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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS A INFLUÊNCIA DE ESPÉCIES INTRODUZIDAS DE PEIXES NAS INTERAÇÕES TRÓFICAS DA ICTIOFAUNA DA LAGOA CARIOCA, PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE, MG Nome: Thiago Russell Miguel Santos Orientador: Prof. Dr. Francisco Antonio Rodrigues Barbosa Co-Orientadora: Profa. Dra. Evelise Nunes Fragoso Moura Departamento de Biologia Geral (UFMG) Belo Horizonte 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

A INFLUÊNCIA DE ESPÉCIES INTRODUZIDAS DE PEIXES NAS INTERAÇÕES TRÓFICAS DA

ICTIOFAUNA DA LAGOA CARIOCA, PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE, MG

Nome: Thiago Russell Miguel Santos Orientador: Prof. Dr. Francisco Antonio Rodrigues Barbosa Co-Orientadora: Profa. Dra. Evelise Nunes Fragoso Moura

Departamento de Biologia Geral (UFMG)

Belo Horizonte 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

A INFLUÊNCIA DE ESPÉCIES INTRODUZIDAS DE PEIXES NAS INTERAÇÕES TRÓFICAS DA

ICTIOFAUNA DA LAGOA CARIOCA, PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE, MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ecologia.

Belo Horizonte 2008

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APOIO:

Parque Estadual do Rio Doce (PERD)

Instituto Estadual de Florestas (IEF)

FINANCIAMENTO:

Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD)/UFMG

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

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Para Van & Malu, com todo amor e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Mama e Vanessita, pela força, apoio total, todo amor e por deixarem meu mundo muito mais colorido! Fica aqui registrado meu amor incondicional! Evelise Nunes Fragoso-Moura, pela disposição e ajuda praticamente integral (seja via msn, telefone fixo, fax, skype, celular, etc.) pelos conhecimentos passados, por toda dedicação, perfeita organização e paciência. Enfim, por todo carinho e “luz”, que sempre me ajudaram a continuar meu caminho. Muito obrigado por tudo!!! Ao Programa e bons professores da Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre (ECMVS) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Meu orientador Francisco Barbosa, pela paciência, confiança e compreensão, proporcionada principalmente nos últimos dias que me ajudaram a manter a calma e “cabeça no lugar”. Um enorme agradecimento a todo pessoal do Laboratório de Limnologia, que me recebeu de braços abertos, em especial: Cris, Fábio, Theia e Simone. Erika Brandes (pela enorme força e ajuda do começo ao fim): “Dá-lhe viver” Graça, simplesmente por ser uma graça de pessoa!!! À Professora Paulina e todo pessoal do Laboratório de Zooplâncton (especialmente Nelsão, Tati, Rosinha, Rose, Carla, Luciana) pela ajuda, fotos, e identificação dos itens alimentares. Ao Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), Parque Estadual do Rio Doce (PERD) e Instituto Estadual de Florestas (IEF), por todo apoio oferecido. À todo pessoal do PERD, especialmente Marcos Vinícius, Toninho, Lúcia, Nabuco, Naná, Tião, Dinho, André, Rangel e Ivan. Obrigado por tudo! Meus bons e novos camaradas: Aloízio e Pedrão, pelos bons momentos de coleta, “pescarias” no A2, amizade e ajuda essencial neste trabalho. Valeu por tudo!!! Jussara Elias e Marcela Velludo (UFSCar), pelas idéias iniciais deste estudo, por toda ajuda, material fornecido e identificação dos itens alimentares que foram de preciosa contribuição para a construção do trabalho. Filipe (Tio Phillips), pela eficiência e aventura nas coletas. Por toda ajuda no campo, amizade, chocolates e humor sempre impecável. Um grande abraço, Titi!

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Ed (Tia Kawa), pelos ótimos momentos de coleta com direito a camomila e bolos deliciosos!!! Yumi Oki, pela salvadora contribuição nas análises estatísticas e também pelas balinhas de Marshmallow. Sueli Mingotti e Fábio, do Departamento de Estatística, pela atenção, dicas e suporte estatístico. Ao professor José Eugênio, pela assistência, colaboração e dicas na complementação do trabalho. Meg, pela paciência na identificação dos invertebrados bentônicos, por toda ajuda e atenção. Ao professor Mauro Triques, pelas dicas, material fornecido e identificação dos peixes. À turma que me acompanhou nas análises dos conteúdos estomacais no B2 168 (Helen, Karina, Alice) pela companhia agradável!!! Fernando Saraiva, pelos abraços bondosos, carinhosos, perfumosos e calorosos!!! Aos meus queridos amigos (Mussum-Manos): Júlia, Duka, Lela, Ribers, Lecão, Tuti, Itulango, Piqueno, Andressa, Ivana, Arbusto e Vanessa. Pelos melhores dias passados juntos, que estarão sempre guardados no meu coração. Will, um enorme “uta” para você do seu amigo grilo!!! Meus queridos avós: Vó Teresinha (o melhor café feito na face da Terra) e Vô Anuar (Uma simples pipoca pode se tornar muito especial)!!! Pela ajuda espiritual de Buda, Ganesha & Tchin Bau (aquele...). Mussum e Buba (In memorian). Dr. Johnson “He who makes a beast of himself gets rid of the pain of being a man” “Graças aos Deuses do Rock” (Caião) RRRRRRRRRRRRRRROCK! Por toda alegria fornecida no dia a dia. Aos meus queridos amigos da Zebulândia: Hallal hallaris (o cara da bola de cristal), Jotapê (o cara do suco de goiaba), Pialarissi (o cara das quelíceras), Marcellus Wallace (o cara das operações secretas), Tati-Tati (a minha tetéia preferida) e Fernanda Zacarias (a fonte do som).

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David, Iggy e Lou. Miró (pelas cores da vida), Escher (pela geometria da vida). João Rubinato e Angenor de Oliveira. Hanna e Nunca. Monty Python (por me fazer rir) e Kubrick (por me fazer pirar um pouco mais) nesses dois longos anos. Betelgeuse (3x) e ao caro Sansão, VAMO LÁ!!! Newtin e aos nossos 20 anos de amizade!!! Ilnick (Juba). “Always look on the bright side of life” Ao camarada Marcos e sua “xavação” goiana!!! Dotô Edminton, pela amizade, comidas gostosas, presentes e momentos especiais que me trouxeram felicidade! Gracias muchacho! Bia trix, pelos momentos passados na “casa mal assombrada” e a melhor comida vegetariana de todas!!! Araújo (Caramujo), primeiramente por me agüentar durante esses dois anos (o que não deve ter sido nada fácil). Por ser um grande amigo e fiel companheiro na apreciação do líquido precioso. Daniel (Samurai), pela excelente hospitalidade, pelos momentos de descontração e alegria, com direito a pedradas na janela e uma passagem breve pela Zona do Agrião. A todos os seres que contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho fosse concluído!!! Aos Peixes!!! À lagoa Carioca!!! À noite!!! À vida!!! Por fim, à Música!!! Meu enorme agradecimento diretamente do fundo do meu coração! Minha companheira fiel seja na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, faça chuva ou faça sol. Meu amor... Te amo para todo sempre!

MUSIC NON STOP!!! Techno Pop (Kraftwerk)

ANJARAMA

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização da área de estudo (Parque Estadual do Rio Doce) e da lagoa Carioca (indicada pela seta azul). Fonte: Mapa Geopolítico de Minas Gerais – IGAM/CETEC – 1996, adaptado de Godinho (1996) e Base Digital GeoMINAS/Prodemge, 1996. Modificado de IGAM (2007)................................10 Figura 2. Lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG com indicação das estações de coleta. Legenda: 1 e 3: representam regiões com macrófitas; 2 e 4: regiões de borda de mata; Ø: acesso à lagoa pela trilha e FMA: Floresta de Mata Atlântica. Fonte: Foto aérea adaptada de Levantamento Aerofotométrico, Coronel Fabriciano – 4. Folha 36-22-03 / CEMIG - 1989...................................................11 Figura 3. Dados mensais de 2006 e 2007 de temperatura da água (oC) (Fonte: Projeto PELD/UFMG), temperatura do ar (oC) e pluviosidade (mm) (Fonte: CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. PCD (Plataforma de Coleta de Dados) do Parque Estadual do Rio Doce - MG................................20 Figura 4. Freqüência de ocorrência das ordens de peixes coletados no período de setembro de 2006 a setembro de 2007 na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG..............................................................................................................23 Figura 5. Freqüência relativa (%) de indivíduos capturados para cada espécie de peixes, coletados no período de setembro de 2006 a setembro de 2007 na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG........................................................24 Figura 6. Representação gráfica do histórico de introdução de espécies de peixes e respectivo efeito na redução da ictiofauna nativa da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, de 1983 até 2007......................................................25 Figura 7. Grau de repleção médio (GR) das 7 espécies com pequeno número de estômagos analisados da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.................................................27 Figura 8. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para o Astronotus ocellatus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................29 Figura 9. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para o Astyanax aff. bimaculatus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................32 Figura 10. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para o Brycon sp. da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)...............................................................................................................34 Figura 11. Freqüência (absoluta) de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Cichla kelberi da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.......................................................................35 Figura 12. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Cichla kelberi da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).....................................................................................................37

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Figura 13. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Cichla kelberi, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG...............................................38 Figura 14. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Gymnotus sp. da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).....................................................................................................41 Figura 15. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Hoplerythrinus unitaeniatus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................44 Figura 16. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Hoplias gr. malabaricus da lagoa Carioca, da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG............................46 Figura 17. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Hoplias gr. malabaricus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................47 Figura 18. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Hoplias gr. malabaricus, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG..........................................48 Figura 19. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Hoplosternum littorale da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG........................................................50 Figura 20. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Hoplosternum littorale da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................52 Figura 21. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Hoplosternum littorale, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.......................54 Figura 22. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Leporinus cf. steindachneri da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................57 Figura 23. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Pygocentrus nattereri da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG........................................................58 Figura 24. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Pygocentrus nattereri da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................60 Figura 25. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Pygocentrus nattereri, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.......................61 Figura 26. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Rhamdia quelen da lagoa Carioca, Parque Estadual do

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Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).....................................................................................................63 Figura 27. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Trachelyopterus striatulus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG........................................................64 Figura 28. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Trachelyopterus striatulus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar)..........................................................................................66 Figura 29. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Trachelyopterus striatulus, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG....67 Figura 30. Dendograma de similaridade entre a dieta das espécies estudadas da lagoa Carioca (Parque Estadual do Rio Doce – MG) medida a partir dos valores de índice alimentar através do método de aglomeração por ligação simples usando o coeficiente de Bray-Curtis. Legenda: Aoce (apaiari), Abim (lambari), Rque (bagre), Tstr (cumbaca), Bsp (piabanha), Gsp (tuvira), Huni (jeju), Lste (piau), Pnat (piranha), Hlit (tamboatá), Ckel (tucunaré), Hmal (traíra).............................68 Figura 31. Similaridade (Bray-Curtis) da dieta das espécies estudadas da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG. Legenda: Aoce (apaiari), Abim (lambari), Rque (bagre), Tstr (cumbaca), Bsp (piabanha), Gsp (tuvira), Huni (jeju), Lste (piau), Pnat (piranha), Hlit (tamboatá), Ckel (tucunaré), Hmal (traíra).....................................................................................................................70 Figura 32. Similaridade (Bray-Curtis) entre os itens alimentares utilizados pelas espécies estudadas da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG. Legenda: art (artrópodes), av (ave), cam (camarão), mol (molusco), px esc (escamas de peixes), px part (pedaços e restos de peixes), peixe (peixes inteiros), veg (material vegetal), zoo (zooplâncton)..............................................................71 Figura 33. Representação gráfica dos dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais (PCA) baseada nos dados de alimentação das espécies de peixes da lagoa Carioca (Parque Estadual do Rio Doce – MG). Fatores de explicação: Eixo 1 (25,50 %), Eixo 2 (19,93 %). Legenda: AP (apaiari); BAG (bagre); CUM (cumbaca); JE (jeju); LAM (lambari); PIA (piabanha); PIAU (piau); PIR (piranha); TAM (tamboatá); TRAÍ (traíra); TUC (tucunaré), TUV (tuvira)....................................................................................................................72 Figura 34. Análise de Correlação Canônica de variáveis físico-químicas (pH, oxigênio dissolvido, condutividade, temperatura da água) da lagoa Carioca (Fonte: Projeto Relatório PELD/UFMG) e dados pluviométricos e de temperatura do ar no PCD (Plataforma de Coleta de Dados) do PERD (Fonte: CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) com a abundância das espécies por mês de coleta. Fatores de explicação: Eixo 1 = 32,6%, Eixo 2 = 24,3 %. Eixos 1 + 2 = 56,9%. Legenda: Aoce (apaiari), Abim (lambari), Rque (bagre), Tstr (cumbaca), Bsp (piabanha), Gsp (tuvira), Huni (jeju), Lste (piau), Pnat (piranha), Hlit (tamboatá), Ckel (tucunaré), Hmal (traíra), Cond (condutividade), OD (oxigênio dissolvido)..............................................................................................................78

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LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1. Pontos atribuídos no estabelecimento do grau de repleção dos estômagos estudados, segundo KNOPPEL (1970) e HARAM & JONES (1971), modificado..............................................................................................................15 Tabela 1. Dados de temperatura (oC), pH, oxigênio dissolvido (OD) (mg/L) e condutividade coletados de setembro de 2006 a setembro de 2007, na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG. Fonte: Projeto PELD/UFMG.........................................................................................................21 Tabela 2. Lista de espécies coletadas na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. Fonte: Reis et al., 2003 e Fishbase................................................................................................22 Tabela 3. Valores mínimos e máximos de comprimento total (CT), peso total (PT), peso do estômago (PE) e número de exemplares (n) de cada espécie de peixe coletada no período de setembro de 2006 a setembro de 2007 na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG......................................................................23 Tabela 4. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Astronotus ocellatus (n = 8) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................28 Tabela 5. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Astyanax aff. bimaculatus (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................31 Tabela 6. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Brycon sp. (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................33 Tabela 7. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Cichla kelberi (n = 15) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................36 Tabela 8. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Gymnotus sp. (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................41 Tabela 9. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para H. unitaeniatus (n = 8) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................44 Tabela 10. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Hoplias gr. malabaricus (n = 19) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................46 Tabela 11. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Hoplosternum littorale (n = 29) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................53

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Tabela 12. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Leporinus cf. steindachneri (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007...................................................................................................................56 Tabela 13. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Pygocentrus nattereri (n = 34) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007........................................................................................................................59 Tabela 14. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Rhamdia quelen (n = 3) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007............62 Tabela 15. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Trachelyopterus striatulus (n = 25) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007...................................................................................................................65 Tabela 16. Valores de Sobreposição Alimentar (SA) encontrados entre as 12 espécies de peixes estudadas da lagoa Carioca (Parque Estadual do Rio Doce – MG), cujo coeficiente varia de 0 a 1. As células em vermelho indicam sobreposição alimentar (AS > 0,60). A completa segregação está indicada em azul (AS = 0). Valores altos e médios estão indicados em células amarelas e verdes, respectivamente......................................................................................................75

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RESUMO

A introdução de espécies é uma das principais causas da perda de biodiversidade.

No Parque Estadual do Rio Doce (PERD) tem se destacado, atualmente, o

desaparecimento de espécies nativas de peixes devido à introdução do tucunaré

Cichla kelberi e da piranha Pygocentrus nattereri. A redução das espécies nativas

foi da ordem de 50% após 10 anos de detecção das espécies introduzidas na lagoa

Carioca. Este estudo teve como objetivo caracterizar e analisar a dieta da

ictiofauna desta lagoa, considerando os efeitos dos peixes alóctones sobre os

nativos. Foram realizadas oito coletas durante o período de um ano, em quatro

estações representativas de diferentes habitats deste ecossistema. Em cada estação

de coleta foram colocadas seis redes de emalhar com diferentes tamanhos de

malha durante 24 horas. Na análise do conteúdo estomacal foi utilizado o método

da freqüência de ocorrência e o método volumétrico para cálculo do índice

alimentar. Para verificar a possível ocorrência de sobreposição alimentar entre as

espécies foi empregado o índice de sobreposição de Morisita. Uma Análise de

Componentes Principas (PCA) e dendrograma (Bray-Curtis) determinaram a

similaridade nas dietas. Dados de abundância e de dieta dos peixes foram

verificados por Correlações Simples (Spearman) e uma Análise de

Correspondência Canônica com os fatores físicos e químicos do ambiente. A

estrutura trófica da ictiofauna se mostrou dominada por espécies insetívoras.

Nesse grupo ocorreu sobreposição alimentar, porém, os resultados não permitiram

afirmar que está ocorrendo competição entre estes peixes. Tanto os peixes

introduzidos, quanto os nativos apresentaram plasticidade trófica. Os resultados

reforçam a necessidade de implementação de planos de manejo para o controle

dos peixes não nativos.

Palavras-chave: Ictiofauna, biodiversidade, espécies introduzidas, ecologia trófica,

conservação, Parque Estadual do Rio Doce (PERD).

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ABSTRACT

The exotic species introduction is one of the main causes of biodiversity loss. In

the Rio Doce State Park (PERD) the loss of native species is due to the

introduction of non-native species tucunaré (Cichla kelberi) and red piranha

(Pygocentrus nattereri). Ten years after confirming the presence of these non-

native species into Carioca lake (PERD) the decrease of native species population

was roughly 50%. The main objective of this study was to characterize and

analyze the dietary habits of the current fish fauna of Carioca lake taking into

consideration how the exotic fishes may affect the native fish fauna. Eight

samplings were carried out over a one year period in four sampling stations

located in distinct areas within the studied enviroment. In each sampling station

six gillnets with different mesh sizes were placed during 24 hours. For the

stomach content analysis the studies were carried according to the frequency of

occurrence and the volumetric method. These values were applied into the feeding

index (IAi). In order to verify the occurrence of alimentary overlapping among the

studied species the Morisita Index was applied. The Principal Component

Analysis (PCA) and the Dendogram (Bray-Curtis) determined the dietary

similarities. Furthermore, the Canonic Correspondence and Simple Correlations

(Spearman) analysis were used to verify the relationship between the fishes

abundance and diet data and the environmental physical and chemical factors. The

fish fauna trophic structure studies demonstrated that the main dietary component

is mainly comprised of insectivores species. Although some alimentary

overlapping was reported within this group it was not possible to identify whether

these fish species are competing for food or not. Most of the species, including the

introduced and native ones, presented trophic plasticity. These results reinforce

the necessity of a non-native population demographic control plan.

Keywords: Fish Fauna, biodiversity, non-native species, trophic ecology,

conservation, Parque Estadual do Rio Doce (PERD).

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................01 2. OBJETIVOS......................................................................................................08

2.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................08 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................08

3. ÁREA DE ESTUDO..........................................................................................09 4. MATERIAL E MÉTODOS...............................................................................13 4.1 COLETA..............................................................................................13 4.1.1 DADOS ABIÓTICOS...........................................................13 4.1.2 DADOS BIÓTICOS..............................................................13 4.2 ANÁLISE DE DADOS........................................................................14 4.2.1 DADOS ABIÓTICOS...........................................................14 4.2.2 DADOS BIÓTICOS..............................................................14 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................20 5.1 FATORES AMBIENTAIS...................................................................20 5.2 COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA....................................................21 5.3 HÁBITOS ALIMENTARES...............................................................26 5.3.1 Astronotus ocellatus (Apaiari)...............................................27 5.3.2 Astyanax aff. bimaculatus (Lambari)....................................30 5.3.3 Brycon sp. (Piabanha)............................................................33 5.3.4 Callichthys callichthys (Peixe-pedra)....................................34 5.3.5 Cichla kelberi (Tucunaré)......................................................35 5.3.6 Gymnotus sp. (Tuvira)...........................................................40 5.3.7 Hoplerythrinus unitaeniatus (Jeju)........................................43 5.3.8 Hoplias gr. malabaricus (Traíra)...........................................45 5.3.9 Hoplosternum littorale (Tamboatá).......................................50 5.3.10 Leporinus cf. steindachneri (Piau)......................................55 5.3.11 Pygocentrus nattereri (Piranha)..........................................57 5.3.12 Rhamdia quelen (Bagre)......................................................62 5.3.13 Trachelyopterus striatulus (Cumbaca)................................63 5.4 SIMILARIDADE ALIMENTAR - GUILDAS TRÓFICAS...............67 5.5 SOBREPOSIÇÃO ALIMENTAR.......................................................74 5.6 FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS...............................................77

5.7 DISCUSSÃO FINAL...........................................................................78 6. CONCLUSÕES..................................................................................................92 7. RECOMENDAÇÕES E PERSPECTIVAS.......................................................93 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................95

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1. INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica está entre os biomas mais ameaçados do Brasil, sendo

considerado prioritário para a conservação da sua altíssima biodiversidade em

toda a região neotropical. O vale do médio Rio Doce (MG) abriga mais de 60% da

biodiversidade da Mata Atlântica, incluindo uma percentagem ainda maior das

espécies endêmicas a esse bioma (BARBOSA & MORENO, 2002). Ainda

segundo estes autores, o Parque Estadual do Rio Doce constitui o maior

remanescente de Mata Atlântica em Minas Gerais, totalizando 36.000 ha de

florestas, em sua maior parte secundária, entremeadas por c. 50 lagos que

integram o Sistema Lacustre do médio Rio Doce (158 lagos), nos mais variados

estágios de evolução. Apesar de localizados numa Unidade de Conservação, estes

lagos sofreram a introdução de diversas espécies, destacando-se peixes exóticos e

alóctones (ROCHA et al., 2005).

Dentre as 13 bacias hidrográficas do Estado de Minas Gerais, a bacia do

Rio Doce é a terceira em área e ordem de riqueza de espécies de peixes,

apresentando 77 espécies, sendo 37 (48,1%) endêmicas dessa bacia em Minas

Gerais (COSTA, 2000). Este autor faz também inferências sobre a redução no

número de espécies nativas nos lagos Dom Helvécio, Carioca e Jacaré, ocorrida

em aproximadamente 10 anos, em conseqüência destas introduções. A

comparação da ictiofauna atual com aquela registrada há 20 anos (LATINI et al.

2005, VASCONCELLOS et al. 2005) revela uma significativa alteração, com o

declínio populacional e/ou desaparecimento de espécies nativas, particularmente

as de pequeno porte. Das espécies que restaram, muitas correm o risco de

desaparecer por causa da redução de suas populações. Mesmo as espécies de

maior porte, como o piau (Leporinus cf. steindachneri), a piabanha (Brycon sp.) e

a traíra (Hoplias gr. malabaricus), não estão a salvo. Praticamente todos os seus

filhotes são comidos antes de se tornarem adultos e é bem possível que esse

quadro se repita nas outras lagoas onde o tucunaré esteja presente (GODINHO,

1996).

O complexo lacustre do médio Rio Doce, MG, vem sofrendo um forte

processo de perda de biodiversidade devido à introdução de espécies de peixes,

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notadamente o tucunaré (Cichla kelberi) e, em menor escala, a piranha

(Pygocentrus nattereri) são apontados como os grandes responsáveis por tais

problemas. Quanto ao cará-amazonas (Astronotus ocellatus), ainda não se

conhecem as conseqüências de sua introdução (GODINHO, 1996).

Eventos de extinção derivados de efeitos diretos e indiretos de introduções

de espécies encontram-se bem documentados, tanto no que se refere a

ecossistemas terrestres, quanto aquáticos (DRAKE et al., 1989). Uma vez

introduzidas e aclimatadas, formas exóticas ou alóctones tendem a se mostrar de

difícil controle e, embora não haja uma quantificação precisa dos impactos que

estes organismos causam direta ou indiretamente ao ecossistema invadido, não

restam dúvidas que sua atuação tende a se mostrar em diferentes magnitudes,

danosa à biota nativa (SANTOS et al. 1994; POMPEU & ALVES, 2003).

Quando um novo predador é introduzido e se torna abundante, ele

geralmente afeta a comunidade existente (POMPEU & GODINHO, 2001). A

introdução de peixes piscívoros pode afetar as relações tróficas da comunidade de

várias maneiras. As atividades de alimentação do novo predador podem, por

exemplo, alterar a abundância e tipo de recurso disponível para as espécies

nativas, principalmente aquelas com hábitos alimentares similares

(COURTENAY & STAUFFER, 1984). Os peixes piscívoros têm importante

papel na estruturação das comunidades de organismos aquáticos (POWER et al.

1985).

Segundo LOWE-MCCONNELL (1987), a maioria das espécies de peixes

de água doce exibe uma considerável plasticidade na dieta, modificando-a

conforme o crescimento, a mudança de biótopo, pela disponibilidade sazonal dos

alimentos, ou por seleção ativa de alimentos preferidos de acordo com a escolha

individual. Assim, é difícil prever os possíveis impactos das espécies introduzidas

sobre as nativas, no que se refere ao tipo de recurso alimentar, sendo necessário

conhecer o comportamento alimentar das espécies nos ambientes em que ocorrem

para se ter uma idéia do impacto (ASSUMPÇÃO et al., 2005).

Uma forma de avaliar a pressão que estas espécies exercem sobre as

espécies nativas é caracterizar a dieta das espécies introduzidas e das nativas, e

verificar se há sobreposição alimentar (LOWE-MCCONNELL, op. cit.). Estudos

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sobre a alimentação de peixes fornecem dados sobre as características biológicas

da espécie, proporcionando um melhor entendimento das relações tróficas

existentes em ecossistemas aquáticos (ASSUMPÇÃO et al., 2005). Trata-se,

portanto de uma abordagem consistente para a avaliação dos processos interativos

dentro das comunidades aquáticas (WINEMILLER, 1989; HAHN et al., 1997a),

cujo espectro alimentar pode ser influenciado tanto pelas condições ambientais

como pela biologia de cada espécie.

Os estudos de ecologia trófica de peixes, através da análise de conteúdo

estomacal, fornecem uma oportunidade, ainda que indireta, de se avaliar de forma

mais ampla a estrutura do sistema numa macroescala espacial (HAHN et al.,

2004). WOOTTON (1990) comenta que os peixes ocupam virtualmente todos os

níveis tróficos da cadeia alimentar. Portanto, o alimento consumido permite

reconhecer dentro da ictiofauna grupos tróficos distintos, e inferir sobre a sua

estrutura, grau de importância dos diferentes níveis tróficos e inter-relações entre

seus componentes.

O conjunto mais acessível de informações sobre alimentação de peixes é

obtido de forma indireta, através do tradicional exame dos conteúdos gástricos

(WINDELL & BOWEN, 1978). As publicações de HYNES (1950), HYSLOP

(1980) e BOWEN (1992) estão entre as mais citadas em uma revisão sobre

métodos utilizados no estudo da alimentação de peixes (BENNEMANN et al.,

2006).

O conhecimento da dieta de peixes é importante para a obtenção de

informações sobre as relações de uma espécie com o ambiente em que vive,

considerando os aspectos biológicos, ecológicos e evolutivos. Devido a essas

interações, os peixes apresentam diversas especializações morfológicas,

fisiológicas e comportamentais, que os permitem ter uma grande plasticidade na

utilização do alimento (LOWE-MCCONNELL, 1987; SILVA, 1993).

Especialmente no que diz respeito à fauna neotropical de peixes de água

doce, onde são estimadas até 8.000 espécies (SCHAEFER, 1998), são conhecidas

c. 4.475 espécies válidas (REIS et al., 2003). Considerando que no Brasil existem

c. 2.122 espécies (BUCKUP et al., 2007), ainda desconhecemos boa parte da dieta

e seus hábitos alimentares. Acrescente-se o fato que a comparação entre

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informações publicadas mostra-se limitada em função da diversidade e falta de

padronização dos métodos de análise utilizados (BENNEMANN et al., 2006).

O conhecimento das relações entre diversos elos da rede alimentar dos

ecossistemas aquáticos ainda é pouco difundido no Brasil devido à escassez de

conhecimentos básicos sobre a biologia de grande parte da ictiofauna (DRENNER

et al., 1978). Especificamente, a análise de dietas alimentares em peixes tem

constituído um importante acervo para o incremento do conhecimento dos

processos que regulam os ecossistemas aquáticos tropicais. Esse tipo de análise

reflete não apenas a oferta do alimento disponível no ambiente, mas também a

escolha do alimento mais apropriado às necessidades nutricionais dos peixes

(ZAVALA–CAMIN, 1996).

As atividades dos peixes podem ter conseqüências importantes para a

estrutura e o funcionamento dos ecossistemas de água doce (LAZZARO, 1997). A

maioria dos estudos sobre a ecologia, especificamente a ecologia trófica, dos

peixes nas regiões tropicais incluiu análises de conteúdo estomacal, com enfoque

em peixes de maior porte. Embora essas análises tenham produzido grande

quantidade de informações valorosas, outras abordagens de pesquisa são

urgentemente necessárias para a complementação de tais dados, e o melhor

entendimento do papel e dos impactos dos peixes (ZAVALA-CAMIN, op. cit.).

Assim, fluxos de energia e nutrientes precisam ser quantificados para que se tenha

uma visão quantitativa do ecossistema, estes estudos são ainda escassos nas

regiões tropicais e subtropicais (ROCHE & ROCHA, 2005).

Os principais tipos de alimentação de peixes podem ser classificados, com

base na natureza dos itens ingeridos em: omnivoria, planctivoria, detritivoria,

iliofagia, piscivoria, insetivoria, herbivoria e bentivoria (AGOSTINHO et al.,

1997b; HAHN et al., 1997c). Alguns peixes têm dietas definidas em decorrência

de adaptações anatômicas e fisiológicas (ZAVALA-CAMIN, op. cit.; LAZZARO,

op. cit.), e a eficiência da alimentação, para diferentes tipos de alimento, varia

entre espécies, como, por exemplo, algumas são mais adaptadas para comer presas

associadas aos substratos, enquanto outras ao plâncton. A posição da boca é uma

outra característica reveladora: posição ventral geralmente significa comedor de

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fundo, terminal, que se alimenta à meia-água e superior, que se alimenta próximo

a superficie (RESENDE et al., 1996).

No entanto, a dieta de um indivíduo particular de peixe pode muitas vezes

depender da escolha do habitat, que é influenciada pelo tipo de predação, e está

relacionada com a natureza e a abundância dos itens alimentares nos habitats

disponíveis (ROCHE & ROCHA, 2005).

Idade, trofia, morfologia e hidrologia do corpo d’água podem ser fatores

importantes na determinação da natureza e dos impactos das comunidades de

peixes presentes (ROCHE & ROCHA, op. cit.). Numa escala evolutiva, a radiação

adaptativa de peixes, que ocorreu em vários lagos antigos, deu origem a

comunidades distintas de peixes (LOWE-MCCONNELL, 1987). Numa escala

temporal mais curta, pode ocorrer sucessão na estrutura da comunidade.

Segundo VIEIRA (1994), no médio Rio Doce é encontrado um sistema de

lagos que pode ser considerado como único no Brasil. Embora sejam

relativamente recentes, com aproximadamente 10.000 anos (DE MEIS, 1978), as

condições propiciadas pelo isolamento, em média 20 m acima do nível atual do

Rio Doce (VIEIRA, op. cit.), permitiram reconhecer como endêmica uma das

espécies de peixe (Oligosarcus solitarius) encontradas nestes lagos (MENEZES,

1987).

Como as populações de peixes respondem ao meio ambiente de modo

diferenciado e estas respostas dependem da intensidade e da duração dos

fenômenos envolvidos, muitas alterações ambientais, mesmo que de pequena

duração e intensidade, podem provocar efeitos imprevisíveis sobre os parâmetros

ambientais e fisiológicos que agem sobre as comunidades de peixes

(SINDERMANN, 1979).

Para se avaliar o impacto potencial de uma espécie de peixe sobre uma

população de presas, a produção das populações das presas precisa ser conhecida,

bem como as taxas de alimentação dos peixes (ROCHE & ROCHA, op. cit.).

Nesse contexto, estudos sobre a ecologia alimentar de peixes são de fundamental

importância para o conhecimento auto-ecológico das espécies, de eventuais

interações intra e interespecíficas, bem como para o delineamento da estrutura

trófica de toda a comunidade, fornecendo subsídios à implantação de técnicas de

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cultivo intensivo ou à elaboração de programas de manejo pesqueiro e de

conservação (NIKOLSKY, 1963; ZAVALA-CAMIN, 1996).

Alguns efeitos da introdução de espécies alóctones no médio Rio Doce

foram evidenciados por vários autores (GODINHO & FORMAGIO, 1992;

LATINI, 2001; POMPEU & GODINHO, 2001; ESPÍRITO SANTO et al., 2005).

Análises do conteúdo estomacal de Cichla ocellaris, Pygocentrus nattereri e

Astyanax bimaculatus foram realizadas por ASSUMPÇÃO et al. (2005) nos lagos

Almécega, Verde e Dom Helvécio, localizados no PERD. Porém, os trabalhos que

mostram a caracterização da dieta dos peixes nos lagos do médio Rio Doce são

ainda escassos.

Em relação à lagoa Carioca, estes estudos motram-se ainda mais raros.

SUNAGA & VERANI (1985) estudaram os hábitos e rítmos alimentares de

juvenis de Astyanax bimaculatus nesta lagoa e encontraram conteúdos estomacais

que foram divididos em 10 categorias, como larvas de Chironomidae, Rotifera,

Cladocera, entre outros. Estes peixes tiveram sua atividade alimentar verificada

principamente durante o dia, provavelmente parando de se alimentar à noite.

Outra espécie estudada na lagoa Carioca por VELLUDO et al. (2007) é a cumbaca

(Trachelyopterus striatulus) que foi determinada como de hábito alimentar com

tendência à insetivoria.

O presente estudo visa compreender e obter melhor conhecimento da

ictiofauna nativa em relação às interações com as espécies introduzidas, de modo

a contribuir para o melhor entendimento do impacto gerado pelas invasões

biológicas sobre a ictiofauna da lagoa Carioca.

Quanto maior o conhecimento sobre as espécies exóticas e alóctones, e

maiores as informações sobre as interações destas com as espécies nativas,

maiores serão as chances de sucesso no desenvolvimento de tecnologias e na

proposição de planos de manejo para as mesmas (ROCHA et al., 2005). Uma

avaliação mais completa dos efeitos de peixes exóticos sobre a cadeia trófica

auxiliará na proposição de um plano de manejo específico para a região e as

espécies envolvidas (LATINI et al., 2005).

Este trabalho constitui um estudo inédito, pois não se encontram na

literatura descrições da ecologia trófica de uma assembléia completa de peixes e o

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impacto gerado por espécies introduzidas em lagoas localizadas em uma unidade

de conservação. O projeto é parte integrante do Programa de Pesquisas Ecológicas

de Longa Duração (PELD) da UFMG o qual suporta um estudo mais amplo que

visa implementar um plano experimental de manejo e controle de espécies de

peixes invasores na lagoa Carioca. A expectativa é que as informações geradas

por este estudo constituam subsídios essenciais para o enfrentamento do principal

problema ecológico do Parque Estadual do Rio Doce, que é o controle e eventual

erradicação de espécies exóticas daquela Unidade de Conservação.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Este projeto teve como objetivo geral realizar estudos sobre a ecologia

trófica da ictiofauna da lagoa Carioca, através da avaliação da dieta das espécies

de peixes, após a introdução de espécies alóctones neste ambiente.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar o conteúdo estomacal das espécies de peixes encontradas,

caracterizando sua dieta o mais detalhadamente possível;

• Propor e estabelecer guildas tróficas, de acordo com o item alimentar

predominante;

• Observar se existe sobreposição alimentar e suas implicações ecológicas;

• Evidenciar possíveis efeitos das espécies introduzidas e danos causados às

espécies nativas com base nos dados de dieta e interações tróficas.

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3. ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual do Rio Doce (PERD), está localizado entre as latitutes

19o29’24’’ - 19o48’18” S e longitudes 42o28’18” - 42o38’30” W, do trecho médio

da bacia do Rio Doce (BARBOSA & MORENO, 2002). A precipitação média é

de 1500 mm, com a máxima ocorrendo em dezembro e mínima ocorrendo em

julho (TUNDISI, 1997).

Nos lagos do vale do Rio Doce a matriz do entorno é caracterizada

basicamente pela presença de Mata Atlântica na área do PERD (Figura 1) e as

áreas de entorno, por sua vez, são principalmente ocupadas por grandes plantações

de Eucalyptus sp., pastagens e áreas de agricultura diversificada (BARBOSA &

MORENO, op. cit.). São lagos permanentes e fechados, com ciclo hidrológico

regido diretamente pelo aporte de águas de chuva ou escoamento da bacia de

drenagem e contribuições do lençol freático (DE MEIS & TUNDISI, 1997).

Segundo TUNDISI (op. cit.), o clima da região é tropical quente, com dois

períodos marcantes: chuvoso (outubro-março) e seco (maio-agosto). A

temperatura média é de 30 oC e a precipitação anual de 1500 mm (NAKAMOTO

et al. 1997).

Esse conjunto de lagos contém cerca de 1/3 de toda ictiofauna da bacia do

Rio Doce, com cerca de 26 espécies (LATINI, 2001). LATINI et al. (2005) em

amostragens de 56 lagos dentro da área do PERD e da CAF (Companhia Agrícola

Florestal Santa Bárbara, Grupo Arcelor), registraram a ocorrência de peixes

exóticos em 40 lagos. Destes 40, 11 se encontram na CAF e 29 no PERD.

Conseqüentemente, o número de lagos ainda não invadidos são 13 na CAF e

somente 3 (Azul, Gambazinho e Lagoinha) no PERD.

Dentre as lagoas do PERD, a lagoa Carioca é considerada uma lagoa rasa

(profundidade máxima: 11,8m; média: 2,7m), de formato arredondado

(comprimento máximo: 576,3 m; largura máxima: 329,8 m), alcançando uma área

de 13,2 ha (BARBOSA & TUNDISI, 1980). Trata-se de um ambiente “fechado”,

mesotrófico e monomítico-quente, com circulação entre maio e agosto, exibindo

ainda períodos de estratificação e desestratificação a intervalos diurnos

(atelomixia), como demonstrado por BARBOSA & PADISÁK (2002).

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Figura 1. Localização da área de estudo (Parque Estadual do Rio Doce) e da lagoa Carioca (indicada pela seta azul). Fonte: Mapa Geopolítico de Minas Gerais – IGAM/CETEC – 1996, adaptado de Godinho (1996) e Base Digital GeoMINAS/Prodemge, 1996. Modificado de IGAM (2007).

Segundo VONO (1995), nos lagos do médio Rio Doce os habitats da

região litorânea apresentam características distintas no que diz respeito à presença

de macrófitas aquáticas, troncos, composição do substrato,

profundidade/declividade, grau de sombreamento e tipo de vegetação marginal.

Estes fatores proporcionam graus diferentes de complexidade física, resultando

numa diversidade de recursos e habitats na região litorânea e favorecendo

diferentes espécies de peixes.

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Na lagoa Carioca (Figura 2), a vegetação circundante é Mata Atlântica do

tipo estacional semidecidual (POMPEU & GODINHO, 2001). Na região litorânea

da lagoa, verifica-se a ocorrência de macrófitas aquáticas representadas,

principalmente, por Nymphea elegans, Eleocharis interstincta, Nymphoides indica

e Mayaca fluviatilis (TAVARES, 2003).

Foram determinadas quatro estações de coleta dispostas em locais

representativos de diferentes habitats na região litorânea, sendo dois locais em

região com macrófitas aquáticas e dois em região com mata ciliar (Figura 2).

Figura 2. Lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG com indicação das estações de coleta. Legenda: 1 e 3: representam regiões com macrófitas; 2 e 4: regiões de borda de mata; Ø: acesso à lagoa pela trilha e FMA: Floresta de Mata Atlântica. Fonte: Foto aérea adaptada de Levantamento Aerofotométrico, Coronel Fabriciano – 4. Folha 36-22-03 / CEMIG - 1989.

As estações de coleta 1 e 3 representam regiões com presença de

macrófitas aquáticas, principalmente ninfeáceas, pouco sombreamento e um perfil

batimétrico suave, com uma zona rasa relativamente ampla, e aumento lento da

profundidade. Apresentam deste modo, uma grande heterogeneidade estrutural

oferecida tanto pelas macrófitas quanto por pedaços de galhos e troncos.

1 2 3

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As estações de coleta 2 e 4 representam regiões de borda de mata, com um

sombreamento maior oferecido pelas árvores do entorno da lagoa, quando

comparadas às regiões de macrófitas aquáticas. Estes locais apresentam um perfil

batimétrico íngreme, com um aumento brusco da profundidade e uma

heterogeneidade estrutural mais baixa, pela carência de vegetação aquática.

Troncos grandes e galhos provenientes da mata estão presentes, porém, muitas

vezes difíceis de serem observados devido à maior profundidade nestas regiões.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 COLETA

4.1.1 DADOS ABIÓTICOS

As variáveis físicas e químicas pH, condutividade elétrica, oxigênio

dissolvido e temperatura da água, foram determinadas com o auxílio de uma

sonda multiparâmetros de Horiba. Estes valores representam a medida em um

único ponto de amostragem a 1,0 m de profundidade na região mais profunda da

lagoa (11,8 m). Para o mês de maio não há dados físicos e químicos da água e,

portanto, não foi utilizado nas análises de CCA e Correlações Simples.

Os dados de pluviosidade e temperatura foram coletados da estação

meteorológica do Parque Estadual do Rio Doce e obtidos junto ao Centro de

Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Pela variação climática duas

estações bem definidas são estabelecidas, sendo a estação chuvosa considerada de

outubro a março e a estação seca de abril a setembro.

4.1.2 DADOS BIÓTICOS

Em cada estação de coleta foram colocadas seis redes de emalhar com

diferentes tamanhos de malha (3,0 cm; 4,0 cm; 6,0 cm; 8,0 cm; 10,0 cm e 12,0 cm

entrenós opostos). Todas as redes foram dispostas perpendicularmente à margem,

permaneceram por 24 horas nos locais e foram vistoriadas periodicamente com

intervalo de 6 horas para a retirada dos exemplares capturados. Além das redes de

emalhar, três armadilhas (covos), com tamanhos distintos de abertura (“boca”),

foram colocadas em diferentes profundidades (superfície, meio e fundo) por

estação de coleta, a fim de se obter uma amostra mais representativa do ambiente

e minimizar o efeito da seletividade da coleta com as redes de emalhar.

As coletas tiveram esforço padronizado e periodicidade bimestral, e

ocorreram no período de um ano. Ao todo, foram realizadas oito coletas. Em

2006, ocorreram três coletas, nos meses de setembro, outubro e novembro, sendo

as duas primeiras, coletas-piloto para reconhecimento da área, definição das

estações de coleta e padronização do esforço de pesca. No ano de 2007, as coletas

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se deram nos meses de janeiro, março, maio, julho e setembro. Exemplares das

coletas-piloto foram considerados neste trabalho, especialmente aqueles das

espécies menos abundantes.

Os exemplares coletados foram identificados de acordo com a data e

horário de coleta e petrecho utilizado e foram acondicionados em gelo. Após estes

procedimentos, foi realizada a biometria (comprimentos total e padrão e peso

total) e a dissecação dos exemplares. Por meio de incisão ventral, os peixes foram

dissecados sendo realizada a determinação macroscópica do sexo, estádio de

maturação gonadal, e do grau de repleção do estômago, estabelecido de acordo

com o Quadro 1. Após a pesagem em balança de precisão, os estômagos foram

fixados em formol a 4%.

A identificação e/ou confirmação das espécies foi feita com a consulta à

literatura e especialistas. Parte dos exemplares foi fixada em formol a 10 % e

conservados em álcool a 70% para depósito em coleções científicas.

4.2 ANÁLISE DE DADOS

4.2.1 DADOS ABIÓTICOS

Foram estimados os valores mensais das médias de pluviosidade e da

temperatura do ar e análise gráfica da variação ao longo do período de

amostragem. Juntamente com os dados das variáveis físicas e químicas da água

estes dados foram utilizados nas análises multivariadas (CCA) e de correlação

simples (Spearman), juntamente com dados bióticos.

4.2.2 DADOS BIÓTICOS

Para a avaliação do volume do bolo alimentar, que mostra sua

porcentagem em relação ao volume máximo do estômago, no momento da análise

do conteúdo estomacal foram atribuídos pontos de acordo com a escala seguinte:

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15

Quadro 1. Pontos atribuídos no estabelecimento do grau de repleção dos estômagos estudados, segundo KNOPPEL (1970) e HARAM & JONES (1971), modificado.

Grau de Repleção (GR) Pontos

Vazio 0

0-1/4 cheio 1

1/4-2/4 cheio 2

2/4-3/4 cheio 3

4/4 cheio 4

Todos os peixes coletados que tiveram seus estômagos analisados foram

indivíduos adultos. Foram considerados estômagos passíveis de análise aqueles

com valores de GR ≥ 2. Porém, para as espécies com um número pequeno de

indivíduos coletados, todos os estômagos com alimento (GR ≥ 1) foram abertos

para que um resultado mais consistente fosse encontrado. Uma subamostragem foi

utilizada para o tamboatá (Hoplosternum littorale) devido ao número elevado de

estômagos com GR > 2 em todo o período de estudo. A análise do conteúdo

estomacal foi realizada sob lupa, identificando-se os itens até a menor categoria

taxonômica possível.

Dois métodos conjugados foram utilizados na análise do conteúdo

estomacal das espécies estudadas:

i) freqüência de ocorrência (HYSLOP,1980), objetivando a identificação

dos itens da dieta das espécies. Este método registra o número de estômagos

contendo um ou mais indivíduos de cada categoria de alimento, expressando-o,

conforme indicado abaixo, como uma percentagem do total de estômagos

analisados:

rOiFi 100.

=

em que:

Oi = número de estômagos contendo item alimentar i;

r = número total de estômagos analisados.

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16

A maior vantagem deste método é de ser simples e rápido, pois não exige

muito esforço na identificação e contagem dos vários itens alimentares. Porém, é

limitante no sentido de fornecer pouca informação sobre a quantidade de alimento

total e relativa a cada item. A freqüência de ocorrência assinala a presença e,

conseqüentemente a ausência de espécies ou itens encontrados nos estômagos

permitindo informações qualitativas sobre a dieta do predador, mas tem a

desvantagem de geralmente não ser possível identificar todas as presas

(ZAVALA-CAMIN, 1996).

ii) volume-peso total ou parcial do conteúdo estomacal, permitindo estimar

a quantidade de alimento com que participa cada item. A dificuldade na obtenção

exata do volume dos alimentos encontrados nos estômagos tem dado origem ao

“método dos pontos” (HYNES, 1950; HYSLOP, 1980), o qual consiste em

estimativas subjetivas de volumes de conteúdo estomacal, os quais são agrupados

e cada grupo recebe um valor mais simples (ponto).

Para a análise do conteúdo estomacal, foi utilizado o método volumétrico

(Vi) pela atribuição de pontos segundo HYNES (op. cit.). Para isso, cada item

alimentar teve a porcentagem estimada visualmente, contando-se os quadrantes

ocupados em um papel milimetrado, pelo total de quadrantes ocupados por todos

os itens. No método volumétrico, o volume de cada item alimentar ou grupo de

itens é medido e expresso como uma porcentagem do volume total, de acordo com

a fórmula abaixo:

PtPiVi 100.

=

sendo que:

Pi = quantidade de pontos do item i;

Pt = quantidade total de pontos.

Os dados obtidos segundo a metodologia empregada foram utilizados no

cálculo do Índice Alimentar (IAi) (KAWAKAMI & VAZZOLER, 1980).

Os aspectos considerados mais importantes no regime alimentar de peixes

são: i) a freqüência com que um determinado item é consumido e ii) o seu

volume. Esses aspectos são tratados segundo métodos revistos por HYNES (op.

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cit.) na qual a freqüência de ocorrência corresponde à freqüência porcentual do

número de estômagos com alimento e o volumétrico, pelo qual o volume é

expresso na forma porcentual, considerando o volume de determinado item

alimentar em relação ao volume de todos os itens alimentares encontrados nos

estômagos.

A partir da razão entre o produto da freqüência de ocorrência e volume

(em valores porcentuais) de cada item, e da somatória dos produtos para todos os

itens constatados, foi possível estimar um “índice alimentar” para cada item,

estabelecendo a seguinte relação KAWAKAMI & VAZZOLER (1980):

∑=

= n

iViFi

ViFiIAi

1).(

.

na qual:

IAi = índice alimentar

i = nº de determinado item alimentar

Fi = freqüência de ocorrência (%) de cada item;

Vi = volume (%) de cada item.

O “índice alimentar” permite distinguir adequadamente a importância

efetiva de cada item na alimentação da espécie, possibilitando ainda uma

avaliação quantitativa das variações espacial e temporal das disponibilidades quali

e quantitativas dos diferentes itens alimentares para cada espécie estudada. As

informações obtidas, relativas a várias espécies de uma mesma região, podem nos

levar a compreensão da interação dos processos alimentares entre diferentes

espécies de peixes (KAWAKAMI & VAZZOLER, op. cit.). Para a verificação da possível ocorrência de sobreposição alimentar entre

as espécies foi empregado o Índice de Sobreposição de MORISITA (1959), com

modificação introduzida por SCHROEDER-ARAÚJO (1980), no qual a

contribuição proporcional de determinado item é apresentada como proporção

volumétrica para a espécie como um todo. A expressão é a seguinte:

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∑∑

==

=

+= S

i

S

i

S

i

YiXi

XiYiC

1

2

1

2

1)(

.2λ

em que:

Cλ = coeficiente de sobreposição que varia de 0 a 1, desde a completa segregação,

até a sobreposição total;

i = itens alimentares 1, 2,...; Xi e Yi freqüência relativa (%) dos itens alimentares

(i), das espécies X, Y.

Como muitas espécies não foram capturadas ao longo de todos os meses

de coleta, o cálculo da sobreposição foi feito para todo o período.

A similaridade entre a dieta das espécies estudadas pôde ser medida a

partir dos valores de índice alimentar através do método de aglomeração por

ligação simples usando o coeficiente de Bray-Curtis, sendo o resultado exibido na

forma de dendrograma e calculado por:

∑∑

+

−=

)()(

ikij

ikij

XXXX

B

sendo: Xij = freqüência de ocorrência da espécie i na estação de coleta j;

Xik = freqüência de ocorrência da espécie i na estação de coleta k;

1-B = Similaridade de Bray-Curtis

A semelhança entre as dietas, formando as guildas tróficas foi ainda

evidenciada pelo emprego da Análise Multivariada de Componentes Principais

(PCA). Para elucidar a relação entre dados abióticos da lagoa Carioca com alguns

aspectos bióticos dos peixes realizou-se uma Análise Multivariada de Correlação

Canônica (CCA) e Correlações Simples de Spearman.

A Análise Multivariada de Correlação Canônica (CCA) foi feita a partir

dos dados de freqüência de ocorrência das espécies e dados ambientais,

determinados em cada coleta. Para este exame, foi feito o teste de Monte Carlo

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com randomização dos dados, que foram permutados 100 vezes, levando em

consideração as características dos meses.

Na determinação da Similaridade de Bray-Curtis e das análises

multivariadas foi utilizado o Programa Estatístico PC-ORD versão 4. O programa

estatístico Sigma Stat versão 11 foi utilizado na Correlação Simples de Spearman.

Para esta correlação foram utilizados os dados bióticos de volume dos principais

itens alimentares agrupados nas guildas tróficas estabelecidas, a abundância das

espécies e o grau de repleção com os dados ambientais.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. FATORES AMBIENTAIS

A lagoa Carioca apresentou uma variação sazonal bem definida, com o

ínicio das chuvas em setembro de 2006 terminando em março de 2007,

caracterizando o tempo de estudo em dois períodos distintos. A pluviosidade

variou de 562,11 mm (máxima) no mês de dezembro de 2006 a 0,27 mm

(mínima) em julho de 2007. As menores temperaturas ocorreram no mês de junho

de 2007 (17,6 oC) e as maiores no mês de janeiro de 2007 (24,2 oC). Os valores

médios mensais de pluviosidade, da temperatura do ar e da água podem ser

verificados na Figura abaixo:

0

100

200

300

400

500

600

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set15

20

25

30

35

Pluviometria (mm) Temperatura ar (°C) Temperatura °C (água)

Figura 3. Dados mensais de 2006 e 2007 de temperatura da água (oC) (Fonte: Projeto PELD/UFMG), temperatura do ar (oC) e pluviosidade (mm) (Fonte: CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. PCD (Plataforma de Coleta de Dados) do Parque Estadual do Rio Doce - MG.

Com relação as variáveis físicas e químicas da água, de modo geral, a

lagoa Carioca é um ambiente de pH ácido, condutividade elétrica baixa, oxigênio

dissolvido abundante (com valores freqüentemente acima de 7 mg/L) e variação

sazonal de temperatura. Os dados estão apresentados na Tabela seguinte:

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Tabela 1. Dados de temperatura (oC), pH, oxigênio dissolvido (OD) (mg/L) e condutividade coletados de setembro de 2006 a setembro de 2007, na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG. Fonte: Projeto PELD/UFMG.

Meses Temperatura pH OD CondutividadeSetembro 06 23,9 3,90 12,49 33 Outubro 06 28,8 5,20 11,90 35

Novembro 06 29,9 5,01 8,00 32 Dezembro 06 29,8 5,18 7,29 33

Janeiro 07 29,8 5,03 7,15 30 Fevereiro 07 30,4 5,12 7,23 30

Março 07 30,1 5,02 7,40 31 Abril 07 27,6 5,35 9,87 31 Maio 07 23,8 6,90 x x Junho 07 22,4 6,30 8,70 31 Julho 07 23,1 7,50 8,50 29

Agosto 07 23,2 7,7 8,20 40 Setembro 07 25,0 7,10 5,75 31

5.2. COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA

Na lagoa Carioca foram coletados no período de setembro de 2006 a

setembro de 2007 um total de 540 exemplares de 13 espécies pertencentes a 4

ordens e 8 famílias, sendo 8 espécies nativas e 5 introduzidas (Tabela 2).

A ordem com o maior número de espécies foi Characiformes, com 5

espécies nativas e 1 espécie introduzida, seguida da ordem Siluriformes com 2

espécies nativas e 2 introduzidas. Finalmente, com 2 espécies introduzidas a

ordem Perciformes e a ordem Gymnotiformes com uma espécie nativa.

Dentre as famílias encontradas, estão a família Characidae com 3 espécies,

sendo uma introduzida; as famílias Erythrinidae, Callichthyidae e Cichlidae com 2

espécies cada, sendo que as duas espécies de calictídeos e de ciclídeos são

introduzidas e as famílias Anostomidae, Heptapteridae, Auchenipteridae e

Gymnotidae com uma espécie cada.

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Tabela 2. Lista de espécies coletadas na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. Fonte: Reis et al., 2003 e Fishbase.

ESPÉCIES NATIVAS NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR ORDEM CHARACIFORMES FAMÍLIA ERYTHRINIDAE Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix & Agassiz, 1829) Jeju, marobá Hoplias gr. malabaricus (Bloch, 1794) Traíra FAMÍLIA CHARACIDAE Astyanax aff. bimaculatus (Linnaeus, 1758) Lambari do rabo amarelo Brycon sp. Piabanha FAMÍLIA ANOSTOMIDAE Leporinus cf. steindachneri Eigenmann, 1907 Piau ORDEM GYMNOTIFORMES FAMÍLIA GYMNOTIDAE Gymnotus sp. Tuvira, Sarapó ORDEM SILURIFORMES FAMÍLIA HEPTAPTERIDAE Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Bagre FAMÍLIA AUCHENIPTERIDAE Trachelyopterus striatulus (Steindachner, 1877) Cumbaca, Cangati

ESPÉCIES INTRODUZIDAS NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR ORDEM CHARACIFORMES FAMÍLIA CHARACIDAE Pygocentrus nattereri Kner, 1858 Piranha ORDEM SILURIFORMES FAMÍLIA CALLICHTHYIDAE Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) Peixe-pedra Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) Tamboatá ORDEM PERCIFORMES FAMÍLIA CICHLIDAE Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) Apaiari, Cará-amazonas Cichla kelberi Kullander & Ferreira, 2006 Tucunaré

Os principais dados biométricos (comprimento total, peso total e peso do

estômago) das espécies coletadas que tiveram seus estômagos analisados estão

apresentados na Tabela 3:

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Tabela 3. Valores mínimos e máximos de comprimento total (CT), peso total (PT), peso do estômago (PE) e número de exemplares (n) de cada espécie de peixe coletada no período de setembro de 2006 a setembro de 2007 na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

Espécie n CT (cm) PT (g) PE (g) A. ocellatus 11 14,0 – 25,6 59,91 – 443,85 0,23 – 2,69 A. aff. bimaculatus 7 10,1 – 10,7 11,06 – 39,84 0,12 Brycon sp. 8 35,6 – 40,6 541,41 – 1028,11 4,28 – 22,75 C. callichthys 1 13,5 39,32 x C. kelberi 32 19,0 – 35,4 93,55 – 513,19 0,80 – 7,20 Gymnotus sp. 6 24,7 – 31,5 42,01 – 102,84 0,75 – 2,69 H. unitaeniatus 19 22,2 – 27,8 164,4 – 315,15 2,42 – 7,99 H. gr. malabaricus 105 24,3 – 33,3 158,7 – 637,67 1,83 – 65,78 H. littorale 254 15,0 – 25,9 55,39 – 362,12 0,38 – 3,53 L. cf. steindachneri 5 38,7 – 42,2 957,11 – 1282,36 1,73 – 7,41 P. nattereri 49 7,0 – 31,0 6,81 – 905,41 0,20 – 16,58 R. quelen 5 29,0 – 33,0 279,58 – 403,66 2,58 – 9,52 T. striatulus 38 8,8 – 22,0 8,59- 165,53 0,08 – 4,91

Nos ambientes neotropicais não estuarinos é esperado se encontrar as

ordens Characiformes e Siluriformes, reunindo a maior parte das espécies

(LOWE-MCCONNELL, 1999) como verificado na lagoa em estudo (Figura 4).

46,2

30,8

15,4

7,7

0

15

30

45

60

75

Characiformes Siluriformes Perciformes Gymnotiformes

Freq

üênc

ia d

e oc

orrê

ncia

(%)

Figura 4. Freqüência de ocorrência das ordens de peixes coletados no período de setembro de 2006 a setembro de 2007 na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

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A freqüência relativa (%) (Figura 5) e o número absoluto de indivíduos

capturados para cada espécie foram respectivamente: Astronotus ocellatus 2%

(11); Astyanax aff. bimaculatus 1% (7); Brycon sp. 1% (8); Callichthys

callichthys 0,2% (1); Cichla kelberi 6% (32); Gymnotus sp. 1% (6);

Hoplerythrinus unitaeniatus 4% (19); Hoplias gr. malabaricus 20% (105);

Hoplosternum littorale 47% (254); Leporinus cf. steindachneri 1% (5);

Pygocentrus nattereri 9% (49); Rhamdia quelen 1% (5) e Trachelyopterus

striatulus 7% (38).

ApaiariBagreCumbacaJejuLambariPeixe-pedraPiabanhaPiauPiranhaTamboatáTraíraTucunaréTuvira

Figura 5. Freqüência relativa (%) de indivíduos capturados para cada espécie de peixes, coletados no período de setembro de 2006 a setembro de 2007 na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

Desta maneira, a composição da ictiofauna da lagoa Carioca está

representada por 36 % de indivíduos nativos e 64% introduzidos, coletados no

período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Uma avaliação preliminar da comunidade de peixes atual da lagoa Carioca

permite verificar como a composição de espécies se modificou ao longo dos

últimos 20 anos, muito provavelmente em decorrência da introdução de espécies

alóctones.

SUNAGA & VERANI (1991) em amostragens realizadas em 1983

coletaram 11 espécies nativas (A. bimaculatus, Astyanax fasciatus, Moenkausia

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doceana, Brycon cf. devillei, Oligosarcus cf. macrolepis, Curimata elegans,

Leporinus copellandii, H. malabaricus, H. unitaeniatus, Rhamdia sp. e

Geophagus brasiliensis).

Na ictiofauna atual (neste trabalho) a lagoa Carioca apresenta 62 % das

espécies nativas e 38 % introduzidas (Figura 6). Das 11 espécies nativas

reportadas por SUNAGA & VERANI (1991) apenas 6 espécies foram relatadas

no presente trabalho: A. aff. bimaculatus, Brycon sp., L. steindachneri, H. gr.

malabaricus, H. unitaeniatus e R. quelen, o que mostra o efeito das duas décadas

de presença de peixes introduzidos na lagoa Carioca.

A Figura 6 mostra a alteração sofrida na estrutura da comunidade da

ictiofauna original de 1983 até 2007. Os dados apresentados são relativos às

coletas de 1983, 1985 e 1987 de acordo com SUNAGA & VERANI (op. cit.),

1992 (GODINHO et al., 1994), 2002-2003 (VASCONCELLOS et al., 2005) e

neste estudo (2006-2007).

62 % (8)

57 % (8)

80 % (8)

86 % (6)

91 % (10)

100 % (11)

38 % (5)

43 % (6)

20 % (2)

14 % (1)

9 % (1)

0 % (0)1983

1985

1987

1992

2002

Atual

Espécies nativas Espécies introduzidas

Figura 6. Representação gráfica do histórico de introdução de espécies de peixes e respectivo efeito na redução da ictiofauna nativa da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, de 1983 até 2007.

Em 1985, SUNAGA & VERANI (op. cit.) coletaram o tucunaré na lagoa

Carioca e 3 anos depois da primeira amostragem, em 1987, 7 espécies não foram

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mais coletadas, das quais 5 espécies forrageiras nunca mais foram encontradas

neste ambiente.

GODINHO et al. (1994) encontrou, além de tucunarés, piranhas na lagoa

Carioca. No decorrer do tempo, outras introduções ocorreram nas coleções de

água do entorno do PERD e que permitiram que espécies exóticas alcançassem a

lagoa Carioca.

A partir das amostragens de 2002, o número de espécies introduzidas

subiu para 4 (LATINI et al., 2005) e 6 espécies (VASCONCELLOS et al., 2005),

que além das 5 espécies coletadas no presente trabalho encontraram Clarias

gariepinus, o bagre africano.

Podemos notar neste histórico, que na lagoa Carioca, apesar da

possibilidade da presença de espécies exóticas, nenhum peixe introduzido foi

coletado em 1983. Entre as 11 espécies de peixes nativas, sabe-se que 9 espécies

eram Characiformes. Em 1985, apenas um espécime de tucunaré foi coletado pela

primeira vez nesta lagoa (SUNAGA & VERANI, 1991).

A conclusão é que uma mudança significativa na comunidade de peixes

deve ter ocorrido entre 1985 e 1987 (SUNAGA & VERANI, op.cit.), muito

provavelmente diretamente associada à presença do tucunaré.

Quando o tucunaré é introduzido em condições favoráveis, pode resultar

em extinções de algumas espécies autóctones (GODINHO & FORMAGIO,

1992), como foi observado na lagoa Carioca. Por outro lado, segundo POMPEU

& GODINHO (2001), esta ameaça pode ser compensada por uma flexibilidade na

dieta de espécies nativas piscívoras (competidoras das espécies introduzidas

piscívoras), o que nestes ambientes pode estar contribuindo para assegurar a

manutenção da população, como no caso da traíra.

5.3. HÁBITOS ALIMENTARES

Foram analisados 162 (30%) estômagos dos 540 peixes coletados. As

espécies pouco abundantes nas amostragens e que, devido a isso, tiveram um

pequeno número de estômagos analisados estão representadas na Figura 7, com

valores médios do grau de repleção (em pontos).

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27

0

1

2

3

4

Astronotus ocellatus

Rhamdia quelen

Hoplerythrinus unitaeniatus

Astyanax bimaculatus

Brycon sp.

Leporinus cf. steindachneri

Gymnotus sp.Gra

u de

repl

eção

méd

io (p

onto

s)

Figura 7. Grau de repleção médio (GR) das 7 espécies com pequeno número de estômagos analisados da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Dentre estas espécies, a que apresentou o menor valor de GR (1) foi A. aff.

bimaculatus (lambari) e as espécies que apresentaram os maiores valores foram H.

unitaeniatus e Gymnotus sp. (GR = 2,25 ), com 8 e 4 exemplares analisados,

respectivamente.

5.3.1 - Astronotus ocellatus (Apaiari)

Foram coletados 11 indivíduos sendo que 8 exemplares tiveram seus

estômagos analisados. O principal item alimentar foi composto principalmente de

insetos (IAi = 0,8840) seguido por camarão com IAi = 0,0458. A maioria dos

insetos que foram identificados na alimentação do apaiari é aquática, tendo sido

encontrados tubos de Trichoptera e larvas da família Polycentropodidae, larva de

Lepidoptera da família Noctuidae e por fim pupas e larvas de Chironomidae com

uma menor representatividade na dieta conforme pode ser visto na Tabela 4.

Esta espécie foi classificada como insetívora devido ao seu elevado valor

de IAi para esta categoria que chega quase a 0,9. Os outros itens, como moluscos

e camarões reforçam sua dieta carnívora e restos vegetais possuem valores muito

baixos (Figura 8). SMITH et al. (2003), em estudos de reservatórios do médio e

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baixo Tietê, encontraram como itens alimentares preponderantes do A. ocellatus,

escamas, gastrópodes e peixes.

Tabela 4. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Astronotus ocellatus (n = 8) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Insetos n. i. 50 2378 0,8668

Camarão (Palaemonidae) 12,5 503 0,0458Material Vegetal 50,0 214 0,0312Sedimento 25 95 0,0173Trichoptera 37,5 36 0,0098Gastropode n. i. 12,5 94 0,0086

Lepidoptera-Noctuidae (larva) 12,5 66 0,0060Biomphalaria sp. 12,5 62 0,0056Bivalve n. i. 12,5 56 0,0051Melanoides tuberculatus 25 10 0,0018Trichoptera - Polycentropodidae (larva) 12,5 8 0,0007Molusco n. i. 12,5 6 0,0005Chironomidae (pupa) 12,5 5 0,0005Chironomidae (larva) 12,5 2 0,0002

A espécie A. ocellatus foi a única que teve em sua dieta a ingestão de

moluscos, dentre estes o Melanoides tuberculatus (Tabela 4), um gastrópode

exótico da família Thiaridae, originária do Leste e Norte da África, que possui

uma grande capacidade migratória e fácil adaptação, tornando-se bem

estabelecido em todos os tipos de substratos (MARTINHO et al. 2005).

Estudos realizados por LUCCA & ROCHA (2005) e MARTINHO et al.

(op. cit.) nos anos de 2003 e 2004, não registraram a ocorrência do M.

tuberculatus na lagoa Carioca. Isso demonstra que a chegada desta espécie na

lagoa é bem recente e que o apaiari, apesar de ter apresentado apenas dois

indivíduos com estômagos contendo o M. tuberculatus, pode estar se aproveitando

deste gastrópode como um novo item alimentar disponível em abundância

(RELATÓRIO PELD/UFMG, 2005) no ambiente e talvez atuar como um possível

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agente controlador desta espécie invasora. Este fato pode ser reforçado ainda pela

presença de outros gastrópodes e moluscos na dieta de outros exemplares de A.

ocellatus, mas que não foi possível a identificação específica.

A grande abundância de macroinvertebrados raspadores na lagoa Carioca

se deve à invasão de Melanoides tuberculatus, apesar de ser esperada uma grande

proporção desse grupo funcional nestes ambientes, já que grande parte da matéria

orgânica presente é de origem autóctone. Essa espécie talvez possa atuar como um

agente modificador tão ou mais eficiente sobre a comunidade bentônica do que as

espécies introduzidas de peixes (RELATÓRIO PELD/UFMG, 2005).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi

InsetosCamarãoMaterial VegetalMoluscoSedimento

Figura 8. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para o Astronotus ocellatus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

O apaiari é também conhecido por acará-açu, acará-grande e cará-açu,

entre outros, e não é nativo da bacia do Rio Doce. Embora sua distribuição

geográfica original inclua o norte da América do Sul (Venezuela, Guianas e Bacia

Amazônica) e o rio Paraguai, já foi introduzido em várias outras partes do Brasil

(GODINHO, 1996). O registro mais antigo de introdução de espécie alóctone no

Brasil aparentemente é o apaiari (Astronotus ocellatus), introduzido em 1938, na

região Nordeste e em seguida no Sudeste (CNEC, 1969). O apaiari é um ciclídeo

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que apresenta hábito alimentar onívoro, ingerindo frutos, insetos, crustáceos e

pequenos peixes (LATINI, 2001).

De acordo com VAZ (2000), possui porte médio (até 35 cm), é

considerada uma espécie onívora, com tendência a carnivoria, consumindo peixes,

insetos, camarões e eventualmente frutos e sementes. A primeira maturação

gonadal se dá com c. 25 cm de comprimento e idade entre 15 e 24 meses e na

época de reprodução formam casais que desovam em ninhos, mas possui

fecundidade baixa, entre 1500 e 2000 ovócitos.

Ambos os pais preparam e limpam o local onde serão postos os ovos, que

ficam aderidos à sua superfície. Horas após a postura, os pais escavam um

pequeno ninho, geralmente perto do local onde são postos os ovos. Pouco depois

da eclosão, que em média ocorre 2 dias após a postura, os pais transferem os

filhotes para o ninho com a boca. Pais e filhotes ficam juntos por 40-50 dias

(GODINHO, 1996). O cará-amazonas foi primeiramente registrado na lagoa

Amarela em 1987. Na lagoa Dom Helvécio foi detectado pela primeira vez em

1992. Em 1993, já era uma espécie comum (GODINHO, op. cit.).

5.3.2 - Astyanax aff. bimaculatus (Lambari)

De um total de 7 indivíduos capturados, apenas 4 estômagos apresentaram

algum conteúdo alimentar e foram avaliados (Figura 7). Conforme apresentado na

Tabela 5, o principal item alimentar do lambari foi “insetos não identificados”,

com o IAi = 0,8991 e que ocorreu em todos os estômagos. Em seguida, com

freqüência de ocorrência igual de 25%, ocorreram adultos de Ephemeroptera

encontrados em apenas um exemplar, uma aranha e uma formiga da tribo Attini;

nesta ordem de importância. Por fim, o item com o menor valor de índice

alimentar foi material vegetal, constituído por pedaços de casca de árvores. Todos

estes alimentos que puderam ser identificados como de origem alóctone indicam o

aproveitamento dos possíveis itens que caem no ambiente aquático e que condiz

perfeitamente com o forrageamento típico dos lambaris (VAZ, op. cit.).

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Tabela 5. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Astyanax aff. bimaculatus (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência

% Volume (pontos)

IAi

Insetos n. i. 100 98 0,8991Ephemeroptera (adulto) 25 24 0,0550Araneae 25 17 0,0390Formicidae (Attini) 25 2 0,0046Material Vegetal 25 1 0,0023

Esta espécie foi considerada como insetívora, o que pode ser evidenciado

na Figura 9, apesar do pequeno número de exemplares analisados. VIEIRA

(1994), estudando a alimentação de A. bimaculatus nos lagos Verde e Hortência

(médio Rio Doce), apesar do baixo número de indivíduos com conteúdo estudado,

também classificou esta espécie como insetívora.

De acordo com ANDRIAN et al. (2001), o espectro alimentar da

população de A. bimaculatus no reservatório da Usina Hidrelétrica de Corumbá,

foi composto de 27 itens. Os alimentos de origem vegetal foram identificados

como Dicotiledoneae, Monocotiledoneae, algas filamentosas e resto vegetal.

Dentre os alimentos de origem animal verificaram-se insetos, peixes, anfíbios,

répteis, aranhas, anelídeos e nematóides. Destacaram-se os insetos das ordens

Hymenoptera (10,14%), Diptera (5,17%) e Coletoptera (4,49%) e os peixes

(5,44%). A diversidade dos itens que constituiram a dieta de A. bimaculatus,

segundo estes autores, permitiram inferir que esta espécie retrata uma

característica oportunista.

A alimentação de A. bimaculatus, no Pantanal, de acordo com RESENDE

et al. (2000b), consistiu basicamente em insetos e vegetais, tendo ingerido em

menores proporções, algas, aracnídeos, peixes, microcrustáceos, crustáceos,

tecamebas e nematódeos.

Esta inúmera utilização e variedade de itens citados nos trabalhos acima

mencionados e outros como de BENNEMMAN et al. (2005), mostram a

flexibilidade na dieta característica desta espécie e a tendência geral à onivoria,

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com participação de itens tanto de origem animal quanto vegetal, mesmo se

considerando diferentes tipos de ambientes aquáticos.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi

InsetosAranhaMaterial Vegetal

Figura 9. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para o Astyanax aff. bimaculatus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

O Astyanax aff. bimaculatus, conhecido vulgarmente como lambari do

rabo amarelo é um peixe de pequeno porte, atingindo c. 20 cm de comprimento e

peso de até 40g (VAZ, 2000). Possui ampla distribuição geográfica nas Américas

do Sul e Central, ocorrendo desde a bacia da Prata, na fronteira da Argentina com

o Uruguai até o Panamá (GODINHO, 1996). É uma espécie muito ativa, move-se

em cardumes e, de acordo com VAZ (op. cit.), é considerada forrageira, de hábito

onívoro e alimenta-se de algas, vegetais superiores, larvas e insetos adultos.

Começa a se reproduzir a partir de 5 cm de comprimento, ao longo de vários

meses do ano, principalmente no verão. Os pais não cuidam dos ovos nem dos

filhotes. Esta espécie de lambari já foi extinta na lagoa Jacaré e, embora ainda

ocorra nas lagoas Dom Helvécio e Carioca, as populações atuais são bem menores

do que as do passado (GODINHO, op. cit.).

No estudo realizado por ASSUNÇÃO et al. (2005), a dieta do A. aff.

bimaculatus, nas lagoas Almécega e Verde, sem a presença de Cichla ocellaris e

Pygocentrus nattereri, apresentou elevados valores de freqüência e ocorrência

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para itens vegetais, bem como insetos, sendo que dentre estes, a maior parte foi

representada por organismos terrestres, enquanto os insetos aquáticos encontrados

foram representados principalmente por Chaoborus sp.

Sendo assim, há que se considerar que possivelmente junto com outros

caracídeos de pequeno porte, estes peixes desempenhavam um importante papel

no controle de Chaoborus da lagoa Carioca, e que após diminuições nas

populações e consecutivas extinções devido à introdução de novas espécies, este

equilíbrio foi alterado, causando um posterior aumento destes insetos. Este

aspecto bastante conspícuo relativo à elevada abundância de Chaoborus foi

evidenciado, por exemplo, nas coletas de setembro de 2006 quando a superfície da

lagoa Carioca ficou coberta por exúvias destes insetos.

5.3.3 - Brycon sp. (Piabanha)

A espécie Brycon sp. teve 4 estômagos analisados, de um total de 8

indivíduos capturados ao longo deste estudo. O principal item alimentar foi

Ephemeroptera adulto representando IAi = 0,9629, seguido por material vegetal,

principalmente folhas, e insetos não identificados (Tabela 6). Esta espécie foi

considerada insetívora, com IAi = 0,9736 (Figura 10).

Tabela 6. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Brycon sp. (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos) IAi

Ephemeroptera (adulto) 50,0 12250 0,9629

Material Vegetal 75,0 413 0,0264 Insetos n. i. 25,0 271 0,0107

CORRÊA (1981), analisando o hábito alimentar de Brycon devillei em

lagos do Rio Doce, comenta que vários autores classificam essa espécie como

frugívora. Em seu estudo, analisou a piabanha em diferentes estágios de vida e

demonstrou várias mudanças em seus hábitos alimentares durante seu

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crescimento. De fato, o baixo número de estômagos analisados neste presente

estudo não permite uma comparação e definição tão segura de sua dieta.

Segundo RESENDE et al. (2000b), as espécies do gênero Brycon da bacia

do Amazonas, do Paraná ou do São Francisco, caracterizam-se por serem

onívoras.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi Insetos

Material Vegetal

Figura 10. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para o Brycon sp. da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

É um peixe desportivo, do mesmo gênero da matrinchã do rio São

Francisco e da piracanjuba dos rios Grande e Paranaíba e que chega a atingir 60

cm de comprimento (GODINHO, 1996). Segundo este autor, pouco se conhece

sobre sua biologia e com base no pequeno número de exemplares examinados,

sabe-se que se alimenta de frutos, sementes, larvas de libélula, camarão e insetos

terrestres.

5.3.4 – Callichthys callichthys (Peixe-pedra)

Para esta espécie, foi capturado apenas um indivíduo, separado para

coleção científica e deste modo não teve nenhum conteúdo estomacal analisado.

MORADO et al. (2007) relatam que C. callichthys é muito semelhante

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morfologicamente ao Hoplosternum littorale (tamboatá) e tais espécies

apresentam fenótipos muito próximos, possivelmente apresentando adaptações

muito semelhantes para o uso de recursos oferecidos pelo ambiente.

RESENDE et al.( 2000a) descrevem que estes peixes apresentam boca

pequena ventral provida de barbilhões. Nos 6 exemplares analisados em planícies

de inundação do Pantanal, foram identificados rotíferos, tecamebas,

microcrustáceos, restos vegetais, algas, insetos e areia em sua dieta. Nos igarapés

da Amazônia foi encontrada alimentando-se intensamente de insetos (KNOPELL,

1970).

5.3.5 - Cichla kelberi (Tucunaré)

A maioria dos exemplares de C. kelberi estava com pouco conteúdo

alimentar para ser analisado. De um total de 32 indivíduos coletados, 15

estômagos puderam ter seu conteúdo estomacal avaliado, sendo que 7 destes

apresentaram GR = 1 e nenhum peixe apresentou estômago completamente

repleto (GR = 4) (Figura 11).

0

1

2

3

4

set06 Out Nov Jan07 Mar Mai Jul Set

Meses

Freq

uênc

ia a

bsol

uta

de

ocor

rênc

ia 1 PTO2 PTOS3 PTOS4 PTOS

Figura 11. Freqüência (absoluta) de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Cichla kelberi da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

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Como citado em outros trabalhos, a rede pode não ser muito eficaz na

captura de tucunarés, como comentado por ZARET (1975) e SANTOS et al.

(1994) devido a sua habilidade em evitar redes de emalhar. Este fato pode ser uma

justificativa para o pequeno número de exemplares coletados. Em setembro de

2007 não foi coletado nenhum tucunaré e em julho de 2007, apesar de coletado

um exemplar, este não apresentou nenhum conteúdo estomacal.

O hábito alimentar desta espécie foi definido como carcinófago-piscívoro

(Figura 12), devido aos altos valores destes itens, em que o camarão revelou a

maior importância alimentar (IAi = 0,6834), um pouco mais que o dobro do

segundo item mais consumido que foi de 0,3115 para peixes. Os outros valores

foram muito baixos para os demais itens, como pode ser visto na Tabela 7, que

consistem de material vegetal e ninfa de Odonata.

Os peixes consumidos pelo tucunaré variam de acordo com o ambiente,

com a maior incidência de predação nas espécies mais abundantes (GOMIERO &

BRAGA, 2004a). Peixes de seu próprio gênero, peixes forrageadores

(Characiformes) e bentônicos (Pimelodídeos e Ciclídeos), são itens alimentares

freqüentes (SANTOS et al., op. cit.; LOWE-MCCONNELL, 1999).

Tabela 7. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Cichla kelberi (n = 15) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Camarão - Palaemonidae 53,3 4326 0,6834Cichla kelberi 26,7 3787 0,2991Gymnotus sp. 6,7 624 0,0123Material Vegetal 20,0 176 0,0035Odonata (ninfa) 6,7 84 0,0017

As únicas espécies de peixes predadas pelo tucunaré que puderam ser

identificadas foram a própria espécie, em todos os casos filhotes e uma tuvira.

Estes resultados indicam que o hábito alimentar característico píscivoro deve estar

comprometido, visto que sua dieta se consistiu principalmente de camarões e, em

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seqüência, o canibalismo. Estudos realizados com tucunarés fora de seu ambiente

originário revelam comportamento canibal (PEIXOTO, 1982; SANTOS et al.,

1994; SANTOS et al., 2001; GOMIERO & BRAGA, 2004ab; VELLUDO, 2007).

O canibalismo tem importantes implicações na autoecologia das espécies,

porque geralmente funciona como uma forma de autocontrole populacional,

acentuando-se quando as condições de alimentação são inadequadas (ZAVALA-

CAMIN,1996). ZARET (1980) atribui os desenhos e o colorido de Cichla

ocellaris, que aparecem em exemplares a partir de determinado tamanho, a função

de alertar os exemplares maiores da própria espécie para evitar o canibalismo.

GOMIERO & BRAGA (2004b) comentam da ocorrência de canibalismo

para estes peixes em ambientes com ausência ou baixa presença de vegetação

aquática, onde os juvenis estariam mais vulneráveis. Isto não foi verificado para a

lagoa Carioca, já que o canibalismo foi muito praticado entre os tucunarés e existe

uma cobertura considerável de macrófitas aquáticas. Em populações onde o

canibalismo é frequente, as propabilidades de extinção são baixas, porém,

oferecem um custo reprodutivo para estas espécies (GOMIERO & BRAGA, op.

cit.).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi

CamarãoPeixeMaterial VegetalInsetos

Figura 12. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Cichla kelberi da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

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O camarão é um item que foi freqüentemente utilizado e só não foi

observado na dieta do tucunaré no mês de maio (Figura 13), que apresentou

apenas um estômago avaliado. Como é um item amplamente encontrado na lagoa

Carioca (RELATÓRIO PELD/UFMG, 2005), o que pode ser constatado em

algumas coletas com rede de arrasto na região litorânea da lagoa, este crustáceo

constituiu uma importante fonte de proteína animal alternativa para o tucunaré em

relação ao seu hábito caracteristicamente piscívoro quando verificado em seu

ambiente originário. A mudança de um hábito piscívoro para o carcinófago-

piscívoro, relatado neste estudo, pode indicar essa variação alimentar e uma

adaptação importante desempenhada por esta espécie. O camarão também

representou uma importante fonte nutricional para outras espécies estudadas.

Esta importância está evidenciada nos meses com maior número de peixes

amostrados (Figura 13), como em outubro e novembro, e o camarão se mostrou

muito representativo. A ocorrência de peixes como presa também se deu nesses

meses, incluindo março.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Set06(0) Out(4)

Nov(6)

Jan07(2)Mar(2)

Mai(1)Jul(0)

Set(0)

Material VegetalPeixeCamarãoInsetos

Figura 13. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Cichla kelberi, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

SÚAREZ et al. (2001) comentam que o consumo de presas pequenas por

grandes predadores tem sido objeto de discussão, no que se refere aos custos

energéticos decorrentes deste tipo de captura. Estes mesmos autores questionam

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se a ingestão de presas pequenas deve-se à sua disponibilidade e facilidade de

captura ou à redução das presas de maior porte.

O material vegetal encontrado, dentre folhas e pedaços de madeira, teve

sua ocorrência muito baixa e devido ao hábito do tucunaré de engolir presas

inteiras, pode ter sido simplesmente ingerida durante a predação de outros

organismos. No mês de maio o único exemplar analisado ingeriu somente ninfa de

Odonata.

PEIXOTO (1982) registrou uma pequena participação de peixes nos

estômagos de C. ocellaris no açude de Lima Campos, Ceará, em contraste com a

elevada abundância de camarões do gênero Macrobrachium, que constituíram o

principal alimento. SMITH et al. (2003) citam como principal alimento ingerido

por Cichla sp. o grupo dos crustáceos.

As espécies do gênero Cichla (SCHNEIDER, 1801) são naturais da Bacia

Amazônica e representam o principal grupo de peixes piscívoros da família

Cichlidae na América do Sul (LOWE-MCCONNELL, 1975). O tucunaré possui

porte grande, até 40 cm, é carnívoro, consome peixes e em menor escala,

camarões, e eventualmente insetos. É uma espécie sedentária e normalmente se

refugia nas galhadas submersas. A fecundidade média é de aproximadamente

7400 ovócitos por postura e o tamanho mínimo e médio da primeira maturação é

cerca de 23 e 27 cm, respectivamente, estando todos os indivíduos na fase adulta

ao atingirem cerca de 28cm (SANTOS, 2006).

Segundo GODINHO (1996), em virtude de seu apreciado valor na pesca

desportiva, do sabor de sua carne e da facilidade de criação, foi introduzido em

várias regiões do país. Minas Gerais está entre os estados brasileiros mais

atingidos por essa espécie, que pode ser encontrada nos rios Grande, Paranaíba,

São Francisco e Doce.

Nas lagoas do Rio Doce, o tucunaré foi introduzido na década de 60,

inicialmente na lagoa da Barra. Hoje ocorre em diversas lagoas da região

(LATINI et al., 2004). O principal objetivo de sua introdução era oferecer uma

nova opção de peixe à pesca amadora. Entre as possíveis causas de sua dispersão

estão as comunicações temporárias e/ou permanentes entre as lagoas e o

transporte da espécie feito pelo próprio homem (GODINHO, op. cit.).

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A reprodução pode ocorrer durante todo o ano, mas há períodos de maior

intensidade. Logo após a eclosão, os pais transferem os jovens peixes para os

ninhos com a boca e ambos, ou apenas um deles, continuam cuidando da prole. Os

filhotes ficam com os pais cerca de dois meses, quando atingem de 6 a 7 cm. Na

falta de presas de tamanho adequado, pode alimentar-se de outros organismos, tais

como camarão, larvas de libélulas e, inclusive, de outros tucunarés menores, como

vem acontecendo em lagoas do Rio Doce. Nas lagoas do Rio Doce não atingem

grande porte (GODINHO, 1996). Um dos fatores desse tamanho característico

atual pode estar relacionado à ingestão de outras presas que não peixes.

SOUZA (2007) comenta que uma mesma espécie pode atingir diferentes

comprimentos máximos, dependendo do ambiente onde está estabelecida.

Segundo registros desta autora, os tamanhos para o C. kelberi foram próximos aos

encontrados em outros estudos realizados com espécies do gênero Cichla em

outras bacias em que ele foi introduzido, mas inferiores àqueles registrados em

estudos realizados nas bacias de origem.

5.3.6 - Gymnotus sp. (Tuvira)

Um total de 4 estômagos foi analisado de 6 Gymnotus sp. coletados. Os

principais itens alimentares encontrados em sua alimentação (Tabela 8) se

constituíram de insetos, como ninfas de Odonata com maior valor de IAi (0,5488),

entre elas identificada a família Protoneuridae, larvas de Chironomidae, tubos de

Trichoptera e um Coleoptera aquático da família Girinidae. O material vegetal

ingerido se trata de pedaços de casca e madeira e partes não identificadas.

Foram ainda aproveitados 4 estômagos de Gymnotus sp. que foram

ingeridos por traíras para se obter mais informações da dieta desta espécie. Estes

estômagos apresentaram basicamente o mesmo tipo de conteúdo estomacal,

mostrado na Tabela 8. Estes conteúdos estomacais adicionais permitiram

encontrar novos itens alimentares, como ninfas de Ephemeroptera, ninfa de

Odonata (Aphylla) e uma larva de Diptera não identificada, reforçando assim, a

classificação da tuvira como insetívora e do mesmo modo que nos exemplares de

tuviras capturados, estes estômagos tiveram como principal componente ninfas de

Odonata.

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Tabela 8. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Gymnotus sp. (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Odonata (ninfa) 50,0 715 0,5488Insetos n. i. 75,0 341 0,3976Material vegetal 50,0 63 0,0245Coleoptera aquático (Girinidae) 25,0 37 0,0144Chironomidae (larva) 75,0 8 0,0093Trichoptera 25,0 3 0,0012

Esta espécie teve seu hábito alimentar definido como insetívoro, como

pode ser visualizado na Figura 14. Estudos realizados por HAHN et al. (2002)

também demonstram para Gymnotus spp. este tipo de dieta.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi Insetos

Material Vegetal

Figura 14. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Gymnotus sp. da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

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42

O item inseto apresentou IAi = 0,9712, mostrando assim a importância

destes artrópodes na dieta. Com 0,0245 de índice alimentar, o material vegetal

mostrou uma significância muito pequena e por fim um outro item também

contabilizado foi de sedimento, porém em uma fração ainda mais baixa (0,0043).

Nos 8 estômagos analisados podemos observar que todos os insetos

identificados são de origem autóctone, mostrando a importância destes

organismos aquáticos e o tipo de comportamento de forrageamento desta espécie.

VELLUDO (2007) considerou esta espécie predominantemente insetívora.

Ao avaliar uma amostragem maior (n = 32) de exemplares com conteúdo

alimentar de tuviras da espécie Gymnotus carapo do reservatório do Lobo (Broa)

localizado em Brotas-Itirapina/SP, a autora encontrou várias ordens de insetos,

porém, com dominância de Odonata (mais da metade do Índice Alimentar),

semelhante ao resultado aqui encontrado. A autora ainda comenta que o intestino

deste peixe está adaptado para uma dieta constituída principalmente de pequenos

organismos de fácil digestão.

A tuvira também é conhecida como sarapó e, de acordo com VAZ (2000),

é um peixe de porte médio, alcançando c. 50 cm de comprimento e 300 g de peso.

O prognatismo é uma de suas peculiaridades, ou seja, a fenda bucal fica em

posição superior. Possui órgãos elétricos, situados na cauda, que são constituídos

de tecidos musculares modificados e usados para perceber o ambiente ao seu

redor. Este peixe tem hábito noturno e reproduz-se a partir de 2 anos de idade. É

carnívoro-insetívoro e pode ingerir ainda pequenos peixes.

Chama a atenção a forma peculiar de seu corpo, ligeiramente cilíndrica,

alongada, afilando da cabeça em direção à cauda. Para se deslocar, depende da

longa nadadeira que tem sob o corpo. Ocorre em várias partes do país e é muito

utilizado como isca na pesca de peixes de grande porte (GODINHO, 1996).

Pouco se sabe sobre sua biologia nas lagoas do Rio Doce, mas parece

habitar preferencialmente local cujo fundo concentra grande quantidade de folhas.

VONO (1995) comenta desta associação da tuvira aos ambientes com alto índice

de folhiço no substrato.

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43

5.3.7 - Hoplerythrinus unitaeniatus (Jeju)

Dos 19 exemplares capturados, 8 possuíam conteúdo alimentar passível de

análise. O Hoplerythrinus unitaeniatus, apesar das citações na literatura indicá-lo

como um carnívoro que ingere principalmente peixes (SANTOS et al., 2006;

VELLUDO, 2007), não apresentou este tipo de dieta neste estudo. O principal

item utilizado foi material de origem vegetal (IAi = 0,7788), com uma diversidade

de plantas e estruturas vegetais, incluindo sementes, folhas, pedaços de cascas e

macrófitas aquáticas.

Dos 8 exemplares examinados, 7 apresentaram algum tipo de material

vegetal e 4 deles com volume bastante considerável. Esta drástica alteração

observada na dieta do H. unitaeniatus, que de uma alimentação conhecida como

tipicamente piscívora (carnívora), apresentou uma dieta herbívora-insetívora pode

indicar o comprometimento sofrido pela influência dos peixes piscívoros

introduzidos. A redução de espécies de peixes forrageiros, o que ocasionou em

uma menor oferta deste tipo de presa, pode ter gerado esta modificação alimentar

do jeju.

Apesar da grande utilização de material vegetal, esta espécie também

ingeriu uma grande variedade de insetos tanto aquáticos, como terrestres que pode

ser verificado na Tabela 9. Dentre os insetos terrestres podemos citar como

principal item Ephemeroptera adultos, com ocorrência somente no mês de

novembro, presentes em 2 indivíduos e com grande volume. As formigas

encontradas estavam contidas no mesmo exemplar, sendo uma não identificada e

a outra como pertencente à tribo Ectatommini.

O H. unitaeniatus mesmo tendo ingerido muito material de origem vegetal,

deve ter consumido vegetais interessado no biofilme associado a eles. Como

muitos autores não classificam esta espécie como herbívora isto nos leva a crer

que a sua predação deve ocorrer, dessa forma, na região litorânea, lugar em que

existe uma quantidade elevada de macrófitas aquáticas e folhas, onde estas presas

ficam agregadas. Peixes se alimentando no meio de macrófitas podem comer

predominantemente presas associadas com o substrato, como insetos, gastrópodes

e crustáceos (SMITH et al., 2003).

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Tabela 9. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para H. unitaeniatus (n = 8) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Material Vegetal 88,0 7042 0,7788Insetos n. i. 62,5 645 0,1201Ephemeroptera (adulto) 25,0 1140 0,0849Trichoptera 37,5 98 0,0109Ephemeroptera (ninfa) 12,5 57 0,0021Chironomidae (larva) 25,0 22 0,0016Formicidae 25,0 18 0,0007Trichoptera Leptoceridae (larva) 12,5 12 0,0004Heteroptera n. i. (aquático) 12,5 9 0,0003

O alto valor de IAi para material vegetal, e também uma

representatividade significativa no consumo de insetos (IAi = 0,2203),

especialmente a freqüência de ocorrência, levou a classificação do Jeju como um

herbívoro-insetívoro (Figura 15).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi Material Vegetal

Insetos

Figura 15. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Hoplerythrinus unitaeniatus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

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De acordo com resultados da dieta do jeju no reservatório do Lobo (Broa)

no estado de São Paulo encontrados por VELLUDO (2007), o segundo item

alimentar mais importante foi de insetos, principalmente Ephemeroptera.

Segundo SANTOS et al. (2006), o jeju apresenta médio porte, chegando

até 30 cm, é carnívoro, consome basicamente peixes, camarões e insetos e tem

como táticas alimentares a tocaia e espreita. Alcança a maturidade sexual com c. 1

ano, possui fecundidade baixa e no período reprodutivo há uma cessação da

atividade alimentar por parte dos reprodutores.

De acordo com GODINHO (1996), esse parente próximo da traíra ainda é

pouco conhecido pelos cientistas. É a única espécie do gênero e ocorre em vários

países da América do Sul. No Brasil, é conhecido também pelos nomes de traíra-

pixuma, jeju e iú. É pouco comum em Minas Gerais, inclusive nas lagoas do Rio

Doce já estudadas.

5.3.8 - Hoplias gr. malabaricus (Traíra)

De um total de 105 Hoplias gr. malabaricus coletados, 19 estômagos

foram avaliados neste trabalho. Destes, a maioria estava com o grau de repleção

baixo, sendo que 11 indivíduos apresentaram GR = 1, e 2 exemplares com GR =

2. Dos peixes com mais de metade do volume estomacal com alimento, 2 traíras

continham seus estômagos com ¾ preenchidos e 4 com o estômago

completamente repleto (Figura 16). Os peixes com estes valores mais elevados de

repleção foram coletados nos meses de seca, com exceção de um exemplar

(novembro), e esses grandes volumes se deram pela ingestão de peixes.

A traíra teve seu hábito alimentar definido como piscívoro, como pode ser

visto na Figura 17, porém, alimentou-se também de camarões, ninfas de Odonata

e outros insetos, sendo a única espécie a ingerir barata d’água (Tabela 10). A

tuvira foi o principal item alimentar consumido por esta espécie (IAi = 0,9563).

Outros peixes e restos como escamas também utilizados foram encontrados, mas

não foi possível a identificação. O material de origem vegetal foi muito pouco

registrado e se compôs principalmente de folhas e pedaços de galhos.

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0

1

2

3

4

5

6

set06 Out Nov Jan07 Mar Mai Jul Set

Meses

Freq

uênc

ia a

bsol

uta

de

ocor

rênc

ia 1 PTO2 PTOS3 PTOS4 PTOS

Figura 16. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Hoplias gr. malabaricus da lagoa Carioca, da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

Estes resultados indicam que a tuvira pode estar sofrendo uma forte

pressão de predação pela traíra e merece, portanto atenção e cuidado para que sua

população não seja seriamente comprometida. Segundo GODINHO (1996), nas

lagoas do Rio Doce, esta espécie pode ser rara, pois só alguns exemplares foram

capturados até hoje, o que também ocorreu neste presente estudo.

Tabela 10. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Hoplias gr. malabaricus (n = 19) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Gymnotus sp. 30,0 77409 0,9563 Camarão - Palaemonidae 30,0 1430

0,0177

Odonata (ninfa) 30,0 1257 0,0156 Material vegetal 25,0 2671 0,0088 Odonata - Aphylla 5,0 346 0,0007 Hemiptera (Belostomatidae) 5,0 334

0,0007

Peixe n. i. 5,0 81 0,0002 Peixe (escamas) 5,0 25 < 0,0001 Insetos n. i. 5,0 19 < 0,0001

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SCHROEDER-ARAÚJO (1980) verificou que a dieta da traíra na represa

de Ponte Nova teve sua alimentação predominantemente piscívora

(principalmente ciclídeos), com insetos e matéria vegetal ocasionais. Esta mesma

autora comenta que a preferência de H. malabaricus, de diferentes localidades,

por ciclídeos ou lambaris está ligada à maior ou menor disponibilidade destes

peixes como alimento.

MARÇAL-SIMABUKU & PERET (2006) encontraram peixes como o

principal item ingerido pela traíra (H. gr. malabaricus), tendo predado Gymnotus

e Astyanax, dentre outros gêneros, como principais peixes consumidos.

Os peixes piscívoros, geralmente ingerem presas menores que 1/3 de seu

próprio comprimento. As espécies-presa são relativamente livres da predação

quando ultrapassam um determinado tamanho crítico; assim, a predação exerce

provavelmente uma poderosa pressão seletiva para o crescimento rápido das

espécies-presa (LOWE-MCCONNELL, 1987).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi

PeixeCamarãoInsetosMaterial Vegetal

Figura 17. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Hoplias gr. malabaricus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

O mês com maior número de traíras coletadas foi o de novembro, com um

total de 22 exemplares dos quais 6 estômagos estavam com conteúdo (Figura 16),

porém com valores de GR muito baixos. O principal item consumido foi ninfas de

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Odonata seguido por camarão e material vegetal. No mês seguinte esse balanço

foi equilibrado, mas com apenas 2 exemplares, em que um se alimentou de ninfas

de Odonata e o outro de camarão. Em julho, a dieta se mostrou um pouco

semelhante em relação à ocorrência dos itens de novembro, diferente apenas na

ingestão de peixes que teve seu maior peso.

Como em 4 meses o número de exemplares foi igual a 1 (Figura 18), fica

difícil inferir algo a respeito do efeito da sazonalidade na tomada de alimentos,

mas se separarmos em duas estações (seca e chuva), vale ressaltar que a ingestão

de peixes teve uma grande importância nos meses de seca, ao contrário da época

de chuvas, em que insetos aquáticos e camarões tiveram uma representatividade

maior.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Set06(0

)

Out(3)

Nov(6)

Jan0

7(2)

Mar(1)

Mai(1)

Jul(5

)

Set(1)

Material VegetalPeixeCamarãoInsetos

Figura 18. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Hoplias gr. malabaricus, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

A traíra apresenta porte grande, até 40 cm. É um dos peixes mais comuns

do Brasil, ocorrendo em todas as bacias hidrográficas e em todo tipo de ambiente.

Carnívoro, alimenta-se de peixes e ocasionalmente de camarões e insetos

aquáticos. Para a captura de alimentos, utiliza a tática de emboscada, e as presas

são engolidas inteiras (SANTOS et al., 2006).

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Em alguns locais, pode desovar durante todo o ano. Na época de

reprodução reúne-se o casal e preparam o lugar da desova, no fundo do lago. Ali,

à pequena profundidade, limpam o fundo e fazem uma pequena depressão, onde

depositam e vigiam os ovos (VAZ, 2000). A maturação sexual de acordo com

SANTOS et al. (2006) ocorre com 1 ano e c. 15 cm de comprimento, sendo a

fecundidade baixa, em torno de 2000 a 3000 ovócitos.

Está entre os peixes mais estudados do Brasil. Apesar disso, sua

sistemática é muito confusa: várias espécies de traíra, atualmente consideradas

como uma única espécie, costumam ser agrupadas sob o mesmo nome científico.

Tentativas de resolver o problema já foram e continuam a serem feitas, mas a

solução é complexa e pode demorar a vir (GODINHO, 1996).

Podemos verificar estudos relacionados a este tema, como na pesquisa de

PACHECO (2004) que encontrou diferenciação morfológica utilizando

populações de dois tipos de Hoplias grupo malabaricus, procedentes da bacia do

rio Grande no Estado de São Paulo. E ainda BORN & BERTOLLO (2000), sobre

diversidade genética da traíra do Rio Doce em que relatam diferentes cariótipos

observados entre machos e fêmeas, o que parece estar relacionado a uma

característica desta população. Estes autores concluem que este citótipo

diferencial permite a diferenciação de diversas outras populações que apresentam

o mesmo número diplóide (2n = 42) de cromossomos.

Nas lagoas do Rio Doce onde não há espécies introduzidas, alimentam-se

predominantemente de peixes e, em menor quantidade, de camarão (GODINHO,

op. cit.). Nas lagoas com tucunaré e a piranha, também comem peixes, mas em

menor quantidade, sendo que a mudança na dieta ocorre em consequência da

menor quantidade de pequenos peixes provocada pela predação das espécies

introduzidas (GODINHO, op. cit.).

GODINHO & POMPEU (2001), analisaram a mudança da dieta da traíra

em função da presença de peixes piscívoros introduzidos em lagoas da bacia do

Rio Doce (MG) e encontraram valores mais baixos no consumo de peixes para

esta espécie em relação às lagoas sem espécies introduzidas. Na lagoa Carioca

verificou-se também a utilização de outros recursos, além de peixes, como insetos

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e camarões. Esta plasticidade na dieta da traíra pode garantir sua sobrevivência

nas lagoas com espécies introduzidas (GODINHO & POMPEU, 2001).

5.3.9 - Hoplosternum littorale (Tamboatá)

Para o Hoplosternum littorale, a espécie mais abundante coletada, foi feita

uma subamostra de 29 estômagos analisados de um total de 254 indivíduos

capturados. A grande maioria dos exemplares apresentou graus de repleção altos

ao longo do período de estudo (Figura 19). Os peixes com estômagos

completamente preenchidos (n = 3) avaliados ocorreram no mês de novembro e

janeiro.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

set06 Out Nov Jan07 Mar Mai Jul Set

Meses

Freq

uênc

ia a

bsol

uta

de

ocor

rênc

ia 1 PTO2 PTOS3 PTOS4 PTOS

Figura 19. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Hoplosternum littorale da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

O tamboatá apresentou uma dieta bastante diversificada, consumindo

principalmente sedimento junto com pequenos insetos, microcrustáceos, ovos e

partes de peixes (Tabela 11). O itens essenciais encontrados foram primeiramente

sedimento (IAi = 0,5713), seguido por larvas de Chironomidae (IAi = 0,2504) que

ocorreram em todos os indivíduos ao longo do ano e depois insetos não

identificados.

O H. littoralle foi definido, deste modo, como de hábito bentófago-

onívoro, apresentando uma tomada muito elevada de sedimento (Figura 20), o que

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mostra sua característica de revolver o fundo da lagoa à procura de alimentos.

HAHN et al. (2002), classificaram esta espécie como de hábito bentívoro, com um

grande consumo de larvas de insetos.

Os outros insetos identificados, além de Chironomidae utilizado por esta

espécie, foram os seguintes, em ordem de importância de IAi: ninfas de

Ephemeroptera, larvas e pupas de Chaoborus, tubos e larvas de Trichoptera, larva

de Coleoptera aquático e pupa de Diptera não identificados. De acordo com

estudos realizados na lagoa Carioca por MARQUES et al. (1999), Chironomidae

foi o taxon numericamente predominante tendo sido encontrada apenas a tribo

Chironomini, pertencente à subfamília Chironominae. Segundo o RELATÓRIO

PELD/UFMG (2005), a família Chironomidae foi o segundo grupo mais

abundante na lagoa Carioca.

O H. littorale foi a única espécie que apresentou em sua dieta a utilização

do zooplâncton, sendo este consumido principalmente nos meses chuvosos. O fato

destes itens não terem sido tão expressivos pode ser por se tratar de indivíduos de

peixes adultos que não devem selecionar este tipo de item. Destes

microcrustáceos, os mais utilizados na dieta foram os Ostracoda, com IAi =

0,0039, seguido pelos Cladocera (IAi = 0,0010) e por fim os Copepoda com um

IAi muito baixo de 0,0001. Os Cladocera mais comuns eram da família

Chydoridae, com algumas espécies do gênero Alona identificadas. Também foi

possível visualizar espécies diferentes de Daphnia sp. Para os Copepoda, que

eram muito poucos, apenas dois indivíduos puderam ser identificados como sendo

do gênero Macrocyclops.

A alta biomassa de plâncton não se constitui em dieta significativa para

indivíduos adultos (SMITH et al., 2003). Deste modo, é possível considerar que o

tamboatá obtenha este tipo de alimento indiretamente, sem uma seleção e

provavelmente durante a captura de outros organismos, ou mesmo associados a

macrófitas. Segundo ARAÚJO LIMA et al. (1995), fitoplâncton e zooplâncton

são itens secundários na alimentação de peixes adultos não planctófagos.

Outros invertebrados também fizeram parte da dieta do tamboatá. Foram

consumidos pós-larvas de camarão, colembolas e em menor quantidade

hidracarinas. Escamas e um ovo de peixe foram também itens encontrados em

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conteúdos estomacais destes peixes e muito provavelmente foram apanhados junto

ao sedimento.

Os estudos de alimentação de H. littorale adultos realizados por HAHN et

al. (1997b) em duas lagoas do alto rio Paraná, mostraram um espectro amplo e

variado de tipos de alimento (27 itens) e de uma maneira geral, os grupos mais

explorados foram os microcrustáceos (Cladocera e Ostracoda), Chironomidae e

nematóides. Ainda segundo estes autores, detritos orgânicos também

representaram boa parte do IAi e apresentaram diferenças entre as lagoas

estudadas, sendo este fato associado aos diferentes tipos de coloração da água. De

acordo ainda com aqueles autores, os Chironomidae, muito importantes na dieta,

devem ser tomados não só no substrato com também em raízes de macrófitas

aquáticas, onde estas larvas de insetos podem ocorrem em elevadas densidades. A

presença de detritos na dieta do tamboatá pode também ser evidenciada por

SMITH et al. (2003) como predominante.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi

SedimentoInsetosMaterial VegetalZooplanctonPeixes Outros invertebrados

Figura 20. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Hoplosternum littorale da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

A presença de escamas entre os itens alimentares encontrados no estômago

de peixes pode indicar que este ingeriu peixes inteiros, removeu-as de um peixe

vivo ou ainda recolheu-as após estarem depositadas entre detritos no fundo

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(GOULDING et al., 1988), como deve ser no caso do tamboatá. Ainda segundo

estes autores, a ingestão de escamas pode representar uma importante fonte

suplementar de minerais em determinados ambientes.

Tabela 11. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Hoplosternum littorale (n = 29) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Sedimento 89,7 5180 0,5713 Chironomidae (larva) 100,0 2035 0,2504 Insetos n. i. 75,9 1298 0,1211 Ephemeroptera (ninfa) 59,0 639 0,0341 Material vegetal 66,0 289 0,0151 Zooplâncton Ostracoda 37,9 82,75 0,0039 Diptera (Chaoboridae) 17,2 64 0,0014 Trichoptera 17,0 100 0,0013 Zooplâncton Cladocera 37,9 20,875 0,0010 Coleoptera aquático (larva) n. i. 3,4 49 0,0002 Chironomidae (pupa) 13,8 4,5 0,0001 Peixe (escamas) 6,9 13 0,0001 Zooplâncton Copepoda 10,3 1,25 0,0001 Zoobento Hydracarina 3,4 0,125

< 0,0001

Diptera (pupa) n. i. 7,0 2 <

0,0001 Camarão (pós-larva) 3,4 3

< 0,0001

Collembola 10,3 2,5 <

0,0001

Ovo de peixe 3,4 1,5 <

0,0001

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54

Entre os itens vegetais ingeridos, pequenas sementes representaram a

maior proporção encontrada seguido por pequenos fragmentos de cascas e

madeira.

De maneira geral, a diversidade e ocorrência de itens se deu de forma

equilibrada entre os meses estudados (Figura 21), sendo que insetos, sedimento,

zooplâncton e material vegetal estão presentes na maioria dos meses. No mês de

setembro (2006) foram analisados 2 estômagos, um deles com grau de repleção

muito baixo contendo insetos não identificados, pupas de Diptera, larvas de

Chironomidae e material vegetal não identificado, o que explica a ausência de

sedimento como item alimentar.

O outro exemplar analisado apresentou um grande volume de insetos não

identificados e também não teve sedimento presente. Isso só veio a ocorrer

novamente em mais um único indivíduo analisado em julho que estava com o

estômago repleto de larvas de Chironomidae. Este caso pode indicar um local

determinado do próprio sedimento, ou um outro substrato que estava com uma

abundância muito elevada e concentrada destes insetos, ou talvez um

forrageamento diferenciado desempenhado em outro lugar por este indivíduo.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Set06(2

)

Out(0)

Nov(9)

Jan0

7(7)

Mar(6)

Mai(1)

Jul(4

)

Set(0)

Material Vegetal Outros invertebradosPeixes ZooplanctonInsetosSedimento

Figura 21. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Hoplosternum littorale, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

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55

O tamboatá é um peixe de pequeno porte, mas robusto, chegando a

alcançar 15 a 20 cm de comprimento. Caracteriza-se por ter um corpo bem escuro

coberto por duas séries de placas ósseas paralelas. A boca é voltada para baixo e

sem dentes (VAZ, 2000). Tem capacidade de respiração aérea, o que permite à

espécie habitar local com águas estagnadas e com muito pouco oxigênio

dissolvido (SANTOS et al., 2006). Tem hábito reprodutivo complexo com

dimorfismo sexual (VAZ, op. cit.) sendo possível encontrar exemplares maduros a

partir de 9 cm de comprimento (SANTOS et al., op. cit.). O macho apresenta a

nadadeira peitoral modificada e armada com um espinho forte. Constrói um ninho

flutuante, com base em restos vegetais e bolhas de ar, e o macho cuida da prole. O

período de reprodução pode durar até 3 meses, durante a época das chuvas (VAZ,

op. cit.). Segundo SANTOS et al. (op. cit.) é uma espécie onívora que consome

principalmente microcrustáceos e larvas de insetos, especialmente Chironomidae.

Os itens alimentares encontrados condizem com as características

peculiares do H. littorale, pois sua morfologia funcional (boca sub-inferior, corpo

coberto por placas ósseas e achatado ventralmente) permite inferir que se trata de

uma espécie pouco ágil e que habita o fundo dos corpos de água (HAHN et al.

1997b), sendo assim, esta espécie se torna única na lagoa Carioca em relação ao

hábito alimentar peculiar e este pode ter sido um dos fatores responsáveis para que

tenha conseguido se estabelecer com sucesso.

WINEMILLER (1987), estudando os hábitos alimentares de Hoplosternum

littorale na Venezuela, encontrou diferenças na dieta tanto na comparação entre

juvenis e adultos, quanto entre as estações do ano entre adultos. A dieta

predominante dos adultos era de detritos, insetos terrestres, microcrustáceos, e

besouros aquáticos durante a estação seca, e detritos e larvas de Chironomidae

durante a estação chuvosa.

5.3.10 - Leporinus cf. steindachneri (Piau)

Foram coletados 5 Leporinus cf. steindachneri, dos quais 4 tiveram seus

estômagos analisados. O principal item ingerido e que ocorreu em todos os

estômagos foi material vegetal com IAi = 0,9679, incluindo macrófitas aquáticas,

folhas, pedaços de cascas e outras partes vegetais não identificadas (Tabela 12). O

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56

único item de origem animal ingerido foi Ephemeroptera adulto, encontrado em 1

estômago no mês de março. Os representantes da família Anostomidae, como

regra geral, parecem ser herbívoros, com tendência à onivoria (RESENDE et al.,

1998).

Tabela 12. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Leporinus cf. steindachneri (n = 4) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Material vegetal n. i. 50 3837 0,5176Material Vegetal (macrófita aquática) 50 1782 0,2404Material Vegetal (folhas) 50 1545 0,2084Ephemeroptera (adulto) 25 476 0,0321Material Vegetal (casca/madeira) 25 21 0,0014

Leporinus cf. steindachneri foi a única espécie classificada como

essencialmente herbívora (Figura 22), de modo que os insetos consumidos

representam uma parcela muito baixa no IAi (0,0321). Na natureza, peixes

herbívoros precisam complementar suas dietas com proteína animal (ZAVALA-

CAMIN, 1996).

Nos estudos realizados por VIEIRA (1994) no médio Rio Doce (lago

Hortência e Verde), o L. steindachneri foi classificado como uma espécie

herbívora-detritívora, sendo os principais itens alimentares: sedimento, detritos

vegetais, vegetais superiores e algas filamentosas. Os itens de origem animal

(gastrópodes, insetos aquáticos e terrestres) foram pouco freqüentes.

O gênero desse peixe, que ocorre em quase todos os rios do Brasil e na

América do Sul, à exceção do Chile e sul da Argentina, reúne pouco mais de 70

espécies. O piau que atinge c. 30 cm, só existe nas bacias dos rios Doce e

Jequitinhonha (GODINHO, 1996). Como praticamente todos os seus filhotes

estão sendo comidos antes de se tornarem adultos, está ameaçado de extinção nas

lagoas Dom Helvécio e Carioca (GODINHO, op. cit.).

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57

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,50,6

0,7

0,8

0,9

1IA

i Material VegetalInsetos terrestres

Figura 22. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Leporinus cf. steindachneri da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

Trabalhos envolvendo alimentação de espécies do gênero Leporinus, na

bacia Amazônica, foram desenvolvidos entre outros por LOWE-MCCONNELL

(1987), atribuindo às espécies deste gênero a utilização de vegetais superiores,

frutos e sementes e, em menor escala, algas em suas dietas.

Segundo GODINHO (1996), o piau alimenta-se de algas e restos vegetais

que ingere juntamente com sedimento e de apreciável quantidade de vegetal das

matas próximas às lagoas. Em menor quantidade, come caramujos, insetos

terrestres e larvas de libélulas e de moscas. É uma espécie fecunda, com

reprodução no período chuvoso.

5.3.11 - Pygocentrus nattereri (Piranha)

De um total de 49 Pygocentrus nattereri coletados, 34 tiveram suas dietas

avaliadas. Dos indivíduos analisados, nenhum exemplar de piranha apresentou o

estômago completamente repleto (GR = 4), 12 indivíduos tiveram seus conteúdos

alimentares com ¼ do volume total do estômago, 12 com ½ do volume e 9 com ¾

do volume total preenchido (Figura 23). Os meses em que se capturou mais

piranhas foram outubro e janeiro, com 10 (20,5 %) e 9 (18,4 %) indivíduos

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respectivamente, sendo que em janeiro um destes estômagos estava sem conteúdo

para ser anallisado.

0

1

2

3

4

5

6

set06 Out Nov Jan07 Mar Mai Jul Set

Meses

Freq

uênc

ia a

bsol

uta

de

ocor

rênc

ia 1 PTO2 PTOS3 PTOS4 PTOS

Figura 23. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Pygocentrus nattereri da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

Os itens constituintes da dieta da piranha foram peixes, materiais vegetais,

insetos, camarão e ave, como pode ser visto na Tabela 13. As piranhas

apresentaram uma admirável variedade de itens em sua alimentação, propiciando

a utilização de ovos e inúmeros insetos como ninfas de Ephemeroptera, em que se

podem identificar duas famílias: Euthyplocidae e Leptophlebiidae; tubos de

Trichoptera; larvas de Chironomidae; ninfas de Odonata; fragmentos de

Orthoptera; insetos terrestres e um exemplar coletado em setembro de 2007 que

apresentou o estômago repleto de larvas de Chaborus.

O fato de as piranhas arrancarem pedaços de suas presas e o material estar

bem digerido dificultou o processo de identificação das espécies consumidas. Por

isso, o principal item alimentar, que foi “peixes não identificados” eram partes

que já estavam muito digeridas e difíceis de identificar perfeitamente. Apesar

disto, algumas espécies puderam ser identificadas, como o H. littorale, devido as

suas placas características, e pedaços de nadadeiras peitorais de T. striatulus. A

presença de escamas de Erythrinidae foi um item mais freqüente na dieta do que o

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tamboatá e cumbaca e mostra a predação de traíras e/ou jejus por piranhas, mas

que não pode ser diferenciada.

Tabela 13. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Pygocentrus nattereri (n = 34) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Peixe n. i. 35,3 14272 0,3622 Material vegetal 67,6 8852 0,2890 Insetos n. i. 64,7 4550 0,2117 Ephemeroptera (ninfa) 23,5 280 0,0377 Erythrinidae (escamas) 14,7 2742 0,0290 Hoplosternum littorale 5,9 6741 0,0285 Odonata (ninfa) 20,6 1114 0,0165 Ave n. i. 5,9 2705 0,0114 Camarão - Palaemonidae 17,6 696 0,0088 Trachelyopterus striatulus (nadadeira) 5,9 261 0,0011 Insetos terrestres 9,0 280 0,0010 Chaoboridae (larva) 2,9 496 0,0010 Ephemeroptera (ovos) 5,9 208 0,0009 Chironomidae (larva) 8,8 78 0,0005 Pygocentrus nattereri (dentes) 5,9 110 0,0005 Trichoptera 2,9 10 <0,0001

O principal item na alimentação da piranha foi peixes (IAi = 0,4213),

seguido por material vegetal (IAi = 0,2890) e insetos (IAi = 0,2694), praticamente

em mesmas proporções (Figura 24). O valor alto no item vegetal, que se consistia

basicamente de folhas e pedaços de casca e galhos pode estar relacionado à

ingestão desse material durante a captura das presas, tanto de peixes quanto

insetos, devido a sua grande voracidade no ato da predação. SAZIMA &

MACHADO (1990) econtraram como principais itens alimentares: peixes,

escamas, caranguejos e vegetais, presentes no estômago de P. nattereri.

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60

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

PeixesMaterial VegetalInsetosAveCamarão

Figura 24. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Pygocentrus nattereri da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

O item “ave” ocorreu em dois estômagos coletados na estação chuvosa

(Figura 25) e foi possível verificar em um deles apenas penas e pequenos ossos

associados a pouca matéria orgânica. Já o outro, continha um filhote de ave

inteiro. Esse tipo de alimento mostra o oportunismo da piranha em aproveitar

animais que possam cair na água e serem empregados na sua nutrição. A época

reprodutiva das aves, deste modo, pode contribuir com um aporte de recursos

alóctones que é utilizado pelas piranhas.

Apesar desta inúmera gama de itens alimentares ingeridos, a piranha foi

considerada como sendo de hábito alimentar piscívoro devido a essa maior

contribuição no item alimentar “peixe”, porém generalista.

Segundo GODINHO (1996), a espécie Pygocentrus nattereri ocorre nos

rios da América do Sul, a leste da cordilheira dos Andes, à exceção dos rios das

bacias do Leste e do São Francisco. P. nattereri é a menor das piranhas

verdadeiras, atingindo aproximadamente 40 cm de comprimento. A piranha não

ocorria naturalmente na bacia do Rio Doce, tendo sido introduzida pelo homem,

primeiramente na lagoa Jacaré. Já conseguiu colonizar diversas outras lagoas da

região, inclusive o próprio Rio Doce. De acordo com alguns pesquisadores, as

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piranhas, principalmente diurnas, formam pequenos cardumes (GODINHO,

1996).

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Set06(1

)

Out(10

)

Nov(7)

Jan0

7(8)

Mar(5)

Mai(2)

Jul(0

)

Set(1)

Material VegetalAvePeixesCamarãoInsetos

Figura 25. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Pygocentrus nattereri, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

De acordo com SANTOS et al. (2006), as piranhas, na região amazônica,

consomem peixes arrancando pedaços, apresenta desova parcelada e o tamanho

médio da primeira maturação sexual em torno de 13 cm nos machos e 15 cm nas

fêmeas. Os ovos são aderentes e ficam depositados sobre plantas submersas,

sendo cuidados por um ou ambos os pais.

Observações realizadas por ESPÍRITO SANTO et al. (2005) por meio de

câmeras submergíveis realizadas nos lagos Dom Helvécio, Gambá e Águas

Claras, permitiram indicar que a piranha mantém um nível de atividade muito

elevado e forte comportamento de encardumamento. Segundo RESENDE et al.

(1996), uma das espécies mais facilmente encontradas em cardumes no Rio

Madeira é a Pygocentrus nattereri.

As piranhas têm o comportamento de vasculhar o fundo ou a vegetação à

procura de suas presas e, às vezes, escondida na vegetação, pode também

emboscar e perseguir pequenos peixes. Alimenta-se ainda de animais em

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decomposição. Nas lagoas do Rio Doce, as piranhas alimentam-se de peixes,

camarões e larvas de libélulas (GODINHO, 1996).

5.3.12 - Rhamdia quelen (Bagre)

De 5 Rhamdia quelen capturados, apenas 3 apresentaram conteúdo

alimentar e foram coletados nos meses de setembro e novembro de 2006 e julho

de 2007. O item com maior volume (1480 pontos) e IAi (0,3992) foi ovos de

Ephemeroptera, seguido de ninfas de Odonata e ninfas de Ephemeroptera. O item

mais freqüente foi material vegetal constituído somente por folhas. Fizeram parte

da dieta também camarões e escamas de Erythrinidae (Tabela 14).

Segundo estudos realizados por SMITH et al. (2003), a dieta de R. quelen

consistiu predominantemente de crustáceo, gastrópode, ninfa de Odonata e

material vegetal. Estes resultados são muito semelhantes aos itens encontrados

nesse trabalho, com exceção dos gastrópodes.

Tabela 14. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Rhamdia quelen (n = 3) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Ephemeroptera (ovos) 33,3 1480 0,3992Odonata (ninfa) 33,3 744 0,2007Ephemeroptera (ninfa) 33,3 399 0,1076Material vegetal 66,7 198 0,1068Camarão - Palaemonidae 33,3 378 0,1020Erythrinidae (escamas) 33,3 310 0,0836

Mesmo com o pequeno número de estômagos, R. quelen foi considerada

uma espécie insetívora, com base nos valores de IAi (Figura 26), porém alimenta-

se também de camarão, peixe e material vegetal em quantidades menores e de

forma equilibrada.

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63

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1IA

i

Insetos Material VegetalCamarãoPeixe

Figura 26. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Rhamdia quelen da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

VELLUDO (2007) encontrou uma dieta bastante diversificada para esta

espécie no reservatório do Lobo (Broa), bacia do alto Paraná/SP. Porém, com uma

dominante participação de insetos (principalmente Ephemeroptera). Já HAHN et

al. (2002) encontraram para R. quelen, uma dieta basicamente piscívora. O

pequeno número de estômagos analisados neste presente trabalho não permitiu,

uma comparação tão expressiva com outros estudos.

O bagre atinge c. 60 cm, tem hábitos noturnos e nada freqüentemente

próximo ao fundo. Sua alimentação é constituída de peixes, camarões e larvas de

libélulas, entre outros itens de acordo com GODINHO (1996).

5.3.13 - Trachelyopterus striatulus (Cumbaca)

Foram coletadas 38 Trachelyopterus striatulus, sendo que 25 tiveram seus

conteúdos alimentares avaliados. De um modo geral, as cumbacas apresentaram

os estômagos com elevados valores de repleção (Figura 27), com apenas 6

estômagos com GR = 2.

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0

1

2

3

4

5

6

7

8

set06 Out Nov Jan07 Mar Mai Jul Set

Meses

Freq

uênc

ia a

bsol

uta

de

ocor

rênc

ia 1 PTO2 PTOS3 PTOS4 PTOS

Figura 27. Freqüência absoluta de ocorrência dos diferentes graus de repleção nos estômagos analisados por mês de coleta para Trachelyopterus striatulus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG.

Um total de 12 peixes teve seu estômago com Gr = 3 (¾ preenchido) e

ocorreram em todos os meses amostrados. Os peixes coletados em novembro, em

um total de 7 indivíduos mostraram o estômago completamente repleto e isso se

deve de fato à ingestão de Ephemeroptera adultos exclusiva desse mês que

apresentou um enorme volume (Figura 27).

De acordo com DIAS et al. (2005), a análise dos dados de freqüência de

ocorrência de itens presentes na dieta de T. striatulus, mostra que o item insetos

foi o mais representativo, presente em cerca de 90% dos estômagos analisados.

Alguns dos insetos encontrados em sua dieta têm origem terrestre e pertencem às

ordens Coleoptera, Hymenoptera e Hemiptera.

A cumbaca foi a espécie que teve a maior diversidade de itens alimentares

ingeridos (Tabela 15), tanto de origem alóctone quanto autóctone. O principal

alimento característico do tipo de dieta foi consumido somente no mês de

novembro e trata-se de adultos de Ephemeroptera (IAi = 0,5238).

O segundo item com maior importância no IAi foi insetos não

identificados com o valor de 0,3963. Agrupando todos os insetos, como pode ser

verificado na Figura 28, o IAi se torna igual a 0,9904, o que leva o T. striatulus a

ser classificado como um insetívoro, porém, pela ocorrência e diversidade de

tantos itens alimentares característicos desta dieta, o cumbaca foi classificado

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como de hábito alimentar do tipo insetívoro-onívoro. RESENDE et al. (2001a)

encontraram para Parauchenipterus striatulus, uma dieta principalmente

insetívora, com um amplo espectro alimentar, sendo Ephemeroptera um dos

principais itens consumidos.

Tabela 15. Freqüência de ocorrência, volume (pontos) e respectivos índices alimentares (IAi) para Trachelyopterus striatulus (n = 25) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007.

Itens alimentares Freqüência de ocorrência %

Volume (pontos)

IAi

Ephemeroptera (adulto) 40,0 22219 0,5238 Insetos n. i. 76,0 8848 0,3963 Odonata (ninfa) 40,0 1897 0,0408 Ephemeroptera (ninfa) 20,0 1652 0,0195 Material Vegetal 40,0 538 0,0039 Coleoptera terrestre 16,0 585 0,0033 Formicidae 36,0 263 0,0027 Camarão - Palaemonidae 8,0 450 0,0021 Peixe n. i. 4,0 876 0,0021 Heteroptera terrestre n. i. 12,0 199

0,0014

Araneae 12,0 145 0,0010 Odonata (adulto) 4,0 324 0,0008 Hymenoptera 20,0 84 0,0007 Coleoptera aquático 16,0 138 0,0005 Diptera-mosquito adulto n.i. 8,0 81 0,0004 Isopoda 4,0 139 0,0003 Heteroptera aquático 12,0 36 0,0001 T. striatulus (nadadeira) 4,0 55 0,0001 Erythrinidae (escamas) 4,0 25 0,0001 Chironomidae (pupa) 4,0 18 <0,0000Lepidoptera (larva) n. i. 4,0 10 <0,0000Quilopoda n. i. 4,0 7 <0,0000Diptera (pupa) n. i. 4,0 2 <0,0000

Segundo VELLUDO et al. (2007), a cumbaca é uma espécie que apresenta

poucos trabalhos sobre sua biologia e em estudos realizados por estes autores em

2002 e 2003 nas lagoas do vale do Rio Doce, incluindo a lagoa Carioca, o

principal item alimentar observado foi de insetos com 0,86 de IAi, com a

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ocorrência ainda de vegetal, pós-larva de camarão, aracnidae, peixe e molusco.

Dentre os insetos, a ordem Hymenoptera foi a que contribuiu mais na dieta (0,59

IAi), principalmente a família Formicidae.

Foi encontrada em um dos estômagos de cumbaca, uma nadadeira da

própria espécie. Porém, este único item de peixe verificado pode ter sido tomado

de forma acidental na captura de outra presa ou mesmo proveniente de parte de

um peixe atacado por outro predador. Alimentos ou objetos estranhos podem ser

ingeridos de forma involuntária, individualmente ou junto com o alimento. Os

peixes não seletivos são os mais propensos a ter itens incomuns (ZAVALA-

CAMIN,1996).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

IAi

Insetos Material VegetalPeixeCamarãoOutros invertebrados

Figura 28. Principais itens alimentares somados em grandes grupos dispostos em ordem de importância para Trachelyopterus striatulus da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG, no período de setembro de 2006 a setembro de 2007. (IAi = índice alimentar).

T. striatulus possui hábitos tipicamente noturnos (BORGES et al., 1999), e

além do bagre Rhamdia quelen, é a única espécie de couro nativa que ocorre nas

lagoas do Parque do Rio Doce (GODINHO, 1996). De porte médio, tem ampla

distribuição geográfica, sendo encontrada tanto ao norte e nordeste quanto ao sul e

sudeste do país.

Cachaço é outro nome que tem a cumbaca na região das lagoas. Em outras

partes do país, é conhecida por cangati. A fecundação dos seus ovos não se dá na

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água mas sim no interior do corpo da fêmea. Embora a espécie seja muito comum

em algumas lagoas do Rio Doce, vem se escasseando na Dom Helvécio

(GODINHO, 1996).

Esta freqüência relativa (%) alta de insetos na alimentação da cumbaca

pôde ser evidenciada no presente estudo em todos os meses de coleta (Figura 29).

Esta espécie mostrou uma diversidade e utilização de muitos recursos terrestres,

principalmente insetos que caem na água e se tornam alimentos primordiais para a

nutrição desta espécie.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Set06(2

)

Out(0)

Nov(11

)

Jan0

7(4)

Mar(3)

Maio(5)

Jul(0

)

Set(0)

Material VegetalOutros invertebrados CamarãoPeixe Insetos

Figura 29. Contribuição relativa (%) dos itens alimentares na dieta de Trachelyopterus striatulus, por mês de coleta (com seus respectivos nº de estômagos analisados) da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce – MG.

5.4 SIMILARIDADE ALIMENTAR - GUILDAS TRÓFICAS

De acordo com os hábitos alimentares identificados para cada espécie, no

dendrograma de Similaridade de Bray-Curtis foram evidenciados 2 agrupamentos

principais (Figura 30). O agrupamento I reúne as espécies categorizadas como

insetívoras, e o agrupamento II engloba as herbívoras e a piranha. As espécies que

apresentaram menor similaridade correspondem ao tamboatá, tucunaré e a traíra.

Entre os insetívoros, os pares de espécies com grande similaridade em suas

dietas pela análise de Bray–Curtis foram o apaiari com o lambari e a cumbaca ao

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lado da piabanha. Este fato pode ser comprovado pelo alto índice de sobreposição

alimentar encontrado para essas espécies (Tabela 16).

Também pela semelhança e representatividade do material vegetal em suas

dietas, a segunda maior similaridade foi verificada no agrupamento II, entre as

duas espécies determinadas herbívoras deste estudo, o herbívoro-insetívoro H.

unitaeniatus e o herbívoro L. cf. steindachneri.

A piranha, piscívora generalista, provavelmente pela alta

representatividade do material vegetal encontrado na sua dieta, ficou no

agrupamento II. Se levarmos em conta o consumo equilibrado entre os outros dois

itens mais consumidos (insetos e material vegetal) e somarmos seus valores de IAi

veremos que estes adquirem um peso mais elevado e aproxima mais a piranha dos

peixes herbívoros e insetívoros.

O tamboatá, de hábito onívoro devido principalmente ao elevado grau de

consumo de sedimento e diversidade de itens ingeridos está associado, com

similaridade intermediária, aos insetívoros, herbívoros e à piranha. O tucunaré e a

traíra ficaram mais isolados em agrupamentos de menor similaridade com relação

ao restante da comunidade.

Figura 30. Dendrograma de similaridade entre a dieta das espécies estudadas da lagoa Carioca (Parque Estadual do Rio Doce – MG) medida a partir dos valores de índice alimentar através do método de aglomeração por ligação simples usando o coeficiente de Bray-Curtis. Legenda: Aoce (apaiari), Abim (lambari), Rque (bagre), Tstr (cumbaca), Bsp (piabanha), Gsp (tuvira), Huni (jeju), Lste (piau), Pnat (piranha), Hlit (tamboatá), Ckel (tucunaré), Hmal (traíra).

Assim, as espécies foram classificadas em 5 guildas tróficas principais, de

acordo com os itens alimentares fundamentais consumidos. Para algumas espécies

II

I

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foram feitas classificações unindo também duas categorias, que exibem um maior

detalhamento na freqüência e diversidade na dieta de cada espécie.

1) Insetívoros: A. ocellatus, A. aff. bimaculatus, Brycon sp., Gymnotus sp., R.

quelen e T. striatulus;

2) Piscívoros (generalistas): H. gr. malabaricus, Pygocentrus nattereri;

3) Herbívoros: H. unitaeniatus, L. cf. steindachneri;

4) Bentófago: Hoplosternum littorale;

5) Carcinófago: Cichla kelberi.

Nos rios e pequenos lagos, os insetos têm uma importante participação na

dieta do peixe, os quais, geralmente, estão presentes o ano inteiro, embora estejam

mais disponíveis na época das cheias. Entre as de forma larvais, as de vida

aquática são as mais utilizadas como alimento (ZAVALA-CAMIN,1996). Os

invertebrados bentônicos participam de diversas cadeias alimentares sendo o

principal item alimentar de vários organismos aquáticos, especialmente dos peixes

(MARGALEF, 1983).

Cada ambiente pode apresentar estruturas tróficas diferenciadas para as

mesmas espécies analisadas. Vários trabalhos de alimentação relatam esta

distinção, relacionando inúmeros fatores responsáveis por esta diferenciação,

como mudanças ambientais e interações com outras espécies. Segundo LOWE-

MCCONNELL (1975), os peixes neotropicais de água doce podem alterar sua

guilda trófica, de acordo com a composição específica da comunidade, época do

ano e mudanças no ecossistema.

A Figura 31 mostra uma ordenação diferenciada do dendrograma para uma

melhor visualização das espécies que apresentaram suas dietas mais similares, ou

o distanciamento e isolamento em relação às outras guildas. As setas azuis

indicam as espécies com maior diferenciação na dieta. O tamboatá apresenta uma

baixa explicação quanto a sua posição no centro do cruzamento dos eixos. Os

círculos vermelhos indicam as espécies insetívoras, no círculo verde as duas

espécies que apresentaram o maior consumo de material vegetal (jeju e piau) e nas

setas azuis os piscívoros.

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Espécies

Figura 31. Similaridade (Bray-Curtis) da dieta das espécies estudadas da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG. Legenda: Aoce (apaiari), Abim (lambari), Rque (bagre), Tstr (cumbaca), Bsp (piabanha), Gsp (tuvira), Huni (jeju), Lste (piau), Pnat (piranha), Hlit (tamboatá), Ckel (tucunaré), Hmal (traíra).

Na Figura 32, os itens mais freqüentes nas dietas de todos os peixes e com

maior valor de IAi (insetos, material vegetal e camarões) estão indicados pelo

retângulo verde, posicionam-se próximos ao encontro dos eixos e portanto,

mostram uma menor diferenciação na similaridade da utilização destes itens na

dieta.

Huni

Eixo 1

Eixo 2

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Itens alimentares Figura 32. Similaridade (Bray-Curtis) entre os itens alimentares utilizados pelas espécies estudadas da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce - MG. Legenda: art (artrópodes), av (ave), cam (camarão), mol (molusco), px esc (escamas de peixes), px part (pedaços e restos de peixes), peixe (peixes inteiros), veg (material vegetal), zoo (zooplâncton).

Aos extremos dos eixos, quatro itens mostram isolamento total e

demonstram uma maior diferenciação na classificação do tipo de dieta. A ave na

dieta da piranha; peixe na traíra; zooplâncton para o tamboatá e moluscos para o

apaiari. Com exceção do item “peixes”, os demais itens alimentares ocorreram

exclusivamente em cada espécie citada. Estes dados evidenciam a separação e

isolamento destas espécies nesta representação gráfica.

Eixo 1

Eixo 2

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Na análise de Componentes Principais (PCA), obteve-se um fator de

explicação do eixo 1 com o eixo 2 de 45,43 % (Figura 33).

AP

BAGCUM

JE

LAMPIA

PIAU

PIR

TAM

TRAÍ

TUC

TUV

-3

-2

-1 1 3 50

2

4

PCA

Eixo 1

Eix

o 2

Figura 33. Representação gráfica dos dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais (PCA) baseada nos dados de alimentação das espécies de peixes da lagoa Carioca (Parque Estadual do Rio Doce – MG). Fatores de explicação: Eixo 1 (25,50 %), Eixo 2 (19,93 %). Legenda: AP (apaiari); BAG (bagre); CUM (cumbaca); JE (jeju); LAM (lambari); PIA (piabanha); PIAU (piau); PIR (piranha); TAM (tamboatá); TRAÍ (traíra); TUC (tucunaré), TUV (tuvira).

Como resultado da PCA, podemos notar novamente o grupo dos

insetívoros (cumbaca, lambari, piabanha e tuvira) e, um pouco mais distante, o

apaiari e o bagre, como uma guilda bem evidente indicada pelo círculo vermelho.

O fato de o apaiari estar um pouco mais afastado desse grupo pode estar

relacionado a ingestão de outros itens como moluscos e camarões, porém

consumidos em menores valores. Isso também ocorre com o bagre, que apesar do

*

*

*

*

*

*

Eixo 2

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elevado consumo de insetos (basicamente Ephemeroptera), também apresentou

em sua dieta camarões, peixes e material vegetal.

As espécies indicadas com um asterisco azul proporcionam uma maior

explicação diferenciada no tipo de dieta quando comparadas com as demais e por

isso evidenciam peculiaridades quanto à utilização de outros itens alimentares. O

tamboatá e a piranha apresentaram a alimentação mais diferenciada e estão

situados nos pontos extremos opostos com maiores explicações da ordenação, e

assim de acordo com o PCA, as menores correlações na dieta com as demais

espécies.

Estudos realizados por MARQUES et al. (1999) mostraram que a lagoa

Carioca apresentou uma fauna bentônica mais rica e abundante na região

litorânea, enquanto na região profundal a fauna sobre o sedimento restringiu-se a

poucos grupos, notadamente os dípteros Chironomidae e Chaoboridae e anelídeos

da classe Oligochaeta. Além disso, em comparação com a lagoa da Barra

(localizada fora do PERD), a lagoa Carioca também apresentou maior riqueza de

taxa na comunidade de macroinvertebrados aquáticos e mostrou uma comunidade

melhor estruturada em termos de grupos funcionais de alimentação, refletindo seu

melhor estado de conservação, por estar dentro dos limites do Parque Estadual do

Rio Doce.

Segundo RELATÓRIO PELD/UFMG (2005), a alta diversidade de bentos

em ambientes com espécies introduzidas (incluindo a lagoa Carioca) e a grande

similaridade entre estes ambientes e os sem introdução pode ser um indício de que

a introdução de espécies de peixes exóticos não trouxe grandes modificações para

a comunidade bentônica, o que requer, contudo, estudos mais detalhados, como

por exemplo, estudo sobre o conteúdo estomacal de peixes para ver a real

interação entre a comunidade de peixes e organismos bentônicos.

No presente estudo, apesar de não ter sido quantificada a abundância dos

organismos bentônicos presentes no ambiente, devemos considerar alguns

resultados importantes obtidos nas análises das dietas de algumas espécies em

relação ao impacto gerado na fauna macrobentônica.

É de se esperar que uma forte predação ocorra principalmente em cima dos

insetos bentônicos, já que a maior parte da ictiofauna da lagoa Carioca se

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apresentou como insetívora, com um elevado consumo de organismos aquáticos,

sendo que muitos não foram possíveis de identificação. Com a adição de novas

espécies de peixes introduzidas e que obtiveram uma parcela importante destes

organismos na alimentação, a pressão de predação deve ter aumentado sobre

alguns taxa.

As principais espécies não nativas que se encaixam nesta questão são o

apaiari, a piranha e o tamboatá. O apaiari teve uma dieta essencialmente

insetívora, e dentre os itens autóctones consumidos, grande parte foi de

Trichoptera, com o maior valor de IAi entre os insetos identificados. A piranha,

apesar de classificada como piscívora, apresentou um consumo freqüente e

elevado de diversos organismos bentônicos, dentre eles principalmente

Ephemeroptera (famílias Euthyplocidae e Leptophlebiidae) e ninfas de Odonata.

Por fim, o tamboatá com uma grande tendência à bentivoria e uma população

extremamente abundante na lagoa deve também ter alterado significativamente a

fauna destes organismos com destaque para os Trichoptera e Ephemeroptera

(incluindo a família Leptophlebiidae) também predados pelas outras espécies

citadas.

Deste modo, deve ser dado uma atenção especial para estes grupos, visto

que também são consumidos pelas espécies nativas e assim, podem sofrer uma

expressiva pressão de predação.

5.5 SOBREPOSIÇÃO ALIMENTAR

A sobreposição alimentar (cor vermelha da Tabela 16) foi verificada

somente em 3 casos, sendo estes, entre espécies insetívoras. Mesmo com esses

altos valores de sobreposição não podemos afirmar que esteja havendo

competição pelos mesmos recursos disponíveis em alguns casos.

A completa segregação se deu entre o bagre e lambari, o que é fácil de

observar, sendo que para o lambari que contava com apenas 4 estômagos os itens

foram: insetos não identificados; Ephemeroptera (adulto); formiga (Attini); aranha

e material vegetal (casca/madeira). Para o bagre (3 estômagos) os itens são ninfas

de Odonata, Ephemeroptera (ovos e ninfas), camarão, escamas de peixes

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(Erythrinidae) e material vegetal (folhas). Essa diferença deve também ser

atribuída ao baixo número de estômagos analisados em ambas espécies e ao pouco

volume de conteúdo estomacal dos lambaris.

Tabela 16. Valores de Sobreposição Alimentar (SA) encontrados entre as 12 espécies de peixes estudadas da lagoa Carioca (Parque Estadual do Rio Doce – MG), cujo coeficiente varia de 0 a 1. As células em vermelho indicam sobreposição alimentar (AS > 0,60). A completa segregação está indicada em azul (AS = 0). Valores altos e médios estão indicados em células amarelas e verdes, respectivamente.

Aoce Rque Tstr Huni Abim Bsp Lste Pnat Hlit Hmal Ckel Gsp

Aoce x Rque 0,010 x Tstr 0,579 0,030 x Huni 0,203 0,201 0,249 x Abim 0,994 0,000 0,618 0,201 x Bsp 0,011 0,004 0,747 0,152 0,072 x Lste 0,012 0,073 0,044 0,466 0,003 0,059 x Pnat 0,388 0,098 0,269 0,375 0,373 0,008 0,199 x Hlit 0,198 0,011 0,116 0,045 0,179 0,002 <0,001 0,091 x

Hmal 0,001 0,009 0,001 0,003 < 0,001 < 0,001 0,006 0,002 < 0,001 x Ckel 0,048 0,176 0,003 0,003 < 0,001 < 0,001 0,002 0,017 < 0,001 0,033 x Gsp 0,572 0,314 0,403 0,130 0,565 0,006 0,029 0,287 0,124 0,013 0,002 x

No caso do lambari com apaiari (SA = 0,994), que foi o valor de

sobreposição mais elevado encontrado, essa semelhança foi devida

fundamentalmente ao item alimentar “insetos não identificados” IAi = 0,8668

(apaiari) e IAi = 0,8991 (lambari), por isso não fica muito preciso afirmar que está

havendo competição, pois se trata de itens que não puderam ser identificados. O

outro recurso em comum é o material vegetal (casca/madeira), porém com uma

representatividade muito pequena entre as espécies.

Para a sobreposição entre o lambari e a cumbaca, o caso é um pouco

semelhante ao anterior, com a diferença de que o número de itens alimentares

ingeridos pelo T. striatulus foi bem maior que para o A. ocellatus. Novamente os

itens comuns são insetos não identificados com valores de IAi significativos para

os dois peixes, porém nem tão elevado para a cumbaca (IAi = 0,3963), o que

levou a um valor mais baixo na sobreposição. O material vegetal (casca/madeira)

também foi relacionado, mas com pouca representatividade. Outros dois itens em

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comum foi Ephemeroptera (adulto), com valor de IAi muito baixo para o lambari,

e formiga (Attini) que ocorreu em único exemplar de cada espécie.

Para a piabanha e o cumbaca (SA = 0,747), o principal item que levou a

essa sobreposição foi de Ephemeroptera (adulto), em que o IAi foi de 0,9629 para

piabanha e 0,5238 para a cumbaca. Podemos notar que os Ephemeroptera adultos

ingeridos foram todos no mês de novembro e ocorreu em três outras espécies com

um volume bem acentuado em todos os casos. Este fato indica que neste mês do

ano de 2006 deve ter ocorrido uma “revoada” de Ephemeroptera, o que forneceu

um grande suprimento de recurso para inúmeras espécies que se aproveitaram

destes insetos como uma fonte abundante de alimentos. Em casos assim, com

grande oferta de alimento, costuma ocorrer uma sobreposição na dieta, já que

existem diversas espécies insetívoras na lagoa Carioca, e esse recurso passa a ser

tão abundante de modo a diminuir a competição entre as espécies.

Podemos observar na Tabela 16, que apesar de pouca sobreposição (cor

vermelha), muitas espécies apresentaram valores bem próximos a 0,6 (cor

amarela) e valores médios de coeficiente de sobreposição (cor verde).

MATTHEWS (1998) sugere que, em níveis moderados de disponibilidade

de recursos, as espécies de peixes podem divergir na sua exploração utilizando o

recurso ao qual estão mais adaptadas e quando os recursos são super abundantes,

as espécies podem utilizá-los de forma oportunista sem haver competição.

O caráter oportunista de algumas espécies, principalmente as insetívoras,

como relatado neste estudo deve ser um artifício muito importante para se obter

um melhor aproveitamento do aumento na abundância de recursos alimentares e

abrandar a competição entre elas. A baixa sobreposição alimentar observada pode

estar relacionada a este fator.

De acordo com LAGLER et al. (1977), variações cíclicas no

comportamento alimentar de peixes são freqüentes e estão ligadas às

características de sua história de vida ou às condições ambientais e ecológicas.

Grande parte dos peixes tropicais são consumidores facultativos, com certa

facilidade em incluir novos itens em sua dieta de acordo com a disponibilidade de

alimentos no ambiente (LOWE-MCCONNELL, 1973).

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Como qualquer organismo, os peixes possuem exigência por uma gama de

recursos alimentares necessários para sobreviverem e manterem a viabilidade de

suas populações. Peixes têm a capacidade de variar muito sua dieta, chegando

algumas espécies piscívoras a apresentar predominantemente itens vegetais na

dieta em determinados períodos do ano, como alternativa à indisponibilidade de

suas presas preferenciais (ESPÍRITO SANTO et al., 2003). Este fato deve ter sido

o caso da mudança alimentar encontrada na lagoa Carioca neste período de coleta

para o jeju.

5.6 FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS

As relações bióticas, tanto intra como interespecíficas, são mútuas e

estreitamente relacionadas às condições abióticas do ambiente (RESENDE et al.,

1996). A Análise Multivariada de Correlação Canônica (Figura 34) evidenciou

uma correlação entre as espécies e os meses de coleta e duas variáveis abióticas, a

condutividade elétrica e o oxigênio dissolvido, como mais importantes na

explicação da distribuição de algumas dessas espécies.

A coleta de outubro/2006 aparece em destaque, separada das demais e, de

fato, foi uma coleta-piloto.

As correlações simples significativas (p<0,05) ocorreram, entre os

componentes bióticos, de modo geral, o item alimentar principal de cada guilda e

as variáveis ambientais de caráter sazonal como pluviosidade e temperaturas (ar e

água).

Podemos ressaltar para o tucunaré, uma relação de maior grau médio de

repleção nos meses chuvosos e juntamente com os insetívoros, houve uma

correlação positiva entre a abundância de peixes capturados e o aumento na

pluviosidade. Para as guildas dos insetívoros e herbívoros ainda houve correlação

negativa entre o item alimentar principal e pH (Anexo 3).

As correlações simples e a Análise Multivariada de Correlação Canônica

(CCA) permitiram apenas indicar algumas tendências de correlação.

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Figura 34. Análise de Correlação Canônica de variáveis físico-químicas (pH, oxigênio dissolvido, condutividade, temperatura da água) da lagoa Carioca (Fonte: Projeto Relatório PELD/UFMG) e dados pluviométricos e de temperatura do ar no PCD (Plataforma de Coleta de Dados) do PERD (Fonte: CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) com a abundância das espécies por mês de coleta. Fatores de explicação: Eixo 1 = 32,6%, Eixo 2 = 24,3 %. Eixos 1 + 2 = 56,9%. Legenda: Aoce (apaiari), Abim (lambari), Rque (bagre), Tstr (cumbaca), Bsp (piabanha), Gsp (tuvira), Huni (jeju), Lste (piau), Pnat (piranha), Hlit (tamboatá), Ckel (tucunaré), Hmal (traíra), Cond (condutividade), OD (oxigênio dissolvido). 5.7 DISCUSSÃO FINAL

Podemos observar no histórico de introdução de peixes na lagoa Carioca,

que em um primeiro momento, com a chegada do tucunaré, muitas espécies

desapareceram. Posteriormente, juntamente com a presença de novas espécies

alóctones este ambiente foi ainda mais alterado. Este impacto formou uma

estrutura nesta comunidade de peixes, antes representada por inúmeras espécies

forrageiras de pequeno porte em uma composição dominada por espécies

insetívoras e com a presença ainda de mais duas espécies piscívoras invasoras

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bem estabelecidas. Desta maneira, este ambiente está sofrendo um sério

comprometimento em seu conjunto de interconexões tróficas.

Peixes exóticos piscívoros tendem a reduzir a abundância das espécies

nativas de duas formas: por competição - consumindo diretamente os recursos, ou

forçando os nativos a procurarem refúgios restringindo os recursos disponíveis - e

por predação. Para espécies com alta susceptibilidade à predação, a influência

positiva da plasticidade na sua persistência será menor (ESPÍRITO SANTO et al.

2003).

O tucunaré e a piranha foram introduzidos no sistema de lagos no médio

Rio Doce na década de 60, respectivamente na lagoa da Barra e Jacaré

(GODINHO et al., 1994). O primeiro registro científico das espécies introduzidas

na lagoa Dom Helvécio ocorreu em 1985, mas Cichla ocellaris e Pygocentrus sp.

ocorrem segundo funcionários do Parque, desde 1979 (GODINHO &

FORMAGIO, 1992). O tucunaré pode ter sido o principal responsável pelas

extinções verificadas em lagos do Rio Doce, mencionados por SUNAGA &

VERANI (1991).

Em estudos comportamentais e alimentares realizados por ESPÍRITO

SANTO et al. (2005) na bacia do Rio Doce, estes autores consideraram o tucunaré

uma espécie mais especialista que a piranha. Segundo as distintas estratégias

alimentares entre estas duas espécies e dados da dieta analisados, eles

especularam que a coexistência de piranhas e tucunarés está sendo favorecida, já

que a competição entre estas espécies é amenizada, dada a sua preferência

alimentar. De fato, podemos reforçar esta proposta no presente estudo, pois o

tucunaré se mostrou mais especializado, ingerindo poucos itens alimentares

(estenófago), ao contrário da piranha que teve em sua dieta uma variedade muito

mais ampla (eurífaga) quanto ao número de alimentos consumidos. GOMIERO &

BRAGA (2004a), encontraram também pouca diversidade de itens consumidos

pelo tucunaré, no reservatório de Volta Grande (MG/SP).

A dispersão destas espécies no sistema de lagos deve estar relacionada a

ações antrópicas ou pelos efluentes dos lagos que podem esporadicamente ou

permanentemente comunicar os lagos com os tributários do Rio Doce

(GODINHO et al., op. cit.). Por isso, medidas de controle em uma lagoa podem se

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tornar muito difíceis, caso haja realmente uma comunicação contínua com outras

fontes que possuam espécies exóticas e/ou alóctones.

A introdução das espécies piscívoras que levou à extinção de várias

espécies nativas, como o Astyanax fasciatus, Moenkhausia doceana, Oligosarcus

solitarius, Geophagus brasiliensis, Steindachnerina elegans e uma diminuição nas

populações de A. bimaculatus, pode ter diminuido a pressão de predação sobre o

Chaoborus, o que resultou uma séria modificação na estrutura da comunidade

planctônica da lagoa Carioca ao longo dos anos, passando este diptera a ser o

predador de topo do zooplâncton e apresentar uma explosão populacional em

determinadas épocas do ano (RELATÓRIO PELD/UFMG, 2005). Considerando o

baixo número de indivíduos capturados de A. aff. bimaculatus pode-se inferir que

esta é uma espécie que corre sério risco de extinção na lagoa Carioca. Em estudos

no PERD, MAIA-BARBOSA et al. (2003) atribuíram o desaparecimento dos

Calanoida, Argirodiaptomus furcatus e Scolodiaptomus corderoi e a dominância

de Thermocyclops minutus à eliminação dos peixes planctófagos pela introdução

de peixes exóticos. A extinção local de tais espécies acarretou uma diminuição na

predação dos Diptera do gênero Chaoborus, os quais são registrados em elevadas

abundâncias e que, provavelmente, interferiram nesta alteração da estrutura da

comunidade zooplanctônica (RELATÓRIO PELD/UFMG, op. cit.).

O impacto da introdução de espécies alóctones de peixes sobre populações

zooplanctônicas foi salientado anteriormente por ZARET (1980), tanto por

predação direta quando jovens, ou alterando a comunidade de pequenos peixes

zooplanctívoros.

No presente estudo, foram encontrados Chaoborus no conteúdo estomacal

de apenas duas espécies de peixes, porém com baixa representatividade. Na

piranha, um único representante que teve seu estômago repleto de larvas foi

coletado no mês de setembro de 2007 e nos estômagos dos tamboatás foram

encontradas tanto larvas como pupas deste inseto.

O item alimentar material vegetal apareceu em maior ou menor grau em

todas as espécies de peixes analisadas, com diferentes contribuições de diversas

partes vegetais, como sementes, folhas, cascas e macrófitas aquáticas. Essa

constante presença nas espécies em muitos casos pode somente representar um

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item meramente acidental durante a captura das presas, que em muitos casos

podem se encontrar retidas no substrato vegetal.

Toda a matéria orgânica de origem terrestre que entra no sistema aquático

será decomposta e servirá de fonte de nutrientes para muitos tipos de organismos,

contribuindo para a manutenção da biodiversidade e da produtividade total do

sistema (ESTEVES, 1988). A lagoa Carioca, por se encontrar no interior do

PERD, mantém sua mata no entorno bem preservada, o que representa uma

enorme importância para muitas espécies, pois diversos peixes se utilizam e

dependem de alimentos e refúgios de origem alóctone. Os galhos, troncos e folhas

caídos são utilizados como abrigo por muitas espécies de peixes (BARRELLA et

al., 2000), como por exemplo, a cumbaca, espécie noturna que passa o dia

escondida no interior de tocas naturais que encontra dentro d´água (GODINHO,

1996). Além disto, o fornecimento de matéria orgânica proveniente da vegetação

ciliar diminui a pressão de competição e predação da comunidade (NAIMANN et

al., 1988).

O material lenhoso também serve de estrutura de sustentação para a

fixação de protozoários sésseis, algas e pequenos invertebrados, formando o

perifíton, que é utilizado como alimento por alevinos de várias espécies

(BARRELLA et al., op. cit.). Além disso, segundo UIEDA (1995), o material

vegetal pode dificultar a predação por aves, mamíferos ou outras espécies de

peixes.

As diversas estratégias e táticas de forrageamento exibidas pelos peixes

possibilitam que eles façam uso dos mais diferentes recursos alimentares

disponíveis nos ambientes aquáticos e em seus entornos (HAHN et al., 2002).

Alterações na dieta de peixes podem ainda ser regidas por modificações espaciais

e sazonais do habitat, se levado em conta que locais e períodos distintos dispõem

de diferentes condições abióticas e de ofertas de alimento (ABELHA et al., 2001).

WOOTTON (1990) comenta que os peixes ocupam virtualmente todos os

níveis tróficos da cadeia alimentar. Portanto, o alimento consumido permite

reconhecer dentro da ictiofauna grupos tróficos distintos e inferir sobre sua

estrutura, seu grau de importância e as inter-relações entre seus componentes

(AGOSTINHO, et. al., 1997a). Dessa forma, é possível classificá-la considerando

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o alimento predominante na dieta das espécies, como sugerido por WELCOMME

(1979). Embora esses esquemas não sejam perfeitos, são importantes passos para

a compreensão dos padrões gerais nas estruturas ecológicas e taxonômicas de

assembléias de peixes (MATTHEWS, 1998).

Estudos de ecologia trófica têm revelado uma considerável versatilidade

alimentar para a maioria dos teleósteos (ABELHA et al., 2001). A caracterização

de grupos tróficos entre peixes é instável, dada a elevada plasticidade alimentar da

maioria das espécies (HAHN et al., 1997a). Essas alterações são verificadas entre

as espécies generalistas, que normalmente correspondem à maior parcela da

ictiofauna, enquanto entre as especialistas mudanças na dieta são pouco

acentuadas. No entanto, essa caracterização se faz necessária para entendermos

como essa utilização dos itens alimentares se dá em determinado tempo e como

pode ser alterada tanto por fatores abióticos quanto bióticos, como por exemplo,

na exclusão ou introdução de espécies no ambiente.

Exatamente esta flexibilidade alimentar dos peixes pode ser um dos

artifícios responsáveis pela manutenção da fauna nativa frente à chegada de novos

peixes introduzidos. A mudança alimentar, compartilhamento, ou mesmo um

melhor aproveitamento de itens em determinadas estações do ano pode ser um

fator chave para evitar uma competição direta com outros peixes, permitindo

assim, a coexistência destas várias espécies. Deste modo, as espécies introduzidas

em outros biótopos também por meio desta plasticidade alimentar podem obter

sucesso e se manterem bem estabelecidas nesses ambientes, evitando assim a

competição. A partição de recursos entre espécies coexistentes tem sido

considerada como um dos processos responsáveis pela estrutura das populações e

conseqüentemente da comunidade (AGOSTINHO et al., 2003b).

Podemos notar ainda que a maioria das espécies analisadas neste estudo

apresentou hábitos alimentares tipicamente eurifágicos. SCHROEDER-ARAÚJO

(1980) comenta que os ambientes de água doce oferecem aos peixes poucas

oportunidades para a especialização alimentar e em conseqüência disto, muitas

espécies tem uma tolerância relativamente alta aos vários tipos de habitat e uma

flexibilidade no que diz respeito aos hábitos alimentares. Assim, de um modo

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geral, as fontes alimentares de seu ambiente podem ser divididas com outras

espécies.

De acordo com SCHOENER (1974) apud MARÇAL-SIMABUKU &

PERET (2006), as três principais dimensões de recursos são alimento, tempo e

espaço, e as segregações desses recursos são suficientes para permitir a

coexistência de espécies; o habitat seria a dimensão mais importante na

segregação. Por outro lado, ROSS (1986) apud MARÇAL-SIMABUKU &

PERET (op. cit.) demonstrou, com base em vários estudos sobre partilha de

alimento, tempo e habitat, que para as comunidades de peixes a segregação trófica

é mais importante que a segregação espacial.

Alguns aspectos em relação à disponibilidade e o tipo de presa devem ser

levados em consideração. Em coletas de organismos bentônicos realizadas na

lagoa Carioca podemos notar que a abundância de baratas d’água era bem

elevada, e mesmo assim nos resultados das análises de conteúdos estomacais, este

item alimentar foi explorado por somente um indivíduo de porte grande, de uma

única espécie (traíra). Se levarmos em conta o perigo de um peixe se ferir ao

predar determinado organismo, como este inseto, não seria de se estranhar que

esses belostomatídeos realmente fossem pouco utilizados na alimentação de várias

espécies de peixes, dado o seu potencial nocivo.

Por outro lado, verificamos que com exceção do piau, que se alimentou de

Ephemeroptera adultos apenas no mês de março, todas as outras espécies

analisadas (cumbaca, jeju, lambari e piabanha) que se alimentaram deste item, o

consumiram em quantidades elevadas, exclusivamente no mês de novembro. Este

fato indica que adultos Ephemeroptera provavelmente ocorreram em grande

abundância no mês de novembro, fornecendo assim, um enorme suprimento

alimentar para os peixes. Porém, ao contrário das baratas d’água, os

Ephemeroptera devem ser facilmente predados. Segundo WOOTTON (1990), a

dieta dos peixes pode apresentar uma interação entre preferências alimentares,

disponibilidade e acessibilidade a alimentos.

WOOTTON (op. cit.) observa que o alimento parece ser limitado na

maioria dos ambientes e que as espécies respondem às variações em sua

disponibilidade com mudanças na dieta. Dessa forma, embora pertençam à mesma

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categoria trófica, espécies onívoras, por apresentarem maior flexibilidade

alimentar, podem ingerir outros tipos de alimento, caso seu item preferencial não

seja encontrado em abundância no ambiente (LOWE-MCCONNELL, 1999).

Nos trabalhos realizados por SUNAGA & VERANI (1997) e GODINHO

(1996), não há registros da ocorrência do Siluriforme Hoplosternum littorale. No

estudo de VASCONCELLOS et al. (2005), constatou-se uma explosão

populacional desta espécie, utilizada como isca por pescadores que podem ter sido

os responsáveis pela sua introdução na bacia do Rio Doce.

O tamboatá foi a espécie com maior número de indivíduos capturados e

maior biomassa. Apesar dos relatos na literatura indicarem uma recente

introdução desta espécie, ela apresenta uma população demasiadamente

numerosa, o que pode ser constatado no presente estudo e em trabalhos anteriores

na lagoa Carioca como de VASCONCELLOS et al. (op. cit.). O sucesso obtido

pelo H. littorale neste ambiente pode estar relacionado a diversos fatores, tanto

nas suas próprias características fisiológicas e anatômicas, quanto aos recursos e

condições ambientais que podem favorecer seu estabelecimento.

Não podemos deixar de notar que o grau de repleção do tamboatá de uma

maneira geral foi elevado em todos os meses do ano, além disso, os coeficientes

de sobreposição da dieta (Tabela 16) quando comparadas a outras espécies foram

muito baixos, não indicando competição alimentar com nenhuma outra espécie,

nos levando a supor que os recursos alimentares não parecem ser um problema

para esta espécie. Com sua alimentação em grande parte bentófaga, essa espécie

demonstra ter uma boa eficiência na captura de suas presas, que mesmo com uma

variação na diversidade de itens, deve ser abundante durante todas as estações do

ano.

Um aspecto importante verificado no que se trata da predação, é que

apenas a piranha se alimentou de tamboatá, mas em uma freqüência muito baixa

(6%), ou seja, dois peixes de um total de 34 estômagos de piranhas analisados.

Mesmo em outros trabalhos que citam o tucunaré como um possível predador de

Siluriformes (SANTOS et al., 1994; BIZERRIL & LIMA, 2001), neste trabalho

isto não foi comprovado. De acordo com SANTOS et al. (op. cit.), tucunarés (C.

ocellaris), em todos os tamanhos analisados, tiveram predominantemente hábitos

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alimentares piscívoros. As presas (peixes) eram principalmente peixes bentônicos

Perciformes (a maioria Cichlidae) e Siluriformes, notavelmente Pimelodídeos.

O papel dos espinhos nos peixes como uma estratégia antipredatória é bem

documentada (LOWE-MCCONNELL, 1975; SANTOS et al., 2001). Deste modo,

o corpo reforçado do H. littorale, coberto por placas ósseas duras e dotados de

espinho nas nadadeiras peitorais e dorsal, deve estar assegurando sua proteção de

eventuais predadores. O tipo de predação da piranha, de arrancar pedaços das

presas deve estar ligado a essa melhor tática de investida no tamboatá, este

podendo até mesmo se encontrar morto, pois segundo GODINHO (1996) as

piranhas podem se alimentar de animais em decomposição.

Outra característica do H. littorale e que também deve ser levada em

consideração é sua capacidade de respiração aérea que se dá de maneira contínua

e utiliza parte de seu intestino para a extração do oxigênio do ar (JUCÁ-

CHAGAS, 2006). Em épocas de cheia, no PERD alguns funcionários relataram

observar muitos tamboatás “andando” pelas matas junto a poças temporárias e

passando para outras regiões alagadas. Com a junção desses diversos fatores:

recursos alimentares abundantes e sem competidores diretos, a não ser a própria

competição intraespecífica que pode estar ocorrendo; ausência de predadores

efetivos e respiração aérea estável que não depende da disposição adequada de O2

na água e também permite a constante chegada de novos indivíduos no período

das cheias, provenientes de ribeirões e efluentes próximos, devem fortalecer a

idéia de que essa abundância encontrada se dá e é sustentada desta maneira.

Assim como nos resultados encontrados por VASCONCELLOS et al.

(2005), neste presente estudo, esta espécie foi caracterizada como a primeira em

biomassa na lagoa e merece uma atenção especial, pois representa uma grave

alteração na dinâmica energética e estrutural da lagoa Carioca.

Não foi possível obter uma correlação muito clara entre a variação sazonal

e a atividade alimentar do tamboatá em alguns meses, mas de fato, os valores dos

graus de repleção foram mais elevados na época de cheia. HAHN at al. (1997)

observaram uma maior atividade alimentar dos peixes na cheia associando este

fato à maior disponibilidade de nutrientes neste período. WINEMILLER (1987)

relata que a maior proporção de indivíduos com estômagos vazios, no período

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seco, ocorre em função da depleção de oxigênio aquático, o que leva o H. littorale

a cessar a alimentação e utilizar seu intestino para respiração aérea. Neste

trabalho, isto só ocorreu no mês de maio que teve uns dos menores índices

pluviométricos e também o menor valor de GR (2) indicando que este fato pode

ter ocorrido.

Um ponto muito significante deste trabalho é que as espécies introduzidas

(apaiari, piranha, tamboatá e tucunaré) se mostraram muito bem adaptadas e

estabelecidas neste ambiente e também não demonstraram competição entre si,

pelos resultados da sobreposição alimentar. Podemos notar este sucesso tanto na

utilização dos recursos alimentares, como em relação à numerosa quantidade de

indivíduos destas populações, apenas com exceção do A. ocellatus, que teve

poucos exemplares coletados. Pelos resultados das análises tróficas, a espécie

nativa piscívora, Hoplias gr. malabaricus, a mais propensa a competir ou mesmo

predar estas espécies alóctones, não demonstrou aptidão para realizar este

controle.

Como faltam estudos indicando a alimentação de outros possíveis

predadores de topo da cadeia trófica da lagoa Carioca, como jacarés e aves e

mesmo assim, independente destes estudos, ao longo destes anos parece não estar

ocorrendo um controle tão significativo destas espécies, a ponto de reduzir suas

populações substancialmente. Imaginamos assim, que de imediato apenas com a

intervenção humana será possível obter um controle mais eficiente e evitar que a

biodiversidade nativa sofra e se desestruture ainda mais com a presença destes

peixes introduzidos.

Diversos fatores podem colaborar para que a comunidade da ictiofauna

nativa ainda persista neste ambiente modificado. As diversas formas de cuidado

parental parecem agir como mecanismos antipredatórios (LOWE-MCCONNELL,

1987). Talvez este seja um dos comportamentos que assegure e contribua para que

a traíra resista e apresente ainda uma população bastante abundante na lagoa. A

traíra foi a espécie com a segunda maior abundância e biomassa.

Quando comparamos a traíra e o jeju, que pertencem à mesma família, de

hábito carnívoro (HAHN et al., 2004; SANTOS et al., 2006) e, portanto,

apresentam um parentesco próximo e características morfológicas semelhantes,

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espera-se encontrar um maior grau de similaridade também na dieta, o que, no

entanto, não foi verificado neste estudo.

Segundo VELLUDO (2007), existem poucos estudos sobre o hábito

alimentar de H. unitaeniatus. MÉRONA & RANKIN-DE-MÉRONA (2004),

estudando a alimentação dos peixes de um lago de várzea da Amazônia Central,

classificaram o jeju (89 exemplares analisados), como uma espécie onívora, sendo

que os itens de maior abundância relativa (%) da sua dieta foram frutos e flores,

seguido por peixes. Os insetos e outros invertebrados terrestres tiveram uma

participação muito baixa em sua alimentação. Já SOARES et al. (1986)

classificaram esta espécie, do lago Camaleão na Bacia Amazônica, como

invertívora generalista.

Possivelmente, características comportamentais da traíra a favoreça em

detrimento do jeju no aproveitamento dos peixes disponíveis atualmente na lagoa

Carioca, considerando a ausência de 5 espécies forrageiras extintas localmente.

Provavelmente a grande mudança sofrida na comunidade da lagoa, pode ter

levado a esta descaracterização na dieta originalmente conhecida como carnívora

para H. unitaeniatus.

Segundo POMPEU & GODINHO (2001), apesar de piscívora, a traíra é

uma espécie oportunista, pois mudanças na sua dieta em função de oferta de

alimento já foram detectadas por outros autores. Sendo assim, este fator também

deve ter contribuído e variado em algum determinado tempo ao longo da

coexistência das espécies nativas com as introduzidas. Apesar de ter apresentado

uma dieta piscívora, verificamos que este consumo se deu basicamente nos meses

de seca (maio, julho e setembro) como pode ser visto na Figura 18. Nos outros

meses analisados a traíra apresentou uma dieta utilizando mais freqüentemente

insetos e camarões, o que mostra essa variação e capacidade de aproveitamento de

outros itens que não peixes em sua alimentação.

LOWE-MCCONNELL (1975) estudando peixes da região amazônica,

considera que na época de águas baixas há uma maior concentração de peixes,

devido à redução do volume das águas e, em conseqüência, uma maior predação,

portanto os predadores devem encontrar e capturar mais facilmente as presas.

Apesar da variação no nível da água da lagoa Carioca ser infinitamente menor,

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quando comparada à região amazônica, podemos fazer esta analogia, pois durante

os períodos de seca ocorre, juntamente com o abaixamento do nível da água, uma

diminuição de alimentos de origem alóctone provenientes das bordas de mata e há

uma considerável redução espacial, o que interfere na subtração de possíveis

locais de refúgio como galhos, plantas e troncos de árvores.

Foi observado neste estudo, que a traíra se alimentou basicamente de

tuviras, enquanto o tucunaré predou apenas um indivíduo desta espécie. Um fator

que poderia relacionar este evento é a eficiência da tática empregada nos

diferentes tipos de predação utilizados por estas espécies. Os peixes píscívoros

têm diferentes estratégias e habilidades de predação, como a de perseguição

apresentada pelos tucunarés (ZARET, 1975) ou a tática de emboscada, pela traíra

(LATINI, 2001).

A predação do tipo emboscada então seria mais vantajosa neste caso o que

pode estar relacionado à maior facilidade, por exemplo, de apanhar as presas em

locais mais complexos estruturalmente, como em regiões de macrófitas e

“galhadas”. Além disso, o tucunaré possui hábito diurno (ZARET, op. cit.), ao

contrário da tuvira que apresenta hábitos noturnos (VAZ, 2000). Nesse caso, a

traíra, com hábitos crepusculares e sendo uma espécie nativa poderia levar uma

certa vantagem neste determinado ambiente.

De acordo com SÚAREZ et al. (2001), não existe relação positiva entre o

tamanho do tucunaré e de suas presas, sendo que mesmo animais grandes

continuam se alimentando de presas de pequeno porte. Deste modo, a extinção e

diminuição das espécies forrageiras na lagoa Carioca devem ter afetado e

enfraquecido o desempenho do tucunaré na captura de outras presas presentes

atualmente.

A predação tem um claro efeito sobre a estrutura de populações de presas.

Há várias evidências experimentais que apontam o risco de predação como a

principal força que atua na estruturação de comunidades de peixes (PERSSON &

EKLÖV, 1995). Assim, frente ao risco de predação, a presa responde com

mudança de habitat e redução da atividade, com reflexos na eficiência de

forrageamento, no crescimento e na sobrevivência. A estruturação do habitat

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promovida pelos bancos de macrófitas deve ajudar a reduzir a pressão de predação

na lagoa Carioca.

O consumo ótimo de alimento está relacionado à economia de energia pelo

predador, refletida em uma estratégia baseada na busca e captura preferenciais por

presas comparativamente mais energéticas e abundantes em suas rotas alimentares

naturais. O consumo ótimo em um determinado ambiente, raras vezes ocorre em

outro, e a anatomia do animal é limitante à tática de obtenção do recurso alimentar

(PIANKA, 1982).

A maioria das espécies de peixes habita a área litorânea, em razão da

maior disponibilidade de recursos alimentares e de abrigos nesses locais (SMITH

et al., 2003). Na região litorânea, considerada uma região muito produtiva, as

condições são mais favoráveis aos organismos aquáticos, encontrando-se

numerosos habitats, segundo ESTEVES (1988).

A abundância total de peixes capturados nas coletas foi maior em regiões

de borda de mata quando comparadas a regiões com presença de macrófitas.

Talvez este fato se deva a presença de peixes juvenis e de pequeno porte

normalmente citados como associados aos bancos de macrófitas. Quando

verificada por espécie, essa distribuição espacial (borda de mata x macrófita

aquáticas) se deu de maneira diferenciada para algumas delas. O piau foi

capturado unicamente nas regiões com presença de macrófitas, e a piabanha

somente em regiões de borda de mata. Para outras duas espécies foi possível

verificar essa diferença: o tamboatá, em que a maioria dos peixes foram coletados

nas regiões de borda de mata e o tucunaré, capturado principalmente em regiões

de macrófitas. A influência exercida pelas macrófitas sobre a abundância das

populações de peixes depende da estratégia de vida de cada espécie

(AGOSTINHO et al., 2003a).

Segundo VONO (1995), as capturas de L. steindachneri foram restritas à

habitats caracterizados pela presença de altas densidades de macrófitas nos lagos

Pedra e Hortência do médio Rio Doce. Nas observações subaquáticas, este mesmo

autor descreve que foram observados indivíduos isolados escondidos na

vegetação.

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Os benefícios advindos da estruturação promovida pelas macrófitas variam

conforme a espécie de peixe considerada, a fase ontogenética e a estratégia de

vida. Entretanto, como a proliferação de macrófitas afeta a qualidade da água, as

interações predador-presa e o grau de influência dependem da distribuição e

composição dos bancos. Assim, raramente é encontrada uma relação simples entre

a presença e abundância de peixes e cobertura de macrófitas (AGOSTINHO et al.,

2003a).

As macrófitas servem como locais de refúgios e desova para várias

espécies de peixes (ESTEVES, 1988). Além de se consistirem de bons locais de

refúgio para proteção, as macrófitas nas regiões litorâneas representam regiões

com grande tomada de nutrientes advindos do meio terrestre e podem apresentar

assim uma diversa fauna associada nessas estruturas vegetais. As macrófitas

representam de um modo geral, excelente substrato para o desenvolvimento do

perifíton e a instalação de muitos táxons de invertebrados (RODRIGUES &

BICUDO, 2004). Segundo HAHN & CRIPPA (2006), vários estudos têm

mostrado que os bancos de macrófitas em regiões tropicais sustentam uma rica

fauna associada de peixes de pequeno porte, os quais procuram refúgio contra a

predação e são favorecidos pelo farto suprimento alimentar (CASTRO &

ARCIFA, 1987).

Na lagoa Carioca o tucunaré ocorre desde 1985 e a piranha foi noticiada

pela primeira vez em 1992 por GODINHO et al. (1994). Segundo esses autores, o

aumento das populações de tucunaré se deu em função da redução ou eliminação

das espécies nativas.

A introdução da piranha (Pygocentrus nattereri) tem sido menos

freqüente, com poucos relatos em literatura (POMPEU & GODINHO, 2001). O

efeito da introdução de piranhas nas comunidades de peixes nativas não é bem

estudado nem quantitativamente nem qualitativamente (SUNAGA & VERANI,

1991). A piranha é também predadora e tem nos peixes um dos seus principais

itens alimentares (RESENDE et al. 1996).

A traíra, principal espécie nativa piscívora da lagoa Carioca deve ter

apresentado um profundo déficit em sua dieta original e esta pressão predatória

em cima da tuvira deve se relacionar à ausência de espécies forrageiras iniciais. O

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principal impacto gerado pela introdução de espécies é a predação, tendo como

conseqüência a redução e eliminação de espécies nativas (SMITH et al., 2005).

Desta forma, a modificação na comunidade de peixes alterou essa disponibilidade

de presas e desestruturou seriamente os elos da rede alimentar.

Neste trabalho, na lagoa Carioca não foi verificada a predação de peixes

pelo apaiari. GODINHO & FORMAGIO (1992) descrevem que apesar do A.

ocellatus incluir peixes em sua dieta, citado em outros trabalhos, não deve ter

apresentado uma modificação significativa na Lagoa Dom Helvécio, devido ao

fato de neste estudo realizado por estes autores o apaiari ter registro recente e

ocorrer em baixa densidade. O apaiari também teve uma captura muito baixa neste

atual estudo, com apenas 11 indivíduos coletados, e assim não apresentou dados

significativamente suficientes para verificar sua capacidade de modificação do

ambiente e de predação de outros peixes. Porém, foi constatada a utilização do M.

tuberculatus em sua dieta, o que representa uma importância ecológica muito

grande, pois este Gastropoda é uma espécie exótica de grande potencial invasor.

Frente aos resultados obtidos e analisados à luz de outros disponíveis na

literatura, este trabalho ressalta a importância e a necessidade de se ter pesquisas

de longa duração para um estudo prolongado e integrado. Deste modo, com um

constante monitoramento e melhor conhecimento do ambiente, as medidas de

manejo para a conservação e proteção das lagoas do PERD serão, seguramente,

mais eficientes.

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6. CONCLUSÕES

HÁBITOS: A estrutura trófica da lagoa Carioca se apresentou dominada por

espécies insetívoras. Os grupos dos peixes piscívoros, herbívoros, carcinófagos e

onívoros englobam poucas ou somente uma espécie em cada categoria. Esta

caracterização possui uma representação variável, pois muitas destas espécies

podem apresentar uma alteração alimentar, o que reflete na plasticidade trófica

demonstrada pelos peixes.

SIMILARIDADE/PCA: A maior similaridade na dieta mostrou dois grupos bem

definidos: as espécies que se alimentam principalmente de insetos (maioria), e as

herbívoras. Estas análises também permitiram definir espécies que possuem itens

exclusivos em sua alimentação como a piranha, o apaiari e o tamboatá.

SOBREPOSIÇÃO: As sobreposições alimentares significativas foram

verificadas em três casos, com espécies insetívoras. Porém, os resultados não

permitem afirmar que está ocorrendo competição entre elas. Alguns casos

permitem inferir que a sobreposição se dá devido à oferta de recursos alimentares

com efeitos da sazonalidade. Desta forma, as espécies podem utilizar os recursos

diversificando a dieta, ou tendo um melhor aproveitamento em determinadas

condições ambientais e assim abrandar ou mesmo evitar a competição entre elas.

PLASTICIDADE: A plasticidade trófica exibida pela maioria das espécies é de

extrema importância para as inter-relações na comunidade de peixes. Esta

flexibilidade alimentar deve ser um dos principais fatores que permitem a

coexistência entre determinadas espécies.

ESPÉCIES INTRODUZIDAS: Os resultados encontrados no presente estudo

reforçam a necessidade de implementação de planos de manejo para o controle

dos peixes não nativos. As espécies introduzidas se mostraram bem estabelecidas.

Deste modo, somente com a prática de medidas que visem impedir um maior

impacto na fauna nativa, é possível obter êxito na conservação deste ambiente.

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7. RECOMENDAÇÕES E PERSPECTIVAS

O presente estudo visou contribuir e obter mais respostas para auxiliar na

maneira de atuação no controle das espécies introduzidas, objetivando a

conservação e proteção da fauna nativa. No entanto, mais estudos, pesquisas e

ações integradas são necessárias para conservação da biodiversidade, no que tange

a icitofauna do médio Rio Doce, MG.

Nas lagoas com espécies não nativas de peixes, estudos com seus possíveis

predadores, como mamíferos, aves e répteis, devem ser quantificados para uma

melhor compreensão da cadeia trófica completa.

Projetos e estudos considerando a alimentação de juvenis da ictiofauna da

lagoa Carioca, especialmente das espécies introduzidas, devem fornecer novas

contribuições para o entendimento da ecologia trófica da ictiofauna, trazendo

informações novas a respeito, por exemplo, de possíveis impactos na comunidade

zooplanctônica.

A pesquisa da associação de peixes com a heterogeneidade espacial

fornecida pelas estruturas das macrófitas e estudos comportamentais também

serão de grande valor para a compreensão da manutenção da fauna nativa frente

ao impacto das espécies introduzidas.

O presente trabalho indica que certas espécies nativas merecem uma

atenção e cuidado especial, em decorrência de uma alteração ainda mais profunda

que possa ocorrer nos próximos anos na lagoa. Esta preocupação se deve ao risco

que correm, quer seja por apresentar uma população pequena, verificada pelos

poucos indivíduos coletados como o lambari, o piau, a piabanha, o bagre e o jeju;

quer seja pela pressão de predação que podem estar sofrendo, como a tuvira.

A educação ambiental tem um enorme papel na efetivação do

entendimento pela comunidade da região atingida do impacto que as espécies

exóticas representam e como estas pessoas podem colaborar neste contexto. Além

disso, deve-se assegurar que novas espécies não sejam introduzidas nesse sistema

de lagos, nem tampouco as já residentes alcancem lagoas ainda hoje preservadas

desse impacto. Assim, é fundamental um trabalho conjunto com os pescadores no

sentido de garantir o sucesso destas ações.

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Como esta dissertação está incluída na primeira etapa de um projeto mais

amplo que tem como próximo passo a implementação de um manejo experimental

para as espécies introduzidas, principalmente a piranha e o tucunaré, espera-se que

a redução populacional destas espécies, já que uma erradicação é pouco provável,

possa favorecer a manutenção das espécies nativas e a reestruturação do

ecossistema.

Trabalhos futuros envolvendo estudos populacionais e reprodutivos

auxiliarão na realização do manejo necessário a ser implementado e trarão novas

expectativas quanto à meta a ser cumprida. Para isso é inevitável que se tenha um

constante monitoramento para que novas avaliações e decisões sejam

providenciadas e tomadas.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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ANEXO 1 – Localização geográfica das estações de coleta na lagoa carioca, PERD, MG:

Descrição Geográfica: Lagoa Carioca Limites de Coordenadas:

Oeste: W 42º 37' 6,2'' graus Leste: W 42º 37' 6,2'' graus Norte: S 19º 45' 26,3'' graus Sul: S 19º 45' 26,3'' graus

Latitude Longitude Estação 1 S 19º 45' 31,0'' WO 42º 37' 15,8'' Estação 2 S 19º 45' 28,9'' WO 42º 37' 6,7'' Estação 3 S 19º 45' 29,1'' WO 42º 36' 58,7'' Estação 4 S 19º 45' 18,5'' WO 42º 37' 10,0''

ANEXO 2 – Auto valores e resultado do teste de Monte Carlo, na Análise de Correlação Canônica de variáveis físico-químicas (pH, oxigênio dissolvido, condutividade, temperatura da água) da lagoa Carioca e dados pluviométricos e de temperatura do ar no PCD (Plataforma de Coleta de Dados) do PERD com a abundância das espécies por mês de coleta. TESTE DOS RESULTADOS DE MONTE CARLO – VALORES DOS EIXOS

------------------------------------------------------------ Dados randomizados

Dados reais Teste de Monte Carlo, 99 seqüências ------------ ---------------------------

Eixo Valor (eixo) Média Mínima Máxima p ------------------------------------------------------------ 1 0.100 0.096 0.078 0.100 0.0100 2 0.075 0.070 0.062 0.075 0.0100 3 0.062 0.060 0.050 0.062 0.0100

p = proporção de seqüências randomizadas com valor do eixo maior que ou igual ao valor do eixo observado. p = (1 + no. permutações >= observada)/(1 + no. permutações).

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ANEXO 3 – Correlação Simples (Spearman) de variáveis físico-químicas (pH,

oxigênio dissolvido, condutividade, temperatura da água) da lagoa Carioca e

dados pluviométricos e de temperatura do ar no PCD (Plataforma de Coleta de

Dados) do PERD com as guildas tróficas (insetívoros, herbívoros, piscívoros,

carcinófago e bentófago) por mês de coleta. Os valores dispostos superiormente

em cada célula indicam o coeficiente de correlação, com seus respectivos p

valores abaixo. Os valores grafados em negrito representam os valores

significativos (p < 0,05).

Inset. Pluv. Temp. ar Temp. água pH OD Cond. Sed. 0,356

0,388 0,802 0,0251

0,579 0,150

- 0,1340,720

-0,490 0,217

-0,427 0,297

Art. 0,571 0,150

0,286 0,491

0,321 0,438

-0,821 0,0145

0,286 0,491

0,126 0,720

Mol. 0,490 0,217

0,535 0,181

0,178 0,660

0,134 0,720

-0,0891 0,843

0,0449 0,905

Cam. -0,118 0,781

-0,0197 0,905

0,118 0,781

0,335 0,438

0,315 0,438

0,169 0,660

MatVeg. 0,643 0,0956

0,571 0,150

0,571 0,150

-0,429 0,297

-0,107 0,781

-0,288 0,491

Pxe 0,535 0,181

0,445 0,297

0,757 0,0384

-0,490 0,217

-0,134 0,720

0,112 0,781

Abund. 0,793 0,0251

0,667 0,0735

0,667 0,0735

-0,685 0,0735

-0,0180 0,905

0,000 0,968

Gr md. 0,643 0,0956

0,429 0,297

0,464 0,255

-0,893 0,000

0,000 0,968

0,306 0,438

Herb. Pluv. Temp. ar Temp. água pH OD Cond. Ins. 0,394

0,341 0,0985 0,781

0,374 0,388

-0,867 0,00609

0,315 0,438

0,408 0,341

MatVeg. 0,704 0,0545

0,667 0,0735

0,778 0,0251

-0,741 0,0384

-0,148 0,720

0,0374 0,905

Abund. 0,577 0,150

0,252 0,545

0,505 0,217

-0,901 0,000

0,342 0,388

0,700 0,0545

Gr md. 0,523 0,181

0,414 0,297

0,306 0,438

-0,883 0,000

0,126 0,720

0,300 0,491

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Pisc. Pluv. Temp. ar

Temp. água

pH OD Cond.

Sed. 0,408 0,341

0,616 0,121

0,204 0,602

0,000 0,968

-0,408 0,341

-0,412 0,297

Ins. 0,750 0,0384

0,714 0,0545

0,607 0,121

0,07140,843

-0,214 0,602

0,234 0,545

Cam. -0,0360 0,905

0,252 0,545

0,396 0,341

0,144 0,720

-0,378 0,341

-0,673 0,0735

Pxe -0,536 0,181

-0,750 0,0384

-0,714 0,0545

0,714 0,0545

0,107 0,781

-0,126 0,720

Ave 0,356 0,388

0,802 0,0251

0,576 0,150

-0,134 0,720

-0,490 0,217

-0,427 0,297

MatVeg. 0,162 0,660

0,414 0,297

0,198 0,602

0,342 0,388

-0,180 0,660

-0,627 0,0956

Abund. -0,0901 0,781

-0,396 0,341

-0,180 0,660

-0,414 0,297

0,144 0,720

0,0273 0,905

Gr md -0,143 0,720

-0,393 0,341

-0,571 0,150

-0,179 0,660

0,714 0,0545

-0,0180 0,905

Carc. Pluv. Temp. ar Temp. água pH OD Cond.

Cam. 0,927 0,000

0,667 0,0735

0,704 0,0545

-0,296 0,491

0,000 0,968

0,374 0,388

Pxe 0,630 0,0956

0,453 0,255

0,768 0,0251

-0,394 0,341

0,0591 0,843

0,408 0,341

MatVeg. 0,433 0,297

0,453 0,255

0,729 0,0545

-0,236 0,545

0,0985 0,781

0,427 0,297

Abund. 0,739 0,0384

0,324 0,438

0,523 0,181

-0,649 0,0956

0,505 0,217

0,700 0,0545

Gr md. 0,927 0,000

0,746 0,0384

0,727 0,0545

-0,436 0,297

-0,0182 0,905

0,119 0,781

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Bent. Pluv. Temp. ar Temp. água pH OD Cond. Sed. 0,630

0,0956 0,630 0,0956

0,630 0,0956

-0,259 0,545

-0,334 0,438

-0,393 0,341

Zôop. 0,445 0,297

0,630 0,0956

0,741 0,0384

-0,259 0,545

-0,334 0,438

-0,393 0,341

Art. 0,523 0,181

0,270 0,491

0,198 0,602

-0,559 0,150

0,0901 0,781

-0,173 0,660

Pxe -0,134 0,720

-0,401 0,341

-0,267 0,545

0,267 0,545

0,178 0,660

-0,405 0,341

Matveg. 0,559 0,150

0,631 0,0956

0,523 0,181

-0,342 0,388

-0,270 0,491

-0,464 0,255

Abund. 0,214 0,602

0,000 0,968

0,000 0,968

-0,214 0,602

0,0357 0,905

-0,450 0,255

Gr md. -0,179 0,660

-0,250 0,545

0,0714 0,843

-0,643 0,0956

0,286 0,491

0,324 0,438

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ANEXO 4 – Imagens da lagoa Carioca e estações de coleta, Parque Estadual do Rio Doce (PERD), médio Rio Doce, MG.

Região de borda de mata (Estação 4)

Detalhes da região litorânea (Estação 1), mostrando a presença de “galhadas” e

um socó-boi ao fundo

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ANEXO 5 – Imagens das espécies de peixes coletados na lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce, médio Rio Doce, MG.

Astronotus ocellatus (25,6 cm)

Callichthys callichthys (13,5)

Cichla kelberi (31,0 cm)

Pygocentrus nattereri (21,0 cm)

Hoplosternum littorale (21,2 cm)

Astyanax aff. bimaculatus (8,0 cm)

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114

Brycon sp. (39,4 cm)

Hopleritrynus unitaeniatus (27,9 cm)

Hoplias gr. malabaricus (27,6 cm)

Leporinus steindachneri (41,8 cm)

Rhamdia quelen (30,0 cm)

Trachelyopterus striatulus (22,0cm)

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115

Gymnotus sp. (42,2 cm)

ANEXO 6 – Imagens de alguns itens alimentares encontrados nas respectivas espécies de peixes da lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce, médio Rio Doce, MG.

Item: Cichla kelberi. (Tucunaré)

I

Item detalhe: filhotes de Cichla kelberi. (Tucunaré)

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116

Item detalhe: Gymnotus sp. (Traíra)

Item: Hoplosternum littorale. (Piranha)

Item: Gymnotus sp. (Traíra)

Análise do conteúdo (Ephemeroptera) estomacal.

Ephemeroptera

Estômago repleto de Ephemeroptera.(Cumbaca)

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117

Item: pedaços de Gymnotus sp. (Traíra)

Item: nadadeira de Trachelyopterus striatulus. (Cumbaca)

Item: dentes de Pygocentrus nattereri. (Piranha)

Item: Belostomatidae (barata d´água). (Traíra)

Item: detalhe (camarão). (Bagre)

Item: ninfa de Odonata (Protoneuridae). (Tuvira)

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Item: Besouro (Curculionidae). (Cumbaca)

Item: ninfa de Ephemeroptera. (Piranha)

Item: larva de Coleoptera (Estaphilinidae). (Cumbaca)

Item: larva de Coleoptera. (Tamboatá)

Item: Melanoides tuberculatus. (Apaiari)

Item: Trichoptera. (Tamboatá)

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Item: Zooplâncton (Tamboatá). Microscópio óptico.

Ostracoda (aumento 100 x)

Cladocera Chidoridae (aumento 100 x)

Copepoda Macrocyclops sp. (aumento 100 x)

Detalhe da quinta pata de Macrocyclops sp. (aumento 400 x)