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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS O PAPEL DAS GONADOTROFINAS HIPOFISÁRIAS NO CICLO ESTRAL EQUINO Kele Amaral Alves Orientadora: Profª Dra. Maria Lúcia Gambarini Goiânia 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS

O PAPEL DAS GONADOTROFINAS HIPOFISÁRIAS NO CICLO

ESTRAL EQUINO

Kele Amaral Alves

Orientadora: Profª Dra. Maria Lúcia Gambarini

Goiânia

2011

ii

KELE AMARAL ALVES

O PAPEL DAS GONADOTROFINAS HIPOFISÁRIAS NO CICLO

ESTRAL EQUINO

Seminário apresentado junto à

Disciplina Seminários Aplicados do

Programa de Pós-Graduação em

Ciência Animal da Escola de Veterinária

da Universidade Federal de Goiás

Nível: Doutorado

Área de Concentração: Produção Animal

Linha de pesquisa: Biotecnologia e eficiência reprodutiva animal

Orientadora Profª. Dra. Maria Lúcia Gambarini – UFG Comitê de Orientação Prof. Dr. José Octavio Jacomini – UFU Prof. Dr. Benedito Dias de O. Filho – UFG

GOIÂNIA

2011

iii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 01

2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 03

2.1 Composição e Mecanismos de Produção ................................................. 03

2.2 Mecanismos de ação................................................................................. 06

2.3 Mecanismos de Regulação e Controle...................................................... 10

2.4 Contribuição Biotecnológica....................................................................... 12

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………….. 14

REFERÊNCIAS ........................................................…………………………... 15

iv

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Concentração plasmática de melatonina de acordo com o

período do dia, evidenciando o pico de produção no período noturno. .......... 03

FIGURA 2 – Ilustração anatômica dos vasos portais entre hipotálamo e

hipófise anterior e associação entre células neurossecretoras do

hipotálamo, células endócrinas da hipófise, hormônios liberadores e

inibidores do hipotálamo e hormônios da hipófise. ......................................... 04

FIGURA 3 - Foto hemisfério cerebral equino, comprovando a ligação entre

hipotálamo e hipófise.......................................................................................... 05

FIGURA 4 - Microfotografias das zonas de projeções citoplasmáticas em

folículo ovariano .............................................................................................. 07

FIGURA 5 - Ilustração dos aspectos das concentrações hormonais durante

o desvio usando um modelo de dois folículos................................................. 09

FIGURA 6 - Folículo pré-ovulatório equino. O colchete evidencia o ápice

folicular com a parede delgada. As setas brancas demonstram a parede

espessa fora do ápice...................................................................................... 10

FIGURA 7 - Imagens ultrassonográficas de folículos equinos dominantes

com Doppler colorido, demonstrando a vascularização de folículos

dominantes equinos......................................................................................... 12

v

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Número de ovócitos equinos maturados in vitro por 24 horas com gonadotrofinas de origem suína, classificados de acordo com o estágio de maturação nuclear...................................................................................... 13

1. INTRODUÇÃO

A espécie equina acompanha o histórico evolutivo da humanidade

mesmo não tendo a produção de alimentos como característica principal de sua

criação. Entre as espécies domésticas de grande porte os cavalos são os únicos

que podem ser considerados animais de companhia na cultura ocidental.

Os aspectos relacionados a equideocultura revelam diversas

particularidades da espécie, desde nutricionais, cicatriciais, comportamentais e

reprodutivos sendo que este último tem desempenho ínfimo quando se trata de

produtividade, rendendo o título de menor fertilidade entre as espécies

domésticas para as éguas. Esta informação ressalta a necessidade de melhor

entendimento de todos os fatores envolvidos com a fisiologia reprodutiva desta

espécie.

Estas fêmeas são poliéstricas estacionais e exibem atividade ovariana

máxima durante a primavera e verão. Nos meses de inverno, essa atividade é

reduzida e conhecida como anestro sazonal (HANS, 1986). A causa determinante

deste comportamento é a duração do período luz/dia, mas outros fatores como

nutrição, temperatura e estado sanitário também podem alterar os padrões de

ciclicidade (ANDRADE, 1986). Em resposta ao aumento da luminosidade diária,

ocorre o início da estação ovulatória nas éguas, pois receptores presentes no

nervo óptico estão ligados ao hipotálamo que estimula a glândula hipófise e

executa modificações na secreção de gonadotrofinas hipofisárias (hormônio

folículo estimulante e hormônio luteinizante) as quais estimularão os ovários

(GINTHER, 1992).

PALMER & JOUSSET (1975), descreveram o ciclo estral da égua com

duração média 21 dias, sendo 14 dias de diestro (fase luteal) e sete dias de estro

(fase folicular). Porém, devido a duração da fase folicular (dois a 15 dias), existe

grande variação entre os ciclos, mais longos durante o período transicional de

primavera e mais curtos no final da estação ovulatória (GINTHER, 1974). O efeito

de altos níveis de estrógeno sistêmico associados com o desenvolvimento dos

folículos determina o comportamento característico do cio na fase folicular. Por

outro lado, o comportamento de diestro é atribuído aos altos níveis sistêmicos de

2

progesterona associados com o desenvolvimento do corpo lúteo, caracterizando a

fase luteal (BERGFELT, 2000).

O processo contínuo de crescimento e regressão folicular nos ovários

dos mamíferos é denominado dinâmica folicular, que ocorre em forma de ondas

foliculares sincronizadas, recrutando grupos de folículos sensíveis ao hormônio

folículo estimulante (FSH), seguido pela seleção do folículo dominante em

detrimento dos demais que entram no processo de atresia. O folículo dominante

normalmente continua crescendo e secreta elevada quantidade de estrógeno e

quando sensibilizado pelo padrão de liberação do hormônio luteinizante (LH)

responde ao estímulo ovulatório (DRIANCOURT, 2001).

Os fatores intrafoliculares, tais como fatores de crescimento, peptídeos,

receptores de gonadotrofinas, fatores angiogênicos e esteróides, determinam o

controle do desvio folicular. As gonadotrofinas produzidas na hipófise exercem

ações fundamentais na vida reprodutiva das éguas, seja estimulando o

crescimento folicular (FSH) ou a ovulação (LH) (KOHEK & LATRONICO, 2001).

O sucesso da manipulação do ciclo estral e a implementação de

biotecnologias reprodutivas dependem do esclarecimento dos mecanismos de

desenvolvimento folicular, assim como da seleção do folículo dominante, com o

intuito de propiciar a multiplicação de indivíduos zootecnicamente superiores.

Este seminário revisou os trabalhos sobre mecanismos de produção,

liberação, ação e utilização das gonadotrofinas hipofisárias relacionados

diretamente com o ciclo ovariano na espécie equina.

3

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Composição e Mecanismos de Produção

O ciclo anual previsto de alteração na duração dos dias (fotoperíodo) é

o principal sinal de adaptação estacional, e permite que os organismos

expressem respostas adaptativas em antecipação a mudanças ambientais

favoráveis. Nos mamíferos a informação fotoperiódica está relacionada com a

secreção do hormônio melatonina pela glândula pineal, o qual tem pico produtivo

no período noturno (Figura 1) e atua no sistema neuroendócrino, produzindo

mudanças na endocrinologia, anatomia e fisiologia, afetando o comportamento, o

balanço energético e o sistema reprodutivo (MORGAN & HAZLERIGG, 2008).

Figura1- Concentração plasmática de melatonina de acordo com o período do dia,

evidenciando o pico de produção no período noturno.

Fonte: ARENDT (1988).

4

O solstício de verão traz dias com incidência luminosa maior, a qual, na

espécie equina, incide pela rotina ocular, estimula seus receptores, conectando

com a glândula pineal e inibindo a síntese do hormônio melatonina, o que

funciona como estímulo positivo das atividades hipotalâmicas (HAFEZ et al.,

1995). O hipotálamo é o órgão responsável por converter os sinais neurológicos

originados em estímulos externos e internos em descargas hormonais, e um de

seus produtos é o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas hipofisárias)

composto peptídico com 10 aminoácidos (GIGLI et al., 2006). O GnRH é

armazenado na eminência média até que ocorra uma despolarização neuronal e o

hormônio entre nos capilares fenestrados e chegue a hipófise via vasos do

sistema portal (Figura 2) (HART et al., 1984).

Figura 2- Ilustração anatômica dos vasos portais entre hipotálamo e hipófise

anterior e associação entre células neurossecretoras do hipotálamo, células

endócrinas da hipófise, hormônios liberadores e inibidores do hipotálamo e

hormônios da hipófise.

Fonte: http://wwwmomalu.blogspot.com/

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A ligação entre hipotálamo hipófise, demonstrada na figura 3, tem

papel importante por permitir que quantidades mínimas de hormônios exerçam

ações diretamente nas células da hipófise anterior, antes de se diluírem na

circulação sistêmica (SENGER, 2003)

Figura 3- Foto hemisfério cerebral equino, comprovando a ligação entre

hipotálamo e hipófise.

Fonte:Departamento de Anatomia Animal, Faculdade de Zootecnia de

Uberaba

As células endócrinas da hipófise anterior recebem o estímulo dos

receptores de GnRH e iniciam a produção das gonadotrofinas hipofisárias FSH

(hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante), que são compostos

glicoprotéicos com mesmo peso molecular e com duas subunidades diferenciais,

designadas como α e β. A subunidade α é específica de cada espécie e é

essencialmente igual em todos os hormônios hipofisários. Em contraste, a

subunidade β confere a cada substância sua função biológica específica

(MCKINNON & VOSS, 1993).

IRVINE & ALEXANDER (1988) relatam que os pulsos de secreção

gonadotrófica não podem ser detectados em amostras sanguíneas periféricas,

6

devido a longa meia vida circulatória das gonadotrofinas manter um pool contínuo

das mesmas no sangue, mascarando os pulsos individuais. Os mesmos autores

em 1993, afirmam que a secreção de FSH na égua pode ser uni ou bimodal,

sendo que o padrão bimodal pode ser observado somente no período de

transição da primavera e o início da temporada reprodutiva com um primeiro pico

no final do estro e outro na metade do diestro. Já o padrão unimodal ocorre em

plena temporada reprodutiva e o pico único só ocorre na metade do diestro.

O LH tende a ter um padrão bimodal de secreção no início da estação

reprodutiva com um pulso a cada dois dias. A concentração sérica aumenta nos

intervalos pré-ovulatórios, atingindo os níveis necessários para desencadear a

ovulação (IRVINE et al., 2000).

2.2 Mecanismos de Ação

O ciclo funcional ovariano depende totalmente das gonadotrofinas

hipofisárias, uma vez que a remoção da hipófise causa depressão da fertilidade e

leva os ovários a um estágio juvenil (MCKINNON & VOSS, 1993).

Os mecanismos que controlam a ativação dos folículos permanecem

pouco elucidados, principalmente em animais de interesse zootécnico (BINELLI et

al., 2009).A função do folículo ovariano é proporcionar um ambiente ideal para a

manutenção da viabilidade, bem como, o crescimento e maturação do ovócito

(GONÇALVES et al., 2001).

De acordo com VAN DEN HURK & ZHAO (2005), a partir do momento

em que ocorre a formação do antro, os folículos passam a ser denominados

terciários ou antrais. Este fluido se origina nos folículos equinos de 0,2 a 0,4 mm

de diâmetro e pode servir como fonte de substâncias regulatórias derivadas do

sangue e de secreções das células foliculares.

O hormônio folículo estimulante é necessário para o recrutamento dos

folículos antrais. Sob a influência desta gonadotrofina as células da granulosa se

multiplicam por mitose o que aumenta o número de camadas ao redor do ovócito

e consequentemente a quantidade de fluido produzido pelas mesmas. As células

da teca interna dos folículos terciários respondem ao estímulo do LH produzindo

andrógenos e quando o FSH estimula a ativação da enzima aromatase nas

7

células da granulosa ocorre a transformação dos andrógenos em estradiol

(HAFEZ , 2004).

O FSH também está envolvido no aumento da vascularização do

folículo dominante, o que permite uma maior captação de nutrientes, além de

estimular a formação da cavidade antral e a expressão dos receptores para LH

nas células da granulosa do folículo pré-ovulatório (SIROIS & FORTUNE, 1990).

Segundo ALBERTINI et al. (2001), a proliferação e diferenciação das

células da granulosa influencia diretamente a maturação do ovócito com a

secreção de mediadores parácrinos, e através de extensões destas células na

zona pelúcida, denominadas processos citoplasmáticos transzonais (TZP) onde

junções do tipo “gap” permitem transporte bidirecional de moléculas reguladoras

as quais interpretam as mensagens geradas pelos receptores gonadotróficos

(Figura 4).

Figura 4- Microfotografias das zonas de projeções citoplasmáticas em folículo

ovariano.

Fonte: ALBERTINI et al. (2001)

A função do LH é reiniciar a meiose do ovócito no folículo pré-

ovulatório onde se une a receptores de membrana nas células da teca e da

granulosa para desencadear a ovulação e controlar o desenvolvimento e

manutenção do corpo lúteo. Este hormônio produz um aumento do AMPc por

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meio da estimulação da enzima adenil ciclase, promovendo a conversão do

colesterol em pregnolona que participa ativamente da ovulação (GINTHER, 1992).

O hormônio luteinizante da égua tem uma maior concentração de carboidratos e

de ácido siálico o que o torna diferente das demais espécies (BOUSFIELD et al.,

1987). Nestas fêmeas, as elevadas concentrações de LH estão temporariamente

associadas com o desvio e representadas por uma parte distinta do grande pico

pré-ovulatório do hormônio luteinizante nestas espécies (GASTAL et al., 1997).

Assim, essa primeira elevação dos índices de LH é seguida pela expressividade

de seus receptores nas células da granulosa e representa um dos eventos iniciais

para a sequência que leva ao desvio durante o declínio do FSH (GINTHER et

al.,2001).

O termo onda folicular compreende um conjunto de fenômenos

foliculares que obedecem a sequência de recrutamento, seleção, dominância,

ovulação ou atresia. O estudo realizado por GINTHER et al. (2003) demonstrou

que o recrutamento folicular na égua ocorre em dois tipos de ondas: maiores

(desenvolvimento de folículos dominantes e subordinados) e menores (folículos

maiores não atingem diâmetro para dominância). As concentrações de LH são

maiores nas ondas maiores, suportando a idéia de que o folículo dominante

necessita de um estímulo adicional desta gonadotrofina

Após a emergência, os folículos de uma onda entram em fase de

comum de crescimento, envolvendo em média de 7-11 folículos. O surgimento de

cada onda é temporariamente associada com o surgimento do FSH e o seu pico

de concentração ocorre quando o folículo maior atinge, aproximadamente 13 mm

de diâmetro, para depois começar a declinar (GINTHER, 2005).

O crescimento paralelo dos folículos finaliza quando o maior folículo

alcança um diâmetro de 22 mm e o segundo maior alcança 19 mm, a partir de

então, o maior folículo geralmente torna-se dominante e continua a crescer

enquanto os demais se tornam subordinados e apresentam uma interrupção ou

redução do crescimento, caracterizando o fenômeno de desvio folicular (GASTAL

et al., 1999).

O mecanismo pelo qual ocorre a dominância folicular é denominado

seleção e exerce um efeito inibitório indireto sobre as estruturas subordinadas,

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ocorrendo no fim da fase de crescimento quando o folículo dominante cresce

continuadamente e os demais regridem (BEG & GINTHER, 2006).

Figura 5- Ilustração dos aspectos das concentrações hormonais durante o desvio

usando um modelo de dois folículos.

Fonte: GINTHER et al. (2001)

A ovulação é definida como ponto auge de uma série de mecanismos

bioquímicos, fisiológicos e morfológicos complexos desencadeados pela elevação

do LH, e tem como resultado a liberação do ovócito. Atualmente os processos

ovulatórios aceitos são de contração muscular e o mecanismo bioquímico.

Segundo ESPEY (1994), a contração é produzida por fibras de

colágeno e musculares presentes na teca folicular externa, mas os eventos que

coordenam a ação das enzimas proteolíticas e as trocas vasculares são

evidentemente mais importantes. O aumento pré-ovulatório do LH aumenta a

expressão das enzimas proteolíticas plasmina e procolagenase. A plasmina

aumenta a ativação do plasminogênio e a procolagenase se converte em

10

colagenase, e ambas irão romper o colágeno da teca externa, diminuindo a

tensão da parede folicular. A medida que acontece a degradação do tecido

conectivo, ocorre a formação do estigma no ápice folicular, que é a zona mais

delgada da parede e por onde o ovócito será liberado,como ilustrado na Figura 6.

As mudanças no aumento da irrigação folicular e na diminuição da tensão

vascular conduz a comparação do processo ovulatório com um processo

inflamatório (GIGLI et al., 2006).

Figura 6- Folículo pré-ovulatório equino. O colchete evidencia o ápice folicular

com a parede delgada. As setas brancas demonstram a parede espessa fora do

ápice.

Fonte: Adaptado de GASTAL et al. (2006)

2.3 Mecanismos de Regulação e Controle

Acredita-se que vários fatores de crescimento produzidos pelas células

foliculares como a ativina, EGF (Epidermal Growth Factor), FGF (Fibroblast

Growth Factor), TGF-α (Transforming Growth Factor-alfa), TGF-β (Transforming

Growth Factor-beta) e IGF-1 (Insulin-like Growth Factor), atuem modulando a

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ação das gonadotrofinas FSH e LH, controlando a foliculogênese,

esteroidogênese e atresia folicular (LEITÃO, 2009).

A inibina atua diminuindo a síntese e a liberação de FSH. Seu efeito na

secreção do hormônio folículo estimulante é lento, enquanto a redução na síntese

do mesmo sofre ação rápida (MCKINNON & VOSS, 1993). Estudos realizados por

DONADEU & GINTHER (2002) apontaram um aumento considerável na

concentração de inibina nos folículos maiores entre 16 e 19mm o que sugere a

participação no desvio folicular e no subsequente crescimento diferencial do

folículo dominante.

A principal função da ativina na regulação do hormônio folículo

estimulante circulante pode ser por aumentar a quantidade disponível deste

hormônio na hipófise anterior pronto para liberação. Esta glicoproteína induz a

formação de células da granulosa, aumentando a expressão dos receptores de

FSH. Outra glicoproteína isolada do fluido folicular eqüino com atividade tanto

inibitória da secreção de FSH como de neutralização da ativina, constituindo um

grande modulador da ação do FSH (BEG & GINTHER, 2006).

O estradiol aumenta a atividade da enzima aromatase nas células da

granulosa, promovendo a expressão de receptores de gonadotrofinas,

aumentando a sensibilidade do folículo ao LH (GURGEL et al. 2008). Os estudos

de GASTAL et al. (1999) relatam que a eliminação do folículo mais desenvolvido,

resulta em diminuição dos índices de estradiol e inibina e aumento nos níveis de

FSH, relacionando o controle desta gonadotrofina ao estradiol.

De acordo com ZULU et al. (2002), o fator semelhante a insulina IGF-1

interage com o FSH no estímulo da produção de estradiol pelas células da

granulosa, resultando em sinergismo com as gonadotrofinas hipofisárias para

estimular o desenvolvimento folicular. Da mesma forma, o fator de crescimento de

endotélio vascular promove a angiogênese nos folículos dominantes,

proporcionando suporte preferencial de nutrientes, gonadotrofinas e fatores de

crescimento aos mesmos (DONADEU & WATSON 2007) Utilizando a técnica de

Doppler colorido GASTAL (2006) evidenciou o aumento do fluxo sanguíneo nos

maiores folículos após a seleção (Figura 7).

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Figura 7- Imagens ultrassonográficas de folículos equinos dominantes com

Doppler colorido, demonstrando a vascularização de folículos dominantes

equinos.

Fonte: GASTAL et al. (2006)

2.4 Contribuição biotecnológica

Considerando o extenso papel das gonadotrofinas hipofisárias no

processo de desenvolvimento folicular e maturação ovocitária in vivo, deduz-se

que sua participação nos processos de diversas biotecnologias reprodutivas, seja

imprescindível.

BORGES et al. (1998) utilizaram diferentes doses de FSH, LH ou

ambos combinados em meio de maturação in vitro de ovócitos equinos e conclui

que tanto a associação FSH/LH como somente o FSH, proporcionaram uma taxa

de maturação nuclear ovocitária significativamente maior que o grupo controle

(Tabela 1). Em concordância, DELL’ ÁQUILA et al. (2004) testaram o efeito da

13

presença de FSH na maturação nuclear de cumulus oóforos equinos e relatam

maior expansão das estruturas na presença da gonadotrofina.

Tabela 1- Número de ovócitos equinos maturados in vitro por 24 horas com gonadotrofinas de origem suína, classificados de acordo com o estágio de maturação nuclear.

Tratamentos n MII/TI MI/AI QVG VG SE/DEG

n % n % n % n % n %

Controle 98 21 22,8a

35 38,0 12 13,0 6 6,0 18 20,0

LH 108 35 32,4a

41 38,0 9 8,0 9 8,0 13 12,0

FSH 102 55 53,9b

23 23,0 8 8,0 4 4,0 12 12,0

LH/FSH 106 59 55,6b

23 22,0 5 5,0 6 6,0 13 12,0

Letras diferentes na mesma coluna (p<0,05) MII/TI – Metáfase II / Telófase I MI/AI – Metáfase I / Anáfase I QVG – Quebra da vesícula germinativa VG – Vesícula germinativa SEG/DEG – Sem estrutura / Degenerados Adaptado de BORGES et al. (1998).

Conforme ALMEIDA et al. (2010), a transferência de embriões tem

impacto no agronegócio do cavalo, com alteração de preços dos animais, no

entanto, a técnica ainda é relativamente ineficiente na espécie equina em relação

a bovina, devido a dificuldades de superovulação das éguas. Vários hormônios

tem sido testados a fim de melhorar os índices de coleta de embriões, dentre os

quais se destacam o FSH e o extrato de pituitária equina (EPE) com resultados

mais consistentes (LIRA et al., 2009).

O estudo de BONIN et al (2010) destacam o EPE como precursor de

gonadotrofinas hipofisárias e sua aplicação exógena aumenta a incidência de

múltiplas ovulações em éguas e incrementou a taxa de recuperação embrionária

por ciclo.

A janela de sincronização entre a ovulação da doadora e da receptora

equina é entre +1 e -3 dias e constitui uma técnica realizada de maneira

relativamente simples em éguas cíclicas. Em todos os protocolos, monitora-se o

14

crescimento folicular por ultrassonografia e utiliza-se precursores de FSH e LH

(GnRH ou EPE) para induzir a ovulação nas receptoras dentro de 48 horas da

inseminação da doadora (BERGFELT, 2000).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fisiologia reprodutiva das éguas é composta de esquemas complexos

e integrados e que ainda possuem alguns pontos inexplicados ligados direta ou

indiretamente com as gonadotrofinas hipofisárias.

Os artigos científicos revisados esclarecem os aspectos de produção e

função destas gonadotrofinas, mas os aspectos relacionados aos receptores das

mesmas e suas características durantes as fases de desenvolvimento folicular e

maturação in vitro intrigam a curiosidade científica, levantando a hipótese de estar

neles a resposta para a baixa eficiência das fêmeas equinas em programas

reprodutivos.

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