leiria histórica, uma nova urbanidade

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uma nova urbanidade uma nova urbanidade Leiria Histórica Relatório Final Estudo de Enquadramento Estratégico uma nova urbanidade uma nova urbanidade Leiria Histórica Relatório Final Estudo de Enquadramento Estratégico PT6010 . Abril 2008

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  • uma nova urbanidadeuma nova urbanidadeLeiria Histrica

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    Estudo de Enquadramento Estratgico

    uma nova urbanidadeuma nova urbanidadeLeiria Histrica

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    Estudo de Enquadramento Estratgico

    PT6010 . Abril 2008

  • L E I R I A H I S T R I C A , U M A N O V A U R B A N I D A D E

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    NDICE

    Sumrio executivo................................................................................................. 4

    1 | Apresentao do estudo................................................................................. 7

    2 | Contextualizao da rea de estudo............................................................ 12

    2.1 | Nota sobre a rea de estudo............................................................... 12

    2.2 | Caracterizao da rea de estudo ...................................................... 15

    Estrutura urbana ...................................................................................15

    Acessibilidades, transportes e estacionamento ..................................17

    Caracterizao fsica ............................................................................22

    Caracterizao dos usos e ocupao .................................................25

    2.3 | Envolvente socioeconmica ................................................................ 30

    2.4 | Gesto territorial................................................................................... 35

    Nota de enquadramento ......................................................................35

    Polticas de mbito nacional e regional................................................38

    Instrumentos de gesto territorial.........................................................42

    2.5 | Sntese e diagnstico........................................................................... 47

    3 | Estratgia de interveno ............................................................................. 55

    3.1 | Considerandos iniciais......................................................................... 55

    3.2 | Trunfos e viso para um futuro desejvel............................................ 56

    3.3 | Objectivos da interveno ................................................................... 61

    4 | Plano de interveno..................................................................................... 65

    4.1 | Aces propostas................................................................................ 65

    4.2 | Zonas e unidades de interveno........................................................ 70

    4.3 | Investimento......................................................................................... 74

    Pressupostos para a estimativa de investimento.................................74

    Investimento global estimado...............................................................78

    4.4 | Entidades envolvidas e parcerias ........................................................ 82

    4.5 | Fontes de financiamento mobilizveis................................................. 87

    4.6 | Definio de prioridades...................................................................... 91

    5 | Prximos passos - operacionalizao ......................................................... 94

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    ANEXOS

    Anexo 1 - Documentao de referncia

    Anexo 2 - Peas desenhadas - diagnstico / caracterizao

    1. Limite da rea de estudo ACRRU

    2. Limites da ACRRU e dos IGT

    3. Rede viria

    4. Parqueamento automvel

    5. Estado de conservao do parque edificado

    6. Nmero de pisos

    7. Usos do parque edificado

    7.1. Piso trreo

    7.2. Restantes pisos

    Anexo 3 - Peas desenhadas - proposta de interveno

    1. Planta das unidades de interveno

    2. Planta de localizao das aces

    3. Identificao das aces prioritrias de interveno

    3.1. Aces prioritrias Cenrio A

    3.2. Aces prioritrias Cenrio B

    Anexo 4 - Matriz de aces

    Anexo 5 - Investimento - estimativa preliminar

    1. Investimento cenrio global

    2. Investimento definio de prioridades (Cenrios A e B)

    Anexo 6 - Fontes de financiamento mobilizveis

    1. Financiamento cenrio global

    2. Financiamento definio de prioridades (Cenrios A e B)

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    SUMRIO EXECUTIVO

    A consolidao de uma poltica de cidades, forte e coerente, associada reabilitao,

    renovao e revitalizao das reas urbanas centrais a partir da adaptao dos tecidos

    urbanos a novas formas de ocupao e de apropriao, constituem um objectivo fundamental

    do Governo e da Unio Europeia, com repercusses ao nvel local e, no caso da cidade de

    Leiria, da respectiva Autarquia.

    O tema da reabilitao deixou de estar associado apenas ao parque edificado para passar a

    incluir os domnios social e funcional das cidades, na dupla perspectiva da melhoria das

    condies de qualidade de vida colectiva e individual.

    Nessa medida, a considerao dos espaos pblicos, das infra-estruturas, da concretizao de

    polticas de eficincia energtica e de conforto ambiental, a introduo de novas tecnologias, a

    revitalizao econmica e a promoo da coeso social, so, seguramente, algumas das

    questes que se devero acautelar de forma a garantir a desejvel abrangncia da reabilitao.

    A cidade de Leiria ocupa um lugar de indiscutvel referncia na Histria de Portugal passada e

    recente, no panorama do desenvolvimento econmico nacional e nas recentes polticas de

    requalificao urbana que, atravs do Programa Polis, reformularam a importncia da

    apropriao do espao pblico como um dos mais elevados actos de cidadania. Esse

    posicionamento tem vindo a ser reforado pelas qualidades que a cidade demonstra enquanto

    espao urbano capaz de, em todas as suas dimenses, se adaptar evoluo.

    Inserido num territrio inegavelmente dinmico, o centro histrico de Leiria desde sempre se

    afirmou como um dos rostos da cidade. As suas caractersticas nicas (tanto pela sua

    responsabilidade histrica no crescimento urbano da cidade, como pelos valores patrimoniais

    que integra) foram, lentamente, sofrendo um processo de desqualificao fsica que tem sido

    reconhecido e assumido pelo Municpio, o qual tem dedicado especial ateno gesto e

    ordenamento daquela parte do territrio, designadamente por via da elaborao (em curso) de

    um plano de pormenor para o centro histrico.

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    Esse plano (que se encontra em fase de elaborao), surgiu na sequncia de um plano de

    salvaguarda elaborado pela Autarquia, que sempre demonstrou preocupao pela

    necessidade de adaptao constante s exigncias urbansticas das polticas de ordenamento

    do territrio.

    Numa perspectiva de validao das solues propostas, o PPCH Plano de Pormenor do

    Centro Histrico tem vindo a servir de orientao actual poltica de gesto urbanstica para a

    rea que dele faz parte.

    Tendo presente a importncia dos contextos regional e nacional em que se insere o concelho

    de Leiria, a Cmara Municipal pretende continuar a criar condies para potenciar a afirmao

    da cidade que integra uma regio em desenvolvimento, para o que ser necessrio assegurar,

    naturalmente, a recuperao do seu centro histrico.

    O presente Estudo de Enquadramento Estratgico tem como objecto de estudo a rea definida

    como ACRRU rea Crtica de Recuperao e Reconverso Urbanstica de Leiria, tal como

    declarada pelo Decreto Regulamentar n. 15/2001, de 22 de Maro, ao abrigo do Decreto-Lei

    n. 794/76, de 5 de Novembro.

    A construo da estratgia de interveno proposta suporta-se na identificao das intenes e

    objectivos da Autarquia, bem como na realizao de um diagnstico que resultou dos trabalhos

    de reconhecimento in loco do territrio em anlise.

    A viso de futuro proposta assenta num conjunto de trunfos intrnsecos, dos quais se

    destacam, em primeiro lugar, a proximidade cidade velha/cidade(s) nova(s), em segundo

    lugar, a singularidade da imagem da cidade de Leiria, e, por ltimo, a excelncia do

    ambiente/espao urbano, consubstanciando assim a recentralizao do centro histrico de

    Leiria, afirmando a capacidade e oportunidade de este espao do passado ter um lugar de

    excelncia no futuro da cidade.

    Essa viso , assim, formulada numa perspectiva alargada cidade e considerando as inter-

    relaes que se estabelecem entre os seus diversos espaos e componentes, o que justifica a

    importncia especfica atribuda possibilidade de articular convenientemente o ncleo antigo

    e os espaos de desenvolvimento urbano mais recente que o envolvem.

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    A viso de futuro estabelecida pressupe a definio de dois objectivos globais para a

    interveno a desenvolver neste territrio. Por um lado, a revitalizao social e econmica do

    centro histrico e, por outro (ainda que fortemente articulado com o anterior), a articulao do

    centro histrico com a envolvente. Deles prope-se dar resposta a cinco objectivos especficos:

    (1) a promoo das relaes espaciais e melhoria das condies de mobilidade; (2) a criao e

    valorizao de espaos pblicos: (3) a reabilitao do parque edificado com valorizao dos

    elementos notveis; (4) a criao de ncoras funcionais;, e (5) a promoo do centro histrico.

    O Estudo de Enquadramento Estratgico prope a concretizao de um conjunto de 58 aces

    tendo-se, no entanto, seleccionado, entre elas, as consideradas prioritrias e, como tal,

    estabelecido dois cenrios alternativos - cenrios A e B - cujas estimativas preliminares de

    investimento atingem montantes na ordem dos 19 e 10,5 milhes de euros, respectivamente.

    No que concerne s fontes de financiamento mobilizveis, considerou-se que os objectivos e

    intervenes propostos so enquadrveis nas medidas de poltica regional, nacional e

    comunitria em vigor, designadamente no que se refere s orientaes da poltica de cidades,

    bem como s prioridades definidas para a valorizao do territrio da Regio Centro, tendo-se,

    para o efeito, considerado tambm os cenrios global e prioritrios.

    Nesse contexto considerou-se, entre outros, e com carcter previsional, a possibilidade de

    recurso a financiamento pblico da Autarquia e a financiamento comunitrio por via do

    Programa Operacional da Regio Centro, no que concerne ao Eixo 2 Desenvolvimento das

    Cidades e dos Sistemas Urbanos e aos respectivos domnio de interveno especfico da

    Poltica das Cidades/Parcerias para a Regenerao Urbana. Nessa medida, os respectivos

    instrumentos previstos no quadro daquela poltica podero constituir um importante meio para

    a revitalizao desta rea e, nessa medida, para a prossecuo da viso definida para o centro

    histrico e para a cidade de Leiria.

    Considera-se que o presente Estudo de Enquadramento Estratgico rene as condies

    necessrias para servir de base, num primeiro momento, constituio de um contrato de

    regenerao urbana entre a Autarquia e os diversos actores urbanos envolvidos (de modo a

    que Leiria possa integrar o conjunto de 60 cidades que o Governo pretende ver financiadas

    pelo QREN no mbito das parcerias urbanas) e, num segundo momento, operacionalizao

    da estratgia por via da constituio de uma Sociedade de Reabilitao Urbana.

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    1 | APRESENTAO DO ESTUDO

    Considerando o posicionamento da cidade de Leiria e do respectivo centro histrico nos

    diversos contextos territoriais em que se inserem, bem como o desejvel desenvolvimento

    equilibrado do espao urbano, a Autarquia reconheceu a necessidade de desenvolver um

    trabalho de reflexo estratgica para a rea Crtica de Recuperao e Reconverso Urbanstica

    (ACRRU) de Leiria.

    Este Estudo traduz uma estratgia integrada de desenvolvimento urbano, articulando as

    vertentes social, econmica e ambiental, tendo por referncia as intenes da Autarquia e de

    outros agentes locais relevantes, reflectidas nos estudos, projectos e instrumentos de gesto

    territorial em elaborao ou em vigor.

    Neste enquadramento, o EEstudo de Enquadramento Estratgico para a rea Crtica de

    Recuperao e Reconverso Urbanstica de Leiria, que agora se apresenta, dever constituir-

    se, simultaneamente, como:

    1) DDocumento de estratgia que permita dotar a Autarquia de um suporte para o relanamento

    do centro histrico da cidade de Leiria;

    2) FFerramenta de apoio tomada de decises futuras;

    3) EElemento de suporte reformulao do Plano de Pormenor do Centro Histrico de Leiria;

    4) PProposta de modelo operacional para a implementao das aces a desenvolver.

    O documento que agora se apresenta o Relatrio Final do Estudo em apreo foi elaborado

    na sequncia da apresentao dos documentos anteriores, designadamente o Documento de

    Metodologia e o Documento de Estratgia. Na sequncia das respectivas validaes por parte

    da Cmara Municipal e, especificamente, da estratgia apresentada para a rea de estudo, o

    actual documento apresenta o plano de interveno que concretiza a estratgia preconizada.

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    No que respeita metodologia adoptada, o Estudo de Enquadramento Estratgico foi

    desenvolvido em trs fases, nomeadamente:

    1) Primeira fase OObjectivos e Metodologia , que consistiu na estabilizao dos objectivos e

    da prpria metodologia do Estudo bem como na recolha de informao (documental,

    cartogrfica, estatstica e de outras naturezas), cuja anlise permitiu enquadrar todo o trabalho

    desenvolvido e, em particular, suportar o diagnstico estratgico;

    2) Segunda fase DDiagnstico e Estratgia de Interveno , que implicou a anlise do

    enquadramento territorial a vrias escalas, a identificao das intenes e objectivos mais

    relevantes da Autarquia e aquelas preconizadas nos Instrumentos de Gesto Territorial eficazes

    e em elaborao com implicaes na construo de uma estratgia para a rea de interveno.

    Esse trabalho constituiu a base para a elaborao do diagnstico de sntese e para a

    formulao da estratgia de interveno, que teve como ponto de partida a definio de trunfos

    e de uma viso para o territrio. Ainda nesta fase foi elaborada uma proposta preliminar de

    Plano e Interveno, com indicao e descrio de um conjunto de aces;

    3) Terceira fase PPlano de Interveno , que consistiu na estabilizao da estratgia, na

    aferio dos objectivos e na definio detalhada das aces que integram o Plano de

    Interveno proposto. Consequentemente, foi desenvolvido um plano de investimento e um

    quadro de fontes de financiamento mobilizveis para cada aco proposta, bem como as

    possveis parcerias a estabelecer para a concretizao de cada uma delas.

    O presente Estudo de Enquadramento Estratgico Relatrio Final integra, cumulativamente,

    os produtos das trs fases, de acordo com o diagrama metodolgico seguinte:

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    CONTEDO

    ESTABILIZAO DA METODOLOGIAANLISE DOCUMENTAL

    PRODUTO

    CONTEDO

    RECONHECIMENTO DO TERRITRIODIAGNSTICO

    ESTRATGIA DE INTERVENO

    PRODUTO

    CONTEDOCONSOLIDAO DA ESTRATGIA

    PROPOSTA DE PLANO DE INTERVENO

    PRODUTO

    FFAS

    E 1

    FAS

    E 2

    VALIDAO PELA C.M.LEIRIA

    FAS

    E 3

    DOCUMENTO DE ESTRATGIA

    DOCUMENTO DE METODOLOGIA

    VALIDAO PELA C.M.LEIRIA

    VALIDAO PELA C.M.LEIRIA

    ESTUDO DE ENQUADRAMENTO ESTRATGICO(RELATRIO FINAL)

    Acompanhando este faseamento, e para a prossecuo dos objectivos definidos, foram

    desenvolvidas as seguintes tarefas de suporte:

    1) RReconhecimento do territrio Trata-se, fundamentalmente, da recolha in loco de dados de

    caracterizao do territrio e da envolvente, dos aspectos mais relevantes das dinmicas locais

    (designadamente em termos funcionais) e ainda de outros elementos de suporte ao

    desenvolvimento do Estudo. Para alm da recolha formal e sistematizada de informao, este

    trabalho de campo permitiu percepcionar as relaes da populao e agentes locais (tais

    como residentes, comerciantes, trabalhadores e visitantes) com o espao em anlise.

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    2) AAnlise documental, estatstica e cartogrfica Considerando o imenso manancial de

    informao j produzida e disponvel sobre a rea em estudo e outros assuntos relacionados,

    foi efectuada a recolha, tratamento e anlise da documentao de referncia (ver anexo 1). Foi

    considerado um amplo leque de elementos, entre os muitos estudos e outra documentao,

    fornecidos maioritariamente pela Cmara Municipal de Leiria, que constituram um suporte

    essencial para o trabalho de diagnstico realizado. Se, por um lado, a informao estatstica

    analisada permitiu complementar e sustentar, quantitativamente, a caracterizao do territrio,

    por outro, a informao cartogrfica permitiu uma leitura territorializada de algumas das

    componentes de caracterizao.

    A caracterizao que se apresenta relativamente breve dado que, e face s indicaes da

    Cmara Municipal de Leiria, no se pretende reproduzir ou repetir a informao j disponvel,

    mas, antes, interpret-la e consider-la como base para o presente trabalho.

    3) AAnlise de planos, projectos, intenes e propostas existentes Esta anlise permitiu

    efectuar o enquadramento da rea de interveno nos instrumentos de gesto territorial, s

    vrias escalas. Para tal, foram considerados no apenas os documentos de orientao

    estratgica e regulamentares (que impem opes ou regras especficas para a ocupao, uso

    e transformao deste territrio), mas tambm os respectivos elementos de caracterizao

    considerados, aps uma anlise crtica, no diagnstico agora apresentado.

    Atravs da anlise dos instrumentos de gesto territorial e de outros documentos, foi

    igualmente possvel identificar algumas intenes e anseios da Autarquia e de outros agentes

    com eventuais implicaes na construo da estratgia para a rea de interveno.

    4) AArticulao com a Cmara Municipal de Leiria Ao longo das vrias fases do trabalho, a

    equipa tcnica da Parque EXPO manteve um permanente contacto com a Autarquia atravs

    dos interlocutores designados para o efeito, de forma a obter informao dos diversos servios

    da Cmara Municipal. Foi, assim, possvel recolher documentao de suporte e informaes

    diversas com relevncia para o desenvolvimento dos trabalhos.

    No que concerne estrutura do presente documento, devem considerar-se os seguintes

    pontos (para alm do presente de carcter introdutrio):

    O ponto 2 CContextualizao da rea de Estudo , para alm de uma nota sobre a rea (2.1),

    integra a caracterizao da rea de interveno (2.2), a sua envolvente socioeconmica (2.3) e

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    ainda um conjunto de elementos de contextualizao relativos gesto do territrio (2.4),

    sendo finalizado por uma sntese e diagnstico (2.5).

    O ponto 3 EEstratgia de Interveno apresenta os considerandos (3.1), os trunfos e viso

    para o territrio (3.2) e os pressupostos e objectivos da estratgia preconizada para a

    interveno (3.3).

    No ponto 4 PPlano de Interveno , identificam-se as aces a desenvolver (4.1), as zonas e

    unidades de interveno (4.2), as entidades envolvidas e a identificao de possveis parcerias

    (4.3), o investimento estimado para a interveno (4.4) e as fontes de financiamento

    mobilizveis (4.5). Conclui-se o plano de aco com uma matriz de aces que correlaciona os

    itens anteriores por cada uma das aces propostas (4.6) e com a definio de prioridades de

    interveno e respectiva calendarizao (4.7).

    O Estudo de Enquadramento Estratgico termina com o ponto 5 PPrximos Passos , onde se

    tecem os cenrios possveis para a operacionalizao da estratgia de interveno proposta.

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    2 | CONTEXTUALIZAO DA REA DE ESTUDO

    2 .1 | NOTA SO BRE A RE A D E EST UD O

    A rea que objecto do presente Estudo corresponde rea Crtica de Recuperao e

    Reconverso Urbanstica (ACRRU) de Leiria1, abrangendo cerca de 40 hectares. Nesta rea da

    cidade est tambm estabelecida uma delimitao do centro histrico que, de acordo com os

    servios da Autarquia (DHRU Diviso de Habitao e Reabilitao Urbana), abrange uma

    rea de cerca de 30 hectares2.

    Figura 01 | Limite da ACRRU

    1 Decreto Regulamentar n. 15/2001, de 22 de Maro, ao abrigo da Lei dos Solos Decreto-Lei n. 794/76, de 5 deNovembro.2 Para alm do limite de Centro Histrico considerado pelos servios da Autarquia, deve considerar-se tambm aexistncia de outros limites relevantes nesta rea, como o caso do limite do Plano de Pormenor do Centro Histrico(em elaborao) e o limite da rea classificada como Ncleo Histrico no PDM em vigor.

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    Figura 02 | A ACRRU e o centro histrico

    A ACRRU e o centro histrico encontram-se integrados no ncleo central da cidade, cuja

    dinmica social e funcional , em grande medida, resultante das dinmicas que, no passado e

    actualmente, se verifica(ra)m nesta rea.

    Assim, no parece fazer sentido confinar a reflexo sobre este territrio, nem a definio de

    uma estratgia de desenvolvimento, a uma delimitao sem traduo efectiva nas dinmicas

    que o caracterizam.

    Nesse sentido, a contextualizao do territrio agora apresentada, tal como a posterior

    definio de uma estratgia de interveno, considera um entendimento em sentido lato de

    centro histrico, sem se restringir ao rigor de nenhum daqueles limites (ainda que, quando

    necessrio, se considerem os limites da ACRRU, formalmente identificada como rea de

    estudo3). Por outro lado, a contextualizao deste territrio considera outras escalas, onde se

    estabelecem relaes de natureza diversa (entre espaos urbanos, entre o meio urbano e o

    meio rural, entre Leiria e outros centros urbanos), enquadrando-se a rea de estudo na cidade

    e esta no concelho e na regio em que se insere.

    3 Para a caracterizao da populao e do parque habitacional foram utilizados dados do Recenseamento Geral daPopulao e da Habitao de 2001, com desagregao ao nvel da subseco, definida pelo INE. Dado que a rea emestudo (ACRRU) no tem correspondncia exacta com os limites das subseces, e para aproximar os dadosdisponveis mesma, foi feita a sobreposio de ambos os limites, tendo sido excludas da anlise trs subseces,cuja rea ultrapassava largamente o limite da rea Crtica e onde se verificava uma reduzida presena de edifcioshabitacionais.

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    Figura 03 | Concelho de Leiria e Permetro Urbano

    Figura 04 | Permetro Urbano e ACRRU

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    2 .2 | CARACT E RIZA O D A RE A DE ESTU DO

    EST R UT U RA U RB AN A

    O trabalho de caracterizao da rea de estudo tem como finalidade a apreenso e

    compreenso das dinmicas recentes e presentes na rea de estudo, a fim de permitir suportar

    a definio da estratgia e com o objectivo de criar as condies que se consubstanciem em

    dinamizao econmica, social e cultural deste territrio.

    A rea de interveno caracterizada por um tecido urbano que agrega traados diferenciados

    resultantes de uma evoluo histrica amplamente documentada. A evoluo deste tecido

    reflecte um forte condicionamento s caractersticas naturais do territrio uma morfologia

    acidentada, declivosa, onde se eleva um morro e se encaixa o curso do rio Lis. O desenho

    actual testemunha a influncia destes elementos no desenvolvimento da cidade.

    Do centro histrico de Leiria faz parte o monumento de excelncia que melhor assinala a

    gnese medieval da cidade o Castelo de Leiria e respectivas fortificaes e que, numa

    situao morfologicamente sobranceira sobre o territrio, ocupa uma posio de relevo na sua

    histria e na sua imagem. Este conjunto corresponde ao ncleo fundacional da cidade.

    Do ncleo intramuros (cuja muralha configura uma forma oval) ter-se- desenvolvido o restante

    ncleo urbano, na encosta sul, devido exposio solar favorvel e s inclinaes mais

    suaves, em oposio encosta norte. Este tecido tem como eixo fundamental a actual Rua

    Baro de Viamonte (antiga Rua Direita, ainda hoje conhecida como tal) que estrutura toda a vila

    medieval e para a qual convergem as outras ruas, permitindo visualizar, claramente, a tpica

    estrutura de espinha de peixe medieval onde aquela via cumpre a funo de espinha dorsal.

    Devido aos condicionamentos fsicos, principalmente a norte da Rua Direita, originaram-se

    espaos contidos, ruas estreitas e sinuosas e espaos pblicos irregulares, cuja configurao

    permanece at aos dias de hoje.

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    Na zona sul da rea de estudo, junto ao antigo Mercado de Santana, possvel encontrar uma

    malha urbana diferenciada do resto do conjunto, quarteires e ruas de maiores dimenses,

    mais regulares, que derivaram de uma urbanizao do incio do sculo XX.

    No casco histrico encontram-se importantes elementos patrimoniais construdos (onde se

    inclui um vasto conjunto de patrimnio classificado monumentos nacionais e imveis de

    interesse pblico , bem como outros elementos de interesse patrimonial que importa proteger)

    e diversos espaos pblicos relevantes para a dinmica funcional da cidade. Destes,

    destacam-se o ddalo de ruas perpendiculares Rua Direita, o Terreiro (actual Largo Cndido

    dos Reis) e os largos e praas adjacentes aos monumentos religiosos, dos quais se salienta a

    Praa Rodrigues Lobo, cuja configurao se foi aperfeioando, desde Leiria quinhentista at

    se tornar no espao pblico de acolhimento por excelncia que chegou aos dias de hoje.

    Figura 05 | Vista geral da cidade a partir do castelo

    Outro elemento fundamental da rea em estudo o rio Lis, que testemunha um processo de

    profundas alteraes que, em vrios momentos, decorreram na cidade e que se manifestaram

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    tanto no seu leito como nas reas que lhe so adjacentes. Esse processo de contnua

    transformao em ambas as margens veio dar lugar a uma sequncia de espaos mutveis,

    entre os quais figura o actual Rossio de Leiria.

    Figura 06 | Traado do Rio Lis no centro urbano

    ACE SSI B IL I DA DES, TR ANSP ORT ES E EST ACIO N AME NT O

    Na cidade de Leiria, a rede viria apoia-se numa estrutura radioconcntrica que se desenvolve

    em torno do centro urbano. Ainda que esta se encontre inacabada (traduzindo diversos

    constrangimentos de trfego), tem-se vindo a proceder sua concluso e ao desenvolvimento

    de trabalhos que permitem uma maior hierarquizao e, consequentemente, a um melhor

    funcionamento.

    J o centro histrico no possui uma estrutura viria bem definida, sendo esta influenciada

    directamente pelas caractersticas morfolgicas da cidade e pelo seu desenvolvimento urbano.

    Contudo, deve considerar-se a seguinte hierarquia viria, no que respeita s infra-estruturas

    virias existentes na rea em estudo e na sua envolvente:

    Vias colectoras e distribuidoras, que correspondem a vias estruturantes da cidade de Leiria,

    servindo tambm a ACRRU, e permitem a distribuio e colecta de fluxos para o seu interior.

    Estas constituem uma circular externa rede viria existente no seu interior, como, por

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    exemplo, a Estrada da Marinha Grande, a Avenida 25 de Abril, a Rua Mouzinho de

    Albuquerque e a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra;

    Vias distribuidoras locais que, entre as vias locais, so as que possuem maior fluxo, visto

    terem localizaes e ligaes privilegiadas, possuem como principais funes a

    acessibilidade directa a edifcios e a distribuio de fluxos por outras vias de acesso local.

    o caso da Rua Comandante Joo Belo, da Avenida Ernesto Korrodi e da Rua Baro de

    Viamonte (antiga Rua Direita);

    Vias de acesso local que tm como principal funo a acessibilidade directa ao edificado,

    como, por exemplo, a Rua Alfredo Keil, a Rua Padre Antnio e a Rua D. Afonso Henriques;

    existem ainda vias de acesso local muito estreitas ou que terminam em becos sem

    passagem para veculos, onde o fluxo dirio muito reduzido ou mesmo nulo; algumas

    encontram-se inclusivamente bloqueadas por veculos estacionados, pelo que so

    maioritariamente utilizadas pelo peo ( o caso da Travessa do Baro Salgueiro e da Rua 31

    de Janeiro);

    Vias pedonais ou de acesso condicionado que possuem, essencialmente, fluxo de pees,

    como, por exemplo, a Rua da Graa e a Rua D. Dinis. Com o objectivo de vencer os

    elevados declives do territrio, algumas das ruas so em escadaria, como o caso das

    Escadas de Santo Estvo e Travessa da Beneficncia.

    (Ver anexo 2 Pea Desenhada 3)

    O caso concreto do recentemente intervencionado Rossio configura uma situao de alterao

    da sua condio de espao de circulao que desempenha, no existindo quaisquer restries

    circulao automvel de segunda-feira a sbado, mas transformando-se, ao domingo, num

    espao de utilizao exclusiva dos pees e de veculos prioritrios.

    No que diz respeito morfologia, as vias que se localizam no interior do ncleo histrico so,

    maioritariamente, estreitas, sinuosas, com diversos estrangulamentos, no incentivando a

    adopo de velocidades elevadas. Ainda assim, pelo facto de a maioria das ruas no possuir

    passeios, existem conflitos evidentes entre fluxos automvel-peo, principalmente nos locais

    onde o estacionamento abusivo e/ou o trfego mais intenso, como o caso da Rua Direita.

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    Figura 07 | Rua Direita (conflito automvel / peo)

    O ncleo histrico afectado por fluxos de atravessamento, principalmente quando as vias

    colectoras e distribuidoras se encontram mais congestionadas, subvertendo as funes da

    rede, passando a rede interna a constituir uma alternativa s vias circulares.

    Na zona sul da rea de estudo, fora do ncleo histrico, as vias assumem outro perfil (mais

    largas com passeios), sendo os conflitos automvel-peo quase inexistentes.

    No que concerne ao estacionamento, esse um dos principais problemas da rea de estudo.

    O facto de a populao residir maioritariamente na periferia da cidade origina fortes

    deslocaes pendulares, apoiadas, sobretudo, pelo transporte individual, que geram

    problemas em relao ao estacionamento automvel.

    Nas zonas com maior actividade comercial e de servios, e por isso com maior presso, o

    estacionamento superfcie taxado, permitindo uma maior rotatividade dos lugares.

    Recentemente foram construdos vrios parques de estacionamento subterrneo que procuram

    responder procura existente, tais como os da Fonte Luminosa e do Centro Cultural Mercado

    Santana. Existem igualmente parques de estacionamento na envolvente, com destaque para o

    parque de superfcie junto ao estdio e os da Fonte Quente e do Largo de Infantaria 7, bem

    como alguns parques privados que podem complementar a resposta s necessidades dos

    residentes e utilizadores desta rea. excepo do parque localizado junto ao estdio

    municipal, o estacionamento nestes parques pago, sendo as respectivas tarifas diferenciadas

    por tipo de utilizador.

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    Figura 08 | Parque de Estacionamento junto ao estdio e ao complexo de piscinas municipais

    Nas zonas da rea de estudo maioritariamente habitacionais, no existe qualquer controlo que

    permita disciplinar a ocupao das vias e dos espaos adjacentes pelos automveis, estando,

    no entanto, prevista a implementao de um sistema baseado na utilizao de um carto de

    utente.

    Figuras 09, 10 e 11 | Ocupao viria indisciplinada nas ruas do centro histrico

    Para alm dos espaos pblicos (alguns significantes) que se encontram ocupados por

    estacionamento no autorizado, constata-se que outros, onde o estacionamento permitido,

    correspondem a reas que possuem condies favorveis para serem usufrudas sobretudo

    pelo peo, o que nessas circunstncias no possvel. o caso dos largos do Terreiro e da S

    (ainda que com caractersticas e condies de ocupao muito distintas).

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    Figura 12 | Largo do Terreiro

    Figura 13 | S Catedral e Envolvente (destaque para a ocupao do adro da S para estacionamento automvel)

    A oferta de transporte pblico colectivo na cidade de Leiria claramente dominada pelo

    transporte rodovirio. A estao rodoviria de Leiria, onde funcionam diversas operadoras e

    servios, encontra-se numa rea contgua ao territrio em estudo, estando prevista a sua

    relocalizao. Do ponto de vista das condies de circulao no centro histrico e na

    envolvente, esta mudana ser positiva, uma vez que aliviar o centro de uma carga de

    trnsito ainda bastante pesada. Por outro lado, prev-se que a rea onde se perspectiva a

    reinstalao da central rodoviria dever estar prxima do centro, pelo que se dever manter a

    facilidade de acesso a este equipamento e aos servios associados.

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    Os servios de transportes urbanos no so muito utilizados para deslocaes dentro do

    ncleo central da cidade, mas sobretudo para ligaes entre este e as reas envolventes

    (Barreira, Parceiros, Barosa, etc.).

    O miniautocarro Mobilis, criado pela Autarquia, possui um percurso regular circular, servindo

    zonas urbanas de equipamentos ou outras funes de utilizao colectiva, assegurando

    igualmente a ligao a outras carreiras urbanas4. Existe ainda um percurso especial que

    estabelece a ligao entre o Rossio e o Largo de S. Pedro, junto entrada do Castelo.

    Merece destaque o facto de no existir um meio de transporte que circule no interior da rea

    em estudo que favorea a populao nela residente, ou mesmo quem procure conhecer o

    centro histrico. A sua implementao viria a permitir vencer com maior facilidade a

    morfologia acidentada do territrio, ligando mais estreitamente a zona alta zona baixa do

    centro da cidade.

    CA RA CT E RIZ A O F S IC A

    No que diz respeito ao edificado da rea em estudo e, mais concretamente, quanto sua

    poca de construo, deve referir-se que a maior parte dos edifcios existentes datam do

    sculo XIX e do incio do sculo XX (at aos anos 40). Existem ainda alguns edifcios ainda mais

    antigos, concentrando-se, maioritariamente, junto S, ao Castelo e ao Terreiro, de que

    exemplo o edifcio onde, actualmente, est instalada a Biblioteca Municipal. Os edifcios mais

    recentes, construdos em finais do sculo XX, localizam-se na envolvente Avenida dos

    Combatentes da Grande Guerra e no Bairro dos Anjos, na margem direita do rio.

    Segundo os Censos, entre os cerca de 700 edifcios habitacionais existentes (ainda que no

    exclusiva ou maioritariamente), mais de 35% foram construdos antes de 1919 e mais de 30%

    entre essa data e 1945. De ento at aos dias de hoje, o ritmo de construo nesta rea tem

    vindo a diminuir, sendo muito poucos os edifcios de habitao construdos nos ltimos anos.

    4 Este miniautocarro circula em dois sentidos (da existirem dois percursos); a sua frequncia de 15 minutos emperodo diurno e de 60 minutos em perodo nocturno.

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    Figura 15 | Edifcios segundo a poca de construo

    Fonte: INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2001.

    A volumetria predominante de dois a trs pisos, encontrando-se edifcios mais altos nas reas

    de construo mais recente, como o caso da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra.

    Os Censos de 2001 confirmam esta situao, predominando no parque habitacional os

    edifcios com um e dois pisos (mais de 50%), sendo que menos de 5% tm cinco pisos ou

    mais.

    Figura 16 | Edifcios habitacionais segundo o nmero de pisos (%)

    Fonte: INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2001.

    De acordo com os levantamentos constantes nos Planos de Pormenor do Centro Histrico, de

    Leiria Centro e de Santo Agostinho (Instrumentos de Gesto Territorial abrangidos,

    parcialmente, pela ACRRU), o parque edificado da rea em estudo encontra-se

    maioritariamente em razovel estado de conservao, ainda que cerca de um quarto dos

    edifcios se encontre em mau estado e em runa. As intervenes recentes tm tido traduo

    numa melhoria progressiva do estado geral de conservao da rea em estudo. Se alguns dos

    edifcios que necessitavam de interveno esto j a ser objecto de reabilitao ou possuem

    projectos devidamente aprovados, casos h em que, apesar de licenciadas h algum tempo,

    as obras ainda no foram concretizadas.

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    Figura 17A | Edificado segundo o estado de conservao (% de nmero de edifcios)

    Fontes: CML, Planos de Pormenor do Centro Histrico, de Leiria Centro e de Santo Agostinho.

    Figura 17B | Edificado segundo o estado de conservao (% de rea bruta de construo nos 706 685 m2 de rea

    bruta de construo da ACRRU)

    Fontes: CML, Planos de Pormenor do Centro Histrico, de Leiria Centro e de Santo Agostinho.

    Para alm das deficincias associadas degradao do edificado, um nmero reduzido mas

    no negligencivel de fogos apresentava, em 2001, carncias ao nvel de infra-estruturas

    bsicas.

    Figura 18 | Alojamentos familiares de residncia habitual sem infra-estruturas bsicas (n.)

    Fonte: INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2001.

    Quanto caracterizao fsica do espao pblico que integra o centro histrico, refora-se a

    importncia da estrutura e da configurao medieval que, como antes se referiu, apresentam

    um desenho que, quase na ntegra, preserva as caractersticas originais. Naturalmente, o

    mesmo no se poder referir quanto sua materialidade, tanto no que diz respeito aos

    pavimentos, como s redes de infra-estruturas e aos vrios elementos urbanos que o integram.

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    Por associao ao ddalo de ruas estreitas e irregulares que integram essa zona, coexistem

    tambm alguns largos e praas, grande parte deles com dimenses que contrastam com a

    dimenso das ruas. A habitual sequncia rua largo rua , de certo modo, nica pelo facto

    de as ruas se abrirem a espaos exteriores de dimenso significativa, ao invs de pequenos

    largos episdicos, como usualmente se regista noutras cidades de gnese idntica.

    Do conjunto de espaos pblicos destacam-se o Largo Cndido dos Reis com 2300 m2 (antigo

    Terreiro e ainda hoje designado como tal), a Praa Rodrigues Lobo com 2700 m2 (antiga

    Praa de S. Martinho) e toda a rea que integra o Rossio de Leiria, com 26 000 m2, que

    constitudo pelo Largo Goa Damo e Diu (vulgarmente denominado por Fonte Luminosa),

    pelo Largo 5 de Outubro de 1910 e pelo Jardim Lus de Cames.

    Na envolvente Avenida Combatentes da Grande Guerra, a relao entre o edificado e o

    espao pblico bastante diferente, na medida em que a actual configurao resulta de um

    plano elaborado j no sculo XX, com base no plano de reformulao do antigo Convento de

    SantAna e respectiva cerca (demolidos em 1916). Por esse motivo, o desenho urbano

    apresenta um conjunto de espaos de configurao mais regular e, por isso, bastante distinta

    da ilustrada anteriormente.

    No que diz respeito relao que se estabelece entre os espaos exteriores e o espao

    edificado (e de acordo com a informao constante dos Planos de Pormenor desenvolvidos ou

    em desenvolvimento na rea de estudo), a rea ocupada pelo espao edificado representa

    cerca de 37% da rea total da ACRRU, correspondendo o restante a espaos livres exteriores.

    Desses espaos livres, uma grande parte representa o espao que est afecto ao domnio

    pblico, sendo de destacar a rea ocupada pelo Rossio que corresponde a mais de 10.3% dos

    25,3 hectares de espaos exteriores.

    CA RACT E RIZ A O DOS USO S E OCU PA O

    De acordo com a estrutura urbana j brevemente caracterizada, na rea de estudo possvel

    encontrar duas reas distintas tambm em termos de usos e de tipos de utilizao que lhes

    esto associados. Assim, dever-se-o considerar duas reas: uma essencialmente residencial,

    a norte da Rua Direita, e outra, a sul, mais multifuncional, onde se concentram as actividades

    de comrcio e servios juntamente com alguma habitao ainda existente.

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    Quanto ao tecido comercial (tanto do ncleo histrico da cidade como da rea em estudo),

    deve referir-se a sua diversidade e dinmica ainda significativas. Tm ainda um peso relevante

    os estabelecimentos de venda de artigos pessoais, tais como roupa, calado e acessrios,

    embora se evidencie uma tendncia de perda da sua importncia, face oferta (de natureza

    distinta) que surge noutras reas da cidade, designadamente em novas superfcies comerciais.

    Figuras 19 e 20 | Espaos comerciais na Rua Direita

    Os restaurantes, cafs e bares, sobretudo com esplanada, so os estabelecimentos que

    revelam maior dinmica, o que, nos ltimos anos, se tem vindo a traduzir numa crescente

    afluncia de pessoas ao centro.

    A maior parte das lojas e dos servios presentes (sobretudo dos servios com atendimento ao

    pblico) encontra-se instalada no piso trreo de edifcios habitacionais (segundo os Censos,

    cerca de um tero dos edifcios habitacionais da rea de estudo partilham esta funo com

    outras), embora se encontrem alguns edifcios exclusivamente dedicados a estas funes.

    Figura 21 | Usos do edificado no piso trreo (% de rea ocupada)

    Fontes: CML, Planos de Pormenor do Centro Histrico, de Leiria Centro e de Santo Agostinho.

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    Figura 22 | Usos do edificado nos pisos acima do piso trreo (% de rea ocupada)

    Fontes: CML, Planos de Pormenor do Centro Histrico, de Leiria Centro e de Santo Agostinho.

    Embora muitos dos fogos estejam ocupados em regime de arrendamento (ou estejam

    devolutos), a maior parte dos proprietrios da rea de estudo reside na cidade, o que pode

    revelar-se um factor facilitador do seu envolvimento no desenvolvimento de aces de

    reabilitao do patrimnio habitacional.

    Para alm de servios pessoais e sociais de natureza privada, possvel encontrar nesta rea

    alguns equipamentos, embora a maioria dos servios pblicos (equipamentos culturais, de

    ensino, etc.) se localize nas imediaes do centro histrico, servindo no s a zona central da

    cidade mas toda a rea urbana.

    Pese embora a tendncia de esvaziamento populacional que se tem vindo a registar,

    semelhana de outros centros histricos do territrio nacional, em Leiria a funo residencial

    continua a ter grande relevncia. Em 2001, residiam na rea de estudo cerca de 1750 pessoas,

    maioritariamente em idade activa, correspondendo a populao idosa (com 65 ou mais anos) a

    cerca de 25%. Embora se trate de uma estrutura etria envelhecida, quando comparada com a

    de outros centros histricos, pode ser considerada uma populao relativamente jovem.

    Figura 23 | Residentes por grupos etrios (%)

    Fonte: INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2001.

    Aps um perodo de quase abandono do espao pblico, por falta de oferta de actividades

    potenciadoras das vivncias urbanas exteriores, o panorama alterou-se significativamente nos

    ltimos anos, em resultado directo ou indirecto das intervenes de requalificao

    realizadas no mbito do Programa Polis, sobretudo na envolvente ao rio Lis. , agora, evidente

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    uma maior procura da utilizao dos espaos pblicos por diversas faixas populacionais e em

    diversos perodos do dia, para actividades de lazer activo ou passivo.

    Esta alterao na apropriao dos espaos pblicos da cidade pode ser testemunhada na

    Praa Rodrigues Lobo que, no tendo sido alvo de qualquer tipo de interveno fsica naquele

    mbito, foi registando alteraes nos padres de vivncia por influncia da proximidade aos

    espaos requalificados, como a Fonte Quente, o Parque da Cidade, o Maracho e, mais

    recentemente, o Rossio.

    Outra alterao significativa tem a ver com os diferentes tipos de apropriao consoante se

    trate do perodo nocturno ou diurno. Assim, ao longo do tempo, tm-se verificado oscilaes na

    intensidade dessa ocupao e nos seus locais preferenciais.

    Os estabelecimentos de animao nocturna so os que tm maior responsabilidade no

    fomento da atractividade do centro noite. At h cerca de, sensivelmente, um ano, o epicentro

    polarizador dessas actividades era o Largo Cndido dos Reis (Terreiro), pela procura dos vrios

    espaos nocturnos que a existiam. Esta utilizao (sazonal por se encontrar associada aos

    perodos da actividade acadmica dinamizada, principalmente, pelo Instituto Politcnico de

    Leiria), de difcil compatibilidade com a funo residencial que coexiste na envolvente, foi-se

    deslocalizando em direco Praa Rodrigues Lobo, tendo-se disseminado pelas ruas que lhe

    acedem. A prpria Praa, que viu aumentar exponencialmente a oferta de estabelecimentos de

    utilizao diurna (que se estende at ao perodo da noite), cada vez mais procurada como

    espao de permanncia.

    Figuras 24 e 25 | Praa Rodrigues Lobo ocupao diurna (esplanadas e feiras)

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    De uma forma geral, tambm a ocupao diurna da baixa da cidade se intensificou, por um

    lado, pelo reforo do papel social e socializante da Praa Rodrigues Lobo (que acolhe

    regularmente mltiplos eventos de natureza diversa), por outro, pela proximidade dos novos

    espaos valorizados e requalificados e, por outro ainda, pela implantao de usos-ncora,

    como o caso do edifcio O Pao (interveno na antiga Casa do Bispo), onde est

    instalada, entre outras, uma loja de vesturio de uma cadeia internacional e que , ela prpria,

    uma ncora da atractividade do e ao centro histrico.

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    2 .3 | ENV O LVE NT E S OCI OEC ON MIC A

    Nos ltimos anos, tm-se desenvolvido no territrio nacional, e mais particularmente entre

    Lisboa e Porto, processos de urbanizao com desenvolvimentos em sentidos opostos,

    identificando-se reas mais dinmicas e outras com movimentos de regresso. Em geral, s

    reas mais dinmicas est associada uma estrutura polinucleada cuja evoluo ocorreu,

    maioritria e espontaneamente, ao longo dos eixos virios, de que so exemplo os concelhos

    de Aveiro, Coimbra e Leiria.

    A estrutura destas cidades consolidou-se, essencialmente, pelas dinmicas populacionais das

    ltimas dcadas, em resultado do reforo da concentrao no litoral com reflexo no

    esvaziamento dos territrios do interior. Esta concentrao tem conduzido expanso das

    reas urbanas, potenciada, entre outros factores, pela melhoria das condies gerais de

    mobilidade.

    Com uma localizao privilegiada no corredor urbano-industrial do litoral ocidental, Leiria

    assume em conjunto com Coimbra e Aveiro um papel de destaque enquanto centro

    polarizador do territrio litoral da Regio Centro.

    Integrada na NUT III Pinhal Litoral, a cidade de Leiria, tambm capital de distrito, polariza um

    territrio estruturado por um sistema urbano constitudo por cerca de 300 mil habitantes, que

    registou, na ltima dcada, uma taxa de crescimento de 13%5.

    Neste quadro, Leiria tem-se assumido como um centro polarizador ao nvel regional, sobretudo

    devido oferta de uma gama de servios especializados, como os de sade, de ensino

    superior e de comrcio.

    A rea em estudo encontra-se totalmente integrada na freguesia de Leiria, uma das 29

    freguesias do concelho (a maioria classificada pelo INE como predominantemente urbana e

    apenas trs Coimbro, Memria e Santa Catarina da Serra predominantemente rurais).

    O concelho tem uma superfcie total de 566 km2 e cerca de 120 mil habitantes6

    (correspondendo a uma densidade populacional de 214 hab./km2). Entre 1991 e 2001, registou

    5 Consideram-se integrados neste sistema, para alm de Leiria, os concelhos de Batalha, Marinha Grande, Ourm,Pombal e Porto de Ms.6 Cf. INE, Censos 2001.

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    um crescimento demogrfico de 16,6%, o que evidencia uma dinmica demogrfica forte e

    com uma tnica positiva deste crescimento na base da estrutura etria. Neste sentido, Leiria

    um concelho jovem (em 2001 cerca de 32% da populao tinha at 24 anos) e apresenta um

    ndice de envelhecimento de 907.

    Figura 26 | Evoluo da populao no concelho de Leiria (n. de residentes)

    Fonte: Recenseamento Geral da Populao e Habitao 2001, INE.

    de salientar que a quase totalidade das freguesias teve uma evoluo demogrfica positiva

    no perodo 1991-2001, mas assume destaque o crescimento da freguesia de Leiria e das

    freguesias adjacentes, merecendo particular destaque a freguesia de Marrazes.

    A cidade de Leiria, que ocupa uma rea de 39,4 km2, concentra mais de 35% da populao

    residente no concelho, conforme mostra a figura seguinte. Trata-se de uma rea de forte

    densidade populacional (superior a 1000 hab./km2) que, no ltimo perodo intercensitrio,

    registou um crescimento de cerca de 33%. ainda de destacar o facto de, na cidade, a mdia

    de idades dos residentes ser de 36 anos8, o que revela uma populao muito jovem.

    Figura 27 | Populao no concelho e na cidade de Leiria (n. de residentes)

    Fonte: Atlas das Cidades de Portugal (com base em informao dos Censos de 2001), INE, 2002.

    7 Por cada 100 residentes com menos de 15 anos existem 90 com 65 e mais anos.8 Cf. Atlas das Cidades de Portugal (com base em informao dos Censos de 2001), 2002, INE.

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    A presena de servios e a criao de empregos tm sido alguns dos principais factores de

    atraco de residentes na cidade e na envolvente, contribuindo para o seu crescimento. Com

    efeito, a dinmica do concelho no se limita ao crescimento populacional, estendendo-se s

    actividades econmicas.

    Em termos de actividades produtivas, o concelho de Leiria assume um papel relevante na

    extraco de areias e argilas e na indstria transformadora, correspondendo a uma das

    principais reas de tradio industrial do pas. Juntamente com Pombal e Marinha Grande,

    formam um eixo industrial com expresso nacional em sectores que tiveram a sua origem nas

    dinmicas endgenas destes territrios.

    No sector tercirio, o comrcio, o alojamento e a restaurao tm ganho expresso

    semelhana do que se regista na generalidade das reas urbanas ao longo da costa ocidental.

    Neste sentido, a cidade de Leiria tem registado um incremento deste tipo de servios,

    impulsionado quer pelo crescimento populacional na cidade e no concelho, quer pelo seu

    papel de capital de distrito, relevante na Regio Centro do pas. O turismo, ainda que com uma

    expresso reduzida na cidade, tambm tem sido uma alavanca para o aumento e para a

    diversificao da oferta de servios.

    Com efeito, a cidade de Leiria, enquanto sede administrativa de concelho e de distrito, assume

    um papel de destaque no que se refere concentrao de actividades e servios diversos, que

    fazem dela uma cidade com forte raio de atraco e a coloca numa posio estruturante e de

    polarizao do territrio envolvente, particularmente no contexto do conjunto dos concelhos do

    sistema urbano sob influncia mais directa, como a Batalha, Porto de Ms e Alcobaa.

    No que respeita ao ensino, destaca-se em Leiria o papel do Instituto Politcnico, que tem dado

    especial enfoque articulao com o tecido empresarial, principalmente na difuso e

    adaptao das novas tecnologias, cabendo-lhe, semelhana das cidades mdias com

    universidades de maior expresso [], um importante papel de apoio s empresas na

    inovao tecnolgica9.

    9 Vale, Mrio (2005), Indstria, Polticas e Territrio, in Geografia de Portugal, Actividades Econmicas e EspaoGeogrfico, Crculo de Leitores, Lisboa, p. 225.

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    Leiria localiza-se junto ao principal corredor de ligao entre o Norte e o Sul do pas, tendo

    uma situao claramente favorvel em termos de acessibilidades rodovirias. Ao nvel regional

    e nacional, a cidade servida por diversas infra-estruturas, destacando-se:

    Ligaes Norte-Sul a Lisboa, ao Porto e s principais cidades da Regio Centro, atravs da

    A1 sendo uma via estruturante da rede rodoviria nacional, esta auto-estrada, permite a

    ligao de Leiria a outras infra-estruturas rodovirias relevantes;

    Ligaes a Lisboa e zona Litoral Oeste, como por exemplo a Alcobaa e s Caldas da

    Rainha, atravs da A8;

    Ligaes alternativas a Lisboa e ao Porto atravs do IC2 representa, actualmente, uma

    importante ligao de Leiria aos concelhos vizinhos, como o caso de Pombal e Batalha,

    desempenhando tambm funes de circular externa da cidade de Leiria, visto que

    utilizada como alternativa s vias internas existentes, permitindo a articulao do centro da

    cidade com as periferias;

    Ligao Figueira da Foz atravs da EN109, existindo uma alternativa a esta estrada, a A17

    (em concluso), com origem na A8 e destino final em Aveiro;

    Ligao Marinha Grande atravs da EN242.

    Encontra-se ainda prevista uma ligao directa da A8 com a A1.

    Ao nvel dos servios de transporte pblico interurbanos e de longo curso (expressos), Leiria

    servida por duas operadoras: a Rodoviria do Tejo e a Rede Nacional de Expressos. Existe

    ainda um servio de autocarros rpidos entre Leiria e Marinha Grande, Batalha e Ftima.

    Em termos de acessibilidades ferrovirias, Leiria servida pela Linha do Oeste, atravs de uma

    estao localizada no lugar de Gndara (a cerca de 2,5 km do centro da cidade), garantindo-se

    as ligaes cidade por transporte colectivo rodovirio. Esta linha estabelece a ligao entre a

    estao do Cacm (Linha de Sintra) Figueira da Foz (ramal da Figueira da Foz) e s a partir

    destas linhas que existe ligao Linha do Norte, linha estruturante da rede ferroviria

    nacional. A ligao a Lisboa, por exemplo, alm de no ser directa, exige um tempo de

    percurso de cerca de quatro horas (cerca do dobro do conseguido em transporte colectivo

    rodovirio). Por esse motivo, a utilizao do comboio implica, frequentemente, a opo pela

    estao de Pombal em detrimento da de Leiria.

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    de referir que se encontra prevista uma estao da linha de alta velocidade, no troo que liga

    Lisboa ao Porto, em Leiria (mais especificamente na freguesia da Barosa) que, caso se

    concretize, dever colmatar o dfice que existe na cidade em termos de transporte ferrovirio

    de longo curso.

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    2 . 4 | G ES T O T E RRI T O RI A L

    NOT A DE EN QU AD R AME NT O

    Dadas as caractersticas, a complexidade e a sensibilidade do centro histrico de Leiria, este

    tem sido encarado pela Autarquia como um espao da cidade que requer uma ateno

    particular no que diz respeito sua gesto e ao ordenamento urbano.

    Desde o final da dcada de 80 do sculo XX que reconhecida a degradao do parque

    edificado e a necessidade da sua reabilitao. Contudo, s mais tarde, foram relevadas as

    questes do despovoamento (habitantes e utilizadores em geral) e da perda de qualidade do

    seu espao pblico.

    Com suporte na experincia portuguesa mais ou menos generalizada no que diz respeito

    reabilitao urbana, a primeira medida com repercusses relevantes em Leiria foi a existncia

    de um Gabinete Tcnico Local10.

    Nesse sentido, a CML agarrou a oportunidade promovida por esse enquadramento legal,

    tendo constitudo o GTL em 1985 e que funcionou at 1987. Do trabalho produzido resultou

    uma proposta de Plano de Salvaguarda do Centro Histrico de Leiria, que traduzia, pela

    primeira vez, orientaes para a gesto do centro histrico atravs da definio de regras para

    a proteco do patrimnio urbano.

    Contudo, com o passar dos anos, veio-se a reforar e a confirmar a necessidade de intervir no

    centro histrico que, continuamente, se foi degradando, tanto no que diz respeito ao patrimnio

    construdo como no que respeita s suas condies de utilizao. Por esse motivo e pelo

    consequente declnio da funo habitacional, a Autarquia foi tomando algumas medidas (ainda

    de um modo avulso) ao ritmo do que o enquadramento legal nacional ia possibilitando,

    destacando-se a implementao de medidas que decorrem do Plano de Pormenor do Centro

    Histrico (desde 2001, data do incio da sua elaborao), embora esse instrumento no se

    encontre ainda eficaz.

    10 Os Gabinetes Tcnicos Locais, foram criados em 1985, ao abrigo do PRU Programa de Reabilitao Urbana,atravs de um apoio tcnico e financeiro s autarquias. Mais tarde, em 1988, o programa foi relanado por via PRAUD Programa de Recuperao de reas Urbanas Degradadas.

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    Dentro de um pacote considervel de medidas, destacam-se, diacronicamente, as seguintes:

    O PPROCOM (Decreto-Lei n. 184/94, de 1 de Julho), programa nacional cujo objectivo

    primordial era a revitalizao do tecido comercial, promoveu tambm, talvez de uma forma

    pioneira, a requalificao do espao pblico. Deste Programa resultou a elaborao do

    Projecto Especial de Urbanismo Comercial do Centro Histrico de Leiria11.

    A declarao da AACRRU rea Crtica de Recuperao e Reconverso Urbanstica

    (Decreto Regulamentar n. 15/2001, de 22 de Maro, ao abrigo da Lei dos Solos Decreto-

    Lei n. 794/76, de 5 de Novembro), tendo como objectivo recuperar urbanisticamente o

    referido Centro Histrico, evitando a respectiva degradao e garantindo a sua

    conservao e beneficiao, dotando-o de infra-estruturas urbansticas adequadas sua

    dimenso e dignidade e garantindo condies de salubridade populao residente.

    Para alm dos poderes conferidos Autarquia para a concretizao de aces sobre o

    edificado, a declarao da ACRRU veio tambm permitir o acesso a apoios financeiros,

    como o REHABITA, sendo-lhe atribuda, atravs deste programa, o direito de preferncia

    para a aquisio de imveis.

    Na perspectiva de reunir num documento nico as orientaes que a Autarquia pretende

    ver implementadas no centro histrico e, naturalmente, ver sistematizado num

    levantamento actual a caracterizao da situao existente, foi determinada a elaborao

    do Plano de Pormenor do Centro Histrico (PPCH) com vista a colmatar a ausncia de um

    plano urbanstico capaz de estabelecer regras claras para a ocupao, uso e

    transformao do solo12.

    Outra medida que veio alterar as condies do centro histrico, particularmente no que diz

    respeito relao com a populao e com a prpria cidade, recentralizando, em certa

    medida, a sua importncia e o seu significado no desenvolvimento desta, foi a interveno

    desenvolvida no mbito do PPrograma Polis (2001-2007). Inicialmente, esta interveno

    abrangia apenas os espaos adjacentes ao rio Lis dentro do ncleo urbano da cidade, que

    inclua j o Rossio de Leiria e, por isso, todos os espaos pblicos da baixa que se

    11 No mbito destes trabalhos, a CML procedeu requalificao das infra-estruturas enterradas em grande parte dabaixa da cidade, ainda que este tipo de interveno no estivesse contemplado no apoio concedido ao abrigo doPROCOM, confinado aos estabelecimentos e ao espao pblico de superfcie.12 Sobre este plano, ver subponto seguinte, relativo aos instrumentos de gesto territorial.

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    consideram ainda parte do centro histrico. A rea de interveno viria a ser alargada no

    sentido de abranger o restante centro histrico por se considerar que esse tecido urbano

    indissocivel do rio Lis, elemento estrutural da gnese e crescimento da urbe.

    Assim, a rea de interveno do Programa (cerca de 125 ha) incluiu o centro histrico e a

    frente ribeirinha dentro do ncleo urbano da cidade, visando, genericamente, a

    prossecuo dos seguintes objectivos especficos para esta rea:

    O reordenamento dos fluxos de mobilidade viria e pedonal, atravs da construo de

    parques de estacionamento dissuasores, da criao de percursos pedonais e ciclovias,

    promovendo as ligaes entre o centro histrico e o rio, permitindo a requalificao do

    espao pblico, o aumento das reas reservadas a pees e, consequentemente, a

    melhoria da qualidade de vida urbana.

    A valorizao do patrimnio histrico, natural e edificado, numa ptica integrada de

    requalificao urbana, que, associados aos novos percursos, pretende proporcionar o

    despertar das populaes para o respeito pelo patrimnio, numa perspectiva de

    desenvolvimento turstico e da melhoria da qualidade de vida das populaes.

    Os instrumentos de gesto territorial elaborados no mbito deste Programa, com efeitos na

    rea do presente Estudo, so os seguintes: PP2 Plano de Pormenor de Santo Agostinho; PP3

    Plano de Pormenor de Leiria Centro e PP4 ou PPCH (ainda que a sua elaborao tenha sido

    determinada, pela Cmara Municipal de Leiria, anteriormente )13.

    Das medidas pontuais operadas no centro histrico, destaca-se tambm a operao Euro

    2004 que, no obstante ter tido uma interveno especfica na reconstruo do estdio

    municipal e na sua envolvente, influenciou, em grande medida, o centro histrico,

    nomeadamente com a construo de um parque de estacionamento central (da

    responsabilidade da Cmara Municipal), sob o actual Largo Goa, Damo e Diu.

    Mais recentemente, ooutras medidas foram tambm tomadas pela Autarquia, como (1) a

    criao de um sistema de incentivos com a dispensa de pagamento de taxas de

    urbanizao dentro da ACRRU 2004 (ao abrigo do Regulamento Municipal das Operaes

    Urbansticas); (2) a reduo do IMI sobre os imveis existentes na ACRRU por deliberao

    da Assembleia Municipal (2006); e (3) o PRECH Programa de Reabilitao dos Edifcios

    13 Sobre estes planos, ver subponto seguinte, relativo aos instrumentos de gesto territorial.

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    do Centro Histrico (aprovado mas ainda por publicar), que se traduz num regulamento

    para a atribuio de comparticipao financeira do municpio para a realizao de obras em

    imveis localizados no centro histrico de Leiria.

    Noutra vertente, imaterial e de aces de dinamizao do centro histrico, foi constituda

    recentemente, uma UUAC Unidade de Acompanhamento e Coordenao (Maro de 2007),

    que integra as Cmaras Municipais de Leiria, Porto de Ms e Batalha e a ACILIS

    Associao Comercial e Industrial de Leiria, Batalha e Porto de Ms, beneficiria dos apoios

    financeiros previstos no regulamento de execuo do URBCOM e que dever promover um

    conjunto de actividades de dinamizao dos trs centros histricos.

    Ainda na perspectiva de dinamizao do tecido comercial, outra medida prevista o recurso

    ao MMODCOM Sistema de Incentivos a Projectos de Modernizao do Comrcio, que visa

    a modernizao e a revitalizao da actividade comercial, em especial, em reas com

    predomnio do comrcio independente de proximidade, em zonas urbanas ou rurais.

    Contudo, a situao presente permite concluir que a aplicao deste conjunto de medidas

    ficou aqum de uma necessria interveno integrada neste tecido. At porque o esforo

    pblico nem sempre tem sido seguido pelos inmeros proprietrios dos edifcios e outros

    agentes da referida zona.

    nesse sentido que se considera fundamental partindo das aces realizadas e retomando

    outras previstas ao abrigo dessas medidas no concretizadas que, ainda hoje, faam sentido

    propor implementar uma aco integrada com base nos actuais pressupostos de reabilitao

    e regenerao urbanas e nas caractersticas que a cidade de Leiria apresenta, designadamente

    como resultado da sua dinmica recente.

    POLT I CA S DE M BITO N ACIO N AL E R EGIO N AL

    No quadro das polticas de mbito nacional e regional, so de destacar as que respeitam ao

    ordenamento do territrio e s cidades. Nessa medida, far-se- uma referncia particular ao

    Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio (PNPOT), ao Plano Regional de

    Ordenamento do Territrio (PROT) do Centro e Poltica de Cidades Polis XXI. Estes

    documentos revelam-se particularmente importantes para a cidade de Leiria, devido ao facto

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    de esta constituir um dos ccentros urbanos estruturantes do modelo territorial definido no

    PNPOT, situao que ser considerada como pressuposto do PROT-Centro e que tambm

    identificada como condio para aceder aos instrumentos que viro a concretizar a Poltica de

    Cidades Polis XXI.

    O PPrograma Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio (PNPOT)14 reconhece a

    degradao dos centros histricos como um dos principais problemas de ordenamento do

    territrio portugus. No diagnstico estratgico da Regio Centro refere-se expressamente que

    os processos de conurbao nas zonas de urbanizao difusa e o crescimento das cidades

    para as periferias misturaram diferentes funes e vocaes de uso do solo, ao mesmo tempo

    que os centros histricos sofreram processos de abandono e degradao.

    Nesse sentido, uma das opes estratgicas territoriais para a Regio Centro , precisamente,

    ordenar os territrios urbanos e, em particular, qualificar as periferias das cidades e revitalizar

    os centros histricos.

    No Plano de Aco do PNPOT reconhece-se que existe uma clara associao entre o

    crescimento das periferias e o abandono dos ncleos urbanos centrais e que, pese embora o

    grande esforo das autarquias para reabilitar os ncleos histricos e as reas centrais das

    aglomeraes urbanas nos ltimos anos, no se conseguiu contrariar suficientemente o seu

    abandono. Conclui-se, portanto, ser necessrio reforar a interveno neste domnio.

    Assim, no mbito de um dos objectivos especficos do PNPOT Promover um desenvolvimento

    urbano mais compacto e policntrico no Continente, contrariar a construo dispersa, estruturar

    a urbanizao difusa e incentivar o reforo das centralidades intra-urbanas , encontra-se a

    medida prioritria, incentivar novas parcerias para o desenvolvimento de programas

    integrados de reabilitao, revitalizao e qualificao das reas urbanas.

    Na Proposta Preliminar de Modelo Territorial do PPlano Regional de Ordenamento do Territrio

    do Centro (PROT-Centro)15, reconhecido o papel da cidade de Leiria como um dos pilares do

    policentrismo regional, cuja organizao e valorizao se consideram fundamentais para a

    afirmao da regio.

    14 Lei n. 58/2007, publicado no Dirio da Repblica n. 170, Srie I, de 4 de Setembro de 2007.15 Documento de Junho de 2007, elaborado pela equipa tcnica do Plano para submeter apreciao e validao daComisso Mista de Coordenao.

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    Figura 28 | Sntese do Sistema Urbano da Regio Centro

    Fonte: Proposta Preliminar de Modelo Territorial do PROT-Centro.

    Nesta medida, no contexto do sistema urbano Leiria-Marinha Grande (que, alm daquelas

    cidades, integra a Batalha, Porto de Ms e Pombal) e tendo em conta a necessidade de

    contrariar o efeito-sombra da proximidade conurbao metropolitana de Lisboa,

    destacada a necessidade de reforar a importncia urbana e funcional de Leiria.

    Por outro lado, dando sequncia s opes territoriais para a Regio Centro definidas no

    PNPOT, um dos objectivos estratgicos do PROT-Centro ordenar os territrios urbanos e,

    em particular, qualificar as periferias das cidades e revitalizar os centros histricos.

    , pois, evidente a relevncia reconhecida no PROT-Centro de uma interveno no centro

    histrico de Leiria, no s na perspectiva do ordenamento da cidade, mas tambm numa

    ptica mais ampla de reforo e afirmao externa do sistema urbano da Regio Centro.

    Foi recentemente apresentada a PPoltica de Cidades Polis XXI16 que o Governo pretende

    desenvolver nos prximos anos. Os trs instrumentos de poltica que devero vir a concretiz-la

    16 Cf. Poltica de Cidades Polis XXI, documento disponibilizado Comunicao Social pelo Gabinete do Secretrio deEstado do Ordenamento do Territrio e das Cidades, Abril de 2007.

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    so aplicveis aos centros urbanos estruturantes do modelo territorial do PNPOT (onde se

    enquadra a cidade de Leiria).

    A Poltica de Cidades Polis XXI tem os seguintes oobjectivos operativos:

    Qualificar e integrar os distintos espaos de cada cidade;

    Fortalecer e diferenciar o capital humano, institucional, cultural e econmico de cada

    cidade;

    Qualificar e intensificar a integrao da cidade na regio envolvente;

    Inovar nas solues para a qualificao urbana.

    Para atingir esses objectivos propem-se as seguintes dimenses de interveno:

    Regenerao urbana: coloca o enfoque em espaos intra-urbanos especficos e visa a

    coeso e coerncia do conjunto da cidade e a qualificao dos factores determinantes da

    qualidade de vida da populao; envolve a articulao de diferentes componentes

    (habitao, reabilitao e revitalizao urbanas, coeso social, ambiente, mobilidade, etc.).

    Competitividade/Diferenciao: coloca a nfase na cidade enquanto n de redes de

    inovao e de competitividade de mbito nacional ou internacional, e visa o reforo do seu

    papel e da sua capacidade competitiva e a valorizao dos factores de diferenciao;

    envolve o apoio a estratgias de afirmao internacional, a criao de equipamentos

    urbanos e infra-estruturas diferenciadores em termos de insero em redes nacionais e

    internacionais, a cooperao entre cidades portuguesas para a valorizao partilhada de

    recursos, potencialidades e conhecimento e, ainda, a cooperao a grande escala com

    cidades estrangeiras.

    Integrao regional: coloca a nfase nas interaces cidade-regio e no reforo do efeito

    cidade como factor de desenvolvimento das reas sob sua influncia directa; envolve

    iniciativas que visam estruturar aglomeraes, ganhar dimenso urbana, fomentar

    complementaridades e economias de aglomerao, e racionalizar e qualificar os

    equipamentos e servios que a cidade disponibiliza sua regio.

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    Para a concretizao daqueles objectivos e dimenses, foram estabelecidos trs iinstrumentos

    de poltica:

    Parcerias para a regenerao urbana: correspondem a programas de aco orientados

    para a revitalizao integrada de espaos intra-urbanos.

    Redes urbanas para a competitividade e inovao: correspondem a redes de actores

    urbanos envolvidos num processo de cooperao estratgica para o reforo dos factores

    de competitividade, do potencial econmico e da projeco internacional de uma cidade ou

    de redes de cidades organizadas, quer numa relao de proximidade quer numa base

    temtica.

    Aces inovadoras para o desenvolvimento urbano: visa estimular novas solues para os

    problemas e as procuras urbanas, e tem traduo ao nvel intra-urbano e da cidade-regio.

    A matriz seguinte sistematiza a correspondncia entre os instrumentos de poltica e as

    dimenses de interveno definidas na Poltica de Cidades Polis XXI.

    Quadro 01 | Matriz de instrumentos de poltica e dimenses de interveno da Poltica de Cidades Polis XXI

    Regeneraourbana

    Competitividade/ Diferenciao

    Integraoregional

    Parcerias para a regenerao urbana

    Redes urbanas para a competitividade e inovao

    Aces inovadoras para o desenvolvimento urbano

    INST RUM ENT OS D E GE ST O TE RRIT ORI A L

    Plano Director Municipal de Leiria

    O Plano Director Municipal de Leiria, aprovado pela Resoluo do Conselho de Ministros n.

    84/95, de 13 de Julho, encontra-se actualmente em reviso.

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    O regulamento do PDM (artigo 6. categorias de uso do solo) estabelece uma rea que

    classifica como Ncleo Histrico da Cidade de Leiria (delimitado na respectiva Carta de

    Ordenamento escala 1:25 000 e na Planta de Delimitao do Aglomerado Urbano escala

    1:10 000), referindo que este corresponde a uma zona de alto valor histrico, cultural e

    ambiental, integrando edificaes de especial interesse arquitectnico e urbanstico, pelo que

    devero ser conservadas, recuperadas e valorizadas as caractersticas gerais das malhas

    urbanas e as caractersticas arquitectnicas dos edifcios de maior interesse patrimonial.

    Ser desejvel que, no mbito da reviso em curso, o limite do centro histrico seja articulado

    com os demais limites considerados para a rea em causa, mais concretamente com aquela

    que a Diviso de Habitao e Reabilitao Urbana considera como limite do centro histrico e

    com o delimitado no mbito da elaborao do Plano de Urbanizao de Leiria.

    Plano de Urbanizao da Cidade de Leiria

    J numa escala aproximada cidade (permetro urbano), encontra-se em elaborao o Plano

    de Urbanizao da Cidade de Leiria. Este instrumento de gesto territorial classifica a rea do

    centro histrico como solo urbanizado (na subcategoria predominante de zonas

    habitacionais a manter e na de zonas de equipamento a manter) e ainda como estrutura

    ecolgica urbana onde se enquadram as zonas verdes de recreio e lazer que, nesta rea,

    correspondem encosta do castelo.

    O Plano de Urbanizao refere ainda (e enquanto o Plano de Pormenor do Centro Histrico no

    estiver eficaz) que se devem genericamente preservar as caractersticas do parque edificado do

    centro histrico, privilegiando as intervenes de recuperao e o respeito pelos edifcios com

    interesse arquitectnico.

    Para esta zona (considerada sensvel pelo seu valor histrico e urbanstico), o referido

    plano delimita uma Unidade Operativa de Planeamento e Gesto (UOPG 2 Centro Histrico

    da Cidade de Leiria) coincidindo com o limite do Plano de Pormenor do Centro Histrico,

    tambm em elaborao.

    Na ltima verso da proposta de regulamento do Plano esto previstos os objectivos, programa

    e regime especfico para esta unidade que, concretamente, lhe atribui as regras de ocupao

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    do solo conforme a categoria de solo urbanizado em que estiver abrangido (artigo 60.), sem

    contradizer as disposies propostas no PPCH.

    PP3 Plano de Pormenor de Leiria Centro

    O PP3 Plano de Pormenor de Leiria Centro (28,5 ha) um dos trs planos de pormenor que

    incluem os planos do Sistema Rio, elaborados no mbito do Programa Polis. A proposta de

    plano encontra-se concluda, aguardando-se a sua apresentao e aprovao em Assembleia

    Municipal.

    Parte do centro histrico encontra-se includa na rea de interveno deste plano, pelo que

    apenas nessa rea (4,1 ha) se sobrepem, simultaneamente, o plano e a rea abrangida pela

    ACRRU.

    PP2 Plano de Pormenor de Santo Agostinho

    O PP2 Plano de Pormenor de Santo Agostinho (14,2 ha) tambm um dos trs planos de

    pormenor que incluem os planos do Sistema Rio, elaborados no mbito do Programa Polis.

    O plano encontra-se eficaz, tendo sido publicado em Junho de 2006. Apenas uma pequena

    rea do plano integra uma parte da ACRRU (3,8 hectares), considerando-se, contudo, relevante

    articular as suas intenes com a proposta a realizar no mbito do presente Estudo, tanto na

    rea de estudo como na sua envolvente.

    PP4 Plano de Pormenor do Centro Histrico

    O Plano de Pormenor do Centro Histrico (33,4 ha) encontra-se em elaborao (preparao da

    Discusso Pblica), tendo surgido na sequncia do Plano de Salvaguarda elaborado pela

    Autarquia no mbito dos trabalhos do GTL.

    Pode dizer-se que as disposies constantes deste instrumento de gesto territorial renem o

    conjunto de necessidades que a Autarquia tem vindo a sentir na gesto urbanstica deste

    territrio. por isso que, desde o arranque dos trabalhos para a elaborao deste plano (que

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    decorreram sempre com a orientao da Cmara Municipal), este instrumento tem sido um

    elemento essencial para a definio das regras para a gesto do centro histrico.

    Este Plano de Pormenor comeou a ser elaborado em 1999/2000 por iniciativa da CML, tendo

    mais tarde sido absorvido na rea de interveno do Programa Polis.

    Nesse sentido, e na sequncia da necessidade de estruturar essa zona de interveno mais

    vasta, que era a rea de interveno do Programa Polis, foram criados mais trs planos de

    pormenor (designados de Planos de Pormenor do Sistema Rio) aos quais se juntou, numa

    mesma zona de interveno, o PPCH.

    Confrontando a rea do Plano de Pormenor com a da ACRRU, apenas 26,2 hectares integram

    ambos os limites.

    Em termos estratgicos, este plano aponta para a necessidade de uma poltica urbana e

    urbanstica para o centro histrico, atravs da qualificao da paisagem urbana, do patrimnio

    edificado e dos espaos pblicos.

    Quanto paisagem urbana, no mbito deste plano, foram-lhe atribudas como mais-valias: (1)

    o valor da propriedade pelo seu enquadramento fsico; (2) o valor estratgico dessa paisagem

    para o municpio; (3) o valor histrico e documental; (4) o conjunto de valores paisagsticos,

    urbanos e arquitectnicos que apresenta; e (5) o valor social e a identidade colectiva da cidade.

    Quanto ao patrimnio edificado, o plano constitui um elemento estruturante para a sua

    qualificao atravs do estabelecimento de regras para a ocupao, uso e transformao.

    Autarquia cabe o papel pr-activo de desenvolver e aplicar o processo de reabilitao, desde

    logo: (1) no patrimnio fundirio de que proprietria; (2) no patrimnio do Estado ou de

    pessoas de interesse colectivo; (3) no patrimnio classificado e/ou em vias de classificao; e

    (4) no patrimnio privado que representa a maior fatia do parque edificado deste centro

    histrico, ainda que a iniciativa e envolvimento dos privados seja fundamental ao processo de

    requalificao.

    Quanto ao espao pblico, o plano apoia-se nas diversas medidas que tm vindo a ser

    implementadas ao abrigo de programas de incentivos, como o PROCOM e o URBCOM, e de

    programas, como o PRAUD e o Polis, sempre com a responsabilidade da Autarquia na

    concertao e mobilizao de interesses.

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    No que diz respeito proposta de plano propriamente dita, o PPCH prev a reestruturao dos

    usos, o reordenamento das acessibilidades internas e a requalificao do espao pblico.

    Prev ainda, ao nvel do edificado, a salvaguarda das edificaes existentes e a construo de

    novos edifcios em reas definidas para esse efeito.

    Quanto salvaguarda do edificado, o PPCH (aps a considerao das suas caractersticas e

    correspondente valorao) sistematiza cinco categorias de classificao (A, B, C, D e E), desde

    os que interessa preservar na sua totalidade aos que no possuem caractersticas

    arquitectnicas sujeitas a condicionamentos de salvaguarda.

    Figura 29 | Limites da ACRRU e dos Planos de Pormenor

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    2 . 5 | S NTES E E D IAG N STI CO

    O trabalho de anlise da rea de interveno e da sua envolvente, efectuado de forma directa

    (com observao e recolha de informao no local) e indirecta (atravs da consulta, tratamento

    e interpretao de informao de natureza diversificada), permitiu sistematizar os principais

    elementos de caracterizao relevantes para o presente Estudo de Enquadramento Estratgico.

    Como sntese