paisagem, território e urbanidade

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Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Disciplinas: 1601101 - Trabalho Final de Graduação I 1601102 - Trabalho Final de Graduação II Caderno de Apresentação Paisagem, Território e Urbanidade: Repensando a Identidade Regional e Local por meio do Patrimônio Cultural e Ambiental. São Paulo 2015 Denis de Souza e Silva Giannelli Caderno de apresentação do Trabalho Final de Graduação para o curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU USP, apresentado à banca final como síntese dos principais levantamentos, reflexões, críticas, ensaios de projeto, sínteses e desafios. Áreas de Concentração: Urbanismo, Paisagismo, Meio Ambiente, Território, Políticas Públicas, Patrimônio Cultural, Infra-estrutura Territorial, Planejamento de Transportes, Projeto de Estruturas Urbanas, Projeto de Edificações. Prof.ª orientadora: Dr.ª Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO | INFORMAÇÕES INICIAIS | JANEIRO 2015

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Paisagem, Território e Urbanidade: Repensando a Identidade Regional e Local por meio do Patrimônio Cultural e Ambiental. São Paulo, 2015 Denis de Souza e Silva Giannelli Caderno de apresentação do Trabalho Final de Graduação para o curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU USP, apresentado à banca final como síntese dos principais levantamentos, reflexões, críticas, ensaios de projeto, sínteses e desafios. Áreas de Concentração: Urbanismo, Paisagismo, Meio Ambiente, Território, Políticas Públicas, Patrimônio Cultural, Infra-estrutura Territorial, Planejamento de Transportes, Projeto de Estruturas Urbanas, Projeto de Edificações. Prof.a orientadora: Dr.a Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima

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  • Universidade de So PauloFaculdade de Arquitetura e UrbanismoDisciplinas: 1601101 - Trabalho Final de Graduao I 1601102 - Trabalho Final de Graduao II

    Caderno de ApresentaoPaisagem, Territrio e Urbanidade: Repensando a Identidade Regional e Local por meio do Patrimnio Cultural e Ambiental.

    So Paulo2015

    Denis de Souza e Silva Giannelli

    Caderno de apresentao do Trabalho Final de Graduao para o curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU USP, apresentado banca final como sntese dos principais levantamentos, reflexes, crticas, ensaios de projeto, snteses e desafios.

    reas de Concentrao: Urbanismo, Paisagismo, Meio Ambiente, Territrio, Polticas Pblicas, Patrimnio Cultural, Infra-estrutura Territorial, Planejamento de Transportes, Projeto de Estruturas Urbanas, Projeto de Edificaes.

    Prof. orientadora: Dr. Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | INFORMAES INICIAIS | JANEIRO 2015

  • GIANNELLI, Denis de Souza e Silva - Paisagem, Territrio e Urbanidade: Repensando a identidade regional e local por meio do patrimnio cultural e ambiental. - 190 pginas. Trabalho Final de Graduao Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2015.

    O presente Trabalho Final de Graduao procura tecer consideraes e reflexes iniciais sobre a relao de pertencimento e afetividade que um sujeito e/ou uma comunidade pode despertar em relao ao territrio viven-ciado, procurando compreender como se do tais relaes Topoflicas e, assim, de que modo a paisagem, enquanto constituda por seus elementos biolgicos, fsicos, culturais, artsticos e materiais pode valorizar e reforar os sentimentos de pertencimento ao ambiente no qual o indivduo se insere. Deste modo, opta-se pela Vila de Paranapiacaba, Municpio de Santo Andr, Estado de So Paulo, enquanto recorte e objeto de estudo, procuran-do-se realizar uma pesquisa abrangente que aponte o que vivenciar este lugar e quais seriam, ento, ensaios de projeto no espao da Vila que procu-rassem reforar as supostas relaes de afetividade e pertencimento que os moradores / trabalhadores / visitantes poderiam estabelecer com o territrio de Paranapiacaba e com o territrio paulista enquanto identidade geogrfica definida.

    Palavras-Chave: Identidade Cultural, Pertencimento, Afetividade, Apropriao Cultural, Territrio Vivenciado, Urbanidade, Topofilia, Paisagem, Meio Ambiente, Vila de Paranapiacaba, Municpio de Santo Andr, Estado de So Paulo, Ferrovia, Planejamento de Transportes, Espao Livre de Uso Pblico, Transposio Fsica, Planejamento Territorial, Serra do Mar, Turismo, Infra-estrutura de Transportes, Polticas Pblicas, Patrimnio, Projeto de Edificaes, Desenho Urbano.

    Os ensaios de projeto consistem em um desenho urbano de requalifi-cao dos espaos da ferrovia, procurando retomar as atividades ligadas ao planejamento dos transportes para a Vila de Paranapiacaba no mais como no tempo da So Paulo Railway, mas sim para a sua vivncia contempor-nea, trazendo de volta as viagens metropolitanas e as viagens regionais para passageiros, mantendo o atual transporte de cargas, requalificando espaos livres de uso pblico para atividades de lazer e reaproximando os setores da Vila, atualmente pouco conectados do ponto de vista da transposio fsica.

    Retoma-se questo do planejamento em escala territorial, refletin-do sobre o potencial da Serra do Mar enquanto local de turismo, de fruio, e no apenas como um territrio de passagem, de fluxo. Desta maneira, indaga-se como poderiam estar articulados outros territrios de valor cul-tural e ambiental no Estado de So Paulo e de que forma a infra-estrutura dos transportes (metropolitana e regional) pode servir como vetor indutor de polticas pblicas para a valorizao do patrimnio paulista.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | RESUMO | JANEIRO 2015

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  • GIANNELLI, Denis de Souza e Silva Landscape, Territory and Urbanity: Re-thinking regional and local identity through cultural and environmental heritage. 190 pages. Final Thesis Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2015.

    This final thesis academic paper establishes preliminary consider-ations and reflexions about the belongingness and affectionateness relation-ships that a being and/or a local community can arouse with its experienced territory, trying to understand how such Topophilic feelings can be nour-ished by landscape as composed by its biological, physical, cultural, artistic and material elements and then how could those elements be enriched by in order to encourage such belongingness and affectionateness feelings for places in which people live. It is chosen for a case study Paranapiacaba, a suburban village inside Santo Andr administrative municipality territory, in Sao Paulo State, start-ing a comprehensive research that points out what is to experience daily or passing by that place and what could be, then, project essays designed in and for Paranapiacaba that would reinforce those Topophilic feelings that inhabitants/workers/tourists could have with this local territory but also with Sao Paulo state territory and a geographic defined identity.

    Project Essays consist in an urban master plan that redesign railway open spaces and buildings, bringing back rail conveyance to Paranapia-caba, not as it was during Sao Paulo Railway administration but rather for a contemporary living (the return of CPTM metropolitan trains for the new final line station, regional travels for people and goods), re-qualifying public open spaces for leisure activities and approximating both railroad valleys sides that are not connected if not for a lowly existing connection. Territorial planning is brought back by reflections and final consider-ations about Serra do Mar potential as a tourist, fruitful place rather then just a gateway territory or a passage to the sea coast. Thus, we look into how other territories could be articulated of cultural and environmental value in the State of So Paulo and how metropolitan and regional transport can serve as a vector for inducing public policies for enriching Sao Paulo cultural heritage.

    Key words: Cultural Identity, Belonging, Affectionateness, Cultural Appropriation, Experienced Territory, Urbanity, Topophilia, Landscape, Environment, Paranapiacaba Village, Santo Andr Municipality, So Paulo State, Railroad, Transportation Planning, Public Open Spaces, Physical Transposition Territorial Planning, Serra do Mar, Tourism, Transporting Network, Public Policy, Heritage, Building Design, Urban Design.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | ABSTRACT | JANEIRO 2015

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  • Em primeiro lugar, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade de So Paulo, enquanto Instituio de Ensino Superior, por todos os anos de dedicao ao ensino, pesquisa e extenso de sua comunidade, sem os quais seria impossvel ter o conhecimento e o preparo necessrios para que eu chegasse concluso deste trabalho; pela responsabilidade desta Instituio, assumida em seu projeto poltico pedaggico, em trazer ao debate acadmico questes ligadas ao espao pblico e s diferentes escalas de abordagem do mesmo, seja em nvel territorial, metropolitano, urbano e do ambiente edificado.

    querida Professora orientadora Doutora Catharina Pinheiro Cor-deiro dos Santos Lima, por aceitar o convite para orientar-me ao longo de todo o ano de dedicao ao Trabalho Final de Graduao; pelas discus-ses e trocas mtuas de conhecimento e experincias; pelo apoio e motiva-o nos momentos mais difceis e pelo companheirismo nos momentos de sucesso e conquista ao longo do desenvolvimento da trabalho.

    Aos professores da disciplina metodolgica do Trabalho Final de Graduao, pelos conselhos, orientaes e crticas realizadas durante as aulas expositivas e pr-bancas, sem os quais este trabalho no teria alcan-ado a maturidade acadmica necessria para a banca final, agradecimen-to este em especial aos professores Fabio Mariz Gonalves, Maria Camila Loffredo DOttaviano, Karina Oliveira Leito, Klara Anna Maria Kaiser Mori e Helena Aparecida Ayoub Silva.

    Universidade de So Paulo, representada por seu rgo da Co-misso de Cooperao Internacional (CCInt-USP), por possibilitar a vaga para o intercambio acadmico a nvel de graduao na Universit IUAV di Venezia, no ano de 2012, por onde os primeiros passos deste trabalho se passaram. Ao Governo Federal, representado por seu rgo Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), ligado ao Ministrio da Educao, por conceder-me a oportunidade de participar do programa

    Cincia sem Fronteiras durante o perodo de um ano na Itlia, onde pude estudar ao longo dos anos de 2012 e 2013 no Politecnico di Torino e, desta forma, dar continuao formao acadmica e pessoal que hoje me do a condio de defender este trabalho em banca pblica.

    Aos professores, colegas e amigos das Universidades Universit IUAV di Venezia e Politecnico di Torino, pelas trocas de conhecimentos acadmicos e experincias de vida que me motivaram a refletir sobre as origens deste trabalho, bem como pelo ensino e pelo aperfeioamento das minhas capacidades de compreenso, analise e crtica nos temas relaciona-dos Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo.

    s bibliotecas pblicas freqentadas durante todo o Trabalho Final de Graduao, pelo fornecimento de todo o material solicitado e disponi-bilizado para o prosseguimento das pesquisas necessrias, em especial biblioteca da FAU USP, EESC USP, ECA USP, FFLCH USP e POLI USP).

    Aos funcionrios da Prefeitura Municipal de Santo Andr, em es-pecial queles que trabalham no Parque Andreense e em Paranapiacaba, por me receberem durante o incio das pesquisas deste trabalho e que se prontificaram a esclarecer meus questionamentos respeito da Vila de Pa-ranapiacaba e/ou que se esforaram para colocar-me em contato com pes-soas chave para as respostas que buscava; pelo recebimento de cartografia digitalizada base para o prosseguimento da parte propositiva do Trabalho Final de Graduao.

    Ao corpo docente da Escola Municipal de Educao Infantil e Edu-cao Fundamental de Paranapiacaba, por receberem-me durante minha busca de informaes a respeito da vida na Vila, pela troca de experincia, depoimentos pessoais e, sobretudo, pela possibilidade de realizao do Workshop de desenhos e depoimentos com as crianas matriculadas nesta escola, dando ao trabalho o carter humanizado e participativo sem o qual o mesmo no teria conseguido a mesma amplitude de discusses.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | AGRADECIMENTOS | JANEIRO 2015

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  • Sinto que este trabalho tem em sua estrutura a complexidade e o reflexo de tudo aquilo que pude dividir com aqueles que agradeo.

    Carregarei esta experincia comigo para sempre.

    Muito Obrigado,

    Denis Giannelli

    Aos moradores, trabalhadores e freqentadores da Vila de Parana-piacaba que, de um modo geral, demonstraram-se disponveis para con-versas casuais e que deram tambm o suporte participativo para que meu trabalho se tornasse mais articulado realidade local.

    A todos os rgos e empresas em que tive a oportunidade, ao longo destes seis anos de graduao, de realizar estgios supervisionados e que me estimularam ao amadurecimento no somente dos conhecimentos ad-quiridos durante o percurso universitrio, como tambm pela formao de uma postura profissional necessria para encarar com seriedade e foco o Trabalho Final de Graduao. So eles: Secretaria Municipal de Desenvol-vimento Urbano (SMDU) da Prefeitura Municipal de So Paulo (2011), Ser-vizio Valutazione Impatto Ambientale della Provincia di Torino (2013), Delle Alpi Engenharia e Construo (2013) e, sobretudo, um forte agradecimento Terra Urbanismo, escritrio onde realizei estgio durante os anos de 2013 e 2014 e que me deu o domnio das ferramentas grficas e mtodos de representao e apresentao necessrios para a realizao deste caderno.

    A todos os meus amigos que me apoiaram, estimularam e incentiva-ram ao longo de todo o Trabalho Final de Graduao e que estiveram pr-ximos a mim durante esta minha experincia, companheiros de momentos difceis como tambm para os momentos de conquista e satisfao pessoal. Entre eles: Ana Carolina Miti Sameshima, Aline Salamanca, Brbara Marie Van Sebroeck, Daniela Zavagli, Diogo Dias Lemos, Guilherme Cardoso, Marjorie Nasser, Milene Saito, Renan Rosatti, Thiago Gregio e Victor da Mata. Agradecimento especial, sobretudo, a Diogo Dias Lemos pelas dis-cusses de projeto e a Aline Salamanca pela reviso do texto do caderno.

    Aos meus familiares: Me, irmos, primos, tios e avs, mesmo que entre os quais no houvesse um Arquiteto e Urbanista com quem pudesse discutir meu Trabalho Final de Graduao, mas sim por serem as pessoas que estiveram mais prximas a mim durante toda a vida e que ajudaram a formar quem eu sou e caminhar at onde cheguei.

    Finalmente, ao conjunto de professores e profissionais que compe a banca de avaliao do presente Trabalho Final de Graduao: Professora orientadora Doutora Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima; Profes-sora Doutora Klara Anna Maria Kaiser Mori; Professora Doutora Helena Aparecida Ayoub Silva; e o convidado Arquiteto Doutor Raul Pereira, por aceitarem o convite em participar deste momento to especial para mim, pelos elogios, crticas, conselhos e sugestes que sero as palavras finais deste longo processo de aprendizado, iniciado h seis anos.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | AGRADECIMENTOS | JANEIRO 2015

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  • GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO

    GOVERNO FEDERAL

    102. SIGNIFICADO DOS ESPAOS

    CARTA TURSTICA DE PARANAPIACABA

    ESPAOS DE MEMRIA

    ESTAO FERROVIRIA - TORRE DO RELGIO

    MUSEU TECNOLGICO FERROVIRIO

    IGREJA E CEMITRIO

    EDIFCIO DO GRUPO ESCOLAR

    CLUBE UNIO LYRA SERRANO

    CAMPO DE FUTEBOL CHARLES MILLER

    O CASTELINHO

    O MERCADO E O PAU DE MISSA

    ANT. SOCIEDADE RECREATIVA LYRA SERRANO

    CASA FOX - CASA DA MEMRIA

    ANTIGA PADARIA E LARGO DOS PADEIROS

    RUNAS SERRANO ATLTICO CLUBE

    ANTIGO HOSPITAL

    ESPAOS DA VILA CONTEMPORNEA

    122. ANLISE SWOT

    124. TURISMO NO TERRITRIO CONTEMPORNEO

    126. PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    130. MOVIMENTO CITTASLOW

    132. REDE TUCUM

    ENSAIOS DE PROJETO 136. MOBILIDADE | LAZER | EDUCAO

    137. DELIMITAO DO TERRENO

    138. INSERO NA UNIDADE DE PAISAGEM

    141. ESPAO DA GUA

    142. LOCALIZAO

    143. TOPOGRAFIA

    001. INFORMAES INICIAIS

    002. RESUMO - ABSTRACT

    004. AGRADECIMENTOS

    007. SUMRIO

    009. APREENSO SENSVEL

    APRESENTAO 013. ORIGENS DO TEMA

    016. CONCEITUAO

    024. A ESCOLHA DO LUGAR - OBJETO DE ESTUDO

    025. MTODO, OBJETIVOS E PROPOSTA DE

    TRABALHO

    CONTEXTO 029. REGIO METROPOLITANA DE SO PAULO

    030. REGIO DO GRANDE ABC

    036. SERRA DO MAR

    037. VILA DE PARANAPIACABA

    038. HISTRIA DE PARANAPIACABA

    EXPLORAO046. ABORDAGEM TERICA

    052. LEVANTAMENTOS

    ESTUDO CARTOGRFICO

    DESENHOS

    PERIDICOS

    FOTOGRFICO

    066. EXPERINCIA EMPRICA

    EMEIEF PARANAPIACABA

    EVENTOS LOCAIS E A VIDA NO COTIDIANO

    MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE

    076. AES DE GOVERNO E POLTICAS PBLICAS

    PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDR

    144. ALTIMETRIA

    145. DECLIVIDADE

    146. DIREES DO TERRENO

    147. CARTOGRAFIA IGC

    148. AMBIENTAL

    149. LEITURA DO TERRENO

    150. FOTOGRAFIAS REA DE PROJETO

    154. PROGRAMA

    156. PLANO DE OCUPAO

    157. DIRETRIZES COMPLEMENTARES

    158. PROJETO URBANO

    160. ACESSO AO COMPLEXO FERROVIRIO

    162. PASSARELA

    163. TNEL

    164. PARQUE DA FERROVIA

    166. PLATAFORMAS FERROVIRIAS

    169. CENTRO DA MATA ATLNTICA

    170. PLANTIO

    172. MEMORIAL DESCRITIVO

    SNTESES E DESAFIOS 178. REPENSANDO O TERRITRIO DO ESTADO

    180. FERROVIA COMO VETOR CULTURAL

    182. PROJETO COMO EXERCCIO DE

    PESQUISA E VICE-VERSA

    183. PRTICA PROFISSIONAL DO ARQUITETO E

    URBANISTA

    184. REFLEXES FINAIS

    BIBLIOGRAFIA188. BIBLIOGRAFIA

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | SUMRIO | JANEIRO 2015

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  • Antiga locomotiva abandonada na Vila Martin Smith em Paranapiacaba, Santo Andr. Fotografia: Denis Giannelli

    Uma lembrana guardada no Alto da Serra, uma memria espalhada entre vales e colinas, um passado oculto e talvez ainda vivenciado por alguns poucos no presente. Presente este que permeia edifcios abandonados e es-paos incertos, abrigo de uma vida contempornea que se debrua sobre um livro de histrias, ainda que poucos sejam aqueles que saibam de sua existn-cia e sejam capazes de l-lo por completo. Uma sobreposio de realidades que se distanciam entre si no tempo mas continuam a compartilhar o mesmo espao. Para alm de tudo aquilo que seja possvel conhecer intelectualmen-te sobre a Vila de Paranapiacaba, resta sempre um sentimento de profunda incompreenso:

    - Porque est ali, afastada, isolada, esquecida, deriva no tempo e no espao, esperando o retorno dos viajantes, as chegadas e partidas mar-cadas pelo som das locomotivas e pelos ponteiros da torre do relgio?

    TOPOFILIA

    A palavra Topofilia um neologismo, til quando pode ser defini-da em sentido amplo, incluindo todos os laos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material. Estes diferem profundamente em intensida-de, sutileza e modo de expresso. A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esttica (...) A resposta pode ser ttil (...) Mais permanentes e mais difceis de expressar, so os sentimentos que temos para com um lu-gar, por ser o lar, o lcus, de reminiscncias e meio de se ganhar a vida.

    (TUAN, Yi-Fu. de Oliveira, Livia. Topofilia: um estudo da percepo, atitudes e valores do meio ambiente. So Paulo: Difel Difuso Editorial S.A., 1980.)

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | APREENSO SENSVEL | JANEIRO 2015

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  • Fotografia Original: Nelson Kon

  • APRESENTAO

  • O presente Trabalho Final de Graduao tem como origem meu pe-rodo de intercmbio na Itlia. As experincias vivenciadas neste pas, sejam elas acadmicas (no IUAV di Venezia e no Politecnico di Torino), profissionais (por meio de um estgio no Servizio Valutazione Impatto Ambientale della Provincia di Torino) e mesmo pessoais com valiosas trocas de conhecimentos com docentes e alunos mas, sobretudo, devido oportunidade de viajar e conhecer diversas culturas locais, comearam a me fazer refletir sobre o modo com o qual a so-ciedade italiana se envolve com o seu territrio, em uma espcie de relao de pertencimento e identidade a partir dos elementos da paisagem, sejam eles naturais, culturais e/ou histricos. A cidade de Veneza demonstrou-se interessante logo de incio pela particularidade do contexto ambiental da laguna na qual a mesma se assenta. O ecossistema local traz para a cidade no somente uma extraordinria pai-sagem, pela relao envolvente com suas guas, como tambm uma grande responsabilidade de conciliar os hbitos e costumes da vida moderna com um territrio delicado pela fauna e flora presentes, sobretudo pela formao das chamadas Barene, terrenos inundveis e periodicamente submersos, necessrios para a reproduo das espcies vegetais e animais de Veneza. Os venezianos demonstravam-se preocupados e socialmente organizados para ajudar a enfrentar tais questes, procurando entender como adaptar o grande turismo internacional ao estilo de vida lento e calmo do qual a laguna necessita. De qualquer modo, era clara a intensa percepo ambiental que os habitantes do arquiplago tinham do lugar onde viviam, propiciada no s pelo desenho urbano da cidade que tem como elemento construtor da paisagem o espao das guas, como tambm pela intensa relao entre a prpria paisagem e a identidade cultural do veneziano. De modo semelhante, porm em um contexto totalmente diverso, a relao entre sujeito e territrio vivenciado tambm se manifesta de modo intenso na cidade de Turim. A cidade hoje caracteriza-se por um riqussimo patrimnio arquitetnico e cultural, legado pela posio da cidade enquanto capital do Reino dos Sabia e primeira capital da Itlia, bem como pelo seu patrimnio ambiental, enquanto cidade que procura transformar sua imagem de meio urbano industrial (expresso sobretudo pela FIAT) para uma cidade referncia de qualidade de vida urbana a nvel nacional e europeu, com a di-

    fuso de tecnologias Smart City. As trocas de experincias com habitantes da regio mostraram a grande referncia da paisagem dos Alpes e do patri-mnio construdo da cidade de Turim para a construo da identidade des-ta nova e reconfigurada metrpole, somados valorizao dos territrios agrcolas e alpinos do Piemonte. Sobre isso, foi interessante tambm notar a fora do movimento de resistncia construo da nova linha ferroviria que ligar Torino (Itlia) e Lyon (Frana), justificada em parte pelo impacto que tal infra-estrutura geraria na paisagem das montanhas. Independente-mente de qualquer posicionamento ideolgico, era interessante notar como a paisagem estava presente tambm no discurso poltico da populao.

    Referncias Atlante della Laguna. Il geoportale della laguna, del territorio e della zona costiera di Venezia.http://www.silvenezia.it/

    Piano Provinciale di Coordenamento Provinciale II (PTC II).http://www.provincia.torino.gov.it/territorio/sezioni/pian_territoriale/piano_terr_coord/variante_ptc2

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | ORIGENS DO TEMA | JANEIRO 2015

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  • A cidade de Veneza, Itlia, inserida dentro de seu contexto ambiental da Laguna. Fotografia: Letcia Tambellini

    Grandes cruzeiros (ao fundo) que entram na laguna e seus impactos visuais e ecolgicos. Fotografia: Denis Giannelli

    Meio ambiente lagunar: as Barene e o estilo de vida lento. Fotografia: Denis Giannelli

    A dinmica de uma cidade contempornea adaptando-se a seu ambiente. Fotografia: Denis Giannelli

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | ORIGENS DO TEMA | JANEIRO 2015

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  • Torino, Itlia. Molle Antonelliana e os Alpes italianos como marcos da paisagem.Fotografia: Autor desconhecido

    Vincola em Serralunga dAlba, Piemonte. Agroturismo, educao ambiental e cultural.Fotografia: Denis Giannelli

    Rio Po visto do Parco del Valentino, centro de Turim. Relao da cidade com suas guasFotografia: Denis Giannelli

    Movimento no TAV. Resistncia construo da ferrovia Torino-Lion que cruza os Alpes.Fotografia: Autor desconhecido

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | ORIGENS DO TEMA | JANEIRO 2015

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  • Toda estas reflexes construdas ao longo da permanncia na Itlia motivaram-me a refletir sobre a realidade a qual perteno, So Paulo, com um olhar diferente, talvez um pouco mais crtico em relao postura com a qual abordamos e consideramos o patrimnio ambiental e cultural ao nosso redor. Tomando em considerao, como ponto de partida inicial, o Estado de So Paulo, comecei a indagar-me sobre o que caracteriza a populao e o territrio paulista, isto , quais seriam ento, de maneira anloga ao que se pode verificar nas diversas localidades italianas, os traos culturais que permeiam o imaginrio dos habitantes locais e de que forma a geografia deste territrio e/ou o seu patrimnio cultural (seja este material ou imaterial) moldam o modo com o qual os paulistas se identificam. Ao traar um paralelo com outros Estados do Brasil, como por exem-plo o Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia ou ento a regio Amaznica como um todo, a principio mais clara a idia de um conjunto de elementos da cultura local que forma uma imagem do individuo caracterstico ou mes-mo de uma localidade tpica: O extremo sul do Brasil talvez remeta idia da regio dos Pampas, com as formaes topogrficas em colinas, a agricultura e pecuria em regime de minifndio, a populao de maioria europia (em especial italiana e germnica), a culinria e a enocultura; do outro lado do pas, por sua vez, a realidade amaznica com sua vegetao exuberante caracteriza o modo de morar em grande parte da regio norte, onde gran-des cidades distam milhares de quilmetros umas das outras e muitas vezes a hidrografia usada como meio de transporte; tomando como exemplo, em escala menor, o prprio municpio do Rio de Janeiro possui uma identi-dade prpria pela formao da Baia de Guanabara e os principais aciden-tes topogrficos como o Corcovado e os demais morros cariocas; a regio das chamadas Cidades Histricas de Minas, como Mariana, Ouro Preto, Cogonhas, etc. possui por sua vez o patrimnio material como herana do perodo Barroco e internacionalmente reconhecida por seus bens culturais. Outros tantos exemplos podem ser dados, mas peculiar o esforo que se pode fazer ao procurar um trao cultural tipicamente paulista, sendo justamente So Paulo a unidade da federao com a maior populao e que concentra a maior riqueza nacional.

    De certa forma, no acredito que achar a resposta para tal reflexo seja o objetivo principal deste Trabalho Final de Graduao, mas um questionamento interessante enquanto escopo para procurar compreender melhor o territrio sobre o qual nos assentamos. A imagem area ao lado apresenta o Estado de So Paulo sem seus limites administrativos demarca-dos, deixando em maior evidncia as principais formaes do relevo (Serra da Mantiqueira, Serra do Mar, Vale do Paraba, etc.), a hidrografia (Rio Paran, Rio Grande, Rio Paranapanema, Rio Tiet, etc.), a vegetao mais densa caracterstica de algumas Unidades de Conservao que ainda no sofreram um intenso processo de transformao humano, bem como as manchas de grandes aglomerados urbanos, em especial as regies metro-politana de So Paulo, Campinas, Baixada Santista e cidades de grande e mdio porte do interior.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

    16

  • near Brazil

    1 of 1

    0 10 20 30 kmFotografia rea que ilustra a geografia fsica do territrio do Estado de So Paulo. Imagem area: Apple Maps

    100 20 40Km

    N

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • Ainda em relao s grandes manchas urbanas do Estado de So Paulo, interessante notar o padro de disperso urbana em vetores axiais, partindo da capital, rumo ao interior paulista. A ilustrao ao lado, elabora-da a partir de fotografia espacial da NASA e tratada digitalmente, revela os principais pontos de luz das cidades brasileiras percebidos partir do espao, contrastando desta forma a intensa iluminao do territrio paulista como um todo e o menor grau de iluminao de outros Estados do Brasil, exceto por suas capitais e algumas outras poucas cidades, que se encontram intensa-mente iluminadas. Uma hiptese para este expressivo contraste a oferta da infra-estru-tura de transportes, em um primeiro momento ligada ao processo histrico de expanso da ferrovia no interior do Estado e, posteriormente, a excelen-te oferta de rodovias espalhadas ao longo do territrio que possibilitou a formao de uma urbanizao difusa que ocupou os eixos das principais rodovias entre cidades. O avano da malha ferroviria por So Paulo est intrinsecamente ligado produo cafeeira, necessidade de escoamento de mercadorias e ao fluxo de pessoas. Para alm do processo histrico de formao da malha urbana pau-lista, o que curioso, no entanto, justamente viajar atualmente nestes prin-cipais eixos de transporte e ter a sensao como se de certa forma existisse uma cidade que se expande e avana continuamente, tornando possvel a idia de um territrio urbano homogeneizado, ainda que se percorra diversos quilmetros, no qual setores de logstica, condomnios, comrcios e servios de grande porte e mesmo ncleos urbanos se repetem continuamente, dando uma falsa sensao de continuar no mesmo local. Um viajante que percorre a Rodovia dos Bandeirantes e posteriormente a Rodovia Washington Lus di-ficilmente encontra caractersticas expressivas da paisagem que dem a clara certeza de por qual cidade passa, se Campinas, Araraquara ou So Jos do Rio Preto, por exemplo, todas elas evidenciadas no contraste de luz indicado na imagem ao lado. Alm dos fatores j mencionados, de se levar em considerao tam-bm como o povoamento do Estado de So Paulo se deu de forma muito r-pida e intensa, passando de uma regio extremamente perifrica do Imprio Brasileiro para um grande plo econmico que atraiu milhes pessoas, rece-

    bendo um fluxo de imigrantes relativamente recente, quando comparado ao de outras regies do Brasil, pessoas provenientes dos mais diversos pases e que, a princpio, no estabeleciam com este territrio uma identidade pr-pria. As migraes internas brasileiras tambm contriburam de forma signi-ficativa para miscigenar ainda mais este caldeiro de culturas, tornando hoje muito difcil a tarefa de explicar o que ser paulista, se sentir paulista. Desta forma, pode-se ressaltar mais uma vez a dificuldade de expli-car as razes para um possvel desapego, se que ele exista nestes termos, da populao do Estado de So Paulo com o territrio vivenciado pela mesma, dada a complexidade de fatores que levaram formao desta regio brasileira. Em todo caso, notvel o papel da prpria expanso da economia cafeeira, da ferrovia e da industrializao no processo de forma-o social to miscigenado de So Paulo, levando a uma sugesto sobre o que pode significar ser paulista ou pelo menos compreender de que forma tal discusso pode ser repassada enquanto desafios para a construo da identidade regional paulista.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • Disperso urbana no territrio brasileiro. Contraste entre a formao axial da rede urbana paulista e de outros Estados.Ilustrao elaborada partir de imagem de satlite. NASA

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • Em uma escala de anlise ainda mais prxima, comecei a me perguntar: Porque teramos, na Regio Metropolitana de So Paulo, para assim definir um recorte espacial mais especfico, uma quantidade significativa de territrios valio-sos para o turismo e para o lazer e, ao menos aparentemente, no nos apropri-vamos dos mesmos como acontece na Itlia, seja para visit-los ou ento para consider-los enquanto elementos de paisagem que constroem a nossa prpria identidade da Grande So Paulo?

    Imagem area da Regio Metropolitana de So Paulo e seus arredores Fonte: Google Earth Pro

    Em outras palavras, se existe a complexidade de identificar traos co-muns da cultura paulista, essa mesma anlise poderia ser feita para a Grande So Paulo, buscando compreender como o territrio vivenciado pelos habitantes da metrpole moldariam a prpria percepo que eles possuem de si mesmo?

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    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • Desta forma, passei a ler a paisagem vivenciada por mim em diver-sos deslocamentos cotidianos realizados pela cidade, optando pelo trans-porte pblico como tambm pelo automvel. Minha hiptese inicial para tal pergunta foi que o modo de vida na Regio Metropolitana de So Paulo, na qual grande parte da populao vive em um ambiente densamente urba-nizado, gerasse uma certa alienao em relao ao territrio sobre o qual vivemos, justificado em parte pela construo de um desenho urbano que assenta a cidade sem considerar seus elementos naturais da paisagem.

    Assim, por exemplo, enquanto vivencia-se o espao urbano, pode-se no ter em mente a proximidade ou distncia dos principais rios e crregos da cidade, do Pico do Jaragu, da Serra da Cantareira e da Serra do Mar, das represas e das reas de mananciais ao sul, das colinas e dos fundos de vale da cidade, entre outros. Alm disso, a expanso da cidade e seu grande porte poderia afastar o morador do entorno da mancha urbana, gerando uma certa alienao em relao quilo que encontra-se para alm dos limi-tes da cidade construda / edificada.

    Vista a partir da estao de metr Tamanduate. O skyline da cidade, a Serra da Cantareira ao fundo e o Rio Tamanduate a direita.Fotografia: Denis Giannelli

    Av. dos Bandeirantes, zona Sul de So Paulo, sobre a nascente do Crrego da Traio. Fotografia: Google Street View

    Ribeiro dos Meninos e Ribeiro dos Couros, nos limites entre S. Paulo, S. Bernardo do Campo e S. Caetano do Sul a partir desta ltima: O territrio permitido e o territrio oculto.Fotografia: Denis Giannell

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • Tal considerao inicial a respeito de uma possvel alienao em re-lao ao patrimnio ambiental e cultura existente na Regio Metropolitana de So Paulo motivou-me a visitar alguns lugares, os quais eu mesmo ainda no conhecia, para tentar entender qual a natureza deste hipottico afas-tamento entre o morador da metrpole e as reas de interesse ambiental e histrico da cidade, particularmente em reas relativamente perifricas, por se tratarem de localizaes de menor contato cotidiano da maior parte da populao e que poderiam estar escondidas, ainda que a maior parte de-las possua relativamente fcil acesso.

    Imagem area (sem escala) da Regio Metropolitana de So Paulo e seus arredores com a delimitao administrativa dos municpios. Fonte: Google Earth e IBGE

    Tais visitas, apesar de no contemplarem toda a lista dos locais que gostaria de conhecer, reafirmaram meu desejo de investigar as questes anteriormente problematizadas:

    Como se da a relao entre identidade, ambiente e paisagem em So Paulo e de que modo pode-se atuar no sentido de valorizar a relao entre sujeito e territrio vivenciado.

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    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • 2. Trilha do Mirante, Ncleo do Curucutu (P.E. da Serra do Mar), So Paulo / Itanham. Fotografia: Denis Giannelli

    3. Via Caminhos do Mar, S. Bernardo do Campo / Cubato. Fotografia: Denis Giannelli

    4. Vila Ferroviria de Paranapiacaba, Santo Andr. Fotografia: Denis Giannelli

    1. Mirante da Pedra Grande, Horto Florestal, So Paulo. Fotografia: Denis Giannelli

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONCEITUAO | JANEIRO 2015

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  • Quanto rea de atuao, esco-lheu-se a Vila de Paranapiacaba, em Santo Andr, por diversas razes, entre as quais: A vontade de trabalhar com algum re-corte espacial dentro do contexto da Serra do Mar, pelo seu carter de espao de transio entre a realidade do planalto e a realidade do litoral paulista; a hiptese inicial seria a de que a Serra do Mar fosse encarada como um obstculo natural a ser transposto pelo viajan-te que, por exemplo, se desloca de So Paulo rumo ao litoral, e no como um territrio que possa ser vivenciado e valorizado pelo viajan-te; O desejo de aprofundar o conhe-cimento sobre a histria da Vila de Para-napiacaba e seu riqussimo patrimnio cultural e ambiental, verificado preliminar-mente aps uma primeira visita ao local;

    Vista da baixada santista a partir do mirante de ParanapiacabaFotografia: Autor desconhecido PARANAPIACABA. - Originou-se do termo tupi paranapiacaba, que significa lugar de onde se v o mar, atravs da juno de paran (mar), epiak (ver) e aba (lugar).

    Panormica da Estao de Trens de Paranapiacaba. Fotografia: Denis Giannelli

    Compreender porque a Vila de Pa-ranapiacaba, enquanto inserida na Regio Metropolitana de So Paulo e por suas ca-ractersticas arquitetnicas e ambientais sin-gulares, aparentemente no um roteiro conhecido pelos habitantes da metrpole, que nela poderiam desfrutar de atividades de lazer e recreao no tempo livre e, as-sim, compreender quais as potencialidades e fragilidades daquele territrio para con-ceber um projeto de interveno que tor-ne-a atrativa para quem desejar visit-la; Entender o que morar e/ou traba-lhar em Paranapiacaba enquanto espao vivenciado cotidianamente e quais graus de urbanidade podem ser propiciados de forma a tornar mais prazerosa a relao que os indivduos estabelecem com os espaos da Vila.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | A ESCOLHA DO LUGAR - OBJETO DE ESTUDO| JANEIRO 2015

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  • Desenvolver uma pesquisa sobre as relaes de identidade e percep-o ambiental que se estabelecem entre sujeito e territrio vivenciado. Do ponto de vista terico, essa uma reflexo para entender uma realidade local, no caso escolhido a vila de Paranapiacaba; Produzir ensaios de projeto para a paisagem, que apenas se definem a partir do momento em que o entendimento e compreenso da pesquisa produzida garanta que tal prtica de projeto e/ou planejamento seja refle-xo de uma compreenso clara da realidade local, na medida em que se construa uma proposta que procure materializar as relaes de identidade;

    MTODO

    CONCEITUAO ENSAIOS DE PROJETO NA PAISAGEM

    CONSIDERAES FINAIS, SNTESES E

    DESAFIOS

    PESQUISA

    ABORDAGEM TERICA Leitura de tericos: Identidade, Pertencimento, Cartas de patrimnio, Percepo Ambiental, Topofilia, etc. Leitura de Paranapiacaba: Autores e/ou pesquisadores que j trabalharam com a Vila e sua histria.

    ATIVIDADES DE CAMPO - EXPERINCIAS EMPRICAS Visitas in loco: fotografias, desenhos, experincia dos espaos e das atividades tursticas da Vila. Entrevistas com moradores e pessoas que trabalham em Paranapiacaba. Workshops com pblicos especficos.

    SIGNIFICADO DOS ESPAOS Identificao, documentao e estudo dos principais espaos livres de uso pblico da Vila, procurando entender sua importncia como lazer e seu valor simblico para a comunidade que ali vive.

    LEVANTAMENTOS Cartogrfico; Desenhos; Fotogrfico; Legislaes; Peridicos; etc...

    POLTICAS PBLICAS Levantamento das aes de governo a nvel municipal (Prefeitura de Santo Andr), Estadual (Governo do Estado de So Paulo) e federal (Governo Federal), verificando o que cada esfera prev para a Vila e se existe ou no um dilogo entre as mesmas.

    OBJETIVOS Verificar, ao final do Trabalho Final de Graduao, como a pesquisa desenvolvida pode ter sido til para conceituar as propos-tas de projeto e no desenvolvimento do processo criativo do projeto; Tecer consideraes finais sobre como a prtica em Arquitetura e Ur-banismo pode ser exercida de modo a valorizar as questes especificas de um local e de uma populao bem como evidenciar snteses e os principais desafios para a abordagem do trabalho.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | MTODO, OBJETIVOS E PROPOSTA DE TRABALHO | JANEIRO 2015

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  • Fotografia Original: Nelson Kon

  • CONTEXTO

  • A Vila de Paranapiacaba localiza-se na Regio Metropolitana de So Paulo em sua poro sudeste, no Grande ABC Paulista, aos limites do muni-cpio de Santo Andr com o municpio de Cubato, pouco antes do incio da descida da Serra do Mar. Por se tratar de um ncleo urbanizado perifrico em relao grande mancha urbana e tambm circundado por um grande cinturo de vegetao nativa de mata atlntica, seu acesso a partir do restante da cidade garanti-do pela estrutura metropolitana de rodovias e ferrovias. Dados os limites municipais e o modo como o tecido urbano e as principais infra-estruturas virias se desenham neste territrio, interessante notar como faz-se necessrio passar por diversas divisas administrativas antes de se chegar Vila de Paranapiacaba. Assim, por exemplo, partindo do centro de Santo Andr, o caminho mais fcil com o uso do automvel para se chegar a Paranapiacaba aces-sar o municpio de So Bernardo do Campo, dirigir pela Rodovia Anchieta, Rodovia Caminhos do Mar e Rodovia ndio Tibiri para, ento, retornar ao municpio de Santo Andr na regio do Parque Andreense, entrar no territrio de Ribeiro Pires, depois Rio Grande da Serra para, por fim, voltar pela ter-ceira vez ao territrio de Santo Andr. O mesmo ocorre caso a viagem seja feita de trem e nibus, pois a li-nha 10 Turquesa da CPTM passa por Santo Andr, Mau, Ribeiro Pires e Rio Grande da Serra. O trajeto at Paranapiacaba desde Rio Grande da Serra deve ser feito por nibus intermunicipal da empresa EMTU.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONTEXTO | JANEIRO 2015

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    Paranapiacaba

    SO PAULOCENTRO

    Mancha Urbana da Regio Metropolitana de So Paulo, evidenciando as principais ligaes rodovirias e a malha ferroviria atualmente utilizada pela CPTM.Imagem area: Apple Maps.

    PARANAPIACABA

    2 4 8Km0

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    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | REGIO METROPOLITANA DE SO PAULO | JANEIRO 2015

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  • S. Caetano do Sul

    Diadema

    S. Bernardo do Campo

    Santo Andr Mau

    Rio Grande da Serra

    Paranapiacaba

    Ribeiro Pires

    Diviso poltico-administrativa dos municpios do Grande ABC, evidenciando o percurso desde a Rodovia Anchieta at a Vila de Paranapiacaba, ao longo do qual atravessa-se quatro municpios at retornar a Santo Andr como destino final.Imagem area: Google Earth Pro

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    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | REGIO DO GRANDE ABC | JANEIRO 2015

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  • Ao longo do percurso rodovirio at Paranapiacaba, o viajante ultra-passa uma seqncia de placas informativas de trnsito que indicam a troca de municpios, sem que de fato exista algum elemento visvel da paisagem que explicite esta transio, seja ele natural como um rio ou ento o surgi-mento de um ncleo urbanizado.

    1. Rodovia ndio Tibiria. Limite municipal So Bernardo do Campo | Santo Andr. Imagem: Google Street View

    2. Rodovia ndio Tibiria. Limite municipal Santo Andr | Ribeiro Pires. Imagem: Google Street View

    3. Rodovia Dep. Antnio Adib. Chammas. Limite municipal Rib. Pires | R. G. da Serra Imagem: Google Street View

    4. Rodovia Dep. Antnio Adib. Chammas. Limite municipal R. G. da Serra| S. Andr Imagem: Google Street View

    O fato de a regio ser geograficamente isolada do restante do tecido urbano gera na percepo do viajante ou mesmo de quem ali reside (veri-ficado aps conversas com moradores) uma certa dificuldade em entender que aquela poro de territrio faz parte do municpio de Santo Andr.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | REGIO DO GRANDE ABC | JANEIRO 2015

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  • A respeito desta dificuldade em compreender a Vila de Paranapiacaba como parte integrante do municpio de Santo Andr, tambm relevante en-tender o contexto da Vila dentro da regio do Grande ABC no somente em termos poltico-administrativos ou mesmo de acessibilidade, como tambm do ponto de vista da morfologia urbana e da paisagem que se estabelece nesta rea da metrpole. Assim como em muitos outros grandes aglomerados urbanos, o pro-cesso de conurbao existente entre cidades de municpios distintos pode dificultar o entendimento acerca do lugar onde o indivduo se encontra. Lu-gar entendido no somente como posio no espao da metrpole, como tambm dotado de caractersticas singulares da paisagem que o caracterizem de uma determinada forma. Em particular, no caso do ABC Paulista, difcil a idia de um limite entre municpios (So Caetano do Sul com So Bernardo do Campo, Santo Andr com Mau, etc.), pois a morfologia urbana existen-te oculta divisores naturais, como crregos e rios, colinas ou outros marcos na paisagem, ao mesmo tempo em que predomina-se a repetio de tipos de ocupao. As prefeituras em alguns casos realizam formas artificiais de marcar estas passagens, como por exemplo a construo de monumentos, letreiros, painis ou rotatrias para o ingresso nos municpios. Neste sentido, a Vila de Paranapiacaba se destaca no s geografica-mente do restante do tecido urbano, como tambm do ponto de vista paisa-gstico por seus traos culturais e ambientais. Em primeiro lugar, necessrio comentar que Paranapiacaba constitui-se hoje como um Distrito do Munic-pio de Santo Andr por questes administrativas do territrio, na medida em que no compartilha com o restante do ncleo urbano central do Municpio de uma histria comum, se no pelo fato de o municpio de Santo Andr ter se originado a partir de um distrito de So Bernardo, localizado prximo estao da Estrada de Ferro Santos-Jundia, de maneira anloga ao processo de formao da Vila de Paranapiacaba, que ainda permanece em condio de Distrito. No processo de formao dos municpios da regio (desdobra-mento de So Bernardo da Borda do Campo, independncia poltica de So Caetano do Sul, etc.), a Vila de Paranapiacaba foi incorporada ao territrio de Santo Andr e a ele permanece subordinada at hoje.

    O questionamento sobre uma possvel independncia administrativa do Distrito de Paranapiacaba um assunto delicado pois, para alm dos fatos mencionados, Paranapiacaba depende hoje de muitos investimentos que s se tornam viveis por uma administrao municipal que, por possuir maior estrutura e dispor de maiores verbas, consegue tutelar (em maior ou menor grau) o patrimnio ali presente. De qualquer maneira, interessante refletir sobre o que significa o desenvolvimento econmico e social desta Vila em relao ao Municpio de Santo Andr e aos municpios vizinhos, isto , em que medida a identidade de Paranapiacaba enquanto lugar com caractersticas singulares respeitada enquanto administrada por uma mu-nicipalidade que recebeu a tutela da Vila aps sucessivas reorganizaes administrativas do Grande ABC.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | REGIO DO GRANDE ABC | JANEIRO 2015

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  • Existe um forte senso de cooperao e integrao entre os municpios integrantes da Regio do Grande ABC, estabelecido em diversos nveis, des-de a formao histrica da Regio, at a conformao socioeconmica de seus municpios. Particularmente ao longo dos ltimos anos, em funo das transformaes observadas no perfil das atividades industriais, esse carter de cooperao vem se acentuando ainda mais, visando o estabelecimento de novas dinmicas de desenvolvimento econmico. Nesse sentido, podemos dizer que h um potencial de reciprocidade e integrao envolvendo a Re-gio do Grande ABC. Entretanto, h uma ligao mais estreita entre o nosso objeto de estu-do a Vila de Paranapiacaba com os municpios de seu entorno imediato Rio Grande da Serra, Ribeiro Pires e Mau. Essa ligao se justifica sobre-tudo devido proximidade fsica e existncia de um importante sistema de acessibilidade, caracterizado pela rodovia e pela ferrovia, responsveis pela conexo entre os mesmos. O municpio de Santo Andr, devido a sua configurao geogrfica, refora a segmentao existente dos municpios da Regio do Grande ABC, dividindo-os em duas pores distintas uma poro ao leste e a outra ao oeste. Essas duas partes apresentam caractersticas diferenciadas em relao infra-estrutura, equipamentos e servios disponveis, alm da disposio de atrativos naturais. A poro oeste da Regio do Grande ABC, formada pelos municpios de So Bernardo do Campo, So Caetano do Sul, Diadema e partes do mu-nicpio de Santo Andr, caracteriza-se pela existncia de um sistema de infra--estrutura relativamente bem abastecido, ao mesmo tempo em que volta-se prioritariamente s atividades de turismo de negcios, lazer e cultura. A poro leste, por sua vez, que engloba os municpios de Mau, Ribeiro Pires, Rio Grande da Serra e a poro sul do municpio de Santo Andr, onde situa-se a Vila de Paranapiacaba, apresenta um enorme poten-cial relacionado a seus atrativos naturais, mas um sistema de infra-estrutura, equipamentos e servios deficiente.

    Podemos concluir assim que, as diferentes reas que compe a Re-gio do Grande ABC fortalecem, em conjunto, o potencial turstico regional. Entretanto, ainda que haja um importante sistema de acessibilidade conec-tando as localidades, fundamental que cada uma delas conte com o seu prprio sistema de infra-estrutura, equipamentos e servios, independente e autnomo, tanto para a manuteno da qualidade de vida das populaes que l residem quanto para a implementao de quaisquer dinmicas de desenvolvimento inovadoras.

    Prefeitura Municipal de Santo Andr. FAUUSP LUME /1999. Plano de Desenvolvimento Sustentvel da Vila de Paranapiacaba.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | REGIO DO GRANDE ABC | JANEIRO 2015

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  • Na escala da Serra do Mar, a Vila de Paranapiacaba localiza-se bem no Alto da Serra nome inicial dado ocupao inglesa, posteriormente modificado em 1946 em funo de um decreto governativo brasileiro a uma altitude mdia de 800 metros em relao ao nvel do mar, distando aproximadamente 20 quilmetros do Oceano Atlntico. A Vila situa-se pr-ximo ao Vale do Rio Quilombo e ao Vale do Rio Mogi, onde foram constru-dos neste ltimo os planos ferrovirios inclinados que justificariam a origem da ocupao da Vila do Alto da Serra. Apesar de muito prxima baixada santista nos municpios de San-tos, Cubato e Bertioga, continua extremamente isolada destes, se no pelo fato de que hoje ainda existe o transporte de cargas pela concessionria M.R.S. Logstica S.A., administradora da ferrovia por uma concesso tempo-rria. Paranapiacaba, desta forma, insere-se socioeconomicamente hoje no final de um eixo de desenvolvimento de ncleos urbanos existente que comea na parte central do ABC Paulista e termina nos limites da Serra do Mar, acompanhando a Rodovia Ribeiro Pires - Paranapiacaba. Em sua morfologia urbana, a Vila de Paranapiacaba categorizada em algumas reas unitrias que compartilham caractersticas comuns, sen-do estas:

    A Vila VelhaMais prxima descida para o litoral, fruto do primeiro acampamento tu-telado pela administrao ferroviria e que surgiu como ncleo urbano suporte s atividades de manuteno e operao dos trens.

    A Parte AltaSituada em um terreno de relevo inclinado que vai desde os limites das faixas de domnio da ferrovia at o ponto final da rodovia Ribeiro Pires Paranapiacaba. Tal setor surgiu como um aglomerado urbano espontneo fomentado pela necessidade de trocas de mercadorias e oferta de servios para os trabalhadores que construiriam a Estrada de Ferro. Apresenta am-bientes notoriamente diversos do restante da Vila pelos tipos construtivos ali existentes.

    A Vila Martin SmithLocalizada a leste da ferrovia, notoriamente destacada das demais pelo padro de urbanizao imposto pelos ingleses quando de sua construo no final do sculo XX, perodo em que se decide implantar a segunda linha ferroviria que conectaria Santos a Jundia, os chamados novos planos inclinados. poca era certa a idia de que as atividades ferrovirias necessitariam de uma expanso da Vila que promovesse uma srie de equi-pamentos culturais e sociais e um padro de qualidade habitacional que garantisse o conforto para os residentes.

    O Setor FerrovirioCorresponde principalmente faixa de domnio das linhas de trens con-trolados hoje pela M.R.S. Logstica S.A., acrescido de outros espaos des-tinados acomodao de edifcios suporte das atividades da ferrovia e do museu do funicular.

    O RabiqueDe difcil acesso, inserido entre a linha de domnio da ferrovia e a Rodovia que d acesso parte alta. Fruto de ocupao irregular, a rea possui casas onde residem algumas pessoas. Possui altas declividades e risco de exposi-o linha frrea e de deslizamentos de terra.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONTEXTO | JANEIRO 2015

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  • NTRABALHO FINAL DE GRADUAO | CONTEXTO | JANEIRO 2015

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  • Ribeiro Pires

    Rio Grande da Serra

    Campo Grande

    Paranapiacaba

    Acampamento Acnhieta

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    BR 101 Rio Santos

    Vila de Paranapiacaba localizada s bordas da Serra do Mar, no final do eixo de urbanizao do planalto e prxima aos municpios de Cubato e Bertioga.Imagem area: Apple Maps.

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    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | SERRA DO MAR | JANEIRO 2015

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  • Parte Alta

    Vila Martin Smith

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    Vila de Paranapiacaba, evidenciando seus principais acessos rodovirios, ferrovias e setores urbanos (Parte Alta, V. Velha, V. Martin Smith e Rabique) Imagem area: Apple Maps

    100 400m2000

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    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | VILA DE PARANAPIACABA | JANEIRO 2015

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  • Sculo XIX Progressivo crescimento da produo cafeeira no Oeste Paulista.

    1836 Assemblia Provincial de So Paulo estuda um plano que contempla estradas de ferros, canais e ferrovias.

    1838 Lei n. 115 Outorga para construo da estrada de ferro Santos Zona central do Estado de So Paulo. (No executada poca)

    1840 Thomas Cochrane Concesso do Governo Imperial para a construo da Estrada de Ferro do Rio de Janeiro Provncia de So Paulo. (No executada poca)

    1854 Inaugurao do primeiro trecho ferrovirio do pas (Mau Estao do Fragoso), parte da Estrada de Ferro D. Pedro II (hoje Central do Brasil), que ligaria So Paulo ao Rio de Janeiro.

    1856 Decreto Imperial 1.759 Concesso para a So Paulo Railway Co. do privilegio da construo da Estrada de Ferro Santos Jundia e o prazo de noventa anos para sua ampla explorao.

    1860/1861 Incio das obras da primeira Estrada de Ferro Santos Jundia [Primeiro Funicular] Acampamento no Alto da Serra do Mar, na Fazenda Mogi, para abrigar os operrios e materiais necessrios construo.

    A Histria de Paranapiacaba enquanto espao fsico pode ser enten-dida sobre a tica do contexto macroeconmico pelo qual passa o Brasil, desde a concepo da Vila at o momento presente. A sucesso dos perodos marcantes pelos quais a Vila passou est sempre alinhada poltica eco-nmica desenvolvimentista ligada ao transporte ferrovirio. Tal dependncia da Vila com a ferrovia pode ser entendida dividindo sua Histria em fases precisas de sua existncia, observando por meio de um breve relato crono-lgico como as mudanas na conjuntura de planejamento de transportes a nvel territorial marcaram as mudanas da prpria vida urbana de Parana-piacaba.

    1862 Incio da ocupao da Parte Alta por operrios da construo da estrada e comerciantes.

    1867 Inaugurao da primeira Estrada de Ferro na Serra do Mar. [Primeiro Funicular] Ocupaes na Parte Alta e na Vila Velha.

    1867/1868 Construo da Estao do Alto da Serra prxima ao acampamento original.

    1892 Decreto do Governo Federal para a duplicao da Estrada de Ferro na Serra do Mar. [Segundo Funicular] Projeto e incio do desenvolvimento da Vila Martin Smith, ou Vila Nova.

    1896 Incio das obras da segunda Estrada de Ferro na Serra do Mar. [Segundo Funicular]

    1901 Inaugurao da segunda Estrada de Ferro na Serra do Mar. [Segundo Funicular]

    1909 Criao da Reserva Biolgica do Alto da Serra, mantida atualmente pelo Instituto Botnico de So Paulo.

    1936 Fundao do Clube Unio Lyra Serrano.

    1938 Construo da Sede do Clube Unio Lyra Serrano.

    1945 Mudana de denominao da Estao Alto da Serra para Estao Paranapiacaba

    1946 Fim do perodo de concesso para a So Paulo Railway Co. Incorporao do patrimnio ferrovirio Unio.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | HISTRIA DE PARANAPIACABA | JANEIRO 2015

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  • 1946 a1960 Substituio gradativa dos moradores da Vila. 1956 Transferncia da administrao das linhas ferrovirias para a Rede Ferroviria Federal S.A. Instalao de rede de gua, esgoto, energia eltrica e calamento das ruas em paraleleppedo por parte da Prefeitura de Santo Andr.

    Anos 70 Fim do trfego de trens de passageiros entre So Paulo e Santos.

    1974 RFFSA instala o sistema cremalheira aderncia sobre o traado do Primeiro Funicular.

    1977 Desativao da estao original inglesa do Alto da Serra. Solicitao de membros da Cmara dos Vereadores de Santo Andr para o tombamento da Vila junto ao Condephaat. Criao do Parque Estadual da Serra do Mar.

    1981 Incndio na estao original inglesa do Alto da Serra.

    1982 Desativao do Segundo Funicular. Acordado um convnio entre a FAU USP (Julio Abe e Issao Minami) e o CONDEPHAAT para a avaliao do patrimnio da Vila.

    1983 1 Simpsio Pr Paranapiacaba.

    1984 Criao da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos que pas-sou a gerir o transporte de passageiros na metrople.

    1985 2 Simpsio Pr Paranapiacaba.

    1987 Tombamento histrico pelo CONDEPHAAT.

    1992 Companhia Brasileira de Trens Urbanos se estadualiza em So Pau-lo como Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. (CPTM)

    Referncias LAMARCA, Vicente Adolfo. A Historia de Paranapiacaba. Santo Andr: Uma publicao da Associao Ambientalista Me Natureza AAMN, 2008. MINAMI, Issao. Vila Martin Smith, no Alto da Serra, em So Paulo, um exemplo tpico de model company town. FAU USP, Tese de Doutorado. 1995.

    1996 Privatizao - Concesso da linha frrea para a MRS Logstica S.A. por 30 anos. 1997 Primeira Gesto de Celso Daniel na Prefeitura de Santo Andr. 1998 Criao do Departamento de Gesto Ambiental.

    1999 Extino da Rede Ferroviria Federal S.A. (RFFSA)

    2000 Segunda Gesto de Celso Daniel na Prefeitura de Santo Andr. Paranapiacaba como Ncleo de Reserva da Biosfera da UNESCO.

    2001 Implementao da Secretaria de Gesto de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense. Compra da Vila de Paranapiacaba (Vila Velha, Vila Martin Smith e Parque das Nascentes) pela prefeitura municipal de Santo Andr.

    2002 Tombamento da Vila de Paranapiacaba pelo IPHAN, com a parti-cipao da FAU USP. (Nestor Goulart) Projeto Plano Patrimnio da Prefeitura de Santo Andr.

    2003 Criao do Parque Natural Mun. Nascentes de Paranapiacaba.

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  • Em um primeiro momento, durante o sculo XIX, destaca-se o pro-gressivo crescimento da produo de caf da Provncia de So Paulo, que posteriormente se tornaria a principal atividade econmica do pas, reorga-nizando as relaes socioespaciais que se estabelecem no territrio paulista. At ento, a cidade de So Paulo e o interior eram regies de pouco interesse econmico e as viagens que partiam de Santos duravam dias com as tropas de mulas. A transposio da Serra do Mar era um desafio para aqueles que precisavam chegar Vila de So Paulo de Piratininga. Com a crescente produo de caf no interior do Estado, a adminis-trao da Provncia, aliada ao capital dos produtores de caf, viu-se obriga-da a promover melhorias no transporte de cargas rumo ao Porto de Santos para viabilizar o desenvolvimento da atividade cafeeira. Muitos decretos e ini-ciativas para a construo de Estradas de Ferro marcam os meados do sculo XX, mas finalmente a So Paulo Railway Co., companhia inglesa com sede em So Paulo, ganha a concesso para a construo e a explorao pelo perodo de noventa anos da Estrada de Ferro que ligaria Santos a Jundia. No territrio da Serra do Mar, tal Estrada de Ferro adotou um siste-ma de planos inclinados e trao por cabos, o chamado sistema Funicular, que necessitaria de bases operacionais ao longo dos patamares da ferrovia. Assim, com o inicio das obras, surge um acampamento de trabalhadores no canteiro do Alto da Serra do Mar, hoje correspondente Vila Velha, e um outro ncleo habitado que dava suporte comercial s atividades da ferrovia, a Parte Alta. A tecnologia empregada pela ferrovia necessitou a fixao, aps o trmino das obras, de um assentamento humano que garantisse a manu-teno permanente da ferrovia. Tal perodo marca a primeira ocupao de Paranapiacaba, ainda que inicial, pois previa-se a instalao de poucos fun-cionrios, apenas para atender as necessidades bsicas da ferrovia, durante o qual foi construda a primeira estao de trens do Alto da Serra.

    Primeira metade do sculo XIX 1892 1892 1946

    Posteriormente, ao longo da segunda metade do sculo XIX, a eco-nomia cafeeira continuava a expandir-se continuamente, demandando um fluxo ainda maior de pessoas e mercadorias entre o Porto de Santos, prin-cipal entrada e sada da Provncia de So Paulo, a Cidade de So Paulo, ento centro de negcios, e o interior paulista produtor de caf. Opta-se, desta forma, pela duplicao da Estrada de Ferro no tre-cho da Serra do Mar, utilizando o mesmo sistema tecnolgico de trao por cabos, utilizando planos inclinados e patamares operacionais, o ento chamado segundo Funicular ou novos planos inclinados da Serra do Mar. No que diz respeito ocupao da Vila do Alto da Serra, tal mo-mento representa o marco definitivo para transform-la naquilo que Issao Minami considera um exemplo tpico de Model Company Town inglesa, isto , uma vila ferroviria aos padres urbansticos e construtivos ingleses, dotada de todo um conjunto de equipamentos e infra-estruturas, que aten-desse especificamente uma nica atividade econmica: a manuteno da ferrovia e a instalao de servios que dessem suporte comercial a tal atividade e tambm atrativos de lazer para o local. Tal expanso urbana de Paranapiacaba corresponde Vila Martin Smith. Neste perodo, vivencia-se o pleno desenvolvimento da Vila de Para-napiacaba enquanto espao urbanizado que oferece equipamentos comu-nitrios para o bem-estar de quem ali reside, como o Clube Lyra Serrano, dentre outros. A literatura a respeito da Histria documentada de Parana-piacaba, bem como os depoimentos que relatam a memria dos morado-res deste perodo, retratam a poca de melhor qualidade de vida no local, em um ambiente tipicamente ingls, seja pelo clima mido, pelo sistema construtivo das novas habitaes, pelos costumes sociais, entre outros.

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  • Finalmente, no desdobramento de um ltimo recorte temporal da Histria de Paranapiacaba, constata-se nos anos noventa uma vontade po-ltica, sobretudo pela administrao da Prefeitura Municipal de Santo Andr, em promover a valorizao patrimonial da Vila e entender a necessidade de garantir novos usos e atividades econmicas para Paranapiacaba, de modo a tornar a cidade atrativa para o turismo como tambm para promover a insero dos habitantes locais nas atividades econmicas vinculadas ao turismo. A gesto municipal do Prefeito Celso Daniel trabalhou para viabilizar a compra da Vila de Paranapiacaba (Vila Velha, Vila Martin Smith e rea correspondente ao atual Parque das Nascentes), at ento propriedade da REFFSA, que na poca j havia decretado falncia pblica. Medidas admi-nistrativas foram implantadas com o objetivo de tutelar o territrio da Vila e seu entorno de extrema importncia ambiental, como a criao de Depar-tamento de Gesto Ambiental da Prefeitura, a implementao da Secretaria de Gesto de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, a proposta do projeto Plano Patrimnio da Prefeitura de Santo Andr e a inaugurao do Parque Municipal das Nascentes de Paranapiacaba. Tambm neste perodo em que se reconhece a importncia patri-monial de Paranapiacaba a nvel nacional, com o processo de tombamento realizado pelo IPHAN, mais uma vez com a participao de docentes da FAU USP.

    Com o trmino da concesso das linhas ferrovirias Santos-Jundia para a So Paulo Railway Co., em 1946, passados noventa anos desde o decreto imperial que autorizava a construo da primeira Estrada de Ferro, a companhia inglesa foi obrigada a devolver o patrimnio construdo, incluindo as linhas da ferrovia e todos os edifcios em sua posse para o Governo Federal. Sobre os primeiros anos de administrao federal, a literatura comenta o esforo do Governo em manter a qualidade das viagens e a manuteno dos trens e do patrimnio edificado. Foram feitas melhorias no sistema de eletrificao e sinalizao e a substituio de muitos vages, at que a admi-nistrao direta da ferrovia passasse a ser de competncia da recm-criada empresa Rede Ferroviria Federal S.A. REFFSA. A Histria econmica do Brasil evidencia como, a partir da dcada de 50, houve um progressivo abandono do modal ferrovirio no pas em prol de um modelo nacional desenvolvimentista que tinha a indstria automobilista como principal eixo econmico. Desta forma, houve o progressivo declnio da manuteno das operaes de trens da linha Santos-Jundia, culminando com a substituio do sistema operacional da primeira Estrada de Ferro Fu-nicular pelo sistema de cremalheira-aderncia, a desativao dos segundos planos inclinados da Serra do Mar (segunda linha Funicular), a desativao das viagens para passageiros entre o litoral e o planalto nos anos setenta, a desativao e posterior incndio da estao de trens de Paranapiacaba e a concesso para o capital privado da administrao das linhas frreas, a cargo da Companhia M.R.S. Logstica, no perodo das privatizaes durante os anos noventa. Para a vida urbana de Paranapiacaba, relata-se o momento de pro-gressivo abandono e descaso com os espaos construdos da Vila e a gradual substituio de moradores, os quais no tinham mais vnculos com a compa-nhia inglesa que anteriormente operava os trens. Sucessivamente ao quadro de progressivo abandono da Vila de Para-napaicaba, no final dos anos setenta e comeo dos anos oitenta que colo-ca-se a discusso sobre o valor patrimonial dos bens edificados e da memria cultural dos espaos da Vila, com a realizao de simpsios pr-Paranapiaca-ba e o tombamento junto ao CONDEPHAAT, viabilizado por meio do esforo de docentes da FAUUSP e funcionrios deste rgo de preservao.

    1946 1997 1997 Presente

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  • Atualmente, a Vila de Paranapiacaba encontra-se dividida do ponto de vista da posse da terra em reas especificas, a saber:

    1) Na Vila Martin Smith e na Vila Velha, juntas denominadas como Parte Baixa, todos os edifcios, sejam equipamentos comunitrios ou residen-cias, bem como a rea do Parque das Nascentes de Paranapiacaba, perten-cem Prefeitura Municipal de Santo Andr, estando sua ocupao subordi-nada aprovao municipal mediante interesse pblico, preferencialmente para a promoo de atividades relacionadas ao turismo. 2) A ferrovia, sua faixa de domnio, seus edifcios lindeiros de suporte mesma esto regulamentados por concesso para a empresa M.R.S Logs-tica S.A. 3) A Parte Alta da Vila de Paranapiacaba juridicamente nunca foi posse legal de um proprietrio, tendo sido sua ocupao dada de forma espontnea. Foram feitos levantamentos cadastrais dos imveis, de modo a regularizar o registro das propriedades particulares. Porm, at hoje, os terrenos so devolutos, no sendo totalmente regularizados.

    *Texto presente na Proposta Metodolgica para proteo de Paranapiacaba. Corpo Tcnico Compedhaapasa Abril de 2006, conforme informes publicitrios do PAC Cidades Histricas, presentes em Paranapiacaba no dia 20/07/14 (Festival de Inverno de Paranapiacaba)

    VILA VELHA

    A Vila Velha foi implantada como um local de uso provisrio. Inicial-mente, ali deveria ser apenas um local estratgico no Alto da Serra do Mar, utilizado para carga e descarga de materiais para a construo do trecho ferrovirio na Serra. Deveriam existir, tambm, alguns poucos casebres para moradia de empregados das empreiteiras designadas para realizar a obra daquele trecho. Com a instalao do sistema funicular na Serra, possivel-mente a So Paulo Railway manteria, naquela localidade, um pequeno corpo fixo de funcionrios, assim como nos demais patamares, para o funciona-mento do sistema funicular. No entanto, as condies econmicas de sucesso desse meio de transporte, especialmente a partir da dcada de 1870, e, mes-mo o interesse de passageiros em realizar a viagem entre So Paulo e Santos, levou essa rea provisria a adquirir paulatinamente outro status. No se tem a datao exata, mas possivelmente nos anos prximos construo da Estao do Alto da Serra, em 1874, a Vila Velha foi adquirindo um aspecto mais urbano. A Rua Direita j marcava o espao com uma reta que tinha seu incio no ptio ferrovirio. Outros caminhos foram abertos a partir des-sa rua. Residncias foram construdas ainda que sem recuo em relao ao arruamento. No entanto, o terreno com aclives e declives acentuados que influram no arruamento desordenado, no foi modificado. O ponto focal de vrias edificaes dessa rea, possivelmente as mais antigas, conflua para o ptio ferrovirio existente naquele momento, nas proximidades do 4 Patamar da Serra Velha. *

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  • CASARIO O aspecto provisrio da Vila Velha foi aos poucos sendo alterado depois da implantao da Vila Martin Smith. Essa Vila planejada com plano urbanstico setorizado possua local definido de comrcio, rea de lazer, re-as de servio com oficinas, definio de tipologias de residncias, de acordo com a hierarquia da empresa: casa de solteiros, casas para tcnicos gradu-ados, residncias para chefes de estao, etc. e logradouros com denomina-es relacionadas a personagens associadas duplicao da ferrovia, como o prprio nome da Vila Martin Smith, que homenageava um dos primeiros diretores da So Paulo Railway, Martin Ridley Smith. Dessa forma, algumas casas e galpes da Vila Velha foram substitudos por residncias semelhan-tes s da Vila Martin Smith, entretanto, os nomes dos logradouros manti-veram suas denominaes originais, com indicaes de localidades como o Caminho do Hospital Velho, a Rua Varanda Velha, a Rua da Estao, ou ainda expressavam aspectos da paisagem como o caso do Caminho da Bela Vista. **

    VILA MARTIN SMITH Relatrio apresentado ao presidente da repblica dos Estados Uni-dos do Brazil pelo ministro de Estado dos Negcios da Indstria, Viao e Obras Pblicas no ano de 1900: ... villa operaria do Alto da Serra: Em vista do nmero considervel de empregados que formam o pessoal de trafego e traco no Alto da Serra onde se vae concentrar o grande movimento dos planos inclinados actuais e dos novos planos incinados, foi resolvida a construco no Alto da Serra de uma Villa operaria, no typo geralmente usado na Europa para esse fim, sendo constituda de 10 casas duplas typo A, para pequena famlia, cinco casas duplas typo B, para famlia numerosa, uma casa typo C, para adminis-trador, duas casas typo D, para pessoal da via permanente, duas casas com 20 quartos para empregados solteiros, breakistas, etc., dois grrupos de casas de oito habitaes cada uma, de dois typos, um para pequena famlia e outro typo para famlia mais numerosa. Podem ser assim acomodados, com todo conforto, cerca de 90 em-pregados de varias categorias, sendo as casas dispostas em regular arrua-mento, com espaos intermedirios para futuras edificaes e com sistema completo de gua e esgoto para cada casa. As ruas principais tem 10 metros de largura e cruzam-se em ngulo recto, deixando uma praa e quarteies para futura edificao da escola, igreja, etc... cada casa tem o respectivo cercado e jardim feito e cuidado pelos inquilinos... ***

    **Texto presente na Proposta Metodolgica para proteo de Paranapiacaba. Corpo Tcnico Compedhaapasa Abril de 2006, conforme informes publicitrios do PAC Cidades Histricas, presentes em Paranapiacaba no dia 20/07/14 (Festival de Inverno de Paranapiacaba)

    ***Texto presente em MAIA, Alfredo Eugnio de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1900 Acervo DAESP. P. 553 e 554, conforme informes publicitrios do PAC Cidades Histricas, presentes em Paranapiacaba no dia 20/07/14 (Festival de Inverno de Paranapiacaba)

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  • Fotografia Original: Nelson Kon

  • EXPLORAO

  • Por territrio entende-se, de fato, uma extenso mais ou menos vasta da superfcie terrestre, que pode ser delimitada segundo divises geofsicas (montes, rios) segundo diferenas lingsticas, segundo delimitaes poltico--administrativas que podem coincidir com os limites geofsicos e lingsticos ou ignor-los. (...) Trata-se no entanto de ver se o conceito de territrio, na sua acepo mais vasta (incluindo tanto os territrios cujos limites tenham sido traados convencionalmente como aqueles que possuam limites histri-cos, lingsticos e geofsicos), coincide em todos os sentidos com os conceitos de ambiente e paisagem; ou se no ser mais abrangente, e inclua em si todas as notas que conceitualmente definem a paisagem e o ambiente; autorizando-os assim, por clareza expositiva e com o objetivo de evitar mal--entendidos, a substituir nossos discursos a palavra territrio pelos nomes paisagem e ambiente (cuja cidadania teria mera funo retrica, como metforas mais ou menos eficazes s quais seria ilcito recorrer por variedade de dico ou para acentuar certas caractersticas do territrio a que nos refe-rimos mais especificamente em determinados contextos).*

    *Fragmento da obra ASSUNTO, Rosario. Paisagem Ambiente Territrio. Uma tentativa de clarificao conceptual. In: Filosofia da Paisagem C.F. Univ. Lisboa, Lisboa, 2011.

    Do conceito de ambiente, deveremos dizer que tem dois significa-dos: um biolgico, que se refere s condies de vida fsica favorecidas ou contrariadas pelas configuraes de certas localidades (longitude, latitude, altitude, exposio solar, precipitaes, temperaturas sazonais, conformao geolgica do solo e do subsolo, hidrografia) e um histrico-cultural, conso-ante em certas localidades predomine a cidade ou o campo, a agricultura ou a indstria, o comrcio ou a pastorcia, e ainda consoante os costumes, as tradies, a moral corrente e a unidade ou multiplicidade das confisses e dos cultos sejam mais ou menos intensamente seguidos e praticados; e os testemunhos artsticos locais, influenciando de modo diferente o ambiente conforme os perodos histricos nos quais tiveram maior ou menor prosperi-dade; as ocupaes estrangeiras sofridas e os domnios exercidos no passado sobre pases estrangeiros; a eventual presena de minorias tnico-lingusti-cas, a emigrao ou a imigrao...E no preciso muito para perceber que o conceito de ambiente, na sua unidade-diversa de ambiente biolgico e

    de ambiente histrico-cultural, inclui em si o de territrio (no pode haver ambiente sem territrio), mas com um excesso de elementos que no so necessrios para a definio de territrio enquanto tal. (...) Dizemos por-tanto que ambiente mais que territrio, sendo ambiente o territrio qualificado biolgica, histrica e culturalmente.**

    **Fragmento da obra ASSUNTO, Rosario. Paisagem Ambiente Territrio. Uma tentativa de clarificao conceptual. In: Filosofia da Paisagem C.F. Univ. Lisboa, Lisboa, 2011.

    Creio que neste ponto surgir com bastante facilidade uma defi-nio de paisagem como forma que o ambiente (funo ou con-tedo, podemos cham-lo assim, empregando por analogia os termos da crtica literria e artstica) confere ao territrio como matria de que ela se serve. Ou melhor, se quisermos ser mais precisos, paisagem a forma na qual se exprime a unidade sinttica a priori (no sentido kan-tiano: no a unificao de dados recebidos separadamente, mas a unidade necessria que condiciona o seu apresentar-se na conscin-cia) da matria (territrio) e do contedo-ou-funo (ambiente)***

    *** Fragmento da obra ASSUNTO, Rosario. Paisagem Ambiente Territrio. Uma tentati-va de clarificao conceptual. In: Filosofia da Paisagem C.F. Univ. Lisboa, Lisboa, 2011.

    No ser, portanto, ousado supor que tal como o conceito de am-biente inclui em si o de territrio, tambm o conceito de paisagem inclui em si o de ambiente: ento, a realidade que devemos estudar e sob a qual, se necessrio, devemos intervir sempre a paisagem, e no am-biente e muito menos territrio.****

    **** Fragmentos da obra ASSUNTO, Rosario. Paisagem Ambiente Territrio. Uma tenta-tiva de clarificao conceptual. In: Filosofia da Paisagem C.F. Univ. Lisboa, Lisboa, 2011.

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  • Para fins de compreenso da abordagem terica e dos principais con-ceitos e argumentaes utilizados neste trabalho, apresentam-se alguns frag-mentos textuais das principais obras de referncia presentes na bibliografia, com o objetivo de esclarecer de que modo a leitura terica pde contribuir seja para o esclarecimento das temticas envolvidas durante a fase de con-ceituao como tambm para a mtodo utilizado no desenvolvimento do trabalho. Em primeiro lugar, o texto de ASSUNTO esclarece a diferena semn-tica e conceitual entre os termos aqui freqentemente utilizados tais como Ter-ritrio, Ambiente e Paisagem. Como em uma progresso de idias , o autor demonstra como o conceito de paisagem esta intimamente atrelado ao de ambiente, que por sua vez remonta idia de territrio: tal como o conceito de ambiente inclui em si o de territrio, tambm o conceito de paisagem inclui em si o de ambiente. Territrio, como ponto de partida, seria uma delimitao especfica da superfcie terrestre descriminada por seus limites, que podem ser obtidos tanto do ponto de vista geofsico, poltico-administrativo, lingstico, histrico ou cultural. Em outras palavras, o recorte no espao que define a rea de atuao sobre a qual se trabalha, sem que se esteja a princpio trabalhando suas qualidades enquanto tal, mas sim sua extenso e abrangncia. O ambiente, por sua vez, caracteriza-se por um conjunto de fatores de ordens biolgica que se referem s condies de vida fsica favorecidas ou contrariadas pelas configuraes de certas localidades como tambm por fatores de ordem histrico-cultural e artstico. Nesse sentido, mais que apenas delimitado quantitativamente por sua extenso, o ambiente qualifica o territrio a ele referente do ponto de vista dos processos biolgico, fsicos e humanos, conferindo-lhe caractersticas prprias que o difere de outros territrios e ambientes. A paisagem, por fim, a interpretao de uma totalidade (uma uni-dade) que se exprime na conscincia humana a partir de dados objetivos presentes no ambiente, tais como os fatores biolgicos, fsicos, histrico e cul-turais que se exprimem em um dado territrio definido, e que a partir do qual se processa a composio da paisagem. Mais que uma sobreposio (uma unificao) de elementos, tais como espcies vegetais, rios, edificaes,

    etc. presentes em uma cena, a paisagem se estabelece na subjetividade humana a partir do momento em que se percebe uma unidade paisagstica que caracteriza um ambiente e o difere de outro. Assunto demonstra a necessidade de se estudar e de se intervir na paisagem, uma vez que esta compreende o significado interpretativo que o meio ambiente confere conscincia do indivduo ou de um coletivo de pessoas, uma comunidade.

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  • Para compreender a preferncia ambiental de uma pessoa, necessitaramos examinar sua herana biolgica, criao, educao, trabalho e os arredores fsicos. No nvel de atitudes e de preferncias de grupo, necessrio conhecer a histria cultural e a experincia de um grupo no contexto do seu ambiente fsico. Em nenhum dos dois casos possvel distinguir nitidamente entre os fatores culturais e o papel do meio ambiente fsico. Os conceitos cultura e meio ambiente se superpem do mesmo modo que os conceitos homem e natureza. *

    A palavra topofilia um neologismo, til quando pode ser definida em sentido amplo, incluindo todos os laos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material. Estes diferem profundamente em intensidade, sutileza e modo de expresso. A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esttica: em seguida, pode variar do efmero prazer que se tem de uma vista, at a sensao de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa, que subitamente revelada. A resposta pode ser ttil: o deleite ao sentir o ar, gua, terra. Mais permanentes e mais difceis de expressar, so os sentimentos que temos para com um lugar, por ser o lar, o lcus de reminiscncias e o meio de se ganhar a vida. *

    A familiaridade engendra afeio ou desprezo (...) A conscincia do passado um elemento importante no amor pelo lugar. A retrica patritica sempre tem um dado nfase s razes de um povo (...) A histria responsvel pelo amor terra natal. Para o Aranda, as montanhas, riachos fontes e poos no so apenas aspectos cnicos interessantes ou bonitos; so a obra de antepassados dos quais eles descendem. (...) O campo todo uma milenar arvore genealgica. *

    Tal como o pretenso amor pela humanidade levanta nossas suspeitas, tambm a topofilia soa falsa quando manifestada por um extenso territrio. Parece que a topofilia necessita um tamanho compacto, reduzido s necessidades biolgicas do homem e s capacidades limitadas de sentidos. Alm disto, uma pessoa pode se identificar mais facilmente com uma rea, se ela parecer uma unidade natural. A afeio no pode se estender a todo

    um Imprio, porque freqentemente, este um conglomerado de partes heterogneas, mantidas unidas pela fora. Ao contrrio, a regio natal (pays) tem continuidade histrica e pode ser uma unidade fisiogrfica (um vale, um litoral, ou afloramento calcrio), pequena o suficiente para ser conhecida pessoalmente. *

    A lealdade para com o lar, cidade e nao um sentimento poderoso. (...) Em contraste, o campo evoca uma resposta ambiental mais difusa. Para compreender esta forma particular de topofilia, preciso estar consciente de que um valor ambiental requer sua anttese para defini-lo (...) Lar uma palavra sem significado, separada de viagem e pas estrangeiro (...) as virtudes do campo requerem sua anti-imagem, a cidade, para acentuar a diferena e vice-versa. (...) Quando uma sociedade alcana um certo nvel de desenvolvimento e complexidade, as pessoas comeam a observar e apreciar a relativa simplicidade da natureza. (...) Esta apreciao romntica da natureza privilgio e riqueza da cidade. (...) *

    amplamente aceito que o campo a anttese da cidade, independentemente das verdadeiras condies de vida destes dois meios ambientes. Escritores, moralistas, polticos e mesmo os cientistas sociais tendem a ver o espectro urbano-rural como uma dicotomia fundamental. No entanto, de outra perspectiva claro que a natureza virgem ou o selvagem, e no o campo, o plo aposto da cidade, inteiramente feita pelo homem. *

    O termo topofilia associa sentimento com lugar. (...) O fato das imagens serem extradas do meio ambiente no significa que o mesmo as tenha determinado, nem necessariamente acreditar (...) que certos meio ambientes possuem o irresistvel poder de despertar sentimentos topoflicos. O meio ambiente pode no ser a causa direta da topofilia, mas fornece o estmulo sensorial que, ao agir como imagem percebida, d forma s nossas alegrias e ideais. Os estmulos sensoriais so potencialmente infinitos:

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | ABORDAGEM TERICA | JANEIRO 2015

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  • Uma segunda vertente da abordagem terica amplamente utilizada ao longo do trabalho a coleo de obras do autor sino-americano Yu-Fu Tuan, gegrafo que trabalha com temas tais como a topofilia e a percep-o ambiental. Os trechos ao lado contm alguns fragmentos da obra To-pofilia: um estudo da percepo, atitudes e valores do meio ambiente, que auxiliou a motivar-me no sentido de investigar como poderiam ser trazidos para o contexto de So Paulo as reflexes oriundas na Itlia. Em primeiro lugar, o primeiro trecho aborda, de maneira anloga a como foi colocado por Assunto, o fato de que o ambiente , enquanto preferncia (no sentido apreciao sensorial) composto de um lado pela valorizao e/ou rejeio de elementos fsicos e biolgicos e, do outro, pela valorizao e/ou rejeio de aspectos culturais e histricos. Estabelece, as-sim como diz Rosrio, que existe uma apreciao enquanto condio que apresenta-se na conscincia, revelando o carter subjetivo da experincia que o ambiente oferece a, como colocado por Tuan, uma pessoa e/ou um grupo e ressalta ainda a impossibilidade de, no plano da conscincia, definir o que oriundo do meio ambiente fsico presente e aquilo que remonta formao histrico-cultural do indivduo ou do coletivo. Em seguida, define o conceito de Topofilia como um neologismo que caracteriza a afetividade que os seres humanos podem ter com o meio am-biente material. Ressalta a necessidade de distinguir, por assim dizer, a inten-sidade e nveis de expresso que um sentimento topofilico pode ter sendo, segundo o autor, o sentimento de amor que se pode ter por um lugar en-quanto lar [para entender em lngua portuguesa lar, comparar em lngua inglesa as palavras house e home em SOPHER, David E. - The Lands-cape of Home: Myth, Experience, Social Meaning.] o estgio mais avanado desta escala gradual de sentimentos e mais difcil de se expressar. neste sentido que este trabalho procura abordar os sentimento de topofilia. Tuan aponta tambm a importncia da compreenso histrica e da

    aquilo a que decidimos prestar ateno (valorizar ou amar) um acidente do temperamento individual, do propsito e das foras culturais que atuam em determinada poca.*

    * Fragmentos da obra TUAN, Yi-Fu. de Oliveira, Livia. Topofilia: um estudo da percepo, atitudes e valores do meio ambiente. So Paulo: Difel Difuso Editorial S.A., 1980.

    identidade pessoal em relao ao passado para a formao dos sentimentos de topofilia, razo pela qual se deu valor em estudar o significado dos es-paos na Vila de Paranapiacaba procurando entender o que eles significam enquanto espaos de memria na Vila. Outro ponto importante que merece bastante ateno o fato de que o sentimento topofilico torna-se aparentemente falso quando est atre-lado a um vasto territrio, sendo mais possvel que o homem, enquanto limitado por sua capacidade de sentidos, compreenda uma unidade natural fisiogrfica e que possua uma continuidade histrica. O fato que, apesar de se raciocinar em termos da Vila de Paranapiacaba, o presente trabalho tambm indaga a possibilidade de sentimentos topofilicos em uma escala maior, aquela que compreende o territrio paulista ou, no mnimo, da regio metropolitana de So Paulo, na medida em que, como colocado tambm por Tuan, Em nossa sociedade de alta mobilidade, as impresses fugazes das pessoas que esto de passagem no podem ser negligenciadas. Em um contexto territorial de intensos e fceis deslocamentos ao longo do Estado paulista, a escala das viagens pode reduzir a sensao de estar longe do lar. Os pares antitticos que permitem as relaes topofilicas tambm so interessantes no que diz respeito ao trabalho. A prpria idia de lar est relacionada a viagem e campo est vinculado ao conceito de cidade, sendo a vivncia nas cidades uma origem da valorizao das experincias ambientais do campo : A apreciao romntica da natureza privilgio e riqueza da cidade. Como colocado mais adiante, a oposio cidade manifesta-se no no campo (enquanto espao rural), mas sim natureza selvagem. Tais reflexes so especiais para entendimento da Vila de Para-napiacaba, no sentido de considerar a valorizao daquele espao, inserido em um ambiente de Mata Atlntica, por sua anti-imagem em relao ao contexto das reas urbanas da RMSP e de que modo a apreciao sensorial da mesma decorre de uma busca por algo que contraponha a vida urbana. Por fim, o ultimo fragmento revela a associao entre sentimento e lugar, demonstrando a no relao direta que a cena presente em um am-biente tm com tal sentimento, na medida em que tal meio pode no ser a causa da topofilia, mas sim um instrumento pelo qual o individuo recebe o estimulo sensorial que resgata sua vivncia cultural e biolgica.

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO | ABORDAGEM TERICA | JANEIRO 2015

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  • Um ambiente construdo compreende diferentes maneiras de an-lise. Esta deve comportar o significado da organizao espacial, atravs da correlao com os smbolos, signos, materiais, cores e formas da paisagem, enfim, a anlise atravs dos aspectos icnicos do ambiente. Desta forma, o significado do espao deve representar um sistema, indicador de uma situ-ao espacial, concebido a partir das relaes entre elementos e pessoas que se interagem. Os princpios, que regem essa relao usurio ambien-te, ocorrem dentro dos diversos aspectos de organizao social, cultural, econmica e poltica. Deste modo, na abordagem dos aspectos formais e referenciais do Alto da Serra, faremos referncia a um sistema visualmente percebido, ca-paz de alimentar representaes do espao urbano. So objetos, elementos fsicos e materiais, apropriados socialmente que se articulam a um suporte de significaes, conhecido nessa apropriao social e na maneira pela qual ele se integrou, ao longo do tempo, na formao scio-cultural do Alto da Serra.***

    *** MINAMI, Issao. Vila Martin Smith, no Alto da Serra, em So Paulo, um exemplo tpico de model company town. FAU USP, Tese de Doutorado. 1995.

    "How, then, may we apprehend the visible forms, the landscapes, of home?(...) At yet other scale, when experience of other places suggests that some familiar things at home may be distinctive, these may be generic symbols of home. One becomes then a geographer of the micro-region, if not always a very good one, putting together, perhaps not wittingly, a mental composite of features that tell of home: a profile of hillside, the hue and the texture of houses, the pitch of church steeples, the color of cattle. Such home regions will have ragged and changing borders, and certitude may come only with the appearance of the maker of a familiar social field" *

    * SOPHER, David. E. - The Landscape of Home: Myth, Experience, Social Meaning. In: