raoni rosa rodrigues -...

66
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE VIDA SILVESTRE Sucesso reprodutivo de peixes migradoras em rios barrados em Minas Gerais: influência da bacia de drenagem e das cheias Raoni Rosa Rodrigues Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Belo Horizonte – Minas Gerais Maio – 2009

Upload: vukhanh

Post on 08-Feb-2019

228 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE VIDA SILVESTRE

 

 

 

 

 

 

Sucesso reprodutivo de peixes migradoras em rios barrados em Minas Gerais: influência da bacia de 

drenagem e das cheias 

 

 

 

Raoni Rosa Rodrigues 

 

 

 

 

 

 

 

 

Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Belo Horizonte – Minas Gerais

Maio – 2009

  

Page 2: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

  

Raoni Rosa Rodrigues 

 

 

 

 

Sucesso reprodutivo de peixes migradoras em rios barrados em Minas Gerais: influência da bacia de 

drenagem e das cheias 

 

 

 

 

 

 

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho

 

 

Belo Horizonte ‐ Minas Gerais 

Maio ‐ 2009 

Page 3: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

Apoio e Financiamento

 

 

  

   

 

 

iii  

Page 4: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À Mamãe, Papai e Irmãozinhos

(incluindo Moreno, in memoriam), que

me suportam há tanto tempo e mesmo

assim continuam sempre ao meu lado,

independente da distância...

iv  

Page 5: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

Agradecimentos 

Agradecimentos nunca é uma parte fácil. Afinal, tantas pessoas participam de um trabalho, e muito mais, de uma etapa, de um ciclo, que o receio de esquecer alguém importante sempre me angustia. Àqueles que por acaso não tenham seu nome citado explicitamente, perdoe esse amigo relapso, não foi por falta de amizade, mas, sabem como é, os cabelos brancos começam a fazer efeito... Além disso, nem de longe a ordem apresentada aqui tem relação com a importância de cada um...

Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima e abaixo deles, e que sempre fazem as coisas darem certo, no fim.

Em seguida, ao Professor Alexandre que deu um tiro no escuro ao aceitar um aluno de longe, e com muita paciência orientou-o e o aconselhou, seja na vida acadêmica, seja na vida econômica.

Obrigado àqueles que gentilmente cederam seus dados e me permitiram analisá-los, auxiliando também na organização das idéias. Volney, Paulo Pompeu, Chico, Breno Perilo, espero que esse seja apenas o primeiro de muitos trabalhos que desenvolveremos juntos!

Aos membros da banca, Luiz Carlos Gomes e Fábio Vieira, que aceitaram prontamente o convite, despendendo seus tempos para enriquecer esse trabalho e compartilhando seus conhecimentos com todos nós. Ao Volney por aceitar a importante missão de ficar no banco de reservas. Agradecimento especial ao Prof. Gilmar, que se esforçou bastante, mas infelizmente não pode participar da avaliação oficial do trabalho.

Aos amigos do CTPeixes, que aguentam minha falação alta e embolada, sempre com muita paciência e bom humor. Fabão (um segundo orientador), Volnim (o de braços cada dia mais curtos), Cacá, F. marmoratus, Clarissão, Jotinha, Rochala (e dá-lhe coceba!), Giselão (aquela que tudo resolve), a sempre presente Ciça (que está sempre ausente, mas que adora discutir polêmicas científicas, especialmente estatística e CPUE!), Leo Shampoo, Thiago Gerente, e aos alevinos Faia, Alaion e Renatinha. Tenham certeza que todos foram muitos importantes para minha formação e contribuíram, cada qual à sua especial maneira, para minha formação enquanto pesquisador, pessoa e humano... Aos “estagiários” que me auxiliaram nas coletas dos dados da arribação, principalmente ao Ivo, que mais aguentou minhas amolações!

A todos os amigos que fiz na UFMG, seja na turma de mestrado, sejam anexos ao laboratório, seja nas peladas... Lembranças especiais ao sempre enrolado Luizão (e a ONG, Fí!?!), ao Yochi Sofredor, ao Gilbertoulos que quebrou altos galhos com seu carango em Cuiabá, Berão, Maguina e Marília (que nem sei onde se encaixam nessa lista)... Como deixar de citar o povo dessa turma tão impar, tão especial que precisou de duas seleções para ser fechada!! Lud, Luzi, Lu, Théia, Marcelão, Marcelzão, Marcelizim, Félix (vulgo Bezerro Rosa, guru e mestre dos SOSECAMICOFAIS), Paulinha, Lívia, Flávia Loira (aceitamos ela na turma, apesar da idade...), Flávia

v  

Page 6: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

Morena, Vivi, Carol, Renato, Maurício, Suelen, Consa, Carlos Henrique... Ao suporte incansável da secretaria, especialmente Mary e Joyce. Certamente me esqueci de alguém, me perdoe, sabe como é, os cabelos brancos, blá blá blá... Quantos e quantos emails trocados, nas mais calorosas discussões virtuais sobre as angústias de ser ecólogo num mundo capitalista pós-moderno... E a super sessão Matrix demorou mais saiu, quem viu, viu, quem não viu, bom, não viu!!!! Falta agora só a pizza... quem sabe no doutorado!!! Mas enfim, tantos nomes que contribuíram para que esses dois anos fossem muito mais do que formação profissional/acadêmica... Espero que o destino, esse gozador, seja generoso conosco, e nos permita compartilhar ainda muito tempo de tão agradável convivência!

Aos familiares de BH, que sempre aceitaram minha ausência com tantas viagens, mas nunca desistiram de me convidar para as poucas festas dessa pequena família... Me perdoem, mas é simplesmente impossível nomear a todos aqui... À família nova que me adotou, especialmente Sr. Jefersson e Dona Dilza, que torceram sempre para que tudo desse certo! Alysson e nossas conversas sobre tudo, Paty e suas caronas, Fred, Tio Deny, Tia Shirley, Tia Lelé, Tia Gué, Tia Beth, Tia Lane, Rico, Lucca, Rafael e Lílian, à todos muito obrigado por tamanha hospitalidade e carinho.

À minha família que ficou em Uberlândia, a quem dedico esse trabalho, que participaram como puderam, que cobraram quando deviam e apoiaram incondicionalmente... Sem esquecer a Irene e seus deliciosos bolos de chocolate que sempre me esperavam no retorno para casa!!! Muito menos dos amigos de longa data, Botu, Cabeça e Mariana, sempre juntos, sempre prontos, para o que der e vier!

Aos amigos do Bugei, em especial ao Renshi Thiago, muito mais que um professor, um Mestre.

Aos amigos que fiz nesses últimos meses na Cemig, Raquel (sua caixa já está encomendada!), Fernanda (que não sei se entra aqui ou na turma do labs...), João, Flávio, PN, Newton. Ao sempre solícito André Cavallari, pelos dados dos reservatórios e do rio São Francisco. Com certeza, conhecer o “mundo real”, para além dos muros da universidade, foi uma experiência muito enriquecedora, e menos traumática pela ajuda e paciência de vocês!

E por último, mas não menos importante (muito pelo contrário), à Senhorita Aline Bessa, que, Deus sabe como, sobreviveu esses mais de dois anos ao meu lado, compreendendo minhas fraquezas, suportando minhas loucuras, aceitando meus defeitos, esquecendo meu fanatismo e sempre, sempre do meu lado, com carinho, com amor e com afeto... A você, minha Gatinha, meu mais sincero Muito Obrigado por tanta felicidade que passamos juntos... Espero estar ao seu lado sempre para poder retribuir na mesma moeda!

vi  

Page 7: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

vii  

Page 8: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

Sumário

Índice de Tabelas ........................................................................................................................... ix 

Índice de Figuras ........................................................................................................................... x 

Resumo .......................................................................................................................................... 1 

Introdução ..................................................................................................................................... 2 

Capítulo 1 – Sucesso reprodutivo em represas: influência do tamanho da bacia de drenagem .... 4 

Introdução ................................................................................................................................. 4

Materiais e Métodos .................................................................................................................. 5

Análises de dados .................................................................................................................. 7

Resultados ................................................................................................................................. 7

Reservatórios ......................................................................................................................... 7

Espécies migradoras .............................................................................................................. 8

CPUE e variáveis físicas ....................................................................................................... 9

Discussão ................................................................................................................................. 10

Tabelas e Figuras ..................................................................................................................... 15

Capítulo 2 – Os peixes migradores a jusante da barragem de Três Marias: aspectos bioecológicos relacionados à arribação ....................................................................................... 25 

Introdução ............................................................................................................................... 25

Materiais e Métodos ................................................................................................................ 26

Resultados ............................................................................................................................... 29

Discussão ................................................................................................................................. 31

Tabelas e Figuras ..................................................................................................................... 37

Referências bibliográficas ........................................................................................................... 51 

viii  

Page 9: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

ix  

Índice de Tabelas

TABELA 1.1: LOCALIZAÇÃO, AMPLITUDE DAS MALHAS (CM, ENTRE NÓS OPOSTOS), NÚMERO DE PONTOS

AMOSTRADOS E NÚMERO DE CAMPANHAS REALIZADAS NO PRIMEIRO ANO APÓS INÍCIO DE

ENCHIMENTO DOS OITO RESERVATÓRIOS ANALISADOS. ...................................................................... 15 TABELA 1.2: ESPÉCIES MIGRADORAS PRESENTES NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS ESTUDADAS. .................... 15 TABELA 1.3: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS RESERVATÓRIOS ANALISADOS. ............................................ 16 TABELA 1.4: CPUE DAS ESPÉCIES MIGRADORAS E PORCENTAGEM NO TOTAL DE INDIVÍDUOS CAPTURADOS

(ENTRE PARÊNTESES) NO PRIMEIRO ANO DE FORMAÇÃO NOS CINCO RESERVATÓRIOS DA BACIA DO

PARANÁ. ............................................................................................................................................. 16 TABELA 1.5: CPUE DAS ESPÉCIES MIGRADORAS E PORCENTAGEM NO TOTAL DE INDIVÍDUOS CAPTURADOS

(ENTRE PARÊNTESES) NO PRIMEIRO ANO DE FORMAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS DE SANTA CLARA (RIO

MUCURI) E IRAPÉ (RIO JEQUITINHONHA). ........................................................................................... 17 TABELA 1.6: VALORES DA CORRELAÇÃO ENTRE AS CPUE DE JOVENS DE ESPÉCIES MIGRADORAS E AS

VARIÁVEIS DOS OITO RESERVATÓRIOS ANALISADOS. ABDREN = ÁREA DA BACIA DE DRENAGEM

ESPECÍFICA; VOL = VOLUME; TRES = TEMPO DE RESIDÊNCIA; AAL = ÁREA ALAGADA; EACP =

ESCORES DO PRIMEIRO EIXO DA ACP. ................................................................................................ 17 TABELA 2.1: NÚMERO DE PEIXES CAPTURADOS POR ESPÉCIE (PERCENTAGEM ENTRE PARÊNTESES) NA

AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO NO SOPÉ DA BARRAGEM DE TRÊS MARIAS, RIO SÃO

FRANCISCO, EM 2007 E 2008. ............................................................................................................. 37 TABELA 2.2: FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA NO CANAL DE FUGA DA REPRESA DE TRÊS MARIAS NAS COLETAS

REALIZADA NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO EM 2007. ................................................. 37 TABELA 2.3: BIOMETRIA DE CINCO CURIMBAS-PACU MARCADOS COM RADIOTRANSMISSOR PROVENIENTES

NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO EM 2007. (CP: COMPRIMENTO PADRÃO; PC: PESO

CORPORAL.) ........................................................................................................................................ 37

Page 10: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

Índice de Figuras

FIGURA 1.1: ESCORES DOS DOIS PRIMEIROS EIXOS DA ACP REALIZADA COM AS QUATRO VARIÁVEIS

USADAS PARA CARACTERIZAR OS RESERVATÓRIOS. SIGLAS DOS RESERVATÓRIOS CONFORME

APRESENTADO NA TABELA 1.3. .......................................................................................................... 18 FIGURA 1.2: PORCENTAGEM DO NÚMERO DE INDIVÍDUOS DE ESPÉCIES MIGRADORAS E NÃO-MIGRADORAS

CAPTURADOS NOS OITO RESERVATÓRIOS ANALISADOS. ...................................................................... 18 FIGURA 1.3: COMPARAÇÃO ENTRE O TAMANHO DO MANDI P.MACULATUS CAPTURADO NOS CINCO

RESERVATÓRIOS DO ALTO-PARANÁ. .................................................................................................. 19 FIGURA 1.4: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA DO COMPRIMENTO PADRÃO DE P. MACULATUS POR COLETA (MESES

APÓS O FECHAMENTO DAS COMPORTAS) DURANTE O PRIMEIRO ANO DE EXISTÊNCIA DA REPRESA DE

NOVA PONTE. ..................................................................................................................................... 19 FIGURA 1.5: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA DO COMPRIMENTO PADRÃO DE PROCHILODUS LINEATUS POR COLETA

(MESES APÓS O FECHAMENTO DAS COMPORTAS) DURANTE O PRIMEIRO ANO DE EXISTÊNCIA DA

REPRESA DE NOVA PONTE. ................................................................................................................. 20 FIGURA 1.6: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA DO COMPRIMENTO PADRÃO DE PROCHILODUS HARTII POR COLETA

(MESES APÓS O FECHAMENTO DAS COMPORTAS) DURANTE O PRIMEIRO ANO DE EXISTÊNCIA DA

REPRESA DE NOVA PONTE. ................................................................................................................. 20 FIGURA 1.7: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA DO COMPRIMENTO PADRÃO DE P. MACULATUS POR COLETA (MESES

APÓS O FECHAMENTO DAS COMPORTAS) DURANTE O PRIMEIRO ANO DE EXISTÊNCIA DA REPRESA DE

MIRANDA. .......................................................................................................................................... 21 FIGURA 1.8: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA DO COMPRIMENTO PADRÃO DE P. MACULATUS POR COLETA (MESES

APÓS O FECHAMENTO DAS COMPORTAS) DURANTE O PRIMEIRO ANO DE EXISTÊNCIA DA REPRESA DE

AMADOR AGUIAR II. .......................................................................................................................... 21 FIGURA 1.9: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA DO COMPRIMENTO PADRÃO DE P. MACULATUS POR COLETA (MESES

APÓS O FECHAMENTO DAS COMPORTAS) DURANTE O PRIMEIRO ANO DE EXISTÊNCIA DA REPRESA DE

AMADOR AGUIAR I............................................................................................................................. 22 FIGURA 1.10: BOX PLOT DA CPUE DAS ESPÉCIES MIGRADORAS ENTRE OS RESERVATÓRIOS COM PEQUENAS

E GRANDES BACIAS DE DRENAGEM (Z = ESTATÍSTICA DO TESTE DE MANN-WHITNEY; P = NÍVEL DE

SIGNIFICÂNCIA). ................................................................................................................................. 23 FIGURA 1.11: BOX PLOT ENTRE A CPUE DE LEPORINUS ENTRE OS RESERVATÓRIOS COM PEQUENA E COM

GRANDE BACIA DE DRENAGEM (Z = ESTATÍSTICA DO TESTE DE MANN-WHITNEY; P = NÍVEL DE

SIGNIFICÂNCIA). ................................................................................................................................. 23 FIGURA 1.12: BOX PLOT ENTRE A CPUE DE PROCHILODUS ENTRE OS RESERVATÓRIOS COM PEQUENA E

COM GRANDE BACIA DE DRENAGEM (Z = ESTATÍSTICA DO TESTE DE MANN-WHITNEY; P = NÍVEL DE

SIGNIFICÂNCIA). ................................................................................................................................. 24 FIGURA 2.1: BARRAGEM DE TRÊS MARIAS E O TRECHO DO RIO SÃO FRANCISCO LOGO A JUSANTE. 1:

RESERVATÓRIO, 2: BARRAGEM, 3: RIO SÃO FRANCISCO, 4: CANAL DE FUGA, 5: BACIA DE RESTITUIÇÃO

DO VERTEDOURO, 6: VERTEDOURO E 7: ILHA DA DONA MARIA. ......................................................... 38 FIGURA 2.2: LOCAIS DE AMOSTRAGEM NA BARRAGEM DE TRÊS MARIAS: BACIA DE RESTITUIÇÃO DO

VERTEDOURO (PAINEL SUPERIOR), CANAL DE FUGA (PAINEL INFERIOR). FOTOS: RODRIGUES, R. R. ... 39 FIGURA 2.3: LOCALIZAÇÃO DAS ESTAÇÕES FIXAS DE RASTREAMENTO: DA BARRAGEM DE TRÊS MARIAS

(1), DO PONTAL DO ABAETÉ (2) E PIRAPORA (3)................................................................................. 40 FIGURA 2.4: ABUNDÂNCIA RELATIVA DAS ESPÉCIES CAPTURADAS NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA

ARRIBAÇÃO DE 2007 NO RIO SÃO FRANCISCO. ................................................................................... 40 FIGURA 2.5: NÍVEL DA ÁGUA (NA) DIÁRIOS E CPUET DA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO EM

2007 E 2008 NO RIO SÃO FRANCISCO. ................................................................................................ 41 FIGURA 2.6: VARIAÇÃO TEMPORAL DA CPUET E CPUEA NAS COLETAS DA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA

ARRIBAÇÃO DE 2007. .......................................................................................................................... 41

x  

Page 11: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

xi  

FIGURA 2.7: VARIAÇÃO TEMPORAL DA CPUE DAS QUATRO ESPÉCIES DOMINANTES NA AGLOMERAÇÃO DE

PEIXES DA ARRIBAÇÃO DE 2007. ......................................................................................................... 42 FIGURA 2.8: RELAÇÃO ENTRE CPUET E O OXIGÊNIO DISSOLVIDO (PAINEL SUPERIOR) E A TEMPERATURA

(PAINEL INFERIOR) DA ÁGUA NAS COLETAS DA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO DE 2007 NO

RIO SÃO FRANCISCO. .......................................................................................................................... 43 FIGURA 2.9: ESTRUTURA EM TAMANHO DE CURIMBA-PACU E CURIMBA-PIOA NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES

DA ARRIBAÇÃO DE 2007 NO RIO SÃO FRANCISCO. SETAS INDICAM COMPRIMENTO DA PRIMEIRA

MATURAÇÃO PARA MACHOS (M) E FÊMEAS (F), SEGUNDO BAZZOLI (2003). * INDICAM AS CLASSES DE

TAMANHO DAS CURIMBAS-PACU MARCADAS COM RADIO-TRANSMISSOR ........................................... 44 FIGURA 2.10: ESTRUTURA EM TAMANHO DE DOURADO E MANDI NA NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA

ARRIBAÇÃO 2007 NO RIO SÃO FRANCISCO. SETAS INDICAM MENOR COMPRIMENTO DA PRIMEIRA

MATURAÇÃO PARA MACHOS (M) E FÊMEAS (F), SEGUNDO BAZZOLI (2003) E DEI-TOS ET AL. (2002). 45 FIGURA 2.11: VARIAÇÃO TEMPORAL DA MÉDIA (PONTO) E DO DESVIO-PADRÃO (LINHA VERTICAL) DO

COMPRIMENTO DE CURIMBA-PACU E CURIMBA-PIOA NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO DE

2007. .................................................................................................................................................. 46 FIGURA 2.12: VARIAÇÃO TEMPORAL DA MÉDIA (PONTO) E DO DESVIO-PADRÃO (LINHA VERTICAL) DO

COMPRIMENTO PADRÃO DE DOURADO E MANDI NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO DE

2007. .................................................................................................................................................. 47 FIGURA 2.13: MÉDIA (CÍRCULO) E DESVIO-PADRÃO (LINHA VERTICAL) DO FATOR DE CONDIÇÃO DE FULTON

(K) DE CURIMBA-PACU E CURIMBA-PIOA NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO DE 2007 NO

RIO SÃO FRANCISCO. .......................................................................................................................... 48 FIGURA 2.14: MÉDIA (CÍRCULO) E DESVIO-PADRÃO (LINHA VERTICAL) DO FATOR DE CONDIÇÃO DE FULTON

(K) DE DOURADO E MANDI NO MONITORAMENTO NA AGLOMERAÇÃO DE PEIXES DA ARRIBAÇÃO DE

2007 NO RIO SÃO FRANCISCO. ............................................................................................................ 49 FIGURA 2.15: LOCALIZAÇÃO DE CINCO CURIMBAS-PACU MARCADOS COM RADIOTRANSMISSORES NO RIO

SÃO FRANCISCO. QUADRADOS REPRESENTAM LOCALIZAÇÕES, NÚMERO ENTRE PARÊNTESES

REPRESENTA O CÓDIGO DO TRANSMISSOR. ......................................................................................... 50

Page 12: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Resumo

Os peixes de piracema são os mais conhecidos e valorizados de nossa ictiofauna. São espécies que realizam migrações reprodutivas, necessitando transitar livremente entre os sítios de desova, alimentação e desenvolvimento. Além disso, são dependentes da existência de cheias intensas e duradouras para completar seu ciclo reprodutivo. Os barramentos dos rios atuam sobre esses dois pontos chaves da biologia dessas espécies, impedindo a livre movimentação dos peixes, bem como modificando a frequência, sazonalidade e intensidade das cheias. Entender melhor as relações entre os barramentos e as espécies migradoras, conhecendo as características que aumentam o sucesso reprodutivo dessas espécies é essencial quando trabalha-se com conservação. Nesse contexto, o presente trabalho analisou a relação entre a CPUE de jovens de espécies migradoras para determinar a influência do tamanho da bacia de drenagem do reservatório sobre o sucesso reprodutivo das espécies de piracema. Além disso, comparou a aglomeração de jovens dessas espécies à jusante de uma barragem em dois anos consecutivos, avaliando a influência das cheias sobre a intensidade da aglomeração e, indiretamente, sobre o sucesso reprodutivo. Para avaliar a importância da área da bacia de drenagem, foram analisados oito reservatórios em Minas Gerais, caracterizados pelas variáveis área da bacia de drenagem específica, tempo de residência, volume total, área alagada e época de fechamento. Calculou-se, para cada reservatório após um ano de formação, a CPUE de jovens de espécies migradoras, bem como a CPUE de Prochilodus e Leporinus. As quatro variáveis foram sumarizadas em uma análise de componentes principais (ACP), e uma eventual formação de grupos foi testada por meio de uma análise discriminante. Correlacionou-se as três CPUE com as quatro variáveis dos reservatórios, bem como com os escores do primeiro eixo da ACP. O primeiro eixo da ACP foi formado por todas as variáveis utilizadas e explicou mais de 80% de toda a variação dos dados. A CPUE das espécies migradoras e a CPUE de Leporinus não foram correlacionadas com nenhuma variável, nem com os escores da ACP. Apenas a CPUE de Prochilodus foi correlacionada com a área da bacia de drenagem e os com escores do primeiro eixo da ACP. A área da bacia de drenagem parece ser a variável mais importante determinando o sucesso reprodutivo de espécies migradoras no primeiro ano do reservatório. Esses resultados reforçam a necessidade de se preservar trechos lóticos livres, ou mesmo grandes tributários, importantes para a manutenção de populações auto-sustentáveis na natureza.Para se avaliar a influência das cheias sobre o sucesso reprodutivo de peixes de piracema, inferido pela aglomeração de peixes jovens a jusante de barragens, amostrou-se o canal de fuga e a bacia de dissipação do vertedouro da usina de Três Marias, no rio São Francisco em dois anos, um caracterizado por uma cheia intensa e duradoura (2007), e outro cuja cheia foi discreta (2008). Além disso, para 2007, ainda se avaliou a duração da aglomeração, a estrutura em tamanho, e as variações temporais no tamanho e no fator de condição (K) dos peixes. Mais de 99% dos peixes foram capturados no primeiro ano. As quatro espécies dominantes foram dourado, curimba-pacu, curimba-pioa e mandi, sendo a maioria jovens. Essas quatro espécies perfizeram 94% do total de indivíduos capturados. A cheia foi seis vezes maior e 20% mais intensa em 2007, resultando em uma CPUE quase 100 vezes maior que em 2008. O tamanho dos indivíduos variou durante a aglomeração, mas o K manteve-se praticamente constante para todas as espécies. Esses resultados também confirmam os modelos que sugerem a indução de cheias pelas barragens como forma de manejo visando à preservação das espécies migradoras.

12 

15 

18 

21 

24 

27 

30 

33 

36 

39 

42 

1  

Page 13: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Introdução

Dentre os tipos de migração que os peixes realizam, aquelas com propósitos reprodutivos são as

mais conhecidas e conspícuas (Lucas & Baras, 2001). No Brasil, as espécies que efetuam tal

migração são chamadas de espécies de piracema, ou simplesmente espécies migradoras (Carolsfeld

et al, 2003).

12 

15 

18 

21 

Em geral, essas espécies são as mais valorizadas por apresentarem os maiores tamanhos, tendo,

portanto, maior importância econômica (Carolsfeld et al, 2003). Por isso, são muito visadas, tanto

na pesca profissional quanto na amadora (e.g. Ferraz de Lima, 1986; Bittencout & Cox-Fernandes,

1990). A estratégia reprodutiva dessas espécies é sazonal, formando uma tríade com as espécies k e

r estrategistas (Winemiller, 1989). Suas características biológicas, como realização de migrações,

grandes tamanhos, maturação tardia e dependência de ambientes externos para desenvol\vimento de

ovos e larvas as tornam as espécies mais ameaçadas pelos impactos antropogênicos, e, em todo o

mundo, são as que apresentam maiores riscos de extinção (Froese & Torres, 1999).

A realização de migrações indica segregação espacial entre os sítios de desova, alimentação e

desenvolvimento (Petrere-Jr, 1985). Além disso, essas espécies estão diretamente relacionadas com

os pulsos de inundação, sendo seus ciclos de vida dependentes da intensidade e da duração dos

mesmos (e.g. Agostinho et al., 2004; Bailly et al., 2008; Godinho et al., 2007a). Essa dependência

está relacionada com a existência de planícies de inundação, local aceito atualmente como sendo o

principal berçário dessas espécies (e.g. Sato et al., 1988; Baumgartner et al, 2004), embora a desova

ocorra em ambiente lótico. Tanto a interrupção da movimentação entre esses diferentes sítios de

desenvolvimento, alimentação e reprodução, bem como alterações no regime de cheias têm

implicações catastróficas sobre as espécies migradoras (Agostinho et al., 2005). Os barramentos,

que além de impedirem o livre trânsito dos peixes pelo rio ainda modificam as características físico-

2  

Page 14: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

químicas da água e controlam a vazão (Agostinho et al., 2007), constituindo-se um dos maiores

perigos para a ictiofauna, especialmente as migradoras (Agostinho et al., 2005). Dessa forma,

compreender as relações da ictiofauna com os reservatórios, tanto a jusante quanto à montante,

identificando variáveis que influenciam no sucesso reprodutivo das espécies migradoras é de

fundamental importância para a conservação dessas espécies. Nesse aspecto, o objetivo desse

trabalho é avaliar o sucesso reprodutivo das espécies migradoras em dois contextos: a montante de

barramentos, avaliando a importância do tamanho da bacia de drenagem do reservatório, e a

jusante, relacionado a abundância de jovens com a amplitude e duração das cheias.

3  

Page 15: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Capítulo 1 – Sucesso reprodutivo de peixes em represas: influência do tamanho da bacia de drenagem 

Introdução 3 

O sucesso reprodutivo das espécies que realizam migrações reprodutivas, conhecidas popularmente

como espécies de piracema, está relacionada com a amplitude e duração das cheias (e.g. Agostinho

et al., 2004; Bailly et al., 2008; Godinho et al., 2007a), bem como com presença de sítios de

desenvolvimento (e.g. Sato et al., 1988; Baumgartner et al, 2004), e com a conectividade entre

esses e os sítios de desova.

12 

15 

18 

21 

24 

Como a construção de barragens não só altera o pulso de inundação, mas também impede que ovos

e larvas produzidos a montante alcancem os sítios de desenvolvimento a jusante (Agostinho et al.,

2007), talvez o maior perigo às espécies migradoras seja o barramento dos rios (e.g. Agostinho et

al. 2005). Esses empreendimentos são tão numerosos que se incorporaram à paisagem em algumas

regiões do país, especialmente as mais desenvolvidas (Agostinho et al. 2007). Entre os principais

impactos das barragens sobre a ictiofauna migradora, podemos citar o bloqueio das rotas

migratórias, alterações do regime hidrológico e modificações nas características físico-químicas da

água (Agostinho et al., 2007). Essas alterações são mais significativas em grandes barramentos,

aqueles com altura da barragem superior a 15 m.

Apesar de todos os impactos causados aos peixes, a matriz energética brasileira, apoiada na

hidroeletricidade, não apresenta tendências de modificações (Aneel, 2008). Dessa forma, existe a

necessidade de compreender quais são as características de reservatórios que favoreçam, pelo

menos temporariamente, a presença, reprodução e recrutamento das espécies migradoras. Nesse

contexto, o presente trabalho teve o objetivo principal de avaliar o sucesso reprodutivo de espécies

migradoras, medido pela CPUE de seus jovens no primeiro ano após o fechamento das comportas,

em oito reservatórios de hidroelétricas em Minas Gerais. Nossa hipótese é que os reservatórios que

4  

Page 16: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

possuem grandes bacias de drenagem específicas apresentam uma maior CPUE de indivíduos

jovens de espécies migradoras, indicando um maior sucesso reprodutivo no primeiro ano após o

fechamento. 3 

12 

15 

18 

21 

24 

Materiais e Métodos Foram analisados oito reservatórios de usinas hidroelétricas no estado de Minas Gerais,

pertencentes às bacias dos rios Paraná, Mucuri e Jequitinhonha (Tabela 1.1). A descrição detalhada

dessas bacias pode ser encontrada em Agostinho et al. (2003), Pompeu & Martinez (2006; 2007) e

Godinho et al. (1999a), respectivamente.

As características físicas de cada reservatório foram obtidas junto à Companhia Energética de

Minas Gerais (CEMIG). Foram selecionadas cinco variáveis que poderiam interferir no sucesso

reprodutivo de espécies migradoras no primeiro ano após o fechamento do reservatório: mês do

fechamento, área da bacia de drenagem específica, volume total, área alagada e tempo de

residência.

A área da bacia de drenagem específica refere-se à área drenada pelo rio principal e seus afluentes

exclusivamente para dentro do reservatório. Utilizou-se o programa ESRI ArcExplorer™ 1.1 com

os mapas disponíveis no HidroWeb (http://hidroweb.ana.gov.br) para se obter a área total de

drenagem do rio a montante do barramento. Como esse programa fornece a área total de drenagem

desde a nascente do rio, caso houvesse barragens a montante, dessa área total era subtraída a área de

drenagem do reservatório de montante, obtendo-se assim a área específica do reservatório

analisado.

Tanto o volume total e área alagada foram considerados com o reservatório no nível máximo,

exceto para o reservatório de Nova Ponte, o único que não atingiu essa cota no primeiro ano. Nesse

caso, utilizou-se o volume que o reservatório apresentava ao final desse período. O tempo de

residência foi obtido pela divisão do volume total pela vazão média de longo tempo (MLT).

5  

Page 17: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Para esse estudo utilizou-se a definição de espécie migradora segundo Harvey & Carolsfeld (2003):

espécies que obrigatoriamente realizam um deslocamento entre dois pontos geográficos distintos

para reproduzir. As espécies migradoras foram selecionadas com base na literatura (Tabela 1.2). 3 

12 

15 

18 

21 

24 

Foram analisados os dados referentes à coleta experimental no primeiro ano após o fechamento das

comportas para enchimento do reservatório. Em todos eles, os peixes foram coletados com redes de

emalhar, com tamanho das malhas variado, de 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 12 cm entre nós opostos. Em

algumas represas foram usadas redes de malhas 14, 16, 18 e 20 cm entre nós opostos. O tempo de

permanência foi padronizado em aproximadamente 14h. Também houve variações no número de

pontos amostrados e no número de campanhas dentro desse primeiro ano, para cada reservatório

(Tabela 1.1).

Para análise do sucesso reprodutivo das espécies migradoras, utilizou-se a captura por unidade de

esforço (CPUE) dos indivíduos jovens de cada espécie. Foi considerado jovem aquele indivíduo

com tamanho igual ou menor ao de primeira maturação gonadal. O tamanho de primeira maturação

gonadal foi baseado em Bayley (1973) (Prochilodus lineatus), Dei Tos et al.(2002) (Pimelodus

maculatus), Agostinho et al. (2003) (Leporinus elongatus e Salminus brasiliensis), Brito & Bazzoli

(2003) (Pseudoplatystoma corruscans) e Sato & Godinho (1988) (S. hilarii). Para as demais

espécies, que não possuem estudos específicos, utilizou-se aproximações usando como referência as

outras espécies do gênero.

A CPUE foi calculada segundo a fórmula CPUEm= Nm/EPm, sendo Nm o número de indivíduos

coletados pela malha m e EPm o esforço de pesca (m2) da malha m. Após o cálculo da CPUE para

cada malha, efetuou-se a soma algébrica das CPUE de todas as malha utilizadas, obtendo-se assim a

CPUE Total do reservatório. Inicialmente, essa foi calculada para o conjunto de todas as espécies

migradoras. Para remover possível efeito de Pimelodus maculatus, uma espécie abundante em

reservatórios (Agostinho et al., 1999; Vono, 2002), mas que não ocorre nas bacias dos rios Mucuri e

Jequitinhonha, bem como de outras espécies que não ocorrem nessas duas bacias, calculou-se a

6  

Page 18: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

CPUE separadamente para as espécies de Leporinus e Prochilodus, por serem os únicos gêneros

com espécies migradoras que ocorrem nas três bacias. Calculou-se também a porcentagem de

indivíduos de espécies migradoras capturadas em cada reservatório no primeiro ano de pesca

experimental. Analisou-se ainda a estrutura em tamanho das principais espécies migradoras

capturadas em cada campanha, em cada reservatório, para acompanhar suas alterações ao longo do

tempo.

12 

15 

18 

21 

24 

Análises de dados Os reservatórios foram analisados utilizando-se a Análise de Componentes Principais (ACP), para

se verificar a formação de grupos de acordo com suas características físicas. A veracidade desses

grupos foi testada utilizando-se Análise Discriminante (AD).

Os valores de CPUE foram correlacionados com todas as variáveis físicas e com os escores do

primeiro eixo da ACP. Diferenças na CPUE entre os grupos determinados na AD foram testadas

utilizando-se o Teste U de Mann-Whitney.

Todos os testes foram feitos respeitando-se as suas premissas, utilizou-se α = 0,05 e foram

realizados com o programa Statistica 7.0.

Resultados

Reservatórios Houve grandes variações nas características físicas entre os oito reservatórios analisados. A área de

bacia de drenagem variou de 300 a 16.200 km²; o volume total de 151 a 12.792 hm³; tempo de

residência de 2,6 a 491 dias; área alagada de 7,2 a 449,2 km² (Tabela 1.3). A época de fechamento

foi no período chuvoso para todas as usinas, exceto Miranda e Amador Aguiar II. Por isso, essa

variável foi desconsiderada nas análises subseqüentes.

A área da bacia de drenagem, tempo de residência, volume total e área alagada foram sumarizadas

em uma análise de componentes principais (ACP). Os dois primeiros eixos da ACP explicaram

7  

Page 19: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

97,1% da variação total (primeiro: 80,62%; segundo: 16,48%). Todas as variáveis contribuíram para

a formação do primeiro eixo, sendo que volume (-0,98), tempo de residência (-0,99) e área alagada

(-0,91) foram mais correlacionados do que a área da bacia de drenagem (-0,68). O segundo eixo foi

explicado apenas pela área da bacia de drenagem (0,72). No gráfico da ordenação verificou-se que

os reservatórios Amador Aguiar I, Amador Aguiar II, Miranda e Igarapava apresentavam valores

próximos de escores (Figura 1.1). Os demais reservatórios foram dispersos na ordenação. A análise

discriminante (AD) com as variáveis log transformadas confirma a existência de dois grupos de

reservatórios: um formado pelos quatro que aparecem agrupados na ACP e outro formado pelos

quatro restantes (Funil, Santa Clara, Nova Ponte e Irapé). A única variável que os separou foi a área

da bacia de drenagem (p = 0,03), sendo que não houve diferenças entre os dois grupos para as

demais variáveis (volume: p = 0,06; tempo de residência: p = 0,08; área alagada: p = 0,05). Então a

formação de dois grupos foi confirmada, diferindo entre si apenas pelo tamanho da área bacia de

drenagem: quatro reservatórios com pequenas bacias (< 4.000 km²) e quatro com grandes bacias de

drenagem específica (> 4.000 km²), sendo que o primeiro grupo foi caracterizado também na ACP,

sendo mais homogêneo em suas características.

12 

15 

18 

21 

24 

Espécies migradoras Nos cinco reservatórios da bacia do rio Paraná, apenas o mandi foi capturado em todos eles. Foram

também capturadas mais oito espécies migradoras, das nove identificadas para a bacia (Tabela 1.4).

Para o rio Mucuri, das cinco espécies migradoras descritas para a bacia, apenas Brycon vermelha

não foi capturada (Tabela 1.5). Na bacia do Jequitinhonha, todas as espécies migradoras foram

capturadas (Tabela 1.5). Analisando-se os oito reservatórios, os de Nova Ponte e Irapé foram os que

apresentaram o maior número de espécies migradoras (cinco), enquanto Amador Aguiar I

apresentou apenas uma. Em relação ao número de indivíduos capturados, apenas em Irapé (65,7%

do total de indivíduos capturados) e Funil (53,6%) as espécies migradoras foram as mais

8  

Page 20: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

abundantes, e em Miranda elas representaram apenas 3,0% do total capturado (Figura 1.2). A maior

CPUE de espécies migradoras foi em Nova Ponte, enquanto a menor foi em Amador Aguiar I.

Mais de 95% dos indivíduos de espécies migradoras foram considerados jovens, ou seja, estavam

abaixo do tamanho de primeira maturação gonadal (Figuras 1.4 a 1.9). A estrutura em tamanho do

mandi Pimelodus maculatus, espécie mais capturada nos cinco reservatórios do rio Paraná, mostrou

que o comprimento padrão dos indivíduos capturados nos reservatórios com grandes bacias de

drenagem é menor que o comprimento padrão daqueles coletados nos reservatórios com pequena

bacia (Kruskall-Wallis: H = 316,69; p < 0,01; Figura 1.3), sendo os menores indivíduos coletados

em Nova Ponte e Funil.

12 

15 

18 

21 

24 

Na represa de Nova Ponte, foi registrado um aumento nos tamanhos dos indivíduos de P.

maculatus, entre os dois e quatro meses de idade do reservatório. O intervalo modal passou de 5-10

cm de comprimento padrão para 15-20 cm. Em seguida, houve constante aumento na frequência de

indivíduos nessa e nas classes de tamanho maiores (Figura 1.4). O mesmo padrão ocorreu com

Prochilodus lineatus nesse reservatório. Após duas campanhas com poucos exemplares capturados,

houve aumento na classe modal de comprimento padrão de 15-20 cm para 20-25 cm entre a idade

de 8 e 10 meses, seguido de aumento na frequência de indivíduos dessas classes de tamanho na

idade de 12 meses do reservatório (Figura 1.5). Prochilodus hartii no reservatório de Irapé também

apresentou aumento gradual no comprimento padrão dos indivíduos com a idade do reservatório

(Figura 1.6). Tal padrão de aumento no comprimento padrão não ocorreu com P. maculatus nos

reservatórios com pequena bacia de drenagem, Miranda (Figura 1.7), Amador Aguiar II (Figura 1.8)

e Amador Aguiar I (Figura 1.9).

CPUE e variáveis físicas A CPUE das espécies migradores e a CPUE de Leporinus não foram correlacionadas com as

características físicas dos reservatórios, nem com os escores do primeiro eixo da ACP (Tabela 1.6).

9  

Page 21: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Não houve diferenças significativas dessas CPUE entre reservatórios com pequenas e grandes

bacias de drenagens (Mann-Whitney: Z = -1,73; p = 0,08; Figuras 1.10 e 1.11).

A CPUE de Prochilodus foi significativamente correlacionada com a área de bacia de drenagem e

com os escores do primeiro eixo da APC, mas não apresentou qualquer relação com o volume, a

área alagada ou o tempo de residência (Tabela 1.6). A CPUE de Prochilodus apresenta diferenças

significativas entre os reservatórios com pequenas e grandes bacias de drenagem (Mann-Whitney: Z

= -2,31; p = 0,02; Figura 1.12).

12 

15 

18 

21 

Discussão Esse estudo utilizou dados coletados em um número limitado de reservatórios, em diferentes

períodos, com número de amostragens, tamanho de malhas e número de pontos de coleta variáveis.

Apesar dessas limitações, foi possível mostrar evidências de como a área da bacia de drenagem

influencia na presença de jovens de espécies migradoras, que representa o sucesso reprodutivo

dessas espécies no ano de fechamento das comportas. A CPUE de Prochilodus foi correlacionada

com o primeiro eixo da ACP e com a área de bacia de drenagem, que parece ser a variável mais

importante determinando o sucesso reprodutivo de espécies migradoras. Esse trabalho se torna

relevante devido à escassez desse tipo de análise na literatura, e da interessante ferramenta que esse

tipo de meta-análise se constitui (Agostinho et. al., 2007).

A estrutura em tamanho do mandi e do curimba no reservatório de Nova Ponte e do curimba em

Irapé sugere que os indivíduos de espécies migradoras capturados pertencem à mesma coorte,

nascidos na época de fechamento do reservatório. Mas para todos os reservatórios, a grande maioria

dos indivíduos coletados é menor que o tamanho de primeira maturação gonadal, sendo

considerados jovens. Por isso, é válido o uso da CPUE desses indivíduos para caracterizar o sucesso

reprodutivo dessas espécies nos reservatórios analisados.

10  

Page 22: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

O processo de colonização de um reservatório pode ser considerado como uma reestruturação da

ictiofauna previamente existente (Agostinho et al., 1999), sendo que a ictiofauna final está

condicionada a presença de espécies com plasticidade suficiente para se adaptar às novas condições

lacustres (Fernando & Holcik, 1991). Dessa forma, reservatórios em cascata, cujo trecho no qual

estão inseridos já sofrera impactos devido a outros barramentos, são mais suscetíveis a terem menor

abundância de espécies migradoras, que necessitam de trechos lóticos para completar seu ciclo de

vida. Esse parece ser o caso dos reservatórios presentes no rio Araguari, onde a construção de

sucessivos reservatórios a jusante de Nova Ponte, o primeiro grande lago formado nesse rio, parece

ter influenciado nas características do rio a jusante, e a abundância de espécies migradoras já estava

reduzida quando da formação dos lagos de Miranda (Vono, 2002), Amador Aguiar I e Amador

Aguiar II (Godinho, A. L., comunicação pessoal). Esses dois últimos foram o que apresentaram a

menor CPUE de jovens de espécies migradoras dentre todos os reservatórios analisados, enquanto

Miranda apresentou a menor porcentagem de captura dessas espécies. Além disso, Miranda e

Amador Aguiar II foram os únicos reservatórios fechados fora da época de cheias, o que pode ter

influenciado essa baixa CPUE de jovens de espécies migradoras.

12 

15 

18 

21 

24 

Não houve correlação com as variáveis analisadas e a CPUE de espécies migradoras e a CPUE de

Leporinus, nem com os escores do primeiro eixo da ACP, que capturou significativamente todas as

variáveis analisadas. Dessa forma, outros fatores não analisados podem estar relacionados com o

sucesso reprodutivo dessas espécies. Para a bacia do Paraná, Agostinho et. al. (1999; 2007),

analisou nove reservatórios e encontrou que 88% da variação na CPUE poderia ser explicada pelas

variáveis área do reservatório, tempo de residência e idade. Além disso, a seleção das espécies

migradoras, a maioria com a biologia ainda não totalmente elucidada, pode estar causando um viés

difícil de ser contornado.

Por exemplo, o gênero Leporinus apresenta espécies de grande porte migradoras, como L. elongatus

(Agostinho et al., 2003; Sato & Godinho, 2003) e L. obtusidens (Zamboni-Filho & Schulz, 2003).

11  

Page 23: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Contudo, apresenta outras que conseguem completar seu ciclo reprodutivo dentro de ambientes

lênticos, como L. amblyrhynchus em Miranda (Vono et al., 2002) e L. friderici na represa do Lobo,

SP (Barbieri & Garavello, 1981). Essa mesma espécie apresentou também grande plasticidade

reprodutiva em Itaipu e Corumbá (Lopes et al., 2000), reproduzindo-se principalmente em afluentes

destes reservatórios. Rizzo et. al. (1996) encontraram resultados semelhantes, documentando a

reprodução de L. reinhardti no trecho lótico a montante do reservatório de Três Marias, rio São

Francisco. Pompeu & Martinez (2007) consideraram todas as espécies de Leporinus presentes no

rio Mucuri como prováveis migradoras, mesmo sem estudos específicos sobre a reprodução dessas

espécies. O mesmo procedimento foi adotado para as espécies desse gênero do rio Jequitinhonha

(Godinho et al., 1999b). Dessa forma, as espécies de Leporinus podem estar causando um viés na

análise da relação entre as características físicas dos reservatórios e a CPUE de jovens de espécies

migradoras, por serem espécies com grande plasticidade reprodutiva, não necessitando

obrigatoriamente de efetuar migrações para se reproduzir.

12 

15 

18 

21 

24 

Com isso, apenas as espécies do gênero Prochilodus estão presentes em todas as bacias analisadas,

e talvez apenas P. lacustris seja exceção dentro do grupo quanto ao caráter migratório das espécies

(capítulos em Carolsfeld et al., 2003). A CPUE de Prochilodus foi correlacionada com o primeiro

eixo da ACP, assim como com a área da bacia de drenagem. Também foi a única CPUE que

apresentou diferenças significativas entre os reservatórios com pequena bacia de drenagem e

aqueles com grandes bacias. Esses resultados sugerem que a área da bacia de drenagem específica

pode ser a variável mais importante para o sucesso reprodutivo de espécies migradoras. Isso

significa que reservatórios que apresentam grandes tributários, ou com remanescentes lóticos

significativos a montante devem apresentar sítios de desova que permitem a reprodução das

espécies migradoras. De fato, há vários trabalhos na literatura comprovando a importância de

grandes tributários ou de trechos lóticos a montante para manter populações de espécies migradoras,

que utilizam essas áreas para reprodução (e.g. Benedito-Cecilio et. al., 1997; Rizzo et. al., 1996;

12  

Page 24: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Suzuki & Agostinho, 1997). Além disso, Araújo-Lima et al. (1995) encontram um gradiente de

riqueza em direção às áreas lóticas, pois esses trechos incluem também espécies reofílicas, aquelas

que não necessariamente realizam migrações reprodutivas, mas que vivem em trechos lóticos, como

Loricariídeos. Da mesma forma, Hoffmann et. al. (2005), demonstraram também que a região com

maior diversidade de espécies em um reservatório é aquela sob influência de grandes tributários.

12 

15 

18 

21 

24 

É importante lembrar que o sucesso reprodutivo no primeiro ano após o fechamento do reservatório

não implica, necessariamente, que tal sucesso se repetirá nos anos seguintes. Como verificado por

Vono (2002) em Nova Ponte, a abundância de espécies migradoras no reservatório pode se reduzir

com o passar do tempo, mesmo que a abundância seja grande logo após o fechamento. Os habitats

críticos para reprodução, localizados a montante do barramento, e que ainda foram utilizados no

início de formação do reservatório, podem ter sido afogados quando o reservatório atinge seu nível

máximo. Além disso, durante o enchimento do reservatório, especialmente quando iniciado durante

o período chuvoso – prática mais comum no Brasil (Agostinho et. al., 2007), resulta em um grande

aumento na produtividade do corpo d’água, conhecido como “trophic upsurge” (Kimmel &

Groeger, 1986). Esse aumento da produtividade é causado pela retenção de material autóctone e

também alóctone, cuja decomposição, bem como a decomposição da matéria vegetal marginal

(Prosser, 1986), resulta na liberação de uma grande quantidade de nutrientes. Esses processos se

assemelham àqueles que ocorrem quando do alagamento da planície de inundação, e o reservatório

passa a funcionar como uma grande lagoa marginal (Agostinho et al., 1999; 2007). O consumo

desses nutrientes pela biota (Goddard & Redmond, 1986), bem como sua liberação pelo vertedouro

faz com que essa produtividade decline, até chegar a um ponto intermediário entre um rio e um lago

natural (Noble, 1986). Dessa forma, o sucesso reprodutivo das espécies migradoras costuma ser

efêmero, e o padrão mais comum para o Brasil é de uma acentuada redução na abundância dessas

espécies com o envelhecimento do reservatório (Agostinho et al., 1999; 2007).

13  

Page 25: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

As espécies migradoras estão entre as mais atingidas pelas alterações ambientais relacionadas com

construção de reservatórios hidroelétricos. Como essas espécies são as maiores, incluindo os

predadores de topo, e também as mais valiosas comercialmente, esse grupo possui elevado interesse

social, econômico e ecológico (Agostinho et. al., 2007). Dessa forma, a conservação de trechos

lóticos livres de barramentos, tanto a montante de grandes reservatórios, como também de grandes

tributários que deságuem neles, parece ser uma das únicas formas de se conservar essas espécies

com populações auto-sustentáveis em seu ambiente natural (Petrere-Jr, 1996; Baumgartner et al,

2004; Vieira, 2006; Agostinho et. al., 2007).

14  

Page 26: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Tabelas e Figuras

Tabela 1.1: Localização, amplitude das malhas (cm, entre nós opostos), número de pontos amostrados e número de campanhas realizadas no primeiro ano após início de enchimento dos oito reservatórios analisados. 3 

Reservatório Bacia Rio Malha Pontos Campanhas

Amador Aguiar I Paraná Araguari 3-20 1 5

Amador Aguiar II Paraná Araguari 3-20 2 3

Miranda Paraná Araguari 3-16 4 5

Igarapava Paraná Grande 3-16 3 1

Funil Paraná Grande 3-12 1 2

Nova Ponte Paraná Araguari 3-16 4 6

Santa Clara Mucuri Mucuri 3-12 2 4

Irapé Jequitinhonha Jequitinhonha 3-18 2 3

Tabela 1.2: Espécies migradoras presentes nas bacias hidrográficas estudadas.

Bacia Espécies Fonte Alto-Paraná Brycon orbignyanus Agostinho et al., 2003

Leporinus elongatus Leporinus obtusidens Zungaro jahu Pimelodus maculatus Pinirampus pirinampu Prochilodus lineatus Pseudoplatystoma corruscans Salminus hilarii Salminus brasiliensis

Steindachneridion scriptum Mucuri Brycon ferox Pompeu e Martinez, 2007

Brycon vermelha Leporinus conirostris Leporinus copelandii Leporinus steindachneri

Prochilodus vimboides Jequitinhonha Leporinus crassilabris Godinho et al., 1999b;

Leporinus garmani Vono & Birindelli, 2007 Leporinus steindachneri Prochilodus hartii Steindachneridion amblyura

15  

Page 27: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Tabela 1.3: Características físicas dos reservatórios analisados.

*: AD = área da bacia de drenagem específica (km²); VT: volume total (hm³); TR: tempo de residência (dias); AA: área alagada (km²) (fonte: CEMIG).

Reservatório Sigla Fechamento Características Físicas* AD VT TR AA

Amador Aguiar I AAI Dez/05 900 241 7,9 19,7

Amador Aguiar II AAII Set/06 300 873 27,8 46,8

Miranda MI Ago/97 2500 1120 37,1 51,9

Igarapava IG Out/98 2700 242 2,6 50,2

Funil FU Out /02 8940 267 10,1 42,7

Nova Ponte NP Out/93 11548 12792 491,9 449,2

Santa Clara SC Out/01 15100 151 17,8 7,5

Irapé IR Dez/05 16200 5960 457,1 143,03 

 

Tabela 1.4: CPUE das espécies migradoras e porcentagem no total de indivíduos capturados (entre parênteses) no primeiro ano de formação nos cinco reservatórios da bacia do Paraná.

Espécie Reservatório*

AAI AAII MI NP IG FU Brycon orbignyanus 0,0 0,0 0,2 (0,02) 0,0 0,0 0,0

Leporinus elongatus 0,0 0,0 0,8 40,4 (4,66) 10,7 (2,82) 0,0

Pimelodus maculatus 19,6 (37,2) 25,6 (13,2) 26,8 (2,75) 113,6 (13,09) 32,1 (8,48) 6,7 (2,93)

Pinirampus pirinampu 0,0 1,1 (0,6) 0,0 0,0 0,0 0,0

Prochilodus lineatus 0,0 0,0 0,5 (0,05) 21,2 (2,45) 0,0 6,4 (2,81)

Pseudoplatystoma corruscans 0,0 0,0 0,5 (0,05) 0,09 (0,01) 0,0 0,0

Salminus brasiliensis 0,0 0,0 0,0 0,03 (0,04) 0,0 116,2 (46,85)

Salminus hilarii 0,0 0,0 0,0 3,3 (0,38) 42,4 (11,21) 2,2 (0,98)

Steindachneridion scriptum 0,0 0,0 0,2 (0,02) 0,0 0,0 0,0

Total 19,6 (37,2) 26,8 (13,75) 29,0 (2,98) 180,0 (20,63) 85,2 (22,50) 122,0 (53,57)*: AAI = Amador Aguiar I; AAII = Amador Aguiar II; MI = Miranda; NP = Nova Ponte; IG = Igarapava; FU = Funil

16  

Page 28: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Tabela 1.5: CPUE das espécies migradoras e porcentagem no total de indivíduos capturados (entre parênteses) no primeiro ano de formação dos reservatórios de Santa Clara (rio Mucuri) e Irapé (rio Jequitinhonha). 3 

Espécie Reservatório

Santa Clara Irapé Brycon ferox 2,7 (1,30)

Brycon vermelha 0,0

Leporinus conirostris 10,6 (5,17)

Leporinus copelandii 0,7 (0,32)

Leporinus steindachneri 11,2 (5,48)

Prochilodus vimboides 50,5 (24,63)

Leporinus crassilabris 1,7 (1,76)

Leporinus garmani 2,7 (2,86)

Leporinus steindachneri 3,5 (3,74)

Prochilodus hartii 54,1 (57,1)

Steindachneridion amblyurum 0,3 (0,26)

Total 76,0 (36,90) 62,2 (65,73)

Tabela 1.6: Valores da correlação entre as CPUE de jovens de espécies migradoras e as variáveis dos oito reservatórios analisados. ABDren = Área da bacia de drenagem específica; Vol = Volume; TRes = Tempo de residência; AAl = Área alagada; EACP = escores do primeiro eixo da ACP.

ABDren Vol TRes AAl EACP CPUE 0,52 0,30 0,35 0,52 -0,62 CPUE Leporinus 0,56 0,36 0,49 0,35 -0,61 CPUE Prochilodus 0,93* 0,30 0,56 0,01 -0,90* * p < 0,05

17  

Page 29: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

AAII

AAIMIIG

FU

NP

SC

IR

-4 -2 0 2

Escores 1: 80,62%

-1

0

1

2

Esc

ores

2: 1

6,48

%

 

Figura 1.1: Escores dos dois primeiros eixos da ACP realizada com as quatro variáveis usadas para caracterizar os reservatórios. Siglas dos reservatórios conforme apresentado na Tabela 1.3. 3 

Mirand

a

Amador

Aguiar

II

Nova P

onte

Igarap

ava

Santa

Clara

Amador

Aguiar

IFun

ilIra

pé0%

20%

40%

60%

80%

100%Migradoras Não-migradoras

Figura 1.2: Porcentagem do número de indivíduos de espécies migradoras e não-migradoras capturados nos oito reservatórios analisados. 6 

18  

Page 30: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

FunilIgarapava

MirandaNova Ponte

Amador Aguiar IAmador Aguiar II

0

10

20

30

40

Com

prim

ento

pad

rão

(cm

)

Mediana 25%-75% Min-Max

Figura 1.3: Comparação entre o tamanho do mandi P.maculatus capturado nos cinco reservatórios do Alto-Paraná.

Freq

uênc

ia

0 10 20 30 400

40

80

120

160

200

240

Comprimento padrão (cm)

0 10 20 30 40 0 10 20 30 40

0 10 20 30 400

40

80

120

160

200

240

Comprimento padrão (cm)

0 10 20 30 40 0 10 20 30 40

2 meses 4 meses 6 meses

8 meses 10 meses 12 meses

Figura 1.4: Freqüência absoluta do comprimento padrão de P. maculatus por coleta (meses após o fechamento das comportas) durante o primeiro ano de existência da represa de Nova Ponte. 6 

19  

Page 31: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Freq

uênc

ia

5 15 25 35 450

60

120

180

240

Comprimento Padrão (cm)

5 15 25 35 45 5 15 25 35 45

5 15 25 35 450

60

120

180

240

Comprimento padrão (cm)

5 15 25 35 45 5 15 25 35 45

2 meses 4 meses 6 meses

8 meses 10 meses 12 meses

Figura 1.5: Freqüência absoluta do comprimento padrão de Prochilodus lineatus por coleta (meses após o fechamento das comportas) durante o primeiro ano de existência da represa de Nova Ponte. 3 

Freq

uênc

ia

Campanha 1

9 11 13 15 17 19 21 230

20

40

60

Campanha 2

9 11 13 15 17 19 21 23

Comprimento padrão (cm)

9 11 13 15 17 19 21 230

20

40

60Comprimento padrão (cm)

1 mês 6 meses

12 meses

Figura 1.6: Freqüência absoluta do comprimento padrão de Prochilodus hartii por coleta (meses após o fechamento das comportas) durante o primeiro ano de existência da represa de Nova Ponte. 6 

20  

Page 32: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Fren

quên

cia

510

1520

2530

3540

450

10

20

30

Comprimento padrão (cm)

510

1520

2530

3540

45 510

1520

2530

3540

45

510

1520

2530

3540

450

10

20

30

Comprimento padrão (cm)

510

1520

2530

3540

45

5 meses 7 meses 9 meses

11 meses 13 meses

Figura 1.7: Freqüência absoluta do comprimento padrão de P. maculatus por coleta (meses após o fechamento das comportas) durante o primeiro ano de existência da represa de Miranda. 3 

Freq

uênc

ia 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 320

4

8

12

10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32

Comprimento padrão (cm)

10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 320

4

8

12Comprimento padrão (cm)

4 meses 7 meses

12 meses

Figura 1.8: Freqüência absoluta do comprimento padrão de P. maculatus por coleta (meses após o fechamento das comportas) durante o primeiro ano de existência da represa de Amador Aguiar II. 6 

21  

Page 33: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Freq

uênc

ia

Campanha: 9

10 14 18 22 26 30 340

3

6

Campanha: 10

10 14 18 22 26 30 34

Comprimento padrão (cm)

10 14 18 22 26 30 340

3

6Comprimento padrão (cm)

2 meses 8 meses

11 meses

3  Figura 1.9: Freqüência absoluta do comprimento padrão de P. maculatus por coleta (meses após o fechamento das comportas) durante o primeiro ano de existência da represa de Amador Aguiar I.

22  

Page 34: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Pequena GrandeTamanho da área da bacia de drenagem

0

50

100

150

200

CPU

E (in

d.m

- ²)

Mediana 25%-75% Min-Max

Z = - 1,73; p = 0,08

Figura 1.10: Box plot da CPUE das espécies migradoras entre os reservatórios com pequenas e grandes bacias de drenagem (Z = estatística do teste de Mann-Whitney; p = nível de significância). 3 

Pequena GrandeÁrea da bacia de drenagem

0

15

30

45

CPU

El (

ind.

m-2

)

Mediana 25%-75% Min-Max

Z = -1,15; p = 0,25

Figura 1.11: Box plot entre a CPUE de Leporinus entre os reservatórios com pequena e com grande bacia de drenagem (Z = estatística do teste de Mann-Whitney; p = nível de significância). 6 

23  

Page 35: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

 

Pequena GrandeÁrea da bacia de drenagem

0

20

40

60

CPU

Ep (i

nd.m

-2)

Mediana 25%-75% Min-Max

Z = -2,31; p = 0,02

Figura 1.12: Box plot entre a CPUE de Prochilodus entre os reservatórios com pequena e com grande bacia de drenagem (Z = estatística do teste de Mann-Whitney; p = nível de significância).

24  

Page 36: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Capítulo 2 – Os peixes migradores a jusante da barragem de Três Marias: aspectos bioecológicos relacionados à arribação 

Introdução 3 

Os pulsos de inundação são considerados a principal força produtiva em rios com planície de

inundação (Junk et al. 1989), e a ictiofauna desses sistemas têm seus ciclos de vida interligados a

sazonalidade desses pulsos (Lowe-McConnell, 1999). As espécies que realizam migrações

reprodutivas, conhecidas no Brasil como peixes de piracema, são aquelas mais intimamente

relacionadas a essas planícies (Harvey & Carolsfeld, 2003). Logo, o controle das inundações está

entre os principais impactos causados pela construção de grandes barramentos nos rios (Ligon et al.,

1995; Agostinho et al. 2007). Além de controlar a intensidade, a sazonalidade e a duração das

cheias, os grandes barramentos também modificam as características físico-químicas da água,

mascarando os gatilhos que induzem a migração e desova de peixes de piracema (e.g. Sato et al.

2005).

12 

15 

18 

21 

24 

Os atuais modelos de reprodução dos peixes migradores brasileiros, tanto para a bacia do rio Paraná

quanto para a do São Francisco, demonstram que essas espécies desovam no período de cheias,

tendo seus ovos e larvas carreados para as planícies de inundação, onde se desenvolvem (e.g.

Petrere-Jr, 1985; Godinho & Pompeu, 1999a). O destino desses jovens ao retornarem das planícies

ainda não está completamente estabelecido, mas sabe-se que algumas espécies podem utilizar os

ribeirões para desenvolvimento (Godinho & Pompeu, 1999a) ou recrutar nas diferentes populações

ao longo da calha principal do rio (Agostinho et al., 1993; Godinho & Kynard, 2006).

A migração dos jovens parece estar relacionada com a dispersão desses indivíduos (Lucas & Barras,

2001), após o desenvolvimento nas planícies de inundação e lagoas marginais, em busca de sítios de

alimentação e desenvolvimento (Agostinho et. al, 1993, Godinho & Kynard, 2006) ou de refugio

(Godinho & Pompeu, 1999a). No rio São Francisco, essa migração é conhecida como “arribação”

(Godinho & Kynard, 2006), sendo caracterizada por movimentos em direção à montante. No

25  

Page 37: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Pantanal Mato-Grossense, ela é conhecida como “lufada” (Ferraz de Lima, 1986; Agostinho et al.,

2007). Tais movimentos também já foram documentados no rio Mogi-Guaçu (Godoy, 1954).

Praticamente todos os anos os peixes provenientes da arribação se aglomeram em quantidades

variadas no canal de fuga e na bacia de restituição do vertedouro da barragem de Três Marias,

devido à falta de uma passagem para montante.

12 

15 

18 

21 

24 

A produtividade de pesca, bem como o sucesso reprodutivo de espécies migradoras, e,

consequentemente, a intensidade da arribação, parecem estar correlacionados com as características

das inundações (e.g. Welcomme, 1995; Agostinho et al., 1993; Gomes & Agostinho, 1997;

Agostinho et al., 2004). Dessa forma, existem modelos que buscam uma solução entre a

necessidade de acumulação de água para diversos usos humanos, como geração de energia elétrica e

navegação, e a necessidade de água para inundar as planícies dos rios (e.g. Richter et al. 1997; Koel

& Sparks, 2002; Godinho et al. 2007a). Visando corroborar essa relação entre intensidade das

cheias e o sucesso reprodutivo de espécies migradoras, esse estudo teve como objetivo principal

determinar se o tamanho da aglomeração de peixes da arribação (APA) no sopé da barragem de

Três Marias é influenciado pela intensidade e duração da cheia. Além disso, buscou-se determinar a

duração da APA, incluindo todas as espécies e analisando apenas as espécies dominantes, e

correlacionando com as variáveis físico-químicas. Finalmente, descreveu aspectos bioecológicos da

aglomeração: estrutura em tamanho, variação temporal do tamanho e do grau de higidez das

espécies dominantes: curimba-pacu (Prochilodus argenteus), curimba-pioa (Prochilodus costatus),

dourado (Salminus franciscanus) e mandi (Pimelodus maculatus). Também utilizou-se rádio-

telemetria para se analisar a movimentação de cinco curimbas-pacu durante a aglomeração.

Materiais e Métodos O estudo foi realizado no rio São Francisco, imediatamente a jusante da barragem de Três Marias

(S18º 12.65’ W45º 16’). Essa barragem está situada no quilômetro de rio (rkm) 2.111, contados a

26  

Page 38: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

partir da foz. Para uma descrição detalhada da área, veja Godinho & Godinho (1999) e Godinho &

Kynard (2006).

Foram realizadas oito campanhas de maio a agosto de 2007 e mais duas campanhas em março e

junho de 2008. Os peixes foram capturados no canal de fuga e na bacia de restituição do vertedouro

da barragem (Figuras 2.1 e 2.2). A captura foi feita com tarrafas de malha de 5 e 11 cm entre nós

opostos. Também foi utilizada tarrafa de malha 5 entre nós opostos como arrasto para a captura de

peixes de fundo. Exceto na primeira campanha, os peixes foram imediatamente fixados em

formalina 10%, sendo posteriormente lavados em água e identificados. O peso e o comprimento

padrão (CP) de cada indivíduo foram determinados.

12 

15 

18 

21 

24 

A duração e a magnitude da APA foram inferidas a partir da variação temporal da captura por

unidade de esforço (CPUE = número peixes capturados/lances de tarrafas ou número de arrastos). A

CPUE foi calculada para cada campanha e para cada mês, sendo separada em CPUE de tarrafas

(CPUEt) e CPUE de arrasto (CPUEa) para todas as espécies e para cada uma das espécies

dominantes separadamente.

Os dados do nível da água (NA) do rio São Francisco foram medidos em Pirapora, localizada a

montante da maior área com planície de inundação do rio (Kohler, 2003). Com exceção de um

tributário de médio porte, o rio Abaeté, a maior parte da água do rio São Francisco em Pirapora é

proveniente da represa de Três Marias. Dados de NA foram obtidos juntos à Companhia Energética

de Minas Gerais (CEMIG). Considerou-se o período chuvoso de outubro a março (Pinto et al.

2003), e cheia quando o nível da água ficou acima de 3,0 metros.

Devido ao pequeno número de indivíduos coletados (12) em 2008, todas as análises biológicas, de

duração da aglomeração, correlação com variáveis físico-químicas, estrutura em tamanho e

variações no tamanho e no fator de condição dos indivíduos foram realizadas apenas para o ano de

2007.

27  

Page 39: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

O grau de higidez das espécies dominantes foi determinado utilizando-se o fator de condição de

Fulton (K). Diferenças no K entre as coletas foram analisadas utilizando o teste Kruskal-Wallis,

pois os dados não apresentaram distribuição normal. Adotou-se o nível de significância (α) de 0,05.

Os peixes coletados na primeira coleta foram excluídos dessas análises porque foram medidos e

pesados ainda frescos, o que causa modificações tanto no comprimento quanto no peso dos

indivíduos (Anderson & Gutreuter, 1983).

12 

15 

18 

21 

24 

Determinou-se também a estrutura em tamanho das espécies dominantes na APA, visando inferir o

grau de desenvolvimento desses indivíduos baseados no tamanho de primeira maturação gonadal,

segundo Bazzoli (2003) e Dei Tos et al. (2002). Variações no comprimento foram comparadas entre

as coletas pelo teste de Kruskal-Wallis, com α = 0,05, novamente excluindo-se os indivíduos da

primeira campanha.

Concomitantemente às capturas de peixes, determinou-se a concentração de oxigênio dissolvido, o

pH, a condutividade e a temperatura da água no canal de fuga com auxílio de uma sonda multi-

parâmetro da marca Horiba, modelo U-10. Para testar eventuais correlações entre as características

físico-químicas e a CPUE utilizou-se o teste de correlação de Pearson, com nível de significância α

= 0,05.

Para determinar a movimentação de peixes da APA, cinco curimbas-pacu (Prochilodus argenteus)

coletados no canal de fuga da barragem de Três Marias na segunda campanha (maio/07) foram

marcados com radiotransmissor codificados da marca Lotek (modelo MCFT-3FM, freqüência =

149,780 MHz, peso no ar = 10 g, intervalo entre bips = 11 s). Os radiotransmissores foram

implantados cirurgicamente conforme descrito em Godinho & Kynard (2006). Os peixes foram

pesados, medidos e tiveram sexo e o grau de maturação gonadal avaliados, sendo soltos no mesmo

local de coleta.

Os peixes marcados foram rastreados por três estações automáticas de radiotelemetria da marca

Lotek, modelo SRX_400 W32CT, instaladas no canal de fuga da barragem de Três Marias, na foz

28  

Page 40: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

do rio Abaeté e em Pirapora. Foram feitos também sete rastreamentos manuais de barco (junho e

agosto/07, fevereiro, maio e junho/08 e janeiro e março/09), com um receptor marca Lotek, modelo

SRX_400 W5, do sopé da barragem até a foz do rio Abaeté (rkm 2076,8) (Figura 2.3). 3 

12 

15 

18 

21 

Resultados Ao todo, foram capturados 1.781 peixes, de 13 espécies, pertencentes a cinco famílias (Tabela 2.1).

Desse total, 99,3% foram capturados em 2007. As espécies dominantes, dourado (Salminus

franciscanus, 52,8%), curimba-pacu (Prochilodus argenteus, 23,8%), mandi (Pimelodus maculatus,

11,8%) e curimba-pioa (Prochilodus costatus, 8,0%), totalizaram 96,4% dos indivíduos coletados

(Figura 2.4). Das espécies capturadas, seis são consideradas migradoras, incluindo as quatro mais

abundantes, e uma, o pacu (Metynnis maculatus), não é nativa do rio São Francisco.

Os dois anos analisados apresentam grandes diferenças em relação a intensidade e duração das

cheias (Figura 2.5). Na estação chuvosa de 2006-2007, foram 85 dias com NA acima de 3,0 m,

enquanto que essa cota foi ultrapassada apenas em 14 dias na estação chuvosa de 2007-2008. A

intensidade também foi maior no primeiro período, com o NA chegando a 4,74 m (média = 3,33m),

enquanto no segundo ano não superou 3,38 m (média = 2,73).

Da mesma forma, houve diferenças marcantes na CPUE por mês entre os dois anos analisados

(Figura 2.5). Em 2007, a CPUE por mês variou de 57,4 (maio) a 1,49 (agosto). Já para 2008, a

CPUE foi de 0,30 e 0,15.

Em 2007, tanto a CPUEt quanto a CPUEa apresentaram tendência de redução gradual com o tempo,

com elevado coeficiente de determinação (r2). Na primeira coleta, a CPUEt foi de 88,0 enquanto que

na última coleta, foi de 1,49. Para a CPUEa, os valores foram iguais a 29 e 0,62, na primeira e

última coleta, respectivamente (Figura 2.6). O mesmo padrão de redução foi observado nas quatro

espécies dominantes (Figura 2.7).

29  

Page 41: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Os parâmetros físico-químicos da água não apresentaram grandes variações ao longo do período de

estudo (Tabela 2.2). A CPUEt apresentou correlação positiva com a temperatura (r = 0,84; p = 0,01,

Figura 2.8) e negativamente com o oxigênio dissolvido (r = -0,79; p = 0,36, Figura 2.8). 3 

12 

15 

18 

21 

24 

A maior parte dos dourados e curimbas-pioa eram menores que o tamanho de primeira maturação

gonadal, enquanto curimba-pacu apresentou pouco mais da metade dos indivíduos coletados acima

desse tamanho (Figuras 2.9 e 2.10). Para o mandi, a maior parte dos indivíduos já havia alcançando

o tamanho de primeira maturação (Figura 2.10).

Oscilações no comprimento padrão, com diferenças significativas entre coletas, ocorreram em todas

as espécies (Figuras 2.11 e 2.12), exceto para o curimba-pioa (dourado: H = 254,12, P < 0,001;

mandi: H = 33,76, P < 0,001; curimba-pacu: H = 106,14, P < 0,001; curimba-pioa: H: 10,97, P =

0,13). O mandi apresentou diferença no tamanho apenas da sexta campanha em relação às três

primeiras, enquanto que o tamanho dos curimba-pacu foi significativamente maior nas primeiras

cinco campanhas em relação às demais. Para o dourado, o comprimento padrão de uma campanha

foi, em geral, significativamente menor do que na campanha subseqüente.

As espécies dominantes apresentaram variações temporais discretas do K (Figuras 2.13 e 2.14).

Apesar de discretas, o K apresentou diferenças estatísticas entre coletas para todas elas, exceto

curimba-pioa (dourado: H = 200,49, P < 0,001; mandi: H = 25,07, P = 0,0003; curimba-pacu: H =

35,64, P = 0,0001; curimba-pioa: H: 12,30, P = 0,06). Para as duas espécies de curimba e o

dourado, o K mostrou tendência de pequeno aumento ao final do período de amostragem, mas para

o mandi a tendência foi inversa.

Foram marcados três machos e duas fêmeas de curimba-pacu, cujo comprimento padrão variou de

29,5 a 34,0 cm (Tabela 2.3). Todos os peixes marcados estavam com gônadas em repouso. Após

marcados, dois machos (códigos 148 e 151) permaneceram por cerca de um mês no canal de fuga

(Figura 2.15). Em seguida, não foram mais detectados. A fêmea 147 foi localizada uma vez durante

o rastreamento manual em uma ceva de pescadores a cerca de 2 km a jusante da barragem,

30  

Page 42: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

desaparecendo em seguida. Essa fêmea voltou a ser detectada em rastreamento manual em fevereiro

e julho de 2008 num poço profundo a cerca de 10 km a jusante da barragem. O macho 150 e a

fêmea 149 foram localizados duas vezes, após a marcação, a 200 m a jusante da barragem de Três

Marias, também em ceva de pescadores conhecida como Ilha da Dona Maria. O macho foi pescado

pouco tempo depois, enquanto a fêmea ainda foi localizada mais uma vez nessa área, desaparecendo

em seguida.

12 

15 

18 

21 

24 

Discussão A represa de Três Marias é o único obstáculo à dispersão dos peixes no rio São Francisco em seus

trechos médio e superior. Dessa forma, representa um local impar para os estudos relacionados à

arribação, pois constitui um ponto aglomeração dos peixes que estão se dispersando pelo rio.

A tarrafa foi a técnica adotada para a amostragem dos peixes devido a facilidade de uso e a

agilidade para a captura dos peixes. No entanto, ela é uma técnica seletiva. Por capturar os peixes da

superfície para o fundo, as espécies que nadam mais próximos à superfície têm maior probabilidade

de serem capturadas. Assim, a proporção das espécies obtida no presente estudo certamente não

reflete a sua real proporção. Pescadores locais advertiram que a quantidade de curimbas

(Prochilodus spp.) e piaus (Leporinus spp.) era maior do que a amostrada, mas como esses

indivíduos nadavam sob os cardumes de dourado, elas possivelmente ficaram subamostradas. Esse

fato é ainda mais relevante em relação ao mandi. Embora tenha sido empregada uma tarrafa no

modo arrasto especificamente para a coleta de mandi, às condições locais (i.e. grandes vazões e

profundidades) não eram favoráveis à sua captura. Assim, a proporção de mandi em relação às

demais espécies deve estar subestimada. Finalmente, espécies que sabidamente estavam na APA,

como o surubim (Pseudoplatystoma corruscans), não foram coletadas, indicando subestimativa da

riqueza de espécies participantes do fenômeno.

Durante a estação chuvosa de 2006-2007, o volume de chuvas foi elevado e, por conseguinte,

registrou-se uma das cheias mais intensas e duradouras do rio São Francisco das últimas quatro

31  

Page 43: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

décadas (CEMIG, dados não publicados). Em decorrência dessa cheia, o sucesso reprodutivo das

espécies migradoras foi elevado, com reflexo direto na intensidade da arribação. Relatos dos

pescadores locais informam que a arribação foi intensa não só na calha principal como também no

rio Abaeté, especialmente de curimba-pacu, curimba-pioa, mandi e dourado, as mesmas espécies

dominantes ao sopé da barragem de Três Marias. Godinho e Pompeu (1999a) demonstraram a

importância de pequenos tributários para os jovens de espécies migradoras, provavelmente como

refúgio. O rio Abaeté pode ser uma via para os peixes jovens chegarem até esses refúgios, o que

explicaria a movimentação dessas espécies nesse rio.

12 

15 

18 

21 

24 

As acentuadas diferenças apresentadas nas cheias entre os dois anos explicam as grandes diferenças

na CPUE no sopé da barragem de Três Marias. No período chuvoso de 2006-2007, o número de

dias com cheia foi seis vezes maior que em 2007-2008 e com uma intensidade aproximadamente

20% maior, resultando em uma CPUE, em 2007, mais de 100 vezes maior que em 2008. Para a

bacia do rio Paraná, cheias superiores a 75 dias favorecem o sucesso reprodutivo de grandes

migradores, enquanto em anos com poucos dias de cheia, como 2007-2008, esse sucesso foi

praticamente nulo (Agostinho et al., 2004).

Esses resultados são esperados em rios como o São Francisco, que possuem planícies de inundação,

pois o alagamento sazonal desses ambientes é o principal agente regulador da sua produtividade

(Junk, et al., 1989). O sucesso reprodutivo de várias espécies de peixes que realizam migrações

reprodutivas está diretamente relacionado com a duração e intensidade dessas inundações, pois

essas espécies utilizam-se das lagoas marginais formadas durante as cheias do rio como berçário

(Agostinho et al., 1993; Gomes & Agostinho, 1997; Pompeu & Godinho, 1999a; Agostinho et al.,

2004; Baumgartner et al., 2004; Godinho et al., 2007a).

A maior parte dos rios do mundo que apresentam planícies de inundação está sob algum tipo de

interferência humana, principalmente barramentos para agricultura, navegação e geração de energia

elétrica, que alteram o ciclo das cheias (Sparks, 1995; Koel & Sparks, 2002). Isso tem sido

32  

Page 44: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

catastrófico para a biota, pois modifica o volume de água, o transporte de sedimento e nutrientes,

interrompendo os processos ecológicos mais importantes do rio (Ligon et al., 1995). Devido ao grau

crônico desses impactos, uma restauração de um rio, voltando a sua condição original, é

praticamente impossível (Gore & Shields, 1995).

12 

15 

18 

21 

24 

Há, contudo, propostas de naturalização desses corpos d’água, mantendo a utilização humana, mas

modificando alguns parâmetros para que se aproximem das condições naturais do rio (Sparks et al.,

1998; Koel & Sparks, 2002). Modelos tentam adequar os usos múltiplos da água, como o Range of

Variability Approach (RVA; Richter et al., 1997) ou a liberação suplementar de água pela barragem

de Três Marias para o próprio caso do rio São Francisco (Godinho et al., 2007a). Mais que a

ocorrência de cheias, essas cheias devem ocorrer em períodos específicos (Gomes & Agostinho,

1997; Godinho et al., 2007a). Como exemplo, a cheia que ocorreu no período de seca de 2007, no

rio São Francisco, por conveniência operativa da represa de Três Marias parece não ter tido o menor

efeito sobre a CPUE, já que ela se deu fora da estação reprodutiva, e pode não ter sido intensa o

suficiente para encher as lagoas marginais. A água defluente da represa de Três Marias não possui

as características que desencadeiam a reprodução nos peixes (Sato et al., 2005). Assim, a liberação

de água pela represa de Três Marias para o alagamento da planície de inundação deve ocorrer

sincronizada com as cheias naturais, quando ocorre a desova dos peixes de piracema (Godinho et

al., 2007a).

A APA ao sopé da represa de Três Marias em 2007 teve duração aproximada de cinco meses.

Embora as coletas tenham começado após o início da APA, os operadores da usina informaram que

os peixes começaram a se aglomerar no final de março, pouco mais de um mês antes da primeira

coleta. Essa informação é confirmada por pescadores profissionais de Pirapora, distante 140 km a

jusante de barragem de Três Marias, que disseram que os primeiros peixes da arribação de 2007

passaram por Pirapora em meados de março daquele ano. O seu final se deu em julho, quando as

CPUE foram próximas de zero, valor semelhante ao apresentado em meados de agosto de 2007. Por

33  

Page 45: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

outro lado, inexistência de cheia no período chuvoso de 2007-2008 fez com que a APA

praticamente não existisse no ano de 2008. Novamente, o depoimento de pescadores profissionais

de Pirapora confirmou que não houve arribação nesse ano. 3 

12 

15 

18 

21 

24 

Das quatro espécies dominantes na APA, a maior parte dos indivíduos de dourado e curimba-pioa

estavam abaixo do tamanho de primeira maturação sexual (Bazzoli, 2003), enquanto para o mandi e

a curimba-pacu, a maior parte dos indivíduos era maior que esse tamanho (Bazzoli, 2003; Dei Tos

et al., 2002). Para curimba-pacu, praticamente metade dos indivíduos apresentava tamanho maior

que o de primeira maturação gonadal. Esse resultado é diferente do modelo conceitual apresentado

por Godinho & Kynard (2006), no qual o recrutamento dos curimbas-pacu é feito com

aproximadamente 20 cm. Isso pode ser explicado pela seletividade das tarrafas, e a presença de

jovens de curimba-pacu no sopé da barragem era maior, contudo não foi amostrada de forma

satisfatória, conforme já discutido.

A correlação positiva entre CPUE e temperatura sugere maior atividade dos peixes em temperaturas

mais altas. A correlação negativa encontrada entre a CPUE e o oxigênio dissolvido se deve à

dinâmica da usina. No início do período de estudo (final do verão), o reservatório de Três Marias

encontra-se estratificado (Esteves, 1988), e a tomada de água é localizada no hipolímio, resultando

em uma baixa concentração de oxigênio dissolvido. A desestratificação do reservatório ao longo

dos meses, com a mudança para outono-inverno, melhorou a qualidade da água turbinada, mas

coincidiu com o final da APA. Dessa forma, como a tendência natural das características físico-

químicas da água nessa época é de redução da temperatura e aumento do oxigênio dissolvido com a

chegada do inverno e a desestratificação do reservatório, essas correlações podem ser simplesmente

coincidências e não haverem relações de causa-efeito.

A pouca variação temporal do K sugere que um mesmo indivíduo não permaneceu na aglomeração

por todo o período de sua duração. O sopé da barragem pode ser considerado um local estressante

para os indivíduos, seja por falta de alimento, baixa concentração de oxigênio dissolvido durante a

34  

Page 46: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

estratificação do reservatório ou, como no caso em estudo, alta densidade de indivíduos. Dessa

forma, o K de um indivíduo necessariamente diminuiria caso ele ficasse por prolongado período de

tempo nessa região. Como não houve diminuição acentuada do K, uma hipótese alternativa possível

é que cada indivíduo ficou por certo tempo próximo à barragem a procura de uma passagem para

montante, e, não a encontrando, deslocou-se para jusante. O comportamento dos curimbas-pacu

marcados com radiotransmissores reforça essa hipótese. Dois curimbas-pacu permaneceram por

cerca de um mês no sopé da barragem de Três Marias, deslocaram-se rio abaixo e não retornaram

mais para montante. Há ainda a hipótese da chegada de vários cardumes diferentes ao canal de fuga,

mantendo o valor de K. Os dados, contudo, não permitem maiores inferências sobre as hipóteses

acima, e estudos mais específicos são necessários para avaliá-las com mais segurança. O mandi foi

a única espécie que apresentou redução temporal do K. Isso pode significar que essa espécie

apresenta comportamento diferente das demais, e seus indivíduos podem ter permanecido por

tempo maior no canal de fuga da represa de Três Marias.

12 

15 

18 

21 

24 

A redução temporal das CPUE pode ser parcialmente explicada por esse comportamento de migrar

para jusante, caso ele seja comum entre os peixes da aglomeração. Vale chamar atenção também

para a intensa pesca que ocorreu durante todo período que durou a APA. A fiscalização foi ineficaz

para coibir a pesca predatória. Diariamente, muitos pescadores, provenientes principalmente de Três

Marias, capturavam grandes quantidades de peixes, de todos os tamanhos, com todos os petrechos

possíveis: tarrafas, redes e anzóis. Quando a APA foi mais intensa, bastava acelerar o motor do

barco na bacia de dissipação do vertedouro para que o barco se enchesse de peixes que pulavam

desorientados. Essa intensa pressão de pesca também deve ter contribuído para a redução gradual e

constante da APA.

Estudos da migração de curimba-pacu, dourado e surubim com uso de radiotelemetria, no rio São

Francisco, indicaram que apenas uma fração reduzida de adultos de surubim mostrou interesse em

migrar rio acima, e poucos indivíduos chegaram à barragem de Três Marias (Godinho & Kynard

35  

Page 47: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

2006, Godinho et. al. 2007b, Neto 2008). Por outro lado, o presente estudo sugere que a motivação

para migrar para montante da barragem de Três Marias é uma particularidade dos jovens dessas

espécies no rio São Francisco. 3 

12 

15 

18 

Parece ser indiscutível a importância das cheias para o sucesso reprodutivo de espécies migradoras,

as mais impactadas pelas modificações antropogênicas nos rios (Agostinho et al., 2007). Embora a

arribação seja um fenômeno muito pouco conhecido, as poucas informações existentes mostram que

ela é fundamental ao ciclo de vida e à manutenção das populações dos peixes mais importantes para

as pescas comercial e esportiva do rio São Francisco. As conseqüências da interrupção da arribação

pela barragem de Três Marias ainda são pouco conhecidas. Godinho & Kynard (2008) sugerem que

uma das conseqüências seja a concentração de renda nos pescadores do rio São Francisco na região

de Três Marias, em detrimento da renda de pescadores de outras regiões próximas. Nesse contexto,

a única medida mitigadora que parece plausível é a implantação de mecanismo de transposição para

atender a arribação. Antes da implantação de uma passagem dessa natureza, no entanto, questões

básicas fundamentais necessitam ser avaliadas. Determinar o destino de peixes transpostos, mapear

os sítios de desova, a necessidade de posterior transposição para jusante e impactos sócio-

econômicos sobre a população de pescadores da região de Três Marias são apenas algumas dessas

questões. Estudos de longo prazo, com o monitoramento contínuo das arribações, permitirão

elucidar essas questões, e auxiliar na escolha do melhor manejo para as espécies migradoras desse

trecho do rio São Francisco.

36  

Page 48: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Tabelas e Figuras Tabela 2.1: Número de peixes capturados por espécie (percentagem entre parênteses) na aglomeração de peixes da arribação no sopé da barragem de Três Marias, rio São Francisco, em 2007 e 2008. 3 

Taxa N (%) Characidae

Salminus franciscanus (dourado)m 934 (52,8) Salminus hilarii (tabarana) 3 (0,2) Brycon orthotaenia (matrinchã)m 11 (0,6)

Serrasalmidae Metynnis maculatus (pacu) 1 (0,1) Serrasalmus brandtii (pirambeba) 10 (0,6)

Anostomidae Leporellus vittatus (piau-rola) 1 (0,1) Leporinus obtusidens (piau-verdadeiro)m 29 (1,6) Leporinus reinhardti (piau-três-pintas) 6 (0,3) Schizodon knerii (piau-branco) 2 (0,1)

Prochilodontidae Prochilodus argenteus (curimba-pacu)m 421 (23,8) Prochilodus costatus (curimba-pioa)m 142 (8,0)

Pimelodidae Pimelodus maculatus (mandi)m 208 (11,8) Pimelodus sp. (mandi-branco) 1 (0,1)

m: espécies migradoras de acordo com Sato & Godinho (2003)

Tabela 2.2: Físico-química da água no canal de fuga da represa de Três Marias nas coletas realizada na aglomeração de peixes da arribação em 2007. 6 

Data da coleta O2 (mg/L)

O2 (% de saturação)

Condutividade (μS/cm2.s)

pH Temperatura (ºC)

12/05/07 3,4 39,1 47 7,50 26,2 20/05/07 2,5 20,3 46 8,00 25,3 27/05/07 3,6 35,6 46 7,75 24,9 02/06/70 4,0 48,1 47 7,18 24,6 12/06/07 4,5 53,6 46 7,78 24,2 16/06/07 4,7 56,2 47 7,68 23,9 13/07/07 4,6 45,5 52 7,68 22,7 17/08/07 5,0 52,0 51 8,03 22,4 Tabela 2.3: Biometria de cinco curimbas-pacu marcados com radiotransmissor provenientes na aglomeração de peixes da arribação em 2007. (CP: comprimento padrão; PC: peso corporal.) 9 

Código do transmissor

Sexo CP (cm) PC (g)

147 F 34,0 870 148 M 29,5 550 149 F 33,5 760 150 M 30,3 560 151 M 32,3 710

37  

Page 49: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Figura 2.1: Barragem de Três Marias e o trecho do rio São Francisco logo a jusante. 1: reservatório, 2: barragem, 3: rio São Francisco, 4: canal de fuga, 5: bacia de restituição do vertedouro, 6: vertedouro e 7: Ilha da Dona Maria. 3 

38  

Page 50: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

3  Figura 2.2: Locais de amostragem na barragem de Três Marias: bacia de restituição do vertedouro (painel superior), canal de fuga (painel inferior). Fotos: Rodrigues, R. R.

39  

Page 51: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

3  Figura 2.3: Localização das estações fixas de rastreamento: da barragem de Três Marias (1), do Pontal do Abaeté (2) e Pirapora (3).

Pimelodus sp.

Metynnis maculatus

Leporellus vittatus

Schizodon knerii

Salminus hilarii

Leporinus reinhardti

Serrasalmus brandtii

Brycon lundii

Leporinus elongatus

Prochilodus costatus

Pimelodus maculatus

Prochilodus argenteus

Salminus franciscanus

Espécies

0 10 20 30 40 50 6

Abundância relativa (%)0

Figura 2.4: Abundância relativa das espécies capturadas na aglomeração de peixes da arribação de 2007 no rio São Francisco.

40  

Page 52: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08Data

2

3

4

5NA (m)

0

20

40

60CPUE (ind.tarrafada-1)

Figura 2.5: Nível da água (NA) diários e CPUEt da aglomeração de peixes da arribação em 2007 e 2008 no rio São Francisco. 3 

Mai Jun Jul Ago SetMês

0

50

100CPUE

Tarrafa Arrasto

r2 = 0,94

r2 = 0,66

Figura 2.6: Variação temporal da CPUEt e CPUEa nas coletas da aglomeração de peixes da arribação de 2007.

41  

Page 53: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Mai Jun Jul Ago SetMês

0

10

20CPUE

Dourado

Mai Jun Jul Ago Set

Mês

0

5

10CPUE

Curimba-pacu

Mai Jun Jul Ago SetMês

0

3

6CPUE

Curimba-pioa

Mai Jun Jul Ago Set

Mês

0

10

20

30CPUE

Mandi

Figura 2.7: Variação temporal da CPUE das quatro espécies dominantes na aglomeração de peixes da arribação de 2007.

42  

Page 54: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

2 3 4 5 6Oxigênio dissolvido (mg/L)

0

50

100CPUE

21 23 25 27Temperatura (°C)

0

50

100CPUE

Figura 2.8: Relação entre CPUEt e o oxigênio dissolvido (painel superior) e a temperatura (painel inferior) da água nas coletas da aglomeração de peixes da arribação de 2007 no rio São Francisco. 6 

43  

Page 55: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Figura 2.9: Estrutura em tamanho de curimba-pacu e curimba-pioa na aglomeração de peixes da arribação de 2007 no rio São Francisco. Setas indicam comprimento da primeira maturação para machos (M) e fêmeas (F), segundo Bazzoli (2003). * indicam as classes de tamanho das curimbas-pacu marcadas com radio-transmissor

44  

Page 56: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

3  Figura 2.10: Estrutura em tamanho de dourado e mandi na na aglomeração de peixes da arribação 2007 no rio São Francisco. Setas indicam menor comprimento da primeira maturação para machos (M) e fêmeas (F), segundo Bazzoli (2003) e Dei Tos et al. (2002).

45  

Page 57: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Mai Jun Jul Ago SetMês

22

26

30

34CP (cm)

Curimba-pacu

Mai Jun Jul Ago SetMês

15

17

19

21

23

25CP (cm)

Curimba-pioa

Figura 2.11: Variação temporal da média (ponto) e do desvio-padrão (linha vertical) do comprimento de curimba-pacu e curimba-pioa na aglomeração de peixes da arribação de 2007.

46  

Page 58: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Mai Jun Jul Ago SetMês

15

20

25

30CP (cm)

Dourado

Mai Jun Jul Ago SetMês

16

18

20

22

24CP (cm)

Mandi

Figura 2.12: Variação temporal da média (ponto) e do desvio-padrão (linha vertical) do comprimento padrão de dourado e mandi na aglomeração de peixes da arribação de 2007.

47  

Page 59: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Mai Jun Jul Ago SetMês

1

2

3

KCurimba-pacu

Mai Jun Jul Ago SetMês

1

2

3K

Curimba-pioa

Figura 2.13: Média (círculo) e desvio-padrão (linha vertical) do fator de condição de Fulton (K) de curimba-pacu e curimba-pioa na aglomeração de peixes da arribação de 2007 no rio São Francisco.

48  

Page 60: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

49  

Mai Jun Jul Ago SetMês

1

2

3K

Dourado

Mai Jun Jul Ago SetMês

0

1

2

3K

Mandi

Figura 2.14: Média (círculo) e desvio-padrão (linha vertical) do fator de condição de Fulton (K) de dourado e mandi no monitoramento na aglomeração de peixes da arribação de 2007 no rio São Francisco.

Page 61: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul 2007 / 2008

2090

2100

2110

2120rkm

Fêmea (147)

Mai Jun Jul Ago2007

2100

2110

2120rkm

Macho (150)

Set

Mai Jun Jul2007

2100

2110

2120rkm

Macho (148)

Mai Jun Jul Ago

2007

2100

2110

2120rkm

Macho (151)

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev 2007 / 2008

2100

2110

2120rkm

Fêmea (149)

Figura 2.15: Localização de cinco curimbas-pacu marcados com radiotransmissores no rio São Francisco. Quadrados representam localizações, número entre parênteses representa o código do transmissor.

50  

Page 62: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Referências bibliográficas  

Agostinho A. A.; L. E. Miranda; L. M. Bini; L. C. Gomes; S. M. Thomaz & H. I. 1999. Patterns of colonization in Neotropical reservoirs and prognosis on aging. In: Tundisi J. G. & M. Straskraba (eds). Theoretical Reservoir Ecology and its Applications. Leiden: Backhuys Publishers. pp. 227-265.

Agostinho, A. A.; A. E. A. M. Vazzoler; L. C. Gomes & E. K. Okada. 1993. Estratificacion espacial y comportamiento de Prochilodus scrofa en distintas fases del ciclo de vida, en las planicie de inundación del alto río Paraná y embalse de Itaipu, Paraná, Brasil. Revista de Hydrobiologia Tropical, v. 26, p. 79–90.

Agostinho, A. A.; L. C. Gomes; S. Veríssimo & E. K. Okada. 2004. Flood regime, dam regulation and fish in the Upper Paraná River: effects on assemblage attributes, reproduction and recruitment. Reviews in Fish Biology and Fisheries, v.14, p.11-19.

Agostinho, A. A.; S. M. Thomaz & L. C. Gomes. 2005. Conservation of the biodiversity of Brazil's inland waters. Conservation Biology, v.19, n.3, p.646-652.

Agostinho, A. A.; L. C. Gomes; H. I. Suzuki & H. F.Júlio-Jr. 2003. Migratory fishes of the upper Paraná River basin, Brazil. In: Carolsfeld, J.; J. Harvey; C. Ross & A. Baer (eds.) Migratory fishes of South America: biology, fisheries and conservation status. Victoria, Canada: International Development Research Centre and The World Bank, pp. 19–98.

Agostinho, A. A.; L. C. Gomes & F. M. Pelicice. 2007. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Maringá: EDUEM: 501p.

Anderson, R. O. & Gutreuter, S. J. 1983. Length, weight, and associated structural indices. In Nielsen, L. A. & Johnson, D. L. (eds.) Fisheries techniques. Maryland: American Fisheries Society. p. 283-301.

Aneel. 2008. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3ª. ed. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica. 236p.

Araújo-Lima, C. A. R. M.; A. A. Agostinho & N. N. Fabré. 1995. Trophic aspects of fish communities in Brazilian rivers and reservoirs. In: J.G. Tundisi, C.E.M. Bicudo & T. Matsumura-Tundisi (eds). Limnology in Brazil. Rio de Janeiro: ABC/SBL, p.105-136 Bailly, D.; A. A. Agostinho & H. I. Suzuki. 2008. Influence of the flood regime on the reproduction of fish species with different reproductive strategies in the Cuiabá River, Upper Pantanal, Brazil. River Research and Applications, v.24, n.9, p.1218-1229.

Barbieri, G. & Garavello, J. C. 1981. Sobre a Dinâmica da reprodução e da nutrição de Leporinus friderici (Bloch, 1794) na represa do Lobo, Brotas-Itirapina (SP), (Pisces, Anastomidae). An. Sem. Reg. Ecol., v. 2: 347-387.

Baumgartner, G.; K. Nakatani; L. C. Gomes; A. Bialetzki; P. V. Sanchesd & M. C. Makrakis. 2004. Identification of spawning sites and natural nurseries of fishes in the upper Paraná River, Brazil. Environmental Biology of Fishes, v.71, p.115-125.

Bayley, P. B. 1973. Studies on the migratory characin, Prochilodus platensis Holmberg, 1888 (Pisces, Characoidei) in the river Pilcomayo, South America. Journal of Fish Biology, v.5, p.25–40.

Bazzoli, N. 2003. Parâmetros reprodutivos de peixes de interesse comercial na região de Pirapora. In: Godinho, H.P. & A. L. Godinho (eds.). Águas, peixes e pesca no São Francisco

51  

Page 63: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

das Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, CNPq/PADCT CIAMB III. 2003. p.273-288.

Benedito-Cecilio, E. B.; A. A. Agostinho; H. F. Júlio-Jr & C. S. Pavanelli. 1997. Colonização ictiofaunística do reservatório de Itaipu e áreas adjacentes. Revista Brasileira de Zoologia, v.14, n.1, p.1-14.

Bittencourt, M. M. & C. Cox-Fernandes. 1990. Peixes migradores sustentam pesca comercial. Ciência Hoje, v.11, n.64, p.20-24.

Brito, M. F. G. D. & N. Bazzoli. 2003. Reproduction of the surubim catfish (Pisces, Pimelodidae) in the São Francisco River, Pirapora Region, Minas Gerais, Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, n.5, p.624-633

Carolsfeld, J., J. Harvey; C. Ross & A. Baer (eds). 2003. Migratory fishes of South America: biology, fisheries and conservation status. Victoria, Canada: International Development Research Centre and The World Bank: 372p.

Dei Tos, C.; G. Barbieri; A. A. Agostinho; L. C. Gomes & H. I. Suzuki. 2002. Ecology of Pimelodus maculatus (Siluriformes) in the Corumbá reservoir, Brazil. Cybium, v.26, n.4, p.275-282.

Esteves, F.A. 1998. Fundamentos de limnologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência. 601p.

Fernando, C.H. & J. Holcık. 1991. Fish in reservoirs. Internat. Revue ges. Hydrobiol. v. 76, p. 149–167.

Ferraz de Lima, J. A. 1986. A pesca no pantanal de Mato Grosso (Rio Cuiabá: a importância dos peixes migradores). Acta Amazonica, v. 16. n. 17. p. 87-94.

Froese, R. & A. Torres. 1999. Fishes Under Threat: An Analysis of the Fishes in the 1996 IUCN Red List. R.S.V. Pullin, p.131-144.

Goddard, J. A., & L. C. Redmond. 1986. Stockton lake: prolonging the "boom," managing a new large reservoir with minimum length limits. In Hall, G. E. and M. J. Van Den Avyle (eds). Reservoir fisheries management: Strategies for the 80's. pp 203- 210

Godinho, A. L. & B. Kynard. 2006. Migration and Spawning of Radio-Tagged Zulega Prochilodus argenteus in a Dammed Brazilian River. Transactions of the American Fisheries Society, v.135, p.811-824.

Godinho, A. L. & B. Kynard. 2008. Migratory fishes of Brazil: Life history and fish passage needs. River Research and Applications.

Godinho, A. L.; B. Kynard & C. B. Martinez. 2007a. Supplemental water releases for fisheries restoration in a brazilian floodplain river: a conceptual model. River Research and Applications, v.23, n.9, p.947-962.

Godinho, A. L.; B. Kynard & H. P. Godinho. 2007b. Migration and spawning of female surubim (Pseudoplatystoma corruscans, Pimelodidae) in the Sao Francisco river, Brazil. Environmental Biology of Fishes, v.80. p. 421-433.

Godinho, A. L. & P. S. Pompeu. 1999a. A importância dos ribeirões para os peixes de piracema. In: Godinho, H, P & A. L. Godinho. (eds) Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas. 361-372p.

Godinho, H, P & A. L. Godinho. (eds). 1999. Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas. 458p.

52  

Page 64: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Godinho, H. P.; A. L. Godinho & V. Volney. 1999b. Peixes da bacia do rio Jequitinhonha. In: Lowe-McConnell, R.H. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. São Paulo: Edusp. pp. 414-423.

Godoy, M. P. 1954. Locais de desovas de peixes num trecho do rio Mogi Guaçu, Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Biologia, v.14, p.375–396.

Gomes L. C. & A. A. Agostinho. 1997. Influence of the flooding regime on the nutritional state and juvenile recruitment of the curimba, Prochilodus scrofa, Steindachner, in upper Parana River, Brazil. Fisheries Management and Ecology, v.4, p.263–274.

Gore, J. A. & J. F. D. Shields. 1995. Can large rivers be restored?, BioScience, v.45, n.3, p.142-152.

Harvey, B. & J. Carolsfeld. 2003. Introduction: fishes of the floods. In: Carolsfeld, J., J. Harvey; C. Ross & A. Baer (eds). 2003. Migratory fishes of South America: biology, fisheries and conservation status. Victoria, Canada: International Development Research Centre and The World Bank: pp. 1-18.

Hoffmann, A. C.; M. L. Orsi & O. A. Shibatta. 2005. Diversidade de peixes do reservatório da UHE Escola Engenharia Mackenzie (Capivara), Rio Paranapanema, bacia do alto rio Paraná, Brasil, e a importância dos grandes tributários na sua manutenção. Iheringia, Sér. Zool., v.95, n.3, p.319-325.

Junk, W. J.; P. B. Bayley & R. E. Sparks. 1989. The Flood Pulse Concept in River-Floodplain Systems. Can. Spec. Publ. Fish. Aquat. Sci., p.110-127.

Kimmel, B. L. & W. Groeger. 1986. Limnological and ecological changes associated with reservoir aging. In: Hall, G. E. and M. J. Van Den Avyle (eds). Reservoir fisheries management: Strategies for the 80's. pp. 103:-109

Koel, T. M. & R. E. Sparks. 2002. Historical patterns of river stage and fish communities as criteria for operations of dams on the Illinois River. River Research and Applications, v.18, p.3-19.

Kohler, H. C. 2003. Aspectos geológicos da bacia hidrográfica do São Francisco (primeira aproximação na escala 1:1 000 000). In: Godinho, H, P & A. L. Godinho. (eds) Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas. 25-36p.

Ligon, F. K.; W. E. Dietrich & W.J. Trush. 1995. Downstream ecological effects of dam, BioScience,v.45, n.3, p.183-192.

Lopes, C. A.; E. Benedito-Cecilio & A. A. Agostinho. 2000. The reproductive strategy of Leporinus friderici (Characiformes, Anostomidae) in the Paraná River basin: the effect of reservoirs. Revista Brasileira de Biologia, v.60, n.2, p.255-266.

Lowe-McConnell, R. H. 1999. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. São Paulo: Edusp. 534p.

Lucas, M. C. & E. Baras. 2001. Migration of freshwater fishes. Oxford: Blackwell Science Ltd. 440p.

Noble, R. L. 1986. Management of reservoir fish communities by influencing species interactions: predator-prey interactions in reservoir communties. In: Hall, G. E. and M. J. Van Den Avyle (eds). Reservoir fisheries management: Strategies for the 80's. pp 137-143

53  

Page 65: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

Neto, F. R. A. 2008. Migração e conservação do dourado (Salminus franciscanus, Lima & Britski 2007) em um trecho do rio São Francisco. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais. 64p.

Petrere Junior, M., 1985 Migraciones de peces de agua dulce en America Latina: algunos comentarios. COPESCAL Doc.Ocas., (1):17 p.

Petrere-Jr., M. 1996. Fisheries in large tropical reservoirs in South America. Lakes & Reservoirs: Research and Management, v.2, n.1-2, p.111-133.

Pinto, M. T. C.; L. W. Yu & F. A. B. Barbosa. 2003. Dinâmica mineral na interface terra-água no alto São Francisco. In: Godinho, H.P. & A. L. Godinho (eds.). Águas, peixes e pesca no São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, CNPq/PADCT CIAMB III. 2003. p.51-70.

Pompeu, P. S. & C. B. Martinez. 2007. Efficiency and selectivity of a trap and truck fish passage system in Brazil. Neotropical Ichthyology, v.5, n.2, p.169-176.

Pompeu, P. S. & C. B. Martinez. 2006. Variações temporais na passagem de peixes pelo elevador da Usina Hidrelétrica de Santa Clara, rio Mucuri, leste brasieliro. Revista Brasileira de Zoologia, v.23, n.2, p.340-349.

Prosser, N. S. 1986. An overview of reservoir fisheries problems and opportunities resulting from hydropower. In: Hall, G. E. and M. J. Van Den Avyle (eds). Reservoir fisheries management: Strategies for the 80's. pp 238-246

Quiros, R., 1999. The relationship between fish yield and stocking density in reservoirs from tropical and temperature regions. In Tundisi, J. G. & M. Straskraba (eds) Theoretical Reservoir Ecology and its Applications. Leiden: IIE, Brazilian Academy of Sciences. Backhuys Publishers. 585 pp.

Richter, B. D.; J. V. Baumgartner; R. Wigington & D. P. Braun. 1997. How much water does a river need? Freshwater Biology. v. 37. p. 231–249.

Rizzo, E.; Y. Sato; R. M. A. Ferreira; H. Chiarini-Garcia & N. Bazzoli.1996. Reproduction of Leporinus reinhardti Lütken, 1874 (Pisces: Anostomidae) from the Três Marias Reservoir, São Francisco river, Minas Gerais, Brazil. Ciência e Cultura, v.48, p.189–192.

Sato Y. & Godinho H.P. 2003. Migratory fishes of the São Francisco River. In: Carolsfeld, J., J. Harvey; C. Ross & A. Baer (eds). 2003. Migratory fishes of South America: biology, fisheries and conservation status. Victoria, Canada: International Development Research Centre and The World Bank: pp. 195-232.

Sato, Y. & H. P. Godinho. 1988. A questão do tamanho de primeira maturação dos peixes de Três Marias, MG. In: Coletânea de resumos dos encontros da Associação Mineira de Aqüicultura (AMA): 1982-1987, 1988. Resumos. Brasília : CODEVASF: p. 93-94.

Sato, Y; N. Bazzoli; E. Rizzo; M. B. Boschi & M. O. T. Miranda. 2005. Influence of the Abaeté River on the reproductive success of the neotropical migratory teleost Prochilodus argenteus in the São Francisco River, downstream from the Três Marias Dam, southeastern Brazil. River Research and Applications, v.21, p.939–950.

Sato, Y.; E. L. Cardoso; J. C. C. Amorim. 1988. Peixes das lagoas marginais do rio São Francisco a montante da represa de Três Marias (Minas Gerais). Brasília: Codevasf. 3ª Ed. 42p.

Sparks, R. E. 1995. Need for ecosystem management of large rivers and their floodplains, BioScience, v.45, n.3, p.168-182.

54  

Page 66: Raoni Rosa Rodrigues - pos.icb.ufmg.brpos.icb.ufmg.br/pgecologia/dissertacoes/D235_Raoni_Rodrigues.pdf · Primeiro às Forças misteriosas que existem entre o Céu e a Terra, ou acima

 

55  

Sparks, R. E., J. C. Nelson & Y. Yin. 1998. Naturalization of the flood regime in regulated rivers. BioScience, v.48, p.706–720.

Suzuki, H.I. & A. A. Agostinho. 1997. Reprodução de peixes do Reservatório de Segredo. In: Agostinho, A.A. & L. C. Gomes (eds) Reservatório de Segredo - Bases Ecológicas para o Manejo. Maringá: Editora da Universidade Estadual de Maringá, pp. 163-182

Vieira F. & P. S. Pompeu. 2001. Peixamento, uma alternativa eficiente? Ciência Hoje, v. 30, p. 28-33.

Vieira, F. 2006. A ictiofauna do rio Santo Antônio, bacia do rio Doce, MG: proposta de conservação. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais. 101p.

Vono, V. & J. L. O. Birindelli. 2007. Natural historyu of Wartheimeria maculata, a basal doradid catfish endemic to eastern Brazil (Siluriformes: Doradidae). Ichthyological Exploration of Freshwaters, v.18, n.2, p.183-191.

Vono, V. 2002. Efeitos da implantação de duas barragens sobre a estrutura da comunidade de peixes do rio Araguari (Bacia do Alto Paraná, MG). Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 105p.

Vono, V.; L. G. M. Silva; B. P. Maia & H. P. Godinho. 2002. Biologia reprodutiva de três espécies simpátricas de peixes neotropicais: Pimelodus maculatus (Siluriformes, Pimelodidae), Leporinus amblyrhynchus e Schizodon nasutus (Characiformes, Anostomidae) no recém–formado reservatório de Miranda, Alto Paraná. Revista Brasileira de Zoologia, v. 19, p. 819–826.

Welcomme, R. L. 1995. Relationships between fisheries and the integrity of river systems, Regulated Rivers, v.11, n.1, p.121-136.

Winemiller, K. O. 1989. Patterns of variation in life history among South American fishes in seasonal environments. Oecologia, v.81, p.225-241.

Zamboni-Filho, E. & U. H. Schulz. 2003. Migratory fishes of the Uruguay River. In: Carolsfeld, J., J. Harvey; C. Ross & A. Baer (eds). 2003. Migratory fishes of South America: biology, fisheries and conservation status. Victoria, Canada: International Development Research Centre and The World Bank: pp. 157-195.