viu os resultados do trabalho da SME.

A mudança do discurso é uma transformação das práticas, se constituindo no

―conjunto das condições segundo as quais se exerce uma prática, segundo as quais essa

prática dá lugar a enunciados parcial ou totalmente novos, segundo as quais, enfim, ela pode

ser modificada‖. (FOUCAULT, 2004, p. 234) O autor segue explicando que uma frase ou

oração não apresenta sentido por si só, mas adquirem e constroem esse sentido no interior de

uma relação enunciativa determinada, ou seja, apresenta uma existência material e está

relacionado a um referencial que se constitui de leis de possibilidades, regras de existência

para os objetos, para as relações que se afirmam ou negam.

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O referencial do enunciado forma o lugar, a condição, o campo de

emergência, a instância de diferenciação dos indivíduos ou dos objetos, dos

estados de coisas e das relações que são postas em jogo pelo próprio

enunciado; define as possibilidades de aparecimento e de delimitação do que

dá à frase seu sentido, à proposição seu valor de verdade. É esse conjunto

que caracteriza o nível enunciativo. (FOUCAULT, 2004, p. 103)

A concepção de avaliação em larga escala é campo de disputa entre dois projetos que

parecem tentar fixar seus sentidos, mas que só os conseguem temporariamente. Por diversas

vezes, durante as entrevistas, essa questão da mudança de perspectiva sobre as avaliações a

partir da ocupação do cargo de gestão foi revelada, fato que será novamente discutido no

próximo tópico.

5.3 O SPAECE nos documentos escolares: quando as avaliações se sobrepoem a função

social da instituição

Durante o trabalho de campo, procurou-se ter acesso ao PPP das escolas, o regimento,

os diários dos professores entrevistados, o material utilizado no planejamento e as avaliações

aplicadas, além de observação in loco e entrevista com os diretores e professores. Isso porque,

o SPAECE se instalou nas instituições educativas e esse processo ganhou registro e espaços

nos documentos escolares e na voz de seus redatores. O tópico volta olhares para os registros

escritos e falados que mostram as transformações dos objetivos das escolas a partir da

chegada do SPAECE.

A escola ―A‖ apresenta suas metas, projetos e plano de ação voltado para o alcance de

bons resultados nas avaliações externas. O PPP da instituição explica, e o depoimento da

professora confirma que a avaliação interna da escola deve ser realizada ―de acordo com o

Sistema de Avaliação da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza‖ e que o principal

objetivo da instituição é ―aumentar os índices dos alunos nas avaliações externas, tais como:

SAEB, SPAECE e SAEF‖. (p.24)

A gente corre atrás, muitas vezes, é de alcançar o que vem de fora, que são

essas provas externas, né? Que você precisa de certa forma dar um resultado,

às vezes até maquiado, penso eu, não é nem que eu penso, mas é pelas

condições que a gente vê, a gente sabe que é uma coisa maquiada. E a gente

tenta correr atrás de dar a realidade das crianças, mas a gente sabe que muita

coisa que é colocada na mídia não é realmente o que a gente vivencia aqui.

(Professora- Escola A)

A expressão ―a gente corre atrás, muitas vezes, é de alcançar o que vem de fora‖,

utilizada pela professora A, revela que a ação política, de diferentes sujeitos e contextos

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institucionais influenciados por marcos regulatórios fruto de orientações, compromissos e

perspectivas em escala nacional e global, preconizados, entre outros, por agências e/ou

organismos multilaterais e assimilados e/ou naturalizados pelos gestores de políticas públicas

no âmbito da educação, bem como seus professores, está presente e incorporado à rotina das

escolas brasileiras. O fragmento ―de certa forma dar um resultado, às vezes até maquiado,

penso eu, não é nem que eu penso, mas é pelas condições que a gente vê, a gente sabe que é

uma coisa maquiada‖ revela que o sujeito assimilou essa lógica e reproduz no seu fazer

cotidiano, embora compreenda que os resultados nem sempre são coerentes, nem expressam a

realidade. A mídia também é apontada na fala da professora A como uma estratégia utilizada

para a realização dessa ―maquiagem‖: ―a gente sabe que muita coisa que é colocada na mídia

não é realmente o que a gente vivencia aqui‖. O sujeito ao mesmo tempo em que problematiza

as questões que envolvem o processo, opta por reproduzir sua lógica diante de todo o cenário

de pressões a que é submetido.

A escola ―B‖ não disponibilizou o PPP sob a justificativa de que estava em processo

de atualização. O documento parece ter recebido as primeiras revisões no encontro

pedagógico no início do ano, mas ainda não foram concluídas. Foi possível ter acesso às

provas de simulados e o plano de ação do período 2015-2016. O foco e inspiração tanto para

os simulados como para o plano de ação analisado tem sido a Prova Brasil. O plano de ação

revela que ―essa avaliação é a principal meta da escola e que por isso todas as ações

pedagógicas estão voltadas para isso‖ (p.13).

A gente tem metas específicas para cada série, do infantil IV ao quinto ano,

sendo que o nosso foco maior é no segundo e no quinto ano porque são

justamente as duas séries, os dois anos, que a gente chama ano, né? Que vem

a avaliação. O foco é nesses dois e na avaliação externa, então tanto a Prova

Brasil como o SPAECE, então a gente tem um olhar mais direcionado para o

menino do quinto e do segundo. (Diretora- Escola B)

O depoimento da diretora da escola B mostra que a classificação do que é mais

importante ultrapassa a questão curricular. A escola B tem como foco as turmas que

participam das avaliações e direcionam seu trabalho para estas. O fato provoca a reflexão

sobre a ausência de preocupação e direcionamento para as turmas que não serão foco das

avaliações no presente ano, ou seja, a natureza que essas avaliações têm assumido no chão da

escola. Há um trabalho mais direcionado para as turmas que serão avaliadas, o que nos leva a

refletir sobre a qualidade da educação ofertada e da aprendizagem dos alunos. Essa questão

revela que pensar os resultados nas avaliações em larga escala tem sido pensar a curso prazo,

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não há cuidado com o processo enquanto construção que também se desenvolve a médio e

longo prazo e que depende das outras séries que não serão foco da avaliação no presente ano.

A escola ―C‖ não disponibilizou o PPP, informou que estava desatualizado e que

passaria por processo de reformulação em breve. Foi possível ter acesso aos diários da

professora entrevistada e observar que as aulas são ministradas e planejadas seguindo a

orientação dos descritores das avaliações externas, principalmente a matriz de referência do

SPAECE, inclusive para classificar os conteúdos que serão descartados ou que terão mais

atenção.

Eu trabalho Português dentro de Ciências, eu to trabalhando Ciências

reforçando o Português, eu estou ali e de repente eu entro na Matemática.

Então, eu penso mais nelas duas, mas eu não deixo de dar as outras

disciplinas de jeito nenhum. Mas o foco é Português e Matemática.

(Professora- Escola C)

O depoimento da professora da escola C reforça o que foi indicado nos diários, há uma

tendência a focar em Língua Portuguesa e Matemática, ou seja, a classificar os conteúdos e

disciplinas que receberão destaque com base nas avaliações em larga escala. Essa priorização

é reflexo da determinação das avaliações externas em relação às disciplinas prioritárias, fato

que nos remete ao que foi discutido no capítulo 3 em relação à redução curricular situação que

tende a comprometer a autonomia docente e a aprendizagem dos alunos. Esse processo por

sua vez está relacionado às orientações internacionais que impulsionaram a dinâmica das

avaliações no Brasil e em outros países da America Latina. As referências são os países

desenvolvidos e suas receitas para o desenvolvimento local.

Santos (2002) explica que essa relação entre as referências internacionais e as

demandas locais trouxe consigo ampliação das movimentações transfronteiriças, acirramento

das desigualdades sociais, impactando nas estruturas e práticas nacionais e locais que se

materializam de forma contraditórias e heterogêneas e que apresentam resultados

relativamente indeterminados entre o que é concebido como local ou endógeno e o que é

concebido como global ou exógeno.

A escola ―D‖ possui PPP que foi atualizado pela coordenadora responsável pela creche

e pré-escola, demonstrando que não houve construção coletiva. A escola permitiu acesso ao

PPP e ao regimento da instituição que foi fornecido apenas para consulta in loco. As metas,

projetos e plano de ação estão voltados para o alcance de resultados nas avaliações externas,

principalmente no alcance dos 100% de alunos alfabetizados no final do 2º ano.

Bom... em meio a tudo isso, a nossa principal meta ainda é a aprendizagem

deles. É superar todos esses obstáculos e em meio a tudo isso fazer com que

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eles aprendam, né? Porque nós somos cobrados por isso. Eu penso que a

escola deveria ter um projeto maior em que esse perfil do aluno fosse

trabalhado, mas aqui a gente não tem isso, aqui é preparar para as avaliações.

O foco é que eles aprendam bem os descritores e façam bem as avaliações.

Então, na sala de aula é que eu tenho outras ações, né? Mas é uma ação

dentro do contexto da minha sala, ela não está englobada dentro da ação da

escola. (Professora- Escola D)

O depoimento da professora da escola D demonstra que a mesma compreende qual

deveria ser o principal objetivo da escola ―em meio a tudo isso, a nossa principal meta ainda é

a aprendizagem deles. É superar todos esses obstáculos e em meio a tudo isso fazer com que

eles aprendam‖. No entanto, revela que não é esse o objetivo central que a escola materializa,

e sim ―o foco é que eles aprendam bem os descritores e façam bem as avaliações‖.

Destacando essa distância entre o que a professora defende e o que a escola desenvolve na

prática, a docente chama atenção para a necessidade de haver um trabalho relacionado ao

perfil do aluno, que é permeado pela vulnerabilidade local e que apesar das pressões e do que

é definido como meta, a professora realiza um trabalho diferenciado em sua sala, baseado no

que acredita. Concluiu chamando atenção para o fato de que isso é iniciativa individual e não

há relação com a proposta da escola. Essa questão se revela como sinal de resistência ao que

tem sido proposto verticalmente.

Sobre essa questão, Foucault (1996), explica que a educação pode ser compreendida

como:

[...] o instrumento graças ao qual todo o indivíduo, numa sociedade como a

nossa, pode ter acesso a qualquer tipo de discurso; sabemos, no entanto, que

na sua distribuição, naquilo que permite e naquilo que impede, ela segue as

linhas que são marcadas pelas distâncias, pelas oposições e pelas lutas

sociais. Todo o sistema de educação é uma maneira política de manter ou de

modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que estes

trazem consigo. (p.15)

Entre as professoras entrevistadas, a docente D, é a única que está cursando o

doutorado e a que se aproxima da apresentação de uma crítica mais consistente em relação à

chegada e assimilação das avaliações pela escola, tanto no discurso como na prática. Também

foi a única professora que foi possível observar descumprindo, em sala de aula, o conteúdo

proposto pela SME, para apresentar conteúdos que considera importantes para chegar aos

demais. A formação como elemento de resistência e o fazer docente como sinal também de

resistência se destacam nesse caso.

O PPP da escola E revela os pilares que sustentam a concepção de aluno, de educação

e de sociedade dos sujeitos que o construíram: os princípios descritos no relatório da

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UNESCO-―Educação: um tesouro a descobrir‖: Aprender a Ser, Aprender a Conviver,

Aprender a Fazer e Aprender a Aprender, recebe destaque no documento; o PPP expressa

ainda que a educação não pode ser formalizada por completo no chão da escola e chama a

família e a igreja para serem co-responsáveis pelo processo.

A escola é parte responsável de um todo que deve ser partilhado com a igreja

e principalmente com a família. [...] A família e a igreja também possuem

papel relevante na formação do homem. Embora estejam passando por crise

de identidade e de reconhecimento de papéis, assim como a escola, essas

duas instituições tem a função essencial de suprir uma sociedade carente de

valores éticos e morais. (PPP, 2015, p. 2)

A escola se coloca no mesmo local que a família e a igreja como responsáveis pela

formalização da educação, desresposabilizando o Estado e parecendo deixar em segundo

plano o fato de que a escola deveria ser laica e que o local onde a educação formal deve ser

desenvolvida é na escola, uma vez que é nessa instituição que existem profissionais

habilitados para tal tarefa.

Ainda sobre o documento, dois outros pontos nos chamaram atenção: 1) Sobre suas

avaliações a escola revela que ―adaptamos as avaliações bimestrais aos moldes das avaliações

externas e investimos no acompanhamento pedagógico individual aos alunos com foco nas

mesmas‖ (p.5), o que mostra o papel central que a política de avaliação em larga escala tem

assumido no desenvolvimento do fazer pedagógico da instituição; 2) Uma das palavras mais

utilizadas no documento é ―Deus‖, um exemplo é o momento em que o documento expõe as

dificuldades: ―o percurso ainda é longo, mas temos confiança em Deus que em breve faremos

da dessa escola uma das melhores escolas do Grande Bom Jardim‖, (p.3) esse fato chama

atenção porque os sujeitos que produziram o documento não assumem o viés político que o

mesmo exige, os pedidos e reivindicações, bem como as esperanças são direcionadas a um ser

externo ao processo governamental, o que revela ainda que a escola não exercita a laicidade e

que não associou a possibilidade de mudança ao trabalho realizado pela instituição.

Essa mesma referência a ―Deus‖ foi observada na fala dos sujeitos no dia-a-dia da

instituição. Em conversa informal, quando perguntando a uma professora o que ela pretendia

fazer para melhorar o rendimento dos alunos que estavam com problemas de disciplina e

rendimento, a mesma respondeu ―entregar para Deus‖. Há uma forte tendência de

deslocamento de responsabilidade para sujeitos externos à Rede e ao processo do fazer

político e pedagógico.

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Por fim, tivemos acesso às provas realizadas durante o período de observação. Foram

aplicados simulados de preparação para o SPAECE, as questões são retiradas de um banco

próprio de questão da escola e da prefeitura. As provas são realizadas no mesmo modelo do

SPAECE, inclusive a capa da prova e o local do gabarito são os mesmos. O fato de que os

simulados para avaliações externas estão gradativamente ocupando o lugar das avaliações

internas nos chamou atenção, a construção de banco de questões também, uma vez que antes

só observávamos tal metodologia em cursinhos pré-vestibulares e 3º do ensino médio. Isso

demonstra a descaracterização do processo avaliativo e pedagógico, além do

comprometimento da autonomia docente.

Entre as instituições analisadas, é importante ressaltar que está é a escola que atingiu o

melhor IDEB do município no ano de 2015, e, é ainda, a escola que mais segue as orientações

da SME e que apresenta o discurso mais comprometido com a defesa das avaliações e da

gestão por resultados.

Santos (2002) explica que o modelo de globalização heterogênea e a consequente

influência dos organismos internacionais produz custos e oportunidades desiguais entre os

países e o resultado dessa situação é o aumento exponencial da desigualdade entre países ricos

e países pobres e entre os ricos e pobres do mesmo países. Esse descompasso de

oportunidades é sentido também nas escolas, ainda que pertençam a mesma rede. É o caso do

Ceará, mais especificamente, de Fortaleza que apresentam escolas, nas seis regionais, que

tendem a receber e assimilar as políticas e oportunidades de formas diferentes. O processo de

ressignificação passa pelas experiências dos sujeitos e pela forma como essas políticas

chegam aos ambientes escolares.

A escola ―F‖ possui PPP atualizado, segundo a diretora uma professora que estava

doente levou para casa para fazer um trabalho e não havia retornado ainda por questões de

saúde. Estaria de atestado. Essa professora não foi identificada. Os diários da professora

entrevistada foram observados e o conteúdo, a exemplo do que foi percebido nas demais

escolas, era pautado nas avaliações externas assim como as provas que a mesma estava

elaborando.

A nossa principal meta é sanar o analfabetismo, né? 100% dos meninos do 2º

e 3º ano alfabetizados, elevar a aprendizagem dos meninos do 5º ano, porque

nós temos duas salas que são, digamos assim, mais visadas por conta das

avaliações que é o 2º ano e 5º ano, não que a gente não olhe para os outros,

mas querendo ou não a gente tem aquele cuidado, aquela atenção, porque

querendo ou não eles vão se submeter à uma avaliação. (Diretora- Escola F)

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A diretora da escola F apresentou depoimento semelhante aos outros sujeitos

entrevistados, o foco no 2º e no 5º ano e a preparação para a prova. O que chamou atenção

nesse depoimento foi a expressão ―querendo ou não‖, utilizada por duas vezes no fragmento.

O que parece investir na direção de que a escola assim faz por falta de opção, ou seja,

independente de sua vontade os alunos precisarão se submeter à avaliação e que por esse

motivo há esse investimento, por parte da escola, para que estejam preparados para tal. Os

achados discutidos nesse capítulo revelam o caráter impositivo e autoritário que essas

avaliações de larga escala acabam por assumir face ao imobilismo dos docentes diante das

demandas que lhes são impostas, interferindo na autonomia do trabalho docente. Diante do

contexto apresentado, avançamos para o próximo capítulo com o intuito de compreender as

percepções dos gestores e professores sobre o modelo de avaliação implantado no Ceará.

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6 AS PERCEPÇÕES DOS GESTORES E PROFESSORES SOBRE O MODELO DE

AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA IMPLANTADO NO CEARÁ E SUAS

REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS ESCOLARES

Como se viu, a partir dos documentos analisados, e dos depoimentos a cerca dos

objetivos das escolas, com a criação do Sistema de avaliação nacional e estadual os bons

resultados em avaliações em larga escala aparecem como a principal meta a ser alcançada

pelas instituições.

A avaliação em larga escala adquiriu importância no cenário educacional brasileiro e

passou a ser foco na e da agenda dos governos, em todos os níveis de ensino. A fim de atingir

resultados mais altos nos testes, os secretarias municipais de educação, os gestores escolares e

os professores, esforçam-se em dar conta das novas demandas avaliativas implementando

estratégias muitas vezes mercadológicas, diante da pressão por resultados educacionais e

cumprimento de metas.

Como se viu nos capítulos anteriores, a ação cotidiana dos atores que compõem as

instituições educativas têm sido permeada pelas noções de metas, eficácia, eficiência,

resultados, excelência, performance, desempenho e qualidade. A utilização dessas noções no

cotidiano das escolas depende do sentido que os gestores escolares e professores constroem a

partir da inserção das mesmas no chão da escola. Estes termos vêm sendo ecoados,

frequentemente, nos processos que envolvem a avaliação em larga escala desde a década de

1990 e, cada vez mais, têm se tornado presentes no dia-a-dia do fazer educativo.

Percebem‐se que as redes e as escolas têm recebido uma onda de influências a partir

da chegada das avaliações que invade o espaço da escola. Invadem porque, parte-se do

principio que as avaliações chegaram sem consulta ou desejo prévio dos atores que de fato

receberiam o impacto de sua chegada em seu trabalho. Oliveira e Pacheco (2008) afirmam

que há um processo generalizado de avaliação em todos os níveis, exercendo pressão e

controle sobre o trabalho dos gestores e professor e impondo uma conduta de adaptação à

lógica dos exames como forma de evitar o fracasso e alcançar os resultados exigidos.

Amparada já pela legislação que versa sobre educação, e apresentando, no caso do

Ceará, a vinculação entre seus resultados e financiamento da educação, a prática das

avaliações tem levado à redução do currículo aos conteúdos que são cobrados nos testes e, as

escolas, e seus gestores e professores, por sua vez, são submetidos cada vez mais às práticas

de concorrências, além de pressões pela transferência de responsabilização.

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Ao buscarmos identificar como se dão os processos de apropriação, de análises dos

resultados pelas secretarias, pelos gestores escolares, pelos professores apresentamos como

intuito analisar e compreender a percepção de sujeitos inseridos diretamente no processo,

professores e gestores, além do teor das repercussões, das tensões, as resistências e

ressignificações em torno do processo. O ato de avaliar tende a gerar impactos, efeitos, ações

e reações que podem comprometer o processo educativo. Nesse capítulo, portanto nos

propomos a avançar na discussão sobre a repercussão dessa proposta de avaliação em larga

escala e busca de resultados nas práticas dos gestores escolares e professores nas escolas

públicas municipais de Fortaleza, capital do Ceará.

6.1 Política de avaliação em larga escala: o que pensam os sujeitos

Nos capítulos 2 e 3, foi possível destacar o panorama internacional, nacional e local a

cerca das políticas de avaliação em larga escala, que constitui o cenário, o pano de fundo que

construiu as condições para a inserção das avaliações em larga escala no chão da escola.

Segundo Foucault (2004) esse movimento é importante porque não é possível ―definir esses

objetivos sem referência ao fundo das coisas, mas relacionando-os ao conjunto de regras que

permitem formá-los como objeto de um discurso e que constituem, assim, suas condições de

aparecimento histórico‖. (p.53)

Para o autor os objetos do discurso não se constroem de forma independente, mas são

formados e transformados em discurso a partir das regras de uma formação discursiva

especifica. Desta forma, é preciso compreender que o discurso não é o mesmo ―nas diferentes

sociedades, em diferentes épocas e nas diferentes formas de discurso‖ (FOUCAULT, 2004,

p.46).

Corroborando com essa perspectiva, Fairclough (2001) chama atenção para uma visão

de discurso como constitutivo, contribuindo para a elaboração (trans) formação e reprodução

dos objetos da vida social, apresentando o discurso, ―apresentando uma relação ativa com a

realidade, que a linguagem significa a realidade no sentido de construção de significados para

ela‖ (p.66).

Assim, tratar a política de avaliação em larga escala como um objeto de discurso

demanda o entendimento de que significados estão sendo atribuídos pelos sujeitos que as

pensam e executam, no caso desse trabalho, os gestores escolares e professores que recebem a

política na escola. A avaliação em larga escala, portanto, não pode ter um significado por si

só, mas este passa a ser construído cotidianamente pelos sujeitos mencionados. Diante desse

fato, esse capítulo busca analisar os significados da avaliação em larga escala a partir das

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entrevistas realizadas com diretores e professores, investigando, portanto, quais os elementos

presentes nestes discursos, como eles se constituem e os sentidos que se apresentam.

Os diretores e professores entrevistados foram inicialmente questionados sobre suas

percepções sobre a política de avaliação em larga escala que chega atualmente às escolas

cearenses. Os respondentes, em sua maioria, apontaram as melhorias e vantagens de se

trabalhar com esse tipo de política:

Sobre esse tema da avaliação, eu acho que tudo começa pela avaliação, eu

gosto de dizer ―professor você vai ao mercado você avalia‖, aonde você for,

você esta avaliando algo, você está se avaliando o tempo inteiro, tanto que a

primeira coisa que fiz quando nós tiramos todos os dados da escola, foi que a

partir dali foi gerada a concepção de gestão e avaliação que nós temos que é

a gestão por resultado. E não tem outro caminho, o foco é melhorar os

indicadores. No inicio tinha uma resistência, mas depois quando você entra

na gestão você percebe as coisas de modo diferente. Eu sou super a favor

agora. [...] Assim, Willana, eu defendo a avaliação externa, concordo com a

avaliação externa, precisa mudança? Sempre precisa de mudança, existem

alguns aspectos ainda que a avaliação não consegue detectar, mas eu

acredito que o Brasil avançou muito em relação às avaliações na educação.

Eu me lembro muito bem de uma reportagem que até virou um livro que

passou no Fantástico das escolas que conseguiram bons resultados com boas

práticas, gestão participativa e democrática e eu acredito que a partir dessas

avaliações foi o ponta pé. E foi vendo essa reportagem que eu me inspirei

para cá. E é isso que nós queremos. (Diretora-Escola E)

O depoimento da diretora ―no inicio tinha uma resistência, mas depois quando você

entra na gestão você percebe as coisas de modo diferente‖ nos remete a reflexão de Mussalin

e Bentes (2003) quando este explica que ―o sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é

levado, sem que tenha consciência disso, a ocupar um lugar em determinada formação social

e enunciar o que é possível a partir do lugar que ocupa‖ (p. 110). Corroborando com essa

afirmação, Mata (2009) ressalta que ―o sujeito para Análise do Discurso não pode ser

considerado como aquele que decide sobre os sentidos e as possibilidades enunciativas do

próprio discurso, mas como aquele que ocupa um lugar social e a partir dele enuncia‖ (p.3). A

diretora ocupa um lugar social e dele enuncia influenciada por uma ideologia materializada

em seu discurso, esse fato se torna mais evidente quando a mesma explica que tinha uma

percepção diferente da atual quando ocupava o cargo de docente, esse deslocamento de

função levou a mesma a ter outras redes de contato mais próxima ao governo e a secretaria,

passou a ter que responder demandas diferentes e a se inserir em processos a partir de outros

referenciais. Essa mudança do local de fala influencia a leitura de mundo do sujeito.

Outro ponto que é importante destacar na fala da diretora da escola ―E‖, diz respeito à

influência da mídia. É importante observar que a mídia, para a diretora entrevistada, teve

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papel importante na definição do caminho que ela passou a desenvolver. As ideias ali

apresentadas influenciaram a concepção de avaliação e sua percepção em relação aos

processos de desenvolvimento de boas práticas. Sobre a influência da mídia na vida das

pessoas, Gregolin (2007) explica que

Na sociedade contemporânea, a mídia é o principal dispositivo discursivo

por meio do qual é construída uma ―história do presente‖ como um

acontecimento que tensiona a memória e o esquecimento. É ela, em grande

medida, que formata a historicidade que nos atravessa e nos constitui,

modelando a identidade histórica que nos liga ao passado e ao presente. Esse

efeito de ―história ao vivo‖ é produzido pela instantaneidade da mídia, que

interpela incessantemente o leitor através de textos verbais e não-verbais,

compondo o movimento da história presente por meio da ressignificação de

imagens e palavras enraizadas no passado. Rememoração e esquecimento

fazem derivar do passado a interpretação contemporânea, pois determinadas

figuras estão constantemente sendo recolocadas em circulação e permitem os

movimentos interpretativos, as retomadas de sentidos e seus deslocamentos.

Os efeitos identitários nascem dessa movimentação dos sentidos. Como os

sujeitos são sociais e os sentidos são históricos, os discursos se confrontam,

se digladiam, envolvem-se em batalhas, expressando as lutas em torno de

dispositivos identitários. Michel Foucault (1978) enxerga, nesses intensos

movimentos, uma microfísica do poder: pulverizados em todo o campo

social, os micropoderes promovem uma contínua luta pelo estabelecimento

de verdades que, sendo históricas, são relativas, instáveis e estão em

permanente reconfiguração. Eles sintetizam e põem em circulação as

vontades de verdade de parcelas da sociedade, em um certo momento de sua

história. (p. 17)

Assim, percebe-se que a mídia colabora para o processo de reprodução social que

beneficia a classe dominante. Esse movimento remete ao momento histórico descrito no

capítulos 2 que explica que os organismos internacionais se utilizam como estratégia, para

garantir que as políticas de cunho neoliberal, e aqui especificamente as avaliações externas, da

disseminação de boas práticas respaldadas por veículos de comunicação e pesquisa que

gozem de algum prestígio social. É importante destacar, no entanto, que assim como a mídia

pode ser canal de reprodução, pode ser impulsionadora de rompimentos e resistências. Jornais

clandestinos foram essenciais para a realização desse segundo movimento durante o período

marcado pela ditadura militar, por exemplo.

Ainda sobre a influência da mídia, a professora da escola A revela sua preocupação

com os resultados apresentados pela mídia e que na maioria das vezes não expressa a

realidade dos seus alunos. Para ela a avaliação cobra mais do que as crianças podem dar e

desconsidera os fatores de contexto que impactam no processo:

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Eu acho muito superior essas avaliações... assim... os meninos não têm nível

para responder essas avaliações externas. No nível que elas vêm. Eles não

têm. Eles fazem porque a gente coloca. E alguns, as vezes até se saem bem,

mas em sua maioria eles não têm condições intelectuais de responder essas

avaliações externas não. É tanto que, eles fazem, mas quando a gente vai

corrigir é uma negação. [...] E a gente tenta correr atrás de dar a realidade

das crianças, mas a gente sabe que muita coisa que é colocada na mídia não

é realmente o que a gente vivencia aqui. E essas provas externas, elas

cobram muito e as crianças não podem dar porque elas não têm uma base,

elas não têm uma preparação desde o inicio para chegar num quinto ou

quarto ano e eles darem o retorno do que o ano exige deles. As vezes nem as

quatro operações ou as mais simples, adição e subtração, eles não

conseguem. (Professora-Escola A)

A professora da escola A chama atenção ainda para as condições intelectuais dos

estudantes e afirma que estes realizam a prova porque são convocados a participar, porém não

apresentam condições para o alcance de bons resultados nas avaliações externas, ou seja, não

apresentam as habilidades e competências exigidas pela avaliação. O discurso da professora

revela certo determinismo em relação às condições das crianças. Embora compreenda-se que

as avaliações de fato não são pensadas para a realidade onde é aplicada, internalizar que a

criança não é capaz pode incorrer no risco de leva-las a acreditar em tal fato.

O impacto da expectativa do professor no desempenho do aluno vem sendo estudado

na literatura da área. Em um dos trabalhos pioneiros, Rosenthal e Jacobson (1968) realizaram

um estudo em uma escola pública nos Estados Unidos, em que alguns alunos foram apontados

aos professores como sendo de alto potencial (growth spurters), teoricamente a partir de

resultados de testes cognitivos. No entanto, os alunos foram escolhidos aleatoriamente, e não

realizaram o teste cognitivo apontado. Após um ano, o resultado encontrado foi de que os

alunos, indicados aos professores como sendo de alto potencial, acabaram apresentando um

crescimento em suas proficiências, em média, 50% maior que a dos demais. Fica

subentendida, no estudo de Rosenthal e Jacobson, a interação entre a expectativa e o

desempenho do aluno, com efetiva intervenção do professor no processo de aprendizado.

Outro ponto destacado nas falas dos gestores nos remete ainda a influência de outros

fatores que interferem na percepção dos sujeitos sobre o processo de inserção das avaliações

em larga escala nas escolas:

Eu não sei se é porque eu nasci no regime militar, mas eu sou muito de

obedecer, eu concordo, acho que é interessante para a gente saber... embora a

gente saiba que não é uma prova que mede, mas essa prova te dá como se

fosse o impulso para que você venha trabalhando até chegar nela. Não é que

a prova é importante, mas você já vem se preocupando até chegar nela, você

viu lá em cima a preocupação do Ednardo coordenador do quinto ano

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desesperado porque o menino tem que dominar descritor tal e descritor tal

porque vai cair na prova. Então não é a prova, mas é essa prova que te cobra,

te lembra que tu tem que fazer alguma coisa para chegar lá, se não quando

ela chegar aqui tu vai lá para baixo. Ninguém quer ficar lá embaixo. Então

não é que essa prova diga tudo, ―ah essa prova disse que a escola é a

melhor‖, não, mas essa prova me dá uma injeção para eu chegar até aqui,

porque eu não vou estudar no dia da prova. Vou estudar no ano ―o que cai na

prova?‖ é uma preocupação infinita com descritor e num sei o que, para que

no dia da prova ele esteja bem, então, essa prova não é boa? É porque ela

ajuda a gente a seguir o caminho. (Diretora-Escola B)

Quando discute-se as relações de poder, associamos a comandos que serão obedecido.

Srour (1998) traça uma diferença entre influência e poder. Para o autor, a influência é a

capacidade que existe na dimensão simbólica e está relacionada à capacidade de impulsionar

outras pessoas a fazerem o que convém a quem ordenou, sem que para tanto seja necessário a

utilização da força. Ao contrário, o poder confere às pessoas que o detém a capacidade de se

fazerem obedecer, ainda que as pessoas que obedecem discordem do que lhe é ordenado.

A diretora B chama atenção para a necessidade de obedecer como fruto da sua

educação durante o regime militar, momento histórico marcado pela repressão, pela supressão

de direitos civis e pela censura aos que questionavam as decisões políticas e sociais tomadas

pelo governo. Percebe-se que ao mesmo tempo em que diretora diz ―embora a gente saiba que

não é uma prova que mede‖, complementa informando que ―essa prova te dá como se fosse o

impulso para que você venha trabalhando até chegar nela‖, ou seja, a fala remete a

contradição de que a diretora faz porque compreende a necessidade de obedecer a decisão que

vem de cima, ao mesmo tempo em que entende que a prova não mede o que o governo central

diz que a mesma expressa. As expressões ―não é que essa prova diga tudo‖ e ―é uma

preocupação infinita com descritor‖ revelam que a diretora também se sente pressionada com

o processo e reafirma que o fim para o qual as avaliações externas foram pensadas não se

concretizou, resumindo-as ao resultado final, situação que nos remete ao que revelou a

literatura no capítulo 3. Os gestores são pressionados à responder o imperativo das avaliações

em larga escala no âmbito dos sistemas educacionais.

Os depoimentos dos sujeitos entrevistados nos remetem ainda as lacunas e deficiências

do movimento da política de avaliação em larga escala:

Eu acho assim, que no caso das avaliações, o IDEB é padronizado, ele não

vê... eu acho que deveria ser regional. Por região. A situação da região

nordeste dentro da região nordeste, a região metropolitana dentro da região

metropolitana, porque aí ia trabalhar as dificuldades mesmo daquele local.

Como a gente teve uma prova agora a pouco tempo que tinham três questões

que os meninos não tinham consolidado ainda porque era conteúdo do

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terceiro bimestre, aí quando vai passar para o computador, o computador vai

dar erro e aí eu acho desumano porque a gente trabalha, os meninos se

esforçam, a gestão também se esforça e de repente dá um erro e diminui a

nota de um aluno, aí a gente se pergunta, porque o aluno não é só a nota, mas

quando passa lá para cima, para o MEC, para não sei para onde, o aluno se

transforma em porcentagem. (Professora- Escola F)

A padronização e a ausência de preocupação com o local e as regionalidades ganha

destaque no depoimento da professora da escola F. Para a docente, os alunos viram

porcentagem nas avaliações em larga escala, o que desconsidera o processo de aprendizagem

dos estudantes. Assim como a fala dessa professora, observou-se outros depoimentos de

docentes que apresentavam percepções diferentes dos gestores, ainda que pertencessem a

mesma escola:

Olha, eu, na minha opinião, eu não gosto muito não, sabe? Primeiro eu não

concordo com uma prova que seja objetiva, eu não concordo porque os

nossos alunos estão deixando de pensar para responder, eles leem e pensam

de uma maneira observando ―qual seria a resposta? É a A, a B ou a C?‖

Simplesmente marca aquele que acha que está correta. Se fosse uma prova

subjetiva, por exemplo, eu acredito que eles teriam mais capacidade, mais

necessidade, não é capacidade, mais necessidade de ler e pensarem melhor.

Então, eu não concordo, eu não acho que esse tipo de prova vai identificar o

sujeito como ―este aqui está apto para seguir na vida‖, eu não concordo com

o tipo de avaliação deles. (Professora- Escola B)

As falas das duas professoras revelam discordância com o processo. As referências

utilizadas pelas docentes estão associadas ao cumprimento de determinações hierárquicas,

fruto dos processos de globalização e intervenção dos organismos internacionais na educação

brasileira, que indicou padrões de qualidade internacionais sem considerar as necessidades e

limitações locais. A discussão em torno dos processos de globalização ganha força, no fim do

século XX, e remete a uma imagem de homogeneização social, cultural, econômica, política,

educacional e espacial que tenderia a uma dissolução das identidades locais, fato que

resultaria em um espaço global despersonalizado.

A professora B tece uma crítica, ainda, ao formato de exame, objetivo, fato que estaria

impulsionando o exercício de memorização e não de reflexão por parte dos estudantes locais.

Essas constatações reafirmam a necessidade de se perceber o discurso como construção

influenciada pela função social que os sujeitos ocupam. Os diretores apresentam discursos

próximos aos apresentados na mídia e disseminados pela SME, os professores, no entanto,

expressam outra perspectiva que parece estar mais associada ao cotidiano da sala de aula e

dificuldades dos alunos para o alcance dos resultados estipulados.

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Os depoimentos também revelaram que a inserção das políticas de avaliação em larga

escala no chão da escola e a preocupação com seus resultados já se tornaram um valor

arraigado no fazer cotidiano dos sujeitos.

Apesar de ter a cobrança, porque você fica na cabeça ―o SPAECE, a prova

do SPAECE‖, essa palavra SPAECE fica assim na cabeça todos os dias do

ano, não adianta. Tudo o que eu faço é ―isso aqui é para o SPAECE‖, eu já

vou planejar pensando no SPAECE, tudo o que eu vou planejar é pensando

na prova do SPAECE. Porque eu já venho no 5º ano já fazem uns três anos,

né? Aí eu já sei. Mas eu gosto muito, eu gosto muito dessa nova forma de

aprendizagem, para eles. (Professora- Escola C)

A fala da professora C revela que o Sistema de Avaliação do Estado do Ceará já se

consolidou e se tornou a principal preocupação dos professores no dia-a-dia da escola. A

repetição da palavra SPAECE, na sua fala, remete ao pensamento constante que define e

direciona suas práticas em sala de aula. A ultima frase de seu depoimento revela que como a

professora está há três anos no 5º ano já considera saber o que fazer e, portanto, gosta dessa

nova forma de aprendizagem dos alunos. A expressão da contradição aparece novamente, se

por um lado existe uma critica implícita ao processo de pressão em torno do pensar e fazer o

SPAECE, por outro, a professora se expressa como se já dominasse a receita para o bom

resultado e, portanto agora concorda e aprova a nova forma de medir o conhecimento dos

alunos.

Outro importante ponto diz respeito a não compreensão do processo de aprendizagem

como uma construção, fato que segundo a professora da escola D tem sido desconsiderado

pelos órgãos centrais:

Olha, eu acho que as avaliações são necessárias, o governo tem que de fato

acompanhar as escolas e a partir desses resultados traçar políticas, planos, metas

para estados e municípios para tentar sanar os déficits de aprendizagem que

existem, né? Mas eu acho que houve alguns equívocos assim na apropriação das

escolas, da secretaria, com um excesso de atenção a prova como se fosse a

grande meta da escola e não houvessem outras coisas envolvidas nisso,

principalmente a gente que tá no 5º, na ponta, que é onde as avaliações são

aplicadas, há um excesso de cobraça, um exagero em relação a essas avaliações.

Porque o descritor solicita que o menino tenha uma habilidade especifica do

conteúdo, não é uma coisa global, então para chegar nesse descritor, existem as

competências, as habilidades, até chegar no descritor que é só um aspecto. Por

exemplo, fração, só tem dois descritores de fração, mas o conteúdo de fração é

muito complexo, ele é extenso, para chegar nele tenho que trabalhar toda

questão da representação conceitual até chegar nesses dois descritores. E quando

a cobrança vem, né? Porque a secretaria manda constantemente simulados para a

gente fazer com eles, aí o menino já tem que saber fazer, só que é uma coisa tão

lenta que é construída porque fração é tão abstrata, é tão difícil consolidar e eles

as vezes tem um problema que é a quebra do 4º para o 5º que parece que os

meninos chegam no 5º e a gente tem que ensinar tudo. Não parece que eles

passaram por três séries antes. 2º, 3º e 4º, porque no 2º focaliza muito a língua

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portuguesa, no 3º estão preocupados em reforçar a alfabetização, aí parece que

os meninos começam a ver alguma matemática só no 4º e ainda de forma muito

introdutória e superficial, então quando eles chegam no 5º a gente tem que

trabalhar desde a noção básica do que é um número, noção de agrupamento,

sistema de numeração decimal que está no programa do 1º ano, 2º, 3º e 4º e só

no 5º é que eles vão mesmo ver que com dez eu formo uma dezena e que com

dez dezenas eu formo uma centena. (Professora- Escola D)

O depoimento demonstra que a professora compreende que é necessário o

acompanhamento do governo em relação aos resultados para que possa pensar políticas

públicas para a educação, porém chama atenção para a forma como esse processo tem sido

interpretado pelos setores intermediários e pela escola, a desconsideração da matemática antes

de chegar ao 5º ano recebe destaque na fala da docente, no fragmento ―eu acho que houve

alguns equívocos assim na apropriação das escolas, da secretaria, com um excesso de atenção

a prova como se fosse a grande meta da escola e não houvessem outras coisas envolvidas

nisso‖, mostra que as avaliações em larga escala têm sido incorporadas por algumas escolas

como sendo o objetivo central das instituições, desconsiderando o real sentido social da escola

e as subjetividades envolvidas.

Marques (2005) explica que

A política da padronização é deficiente pelo seu desrespeito ao valor

cultural, à diversidade e, pelo diálogo, os agentes abrem-se aos desafios da

autotransgressão, ao mesmo tempo em que honram os limites

homogeneizadores, conscientizando-se de que as perspectivas são

diferenciadas e que não podem ser reduzidas a uma fórmula unitária. O

ponto central não é dissolver as diferenças em uma identidade universal, mas

sustentar um campo de diferenças múltiplas, não polarizadas, fluídas e

voláteis, e defender a integridade de forma de vida e tradições com as quais

os membros de grupos minoritários possam se identificar. (p. 38-39)

A priorização de determinadas disciplinas em detrimentos de outras também foi alvo

dos depoimentos dos sujeitos. Os professores das disciplinas que não são foco das avaliações

acabam por ter que se submeter ao planejamento das ditas disciplinas principais.

Querendo ou não a gente prepara os alunos para o SPAECE, eles passam por

isso, desde como é estruturada a prova, tudo é voltado para leitura e

matemática, o professor de História e Geografia tem a orientação de

trabalhar a questão da audiência leitora, da compreensão leitora porque se o

aluno não lê não sabe interpretar as questões de matemática, então a gente

busca realmente preparar o aluno para fazer. Aí é onde eu digo assim, os

meninos do 2º às vezes é onde a gente se preocupa muito com a questão da

leitura, mas a gente percebe que o menino fica fraco do outro lado, as vezes

ele tem uma dificuldade em matemática mas querendo ou não nosso foco é

leitura, né? (Diretora- Escola F)

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Conforme visto no capítulo 2, apontado na literatura e agora encontrado

concretamente em sala de aula, as disciplinas que não são avaliadas acabam por se tornarem

elementos secundários no processo de ensino e aprendizagem, descaracterizando a autonomia

dos professores que as lecionam e questionando a importância dos conteúdos abordados ao

ministra-las. A diretora da escola F diz ―Querendo ou não a gente prepara os alunos para o

SPAECE, eles passam por isso, desde como é estruturada a prova, tudo é voltado para leitura

e matemática‖, ou seja, independentemente da vontade dos sujeitos que estão na escola, a

orientação é a preparação para o SPAECE.

Como observou-se, a percepção de alguns sujeitos estão associadas ao que a SME

orienta, sendo o discurso permeado por essas influencia. Para compreender a relação da

Secretaria de Educação com esse processo, o tópico a seguir se desenha.

6.2 O papel da SME no fortalecimento do modelo de avaliação em larga escala implantado no

estado do Ceará

Os professores e gestores escolares entrevistados foram questionados também sobre a

presença da Secretaria Municipal de Educação nas escolas e sobre a relação que se estabelece

entre escola-SME-avaliações externas. Quatro situações merecem destaque:

A primeira diz respeito ao apoio e direcionamento que a SME constrói em relação às

avaliações, inclusive criando um sistema próprio para além do SPAECE e da Prova Brasil, o

SAEF:

[...] apoia nas avaliações externas, tipo o SAEF que é pelo menos três vezes

por ano, a diagnostica, a intermediaria e a final, para medir como estar o

conhecimento dos alunos e a final é uma prévia de como está sendo o

SPAECE. Inclusive nesse ultimo ano que a gente fez, a avaliação final do

SAEF, foi refletido no resultado do SPAECE. [...] As professoras quando

vão para as formações recebem manuais, recebem dicas, tem muitos

materiais que elas recebem, tem umas propostas curriculares que a gente

recebeu também na SME, do que se deve trabalhar em Português e

Matemática e fica acessível aos professores. O trabalho é cobrado mas eles

têm suporte. (Diretora- Escola A)

Eles estão sempre juntos e a secretaria de educação orienta muito. Nós temos

a secretaria, a SME e temos os Distritos, as regionais. Geralmente as escolas

tratam mais diretamente com o Distrito, mas a SME ela é muito presente.

Desde 2013 surgiu uma ação, um trabalho deles que eu acho ótimo que é a

superintendência, que são profissionais que vão as escolas, fazem o

acompanhamento. Então hoje mesmo eu tava dizendo que acho ótimo,

querendo ou não é um agente fiscalizador porque é da SME, quando entra

aqui eu não vou dizer ―ah, não é fiscalizador‖, é, mas eu acho importante o

monitoramente, o acompanhamento, e antes de tudo eu os vejo como pessoas

que estão aqui e que tem um olhar para a escola, e eu vejo que o olhar deles

muitas vezes ajuda no meu trabalho, de repente o olhar dele reforça algo que

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eu já vi e estou trabalhando ou algo que eu ainda não tinha percebido e que

um olhar de fora... ―ah, é mesmo‖. [...] Muito suporte. Olha, se hoje nossas

escolas estão... porque elas melhoraram, se hoje nós estamos assim é porque

houve um trabalho direcionado da secretaria que nos deu formação, apoio,

faz trabalho de acompanhamento, feedback, sugestões. (Diretora- Escola C)

O depoimento da diretora da escola A, demonstra que a inserção das avaliações em

larga escala no ambiente escolar já está enraizada na cultura cearense, fato que impulsionou

inclusive a criação de uma iniciativa própria do município de Fortaleza e que parece funcionar

como preparação para o SPAECE: ―é uma prévia de como está sendo o SPAECE. Inclusive

nesse ultimo ano que a gente fez a avaliação final do SAEF, isso foi refletido no resultado do

SPAECE‖. Segundo depoimento da diretora, parte da SME também as orientações

curriculares do que deve ser trabalhado em prol dos bons resultados nessas avaliações

estandardizadas.

A diretora da escola C por sua vez, destaca a forma como lida com a SME, primeiro

informa como se dá o trabalho desta ao chegar à escola: ―querendo ou não é um agente

fiscalizador porque é da SME, quando entra aqui eu não vou dizer ‗ah, não é fiscalizador‘, é,

mas eu acho importante o monitoramente, o acompanhamento...‖, ao mesmo tempo em que

revela achar importante essa estratégia, fala em fiscalização e monitoramente, informando que

isso se dá independente de sua vontade ―querendo ou não‖. É importante mencionar que a

diretora ainda chega a atribuir o sucesso das escolas cearenses ao trabalho da SME: ―se hoje

nós estamos assim é porque houve um trabalho direcionado da secretaria que nos deu

formação, apoio, faz trabalho de acompanhamento, feedback, sugestões‖. Seria sua percepção

sincera dos fatos ou o que a diretora considera que seria o correto a dizer?

Podemos situar o lugar da SME no campo político, a partir do que Marques (2005)

explica:

[...] na medida que ela envolve relações de interesse e conflito entre grupos

que tentam se afirmar ou prevalecer sobre os demais, havendo, portanto,

uma interação estratégica em que se coloca o problema do poder, e

consequentemente, a afirmação da autonomia de cada um, o que nos remete

à questão da identidade. Na verdade, quando se tenta declarar de não política

as distinções entre os indivíduos, se permite que elas operem livremente na

sociedade, intocadas pelo principio da igualdade na cidadania política. Dessa

forma, a ênfase na identidade e no respeito às diferenças não basta, na

medida em que ela pode vir a justificar o conformismo com a desigualdade e

opressão. (p.38)

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Na medida em que se busca a padronização dos processos nas escolas sem levar em

consideração suas particularidades, esconde-se sua identidade, desencadeando o agravamento

das desigualdades sob o discurso da igualdade.

O segundo ponto a destacar tem relação com a presença do Superintendente nas

escolas, conforme já mencionado no depoimento anterior, esse profissional enviado pela SME

tem a função de trabalhar os indicadores e acompanhar o que tem sido feito em relação às

avaliações em larga escala no chão da escola:

Orientação, sim, a gente recebe orientação da SME, o distrito aqui perto eles

tem o superintendente que faz essa... As vezes a gente encara como

fiscalização, mas eles ajudam muito, precisa de uma coisa e ligar, se estiver

ao alcance deles, eles ajudam. A gente não tá só, mas as vezes a gente se

sente só. Porque são muitas escolas e você não ver só você, né? Você não é o

centro. Mas eu sinto o apoio. Às vezes o professor diz ―não, só vem cobrar‖,

mas eu acho que a cobrança é no sentido de a gente tá lembrando, ―se lembra

da nossa meta? Se lembra do nosso foco?‖ Então eu não vejo muito como a

cobrança, mas como lembrança. (Diretora-Escola B)

A questão da fiscalização é novamente posta em relevo. E dessa vez segue

acompanhada pela fala da gestora em relação à percepção do professor ―só vem cobrar‖,

descrevendo a SME como órgão fiscalizador que chega à escola para cobrar. Mais uma vez a

percepção de diretores e professores divergem, uma vez que a diretora afirma não encarar o

processo como cobrança e sim como lembrança. Essa divergência de percepções a partir das

diferentes funções sociais ocupadas pelo sujeito tem a ver, segundo Marques (2005), com o

fato de que:

Na perspectiva atual, o sujeito torna-se fragmentado, composto de várias

identidades que podem, inclusive, ser antagônicas. Desta forma, o sujeito

não tem uma identidade fixa, mas sim uma identidade formada

historicamente, que se transforma continuamente pelas representações nos

sistemas culturais em que se insere. O sujeito assume, assim, identidades

diferentes em diferentes momentos, tendo o seu centro deslocado e

substituído por uma ―pluralidade de centros‖. (p. 40)

O terceiro ponto reforça essa questão, ressaltando as diferença entre a visão do

professor e dos diretores em relação ao suporte fornecido pela SME e o conteúdo das

discussões em torno das avaliações em larga escala.

Assim, há uma discussão eu diria que muito superficial, assim mais com as

orientações. Antes da prova é ―quais são os descritores que tem que

trabalhar, qual a metodologia de aplicação da prova‖, e depois que esses

resultados saem eles são apresentados e a discussão que é feita é

―precisamos melhorar nisso, precisamos avançar nisso, nós melhoramos

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nisso e naquilo‖, ai depois a coordenadora enfatiza muito que vamos

trabalhar os descritores que eles menos aprenderam. Por exemplo, aqui a

Secretaria do Município faz três avaliações durante o ano, o SAEF, então foi

feita a primeira que engloba todo o conteúdo, né? E tem conteúdos que eles

não viram ou não consolidaram no 4º ano. Então, normalmente essa primeira

prova eu sei que é ruim, sempre é ruim, porque vem todo o conteúdo do ano

e eles nem consolidaram mesmo, então eu nem me preocupo. Aí olha a

proposta do Distrito que vem ―trabalhe os descritores que eles não foram

bem‖, tá mas tem descritor aqui que eu não vou trabalhar agora, que é

descritor de fração, de número decimal, de grandeza e medida, não adianta

trabalhar agora, eu não vou, porque eu estou seguindo uma sequencia lógica,

eu não vou chegar lá se o menino sabe nem o que é um número ainda. Eu

acho que é um equivoco quando eles dizem ―trabalhe os descritores que eles

erraram mais‖, mas eu não posso trabalhar com eles isso agora, geralmente o

que eles erraram mais é o que eles não consolidaram mesmo, aí fica a gente

tentando argumentar com a coordenação ―não, mas eu não vou trabalhar isso

agora, primeiro eu tenho que construir outro conceito antes até ele chegar

lá‖, porque se eles tivessem visto eu poderia até misturar, mas como eu vejo

que eles não consolidaram, que não sabem nem fazer a leitura de um número

ou eu dar um número e eles escreverem aquele número, sem entender

agrupamento, recomposição, aí como eu vou introduzir? Jogo o número

decimal para o menino? Que não sabe nem organizar o número natural

ainda. Como eu vou trabalhar fração se ele não sabe nem multiplicar e

dividir ainda? (Professora-Escola D)

O depoimento da professora da escola D expõe os conflitos e contradições do dia-a-dia

real da sala de aula, as pressões e o distanciamento entre o que se chama de acompanhamento

dos processos e os processos reais desenvolvimentos na escola. Expõe ainda sua resistência,

uma vez que se coloca contra esse processo e apresenta a forma como trabalha. Novamente a

professora D é a única entrevistada a se coloca contra a proposta da SME de trabalhar os

descritores sem levar em considerações as demais questões envolvidas, além de justificar e

apresentar a forma como seria melhor trabalhar. A resistência e a clareza no processo

provavelmente tenha associação com a formação da entrevistada, doutoranda em educação na

área de educação matemática.

Esse processo de resistência e ressignificação da política que chega a escola é

abordada por Azevedo (2001b):

De uma perspectiva analítica mais global, é preciso termos presente que

nenhuma orientação que vem de fora é transplantada mecanicamente para

qualquer sociedade. Ao contrário, as diretrizes que, de um lado, estão

desnacionalizando o Estado-nação em função da acumulação de capital são

sujeitas a processos de recontextualização impingidos pelas características

históricas da sociedade a que se destinam. (p. 12)

A autora reflete sobre a identificação de modos de atuação que procuram ressignificar

as medidas impostas hierarquicamente, direcionado-as à construção de um novo espaço

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público, caso da professora mencionada, que no âmbito da sua sala de aula disse não as

determinações das avaliações e optou por uma forma diferenciada de trabalhar.

Por fim, o quarto ponto está relacionado às formações oferecidas pela SME e que tem

como foco os resultados nas avaliações:

Na formação que a gente recebe da secretaria, eles lançam os resultados e

sempre pautam os descritores ―olhe, esses foram os descritores que eles

acertaram mais e esses os que erraram mais, precisa trabalhar os que erraram

mais‖. A única formula que eles dão é isso. Eu acho que o próprio site do

SPAECE ele dá outras formas de interpretar, não é só o resultado em si, tem

gráficos, ele faz combinações do aluno em relação à turma, a turma em

relação a toda a escola, a escola em relação ao município, então às vezes tem

avanços que você percebe que a secretaria e a escola também não valorizam.

Por exemplo, ―a maioria tirou nota baixa, mas se você perceber, a maioria

evoluiu, avançou‖, mas essa leitura não é feita em relação ao nível anterior.

O nosso ultimo resultado aqui do SPAECE do ano passado já saiu o

resultado parcial e a gente conseguiu avançar no Português e ficar no verde

no 5º ano, que é o nível satisfatório, foi 228, o menor é 225 em Português. E

em Matemática a gente ficou com 226 só que em Matemática o perfil é

maior, é 250. Mas em matemática a gente era 210 no anterior e quando eu

entrei aqui era 190, então houve um avanço: 190, 210, 226, mas só vê o ―tá

no vermelho‖. Eu quando vejo os resultados das avaliações diagnosticas eu

vejo o desenvolvimento dos alunos, ―aqui ele foi ruim, mas aqui ele foi

crescendo‖, além dos descritores tem outra coisa que está lá que são os

distratores, que são coisas que complicam, então eu sei que ele errou não

porque ele não entendeu mas porque tinha um distrator, que é um

complicador que eles colocam na questão. Então, eu acho que às vezes a

leitura fica só na ponta, no resultado final. (Professora- Escola D)

A fala da professora confirma o que a literatura já chama atenção: a desconsideração

do processo em detrimento do resultado. Há uma tendência em observar o número final, sem

que para tanto haja uma análise relacionada ao crescimento observado, ao nível que as

crianças alcançaram, deixando que a leitura fique ―só na ponta, no resultado final‖.

Andrade (2011) explica que as palavras e as ações ganham relevância na constituição

do ser humano na medida em que distingue-se dos outros seres, isso para além da capacidade

de comunicar suas necessidades primárias, mas, sobretudo, porque somente a ele é

reconhecida a capacidade de comunicar para si próprio. Assim, cabe realçar a concorrência de

interesses que permeiam a produção e reprodução do discurso, com ênfase no interesse com

que cada locutor e interlocutor disputam o exercício do poder simbólico no espaço público.

Na relação com o discurso que envolve as avaliações de larga escala é comum

encontrarmos, na lei de sua criação, o mascaramento das reais intenções que asseguram a sua

inserção na escola. Um exemplo é o depoimento da professora, o SPAECE foi criado com o

discurso das metas para o avanço e melhoria da educação. Todavia, nota-se na fala da

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professora que este tem se configurado como mais uma forma de controle sobre o trabalho

que as escolas fazem no seu município. Nessa perspectiva, os resultados apresentados nem

sempre refletem o real trabalho feito e crescimento alcançado, quando essas questões estão

associadas à premiação, a reflexão exige ainda maior aprofundamento, ponto que será

discutido no próximo tópico.

6.3 A política de premiação e a (in) coerência nos resultados

O trabalho de campo buscou coletar a percepção dos sujeitos entrevistados também a

cerca da política de premiação, consequência desse processo de materialização de resultados

das avaliações em larga escala no chão das escolas. Parte dos entrevistados destacou que a

premiação é valida uma vez que funciona como fator motivador e recompensa pelo bom

trabalho realizado:

É bom porque motiva, né? Querendo ou não a escola fica visada ―ah a escola

tá verde escura‖, o dinheiro é bom para a escola, mas nada melhor do que os

professores receberem não só um ―muito obrigado‖, ou uma lembrancinha,

mas financeiramente falando, todo mundo poderia ganhar. (Diretora- Escola

F)

A diretora da escola F apresenta em sua fala dois destaques, o status recebido pela

escola a partir dos seus resultados no SPAECE, ―querendo ou não, a escola fica visada, ah, a

escola tá verde escura‖, e a importância da premiação, que para ela deve ir além da

―lembrancinha‖ e do ―muito obrigada‖, mas ―financeiramente falando, todo mundo poderia

ganhar‖.

Observa-se que em termos subjetivos, relativos aos efeitos constitutivos do sujeito, a

experiência de avaliação impulsiona efeitos de qualificação ou desqualificação, que

determinam o posicionamento de indivíduos e grupos no interior das escolas e nas instituições

que apresentam ligações com as mesmas, de modo que a avaliação apresenta função política,

de acesso e restrição, ou seja, determinação e distribuição de lugares, poderes e acesso aos

saberes nas sociedades modernas. (FOUCAULT, 1996).

Corroborando com as ideias de Foucault, Dammeto (2012) explica que

Por este ângulo, nota-se que seus resultados, as ―verdades‖ produzidas por

tais processos, repercutem em diversas esferas atingindo também a origem

das informações, os sujeitos avaliados. Seus usos e leituras acabam indo

muito além da construção de estratégias educacionais. Reflexo disso são as

polêmicas envolvidas nas diversas avaliações educacionais em larga escala

promovidas no Brasil nas últimas duas décadas, circunstâncias que geram

debates, conflitos de opinião, além de franca resistência ao processo

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avaliativo, conflitos que remetem as implicações éticas de qualquer

avaliação. Pressupõe-se aqui, que toda avaliação educacional em larga escala

é uma avaliação indireta acerca do trabalho docente, já que não se analisa

propriamente a sua ação, mas seus efeitos, mediados pela vivência de

aprendizagem dos alunos. Tal pressuposto não é aqui assumido ao acaso,

mas sim pelo fato de que, ante aos sucessos ou fracassos, entenda-se frente a

bons ou maus índices de desenvolvimento educacional gerados pelas

avaliações, tem-se o professor como personagem para qual se voltam a

maioria dos discursos, via de regra, discursos que trazem em si uma

individualização da problemática através de grosseira simplificação: é o

trabalho do professor que obteve êxito ou fracassou. (p.60)

A defesa da premiação, para além do ―muito obrigado‖ e da ―lembrancinha‖, leva ao

agravamento dessa responsabilização do professor pelo fracasso e pelo êxito. Isso porque, há

uma desconsideração dos outros fatores envolvidos. Se há uma defesa pela premiação dos

professores pertencentes a escolas que atingiram bons resultados, há que se refletir sobre o

que ocorre com os professores que não estão em escolas com essa condição, as cobranças,

pressões, exclusões e responsabilizações.

Nessa perspectiva, observou-se depoimentos que resistem a intenção de premiar

professores ou escolas especificas, chamando atenção para a necessidade de se pensar

coletivamente:

Eu como militante de rua e participante de greve que eu sou eu tenho uma

opinião como pessoa, como profissional. Eu só não vou concordar com o

abuso e o exagero disso, eu não concordaria, tentaram aí a história de

premiar o professor aqui, o professor mesmo individualmente, ―alcançou a

meta tá aqui mais dinheiro‖. Aí teve uma negociação entre sindicato e a

prefeitura e por iniciativa dos professores não aprovou. O sindicato

convocou uma Assembleia e nos perguntou ―gente meritocracia sim ou

não?‖ Todo mundo disse não, a gente não precisa de dinheiro assim, porque

a gente é profissional, gosta de ser professor, se fosse para a gente ganhar

dinheiro, a gente saia disso aqui. (Professor- Escola E)

Na verdade não era para ter essa política de premiação, era para ter um

salário digno. Era melhor que fosse para todos e não só para o 2º ou para o 5º

mas do 1º ao 5º, para todos os professores porque a educação é uma

correntinha e se eu tenho um 5º ano bom hoje é porque lá no 1º ano alguém

se esforçou. (Professor- Escola F)

Nesses depoimentos dois conceitos são postos em relevo: o da contradição e o da

resistência. Nascimento (2013) explica que a contradição constitui os processos de

subjetivação do sujeito e a sua formação discursiva, explica que é por meio da contradição

que é possível abordar a reprodução e a transformação. Para o autor a transformação só é

possível porque a contradição se faz sentir no ato da reprodução, podendo impulsionar a

resistência ou a acomodação. O professor E expressa bem esse jogo discursivo contraditório,

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ao mesmo tempo em que diz não a meritocracia e situa que essa posição sofre influência de

suas experiências e local de fala, rompendo com o processo de reprodução e aceitação da

política de premiação, ao mesmo tempo se coloca como defensor da concepção de docência

como ―sacerdócio‖ sem preocupação com os bens materiais e financeiros, o que

descaracteriza a docência como profissão.

A professora da escola F também acaba por se contradizer em seu depoimento uma

vez que afirma ―não era para ter essa política de premiação, era para ter um salário digno‖,

porém, também defende ser melhor que a premiação fosse para todos e não apenas para as

turmas que realizam a avaliação, já que esses alunos passaram por outros professores até

chegarem à turma avaliada. Esse depoimento revela que o sujeito apoia a premiação para as

boas escolas, embora defenda que isso seja realizado de forma coletiva, não parece ver

problema com as desigualdades entre intituições.

Depoimentos sobre a mudança de opinião em relação à política de premiação também

foram encontrados. O que nos leva a destacar novamente o local de fala do sujeito, a função

social que assume, antes professor e contra a premiação, atualmente diretora e a favor dessa

política:

No começo eu era contra, antes da gestão, porque assim, o ser humano

funciona por recompensa, a gente sabe disso, todo mundo espera alguma

coisa. A gente desempenha um papel, uma atividade e espera alguma coisa

com isso. A gente espera o resultado, espera que o aluno aprenda, a gente

espera um resultado financeiro, um retorno financeiro, a gente espera alguma

coisa, é justo. A gente aqui no SPAECE, no mês anterior a prova, a gente

sorteia um prêmio para eles. Ano passado a gente pegou uma bicicleta verde

linda, penduramos no teto para chamar atenção deles de que a presença dele

era importante nos dias que antecediam a prova porque a gente estava

fazendo revisão de conteúdos e no dia da prova. E eles entenderam, a gente

só teve três ausências. (Diretora- Escola A)

Assim, nota-se que os impactos de qualquer avaliação podem ultrapassar os limites de

sua intenção original. O ―dado objetivo‖ produzido pela política desencadeia uma

multiplicidade de ―verdades‖, interpretadas a partir de outros pontos de vista. Um dos

desdobramentos desse tipo de política é a inserção de seus resultados no interior de uma

perspectiva mercadológica e competitiva, pautada por uma lógica performática.

(DAMMETO, 2012, p.61)

Esquinsani (2010) explica que isso ocorre principalmente quando veiculada

midiaticamente:

A mídia também potencializa o caráter de performatividade das avaliações

de larga escala, no contexto do Estado avaliador, na medida em que torna

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público e, portanto, relevante, os índices e indicadores de escolas e sistemas

de ensino, focalizando a competição e o desempenho como parâmetros de

qualidade. Há, por fim, um discurso patente que envolve a superação, o

desafio, o altruísmo, e a meritocracia como forma de obter resultados

desejáveis nas avaliações de larga escala, valorizando de sobremaneira os

resultados conquistados em nível individual como elementos exemplares da

postura que será necessária para vencer no Estado avaliador através dos

critérios da performatividade (ESQUINSANI, 2010, p.137).

Compreendendo que a política de premiação está associada aos resultados das escolas,

a pesquisa se propôs a compreender também se os sujeitos entrevistados consideravam

coerentes com a realidade os resultados alcançados, contrariando a expectativa de que a

maioria das instituições, principalmente as de alto IDEB fossem apontar que sim, a maioria

dos sujeitos, especialmente os professores chamaram atenção para a incoerência dos

resultados.

Esse ano que passou a gente ficou ainda sem saber, como eu te falei dessa

turma que a gente tinha, né? A gente fez a avaliação ano passado e uma

turma do 2º ano do turno da manhã, a gente se surpreendeu com o resultado

deles, porque assim, para a gente aquele resultado não era o resultado deles,

a gente ficou surpreso e até se questionando se não era por conta da

ansiedade que a gente passou para os meninos... ficou assim repensando esse

resultado... se os meninos não estavam muito apreensivos, porque todo ano

quando é em novembro a gente desenvolve um projeto que é o ―Missão

SPAECE‖, então durante esse período de um mês a gente desenvolve esse

projeto na escola, fica todo aquele clima na escola, a gente reúne os pais,

quando faltam 10 dias a gente faz a contagem regressiva, 10, 9, 8... então, eu

não sei se isso tudo causa ansiedade, com certeza causa, né? Mas a gente

ficou surpreso porque era uma turma de leitores, a grande maioria, salve uns

dois ou três, aí teve aluno que era tipo de fechar simulado, quase todo

simulado fechava e na avaliação tirou 43%. Então a gente ficou sem

entender, como é que pode? E as avaliações, os simulados que a gente faz já

é em nível de avaliação mesmo, a gente costuma fazer avaliação a cada 15

dias já para eles irem se habituando e tudo e aconteceu isso. (Diretora-

Escola D)

O depoimento da diretora da escola D revela preocupação com os motivos que podem

ter desencadeado resultados abaixo do esperado diante de uma turma considerada de

excelência. Essa busca por encontrar o ―culpado‖ ou de procurar se desresponsabilizar pelo

processo atribuído os baixos resultados à condições externas, a corrida por performatividade,

segundo Ball (2005), decorre da ―(...) construção e publicação de informações e de

indicadores, além de outras realizações e materiais institucionais de caráter promocional,

como mecanismos para estimular, julgar e comparar profissionais em termos de resultados: a

tendência para nomear, diferenciar e classificar‖ (p. 544).

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O autor segue explicando que esse processo tem relação com o ideário neoliberal e que

este modo de gerir o poder nas instituições, acaba por ―incutir performatividade na alma do

trabalhador‖ (p.545), produzindo efeitos subjetivos consideráveis.

Os professores manifestaram ainda, preocupação com os rumos que o processo tem

tomado, a insustentabilidade dos resultados foram destacadas, no sentido de chamar atenção

para as turmas que foram premiadas no 2º ano por conta de seus resultados, mas que

atualmente estão no 5º ano e não apresentam as habilidades e competências básicas que a

avaliação informou que os alunos do 2º ano já dominavam em anos anteriores.

[...] aqui, fazem três anos que o 2º ano aqui é premiado, turma alfabetizada.

Mas esses meninos estão passando de série e quando chegam no 3º não tem

um desempenho tão bom, no 4ºtambém, chega no 5º e aí cadê a alfabetização

boa, premiada? Porque eles chegam no 5º lendo tão ruim ainda? O que tá

sendo cobrado dele lá que ele tá indo bem e não tem continuidade depois, é

um falso resultado, porque então só prepara o 2º, prepara o 5º mas na

verdade não está havendo uma aprendizagem de verdade, significativa, sabe?

É só uma preparação para a prova. Eu desconfio muito dessa eficácia, eu

acho que existiu até uma boa intenção, mas acabou desvirtuado o papel

dessas avaliações. Porque as escolas são tão cobradas para mostrar resultado

que acaba sendo... então tem essa coisa assim. Esses conflitos. (Professora-

Escola D)

Sobre a incoerência do resultado divulgado, a professora revela que: ―O que tá sendo

cobrado dele lá que ele tá indo bem e não tem continuidade depois, é um falso resultado,

porque então só prepara o 2º, prepara o 5º, mas na verdade não está havendo uma

aprendizagem de verdade, significativa, sabe?‖ A turma que atualmente está cursando o 5º

ano, foi turma premiada em anos anteriores, mas a avaliação atual revela que o aprendizado

não foi consolidado. Essa questão nos leva a refletir sobre a divulgação do que a professora

chamou de ―falso resultado‖, que não se sustenta nos anos seguintes, mas que é amplamente

disseminado pela mídia impulsionando mudanças políticas e trabalhando com os status e

imaginário das escolas.

Percebe-se a partir desses depoimentos, que a chegada da política de avaliação em

larga escala no chão da escola tem repercutido nas práticas dos gestores e professores das

escolas cearenses, questão a ser explorada no próximo tópico.

6.4 As políticas de avaliação em larga escala e a práticas dos professores e gestores cearenses

Os gestores e professores entrevistados foram questionados no sentido de identificar se

suas práticas foram modificadas a partir da chegada das avaliações em larga escala no

cotidiano das escolas, por unanimidade os sujeitos informaram que sim, alguns destacaram

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pontos positivos dessas mudanças e outros associaram a mudança à cobrança, pressão por

aprovação de alunos e responsabilização.

[...] existe um interesse maior de melhorar o resultado e essa avaliação e que

essa avaliação reflita o trabalho que a gente desenvolve, então tem uma

preocupação maior. De o aluno está indo, no dia da prova ter carro a

disposição para você ir atrás de menino. Porque a gente não tinha, a gente ia,

mas você não via com tanto rigor como é agora. Então eu acho que mudou,

porque agora a gente tem um olhar mais focado nessas coisas (Diretora-

Escola B)

Totalmente. Porque há uma cadeia de cobrança. A escola é cobrada pelo

Distrito, o Distrito é cobrado pela Secretaria, a Secretaria pela Prefeitura e eu

lá na ponta sou cobrada por todo mundo para dar resultado. E eles acabam às

vezes até atropelando a nossa compreensão do que de fato é necessário

trabalhar em sala de aula. Às vezes eu faço coisas que eu não quero fazer.

Por exemplo, aplicar um simulado de questões mal elaboradas que vem da

secretaria. Excesso de simulados, quando chega o segundo semestre é um

por semana, um treinamento mesmo, adestrando. Aí toda semana um

simulado que eu levo cerca de duas horas para aplicar com eles e então são

duas aulas que eu deixei de dar para aplicar um simulado. São seis aulas de

Português, cinco de Matemática e eu tenho que parar duas para aplicar

simulado. (Professora- Escola D)

A diretora da escola B revela que atualmente há um olhar mais direcionado para

questões como busca de aluno em dias de prova, apoio logístico com carro para esse fim,

além de maior interesse para melhorar o resultado da instituição na avaliação. Já a professora

aponta a rede hierárquica de cobrança em prol do alcance do indicador desejado, expõe ainda

o fato de que é obrigada a realizar demandas que não gostaria e não concorda: ―eles acabam

às vezes até atropelando a nossa compreensão do que de fato é necessário trabalhar em sala de

aula. Às vezes eu faço coisas que eu não quero fazer. [...] um treinamento mesmo,

adestrando‖.

Esses depoimentos revelam o quão diferente a percepção dos sujeitos pode ser, a

depender da função que ocupam, ainda que tratem do mesmo fenômeno, um exemplo disso é

o fato de que enquanto a professora chama atenção para mudanças concretas no processo de

ensino na sala de aula, a diretora destaca a mudança no suporte logístico para a realização do

seu trabalho de cobrança pela presença do aluno no dia da prova e das demais atividades para

o alcance de bons resultados.

Dametto (2012) explica que

Embora a comparação ou estabelecimento de um ranking não seja a intenção

explicita das avaliações dirigidas à Educação Básica brasileira, não raras

vezes, isso efetivamente ocorre, seja em comparações informais, seja em

releituras midiáticas sobre o tema, gerando a tensão política e emocional

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típica de estados de concorrência. O princípio da transparência, desejável nas

democracias, acaba por ser subvertido, restando dele um espetaculoso efeito

de visibilidade, que contempla um resultado final determinado pela análise

arbitrária de alguns poucos indicadores, e não o processo educacional como

um todo. O número resultante da avaliação, como por exemplo, o IDEB –

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, se torna o objeto visível

gerador de discursos. Seu número, seus gráficos, suas comparações e metas,

quando expostas de modo direto e acrítico, ou quando inseridos em um

discurso politicamente enviesado, permitem rápidas conclusões sobre as

instituições avaliadas e sobre as pessoas que ali estudam ou trabalham.

Quanto aos efeitos diretos sobre os sujeitos inseridos no contexto

educacional avaliado. (p. 61)

Os resultados e consequentemente sua divulgação pela mídia, convertem os gráficos,

metas e indicadores em status, em comparações e em juízo de valor sobre o trabalho dos

profissionais das escolas. Esse fato, respaldado pelo que o autor chama de ―discurso

politicamente enviesado‖, tem impulsionado cobranças diversas e busca indiscriminada por

resultados, transformando a percepção de sujeitos, como a diretora mencionada e que parecem

não apresentar olhar tão direcionado aos problemas vivenciados em sala de aula, como os

relatados pela professora D, mas um olhar aguçado para os tramites necessários para o

cumprimento das demandas que chegam, como por exemplo, a busca de alunos para

realizarem a prova.

A pressão pela aprovação também foi posta em relevo nos depoimentos dos

professores entrevistados como uma consequência das mudanças impulsionadas pelas

avaliações em larga escala:

Sim, acabou mudando. Assim, a gente sente mesmo a pressão de ter que

aprovar o aluno, porque não seria de livre e espontânea vontade do professor

aprovar determinados alunos, e às vezes a gente nem aprova, mas chega no

final do ano e vê que o menino tá aprovado para a série seguinte. Então tem

que seguir todo um ritual, não é nem essa a palavra que eu deveria usar, mas

tem que seguir essas determinações e a gente segue. (Professora- Escola A)

A professora A chama atenção para o fato de que a política de avaliação tem

modificado o modo como lida com os alunos, com o processo de ensino e aprendizagem e,

consequentemente, com a aprovação e reprovação dos alunos. Para a docente, há uma

―pressão de ter que aprovar o aluno, porque não seria de livre e espontânea vontade do

professor aprovar determinados alunos‖ e que assim faz, porque ―tem que seguir essas

determinações e a gente segue‖.

Para Dametto (2012) essas avaliações estão preparando indivíduos para dar as

respostas esperadas, ou seja, a educação formal pode estar sendo subvertida em ―treinamento

para avaliação‖, visando responder à demanda por melhores resultados, indicadores de

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desenvolvimento educacional. A busca obstinada por resultados tem impulsionado esse tipo

de comportamento por parte das escolas, fato que se comprova ao direcionar olhares para os

dados disponibilizados: Em relação ao IDEB, a escola A tingiu o menor índice do Bairro e

não alcançou a meta projetada para o ano de 2015. Importante mencionar ainda que a escola

em questão se manteve abaixo da meta durante toda a série histórica (2005-2015).

Em relação à proficiência em Língua Portuguesa, 48% dos alunos alcançaram a

aprendizagem adequada ou superaram as expectativas. Enquanto que mais de 50% dos alunos,

estão na margem de pouco aprendizado (42%, ou seja, 112 alunos) ou quase nenhum

aprendizado (10%, ou seja, 28 alunos). Em matemática a situação é ainda mais alarmante:

apenas 30% dos alunos estão no nível proficiente ou avançado. 70% encontram-se entre os

alunos com pouco ou quase nenhum aprendizado (189 alunos). (INEP, 2015)

No que se refere à aprovação, a cada 100 alunos, 19 foram reprovados, apesar do alto

índice de reprovação, ainda há um descompasso entre o número de aprovados e a quantidade

de alunos que não alcançaram a aprendizagem esperada. Importante mencionar que não houve

durante as entrevistas, nenhum comentário em relação ao que é feito com os reprovados, que

trabalho especifico é realizado com esses alunos para que a reprovação não se repita, que o

aluno não se evada e consiga acompanhar.

Em relação ao IDEB do ano de 2015, a escola B se destaca com o melhor resultado do

bairro, atingindo 5,7. No que se refere à proficiência em Língua Portuguesa, segundo dados

do INEP (2015) tem-se que 53% dos alunos atingiram a aprendizagem adequada ou além da

expectativa, no entanto, 47%, quase a metade do quantitativo, apresentaram pouco

aprendizado (35%, ou seja, 51 alunos) ou quase nenhum aprendizado (12%, ou seja, 18

alunos). Voltando olhares para Matemática a situação é ainda mais alarmante, apenas 37%

alcançaram o aprendizado adequado ou foram além das expectativas. Enquanto que 44% (64

alunos) apresentaram pouco aprendizado e 19% (28 alunos) quase nenhum aprendizado.

Quando investigamos o quantitativo de aprovação da escola B, temos que a cada 100

alunos, 2 são reprovados, o que significa pontuar que uma parcela significativa de estudantes

têm passado para a série seguinte sem as habilidades e competências básicas para tanto. Essa

informação é importante, uma vez que quando o número é divulgado, a ênfase recai sobre o

5,7 alcançado, a superação da meta estabelecida, mas o questionamento que vale a pena

desenhar é o que tem sido feito com as crianças que não estão representadas no número 5,7.

Em relação ao IDEB, a escola C alcançou o melhor índice do bairro e ficou acima da

meta estabelecida para 2015. No que se refere à proficiência em Língua Portuguesa 54% dos

alunos encontram-se no nível proficiente (40 alunos) ou avançado (12 alunos), no entanto,

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46% ainda estão na condição de pouco aprendizado (38 alunos) e quase nenhum aprendizado

(8 alunos). Em matemática a situação se inverte, mais de 50% dos alunos estão na condição

de pouco aprendizado (48%) ou quase nenhum aprendizado (17%), enquanto que 35%

encontram-se na condição de proficiente (29%) ou avançado (6%). De posse desses dados e

observando a taxa de aprovação, temos que a cada 100 crianças 3 são reprovadas. Mais uma

vez o descompasso entre a aprendizagem dos estudantes e aprovação que compõe o IDEB se

revelam.

Em relação ao IDEB, a escola D alcançou 5,0 conquistando uma colocação acima da

meta estabelecida para o ano de 2015. É possível observar ainda que, embora acima da meta

projetada, a escola vem de um histórico de resultados pouco consolidados, com curvas que

sobem e descem a cada dois anos. Em relação à proficiência em Língua Portuguesa 49% (31

alunos) encontram-se no nível proficiente (31%, ou seja, 20 alunos) ou avançado (11%, ou

seja, 11 alunos), enquanto 51% dos alunos apresentam pouco aprendizado (32%, ou seja, 20

alunos) ou insuficiente (19%, ou seja, 12 alunos). Quando observamos o desempenho em

matemática os dados são ainda mais alarmantes, apenas 32% dos alunos encontram-se no

nível proficiente (26%, ou seja, 16 alunos) ou avançado (6%, ou seja, 3 alunos), em

contrapartida 68% estão na condição de pouco aprendizado (47%, ou seja, 30 alunos) ou

aprendizado insuficiente (21%, ou seja, 13 alunos). Quando voltamos olhares para o

quantitativo de aprovação, temos que a cada 100 alunos 9 são reprovados pela instituição.

Em relação ao IDEB do ano de 2015, a escola E se destaca com o melhor resultado do

bairro, atingindo 6,7. Observa-se que a escola não apenas atingiu a meta proposta para o

respectivo ano, como ultrapassou. Quanto à proficiência em Língua Portuguesa, a escola

apresenta 92% dos alunos com aprendizagem adequada, atingindo os níveis avançado (42%,

ou seja, 26 alunos) e proficiente (50%, ou seja, 30 alunos). Com pouco aprendizado 8% (5

alunos) e nenhum aluno com aprendizagem insuficiente. Em relação à proficiência em

Matemática, 71% dos alunos encontram-se no nível proficiente (53%, ou seja, 33 alunos) e

avançando (18%, ou seja, 11 alunos). Nos níveis de pouco aprendizado 27% ou insuficiente

2%. Em relação à aprovação, tem-se que a cada 100 alunos matriculados, existe por ano, a

reprovação de três. Essa escola, entre todas as pesquisadas, foi a que apresentou os melhores

indicadores de proficiência e o maior equilíbrio entre a taxa de aprovação e o quantitativo de

alunos que não alcançaram a aprendizagem esperada.

Em relação ao resultado no IDEB 2015, a escola F alcançou 5,1, ultrapassando a meta

de 4.8 estabelecida para a instituição. Embora tenha ultrapassado a meta projetada, em relação

à proficiência em Língua Portuguesa 41% dos alunos estão distribuídos entre os níveis

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proficiente (29%, ou seja, 33 alunos) e avançado (12%, ou seja 13 alunos), enquanto 38%

encontram-se no nível de pouco aprendizado (43 alunos) e 21% aprendizado insuficiente (24

alunos). Em relação à matemática apenas 24% dos alunos alcançaram o nível avançado e

proficiente, 51% (58 alunos) atingiram pouco aprendizagem e 25% (9 alunos) aprendizagem

insuficiente. A exemplo do que encontramos nas demais escolas, a instituição F, apresenta um

quantitativo de reprovações que não corresponde ao número de alunos com baixa

aprendizagem, uma vez que a cada 100 alunos 8 são reprovados. É importante ressaltar que

esse número de reprovações é alto, no entanto, é necessário problematizar os resultados

divulgados.

Outro ponto destacado nas falas dos entrevistados diz respeito à alteração curricular

em prol das avaliações em larga escala, o que interfere na evolução das disciplinas que não

são alvo das avaliações, além de interferir na autonomia docente:

Às vezes até a gente discute porque assim, tem o professor de História, aí os

meninos estão ruins em Português aí ―Ah, eu vou tirar História porque eu

tenho que trabalhar Português‖, aqui isso acontece e a gente discute muito

―Ah, não vai ter aula de História, Geografia e Ciências porque os meninos

precisam de Português e Matemática‖, mas na minha visão História,

Geografia e Ciência é leitura e interpretação, não tem interpretação maior do

que você ler um texto de História e ter que compreender, então, eu não sou a

favor e nunca fui, de você tirar as disciplinas de História, Geografia e

Ciência para colocar Português e Matemática, porque você trabalha o

Português e Matemática na Ciência, na História... não tem como não

trabalhar, não vejo separação nisso não. Não tem como trabalhar História,

Geografia e Ciência sem interpretar. Então assim, eu particularmente como

diretora não sou a favor que se troque História, Geografia e Ciência por

Português e Matemática, mas a gente tem isso dentro da própria escola. O

coordenador já não concorda comigo. (Diretora- Escola B)

O depoimento da diretora B revela que a mesma não concorda com a redução

curricular das disciplinas de História, Geografia e Ciência em prol de Português e

Matemática, mas que na verdade, na prática, é isso que ocorre: ―eu particularmente como

diretora não sou a favor que se troque História, Geografia e Ciência por Português e

Matemática, mas a gente tem isso dentro da própria escola. O coordenador já não concorda

comigo‖. Esse processo tem gerado discordância no interior da escola, descaracterização do

processo de aprendizagem, secundarização de disciplinas e conteúdos que não são foco das

avaliações, além de hierarquização do corpo docente, uma vez que segundo a professora: ―a

gente discute muito ―Ah, não vai ter aula de História, Geografia e Ciências porque os meninos

precisam de Português e Matemática‖. Os professores responsáveis pelas disciplinas

―secundárias‖ são descartados do processo, caso seja necessário a melhoria dos resultados nas

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disciplinas de Português e Matemática. Pelo discurso da diretora, no caso desta escola, o

coordenador parece ser responsável por esse processo.

Menegão (2016) explica que

O foco no currículo escolar se deve à compreensão que, tanto o currículo

quanto a avaliação da educação são resultantes de um complexo

entrelaçamento dos aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos. [...]

De antemão sabemos que determinada seleção de conhecimentos, mediante

ampla gama de possibilidades para se definir o currículo, nunca é arbitrária,

mas decorrente da valorização da ideologia de um ou vários grupos

estabelecidos. Historicamente, no Brasil, o currículo tem sido, em grande

parte, fruto do pensamento e ideologia dos grupos dominantes, que

estabelecem conteúdos, habilidades e crenças que consideram importantes

inculcar nos estudantes por meio das escolas. Ousamos afirmar que

favorecer a totalidade da população escolar com educação de qualidade

social não tem sido o escopo das políticas curriculares e, quiçá, de avaliação.

Disso resulta que os conhecimentos propostos curricularmente não são

atemporais e eternos; ao contrário, muitas vezes são respostas aos interesses

e necessidades historicamente situados, que corporificam a reprodução das

desigualdades e privilégios. [...] Entretanto, o poder e a dominação associada

ao currículo não significam o subjugo mecânico, em que estudantes e

professores são passivos receptores de conteúdo, atitudes e costumes. Nesse

processo, conflitos e resistências podem ocorrer, de onde vem nossa

afirmação de currículo como campo permanente de disputas e tensões.

(p.643)

Conforme já explicitado, há ressignificações no chão da escola no sentido de resistir às

determinações políticas que chegam hierarquicamente à instituição, porém, é fato que, as

avaliações em larga escala e a lógica dos organismos internacionais têm sido incorporadas no

cotidiano escolar, impulsionando mudanças na rotina, no processo de ensino e aprendizagem

e na autonomia docente, norteando e determinando inclusive a construção do planejamento da

escola, conforme depoimento da diretora da escola D.

[...] a gente sempre parte do resultado da avaliação, como eu estava te

falando, a gente tem as avaliações de rede, então, a gente sempre acaba

partindo do resultado, né? As avaliações que a escola faz. Queira ou não

você sempre está partindo do resultado. (Diretora- Escola D)

Os gestores escolares que compuseram a amostra dessa pesquisa revelaram que o

planejamento da escola também tem sido influenciado e alterado pelos resultados das

avaliações, uma vez que o planejamento é feito a partir dos resultados. A diretora D explica

que, independente de sua vontade, os sujeitos que atuam a partir desse processo, acabam

norteando seu planejamento pelo que é medido nas avaliações externas: ―Queira ou não você

sempre está partindo do resultado‖.

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Goodson (2008) explica que alianças entre prescrição e poder foram, historicamente,

cunhadas, de forma a transformar o currículo em um mecanismo de reprodução das relações

de poder existentes na sociedade, assim também é o planejamento para sua aplicação, caso

que ocorre nas escolas da amostra, que estão inseridas nessa lógica e a reproduzem

independentemente de com ela concordar, mas assim realizam diante das pressões e

determinações existentes. Seguindo esse raciocínio, estratégias diversas são pensadas e

executadas visando o alcance dos bons resultados. Pensadas a partir dos resultados e visando

atingir melhores indicadores, o planejamento é direcionado, questão que será explorada no

tópico a seguir.

6.5 Avaliações externas e fatores associados ao desempenho escolar: o que fazem os

educadores para alcançar bons resultados?

Conforme observado no tópico anterior, a chegada das avaliações em larga escala nas

escolas públicas municipais cearenses tem repercutido no sentido de alteração das práticas

realizadas pelos gestores e professores com o intuito de buscar bons resultados. Assim, os

sujeitos entrevistados foram questionados a cerca dos indicadores da escola e ao que eles

associavam seus resultados atuais.

Os nossos resultados é por causa da estrutura que a escola está montada, por

causa do grupo gestor que deu sorte de ser este aí ou está dando sorte até

aqui, por causa do grupo de professores que o grupo de gestores aos poucos

foi mudando, porque à medida que o grupo gestor vai... isso tem que

acontecer, a palavra não é bem dispensar, mas é isso, tem que ir dispensando

aquele profissional que não se enquadra nessa nova proposta, vai chega

outros que se enquadram, então nesse momento esse grupo de professores

que está aí junto com esse grupo gestor dá uma química boa. Todo mundo

sofre é claro, dar resultados não é fácil, a gente sofre também, mas...

(Professor- Escola E)

O professor da escola E chama atenção para a dispensa, por parte do núcleo gestor,

dos profissionais que não se enquadram na lógica das avaliações em larga escala. Na escola

em questão não parece haver espaço para discordância ou questionamento, porque os

profissionais que permanecem na instituição são os que se enquadram na proposta: ―por causa

do grupo de professores que o grupo de gestores aos poucos foi mudando [...] isso tem que

acontecer, a palavra não é bem dispensar, mas é isso, tem que ir dispensando aquele

profissional que não se enquadra nessa nova proposta, vai chega outros que se enquadram‖.

Esse depoimento revela que a concordância com a política é critério para permanência

do docente na escola, essa questão impacta na autonomia docente e nos leva a questionar se

seguir essa lógica levou a escola ao primeiro lugar no IDEB do município de Fortaleza, estar

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nessa condição, aproxima a escola da SME e da lógica dos organismos internacionais,

demonstrando que o status adquirido é mais importante para a instituição do que a autonomia

dos sujeitos que ali atuam. A ação violenta de ―dispensar‖ o sujeito que pensa diferente, não

permite que a voz desse sujeito também seja ouvida. O depoimento do professor demonstra

que embora ele considere sofrido o processo de alcance dos resultados exigidos ―todo mundo

sofre é claro, dar resultados não é fácil, a gente sofre também‖, este parece concordar com a

lógica do descarte dos que com a proposta não concordam.

Sobre essa questão da autonomia na escola, Marques (2005) explica que

A autonomia não seria a ausência de determinações, mas a possibilidade de a

escola reinterpretá-las e reelaborá-las e ainda a vinculação entre as noções de

sujeito, que está associada a projetos, e a de autonomia, enquanto elaboração

de identidade e projetos coletivos de mudança social de provenientes da

experiência. Neste caso, existe uma política educacional a ser cumprida, uma

legislação vigente, além do limite da função social da escola, fatores que

devem ser respeitados na possibilidade de construção da autonomia escolar.

(p.191)

Fato é que as avaliações externas estão presentes no cotidiano escolar e influenciam

seu funcionamento, impulsionando comportamentos por parte dos atores em cena que nem

sempre representam o ideal de qualidade esperado, ações que acabam por visar resultados

imediatos e que não parecem se solidificar para anos seguintes. Porém, há que se considerar,

como destacado pela autora, que a escola também é espaço de reinterpretação da política, fato

que já foi destacado na fala de outros sujeitos neste trabalho.

A lógica dos organismos internacionais, pela busca, imediata, do alcance dos

indicadores desejados, assim como, o status que a escola adquire a partir deles, além das

respostas que são necessárias direcionar para a SME, são elementos que impulsionam a

decisão dos sujeitos de interpretar a aplicação da política, em alguns casos, reduzindo a carga

horária das disciplinas que não serão avaliadas, realizando aprovações automáticas de alunos

e, inclusive, dispensando professores que estejam em desacordo com essa lógica. Importante

chamar atenção para o fato de que este depoimento é de um professor, o que expressa o quão

enraizada na escola essa lógica está.

Ainda sobre os fatores associados ao sucesso escolar por parte dos entrevistados,

alguns gestores apontam a explicação do processo e da prova para os alunos como sendo a

chave para o bom resultado.

[...] eles entendem, sabem o que é, para que é, tem o quadro lá da avaliação

do mês, o resultado deles, todos tem a consciência, pode até não agir a favor

de, mas tem a consciência. Qual o nosso foco, o que é verde escuro, aqui é

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uma lavagem cerebral, até as paredes a gente pintou de verde, então assim, a

gente foca muito nessa questão da avaliação. (Diretora- Escola B)

A diretora da escola B aponta o SPAECE e o alcance do verde escuro como foco da

escola, explicando que todas as ações locais são construídas com esse propósito, realizando o

que ela chama de ―lavagem cerebral‖ nos estudantes para que o foco destes também seja os

resultados nesta avaliação: ―aqui é uma lavagem cerebral, até as paredes a gente pintou de

verde, então assim, a gente foca muito nessa questão da avaliação‖. Esse comportamento é

reflexo da própria forma como a escola recebeu a proposta e como foi induzida a concordar

com esta.

O discurso da avaliação em larga escala tem sido incorporado ao trabalho das escolas e

reproduzidos de forma a convencer os alunos de sua importância e da necessidade de seu

trabalho para a conquista do ―verde escuro‖. Essa questão tem relação com a perspectiva

política assumida pela instituição a partir das orientações, formações, pressões, relações de

poder e acordos desenhados com as demais instâncias envolvidas no processo.

Para Fairclough (2001)

O discurso como prática política estabelece, mantém e transforma as

relações de poder e as entidades coletivas (classes, blocos, comunidades,

grupos) entre as quais existem relações de poder. [...] O discurso como

prática política não é apenas um local de luta de poder, mas também um

marco delimitador na luta de poder: a prática discursiva recorre a

convenções que naturalizam relações de poder e ideologias particulares e as

próprias convenções, e os modos em que se articulam são um foco de luta.

(p.94)

Destacando essas relações de poder, a classificação das escolas, com ênfase no grupo

de escolas apoiadas, é uma das estratégias do governo estadual mencionada pelos gestores

como atividade que busca a melhoria dos resultados negativos.

O Governo do Estado tem o programa Prêmio Escola Nota 10, que é um

programa do Governo do Estado e esse programa consiste que as 150

melhores escolas do Estado, que tiram as melhores notas no SPAECE, elas

apoiam as 150 piores, que tiveram as piores notas na avaliação do Governo

do Estado. E nós estávamos entre essas 150 piores escolas, então a gente foi

apoiada. E nós tivemos a oportunidade de visitar o município de Pires

Ferreira e conhecer o trabalho que eles estavam desenvolvendo lá, então a

gente foi conhecer o trabalho e eles também fizeram a visita aqui na escola e

aí a gente teve também a oportunidade de conhecer o trabalho delas, como

elas fazem porque os alunos realmente chegavam no final do ano leitores,

então isso ajudou muito, as ideias que a gente viu lá, a gente trouxe aqui para

a escola. (Diretora- Escola D)

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O depoimento da diretora revela que o governo do estado tem destacado no interior da

rede, um grupo de escolas, chamadas de prioritárias, que passam a ser conhecidas por suas

dificuldades, status que nenhuma instituição almeja receber, e para reverter a situação oferece

um momento de troca de experiência com escolas com bons indicadores. No Ceará, existe um

município que tem ganhado cada vez mais espaço na mídia diante de seus resultados, Pires

Ferreira, utilizado como referência de boas práticas. Cabe ponderar, no entanto, que este é um

município pequeno, interiorano, e que apresenta escolas com um quantitativo de aluno

inferior as salas de aula da capital. Compara-los é desconsiderar o entorno, a quantidade de

alunos, o tamanho da rede, o contexto de violência vivenciado pelas escolas da periferia de

Fortaleza, caso da escola D localizada no morro da Praia do Futuro, além de diversos outros

fatores internos e externos à escola que acabam por interferir no processo.

Compreende-se que o governo necessita desenvolver mecanismos de

acompanhamento das escolas e que este, não apresenta, no momento, ferramentas que sejam

capazes de fornecer propostas diferentes do que se têm hoje, porém, como tem sido

desenvolvido esse processo é que parece consistir o problema. Diante dessa constatação,

direcionamos nossas considerações a cerca dos achados.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implementação das políticas de avaliação em larga escala começam a ser gestadas a

partir do momento em que a agenda neoliberal ganha força no inicio da década de 1990. O

cenário era de redemocratização social, mudanças políticas e econômicas, e influencia dos

organismos internacionais no Brasil. Com efeito, baseadas no ideário neoliberal, estas

políticas de avaliação em larga escala passam a ser implementadas sob a justificativa de que

seu objetivo era a melhoria da qualidade da educação, utilizando os conceitos de eficiência,

eficácia, metas e qualidade total nas escolas públicas. Segundo Marques (2005), o discurso

era de que ―se os problemas educacionais estão na escola, lá estariam também as suas

soluções‖. (p.273)

O Estado avaliador, que já não participa mais dos processos sociais se não por meio de

processo de regulação e avaliação, repercute nas escolas principalmente através da

implantação desse modelo padronizado de avaliação. Amparado pela legislação que versa

sobre a educação brasileira e sobre a política nacional de avaliação em larga escala,

representada pelo SAEB e conhecida atualmente principalmente pelo IDEB, impulsionando a

criação de sistemas próprios de avaliação nos estados e municípios, caso que se aplica ao

estado do Ceará com o SPAECE e ao município de Fortaleza com o SAEF.

A política de avaliação externa chegou às escolas sem que estas tivessem sido

consultadas sobre o assunto e independente de sua vontade. Gestores e professores passaram a

ser cobrados e responsabilizados por seus resultados, impulsionando a criação de ações e

posturas nas escolas que, em muitos casos, não coincidiam com o ideal de uma educação de

qualidade na prática, mas com foco nos resultados imediatos e na divulgação midiática dos

mesmos. As avaliações externas passaram a ser realizadas todos os anos, no caso do Ceará,

mais de uma vez por ano se levarmos em consideração que além da avaliação nacional e da

estadual, o município de Fortaleza aplica o SAEF que é realizado três vezes durante o ano.

Partindo desse pressuposto, optou-se por realizar esse estudo no município em

questão, diante da intensidade com que a escola lida com as diversas avaliações direcionadas

a mesma e por ser, o Ceará, um dos primeiros estados do Brasil a consolidar seu sistema

próprio de avaliação.

Optou-se por um referencial crítico em relação à criação e implementação das

avaliações em larga escala nas escolas públicas brasileiras, ainda que compreendendo a

necessidade do acompanhamento governamental e a defesa de muitos estudiosos da área em

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relação a esse processo, partiu-se aqui da compreensão da escola como instituição social cujo

objetivo central é a formação cidadã e o ensino dos conhecimentos básicos historicamente

construídos pela humanidade, posição contrária a das avaliações em larga escala, cujo foco é

apenas as disciplinas de Português e Matemática e que induz a construção de ações

impulsivas e imediatistas como forma de alcançar os resultados esperados.

Com base nessa perspectiva alicerçou-se este trabalho nos construtos de autores como:

Almerindo Janela Afonso, Luiz Carlos de Freitas, Sofia Lerche Vieira, Eloisa Maia Vidal,

Boaventura de Sousa Santos, Roger Dale e Stefan Ball. Considerando que estes autores

discutem direta ou indiretamente as políticas de avaliação em larga escala e o cenário que

propiciou sua criação como prática política social influenciada por questões internas e

externas a conjuntura nacional.

O pano de fundo deste trabalho, tecido por estes autores centrais e pelos demais

autores identificados a partir da construção do estado da questão, colaborou para a

compreensão da política de avaliação em larga escala para além das leis e normatizações que

acabam por ampará-la, mas a partir também da ação das pessoas nos diferentes cenários

educacionais, podendo, portanto, levar a política a assumir formatos diferenciados a depender

do processo de interpretação e (re) significação dos sujeitos em cena.

Tal compreensão impulsionou a análise da escola como uma organização constituída

por uma cultura própria a partir da qual as determinações das políticas educacionais podem

vir a ser ressignificadas, assumindo um formato diferente em cada escola. Assim, esse estudo

buscou compreender como essas políticas chegam ao chão da escola, de que forma

repercutem no trabalho dos gestores e professores e o que estes profissionais fazem a partir da

chegada dos resultados.

Partimos, para tanto, da teoria da análise do discurso de Faircloug, e das contribuições

de Foucault, compreendendo discurso como prática social, que assume diferentes formatos a

partir das diferentes configurações sociais em que se encontre. Assim, essa dissertação avança

para a análise do discurso das políticas de avaliação em larga escala.

A pesquisa de campo foi realizada em seis escolas do município de Fortaleza, através

de observação in loco, análise documental e entrevistas realizadas com diretores e

professores, buscando compreender o sentido atribuído às avaliações em larga escala pelos

sujeitos em cena.

Observou-se que os entrevistados, em sua maioria, concordam com a chegada das

avaliações em larga escala no chão da escola e tendem a reproduzir sua lógica no fazer

pedagógico cotidiano da instituição. Notou-se ainda que essa perspectiva é

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predominantemente encontrada nos depoimentos dos diretores escolares, que sinalizam,

inclusive, que antes de assumir o cargo de gestão pensavam de forma diferente, enquanto

professores apresentavam desacordo com a proposta, e agora, diretores, passaram a concordar.

As formações oferecidas pelos distritos, assim como a aproximação com a SME e a própria

posse no novo cargo influenciaram na forma como atualmente enxergam o processo e

disseminam sua lógica. Ao contrário dos diretores, a maioria dos professores se mostram

resistentes ao desenho imposto pela política ou pelo menos, a forma como ela chega até à sala

de aula carregada de deturpações em relação a sua proposta oficial inicial.

Observou-se ainda, resistências por parte de professores, em relação a gama de

cobranças, simulados, aulas prontas direcionadas a escola e orientações fornecidas pela SME

com o intuito de garantir o foco nas avaliações externas. Essa distância entre o que foi

pensado pelos elaboradores da política e os implementadores nas escolas é explicada por

Marques (2005) quando esta afirma que pode haver discrepâncias entre o que diz a política

educacional e as práticas desenvolvidas nas unidades escolares, na medida em que a política

não tem uma maneira determinada de se constituir, pois é construída a partir das práticas dos

sujeitos que as implementam. Para a autora, as políticas educacionais são construções dos que

fazem a escola, podendo acabar por tomar uma direção diferente da que foi proposta pelos

formuladores da política.

Percebeu-se que a política de avaliação em larga escala tem se consolidado na rede e

nas escolas investigadas, baseada em relações mais verticais do que por processos horizontais,

expressando as relações de poder envolvidas nessa construção. As observações realizadas na

escola, bem como as entrevistas, explicitaram que a política de avaliação em larga escala tem

sido associada a cobranças, ranking entre escolas, concorrência, esmagamento da autonomia

docente, aprovações automáticas, adaptação curricular de Português em Matemática focando

nos conteúdos que são cobrados nas avaliações, e redução da carga horária de História,

Geografia e Ciências para fim de garantir maior atenção às duas disciplinas mencionadas

anteriormente.

As escolas parecem respirar as avaliações externas, algumas inclusive substituindo as

avaliações escolares pelas mesmas, com o intuito de já utilizá-las como treinamento. Os

sujeitos revelam que suas práticas foram transformadas pelas exigências em prol dos

resultados, bem como seus planejamentos. O PPP das instituições também expressa claro

acordo com essa nova forma de avaliar.

Em meio aos novos arranjos e impactos no trabalho de gestores e professores, foi

possível observar focos de resistência, professores que subvertiam o instituído, mas que, ao

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mesmo tempo, chamavam atenção para o fato de serem a exceção, em linhas gerais há uma

concordância forte em relação à proposta.

Ludcke (s.d) explica que a escola também submete seus alunos a constante

comparação com as normas de excelência, definidas de acordo com a sociedade onde estão

inseridas, manifestando o caráter sociológico da avaliação, afinal, ela tende a refletir

diretamente os valores pregados pelo grupo social ao qual a educação serve. Para a autora, se

quisermos saber o que é valorizado por uma determinada sociedade, basta observarmos seu

sistema de avaliação. Não apenas o conteúdo e a própria divisão das disciplinas (do saber),

por ele sancionados, mas igualmente as formas de conduta, sutilmente passadas através das

normas de excelência perseguidas pela escola.

A autora segue explicando que esses dois eixos sustentam o arcabouço da avaliação.

De um lado, o ―capital cultural‖, representando o saber acumulado, considerado importante

para a preservação da sociedade. De outro lado, as maneiras de se conduzir (―habitus‖), que

asseguram a manutenção da ordem, expressando a hierarquização dos grupos no interior da

sociedade. Diante desses eixos se desenvolvem o dilema da escola que se localiza entre o

ideal liberal da universalização da educação de qualidade para todos e a realidade do sistema

capitalista, que se serve dela, a escola, para o treinamento da mão de obra e das lideranças

necessárias à manutenção do sistema. A avaliação, nesse sentido, tem se revelado o

instrumento ideal para garantir o equilíbrio dessa lógica, mantendo ao mesmo tempo a função

seletiva, mas garantindo os assim chamados ideais democráticos da educação.

Assim, embora a realização de um estudo de caso, como este, não possa ser

generalizado, chama-se atenção para questões importantes sobre como a sociedade tem

pensado a educação e o que tem priorizado nesse sentido, apontando para reflexões no sentido

de romper com essa lógica, instigando futuros estudos que possa aprofundar questões aqui

destacadas.

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169

APÊNDICE A

Termos de consentimento Livre e Esclarecido

Política de avaliação em larga escala: o discurso como prática social em escolas municipais de

Fortaleza/ Ceará

Prezado Gestor,

Este roteiro que você está recebendo tem a finalidade de coletar dados para pesquisa de

mestrado vinculada ao programa de Pós-Graduação do Centro de Educação da Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE), sob nossa responsabilidade. A aplicação desse instrumento

será realizada de forma individual. Desta maneira, pretendemos avançar para uma

compreensão mais especifica e individualizada a respeito de suas impressões em torno das

avaliações externas e seus desdobramentos no trabalho e no interior da escola. Suas respostas

são muito importantes para a pesquisa. Por isso, solicitamos, encarecidamente, que responda a

todas as perguntas. Garantiremos a confidencialidade das informações, preservando sua

identidade e assegurando seu anonimato quando da divulgação da pesquisa.

Agradecemos sua participação.

Willana Nogueira Medeiros Galvão (aluna de pós-graduação da

UFPE)

Prof. Dr. Edson Francisco de Andrade (Professor da UFPE)

Ciente da proposta ora apresentada pela pesquisa me disponibilizo em colaborar.

Dia, Mês e Ano.

____________________________________

Assinatura do sujeito entrevistado

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170

APÊNDICE B Roteiro de entrevista com o gestor

Política de avaliação em larga escala: o discurso como prática social em escolas municipais de

Fortaleza/ Ceará

Ficha para registro

Gênero: Masculino ( ) Feminino ( )

Idade: _____________ anos.

Graduação:____________________________________________

Pós-graduação:_________________________________________

Anos de Magistério: _________________

Nível de ensino:_____________________

Nessa escola há ______ anos.

1. Sua experiência como gestor(a)

1.1. Como o(a) sr(a) veio a ser diretor(a) desta escola? Conte-nos, por favor, como tem sido esta

experiência?

1.2. Quais foram as principais dificuldades que o(a) sr(a) enfrentou como gestor(a)?

2. A escola 2.1. Gostaríamos de conhecer um pouco da história desta escola, do bairro onde ela está inserida e do

público que a frequenta. O(a) sr(a) poderia nos contar?

2.2. Quais são os principais objetivos e metas desta escola e como são planejadas?

3. A secretaria do município

3.1. O trabalho desenvolvido na escola tem apoio da Secretaria Municipal de Educação? Comente

como se dá essa relação.

4. Política de avaliação em larga escala

4.1. A atual política educacional mudou seu modo de coordenar as ações pedagógicas da escola? Em

que aspectos?

4.2. Qual sua opinião sobre a política de avaliação em larga escala que chega à escola?

4.3. A Secretaria Municipal de Educação envia à escola algum tipo de informação sobre as Avaliações

em larga escala? Se sim, de que tipo/qual?

4.4. Você sabe os resultados da sua escola no IDEB e SPAECE? Sim ( ) Não ( ). Em caso positivo,

você poderia apontar ações que têm contribuído para esse resultado e como foram definidas?

4.5. Você considera que há coerência entre os resultados atingidos nas avaliações externas e o nível de

aprendizagem percebido no trabalho cotidiano? Por quê?

4.6. Você recebeu alguma orientação/curso sobre como interpretar e utilizar os resultados da escola

(para se elaborar o plano de trabalho da escola, para acompanhar e avaliar o desempenho dos alunos)?

Se sim, como foi?

4.7. Os professores de sua escola debateram sobre como fazer a aplicação das avaliações em larga

escala que chegam à escola? Se sim, como foi?

4.8. O que você acha da política de premiações?

4.9. É possível reorientar o trabalho em sala de aula a partir do uso dos resultados das avaliações de

larga escala? Como?

4.10. Devido as avaliações em larga escala, há alguma orientação da SME para a melhoria do

desempenho dos alunos em Matemática e Língua Portuguesa? Se sim, o que vem sendo feito? Há

algum tipo de apoio da Secretaria de Educação para a realização dessas ações?

4.11. O que tem sido feito para a melhoria de desempenho nas demais disciplinas? Há algum tipo de

apoio da Secretaria de Educação para realização dessas ações?

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171

4.12. Qual a carga horária semanal destinada às disciplinas de Ciências, História e Geografia?

Fechamento

Estamos concluindo nossa conversa. O(a) Sr(a) gostaria de acrescentar alguma informação ao que foi

dito sobre a escola, as avaliações e sua experiência como gestor(a) da mesma? Em caso positivo, fique

a vontade...

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172

APÊNDICE C

Termos de consentimento Livre e Esclarecido

Política de avaliação em larga escala: o discurso como prática social em escolas municipais de

Fortaleza/ Ceará

Prezado Professor,

Este roteiro que você está recebendo tem a finalidade de coletar dados para pesquisa de

mestrado vinculada ao programa de Pós-Graduação do Centro de Educação da Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE), sob nossa responsabilidade. A aplicação desse instrumento

será realizada de forma individual. Desta maneira, pretendemos avançar para uma

compreensão mais especifica e individualizada a respeito de suas impressões em torno das

avaliações externas e seus desdobramentos no trabalho e no interior da escola. Suas respostas

são muito importantes para a pesquisa. Por isso, solicitamos, encarecidamente, que responda a

todas as perguntas. Garantiremos a confidencialidade das informações, preservando sua

identidade e assegurando seu anonimato quando da divulgação da pesquisa.

Agradecemos sua participação.

Willana Nogueira Medeiros Galvão (aluna de pós-graduação da

UFPE)

Prof. Dr. Edson Francisco de Andrade (Professor da UFPE)

Ciente da proposta ora apresentada pela pesquisa me disponibilizo em colaborar.

Dia, Mês e Ano.

____________________________________

Assinatura do sujeito entrevistado

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APÊNDICE D Roteiro de entrevista professor

Política de avaliação em larga escala: o discurso como prática social em escolas municipais de

Fortaleza/ Ceará

Ficha para registro

Gênero: Masculino ( ) Feminino ( )

Idade: _____________ anos.

Graduação:____________________________________________

Pós-graduação:_________________________________________

Anos de Magistério: _________________

Nível de ensino:_____________________

Nessa escola há ______ anos.

1. Sua experiência como professor(a)

1.1. Como o(a) sr(a) veio a ser professor(a) desta escola? Conte-nos, por favor, como tem sido esta

experiência?

1.2. Quais foram as principais dificuldades que o(a) sr(a) enfrentou como professora(a)?

2 A escola 2.1. Gostaríamos de conhecer um pouco do público que freqüenta esta escola. O(a) sr(a) poderia nos

falar um pouco sobre o perfil das crianças e jovens que aqui estudam?

2.2. Quais são os principais objetivos e metas desta escola e como são planejadas?

3. A gestão

3.1. O trabalho desenvolvido na sala de aula tem apoio da equipe gestora? Comente como se dá essa

relação.

3.2. A equipe gestora desenvolve ações de apoio ao professor para o acompanhamento da

aprendizagem dos alunos? Quais?

3.3. Qual a sua percepção em relação a atuação dos gestores nesse processo de captação de dados e

busca de resultados?

4. Política de avaliação em larga escala

4.1. A atual política educacional mudou seu modo de planejar suas ações em sala de aula? Em que

aspectos?

4.2. Qual sua opinião sobre a política de avaliação em larga escala que chega à escola?

4.3. Você sabe os resultados da sua escola no IDEB e SPAECE? Sim ( ) Não ( ). Em caso positivo,

você poderia apontar ações que têm contribuído para esse resultado e como foram definidas?

4.4. Quando os resultado obtido pela escola chega e é repassado aos professores, o que é feito? Como

a escola lida com os resultados obtidos?

4.5. Você recebeu alguma orientação/curso sobre como interpretar e utilizar os resultados da escola

(para se elaborar o plano de trabalho da escola, para acompanhar e avaliar o desempenho dos alunos)?

Se sim, como foi?

4.6. Você considera que há coerência entre os resultados atingidos nas avaliações externas e o nível de

aprendizagem percebido no trabalho cotidiano? Por quê?

4.7. O que você acha da política de premiações?

4.8. É possível reorientar o trabalho em sala de aula a partir do uso dos resultados das avaliações em

larga escala? Como?

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4.9. Há alguma orientação da SME ou da equipe gestora para a melhoria do desempenho dos alunos

em Matemática e Língua Portuguesa? Se sim, o que vem sendo feito?

4.10. O que tem sido feito para a melhoria de desempenho nas demais disciplinas?

4.11. Qual a carga horária semanal destinada às disciplinas de Ciências, História e Geografia?

Fechamento

Estamos concluindo nossa conversa. O(a) Sr(a) gostaria de acrescentar alguma informação ao que foi

dito sobre a escola, as avaliações e sua experiência como professor(a) da mesma? Em caso positivo,

fique a vontade...

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APÊNDICE E

Roteiro de Observação

Política de avaliação em larga escala: o discurso como prática social em escolas municipais de

Fortaleza/ Ceará

1. Caracterização da escola

1.1 Nome

1.2 Bairro: 1.3 Possui anexos: ( ) sim ( ) não

1.4 Quantidade de anexos:

1.5 Tempo de funcionamento da escola (em anos):

1.6 Turnos de funcionamento: ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite ( ) integral

1.7 Quantidade de alunos e turmas: 1.8 Quantidade de Professores (efetivos e temporários):

1.9 Quantidade de funcionários: 1.10 Quantidade de salas de aula:

1.11 Níveis que atende: ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Médio Integral ( ) Médio Profissional

1.12 Atendimento à EJA: ( ) sim ( ) não

1.13 Dias da observações:

2. Organização interna e externa

Documento

A escola apresenta PPP? ( ) sim ( ) não

Forma de construção do PPP

Informações importantes presentes no

documento

Diários

Provas realizadas no período da

observação

Comentários:

Infra-estrutura

Recursos financeiros que a escola recebe

Estado de conservação do prédio

Condições de funcionamento das salas de

aula

Estado de conservação dos equipamentos

da escola

Limpeza do ambiente escolar

Espaços para socialização das crianças

Biblioteca (os livros estão acessíveis?

Uso do espaço pelos alunos)

Laboratórios (existência e utilização)

Higiene e cardápio da cozinha

Segurança da escola

Organização do currículo

Reuniões pedagógicas

Planejamento

Projetos existentes na escola

Material didático e recursos pedagógicos

Atividades complementares

Formação dos professores

Nível de formação dos professores

Tempo de experiência

Tempo de atuação na instituição

Existência de formação continuada (em que

área?)

Indicadores da escola:

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Taxas de aprovação/reprovação/abandono

Resultados da escola nas avaliações em

larga escala

Gestão

Quantidade de coordenadores

Atividades sob responsabilidade de cada

membro do núcleo gestor

Participação dos profissionais da escola nas

decisões da gestão

Clima escolar

Entorno da escola

Recursos culturais e de lazer

Perfil da comunidade (nível

socioeconômico, história...)

Nível de escolaridade dos pais

Roubos, pichações ou depredação no prédio

da escola

Violência contra os profissionais da escola

Relação entre escola-comunidade

Outros: