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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO SUELI DE OLIVEIRA SOUZA DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR EXPERIENTE NO PROJETO COLABORATIVO UNIVERSIDADE/ESCOLAS: DESAFIOS E NECESSIDADES FORMATIVAS Rondonópolis MT 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

SUELI DE OLIVEIRA SOUZA

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR EXPERIENTE NO

PROJETO COLABORATIVO UNIVERSIDADE/ESCOLAS: DESAFIOS E

NECESSIDADES FORMATIVAS

Rondonópolis – MT

2017

1

SUELI DE OLIVEIRA SOUZA

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR EXPERIENTE NO

PROJETO COLABORATIVO UNIVERSIDADE/ESCOLAS: DESAFIOS E

NECESSIDADES FORMATIVAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, da Universidade

Federal de Mato Grosso, Câmpus Universitário

de Rondonópolis, na Área de Concentração

Educação, Linha de Pesquisa Formação de

Professores e Políticas Públicas Educacionais,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Simone Albuquerque

da Rocha

Rondonópolis – MT

2017

2

3

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO-RONDONÓPOLIS

Rod. Rondonópolis - Guiratinga, km 06 MT-270 - Campus Universitário de Rondonópolis

CEP: 78735-901 -RONDONÓPOLIS/MT, Tel: (66) 3410-4035 – E-mail: [email protected]

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO: DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR EXPERIENTE

NO PROJETO COLABORATIVO UNIVERSIDADE/ ESCOLAS: DESAFIOS E

NECESSIDADES FORMATIVAS

AUTORA: SUELI DE OLIVEIRA SOUZA

Dissertação defendida e aprovada em 31/03/2017.

COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________________________

Presidente Banca / Orientador Doutor (a) Simone Albuquerque da Rocha

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Interno Doutor (a) Cancionila Janzkovski Cardoso

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Interno: Doutor Ademar de Lima Carvalho

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Externo Doutor (a) Márcia de Souza Hobold

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Rondonópolis, 04 de abril de 2017.

4

A Jesus Cristo, o meu fiel e inseparável companheiro de todas as horas...

Eu te amarei enquanto viver...

Ao Valton Alves de Souza, meu querido esposo, que sempre me apoiou nestes vinte e seis

anos de convivência, e mais uma vez esteve ao meu lado, me ajudando e entendendo nos

momentos de fragilidades. Obrigada!

À minha estimada orientadora, professora Simone Albuquerque da Rocha, pelos

conhecimentos e sabedoria com os quais conduziu as orientações, estando sempre ao meu

lado, oferecendo apoio nos diferentes momentos percorridos nesta pesquisa.

5

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, grande e majestoso, dedico a honra deste título.

À professora Simone Albuquerque da Rocha, a quem manifesto minha admiração, pois, com

sua sabedoria, foi aos poucos me descortinando os caminhos do conhecimento da/para a

pesquisa, me proporcionando, assim, crescimento pessoal e profissional. Meu sincero respeito

e gratidão por tudo.

Às professoras Marcia de Souza Hobold, Cancionila Janzkovski Cardoso e o professor Ademar

de Lima Carvalho, pelas importantes contribuições manifestadas na ocasião do exame de

qualificação, que valeram não só para a escrita deste trabalho, mas também para o meu

desenvolvimento profissional.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEdu), pelas contribuições

teóricas: Professor Ademar, ao propor reflexões sobre as teorias da educação. Professora

Ivanete, ao provocar a reflexão crítica sobre as políticas educacionais. Professoras Kátia e Érika,

pelas intervenções críticas e necessárias, no momento do aporte teórico, propondo reflexões e

discussões sobre o projeto de pesquisa. Professora Simone, em suas aulas, ao proporcionar

discussões e reflexões sobre a profissão professor e as metodologias de pesquisa.

Ao meu esposo Valton, companheiro e amigo, que sempre compartilhou dos meus sonhos,

apoiando e dando sustentação para que tudo desse certo. Eu te amo. Sou grata a Deus pela sua

existência.

À minha família pelo incentivo e força nas minhas caminhadas! Minha mãe Veijanira, que me

orientou e deu forças para lutar pelos meus sonhos. Ao meu pai, Manoel (in memoriam), pela

vida. Em especial, a minha irmã Alda, que sempre assumiu a minha parte nas tarefas familiares

para me deixar livre para os estudos. Aos demais irmãos e irmãs, cunhados e cunhadas,

sobrinhos meu muito obrigada por compreender minhas ausências.

Aos meus colegas do mestrado, pelas partilhas e trocas de saberes. Em especial, meus amigos

Márcia Lorenzzon e Oldair Tavares, por termos dividido muitos trabalhos e aprendizagens,

alegrias e ansiedades. No fim, tudo deu certo! Obrigada.

Ao Observatório da Educação (CAPES/INEP/SECADI) e aos participantes do projeto na

UFMT/Rondonópolis, principalmente aos professores experientes e coordenadores das escolas

públicas que muito colaboraram com a pesquisa e demais participantes, grupos de estudos, ao

InvestigAção, obrigada pela partilha.

Aos meus amigos e colegas da Escola Municipal Gisélio da Nóbrega, Profissionais da

Educação. À diretora Márcia de Araújo Brito, professores, coordenadoras, secretária e demais

funcionários.

À Secretaria Municipal de Educação pelo apoio àqueles que desejam continuar seu

desenvolvimento profissional, meu reconhecimento.

Aos meus irmãos e irmãs de fé que estiveram em oração para que esta caminhada fosse de

sucesso. Obrigada.

E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram e torceram por mais essa conquista

na minha vida pessoal e profissional, meu Muito Obrigada!

6

7

RESUMO

A presente pesquisa tem origem no projeto aprovado pelo Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade Federal de Mato Grosso/Câmpus Universitário de Rondonópolis

(PPGEdu/UFMT/CUR) junto ao Observatório da Educação OBEDUC/CAPES/INEP/

SECADI/2012, o qual tem como foco o professor iniciante e seu desenvolvimento profissional,

dificuldades e necessidades, e, neste contexto, oferece formação continuada, de forma

itinerante, a seis escolas da Educação Básica. O projeto do OBEDUC prevê o processo de

orientação e apoio aos professores em início de carreira por meio de formação continuada e do

acompanhamento assistido por um professor experiente, sendo este o foco da presente pesquisa.

O professor experiente é concebido, neste estudo, como aquele profissional que, além dos anos

de experiência, tem um trabalho significativo junto aos seus pares, que mobiliza saberes para

lidar com as situações da prática com maior segurança. Esta pesquisa objetivou compreender

como se dá o desenvolvimento profissional do professor experiente ao acompanhar o professor

iniciante no projeto PPGEdu/ UFMT/OBEDUC, a partir da formação continuada por eles

requerida como forma de minimizar suas dificuldades no atendimento às suas necessidades

formativas. Adota abordagem qualitativa, com o método (auto)biográfico, tendo como

instrumentos o diário de campo, memoriais de formação e entrevistas com quatro professoras

experientes que se disponibilizaram à investigação. Assim, a pesquisa trouxe como indagações:

que necessidades formativas os professores experientes manifestam serem necessárias para o

desempenho na atividade de acompanhar o professor iniciante? O que estes profissionais

registram sobre o seu desenvolvimento profissional junto ao Projeto de formação continuada,

desenvolvido pelo PPGEdu/UFMT/OBEDUC para o atendimento às suas reivindicações? Os

resultados apontaram que os professores experientes são pouco assistidos pelas propostas de

formação de professores e seu envolvimento no Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC apresentou

indícios de desenvolvimento profissional sinalizado pelas mudanças de compreensão acerca do

professor iniciante, ao problematizar junto ao coletivo da escola a necessidade de um

atendimento diferenciado ao novo professor. Indicaram ainda os resultados que o fato de o

projeto trazer para os encontros de formação do professor experientes seus dilemas e desafios

ao acompanhar o professor iniciante socializou necessidades e experiências que ampliaram a

formação dos participantes.

Palavras-chave: Professor experiente. Acompanhamento. Formação continuada de

professores. OBEDUC/UFMT. Desenvolvimento profissional.

8

ABSTRACT

The present research has its origin in the project approved by the Program of Graduate Studies

in Education of the Federal University of Mato Grosso/University campus of Rondonópolis

(PPGEdu/UFMT/CUR) along with the Observatory of Education/OBEDUC/INEP/

SECADI/2012, which has as focus the beginner teacher and its professional development,

difficulties and necessities, and, in this context, offers continuous professional teacher

education in the itinerant form to six schools of Basic e Education. The OBEDUC project

provides the process of orientation and support to teachers in beginning of the career by means

of continuous professional teacher education and the support assisted by an experienced

teacher, being this the focus of the present research. The experienced teacher is conceived in

this study as that professional who, besides the years of experience, has significant work with

his/her peers, who mobilizes knowledge to cope with the situations of practice with more

confidence. This research aimed to comprehend how the professional development of the

experienced teacher in monitoring the beginner teacher happens in the project

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, from the continuous professional teacher education requested by

them as a form of minimizing their difficulties in the attendance to their educational necessities.

It adopts a qualitative approach, with the (auto)biographical method, having as instruments the

field diary, educational and learning memorials and interviews of four experienced teacher who

disclosed of the investigation. Therefore, the research brought as inquiry: what educational

necessities do experienced teachers manifest to be necessary for the performance in the activity

of monitoring the beginner teacher? What do these professionals register on their professional

development along the Project of continuous professional teacher educational carried out by

the PPGEdu/UFMT/OBEDUC for the attendance to their claims? The results point out that the

experienced teachers are little assisted by the proposals of teacher education and their

involvement in the Project PPGEdu/UFMT/OBEDUC presented traces of professional

development signaled by the changes of comprehension regarding the beginner teacher, upon

problematizing with the collective of the school the necessity of a distinguished attendance to

the new teacher. The results also indicated that the fact that the project brings to the meeting of

experienced teacher education their dilemmas and challenges on accompanying the beginner

teacher socialized necessities and experiences that broadened the teacher

education/development of the participants.

Keywords: Experienced teacher. Monitoring. Continuous professional teacher education.

OBEDUC/UFMT. Professional development.

9

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Visita à Escola Estadual 7 de Setembro 42

Fotografia 2 – Visita à Escola Estadual Wellington Flaviano Coelho 42

Fotografia 3 – Quinto encontro de formação com professores experientes/2015 58

Fotografia 4 – Sexto encontro de formação com professores experientes/2016 59

Fotografia 5 – Sétimo encontro de formação com professores experientes/2016 63

Fotografia 6 – Coordenadora do Projeto registrando os desafios dos experientes no

trabalho de acompanhamento e o cronograma de formação dos

professores iniciantes para 2016

64

Fotografia 7 – Oitavo encontro de formação com professores experientes/2016 66

Fotografia 8 – Nono encontro de formação com professores experientes/2016 67

Fotografia 9 – Décimo encontro de formação com professores experientes/2016 73

Fotografia 10 – Décimo primeiro encontro de formação com professores experientes/2016 74

Fotografia 11 – Décimo quinto encontro de formação com professores experientes/2016 79

10

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Produções do período de 2005/2016 com os seguintes descritores:

“Professor Formador”, “Professor Mentor” e “Professor Experiente” 92

Gráfico 2 – As produções nas Regiões brasileiras no período de 2005/2016, com os

descritores: “Professor Formador”, “Professor Mentor” e “Professor

Experiente”

93

Gráfico 3 – Produções identificadas no período de 2005/2016, com os descritores:

“Acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante” e

“Mentoria”

94

Gráfico 4 – Produções identificadas no período de 2005/2016 com os descritores:

“Formação do Formador” e ‘Desenvolvimento profissional do Professor

Experiente

95

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Número de professores iniciantes em cada escola envolvida no projeto

OBEDUC 30

Quadro 2 – Sujeitos da Pesquisa 31

Quadro 3 – Etapa da educação básica onde atuam os professores iniciantes do Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC 35

Quadro 4 – Desafios do professor experiente inserido no projeto OBEDUC 36

Quadro 5 – Demonstrativo dos participantes do atual Grupo

PGEdu/UFMT/OBEDUC 43

Quadro 6 – Caracterização das escolas participantes do projeto PPGEdu/ UFMT/

OBEDUC 45

Quadro 7 – Primeiro encontro de formação com professores experientes/2015 50

Quadro 8 – Segundo encontro de formação com professores experientes/2015 52

Quadro 9 – Terceiro encontro de formação com professores experientes/2015 54

Quadro 10 – Quarto encontro de formação com professores experientes/2015 55

Quadro 11– Quinto encontro de formação com professores experientes/2015

Quadro 12– Sexto encontro de formação com professores experientes/2016

57

60

Quadro 13 – Sétimo encontro de formação com professores experientes/2016 62

Quadro 14 – Oitavo encontro de formação com professores experientes/2016 65

Quadro 15 – Nono encontro de formação com professores experientes/2016 68

Quadro 16 – Décimo encontro de formação com professores experientes/2016 70

Quadro 17 – Décimo primeiro encontro de formação com professores experientes/2016 71

Quadro 18 – Décimo segundo encontro de formação com professores

experientes/2016

Quadro 19 – Décimo terceiro encontro de formação com professores experientes/2016

Quadro 20 – Décimo quarto encontro de formação com professores experientes/2016

75

77

78

Quadro 21 – Décimo quinto encontro de formação com professores experientes/2016 80

Quadro 22 – Artigos na SciELO no período de 2005/2016 95

Quadro 23 – Artigos publicados nas reuniões da ANPED no período de 2005-2016 96

12

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEE Atendimento Educacional Especializado

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

ANPED Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação

ASIHVIF Associação Internacional das Histórias de Vida em Formação

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BNCC Base Nacional Comum Curricular

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEFAPRO Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica

de Mato Grosso

CEFOR Centro de Formação para a Educação da Secretaria Municipal de

Educação de Campo Grande Mato Grosso do Sul

CIPA Congresso Internacional de Pesquisas Autobiográficas

CONPEduc Congresso de Pesquisa em Educação

CUR Câmpus Universitário de Rondonópolis

EJA Educação de Jovens e Adultos

ENDIPE Encontro Nacional e Didática e Prática de Ensino

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

GT Grupo de Trabalho

HTPC Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo

IES Instituição de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra

OBEDUC Observatório da Educação

PADI Programa de Acompanhamento Docente no Início da Carreira para

professores de Educação Física

PAPIC Programa de Acompanhamento de Professores em Início de Carreira

PEIP Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica

PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

PPGEdu Programa de Pós-graduação em Educação

PPGs Programas de Pós-Graduação

13

SciELO Scientific Electronic Library Online

SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão

SEDUC Secretaria Estadual de Educação

SEMED Secretaria Municipal de Educação de Rondonópolis/Mato Grosso

UERR Universidade Estadual de Roraima

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFSCar Universidade Federal de São Carlos

UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense

14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 16

2 DESENHANDO A PESQUISA: CAMINHOS ENTRELAÇADOS ............................. 26

2.1 Fundamentos teóricos da metodologia ......................................................................... 26

2.2 Sujeitos e o loci da pesquisa ........................................................................................... 30

2.2.1 O que dizer sobre os sujeitos? ................................................................................... 31

2.2.2 O loci da pesquisa: escola públicas das redes municipal e estadual de

educação.................................................................................................................................33

3 PROJETO PPGEDU/UFMT/OBEDUC: POSSIBILIDADES DO TRABALHO

COLABORATIVO ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLAS PÚBLICAS ................... 38

3.1 Projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC: estrutura organizacional e sujeitos............39

3.2 Os encontros de formação: um espaço de coleta de dados ........................................ 45

4 O PROFESSOR EXPERIENTE E O ACOMPANHAMENTO AO PROFESSOR

INICIANTE: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ........................................... 81

4.1 A travessia de estudante a professor: desafios do início da carreira ......................... 81

4.2 O professor experiente e o acompanhamento ao professor iniciante: o que pesquisas

e estudos brasileiros evidenciam sobre este processo?......................................................87

4.3 Professor experiente/professor mentor e professor formador do formador sob o

olhar de alguns teóricos ....................................................................................................... 96

4.4 Acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante: trilhas de um

trabalho colaborativo ......................................................................................................... 101

4.5 Os professores experientes no projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC – quem são e o

que fazem? ........................................................................................................................ 111

5 DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR EXPERIENTE E A

CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE ........................................................... 116

5.1 Desenvolvimento profissional e identidade docente: processos imbricados e

contínuos na/da profissão professor ................................................................................. 116

5.2 O desenvolvimento profissional das professoras experientes no processo de

acompanhamento aos professores iniciantes: desafios e aprendizagens ....................... 120

6 PROFESSORES EXPERIENTES E OS SENTIDOS DA FORMAÇÃO DO PROJETO

PPGEDU/UFMT/OBEDUC NO SEU DESENVOLVIMENTO PROFISISONAL:

NARRATIVAS EM RELEVO... ....................................................................................... 124

6.1 Sentidos e Repercussões da formação nas reflexões e práticas das professoras

experientes: o que revelaram os diários de campo .......................................................... 125

6.2 Sentidos e Repercussões da formação nas reflexões, práticas e desenvolvimento

profissional das professoras experientes: o que revelaram os memoriais .................... 134

15

6.3 Sentidos e Repercussões da formação nas reflexões e práticas das professoras

experientes: o que revelaram as entrevistas .................................................................... 143

7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES POSSÍVEIS ............................................................ 152

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 158

16

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem origem no projeto aprovado pelo Programa de Pós-Graduação

em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, Câmpus Universitário de Rondonópolis

(PPGEdu/UFMT/CUR), junto ao Observatório da Educação

(OBEDUC/CAPES/INEP/SECADI), no ano de 2012, tendo iniciado suas atividades em

meados de 2013, e investiga o professor iniciante e seu desenvolvimento profissional, suas

dificuldades e necessidades. Para tanto, inserem-se, neste contexto, seis escolas de Educação

Básica, das redes públicas municipal e estadual de ensino, dos municípios de Rondonópolis e

São José do Povo, Mato Grosso. O critério para a participação da escola no projeto

OBEDUC/UFMT é ter em seu corpo docente professores iniciantes, e prevê, para esta atividade,

que devem ter acompanhamento, orientação e apoio aos professores em início de carreira, a ser

desenvolvido por um professor experiente, atuante nestas escolas. Além destes profissionais,

fazem parte do Projeto seis graduandas da licenciatura em Pedagogia, uma coordenadora e

cinco mestrandos.

O desenvolvimento dos estudos do OBEDUC/UFMT se deu por meio de reuniões junto

aos iniciantes, quando estes manifestaram grandes dificuldades no desempenho da função,

devido à transição de aluno a professor, marcada pela insegurança no tocante às atividades da

prática docente, advinda da falta de experiência na nova função. Surgiu, então, a necessidade

da oferta de formação a estes novos professores. Esta formação partiu de temas apontados por

eles em torno de seus dilemas e necessidades formativas. Assim sendo, a equipe do OBEDUC

propôs que eles mesmos montassem sua agenda da formação, como forma de atender aos seus

interesses, o que aconteceu em reuniões quinzenais de estudos. Como o projeto prevê o

acompanhamento e apoio de um professor experiente na escola onde atua o iniciante, em pouco

tempo este profissional também expressou a necessidade de formação para um desafio novo, já

que os experientes são coordenadores pedagógicos e não tinham, ainda, um olhar específico

destinado ao professor em início de carreira, fase esta pela qual todos os profissionais passam.

Diante disso, em atendimento às reivindicações do professor experiente, em meados de

2015 a formação foi implementada em sessões de estudos específicas para eles, em quinzenas

que não coincidiam com a formação de todos os iniciantes, das quais os experientes também

participavam. Os temas destas reuniões também foram por eles determinados.

Assim, sua participação no Projeto deu-se em dois momentos alternados: em uma terça-

feira com os professores iniciantes, professores experientes, mestrandos em educação e

graduandos dos cursos de Pedagogia e, em outra terça-feira, somente para os professores

17

experientes, contando com a participação dos mestrandos do grupo de pesquisa InvestigAção,

liderado pela professora coordenadora do projeto do OBEDUC/UFMT, Simone Albuquerque

da Rocha. Esporadicamente, os graduandos também participavam das reuniões dos experientes,

quando a temática era interessante para a sua formação e pesquisa do Trabalho de Conclusão

de Curso.

Hoje, como coordenadora pedagógica e participante da gestão da escola pública, por

muitos anos envolvida com a formação continuada dos professores, atualmente como

mestranda e participante do Projeto, acompanho a formação nos dois segmentos, e, junto a dos

professores experientes, senti-me provocada a pesquisar sobre seus dilemas, desafios e

necessidades formativas para acompanhar o professor em início de carreira.

Minha trajetória até aqui começou quando tomei a decisão de ser professora, ainda na

adolescência, devido a admiração que sempre tive pela maioria dos meus professores. Neles eu

via o potencial e a capacidade de ajudar a construir sonhos, de nos preparar para um mundo

diferente daquele que as famílias, parecidas com a minha, nos apresentavam. Como assegura

Freire (1995), ninguém nasce educador, nos tornamos educadores na prática e na reflexão sobre

a prática. Assim, fui perseguindo meus objetivos sem olhar para as dificuldades enfrentadas,

de forma que, aos poucos, dentro de um tempo que não era o meu, mas aquele permitido pelas

condições que me foram dadas, eles se tornaram reais.

Em 1995, concluí o magistério, já aprovada no vestibular para o curso de Pedagogia na

Universidade Federal de Mato Grosso, o qual fiz sem ter, ainda, experiência com a prática

docente. No período da formação inicial tive a oportunidade de ser bolsista do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) o que, ao meu ver, trouxe contribuições

importantíssimas para a minha constituição de professora, além das leituras e trabalhos do

curso, que me inspiravam a pensar uma escola diferente daquela em que estudei toda a minha

vida. Estar na pesquisa me abriu horizontes para ser uma professora pesquisadora.

Ao concluir o curso de Pedagogia, minha primeira inserção na sala de aula se deu na

própria UFMT, como professora substituta do Departamento de Educação. Foi uma experiência

ótima, contudo, hoje, sabendo da responsabilidade do que é ser professor, acredito que não

assumiria. Neste período revi todo o curso de Pedagogia em poucos meses, pois trabalhei em

diferentes cursos de graduação com a disciplina de Didática. Além de saber o conteúdo

específico da disciplina, eu sentia necessidade de aprofundar estudos sobre a especificidade dos

cursos com os quais estava trabalhando. Posso dizer que foram dois anos de muitas

aprendizagens. Concomitantemente a esta experiência de professora iniciante fiz uma pós-

graduação lato sensu, pois sentia necessidade de continuar estudando. Sentia-me tão desafiada

18

por tudo que estava vivendo, que, ao escrever e reviver esta trajetória, parece-me não ter vivido

o choque de realidade. O que me lembro, com intensidade, é que passava as noites inteiras

estudando e planejando as aulas sozinha, isolada, sem nenhum acompanhamento. Encontro em

Tardif e Lessard (2014) as palavras que descrevem este isolamento pelo qual passa o professor:

Essa solidão do professor diante de e com uma coletividade de alunos tem

diversas consequências. Ela favorece a autonomia do trabalhador que é o

responsável por sua tarefa, mas, ao mesmo tempo, constitui também um peso

significativo, pois o trabalhador está isolado e não pode contar com ninguém,

geralmente, a não ser apenas consigo mesmo. Trabalhando em solidão e de

maneira perfeitamente visível diante de um público de alunos, o professor

nunca pode furtar-se ao olhar dos alunos, o que pode ocasionar certa

vulnerabilidade visto que como dizia um professor ginasial que interrogamos

‘ não se pode esconder nada diante dos alunos’, nem mesmo suas dificuldades

ou emoções. (TARDIF; LESSARD, 2014, p. 69 – grifos dos autores).

Vivendo esta experiência com os alunos, que depunham sobre as escolas de educação

básica, senti a necessidade de conhecê-las, para então ajudá-los a refletir suas condições de

professores. Foi assim que assumi, pela primeira vez, como professora contratada, uma sala de

alfabetização de adultos (Educação de Jovens e Adultos – EJA), em uma escola da rede

municipal de ensino de Rondonópolis, em 2001.

Foi uma aprendizagem interessante, pois, ao mesmo tempo em que ensinava para

alunos tão diferentes daqueles apresentados pelos meus professores na formação inicial,

entendia que ser professora consistia em um processo de aprendizagem contínua, se aprendia,

também, no contato direto com a prática. Buscava ler sobre a EJA, como ensiná-los, como fazer

para que as aulas fossem atrativas e possibilitassem aprendizagens. A despeito dessas

iniciativas, vivi os mesmos conflitos que a maioria dos professores iniciantes vivenciam. De

acordo com Marcelo (2002), os problemas que mais ameaçam os professores iniciantes são:

[...] a imitação acrítica das condutas observadas em outros professores, o

isolamento de seus pares, a dificuldade em transmitir os conhecimentos

adquiridos na etapa de formação inicial e o desenvolvimento de uma

concepção técnica de ensino (MARCELO, 2002, p.42).

No ano seguinte, fui convidada a participar da equipe gestora da escola na função de

coordenadora pedagógica, abraçando mais um novo desafio. Como assumiria tal trabalho? Que

saberes precisaria ter? Onde buscaria formação para contribuir com a escola? Foram estas

indagações que permearam meus pensamentos, pois não tive, na minha formação inicial,

nenhuma discussão e estudos sobre a atividade do coordenador pedagógico e a gestão da escola.

19

No presente, refletindo com Placco (2006), asseguro que não tinha conhecimento suficiente

desta função, o que coaduna com meus questionamentos na época. Conforme a autora, em um

dia normal de trabalho:

[...] o coordenador relaciona-se com professores, alunos e pais, faz a mediação

de conflitos e problemas, planeja e organiza atividades, atende emergências e,

além de tudo, mantem sua atenção na importância da construção do projeto

político pedagógico e a necessidade do envolvimento dos professores neste

processo. Fazer essa orquestração de fatos, situações, acontecimentos [...]

exige uma sabedoria pessoal adquirida muito provavelmente, diversas fontes:

na família, na escola, nas relações interpessoais, na formação profissional, na

instituição, na experiência cotidiana. (PLACCO, 2006, p. 18).

Desta forma, me tornei coordenadora pedagógica e foi lá, no dia a dia da escola, que fui

me formando com meus pares, sobretudo com minha companheira na coordenação da escola,

uma professora experiente, e na formação oferecida pela Secretaria Municipal de Educação

(SEMED) que, neste período, teve um olhar singular para a equipe gestora da escola.

Em 2003 e 2004 trabalhei no quadro da SEMED, no departamento de Ensino

Fundamental, ligada diretamente com a formação dos professores da rede e também fazendo

um trabalho de mediação entre as escolas e a Secretaria. Posso dizer que este período foi

marcado por inúmeras leituras, estudos e formação, o que também me ajudou a tornar-me a

professora que sou. Ao finalizar o ano de 2004, deixei a rede municipal de ensino e fui viver

uma nova experiência, desta vez, na rede privada.

Voltei a atuar como professora da educação superior em uma faculdade privada, no

curso de Pedagogia, e ali permaneci por dez anos. Durante esta experiência com educação

privada, também assumi a direção de uma escola de educação básica que trabalhava com

Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, configurando um grande desafio de trabalhar

com alunos, professores, funcionários e pais. Mais uma vez me sentia desafiada a aprender, a

pesquisar, a questionar a minha prática de gestora e, também, a inconformar-me com as práticas

dos colegas, em defesa de um ensino que pudesse provocar os alunos e desafiá-los a serem

melhores como pessoas.

Em 2011, decidi fazer concurso para rede municipal de ensino e fui aprovada. Confesso

que fiquei ansiosa: como entrar em sala, como me relacionar com meus pares, como contribuir

com a escola sem perder a alegria, a curiosidade, a ética, a criticidade? Tais indagações

expressavam “meus medos” de professora iniciante em uma nova realidade.

Lotei em uma sala da 1ª fase do I ciclo com alunos de seis anos de idade, com expectativa

de contribuir com estes pequenos, ensinando-os a ler, escrever e ser iniciados de forma

20

prazerosa na escola. Para minha surpresa fui requisitada pela diretora e aprovada pelos pares

para tornar-me coordenadora da escola, função que exerci até 2014.

Nesta função, em uma reunião de coordenadores pedagógicos na SEMED, a professora

Simone Albuquerque da Rocha, da UFMT, teve um espaço na agenda para apresentar o Projeto

que estava desenvolvendo, que tinha como objeto de investigação o professor iniciante, suas

dificuldades e desafios, e pediu para que os coordenadores das escolas informassem a uma

responsável se havia professores iniciantes em suas unidades, e assim foi feito. Uma das escolas

informadas foi aquela em que eu atuava como coordenadora pedagógica.

Na outra semana recebemos na escola todo o grupo de mestrandos e a professora

Simone, para nos esclarecer sobre o projeto e a importância de a escola fazer parte do mesmo.

Informou-nos que era necessário uma professora experiente, geralmente uma coordenadora

pedagógica, para acompanhamento ao Projeto. Foi nesse cenário do projeto que entrei como

professora experiente. Confesso que fiquei surpresa diante do novo desafio, afinal, seria eu uma

experiente a desenvolver uma atividade como iniciante? Medo, alegria, um misto de ansiedade

e satisfação foram sentimentos que me acompanharam no início das atividades, pois sempre

quis estar na escola e fazer parte de grupos de pesquisas vinculados às universidades, embora

sabedora da contrapartida da escola. Tinha chegado o momento de a escola crescer com a

parceria de vários profissionais da UFMT.

Como a nossa vida não é linear, nos dando a possibilidade de fazermos cada coisa em

um tempo, o processo seletivo do mestrado acontecia misturado a esta função. Então, minhas

expectativas tornaram-se duplas, participar do grupo de pesquisa e ser aluna do mestrado. E eis,

então, o resultado da minha aprovação.

O mestrado, para mim, foi um processo de aprendizagem que considero necessário a

todos os professores que atuam na educação básica. É um tempo de desconstrução e

reconstrução dos saberes. Neste período iniciei, de fato, no mundo da pesquisa, e pude perceber

mudanças significativas nas leituras que fazia da sociedade, da educação, do que é ser professor,

de como fazer pesquisa. Percebi que o meu desenvolvimento profissional continuava em uma

perspectiva mais questionadora, me permitindo lançar, ao contexto da escola, um novo olhar.

Admito que não foi uma tarefa simples, pois exigiu muitos dias de leituras, observações,

questionamentos e aprendizagens. Ficava sempre preocupada para não perder os princípios e

valores que sempre resguardei enquanto professora, coordenadora, diretora, a defesa de uma

educação de qualidade que possa permitir às pessoas tornarem-se mais humanas.

Foi nesse amálgama de ideias, perguntas e, acima de tudo vontade de continuar

aprendendo que o meu objeto de estudo foi se desenhando em uma perspectiva que exigiu

21

reconhecer-me como aprendiz de novas teorias e novas formas de fazer pesquisa, assim,

refazendo-me enquanto pesquisadora.

Assim sendo, como resultado deste processo continuum que estou vivenciando no

mestrado desenvolvi esta pesquisa com objetivo geral de compreender como se dá o

desenvolvimento profissional do professor experiente ao acompanhar o professor iniciante no

projeto PPGEdu/ UFMT/OBEDUC, a partir da formação continuada por eles requerida como

forma de minimizar suas dificuldades no atendimento às suas necessidades formativas. Deste

objetivo depreendem-se os específicos:

Identificar dilemas, desafios e necessidades formativas do professor experiente no

processo de acompanhar o professor iniciante na escola básica;

Acompanhar a formação continuada proposta pelos professores experientes à

coordenação do projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC no intuito de analisar, refletir e investigar

de que forma os encaminhamentos foram atendendo às demandas apresentadas;

Analisar de que forma a formação recebida está sendo percebida por estes

profissionais, por meio do acompanhamento contínuo aos encontros de formação e dos

registros de suas narrativas.

Vale esclarecer que, em todo o texto, quando a palavra utilizada se referir ao projeto de

formação do OBEDUC, será grafada como Projeto.

Para dar corpo à pesquisa, indaguei: que necessidades formativas os professores

experientes manifestam serem necessárias para o desempenho na atividade de acompanhar o

professor iniciante? O que estes profissionais registram sobre o seu desenvolvimento

profissional junto ao Projeto de formação continuada desenvolvido pelo PPGEdu/UFMT/

OBEDUC para o atendimento às suas reivindicações?

Este estudo concebe como professor experiente aquele profissional que tem mais de dez

anos (MARCELO, 2006) de magistério, que consegue mobilizar vários saberes ao mesmo

tempo, para atender as diferentes situações que a prática lhe impõe e, também, aquele professor

que, além dos anos de experiência, tem um trabalho significativo junto aos seus pares, um

profissional que conhece sua profissão, que mobiliza o grupo para estudos, discussões e

reflexões sobre a própria prática. São vários os autores que discutem a importância de o

professor iniciante contar com a ajuda de um profissional com experiência para acolhê-lo e

auxiliá-lo no início da carreira, assim como são várias as nomenclaturas que este profissional

recebe destes referenciais, as quais destaco a seguir.

Marcelo (2009; 2011; 2012) e Marcelo e Vaillant (2012) denominam este profissional

como professor Perito, Especialista ou Experto Adaptativo, entendido como aquele professor

22

que sai da condição de iniciante e vai se configurando em especialista a partir das experiências

e saberes vivenciados na prática. Para os autores Marcelo (2006), Ochoa (2011), Ureta (2009),

Mizukami, Reali e Tancredi (2012), Kaechele et al. (2013) e Inostroza (2013), ele recebe o

nome de professor Mentor.

Passeggi e Gaspar (2013) denominam este profissional como professor Orientador. As

autoras Silvia Matsuoka de Oliveira (2015) e Maria da Graça Nicoletti Mizukami (2006), bem

como Beillerot (1996) e Vaillant (2003), o denominam como Formador do formador. Percebeu-

se que para o autor Marcelo esta terminologia se altera devido às inúmeras responsabilidades e

contingências vividas por este profissional, entretanto, sua intenção é dizer que este profissional

é Mentor de um determinado grupo, tendo, por isso, a responsabilidade de conduzi-lo na

perspectiva do desenvolvimento profissional.

Desse modo, diante dos estudos realizados sobre o perfil, os saberes e as habilidades

que precisam ser mobilizadas para acompanhar o professor em início de carreira, decidiu-se

que, no projeto de formação “Egressos da Licenciatura em Pedagogia e os desafios da prática

em narrativas: a Universidade e a Escola em um processo interdisciplinar de inserção do

professor iniciante na carreira docente”, a denominação dada ao professor que acompanha é de

professor experiente. Define-se esta função de acordo com o descrito por Mizukami, Reali e

Tancredi (2010), quando afirmam que estes

[...] aconselham e orientam professores iniciantes, prestam informações

gerais, localizam/sugerem materiais, orientam sobre práticas e construção de

soluções aos problemas vivenciados pelos iniciantes, partilham experiências

via o estabelecimento e manutenção de interações qualitativamente

significativas. Devido à experiência, atuam apoiando-se em estruturas

diferentes e mais complexas que os iniciantes, e exercem um controle

voluntário e estratégico sobre o processo ensino-aprendizagem (MIZUKAMI;

REALI; TANCREDI, 2010, p. 4).

Ante o exposto, verifica-se a relevância do Projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC ao

evidenciar, na escola, a importância da presença de um professor experiente para ajudar nesta

formação contínua do iniciante. É um trabalho de acompanhamento em que se espera que o

iniciante tenha um suporte ao qual recorre quando for necessário. Sendo assim, o professor

experiente, segundo a concepção deste Projeto, deve apresentar as características descritas por

Marcelo (2006), Ureta (2009), Mizukami, Reali e Tancredi (2010), Ochoa (2011), Inostroza

(2013) Passeggi e Gaspar (2013) e Kaechele et al. (2013).

A pesquisa tem como referência de professor iniciante aquele que terminou a formação

inicial e ingressou na escola via concurso ou mesmo através de processos seletivos. Geralmente,

23

esta fase de início à carreira docente é permeada por dificuldades e tensões em um “quefazer”

solitário deste novo profissional, conforme Tardif (2002), Marcelo (1996), Mariano (2006),

Pappi e Martins (2010), Nono (2010), Vaillant (2012).

A atividade desenvolvida pelo professor experiente junto ao iniciante é conceituada, por

alguns grupos de pesquisadores, como mentoria, como é o caso do grupo de pesquisa de

Marcelo, da Universidade de Sevilha, na Espanha. Os pesquisadores do Chile, Ureta (2009),

Ochoa (2011), Inostroza (2013) e Kaechele et al. (2013), também assumem este

posicionamento. No Brasil, temos Mizukami, Reali e Tancredi (2010), da Universidade Federal

de São Carlos (UFSCar), que comungam desta ideia. Já a pesquisadora Passeggi (2013), da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e seu grupo de pesquisa, denominam o

trabalho do professor experiente junto ao professor iniciante de acompanhamento, entendendo-

o como uma ação que implica estar juntos, dividindo seus saberes e o não saber, numa relação

de construção mútua, assumindo a prática num contexto real. E é neste sentido que entendo a

ação desenvolvida pelos professores experientes sujeitos desta pesquisa.

Como se vê, diversas são as compreensões e denominações à função de

acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante, mas todas elas têm plena

convergência com o termo adotado nesta pesquisa: professor experiente. Assim sendo, a partir

de agora irei me referir ao professor mentor, formador, orientador e formador do formador

como professor experiente. Do mesmo modo para mentoria, então compreendida como

monitoramento, a tomo nesta pesquisa como acompanhamento.

O trabalho subsidia-se na abordagem qualitativa e adotou como instrumentos para coleta

de dados os Memoriais de Formação das professoras experientes, os seus Diários de Campo –

e também o da pesquisadora – e, ainda, entrevistas semiestruturadas. Os sujeitos são quatro

professoras experientes que se dispuseram a contribuir com a pesquisa, então denominadas por

Reflexão, Constatação, Girassol e Aprendiz, sendo que duas que atuam na zona urbana e duas

em escolas do campo.

Para a configuração desta dissertação apresentei aspectos da inserção na carreira e sua

prática pedagógica, subsidiada em vários teóricos, entre eles, elegemos como principais:

Marcelo (1996), Cavaco (1999), Tardif (2002), Mariano (2006), Pappi e Martins (2010),

Gabardo e Hobold (2011; 2013), Vaillant (2012). Em seguida, discutiremos o professor

experiente, sua formação, perfil e atividades, com os estudos de Ochoa (2011), Marcelo (2005,

2006), Inostroza (2013), Kaechele et al. (2013), Passeggi e Gaspar (2013), Ureta (2009), Tardif

(2002), Mizukami; Tancredi; Reali (2012).

24

Para dialogarmos sobre desenvolvimento profissional do professor teremos Marcelo

(2009), Aguiar e Hobold (2015), Day (2001), Imbernón (2009; 2011), André (2012; 2016),

Mizukami (2002; 2006) e Matsuoka-Oliveira (2015) que apontam a necessidade de políticas de

atendimento aos professores que promovam o seu desenvolvimento profissional na perspectiva

de professores como investigadores de sua própria prática.

Esta dissertação estrutura-se em sete capítulos. O primeiro capítulo compõe-se pela

própria introdução da dissertação, no qual se entremeiam, além das informações pertinentes à

compreensão da pesquisa, alguns aspectos do desenvolvimento profissional da pesquisadora, a

partir da sua formação no magistério até sua vivência no projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC.

O segundo capítulo traz “Os caminhos da pesquisa”, revelando a abordagem, o método,

os sujeitos, os loci e os instrumentos utilizados no desenvolvimento da pesquisa.

O terceiro capítulo apresenta o Projeto “PPGEdu/UFMT/OBEDUC: possibilidades do

trabalho colaborativo entre universidade e escolas públicas”, abordando, neste cenário, também

o processo de formação oferecido aos professores experientes envolvidos, a partir dos registros

do meu diário de campo.

O quarto capítulo, “O professor experiente e o acompanhamento ao professor iniciante”,

trata, em primeiro lugar, de aspectos sobre a inserção na carreira, os dilemas, os desafios

encontrados por estes profissionais quando chegam à escola. Apresenta, nesse processo, como

este tema vem sendo abordado em nível nacional, trazendo, para tanto, resultados das pesquisas

brasileiras sobre o trabalho do professor experiente junto ao professor iniciante. Evidencia,

ainda, as características necessárias ao acompanhamento ao professor iniciante e quem são e o

que fazem os professores experientes no Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC.

No quinto capítulo, nomeado como “Desenvolvimento profissional do professor

experiente”, procurei discutir sobre esse processo a partir dos teóricos e, igualmente, refletir

sobre como o professor experiente se desenvolve no Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC.

No capítulo sexto, são discutidos os sentidos que os professores experientes expressam

a respeito da formação do projeto PPGEDU/UFMT/OBEDUC no seu desenvolvimento

profissional: narrativas em relevo evidenciando sua contribuição para o desenvolvimento

profissional dos professores experientes na prática de acompanhamento aos professores

iniciantes. Os dados obtidos foram organizados em quatro movimentos, permitindo que o leitor

compreenda o processo vivenciado pelos sujeitos para a composição das narrativas.

E, por fim, temos no capítulo sete a síntese dos resultados da pesquisa sobre o que

apontam os professores experientes acerca do seu desenvolvimento profissional a partir da

25

formação experenciada no Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC, destacando alguns

apontamentos para continuarmos os estudos sobre o professor experiente.

26

2 DESENHANDO A PESQUISA: CAMINHOS ENTRELAÇADOS

A metodologia da pesquisa é aqui descrita com o objetivo de apresentar como se deu a

trajetória percorrida pela pesquisadora no processo de imersão à pesquisa e estudos, no qual

sujeitos e pesquisadora criaram vínculos e puderam construir novos conhecimentos em

caminhos que se entrelaçavam constantemente.

2.1 Fundamentos teóricos da metodologia

O projeto de formação continuada da UFMT, desenvolvido em parceria com seis escolas

públicas municipais e estaduais, da rede pública de ensino, compreende uma coordenadora,

uma vice-coordenadora, seis professores experientes, e 36 professores iniciantes, cinco

mestrandos, seis graduandos do curso de Pedagogia e uma coordenadora pedagógica. O

objetivo da pesquisa é investigar sobre o professor iniciante, seu desenvolvimento profissional,

dificuldades e necessidades, inserindo, neste contexto, o professor experiente.

Neste cenário desenhou-se esta pesquisa de mestrado, com o foco no desenvolvimento

profissional do professor experiente que acompanha os professores iniciantes que atuam nas

escolas envolvidas no referido Projeto.

Para o desenvolvimento deste trabalho, adotei a abordagem qualitativa de pesquisa que,

de acordo com André (2005, p. 47), preocupa-se com “[...] o mundo dos sujeitos, os significados

que atribuem às suas experiências cotidianas, sua linguagem, suas produções culturais e suas

formas de interações sociais.” Ainda sobre a abordagem qualitativa, Bogdan e Biklen (1994)

afirmam que há cinco características básicas desta que devem ser consideradas por nós,

pesquisadores.

A fonte dos dados é o ambiente natural [...] a investigação qualitativa é

descritiva. [...] os investigadores se interessam mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos. [...] os investigadores tendem a

analisar os dados de forma indutiva. [...] o significado é de importância vital

na abordagem qualitativa. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 47-50)

O método utilizado é o (auto)biográfico, que conforme Bueno (2002), o sujeito é autor

e ator de suas narrativas. Neste sentido, busquei compreender e sistematizar os aspectos da

subjetividade das professoras sobre suas trajetórias de formação e, consequentemente, do seu

desenvolvimento profissional. Esse método se caracteriza pelo uso de narrativas, solicitadas no

27

decorrer de um período, com a intenção de contar e recontar histórias pessoais e coletivas do

processo de formação evidenciado nesta pesquisa. Afirmam Finger e Nóvoa (2010) que:

Valorizando os processos de formação [...] de uma pessoa o método biográfico

facilita o desenvolvimento de uma sociologia holística da formação, mas

adequada à especificidade de cada indivíduo. Enquanto instrumento de

investigação-formação, o método biográfico permite considerar um conjunto

alargado de elementos formadores, [...]. O método biográfico permite que

cada pessoa identifique na sua própria história de vida aquilo que foi

formador. (FINGER; NÓVOA, 2010, p. 24).

Assim, percebe-se que este método possibilitou que os sujeitos se sentissem como

pessoas que possuem suas histórias, suas especificidades, que se fazem e refazem com suas

experiências. É esta a compreensão de sujeito assumida por esta pesquisa. Dessa maneira,

passou-se a compartilhar com as professoras as diferentes situações experenciadas, nos

encontros de formação, nos seus memoriais de formação e também nas narrativas que fizeram

nos seus próprios diários de campo sobre os desafios, dilemas e necessidades formativas no

acompanhamento que realizam junto aos professores iniciantes.

Sobre o uso de narrativas (auto)biográficas Moreira (2011, p. 5 – grifos da autora),

assegura que “[...], o estudo dos modos (auto)biográficos de experienciar o mundo e conhecer

a realidade recupera o estatuto epistemológico do sujeito, colocando-o ao serviço de

metodologias que não receiem a ‘contaminação’ do investigado pelo investigador.”

Assim, entendemos que a narrativa se constitui como o melhor texto para apresentarmos

os dados. Toda a pesquisa está costurada pelas narrativas das professoras experientes e as da

própria pesquisadora.

Conforme Clandinin e Connely (2011, p. 108), “na construção de narrativas de

experiências vividas, há um processo reflexivo entre viver, contar, reviver e recontar, de uma

história de vida.” Nesta mesma direção, temos Rocha e André (2010, p. 80) nos assegurando

que no “processo de escrita das narrativas a memória aparece como fator preponderante, ao

pinçar fatos, dados, episódios, passagens, trazendo-os para o presente, iluminando e dando vida

aos fatos passados”.

Assim, para a coleta dos dados, escolhemos três instrumentos nos quais os sujeitos

pudessem narrar suas experiências: o diário de campo, o memorial de formação e a entrevista.

No início da formação foram distribuídos cadernos para anotações a todos,

comunicando que deveriam fazer seus registros, impressões, reflexões, neste caderno, e que,

oportunamente, a coordenação indagaria aos participantes quais estariam dispostos a

28

disponibilizarem seus cadernos para a coleta de dados. Tal caderno denominou-se, na pesquisa,

como diário de campo.

Os diários de campo adotados na formação continuada são instrumentos onde tem-se

registrado os encontros de formação continuada dos professores experientes, quando apontam

os desafios enfrentados no processo de acompanhamento e do que lançam mão para apoiar e

subsidiar os professores iniciantes, suas necessidades formativas e como a formação tem

subsidiado este trabalho. Desse modo, utilizei o diário de campo adotado pelo Projeto com

todos os participantes, como um dos nossos instrumentos para a coleta de dados.

Toda semana um diário foi recolhido pela pesquisadora, quando, então, foi lido. Dele

foram retirados dados para a pesquisa e discutidos com a professora experiente. Com este

trabalho, fica evidente a importância dos registros dos sujeitos ao pensarem sobre sua prática.

Em consonância com esta ideia, Barbosa (2010) aponta dois princípios do diário de campo:

Primeiro, sua contribuição como maneira de exercitar-se a compreensão de

nós mesmos, de nossas implicações internas, e o mergulho denso e tenso nesse

processo complexo a partir do qual nos instituímos como autor-cidadão,

entendido aqui como o sujeito que se faz a partir de sua exterioridade social e

sua intersubjetividade existencial. Segundo [...], o registro contínuo e

negociado no decorrer do tempo vivido irá possibilitar a quem o pratica a

apropriação do processo [...] de si mesmo, quando permite entrar em contato

permanente com o sentido dessa aprendizagem para si. (BARBOSA, 2010, p.

17-18).

O autor evidencia, em sua fala, que o diário de campo tem impacto formativo nos

seguintes aspectos: acesso ao mundo pessoal, explicitação dos próprios dilemas, quando

permite avaliação e reajustes de processos e contribui para o desenvolvimento profissional.

Concordando com este entendimento, Zabalza (2004) esclarece que o diário de campo pode ser

empregado com duas finalidades, uma mais investigadora e outra mais orientada para o

desenvolvimento pessoal e profissional dos professores.

Os diários de campo foram trabalhados advindos de duas fontes: a dos sujeitos, quando

escrevem sobre si e suas práticas, recontando fatos e revivendo suas experiências. E a da

pesquisadora, que acompanhou todos os encontros de formação, registrando suas narrativas,

constituindo, portanto, um olhar de quem observa, participa, anota e dialoga com os sujeitos da

pesquisa. Para Moreira (2011) as narrativas dialogadas

[...] fomentam o desenvolvimento da identidade e o conhecimento profissional

do educador [...] Partilhamos das concepções de outros que consideram a

escrita de narrativas profissionais como uma prática reflexiva de

(auto)formação e de (re)construção identitária, e que possibilita compreender

29

melhor os processos e as condições mobilizadoras das transformações nos

contextos formativos, bem como melhorar as representações que os sujeitos

constroem de si, no seu processo de formação. (MOREIRA, 2011, p. 23).

O movimento de permitir aos sujeitos se revisitarem a partir dos seus textos ancora-se

nos estudos de Clandinin e Connelyn (2011). Para os autores, o pesquisador narrativo vive no

entremeio das histórias de vida dele e dos sujeitos, posição na qual me sinto neste momento.

Os memoriais das professoras são outro instrumento de coleta, em que registram seus

avanços, impasses e necessidades formativas para desenvolver o acompanhamento ao professor

iniciante. De acordo com Passeggi e Câmara (2013), estes são considerados memoriais de

formação, que se caracterizam como dispositivo pedagógico de formação e têm como função

permitir aos sujeitos se verem no processo da pesquisa. Ainda conforme as autoras, o memorial

de formação possibilita ao escritor rever marcas de sua profissão, atuação, sua história de vida

colocando-o como sujeito nesta construção. Assim, em cada memorial encontra-se:

[...] uma articulação dialética entre o indivíduo e a instituição, o professor e a

cultura acadêmica, a condição docente e as condições de trabalho e de

empregabilidade, entre o privado e público, as estruturas mentais,

institucionais e sociais, nas quais e com as quais o/a autor/a do memorial

dialoga. (PASSEGGI; CÂMARA, 2013, p. 31).

O memorial é uma possibilidade de autoformação. No momento de sua escrita o

professor/autor vai selecionando fatos, decidindo a forma para escrevê-lo, ancorando-os às

teorias, de modo que o texto fique claro e agradável ao leitor. Ao narrar-se o autor se vê como

sujeito ativo de sua história, o que talvez ainda não houvesse percebido. Corroborando com este

entendimento Rocha e André (2010, p. 80) afirmam que os: “[...] memoriais contemplam modos

de pensar, de sentir e de analisar determinados fatos, processos, períodos de vida e do

desenvolvimento profissional de cada sujeito”.

Para a coleta de dados associei entrevistas semiestruturas, por entendê-las como um

complemento às narrativas das professoras, para esclarecer aspectos apontados nos memoriais

que julgarmos importantes e precisam ser mais aprofundados. A opção por este tipo de

entrevista se baseia na ideia de que não têm um roteiro fixo, não permitem que pesquisados e

pesquisador ficam ausentes do objeto de discussão, pelo contrário, os colocam numa relação

dialética com o mesmo, (BOGDAN; BIKLEN, 1994 e LUDKE; ANDRÉ, 1987).

Nesta perspectiva, a presente pesquisa encaminha-se para os fundamentos da pesquisa

formação, considerando suas necessidades reais. Afirmam Longarezi e Silva, (2008 p. 13) que,

“nesse processo o professor desenvolve-se profissionalmente, forma-se como um sujeito

30

autônomo e crítico”. Assim, entendemos esses processos como constituintes e constituidores

da pesquisa e da formação, por isso, da pesquisa-formação. Reafirmando esta ideia, encontrei

em Prada (2012, p. 10) a afirmação de que “[...] a pesquisa-formação é definida como sendo

uma metodologia que contempla a possibilidade de mudança das práticas, bem como dos

sujeitos em formação”.

2.2 Sujeitos e o loci da pesquisa

Os sujeitos com os quais trabalhei foram quatro professoras experientes que atuam na

educação há mais de dez anos. As mesmas serão identificadas pelos codinomes de Reflexão,

Constatação, Aprendiz e Girassol. São professoras envolvidas com projetos e outros trabalhos

no interior da escola. Destas, Constatação e Reflexão atuam na coordenação das escolas há mais

de 15 anos e uma delas, recentemente, assumiu a direção. As demais também já passaram pela

coordenação e agora estão em salas de aula. Aprendiz e Girassol atuam em escolas do campo,

distantes mais de 50 km da cidade de Rondonópolis, Mato Grosso.

Estas quatro professoras experientes participam da formação específica para o professor

experiente, formação esta solicitada pelo grupo, após o desenvolvimento de suas atividades

como professor que apoia, acompanha e subsidia os professores iniciantes em seus desafios e

dificuldades no cotidiano escolar.

Cada professor experiente atua em uma escola no acompanhamento a um grupo de

professores iniciantes que atendem um número considerável de alunos. São, portanto, quatro

escolas da educação básica identificadas pelas letras A, B, C e D, sendo as duas últimas escolas,

do campo. No quadro 1, seguem os dados organizados.

Quadro 1 – Número de professores iniciantes em cada escola envolvida no projeto OBEDUC

Escola Total de iniciantes

atendidos

Total de alunos

atendido pela escola

Total de alunos atendido

pelos professores iniciantes

A 6 407 150

B 3 665 75

C 4 350 100

D 7 435 175

Fonte: elaborado pela pesquisadora.

Pedimos às professoras experientes que escolhessem o codinome pelo qual gostariam

de ser identificadas na pesquisa. Uma professora do campo disse que gostaria de ser chamada

de Girassol, por ser uma flor símbolo da educação do campo, que está sempre em movimento.

31

Outra, também da escola do campo, se definiu como Aprendiz, pois afirma que, neste processo

de acompanhar o professor iniciante, tem aprendido mais do que ensinado.

As outras duas professoras preferiram que a pesquisadora fizesse a escolha. Por essa

razão, os codinomes das professoras experientes que atuam na zona urbana estão relacionados

com suas características pessoais, subjetivas, e foram escolhidos a partir da convivência

estabelecida entre elas e a pesquisadora nos encontros de formação, das leituras de seus

memorias, das transcrições dos diários de campo e das entrevistas. São substantivos que

evidenciam o possível movimento de transformação da prática. O quadro abaixo traz alguns

dados dos sujeitos da pesquisa, no que diz respeito ao tempo de atuação, formação, identificação

na pesquisa e onde atuam.

Quadro 2 – Sujeitos da pesquisa

Escola Professor Experiente – PE Tempo de atuação na

Educação Básica Formação

A PE Reflexão 25 anos Especialista

B PE Constatação 23 anos Mestrado em educação

C PE Girassol 15 anos Especialista

D PE Aprendiz 20 anos Mestrado em educação

Fonte: elaborado pela pesquisadora

2.2.1 O que dizer sobre os sujeitos?

A professora Girassol quis assim ser chamada por considerar-se em movimento.

Movimento este que a faz buscar novos saberes através de trocas com seus pares. A professora

Girassol atua na escola situada no Assentamento Márcio Ferreira, no município de São José do

Povo.

Girassol é uma professora que destaca-se no coletivo da escola por sua forma de ser.

Sempre engajada em projetos que visam a melhoria da escola, das aulas, preocupa-se em ajudar

os colegas a aprimorar suas práticas, motiva o grupo a buscar formação, está sempre presente

nos encontros de formação que o Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC oferece às terças-feiras,

participa do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), luta junto à comunidade

escolar e extra escolar por melhorias para os sitiantes que moram na região.

A cada semana Girassol tem uma rotina diferente em relação ao Projeto mencionado.

Uma terça vem com o grupo de iniciantes, na outra, vem sozinha. Na semana que está

acompanhada, ao retornar para casa passa em diferentes sítios deixando seus colegas, chegando

32

em casa por volta das 23horas.Quando está só, chega mais rápido, porém, perde a oportunidade

de discutir com eles as provocações deixadas pela formação, durante o trajeto da volta, que dura

uma hora e meia. Assim se configura um pouco da rotina de Girassol para garantir a sua e a

participação do grupo nas formações partilhadas no OBEDUC/UFMT.

A professora Aprendiz que também atua numa escola do campo, se vê motivada diante

de cada desafio, por isso tem buscado aprender com teóricos e com seus pares. É uma professora

que tem lutado contra a falta de condições de participar em formações, de estar inserida em um

grupo de pesquisa, de continuar estudando, como, por exemplo, cursar o mestrado e participar

de vários eventos sobre educação, persistindo em ser pesquisadora.

Com a vontade de ser uma pesquisadora, Aprendiz, tão logo concluiu o mestrado, se

inseriu no grupo de pesquisa InvestigAção como professora experiente, com a responsabilidade

de acompanhar cinco novas professoras que estavam iniciando na carreira docente. Neste

movimento de professora/pesquisadora, assim como a professora Girassol, Aprendiz tem

frequentado os estudos oferecidos todas as terças-feiras. Uma semana vem sozinha e encontra

com o grupo de professoras experientes, mestrandos e coordenadoras da pesquisa. Na outra

semana participa do encontro de formação com todos os professores iniciantes, professores

experientes das seis escolas inseridas no projeto, graduandos, mestrandos e coordenadoras da

pesquisa.

A professora Reflexão é propositiva em relação à profissão, também luta por uma

educação diferente da que temos, gosta de estar inserida nos movimentos sindicais para

defender a carreira do magistério. Destaca-se no grupo da escola por instigar todos a buscarem

novos conhecimentos, desafia o grupo a interagir com os acontecimentos atuais

problematizando-os nas Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), que acontecem

semanalmente na escola.

Reflexão hoje é coordenadora da escola, tem participação direta nas decisões escolares,

ajudando seus colegas a pensarem uma educação que de fato respeite as diferenças, sem tentar

torná-las iguais. É uma professora que convive com os dois níveis da nossa educação, tem sua

carreira de 30 horas na educação básica e, também, há 13 anos trabalha com a formação inicial

do professor pedagogo em uma instituição particular. Podemos dizer, então, que a professora

acompanha vários alunos no processo de formação e também de inserção na escola.

Faz 20 anos que Reflexão atua na mesma escola, em um bairro de periferia da cidade de

Rondonópolis, onde desenvolve um trabalho muito próximo à comunidade, como professora e

coordenadora pedagógica, aconselhando os pais, alunos e demais funcionários sobre seus

filhos, sobre seus direitos e deveres enquanto cidadãos. Estar neste movimento com as famílias,

33

seus pares, diferentes instituições, faz com que Reflexão esteja em constante formação, se

constituindo professora.

A professora Constatação também faz parte da rede municipal de ensino de

Rondonópolis, onde atua já há 23 anos, assumindo diferentes papéis: professora, coordenadora

pedagógica e diretora da escola. É uma profissional que defende sua profissão, acredita na

necessidade de investimento permanente na mesma, já fez mestrado em educação, procura

sempre viver o mundo da escola e o da universidade, isso a motivou a estar no projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, como mais uma possibilidade de constituir-se professora

pesquisadora. Para garantir a participação das professoras iniciantes no projeto, Constatação

tem se responsabilizado por levá-las em todos os encontros de formação.

Na escola, a professora Constatação tem-se destacado pelo trabalho que desenvolve com

pais, alunos e pares. É uma pessoa que procura manter-se informada, motivar o grupo para

discutir e estudar sobre sua profissão, está sempre preocupada com a qualidade da educação e,

sobretudo com a formação dos alunos. É uma profissional que conhece a política de educação

local e nacional.

2.2.2 O loci da pesquisa: escolas públicas das redes municipal e estadual de educação

O loci da pesquisa são quatro escolas públicas de educação básica. Duas vinculadas a

rede estadual de ensino de Mato Grosso e outras duas mantidas pela rede municipal de ensino

de Rondonópolis, aqui denominadas A, B, C e D.

A Escola A ingressou no projeto OBEDUC em setembro de 2014. Localizada na

periferia de Rondonópolis, às margens da BR 364, atende 407 alunos subdivididos em 19

turmas. A escola oferece diferentes etapas e modalidades: Educação Infantil, Ensino

Fundamental no período matutino e vespertino, Educação de Jovens e Adultos (EJA), no

período noturno.

A equipe gestora da escola é formada pela diretora, duas coordenadoras e uma estagiária

administrativa que atua na secretaria da escola. O seu quadro de funcionários é constituído de

48 profissionais, destes, 24 são professores.

Nesta escola a HTPC acontece toda segunda-feira das 17h15min às 21horas. Os temas

para estudos são indicados pelos professores no início do ano letivo e reavaliados no final do

primeiro semestre para saber se serão alterados. Estas quatro horas são divididas em duas horas

de estudos e duas horas para planejamento coletivo para que o grupo possa decidir, elaborar e

estudar acerca dos projetos que serão desenvolvidos com os alunos. Cinco professoras

34

iniciantes desta escola que participam do projeto PPGEdu/UFMT/ OBEDUC, sendo que uma

atua na coordenação e uma professora experiente também é coordenadora.

A Escola B participa do projeto OBEDUC desde maio de 2013. Localizada em um

bairro semiperiférico de Rondonópolis, que se caracteriza como residencial, atende 665 alunos

e conta com 75 colaboradores, entre professores e demais funcionários. Funciona em dois

períodos: matutino e vespertino, atendendo as seguintes etapas de ensino: Educação Infantil –

Primeiro Agrupamento, que atende crianças de quatro anos de idade e o Segundo Agrupamento,

com crianças de 5 anos de idade; Ensino Fundamental – apenas os anos iniciais, 1ª a 3ª fase do

I ciclo e a 1ª e 2ª fase do II ciclo.

A equipe gestora da escola é composta por uma diretora, duas coordenadoras

pedagógicas e uma secretária. Toda segunda-feira, das 17h00min às 19h00min, os professores

e coordenadores participam da HTPC, ocasião em que são discutidos temas também elencados

pelos professores no início do ano letivo, e/ou conforme forem surgindo as necessidades de

formação. A escola possui um laboratório de informática em bom estado de conservação e os

computadores ficam à disposição para uso dos alunos, com orientação de seus professores.

Desta escola participam do projeto OBEDUC/UFMT/CUR, três professoras iniciantes e duas

coordenadoras pedagógicas, uma como professora experiente e a outra, como é iniciante na

função de coordenadora pedagógica, que pediu para participar dos encontros de formação

continuada.

A escola C aderiu ao projeto em novembro de 2014 após uma reunião entre a

coordenação do projeto e equipe gestora da escola. Está localizada à zona rural do município

de São José do Povo, no assentamento Márcio Ferreira e atende 350 alunos, nas diferentes

etapas da educação básica. Possui 44 funcionários, sendo 25 professores. Essa escola atende

nos três períodos e conta com quatro salas de aula, porém, há 18 salas anexas em cinco

comunidades diferentes. A escola C pertence à rede estadual de ensino, na qual a HTPC é

desenvolvida por meio de um projeto denominado Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica

(PEIP), que acontece na própria escola sob a orientação de um professor formador do Centro

de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação (CEFAPRO) e do coordenador

pedagógico da escola. Os temas estudados pelo coletivo da escola são decididos pela Secretaria

Estadual de Educação (SEDUC). A escola possui laboratório de informática, mas quase sempre

sem conexão de internet.

A escola D, também da rede estadual de ensino, ingressou no Projeto em outubro de

2014. Esta escola fica situada em um distrito da cidade de Rondonópolis, distante 36km,

35

chamado de Nova Galileia. Atende 437 alunos oriundos dos diversos sítios vizinhos ao

povoado. A maioria dos alunos é de origem indígena que moram em três aldeias próximas.

Acredito ser interessante informar onde atuam os professores iniciantes que as

professoras experientes acompanharão, por entender que isto nos ajudará a pensar os desafios

e necessidades formativas dos professores experientes. Estes iniciantes não são somente

pedagogos que atuam na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, temos

iniciantes nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. O quadro abaixo evidencia

em quais salas o iniciante que participa no projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC atua e qual a

faixa etária que ele atende.

Quadro 3 – Etapa da educação básica em que atuam os professores iniciantes do Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC

Escolas Iniciantes Etapa de ensino que atua Faixa etária que atende

A

3 professoras Educação Infantil 4 e 5 anos

1 professora Anos iniciais do Ensino

Fundamental 7-8 anos

1 professora Anos finais do Ensino

Fundamental 11-14 anos

1 professora Coordenação pedagógica da

escola

Acompanha a Educação

Infantil, Ensino Fundamental e

Educação de Jovens e Adultos

(EJA)

B

2 professoras Educação Infantil 4 e 5 anos

1 professora Atendimento Educacional

Especializado – AEE 6-10 anos

C

2 professoras

Anos iniciais do Ensino

Fundamental 7-9 anos

2 professoras Anos finais do Ensino

Fundamental e Ensino Médio

11-17 anos

D

2 professoras Anos iniciais do Ensino

fundamental

6-7 anos

5 professores

Anos finais do Ensino

Fundamental e Ensino Médio

regular /EJA

11- 60 anos

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2016).

Observando este quadro, percebemos que o professor experiente que atua nas escolas

inseridas no Projeto citado tem muitos desafios, pois deve acompanhar um grupo de professores

iniciantes que atuam em diferentes etapas da educação básica, logo com faixa etária variada, o

que nos remete a entender a necessidade de o professor experiente estar em formação

36

permanente. No próximo quadro, apresento os principais desafios presentes nas escolas em que

os professores experientes atuam.

Quadro 4 – Desafios do professor experiente inserido no projeto OBEDUC

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2016).

Podemos dizer, então, que os professores experientes assumem, cotidianamente,

inúmeros desafios próprios das escolas, tendo em vista que, na sua maioria, atuam como

coordenadores pedagógicos que precisam pensar na escola como uma totalidade, reconhecendo

as especificidades de cada situação.

Os dados coletados serão tratados como episódios narrativos extraídos ora dos diários

de campo das professoras experientes, ora do diário da pesquisadora, claramente identificados.

A coleta também se dará com os memoriais de formação, narrativas estas escritas

semestralmente na formação. Far-se-á, também, uso de entrevistas com as professoras,

instrumento utilizado na intenção de ouvi-las sobre o acompanhamento ao professor iniciante,

a respeito de suas necessidades formativas. Vale destacar que os episódios narrativos têm sua

origem na transcrição das entrevistas, nos registros dos diários de campo e nas narrativas dos

memoriais de formação e terão os seguintes tratamentos: instrumento usado, autor e ano,

conforme os exemplos: (Diário de campo, nome do professor, data - D, autor, ano), (Entrevista,

nome do professor, data - E, autor, ano) e (Memorial, nome do professor, data - M, autor, ano).

Para a análise destes episódios, optei por um grande eixo: professores experientes e as

significações da formação do projeto PPGEDU/UFMT/OBEDUC no seu desenvolvimento

profissional: narrativas em relevo. Tais episódios foram tratados no processo de análise em

quatro movimentos. Para pensar estes movimentos alicercei-me nos estudos de Clandinin e

Connely (2011), que tratam da importância de ouvir os sujeitos sobre suas narrativas, e também

em Ribeiro (2011), quando afirma sobre a contribuição dos diários colaborativos como

Desafios

Lidar com diferentes etapas da educação básica: Educação Infantil, Ensino,

Fundamental e Ensino Médio.

Trabalhar com diferentes modalidades de ensino: Educação Especial, Educação de

Jovens e Adultos; Educação do Campo: indígena, quilombola, ribeirinhos e outros.

Acolher, assessorar e apoiar todos os professores, pais e alunos.

Organizar e implementar a formação do coletivo da escola.

Acolher, assessorar e apoiar o professor iniciante egresso dos cursos de

licenciatura.

37

elemento de reflexão de uma prática entre os sujeitos envolvidos em um determinado processo.

Por fim, em Marcelo (1999), sobre as indagações reflexivas como estratégias para desencadear,

junto aos sujeitos, reflexões sobre seu processo de desenvolvimento profissional, a partir de

suas narrativas.

Deste modo, descrevo os movimentos realizados para a construção e análise dos dados.

Primeiro movimento: seleção e leitura dos episódios narrativos nos instrumentos

da pesquisa, pela pesquisadora – neste momento o trabalho consistia em ler, selecionar os

episódios narrativos nos memoriais, diários de campo e nas entrevistas e começar a leitura dos

mesmos.

Segundo movimento: indagações reflexivas – a partir da leitura do episódio

selecionado pela pesquisadora, algumas indagações surgiam como forma de instigar os sujeitos

a reflexões, com o objetivo de provocá-los a pensarem sobre os seus processos de

desenvolvimento profissional. Tais provocações são enviadas aos sujeitos, acompanhadas dos

recortes selecionados, como se poderá observar no capítulo seis.

Terceiro movimento: é um texto escrito pelos sujeitos a partir de um processo

reflexivo que faziam após as indagações da pesquisadora sobre os primeiros sentidos que

eles deram a formação recebida - ao receber as indagações, o sujeito refletia, reinterpretava

as ideias questionadas e as devolvia à pesquisadora. Neste momento, o registro isolado,

silencioso e individual toma a forma de uma narrativa dialogada.

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora – é a

retomada dos dados pela pesquisadora e análise do que foi redimensionado, nas narrativas, pelas

professoras experientes.

Tomando a precaução de não querer trazer para esta pesquisa a originalidade desta

metodologia, pela ausência de maiores informações sobre seu uso, ressalto que estes

movimentos, desenvolvidos ao longo da análise metodológica, foram criados pela pesquisadora

especificamente para atender a natureza dos dados e a necessidade do diálogo com os sujeitos.

Assim sendo, essa metodologia da análise foi sendo construída no passo a passo das análises.

No próximo capítulo, segue-se a descrição do Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC suas

características os sujeitos envolvidos e todos os encontros de formação trabalhados com os

professores experientes durante 2014/2015, para melhor compreensão do leitor sobre o tema da

pesquisa.

38

3 PROJETO PPGEdu/UFMT/OBEDUC: POSSIBILIDADES DO TRABALHO

COLABORATIVO ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLAS PÚBLICAS

Este capítulo dedica-se a descrever o Projeto, desde o seu surgimento, passando pela

sua estrutura organizacional e os sujeitos que o compõem atualmente. Em seguida, apresenta

os encontros de formação vivenciados pelos professores experientes a partir das narrativas da

pesquisadora.

3.1 Projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC: estrutura organizacional e sujeitos

A Pesquisa intitulada “Egressos da Licenciatura em Pedagogia e os desafios da prática

em narrativas: a universidade e a escola em um processo interdisciplinar de inserção do

professor iniciante na carreira docente” é um projeto do Programa de Pós-Graduação

(PPGEdu), da Universidade Federal de Mato Grosso, Câmpus Universitário de Rondonópolis

(UFMT/CUR), em parceria com o Observatório da Educação da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (OBEDUC/CAPES). Aprovada pelo edital

049/2012, teve origem a partir do Programa Observatório da Educação, resultado da parceria

entre a CAPES, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP) e a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

(SECADI), e começou a ser desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa InvestigAção, da

UFMT/CUR, em 2013.

Não é possível falar desta pesquisa sem antes abordar sobre a origem do

OBEDUC/CAPES/Inep/SECADI, que nasce da urgência de fomentar pesquisas que discutam

as necessidades dos professores da educação básica articuladas aos programas de pós-

graduação Stricto Sensu.

Instituído pelo Decreto Presidencial n.º 5.803, de 08 de junho de 2006, o Programa

Observatório da Educação tem como objetivo proporcionar a articulação entre pós-graduação,

licenciaturas e escolas de educação básica e estimular a produção acadêmica e a formação de

recursos pós-graduados, em nível de mestrado e doutorado.

Outro aspecto interessante é o de que todos os projetos do Observatório da Educação

devem estar vinculados a programas de Pós-Graduação – PPGs Stricto Sensu reconhecidos pela

CAPES e que desenvolvam linhas de pesquisa voltadas à formação de professores. Esse

Programa já aprovou 244 projetos durante o período de 2006 a 2014. (BRASIL/CAPES, 2015).

39

De acordo com a portaria nº 152, de 30 de outubro de 2012, os projetos submetidos à

avaliação deste Programa são classificados em projetos locais ou em rede, sendo:

I - projeto local: composto por, no mínimo, 1 (um) PPG stricto sensu de uma

Instituição de Ensino Superior, doravante denominada pela sigla IES;

II - projeto em rede: composto por 3 (três) PPGs stricto sensu de IES distintas,

sendo uma delas denominada Instituição Sede e as outras IES, núcleos da rede.

(PORTARIA nº 152, 2012, p. 4).

Tendo em vista esta classificação, entendemos que o Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, doravante denominado de OBEDUC/UFMT é um projeto local,

pois é composto apenas pelo PPDGEdu/UFMT/CUR, contudo, conta com a colaboração de três

professores universitários de outras Instituições de Ensino Superior (IES), quais sejam:

Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), Universidade Estadual de Roraima (UERR)

e a Universidade UMinho em Portugal.

O projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC tem como principal objetivo:

Compreender o como se dá o processo de constituição da identidade

profissional docente dos egressos do Curso de Pedagogia em um estudo

longitudinal que acompanha os sujeitos desde a formação inicial e tem sua

continuidade nos anos iniciais da docência, evidenciando dificuldades,

impasses, desafios narrados em escritas de si e trabalhados em momentos de

socialização e formação como proposta de inserção do profissional no

ambiente de trabalho, com a interdisciplinaridade permeando a proposta.

(PROJETO UFMT/PPGdu/OBEDUC, 2013, p. 3).

Quando observo a intenção deste projeto percebo que está de acordo com o objetivo V

estabelecido no parágrafo 2º da Portaria n.º 152/12, que descreve ser importante que os projetos

submetidos ao OBEDUC procurem “incentivar a articulação entre pós-graduação, licenciaturas

e escolas de educação básica ”. (PORTARIA nº 152, 2012, p. 3).

Após a aprovação, em abril de 2013 foi realizada a primeira reunião para traçar as ações

do Projeto. Nesse momento, o grupo era composto pela coordenadora Profa. Dra. Simone

Albuquerque da Rocha, três mestrandas e seis graduandas, também bolsistas do OBEDUC, e

dois professores universitários colaboradores de outras instituições.

As reuniões de estudo do grupo eram realizadas quinzenalmente, às segundas-feiras das

17h30min às 20h30min e possuíam caráter teórico. Neste mesmo ano, mestrandos e graduandos

foram a campo – nas escolas municipais e estaduais – para localizar os egressos do curso de

Pedagogia/UFMT para convidá-los a fazer parte do Projeto. Conforme França (2015), havia um

40

segundo critério a ser considerado para o egresso fazer parte desta pesquisa, isto é, ter

participado:

[...] no projeto anterior do Observatório da Educação, finalizado em 2012, cujo

título era ‘Processos de Constituição da Profissionalidade Docente de Futuros

Professores dos Cursos de Licenciatura em Matemática e Pedagogia: Um

Estudo nas Bases de Dados do INEP e em Memoriais de Licenciandos’, o qual

foi realizado em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

e a UFMT/CUR (FRANÇA, 2015, p. 26).

Ao visitarem as escolas, considerando estes critérios, os mestrandos encontraram

somente duas alunas atuando na rede municipal de ensino de Rondonópolis que poderiam fazer

parte da pesquisa em vigor. Diante desta realidade, foi necessário, então, definir outros critérios

para o ingresso na pesquisa, e, dessa forma, hoje fazem parte do Projeto professores licenciados

em diversos cursos, além da Pedagogia: Letras, Biologia, egressos da UFMT e também de

outras instituições de ensino.

Há uma especificidade neste projeto que não podemos deixar de evidenciar. Trata-se da

participação de duas escolas do campo, com seus professores iniciantes. França (2015) destaca

que,

[...] uma das mestrandas que estava fazendo pesquisa na escola do campo,

pontuou para o grupo que os professores que atuam no campo são os que mais

necessitam de formação continuada, pela ausência de políticas de formação

para aquele espaço de vida e de trabalho e que se sentiam abandonados pela

gestão educacional. Não se passaram 15 dias e a professora coordenadora

recebeu na UFMT uma comissão dos gestores de duas escolas do campo

solicitando que as incluíssem no projeto e que haveria garantia de participação

destes docentes para a formação, apesar do difícil acesso, das condições das

estradas e do horário em que se dava a formação, o que acarretaria aos

professores do campo, retornarem ao assentamento depois das 22 horas

(FRANÇA, 2015, p. 27).

Logo após esta reunião, a coordenadora, junto com uma mestranda e duas professoras

experientes, foram até as escolas para manter contato com os professores, explanar sobre o

Projeto e ouvir os assentados iniciantes na docência sobre seus anseios, dificuldades e

expectativas com a formação. Devido à carência da formação para os demais licenciandos,

houve consenso em incluir professores da licenciatura e não somente os da Pedagogia.

Seguem-se as fotografias 1 e 2, como registro das reuniões da coordenadora, mestranda

e professores experientes com o coletivo das escolas do campo visitadas.

41

Fotografia 1 – Visita à Escola Estadual 7 de Setembro

Fonte: França, 2016.

Fotografia 2 – Visita à Escola Estadual Wellington Flaviano Coelho

Fonte: França, 2016.

Hoje, podemos dizer que o PPGEdu/UFMT/CUR ampliou o Projeto, dando-lhe uma

nova configuração, uma vez que seus participantes são professores iniciantes e experientes,

graduandos da Pedagogia da UFMT e mestrandos do PPGEdu.

O quadro 5, demonstra a composição atual do Grupo PPGEdu/UFMT/OBEDUC.

42

Quadro 5 – Demonstrativo dos participantes do atual Grupo PPGEdu/UFMT/OBEDUC

Participantes/Constituintes Quantidade Incentivo financeiro

Coordenadora do Projeto 1 Bolsistas do Programa OBEDUC

Vice-coordenadora 1 Sem incentivo financeiro

Professores experientes 6 Bolsistas do Programa OBEDUC

Professores iniciantes 36 Sem incentivo financeiro

Mestrandos 5 4 bolsistas do Programa OBEDUC 1

bolsista da CAPES

Graduandos do curso de Pedagogia 6 Bolsistas do Programa OBEDUC

Coordenadora Pedagógica 1 Sem incentivo financeiro

Total de participantes do projeto

OBEDUC/UFMT/CUR 56

Fonte: elaborado pela autora (2016).

Ao verificarmos o quadro 5, é possível notar que o Projeto trabalha com um grupo

considerado grande, e, dentre os seus componentes, há vários bolsistas. Esta conformação tão

diversa, que contempla pessoas de realidades distintas, representa, para as coordenadoras, um

desafio, exigindo a busca por novos estudos e metodologias para dinamizar as formações, de

modo a torná-las significativas para todos.

Conforme o Art. 20, inciso I da portaria 152/2012, os projetos locais ou em rede terão

as seguintes composições do quadro de bolsas:

a) 1 (uma) bolsa de coordenador;

b) 1 (uma) bolsa de doutorado;

c) 4 (quatro) bolsas de mestrado;

d) 6 (seis) bolsas de graduação;

e) 6 (seis) bolsas de professores da educação básica.

O projeto local respeita a legalidade no que diz respeito ao número de bolsas. Estas têm

sido consideradas positivas pelo grupo, ao propiciarem a possibilidade de aquisição de livros e

viagens a eventos, de forma a permitir o investimento na própria formação. A bolsa de

doutorado foi transformada em mais uma bolsa de mestrado, devido ao programa não ter o

doutorado.

A partir das primeiras reuniões de estudos, e também de alguns dados evidenciados em

pesquisas de graduandos e mestrandos sobre as necessidades do professor iniciante, percebeu-

se que a pesquisa não deveria se dedicar a apenas identificar os dilemas, as necessidades e os

desafios por ele vivenciados. Tornava-se necessário oferecer-lhe apoio e auxílio para a

43

superação dos mesmos. Decidiu-se, portanto, que seria oferecida a estes professores uma

formação que viesse atender seus anseios.

Assim, na reunião seguinte os professores iniciantes foram questionados sobre os

possíveis temas que gostariam de estudar, ao que elegeram as seguintes temáticas para o ano de

2015:

Patrimônios na Educação Infantil;

Tecnologia como recurso pedagógico;

Avaliação: escrita de relatórios;

Proficiência: descritores para Provinha Brasil,

Avaliação Nacional da Aprendizagem (ANA); Prova Brasil e Exame Nacional do

Ensino Médio (ENEM) e

O professor iniciante e a diversidade.

Vale dizer que estes temas são alterados conforme as necessidades apontadas pelos

professores iniciantes.

Durante o estudo dos Patrimônios da Educação Infantil uma professora levantou uma

demanda que foi acolhida por todos os demais participantes. A professora questionou: “o que

faço para trabalhar a sexualidade na Educação Infantil?”. A coordenadora do projeto fez, então,

uma intervenção no grupo, perguntando se o tema era de interesse de todos e, em seguida, a

pauta dos encontros foi modificada, passando a contar com a temática sexualidade na infância.

A pauta de estudos de 2016 também foi pensada pelo grupo de professores iniciantes e

se configura assim:

Dificuldades de aprendizagem;

Identidade e desenvolvimento profissional do professor;

Base Nacional Comum Curricular (BNCC);

Violência na escola;

Educação do Campo e

Musicalidade na escola.

Outro ponto que merece destaque, no âmbito do projeto OBEDUC, é a ressignificação

da figura do professor experiente na escola onde se inserem os iniciantes, já que passou a ter

uma atividade importante no processo de acompanhamento a partir do desenho da proposta

aprovada.

Os professores experientes participaram junto com os iniciantes das formações

oferecidas e, ao tomar consciência da atividade que deveriam desenvolver, na escola, no

44

acompanhamento ao iniciante, solicitaram à coordenação do Projeto uma formação específica

para subsidiar teoricamente o processo de acompanhamento que realizam, no sentido de melhor

compreender o perfil esperado do professor experiente, suas competências, como se pode

proceder no atendimento aos iniciantes, além de empreenderem estudos sobre sua função com

teóricos da área.

No quadro 6 apresento parte da caracterização das escolas participantes do projeto

OBEDUC e a quantidade de professores iniciantes que atua em cada uma delas.

Quadro 6 – Caracterização das escolas participantes do projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC

Nome/Localização Níveis de ensino que atende

Início da

participação

no Projeto

OBEDUC

Número de

professores

que

participam

do Projeto

Escola Municipal Profa.

Evânia Rodrigues da Silva –

CAIC

Periferia de Rondonópolis/MT

Educação Infantil e Anos

Iniciais do Ensino

Fundamental

Maio/2013 03

Escola Municipal de 1º Grau

Gisélio da Nóbrega

Periferia de

Rondonópolis/MT

Educação Infantil; Ensino

Fundamental e a modalidade

Educação de Jovens e Adultos

(EJA) no período noturno.

Outubro/2014 06

Escola Estadual Carlos

Pereira Barbosa -

Periferia de

Rondonópolis/MT

Educação Infantil, Ensino

Fundamental, Ensino

Médio, e a modalidade

Educação de Jovens e

Adultos (EJA), no período

noturno.

Agosto/2014 05

Escola Estadual Wellington

Flaviano Coelho -

Zona Rural de São José do

Povo/MT

Ensino Fundamental; Ensino

Médio e a modalidade

Educação de Jovens e Adultos

(EJA) no período noturno.

Outubro/2014 07

Escola Estadual 7 de

Setembro -

Zona Rural de

Rondonópolis/MT

Ensino Fundamental; Ensino

Médio e a modalidade

Educação de Jovens e Adultos

(EJA) no período noturno.

Outubro/2014 04

Escola Municipal Melchíades

Figueiredo Miranda -

Periferia de

Rondonópolis/MT

Educação Infantil e Anos

Iniciais do Ensino

Fundamental.

Junho/2016 11

Total 36

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2015/2016).

O Projeto conta, portanto, com a participação de seis escolas. Em cada uma delas há um

professor experiente, enquanto o número de professores iniciantes é variável, flutuando

45

conforme a inserção de docentes via contrato firmado com as secretarias de Educação

Municipal e Estadual.

Atualmente, o projeto oferece formação às terças-feiras, de forma alternada, sendo uma

para professores iniciantes e experientes e outra somente com os experientes. São estudos

teóricos que procuram subsidiá-los para atuarem na prática.

Ao participar das formações oferecidas aos iniciantes e ouvir suas dúvidas e conhecer

as angústias que perpassam por todos os saberes que o professor precisa possuir, sentimo-nos

instigadas em saber como o professor experiente lhes daria o suporte esperado pelo Projeto, o

que nos levou, então, a indagar: os professores experientes têm algum desafio? Que temáticas

precisam estudar para acompanhar o iniciante? Destes questionamentos surgiu a pesquisa ora

apresentada, como uma ramificação do projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC, com objetivo de

compreender como se dá o desenvolvimento profissional do professor experiente ao

acompanhar o professor iniciante no projeto OBEDUC/UFMT a partir da formação continuada

por eles requeridas como forma de minimizar suas dificuldades e atender as suas necessidades

formativas para bem desenvolver esta função. Diante da necessidade apontada pelos

professores experientes, seguiu-se a pauta por eles indicada, de sua formação, a respeito do que

passamos a discorrer.

3.2 Os encontros de formação : um espaço de coleta de dados

O processo de formação do projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC iniciou com a

perspectiva de atender aos professores iniciantes. Nestes encontros, os professores experientes

participavam ouvindo, dialogando, surpreendendo-se com muitas falas dos iniciantes, nas quais

informavam, avisavam, o que não compreendiam da prática pedagógica. A partir disso,

começaram a perceber quais eram as características das atividades que desenvolveriam no

acompanhamento ao iniciante, o que, de fato, a pesquisa esperava deles. Segundo França

(2015), este projeto ampliou-se à medida que o grupo fazia a reavaliação de suas ações e

percebia que precisava de outras estratégias para atender as escolas envolvidas. Para a autora:

[...] no decorrer dos estudos teóricos e de alguns dados produzidos em

pesquisas de graduandas da Pedagogia e de mestrandos participantes, o grupo

percebeu a necessidade de não só identificar as dificuldades dos egressos ao

iniciarem a docência, mas a partir destas, propor encontros de formação

continuada em que pudessem socializar suas dificuldades, embates,

necessidades e, portanto, pensar a possibilidade de oferecer subsídios como

acompanhamento, orientação e estudos que pudessem amenizar seus

problemas. Iniciou-se, então, a formação do projeto OBEDUC/UFMT com os

46

professores iniciantes, em outubro de 2014, quando esses professores, em

reunião coletiva, elencaram os temas necessários à sua formação (FRANÇA,

2015, p. 27-28).

As narrativas dos professores iniciantes em seus memoriais, apresentadas pela

coordenadora do projeto, em algumas reuniões, também denunciavam quais eram suas

necessidades, seus medos, o que eles não sabiam, o que não entendiam das falas das

coordenadoras das escolas. Isto alarmou e angustiou os professores experientes, que foram

provocados a refletir sobre suas práticas junto aos iniciantes, no interior das escolas.

Em síntese, os professores iniciantes depunham, nos encontros e memoriais, que

precisam de muito apoio e auxílio no que tange ao trabalho em sala de aula, considerada um

ambiente desconhecido, sentindo-se desamparados, esquecidos, solitários e despreparados para

relacionar os saberes da formação inicial com as situações da escola. Assim, percebemos que a

formação se tornou, para estes professores, um espaço onde se sentiam à vontade para expor o

que estavam vivendo. Entendemos, conforme Calil (2014), que a formação proporcionava,

[...] aos professores iniciantes oportunidade para ultrapassar o próprio

conhecimento, colocando-os a par de múltiplos desafios que acontecem no

campo da prática e que podem ocorrer em situações correlatas, quando se trata

de alunos, do ensino, da aprendizagem, da avaliação e da própria escola.

(CALIL, 2014, p. 137).

Sabemos que a realidade da escola como um todo e, das salas de aula em particular,

exige que o professor iniciante tenha um conhecimento sobre ela e que consiga criar alternativas

para garantir que os alunos aprendam. De acordo com Carvalho (2005), a prática na sala de aula

é desafiadora, pois suscita a busca de estratégias para promover o aprendizado do aluno.

Contudo, para que isso ocorra, o autor acredita ser necessário que:

[...] a forma de ensinar do professor seja um movimento de construção, visto

que ensinar é tornar o desconhecido conhecido. Para ensinar, o professor

requer sólida formação inicial na sua área específica, seguido de um amplo

conhecimento no campo filosófico, sociológico, psicológico, história da

ciência, pesquisa, bem como ampla formação geral, a fim de que seja um

investigador de sua própria prática. (CARVALHO, 2005, p. 160).

Como as discussões nos encontros de formação ocorriam a partir das temáticas

escolhidas pelos iniciantes, o grupo de professores experientes foi se questionando como seria

o seu trabalho, como poderia melhor ajudar este iniciante, onde buscaria subsídios para

trabalhar com ele. Vejamos a manifestação da professora experiente Constatação na reunião,

anotada no diário de campo:

47

As necessidades formativas se revelam quando nos deparamos com os

desafios e as angústias do fazer, enquanto experiente. Inquieta-nos muito o

silêncio do iniciante e os seus temores em revelar suas necessidades e dúvidas,

peculiares ao fazer pedagógico. Muito claramente percebemos que tais

dúvidas vão desde o gerir a sala de aula, com todos os desafios que lhe são

peculiares, aplicabilidade, até a elaboração dos pareceres descritivos de

avaliação. (Diário de campo, Constatação, out.2015).

Entretanto, a coordenação do Projeto sabia que pensar a formação do professor

experiente não se constituía em tarefa simples, já que são muitas as exigências, o que passa pelo

conhecimento específico à docência, assim como conhecimentos gerais sobre a problemática

educacional.

Para Mizukami (2006) há alguns aspectos que precisam ser considerados na formação

do professor experiente. De acordo com autora, todo formador deve ter uma formação sólida e

flexível que lhe possibilite aprender a ensinar de diferentes formas para diferentes contextos. O

professor experiente assume, nas escolas que participam do Projeto, a formação do professor

iniciante na perspectiva de assessorá-lo, construindo, juntos, condições para desenvolverem-se

profissionalmente.

É necessário que o professor experiente conheça diferentes estratégias formativas, pois

irá lidar com um grupo de professores que aprendem de formas diferenciadas. Assim, este

profissional precisa conhecer diferentes metodologias, saber ouvir, intervir no momento certo

para que o outro continue se desenvolvendo profissionalmente.

Por último, o professor experiente deve construir espaços de aprendizagem nas escolas

e universidades, buscando estabelecer diálogos entre elas, o que configura os encontros de

formação ofertados pelo OBEDUC, traçando um plano de ação que prevê estudos e discussões

dos conflitos que o grupo possui, superando-os e questionando seus fazeres permanentemente.

A formação foi pensada na mesma lógica daquela oferecida aos professores iniciantes,

tendo os professores como centro, suas necessidades dão o tom das discussões, pois eles

mesmos elegeram as pautas de suas necessidades formativas. Desse modo, a pauta de formação,

elaboradora pelos professores experientes, contemplava os seguintes temas:

O professor experiente no projeto OBEDUC: como tem sido o trabalho junto ao

professor iniciante;

Desenvolvimento profissional do professor;

Constituição da identidade do professor;

Diferentes programas de monitoria;

48

Aprendizagem da docência;

Como dominar teoricamente para orientar o iniciante na construção dos

conhecimentos?;

O trabalho com as diferentes identidades dos iniciantes na/para a construção da

identidade docente;

O professor experiente na ótica de diferentes autores;

Narrativas dialogadas e

Discussão de aulas gravadas para possíveis intervenções.

Observa-se que a formação tem trazido as necessidades dos professores experientes para

o centro das discussões. Conforme Nóvoa (1992, p. 28) a formação precisa assumir um novo

modelo, passando “[...] pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de

trabalhos pedagógicos. E por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa por

processos de investigação, diretamente articulados com as práticas educativas.”

É neste contexto que vemos a formação oferecida aos professores experientes, como

encontros de discussões da prática, trocas entre professores que já possuem mais de 15 anos na

profissão que se deram conta de que precisam saber e conhecer mais sobre o que fazem todos

os dias na escola.

O olhar da coordenação era o de que esta formação deveria contribuir para o

desenvolvimento profissional dos professores experientes, não deveria ser apenas mais uma no

seu currículo, ela precisaria envolvê-los, provocá-los a refletir sobre sua prática. É com esta

intenção que a formação do professor experiente vem acontecendo, sistematicamente, desde o

mês de junho de 2015.

Neste momento, passo a apresentar os encontros de formação com os professores

experientes a partir das narrativas feitas no meu diário de campo. Primeiramente, trago a página

do diário e, em seguida teço considerações sobre cada encontro, estabelecendo um diálogo com

os autores estudados.

Apresentar este processo de formação foi um momento que me revelou como partícipe

deste, pois percebi que, simultaneamente à construção do corpo teórico deste trabalho, fazia a

parte “manual” da pesquisa, sem dissociar-me do processo. Desse modo, todas as anotações do

meu diário de campo foram usadas para dar corpo a esta parte da dissertação.

É interessante dizer que, diferentemente dos encontros de formação com os iniciantes,

que acontecem numa rotatividade entre as escolas que participam do projeto

49

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, os encontros com os professores experientes privilegiaram as salas

12 e 13 da UFMT/CUR como espaço para suas discussões. Esta foi uma decisão coletiva.

Assim, tivemos o primeiro encontro em meados de 2015, com a presença de todos os

professores experientes, mestrandos e coordenadora da pesquisa. Foi um dia marcado por

muitas expectativas: o que estudaríamos? Quais autores dariam base ao professor experiente

para acompanhar o professor iniciante? Foram definidos, coletivamente, alguns textos sobre a

atividade de acompanhamento a partir dos estudos de Marcelo e seu grupo de pesquisa, que

discutem a inserção na carreira e os programas de acompanhamento ao novo professor.

Quadro 7 – Primeiro encontro de formação com professores experientes/2015

Primeiro encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 06/06/2015 Número de participantes: 09 pessoas

Coordenadora do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

O primeiro encontro com os professores experientes aconteceu no dia seis de junho de

dois mil e quinze, o objetivo era ouvir como os professores experientes estavam trabalhando

com os iniciantes. As professoras foram então, narrando como têm realizado este

atendimento no dia a dia da escola, entre estas, destaco: uma tem acompanhado uma vez

por semana, outra prosseguiu dizendo que não tem feito o acompanhamento em horário

especifico, mas tira as dúvidas no horário de formação coletiva, outra professora afirmou

que acompanha mais quando é chamada nas salas ou no planejamento. E uma quarta

professora manifestou que com o Projeto muda o olhar em relação ao professor iniciante

que a tem procurado mais para ajuda-los nas suas dificuldades.

A coordenadora discutiu com o grupo e chegaram à conclusão que começaríamos os

estudos sobre o professor experiente e mentoria nos estudos de Carlos Marcelo e seu grupo.

Neste momento, o grupo e a coordenadora elencaram do CD de Marcelo sete textos para

serem estudados, que discutem quem é o professor mentor/experiente, como se dá o

trabalho de mentoria/acompanhamento, relatos de experiências de mentoria realizado no

Brasil, em outros países, além dos textos de Ochoa (2011) e Sousa (2015) previamente

selecionados e enviados para o grupo.

Finalizando o encontro, a coordenadora do projeto solicitou que os professores

experientes trabalhassem com os iniciantes textos sobre o desenvolvimento profissional do

professor, pois dariam suporte para eles se verem neste processo, uma vez que tinham

acabado de entrar na profissão. Em seguida, disse ao grupo que encaminharia o seguinte

roteiro para reflexão e possível escrita do memorial a fim de que os professores fizessem

suas considerações, sugestões e ampliações para a escrita:

* Qual a compreensão que o experiente tem do seu papel junto ao iniciante?

* Que tipo de atividade desenvolve com o iniciante?

* De que forma o trabalho do experiente tem contribuído para a profissionalização do

iniciante? Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2015, p. 4).

Tornou-se evidente, desde o princípio, para o grupo de mestrandos e para a coordenação

do Projeto, a importância desta formação para os professores experientes poderem compreender

50

melhor sua prática, intensificar o apoio e inserir formas diferenciadas de abordagem ao

iniciante, assim como a importância de compartilhar sua prática apontando os desafios e suas

necessidades formativas.

O acompanhamento ao professor iniciante necessitava melhorar, porém, para que isto

acontecesse, o professor experiente precisava conhecer as características que apresentavam os

trabalhos de mentoria/acompanhamento já realizados. Foi quando a coordenadora e o grupo

elencaram os textos que falavam sobre o professor experiente e mentoria/acompanhamento, que

estão organizados no CD dos Anais (2010) do II Congreso Internacional sobre profesorado

principiante e inserción profesional a la docência: el acompañamiento a los docentes noveles:

prácticas y concepciones, organizado pelo professor Carlos Marcelo. Assim, ficou definido com

o grupo de experientes quais textos seriam estudados e discutidos nos encontros vindouros.

Conforme Marcelo (2006) e Ochoa (2011) são vários os países que têm investido em

programas de mentoria, uma atividade realizada entre um professor experiente e um professor

principiante/iniciante com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino. Os autores

compreendem que, quando o professor iniciante chega à escola, ele se sente inseguro, e, por

desconhecer aquela realidade, vive momentos de muita tensão. Assim sendo, contar com uma

pessoa com experiência para ajudá-lo permite que ele possa desenvolver-se e evoluir na

profissão.

Mizukami, Reali e Tancredi (2012) afirmam que o professor experiente é um

conselheiro, um orientador que poderá contribuir com o professor iniciante na seleção e

organização do material, no planejamento das atividades e, ainda, com conhecimento a respeito

da cultura da escola.

Neste sentido, compartilho dos pensamentos destes autores ao entender que as

atividades que professor experiente vai desenvolver junto ao professor iniciante, nas escolas

que fazem parte do Projeto, serão significativas para este desenvolver-se profissionalmente.

Devido a alguns problemas enfrentados pelo grupo de professores experientes, os

encontros de formação que deveriam acontecer sistematicamente a cada quinze dias não

ocorreram. Foi necessária a intervenção da coordenadora de pesquisa no sentido de chamar o

grupo para refletir sobre sua necessidade de formação, situação que relato no próximo quadro

de notas do meu diário de campo.

51

Quadro 8 – Segundo encontro de formação com professores experientes/2015

Segundo encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 06/10/2015 Número de participantes: 10 pessoas

Coordenadora do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

Diante das contingências da vida e das escolas, os encontros que eram para acontecer

quinzenalmente não foram adiante. Então, o grupo de experientes encontrava-se nos

encontros com os iniciantes.

A formação específica deste grupo não aconteceu durante três meses, pois, a cada

encontro, havia um problema de presença de duas ou três escolas, principalmente as

municipais, cuja programação de formação continuada é mais intensa, e acontecia sem

cronograma fixo, esbarrando, assim, nos dias do OBEDUC.

Após o encontro com iniciantes a coordenadora da pesquisa chamou o grupo de

experientes para uma reunião de emergência. Neste encontro discutiu-se com o grupo sobre

sua atuação e a necessidade de retomar os estudos teóricos para subsidiar o trabalho com o

professor iniciante, provocando-o a pensar a respeito de suas responsabilidades. Discutiu-

se que o grupo seria coordenado pelos seus membros, a cada encontro duas seriam

responsáveis para conduzir as discussões.

A mim coube a tarefa de encaminhar para o grupo de experientes o material selecionado

no primeiro encontro para continuarmos os estudos. Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2015, p. 5).

Este encontro aconteceu no dia 06 de outubro de 2015, no laboratório de

Biblioteconomia, ao lado da sala 13, na UFMT/CUR.

Ainda que o grupo de experientes tivesse clareza da necessidade de estar estudando,

trocando experiências e buscando conhecimento sobre seu o trabalho de acompanhamento ao

professor iniciante, o corre-corre das escolas impedia a articulação para a formação. Sabemos

que romper com a falta de políticas de formação direcionadas ao professor experiente é um dos

desafios que os professores da educação básica precisam enfrentar.

Concordo com Mizukami (2006) quando afirma ser quase inexistente o atendimento ao

professor formador/experiente. Na maioria das vezes estes se formam com suas experiências,

sozinhos, dentro das próprias escolas. De acordo com Oliveira-Formosinho (2009), há muitos

fatores no contexto de trabalho que contribuem ou não para o desenvolvimento profissional:

O horário da escola pode providenciar ou impedir um tempo para planificação

em conjunto, para atuação como observador de colegas em processos de apoio

profissional mútuo, ou para servir de mentor a professores mais novos. A

locação de recursos é outro fator importante. A liderança é um fator contextual

que afeta decisivamente os projetos de desenvolvimento profissional nas

escolas. [...]. (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2009, p. 235).

52

Então, para ter forças para articular e pensar a própria formação seria necessário, aos

professores experientes, romper com a lógica de que somente a experiência bastava para

contribuir com o iniciante. Nesse sentido, era assumir-se em pleno desenvolvimento

profissional tendo autonomia e decidindo sobre sua própria formação. Como solução, os

encontros foram organizados em um horário que não coincidisse com a formação do município

e retomou-se o processo de discussão coletiva dos experientes no OBEDUC/UFMT.

A autora Oliveira (2004) afirma que as mudanças ocorridas no contexto social afetaram

a escola, intensificando o trabalho docente, que deixou de ser somente o que acontecia na sala

de aula e passou a lidar com problemas sociais dos alunos, com a comunidade escolar e

extraescolar. Nesta perspectiva, asseguram Assunção e Oliveira (2009), que a intensificação do

trabalho

[...] supõe fazer a mesma coisa mais rapidamente. Contudo o processo de

intensificação provoca a degradação do trabalho não só em termos de

qualidade da atividade, mas também da qualidade do bem ou do serviço

produzido. Confrontados com a falta de tempo, os trabalhadores limitam a

atividade em duas dimensões centrais, que seriam manter o controle da turma

e responder aos dispositivos regulatórios. [...]. (ASSUNÇÃO; OLIVEIRA

2009, p. 366).

Diante destas mudanças e das novas exigências colocadas aos professores e demais

profissionais da educação básica, organizar tempo e espaço para formação, que estivessem fora

do cronograma das secretarias de educação e da própria escola, sempre foi um desafio para as

professoras experientes partícipes do grupo OBEDUC.

O terceiro encontro, assim como o primeiro, aconteceu na sala 12 da UFMT/CUR. Teve

como objetivo discutir aspectos dos textos lidos previamente e foi coordenado por duas

professoras experientes. As discussões pautaram-se nas leituras realizadas pelo grupo. Os textos

de Sousa (2015) e Ochoa (2011) trouxeram elementos novos, desconhecidos dos professores

experientes, provocando-os a inúmeras reflexões.

Vejamos o quadro 9, a seguir, com os registros feitos pela pesquisadora.

53

Quadro 9 – Terceiro encontro de formação com professores experientes/2015

Terceiro encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 27/10/2015 Número de participantes: 07 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Ma. Vilma Rampazzo e Profa. Esp. Elizabete Gaspar

de Oliveira – ambas professoras experientes

A formação do OBEDUC oferecida às professoras experientes tem origem nas

denúncias narradas nos seus memoriais, quando insistem em dizer que, mesmo com vários

anos de atuação na escola, não tinham parado para pensar nos professores em início de

carreira; com o ingresso no Projeto, a parceria entre escola e Universidade o olhar é outro.

Assim, para ajudar o experiente na sua prática e, agora, no trabalho de acompanhamento

ao professor iniciante, os primeiros textos discutidos neste encontro de formação foram:

parte da tese de Doutorado de Ochoa (2011), que apresentou alguns programas de

acompanhamento que acontecem em diversos países. Este texto evidenciou o perfil deste

profissional dentro destes diferentes programas, apontando a sua importância no apoio ao

iniciante.

Outro texto estudado foi o de Sousa (2015) que salienta o início desta prática no projeto

OBEDUC no ano de 2014, apontando o quanto o acompanhamento ao professor iniciante

é importante para fortalecer o vínculo com a profissão.

Assim o objetivo da coordenação do projeto com estas discussões foi apresentar ao

grupo dos professores experientes a importância de o professor iniciante poder contar com

a ajuda de alguém com experiência para superar os momentos de conflitos.

Neste momento de estudo, enquanto pesquisadora, percebi que o grupo de experientes

ficou angustiado ao verificar que em outros países, as condições de trabalho dadas aos

professores experientes e iniciantes eram muito diferentes das nossas; sentiu que seria

incapaz de realizar a tarefa de acompanhar os iniciantes no interior da escola.

Ao superar estes impasses, evidenciou, então, sua preocupação com sua atividade, com

seu perfil. Percebi que as leituras e discussões mobilizaram/sensibilizaram o grupo para um

olhar para dentro de si, começaram a entender que ser escolhido como professor experiente

da sua unidade de ensino era ser reconhecido pelo trabalho diferenciado que desenvolvem

junto aos seus colegas. (MARCELO, 2006; URETA, 2009).

Fonte: diário de campo da pesquisadora (2015, p. 5).

As discussões evidenciaram que os professores experientes começaram a se perceber,

neste processo de acompanhar o professor iniciante. Contudo, discutiram que, diante das

experiências apresentadas por Ochoa (2011), pouco poderiam fazer, uma vez que não têm

nenhuma redução na sua carga horária para ficarem disponíveis ao Projeto. Observaram, a partir

dos estudos, que o professor iniciante, nesta realidade, assume a mesma carga horária do

professor que já tem uma carreira consolidada. Constataram, também, que o professor iniciante,

se for contratado, não tem a mesma carga horária do professor efetivo. Então, que horas

poderiam destinar a leituras e orientações com o professor experiente?

Compreendemos que estes são fatores que precisam ser superados, uma vez que não há,

ainda, uma política que atenda às necessidades e realidade do professor iniciante no Mato

54

Grosso e Brasil. Isto requer que professores experientes e iniciantes organizem, dentro de seu

tempo de trabalho, um espaço para discutirem e problematizarem o seu contexto de atuação.

Diante destas discussões, o grupo percebeu a importância de ter uma política de

atendimento ao professor iniciante, pois, em nossa realidade, eles acabam assumindo as piores

salas, os piores horários, sem nenhum acompanhamento de um professor experiente.

Ao término deste encontro tive a impressão de que o grupo de experientes estava

motivado, sensibilizado a mudar sua prática em relação ao professor iniciante. O estudo dos

textos havia provocado reflexões de suas práticas no interior da escola, colocando-os em um

movimento de permanente formação.

O quarto encontro com o grupo de professores experientes foi em novembro de 2015,

na sala 13 da UFMT/CUR. Este encontro, assim como os demais, foi marcado por novas

aprendizagens, portanto, tinha como objetivo discutir com o grupo a possibilidade da escrita de

artigos científicos que discutissem a prática de acompanhamento desenvolvida por eles nas

escolas onde atuam. O quadro abaixo evidencia minhas percepções a respeito desta formação.

Quadro 10 – Quarto encontro de formação com os professores experientes/2015

Quarto encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 17/11/2015 Número de participantes: 07 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

O quarto encontro com o grupo de professoras experientes aconteceu no mês de

novembro de dois mil e quinze. A partir dos estudos e discussões sobre os textos dos

encontros anteriores, a respeito do professor experiente e, considerando que esta pesquisa

caminha pelos moldes da pesquisa formação que tem o sujeito não como objeto, mas como

ativo, reflexivo, a partir de suas ações a coordenadora do Projeto lança o desafio ao grupo:

escrever sobre o trabalho que está desenvolvendo na escola junto ao professor iniciante.

Este encontro configurou-se em uma aula sobre a escrita de artigo científico, como fazê-

lo e os aspectos que deveriam ser contemplados.

A coordenadora tinha, nesse momento, o objetivo de apresentar o trabalho do grupo no

Congresso de Formação de Professores da UNESP, em Águas de Lindóia (SP), para

evidenciar a contribuição do Projeto na formação dos sujeitos da pesquisa, onde eles

assumem a autoria da escrita que tem como elemento de discussão o desenvolvimento

profissional. É uma marca deste Projeto: ter os sujeitos como autores de textos.

Deste encontro temos um texto escrito por duas professoras experientes de escolas do

campo que evidenciam a importância de estudar e poder ajudar seus colegas iniciantes. Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2015, p. 6).

Quando observo a narrativa no diário de campo, é possível perceber que a formação

teve como objetivo provocar o grupo a se ver como professores pesquisadores na perspectiva

55

de que a pesquisa não está sendo realizada sobre eles, mas com eles, tomando seu contexto real

como ponto de partida e de chegada. Cunha e Passeggi (2013) afirmam a importância da escrita

de narrativa/artigos na formação de professores, pois tem como objetivo permitir que eles se

olhem, se vejam no processo de construção da pesquisa.

Assemelhando-nos com as autoras, entendo este ato de escrita como dispositivo

pedagógico de formação, definido por Larossa (2002 apud CUNHA; PASSEGGI, 2013, p. 46),

como um lugar onde “se constitui ou se transforma a experiência de si. [...]. Lugar no qual se

aprendem ou modificam as relações que o sujeito estabelece consigo mesmo.”

Assim, o grupo de experientes teve o desafio de escrever sobre sua prática, o seu dia a

dia junto ao iniciante, evidenciando, nestes artigos, a construção da prática colaborativa de

pesquisa entre universidade e escolas públicas. Esta produção foi apresentada no III Congresso

de Formação de Professores (UNESP), em Águas de Lindóia, e, também, no Congresso de

Pesquisa em Educação – CONPEduc 2016, Congresso Internacional de Pesquisas

Autobiográficas – CIPA (2016) e no Encontro Nacional e Didática e Prática de Ensino – Endipe

(2016).

A escrita dos artigos foi considerada pela coordenação da pesquisa e pelo grupo de

professores experientes como mais um momento de formação, pois o segundo estava desafiado

a escrever, teorizar sobre sua prática. Um exercício que demandava tempo, esforço, voltar às

leituras, eleger e selecionar os fatos que seriam registrados. Conforme Moreira (2011), a escrita:

[...] ajuda-nos a compreender o modo como experienciamos o mundo, criamos

e interpretamos sentidos, tomamos decisões, construímos e reconstruímos a

nossa memória. São estas características da narrativa escrita, enquanto forma

de conhecimento e expressão auto-biográfica simultaneamente veículo e

catalisador da reflexão sobre a acção, que a tornam uma estratégia privilegiada

na investigação e formação de professores. (MOREIRA, 2011, p. 3).

Neste processo, enquanto mestranda me tornava pesquisadora, e pensava o quanto este

grupo de professores experientes, meus colegas da educação básica, estava aprendendo.

Caminhamos juntos nos desenvolvendo profissionalmente, eu, na condição de aluna do

PPGEdu/UFMT, eles, professores pesquisadores que driblaram todas as faltas de condições e

se puseram como aprendizes neste processo de pesquisa.

Neste sentido, percebo que as formações têm dado ao grupo de professores experientes

subsídios para pensar sua prática, pois constato, neste processo, as reflexões que fazem a

respeito do seu dia a dia. O fazer parte de grupo de pesquisa, não como objeto de investigação,

56

mas como sujeito de sua própria formação, tem possibilitado autonomia ao grupo, autoformação

e autoestima.

O quinto encontro foi no dia oito de dezembro de 2015. Sabor de final de ano, de férias,

contudo, um momento que requeria do grupo muito compromisso, sendo a hora de repensar o

trabalho desenvolvido no decorrer do ano. Vejamos, no quadro abaixo, recortes do meu diário

de campo.

Quadro 11 – Quinto encontro de formação com os professores experientes/2015

Quinto encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 08/12/2015 Número de participantes: 10 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

No dia oito de dezembro de dois mil e quinze tivemos o quinto encontro de formação

com os professores experientes. Neste dia a coordenadora apresentou a vice-líder da

pesquisa para o grupo, a professora Rosana Martins, mais uma integrante do grupo

InvestigAção que ajudará a conduzir a pesquisa e os estudos.

Em seguida, a coordenadora solicitou para o grupo de experientes que pontuassem suas

dificuldades a respeito do acompanhamento que faz ao iniciante e, também algumas

sugestões de trabalho para 2016. O grupo pontuou que lhes falta:

Formação teórica para atender as necessidades dos professores iniciantes.

Horário para reunião específica com iniciantes: as professoras experientes não estão

conseguindo horário para trabalhar com os iniciantes, isto devido a vários fatores: carga

horária de trabalho, excesso de atividades, desinteresse dos professores iniciantes etc.

As sugestões para 2016 apontadas pelo grupo foram:

Que o grupo OBEDUC/InvestigAção deveria participar de alguns eventos das

escolas envolvidas no Projeto, como dia das mães, festa junina, noite cultural e outros, como

forma de interação de uma escola com a outra;

E, na primeira reunião do ano: fazer uma retrospectiva do ano de 2015, porque as

escolas receberiam muitos professores novos que entrariam no Projeto.

Após estas colocações fomos para a elaboração do cronograma de trabalho/2016 para a

formação coletiva para iniciantes e experientes e demais envolvidos na pesquisa, a partir das

solicitações das professoras iniciantes. Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2015, p. 7).

A fotografia 3 apresenta o grupo neste momento de estudo e avaliação de 2015, que

aconteceu na sala 13 da UFMT/CUR, no dia oito de dezembro de 2015.

57

Fotografia 3 – Quinto encontro de formação com professores experientes/2015

Fonte: acervo da pesquisadora (dez.2015).

As discussões foram conduzidas com o propósito de rever as atividades desenvolvidas

pelo grupo de professores experientes no acompanhamento ao iniciante. Foi um momento para

avaliar e apontar as dificuldades que estavam enfrentando na prática.

Vimos que, mais uma vez, a falta de horários para o atendimento ao professor iniciante

apareceu como uma das dificuldades encontradas pelos professores experientes. Ainda não foi

possível organizar, na rotina da escola, um momento em que possam se dedicar somente aos

iniciantes, pois os professores experientes são os coordenadores pedagógicos das escolas,

portanto, responsáveis pela formação de todo o coletivo. Os professores iniciantes, na maioria

das vezes, são contratados pelas redes de ensino e não contam com mesma carga horária do

efetivo. Vale ressaltar que os professores que estão assumindo concurso não contam com uma

carreira diferente da dos professores veteranos, dessa maneira, assumem a mesma carga horária,

as piores salas e os piores horários, pois o sistema de lotação ainda é por contagem de pontos.

Estes são entraves que dificultam o desenvolvimento efetivo do Projeto nas unidades de ensino,

os quais não podem ser resolvidos pela coordenação da pesquisa.

O trabalho de acompanhamento ao professor iniciante, a partir da literatura estudada, é

fundamental para o desenvolvimento seguro na profissão. Todavia, não podemos negar o quão

necessário seria ter condições para que isto ocorra de forma sistemática. Conforme Ochoa

(2011) e Marcelo (2006) afirmam, é importante que a carga horária do professor iniciante seja

menor do que a do professor veterano, e que seja acompanhado por professor experiente por

pelo menos um ano.

58

Colaborando com este entendimento – de que o professor iniciante deve ter apoio nos

primeiros anos da carreira – Marcelo (1995) assegura que os professores principiantes

[...] que durante seu primeiro ano de trabalho na docência contarem com

colaboração de um professor mentor apresentam atitudes e percepções acerca

do ensino significativamente mais saudáveis que aqueles que não dispõem

desta possibilidade de apoio pessoal. (MARCELO, 1995, p. 294).

Autores como Passeggi e Gaspar (2013) afirmam que o papel do professor experiente é

colocar-se como companheiro, caminhar lado a lado em um trabalho colaborativo. Mizukami,

Reali e Tancredi (2012) contribuem, assegurando que o trabalho do professor experiente é

aconselhar, ajudar na seleção e organização do material, no planejamento das aulas, buscando

ensinar ao professor iniciante como problematizar sua prática.

Ao chegarmos ao final do ano de dois mil e quinze, confesso que fiquei apreensiva com

os relatos dos experientes que apontavam poucos indícios de um outro olhar sobre o trabalho

de acompanhamento. Esperava com a continuidade das formações avançarmos neste

movimento de desenvolvimento profissional do experiente, de forma a contribuir com o

desenvolvimento do professor iniciante.

O sexto encontro foi o primeiro depois das férias, pois o Projeto tem respeitado as férias

coletivas das escolas, retornando à atividade quando os alunos voltam às aulas. Aconteceu no

dia 22 de março de 2016, na sala 13 da UFMT/CUR. Discutimos o texto entregue com

antecedência aos professores experientes, que tinham como tarefa elaborar três questões chave,

a partir da sua leitura. A fotografia abaixo apresenta o grupo de professores experientes e

mestrandos em estudo e discussão do texto.

Fotografia 4 – Sexto encontro de formação com professores experientes/2016

Fonte: acervo da pesquisadora (mar.2016).

59

Assim, o encontro tinha como objetivo discutir a aprendizagem da docência, subsidiado

no texto de Mizukami (2004). Vejamos a narrativa do diário de campo expressa no quadro

abaixo.

Quadro 12 – Sexto encontro de formação com professores experientes/2016

Sexto encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 23/03/2016 Número de participantes: 10 pessoas

Coordenadora do encontro: Profa. Dra. Rosana Maria Martins

Texto: Aprendizagem da docência: algumas contribuições de L. S. Shulmann, escrito por

Maria da Graça Nicoletti Mizukami

Este encontro trouxe para o grupo de experientes a participação da professora vice-líder

da pesquisa, para coordenar as discussões e, ainda, duas mestrandas, as novas orientandas

da professora Simone Albuquerque coordenadora da pesquisa.

Neste dia, começamos o estudo do texto “Aprendizagem da docência: algumas

contribuições de L. S. Shulmann”, escrito por Maria da Graça Nicoletti Mizukami (2004),

que discute os elementos que Shulmann coloca como indispensáveis para a docência.

A proposta de trabalho era: leitura do texto e levantamento de três questões para debate.

Conforme a coordenadora do estudo fazia as inferências sobre os saberes apresentados

no texto, as experientes foram se situando como sujeitos de sua formação, dizendo que eram

conhecimentos que desconheciam na prática.

Ao finalizar o Encontro ficou como tarefa a releitura do texto aliando-o ao trabalho que

desenvolvem no acompanhamento ao professor iniciante.

A formação com os professores experientes é uma necessidade do projeto OBEDUC,

para subsidiá-los a fazer o acompanhamento ao iniciante, portanto, podemos dizer que é uma

ação que visa colocar os professores experientes como sujeitos de sua própria formação. É

um movimento de autoformação/hetero formação. (PASSEGGI; GASPAR 2013).

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 8).

Mediante a solicitação de formação para subsidiar a prática de acompanhamento feita

pelo grupo de experientes no mês de dezembro de 2015, os encontros iniciaram com leituras e

discussões de teóricos que pudessem discutir a prática e os conhecimentos necessários ao

professor.

Assim, começamos pelo texto de Mizukami (2004), que evidencia os elementos que

Shulmann aponta como indispensáveis para a docência. A autora problematiza: o que os

professores precisam saber para poder ensinar e para que seu ensino possa conduzir a

aprendizagem dos alunos?

60

Neste momento, alguns disseram não ter todos os conhecimentos descritos pela autora,

causando outra preocupação: como ensinar o professor iniciante se nem mesmo eu, professor

experiente, tenho tais conhecimentos? Então, vimos o quanto o texto provocou os experientes

e todos os mestrandos presentes. De acordo com Mizukami (2004), para Shulmann:

[...] os professores têm conhecimento de conteúdo especializado de cuja

construção são protagonistas: o conhecimento pedagógico do conteúdo. Os

professores precisam ter diferentes tipos de conhecimentos, incluindo

conhecimento específico, conhecimento pedagógico do conteúdo e

conhecimento curricular. (MIZUKAMI, 2004, p. 11).

No término do estudo, o grupo ficou com a responsabilidade de voltar ao texto e fazer

as relações com a prática, de modo a extrair elementos que pudessem subsidiar as intervenções

junto ao professor iniciante. Via-se a empolgação do grupo em conhecer mais, em um

movimento de reconhecer-se como inacabado, mantendo a curiosidade de aprender mais a

respeito de sua profissão. Corroborando com o entendimento de que o professor precisa estar

em constante aprendizagem acerca de sua profissão temos Marcelo e Vaillant (2013), o

desenvolvimento profissional como uma ferramenta imprescindível à

[...] a melhoria escolar. Estamos longe dos momentos que pensava-se que a

bagagem de conhecimento adquiridos na formação inicial docente, unidos ao

valor da experiência como fonte de aprendizagem na prática, podia ser

suficiente para o trabalho docente. (MARCELO; VAILLANT, 2013, p. 73).

Alicerçada nos estudos realizados, partilho do pensamento dos autores de que o

professor precisa estar em constante formação para atender as necessidades reais de sua prática.

Assim, o grupo de professores experientes, que se colocou neste processo de formação, está

partilhando e construindo novos saberes com seus pares, ao discutirem situações conflituosas

das diferentes escolas envolvidas no Projeto.

O sétimo encontro também aconteceu na sala 13 da UFMT/CUR, pois esta sala é

destinada ao PPGEdu, então, quando não está ocupada com aulas, os grupos de pesquisa das

diferentes linhas usam-na para os momentos de estudos e discussões dos trabalhos

desenvolvidos. Por este motivo, os encontros com os experientes sempre acontecem nela.

O quadro 13, a seguir, mostra as minhas percepções acerca deste encontro que aconteceu

no dia seis de abril de 2016, quando retomamos o texto de Mizukami (2004), que discute a

aprendizagem da docência. Foi uma tarde de diálogos e trocas, como retrata a fotografia 5.

61

O encontro foi marcado por discussões que, a meu ver, propiciaram a aprendizagem de

todos. Os professores experientes estavam falantes, percebia-se nitidamente que haviam lido o

texto, pois faziam relações com o trabalho de acompanhamento.

Quadro 13 – Sétimo encontro de formação com professores experientes/2016

Sétimo encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 06/04/2016 Número de participantes: 10 pessoas

Coordenadora do encontro: Profa. Dra. Rosana Maria Martins

Retomando a discussão do texto: Aprendizagem da docência: algumas contribuições de L. S.

Shulmann, escrito por Maria da Graça Nicoletti Mizukami

O encontro do dia 06/04 foi marcado por emoções, com o retorno da professora coordenadora

ao grupo após o falecimento do seu esposo. Foi doído vê-la angustiada e triste, por outro lado,

foi legal tê-la conosco. Assim é esta formação: um espaço de trocas, partilhas entre nós. Somos

e nos fazemos com o outro, nas relações, sejam elas pessoais ou profissionais. (NÓVOA, 2002).

Ao retornarmos o estudo do texto, notei um movimento diferente do constatado no encontro

anterior, os professores experientes estavam participantes, falantes, fazendo relação entre o que

faziam e a autora do texto, conseguiam pensar o acompanhamento a partir dos elementos

discutidos. Apontaram preocupações:

A falta de tempo do iniciante para formação específica;

O iniciante tem dúvidas como organizar e manter a disciplina dos alunos;

Poucos/raros professores mobilizam conhecimentos teóricos para pensar a prática.

Enquanto as professoras experientes faziam estas constatações, a coordenadora do projeto

sintetizou como desafios do grupo de experientes:

Dominar teoricamente os conhecimentos descritos por Shulmann para orientar os

iniciantes;

Trabalhar com as diferentes identidades dos iniciantes na construção da identidade

docente;

Administrar o tempo da formação com os iniciantes, criando, dentro das escolas, este

momento;

Fazer o exercício de olhar a experiência pedagógica do ponto de vista do experiente. É

interessante dizer que, em todo momento, não se pode perder de vista a tarefa que exercem na

escola: o professor experiente acolher e apoiar, dar subsídio teórico/prático para o professor;

Trabalhar com a diversidade: cultural, tempo, formação e falta de conhecimento. O

experiente precisa se ver como sujeito de sua prática, tomá-la como objeto de suas reflexões

num contexto real.

As professoras experientes estão começando a entender o trabalho que estão desenvolvendo

nas escolas. Antes parecia que as experientes o faziam sem uma reflexão mais profunda sobre

as intervenções realizadas. Hoje vemos um movimento de mudança nesta prática. O grupo está

buscando, nos encontros, teorizar sua própria prática.

Com o texto em estudo, ficou evidente, para as professoras experientes, que o trabalho delas

não é dar respostas aos iniciantes e sim problematizar os desafios apresentados de modo a

fomentar suas necessidades de estudos. Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 9).

62

Fotografia 5 – Sétimo encontro de formação com professores experientes/2016

Fonte: Acervo da pesquisadora (mar.2016).

A professora responsável pela condução dos trabalhos chamou a atenção do grupo para

vários momentos no texto, problematizando como os aspectos apontados emergiam na prática.

Foi interessante perceber o envolvimento do grupo, que se propunha a conhecer mais sobre sua

profissão.

A coordenadora da pesquisa, professora Simone, fez várias intervenções, pontuando a

importância dos saberes do professor para uma prática situada em uma realidade: “Quando o

professor se reconhece na profissão, sabe que conhecimento ele precisa mobilizar diante de suas

necessidades e, assim, consegue resolver vários conflitos que acontecem no seu dia a dia.”

Para ensinar, o professor precisa de uma base de conhecimento para iniciar sua carreira

e elaborar novas construções e novos conhecimentos, a qual, conforme Mizukami (2004, p. 11),

define-se da seguinte maneira: “[...] um repertório profissional que contém categorias de

conhecimento que subjazem à compreensão que o professor necessita para promover

aprendizagens dos alunos”.

Dessa maneira, o grupo foi percebendo quais são os saberes que os professores precisam

mobilizar para ensinar. E mais, entendeu-se, nestes dois últimos encontros, que tais saberes vão

sendo construídos ao longo da carreira profissional. Corroborando com este entendimento

temos Marcelo (2009), que afirma que o desenvolvimento profissional é o

[...] processo mediante o qual os professores, sós ou acompanhados, reveem,

renovam e desenvolvem o seu compromisso como agentes de mudança, com

os propósitos morais do ensino e adquirem e desenvolvem conhecimentos,

competências e inteligência emocional, essencial ao pensamento profissional,

63

à planificação e à prática com as crianças, com os jovens e com os seus

colegas, ao longo de cada uma das etapas das suas vidas enquanto docentes.

(MARCELO, 2009, p. 10).

Encerramos o encontro, conscientes de que foram muitos os desafios que os professores

experientes enfrentaram no trabalho de acompanhamento ao professor iniciante, muito bem

sistematizados na lousa (Fotografia 6) pela professora Simone:

Dominar teoricamente os conhecimentos sobre a docência; trabalhar com as

diferentes identidades dos iniciantes na construção da identidade docente;

administrar o tempo da formação com os iniciantes, criando, dentro das

escolas, este momento; fazer o exercício de olhar a experiência pedagógica do

ponto de vista do orientador/experiente; trabalhar com a diversidade: cultural,

local, tempo, formação e falta de conhecimento. (Diário de campo,

Pesquisadora, 2016).

Fotografia 6 – Coordenadora do Projeto registrando os desafios dos experientes no trabalho de

acompanhamento e o cronograma de formação dos professores iniciantes para

2016

Fonte: acervo da pesquisadora (abr.2016).

O oitavo encontro aconteceu no dia vinte e seis de abril de 2016, na sala 13 da

UFMT/CUR, com o objetivo de socializar dois textos que discutiam trabalhos de mentoria

realizados na prática docente.

Este encontro trouxe para o grupo muitos conhecimentos novos a respeito da

mentoria/acompanhamento, pois foram trabalhadas duas situações nas quais a mentoria

acontece e seus resultados têm sido significativos para a qualidade da aprendizagem da

docência e, por conseguinte, para a melhoria no ensino.

64

No quadro a seguir apresento notas do meu diário de campo.

Quadro 14 – Oitavo Encontro de formação com professores experientes/2016

Oitavo encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 26/04/2016 Número de participantes: 10 pessoas

Coordenadora do encontro: Mestranda Sueli de Oliveira Souza

Socialização de dois projetos de mentoria: um na Argentina/Buenos Aires; outro no

México/Sán Nicolás de Hidalgo.

O encontro foi diferente de todos! Dia atípico para nós, friozinho inesperado depois

de meses de muito calor! Neste dia tivemos a participação de todas as graduandas que fazem

parte do grupo InvestigAção.

O primeiro texto falava da formação do docente para os novos cenários educativos. A

autora Meana, Gabriela Dora (2010) destacou o papel das mudanças ocorridas nas últimas

décadas como inspirações para uma nova possibilidade de formação, ou seja, aquela que

toma o contexto das situações práticas para ser estudado, debatido, questionado, afirmando,

assim, que o professor em início de carreira precisa de formação que vai além das oferecidas

na graduação. É importante ter alguém para auxiliá-los e, ainda, uma proposta de formação

que discuta os conflitos surgidos.

No segundo texto, o autor Torres Ochoa (2010) fala da importância do professor

experiente ter formação específica para garantir que seu trabalho de acompanhamento junto

ao aluno seja cada dia melhor. (Mizukami, 2006/Oliveira, 2015 – Formação do formador/

Day, 2001 – Desenvolvimento Profissional).

Neste encontro, a responsabilidade de coordenar as discussões era minha. O grupo

presente participou, fez relação do trabalho que desenvolvemos aqui através do projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC com as propostas apresentadas pelos autores.

Outro tópico previsto na pauta era o Estudo sobre o desenvolvimento Profissional do

professor experiente, a ser discutido pela mestranda Márcia Socorro França, o que não

aconteceu, em virtude da ausência da maioria dos professores experientes. Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 10).

Por ser a temática específica sobre acompanhamento ao professor iniciante, foi

considerado importante, pela coordenação da pesquisa, que o grupo de graduandas participasse

do encontro, para conhecer como estão sendo organizados estes programas e implementados

em diferentes países. As graduandas componentes do Projeto vêm desenvolvendo pesquisas

sobre a inserção do professor iniciante na carreira e o trabalho de acompanhamento

desenvolvido pelo professor experiente. Este encontro mostrou-se como uma possibilidade de

conhecerem novos autores sobre esta temática.

A literatura estudada sobre o processo de acompanhamento nos assegura a sua

importância para o desenvolvimento do professor iniciante. De acordo com autores como

Ochoa (2011) e Inostroza (2013), a mentoria é um assessoramento, apoio e ajuda oferecida ao

65

professor novato. Assim, podemos dizer que é um momento de assistir o professor no

planejamento, na sala de aula, na organização e seleção de material didático-pedagógico.

Nesta relação colaborativa entre professores experientes e professores iniciantes a

aprendizagem da docência vai acontecendo de forma gradual, sistemática, apresentando sua

evolução ao longo da carreira. Para Inostroza (2013) é interessante que a acompanhamento seja

pensada:

[...], por uma corrente sócio-construtivista, pois favorece a observação, a

compressão do processo de construção do saber ensinar pelos professores

envolvidos, seja como formador de mentor, ou mentor na prática de mentoria,

na qual ocorre uma interação constante entre os autores, cobrando e

significando uma aprendizagem situada. (INOSTROZA, 2013, p. 34).

Assim, verifico que, para desenvolver um trabalho desta natureza, o professor

experiente precisa de uma formação capaz de problematizar sua realidade para ajudá-lo a

problematizar as situações que encontra no dia a dia da escola. Um dos autores estudados neste

encontro, Torres (2010), afirma ser importante a formação para os mentores, pois o experiente

deve ter uma base sólida articulada a valores humanos.

A fotografia 7 mostra um momento de profícua discussão durante o oitavo encontro.

Fotografia 7 – Oitavo encontro de formação com professores experientes/2016

Fonte: Acervo da pesquisadora (abr.2016).

Ao término deste encontro, claro estava que, apesar de os experientes, em sua maioria,

estarem ausentes, a formação havia instigado o grupo OBEDUC participante a pensar sobre a

importância de acompanhar o professor iniciante, de estar junto com ele, dando o suporte

66

necessário para que ele possa desenvolver-se profissionalmente. Também compreenderam a

importância de os mentores/experientes participarem de formação constante, para ter mais

segurança no trabalho de acompanhamento.

O nono encontro de formação com professores experientes ocorreu em dez de maio de

2015, na sala 12 da UFMT/CUR, a fim de debater aspectos do desenvolvimento profissional

docente. Para isso, subsidiamos as discussões no texto “Desenvolvimento Profissional Docente:

passado e futuro” (MARCELO, 2009).

A fotografia a seguir evidencia esta reunião de estudos.

Fotografia 8 – Nono encontro de formação com professores experientes/2016

Fonte: Acervo da pesquisadora (mai.2016).

Este encontro foi marcado por muitas discussões e aprendizagens. O grupo estava

motivado a partir da leitura do texto. No quadro 15 estão registradas as minhas percepções a

respeito do encontro.

67

Quadro 15 – Nono Encontro de formação com professores experientes/2016

Nono encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 10/05/2016 Número de participantes: 11 pessoas

Coordenadora do encontro: Profa. Ma. Márcia Socorro França ex-aluna do PPGEdu/UFMT e

participante do grupo OBEDUC

Texto: Desenvolvimento Profissional Docente: Passado e Futuro – Marcelo Garcia,

2008.

O encontro iniciou com um clima de expectativas. O grupo apresentava uma inquietude

que parecia vir dos resultados da leitura realizada. Deu a entender que eles estavam se vendo

em um movimento de desenvolvimento profissional.

Assim, a professora da educação básica, que recém concluiu o mestrado em educação,

discutiu a respeito do desenvolvimento profissional, com diferentes autores. Foi um

momento de muitas aprendizagens. De repente, alguns membros do grupo, inclusive eu,

apresentamos um entendimento de que o desenvolvimento profissional é algo que acontece

antes de entrarmos na carreira. Foi quando a professora, vice-líder da pesquisa, sabiamente

nos chamou a refletir sobre o conceito – desenvolvimento profissional –, que vem de

professar uma profissão. Então começamos a fazer uma nova reelaboração para a construção

deste entendimento.

A discussão sobre o desenvolvimento profissional do professor trouxe para nós, ali

presentes, reflexões sobre nossa carreira. Para os autores estudados pela professora que

conduzia as discussões, o desenvolvimento profissional, infelizmente, tem sido medido

pelos resultados das avaliações externas aplicadas aos alunos, desconsiderando outros

aspectos que o envolvem, pois se sabe que ele abarca as seguintes dimensões:

Profissionalismo – se dá na escola, no trabalho coletivo, formação continuada;

Profissionismo – são mobilizações para escrita do estatuto profissional, lutas sindicais;

Profissionalidade – conjunto de características de uma profissão. É a perspectiva cultural da

profissão. Assim, o texto de Marcelo e outros autores apresentados pela professora

evidenciaram que não é possível avaliar o desenvolvimento profissional através de um único

instrumento, é necessário considerar todos os aspectos citados.

Diante destas observações, vejo que o grupo de professoras experientes esteve atento às

discussões, o que se mostrou pelos olhares de concordância ou surpresa em reconhecer que

estão em desenvolvimento profissional, mesmo com todos os anos de experiência continuam

aprendendo e se colocando como aprendizes de sua prática.

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 11).

As discussões possibilitaram que o grupo de experientes se visse no processo de

desenvolvimento profissional ao discutir sua prática e saberes. Sabemos que desenvolver-se

profissionalmente vai além da formação inicial e dos saberes da experiência, pois requer um

trabalho de contínuo investimento do próprio professor. O desenvolvimento profissional, para

os autores estudados, engloba as experiências vividas pelo professor ao longo de sua carreira.

Marcelo (2009, p.13) entende que o desenvolvimento profissional é concebido como

um processo colaborativo no qual o professor é visto como prático reflexivo detentor de

68

conhecimentos prévios quando ascende a profissão e que vai adquirindo mais conhecimentos

ao longo da carreira. Conforme o autor, é conveniente pensar nos professores como ‘peritos

adaptativos’ ou seja, “[...] pessoas que estão preparadas para fazer aprendizagens eficientes ao

longo da vida”. Day (2001) colabora com este pensamento ao afirmar que:

É evidente que agir como profissional não envolve apenas uma reflexão na e

sobre a acção, mas também acerca da acção. Este tipo de reflexão representa

uma postura mais ampla e crítica que envolve a investigação sobre questões

de natureza moral, ética, política e instrumental, implícitas no pensamento e

na prática quotidiana dos professores. (DAY, 2001, p. 56).

Nesta perspectiva, observo que o desenvolvimento profissional é algo pessoal e coletivo,

estimulado por práticas de trabalhos coletivos que influenciam a melhoria da qualidade do

ensino e da escola. Assevera Marcelo (2009) que aprender a ensinar perpassa três categorias de

experiências que influenciam nas crenças e conhecimentos dos professores:

[...] experiências pessoais – incluem aspectos da vida [...] a origem sócio

econômica, étnica, gênero, religião; experiência baseada em conhecimento

formal – aquele que é trabalhado na escola; experiência escolar e de sala de

aula que inclui todas as experiências vividas enquanto estudante, que

contribuem para formar uma ideia sobre o que é ensinar e qual é o trabalho do

professor. (MARCELO, 2009, p. 15).

Concordo com o autor quando afirma que aprender a ensinar envolve os modos como

concebemos a sociedade, o homem, a escola, o aluno e o ensino, tudo ancorado pelas

experiências que vivenciamos. Assim, verifica-se a importância de o professor investir na sua

profissão, para conhecê-la cada dia mais, em uma perspectiva de diálogo, questionamentos e

busca constante de formação.

O décimo encontro também se deu na sala 12 da UFMT/CUR, no dia vinte e quatro de

maio de 2016, com o objetivo de apresentar ao grupo teóricos que discutem sobre o professor

experiente, as diferentes nomenclaturas usadas para identificá-lo e, também, o conceito de

mentoria/acompanhamento. Verificava-se a ansiedade em relação à figura do professor

experiente, e o trabalho de acompanhamento ao professor iniciante, perceptível nos olhares e

indagações feitas que o trabalho com professor iniciante precisava ser melhorado, de forma a

contribuir com seu desenvolvimento profissional.

Segue, no quadro 16, o registro do diário de campo:

69

Quadro 16 – Décimo Encontro de formação com professores experientes/2016

Décimo encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 24/05/2016 Número de participantes: 10 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha e Mestranda Sueli

de Oliveira Souza

O professor experiente no olhar de diferentes autores

Ao observarmos o envolvimento do grupo de professores experientes nas discussões

dos textos até aqui selecionados para os encontros de estudos, a coordenadora da pesquisa,

juntamente com a mestranda, decidiram ser o momento de trazer algumas informações sobre

o papel e as características do professor experiente, descritos por autores que fazem parte do

quadro teórico do trabalho final de mestrado, cujo objetivo geral é discutir o trabalho do

professor experiente no acompanhamento ao professor iniciante, suas necessidades

formativas, marcando o movimento de desenvolvimento profissional que estes professores

experientes fazem quando buscam novos conhecimentos para auxiliar o iniciante.

O encontro transcorreu com uma apresentação em Power Point procurando favorecer

as discussões dos conceitos de professor experiente, e suas características a partir dos

autores: Ureta (2009), Inostroza (2013), Ochoa (2011), Marcelo (1999), Kaechele et al.

(2012). Em cada fala, nos olhares, uma expressão de surpresa, satisfação, de ora se ver com

semelhanças aos autores, ora se ver tão distante do que eles falam.

Este encontro despertou no grupo preocupações que permitiram novas buscas. É

necessário aproximar-se do iniciante, afinal, elas têm uma importante contribuição: são

capazes de acompanhar e auxiliar o professor em início de carreira.

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 13).

Este encontro trouxe para o grupo de professores experientes e demais participantes do

estudo a oportunidade de conhecer um pouco mais sobrea figura do professor experiente nas

unidades de ensino. Foi uma tarde de muitas aprendizagens, de debates e discussões que, a meu

ver, subsidiaram o grupo a pensar sobre a prática do acompanhamento.

Conforme Passeggi e Gaspar (2013, p. 65) afirmam, com as experiências de

acompanhamento aprendemos a: “saber-fazer, saber-pensar, e saber-entrar-em-relação com

alguém e consigo mesmo [...]”. Desse modo, tanto a atividade de quem acompanha como a de

quem é acompanhado, precisa ser de sujeito ativo envolvido no processo de aprender, aberto

para novas construções. Ainda para estas autoras, acompanhar é colocar-se como companheiro

que divide com o outro todas as possibilidades de aprendizagens, em uma relação dialógica.

Asseguro, de acordo com literatura estudada, que o ato de acompanhar do professor

experiente é fundamental para assessorar e apoiar o professor iniciante a permanecer na carreira,

com segurança, evoluindo e melhorando sua prática. Ao final do encontro, entendemos que,

mesmo sendo identificado por diferentes termos, como: professor mentor, professor formador,

70

professor orientador e professor perito, o professor experiente, sujeito desta pesquisa, um

mediador entre a realidade da escola e os conflitos vivenciados pelo iniciante, poderá contribuir

de forma segura para o crescimento deste profissional.

O décimo primeiro encontro aconteceu no dia sete de junto de 2016, na sala 12 da

UFMT/CUR. O quadro seguinte traz notas sobre este encontro.

Quadro 17 – Décimo primeiro encontro de formação com professores experientes/2016

Décimo primeiro encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 07/06//2016 Número de participantes: 11 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Rosana Maria Martins e mestrandas Sueli de

Oliveira Souza e Márcia Roza Lorenzzon

Textos do livro: Narrativas dialogadas na investigação, formação e supervisão de

professores. MOREIRA, Maria Alfredo (ed.), 2011.

Texto 1: Da narrativa (dialogada) na investigação, supervisão e formação de professores -

Capítulo 1 - Maria Alfredo Moreira (Universidade do Minho).

Texto 2: Percursos Reflexivos de Acesso à Interioridade. Estratégias Dialógicas e

Autoscópicas - Capítulo 4 - Isabel Costa (ESD, Sancho I, Vila Nova de Famalicão)

O encontro começou cheio de expectativas, dando início ao estudo das narrativas, algo

novo para a maioria dos participantes, embora a coordenadora da pesquisa sempre

salientasse que trabalhamos com elas, parece algo distante para o grupo. Trazer estes textos

para estudo foi, sem dúvida, uma ‘sacada’ e tanto; vai ajudar o grupo a escrever melhor, a

se ver no momento da escrita, a selecionar e narrar melhor os fatos escolhidos.

Quando começamos a pensar sobre os textos e colocamos as questões centrais para

fazermos o exercício com as nossas vivências, senti que o grupo estava distante, não houve

manifestações em relação aos textos e sua prática. Grupo calado, apático, confesso que fiquei

triste! Como pesquisadora dedicada ao mestrado tem momentos que pareço esquecer da

rotina da escola onde as professoras experientes vivem, tanto momentos, tantos

acontecimentos, que elas não conseguem dar conta de mais outras leituras.

Logo que começamos a discussão do texto da Costa, a coordenadora lançou o desafio

de cada escola filmar uma aula de uma iniciante e trazer no próximo encontro para podermos

fazer intervenções de forma que todos aprendessem aspectos importantes do trabalho de

acompanhamento, ao narrar sobre o mesmo. Ficou definido, além disso, que no final de cada

encontro um membro do grupo faria a leitura do que foi capaz de sistematizar no decorrer

do encontro sobre os textos trabalhados, narrando aspectos de sua aprendizagem.

Fonte: diário de campo da pesquisadora (2016, p. 13).

O Objetivo das discussões era fomentar a importância das narrativas no contexto da

formação de professores. Os estudos sobre as narrativas trouxeram muitos conhecimentos

71

novos para o grupo, tendo em vista que verificamos como elas podem contribuir para o

desenvolvimento da escrita dos professores.

Conforme as autoras Moreira e Costa (2011) ao parar para escrever o professor precisa

mobilizar diferentes habilidades como reviver fatos, selecionar e organizar a forma de escrita,

o que implica na ampliação do seu conhecimento.

Semelhantemente, Costa (2011, p 57) afirma que, na prática com narrativas, há uma

reflexão que é “o resultado da vontade, do pensamento, do questionamento e da procura,

contrapondo-se ao impulso, ao hábito, à tradição e à rotina.” Assim, percebemos que o uso das

narrativas para registros da prática de acompanhamento vai possibilitar que o professor

experiente reflita e organize suas ações. Ainda,

Num contexto de ensino, a reflexão pressupõe que o professor problematize

as justificações e implicações das suas opções tais como a relação entre a

prática e as acepções pessoais, valores e crenças acerca do ensino, as suas

origens, que tipo de práticas sociais essas ideias exprimem, etc. Assim, ao ser

o ponto de partida e de chegada, a experiência educativa assume-se como um

lugar fulcral na (re)construção do conhecimento e da acção do professor.

(COSTA, 2011, p. 58, grifos da autora).

As palavras de Costa (2011) evidenciam, mais uma vez, a importância do registro como

possibilitador das reflexões que permitem ao professor desenvolver-se profissionalmente. Aos

poucos, o grupo está construindo novos saberes sobre as narrativas.

Outro aspecto considerado pelo grupo foi apreendido do próprio texto de Costa (2011).

Trata-se das estratégias dialógicas e autoscópicas que também poderão ajudar o grupo de

professores experientes no trabalho de acompanhamento ao professor iniciante.

Se estas estratégias forem tomadas nas práticas destes professores experientes com seus

professores iniciantes, possibilitarão que ambos se desenvolvam profissionalmente. A

estratégia dialógica apontada pela autora diz respeito ao uso do diário de campo no qual

iniciante e experiente dialogariam sobre um mesmo fato, o que permite que ambos se vejam

num espelho, a partir de suas escritas.

Quanto às estratégias autoscópicas, serão usadas também, a partir do consenso e relação

de confiança entre iniciante e experiente, pois dizem respeito à filmagem situação real de sala

de aula para que, depois, possam ser observadas e discutidas, de modo que ambos cresçam

profissionalmente. Foi então que surgiu a ideia de filmar algumas aulas para serem discutidas

pelo grupo.

72

Ao final do encontro, o grupo de professores experientes saiu com a tarefa de filmar

uma aula de um professor iniciante e trabalhar com ele os aspectos da prática então definidos

para as análises, pois neste encontro tínhamos estudado esta metodologia, isto é, a autoscopia,

que consiste em filmar indivíduos em situações de expressão e comunicação.

Conforme Costa (2011, p. 60), no acompanhamento ao professor no início de carreira

tal metodologia “prevê a execução de uma determinada actividade pedagógica, normalmente a

leccionação de uma aula, para ser observada e analisada, com vista à melhoria do desempenho

[...]”.

O uso da autoscopia tinha como objetivo que o sujeito, neste caso, o professor iniciante,

pudesse se observar e melhorar sua prática. Para Silva (1998 apud Costa, 2011), esta estratégia

determina

[...] uma tomada de consciência, quase visceral, do que é uma comunicação

autêntica no seio de um grupo […] A tomada de consciência de si, através da

autoscopia, é a melhor das motivações para o “saber” dos formandos. No

processo de formação é uma etapa fundamental que suscita a reflexão sobre

si, em situação, no sentido de melhorar o seu desempenho. (SILVA, 1998 apud

COSTA, 2011, p. 60).

Assim, subsidiadas pela metodologia, no próximo encontro o grupo discutiria, junto

com os experientes, algumas situações de intervenções. A seguir, as fotografias 9 e 10 mostram

o grupo em estudos sobre esta metodologia.

Fotografia 9 – Décimo primeiro encontro de formação com professores experientes/2016

Fonte: Acervo da pesquisadora (jun.2016).

Fotografia 10 – Décimo primeiro encontro de formação com professores experientes/2016

73

Fonte: Acervo da pesquisadora (jun.2016).

O décimo segundo encontro de formação com professores experientes aconteceu na sala

7 da UFMT/CUR, com o intuito de assistir vídeos de aulas trabalhadas por professores

iniciantes e ouvir as estratégias de intervenção utilizadas pelos professores experientes para

contribuir com o crescimento deste iniciante.

Assim, no primeiro momento do encontro, foi retomada a discussão sobre a importância

deste trabalho para o desenvolvimento profissional tanto do professor experiente como para o

do professor iniciante.

Vejamos as notas do diário de campo da pesquisadora a respeito do décimo segundo

encontro, no quadro 18, a seguir.

74

Quadro 18 – Décimo segundo encontro de formação com professores experientes/2016

Décimo segundo encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 21/06//2016 Número de participantes: 11 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Rosana Maria Martins e professoras experientes

Proposta do encontro: apresentação de vídeos de aulas de professores iniciantes;

contribuições do grupo de estudo.

Minha expectativa era grande!!

O que viria de bom, como poderíamos contribuir para o desenvolvimento profissional

dos nossos colegas: iniciantes, mestrandos e experientes, pois acredito que numa proposta

de tematizar a prática, todos nós aprenderíamos.

Então, nos organizamos com os materiais que dariam suporte às professoras experientes

para apresentarem para o grupo o trabalho que fizeram nas suas unidades de ensino. Vale

dizer que estava previsto para assistirmos os vídeos de duas escolas da Rede Municipal de

Ensino, pois as escolas estaduais estavam em greve. Nosso encontro não começou na hora

prevista e discutimos a possibilidade de mudarmos o seu início para as 18h00min e não mais

17h30min, o que ficou acordado com grupo. A professora Rosana fez uma pequena

retomada dos textos, relembrando aspectos do encontro anterior.

Neste momento senti que o grupo estava mais presente com as discussões dos textos,

mostraram que leram, que buscaram relacionar a importância das narrativas com a prática

de acompanhamento. No embalo das discussões, fomos para o primeiro vídeo – apresentava

a aula de uma professora iniciante com uma turma da 1ª fase do II Ciclo/ 4º ano do Ensino

Fundamental.

Pelo que entendi, o objetivo da aula era criar condições para os alunos construírem o

hábito da leitura. Recurso apresentado pela professora: banner de leitura, livros de literatura

infantil, televisão de E.V.A., de onde os alunos apresentariam suas leituras. A intenção

parecia boa. A partir da apresentação do vídeo, pude ver o quanto aquela professora iniciante

tinha dificuldades em lidar com a turma, começando pela gestão da sala. Como propor a

atividade de forma que todos os alunos se interessassem pela aula? Via-se uma dispersão da

turma enquanto duas alunas tentavam ler. Entendi que a professora não conseguiu adequar

a leitura à turma. As alunas não tinham leitura fluente e o livro era extenso, o que se tornou

cansativo. Os alunos andavam de um lado para o outro, diziam que não entendiam nada da

leitura.

A professora, em nenhum momento, fez intervenções que pudessem mudar a aula.

Quando terminamos de assistir, começamos a pontuar o que a professora experiente deveria

trabalhar com a professora iniciante e foram várias as sugestões. Acredito que tudo o que foi

observado e pontuado serviu para todos nós. Foi uma formação para os formadores. As

narrativas construídas oralmente por nós expressam o que entendemos de sala de aula, de

conteúdo programático, de recursos de ensino, o que serve, como um texto de orientação de

como planejar e trabalhar uma aula com mais significação para os alunos.

Confesso...! Como pesquisadora, entendo que esta ação de tematizar a prática dos

iniciantes é riquíssima para ajudarmos as professoras experientes a se colocarem como

companheiras dos iniciantes numa relação horizontal. (PASSEGGI, 2013). Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 14).

75

O encontro transcorreu conforme o combinado. Observamos, no vídeo desta aula, as

reais dificuldades do professor iniciante e pudemos mensurar o tamanho do desafio do professor

experiente com a incumbência de intervir, mediar e assessorar o iniciante no seu

desenvolvimento profissional.

Conforme Day, (2001) os professores, para se envolverem em um processo de

investigação, como tem ocorrido com este grupo de professores experientes, com objetivo de

ampliar seu conhecimento sobre a prática,

[...] necessitam de se envolver, individual ou coletivamente, em diferentes

tipos de reflexão sobre o seu próprio pensamento, sobre os valores que lhe

estão subjacentes e sobre os contextos em que trabalham. Para tal necessitam

de apoio intelectual e afetivo e têm de se tornar investigadores individuais e

colaborativos. (DAY, 2001, p. 53).

Quando reflito acerca desta trajetória de formação do professor experiente, constato que

a mesma trouxe elementos que são fulcrais para que possa desenvolver-se pessoal e

profissionalmente, pois o colocou como sujeito da sua própria formação, autônomo e crítico,

para tomar a decisão de continuar investindo na sua carreira.

A partir da experiência vivenciada pelo grupo, com o vídeo da aula de uma professora

iniciante e seus resultados para a formação do professor, o grupo decidiu continuar com esta

metodologia, uma vez que ela propiciou uma série de discussões em um clima propício à

aprendizagem, fazendo com que elas percebessem que poderiam crescer e alterar suas

intervenções na prática a partir de novos estudos. Assim sendo, o décimo terceiro encontro do

Projeto aconteceu na sala 12 da UFMT.

Iniciou-se com a discussão e organização do II seminário do grupo OBEDUC, fez-se a

distribuição de algumas tarefas aos participantes presentes e, em seguida, assistimos o vídeo da

aula de uma professora iniciante.

Vejamos no quadro 19 as anotações do diário de campo.

76

Quadro 19 – Décimo terceiro encontro de formação com professores experientes/2016.

Décimo terceiro encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 06/09//2016 Número de participantes: 11 pessoas

Coordenadora do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

Objetivos do encontro: organizar com o grupo de professores experientes e mestrandos o

II seminário do OBEDUC, assistir e tematizar aula de uma professora iniciante;

No primeiro momento discutiu-se e organizou-se o seminário do OBEDUC,

distribuindo as tarefas. Em seguida, assistimos mais um vídeo apresentado por uma

professora experiente. Conforme assistíamos, as expressões nos olhares evidenciavam

preocupações. Ao término do vídeo, a professora Simone apresentou suas preocupações

dizendo: “A professora parece não dominar o básico da docência, tem dificuldade em

coordenar as atividades, de encaminhar as atividades junto aos alunos, não consegue

estabelecer um diálogo com a turma, é uma professora que precisa de muita ajuda.” A

professora experiente que acompanha esta iniciante nos relata que “esta aula é resultado de

várias intervenções que já havia feito junto a professora. Primeiro gravaram a aula e

discutiram seus detalhes. Pontuaram juntas o que poderia ser melhorado, então planejaram

e foram novamente para a sala. Contudo, quando assistiram a aula no vídeo, a professora

iniciante não conseguia ver onde precisava melhorar.

Vários professores experientes e mestrandos fizeram sugestões de como a professora

experiente poderia estar intervindo junto à professora iniciante para que ela pudesse

desenvolver-se. Foi, então, sugerido:

Organizar a turma de forma que todos pudessem ouvi-la – retomar os combinados;

Esclarecer para os alunos os objetivos da aula;

Circular pela sala de modo a atender as individualidades dos alunos;

Valorizar o momento de cada atividade.

Ao assistir mais esta aula tornou-se claro para o grupo de experientes e mestrandos o

quanto o trabalho de orientação ao iniciante é fundamental.

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 16).

A partir do vídeo da aula da professora iniciante ficou nítido, para o grupo presente, que

são muitos os desafios deste profissional e, também, do professor experiente ao acompanhá-lo.

De acordo com Zabalza (2003, p. 01) “os dilemas fazem parte da vida cotidiana nas salas de

aula e transformam-se em desafios para a profissão.”

Assim, ao observarmos a aula da professora, percebemos que eram vários os dilemas

com os quais ela convivia. Para Zabalza (2004), os dilemas podem apresentar-se como

estruturas bipolares ou multipolares. Bipolares, referentes a ordem e afetos dentro da sala, e os

multipolares, referentes e estes dois e, ainda, ao conteúdo a ser ensinado, recursos e

metodologias a serem usados.

77

De acordo com a literatura estudada os dilemas e desafios podem ser vistos pelos

professores como motivadores de estudos e formação permanente. Ao terem esta compreensão,

eles poderão transformar suas salas em laboratórios de pesquisa.

O décimo quarto encontro aconteceu na sala 12 da UFMT, teve como objetivo trabalhar

aspectos dos memoriais de formação, tendo em vista que já estava terminando o segundo

semestre e era o momento em que os professores, iniciantes e experientes, deveriam encaminhar

o último memorial do ano de 2016. O quadro abaixo apresenta a descrição deste encontro.

Quadro 20 – Décimo quarto encontro de formação com professores experientes/2016

Décimo quarto encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 25/09//2016 Número de participantes: 09 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

Objetivo do encontro: discutir aspectos dos memoriais.

Neste encontro, a professora Simone apontou para o grupo mais uma vez a importância

da escrita dos memoriais, pois eles revelam o crescimento da pessoa, apontam o que precisa

ser melhorado, em quais aspectos o trabalho do professor experiente tem contribuído com o

professor iniciante. Revelam também a ausência deste trabalho.

A professora Simone discutiu com todo o grupo a importância dos memoriais dos

professores experientes e iniciantes destacarem as contribuições da formação, os textos que

mais tocaram, o que mudou na prática. E a formação dos próprios experientes, em que tem

contribuído, o que mudou em sua prática, como tem sido o trabalho com o iniciante a partir

da formação. Trouxe pontos de discussão sobre a elaboração dos memoriais, ressaltando

dados que evidenciam trajetórias e que o professor experiente deve orientar os iniciantes em

suas escritas.

Neste mesmo encontro, a professora fez o relato de sua participação no Seminário

ANPEd grupos de pesquisa do GT 8 - Formação de professores. Comentou sobre a

importância do evento e da socialização das atividades dos grupos de pesquisa, revelando

ser o InvestigAção o único a ser apresentado da região Centro-Oeste.

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 17).

Ao observar a escrita dos memoriais entregues no início do corrente ano, a professora

Simone, coordenadora da pesquisa, sentiu necessidade de mais uma vez trabalhar a importância

da sua escrita para o processo de formação dos professores, e também discutir alguns aspectos

que deveriam ser contemplados, uma vez que estes são usados como dados nas diferentes

pesquisas do grupo OBEDUC.

Os estudos de Câmara e Passeggi (2013) asseguram a importância do memorial de

formação como ferramenta de autoformação do professor, pois, para as autoras, ao narrar-se o

professor se coloca em uma articulação dialética entre o indivíduo e a instituição, o professor e

78

a cultura acadêmica, entre suas condições reais de trabalho e a empregabilidade, com as quais

o indivíduo dialoga. Nesta perspectiva, Moreira (2011) assegura que:

O processo de escrita é, em si mesmo, um processo reflexivo. Recuar no

tempo, para recuperar acontecimentos passados e deles nos distanciarmos,

facilita uma perspectiva renovada dos mesmos. Ao criar este espaço-tempo, a

escrita facilita um reposicionamento do professor face à acção, promovendo o

autoconhecimento, pelo “efeito de espelho” que fornece, e que lhe permite

ver-se e rever-se na sua prática educativa, tendo em vista a reconstrução das

suas perspectivas e atitudes. (MOREIRA, 2011, p. 3).

É este o sentido dado aos memoriais neste processo de formação do Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC. Como instrumentos de pesquisa, eles precisam estimular aos

professores iniciantes e experientes a contar sobre si, suas aprendizagens, seus anseios e

superações.

O último encontro de formação do ano 2016 aconteceu em novembro, com o objetivo

de os professores experientes avaliarem os trabalhos desenvolvidos por eles junto aos

professores iniciantes. A fotografia abaixo apresenta o grupo reunido para esta atividade.

Fotografia 11 – Décimo quinto encontro de formação com professores experientes/2016

Fonte: acervo da pesquisadora (2016).

No quadro 21, apresentado a seguir, estão as notas do diário de campo da pesquisadora

a respeito do décimo quinto encontro.

79

Quadro 21 – Décimo quinto encontro de formação com professores experientes/2016.

Décimo quinto encontro: formação específica aos professores experientes

Data: 29/11//2016 Número de participantes: 12 pessoas

Coordenadoras do encontro: Profa. Dra. Simone Albuquerque da Rocha

Objetivo do encontro: avaliar os trabalhos do ano de 2016 e definir com o grupo de

professores experientes o último encontro de formação com iniciantes e experientes, que

acontece nas escolas do campo.

A coordenadora da pesquisa, professora Simone, abre a reunião falando de algumas

preocupações:

Encerramento do projeto em março de 2017;

Ausência das escolas do campo em alguns encontros de formação;

A necessidade de termos mais uma escola da rede estadual inserida no projeto.

A partir destas colocações fomos então para avaliação dos trabalhos do ano de 2016. De

modo geral, foi uma avaliação positiva, contudo, ainda tem alguns aspectos que precisam

ser melhorados no trabalho do professor experiente com iniciantes, por exemplo:

Ter horário específico para atendimento ao professor iniciante, somente uma escola

tem conseguido atendê-los separados do coletivo – o professor iniciante tem “doado” seu

tempo para aprendizagem.

Por ser a maioria em contrato, os professores iniciantes não têm horário disponível

para ser atendidos pelos experientes.

Houve desistência de alguns iniciantes do projeto OBEDUC.

A relação entre experientes e iniciantes precisa ser melhorada em algumas unidades

de ensino, para que possam fazer um trabalho de parceria.

Atender, nos próximos encontros, a especificidade da educação do campo.

Ao finalizarmos o ano de 2016 percebemos que o desafio de inserção na carreira

continua emaranhado de muitos fatores, desde o desconhecimento das questões pedagógicas

até a organização da carreira do professor iniciante contratado, dificultando, assim, o

trabalho de orientação e apoio do professor experiente.

Fonte: Diário de campo da pesquisadora (2016, p. 18).

Ao final deste encontro percebemos que o trabalho de acompanhamento do professor

experiente ao professor iniciante precisa ser pensado como uma política de atendimento ao

professor que está sendo inserido na carreira. Os projetos pontuais não dão conta de assumir as

questões que envolvem carreira, horários, disponibilidade de tempo. O trabalho em parceria

entre universidades, secretarias de educação e escolas é uma ação emergencial para atender

estes profissionais de forma que cada instituição assuma seus compromissos e

responsabilidades. Todavia, é ainda uma ação insuficiente para garantir que os novos

professores se desenvolvam na profissão.

A professora Simone manifestou, neste encontro, suas preocupações em relação à

continuidade ou não do projeto, já que as bolsas terminam em março/2017. Outro ponto

80

abordado pela coordenadora foi a desistência de alguns iniciantes bem como algumas ausências

das escolas do campo. São desafios que precisam ser superados pela coordenação do Projeto.

Conforme algumas professoras experientes, as desistências do Projeto aconteceram,

sobretudo, pela falta de condições de trabalho vivenciadas pelo professor iniciante, que

implicam não ter tempo disponível para encontrar com o experiente e também para participar

da formação do OBEDUC, ou, ainda, por assumir uma carga de trabalho que extrapola seus

horários semanais, como é o caso daqueles que atuam nas escolas do campo.

Há, também, aspectos do acompanhamento do professor experiente junto ao iniciante

que precisam melhorar. Como vimos nos registros do diário de campo, ainda temos escolas que

não conseguiram estabelecer uma rotina de estudos com os iniciantes. O atendimento tem

acontecido nos corredores, ou na coordenação, quando o professor iniciante vai a busca de

auxílio. A relação entre o professor iniciante e o experiente, em alguns casos, não chegou ao

desejável. Dadas as dificuldades enfrentadas pelas professoras experientes em estar nos estudos

semanais, neste último encontro, uma das professoras solicitou que a formação fosse mensal, o

que não foi aprovado pelo restante do grupo.

De todas as temáticas pensadas pelos professores iniciantes e experientes percebo que

tem uma que ainda não foi contemplada, a educação do campo, em virtude de outras demandas

que foram surgindo como emergenciais na prática dos professores.

No decorrer deste processo de formação, evidenciei que o professor experiente continua

se desenvolvendo dentro da sua carreira, pois são professoras que lutam contra as precárias

condições de trabalho, contra a escassez do tempo para continuar neste Projeto, pois entendem

que a parceria entre universidade e escola é fundamental para a melhoria da qualidade do

ensino, e também da escola como um todo.

Na tentativa de elucidar a importância do professor experiente, no próximo capítulo são

apresentadas as características deste profissional e algumas nuanças do que seja o

acompanhamento desejável ao professor iniciante.

81

4 O PROFESSOR EXPERIENTE E O ACOMPANHAMENTO AO PROFESSOR

INICIANTE: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS

Neste capítulo, pretende-se discutir o professor experiente e o trabalho de

acompanhamento ao professor iniciante. No primeiro momento, apresentam-se os desafios da

inserção na carreira; em seguida, os resultados do mapeamento das pesquisas brasileiras sobre

o trabalho de acompanhamento; no terceiro momento, faz-se a discussão sobre o professor

experiente, na visão de alguns teóricos; no quarto momento, caracteriza-se o trabalho de

acompanhamento ao professor iniciante; e, por último, considerando a literatura estudada,

apresenta-se os professores experientes do Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC.

4.1 A travessia de estudante a professor: desafios do início da carreira

As mudanças ocorridas na economia e na política nas últimas décadas têm suscitado

discussões e debates no campo da educação, de forma a direcionar os saberes necessários ao

professor. O modelo tradicional do professor que se punha à frente dos alunos e fazia sua

exposição oral, já não é mais incontestavelmente aceito. Tornou-se urgente pensar: quais

habilidades o professor iniciante precisa ter ao chegar na escola? O que sente e faz este

profissional? Onde busca ajuda?

De acordo com Vaillant (2012), o professor, para atuar na sociedade atual, vai assumir

acúmulo de responsabilidade, advinda do aumento de exigências impostas pelas transformações

ocorridas. Ele precisará, por conseguinte,

[...] saber os métodos de ensino relacionados com os conteúdos; ter

competências comunicativas que lhe permitem interagir com os estudantes,

pais, colegas; ter domínios de técnicas derivadas dos avanços modernos de

tecnologias da informação e comunicação; as competências para investigação

e reflexão acerca de sua própria prática (VAILLANT, 2012, p. 174).

A autora ainda reconhece o entusiasmo, a flexibilidade e a preocupação com os

estudantes como outras características importantes para o professor neste cenário em que

vivemos. Corroborando com a ideia de que o professor precisa mobilizar diferentes saberes

quando se insere na escola, Day (2001) afirma:

A natureza do ensino exige que os professores se empenhem num processo de

desenvolvimento profissional contínuo, ao longo de toda carreira, mas as

circunstâncias, as suas histórias pessoais e profissionais e as disposições do

82

momento irão condicionar as suas necessidades particulares e a forma como

estas poderão ser identificadas. (DAY, 2001, p. 16)

Com o propósito de possibilitar o crescimento profissional do professor iniciante, as

pesquisas passaram a discutir a inserção na carreira como uma fase singular que precisa de

apoio e olhar atento dos órgãos responsáveis pelas políticas educacionais. Reafirmando esta

ideia, autores como Marcelo (1999; 2006), Vaillant (2012), Mariano (2006), Papi e Martins

(2010), Gabardo e Hobold (2011), apontam a necessidade de um olhar mais atento para esta

fase, pois a mesma configura-se importantíssima para o desenvolvimento profissional do

professor, e, por isso, se não for bem trabalhada poderá gerar um professor inseguro e

insatisfeito com a profissão.

Logo, verifica-se, por um lado, que várias pesquisas têm o objetivo de investigar como

o professor no início de carreira vem se firmando profissionalmente, como tem superado os

desafios colocados pela realidade da escola, o que tem feito para não desistir de ser professor e

como as redes de ensino têm pensado o acolhimento deste nas escolas. Por outro, sinalizam que

a inserção do ex-aluno na profissão docente é marcada por variáveis complexas que perpassam

a vida pessoal e profissional. São expectativas, sonhos, necessidades, medos. É uma mistura de

muitos sentimentos que vão se transformando ao longo de sua história de professor.

Estudos de Marcelo (1995), Cavaco (1999) e Esteves (1999) apontam que a inserção na

carreira tem sido, para muitos professores, um período desafiador a ponto de tornar-se decisivo

em permanecer ou não na profissão. O primeiro contato com a escola depois de formado gera,

de acordo com estes autores, o chamado choque da realidade, pois se configura na oportunidade

de confronto entre a escola ideal e a real.

Conforme Marcelo (1995), o início da carreira deve ser entendido como parte contínua

do desenvolvimento profissional do professor, pois é neste momento que ele decide se fica ou

não na profissão. De acordo com o autor, o período de tempo que abarca os primeiros anos de

carreira é aquele de transição de estudantes a professores. É permeado de tensões e

aprendizagens intensas em contextos desconhecidos. Semelhantemente, Vaillant (2012) afirma

que as práticas de ensino são excelentes ocasiões para aprender a ensinar. Desse modo,

considera-se o início da carreira uma excelente fase para o professor aprender sobre a profissão.

Confirmando a ideia de que os primeiros anos da carreira são essenciais para o

crescimento profissional, contamos com Tardif (2002, p. 84), que a eles se refere como “[...]

um período muito importante da história profissional do professor, determinando inclusive seu

futuro e sua relação com o trabalho”. Assim, este novo profissional precisa adaptar-se às

exigências da escola e às contradições entre as teorias estudadas e as práticas com os alunos,

83

em diferentes tempos e ritmos de aprendizagem, com a cultura da comunidade, com

organização, seleção e aplicação dos conteúdos, para ir se constituindo professor.

Igualmente, Veenman (1984 apud MARCELO, 1995, p. 286) acredita ser “o primeiro

ano [...] um processo intenso de aprendizagem tipo ensaio e erro na maioria dos casos,

caracterizado por um princípio de sobrevivência e por um predomínio de valor prático.”

Corroborando com estes autores, temos Costa e Rauchs (2012, p. 4), afirmando que, na

fase inicial, “surge um comprometimento definitivo com a identidade profissional, de modo

que somente a partir desse momento é possível ter segurança na carreira escolhida para

diversificar ou mesmo para questionar-se”.

Percebe-se, então, o início da carreira marcado por muitos dilemas que vão sendo

transformados em desafios que precisam ser superados pelos professores iniciantes, desafios

estes que a formação inicial não é capaz de abarcar. De acordo com Silva e Reali (2012):

É comum o professor se deparar com dificuldades, mormente no início da

docência, e constatar que não recebeu formação suficiente para enfrentá-las.

Existirão sempre novos desafios pelos quais ele considerará insuficientes os

saberes adquiridos durante os momentos formais de formação. (SILVA;

REALI, 2012, p. 286).

Quando se fala sobre dilemas e desafios dos professores em início de carreira, é interessante

esclarecer o que se entende por cada um deles. Para tanto, assumimos a postura da autora Giordan (2015)

para a compressão do que sejam os desafios.

Entendem-se os desafios por ação ou efeito de desafiar, ato de instigar alguém

para que realize alguma coisa, normalmente além de suas competências ou

habilidades, provocação. Os desafios podem ser vistos na educação muitas

vezes positivamente, pois indicam uma busca pela superação. (GIORDAN,

2015, p. 42).

Assim, entende-se que, diante dos dilemas, o professor é provocado, desafiado a buscar

novas leituras, ouvir sobre experiências e propor algo diferente para seus alunos. Ainda de

acordo com a autora, a superação destes dilemas vai exigir muito do professor, pois ele precisa

lidar com equipe gestora, com os pais e com os colegas de profissão.

Nesta perspectiva, Caetano (1987) afirmar ser interessante compreendermos que os

dilemas são:

[...] as vivências subjectivas (não as situações externas), os conflitos

interiores, cognitivos e práticos, ocorridos em contextos profissionais e em

relação aos quais o professor equaciona duas ou mais alternativas (de acção

e/ou de valoração). [...] incluímos no conceito de dilemas os conflitos entre

alternativas de acções não circunscritas a um tempo e a um espaço

84

particulares. Por outro lado, consideramos ainda como dilemas os conflitos

entre a própria acção e o pensamento; ou entre posições valorativas

antagônicas de um mesmo curso de acção ou ainda as contradições entre o

pensamento ou a acção do professor e os próprios condicionalismos da

situação objectiva que lhe é exterior. (CAETANO, 1987, p. 194.).

A inserção na carreira faz com que os professores desenvolvam habilidades que não

foram necessárias na formação inicial. O momento de assumir-se professor exige saberes

práticos específicos aos lugares de trabalho, às rotinas, regras e valores da comunidade em que

atuará, como assevera Tardif (2002).

Ratificando esta ideia, Calil (2014, p. 53), afirma que o professor iniciante precisa saber

sobre “aprendizagem, desenvolvimento humano, linguagem, currículo, matéria a ser ensinada,

sobre como ensinar uma diversidade de alunos, sobre avaliação e gerenciamento de sala de

aula”.

Nesta perspectiva, Marcelo (2009) afirma ser necessário ao professor iniciante possuir

um conjunto de ideias e habilidades que lhe possibilite refletir, evoluir e aprender sobre o

ensino, que lhe ajude a melhorar como docente, para, consequentemente, permitir aos alunos a

compreensão dos conteúdos que aprendem. Para este autor, “converter-se em professor é um

processo complexo que se caracteriza por sua natureza multidimensional, idiossincrática e

contextual” (MARCELO, 2009, p. 86).

Desse modo, percebe-se que o professor iniciante precisa ter ajuda de um profissional

experiente, porque, de acordo com Marcelo (2008, p. 14), “os professores querem instruções

passo a passo de como fazer as coisas de forma eficiente, querem aprender como gerenciar a

sala, como organizar o currículo, como avaliar os alunos”. Em geral, estão muito preocupados

com o ‘como’ e menos com os ‘porquês’ das atividades e conteúdos que deverão ser trabalhados

nas salas de aula. Ou seja, não há, por parte do professor iniciante, um olhar reflexivo sobre sua

prática.

Pode-se, então, dizer que o professor iniciante vai se desenvolvendo ao longo dos anos

em que permanece inserido na escola. Chega com poucos saberes sobre a prática, com muitos

conflitos sobre o seu aluno, a gestão, a comunidade e a organização da escola como um todo e

ganha conhecimentos com as vivências do dia a dia.

Em conformidade com os demais autores, Tardif (2002) afirma que há duas fases

importantíssimas nos primeiros anos de carreira que precisam ser consideradas pelos

educadores:

85

Uma fase de exploração (de um a três anos), na qual o professor escolhe

provisoriamente a sua profissão, inicia-se através de tentativas e erros, sente

necessidade de ser aceito por seu círculo profissional [...] e experimenta

diferentes papéis. [...] a fase de estabilização e de consolidação (de três a sete

anos), em que o professor investe a longo prazo na sua profissão e os outros

membros reconhecem suas capacidades. [...] essa fase se caracteriza por uma

confiança maior do professor em si mesmo [...] e pelo domínio dos diversos

aspectos do trabalho, principalmente os pedagógicos. [...]. (TARDIF, 2002, p.

84).

Este autor assegura, ainda, que a evolução da identidade profissional acontece com a

tomada de consciência em relação aos diferentes aspectos que constituem a profissão e sua

integração na situação de trabalho. Semelhantemente, Cavaco (1999) afirma que é no jogo

contraditório entre aspectos pessoais e profissionais que o professor iniciante vai buscar seu

próprio equilíbrio dinâmico e reajustar seus saberes, mantendo o sonho que dá sentido à sua

profissão.

Desse modo, percebe-se que vir a ser professor é um processo que perdura pela vida. É

resultante das relações estabelecidas consigo mesmo e com os outros. Nesse sentido, a

importância de pensar em políticas de acolhimento e acompanhamento ao professor iniciante

torna-se emergente.

Autores como Vaillant (2009), Marcelo (2009), Calil (2014) e Cavaco (1999) afirmam

que as dificuldades que o professor iniciante enfrenta, ao ingressar na escola, estão ligadas a

complexos fatores, entre eles, a desvinculação entre teoria e prática. Para estes e outros autores

a formação inicial não tem possibilitado reflexões suficientes para que o professor assuma sua

função seguro dos seus saberes, fazendo a correlação dos desafios apresentados com as teorias

estudadas. Da mesma forma, Gabardo e Hobold (2011) afirmam que:

As primeiras experiências vivenciadas pelos professores em início de carreira

têm influência direta sobre a sua decisão de continuar ou não na profissão,

porque este é um período marcado por sentimentos contraditórios que

desafiam cotidianamente o professor e sua prática docente. (GABARDO;

HOBOLD, 2011, p. 85).

Conforme o exposto, o professor iniciante sente-se despreparado ao assumir sua nova

função, por isso tende a buscar nas suas referências pessoais de alunos imagens e cenas de aulas

que foram por ele assistidas, com objetivo de se preparar para lidar com alunos, pais, gestores

e colegas de trabalho. Contudo, na maioria das vezes, a retomada ao seu processo de formação

não está permeada por reflexão crítica, tornando-se, assim, um ato mecânico, repetitivo e sem

significação para si e para os alunos.

86

Tomando por base as literaturas citadas neste estudo, é possível dizer que a inserção na

carreira é um período marcado por conflitos que emergem dos diferentes aspectos que

constituem a profissão de professor. E, ainda, que a superação destes depende, entre outros

fatores, do clima organizacional, do apoio de um professor experiente, da consciência de busca

permanente de novos saberes por parte do professor iniciante.

4.2 O professor experiente e o acompanhamento ao professor iniciante: o que pesquisas e

estudos brasileiros evidenciam sobre este processo?

O professor iniciante, quando chega à escola, depara-se com muitos desafios que

requerem a mobilização de saberes vistos na formação inicial, que não foram requeridos na

prática, enquanto aluno. O desconhecido traz insegurança, medo e necessidade de recorrer ao

conhecimento construído a partir de sua própria vivência enquanto aluno. Assim, diante da

situação de dificuldade, ele emudece, isola-se e opta pela repetição de práticas de seus antigos

professores. Neste sentido, afirma Cavaco (1999):

[...] perante a necessidade de construir respostas urgentes para as situações

complexas que enfrenta, o professor jovem pode ser levado a reatualizar

experiências vividas como aluno e a elaborar esquemas de atuação que

rotiniza e que se filiam em modelos tradicionais, esquecendo mesmo

propostas mais inovadoras que teoricamente defendera. (CAVACO, 1999, p.

164).

Na literatura estudada, o início da carreira tem-se apresentado como um período

contraditório que exige do professor iniciante a busca de equilíbrio entre os sonhos, as

expectativas com a profissão e a realidade da escola. Todavia, o professor iniciante se sentirá

acolhido se puder contar com o apoio de professores experientes para ajudá-lo na fusão dos

sonhos pessoal com o profissional.

Sabe-se que o choque com a realidade é inevitável, o professor sente-se desconfortável,

invisível e submetido a uma outra cultura que precisa ser conhecida e dominada por ele. Tardif

(2002), Marcelo (2009) e Calil (2014) afirmam que, além de ter que saber lidar com o conteúdo

específico da turma, o professor iniciante precisa conhecer a cultura escolar, o currículo, a

comunidade, a gestão da escola, aprender a refletir e questionar sobre sua prática e sobre sua

profissão para conseguir sobreviver nos primeiros anos da docência.

87

Igualmente, Giovanni e Guarnieri (2014) salientam que os primeiros anos na docência

vão desafiar o professor a se colocar em situações antes não vivenciadas. É um período de muita

tensão e, por outro lado, de muitas aprendizagens, pois terá que lidar com:

[...] locais de vulnerabilidade social mais acentuada (escolas situadas em

favelas e bairros distantes). [...] assumindo turmas difíceis, sem o

reconhecimento da escola, pais e comunidade [...] aprendizado com os colegas

de profissão (regras, normas, comportamentos, maneira de pensar) se dá de

modo assistemático, [...]. Atingir sentimento de pertença ao grupo profissional

leva tempo e é necessário decifrar muitos detalhes, alguns visíveis e outros

ocultos ou muito sutis. (GIOVANNI; GUARNIERI, 2014, p. 34).

Desse modo, quando observarmos estudos sobre o professor iniciante, percebemos que

a maioria reporta-se aos conflitos vivenciados por este.

De acordo com estudos realizados, a transição de aluno a professor é uma fase na

carreira que precisa ser atendida pelas políticas educacionais. Sabe-se que, na última década, as

discussões sobre inserção de professores na carreira, os conflitos vivenciais do professor

iniciante quando chega à escola e a importância deste ser apoiado por um professor experiente

ganharam destaque no cenário das pesquisas internacionais e nacionais.

Há vários países, como Espanha, República Dominicana, Argentina, México, Nova

Zelândia e alguns países do extremo sul da África que estão desenvolvendo projetos de apoio

ao professor em início de carreira, por entender que resultarão na melhora da qualidade da

educação. Marcelo et al. (2016, p. 145) afirmam que “ tornar-se professor é um processo longo.

Para conseguir é fundamental apoiar o professor em seus primeiros anos de docência.”

Diante das dificuldades apresentadas, as quais influenciam sobremaneira na

continuidade e desempenho da carreira docente, pesquisadores, também em nível nacional, têm

envidado esforços na investigação de sistemas, redes de ensino de municípios e estados que

oferecem formação, apoio, subsídio ou incentivo a estes novos profissionais.

Nesse sentido, contei com as pesquisas de Romanowski e Mira (2014), Papi e Martins

(2010), André (2012; 2016), Gabardo e Hobold (2011), Corrêa e Portella (2012), e, no Mato

Grosso, Monteiro (2014), Mendes Silva (2014), Pires (2014), Sousa (2015) e França (2016)

discutem o professor iniciante e os conflitos por ele vivenciados e, ainda, políticas de formação

a ele direcionadas. Exemplificando, Papi e Martins (2010), afirmam que:

A fase de iniciação, em especial, tem sido privilegiada, na medida em que se

percebe a necessidade constante da melhoria nos processos educativos, pois

esse período se inscreve como tempo/espaço privilegiado para a constituição

da docência. Os primeiros anos de exercício profissional são basilares para a

configuração das ações profissionais futuras e para a própria permanência na

profissão. Podem tornar-se um período mais fácil ou mais difícil, dependendo

88

das condições encontradas pelos professores no local de trabalho, das relações

mais ou menos favoráveis que estabelecem com outros colegas, bem como da

formação que vivenciam e do apoio que recebem nessa etapa do

desenvolvimento profissional. (PAPI; MARTINS, 2010, p. 5).

Mesmo sabendo da importância que tem o apoio ao professor em início de carreira, no

Brasil este trabalho ainda configura-se em iniciativas tímidas por parte do governo e de alguns

grupos de estudiosos que discutem esta situação. Conforme França (2016),

Ao realizar a revisão de literatura, foi possível identificar a quase inexistência

de Políticas Públicas pensadas para acompanhar a inserção do professor

iniciante na carreira profissional. São raras as experiências de formação

sistematizadas e regulamentadas no Brasil com propósito de assistir o

professor iniciante em qualquer nível de ensino. (FRANÇA, 2016, p. 49).

André (2016) destaca que estudos que fazem um mapeamento das políticas docentes no

país, identificaram algumas iniciativas de órgãos gestores que:

[...] buscando qualificar a formação de professores, implantaram programas

visando estreitar a distância entre universidade e escola e favorecer a inserção

à docência. Entre esses programas destacaram-se o Programa Institucional de

bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), na esfera federal, o Bolsa

Alfabetização, do governo estadual de São Paulo; e o Bolsa Formação-Aluno-

Aprendizagem, da Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí. [...]

(ANDRÉ, 2016, p. 49-50).

Conforme Mira e Romanowski (2014), outras iniciativas de acompanhamento ao

professor iniciante, de maior expressão, que considera-se importante destacar são: a experiência

na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que trabalha com mentoria online a um grupo

de professores de diferentes regiões do país; Programa de Acompanhamento Docente no Início

da Carreira para Professores de Educação Física (PADI) da Universidade do Extremo Sul

Catarinense (UNESC) e, ainda, o Programa de Acompanhamento de Professores em Início de

Carreira (PAPIC) desenvolvido a partir de 2011 pela Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT), Câmpus do Araguaia.

Nos seus estudos sobre as políticas de acompanhamento aos professores iniciantes

André (2012) aponta a existência de um projeto especial voltado aos professores iniciantes,

desenvolvido pelo Centro de Formação para a Educação da Secretaria Municipal de Educação

de Campo Grande Mato Grosso do Sul (CEFOR).

O atendimento ao professor começa a partir de sua entrada na rede de ensino

e segue por algumas etapas: Primeiro momento: convocação de todos os

89

professores iniciantes para que saibam como funciona o sistema de ensino de

Campo Grande e conheçam os documentos e políticas que nortearão sua vida

profissional. Segundo momento: encontro com os professores para

diagnosticar suas dificuldades e organizar as formações. [...]. Terceiro

momento: as formações acontecem de forma coletiva e principalmente in

loco. [...] Quarto momento: acompanhamento do processo de ensino e

aprendizagem, propondo alternativas que auxiliem o trabalho didático desses

professores. Quinto momento: avaliação da aprendizagem dos alunos. Os

resultados das avaliações são um dos instrumentos de validação ou não do

trabalho de formação que a Secretaria realiza com esses professores, seja dos

anos inicias ou dos anos finais do ensino fundamental. (ANDRÉ, 2012, p. 09-

10).

Ainda de acordo com a autora, há outro programa de acompanhamento ao professor

iniciante desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de Sobral, no Ceará. As ações

desta política acontecem nos três anos que configuram o período probatório do recém-

concursado. O docente recebe um incentivo de 25% do salário base de 40 horas para participar

desta formação. A carga horária total desta formação é de 200 horas, distribuídas, conforme

aponta André (2012), em

[...] encontros semanais com uma hora/aula para trabalhar o programa de

modificabilidade cognitiva e aprendizagem mediada; dois encontros mensais

voltados ao trabalho na escola, sob a forma de seminários de estudo e

discussão de Matemática e Língua Portuguesa; e Ampliação do Universo

Cultural, desenvolvida pela participação dos professores nas atividades do

programa Olhares (ANDRÉ, 2012, p. 09).

Sobre o programa de Sobral, Ana Maria Calil (2014) desenvolveu estudos em uma tese

de doutorado e detalha-o como política no trabalho intitulado: A formação continuada no

município de Sobral (CE). Em 2015, em Mato Grosso, na cidade de Rondonópolis, a Secretaria

Municipal de Educação (SEMED) iniciou um projeto de formação ao professor iniciante, ainda

pontual, com carga horária anual de 60 horas. Conforme a pesquisa de Márcia Socorro França

(2016), sobre: O desenvolvimento profissional dos professores iniciantes egressos do curso de

licenciatura em Pedagogia: um estudo de caso, este projeto surgiu a partir de indagações de

uma pesquisadora do PPGEdu/UFMT, no ano de 2013, a qual assim referenciou em sua

dissertação:

De acordo com Aureny Gomes Coelho Figueiredo – gerente do Departamento

de Formação Profissional da SEMED –, a equipe começou a se preocupar com

a formação e inserção do professor iniciante na rede municipal quando a

mestranda Mendes Solange Lemes da Silva, orientanda da Profa. Dra. Simone

Albuquerque da Rocha, a entrevistou para sua pesquisa em 2013, com vistas

a investigar se os projetos de formação continuada desenvolvidos pela rede

90

contemplavam, em alguma ação formativa, o professor iniciante egresso de

licenciatura em Pedagogia. (FRANÇA, 2016, p. 62).

Ainda segundo a autora, outro ponto que motivou o início desta formação foram as

várias queixas do grupo de gestores que compõe a Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis

que afirmavam não saber como atender os professores que estavam entrando nas escolas, pois

tinham total desconhecimento da política educacional implantada, ignoravam as realidades

onde iriam atuar, não conseguiam lidar com os alunos, com os pais, colegas, reafirmando,

assim, o que dizem Tardif (2002), Marcelo e Vaillant (2012), ao apontarem que os primeiros

anos de docência consistem em um período no qual o professor vai lidar com o desconhecido,

com culturas diferentes, com saberes que ainda não lhe haviam sido exigidos na formação

inicial.

Com estas constatações, a SEMED passa oferecer a formação aos professores iniciantes,

e, nas palavras de França (2016), se estrutura da seguinte forma:

O projeto então foi criado com o nome de – “Professores iniciantes:

Dialogando acerca dos conceitos, dos métodos e das práticas docentes” –, a

princípio consistindo de um curso de 30 horas que teve como objetivo geral

'Proporcionar aos professores iniciantes um espaço formativo de constituição

de competências profissionais no trabalho de sala de aula na perspectiva da

alfabetização e letramento (SEMED, 2014).’ Contudo, a pedido dos

professores iniciantes, o curso foi ampliado por mais 30 horas, iniciando-se

no dia 15 de abril e encerrando-se no dia 14 de outubro, somando 60 horas

distribuídas em 14 encontros. (FRANÇA, 2016, p. 62-63).

Apoiada na literatura citada, é possível dizer que, no Brasil, são poucas as iniciativas

que discutem o professor em início de carreira, bem como políticas de acompanhamento a estes

profissionais que estão iniciando seu caminho na docência. No entanto, em todos os casos,

explorou-se a formação do professor iniciante e não especificamente a formação do professor

que apoia ou pode apoiá-lo na escola básica.

A partir da observação de poucas produções existentes acerca do professor experiente e

o trabalho de acompanhamento ao professor iniciante foram mapeados trabalhos que

evidenciassem tais temáticas, nos bancos de teses e dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Biblioteca Digital Brasileira de Teses

e Dissertações (BDTD), Domínio Público e nos artigos da Scientific Electronic Library Online

(SciELO) e Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), que

compreendem um período de dez anos, de 2005 a 2016.

91

Decidimos fazer a busca da produção existente sobre o professor experiente por

concordarmos com Romanowski e Ens (2006) ao afirmarem que:

Um levantamento e uma revisão do conhecimento produzido sobre o tema é

um passo indispensável para desencadear um processo de análise qualitativa

dos estudos produzidos nas diferentes áreas do conhecimento. Este tipo de

estudo caracteriza-se por ser descritivo e analítico. (ROMANOWSKI; ENS,

2006, p. 43).

Os dados apresentados abaixo, no Gráfico 1, mostram o que já informei anteriormente,

que poucas são as produções a respeito do professor experiente, suas necessidades formativas

e o trabalho de acompanhamento que desenvolve junto ao professor em início de carreira.

Gráfico 1 – Produções do período de 2005/2016 com os seguintes descritores: “Professor

Experiente”, “Professor Mentor” e “Professor Formador”

Fonte: pesquisa realizada pela autora nos bancos de dados da CAPES, BDTD e Domínio Público.

Os dados revelaram que, nos três bancos de dados consultados, o descritor que apresenta

o maior número de trabalhos é o “Professor Formador”, seguido pelo descritor “Professor

Experiente” e, por último, o “Professor Mentor”. Isso mostra que existe um número maior de

produções que se dedica a discutir as políticas de formação de professores que estão sendo

oferecidas por diferentes estados e municípios brasileiros, as quais ganharam força a partir da

promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96),

sancionada em 20 de dezembro de 1996, que afirma a importância de os entes federados

garantirem formação para os professores que atuam na educação básica.

Estas produções concentram-se em algumas regiões específicas do nosso país. O gráfico

2 evidencia quais são estas regiões.

92

Gráfico 2 – As produções nas Regiões brasileiras no período de 2005/2016, com os descritores:

“Professor Formador”, “Professor Mentor” e “Professor Experiente”

Fonte: pesquisa realizada pela autora nos bancos de dados da CAPES, BDTD e Domínio Público.

Os dados revelam que a maior concentração destes trabalhos está na região Sudeste,

seguida da região Sul, depois as regiões Nordeste e Centro-Oeste e, por fim, a região Norte.

Nesta pesquisa, o trabalho que o professor experiente desenvolve junto ao professor

iniciante é denominado como acompanhamento, e se assemelha ao trabalho de mentoria que

vem sendo desenvolvido por alguns estudiosos brasileiros como Mizukami, Tancredi e Reali

(2012), e também por outros estudiosos, como os chilenos Ochoa (2011) e Ureta (2009), que

discutem a importância do professor em início da carreira contar com o apoio e a experiência

de um profissional que já vive a realidade da escola. Diante disso, fomos em busca dos

descritores “Acompanhamento do professor experiente ao professor em início de carreira” e

“Mentoria”, buscando identificar como esta prática vem se situando nas pesquisas brasileiras.

Gráfico 3 – Produções identificadas no período de 2005/2016, com os descritores:

“Acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante” e “Mentoria”

93

Fonte: pesquisa realizada pela autora nos bancos de dados da CAPES, BDTD e Domínio Público.

Ao observar os resultados percebi que o trabalho de acompanhamento do professor

experiente ao professor iniciante é raro, ou quase inexistente nas pesquisas brasileiras. O mesmo

ainda não tem sido assumido pelos gestores das secretarias de educação como um elemento

essencial para o desenvolvimento profissional do professor que está chegando à escola e, muito

menos como melhoria da qualidade do ensino.

Autores como Ochoa (2011), Ureta (2009) e Marcelo (2016) falam da importância de o

professor iniciante poder contar com o apoio e acolhimento de um professor mais experiente

quando chega à escola. De acordo com estes autores, tornar-se professor delonga tempo, então,

o trabalho de parceria entre pares possibilita o desenvolvimento profissional de ambos.

Outros descritores que procurei evidenciar nas produções foram: “Desenvolvimento

profissional do Professor Experiente” e “Formação do Formador”, com a intenção de verificar

como estas temáticas estão sendo trabalhadas pelas pesquisas brasileiras.

Conforme os dados expostos no Gráfico 4, a seguir, há alguns trabalhos discutindo a

“Formação do formador”, presentes nos bancos de dados da BDTD e Capes, porém, não foi

encontrado nenhum trabalho no banco de dados do Domínio Público. Se considerarmos a

importância do Professor Formador no contexto da escola, o número de trabalhos encontrado

torna-se insignificante. Já com o descritor “Desenvolvimento profissional do Professor

Experiente” não foi encontrado nenhum trabalho.

Gráfico 4 – Produções identificadas no período de 2005/2016 com os descritores: “Formação

do Formador” e “Desenvolvimento profissional do Professor Experiente”

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

CAPES DOMINÍO PÚBLICO BDTD

ACOMPANHAMENTO MENTORIA

94

Fonte: pesquisa realizada pela autora nos bancos de dados da CAPES, BDTD e Domínio Público.

O professor formador, defendem Mizukami (2006) e Oliveira (2015), precisa ser

atendido pelas políticas de formação de professores, pois é ele que vai lidar com seus pares no

interior da escola. Para as autoras, este profissional precisa ter uma formação sólida, saber

articular teoria e prática, refletir e buscar soluções para as problemáticas presentes na escola.

A partir dos dados levantados nos sites da Capes, BDTD e Domínio público realizei

também uma busca na SciELO e nas reuniões da ANPED, procurando artigos que abordassem

os descritores: “Professor Experiente”, “Professor Mentor”, “Professor Formador”,

“Acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante”, “Mentoria”,

“Desenvolvimento profissional do professor experiente” e “Formação do formador”. Os

resultados obtidos, mais uma vez, comprovam a pouca existência de trabalhos nesta área.

Vejamos os quadros 22 e 23 abaixo.

Quadro 22 – Artigos na SciELO no período de 2005/2016

Descritor Quantidade de artigos

Professor Experiente 09

Professor Mentor 15

Professor Formador 22

Acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante 0

Mentoria 16

Formação do formador 53

Desenvolvimento profissional do professor experiente 0

Fonte: pesquisa realizada pela autora nos bancos de dados da SciELO.

95

A busca realizada na SciElo revelou a existência de pouca produção com os descritores

apresentados acima, o que nos leva a reafirmar que o `Professor Experiente e suas necessidades

formativas no trabalho de acompanhamento ao professor iniciante ainda não figura como um

foco das pesquisas brasileiras. São escassas as experiências nesta área, já descritas no início

deste texto.

Os descritores que sobressaíram foram o “Professor Formador”, com 22 trabalhos, e

“Formação do formador” com 53 produções. Isso nos faz entender que as pesquisas a respeito

do professor formador estão começando a ganhar visibilidade nas discussões da academia.

O trabalho de Mizukami (2006), já apontava a necessidade de políticas de formação

para o formador, pois, de acordo com autora, o mesmo tem ficado fora dos olhares dos órgãos

responsáveis pela gestão das formações de professores. Matsuoka-Oliveira (2015) também

chama nossa atenção quando fala da importância de formação para o formador, considerando

que é ele o responsável pela formação de seus pares no contexto da escola.

O quadro seguinte (Quadro 23) expõe as publicações sobre os descritores trabalhados

acima, desta feita, nas reuniões da ANPED, no período de 2004 a 2015.

Quadro 23 – Artigos publicados nas reuniões da ANPED no período de 2005-2016

Fonte: pesquisa realizada pela autora nas reuniões da ANPED.

A busca nas reuniões da ANPED, no período de 2004 a 2015, no Grupo de Trabalho 8

– Formação de professores (GT 8), não revelou dados diferentes dos demais bancos de dados

nos quais realizou-se a pesquisa. Na maioria das reuniões não há trabalhos com os descritores

“Professor experiente”, “Professor mentor”, “Professor formador”, “Acompanhamento do

Descritor Quantidade de artigos Reunião/ ano

Professor Experiente 0

Professor Mentor 0

Professor Formador 1 33ª/2010

Acompanhamento do

professor experiente ao

professor iniciante

2 29ª/2006

37ª/2015

Mentoria 0

Formação do formador 1 29ª/2006

Desenvolvimento profissional

do professor experiente 1 35ª /2012

96

professor experiente ao professor iniciante”, “Mentoria”, “Desenvolvimento profissional do

professor experiente” e “Formação do formador”.

Com os descritores usados para conceituar o professor que desenvolve o trabalho de

acompanhamento ao professor iniciante, encontrei somente um trabalho, na 33ª reunião da

ANPED, em 2010, com o descritor “Professor Formador”. Com os demais, “Professor

Experiente” e “Professor Mentor”, não foram encontrados artigos.

O trabalho de acompanhamento ao professor apareceu em duas reuniões. Na 29ª

reunião, o acompanhamento apareceu como uma política necessária ao acolhimento do

professor iniciante. Somente um trabalho na 37ª reunião, em 2015, discute o acompanhamento

do coordenador pedagógico ao professor especialista iniciante, sendo este o professor formado

nas diferentes licenciaturas, afirmando ser necessário o apoio deste profissional experiente ao

professor que está chegando à escola.

Assim sendo, ao terminarmos este levantamento tornou-se evidente que o foco desta

pesquisa – o professor experiente e o processo de acompanhamento ao professor iniciante – se

faz pouco presente no cenário das pesquisas brasileiras. Esta pesquisa mostra-se relevante para

o campo da educação, no sentido de propor a discussão sobre o início da carreira e também o

processo de acolhimento, apoio e acompanhamento ao professor iniciante.

Pode se dizer que, mesmo sendo em número pequeno, os estudos encontrados neste

levantamento foram considerados, nesta pesquisa, como referências para o entendimento deste

objeto. Algumas tornaram-se fontes bibliográficas, tais como: Mizukami, Reali e Tancredi

(2012), Sousa (2015), Matsuoka-Oliveira (2015). Outras nos trouxeram indicações de leituras,

como: André et al. (2010), Nono e Mizukami (2006), Silva (2006), Neto e Cyrino (2015),

Rinaldi (2012), para buscarmos novos autores que vieram contribuir com as discussões

realizadas nesta pesquisa. A partir deste mapeamento, pude compreender como estava situado

este objeto de estudo no contexto das pesquisas brasileiras.

Desse modo, buscando alcançar os objetivos propostos, o capítulo seguinte dá suporte

para a compreensão do que seja o professor experiente e o trabalho de acompanhamento que

ele desenvolve junto ao professor iniciante no projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC.

4.3 Professor experiente/professor mentor e professor formador do formador sob o olhar

de alguns teóricos

No decorrer dos estudos realizados para o desenvolvimento desta pesquisa, encontrei

algumas terminologias que caracterizam o professor que atua há vários anos no contexto da

97

escola. Alguns autores, como Marcelo (2006), Ureta (2009), Ochoa (2011), Mizukami, Reali e

Tancredi (2012), Kaechele et al. (2013), Inostroza (2013), o chamam de professor Mentor.

Encontrei textos onde este profissional é denominado, por Marcelo (2009; 2011) e

Marcelo e Vaillant (2012), de professor Perito ou Especialista adaptativo. Em outro momento

dando-lhe as mesmas características de mentor, Marcelo (2012) o chama de professor Experto

Adaptativo.

Passeggi e Gaspar (2013) definem este profissional como o professor Orientador. Para

os autores Beillerot (1996) e Vaillant (2003), Matsuoka-Oliveira (2015) e Mizukami (2006), este

professor deve ser chamado de Formador do formador.

A partir dos estudos realizados acerca de suas características, suas habilidades e a função

que deve desempenhar no processo de acompanhamento ao professor iniciante, no projeto do

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, decidimos chamá-lo de Professor Experiente.

Como já informei na introdução, nesta pesquisa os conceitos de professor mentor,

professor orientador e professor formador do formador são concebidos como sinônimos do

termo professor experiente, então, todas as vezes que nos referimos a algum deles reportamo-

nos ao profissional com mais de dez anos de experiência (MARCELO, 1999), que possui um

trabalho de destaque no seu grupo, é um profissional respeitado pelos pares e que procura

sempre refletir a prática problematizando os desafios do cotidiano.

Assim, começo a apresentar quem são os professores experientes sujeitos desta

pesquisa, lançando mão da afirmação das autoras Mizukami; Reali e Tancredi (2010), para

quem estes profissionais são sinônimos de apoio e auxílio ao professor iniciante, pois eles

[...] prestam informações gerais, localizam/sugerem materiais, orientam sobre

práticas e construção de soluções aos problemas vivenciados pelos iniciantes,

partilham experiências via o estabelecimento e manutenção de interações

qualitativamente significativas. Devido à experiência, atuam apoiando-se em

estruturas diferentes e mais complexas que os iniciantes, e exercem um

controle voluntário e estratégico sobre o processo ensino-aprendizagem.

(MIZUKAMI; REALI; TANCREDI, 2010, p. 4).

O professor experiente, considerado nesta pesquisa, tem as características definidas

pelos autores citados, entre outras, os saberes da experiência, é dinâmico, autônomo, crítico,

criativo, se vê como professor, e lida com os conflitos de forma segura. É um profissional que

conhece a escola, sonha com uma escola melhor, acredita nos pares e nos alunos como sujeitos

que constroem conhecimento. Conforme Tardif (2002), os saberes profissionais dos professores

são oriundos de fontes diversas:

98

Os saberes profissionais dos professores parecem ser, portanto, plurais,

compósitos, heterogêneos, pois trazem à tona, no próprio exercício do

trabalho, conhecimentos e manifestações do saber-fazer e do saber-ser

bastante diversificados e provenientes de fontes variadas, as quais podemos

supor também que sejam de natureza diferente. (TARDIF, 2002, p. 61).

Apesar de a literatura nos revelar todas estas características que deve ter o professor

experiente, sabemos que, na prática do dia a dia, nós, enquanto professores com mais de dez

anos de experiência, não conseguimos desenvolvê-las na sua totalidade. Somos seres limitados,

históricos, nos formando nas condições dadas, ora boas, ora ruins, somos inacabados, vivemos

em constante busca de melhoria.

Mesmo sendo considerados experientes, buscamos acertar a partir dos nossos erros, das

reflexões que fazemos da nossa prática, das relações que estabelecemos com nossos pares, com

parceiros de trabalhos internos e externos. Acredito que não possa faltar a todos os professores,

sobretudo aos experientes, a vontade permanente de procurar por uma sólida formação teórico-

metodológica, compreensão da organização do trabalho pedagógico e, ainda, pelos saberes da

docência em um processo de desenvolvimento profissional ao longo da nossa carreira.

Neste sentido, é um profissional que deve apresentar mobilidade no agir, consegue

recorrer a diversas fontes buscando subsídios para propor possíveis soluções aos desafios

encontrados. Dessa maneira, articula teoria e prática numa relação horizontal. Tomando por

base a literatura estudada, é possível asseverar que o professor experiente é capaz de articular

ações formativas que contribuirão para o desenvolvimento profissional do professor iniciante,

seja propondo discussões da prática, dando apoio no planejamento, na organização e condução

da sala de aula, na relação com os pais, na resolução de conflitos com os alunos.

Conforme Marcelo (1999), o termo mentor é usado na educação para identificar aqueles

professores com experiência. Logo, entendi que podia associá-lo ao conceito de professor

experiente. Na compreensão de que o professor mentor adotado por Marcelo (1999) tenha as

características do professor experiente, pode-se afirmar que, em sua função, estes profissionais

são

[...] autênticos mentores que orientam e preparam professores principiantes

[...] e que os ajudam a adaptar-se no seu primeiro ou primeiros anos de ensino,

mestres na competência do ensino e agradáveis com relação aos outros

professores. [...] Bons ouvintes, com facilidade de comunicação, sensíveis às

necessidades dos professores principiantes e que entendem que os professores

podem ser eficazes utilizando diversos estilos. (MARCELO, 1999, p. 125).

99

A partir dos estudos realizados por Marcelo (1999; 2008), ao associarmos, nesta

pesquisa, o professor mentor ao perfil e ao trabalho do professor experiente, pode-se

compreender que, entre suas funções, compete-lhe: acompanhar e compreender que a docência

se dá nas dimensões pessoal e profissional e que dessa forma deve-se ter um olhar para o

professor iniciante. Além disso, deve-se criar um ambiente aberto de apoio e desafios, gestar e

coordenar o programa de acompanhamento da escola, preparar informações para os professores

iniciantes relativas à filosofia e missão da escola, rotinas, administração e procedimentos,

características dos alunos, recursos, pessoal de apoio, atividades extracurriculares, contatos

com os pais. Todas estas ações precisam ser registradas de modo a apresentar a evolução do

mesmo.

Nesta perspectiva, Ureta (2009) igualmente aponta que o professor experiente deverá

oferecer informação e auxílio no período de transição da formação inicial ao trabalho, servindo,

também, como importante apoio real e próximo para orientar, assessorar ao professor iniciante

no desenvolvimento das competências básicas profissionais, contribuindo para melhorar a

autoestima. Além disso, a autora afirma que o professor experiente:

[...] seria aquele que conhece e regula seus próprios processos de construção

de conhecimento, tanto do ponto de vista cognitivo como emocional, e pode

fazer uso estratégico dos mesmos ajustando-os as situações que enfrenta. [...]

ser competente significaria em saber sobre (conhecimentos); saber como

intervir (conjunto de habilidades e destrezas que possui); saber relacionar-se

(dispor de habilidades sociais); saber utilizar estrategicamente do

conhecimento e aperfeiçoar-se (dispor de competências metacognitivas);

saber comportar-se (ajustar-se a valores, princípios, crenças e atitudes

profissionalmente válidas e coletivamente aceitas. (URETA, 2009, p. 218).

Em conformidade com a literatura estudada, o professor experiente deverá possuir

características extrínsecas e intrínsecas que o definem como sujeito motivado, que reflete sobre

seu processo de desenvolvimento. Reafirmando esta ideia, Kaechele et al. (2013) afirmam que

ele é um profissional que se reconhece na docência e na educação, possui perspectiva positiva

sobre seu desempenho, apresenta motivação interna para melhorar seu trabalho, tem

flexibilidade para superar as dificuldades.

Semelhantemente, Ureta (2009) colabora com este entendimento ao afirmar que o

professor experiente deve ser um docente experimentado, um assessor interno e externo com

perfil profissional diferente do professor iniciante. Ele possui competência cognitiva,

competência funcional e competência ética que são mobilizadas constantemente na realização

100

do seu trabalho. Então, é possível dizer que é capaz de acolher e apoiar o professor iniciante

que chega à escola com toda a insegurança que a inserção na carreira lhe apresenta.

Outro termo que se pode associar ao “fazer” do professor experiente, com o qual

trabalho nesta pesquisa, é o de professor formador do formador, pois, na maioria das vezes, este

profissional, no interior da escola, acaba sendo o responsável pela formação de seus pares.

Assevera Mizukami (2005, p. 3) que os formadores “são todos os profissionais envolvidos nos

processos formativos da aprendizagem da docência de futuros professores ou daqueles que já

estão desenvolvendo algumas atividades docentes”.

O professor formador do formador, de acordo com Matsuoka-Oliveira (2015), precisa

considerar, em seu trabalho, que está lidando com adultos, com seus pares, e, portanto, é

necessário saber como:

[...] o adulto professor aprende como se constitui o saber do professor, de que

forma as relações com o outro interferem na construção dos significados e

sentidos de suas experiências. Ao formador de formador cabe compreender

que na aprendizagem do adulto e, consequentemente, na formação do adulto

professor, é por meio de estratégias de grupos que ocorrem as interações entre

adultos e fomentam-se as interpretações e a construção de sentidos com o

compartilhamento de experiências, que acabam se tornando significados

partilhados. (MATSUOKA -OLIVEIRA-, 2015, p. 41).

O professor iniciante e o professor formador do formador se assemelham enquanto

colegas de uma profissão, salvo por um fator que acrescenta um grau de complexidade na tarefa

deste último, isto é, a “necessidade de desencadear a memória ou metacognição do professor

acerca não somente da aprendizagem dele como aprendiz permanente, mas do conhecimento

do objeto e dos processos de aprendizagem do aluno.” (MATSUOKA-OLIVEIRA, 2015, p.

42).

Ainda conforme a autora, o professor formador do formador constrói seus

conhecimentos a partir de sua experiência de professor e de formador, buscando articular estas

diferentes práticas. Outro aspecto que a autora considera na característica deste profissional é

que ele precisa agir com adultos que aprendem, considerando que estes vão orientar, organizar

conteúdos, na maioria das vezes, para um público infantil.

É importante que este professor formador do formador tenha, entre as suas

características, a mobilidade. Ele deverá buscar subsídios para suas ações nos conhecimentos

que foi adquirindo ao longo de sua experiência, sempre aliados aos conhecimentos da teoria,

para conseguir trabalhar com seus pares numa relação de confiança mútua. Contribuindo com

101

a ideia de que este profissional poderá auxiliar o professor iniciante a tornar-se professor, as

autoras André et al. (2010) afirmam:

Os formadores manifestam a preocupação em despertar no estudante o

interesse pela formação profissional, em 101juda-lo não só a perceber-se

professor, como também a conscientizar-se de que a docência requer posturas

éticas e profissionais [...]. (ANDRÉ, et al., 2010, p. 130).

Conforme as autoras, outra tarefa do formador do formador é motivar os professores

iniciantes para o exercício da docência, pois, diante dos muitos desafios, da falta de condições

de trabalho, de uma carreira sem reconhecimento social, tem-se um alto índice de desistência

da profissão.

Assim, o professor mentor, formador do formador e orientador assumem a mesma

conotação de professor experiente. É o profissional já atuante na escola e que se propõe a

auxiliar e acompanhar o professor em início de carreira que, como afirmam Passeggi e Gaspar

(2013, p. 63), enquanto orientador, “deve ter disponibilidade para percorrer, com a pessoa em

formação, múltiplos e árduos caminhos [...].” Com este entendimento, as autoras nos

apresentam a figura do professor orientador como “artesão intelectual que não separa seu

trabalho de sua vida; bem ao contrário aprende ‘com a experiência de sua vida no seu trabalho

continuamente’”. (Ibid, p. 65, grifo das autoras). Assim, este profissional vai se formando ao

longo de sua vida, associando suas experiências aos conhecimentos científicos, tornando-se

autônomo com relação a sua profissão.

Como afirma Marcelo (2008), o professor experiente, ou orientador, não se configura

apenas pelos anos que tem na profissão, mas pela capacidade que tem de refletir sua prática,

pela destreza no manejo dos saberes a respeito da própria profissão.

A literatura estudada, portanto, permite dizer que o professor experiente age de modo

diferente do professor iniciante. Ele recorre, frequentemente, aos conhecimentos que possui

sobre sua profissão, para provocar nos seus pares a curiosidade, a criatividade e a necessidade

de buscar outros saberes. Assim, a próxima seção procura evidenciar o trabalho do professor

experiente junto ao professor iniciante, buscando aproximar duas realidades ainda distantes.

4.4 Acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante: trilhas de um

trabalho colaborativo

Nesta pesquisa, mentoria e acompanhamento se assemelham como um processo mútuo

de ensinar e aprender, no qual professores iniciantes se entrelaçam aos professores experientes

102

no processo de aprender a ser professor, aprender a ser formador do formador, que se dá em

múltiplas interações, podendo-se afirmar, então, que, nessa relação, aprendizagens sobre como

aprender a ser e a proceder, se imbricam.

A inserção do aluno recém-formado na carreira de professor tem consistido em tema de

estudos de pesquisas que datam do final de 1980. São grupos de pesquisadores espalhados pela

Europa, Oceania e, ainda, países da América do Norte e América do Sul, que discutem e

apontam a necessidade de um acompanhamento ao professor iniciante.

Para Britton et al. (2003 apud OCHOA, 2011, p. 190), “[...] o período de inserção é uma

fase diferenciada da trajetória de se tornar professor, porque tem um carácter distinto e

determinante para tornar o desenvolvimento profissional coerente e evolutivo. ” Acredita o

autor que a inserção na carreira deverá incluir medidas de apoio e acompanhamento ao

professor iniciante e contar com uma proposta de avaliação, marcando, assim, o caráter

evolutivo de tornar-se professor.

A forma como os países europeus têm organizado este acompanhamento é heterogênea.

Alguns pensam que deve ser antes de o aluno finalizar sua formação inicial, outros, no ano

subsequente à conclusão, com duração de um ano letivo, e, ainda, outros fazem redução da

carga horária do professor iniciante para que ele possa ter tempo para adquirir novas

habilidades.

Os países da Ásia e Oceania, conforme Ochoa (2011), consideram os professores em

início de carreira como alguém que ainda não possui todas as competências necessárias para

lidar com os desafios da prática de sala de aula, por isso investem em programas de

acompanhamento com a inclusão do professor mentor ou formador experimentado, encarregado

de realizar seminários semanais discutindo as práticas desenvolvidas pelos mesmos.

Os professores principiantes, que contam com políticas de acompanhamento, são assim

denominados nos estudos desenvolvidos por Marcelo (1995) e seus seguidores em Sevilla,

Espanha quando de sua inserção no magistério, cumprem metade do tempo de um professor

efetivo em sala e são acompanhados pelo professor mentor durante um ano, ao final do qual

são avaliados e, então, ingressam definitivamente na carreira. (OCHOA, 2011).

O trabalho de acompanhamento, nos países americanos, tem seguido a mesma lógica

dos demais já apresentados. É um trabalho semanal, desenvolvido pelo professor mentor, que

acompanha o iniciante durante três anos. Para Ochoa (2011), o crescimento do professor

iniciante, dentro da escola, depende, em grande parte, do clima organizacional, das relações e

atitudes profissionais que se vive e valoriza no coletivo da escola.

103

É interessante dizer que estes programas de acompanhamento de cada continente sofrem

algumas alterações no que concerne a cada país, em função das diferentes realidades onde são

desenvolvidos. Todavia, a intencionalidade maior é garantir que os professores em início de

carreira sejam amparados e cresçam pessoal e profissionalmente.

No Brasil, como apresentei anteriormente, são poucas as políticas e programas de

acompanhamento ao professor iniciante, o que torna urgente um investimento intenso nesta

etapa da carreira, pois, como destacam Marcelo (2006) e Vaillant (2012), a inserção na carreira

é um período diferenciado que pode contribuir de forma significativa ou não para o

desenvolvimento profissional do professor.

Compreende-se, portanto, que acompanhar os docentes em início de carreira é um

processo que precisa ser implementado pelos sistemas de ensino e, sobretudo, dentro das

unidades escolares. As práticas diárias, os embates da carreira, ajudam o iniciante a tornar-se

professor. Isso pode tornar-se menos difícil se o professor iniciante puder contar com o

acompanhamento de um professor experiente.

De acordo com os estudos realizados sobre a inserção na carreira, observei que os

dilemas e dificuldades apresentados são causados pela exigência de atuação na resolução de

vários problemas, entre os quais, segundo Tardif (2002) e Marcelo (1995), estão a condução do

processo de ensino e de aprendizagem, levando em conta os diferentes ritmos de aprendizagem

da turma, o conteúdo a ser desenvolvido, a disciplina dos alunos e a organização da sala de aula,

além de inúmeros conhecimentos que interiorizem a cultura, as crenças e valores dos lugares

onde trabalham.

Desse modo, sendo este período o de maior desafio posto para o professor iniciante,

colocando à prova os conhecimentos adquiridos, que o fazem correr o risco de reproduzir – e

não de transformar – sua atuação em práticas mais inovadoras, ele acaba por buscar, em seus

antigos professores, o apoio que, na maioria das vezes, não encontra no local de trabalho.

Para enfrentar os confrontos com a realidade, o professor iniciante deveria ter o

acompanhamento pedagógico, uma formação continuada que venha a contribuir para o seu

desenvolvimento profissional, que se dá por um processo coletivo. O trabalho do professor

experiente, como apoio e auxílio a este iniciante, é fundamental para ajudá-lo a crescer em sua

profissão, se fazendo, ambos, companheiros numa jornada de aprendizagem.

Passeggi e Gaspar (2013, p. 65) nos ajudam a compreender o significado deste trabalho

coletivo entre professor experiente e professor iniciante, quando trazem o significado da palavra

companheiro, como derivada do latim “cum panis (com pão), e sugere a ideia de compartilhar

104

com o outro o pão. Acompanhar, então, significaria caminhar ao lado de alguém que tornou

companheiro(a) e com ele compartilhar o pão e o passo.”

Nesse sentido, é possível dizer que o acompanhamento é um movimento de aprender a

ser entre companheiros que compartilham entre si seus saberes e não saber, nas diferentes fases

da vida do professor. Tal processo se dá, conforme Passeggi e Dominicé (2014):

[...] em diferentes movimentos de aprendizagem: com alguém mais

experiente, heteroformação, com os pares, co-formação, com o entorno

natural, social, institucional, eco-formação, e, essencialmente, no processo

laborioso do (re)conhecimento da capacidade de aprender consigo mesmo a

aprender: autoformação. (PASSEGGI; DOMINICÉ, 2014, p. 2, grifo dos

autores).

É este processo de aprendizagem e de construção que vai se configurando na escola

como um trabalho coletivo em que se estabelece uma relação de confiança entre os pares. Josso

(2012), corroborando com este entendimento, afirma que,

[...] ao longo de nossas vidas, temos experiências de acompanhamento com as

quais aprendemos a saber-fazer, saber-pensar e saber-entrar-em-relação com

alguém e consigo mesmo em vista do objeto do acompanhamento no qual as

pessoas estão envolvidas. (JOSSO 2012 apud PASSEGGI; GASPAR, 2013,

p. 65).

Então, chegar a uma escola e contar com outro para ajudar e apoiar nos momentos de

desespero, de desconhecimento da prática, contribuirá, de forma significativa para o

desenvolvimento profissional do professor iniciante e, também, para a melhoria da qualidade

do ensino.

Neste sentido, esta pesquisa assume a postura de autores como Marcelo (2006; 2016),

Ochoa (2011), Ureta (2009) e Inostroza (2013), quando defendem a ideia de que o professor

iniciante tenha, no contexto da escola, um professor mentor ou, como denominam alguns

autores, um experiente para acompanhá-lo nos seus primeiros anos de docência.

Da mesma maneira, compreende-se o professor experiente na perspectiva dos autores

Tardif (2002), Marcelo (2006), Ochoa (2011), como um profissional que tem vários anos de

vivência dentro da escola, e, portanto, é capaz de mobilizar diversos saberes para atender as

necessidades impostas pela sua prática. Um profissional que poderá contribuir para amenizar

os impactos que a inserção na realidade tem causado ao iniciante, num acompanhamento ao seu

trabalho, no decorrer do ano letivo.

105

O trabalho de acompanhamento ao professor iniciante vai se desenhando a cada dia,

tendo em vista que não é possível pensá-lo fora do contexto das necessidades reais; é um olhar

atento ao outro, uma escuta contínua presente na escola. Assim, recorri às pesquisadoras

Passeggi e Gaspar (2013) para pensar acerca da postura do professor experiente, responsável

em conduzir este trabalho no interior das escolas:

[...], o professor orientador inscreve-se numa dinâmica dialógica no intuito de

coconstruir o sentido com a pessoa em formação. O que significa adotar uma

postura de orientação horizontal de acordo com os princípios éticos

defendidos pelos pioneiros do movimento histórias de vida em formação [...].

(PASSEGGI; GASPAR, 2013, p. 66, grifo das autoras).

Para estas autoras, existem dispositivos pedagógicos importantíssimos que medeiam a

relação do professor experiente com o professor iniciante. São instrumentos que permitem a

sistematização do trabalho que se faz no interior das escolas, a saber: memorial de formação,

grupo reflexivo e o diário de acompanhamento. O memorial de formação possibilita a escrita

das vivências ocorridas, propiciando reviver e pensar sobre as próprias experiências. Já o grupo

reflexivo é importante por dar voz e vez a cada um dos seus membros e, por fim, o diário de

acompanhamento, onde o professor experiente faz os registros das intervenções realizadas junto

com o iniciante, documenta suas ações e propõe intervenções, desencadeando a possibilidade

de rever e avaliar suas ações.

O trabalho do professor experiente que se coloca como mediador entre a realidade

concreta da escola e o professor iniciante exige saberes e habilidades que vão além daqueles

desenvolvidos pela formação inicial. Isto é, vai requerer saber ser e saber fazer, algo que se

consegue depois de vários anos de experiências (TARDIF 2002).

Assim, afirma Ochoa (2011), experiente deve atender a três necessidades dos

professores iniciantes: emocionais, sociais e intelectuais, a fim de assessorar didática e

pessoalmente o professor iniciante, de tal maneira que se converta em elemento de apoio nos

momentos difíceis, nos conflitos e desafios do seu trabalho.

Para autores como Marcelo (2006) e Passeggi e Gaspar (2013), estar junto com o

professor iniciante é condição essencial para ajudá-lo no seu crescimento profissional. É um

momento de aprendizagem mútua em que o objeto de discussão é a prática estabelecida em uma

situação real, concreta, que vai ser teorizada e estudada para apontamentos de possíveis ações

que irão modificá-la.

Contribuindo com este entendimento temos Passeggi e Gaspar (2013), que remete o

trabalho de acompanhamento ao trabalho do artesão que acompanhava seu aprendiz:

106

Uma imagem simbolicamente rica para pensarmos o acompanhamento nos

leva a voltar no tempo e refletir sobre as aprendizagens dos ofícios realizados

nos ateliês, mediante o acompanhamento dos jovens aprendizes pelo artesão.

As figuras do artesão e do aprendiz estimulam a conceber o acompanhamento

sob a forma de relações que são guiadas conforme o tempo e as necessidades

do aprendiz, que busca aperfeiçoar na arte que aprende. As relações, nesses

casos, são, portanto, mais horizontais, na medida em que elas promovem

autonomia ao aprendiz. (PASSEGGI; GASPAR, 2013, p. 65).

Ainda de acordo com as autoras citadas, o acompanhamento deve primar pelos

princípios éticos expressos na Carta da Associação Internacional das Histórias de Vida em

Formação (ASIHVIF), os quais considero ser importante apresentar, como possibilidade de

reflexão, ao grupo de pesquisadores que têm procurado instaurar esta prática em algumas

escolas do nosso Estado:

Princípio da liberdade para falar ou não de si, de permanecer ou não no grupo,

mas é interessante que todos os professores iniciantes, da escola envolvida no

projeto, sintam-se desejosos de estarem no grupo. No nosso caso, a

permanência destes no grupo é quase uma condição para a escola permanecer

no projeto. Princípio da conviviabilidade e da solidariedade que se baseia na

ajuda mútua, evitando-se qualquer atitude de julgamento. Princípio da

confidencialidade, que visa garantir um pacto ético de sigilo quanto ao que é

dito e vivido no grupo. Princípio de autenticidade sobre o que é narrado. [...]

é importante que o grupo vivencie essa reflexão em clima de autonomia e de

autenticidade, sabendo que não se busca uma verdade escondida, mas o relato

do que o narrador pensa que lhe aconteceu e como o acontecimento o afetou.

(PASSEGGI; GASPAR, 2013, p. 69).

Seguindo-se a ordem dos princípios adotados pela Associação Internacional de Histórias de

Vida, as autoras continuam sua descrição da seguinte maneira:

[...] Princípio do direito à autoria do que foi dito, escrito, transcrito ou

videogravado. Trata-se de preservar as pessoas do grupo do uso indevido de

suas falas. O sexto princípio concerne especificamente à pessoa do Formador

ou do orientador. Para o acompanhamento das escritas de si, é importante e

necessário que a pessoa que acompanha tenha vivenciado o processo da escrita

autobiográfica [...] Princípio que exige um contrato entre os participantes com

base nos princípios acima descritos, podendo ser formal ou informal. [...]

(PASSEGGI; GASPAR, 2013, p. 69).

Neste sentido, percebe-se que o trabalho de acompanhamento é muito sério e precisa ser

compreendido pelos sujeitos envolvidos no processo. Ao professor experiente cabe coordenar

ações que promovam o crescimento do grupo e, ainda, ter e procurar manter uma relação ética.

Corroborando com este entendimento Ochoa (2011) nos faz entender que o professor

mentor/ experiente é um profissional competente que conhece e regula sua formação, tanto do

107

ponto de vista emocional como cognitivo, ajustando-o às situações que enfrenta. Ser

competente é ter conhecimento pedagógico, prático, formal, saber como intervir, ter habilidades

cognitivas, emocionais, sociais e procedimentais, saber relacionar-se, saber utilizar estes

saberes estrategicamente, refletir sobre suas ações e saber comportar-se de acordo com valores,

princípios e atitudes profissionais válidas, coletivamente aceitas.

Para caracterizar as relações que se estabelecem entre quem acompanha e a pessoa que

é acompanhada, Passeggi e Gaspar (2013) usam as figuras antropológicas evidenciadas por

Josso (2010), que julgo interessante apresentar por entender que, de fato, representam o trabalho

de acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante, o qual defendo como uma

possibilidade de aprendizagens para ambos. Assim, descrevem as autoras:

Figura do Amador, que ama as histórias contadas, a pessoa que conta e seus

percursos da vida; a do Ancião, que por sua experiência, coloca-se no lugar do

narrador e entende seus conflitos; a figura do Balseiro, que mostra ao narrador

caminhos que podem ser tomados para realizar a travessia. Finalmente, a do

Animador, uma espécie de artista que improvisa, valorizando o narrador,

sensibilidades e formas de expressão e dos interesses de conhecimento que

ambos estão buscando. [...]. (PASSEGGI; GASPAR, 2013, p. 71).

Conforme as autoras citadas o professor experiente, no processo de acompanhamento

ao iniciante, pode aparecer e reaparecer como qualquer uma destas figuras, numa relação

horizontal dialógica que contribui para o desenvolvimento profissional de todos.

Ao chegar à escola, o professor iniciante precisa narrar, falar sobre suas expectativas,

ter possibilidades de dizer o que espera do grupo, o que já viveu até o momento. O professor

experiente deverá, por sua vez, ouvir, escutar com atenção de forma a conhecer e se colocar

como o ancião que, com mais experiência, compreende o medo, a angústia, e as tensões do

outro.

Como balseiro, o professor experiente vai mostrar possíveis caminhos, ao sentar-se com

o professor iniciante no momento do planejamento, ao observar a sala de aula, ao ajudar a

pensar a organização do espaço, dos cadernos dos alunos e, ainda, vai orientá-lo para conhecer

a política da escola e da rede de ensino, inserindo-o no cotidiano da carreira docente.

Por fim, o professor experiente deverá assumir a figura do animador. Aquele que motiva

o professor iniciante a buscar novos conhecimentos. O que o incentiva a propor algo para seus

alunos. Aquele que tece elogios, que encoraja, que está sempre ao lado para amparar. Ou seja,

o professor iniciante precisa ter e ver, no professor experiente, um companheiro para com ele

dividir suas aprendizagens.

108

Neste sentido, para compreendermos melhor quem é o professor experiente, é

interessante trazer as contribuições de De Lara e Contreras (2013), para pensarmos sobre a

experiência. Entendo que experiência se constitui como resultados de vários anos de trabalho,

capacidades de mobilizar saberes e conhecimentos sobre sua própria ação. Para os autores é a

[...] experiência que inicia o processo de pensar. Pensamos que algo acontece

para nós; como resultado das coisas que acontecem, é o resultado do mundo

que nos rodeia que experimentamos como próprio e somos afetados

diretamente. É a experiência que nos imprime a necessidade de repensar, para

retornar as ideias que tínhamos das coisas, a experiência nos mostra

exatamente a insuficiência ou a insatisfação do nosso pensamento anterior

sobre o que vivemos. Precisamos pensar novamente porque já não vemos mais

o que vivemos que nos afetou diretamente como antes. (DE LARA;

CONTRERAS, 2013, p. 21).

Experiência é algo que o sujeito adquiriu ao longo de sua vida profissional e pessoal a

partir das interações com a realidade concreta. É a capacidade de lidar com os desafios

encontrados, saber dialogar com as diferenças, com os conflitos impostos pelas relações

humanas, é conhecer e agir dando significados aos fatos.

Afirma Passeggi (2011, p. 149) que “entre um acontecimento e sua significação,

intervém o processo de dar sentido ao que aconteceu ou ao que está acontecendo”. A

experiência, para a autora, “constitui-se nessa relação entre o que nos acontece e a significação

que atribuímos ao que nos afetou. Isso se faz mediante o ato de dizer, de narrar, (re)interpretar”.

É nesta direção que compreendo experiência, associada aos saberes do professor

experiente, suas vivências, encontros e desencontros, que se faz e refaz nos contextos onde atua

enquanto profissional. São saberes que tomam a realidade como práxis social.

Este trabalho que o professor experiente desenvolve junto ao iniciante pode ser

considerado como acompanhamento e/ou de mentoria. Buscando a contribuição do pesquisador

português Ochoa (2011) tem-se a mentoria como um processo de

[...] interação estabelecida entre uma pessoa com mais experiência em um

campo (mentor) e outra com menor ou nenhuma experiência (mentorizado)

com o propósito de favorecer e desenvolver suas competências e socialização

aumentando progressivamente suas possibilidades de êxito na atividade a

desempenhar. (OCHOA, 2011, p. 237).

Nesta mesma perspectiva, as pesquisadoras Mizukami, Reali e Tancredi (2012), da

Universidade Federal de São Carlos, concebem a mentoria como sendo uma forma de ajudar o

professor iniciante a se envolver com seu próprio aprimoramento e a se sentir mais confortável

109

na profissão, um processo comum interativo que envolve partilhas, reflexões e consensos para

tomada de decisões. É uma relação que permite formar-se e ser formado.

Corroborando com esta ideia, Ochoa (2011) evidencia que o apoio oferecido ao

professor geralmente concentra-se em três dimensões: a Formativa, a Incorporação graduada à

vida profissional e o Controle e evolução. Para o autor, estas dimensões têm como objetivo

ajudar os professores a estabelecer relações construtivas entre a formação inicial e o período de

inserção ao seu desenvolvimento profissional. São pontes que possibilitam segurança para o

professor iniciante crescer em sua carreira.

De acordo com Marcelo (2006), Ureta (2009) e Inostroza (2013), acolher e acompanhar

o professor iniciante é condição essencial para ajudá-lo no seu crescimento profissional. É um

momento de aprendizagem mútua em que o objeto de discussão é a prática estabelecida em uma

situação real, que vai ser estudada, teorizada e planejada para ser aplicada novamente.

Semelhantemente, entendo que o acompanhamento, definido por alguns autores como

mentoria, é um processo de troca entre pares, possibilitador de múltiplas aprendizagens, uma

vez que propõe a discussão não só dos vários elementos constituintes da prática pedagógica.

Para Ochoa (2011), a mentoria, a qual associo, nesta pesquisa, como acompanhamento ao

professor iniciante, não deve centrar-se somente em análises de problemas da prática docente,

mas deve evidenciar, claramente, a evolução da formação, o apoio, e tratar o iniciante como um

adulto que aprende.

Com as leituras realizadas, compreendi que o acompanhamento é um processo

colaborativo com o propósito de produzir mudanças na nossa forma de atuar. É um repensar

constante de nosso fazer cotidiano. Conforme Inostroza (2013), o acompanhamento tem como

objetivo o desenvolvimento profissional onde o professor iniciante se assume como

protagonista de sua aprendizagem. Semelhantemente, Ureta (2009) afirma que o

acompanhamento não constitui uma relação de comando, mas sim uma relação simétrica entre

iguais que possibilita que ambos aprendam.

Assim, aproprio-me do pensamento da autora, para manifestar que no processo de

acompanhamento o professor experiente não pode perder de vista que a profissionalidade

docente é feita de construções produzidas, que dependem de seus intérpretes, de seus

narradores, dos atores que as produzem, dos atores que nelas intervém em um contexto real. A

docência se faz numa relação de diálogo com outras pessoas. Assim, o ensino, a aprendizagem,

só têm importância se forem significativos, se as experiências propostas tocarem o outro, como

manifesta Larrosa (2011, p. 10), ao dizer que a “experiência é uma relação em que algo passa de

110

mim a outro e do outro a mim. E nesse passa, tanto eu como o outro, sofremos alguns efeitos, somos

afetados.”

Assim, é possível que algumas experiências toquem em alguns e não em outros, daí

compreender seu sentido. Portanto, há intervenções importantes em um grupo e que não

funcionam para outro. E as práticas não têm características singulares – por isso precisam ser

analisadas e compreendidas a partir da realidade de quem as produz. É com esta compreensão

de desenvolvimento profissional docente que defendo a construção do processo de

acompanhamento ao professor iniciante.

Assegurando a importância deste acompanhamento como apoio e assessoramento ao

professor iniciante, Ochoa (2011) afirma que o professor experiente precisa perceber-se como

formador de professores, que é modelo para os professores iniciantes, e, por conseguinte,

precisa estar em interação constante com eles e realizando observações para possíveis

intervenções.

O autor chama a atenção para a importância que se tem dado ao professor experiente e

o professor iniciante no sentido de conhecer os propósitos do processo de acompanhamento

para que o mesmo não se torne somente tarefas burocráticas, sem apontar possibilidades de

desenvolvimento profissional. É fundamental que ambos saibam que a intenção do

acompanhamento é promover o crescimento da escola, consequentemente, é um fazer

colaborativo.

Dialogando com este entendimento do pesquisador português, encontramos nas autoras

Passeggi e Gaspar (2013) algo semelhante à concepção sobre o acompanhamento

[...] como uma prática de coinvestimento entre os participantes do grupo

reflexivo e entre orientador e os orientados, que caminham juntos, partilham

saberes e fazeres, respeitando-se, reconhecendo o outro e sendo reconhecido

por ele em sua singularidade, sua identidade. Por outro lado, esse

acompanhamento prescinde das orientações específicas que correspondem às

necessidades de quem aprende um ofício no contato com alguém mais

experiente e dentro de uma relação de horizontalidade. (PASSEGGI;

GASPAR, 2013, p. 75).

Desta maneira, o trabalho do professor experiente, que se coloca como mediador entre

a realidade concreta da escola e o professor iniciante, vai propiciar melhores condições para

que o novo docente se desenvolva profissionalmente, superando os desafios em relação aos

diversos aspectos da prática pedagógica. É esta perspectiva que será apresentada na seção

seguinte, que trata a respeito do professor experiente vivenciando o processo de

111

acompanhamento ao professor iniciante no projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC em um projeto

colaborativo de formação.

4.5 Os professores experientes no projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC – quem são e o que

fazem?

Nesta parte da dissertação entremeiam-se escutas registradas no diário de campo da

pesquisadora, narrativas coletadas nos diários de campo das professoras experientes e

referenciais teóricos de autores sobre o tema. Assim, trago aqui narrativas de duas professoras

experientes, denominadas na pesquisa de Reflexão e Constatação, em episódios que elucidam

o que o grupo tem vivenciado neste processo de formação.

São mentoras, experientes, formadoras do formador, professoras da escola básica com

tempo de serviço e que atuam como coordenadoras pedagógicas, sendo, então, potenciais

orientadoras e apoiadoras das propostas e práticas dos iniciantes na escola.

O trabalho destas professoras no projeto citado é algo diferente de tudo que já tinham

vivido no interior da escola. Com o olhar direcionado ao professor iniciante, suas necessidades,

seus medos, desafios, e também seus avanços, cabe, então, a estas professoras, acompanhá-los

na sua inserção na realidade escolar.

Em um dos encontros de formação que participei como pesquisadora, a professora

coordenadora do projeto definiu, para o grupo, como se compreende, no projeto, o professor

experiente, o que considero pertinente compartilhar com os leitores.

O professor experiente que atua em nosso projeto deverá atender as escolas

que tiverem, no mínimo, quatro professores iniciantes, isto porque menor

número significa, também, menor cobertura do programa a quem mais precisa

de apoio e orientação. Este profissional que está na escola e tem muito tempo

de experiência, precisa estar disponível em todos os turnos em que tiver

iniciantes, para atender as dificuldades no momento em que estas acontecem.

É um professor presente. É uma pessoa que o iniciante recorre na hora da

dificuldade, é um suporte, é um amparo. (Diário de campo, Pesquisadora,

out.2015).

Como explicam Marcelo (2009), Ochoa (2011), Mizukami, Tancredi e Reali (2012), o

professor experiente é aquele que acompanha, orienta, aconselha o professor iniciante,

oferecendo-lhe suporte nos momentos difíceis e, também, incentivando-o a construir, junto com

seus alunos, situações de aprendizagem.

112

Em consonância com este entendimento, Passeggi e Gaspar (2013) afirmam ser o ato de

acompanhar o professor iniciante algo que se faz numa relação de confiança mútua entre pares,

na qual tanto um quanto o outro se desenvolve profissionalmente.

Hoje a compreensão do grupo de professoras experientes sobre seu trabalho junto ao

professor iniciante é muito diferente da que possuíam quando as escolas foram convidadas a

participar do projeto. O episódio narrativo que trago é da professora experiente Reflexão,

falando sobre como agia antes de participar do projeto. Acredito que sua fala possa representar

as demais experientes pelo que passamos a ouvir/ler:

Durante uma semana na escola, depois da formação no OBEDUC, nossas

conversas giraram em torno de professores iniciantes e o “estrago” que

deveríamos ter provocado em nossos iniciantes devido aos nossos não saberes.

A cada descoberta sentíamo-nos envergonhadas de nunca termos nos atentado

para coisas que para nós eram tão óbvias como experientes, que era parte dos

fazeres do professor, como: organizar uma sala, planejar aulas, conteúdos.

Passamos a refletir e a listar nossas falhas até então praticadas com nossos

iniciantes e foi ficando extensa, pois nós até ajudávamos os professores, mas

por instinto, obrigações do papel de coordenador e não por ter conhecimento

da especificidade do professor iniciante, de suas dificuldades. (Diário de

campo, Reflexão, out.2015).

A partir desta constatação, pode-se dizer que não havia, nestas escolas, nenhum

atendimento ao professor iniciante e que considerasse esta fase tão peculiar da carreira, o

momento de inserção na escola. Todos eram vistos como professores prontos, competentes para

assumir seus alunos, administrando todos os conflitos presentes na escola.

Durante os encontros de formação oferecidos pelo projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC

aos professores iniciantes e experientes, os primeiros foram se colocando, falando dos desafios

que encontravam, do que não sabiam, dos seus medos, enquanto os professores experientes

foram, então, se dando conta sobre quem eram estes iniciantes, o que eles precisavam, o que

esperavam da escola e, consequentemente, o que não tiveram nas escolas que os receberam.

Neste movimento de estar perto do iniciante, vir com ele para os encontros de formação,

ler e discutir os textos oferecidos, as professoras experientes começaram a entender que trabalho

elas têm no interior da escola, no acompanhamento ao professor iniciante. Vejamos o que nos

dizem as professoras experientes quando questionadas em um encontro de formação:

Tarefa árdua, que no fazer estamos construindo, com muitos encontros de

estudo no OBEDUC e muitas leituras, ante aos desafios e necessidades de

intervenção com os quais nos deparamos ao ensinar, acompanhar e motivar o

professor iniciante. (Diário de campo, Constatação, out.2015).

113

Acredito que estar no Programa está sendo muito bom, pois minhas ações em

relação aos professores iniciantes agora estão sempre prescindidas de

perguntas: Será que ela precisa de ajuda? Será que ela está compreendendo

mesmo? Como essas informações que foram dadas no grupo chegaram até

ela? (Diário de campo, Reflexão, out.2015).

Com base nos episódios narrativos aqui apresentados, percebo que as professoras

experientes que atuam neste projeto já tomaram consciência do olhar que precisam ter na escola.

Atualmente se veem como parceiras dos professores iniciantes, preocupam-se com suas

aprendizagens, estão acompanhando os planejamentos e estimulando-os a conhecer mais sobre

a própria profissão.

Assim, esta pesquisa compreende que o trabalho do professor experiente no interior da

escola se configura no acompanhamento ao professor iniciante, que, de acordo com Ochoa

(2011), Ureta (2009), Inostroza (2013), é um momento de troca entre alguém com experiência

com outro menos experiente, que precisa contar com alguém que conhece a profissão para

ajudá-lo no seu desenvolvimento profissional.

Vale ressaltar que o projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC conta com seis professoras

experientes que estão acompanhando 36 professoras iniciantes, em seis escolas de educação

básica. As professoras experientes assumem com este grupo a função de acompanhar e

assessorar o dia a dia na escola. Elas os acompanham nos momentos de planejamentos, em

reunião com os pais, assistem algumas aulas quando convidadas pelos iniciantes, e tem

colaborado com a gestão da sala e, acima de tudo, com a formação deles nesta fase de tornarem-

se professores.

Outro aspecto a destacar sobre as professoras experientes que atuam no Projeto é de que

todas são coordenadoras pedagógicas, como afirmei no início deste texto. Neste sentido, é

interessante trazer algumas contribuições de autores como Almeida, Placco e Souza (2011),

Magalhães (2014) e Domingues (2014), sobre o trabalho deste profissional no interior da escola.

Assim, conforme as transformações sofridas nos conceitos de educação, escola, ensino,

aprendizagem, professor, aluno, também o conceito de coordenação foi sendo alterado,

resultando em novas formas de compreender o trabalho do coordenador pedagógico, situado

historicamente no contexto da escola.

Conforme Magalhães (2014), na sociedade atual exige-se do coordenador pedagógico

um trabalho que vai muito além da função fiscalizadora que o marcou por um longo período.

A função do coordenador pedagógico não se esgota no atendimento às

demandas burocráticas exigidas pela secretaria de educação e outros

órgãos reguladores, nem às demandas administrativas em pareceria

114

com a direção, mas acolhe, também, as demandas das práticas

formativas e pedagógicas junto ao professor, ao aluno e à família.

(MAGALHÃES, 2014, p. 48).

Então, percebe-se que o trabalho destas professoras experientes, antes mesmo de

entrarem no grupo de estudos OBEDUC, já era desafiador, diante de todas as exigências atuais

ao trabalho do coordenador pedagógico. Ao ingressarem na pesquisa, ao seu trabalho foi

agregada mais uma tarefa, a de dedicar um olhar diferente ao professor iniciante. De acordo

com as autoras Almeida, Placco e Souza (2011, p. 228 – grifo das autoras), o coordenador

pedagógico tem, “na escola, uma função articuladora, formadora e transformadora e, portanto,

é o profissional mediador entre currículo e professores e, por excelência, o formador dos

professores.”

Neste sentido, o professor experiente já tinha a responsabilidade de contribuir com os

professores iniciantes que estavam chegando à escola, entretanto, ainda não dirigia um olhar

para seus dilemas e desafios. Ressalte-se que, como coordenador pedagógico, ele tem maiores

condições para o desempenho desta atividade, considerando que já desenvolve o trabalho de

coordenar todo o projeto pedagógico da escola, é responsável pela formação do coletivo, assim,

o grupo já o vê como alguém que está junto para ajudá-lo a pensar sobre sua prática, propondo,

juntos, condições para aprender sobre sua profissão.

De acordo com Magalhães (2014, p. 39) o coordenador pedagógico é “um parceiro na

(re)construção do ato educativo, que possui formação teórica técnica, mas que se reinventa

conforme as necessidades de seus pares no entorno da escola.” Semelhantemente, Domingues

(2014) afirma que:

Coordenar o pedagógico pressupõe um profissional afinado com suas

atribuições, com a capacidade de refletir criticamente sobre o seu fazer,

envolvido em desvelar na formação docente as relações existentes entre teoria

e pratica e criar condições para uma reflexão planejada, qualificada e

organizada a partir das necessidades dos educadores envolvidos.

(DOMINGUES, 2014, p. 116).

Nesta perspectiva, o Projeto desafiou as professoras experientes a se reinventarem na

busca permanente de novos saberes, no investimento em sua carreira, no seu desenvolvimento

profissional a partir do seu trabalho de coordenadoras pedagógicas. Não teria, a meu ver, outro

profissional dentro da escola, para apoiar e assessorar o professor iniciante melhor que o próprio

coordenador, uma vez que, na realidade das escolas públicas, que fazem parte desta pesquisa, é

115

deste profissional o trabalho de acompanhar os professores nos planejamentos, a formação do

coletivo da escola, a articulação entre escola e famílias.

Então, em nosso entendimento, um grande desafio da nova tarefa foi o de compreender

qual era o trabalho que teriam que desenvolver junto ao professor iniciante. Assim que

começaram os estudos, leituras e encontros sistematizados de formação, esta ação foi

incorporada por estas coordenadoras, que estão procurando contribuir com a formação dos

professores iniciantes enquanto investem no próprio desenvolvimento profissional.

É um trabalho, considerado por nós, como embrionário, por abranger somente seis

escolas, porém, temos nos esforçado para que o mesmo seja reconhecido pelas secretarias de

educação como importante e fundamental para apoiar e assessorar os professores que estão

chegando à escola. Assim, somos esperançosos de que se torne uma política de atendimento

aos novos professores.

O próximo capítulo apresenta a discussão sobre o Desenvolvimento profissional como

um processo que acontece ao longo da carreira, e ainda discute a importância do professor

experiente se ver em constante formação, entendendo-a como um dos elementos que possibilita

o seu desenvolvimento na profissão.

116

5 DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR EXPERIENTE E

CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE

Neste capítulo, discute-se o desenvolvimento profissional e a constituição da identidade

docente como processos entrelaçados que se refazem conforme as experiências vivenciadas

pelos sujeitos. Desenvolvimento profissional e identidade docente são conceitos sociais

construídos nas condições históricas e sociais dos professores. É com esta compreensão que

entendo que a formação oferecida pelo Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC contribuiu para o

desenvolvimento profissional das professoras experientes.

5.1 Desenvolvimento profissional e identidade docente: processos imbricados e contínuos

na/da profissão professor

O conceito de desenvolvimento profissional assumido nesta pesquisa é o defendido por

Marcelo (2009), Imbernón (2011) e Day (2011), que o concebem como um continuum, processo

esse que principia com a formação inicial e percorre toda a carreira do professor. Outro aspecto

que vale salientar é o de que o desenvolvimento profissional não se dá somente em processos

de formação, pelo contrário, acontece em todos os momentos e instituições onde o professor

atua. A formação configura, neste processo, um dos elementos do desenvolvimento

profissional.

Com este mesmo entendimento, Imbernón (2011) afirma que são vários fatores que

colaboram para o desenvolvimento profissional do professor, uma vez que a formação, sozinha,

não garante que o professor se desenvolva na carreira. É necessário considerar, também, os

seguintes aspectos:

[...] salário, a demanda do mercado de trabalho, o clima de trabalho nas escolas

em que é exercida, a promoção na profissão, as estruturas hierárquicas, a

carreira docente etc e, claro, [..] a formação permanente que essa pessoa

realiza ao longo de sua vida profissional. (IMBERNÓN, 2011, p. 46).

Verifica-se que o desenvolvimento profissional é um movimento que exige do professor

participar dos vários segmentos que constituem sua identidade, sua profissionalidade. Entende-

se que desenvolver-se profissionalmente é estar em uma busca constante sobre a profissão, é

entender como ela está situada socialmente, compreender as políticas educacionais, é conhecer

sobre os fundamentos da educação, mas é, também, conhecer sobre a prática pedagógica. Em

outras palavras, trata-se de alinhar teoria e prática numa relação horizontal.

117

Reafirmando a ideia do desenvolvimento profissional como movimento transversal que

perpassa todas as esferas da vida do professor, em um processo dinâmico, complexo e mutável

que permite ao professor se refazer diante das diversas experiências, Day (2001) expressa que

ele:

[...] envolve todas as experiências espontâneas de aprendizagem e as

atividades conscientemente planificadas, realizadas para benefício, direto e

indireto, do indivíduo, do grupo ou da escola e que contribuem, através destes,

para a qualidade da educação na sala de aula. É o processo através do qual os

professores, enquanto agentes de mudanças reveem, renovam e ampliam,

individual ou coletivamente, o seu compromisso com os propósitos morais do

ensino, adquirem e desenvolvem, de forma crítica, juntamente com as

crianças, jovens e colegas, o conhecimento, as destrezas e a inteligência

emocional, essenciais para uma reflexão, planificação e prática profissionais

eficazes, em cada umas das fases das suas vidas profissionais. (DAY, 2001, p.

20).

Marcelo (2009, p. 10) afirma, igualmente, que o desenvolvimento profissional é um

processo que acontece individual e coletivamente, dentro do contexto de trabalho, e “contribui

para o desenvolvimento das suas competências profissionais através de experiências de

diferente índole, tanto formais como informais.” Desse modo, pode-se entender que o

desenvolvimento profissional acontece ao longo da carreira, nas mais variadas situações que o

professor vivenciar. Para Marcelo (1999), o professor que se coloca neste movimento faz dos

desafios de sua sala atividades de pesquisa, e busca ajuda com os seus pares para resolvê-los.

Diante dos estudos realizados, aproprio-me das palavras de Howey (1985 apud

MARCELO, 1999) para dizer que desenvolver-se profissionalmente requer do professor

compreender as seguintes dimensões:

[...] desenvolvimento pedagógico [...]. Conhecimento e compreensão de si

mesmo [...]. Desenvolvimento cognitivo [...] Desenvolvimento teórico [...].

Desenvolvimento profissional e o desenvolvimento da carreira mediante

adoções de novos papéis que assume na carreira. (HOWEY, 1985, apud

MARCELO, 1999, p. 138).

É neste sentido de busca permanente que entendo o professor experiente como o

profissional que conhece a respeito de sua profissão, mobiliza diferentes saberes para atender

as necessidades que surgem no seu dia a dia. É o profissional que consegue refletir sobre sua

prática e é capaz de problematizar o contexto em que atua e está sempre à procura de novos

saberes. Pode-se dizer que está em pleno desenvolvimento profissional, se formando para ser

formador.

118

Autores como Marcelo (2009), Imbernón (2002), Mizukami (2006), Vaillant (2012),

afirmam que a formação oferecida ao professor no decorrer de sua carreira precisa estar

centrada no professor como investigador, colocar os desafios da prática como elementos de

discussões possibilitando que o professor construa conhecimento.

É com este entendimento de formação como elemento que contribui para o

desenvolvimento profissional do professor que o projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC tem

oferecido encontros de formação aos professores experientes com objetivo de estimular seu

crescimento pessoal e profissional, pois, de acordo com Imbernón (2002, p. 45), “[...] o

desenvolvimento profissional do professor pode ser concebido como qualquer intenção

sistemática de melhorar a prática profissional, crenças e conhecimentos profissionais, com

objetivo de aumentar a qualidade docente, de pesquisa e de gestão.”

É interessante compreendermos o conceito de desenvolvimento profissional para além

da racionalidade técnica, que forma competências para responder a um único modelo de ensino,

escola, aluno, educação. Conforme Marcelo (2009), este conceito tem sofrido, nos últimos

tempos, modificações devido às mudanças ocorridas na compreensão de como se ensina e se

aprende. O desenvolvimento profissional apresenta algumas características como:

[...] baseia-se no construtivismo. [...] é um processo a longo prazo. [...]

assume-se como um processo que tem lugar em contextos concretos. [...] está

diretamente relacionado com os processos de reforma da escola. [...] o

professor é visto como prático reflexivo, alguém que é detentor do

conhecimento prévio quando acede a profissão e que vai adquirindo mais

conhecimentos a partir de uma reflexão acerca da sua experiência. [...] é

concebido como um processo colaborativo, ainda que se assuma que possa

existir espaço para o trabalho isolado e para a reflexão. O desenvolvimento

profissional pode adotar diferentes formas em diferentes contextos.

(MARCELO, 2009, p. 10-11).

Desenvolver-se profissionalmente, então, é algo que requer a vontade de querer

aprender que supera os anos na carreira. É investimento contínuo no eu profissional e pessoal.

Na carreira docente o professor experiente vai encontrar diferentes contextos de influências que

servirão para motivá-lo ou desencantá-lo, mas o que o torna um profissional em ascensão é o

seu próprio querer ser, saber, aprender e viver. Marcelo (2009) afirma que é possível

compreender o desenvolvimento profissional como uma postura de indagação constante, um

formular questões e procurar soluções. Nesse sentido, o desenvolvimento profissional é

[...] uma construção do eu profissional, que evolui ao longo de sua carreira.

Que pode ser influenciado pela escola, pelas reformas e contextos políticos, e

que integra o compromisso pessoal, a disponibilidade para aprender a ensinar,

119

as experiências passadas, assim como a própria vulnerabilidade profissional.

(MARCELO, 2009, p. 9).

Day (2001) assevera que o desenvolvimento profissional se caracteriza por

conhecimento, competência e capacidades profissionais. É um movimento que acontece ao

longo da carreira do professor, ora avança, ora retrai diante das situações reais onde o mesmo

se insere. Reflete o autor que “[...] o desenvolvimento profissional contínuo é manter, alargar o

saber profissional dos professores, definido como o conhecimento que os profissionais possuem

e que lhes permite desempenhar, com qualidade, tarefas profissionais, papéis e deveres” (DAY,

2001, p. 93).

Comungo das ideias destes autores a respeito do desenvolvimento profissional. Sabe-se

que o professor experiente, mesmo com todo o seu tempo de experiência, continua se

desenvolvendo quando busca novas formações, quando se sente motivado a novos desafios, tal

como está sendo a experiência de acompanhar os professores em início de carreira.

O entendimento que tenho da formação está alicerçado em Marcelo (1999; 2009) e

Imbernón (2011), quando afirmam ser esta um dos elementos do desenvolvimento profissional.

Assim sendo, acredito que as professoras estão, para além desta formação, trabalhando lado a

lado com o professor iniciante, convidando-o a problematizar sua prática, a conhecer sobre sua

profissão.

Conforme Rudduck (1991 apud MARCELO, 2009, p. 9) o desenvolvimento profissional

refere-se à “capacidade do professor em manter a curiosidade acerca da sua turma; identificar

interesses significativos nos processos de ensino aprendizagem; valorizar a procura do diálogo

com colegas como apoio nas análises de situações”.

É esta curiosidade sobre o professor iniciante que vejo nas professoras experientes

participantes deste Programa. Elas não estão com ele para ensinar sobre a prática com receitas

prontas. Estão como mediadoras e questionadoras das práticas, como companheiras para dividir

cada aprendizagem, para incentivá-lo quando estiver desmotivado. E, assim, também vão se

desenvolvendo e construindo suas identidades.

Neste movimento de desenvolver-se, o professor vai modificando sua identidade, pois

novas situações da prática requerem, dele, um novo olhar sobre si mesmo, seus companheiros

e seus alunos. Neste sentido, Marcelo e Vaillant (2013, p. 35) asseguram que é “uma construção

individual a que se refere o professor com história e características sociais, mas também uma

construção derivada do contexto social na qual o professor desenvolve”.

120

Ainda de acordo com estes autores, a identidade profissional se constitui de sub-

identidades relacionadas entre si. Percebe-se que ela não é fixa e que nem todos os professores

possuem uma mesma identidade. Desta forma, afirmam que a identidade revela “[...],

motivação, empenho e satisfação no trabalho dos professores, e é um fator importante para

definir um bom professor. A identidade é influenciada por aspectos pessoais, sociais e

congnitivos.” (MARCELO; VAILLANT, 2013, p. 37).

Sob a ótica de que, ao desenvolver-se profissionalmente, o professor vai reconfigurando

sua identidade, pode-se dizer que estes processos se entrelaçam ao longo da carreira

profissional, como resultado de suas experiências e da capacidade de refletir sobre sua prática,

em um constante movimento indagatório não só sobre o quê, mas, sobretudo, acerca do como

e por quê ensinar.

Semelhantemente Calil (2014) contribui assegurando que:

O conceito de desenvolvimento profissional é complexo e abrangente,

entende-se que se trata de um processo contínuo, ao longo da vida, capaz de

abarcar a formação inicial e a formação em exercício nos diversos períodos da

carreira profissional, que procura estimular as capacidades criativas e

reflexivas sobre a prática do professor a fim de que reverbere na aprendizagem

dos alunos. (CALIL, 2014, p. 35).

Neste sentido, desenvolver-se profissionalmente é estar em constante movimento de

aprender consigo mesmo, com seus pares, com parceiros externos sobre sua profissão. Assim,

a próximo texto procura apresentar evidências do desenvolvimento profissional das professoras

experientes no acompanhamento aos professores iniciantes no Projeto OBEDUC/UFMT.

5.2 O desenvolvimento profissional das professoras experientes no processo de

acompanhamento aos professores iniciantes: desafios e aprendizagens

As professoras experientes, sujeitos desta pesquisa, têm manifestado, por meio das

discussões e ações, um movimento de desenvolvimento profissional. São professoras que atuam

de 15 a 25 anos na profissão, porém, se reconhecem como aprendizes.

Ao assumirem, na escola, o trabalho de acompanhar os professores iniciantes, sentiram-

se provocadas e desafiadas a continuarem estudando, formando-se, trocando experiências na

busca de melhorarem a prática, conseguindo, assim, construir junto ao grupo de iniciantes

condições para aprenderem sobre a docência.

O desafio de ensinar um grupo de professores iniciantes a ser professor as tem colocado

diante de alguns dilemas: como ensinar alguém já formado? Onde busco referenciais que me

121

orientem no processo de ensinar o professor? O que preciso saber para ajudá-lo? Como trabalhar

com tanta diferença? São estas e outras questões presentes no ideário das professoras

experientes que têm provocado a busca permanente de conhecimentos.

Ao observar, no decorrer da pesquisa, o movimento realizado por estas professoras,

percebi que elas procuram romper com o paradigma da racionalidade técnica que acredita que

cabe às Universidades ensinar os conhecimentos teóricos, e, à escola, a prática, numa relação

dicotômica. As professoras experientes estão expressando a necessidade de um trabalho que

faça uma ressignificação da teoria e prática em um movimento horizontal, onde entende-se ser

a primeira tão importante quanto a segunda.

Neste sentido, elas nos revelam que o trabalho que fazem junto ao professor iniciante

assenta-se no paradigma da racionalidade prática (MARCELO, 1999) o que é essa

racionalidade prática? Seu leitor quer saber. Então, Mizukami (2006, p. 2) assegura que

orientar-se por este modelo é compreender que os “domínios da teoria e os da prática se

entrelaçam nos diferentes momentos da formação profissional e ao longo da carreira docente.”

Aprender a ser professor representa uma trajetória marcada pelos conhecimentos

teóricos e práticos, o que se configura no desafio destas professoras experientes que

acompanham os professores iniciantes na empreitada de tornarem-se professores.

Compactuando com esta ideia, Nóvoa (1992) enfatiza que é importante:

[...] valorizar paradigmas de formação que promovam a preparação de

professores reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio

desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na

implementação de políticas educativas. (NÓVOA, 1992, p. 27).

Como contribuir com a formação dos meus pares numa perspectiva diferente da que

fomos formadas? Este é outro dilema vivenciado pelas professoras experientes. Com este

entendimento elas estão buscando auxílio, apoio, nos encontros de formação oferecidos pelo

projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC e, também, em outras instituições.

É evidente o desenvolvimento profissional destas professoras que, ao serem desafiadas,

provocadas, não se calaram, renunciaram ou aceitaram que já estavam no momento de parar,

pelo contrário, motivadas, posicionaram-se como aprendizes para ensinar os professores

iniciantes. Neste sentido, assumimos a postura de Marcelo e Vaillant (2013), quando afirmam

que:

[...] o desenvolvimento profissional docente tem a ver com aprendizagem; nos

remete ao trabalho; trata de um trajeto; inclui oportunidades ilimitadas para

melhorar a prática; se relaciona com a formação dos professores; e opera sobre

as pessoas e não sobre os programas. (MARCELO; VAILLANT, 2013, p. 77).

122

Nesta perspectiva de crescimento as professoras experientes estão buscando aprender

nos encontros de formação coletivos, onde se reúnem com professores iniciantes, mestrandos,

graduandos e coordenação do projeto, discutindo as temáticas elencadas pelos professores

iniciantes. Comparecem, também, nos encontros específicos de formação do professor

experiente, em que discutem os temas eleitos por elas a partir das necessidades surgidas no

processo de acompanhamento. Outro espaço de aprendizado destas professoras é a própria

prática, quando se dispõem a acompanhar o iniciante e, ainda, em leituras e formações

oferecidas pelas redes de ensino.

Ante o exposto, é possível notar que há um movimento de busca, de formação, de trocas

de experiências, que pode traduzir-se em desenvolvimento profissional. Neste sentido, Day

(2001, p. 43, grifos do autor) pondera que “[...] o desenvolvimento profissional dos professores

tem de ser construído com base na ‘vocação apaixonada’ do professor, estimulando e mantendo

a sua motivação e entusiasmo, não só para ser um profissional, mas para agir como um

profissional ao longo da carreira.” Assumo a posição do autor ao perceber que os professores

experientes têm buscado alinhar aos seus fazeres novos saberes sobre o professor iniciante, com

o objetivo de incentivá-lo a permanecer na profissão, de forma autônoma, na produção dos seus

saberes e dos seus valores.

Colaborando com este entendimento, França (2016) assegura ser o desenvolvimento

profissional um processo continuum em que:

[...] o docente se manifesta como uma pessoa sempre em busca por uma

melhor prática, um investigador, que está em permanente busca a respeito de

como melhorar o desempenho no processo de ensino e aprendizagem, bem

como compartilhar as angústias e caminhos bem-sucedidos com seus pares. É

um processo em que há o rompimento do individualismo, para uma prática

dialógica na busca de soluções perante os desafios encontrados no cotidiano

da sala de aula e, até mesmo, no cotidiano da ação pedagógica. Entendida aqui

como práticas que extrapolam o contexto da sala de aula, pois abrangem

outros aspectos e atores: organização escolar; momento de planejamento

coletivo; gestão escolar; relação com os pais, relacionamento com os pares,

gerenciamento de conflitos, entre outros. (FRANÇA, 2016, p. 47).

Assim, evidencio, nesta pesquisa, a importância de investimento no desenvolvimento

profissional na perspectiva que considere o professor como aprendiz de sua profissão, por isso

não há um único modelo de desenvolvimento, em cada escola, em cada tempo, são necessários

aspectos, investimentos, metodologias e base teórica às vezes diferentes dos já trabalhados e

estudados.

123

Então, para cada momento e para as diferentes funções assumidas no decorrer da vida

profissional, o investimento no desenvolvimento profissional deve ser o objetivo almejado por

cada professor, pois é esta sensação de falta, incompletude e desconhecimento, que a prática

nos impõe, que nos faz buscar novos conhecimentos, percorrer um movimento cíclico dentro

da carreira, permitindo que nos reconheçamos como professores.

Ao longo deste capítulo, percebeu-se a importância do professor investir na sua carreira,

independentemente da sua idade ou tempo na profissão. Igualmente evidenciou-se que o

desenvolvimento profissional traz melhoras não só para o indivíduo, mas também para toda a

escola.

Na intenção de contribuir com todos os professores a respeito da necessidade de investir

na carreira, o próximo capítulo apresenta os significados que quatro professoras experientes,

que são sujeitos desta pesquisa, dão a formação vivenciada no Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, como um dos elementos que está contribuindo para o seu próprio

desenvolvimento profissional.

124

6 PROFESSORES EXPERIENTES E OS SENTIDOS DA FORMAÇÃO DO PROJETO

PPGEdu/UFMT/OBEDUC NO SEU DESENVOLVIMENTO PROFISISONAL:

NARRATIVAS EM RELEVO

Neste capítulo pretende-se apresentar os dados considerando os sentidos que as

professoras experientes deram ao processo de formação vivenciado no Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, no qual suas experiências foram sendo ressignificadas a partir das

trocas e partilhas entre pares, em uma busca permanente de aprender mais sobre a profissão

docente. Conforme asseguram os autores Spink e Medrado (2013):

O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais

precisamente interativo, por meio do qual as pessoas –na dinâmica das

relações sociais historicamente datadas e culturalmente

localizadas –constroem os termos a partir dos quais compreendem e

lidam com as situações e fenômenos a sua volta. (SPINK; MEDRADO,

2013, p.1).

Assim, as professoras experientes foram construindo ao longo desta pesquisa e nas suas

práticas cotidianas os sentidos sobre este processo de formação que ora dava-se individual, ora

coletivamente, pois conforme Almeida, Placco e Souza (2016):

[..] os sentidos atribuídos a determinado fenômeno equivalem à

revelação dos afetos do sujeito, pois, para a compreensão do

pensamento do outro não basta o entendimento de sua fala e seus

significados, é preciso compreender suas motivações. (ALMEIDA,

PLACCO; SOUZA, 2016, p.62).

Com este entendimento é que busquei, nas narrativas das professoras experientes os

sentidos que elas deram à formação vivenciada no Projeto. Primeiramente, apresentarei as

narrativas extraídas dos diários de campo, em seguida, as narrativas selecionadas dos memoriais

de formação e, por último, as narrativas das entrevistas.

A opção por narrativas, como já dito anteriormente, foi por considerá-las ricas em

elementos subjetivos que expressam os sentidos que os sujeitos dão aos fatos vividos. Dessa

maneira, no decorrer da pesquisa os textos que eram solitários, intimistas, foram sendo tecidos

a partir de intervenções, diálogos entre a pesquisadora e os sujeitos, tornando-se em texto dual

(CLANDININ; CONELLY, 2011). Então, ao apresentar os movimentos que configuram as

análises dos dados, no terceiro movimento evidencio as narrativas dialogadas extraídas dos

diferentes instrumentos utilizados na pesquisa.

125

6.1 Sentidos e repercussões da formação nas reflexões e práticas das professoras

experientes: o que revelaram os diários de campo

As discussões dos dados extraídos dos diários de campo das professoras experientes

foram pensadas a partir de quatro movimentos descritos no capítulo metodológico, que, por sua

importância, são agora rememorados.

De início, foi realizada, no primeiro movimento a seleção e uma breve análise do

episódio narrativo; em seguida, inserimos algumas indagações reflexivas como estratégia para

instigar as professoras experientes a refletirem sobre suas escritas, o que denominamos como

segundo movimento. O terceiro movimento é um texto escrito pelos sujeitos a partir de um

processo reflexivo que faziam após as indagações da pesquisadora sobre os primeiros sentidos

que eles deram a formação recebida, convertendo, assim, os episódios em narrativas dialogadas;

o quarto e último movimento é a análise da autora a partir do episódio narrado.

Assim, começo apresentando as narrativas das professoras Reflexão e Constatação a

respeito de alguns encontros de formação que discutiram os descritores de aprendizagens

evidenciados nas propostas curriculares de ensino, tanto da rede estadual como da rede

municipal.

Nestes episódios narrativos, as professoras experientes narram os sentidos e a sensação

que tiveram ao participar de uma formação com o objetivo de discutir os descritores de

aprendizagem. Quando relembro esta formação, recordo-me dos rostos com expressão de

espanto, surpresa, e muitos professores experientes assumindo que precisavam conhecer muito

sobre os descritores para ajudar o professor iniciante. Nos relatos das professoras, percebi que

a formação as provocou a continuarem investindo na carreira.

O primeiro episódio narrativo a ser apresentado é da professora Constatação,

expressando a importância da formação que vem recebendo no Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC. De acordo com ela, esta tem lhe propiciado muitas reflexões sobre

sua prática.

Ao receber seu diário de campo e verificar as indagações reflexivas deixadas pela

pesquisadora, a professora Constatação reescreveu sua narrativa, evidenciando que tem

refletido sobre sua prática, tomando-a como elemento de investigação, questionando-a e

procurando melhorá-la.

Vejamos como tem se constituído o desenvolvimento deste trabalho no que se refere à

professora Constatação.

126

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo

O encontro foi muito relevante e evidenciou nossas dificuldades de identificar

os descritores que estão implícitos ou explícitos nas atividades que oferecemos

aos nossos alunos. Foram oferecidos os textos e as atividades com as quais

trabalhamos em forma de oficina. Meu desafio será: aprofundar mais nestas

tarefas, para melhor contribuir com o professor iniciante. Eu nunca havia

refletido tanto sobre as atividades que oferecemos à criança e qual seu sentido,

como faço depois desses nossos encontros. Outra angústia muito presente em

mim é pensar: se eu, com tanto tempo de experiência (23 anos), tenho

dificuldades em selecionar as atividades conforme os descritores pensados

para cada fase/ano, imagina quão grande seja o desespero do professor

iniciante. [...]. (Diário de campo, Constatação, mar.2016).

Ao ler este episódio percebe-se que mesmo depois de vários anos de experiência a

professora se coloca como aprendiz, o que significa salientar que continua investindo no seu

desenvolvimento profissional. Afirma ser necessário buscar outras leituras, outras formações

que possibilitem compreender melhor sobre os descritores para ajudar o professor iniciante.

Outro aspecto salientado é que não havia parado para pensar nos sentidos das atividades

trabalhadas com os alunos, o que, a meu ver, pode ocorrer não pelo desconhecimento, e sim

pela rotina de trabalho que o coordenador pedagógico tem assumido na escola. Então,

perguntei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Onde você tem encontrado subsídios

para não parar de investir em sua carreira? Quais são os aspectos mais importantes a serem

considerados na carreira para que não haja o desinvestimento na mesma? O que você conseguiu

realizar junto com o grupo de iniciantes para que pensassem não somente o como trabalhar,

mas avançar para o quê e por quê trabalhar as atividades?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida / narrativa dialogada

Lembrar este encontro em que discutimos os descritores, fico pensando que

ainda preciso investir na minha carreira, mesmo depois de 23 anos na

profissão. Sinto que pouco sei sobre os descritores e, se eu, experiente, tenho

dificuldades, como será a prática do iniciante em relação a eles. Então, fico

muito angustiada, preocupada com estas situações, como cobrar isto do

iniciante? Por isso vejo que preciso estar muito próxima a ele, planejar, sugerir

outras leituras, como material da provinha Brasil, a proposta curricular da rede

que trabalhamos, outras leituras, como material do PNAIC. Uma formação

como esta nos ajuda muito, pois as oficinas trabalhadas nos deram pistas para

nossos planejamentos. Sei que preciso continuar investindo na minha

formação, pois entendo que o desenvolvimento profissional é contínuo e as

127

aprendizagens e desafios perpassam toda esta trajetória. Mesmo não tendo

uma carreira atrativa, o que me move para continuar investindo em minha

carreira é a necessidade de melhorar minha prática, sou professora experiente,

mas ainda não sei tudo, preciso de ajuda, preciso estar em constante formação,

é o que tenho procurado fazer quando me propus estar no OBEDUC e também

em outras formações oferecidas pela SEMED, acompanhando os professores

iniciantes. Hoje percebo avanços das professoras iniciantes em relação a suas

práticas, estão mais seguras, autônomas no fazer da sala de aula, no diálogo

com as famílias, na elaboração dos planos de aula. (Diário de campo,

Constatação, set.2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao observar a narrativa da professora percebo que participar no Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC tem lhe provocado a pensar sobre si. A sua prática tem sido

questionada por ela mesma, tem pensado como melhor colaborar com o professor iniciante,

reconhecendo que, mesmo depois de 23 anos de experiência, ainda precisa aprender, não sabe

tudo sobre sua profissão o que lhe faz buscar novos conhecimentos.

Para Marcelo (2009) e Day (2001), o desenvolvimento profissional do professor é um

processo contínuo que perpassa sua carreira, é marcado por experiências profissionais e

pessoais. Ou seja, é uma atitude permanente de indagação, de formulação de questões e procura

de soluções. Na percepção da professora Constatação, ela está desenvolvendo-se

profissionalmente.

Day (2001, p. 17) afirma que “os professores não podem ser formados passivamente.

[...]. É, portanto, vital que participem na tomada de decisões sobre o sentido e os processos de

sua própria aprendizagem.”

Entendo, assim, que a professora experiente se coloca como sujeito deste processo,

evidenciado pela autonomia para decidir sobre sua formação, que a faz manter-se motivada a

participar do projeto. Percebe ainda, que seus problemas reais têm sido tomados para discussões

numa perspectiva de trocas com seus pares, pois nos encontros de formação dialoga mantendo

a curiosidade sobre sua prática, questionando-a constantemente o que contribui com seu

desenvolvimento profissional.

Para Ochoa (2011) e Inostroza (2013), o professor experiente consegue pensar sua

prática em toda a sua complexidade. É um profissional reflexivo que tem autonomia para pensar

sua carreira, sua formação, e lida com os conflitos da prática de forma mais segura. Nesta

perspectiva comungo da posição de Mizukami e Reali (2002, p. 17) quando asseguram que ao

professor caberá ter “a capacidade de análise e de reflexão sobre a própria prática.”

Confirmando este entendimento, Moreira (2011, p. 22), enfatiza a importância destes

diálogos como ferramentas que possibilitam aos professores experientes e à pesquisadora

128

refletirem a prática, e, desse modo, procurei estudar “as potencialidades dos diários

colaborativos, enquanto narrativas escritas dialogadas, na co-construção de saberes que

fomentam o desenvolvimento da identidade e o conhecimento profissional do educador,

professor experiente.”

A seguir, apresento o episódio narrativo extraído do diário de campo da professora

Reflexão, que relata os sentidos que tem dado à formação recebida no Projeto.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

Após as discussões dos descritores vieram os desafios: como trabalhar com os

iniciantes? Que conhecimentos eu tenho? Minha formação inicial é Pedagogia

e, pelo que percebi, preciso do conhecimento específico da Língua

Portuguesa. Shulmann fala dos subterfúgios que nos embasam, e que

recorremos a eles enquanto professor experiente, mas fico desesperada, pois,

com tantos anos na educação, ainda há tanto a ser construído, e o dia a dia da

escola acaba nos limitando às tarefas que emperram nossa aprendizagem do

conteúdo específico. (Diário de Campo, Reflexão, mar.2016).

Neste episódio, pareceu-me que a professora tinha percebido uma problemática

enfrentada na escola, que é o momento de planejar atividades que possibilitem os alunos a

desenvolver as habilidades de cada fase/ciclo. Sua fala apresenta aspectos reveladores de que a

formação inicial não conseguiu ensinar todos os conteúdos específicos, o que é natural; ainda

evidenciou que sua rotina de trabalho não lhe possibilita tempo para estudos. Assim, indaguei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Como você tem se organizado para fazer

o acompanhamento do professor iniciante? Que momentos de estudos você tem destinado a

aprender sobre o professor iniciante? Você poderia falar um pouco mais sobre a sua rotina de

trabalho e por que ela não lhe possibilita momentos de estudos?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

Cada situação vivenciada me desafia a estudar mais e mais. Esta formação,

em particular, me mostrou o quanto preciso estudar sobre os descritores de

aprendizagem. Até este momento a minha leitura sobre eles era geral. A meu

ver, era óbvio, para qualquer professor, colocá-los no seu plano. A partir das

formações, reconheci que não era tão simples assim, se eu não tiver

conhecimento da sua importância, eles passarão despercebidos nas atividades

propostas. Sei que o professor iniciante a cada dia revela uma necessidade, a

questão dos conteúdos, gestão da sala de aula, planejamento, tem sido maior,

mas, e os descritores, como trabalhar com eles, se ainda não superaram

129

aspectos mais simples da prática? Meu desafio agora é trabalhar os descritores

em paralelo a outras necessidades. Para sanar essas necessidades dos

professores, tenho buscado leituras nos materiais de aplicação da provinha e

prova Brasil, no material do PNAIC, que trata dos direitos de aprendizagem,

nas diretrizes curriculares do Estado de Mato Grosso e outros. Também junto

ao grupo dos professores experientes, no programa OBEDUC, que tem

contribuído significativamente para minha formação. (Diário de campo,

Reflexão, set.2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao ler sua escrita, a professora considerou, para a reescrita, as indagações reflexivas

deixadas em seu diário pela pesquisadora, conseguindo colocar outros elementos reveladores

do seu desenvolvimento profissional. Notei, em sua narrativa, preocupações com seu

desconhecimento sobre os descritores, ou melhor, quanto à forma como estava lidando com

eles, com o professor iniciante, e, também, quanto ao trabalho com estes saberes junto ao

iniciante, se ele apresentar outras fragilidades.

O episódio narrativo de Reflexão revela a importância dada ao investimento em sua

carreira. Reconhece a docente que, mesmo sendo uma professora experiente, há muitos assuntos

do dia a dia da escola que a desafiam a estudar mais. Afirma, também, que o professor iniciante

possui necessidades quando chega à escola, mostrando que é fundamental que ele receba, na

escola, o acompanhamento de alguém capaz de lidar mais tranquilamente com a profissão.

O fato de a narrativa da professora apontar a necessidade de continuar estudando,

comprova que ela está em pleno desenvolvimento profissional. Para Reflexão, sua carreira

ainda exige investimentos e os desafios que tem enfrentado no acompanhamento ao iniciante a

motivaram a estudar, a participar do grupo de pesquisa, e fazer as leituras recomendadas, ir para

os encontros e dialogar com o grupo e questionar, permanentemente, sua prática. Pode-se

perceber que esta profissional está em processo de construção de sua identidade.

Para Marcelo (2009), a identidade profissional vai sendo construída conforme as

experiências são vivenciadas pelo professor, isto é, ela é desenhada pela forma como:

[...] os professores definem a si mesmos e aos outros. É uma construção do

seu eu profissional, que evolui ao longo da sua carreira docente e que pode ser

influenciada pela escola, pelas reformas e contextos políticos, que integra o

compromisso pessoal, a disponibilidade para aprender a ensinar, as crenças,

os valores, o conhecimento sobre as matérias que ensinam e como as ensinam,

as experiências passadas, assim como a própria vulnerabilidade profissional.

[...] (MARCELO, 2009, p. 11).

Entende-se, assim, que a identidade do professor vai sendo construída conforme suas

experiências, misturando-se ao seu desenvolvimento profissional. Diante dos estudos

130

realizados, observou-se que a identidade não é fixa, mas móvel, se altera conforme o contexto

político, social e econômico em que se vive e trabalha.

Os autores Marcelo e Vaillant (2013) afirmam que a identidade é a resposta à pergunta

“Quem eu sou neste momento?”, pois ela está relacionada com as nossas vivências, e, assim,

vai se configurando dentro de um processo evolutivo. Neste sentido, os autores afirmam que:

Você tem que entender ou conceito da identidade do professor como realidade,

que evolui e se desenvolve, tanto pessoal quanto coletivamente. Identidade

não é algo dado ou de propriedade, mas algo que se desenvolve ao longo da

vida. identidade não é um atributo fixo para uma pessoa, mas um fenômeno

relacional. O desenvolvimento de identidade ocorre no terreno, instersubjetivo

e caracrteiza por ser um processo evolutivo, sendo, um processo de

interpretação de si mesmo como uma pessoa dentro de um determinado

contexto. (MARCELO; VAILLANT, 2013, p. 37)

Este processo de construção de identidade como algo não fixo e sim evolutivo, ficou

evidente na fala da professora Reflexão, pois, ao ser desafiada a pensar a figura do professor

iniciante, ao ser confrontada pelos dilemas destes, sentiu-se impelida a estudar mais, a buscar

saberes sobre tais temáticas, em um movimento de plena mudança.

O próximo episódio narrativo foi extraído do diário de campo da professora Aprendiz,

que atua na escola do campo e vem lutando para que esta modalidade de ensino seja

implementada de forma que garanta o aprendizado e a mobilidade dos alunos para qualquer

escola que eles decidirem frequentar. Vejamos o relato da professora.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

O início da carreira docente está sendo vivenciado de forma conflituosa,

marcada sobretudo com o choque de realidade. Esta situação tem se agravado,

ainda mais quando pensamos na educação do campo e nas classes

multisseriadas, temas estes ainda silenciados nos cursos de formação de

professores. (Diário de campo, Aprendiz, jul.2015).

O episódio narrativo da professora experiente revela seu conhecimento acerca dos

conflitos vivenciados pelo professor iniciante, mais ainda, faz uma denúncia de que, na

educação do campo, isto se torna mais complicado. Percebo que isto acontece porque nem todos

os professores que ali vão atuar conhecem a realidade do campo, a comunidade, a cultura, o

que se junta ao desconhecimento da profissão. Diante desta realidade questionei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: O que poderia ser feito em relação à

formação do professor do campo para tornar esta realidade menos traumática? A formação

131

oferecida pelo OBEDUC tem contemplado a especificidade do campo? Quais temáticas

específicas à educação do campo você sugere para serem trabalhadas?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

Ao reler o que havia escrito no meu diário e as indagações da pesquisadora,

fiquei pensando como evidenciar o que de fato penso. Ao meu ver o que

deveria haver, de fato, são políticas específicas para a atuação no campo. Vou

falar um pouco da realidade de minha escola hoje. A escola onde atuo, hoje

está nas mãos de pessoas que não moram na comunidade. São, em sua maioria,

professores sem compromisso com esse tipo de educação. [...]. Enquanto não

houver políticas públicas específicas para a docência no campo, ou, enquanto

elas não chegarem ao campo, a educação nesse cenário não vai mudar, pois os

professores da cidade são os que mais precisam de formação e os que menos

participam dela. [...]. As várias formações vivenciadas no Projeto ainda não

trataram diretamente com a Educação do Campo. A única especificidade

relativa ao campo são as viagens de estudo. Nessas viagens é possível

conhecer sobre a realidade do campo, porém, acredito ser necessário um maior

aprofundamento sobre a Educação do Campo. Os temas, as teorias estudadas

no OBEDUC, elas tratam dos desafios de todas as modalidades educacionais,

mas não tratam das especificidades dessas modalidades, como a educação do

campo. Essas atividades desenvolvidas nas visitas ao campo contemplam mais

a parte da prática, e sabemos que em educação a prática e a teoria se

completam. O que sabem nossas iniciantes sobre as políticas de educação do

campo? O que sabem sobre as lutas para a implantação dessas políticas? Quais

são os principais teóricos que discutem sobre educação do campo no Brasil?

O que sabem sobre qual formação devem receber os sujeitos do campo?

(Diário de campo, Aprendiz, out. 2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Em sua narrativa, a professora Aprendiz afirma que para diminuir o impacto do

professor iniciante com a prática é necessário ter uma política de atendimento que discuta esta

modalidade de ensino. No seu entendimento, o desconhecimento do professor sobre a

especificidade da educação do campo torna o trabalho ainda mais difícil. De acordo com Pires

(2014) esta modalidade precisa ser entendida pelos professores como uma

[...] educação que se volta aos trabalhadores e trabalhadoras do campo que,

por sua vez, há muitíssimo tempo são vítimas de processo de exclusão e

empobrecimento no Brasil, por uma educação que lhes foi oferecida ao longo

do tempo sem corresponder a sua realidade. (PIRES, 2014, p. 91).

132

Então, percebe-se que os dilemas que preocupam quem entra na escola do campo são

diferentes dos experienciados pelos professores da zona urbana, pois não se pode esquecer que

a maioria dos cursos de formação inicial não tem, nos seus currículos, disciplinas voltadas para

a modalidade educação do campo.

Outro fator observado na narrativa da professora trata da formação específica à educação

do campo. Para ela, ainda que o projeto OBEDUC tenha proposto vários encontros de formação,

a questão da educação do campo ainda não foi contemplada. É necessário, na visão desta

professora, que se discuta esta modalidade de ensino considerando seus diferentes aspectos.

Pires (2014) argumenta que os sujeitos do campo precisam de uma educação que:

[...] os liberte do sistema opressor que sempre lhes foi imposto, precisam ser

ouvidos, que suas histórias, seus conhecimentos sejam valorizados e precisam,

principalmente, de educação humanizadora, baseada no diálogo e na troca do

conhecimento. Educação esta que mostre aos educandos que sua história de

vida, suas experiências, seu trabalho, são partes da vida e do trabalho do país. (PIRES, 2014, p. 99).

Eis aí um desafio para a formação do OBEDUC em 2017, ou seja, reuniões que tratem

especificamente da educação do campo. Para essa formação, e para atuar nesta modalidade, é

preciso discutir quem é o sujeito do campo, quais são seus interesses, seus sonhos e, acima de

tudo pensar e propor uma metodologia de trabalho que motive este sujeito a se ver neste

processo de construção da sociedade e do país.

Na narrativa da professora, ficou evidente mais uma temática que precisa ser

contemplada nos encontros de formação oferecidos pelo PPGEdu/UFMT/OBEDUC, no

entanto, vale lembrar que no II Seminário do OBEDUC, neste ano de 2016, tivemos uma mesa

redonda discutindo a educação do campo, composta por teóricos, intelectuais e professores do

campo, que deve ser considerada como formação de professores.

O próximo episódio apresenta alguns desafios que a professora Reflexão tem

encontrado no acompanhamento ao grupo de iniciantes que atua na escola onde ela trabalha.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

Tenho enfrentado grandes desafios em acompanhar as professoras iniciantes,

pois durante as aulas é quase impossível e fora deste horário elas não estão

disponíveis. (Diário de Campo, Reflexão, 2016).

A narrativa da professora revela o que as pesquisas vêm denunciando, no Brasil: são

quase inexistentes as políticas de acompanhamento ao professor iniciante. Os estudos de André

133

(2012) reafirmam esta ideia quando asseguram que são poucos os investimentos de estados e

municípios nesta fase da carreira. Diante disso, perguntei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Como você, junto com os iniciantes, tem

driblado a falta de investimento nesta fase da carreira, para garantir a participação da escola no

projeto? Atualmente, qual tem sido seu maior desafio neste processo de acompanhamento ao

professor iniciante? Como você tem articulado o acompanhamento às necessidades dos

iniciantes?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida / narrativa dialogada

Uma das formas que encontrei foi falar dos conflitos que são naturais da

inserção na carreira, usando, na verdade, o diálogo para dizer o quanto é

importante termos um tempo para falarmos destes dilemas e conflitos. E temos

contado com a disponibilidade de cada uma que tem se mostrado aberta para

receber as formações e tem também se afirmado a partir das experiências do

outro. Elas se veem e sentem a necessidade da busca, pois, na maioria das

vezes elas revelam que precisam buscar conhecimentos. No entanto, o meu

grande desafio neste processo de acompanhamento continua sendo o tempo

disponível, acho complicado pedir para o profissional que fique na escola após

cumprir seu horário ou que venha em outro horário, pois isso também é

conflituoso, pois eles podem achar que se não atender serão perseguidos ou

que isso irá interferir na sua estada na escola. É muito complicado, pois o

professor contratado na nossa rede não tem carga horária de 30 horas. Então,

preciso contar com a vontade e a necessidade destas professoras para

estudarmos além do contrato delas. (Diário de campo, Reflexão, nov.

2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao observar a narrativa da professora fica evidente que não há uma política de

atendimento para o professor iniciante na rede municipal de ensino de Rondonópolis/MT. Na

verdade, o que existe são experiências pontuais, como é o caso deste Projeto coordenado pelas

professoras Dra. Simone Albuquerque da Rocha e Dra. Rosana Maria Martins.

Sendo assim, os professores iniciantes, se contratados, têm uma carga horária inferior a

30 horas, ficando à disposição da escola somente 20h em sala, contando com mais 4 horas

subdivididas em apoio ao aluno e estudos coletivos. Não há, na carga horária deste professor,

previsão de momentos para planejamento, nos quais o professor experiente poderia estar junto

com ele. No entanto, há que se ressaltar que as atribuições e responsabilidades deste profissional

são as mesmas do professor efetivo.

134

No caso desta professora experiente, dos cinco professores iniciantes que a

acompanham, quatro são contratados, dificultando, assim, o seu trabalho de acompanhamento.

Para conseguir fazer o acompanhamento ela conta com a vontade de aprender do grupo, que

permanece na escola, cedendo parte do seu tempo.

Mas sabemos que mudanças na educação não poderão contar com doação de tempo por

parte do professor, pelo contrário, defendemos uma carreira que permita aos professores tempo

e condições salariais que possibilitem a busca por novos conhecimentos, a disponibilidade para

estudar, a chance de investir na carreira sem preocupação em sair desta ou daquela unidade de

ensino e correr para outra para garantir a sobrevivência de suas famílias.

O trabalho que o professor experiente deve desenvolver na escola precisa ser

compreendido pelos gestores, de modo a garantir que os professores iniciantes possam estar

disponíveis para momentos de estudos, reflexão sobre sua própria prática, planejamento de

aulas, entre outras atividades. Marcelo (2006) e Ochoa (2011) afirmam que o ideal é que estes

professores tenham uma carga horária diferente da carga de trabalho dos seus pares que estão

há mais tempo na escola. Os autores ainda asseguram que é importante que tenham o

acompanhamento de professor experiente.

Outro fator a ser considerado é a qualidade do trabalho do professor experiente, pois,

ponderam Mizukami, Reali e Tancredi (2012), este profissional não está ali para dar respostas

ao professor iniciante, mas para lhe fazer questionamentos sobre sua prática, de modo a criar

condições para novos estudos e discussões. É neste sentido que entendo o trabalho do professor

experiente que está na escola para apoiar o professor iniciante.

6.2 Sentidos e repercussões da formação nas reflexões, práticas e desenvolvimento

profissional das professoras experientes: o que revelam os memoriais

No projeto, os memoriais são utilizados como um instrumento de formação, pois

permitem que os envolvidos na pesquisa relatem, expressem, revelem seus sentimentos,

necessidades e valores que dão ao processo da pesquisa e a contribuição desta para sua prática,

seja de experiente ou iniciante. Então, todos sabem que, no final de cada semestre, precisam

enviar para a coordenadora da pesquisa os memoriais.

Quando chega o momento desta escrita há um movimento diferente no grupo, surgem

conversas sobre os memoriais, buscam ajuda nos pares, tiram dúvidas com a coordenadora e

com os mestrandos. Certo dia, ouvi de uma professora iniciante que o ato de escrever o

memorial, para ela, é uma terapia, porque ali ela sabe que poderá falar tudo o que sente e precisa.

135

Sabendo da importância desta escrita para o grupo de professores que participa do

Projeto, nesta pesquisa busquei evidenciar nos memorias das professoras experientes o que

narraram, expressaram e que significações deram à formação neste processo da pesquisa, onde

e como os encontros de formação as tocaram, como estão relacionando as discussões, as trocas

de experiências com seu fazer no cotidiano da escola.

O primeiro episódio extraído dos memoriais é da professora Reflexão.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

Hoje meu olhar tem sido direcionado, em como programa OBEDUC tem

contribuído grandemente para que eu possa acolher esses meninos e meninas,

novos professores que chegam tão esperançosos, cheios de sonhos, com

vontade de fazer a diferença. Hoje estou tentando, digo isso porque sei que

ainda demanda muito estudo, e sei, também, que as formações no programa

estarão ampliando meus conhecimentos e terei, na minha ação, uma prática

diferenciada no acolhimento dos professores iniciantes. (Memorial de

formação, Reflexão, dez.2015).

A professora Reflexão comenta que está conseguindo avançar com a sua atividade de

apoio e acompanhamento ao professor iniciante e que observa a grande necessidade de estudar,

refletir para ter outra prática e novos conhecimentos para atuar com os novos professores.

Assim, perguntei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Como o Projeto poderá continuar

ajudando para que o acompanhamento ao iniciante dê certo? Quais temas poderiam ser

abordados nas formações específicas dos professores experientes para melhorar ainda mais sua

atuação? Como o professor experiente deve agir para conseguir estabelecer uma relação de

confiança com o professor iniciante?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

O Projeto tem-nos formado de uma maneira tão sólida que acredito que nunca

mais olharemos para os professores iniciantes como antes. [...] por mais que a

rede municipal tenha começado uma formação para acompanhamento ao

iniciante, eu penso que esta especificidade do OBEDUC em atender as

necessidades formativas dele, em tempo recorde, é o ponto chave. A grandeza

das discussões nos encontros de formação, com profissionais gabaritados, que

discutem conosco. Esta formação procura atender as necessidades de cada

momento, isto é seu diferencial, e agora penso que poderíamos abordar temas

referentes a como ajudar a enfrentar os dilemas, acho que precisamos retomar

136

como fazer as intervenções. Penso que se o professor experiente se colocar

como parceiro, deixar bem claro para ele de sua função, de sua formação, da

necessidade que ele tem de ter um acompanhamento no início da carreira, e,

principalmente, da responsabilidade de todos com a educação, esse processo

de acompanhamento trará grandes resultados. (Memorial de formação,

Reflexão, set.2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao observar o episódio narrativo apresentado verifiquei o quanto a professora Reflexão

tem ampliado sua escrita, ao revisar aquela inicialmente produzida, e, a partir dela, responder

as indagações, que provocaram as reflexões. Esta retomada trouxe elementos que comprovam

o quanto a formação tem lhe possibilitado ver a si mesma no processo da pesquisa.

A professora aborda o diferencial da formação oferecida pelo Projeto, ao relatar que esta

atende a necessidade real do professor. Isso nos lembra que as pautas trabalhadas são sugeridas

pelos professores mediante seus conflitos, curiosidades e desejos de aprender. Observo, ainda,

que, ao narrar sobre a formação, a professora revela conhecimento da sua prática bem como

afirma que tem aprendido cada vez mais nos encontros de formação.

Assim, apoio-me no entendimento dos autores Vaillant e Marcelo (s/d), quando afirmam

que a

[...] formação de professores deve promover uma identidade como pessoa com

a capacidade de aprender, de ser responsável. A capacidade para empreender

incorporada no que tem sido chamado de auto-regulação da aprendizagem,

gerando em um professore um estilo para se envolver na resolução de tarefas,

definir os seus próprios objectivos, elevando suas próprias estratégias para

avaliar o grau de cumprimento de metas, processamento de informações e

encontrar recursos para aprender. (VAILLANT; MARCELO, s/d. p. 10)

É neste sentido que percebo a formação, que acompanhei como partícipe, neste processo

de pesquisa, como um lugar de aprendizado, de reflexão, de trocas entre pares que se

propuseram a aprender sobre sua profissão. São estudados, problematizados e questionados os

desafios das situações reais, possibilitando ao grupo criar novas estratégias para continuar

investindo na sua profissão.

O próximo episódio foi extraído do memorial da professora Constatação, que relata sua

percepção sobre a formação, também no que diz respeito ao seu olhar sobre o professor

iniciante. Narra, também, sobre o acompanhamento que desenvolve junto ao professor

iniciante.

Primeiro movimento: Seleção e Leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

137

Assim, me considero enquanto um destes profissionais experientes, que

também aprende continuamente, a partir dos estudos, das reuniões e

formações do OBEDUC desenvolver uma percepção mais apurada, no que diz

respeito ao trabalho docente do iniciante. (Memorial de formação,

Constatação, mar.2016).

O episódio evidencia a mudança no olhar da professora experiente e aponta que, mesmo

depois de muitos anos de experiência, ela continua aprendendo e está, neste momento, desafiada

a aprender e compreender os dilemas e desafios do professor iniciante. Então, questionei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Você acredita que esta formação tem

conseguido problematizar os desafios do professor experiente? Tem possibilitado o seu

desenvolvimento profissional. Que significado você atribui à formação do OBEDUC?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

Nossa!! Esta formação tem contribuído de forma muito significativa para o

meu fazer de experiente. Compreendo que estamos desenvolvendo, neste

papel, um modo muito diferente de olhar e ver o professor iniciante. Isto tem

sido propiciado nos estudos, na interação entre experientes, iniciantes e os

formadores. O iniciante, antes do OBEDUC, era um professor como todos os

outros, hoje é visto a partir de sua particularidade, para saber seu medos,

desafios e sonhos. (Memorial de formação, Constatação, set.2016/Narrativa

dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Autores como Calil (2012), Marcelo (2006) e Cavaco (1999) afirmam que o início da

carreira é uma fase que precisa ser diferenciada das demais, pois é o período em que o professor

lida com medos, desafios, inseguranças e sonhos. Estes sentimentos estão presentes porque vai

lidar com o desconhecido e, por outro lado, com sonhos e expectativas sobre o que pensa e

idealiza a respeito da profissão. Contudo, sabemos que muitos destes sonhos podem morrer, as

expectativas, serem frustradas, se este professor não contar com a sensibilidade e conhecimento

de quem já conhece a escola.

É neste sentido que a narrativa da professora chamou nossa atenção para a necessidade

de olharmos o professor iniciante com o reconhecimento de suas necessidades. De acordo com

a professora, a formação oferecida pelo Projeto tem-lhe propiciado a sensibilidade para vê-lo a

partir de sua singularidade.

138

De acordo com Vaillant e Marcelo (s/d) o professor não aprende a ensinar na formação

inicial, ele precisa de outros conhecimentos para tornar-se professor, pois:

Aprender a ensinar é um processo que não acaba com a formação inicial, tem

a ver mais com a aprendizagem experiencial, em um processo ativo que com

a imitação e com destrezas. Aprendemos a ser professor quando somos

conscientes do que fazemos e por que fazemos; quando damos razões e

refletimos sobre as origens e consequências de nossas condutas com os

demais. No processo de aprendizagem conta-se também com o individual dos

professores, pois têm suas próprias teorias e crenças fortemente construídas

no período de socialização anterior como estudante. (VAILLANT;

MARCELO, s/d, p. 55).

Assim, a atividade do professor experiente que se coloca como assessor, um apoio ao

professor iniciante, é considerada, por Ureta (2009) e Ochoa (2011), como uma estratégia que

contribui para este continuar na profissão. Sob esta perspectiva, o professor experiente é

compreendido como formador do formador (MIZUKAMI, 2006; MATSUOKA-OLIVEIRA,

2015), é um profissional capaz de formar seus pares numa relação de aprendizagem mútua.

Neste sentido, o professor experiente é um orientador, é conselheiro e deve propor

diferentes estratégias que ajudem o professor iniciante a aprender sua profissão. Assim, seu

trabalho é acompanhar o planejamento, estar aberto a orientar, refletir sobre as situações

apresentadas pelo iniciante, propor estudos que favoreçam a compreensão do que seja o aluno,

ensino, aprendizagem, escola, nunca com a intenção de suprir lacunas da formação inicial, mas,

ao contrário, para promover a reflexão sobre esta prática.

O próximo episódio foi extraído do memorial da professora Girassol e relata a sua

percepção sobre o Projeto e seu contentamento em poder participar deste grupo de pesquisa.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

[...] fui convidada pela profa. Dra. Simone a contribuir como professora

experiente na nossa escola, foi uma honra, aceitei na hora, pois naquele

momento era a parceria que precisávamos para fortalecer a nossa escola,

motivou os demais professores a participar do Projeto. Estamos num grupo de

seis professores iniciantes que demonstram gosto pela formação e

contribuindo com ensino e aprendizagem de cada um. (Memorial de

Formação, Girassol, fev.2015).

Na narrativa da professora, fica evidente que a participação no Projeto OBEDUC se deu

no momento em que a escola precisava fortalecer seu processo de formação. Por ser uma escola

do campo, a mesma fica afastada dos centros urbanos, dificultando o acesso aos cursos de

formação. A escola, em diferentes situações, tem afirmado que a proposta de formação

139

oferecida pelo Centro de Formação não tem contemplado os anseios e necessidades do grupo.

As visitas à escola são esporádicas e o grupo se sente desamparado. Diante desta realidade,

indaguei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Que importância o grupo dá à formação

do OBEDUC? Em quais aspectos esta formação tem contribuído na prática dos professores

iniciantes? Na sua prática de professora experiente, o que mudou a partir da formação? De que

forma sua relação com os iniciantes foi alterada com estudos realizados no OBEDUC?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

Para nós, da Escola do campo, que fica em um assentamento distante da

cidade, o grupo OBEDUC é uma referência em formação continuada, vem ao

encontro das necessidades das escolas, procura sempre ouvir as necessidades

dos professores. Esta proposta de formação é maravilhosa, pois estamos

acostumados com propostas que chegam prontas. Hoje vejo o iniciante com

outro olhar, acreditava que ao chegar na escola o professor estava pronto para

atuar, mas, na prática, ele vai formando dia após dia e o apoio é o experiente.

Tenho ainda alguns desafios a serem vencidos. A minha relação com os

iniciantes ainda não está a desejável, há sempre um medo, um olhar

desconfiado, mesmo com estudos ainda não consegui uma relação de

confiança mútua com todos. (Memorial de Formação, Girassol, dez.

2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao reescrever sua narrativa, a professora Girassol narra o porquê do seu contentamento

com a proposta de formação oferecida pelo Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC, pois é uma

formação, avalia ela, que ouve as necessidades dos professores. Na verdade, escuta suas vozes

e pensa cada encontro de forma a contemplar estes anseios.

Nesta perspectiva, Nóvoa (1999) afirma ser importante que a formação tenha o professor

como centro dos seus programas. Uma proposta que os veja como sujeitos que constroem

teorias a partir das situações reais da prática. Passeggi e Gaspar (2013) também asseguram que

a escuta ao professor tem-se revelado como uma excelente estratégia para pensar a formação e

estabelecer o acompanhamento ao mesmo.

Outro aspecto observado na narrativa da professora é que, mesmo dedicando um olhar

diferenciado ao professor iniciante, o trabalho junto a ele ainda não é o desejável, pois as

140

relações que estabelecem na escola são sempre conflituosas. A tentativa e busca de um trabalho

coletivo ainda requer muitas leituras e saberes do professor experiente.

Conforme Passeggi e Gaspar (2013), o professor experiente é companheiro que anda

lado a lado, aquele com quem se estabelece uma relação horizontal e se divide o pão e o passo.

O outro episódio apresentado é o da professora Aprendiz, narrando sua entrada no

projeto como uma possibilidade de continuar não mais como aluna pesquisadora e sim como

professora pesquisadora. Observemos sua narrativa.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

Após minha defesa, voltei ao campo como coordenadora e diante do fato de

eu desempenhar esta função, fui indicada a ser a professora experiente, quando

então, fui convidada por minha orientadora, coordenadora do OBEDUC, a

permanecer no programa, agora como professora experiente. Fiquei extasiada

com o convite, pois ainda como mestranda bolsista do programa, tive contato,

por meio das reuniões, com várias iniciantes, e por meio de suas narrativas

pude perceber o quanto esse Projeto estaria mudando a realidade desses

professores em início de carreira, pois o mesmo não propõe tão somente

diagnosticar as dificuldades que estes enfrentam no início da profissão, mas

também propor intervenções de todo o grupo para solucionar tais fragilidades.

(Memorial de Formação, Aprendiz, mar.2015).

O episódio narra como foi a travessia da aluna mestranda para professora experiente.

Expressa o sentimento de alegria da professora ao receber o convite. A professora já

demonstrou que conhecia o projeto do PPGEdu/UFMT/OBEDUC e sabia de sua contribuição

não só em diagnosticar os dilemas dos professores iniciantes, mas sobretudo ajudá-los com

apoio e auxílio de um professor experiente. O professor experiente é compreendido no Projeto

como um profissional que, por conhecer a escola, saber lidar de forma mais segura com os

desafios da prática escolar e pode contribuir com o desenvolvimento profissional do professor

iniciante. Neste sentido, questiono no próximo movimento:

Segundo movimento: indagações reflexivas: O que foi para você sair de um mestrado

e assumir o papel de professor experiente junto aos professores que estavam chegando à escola?

Os iniciantes com os quais está trabalhando tem buscado sua ajuda? Quais foram seus maiores

desafios enquanto experiente?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

141

Para mim, participar deste grupo de pesquisa como professora

experiente foi mais um desafio, dos tantos que tem me aparecido

atualmente. Ao defender minha dissertação, muitas perguntas foram

respondidas e outras tantas surgiram, principalmente no que se refere à

formação de professor. Ao terminar o mestrado não queria mais parar

de fazer pesquisa, tomei gosto pela coisa. Então, quando veio o convite,

senti-me útil, pois podia, por meio de minha experiência, diminuir os

impactos da formação de professores do campo, que tanto havia

discutido em minha pesquisa. [...]. Sei que ainda tenho muito o que

construir neste trabalho de acompanhamento, pois nem todos os

professores que acompanho me procuram e me permitem ajudá-los.

Porém, uma das coisas que o OBEDUC tem me ensinado é ver as coisas

por entre linhas, por isso mesmo, posso dizer que mesmo sem buscar

auxílio, a prática destas professoras tem mudado muito em sala de aula.

[...]. Assim que entrei no Projeto, meu maior desafio foi acompanhar as

professoras iniciantes, todas pedagogas, tendo graduação em História,

bacharelado em Administração Pública, especialista em Educação

Ambiental e Mestre em Educação. Porém, os créditos que tive no

mestrado, assim como a formação oferecida no projeto OBEDUC,

foram, ao longo do ano, me preparando para esse acompanhamento.

Precisei também buscar várias leituras, uma vez que não sou pedagoga.

Atualmente meu principal desafio é transpor a barreira criada pela

gestora da escola em relação a minha presença na escola. A gestora

nomeada pelo governo de estado, sente-se ameaçada, uma vez que sabe

que domino mais que ela as políticas para a educação do campo. Me

tornei um incômodo para a diretora, uma vez que cobro dela uma

postura séria para a educação do campo, o que não vem ocorrendo na

escola. Ela já tentou de tudo para me afastar da escola, me mandou tirar

licença médica, me colocou em desvio de função, em sala anexa na

aldeia. Enfim, sou uma profissional que incomodo, e ela tem dificultado

meu acompanhamento as iniciantes. Tá bravo esse ano. (Memorial de

formação, Aprendiz, nov. 2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Quando analisei a reescrita da professora percebi que seus dilemas e desafios no

acompanhamento ao professor iniciante mudaram. No começo, relatava que era sua formação,

ou melhor, por não possuir Pedagogia, encontrava dificuldades em orientar as professoras. No

entanto, conseguiu envolver o grupo em discussões sobre a educação do campo, fizeram vários

trabalhos com os alunos e comunidade, respeitando, assim, o pensamento teórico que

fundamenta esta modalidade de ensino. Agora seus desafios são outros, entre eles, a falta de

apoio e entendimento da gestora da escola a respeito do seu trabalho de acompanhar o professor

em início de carreira.

Os autores estudados, como Ureta (2009), Ochoa (2011), Marcelo (2006), afirmam que

o trabalho de acompanhamento ao professor iniciante precisa ser pensado e gestado por todos

142

da escola. Dito em outras palavras, lançar um olhar diferenciado a esta fase da carreira precisa

ser um projeto da escola e não somente de uma única pessoa, uma vez que o maior objetivo

deste trabalho deve ser criar condições para que o professor iniciante se desenvolva na

profissão.

Conforme Marcelo (2009) e Day (2011) desenvolver-se na profissão é um aprendizado

que acontece na prática e perpassa todos os anos da carreira do professor e conta com

experiências formais e não formais. Desse modo, é importante que o professor iniciante possa

contar com o auxílio de seus pares e gestores, para aprender sobre a sua profissão.

Quando fiz a leitura e análise deste episódio narrativo percebi a não aceitação da gestão

ao trabalho da professora experiente como mais um desafio encontrado pelo Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC em sua proposta de apoio e auxílio ao professor iniciante. Vejo,

então, a necessidade de a coordenação do Projeto entrar em contato com a gestora no sentido

de acompanhar melhor esta situação, evidenciando a importância do experiente nesse processo

de acompanhamento ao iniciante. Contudo, vale salientar que havia boa articulação entre a

coordenação do Projeto, a professora experiente e os iniciantes. O que aconteceu em meados

de 2016 foi a troca de diretor, que, por sua vez, não compreende ainda o projeto. Seria preciso

que a coordenadora visitasse a escola do campo para novas articulações com a gestão. Observa-

se, então, que o Projeto tem enfrentado algumas dificuldades, quando há troca na gestão, o que

requer novas articulações e encaminhamentos com a escola, cujos professores continuam

participando da formação.

Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa, em vários momentos percebi o quanto o

trabalho de acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante, no interior das

escolas, é conflituoso, ora por não ter apoio de membros da equipe gestora, ora pelo

desconhecimento das redes públicas de educação em relação aos dilemas e desafios do

professor iniciante, e, diante disso, a não atribuição de uma carga horária destinada à formação

na escola, ora porque a relação entre iniciantes e experientes está longe de ser a desejável.

Ressalte-se ainda, as condições de trabalho e o regime contratual, contemplando somente a

carga horária de sala de aula e estudos coletivos com o grupo de professores na escola

(especificidade da rede municipal), o que não acontece com a rede estadual, prejudicando os

encontros no cotidiano da prática, entre experientes e iniciantes, tão necessários à formação do

novo professor.

Assim, fica o desafio para a coordenação do Projeto de continuar a motivar tanto o grupo

de professores experientes como também o de iniciantes a insistir neste trabalho, nesta formação

que os ouve e respeita, para que juntos possam superar os desafios apresentados.

143

6.3 Sentidos e repercussões da formação nas reflexões e práticas das professoras

experientes: o que revelam as entrevistas

Com as entrevistas, foram seguidos os mesmos movimentos de análise das significações

dos diários de campo e dos memoriais.

O primeiro episódio a ser apresentado foi extraído da entrevista realizada com a

professora Constatação e narra sobre a formação oferecida pelo Projeto. Questionei se as

temáticas trabalhadas nos encontros estavam contribuindo com seu papel de experiente e o que

deveria ser mudado. Vejamos sua resposta.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

Acho que nós estamos no caminho. Acho que é estudar. De cada um a gente

tira aquilo que é possível fazer, né, isso cabe aqui, isso dá para nós, não é tudo

que gente vai conseguir mesmo, a gente sabe, mas eu penso que estamos no

caminho. É trazer sobre o fazer mesmo do professor experiente, nós

precisamos saber mesmo, qual é mesmo meu papel, porque ir lá, perceber o

problema, tem que te provocar a uma ação, a uma intervenção, perceber e

saber como intervir. Se as leituras derem conta disso, de mostrar para a gente

melhor, o desvelar deste papel do professor experiente, de qual é a função

mesmo, até onde ele pode ir, apurar este olhar, então acho que é o caminho.

(Entrevista, Constatação, mai.2016).

Em sua narrativa, a professora revela um movimento de aprendizagem. Saber aproveitar

o que as formações estão propondo, discutir e saber relacionar com a prática. Assim, percebi

que a professora está investindo na sua carreira, não se sente pronta, pelo contrário, as situações

do dia a dia têm motivado sua busca por novos conhecimentos. Então, perguntei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: O que te motiva, mesmo depois de 23

anos na profissão, a querer estar inserida num grupo de pesquisa? Os temas que vocês

escolheram têm permitido fazer novas intervenções junto ao professor iniciante? Que sentidos

você atribui a essa formação específica ao professor experiente?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida/ narrativa dialogada

Acredito que estamos mesmo no caminho certo, pois a formação tem me

instigado, mesmo depois de muito anos de prática, a continuar indo e

144

participando, porque me ajuda a rever minha prática, gosto de aprender, de me

manter inteirada com as vivências acadêmicas de estudos e pesquisas. A partir

desta formação tenho tido o cuidado de intervir e acompanhar o professor

iniciante com outros olhos. Os temas discutidos têm me ajudado a entender

melhor como se dá o desenvolvimento profissional do professor e o meu

também, isso é riquíssimo, porque, agora, sempre penso se as minhas ações

estão ou não contribuindo para que ele ocorra. (Entrevista, Constatação,

agost.2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

A reescrita da professora mostra expectativa quanto à formação. Segundo ela, é um

processo que ajuda a pensar sobre suas ações no cotidiano da escola e compreender como se dá

o desenvolvimento profissional. Com esta afirmação, ela assevera que, mesmo com muitos anos

de experiência, sempre aprende algo novo. Posso dizer que esta é uma característica dos sujeitos

desta pesquisa: professoras com bastante experiência, que, no entanto, estão sempre em busca

do novo, de desafios que as motivem a investir na sua carreira.

Entendo que isso tem acontecido porque a formação oferecida nos encontros do

OBEDUC partiu e parte das necessidades destes professores experientes, suas expectativas,

conflitos e inseguranças em relação o acompanhamento ao professor iniciante foram

considerados, assim, todas as temáticas trabalhadas procuraram e procuram discutir a prática

destes sujeitos. Autores como Imbernón (2011), Marcelo (2009) e Vaillant e Marcelo (2013)

asseguram que toda formação, para provocar mudanças na prática, precisa considerar o

professor como centro de sua organização. Neste sentido, percebo avanços na formação

oferecida em relação a outras que não discutem com os professores o que gostariam e

precisariam estudar.

Há evidências, na narrativa da professora, de que aconteceram mudanças em sua prática

a partir das significações que faz de cada temática trabalhada. Isto se pode observar pela forma

como ela se propõe a estar junto com o professor iniciante, a necessidade de pensar e estudar a

respeito do seu trabalho enquanto professora experiente. São relatos que mostram esta

transformação.

O próximo episódio foi extraído da entrevista com Reflexão quando perguntada acerca

do que ela precisa para desempenhar o papel de acompanhamento ao iniciante.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

Estudar. Estes textos que o OBEDUC tem oferecido a gente tem reportado a

eles todo o tempo. A minha história, como eu iniciei, e ver isso, eu não gostei.

Então, retomar o diálogo, todo o tempo. (Entrevista, Reflexão, 2016).

145

A narrativa da professora evidencia que o acompanhamento ao professor iniciante tem

desafiado e exigido dela muito estudo, pois percebe que lhe falta aprofundamento sobre o ato

de acompanhar o professor iniciante, revela que o diálogo com seus pares, formadores, e

também com os professores iniciantes é significativo neste processo para que se estabeleça uma

relação de confiança. Então, indaguei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Que impacto tem esta formação em sua

prática? Você percebe uma evolução no seu desenvolvimento profissional a partir desta

formação? Como tem feito para manter viva esta vontade de aprender?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida / narrativa dialogada

De confiança, hoje estou mais segura para discutir muitos assuntos como

sexualidade, construção da identidade do professor com maior segurança,

tenho um embasamento bem melhor. Sim, como disse anteriormente estou

melhor embasada, me sinto mais segura. O compromisso com a educação,

com as crianças e um desejo ardente de ver o mundo melhor, como não sou

ingênua de pensar que vou mudar o mundo, eu penso que se eu contribuir na

formação dessas crianças tenho a oportunidade de ajudar alguém que está no

mundo a ser melhor. (Entrevista, Reflexão, agost. 2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

A narrativa da professora Reflexão confirma o que tem sido elencado nas demais

apresentadas até o momento, de que a formação oferecida pelo Projeto tem possibilitado ao

grupo de professores experientes a chance de se ver como partícipe deste processo de pesquisa.

Ao falar que a formação lhe traz segurança, a professora demonstra o quanto os

conhecimentos sobre a profissão estão ajudando na resolução das situações da prática, seja com

os professores iniciantes ou não. Logo é possível dizer que esta professora está desenvolvendo-

se profissionalmente, mesmo depois de muitos anos de experiência.

Os autores Day (2001), Marcelo (2009) e Vaillant e Marcelo (2013) asseguram que o

desenvolvimento profissional é um processo contínuo que perdura por toda a vida pessoal e

profissional da pessoa.

Ao longo desta pesquisa, percebi que a intenção da formação oferecida pelo Projeto

OBEDUC é a crença em um trabalho centrado na prática do professor, na qual ele se sinta

envolvido e responsável pela sua própria formação. Para Oliveira-Formosinho (2009), a

formação centrada na prática do professor deve partir:

146

[...] do levantamento das suas práticas e das suas necessidades para a

elaboração de um projeto de formação que conduza à melhoria e, portanto, à

modificação dessas mesmas práticas. A percepção do professor sobre as suas

necessidades e as suas preocupações tem muita importância para a

determinação do conteúdo do projeto de formação. (OLIVEIRA-

FORMOSINHO, 2009, p. 270).

Sob esta ótica, estar neste projeto enquanto professora experiente, assumindo a função

de acompanhar o iniciante tem possibilitado à professora se ver na profissão, pois a formação

específica oferecida ao grupo de professores experientes é pensada a partir das necessidades

vivenciadas nas escolas. Conforme Hobold e Menslin (2014), isso:

[...] implica um movimento em via de mão dupla: ao mesmo tempo em que o

professor se constrói na/por meio da docência, ele também pode contribuir

para a transformação dessa docência. Trata-se, portanto, de integrar a

formação de professores em processos de mudança, inovação e

desenvolvimento pessoal e profissional. (HOBOLD; MENSLIN, 2014, p.

499).

Assim, até o presente momento, verifiquei que a formação oferecida pelo Projeto está

contribuindo com as professoras experientes ao provocá-las a refletirem sobre sua prática, seu

fazer no cotidiano da escola e, ainda, as trocas de experiências entre seus pares e com os

formadores tem possibilitado o desenvolvimento profissional do grupo.

O episódio abaixo representa a fala da professora Girassol, que relata algumas

dificuldades enfrentadas neste processo de acompanhamento ao professor iniciante. O

acompanhamento desenvolvido como apoio e assessoramento a este profissional tem

enfrentado alguns desafios oriundos das condições de trabalho. Vejamos o que manifesta a

professora:

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora

[...] assim, este ano isso se tornou mais complicado, porque, se ano passado a

gente já teve dificuldades em relação ao tempo para organizar, para estudar,

este ano está pior ainda, porque está todo mundo sobrecarregado e não está

tendo tempo suficiente. A perspectiva de que este ano de 2016 a gente iria

fazer um planejamento melhor, ter pelo menos por semana uma ou duas horas

para o grupo sentar e estudar o que já vem sendo proposto. [...] porque estou

no período matutino, então as meninas iniciantes do período matutino, a gente

tem liberdade, tudo que acontece eu estou ali junto, mas do período da tarde,

que tem professores iniciantes do fundamental do 6º ao Ensino Médio, ficou

difícil acompanhar. (Entrevista, Girassol, maio, 2016).

147

Ao ler este episódio, percebi que o acompanhamento ao professor iniciante ainda não é

uma atividade estabelecida na escola. Na maioria das vezes ele acontece em conversas

informais nos corredores e portas de sala de aula. O grupo, devido aos afazeres do dia a dia,

ainda não conseguiu reservar espaço e tempo para dialogar, considerando que o professor

iniciante está presente na maioria das escolas. Então perguntei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Como você tem se organizado para

atender o iniciante? Somente os atendimentos que ocorrem nos corredores são suficientes para

ajudar o professor não desistir da carreira? Você acredita que mesmo com este atendimento

precário os professores evoluíram em suas práticas?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida / narrativa dialogada

Tudo este ano ficou mais complicado. Tento me organizar ficando uma vez

por semana à disposição e, todos os dias, no meu período, tenho contribuído

com que é possível fazer. Sinto que as professoras que atuam no período

oposto ao meu não se sentem acolhidas e ajudadas por mim, ainda não

consegui vencer esta barreira. Bem, acredito que atendimento na hora da

necessidade é bem-vindo, desde que o iniciante queira melhorar e buscar

soluções, contudo, sei que é insuficiente, mas como já disse anteriormente,

este ano não temos espaço para estudos em outros horários que não sejam os

momentos de planejamentos e na sala do educador, pois vivemos uma

realidade muito diferente das escolas urbanas, aqui na escola do campo

assumimos outras disciplinas para complementar carga horária, outras vezes,

porque não temos professores para aquelas disciplinas. No meu caso mesmo,

sou pedagoga, mas assumi para além da minha carga as aulas de Filosofia no

Ensino Médio. Então, não tenho tempo para atendimento em outros horários

que não sejam do planejamento e estudos coletivos na sala do educador. Mas

mesmo assim, não fazendo o desejável, percebo que os professores iniciantes

evoluíram muito em suas práticas, propõem novas situações de aprendizagem,

mostram-se mais motivadas com aulas e acabam envolvendo os alunos em

projetos que despertam a curiosidade deles e geram aprendizagens.

(Entrevista, Girassol, dez. 2016/Narrativa dialogada).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao observar a narrativa da professora, percebe-se que mesmo com a formação oferecida

aos professores iniciantes e experientes as barreiras encontradas e vivenciadas na prática ainda

são dilemas e desafios que precisam ser rompidos pelo grupo, pois o mesmo conta com uma

carreira que não lhes possibilita condições de estudo, pelo contrário, a carga horária que o

148

professor trabalha, mais as disciplinas além desta carga, que ele assume por estar em uma escola

do campo, não tem possibilitado que a professora experiente desenvolva o acompanhamento.

Assim, evidencia-se que os momentos de estudos entre iniciantes e experientes ficaram

impossibilitados devido às condições e à intensificação do trabalho no interior da escola. O

grupo ainda não conseguiu estabelecer momentos de estudos específicos para iniciantes e

experientes. Percebe-se, igualmente, na narrativa da professora, que a relação entre o grupo

ainda não chegou ao desejável, pois existem alguns professores iniciantes que não a procuram

e, desse modo, não podem estar juntos para discutir os problemas a serem enfrentados.

Autores como Passeggi e Câmara (2013) e Ochoa (2011) afirmam que o clima

organizacional, a confiança entre os pares, são fatores essenciais para que a atividade de

acompanhamento aconteça. Destacam, ainda, o papel do professor experiente como

companheiro, se colocando como parceiro, dividindo com eles seus não saberes e propondo

novas questões e estudos, estratégias que contribuem significativamente para o alcance de um

trabalho coletivo.

Desse modo, evidencia-se a importância de o professor experiente se colocar em

movimento de busca de ajuda ao professor iniciante, é este profissional, que possui maior

experiência, que precisa, segundo a literatura estudada, convocar seus pares às discussões

necessárias, uma vez que os professores iniciantes sentem-se inseguros e com medo de

revelarem suas fragilidades em lidar com a sala, selecionar atividades, gerir problemas com

indisciplina e com as famílias. Observa-se, aí, mais uma das dificuldades de desenvolvimento

de operacionalização do acompanhamento nas escolas. Tal impedimento se dá pela carga

horária atribuída e assumida pelo professor, para além de sua habilitação, exigindo-lhe estudar

para poder planejar e ensinar sobre algo nunca antes estudado. Diante dessa situação a atividade

de acompanhamento vê-se prejudicada. Espera, a coordenação do Projeto, que em 2017 esta

situação se modifique com novas contratações.

A próxima narrativa foi extraída da entrevista da professora Aprendiz. No primeiro

recorte, a professora fala que a experiência que possui com educação do campo foi uma das

características consideradas para que ela se tornasse professora experiente do grupo OBEDUC.

Ao ser solicitado para reescrever sua narrativa, apresentou outros elementos que nos permitiram

outras reflexões. Vejamos a narrativa da professora.

Primeiro movimento: seleção e leitura do episódio narrativo pela pesquisadora Então, o que me é requerido para ser experiente é eu pegar toda esta

experiência que eu tenho, né, todo este conhecimento que tenho sobre os

desafios e sucessos do campo, e usar toda minha experiência como educadora

149

do campo, para tentar, junto com meus iniciantes, seja no corpo a corpo, seja

através das formações que a gente recebe lá na universidade, construir um

saber sobre a educação do campo junto com eles, criar caminhos,

metodologias, né. (Entrevista, Aprendiz, nov. 2016).

No episódio, a professora narra que ser experiente é saber lidar com seus conhecimentos

para construir com os professores iniciantes possibilidades de melhoria para a educação, no seu

caso, educação do campo. A partir de então, perguntei:

Segundo movimento: indagações reflexivas: Como tem sido a relação entre você e

seus iniciantes? Vocês têm conseguido avançar no sentido de um trabalho coletivo? O grupo

tem conseguido pensar em alternativas para a melhoria de práticas na educação do campo?

Terceiro movimento: processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida / narrativa dialogada

A experiência com educação do campo me daria um bom suporte para atuar

com as iniciantes, contudo, como já disse em vários outros momentos, este

ano o trabalho com os iniciantes se resumiu somente em levá-los às

formações, ano passado, apesar de todo correria da coordenação, foi bem mais

rentável. Reuníamo-nos toda segunda feira, estudamos os textos indicados

pelo CEFAPRO, mas também vários textos sobre Educação do Campo, os

professores deram aulas de campo, uma prática bem comum na nossa

modalidade educacional. Porém, esse ano consegui reunir com as iniciantes

umas três vezes, apesar de sempre estar na escola, para propor alguns estudos

e projetos, propus à coordenação da escola, que é uma das iniciantes, para

termos uma formação só com as iniciantes, pelo menos uma vez no mês, mas,

ao levar até a direção, a gestora não aceitou. Como já disse em outra ocasião,

ela me queria o mais longe possível. (Entrevista, Aprendiz, dez.

2016/Narrativa dialogada, 2016).

Quarto movimento: análise e interpretação dos dados pela pesquisadora

Ao analisar as narrativas da professora, percebo que, na primeira, ela fala da sua

experiência com educação do campo como fator positivo para auxiliar e apoiar as professoras

iniciantes que estavam chegando à escola e outras que moravam na comunidade, mas estavam

assumindo a docência pela primeira vez. No momento que refletiu sobre sua primeira escrita,

notei que a professora apresentou novos problemas que contribuíram para que o trabalho de

acompanhamento ao grupo de iniciantes não desse tão certo como havia pensado.

A professora Aprendiz narra que, no primeiro ano do Projeto na escola, ela estivera no

papel de coordenadora e, portanto, o trabalho fora significativo. Conseguiram estudar, discutir

sobre as políticas de atendimento à educação do campo e também os conflitos do professor

150

iniciante. Segundo a professora, atualmente o trabalho que ela desenvolve junto ao professor

iniciante está ficando comprometido devido a alguns fatores, entre eles, a falta de apoio da

diretora da escola. Apresenta-se aí uma dificuldade no desenvolvimento do Projeto a contento.

Ao observar a narrativa da professora percebi que quando ela estava na função de

coordenadora pedagógica o trabalho de acompanhar os professores iniciantes estava mais

fortalecido entre os seus pares, pois na nossa realidade o coordenador pedagógico assume a

tarefa de formar os professores no contexto da escola, este fato é reafirmado por Placco e

Almeida (2011) ao assegurarem que o coordenador tem dentro da escola uma função

articuladora, formadora e transformadora.

De acordo com a literatura estudada, é necessário haver, na escola, o apoio da equipe

gestora e demais funcionários para garantir que o professor iniciante tenha apoio e auxílio para

superar seus dilemas e fragilidades. Ajudar este professor a converter os seus dilemas em

desafios é uma atitude fundamental do professor experiente, pois, ao provocá-lo a pensar sobre

sua prática, o experiente vai contribuir para o seu desenvolvimento profissional. Marcelo (2006)

afirma ser importante o professor aprender a refletir sobre sua prática, pois:

Um enfoque de instrução metacognitivo pode ajudar os professores aprender

a tomar controle sobre sua própria aprendizagem, proporcionando ferramentas

para analisar sucessos e situações que permitem compreender e melhorar

situações complexas da vida e da aula. (MARCELO, 2006, p. 11).

Portanto, o trabalho do professor experiente só terá a qualidade desejável se houver na

escola o apoio de todos os demais funcionários, de modo que o professor iniciante sinta-se

acolhido pelos seus colegas de trabalho, tendo segurança para aprender sobre sua profissão.

Autores como Mizukami (2006) e Marcelo (2008) afirmam que a aprendizagem da docência se

dá na prática.

A leitura dessas narrativas revela que o trabalho de acompanhamento ao professor

iniciante está ficando prejudicado em algumas unidades de ensino, ora porque o próprio

iniciante ainda não o compreendeu como apoio e auxílio e não o procura , ora porque o

experiente tem assumido muitas funções na coordenação da escola e não tem conseguido

atendê-lo, ora porque a equipe gestora, sobretudo os diretores, por não acompanhar o grupo nos

momentos de estudos no OBEDUC, desconhecem as reais necessidades dos professores

iniciantes e criam situações e entraves para impedir o trabalho do experiente.

As narrativas apresentadas neste capítulo descortinaram a importância do trabalho

desenvolvido pelo Projeto PPGEdu/UFMT/OBEDUC para a constituição das identidades

151

destas professoras e, concomitantemente, para o seu desenvolvimento profissional. No final

desta pesquisa, me sinto tão envolvida neste Projeto, tendo a certeza que minha identidade já

se fez e refez várias vezes, neste processo a que estive submetida nos últimos dois anos. Assim,

no próximo capítulo evidencio algumas considerações possíveis a respeito deste percurso e

quais suas contribuições para crescimento pessoal e profissional dos sujeitos envolvidos na

pesquisa.

152

7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES POSSÌVEIS

Ao escrever este último capítulo, sou uma mistura de sentimentos. O mais forte de todos

é de que sou um ser inconcluso, ainda engatinhando. Tenho a impressão que deveria iniciar

tudo novamente, partindo das minhas certezas e trabalhando minhas incertezas, agora de forma

mais consistente, madura e aprofundada teoricamente.

No decorrer destes dois anos, o mestrado me proporcionou vários momentos que me

fizeram pensar sobre minha vida pessoal e profissional, o que lapidou meu entendimento sobre

homem, sociedade, educação, ensino, aprendizagem, professor e aluno. Hoje, compreendo,

mais do que antes, que este processo de pesquisa é algo que precisa ser corporificado em nossas

ações cotidianas, para que possamos fazer de nossa escola ou sala de aula um laboratório de

investigação da prática e para a prática.

A pesquisa aqui apresentada constituiu-se em uma investigação qualitativa, que

aconteceu a partir do segundo semestre de 2015 até o final de 2016, com foco no

desenvolvimento profissional do professor experiente participante do projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC, dando ênfase às vivências narradas nos memoriais de formação,

nos diários de campo e nas entrevistas, no intuito de perceber os movimentos e trajetórias dos

sujeitos no processo de formação oferecido pelo OBEDUC/UFMT e, também, na prática de

acompanhamento ao professor iniciante e como contribuíram para o desenvolvimento

profissional de cada um.

Buscou-se trabalhar os episódios narrativos a partir de quatro movimentos, com intuito

de mostrar como foram sendo constituídas as narrativas dialogadas entre sujeitos e

pesquisadoras, sem perder de vista o olhar multifocal, de forma a compreender as significações

dos professores a respeito do desenvolvimento profissional, que se deu em diferentes

momentos, sendo o primeiro referente às percepções dos professores experientes a respeito da

formação recebida no Projeto; o segundo, se deu ao compreender a mudança de olhar destes

profissionais a respeito do professor iniciante; e um terceiro momento foi relativo ao trabalho

de acompanhamento do professor experiente ao professor iniciante. Para tanto, apoiei-me em

narrativas dos professores sobre os sentidos de sua formação.

Na trajetória da análise dos dados coletados foi se configurando a necessidade de se

criar movimentos que evidenciassem o processo reflexão/desconstrução/reconstrução das

narrativas dos sujeitos. Tais movimentos consistiram em: primeiramente, seleção e leitura do

episódio narrativo pela pesquisadora; no segundo momento, as indagações reflexivas da

pesquisadora com objetivo de estimular a reflexão dos sujeitos sobre sua escrita; o terceiro

153

movimento se configurou no processo reflexivo após as indagações a partir dos primeiros

sentidos dados pelos sujeitos sobre a formação recebida / narrativa dialogada e, por último,

a análise e interpretação dos dados pela pesquisadora. Este procedimento trouxe um novo

olhar sobre os dados, revelando com maior fidedignidade a trajetória de formação dos

professores com as reflexões em forma de narrativas dialogadas. Conforme Costa (2011) e

Clandinny e Connelly (2011) o trabalho com as narrativas permite aos sujeitos, envolvidos na

pesquisa, se sentirem atores e autores de suas escritas, tornando-os autônomos e responsáveis

pelas suas autorias.

Esta metodologia muito contribuiu para que as narrativas dos professores não fossem

escritas cristalizadas, enrijecidas, mas sim vivas, pulsantes, revisitadas, revividas, reelaboradas

conforme eram instigadas. Essa forma de caminhar na análise dos dados, que não foi pensada,

mas aconteceu como uma necessidade na trajetória do projeto, foi prodigiosa para apontar os

sentidos atribuídos pelos professores experientes ao seu desenvolvimento profissional. Pode-se

então afirmar, que foi uma criação da pesquisadora e orientadora esta forma de proceder as

análises, que deram forma interessante, destacando os dados em uma análise a quatro

movimentos.

A opção por trabalhar com as narrativas se deu a partir do momento que conheci um

pouco mais sobre a pesquisa (auto)biográfica na abordagem qualitativa, que propõe romper-

se com as relações autoritárias entre pesquisador e pesquisado. Não me sentia a vontade de ir

até as escolas simplesmente coletar/retirar dados. Então, ao conhecer um pouco mais sobre o

grupo InvestigAção, e em diversas conversas com a orientadora, percebi que caminharíamos na

perspectiva de coletar e conversar com os sujeitos sobre os dados, em uma relação dialógica,

em que o conflito está mais presente, mas também é fator de motivação para a interlocução, o

diálogo e as interações entre os sujeitos.

Os motivos que mobilizaram este estudo têm origem pessoal e profissional,

considerando que sou pedagoga e tenho, ao longo da minha carreira, assumido a função de

coordenadora pedagógica e, enquanto pesquisadora, senti-me motivada a estudar um pouco

mais sobre o trabalho de acompanhar os professores que chegam à escola, embora, pela

literatura estudada, este trabalho não seja atribuição somente do coordenador.

Todavia, por outro lado observo que no Projeto PPGEdu/OBEDUC/UFMT ele tem sido

assumido por coordenadores pedagógicos. Assim, com o olhar de quem passa por dentro deste

processo, vivendo no entremeio de histórias – minhas e das colegas coordenadoras, também

professoras experientes investigadas – investi nesta pesquisa que teve como finalidade

compreender o desenvolvimento profissional destas professoras experientes neste processo de

154

acompanhamento ao professor iniciante. Então, vivenciar junto com estas professoras mais um

desafio na carreira, após tantos anos de experiência, tornou-se a inspiração deste trabalho.

Os estudos empreendidos a respeito do professor experiente trouxeram-nos dados

reveladores de um profissional pouco assistido pelas propostas de formação continuada

implementadas pelos órgãos responsáveis pela educação. Por outro lado, nos fizeram

compreendê-lo como um profissional que atua na escola por pelo menos uma década, porém

essa mera quantificação cronológica não é suficiente para defini-lo como experiente. Para além

dos anos de atuação, o professor experiente deve ser aquele que se destaca em seu meio como

um profissional questionador, inconformado, que discute com seus pares, problematizando as

situações reais de sua prática.

Nesta pesquisa, quatro professoras experientes, que estão acompanhando, nas suas

escolas, os professores iniciantes, foram os sujeitos da pesquisa, fonte dos dados coletados. Ao

finalizarmos a análise dos dados, reconhecemos que as professoras experientes têm lutado

contra todos os obstáculos para permanecerem engajadas no Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC. Foram inúmeras as situações surgidas que poderiam ter

contribuído para a desistência do grupo, no entanto, decidiram que seriam pesquisadoras, que

suas práticas deveriam ser questionadas a partir dos estudos realizados para torná-las melhores,

dado este que considero relevante.

Ao finalizarmos a leitura e análise dos dados percebi que, ao longo destes últimos dois

anos, o entendimento das professoras a respeito do professor iniciante foi mudando. Hoje,

conforme algumas narrativas, a realidade nas escolas inseridas no Projeto é outra, há sempre

uma disposição para saber quais as necessidades do professor iniciante. Algumas unidades

conseguem, já por ocasião da semana pedagógica, olhar para estes professores, discutir com o

coletivo da escola sobre os dilemas do início da carreira, que, conforme pesquisas, são inúmeros

e diversificados.

Ao observar as narrativas das professoras experientes, constatei que este trabalho lhes

foi desafiador, pois saber como intervir sem provocar desistências, organizar espaços-tempo de

estudo, conquistar a confiança dos professores iniciantes exigiu que buscassem, junto à

coordenação do Projeto, uma formação própria para o grupo. Assim, a participação nos

encontros de formação, tanto coletivos, como específicos, foi constituindo um espaço de

construção de novos saberes para o grupo de experientes.

Desse modo, verificou-se nos episódios que a formação permitiu alterações nas práticas

destas professoras experientes. As intervenções no planejamento estão sendo mais cuidadosas,

de modo que retomam várias vezes as informações prestadas para certificarem-se de que o

155

professor iniciante as compreendeu. A metodologia adotada nas reuniões de formação, com a

inclusão da autoscopia, com os vídeos, foi um ponto de destaque, porque possibilitou aos

professores experientes questionarem-se sobre suas atuações diante dos problemas

apresentados. As discussões no grupo de pesquisa, sobre o papel da vídeo-gravação como

instrumento de registro essencial para detalhar aspectos de uma rotina provocou os experientes

a discutirem cada nuance com o próprio professor, para, juntos, pensarem em intervenções que

atendessem as necessidades de suas realidades.

Neste sentido, é possível dizer que os significados que estas professoras deram à

formação oferecida pelo Projeto é valioso. É um trabalho que lhes permitiu construir e

descontruir práticas, a partir de estratégias metodológicas que as colocavam como sujeitos

ativos de suas práticas, avançando no sentido de acolher, acompanhar e assessorar o professor

em início de carreira.

Por outro lado, tivemos também registros de que o trabalho de acompanhar não chegou ao

desejável, e que houve dificuldades na operacionalização do Projeto. Neste sentido a

pesquisa apontou como desafios a serem superados pelo professor experiente:

Tempo para estudos no interior da escola – intensificação do trabalho do coordenador

pedagógico.

Espaço e tempo para atender o iniciante na sua especificidade.

Formação teórica para fazer as intervenções pedagógicas necessárias junto ao

professor iniciante.

Construção de relação de confiança entre professor experiente e professores

iniciantes.

Envolvimento da equipe gestora no trabalho de acompanhamento ao professor

iniciante

Para as professoras experientes, o grande diferencial do Projeto

PPGEdu/UFMT/OBEDUC é atender as necessidades contingenciais. De acordo com os sujeitos

desta pesquisa, isso enriqueceu o Projeto de tal modo, a formação é tão sólida, que elas foram

se constituindo neste processo e desenvolvendo-se profissionalmente. Outro aspecto destacado

são os formadores que estiveram à frente dos diferentes encontros, na sua maioria, professores

da UFMT, com muita experiência na educação, e demais professores das redes municipal e

estadual de ensino, também com destaque nas temáticas que discutiram e muito contribuíram

para o andamento satisfatório do Projeto. Isto fez com que o OBEDUC/UFMT se configurasse

como um projeto de parcerias.

156

Entendo que o trabalho de acompanhar o professor iniciante, empreendido por estas

professoras, ainda não é o desejável, pois elas enfrentaram muitos desafios para responder a

mais uma atividade somada a tantas outras do seu cotidiano docente. A intensificação de

trabalho, as muitas exigências das secretarias, a falta de uma carreira que garanta condições ao

professor contratado de participar de reuniões pedagógicas, foram fatores considerados por esta

pesquisa como contribuintes para a não efetivação de um trabalho mais próximo do professor

iniciante.

No decorrer da pesquisa, as professoras experientes mostraram-se motivadas ao novo

desafio, refletindo sobre suas práticas e problematizando situações reais do acompanhamento

ao professor iniciante, discutindo-as nos encontros de formação. Concordo, também, que a

formação oferecida ao grupo de professores experientes tem propiciado o seu próprio

desenvolvimento profissional, pois estão ressignificando e construindo novos saberes. Desse

modo, percebo a importância de os professores experientes participarem deste Projeto de

pesquisa, como sujeitos autônomos e responsáveis pela sua própria formação, pois o

conhecimento partilhado tem lhes propiciado a melhoria de suas ações, consequentemente, a

melhoria da escola e do ensino.

No entanto, não somos ingênuos a ponto de pensar que um trabalho desta natureza não

enfrentou desafios, ou que estes foram poucos. Na verdade, a atividade desenvolvida por estas

professoras em suas unidades de ensino tem apresentado muitos entraves, desde a aceitação do

professor iniciante ao Projeto até o envolvimento da gestão da escola.

No entanto, a coordenação do Projeto foi adotando estratégias de valorização aos

experientes, de forma a resgatar depoimentos em outros momentos, os próprios experientes

foram convidados a trabalhar a formação com os iniciantes, o que, no meu entendimento, a

coordenação assim fazia para permitir àqueles professores mais tímidos conhecer o quanto o

este profissional poderia lhe ajudar.

Assim, caminho para as palavras finais deste trabalho, mas antes, porém, preciso

registrar que motivar, fomentar, incentivar este grupo de professores experientes tem requerido

das coordenadoras da pesquisa muita dedicação, muito envolvimento com a pesquisa. Tem

exigido destas profissionais pensar cada encontro de forma específica, ajustando os temas de

forma a atendê-los em suas reivindicações. Assim, temas, autores e textos foram selecionados

de forma conjunta, o que permitiu a cada membro do grupo sentir-se partícipe de sua formação,

contribuindo para que os encontros nunca se tornassem rotineiros e desinteressantes. A própria

equipe do Projeto, em alguns encontros, era a formadora.

157

Outra estratégia que as coordenadoras usaram para o envolvimento dos integrantes deste

grupo na pesquisa era o contato semanal, por e-mail, redes sociais, Facebook, de forma que o

grupo permanecia em sintonia todo o tempo, cada um tendo liberdade de buscar ajuda a

qualquer momento em que se sentia desafiado quando estava na escola. Assim, as trocas entre

os professores experientes, mestrandos e coordenadoras da pesquisa foram tecendo uma rede

de compromissos e responsabilidades de um para com outro, no sentido de busca permanente

na superação dos desafios de forma coletiva e compartilhada.

Estar no trajeto entre aluna e pesquisadora do mestrado me possibilitou misturar com as

histórias dos colegas e professores, que contribuíram significativamente com o meu

desenvolvimento profissional. Os estudos realizados e os trabalhos apresentados me

possibilitaram aprender mais sobre a pesquisa e minha profissão e, da mesma forma, aprender

mais de mim enquanto pessoa.

Finalizo dizendo que desenvolver esta pesquisa enriqueceu o meu saber-fazer de

professora, de coordenadora pedagógica e, ainda, de professora pesquisadora. Foram desafios

que me motivaram a buscar novas leituras em um movimento de ação/desconstrução/construção

do meu eu pessoal e profissional. Ser partícipe do grupo OBEDUC, para além das aulas do

mestrado, me permitiu viver e experienciar o mundo da pesquisa de forma palpável, as leituras,

os textos, as discussões nos grupos de estudos, as participações em diferentes eventos e as

contribuições dos diferentes professores que estiveram conosco neste período de dois anos,

transformaram-me na professora que sou. Nesse processo, não só as professoras experientes,

mas eu também pude constatar estar em processo de desenvolvimento profissional, ao

acompanhar a formação desenvolvida pelo projeto do PPGEDU/UFMT/OBEDUC.

158

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