universidade federal de minas...
TRANSCRIPT
Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas
Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
ÁREA DE VIDA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE LOBOS-GUARÁ (CHRYSOCYON BRACHYURUS) NA REGIÃO DO PARQUE
NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA, MINAS GERAIS, BRASIL
Fernanda Cavalcanti de Azevedo
2008
ÁREA DE VIDA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE LOBOS-GUARÁ
(CHRYSOCYON BRACHYURUS) NA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA, MINAS GERAIS, BRASIL
FERNANDA CAVALCANTI DE AZEVEDO
Orientador Dr. Flávio Henrique G. Rodrigues
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ecologia, Manejo e Conservação da Vida Silvestre.
BELO HORIZONTE 2008
i
Azevedo, F. C.de Área de vida e organização espacial de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Orientador: Flávio Henrique G. Rodrigues Dissertação (mestrado) – Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. Palavras-chave: canídeos, Cerrado, conservação, Kernel, sobreposição, territorialidade.
ii
“...Estrela Natureza, precisamos demais, te ter sempre por perto, na calma e santa paz. Nos morros e nos campos, no sol e no sereno, zelando por florestas, cuidando dos animais...”
(Sá & Guarabyra)
iii
AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar registrado aqui a todos que, de forma direta e indireta, fizeram parte
deste trabalho o meu MUITO OBRIGADO! Espero que tenhamos contribuído de
alguma forma com a conservação das espécies e deste planeta maravilhoso! Agradeço
imensamente:
Aos amigos queridos, Flávio H. G. Rodrigues e a Rogério Cunha de Paula, pela grande
oportunidade a mim ofertada, pela confiança e todo carinho compartilhado, e acima de
tudo por acreditarem na minha capacidade em contribuir para a realização do Projeto
Lobos da Canastra: obrigada de coração!
A Jean Pierre Santos, por compartilhar comigo quatro anos de conhecimento, amizade e
dedicação a esse projeto, por me apresentar os caminhos da Serra e dos lobos;
A Joares Adenilson May Júnior, “veterinário dos infernos”, por todos os conselhos,
importantes ou não, por todas as discussões, importantes ou não... E por todas as (com
certeza importantes) conquistas e experiências divididas neste projeto e em nossas
vidas!
À querida amiga e irmã “loba indomável”, Carla Cruz Soares, por dividir comigo o
trabalho, as alegrias, as tristezas, as contas e tantas aventuras no Chapadão da Canastra!
À pesquisadora e amiga Nucharin Songsasen, pela amizade inestimável, pelas conversas
engraçadas (entre o português e o inglês), pelos valiosos conselhos, e pelo incentivo e
amor aos lobos e a esse projeto;
A toda equipe do Projeto Lobos da Canastra: Marcelo Bizerril, Ronaldo Morato,
Eduardo Eizirik, Adriano Gambarini, Lais Duarte, Mayra Amboni e Lucía Curral, acima
de tudo pela amizade que construímos!!
A todos os estagiários que passaram pelo Projeto Lobos da Canastra e que conviveram
conosco durante esses anos nos ajudando na coleta de dados e que compartilharam
comigo seus conhecimentos e experiências;
iv
À Fabiana Rocha “Bia”, amiga que se aventurou comigo no “mundo misterioso do
destemido H e seus comparsas” - Loas, Ranges e Kernels da vida!!! Obrigada pela
amizade e discussões sobre a biologia!
Ao Instituto para Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Instituto Pró Carnívoros),
pela oportunidade de participar do Projeto Lobos da Canastra;
Ao Diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Joaquim Maia Neto, ao Chefe de
Brigada, Adaniel Donizete de Matos, e toda equipe de funcionários por cuidarem da
Serra sempre com tanto carinho!
Ao Instituto Brasileiro Para Conservação dos Recursos Naturais (IBAMA) pela parceria
e apoio logístico durante a realização do trabalho.
Ao Programa de Pós Graduação de Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre
da UFMG e seus professores e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de Mestrado;
Aos colegas do Laboratório de Ecologia de Mamíferos, por toda a ajuda e em especial a
Nadja Simbera Hemetrio.
Aos membros da banca examinadora: Dra. Sandra M. C. Cavalcanti e Dr. Marcos
Rodrigues, obrigada pelo aceite em avaliar este trabalho.
À Dra. Kátia Gomes Facure e sua família, pela inestimável paciência e ajuda nas
análises estatísticas; que apesar de tanto trabalho, sempre me recebeu em sua casa com
muito carinho, bom humor, profissionalismo e uma boa tigela de açaí!
À minha “família adotiva” em São Roque de Minas: Dona Antonia e Seu Amadeu,
Wanila, Jaiminho, Rosarinha e Zezão, Amanda, Bruno, Agna e Bigode. Sem vocês nada
disso seria possível...
v
À amiga Letícia Couto Garcia e sua família (família I em Belo Horizonte) por abrirem
as portas da sua casa e oferecerem além de apoio, carinho e amizade, imprescindíveis
para a realização deste mestrado;
Aos amigos Flávia, Elaine e Bruno (família II em Belo Horizonte) por sempre
oferecerem um porto seguro, uma conversa gostosa e uma cama quentinha, também
imprescindível para a realização deste mestrado;
Ao amigo, marido e maior incentivador do meu trabalho... Fonte inesgotável de energia
e entusiasmo eu agradeço por estar disposto a compartilhar comigo os bons e maus
momentos da luta pela conservação das espécies e pela qualidade de vida do planeta. A
nossa profissão nos colocou lado a lado e desde então tudo o que estamos construindo
com amor e dedicação, me faz a cada dia mais feliz! Fred... Obrigada!
Gostaria de agradecer especialmente aos meus pais, Vera e Paulo, e a minha irmã Ana
Flávia, que sempre me guiaram ao longo desta caminhada em busca da minha realização
profissional. Vocês me ensinaram a amar a natureza sob todas as suas formas e a lutar
pelo que acredito, pois, sempre apoiaram as minhas escolhas mesmo quando elas
significaram quilômetros de distância... Sem vocês eu jamais teria realizado este ou
qualquer outro trabalho. Amo vocês!
A toda família Cavalcanti & Azevedo, por estarem sempre presentes. E aos que
começaram toda esta história, meus avós, Bianor Azevedo e Hercílio Cavalcanti, que
estejam onde estiverem estarão sempre comigo;
Ao fascinante lobo-guará.
vi
SUMÁRIO
Índice de Figuras...................................................................................................... viii
Índice de Tabelas...................................................................................................... x
Apresentação............................................................................................................. 01
Literatura Citada....................................................................................................... 05
CAPÍTULO I – Área de vida do lobo-guará na região do Parque Nacional da Serra
da Canastra, Minas Gerais, Brasil.....................................................
12
Resumo..................................................................................................................... 13
Abstract..................................................................................................................... 14
Introdução................................................................................................................. 15
Materiais e Métodos................................................................................................. 17
Resultados................................................................................................................. 22
Discussão.................................................................................................................. 26
Literatura Citada....................................................................................................... 31
CAPÍTULO II – Sobreposição das áreas de vida e organização espacial em lobos-
guará na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas
Gerais,
Brasil.................................................................................................
52
Resumo..................................................................................................................... 53
Abstract..................................................................................................................... 54
Introdução................................................................................................................. 55
Material e Métodos................................................................................................... 57
Resultados................................................................................................................. 63
Discussão.................................................................................................................. 68
Literatura Citada....................................................................................................... 74
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Fotos: Arquivo Projeto Lobo-Guará....................................................................................................................
11
Figura 2. Distribuição atual do Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus). Fonte: Rodden et al. 2004...............................................................................................
11
Figura 1.1. Localização do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Fonte: IBAMA - MMA 2005..................................................................
40
Figura 1.2. Procedimento de coleta de dados biométricos e amostras biológicas durante captura de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) biometria dos caninos; b) biometria da pata dianteira; c) coleta de sangue; d) coleta de urina. Fotos: Arquivo Projeto Lobo-Guará...............................................................................
41
Figura 1.3. Colocação de rádio-colar durante captura de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) fixação do rádio-colar; b) lobo-guará aparelhado com rádio-colar e brinco identificador. Fotos: Arquivo Projeto Lobo-Guará......................
42
Figura 1.4. Observação de comportamento de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) durante monitoramento por rádio telemetria na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Fotos: Arquivo Projeto Lobo Guará..........................................................................................................
42
Figura 2.1. Sobreposição das áreas de vida dos lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) machos residentes na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) sobreposição no ano de 2004, b) sobreposição no ano de 2005, c) sobreposição no ano de 2006.....................................................................................................................
82
Figura 2.2 Esquema representando os grupos familiares de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, identificados através das análises de DNA....................................................................................................................
83
Figura 2.3. Sobreposição de áreas de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) entre indivíduos geneticamente identificados pertencentes aos mesmos grupos familiares, na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) família I, b) família II e c) família III.........................................................................................................................
84
Figura 2.4. Médias e erros padrões das sobreposições das áreas de vida total entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, de acordo com o sexo e local para o ano de 2005.......................................................................................................
89
viii
Figura 2.5. Médias e erros padrões das sobreposições das áreas de vida total entre
lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, de acordo com o sexo e local para o ano de 2006.......................................................................................................
89
ix
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1. Medidas biométricas (cm) de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (n = 33) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil..................................................................................................................
43
Tabela 1.2. Tamanhos de área de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) adultos comparados para sete estudos. N, número indivíduos amostrados; 1 Área de vida estimada do casal; * Áreas de vida calculadas através do MCP com 95% das localizações; ** Áreas de vida calculadas através do MCP com 100% das localizações; *** Método de cálculo de área de vida não especificado........................................................................................................
44
Tabela 1.3. Estimativa em km2 da área de vida de 16 indivíduos de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, para os anos de 2004 a 2006, realizadas com o método Kernel. KT, Kernel Área Total contendo 95% das localizações; KN, Kernel Área Nuclear contendo 50% das localizações; N, número de localizações; M, macho; F, fêmea; A, adulto; SA, subadulto.......................................................
45
Tabela 1.4. Estimativas em km2 das áreas de vida, realizadas pelos métodos MCP e Kernel, para 16 indivíduos de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. M, macho; F, fêmea; A, adulto; SA, subadulto; Loc., número de localizações..........................................................................................................
46
Tabela 1.5. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de fêmeas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre as estações reprodutiva e não reprodutiva nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações. N, número amostral................................................................................................................
47
Tabela 1.6. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de fêmeas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre as estações seca e úmida durante nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações. N, número amostral.........................................
48
Tabela 1.7. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de fêmeas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre as estações seca e úmida, reprodutiva e não reprodutiva durante nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área nuclear contendo 50% das localizações. N, número amostral...............................................................................................................
49
Tabela 1.8. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre machos e fêmeas durante as estações seca e úmida
x
nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações e para área nuclear contendo 50% das localizações. N, número amostral........................................................................
50
Tabela 1.9. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre machos e fêmeas durante as estações reprodutiva e não reprodutiva nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações e para área nuclear contendo 50% das localizações. N, número amostral..........................................
51
Tabela 2.1. Porcentagem de sobreposição entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus), considerando indivíduos do mesmo sexo e casais durante os anos amostrados (2004 a 2006) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. F-F, pares de fêmeas; M-M, pares de machos; M-F, casais..........................................................................................................
85
Tabela 2.2. Matriz de sobreposição entre áreas de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil............................................................................................
86
Tabela 2.3. Valores médios das sobreposições entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus), considerando todos os anos amostrados (2004 a 2006), monitorados na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. F-F, pares de fêmeas; M-M, pares de machos; M-F casais não reprodutivos; n, número de casos; T, área de vida total, N, área nuclear; R, área de vida durante a estação reprodutiva; RN, área nuclear durante a estação reprodutiva; FR, área de vida fora da estação reprodutiva; FRN, área nuclear fora da estação reprodutiva..................................................................................
88
Tabela 2.4. Médias e desvios padrões de sobreposição de área de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, para os anos de 2005 e 2006, de acordo com a localização do par considerado: D/D, dentro/dentro; D/DF, dentro/dentro-fora; DF/DF, dentro-fora/dentro-fora; F/DF, fora/dentro-fora. F-F, pares de fêmeas e M-M, pares de machos......................................................................................
90
Tabela 2.5. Valores de sobreposição entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, quando consideradas as relações de parentescos entre os mesmos durante os anos de 2004 a 2006. T, área de vida total; N, área nuclear; n, número amostral................................................................................................................
91
Tabela 2.6. Comparações das sobreposições médias entre áreas de vida de lobos-guará em duas áreas de estudo diferentes: Parque Nacional da Serra da Canastra e Parque Nacional das Emas. Áreas de vidas estimadas através do método do Kernel com 95% das localizações para área de vida total e com 50% das localizações para área de vida nuclear. M-M, pares de machos; F-F, pares de fêmeas; M-F*, pares de macho-fêmea não reprodutivos; M-F** pares de macho-fêmea reprodutivos..............................................................................
92
1
APRESENTAÇÃO
O lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger 1815) (Mammalia; Carnivora), é o
maior canídeo da América do Sul e única espécie atual do gênero Chrysocyon (Berta
1981; Macdonald and Sillero-Zubiri 2004). Distingui-se facilmente de qualquer outro
canídeo por sua pelagem castanho-avermelhada, os longos membros negros, as grandes
orelhas e a presença de uma crina erétil (Dietz 1984, 1985) (Figura 1).
A área de distribuição desta espécie compreende a região central da América do Sul,
abrangendo os estados do centro-oeste e sudeste brasileiro até o Rio Grande do Sul, não
ocorrendo na Floresta Amazônica e partes do Nordeste árido (Dietz 1985; Hofmann and
Ponce Del Prado 1976). Também é encontrado nos Pampas do extremo leste do Peru, no
oeste da Bolívia, entre o Norte e Nordeste Argentino (Cabrera 1958; Coimbra Filho 1972;
Nowak 1999), ao longo do Chaco paraguaio, estendendo-se até o Uruguai, lugar onde era
considerado extinto até recentemente (Mones and Olazarri 1990) (Figura 2). Seus
ambientes preferidos são lugares com vegetação natural aberta como campos, cerrados, charcos
e pântanos, sendo que características anatômicas lhe conferem habilidade de forragear em
ambientes de capim alto, predominantes em seu habitat (Dietz 1984).
O lobo-guará é conhecido como um animal solitário a maior parte do ano,
entretanto, a manutenção do par reprodutivo ocorre durante a época de acasalamento,
que se estende desde o final de abril até princípios de junho (Rodenn et al. 2004). As
fêmeas manifestam um único período de cio por ano que dura aproximadamente cinco
dias. O tempo de gestação varia em torno de 65 dias e as ninhadas possuem de dois a
quatro filhotes (Dietz 1984; Rodenn et al. 2004). Os nascimentos ocorrem entre junho e
agosto, tendo sido registrados até o mês de outubro (Dietz 1984; Garcia 1983; Rodenn
et al. 2004).
2
Durante o período reprodutivo o casal partilha a mesma área de vida (Dietz
1984; Melo et al. 2007; Rodrigues 2002) e esta varia de 25,21 km2
a 132 km2
(Dietz
1984; Carvalho and Vasconcellos 1995; Mantovani 2001; Rodrigues 2002; Silveira
1999). A área ocupada por um casal pode ser tanto exclusiva, com nenhuma ou pouca
sobreposição entre áreas de casais vizinhos (Dietz 1984), como pode ter grandes
sobreposições com casais vizinhos (Rodrigues 2002).
O lobo-guará é considerado um animal onívoro e possui uma dieta generalista,
constituída principalmente de pequenos vertebrados e frutos, e comportamento
oportunista em relação aos itens alimentares básicos já descritos para a espécie (Amboni
2007; Azevedo 2000; Dietz 1984; Jácomo et al. 2004; Juarez and Marinho-Filho 2002;
Motta-Júnior 2000; Motta-Júnior et al. 1996; Queirolo 2001; Rodrigues et al. 2007;
Santos et al. 2003; Silva 1996). Entre os canídeos da América do Sul, é o que consome
itens vegetais em maior quantidade. A maioria dos estudos já realizados aponta que a
lobeira, ou fruta do lobo (Solanum lycocarpum, St. Hill, Solanaceae), é o principal item
alimentar vegetal, importante tanto em termos de freqüência quanto de biomassa
(Aragona 2001; Dietz 1984; Jácomo et al. 2004; Juarez and Marinho-Filho 2002;
Rodrigues et al. 2007; Santos et al. 2003). Esse fruto é muito comum em áreas de
cerrado e também está presente em pastagens e áreas antropizadas. Segundo Rodrigues
(2002), o fato de a lobeira estar amplamente distribuída em suas áreas de ocorrência
possibilita ao lobo guará o uso de áreas alteradas pela ação humana.
O lobo-guará também se adapta bem à dieta a base de frutos exóticos e
cultivados (Santos et al. 2003) e com isso tem expandido sua distribuição em direção a
áreas de Mata Atlântica, devastadas e transformadas em áreas abertas (Dietz 1984;
Fonseca et al. 1994; Rodden et al. 2004). No entanto, apesar da flexibilidade que o
permite ocupar ambientes alterados, o lobo-guará tem desaparecido de várias áreas de
3
Cerrado onde a vegetação já foi substituída por empreendimentos agro-pecuários
(Fonseca et al. 1994).
O Cerrado constitui hoje um dos mais ameaçados biomas no mundo em
conseqüência da crescente exploração econômica de suas terras (Oliveira and Marquis
2002). Dois dos efeitos mais prejudiciais provenientes das atividades humanas
realizadas neste bioma são a perda e fragmentação de habitat, o que vêm alterando a
densidade populacional de várias espécies (Oliveira and Marquis 2002). O grupo dos
carnívoros parecem ser um dos mais prejudicados por tais mudanças ambientais
(Oliveira and Crawshaw 1997). Este fato está relacionado à exigência destes por
grandes áreas de vida e por possuírem, em sua maioria, populações com baixas
densidades e com baixas taxas reprodutivas (Leite and Oliveira 1998; Noss et al. 1996).
Outros fatores, também ligados às ações antrópicas, podem vir a ocasionar declínio nas
espécies de carnívoros, entre elas o lobo-guará, como atropelamentos (Rodrigues 2002),
caça em represália á predação sobre criações domésticas (Corral 2007), e o contato com
esses animais e suas doenças (May Jr. et al., no prelo).
Segundo a lista oficial brasileira de espécies ameaçadas, o lobo-guará é
considerado uma espécie ameaçada de extinção, incluído na categoria “vulnerável”
(MMA 2003), e também é classificado como perto de estar ameaçado de extinção pela
International Union for Conservation of Nature (IUCN) (Sillero-Zubiri et al. 2004). O
lobo-guará ainda é encontrado em praticamente todas as Unidades de Conservação
(UCs) do bioma Cerrado, mas o número de populações viáveis (número mínimo de 500
indivíduos) (Reed et al. 2003) dentro destas reservas é considerado insuficiente para a
sobrevivência da espécie a longo prazo (Rodrigues and Oliveira 2006). Grande parte da
cobertura vegetal original do bioma Cerrado já foi substituída por áreas agrícolas e de
pastagens, permanecendo preservado somente cerca de 20% da área original deste
4
bioma (Myers et al. 2000), geralmente distribuída em pequenas reservas. O Parque
Nacional da Serra da Canastra (PNSC) contribui com a proteção de aproximadamente
3,8% da área protegida de Cerrado sob as UCs federais, e dentro do grupo de unidades
de proteção integral representa a sexta área mais extensa em superfície protegida dentro
do território nacional (MMA/IBAMA 2005). No documento “Ações Prioritárias para a
Conservação da Biodiversidade do Cerrado e do Pantanal”, publicado pela
Conservation International em 1999, o PNSC foi considerado uma área cuja prioridade
para a conservação é extremamente alta (MMA/IBAMA 2005). Entretanto, mesmo
sendo um importante refúgio para a conservação das espécies de fauna e de flora, a
região em que o parque está inserido vem sofrendo diversos tipos de intervenções
antrópicas, resultando na alteração do desenho original da paisagem (MMA/IBAMA
2005).
O presente estudo foi realizado no Parque Nacional da Serra da Canastra e seu
entorno, e faz parte do Projeto Biologia Comportamental e Conservação do Lobo-
Guará (Chrysocyon brachyurus) no Cerrado do Estado de Minas Gerais, elaborado e
realizado pelo Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró
Carnívoros). Este trabalho foi dividido em dois capítulos escritos já no formato sugerido
para futuras publicações, segundo as normas do periódico Journal of Mammalogy,
porém, os dados são apresentados em uma versão mais estendida. Assim, parte da base
de dados é comum para ambos os capítulos. O primeiro capítulo avalia o tamanho das
áreas de vida e áreas centrais de atividade dos lobos-guará na região da Serra da
Canastra, e a variação das mesmas em relação às estações reprodutiva e não
reprodutiva, à sazonalidade climática, e à localização dos indivíduos (área de vida
dentro ou fora do PNSC). O segundo capítulo aborda a questão da territorialidade da
espécie a partir da avaliação das sobreposições entre as áreas de vida e as áreas centrais
5
de atividade de diferentes lobos (considerando estas como possíveis delimitações dos
territórios) com relação ao grau de parentesco dos mesmos, ao sexo e à estação
reprodutiva.
LITERATURA CITADA
AMBONI, M. P. M. 2007. Dieta, disponibilidade alimentar e padrão de movimentação do
lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, no Parque Nacional da Serra da Canastra.
Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
ARAGONA, M., AND E. Z. F., SETZ. 2001. Diet of the maned wolf, Chrysocyon
brachyurus (Mammalia: Canidae), during wet and dry seasons at Ibitipoca State
Park, Brazil. Journal of Zoology 254:131-136.
AZEVEDO, F. C. 2000. Nicho alimentar do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger
1811), ocorrente nas nascentes do Rio Tibagi, Campos Gerais, Paraná, Brasil.
Monografia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba.
BERTA, A. 1981. Evolution of large canids in South America. Anais II Congresso
Latino-Americano de Paleontologia, Porto Alegre, RS 2:835-845.
CABRERA, A. 1958. Catálogo de los mamíferos de America del Sur. Revista del Museo
Argentino de Ciencias Naturales 4:1-307.
CARVALHO, C. T. DE., AND L. E. M. VASCONCELLOS. 1995. Disease, food and
reproduction of the maned wolf - Chrysocyon brachyurus (Illiger, Carnivora,
Canidae) in Southeast Brazil, Revista Brasileira de Zoologia 12:627-640.
COIMBRA-FILHO, A. F. 1972. Mamíferos Ameaçados de Extinção no Brasil in Espécies da
Fauna Brasileira em Extinção. Ed. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
6
CORRAL, L. 2007. Avaliação da predação de criações domésticas por lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG,
Brasil. Tese de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social organization of the Maned wolf (Chrysocyon
brachyurus). Smithsonian Contributions to Zoology 392:1-51.
DIETZ, J. M. 1985. Chrysocyon brachyurus. Mammalian Species 234:1-4.
FONSECA, G. A. B., A. B. RYLANDS, C. M. R. COSTA, R. B. MACHADO, AND Y. L. R.
LEITE. 1994. Livro Vermelho dos Mamíferos Brasileiros Ameaçados de Extinção.
Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte.
GARCIA, A. 1983. On the social behaviour of Maned wolves (Chrysocyon brachyurus).
Universidade de São Paulo, Boletim de Zoologia 6:63-77.
HOFMANN, R. K., AND C. F. PONCE DEL PRADO. 1976. Registro de dos nuevas especies
de mamíferos para el Perú, Odocoileus dichotomus (Illiger - 1811) y Chrysocyon
brachyurus (Illiger - 1811), com notas sobre su habitat. Revista Forestal del Perú 5:
61-81.
JÁCOMO, A. T. A., L. SILVEIRA, AND J. A. F. DINIZ-FILHO. 2004. Niche separation
between the maned-wolf (Chrysocyon brachyurus), crab-eating-fox (Cerdocyon
thous) and the hoary-fox (Dusicyon vetulus) in the Cerrado of Central Brazil.
Journal of Zoology 262:99-106.
JUAREZ, K. M., AND J. MARINHO-FILHO. 2002. Diet, habitat use, and home ranges of
sympatric canids in Central Brazil. Journal of Mammalogy 83:925-933.
LEITE, M. R. P., AND T. G. OLIVEIRA. 1998. Conservação de Carnívoros in I Curso de
Treinamento em Identificação, Prevenção e Controle de Predação por Carnívoros
Silvestres (S.M.C. Cavalcanti & M.R.P. Leite, eds.). Centro Nacional de Pesquisa
7
para Conservação de Predadores Naturais – CENAP/IBAMA e Associação Pró-
Carnívoros, Sorocaba.
MACDONALD, D. W., AND C. SILLERO-ZUBIRI. 2004. Biology and Conservation of Wild
Canids. 1st
ed. Oxford University Press, United States.
MANTOVANI, J. E. 2001. Telemetria convencional e via satélite na determinação da área
de vida de três espécies de carnívoros da região nordeste do Estado de São Paulo.
Tese de Doutorado, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
MAY-JÚNIOR, J. A., N. SONGSASEN, F. C. AZEVEDO, J. P. SANTOS, R. C. PAULA, F. H. G.
RODRIGUES, M. D. RODDEN, D. E. WILDT, AND R. G. MORATO. (no prelo).
Hematology and blood chemistry parameter differs in free-ranging maned wolves
(Chrysocyon brachyurus) living in the Serra da Canastra National Park (Brazil)
versus adjacent farmlands. Journal of Wildlife Diseases.
MELO, L. F. B., M. A. L. SÁBATO, E. M. V. MAGNI, R. J. YOUNG, AND C. M. COELHO.
2007. Secret lives of maned wolves (Chrysocyon brachyurus Illiger 1815): as
revealed by GPS tracking collars. Journal of Zoology 271:27-36.
MMA. 2003. Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada. Ministério do
Meio Ambiente. http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index
MMA-IBAMA – Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis 2005. Plano de manejo: Parque Nacional da
Serra da Canastra. Ministério do Meio Ambiente, Brasil.
MONES, A., AND J. OLAZARRI. 1990. Confirmación de la existencia de Chrysocyon
brachyurus (Illiger) en el Uruguay (Mammalia, Carnivora, Canidae).
Comunicaciones Zoologicas del Museo de Historia Natural de Montevideo 174: 1-6.
8
MOTTA-JUNIOR, J. C. 2000. Variação temporal e seleção de presas na dieta do Lobo-
Guará, Chrysocyon brachyurus (Mammalia: Canidae), na Estação Ecológica de Luiz
Antônio, SP in Estudos Integrados em Ecossistemas. Estação Ecológica de Jataí (J.
E. Santos & J. S. R. Pires, eds.) Vol. 1. Rima Editora, São Carlos.
MOTTA-JUNIOR, J. C., S. A. TALAMONI, J. A. LOMBARDI, AND K. SIMOKOMAKI. 1996.
Diet of the Maned wolf, Chrysocyon brachyurus, in Central Brazil. Journal of
Zoology 240: 277-284.
MYERS, N., R. A. MITTERMEIER, C. G. MITTERMEIER, G. A. B. FONSECA, AND J. KENT.
2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403:853-858.
NOSS, R. F., H. B. QUIGLEY, M. G. HORNOCKER, T. MERRILL, AND P. C. PAQUET. 1996.
Conservation Biology and Carnivore Conservation in the Rocky Mountains.
Conservation Biology 10:949-963.
NOWAK, R. M. 1999. Walker’s Mammals of the World. 6th
ed. The Johns Hopkins
University Press, Baltimore and London.
OLIVEIRA, T. G. AND P. G. CRAWSHAW. 1997. Carnivores as Indicators in a Monitoring
System of Biological Diversity in Brazilian Protected Areas in Proceedings and
Papers of the International Workshop on Biodiversity Monitoring in Federal
Protected Areas (D.S. Baker, L.M. Ferreira, P.W. Saile, eds.). IBAMA, Deutsche
Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit, Brasília.
OLIVEIRA P. S. AND R. J MARQUIS. 2002. The cerrados of Brazil: ecology and natural
history of a Neotropical Savanna. P.S. Oliveira & R. J. Marquis, eds. Columbia
University Press, New York.
QUEIROLO, D. 2001. Seletividade e sazonalidade de presas consumidas pelo lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) no Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais.
Tese de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo.
9
REED, D. H., J. L. O’GRADY, B. W. BROOK, J. D. BALOOU, AND R. FRANKHAM. 2003.
Estimates of minimum viable population size for vertebrates and factors influencing
those estimates. Biological Conservation 113:23-24.
RODDEN, M., F. H. G. RODRIGUES, AND S. BESTELMEYER. 2004. Maned Wolf,
Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) in Canids: Foxes, Wolves, Jackals and Dogs
(C. Sillero-Zubiri, M. Hoffmann & D. W. MacDonald, eds.). IUCN/SSC Canid
Specialist Group press. Gland, Switzerland and Cambridge, UK.
RODRIGUES, F. H. G. 2002. Biologia e conservação do Lobo-Guará na Estação
Ecológica de águas Emendadas. Tese de doutorado, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, SP.
RODRIGUES, F. H. G., A. HASS, A. C. R. LACERDA, R. L. S. C. GRANDO, M. A. BAGNO, A.
M. R. BEZERRA, AND W. R. SILVA. 2007. Feeding habitats of the maned wolf
Chrysocyon brachyurus in the Brazilian Cerrado. Mastozoologia Neotropical 14:37-
51.
RODRIGUES, F. H. G, AND T. G. OLIVEIRA. 2006. O papel de Unidades de Conservação
na Conservação de Carnívoros Neotropicais in Conservação de Carnívoros
Neotropicais (Morato, R., F.H.G. Rodrigues, E. Eizirik, F.C. Azevedo, P. Mangini
& J.S. Marinho-Filho eds.) IBAMA, Brasília.
SANTOS, E. F., E. Z. F. SETZ, AND N. GOBBI. 2003. Diet of maned wolf (Chrysocyon
brachyurus) and its role in seed dispersal on a cattle ranch in Brazil. Journal of
Zoology 260:203-208.
SILLERO-ZURIBI, C., M. HOFFMANN, AND D. W. MACDONALD. 2004. Canids: Foxes,
Wolves, Jackals and dogs. 1st
ed. IUCN/SSC Canid Specialist Group press. Gland,
Switzerland and Cambridge, UK.
10
SILVEIRA, L. 1999. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque
Nacional das Emas, Goiás. Tese de mestrado, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia.
SILVA, C. B. X. 1996. Hábito alimentar do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) em três
localidades dos Campos Gerais, Paraná, Brasil. Monografia, Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Curitiba.
11
Figura 1. Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Fotos: arquivo Projeto Lobo-Guará.
Figura 2. Distribuição atual do Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus). Fonte: Rodden et al. 2004.
12
CAPÍTULO I
ÁREA DE VIDA DO LOBO-GUARÁ (Chrysocyon
brachyurus) NA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DA
SERRA DA CANASTRA, MINAS GERAIS, BRASIL
13
RESUMO
A maneira como os animais utilizam o espaço que habitam pode ser influenciada
por diversos fatores como qualidade do habitat e organização social da espécie. O
objetivo do presente trabalho foi estimar os tamanhos e descrever como a época do ano
e a época reprodutiva afetam as áreas de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus)
na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, com o uso da
rádio telemetria. Utilizando o estimador Kernel 95%, o tamanho de área de vida anual
variou de 15,56 a 114,29 km2, sendo em média 50,97 ± 32,47 km2. Nossos resultados
indicam que os tamanhos de área de vida podem não estar sendo somente influenciados
pela disponibilidade de recursos no ambiente uma vez que não foi encontrada diferença
significativa entre áreas de vida de machos e fêmeas durante as estações seca e úmida.
Durante a estação reprodutiva as áreas de vida foram menores para fêmeas, podendo
esta redução estar associada ao período de gestação e cuidado com a prole. O
comportamento de lobos-guará que habitam áreas antrópicas parece ser distinto do de
lobos que vivem em áreas naturais. Os indivíduos que residem exclusivamente dentro
do Parque apresentaram áreas de vida relativamente maiores quando comparados aos
animais externos ou de borda, estando os últimos possivelmente mais sujeitos a
alteração dos hábitos comportamentais em resposta às pressões antrópicas.
14
ABSTRACT
The way that animals use the space they inhabit can be affected by several
factors such as habitat quality and social organization of the species. The aim of this
study was to estimate the maned wolf’s home range sizes and shape in the Serra da
Canastra National Park, Minas Gerais, Brazil, using radio tracking techniques. Using
the 95% Kernel density estimator, the annual home range size varied from 15.56 to
114.29 km2, being on average 50.97 ± 32.47 km2. Our results indicate that the home
range sizes may not only be influenced by the resources availability, once it was not
found significant difference between males and females’ home ranges during the dry
and wet seasons. During the reproductive season the home range were smaller as for
females, and such reduction may be associated to the gestation period and care of the
offspring. The behaviour of maned wolves living in anthropic habitats seems to be
different from those living in natural areas, being that individuals who live exclusively
inside of the Park have relatively larger home ranges when compared to animals that
live outside the Park, being these outliving individuals possibly more subjected to
behaviour alteration due to anthropic pressures.
15
INTRODUÇÃO
Entender a organização dos animais no espaço e no tempo tem sido uma das
questões centrais nos estudos ecológicos (Kernohan et al. 2001). Durante grande parte
de suas vidas os animais ocupam uma área espacialmente definida e esta pode consistir
em um mosaico de lugares importantes usados de formas diferentes ao longo de suas
existências (Ewer 1998). Quantificar estas áreas pode revelar muito a respeito da
dinâmica social e requerimento energético das espécies.
Este espaço definido tem sido tradicionalmente chamado de área de vida e é
caracterizado como o espaço físico utilizado pelo animal em suas atividades diárias
normais, como forragear, acasalar e cuidar da prole (Burt 1943). Muitos autores têm
refinado este conceito, anexando a ele informações importantes como, por exemplo, a
intensidade de uso das áreas utilizadas pelos animais, ou seja, a quantidade de tempo
gasto em cada parte da sua área de vida (Powell 2000; Seaman and Powell 1996).
Entre os mamíferos carnívoros, o tamanho das áreas de vida, os diversos
aspectos do seu uso, e a movimentação dos indivíduos no espaço, são fortemente
influenciados pelo padrão de distribuição dos recursos, principalmente pela
disponibilidade e a qualidade dos recursos alimentares (Broomhall et al. 2003;
MacDonald 1983; Mizutani and Jewell 1998). Também outros fatores contribuem como
a maturidade sexual, o status social (Boydston et al. 2003; Logan and Sweanor 2001), o
acesso às fêmeas (Mizutani and Jewell 1998), e o acesso a locais potenciais de abrigo e
reprodução (Chamberlain et al. 2003; Ewer 1998).
Entre os mamíferos do grupo Canidae (lobos, coiotes, raposas e cães) existe um
amplo gradiente com relação ao sistema social, ocorrendo desde espécies solitárias,
como o lobo guará (Chrysocyon brachyurus), até espécies altamente sociais como o
lobo cinzento (Canis lupus) (Nowak 1999). O estabelecimento das áreas de vida neste
16
grupo pode variar interspecificamente e intraespecificamente, estando relacionada às
diferenças entre dietas e disponibilidade de alimento nos diferentes tipos de hábitats
(MacDonald and Sillero-Zubiri 2004). Um exemplo desta variação está no
comportamento da raposa-do-Ártico (Alopex lagopus), que em algumas regiões onde
ocorre é essencialmente migratória (Eberhardt et al. 1983), enquanto em outras vive em
áreas muito pequenas (Hersteinsson and MacDonald 1982). Lobos etíopes (Canis
simensis) em áreas com baixa densidade de roedores formam casais que estabelecem
áreas de vida pelo menos duas vezes maiores do que as áreas estabelecidas em hábitats
com maior abundância de roedores, onde formam grandes grupos (Marino 2003).
O lobo-guará é considerado um canídeo solitário a maior parte do ano e de
comportamento territorial, ocorrendo a manutenção do par reprodutivo durante a época
de acasalamento (Dietz 1984). A maior parte dos trabalhos publicados sobre esta
espécie descreve os aspectos da sua dieta (Azevedo 2000; Dietz 1984; Carvalho and
Vasconcellos 1995; Cheida 2005; Jácomo et al. 2004; Juarez and Marinho-Filho 2002;
Motta-Júnior et al. 1996; Motta-Júnior 2000; Motta-Júnior et al. 2002; Queirolo 2001;
Rodrigues et al. 2007; Santos et al. 2003; Silva and Talamoni 2003; Silveira 1999),
enquanto poucos têm estudado aspectos da área de vida da espécie (Carvalho and
Vasconcellos 1995; Dietz 1984; Jácomo et al. no prelo; Mantovani 2001; Melo et al.
2007; Rodrigues 2002; Silveira 1999). Os trabalhos já realizados sobre este tema
demonstram que existe uma variação significativa com relação à extensão de suas áreas
de vida, que podem ser de 21,70 km2
a 132 km2
(Carvalho and Vasconcellos 1995; Dietz
1984; Jácomo et al. no prelo; Mantovani 2001; Melo et al. 2007; Rodrigues 2002;
Silveira 1999). Segundo Dietz (1984), em um estudo realizado com três casais de lobos-
guará no Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, os pares partilham a
mesma área de vida (em média 25 km2), sendo que estas podem ser exclusivas, com
17
pouca ou nenhuma sobreposição com áreas de casais vizinhos (Dietz 1984). Entretanto,
Rodrigues (2002) encontrou que existe considerável sobreposição entre áreas de casais
vizinhos de lobos-guará na área da Estação Ecológica de Águas Emendadas, Distrito
Federal, Brasília.
Estudos sobre o tamanho, a forma e a estrutura das áreas de vida das espécies
vêm respondendo um grande número de questões sobre a ecologia dos animais
(Kenward et al. 2001). Estes também constituem uma importante ferramenta na
conservação das espécies, fornecendo, por exemplo, informações que subsidiem o
planejamento e estabelecimento de futuras reservas (Kenward et al. 2001; Schoener
1968).
Neste sentido, o objetivo principal deste estudo foi obter dados sobre a
organização espacial dos lobos-guará que habitam a região do Parque Nacional da Serra
da Canastra. Foram realizadas estimativas dos tamanhos das áreas de vida e
comparações entre as mesmas a fim de verificar a existência de variação na manutenção
das áreas de vida e áreas de uso mais intensivo com relação ao sexo, à sazonalidade
climática e ao período reprodutivo.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
O estudo foi realizado no Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC),
localizado no sudoeste do Estado de Minas Gerais, e seu entorno. O PNSC possui uma
área de aproximadamente 200.000 ha e está localizado sob as coordenadas geográficas
20°18’16” S e 46°35’56” W (MMA/IBAMA 2005) (Figura 1.1). A região é composta
por duas serras: o Chapadão da Canastra e o Chapadão da Babilônia, e entre elas o Vale
dos Cândidos. O Chapadão da Canastra possui 71.525 ha e forma um platô alto com
18
elevações médias de 1.300 m (IBDF/FBCN 1981), constituindo a área do parque onde a
situação fundiária encontra-se regularizada, ou seja, sob cuidados do IBAMA. O
Chapadão da Babilônia é constituído de aproximadamente 130.000 ha da área decretada
como Unidade de Conservação (Uc) e que ainda se encontra em situação não
regularizada (MMA/IBAMA 2005), havendo ainda a existência de propriedades
particulares na região.
O clima regional predominante é o Tropical Sazonal, com uma estação seca e
fresca, definida de abril a setembro, com temperatura média de 16o C, e outra chuvosa e
quente, de outubro a março, com temperatura média de 22o C. A precipitação anual
observada na área varia entre 1.200 mm e 1.800 mm e apresenta uma grande
estacionalidade, concentrando-se nos meses de verão, e com período de máxima
precipitação entre os meses de dezembro a fevereiro (MMA/IBAMA 2005; Queirolo
2001).
O Parque abrange uma variedade de formações vegetais típicas do Domínio
Fitogeográfico do Cerrado. A predominância é de campos abertos (MMA/IBAMA
2005), principalmente campo limpo, campo sujo e campo rupestre (Queirolo 2001;
Silva et al. 2001). Em uma área relativamente pequena (não atingindo 1% da área total
do Parque) surgem as matas, geralmente às margens de cursos d’água e nascentes, ou
em capões isolados. Também são encontradas algumas manchas isoladas de cerrado
sensu stricto (IBDF/FBCN 1981) distribuídas de forma esparsa pelo parque.
As áreas vizinhas ao PNSC abrigam pequenas fazendas (propriedades de 100 ha
ou menos), onde a alteração de hábitat devido a plantios de pastagem é evidente, sendo
a atividade econômica primária na região a criação de gado leiteiro (IBAMA 2002;
IBDF/FBCN 1981). Atividades agrícolas são principalmente limitadas a plantações de
subsistência, excluindo algumas áreas maiores onde há plantação de café e milho
19
(IBAMA 2002). Embora cultivos e pastagens sejam as atividades humanas mais
significantes, na região ainda existem áreas de reflorestamento de Pinnus sp. e
exploração de minérios. Mais recentemente, o aumento de forma não planejada da
atividade turística, tanto dentro quanto no entorno da unidade, vêm se tornando uma
fonte de renda comum na região (MMA/IBAMA 2005).
Nestas áreas vizinhas ao PNSC, onde estão localizadas um grande número de
propriedades rurais, o contato entre os moradores e a vida selvagem é intenso uma vez
que as espécies ocorrentes na região transitam entre os limites do parque e a zona de
amortecimento. Os carnívoros são importantes predadores nos ecossistemas terrestres, e
onde eles são forçados a coexistir com animais domésticos a predação pode se tornar
um conflito com as comunidades locais (Pitman et al. 2002). Um estudo realizado por
Corral (2007) na região do PNSC demonstra que mesmo existindo ocorrência de
ataques às criações domésticas, existe uma grande tolerância por parte dos proprietários
frente a estes eventos. A predação é assumida como um fato normal, conseqüência da
ocupação humana das áreas em que sempre existiram animais silvestres (Corral 2007).
Entretanto, existem registros recentes de morte de lobos-guará em decorrência de
retaliação à predação (obs.pessoal).
Capturas e Monitoramento
Os lobos-guará foram capturados utilizando 18 armadilhas do tipo Box (desarme
independente), armadas dentro e fora do PNSC durante 36 meses (de janeiro de 2004 a
janeiro de 2007). Os locais de armadilhagem foram selecionados a partir da presença de
vestígios como rastros e fezes, e de observações diretas dos lobos. As armadilhas foram
iscadas com frango cozido, sardinha e, por vezes, com frutas da estação, e checadas
diariamente pela manhã.
20
Os lobos capturados foram imobilizados quimicamente com uma aplicação
intramuscular de tiletamina-zolazepan (Zoletil®-Virbac do Brasil e Telazol®-Fort
Dodge), pesados, sexados e acompanhados clinicamente por um veterinário. A classe
etária foi estimada por uma combinação de fatores como desgaste e coloração dos
dentes, tamanho e peso do animal, idade reprodutiva, e coloração dos pêlos. Dados
biométricos e amostras biológicas foram coletados, e um brinco identificador numerado
foi colocado em cada animal (machos receberam brinco na orelha direita e fêmeas na
orelha esquerda) (Figura 1.2). Os lobos foram equipados com colares rádio-
transmissores VHF (164-166 MHz) (Figura 1.3) e o monitoramento dos mesmos foi
realizado a partir de triangulações em solo sem bases fixas, em estradas internas (estrada
principal e aceiros) e externas ao PNSC. Cada triangulação foi obtida a partir de dois ou
mais ângulos medidos a partir de diferentes pontos. O monitoramento foi realizado
diariamente, alternando-se os horários (manhã, tarde e noite) e as localidades, o que
resultou muitas vezes em mais de uma localização por semana para cada animal. Em
diversas ocasiões foi possível visualizar o animal e coletar dados exatos de sua
localização (Figura 1.4).
Áreas de Vida
As localizações dos animais foram obtidas utilizando-se o Programa LOAS
(Location Of A Signal / Ecological Software Solutions, Inc.) e as mesmas foram
plotadas em um mapa do PNSC. Utilizando-se o Programa Arc View 3.2 e uma de suas
extensões (Animal Movement), as áreas de vida foram então estimadas por dois
métodos, o Mínimo Polígono Convexo (MPC) e o estimador de densidade Kernel.
O método do MPC (Mohr 1947) utiliza todas as localizações do animal para
desenhar o menor polígono convexo possível, assumindo assim que os animais usam
todas as partes de sua área de forma igual (Powell 2000). Este método foi escolhido para
21
este trabalho por possibilitar comparações com outros estudos e facilitar o exame da
curva de área acumulada em função do número de localizações. As áreas de vida foram
estimadas através do MCP utilizando 95% das localizações para excluir assim áreas
visitadas uma ou poucas vezes pelo animal, sendo ignoradas o resto do tempo,
reduzindo assim eventuais erros ocasionados quando 100% das localizações são
utilizadas (Powell 2000).
O método Kernel (Worton 1989) produz uma estimativa de densidade de
probabilidade de ocorrência, ou seja, descreve a quantidade de tempo que um animal
passa em qualquer lugar no espaço (Van Winkle 1975). O estimador de densidade
Kernel cria uma grade retangular regular (isolinhas) que é sobreposta aos dados, e uma
estimativa de densidade dos pontos é obtida pelo cálculo da influência média de cada
localização nas interseções da grade, usando informações da amostra inteira. As
localizações que estão perto de um ponto de avaliação contribuirão mais à estimativa
que as mais distantes, assim a estimativa de densidade será alta em áreas com muitas
localizações e baixa em áreas com poucas (Hemson et al. 2005; Seaman and Powell
1996). Cada isolinha criada pelo estimador contém uma porcentagem fixa da densidade
de utilização, sugerindo a quantidade de tempo (indexada pela quantidade de
localizações) que o animal gastou dentro de seu contorno. Neste sentido, a densidade de
utilização pode ser entendida como uma terceira dimensão da área de uso (Hemson et
al. 2005).
Neste estudo foi utilizado o estimador de densidade Kernel com a função Least-
Square Cross-Validation (LSCV) para determinar o melhor valor do fator de suavização
H (Smoothing factor). Esse processo examina vários valores para o H e seleciona o
valor mínimo para o erro estimado, ou seja, a diferença entre a função da verdadeira
densidade conhecida e a densidade do Kernel estimada (Blundell 2001; Ferguson et al.
22
1999; Seaman and Powell 1996). Nestas análises, para todos os animais capturados
durante o estudo com no mínimo 25 localizações (Koehler and Pierce 2003; Mitchel and
Powell 2007; Moyer et al. 2007; Seaman and Powell 1996), foram consideradas como
área de vida total a área contendo 95% das localizações, e área nuclear a área contendo
50% das localizações. Para as análises realizadas com o estimador Kernel, cada ano
amostrado (2004, 2005 e 2006) foi dividido em estações biológicas: estação reprodutiva
(de abril a agosto) e não reprodutiva (de setembro a março), e em estações climáticas:
estação seca (de abril a setembro) e estação úmida (de outubro a março).
Para comparar as médias de área de vida entre as estações (biológicas ou
climáticas) dentro de cada ano foram realizados testes t pareados, considerando machos
e fêmeas separadamente. Para comparar as médias de área de vida entre os sexos dentro
de cada estação e ano foram realizados testes t para amostras independentes. Para
alcançar os pressupostos das análises estatísticas (normalidade e homocedasticidade), os
valores de área de vida foram previamente transformados em seus logaritmos naturais.
Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa SYSTAT 10.2 (Wilkinson
2002).
RESULTADOS
Capturas e Monitoramento
Entre janeiro de 2004 e fevereiro de 2007 foram capturados 33 lobos-guará em
339 noites de armadilhamento (esforço total de 3.724 armadilhas*noite), representando
um sucesso de captura de 8,86%. Os animais (15 machos e 18 fêmeas) foram separados
em três classes etárias: cinco filhotes (idade entre zero e 12 meses), seis subadultos
(idade entre 12 e 24 meses) e 22 adultos (acima de 24 meses). Os dados biométricos dos
mesmos estão apresentados na tabela 1.1.
23
Trinta e um animais foram aparelhados com um rádio-colar (os dois filhotes não
receberam por ainda não terem peso suficiente) e monitorados durante o estudo,
resultando em 1.262 localizações obtidas a partir de 3.586 triangulações, e 100
localizações obtidas a partir de observações diretas. O número de localizações por lobo
variou de 4 a 182.
Área de Vida
Foram calculadas as áreas de vida para 16 indivíduos dos 33 capturados, por
estes apresentarem um valor mínimo de 25 localizações. Destes, sete indivíduos
utilizaram durante o estudo áreas exclusivamente dentro do PNSC (quatro adultos, dois
subadultos e um filhote), dois utilizaram áreas exclusivamente fora dos limites do PNSC
(dois adultos) e sete utilizaram tanto áreas dentro como no entorno da Unidade (seis
adultos e um filhote).
Dos dezesseis animais para os quais foram calculados os tamanhos das áreas de
vida, os machos CBM1 (filhote) e CBM4 (subadulto), e a fêmea CBF10 (filhote) foram
excluídos das análises estatísticas por não terem atingido a idade adulta ao fim do
monitoramento (18, 22 e 18 meses, respectivamente) e suas áreas de vida não estarem
ainda totalmente estabelecidas. A fêmea subadulta CBF6 teve sua área de vida
considerada estabelecida e foi incluída nas análises, pois ao final do monitoramento esta
já havia atingido a idade adulta (acima de 24 meses).
O exame do gráfico da área de uso acumulada (MPC 95%) em relação ao
número de localizações demonstrou que houve uma tendência à não estabilização das
curvas, pois nenhum indivíduo chegou a atingir irrefutavelmente a assíntota. O tamanho
da área de vida de cada indivíduo não variou significativamente entre os anos
amostrados (teste t pareado comparando 2005 e 2006; t = 0,716; g.l. = 8; p = 0,494).
24
O tamanho médio das áreas de vida dos lobos-guará na região do PNSC
estimado através do método do Mínimo Polígono Convexo foi de 53,26 ± 25,25 km2,
sendo que as áreas de vida variaram de 22,16 a 96,37 km2 (n=13). A média de área de
vida das fêmeas foi de 57,83 ± 23,30 km2 (n=9) e a dos machos foi de 42,98 ± 29,99
km2 (n=4), não havendo diferença significativa no tamanho de áreas de vida entre os
sexos (t = 1,246; g.l. = 11; p = 0,239) (Tabela 1.2 e 1.4). Para as estimativas realizadas
com o método Kernel, o tamanho médio das áreas de vida dos lobos-guará na região do
PNSC foi de 50,97 ± 32,47 km2 e as áreas variaram de 15,56 a 114,29 km2 (n=13). A
média de área de vida das fêmeas foi de 62,77 ± 33,67 km2 (n =9) e a dos machos foi de
41,62 ± 29,11 km2 (n=4), não havendo diferença significativa no tamanho de áreas de
vida entre os sexos (t = 1,164; g.l. = 11; p = 0,369) (Tabela 1.3).
Não houve diferença significativa entre os valores de área de vida de lobos
estimados pelos métodos Kernel e MPC tanto para machos (teste-t pareado = 0,491; g.l.
= 3; p = 0,657) quanto para fêmeas (teste-t pareado = 0,047; g.l. = 8; p = 0,964) (Tabela
1.4) (Figura 1.8).
Nas comparações do tamanho de área de vida total entre as estações reprodutiva
e não reprodutiva, para as fêmeas, não houve diferença significativa no ano de 2006 (t
pareado = 0,875; g.l. = 6; p = 0,415), porém, no ano de 2005 a média de área de vida
total foi significativamente menor durante a estação reprodutiva (t pareado = 3,984; g.l.
= 4; p = 0,016). Não há dados suficientes para as fêmeas durante o ano de 2004 (Tabela
1.5) e nem para os machos durante todo o período amostrado. Não houve diferença
significativa no tamanho da área de vida total entre as estações seca e úmida durante os
anos de 2005 e 2006 para as fêmeas (t pareado = 0,036; g.l. = 6; p = 0,973 e t pareado =
0,164; g.l. = 7; p = 0,874, respectivamente). Não há dados suficientes para os machos
durante o período amostrado e nem para as fêmeas durante o ano de 2004 (Tabela 1.6).
25
O tamanho médio das áreas nucleares dos lobos-guará na região do PNSC foi de
5,88 ± 3,60 km2 (variação de 1,79 a 14,06 km2, n=13). A área nuclear média para as
fêmeas foi de 6,69 ± 3,82 km2 (n =9) e para os machos 4,07 ± 2,57 km2 (n=4), não
havendo diferença significativa entre sexos (t = 1,305; g.l. = 11; p = 0,218).
Nas comparações de área de vida nuclear, não houve diferença significativa
entre as estações reprodutiva e não reprodutiva para as fêmeas em 2005 (t pareado =
1,696; g.l. = 4; p = 0,165) e 2006 (t pareado = 0,863; g.l. = 6; p = 0,421), não havendo
dados suficientes para o ano de 2004. Também não houve diferença significativa entre
as estações seca e úmida para as fêmeas em 2005 (t pareado = 0,729; g.l. = 6; p = 0,494)
e 2006 (t pareado = 1,704; g.l. = 7; p = 0,132), não havendo dados suficientes para o ano
de 2004 (Tabela 1.7). Não foram realizadas comparações para os machos devido ao
baixo número amostral.
Nas comparações das áreas de vida entre os sexos, não houve diferença
significativa para nenhuma das estações e anos. Apenas para o ano de 2005, a diferença
foi marginalmente significativa para a área de vida total na estação reprodutiva (teste t =
2,205; g.l. = 6; p = 0,07) e para a área de vida nuclear na estação seca (teste t = 2,273;
g.l. = 8; p = 0,053), sendo que nos dois casos a área das fêmeas foi maior que a dos
machos (Tabela 1.8 e 1.9).
O tamanho médio das áreas de vida dos lobos-guará que residem exclusivamente
dentro dos limites do PNSC, estimadas por ambos os métodos, Kernel 95% e MCP, foi
de 79,13 ± 30,76 km2 (n = 5) e 66,6 ± 20,19 km2, respectivamente. Para os lobos-guará
que residem na borda e/ou fora dos limites da unidade, o tamanho médio das áreas de
vida estimado por ambos os métodos, Kernel 95% e MCP, foi de 41,97 ± 26,23 km2 (n
= 8) e de 44,92 ± 25,56 km2, respectivamente. Quando comparados, os tamanhos
médios das áreas de vida entre animais residentes e animais de borda e/ou externos ao
26
Parque, houve diferença significativa quando usado o método Kernel (t = 2,331; g.l. =
11; p = 0,040), mas apenas marginalmente significativa quando usado o método MCP (t
= 1,83; g.l. = 11; p = 0,09), sendo as áreas de vida dos lobos que utilizam áreas de borda
e/ou externas ao PNSC menores.
DISCUSSÃO
O método do MPC permitiu comparar as áreas de vida de lobos-guará estimadas
neste trabalho com outros realizados anteriormente em diferentes áreas de cerrado
(Tabela 1.2). Em cinco diferentes estudos (Carvalho and Vasconcelos 1995; Dietz 1984;
Mantovani 2000; Rodrigues 2002; Silveira 1999), o valor máximo e mínimo dos
tamanhos de áreas de vida são de 132 km2 e 15,53km2, respectivamente, sendo que os
valores obtidos neste trabalho (96,37 e 22,16 km2) estão entre os valores máximos e
mínimos encontrados para a espécie. Os valores de áreas de vida obtidos em trabalhos
anteriores e no presente estudo são compatíveis entre si. Entretanto, a variação existente
pode estar associada a fatores como diferenças metodológicas entre estudos, como por
exemplo, o estimador escolhido para calcular a área de vida, e/ou às diferenças entre
áreas estudadas, como tipos fitofisionômicos e variações de produtividade do ambiente
(Tufto et al. 1996). Variações intraespecíficas no tamanho da área de vida também
podem estar relacionadas às diferenças de exigências metabólicas individuais, devido,
por exemplo, a variações no tamanho da prole, ou tamanho e/ou peso corporal (MacNab
1963).
Dietz (1984) registrou o menor valor médio de área de vida para lobos-guará
(25,23 km2 por casal). A diferença nos tamanhos das áreas de vida entre o presente
trabalho (realizado de 2004 a 2007) e o conduzido por Dietz (entre 1978 e 1980), ambos
no PNSC, pode estar relacionada à diferença entre o estado de conservação do parque
27
quando este foi criado em 1972, e nos dias atuais, 27 anos depois. Em 1977 ainda havia
20.000 cabeças de gado bovino dentro da área do parque e naquele momento mantinha-
se o mesmo sistema tradicional de queimadas de pastagens no alto do chapadão
(MMA/IBAMA 2005). O processo de demarcação da área desapropriada e a retirada
dos ocupantes e do gado se estenderam até meados de 1979. Ainda hoje, nas áreas de
entorno do PNSC é usado o mesmo tipo de manejo praticado nos anos 70, e a vegetação
é anualmente desbastada e em seguida queimada a fim de favorecer o crescimento de
gramíneas, sejam estas nativas ou exóticas, para a pastagem do gado.
Os valores médios de tamanho de área de vida encontrados por Dietz (1984)
(28,77 km2, n=3 casais). se aproximam dos valores estimados neste estudo para os lobos
que vivem na borda ou fora dos limites do parque Nestas áreas, a disponibilidade
alimentar pode ser semelhante à época de criação do PNSC, ou seja, com menor
variedade de itens vegetais (Amboni 2007), e possivelmente ricas em lobeiras (Solanum
lycocarpum), espécie freqüentemente consumida pelo lobo-guará (Dietz 1984; Juarez
and Marinho-Filho 2002; Motta-Junior et al. 1996; Rodrigues et al. 2007) e que ocorre
em abundância em áreas antropizadas (Oliveira-Filho and Oliveira 1988). Rodrigues
(2002) sugere que o tamanho de área de vida dos lobos pode aumentar com o aumento
da quantidade de alimento existente no habitat. Talvez, os recursos disponíveis em
quantidades suficientes, porém, distribuídos em manchas heterogêneas no ambiente,
possam levar o indivíduo a percorrer uma área maior do que se os mesmos fossem
encontrados de forma homogênea.. Desde o trabalho realizado por Dietz (1984) até os
dias atuais, provavelmente houve uma mudança na disponibilidade de frutos do cerrado
dentro do PNSC, resultado da recuperação dos ambientes após a implementação do
parque em 1972, mais efetivamente após os anos 80. Este fato pode explicar porque os
valores de área de vida encontrados neste trabalho para os lobos que residem no interior
28
da Unidade são maiores do que os valores estimados para os lobos que vivem na
periferia do Parque e também dos estimados por Dietz (1984). O lobo-guará é
considerado uma espécie oportunista e de relativa adaptação a ambientes fragmentados
e antropizados (Courtenay 1994). Este tipo de comportamento pode ser responsável pela
sobrevivência da espécie nas áreas de entorno do parque e antes da reserva ser criada.
Três estudos realizados no Parque Nacional da Serra da Canastra investigaram os
hábitos alimentares do lobo-guará e em todos eles se verificou o consumo dos itens
alimentares conforme a disponibilidade destes no ambiente, sendo que o lobo-guará
ingere maiores quantidades de frutos na época chuvosa e mais itens animais durante a
época seca (Amboni 2007; Dietz 1984; Queirolo 2001). Amboni (2007) encontrou ainda
que a disponibilidade de recursos é um dos fatores que influencia a movimentação da
espécie na paisagem. Esperava-se que houvesse diferença de tamanho nas áreas de vida
entre as estações seca e chuvosa, uma vez que a dieta do lobo-guará bem como a
disponibilidade alimentar dos itens consumidos pelo mesmo no PNSC apresentam
sazonalidade marcada (Amboni 2007). Entretanto, não foi observada variação
significativa tanto nas áreas de vida quanto nas áreas centrais de atividade, indicando
que a disponibilidade alimentar pode não ser um fator determinante nos tamanhos das
áreas de vida da espécie. Mesmo havendo significativa variação sazonal na oferta de
alimentos, os itens consumidos parecem estar disponíveis em quantidades suficientes
para que seja vantajoso ao lobo-guará permanecer dentro dos limites de sua área de
vida, mesmo que isso signifique mais tempo forrageando, do que aumentar o gasto
energético defendendo ou explorando áreas diferentes. Amboni (2007) encontrou
resultados semelhantes ao estudar a relação entre o padrão de movimentação e a
disponibilidade dos alimentos da dieta deste canídeo, demonstrando que não há
29
diferença significativa nos tamanhos de áreas de vida dos lobos-guará entre a estação
seca e a úmida.
O lobo-guará é considerado um canídeo monogâmico (Dietz 1984; Moehlman
1989; Rodden et al. 2004), e a manutenção do par reprodutivo ocorre durante a época de
acasalamento e pode durar até depois do nascimento dos filhotes, com o macho
cooperando no cuidado com a prole, como já foi observado em cativeiro (Bartman and
Nordhoff 1984; Bestelmeyer and Westbrook 1998; Bestelmeyer 2000; Kleiman and
Malcolm 1981; Veado 1997) e em vida livre (Carvalho and Vasconcelos 1995; Melo et
al. 2007; Rodrigues 2002). Durante este estudo foi possível observar machos
interagindo com fêmeas prenhes e em mais de uma ocasião, machos foram localizados,
através da telemetria, muito próximos às fêmeas com filhotes. Este comportamento
indica que existe uma relação mais estreita entre o casal e que, portanto, o tamanho da
área de vida de ambos pode estar mais intimamente relacionado às necessidades de
sobrevivência não só dos indivíduos, mas também dos filhotes, do que relacionado
somente à disponibilidade de alimento no ambiente ou número de fêmeas disponíveis.
Com relação à estação reprodutiva e não reprodutiva, a área de vida total das
fêmeas foi menor durante o período reprodutivo. Considerando que esta época
corresponde ao período de gestação e de nascimento dos filhotes, é de se esperar que
exista uma redução no tamanho da área de vida das fêmeas uma vez que as mesmas
permanecerão durante este espaço de tempo usando as áreas mais próximas da toca em
decorrência da manutenção da prole. Este resultado corrobora a hipótese apresentada
por Melo et al. (2007), em que a área de vida de uma fêmea prenhe foi drasticamente
reduzida após o nascimento dos filhotes e voltou a crescer gradativamente com o passar
do tempo. Apesar de ambos os pais participarem dos cuidados com a prole, é
30
principalmente a fêmea que se envolve mais nesta atividade e que a exerce por mais
tempo (Bartman and Nordhoff 1984; Bestelmeyer and Westbrook 1998).
O lobo-guará possui ampla distribuição, ocorrendo em áreas com variados graus
de interferência humana. Este fato pode denotar uma alta flexibilidade ou ainda um
baixo risco para a espécie. No entanto, o comportamento do lobo-guará em áreas
antrópicas é distinto ao de áreas naturais, sendo que os indivíduos que habitam regiões
antropizadas possuem áreas de vida significativamente menores. A fragmentação do
habitat pode vir a alterar a estrutura espacial das populações de vertebrados, assim como
influenciar no tamanho das áreas de vida (Gehring and Swihart 2004). Menor
disponibilidade de alimento, aliado a interferência antrópica direta podem ser os
motivos da redução nos tamanhos de áreas de vida, e a aptidão e a sobrevivência dos
indivíduos nestas áreas podem ser sensivelmente diminuídas. As subpopulações
residentes nestas áreas antrópicas podem estar sendo sustentadas por indivíduos
oriundos de áreas naturais, as quais podem estar servindo de fonte para as áreas sob
forte influência humana, que seriam áreas sumidouro. Recentes estudos demonstram
que a produção de cortisol (Spercoski 2007) e a concentração de colinesterase (May-
Júnior et al. no prelo) em lobos-guará são maiores em animais expostos ao contato com
humanos, sendo este fato associado a maiores índices de estresse, e é provável ainda que
um maior contato com cães domésticos leve a um maior risco de contaminação por
doenças. Novos dados sobre a densidade populacional, taxas de mortalidade e
natalidade, e a utilização de diferentes habitats da paisagem antrópica podem permitir
uma avaliação mais precisa do risco destas populações, sendo, portanto urgentemente
necessários.
Ainda que os dados aqui apresentados indiquem a existência de uma variação no
tamanho médio da área de vida do lobo-guará, estes são predadores de topo de cadeia
31
alimentar e necessitam de grandes espaços para sobreviver. Nossos resultados sugerem
que apesar de a espécie possuir certa tolerância à presença humana, no que diz respeito
à capacidade de utilizar hábitats alterados, é de fundamental importância a manutenção
de áreas protegidas que contenham elementos essenciais à sobrevivência do lobo-guará,
a fim de garantir que a espécie desempenhe sua função ecológica adequadamente.
Lobos-guará usaram, em maior ou menor grau, áreas fora da reserva, demonstrando a
capacidade da espécie em atravessar matrizes de ambientes alterados; entretanto, sob
esta condição, possuem áreas de vida menores, provavelmente por restringirem suas
atividades às poucas áreas de vegetação remanescente. Este fato sugere a urgência de
um maior enfoque no manejo de paisagens, tratando as áreas remanescentes localizadas
fora das UCs como parte de um cenário a ser conservado.
LITERATURA CITADA
AMBONI, M. P. M. 2007. Dieta, disponibilidade alimentar e padrão de movimentação do
lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, no Parque Nacional da Serra da Canastra, MG.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
AZEVEDO, F. C. 2000. Nicho alimentar do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger
1811), ocorrente nas nascentes do Rio Tibagi, Campos Gerais, Paraná, Brasil.
Monografia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba.
BARTMANN, W., AND L. NORDHOFF. 1984. Paarbindung und Elternfamilie beim
Mahnenwolf (C. Brachyurus Ill., 1811). Z. Kolner Zoo, Koln 27: 63-71. Tradução
Dr. Teresa L. Frossard e Otávio B. Maia.
BESTELMEYER, S. V. 2000. Solitary, reproductive, and parental behaviour of maned
wolf (Chrysocyon brachyurus). Thesis for the degree of Doctor of Philosophy,
Colorado State University, Colorado.
32
BESTELMEYER, S. V., AND C. WESTBROOK. 1998. Maned wolf (Chrysocyon brachyurus)
predation on Pampas Deer (Ozotoceros bezoarticus) in Central Brazil. Mammalia
62:591-595.
BOYDSTON, E. E., K. M. KAPHEIM, M. SZYKMAN, AND K. E. HOLEKAMP. 2003.
Individual variation in space use by female spotted hyenas. Journal of Mammalogy
84:1006–1018.
BROOMHALL, L. S., M. G. L. MILLS, AND J. T. D. TOIT. 2003. Home range and habitat
use by cheetahs (Ancinonyx jubatus) in the Kruger National Park. Journal of
Zoology 261:119-128.
BURT, W. H. 1943. Territoriality and home range concepts as applied to mammals.
Journal of Mammalogy 24:346-352.
BLUNDELL, G. M., J. A. K. MAIER, AND E. M. DEBEVEC. 2001. Linear Home Ranges:
Effects of Smoothing, Sample Size, and Autocorrelation on Kernel Estimates.
Ecological Monographs 71:469-489.
CARVALHO, C. T., AND L. E. M. VASCONCELLOS. 1995. Disease, food and reproduction
of the maned wolf Chrysocyon brachyurus (Illiger, Carnivora, Canidae) in
Southeast Brazil. Revista Brasileira de Zoologia 12:627-640.
CHAMBERLAIN, M. J., L. M. CONNER, B. D. LEOPOLD, AND K. M. HODDGES. 2003. Space
use and multi-scale habitat selection of adult raccoons in Central Mississippi.
Journal of Wildlife Management 67:334-340.
CHEIDA, C. C. 2005. Dieta e dispersão de sementes pelo lobo-guará, Chrysocyon
brachyurus (Illiger 1815), em uma área com campo natural, Floresta Ombrófila
Mista e silvicultura, Paraná, Brasil. Tese de mestrado, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba.
33
CORRAL, L. 2007. Avaliação da predação de criações domésticas por lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG,
Brasil. Tese de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
COURTENAY, O. 1994. Conservation of maned wolf: fruitful relations in a changing
environment. Canid News 2:41-43.
DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social organization of the Maned wolf (Chrysocyon
brachyurus). Smithsonian Contributions 392:1-51.
EBERHARDT, L. E., R. A GARROT, AND W.C. HANSON. 1983. Winter movements of artic
foxes, Alopex logopus, in a petroleum development area. Canadian Field-Naturalist
97:66-70.
EWER, R. F. 1998. The carnivores. Cornell University Press, New York.
FERGUSON, H. S., K. T. MITCHELL, W. B. ERIC, R. A. AQQALU, AND M. FRANÇOIS. 1999.
Determinants of home range size for polar bears (ursus maritimus). Ecology Letters
2:311-318.
GEHRING, T. M., AND R. K. SWIHART. 2004. Home range and movements of long-tailed
weasels in a landscape fragmented by agriculture. Journal of Mammalogy 85:79–86.
HEMSON, G., P. JOHNSON, A. SOUTH, R. KENWARD, R. RIPLEY, AND D. MACDONALD.
2005. Are kernels the mustard? Data from global positioning system (GPS) collars
suggests problems for kernel-home range analyses with least-squares cross-
validation. Journal of Animal Ecology 74: 455-463.
HERSTEINSSON, P., AND D. W. MACDONALD. 1982. Some comparisons between red and
artic foxes, Vulpes vulpes and Alopex lagopus, as revealed by radiotracking.
Symposium of Zoological Society of London 49:259-289.
IBAMA - Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis. 2002. Parque Nacional
da Serra da Canastra. Revisão do plano de manejo. IBAMA, Brasília
34
IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. 1981. Plano de Manejo do
Parque Nacional da Serra da Canastra. IBDF, Brasília.
JÁCOMO, A. T. A., C. K. KASHIVAKURA, C. FERRO, M. M. FURTADO, S. P. ASTETE, N. M.
TORRES, R. SOLLMANN, AND L. SILVEIRA. (no prelo). Maned wolf home range and
spatial organization in the Brazilian grasslands. Jouranl of Mammalogy.
JÁCOMO, A. T. A., L. SILVEIRA, AND J. A. F. DINIZ-FILHO. 2004. Niche separation
between the maned-wolf (Chrysocyon brachyurus), crab-eating-fox (Cerdocyon
thous) and the hoary-fox (Dusicyon vetulus) in the Cerrado of Central Brazil.
Journal of Zoology 262:99-106.
JUAREZ, K. M., AND J. MARINHO-FILHO. 2002. Diet, habitat use, and home ranges of
sympatric canids in Central Brazil. Journal of Mammalogy 83:925-933.
KENWARD, R. E., R. T. CLARKE, K. H. HODDER, AND S. S. WALLS. 2001. Density and
linkage estimators of home range: nearest-neighbour clustering defines multi-
nuclear cores. Ecology 82:1905-1920.
KERNOHAN, B. J., R. A. GITZEN, AND J. J. MILLSPAUGH 2001. Analysis of animal space
use and movements in Radio tracking and Animal Populations (J. J. Millspaugh & J.
M. Marzluff). San Diego: Academic press.
KLEIMAN, D. G., AND J. R. MALCOM. 1981. The evolution of male parental investment in
mammals. In Parental care in mammals (D. J. Gubernick & P. H. Klopfer, eds.).
Plenum, New York.
KOEHLER, G. M., AND D. J. PIERCE. 2003. Black bear home range sizes in Washington:
climatic, vegetative and social influences. Journal of Mammalogy 84:81–91.
LOGAN, K. A., AND L. L. SWEANOR. 2001. Desert Puma: evolutionary ecology and
conservations of an enduring carnivore. Island Press, Washington.
35
MACDONALD, D. W. 1983. The ecology of carnivore social behaviour. Nature 301:379–
384.
MACDONALD, D. W., AND C. SILLERO-ZUBIRI. 2004. Biology and Conservation of Wild
Canids. 1st
ed. Oxford University Press, United States.
MANTOVANI, J. E. 2001. Telemetria convencional e via satélite na determinação da área
de vida de três espécies de carnívoros da região nordeste do Estado de São Paulo.
Tese de Doutorado,Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
MARINO, J. 2003. Spatial ecology of the Ethiopian wolf, Canis simensis. Tese de
Doutorado, Linacre College, University of Oxford, Michaelmas Term.
MAY-JÚNIOR, J. A., N. SONGSASEN, F. C. AZEVEDO, J. P. SANTOS, R. C. PAULA, F. H. G.
RODRIGUES, M. D. RODDEN, D. E. WILDT, AND R. G. MORATO. (no prelo).
Hematology and blood chemistry parameter differs in free-ranging maned wolves
(Chrysocyon brachyurus) living in the Serra da Canastra National Park (Brazil)
versus adjacent farmlands. Journal of Wildlife Diseases.
MCNAB, B.K. 1963. Bioenergetics and the determination of home range size. American
Naturalist 97:113-140.
MELO, L. F. B., M. A. L. SÁBATO, E. M. V. MAGNI, R. J. YOUNG, AND C. M. COELHO.
2007. Secret lives of maned wolves (Chrysocyon brachyurus Illiger 1815): as
revealed by GPS tracking collars. Journal of Zoology 271:27-36.
MITCHELL, M. S., AND R. A. POWELL. 2007. Optimal use of resources structures home
ranges and spatial distribution of black bears. Animal Behaviour 74:219-230.
MIZUTANI, F., AND P. A. JEWELL. 1998. Home-range and movements of leopards
(Panthera pardus) on a livestock ranch in Kenya. Journal of Zoology 244: 269-286.
36
MMA-IBAMA – Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis 2005. Plano de manejo: Parque Nacional da
Serra da Canastra. Ministério do Meio Ambiente, Brasil.
MOEHLMAN, P. D. 1989. Intraespecific variation in canid social systems. In Carnivore
behaviour, ecology, and evolution (J. l., Gliteman). Cornell Unviversity Press, New
York.
MOHR, C. O. 1947. Table of equivalent populations of North American mammals.
American Midland Naturalist 37:223-249.
MOTTA-JUNIOR, J. C. 2000. Variação temporal e seleção de presas na dieta do Lobo-
Guará, Chrysocyon brachyurus (Mammalia: Canidae), na Estação Ecológica de Luiz
Antônio, São Paulo. In Estudos Integrados em Ecossistemas. Estação Ecológica de
Jataí (J. E. Santos & J. S. R. Pires, eds.). Vol. 1. Rima Editora, São Carlos.
MOTTA-JÚNIOR, J. C., S. A. TALAMONI, J. A. LOMBARDI, AND K. SIMOKOMAKI. 1996.
Diet of the Maned wolf, Chrysocyon brachyurus, in Central Brazil. Journal of
Zoology 240: 277-284.
MOTTA-JÚNIOR, J.C., AND K. MARTINS. 2002. The frugivorous diet of Maned Wolf,
Chrysocyon brachyurus. In Brazil: Ecology and Conservation in Seed Dispersal and
Frugivory: Ecology, Evolution and Conservation (Levey, D., W.R. Silva & M.
Galetti, eds.). CABi Publishing, Wallingford, Oxon, UK.
MOYER, M. A., J. W. MCCOWN, AND M. K. OLI. 2007. Factors influencing home range
size of a female Florida black bears. Journal of Mammalogy, 88:468–476.
NOWAK, R. M. 1999. Walker’s mammals of the world. Johns Hopkins University Press,
Baltimore.
37
OLIVEIRA -FILHO, A. T., AND L. C. A. OLIVEIRA. 1988. Biologia floral de uma população
de Solanum lycocarpum St. Hill (Solanaceae) em Lavras, MG. Revista Brasileira de
Botânica 11:23-32.
PITMAN, M. R. P. L., T. G. OLIVEIRA, R. C. DE PAULA E C. INDRUSIAK (Editores). 2002.
Manual de identificação, prevenção e controle de predação por carnívoros. Edições
IBAMA, Brasília.
POWELL, R. A. 2000. Animal home ranges and territories and home range estimators in
Research techniques. In animal ecology: controversies and consequences (L.
Boitani, T.K. Fuller, eds.). Columbia University Press, New York.
QUEIROLO, D. 2001. Seletividade e sazonalidade de presas consumidas pelo lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) no Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais.
Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo.
QUEIROLO, D., AND J. C. MOTTA-JÚNIOR. 2000. Possível influência das mudanças de
paisagem no Parque Nacional da Serra da Canastra, MG na dieta do lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) in Anais do II Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação, Campo Grande, MS.
RODRIGUES, F.H.G. 2002. Biologia e Conservação do lobo-guará na Estação Ecológica
de Águas Emendadas, DF. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
RODRIGUES, F. H. G., A. HASS, L. M. REZENDE, C. S. PEREIRA, C. F. FIGUEIREDO, B. F.
LEITE, AND F. G. R. FRANÇA. 2002. Impacto de rodovias sobre a fauna da Estação
Ecológica de Águas Emendadas, DF in Anais do III Congresso Brasileiro de
Unidades de Conservação.
38
SANTOS, E. F., E. Z. F. SETZ, AND N. GOBBI. 2003. Diet of maned wolf (Chrysocyon
brachyurus) and its role in seed dispersal on a cattle ranch in Brazil. Journal of
Zoology 260:203-208.
SEAMAN, D. E., AND R. A. POWELL. 1996. An evaluation of the accuracy of kernel
density estimators for home range analysis. Ecology 77:2075–2085.
SILVA, J. A., AND S. A. TALAMONI. 2003. Diet adjustments of maned wolves,
Chrysocyon brachyurus (Illiger) (Mammalia, Canidae), subjected to supplemental
feeding in a private natural reserve, Southeastern Brazil. Revista Brasileira de
Zoologia 20:339-345.
SILVA, S.R., A. P. SILVA, C. B. MUNHOZ, M. C. SILVA JR., AND M. B. DE. MEDEIROS.
2001. Guia de plantas do cerrado utilizadas na Chapada dos Veadeiros. WWF –
Brasil, Brasília.
SILVEIRA, L. 1999. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque
Nacional das Emas, Goiás. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia.
SCHOENER, T. W. 1968. Sizes of feeding territories among birds. Ecology 49:123-141.
SPERCOSKI, K. M. 2007. Monitoramento a longo prazo da excreção de corticóides fecais
em lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) de cativeiro e vida livre: uma contribuição
para o manejo e a conservação da espécie. Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba.
TUFTO, J., R. ANDERSEN, AND J. LINNELL. 1996. Habitat Use and Ecological Correlates
of Home Range Size in a Small Cervid: The Roe Deer. The Journal of Animal
Ecology 65:715-724.
VAN WINKLE, W. 1975. Comparisons of several probalistic home-range models. Journal
of Wildlife Management 39:118-123.
39
VEADO, B. V. 1997. Parental behaviour in maned wolf Chrysocyon brachyurus at Belo
Horizonte Zoo. International Zoo Yearbook 35.
WILKINSON, L. 2002. SYSTAT: The system for statistics, version 10.2. SYSTAT
Software, Inc., Richmond, C.A.
WORTON, B. J. 1989. Kernel methods for estimating the utilization distribution in home
range studies. Ecology 70:164-168.
40
Fig
ura
1.1.
Loc
aliz
ação
do
Parq
ue N
acio
nal d
a Se
rra
da C
anas
tra,
Min
as G
erai
s, B
rasi
l. Fo
nte:
IBA
MA
– M
MA
.
41
a)
b)
d)
b)
Fig
ura
1.2.
Pro
cedi
men
to d
e co
leta
de
dado
s bi
omét
rico
s e
amos
tras
bio
lógi
cas
dura
nte
capt
ura
de
lobo
s-gu
ará
(Chrysocyon brachyurus
) no
Parq
ue N
acio
nal d
a Se
rra
da C
anas
tra,
Min
as G
erai
s, B
rasi
l. a)
bi
omet
ria
dos
cani
nos;
b)
biom
etri
a da
pat
a di
ante
ira;
c)
cole
ta d
e sa
ngue
; d)
col
eta
de u
rina
. Fo
tos:
A
rqui
vo P
roje
to L
obo-
Gua
rá.
42
b) a)
Figura 1.3. Colocação de rádio-colar durante captura de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) fixação do rádio-colar; b) lobo-guará aparelhado com rádio-colar e brinco identificador. Fotos: Arquivo Projeto Lobo-Guará.
Figura 1.4. Observação de comportamento de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) durante monitoramento por rádio telemetria na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Fotos: Arquivo Projeto Lobo-Guará.
43
Tabela 1.1. Medidas biométricas (cm) de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) (n = 33) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil.
SEXO
PESO
IDADE
CORPO
CAUDA
CABEÇA
ALTURA
M 12,00 F 74,00 39,00 26,50 65,00 M 28,00 A 82,00 41,00 31,00 74,00 F 24,00 A 80,00 44,00 27,00 73,00 M 28,00 A 88,00 40,00 29,00 83,00 M 25,00 AS 79,00 40,50 27,00 78,00 M 21,00 AS 76,00 45,00 27,00 80,00 F 30,00 A 114,00 46,00 31,50 84,00 F 25,00 A 74,00 32,00 27,50 81,50 F 32,00 A 84,50 42,00 30,00 87,00 F 28,00 A 85,00 43,00 27,00 83,00 M 26,00 AS 81,00 42,00 28,00 83,00 F 21,00 A 79,00 41,00 28,00 81,00 F 25,00 AS 82,00 40,00 28,00 79,50 F 20,00 AS 85,00 40,00 27,00 77,50 F 26,00 A 91,00 43,50 28,00 82,50 M 30,00 A 82,50 40,00 27,50 79,50 F 31,00 A 97,00 46,00 28,50 83,30 M 29,00 A 85,00 39,50 27,00 84,50 F 26,00 A 81,50 41,50 26,00 81,50 F 15,00 F 68,00 36,50 23,50 69,50 M 31,00 A 79,00 43,50 28,00 85,00 F 25,00 AS 66,10 50,90 29,00 90,00 F 17,00 F 78,00 36,00 24,60 73,50 M 29,00 A 84,00 44,00 28,00 85,00 M 32,00 A 90,00 36,00 28,00 85,50 F 25,00 A 85,00 40,00 27,00 81,00 M 26,00 A 89,00 44,00 27,00 86,00 M 7,00 F 55,00 29,00 19,50 49,50 F 26,00 A 80,50 42,00 26,00 74,00 F 7,00 F 52,00 25,5 20,00 52,50 M 29,00 A 90,00 49,00 30,00 87,00 F 23,00 A 84,00 40,50 27,50 81,00 M
_
A
84,50
41,00
28,30
76,00
44
Tabela 1.2. Tamanhos de área de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) adultos comparados para sete estudos. N, número indivíduos amostrados; 1, Área de vida estimada do casal; * Áreas de vida calculadas através do MCP com 95% das localizações; ** Áreas de vida calculadas através do MCP com 100% das localizações; *** Método de cálculo de área de vida não especificado.
Fonte
Área de Vida em km2
Área de Estudo
Máximo Mínimo Médio N Este estudo*
96,37
22,16
53,26
13
71.525 ha (Parque
Nacional da Serra da Canastra, MG)
Dietz (1984)**1
30,00 21,70 25,23 3 71.525 ha (Parque Nacional da Serra da
Canastra, MG)
Carvalho & Vasconcelos (1995)***
115,00 53,85 52,03 3 ± 4.3884 ha (Águas de Santa Bárbara, SP)
Mantovani (2001)**
132,00 31,00 63,67 6 ± 10.800 ha (Estação Ecológica de Jataí e
Estação Experimental de Luis Antonio, SP)
Rodrigues (2002)**
104,90 15,53 56,95 5 ± 10.400 ha (Estação Ecológica de Águas
Emendadas, DF)
Melo et al. (2007) *
48,70 28,97 - 2 2.847 ha (Estação Ambiental de
Galheiros, MG)
Jácomo et al. (no prelo)*
- - 67,69 45 132.000 ha (Parque Nacional das Emas,
GO)
45
Tabela 1.3. Estimativa em km2 da área de vida de 16 indivíduos de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, para os anos de 2004 a 2006, realizadas com o método Kernel. KT, Kernel Área Total contendo 95% das localizações; KN, Kernel Área Nuclear contendo 50% das localizações; N, número de localizações; M, macho; F, fêmea; A, adulto; SA, subadulto.
Indivíduo
Sexo
Idade
Kernel Total
Kernel Nuclear
2004 (N)
2005 (N)
2006 (N)
2004 2005
2006
CBM1
M
SA
4,07 (80)
0,48
CBM2
M A 55,26 (52) 70,32 (60) 76,97 (51) 13,11 6,06 9,56
CBM3
M A 23,11 (30) 11,05 (30) 5,71 1,25
CBM4
M SA 33,78 (29) 21,07(13) 4,47 3,75
CBM5
M A 14,21 (43) 18,07 (53) 2,55 2,00
CBM6
M A 60,88 (29) 6,57
CBF1
F A 46,10 (13) 50,29 (49) 69,55 (33) 8,04 7,18 17,24
CBF2
F A 36,57 (16) 14,55 (46) 3,90 1,72
CBF3
F A 48,95 (7) 115,88 (25) 5,48 20,62
CBF4
F A 16,93 (76) 17,05 (40) 2,35 1,89
CBF5
F A 141,91 (36) 92,16 (36) 23,59 11,30
CBF6
F A 34,25 (13) 24,08 (27) 4,47 5,13
CBF7
F A 38,98 (21) 53,75 (23) 3,68 3,74
CBF8
F A 149,31 (24) 41,79 (38) 35,48 2,78
CBF9
F A 44,93 (12) 44,04 (56) 5,15 2,97
CBF10 F SA 48,93 (28) 11,56
46
Tabela 1.4. Estimativas em km2 das áreas de vida, realizadas pelos métodos MCP e Kernel, para 16 indivíduos de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. M, macho; F, fêmea; A, adulto; SA, subadulto; Loc., número de localizações.
Indivíduo
Sexo
Idade
Loc.
Período de
Monitoramento
Estimativas de
Áreas de Vida/ Km2
MCP 95%
Kernel 95%
Kernel 50%
CBM1
M
SA
80
27 Fev 04 / 12 Set 04
5,92
4,07
0,48
CBM2
M A 182 02 Abr 04 / 30 Fev 07 87,04 72,11 6,01
CBM3
M A 56 19 Mai 04 / 24 Dez 05 26,21 17,92 1,79
CBM4
M SA 42 03 Jul 04 / 26 Mar 05 25,01 31,16 2,13
CBM5
M A 101 22 Jun 05 / 30 Fev 07 22,16 15,56 2,00
CBM6
M A 29 26 Mar 06 / 30 Fev 07 36,51 60,88 6,57
CBF1
F A 96 23 Abr 04 / 10 Fev 07 56,15 65,19 7,22
CBF2
F A 61 24 Jul 04 / 21 Jun 05 35,88 21,24 1,90
CBF3
F A 32 25 Ago 04 / 03 Jan 06 62,15 105,25 9,69
CBF4
F A 128 04 Set 04 / 30 Fev 07 23,11 20,13 3,32
CBF5
F A 72 05 Mai 05 / 30 Fev 07 86,95 114,29 14,06
CBF6
F A 42 14 Jun 05 / 30 Fev 07 40,71 38,83 6,54
CBF7
F A 45 21 Jun 05 / 30 Fev 07 60,26 64,20 9,00
CBF8
F A 65 31 Jul 05 / 30 Fev 07 96,37 82,67 5,11
CBF9
F A 70 21 Out 05 / 30 Fev 07 58,85 53,17 2,90
CBF10
F SA 28 15 Jun 06 / 30 Fev 07 33,02 48,93 11,56
47
Tabela 1.5. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de fêmeas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre as estações reprodutiva e não reprodutiva nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações. N, número amostral.
Área Total
Fêmeas
Reprodutiva Não reprodutiva
2005 Média 48,070 67,198
Desvio 36,171 52,151
N 5 5
t pareado = 3,984
g.l. = 4
P = 0,016
2006 Média 41,707 53,869
Desvio 14,917 27,695
N 7 7
t pareado = 0,875
g.l. = 6
P = 0,415
48
Tabela 1.6. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de fêmeas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre as estações seca e úmida durante nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações. N, número amostral.
Área Total
Fêmeas
Seca Úmida
2005 Média 61,770 62,289
Desvio 44,127 44,479
N 7 7
t pareado = 0,036
g.l. = 6
P = 0,973
2006 Média 39,668 44,348
Desvio 16,976 29,449
N 8 8
t pareado = 0,164
g.l. = 7
P = 0,874
49
Tabela 1.7. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de fêmeas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre as estações seca e úmida, reprodutiva e não reprodutiva durante nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área nuclear contendo 50% das localizações. N, número amostral.
Área Nuclear Fêmeas
Reprodutiva Não
Reprodutiva
2005 média
9,256 10,624 desvio 8,588 9,976 N 5 5 t pareado = 1,696 g.l. = 4 P = 0,165 2006 média 6,370 9,469 desvio 3,241 5,965 N 7 7 t pareado = 0,863 g.l. = 6
P = 0,421
Fêmeas Seca Úmida
2005 média
14,761 12,573 desvio 12,355 12,403 N 7 7 t pareado = 0,729 g.l. = 6 P = 0,494 2006 média 4,981 8,055 desvio 2,926 5,428 N 8 8 t pareado = 1,704
g.l. = 7
50
Tabela 1.8. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre machos e fêmeas durante as estações seca e úmida nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações e para área nuclear contendo 50% das localizações. N, número amostral. Área Total Seca Úmida Fêmeas Machos Fêmeas Machos
2005 Média
61,77 20,78 58,06 32,32 Desvio 44,13 17,18 39,43 32,38 N 7 3 9 4 t = 1,789 t = 1,392 g.l. = 8 g.l. = 11 P = 0,111 P = 0,191 2006 Média 39,67 51,34 44,35 56,93 Desvio 16,98 38,25 29,45 34,62 N 8 3 8 3 t = 0,201 t = 0,476 g.l. = 9 g.l. = 9
P = 0,845
P = 0,645
Área Nuclear Seca Úmida
Fêmeas Machos Fêmeas Machos
2005 Média
14,76 2,45 11,03 5,73 Desvio 12,35 1,20 11,17 6,70 N 7 3 9 4 t = 2,273 T = 1,049 g.l. = 8 g.l. = 11 P = 0,053 P = 0,317 2006 Média 4,98 5,80 8,06 7,04 Desvio 2,93 5,67 5,43 4,85 N 8 3 8 3 t = 0,190 T = 0,227 g.l. = 9 g.l. = 9
P = 0,853
P = 0,825
51
Tabela 1.9. Comparação do tamanho de área de vida em km2 de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, entre machos e fêmeas durante as estações reprodutiva e não reprodutiva nos anos de 2005 e 2006. Estimativa realizada pelo método Kernel para área total contendo 95% das localizações e para área nuclear contendo 50% das localizações. N, número amostral.
Total Reprodutiva Não Reprodutiva Fêmeas Machos Fêmeas Machos
2005 Média
48,07 11,35 65,68 33,76 Desvio 36,17 7,82 47,74 31,85 N 5 3 9 4 t = 2,205 t = 1,524 g.l. = 6 g.l. = 11 P = 0,07 P = 0,156 2006 Média 41,71 50,21 49,79 57,26 Desvio 14,92 32,49 28,11 34,88 N 7 3 8 3 t = 0,019 t = 0,248 g.l. = 8 g.l. = 9
P = 0,985
P = 0,810
Nuclear Reprodutiva Não Reprodutiva Fêmeas Machos Fêmeas Machos 2005 Média 9,26 1,63 13,16 5,99 Desvio 8,59 0,62 16,10 6,86 N 5 3 9 4 t = 1,636 t = 1,018 g.l. = 6 g.l. = 11 P = 0,153 P = 0,331 2006 Média 6,37 4,74 8,68 10,47 Desvio 3,24 2,90 5,96 7,98 N 7 3 8 3 t = 0,832 t = 0,232 g.l. = 8 g.l. = 9
P = 0,429
P = 0,822
52
CAPÍTULO II
SOBREPOSIÇÃO DE ÁREAS DE VIDA E ORGANIZAÇÃO
ESPACIAL EM LOBOS-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus)
NA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA
CANASTRA, MINAS GERAIS, BRASIL
53
RESUMO
Diversos aspectos da organização espacial e do comportamento social em carnívoros
têm sido documentados através da forma como os indivíduos que partilham uma mesma
área utilizam o espaço físico em que vivem. O presente trabalho teve como objetivo
verificar a ecologia espacial e social do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região
do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. Dados referentes às
áreas de vida e à sobreposição entre as mesmas, obtidos com o uso da rádio telemetria,
foram incorporados às análises genéticas, provenientes de amostras sanguíneas, para
que fosse possível identificar eventuais diferenças entre áreas de vida e sobreposições
de indivíduos aparentados e não aparentados. Para todos os pares macho-macho, fêmea-
fêmea, e macho-fêmea foram calculadas as porcentagens de sobreposição e os valores
médios de sobreposição obtidos com o do cálculo da média geométrica. A sobreposição
média da área de vida total entre os pares amostrados foi de 0,12 e 0,35 para machos,
0,28 e 0,29 para fêmeas, 0,28 e 0,32 para casais considerados não reprodutivos durante
os anos de 2005 e 2006, respectivamente. Para os casais considerados reprodutivos a
sobreposição média foi de 0,62; 0,66 e 0,75 durante os anos de 2004, 2005 e 2006
respectivamente. A sobreposição entre áreas nucleares de machos foi inexistente,
enquanto que para fêmeas variou de 0,22 a 0,28. Também foi encontrado que a
sobreposição média é maior entre os lobos-guará que habitam exclusivamente áreas
dentro dos limites do Parque do que entre os animais externos ou de borda do parque.
Ao todo, trinta e um indivíduos foram genotipados, tendo sido identificados três núcleos
familiares distintos, além de indivíduos não relacionados entre si, indicando a possível
existência de um sistema de dispersão na espécie. Nossos resultados suportam a
hipótese de que a organização espacial do lobo-guará é baseada em pares monogâmicos
que possuem áreas de vida sobrepostas em diferentes graus, sendo a área nuclear
defendida como um território.
54
ABSTRACT
Several aspects of spatial organization and social behavior in carnivores have been
documented through the form as the individuals that share the same area use the
physical space they use. This study had as main objective verify the spatial and social
ecology of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus) in the region of the Serra da
Canastra National Park, Minas Gerais, Brazil. Data about the home ranges and the
degree of overlapping between them, using radio tracking data, were incorporated to the
genetic analysis, from blood samples, to verify possible differences between home
ranges and overlapping of related and not related animals. For all male-male, female-
female, and male-female pairs we calculated the percentage range overlap and a mean
overlap through the geometric mean. The mean of home range overlap between the
sampled pairs was 0.12 and 0.35 on males, 0.28 and 0.29 on females, 0.28 and 0.32 on
non-reproductive pairs during 2005 and 2006, respectively. For mating pairs the overlap
average was 0.62; 0.66 and 0.75 during 2004, 2005 and 2006, respectively. Any
overlapping between male core areas was registered, while on females the core area
overlapping ranged from 0.22 to 0.28. It was also found that mean range overlap may be
higher between maned wolves that inhabit areas exclusively inside of the Park than the
individuals that live outside and in the border of the Park. In total, thirty one individuals
were genotyped, being identified three distinct familiar cores, besides not related
individuals, indicating the possible existence of a dispersion system in the species. Our
results support the hypothesis that the spatial organization of the maned wolf is based
on monogamous pairs, which present home ranges overlapped in different degrees,
being the core area defended as a territory.
55
INTRODUÇÃO
A área de vida é caracterizada como o espaço físico utilizado por um indivíduo
em suas atividades diárias normais como forragear, acasalar e cuidar da prole (Burt
1943). Definir o tamanho, a forma, e o padrão de utilização dessas áreas é uma
importante ferramenta para entender a ecologia comportamental das populações de
espécies animais silvestres (Aebischer et al. 1993; Hemson et al. 2005; Katajisto and
Moilanen 2006; Kernohan 2001; Moorcroft 1999). Os animais não utilizam a área em
que vivem de forma homogênea, existem uma ou mais regiões em que eles gastam a
maior parte do tempo e concentram suas atividades; tais áreas de maior intensidade de
uso são denominadas áreas nucleares (Ewer 1998; Hayne 1949; Powell 2000). As áreas
nucleares podem conter em seu interior uma maior concentração de um ou mais
recursos importantes, sendo que estas podem constituir um território (Ewer 1998;
Powell 2000) quando o animal possui uso exclusivo ou prioritário e/ou quando mantidas
sob defesa de possíveis competidores (Powell 2000).
A territorialidade é uma característica importante do comportamento e afeta a
organização espacial das populações animais (Logan and Sweanor 2001; Mizutani and
Jewell 1998). Este conceito geralmente implica em domínio social sobre uma área
geográfica específica, espacialmente estável, com limites definidos (Brown and Orians
1970; Kaufmann 1983) e costuma descrever o comportamento de muitas espécies, entre
elas as de mamíferos do grupo Carnivora (Logan and Sweanor 2001). Existem diversos
mecanismos desenvolvidos para definir e manter os limites territoriais contra a entrada
de coespecíficos, e estes incluem marcações visuais e de cheiro (fezes e urina),
vocalizações, exibições e interações agonísticas (Begon et al. 1990; Brown and Orians
1970; Gese 2001; McLoughlin 2000; Wronski 2005). Entretanto, mesmo entre as
espécies que exibem um sistema territorialista é comum que as áreas de vida de dois ou
mais indivíduos ou unidades sociais venham a se sobrepor em determinadas épocas de
56
suas vidas (Brown and Orians 1970; Burt 1943). A ocorrência e o grau desta
sobreposição decorrem da combinação de efeitos demográficos, relações sociais, e da
abundância e distribuição de recursos, tais como alimento, abrigo e parceiros (Chaverri
et al. 2007; Ratnayeke 2002; Shier and Randall 2004).
O grau de territorialidade exibido pelos indivíduos pode ser medido pelo grau de
sobreposição entre suas áreas de vida (Powell 2000), sendo que a organização social de
uma população é fortemente influenciada pelas relações de parentesco existentes (Ralls
et al. 2001; Bridgett et al. 2008) entre os indivíduos da mesma. Em geral, indivíduos
aparentados evitam o acasalamento entre si, entretanto tendem a cooperar e a associar-
se mais do que indivíduos que não possuem nenhuma relação genética (Emlen 1997).
Nesse contexto, o uso de marcadores moleculares para investigar relações genealógicas
vem se tornando uma técnica comum em estudos populacionais, e constitui uma
ferramenta poderosa para descrever detalhes essenciais da influência das relações entre
parentes no comportamento espacial das espécies (Kays et al. 2000; Ralls et al. 2001).
O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus, Illiger 1811) é considerado um canídeo
solitário que exibe um sistema social monogâmico. Durante a época reprodutiva forma
casais que partilham a mesma área de vida (Dietz 1984; Rodrigues 2002), apresentando
um alto grau de socialidade durante o período de cuidado com a prole (Melo et al.
2007). Entretanto, mesmo os membros de um par apresentam-se solitários durante
grande parte de suas vidas (Dietz 1984) e é provável que mesmo existindo sobreposição
entre áreas de vida de lobos-guará, existam territórios exclusivos para cada indivíduo. É
comum mamíferos solitários apresentarem um sistema social de territorialidade
intrasexual, onde machos possuem grandes áreas de vida que abrangem as áreas de vida
de mais de uma fêmea (Sandell 1989). Além disso, tanto pares de machos quanto de
fêmeas já foram observados em encontros agonísticos, o que indica um comportamento
de disputa territorial intrasexual (Rodrigues 2002).
57
O presente estudo teve como objetivo estudar a organização espacial da
população de lobos-guará na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas
Gerais. Para tanto utilizamos comparações do grau de sobreposição das áreas de vida
entre indivíduos, comparando sexo, estação biológica (reprodutiva e não reprodutiva) e
relações de parentesco.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
O Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC), localizado no sudoeste do
Estado de Minas Gerais sob as coordenadas geográficas 20°18’16” S e 46°35’56” W,
possui uma área total de aproximadamente 200.000 ha. e é composto por duas serras: o
Chapadão da Canastra (área com situação fundiária regularizada) e o Chapadão da
Babilônia (área ainda em processo de desapropriação), com um vale entre elas, o Vale
dos Cândidos. O clima regional predominante na região é o Tropical Sazonal, com uma
estação seca (abril a setembro), com temperatura média de 16o C, e outra úmida
(outubro a março), com temperatura média de 22o C. A precipitação anual observada na
área varia entre 1.200 mm e 1.800 mm (MMA/IBAMA 2005).
O parque abrange uma variedade de formações vegetais típicas do Domínio
Fitogeográfico do Cerrado, com uma predominância de campos abertos (MMA/IBAMA
2005). Entre as principais fitofisionomias encontradas estão o campo limpo, o campo
sujo, e os campos rupestres (Silva et al. 2001). Em uma área relativamente pequena (não
atingindo 1% da área total do Parque), existem áreas de mata, geralmente associadas às
margens de cursos d’água e/ou nascentes em capões isolados. Também são encontradas
algumas manchas de cerrado sensu stricto (IBDF/FBCN 1981).
A região do entorno do PNSC abriga pequenas fazendas (propriedades de 100 ha
ou menos), onde a alteração de hábitat devido a plantios de pastagem é evidente, sendo
58
a atividade econômica primária na região a criação de gado leiteiro (IBDF/FBCN 1981;
IBAMA 2002). Atividades agrícolas são principalmente limitadas a plantações de
subsistência, com exceção de algumas áreas maiores onde há plantação de soja, café e
milho (IBAMA 2002). Embora cultivos e pastagens sejam as atividades humanas mais
significantes na região, ainda existem áreas de reflorestamento de Pinus sp., exploração
de minério, e mais recentemente o aumento da atividade turística de forma não
planejada, tanto dentro quanto ao redor da unidade (MMA/IBAMA 2005).
Nestas áreas vizinhas ao PNSC, onde estão localizadas um grande número de
propriedades rurais, o contato entre os moradores e a vida selvagem é intenso uma vez
que as espécies ocorrentes na região transitam entre os limites do parque e a zona de
amortecimento. Os carnívoros são importantes predadores nos ecossistemas terrestres, e
onde eles são forçados a coexistir com animais domésticos a predação pode se tornar
um conflito com as comunidades locais (Pitman et al. 2002). Um estudo realizado por
Corral (2007) na região do PNSC demonstra que mesmo existindo ocorrência de
ataques às criações domésticas, existe uma grande tolerância por parte dos proprietários
frente a estes eventos. A predação é assumida como um fato normal, conseqüência da
ocupação humana das áreas em que sempre existiram animais silvestres (Corral 2007).
Entretanto, existem registros recentes de morte de lobos-guará em decorrência de
retaliação à predação (obs.pessoal).
Capturas e Monitoramento
Os lobos-guará foram capturados utilizando armadilhas do tipo Box (desarme
independente), iscadas com frango cozido e armadas dentro e fora do PNSC. Todos os
lobos capturados foram imobilizados quimicamente com uma injeção intramuscular de
tiletamina e zolazepan (Zoletil®-Virbac do Brasil e Telazol®-Fort Dodge), em seguida
pesados, sexados, marcados com um brinco identificador numerado e monitorados
clinicamente por um veterinário. A classe etária foi estimada a partir de uma
59
combinação de fatores como desgaste e coloração dos dentes, tamanho e peso do
animal, e coloração dos pêlos, sendo dividida em três categorias: adultos, subadultos e
filhotes. Em seguida foram coletados dados biométricos e amostras biológicas de todos
os indivíduos. As amostras de sangue, destinadas às análises genéticas, foram coletadas
separadamente em frascos do tipo vacuntainer contendo EDTA. Os lobos capturados
também foram equipados com colares rádio-transmissores do tipo VHF (Very High
Frequency) de três modelos diferentes: MOD-600 (Telonics, Inc.), M2510B (Advanced
Telemetry Systems, Inc.) e HLPM 3140A (Wildlife Materials, Inc.). Após os animais se
recuperarem completamente da anestesia, os mesmos foram liberados no mesmo local
onde foram capturados.
O monitoramento foi realizado diariamente através de triangulações em solo sem
bases fixas, geralmente percorrendo estradas internas e externas ao PNSC, alternando-se
os horários (manhã, tarde e noite) e as localidades, o que resultou, muitas vezes, em
mais de uma localização por semana para cada animal. A cada tomada de ponto foram
feitas anotações de data, hora, coordenada geográfica, local e direção do sinal (azimuth).
Dados como condição do tempo (limpo, parcialmente nublado, nublado, chuva),
intensidade do sinal (ótimo, muito bom, bom, regular, fraco e muito fraco), e se o
animal estava ativo ou inativo (quando este dispositivo estava presente no colar do
animal monitorado) também foram anotados e auxiliaram no processo de obtenção das
localizações. Cada triangulação foi obtida a partir de dois ou mais ângulos medidos a
partir de diferentes pontos. Em diversas ocasiões foi possível visualizar o animal e obter
dados exatos de sua localização.
Estimativa de Áreas de vida e Área Nuclear
As localizações dos indivíduos foram obtidas através do Programa LOAS
(Location Of A Signal /Ecological Software Solutions, Inc.) a partir dos dados das
capturas e recapturas, visualizações diretas, e do monitoramento por radiotelemetria.
60
Utilizando o Programa Arc View 3.2 e uma de suas extensões (Animal Movement), as
localizações dos animais monitorados foram plotadas em um mapa do PNSC e as áreas
de vida calculadas pelo método do estimador de densidade Kernel Adaptativo (95%)
com a função Least-Square Cross-Validation (LSCV) para determinar o melhor valor
do fator de suavização H (smoothing factor). O estimador Kernel é um método não
paramétrico que descreve contornos de probabilidade de densidade e estima as áreas de
vida com base na porcentagem desejada da distribuição de utilização (Worton 1989;
Seaman and Powell 1996; Powell 2000; Kernohan et al. 2001). Com este método é
possível identificar as áreas com maior intensidade de uso, excluindo aquelas raramente
visitadas (Blundell 2001; Powell 2000; Seaman and Powell 1996).
As áreas de vida foram calculadas para todos os animais capturados durante o
estudo que tivessem no mínimo 25 localizações (Koehler and Pierce 2003; Mitchel and
Powell 2007; Moyer et al. 2007; Seaman and Powell 1996), sendo considerada a área de
vida total de um indivíduo de lobo-guará a estimativa contendo 95% das localizações, e
a área nuclear dentro da área de vida da espécie aquela contendo 50% das localizações.
Análise Genética
Para identificar o grau de parentesco entre os lobos-guará na região do PNSC,
foi analisado o DNA genômico a partir de amostras de sangue (concentrado de
leucócitos conservada em uma solução de Easy Blood na proporção 1:1) usando o
protocolo de extração por fenol/clorofórmio (Sambrook and Russel 2001). Através de
reações de PCR, cada indivíduo foi genotipado para um total de 10 locos de
microssatélite, descritos para o cão doméstico (2001, 2004, 2010, 2018, 2054, 2088,
2132, 2137, 2140 e 2158) (Francisco et al. 1996), com eficiência de amplificação e
variabilidade previamente verificadas para o lobo-guará (da Fontoura-Rodrigues no
prelo). Os produtos da amplificação dos locos tiveram seus tamanhos determinados
através de um ensaio fluorescente no seqüenciador automático MEGABACE 1000 (GE
61
Healthcare), utilizando-se um marcador interno de peso molecular (ET Rox 400 – GE
Healthcare) e o programa GENETIC PROFILER 1.5 (GE Healthcare).
Uma planilha contendo os genótipos de cada indivíduo para cada loco foi
analisada pelo programa KINSHIP (Goodnight and Queller 1999), sendo que os testes
de parentesco (cálculos de parentesco e de verossimilhança) consideraram os seguintes
pares: 1) pais e filhotes; 2) irmãos; e 3) meio-irmãos/tios e sobrinhos. Todos os
indivíduos foram comparados, par a par, a fim de identificar o grau de parentesco. Os
resultados foram então sobrepostos aos dados obtidos a partir das observações de campo
e da radiotelemetria. Todas as análises genéticas foram realizadas no Laboratório de
Biologia Genômica e Molecular, do Departamento de Biodiversidade e Ecologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Análises de Sobreposição
Para investigar a organização espacial e o sistema territorial dos lobos-guará na
região do PNSC, foram analisadas as sobreposições entre as áreas de vida e áreas
nucleares dos animais usando o programa Arc View 3.2 e uma de suas ferramentas
(Geoprocessing Wizard). Com este programa foi possível obter o tamanho das regiões
de sobreposição usando os contornos gerados pelo Kernel com 95% das localizações
para áreas de vida total, e com 50% das localizações para as áreas nucleares, durante a
estação reprodutiva (entre abril e agosto) e a estação não reprodutiva (entre setembro e
março).
Em um primeiro momento, para uma análise mais geral, foi calculada a
porcentagem de sobreposição total dos pares, que é a somatória da sobreposição entre
determinado par, por exemplo, entre todas as fêmeas, dividida pela somatória total das
áreas de vida ocupadas pelas mesmas. Este cálculo foi realizado para a área de vida total
e nuclear considerando os diferentes anos (2004, 2005 e 2006), e para as estações
62
reprodutiva e não reprodutiva para os pares de macho-macho, fêmea-fêmea e macho-
fêmea.
Em seguida foi calculada a sobreposição média entre as áreas de vida de dois
lobos usando a média geométrica, conforme sugerido por Minta (1992) e expressa pela
fórmula:
S = √(área AB / área A) * (área AB / área B)
onde AB corresponde à região de intersecção entre as áreas de vida do indivíduo A e do
indivíduo B, e área A e área B correspondem ao tamanho da área de vida dos indivíduos
A e B respectivamente. A média geométrica forneceu um único valor, correspondente à
proporção de área compartilhada entre dois indivíduos, e esta foi calculada
considerando duplas de macho-macho, fêmea-fêmea, macho-fêmea não reprodutivos, e
macho-fêmea reprodutivos. A sobreposição média é expressa por valores que variam de
0 a 1, sendo que 1 indica 100% de sobreposição entre áreas de vida. Os pares de macho-
fêmea considerados reprodutivos foram identificados através das análises genéticas.
Para comparar a sobreposição das áreas de vida dos lobos-guará entre os pares (macho-
macho, fêmea-fêmea e macho-fêmea), e entre as estações reprodutiva e não reprodutiva,
foram realizadas análises não paramétricas, uma vez que os dados não apresentaram
distribuição normal. Nestas análises foram considerados somente os animais adultos.
Nas comparações entre os pares foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis e para as análises
comparando as estações reprodutiva e não reprodutiva foi utilizado o teste pareado de
Wilcoxon (Zar 1999).
Para comparar o grau de sobreposição das áreas de vida dos lobos-guará de
acordo com o sexo e a localização, foram consideradas as seguintes categorias: lobos
com áreas de vida exclusivamente dentro do PNSC (D), lobos com áreas de vida
63
exclusivamente fora do PNSC (F) e lobos com áreas de vida dentro e fora do PNSC
(DF).
Também foram calculadas as sobreposições entre as áreas de vida conforme o
grau de parentesco, o qual foi obtido por análises de paternidade, a fim de verificar o
quanto da área de vida é compartilhado entre indivíduos aparentados. Segundo Wronski
(2005) e Powell (2000), consideramos que as áreas nucleares são de uso exclusivo, e
uma baixa sobreposição ou a ausência da mesma como um indicativo de
comportamento de defesa territorial. Para as comparações do grau de sobreposição com
relação à localização e ao parentesco, foram realizados os testes de Kruskal-Wallis para
amostras com número amostral maior que dois, e Mann-Whitney para amostras com
número amostral igual a dois. Todas as análises estatísticas foram realizadas no
programa SYSTAT 10.2 (Wilkinson 2002).
RESULTADOS
Capturas, Monitoramento e Estimativas de Área de Vida
Entre janeiro de 2004 e fevereiro de 2007 foram capturados 33 lobos-guará,
sendo que 31 receberam um colar rádio transmissor (14 machos e 17 fêmeas). Todos os
indivíduos tiveram amostras de sangue coletadas. Segundo as categorias de classe etária
previamente estabelecida, foram capturados três filhotes (idade entre zero e 12 meses),
seis sub-adultos (idade entre 12 e 24 meses) e 22 adultos (acima de 24 meses). Através
do método Kernel Adaptativo, foram calculadas as áreas de vida de 16 indivíduos (13
adultos e três subadultos) uma vez que estes atingiram o critério mínimo de 25
localizações. O número de localizações obtidas por lobo foi em média 70,56 (± 40,84),
variando de 4 a 182, coletadas por um período médio de 18 meses (± 8). O
monitoramento diário dos animais resultou em 1.362 localizações.
64
O tamanho médio estimado das áreas de vida dos lobos-guará adultos na região
do PNSC foi de 56,26 ± 32,73 km2 (n = 13), sendo que as áreas variaram de 15,56 a
114,29 km2. A área de vida média das fêmeas foi de 62,77 ± 33,67 km2 (n = 9) e a dos
machos de 41,62 ± 29,11 km2 (n = 4), não havendo diferença significativa no tamanho
de áreas de vida entre os sexos (t = 1,164; g.l. = 11; p = 0,369).
Análise Genética
Todos os 31 indivíduos de lobo-guará capturados foram genotipados e testados
em relação ao grau de parentesco que apresentam dentro da população; entretanto,
somente 16 indivíduos foram utilizados para o cruzamento das informações genéticas e
de área de vida. Os testes realizados nesses 16 indivíduos revelaram um alto índice de
parentesco entre indivíduos, sendo que três unidades familiares distintas foram
identificadas (Figura 2.1).
A primeira unidade familiar (família I) é constituída de cinco membros: os
machos CBM2 (adulto) e CBM4 (subadulto), e as fêmeas CBF1 (adulta), CBF6 (adulta)
e CBF10 (subadulta), sendo que o casal reprodutor (CBM2 e CBF1) não é aparentado
entre si. Os integrantes desta família concentram suas atividades exclusivamente em
áreas dentro dos limites do PNSC.
A segunda unidade familiar identificada (família II) é constituída de três
membros: o macho CBM5 (adulto) e as fêmeas CBF4 (adulta) e CBF9 (adulta), sendo
que o casal reprodutor (CBM5 e CBF4) não é aparentado entre si. Os integrantes desta
família utilizam áreas dentro do PNSC e também áreas do entorno da Unidade.
A terceira unidade familiar (família III) é constituída de três membros: os
machos CBM3 (adulto) e CBM1 (subadulto), e a fêmea CBF2 (adulta), sendo que o
casal reprodutor (CBM3 e CBF2) não possui nenhuma relação de parentesco entre si.
Os integrantes desta família utilizam áreas dentro do PNSC e também áreas fora da
reserva.
65
Outros cinco indivíduos amostrados (CBM6, CBF5, CBF7 e CBF8) parecem
não se relacionar diretamente com os indivíduos pertencentes às três famílias descritas
acima. Os indivíduos CBM6, CBF7 e CBF8 não possuem qualquer relação de
parentesco com os indivíduos amostrados. Já os indivíduos CBF5 e CBF3 possuem uma
relação próxima de parentesco podendo ser mãe e filha, entretanto o pai ainda não foi
amostrado. Um esquema demonstrando as ligações de parentesco pode ser observado na
figura 2.2.
Análises de Sobreposição
Utilizando os cálculos de porcentagem foi possível observar que a sobreposição
de área de vida total foi maior entre casais (33,53 - 57,73%, n = 3 anos) do que entre
indivíduos do mesmo sexo. Os maiores valores de sobreposição de área total entre
casais foram observados em 2006 considerando o ano todo (57,73%), ou apenas a
estação reprodutiva (54,43%) ou não reprodutiva (56,26%). Para indivíduos do mesmo
sexo, independente do ano, da estação e da área considerada (total ou nuclear), a
porcentagem de sobreposição entre as áreas de vida dos machos nunca ultrapassou 10%
(variando entre 2,90 – 7,53%), sendo que para a área nuclear a sobreposição sempre foi
menor que 3% (variando entre 0,00 – 2,82%) (Figura 2.3). A porcentagem de
sobreposição entre as áreas de vida das fêmeas foi mais alta, variando entre 16,90 –
69,91% para área total, e 0,63 – 19,45% para área nuclear. A porcentagem de
sobreposição de área nuclear foi menor que a de área total para todos os pares e em
todos os anos. Essa tendência também se repetiu quando os dados foram analisados
separadamente por estação (reprodutiva e não reprodutiva). A sobreposição de área de
vida total foi maior na estação não reprodutiva apenas para fêmeas e casais no ano de
2005. Para todos os pares nos outros anos e para machos em 2005 a sobreposição de
área de vida total não variou entre a estação reprodutiva e não reprodutiva (tabelas 2.1. e
2.2).
66
Ao considerarmos as proporções de área compartilhada entre os indivíduos, não
houve diferença significativa entre os pares na sobreposição de área de vida total em
2004 (Kruskal-Wallis = 0,675; p = 0,714; n = 2 FF, 5 MF e 1 MM), 2005 (Kruskal-
Wallis = 0,508; p = 0,776, n = 24 FF, 18 MF e 2 MM) e 2006 (Kruskal-Wallis = 2,188;
p = 0,335, n = 13 FF, 15 MF e 2 MM). Também não foi encontrada diferença
significativa entre os pares na sobreposição de área nuclear em 2004 (Kruskal-Wallis =
3,2; p = 0,202, 1 FF, 3 MF, 1 MM), 2005 (Mann-Whitney U = 33, p = 0,210, n = 11 FF
e 9 MF) e 2006 (Kruskal-Wallis = 3,571; p = 0,168, n = 6 FF, 8 MF e 1 MM).
Considerando os anos de 2005 e 2006, para os contornos contendo 95% das
localizações, as médias de sobreposição foram 0,35 (+ 0,24) e 0,12 (+ 0,10) para
machos (n = 2), 0,28 (+ 0,18) e 0,29 (+ 0,20) para fêmeas (n = 24 e 13); e 0,28 (+ 0,20),
e 0,32 (+ 0,24) para casais não reprodutivos (n = 15 e 13), respectivamente. Para os
contornos contendo 50% das localizações, as médias de sobreposição foram 0,22 (+
0,16) e 0,28 (+ 0,23) para fêmeas (n = 11 e 6), e 0,24 (+ 0,20) e 0,28 (+ 0,10) para
casais não pares (n = 6), para 2005 e 2006 respectivamente. Não houve sobreposição
entre machos para os contornos contendo 50% das localizações (Tabela 2.3). Foram
identificados três pares considerados reprodutivos e para estes a sobreposição média foi
de 0,62 (+ 0,00), 0,66 (+ 0,05) e 0,75 (+ 0,04) para os contornos contendo 95% das
localizações e de 0,35 (+ 0,28), 0,50 (+ 0,18) e 0,54 (+ 0,14) para os contornos contendo
50% das localizações em 2004 (n = 2), 2005 (n = 3) e 2006 (n = 2), respectivamente.
Para as comparações realizadas entre estação reprodutiva e não reprodutiva, não
foi encontrada diferença significativa na sobreposição de áreas de vida total das fêmeas
durante os anos de 2005 (Wilcoxon; z = 296; p = 0,767; n = 9) e 2006 (Wilcoxon; z =
0,533; p = 0,594; n = 11), e nem para a sobreposição de áreas nucleares em 2006
(Wilcoxon; z = -0,674; p = 0,50). Entre os casais, a sobreposição de área de vida total
foi maior fora da estação reprodutiva em 2005 (Wilcoxon; z = 2,045; p = 0,041; n = 12),
67
não sendo encontrada diferença significativa em 2006 (Wilcoxon; z = 0,170; p = 0,865;
n = 15). Para a sobreposição de áreas nucleares, também não houve diferença
significativa entre as estações em 2006 para casais (Wilcoxon; z = 1,245; p = 0,213).
Para as demais comparações não houve dados suficientes para as análises.
Houve diferença significativa na sobreposição de área de vida total entre os
lobos de acordo com a localização do par considerado: ambos dentro (DD), ambos
dentro e fora (DFDF), um dentro e fora e outro dentro (DDF) ou fora (FDF) tanto em
2005 (Kruskal-Wallis = 15,258; p = 0,002 para fêmeas e Kruskal-Wallis = 9,488; p =
0,05 para casais) como em 2006 (Kruskal-Wallis = 8,044; p = 0,045 para fêmeas e
Kruskal-Wallis = 11,218; p = 0,024 para casais). Em 2005, os lobos que usaram
exclusivamente a área do parque tiveram em média maior sobreposição nas áreas de
vida (acima de 0,50) que os demais (abaixo de 0,35), e os pares DDF menor que os
pares DFDF (Figura 2.4). Em 2006, os lobos que utilizaram exclusivamente a área do
parque tiveram em média maior sobreposição na área de vida (acima de 0,50) que os
pares DDF e FDF (abaixo de 0,30), mas não diferiram dos pares DFDF, os quais
tiveram maior sobreposição que os pares DDF (Figura 2.5; Tabela 2.4). Para o ano de
2004 o número amostral foi insuficiente.
A sobreposição na área total durante o ano de 2004, entre os lobos com relação
de parentesco, variou de 0,33 a 0,71 (n = 4), e entre lobos sem relação de parentesco
entre 0,11 e 0,62 (n = 10), sendo essa diferença marginalmente significativa (Mann-
Whitney; U = 7; p = 0,066); a sobreposição de área nuclear não diferiu (Mann-Whitney;
U = 6; p = 0,655). Em 2005, a sobreposição de área total entre os lobos com relação de
parentesco variou de 0,23 a 0,64 (n = 8) e entre lobos sem relação de parentesco entre
0,02 e 0,71 (n = 45), sendo essa diferença significativa (Mann-Whitney; U = 85; p =
0,018); a sobreposição de área nuclear não diferiu (Mann-Whitney; U = 35,5; p =
0,479). Em 2006, a sobreposição de área total entre os lobos com relação de parentesco
68
variou de 0,23 a 0,69 (n = 7) e entre lobos sem relação de parentesco entre 0,01 e 0,78
(n = 29), não havendo diferença significativa (Mann-Whitney; U = 62; p = 0,114); a
sobreposição de área nuclear também não diferiu (Mann-Whitney; U = 31,5; p = 0,374).
Quando a análise foi feita considerando separadamente os pares (FF, MF e MM), em
nenhum caso houve diferença significativa quando consideradas as relações de
parentesco (Tabela 2.5).
DISCUSSÃO
As interações sociais em mamíferos são fortemente influenciadas pelo uso do
espaço (Clutton-Brock 1989), e importantes aspectos do comportamento social desses
animais são demonstrados através da maneira como dois ou mais indivíduos que
partilham uma mesma área organizam suas atividades diárias em relação um ao outro
(Kernohan 2001; Moorcroft 1999; White and Harris 1994).
Os resultados de sobreposição em geral indicam que a área de vida do lobo-
guará não é defendida completamente como um território, havendo, em diferentes graus,
sobreposição tanto entre indivíduos do mesmo sexo quanto entre casais. Os maiores
valores de sobreposição encontrados foram de casais, sendo que em alguns casos existe
a sobreposição de área de vida de mais de uma fêmea com o mesmo macho. A
sobreposição ocorre em maior grau entre a área total do que entre a área nuclear, e este
resultado corrobora a hipótese apresentada por Rodrigues (2002), que observou um
elevado grau de sobreposição entre áreas de vida, mas não em áreas de uso mais
intensivo. Para machos, esse resultado foi ainda mais expressivo, sendo que a
sobreposição entre áreas nucleares é geralmente periférica e em alguns casos ausente.
Os indivíduos passam a maior parte do seu tempo nas áreas nucleares, e estas
provavelmente contém recursos essenciais à sobrevivência. Segundo Amboni (2007),
em um estudo realizado no PNSC, os lobos-guará concentram suas atividades
69
preferencialmente em regiões onde a disponibilidade alimentar é mais alta. É provável
que, mesmo havendo sobreposição de áreas de vida entre os indivíduos, existam
territórios mais exclusivos para cada animal, delimitados pelas áreas nucleares.
A exclusividade de uma área nuclear pode ser benéfica para o indivíduo, uma
vez que neste local ele mantém sob defesa uma gama de recursos primordiais, como
alimento, abrigo e tocas (para abrigar os filhotes na época reprodutiva). Em canídeos,
estas áreas são mantidas sob defesa de possíveis competidores através de marcações
indiretas como eliminação de urina, fezes e secreções glandulares (MacDonald 1980), e
encontros agonísticos (MacDonald 1980; White and Harris 1994). Tanto pares de
machos quanto de fêmeas de lobo-guará já foram observados em confronto físico direto,
o que indica um comportamento de disputa territorial (Rodrigues 2002). O padrão de
marcação territorial em carnívoros pode variar de acordo com a organização social, o
uso do habitat, e a territorialidade (Sillero-Zubiri and MacDonald 1997). No PNSC é
comum encontrar fezes de lobo-guará em locais conspícuos (meio de estradas, e sobre
cupinzeiros e pedras) e em latrinas, áreas onde o animal defeca constantemente
(observação pessoal), provavelmente com finalidade de marcação territorial. Em
machos, o comportamento de defesa territorial provavelmente deve ser mais
pronunciado uma vez que a sobreposição tanto entre áreas de vida quanto entre áreas
nucleares é mínima. Membros de muitas espécies de carnívoros exibem um sistema
territorial intrasexual e mantém territórios sob defesa somente contra membros do
mesmo sexo (Powell 1994).
Quando comparadas as médias de sobreposição de áreas de vida de lobos-guará
no PNSC (este estudo) com os resultados apresentados por Jácomo et al. (no prelo), no
Parque Nacional das Emas (PNE), é possível verificar que em geral os valores obtidos
no presente estudo são maiores, exceto para áreas nucleares de machos. Segundo
Jácomo et al. (no prelo), a tolerância entre animais de ambos os sexos pode estar
70
relacionada ou à alta disponibilidade de recursos na área ou à distribuição heterogênea
dos mesmos. Em ambos os casos, os resultados apresentados no PNE indicam que
existe um uso diferencial dos recursos entre machos e fêmeas, assim como alta
competição intrasexual. A sobreposição entre os indivíduos do mesmo sexo e entre
casais existe e ocorre em grau elevado em ambas as áreas estudadas. Um menor grau de
sobreposição entre as áreas nucleares também é comum a ambos os trabalhos indicando
que os lobos-guará em geral defendem mais as áreas de uso intensivo do que as áreas de
vida como um todo. Entretanto, a alta sobreposição entre áreas de vida de fêmeas e
casais sugere que a estrutura social ou algum outro fator, que não a disponibilidade
alimentar, esteja moldando a organização espacial das áreas de vida dos lobos-guará no
PNSC.
Para muitas espécies de carnívoros solitários a organização espacial das fêmeas é
afetada pela distribuição dos recursos enquanto a dos machos é mais fortemente
influenciada pela distribuição das fêmeas (MacDonald 1983; Mizutani and Jewell 1998;
Sandell 1989). Isto pode ser explicado pelo fato do sucesso reprodutivo das fêmeas estar
vinculado ao cuidado com a prole e o dos machos à habilidade em encontrar fêmeas e às
interações sociais (Clutton-Brock 1989), sendo que a distribuição das fêmeas e a defesa
de territórios podem ser importantes fatores na organização espacial de machos.
Em geral, lobos-guará apresentam um maior grau de sobreposição entre áreas de
vida dentro dos limites do PNSC do que fora da área protegida, sendo essa diferença
significativa. É esperado que carnívoros solitários exibam um padrão de agrupamento
quando a heterogeneidade e disponibilidade dos recursos são altas e a competição pelos
mesmos é baixa (MacDonald 1983; Woodroffe and MacDonald 1993), situação
aparentemente encontrada dentro do PNSC. Fora dos limites da área protegida, onde as
atividades antrópicas vêem constantemente alterando negativamente a qualidade do
habitat, provavelmente os recursos encontram-se disponíveis em menores quantidades e
71
distribuídos ao longo de áreas remanescentes de vegetação natural. Em ambientes no
qual a qualidade dos recursos esta disponível em um nível moderado, é energeticamente
compensatório para os indivíduos defenderem recursos mais limitados (MacLoughlin
2000), o que diminuiria a sobreposição entre áreas de vida. Melo et al. (2007) também
sugere que o grau de tolerância entre os pares é mais alto quando o ambiente oferece
condições mais favoráveis. No entanto, a maior sobreposição entre os indivíduos que
habitam o interior do Parque pode também estar associada a estes apresentarem áreas de
vida significativamente maiores do que os indivíduos que vivem fora do PNSC,
aumentando assim as chances de dois ou mais indivíduos partilharem uma mesma área.
A organização social descrita neste estudo por meio de análises genéticas,
sobreposição de área de vida e observações de comportamento corrobora a manutenção
de um sistema monogâmico em lobos-guará. Existe um alto índice de relacionamento
genético entre os indivíduos dentro das unidades familiares na região do PNSC;
entretanto, os lobos-guará aparentemente evitam o acasalamento entre parentes
próximos e demonstram formar pares estáveis, uma vez que não foram identificados
filhotes de um mesmo macho e mais de uma fêmea ou vice-versa.
Resultados semelhantes já foram descritos em lobos cinzentos (Canis lupus)
(Smith et al. 1997), cachorros selvagens africanos (Lycaon pictus) (Girman et al. 1997)
e lobos etíopes (Canis simensis) (Sillero-Zuribi et al. 1996). Em mamíferos, a
monogamia está entre uma das formas de organização social mais complexa, pois
envolve um grau considerável de tolerância entre pares coespecíficos por um longo
período de tempo normalmente fora do contexto do acasalamento (Kleiman 1977), e
implica na existência do cuidado parental por parte dos machos (Mohelman 1989).
Lobos-guará são considerados animais solitários; entretanto, mamíferos
solitários não devem ser considerados animais ‘associais’ (Leyhausen 1965; Linn 1984).
Os principais fatores que promovem o comportamento solitário provavelmente são as
72
características da presa consumida e o modo como obtê-la. Predadores que ingerem
presas de tamanho muito pequeno geralmente a subjugam sozinhos e as consomem
rapidamente (Mizutani and Jewell 1998). Da mesma forma frutos (freqüentes na dieta
do lobo-guará) também podem ser coletados solitariamente. Nossos resultados suportam
a hipótese de Dietz (1984), que sugere que mesmo havendo sobreposição entre áreas de
vida de casais, estes passam a maior parte de suas vidas solitariamente. Entretanto,
assim como os resultados obtidos por Melo et al. (2007), nossos dados sugerem que
casais de lobos-guará apresentam uma relação mais estreita durante o período de
acasalamento e de cuidado dos filhotes. Neste caso, para os machos a monogamia
resulta em forte vantagem seletiva e seu sucesso reprodutivo pode ser medido através da
sobrevivência da prole até a idade reprodutiva.
Quando consideradas as relações de parentesco nas análises de sobreposição de
área total, encontramos que esta em geral é maior entre indivíduos geneticamente
relacionados. Espécies solitárias podem apresentar um padrão de dispersão baseado em
um comportamento de “agrupamento familiar” (Clarke 1978; Jones 1984), onde
geralmente os jovens permanecem dentro dos limites ou nas proximidades das áreas de
vida dos pais. Em lobos-guará, os jovens permanecem na área de vida da mãe até cerca
de um ano, quando começam a dispersar (Rodden et al. 2004; Rodrigues 2002).
Entretanto, a existência de indivíduos que não possuem nenhum grau de relacionamento
genético direto com as famílias da população indica que há um nível de dispersão e
recrutamento de lobos-guará na região do PNSC. Os três indivíduos (CBM6, CBF7 e
CBF8) que não apresentam nenhuma relação de parentesco com os lobos-guará até
então amostrados, são lobos adultos e suas áreas de vida foram monitoradas por 11, 19 e
20 meses, respectivamente, o que demonstra que estes são indivíduos residentes e
provavelmente são provenientes de áreas do entorno do PNSC.
73
Segundo Dobson (1982), a dispersão dos jovens parece estar relacionada ao
sistema de acasalamento, e em espécies monogâmicas a competição por pares
reprodutivos e por recursos alimentares geralmente é igual entre machos e fêmeas,
sendo que juvenis de ambos os sexos dispersam em iguais proporções (Dobson 1982).
Dos 31 lobos-guará capturados e monitorados durante este estudo, oito
indivíduos, todos subadultos (cinco machos e três fêmeas), sumiram da área de
monitoramento, o que pode vir a caracterizar um comportamento de dispersão. A
possível dispersão dos jovens e o estabelecimento de pares reprodutivos não
relacionados geneticamente, sugerem, em última análise, que ainda existe uma
estruturação genética na população de lobos-guará na região do PNSC, o que
normalmente mantém o intercâmbio genético entre as populações. Neste sentido, é de
grande importância a conservação da conectividade entre áreas naturais ou ao menos de
habitat favorável, a fim de garantir a troca de indivíduos e de informação genética entre
as populações.
O presente estudo contribui para a conservação do lobo-guará na medida em que
apresenta a organização espacial destes animais na área de estudo. Lobos-guará que
habitam a região de entorno do PNSC aparentemente possuem habilidade de se adaptar
ao ambiente modificado pela ação humana. Este tipo de comportamento certamente
ajuda na capacidade de dispersão da espécie. Entretanto, verificou-se que esses
indivíduos possuem áreas de vida menores e que apresentam pouca sobreposição entre
as mesmas. Não dispomos de dados quantitativos sobre o uso de habitat, porém, os
resultados obtidos, a partir da maior concentração das localizações, indicam que os
lobos-guará que vivem fora dos limites da área protegida concentram suas atividades em
áreas de vegetação natural, sugerindo a importância da conservação destas áreas e como
a estrutura da paisagem pode influenciar na organização espacial desta espécie.
74
A distribuição, abundância e diversidade de espécies animais em uma área são
afetadas pelas características estruturais da paisagem (Fritz et al. 2003; Gehring and
Swihart 2004). Populações restritas a áreas pequenas e isoladas estão mais sujeitas à
extinção devido a eventos estocásticos, demográficos ou ambientais, e depressão
genética por endocruzamento (Lande 1993; Wayne 1992). Verifica-se ainda a
necessidade de programas de monitoramento de lobos-guará a longo prazo, para se
entender melhor seus padrões de dispersão e assim estabelecer estratégias de
conservação mais eficientes e que atendam às necessidades ecológicas da espécie.
LITERATURA CITADA
AEBISCHER, N. J., P. A. ROBERTSON, AND R. E. KENWARD. 1993. Compositional analysis
of habitat use from animal radio-tracking data. Ecology74: 1313–1325.
AMBONI, M. P. M. 2007. Dieta, disponibilidade alimentar e padrão de movimentação do
lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, no Parque Nacional da Serra da Canastra.
Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
BEGON, M., J. L. HARPER AND C. R. TOWNSEND. 1990. Ecology: Individuals,
Populations, Communities. Blackwell Scientific Publications, London.
BLUNDELL, G. M., J. A. K. MAIER, AND E. M. DEBEVEC. 2001. Linear Home Ranges:
Effects of Smoothing, Sample Size, and Autocorrelation on Kernel Estimates.
Ecological Monographs 71:469-489.
BRIDGETT, M. V., D. R. STAHLER, D. W. SMITH, D. A. EARL, J. P. POLLINGER, AND R. K.
WAYNE. 2008. The genealogy and genetic viability of reintroduced Yellowstone
gray wolves. Molecular Ecology 17:252–274.
BROWN J. L. AND G. H. ORIANS. 1970. Spacing Patterns in Mobile Animals. Annual
Review of Ecology and Systematics 1: 239-262.
75
BURT, W. H. 1943. Territoriality and home range concepts as applied to mammals.
Journal of Mammalogy 24:346-352.
CORRAL, L. 2007. Avaliação da predação de criações domésticas por lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG,
Brasil. Tese de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
CHAVERRI, G., M. GAMBA-RIOS, AND T. H. KUNZANIMAL. 2007. Range overlap and
association patterns in the tent-making bat Artibeus watsoni Animal Behaviour
73:157-164.
CLARKE, A. B. 1978. Sex ratio and local resource competition in a prosimian primate.
Science 201:163–165.
CLUTTON-BROCK, T. H. 1989. Mammalian mating systems. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B.
236:339–372.
DA FONTOURA-RODRIGUES, M. L., C. A. V. LIMA-ROSA, L. TCHAICKA, F. P. VALDEZ, F.
H. G. RODRIGUES, R. C. DE PAULA, M. P. GOUGH, W. E. JONHNSON, S. L. BONATTO
AND E. EIZIRIK. (Early Edition) Cross-amplification and characterization of 13
tetranucleotide micro satellites in multiple species of Neotropical canids. Molecular
Ecology Resources.
DIETZ, J. M. 1984. Ecology and social organization of the Maned wolf (Chrysocyon
brachyurus). Smithsonian Contributions 392:1-51.
DOBSON, F. S. 1982. Competition for mates and predominant juvenile male dispersal in
mammals. Animal Behaviour 30:1183-1192.
EMLEN, S. T. 1997. Predicting family dynamics in social vertebrates in Behavioral
ecology: an evolutionary approach (J. R. Krebs and N. B. Davies, eds.). Blackwell
Science, Inc., Oxford.
EWER, R. F. 1998. The carnivores. Cornell University Press, New York.
76
FRANCISCO L. V., A. A. LANGSTON, C. S. MELLERSH, C. L. NEAL, AND E. A.
OSTRANDER. 1996. A class of highly polymorphic tetranucleotide repeats for canine
genetic mapping. Mammalian Genome 7:359-362.
FRITZ, H. S. S., P.C. RENAUD., S. MUTAKE, C. COID, AND F. MONICAT. 2003. The effects
of agricultural fields and human settlements on the use of rivers by wildlife in the
mid-Zambezi valley, Zimbabwe. Landscape Ecology 18: 293–302.
GEHRING, T. M., AND R. K. SWIHART. 2004. Home range and movements of long-tailed
weasels in a landscape fragmented by agriculture. Journal of Mammalogy 85:79–86.
GESE, E. 2001. Territorial defense by coyotes (Canis latrans) in Yellowstone National
Park, Wyoming: who, how, where, when, and why. Canadian Journal of Zoology
79:980-987.
GOODNIGHT, K. F., AND D. C. QUELLER. 1999. Computer software for performing
likelihood tests of pedigree relationship using genetic markers. Molecular Ecology
8: 1231–1234.
HAYNE, D. W. 1949. Calculation of size of home range. Journal of. Mammalogy 30:1-
18.
HEMSON, G., P. JOHNSON, A. SOUTH, R. KENWARD, R. RIPLEY, AND D. MACDONALD.
2005. Are kernels the mustard? Data from global positioning system (GPS) collars
suggests problems for kernel-home range analyses with least-squares cross-
validation. Journal of Animal Ecology 74:455-463.
IBAMA - Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis. 2002. Parque Nacional
da Serra da Canastra. Revisão do plano de manejo. IBAMA, Brasília
IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. 1981. Plano de Manejo do
Parque Nacional da Serra da Canastra. IBDF, Brasília
77
JÁCOMO, A. T. A., C. K. KASHIVAKURA, C. FERRO, M. M. FURTADO, S. P. ASTETE, N. M.
TORRES, R. SOLLMANN, AND L. SILVEIRA. (no prelo). Maned wolf home range and
spatial organization in the Brazilian grasslands. Jouranl of Mammalogy.
JONES, T. W. 1984. Natal philopatry in bannertailed kangaroo rats. Behavioral Ecology
and Sociobiology 15:151–155.
KATAJISTO, J. AND A. MOILANEN. 2006. Kernel-based home range method for data with
irregular sampling intervals. Ecological modelling 194: 405–413.
KAUFMANN. J. H. 1983. On the definitions and functions of dominance and territoriality.
Biol. Rev. 58:1-20.
KAYS, R. W.; J. L. GITTLEMAN, AND R. K. WAYNE. 2000. Microsatellite analysis of
kinkajou social organization. Molecular Ecology 9:743–751.
KERNOHAN, B. J., R. A. GITZEN, AND J. J. MILLSPAUGH 2001. Analysis of animal space
use and movements. In Radio tracking and Animal Populations (J. J. Millspaugh &
J. M. Marzluff). San Diego: Academic press.
KOEHLER, G. M., AND D. J. PIERCE. 2003. Black bear home range sizes in Washington:
climatic, vegetative and social influences. Journal of Mammalogy 84:81–91.
KLEIMAN, D. G. 1977. Monogamy in Mammals. The Quarterly Review of Biology
52:39-69.
LANDE, R. 1993. Risks of population extinction from demographic and environmental
stochasticity and random catastrophes. American Naturalist 142:911–927.
LINN, I. 1984. Home ranges and social systems in solitary mammals. Acta Zoologica.
Fenniana. 171:245-249.
LEYHAUSEN, P. 1965. The communal organization of solitary mammals. Symposium
Zoological. Society of London 14:249-263.
LOGAN, K. A., AND L. L. SWEANOR. 2001. Desert Puma: evolutionary ecology and
conservations of an enduring carnivore. Island Press, Washington.
78
MACDONALD, D. W. 1980. Pattern of scent marking with urine and feces amongst social
communities. Proc. R. Soc. Lond. 45:107-139.
MACDONALD, D. W. 1983. The ecology of carnivore social behaviour. Nature 301:379–
384.
MCLOUGHLIN, P. D., S. H. FERGUSON & F. MESSIER. 2000. Intraspecific variation in
home range overlap with habitat quality: a comparison among brown bear
populations. Evolutionary Ecology 14:39-60.
MELO, L. F. B., M. A. L. SÁBATO, E. M. V. MAGNI, R. J. YOUNG, AND C. M. COELHO.
2007. Secret lives of maned wolves (Chrysocyon brachyurus Illiger 1815): as
revealed by GPS tracking collars. Journal of Zoology 271:27-36.
MINTA, S. C. 1992. Tests of spatial and temporal interaction among animals. Ecological
Applications 2:178–188.
MITCHELL, M. S., AND R. A. POWELL. 2007. Optimal use of resources structures home
ranges and spatial distribution of black bears. Animal Behaviour 74:219-230.
MIZUTANI, F., AND P. A. JEWELL. 1998. Home-range and movements of leopards
(Panthera pardus) on a livestock ranch in Kenya. Journal of Zoology 244: 269-286.
MMA-IBAMA – Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis 2005. Plano de manejo: Parque Nacional da
Serra da Canastra. Ministério do Meio Ambiente, Brasil.
MOEHLMAN, P. D. 1989. Intraespecific variation in canid social systems in Carnivore
behaviour, ecology, and evolution (J. l., Gliteman). Cornell Unviversity Press, New
York.
MOORCROFT, R. P., M. A. LEWIS, AND R. L. CRABTREE. 1999. Home range analysis
using mechanistic home range model. Ecology 80:1656-1659.
MOYER, M. A., J. W. MCCOWN, AND M. K. OLI. 2007. Factors influencing home range
size of a female florida black bears. Journal of Mammalogy 88:468–476.
79
PITMAN, M. R. P. L., T. G. OLIVEIRA, R. C. DE PAULA E C. INDRUSIAK (Editores). 2002.
Manual de identificação, prevenção e controle de predação por carnívoros. Edições
IBAMA, Brasília.
POWELL, R. A. 1994. Structure and spacing of Martes populations in Martens, sables
and fishers: biology and conservation (S. W. Buskirk et al.,eds.). Cornell University
Press, New York.
POWELL, R. A. 2000. Animal home ranges and territories and home range estimators in
Research techniques in animal ecology: controversies and consequences (L. Boitani
and T.K. Fuller). Columbia University Press, New York.
RALLS, K., K. L. PILGRIM, P. J. WHITE, E. E. PAXINOS, M. K. SCHWARTZ, AND R. C.
FLEISCHER. 2001. Kinship, social relationships, and den sharing in Kit Foxes.
Journal of Mammalogy 82:858–866.
RATNAYEKE, S., G. A TUSKAN, AND M. R. PELTON. 2002. Genetic relatedness and
female spatial organization in a solitary carnivore, the raccoon, Procyon lotor.
Molecular Ecology 11:1115-1124.
RODDEN, M., F.H.G. RODRIGUES, AND S. BESTELMEYER. 2004. Maned Wolf,
Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815). In Canids: Foxes, Wolves, Jackals and Dogs
(C. Sillero-Zubiri, M. Hoffmann & D. W. MacDonald, eds.). IUCN/SSC Canid
Specialist Group press. Gland, Switzerland and Cambridge, UK.
RODRIGUES, F.H.G. 2002. Biologia e Conservação do lobo-guará na Estação Ecológica
de Águas Emendadas, DF. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
SAMBROOK, J., AND D. W RUSSEL. 2001. Molecular Cloning: A Laboratory Manual. 3rd
ed. Harbor Laboratory Press, New York.
80
SANDELL, M. 1989. The mating tactics and spacing patterns of solitary carnivores. In
Carnivore behavior, ecology and evolution (Gittleman JL, ed.). Cornell University
Press, New York.
SEAMAN, D. E., AND R. A. POWELL. 1996. An evaluation of the accuracy of kernel
density estimators for home range analysis. Ecology 77:2075–2085.
SHIER, D. M., AND J. A. RANDALL. 2004. Spacing as a predictor of social organization in
kangaroo rats (Dipodomys heermanni arenae). Journal of Mammalogy 85:1002-
1008.
SILLERO-ZUBIRI, C., D. GOTTELLI, AND D. W. MACDONALD. 1996. Male philopatry,
extra-pack copulations and inbreeding avoidance in Ethiopian wolves (Canis
simensis). Behavioral Ecology and Sociobiology 38:331–340.
SILLERO-ZUBIRI C., AND D. W. MACDONALD. 1997. Scent-marking and territorial
behaviour of Ethiopian wolves, Canis simensis. J. Zool. Lond. 245:351-361.
SILVA, S.R., A. P. SILVA, C. B. MUNHOZ, M. C. SILVA JR., AND M. B. DE. MEDEIROS.
2001. Guia de plantas do cerrado utilizadas na Chapada dos Veadeiros. WWF –
Brasil, Brasília.
SMITH, D. A., T. MEIER, AND E. GEFFEN. 1997. Is incest common in gray wolf packs?
Behavioral Ecology 8:384-391.
ZAR, J. H. 1999. Biostatistical analysis. Prentice-Hall International Editions, London.
WASER, P. M., AND W. T. JONES. 1983. Natal philopatry among solitary mammals. The
Quarterly Review of Biology 58:355–390.
WAYNE, R.K., N. LEHMAN, M.W. ALLARD, AND R.L. HONEYCUTT. 1992. Mitochondrial
DNA variability of the gray wolf: genetic consequences of population decline and
habitat fragmentation. Conservation Biology 6:559-569.
81
WHITE, P. C. L., AND S. HARRIS. 1994. Encounters between red foxes (Vulpes vulpes):
implications for territory maintenance, social cohesion and dispersal. Journal of
Animal Ecology 63:315-327.
WILKINSON, L. 2002. SYSTAT: The system for statistics, version 10.2. SYSTAT
Software, Inc., Richmond, C.A.
WOODROFFE, R., AND D. W MACDONALD. 1993. Badger sociality-models of spatial
grouping. Symp. zool. Soc. Lond. 65:145–169.
WORTON, B. J. 1989. Kernel methods for estimating the utilization distribution in home
range studies. Ecology 70:164-168.
WRONSKI, T. 2005. Home-range overlap and spatial organization as indicators for
territoriality among male bushbuck (Tragelaphus scriptus). J. Zool. Lond. 266:227–
235.
82
a)
c)
b)
Figura 2.1. Sobreposição das áreas de vida dos lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) machos residentes na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) sobreposição no ano de 2004, b) sobreposição no ano de 2005, c) sobreposição no ano de 2006. As cores correspondem aos diferentes indivíduos amostrados nos diferentes anos.
83
Figura 2.2. Esquema representando os grupos familiares de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, identificados através das análises de DNA. → Dispersores ���� Grupos Familiares ? Indivíduos não amostrados Fêmeas Machos
CBF3
CBF6 CBF10
?
CBF2 CBM3
CBM2 CBF1
CBM5
CBM4
CBM1
CBF4
CBF5
CBF9
CBF8
CBF7
CBM6
Família IIIFamília IIIFamília IIIFamília III
Família IIFamília IIFamília IIFamília II
Família IFamília IFamília IFamília I
84
a)
b)
c)
Figura 2.3. Sobreposição de áreas de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) entre indivíduos geneticamente identificados pertencentes aos mesmos grupos familiares, na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. a) família I, b) família II e c) família III. As cores correspondem aos diferentes indivíduos amostrados nos diferentes anos.
85
Tabela 2.1. Porcentagem de sobreposição total entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus), considerando indivíduos do mesmo sexo e casais durante os anos amostrados (2004, 2005 e 2006) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. F-F, pares de fêmeas; M-M, pares de machos; M-F, casais.
Área de Vida Total Nuclear Reprodutiva
Total Não
Reprodutiva Total
Reprodutiva Nuclear
Não Reprodutiva
Nuclear 2004
F-F 16,90% 0,63% 1,07% 0,00% 0,00% 0,00% M-M 7,53% 2,82% 7,47% 9,79% 1,02% 0,00% M-F 33,53% 24,73% 30,78% 29,72% 19,56% 9,31% Fêmeas n=4 n=4 N=2 n=3 n=2 n=3 Machos
n=2 n=2 N=2 n=2 n=2 n=2
2005 F-F 69,91% 19,45% 32,38% 67,09% 18,28% 9,53% M-M 2,90% 0,00% 4,17% 5,03% 0,00% 0,00% M-F 38,06% 12,66% 16,85% 41,33% 5,31% 13,05% Fêmeas n=9 n=9 N=6 n=9 n=6 n=9 Machos
n=3 n=3 N=3 n=3 n=3 n=3
2006 F-F 55,08% 18,62% 44,93% 45,37% 19,25% 15,01% M-M 6,30% 0,99% 8,59% 7,52% 0,00% 1,27% M-F 57,73% 20,56% 54,43% 56,26% 17,86% 17,92% Fêmeas n=7 n=7 N=7 n=7 n=7 n=7 Machos
n=3 n=3 N=3 n=3 n=3 n=3
86
Tab
ela
2.2.
Mat
riz
de p
orce
ntag
em d
e so
brep
osiç
ão e
ntre
áre
as d
e vi
da d
e lo
bos-
guar
á (Chrysocyon brachyurus
) na
regi
ão d
o Pa
rque
N
acio
nal d
a Se
rra
da C
anas
tra,
Min
as G
erai
s, B
rasi
l.
d
K
ER
NE
L 9
5% -
2004
CB
M2
C
BF1
C
BM
3
CB
F2
C
BF3
C
BF4
C
BF5
C
BF6
C
BF7
C
BM
4
CB
F8
C
BF9
C
BM
6
CB
M2
x 67
,60
25,5
3 28
,42
20,8
6 0,
00
- -
- -
- -
- C
BF1
56,3
6 x
15,7
5 14
,39
37,3
6 -
- -
- -
- -
- C
BM
3 10
,67
17,9
0 x
49,1
4 0,
00
13,1
1 -
- -
- -
- -
CB
F2
18,3
0 11
,41
77,7
6 x
0,00
-
- -
- -
- -
- C
BF3
18,3
0 39
,67
0,00
0,
00
x -
- -
- -
- -
- C
BF4
0,00
-
20,0
9 -
- x
- -
- -
- -
- C
BF5
- -
- -
- -
x -
- -
- -
- C
BF6
- -
- -
- -
- x
- -
- -
- C
BF7
- -
- -
- -
- -
x -
- -
- C
BM
4 -
- -
- -
- -
- -
x -
- -
CB
F8
- -
- -
- -
- -
- -
x -
- C
BF9
- -
- -
- -
- -
- -
- x
- C
BM
6 -
- -
- -
- -
- -
- -
- x
K
ER
NE
L 9
5% -
2005
C
BM
2
CB
F1
C
BM
3
CB
F2
C
BF3
C
BF4
C
BF5
C
BF6
C
BF7
C
BM
4
CB
F8
C
BF9
C
BM
6
CB
M2
x 72
,95
4,32
10
,03
35,6
8 0,
00
54,6
6 91
,77
0,00
0,
00
0,00
19
,70
- C
BF1
52,1
6 x
33,5
7 32
,17
25,1
2 0,
00
35,1
6 70
,28
8,03
0,
00
0,00
0,
00
- C
BM
3 0,
68
7,38
x
62,1
3 0,
00
13,1
1 0,
00
0,00
14
,29
16,1
8 0,
00
0,00
-
CB
F2
2,08
9,
31
81,8
1 x
0,00
17
,19
3,14
0,
00
17,4
4 19
,98
6,08
27
,50
-
87
CB
F3
58,7
7 57
,69
0,00
0,
00
x 0,
00
48,9
6 78
,13
0,00
0,
00
0,00
9,
37
- C
BF4
0,00
0,
00
20,0
9 20
,00
0,00
x
0,00
0,
00
20,5
4 69
,88
1,29
14
,11
- C
BF5
89,6
0 99
,22
0,00
33
,53
59,9
4 0,
00
x 98
,98
16,5
9 0,
00
1,16
18
,36
- C
BF6
44,6
9 47
,86
0,00
0,
00
23,1
0 0,
00
23,8
9 x
0,00
0,
00
0,00
2,
40
- C
BF7
0,00
6,
22
50,4
0 46
,73
0,00
47
,31
4,55
0,
00
x 37
,09
19,1
1 20
,21
- C
BM
4 0,
00
0,00
20
,81
19,5
1 0,
00
58,6
5 0,
00
0,00
13
,52
x 9,
52
13,0
4 -
CB
F8
0,00
0,
00
0,00
62
,47
0,00
11
,39
1,17
0,
00
73,1
7 10
0 x
47,3
7 -
CB
F9
12,5
8
0,00
84
,95
3,63
37
,44
8,78
3,
15
23,2
8 37
,69
14,2
0 x
- C
BM
6 -
- -
- -
- -
- -
- -
- x
K
ER
NE
L 9
5% -
2006
C
BM
2
CB
F1
C
BM
3
CB
F2
C
BF3
C
BF4
C
BF5
C
BF6
C
BF7
C
BM
4
CB
F8
C
BF9
C
BM
6
CB
M2
x 84
,36
- -
- 0,
00
58,0
7 74
,09
0,00
0,
00
0,00
22
,27
5,83
C
BF1
73,3
6 x
- -
- 0,
00
53,3
2 79
,57
0,00
0,
00
0,00
25
,43
10,8
4 C
BM
3 -
- x
- -
- -
- -
- -
- -
CB
F2
- -
- X
-
- -
- -
- -
- -
CB
F3
- -
- -
x -
- -
- -
- -
- C
BF4
0,00
0,
00
- -
- x
8,35
70
,17
35,5
3 14
,25
9,95
C
BF5
66,9
2 70
,66
- -
- 0,
00
x 98
,96
1,84
0,
00
10,5
2 18
,36
12,6
8 C
BF6
22,3
1 27
,5
- -
- 0,
00
25,8
6 x
0,00
0,
00
0,00
4,
86
1,25
C
BF7
0,00
0,
00
- -
- 26
,33
1,07
0,
00
x 27
,89
39,4
5 47
,34
59,3
8 C
BM
4 0,
00
0,00
-
- -
74,3
6 0,
00
0,00
9,
38
x 18
,20
15,4
6 10
,30
CB
F8
0,00
0,
00
- -
- 87
,10
4,77
0,
00
14,7
7 91
,25
x 32
,43
23,6
7 C
BF9
12,2
7 16
,10
- -
- 36
,83
8,78
8,
89
38,8
0 37
,69
34,1
7 x
57,7
2 C
BM
6 4,
61
9,48
-
- -
35,5
4 8,
38
3,16
67
,25
34,7
0 34
,48
79,7
9 x
88
Tab
ela
2.3.
Val
ores
das
sob
repo
siçõ
es m
édia
s en
tre
lobo
s-gu
ará
(Chrysocyon brachyurus
), co
nsid
eran
do t
odos
os
anos
am
ostr
ados
(20
04,
2005
e 2
006)
, mon
itora
dos
na r
egiã
o do
Par
que
Nac
iona
l da
Ser
ra d
a C
anas
tra,
Min
as G
erai
s, B
rasi
l. F-
F, p
ares
de
fêm
eas;
M-M
, par
es d
e m
acho
s; M
-F c
asai
s; n
, nú
mer
o de
cas
os;
T,
área
de
vida
tot
al,
N,
área
nuc
lear
; R
, ár
ea d
e vi
da d
uran
te a
est
ação
rep
rodu
tiva;
RN
, ár
ea
nucl
ear d
uran
te a
est
ação
repr
odut
iva;
FR
, áre
a de
vid
a fo
ra d
a es
taçã
o re
prod
utiv
a; F
RN
, áre
a nu
clea
r for
a da
est
ação
repr
odut
iva.
Par
es
F-F
M-M
-
M-F
n V
alor
M
ínim
o V
alor
M
áxim
o V
alor
M
édio
n
Val
or
Mín
imo
Val
or
Máx
imo
Val
or
Méd
io
n V
alor
M
ínim
o V
alor
M
áxim
o V
alor
M
édio
20
04
T
2 0,
12
0,38
0,
25
1 0,
16
0,16
0,
16
3 0,
11
0,23
0,
18
N
1 0,
01
0,01
0,
01
1 0,
06
0,06
0,
06
1 0,
4 0,
4 0,
4 R
1
0,01
0,
01
0,01
1
0,16
0,
16
0,16
2
0,03
0,
12
0,07
R
N
0
1 0,
02
0,02
0,
02
1 0
0 0
FR
0
1 0,
2 0,
2 0,
2 3
0,04
0,
35
0,24
FR
N
0
1 0
0 0
1 0,
56
0,56
0,
56
2005
T
24
0,
02
0,58
0,
28
2 0,
18
0,52
0,
35
15
0,04
0,
7 0,
28
N
11
0,02
0,
46
0,22
0
6
0 0,
53
0,24
R
9
0 0,
6 0,
24
2 0
0,19
0,
09
10
0 0,
38
0,13
R
N
4 0,
03
0,22
0,
13
0
2 0,
22
0,27
0,
24
FR
24
0,01
0,
62
0,27
2
0,08
0,
14
0,11
16
0
0,67
0,
27
FRN
11
0
0,53
0,
15
0
5 0
0,43
0,
27
2006
T
13
0,
01
0,61
0,
29
2 0,
05
0,19
0,
12
13
0,02
0,
68
0,32
N
6
0,08
0,
74
0,28
1
0,05
0,
05
0,05
6
0,15
0,
41
0,28
R
13
0
0,6
0,23
2
0,09
0,
22
0,15
14
0,
03
0,71
0,
28
RN
6
0 0,
7 0,
26
1 0
0 0
8 0
0,47
0,
13
FR
13
0 0,
6 0,
26
2 0,
07
0,2
0,13
14
0
0,7
0,29
FR
N
7 0
0,7
0,18
1
0,06
0,
06
0,06
8
0,07
0,
68
0,30
89
F-F M-FSEXO
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
V2005T
FDFDFDFDDFDD
LOCAL
Figura 2.4. Médias e erros padrões das sobreposições das áreas de vida total entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, para o ano de 2005 de acordo com o sexo e a localização do par considerado: D/D, dentro/dentro; D/DF, dentro/dentro-fora; DF/DF, dentro-fora/dentro-fora; F/DF, fora/dentro-fora. F-F, pares de fêmeas e M-F, pares de machos-fêmeas.
Figura 2.5. Médias e erros padrões das sobreposições das áreas de vida total entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, para o ano de 2006 de acordo com o sexo a localização do par considerado: D/D, dentro/dentro; D/DF, dentro/dentro-fora; DF/DF, dentro-fora/dentro-fora; F/DF, fora/dentro-fora. F-F, pares de fêmeas e M-F, pares de machos-fêmeas.
F-F M-FSEXO
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
V2006T
FDFDFDFDDFDD
LOCAL
90
Tabela 2.4. Médias e desvios padrões de sobreposição de área de vida de lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, para os anos de 2005 e 2006, de acordo com a localização do par considerado: D/D, dentro/dentro; D/DF, dentro/dentro-fora; DF/DF, dentro-fora/dentro-fora; F/DF, fora/dentro-fora. F-F, pares de fêmeas e M-M, pares de machos. N, número amostral.
D/D D/DF DF/DF F/DF
F-F
Média 0,52/0,52 0,14/0,10 0,30/0,31 0,19/0,31
Desvio Padrão 0,08/0,08 0,11/0,08 0,11/0,13 0,12/0,21
N 6 16 6 4
M-F
Média 0,60/0,60 0,11/0,09 0,33/0,53 0,22/0,29
Desvio Padrão 0,10/0,20 0,06/0,06 0,25/0,22 0,05/0,20
N 4 11 9 7
91
Tabela 2.5. Valores de sobreposição entre lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil, quando consideradas as relações de parentescos entre os mesmos durante os anos de 2004 a 2006. T, área de vida total; N, área nuclear; n, número amostral.
2004 T
2004 N
2005 T
2005 N
2006
T
2006 N
Parentes
n
4
3
8
5
7
7
Parentes
Valor Mínimo
0,33
0,25
0,23
0,04
0,23
0,02
Parentes
Valor Máximo
0,71
0,28
0,64
0,53
0,69
0,47
Parentes
Valor Médio
0,48
0,26
0,49
0,44
0,4
0,37
Não -
Parentes
n
10
5
45
18
29
12
Não -
Parentes
Valor Mínimo
0,11
0,01
0,02
0
0,01
0,05
Não -
Parentes
Valor Máximo
0,62
0,55
0,71
0,64
0,78
0,74
Não –
Parentes
Valor Médio
0,20
0,15
0,22
0,24
0,19
0,21
92
Tab
ela
2.6.
Com
para
ções
das
sob
repo
siçõ
es m
édia
s en
tre
área
s de
vid
a de
lob
os-g
uará
em
dua
s ár
eas
de e
stud
o di
fere
ntes
: Pa
rque
Nac
iona
l da
Ser
ra d
a C
anas
tra
(est
e es
tudo
) e
Parq
ue N
acio
nal
das
Em
as (
Jáco
mo
et a
l. no
pre
lo).
Áre
as d
e vi
das
estim
adas
pel
o m
étod
o do
Ker
nel
com
95%
das
loc
aliz
açõe
s pa
ra á
rea
de v
ida
tota
l e
com
50%
das
lo
caliz
açõe
s pa
ra á
rea
de v
ida
nucl
ear.
M-M
, par
es d
e m
acho
s; F
-F, p
ares
de
fêm
eas;
M-F
*, p
ares
de
mac
ho-f
êmea
não
re
prod
utiv
os; M
-F**
par
es d
e m
acho
-fêm
ea re
prod
utiv
os.
PA
RQ
UE
NA
CIO
NA
L D
A S
ER
RA
DA
CA
NA
STR
A
P
AR
QU
E N
AC
ION
AL
DE
DA
S E
MA
S
A
no
Am
ostr
ado
Par
es
Sobr
epos
ição
Méd
ia
A
no
Am
ostr
ado
Par
es
Sobr
epos
ição
Méd
ia
Áre
a T
otal
Á
rea
Nuc
lear
Á
rea
Tot
al
Áre
a N
ucle
ar
2005
2003
M
-M
0
,35
0
,00
M
-M
0
,19
0
,07
F-F
0,2
8
0,2
2
F-F
0,2
1
0,0
8
M-F
*
0,2
8
0,2
4
M-F
*
0,2
3
0,1
9
M-F
**
0
,66
0
,50
M
-F**
0,7
5
0,4
4
20
06
M-M
0,1
2
0,0
0
F-F
0,2
9
0,2
8
M-F
*
0,3
2
0,2
8
M-F
**
0
,75
0,5
4