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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – CCA
LABORATÓRIO DE EXTENSÃO RURAL – LABEX PROJETO SISTEMA DE GESTÃO ESTRATÉGICA – SGE/MDA/CNPQ
RELATÓRIO DE PESQUISA
Coordenador: Prof. Dr. Itaan de Jesus Pastor Santos
SÃO LUÍS/MA SETEMBRO/2011
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – CCA
LABORATÓRIO DE EXTENSÃO RURAL – LABEX PROJETO: SISTEMA DE GESTÃO ESTRATÉGICA – SGE/MDA/CNPQ
RELATÓRIO DE PESQUISA
Colaboradores: Prof. M.Sc. Jackson Bouéres Damasceno Junior e Prof. Dr. João Soares Gomes
Filho
Técnico da Célula de Acompanhamento e Informação: Carlos Augusto de Oliveira Furtado
Bolsistas:
Emanoelle Lyra Jardim e Jhonny Santos da Silva
Equipe de Colaboradores do LABEX: Adriana Raquel de Almeida
Daniela Pinto Sales Gabriel Alves Carvalho
Geusa Fonseca Dourado Lívia Maria Fiquene
Maria de Jesus Sousa Silva Nadiane Aparecida Pereira de Sousa Osman José de Aguiar Gerude Neto
Regiane da Silva Almeida Ronald Marques Furtado
Tatiana Pereira
3
SUMÁRIO
P.
APRESENTAÇÃO 5
1 CONTEXTUALIZAÇÃO 6
2 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO TERRITÓRIO 7
3 ENTENDENDO A IDENTIDADE TERRITORIAL 8
3.1 Definição da identidade territorial 8
3.2 Indicadores de identidade territorial 8
3.3 A coleta dos dados e cálculo dos indicadores de identidade territorial 9
3.4 Análise dos indicadores 10
4 QUAIS SÃO AS CAPACIDADES INSTITUCIONAIS? 12
4.1 Definição de capacidade institucional 12
4.2 Os indicadores de capacidade institucional 12
4.3 A coleta dos dados e cálculo dos indicadores de capacidade institucional
13
4.4 Análise dos indicadores 14
5 COMO ESTÁ SENDO FEITA A GESTÃO DO COLEGIADO? 16
5.1 Sobre gestão do colegiado 16
5.2 Como se deu a pesquisa sobre a gestão do colegiado 17
5.3 A análise dos resultados 17
6 AVALIANDO OS PROJETOS IMPLANTADOS NO TERRITÓRIO 18
6.1 O que é o PROINF 18
6.2 Como se deu a pesquisa sobre os projetos implantados no território 19
6.3 A análise dos resultados 19
7 SOBRE O ÍNDICE DE CONDIÇÕES DE VIDA 21
7.1 Definição do Índice de Condições de Vida 21
7.2 Os indicadores do ICV 21
7.3 A coleta dos dados e cálculo dos indicadores de condições de vida 22
7.4 Características dos respondentes 23
7.5 Análise das condições de vida 23
8 UMA ANÁLISE INTEGRADORA DE INDICADORES E CONTEXTO 26
8.1 Agricultura familiar 26
8.2 Política local 27
9 ALGUMAS PROPOSTAS E AÇÕES PARA O TERRITÓRIO 27
4
LISTA DE QUADROS
P.
QUADRO 1 Demonstrativo de questionários aplicados 9
QUADRO 2 Classificação dos indicadores 10
QUADRO 3 Indicadores de Identidade Territorial no território dos Lençóis Maranhenses / Munim
10
QUADRO 4 Demonstrativo de questionários aplicados 14
QUADRO 5 Indicadores de Capacidade Institucional no território dos
Lençóis Maranhenses/Munim
14
QUADRO 6 Instâncias e indicadores de desenvolvimento rural e das condições de vida das famílias rurais
21
QUADRO 7 Demonstrativo das áreas censitárias por município no Território
22
QUADRO 8 Características da População 23
QUADRO 9 Indicadores do Índice de Condições de Vida 24
QUADRO 10 Fatores de desenvolvimento 24
QUADRO 11 Características do desenvolvimento 24
QUADRO 12 Efeitos do desenvolvimento 25
5
APRESENTAÇÃO
O documento ora apresentado é o primeiro relatório de pesquisa do projeto
“Implantação do processo de avaliação e acompanhamento do Sistema de Gestão
Estratégica no território dos Lençóis Maranhenses / Munim”.
Com este relatório, o Laboratório de Extensão Rural (LABEX) espera poder
contribuir na manutenção dos fluxos de alimentação dos componentes do Sistema
de Gestão Estratégica (SGE); disponibilizar um diagnóstico sobre o desenvolvimento
sustentável do Território dos Lençóis Maranhenses/Munim (TLMM); recomendar
ações que contribuam para plena implementação do Plano Territorial de
Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS); apresentar resultados, processos e
dinâmica decorrentes das atividades dos projetos institucionais; fornecer ao
Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER) informações elaboradas
como subsídio à qualificação do processo de gestão social no território; disponibilizar
às Instituições de Ensino superior (IES) informações que possam constituir insumos
relevantes às atividades de pesquisa, ensino e extensão; articular parcerias a fim de
apoiar avanços nos processos de planejamento, gestão e avaliação, bem como na
diversificação e inovação no campo de intervenção territorial.
O Projeto é resultado do edital MDA/SDT/CNPq Nº 05/2009, cujo objetivo é a
execução de atividades de pesquisa e extensão focadas no monitoramento,
avaliação, acompanhamento das atividades e qualidade dos resultados do PTDRS
dos Territórios Rurais.
Para sua execução foi constituída uma Célula de Acompanhamento e Informação
(CAI) para funcionar como uma unidade operativa no TLMM – da SDT/MDA e do
LABEX /CCA/UEMA – de onde a equipe parte para desenvolver trabalhos de coleta,
registro e análise de informações territoriais. Essa CAI foi fruto de uma parceria
entre o LABEX, a prefeitura do município de Morros e o CODETER. Para o
desenvolvimento das atividades a CAI conta, desde o início, com um técnico que é
responsável por toda a organização dos trabalhos sob a coordenação de dois
professores da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). A equipe do Projeto
contou, ainda, nessa etapa, com onze estudantes de graduação e pós-graduação da
6
UEMA, que já faziam parte do LABEX e se integraram na condição de bolsistas ou
voluntários.
Para efeito de permitir uma compreensão geral do Projeto e sua dinâmica, esse
relatório está dividido em capítulos de acordo com o desenvolvimento do trabalho.
Assim, dos capítulos 2 a 7, estão apresentadas informações relacionadas a:
identidade territorial, capacidade institucional, gestão do colegiado, projetos
implantados no território, os índices de condições de vida e desenvolvimento
sustentável. Ao final é feita uma análise integradora e um conjunto de proposições
como forma de melhorar a dinâmica de funcionamento do CODETER e todas as
suas estruturas, assim como facilitar as ações de todas as instituições que atuam
localmente.
1) CONTEXTUALIZAÇÃO
A política de desenvolvimento rural com enfoque territorial no Brasil, formulada e
implementada pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), do Ministério de
Desenvolvimento Agrário (MDA), caracteriza-se por ser uma estratégia inovadora de
desenvolvimento institucional, materializada no Programa Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais (PRONAT). A gestão social territorial é o processo
no qual se estabelece uma nova forma de participação, negociação, alcance de
consensos e democratização das decisões que definem a natureza, foco e
prioridades da aplicação dos instrumentos da política.
Um dos diferenciais desta estratégia é a criação de espaços de legitimação da
participação organizada dos atores sociais em cenários de acordos territoriais, os
quais permitem estabelecer um modelo participativo de planejamento, uma estrutura
institucional de participação e um modelo de gestão das decisões políticas e de
controle social.
Este modelo se torna altamente exigente em relação à qualificação da participação,
tanto dos agentes públicos territoriais, como da sociedade civil.
7
Entre os múltiplos aspectos que este processo demanda, a comunicação e a gestão
da informação adquirem um papel privilegiado. A informação adequada, no processo
e no momento adequado nas mãos dos atores envolvidos, é um desafio central e
determinante para o êxito da gestão social no desenvolvimento territorial.
Conscientes deste desafio, a SDT desenhou o SGE como um sistema para
contribuir com a gestão de informação e conhecimento e a comunicação dentro dos
processos e fluxos de decisões que compõem o complexo esquema da política de
desenvolvimento rural com enfoque territorial.
A execução do programa através de grupos de pesquisa e extensão de diversas
universidades brasileiras respalda, em todos os sentidos o desenho proposto. No
Maranhão a execução ficou dividida entre as duas universidades públicas, sendo
que o grupo que assumiu o território do Baixo Parnaíba – no caso uma equipe da
UFMA, campus Chapadinha – estava inserido geograficamente nesse território.
O território dos Lençóis Maranhenses / Munim ficou sob a responsabilidade do
LABEX, cujo coordenador foi o líder da equipe que qualificou o PTDRS. A soma das
experiências do grupo do LABEX acrescida das relações estabelecidas
anteriormente facilitou muitíssimo o desenrolar do trabalho. A isso ainda pode ser
acrescentada a relação da equipe do LABEX com a delegacia do MDA e com os
membros do Colegiado Territorial, o que se tornou uma grande vantagem
comparativa com as outras equipes que executam o projeto.
2) CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DO TERRITÓRIO
2.1) Características sociais
Do ponto de vista das condições biofísicas, o Território Lençóis Maranhenses/Munim
está inserido, em sua maior parte, na mesorregião Norte Maranhense, contemplando
a microrregião Lençóis Maranhenses (Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo
Amaro, Barreirinhas e Paulino Neves) e a microrregião de Rosário (Axixá,
Bacabeira, Cachoeira Grande, Icatu, Morros, Presidente Juscelino e Rosário).
8
MAPA 1 – Território Lençóis Maranhenses / Munim
Fonte: LABEX, 2011
A população total do território é de 252.306 habitantes dos quais 153.344 (60,78%)
vivem no meio rural, o que corresponde a uma taxa de urbanidade de 39,22%. O
município de Rosário apresenta a maior taxa de urbanidade (64,65%) enquanto o
município de Axixá concorre com a menor taxa, da ordem de 11,85%. É importante
fazer duas observações aqui. A primeira é que Rosário era, até 1997, o município
mais próximo da capital – naquele ano foi criado o município de Bacabeira,
emancipado exatamente de Rosário, que fica a apenas 54 km de São Luís – o que o
levou a uma dinâmica de urbanização muito semelhante ao que aconteceu em São
Luís, situação que já vem se repetindo em Bacabeira. A segunda é que o município
de Axixá, desde que originou o município de Presidente Juscelino, ficou com uma
área muito pequena (119,8 km²) que resulta em uma densidade demográfica de
mais 76 hab/km², mesmo com uma população de apenas 15.000 habitantes.
A área total do território alcança 14.374,9 km² sendo que o maior município é
Barreirinhas com 2.291,1 km² e o que possui a menor área é Axixá com 199,8 km².
A densidade demográfica do Território (17,31 hab/km²) está ligeiramente abaixo do
9
Maranhão (19,78 hab/km²) tendo uma variação muito grande entre os municípios,
desde Primeira Cruz (7,27 hab/km²) com menos de 36% da densidade do Estado e
Santo Amaro (9,33 hab/km²) até Rosário (58,5 hab/km²) e Axixá (76,09 hab/km²)
com uma densidade maior que a do Estado em 384%.
População e densidade demográfica são dados relacionados, sendo que a
densidade depende diretamente do tamanho do território. O PTDRS aponta que a
densidade de Axixá é quase o triplo da densidade de Barreirinhas, que é o município
mais populoso do Território. Barreirinhas, no entanto, é uma exceção na área dos
Lençóis, pois os outros quatro municípios possuem grandes áreas e pouca
população. Essa condição pode ser explicada pela ausência de estradas no
território, pois a MA 402 que liga a microrregião dos Lençóis ao Munim só foi
inaugurada neste século. Antes disso, apenas o município de Barreirinhas tinha
ligação por terra com o município de Urbano Santos que fica no território do Baixo
Parnaíba. Ainda hoje, os municípios de Primeira Cruz, Santo Amaro e Paulino Neves
não possuem estradas de ligação, sendo dependentes de barcos (Primeira Cruz) ou
trilhas nas areias características da região (Santo Amaro e Paulino Neves) para
contato com os outros municípios do território.
A diferença das condições de acesso não são definitivas para a caracterização do
IDH, pois os municípios com o melhor (Rosário = 0,630) e com pior índice
(Presidente Juscelino = 0,506) estão, ambos, na área do Munim. O município com
maior nível de dinâmica econômica (Barreirinhas), em função do fluxo turístico em
todas as épocas do ano, tem um IDH de apenas 0,552 o que o coloca na 156ª
posição do ranking maranhense. No período dos dois últimos dados do PNUD para
o IDH percebe-se que todos os municípios tiveram aumento do índice, mas houve
uma grande variação desse aumento, de modo que o município de Presidente
Juscelino perdeu duas posições, estando na última versão com o pior índice entre
todos os municípios do território.
2.2) Características ambientais
O que há de mais comum entre os municípios que fazem parte desse território é a
disponibilidade de água. De acordo com o PTDRS a região pertence a quatro bacias
10
hidrográficas, todas genuinamente maranhenses, de acordo com as informações do
NUGEO/LABMET (2002).
MAPA 2 – Bacias hidrográficas do Maranhão
FONTE: NUGEO/LABMET (2002)
A bacia mais importante é a do Itapecuru que representa 16,7% do total hídrico do
Estado com 54.300 km² e 1.090 km de extensão. A segunda bacia é a do rio Munim
que possui 4,8% da extensão hidrográfica do Estado com 15.800 km² e 275 km de
11
extensão. As outras duas bacias são consideradas secundárias e se denominam
bacia do Periá, correspondendo a 1,5% das bacias do Estado, área de 5.000 km² e
70 km de extensão, e bacia do Preguiças com 2,1% dos recursos hídricos do
Estado, 6.750 km de área e 125 km de extensão como pode se perceber no Mapa 2.
MAPA 3 – Principais formações geológicas do Maranhão
FONTE: NUGEO/LABMET (2002)
12
De acordo com o PTDRS, “a situação geológica da região (Mapa 3) indica a
presença de depósitos aluvionares fluviais, marinhos e flúvio-marinhos em quase
toda a extensão, permeadas por dunas que afloram no litoral. Os depósitos
aluvionares recentes são constituídos por cascalhos, areias e argilas consolidadas,
aparecendo ao logo do litoral, como faixas estreitas e descontínuas ao longo dos
rios. Em todo o litoral ocorrem dunas que avançam a uma distância de 50 km da
costa”.
Ainda no PTDRS se encontra essa observação: “O território dos Lençóis
Maranhenses / Munim encontra-se quase que totalmente em áreas onde se
concentram depósitos aluvionares. Esse tipo de condição geológica deixa poucas
possibilidades de produção”.
O território, em função das condições de solo e de recursos hídricos, tem recebido
por parte dos governos federal e estadual, um olhar de preocupação no sentido de
garantir a preservação dos seus recursos naturais, considerando a importância que
esses recursos naturais têm para a vida humana, principalmente considerando as
futuras gerações. Nesses termos os órgãos ambientais criaram o Parque Nacional
dos Lençóis Maranhenses (155.00 ha), a APA da Foz do rio Preguiças/Pequenos
Lençóis e Região Lagunar Adjacente (269.684,3 ha), a APA Upaon-Açu/Miritiba/Alto
Preguiça (1.535.310) como pode ser percebido no Mapa 4. Essas áreas abrangem
quase todos os municípios do território, alguns tem sua área total dentro dessas
unidades de conservação.
As condições de antropização de todas essas áreas obriga os órgãos ambientais a
uma preocupação constante no processo de administração, como fica patente nas
ações do ICMBIO no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. No entanto, essas
áreas relacionadas às unidades de conservação tem dado garantias de manutenção
das condições ambientais locais, com a presença de órgãos ambientais federais,
estaduais e municipais permanentes na região.
14
2.3) Histórico do território
O território Lençóis Maranhenses / Munim tem dois referenciais de formação. O
primeiro na cidade de Icatu, considerada a segunda ou terceira cidade mais antiga
do Maranhão na área do Munim, onde esse rio deságua na Baía de São José. O
segundo relacionado com as características dos solos da região denominada
Lençóis Maranhenses.
Icatu fica em frente à Ilha de São Luís, fazendo fronteira marítima com o município
de São José de Ribamar. Quando da fundação de São Luís pelos franceses, os
portugueses ocuparam aquela área do litoral maranhense para, a partir daquele
espaço, estabelecer a estratégia de retomada do território maranhense. Nos solos
das praias de Icatu ocorreu a Batalha de Guaxenduba que terminou com a vitória
portuguesa e a natural expulsão dos franceses. A partir daquele momento foi criado
o município de Icatu de onde passou a ocorrer todo o processo de ocupação dessa
microrregião.
Durante centenas de anos a ocupação dessa área do território se deu por via
marítima a partir da ilha de São Luís. Índios existentes na região e que moravam no
litoral foram sistematicamente empurrados para as áreas do interior pelos “homens
brancos” que chegaram por ali. Grande parte da população se concentrou no litoral
formando as comunidades de pescadores tão comuns ainda hoje. O fluxo de Icatu
para Axixá e para os municípios dos Lençóis, ou mesmo diretamente de São Luís
para os outros municípios permaneceu por várias dezenas de anos. Ainda hoje, a
população mais numerosa no litoral desse território é composta por pescadores.
A agricultura, por outro lado, tem suas origens estabelecidas em duas vias. A
primeira na ocupação do território por fazendeiros de origem portuguesa, que
adentraram via Rosário na área do Munim ou via Urbano Santos para Morros e
Humberto de Campos (Miritiba) na área dos Lençóis, e a segunda pela interiorização
dos pescadores e suas famílias. A distinção litoral e interior também caracteriza os
dois tipos de pesca existentes no território. A pesca de água doce identifica os
pescadores de áreas interiores e a pesca de água salgada identifica os pescadores
do litoral, sendo em ambos os casos, todos agricultores.
15
A agricultura, considerando estas condições de formação e às condições biofísicas
locais, ficou bastante limitada a “sistemas de cultivo derrubada-queimada em meios
arborizados”1, a criação de pequenos ruminantes e aos quintais produtivos. A
principal cultura estabelecida é a mandioca para transformação em farinha, que é a
base da alimentação da grande maioria das famílias do território. Entre o final do
século XIX e a metade do século XX quando da instalação dos municípios de Morros
(Munim) e Barreirinhas (Lençóis) ocorreu a plantação de frutíferas em grande parte
desses territórios.
Na década de 1980, seguindo um processo de ocupação dos cerrados
maranhenses pela soja e a Amazônia maranhense por eucaliptos, municípios
fronteiriços ao Território Lençóis Maranhenses / Munim receberam uma grande
quantidade dessas culturas, tendo o município de Urbano Santos – fronteiriço aos
municípios de Morros, Primeira Cruz, Santo Amaro e Barreirinhas – recebido uma
imensa quantidade de eucalipto que hoje ocupa mais da metade do seu território.
Essa quantidade de atividades de monoculturas desestruturou a organização
fundiária daquele município e impactou fortemente a dinâmica fundiária dos
municípios do território. Respondendo a essa situação a Câmara Legislativa de
Barreirinhas aprovou, no início da década, uma lei que impede a implantação de
monocultura no seu território, que foi seguida pelo município de Morros nos últimos
anos.
2.4) Análise econômica dos municípios do território
Para uma análise das condições socioeconômicas dos municípios desse território a
equipe se valeu dos dados do IMESC2, em especial ao IDM3. O IDM, segundo o
IMESC tem como objetivo mensurar os níveis de desenvolvimento alcançados por
cada município, mediante um conjunto de indicadores. Mais especificamente: “Este
estudo fornece informações com o intuito de subsidiar o planejamento das políticas
públicas dos municípios maranhenses, através da mensuração dos níveis de
desenvolvimento alcançados por cada um dos 217 municípios, mediante um
1 De acordo com MAZOYER, M.; ROUDART, L. História das agriculturas do mundo: do Neolítico à crise
contemporânea. Ed. UNESP, Brasília, 2010. 2 Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos
3 Indice de Desenvolvimento Municipal
16
conjunto de indicadores, e possibilita a identificação do posicionamento dos mesmos
no âmbito estadual”4. E que “...o principal objetivo da construção do IDM é permitir
aos municípios um monitoramento da sua realidade, condição esta fundamental para
o estabelecimento de políticas e ações adequadas, bem como para o
estabelecimento das prioridades quanto à alocação dos recursos a investir”.
Tendo iniciado com 45 indicadores, a última publicação do IMESC (2010) apresenta
48 indicadores, distribuídos em dois grandes grupos: i) Índice de Desenvolvimento
Econômico – constituído por indicadores de Infraestrutura, de Qualificação da Mão-
de-obra e Produtividade, e de Produção Municipal e; ii) Índice de Desenvolvimento
Social – constituído dos indicadores de Saúde, Educação, Oferta de Serviços
Básicos e Meio Ambiente.
QUADRO 1 – Número de municípios e população estimada, segundo as classes do IDM 2008/2009 no Território Lençóis Maranhenses / Munim
Classes do IDM
IDM
Número de municípios incluídos
Índice médio População do território (%)
2008 2009 2008 2008 2008 2009
1 0,750 – 1,000 00 00 0,769 0,761 00 00
2 0,500 – 0,750 00 00 0,551 0,554 00 00
3 0,250 – 0,500 07 08 0,318 0,327 76,16 81,18
4 0,000 – 0,250 05 04 0,220 0,230 23,84 18,82
Total - 12 12 100,00 100,00 FONTE: Índice de Desenvolvimento Municipal, 2009 ( IMESC, 2010)
De acordo com esse índice os municípios do território estudado apresentam-se em
uma condição abaixo de 0,50 – em uma escala de 0 a 1 – sendo que 33,3%
apresentam-se na última faixa. O Quadro 1 permite observar que entre os anos de
2008 e 2009 houve ascensão de um único municipio para a Classe 3, que foi
Presidente Juscelino. Em uma outra leitura devemos destacar que 81,18% da
população do território está na classe 3 do IDM, enquanto 18,82% encontra-se na
classe 4.
4 www.imesc.gov.br
17
GRÁFICO 1 – Comparativo do IDM no Território Lençóis Maranhenses/Munim nos anos de 2008 e 2009
FONTE: Índice de Desenvolvimento Municipal, 2009 ( IMESC, 2010)
Uma leitura do Gráfico 1 permite um comparativo do IDM por cada municipio, onde
se observa que os maiores IDM do Território são Bacabeira e Rosário e que houve
queda nos municípios de Barreirinhas, Humberto de Campos, Morros, Paulino
Neves e Primeira Cruz. Por sinal apenas Bacabeira e Cachoeira Grande tiveram um
crescimento com algum destaque.
GRÁFICO 2 – IDM de 2008 comparado ao IDM médio das classes 3 e 4
FONTE: Índice de Desenvolvimento Municipal, 2009 ( IMESC, 2010)
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
0,300
0,350
0,400
0,450
0,500
2008 2009
0,283
0,405
0,318
0,213
0,257 0,272
0,285
0,231 0,249 0,239
0,403
0,221
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
0,300
0,350
0,400
0,450
IDM 2008 IDM MÉDIO CLASSE 3 IDM MÉDIO CLASSE 4
18
O Gráfico 2 ilustra o comportamento do IDM por municipio em 2008, comparado com
o IDM Médio na Classe 3 (0,318) e na Classe 4 (0,220). Percebe-se que os
municipios de Axixá, Humberto de Campos, Icatú e Morros apresentaram um IDM
abaixo da média do Estado, tendo o municipio de Cachoeira Grande ficado abaixo
da média da Classe 4.
GRÁFICO 3 – IDM de 2009 comparado ao IDM médio das classes 3 e 4
FONTE: Índice de Desenvolvimento Municipal, 2009 ( IMESC, 2010)
O Gráfico 3 ilustra o comportamento do IDM por municipio em 2009, comparado com
o IDM Médio na Classe 3 (0,327) e na Classe 4 (0,230). Aqui houve uma mudança
em relação ao ano anterior sendo que os municipios Axixá, Barreirinhas, Humberto
de Campos, Icatú, Morros e Presidente Juscelino apresentaram um IDM abaixo da
média do estado; e os municipios de Primeira Cruz e Santo Amaro ficaram abaixo da
média da Classe 4.
Em outras palavras, pelos resultados do IDM aqui apresentados, fica claro a
fragilidade do território em termos de desenvolvimento socioeconômico,
considerando a média do Estado, afirmando, assim, a necessidade de locação de
recursos destinados a investimentos, para a grande maioria dos municipios.
3) O SISTEMA DE GESTÃO ESTRATÉGICA
De acordo com a SDT o Sistema de Gestão Estratégico é uma “ferramenta
organizacional de planejamento e comunicação” que tem como objetivos: a)
0,294
0,453
0,313
0,245 0,253 0,290
0,256 0,247 0,260
0,220
0,405
0,227
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
0,300
0,350
0,400
0,450
0,500
IDM 2009 IDM MÉDIO CLASSE 3 IDM MÉDIO CLASSE 4
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Promover e facilitar o acesso a informações nos processos de gestão social do
território; b) Realizar avaliação da gestão, de resultados e de impactos da Política de
Desenvolvimento de Territórios Rurais; c) Melhorar a qualidade da participação, dos
investimentos públicos e do controle social através de instrumentos e processos de
gestão.
Para alcançar esses objetivos o sistema trabalha com quatro indicadores: i)
identidade territorial; b) capacidade institucional; iii) índice de condições de vida; iv)
índice de desenvolvimento sustentável. Cada um desses indicadores tem um
método específico de ser alcançado, incluindo a aplicação de questionários e a
sistematização dos dados. A coleta desses dados foi feita pela equipe do projeto
SGE, através da Célula de Acompanhamento e Informação que, no caso desse
projeto foi instalada no município de Morros.
O processo de sistematização e discussão dos resultados teve apoio de várias
organizações que atuam no território, em especial, o Colegiado Territorial através do
seu Núcleo Diretivo. As discussões tiveram uma forte participação da assessora
estadual da Delegacia Federal do MDA e do assessor territorial que atua nesse
território.
4) ENTENDENDO A IDENTIDADE TERRITORIAL
4.1) Definição de Identidade Territorial
A identidade de uma população, ou grupo cultural, são as características e os traços
distintos que possibilitam que os indivíduos que fazem parte de uma população
específica reconheçam-se mutuamente, assim como se diferenciem de outras
populações ou grupos. A expressão do grupo, a ação social e coletiva frente a
outros grupos, é a manifestação da identidade.
Construída a partir de efeitos da história, geografia, biologia, organizações
econômicas e políticas, religião, a identidade manifesta-se pelas influências
presentes no espaço ocupado pela população, que processam e reorganizam seus
significados em função de seus valores, tendências sociais e culturais.
20
A SDT considera a identidade uma característica do território, relacionando-a com
suas origens, com os modos de ocupação do espaço e com o contexto social
construído. Definida como um elemento aglutinador, a identidade territorial facilita a
construção de um futuro mais solidário e interdependente, onde se reconhece e se
valoriza a diversidade, a coesão de princípios, a mediação de interesses e a
convergência de dinâmicas sociais, culturais e econômicas.
4.2) Indicadores de Identidade Territorial
A SDT estabeleceu sete fatores próximos às realidades territoriais que, em maior ou
menor grau, influenciam o desenvolvimento territorial. Esses fatores ou indicadores
de identidade são: ambiental, agricultura familiar, economia, pobreza, etnia,
colonização e político.
O fator Ambiental demonstra o peso que tem os atributos relativos aos recursos
naturais, áreas de proteção, patrimônio natural e problemas ambientais nos
aspectos do desenvolvimento territorial. Agricultura Familiar aponta para a influência
das condições de desenvolvimento da agricultura local, suas organizações, os
problemas e expectativas dos agricultores. Economia indica o efeito dos processos
produtivos, pólos de desenvolvimento, geração de emprego e da estrutura
econômica local. Pobreza refere-se ao impacto da marginalidade, exclusão social,
desigualdade e outras precariedades econômicas. Etnia mostra a interferência dos
grupos que agem baseados em suas crenças e perfis étnicos. A Colonização trata
do processo de ocupação territorial. O indicador Político refere-se à influência dos
grupos políticos, filiação partidária e das organizações comprometidas com os
processos políticos nos aspectos chaves do desenvolvimento territorial.
O cálculo dos indicadores de identidade foi feito pela CAI. Para apoiar esse trabalho
a equipe de coordenação desenhou um instrumento que indaga aos integrantes dos
Colegiados sobre sua percepção a respeito da influência de tais fatores nos
seguintes aspectos chave para o desenvolvimento territorial: i) a delimitação
territorial; ii) a gestão territorial em termos de participação de organizações; iii) o
planejamento relacionado com a visão de futuro, a definição de metas e objetivos e
21
diagnóstico das características marcantes do território; iv) a construção da história
comum do território e v) a resolução de conflitos.
3.3) A coleta dos dados e cálculo dos indicadores de identidade territorial
A coleta dos dados referentes à identidade territorial foi realizada a partir do
questionário Identidade Territorial (Q2). Este questionário é composto por 14
perguntas, onde as sete primeiras correspondem à identificação da entrevista e as
outras sete correspondem aos aspectos chave para o desenvolvimento conforme
citado no item anterior.
As sete perguntas que tratam dos aspectos chave de desenvolvimento são
compostas por sete itens, a serem avaliados em uma escala de 1 (nenhuma
importância) a 5 (muito importante) que se referem aos indicadores de identidade,
quais sejam: ambiental, agricultura familiar, economia, pobreza, etnia, colonização e
política.
A indicação da SDT de que o questionário fosse aplicado a todos os membros do
CODETER. A equipe do LABEX seguiu essa indicação, tendo aplicado os
questionários de forma individual, a cada membro do colegiado, em cada município
onde os membros moram. O Quadro 2 demonstra a relação entre o número de
questionários a serem aplicados e o número efetivamente aplicado.
QUADRO 2 – Demonstrativo de questionários aplicados
Questionário A ser aplicado Total aplicado %
Q2 96 78 81
FONTE: Dados da pesquisa
3.4) Análise dos indicadores
Conforme o Manual da Pesquisa (SDT, 2009) há uma classificação dos indicadores
propostos apresentado no Quadro 3. Com base nessa classificação é que estão
apresentados os resultados da pesquisa feita no território dos Lençóis Maranhenses
/ Munim (Quadro 3).
22
QUADRO 3 – Classificação dos indicadores
FONTE: Manual da pesquisa
Fator Agricultura Familiar – Para os membros do CODETER é visível o peso do
indicador Agricultura Familiar na caracterização do território e, portanto, na sua
identidade, conforme pode se ver pelos dados do Quadro 4 em que aparece com
maior valor. Tal constatação vem de encontro aos dados do Censo Agropecuário
(IBGE, 2006), que identificou 93,92% dos estabelecimentos agropecuários como
sendo da agricultura familiar (12.286 estabelecimentos), apesar de ocupar tão
somente 32,89% da área total (122.211 ha). Mesmo nas áreas de preservação ou
entre os pescadores artesanais, a atividade que mais se destaca é a agricultura de
auto-consumo.
QUADRO 4 – Indicadores de Identidade Territorial no território dos Lençóis Maranhenses / Munim
Categorias Valor Classificação
Agricultura familiar 0,782 Médio alto
Ambiente 0,768 Médio alto
Economia 0,728 Médio alto
Político 0,654 Médio alto
Pobreza 0,639 Médio alto
Colonização 0,635 Médio alto
Etnia 0,562 Médio FONTE: Manual da pesquisa / dados da pesquisa
A ausência de um indicador de pesca deixou o Território descoberto na sua
categoria mais importante. É importante lembrar que, praticamente todas as famílias
rurais são pescadoras, fruto do processo geral de ocupação e da presença das
quatro bacias hidrográficas. Dados da Delegacia Federal do Ministério da Pesca e
Aquicultura aponta a presença de pescadores filiados às diversas organizações de
representação da categoria.
Na ausência desse indicador, os respondentes consideraram que a agricultura
familiar é o indicador mais importante. Agricultores familiares são quase sempre
Valores Classificação
0,00 – 0,20 Baixo
0,20 – 0,40 Médio Baixo
0,40 – 0,60 Médio
0,60 – 0,80 Médio Alto
0,80 – 1,00 Alto
23
pescadores, mesmo nas áreas do interior e, portanto, se confundem a cada período
do ano dependendo do ciclo agrícola e das chuvas que permitem as cheias dos rios.
Para os gestores locais a pesca é tratada no mesmo nível que a agricultura familiar,
considerando sua importância econômica e o número de trabalhadores relacionados
nessa categoria. A economia turística tem dado uma crescente importância a essa
atividade que tem aumentado sua importância pela presença crescente da
aquicultura no Território. Em todos os municípios há um número grandioso de
viveiros escavados, número que ainda não está completamente conhecido pelos
próprios municípios e pelas superintendências estadual e federal da pesca.
Fator Ambiental – Os membros do CODETER deram grande importância à questão
ambiental pelo que se percebe na avaliação apresentada no Quadro 4, que
apresenta o segundo maior valor (0,768) entre todos os itens pesquisados. Fica
claro que os representantes do Colegiado entendem a importância dos recursos
naturais (área de proteção, patrimônio natural), assim como os problemas
ambientais relacionados e qual o peso em relação ao desenvolvimento, tanto na
atualidade como para o futuro.
Essa posição dos representantes não poderia ser diferente, considerando que o
território apresenta uma característica muito própria, com uma grande quantidade de
áreas de proteção ambiental. Mesmo que essa condição jurídica seja desconhecida
de uma grande parte da população – a exceção é o Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses – a visão do bioma costeiro, representado por dunas, manguezais e
uma vasta quantidade de rios de diversos tamanhos, indica o quanto essa
característica influi no posicionamento da população.
Esses dois fatores (agricultura familiar/pesca e meio ambiente) estão intrinsicamente
interligados. No índice de condições de vida, os agricultores familiares e pescadores
apontam que o ambiente tem uma importância fundamental para a sua própria
sobrevivência. Essa percepção indicada pelos representantes do CODETER é a
referência da identidade do território: ambiente e agricultura familiar foram os dois
fatores mais bem avaliados.
24
Fator Economia – Junto com o Ambiente e Agricultura Familiar o indicador
Economia foi destacado pelos respondentes como de grande importância para a
caracterização e para a definição da identidade territorial. Aqui deve-se fazer um
recorte da situação econômica do Território. O grande gerador de emprego em todos
os municípios está representado pelo serviço público e pela formação pesca /
agricultura familiar. Em 2008, o IMESC5 contabilizou que Território possuía um PIB
total de R$ 742.907,00, sendo o valor adicionado da agricultura plicado responsável
por 27,21% (R$ 202.168,00) maior que nos outros territórios.
A ausência de empresas industriais ou do agronegócio permite inferir que na
avaliação dos moradores dessa região, e em especial, os participantes do
CODETER, as condições atuais, representadas pelo setor primário – agricultura
familiar e extrativismo pesqueiro – e pelos serviços definem muito bem essa
identidade histórica que sempre se pautou nesses dois setores. Do ponto de vista do
processo identitário a economia cruza com perfeição com os dois indicadores
anteriores: agricultura familiar e ambiente.
Os dados do IMESC no documento Produto Interno Bruto dos municípios (2005-
2009) apontam que o município de Presidente Juscelino foi o município que teve a
maior variação nominal com uma mudança de posição no ranking do 203º para o
174º posto e que essa mudança reflete o aumento na produção do cultivo de
mandioca na ordem de 17%. Com esse exemplo é fácil compreender a importância
que esse modelo econômico tem para os moradores do Território e o quanto o
desmoronamento desse modelo pode impactar o processo de formação dessa
identidade.
Fator Político – Esse fator aparece como médio alto (0,654), apesar de ter sua
importância reduzida, comparadamente com os fatores apresentados anteriormente.
Aqui os componentes do CODETER assumem que há uma grande influência dos
grupos políticos, e que as organizações comprometidas com os processos políticos
nos aspectos chaves do desenvolvimento territorial, contribuem na caracterização do
território e, portanto, na sua identidade. Alguns municípios ainda apresentam um
5 Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos. Produto Interno Bruto do Maranhão.
Período 2004 a 2008.
25
modelo de política muito semelhante ao que se praticava na metade do século
passado, de modo que a influência dos governantes locais acaba por extrapolar para
áreas muito além do público.
No entanto, o modelo de política em voga no território não é diferente do restante do
Estado nos dois níveis de governo. Os dados socioeconômicos apresentados na
primeira parte deste documento mostram que, mais do que falta de recursos, falta
planejamento e organização para o desenvolvimento. A preocupação de muitos
grupos políticos tem sido mais em manter uma estrutura de poder do que em
trabalhar pelo desenvolvimento dos municípios ou da região. A existência de um
consórcio intermunicipal com a participação dos prefeitos de todos os municípios da
região não tem conseguido apresentar qualquer proposta que contribua com a
política ou com o desenvolvimento territorial. Esse exemplo é referenciado pela
relação direta entre o poder estadual e onze dos doze municípios que fazem parte
da sua base de apoio.
Fator Pobreza – O indicador revelou que essa condição caracteriza o território,
muito embora os dados do IMESC, em 2008, apontem que a renda percapta média
do território ficou em R$ 253,21/mês, abaixo do salário mínimo vigente (R$ 415,00)6,
mas acima da linha de pobreza. Usando do conceito mais completo de pobreza,
devemos lembrar que com o nivel de rendimento apurado, é notorio a carencia
material da população do territorio (alimentação, vestuario, alojamento), além das
questões relativas a saúde, educação e informação.
De acordo com as informações apresentadas no PTDRS, e expostas na primeira
parte deste documento, as condições socioeconômicas deste território colocam os
municípios entre os piores do Maranhão. A grande responsabilidade pelas condições
de pobreza é da política estabelecida, de modo que a proximidade desses dois
últimos indicadores não é uma simples coincidência. Dados de educação, saúde e
renda estão relacionados no IDH. A infraestrutura básica ainda possui um grande
déficit. Vale considerar que até a década passada não havia uma estrada que
6 Tal rendimento está acima da linha de pobreza (o critério mais aceito, no tempo presente, é o do Banco
Mundial, que em seu Relatório de Desenvolvimento Mundial de 1990, estabeleceu que a linha de pobreza
mundial é de menos de 1 dólar por dia).
26
ligasse todos os municípios dos Lençóis. Ainda hoje as sedes dos municípios de
Primeira Cruz e Santo Amaro não possuem estradas, tendo o primeiro uma ligação
por via marítima a partir do município Humberto de Campos e o segundo uma
ligação por uma estrada carroçável de 38 km que atravessa o Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses.
Fator Colonização – Este fator apresentou um peso relativamente forte na
caracterização do Território e na formação da identidade territorial. Os respondentes
admitem que a grande quantidade de assentamentos de reforma agrária existente
no Território – como está demonstrado no documento de qualificação do PTDRS7 –
pode ter uma grande importância para a identidade do Território.
A dinâmica de construção da identidade desse território se vale do processo de
ocupação espacial e, nesse caso, devemos considerar que os moradores da área
litorânea possuem características bem distintas dos moradores da zona do interior.
Os dados referentes a esse indicador, então, teriam que cruzar com o indicador de
economia, considerando as características produtivas dos pescadores (Zona
Litorânea) e dos agricultores familiares (Zona do Interior). Munim e Lençóis também
apresentam características identitárias diferenciadas e, no entanto, o processo
semelhante da ocupação dessas microrregiões, somado à ausência de conflitos,
coloca para todos os respondentes que esse não é um fator de preocupação. A
transformação de muitas das comunidades tradicionais em assentamentos de
reforma agrária feita pelos órgãos governamentais da reforma agrária não
determinou qualquer mudança nos valores estabelecidos de forma histórica pelos
moradores locais, apenas permitiu a regularização fundiária das terras antes que
qualquer processo de re-ocupação se tornasse conflitiva como acontece ainda hoje
na mesorregião Oeste.
Nesse sentido, com o valor de 0,635 (classificação Médio Alto), na percepção dos
respondentes, revela que este fator tem um peso muito forte na caracterização do
7 Durante a elaboração do PTDRS qualificado, foram identificados 126 (cento e vinte e seis) Projetos de
Assentamentos no Território, distribuídos em 10 (dez) municípios. Isso representa 349.788,8 ha de terra
incluídos no processo produtivo da agricultura familiar, o que corresponde a 24,3% da área do território. Esse
total de PA’s beneficia 7.612 famílias (aproximadamente 38.000 habitantes), que representa 38% da população
do território.
27
território e, portanto, na sua identidade. Tal fato pode ser constatado quando da
qualificação do PTDRS, que nos apresenta o Território com 126 PA’s que é quase
20% do total de PA’s do Estado (dados do INCRA). A área total PA’s 349.788,8419
ha representa 7,7% da área PA’s estado e 24,3% da área total do Território. A
quantidade de famílias assentadas é de 7.612 ou, aproximadamente, 38.000
pessoas ou 38% do total da população do Território.
Fator Etnia – Apesar da grande quantidade de comunidades quilombolas em vários
municípios do Território, os componentes do Colegiado Territorial não consideraram
importante este fator na caracterização da identidade territorial. Com 0,562, esse
item foi o único classificado como médio. A ausência de outras etnias no Território e
a presença de quilombolas apenas nos municípios do Munim podem explicar os
motivos que permitiram essa classificação.
A grande quantidade de negros e indios no Maranhão tornam essas populações
parte integrante de uma população mestiça totalmente integrada. O reconhecimento
das terras e suas respectivas titulações em nome dessas populações é feito por
órgãos federais, caso da FUNAI no caso dos índigenas, e Fundação Palmares e o
INCRA no caso dos quilombolas. No Território (PTDRS qualificado, 2010), existem
34 comunidades quilombolas distribuídas em 6 municípios, sendo 31 localizadas no
Munim (Bacabeira, Icatu, Presidente Juscelino e Rosário) e 3 nos Lençóis
(Humberto de Campos e Primeira Cruz). Esse número, no entanto, é apenas das
comunidades reconhecidas oficialmente não representando o conjunto da população
existente.
4) QUAIS SÃO AS CAPACIDADES INSTITUCIONAIS?
4.1) Definição de capacidade institucional
Referem-se às condições e recursos disponíveis às estruturas organizativas do
Território – considerando seu arranjo político-institucional – e as organizações
autônomas da sociedade civil e de representação estatal/social, para a gestão social
das políticas públicas, bem como para a execução dos seus projetos.
28
Especificamente, sobre as organizações de gestão dos territórios rurais, a
compreensão das Capacidades Institucionais deve considerar as principais áreas de
desenvolvimento institucional referidas aos territórios rurais no marco da política de
desenvolvimento rural sustentável. Mas não se deve esquecer que o foco das
capacidades institucionais passa por questões fundamentais como: a organização e
o planejamento, o funcionamento administrativo e a capacidade técnica de cada
uma dessas organizações.
4.2) Os indicadores de capacidade institucional
As áreas identificadas para o cálculo do Índice de Capacidades Institucionais foram:
Gestão dos Conselhos, Capacidade das Organizações, Serviços Institucionais
Disponíveis, Instrumentos de Gestão Municipal, Mecanismos de Solução de
Conflitos, Infraestrutura Institucional e Iniciativas Comunitárias e Participação. Cada
uma destas áreas permite conhecer as capacidades das organizações nos
territórios, bem como estabelecer diferenças entre eles.
O indicador Gestão dos Conselhos refere-se à gestão dos conselhos territoriais
muito especialmente em relação à atuação na análise dos projetos relacionando à
análise dos componentes sociais e ambientais dos projetos, à atuação em busca por
fontes de financiamento e a promoção da integração dos projetos. Enquanto isso, o
indicador Capacidade das Organizações enfatiza a capacidade de gestão das
organizações presente e atuantes no território, tais como: cooperativas, grupos de
mulheres, cadeias produtivas, acordos de comercialização, prestadores de serviços
tecnológicos, organizações comunitárias, entre outras.
O indicador de Serviços Institucionais relaciona-se aos serviços prestados pelas
organizações nos territórios, tais como: assistência técnica, apoio tecnológico e
informações sobre preços. Já os Instrumentos de Gestão Municipal referem-se aos
instrumentos disponíveis nos municípios para o desenvolvimento de sua gestão, tais
como: ordenamento de uso do solo, uso de produtos perigosos, manejo de dejetos,
normas sobre impactos ambientais, mapeamento de zonas de risco, planos de
gestão, projetos e estratégias de coordenação com instituições federais e estaduais.
O indicador que analisa os Mecanismos de Solução de Conflitos diz respeito aos
29
mecanismos e instâncias utilizadas nos municípios dos territórios para solução dos
conflitos, bem como fazem referência aos movimentos e expressões sociais
presentes nos territórios, tais como: autoridades locais, comitês comunitários,
organizações fora do município e mobilizações de grupos locais.
A Infraestrutura Institucional refere-se à existência de infraestrutura pública para o
desenvolvimento de atividades econômicas, sociais, culturais e políticas, nos
territórios. As Iniciativas Comunitárias correspondem aos diferentes tipos de
iniciativas das organizações sociais frente aos diferentes temas de importância para
o desenvolvimento territorial, assim como a capacidade da população em
estabelecer alianças para defender seus interesses, em especial, projetos para o
desenvolvimento social, produtivo, cultural, ambiental, turístico, ente outros. Por
último o indicador Participação que diz respeito, tanto ao grau de participação das
organizações municipais, no território, quanto da participação dos beneficiários de
projetos locais, na sua demanda, elaboração e gestão.
Cada indicador possui uma variação entre 0 (zero) e 1 (um), sendo que, o valor
1(um) indica maior capacidade, e 0 (zero), menor capacidade das instituições do
território.
4.3) A coleta dos dados e cálculo dos indicadores de capacidade institucional
A coleta dos dados referentes às capacidades institucionais foi realizada a partir dos
questionários: Capacidades Institucionais (Q1), Acompanhamento da Gestão dos
Colegiados Territoriais (Q3) e Avaliação de Projetos de Investimento (Q5). Os
questionários são compostos, além das questões de identificação da entrevista, por
perguntas de múltipla escolha, dicotômicas (sim ou não), escala e abertas. Como
será apresentado no tópico posterior, cada um deles contribui com diferentes
questões para a construção do índice. Além disso, os questionários têm unidades de
coleta diferenciadas:
i) O questionário Capacidades Institucionais é aplicado por município (uma unidade),
com pessoas conhecedoras dos conteúdos abordados;
30
ii) O questionário de Acompanhamento da Gestão do Colegiado é aplicado a todos
os membros da plenária do Colegiado Territorial (censo), em cada território rural.
Neste caso, a aplicação do questionário se deu individualmente, a cada membro do
colegiado.
iii) O questionário Avaliação de Projetos de Investimento é aplicado por projeto
localizado nos territórios, sendo que três unidades são aplicadas: uma com um
representante dos executores do projeto, outra a um representante dos beneficiários
e um último, ao representante do colegiado.
4.4) Análise dos indicadores
No território dos Lençóis Maranhenses / Munim esses questionários foram aplicados
entre agosto/2010 até fevereiro/2011. No Quadro 5 está apresentado o
demonstrativo dos questionários aplicados.
QUADRO 5 – Demonstrativo de questionários aplicados
Questionário A ser aplicado Total aplicado %
Q1 36 34 94
Q3 96 78 81
Q5 15 14 93
FONTE: Manual da pesquisa / dados da pesquisa
O Cálculo do Índice de Capacidades Institucionais é realizado a partir da média
harmônica dos indicadores de Capacidades, de acordo com a seguinte fórmula:
6/[(1/ Gestão dos Colegiados) + (1/Capacidades Organizacionais) + (1/ Serviços
Institucionais Disponíveis) + (1/Instrumentos de Gestão Municipal) + (1/ Mecanismos
de Solução de Conflitos) +(1/ Infraestrutura Institucional) + (1/Iniciativas
Comunitárias) + (1/ Participação)].
Conforme o Manual da Pesquisa (SDT, 2009) há uma classificação dos indicadores
propostos já apresentada no Quadro 2. Com base nessa classificação é que estão
demonstrados os resultados da pesquisa das capacidades institucionais feita no
território dos Lençóis Maranhenses/Munim (Quadro 6).
31
Nesse Quadro 6 o valor médio do indicador estudado é de apenas 0,302,
considerado médio baixo. De todos os índices apresentados apenas os dois
primeiros (Gestão dos Colegiados e Infraestrutura Institucional) aparecem com
valores acima de quatro, estando na classificação médio e médio alto. Há que se
inferir aqui que a nota para o índice Gestão dos Colegiados tem um forte caráter de
superestimação em função dos respondentes participarem, em grande parte, das
atividades do Colegiado.
QUADRO 6 – Indicadores de Capacidade Institucional no território dos Lençóis Maranhenses/Munim
Indicador de Capacidade Institucional Valor Classificação
Gestão dos colegiados 0,613 Médio alto
Infraestrutura institucional 0,496 Médio
Participação 0,398 Médio baixo
Iniciativas comunitárias 0,279 Médio baixo
Capacidades organizacionais 0,276 Médio baixo
Mecanismos de solução de conflitos 0,265 Médio baixo
Instrumentos de gestão municipal 0,241 Médio baixo
Serviços institucionais disponíveis 0,191 Baixo
FONTE: Manual da pesquisa / dados da pesquisa (abril/2011)
Gestão dos Conselhos – os respondentes dos questionários Q3 e Q5, nas
questões relativas ao indicador em referência, fazem uma leitura positiva do mesmo.
Ou seja, entendem que, na gestão dos Conselhos Territoriais os componentes
sociais e ambientais dos projetos são levados em conta, bem como a atuação dos
membros em busca de fontes de financiamento, além de acreditar que existe uma
promoção da integração entre os projetos. É importante relacionar que, nesse caso,
a diferença muito grande quando comparado com os outros indicadores pode
identificar o maior conhecimento do fator por parte dos respondentes, considerando
que grande parte dos respondentes fazem parte do Colegiado Territorial. E talvez,
por isso, se tenha uma diferença tão grande na pontuação entre esse e o item
seguinte.
O Colegiado Territorial havia aprovado até o final de 2010, de acordo com os dados
da CEF, 30 projetos de infraestrutura, sendo que apenas cinco desses projetos
foram devidamente implantados e apenas dois estão funcionando adequadaemente.
A estrutura desse colegiado inclui, além da assembleia territorial composta por 96
32
membros, um núcleo diretivo com oito membros, sete câmaras temáticas (reforma
agrária e produção; pesca e aquicultura; meio ambiente, cultura e turismo; economia
solidária; desenvolvimento social; infraestrutura; gênero, geração e etnia) e 12
equipes locais. A decisão da aprovação dos projetos ocorre nas assembleias
territoriais, mas o processo de acompanhamento em todas as etapas deveria ser
responsabilidade das Câmaras Temáticas e aqui aparece um problema que vai ser
melhor analisado no ítem referente aos projetos: após essa aprovação não há
qualquer tipo de acompanhamento por parte de qualquer uma das instâncias.
Esse Colegiado não possui uma articulação com os conselhos municipais que, por
sinal, não fazem parte da sua composição. Dessa forma, considerando a fragilidade
existente, podemos fazer duas considerações sobre a postura dos respondentes. A
primeira considerando o desconhecimento sobre o próprio funcionamento já que,
cerca de 50% dos membros não participam de forma sistêmica das atividades e,
portanto, apontam dados de forma superlativa. A segunda, seria uma auto-defesa
pela própria responsabilidade que esses respondentes teriam com a funcionalidade
do Colegiado.
Infraestrutura Institucional – nesse item os respondentes do questionário Q1, nas
questões relativas a esse indicador, fazem uma leitura negativa. Percebe-se, pelas
respostas apresentadas, que os atores locais consideram que a infraestrutura
pública disponível para o desenvolvimento de atividades econômicas, sociais,
culturais e políticas no território não tem sido eficiente ou não são suficientes para
promover o desenvolvimento territorial.
A dinâmica econômica do território não tem sido suficiente para criar opções de
infraestrutura nos municípios. Esse é um problema apontado pelo PTDRS. O próprio
CODETER identificou essas necessidades e propôs, ao longo desses últimos anos,
várias estruturas que pudessem compensar o déficit deixado pelas prefeituras.
Bacabeira, por exemplo, que além de ficar bem próxima de São Luís, tem agora a
construção de uma grande refinaria de petróleo, não possui sequer um mercado
público que atenda a demanda da população local, de modo que deixa passar a
oportunidade de gerar emprego e riqueza local em função de ser uma cidade
passagem onde todo o tráfego rodoferroviário circula ante de chegar a São Luís.
33
O PTDRS tem como proposta para o programa de cultura e turismo o
estabelecimento de um circuito cultural. Considerando que o território tem uma via
rodoviária única de entrada – as outras duas vias são intrafegáveis – e sendo o
turismo sustentável a principal referência econômica futura, a proposta era a
montagem desse circuito que incluiria três referências: as belezas naturais
incomparáveis, a rica cultura local e a gostosa gastronomia maranhense. Essa
proposta, ainda em fase de construção, emperra em duas engrenagens: a primeira
relacionada com a falta de infraestrutura turística na maioria dos municípios, à
exceção de Santo Amaro e Barreirinhas e a segunda relacionada à articulação entre
os municípios de modo a integrar as programações.
Porque esse indicador, mesmo abaixo de 0,5, ainda é o segundo em ordem de
importância pode ter relação com a grande presença de representantes dos
governos municipais no Colegiado em detrimento de representantes da sociedade
civil entre os mais participativos. A ausência de muitos membros nas reuniões os
deixa sem informações, e assim sendo, a tendência mais centralizada (0,496)
mostra as dúvidas que podem estar pairando sobre os respondentes.
Participação – aqui os entrevistados responderam aos questionários Q1 e Q5.
Entre os indicadores estudados esse é o primeiro que aparece como médio baixo
com um valor abaixo de 0,4. Os respondentes parecem entender que o grau de
participação das organizações municipais no território, tendo em vista a participação
dos beneficiários nos projetos locais, na sua demanda, elaboração e gestão, não
favorece o desenvolvimento institucional, comprometendo, de certa forma, o
desenvolvimento territorial.
A relação feita nesse ítem sobre a participação é muito própria. A média de
participação das diversas organizações no Colegiado sempre esteve abaixo de 50%
em todas as atividades. Nas instâncias existentes, apenas nas assembleias que
definem o futuro do próprio Colegiado ou definem os projetos de infraestrutura a
participação se torna mais intensa. Em atividades de capacitação e nas reuniões das
câmaras temáticas a participação tem sido pífia, ao ponto de algumas câmaras nem
funcionarem.
34
Essa problemática do Colegiado é histórica e acontece com todos os outros órgãos
colegiados do território, incluindo os conselhos municipais. O Colegiado, dessa
forma, estabelece um modelo de política semelhante ao que usam as prefeituras
municipais que definem e aprovam os projetos sem qualquer participação dos
beneficiários, a menos que haja alguma liderança comunitária na Câmara de
Vereadores e que se permita estar negociando a participação da comunidade.
Quando se avança para o período pós-definição dos projetos na assembleia
territorial se percebe que há uma grande solução de continuidade nesse processo.
Se no período de definição há uma participação maciça dos membros do colegiado
no período de implantação dos projetos a direção transfere essa responsabilidade
aos executores, caso das prefeituras municipais e não acompanha nenhuma das
atividades necessárias nesse processo. Assim, cada etapa se transforma em uma
atividade estanque.
A ausência dos membros dos órgãos colegiados poderia ser menos perceptível se
nas reuniões houvesse a presença de representantes dos beneficiários, quase
sempre desconhecedores das decisões que são estabelecidas nessas reuniões. A
impossibilidade de decidir pelos projetos que poderiam promover o desenvolvimento
das suas comunidades cria um distanciamento entre esses projetos propostos e os
moradores locais e aquela possibilidade de geração de empregos fica bastante
prejudicada, assim como o próprio desenvolvimento local que está previsto como
objetivo principal. Não há protagonismo, não há mudança da realidade estabelecida.
Iniciativas Comunitárias – os respondentes do questionário Q1 nas questões
relativas a esse indicador entendem que os diferentes tipos de iniciativas das
organizações sociais frente aos diferentes temas de importância para o
desenvolvimento territorial, assim como a capacidade da população em estabelecer
alianças para defender seus interesses, em especial, projetos e alianças para o
desenvolvimento social, produtivo, cultural, ambiental, turístico, entre outros, não
favorecem o desenvolvimento institucional comprometendo, de certa forma, o
desenvolvimento territorial. Por essa percepção o valor relativo desse item está
abaixo de 0,3, com uma classificação considerada médio baixo.
35
Na esteira da participação vê-se uma ausência das organizações sociais em todos
os níveis. A percepção dos respondentes mostra que as diversas organizações de
representação (Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e Colônias e
Sindicatos de Pescadores) não vem conseguindo apresentar propostas e respostas
às necessidades das categorias. No Território existem 12 STTR’s e um Pólo
Sindical. O Pólo Sindical se coloca apenas no processo organizativo e de articulação
dos diversos sindicatos. Entre os 12 sindicatos, apenas cinco tem algum tipo de
envolvimento nas discussões da política territorial, muito pontualmente. Em nível
local há muitos questionamentos sobre as ações que avancem para além do debate
previdenciário, sendo que temas fundamentais relacionados à política agrícola e
agrária, ao desenvolvimento sustentável e aos planos de turismo e meio ambiente
não tem sido objeto de análises e proposições.
Colônias e Sindicatos de Pescadores tem tido uma participação mais ativa no
colegiado, mas isso se deve, principalmente, à existência de uma Câmara Temática
de Pesca e Aquicultura que, em 2010, estabeleceu com apoio do Ministério da
Pesca e Aquicultura, um diagnóstico regional que, inclusive, tem suas partes mais
importantes postas no PTDRS. O debate ambiental está mais presente na pauta
dessas representações em função dos problemas criados pela pesca predatória,
assim como as políticas de pesca.
As organizações de apoio e assessoria estiveram em número de até 24 ao longo
desses 5 anos. No entanto, essas organizações não têm contribuído com o
funcionamento do Colegiado, apesar de quase todas ter estado no território
desenvolvendo atividades relacionadas com a política territorial, principalmente, com
recursos dos Ministérios de Desenvolvimento Agrário, da Pesca e Aquicultura e do
Desenvolvimento Social. Na prática, apenas duas dessas organizações tem
participado com efetividade das discussões e decisões do Colegiado, tendo mais
uma que executa atividades sistêmicas.
Uma dessas organizações é a ETHOS – Assessoria, Consultoria e Capacitação em
Desenvolvimento Local Sustentável. Como organização de assessoria a ETHOS
participou de todas as etapas de construção da política territorial nos Lençóis
Maranhenses / Munim entre 2004 e 2011, inclusive elaborando o PTDRS na sua
36
primeira fase. Nesse sentido ajudou a desenhar a estrutura do CODETER e
assessorou todas as suas instâncias ao longo desse período.
A outra organização com participação importante no território é a Associação
Agroecológica Tijupá. Essa instituição atua em três municípios do Munim (Rosário,
Morros e Presidente Juscelino) desde 1995. Com o advento da política territorial a
Tijupá, que tem o seu forte nas temáticas “agroecologia” e “economia solidária”,
passou a desenvolver atividades de assessoria, em especial trabalhando com as
bases de serviços, além de acompanhar as diversas instâncias do Colegiado, em
especial, a Câmara Temática de Economia Solidária.
Capacidade das Organizações – os respondentes do questionário Q1, nas
questões relativas ao indicador em referência, fazem uma leitura negativa em termos
da capacidade de gestão das organizações presentes e atuantes no território. Ou
seja, entendem que as organizações não vem conseguindo responder ao desafio de
fomentar o desenvolvimento institucional. Como resultado avaliaram esse fator com
um valor médio baixo.
Esse item reforça todas as observações feitas no item anterior. Um dos motivos que
impedem as organizações de conseguirem desenvolver atividades no território é a
pouca capacidade administrativa e esse tipo de estruturação serve tanto para as
organizações de representação quanto de assessoria. Acrescenta-se a pouca
capacidade técnica, já que, entre as organizações de representação não há a
constituição de quadros técnicos e os poucos recursos financeiros impedem que as
organizações de assessoria possam contratar uma equipe com qualificação diversa.
Mecanismos de Solução de Conflitos – esse item tem para os respondentes do
questionário Q1, um nível de percepção bastante negativo como pode se perceber
do Quadro 5. Entendem os respondentes que os diversos mecanismos e instâncias
existentes no Território para solução dos conflitos (autoridades locais, comitês
comunitários, organizações fora do município e mobilizações de grupos locais) não
vem cumprindo seu papel com efetividade, chegando até a comprometer o
desenvolvimento territorial.
37
É importante considerar que desde o processo de ocupação deste território poucos
conflitos ocorreram. A não ser nos primeiros momentos não se tem noticias de
problemas mais graves, seja por ocupação de terras, por questões agrícolas ou
políticas. Essa falta de problemas pode ser o motivo para que as respostas tenham
tido tão pouca importância.
Por outro lado, quando surgiram os grandes problemas como a criação do Parque
Nacional dos Lençóis Maranhenses, os problemas que as comunidades passaram a
ter não foram intermediadas por qualquer autoridade, conselho ou organização.
Mesmo problema que pode ser percebida com a implantação da refinaria Premium
em Bacabeira. Ou seja, os resultados para esse item podem ter motivos diversos
bem antagônicos, mas como os problemas citados são relacionados com áreas
específicas, a tendência mais coerente é a primeira.
Serviços Institucionais Disponíveis – o pior indicador de acordo com os
respondentes está relacionado com os serviços prestados pelas organizações no
território relativas ao apoio à produção (assistência técnica, apoio tecnológico,
informações sobre preços...). Esse dado é importante, pois vai de encontro às
respostas apresentadas no Índice de Condição de Vida. O valor menor que 0,2 em
uma escala de 0 a 1 é bastante preocupante.
No território existem três tipos de organizações que apoiam os produtores rurais –
deve-se incluir nessa categoria os agricultores familiares (de comunidades
tradicionais e de assentamentos de reforma agrária), pescadores artesanais,
aquicultores e artesãos. Organizações com recursos federais, caso das ONG’s que
fazem assistência técnica às famílias dos assentamentos de reforma agrária, com
recursos do INCRA; o órgão estadual de assistência técnica (AGERP) que tem a
reponsabilidade de atender as famílias de agricultores familiares e aquicultores; e as
secretarias municipais de agricultura e pesca que são responsáveis por atender
todos os grupos citados anteriormente.
Duas ONG’s (Tijupá e Planeja) executam o programa de ATES em assentamentos
de responsabilidade do INCRA nos municípios de Barreirinhas, Morros, Presidente
Juscelino e Rosário. A AGERP possui um escritório no município de Rosário que
38
deveria atender todos os municípios do território, mas a pouca capacidade
orçamentária tem dificultado a execução de ações de extensão ou qualquer tipo de
apoio às famílias do território. E as secretarias, em grande parte, não possuem nem
estrutura logística e nem equipe técnica para executar atividades de apoio ou
assistência técnica em nível local. A Câmara Temática de Reforma Agrária e
Produção do CODETER, apesar de algumas tentativas isoladas, não tem
conseguido viabilizar qualquer ação que possa responder aos anseios da população
rural e peri-urbana, que é o principal público beneficiária da assistência técnica.
Baseados nessas observações pode-se perceber que as três categorias de
produtores rurais existentes nesse território encontram-se quase que completamente
desamparados das ações de assistência técnica e extensão rural. Assim, não é de
se estranhar que os respondentes tenham se posicionado dessa forma.
5) COMO ESTÁ SENDO FEITA A GESTÃO DO COLEGIADO?
5.1) O que é o Colegiado de Desenvolvimento Territorial
O colegiado visto de um lógica institucional é uma instância política de deliberação
sobre o processo de desenvolvimento sustentável do território. Pode também ser
analisado como um espaço de participação social, de representação, articulação e
concertação política.
O papel principal desse colegiado é o de deliberar e propor ações para o
desenvolvimento sustentável dos territórios, mas também, articular políticas
públicas, assim como realizar o planejamento das ações e definir os programas e
projetos que devem compor o PTDRS.
5.2) Sobre a gestão do colegiado
Aqui se buscou identificar como se dá o funcionamento do Colegiado de
Desenvolvimento Territorial (CODETER). O CODETER desse território é composto
por 96 membros, sendo oito por cada município. Desses, quatro representam
instituições da sociedade civil, três representam os órgãos das Prefeituras
39
Municipais, sendo a última vaga disponibilizada para organizações governamentais
do nível federal ou estadual.
As instâncias do Colegiado são: Assembleia Territorial, Núcleo Diretivo, Câmaras
Temáticas e Núcleo Técnico. A Assembleia Territorial reúne-se a cada seis meses
para analisar contas, relatório técnico e definir a priorização dos projetos de
infraestrutura. O Núcleo Diretivo é composto por oito membros, sendo quatro
representando a sociedade civil e quatro representando o poder público, sendo a
instância de coordenação do Colegiado. As Câmaras Temáticas, em número de sete
(Reforma Agrária e Produção; Pesca e Aquicultura; Infraestrutura e Gestão; Meio
Ambiente, Cultura e Turismo; Desenvolvimento Social; Gênero, Geração e Etnia;
Economia Solidária), representam os temas mais importantes debatidos no
Território. O Núcleo Técnico relaciona a participação dos técnicos das organizações
de apoio que participam das atividades do Colegiado e é responsável pela
elaboração, análise e acompanhamento dos projetos.
5.3) Como se deu a pesquisa sobre a gestão do colegiado
A pesquisa sobre a gestão do colegiado foi baseado no questionário Q3 da questão
9 à questão 27. Os respondentes deste questionário foram os membros do
Colegiado. Dos 96 representantes 78 responderam às questões propostas nos
diversos municípios do território. É importante explicar que os representantes que
não responderam estão efetivamente ausentes do colegiado ou não foram indicados
pelas instituições. Uma parte dos respondentes estava recém-empossada e, por isso
tinha poucas informações, insuficientes para que os resultados pudessem ser
considerados satisfatórios.
5.4) A análise dos resultados
Os dados desse questionário foram analisados a partir de cada resposta. Os
resultados permitem que se avalie a dinâmica de funcionamento, a importância do
colegiado para o desenvolvimento territorial e o próprio conhecimento dos membros
sobre a origem, os objetivos e a forma de funcionamento do colegiado.
40
As questões relativas à participação do assessor territorial mostraram que apenas
60,5% dos respondentes tinham informações da existência do assessor e 46,1% não
possuíam informações de que algum outro técnico de alguma outra organização
apoiasse a ação do colegiado. Ou seja, há um grupo grande de representantes que
não acompanham o processo de gestão do colegiado, desconhecendo
completamente a assessoria técnica. Cabe lembrar que ao longo do tempo, o
assessor sempre assumiu atividades diversas no Colegiado, sendo grande parte
delas em São Luís, assim, aqueles membros menos participantes tendem a
desconhecer o assessor e o próprio trabalho da assessoria. Além disso, em muitos
momentos, as dificuldades de transferência de recursos pela organização detentora
dos recursos de execução da política territorial não conseguiu, por algum motivo,
repassar o necessário para a execução do trabalho desse assessor que acabou fora
do território por algum período.
Sobre a composição do colegiado 56,6% acreditam que esse processo se dá
através de convite direto às organizações, indicando a falta de clareza quanto às
regras dessa composição. Houve uma grande variação na resposta quanto ao
número de reuniões e a freqüência dessas reuniões do colegiado, demonstrando a
deficiência no registro das reuniões e na participação dos seus membros nas
reuniões. Por outro lado, a capacidade de decisão dos membros do colegiado foi
avaliada com percentual pouco acima da média, sendo os melhores avaliados as
representações das organizações de representação dos trabalhadores.
Os mecanismos de comunicação mais utilizados no âmbito do colegiado são as
comunicações pessoais (70%), seguido de perto pela internet (56,7%). Como são
mecanismos extremos em níveis de tecnologia, fica claro que falta uma melhor
sistemática de comunicação que permita o colegiado estabelecer uma articulação
mais organizada entre seus membros. O documento da pesquisa não mostrou, mas
o mecanismo mais utilizado é o celular, através de mensagens, considerando que o
celular é utilizado em todos os municípios com bastante intensidade.
A questão da comunicação deve ser extrapolada para além da articulação dos seus
membros, mas fundamentalmente na relação desse colegiado com o conjunto da
população e das organizações existentes no território. Grande parte da população
41
desconhece por completo a existência do colegiado e a própria política territorial,
conforme pode-se perceber dos resultados apresentados no item sobre o Índice de
Condição de Vida. A relação com os órgãos e instituições locais é bastante frágil, de
forma que os contatos são bastante pontuais, se dando apenas em momentos de
interesse para um ou ambos os lados. A comunicação interna sofre o mesmo
problema. Não se tem noticias de uma dinâmica que facilite as tomadas de decisão
por parte das instâncias.
Os extremos são tratados no Colegiado com muito mais freqüência do que se
imaginava. Em relação aos temas de maior importância as respostas apontam como
sendo a discussão dos projetos, sendo que o de menor importância é a
infraestrutura. Considerando que os projetos citados estão relacionados ao PROINF,
ou seja, projetos de infraestrutura, a pouca discussão sobre essa temática
demonstra que o debate sobre os projetos não se dá dentro de uma política
territorial, mas fica isolado numa perspectiva puramente temática. Pode-se inferir
dessas respostas que a pouca participação dos gestores públicos deve ter uma
grande importância para o debate da infraestrutura territorial, pois esse foi
considerado o principal problema que prejudica o funcionamento do colegiado,
mesmo que os respondentes considerem que o colegiado seja o legítimo
representante do território.
Os membros respondentes assumem uma condição bastante positiva sobre o A
importância do processo de elaboração do diagnóstico territorial e na formulação do
plano territorial foi analisada pelos próprios membros como sendo de grande
importância, pois os respondentes consideraram que o colegiado participou em
todas as etapas, especialmente nas oficinas de discussão. A maior parte do grupo
(71,1%) considerou, ainda, que ocorreu a elaboração de uma visão de futuro feita
pelo próprio colegiado. Aqui, fica muito claro o desconhecimento por parte de vários
dos respondentes do que ocorre no colegiado. O PTDRS foi qualificado por uma
equipe da COOSPAT dentro de uma programação onde a participação dos
membros do Colegiado – alguns membros, menos da metade – se limitou a algumas
reuniões. A maior parte do diagnóstico foi elaborado sem a participação do
colegiado e mesmo informações importantes que deveriam ser repassados à equipe
de elaboração deixaram de ser entregues. A visão de futuro, por falta de um maior
42
debate acabou sendo reproduzida do diagnóstico original. Ou seja, apesar de ter
ocorrido a participação, esses números deveriam ser bem menores do que aqueles
apresentados aqui.
Em relação às tomadas de decisão afirmam que quase sempre (72,4%) é feita
democraticamente pela maioria. Sobre a definição dos projetos uma parte maior dos
respondentes (57,9%) afirma que sempre ocorre uma avaliação do mérito e uma
análise técnica da viabilidade.
O Colegiado Territorial tem um problema relacionado com a participação dos
municípios. Os 96 membros dos 12 municípios do território são distribuídos nas
diversas instâncias que começa nas equipes locais. Essa instância raramente se
reúne e cria uma grande dificuldade para apresentar propostas e discutir os
problemas dos seus municípios. E os 12 órgãos convidados para fazer parte do
Colegiado não assumiram a responsabilidade de discutir o território. E essa falta de
participação desses dois grupos transfere para os níveis mais centrais a
responsabilidade de planejar e executar as políticas territoriais sob sua
responsabilidade.
As câmaras temáticas ainda estavam bastante desconectadas no período da
elaboração deste diagnóstico. Algumas delas não tinham sequer um quadro mínimo
de membros. As reuniões dessas câmaras aconteciam formalmente com os seus
coordenadores e o coordenador geral das câmaras durante a reunião do Núcleo
Diretivo. O diferencial, nesse caso, ocorre com a câmara de Pesca e Aquicultura que
reuniu bastante no ano 2010 em função do diagnóstico da pesca feito com apoio do
Ministério da Pesca e Aquicultura. A câmara de Economia Solidária também reuniu
bastante e estabeleceu algumas ações com apoio da Associação Agroecológica
Tijupá. Também a câmara de Reforma Agrária e Produção fez algumas ações
pontuais.
O Núcleo Diretivo foi a única instância que manteve uma programação sistêmica
com reuniões mensais. O apoio decisivo da ETHOS permitiu que os membros desse
núcleo tivessem condições de se reunir e manter a coesão do Colegiado. No
entanto, a qualificação do PTDRS em 2009/2010 não tornou o planejamento
43
proposto como referência para o desenrolar das atividades territoriais, como já não
ocorrera antes quando do período referente ao processo de execução do documento
construído em 2004.
Nesse contexto cabe uma crítica veemente à Delegacia do MDA. O apoio
necessário à política territorial deixou muito a desejar, considerando a
responsabilidade da Delegacia e do próprio MDA, através da SDT. Um exemplo
interessante aconteceu com o próprio projeto SGE. A Delegacia não chamou os
grupos de pesquisa e extensão para discutir o edital e as duas equipes que
assumiram concorrer ao edital buscaram por fora da discussão territorial, a ponto de
haver necessidade de muito envolvimento dos colegiados territoriais para que as
equipes pudessem se envolver com o trabalho; pior que dois territórios ficaram de
fora em função das equipes que concorreram acharem que só podiam concorrer
para apenas um território.
6) AVALIANDO OS PROJETOS IMPLANTADOS NO TERRITÓRIO
6.1) O que é o PROINF
De acordo o Manual de Operacionalização do Proinf 2011 (MDA/SDT, 2011) o
PROINF (Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços) é uma ação orçamentária
que compõe o PRONAT (Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios
Rurais), cuja finalidade é financiar os projetos estratégicos para o desenvolvimento
territorial definidos no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável
(PTDRS).
Essas demandas são traduzidas em propostas técnicas que podem ser apoiadas
com recursos de investimento em obras, máquinas, equipamentos e outros bens
necessários para o fortalecimento da agricultura familiar, bem como, recursos de
custeio que permitem fortalecer os processos de organização e de capacitação dos
grupos de beneficiários, organizações e demais agentes de desenvolvimento
territorial.
44
O PROINF tem como foco ações voltadas para a dinamização econômica dos
territórios, o fortalecimento da gestão social e das redes sociais de cooperação, de
formação de agentes de desenvolvimento e estimula uma maior articulação das
políticas públicas nos territórios.
6.2) Como se deu a pesquisa sobre os projetos implantados no território
A pesquisa foi feita em dois momentos. No primeiro trabalhamos os dados
disponíveis sobre esses projetos, incluindo o próprio SGE e as informações
disponíveis na Delegacia Federal do MDA a partir dos documentos existentes na
Caixa Econômica Federal (CEF). No segundo momento foram aplicados os
questionários Q5 (Avaliação de Projetos de Investimento) e Q6 (Monitoramento dos
Projetos) com os seguintes respondentes: representantes do executivo municipal,
representantes do colegiado, beneficiário e conhecedor do projeto.
Foram pesquisados dez projetos, sendo aplicado o Q5 em cinco projetos e o Q6 em
nove projetos, sendo que em quatro projetos foram aplicados dois questionários.
Para efeito dos cálculos, contou-se com 148 respondentes do Q5 e dez
respondentes do Q6.
6.3) A análise dos resultados
Dos 22 projetos demandados em 45,45% deles (10 projetos) as obras não chegaram
a ser iniciadas; 22,73% (5 projetos) tiveram as obras concluídas; 18,18% (4 projetos)
as obras estavam em situação normal; e 13,64% (3 projetos) as obras estavam
paralisadas conforme se pode perceber do Gráfico 4 e no Anexo 1
Em termos financeiros, os vinte e dois projetos demandados representavam R$
3.019.254,25, sendo esse montante de recurso do PROINF, distribuído segundo a
situação das obras conforme segue: a) 53,31% (10 projetos) que não tiveram as
obras iniciadas correspondem R$ 1.609.678,86; b) 20,81% (5 projetos) que tiveram
8 Como o Q5 são três respondentes para cada Projeto pesquisado, deveriam ser 15 respondentes, mas um
beneficiário do Projeto de Morros deixou de responder o questionários, ficando, portanto, apenas 14. O Q6 que é
apenas um respondente para cada projeto foi aplicado com dez beneficiários.
45
as obras concluídas, corresponde a R$ 628.312,19; c) 14,87% (4 projetos) cujas
obras foram paralisadas corresponde a R$ 448.886,20; d) 11,01% (3 projetos) as
obras estavam em situação normal, corresponde a R$ 332.387,00.
GRÁFICO 4 - Demonstrativo do quantitativo de Projetos demandados (2003 a
2008)
FONTE: SGE – Gestão de projetos
Considerando que as demandas apresentadas tem como objetivo atender ao
PTDRS do Território, tendo como referencia também que trata-se de um período de
cinco anos, uma vez somando os valores dos projetos/obras não iniciadas e
paralisadas, temos o montante de R$ 2.058.565,06 que foram injetados no território,
sem conseguir atender aos objetivos. Isso vem representar 68,18% dos recursos
alocados pelo MDA/SDT para todo o território.
Outro fator importante a considerar é que os nove projetos restantes (obras
concluídas e obras em situação normal), que corresponde a R$ 960.699,19, não
vem significar o atendimento consequente dos objetivos propostos, uma vez que
temos que considerar a fragilidade da gestão dos mesmos.
Os projetos demandados pelo colegiado ao longo desses anos estão relacionados,
principalmente, com atividades de beneficiamento de produtos agroextrativistas
(casa de farinha, unidade de beneficiamento de polpa de fruta, unidade de
beneficiamento de pescado, casa de mel) ou com educação (casa familiar rural).
Apesar desses projetos estarem no bojo do PTDRS, não fazem parte dos “projetos
estruturantes”, à exceção do centro de comercialização. A proposta do PTDRS é
estabelecer projetos de infraestrutura como base para o desenvolvimento de outras
13,64%
45,45% 22,73%
18,18%
PARALISADA NÃO INICIADA CONCLUIDA NORMAL
46
atividades e, nesse caso, há uma grande distância entre o que foi proposto pelo
colegiado e o que deveria, efetivamente.
As respostas apresentadas, em especial as de maior ocorrência, além de serem
muito incoerentes entre os diversos respondentes, sugere um grande
desconhecimento por parte dos gestores públicos, membros do colegiado e
beneficiário quanto à dinâmica de implementação dos PROINF’s no território, como
também a própria divulgação da obra que se realizou no território. Uma única
resposta gerou unanimidade e foi aquela relacionada com as parcerias.
O exemplo já está apresentado no início do questionário Q5 que indaga sobre o
aspecto do planejamento do projeto e a própria definição do projeto, quando oito
respondentes (57,14%) afirmaram tratar-se de emenda parlamentar enquanto os
outros três (21,43%) entenderam que não se aplica a situação dos projetos
pesquisados. Outras respostas dadas: uma diz que o Projeto foi ofertado pelo
SDT/MDA, outra que foi indicado em um instrumento de Planejamento e a terceira
diz que foi uma demanda espontânea dos beneficiários.
Uma vez que as respostas aos objetivos dos projetos contemplam todos os projetos
pesquisados, entendemos ser natural que, dentre as opções apresentadas termos
como resultados um somatório de situações correspondentes a cada projeto
pesquisado. Nesses termos 50% (7) dos respondentes afirmaram que os projetos
fortalecem a cadeia produtiva; 42,85% (6) entendem que os projetos tem como
objetivos a geração de renda, o fortalecimento das redes sociais, o fortalecimento da
gestão social e o fortalecimento da identidade territorial; os outros 35,71% (5)
apontaram como principais objetivos a redução da pobreza, o fortalecimento do
cooperativismo e o fortalecimento das capacidades locais. A divergência nas
respostas sugere um desconhecimento por parte dos respondentes da própria
discussão ocorrida na oficina de priorização dos projetos, o que significa a ausência
nessas reuniões ou a fragilidade do próprio debate.
Quanto a participação dos beneficiários na elaboração do Projeto, 42,85% dos
respondentes (6) afirmaram que sim, que os beneficiários participaram da
elaboração. Para 35,71% (5) afirmaram que os beneficiários não participaram da
47
elaboração e outros 21,42% (3) responderam que o caso não se aplica. Em outras
palavras, para 57,14% dos respondentes (8), de qualquer forma, os beneficiários
ficam fora da elaboração dos Projetos, o que contraria a lógica proposta pela política
de desenvolvimento territorial e que pode ter corroborado para as dificuldades na
implementação e sucesso dos respectivos projetos. De qualquer forma esse grupo
afirma uma realidade inconteste comprovada nas respostas dos próprios
respondentes do ICV, como se vê no item relativo a esse tema. Pode residir aqui a
dificuldade na implementação e no sucesso desses projetos.
Esses mesmos respondentes divergem bastante sobre o nível de participação. Entre
os que afirmaram haver participação dos beneficiários no processo de elaboração
dos questionários, todos afirmaram que a participação se deu tanto na concepção
como no acompanhamento e implementação do projeto; outros cinco (83,33%)
afirmaram que a participação se deu apenas na definição; enquanto 66,66% (4)
afirmaram que a participação se deu na definição da área de intervenção do projeto,
na elaboração do diagnóstico e na gestão do projeto.
Para definição dos critérios para identificação dos beneficiários, 71,43% (10
respondentes) afirmaram que foi o colegiado que definiu esses critérios. As
respostas sobre os critérios de eleição dos beneficiários variaram bastante indicando
um forte desconhecimento desses critérios. A mesma situação se repetiu nas
questões sobre a identificação das organizações que acessaram os projetos e sobre
a abrangência de cada projeto, sempre reforçando um grande desconhecimento por
parte de um grande grupo de respondentes.
Para eleger os beneficiários, 42,85% dos respondentes afirmaram que o critério é
ser agricultor familiar; para 28,57% o critério é participar de associações/cooperativa
ou das instancias colegiadas; outros 21,43% afirmaram que os critérios para
definição dos beneficiários foi nível de renda, o potencial produtivo e gênero. A
variedade de alternativas apontadas pelos respondentes como critérios de escolha
dos beneficiários sugere que não houve um conhecimento prévio dos projetos
pesquisados. Considerando que estamos tratando de projetos produtivos e
relacionados a atividades diferentes (pesca, artesanato, caprinocultura e avicultura)
48
esperava-se que os respondentes tivessem conhecimento prévio de que a
elegibilidade dos beneficiários é resultado de todos os critérios acima.
No entendimento de 85,71% dos respondentes as associações informais são o foco
de apoio dos projetos. Para 50% para os projetos socioculturais, foi feita a estimativa
da demanda social, o levantamento dos equipamentos e dos recursos humanos
necessários para funcionamento do projeto. Já outros 5 respondentes afirmaram
apenas que houve um levantamento das atividades socioculturais demandadas.
A divergência das respostas continuou com o tipo de atividade a ser atendida com
os projetos, sobre os aspectos ambientais, as ações de planejamento, existência de
auditoria. Outras divergências aconteceram com o papel do colegiado, o papel das
instituições públicas, o tipo de atividade econômica, as ações relacionadas com as
cadeias produtivas, aumento da competitividade das atividades produtivas, estudo
de mercado e análise de viabilidade econômica. Ou seja, há um desconhecimento
repetido em quase todos os temas relativos aos projetos.
Em relação à gestão dos projetos as respostas também não tiveram qualquer
unanimidade, seja em relação à instância gestora, aos mecanismos de ajuste dos
projetos, a responsabilidade pelo monitoramento, instâncias de controle social,
processo de gestão, estrutura de funcionamento, garantia de manutenção da
estrutura existente. A reunião de avaliação relacionada ao monitoramento e controle
social dos projetos com 78,57% correspondente a 11 entrevistados foi o item mais
próximo de unanimidade.
A última parte dos questionários relaciona: o tempo decorrido entre a contratação e
o início do projeto; o atendimento aos beneficiários; o público atendido pelo projeto.
Nessas questões as respostas variam bastante, demonstrando também, aqui, um
forte desconhecimento por parte dos respondentes do processo de implementação
dos projetos. O tempo identificado para o inicio da obras gira me torno de 2 a 4
anos, longo o bastante. Os dados identificados pela equipe do LABEX,
acompanhados em paralelo a essa pesquisa de campo aponta que há um tempo
descomunal entre a aprovação dos projetos na reunião do colegiado e o início da
sua execução. E nesse meio tempo não há qualquer acompanhamento dos locais
por onde cada projeto passa e quanto tempo leva em cada uma dessas instâncias.
49
Mas apesar da “aposta” em que o público do programa seja outro (36%) e não os
agricultores familiares – deve-se incluir, aqui, os pescadores artesanais – cabe
afirmar que, nesse caso, os respondentes não estão com a razão, pois o público
atendido em todos esses projetos é sempre aquele que pratica a agricultura familiar.
Questões relacionadas com o atendimento das expectativas, e a melhoria da
qualidade de vida dos beneficiários foram avaliadas como médias, assim como as
respostas sobre as mudanças no território por conta dos projetos, e sobre os ganhos
Isso significa que uma parte substancial dos respondentes está acreditando que a
política territorial está no rumo certo e que seus resultados estão relacionados com a
melhoria das condições de vida das famílias moradoras do território. O melhor de
tudo pode ser relacionado aos ganhos institucionais, considerando que deve haver
uma boa articulação entre as organizações que participam das ações territoriais a
partir do envolvimento com o colegiado como pode ser percebida pelas novas
relações criadas e, em especial, pela presença da UEMA e do IFMA, anteriormente
ausentes de todas as atividades e discussões e hoje participantes eméritos em
todos os debates, além do envolvimento com todos os projetos executados
localmente.
A operação do projeto em relação à capacidade instalada, a cobertura da demanda,
a variação da renda familiar, o acesso aos mercados, os elementos que auxiliam a
sustentabilidade dos projetos, e as dificuldades para operar os projetos foram
analisadas de forma bastante variada como a grande maioria dos itens.
7) SOBRE O ÍNDICE DE CONDIÇÕES DE VIDA
7.1) Definição do Índice de Condições de Vida
O Índice de Condições de Vida (ICV) é um indicador que visa representar as
mudanças percebidas, em termos das condições de vida das famílias nos territórios
rurais. Este índice é um instrumento de análise e acompanhamento das condições
de vida das famílias nos territórios rurais, permitindo as análises comparativas, tanto
ao longo do tempo como entre territórios distintos, sem depender da disponibilidade
e atualização dos dados secundários.
50
7.2) Os indicadores do ICV
O ICV é composto por três dimensões, chamadas de “instâncias”: 1) fatores que
favorecem o desenvolvimento; 2) características do desenvolvimento; e 3) efeitos do
desenvolvimento. A cada instância associam-se oito indicadores.
QUADRO 7 – Instâncias e indicadores do ICV Instâncias Indicadores
Fatores que favorecem o desenvolvimento (intitulamentos)
Mão de obra familiar em atividade dentro ou fora da unidade
Área da unidade de produção familiar
Escolaridade
Condições da moradia
Acesso a mercados
Acesso a políticas públicas (Pronaf, bolsa-família...)
Acesso a crédito e assistência técnica
Presença de instituições que favorecem o desenvolvimento rural
Características do desenvolvimento (elementos de conversão)
Renda familiar
Produtividade do trabalho
Produtividade da terra
Diversificação da produção agrícola
Pluriatividade, diversificação nas fontes de renda familiar
Uso e preservação dos recursos naturais: água
Uso e preservação dos recursos naturais: solo
Uso e preservação dos recursos naturais: vegetação nativa
Efeitos do desenvolvimento (capacitações e funcionamentos)
Estar bem alimentado / nutrido
Ter boa saúde
Permanência dos membros da família da unidade de produção
Percepção sobre as mudanças na situação econômica da família
Percepção sobre as mudanças na situação ambiental da unidade
Participação social (cooperativas, associações)
Participação política (eleições, conselhos, assembléias)
Participação cultural (grupos de expressão cultural, outras atividades)
Cada indicador está baseado em uma ou mais questões do questionário Q4. Esses
indicadores são avaliações registradas em escalas de cinco pontos, desde 1
(péssimo) até 5 (ótimo), em algumas variações. A base está nas respostas dos
indivíduos levando em conta suas famílias. O que se buscou foi a percepção desses
indivíduos ou famílias sobre as condições de vida no território.
7.3) A coleta dos dados e cálculo dos indicadores de condições de vida
A pesquisa de campo se realizou mediante a aplicação do questionário. A unidade
amostral foi definida a partir dos setores censitários propostos pelo Instituto
51
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Quadro 8 apresenta os municípios, o
número de setores censitários e o número de questionários aplicados. Portanto, para
a composição do ICV para o Território contamos com 270 questionários (Q4) que
entraram no cálculo do Índice conforme demonstramos a seguir.
QUADRO 8 – Demonstrativo das áreas censitárias por município no Território
Municípios Setores censitários Questionários aplicados
Axixá -- 00
Bacabeira 1 27
Barreirinhas 2 54
Cachoeira Grande 1 27
Humberto de Campos 1 27
Icatú 1 27
Morros 1 27
Paulino Neves -- 00
Presidente Juscelino 1 27
Primeira Cruz -- 00
Rosário 1 27
Santo Amaro do Maranhão 1 27
Total de questionários aplicados
270
FONTE: SGE/ICV
A realidade do trabalho de campo indicou que nem todos os domicílios rurais
possuíam produção. Entre os que possuíam, alguns praticavam agricultura familiar,
outros não. Logo, o ICV foi obtido em uma das situações: sem produção, com
produção familiar e com produção não familiar. Os domicílios sem produção não
tinham elementos para informar sobre os indicadores das instâncias 1 e 2. Por isso,
o ICV só incluiu os dados da instância 3. Para os casos com produção, o ICV foi
calculado conforme sua concepção original, considerando as três instâncias. O
cálculo é feito pela média aritmética de cada indicador baseada na quantidade de
questionários aplicados com respostas válidas do indicador. No caso dos
indicadores 1 e 7, foram utilizadas duas questões para medi-los.
7.4) Características dos respondentes
As principais características dos respondentes estão apresentadas no Quadro 9.
52
QUADRO 9 – Características da população
Faixa etária Sexo Agricultor familiar Até 25 25-40 Acima 40 F M
Total 24 169 77 161 109 150
Percentual 8,89 62,59 28,52 59,63 40,37 55,76 FONTE: SGE/Índice de Condições de Vida
Dois dados chamam a atenção no Quadro 9. O primeiro relativo ao sexo dos
respondentes, cuja maioria (cerca de 60%) foi de mulheres que devemos
compreender como sendo resultado do momento da pesquisa, quase sempre feita
durante os dias da semana e no horário diurno quando os homens estão no roçado
e apenas as mulheres estão em casa. O outro dado é a pequena quantidade de
agricultores familiares de apenas 55% quando nas outras regiões do Estado esse
número na área rural está acima de 80%. A explicação está relacionada com a
condição ambiental da região que está estabelecida, em grande parte, no litoral que
permite que muitas famílias, apesar de desenvolverem atividades agrícolas, se
considerarem pescadores.
Dos 270 respondentes, 218 (80,74%) exploram área menor que 4 módulos fiscais,
sendo que, para 213 (78,89%) respondentes a própria família é quem trabalha na
produção e para 159 (58,9%) a renda familiar vem principalmente da produção.
Desses números pode-se extrair que, em função das condições dos solos, a
quantidade de área disponível para o uso das famílias é pequena, o que, de certa
forma, inviabiliza a melhoria econômica das famílias e exige que grande parte se
desdobre em duas profissões: agricultura e pesca. Uma outra análise está
relacionada ao próprio conceito da agricultura familiar, quando relaciona que a mão
de obra seja fundamentalmente das próprias famílias, característica bem demarcada
por esses números, que são confirmados pelas próprias palavras dos respondentes
(55%) que afirmam serem agricultores familiares. E uma terceira avaliação é o
grande percentual de famílias cuja renda depende da produção agropecuária, que
vai de encontro às afirmações de que a renda dos moradores dessas áreas venham
de transferências dos programas federais.
Nas 270 residências pesquisadas foram encontradas 1.254 pessoas morando no
próprio estabelecimento, o que implica em uma média de 4,6 pessoas/família dentro
do que aponta o IBGE para a área rural maranhense. Dessas, 771 (61,5%)
53
possuíam idade para trabalhar, sendo que 538 pessoas (42,90%) trabalham só nos
estabelecimentos, 139 pessoas (11,08%) trabalham fora do estabelecimento, 94
pessoas (7,5%) trabalham no estabelecimento e também fora. Nesse caso, o total
de 483 pessoas (38,52%), que não exercem atividades produtivas (crianças e
idosos).
A média de pouco mais de duas pessoas trabalhando não permite que os
estabelecimentos agrícolas consigam alcançar uma área trabalhada maior que dois
hectares. A produção de 900 kg/ha/trabalhador/ano de mandioca de acordo com os
dados obtidos pelo LABEX nessa pesquisa e das atividades de outros projetos no
Território, indica uma produção de 60 sacos (3.600 kg) por família/ano. O consumo
médio de 300 g/dia/pessoa ou 503,7 kg/ ano permite uma sobra de 3.096,3 kg (51,6
sacos) que comercializado a R$ 60,00 gera uma receita de R$ 3.096,30/ano ou R$
258,03/mês/família ou R$ 56,1/mês/indivíduo. Esse valor está muito abaixo do
necessário para que uma família ou uma pessoa consiga ter uma vida razoável.
Os dados sobre escolaridade mostrou que em 46,29% das residências entrevistadas
todos os seus moradores com mais de 15 anos eram alfabetizadas, percentual que
está bem abaixo do índice encontrado no Maranhão (55,2%), mas acima da média
do Território (42,7%)9. Esse dado é completado por outro que mostra que em
49,26% das residências todos os membros em idade escolar estavam frequentando
a escola, número preocupante, pois isso significa que metade desses membros está
fora da escola e, mesmo que grande parte das residências estejam em áreas com
uma certa distância das sedes dos municípios, mostra que há um grande déficit
educacional no território.
Quando consultados sobre o que a casa da família possuía de bens de uso duráveis
e de infraestrutura de saneamento básico, 163 respondentes (62,22%) afirmaram ter
energia elétrica no domicilio, 42 respondentes (15,55%) afirmaram que a água para
consumo da família é dentro ou próxima a casa, 22 informaram (8,14%) que o
banheiro ficava dentro do domicilio, 41 (15,18%) afirmaram possuir fogão a gás, 27
9 Fonte: Mapa do analfabetismo do Brasil (INEP, 2002), adaptado para o PTDRS.
54
(10,00%) disseram possuir geladeira, 14 (5,18%) afirmaram fazer uso de telefone e
nenhum dos entrevistados possuía computador.
Entre todos esses dados o percentual de mais de 37% das residências sem energia
elétrica é que mais impacta em função da determinação do governo federal de por
esse tipo de energia em todas as casas do país, então esse ainda é um número
muito fora da realidade, considerando os dados apresentados pela concessionária
de energia do Estado. Os dados sobre o uso do telefone e da ausência de
computador, também choca, mostrando, especialmente, o baixo poder aquisitivo das
famílias rurais do território.
Os dados relativos às características das áreas, em especial à mão de obra
existente, os respondentes afirmam que tanto a quantidade disponível (75%) quanto
a qualidade (75%) dessa mão de obra está dentro de um patamar bastante razoável.
Percentual semelhante às condições dessas áreas. Esses números afirmam uma
tendência que está estabelecida ao longo de todo o diagnóstico em que os
respondentes apontam saldo positivo às questões cujas responsabilidades são das
próprias famílias, ao contrário das questões cujas responsabilidades extrapolam as
cercas desses estabelecimentos.
7.5) Análise das condições de vida
A partir do Quadro 10 apresentamos a análise de cada indicador.
QUADRO 10 – Indicadores do Índice de Condições de Vida
Índice de condições de vida Territorial
Agricultura familiar
Com produção
Sem produção
0,493 0,483 0,491 0,591
Fatores do Desenvolvimento 0,458 0,447 0,458 0,000
Características do Desenvolvimento 0,466 0,458 0,466 0,000
Efeitos do Desenvolvimento 0,569 0,557 0,564 0,591
FONTE: SGE/Índice de condições de vida
Como se pode perceber os indicadores são muito semelhantes, estando todos na
condição média independente do tipo, como se pode perceber do Quadro 12. Uma
análise mais profunda será apresentada na sequência, mas é interessante se
55
perceber que há um crescente na avaliação desses dados, sendo o ítem mais bem
avaliado o referente aos efeitos do desenvolvimento, seguido pelas características e,
por último, os fatores do desenvolvimento, o que, por princípio, não teria uma lógica
muito fácil de ser explicada.
QUADRO 11 – Fatores de desenvolvimento
Fatores Territorial
Agricultura familiar
Com produção
Sem produção
0,458 0,447 0,458 ---
Área utilizada para produção 0,561 0,558 0,561 0,000
Condições de moradia 0,551 0,555 0,551 0,000
Escolaridade 0,538 0,542 0,538 0,000
Mão de obra familiar 0,525 0,523 0,525 0,000
Números de famílias trabalhando 0,524 0,522 0,524 0,000
Presença das instituições 0,471 0,470 0,471 0,000
Programas de governo 0,362 0,355 0,362 0,000
Acesso aos mercados 0,361 0,325 0,361 0,000
Acesso a credito 0,307 0,278 0,307 0,000
Acesso a assistência técnica 0,277 0,238 0,277 0,000 FONTE: SGE/Índice de Condições de Vida
Os dez itens que compõem a primeira parte do Índice de Condições de Vida são
chamados de fatores de desenvolvimento. Entre estes fatores relacionam-se
aqueles cuja responsabilidade está relacionada à decisão das famílias direta (área
utilizada para produção, mão de obra) e indiretamente (condições de moradia,
escolaridade, número de famílias trabalhando) que aparecem com notas bem acima
da média, ao contrário dos itens cuja responsabilidade ultrapassam os limites das
unidades produtivas.
Alguns desses dados são fáceis de compreender, pois se relacionam com as
condições já apresentadas anteriormente, nesse próprio documento. Já foi citado
que as secretarias de agricultura dos diversos municípios do território não possuem
cadastro dos estabelecimentos agrícolas e dos respectivos produtores rurais. Assim,
as únicas informações sobre o tamanho dos estabelecimentos agrícolas são
apresentadas pelo IBGE e pelo INCRA. O INCRA (SIPRA, 2010 citado no PTDRS,
2011) aponta a presença de 126 assentamentos de reforma agrária no território com
7.612 famílias dentro de uma área total de 349.788,8419 ha o que dá uma média de
45,5 ha de área por lote (família). Já o IBGE no Censo Agropecuário (IBGE, 2006)
identifica 13.081 estabelecimentos agrícolas no território com uma área total de
56
371.557 ha, o que dá uma média de 28,4 ha por imóvel, ou ainda, uma área de
12.286 ha quando conta apenas as áreas da agricultura familiar, sendo que, nesse
caso, a quantidade de imóveis atinge o total de 122.211, passando a área média
para apenas 9,95 ha. Em qualquer das situações apresentadas, como a área
produtiva tem variado entre 2 a 3 ha, o número apresentado está bem acima do
necessário.
Na área rural desse território não há dificuldades para a construção de moradias,
apesar dos prejuízos ambientais causados pela supressão de parte da vegetação
que tem sido utilizada para construção das residências. Mesmo assim, não há muito
problema, como se percebe pelas afirmações das famílias entrevistadas. Os dados
sobre escolaridade mostram que apesar do alto percentual de analfabetismo no
território, as famílias tem considerado de grande importância a condição que vem
acontecendo em todos os municípios, referente a educação básica que permite ter
escolas e aulas a todas as crianças das primeiras séries.
A disponibilidade de terra10 e de água permite que todas as famílias consigam se
estabelecer ao longo do território e executem ações voltadas para a agricultura e a
pesca. Nesse sentido, a disponibilidade de mão de obra é sempre comemorada por
todos os setores, incluindo as próprias famílias que conseguem produzir dentro do
que as suas condições permitem. Ou seja, para um bom percentual das famílias que
foram entrevistadas, a quantidade de famílias existentes na área rural tem
conseguido produzir o suficiente para resolver suas próprias necessidades, até
porque possuem mão de obra suficiente.
As respostas apresentadas comprovam que mesmo que as associações e sindicatos
tenham pouca ou nenhuma participação no Colegiado Territorial possuem uma certa
importância. Em função das respostas sobre crédito (agências financeiras),
assistência técnica (ONG’s que executam o programa ATES ou ATER, AGERP e
secretarias de agricultura) e programas de governo (secretarias e órgãos federais,
estaduais ou municipais) estarem bem abaixo da média, é possível compreender
10
Mesmo agora, com todas as atividades turísticas, a chegada da refinaria Premium, a pressão externa causada
pelas monoculturas de soja e eucalipto e a implantação de várias unidades de conservação, não há conflitos de
terra e nem falta de áreas para trabalhar.
57
que as respostas sobre as instituições estão relacionadas com as instituições de
representação, que são as associações e sindicatos. É importante lembrar que no
território as cooperativas são praticamente inexistentes.
Programas de governo nos três níveis tem uma grande dificuldade de chegar nas
áreas mais distantes, incluindo programas genéricos como o “Luz Para Todos” ou o
“Programa de Reforma Agrária”. Mesmo o acesso à educação e à saúde deixam
muito a desejar e os respondentes apontam nas suas respostas que, apesar de
existir, não chegam a ser suficientes para atender ao conjunto da população.
Sobre as características da comercialização, 222 entrevistados (82,22%), avaliaram
como "mais para ruim" a atuação dos intermediários; para 242 (89,63%) as
condições para ir ao mercado também era "mais para ruim"; 235 (87,04%) avaliam
como "mais para ruim" as condições para compra de insumos e 215 (79,63%),
fizeram uma avaliação também de "mais para ruim" para a venda dos produtos. Ou
seja, comercialização é um problema histórico para todas as famílias de agricultores
familiares desse e de todos os outros territórios do Maranhão. Não há, em nenhum
caso, nesse território, em qualquer época, além dos centros de comercialização
propostos pelo Colegiado Territorial, qualquer outra proposta para desenvolver
ações de apoio à comercialização. Portanto, os resultados não poderiam ser
diferentes do que está posto neste documento.
A ausência de técnicos na maioria das secretarias de agricultura e a pouca atuação
da AGERP fazem com que as ações relativas que permitam o acesso ao crédito
bancário sejam bastante ineficazes. Não há pesquisa que aponte as vantagens
desse tipo de crédito na vida das famílias do território. O acesso ao crédito por parte
dos pescadores é mínimo e apenas 1.237 famílias de agricultores foram
beneficiadas com o crédito do PRONAF em 2011 de acordo com os dados do site
Territórios da Cidadania (www.territoriosdacidadania.gov.br). Esse número é irrisório
se considerarmos que o território conta com mais de 40.000 famílias morando na
área rural.
De todas as secretarias de agricultura instaladas nos municípios do território apenas
nos municípios de Bacabeira, Rosário, Icatu, Morros, Humberto de Campos e
58
Barreirinhas existe uma equipe técnica. Ou seja, em metade dos municípios as
secretarias não possuem sequer um técnico em agropecuária que possa
acompanhar as famílias em relação às suas dificuldades técnicas. Como a AGERP
também não possui técnicos nesses municípios, entende-se plenamente porque os
respondentes consideram esse item o de pior qualidade entre todos os fatores
capazes de propiciar o desenvolvimento.
QUADRO 12 – Características do desenvolvimento
Características Territorial
Agricultura familiar
Com produção
Sem produção
0,466 0,458 0,466 ---
Conservação das fontes de água 0,549 0,548 0,549 0,000
Conservação da área de produção 0,527 0,543 0,527 0,000
Produtividade da terra 0,503 0,483 0,503 0,000
Renda familiar 0,467 0,462 0,467 0,000
Preservação da vegetação nativa 0,466 0,458 0,466 0,000
Produtividade do trabalho 0,461 0,438 0,461 0,000
Diversificação da produção agrícola 0,411 0,400 0,411 0,000
Diversificação das fontes de renda 0,341 0,332 0,341 0,000 FONTE: SGE/Índice de Condições de Vida
As características apontadas para o desenvolvimento apresentam, a partir das
respostas dos entrevistados, um dado muito importante: todos os itens sobre
ambiente estão entre os mais bem avaliados (Quadro 12). Lembramos, aqui, que
esse território possui três unidades de conservação, sendo uma delas o Parque
Nacional dos Lençóis Maranhenses, que é de responsabilidade do ICMBIO11. As
outras duas são: a APA da Foz do Rio Preguiças / Pequenos Lençóis / Região
Lagunar Adjacente que abrange os municípios de Barreirinhas e Paulino Neves e a
APA Upaon-Açu / Miritiba / Alto Preguiça, ambas estaduais, de responsabilidade da
Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
É fundamental relembrar, ainda, que o território possui quatro grandes bacias
hidrográficas que banham todos os seus municípios. Essas bacias possuem uma
infinidade de pequenos rios, de forma que, praticamente todas as comunidades
rurais são banhadas por algum pequeno afluente desses rios maiores. Com esses
dados é fácil entender os motivos pelos quais os respondentes apontaram a
11
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é um órgão do Ministério do Meio Ambiente
responsável pelas unidades de conservação.
59
conservação das fontes de água como a característica mais importante ao processo
de desenvolvimento.
Apesar das condições do solo, em sua maior parte formada por areias quartzosas, a
quantidade de área cultivada pelos produtores rurais é apenas o suficiente para
alimentar os membros das suas famílias, não causando impactos de grande porte. A
quantidade de animais criados não representa um número que provoque
compactação dos solos ou degradação da vegetação pré-existente, de forma que as
áreas de produção permanecem relativamente preservadas, como observaram os
moradores que foram entrevistados nessa pesquisa. Os dados de área comprovam
essa indicação dos moradores do território. Para uma área total de 14.374,9 km², o
território possui uma área utilizada de 371.557 ha, o que é menos de 26%, ou seja, a
quantidade ocupada não tem uma grande representatividade e isso indica que
grande parte da área ainda não foi ocupada ou está em pousio.
Quase inversamente proporcional à preservação das áreas produtivas a
produtividade da terra é relativamente baixa, até em função da baixa qualidade dos
solos. Sendo assim, o entendimento das respostas só pode ser compreendido
dentro de um processo de comparação com essa mesma produtividade encontrada
em períodos anteriores, pois ao longo do tempo, essa produtividade vem tendo
queda, mesmo que a variação não seja tão grande.
A renda das famílias é um dado importante para avaliar como a política territorial
está moldando modificações no processo de redução das desigualdades sociais. Os
dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006) e do PIB do Maranhão 2004-2008
(IMESC, 2009) apontam que cada estabelecimento produtivo do território.
apresentou uma renda média em torno de 1,5 salário mínimo. Esse valor tem uma
grande variação entre o município de maior renda – Barreirinhas, com 5,22 salários
mínimos – e o de menor renda – Primeira Cruz, com 0,55 salário mínimo. A renda
tão divergente entre dois municípios do território, dentro da mesma microrregião
demonstra que as desigualdades continuam grassando de uma forma muito forte,
mesmo se passando quase dez anos da instalação da política. Não fica claro,
portanto, qual a percepção dos respondentes que dão uma nota média ao fator
renda.
60
Os respondentes apontaram que a vegetação nativa tem um nível de preservação já
tendendo a um nível perigoso. Essa posição dos respondentes deve causar um nível
de alerta bastante importante, principalmente porque grande parte da vegetação da
região deveria estar preservada dentro das unidades de conservação. O alerta deve
ser não só para o Colegiado e seus parceiros, mas especialmente, as secretarias e
os órgãos relacionados com a temática. Se relacionarmos que no território temos
apenas quatro secretarias de meio ambiente, a responsabilidade se torna muito
maior para as secretarias de agricultura. O ICMBIO passa a ser o órgão de maior
importância para esse tema, juntamente com a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente, considerando a condição já citada das três unidades de conservação.
QUADRO 13 – Evolução da população do Território Lençóis Maranhenses / Munim
Município 2000 2007
Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Axixá 1.202 (11,8%)
8.940 (88,2%)
10.142 (100%)
1.841 (12,9%)
12.408 (87,1%)
14.249 (100%)
Bacabeira 1.892 (18,0%)
8.624 (82,0%)
10.516 (100%)
3.156 (21,6%)
11.455 (78,4%)
14.611 (100%)
Barreirinhas 13.209 (33,3%)
26.460 (66,7%)
39.669 (100%)
18.024 (37,7%)
29.826 (62,3%)
47.850 (100%)
Cachoeira Grande
2.852 (38,6%)
4.531 (61,4%)
7.383 (100%)
3.472 (39,3%)
5.359 (60,7%)
8.831 (100%)
Humberto de Campos
6.240 (29,3%)
15.026 (70,7%)
21.266 (100%)
7.744 (31,9%)
16.531 (68,1%)
24.275 (100%)
Icatu 6.272 (29,2%)
15.217 (70,8%)
21.489 (100%)
5.715 (23,4%)
18.717 (76,6%)
24.432 (100%)
Morros 4.946 (33,9%)
9.648 (66,1%)
14.594 (100%)
5.303 (31,0%)
11.774 (69,0%)
17.077 (100%)
Paulino Neves 3.413 (29,6%)
8.113 (70,4%)
11.526 (100%)
3.260 (25,5%)
9.539 (74,5%)
12.799 (100%)
Presidente Juscelino
2.715 (25,4%)
7.978 (74,6%)
10.693 (100%)
4.067 (34,7%)
7.638 (65,3%)
11.705 (100%)
Primeira Cruz 3.759 (34,1%)
7.260 (65,9%)
11.019 (100%)
4.032 (33,6%)
7.967 (66,4%)
11.999 (100%)
Rosário 21.765 (64,7%)
11.900 (35,3%)
33.665 (100%)
21.936 (57,8%)
15.984 (42,2%)
37.920 (100%)
Santo Amaro do Maranhão
2.933 (30,5%)
6.679 (69,5%)
9.612 (100%)
3.241 (29,1%)
7.914 (70,9%)
11.155 (100%)
FONTE: Censo Demográfico (IBGE, 2000) e
O aumento da taxa de urbanização do território nem foi tão grande no período de
2000 a 200712, mas foi o suficiente para reduzir o número de pessoas trabalhando na
lavoura. Os dados apresentados no Quadro 13 demonstram que mesmo havendo
uma redução relativa, os números absolutos aumentaram e, em muitos municípios, o
12
De acordo com os dados do Anuário Estatístico do Maranhão (IMESC, 2009)
61
número de pessoas na área rural até aumentou. Então há que se explicar de outra
forma essa preocupação com a redução da produtividade do trabalho. Podemos
considerar que está havendo um deslocamento das pessoas da produção agrícola
para outras atividades, ou que parte dos jovens estejam ficando na escola e não
tenham mais atividades no roçado.
A produção agrícola do território é bastante variada, mas grande parte do que se
produz tem uma produção pequena, apenas o suficiente para alimentar os membros
das próprias famílias, tendo muitos casos em que a produção não é, sequer,
suficiente para garantir a alimentação durante o ano todo. Esses números vem se
reduzindo, sistematicamente, ao longo das últimas décadas, de forma que o
resultado da pesquisa não traz qualquer novidade para quem desenvolve atividades
no território.
Sem qualquer dúvida, colocar a diversificação das fontes de renda como o item de
pior avaliação entre todos aqueles que correspondem às características do
desenvolvimento, dá um tom de grande importância para o trabalho do Colegiado
Territorial. Em todos os municípios, as atividades rurais concentram-se em uma
agricultura familiar baseada no modelo denominado “roça no toco”, cujas culturas
principais são: mandioca, milho, feijão e arroz. À exceção da mandioca, da qual se
produz a farinha, que é o produto básico comercializável, as outras culturas são
todas utilizadas na alimentação diária das famílias. Acrescenta-se a estes produtos,
o peixe marinho ou de água doce e as frutas de estação. Se as famílias forem
prioritariamente pescadoras a renda vem, naturalmente, da pesca e se forem
agricultoras, essa renda vem da produção de farinha. Não havendo outra atividade,
as fontes de renda produtivas ficam bastante limitadas.
O indicador “permanência das famílias no domicílio” é o mais bem avaliado entre
todos os pesquisados, atingindo um valor acima de 0,7. É um dado bastante
interessante, pois demonstra que as famílias, apesar de todas as pressões em favor
do êxodo em direção às cidades, permanecem nas áreas rurais (Quadro 14). E é
mais interessante quando são as próprias famílias que apontam essa permanência
como um indicador de importância principal e que são, exatamente, as famílias sem
produção que são mais bem avaliadas. Podemos indicar que os efeitos do
62
desenvolvimento, nesse sentido, tem apontado para a manutenção das famílias nas
suas comunidades
QUADRO 14 – Efeitos do desenvolvimento
Efeitos Territorial
Agricultura familiar
Com produção
Sem produção
0,569 0,557 0,564 0,591
Permanência das famílias no domicilio 0,716 0,717 0,703 0,717
Situação econômica 0,657 0,642 0,646 0,706
Participação em organizações comunitárias 0,579 0,563 0,578 0,627
Condições de alimentação e nutrição 0,577 0,553 0,57 0,593
Participação em atividades culturais 0,573 0,538 0,566 0,588
Condições de saúde 0,513 0,493 0,505 0,554
Participação política 0,484 0,482 0,491 0,446
Situação ambiental 0,452 0,467 0,453 0,441 FONTE: SGE/Índice de Condições de Vida
A “situação econômica” também surpreende ao ser avaliada como positiva. A renda,
já apresentada anteriormente, mostra que há uma grande variação entre os
municípios, com valores bem acima e bem abaixo da média. Admitir que a renda
esteja acima da média nos parece indicar que as famílias admitem que as condições
econômicas atuais são suficientes para a manutenção dos seus membros, mesmo
não sendo o ideal. Não há dados que nos permitam identificar se a renda a que se
referem os respondentes é aquela oriunda da produção ou se se relaciona a todas
as rendas acessadas na área rural, incluindo as rendas de transferência. Nos parece
um bom tema para se pesquisar. O LABEX pretende aprofundar esse tema na
pesquisa para a dissertação do mestrado do atual técnico da Célula de
Acompanhamento e Informação que concorre ao Mestrado em Desenvolvimento
Socioespacial e Regional.
A “participação em organizações comunitárias” deve ser visualizada como uma
forma de enfrentamento das mais diversas situações que se desenrolam no interior
das comunidades rurais e entre comunidades e áreas urbanas do território. Ali
acontecem organizações do tipo associação (de moradores ou de produtores),
colônias de pescadores e sindicatos de pescadores e de trabalhadores rurais. Um
grande número de moradores participa dessas organizações, apesar de que nem
sempre há unanimidade sobre os motivos e os significados dessa participação. Se a
análise dos respondentes se estabelece na participação pura, então o valor
63
apresentado aqui pode até ser considerado baixo, mas se esse número se refere a
um envolvimento mais ideológico, esse valor deve ser questionado, pois as
organizações tem sido muito questionadas nas suas diversas funções. A ausência
dessas organizações é muito sentida no Colegiado Territorial, cujo tipo de
organização que mais se envolve são as governamentais. De qualquer forma, pode-
se considerar que a presença dessas organizações comunitárias tem permitido um
empoderamento das populações tradicionais como pode ser comprovado pelos
resultados dessa pesquisa.
As “condições de alimentação e nutrição” apesar de não serem as melhores indicam
que são bastante satisfatórias. No território, considerando as condições ambientais e
produtivas, sobra produtos extrativos ao longo de todo o ano, que somados aos
produtos agrícolas, permitem que as famílias consigam acessar alimentos em
quantidade e qualidade suficiente. Levantamento da produção feita pelo SEBRAE
em Cachoeira Grande entre os anos 2006 e 2007 apresenta dados muito
interessantes. Em dez comunidades rurais que somavam 390 famílias produtoras
foram plantados 295,92 hectares de mandioca “solteira” e 73,98 hectares com um
consórcio de mandioca, milho e arroz, com um total de 369,9 hectares e uma média
0,95 hectares / família. A produtividade média encontrada dessas culturas foi a
seguinte: 12.394,78 kg/ha (mandioca solteira), 9.915,82 kg/ha (mandioca
consorciada), 440 kg/ha (milho) e 368 kg/ha (arroz). Os dados apenas do arroz
indicam que após beneficiamento cada família obtém 244,72 kg para alimentar seus
cinco membros, o que permite uma quantidade diária de 0,680 g/dia/família,
suficiente para a manutenção de toda a população.
A “participação em atividades culturais” deve ser entendida como o envolvimento
dos respondentes com as diversas atividades desenvolvidas no território. Desse
ponto de vista podemos compreender a avaliação ter sido apenas mediana, isso
porque esse território tem uma efervescência cultural gigantesca, em especial na
microrregião do Munim. Em todos os municípios dessa microrregião há pelo menos
dez tipos de manifestações culturais muito conhecidas e executadas ao longo de
todo, mas muito especialmente no período relativo às festas juninas, evidenciando-
se o “bumba meu boi de orquestra” originário dessa região. Não se tem um valor
exato de quantas famílias estão envolvidas nessas atividades culturais entre as
64
pessoas que brincam, as que trabalham na confecção dos diversos tipos de objetos
que compõem vestimentas e instrumentos e as que administram o funcionamento
das atividades, mas é um número bastante ostensivo a ponto de ser uma referência
para toda o Estado.
As “condições de saúde” aparecem como o primeiro indicador abaixo de 0,5.
Cumpre relembrar que a saúde é um problema bastante sério não só no território
como no conjunto do Estado. Os dados apresentados no PTDRS, a partir de
informações do DATASUS (2007), indicam uma relação de apenas 1,83 leitos/1000
habitantes e 0,8 médico/1000 habitantes. Esses números indicam a frágil situação
em que se encontram as famílias rurais, pois grande dos leitos e dos médicos
apontados nesses dados só estão disponíveis nas sedes dos municípios,
inviabilizando o acesso aos moradores das comunidades mais distantes e tornando
difícil para qualquer habitante da zona rural.
A “participação política” é um indicador que relaciona todos os questionamentos que
as famílias rurais possuem ao modelo de se fazer política que predomina no
território, modelo, aliás, que predomina em todo o Estado, em especial nos
municípios com menos de vinte mil habitantes. São nesses municípios que
predominam a transmissão hereditária de poder entre as elites locais. Essa forma de
exercício político que fomenta a corrupção miúda é tão nociva quanto a corrupção
grandiosa que desvia milhões e os exemplos cansam de ser visualizados pelos
moradores. Os projetos do PROINF podem ser percebidos em diversos municípios
do território, com prédios que estão construídos “pela metade” ou que foram
construídos e não estão funcionando. Enfim, mesmo que não se possa ter os
culpados criminalizados, questionar a forma de fazer política é demonstrar a
discordância desse modelo.
A “situação ambiental” analisada pelos respondentes mostra toda a insatisfação com
a proposta dos poderes públicos para administração das unidades de conservação
existentes no território ou com a manutenção do ambiente local, considerando o
litoral e todo o conjunto de água doce. Há uma discriminação dos indicadores
citados nas características em relação aos efeitos do desenvolvimento. No primeiro
caso os respondentes consideram que as ações que ele próprios desenvolvem tem
65
surtido os resultados necessários, mas que não tem sido suficiente para permitir ter
um ambiente saudável, dependendo da postura dos órgãos dos governos em todos
os níveis.
Buscando uma análise integrada entre as três dimensões, pode-se considerar que
há uma relação direta entre a área utilizada na produção, a mão-de-obra familiar, o
número de famílias trabalhando (fatores do desenvolvimento) diretamente
relacionados com a conservação das fontes de água e das áreas de produção que
implica em uma boa produtividade da terra e do trabalho, mas especialmente em
boas condições ambientais que resulta na permanência das famílias nos domicílios
e na situação econômica, como efeitos do desenvolvimento.
No outro extremo percebe-se que os fatores que mais dificultam o desenvolvimento
(acesso aos mercados, ao crédito e à assistência técnica) estão diretamente
relacionados às características que se apresentam com mais fragilidade
(produtividade do trabalho, diversificação da produção agrícola e das fontes de
renda) gerando como resultado, em especial, uma desestruturação do ambiente
local e uma descrença no modelo político estabelecido (efeitos do desenvolvimento).
Enfim, percebe-se claramente que há uma relação direta e positiva entre os fatores
e as características que dependem das famílias rurais que levariam a efeitos
benéficos a essas próprias famílias para redução das desigualdades sociais e,
inversamente, existe uma relação negativa entre os fatores que são de
responsabilidade do Estado e essas mesmas características, levando aos efeitos
negativos.
8) UMA ANÁLISE INTEGRADORA DE INDICADORES E CONTEXTO
O PTDRS qualificado dos Lençóis Maranhenses / Munim ainda na sua introdução,
faz um conjunto de observações relacionadas à primeira fase (2004 - 2009) da
política territorial nesse território. A crítica não é feita à SDT/MDA, como responsável
direta pela política, mas especialmente às instituições públicas estaduais (AGED13,
13
Agência de Defesa Agropecuária do Maranhão
66
AGERP14, diversas secretarias) e federais (INCRA, CONAB, ICMBIO) que não
conseguem formular uma agenda comum, de modo que, percebe-se claramente, a
falta de sinergia e uma elevada taxa de retrabalho, de modo que as ações dispersas
tem promovido uma perda da capacidade de sensibilização e persuasão dos
programas e projetos junto às comunidades.
Por outro lado, fica claro que os programas de governo – incluindo assistência
técnica e o acesso aos créditos – não tem ajudado na diversificação da produção
agrícola e das fontes de renda, o que trás como efeito más condições de saúde,
pouca participação política e uma situação ambiental de má qualidade.
As observações desse documento avançam sobre os projetos de infraestrutura que
não vem conseguindo resolver problemas fundamentais das populações rurais,
especialmente por esses projetos não estarem alcançando a condição de projetos
estruturantes.
Essas duas observações são importantes, pois apontam na mesma direção dos
resultados apresentados nesse relatório. Do ponto de vista dos dados apontados
aqui, destacamos alguns pontos fundamentais para análise apresentados a seguir.
8.1) Agricultura familiar
De acordo com os dados do IBGE (2008) o território Lençóis Maranhenses / Munim
possui 201.574 habitantes dos quais 64,65% vivem no meio rural. Ao considerar que
o percentual de habitantes rurais são todos agricultores familiares e/ou pescadores
temos mais de 26.000 famílias desenvolvendo esse tipo de atividade. Parte desse
número – cerca de 7.600 famílias – é de assentados de reforma agrária e outra parte
são quilombolas distribuídos em várias comunidades de sete municípios do território.
Esses dados confirmam que a agricultura familiar tem um nível de importância muito
grande e isso ficou devidamente comprovado em toda a pesquisa, atingindo o maior
índice (0,782) entre todos os indicadores de identidade territorial. Infere-se daqui que
14
Agência de Extensão Rural e Pesquisa do Maranhão
67
há grandes problemas de percepção no território no que se refere à importância
desse modelo de agricultura e dos agricultores familiares. Em relação à gestão dos
projetos pode-se considerar que há pouca preocupação por parte dos gestores,
percebida pela pouca quantidade de projetos em execução e, menos ainda, por ter
os projetos aprovados não implantados. O índice de condições de vida fortalece
essa avaliação, pois entre as dimensões do desenvolvimento, a agricultura familiar é
a que tem a menor avaliação.
É importante lembrar que o Território praticamente não possui atividades do
agronegócio, proibida por lei em Barreirinhas e pela própria condição ambiental
característica da região. Vê-se uma relação direta entre a grande quantidade de
agricultores familiares, a ausência do agronegócio e a manutenção de um ambiente
sadio, apresentado aqui, tanto pela importância dada na identidade territorial onde
esse indicador tem a segunda melhor avaliação (0,768), quanto pelas características
do desenvolvimento apresentadas no índice de condições de vida em que tem os
melhores indicadores avaliados, dados esses que devem estar relacionados com as
condições biofísicas locais que levaram à criação de um conjunto de unidades de
conservação no território que representam quase dois milhões de hectares.
8.2) Política local
A forma de se fazer política no território, determinada por um forma de gestão ser
fortemente municipalizada, apesar da política territorial estar sendo executada desde
2004 e da presença de um consórcio intermunicipal que abrange todos os doze
municípios, pode ser responsável pelos piores indicadores de identidade territorial15,
pela péssima condição na gestão dos projetos, pelos piores indicadores de
capacidade institucional16 e pelos piores indicadores dos fatores de
desenvolvimento.
Esse modelo de gestão prioriza as atividades urbanas em detrimento das atividades
rurais, fomentando o êxodo rural e a redução da mão de obra na agricultura e na
15
Os piores indicadores de identidade territorial são: político (0,654), pobreza (0,639), colonização (0,635) e
etnia (0,562) 16
Os piores indicadores de capacidade institucional são: mecanismos de solução de conflitos (0,265),
instrumentos de gestão municipal (0,241) e serviços institucionais disponíveis (0,191)
68
pesca. A ausência de comunidades indígenas deixa como única referência de
comunidades étnicas os quilombolas que permeiam em quase todos os municípios
do Munim, mas que tem pouco reconhecimento do conjunto da sociedade do
território. A presença do poder público no acompanhamento das unidades de
conservação, de uma certa forma, inibe a grilagem de terras e qualidade do solo
inibe a entrada da monocultura, então, mesmo que haja uma grande quantidade de
comunidades rurais cujas terras ainda não são tituladas, não há problema de luta
pela posse da terra e, por isso, os governos municipais não dêem a atenção devida
à temática colonização. Etnia e comercialização, dessa forma, estão
irremediavelmente ligados aos serviços institucionais, aos instrumentos de gestão
municipais e aos mecanismos de solução de conflitos. Nessa mesma linha de
raciocínio, pode-se compreender a preocupação dos moradores locais com a
questão ambiental, referenciada na dimensão efeitos do desenvolvimento como o
indicador com a pior avaliação, pois depende de políticas governamentais – criação
de áreas de proteção, fiscalização, relação com as comunidades – todos
relacionados com a gestão municipal e com os serviços institucionais.
8.3) Meio ambiente
As condições ambientais do território, já amplamente apresentadas nesse
documento, sofre de extremos. Para os pesquisadores e os órgãos ambientais, os
problemas mais graves estão relacionados com a degradação sofrida pelos rios que
nominam as quatro bacias hidrográficas que se distribuem em todos os municípios.
Os rios Itapecuru e Munim já apresentam claros sinais desse processo de
degradação com a poluição das suas águas, forte assoreamento em quase toda a
sua extensão e desmatamento das suas matas ciliares. Mesmo com todos os
questionamentos apresentados por esses profissionais não tem havido qualquer
tomada de posição das prefeituras dos municípios por onde esses rios passam no
sentido de minimizar os prejuízos ambientais decorrentes desse tipo de problema.
Outro problema comum que causa prejuízo ao ambiente local é de responsabilidade
dos próprios moradores e se relaciona com as queimadas como forma de
preparação do solo para plantio dos roçados e, mais recentemente, com a
introdução de gado bovino nos ecossistemas da agricultura familiar. Na auto-análise,
69
as famílias admitem que essas ações não tem impactos suficientes para provocar a
degradação do ambiente em que vivem ou nos entornos, passando a
responsabilidade da problemática ambiental às autoridades e governos locais.
No outro extremo dessa situação estão as unidades de conservação criadas pelo
estado nos três níveis de governo. Mesmo entre as unidades que sejam de
responsabilidade do governo do estado onde há pouca fiscalização, o simples fato
dessas unidades existirem cria na população do território um efeito de
responsabilidade em que cada pessoa se determina em cuidar do local onde se
sente “proprietário”. Com isso, as condições ambientais dessas áreas estão
relativamente preservadas em alguns locais e praticamente intactas em outros. É
assim que, para a população local o meio ambiente tem sido cuidado apenas pelos
seus moradores, mas não pelos governos e suas instituições.
9) ALGUMAS PROPOSTAS E AÇÕES PARA O TERRITÓRIO
A partir dos dados apresentados neste relatório, a equipe do LABEX, com base na
experiência de vários anos de trabalho no território, tem se preocupado em fazer
proposições para fundamentar e implementar políticas territoriais, especialmente
voltadas para o desenvolvimento sustentável. Algumas dessas proposições estão
apresentadas a seguir:
1) Regularização das terras do território que ainda aparecem como posse e que
dificultam o desenvolvimento de políticas para a agricultura familiar;
2) Estabelecimento de políticas específicas para a pesca articuladas com as
políticas de agricultura familiar;
3) Fortalecimento das organizações de representação dos agricultores familiares,
pescadores artesanais e artesãos para uma melhor participação nas políticas
territoriais e no colegiado territorial;
4 Definição de uma política agrícola para o território;
70
5) Definição de uma política ambiental territorial articulada nos três níveis de
governo;
6) Fortalecimento do colegiado territorial pelo envolvimento de organizações federais
e estaduais a partir de um apoio mais incisivo da DF/MDA;
7) Maior envolvimento das secretarias de políticas sociais no colegiado territorial e
nos debates das câmaras temáticas;
8) Renovação das câmaras temáticas como forma de dinamizar o colegiado e
fomentar o debate de temas específicos;
9) Fomento às pesquisas e à presença das universidades como forma de gerar
maior nível de informação e de qualificação para o território.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, Ricardo. Bases para a formulação da política brasileira de desenvolvimento rural: agricultura familiar e desenvolvimento territorial. IPEA. Brasilia: IPEA, 1998. 25 p. ALMEIDA, J. Por um outro olhar sobre o desenvolvimento rural. In: ALMEIDA J. (organizador): Políticas públicas e desenvolvimento rural: percepções e perspectivas no Brasil e em Moçambique. Porto Alegre: Ed. Universidade - UFRGS, 2009. P. 5-8. BARRAS, Robert. Os cientistas precisam escrever: guia de redação para cientistas, engenheiros e estudantes. 2ª ed. São Paulo: T.A.Queiroz, 1986. 220p. COOPERATIVA DE SERVIÇOS, PESQUISAS E ASSESSORIA TÉCNICA. Plano
Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável dos Lençóis Maranhenses /
Munim. São Luís: MDA/SDT. 2011.
DUNCAN, Marcelo. Territórios: ordenamento e desenvolvimento. Brasilia: MDA, 2012. 18 p.
MAZOYER, Marcel; ROUDART, Laurence. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. São Paulo: Editora UNESP. Brasilia: NEAD, 2010.
ANEXO 1 - Demonstrativo dos projetos que foram pesquisados
Ano Código
operação Natureza (1) Objeto Proponente
Valor do projeto
Situação contrato
Situação obra
Quest aplicado
2003 157671 Investimento Edificação Barreirinhas 234.667,85 Normal Concluída Q5 e Q6
2004 170530 Investimento
Construção civil, aquisição de móveis e equipamentos, poço artesiano, unidade beneficiadora de castanha de caju e polpa de frutas
Primeira Cruz 302.000,00 Normal Paralisada Q6
2004 169965 Investimento Centro de formação, produção e comercialização do artesanato
Santo Amaro do Maranhão
225.321,98 Normal Concluída Q5 e Q6
2005 180106 Investimento Recuperação fabrica de gelo e aquisição de equipamentos
Axixá 42.780,00 Normal Paralisada Q6
2005 180095 Investimento
Apoio à formação de jovem rural e a produção, aquisição de equipamentos e construção de aviários
Barreirinhas 79.525,00
Liminar judicial - restrição cadastral
Normal Q5 e Q6
2005 180103 Investimento
Construção unidade de beneficiamento de polpas de frutas tropicais e aquisição de equipamentos
Morros 42.100,00 Situação normal
Normal Q6
2005 180098 Investimento Implantação de uma fábrica de gelo e aquisição de equipamentos
Primeira Cruz 53.613,98 Normal Concluída Q5 e Q6
2006 201523 Investimento Apoio à gestão participativa, educação do campo e artesanato
Barreirinhas 145.024,00 Normal Normal Q6
2006 201530 Investimento
Implantação de unidade pedagógica de caprinos, aquisição de transporte ciclomotor e acompanhamento de jovens
Morros 34.435,54 Situação normal
Concluída Q5 e Q6
2008 276567 Investimento Apoio à comercialização Axixá 290.200,00 Normal Não iniciada Q6
Total projetos de investimento no território (2003 a 2010) 1.797.838,19