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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ECONOMIA
MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Elizangela Beckmann
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DO ARROZ DE MATO GROSSO:
Impactos do Setor de Beneficiamento na Economia Regional em 2011
CUIABÁ - MT
2011
ii
Elizangela Beckmann
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DO ARROZ DE MATO GROSSO:
Impactos do Setor de Beneficiamento na Economia Regional em 2011
Dissertação apresentada ao Curso de Pós
Graduação Stricto Sensu da Universidade
Federal de Mato Grosso como requisito parcial
para a aprovação no Mestrado em
Agronegócios e Desenvolvimento Regional.
Orientador: Prof. Dr. Dilamar Dallemole
CUIABÁ - MT
2011
iii
B394e Beckmann, Elizangela.
Estudo da cadeia produtiva do arroz de Mato Grosso: impactos do setor de
beneficiamento na economia regional em 2011 / Elizangela Beckmann. – 2011.
100 f. : il. color.
Orientador: Prof. Dr. Dilamar Dallemole.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade
de Economia, Pós-Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional,
2011.
Bibliografia: f. 86-89.
Inclui anexos.
1. Arroz – Produção – Aspectos socioeconômicos. 2. Arroz – Cadeia
produtiva – Mato Grosso. 3. Arroz – Beneficiamento. 4. Arroz – Comerciali-
zação – Mato Grosso. 5. Agroindústria do arroz – Mato Grosso. I. Título.
CDU –338.439.4:633.18(817.2)
Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931
iv
Elizangela Beckmann
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DO ARROZ DE MATO GROSSO:
Impactos do Setor de Beneficiamento na Economia Regional em 2011
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Mato Grosso, como parte das exigências do Curso de
Mestrado em Agronegócios e Desenvolvimento
Regional, para a obtenção do título de Mestre.
Aprovada em 20 de Dezembro de 2011.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________ Dr. Dilamar Dallemole
Orientador
____________________________________ Dr. Alexandre Magno de Melo Faria
Membro Examinador Interno
____________________________________ Dr. Alexandre Gonçalves Porto
Membro Examinador Externo
v
AGRADECIMENTOS
À Deus, por ser fonte de equilíbrio e inspiração em todos os momentos;
À minha família, pelo apoio e incentivo incondicional;
Às minhas amigas, em especial à Talita, Luciane e Marina, pelo por estarem presentes nos
momentos de alegria e de dificuldade;
À todas as agroindústrias beneficiadoras de arroz pela boa recepção e disponibilidade das
informações, sem as quais não seria possível desenvolver a pesquisa;
Ao professor Dr. Alexandre Magno de Melo Faria pela contribuição à minha formação
profissional e sugestões à pesquisa;
Ao professor Dr. Dilamar Dallemole pela orientação, confiança e disponibilidade durante o
curso.
vi
RESUMO
Diante da importância da orizicultura no Brasil e em Mato Grosso, o estudo da cadeia
produtiva é relevante por permitir observar a maneira como ocorre a integração de atividades
existentes em um mesmo local, com características em comum. Emerge a necessidade de um
estudo que expresse a atual configuração da respectiva cadeia, seus desafios e potencialidades
para a economia regional. Assim, especificamente, buscou-se descrever a cadeia produtiva do
arroz, mencionando suas características quanto a aspectos socioeconômicos, relacionados à
produção, comercialização e consumo, além de mapear os municípios especializados neste
setor, seja na produção ou no seu beneficiamento. Também, foi avaliado o nível de
organização, gestão, infraestrutura e competitividade da agroindústria do arroz mato-
grossense, por meio de 20 questionários aplicados nas agroindústrias beneficiadoras em
diferentes municípios do estado. O questionário foi composto por 91 questões envolvendo
informações básicas de identificação, produção, comercialização, organização,
competitividade, engenharia, tecnologia e meio ambiente, permitindo a caracterização do
setor na economia de Mato Grosso. A metodologia utilizada para identificar os municípios
especializados na produção e no beneficiamento de arroz no estado foi o Índice de
Concentração Normalizado (ICN) e a Análise Fatorial, utilizada por auxiliar na identificação
dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento da cadeia produtiva com base nas informações
coletadas junto as agroindústrias. Os resultados do mapeamento demonstraram que a maioria
dos municípios que apresentaram especialização na produção de arroz não são os mesmos que
tem especialidade no beneficiamento e fabricação de seus produtos, sendo que apenas três têm
ambos os elos em comum. Ainda, é possível perceber que a maioria dos municípios com
especialização nestas atividades possuem extensão territorial relativamente pequena, com
atividades econômicas pouco diversificadas, o que facilita a possibilidade de apresentarem
especialização em um setor que está presente, mesmo este não sendo de muito destaque a
nível estadual. Atualmente, são 33 beneficiadoras de arroz em funcionamento em Mato
Grosso, sendo que a maioria são de pequeno porte e geridas pela família. A produção é
distribuída em todo estado e cerca de 27% é comercializada com outros estados. Os fatores
identificados foram relacionados a recursos humanos, negociação, produção, custos e
competitividade. Todos os fatores demonstraram variáveis correlacionadas positivamente, ou
seja, que contribuem para o desenvolvimento do setor de beneficiamento do arroz no estado,
tais como, remuneração dos funcionários e preços pagos e recebidos, e variáveis
negativamente correlacionadas, como treinamento e consultoria, estratégia de produto novo e
gasto com produção, as quais precisam de mais atenção no setor. Os resultados alcançados
demonstram a atual configuração da respectiva cadeia, seus desafios e potencialidades,
demonstrando que há uma necessidade de maior integração da cadeia no estado.
Palavras Chave: Arroz; Agroindústria; Análise Fatorial.
vii
ABSTRACT
Given the importance of rice production in Brazil and Mato Grosso, the study of the
production chain is important because it allows to observe the way is the integration of
existing activities in one location, with common characteristics. Context, the necessity of a
study that expresses the current configuration of its chain, and potential challenges to the
regional economy. Thus, specifically, we sought to describe the rice production chain, citing
its characteristics related to socioeconomic aspects related to production, marketing and
consumption, and map the municipalities specialized in this sector, either in production or in
its processing. Also, was measured the level of organization, management, infrastructure and
competitiveness of agroindustry rice Mato Grosso through 20 questionnaires in agroindustries
in different municipalities in the state. The questionnaire was composed for 91 issues
involving basic identification information, production, marketing, organization,
competitiveness, engineering, technology and environment, allowing the characterization of
the sector in the economy of Mato Grosso. The methodology used to identify the
municipalities specialize in production and processing of rice in the state was the Normalized
Concentration Index (NCI) and factor analysis, used to help identify the factors responsible
for the development of the production chain based on information collected from the
agroindustries. The mapping results showed that the majority of the municipalities that had
specialized in the production of rice are not the same that has specialized in processing and
manufacturing of its products, and only three have in common both links. Still, it’s possible to
see that the majority of municipalities with expertise in these activities are relatively small
land area, with poorly diversified economic activities, which facilitates the opportunity to
specialize in a sector that is present, even this is not very prominent at the state. Currently, are
33 rice processing operations in Mato Grosso, and most are small and managed by the family.
The production is distributed in every state and about 27% is sold to other states. The factors
identified were related to human resources, negotiation, production, costs and
competitiveness. All studied variables positively correlated, in the other words, that contribute
to the development of the rice processing industry in the state, such as compensation of
employees and prices paid and received, and negatively correlated variables, such as training
and consulting, product strategy spent on new production, which need more attention in the
sector. The results obtained show the current configuration of its chain, its challenges and
potentials, demonstrating that there is a need for greater integration of the state.
Keywords: Rice, Agroindustry, Factor Analysis.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esquema da Cadeia Produtiva de Produto de Origem Vegetal – Metodologia
Embrapa .............................................................................................................................. 31
Figura 2: Participação Percentual dos Sistemas de Plantio de Arroz na Área e Produção no
Brasil em 2009 ..................................................................................................................... 46
Figura 3: Participação (%) dos Principais Estados Produtores de Arroz no Brasil, dez. de
2009............ ......................................................................................................................... 48
Figura 4: Formação das Beneficiadoras de Arroz em Mato Grosso em 2011 ....................... 52
Figura 5: Mercados à que se Destina o Arroz Beneficiado em Mato Grosso em 2011 .......... 54
Figura 6: Rentabilidade dos Produtos Comercializados pelas Beneficiadoras de Arroz em
Mato Grosso em 2011 .......................................................................................................... 55
Figura 7: Dificuldade de Acesso à Matéria-Prima e ao Mercado em 2011 ........................... 56
Figura 8: Relação das Beneficiadoras com os Fornecedores e Compradores em 2011 ......... 57
Figura 9: Posição das Beneficiadoras no Lançamento de Novos Produtos em 2011 ............. 58
Figura 10: Motivos para Diferenciar e Diversificar a Produção de Arroz em 2011 .............. 58
Figura 11: Logística Utilizada pelas Beneficiadoras em Mato Grosso em 2011 ................... 59
Figura 12: Número de Funcionários das Beneficiadoras de Arroz em 2011 ......................... 60
Figura 13: Despesas Mensais das Beneficiadoras de Arroz de Mato Grosso em 2011 .......... 61
Figura 14: Situação Econômica das Beneficiadoras de Arroz de Mato Grosso nos Últimos
Dois Anos ............................................................................................................................ 62
Figura 15: Acesso ao Crédito pelas Beneficiadoras de Arroz de Mato Grosso em 2011 ....... 63
Figura 16: Nível de Diferenciação e Diversificação em relação aos Concorrentes em 2011 . 64
Figura 17: Gestão das Empresas Beneficiadoras de Arroz em Mato Grosso em 2011 .......... 64
Figura 18: Municípios Especializados na Produção de Arroz em Mato Grosso. ................... 69
Figura 19: Municípios Especializados no Beneficiamento de Arroz e Fabricação de seus
Produtos em Mato Grosso .................................................................................................... 73
Figura 20: Municípios Especializados na Produção de Arroz, no Beneficiamento de Arroz e
Fabricação de seus Produtos ou em Ambas Atividades em Mato Grosso. ............................. 74
Figura 21: Gráfico dos Fatores ........................................................................................................ 77
ix
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1: Principais Usos dos Subprodutos do Arroz........................................................................47
Tabela 1: Área, Produção, Produtividade, Valor da Produção e Preço do Arroz em Mato Grosso
entre 1994 e 2010.......... ................................................................................................................... 49
Tabela 2: Municípios Matogrossenses Especializados na Produção de Arroz ...................... 68
Tabela 3: Municípios Matogrossenses Especializados no Beneficiamento de Arroz e
Fabricação de seus Produtos ................................................................................................. 71
Tabela 4: Comunalidades para o segmento de agroindústrias beneficiadoras de arroz do Estado
de Mato Grosso, 2011. ........................................................................................................... 76
Tabela 5: Variação total explicada para o segmento de agroindústrias beneficiadoras de arroz do
Estado de Mato Grosso, 2011. ................................................................................................ 77
Tabela 6: Matriz de Componentes Rotacionados para o Segmento de Agroindústrias
Beneficiadoras de Arroz do Estado de Mato Grosso, 2011. ............................................................. 78
x
LISTA DE SIGLAS
APL – Arranjo Produtivo Local
CNM - Confederação Nacional dos Municípios
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento
CPA – Cadeia de Produção Agroindustrial
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FIEMT - Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso
IAA - Indústrias Agroalimentares
IAD – Instituto de Desenvolvimento Alemão
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICN – Índice de Concentração Normalizado
IHH - Índice de Hirschman-Herfindahl
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentos
PIB – Produto Interno Bruto
PR - Índice de Participação Relativa
PRODEIC – Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso
QL – Quociente Locacional
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais
SAI - Sistema Agroindustrial
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SEPLAN – Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral
SIAMT - Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Alimentos
SICME - Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia
SINDARROZ - Sindicato da Indústria do Arroz de Mato Grosso
VBP – Valor Bruto da Produção
xi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
2. DESENVOLVIMENTO REGIONAL ........................................................................... 16
2.1 O Desenvolvimento por Encadeamentos ................................................................................ 22
2.2 Cadeia Produtiva...................................................................................................................... 25
2.2.1 Desempenho das Cadeias Produtivas .................................................................................. 33
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 36
3.1 Componentes Principais .......................................................................................................... 38
3.1.1 Índice de Concentração Normalizado.................................................................................. 39
3.1.2 Análise Fatorial ..................................................................................................................... 41
4. A ORIZICULTURA NO ESTADO DE MATO GROSSO ........................................... 45
4.1 A Importância do Arroz em Mato Grosso ............................................................................. 45
4.2 O Perfil das Beneficiadoras de Arroz em Mato Grosso......................................................... 51
5. ANÁLISE LOCACIONAL E PRINCIPAIS FATORES DE DESEMPENHO DO
SETOR ORIZÍCOLA EM MATO GROSSO ................................................................... 67
5.1 Municípios Especializados na Produção e Beneficiamento de Arroz em Mato Grosso ...... 67
5.2 Gestão, Eficiência e Competitividade na Agroindústria do Arroz em Mato Grosso .......... 75
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 86
ANEXOS ............................................................................................................................ 90
1. INTRODUÇÃO
O setor orizícola1 tem destaque na pauta agrícola do estado de Mato Grosso.
Entretanto, são inúmeras as dificuldades enfrentadas, seja no que diz respeito à organização
da cadeia produtiva, ao desenvolvimento de novas tecnologias, à dificuldade de expansão de
terras ou a comercialização e melhor aproveitamento do produto. Além de fatores sazonais,
como clima ou preços, os quais são difíceis de prever.
Dentre as diversas fases do setor agrícola na economia matogrossense, destaca-se na
última década, a crise de 2004/2005, na qual todo o setor agrícola de Mato Grosso sofreu
reflexos negativos. No setor orizícola, especificamente, pôde-se observar que houve perda da
produção nas lavouras devido às chuvas e pragas. Além de uma queda brusca nos preços pelo
excesso de produção e pela valorização do real na época, fatores estes que refletiram na queda
da produção e da renda nos anos seguintes (IBGE, 2011).
De acordo com Lastres (2004), um importante meio para superar as formas de
competitividade espúria (baixos salários, exploração intensiva e exploratória dos recursos
naturais e manipulação das taxas de juros e de câmbio) é investir nos processos de atuação
coletiva. Estes processos podem ser de aprendizagem, cooperação e dinâmica inovativa dos
conjuntos de empresas, e no caso do arroz, dos produtores e agroindústrias beneficiadoras.
Por exigir poucos avanços tecnológicos na produção, o arroz foi muito utilizado em
regiões de cerrado, na exploração de terras para a abertura de áreas nas fronteiras agrícolas,
inclusive em Mato Grosso. Conforme Marta e Figueiredo (2009), no final da década de 1970
e início dos 1980, o arroz havia assumido como cultura hegemônica e quase exclusiva como
atividade comercial em Mato Grosso, sendo entendida pelo Governo Federal como cultura de
abertura da fronteira agrícola e “amansadora” de terra, tendo assim incentivos compatíveis
com esse tratamento, ou seja, recebia a garantia de preços para proceder a esse processo.
Porém, esse preço era suficiente somente para cobrir os custos, e já nos anos 1980, com
avanços tecnológicos, a soja passou a ser um cultivo mais rentável no estado, ou seja,
deixava-se de plantar arroz por soja.
1 Relativo à cultura do arroz, deriva do latim, oryza + colere.
13
Assim, para viabilizar a continuidade da produção de arroz no estado é necessário que
cada segmento, produtores rurais, fornecedores de insumos, agroindústrias, instituições de
ensino e pesquisa, entre outros, saibam seu papel dentro da cadeia produtiva do setor. O
fortalecimento desta pode contribuir para que o setor como um todo se desenvolva com maior
firmeza no estado, evitando prejuízos e queda na produção, tais como o ocorrido na crise de
2004/2005.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), a
produção de arroz no estado de Mato Grosso na safra 2004 foi de 2 milhões de toneladas,
sendo que a partir de então teve queda de mais de 50%. Sendo que, em 2008 a produção de
arroz foi de 682,5 mil toneladas, em 2009 de 792,6 mil toneladas e em 2010 cerca de 687,1
mil toneladas.
Tendo em vista que a maior parte da produção de Mato Grosso ainda é comercializada
in natura, se houver uma maior ligação entre produtores e as agroindústrias, ou mesmo entre
as próprias agroindústrias, seria possível melhor aproveitamento da produção, lembrando
ainda que os subprodutos agregariam valor ao grão. A partir do grão produzido nas lavouras
agrícolas é possível obter produtos para consumo humano e animal, seja beneficiando o grão
ou os seus subprodutos. Do beneficiamento resultam o arroz polido e o parboilizado, restando
os fragmentos de grão quebrado, o farelo e a casca, que podem ser transformados em outros
subprodutos e utilizados como fonte de energia, o que evitaria desperdícios e diminuiria a
poluição do meio ambiente nas regiões produtoras (LUDWIG, 2004).
Apesar da crise e de ter diminuído a participação do arroz no cenário agrícola
matogrossense, o cultivo ainda tem espaço entre os quatro principais produtos agrícolas do
estado, o que demonstra que os produtores, mesmo com prejuízos, permaneceram produzindo
(SEPLAN, 2011). Entretanto, verifica-se a falta de organização do setor no que diz respeito à
integração de todos os envolvidos, o que dificulta o poder de negociação de preços na compra
de insumos e na venda da produção final. Assim, torna-se necessário estudar a cadeia
produtiva do arroz no estado, focando na agroindústria, a fim de verificar sua organização e
apontar possibilidades que contribuam para a economia regional, fortalecendo aspectos
econômicos, sociais e ambientais, dos locais potenciais, tanto no cultivo quanto no
beneficiamento,
Por meio de maior integração da cadeia produtiva do arroz pode-se buscar o avanço na
introdução de novas tecnologias de produção, seja de novas variedades adaptadas ao clima
14
local, de melhoria na qualidade do grão, uso de técnicas de aproveitamento de resíduos e
produção de subprodutos, ou no uso de maquinário mais eficiente, além de tecnologias de
semente que tornem a produção viável em terras já cultivadas e naquelas ainda não cultivadas.
Assim, evita-se o desmatamento, pois com as leis ambientais e a impossibilidade de expansão
de terras, este setor enfrentará dificuldades para manter-se funcionando e suprir a demanda.
Com a integração da cadeia produtiva para frente e para trás, torna-se possível a
comercialização do produto e a compra de insumos com melhor poder de negociação por
parte dos produtores rurais e consequentemente melhora-se a renda do setor.
O estudo das cadeias produtivas tem se tornado cada vez mais relevante devido a uma
necessidade de se observar a maneira como ocorre a integração de atividades existentes em
um mesmo local, com características em comum, ou seja, ligadas ao mesmo setor e os
impactos causados na socioeconomia local. Diante disso, o objetivo deste estudo é analisar a
cadeia produtiva do arroz de Mato Grosso, principalmente o elo agroindustrial, com intuito de
identificar suas contribuições para a economia regional.
Especificamente, pretende-se descrever a cadeia produtiva do arroz no estado,
mencionando suas características quanto aos aspectos socioeconômicos relacionados à
produção, comercialização e consumo. Também, mapear os municípios especializados, seja
na produção de arroz ou no seu beneficiamento e avaliar o nível de organização, gestão,
infraestrutura e competitividade da agroindústria do arroz de Mato Grosso.
Sabendo que no estado há um número significativo de empresas/produtores rurais que
atuam em torno da produção e beneficiamento do arroz, subentende-se que uma melhor
integração dos elos desta cadeia pode ampliar suas possibilidades de produção e
comercialização. Justifica-se então a necessidade deste estudo, a fim de verificar seus desafios
e potencialidades, sendo que é preciso analisar como os níveis de integração entre os elos da
cadeia produtiva e sua organização interferem no desempenho de cada segmento e contribuem
para a economia regional. A integração da cadeia possibilita uma dinâmica diferenciada em
relação aos tradicionais instrumentos de política regional, devendo envolver diferentes esferas
do poder público na sua consolidação e desenvolvimento.
Do ponto de vista científico surge a necessidade de se elaborar um estudo sobre a
cadeia produtiva do arroz no estado, focando nos principais municípios produtores e
beneficiadores, a fim de demonstrar que a integração dos elos pode contribuir para a melhoria
da economia regional, seja por meio da primeira transformação, pela produção de produtos
15
mais elaborados, ou mesmo pelo aproveitamento de resíduos como fonte de energia ou para
produção de subprodutos.
16
2. DESENVOLVIMENTO REGIONAL
No século XIX, mediante problemas sociais, surgiram as primeiras discussões sobre
desenvolvimento. Para Furtado (1983), o processo de desenvolvimento ocorre por influência
de fatores exógenos, ou seja, com a criação de um padrão mais elevado de consumo cria-se a
necessidade de intercâmbio que, por sua vez, vai fortalecer a especialização geográfica e a
divisão do trabalho.
Nesse processo ocorre a criação, distribuição e acumulação dos excedentes por uma
minoria. Entretanto, se o resultado do aumento da produtividade fosse distribuído com o
conjunto da sociedade, não havendo acumulação de excedentes pela minoria, haveria apenas
uma elevação no consumo e a economia passaria de um ponto estacionário a outro
(FURTADO, 1983).
Se os benefícios do desenvolvimento devem ser para todos os indivíduos, a localização
destes, dos recursos naturais e de algumas atividades é fundamental, pois as localizações
condicionam o desenvolvimento e este é condicionado pelas localizações. A partir dos estudos
localizados é possível chegar às preocupações mais gerais das assimetrias regionais às escalas
dos países (LOPES, 1995).
Assim, pode-se dizer que as discussões sobre desenvolvimento regional ocorrem
paralelamente às discussões de crescimento e desenvolvimento e que há uma inter-relação
entre ambos. Conforme Schumpeter (1982), o desenvolvimento difere do crescimento por
apresentar características qualitativas em seu processo.
As formulações teóricas sobre desenvolvimento regional evoluíram levando em
consideração duas tendências: a primeira, que faz com que as regiões deixem de ser vistas
isoladamente e, a segunda, que considera e acrescenta uma abordagem multidisciplinar dos
estudos. No estudo do desenvolvimento, é importante caracterizar o todo sem descaracterizar
as partes, sendo que estas partes quando comparadas, revelam um conjunto de elementos
semelhantes, entretanto, que diferirão em termos de escala e/ou hierarquia (LOPES, 1995).
Assim, para compreender a Economia Regional é necessário esclarecer os conceitos de
espaço, economia espacial e regiões. A economia espacial refere-se às questões como “o que”,
“onde” e “por que”, estuda a especificidade de cada atividade econômica e sua localização em
relação às demais atividades. Questiona problemas de proximidade, concentração de
17
atividades, dispersão, semelhanças e diferenças na distribuição geográfica destas atividades
(HADDAD, 1989).
É o que Perroux (1967) chama de espaços econômicos ou conjuntos abstratos formados
por relações referentes aos fenômenos econômicos, sociais, institucionais e políticos, de
maneira interdependente. São características do espaço econômico: i) definido por um plano
ou programa de ação; ii) como um campo de forças e iii) como um agregado homogêneo.
A análise espacial diferencia dentro do processo a análise locacional da análise regional.
Para a primeira, dá-se um enfoque microeconômico, a partir de ferramentas marginalistas
convencionais ou próprias, como o triângulo weberiano. Para a segunda o campo de
operacionalidade é mais amplo, podendo até serem empregadas ferramentas
macroeconômicas, bem como, estudar sistemas ou subsistemas inter-relacionados ou não entre
regiões (HADDAD, 1989).
Áreas geográficas ou subespaços nacionais são considerados subsistemas inter-
relacionados e constituem o objeto da análise regional. Esta, por conseguinte, pode tratar de
questões estruturais regionais e inter-regionais complexas, englobando aspectos locacionais ou
referentes à organização das estruturas espaciais (HADDAD, 1989).
Assim, o elemento básico da análise regional aborda o conceito de região, que não
possui uma definição universal aceita. Tal conceito deve ser dinâmico, pois as estruturas
regionais modificam-se no tempo (HADDAD, 1989). Mas, uma definição de região aceita
por muitos estudiosos diz que, a escolha de seus limites, estrutura interna e hierarquização
dependem da proposta de análise e do problema a ser analisado (ISARD, 1960).
Perroux (1967) define região a partir dos espaços econômicos e suas funções de
polarização, planificação e homogeneidade estrutural. As relações econômicas entre os
elementos econômicos definem o grau de integração dos espaços econômicos e são
responsáveis pela formação de três diferentes tipos de região.
Quando os espaços econômicos se apresentarem como conteúdo de um plano, há uma
tendência de configuração de uma região plano ou planificada. Quando os espaços
econômicos apresentarem-se como campos de força, emergirá uma região polarizada e quando
estes espaços forem surgindo de forma homogênea, há uma tendência de que a região também
seja homogênea (PERROUX, 1967).
Conforme Richardson (1975), são três as categorias de regiões: i) regiões uniformes ou
homogêneas, ii) regiões nodais e iii) regiões de programação e planejamento. A primeira delas
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pode ser definida como “unidades espaciais separadas que podem ser reunidas porque
mostram determinadas características uniformes”. Essa definição de região homogênea leva
em consideração “que as áreas geográficas podem estar ligadas como uma região única
quando partilham de características uniformes”. Tais características podem estar relacionadas
à estrutura de produção, padrões de consumo, tipografia, clima, etc.. (RICHARDSON, 1973).
Quanto às regiões nodais ou polarizadas, são analisadas a interdependência dos
diferentes componentes dentro da região. Visualizam-se neste tipo de região, laços funcionais
limitados e o fator distância é levado em consideração. Para muitos analistas as regiões nodais
são as verdadeiras regiões da terra, pois, apesar de heterogêneas, estão intimamente
relacionadas funcionalmente. Apresentam conexões claras dos fluxos populacionais, de bens,
comunicações ou tráfego, que não ocorrem aleatoriamente, muito menos, uniformemente
(RICHARDSON, 1975).
Nas regiões nodais, os fluxos tendem a se concentrar nos grandes centros regionais, que
passam a controlar e polarizar toda a região. Tais fluxos de polarização podem apresentar-se
da seguinte forma: i) distribuição por atacado e varejo dos bens; ii) movimento de carga e de
passageiros; iii) densidade das comunicações telefônicas; iv) área abrangida por serviços
sociais; v) áreas de atração de mão-de-obra e/ou vi) domicílio de estudantes e instituições
educacionais (RICHARDSON, 1975).
A região denominada metropolitana é um exemplo importante de região nodal, pois
apresenta um ou mais centros de controle, povoados distantes dos centros, bem como, vias de
transportes que irradiam do centro. Em regiões mais distantes serão visualizadas comunidades
satélites que terão uma relação com o centro, por exemplo, através do fluxo de trabalhadores
(RICHARDSON, 1975).
Na medida em que há crescimento econômico, há um aumento das relações entre as
unidades da região, reforçando os fluxos já existentes, causando assim, uma ampliação da
interdependência. Cabe lembrar, que em muitas vezes, quando a interação está abaixo do nível
aceitável, os limites da região metropolitana dão lugar a zonas rurais e entre elas pode haver
uma espécie de região de transição totalmente desligada de qualquer região nodal definida
(RICHARDSON, 1975).
Quanto à região de planejamento ou propagação, geralmente são definidas
estrategicamente pelos governos como jurisdições políticas suficientemente flexíveis quanto
19
ao seu funcionamento. Desempenham tarefas específicas de caráter nacional ao mesmo tempo
em que buscam organizar os órgãos administrativos regionais (RICHARDSON, 1975).
Para evitar que sejam definidas inadequadamente, deve-se pensar a instituição destas de
acordo com a sua composição natural, respeitando sua influência econômica e relações
funcionais. Caso contrário, o planejamento pode se tornar ineficaz em áreas com maior grau
de interdependência (RICHARDSON, 1975).
O planejamento pode ocorrer tanto em regiões homogêneas quanto em nodais,
dependendo da natureza da pesquisa, pois em ambas há fluxo de polarização entre os centros.
Entretanto, deve-se tomar cuidado quando o sistema regional for desequilibrado, apresentando
uma ou outra região muito grande e altamente desenvolvida, juntamente com outras menores e
com grau inferior de desenvolvimento (RICHARDSON, 1975).
Já foram especificados alguns dos principais problemas quanto à composição das
regiões, entretanto, a escolha dos indicadores também requer certa atenção, pois em muitos
casos o ideal passa a ser o possível. Existem duas maneiras de sistematizar indicadores: tomá-
los isoladamente ou em conjunto. Quando se trabalha apenas com um indicador a análise
torna-se simplificada e de mais fácil manejo, entretanto, os resultados ficam validados apenas
por este indicador. Para efeito de comparação é possível utilizá-lo como média, que pode ser
relacionada com cada uma das regiões especificadas (LOPES, 1995).
Uma ferramenta importante para a identificação da importância de um indicador dentro
da região ou do conjunto de regiões é o Quociente de Localização - QL, que possui como
valores mínimos e máximos 0 (zero) e 1 (um). Quando for igual a zero, denota-se a ausência
do setor j na região i. Entretanto, esse valor é tido apenas como valor de referência, quanto
mais próximo de um, maior o grau de localização do fenômeno na região (LOPES,1995).
Isard (1956) trata a questão da concentração dentro da região, mencionando que as
firmas, por meio da aglomeração, lucram a partir da exploração das relações industriais,
através da poupança nos custos de transporte, pelo aumento do tamanho econômico e
aquisição de matéria-prima. Isto ocorre pelo fato das economias serem maiores nestes centros
e, por isso, existem facilidades comerciais, a partir de um mercado mais desenvolvido.
O primeiro teórico que trabalhou a questão da aglomeração foi Weber, em 1909. Este
autor examinou o referido fenômeno a partir das economias de localização de HOOVER, em
que as escalas de produção são vistas como externas às firmas, porém, internas às indústrias
(RICHARDSON, 1973).
20
Apesar de suas contribuições para o entendimento do processo de aglomeração, a teoria
de Weber exclui fatores institucionais como juros, seguros, impostos, além de que, não é de
fácil operacionalidade embora a função de aglomeração seja difícil de quantificar
(RICHARDSON, 1973).
Os custos de transporte são outro ponto importante na análise locacional e regional. Nas
primeiras análises da teoria locacional, a localização considerada ótima, era aquela que
minimizava os custos de transporte, entretanto, muitas vezes, eram parciais, porque
ignoravam as variações nos demais custos de produção ou na demanda (RICHARDSON,
1975).
Para Weber (1929), os custos com transporte são decisivos na determinação das
preferências de localização. Considera que tais custos são provenientes de uma função que
relaciona o peso físico a ser transportado com a distância a ser percorrida. Da mesma forma
que Richardson, o ponto escolhido será aquele que minimiza os custos de transporte.
Outro fator influente na localização, citado por Weber (1929), é a mão-de-obra. Existem
centros onde os custos da mão-de-obra são mais favoráveis à produção de determinados
produtos e, por isso, atraem indústrias; o faz paralelamente a custos totais de transportes
mínimos a partir da localização desta mão-de-obra mais barata. Trata-se de uma reorientação
industrial influenciada pela mão-de-obra sem que exceda o custo adicional de transporte que
onera a empresa, quando ela sai do ponto de custo mínimo de transportes (WEBER, 1929).
A análise de aglomeração feita por Weber (1929) considera os custos de produção
relacionados à transporte e mão-de-obra como relevantes na determinação da localização das
empresas, porém a diferença nos custos de produção pode não ser suficiente para tornar as
empresas competitivas no mercado ou aglomerá-las em uma determinada região. Assim, é
necessário se considerar outros fatores que podem influenciar a localização, tais como os
aspectos relacionados às vantagens competitivas abordadas por Michael Porter, em sua obra “
A vantagem Competitiva das Nações” (PORTER, 1993). O autor ressalta que se deve levar
em conta as diferentes fontes de vantagens competitivas e não depender de uma única fonte,
como matéria-prima, mão-de-obra ou economias de escala, tendo por base somente os custos
de produção.
Com a globalização certas atividades ou cadeias de produção vão além das fronteiras
nacionais, destacando outro ponto importante na competitividade: a diferenciação (PORTER,
1993). O autor explica como uma determinada atividade produtiva obtém êxito internacional a
21
partir da criação das vantagens competitivas. Trata-se da competitividade sistêmica,
desenvolvida, inicialmente, pelo Instituto Alemão de Desenvolvimento (IAD) e, do diamante
de Porter.
A competitividade sistêmica é baseada em um polígono de interação, com níveis de
competição denominados vértices: i) nível meta, determinado pelas estruturas básicas de
organização jurídica, política e econômica, capacidade social de organização e integração e
capacidade dos atores de interagirem estrategicamente; ii) nível macro, determinado por
mercados de fatores eficientes, bens e capitais; iii) nível meso, determinado por políticas de
apoio específico, formação de estruturas e articulação de processos de aprendizagem e iv)
nível micro, determinado pela busca simultânea por parte das empresas da eficiência,
qualidade, flexibilidade e rapidez de reação, em redes de colaboração.
O diamante de Porter é definido a partir da interação entre quatro determinantes: i)
condições de fatores, ii) condições da demanda, iii) indústrias correlatas de apoio e iv)
estratégia, estrutura e rivalidade da empresa. Neste estudo, são mais relevantes as condições
de fatores, condições de demanda e estratégia, estrutura e rivalidade da empresa.
Para Porter (1993), os fatores mais importantes na geração das vantagens competitivas
não são herdados e sim criados. Desta forma uma região que não tenha fatores indispensáveis
à competitividade não está condenada a permanecer assim definitivamente. O autor considera
que os fatores terra, trabalho e capital são muito amplos para explicarem a criação das
vantagens competitivas. Tais fatores podem ser expressos de forma mais detalhada e
agrupados nas seguintes categorias:
Recursos humanos: engloba a quantidade, capacidade e custos com pessoal, recursos
que podem estar divididos em categorias;
Recursos Físicos: trata-se da qualidade, acessibilidade, abundância e custos dos
recursos físicos, tais como água, terra, energia, dentre outros. Ainda são considerados a
localização (influencia nos custos de transportes), o clima e o fuso horário;
Recursos de Conhecimento: engloba o estoque de conhecimentos científicos, técnicos
e relacionados ao mercado de bens e serviços, ou seja, todas as instituições e órgãos
relacionados à difusão do conhecimento;
Recursos de Capital: trata-se do custo e do total de capital disponível para financiar a
indústria;
22
Infraestrutura: refere-se á quantidade e a qualidade da infraestrutura disponível,
incluindo opções de lazer, atrativos turísticos da região, ou seja, fatores que afetem a
qualidade de vida da população. O tipo, a qualidade e o valor de uso de uma
infraestrutura interferem no nível de competição.
As condições de demanda, segundo amplo determinante da vantagem competitiva,
“determina o rumo e o caráter da melhoria e inovações pelas empresas do país”. A demanda
pode ser interna ou externa, e possui três atributos significativos: a composição, o tamanho e o
padrão de crescimento (PORTER, 1993).
Da interação dinâmica entre os determinantes do diamante derivam as vantagens
competitivas das firmas. Porter (1993) toma como eixo de análise as vantagens advindas das
relações horizontais entre firmas (clientes comuns, tecnologia, serviços de apoio) localizadas
em uma determinada região, com diversas possibilidades de criar vantagens competitivas
locais.
Este tipo de integração, ao contrário dos fatores tradicionais, geradores de vantagens
comparativas estáticas é responsável pela geração de vantagens competitivas dinâmicas,
baseadas em diferenciações que sejam realmente competitivas. Isto será determinante na
geração do desenvolvimento das regiões, fruto das relações de produção, comércio e
distribuição entre as empresas. Relações estas, geradoras de linkages capazes de integrar os
diferentes elos de uma cadeia produtiva (PORTER, 1993).
2.1 O Desenvolvimento por Encadeamentos
Os locais que apresentem níveis mais elevados de renda atraem das regiões mais
atrasadas, capital e trabalho qualificado, polarizando o processo de desenvolvimento e
realimentando os desequilíbrios. Em contrapartida, os centros, por meio do chamado
“gotejamento” redirecionavam parte da sua renda gerada para as regiões mais atrasadas –
periferias (HIRSCHMAN, 1961).
Esse fenômeno pode ser chamado de desenvolvimento polarizado, em que os efeitos de
dispersão irradiam de pontos espacialmente localizados, transmitindo impulsos a outros
23
pontos com índices de crescimento inferiores. Pode ser considerado uma espécie de
crescimento não balanceado que promoverá o desenvolvimento a partir de certos setores-
chave, os quais são escolhidos com base na rede de encadeamentos e na lucratividade
proporcionada por eles (HIRSCHMAN, 1961).
A medida em que os encadeamentos forem sendo gerados, haverá resposta automática
do mercado, de forma desequilibrada. Assim, o progresso econômico não ocorrerá de forma
equilibrada, mas sim a partir de forças que promoverão a concentração espacial do
desenvolvimento nos locais onde os primeiros investimentos ocorrerem (HIRSCHMAN,
1961).
Então, surgirão centros regionais com níveis de renda mais elevados, implicando em
diferentes níveis de crescimento e desenvolvimento entre as regiões, que embora gerem
tensões ou pressões, são considerados cruciais para o processo de desenvolvimento. Todas as
forças consideradas fundamentais para a geração de desenvolvimento tenderão a se alocar nas
regiões privilegiadas, fazendo com que as demais enfraqueçam (HIRSCHMAN, 1961).
Dentro dessa dinâmica, o sistema como um todo não tende para o equilíbrio e sim, faz
com que a região pobre fique cada vez mais pobre e a região rica, cada vez mais rica, pois o
movimento de capital tende a fomentar este processo acumulativo (MYRDAL, 1957).
Nas regiões onde ocorrer esta expansão da atividade econômica haverá melhor
infraestrutura, com o desenvolvimento mais acentuado dos serviços básicos, mão-de-obra
qualificada e possibilidades de custos menores, fatores que favorecem o processo de
acumulação e aumento na renda. Assim, sucessivamente, ocorrerão elevações na demanda,
que por sua vez, atrai um novo ciclo de investimento (HIRSCHMAN, 1961).
Nesse sentido, ocorre o que Hirschman (1961) denomina desenvolvimento não
equilibrado, em que o progresso de algumas regiões pode gerar pressões sobre outras,
podendo até promover o desenvolvimento subsequente. Se esta tendência levar em
consideração os limites geográficos demarcados, ocorrerá uma subdivisão de uma economia
em regiões progressistas ou atrasadas (HIRSCHMAN, 1961).
Levando em consideração Myrdal (1957), as regiões mais progressistas tendem a se
desenvolverem cada vez mais em cada ciclo, devido a sucessivos aumentos nas taxas de
investimentos e, esta passa a ser o local preferido pelo capital, devido a sua capacidade
logístico-operacional, consequência do próprio desenvolvimento. Trata-se de um círculo
24
virtuoso que dará a estas regiões progressistas o status de pólos de desenvolvimento
(HIRSCHMAN, 1961).
A definição de região polo foi elaborada por Perroux (1967) a partir dos espaços
econômicos polarizados, dentre os quais existem campos de forças funcionais que emanam
efeitos concentradores ou dispersores. Quando os efeitos concentradores são superiores há
uma tendência de concentração da atividade econômica nestes espaços, os quais se tornarão
regiões polos ou potenciais. Quando causam crescimento, há aumento da renda e estes
espaços são caracterizados como polos de crescimento. E, quando ocorrem transformações
estruturais em toda a região estes espaços são denominados de pólos de desenvolvimento
(PERROUX, 1967).
Surgem elos entre as regiões, baseados nas relações comerciais inter-regionais no
processo produtivo, no fornecimento de mão-de-obra, bens e serviços, de modo que os
impactos, positivos ou negativos, ocorridos nas regiões progressistas passam a afetar as
regiões atrasadas e vice-versa (HIRSCHMAN, 1961).
Isto ocorre devido à interligação das atividades econômicas regionais, analisado por
Hirschman (1961) a partir do conceito de encadeamento. Trata-se do estudo das articulações
de elos entre as atividades integrantes da estrutura produtiva de uma economia, bem como,
das regiões.
Para Hirschman (1961), existem dois tipos de efeitos em cadeia: o prospectivo e o
retrospectivo. No efeito prospectivo, “toda atividade que, por sua natureza, não atenda
exclusivamente às procuras finais, induzirá a tentativas de utilizar a produção como inputs em
algumas atividades novas”. Significa que todo o bem produzido que não seja para consumo
final, desencadeará um novo processo produtivo a posteriori e assim sucessivamente.
Já para o efeito retrospectivo, “cada atividade econômica não-primária induzirá
tentativas para suprir, através da produção interna, os inputs indispensáveis àquela atividade”.
Este efeito é causado a partir de uma previsão de demanda, em que uma indústria instalada
gera inputs regionais, beneficiando, ou até mesmo, estimulando o surgimento de empresas
satélites, fornecedoras de insumos ou de logística (HIRSCHMAN, 1961).
Os efeitos que novas atividades produtivas podem gerar em uma região são descritos
por Haddad (1999) como:
25
Efeitos de encadeamentos para trás: a partir de uma nova atividade econômica há
uma necessidade de determinadas quantidades de insumos para a produção de
determinadas quantidades de produtos;
Efeitos de encadeamentos para frente: a partir de uma nova atividade econômica
originam-se novos produtos e os benefícios são originados por efeitos sobre as
atividades que utilizam estes novos produtos como insumos em seus processos
produtivos;
Efeitos induzidos: incentivados pela demanda final de bens a partir do aumento da
renda regional;
Efeitos fiscais: incidem sobre as receitas tributárias a partir do aumento na circulação
de mercadoria e expansão do setor terciário, fruto de uma nova atividade econômica
com significativa capacidade de influencia sobre atividades satélites.
Os níveis de importância dos setores somente poderão ser conhecidos a partir de seus
estudos, já que a estrutura produtiva de uma economia ou região é composta por diversas
cadeias, com diferentes articulações entre seus elos. Os efeitos causados por tais articulações
são mais perceptíveis quando analisado o conjunto das indústrias e não cada uma
isoladamente (HIRSCHMAN, 1961).
2.2 Cadeia Produtiva
A agricultura propicia a oferta de produtos aos consumidores finais com a
transformação de insumos e por meio de processos interligados, fazendo então parte do
agrobusiness (agronegócio). Este, por sua vez compõe-se de cadeias produtivas, as quais
possuem sistemas produtivos que operam em diferentes ecossistemas, além de um
conglomerado de instituições de apoio (CASTRO, 2000).
Dentre as mais importantes escolas que estudam as cadeias de prospecção para o
desenvolvimento regional, estão as escolas americana e francesa. No estudo de cadeias de
produção, a escola americana da Universidade de Harvard, representada por Ray Goldberg e
26
John Davis, construiu suas concepções a partir do conceito de Commodity System Approach –
CSA, a qual está ligada ao conceito de agrobusiness, definido como a soma das operações de
produção e distribuição de suprimentos agrícolas, da produção nas unidades agrícolas, do
armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a
partir deles. A partir de então, a agricultura passa a ser abordada de maneira mais ligada aos
demais agentes responsáveis pelas atividades que garantem produção, transformação e
consumo de alimentos (DAVIS e GOLDBERG, 1957 Apud BATALHA, 2007).
Na mesma linha está a escola francesa, com o conceito relacionado à filière, que
significa “fio” e retrata sucessivas etapas do processo produtivo, que se inter-relacionam em
um sistema industrial, englobando desde a obtenção da matéria-prima até a comercialização
do produto final (BORGES, 1993 Apud JAPPUR, 2004). Outro conceito semelhante é
apresentado por Parent (1979) Apud Jappur (2004), o qual define uma filière como a soma de
todas as operações de produção e comercialização, desde o estágio de matéria-prima até o
produto final. E, para Floriot (1982) Apud Jappur (2004), a filière trata-se de uma sucessão de
operações de transformação, que, apesar de separadas, estão ligadas entre si por um
encadeamento de processos e tecnologia.
Há uma distinção de duas categorias de filière: as filières principais, que concorrem
diretamente para a produção de bens para a satisfação dos consumidores e, as filières
auxiliares, que concorrem indiretamente para a produção na medida que são meios
necessários para a realização das funções da filière principal (RUPPENTHAL, 2001). Neste
sentido, Porter (1997) complementa que a distinção entre fins (filière principal) e meios
(filière auxiliar) é a base de toda reflexão estratégica.
A cadeia de produção pode ser compreendida também, como um “conjunto de
relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação,
um fluxo de troca situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes” (BATALHA,
2007). Assim, com a percepção das inter-relações existentes entre os diferentes elos da cadeia
de produção é possível a identificação de seus gargalos, sendo estes pontos chave para
implementação de políticas de toda a cadeia, assim como a identificação das origens de suas
causas, os pontos de estrangulamento da competitividade e também os pontos fortes
(JAPPUR , 2004).
Quanto à cadeia de produção agroindustrial (CPA), Batalha (2007) menciona que esta
é definida a partir de um produto final, sendo encadeada, a montante (para trás) e a jusante
27
(para frente), às várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias para produção.
Pode ser segmentada de jusante a montante em três macrosegmentos: i) comercialização -
empresas que viabilizam o consumo; ii) industrialização - empresas ligadas a transformação
da matéria-prima; iii) produção de matérias-primas - empresas que fornecem matérias-primas
iniciais para outras.
Nesta pesquisa o enfoque principal ocorrerá no segundo macrosegmento, a
industrialização, dado que será verificada a situação socioeconômica das agroindústrias
beneficiadoras de arroz em Mato Grosso. Além disso, pretende-se verificar as inter-relações
da agroindústria com os elos a montante (produtor rural) e a jusante (atacadistas e varejistas),
demonstrando os pontos fortes e as fragilidades do setor.
No macrosegmento industrial existem empresas de primeira, segunda e terceira
transformação, sendo que as empresas de primeira transformação são as responsáveis pelos
primeiros processos de transformação da matéria-prima agropecuária. Os produtos desta
primeira transformação podem ser fornecidos diretamente à comercialização, ou ainda, servir
como matéria-prima para as indústrias usualmente denominadas de segunda e terceira
transformação, as quais promovem a geração de produtos mais elaborados (BATALHA,
2007).
No caso do arroz, a maioria das agroindústrias realizam apenas a primeira
transformação do produto, que já é comercializado ao consumidor final. Porém, atualmente,
devido à tecnologia e à necessidade de inovação assim como melhoria de hábitos alimentares,
o arroz está sendo utilizado na elaboração de produtos com maior valor agregado, ou seja, está
ocorrendo a segunda e terceira transformação, que geralmente ocorre na mesma planta
industrial.
Conforme Morvan (1991), citado em Batalha (2007), são três séries de elementos que
estariam implicitamente ligados a uma visão em termos de cadeia de produção:
1. É uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de ser
separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico;
2. É um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem um fluxo de
troca, situado de montante a jusante;
3. É um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração dos meios de
produção e asseguram a articulação das operações.
28
Para Batalha (2007), as principais aplicações do conceito de Cadeia de Produção
Agroindustrial são:
Metodologia de divisão setorial do sistema produtivo;
Formulação e análise de políticas públicas e privadas;
Ferramenta de descrição técnico-econômica;
Metodologia de análise da estratégia das firmas;
Ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisão
tecnológica;
Análises de competitividade.
Como metodologia de divisão setorial do sistema produtivo utiliza-se de métodos
estatísticos para tentar explicar a formação de ramos e setores, dentro do sistema produtivo. Já
na formulação e análise de políticas públicas e privadas aplica-se o conceito de CPA a fim de
identificar elos fracos de uma cadeia de produção e incentivá-los através de uma política
adequada, além de identificar elos complementares da cadeia e estimular seu desenvolvimento
através de mecanismos governamentais (FERRAZ et al., 1996 Apud BATALHA, 2007).
Como ferramenta de descrição técnico-econômica, a análise de cadeia produtiva é
utilizada para estudar além dos aspectos técnicos (operações de produção e passíveis a essas),
as relações econômicas entre os agentes formadores da cadeia, ou seja, as transações dentro
da estrutura técnica da mesma. Dentro desta forma técnico-econômica a filliére representa a
soma de todas as operações de produção e comercialização que foram necessárias para passar
da matéria-prima ao produto final (FERRAZ et al., 1996 Apud BATALHA, 2007).
E, como metodologia de análise da estratégia das firmas, analisa-se a cadeia enquanto
ferramenta de observação da concorrência, sendo que a estratégia adotada pelos atores da
cadeia é maximizar lucros e se apropriar das margens dos demais atores presentes. A
diversificação da empresa pode ocorrer dentro dos setores ligados às atividades existentes, ou
pela penetração em uma cadeia de produção na qual a empresa está ausente (FERRAZ et al.,
1996 Apud BATALHA, 2007).
Como ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisão, o
conceito de CPA é útil dado que a tecnologia é importante para explicar as estruturas
industriais e o comportamento competitivo das firmas. São necessários mecanismos que
permitam avaliar o impacto destas inovações sobre as atividades e a concorrência. E, por fim,
na análise de competitividade, sendo esta definida como a capacidade de a empresa formular e
29
implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar de forma
duradoura, uma posição sustentada no mercado (FERRAZ et al., 1996 Apud BATALHA,
2007).
Dentro da cadeia de produção agroindustrial podem ser visualizados quatro mercados
com características diferentes: 1) produtores de insumos e os produtores rurais; 2) produtores
rurais e agroindústria; 3) agroindústria e distribuidores; 4) distribuidores e consumidores. Os
mercados que serão foco neste estudo são o segundo e terceiro, ou seja, produtores rurais e
agroindústrias e, agroindústrias e distribuidores.
Um Sistema Agroindustrial (SAI) é definido por Batalha (2007) como um conjunto de
atividades que concorrem para a produção agroindustrial, desde os insumos (sementes,
adubos,...) até a chegada do produto final ao consumidor, sendo que não está associado a
nenhuma matéria-prima ou produto final específico. O SAI é composto por seis atores: 1)
Agricultura, pecuária e pesca; 2) Indústrias agroalimentares (IAA); 3) Distribuição agrícola e
alimentar; 4) Comércio internacional; 5) Consumidor; 6) Indústrias e serviços de apoio.
O enfoque sistêmico da produção agroindustrial é guiado por cinco conceitos chave: 1)
verticalidade - as condições em um estágio são influenciadas pelas condições de outros
estágios do sistema; 2) orientações de demanda - a demanda gera informações que
determinam o fluxo de produtos e serviços através do sistema vertical; 3) coordenação dentro
da cadeia – as relações verticais dentro dos canais de comercialização, incluindo contratos,
mercado aberto, etc; 4) competição entre sistemas – um sistema pode envolver mais de um
canal, exportação e mercado doméstico, por exemplo, sendo necessário entender a competição
entre os canais para melhorar o desempenho econômico; 5) alavancagem – identificar pontos
chaves no processo produção-consumo onde ações podem ajudar a melhorar a eficiência dos
participantes da cadeia (SILVA e BATALHA, 1999).
Já o complexo agroindustrial tem como ponto de partida determinada matéria-prima
base, por exemplo, complexo da soja, da cana-de-açúcar, do arroz, do leite, e sua formação
exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, cada uma associada a um
produto ou família de produtos.
Um sistema, conforme Silva e Batalha (1999), se caracteriza pelos padrões de
interações das partes e não apenas pela agregação destas. Os sistemas agroindustriais devem
ser geridos de forma eficiente e eficaz, sendo a eficácia, a capacidade que ele possui de
30
atender às necessidades do consumidor, e a eficiência, a gestão interna dos agentes do
sistema, disponibilizando produtos com nível adequado de qualidade e preço.
Existem algumas especificidades dos Sistemas Agroindustriais, tais como
sazonalidade de disponibilidade de matéria-prima, variações de qualidade de matéria-prima,
perecibilidade da matéria-prima, sazonalidade de consumo e perecibilidade do produto final.
E ainda, no gerenciamento de processos e especificidades dos sistemas agroindustriais de
produção, entram fatores como: vigilância sanitária e de preços; problemas de uso e controle
da terra; aspectos culturais, “somos o que comemos” e; impactos tecnológicos (BATALHA,
2007). No sistema agroindustrial do arroz as especificidades estão mais relacionadas à
sazonalidade de matéria-prima, que acarreta em excesso ou falta de produto para agroindústria
processar, tendo assim efeitos sobre os preços, favorecendo ora o produtor, ora a
agroindústria.
De acordo com a metodologia proposta pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), atuam no Sistema Agroindustrial cerca de cinco categorias de
agentes, os quais são constituídos pelos atores destacados na Figura 1 (SCHULTZ, 2001 Apud
SILVA, 2005). Os agentes participantes possuem as seguintes características:
a) Fornecedores de Insumos: Referem-se às empresas que têm por finalidade ofertar
produtos tais como: sementes, calcário, adubos, herbicidas, fungicidas, máquinas,
implementos agrícolas e tecnologias de produção rural;
b) Agricultores: são os agentes cuja função é proceder ao uso da terra para a produção
de commodities tipo: madeira, cereais e oleaginosas. Estas produções são realizadas
em sistemas produtivos como fazendas, sítios ou granjas;
c) Processadores: são agroindústrias que podem pré-beneficiar, beneficiar, ou
transformar produtos in natura. Exemplos: (a) Pré-beneficiamento: são as plantas
encarregadas da limpeza, secagem e armazenagem de grãos; (b) Beneficiamento: são
as plantas que padronizam e empacotam produtos, como: arroz, amendoim, feijão e
milho pipoca; (c) Transformação: são as plantas que processam uma determinada
matéria-prima e a transformam em produto acabado, tipo: óleo de soja, cereal matinal,
polvilho, farinhas, álcool e açúcar.
d) Comerciantes: os atacadistas são os maiores distribuidores que possuem por função
abastecer redes de supermercados, postos de vendas e mercados exteriores. Enquanto
31
os varejistas constituem os pontos cuja função é comercializar os produtos junto aos
consumidores finais.
e) Mercado Consumidor: é o ponto final da comercialização constituído por grupos
consumidores. Este mercado pode ser interno ou doméstico (localizado no país) ou
externo (localizado fora do país). O mercado interno pode ainda ser subdividido em:
nacional, regional e local.
Figura 1: Esquema da Cadeia Produtiva de Produto de Origem Vegetal – Metodologia
Embrapa
Fonte: SCHULTZ (2001) Apud SILVA (2005)
Conforme a Figura 1, os agentes (atores) de um sistema produtivo estão sujeitos a
influências de dois ambientes: o institucional e o organizacional. O primeiro refere-se aos
conjuntos de leis ambientais, trabalhistas, tributárias e comerciais, bem como, às normas e
padrões de comercialização, sendo, portanto, os instrumentos que regulam as transações
comerciais e trabalhistas. E, o ambiente organizacional é estruturado por instituições da área
de influência da cadeia produtiva, tais como: agências de fiscalização ambiental, agências de
crédito, universidades, centros de pesquisa e agências credenciadoras (SCHULTZ, 2001 Apud
SILVA, 2005).
No setor orizícola, o ambiente institucional traz normas relacionadas à padronização
do grão, tais como umidade, quebrado, dentre outras, e o ambiente organizacional tem
instituições de fiscalização, tais como o Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Alimentos
32
(SIAMT), o Sindicato da Indústria do Arroz de Mato Grosso (SINDARROZ), a Federação
das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT), assim como agências de crédito que
auxiliam o setor, seja com recursos para capital de giro ou para investimentos.
A última instância em análise de cadeias produtivas é o modelo denominado Supply
Chain Management, que é adequado quando se buscam medidas a serem implementadas pelas
empresas integrantes do sistema para que se tornem mais competitivas (SILVA e BATALHA,
1999). Foi por volta de 1992, nos Estados Unidos, que surgiu esta nova concepção,
aprimorada a partir da Gestão da Cadeia de Suprimentos – GCS. O Supply Chain
Management retrata a integração dos processos, desde os usuários finais até os fornecedores
originais, numa dinâmica de análise inversa às atuais, estudando atividades e fluxos alinhados
e integrados que visam atender as demandas do mercado, com agregação de valor a bens e
serviços (COOPER; LAMBERT; PAGH, 1997).
Para Batalha (2007), a cadeia de suprimentos, é definida como uma estrutura que
engloba todas as organizações com quem a firma se relaciona direta ou indiretamente, cujo
objetivo é maximizar o lucro da empresa local e de todos os agentes envolvidos. A gestão da
cadeia de suprimento - Supply Chain Management- SCM - pressupõe a interação de todas as
atividades da cadeia mediante melhoria nos relacionamentos entre os diversos elos e agentes,
buscando construir vantagens competitivas. Tem como objeto oferecer maior valor ao cliente,
com o uso adequado de recursos disponíveis, com vistas a obter vantagens competitivas para
toda a cadeia.
De acordo com Wood e Zuffo (1998), Supply Chain Management pode ser definida
como uma metodologia de estudo para alinhamento de atividades produtivas que apresentem
sincronismo. Busca disponibilizar um gerenciamento mais adequado, visando redução de
custos e maximização de receitas, bem como, romper barreiras que interferem no dinamismo
da cadeia.
O Supply Chain Management baseia-se na ideia de que a eficiência ao longo do canal de
distribuição, ou seja, da produção de arroz até o consumidor final, pode melhorar com a troca
de informações e com o planejamento conjunto entre os agentes. No estudo de cadeias
produtivas esse conceito é importante, pois tem foco na coordenação e integração de
atividades relacionadas ao fluxo de produtos, serviços e informações (BOWERSOX e
CLOSS, 1996 Apud SILVA e BATALHA, 1999).
33
Neste estudo a referência conceitual está relacionada aos conceitos de fillière e cadeia
produtiva das escolas americana e francesa, complementado pelos modelos denominados
Commodity System Approach – CSA, ou seja, mais relacionado com a visão macro do sistema
e as medidas de regulação do mercado, e pelo mais recente, Supply Chain Management,
quando se mencionar mecanismos de coordenação da cadeia implementados por seus próprios
integrantes.
2.2.1 Desempenho das Cadeias Produtivas
O desempenho das cadeias produtivas como mencionado por Batalha (2007), está
relacionado dentre outros fatores à competitividade, sendo esta definida de diferentes formas
por diversos autores. Para Farina (1999), do ponto de vista das teorias de concorrência, a
competitividade pode ser definida como a capacidade de sobreviver e, de preferência, crescer
em mercados correntes ou novos mercados. A evolução da participação no mercado, os
custos, a produtividade e a inovação em produto e processo para atender exigências dos
consumidores, são fatores que demonstram a eficiência e explicam o desempenho na
competitividade. E, a competitividade futura, por sua vez é determinada pela capacidade de
ação estratégica e pelos investimentos em inovação de processo e de produto, marketing e
recursos humanos, uma vez que estão associados à preservação, renovação e melhoria das
vantagens competitivas dinâmicas.
No caso do agronegócio existem especificidades que resultam na definição de um
espaço diferente de análise dos convencionais admitidos em estudos de competitividade, a
cadeia de produção agroindustrial, na qual a competitividade não pode ser dada apenas pela
soma da competitividade individual dos seus agentes. Devem ser considerados ganhos de
coordenação na análise de competitividade do conjunto do sistema (SILVA e BATALHA,
1999).
A cadeia de produção agroindustrial orizícola tem sua competitividade mais focada na
localização, seja próximo do consumidor final ou da matéria-prima, e no marketing, pois a
consolidação da marca pode garantir à agroindústria ser mais competitiva e ter maior espaço
34
no mercado. Já a inovação como determinação para competitividade no setor orizícola, apesar
de contribuir, ainda é menos importante, dado que o produto apesar de oferecer
possibilidades de agregação de valor e produção de produtos diferenciados, tem o custo da
inovação elevado e o número de consumidores pequeno.
A competitividade pode ser vista sob dois aspectos. Primeiro, considerando que é o
desempenho de uma empresa ou produto, sendo o principal indicador a participação do
produto ou empresa no mercado (Market Share), e, segundo, a vêem como eficiência, ou seja,
trata-se de medir o potencial de competitividade de uma empresa ou setor pelas suas decisões
estratégicas. Assim, estes autores colocam como conceito de competitividade “a capacidade
da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou
conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” ( FERRAZ et al, 1996
Apud SILVA e BATALHA, 1999).
A análise da competitividade de um setor deve se concentrar nas cinco forças básicas
que atuam em uma indústria: a ameaça de novos entrantes, a ameaça de produtos substitutos,
o poder de negociação dos fornecedores, o poder de negociação dos compradores e a
intensidade da rivalidade dentro do setor. A análise destas forças auxiliam no diagnóstico dos
pontos fortes e fracos em termos de ameaças e oportunidades (PORTER,1997). Destas cinco
forças de Porter, são pertinentes para a análise da competitividade no setor orizícola a ameaça
de novos entrantes, o poder de negociação de fornecedores e de compradores e a rivalidade, já
a ameaça de substitutos não faz sentido ser considerada, já que o produto não possui similar
próximo.
No modelo de competitividade, citado por Porter (1997), são duas as formas de
vantagem competitiva para as empresas se diferenciarem de seus concorrentes: diferenciação
e baixos custos. Mas, pode-se ainda ligar a competitividade a outros fatores, tais como a
economia de escala e escopo, ou seja, a gama de segmentos de mercado visados pela empresa,
à intensidade e adaptação de tecnologias ao negócio da firma, às condições de obtenção dos
insumos e à fatores externos, como outras formas de vantagem na competitividade
(HARRISON e KENNEDY, 1997 Apud SILVA e BATALHA, 1999).
Junto com o conceito de competitividade industrial, Porter traz o conceito de cadeia de
valor na empresa, um modelo que orienta a formulação de estratégias específicas de
competitividade para a oferta de produtos de valor agregado aos clientes. Assim, uma empresa
é competitiva quando o valor que ela impõe aos clientes é superior aos custos necessários para
35
a produção do bem ou serviço, e, a vantagem competitiva de uma organização não depende
apenas das relações internas, mas também das interações com fornecedores e clientes
(TRICHES, 2007).
No caso das cadeias produtivas agropecuárias, devem-se distinguir produtos com
valor agregado daqueles do tipo commodities, dado que a vantagem competitiva para cada um
é diferente. Nas cadeias produtivas de commodities, devido a não diferenciação, a
competitividade é estabelecida por baixos custos, já nas cadeias de produtos de valor
agregado, a vantagem competitiva é estabelecida a partir da qualidade e da imagem de
diferenciação.
Para Farina (1999) o desempenho das firmas está condicionado também à provisão de
um conjunto de bens públicos ou privados, sobre os quais a empresa não tem,
individualmente, controle, sendo a logística um exemplo, já que depende de infraestrutura de
transportes adequada. Tanto para empresas cujo negócio está associado a commodities, como
para firmas com posicionamento estratégico em produtos diferenciados, a logística pode
eliminar ou magnificar suas vantagens competitivas.
Neste estudo, o foco está relacionado à competitividade da cadeia produtiva do arroz
no estado de Mato Grosso, mas principalmente visando analisar a competitividade do setor de
beneficiamento, onde há agregação de valor ao arroz produzido no estado. A competitividade
será analisada conforme informações de comercialização, padrões de diferenciação e
diversificação da produção, estratégias de mercado, relação com fornecedores e com os
concorrentes, dentre outras.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo da cadeia produtiva do arroz em Mato Grosso considerou dados
secundários e informações oficiais do governo do estado e dos municípios, de livros e artigos
de periódicos nacionais e estaduais, além de matérias de jornais e internet. A pesquisa
quantitativa foi baseada em dados secundários de órgãos como a Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE), a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o Sindicato da Indústria do Arroz de Mato Grosso
(SINDARROZ), além de dados obtidos por meio de entrevistas com representantes de
agroindústrias de arroz. Estes dados serão apresentados sob a forma de gráficos e tabelas que
comprovem, de acordo com o perfil agrícola do estado, a necessidade de maior integração da
cadeia produtiva do arroz. Já a pesquisa descritiva qualitativa será utilizada na interpretação
dos dados relativos à caracterização do setor, a fim de dar consistência e embasamento teórico
ao estudo.
Devido ao elevado número de municípios do estado e à dificuldade de acesso a alguns,
fez-se necessário a estimativa de uma amostragem probabilística aleatória simples para as
agroindústrias beneficiadoras de arroz, obtida após o levantamento do número de
estabelecimentos junto ao SINDARROZ. De acordo com este órgão existem, em Mato
Grosso, 33 agroindústrias que beneficiam arroz em 2011.
Para o cálculo da amostra utilizou-se a técnica de amostragem proposta por Toledo,
Martins e Fonseca (1985), para assim estimar um grupo destas empresas capazes de
representar o universo informado, considerando um erro amostral de até 10% para um nível
de confiança de 95%. A referida técnica é determinada a partir da seguinte expressão
matemática:
( )
Em que:
N = total de beneficiadoras de arroz em Mato Grosso;
p = porcentagem com a qual o fenômeno se verifica;
37
q = complemento de p;
z = nível de confiança escolhido;
e = erro amostral permitido;
n = número de beneficiadoras à entrevistar.
Os cálculos para a amostragem determinaram uma amostra de 20 empresas,
considerando os parâmetros informados como suficientes para explicar o universo de
informantes. Os questionários foram elaborados de acordo com o perfil dos entrevistados, os
representantes de agroindústrias beneficiadoras de arroz, contemplando questões relacionadas
à produção, comercialização, engenharia e tecnologia, inovação e meio ambiente, visando
mensurar a situação econômica, social e ambiental do setor no estado.
O questionário contém 91 questões, subdivididas em 11 blocos e pode ser visualizado
no Apêndice. O primeiro bloco, com 17 perguntas, contempla a identificação das
beneficiadoras de arroz, detalhando a formação das empresas, tempo no mercado, localização,
evolução, etc. O segundo, denominado Indicadores de Produção, contém seis questões que
definem quantidade e origem da matéria-prima, dificuldades para produzir, dentre outras. O
terceiro bloco, Linha de Produtos, é formado por nove questões, onde são indicados os
produtos que cada empresa trabalha e questões relacionadas às estratégias de inovação e
diferenciação da produção. No quarto bloco são nove questões sobre quantidade
comercializada, preço, destino da produção e logística, sendo assim denominado Indicadores
de Comercialização. O quinto bloco, Indicadores Sociais, têm questões sobre o número de
funcionários, remuneração e qualificação.
O sexto bloco, Indicadores Organizacionais e de Competitividade, contempla 14
questões sobre inovação, ação cooperada, capacitação e treinamento, gestão, dificuldades de
comercialização e relação com fornecedores. No sétimo bloco, são verificadas as preferências
dos consumidores e dificuldade da agroindústria neste sentido, sendo chamado de
Necessidades dos Consumidores. O oitavo bloco traz três questões de Engenharia, tais como
capacidade produtiva e equipamentos. No nono bloco as quatro perguntas são sobre as fontes
de tecnologia e possíveis projetos de inovação das empresas na estrutura, equipamentos
novos, etc. O décimo contempla 13 perguntas sobre o ambiente institucional, sendo assim
denominado, pois possibilita informações sobre o tipo de gestão, relação entre os elos da
cadeia, apoio do governo e problemas gerais verificados no setor. O último bloco trata de
38
questões relativas ao meio ambiente, sendo possível verificar em nove questões, se há
resíduos e como estes são tratados pelas empresas.
Os questionários foram aplicados no mês de abril de 2011, sendo que são de suma
importância para esta pesquisa, uma vez que darão suporte ao estudo de caracterização da
cadeia e verificação dos pontos críticos à integração. Assim, a técnica de componentes
principais foi utilizada tanto para verificar os espaços especializados quanto para averiguar os
pontos fortes e fracos no desenvolvimento da cadeia produtiva do arroz no estado.
3.1 Componentes Principais
Conforme Crocco et al. (2003) a análise dos componentes principais toma p variáveis
X1, X2..., Xp e encontra combinações lineares das mesmas produzindo os componentes Z1,
Z2..., Zp:
que variam tanto quanto possível para os indivíduos , sujeito à condição:
O objetivo dos componentes principais é explicar a estrutura de variância e
covariância de um vetor aleatório encontrando combinações lineares das variáveis originais.
Para encontrar as variâncias associadas a cada componente, como os coeficientes das
combinações lineares, a técnica dos componentes principais utiliza-se da matriz de
covariância. De acordo com Crocco et al. (2003), a matriz de covariância apresenta-se da
seguinte forma:
39
A soma dos autovalores (α) é igual à soma dos elementos da diagonal principal da
matriz de covariância :
Sendo cii a variância de Xi,, e αi a dos Zi,, a soma das variâncias de todas as variáveis
originais é igual a de todos os componentes (CROCCO et al., 2003).
A técnica de componentes principais foi utilizada por ter como objetivo obter um
pequeno número de combinações de um conjunto de variáveis. No caso do cálculo do Índice
de Concentração Normalizado, para identificar entre os 141 municípios do estado àqueles em
que há maior especialização das atividades de produção e beneficiamento de arroz e, no caso
da Análise Fatorial, para agrupar as variáveis em fatores capazes de demonstrar
potencialidades e fragilidades do setor de beneficiamento.
3.1.1 Índice de Concentração Normalizado
A metodologia utilizada para identificar os municípios especializados na produção de
arroz no estado de Mato Grosso foi o Índice de Concentração Normalizado (ICN), pois de
acordo com Crocco et al. (2003), o ICN é capaz de captar: “ [...] (1) a especificidade de um
setor dentro de uma região; (2) o seu peso em relação à estrutura industrial da região; (3) a
importância do setor nacionalmente; e (4) a escala absoluta da estrutura industrial local”.
O ICN é calculado com base em três parâmetros: Quociente Locacional- QL, Índice de
Hirschman-Herfindahl - IHH e o Índice de Participação Relativa – PR, sendo que são
calculados pesos específicos para cada um destes por meio de um método multivariado, a
análise dos componentes principais.
Para Santana (2004), o Quociente Locacional – QL, permite identificar o nível de
especialização de certa atividade no município em questão, e é definido pela seguinte
expressão matemática:
40
(
)
Em que:
Eij– número de empregos/valor da produção da atividade em questão no município j;
Ej– emprego/valor da produção de todas as atividades que constam no município j;
EiA - total de empregos/valor da produção da referida atividade em Mato Grosso;
EA – emprego/valor da produção de todas as atividades que constam em Mato Grosso.
Existirá a especialização no município se o QL for maior do que um, porém este
parâmetro tem suas limitações, por isto não pode ser o único utilizado para identificar uma
aglomeração (CROCCO et al., 2003).
Para diminuir estes problemas utiliza-se ainda no ICN o Índice de Hirschman-
Herfindahl – IHH, representado pela equação:
[( ) (
)]
O IHH possibilita a comparação do peso da atividade i do município j no setor i de
Mato Grosso em relação ao peso da estrutura produtiva do município j na estrutura do estado.
Se o resultado da equação for positivo, a atividade i do município j em Mato Grosso está mais
concentrada neste local, tendo maior poder de atração econômica, devido ao seu nível de
especialização (SANTANA, 2004).
Um terceiro indicador do ICN trata da participação relativa do setor no emprego/valor
da produção total do setor no estado de Mato Grosso. Pode variar entre zero e um, sendo que
quanto mais próximo de um, maior a representatividade da atividade no estado.
( )
Assim, o ICN é expresso por:
Em que, são os pesos de cada um dos indicadores, que serão determinados pelo
método de análise de componentes principais.
41
Através da matriz de correlação das variáveis, esta metodologia, permite que se
conheça qual o percentual da variância da dispersão total de uma nuvem de pontos é
explicado por cada um dos três parâmetros utilizados (CROCCO et al, 2003).
Os estudos empregam o número de empregos formais para o cálculo deste indicador
estatístico, ou utilizam o Valor da Produção e PIB. Especificamente, para este estudo, foram
utilizados dados do valor de produção do arroz, PIB municipal e estadual para identificar a
concentração espacial da produção, além de dados de empregos formais para a classe da
CNAE- Classificação Nacional de Atividades Econômicas - 10.61-9, a qual se refere ao
Beneficiamento de Arroz e Fabricação de Produtos de Arroz, para identificar a concentração
da atividade de beneficiamento no espaço regional.
Para o cálculo do ICN utilizou-se o software SPSS, que fornece os dados da matriz de
covariância necessários para se obter os pesos e enfim verificar em quais municípios há
especialização da atividade, sendo considerados especializados todos aqueles que tiverem
ICN acima da média. Depois de identificados os espaços especializados, a análise fatorial irá
permitir aprofundar a análise do beneficiamento de arroz, por meio da qual serão apontados os
pontos fortes e fracos deste elo da cadeia.
3.1.2. Análise Fatorial
A utilização da análise fatorial, nesta pesquisa, se fez necessária devido à necessidade
de aprofundar os estudos acerca das agroindústrias beneficiadoras de arroz, por ser esse um
segmento importante e em constante desenvolvimento na cadeia, com significativa influência
sobre os demais. Além da análise quantitativa dos dados primários, a análise fatorial apontou
os fatores mais eficientes e, consequentemente, os que precisam de uma maior atenção no
segmento.
A análise fatorial é um conjunto de métodos estatísticos que auxilia a explicação do
comportamento de variáveis observadas em termos de um número relativamente pequeno de
variáveis latentes ou fatores. É entendida como uma técnica estatística exploratória destinada
a resumir as informações contidas em um conjunto de variáveis em um conjunto de fatores,
42
com o número de fatores sendo geralmente bem menor que o número de variáveis observadas
(REZENDE; FERNANDES; SILVA, 2007).
De acordo com Santana (2005), a análise fatorial busca condensar informações em
uma espécie de resumo, o qual possui capacidade de explicar uma estrutura como um todo. Os
fatores são capazes de explicar dimensões isoladas de uma determinada estrutura de dados ou
uma dimensão do todo.
Para Hair et al. (2005), no modelo de análise fatorial, cada uma das variáveis pode ser
definida como uma combinação linear dos fatores comuns que irão explicar a parcela da
variância de cada variável, mais um desvio que resume a parcela da variância total não
explicada por estes fatores. A parcela explicada pelos fatores comuns recebe o nome de
comunalidade, e a parcela não explicada é chamada de especificidade. As comunalidades
podem variar de 0 a 1, sendo que valores próximos de 0 indicam que os fatores comuns não
explicam a variância e valores próximos de 1 indicam que todas as variâncias são explicadas
pelos fatores comuns.
O modelo de análise fatorial expressa cada variável em termos de fatores comuns. É
representado algebricamente por:
Em que:
= são as variáveis (i = 1, 2,..., p);
= são os coeficientes relacionados a cada fator (i = 1,..., p; j = 1,..., q);
FCj = são os fatores comuns (j = 1, 2,..., q);
ei = são os fatores específicos.
Entretanto, o modelo básico de fatores é comumente representado na forma matricial:
ou,
43
[
]
[ ]
[
] [
]
Em que:
X = é o p-dimensional vetor de variáveis originais, X’ = (x1, x2, ..., xp);
F = é o q-dimensional de fatores comuns, F’ = (f1, f2,..., fq);
E = é o p-dimensional de fatores únicos E’ = (e1, e2,...ep);
= é a matriz (p, q) de constantes desconhecidas.
Como parâmetro para o modelo de análise fatorial foi utilizado o método de rotação
Varimax, pois conforme Hair et al. (2005) este é o método comumente utilizado, o qual
minimiza o número de variáveis, com altas cargas sobre o fator, reforçando a
interpretabilidade dos fatores. O número de fatores foi determinado livremente pelo modelo
para que os mesmos fossem capazes de explicar de forma mais completa os dados coletados.
O teste de Bartlett possibilita testar a hipótese nula de que as variáveis são
independentes contra a hipótese alternativa de que as variáveis são correlacionadas entre si,
sendo determinado pela seguinte expressão matemática:
[
( )] | |
Em que:
= o determinante da matriz de correlação da amostra;
= o número de observações;
= o número de variáveis.
Se a significância do Teste de Bartlett for próxima de zero a hipótese nula será
rejeitada e a análise pode ser realizada (HAIR et al, 2005 e MINGOTI, 2005). E, segundo
Mingoti (2005), para que os resultados da análise fatorial sejam considerados válidos é
necessário que todas as comunalidades sejam superiores a 0,5 e que os fatores estimados
expliquem, pelo menos, 60% da nuvem de dados.
O cálculo dos fatores deste estudo foi feito com base em 13 variáveis do questionário,
sendo elas: funcionários, treinamento e consultoria, gasto com folha de pagamento,
44
remuneração dos funcionários, preço de compra da tonelada de arroz em casca, preço de
venda da tonelada de arroz beneficiado, estratégia de produto novo, idade dos equipamentos,
comercialização de outros produtos, gasto com produção, consulta às preferências dos
consumidores, ociosidade da planta e crescimento da empresa. Para isto, utilizou-se o
software SPSS, que fornece os dados do teste de Bartlett, a Tabela de Comunalidades, a
Variação Total Explicada e os Componentes da Matriz, onde foram especificados os fatores
responsáveis pelo desenvolvimento do segmento agroindustrial da cadeia produtiva do arroz
em Mato Grosso.
45
4. A ORIZICULTURA NO ESTADO DE MATO GROSSO
O setor da orizicultura tem lugar de destaque no agronegócio nacional, pois o arroz é o
segundo alimento mais consumido pelos brasileiros, sendo um cereal de suma importância na
dieta alimentar da população brasileira, fornecendo calorias e proteínas de grande valor
nutritivo (ALMEIDA, 2003). O estado de Mato Grosso está entre os principais produtores de
arroz no país, sendo que o arroz foi o terceiro produto agrícola mais produzido no estado no
ano de 2009 (SEPLAN, 2011). Assim, nas seções que seguem serão apresentadas informações
qualitativas e quantitativas sobre o setor, sendo que a primeira descreve uma visão geral da
orizicultura matogrossense, e a segunda, apresenta informações a respeito da agroindústria
beneficiadora de arroz no estado no ano de 2011.
4.1 A Importância do Arroz em Mato Grosso
Segundo a Embrapa (1999) Apud Ludwig (2004), no Brasil, o arroz pode ser
plantando em quase todas as regiões, devido ao clima e ao solo adequado. Os métodos de
plantio mais utilizados são o de arroz de terras altas e o arroz irrigado. O sistema de produção
de arroz de terras altas é mais utilizado nos estados do Mato Grosso e Maranhão, e
caracteriza-se pelo desbravamento de terras. A menor produtividade desse sistema vem sendo
superada pelos constantes avanços tecnológicos na melhoria da qualidade do grão e também
pelo menor custo de implantação da lavoura. Já o sistema de arroz irrigado, praticado no sul
do país, utiliza-se de alta tecnologia de insumos e irrigação, obtendo melhores resultados de
produtividade (LUDWIG, 2004).
A Figura 2 demonstra a participação percentual dos sistemas de plantio de arroz em
termos de área e produção no Brasil em 2009, permitindo observar que o arroz irrigado é mais
representativo quanto à produção, o que se justifica por ser mais produtivo e por ser o tipo de
arroz cultivado no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional. Já o arroz de sequeiro,
46
destaque-se em extensão de área, porém com menor produção, justamente por ter menor
produtividade.
Figura 2: Participação Percentual dos Sistemas de Plantio de Arroz na Área e Produção no
Brasil em 2009
Fonte: Embrapa Arroz e Feijão (2010).
O setor orizícola apresenta algumas possibilidades de diversificação, dado que a partir
do grão produzido nas lavouras agrícolas é possível obter produtos para consumo humano e
animal, seja beneficiando o grão ou os seus subprodutos. Do beneficiamento do grão resultam
o arroz polido, integral e o parboilizado, restando os fragmentos de grão quebrado, o farelo e a
casca, que podem ser transformados em outros subprodutos e/ou utilizados como fonte de
energia (LUDWIG, 2004).
A casca corresponde ao subproduto do arroz de maior volume e é utilizada para
produção de energia, empregada para queima nas fornalhas dos secadores e autoclaves do
engenho, ou para geração de vapor. A fumaça da casca de arroz não é poluente e a cinza, rica
em sílica, pode ser utilizada para produzir material refratário e cimento resistente à corrosão
(ÝUFERA, 1998 Apud LUDWIG, 2004).
Quanto ao farelo de arroz desengordurado, obtido após a extração do óleo, este pode
ser utilizado para formulação de ração, por conter proteínas, fibras e minerais importantes
para o desenvolvimento dos animais (MASSARO e PINTO, 2004 Apud LUDWIG, 2004). E,
49 50
1
21
78
1 0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
SEQUEIRO IRRIGADO VÁRZEA
ÁREA COLHIDA (%)
PRODUÇÃO (%)
47
quanto aos fragmentos de grão de arroz beneficiado, classificados em duas categorias,
quebrado e quirera, o primeiro pode ser utilizado para fabricação de farinha de arroz, leite de
arroz, snaks, arroz instantâneo, pet food, dentre outros, e a quirera, é empregada na fabricação
de ração animal e fermentação de cerveja (LUDWIG, 2004).
As utilizações dos três principais subprodutos do arroz são resumidas no Quadro 1:
Quadro 1: Principais Usos dos Subprodutos do Arroz
Subproduto Uso
Casca Produção de Energia; Geração de vapor; Fabricação de
material refratário; Fabricação de cimento.
Farelo Alimentação animal; Óleo; Indústria cosmética e
farmacêutica.
Fragmentos Farinha de Arroz; Leite de arroz; Snacks; Arroz
instantâneo; Ração Animal; Fermentação de cerveja.
Fonte: LUDWIG (2004)
De acordo com Ludwig (2004), para agregar valor ao arroz in natura, pode-se ainda
industrializá-lo em biscoitos ou bolachas de arroz, arroz com sabor, arroz pré-pronto entre
outras inovações.
A Figura 3 demonstra os principais estados produtores de arroz no Brasil em 2009.
Pode-se observar no mapa que o estado que mais produz arroz no Brasil é o Rio Grande do
Sul, com 62,7%, seguido de Santa Catarina, com 8,2% da produção nacional e, em terceiro
lugar, com 6,3% da produção, o estado de Mato Grosso.
O arroz no cenário nacional tem um comércio bastante limitado, sendo a maior parte
da produção destinada ao mercado interno. No caso de Mato Grosso, o comércio é feito a
nível estadual e nacional, sendo que este cultivo não faz parte da pauta de exportações
estaduais, porém o estado é o principal produtor do centro-oeste e o terceiro maior nacional,
conforme pode ser observado na Figura 3.
48
Figura 3: Participação (%) dos Principais Estados Produtores de Arroz no Brasil, dez. de
2009.
Fonte: Embrapa Arroz e Feijão (2010).
De maneira geral a produção de arroz em Mato Grosso interage mais com a pecuária,
com seu uso voltado a recuperação de pastagens e abertura de áreas, sendo em menor
intensidade voltada para rotação de cultura, especialmente, com a soja. Por isso a área de
arroz varia muito, pois muitos produtores plantam esporadicamente (VILLAR e FERREIRA,
2005).
A Tabela 1 apresenta a área, a produção, o valor da produção e o preço do arroz entre
os anos de 1994 e 2010. A área cultivada e a produção de arroz tiveram seus picos nos anos
de 2000, 2004 e 2005, sendo produzidas mais de 1 milhão de toneladas em cerca de 700.000
hectares em cada ano e, a partir de 2005 tanto a área quanto a produção tiveram queda de mais
de 50%. Já o valor da produção e o preço apresentaram um aumento ao longo do período
demonstrado.
49
Tabela 1: Área, Produção, Produtividade, Valor da Produção e Preço do Arroz em Mato
Grosso entre 1994 e 2010
Ano Área (hectares) Produção (ton) Produtividade
(ton/hec)
Valor da
Produção
(R$)
Preço (R$/ton)
1994 476.542 812.439 1,70 113.426 139,61
1995 422.803 762.327 1,80 90.295 118,45
1996 430.822 721.793 1,68 108.360 150,13
1997 355.231 694.904 1,96 120.985 174,1
1998 364.270 776.502 2,13 158.197 203,73
1999 731.232 1.727.339 2,36 351.923 203,74
2000 700.533 1.851.517 2,64 358.632 193,7
2001 451.096 1.151.816 2,55 255.941 222,21
2002 436.134 1.181.340 2,71 320.265 271,1
2003 439.867 1.253.363 2,85 506.453 404,08
2004 739.012 2.177.125 2,95 1.187.088 545,25
2005 855.067 2.262.863 2,65 697.311 308,15
2006 287.974 720.834 2,50 212.775 295,18
2007 275.728 707.167 2,56 239.767 339,05
2008 239.808 682.506 2,85 295.944 433,61
2009 280.707 792.671 2,82 417.434 526,62
2010 235.287 687.137 2,92 316.091 460,01
TGC -3,30% -0,10% 3,31% 8,87% 8,98%
Fonte: IBGE (2011)
Analisando a taxa geométrica de crescimento 2, verifica-se que entre os anos de 1994 e
2010, a área apresentou um decrescimento de 3,3% e a produção de 0,10%. Já o valor da
produção cresceu em 8,87%, o que está relacionado ao aumento no preço, que foi de 8,98%.
Mesmo com aumento no preço, é possível observar que houve queda na área e na produção no
estado, o que pode estar relacionado à migração dos produtores rurais para outras culturas
ainda mais rentáveis, tais como a soja e o algodão.
Apesar dos picos de produção, percebe-se que o arroz é uma cultura agrícola que
sempre esteve presente na pauta de produção matogrossense. O estado de Mato Grosso
sempre esteve entre os quatro maiores produtores de arroz no país, porém de acordo com
dados do IBGE (2011), a área e produção entre 2000 e 2010 teve queda, sendo que a produção
passou de mais de 1,8 milhões toneladas para 687,1 mil toneladas, enquanto a área passou de
700,5 mil hectares para 235,2 mil hectares. Já a produtividade teve aumento, passou de 2,64
2 TGC – demonstra a variação da série de dados no período analisado, sendo calculada por meio de logaritmo
neperiano devido a ocorrência de variação negativa. Ver: Hoffmann e Vieira (1987).
50
em 2000 para 2,92 toneladas por hectare em 2010, apresentando uma taxa geométrica de
crescimento de 3,31%. Apesar de queda na área pode-se observar aumento de produtividade
entre 1994 e 2010, podendo este aumento estar relacionado a evolução nas tecnologias
utilizadas no plantio.
Quanto ao registro de empregos formais no estado, segundo Ministério do Trabalho e
Emprego, em 2009 foram 622,4 mil empregos, sendo que destes, o setor de beneficiamento de
arroz e fabricação de seus produtos representou 0,16%, ou seja, foram 1.055 empregos
formais (RAIS, 2010).
Conforme Almeida (2003) estimativas do IRRI – International Rice Research Institute
(1994), em 2025 serão necessárias 760 milhões de toneladas para abastecer a população
mundial, assim é necessário estimular a produção por meio de mecanismos de
comercialização, instrumentos de crédito rural, novas tecnologias de produção e pesquisa e
extensão rural. Em 2008, conforme dados da FAO3, a produção mundial foi de 674 milhões
de toneladas (FAO, 2011).
Diante deste aumento de consumo mundial e da importância do arroz na alimentação
humana e de suas diversas possibilidades de subprodutos, há a necessidade de se instigar o
aumento da produção e produtividade desta gramínea no estado de Mato Grosso e verificar os
espaços em que a produção está concentrada a fim de fortalecer os diversos elos da cadeia
produtiva, principalmente as agroindústrias, setor que transforma os produtos agrícolas,
agregando valor, diversificando e gerando novos produtos e mercados (ALMEIDA, 2003).
Sabe-se que as políticas públicas são uma forma de auxiliar na correção de gargalos
em diversos setores, porém, em Mato Grosso, as políticas públicas direcionadas ao setor de
arroz ainda se resumem apenas em incentivo fiscal e aporte de recursos financeiros, o que não
garante ao setor melhorias de gestão, tecnologia, empreendedorismo, ou qualquer processo
que traga melhorias à cadeia produtiva (FARIA et al., 2010).
O Arranjo Produtivo Local do Arroz em Mato Grosso é gerido pela SIAMT, e cujos
municípios apoiados são Cuiabá, Primavera do Leste, Rondonópolis, Sapezal, Sinop, Sorriso,
Tangará da Serra e Várzea Grande. Possui apoio de cerca de 13 instituições, dentre elas estão
a Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia (SICME) , a CONAB, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimentos (MAPA), entre outras, as quais são responsáveis, desde o fomento, com a
3 Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
51
liberação de recursos financeiros, até trabalhos com palestras, buscando expandir a
competitividade e produtividade das empresas (FARIA et al., 2010).
O Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso
(PRODEIC), pretende além de proporcionar incentivos fiscais, contribuir para a expansão,
modernização e diversificação das atividades econômicas, estimulando a realização de
investimentos, a inovação tecnológica das estruturas produtivas e o aumento da
competitividade estadual, com ênfase na geração de emprego e renda e na redução das
desigualdades sociais (SICME, 2011). Entretanto, devido às exigências complexas que as
empresas devem cumprir para aderir ao PRODEIC, no caso das agroindústrias beneficiadoras
de arroz, ainda não são todas que participam do programa, e para estas não há outra política
econômica que auxilie nas fragilidades, demonstrando assim a falta de políticas públicas
direcionadas ao setor orizícola do estado.
4.2 O Perfil das Beneficiadoras de Arroz em Mato Grosso
Conforme o SINDARROZ existem operando em 2011 no estado, 33 agroindústrias
beneficiadoras de arroz, sendo que este número já foi cerca de três vezes maior antes da crise
de 2004/2005, cuja queda da produção de arroz culminou, consequentemente, no fechamento
de diversas agroindústrias do setor nos últimos anos, principalmente por falta de produto.
Das 33 agroindústrias beneficiadoras de arroz em funcionamento no ano de 2011,
foram aplicados questionários em 20, ou seja, 60%, as quais estão distribuídas nas
Mesorregiões Norte, Centro Sul e Sudoeste de Mato Grosso, e mais especificamente, nos
municípios de Sinop, Sorriso, Colíder, Matupá, Guarantã do Norte, Cuiabá, Várzea Grande,
Mirassol D’Oeste e Tangará da Serra. Foi possível verificar o perfil das beneficiadoras em
três cenários distintos: àquelas agroindústrias que estão próximas ao mercado consumidor;
àquelas que estão próximas à matéria-prima e; àquelas onde não existe matéria-prima próxima
e o mercado consumidor é relativamente reduzido.
A maioria das agroindústrias se localizam no distrito industrial de cada município e
todas podem ser consideradas micro e pequenas empresas, conforme classificação do
52
SEBRAE.4 Por serem empresas de menor porte, 65% dos entrevistados foram os proprietários
das empresas, 30% os gerentes e 5% funcionários do administrativo, os quais estão em média
oito anos na empresa. O nível de escolaridade dos entrevistados está entre Ensino
Fundamental e Pós-Graduação, sendo que 40% têm curso Superior ou Pós-Graduação, 55%
Ensino Médio e 5% Ensino Fundamental.
No setor de beneficiamento de arroz no estado 85% das empresas são independentes e
15% são parte de um grupo de empresas. Todas atuam no mercado em média a oito anos,
sendo que das 20 empresas, nove estão no mercado entre um e dez anos, sete entre onze e
vinte anos e quatro a mais de vinte anos. A mais antiga está estabelecida no estado desde 1984
e a mais recente desde 2008.
Todas as empresas têm capital regulador nacional e, conforme a Figura 4, que
demonstra a formação das beneficiadoras de arroz no estado, 70% são empresas familiares5,
15% são sociedade, 10% Sociedade Anônima e 5% tem formação mista, ou seja, familiar e
sociedade. Apenas 20% possuem filial, as quais estão localizadas nos estados do Ceará,
Amazonas, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Alagoas, Bahia, Maranhão, Paraná, Goiás, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco.
Figura 4: Formação das Beneficiadoras de Arroz em Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
4 Conforme SEBRAE (2011) são consideradas microempresas, indústrias com até 19 funcionários, e pequena
empresa, àquelas que empregam entre 20 e 99 funcionários. 5 Neste caso, são consideradas familiares àquelas empresas cuja administração ocorre apenas por membros da
família.
53
Quanto às informações relacionadas à produção das beneficiadoras, são adquiridas, em
média mensalmente, cerca de 1 mil toneladas por empresa, totalizando 33,9 mil toneladas
mensais no setor. O preço pago por tonelada é, em média, R$ 477,32, o qual varia
dependendo da localização da empresa, estando entre R$ 415,00 e R$ 541,00 reais a tonelada
de arroz em casca. Apenas 10% das empresas realizam ação cooperada na compra de matéria-
prima.
O arroz beneficiado pela maioria das agroindústrias tem origem no próprio município
e em outras regiões do estado, sendo que a principal região fornecedora da matéria-prima é a
Região Norte, onde está a maior concentração da produção, como pôde ser observado na
análise locacional, conforme Figura 18 (pg.69). Quando o estado não possui matéria-prima
suficiente, as beneficiadoras compram dos estados do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do
Sul e, raramente, de outros países.
A respeito de suas limitações produtivas, 60% das empresas mencionaram ser a falta
de matéria-prima, principalmente no segundo semestre do ano, já que a produção de Mato
Grosso às vezes torna-se insuficiente para atender toda a demanda, o que obriga as
beneficiadoras a reduzirem a produção, ou a buscar matéria-prima fora do estado. Outras
limitações mencionadas foram a baixa lucratividade, preço alto da matéria-prima, limitações
na capacidade produtiva e concorrência com empresas do estado e com as do Rio Grande do
Sul.
Mensalmente são comercializadas cerca de 29,4 mil toneladas no setor sendo, em
média, 891 toneladas por empresa, cujo destino é o próprio município onde se localiza a
beneficiadora, municípios próximos e, ainda, outras regiões do país, mais precisamente
Nordeste, Sudeste e Norte. O destino do arroz beneficiado é demonstrado na Figura 5.
É possível perceber que a maior parte do arroz fica em Mato Grosso, ou seja, 73% do
arroz beneficiado é comercializado no próprio município onde é embalado, na região próxima
à beneficiadora ou vai para outros pontos do estado. Apenas 27% da produção é
comercializada a nível nacional e, conforme informado, a maior parte do arroz que sai do
estado é de tipo inferior ao comercializado internamente.
54
Figura 5: Mercados à que se Destina o Arroz Beneficiado em Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
Como o arroz é um produto com pouco fluxo de comercialização externa, das
beneficiadoras visitadas em Mato Grosso, apenas 10% exportam o produto industrializado,
cujos destinos são Europa, Japão, Ásia e África. As demais empresas comercializam apenas a
nível nacional. Quanto à importação da matéria-prima, arroz em casca, 5% afirmaram
importar e as demais não costumam fazer, entretanto, já fizeram em épocas de queda na
produção do país, sendo que a origem do arroz é geralmente da Argentina e do Paraguai.
As beneficiadoras recebem, em média, R$ 1.168,47 por tonelada e os principais
clientes são as redes de supermercados e atacadistas, sendo que poucas empresas, geralmente
as menores, comercializam com minimercados, restaurantes e diretamente com o consumidor.
De acordo com as empresas, o tratamento com supermercados e atacadistas é pouco
diferenciado, somente algumas mencionaram diferenciar no preço devido ao volume maior de
comercialização. E, quanto às dificuldades em lidar com atacadista, as principais são a
concorrência, os preços e a bonificação solicitada por parte dos mesmos para que a empresa
consiga espaço no estabelecimento.
Todas as beneficiadoras têm marca própria de arroz para comercialização, sendo que
algumas tem até mais de uma marca para diferenciar os tipos de arroz, ou seja, a qualidade, e
apenas 15% produzem a marca de algum supermercado. Mensalmente no setor são adquiridos
cerca de 55.060 kg de embalagem e, conforme a conversão informada pelos entrevistados, são
cerca de 56 embalagens por quilo, o que resultaria então em 3.083.388 unidades de
12%
28%
33%
27%
Regional Municipal Estadual Nacional
55
embalagem, as quais são adquiridas a um preço médio de R$ 8,99 o quilo. A origem das
embalagens é diversa e em Mato Grosso são adquiridas em Cuiabá e Rondonópolis. Quando
compradas de fora do estado, os principais fornecedores são Goiás, São Paulo, Santa Catarina,
Mato Grosso do Sul e Paraná.
A maioria das empresas matogrossenses que beneficiam arroz trabalham com outros
produtos, sejam do arroz, como quirera e farelo, ou mesmo linhas diferentes, cujas principais
observadas foram o feijão e o milho. Entretanto, em termos de representatividade, em todas, o
arroz é considerado o principal produto. No que diz respeito aos subprodutos do arroz, todas
as empresas vendem, seja para fábricas de ração, de cerâmica, de cerveja ou de briquetes. E,
no caso da casca, quando não é queimada na própria empresa para gerar energia ou produzir o
arroz parboilizado, é doada ou mesmo vendida para adubação em hortas e forragem de
aviários.
A Figura 6 demonstra o faturamento das empresas por tipo de produto comercializado,
podendo-se observar que 60% do faturamento é obtido com a comercialização de arroz,
outros 12% advém de seus subprodutos e 28% com outros produtos, nos quais se incluem
feijão, milho, trigo, etc..
Figura 6: Rentabilidade dos Produtos Comercializados pelas Beneficiadoras de Arroz em
Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
60% 12%
28%
ARROZ SUBPRODUTOS DO ARROZ OUTROS PRODUTOS
56
Em geral, a linha de produtos das empresas não sofreu alterações nos últimos dois
anos, sendo que apenas em 30% delas ocorreu alguma modificação, seja na retirada ou
inserção de marca nova, ou a inserção de outro tipo de produto à linha trabalhada. São poucas
as empresas de Mato Grosso que têm produtos inovadores disponíveis no mercado, sendo que
apenas 15% trabalham com produtos prontos ou pré-prontos e produtos diferenciados, tais
como macarrão de arroz, farinha de arroz e arroz pré-pronto.
Conforme a Figura 7, na obtenção de matéria-prima, 70% das beneficiadoras têm
dificuldades, principalmente, pela sazonalidade da oferta de produto no estado, sendo que no
segundo semestre do ano a escassez de arroz em casca é maior. Já no acesso ao mercado,
metade das empresas não tem dificuldade e a outra metade coloca como principal limite a
concorrência de marcas já consagradas.
Figura 7: Dificuldade de Acesso à Matéria-Prima e ao Mercado em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
A relação com os fornecedores é, na maioria das vezes, verbal, em 55% das empresas,
enquanto a relação contratual é feita apenas por 10%. As demais 35% tem relação verbal e
contratual com seus fornecedores, como pode-se observar na Figura 8. Os critérios que as
empresas utilizam para selecionar os fornecedores, por ordem de importância, são qualidade,
preço, logística e prazo, sendo que 55 % das empresas disseram não ter fidelidade dos
fornecedores. Apenas 10% financiam produtores rurais, com pacotes de auxílio na produção,
os quais incluem sementes, defensivos, insumos e combustível, e as demais que não o fazem,
57
na maioria das vezes, é por falta de interesse e por não acharem necessário aos negócios da
empresa.
Já na relação com os compradores, 60% das empresas informaram ter apenas relação
verbal, sendo que na maioria das vezes é feito apenas um pedido simples da mercadoria, sem
muita formalidade. Então, observando a Figura 8, é possível perceber que, tanto na compra de
matéria-prima como na venda do produto industrializado, a maior parte das negociações é
realizada de maneira verbal. Quando contratual, é geralmente com pedido simples.
Figura 8: Relação das Beneficiadoras com os Fornecedores e Compradores em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
As estratégias para inserção de produtos novos também não são muito presentes no
setor. Conforme observado, 40% das beneficiadoras pretendem lançar inovações, sejam de
novas marcas, novos tipos de produto, ou mesmo, trabalhar com os subprodutos. A Figura 9
demonstra que 70% das empresas beneficiadoras de arroz se consideram seguidoras e apenas
30% inovadoras no lançamento de novos produtos. Ainda, a maioria desconhece qualquer
produto inovador a nível mundial relacionado ao arroz e, àquelas que conhecem,
mencionaram leite de arroz, bolachas de arroz e arroz aromático como possíveis produtos
promissores.
58
Figura 9: Posição das Beneficiadoras no Lançamento de Novos Produtos em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
Quando questionadas a respeito da motivação para diferenciar e diversificar a
produção, conforme Figura 10, 30% informaram serem motivadas pela concorrência, 20%
pelo faturamento, 20% pela tecnologia e 25% por mais de uma destas alternativas (5% não
responderam).
Figura 10: Motivos para Diferenciar e Diversificar a Produção de Arroz em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
70%
30%
Seguidora Inovadora
30%
20% 20%
25%
5%
Concorrência Tecnologia Faturamento Mais de um motivo Não responderam
59
Percebe-se então, que a concorrência é o principal impulsionador à inovação e
diferenciação no mercado de beneficiamento de arroz em Mato Grosso, o que pode se
justificar pelo fato do arroz não ter muitas propriedades e ser um produto homogêneo a
qualquer empresa, ou seja, todas comercializam o mesmo produto e para se destacarem e
superar os concorrentes precisam ter algum diferencial.
Quanto à logística utilizada para comercialização do produto, demonstrada na Figura
11, 35% é terceirizada, 30% é frota própria, 30% utilizam ambas, própria e terceirizada e 5%
não informaram. Todas as empresas consideram a logística utilizada como sendo a ideal, seja
pelo custo baixo, ou pela eficiência na entrega.
Figura 11: Logística Utilizada pelas Beneficiadoras em Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
O setor agroindustrial orizícola emprega aproximadamente 777 funcionários em 2011,
e conforme a Figura 12, 753 são registrados, ou seja, 97%. Entre todas as empresas são
apenas 65 funcionários terceirizados e 34 familiares, sendo que todas as empresas possuem
vendedores e representantes das marcas, os quais fazem as vendas externas e tem contato
direto com os clientes. A remuneração média dos funcionários é de cerca de R$ 958,89 e, dos
vendedores e representantes, a média salarial é mais alta, aproximadamente R$2.000,00.
30%
35%
30%
5%
Própria Terceirizada Amabas Não Informaram
60
Figura 12: Número de Funcionários das Beneficiadoras de Arroz em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
Quanto à escolaridade, nenhuma empresa sabia informar exatamente o grau de
instrução dos funcionários, mas a maioria tem ensino médio e fundamental, dado que a mão-
de-obra contratada para trabalhar no beneficiamento não necessita de muita qualificação.
Assim, os funcionários com ensino superior e pós-graduação são em menor número e
trabalham no setor administrativo das empresas.
A respeito da capacidade produtiva, apenas 25% trabalham com a capacidade máxima.
As demais, 75%, trabalham com capacidade ociosa, principalmente, nos meses de setembro,
outubro, novembro e dezembro, quando há escassez de matéria-prima no estado. A energia
utilizada é fornecida pela companhia elétrica estadual e a água utilizada em 70% das empresas
é de poço artesiano e 30% fornecida pela companhia de saneamento local. Nenhuma empresa
utiliza produtos químicos na produção e os resíduos gerados, casca e quebrado, são todos
vendidos, ou seja, não há dejetos líquidos nem sólidos no processo produtivo de
beneficiamento de arroz.
O gasto mensal das agroindústrias beneficiadoras de arroz com folha de pagamento,
matéria-prima e outras despesas de funcionamento totaliza cerca de R$ 19.624.011,00. De
acordo com o demonstrado na Figura 13, 91% são com a compra de matéria-prima, 4% com
pagamento dos funcionários e 5% com outras despesas, como energia, contabilidade e
manutenção da indústria. Em média, o gasto mensal de cada empresa está em torno de R$
594.667,00.
0
100
200
300
400
500
Registrados Terceirizados Familiares
457
40 21
61
Figura 13: Despesas Mensais das Beneficiadoras de Arroz de Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
A mediana6 da margem de lucro mencionada pelas empresas foi de 7 % ao mês. A
variação da taxa de lucro mencionada foi desde zero à 15% de rentabilidade mensal, sendo
que a maioria das empresas tem lucro abaixo de 10%.
Nos últimos dois anos 65% das empresas do setor apresentaram crescimento, 25%
mantiveram-se estáveis e 10% retraíram. As que cresceram, informaram que foi devido à
investimentos em publicidade, demanda de mercado positiva, investimentos com capital
próprio, maior diversificação de produtos, compra de novas marcas, melhoras no produto,
inserção de novas atividades e mudanças internas na administração.
Àquelas que retraíram especificaram como motivos a concorrência, o aumento nos
custos de produção e a perda de mercado. Já as que se mantiveram estáveis, justificaram ser
devido à retração do mercado, ao pouco tempo de atuação ou devido à falta de matéria-prima
para beneficiar. A Figura 14 demonstra a evolução econômica das empresas nos últimos dois
anos.
6 Utilizou-se a mediana por ter a vantagem de não ser tão influenciada por valores individuais, dado que é a
medida de localização do centro da distribuição de dados, ou seja, metade dos elementos são menores que 7% e
metade são maiores. As informações obtidas não foram suficientes para afirmar a lucratividade do setor.
4%
91%
5%
Despesa com Pessoal Despesa com Produção Outras Despesas
62
Figura 14: Situação Econômica das Beneficiadoras de Arroz de Mato Grosso nos Últimos
Dois Anos.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
A maioria, em torno de 70%, das empresas participam do SINDARROZ. As demais
alegaram não participar por não terem interesse ou por nunca terem sido convidadas. Em sua
maioria, as agroindústrias se consideram bem representadas pelos órgãos de classe, apenas
colocam a necessidade de ações mais efetivas deste sindicato junto ao governo.
As inovações são pouco presentes no setor, sendo que 55% das empresas não
introduziram inovações nos últimos dois anos e as 45% que introduziram alguma inovação,
foram ligadas ao processo produtivo, ou seja, maquinário novo para empacotamento,
informatização, software financeiro e troca de máquinas. As dificuldades encontradas na
implantação de inovação são o treinamento da mão-de-obra, financiamento e os custos altos.
Quanto ao acesso ao crédito, demonstrado na Figura 15, cerca de 75% das empresas
acessam crédito e destas, 40% utilizam para capital de giro e 60% utilizam para capital de giro
e investimentos na empresa. A maioria das empresas não tem dificuldades de acesso ao
crédito. Já as 27%, que possuem dificuldade, mencionam ser a burocracia, os juros altos e a
falta de recursos disponíveis os principais entraves para adquirir crédito.
65%
25%
10%
Cresceram Retrairam Estáveis
63
Figura 15: Acesso ao Crédito pelas Beneficiadoras de Arroz de Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
Quando questionadas a respeito de acesso a entidades de treinamento, consultoria e
pesquisa, 65% disseram que buscaram auxílio do SENAI/SEBRAE ou de empresas privadas
que prestam este tipo de serviço, principalmente na busca de treinamento e capacitação de
funcionários e segurança no trabalho. Quanto à técnicas de gestão, mudanças na estrutura
organizacional, estratégias de marketing e prospecção de mercado, 70% das empresas tiveram
ações nestes aspectos, principalmente relacionadas a estratégias de marketing para
consolidação da marca no mercado.
Identificar as preferências dos consumidores é uma preocupação das beneficiadoras de
arroz, sendo que 55% delas buscam se informar sobre as mesmas. As principais dificuldades
encontradas com os consumidores ocorrem principalmente na inserção da marca no mercado,
seja na aceitação da marca nova ou no preço, devido à marcas já consolidadas e cuja
preferência é difícil de ser superada.
As fontes de tecnologia das empresas são os fornecedores, outras indústrias, centros de
tecnologia e, algumas vezes, da própria empresa (filiais). Os equipamentos tem em média 2
anos, sendo que variam entre dois e 19 anos de uso e 55% das empresas não tem projetos para
comprar novos equipamentos, alegando que a principal dificuldade são os custos altos.
Nos quesitos diferenciação e diversificação, a maioria das empresas, 55%, se
considera no mesmo nível dos concorrentes, sendo que 15% se consideram inferiores e 30%
superiores aos concorrentes, conforme demonstrado na Figura 16.
64
Figura 16: Nível de Diferenciação e Diversificação em relação aos Concorrentes em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
A gestão das empresas beneficiadoras de arroz é demonstrada na Figura 17,
identificando que em 50% dos casos é centralizada, e os demais se dividem em participativa e
departamentalizada. 7Justifica-se a centralização da gestão, provavelmente, devido ao fato de
as empresas serem de pequeno porte e em sua maioria, gerenciadas pela família.
Figura 17: Gestão das Empresas Beneficiadoras de Arroz em Mato Grosso em 2011.
Fonte: Dados Primários Coletados Junto às Empresas Beneficiadoras de Arroz, 2011.
7 De acordo com Chiavenato (1999), a centralização ocorre quando a autoridade é retida e circunscrita nas mãos
do executivo máximo da organização. E, a descentralização permite que as decisões sejam tomadas pelas
unidades situadas nos níveis mais baixos da organização, ou seja, nos diversos departamentos, proporcionando
um considerável aumento de eficiência. Já a gestão participativa é orientada para os recursos humanos da
empresa, ou seja, todas as decisões organizacionais devem ser tomadas através do consenso, com participação
das pessoas.
55% 30%
15%
Mesmo Nível Superior Inferior
50%
25%
25%
Centralizada Participativa Departamentalizada
65
Apenas uma empresa entrevistada tem integração vertical8 na produção do arroz que
beneficia. As demais não integram nenhuma parte do processo produtivo e também não tem
interesse em fazê-lo. O fluxo de informação entre a empresa e os demais elos da cadeia
produtiva é considerado “bom” pela maioria e algumas empresas mencionaram que tem
pouco contato com alguns elos, sendo que o principal contato é feito com corretores e
representantes. O elo com quem as empresas mais se relacionam é o produtor rural e o
considerado mais difícil de se relacionar é o atacadista.
Os principais entraves à expansão apontados pelas beneficiadoras foram as
dificuldades de financiamento, concorrência, sazonalidade do fornecimento de matéria-prima,
crescimento de mercado, limitação física, demanda e falta de mão-de-obra qualificada. A
maioria das empresas mencionam ter dificuldades para obter financiamento ou mesmo auxílio
pelo PRODEIC, devido a questões burocráticas e à exigências de parametrizações na
indústria, que as vezes tem custo elevado e tornam inviável a busca por auxílio financeiro do
governo.
Quanto à sazonalidade de matéria-prima, sabe-se que no estado de Mato Grosso a
produção de arroz é instável a cada ano e acaba então sendo insuficiente para atender todas as
agroindústrias. Quando é suficiente, em períodos entre safra, há a dificuldade de preços altos.
A falta de mão-de-obra qualificada também é um entrave à expansão, principalmente quando
as empresas investem em equipamentos novos de tecnologia mais avançada e acabam não
tendo mão-de-obra para operar as máquinas, sendo que as equipes especializadas estão na
capital do estado e o acesso torna-se limitado para capacitar e treinar os funcionários.
Outro problema apontado foi a dificuldade em concorrer com o arroz beneficiado no
Rio Grande do Sul, que tem entrada livre em Mato Grosso. Ainda existe a dificuldade de
logística, tanto para obter a matéria-prima, como para comercializar o produto já beneficiado,
o que impede muitas vezes de expandirem a produção.
As empresas consideram que o governo poderia intervir mais no setor, principalmente
regulamentando melhor o preço mínimo, tanto para o arroz em casca como para o
beneficiado, além de criar barreiras à importação interestadual. Com isto, seria possível
fortalecer o mercado interno, já que uma das principais dificuldades é a concorrência com o
arroz beneficiado do Rio Grande do Sul. Somente com a ação governamental, com políticas
8 A integração vertical consiste na empresa atuar em mais de uma etapa do processo produtivo. É utilizada para
obter maior controle sobre o processo produtivo e melhorar os lucros, pois possibilita maior eficiência, consiste
no maio controle dos negócios (MALAFAIA et al, 2007).
66
públicas alinhadas em benefício das empresas locais será possível um setor forte e
consolidado, evitando o fechamento de agroindústrias no estado como ocorreu em 2004/2005.
67
5. ANÁLISE LOCACIONAL E PRINCIPAIS FATORES DE DESEMPENHO DO
SETOR ORIZÍCOLA EM MATO GROSSO
Saber a localização das atividades no espaço é essencial para identificar as dificuldades
regionais e poder buscar soluções que contribuam para a economia regional. Além disso, é
importante mensurar os pontos fracos e fortes de cada atividade localizada no espaço, para
que as ações sejam mais eficazes. Assim, pretende-se na primeira seção definir os espaços
onde estão especializadas a produção e o beneficiamento de arroz em Mato Grosso e, na
segunda, tratar dos principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento do segmento de
beneficiamento de arroz em Mato Grosso e, consequentemente, da cadeia produtiva, além de
avaliar cada categoria identificada.
5.1 Municípios Especializados na Produção e Beneficiamento de Arroz em Mato Grosso
O valor da produção de arroz em Mato Grosso no ano de 2009 totalizou 417,4 milhões
de reais, dos quais os municípios de Paranatinga, Querência, Sinop, Porto dos Gaúchos, Nova
Ubiratã, Água Boa, Marcelândia, Sapezal, Novo Mundo e Campo Novo dos Parecis, tiveram
valor da produção superior a 10 milhões de reais por município, sendo que estes juntos
representaram em 2009 45% do valor arrecadado com a produção de arroz no estado (IBGE,
2011).
Pelo cálculo do ICN, a média entre os 141 municípios foi de 0,636981, sendo que os
municípios acima desta média apresentam-se como locais de atividade mais concentrada,
sendo um total de 37, como pode ser observado na Tabela 2. Conforme os resultados do ICN
apresentados na Tabela 2, os municípios em que a produção de arroz está mais especializada
em mais de seis vezes acima da média são: Santa Carmem, Planalto da Serra, União do Sul,
Porto dos Gaúchos e Novo Mundo.
68
Tabela 2: Municípios Matogrossenses Especializados na Produção de Arroz.
MUNICÍPIO VBP 2009
9 PIB 2008
10 ICN
1 Santa Carmem 24.750,00 104.922,57 7,4291 2 Planalto da Serra 4.688,00 29.746,01 4,9425
3 União do Sul 8.078,00 55.034,01 4,6096
4 Porto dos Gaúchos 17.680,00 125.772,83 4,4318
5 Novo Mundo 10.800,00 83.756,90 4,0558
6 Santa Cruz do Xingu 3.888,00 35.278,61 3,4572 7 Paranatinga 28.060,00 281.849,02 3,1650
8 Canabrava do Norte 4.714,00 58.549,12 2,5287
9 Cláudia 9.900,00 124.367,24 2,5090 10 Itaúba 5.800,00 75.004,91 2,4308
11 Marcelândia 11.907,00 162.591,91 2,3128
12 Porto Alegre do Norte 5.499,00 79.841,14 2,1655
13 Nova Brasilândia 2.723,00 39.632,73 2,1556
14 Novo Santo Antônio 1.043,00 15.204,87 2,1494 15 Feliz Natal 8.700,00 129.237,50 2,1221
16 Querência 24.960,00 415.179,37 1,9233
17 Santo Afonso 1.654,00 32.078,70 1,6170 18 Gaúcha do Norte 5.592,00 109.932,50 1,6016
19 São F. do Araguaia 6.930,00 140.822,98 1,5519
20 Alto Boa Vista 2.651,00 54.187,83 1,5360
21 Serra Nova Dourada 689,00 15.790,76 1,3672
22 Nova Maringá 8.200,00 195.880,82 1,3236 23 Água Boa 14.193,00 352.072,20 1,2844
24 Itanhangá 4.248,00 108.088,80 1,2371
25 São José do Xingu 3.000,00 81.551,10 1,1564 26 Nova Ubiratã 14.850,00 428.310,05 1,1082
27 Ribeirão Cascalheira 3.087,00 93.280,66 1,0408
28 Vera 6.400,00 217.336,10 0,9314
29 Tabaporã 6.023,00 205.237,11 0,9277
30 Nova Canaã do Norte 3.960,00 140.336,67 0,8893 31 Nova Bandeirantes 2.700,00 101.608,50 0,8359
32 Luciara 441,00 17.235,10 0,8017
33 Ribeirãozinho 813,00 32.024,69 0,7960 34 Brasnorte 9.713,00 402.356,16 0,7695
35 Matupá 4.968,00 210.861,03 0,7446
36 Nova Guarita 928,00 44.146,59 0,6594
37 Vila Rica 4.800,00 232.102,06 0,6539
Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados do IBGE (2011)..
9 Valor Bruto da Produção. Dados do IBGE em mil reais. 10 Produto Interno Bruto. Dados do IBGE em mil reais.
69
De acordo com dados da Secretaria de Planejamento de Mato Grosso (SEPLAN,
2011), os dez municípios que mais produziram arroz no ano de 2009 foram, em ordem
crescente: Paranatinga, Santa Carmem, Querência, Sinop, Nova Ubiratã, Porto dos Gaúchos,
Água Boa, Sapezal, Campo Novo do Parecis e Cláudia. Assim, observando os dados da
Tabela 2, pode-se verificar que cinco dos municípios com ICN elevado, ou seja, onde a
produção de arroz é uma atividade especializada, estão também entre os maiores produtores
de arroz do estado, sendo eles: Santa Carmem, Querência, Nova Ubiratã, Porto dos Gaúchos e
Cláudia.
A Figura 18 apresenta o mapa dos municípios com ICN acima da média, ou seja,
especializados na produção de arroz. Pode-se observar que a produção em termos espaciais
está concentrada em sua maioria em municípios de pequena extensão territorial, sendo que
está mais presente no Norte e Nordeste do estado.
Figura 18: Municípios Especializados na Produção de Arroz em Mato Grosso.
Fonte: Elaborada pela autora utilizando GEODA.
70
Dos municípios cujo ICN foi mais elevado, Santa Carmem produziu cerca de 49,5 mil
toneladas em 2009, já em União do Sul a produção foi de 11,8 mil toneladas e, no município
de Planalto da Serra produziu-se 9,5 mil toneladas de arroz. Há uma diferença razoável entre a
quantidade produzida de cada um, o que se deve à área disponível para produção, pois a
maioria dos municípios são pequenos, tanto em área quanto em população, mas que tem o
arroz como um dos principais produtos agrícolas cultivados (IBGE , 2011).
Na Figura 18 é possível observar duas regiões que se apresentam interligadas, em
virtude da proximidade dos municípios. A região da esquerda do mapa ficou demarcada com
nove municípios, sendo eles: Porto dos Gaúchos, Novo Mundo, Itaúba, Nova Maringá,
Tabaporã, Nova Canaã do Norte, Nova Bandeirantes, Brasnorte e Nova Guarita. E, a região à
direita aglomerou 21 municípios, sendo eles: Santa Cruz do Xingu, Paranatinga, Canabrava
do Norte, Porto Alegre do Norte, Nova Brasilândia, Novo Santo Antônio, Feliz Natal,
Querência, Santo Afonso, Gaúcha do Norte, São Felix do Araguaia, Alto Boa Vista, Serra
Nova Dourada, Água Boa, Itanhangá, São José do Xingu, Ribeirão Cascalheira, Luciara,
Ribeirãozinho e Vila Rica. Os municípios em que as duas regiões se interceptam foram: Santa
Carmem, União do Sul, Cláudia, Marcelândia, Nova Ubiratã, Vera e Matupá. Devido a
semelhança de clima, relevo, extensão territorial, tipos de produtos agrícolas produzidos,
mercado consumidor relativamente reduzido, dentre outras, estas regiões podem ser
caracterizadas como homogêneas.
Quanto à concentração da atividade de beneficiamento de arroz e fabricação de seus
produtos, pelo cálculo do ICN a média entre os 141 municípios foi de 0,2318, e os municípios
onde a atividade é mais especializada são um total de 23, e estão demonstrados na Tabela 3.
Conforme os dados apresentados na Tabela 3, os quatro municípios em que o
beneficiamento de arroz e fabricação de seus produtos é mais especializado são: Alto Boa
Vista, Água Boa, Sapezal e Canarana. Pode-se verificar que a maioria dos municípios com
ICN elevado, ou seja, especializados no beneficiamento e fabricação de arroz não são os
maiores produtores de arroz do estado, o que pode ser justificado pelo fato de que o arroz
produzido em certos municípios pode ser processado em outros.
71
Tabela 3: Municípios Matogrossenses Especializados no Beneficiamento de Arroz e
Fabricação de seus Produtos
Município Empregos no
Setor11
Total de Emprego
12 ICN
1 Alto Boa Vista 14 408 6,7243
2 Agua Boa 63 3.633 3,4318
3 Sapezal 66 5.831 2,2539
4 Canarana 31 2.988 2,0485
5 Porto A. do Norte 6 638 1,8440
6 Carlinda 7 756 1,8162
7 Confresa 13 1.420 1,7992
8 Arenápolis 6 854 1,3784
9 Várzea Grande 232 38.718 1,2990
10 Sinop 137 25.469 1,1259
11 Alta Floresta 51 9.571 1,0701
12 Sorriso 70 16.098 0,8868
13 Guarantã do Norte 12 2.818 0,8395
14 Rosário Oeste 6 1.465 0,8046
15 Primavera do Leste 40 13.069 0,6174
16 Diamantino 19 6.371 0,5923
17 Nova Xavantina 5 1.937 0,5073
18 Colíder 11 4.499 0,4831
19 Barra do Garças 27 11.613 0,4659
20 Matupá 6 2.742 0,4306
21 Nova Mutum 19 10.337 0,3662
22 Peixoto de Azevedo 3 1.812 0,3250
23 Rondonópolis 48 41.066 0,2372
Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados da RAIS (2010).
No município de Alto Boa Vista, com cerca de 6 mil habitantes, o setor de
beneficiamento de arroz e fabricação de seus produtos representou em 2009 mais de 3,4% do
total de empregos municipais, e dos 1.055 empregos gerados no setor em Mato Grosso, o
município representou 1,32%. Justifica-se ainda este município ter alto índice de
especialização, já que o mesmo possui poucas atividades econômicas, e de acordo com dados
da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em termos de lavoura temporária tem o
arroz como principal cultura.
11 Dados da RAIS 2009. 12 Dados da RAIS 2009.
72
No município de Confresa, o arroz está entre as quatro culturas de maior destaque,
acompanhado da cana-de-açúcar, do milho e da mandioca. O município tem forte presença da
criação de bovinos, o que pode justificar a produção de arroz na abertura de terras para
posterior uso como pastagem. Em Sapezal, apesar de o arroz não ser a cultura de maior
destaque, ele está entre as quatro principais, e sua especialização no beneficiamento de arroz e
fabricação de seus produtos pode ser justificada pela possível presença de agroindústrias
beneficiadoras. E ainda, dentre os municípios cujo ICN calculado demonstrou especialização
no beneficiamento de arroz e fabricação de seus produtos, sabe-se que Sinop tem diversas
agroindústrias neste ramo, sendo inclusive uma delas de destaque nacional.
Dentre os 23 municípios, a maioria dos que apresentaram especialização neste setor
são relativamente pequenos, tanto em termos de extensão territorial quanto no número de
habitantes, e cuja economia é pouco diversificada, o que facilita a possibilidade de
apresentarem alto ICN em um setor que está presente mesmo este não sendo destaque a nível
estadual.
Na Figura 19, apresentada a seguir, estão mapeados os municípios matogrossenses que
são especializados no beneficiamento arroz e fabricação de seus produtos com base ICN
calculado. Observa-se que os municípios com especialização no beneficiamento de arroz e
fabricação de seus produtos estão mais dispersos pelo estado.
Esta dispersão se vista isoladamente, do ponto de vista teórico não é um ponto positivo
para o setor de beneficiamento, já que a questão da concentração das empresas é tratada pelos
teóricos como um ponto importante, pois é a partir da aglomeração e das relações industriais
que as empresas lucram, devido às vantagens em custos de transporte, aquisição de matéria-
prima e de insumos para produção. Porém observando a Figura 20, ou seja, o setor como um
todo, produção e beneficiamento, verifica-se que há uma certa aglomeração que pode trazer
benefícios se os agentes da cadeia souberem interagir.
Observam-se três regiões distintas: a mais ao norte do mapa é composta por seis
municípios, sendo eles: Peixoto de Azevedo, Matupá, Guarantã do Norte, Colíder, Alta
Floresta e Carlinda. A região ao nordeste do mapa aglomerou quatro municípios: Água Boa,
Canarana, Barra do Garças e Nova Xavantina e na região central estão oito municípios:
Arenápolis, Várzea Grande, Sinop, Sorriso, Rosário Oeste, Primavera do Leste, Diamantino e
Nova Mutum. Os demais ficaram em pontos mais distantes isolados do mapa.
73
Figura 19: Municípios Especializados no Beneficiamento de Arroz e Fabricação de seus
Produtos em Mato Grosso
Fonte: Elaborada pela autora utilizando GEODA.
As regiões localizadas ao Norte e Nordeste do mapa podem ser definidas como
homogêneas por serem aglomeração de municípios de mercado consumidor reduzido e por
terem maior volume de produção de arroz. Já a região que se forma ao centro pode ser
definida como nodal, pois os municípios que fazem parte desta têm características
heterogêneas. Há diferenças no tamanho do mercado consumidor de cada um, nos fluxos de
comercialização, além de alguns serem mais representativos em termos de produção agrícola
do que os outros.
A Figura 20 demonstra o mapa com a identificação dos municípios que são
especializados na produção de arroz, no beneficiamento de arroz e fabricação de seus
produtos, ou em ambas as atividades, de acordo com a legenda.
Assim, é possível verificar que os municípios em que há presença especializada dos
dois elos da cadeia são: Água Boa, Alto Boa Vista, Matupá e Porto Alegre do Norte, ou seja,
74
são especializados tanto na produção de arroz, como no beneficiamento e fabricação de seus
produtos.
Figura 20: Municípios Especializados na Produção de Arroz, no Beneficiamento de Arroz e
Fabricação de seus Produtos ou em Ambas Atividades em Mato Grosso.
Fonte: Elaborada pela autora utilizando GEODA.
A concentração espacial dos municípios no setor orizícola, seja na produção ou no
beneficiamento, ocorre principalmente nas regiões Centro, Leste e Nordeste do estado, sendo
que é possível observar que a maioria dos municípios estão próximos geograficamente, o que
justifica o fato de alguns terem a produção como destaque e outros, apesar de também
produzirem, apenas serem especializados no beneficiamento de arroz e fabricação de seus
produtos.
A concentração da atividade orizícola, seja na produção ou no beneficiamento, faz
com que estas regiões se desenvolvam, a medida que a atividade econômica já instalada induz
o surgimento de empresas satélites, fornecedoras de insumos ou de logística. Assim, fomenta-
se o comércio local, com mais empregos e renda para população, além de tornar a região um
foco de investimentos em infraestrutura.
75
Pode-se considerar que com a existência de agroindústrias beneficiadoras de arroz, no
chamado encadeamento para trás, os produtores rurais do estado são incentivados a
produzirem para suprir a demanda das indústrias, fazendo com que a produção do estado não
decline e seja suficiente para suprir a demanda interna e ainda comercializar o excedente com
outros estados.
Dos 37 municípios com ICN acima da média na produção de arroz, nenhum é apoiado
pelo arranjo, e dos 23 especializados no beneficiamento de arroz e fabricação de seus
produtos, apenas seis são apoiados pelo APL do Arroz, dos quais apenas Sapezal, Sinop e
Várzea Grande apresentaram ICN acima da média e maior que um. Os municípios de Tangará
da Serra e Cuiabá são apoiados sem qualquer indício de especialização na produção ou no
beneficiamento de arroz. Assim verifica-se a incapacidade das instituições governamentais de
identificarem os municípios a serem apoiados e consequentemente de gerirem o Arranjo
Produtivo Local.
Sabendo as regiões onde a atividade orizícola vem se expandindo, é possível investir
em melhorias de infraestrutura e no desenvolvimento de serviços básicos, além de atividades
relacionadas à qualificação de mão-de-obra. Assim, contribui-se com o processo de
acumulação, o que eleva a demanda e atrai novos investimentos, promovendo o
desenvolvimento.
5.2 Gestão, Eficiência e Competitividade da Agroindústria do Arroz em Mato Grosso
A aplicação da análise fatorial às informações levantadas auxilia na definição dos
principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento do segmento de beneficiamento de arroz
em Mato Grosso e, consequentemente, da cadeia produtiva, além de avaliar cada categoria
identificada.
Após a estimativa dos dados no software SPSS, o teste de Bartlett avaliou a
significância geral da matriz de correlação e apresentou valor de 152,641, indicando que as
correlações são significantes ao nível de 1% de probabilidade, ou seja, que a matriz de
76
correlação não é diagonal. Este resultado valida o uso desta técnica para a extração dos fatores
e a mensuração das variáveis relevantes ao desempenho competitivo deste segmento.
Teste de Bartlett
Teste de Esfericidade de Bartlett Qui-quadrado 152,641
DF. 78
Significância 0,000
Conforme os dados apresentados na Tabela 4 obtiveram-se todas as comunalidades
acima de 0,5, valor mínimo aceitável para que as variáveis em questão não sejam
desconsideradas pela referida técnica.
Tabela 4: Comunalidades para o segmento de agroindústrias beneficiadoras de arroz do Estado
de Mato Grosso, 2011.
Comunalidades Inicial Extração
Estratégia de Produto Novo 1,000 0,844
Funcionários 1,000 0,877
Remuneração dos Funcionários 1,000 0,677
Treinamento e Consultoria 1,000 0,739
Consulta às Preferências dos Consumidores 1,000 0,652
Ociosidade da Planta 1,000 0,759
Idade dos Equipamentos 1,000 0,734
Preço Pago 1,000 0,844
Preço Recebido 1,000 0,598
Gasto com Folha de Pagamento 1,000 0,951
Gasto com Produção 1,000 0,855
Comercialização de Outros Produtos 1,000 0,806
Crescimento da Empresa 1,000 0,659
Fonte: Saída do SPSS.
A Tabela 5 apresenta os cinco fatores que explicam 76,89% da variação total da
nuvem de dados, um valor satisfatório aceito pelo critério da porcentagem da variância é a
77
partir de 60%. O primeiro fator possui maior destaque, explicando 19,09% da nuvem de
dados, seguido dos demais pela ordem com 15,6%, 14,9%%, 14,3% e 12,7%.
Tabela 5: Variação total explicada para o segmento de agroindústrias beneficiadoras de arroz do
Estado de Mato Grosso, 2011.
Componentes Valores Iniciais Valores Extraídos Valores Rotacionados
Fatores
Tota
l
% d
a V
ariâ
nci
a
% C
um
ula
tivo
Tota
l
% d
a V
ariâ
nci
a
% C
um
ula
tivo
Tota
l
% d
a V
ariâ
nci
a
% C
um
ula
tivo
1 3,056 23,505 23,505 3,056 23,505 23,505 2,483 19,099 19,099
2 2,640 20,308 43,813 2,640 20,308 43,813 2,033 15,637 34,736
3 1,760 13,535 57,348 1,760 13,535 57,348 1,949 14,992 49,728
4 1,370 10,535 67,883 1,370 10,535 67,883 1,869 14,376 64,104
5 1,171 9,008 76,891 1,171 9,008 76,891 1,662 12,787 76,891
Fonte: Saída do SPSS.
A Figura 21 demonstra que os cinco fatores fornecidos pelo modelo explicam todas as
variáveis consideradas, sendo àqueles que estão acima de um no gráfico.
Figura 21: Gráfico dos Fatores.
Fonte: Saída do SPSS.
78
Todos os parâmetros do modelo de análise fatorial estão de acordo pela nuvem de dados
em questão, o que permite considerar adequadas as variáveis que compuseram cada fator,
expressos na matriz de componentes rotacionados. É, portanto, sustentada a composição e
análise de cada fator, assim como, são respaldadas as conclusões obtidas a partir do referido
modelo.
As variáveis que compõem cada fator são determinadas a partir da carga fatorial
apresentada. Desta forma a composição de cada fator ficou distribuída de acordo com a
Tabela 6.
Tabela 6: Matriz de Componentes Rotacionados para o Segmento de Agroindústrias
Beneficiadoras de Arroz do Estado de Mato Grosso, 2011.
Variáveis Fator Recursos
Humanos
Fator de
Negociação
Fator de
Produção
Fator de
Custos
Fator de
Competitividade
Gasto com Folha
de Pagamento 0,959 0,165 -0,048 0,001 -0,036
Funcionários 0,922 -0,075 -0,029 -0,083 -0,119
Treinamento e
Consultoria -0,594 -0,053 -0,062 0,591* 0,175
Remuneração dos
Funcionários 0,415 0,613 -0,116 0,174 0,292
Preço Pago 0,163 0,824 0,223 -0,186 0,231
Preço Recebido -0,150 0,734 0,050 -0,012 -0,186
Estratégia de
Produto Novo 0,093 -0,322 -0,769 0,369 0,060
Idade dos Equipamentos 0,162 0,337 0,691 0,191 0,284
Comercialização de
Outros Produtos -0,115 -0,274 0,791 0,299 0,053 Gasto com
Produção 0,032 -0,025 -0,117 -0,916 0,022
Consulta às Preferências dos
Consumidores 0,157 0,305 -0,293 -0,446 * -0,500
Ociosidade da Planta -0,032 0,074 -0,024 0,114 0,860
Crescimento da
Empresa 0,254 -0,110 -0,286 0,367 -0,605
Fonte: Saída do SPSS.
* - variáveis que têm cargas próximas, podendo explicar mais de um fator.
79
O primeiro fator foi composto pelas variáveis gasto com folha de pagamento,
funcionários e treinamento e consultoria. Estas variáveis estão relacionadas ao processo de
gestão de funcionários da empresa, portanto, pode-se denominá-lo como Fator Recursos
Humanos.
A carga fatorial destes componentes apresentou indicadores entre 0,6 e 0,9, sendo que
dois deles, funcionários e gasto com folha de pagamento, se correlacionam positivamente,
tendo uma importância mais significativa no desempenho das empresas. A variável
treinamento e consultoria apresentou correlação negativa no processo de gestão de recursos
humanos e necessita de maior atenção por parte das empresas, dado que o treinamento e
capacitação de funcionários pode não estar sendo realizado a contento no processo de gestão,
interferindo negativamente na eficiência das empresas. Isso pode ser justificado pelo fato de
nos municípios menores não serem tão presentes instituições públicas ou privadas que
realizam este tipo de serviço, ou mesmo pela dificuldade de acesso. E ainda, pode-se
considerar a falta de preparo destas instituições para cumprir a função a que se destinam, já
que a capacitação dos profissionais muitas vezes não é específica para atender ao setor
agroindustrial.
Pode-se dizer que este fator, por agrupar informações relacionadas à qualidade,
quantidade, capacidade e custos com pessoal, é um fator de competitividade do setor de
beneficiamento de arroz, enquadrado nas categorias recursos humanos e recursos de
conhecimento definidas por Porter. Mediante suas características demonstra que o setor é
competitivo quanto à quantidade de funcionários e capacidade de remunerar, mas precisa
melhorar o treinamento dos funcionários para atingir melhor nível de competitividade.
O segundo fator foi composto por três variáveis, remuneração dos funcionários, preço
pago e preço recebido pela tonelada de arroz, todas com carga fatorial acima de 0,6. A partir
das variáveis agrupadas pode-se denominá-lo como Fator de Negociação, onde ambas estão
correlacionados positivamente, contribuindo com o desenvolvimento do segmento de
agroindústrias beneficiadoras de arroz.
Mesmo sabendo das constantes reivindicações por melhores preços no setor, e que o
preço da saca de arroz tanto em casca quanto beneficiado oscila durante o ano, ainda assim
pode-se considerar que o setor remunera bem a produção, pois a lucratividade em geral foi
positiva no ano de 2011. A única política de preço direcionada ao arroz é a Política de Preços
Mínimos, regulamentados pela CONAB (2010), a qual garante a diferença no preço, quando o
80
preço do mercado estiver abaixo do preço mínimo estipulado. Entretanto, a fixação de preços
da saca de arroz depende do mercado, ou seja, da oferta e da demanda pelo produto, por isso
há uma grande oscilação na entre safra.
A remuneração dos funcionários presente neste fator pode ter ligação com os preços no
sentido de que se o setor é bem remunerado pelo produto que comercializa, consequentemente
os salários pagos aos seus funcionários também poderão ser. E ainda, a carga positiva desta
variável pode estar indicando que o salário pago é a favor do setor, dado que a renda obtida é
gasta no comércio local, e consequentemente com a compra de arroz, um dos produtos
principais da cesta básica das famílias.
O terceiro fator foi composto por três variáveis: estratégia de produto novo, idade dos
equipamentos e comercialização de outros produtos. Ambas as variáveis estão relacionadas à
produção, por isso, pode-se denominá-lo como Fator de Produção. As variáveis idade dos
equipamentos e comercialização de outros produtos estão correlacionadas e variando
positivamente, justificando a importância e o uso de novas alternativas de produto na
empresa, assim como a renovação dos equipamentos. Sua correlação positiva pode estar
indicando que alguns equipamentos podem ser utilizados para mais de um produto, o que
contribui para o retorno financeiro da empresa na medida em que não são necessários novos
investimentos.
E ainda, a variável relacionada à equipamentos pode ser associado ao fator de recursos
físicos, definido por Porter como um dos fatores responsáveis pela geração de vantagens
competitivas, sendo neste caso analisada positivamente já que apresentou carga fatorial de
0,691.
O fator estratégia de produto novo está correlacionado negativamente, deixando claro
que o setor é falho neste sentido, ou seja, é um fator que precisa ser melhorado, com um leque
maior de produtos diferenciados a partir do arroz. Isto é visível no setor, dado que o arroz tem
poucas possibilidades de diversificação e que o custo para produtos mais elaborados e a
demanda relativamente baixa, fazem com que as empresas deixem de investir e diferenciar.
O quarto fator engloba apenas uma variável em sua composição: o gasto com produção,
sendo denominado Fator de Custos. A correlação negativa desta variável de carga - 0,9, indica
que o gasto com produção de arroz está contribuindo negativamente no segmento. Analisando
a competitividade, esta variável, enquadrada no fator recursos de capital de Porter, apresenta-
81
se no setor de beneficiamento como um entrave à competitividade, já que sua carga é
negativa.
Sendo importante para a lucratividade da empresa, é necessário que se dê atenção
especial aos custos de produção, que podem estar elevados demais, pois conforme análise em
2011 a produção demandou cerca de 91 % do total dos gastos do setor.
Estes gastos elevados podem estar relacionados à questão logística e aos custos
elevados do frete, pois as agroindústrias em sua maioria estão distantes dos polos produtivos
de arroz no estado. E ainda, deve-se considerar que a embalagem, único insumo utilizado para
produção de arroz polido, é na maioria das empresas adquirida de outros estados, o que
automaticamente encarece o gasto com produção. Neste sentido que é importante o fomento à
produção nas diversas regiões do estado, para facilitar a compra da matéria-prima, além da
instalação de empresas satélites que deem suporte ao segmento.
Neste mesmo fator é possível observar que as variáveis treinamento e consultoria e
consulta às preferências dos consumidores tem cargas com valores próximos ao do fator em
que foram alocadas no modelo (Fator Recursos Humanos e Fator Competitividade), mas
podem estar indicando neste fator custos, que quanto mais treinamento e consultoria a
empresa tiver menores serão seus custos e, quanto menos estiver interessada em saber as
preferências dos consumidores, maiores poderão ser seus custos.
O quinto e último fator finaliza o grupo de componentes com sua composição feita
pelas seguintes variáveis: consulta às preferências dos consumidores, ociosidade da planta e
crescimento da empresa, cujas cargas fatoriais estão entre 0,5 e 0,8. As variáveis
correspondentes a este fator se referem à análise de mercado, capacidade produtiva da
empresa e crescimento, denominando-o de Fator de Competitividade.
As variáveis, consulta às preferências dos consumidores e crescimento da empresa,
estão correlacionadas negativamente, ou seja, demonstrando que é necessária atenção maior a
estas, dado que podem estar contribuindo negativamente ao desenvolvimento do setor. Sabe-
se que a maioria das empresas não fazem pesquisas com consumidores para saber de suas
preferências, seja devido aos custos elevados ou mesmo porque acreditam ser mais
interessante investir na marca do que em pesquisas de preferências, pois o arroz é considerado
homogêneo. O fato de o crescimento se apresentar negativo pode ser justificado pelas
mudanças que vem ocorrendo no setor, as quais fizeram muitas empresas fecharem e
estabilizarem, sem muitas evoluções no mercado.
82
A variável ociosidade da planta se apresentou positiva, o que pode indicar que o setor
tem possibilidades de expansão da produção, dado que algumas plantas operam em
capacidade ociosa. Do ponto de vista dos fatores de competitividade, a ociosidade se
apresenta como fator de infraestrutura, sendo neste caso uma vantagem competitiva do setor,
dado que há possibilidade de expansão do mesmo. E ainda, pode-se considerar que manter a
ociosidade no setor é uma maneira de evitar a entrada de novos concorrentes, ou seja, a
ociosidade também pode ser vista como uma barreira à entrada.
Algumas variáveis incluídas nos fatores obtidos com a análise fatorial representam as
categorias de vantagens de competitividade apresentadas por Porter, comprovando que o
modelo apresentado indica a capacidade competitiva do setor de beneficiamento de arroz no
estado.
Esta etapa da análise indica quais os principais fatores responsáveis pelo desempenho
do segmento de agroindústrias da cadeia produtiva do arroz, assim como, os locais onde este,
juntamente com a produção, está concentrado e especializado. Assim, se sabe como
desenvolver este segmento chave, gerando inputs a toda a cadeia, ao mesmo tempo em que se
sabe o local de origem destes inputs.
6. CONCLUSÃO
Analisando a localização espacial da produção e beneficiamento de arroz foi possível
verificar que estão mais concentradas no Centro, Leste e Nordeste do estado, sendo que se
pode observar que a maioria dos municípios estão próximos geograficamente, o que justifica
o fato de alguns terem a produção como destaque e outros, apesar de também produzirem,
apenas serem especializados no beneficiamento de arroz e fabricação de seus produtos.
Dos 141 municípios de Mato Grosso, 37 foram considerados especializados na
produção de arroz e 23 no beneficiamento, sendo que em apenas quatro municípios ambas as
atividades mapeadas são destaque: Água Boa, Alto Boa Vista, Porto Alegre do Norte e
Matupá.
Pode-se verificar que o setor orizícola no estado vem afunilando cada vez mais o
número de empresas beneficiadoras de arroz, principalmente devido a queda na produção nos
últimos anos. Porém, as empresas que permaneceram atuando no mercado estadual vêm se
solidificando e o arroz matogrossense está sendo mais consumido no estado.
Atualmente são 33 beneficiadoras em funcionamento, sendo que a maioria são de
pequeno porte e geridas pela família. Juntas, comercializam 17,8 mil toneladas, que são
distribuídas em todo estado de Mato Grosso e cerca de 27% vão para outros estados. Os
funcionários totalizam 471, dos quais 97% são registrados, e a maioria com ensino
fundamental ou médio, cuja remuneração está em torno de R$ 958,00.
Os principais entraves à expansão apontados pelas beneficiadoras foram a falta de
matéria-prima, principalmente na entre safra, a baixa lucratividade, a concorrência de marcas
já consolidadas no mercado, principalmente do arroz do Rio Grande do Sul, a falta de mão-
de-obra qualificada, a demanda limitada, além da logística do estado que desfavorece às
agroindústrias instaladas e a falta de incentivo governamental.
O volume produzido e comercializado no estado nem sempre é suficiente para suprir a
demanda interna, então, sabendo que há capacidade ociosa nas agroindústrias locais, o
fomento a produção agrícola pode fazer com que o setor de beneficiamento seja
impulsionado, gerando ainda mais empregos, o que consequentemente pode melhorar a renda
da população e fomentar a demanda em outras atividades. Estas, por sua vez, gradualmente,
podem ser incentivadas a investir aumentando a arrecadação do estado, o que reverte em
84
melhorias em saúde, educação, cultura, infraestrutura, melhorando o bem estar da população
matogrossense.
A integração dos elos da cadeia produtiva do arroz no estado existe, porém ainda é
bastante incipiente. No caso da agroindústria, a maioria das empresas trabalham
individualmente, sendo que poucas se unem de forma cooperada na compra de matéria-prima
ou até mesmo na aquisição de inovações tecnológicas, afim de melhorar seu poder de
negociação. Àquelas que participam do sindicato que representa a classe, buscam benefícios
em comum para o setor junto ao governo estadual, seja no preço, na isenção de impostos ou
outros aspectos que apresentem-se como dificuldades para o bom desempenho das empresas
dentro do estado.
No seu relacionamento à montante, ou seja, com o produtor rural, a maioria das
agroindústrias têm pouco contato com os mesmos, porém quando o tem é de maneira
satisfatória, apenas mencionaram a falta de fidelidade, que se justifica também por não serem
fiéis a uma única cultura em suas lavouras e, ainda, a falta de conhecimento de mercado por
parte de alguns, o que dificulta a negociação do preço, por exemplo. Já no relacionamento a
jusante, a maioria das agroindústrias tem o atacadista como principal cliente, com o qual a
maior dificuldade está na conquista de espaço e também na negociação de preços.
Os fatores identificados na análise fatorial foram relacionados à recursos humanos,
negociação, produção, custos e competitividade. Todos os fatores demonstraram variáveis
correlacionadas positivamente, ou seja, que contribuem para o desenvolvimento da cadeia
produtiva do arroz no estado e, variáveis negativamente correlacionadas, as quais precisam de
mais atenção no setor.
As variáveis funcionários, remuneração dos funcionários e gasto com folha de
pagamento tiveram carga positiva, indicando que contribuem para o desenvolvimento do setor
no estado. Os preços, pago e recebido, na tonelada do arroz em casca e beneficiado também
são variáveis que influem positivamente, sugerindo que está havendo boa remuneração e
lucratividade. A idade dos equipamentos e a comercialização de outros produtos influem
positivamente, a medida que os equipamentos ainda são adequados ao beneficiamento sendo
que novas aquisições são feitas em um intervalo de tempo maior, e ainda que a presença de
outros produtos no portfólio da empresa contribui ainda mais para sua lucratividade. A
ociosidade da planta apresentada com sinal positivo indica que há capacidade para processar
mais arroz no estado, além de indicar uma barreira à entrada de novos concorrentes.
85
Daquelas cuja carga se apresentou negativa, a questão do treinamento e consultoria,
pode ser considerada um ponto fraco do elo agroindustrial, já que a maioria das empresas se
situam no interior do estado, onde nem sempre há a presença de órgão como SENAI e
SEBRAE, que são capacitados para este tipo de atividade. Quanto à estratégia de produto
novo, esta também deixa a desejar na agroindústria orizícola do estado, já que a maioria das
empresas trabalham apenas com a primeira transformação do arroz, alegando que o
custo/benefício de produtos diferenciados ainda é negativo para o mercado consumidor de
Mato Grosso.
O gasto com produção também foi negativo, o que denota atenção do setor, pois este
influi na lucratividade da empresa e consequentemente no seu crescimento no mercado, sendo
que poderia ser solucionado com maior cooperativismo entre as empresas na aquisição da
matéria-prima para beneficiar, o que reduziria o preço pago devido ao maior volume. O
crescimento da empresa, correlacionada negativamente, pode estar ligado a estes altos custos
de produção e, também, ao fechamento de muitas empresas do setor que fez com que as que
permaneceram se mantivessem estáveis no mercado sem muitos avanços. A consulta aos
consumidores apresentou carga negativa, justificando-se pelo fato de não ser uma prática das
beneficiadoras fazer pesquisa de preferências, já que consideram o arroz como um produto
homogêneo, sendo mais importante o marketing relacionado à marca.
A pesquisa identificou que além de incentivos fiscais, mais nada está sendo feito por
parte do poder público, além de incentivos fiscais e, pouco está sendo feito por parte das
empresas, as quais deveriam buscar uma articulação para melhorar a interação entre os elos, já
que isto tenderia a melhorar, pelo menos, as receitas dos segmentos. Somente com a ação
governamental, com políticas econômicas alinhadas em benefício das empresas locais será
possível um setor forte e consolidado, evitando o fechamento de agroindústrias no estado
como ocorreu em 2004/2005. Se a cadeia produtiva estiver organizada, terá melhor
desempenho e induzirá o estabelecimento de setores auxiliares e atividades terciárias, que
trarão benefícios econômicos e sociais ao estado.
Sabendo onde se produz e se beneficia arroz em Mato Grosso e identificados os pontos
fortes e fracos do segmento agroindustrial da cadeia, é possível o governo intervir com
políticas que estejam além de incentivos fiscais, sejam na melhoria de infraestrutura logística,
aumento do número de centros qualificadores de mão-de-obra, incentivos à inovação em
produtos, com pesquisas de instituições públicas sendo mais difundidas às empresas, para que
as ponham em prática, dentre outras possibilidades.
86
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90
ANEXOS
91
QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS AGROINDÚSTRIAS BENEFICIADORAS DE ARROZ
IDENTIFICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Código: Data: ____ /____ /_______ Segmento:
IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
Razão Social: CNPJ:
Nome Fantasia:
Endereço: Nº:
Bairro Município: UF:
CEP: Fone: E-mail:
Proprietário: Instrução: ( ) F ( ) M ( ) G ( ) P
Entrevistado: Instrução: ( ) F ( ) M ( ) G
( ) P
( ) Proprietário ( ) Gerente ( ) Outro: ________________Tempo na empresa:
________
Início das Atividades: __ /___/___ ( ) Empresa Independente ( ) Parte de um
Grupo
Capital Regulador: ( ) Nacional ( ) Estrangeiro ( ) Nacional e
Estrangeiro
Como é a formação da empresa? ( ) Empresa familiar ( ) Sociedade anônima
( ) Cooperativa ( ) Outra
A empresa possui Filial? ( ) Não ( ) Sim Quantas? ___________
Onde?______________________________________________________________________
A empresa realiza exportação? ( ) Não ( ) Sim Para
onde?___________________________
Qual o percentual do faturamento? ______________
A empresa realiza importação? ( ) Não ( ) Sim De
onde?____________________________
Qual o percentual da matéria-prima? ______________
Acesso ao Crédito: ( ) Capital de Giro ( ) Investimento ( ) Não Acessou
Crédito
Problemas: _________________________________________________________________
92
Gasto Médio Mensal da Empresa:
Gasto com Pessoal: __________________Serviços de Terceiros: _____________________
Matéria-Prima: ______________________Aluguel, Energia, Impostos: ________________
A empresa apresentou crescimento nos últimos anos?
( ) Sim ( ) Manteve-se estável ( ) Retraiu
Se cresceu, quais os principais motivos apontados?
( ) Menores custos de produção ( ) Maior diversificação de produtos
( ) Menor concorrência ( ) Demanda de mercado positiva ( ) Melhor planejamento
( )Investimentos em publicidade ( ) Conquista de novos mercados
( ) Outros_________________________________________
Se retrai ou manteve-se estável, quais os principais motivos?
( ) Falta de planejamento ( ) Perda de mercado ( ) Retração do mercado
( ) Maior concorrência ( ) Aumento dos custos de produção ( ) Aumento dos
insumos ( ) Outros_________________
Quais os principais entraves à expansão da empresa?
( ) Escala ( )Financiamento ( ) Crescimento de mercado ( ) Insumos ( )
Concorrência
( ) Outros_________________________________________________________________
INDICADORES DE PRODUÇÃO
Total de Toneladas Adquiridas (mensal): _________________ Preço Pago (ton):_______
Origem do Arroz: Do Próprio Município _________Outros Municípios da Região ________
Outras Regiões do Estado __________ Outros Estados ______Outros Países __________
Locais:____________________________________________________________________
Capacidade Instalada: ________________ Margem de Lucro (%): ________________
Identificação: ( ) Marca Própria ( ) Marca Coletiva ( ) Não Tem Marca
Principais Insumos Utilizados no Processo Produtivo (média mensal):
Nome: ________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem:___________
Nome: _________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem: __________
Nome: _________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem: __________
Nome: _________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem: __________
Nome: _________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem: __________
93
Nome: _________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem: __________
Nome: _________________ Quantidade: _________ Preço: ________ Origem: __________
A empresa enfrenta alguma limitação produtiva?
Qual?______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
LINHA DE PRODUTOS
Quais produtos fazem parte do portfólio da empresa?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Destes produtos, qual a representatividade (em %) de cada um deles no faturamento da
empresa?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Ocorreu alguma mudança significativa (inclusão/retirada) na linha de produtos da
empresa nos últimos anos? ( ) Não ( ) Sim Quais?
Porquê?____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Dentre os produtos derivados de arroz que a empresa produz, qual é considerado mais
inovador? Por quê?
___________________________________________________________________________
Há algum produto promissor, que represente uma aposta em termos da estratégia da
empresa?
______________________________________________________________________
No lançamento de novos produtos a empresa se considera: ( ) inovadora ( ) seguidora
Quais produtos a nível mundial, que vocês têm conhecimento, a partir do arroz que
poderiam estar sendo comercializados aqui no Brasil? Por que não o
são?_______________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
94
Quais as motivações que a empresa tem para diferenciar e diversificar sua produção?
( ) Faturamento ( )Tecnologia ( ) Concorrência ( ) Outros
O que é feito com os subprodutos do beneficiamento (casca, grão quebrado e farelo)?
( ) Queima ( ) Farinha de Arroz ( ) Reciclagem ( Briquete) ( ) Energia ( ) Ração
( )Outro _______________________________________________________
INDICADORES DE COMERCIALIZAÇÃO
Total de Arroz Comercializado (média mensal): Preço Recebido (ton):_____
Destino do Arroz: Próprio Município _________Outros Municípios da Região ___________
Outras Regiões do Estado __________ Outros Estados ________Outros Países ________
Locais: _____________________________________________________________________
Dentre os mercados em que a empresa atua, qual o % de vendas para cada um deles?
Regional: ___________ Estadual:___________ Municipal:___________
Nacional:__________ Outros:_____________________________
Quais os principais clientes da empresa? ( ) Atacadistas ( ) Redes de Supermercados
( ) Mini-mercados ( ) Restaurantes ( )Outros ______________________________
Como são tratadas as grandes redes de supermercados a atacadistas pela empresa?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
A empresa produz a marca própria de alguma rede de supermercado / atacadista? ( )
Não ( ) Sim Qual a vantagem?
Quais as principais dificuldades para lidar com o setor atacadista?
___________________________________________________________________________
Qual a logística utilizada pela empresa? E Qual a ideal?
95
INDICADORES SOCIAIS
Total de Pessoas que Trabalham na Empresa:
Registrados: _______ Terceirizados: _______ Temporários: _______Familiares: _______
Remuneração Média Mensal dos Empregados:
Registrados: ________________________ Terceirizados: _________________________
Temporários: ________________________ Familiares: ___________________________
Nível de Qualificação:
Pós-graduados: _________ Graduados/Técnicos: ____________Ensino Médio: ________
Outros:_________________________
INDICADORES ORGANIZACIONAIS E DE COMPETITIVIDADE
Introduziu Inovações Recentemente 2009/2010 (processo-produto-gestão):
( ) Não ( ) Sim, quais: __________________________________________________
Já Existe no Mercado: Valor Gasto com Inovações em 2009/2010:_________
___________________ ( ) Não ( ) Sim, na Região ( )Sim no País ( ) Sim, no Exterior
___________________ ( ) Não ( ) Sim, na Região ( )Sim no País ( ) Sim, no Exterior
___________________ ( ) Não ( ) Sim, na Região ( ) Sim no País( ) Sim, no Exterior
Principal Dificuldade:
____________________________________________________________
Realiza Alguma Ação Cooperada: ( ) Não ( ) Sim, indicar:
( ) Melhoria de Gestão ( ) Compra de Matéria-Prima ( ) Comercialização
( ) Fabricação ( ) Pesquisa e Inovação Tecnológica ( )
Outras:______________
Participa de Alguma Organização Coletiva: ( ) Não ( ) Sim, quais:
__________________
Acessou Algum tipo de Entidade Prestadora: ( ) Não ( ) Sim, indicar:
( ) Treinamento e/ou Capacitação – Finalidade: ________________________________
( ) Consultoria e Melhoria de Gestão – Finalidade: ______________________________
( ) Institutos de Pesquisa ou Centros Tecnológicos – Finalidade: __________________
( ) Outras - Finalidade: ______________________________________________________
Realizou nos Últimos 3 Anos Alguma das Atividades Relacionadas:
( ) Implementação de Técnicas Avançadas de Gestão:
96
_______________________________
( ) Mudanças Significativas na Estrutura Organizacional: _________________________
( ) Mudanças Significativas nas Estratégias de Marketing: _______________________
( ) Estudo de Prospecção do Mercado: ________________________________________
Dificuldades na Aquisição de Matéria-Prima: ( ) Não ( ) Sim, Indicar:
M-P: _________________ Dificuldade: ___________________________________________
M-P: _________________ Dificuldade: ___________________________________________
M-P: _________________ Dificuldade: ___________________________________________
Dificuldades de Acesso ao Mercado: ( ) Não ( ) Sim, Indicar:
Produto: _____________ Dificuldade: ___________________________________________
Produto: _____________ Dificuldade: ___________________________________________
Produto: _____________ Dificuldade: ___________________________________________
Relação com Fornecedores: RC = Contratual VE = Verbal CO = Cooperada VL =
Vertical
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Qual o critério para seleção de fornecedores? ( ) Preço ( ) Qualidade ( ) Prazo
( ) Logística ( ) Outros _____________________________________________________
Existe fidelidade dos fornecedores? ( ) Sim ( ) Não
Quais as principais dificuldades para lidar com o produtor rural?
___________________________________________________________________________
A empresa financia produtores rurais? ( ) Não ( ) Sim De que forma?
___________________________________________________________________________
Relação com Compradores: RC = Contratual VE = Verbal CO = Cooperada VL =
Vertical
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: ________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
97
Produto: _________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Produto: _________________________________________ ( ) RC ( ) VE ( ) CO ( ) VL
Como a empresa se vê em relação aos concorrentes sob o aspecto da diferenciação e
diversificação? ( ) Mesmo nível ( ) Superior ( ) Inferior ( ) Outros_______________
NECESSIDADES DO CONSUMIDOR
A empresa obtém informações sobre as preferências dos consumidores? ( ) Sim ( )
Não
Quais as principais dificuldades para a obtenção de informações dos consumidores?
___________________________________________________________________________
Quais as principais dificuldades para lidar com o
consumidor?________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
INFORMAÇÕES DE ENGENHARIA
Qual é a capacidade produtiva da empresa?____________________________________
Existe ociosidade? ( ) Não ( ) Não
Os produtos diferenciados e diversificados que a empresa produz utilizam o mesmo
equipamento utilizado para o beneficiamento do arroz? ( ) Sim ( ) Não
NECESSIDADES TECNOLÓGICAS
Quais as fontes de tecnologia da empresa? ( ) Clientes ( ) Fornecedores ( )
Universidades ( ) Centros de Tecnologia ( ) Outras Indústrias ( ) A própria
empresa
( ) Outros ____________________
Qual a idade média dos equipamentos da empresa?
_______________________________
A empresa possui algum projeto para compra de novos equipamentos? ( ) Não( ) Sim
Qual a maior dificuldade para evolução tecnológica da empresa? ( ) Custos ( )
98
Acesso ( )Outros__________________________________________
AMBIENTE INSTITUCIONAL
Atualmente como é o processo de gestão da empresa?
( ) Centralizado ( ) Departamentalizado ( ) Participativo
Outro_______________________
A empresa possui integração vertical em alguma etapa de seu processo?
( ) Não ( ) Sim, qual_________________________________________________________
Por que a empresa resolveu adotar esta medida?
( )Qualidade no produto final ( )Garantia de entrega ( )Redução de custos ( )
Outros
Está respondendo as expectativas? ( ) Não ( ) Sim
Por quê?___________________________________________________________________
A empresa pensa em integrar mais algum processo na sua industrialização?
( ) Não ( ) Sim, qual_______________________________________________________
Como funciona o fluxo de informações entre a empresa e os demais elos da cadeia
produtiva?
______________________________________________________________________
Qual o elo que apresenta maior entrosamento com a empresa?
( ) Produtor ( ) Atacadista ( ) Varejista ( )Consumidor
Outro______________________________________________________________________
Por quê? ________________________
Com qual elo a empresa apresenta mais dificuldade para lidar?
( ) Produtor ( ) Atacadista ( ) Varejista ( ) Consumidor
Outro________________________
Por quê? _________________________________________________
Em relação às políticas públicas, como pode ser avaliada a intervenção governamental
no setor?
99
__________________________________________________________________________
A empresa possui algum apoio governamental? ( ) Financeiro ( ) Tecnológico
( ) Incentivo Fiscal ( ) Outro________________________________________________
De quais órgãos parte esta ajuda?
_______________________________________________
Como a empresa se sente representada pelos órgãos de classe, como FIEMT, APA,
ABIAP, SINDARROZ, entre outros?
_____________________________________________________
Quais os principais problemas encontrados no
setor?________________________________
___________________________________________________________________________
INDICADORES AMBIENTAIS
Origem e Insumos Utilizados no Processo Produtivo:
( ) Energia: ____________ ( ) Água: ____________ ( ) Outros: __________
Utilização de Produtos Químicos na Produção:
( ) Não Utiliza ( ) Utiliza Semanalmente ( ) Utiliza Diariamente
Tratamento dos Produtos Químicos:
( ) Não Trata ( ) Trata em Parte ( ) Trata Total
Destino dos Produtos Químicos:
( ) Fossa/Reservatório ( ) Curso D’água ( ) Céu Aberto ( ) Outros:
_____________
Custo Total para Tratamento dos Produtos Químicos (mensal):
_________________________
Quantidade de Resíduos Orgânicos Gerados (média diária/mensal):
_____________________
Tratamento dos Resíduos Orgânicos:
( ) Não Trata ( ) Trata em Parte ( ) Trata Total
100
Destino dos Resíduos Orgânicos:
( ) Fossa/Reservatório ( ) Curso D’água ( ) Céu Aberto ( ) Outros:
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Custo Total para Tratamento dos Resíduos Orgânicos (mensal):
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Possui Área Adequada para Construção de Reservatórios: ( ) Sim ( ) Não
Custo de Manutenção do(s) Reservatório(s) em R$:
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Possibilidade de Reaproveitamento dos Dejetos: ( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sabe
Investimentos Necessários (R$): ____________ Processo:
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Tem conhecimento sobre os possíveis subprodutos da cinza proveniente da queima da
casca do arroz? ( ) Sim ( )Não