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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
ELAINE TAYSE DE SOUSA
AS INTERAÇÕES DOS BEBÊS NA CRECHE: O QUE ELES FAZEM E DIZEM?
CAMPINA GRANDE – PB
2019
ELAINE TAYSE DE SOUSA
AS INTERAÇÕES DOS BEBÊS NA CRECHE: O QUE ELES FAZEM E DIZEM?
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre
em Educação.
Linha de pesquisa: Práticas Educativas e Diversidade
Orientadora: Profª. Drª. Kátia Patrício Benevides Campos
CAMPINA GRANDE – PB
2019
Dedico esta pesquisa a todos os bebês,
crianças bem pequenas e pequenas que são
os sujeitos de minha inspiração, observação
e encantamento diário. Foi com eles, sobre
eles e por eles que me desafiei a ler e
escrever essa experiência como parte de uma
história.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que é a minha força, meu escudo e minha redenção. Sem Ele,
absolutamente, seria impossível chegar até aqui. Quando duvidei, me deu fé. Quando
acreditei, me deu fôlego para continuar. Quando chorei, enxugou as minhas lágrimas. Por
isso, Toda a Honra, a Glória e o Louvor sejam Dele e para Ele.
Aos meus pais, Edmilson Augusto e Maria das Dores, que tanto lutaram para terem
seus filhos na universidade. Obrigada pelos cadernos e livros comprados parcelados e pelo
incentivo constante.
Ao meu amado e querido esposo, Jhone Nunes, pelo amor sincero, respeito a minha
dedicação aos estudos e pelo companheirismo de todos os momentos. Te amo!
Aos meus irmãos, Érika Stéfany e Marcelo Douglas, que vivenciaram junto comigo
a infância e admiraram meu desejo de estudar.
Às minhas sobrinhas, Heloisa e Eloá Sophia, meus presentes mais lindos.
Aos meus cunhados, Thays Olga e Odair Clementino, pela força e pelo cuidado dos
meus.
Aos professores que passaram pela minha trajetória infantil, escolar e acadêmica,
pois deixaram registrada a curiosidade de me reconhecer na escola da expressão.
A Maria Henrique Candido (in memorian), que lutou e combateu o bom combate,
mas, antes de partir, me inspirou e instigou a um dia pesquisar e conhecer as crianças e a
cultura moçambicanas.
À querida e admirável orientadora, Profa. Dra. Kátia Patrício Benevides Campos, por
ter me acolhido mesmo quando tudo estava tão incerto. Grata pela atenção dedicada e pelo
respeito ao percurso construído.
À amada Profa. Dra. Silvia Roberta Mota Rocha, para mim uma grande referência
de humanidade, respeito, ética e profissionalismo. Tê-la nesse momento é uma honra
inigualável.
À Profa. Dra. Ana Luísa Nogueira de Amorim pelo olhar atento e respeitoso na
construção deste trabalho.
À Professora da graduação, Fabíola Cordeiro de Vasconcelos, pelas contribuições e
olhar atento à escrita deste trabalho. Gratidão!
Aos bebês que me acolheram com empatia, sorrisos, choros e seus gestos mais
intencionais e verdadeiros. Tentei expressar o vivido com vocês do modo mais proximal,
potencial e real que me revelaram.
Às minhas amigas e companheiras de graduação, Janaína Dantas, Raquel Canêjo e
Patrícia de Oliveira, que sempre acreditaram em meu potencial.
Às amigas Wanessa Maciel e Cíntia Cassiely, por compartilharmos sonhos e
projetos.
À amiga Gabrielle de Lima, pelo companheirismo e pela força que transcende.
À amiga Crisliane Boito, que tanto me inspira e por ter me ensinado tanto, quando
dividimos a docência.
À amiga Bel, pelo reconhecimento e amizade diários.
Às amigas Mara Lúcia e Ana Paula, pela torcida, sinceridade e parceria de sempre.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Campina
Grande, pela oportunidade de acesso a uma formação de qualidade.
Ao Grupo de Estudos e Pesquisas Infâncias, Educação Infantil e Contextos Plurais -
GRÃO, principalmente aos colegas Janice Anacleto, Wéllyda Damasceno e Rayffi
Gumercindo, por mover-me ainda mais ao desejo de pesquisar junto às crianças e suas
infâncias.
À Professora Dra. Fernanda de Lourdes Almeida Leal, por sua lealdade e potencial
de agregar pessoas.
À Unidade Acadêmica de Educação Infantil, por fazer crescer em mim, junto ao
curso de Pedagogia, o desejo de ser professora.
À Secretaria Municipal de Educação, pela permissão concedida.
Às famílias dos bebês, pela confiança, aceitação e autorização da participação de seus
filhos na pesquisa.
À gestora e a supervisora da instituição, pelo acolhimento, atenção e disponibilidade.
Às três professoras do berçário, que acreditaram, aceitaram e abriram as portas desse
espaço para a realização do estudo.
A todos(as), o meu muito obrigada e os meus mais sinceros afetos.
EPÍGRAFE
“A percepção do desconhecido é a mais
fascinante das experiências. O homem que não
tem os olhos abertos para o misterioso passará
pela vida sem ver nada.” (Albert Einstein)
RESUMO
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as interações entre bebês em contexto de creche.
Como objetivo geral, analisou como bebês entre 11 e 17 meses interagem em um berçário
de uma creche municipal de Campina Grande-PB. Como objetivos específicos, intentou
conhecer as formas de interação entre bebês-bebês e bebês-adultos, identificando as
diferentes linguagens nelas envolvidas. A partir de inferências contextuais, conhecemos
como os bebês se constituem por meio das linguagens não conceituais. Teve como aportes
teóricos as discussões acerca das potencialidades infantis em contextos formais de educação,
bem como a perspectiva histórico-cultural, que aborda as aprendizagens e a constituição dos
infantis a partir das relações humanas, em suas dimensões históricas e culturais. Tratou-se
de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa, o que revela a especificidade de
pesquisar relações que não podemos quantificar. Os dados foram construídos por meio da
observação participante e através de conversas informais com as professoras. Para o registro
dos dados, foram utilizados o diário de campo, a videogravação e a fotografia. Na análise,
recorreu-se à investigação narrativa e à microgenética, considerando que esse tipo de análise
direciona o olhar para os fenômenos da experiência humana e que, além disso, privilegia o
indivíduo inserido em contextos sociais, neste caso, a creche. A partir das análises, foi
possível atribuir significados às interações dos bebês e à produção de linguagens entre eles
e com os adultos. Desse modo, a pesquisa evidenciou as linguagens não conceituais dos
bebês enquanto decorrentes das suas interações e, ao mesmo tempo, que permitem interações
mais sofisticadas, se significadas pelo outro parceiro de interação. O estudo também apontou
que, no jogo das interações e linguagens, há a construção e constituição subjetivas dos bebês
quando, a partir de suas interações, partilham, ajudam e se afirmam por meio de gestos, ações
e balbucios. Revelou ainda a necessidade de uma educação cuidadosa, que envolva a escuta
atenta e sensível para os gestos e ações dos bebês no espaço da creche, visando a significá-
los, produzindo e/ou contribuindo para o processo de construção de práticas pedagógicas
respeitosas, humanamente mais equilibradas, com vistas ao atendimento das demandas
infantis, portanto, uma educação socialmente referenciada.
Palavras-Chave: Bebês. Interação. Linguagem. Creche. Práticas pedagógicas.
ABSTRACT
This research had as its object of study the interactions between babies within the context of
childcare centers. A general objective of it was analyzing how babies aged 11 to 17 months
interact at a childcare center provided by the city of Campina Grande, PB, Brazil. A specific
objective of this research was investigating both baby-baby and baby-adult interactions,
trying to identify the different languages involved in them. From contextual inferences, we
have learned how babies are constituted through non conceptual languages. This study was
based on such theoretical contributions as discussions about children potentialities in formal
contexts of education, as well as the historical-cultural perspective, which approaches
children's learning and constitution from interpersonal relationship, in their historical and
cultural dimensions. This was a field research with a qualitative approach, which reveals
the specificity of researching relationships that we cannot quantify. Data were constructed
through participant observation and informal conversations with teachers. For data
recording, a field diary, video recording and photographs were used. In our analysis, we
resorted to narrative research and microgenetics, considering that this type of analysis directs
our look towards the phenomenon of human experience, besides privileging the individual
inserted in social contexts, in this case, day care centers. Our analysis made it possible to
assign meanings to babies' interactions and the production of languages between them and
with adults. This research has, thus, evidenced the non conceptual languages of babies as a
result of their interactions, which, at the same time, allow more sophisticated interactions, if
it is meant by the other interacting partner. The study also pointed out that, in the game of
interactions and languages, there is the subjective construction and constitution of babies
when, through their interactions, they share, help and assert themselves through their
gestures, actions and babbling. It also revealed the need for a careful education that involves
attentive and sensitive listening to babies' gestures and actions at day care centers, aiming at
assigning a sense to them, producing and / or contributing to the process of building
respectful pedagogical practices, humanely more balanced, with a view to meeting
children's demands, therefore, a socially referenced education.
Keywords: Babies. Interaction. Language. Day care center. Pedagogical practices.
LISTA DE FIGURAS
Fotografia 1: Registro fotográfico realizado por professora ........................... 37
Fotografia 2: Registro fotográfico realizado por professora ........................... 37
Fotografia 3: O que você está fazendo? ......................................................... 38
Fotografia 4: Guardando os brinquedos .......................................................... 72
Fotografia 5: A cabana .................................................................................... 89
Fotografia 6: Raquel encontra fio de cabelo ................................................... 105
Fotografia 7: Raquel explora o fio encontrado ................................................ 105
Fotografia 8: Raquel explora brinquedo com as mãos .................................... 107
Fotografia 9: Andréia explora bola com a boca .............................................. 107
Fotografia 10: Heloísa tenta possibilidades com garrafa PET e seu corpo ..... 107
Fotografia 11: Me dá meu lanche .................................................................... 108
Fotografia 12: Brincando com potes de sorvete .............................................. 111
Fotografia 13: Vitória reage à aproximação de Andréia ................................. 111
Fotografia 14: Vitória mostra o livro .............................................................. 113
Fotografia 15: Vitória abre o livro .................................................................. 113
Fotografia 16: Vitória lê as imagens ............................................................... 113
Fotografia 17: Vitória aproxima o livro do próprio rosto ...............................
Fotografia 18: Professora medeia disputa .......................................................
113
114
Fotografia 19: Gabriel tem acesso ao livro após mediação ............................. 114
Fotografia 20: Bebês interagem com a leitura ................................................ 114
Fotografia 21: Bebês apreciam a leitura ......................................................... 114
Fotografia 22: Disputa entre Carla e Heloísa .................................................. 117
Fotografia 23: Heloísa empurra Carla ............................................................ 117
Fotografia 24: Heloísa e Carla resolvem a disputa ......................................... 117
Fotografia 25: Carla nina a boneca .................................................................. 118
Fotografia 26: Carla alimenta a boneca ........................................................... 118
Fotografia 27: Jade nina Igor .......................................................................... 123
Fotografia 28: Jade verifica a fralda de Igor ................................................... 123
Fotografia 29: A fralda de Igor está suja ......................................................... 123
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC - Base Nacional Comum Curricular
CAPES - Coordenação de Apoio de Pessoal de Nível Superior
DCNEI - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FPS - Funções Psicológicas Superiores
FPE - Funções Psicológicas Elementares
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
OE - Observador Externo
CF - Constituição Federal
PIBID - Programa Institucional de Iniciação à Docência
PPC - Projeto Pedagógico de Curso
UAEI - Unidade Acadêmica de Educação Infantil
UEI - Unidade de Educação Infantil
UEPB - Universidade Estadual da Paraíba
UFCG - Universidade Federal de Campina Grande
UFPB - Universidade Federal da Paraíba
PNE - Plano Nacional de Educação
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
LISTA DE QUADROS
QUADRO I: Produção dos dados 35
QUADRO II: Categorias de análise 45
QUADRO III: Mapa de localização das creches no município 47
QUADRO IV: Perfil das professoras
QUADRO V: Rotina alimentar
QUADRO VI: Mapeamento das interações no berçário
QUADRO VII: O encontro com a formiga
QUADRO VIII: Contexto das interações
50
71
83
94
128
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Quantitativo de bebês atendidos na creche (2016-2018) 48
TABELA 1: Levantamento de pesquisas -bebês (2013-2018) 56
TABELA 2: Bebês como sujeitos de pesquisa 57
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16
CAPÍTULO I - CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO: O CAMPO DE
PESQUISA, SUJEITOS, PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS ...............
27
1.1 Desafio da pesquisa com bebês: caminhos trilhados ...................................... 27
1.1.1 Procedimentos e instrumentos .......................................................................... 29
1.1.2 A fotografia e a videogravação ......................................................................... 32
1.1.3 A pesquisa narrativa.......................................................................................... 39
1.2 O locus e os sujeitos da pesquisa .................................................................... 46
CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO INFANTIL, PESQUISAS SOBRE BEBÊS, OS
BEBÊS E AS INTERAÇÕES..............................................................................
51
2.1 Afinal, para que creche? ...................................................................................
2.2 O que dizem algumas pesquisas sobre bebês ..................................................
52
55
2.2.1 O contexto da Paraíba........................................................................................ 64
2.3 A rotina no berçário ..........................................................................................
2.3.1 É um chapéu. E daí?..........................................................................................
69
73
2.3.2. Educação cuidadosa e as interações ................................................................ 77
2.3.3. Os bebês e as interações com as professoras ................................................... 84
2.3.4 Come, come.......................................................................................................
2.3.5. Não quero mais brincar....................................................................................
86
96
CAPÍTULO III - E AGORA, COMO DIZER OS DIZERES DOS BEBÊS? .... 99
3.1 O bebê na cultura ou a cultura do bebê? ........................................................
3.1.1 Me dá meu lanche ...........................................................................................
99
108
3.1.2 Sai pra lá! .......................................................................................................... 111
3.1.3 Se eu leio o mundo, que dirá um livro! ............................................................
3.1.4 Me dá o copo! ..................................................................................................
113
116
3.1.5 Toma o gagau! ..................................................................................................
3.1.6 Eu quero o meu brinquedo! ..............................................................................
3.1.7 Deixe-me ver a sua fralda! ...............................................................................
3.1.8 Dorme, neném! ................................................................................................
118
119
123
124
3.1.9 Olha, olha! ....................................................................................................... 126
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 130
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 134
APÊNDICES ............................................................................................................
ANEXOS ..................................................................................................................
142
159
16
INTRODUÇÃO
“A criatividade exige que a escola do saber encontre conexões com a escola da expressão,
abrindo as portas (este é nosso slogan) para as cem linguagens das crianças.”
(MALAGUZZI, 2006)
Minha1 trajetória com a escola do saber2 não é recente nem descontextualizada de minha
vida cotidiana. Desde criança, sonhava em ter um quadro de giz, um apagador e giz para, no
universo do faz-de-conta, materializar o meu desejo de ser professora na escola da expressão.
Lembro-me de meu afinco e interesse por ir e estar na escola, que sempre foi para mim um
abrigo seguro, e minhas professoras, o refúgio mais certo.
Na escola, estabeleci interações com o mundo, com os colegas, a merenda, com os
cadernos e livros didáticos, atividades mimeografadas, cartilhas de alfabetos pontilhados e com
o pouco tempo destinado à livre expressão. Não tive a experiência do convívio na creche, tendo
em vista que a obrigatoriedade de matrícula se dava a partir dos cinco anos de idade e iniciei
minha trajetória na educação formal somente na pré-escola.
Filha de vigilante e de empregada doméstica, recordo-me de que meu pai trabalhava
incansavelmente durante as noites e, no período diurno, dormia para reorganizar suas forças
para a noite seguinte. Minha mãe vendia sua força de trabalho em residências de classe média
e, ao retornar de uma intensa rotina, cuidava de três crianças. Em suas limitações, ambos
cuidavam e educavam, às vezes nos seus silêncios, nos seus modos de dizer que estavam
exaustos. Hoje, tenho clareza de que fizeram isso muito mais que por sobrevivência. Na
realidade, o desejo de estarem com seus filhos na escola era o que brilhava e emergia neles,
sobretudo quando, no início do ano letivo, conseguiam adquirir o mínimo dos materiais
escolares necessários para frequentarmos a escola. São, para mim, sinônimos da resistência e
da luta pela educação dos filhos na escola pública.
Mês a mês, solicitava o quadro e o giz e a promessa sempre ficava para o mês seguinte.
O fato é que o quadro branco e o giz nunca chegaram. A vida nunca foi fácil, principalmente
em uma sociedade como a nossa, de grandes desigualdades sociais.
1 No decorrer do texto, será utilizada a terceira pessoa do plural, exceto nesse momento inicial e nas notas de
campo sobre as minhas narrativas enquanto pesquisadora. 2 Loris Malaguzzi, em entrevista no livro “As cem linguagens das crianças: a abordagem Reggio Emilia na
educação da primeira infância”, de Carolyn Edwards (2016).
17
O tempo passou, vivi a pré-escola do saber, o ensino fundamental e o médio, até ser
aprovada no vestibular e cursar a graduação já escolhida desde a infância. Não compactuo da
ideia de que seja a infância o momento de decidir futuros, mas é nela que as narrativas, positivas
ou não, sobre o mundo, a constituição da identidade e os modos de ser e estar, estabelecidas no
e com o mundo, são produzidas e significadas. Signifiquei-me professora. Não vou adentrar
nesse aspecto de minha identidade, mas posso garantir que o que me move a continuar sendo,
pesquisando e acreditando na educação é a compreensão de que é por meio dela que podemos
minimamente atuar nos usos que os sujeitos3 farão do que se aprende na escola pública,
buscando sempre os coletivos diversos4 (ARROYO, 2011).
Ao ingressar no primeiro período da graduação em Pedagogia (2008-2013), na
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), me deparei com uma mudança curricular
do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), que contemplava, até então, somente a formação para
a docência nos anos iniciais do ensino fundamental. O novo currículo, por sua vez, preconizava
a obrigatoriedade da formação para a atuação na Educação Infantil. Ambos contemplavam meu
interesse pelas crianças. Optei por fazer a transição para o novo currículo, acrescentando a
Educação Infantil à minha trajetória formativa. E foi a partir dessa escolha que o universo
infantil se ampliou de modo mais profícuo como a escola da expressão, uma vez que suscitou
questões, dúvidas, limitações, aprendizagens e linguagens mais próximas da minha
subjetividade no mundo.
Vivenciei toda a licenciatura buscando conhecer, apreender e compreender como, por
que e para que as crianças aprendem e, enquanto futura professora, tornar-me experiente. Ainda
no início do curso, ingressei como estagiária na Unidade Acadêmica de Educação
Infantil/UFCG, na época UEI5, objetivando conhecer o cotidiano e atuar na Educação Infantil
e, a partir das questões contempladas no curso de Pedagogia, dialogar com a realidade vivida.
Ingressei no Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID) na perspectiva de ampliar
o olhar para as crianças maiores e como se dava o processo educativo com elas em um outro
contexto.
3 Trazemos por sujeito o indivíduo capaz de construir e significar sua história a partir de experiências individuais
que constroem o ator social coletivo (ALAIN apud CASTELLS, 2002). 4 Arroyo (2011) traz o debate acerca dos coletivos diversos, a partir de um olhar para as desigualdades vividas pelos sujeitos sociais. Destaca que os coletivos são constituídos desiguais e ressignificam a produção das
desigualdades no percurso histórico da sociedade. Reitera que as concepções de padronização dos sujeitos têm-se
produzido, na prática, na transformação dos diferentes em desiguais, sobretudo nas políticas públicas. 5 Em 2013, a partir da resolução UFCG/CONSUNI nº 01/2013, a Unidade de Educação Infantil (UEI) passou a
ser Unidade Acadêmica de Educação Infantil (UAEI), vinculada ao Centro de Humanidades da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG).
18
Nesse percurso, construí minha identidade docente de modo muito subjetivo, atentando
para o que acontecia dentro das salas de referência da Educação Infantil e relacionando-o aos
fundamentos teórico-metodológicos do fazer pedagógico junto às crianças. Compreendi, de
certo modo, que toda prática ou ação pedagógica, seja qual for, está fundamentada em
perspectivas teóricas. E, do mesmo modo, toda teoria reflete um modus operandi em que os
sujeitos se situam.
Dessa forma, pude ampliar a concepção de como as crianças são ensinantes,
aprendentes, capazes, ativos, históricos, culturais e singulares, e passei a enxergá-las como
sujeitos que se constituem a partir da relação com o outro e com as linguagens.
Em certa ocasião, na UAEI, quando estava na condição de estagiária do grupo V
(crianças entre quatro e cinco anos de idade), duas crianças estavam no parque e se envolveram
em uma situação de conflito na disputa por um brinquedo. Para resolver a questão, uma delas
acabou por machucar a outra, causando choro e desconforto na que foi machucada. Quando
percebi a situação, me aproximei para compreender o que havia ocorrido e fazer a intervenção
necessária. Conversamos e negociamos o tempo para o brinquedo, acalmaram-se, pediram
desculpas e, aparentemente, tudo se resolveu. O fato é que a criança machucada permanecia
chorando. Mais uma vez fui ajudá-la e questionei: Por que você está chorando? Nós já não
resolvemos?. Com essa ação, sinalizei que o diálogo é importante para resolvermos nossas
questões. Continuei a conversa: Ele já lhe pediu desculpa. Ainda aos prantos, a criança fitou-
me fixamente e disse: Eu sei! Mas, desculpa não resolve. Ainda está doendo. E, de fato, ela
tinha razão. A criança concreta que temos é cultural, mas também é biológica. É biológica, mas
também é cultural. É o mesmo corpo com uma dupla dimensão (PINO, 2010) e naquele
momento, não tive clareza dessas dimensões do humano.
Nessa vivência, ao seu modo, a criança revelou um dado importante de ser refletido.
Que muitas vezes, tanto no lugar de professores como de pesquisadores, esses elementos das
relações humanas passam despercebidos e não enxergamos nas crianças os seus modos de dizer
de si, enquanto biológico e cultural no mundo. Em outras palavras, a criança me anunciou que
estava imersa em uma cultura carregada de conflitos, episódios de disputas e em que se
resolviam questões proferindo-se apenas desculpas. Mas seu corpo ainda estava doendo e,
algumas vezes, negligenciamos o que é biológico6. Pela minha inexperiência, havia percebido
de outro modo. Muitas teorias apontam apenas uma perspectiva de se pensar o sujeito, ou
biológica ou cultural, no caminho da lógica binária.
6 Posteriormente, trarei a discussão pautada em PINO (2010) acerca do duplo nascimento do sujeito.
19
Essa vivência transformada em experiência7 permitiu-me o exercício da práxis, ação-
reflexão-ação (FREIRE, 1987), ou seja, a prática é a própria teoria em ação e a teoria
fundamentalmente é materializada em práticas. Por meio das ações refletidas e das reflexões
sobre essas ações, podemos transformar a realidade e entender as contradições. Quando
trilhamos o caminho da pesquisa, seja com bebês ou crianças maiores, podemos chegar a uma
aproximação mais horizontalizada das relações e, assim, visibilizá-los em sua condição
humana.
Após o curso de Pedagogia, ingressei em uma pós-graduação strictu sensu em Educação
Infantil, buscando aprofundamento e amadurecimento de minha trajetória com o universo do
conhecimento. Paralelamente aos estudos, trabalhei por três anos com crianças da Educação
Infantil, na rede privada de ensino de Campina Grande.
No decorrer da minha carreira docente, atuei também como professora substituta na
UAEI (2017-2019), o que contribuiu mais uma vez para maior apropriação do meu fazer
docente. Nessa ocasião, atuei com crianças pequenas e muito pequenas e, de certo, muitas
questões foram elucidadas. Uma delas refletiu diretamente na definição de meu objeto de
pesquisa.
Ao trabalhar com as crianças muito pequenas, fui desafiada a “decodificar” os outros
modos de dizer delas, em particular das que estavam em processo de construção do simbolismo
de primeira ordem, a fala. Uma criança em particular me inquietou a compreender a sua
especificidade de comunicação, por meio dos gestos. Em seu primeiro dia de entrada na escola,
sua mãe se antecipou e nos disse: Ele não fala!. De imediato, pensei no processo de construção
da linguagem oral e sinalizei para a mãe que sua inserção no contexto coletivo iria ajudá-lo no
seu desenvolvimento. Diante disso, minha escuta e formas de compreendê-lo foram iniciadas.
No início, configurou-se como frustrações para a criança, sobretudo quando ela não era
entendida por mim em suas tentativas de verbalizar.
Em sua angústia pela minha incompreensão do que dizia com seus gestos e balbucios, a
criança chorava, se debatia, se jogava no chão, a ponto de machucar-se, e mordia a si própria e
os colegas. Aos poucos, fui conseguindo ver e ouvir suas ações no contexto das relações com o
grupo de crianças e compreendê-la. Com base no diálogo e significando suas tentativas de se
fazer entender e se posicionar no mundo, construímos uma relação em que ambos, professora
e criança, se entendessem e se fizessem entender com vistas às significações e inferências de
modo mais profícuo.
7 Larrosa (2002, p. 21) destaca que a experiência e a vivência são distintas. A vivência é o que é oportunizado para
o sujeito e a experiência é o que lhe toca, que passa por ele e o modifica.
20
Nesse cenário, comecei a indagar-me: E os bebês que estão vivendo esse processo?
Como são compreendidos em suas interações? Há significação dos seus gestos? Quais são as
suas linguagens utilizadas para se fazer entender? Estas inquietações ficaram ainda mais
evidentes quando me inseri como aluna na disciplina Educação da Infância, Cultura e Interação
Social, na qual comecei a refletir sobre como os bebês interagem num contexto de cultura como
a creche.
A partir da década de 1990, muitas pesquisas com crianças vêm sendo realizadas em
diversas áreas do conhecimento, sobretudo na educação. Essa década marca conquistas legais
no que tange aos direitos das crianças e inaugura novos caminhos e proposituras, sobretudo
para a educação da criança de 0 a 6 anos. Destaco, inicialmente, a Constituição Federal (1988)
e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (1996), a partir da qual a
Educação Infantil passou a ser entendida como primeira etapa da Educação Básica.
Posteriormente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Esses documentos reconhecem
a criança como sujeito de direitos e que a educação das crianças de 0 a 6 anos é responsabilidade
de suas famílias, bem como dever do Estado.
A conquista social do direito da criança à educação e seu atendimento em instituições
públicas e gratuitas, como afirmado no Art. 2º da LDBEN, representou uma mudança na
concepção do direito à educação oferecida em creches e pré-escolas até então. A Educação
Infantil, no contexto legal, saiu da assistência para a educação, como obrigação do Estado e
direito da criança.
Nessa direção, o acesso à Educação Básica, como direito público subjetivo de qualquer
cidadão, foi reafirmado no governo Dilma Rousseff, ao alterar a LDBEN, que estabelecia que
apenas o acesso ao Ensino Fundamental era um direito individual, e com a Lei nº. 12.796, de 4
de abril de 2013, em seu artigo 5º, tornar toda a Educação Básica obrigatória.
Embora a educação de crianças de 0 a 3 anos não esteja, ainda, universalizada, esta é
contemplada como a primeira etapa da Educação Básica e um direito da criança, o que permite
que esse direito seja requerido, já que é um dever do Estado. Por esse fato, cabe tomar como
marco inicial o ano de 2013, tendo em vista que a partir dele a educação e a aprendizagem
passaram a ser direitos estabelecidos em lei. Também cabe destacar o fato de que a Lei nº.
13.632, de 6 de março de 2018, alterou a LDBEN, garantindo, em seu inciso XIII, ao menos
em termos da formalidade, o direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida, tendo, por
sua vez, início na Educação Infantil.
Nessa direção, outros documentos nacionais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil - DCNEI (2010), o documento Práticas Cotidianas na Educação
21
Infantil (2009) e, recentemente, a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil -
BNCC (BRASIL, 2017), podem ser instrumentos que favoreçam vivências ricas em múltiplas
experiências, para que crianças de diferentes classes sociais, etnias, coletivos diversos e faixas
etárias tenham igualdade de oportunidades educacionais e acesso aos bens culturais e às
possibilidades de viverem suas infâncias (BRASIL, 2009).
As DCNEI e a BNCC também possuem caráter normativo, mas, ainda assim, isso não
garante a sua efetivação nas práticas e políticas públicas de atendimento às crianças. Por outro
lado, é necessário percebê-las e entendê-las na direção da oportunidade para enfrentar as
desigualdades, uma vez que estabelecem diretrizes para o acesso igual das crianças no que tange
aos direitos de aprendizagem e aos campos de experiência trazidos no segundo documento.
A BNCC, em consonância com os eixos estruturantes presentes nas DCNEI, a saber, as
interações e brincadeiras, articulam cinco campos de experiência que precisam estar
assegurados nos espaços das escolas infantis, enquanto direitos de conviver, brincar, participar,
explorar, expressar-se e conhecer-se a partir do outro, os quais, como formalizado no documento,
devem se dar a partir da prática pedagógica desenvolvida nesses espaços.
Tais campos se relacionam e não necessariamente devem ser propiciados aos bebês
ordenadamente, pois sua articulação deve estar voltada às aprendizagens humanas. Embora a
disposição escrita no documento sugira essa ordenação, é pertinente atentar que a interação é o
fator constituinte desses campos e que todas as ações que os sujeitos irão estabelecer, sejam
com o outro, consigo, com os coletivos e/ou com os objetos culturais, se dão sobretudo na e
pela interação. Portanto, os campos se articulam e dialogam no contexto das interações.
Acredito que a efetivação desses direitos deva ser garantida de modo que a criança possa
se constituir e existir na relação pedagógica entre seus parceiros adultos e outras crianças. Que
seja realizada e efetivada de forma cíclica, crítica e não linear, uma vez que, quando a criança
convive com o outro, ela inicia seus processos de constituição com base na brincadeira. Na
própria brincadeira vivida pela criança, há movimentos internos de explorar o meio e de revelar,
por meio de suas linguagens, o que sente e o que pensa; também de se conhecer, à medida que
participa de práticas sociais com seus mediadores, nas quais se reconhece como sujeito.
Ao mesmo tempo, nesse processo, ao participar de práticas sociais, se conhece, conhece
o outro e se reconhece no outro. Quando tem preferências, destrezas e até dificuldades, aprende
e apreende, de diferentes maneiras, a expressar suas emoções e explorar tempos e espaços
durante suas brincadeiras. Convive e participa, em suas diferentes linguagens, com outros que
também estão nesse processo de constituição humana.
22
Em se tratando dos bebês, seus corpos se movimentam, observam, choram, mordem,
adoecem, desejam e provocam reações e interesses em si e no outro. Seus gestos que solicitam,
reclamam, expressam desejos e emoções, que escutam e tencionam relações, participam dessas
ações em um tempo, enquanto forma de experiência interior, e espaço, enquanto experiência
exterior (VIEIRA; HENRIQUES, 2014, p. 164), a partir da multiplicidade de materiais e
materialidades, se oferecidos no contexto da creche.
É a relação humana que provoca essas experiências e delas que emergem as
subjetividades. Portanto, existimos porque temos o outro para nos relacionar. E o que dizer dos
bebês, então, que dependem majoritariamente desse outro que lhes eduque sensivelmente,
ajudando-lhes a ter experiências? Com base em Larossa (2002. p. 25),
A palavra experiência tem o ex de exterior, de estrangeiro, de exílio, de estranho
e também o ex de existência. A experiência é a passagem da existência, a
passagem de um ser que não tem essência ou razão ou fundamento, mas que
simplesmente existe de uma forma sempre singular, finita, imanente,
contingente.
Nesse direcionamento, ainda que tenham majoritariamente a necessidade do outro, os
bebês jamais irão deixar de revelar suas peculiaridades. Pelo contrário, constroem
cotidianamente sua singularidade em referências, em singularidades diversas que os
acompanham, tornando-se cotidianamente mais experientes.
No caso da BNCC, os campos de experiência propostos precisam ser vistos no todo e
não como fragmentos que são propiciados separadamente, mas vividos em sua totalidade,
Portanto, devem ter sentido para os que participam, convivem, brincam, exploram e possuem
possibilidades de se conhecer e se expressar em contexto de educação formal, nas relações da
vida.
Especificamente sobre os bebês8, estudos e pesquisas (OLIVEIRA, 2001; COUTINHO,
2002; GOBATTO, 2011; GUIMARÃES, 2011; AMORIM, 2012; DELGADO e FILHO, 2013;
FOCCHI, 2013; BEBER, 2014; SHMITT, 2014) abordam diversas temáticas que colaboram
para a afirmação da criança enquanto sujeito singular, linguageiro e cultural que, nas suas
interações, relaciona-se com o outro, produz e é produzido nas/pelas experiências e constrói
8 Estamos respeitando a nomenclatura utilizada no documento Práticas Cotidianas na Educação Infantil (2009) e
na Base Nacional Comum Curricular (2017), que consideram bebês os que têm entre 0 e 1 anos e 6 meses, crianças
bem pequenas as que têm entre 1 ano e sete meses e 3 anos e 11 meses, e crianças pequenas as de faixa etária entre
4 anos e 5 anos e 11 meses.
23
interações que afetam os outros e lhe afetam, durante seus processos de desenvolvimento,
aprendizagem e constituição produzidos na cultura.
Vale acrescer que na creche os bebês possuem necessidades de diversas ordens: cuidado,
alimentação, além de interação efetiva, emocional, motora, cognitiva, social e cultural, o que
supõe uma escuta e um olhar mais cuidadoso da instituição de Educação Infantil.
É imprescindível, portanto, conceber uma prática pedagógica que seja fundamentada
em situações relacionais, interações e participação entre os sujeitos do processo educativo e que
contemple a concepção de um sujeito de experiência em sua totalidade, inteireza e
complexidade.
Schmitt (2014) aponta a necessidade de maior atenção sobre as relações que ocorrem
no contexto da Educação Infantil entre os bebês, outras crianças e suas professoras, bem como
acerca da ação docente com as crianças, sobretudo de 0 a 3 anos. Destaca, ainda, uma série de
aspectos que dizem respeito à especificidade da educação e da ação docente com essas crianças.
Entre esses aspectos estão a interação, a linguagem, a brincadeira, a indissociabilidade entre o
educar e cuidar, a organização do tempo e do espaço para essas interações, fatores apontados
como articuladores da ação pedagógica junto aos bebês.
As crianças, sejam elas bebês, crianças bem pequenas ou pequenas, vivenciam formas
de ser e estar no mundo a partir de diferenças culturais, políticas e econômicas. Também
possuem necessidades variadas de acordo com diferentes contextos, tanto em nível nacional
como nas suas culturas específicas, que vão desde o âmbito familiar a outros espaços em que
vivem. Nesse sentido, é preciso compreender os bebês em suas interações e linguagens porque
se tratam de sujeitos concretos que agem e atuam sobre o mundo, que se expressam,
movimentam-se, dizem de si, do outro, possuem necessidades específicas e precisam que sejam
respeitadas suas experiências, seus modos de ser, estar e significar o mundo a partir do que lhes
constitui como humanos, suas linguagens.
Nessa direção, esta pesquisa9 se fundamenta na perspectiva sócio histórica, que
considera que o sujeito se constitui pela linguagem na relação com o outro e com os artefatos
da cultura(VIGOSTKI, 1989;1992); e na Sociologia da Infância que compreende a criança
como sujeito de linguagem, produtora de cultura que se dá na partilha e compartilhamento de
interações entre seus pares, na medida em que ressignificam atividades, rotinas e valores
vividos socialmente.( CORSARO, 1997; SARMENTO, 2008)
9 Nesta pesquisa abordamos os principais conceitos: funções psicológicas elementares e superiores, linguagem,
subjetivação, subjetividade, mediação semiótica, mediação pedagógica e serão apresentadas na medida em que a
discussão com o dado for trazida ao longo do texto
24
Considerando as conquistas sociais no que diz respeito ao respaldo legal preconizado
para a Educação Infantil, algumas indagações nortearam o nosso objeto de pesquisa: Como os
bebês interagem no berçário a partir de diferentes linguagens? Como se dão as interações entre
bebês e adultos? Quais as linguagens que emergem nas suas interações? O que é possível
significar com os bebês?
Diante de tais questionamentos, tivemos como objeto de pesquisa as interações dos
bebês no berçário e suas linguagens. Objetivamos analisar como bebês interagem em um
berçário de uma creche municipal de Campina Grande. Como objetivos específicos, conhecer
as formas de interação entre bebês-bebês e bebês-adultos na creche, identificar as diferentes
linguagens expressas pelos bebês e o que eles comunicam.
Tais questões indicam nosso interesse pela educação de bebês e justificam por que
pesquisar junto e com eles, além de visibilizá-los como sujeitos de pesquisa no seu contexto
formal de educação. Interesse que se deu principalmente pelo desejo de conhecê-los, para
compreender seus processos próprios de constituição, enquanto sujeitos relacionais que
aprendem, se desenvolvem e, sobretudo, se constroem subjetivamente no meio social, a partir
de suas significações no mundo.
Outrossim, suscitar novas reflexões, novas pesquisas e práticas pedagógicas voltadas
para e com eles, tendo em vista que essa pesquisa10 teve como tema central as interações e as
linguagens dos bebês no espaço da creche.
Os bebês como sujeitos de pesquisa nos dão riquíssimos indicativos e dados para trilharmos
os caminhos pedagógicos permeados por sua especificidade, bem como os caminhos científicos
para se pensar a prática pedagógica a partir deles próprios. Foi nesse caminho que, enquanto
pesquisadora e professora, professora e pesquisadora, nessa alternância de papéis, realizamos o
exercício de trilhar, no movimento dialógico de idas e vindas, estranhamento e aproximação,
construção e reconfiguração, o processo investigativo, procurando um caminho que seja voltado
para a atuação e valoração positiva de todas as crianças.
Compreendemos que a creche precisa ser um ambiente que promova aprendizagens e
desenvolvimento, que provoque as linguagens e subjetividades dos bebês, linguagens estas que
posicionam os sujeitos em determinados lugares sociais. Além disso, é dessas primeiras
relações e interações com o mundo que emergem possibilidades de aprendizagens a partir da
cultura em que os sujeitos se inserem. Tais considerações configuram o tornar-se e ser um bebê
nos dias atuais.
10 Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética, Plataforma Brasil, com parecer número 3.176.112.
25
A pesquisa se caracteriza pela sua abordagem qualitativa, uma vez que buscou
informações qualificáveis do fenômeno (MOREIRA e CALEFFE, 2008), atentando para a
análise das interações entre bebês-bebês e bebês-adultos, as diferentes linguagens expressas
pelos bebês, bem como o que comunicam essas ações que são vividas nos contextos de creche,
locus de constituição humana. Portanto, a pesquisa compreende a construção do conhecimento
como
[...] um processo socialmente construído pelos sujeitos nas suas interações
cotidianas, enquanto atuam na realidade, transformando-a e sendo por ela
transformados. Assim, o mundo do sujeito, os significados que atribui às suas
experiências cotidianas, sua linguagem, suas produções culturais e suas
formas de interações sociais constituem os núcleos centrais de preocupação
dos pesquisadores. (ANDRÉ, 1993, p. 69)
Nessa perspectiva, não objetivou quantificar as interações dos bebês, mas conhecer
como acontecem no interior da creche. Sabe-se que são muitas as interações que ocorrem ao
mesmo tempo, num mesmo espaço, e que diferentes são as configurações trazidas por cada
bebê. Desse modo, o estudo buscou compreender o fenômeno pesquisado a partir do seu
contexto e fazer a leitura de seus significados com base na análise de microprocessos e das
ações sociais e individuais (MARTINS, 2004, p. 292), a fonte direta de dados.
A pesquisa ainda possui traços de uma pesquisa etnográfica, pois focalizou as ações
infantis em contextos naturais, ou seja, em seu cotidiano comum. Nesse caso, a partir da
descrição narrativa dos fatos observados e das interpretações realizadas, há a exigência a
contextualização do grupo de referência, cenário ou evento particular, o que configura os dados
referentes às interações humanas durante a investigação. Também porque nos auxilia a melhor
descrever detalhadamente a vida humana (MOREIRA e CALEFFE, 2008, p. 86-88).
Tomando como referência o grupo de bebês, cenário ou evento frente à realidade
vivenciada pela pesquisadora, minha imersão no contexto de pesquisa se valeu da observação
participante, tendo em vista a relação direta com os interlocutores no espaço social da pesquisa
e, na medida do possível, participar da vida social deles (MINAYO, 2009, p. 70), na intenção
de compreender o fenômeno em estudo.
Sendo assim, lançamos mão dos dados e de sua análise a partir do vivenciado com os
bebês e as professoras na creche, o que demandou uma intensa e difícil atenção ao que os bebês
anunciavam em suas ações e linguagens não conceituais.
Para registrar o cotidiano com os bebês, utilizamos o diário de campo, a videogravação
e a fotografia (GARCEZ, DUARTE e EINSENBERG, 2011; PINHEIRO, 2005; GILBERTO,
2015). Com essas formas de registro, o papel do intérprete é extrair da imagem os significados,
26
seja para ressaltar o passado por meio do resgate de narrativas, seja para compreender a rede de
signos que os múltiplos significados da imagem oferecem (GILBERTO, 2015, p. 52). Cabe
ressaltar que muitas interpretações podem ser dadas a um mesmo dado, no entanto, o estudo
valeu-se da situação contextual na qual os sujeitos se circunscreveram durante a pesquisa.
Desse modo, a dissertação está organizada em três capítulos. O primeiro trata das
escolhas teórico-metodológicas para a realização da pesquisa junto aos bebês, discorrendo
sobre os aspectos do processo de escolha, elaboração, construção e análise dos dados. Optei por
trazer dados no decorrer dos capítulos e não apenas em um especifico, embora o terceiro e
último tenha mais aspectos nessa direção.
O segundo capitulo, “Educação Infantil, interações, bebês e pesquisas sobre os bebês”,
aborda o contexto histórico da educação de crianças em nosso país, bem como discorre sobre
algumas pesquisas realizadas na Educação Infantil. Também destaca o locus de pesquisa e os
sujeitos de investigação, justificando os caminhos percorridos para a concretização do estudo.
O terceiro capítulo, “E agora, como dizer os dizeres dos bebês?”, traz a centralidade das
interações e da linguagem enquanto constitutivas da subjetividade dos bebês, a partir das
relações estabelecidas entre eles, sinalizando, com base nos dados obtidos, suas interações de
partilha, disputa e posicionamento no mundo quando se utilizam das linguagens não conceituais
para dizer de si, mas também do outro.
Por fim, algumas considerações finais desseestudo, sinalizando questões para pesquisas
prospectivas e as principais implicações pedagógicas na prática pedagógica com bebês, sujeitos
que interagem por meio das diferentes linguagens que não a oral. Também o apontamento de
caminhos na construção de uma escuta pedagógica em que professores possam conferir
legibilidade às ações dos bebês, inferindo significações e reconhecendo-os como sujeitos de
direito, sobretudo às interações qualificadas.
27
CAPÍTULO I - CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO: O CAMPO DE
PESQUISA, SUJEITOS, PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS
Ao longo deste capítulo, apresentamos brevemente os caminhos percorridos para a
construção e elaboração dos dados e sua análise. Tomamos por base os desafios da pesquisa
com bebês e seus desdobramentos frente às especificidades pontuais destes, sobretudo no que
tange aos modos como registrar as ações de pesquisa frente às especificidades dos sujeitos e
seus modos de interações, inclusive com a pesquisadora, tendo em vista a necessidade desse
registro diante da multiplicidade de dados durante a investigação.
1.1 Desafio da pesquisa com bebês: caminhos trilhados
Vigilante: Ah! Sua conversa é com as crianças, não é
com os adultos não, né?!
(Diário de campo, 08/03/2019)
Já no início da pesquisa, alguns desafios surgiram. A cidade passou por um momento
de crise hídrica11, o que implicou, durante um certo período, no não atendimento dos bebês e
suas famílias pela creche. Foi necessário interromper as atividades e, por conseguinte, o período
inicial da entrada no campo de pesquisa. Nessa tentativa inicial de aproximação com o campo,
tivemos a informação de que ainda não havia crianças em atendimento por ocasião da falta de
água que afetou toda a população campinense.
A instituição onde ocorreu a realização da pesquisa fica situada em uma das regiões
mais afetadas pela crise hídrica na cidade e, na ocasião, a mídia destacou que das trinta e nove
creches municipais, oito ainda estavam sem realizar atendimento às crianças por falta de
abastecimento.
Diante desse fato, nos ausentamos do campo até que se resolvesse essa questão maior
que envolvia o atendimento aos bebês. Durante a saída da instituição, o vigilante nos
11 Crise ocasionada por uma pane elétrica na estação de tratamento de água do município, deixando mais de oito
munícipios sem abastecimento.
28
questionou: Oxe12! E já vai?. Em diálogo com ele, afirmamos que o fato da ausência dos bebês
impossibilitava o andamento da pesquisa. Ele de imediato disse: Ah! Sua conversa é com as
crianças, não é com os adultos não, né?. Eram os primeiros dias de aproximação do campo e
as professoras haviam separado aquele momento para realizar o planejamento semanal.
Achamos inviável permanecer no espaço sem que antes houvesse uma vinculação com os
sujeitos de modo mais relacional.
A observação do vigilante mostrou o seu reconhecimento de que a nossa ida e a estadia
no campo se davam justamente para ouvir13 os bebês, visibilizando-os como sujeitos
importantes da educação, os quais precisam ser considerados por toda a comunidade escolar,
científica e pelas políticas públicas de educação.
No nosso estudo, consideramos a abordagem qualitativa um importante elemento
intermediário para a configuração de um olhar minucioso sobre as interações dos bebês no
contexto natural de seu cotidiano, prerrogativa da própria natureza do objeto de estudo. Como
Bogdan e Biklen (1994, p. 69) descrevem,
Nos estudos qualitativos os investigadores preocupam-se com o rigor e
abrangência dos seus dados. A garantia é entendida mais como uma
correspondência entre os dados que são registrados e aquilo que de facto se
passa no local de estudo do que como uma consistência literal entre diferentes
observações.
Ademais, os diálogos entre os dados obtidos, a partir da leitura da pesquisadora e o que
acontece nesse cotidiano, com vistas aos recursos de registro, tornaram o caminho da pesquisa
contextual. Assim, nosso caminho se construiu a partir da observação participante e conferindo
significados às ações dos sujeitos de pesquisa. A observação participante nos permitiu vivenciar
o processo de pesquisa com os bebês, suas interações e linguagens de modo mais próximo, uma
vez que o contato direto com eles nos possibilitou tornar exótico o que parecia ser tão familiar
(DA MATTA, 1978).
Nessa pesquisa, ouvir os bebês a partir de suas interações implicou também considerar
as outras vozes do processo educativo que, na ocasião, de algum modo atravessaram o nosso
estudo, gerando importantes contribuições.
12 “Oxe” é a abreviação de “Oxente”, uma interjeição usada comumente na região nordeste do Brasil e utilizada
com o significado de surpresa, estranheza, admiração e espanto. 13 Propusemos uma escuta comprometida com os bebês, mesmo reconhecendo os limites no grau de compreensão que poderíamos alcançar, tendo em vista que sempre passaria por uma interpretação (ROCHA, 2008).
29
Na narrativa, Arnaus (2008) sinaliza que as vozes que narram e as vozes que interpretam,
vozes de quem investiga e de quem é investigado, individualmente e socialmente são portadoras
de vidas narradas. Nessa direção, procuramos, por meio das narrativas apresentadas pelos
bebês, seus gestos e ações, oferecer ao leitor uma narração, descrição e uma interpretação
responsivas.
1.1.1. Procedimentos e instrumentos
Escolhemos a observação participante porque pesquisar bebês no contexto da creche
revela necessidades pontuais no que diz respeito à interação com eles e as professoras. São
bebês que demandam colo e atenção, que choram, mordem e empurram, o que requer uma
observação apurada do pesquisador na relação educativa com as professoras, ao passo que
algumas interações exigem a intervenção de um adulto.
Realizamos esse exercício durante toda a pesquisa, uma vez que, se por um lado
precisávamos imergir no campo de investigação para compreender as formas pelas quais os
bebês interagiam, por outro precisávamos nos afastar para conseguir perceber justamente como
aconteciam essas ações.
Estar numa sala com bebês é, na medida do possível, interagir com eles. Por outro lado,
as professoras sentem-se mais confortáveis, pois não se veem “vigiadas” por um pesquisador,
questão tão recorrente, ainda, na relação de pesquisa. A aceitação dessa pesquisa por parte das
professoras se deu com mais tranquilidade porque houve, durante as ações cotidianas, a
participação da pesquisadora, o que permitiu uma maior vinculação com todos os envolvidos.
Além disso, pesquisar num grupo de bebês exige muito equilíbrio por parte do
pesquisador durante a participação, sendo impossível quantificar as interações vividas num
contexto como o berçário. De todo modo, quando nos propusemos a utilizar a observação,
tínhamos clareza da necessidade de permanecermos atentos, sobretudo pelo potencial de
empatia e de alteridade que os bebês possuem.
No decorrer de todo o percurso investigativo, nos pautamos na intensa necessidade de
observar sempre junto aos bebês. Nessa orientação, Lüdke e André (1986, p. 26) apontam que
a observação direta permite que nos aproximemos das perspectivas dos sujeitos, bem como nos
auxilia na compreensão da realidade vivida por eles, ao estarmos em contato direto com o
fenômeno observado, para a obtenção de informações sobre a realidade dos atores sociais em
seus próprios contextos.
30
O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a
face com os observados (NETO, 1994, p. 59). Em se tratando de bebês, não há como não
participar porque os próprios bebês demandam que o pesquisador os coloque nos braços,
brinque, os acalente e os alimente junto com as professoras. Nessas ações, houve uma
preocupação nossa em manter o equilíbrio, pois ao passo que observávamos o entorno, também
presentificávamos o bebê que solicitava nosso olhar e atenção.
Assim sendo, optamos por vivenciar integralmente o cotidiano dos bebês. Sua entrada
na creche era às 07h e a saída, às 17h. Nesse panorama, constatamos diversos indicativos que
permitiam, impediam, contribuíam ou interferiam nas relações estabelecidas entre eles e suas
professoras. No nosso estudo, somente na troca de fraldas e roupas no trocador apropriado para
os bebês não houve participação da pesquisadora.
Nessa vivência, os movimentos, gestos, frustrações, silêncios, balbucios e outros
aspectos relativos aos objetivos propostos foram observados e registrados em um diário de
campo. Esses registros, por se referirem a episódios14 muito específicos e importantes para a
investigação, foram realizados sempre que oportuno ou em momentos próximos ao tempo em
que haviam ocorrido, a fim de garantir uma maior fidedignidade aos fatos.
A pesquisa com os bebês nos lança um desafio, a priori já refletido. Como observar e
participar sem perder os detalhes? Chegamos à compreensão de que o que seria uma dificuldade
se concretizou como uma possibilidade de observar o processo por dentro, o que presumiu nos
permitirmos o estranhamento, ainda que tivéssemos certa familiaridade com o observado.
Decerto que algumas vezes recorremos às professoras para solicitar que realizássemos
registro de algumas ações vividas pelos bebês, tendo em vista a riqueza de detalhes e que seria
provavelmente impossível descrevê-las em sua complexidade, se deixássemos para
posteriormente.
Geralmente realizávamos os registros no diário de campo no horário do soninho,
momento destinado ao descanso e dormida dos bebês durante a rotina. Por vezes, o registro foi
realizado perante os sujeitos de pesquisa, o que seria mais confortável e viável para o estudo,
mas em um contexto de vinte bebês, em respeito à ética e à colaboração daqueles que nos
acolheram e aceitaram a proposta de pesquisa, para efetivá-lo diante dos sujeitos, pedimos
autorização às professoras, que concordaram.
14 Trataremos por episódios as situações vividas pelos sujeitos da pesquisa, as quais mereceram nossa análise, uma
vez que a pesquisa narrativa e a análise microgenética, presentes neste trabalho, conferem essa nomenclatura. Para
ações da pesquisadora ou situações do contexto da pesquisa, utilizaremos momento/período ou demais sinônimos.
31
Consideramos que a viabilidade da observação participante, se por uma lente permitia
uma maior vinculação aos sujeitos, o que nos dava muitos indicativos de pesquisa, por outra,
nos fazia perder alguns detalhes que a observação de fora nos oferecia. Mas uma interação em
específico gerou um novo dado de pesquisa, no que tange à aceitação da pesquisadora por um
grupo de bebês, sendo necessário acrescentar o registro a seguir:
Estou sentada observando os bebês manipularem os brinquedos, a
maioria tem objetos em circularidade em suas mãos e bocas, há choros.
Aproveito para registrar essas ações com os objetos. Kaio se aproxima
e coloca a mão direita em meu ombro. Olho para ele, permito que
observe um pouco mais meu processo de escrita (Afinal, a escrita
também é uma ação que precisa ser vivenciada em contextos de
educação formal, e por que não com os bebês?). Após a sua observação
sobre mim, me dirijo a ele, olho em seus olhos e digo: Estou escrevendo
sobre vocês, sabia? Penso: E com vocês! Me olha e com um gesto de
confirmação de meu objeto de pesquisa, beija a página do caderno de
campo e me autoriza a continuar escrevendo. Vai até os amigos,
balbucia e convida Iago para vir até mim. Retribuo o beijo dele com
um beijo em seu braço, que novamente havia colocado em meu ombro.
(Diário de campo, 13/03/2019)
Nas questões éticas da pesquisa, nesse caso com bebês, são os responsáveis legais15 que
respondem pela decisão de participar ou não. No entanto, ações como esta do bebê, em nossa
leitura, autorizaram, ainda que simbolicamente, a continuação da escrita e da pesquisa com e
sobre os bebês.
Apoiando-nos na inferências contextuais e nas orientações de Lüdke e André (1986, p.
23), quando esclarecem que a observação participante é uma estratégia que envolve não só a
observação direta, mas todo um conjunto de técnicas metodológicas, pressupondo um grande
envolvimento do pesquisador na situação estudada, o conjunto de escolhas metodológicas foi
esclarecido para as professoras do berçário, haja vista a necessidade de que compreendessem o
percurso da pesquisa.
15 Referimo-nos ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos responsáveis no início
da investigação.
32
O diário de campo viabilizou um registro mais descritivo e instantâneo quando
imergimos no campo. As descrições de ordem mais objetivas foram realizadas, por vezes, no
próprio campo, tendo em vista a riqueza de detalhes que poderia ser perdida se deixada para ser
feita posteriormente. Assim, nos momentos de sua retomada, realizávamos os comentários de
ordem mais subjetiva. Com base na ideia de Oliveira (2014, p. 69),
[...] o diário de campo configura-se como um dispositivo de registro das
temporalidades cotidianas vivenciadas na pesquisa, ao potencializar a
compreensão dos movimentos da/na pesquisa e das diversas culturas
inscritas no cotidiano da comunidade e da escola estudada.
Também acrescenta que esse registro requer rigor ao tempo, atenção, calma e
persistência, atributos fundamentais para o momento posterior, quando da leitura e análise.
Consideramos o diário de campo como um importante instrumento utilizado durante a
observação que se pautou, sobretudo, nas situações em que houve interações entre os bebês no
espaço da creche.
O diário de campo articulado à videogravação se configurou como um instrumento
indispensável nesta investigação, sobretudo pela diversidade de interações que ocorriam no
mesmo espaço, ao mesmo tempo. A partir das contribuições de Bogdan e Biklen (1994, p. 151),
que apontam que o registro no diário de campo se constitui como um relato daquilo que o
investigador vê, ouve, experiencia e pensa no decurso da recolha, utilizamos o mesmo como
nosso parceiro de registros objetivos e subjetivos, dada a complexidade do fenômeno em
estudo.
1.1.2 A fotografia e a videogravação
Considerando que pesquisar bebês se caracterizou como um desafio articulador de
incertezas e possibilidades, para registrar com riqueza de detalhes as interações dos bebês,
utilizamos novas tecnologias para agregar proposições ao nosso objeto e temática de estudo,
bem como para visualizar os bebês, sujeitos dessa pesquisa, no intento de compreender as
relações que eles estabelecem na creche, em suas interações e linguagens.
Jobim e Souza e Lopes (2002) nos levam a refletir sobre como olhar o mundo através
das lentes e sobre o que somos capazes de ver através delas. Enxergar o que foge do nosso
olhar, sobretudo quando estamos utilizando a fotografia como instrumento de pesquisa.
Acreditamos que as imagens, orientadas para os gestos e demais linguagens não conceituais
33
dos bebês, nos direcionam para a compreensão da construção de narrativas pelas crianças e que,
durante a pesquisa, precisam ser captadas pelo pesquisador. Para as autoras, as imagens
mediadas pela tecnologia constituem “as narrativas do mundo contemporâneo” (JOBIM E
SOUZA e LOPES, 2002, p. 62).
E quem são os bebês, afinal? Sujeitos contemporâneos que, nas suas ações, narram e
dizem a partir de suas internalizações sobre o mundo. De modo análogo, a fotografia nos auxilia
na fixação de uma ação dita nos interditos, quando não conseguimos categorizá-la em tempo
real. Esse instrumento de registro subsidiou nossa pesquisa na medida em que conseguimos,
além de captar as imagens, lê-las, tendo em vista que são textos, atribuindo os significados a
partir do vivido com as crianças em campo. Nas palavras de Jobim e Souza e Lopes (2002),
[...] a leitura de imagens como uma atividade subjetiva (a do pesquisador),
compromissada com a experiência racional (dos bebês e da pesquisa
científica) e sensível à tomada de consciência do mundo, deve ser uma
conquista e, assim, exige uma educação estética do olhar. (p. 62). (grifos do
autor)
Nessa direção, enquanto pesquisadores, precisamos nos sensibilizar para olhar não
apenas para ver, mas para enxergar a beleza, as tensões e os conflitos das ações infantis e suas
potencialidades que ocorrem no contexto da creche, mas que são permeadas pelas experiências
cotidianas de fora dela.
Diante desse debate, Bittencourt (1998, p. 199) destaca que a fotografia não pode ser
pensada apenas como uma técnica objetiva que compreende distintamente o mundo sensível,
tendo em vista que a imagem possui imprecisões. Desse modo, para evitar as ambiguidades,
associado à imagem, utilizamos o caderno de campo e, por vezes, a videogravação para melhor
descrever os dados, quando no momento da descrição, análise, interpretação e exposição destes.
Partimos da indicação de Bogdan e Biklen (1994) no sentido de não fotografar no início
da pesquisa, pois fizemos o movimento primeiro da observação participante, aproximação e
vinculação aos sujeitos, e pelas próprias questões éticas da pesquisa, quando se trata da
autorização para fazer o registro, principalmente de bebês.
Concordamos com Garanhani (2006) quando aponta que, com o uso do registro
fotográfico, conseguimos lançar mão de situações e/ou fatos importantes tanto para a análise
quanto para a exposição dos resultados de pesquisa, entendendo que há a possibilidade de captar
e fixar detalhes despercebidos num primeiro olhar. Citando Silva et al. (2005), na pesquisa com
crianças, precisamos estar atentos a ver e ouvir:
34
Ver: observar, construir o olhar, captar e procurar entender, reeducar o olho e
a técnica. Ouvir: captar e procurar entender, escutar o que foi dito e o não dito,
valorizar a narrativa, entender a história. Ver e ouvir são cruciais para que se
possa compreender gestos, discursos e ações. (SILVA, BARBOSA e
KRAMER, 2005, p. 48)
Para as autoras, essas duas ações têm implicações diretas na condução da pesquisa de
campo, no nosso caso, nos momentos em que nos valemos da observação participante, aspecto
de que trataremos adiante.
Atrelada à fotografia, utilizamos como recurso na produção de dados a videogravação,
pois possibilita ao pesquisador ampliar sua percepção acerca dos fatos em momentos fora do
campo. Como tratamos de observar, fotografar e registrar em vídeo atividades humanas, foi
possível retomar a intensidade das ações, expressões e relações estabelecidas entre os bebês e
seus parceiros. Isso justifica o uso da videogravação como necessária à construção de “registros
confiáveis e materiais empíricos válidos no contexto que possam ser tomados como fonte para
a compreensão de determinado fenômeno e/ou problema de pesquisa, o que determina a adoção
de procedimentos e recursos” (GARCEZ et al., 2011, p. 251).
Desse modo, os processos de videogravação e registros fotográficos foram realizados,
em um primeiro momento, com a câmera fixada à parede, a partir da utilização de um suporte
para a câmera, o que nos deu certa visão da totalidade das ações dos bebês no cotidiano.
Utilizamos como critério para a gravação os momentos da rotina que se sucediam: acolhida,
troca de roupa, café da manhã e, assim, sucessivamente. No entanto, no decorrer da pesquisa,
percebemos a necessidade de realizar registros mais próximos dos bebês em interação, a fim de
melhor compreendê-la, e, portanto, íamos em direção dos sujeitos com a câmera em mãos.
Realizamos os registros em dias alternados, na perspectiva de realizar o movimento de
distanciamento e aproximação das ações dos bebês. Ainda assim, essa organização diária não
impossibilitou que, em alguns episódios, deslocássemos a câmera que estava fixada na parede.
Realizamos uma sistematização para a produção dos dados em campo, como mostra o quadro
que segue.
35
QUADRO I: Produção dos dados
Fevereiro Parecer consubstanciado do Comitê de Ética (autorização
para entrada em campo) Março Ida à creche para apresentação da pesquisa
Março (3 dias) Aproximação dos sujeitos, imersão no berçário
Conversa e explanação para as professoras
Março (1 dia) Primeiro dia de observação utilizando o instrumento diário
de campo Início da recolha das autorizações pelas famílias
Março (7 dias) Observações apenas com o uso do diário de campo e
fotografia (câmera em movimento)
Abril (10 dias) Maio (2 dias)
Produção de vídeos e fotografias
Autoria própria (2019)
No que tange ao tempo de produção dos dados, constituímos um total de vinte e três
dias, sendo três dias por semana, alternados e vividos em tempo integral, ou seja, a entrada se
dava às 07 horas e a saída, às 16 horas e 45 minutos, quando os bebês e suas professoras iam
para casa. O objetivo foi de participar dos vários episódios vividos pelos bebês na creche. No
total de registros videogravados, temos um corpus de aproximadamente doze horas. Geralmente
gravávamos de vinte a quarenta minutos por dia. O restante dos dados foi construído com base
na observação e em registros no diário de campo.
Realizamos as gravações com base em critérios previamente estabelecidos, partindo da
organização da rotina no berçário. Buscamos conhecer minuciosamente essa rotina para
planejar a observação, o que não implica dizer que não estivemos atentas aos episódios
inesperados. Por esse motivo, realizamos inicialmente a aproximação com os bebês, a fim de
organizar o que observar, considerando desde a chegada, o café da manhã, as atividades livres
e dirigidas, o banho e toda a rotina vivida na creche. Essa organização não impedia que outros
episódios fossem gravados durante todo o dia, principalmente se tivessem relação com outros
episódios dos bebês, uma vez que pesquisar com eles implica ficar diante do inesperado e,
algumas vezes, do inusitado.
Outro aspecto da videogravação mais próxima aos sujeitos diz respeito às demandas
conflituosas que ocorriam entre eles no cotidiano no berçário. Inúmeras foram as vezes em que
a pesquisadora, por estar mais junto por conta de sua ação de pesquisa, precisou parar a
gravação para auxiliar os bebês. Sabemos que a intervenção do pesquisador interfere no dado,
mas, no caso da pesquisa com bebês, não há como continuar a realização da gravação sabendo
que um bebê está prestes a cair, uma vez que estão em fase de construir seus primeiros passos,
36
que um bebê está sendo mordido ou que seus cabelos estão sendo puxados pelo colega,
principalmente porque, como apontado nessa pesquisa, eles estão vivendo fortemente a
construção de sua constituição subjetiva, sobretudo de compreender quem é o outro e quem eles
são.
Também por questões éticas e humanas, em algumas ocasiões em que as professoras
encontravam-se relativamente distantes para evitar alguns ocorridos, principalmente em
situações de interação de disputa, a pesquisadora se incluiu na ação entre um bebê e outro para
evitar machucados e aguardou a mediação das professoras, tendo clareza de que a intervenção
naquele espaço deveria ser delas. Também por reconhecer que, na nossa cultura, muitos são os
atores que diariamente interferem direta ou indiretamente no trabalho do professor, inclusive
em sua autonomia.
De início, em nosso desejo de registrar exatamente o que acontecia no campo, houve
momentos em que vivemos conflitos em decorrência das situações vividas, na hipótese de
perder determinadas informações, no que tange às gravações mais próximas com os bebês. Mas,
ao refletir sobre nossa posição de pesquisadora e, na ocasião, considerando as relações
humanas, entendemos que o dado numa pesquisa com bebês é exatamente a impossibilidade de
registrá-los. Nessas situações, fazia o registro em diário de campo.
Em se tratando dos momentos nos quais não realizamos registros em vídeo dizem
respeito ao tempo destinado ao banho, por se tratar de um momento da rotina que demandava
o auxílio às professoras, já que duas se dedicavam a essa ação e a terceira permanecia
observando os bebês até que todos fossem atendidos. Nessas ocasiões, a observação da
pesquisadora se dava próximo ao banheiro, para que pudesse também refletir sobre esse
momento da rotina. Já durante a alimentação, os registros foram realizados com a câmera fixada
à parede, uma vez que, nessa ocasião, auxiliávamos as professoras na observação e alimentação
dos bebês.
As imagens a seguir foram registradas por uma das professoras, quando solicitada pela
pesquisadora, pois estávamos (a pesquisadora e dois bebês que brincavam e compartilhavam
objetos e interações) embaixo do balcão, local de difícil visualização em relação à totalidade da
sala.
Gabriel16, movido pela curiosidade de verificar o que a pesquisadora fazia, sentou-se
no seu colo e observou, alternando o olhar, as ações que ocorriam na tela, as que aconteciam
no entorno e a pesquisadora. Insatisfeito por não se ver na tela, foi para a frente da câmera. Em
16 Vale destacar que tanto as professoras como os responsáveis pelos bebês assinaram um termo de uso de imagem
para esta pesquisa. Utilizaremos pseudônimos na intenção de minimizar a exposição dos bebês.
37
seguida, Antônio se aproximou e solicitou algo, apontando para os colegas, mas não
compreendi inicialmente. Disputaram o colo, mas depois seguiram em busca de uma boneca.
Fotografia 1 Fotografia 2
Fonte: Registro realizado por uma das professoras da sala (2019)
Pinheiro et al. (2005, p. 718) indicam o uso do vídeo em pesquisas qualitativas para o
estudo de ações humanas complexas difíceis de serem integralmente captadas e descritas por
um único observador. Os autores apontam que essa escolha metodológica colabora na
apreensão do fenômeno em sua complexidade. Também sinalizam que, em se tratando da
multisensorialidade humana, ao fazer o uso da filmagem, pode ser necessário ao pesquisador
[...] desenvolver habilidades para apreender e decodificar os sinais não-
verbais, baseando-se em referencial teórico adequado para a compreensão dos
aspectos não-verbais que envolvem as interações humanas. Ressalta-se que,
na filmagem, o verbal e o não-verbal devem ser analisados como partes de um
único fenômeno. (PINHEIRO et al., 2005, p. 720)
Considerando a diversidade de gestos e ações comunicativas que os bebês estabelecem
entre eles, os adultos e os objetos, faz-se importante o uso da filmagem. Cientes de que
“nenhuma teoria, por mais estruturada que seja, dá conta de explicar todos os fenômenos e
processos” (MINAYO, 1994, p. 18), compreendemos que o vídeo nos aproxima da
38
multidimensionalidade apresentada pela potência dos bebês e de suas linguagens não
conceituais.
É importante sublinhar que os vídeos registrados não se caracterizam como uma mera
transposição da realidade, uma vez que o nosso olhar, enquanto pesquisadora, direcionou o que,
quando e por que registrar. É necessário esclarecer que a escolha por bebês em uma creche já
sinaliza uma posição subjetiva da pesquisadora em visibilizá-los como sujeitos de pesquisa.
No caso dos bebês, a câmera se tornava um fator que despertava a curiosidade, pois
visualizavam a câmera articulada à parede e se interessavam por ela. Mas suas ações
independeram de estarem sendo observadas ou gravadas. Em relação a isso, pudemos constatar
que a curiosidade mobilizou Ricardo e Iara a se posicionam em frente à câmera, ao perceberem
que havíamos iniciado a videogravação, mas logo em seguida voltaram a brincar, como
comumente faziam.
Fotografia 3: O que você está fazendo?
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Em algumas situações, também utilizamos um adaptador na parede da sala do berçário, para
que fosse possível registrar integralmente o cotidiano. Nessas ocasiões, observamos que havia
preocupação das professoras em “não atrapalhar” as ações dos bebês. Ao posicionarmos a
câmera, anunciavam: Tá gravando, oh!, o que gerava inicialmente silêncios e poucas conversas
entre as professoras.
Acrescentamos que optamos por analisar os dados no formato em que foram produzidos,
portanto, em vídeo, pois concordamos com Garcez, Duarte e Einseberg (2011) ao salientarem
que, ainda que pudéssemos detalhar minuciosamente os detalhes da gravação e das mais
variadas ações dos sujeitos, ainda assim, muitos aspectos poderiam deixar de ser contemplados
no escrito.
39
Vale salientar também que registramos em vídeo as interações dos bebês sob duas
possibilidades: a primeira, em que fixamos à parede principal do berçário um adaptador com o
qual a videogravação ocorria em contexto, sem direcionamento da pesquisadora;
posteriormente, os registros foram realizados aproximando a câmera de eventos específicos,
acompanhando-os de modo mais próximo, com vistas a um maior aprofundamento de
determinadas situações interativas.
1.1.3 A Pesquisa Narrativa
Como pesquisador você não tem o privilégio de inventar histórias, mas sua
percepção de como algo tem funcionado pode ser contada em formato de uma
história, incluindo as histórias que outras pessoas contaram para você. A
narração de histórias faz parte da prática do pesquisador qualitativo. (STAKE,
2011. p. 187)
Stake (2011) nos auxilia na compreensão de como dados produzidos devem ser
analisados de modo científico e acadêmico, atentando-nos para a especificidade do que se diz
e de como se diz. É fato que, durante nossas análises, as ações dos bebês em sua realidade
concreta podem ter diversos significados, mas o pesquisador atento tem condições de
contextualizar o dito a partir do vivido com os sujeitos de investigação.
Optamos pelas narrativas na tentativa de nos aproximar mais fielmente das linguagens
não conceituais que os bebês apresentavam no momento da investigação. Nossa escolha se deu
justamente pela intenção de divulgar o potencial de interação dos bebês em contextos de creche
e, principalmente, de suscitar reflexões acerca das práticas pedagógicas que podem ser
desenvolvidas com esses sujeitos de direitos, de potenciais, de aprendizagem e, sobretudo, de
subjetividade. Nessa direção, a experiência de cada sujeito é singular, mas constituída em
enredos coletivos e que narram, a partir de suas ações, o vivido (PATRICIO, 2012).
Diante dessa afirmação, narramos os episódios entre os autores-bebês como forma de
dar visibilidade aos sujeitos da ação pedagógica no berçário e seus processos de subjetivação.
Bruner (apud OLIVEIRA e PAIVA, 2002, p. 46) reitera que uma narrativa é composta por uma
sequência singular de eventos, estados mentais, ocorrências envolvendo seres humanos como
personagens ou autores.
Estamos nos colocando no lugar de pesquisadora-narradora, num contexto de pesquisa
que tem como objetivo particular trazer os bebês para o debate nas pesquisas em Educação,
40
compreendendo-os como autores que, junto aos seus coetâneos e professoras, sejam foco de
outras discussões, práticas pedagógicas e narrativas que os reposicionem socialmente.
No caso da creche, em práticas pedagógicas cotidianas, quem ocupa o papel de narrador
é o professor ou professora, trazendo os bebês para a conversa no cotidiano junto a ele/a.
Quando o/a professor/a se coloca na condição de registrar verbalmente para os bebês suas
interações, conferindo-lhes significado, os auxilia a realizar vinculações com ele/a, entre eles,
com a creche, posicionando-os no mundo. Uma creche da expressão ou da produção de sujeitos,
como destacado na introdução deste trabalho.
Embora nossos sujeitos sejam os bebês, trazemos a seguir um episódio que se deu no
grupo de bebês, tendo P117 como narradora de ações junto aos bebês, partindo do princípio de
que, nas práticas pedagógicas, a ação se caracteriza como falar para/com os bebês e fazer
para/com que eles tenham como referência o outro, nesse caso, a professora que narrava.
Após o lanche da manhã, por volta das 09h30, entre o lanche e o almoço
acontecem os banhos. Dois bebês já estão dormindo. Há bastante choro no
berçário, os bebês revelam estar com sono. As professoras conversam entre si e
com uma funcionária do apoio que havia ido levar fraldas.
P1 verbaliza para os bebês: Vamos cantar, minha gente? (e bate uma mão na
outra). Vamos, pra (nome da funcionária) ver vocês batendo palma? Kaio está
próximo e bate palmas, em imitação a P1.
P1: “Oh! Titia vai contar a história da floresta de novo” (aponta para a parede
onde tem alguns animais em E.V.A). Pega Rafael em seus braços e diz: “Olha o
leão, uau!!! Que leão bonito, Rafael”. Logo em seguida, o coloca no chão e ele
começa a chorar. Lembra que precisa iniciar o banho e pede a P2 que inicie o
processo. Conversam e negociam e P3 vai para o banheiro levando Clariana.
P3: “(Nome de P2), você dá banho em cinco e vem. Aí, eu dou em cinco”.
P1: (desiste da história do leão) “Então, eu vou cantar. Não vou contar história,
não!
Inicia novamente sua narração dirigida aos bebês. Ainda há choros. Ela
pergunta a P2: Como é a música da casinha? Lembra e começa a cantar: A
17 A partir desse ponto, por questões éticas da pesquisa, na apresentação de informações sobre as docentes e nas
transcrições das situações observadas, a letra P será usada para fazer referência às professoras do berçário (P1, P2
e P3).
41
janelinha abre... (faz gestos abrindo e fechando os braços) e alguns bebês
repetem a ação corporal da professora.
Inicia outra música: “Fui no mercado comprar café e a formiguinha subiu no
meu pé”... Poucos mostraram interesse.
P1, ao finalizar a música, verbaliza: Eita! A formiguinha subiu pela mão
(mostra a mão), pelo pé (se baixa e mostra o pé), não foi, Kátia? (que tem suas
mãos mexendo seus próprios pés).
P1 infere o significado da ação de Kátia e verbaliza: Foi. Aí titia fez assim, oh,
pra formiguinha sair (balança um pé, depois o outro).
Inicia outra música: Eu conheço um jacaré que gosta de comer (une as duas
mãos abrindo e fechando). Olha a boca do jacaré, o jacaré tem a boca grande!
A ação chama a atenção de Jade, ela se aproxima e toca na perna da professora,
que continua cantando. (Registro de pesquisa, 03/04/2019)
Ainda com relação às professoras, a narração de suas próprias ações em diálogo com
a dos bebês que as repetiam é fundamental no posicionamento dos sujeitos na relação. No
entanto, nesse episódio observamos que muitos bebês já demandavam dormir, o que corroborou
para a pequena participação destes na narração feita pela professora. A pouca flexibilização nos
horários de rotina impossibilita que essas narrativas aconteçam efetivamente, pois embora os
bebês estivessem se colocando com choros, precisavam esperar o almoço para que pudessem
dormir. Entretanto, quando dormiam espontaneamente, as professoras se preocupavam: “Eita,
ele nem almoçou!”.
Ao assumirmos o desafio de investigar e participar de todo o cotidiano junto aos
bebês, ampliamos as possibilidades de ouvi-los e sermos sensíveis as suas ações. Para Connelly
e Clandinni (2008, p. 12), a narrativa é uma maneira de caracterizar os fenômenos da
experiência humana e, portanto, seu estudo é apropriado em muitos campos da ciência social.
Nesta pesquisa, a narrativa com bebês em contexto de creche se dá a partir da imersão
da pesquisadora em campo e das inferências que faz ao captar as linguagens não-conceituais
dos bebês. A sua atuação como narradora das histórias vividas pelos bebês ocorre na medida
em que destaca as interações cotidianas entre eles em um espaço que permite uma diversidade
de primeiras experiências e que produz narrativas, fatores fundamentais para a constituição
humana. Oliveira e Paiva (2001) advogam que
42
A pesquisa narrativa mais comum pode ser descrita como uma metodologia
que consiste na coleta de histórias sobre determinado tema onde o investigador
encontrará informações para entender determinado fenômeno. As histórias
podem ser obtidas por meio de vários métodos: entrevistas, diários,
autobiografias, gravação de narrativas orais, narrativas escritas e notas de
campo. (p. 3)
Diante das histórias registradas, buscamos descrever episódios que caracterizassem as
regularidades das interações que os bebês iam estabelecendo no cotidiano da creche e que
suscitaram três os centrais na nossa discussão a partir dos dados obtidos: interação partilha,
interação apoio/ajuda/colaboração, interação disputa, e interação afirmação, eixos que serão
discutidos posteriormente.
Para Gouveia (2016), se para o adulto a linguagem oral permite que narre o vivido, para
as crianças, o que permite narrar suas experiências é a repetição de ações, sejam suas ou dos
seus pares. Portanto, as interações repetidas pelos bebês durante a investigação são
consideradas como suas narrativas. De acordo com López (2016),
A narração constitui a principal fonte de entrada para a linguagem. Narramos
para sobreviver, para compreender o significado das coisas que acontecem ao
nosso redor, para organizar o tempo. Os bebês precisam, prioritariamente,
destas experiências narrativas precoces, tanto aquelas que organizam a vida
cotidiana (“Agora vou dar banho em você, vou tirar sua roupinha, depois
vamos comer e descansar...”; “ Nossa, olha esse passarinho que está em cima
do galho, agora saiu voando... é muito colorido”, por exemplo) quanto as
narrações poéticas, que nos dão os contos e alimentam o território da ficção.
(p. 14).
A narração se constitui como um movimento dialógico de interação-repetição-
linguagem em que a linguagem dos bebês se dá de forma não conceitual ou pré-simbólica, o
que justifica a potência deles no conjunto dos objetivos propostos por esta investigação. Na
medida em que estão imersos numa cultura que narra e inferem significados de suas ações, sua
linguagem vai sendo construída e constituída, ao mesmo tempo em que se constituem como
sujeitos narradores, com suas ações.
Para analisar as interações que ocorrem entre os bebês é preciso, antes de tudo, conhecê-
las, identificar as linguagens expressas e as narrativas frequentes no espaço das relações do
contexto do berçário. Os bebês ganham centralidade na medida em que enxergamos a potência
de suas ações, conflitos e virtudes de sua incompletude (VASCONCELOS et al., 2003). Nessa
perspectiva, também cabe ressaltar que esta investigação narrativa permitiu que todos tivessem
voz dentro da relação investigativa: bebês, suas professoras e pesquisadora.
43
Silva, Barbosa e Kramer (2005) destacam três eixos que percorrem as relações adulto-
criança no processo investigativo. São eles: experiência, autoridade e narrativa.
A experiência de pesquisar junto a bebês, embora tenha sido realizado o movimento de
ver e ouvir de modo horizontalizado, o modo como as linguagens iam emergindo nas interações.
A pesquisadora fala de um lugar, teórico, conceitual, portanto de certa autoridade acadêmico-
cientifica, bem como do lugar de professora atuante na educação infantil. Na busca ampliar o
olhar para as relações estabelecidas entre os bebês-bebês e bebês-adulto, e que passam pela
autoridade. Nas narrativas, as quais os bebês iam anunciando na medida em que iam se
constituindo na creche. Esta pesquisa se sustentou pelo seu direcionamento e atenção ao campo
das relações, entre a experiência de pesquisar junto aos bebês, a autoridade da relação
pesquisador-pesquisado e a narrativa, quando nos propusemos a observar, na busca por ver,
ouvir e entender, pois
Ver e ouvir são cruciais para que se possa compreender gestos, discursos e
ações. Este aprender de novo a ver e ouvir (a estar lá e estar afastado; a
participar e anotar; a interagir enquanto observa a interação) se alicerça na
sensibilidade e na teoria e é produzida na investigação, mas é também um
exercício que se enraíza na trajetória vivida no cotidiano. (SILVA,
BARBOSA e KRAMER, 2005, p. 48)
Corroboramos com a ideia das autoras, pois acreditamos que este ver e ouvir está
relacionado diretamente a nossa ação de pesquisa, mas também às práticas pedagógicas das
professoras, uma vez que essas ações estão imbricadas pelas trocas na interação da experiência,
da autoridade e da narrativa, se dialogada, entre os atores do/no berçário.
Diante do exposto, a contribuição e o esforço deste estudo se deram a partir das:
a) significações produzidas sobre os modos como os bebês interagem com o outro,
de modo que pudéssemos compreender melhor os seus desejos e suas ações;
b) possibilidades de maior visibilidade aos bebês enquanto sujeitos que possuem,
além de direitos já estabelecidos nos documentos em lei (BRASIL, 1996), linguagens,
necessidades, potencialidades e especificidades que precisam ser consideradas nos contextos
coletivos da Educação Infantil;
c) histórias das interações dos bebês como sujeitos potenciais que comunicam,
expressam, interagem, se apropriam, ressignificam a cultura na qual estão imersos, se
constituem nela e na relação com os outros experientes e coetâneos.
Nesse caso, fez-se necessário que se conhecessem os bebês no contexto da instituição
de Educação Infantil, especificamente na creche, que tem como pilares o cuidar e o educar, o
44
que requereu a escuta e o olhar para a forma como as crianças interagem, aprendem, se
relacionam e se constituem quando imersas na cultura. As DCNEI (2010) entendem a educação
em sua integralidade e destacam o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Na
contramão do binômio cuidar e educar, tomamos por base, em nossa discussão, uma educação
cuidadosa, da qual trataremos mais adiante.
Na defesa da pesquisa narrativa, nesta investigação, assim como Sahagoff (2015, p. 6),
acreditamos que ela
[...] pode provocar mudanças na forma como as pessoas compreendem a si
próprias e aos outros. Distanciando-se do momento de sua produção, é
possível fazer uma nova leitura de si mesmo. A pesquisa narrativa é um estudo
da experiência como história, assim, é principalmente uma forma de pensar
sobre a experiência, que pode ser desenvolvida apenas pelo contar de histórias,
ou pelo vivenciar de histórias. A narrativa é o método de pesquisa e ao mesmo
tempo o fenômeno pesquisado.
Ao definir o potencial de narrar das crianças como o ponto de conexão durante a
pesquisa, Fochi (2017) esclarece que é uma ação que nos coloca diante da possibilidade de
entrar em contato com o mundo, mesmo que no silêncio das palavras e na força dos olhos.
Nosso desafio foi narrar as linguagens dos bebês que se revelam por outros caminhos que não
o oral. O autor aponta, em sua experiência de pesquisa, a utilização de “mini-histórias”
enquanto categoria de análise, as quais estão relacionadas ao processo de rememorar os fatos
observados durante a pesquisa, analisando-os a posteriori.
Ainda com base nas ideias desse autor, consideramos que escrever mini-histórias pode
nos auxiliar na tomada de fatos, neste caso, interações que acontecem no cotidiano, e visibilizá-
las como aspectos que são diretamente relacionados ao que propõe a Educação Infantil. Além
disso, as mini-histórias permitem, além de conhecer, como propõe o autor, se conhecer no
mundo (FOCHI, 2018).
Portanto, ao destacar as histórias vividas pelos e junto com os bebês, trazemos, para
análise, as vivências de suas interações na creche. Essas histórias podem ser encontradas ao
longo de todo o texto e se comunicam a partir dos diferentes instrumentos escolhidos: diário de
campo, videogravações, fotografias e conversas informais. Nessa direção, as narrativas foram
os elementos centrais que possibilitaram conhecer e compreender melhor os bebês e suas
linguagens.
Diante do exposto, nossa abordagem de análise microgenética está circunscrita em um
movimento de interpretação social, cultural e semiótica dos processos humanos (GOES, 2000),
45
uma vez que tratamos de narrar/relatar alguns indicativos e regularidades de como os bebês se
constituem intersubjetivamente na relação com o outro, imersos e mediados na e pela cultura.
Góes (2000) conceitua a análise microgenética como
[...] uma forma de construção de dados que requer a atenção a detalhes
e o recorte de episódios interativos, sendo o exame orientado para o
funcionamento dos sujeitos focais, as relações intersubjetivas e as
condições sociais da situação, resultando num relato minucioso dos
acontecimentos. (GOÉS, 2000, p. 9)
É importante esclarecer que pela natureza da análise em questão, destacamos episódios
interativos dos bebês, os quais estavam relacionados a vivências anteriormente estabelecidas
em práticas sociais dentro ou fora da creche, o que nos possibilitou a produção de significados
sobre esses sujeitos e suas subjetividades. Por isso, nossa atenção às minucias de um curso de
transformação das ações do sujeito (GOES, 2000. p.13), à dimensão processual de constituição
do sujeito que está inserido na história e na cultura, no tempo e no espaço.
Elegemos, desse modo, as categorias de análise, tendo como base o tipo de interação
vivida entre os bebês nos episódios destacados narrativamente na pesquisa. Estas interações,
tratando-se de ações que foram predominantes no estudo e cotidiano junto aos bebês, são
trazidas como centrais na nossa discussão. Os dados foram selecionados, em um primeiro
momento, pelos tipos de práticas sociais às quais são expostos, nos quais identificamos quatro
tipos de interação que são o foco de nossa análise
QUADRO II: Categorias de análise
INTERAÇÃO DEFINIÇÃO
PARTILHA
O compartilhamento de brincadeiras, objetos, espaços, alimentos etc. por parte dos bebês.
APOIO/AJUDA/COLABORAÇÃO
A iniciativa de auxiliar outro bebê em uma
atividade (comer, vestir, calçar, dormir, tomar
banho).
DISPUTA Conflitos ou disputas entre os bebês por
espaços ou objetos.
AFIRMAÇÃO
A predominância do gesto ou do balbucio na
interação voltada à tentativa de solicitar ou
demandar do outro que seus desejos fossem
atendidos.
Autoria própria (2019)
46
Diante dessas interações, temos a ideia de que cada episódio faz parte de uma história
mais ampla, a história da vida de cada sujeito. Temos a intenção de compreender a dimensão
subjetiva que estes imprimem as suas vivências quando estão na creche.
Com base no tipo de interação, conferimos a essas histórias, que incluem o individual
e o cultural, o pessoal e o social, a continuidade caracterizada em nossa pesquisa como a
repetição das interações pelo grupo de bebês e, portanto, das linguagens em curso que
possibilitam o tempo presente, passado e futuro e a situação (lugar ou prática social) que
chamamos de contexto, nesse caso, o cotidiano da creche. A interação, a continuidade e a
situação são três aspectos que compõem a tridimensionalidade do método narrativo, assim
como apontado por Conelly e Clandinni (2011). Circunscritos nessa composição estão os
sujeitos da experiência, os bebês. Assim, as interações que se repetem em um lugar ou prática
social, por sujeitos que estão nas suas primeiras experiências de se constituir, contemplam a
história de humanizar-se.
1.2 O locus e os sujeitos de pesquisa
O município de Campina Grande18 é a segunda cidade mais populosa do Estado da
Paraíba, conhecida como cidade universitária por abranger universidades públicas e privadas,
e possui trinta e nove creches municipais, uma conveniada19 e uma em nível federal20,
totalizando quarenta unidades que atendem a Educação Infantil no município.
Das trinta e nove creches municipais, dezessete atendem desde o berçário, portanto, há
um percentual de 43,5% de unidades com atendimento a bebês no município. Embora o bairro
de localização da unidade investigada tenha duas creches próximas, uma delas inaugurada no
ano corrente, a gestora relatou, em conversa informal, que havia, no período de realização da
pesquisa, uma lista de espera com aproximadamente cinquenta crianças (entre bebês, crianças
pequenas e bem pequenas) aguardando disponibilidade de vaga.
É importante sublinhar, no que tange à expansão da oferta na Educação Infantil, que
Campina Grande foi, entre os anos de 2017 e 2018, a terceira cidade21 que mais ofertou vagas
18 Plano Decenal Municipal de promoção, proteção e defesa de direitos humanos de crianças e adolescentes do
município de Campina Grande (2015-2024). 19 A creche conveniada com a Prefeitura Municipal de Campina Grande (PMCG) trata-se de uma unidade filantrópica à qual a Secretaria de Educação (SEDUC) cede professores(as) para atuarem na unidade. 20 Nos referimos à Unidade Acadêmica de Educação Infantil (UAEI), a qual mencionamos na introdução deste
trabalho. 21 Em 2015, foi apresentado ao poder Legislativo Municipal o Plano Municipal de Educação - Plano Decenal, que
foi sancionado pelo Prefeito Romero Rodrigues através da Lei nº. 6050/15, em consonância com o Plano Nacional
de Educação, Lei nº. 13005/14. Em nota na página da Prefeitura Municipal, a Secretária de Educação, Iolanda
47
em creches em tempo integral em nosso país, portanto, a creche de pesquisa contribuiu
quantitativamente com esse crescimento. Isso implica dizer que, mesmo com a iniciativa, há a
demanda por mais creches na região e, por isso, a oferta precisa continuar sendo ampliada por
parte do poder público, como podemos observar no mapa22 a seguir, que apresenta a localização
das unidades no município de Campina Grande.
QUADRO III: Mapa de localização das creches
Fonte: Autoria própria (2019)
Barbosa, aponta que a partir do Plano foram estabelecidas metas e estratégias para um decênio, no sentido de que
os resultados do foco no trabalho e na garantia do direito à educação das crianças fossem assegurados. O registro
oficial que autoriza o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE a doravante transferir os recursos
para a manutenção das novas matrículas nos municípios aptos a receberem os recursos foi publicado por meio da
Portaria 07/2019, de março de 2019, conforme a Resolução CD/FNDE nº. 16, de 16 de maio de 2013, ano que,
como já justificamos nos capítulos anteriores, foi importante para a Educação Infantil em nosso país, bem como
para o nosso município. Nossa pesquisa não tem como escopo a configuração desses dados, mas acreditamos que
é importante sinalizá-los neste texto, como um registro de resistência ao contexto que temos vivido, de grandes
perdas sociais, bem como acrescer a valoração positiva do direito conquistado. 22 O levantamento foi realizado junto à Secretaria de Educação (SEDUC), com a equipe técnica de Educação
Infantil, da qual a pesquisadora passou a fazer parte após a finalização da pesquisa de campo. Essa imersão
permitiu o acesso às informações aqui apresentadas. Contamos com a colaboração da arquiteta e mestranda do
Programa de Pós-Graduação e Educação da UFCG, Renata Carlos de Oliveira, para a elaboração gráfica deste
mapa a partir das informações coletadas.
48
2016 2017 2018
48
74
90 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
2016 2017 2018
O levantamento e acompanhamento das novas turmas de Educação Infantil, realizados
pela Secretaria de Educação, permitiram o planejamento e a expansão da oferta da educação às
crianças do município. Entre 2017 e 2018, houve um aumento de 415 novas vagas no
quantitativo.
Um dado que consideramos pertinente sublinhar refere-se ao levantamento que
realizamos, no censo escolar da instituição pesquisada, do quantitativo de bebês atendidos entre
os anos de 2016, ano de sua fundação, e 2018, ano em que iniciamos a proposição da pesquisa.
Constatamos que, nesse período de três anos, praticamente dobrou o número de bebês atendidos
na creche. Vale destacar que, segundo a gestora, todas as turmas atendem em capacidade
máxima, sendo vinte e quatro bebês para três professoras, totalizando oito bebês por adulto.
Gráfico 1 – Quantitativo de bebês atendidos (2016-2018)
Fonte: Autoria própria (2019)
Em se tratando da creche para realização da pesquisa escolhemos a partir de dois
critérios: atender bebês de até dezoito meses e oferecer viabilidade de acesso e locomoção da
pesquisadora para permanecer o tempo necessário à investigação. A escolha se deu com base
nesses critérios, tendo em vista que os objetivos propostos versavam sobre como bebês
interagem em um berçário de uma creche municipal de Campina Grande-PB.
Nessa investigação, reconhecer a capacidade humana de interagir e de produzir
linguagens e a creche como espaço que atua na constituição de sujeitos foi o que moveu os
49
objetivos, considerando que essa instituição, por ser um espaço de vida coletiva, é um rico
potencializador de interações.
Os sujeitos da pesquisa são vinte23 bebês com idade entre doze e dezessete meses, sendo
treze meninas e sete meninos. Destes, cinco estão matriculados na instituição desde 2018 e
quinze estão em seu primeiro ano de inserção no contexto formal da Educação Infantil. Residem
próximo à creche, assim como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990), no
inciso V do artigo 53. Durante as observações e conversas informais com as professoras, a
maioria possui irmãos pequenos e algumas mães estavam, à época de nossa inserção no campo,
em um novo processo de gestação.
O berçário foi escolhido já no primeiro dia de entrada na creche, quando da ida da
pesquisadora para tecer ponderações sobre a pesquisa. Ao entrar na instituição, havia choros,
os quais, até então, não discriminamos de onde vinham. Ao sermos convidada pela gestora da
instituição para conhecer o espaço, nos dirigimos à primeira sala de berçário, lugar onde havia
bebês dormindo. Na sala seguinte, os choros se intensificaram quando da nossa entrada na sala.
Na terceira sala, ainda estavam sonolentos. Após a apresentação de todas as salas e grupos de
crianças da creche, retornamos para o espaço em que a primeira linguagem já havia se revelado
como potente aspecto para a pesquisa.
Desse modo, a instituição atende atualmente a duzentas e vinte e quatro crianças em
tempo integral, possui nove salas para os grupos de crianças e cada uma delas tem um solário
anexo. Desse total, quatro salas são destinadas aos berçários e cinco, às turmas dos maternais.
Também dispõe de biblioteca, cozinha, varanda, lactário, campo de areia, recepção, biblioteca,
secretaria, sala da gestora, refeitório e uma horta comunitária.
Segundo a gestora, a instituição é a maior creche de Campina Grande em termos de
espaço físico. Caracteriza-se como um espaço amplo e de ricas possibilidades para o trabalho
com os bebês e demais crianças da instituição.
No que tange ao quadro de funcionários, atualmente há dezenove, incluindo secretária,
vigilantes, pessoal de apoio, rouparia e cozinha, o que nos indica que o atendimento a crianças
demanda uma equipe com vários profissionais.
Quanto ao quadro docente, há a gestora, a supervisora pedagógica, quatro professores
efetivos e vinte e três contratados temporariamente, dado que aponta para a necessidade de
realização, no município, de concurso público na área de educação.
23 Não realizamos o recorte para um grupo focal, tendo em vista que nessa fase muitos adoecem. Portanto, as
observações se pautaram nos dias em que os bebês se encontravam na instituição, desse modo garantindo que
todos participassem da pesquisa.
50
Concernente às professoras do grupo pesquisado, constatamos, em conversas informais,
os dados a seguir:
Quadro IV: Perfil das professoras do berçário pesquisado
P1 P2 P3
Formação acadêmica Graduação em
Pedagogia
Graduação em
Pedagogia
Graduação em
Pedagogia
Ano de conclusão 2000 2015 2012
Idade 45 28 44
Universidade de
formação
Universidade
Estadual da Paraíba
Universidade
Federal de Campina
Grande
Universidade Vale
do Acaraú
Tempo de atuação
com os bebês 3 anos 3 anos 3 anos
Vinculação Contratação
temporária
Contratação
temporária
Contratação
Temporária
Fonte: Autoria própria (2019)
Todas as professoras possuem a titulação24 exigida para a atuação na Educação Infantil,
conforme o art. 62 da LDBEN (BRASIL, 1996), que estabelece a formação em nível superior
para o trabalho com crianças25. Além disso, atuam há três anos com os bebês e trabalham na
instituição desde sua fundação, em maio de 2016. Portanto, todas as suas experiências com os
bebês ocorreram na unidade educacional de pesquisa.
24 Essas informações foram produzidas a partir de conversas com as professoras durante o período de produção de
dados. 25 Preconiza o Art. 62. A formação de docentes para atuar na Educação Básica far-se-á em nível superior, em
curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal (BRASIL, 1996). Entretanto, ao se admitir ainda,
a modalidade normal para a atuação atuar na Educação Infantil reforça-se a ideia de que para atuar junto as crianças
pouco se precisa. Sabemos que esta etapa educativa é basilar para a constituição sujeito e, portanto, se faz urgente,
repensar esta questão. Vale destacar que a Meta 15 do Plano Nacional de Educação (2012-2024), que diz respeito
à valorização dos profissionais de Educação, objetiva garantir uma política nacional de formação de professores
que assegure que “todos os professores e professoras da educação básica possuam formação especifica em nível
superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam” (BRASIL, 2014. p. 12). O
documento aponta que esta meta está diretamente relacionada à redução das desigualdades sociais e à valorização
da diversidade, como sendo fatores indispensáveis ao acesso a uma educação socialmente referenciada.
51
CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO INFANTIL, PESQUISAS SOBRE BEBÊS, OS BEBÊS E
AS INTERAÇÕES
É até bom! Porque ela está desenvolvendo
muito aqui. Ela nem andava e eu tive muitos
problemas na gravidez.
(Diário de campo, 26/03/19)
Este excerto traz a fala da mãe de uma bebê participante da pesquisa, a partir do diálogo
com a pesquisadora, que apresentou as intenções e compromissos da pesquisa, inclusive os seus
resultados, às famílias das crianças envolvidas. Essa mãe reconhece que sua filha avançou em seu
processo de desenvolvimento e aponta o lugar de centralidade da creche como um espaço que
atuou e contribuiu com sua bebê, reconhecendo-a como um sujeito com potencialidades, mesmo
considerando os problemas da gestação dessa criança na sua gravidez. Um aspecto que precisa ser
mencionado, diz respeito a não compreensão por parte da mãe, da real contribuição que a creche
pode favorecer na constituição de sua filha. Esse aspecto, pode ser reiterado nas relações de trocas
que podem ser estabelecias entre as professoras e as famílias.
Diante do exposto, podemos dizer que a Educação Infantil traz uma importante
contribuição para o desenvolvimento da criança em diferentes âmbitos: afetivo, social, cognitivo,
emocional, físico, entre outros. Os ganhos que ela propicia, embora recentes, são fruto de grandes
lutas, mas infelizmente ainda não atingem toda a população infantil.
Nesse sentido, faz-se necessário compreender o bebê e as condições sociais de
aprendizagem, desenvolvimento e produção de suas subjetividades em contextos de creche. Para
tanto, resgatamos alguns momentos importantes para pensar a Educação Infantil no contexto
brasileiro, o que permite evidenciar as suas implicações na concretização do direito da criança ser
educada numa perspectiva cuidadosa26 nos contextos da creche e da pré-escola.
26Nesta pesquisa, propomo-nos a suscitar reflexões a respeito do binômio cuidar-educar, uma vez que, são
categorias justapostas. Por essa reflexão, defendemos a educação cuidadosa, uma vez que, o educar enquanto um
processo hominização dos sujeitos, incorpora saberes de várias dimensões, dentre eles o cuidar, enquanto uma
subcategoria do educar, o que impede a utilização do binômio. Essa questão, corrobora com os resultados da
pesquisa de doutorado Amorim (2011), em que reitera a incompreensão e a não superação da dicotomia destes na
prática educativa.
52
Objetivamos refletir sobre o lugar da criança na história educacional brasileira, tendo
como ponto de partida o seu processo educativo e o direito da criança de 0 a 5 anos à Educação
Infantil.
2.1 Afinal, para que creche?
Ao analisar as mudanças do discurso sobre as práticas educativas com as crianças
pequenas no Brasil durante o século XIX, em contextos coletivos de educação, Cilivetti (1991)
aponta que os espaços de atendimento à criança surgiram atrelados ao discurso sobre creches e
asilos pós-escravidão, situação marcada pelos altos níveis de mortalidade infantil, pela presença
da criança no mundo do trabalho como algo naturalizado e pela percepção das crianças como
seres angelicais e assexuados.
A característica do Brasil como um país com arranjos específicos, colonizado por
portugueses (FREYRE, 2006) que objetivaram explorar as forças produtivas e as riquezas
naturais existentes no território nacional, influenciou os seus rumos. Tal configuração
repercutiu no modelo de sociedade e, consequentemente, de educação que temos hoje,
permeado por lutas, desigualdades, conquistas e entraves.
Nessa perspectiva, a partir da proclamação da República e do novo processo de
urbanização e industrialização capitalista do país, gerou-se a necessidade de espaços em que as
mães, agora também operárias, pudessem assegurar minimamente os cuidados de seus filhos.
Esses espaços, embora existissem, eram insuficientes em quantidade para atender à demanda
impulsionada pela nova ordem econômica.
Oliveira (2011) esclarece que esse cenário foi sendo remodelado a partir da segunda
metade do século XIX, quando os residentes na zona rural iniciaram o processo migratório para
a zona urbana, tendo como fator principal a industrialização e o crescimento econômico do país.
Nesse panorama, diversos mecanismos para a regulação da vida social foram se configurando,
inclusive no tocante à assistência às crianças. Esse atendimento, que se constituía com um
caráter mais assistencialista e higienista da infância, era direcionado para defender e desenhar
o cenário econômico, com vistas à urbanização e à industrialização exacerbadas nesse período.
Cilivetti (1991) aponta que o uso do termo “creche”, como uma concessão da língua
francesa, significa presépio (creche; sale d’asile), tendo tanto o seu significado quanto a sua
estrutura e funcionamento deslocados da França para o Brasil.
53
Em nosso país, as creches, encaradas como um favor ou caridade aos beneficiários,
surgiram no início do século XX, com caráter estritamente filantrópico e higienista, para o
atendimento às classes populares. De acordo com Oliveira (2011), durante a década de 1940,
as creches eram vistas como mal necessário, similares a instituições de saúde, com sequências
de triagem, lactário, auxiliares de enfermagem, bem como caracterizadas pela predominante
preocupação com a manutenção da higiene do ambiente.
Desde a Abolição à Proclamação da República, havia, por parte do Estado, a
culpabilização das famílias pelo fracasso de suas crianças (casos de crianças em situação de
deficiência ou morte, por exemplo), percebidas como futura mão-de-obra desperdiçada. A
creche foi tida, então, como um instrumento de sujeição dos trabalhadores, pautada na
manutenção da lógica capitalista, num sistema de organização do trabalho, de grandes
produções e de excessiva concentração de riquezas para os donos de terra, tendo como mão-de-
obra não só homens, mas mulheres/mães que, em algumas situações, precisavam abandonar
seus filhos para adequarem-se a essa nova demanda, em nome da própria sobrevivência
(SAVIANI, 2014).
Oliveira (2011) ainda aponta que somente após a Proclamação da República, no sentido
de suprimir as altas taxas de mortalidade infantil, bem como de elucidar outros problemas de
que as crianças pobres vinham sendo vitimadas socialmente, algumas diligências
contemplativas de proteção à infância foram iniciadas, com a criação de creches, asilos e
internatos. As creches tornaram-se um suporte na assistência às crianças e suas famílias, com o
objetivo de mantê-las desobrigadas dos cuidados com os filhos para dedicar-se, de forma mais
intensa, ao trabalho e aos interesses do mercado.
Na perspectiva de Rosemberg e Artes (2012), atualmente ainda há um descompasso
entre o contexto real e o legal na transição entre quando a Educação Infantil deixa de ser
assistência para ser educação, uma vez que nosso país é marcado por um contexto de
desigualdades de acesso em diferentes segmentos da sociedade, o que dificulta o
reconhecimento das crianças enquanto cidadãs dentro das próprias instituições infantis.
Compactuamos com a ideia de que a creche se constitui, também, como um espaço de
assistência às famílias trabalhadoras, mas, sobretudo, como um direito da criança. E,
caracterizando-se como um direito, a ideia de assistencialismo se rompe como via de mão única.
Para Kuhlmann Junior (1991), o assistencialismo se configurou em nosso país como
proposta educacional para a população pobre, fruto de uma articulação de forças jurídicas,
empresariais, políticas, médicas, religiosas e pedagógicas, discurso que foi disseminado de
modo pejorativo. Essa visão essencialmente assistencialista e compensatória, ainda presente na
54
Educação Infantil, entretanto, tem sido problematizada e até suprimida em documentos
orientadores e mandatórios (BRASIL, 2009; BRASIL, 2017).
É importante salientar que grande parte das creches foi criada por meio de iniciativas
coletivas e comunitárias junto às Secretarias de Assistência Social e, posteriormente, vinculada
às Secretárias de Educação (SAVIANI, 2014). Nessa conjuntura, a garantia do direito da criança
foi alcançada por meio das lutas de movimentos sociais, com a participação de diversos
coletivos, com vistas às mudanças sociais que foram ocorrendo ao longo da nossa trajetória
histórica.
O ECA (1990) conferiu à criança o estado de direito, garantindo-lhe os diretos humanos,
o direito à proteção e a oportunidades de desenvolvimento. Nesse sentido, é direito da criança
o pleno desenvolvimento e, para tanto, as DCNEI (2010), depois de duas décadas da
institucionalização do primeiro documento, reafirmam essa ideia quando reconhecem a criança
como
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas
cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
(BRASIL, 2010, p. 12)
O direito ao desenvolvimento pleno, em termos de garantia, precisa também ser
assegurado dentro dos espaços de Educação Infantil, nas creches e pré-escolas, em que devem
ser garantidas, às crianças, oportunidades para interagir, vivenciar, construir, brincar, fantasiar,
imaginar, desejar, aprender, observar, experimentar, construir sentidos e significados (BRASIL,
2010). Esse direito diz respeito às experiências que são possíveis de se oferecer às crianças
dentro do espaço formal de educação. Vale salientar que essa garantia pode ser assegurada se
estiver intimamente relacionada às concepções de criança como sujeito, infância e de Educação
Infantil que se expressem nas práticas cotidianas de professoras e outros profissionais da
Educação Infantil.
Nessas circunstâncias, a Educação Básica, que comporta a Educação Infantil, também
é direito de todos individualmente. Em seu artigo 29, a LDBEN estabelece a Educação Infantil
como primeira etapa da Educação Básica, tendo por objetivo o desenvolvimento integral da
criança de até cinco anos de idade, complementando a ação da família. O texto destaca que esse
desenvolvimento dar-se-á em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social (BRASIL,
2013).
Diante da clareza de que o atendimento em creche ou pré-escola é dever do Estado e um
direito da criança e da família, faz-se necessário garanti-lo, pois ainda não é algo universalizado,
55
uma vez que o Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024), que está em vigor, teve como
meta primeira universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola, o que diz respeito às
crianças de quatro e cinco anos, bem como ampliar o atendimento em creches em no mínimo
50%, para as crianças de até três anos, até o final desses dez anos.
Na direção do reconhecimento dos avanços da legislação, Barbosa e Richter (2013)
refletem que, mesmo com os avanços da legislação educacional, ainda não está instituída uma
cultura pedagógica e educacional que discuta “o que é e/ou como é/será a forma educacional
da creche no Brasil” (p. 18), questão de muita complexidade, considerando o modo e os motivos
de criação da creche no Brasil.
Nessa conjuntura, os modos pelos quais educa-se as crianças no contexto da creche estão
atrelados aos modos como se pensa/pensava o papel dessa instituição na sociedade,
justificando-se as fragilidades quanto à concepção da existência e da necessidade de um espaço
de vida coletiva. Atualmente, a partir das conquistas legais e de uma concepção de Educação
Infantil, primeira etapa da Educação Básica, espaço de promoção do desenvolvimento integral
das crianças, consideram-se vários aspectos que atendam ao universo infantil. Dentre esses,
estão os eixos estruturantes das práticas que devem ser desenvolvidas na Educação Infantil.
Dentro destes aspectos do universo infantil que precisam ser considerados nas práticas
pedagógicas, as DCNEI (2010) destacam em seu o art. 9º, que as interações e as brincadeiras
como os eixos estruturantes da prática pedagógica na Educação Infantil e, portanto, mais um
direito que deve ser garantido dentro dos contextos coletivos de educação.
2.2 O que dizem algumas pesquisas sobre os bebês?
Buscamos pesquisas realizadas entre 2013 e 2018, com vistas ao conhecimento
panorâmico sobre temáticas que considerassem a presença dos bebês na pesquisa educacional.
Tomamos como base o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes)27, para melhor esclarecer em que solo nossa pesquisa se
inseria. Não fez parte do escopo desta pesquisa analisar as investigações encontradas, mas
apontar o que vinha sendo pesquisado, nos últimos seis anos, informação que poderia sinalizar
aspectos que se cruzassem ou se contrapusessem à nossa investigação em campo.
O intuito foi conhecer as pesquisas sobre e com bebês e o que elas nos dizem a partir
das escolhas teórico-metodológicas dos seus autores. Nesse momento, também apontamos
27 Link utilizado para realizar o levantamento das pesquisas do período 2013-2018:
https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
56
pesquisas encontradas nas três principais universidades públicas de nosso Estado, a fim de
conhecer e destacar o que, em nosso contexto mais próximo, vinha sendo pesquisado sobre os
bebês.
Desse modo, selecionamos teses e dissertações da área da Educação, utilizando o
descritor “bebês”, considerando o período já mencionado e atentando para a área de
concentração na qual se circunscreve nossa pesquisa. Nessa busca, detectamos uma carência de
realização de pesquisas com bebês, suas interações e linguagens28, enquanto constitutivas de
sua subjetividade.
Tabela 1: Levantamento de pesquisas - bebês (2013-2018)
ANO
Dissertações
Mestrado
Profissional
Dissertações
Mestrado
Acadêmico
Teses
Total
Educação
2013 4 88 26 118 12
2014 12 72 31 115 17
2015 9 103 28 140 21
2016 12 93 30 135 20
2017 22 104 38 164 24
2018 23 72 34 129 21
TOTAL 70 532 187 637 115
Fonte: Autoria própria (2019)
É possível perceber, na tabela 1, que nos últimos seis anos, no que tange aos mestrados
profissionais, setenta pesquisas foram encontradas, quando utilizado o descritor “bebês”. No
mestrado acadêmico, por sua vez, quinhentas e trinta e duas pesquisas, havendo queda de trinta
e duas pesquisas entre 2017 e 2018. Já nas pesquisas de doutorado, houve uma manutenção de
aproximadamente trinta pesquisas anuais, totalizando 187 investigações no período
considerado (2013-2018). Já as pesquisas diretamente ligadas aos bebês, na área educacional,
somaram, nesse intervalo temporal, 115 trabalhos.
28 Informamos que alguns resumos encontrados não esclarecem os sujeitos das pesquisas. Apontam a temática, os
procedimentos e o aporte teórico, mas não dão indicativos dos pesquisados, o que nos obrigou a recorrer ao
trabalho completo para melhor compreender como ocorreu a investigação. Vale ressaltar que em alguns não foi
possível realizar esse procedimento, tendo em vista a não divulgação do trabalho completo.
57
Nesse sentido, para averiguar as pesquisas realizadas com os bebês, realizamos a leitura
atenta dos resumos das pesquisas encontradas na área da Educação. Essa escolha nos direcionou
para a conferência da presença ou não do bebê como sujeito das pesquisas. Desse total de 115
estudos, em termos de conteúdo teórico-metodológico, observamos que foram realizadas
pesquisas com temáticas em que os bebês estiveram presentes como sujeitos secundários, o que
podemos ver na tabela a seguir.
Tabela 2 – Bebês como sujeitos de pesquisa
Fonte: Autoria própria (2019)
Pudemos constatar que, do total de estudos encontrados a partir do descritor “bebês”,
no período recortado, apenas 44 foram investigações diretamente sobre ou com eles e suas
potencialidades, o que ainda indica a necessidade de pesquisas para a compreensão dos bebês
enquanto sujeitos sociais, de interações e linguagens. Sobre esses estudos, passaremos a tratar.
No ano de 2013, oito pesquisas foram encontradas, sendo duas teses e seis dissertações
que discorrem sobre diversas potencialidades dos bebês. As pesquisas, tanto de cunho
bibliográfico quanto de campo, nos auxiliam na compreensão panorâmica do que vem sendo
discutido no âmbito da Educação Infantil, portanto, suscitam temáticas para outras
investigações.
Num desses estudos, Correia (2013) defende que os bebês desde muito cedo produzem
explorações sonoras e que a creche, quando oferece suporte e valoriza propostas e objetos
atrelados à música, enriquece e permite que o bebê musicalize suas ações, o que preconiza o
seu protagonismo.
ANO Família Identidade
docente
Formação de
professores
Bebês Práticas
pedagógicas
Total
2013 - 1 2 8 1 12
2014 1 2 - 7 7 17
2015 1 - 1 7 12 21
2016 - 1 1 7 11 20
2017 1 3 2 9 9 24
2018 1 1 3 6 10 21
TOTAL 4 8 8 44 50 115
58
Tebet (2013), por sua vez, apresenta uma pesquisa de caráter teórico e atenta para a
necessidade de se problematizar a utilização de metodologias para os estudos com bebês no
interior dos Estudos da Infância, defendendo que as diferenças entre bebês e crianças não
podem ser ignoradas, apontando a singularidade dos primeiros.
Em sua pesquisa, Cuzziol (2013) investigou, junto a dezenove bebês de
aproximadamente sete a vinte meses, as capacidades de compartilhamento de vivências e
aprendizagens da cultura entre eles.
Escolto (2013) também se debruçou sobre a questão do potencial de compartilhamento
dos bebês, mas com enfoque nas interações destes com a esfera literária. Tratou-se de um estudo
de caso em que mapeou episódios de interação com os livros de literatura na creche, bem como
as mediações realizadas pelas docentes.
Já Alves (2013) investigou trinta bebês e seis berçaristas, tendo como objetivo central
compreender o processo de apropriação do espaço pelos primeiros, em suas dimensões coletivas
e individuais. Os resultados indicam que o ambiente do berçário pode ser compreendido como
um contexto de construções sociais e espaciais em que a criança estabelece relações.
Faria (2013) realizou uma investigação sobre quais conceitos da teoria histórico-cultural
propiciam a potencialização do desenvolvimento das funções psíquicas superiores, com
enfoque na atenção e memória das crianças de zero a três anos. Como resultados, confirmou
que o desenvolvimento dos bebês não é algo universal, portanto, é singular e não depende
apenas do biológico, ratificando a importância da cultura para as aprendizagens infantis.
Focchi (2013) também investigou as ações dos bebês (entre seis e quatorze meses) e
como essas ações problematizam a ação docente. Em seus resultados, reflete sobre a
necessidade de tempos e espaços, e de intervenções na educação de bebês serem planejados,
bem como acerca do respeito aos tempos de cada um.
Em 2014, foram encontradas sete pesquisas, sendo duas teses e cinco dissertações. A
pesquisa de Souza (2014), dissertação de cunho bibliográfico, refletiu sobre a compreensão das
instituições de Educação Infantil a respeito da inserção dos bebês no ambiente da creche, com
vistas à separação entre mãe e bebê. O estudo se deu a partir da teoria psicanalítica,
contemplando as variáveis subjetivas que ocorrem durante o afastamento entre eles, sendo
considerado pela autora que essa separação é de fundamental importância para a “estruturação
subjetiva do bebê” (p. 91). Aborda um aspecto que apareceu em nosso campo durante as
observações: o choro.
Gonçalves (2014) aprofundou estudos sobre práticas pedagógicas com crianças de até
três anos e analisou indicadores para a docência com bebês e crianças bem pequenas. Trata-se
59
de um estudo bibliográfico da produção nacional, com ênfase num corpus com treze trabalhos.
Entre os resultados, destaca a importância do esforço em pesquisar e reconhecer as significações
de bebês e crianças bem pequenas, atentando para as múltiplas linguagens. Esta se diferencia
da nossa pesquisa, pois tratou de apontar indicativos por meio de um estudo bibliográfico,
enquanto optamos por realizar um estudo empírico para que nossa contribuição se dê a partir
do locus concreto, portanto, na realidade de nosso município, compreendendo que nossas
escolhas metodológicas contribuem para pensar as práticas pedagógicas com bebês na realidade
local.
Nesse aspecto, temos clareza de que nossa pesquisa acresce ao esforço de investigar
empiricamente, tendo a responsabilidade de conhecer e analisar as interações entre os bebês em
um tempo, espaço e junto a eles. Outro desafio é a tentativa de nos posicionar como um
pesquisador poliglota (DANTAS, 2005) nas linguagens infantis, tendo a clareza de que a autora
propõe esse movimento para professores, mas incluímo-nos nessa condição diante da
necessidade de pesquisa e dos sujeitos em destaque.
Bourscheid (2014) vislumbra a potência da convivência com bebês e crianças bem
pequenas. Por se tratar de estudo qualitativo e propositivo, objetivou desencadear experiências
de linguagens manifestadas pelas crianças em interação com a música e com seus professores.
Santos (2015), por sua vez, suscita a capacidade ensinante e aprendente dos bebês junto
a seus pares, também a partir do uso da musicalização no processo educativo e de ampliação
do repertório cultural infantil.
Monteiro (2014) realizou uma análise de dissertações e teses (2007-2012) sobre o
brincar, bem como as metodologias utilizadas pelos pesquisadores para captar as vozes das
crianças. Como resultados, aponta que o brincar aparece nas pesquisas como parte das culturas
infantis ou como estratégia para contrariar regras do espaço escolar. Um aspecto que merece
atenção, destacado pela autora, é que Spinelli (2012) também realizou uma pesquisa de mesma
natureza, mas contemplando o período entre 1987 e 2010. A autora aponta que, de um
quantitativo de 99 dissertações encontradas em seu estudo, 51 foram realizadas com crianças
maiores de três anos.
Costa (2014), por seu turno, analisou as situações de apropriação da linguagem oral por
bebês e crianças e o papel do outro no contexto de um berçário. Os sujeitos foram quinze
crianças e seis professoras. Como resultados, evidenciou a necessidade da aprendizagem da
linguagem oral, bem como de práticas pedagógicas voltadas a esse fim e da formação de
professores da Educação Infantil.
60
Schmitt (2014) realizou um estudo com dois grupos de crianças: um com quinze bebês
entre seis e dez meses, e outro com quinze crianças pequenas, entre vinte e trinta e seis meses.
Os resultados obtidos indicaram que as relações estabelecidas entre os bebês e suas professoras
são de ordem coletiva e individual. Nesse caso, as situações mais individualizadas envolviam
cuidados com o corpo, que a autora chama de cuidado corpóreo-afetivo. Outro apontamento
feito por ela diz respeito à forte interferência dos bebês na constituição da rotina e das relações
na creche, o que indica a valorização de uma escuta das docentes no trabalho pedagógico com
eles.
Vargas (2014) direcionou o olhar para a socialização entre bebês e deles com suas
professoras. A pesquisa pautou-se na visão fenomenológica da ciência e da humanidade,
enfatizando as experiências que emergem entre os bebês. Tratou-se de uma pesquisa de cunho
etnográfico e interventivo que indicou a necessidade de se pensar o quão é complexa a ação
humana, incluindo a infância, uma vez que se trata de uma condição da experiência humana.
Quanto às pesquisas do ano seguinte, Ribeiro (2015) pautou seu estudo na perspectiva
histórico-cultural ao caracterizar o desenvolvimento de bebês e crianças bem pequenas que
frequentavam creches públicas paulistas. Os dados foram descritos e analisados através de uma
pesquisa bibliográfica e documental que tomou por base a Tabela para Observação do
Desenvolvimento Infantil29 (TODI), com um grupo de 218 crianças. Os resultados obtidos
pautaram-se na análise das variáveis desenvolvimento, atraso no desenvolvimento e
comportamento não apresentado pelas crianças, apontando que se faz necessária uma discussão
mais ampla, no sistema, acerca desse modo de avaliar, tendo em vista que as aprendizagens não
são universais.
A pesquisa de Pereira (2015), por sua vez, atentou para os processos de socialização
envolvendo nove bebês (de quatro meses a um ano e meio de idade) e três docentes, em uma
instituição de Educação Infantil. O estudo arremata que os processos de socialização vividos
pelos bebês são resultado de suas ações de observar, relacionar-se e participar do contexto
coletivo. Comprovou a condição de pluralidade deles ao participarem da cultura, construindo e
transmitindo valores. Reafirma, desse modo, o lugar das múltiplas linguagens das crianças
como forma de comunicar-se com o mundo.
Santos (2015), com sua pesquisa a respeito do uso da musicalização no processo
educativo e da ampliação do repertório cultural, suscitou a capacidade ensinante e aprendente
29 Instrumento utilizado por Terapeutas Ocupacionais da Secretaria de Educação de São Paulo, utilizado no ano de
2012, para identificar o desenvolvimento infantil de crianças na faixa etária de quatro meses a dois anos e cinco
meses.
61
dos bebês junto aos seus pares. Como resultados indica que a música como prática social que
amplia repertórios culturais, precisa estar envolvida em processos educativos colaborando na
coparticipação de culturas de pares por uma cultura da infância.
Outra pesquisa que tratou de aspectos relacionais dos bebês foi a de Castelli (2015),
que ressalta a capacidade dos bebês e crianças produzirem culturas infantis, sobretudo quando
as crianças mais velhas apontam a disponibilidade em situações de cuidado e carinho com
bebês. Também aborda a necessidade de ampliar os tempos e espaços na Educação Infantil,
com vistas ao fomento de relações entre diferentes faixas etárias e gerações.
Pens (2015) atentou para os bebês e sua capacidade de simbolização em situação de
abandono de suas cuidadoras. O locus da pesquisa foi uma Associação Comunitária de Pró-
Amparo à Infância. Como resultados, observou, no contato com os sujeitos de pesquisa, que
eles simbolizavam o abandono de suas cuidadoras “através dos eventos repetitivos” e que
revelavam suas inquietações por meio de “falas, gestos, brincadeiras, sintomas, e até mesmo
nos acontecimentos do cotidiano” (PENS, 2015, p. 11). Atentou para a necessidade de
observação e compreensão dos sujeitos bebês nas pesquisas, pois estas permitem representações
sobre a separação e o abandono vivido por eles em sua condição social.
Malmaann (2015) também investigou, a partir de uma pesquisa-intervenção junto a
bebês, a disponibilidade destes para as relações, enfatizando a potência dos sujeitos e as
múltiplas possibilidades de materiais com os quais se relacionaram durante a pesquisa. Em seus
dados, aponta que os bebês estabeleceram relações com os Materiais Potencializadores 30 e que
estes auxiliaram a construção e o compartilhamento de conhecimentos pelos bebês.
Silva (2015) realizou um estudo do uso do tempo no cotidiano de dois bebês que
frequentavam uma creche, observando sua rotina diária. Identificou que a predominância das
ações dos bebês ocorria a partir de suas interações, atentando para o fato de que, na creche,
havia um controle rígido do tempo. Enquanto resultados, sinaliza que a estruturação do tempo
e do espaço se mostraram rígidos durante a investigação, reitera também que outros estudos
sejam realizados com vistas a compreensão do cotidiano dos bebês em diferentes espaços
sociais.
Na perspectiva de compreender o universo dos bebês, Jesus (2016), em sua tese, indica
alguns percursos para que seja possível ampliar o entendimento sobre os bebês. Utilizou-se da
30 A autora aponta que utilizou materiais de origens naturais e/ou alimentos, tendo em vista a diversidade de
formatos, texturas, cores, cheiros e sabores, e que os Materiais Potencializadores se caracterizaram como
instrumentos que ampliaram as interações entre os bebês.
62
cartografia dos movimentos, enfatizando o protagonismo dos traçados realizados pelos sujeitos
da pesquisa como sendo sua forma de compreensão do mundo.
Silva (2016), por sua vez, destaca, em sua investigação em uma creche pública, a
potência do espaço, a valorização da ação das crianças e as suas produções culturais a partir da
prática pedagógica ali desenvolvida.
Nessa mesma direção, Oliveira (2016), em sua tese, reafirma a convicção da nossa
pesquisa quando constata que a creche se constitui enquanto locus de constituição do humano.
Salienta que os choros, sorrisos, balbucios e movimentos vão ganhando, em um primeiro
momento, significados das docentes e, posteriormente, são significados pelos bebês, num
processo em que tanto bebês quanto educadoras são afetados.
Já Macedo (2016) refletiu em sua tese sobre a participação das crianças em uma
perspectiva emancipatória, discutindo as categorias divisão sexual do trabalho, infância como
grupo minoritário, além de culturas infantis. Valeu-se de estudos bibliográficos, em busca de
teses e dissertações nos portais da Capes, bem como na Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações.
Uma vez que as brincadeiras se inserem no repertório cultural das crianças, Cardoso
(2016) estudou, durante seis meses, o brincar do/com os bebês em um berçário. Sua
investigação evidenciou, a partir das interações estabelecidas entre os bebês e professoras, que
há uma participação ativa no processo educativo, a qual influencia novas aprendizagens dos
pequenos.
Referentes ao ano de 2017, foram encontradas nove pesquisas que visibilizam os bebês
como sujeitos que, com suas ações, interrogam as práticas das professoras (MUNIZ, 2017) e
são sujeitos de suas interações e as materializam por meio das linguagens (MACÁRIO, 2017),
proposta que dialoga diretamente com a nossa pesquisa. Também ressaltam a necessidade de
participação social dos bebês em situações planejadas na creche, bem como de investimentos
na formação e nas condições de atendimento a estes, respeitando seus direitos e particularidades
(SILVA, 2017).
Outra pesquisa que dialoga com a nossa foi realizada por Alessi (2017). Os dados de
seu estudo revelaram que a linguagem do bebê ocorre por meio de enunciados que envolvem
movimentos corporais (gestos, expressões faciais, contato corporal e imitação) e sons (voz,
choro, riso, balbucios, vocalizações, palavras e entonação).
Silva (2017), por sua vez, pesquisou quatro bebês entre sete e dez meses, enquanto estes
se relacionavam com diferentes objetos e pessoas, destacando que o movimento do bebê precisa
63
ser considerado em suas múltiplas dimensões e que esse fator deve orientar todo o planejamento
do professor.
Em seu estudo, Pecker (2017) se utilizou do método clínico e das bases epistemológicas
de Piaget, numa perspectiva cognitivista, para analisar o desenvolvimento musical dos bebês
nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Como resultados, apontou sua compreensão das
condutas musicais dessas crianças e refletiu sobre o papel do educador na prática pedagógico-
musical, a partir das possibilidades cognitivas dos bebês.
Em outra direção, Amorim (2017) teve como objeto o desenvolvimento dos gestos
musicais dos bebês num contexto educativo musical. Seguindo a direção da perspectiva
histórico-cultural, destaca que os signos, gestos e expressões emergiram na relação dos bebês
com os materiais da cultura e reafirma a possibilidade de uma educação musical para bebês.
No que diz respeito às pesquisas do ano de 2018, o estudo realizado por Pinheiro (2018)
apontou que as crianças, por meio de diferentes linguagens, são capazes de agir com
competência e autonomia, aprendem, interagem e se relacionam com o mundo externo, com os
livros e com seus pares. Os sujeitos da pesquisa foram doze bebês e, como conclusão, discute
o lugar das práticas pedagógicas com esses sujeitos como campo de reflexão e outros modos de
atuação com estes considerando as suas linguagens.
Pinto (2018), por sua vez, debruçou-se sobre a relação dos bebês com os livros, com
foco na mediação da leitura. Apontando a importância de um espaço apropriado para o
bebê/leitor com vistas à ampliação da compreensão e da expressão por parte dos bebês quando
de experiências diversificadas com a leitura. Além dela, Matos (2018) também investigou a
relação dos bebês no encontro com os livros, embora a perspectiva de sua pesquisa tenha se
voltado para a Psicanálise, a Antropologia e a Psicologia. Em seus achados, destaca que os
primeiros movimentos inaugurais e espontâneos dos bebês passam por itinerários relacionais,
marcadamente trazidos por meio dos gestos, traz portanto, o livro como material que vincula
pessoas ao mundo.
Schorn (2018), em sua pesquisa, afirma que, por meio de práticas e espaços planejados,
os bebês têm mais possibilidades de se comunicar, ou seja, as condições de e para a ação do
bebê são fundamentais para seu aprendizado e desenvolvimento.
Já Mansur (2018) realizou seu estudo na intenção de verificar o efeito da aplicação de
um programa de ensino por pais/cuidadores sobre o desempenho de crianças com autismo.
Como resultados, concluiu que a intervenção de um cuidador para crianças com o espectro, se
orientada por profissional, pode ser efetivada no contexto do Brasil, bem como por meio de
programas governamentais, para garantir intervenções necessárias ao tratamento.
64
Moura (2018) objetivou analisar modos como crianças bem pequenas - com um e dois
anos de idade - vivenciam interações e brincadeiras na Educação Infantil. Com aporte nas
concepções da abordagem histórico-cultural de L. S. Vigotski e da psicologia dialética de H.
Wallon, compreendeu que é nas/pelas interações sociais que as crianças se constituem como
sujeitos humanos, mediante a apropriação da cultura, em percursos mediados social e
simbolicamente.
Podemos verificar que nos últimos seis anos houve o predomínio de pesquisas sobre os
bebês, e não com eles. Nossa pesquisa vislumbra se inserir qualitativamente naquelas que
apresentam as potencialidades dos bebês, seus modos de ser, significar e comunicar a partir de
seu desenvolvimento real e potencial e de suas narrativas e linguagens, visando a reafirmar seu
lugar no mundo como sujeitos sociais, culturais, de direitos, linguagens e saberes.
No total de pesquisas encontrado, foi possível constatar que uma das temáticas menos
recorrentes foi a família, dado que nos dá indicativos potentes para a realização de pesquisas
futuras em torno da família dos bebês, para que suas compreensões e necessidades sejam
articuladas às práticas na creche. Esse aspecto nos remete ao nosso locus de investigação,
quando uma das docentes conversou com a mãe de um bebê acerca das recorrentes ações de
mordidas dele em outra parceira do grupo.
2.2.1 Contexto da Paraíba: pesquisas, desafios e possibilidades
Considerando que a Paraíba carece de estudos e pesquisas no âmbito da educação para
bebês, realizamos breve levantamento para visualizar qual o lugar destes na pesquisa cientifica
em nosso Estado, tendo como fonte de dados os bancos de teses e dissertações da Universidade
Estadual da Paraíba (UEPB)31, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)32 e da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)33, na busca por dados que corroborassem,
confirmassem ou refutassem a hipótese aqui suscitada quanto à insuficiência de pesquisas tendo
como sujeitos os bebês. Diante dessa possível insuficiência, não delimitamos o período para
esse levantamento no contexto paraibano.
Reiteramos que nosso objetivo nesse levantamento foi o de trazer para o debate as
pesquisas que tiveram os bebês como sujeitos da investigação. Consideramos pertinente apontar
31 Link utilizado para o mapeamento no Banco de Teses e Dissertações da UEPB: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/ 32 Link utilizado para o mapeamento no Banco de Teses e Dissertações da UFCG: http://bdtd.ufcg.edu.br/ 33 Link utilizado para o mapeamento no Banco de Teses e Dissertações da UFPB: https://repositorio.ufpb.br/
65
os registros de pesquisa que foram encontrados, ainda que eles não tenham sido o foco central
da discussão, a fim de ampliar o repertório de pesquisas e a divulgação destas neste estudo.
No repositório Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEPB, encontramos, na
área da Educação Infantil, sete pesquisas, entretanto, nenhuma voltada para os bebês.
Melo (2005) investigou práticas docentes voltadas às artes no cotidiano da pré-escola,
com a temática étnico-racial e o uso da literatura afro-brasileira. Em suas constatações, destacou
que as práticas pedagógicas voltadas para as artes visuais, em seu contexto de pesquisa, se
caracterizaram como tradicionais e desatualizadas.
Encontramos também a dissertação de Oliveira (2007), a qual investigou as concepções
de desenvolvimento infantil no trabalho pedagógico em creche, na perspectiva das professoras.
Embora tenha se inserido em grupo de crianças, o foco da pesquisa se referiu às compreensões
docentes. Como resultados, destaca que os discursos e as práticas das professoras, apontavam
para uma perspectiva Piagetiana e Freudiana do desenvolvimento, quando as mesmas, traziam
em suas falas, questões com base nos estágios de desenvolvimento, na ocasião pré-operacional
e o sensório-motor e da sexualidade infantil.
A investigação de Souza (2007), por sua vez, analisou a realização e a avaliação da
rotina pedagógica da Educação Infantil, tendo como sujeitos ou informantes as professoras.
Apontou a influência de modelos escolares como decorrentes da avaliação que acontece com
ênfase nas linguagens de leitura, escrita e matemática na pré-escola, em detrimento da
exploração de outras linguagens.
Lima (2014), por seu turno, apresentou, em sua pesquisa, uma sequência didática
envolvendo a inserção da leitura e da escrita de textos literários poéticos com crianças de cinco
anos de idade. Como resultado, sinalizou a utilização da sequência didática usada na pesquisa
como favorecedora da inserção das crianças no universo letrado.
Oliveira (2016) também realizou sua pesquisa com docentes, analisando práticas de
professoras, em uma creche do município de Campina Grande-PB, quanto ao uso da literatura
afro-brasileira na Educação Infantil. Apontou, como conclusões, a importância do acesso das
crianças ao conhecimento acerca da diversidade étnico-racial, como forma de contribuir na
formação da sua identidade.
A investigação que Farias (2017) realizou tratou-se de uma pesquisa-ação, envolvendo
caráter documental, acerca de práticas de leitura de doze docentes atuantes em uma creche, com
vistas ao entendimento das docentes sobre o uso de literatura infantil em suas salas. Revelou,
em seus resultados, que o trabalho com obras literárias contribui para o desenvolvimento das
competências leitora das crianças.
66
Reconhecemos a relevância de todas as pesquisas para o campo pedagógico e científico
da Educação Infantil, mas os registros ainda indicam a ausência de pesquisas com crianças de
zero a três anos, e mais especificamente com os bebês.
Na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG, não foi identificada nenhuma
pesquisa, em nível de Mestrado em Educação, com ou sobre bebês. Encontramos, no que
concerne à Educação Infantil, a pesquisa de Melo (2018), realizada no Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGED)34, com foco no processo de mercantilização da Educação
Infantil, sobretudo na pré-escola, no município de Campina Grande, sendo esta a primeira
pesquisa do Programa a ser realizada com foco nos bebês. O estudo apontou a forte vinculação
entre as esferas pública e privada, sobretudo, na educação, repercutindo no processo de
mercantilização vivenciado pela educação infantil no município de Campina Grande/PB.
No levantamento realizado na biblioteca virtual da UFPB, encontramos sete pesquisas
que discorrem sobre diversas temáticas referentes à Educação Infantil, dentre as quais, três com
enfoque nas crianças de zero a três anos. Especificamente sobre bebês em contexto de berçário,
apenas a pesquisa de doutorado Amorim (2011).
Amorim (2011) apontou, em seu estudo em berçários de creches públicas municipais,
que a dicotomia entre o cuidar e o educar ainda não foi superada, resultado este expresso em
práticas improvisadas e sem sistematização, o que corrobora para a negação de uma Educação
Infantil de qualidade, sobretudo nos berçários.
Escarião (2009) realizou sua pesquisa de mestrado ouvindo crianças de cinco anos de
idade, no intuito de saber o que elas pensavam sobre a escola. Utilizou entrevistas e desenhos
em que pudessem expressar o seu pensamento e concluiu que, para elas, a escola era um espaço
de brincadeira e aprendizado.
Já Abreu (2010) analisou o processo de institucionalização de crianças de 0 a 5 anos,
por meio de medida de acolhimento institucional, com base na compreensão de que a Educação
Infantil é um direito humano. O estudo foi realizado no município de João Pessoa-PB, em doze
instituições de acolhimento institucional, por meio de entrevistas e relatos com a equipe de
atendimento a essas crianças. Apontou que a rede de atendimento à criança enfrenta
dificuldades de funcionamento efetivo, também pela ausência de políticas públicas eficientes
quanto à garantia dos direitos das crianças e adolescentes.
Souza (2013), em sua pesquisa com enfoque na prática docente, avaliou a qualidade das
relações que o educador de Educação Infantil estabelece com as crianças de 0 a 3 anos na
34 O Programa de Pós-Graduação em Educação da UFCG teve sua turma pioneira no ano de 2016, sendo, portanto,
um curso recente.
67
creche, considerando as representações sociais dos sujeitos docentes sobre o educar, cuidar,
brincar e a criança.
Medeiros (2015), por sua vez, investigou se e como as interações e a afetividade entre
professora-criança e criança-criança contribuem para o processo de construção da autonomia.
A pesquisa foi realizada em uma sala de maternal, com crianças de três anos, uma professora e
uma monitora. Concluiu que havia interações afetivas entre os sujeitos observados em
diferentes situações do cotidiano, no entanto, as interações que mais contribuíam e
influenciavam no desenvolvimento da autonomia das crianças se davam com seus pares,
portanto, na relação criança-criança.
Em se tratando sobre práticas de cuidado e educação das crianças menores de dois anos,
Macedo (2005) pesquisou no município de Campina Grande e analisou as politicas públicas de
atendimentos aos mesmos, bem como as concepções das professoras com vistas o olhar para a
criança, a educação infantil e a relação cuidar/educar.
A mesma autora, Macedo (2014), em sua tese, objetivou compreender o papel das
práticas e vivências da escola na constituição do ser criança, tomando por base a fase da
infância, tendo como sujeitos vinte e oito crianças da pré-escola e quatro professoras. Os dados
indicaram que as crianças são sujeitos de ação e revelam sua produção e reprodução cultural na
contramão de práticas curriculares que tendem a homogeneizar suas ações, numa perspectiva
da pedagogia do controle.
Esse levantamento suscitou reflexões acerca do indicativo sobre a carência de estudos
com os bebês, sobretudo porque não se expressam verbalmente. Considerando a necessidade
de enriquecer esse campo de estudos, nossa pesquisa tem como objeto as interações entre bebês
no espaço da creche. Acreditamos que ela contribuirá para que novas concepções sobre os bebês
enquanto sujeitos que interagem todo o tempo e que, portanto, são sujeitos de potencialidades
e experimentações, subsidiem práticas pedagógicas dialógicas, dialogadas e significadas a
partir de suas ações, práticas estas voltadas à necessidade desses bebês serem compreendidos e
atendidos em suas necessidades além das biológicas, mas também de seus interesses sociais e
culturais.
Acreditamos que tais concepções devam ser um dos indicativos para se pensar e orientar a
prática pedagógica dentro das instituições de Educação Infantil. Para tanto, a pesquisa
científica precisa incorporar à investigação sobre e com as crianças, nesse caso os bebês, as
suas dimensões biológica e cultural. Como defende Schmitt (2014),
68
Se já nos é recente a indicação do estudo com crianças em seus grupos sociais,
a sua consolidação encontra-se ainda mais embrionária quando nos referimos
aos bebês. Isso não apenas pela tradição científica, principalmente da
Psicologia do Desenvolvimento, em tratar o estudo da criança na centralidade
biológica e psíquica do indivíduo, como também pelo desafio posto aos
pesquisadores na interpretação daquilo que comunicam os bebês.
(SCHIMITT, 2014, p. 26)
Sobre o desafio de pesquisar interações e linguagens dos bebês, ainda há pouca
discussão nesse sentido, o que nos impele a colaborar para a reflexão sobre uma educação para
bebês que seja direcionada a partir das suas próprias ações e linguagens. Linguagens que
emergem nas relações estabelecidas com o mundo e que ampliam as possibilidades de
constituição simbólica, cultural, social, emocional, psíquica, portanto humana, de modo
integral, assim como apontado nas DCNEI (2010). Além disso, uma educação que escute o
sujeito e o posicione como importante no processo educativo, capaz de vinculá-lo afetivamente
com a creche e os diversos coletivos.
Nesta pesquisa, trazemos as interações dos bebês na creche como fator importante para
a sua constituição subjetiva frente às aprendizagens na cultura. Suas interações durante as
brincadeiras, permeadas por seus mediadores, refletem o cotidiano e potencializam suas
aprendizagens, do mesmo modo que nelas eles expressam os afetos, a mediação das frustrações,
a resolução de conflitos e a regulação das emoções (BRASIL, 2017). Tais interações requerem,
portanto, um olhar atento para as especificidades dos bebês, desenvolvidas no seio de práticas
pedagógicas que respeitem suas especificidades e suas aquisições afetivas, emocionais,
relacionais e de linguagens.
Desse modo, as interações, além de serem basilares nos modos como os bebês se
percebem e/ou vão se percebendo ao longo de suas relações no e com mundo e na relação com
os outros mais experientes, atuam na sua construção subjetiva, elementos que constituem a
criança como ser social dentro de uma cultura concreta, uma vez que medeiam todas as relações
e significações do sujeito-criança, nesse caso, o sujeito-bebê.
Resumidamente muitas foram às mudanças, tanto em termos de acesso e atendimento,
quanto de concepções e políticas públicas para a Educação Infantil. No entanto, é pertinente
ressaltar que a existência de documentos normativos não garante a efetivação desses direitos.
Se, por uma lente, a lei normatiza práticas, também pode ser entendida como uma oportunidade
de enfrentar as desigualdades, exigindo que todos tenham acesso igual à educação, se pensada
para a vida e as diferentes realidades subjetivas de cada contexto.
69
2.3 A rotina no berçário: o tempo e as relações
Iniciamos nossa investigação ainda no final do primeiro mês letivo, portanto, os bebês
e suas professoras viviam o processo de chegada, acolhimento e adaptação à creche, momento
de conhecimento e instabilidade para todos os envolvidos no processo, instabilidade esta ainda
marcante na construção das relações afetivas entre bebês-bebês e bebês-professoras.
Nesta investigação, o início da interação entre os bebês na creche se dava no portão de
entrada e saída, lugar onde as famílias e os bebês se encontravam antes da abertura da
instituição, até que fosse permitida a sua entrada. Alguns bebês mamavam, outros dormiam,
choravam nos colos que eram, majoritariamente, de suas mães.
Observamos que nesses primeiros dias, durante o acolhimento matinal, entre as 07:00 e
as 07:45, havia bastante choro, o que indicava a particularidade dos bebês ao serem deixados
em um espaço ainda novo para eles, bem como o fato de sentirem a ausência de seus familiares.
P1 os recebia cotidianamente e trocava informações com os responsáveis, solicitava as fraldas
descartáveis35 para o uso do dia e recebia demandas das famílias, questões basicamente voltadas
à higiene e à alimentação.
Os bebês eram acolhidos nos braços, alguns se mostravam ainda sonolentos e seus
familiares faziam uma espécie de fila para entregá-los à professora, que demonstrava carinho e
afeto quando os via. Após o recebimento, os deixava no tatame, lugar onde P2 e P3 os acolhiam
e cumprimentavam com um “bom dia”, acalentando aqueles que choravam, que aos poucos iam
se tranquilizando. Os que não choravam aguardavam sentados, agarrados a suas chupetas.
Nesses momentos iniciais da manhã, havia pouca movimentação e interação entre os bebês, que
demandavam a dormida, ao mesmo tempo em que resistiam ao sono, esperando a troca da roupa
vinda de casa pelo fardamento da creche.
Cada bebê possui uma sacola identificada, em que são guardados os seus pertences, os
quais voltam a ser utilizados no fim do dia, na volta para casa. A troca da roupa dos bebês era
realizada paulatinamente, de modo individualizado. Nesses momentos, a pesquisadora
dispunha-se a auxiliar as professoras, trocando os bebês na sala onde todos estavam.
Esse acolhimento poderia se caracterizar na creche como momento de aproximação e
vinculação aos bebês, de troca de olhares, de observação das necessidades de colo, de cama, de
chupeta ou, simplesmente, de acalentá-los nos braços. O olhar para tantos detalhes e
35 Os bebês ficam na creche em tempo integral e, durante a estadia, utilizam fraldas de pano. Mas, para a ida para
casa, é solicitado que as famílias disponibilizem fraldas descartáveis. Caso a família não leve, durante o tempo em
que fica na instituição, o bebê utiliza normalmente as fraldas da creche e na ida para casa, é levado sem fraldas.
70
necessidades das crianças parecia difícil, considerando a quantidade de bebês, bem como a
longa espera pelo café da manhã. Essa primeira alimentação era um momento em que havia
uma maior interação dos bebês com as professoras, interação esta mediada pela linguagem oral.
O curioso é que a ação de alimentar o bebê parece estar vinculada à chamada “atividade”.36
O café da manhã chega, entre 07:45 e 08:00. Os bebês atentam
para a merendeira que adentra a porta. Quando percebem que é
o momento da alimentação, iniciam movimentações entre eles, se
aproximam do balcão da sala e tentam alcançar o alimento.
Heloísa vai até embaixo do balcão tentando pegá-lo. Após
tentativas frustradas (por não alcançar), anuncia e solicita com
gestos para as professoras e para a pesquisadora em direção aos
copos. Alguns dizem: AAAAA, AAAAAA. P2 sinaliza aos bebês
verbalmente: Olha, chegou o café! Quem quer café?
(Diário de campo, 10/05/2019)
Nessa cena, observamos que tanto pelo café da manhã quanto pela enunciação da
professora, os bebês se moveram e transitaram de um lugar para outro. Alguns deles se sentaram
para aguardar a entrega do alimento e quando não atendidos de imediato, solicitaram-no por
meio de choro e, não satisfeitos, ainda levantaram os braços. Outros se utilizaram de gestos e
apontaram o que queriam. Os que não demonstravam interesse pela alimentação naquele
momento permaneciam em sua ação e quando as docentes se aproximavam com o copo,
gesticulavam com a cabeça, para um lado e para o outro, dizendo que não. Alguns deles
simplesmente soltavam o copo ou se mobilizavam para outro espaço.
Também observamos que alguns bebês, quando concluíam a refeição, requeriam das
professoras a repetição do alimento por meio de balbucios, ou simplesmente pegavam o do
colega, o que causava choro de outra ordem, a de reclamação. As professoras geralmente
intervinham devolvendo o copo para o bebê que o utilizava inicialmente. Nos dias em que
estivemos na instituição junto aos bebês, observamos que na creche há cinco refeições diárias,
como podemos ver no quadro a seguir.
36 Analisaremos os resultados mais adiante, mas a título de ilustração e caracterização das ações predominantes no
currículo do berçário investigado, trazemos alguns elementos que consideramos pertinente apontar nesse
71
Quadro V: Rotina alimentar
HORÁRIO REFEIÇÃO
07:45 às 08:10 Leite com biscoitos, vitamina de banana, leite com cereal ou papa
de amido de milho
09:00 às 09:30 Maçã, suco de frutas com biscoitos ou bolo
10:00 às 10:30 Feijão, arroz, purê, carne triturada ou fígado bovino passado
13:15 às 13:45 Suco de frutas com biscoito doce
15:00 às 15:30 Macarrão com carne moída, sopa ou papa de amido de milho
Fonte: Autoria própria (2019)
Foi possível constatar que após o momento do lanche, três situações que ocorreram
merecem destaque. Uma primeira situação diz respeito à atividade do dia, expressa pela docente
P1 que, ao se dirigir aos bebês, convidou-os: “Bora fazer a atividade, bora?”. A proposta do
dia, quase sempre, era conduzida por P2 e P3 auxiliava as outras duas professoras no banho, na
fotografia e na troca de fraldas.
Trazemos o excerto a seguir, em que destacamos o momento de uma atividade com os
bebês, a proposta foi desenvolvida a partir da temática família, que estava sendo vivenciada
pelo grupo. Tratava-se da pintura do desenho de um coração feito por uma das professoras em
uma cartolina.
P2 convida os bebês, alertando-os verbalmente: Olha, o coração! Que
coração lindo! Vamos pintar o coração? Dispõe de uma mesa, um
recipiente com tinta guache vermelha (15 ml) e de uma folha de cartolina.
Com a ponta do dedo indicador, a professora mediadora da proposta pinta
seu nariz e, em seguida, o de Sabrina, afirmando: “É vermelho, tá
vendo?”.
Os bebês se aproximam e após a professora colocar a cartolina sobre a
mesa, a maioria coloca suas mãos sobre ela. Ela chama um a um e, com
o dedo indicador com tinta, pinta uma das mãos dos bebês, fazendo com
que carimbem a mão dentro do coração. Por vezes, permite que escolham
o lugar em que querem imprimir seu registro, mas quando percebe que o
72
formato da mão irá ser desfeito pela exploração do bebê, segura-o e,
evitando que se suje, o encaminha para P3, que já está com lenços
umedecidos para limpar a mão que foi utilizada na proposta.
(Dário de campo, 28/03/19)
No momento de realização de propostas como essa, os brinquedos eram retirados do
espaço, por vezes com a ajuda dos bebês, e colocados em um cesto. Essa ação nos indica que
as professoras tinham a intenção de ter a atenção dos bebês voltada para a proposta.
Fotografia 4: Guardando os brinquedos
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Na direção de refletirmos sobre uma educação cuidadosa, seguimos as orientações de
Charlot37 (2000), que define a educação como um movimento inacabado, no qual o sujeito se
constrói e é construído pelos outros. A educação contempla a relação com o saber e envolve a
mobilização, a atividade e o sentido. Quando falamos em atividade em um berçário, pensamos
em ações de mobilização que precisam necessariamente ter um sentido para os sujeitos
envolvidos.
No contexto da creche, bebês e professoras têm motivos implícitos para estarem ali, mas
os sentidos precisam ser construídos no processo educativo, portanto, pautados na relação de
significação de algo a respeito do mundo, para alguém ou com alguém. Tem significação o que
tem sentido, o que diz algo do mundo e se pode trocar com outros (CHARLOT, 2000, p. 56).
Num berçário, as ações majoritariamente, precisam ter significação, considerando-se atividade
não somente a proposta direcionada pelos adultos, mas a que tenha intenções e significações
37 Bernard Charlot é um expoente do paradigma da relação com o saber, traz, portanto, importantes contribuições
nas reflexões suscitadas neste trabalho.
73
imbricadas nas relações. O brincar livre, por exemplo, também precisa ser um momento de
significação e trocas junto aos bebês.
Uma segunda situação era a ida ao solário, que possui uma porta anexa à sala, a qual
permite que os bebês se locomovam até ele. Nesse momento, os brinquedos da sala eram
levados para a exploração pelos bebês no espaço do solário, onde há três cavalinhos de plástico.
Nessas ocasiões, os interesses dos bebês eram diversos: subir no portão, lançar brinquedos para
o outro lado do solário, correr ou interagir, por meio do vidro da porta, com os bebês do B138,
que estavam em sua sala. O interesse pelo outro, que estava do outro lado, por vezes gerava
disputas pelos limites do espaço, provocando conflitos, empurrões, gestos e, por vezes,
mordidas, na tentativa de afastar o colega para que fosse possível ver quem estava do outro lado
da porta. A movimentação pelo espaço se dava de diferentes formas e os interesses e disputas
eram diversos. Vejamos no episódio que segue.
2.3.1 É um chapéu. E daí?
Os bebês estão brincando livremente no
solário e fazem uso de algumas petecas
confeccionadas pelas professoras.
Enquanto exploram o espaço e disputam,
inclusive, os brinquedos, as professoras
observam e cantam músicas do repertório
infantil.
Ricardo caminha em direção a Antônio, ao
passo que acompanha corporalmente as
professoras durante a canção, com os
braços abertos, balançando-se de um lado
para o outro, indicando dançar.
38 O Berçário I (BI) diz respeito ao berçário que atende a bebês de quatro a onze meses, os quais são os mais novos
da instituição.
74
Vai em direção ao colega que brinca com
um barquinho próximo ao portão que
delimita os solários.
Ricardo pede o brinquedo ao amigo
Antônio, que prefere ficar com ele e foge.
Ao fugir, Antônio consegue que Ricardo se
interesse por outro objeto.
No caminho de volta, ele encontra um pote
de sorvete no chão. Olha e se abaixa para
pegar.
Ricardo traz o objeto para a frente da
câmera e tenta colocá-lo em sua cabeça.
São várias as tentativas, mas como o pote
não cabe, ele coloca força...
Enquanto a pesquisadora lhe observa
durante as tentativas, ele para sua ação e a
fita com olhar de indagação.
75
Sorri e segue na sua exploração e
brincadeira, como se dissesse: É um
chapéu, e daí?
A pesquisadora pensa: Talvez nem fosse!
Ele continua a brincadeira e novamente
muda o interesse por uma pelúcia que
estava nas mãos de Andreia.
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Refletir sobre as interações com os objetos é pertinente nessa pesquisa, pois elas
representam um fator importante para a entrada dos bebês nos simbolismos. Também porque
essa reflexão permite compreender que, por meio dos objetos, as interações, sobretudo de
disputa, acontecem cotidianamente, entrelaçadas num processo em que eles buscam se
posicionar no mundo e utilizam gestos durante as brincadeiras. A brincadeira, enquanto
linguagem por meio da qual a criança se constitui nas experiências vividas dentro e fora da
creche, permite perceber a necessidade de propiciar o acesso a diferentes objetos culturais, com
vistas à ampliação dos repertórios e interações. Nesse episódio, o pote pode ser chapéu,
capacete ou mesmo o pote.
Assim, sabemos que no brincar, as respostas não estão prontas, pois precisam
ser elaboradas a partir de cada situação que se apresenta, ou seja, é descoberta,
espírito investigativo, criação, recriação. No brincar está presente a dimensão
de risco, do prazer, da surpresa e da curiosidade, numa aventura que convida
constantemente o brincante a rever e a produzir. (ALVES e
SOMMERHALDER, 2016, p. 130)
Uma terceira situação diz respeito ao fato de os bebês permanecerem na sala, explorando
os brinquedos livremente. Nessas ocasiões, P1 demonstrava intensa preocupação em “cantar
para eles não arengarem”. Percebemos que os bebês já revelavam pouco interesse pelos
brinquedos utilizados cotidianamente. Uma das professoras (P2), em suas conversas, disse:
“Eles já estão abusados desses brinquedos”, revelando a necessidade não apenas de outros
brinquedos, mas também de outros objetos para exploração e brincadeiras dos bebês.
Após o almoço, as professoras ofereciam água aos bebês, higienizavam suas bocas e,
em seguida, dispunham os colchonetes no chão para que dormissem. Um grupo deitava-se sem
intervenção ou quando ouvia “Bora dormir!”, e dormia sozinho. Os que não dormiam
76
rapidamente eram deitados de bruços e balançados pelas professoras até que dormissem. Na
maioria das vezes, todos dormiam e as professoras almoçavam nesse período, dentro da sala,
atentas aos bebês e seus movimentos enquanto dormiam. Duas delas permaneciam com eles,
enquanto a outra saía para o descanso.
Por volta das 12:30, os bebês começavam a acordar aos poucos e permaneciam
brincando até a hora do lanche. No decurso do dia, os banhos e trocas aconteciam, dependendo
da necessidade de cada bebê. Eram intensas as retiradas de fraldas e, quando necessário,
também era realizado o banho.
Até as 15:30 o jantar era servido. Em seguida, duas docentes seguiam para o banheiro,
para a realização do último banho da rotina. Desse momento, todos participavam
individualmente, enquanto a outra professora permanecia atuando na observação dos bebês, até
que todos tivessem tomado banho para aguardar os familiares, às 16:45.
Algumas vezes, os bebês iam até o pátio, onde havia integração com os bebês do B1, e
exploravam o espaço, correndo e manipulando tudo o que estava ao seu alcance visual. Quando
chovia, essa ida ficava comprometida e eles permaneciam na sala com os brinquedos.
Locomoviam-se andando ou se arrastando pelo chão.
Compactuamos com a ideia da perspectiva histórico-cultural de que a criança é um
sujeito em aprendizagem, com potencialidades, capacidades de estabelecer relações com o
outro, os objetos, a natureza e a cultura. Suas aprendizagens se dão a partir de suas vivências
na cultura39.
Rego (1995), apoiada em Vigotski, acrescenta como objetivo principal dessa
perspectiva a caracterização dos comportamentos tipicamente humanos. Nesse aspecto da
formação humana, ela nos dá subsídios para compreender o que é tornar-se humano e como
isso se constitui na interação com a realidade social (TEIXEIRA e BARCA, 2017, p. 29). Para
ela, o desenvolvimento é uma construção partilhada com outros mais experientes na cultura, os
parceiros de interação, em um contexto de cooperação, colaboração e diálogo (SHAFFER,
2009).
No que concerne aos primeiros contatos do ser humano com o mundo, evidentemente
se dão enquanto ele é um bebê. Ao nascer, depara-se com um universo infinito, no qual há
múltiplas possibilidades de convivência, brincadeiras, participação, exploração, expressão e
conhecimento de si e do outro (BRASIL, 2017), possibilidades de educar-se e ser educado.
Sobre uma educação cuidadosa, percebemos que temos um longo caminho a percorrer no
39 Pino (2005) entende cultura como o conjunto de produções humanas que, por definição, são portadoras de
significação (p. 59). Rego (1995) compreende a cultura como parte constitutiva da natureza humana. (p. 42).
77
sentido da compreensão dos professores acerca das concepções sobre a educação de bebês, fruto
de estudos e ganhos políticos, questão da qual trataremos a seguir.
2.3.2 Educação cuidadosa e as interações
Após o lanche da tarde, os bebês estão manipulando alguns
brinquedos. Chega, à sala do B2, uma professora do maternal, recém-
chegada à instituição. Observa os bebês e pergunta a uma das
professoras, que está sentada com um bebê no colo:
OE40 - Vocês gostam do berçário? Faz três anos só que estou na
Educação Infantil, eu trabalhava no fundamental 1. Eu acho que eu
não saberia cuidar deles, não. Vocês ficam só assim, né? Só dar de
comer, banho, é bom demais. Mas eu não saberia!
P.3 - Não! Todo dia tem que ter uma atividade, tem que exercer.
(Diário de campo, 04/04/2019)
Verificamos duas lógicas nas falas em questão. A primeira considera ações mais
voltadas para o atendimento das funções psicológicas elementares41 como algo menor ou menos
importante, embora sua autora admita que não saberia trabalhar com bebês, apontando a
complexidade da ação junto a eles. A segunda, quando a professora reafirma a fala da colega
ao apontar a obrigatoriedade da realização de uma atividade diária - em sua perspectiva, quando
de fato exerce a docência -, em detrimento dos momentos de banho e alimentação, o que parece
denotar a ideia do não exercício da profissão docente quando atua nestas ações.
Durante nossas observações em campo, no cotidiano com os bebês e suas professoras,
constatamos haver uma atenção maior ao cuidado com o corpo, em sua dimensão biológica,
ação bem importante a ser considerada em contextos em que os bebês chegam à creche às 07:00
e saem às 17:00, fato diretamente relacionado ao tempo considerável que permanecem na
instituição, sob os cuidados das professoras, em relação ao tempo que ficam com seus
familiares. Assim, colocações como: “Kaio não vem hoje, está doente”; “Larissa está
40 Observador externo. 41 Como apontado por Vigostki, funções psicológicas elementares (FPE) são as que se relacionam às necessidades
biológicas do homem, aproximando-o dos animais, enquanto funções psicológicas superiores (FPS) são aquelas
tipicamente humanas, caracterizadas pela atenção e memória voluntárias e pela linguagem.
78
internada”; “Esse menino está com febre”; “Olha se ele chegou com algum machucado”; “Esse
menino não está bem não, já fez cocô seis vezes!”; “Cuidado pra não cair”; “A mãe disse que
não é para lavar o cabelo”, por exemplo, foram recorrentes na dinâmica do cotidiano junto aos
bebês e suas interações na creche pesquisada. Esse indicador revela que não há como separar
as dimensões biológicas e culturais desse corpo que diz e sente.
Nesse sentido, precisamos conceber uma educação cuidadosa que traduza e expresse a
interdependência entre cuidar e educar preconizada nas DCNEIs, de modo que as duas ações
existam ao mesmo tempo, de forma dialogada. Momentos de banho, alimentação e troca de
fraldas são constituídos pela ação do educar, uma vez que a interação adulto-bebê na creche
implica necessariamente atenção ao desenvolvimento integral e às potencialidades dessas
crianças.
Diante do exposto, ao atender a uma necessidade do bebê em uma relação dialógica, a
professora atua como um conversor42 no seu desenvolvimento, na superação de limites, nas suas
novas conquistas, no conhecimento de si e do outro, na sua relação com o espaço e com o
tempo. Por outro lado, em uma perspectiva de educação cuidadosa, o professor também aprende
porque também se educa quando exercita o olhar e a escuta. Certamente, todos aprendem!
Portanto, a escuta pedagógica como uma necessidade primordial do professor para a
atuação junto às crianças, uma vez que, desenvolve compreensões diferenciadas a partir das
ações dos bebês. Considerando que os bebês se constituem a partir de diferentes linguagens:
gestos, movimentos, balbucios, dança, expressões faciais como o choro, o sorriso e ao seu
modo, falam várias línguas, nesse direcionamento a ação do professor amplia os canais de
expressão, permite as múltiplas possibilidades de linguagem que o sujeito possui, sejam elas
verbais ou não, corroborando para a afirmação, o pertencimento e o protagonismo
impulsionadas pelo efeito catarse (DANTAS, 2005).
Refletindo sobre estes aspectos, uma educação cuidadosa diz respeito a uma prática
pedagógica que compreende tanto os aspectos de aprendizagem e desenvolvimento das
crianças, quanto os seus processos de construção de subjetividades. Requer compreender que
durante o percurso da vida infantil, os processos estão entrelaçados, referindo-se a um sujeito
inteiro/completo, sendo impossível dissociar práticas de sujeitos.
No contexto da creche, significa saber que os bebês têm direito a interações qualificadas,
as quais se dão por meio de concepções/práticas pedagógicas capazes de reconhecer e inferir
significados às suas ações em interação, permitindo a participação social no seio dessas práticas,
42 Pino (2005, p. 50) aponta que se acontece uma transposição da experiência coletiva para o indivíduo, deve existir
um mediador ou conversor, sendo este da ordem da significação.
79
auxiliando-os em sua constituição. Nessa relação, vão se constituindo e sendo posicionados na
relação com o saber, o saber de si que vai sendo reelaborado na relação com o outro.
Diante dessa discussão, conceber uma prática que transcenda concepções estereotipadas
no uso dos termos cuidar e educar, fazendo com que essas práticas dialoguem, é um caminho
que precisa ser percorrido. É necessário pensar nas relações e inter-relações entre esses
processos e desenvolver ações que os articulem.
Nessa direção, Guimarães (2011) destaca que, nas práticas do cotidiano com crianças,
muitas vezes o cuidar e o educar são percebidos como fragmentados, ou seja, movimentos
dissociados. O cuidar vem sendo percebido com o viés da assistência, como ênfase nos
cuidados, alimentação, higienização e no descanso, e o educar, como momentos pedagógicos
geralmente pautados na realização de alguma atividade.
Em uma perspectiva de educação cuidadosa, todas as ações são atividades, ou seja, todas
as ações humanas na creche apontam para uma mediação pedagógica e semiótica por meio de
vivências que medeiam a relação com o mundo e que envolvem o processo de simbolização e
vinculação com o saber. O conceito de mediação semiótica diz respeito ao homem acessar a
cultura por meio dos signos construídos na interação com os outros sujeitos. Ao ser capaz de
utilizar-se dos signos, o ser humano tem a possibilidade de estabelecer conexões entre suas
ações e de produzir cultura, interpretando e comunicando com os outros parceiros de interação
(PINO, 2005). A mediação pedagógica diz respeito a
atitudes, gestos, expressões, silêncios, hesitações e procedimentos
constitutivos de relações pedagógicas e suas significações, produzidas em
situações de ensino-aprendizagem. Contempla, portanto, a mediação
semiótica: aquela operada por signos na organização do pensamento mediada
pela linguagem e seus conceitos. (MOTA ROCHA, et al., 2018. p. 5)
A linguagem, nesse sentido, ocupa papel fundamental na organização do mundo e na
formação de conceitos, que são resultado da interação com o outro na experiência de vida social.
Na creche, as interações qualificadas e intencionais são base fundamental para uma educação
cuidadosa, a qual considere o olhar, o gesto, a expressão facial, a paciência, a saúde física,
psíquica, emocional, o estabelecimento de relações tranquilas, harmoniosas e conflituosas, que
a valorização das aprendizagens e da constituição humana de cada um desde que chega ao
berçário, tornando um espaço por excelência pedagógico.
O pedagógico pode ser significado como saberes de todos os atores sociais da creche
estão em jogo e se constituem entrelaçados e imbricados nas relações da vida. São confrontados
na realidade cotidiana e implicam, necessariamente, a existência de um sujeito que sabe e de
80
uma educação que produz sujeitos e significados em situações relacionais de, na e pela
interação. Larrosa (2002) nos dá contribuições para compreender essa produção de nós mesmos
na relação com o outro, entendendo que a experiência e o saber são o que dá condições para a
apropriação e compreensão da vida. Compreendemos que uma educação cuidadosa exista na
direção de que todos os envolvidos - bebês, famílias, professoras, gestão, vigilante, cozinheira
- sejam ouvidos e considerados por meio da escuta de todos os atores sociais envolvidos no
processo educacional.
Para Charlot (2000, p. 78), a relação com o saber é a relação de um sujeito com o mundo,
com ele mesmo e com os outros. É a relação com o conjunto de significados inscritos no espaço,
nas atividades e nos tempos. No caso dessa investigação, os saberes expressos são diversos e
específicos; cada sujeito que sabe, sabe de algum modo, tem uma maneira subjetiva de ser e
estar no mundo.
Ainda sobre pedagógico na creche, precisamos romper com a ideia de que o pedagógico
está na direção de construir o sujeito apenas com foco no cognitivo, mas nele também. Na
medida em que as professoras aguçam ou exercitam diariamente, com o bebê, elementos de
suas relações com o mundo e com os outros parceiros de interação, observando e significando
suas ações junto à dos bebês, percebendo que gestos , olhares, iniciativas e disputas são
permeados de significação, proporcionam a educação cuidadosa a ele e, nesse exercício,
tornam-se uma importante referência na relação adulto-bebê. Assim, colaboram para a
educação do olhar, da escuta, da sensibilidade, do respeito, portanto, para melhores relações
humanas. Para o documento Práticas Cotidianas na Educação Infantil (2009),
As crianças pequenas solicitam aos educadores uma pedagogia sustentada nas
relações, nas interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas
para suas experiências cotidianas e seus processos de aprendizagem no espaço
coletivo, diferente de uma intencionalidade pedagógica voltada para
resultados individualizados nas diferentes áreas do conhecimento. (BRASIL,
2009, p. 8)
É importante destacar que, como todas as ações na creche, uma educação cuidadosa é
intencional e composta, sobretudo, a partir das relações que se estabelecem com os bebês.
Perceber, inferir, significar, dar devolutivas, verbais ou não, dos significados durante o
cotidiano são ações fundantes para concebermos uma educação com os bebês e não apenas para
eles. Principalmente porque os bebês estão vivendo as suas primeiríssimas experiências, cabe
ao professor, nas suas escolhas cotidianas, estabelecer critérios a ação cuidadosa com o bebê
propiciando bem estar, conforto, afeto, situações potentes de interações e significações
81
atrelados as práticas sociais, produzindo narrativas. O importante é saber que não há
neutralidade no ato educativo e, por isso se age de uma forma ou de outra.
No contexto dessa pesquisa, pelo fato de o berçário tratar-se de um espaço de vida
coletiva, as interações que nele ocorrem se dão de modo majoritariamente coletivo, pois há a
participação de um ou mais bebês em ações comuns. Observamos, no contexto de pesquisa, que
o momento mais individualizado entre os bebês e as professoras ocorria nas situações de banho
e higienização. Constatamos que, pelas frequentes evacuações dos bebês e/ou dependendo da
situação intestinal deles, de ordem biológica, esse momento cultural do banho ocorria até seis
vezes em um dia. Nessa situação, cada bebê era levado individualmente para a banheira e
permanecia mais proximamente do corpo e à altura do rosto da professora.
Consideramos a atividade do banho como uma rica e potencializadora ação de produção
dos bebês como sujeitos, uma vez que nela as suas aprendizagens de si davam-se a partir das
interações e linguagens com a professora, sobretudo de diálogos, uma vez que todo o restante
da rotina se dava no chão e de modo coletivo. Episódios vividos no café da manhã, no almoço
e nas atividades dirigidas, como vimos, também podem e devem ser pensados como situações
que medeiam a subjetividade do bebê, pois permitem compreender suas preferências e oferecer
novas possibilidades de experimentação, já que nelas eles realizam ações com ajuda ou sozinhos
e se reconhecem como parte do mundo.
Podemos verificar na planta esquemática43 e nas imagens ilustrativas a seguir que as
interações são permeadas tanto pelo uso de objetos culturais quanto pelas interações sociais.
No banho, esses artefatos também aparecem: a água, o sabonete, a toalha, o perfume, a fralda
e, principalmente, os atores da ação, professoras e bebês, face a face, corpo a corpo.
Como podemos observar, o banho é o espaço prioritário de relacionamento mais
próximo entre as professoras e os bebês, individualmente, o que o caracteriza, em nosso olhar,
como um momento potencializador de trocas interativas com o par afetivo, pautadas em afetos,
olhares, conversas, devolutivas e inferências, por parte das professoras, para além da
higienização aligeirada e preocupada com o tempo da rotina na creche. A ocasião do banho
pode se caracterizar como um momento de trocas face a face com os bebês; de verbalização e
significação do corpo, dos cheiros e da temperatura da água; de olhar no olho.
43 A partir do observado em campo, realizamos um esboço manual desse esquema, mas para construí-lo
graficamente, de modo a apresentá-lo aqui, contamos mais uma vez com a colaboração de Renata Carlos de
Oliveira. Além disso, a partir das cores presentes na legenda, trazemos quatro imagens para ilustrar como ocorriam,
exatamente, as interações nos episódios em destaque.
82
Apontamos, também, que o momento do banho possibilita outras investigações em que
este seja central na discussão, sobretudo, de organização do trabalho pedagógico. Portanto, o
banho pensado como uma ação de educação cuidadosa precisa ser realizado a partir de escuta
às linguagens que nascem na interação de ajuda, esta realizada pela professora, do diálogo
inferencial, de retorno verbal aos balbucios, do toque ao corpo que toca, nomeia, demonstra,
enxuga, ações estas vividas em interação.
83
QUADRO VI - Mapeamento das interações na rotina44
44 Esse esquema configura alguns momentos da rotina dos bebês na creche. Observamos a atividade do banho,
como sendo majoritariamente individualizada em relação aos demais momentos do berçário que se davam de modo
mais coletivo. A título de esclarecimentos, para melhor leitura deste esquema, utilizamos tanto na planta
esquemática, quanto nas bordas das imagens as cores: rosa para café-da-manhã, vermelho para brincadeiras,
amarelo para atividades e verde para o banho.
84
Desse modo, estar no cotidiano da creche requer desenvolver ações de uma educação
cuidadosa, pautada em relações dialógicas possíveis e na capacidade docente de refletir sobre
os próprios processos de ação, nesse caso com os bebês.
Além do banho, outra prática social que merece atenção é a de alimentar um bebê, pois
nesse âmbito, muitas ações podem ocorrer: a conversa, o olhar, o toque, a espera, a disputa, a
observação do outro que se alimenta, o cheiro do alimento, o compartilhamento do espaço.
Nessas ações, o bebê também consegue processualmente se diferenciar e subjetivar: quem é
ele, quem é o outro, os limites e as possibilidades de cada um, suas semelhanças e diferenças.
Constrói sua história de vida particular numa história que é partilhada com outros humanos,
num processo de hominização (CHARLOT, 2000).
Veremos, a seguir, um episódio45 que envolve Adriana e Andréia, que são irmãs gêmeas,
Raquel, Larissa e uma das professoras. O episódio se deu em um momento de alimentação,
momento este que suscita reflexões na direção de uma valoração positiva das ações nele
envolvidas. Quando significados pelos adultos, o olhar pode ser presentificado; a espera e a
disputa, negociadas; a observação por parte dos bebês, valorizada.
2.3.3. Os bebês e as interações com as professoras
Os bebês estão sendo alimentados
individualmente. Outros bebês se
aproximam, pois também querem almoçar.
Adriana está almoçando e sua irmã
Andréia (a sua esquerda) a observa
atentamente. Os movimentos da boca de
sua irmã e o cheiro da comida são
convidativos. Raquel está ao lado
(esquerdo) e já foi alimentada.
45Analisaremos os resultados mais adiante, no entanto, trazemos neste capítulo, alguns episódios nos quais
consideramos pertinente destacarmos, afim de caracterizar ações do currículo no cotidiano do berçário investigado.
85
Larissa se aproxima na intenção de ser
alimentada também. Andréia continua
observando os movimentos da docente
enquanto mexe a comida no prato. O caldo
do feijão caiu nos braços de Adriana e ela
tenta solucionar.
A amiga está quase terminando e Larissa,
ao tocar na perna da docente, procura
lembrá-la de que ainda não almoçou.
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Ressaltamos que é nessas relações de atendimento às necessidades primárias do bebê,
que vão se estabelecendo entre os parceiros de interação, que as funções psicológicas
elementares vão se transformando em superiores, a partir da linguagem do olhar, do toque, da
conversa, do choro, do gesto que empurra e também do silêncio, ações negociadas na interação
e que atuam na construção das zonas de desenvolvimento proximal e real46, tornando a criança
experiente na cultura.
Nas palavras de Vigotski (1991, p. 94), “aquilo que uma criança pode fazer com
assistência hoje, será capaz de fazer sozinha amanhã”. Portanto, tornar-se experiente requer
estar vinculado às situações vividas cotidianamente na relação com o outro. Observamos que,
estrategicamente, as professoras iam atendendo aos bebês à medida que eles se aproximavam
delas. O importante é que a espera, o cheiro do alimento, o toque, a mastigação sejam
verbalizados pelos adultos, pois é por meio da linguagem, essa primeira forma de interação
social que se caracteriza como um sistema dinâmico e que contribui para as experiências
46 Vigostki (1991) indica que o aprendizado na cultura permite a criação de zonas de desenvolvimento proximal,
que são a distância entre o nível de desenvolvimento real, caracterizada por aquilo que a criança consegue fazer
autonomamente ou que já foi internalizado, e a zona de desenvolvimento potencial, que diz respeito ao que
consegue fazer com ajuda ou mediação de outros experientes na cultura.
86
infantis (BORGES e SALOMÃO, 2003), que a criança acessa valores, crenças e regras da
cultura.
Em um episódio posterior, no momento do lanche, observamos que as irmãs gêmeas
Adriana e Andréia compartilhavam as experiências vividas na atividade social de se alimentar.
O par afetivo, com laços ainda mais marcados pelo fato da condição biológica e do nascimento
cultural se darem ao mesmo tempo, era marcado por vivências que se davam entre elas de modo
muito próximo, a ponto de, quando uma estava dormindo, a outra ficar perto dela, impedindo
que outros parceiros se aproximassem da irmã, para não acordá-la. No episódio a seguir,
podemos perceber que as interações eram marcadas pelo compartilhamento e pela constituição
de ambas na interação, cada uma ao seu modo, relacionadas por situações da vida.
2.3.4. Come, come!
Estamos no momento do lanche, P3 está
atendendo às demandas de alimentar os
bebês, sobretudo os que se aproximam
para requerer um pedaço do bolo.
Adriana, que está em pé à frente da
professora, observa e aguarda que Rafael
tenha o alimento colocado em sua boca
pela professora.
Após ser atendida, ainda requer o
alimento, mas, ao invés de solicitar à
professora, pega das mãos de Ricardo um
pouco do que está com ele e segue
realizando a mastigação. Ele se chateia e
balbucia (incompreensível), mas
inferimos que não gostou.
87
Encontra Adriana, que está explorando
curiosamente os dedos de seus pés (já que
o corpo é o primeiro objeto de
conhecimento), e se senta junto a ela.
Ao perceber que a pesquisadora se
aproxima, para, olha e continua comendo
o bolo disputado com o colega.
Andréia parece não querer mais, quando
observa algo que está no chão. Adriana
insiste e balança a cabeça com
movimentos para frente e para trás,
demonstrando questionar ou insistir para
que Andréia coma.
Em seguida, coloca o alimento na boca de
sua irmã e realiza o movimento de comer
um pouco e oferecer para a parceira de
interação, até que finalizassem o pedaço
de bolo.
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Nesse episódio, as bebês representam a tentativa de compartilhamento de um motivo
para a ação (nesse caso, alimentar a irmã), situação também vivida em outros episódios, com
diferentes parceiros de interação. Pensar no outro e lembrar dele também se constitui como
humano/humanizador, sensível/sensibilizador de ações potentes no campo da significação.
Contudo, dentro de um mesmo episódio houve uma disputa com o colega na busca pelo
alimento. Entendemos, portanto, que não há uma linearidade das ações. Há, sim, oscilações
permanentes em curso, construção subjetiva o tempo inteiro.
88
A ideia de Mota Rocha et al (2018, p. 4), que compreendem a subjetividade “como os
modos de ser e estar no mundo, atua como filtro de interpretação da realidade social e como
instância de produção e afirmação de valores, expectativas, sonhos e limites, conferindo-lhes
significado e sentido”. Reafirma, assim, a singularidade do sujeito e sua construção no social,
mediada pelas interações e pela linguagem.
Na creche, lugar socialmente compartilhado, espaço de subjetivação e, portanto, de
construção de sujeitos, quando se assemelham e se diferenciam do seu grupo social, essas ações
precisam ser, além de lidas, valorizadas verbalmente pelas professoras, considerando que suas
atitudes, gestos, expressões, silêncios, hesitações e demais ações se circunscrevem como
mediação pedagógica, uma vez que atuam como conversores (DANTAS, 2005; MOTA
ROCHA, FIGUEIREDO e POULIN, 2018) e que sua mediação repercute diretamente nas ações
dos infantis, permitindo o intercâmbio social e mediando a relação do sujeito com o mundo
(MOTA ROCHA, FIGUEIREDO e POULIN, 2018). É por meio das palavras que esse sujeito
é, diariamente, posicionado no mundo social.
Outro episódio ocorrido em um dos dias de nossa presença no campo merece destaque.
Por terem comparecido apenas oito crianças, a professora se sentiu confiante para provocar
ações lúdicas com os bebês. Um colchonete virou cabana, casa, janela que se abria e fechava,
os bebês entravam e saíam, passavam por baixo e por cima dele, todas situações mediadas pelas
interações com a professora e suas linguagens. Outros bebês viveram a proposta de outro jeito,
como podemos ver a seguir:
Fotografia 5 - A cabana
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
89
O recorte acima traz três questões importantes de serem refletidas. A primeira indica
que, em Educação Infantil, a quantidade de bebês por grupo reflete na qualidade das interações.
São estas que provocam ou mobilizam aprendizagens e subjetividades de modo mais intenso e
intencional. Refletimos sobre a atenção que é dedicada a um quantitativo menor de bebês, a
qual se diferencia de quando todos eles estão presentes. Esse fato interfere no tempo e na
qualidade das interações, portanto, da escuta pedagógica que a professora lhes dedica.
A segunda questão concerne ao fato de que, no trabalho com bebês, não é preciso que
todos estejam envolvidos corporalmente em uma proposta para vivê-la. Igor (à esquerda) viveu
a mesma proposta, mas imprimiu a ela os seus interesses, pois, diante da voz e das entonações
da professora enquanto cantava, balançava seu corpo, de um lado para o outro, agregando a
esses movimentos palmas, na intenção de acompanhá-la na música cantada. Em seguida, sentou
e apreciou o envolvimento do grupo de bebês, preferindo ainda manter-se distante. Portanto,
as vivências propostas são para todos, mas as experiências são singulares, as subjetividades são
diversas. Entretanto,
De modo geral, a lógica da instituição, a creche, imprime um ritmo
homogêneo à rotina, ou a intenção de todos estarem envolvidos em uma
atividade ao mesmo tempo, Com isso, perde-se o foco nas ações das crianças
como organizadora do fazer pedagógico. Os bebês e o modo do
funcionamento dos berçários interpelam a padronização do tempo, há sempre
várias ações concomitantes, por parte das crianças e dos adultos, bebês sendo
trocados, alguém explorando um objeto, outro chorando, etc.
É preciso observar a qualidade das interações nesse contexto, onde a
simultaneidade de interações é uma marca constante. (GUIMARÃES,
2016.p 71)
A terceira diz respeito ao direito que a criança que frequenta a creche tem a interações
qualificadas, aspecto atrelado ao direito do professor de usufruir de melhores condições de
trabalho, materiais e recursos adequados para o trabalho pedagógico, além de formação inicial
ou continuada, e salário minimamente digno.
Esse terceiro aspecto é um ponto que precisa ser refletido na conjuntura maior, inclusive
no âmbito das políticas públicas, para que seja possível conceber uma educação em que os
direitos de todos os envolvidos no processo educativo sejam considerados e o professor seja
valorizado como potente leitor que, através das múltiplas linguagens, medeia a transformação
das FPE em FPS. Esse professor, portanto, tem condições de interpretar e atuar na construção
dessas funções, a partir de sua ação pedagógica.
Vale dizer que as vivências com os bebês devem ser realizadas considerando as
singularidades de cada sujeito. O importante é não vincular a ação deles ao tempo, à idade ou à
90
ausência de determinadas habilidades. Essa ausência não significa, necessariamente, pressupor
a existência de dificuldades, afinal, como falar de dificuldades em sujeitos que estão em um
momento de experimentação e conhecimento do mundo, tendo há pouco saído do momento
zero cultural?
Pino (2005) ressalta o nascimento cultural, uma vez que somente o nascimento
biológico, não dá conta da emergência das funções tipicamente humanas. Portanto, a hipótese
do momento zero cultural nos auxilia a pensar sobre a importância da cultura ou de uma cultura
pedagógica pensada a partir do sujeito concreto.
É preciso, pois, reconhecer que as experiências na cultura são promotoras de
aprendizagens e essas experiências mediadas pelas interações são como constituintes e
constitutivas de linguagens e subjetividades. A linguagem é função psicológica superior, de
natureza dialógica e ideológica (FUZA, 2005), produtora de novas formas de interação, e cabe
ao professor trabalhar considerando-a como tal, interpelando, comunicando, enunciando o que
sucede na creche.
Havia também as atividades permanentes. Sem que fosse questionada, P1 aproveitou
um momento em que os bebês estavam dormindo e apontou que as atividades são previamente
acordadas com a coordenadora pedagógica. Mostrou todo o seu caderno de registros e folhas
impressas com os campos de experiência47 da BNCC, e afirmou:
P1 - A gente elabora o planejamento assim, usando os campos de
experiência. Aí tem que trabalhar uma atividade e um campo de
experiência, uma de manhã e uma de tarde. Hoje, a gente trabalhou
esse. Mas tem uns, esse aqui (aponta para o caderno) a gente ainda
não trabalhou. Aí eu faço também pela internet.
(Diário de campo, 03/05/2019)
A partir dessa fala, observamos que a compreensão sobre a BNCC na Educação Infantil
se dá de modo superficial, uma vez que os campos de experiência aparecem de forma
47 Vale destacar que, pautada na perspectiva dos campos de experiência propostos pela BNCC, a Paraíba construiu
sua proposta curricular. Para tanto, houve a formação de equipe com participação de professoras de universidades
públicas como coordenadoras de cada etapa e de professores das redes estadual e municipais como redatores. No
documento, houve a manutenção da concepção de sujeito de direitos da Educação Infantil ao Ensino Fundamental.
Na BNCC, só na Educação Infantil essa concepção está presente. Os direitos de aprendizagem são pensados à luz
da democracia. Nas versões 1 e 2 da BNCC, o direito de conviver foi pensado como conviver democraticamente.
Na versão final da BNCC, o "democraticamente" foi suprimido. Na proposta da Paraíba, todos os direitos foram
colocados como sustentados na democracia.
91
dissociada, como se um não se entrelaçasse aos outros. Quando a professora afirma, por
exemplo, que elabora seu planejamento de modo a contemplar um campo de experiência pela
manhã e um à tarde, revela uma ruptura no que tange às vivências e experiências possíveis em
um berçário, com e pelos sujeitos da experiência. É a partir de uma concepção sobre os bebês
e suas necessidades, que inicialmente são de ordem biológica, mas que estão atreladas às
vivências culturais e sociais, que as práticas no berçário podem ser orientadas.
Fochi (2018), refletindo sobre os campos de experiência, corrobora com a nossa
discussão quando destaca que a experiência é transformada em uma interpretação mais ampla
sobre o eu e o mundo. Portanto, é a partir das experiências que acontece a produção de
significados pessoais e coletivos. Dessa maneira, atravessado pelas dimensões interpsicológicas
e intrapsicológicas, bem como pelos processos de subjetivação e subjetividade, é que o bebê
vai se reconhecendo como sujeito, no cenário da ação pedagógica (VIGOSTKI, 1991; MOTA
ROCHA, 2018).
As DCNEI (2010) e a BNCC (2017) são documentos oficiais que têm caráter
mandatório e abrangem todas as modalidades educativas, em nível nacional. Em virtude disso,
é fundamental compreendê-los nas suas concepções de criança e infância e na relação destas
com universos políticos e culturais distintos, o que nos permite vislumbrar e trabalhar para a
legitimidade e acolhimento da diversidade e da diferença. Ademais, tais documentos propõem
que se olhe para a criança, para as relações humanas e para a vida de forma democrática,
convidando-nos a romper com aprisionamentos. Portanto, não são documentos prescritivos,
mas contêm princípios norteadores do trabalho com a Educação Infantil.
Pensemos na direção de que conceber uma educação cuidadosa requer compreender o
sujeito em sua totalidade; o sujeito por inteiro e não fragmentado. Compreender que a
constituição humana possui momentos específicos e diferenciados que se caracterizam por um
conjunto de necessidades e interesses, e por aspectos físicos do espaço, pelas pessoas próximas,
a linguagem e os conhecimentos de cada cultura (GALVÃO, 2014, p. 39). Conceber uma
educação cuidadosa, promotora da construção de uma educação socialmente sensível e
referenciada ou numa perspectiva emancipatória, requer
[...] perseguir um currículo que convoca a nos organizarmos a partir de
interações e relações com práticas educativas intencionalmente planejadas, [o
que] pode ser o caminho para construirmos os campos de experiência que
respondam aos nossos contextos culturais. (FOCHI, 2018, p. 229)
92
Compreendemos que, para uma educação de natureza sensível, é preciso vincular e
posicionar os sujeitos no lugar de quem tem voz na relação, que haja escuta de suas vozes,
observação de suas ações, respeito às suas linguagens, negociações e partilha de interesses.
Rinaldi (2012), quando aborda a pedagogia da escuta, nos auxilia a refletir que a escuta
das cem linguagens demanda a compreensão de símbolos e códigos que usamos para nos
expressar e nos comunicar. Esta condição de escuta ocorre por diferentes vias, na interação,
desde o choro, balbucios, gestos, fala, desenhos, escrita, artes plásticas, visuais e tantas outras
linguagens que somente seres humanos são capazes de produzir. Acrescenta que as cem
linguagens, são o meios pelos quais a vida expressa a si mesma e se comunica com aqueles que
sabem ouvir. É necessário, portanto, ampliarmos essa ideia, na perspectiva de que essa escuta
seja sensível, o que requer também a compreensão da escuta com responsabilidade na creche e
na constituição dos bebês na interação e pela linguagem.
Ressaltamos, ainda, a ética, a participação, a valoração positiva de si e do outro numa
relação dialogada, compartilhada, portanto, respeitosa.
Na rotina supracitada, vimos que as interações ocorriam no cotidiano dos bebês e de
suas professoras. Esse cotidiano nos foi revelando, a partir do que os bebês nos diziam, a
necessidade de ações ou propostas e vivências diversificadas, a fim de contribuir com a
qualidade dessas interações, tendo em vista que muitas aprendizagens não ocorrem em
contextos espontâneos.
A partir do que Barbosa (2006) conceitua, a rotina é uma categoria pedagógica presente
em creches e pré-escolas e que serve à organização da cotidianidade, enquanto o cotidiano é
um espaço-tempo fundamental para a vida humana, lugar do inesperado e no qual acontecem
atividades repetitivas e rotineiras.
Considerando essa diferenciação entre rotina e cotidiano, cabe afirmar que os bebês
reconheciam os momentos da rotina a partir da ação ou verbalização das professoras. Suas ações
e seus tempos se davam na cotidianidade. Sem preocupações com o que estaria por vir naquele
espaço, demonstravam suas curiosidades e interesses para além dos interesses da própria rotina,
o que tornava sua estadia na creche uma vivência potente de significação.
Portanto, compreender as singularidades dos bebês é uma importante condição para a
escuta pedagógica no processo educacional voltado a eles, considerando-os como sujeitos de
possibilidades que, nas relações com os outros, aprendem, se desenvolvem, se vinculam, afetam
e são afetados cognitiva e emocionalmente.
Vimos que o trabalho pedagógico na creche pesquisada se dá, durante todo o tempo, por
meio de diversas ações que incluem o educar e o cuidar. A compreensão dessas ações, por parte
93
de P1, aparece de modo ainda frágil. Em conversa informal com a pesquisadora, revelou que
quando todos os bebês estão no grupo, não realiza nenhuma ação pedagógica com eles,
justificando isso pelo fato de as crianças chorarem ou por haver um maior quantitativo delas
presente no berçário.
P1 - Quando eles estão assim, não dá tempo de fazer nenhuma
atividade. Assim, é só o cuidado.
P1 - Como é muita criança, aí não dá pra gente fazer quase nada.
P1 - Eu acho assim, quando tem muita criança, não dá para fazer nada
de produtivo com eles.
(Diário de campo, 13/03/2019)
É pertinente sublinhar que ajudar um bebê a se tranquilizar na ausência de seus
referenciais familiares é uma ação educativa, é parte de um processo de escuta e auscultação48
diária na construção de uma prática pedagógica respeitosa aos tempos de cada bebê. Na fala da
professora, percebemos a dissociabilidade entre o cuidado e a educação, pois revela que só se
educa uma criança quando se faz uma atividade. É importante salientar que o contexto de
adaptação ao cotidiano da creche ainda estava sendo vivido pelos bebês, portanto, essa fala
ocorreu menos de um mês após o início do ano letivo.
É preciso compreender que além dessa escuta cotidiana aos gestos, balbucios,
entonações e movimentos realizados pelos bebês, outras propostas de exploração dos objetos e
conhecimentos da cultura precisam ser propiciadas nos contextos formais de educação,
garantindo que a creche seja um ambiente que oferte uma experiência potente, diversificada,
qualificada, aprofundada e sistematizada, e que a qualidade desse espaço seja discutida e
socialmente partilhada (BRASIL, 2009).
Sobre o que é considerado como atividade no berçário, ao fazer a observação de que
apenas oito bebês haviam comparecido num determinado dia, em função de que muitos tinham
adoecido, P1 se queixou da ausência dos bebês, sentindo a falta deles, ao mesmo tempo em que
reafirmou a fragmentação do ato educativo, ao tratar da possibilidade de, em virtude desse
quantitativo, poder realizar uma “atividade”.
48 Rocha (2009) nos auxilia a ampliar o uso do termo “auscultar”, não como mera percepção auditiva, nem simples
recepção da informação, mas como uma busca que envolve a compreensão de comunicação feita pelo outro.
94
É ruim quando vêm poucos. É bom, assim, para fazer alguma atividade.
(Diário de campo, 30/04/19)
P1 demonstra, em sua fala, que quando todos os bebês estão presentes, a maior parte do
tempo é dedicada a ações de higiene, alimentação e descanso, não sendo possível realizar
nenhuma ação pedagógica pela quantidade maior de bebês. Ao mesmo tempo, demonstra
afetivamente a preocupação por não terem ido à creche. Diante desse fato, é pertinente refletir
acerca do que é considerado pedagógico na creche. Nessa fala, a atividade direcionada ou
permanente, como denominam as professoras, é a atividade pedagógica com vistas a algum
objetivo. Mas no espaço das relações não se aprende? O cotidiano ou o pedagógico na creche
se dá desde que os bebês são acolhidos pelas professoras, nos momentos de banho, troca,
alimentação, nas brincadeiras ou explorações livres, assim como na proposta da atividade. São
todas situações em que há aprendizagens da cultura, em que há uma intencionalidade educativa.
Em diversos episódios, os bebês revelaram o seu potencial sensível e sua percepção para
as miudezas das relações com o espaço, a natureza, outros bebês e suas professoras, como
podemos reafirmar na descrição de vídeo a seguir, a partir das rotas de movimentação, uma
sequência de ações que representam a interpretação do mundo e, na maioria das vezes, não
estão centralizadas na comunicação oral (BEBER, 2014), realizadas por Davi.
QUADRO VII: O encontro com a formiga
95
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Os bebês brincavam no solário. Davi se aproximou da pesquisadora que estava distante
do grupo, mas, convidado pelo uso do celular durante a gravação, a observou, olhou para o
aparelho, depois tentou pegar seus óculos. Ele correu no espaço para um lado e para o outro.
Trouxe um pote de sorvete vazio e colocou na cabeça da pesquisadora, que estava sentada no
chão. Era sempre no chão que as observações mais potentes aconteciam, próximo ou junto dos
bebês. A pesquisadora interagiu e perguntou se aquilo era um chapéu, fazendo com a cabeça
movimentos para frente e para trás. Davi afirmou, imitando os movimentos feitos pela
pesquisadora, que sim. Retirou o objeto da cabeça da pesquisadora, colocou na própria cabeça
e, em seguida, colocou novamente na cabeça dela, que lhe perguntou se estava bonito. Ele
preferiu não responder, saindo em busca de Antônio e colocando o “chapéu” na cabeça do
colega. Tentou abraçar Kaio, mas os dois caíram. Em seguida, começou uma espécie de pega-
pega. Envolveu-se com outros objetos e colegas que estavam próximos às professoras. Voltou
para mais perto da pesquisadora e tentou subir em um cavalinho de plástico, mas desistiu ao
ver uma formiga que passava embaixo do brinquedo. Olhou atentamente para ela e buscou um
caminho para se aproximar e tentar pegá-la, mas a formiga andava depressa.
96
O encontro com a formiga permitiu uma sequência de movimentos que potencializou as
possibilidades de interação com um elemento tão pequeno da natureza. Foi possível identificar,
nas rotas de movimentação dele, uma intensa necessidade de expansão de seu corpo, ao correr
de uma extremidade a outra no solário, espaço em que os bebês brincam pela manhã.
No contexto da creche, eles estão imersos num ambiente coletivo em que interagem com
outros bebês, professores, demais participantes sociais desse espaço e com mediadores físicos
como berços, brinquedos, livros, mamadeiras, fraldas, copos, talheres e múltiplos objetos da
cultura. Nessa imersão, no conjunto das interações, as linguagens emergem, mas é preciso
considerar que o olhar atento dos professores contribui consideravelmente para a ampliação de
repertórios visuais e de palavras, ainda que os bebês não verbalizem de imediato. Desse modo,
as interações se tornam mais intensas, sejam elas conflituosas, harmoniosas, que expressem,
comuniquem, persuadam, tranquilizem, inquietem ou até desafiem o outro.
Diante disso, vimos que os bebês criavam estratégias para realizar as interações e
brincadeiras, que se iniciavam de forma harmoniosa e interessada e se encerravam quando um
deles se sentia insatisfeito.
No episódio que se segue, tratamos da importância da escuta nas relações humanas,
nesse caso, por parte dos envolvidos na narrativa. A escuta inclui não apenas o ouvir, mas o
olhar e o perceber o que o outro tenta dizer, e se posicionar diante disso, no caso dos bebês,
com base no gesto.
2.3.5 Não quero mais brincar
Nesse episódio, observamos o gesto como importante aspecto da relação entre os bebês.
A bebê que utiliza o gesto representativo para solicitar que o colega interrompa a brincadeira
nos indica que essa ação posiciona os gostos, preferências e limites: até onde quero me
relacionar com o outro.
Consoante com perspectiva sócio histórica, Vigotski (1991) e Dantas (2010) afirmam
que a interação é a base do desenvolvimento humano. Por isso, é pertinente conceber os bebês
como sujeitos sociais diversos, concretos e com determinadas especificidades em relação aos
adultos, situados num tempo e num espaço em que aprendem e se constroem num contexto
carregado de significados. Esses significados precisam ser lidos pelos parceiros de interação.
97
É o momento do banho. Enquanto duas
professoras estão atendendo os bebês nessa
demanda, a outra permanece com os bebês.
Gabriel e Antônio (à direita) iniciam uma
espécie de esconde-esconde articulado com
pega-pega, próximo à parede. Entre sorrisos,
balbucios e movimentos, eles brincam.
Amanda se interessa pela brincadeira dos
dois, observa por alguns instantes e se
aproxima.
Ela se aproxima e Antônio se afasta,
permitindo que brinque com o colega.
Num primeiro contato, ela diz algo a
Gabriel.
98
Ao se inserir na brincadeira, demonstra não
ter gostado tanto quanto quando olhava os
dois brincarem. Expressa facialmente o
desagrado. A reação de Gabriel é inclinar a
cabeça para trás.
Com a mão direita, ela afasta o colega,
dizendo que não ou que pare. Mas alguém
que chega à porta da sala chama a atenção
dele, o que o impede de ver o que Amanda
comunica.
Gabriel novamente volta a atenção para a
brincadeira, mas ela grita e, em seguida,
chora diante do mal-entendido.
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Diante desse episódio, constatamos que as relações humanas podem ser imprevisíveis e
repentinas, principalmente num contexto com bebês que estão atentos e se interessam
rapidamente por outras situações. O fato de Gabriel não ter percebido a ação de Amanda
interrompeu a compreensão, por ele, do que ela expressava, o que, entretanto, não o impediu
de continuar a brincadeira, deixando-a ainda mais chateada. Ela, por sua vez, entendendo que
o colega iria continuar sem o seu assentimento, se posicionou, por meio do choro, o que causou
o distanciamento dele.
Da mesma maneira, essa ação nos provoca a refletir sobre o quanto é importante essa
escuta e observação, por parte das professoras, para que medeiem os conflitos, ações e demais
situações do cotidiano junto aos bebês, com vistas a sua compreensão e ao diálogo com eles.
99
CAPÍTULO III - E AGORA, COMO DIZER OS DIZERES DOS BEBÊS?
“Nascer é penetrar nessa condição humana. Entrar em uma
história, a história singular de um sujeito inscrita na história
maior da espécie humana. Entrar em um conjunto de relações e
interações com outros homens.”
(Bernard Charlot)
Diante da necessidade de refletir sobre o que os bebês anunciavam em suas interações
no contexto da creche, em relação com os seus coetâneos e professoras, pretendemos narrar
nossa experiência com eles no cotidiano da instituição. Temos clareza de que foi preciso
qualificar nosso olhar acerca das relações humanas estabelecidas pelos bebês e colocar em
evidência o modo como estão vivendo suas infâncias e construindo sua subjetividade em um
contexto de educação formal.
A tratarmos de experiência bem como da pesquisa narrativa, trazemos Larrosa (2002),
que conceitua experiência como aquilo que nos toca, nos passa, nos acontece. Nesse sentido,
parece-nos claro que não há possibilidades de dizer quais as experiências que os bebês
internalizaram. O máximo que podemos delimitar são as suas vivências que nos tocaram, de
modo a podermos considerá-las experiências enquanto pesquisadoras.
Ademais, tivemos a oportunidade de conhecer alguns modos de agir desses bebês no
mundo da cultura e algumas estratégias utilizadas por eles no compartilhamento, apoio, disputa
e afirmação, indicativos pelos quais revelam, em seus gestos, ações e balbucios, como vão se
constituindo sujeitos no mundo, dizendo de si e do outro, produzindo e sendo produzidos na
experiência narrativa compartilhada na creche. O grande propósito aqui é evidenciar
narrativamente suas interações, como sujeitos que têm muito a nos dizer por meio das
linguagens não conceituais.
3.1 O bebê na cultura ou a cultura do bebê?
O homem possui a capacidade de se comunicar e interagir, utilizando diversos
mecanismos de linguagem para expressar suas intenções, desejos e necessidades. A capacidade
de atribuição de significados é possível por meio da função simbólica de que dispomos, mas
que não é da ordem biológica. Portanto, essa competência para a construção de símbolos e
100
signos49 emerge da imersão em contextos culturais, nos quais diferentes formas de interação
contribuem para o desenvolvimento dessa função (MARTINS, 2006, p. 197).
Na mesma direção, Vasconcelos et al. (2003) advogam que há uma aparente
desvantagem biológica do bebê humano, pois ao nascer este é consideravelmente imaturo frente
a suas aprendizagens na cultura. Essa imaturidade se dá pelo fato de que, quando nasce, o seu
sistema nervoso central e muitos outros sistemas ainda estão em franco desenvolvimento.
Assim como Pino (2005) acrescenta que essa aparente desvantagem é compensada
quando o homem é imerso na cultura. Destaca que há um duplo nascimento do sujeito quando
ele penetra, tem acesso e torna-se membro de determinada cultura, pois
[...] a aparente condição de inferioridade e de prematuridade do bebê humano,
em vez de se constituir uma perda e obstáculo ao seu desenvolvimento,
representa, pelo contrário, um enorme ganho e um grande meio de
desenvolvimento, uma vez que possibilita que possa ser educado, ou seja, que
possa se beneficiar da experiência cultural da espécie humana. Nesse caso, a
aparente desvantagem em termos biológicos constitui uma vantagem em
termos culturais. (p. 46)
Para Vigotski (1991), ao nascer, o homem possui funções psicológicas elementares,
formas de sobrevivência e manutenção da vida, de ordem biológica. A partir do nascimento
cultural, ele desenvolve as funções psicológicas superiores, “funções e habilidades tipicamente
humanas que têm origem nas relações reais entre indivíduos humanos” (1984, p. 64).
Esse pensamento se sustenta sobre a natureza social e cultural do homem, cujo
desenvolvimento implica a apropriação das características humanas e da produção cultural dos
homens (PINO, 1995). Nesse diálogo entre o biológico e o cultural é que ocorrem as primeiras
experiências do bebê com o mundo. Para Vigotski (1991),
Se incluirmos essa história das funções psicológicas superiores como um fator
de desenvolvimento psicológico, certamente chegaremos a uma nova
concepção sobre o próprio processo de desenvolvimento. Podem-se distinguir,
dentro de um processo geral de desenvolvimento, duas linhas qualitativamente
diferentes de desenvolvimento quanto à sua origem: de um lado os processos
elementares, que são de ordem biológica; de outro as funções psicológicas
superiores, de origem sócio-cultural. (p. 52)
49 Vigotki (1991) nos ajuda a compreender que, para a criança, o signo surge com o aparecimento do gesto, ao
afirmar que o “próprio movimento da criança, seus próprios gestos, é que atribuem a função de signo ao objeto e
lhe dão significado” (p. 123).
101
Destacamos anteriormente que a Educação Infantil é um período que requer, além da
assistência, uma educação cuidadosa, uma vez que inclui arranjos biológicos e culturais que
emergem na primeira infância. Queremos ressaltar que o que, por muito tempo, foi percebido,
na história da educação das crianças, apenas como cuidado e assistencialismo, atualmente
requer a clareza de que, no processo de constituição humana, as funções psicológicas
elementares, com as quais biologicamente nascem e que são fundamentais para a sobrevivência,
são necessariamente transformadas em funções superiores, desde que haja qualidade nas
interações que elas estabelecem com o meio e seus mediadores. São essas interações que vão
vinculando os sujeitos ao espaço, pessoas e relações as quais convive.
Entendemos que estar vinculado afetivamente a um contexto formal de educação
propicia ao bebê a construção de bases para a sua constituição subjetiva e para o
desenvolvimento dessas funções. A educação, como produção de si mesmo, só possível com a
mediação a ajuda do outro (CHARLOT, 2000, p. 54). Na educação cuidadosa, todas as
peculiaridades e necessidades dos sujeitos precisam ser percebidas, sejam elas de ordem
biológica ou cultural a ponto do sujeito se reconhecer como parte integrante daquele lugar.
Quando o cuidado é atento, tem escuta, ética, sensibilidade, trocas interativas, diálogo e
atenção, seguramente se caracteriza como educação. Não cabe, entretanto, tratá-los como
binômio, pois o cuidar e o educar são indispensavelmente indissociáveis e precisam ser tratados
de modo interdependente. Falamos, então, de uma educação cuidadosa e não do cuidado ou da
educação separadamente. É a partir desse direcionamento que é apresentado o mundo cultural
ao bebê, em situações comunicativas vivas que requerem o uso cada vez mais sofisticado de
sua atenção, memória, linguagem e pensamento (LIMA e AKURI, 2017, p. 124).
Vale acrescentar que as funções psicológicas superiores não são aprendidas em
contextos espontâneos, pois são capacidades tipicamente humanas que nos diferenciam dos
animais e construídas a partir da capacidade de interagir e expressar, por meio das linguagens,
o que é uma aprendizagem cultural. Vigotski (1991) propõe que
Um aspecto central do aprendizado é o fato de ele criar a zona de
desenvolvimento proximal, ou seja, o aprendizado desperta vários processos
internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a
criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com
seus companheiros. (p. 97)
Nesse direcionamento, as FPS decorrem das relações reais, das situações concretas entre
os sujeitos. Portanto, para que algo seja internalizado, é preciso ser vivido com os mediadores,
sejam eles físicos ou sociais. As capacidades de memória, atenção, metacognição e linguagem
102
(VIGOTSKI, 1991), que são da ordem do simbólico, bem como a sua aprendizagem, são
internalizadas pelos sujeitos quando as vivem com seus mediadores, sejam eles objetos, práticas
ou outros sociais da cultura.
Nas palavras de Vigotski (p. 63), “chamamos de internalização a reconstrução interna
de uma operação externa” que se traduz em uma sucessão de transformações vividas pelo
sujeito quando passa a operar com os signos, que se dão inicialmente em um movimento que
é social e que se torna individual 50. Portanto, a constituição do sujeito se dá a partir do outro.
Na concepção de Cabanellas e Hoyuelos (1998, p. 103), a aprendizagem é a “capacidade
sensível ao contexto interativo em que vivemos, para estabelecer uma mudança temporária
capaz de desenvolver múltiplas estratégias, viáveis em áreas diferentes e particulares, nas quais
o sujeito age”. Desse modo, é necessário pensar em uma educação sensível para os sensíveis,
vivida na relação com o mundo e com os outros culturais, sejam estes mediadores físicos ou
simbólicos.
Seguindo essa orientação, os dados foram nos revelando o potencial sensível dos bebês,
reafirmando que, nos seus primeiros anos de vida, suas aprendizagens são aceleradas e
carregadas de continuidades e descontinuidades, porém encantadoras. Também que suas
famílias demonstraram certa sensibilidade em suas falas, diante da necessidade de saber o que
acontece com seu bebê enquanto fica na creche.
“Eu gostei dessa pesquisa, sabe por quê? Eu quero saber o que
o meu filho faz na creche. Se ele para de chorar quando eu saio,
se ele brinca. Hoje mesmo, eu saí chorando daqui, com meus
olhos cheios de lágrimas (ninguém viu, não). Mas eu saí com meu
coração apertado. Tem coisas que só eu e a mãe sabemos, porque
ele não fala.”
(Responsável - Diário de campo, 29/03/2019)
Quando abordamos as famílias para solicitar a autorização de participação na pesquisa,
percebemos o seu reconhecimento às especificidades de seus bebês, o que revelou questões que
atravessam o fazer pedagógico da creche e o compartilhamento do cotidiano, nessa relação com
50 “Todas as funções do desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro no nível social, ou seja, entre
pessoas, e depois em nível individual, no interior da criança. Portanto, um processo interpessoal, entre pessoas, é
transformado num processo intrapessoal” (VIGOSTKI, 1991, p. 64).
103
a família. No caso do trecho em destaque, se sobressai o desejo por saber se o bebê brinca e se
suas ações e linguagens são atendidas.
Na medida em que observamos diariamente as ações dos bebês, os ditos e interditos
entre eles, eles e as professoras, eles e os objetos da cultura e seus significados, suas professoras
também nos disseram de si, de suas angústias e desejos de ampliar suas práticas pedagógicas.
Ampliando as bases do caminho a ser percorrido na educação de bebês, é preciso iniciar
o percurso por eles e com eles. Compreender o bebê que chega à creche é o ponto de partida
para construir práticas respeitosas e condizentes com os seus direitos.
Nessa construção, suas professoras precisam atuar dialogando com o cotidiano na
creche, atrelado aos contextos familiares, pensando e refletindo sobre as condições de
aprendizagens e de desenvolvimento infantil, sobretudo, de constituição humana. Silva et al.
(2018, p. 14) sinalizam que refletir sobre essas condições de vida e de educação na primeira
infância, isto é, entre o nascimento e os três anos de idade, é tarefa essencial aos processos de
cuidado e educação que realizamos nas creches e, igualmente, na família.
As ações dos bebês se confrontam cotidianamente com o universo do adulto. Seus
tempos, predileções, brincadeiras, seus corpos e suas linguagens revelam a significação que
possuem da realidade, a partir da sua lógica própria e de sua cultura, ressignificada a partir de
sua imersão no mundo. Os bebês vivenciam suas aprendizagens iniciais nos primeiros contatos
com os grupos sociais nos quais se inserem e, para tanto, precisam que suas potencialidades
sejam consideradas e que suas necessidades, enquanto direitos, sejam atendidas.
Esse atendimento, precisa ocorrer antes mesmo de os bebês verbalizarem
convencionalmente, pois interessam-se por diversos elementos da cultura em que se constituem
e se expressam de diversas formas: choro, olhar, gesto, balbucios, vocalizações e movimentos
corporais. No processo de interação, estas são suas ações predominantes e veículos de
significação. Podemos dizer que são elos de subjetivação com seus pares. Sendo assim,
direcionar o olhar para os bebês exige a compreensão de como agem nos espaços, com os
objetos e seus pares, bem como a clareza de seu processo de interações e de linguagem. A
linguagem ocorre
no sentido amplo de compartilhar sentidos e comunicar significados, ou seja, de
leitura, de interpretação, de expressão e de produção de significados simbólicos
e não no sentido restrito de linguagem verbal, oral ou escrita. As práticas sociais
são linguagens, podem ser “lidas”, interpretadas, no sentido de ouvidas,
sentidas, acolhidas, rejeitadas e, portanto, não são necessariamente verbais.
Quando se oferece uma maçã raspadinha na colher para um bebê, nessa prática
de alimentação está presente uma história, uma cultura, um afeto, uma conversa,
104
um gesto, uma intenção. Todas se apresentam sob a forma de linguagens. As
práticas sociais, como a vida, acontecem através de linguagens. As linguagens
nos permitem compreender o mundo e produzir mundos: expressar sensações,
ideias, sentimentos e compartilhar as produções pessoais com os demais,
participando da vida coletiva. (BRASIL, 2009, p. 86.)
As ações sociais e os objetos da cultura medeiam a relação do bebê consigo, com os
adultos, com as texturas, as imagens, o cheiro, o outro que se aproxima e reivindica sua vez.
Essas ações são possíveis a partir do substrato biológico em potencial, mas não se restringem a
ele porque
A maior parte dos atos humanos não se baseia em inclinações biológicas. Ao
contrário, de modo geral a ação do homem é motivada por complexas
necessidades tais como: a necessidade de adquirir novos conhecimentos, de se
comunicar, de ocupar determinados papéis na sociedade, de ser coerente com
seus princípios e valores etc. (REGO, 1995, p. 45)
No caso dos bebês envolvidos nesta pesquisa, as necessidades cotidianas mais evidentes
foram a do diálogo com suas professoras, portanto, a das narrativas, sobretudo pela sua
condição de aprendentes da cultura.
Para Vigotski (1991), as funções da linguagem dizem respeito à possibilidade de
comunicação interpessoal e a de deslocamento no tempo e no espaço. Na medida em que a
criança vai construindo o pensamento simbólico, portanto, a capacidade de produzir e
interpretar a linguagem, ela vai podendo realizar duas ações que a linguagem permite: a ação
de evocar, lembrar, falar sobre algo que passou, o que remete ao tempo e ao espaço passados, e
a ação de antecipar, que remete ao tempo e ao espaço futuros.
Essas ações inerentes à linguagem nos direcionam a perceber a necessidade de falar com
os bebês no contexto da creche, o que deve se dar com base nas narrativas nas quais estão
imersos, reposicionando-os na relação pedagógica. Peter (2005) aponta a linguagem como
interação, marcada pelas produções culturais e linguísticas que partem da relação com membros
mais experientes da cultura e da socialização como conjunto de conhecimentos entre seus
mediadores, portanto, uma função psicológica superior.
Quando estamos tratando de bebês que utilizam as linguagens não conceituais para
existir no mundo, trazemos os simbolismos de primeira ordem como características desses
sujeitos que estão na creche e que, por estarem imersos em uma cultura têm, durante sua
trajetória, os simbolismos como aspecto inerente ao seu existir. O gesto, o brinquedo e a fala
estão no percurso de sua constituição, também destacados nos dados desta investigação, estas
linguagens repetiram-se cotidianamente, produzindo, portanto as categorias já apresentadas.
105
Benjamin (1984) aponta que a repetição de ações permite à criança compreender o
mundo, experimentar emoções e elaborar experiências. Portanto, a repetição de ações torna o
bebê experiente, mas a própria experiência jamais se repetirá, pois é única. Constatamos o
potencial sensível dos bebês no chão, seu espaço de experimentos, durante a elaboração de suas
experiências/sentidos, desencadeada por momentos vividos na cultura. Larrosa (2002) afirma
que
A experiência, a possibilidade de algo que nos aconteça, nos toque, requer um
gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm,
requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais
devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar, parar para sentir, sentir
mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o
automatismo da ação, cultivar a ação e a delicadeza, abrir os olhos e ouvidos,
falar sobre o que acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a
arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.
(LARROSA, 2002, p. 19)
Em nossa investigação, captamos a disponibilidade dos bebês para a experiência. Eles
não têm pressa para sentir, olhar, olhar de novo, demoram nos detalhes que os adultos não
param para observar. Temos uma rotina que nos toma em obrigações e horários e, muitas vezes,
impossibilitam enxergar a grande beleza de tornar-se humano. Ao observarmos os bebês em
ação com os objetos, brinquedos e outros elementos visivelmente imperceptíveis, percebemos
Raquel, que encontrou um fio de cabelo no tatame da sala.
Fotografia 6 Fotografia 7
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
106
Com as mãos e dedos implicados na exploração, seus dedos polegares e indicadores
puxaram, seus olhos procuraram, choraram por não encontrar, observaram, encontraram,
exploraram até que o horário do almoço chegasse e a atenção de todos se modificasse, inclusive
a de Raquel.
Percebemos que as ações dos bebês são articuladas, intencionalmente organizadas e
expressas em seus gestos, os quais auxiliam a entrada do bebê no mundo do simbolismo
(DANTAS, 2010). Os atos motores são transformados em atos mentais à medida em que o
movimento tem uma intenção. Houve, entre Raquel e o fio de cabelo, uma dimensão estética
na relação com o que é belo, com a textura e a sensação provocadas. Nesse episódio, ficou
evidente o potencial sensível dos bebês e como sua percepção é apurada, aquela mencionada
por Albert Einstein na epígrafe deste trabalho. Ademais, demonstrou-se o sujeito em relação
com o mundo e consigo durante o cotidiano.
Refletindo a partir da teorização walloniana, quando arremata que é pela interação com
os objetos e com seu próprio corpo que as crianças vão constituindo relações entre seus
movimentos, sua sensibilidade e suas experimentações (GALVÃO, 2014). Os bebês também
vão diferenciando o que pertence ao seu corpo e o que está fora dele. A atenção destinada por
Raquel ao fio de cabelo nos indica como uma função psicológica tipicamente humana atua nos
bebês, diante de aspectos minuciosos da vida cotidiana.
Fochi (2018), ao compreender os aspectos da vida cotidiana como potentes e
extraordinários para a construção de conhecimentos, atenta que esse conhecimento não segue
uma linearidade de primeiro isso, depois aquilo.
Se por um lado a vida cotidiana representa essa possibilidade infinita
de aprendizagens - por não ser certeza, ser dúvida -, por outro, na
continuidade da vida cotidiana, algumas coisas se repetem, do mesmo
modo, mas nos causam sensações diferentes. (p. 22)
Nesse potencial sensível durante a vida cotidiana, observamos bebês que estão em
processo de surgimento de seus primeiros dentes, seus primeiros passos, suas primeiras
explorações e desenvolvem sua sensibilidade estética além da sensorial/motora. Molon (2008,
p. 64) acrescenta que a sensibilidade estética surge em um processo de percepção dos objetos
que transcende a dimensão utilitária direta - que nós adultos concebemos - e ultrapassa uma
atividade unívoca diante da realidade.
107
Fotografia 8 Fotografia 9 Fotografia 10
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Por essa lente é que conseguimos analisar que as ações entre os bebês, com os objetos e
com suas professoras iam constituindo-os diariamente enquanto sujeitos experientes. Um dia
na creche permitia muitas vivências, haja vista que o cérebro só retém aquilo que é significativo
para o indivíduo, portanto, se houve a repetição de ações, o sujeito foi afetado de algum modo,
positiva ou negativamente.
Retomando a ideia sobre a experiência, Larrosa (2002) destaca que a experiência é
aquilo que nos toca e nos passa. Nesse aspecto, apontamos as trocas interativas/afetivas dos
bebês com os coetâneos e professoras como basilares à constituição, pelo sujeito, da experiência
em que está e com a qual convive na creche.
Vale acrescer que embora as experiências dos bebês, sob sua perspectiva, não possam
ser expressas neste texto, porque se tratam de uma questão individual e muito particular vivida
por eles enquanto sujeitos humanos que se constituem nas relações da vida. Buscamos narrar
nossa experiência do vivido com eles e o que nos disseram em seus atos. Consideramos que
apenas eles podem sentir as mobilizações internas que ocorrem no momento da ação, pois “é
fácil verificar em si mesmo que no momento da realização de um ato a expressividade externa
é o que menos fixa a atenção: pegar um objeto não implica a imagem externamente acabada da
108
mão, mas a sensação muscular vivida internamente, que corresponde à mão” (BAKTHIN, 1997,
p. 62). Sendo uma experiência individual e particular.
3.1.1 Me dá meu lanche
É nas suas interações com os objetos que os bebês se tornam experientes. Na relação
com eles, nos mostram como estão vivenciando de modo singular a percepção do peso, da
densidade e da textura quando os pegam, soltam, jogam, arremessam ou os guardam para si.
Vale acrescer que as interações também comunicam sensações de prazer, desprazer,
gostos e desgostos expressas pelo movimento que se repete, pelo choro, pelo sorriso, pelo olhar,
pela boca que balbucia, pelo corpo que se esconde.
Era o momento do lanche da tarde, os bebês se aproximaram do balcão antes mesmo
das professoras sinalizarem que iriam lanchar. Ao perceberem que o lanche havia chegado,
avisaram e solicitaram por meio dos gestos. Carla primeiro olhou para a mãe voluntária que
estava auxiliando as professoras e utilizou o dedo indicador da mão direita. Amanda, por sua
vez, solicitou usando a mão direita com a palma da mão aberta em direção aos copos, atrelando
esse gesto ao olhar. A professora pediu para que se sentassem. Alguns atenderam e aguardaram,
outros permaneceram em pé até receberem seu lanche.
Fotografia 11: Me dá meu lanche
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Ao solicitar aos bebês que se sentassem, a professora indicou compreender que eles
pediam o alimento. Havendo essa compreensão, ocorreu a devolutiva por parte dos bebês, pois
109
alguns se sentaram, embora outros tenham insistido no gesto. Nesse episódio, houve a
predominância dos gestos (apontar, pedir, solicitar, mostrar) que sempre tinham como
referência o outro, estavam em todas as ações entre os bebês e deles com as professoras. Através
deles, os bebês por vezes compreendiam-se; para os adultos, muitos desses gestos passavam
despercebidos. As mãos que pedem e apontam, os olhares que esperam ou observam são do
campo da significação. Há intenções e processos de se posicionar.
Essa interação por via da narratividade corporal se dá como um carinho e
como um brinquedo. O infante brinca com o corpo e esse brincar é um espaço
de narração e de liberdade. É com o corpo que o bebê encena o tipo de relação,
prazerosa ou não, que tem com aquele que cuida dele. A figuração com o
corpo é como um teatro comportamental, mas só se dá quando existe um
vínculo relacional. E é assim, com essa comunicação pré-verbal, que vai se
instalando o espaço de narração em que o infante figura e refigura o que
entende e o que quer contar. Essa etapa constitui, portanto, a preparação
decisiva para o acesso à narratividade verbal. (CADEMARTORI, 2015, p. 50)
Nessas ações com o mundo e com o outro e suas narrativas corporais, os bebês vão
construindo seus processos de subjetivação. A subjetivação é a construção do sujeito, pelo
assemelhar-se e diferenciar-se do grupo/vida social, em processo singular historicamente
situado em tempo, espaço e bens simbólicos de uma cultura (FIGUEIREDO, 2002; MOTA
ROCHA, 2002). A subjetividade se refere a
valores, expectativas, sonhos e limites de um sujeito, atuando como
filtro da realidade social, conferindo-lhe significado e sentido: [...] é a
maneira peculiar como cada indivíduo interpreta e reage ao universo
que o rodeia. (MONTE-SERRAT, 2007 apud MOTTA ROCHA, 2018,
p. 8)
Como vimos, os bebês filtram a realidade e a reelaboram, internalizando papéis e ações
de outros culturais. Desse modo, é preciso ouvir e significar os gestos dos bebês e não os deixar
no silêncio, já que suas ações são majoritariamente silenciosas, quando não acompanhadas do
choro ou do grito. É necessário, pois, que haja a correspondência dos seus atos comunicativos,
sobretudo dos que não fazem barulho.
A recorrência dessas ações demonstrou características potentes dos bebês em dizerem
que estão no aqui e no agora, embora precisem compreender que nem sempre é na sua hora,
que têm que esperar, que há outros aguardando, mas isso precisa ser dito para ser interpretado
e significado. Em uma situação de chegada da alimentação na sala do berçário, P1 externa, para
110
a pesquisadora, sua atenção e suas inferências sobre as ações dos bebês quando solicitam ser
alimentados.
É engraçado! Tem uns que pedem assim... (faz o gesto com a
palma da mão voltada para cima, outros chorando e outros nem
chorando e nem apontando, tem que dar na boca.
(Diário de campo, 29/04/2019)
Em sua fala para a pesquisadora, P1 reconhece a importância de aprender a ler os choros
e os gestos dos bebês. Sinalizamos, contudo, que a inferência seja, além de lida, dialogada e
significada pelas professoras para os bebês, na direção de posicionarem-se e de posicioná-los
na relação entre a linguagem não conceitual dos bebês e a linguagem conceitual das professoras.
Assim, processualmente os bebês vão se apropriar desta ao longo de sua história de vida. De
outro modo, à medida que as professoras vão lendo esses gestos, vão também se apropriando
dos modos de dizer dos bebês e realizando a explicitação e, por conseguinte, a legitimação
dessas ações, produzindo interlocuções que deem significado à interação vivida.
Os bebês não hesitam em dizer suas necessidades quando choram, têm cocô, estão
insatisfeitos com o outro. Eles simplesmente dizem. Quando o outro legitima o gesto como uma
ação importante, posiciona o sujeito como alguém tão potente quanto o gesto significado. Esta
é uma ação de ver, ouvir, respeitar e entender, mesmo quando não é possível atender.
Além do gesto, balbucio e do brinquedo, os bebês dizem por meio do choro, a sua
primeira linguagem quando imersos na cultura. Em nossas observações, percebemos que o
choro de natureza majoritariamente biológica, portanto, por questões voltadas às FPE, se dava
em virtude de sono, fome ou necessidade de higienização, acontecendo principalmente na
chegada à instituição, pela manhã. As professoras se mostravam atentas a esses cuidados
básicos, sobretudo quanto às necessidades fisiológicas dos bebês, para que não sofressem com
assaduras. Já o choro relacionado a conflitos e necessidades culturais, como pegar um objeto
ou a chupeta, ocorria esporadicamente, durante todo o dia.
Considerar o que os bebês comunicam requer um olhar atento e intencional para o
processo de escuta, devolutiva e compreensão dos envolvidos na relação pedagógica. Para que
esse processo se dê na direção da convivência, participação, expressão e construção da
identidade e da brincadeira como um direito de aprendizagem, precisamos construir essa
relação, principalmente para a reconstrução de uma sociedade democrática, fundada numa
cultura da escuta. Diante disso, ressaltamos a importância de uma escuta pedagógica em que os
111
simbolismos de primeira ordem sejam considerados como parte de um currículo que visibilize
os bebês em sua condição e constituição dentro de uma cultura.
3.1.2 Sai pra lá!
Os simbolismos apontados por Vigotski são os mobilizadores das aprendizagens. O
gesto, sem o uso da fala, prescinde a capacidade humana de se referir a algo ou alguém
oralmente (CRUZ e SMOLKA, 2012). O outro, seja adulto ou outro parceiro, faz o papel de
significar esse gesto como uma ação importante. No jogo da interação, vão surgindo as
primeiras palavras das crianças.
Fotografia 12 Fotografia 13
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
O grupo de bebês explorava livremente potes de sorvete na sala de referência. Andréia
estava com um pote em cada mão e, ainda assim, engatinhando, aproximou-se de Vitória. Na
perspectiva desta, a colega iria pegar o pote que estava em suas mãos. Antecipou-se, afastou o
pote meticulosamente e, com um gesto da mão direita, pediu o distanciamento da colega, o que
provocou em Andréia a reação de gritar, expressando a sua insatisfação com a ação da colega.
Podemos afirmar que houve interação e linguagem nessa cena, pois uma criança se fez entender
e a outra a entendeu, a partir da ação gerada pela tentativa de Andréia de pegar o pote de Vitória.
Ratificamos, a partir do documento Práticas Cotidianas na Educação Infantil (2009, p.
29), que as formas de comunicação do bebê ocorrem por meio dos gestos, olhares e choros que
são seus canais de comunicação não-verbal. Muitas vezes, no entanto, os adultos, por não
estarem atentos a essas linguagens, não conseguem compreender suas ações que expressam
112
posicionamentos e desejos. As primeiríssimas noções construídas pelo bebê acerca do mundo
social se estabelecem nas interações e no encontro com as relações, práticas culturais e
linguagens simbólicas de seu contexto social (p. 30).
Perrota et.al (1995) argumentam que ao nascerem, as crianças são inseridas em um
universo imenso. Nele, sons, imagens, pessoas e sensações as afetam significativamente. No
caso dos bebês, estes compreendem a fala enquanto curvas de entonação expressiva e, na
interação entre os sons emitidos pelos adultos (palavras convencionais) e os emitidos pelos
bebês (balcucios), que se dão na convivência, num processo de trocas interativas, há o
estabelecimento de significados reafirmando, desse modo, a dimensão social da linguagem.
Para as autoras, a linguagem permite evocar experiências. Nesta pesquisa, sinalizamos que os
bebês evocavam com suas ações, na medida em que as repetiam e revelavam suas
internalizações vividas, tornando-se cotidianamente mais experientes, a partir das relações com
seus interlocutores, nesse caso, as professoras.
Diante da tese da perspectiva sócio histórica, de que o homem se constitui humano a
partir da interação e da linguagem, reiteramos que é nesse movimento de interações e
linguagens, e de linguagens e interações ininterruptas, que as múltiplas linguagens têm destaque
nesta pesquisa. São elas que desempenham o papel de mediadoras das relações e possibilitam
trocas entre as crianças, a natureza e a cultura, nos contextos formais de educação e cuidados
(SALES e FARIA, 2012).
Nesse sentido, são as interações que os bebês estabelecem por meio das linguagens que
viabilizam a construção da autonomia e o compartilhamento de significados com os seus
interlocutores. Além disso, o movimento contrário também acontece, quando as linguagens
favorecem outros tipos de interação que vão desde a escolha, pelos bebês, de objetos, parceiros,
espaços, brincadeiras e aprendizagens, até o modo como se relacionam com eles.
Malaguzzi (2012) aposta que é preciso considerar que, no espaço das relações, deve
haver “conexão entre o desenvolvimento e a aprendizagem, entre as diferentes linguagens
simbólicas, entre o pensamento e a ação, entre a autonomia individual e a interpessoal” (p. 73).
É no que ele chama de intercâmbios sociais que as interações e as relações são intensificadas.
Considerando que o mundo é constituído pelo aparato cultural de mediadores, sejam
estes objetos ou pessoas, Cabanellas e Hoyuelos (1998) salientam que o processo de
conhecimento desse mundo passa pela criança de um modo diferente do ponto de vista do
adulto. Para os autores, as crianças possuem uma capacidade diferenciada de perceber e se
relacionar com o mundo, sobretudo pela diversidade de linguagens infantis.
113
Trazemos, a seguir, dois episódios que consideramos pertinente destacar pela sua
centralidade na nossa discussão. Os bebês demandam o livro em uma interação de disputa, a
qual só pôde ser resolvida quando a professora atuou junto aos bebês, verbalizando para o
grupo: “Vem cá, vamos contar história!”, provocando uma interação de partilha entre eles. Essa
ação da professora mobiliza-nos a refletir sobre a importância da negociação do conflito,
situação em que ela atuou como referência para os bebês.
3.1.3 Se eu leio o mundo, que dirá um livro!
No episódio a seguir, Vitória lê a imagem contida no livro. Explorando sua
potencialidade leitora, passa entre quatro a cinco minutos absorta nessa ação com o objeto
cultural. Evidentemente, o tempo do bebê é diferente do tempo adulto, mas um bebê passar esse
tempo em uma atividade nos diz o quanto suas funções psicológicas estão em formação, uma
vez que a atenção dela está em processo de construção. Em momento anterior, a bebê havia
vivenciado uma situação de leitura junto a P2, que lera para o grupo de crianças que corriam e
brincavam no solário.
Fotografia 14 Fotografia 15
Fotografia 16 Fotografia 17
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
114
A ação de Vitória com o objeto convidou Carla a desejá-lo e, nesse momento, precisou
haver a mediação pela pesquisadora, tendo em vista que as duas professoras presentes estavam
com os outros bebês. Vitória, durante a conversa, se interessou por bolinhas que passaram ao
seu lado e Carla acabou ficando com o livro. Carla, que havia passado cerca de dez minutos
com o livro, não quis cedê-lo a Gabriel, que também já havia mostrado interesse por ele quando
estavam no solário. Entre balbucios e olhares, a disputa continuou, mas Carla se distanciou para
permanecer com o livro. O olhar de Gabriel demonstrou ainda requerê-lo, mas a colega lhe
impediu a exploração. A pesquisadora sinalizou para Carla: Deixa, Carla, Gabriel ver. Ele
ainda nem viu o livro! Apenas um livro está em posse deles e ainda é difícil para um bebê
realizar ações complexas como partilhar, com o outro, um objeto que deseja. Percebendo o
impasse, a professora os convidou para contar a história, tornando o momento mais coletivo.
Gabriel teve acesso ao livro apenas quando a professora atuou na negociação do interesse do
livro pelos dois bebês.
Fotografia 18 Fotografia 19
Fotografia 20 Fotografia 21
Fonte: Registro de pesquisa (2019)
115
Nesse momento, os bebês que se interessaram se aproximaram da professora, que leu o
livro para eles. As cores, as imagens e o cheiro do livro atuaram como elementos convidativos
para a interação e foram sinalizados verbalmente pela docente.
Nessa perspectiva, ela atuou como o outro, mediador humano, tendo a função de auxiliar
a compreensão da atividade pelos bebês, de compartilhar e fazer junto com eles uma ação da
qual todos participaram. A creche é, portanto, um lugar que contempla individualidades num
contexto que é coletivo Com base em Rêgo (1995), podemos afirmar que a partir da inserção
num dado contexto cultural, a creche, na qual se dão a interação com membros de seu grupo,
professores e parceiros, e a participação em práticas historicamente construídas, a leitura,
nesse caso, a criança incorpora ativamente as formas de comportamento já consolidadas na
experiência humana.
Dantas (2005), no tocante à ação docente, nos convida a abrir os canais de expressão e
multiplicar as línguas das crianças, sendo um educador poliglota51. O desafio de aprender e se
constituir como um educador poliglota requer uma aproximação com os sujeitos da educação e
suas relações com o mundo, estabelecendo uma relação de horizontalidade, de olho no olho, de
estar à altura de quem está sendo pesquisado, para começarmos a romper com a ideia
adultocêntrica e construirmos um diálogo entre professor e criança.
Ritcher e Barbosa (2010, p. 86) dizem que “os seres humanos, ao nascerem, trazem
como condição de sobrevivência a necessidade e o desejo de se relacionar e se comunicar”.
Essa condição permite que os bebês elaborem estratégias e relações que possibilitem o
atendimento de suas necessidades. O outro, nesse sentido, torna-se consideravelmente
importante para o estabelecimento de trocas comunicativas e de relações, e são nestas,
estabelecidas cotidianamente, que as crianças se circunscrevem como sujeitos de direitos
específicos.
Pensar nas possibilidades e potencialidades dos bebês como cidadãos, em sua forma
específica de significar o mundo, ressignificando o universo adultocêntrico em que estão
inseridos, é também dar-lhes visibilidade social, tanto nas práticas educativas como para a
realização de pesquisas e políticas públicas.
51 Dantas (2005), em palestra intitulada “Entender e atender: o educador poliglota”, gravada e transcrita por Sinara
Almeida de Costa Sales. A palestrante afirma que os educadores precisam “libertar e limitar, limitar e libertar,
ajudar e atrapalhar, ajudar e estimular” (p. 5) as crianças em suas aprendizagens. Além de abrir canais de expressão
e multiplicação de línguas, é necessário aprender a falar as várias línguas presentes nas crianças, sejam elas do
corpo, do desenho, de personagens, enfatizando as linguagens não-verbais, mas as verbais também. Considera que
isso é importante aspecto para ajudar as crianças a aprenderem e se desenvolverem quando entendidas e atendidas
em suas necessidades.
116
Desse modo, reafirmamos que pesquisar com e sobre os bebês e suas interações tem por
pressuposto fundamental visibilizá-los socialmente como sujeitos de interações e de linguagens,
valorizando tanto suas ações como seus processos de significação em interação e que se
constituem nos diversos coletivos, neles incluída a creche.
Os bebês são pessoas potentes no campo das relações e da cognição (BARBOSA, 2010),
aprendem experimentando o espaço onde vivem de diferentes maneiras, com as mais variadas
interações e linguagens, construindo, assim, sentido sobre a natureza e a sociedade, e recriando
a cultura.
3.1.4 Me dá o copo!
Pudemos observar Carla e Heloísa que, mediadas por um objeto cultural, um copo, e
pelo desejo de beberem água, portanto, uma necessidade biológica, a sede, disputaram o objeto
que estava com Heloísa, que rapidamente fugiu ao ser desafiada por Carla, embora esta tenha
conseguido alcançá-la. Após as tentativas de pegar o objeto da colega e movimentos circulares
em que Heloísa se distanciou corporalmente de Carla, afastando-a com as mãos para não
entregar o copo, não houve mais possibilidades de fugir. Heloísa, com gargalhadas, convenceu
a colega, apontando para o balcão onde estavam os copos, de que o mais importante havia sido
a fuga e a gargalhada juntas, e o copo, algo secundário. Carla se dirigiu até o balcão e solicitou
à docente, com o gesto de apontar, um copo com água. Partes dessa situação podem ser
observadas no episódio a seguir:
117
Fotografia 22 Fotografia 23 Fotografia 24
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Os bebês, por estarem em processo de construção dos simbolismos de primeira ordem,
neste caso, o gesto, o brinquedo e a fala (VIGOTSKI, 1999), estão em construção de
possibilidades, um universo de potencialidades em ação. O fato é que esses simbolismos
precisam ser interpretados, vistos e respondidos, de modo que os bebês se reconheçam enquanto
sujeitos de linguagens. Quando o outro, seja adulto ou criança, interpreta, com palavras ou
ações, o choro, o riso, o grito, os movimentos, os balbucios e participa da interação, as
linguagens emergem.
Nossa intenção é reafirmar que os direitos dos bebês aos cuidados e à educação estão
intrinsecamente ligados à qualidade das relações com os adultos que os acompanham (FOCHI
e FOCESI, 2018. p. 46), ideia que corrobora o pensamento vigotskiano, ao considerar que a
qualidade das interações estabelecidas com a criança é o que mobiliza as aprendizagens
humanas.
118
3.1.5 Toma o gagau!
O episódio a seguir revela como Carla realizou o intercâmbio social da mãe que alimenta
o bebê. Ela inicialmente ninou a boneca, tentou acomodá-la em seu colo, preparando-a para ser
alimentada. Pegou a garrafa e, na sua brincadeira, transformou-a em mamadeira.
Fotografia 25 Fotografia 26
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Durante a ação característica de uma internalização de papel social, Carla utilizou a
garrafa pet, que cumpriu a função de substituição da mamadeira, brinquedo mediado pelo gesto
representativo. A observação demonstrou que ela não pegou o chocalho, que estava ao lado, e
sim a garrafa, que tem um formato similar ao do objeto de que ela precisava para alimentar o
bebê, ação que vivencia em casa e na creche. “É no brinquedo, portanto, que a criança se projeta
nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Assim, o brinquedo
antecipa o desenvolvimento” (VIGOSTKI, 1991, p. 147). Nessa ação, inferimos que Carla
revela uma experiência ou aprendizado cultural fortemente marcado pelas ações de quem cuida
dela, o que permite que ascenda a essa internalização durante a interação com a boneca. Nesse
sentido, o compartilhamento, por meio da brincadeira, do uso de objetos e espaços por parte de
Carla se deu para a pesquisadora, que permaneceu fotografando durante a ação e para quem a
119
menina sorriu enquanto brincava. Seu sorriso, como uma linguagem que inferimos na sua ação,
permitiu que continuássemos a vê-la brincar.
Em seus intercâmbios sociais, as crianças vivem conflitos, emoções, perigos,
brincadeiras, movimentam-se, observam, experimentam e realizam descobertas sobre si e o
outro. Enquanto pesquisadores, podemos conhecer os modos de aprendizagem que ocorrem
nessas interações com o espaço e os objetos.
Para definir espaço, direcionamos nossa lente para ele na perspectiva da Geografia52,
que o vê como
[...] algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação humana.
O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetos, naturais ou
fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas ou não. A cada época, novos
objetos e novas ações vêm juntar-se às outras, modificando o todo, tanto
formal quanto substancialmente. (SANTOS, 2008, p. 46)
Dessa maneira, é nesse conjunto indissociável de significados culturais com que as
crianças se relacionam que elas vão se constituindo enquanto sujeitos históricos, culturais e de
linguagens. Acreditamos que a creche é um desses espaços que contemplam tanto o que é físico
quanto o que é imaterial, as relações, inclusive as conflitivas. Na disputa do episódio a seguir,
os olhares, balbucios, movimentos do corpo e choro, por parte das bebês, são dados dos quais
inferimos evidências e regularidades em situações de disputa.
3.1.6 Eu quero o meu brinquedo
Adriana e Carla têm, cada uma, uma
pelúcia nas mãos. Adriana, ao ver a colega,
se interessa pelo brinquedo da amiga e
tenta pegá-lo de suas mãos.
Carla resiste, se olham profundamente e
permanecem, por um tempo, olhando uma
para a outra.
52 Utilizamos o conceito de espaço na Geografia, pois esta é uma área que nos auxilia a fazer a interlocução entre
os aspectos físicos e relacionais da vida humana.
120
Adriana, com bastante força, consegue
tirar o brinquedo das mãos de Carla e
permanecem se olhando....
Carla não se intimida com o olhar frio e
desafiador da colega. Começam a disputar
o brinquedo com mais força.
Adriana consegue tomá-lo mais uma vez e
demonstra que, para ter a garantia de que
permaneceria em sua posse, agarra-o.
Continuam se olhando desafiadamente.
Até então, a disputa acontecia em meio ao
silêncio das duas, mas Adriana grita na
tentativa de assustar ou afastar a colega. A
disputa parece incomodar Carla que,
novamente, tenta pegar o brinquedo que
está com Adriana.
121
Adriana demonstra estar relutante, até que
Carla não suporta e chora. Ainda assim,
não consegue convencer a colega a
partilhar o brinquedo.
Fonte: Registro de pesquisa (2019)
As disputas no berçário eram recorrentes, o que acreditamos dever-se à escassa
diversidade de brinquedos no berçário. Embora houvesse outras pelúcias disponíveis, as duas
meninas requereram o macaco amarelo. Observamos, também, que esses episódios ocorriam
principalmente entre os bebês com mais meses de vida, pois os mais novos, logo que entravam
em uma situação conflitiva, choravam de imediato. Observemos, ainda, que ambas insistiram e
uma delas só recorreu ao choro após tentativas não atendidas pela colega no espaço da creche.
Gandini (2016) traz uma discussão sobre a escola infantil53 como sendo o ambiente que
educa, considerado por ela um terceiro educador, desde que seja flexível para o atendimento
das demandas infantis. Nesse espaço relacional, é que os bebês aprendem e precisam ter
garantidos os seus direitos de conviver, brincar, expressar-se, conhecer-se, participar e explorar,
apontados pela BNCC (2017) como os direitos de aprendizagem que perpassam e articulam a
interação com o outro.
Na mesma direção, Fortunati (2014) destaca que a educação nesse espaço deve
contemplar o contexto físico, social e de relacionamentos, assim como oportunidades para a
criança e suas conquistas, para que novos saberes e conhecimentos sejam gerados, permitindo
que esta seja a protagonista do processo. De acordo com o documento Práticas Cotidianas na
Educação Infantil (2009),
Não nascemos sabendo nos relacionar com os demais. Embora sejamos
biologicamente sociais, precisamos, no convívio, aprender as formas de
relacionamento. Essa é a grande tarefa da educação da primeira infância e é
realizada nas suas práticas cotidianas embasadas naquilo que a cultura
universal oferece de melhor para as crianças. Nas tarefas do dia-a-dia, aquelas
que realizamos junto com as crianças, produzimos e veiculamos concepções
de educação. Essas concepções não acontecem simplesmente na transmissão
53 Leia-se creche. Escola infantil se refere ao termo utilizado pela autora quando fala da escola para a primeira
infância.
122
da informação, neutra e direta – se assim o fosse já teríamos resolvido a crise
educacional de nosso país – mas se efetivam em vivências e ações cotidianas
nos estabelecimentos de Educação Infantil, pois têm um significado ético. É
através das conversas, da resolução de conflitos, dos diálogos, da fantasia, das
experiências compartilhadas que, esperamos, possamos tornar o mundo mais
acolhedor. (BRASIL, 2009, p. 13)
A creche como esse espaço relacional no qual os bebês precisam conviver, brincar,
explorar, participar, expressar e conhecer-se, por meio de vivências que estejam vinculadas as
práticas sociais e que contemple espaços de escuta. No que tange aos berçários, Horn (2017, p.
29) destaca quatro princípios importantes que precisam ser oportunizados aos bebês: um
ambiente organizado e flexível; conforto, segurança e desafios; interação com as diferentes
linguagens e bem-estar das crianças. Para que evoquem o protagonismo e as potencialidades
infantis (FORTUNATI, 2014), esses princípios precisam fundamentalmente estar presentes nas
nossas creches brasileiras, tendo em vista que partimos do direito a essas oportunidades para as
crianças concretas que nelas estão.
Cabanellas e Hoyuelos (1998), ao observar quinze bebês de seis a treze meses em
trabalho de campo, perceberam a complexidade dos encontros estabelecidos, por meio dos
gestos, com seus diversos pares e materiais, e suas potencialidades. Indicam que os bebês
[...] nos oferecem a possibilidade de ver como eles são capazes de dar respostas
que alternam e conjugam diferentes formas de sentir, observando como
elaboram seus “sintomas”, na seleção de gestos motores que tornam mais
viáveis as ações que desejam realizar. Também, sua capacidade de decisão,
aceitação da causalidade de modos lógicos correspondentes. Modos,
entendemos, prévios ao uso da palavra, que respondem a uma lógica própria das
ações que estão para se estabilizar e aprofundar nos modelos de pensamento
linguístico (p. 28)
Desse modo, entendemos que a capacidade dos bebês de estabelecerem comunicação,
antes mesmo de adquirirem a fala convencional, se dá a partir dos seus gestos e ações que se
constituem por meio das interações.
Em concordância com Cabanellas e Hoyuelos (1998), acreditamos que as ações dos
bebês possuem significados e são, ao mesmo tempo, lógicas, criativas e racionais, permeadas
pelas internalizações significadas na cultura. Vale acrescer que se não houver esse outro, no
caso da creche, professores e parceiros, que olhe, interprete, signifique e responda, tais ações
não irão se caracterizar como linguagem.
De acordo com Peter (2002, p. 17), é importante refletir que tanto a linguagem verbal
como a não-verbal têm características fundantes e particulares, são sistemas de signos utilizados
123
para a comunicação, bem como oferecem a possibilidade de substituir a experiência, que pode
ser veiculada em um tempo e um espaço diferentes.
Pudemos identificar, na pesquisa, que os bebês, por meio dos gestos, revelam ações já
vividas com outros sujeitos experientes na cultura. Desse modo, participam da reorganização
dessa cultura e, através de suas estratégias de linguagem e por meio delas, dizem de si, do outro,
do mundo, por vezes sem uma palavra sequer, veiculando os significados já vivenciados
outrora.
3.1.7 Deixe-me ver a sua fralda!
Fotografia 27 Fotografia 28 Fotografia 29
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Jade percebeu que Igor estava dormindo e acordara chorando, pois sua chupeta havia
caído embaixo de seu corpo. Ela observou, aproximou-se, tentou ajudá-lo, devolvendo-lhe a
chupeta, o que provocou irritação e choro mais intenso. Uma das professoras auxiliou nesse
momento e Igor voltou a dormir. Depois de acalmado, Jade, ainda insatisfeita por não ter
ajudado, ninou o colega, balançando o seu bumbum, ação esta também realizada pelas
professoras no momento do soninho. Em seguida, tentou verificar o que havia dentro da fralda
dele. Finalizou a ação com a mão direita na direção do próprio nariz, para cima e para baixo,
124
pois em sua perspectiva, o colega precisava ser trocado. Durante o processo investigativo, essa
sequência de ações de colaboração ocorreu várias vezes, envolvendo outros bebês.
Percebemos que os bebês se utilizam de alguns processos culturais – interação, imitação
e repetição (GOUVEIA, 2016, p. 82) – que possibilitam o uso das linguagens em um contexto
coletivo. Esses mecanismos são carregados de afetos, conflitos, entonações, ditos e interditos
que precisam ser lidos pelos que cuidam dos bebês e os educam. Nessa interação de
colaboração/apoio ao amigo que dormiu, Jade imprimiu seu modo de dizer como o outro se
porta diante dela.
Nessa direção, Jobim e Souza (2016, p. 13) afirmam que é preciso aprender a escutar
para compreender o mundo a partir do ângulo que as crianças nos oferecem, com suas palavras,
gestos, silêncios e olhares. Portanto, é imprescindível a valorização dessas ações no ambiente
da creche como espaço de relações, tornando visível a aprendizagem das múltiplas linguagens
pela criança. Para Cademartori (2015),
a narratividade cria uma conexão entre fatos de modo contínuo, um
encadeamento de acontecimentos sucessivos, figurando uma temporalidade: a
da história. A percepção da continuidade depende de relações e interações
estabelecidas na primeira infância. São elas que possibilitam à criança
estabelecer uma temporalidade sem muitas rupturas, lastreada na confiança da
continuidade da experiência. (p. 34)
Nessa conexão entre fatos contínuos e significativos, as ações de linguagem são
características dos bebês e emergem antes mesmo de dizerem as primeiras palavras,
propiciando o acesso ao mundo dos símbolos. Contudo, é necessário que diante dessas ações
sucessivas, um mediador experiente narre, valorize positivamente, crie expectativas sobre este
tipo de interação, conte sua história.
3.1.8 Dorme, neném!
Os bebês em interação com os objetos, ao usá-los na brincadeira, partilhavam sentidos
nos quais evidenciavam as estratégias de diferenciar-se do outro. As interações ocorriam
mesmo na ausência de alguém que as significasse. Não esperavam, não hesitavam,
simplesmente interagiam e interrogavam os modelos curriculares nessas ações cotidianas.
Havia, portanto, “[...] intersecção do lúdico com o cognitivo, nas diferentes linguagens: a
conciliação entre imaginação e raciocínio, entre corpo e pensamento, movimento e mundo, em
125
seus processos corporais de aprender a operar linguagens e narrativas”. (RICTHER e
BARBOSA, 2010, p. 85).
Na sequência, vemos Andreia, que brincou com uma boneca e a colocou para dormir,
balançou-a e verificou se dormiu, ajustou sua postura corporal, trocando a mão esquerda pela
direita, balançou novamente a boneca, dessa vez ninando-a, em seguida balançou-a em seus
braços. Como não estava dando certo apenas balançá-la, deitou-a, tentando niná-la novamente
ao som de “aaaaaaaaaaa”. Essas imitações inteligentes repetiram-se intencionalmente em
interação com a boneca.
Andreia tem uma boneca em uma das mãos e
uma pelúcia na outra. Tenta ninar os dois de
uma vez. Inferimos que diante da
impossibilidade de movimento com a
pelúcia, prefere permanecer com a boneca
que, pela materialidade, lhe permite mais
movimentos.
Entre acomodar a boneca e balançá-la, há
olhares e observação do ambiente e para a
pesquisadora.
Diante de várias tentativas, inclusive de troca
de almofadas e espaços, coloca-a em seus
braços e movimenta seu tórax para cima e
para baixo.
A tentativa não funciona e resolve utilizar a
voz, com intensos “aaaaaaaaaaaaaaaaaa”
acompanhados de movimentos e remexidos
na bebê, que provavelmente dorme.
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
126
Guimarães (2016), ancorada na psicologia histórico-cultural, também compreende os
bebês como sujeitos de ações e relações. Nessas relações, eles vão enriquecendo seu repertório
cultural e de linguagem, cabendo ao adulto reconhecer e valorizar isso, de modo que haja
reciprocidade na produção de significados entre os envolvidos.
De modo geral, imitar, apontar, ofertar ou trocar objetos e rituais de
contato corporal são algumas ações relacionais que se produzem na
relação dos bebês entre si. Reconhecer, sublinhar e incentivar essas
possibilidades são caminhos importantes na ação dos adultos com eles,
afirmando-os como atores sociais, produtores de linguagem.
(GUIMARÃES, 2016, p. 50)
Observamos cotidianamente os bebês solicitando às professoras seus desejos, por vezes
estendendo a mão com a palma para cima, por vezes, quando não atendidos, ousando se
aproximar delas e tocar suas pernas. Também vimos que, ao não serem atendidos por uma
professora, tentavam a outra, e depois a outra, até que seu desejo fosse atendido.
3.1.9 Olha, olha!
Ao tratar das bases da concepção de Henri Wallon, Dantas (2010) aponta que nessa
concepção o ser humano é organicamente social, ou seja, que o sujeito, para se desenvolver,
precisa da intervenção da cultura. Atentamos para essa organicidade de ser social, pois ela nos
auxilia a olhar para os bebês, seus movimentos e gestos, que são aquisições não-verbais durante
as interações e que possuem intenções e significados, expressando desejos, o que leva o bebê a
se desenvolver no mundo dos signos, a entrar no universo dos simbolismos.
Era o momento do soninho. Alguns bebês
ainda dormiam, mas Kaio, Raquel e Larissa
estavam acordados e brincavam com um
brinquedo de pelúcia.
127
Enquanto eles brincavam, P2 começou a
cantar: O palhaço picolé-lé-lé... Kaio, ao
ouvir a voz da professora, de imediato
vocalizou, com balbucios, e chamou Larissa
para conversar. Nesse tempo, a música
cantada pela professora mudou: Eu vi um
sapo na beira do rio...
Larissa presentificou o amigo com o olhar e
atentamente o ouviu: GA DU BIÁ IAIA Ê
OIA AGU O LÁ O LÁ O RÁ O LIÁ.
Seus gestos e olhares indicam para Larissa
que fala da música, da professora ou de algo
que lembrou ou viveu fora da creche.
Fonte: Registros de pesquisa (2019)
Os bebês são e estão no tempo presente, portanto, poderiam estar conversando sobre a
professora ou elementos da música que ela cantava. Mas os olhos de Kaio e seu braço apontando
para fora remetem a algum momento que pode ter vivido fora da creche. Nessa sequência de
ações, interações e linguagens estão os gestos, o olhar e o balbucio como centrais.
O gesto, para Vigotski (1991), é um simbolismo, o signo visual inicial que contém a
futura escrita da criança. É também o mediador do brinquedo na criança, portanto, uma ação
que comunica e indica significados. Esses gestos carregados de intencionalidades ocorriam
prioritariamente quando alguma necessidade surgia, sobretudo a de solicitar do outro que seus
desejos fossem atendidos nas interações de afirmação, por meio da linguagem não-verbal.
Fuza et al. (2011) abordam a natureza social da linguagem como um processo que ocorre
por meio da interação entre os interlocutores (p. 498), sujeitos que são sociais e ideológicos,
que possuem identidades e valores e que estão em confronto na situação discursiva. No caso
dos bebês, que estão imersos nessa construção de elementos linguísticos, faz-se pertinente
128
refletir sobre o lugar que têm ocupado nas situações discursivas no contexto da creche. Sendo
assim, a linguagem é vista como um sistema simbólico que envolve a capacidade de operar com
signos, ou seja, atua sendo uma função psicológica superior, dada a sua dupla dimensão: a da
socialização e a do pensamento generalizante (VIGOTSKI, 1984).
De outro modo, Dantas (2010, p. 39) acrescenta que, logo após o nascimento, até os três
primeiros meses de vida, os bebês apresentam, além de reflexos, movimentos globais e
desordenados, a partir dos quais surgem movimentos mais expressivos que vão sendo
interpretados e significados pelo outro. E, no processo de desenvolvimento, a maior parte das
manifestações motoras consistirá em gestos dirigidos às pessoas (apelos), manifestações
caracterizadas por nuances de alegria, surpresa, tristeza, desapontamento, expectativa etc. Esses
movimentos carregados de intencionalidade vão configurando as aprendizagens da criança no
mundo.
Diante do exposto, trazemos os nove episódios interativos analisados, e em destaque
nesta dissertação, a partir da predominância da interação vivida entre os bebês e as práticas
sociais nas quais se deram. Desse modo, assim configuramos e qualificamos com base nas
categorias.
Quadro VIII: Contexto das interações
INTERAÇÃO EPISÓDIOS PRÁTICA
SOCIAL
PARTILHA
3.1.5 Toma o gagau! Comer
3.1.8 Dorme, neném! Dormir
3.1.9 Olha, olha! Conversar
APOIO/AJUDA /COLABORAÇÃO
2.3.4. Come, come! Comer
3.1.7 Deixe-me ver a sua fralda! Vestir/trocar
DISPUTA
2.3.1. É um chapéu. E daí? Brincar
3.1.2 Sai pra lá! Brincar
3.1.6 Eu quero o meu brinquedo 3.1.4 Se eu leio o mundo, que dirá um livro!
Brincar
Ler
AFIRMAÇÃO
2.3.4. Não quero mais brincar Brincar
3.1.1 Me dá meu lanche
3.1.2 Sai pra lá
3.1.4, Me dá o copo
Comer
Brincar
Beber água
É importante sublinhar que buscamos revelar os dados a partir das possibilidades dos
bebês, do que eles têm e não do que lhes faltam. Portanto, é cabível ressaltar a criança destacada
129
por Loris Malaguzi no poema “As cem linguagens da criança”, no qual é metaforicamente
evidenciada e evocada pelo autor a criança que possui centenas de linguagens.
A criança de possibilidades é a que está imersa nessa cultura e pode significá-la, que
interpela e se comunica com o mundo a partir de diferentes modos, os quais não se dão
necessariamente apenas pela oralidade, mas que a incluem.
Sobre esse aspecto, é importante destacar o pensamento de Barbosa e Fochi (2012) ao
afirmarem que é nesse quesito que se fixa o desafio da pesquisa com os bebês, “já que eles não
falam, mas dizem, convocam, anunciam e denunciam” (p. 7), falam de outras formas, com
outras linguagens com as quais precisamos estabelecer uma postura intensa de escuta e
negociação de significados. Ainda acrescentam que muitos são os questionamentos e que o solo
de pesquisa escolhido é movediço e complexo, mas que precisamos constituir essa experiência
para modificar os modos como a própria ciência simplifica os bebês, com vistas a visibilizá-los
em sua complexidade.
130
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Cadê que não tinha ninguém pra tirar foto?” (P1)
(Diário de campo, 03/05/2019)
O presente trabalho consistiu em uma pesquisa de caráter qualitativo realizada com
bebês, em um berçário de uma creche municipal de Campina Grande-PB. O estudo possibilitou
a análise das interações entre os bebês com vistas ao conhecimento e à identificação das
linguagens não conceituais expressas por eles, quando das interações vividas na creche. Partiu
do pressuposto de que é por meio das linguagens entre os bebês que eles se constituem e se
afirmam no mundo, embasados em sua própria cultura de agir.
Com base nos dados obtidos, destacamos que as interações entre os bebês desta pesquisa
ocorriam majoritariamente a partir de práticas sociais já vividas na cultura, como se alimentar,
dormir e tomar banho, por exemplo. Além disso, no contexto dessas práticas sociais, os bebês
compartilhavam situações de brincadeiras, disputas, ajuda e afirmação no mundo quando se
utilizavam do gesto, brinquedo e, alguns, do balbucio para dizer, a seu modo, o vivido com suas
professoras, nas interações de ajuda, partilha, disputa e/ou afirmação no mundo e com o mundo.
O estudo também indica a necessidade de que interações qualificadas e a intencionalidade
educativa com os bebês sejam pensadas a partir deles, para que haja a conversão das funções
psicológicas elementares em superiores, a partir da mediação do professor, quando da
valorização, escuta e produção de inferências e narrativas das ações infantis, considerando
a dimensão subjetiva da educação (MOTA ROCHA, FIGUEIREDO e
POULIN, 2018).
O percurso de construção da pesquisa nos deu indicativos para novas questões possíveis
de investigação. O campo nos revelou a potência do que fazem e dizem os bebês: ações que
expressam; histórias que se entrelaçam; diálogos articulados sem sequer uma palavra; situações
conflituosas de choros, mordidas e empurrões. Olhar para os bebês, nesse estudo, permitiu
reconfigurar o olhar adultocêntrico, a fim de nos aproximarmos da realidade concreta dos
sujeitos, de seus modos de ser e agir. Os deslocamentos dos bebês e os diálogos entre eles foram
nos deslocando do lugar do adulto que conhece para o lugar de quem precisa conhecer cada vez
mais.
131
Pesquisar com os bebês presume um significativo desafio, pois exige intensa
observação, atuação e escuta apurada para podermos ver o que eles nos dizem a partir de suas
ações, para entendê-los e atendê-los nas suas linguagens (DANTAS, 2005).
Na investigação, pudemos significar que os bebês produzem ações polissêmicas a partir
dos contextos enunciativos e de modelos já vivenciados na vida social. Uma ação pode ter
infinitas significações e nesta investigação o foco de interesse foram as regularidades das
interações. As pistas indicadas pelos bebês - na formação das interações de
ajuda/apoio/colaboração, partilha, disputa e afirmação que se deram na interlocução - foram
determinando os sentidos que emergiram e as possibilidades de construirmos novas
conceitualizações sobre esses sujeitos, a partir da fonte direta dos dados - eles próprios - no
contexto da creche.
A imersão no campo mostrou que o olhar apurado, implicado e sensível aos
desdobramentos das ações dos bebês nos mostra caminhos para a atuação com eles e voltada
para eles. Uma pedagogia que os escute e atente para suas linguagens, que signifique seus gestos
e atue na constituição simbólica humana. Os bebês nos indicam a necessidade de ampliarmos
o olhar, o ouvir e o falar com e sobre o que se vive, sobretudo na ação pedagógica junto a eles.
A escuta de todos os envolvidos no processo educativo, bebês e professores, é necessária.
Não podemos cair no discurso falacioso de que se um, nesse caso o bebê, está no centro, o
outro está em outro lugar, distante dele. Falamos de um processo dialógico de quem
escuta, mas também fala e se posiciona dentro de um processo negociado de significados.
As professoras de bebês têm, em suas salas, durante dez horas diárias, cinco dias por
semana, vinte dias mensais e duzentos dias por ano, os sujeitos que mais aprendem em menos
tempo e precisam atentar para isso. Não falamos em antecipação de processos, mas em
possibilidades para que estes sejam vividos de maneira integral e promotora de sujeitos.
Para que essa reflexão chegue até o cerne da creche, as pesquisas e estudos precisam
chegar até ela, o que justifica nossa intenção de dar retorno à gestora, às professoras e famílias
dos bebês sobre a pesquisa. Também de reafirmar o lugar das professoras como capazes de
buscar e pesquisar sobre os sujeitos com os quais elas atuam diretamente. Entretanto, por vezes
a formação inicial não dá conta dessa compreensão e, além do mais, é relativamente recente um
olhar para a educação de bebês. É pertinente destacar que, culturalmente, ainda carecemos de
uma formação pessoal e profissional que atenda à subjetivação e à subjetividade dos envolvidos
no processo educativo, nesse caso os professores e professoras, principalmente pela pouca
valorização docente em nosso país.
132
A escolha de pesquisar bebês se deu no intuito de reafirmação de que o sujeito se
constrói e se constitui humano a partir das interações e das linguagens que emergem na relação
com a cultura. Nessa direção, é preciso saber que há sempre o sujeito da educação, ainda que
suas linguagens sejam constituídas por outras vias, também que existe sujeito
independentemente da clareza ou conhecimento por parte do professor.
Faz-se necessário compreender que, ainda que os bebês não se comuniquem por meio
da palavra, portanto, dos signos linguísticos, têm necessidades e direito a interações
qualificadas e a creche se caracteriza como um espaço privilegiado para essas ações, devendo
e podendo conferir legibilidade aos atos infantis. Os gestos, silêncios, choros, balbucios,
mordidas, isto é, as linguagens não conceituais são veículos de enunciação e de significação
dos bebês e os professores precisam considerá-las.
A pesquisa aponta que os bebês se constroem o tempo todo. Nessa direção de constituir-
se é que o bebê comunica e, devido a isso, é preciso que “o eu, o outro e o nós” esteja mais
presente no cotidiano. Faz-se necessário, como vimos, pensar no outro, colocar-se na posição
do outro que chora, considerar o corpo que empurra na tentativa de afastamento, o gesto que
pede o lanche do dia, o movimento de se deslocar e/ou engatinhar de onde está até o outro.
As miudezas da vida, que muitas vezes parecem passar despercebidas na rotina diária,
não passam despercebidas pelos bebês. Uma formiga que passa ou fios do cabelo no chão, que
são imperceptíveis se os olharmos rapidamente, podem ser motivo de seu interesse e atenção.
A valorização de ações como essas e o posicionamento desses sujeitos em suas relações sociais
no cotidiano também implicam garantir seus direitos e processos de constituição.
Reiteramos a relevância e a dimensão social desta investigação, no sentido de ampliar
as perspectivas docentes e suscitar práticas que atendam às demandas infantis, visibilizando
tanto os bebês como suas professoras como agentes potentes de construção de subjetividades,
no seio das práticas em que estão envolvidos no berçário.
Reafirmamos o compromisso da devolutiva dos resultados da pesquisa para as famílias,
professoras e coparticipantes do processo investigativo, uma vez que acreditamos na
necessidade imperiosa da relação da creche com as famílias, pois dividem a responsabilidade
pela educação cuidadosa das crianças, sendo conjuntamente responsáveis pela sua constituição
enquanto pessoas, portanto, pela sua subjetividade.
Muitas reflexões concernentes à posição de pesquisadores com bebês foram também
sendo tecidas durante a investigação: até onde podemos ir na relação de pesquisa com os
sujeitos, sobretudo em situações conflituosas? Até onde podemos expor sua imagem, sem que
invadamos a privacidade tanto dos bebês como de suas professoras?
133
Assumimos a condição de pesquisadora/adulta que se utiliza das linguagens conceituais
para posicionar os bebês no debate acadêmico e cientifico, considerando, por meio do discurso
histórico e dialógico, que eles são sujeitos criadores e que são produzidos na relação com o
outro. Consideramos, dessa forma, suas professoras como atuantes diretas na sua construção
enquanto sujeitos
Vale sublinhar que pesquisas sejam trazidas, na direção de visibilizar também, além dos
bebês, suas professoras e seu fazer junto a estes, bem como a compreensão da importante
dimensão e contribuição destas para a constituição humana daqueles que educam
cuidadosamente/sensivelmente. Fazemos uso das nossas narrativas, linguagens conceituais e
palavras, portanto, desta dissertação, a partir do lugar de quem diz de si e do outro com suas
ações, nesse caso, os sujeitos desta pesquisa, partindo da ideia de que as palavras produzem
sentidos, criam realidades e atuam nos processos de subjetivação (LAROSSA, 2002).
Nesta pesquisa, alguns indicativos acerca da docência aparecem de modo ainda tímido.
Reconhecemos que não os abordamos de forma contundente, como merecem. Também que
precisaríamos de mais tempo para compreender e ouvir as professoras para além da observação
e das conversas informais. Sinalizamos que não fazia parte dos nossos objetivos propostos, mas
temos clareza de que é necessário ampliar a relação de saberes sobre e com elas. Entretanto,
deixamos o desafio para investigações prospectivas, para que sejam realizadas especificamente
em diálogo sobre como compreendem os bebês e suas ações, bem como seus processos de
formação e atuação junto a estes para a efetivação de relações pedagógicas democráticas com
vistas à autonomia.
134
REFERÊNCIAS
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Paraíba, João Pessoa, 2011.
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142
APÊNDICE A
Pesquisas em Educação com, sobre bebês ou em Educação Infantil (2013-2018)
TÍTULO NÍVEL/UNIVERSIDADE AUTOR(A)/ANO
Discriminações condicionais em bebês de
risco: o responder por exclusão
Mestrado/ Universidade
Federal de São Carlos
SERTORI, Natalia
Maria / 2013
Bebês, por entre vivências, afordâncias e
territorialidades infantis: de como o
berçário se transforma em lugar
Mestrado/
Universidade Federal de
Mato Grosso
ALVES, Iury Lara
/ 2013
Bebês produzem música? O brincar-
musical de bebês em berçário
Doutorado/
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
CORREA, Aruna
Noal / 2013
“Pequenos-Gigantes” entre si: notas
etnográficas acerca da capacidade e da
disponibilidade dos bebês em viver
socioculturalmente
Mestrado/
Universidade Federal
Fluminense
CUZZIOL, Ana
Paula Gomes /
2013
A formação do leitor literário na
Educação Infantil: a interação da palavra
da vida cotidiana com a palavra literária
Mestrado/
Universidade Federal de
Santa Catarina
ESCOUTO, Nivia
Barros / 2013
Isto não é uma criança! Teorias e métodos
para o estudo de bebês nas distintas
abordagens da sociologia da infância de
língua inglesa
Doutorado/
Universidade Federal de
São Carlos
TEBET, Gabriela
Guarnieri de
Campos / 2013
Mas os bebês fazem o quê no berçário,
heim? Documentando ações de
comunicação, autonomia e saber-fazer de
crianças de 6 a 14 meses em um contexto
de vida coletiva
Mestrado/
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
FOCHI, Paulo
Sergio / 2013
O desenvolvimento das funções psíquicas
superiores de crianças de zero a três anos:
a atenção e a memória - uma análise
histórico-cultural
Mestrado/
Universidade Federal de
São Carlos
FARIA, Waldirene
dos Santos / 2013
143
A inserção de bebês na creche e a
separação como operador simbólico
Mestrado/
Universidade de São Paulo
SOUZA, Andreia
Aparecida Oliveira
de / 2014
As relações sociais entre professoras,
bebês e crianças pequenas: contornos da
ação docente'
Doutorado/
Universidade Federal de
Santa Catarina
SCHMITT,
Rosinete Valdeci /
2014
A educação de bebês e crianças pequenas
no contexto da creche: uma análise da
produção científica recente
Mestrado/
Universidade Federal de
Santa Catarina
GONCALVES,
Fernanda / 2014
Escuta estética/poética na creche:
encontros musicais com bebês e crianças
pequenas
Mestrado/
Universidade de Santa Cruz
do Sul.
BOURSCHEID,
Clarice de Campos
/ 2014
Bebês em suas experiências primeiras;
perspectivas para uma escola da infância
Doutorado/
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
VARGAS, Gardia
Maria Santos de /
2014
Os processos de socializ(ação) entre os
bebês e os bebês e adultos no contexto da
Educação Infantil
Doutorado/
Universidade Federal do rio
Grande do Sul
PEREIRA, Rachel
Freitas / 2015
“Agora quando eu olho pra ele, ele sorri
pra mim, porque a gente começou a ser
amigo”: o que fazem juntos bebês e
crianças mais velhas em uma escola de
Educação Infantil
Mestrado/
Universidade Federal de
Pelotas
CASTELLI,
Carolina Machado
/ 2015
O uso do tempo no cotidiano de bebês Mestrado/
Universidade de Brasília
SILVA, Lucelia
De Almeida / 2015
Materiais potencializadores e os bebês-
potência: possibilidades de experiências
sensoriais e sensíveis no contexto de um
berçário'
Mestrado/
Universidade Federal do
Rio Grande do sul
MALLMANN,
Elisete / 2015
Terapia ocupacional educacional:
revendo o desenvolvimento infantil por
meio da teoria histórico-cultural
Mestrado/ Universidade
Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho
RIBEIRO, Mara
Alice / 2015
144
Crianças pequenininhas e a luta de classes Doutorado/
Universidade Estadual de
Campinas
MACEDO, Elina
Elias de / 2016
Trajetórias e caminhos: uma cartografia
dos bebês
Doutorado/ Universidade
Federal de São Carlos
JESUS, Julia Yoko
Tachikawa de /
2016
E os bebês na creche... brincam? O
brincar dos bebês em interação com as
professoras
Mestrado/
Universidade Federal de
Juiz de Fora
CARDOSO,
Michelle Duarte
Rios / 2016.
O que aprendemos com os bebês? Uma
experiência de pesquisa no berçário de
uma creche pública de Niterói
Mestrado/
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro
SILVA, Maria do
Nascimento / 2016.
Um locus de constituição do humano:
vivências e afecções de bebês e educadoras
na creche
Doutorado/ Universidade
Federal de Minas Gerais
OLIVEIRA,
Luciana da Silva
de / 2016
“Olha só, ele me enganou! Estava com
sono até agora...”. O que nos dizem os
bebês? Aproximação às práticas de
cuidado a partir da etnografia na
Educação Infantil
Mestrado/
Universidade Federal de
Santa Catarina
MUNIZ, Jacira
Carla Bosquetti /
2017
A potência das interações dos bebês em
uma creche pública do município de Juiz
de Fora
Mestrado/
Universidade Federal de
Juiz de Fora
MACARIO, Alice
de Paiva / 2017
Bebês no museu de arte: processos,
relações e descobertas
Mestrado/
Universidade Católica do
Rio de Janeiro
SANTOS, Maria
Emilia Tagliari /
2017
As formas de participação social dos
bebês nas práticas cotidianas vivenciadas
no contexto de uma creche municipal
Mestrado/
Universidade Federal
do Ceará
SILVA, Marcia
Vanessa / 2017
As linguagens dos bebês na Educação
Infantil: diálogos do círculo de Bakhtin
com Henri Wallon
Doutorado/
Universidade federal do
paraná
ALESSI, Viviane
Maria / 2017
145
O movimento do bebê na creche: indício
orientador do trabalho docente
Doutorado/
Universidade Estadual
paulista Júlio de Mesquita
Filho
SILVA, José
Ricardo / 2017
O responder por exclusão em bebês
nascidos pré-termo e baixo peso
Doutorado/
Universidade Federal de
São Carlos
SERTORI, Natalia
Maria / 2017
A prática percussiva de bebês: análise
microgenética e reflexões pedagógicas
Doutorado/
Universidade Federal do
Paraná
PECKER, Paula
Cavagni / 2017.
Batuca bebê: a educação do gesto musical
Mestrado/
Universidade de Brasília
AMORIM, Carla
Patrícia Carvalho
de / 2017
As imagens de crianças na escola da
infância: espaço, tempo e materiais
Mestrado/
Universidade Regional do
Noroeste do
Rio Grande do Sul
PINHEIRO, Deise
Raquel Cortes /
2018
Bebês e livros: relação, sutileza,
reciprocidade e vínculo
Doutorado/
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro
MATTOS, Maria
Nazareth Souza
Salutto de / 2018.
Interação de bebês com livros literários Mestrado/
Universidade Federal de
Santa Maria
PINTO, Marcela
Lais Allgayer /
2018
Falando com bebês: da detecção de sinais
de risco para autismo à intervenção
precoce'
Doutorado/
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro
MANSUR, Odila
Maria Ferreira
Carvalho / 2018
Interações e brincadeiras vivenciadas por
crianças de 1 e 2 anos na Educação
Infantil
Doutorado/
Universidade Federal do
Rio Grande do Norte
MOURA,
Marianne da Cruz /
2018
Numa folha qualquer eu desenho um sol
amarelo... As artes visuais em instituições
de Educação Infantil em Campina
Grande-PB
Universidade Estadual da
Paraíba
MELO, Rosemary
Alves de / 2005
146
A avaliação na rotina pedagógica da
Educação Infantil: uma para olhar para a
exploração das línguas em uma sala de
aula
Universidade Estadual da
Paraíba
SOUZA, Glória
Maria Leitão de /
2005
Concepções de desenvolvimento infantil
no trabalho pedagógico na creche: um
estudo de caso.
Universidade Estadual da
Paraíba
OLIVEIRA, Maria
José Cabral de /
2007
Letramento literário: caminhos de
inserção de leitura e escrita pelo texto
lírico na Educação Infantil numa
perspectiva intercultural
Universidade Estadual da
Paraíba
LIMA, Adília
Uchôa de / 2014
Tessitura da literatura afro-brasileira na
sala de aula: o saber das professoras na
Educação Infantil
Universidade Estadual da
Paraíba
CRUZ, Maria
Emanuela de
Oliveira/ 2016
Vozes sobre Chapeuzinho Vermelho:
literatura intertextual e letramento
literário na Educação Infantil
Universidade Estadual da
Paraíba
FARIAS, Norma
Lee Pereira/2017
O estado regulador e o mercado
educador: estudo sobre o processo de
mercantilização da Educação Infantil
Universidade Federal de
Campina Grande
MELO, Naara
Queiroz de./2018
O que pensa a criança pequena sobre a
escola infantil
Universidade Federal da
Paraíba
ESCARIÃO,
Andrea Dutra.
/2009
A criança em acolhimento institucional e
o direito humano à Educação Infantil
Universidade Federal da
Paraíba
ABREU,
SHILLEY Elziane
Diniz./2010
Sobre educar na creche: é possível pensar
em um currículo para crianças de três
anos?
Universidade Federal da
Paraíba
AMORIM, Ana
Luísa Nogueira de
/ 2011
Formar e formar-se na Educação Infantil:
políticas e práticas
Universidade Federal da
Paraíba
SOUZA, Thais
Oliveira de / 2013
147
A dimensão da afetividade na construção
da autonomia infantil: uma análise das
interações entre crianças e professoras na
educação infantil
Universidade Federal da
Paraíba
MEDEIROS,
Maria Fabrícia de/
2015.
A Infância resiste a pré-escola? Universidade Federal da
Paraíba
MACEDO,
Lenilda Cordeiro
de. /2014
148
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
ROTEIRO DE CARACTERIZAÇÃO E OBSERVAÇÃO DOS BEBÊS NO BERÇÁRIO
Data / /
Horário: Início: Término:
1. Acolhida/Despedida dos bebês dos responsáveis
1.1 Quem acolhe os bebês ao chegarem à creche?
1.2 Como os bebês são recebidos pelas professoras?
1.3 Quem acolhe os bebês ao entrarem na sala de referência (berçário)?
1.4 Como reagem os professores à recepção dos bebês que acolhem?
1.5 Quais as reações dos bebês ao serem acolhidos?
1.6 Depois do acolhimento, o que fazem?
1.7 Quais as reações dos bebês ao se despedirem?
1.8 Como ficam os bebês nas salas?
1.9 O que fazem os bebês?
2. Alimentação
2.1 O que fazem os bebês no momento da alimentação?
2.2 Os bebês aceitam o que lhes é oferecido? ( ) Sim ( ) Não. Como reagem?
2.3 Quais os horários em que os bebês comem?
2.4 O que comem? Quais os alimentos?
2.5 O alimento é introduzido a partir de conversas com os bebês?
2.6 São encorajados a desenvolver a autonomia (segurar a mamadeira, sentar-se sozinho)?
( ) Sim ( ) Não
2.7 Quem os encoraja?
2.8 Como reagem quando são encorajados?
2.9 Há bebês que aparentam não gostar de comer?
2.10 Todos comem o mesmo alimento?
2.11 Há bebês com problemas com algum alimento? Caso haja, na creche existem alimentos
para substituição?
3. Sono
3.1 Quando os bebês dormem?
3.2 São acalentados para dormir?
3.3 Dormem com tranquilidade?
149
3.4 Quais os ambientes em que os bebês dormem? O que fazem os bebês no momento do
“Soninho”? Todos dormem?
3.5 Onde dormem? ( ) Braços ( ) Berços ( ) Tapetes ( ) Outros
3.6 O que fazem os bebês que não dormem?
3.7 Como ocorre esse momento?
4. Espaços e tempos
4.1 Quais os espaços frequentados pelos bebês no interior da creche?
4.2 O que os bebês fazem nesses espaços? Há espaços preparados para engatinhar, rolar subir,
descer e empurrar?
4.3 Há brinquedos nos espaços? Quais brinquedos?
4.3 Como agem os bebês nesses espaços, com os objetos?
4.4 Como agem os bebês entre eles? Há pequenos conflitos entre eles? Quais? Como são
mediados esses conflitos?
4.5 Como agem em relação aos pares?
4.6 Como agem em relação aos objetos?
4.7 Como agem em relação aos professores?
4.8 Quais as formas de comunicação utilizadas pelos bebês para solicitarem que suas
necessidades sejam atendidas?
4.6 Quem compreende ou atende às solicitações feitas pelos bebês?
4.7 Que linguagens são predominantes na ação dos bebês nos diferentes espaços?
4.8 Os bebês tentam solucionar suas necessidades/desejos?
5. Banho
5.1 Como ocorre o banho?
5.2 Os bebês demonstram gostar do banho? 5.3 Há interação dos bebês com a professora na hora do banho? Como interagem e com quem?
5.4. O que expressam seus gestos e ações durante e depois do banho?
5.5 Demonstram insatisfação? Como?
5.5 Que outras linguagens utilizam durante esses momentos?
150
APÊNDICE C
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM – BEBÊS
, nacionalidade ,
menor de idade, neste ato devidamente representado por seu (sua) responsável legal,
, nacionalidade
, estado civil , portador da cédula de identidade RG
nº. , inscrito no CPF/MF sob nº ,
residente à Av./Rua , nº. ,
município de /Paraíba, AUTORIZO o uso de imagem
em todo e qualquer material, entre fotos e documentos. a serem utilizados na pesquisa “As
interações dos bebês na creche: o que eles fazem e dizem?”, imagens destinadas à divulgação
ao público acadêmico e cientifico. A presente autorização é concedida a título gratuito,
abrangendo o uso da imagem acima mencionada em todo o território nacional, das seguintes
formas: (I) Dissertação de Mestrado; (II) eventos acadêmicos.
Por esta ser a expressão da minha vontade, declaro que autorizo o uso acima descrito sem que
nada haja a ser reclamado a título de direitos conexos à minha imagem ou a qualquer outro, e
assino a presente autorização em 02 vias de igual teor e forma.
Campina Grande, de de _ .
(Assinatura)
Nome da criança:
Por seu Responsável Legal:
Telefone para contato:
151
APÊNDICE D
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM - PROFESSORAS
Eu, , portador da cédula de identidade -
RG nº. , inscrito no CPF sob nº. , residente à Av./Rua
, nº. , município de
/Paraíba, AUTORIZO o uso da minha imagem em
fotografias ou vídeo sem finalidade comercial para ser utilizada no trabalho “As interações dos
bebês na creche: o que eles fazem e dizem?”.
A presente autorização é concedida a título gratuito, abrangendo o uso da imagem acima
mencionada em todo o território nacional, na forma de trabalhos acadêmico-científicos.
Campina Grande, dia de de .
(Assinatura)
Nome:
Telefone p/ contato:
152
APÊNDICE E
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
PESQUISA: As interações dos bebês na creche: o que eles fazem e dizem?
Mestranda: Elaine Tayse de Sousa (UFCG)
APRESENTAÇÃO
Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre as interações dos bebês na creche. Nosso
intuito com esse trabalho é ampliar o conhecimento relativo à temática, que poderá, com os
seus resultados, nortear ações de formação e práticas educativas voltadas para bebês e
adequadas à realidade educacional dessa localidade. Gostaríamos, portanto, de contar com a
sua colaboração, que será de extrema importância para nós.
O objetivo geral da pesquisa será conhecer quais as interações que ocorrem entre os
bebês no contexto da creche. Nesse sentido, para a produção dos dados será realizada a
observações participante junto ao grupo de crianças e suas professoras. Também é nossa
intenção fotografar e gravar as ações dos bebês, para que depois possamos descrever e analisar
essas ações. Em todas as fases da pesquisa e publicações decorrentes, os nomes das crianças
que colaborarem não serão divulgados. No entanto, solicitamos dados pessoais, tão somente
para que, caso seja necessário, possamos nos comunicar.
153
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO (TCLE)
A participação nesta pesquisa é livre e não implica em nenhuma forma de pagamento,
de ambas as partes. Além disso, a pesquisa apresenta um risco mínimo ao participante, podendo
este desistir da pesquisa em qualquer momento, sem nenhum prejuízo.
Nesse sentido, considere as asserções desse TCLE abaixo:
I) Estou ciente do procedimento metodológico adotado nesta pesquisa e, em caso de
dúvidas quanto à sua finalidade, tenho todo o direito e autonomia de não autorizar o uso
das informações fornecidas;
II) Concordo que sejam os resultados divulgados em atividades científicas, desde que os
dados de minha criança não sejam mencionados;
III) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados, ao final
desta pesquisa, através de publicações, apresentações dos integrantes da pesquisa
para os seus participantes e para a comunidade científica;
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
IV) Autorizo o uso de gravador na condição de vídeo, fotografia e transcrição do conteúdo
apenas para as finalidades e objetivos dessa pesquisa;
V) Caso me sinta prejudicado(a) por participar desta pesquisa, poderei recorrer ao
CEP/HUAC, Comitê de Ética em Pesquisas em Seres Humanos do Hospital Universitário
Alcides Carneiro.
VI) Estou ciente de que a presença da pesquisadora pode gerar estranhamento ou mudanças no
comportamento ou na rotina dos bebês, podendo haver choro, chamar a sua atenção,
aproximação ou recusa de aproximação destes com relação a ela, partindo do princípio de que
é uma pessoa estranha imersa no cotidiano destes. Sabemos, porém, do compromisso firmado
com a pesquisadora em respeitar o momento e a rotina dos sujeitos, agindo com naturalidade
no espaço coletivo de educação.
Você receberá uma via assinada deste termo pela pesquisadora.
Esta pesquisa foi apreciada no CEP/HUAC - Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos. Rua Dr. Carlos Chagas, s/n, edifício do Hospital Universitário Alcides Carneiro,
Bairro São José, Campina Grande-PB, CEP: 58401-490. Telefone: (83)2101-5545.
Campina Grande, /_ /
Elaine Tayse de Sousa
Nossos contatos:
Elaine Tayse de Sousa - [email protected]
Programa de Pós-graduação em Educação / UFCG. Centro de Humanidades.
Rua Aprígio Veloso, 882, Bairro Universitário. CEP 58429-900
Tel. 2101-1493
154
Autorização para participação
Eu, ,
Professora do Berçário integral, E- mail , Telefone ( )
, abaixo assinado(a), concordo de livre e espontânea vontade em participar
do estudo “As interações dos bebês na creche: o que eles fazem e dizem?”. Declaro que obtive
todas as informações necessárias, bem como a promessa dos esclarecimentos às dúvidas por
ventura apresentadas por mim no decorrer da pesquisa.
Ciente e de acordo,
Campina Grande, / / .
Assinatura
155
APÊNDICE F
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
PESQUISA: As interações dos bebês na creche: o que eles fazem e dizem?
Mestranda: Elaine Tayse de Sousa (UFCG)
Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre as interações dos bebês na creche. Nosso
intuito com esse trabalho é o de ampliar o conhecimento relativo à temática, que poderá,
com os seus resultados, nortear ações de formação e práticas educativas voltadas para bebês e
adequadas à realidade educacional dessa localidade. Gostaríamos, portanto, de contar com a
sua colaboração, que será de extrema importância para nós.
O objetivo geral da pesquisa será conhecer quais as interações que ocorrem entre os
bebês no contexto da creche. Nesse sentido, para a produção dos dados será realizada a
observações participante junto ao grupo de crianças e suas professoras. Também é nossa
intenção fotografar e gravar as ações dos bebês, para que depois possamos descrever e analisar
essas ações. Em todas as fases da pesquisa e publicações decorrentes, os nomes das crianças
que colaborarem não serão divulgados. No entanto, solicitamos dados pessoais tão somente
para que, caso seja necessário, possamos nos comunicar.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
A participação nesta pesquisa é livre e não implica em nenhuma forma de pagamento,
de ambas as partes. Além disso, a pesquisa apresenta um risco mínimo ao participante, podendo
este desistir da pesquisa em qualquer momento, sem nenhum prejuízo.
Nesse sentido, considere as asserções desse TCLE abaixo:
I) Estou ciente do procedimento metodológico adotado nesta pesquisa e, em caso de
dúvidas quanto à sua finalidade, tenho todo o direito e autonomia de não autorizar o uso
das informações fornecidas;
156
II) Concordo que sejam os resultados divulgados em atividades científicas, desde que os
dados de minha criança não sejam mencionados;
III) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados, ao final
desta pesquisa, através de publicações, apresentações dos integrantes da pesquisa
para os seus participantes e para a comunidade científica;
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
IV) Autorizo o uso de gravador na condição de vídeo, fotografia e transcrição do conteúdo
apenas para as finalidades e objetivos dessa pesquisa;
V) Caso me sinta prejudicado(a) por participar desta pesquisa, poderei recorrer ao
CEP/HUAC, Comitê de Ética em Pesquisas em Seres Humanos do Hospital Universitário
Alcides Carneiro.
VI) Estou ciente de que a presença da pesquisadora pode gerar estranhamento ou mudanças no
comportamento ou na rotina dos bebês, podendo haver choro, chamar a sua atenção,
aproximação ou recusa de aproximação destes com relação a ela, partindo do princípio de que
é uma pessoa estranha imersa no cotidiano destes. Sabemos, porém, do compromisso firmado
com a pesquisadora em respeitar o momento e a rotina dos sujeitos, agindo com naturalidade
no espaço coletivo de educação.
Você receberá uma via assinada deste termo pela pesquisadora.
Esta pesquisa foi apreciada no CEP/HUAC - Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos. Rua Dr. Carlos Chagas, s/n, edifício do Hospital Universitário Alcides Carneiro,
Bairro São José, Campina Grande-PB, CEP: 58401-490. Telefone: (83)2101-5545.
Campina Grande, /_ /
Elaine Tayse de Sousa
Nossos contatos:
Elaine Tayse de Sousa - [email protected]
Programa de Pós-graduação em Educação / UFCG. Centro de Humanidades.
Rua Aprígio Veloso, 882, Bairro Universitário. CEP 58429-900
Tel. 2101-1493
157
Autorização para participação
Eu, ,
responsável por ,
E-mail , telefone ( ) , abaixo assinado (a), concordo de livre e espontânea vontade autorizar a participação da criança
no estudo “As interações dos bebês na creche: o que eles fazem e dizem?”. Declaro que obtive
todas as informações necessárias, bem como a promessa dos esclarecimentos às dúvidas por
ventura apresentadas por mim no decorrer da pesquisa.
Ciente e de acordo,
Campina Grande, / / .
Assinatura do responsável pelo participante
158
APÊNDICE G: CRONOGRAMA
ATIVIDADES
MESES /ANO
02
03 2018
04
05
06
07
08
09
10
11 12
02
03 2019
04
05
06
07
08
09
10
11
12
1.Elaboração do Projeto de
Pesquisa
2.Revisão Bibliográfica
3.Produção dos dados
4. Análise dos dados
5. Qualificação
6. Redação após a qualificação
7. Defesa
159
ANEXO A- AUTORIZAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
160
ANEXO B- APROVAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA