universidade estadual de santa cruz - uesc prÓ …nbcgib.uesc.br/profisica/docs/leidy.pdf ·...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA- PROFÍSICA
Leidy Johana Rojas Bohórquez
OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS DE AQUISIÇÃO DA IMAGEM EM MAMOGRAFIA DIGITAL
Ilhéus - Bahia 2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA- PROFÍSICA
Leidy Johana Rojas Bohórquez
OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS DE AQUISIÇÃO DA IMAGEM EM MAMOGRAFIA DIGITAL
Tese apresentada para obtenção do título de Mestre em Física Área de concentração: Física aplicada à Medicina Orientador: Prof. Dr. Fermín de la Caridad Garcia Velasco
Co-Orientadora: Prof. Drª. Agnes Maria da Fonseca Fausto
Ilhéus - Bahia 2016
R741 Rojas Bohórquez, Leidy Johana. Otimização dos parâmetros físicos de aquisição imagem em mamografia digital / Leidy Johana Rojas Bohórquez. – Ilhéus, BA: UESC, 2016. 72f. : il. Orientador: Fermín Garcia Velasco. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz, Programa de Pós - Graduação em Física. Inclui referências.
1. Mamografia. 2. Radiografia – Qualidade da imagem . 3. Mamas - Imagem. 4. Radiação. I. Tí- tulo. CDD 618.190757
“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma
gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma
gota”.
Madre Teresa de Calcuta
AGRADECIMENTOS
A meus pais, por seu amor incondicional, seu constante apoio e fé em meu
trabalho.
A minhas irmãs, por seus valiosos conselhos que sempre têm estado em todas
as facetas da minha vida.
Á Doutora Agnes Maria Fausto, por sua ajuda, paciência e otimismo desde o
primeiro dia do início deste trabalho até sua culminação.
Ao Doutor Fermín Velasco por ser professor e amigo em toda a experiência do
mestrado.
Ao Doutor Arturo Samana pelo apoio desde meu primeiro dia no Brasil.
A Eddimel, por todo seu amor e paciência, e sempre estar presente nos
momentos que mais precisei dele.
A todos meus amigos brasileiros e estrangeiros que compartilharam comigo
maravilhosas experiências no tempo longe do meu lar.
A minhas alunas de Iniciação Científica Gabrielle, Marianne, Paloma e Rayssa
por todo o tempo e esforço dedicado na realização deste trabalho.
A todos os professores, colegas e funcionários do Centro de pesquisas em
Ciências e Tecnologias das Radiações por me ajudar a adaptar a todas as
mudanças do dia a dia.
Ao convénio da Organização dos Estados Americanos e o grupo Coimbra de
Universidades Brasileiras pela oportunidade de fazer meu mestrado no Brasil na
área que eu sempre quis.
À Universidade Estadual de Santa Cruz e a Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior pelo financiamento concedido no tempo de duração
do mestrado.
RESUMO
Otimização dos parâmetros físicos de aquisição da imagem em mamografia digital O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo a
detecção precoce crucial para seu diagnóstico e tratamento. Atualmente, o
método mais efetivo para a detecção precoce do câncer de mama é o exame de
mamografia, mas este é um dos exames por radiodiagnóstico que mais deposita
dose de radiação no paciente. Por esta razão, muitos estudos científicos
relacionados com a otimização deste procedimento permanecem em aberto,
visando melhorar a qualidade da imagem e minimizar a dose no paciente. Este
trabalho tem como objetivo realizar a otimização dos parâmetros físicos de
exposição usados no exame de mamografia (combinação Alvo/Filtro, tensão na
ampola e produto corrente-tempo) em um mamógrafo digital instalado no Centro
de pesquisas em Ciências e Tecnologias das Radiações (CPqCTR) na
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) a fim de encontrar a técnica de
aquisição que vai fornecer a melhor relação entre qualidade da imagem e dose
glandular média (DGM) para uma mama de 4,5 cm de espessura e composição
de 50% de tecido glandular e 50% de tecido adiposo, segundo a definição de
mama padrão. Como critério de otimização foi adotada uma Figura de Mérito
(FOM) definida a partir da razão entre o quadrado da figura de qualidade da
imagem invertida (IQFinv) pela DGM. No mamógrafo estudado foi realizada uma
análise contraste-detalhe empregando-se o objeto de teste CDMAM para o
cálculo do IQFinv. Ao comparar duas imagens de um simulador de mama com
espessura 4,5 cm e 50% de glandularidade, uma adquirida com os parâmetros
resultantes da otimização realizada neste trabalho (imagem otimizada) e outra
com os parâmetros escolhidos automaticamente pelo equipamento (imagem
automática), encontra-se que os parâmetros de qualidade da imagem razão
sinal-ruído (SNR) e razão contraste-ruído (CNR) coincidem nas duas imagens,
mas a DGM associada à obtenção da imagem otimizada é 26% menor que a
DGM associada à imagem automática.
Palavras chaves: mamografia digital, otimização, qualidade da imagem, dose
glandular média.
ABSTRACT
Optimization of the physical image acquisition parameters in digital
mammography.
The breast cancer is the most common cancer in women, and the early detection
is crucial for the diagnosis and treatment. The most effective method to the breast
cancer early detection is the mammogram, but it is one of the radiodiagnosis
exams than more gives dose to the patient. Many scientific problems are open in
relation with the optimization of the physic parameters of this exam, looking for
better image quality and less radiation dose on the patient. This work aims to
conduct an optimization study of the physic exposure parameters used in a
mammogram (Target/Filter combination, kVp and mAs) in a digital
mammographic unit installed in the Centro de pesquisas em Ciências e
Tecnologias das Radiações (CPqCTR) at the Universidade Estadual de Santa
Cruz (UESC) for a breast with 4,5 cm of thickness and composed of %50 of
glandular tissue and %50 of fatty tissue, like the definition of standard breast. As
optimization standard, a Figure of Merit (FOM) was used, defined from the ratio
between the square of the Image Quality Figure inverted (IQFinv) and the AGD.
In the digital mammography unit, a Contrast-Detail analysis was carried out with
a CDMAM breast phantom to calculate the IQFinv. At compare two images of the
breast phantom ACR with 4,5 cm of thickness and %50 of glandularity, one
acquired with the optimized parameters (optimized image) and another one with
the automatic parameters (automatic image), the optimized image had the same
SNR value and CNR value than the automatic image, but the optimized
parameters did reduce the AGD to 26%.
Keywords: digital mammography, optimization, image quality, average glandular
dose.
LISTA DE ABREVIATURAS
ACR American College of Radiology
AEC Automatic exposure controle
A/F Alvo/Filtro
CDMAM Contrast-Detail Mammography
CNR Contrast to noise ratio
CSR Camada semi-redutora
CR Computed radiography
DR Digital radiography
DGM Dose glandular média
DICOM Digital imaging and communications in medicine
DQE Detective quantum eficiency
EC European commission
FFDM Flat field digital mammography
FOM Figure of Merit
IAEA International Atomic Energy Agency
INCA Instituto Nacional de Câncer
ICRP International Comission on Radiological Protection
IQF Image quality figure
IQFinv Image quality figure inverted
Mo Molibdénio
MPV Mean pixel value
MTF Modulation transfer function
NEQ Noise equivalent quanta
NPS Noise power spectrum
OMS Organização Mundial da Saúde
Rh
ROC
Ródio
Receiver operating characteristic
SNR Signal to Noise ratio
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Comparação das características dos tecidos que compõem a mama
com os objetos procurados na mamografia.
3
Figura 2.1 Exemplos de imagens mamográficas desde 1940 até 2006. 11
Figura 2.2 Componentes do equipamento mamográfico 12
Figura 2.3 Espectros de raios X para as combinações Mo/Mo e Mo/Rh com 30
kVp.
13
Figura 2.4 Visão geral de avaliação da qualidade da imagem. 17
Figura 2.5 Definição e cálculo do contraste na imagem. 18
Figura 2.6 Definição da PSF 18
Figura 2.7 Definição de ruído na imagem 19
Figura 2.8 Cálculo do MPV 20
Figura 2.9 Definição de MTF 21
Figura 2.10 Fantoma de pares de linhas para cálculo da MTF 21
Figura 2.11 Cálculo do NPS 22
Figura 2.12 Análise Contraste-Detalhe 24
Figura 3.1 Marco metodológico do trabalho 25
Figura 3.2 Mamógrafo modelo Selenia da Hologic 28
Figura 3.3 Objeto de teste CDMAM 3.4 33
Figura 3.4 Avaliação das imagens do CDMAM com o software CDCOM 35
Figura 3.5 Exemplo da curva Contraste-Detalhe para o objeto de teste CDMAM
construída com o software da Artinis com taxa de detecção de 75%.
35
Figura 3.6 Curva Contraste-Detalhe para o objeto de teste CDMAM 36
Figura 3.7 Simulação de Dance (a) Geometria usada na simulação. (b)
Características da mama padrão..
38
Figura 3.8 Arranjo para medir o K_(a,I) (a) Posicionamento da câmara a 4 cm
da parede torácica e 4,5 cm do detector. (b) Conjunto dosimétrico da
RADCAL modelo 9015 com câmara de ionização 10x9-6M
43
Figura 3.9
Arranjo para obter as medidas para cálculo da CSR. A CI é
posicionada a 4 cm da parede torácica e 4,5 cm do detector. As
placas de Al sobre o compressor a 20 cm do detector.
44
Figura 3.10 Fantoma ACR 45
Figura 4.1 Valores do fator 𝑔 em função da CSR. Resultados do Ajuste linear 52
Figura 4.2 𝐷𝐺𝑀 estimada no fantoma de 4,5 cm de espessura e composição
50/50
54
Figura 4.3 IQFinv calculado com o analise das imagens do objeto de teste
CDMAM para 4,5 cm de espessura, em função do kVp
55
Figura 4.4 FOM calculada para fantoma de mama com 4,5 cm de espessura e
composição 50/50
57
Figura 4.5 𝐷𝐺𝑀 estimada no fantoma de 4,5 cm de espessura e composição
50/50 como função do mAs.
59
Figura 4.6 IQFinv calculado com o analise das imagens do objeto de teste
CDMAM para 4,5 cm de espessura, em função do mAs
60
Figura 4.7 𝐹𝑂𝑀 calculado como função do mAs para duas tensões testadas. 61
Figura 4.8 Medidas na imagem Raw do fantoma ACR 63
Figura 4.9 Seguimento do CNR no fantoma ACR 63
Figura 4.10 Seguimento do SNR no fantoma ACR 64
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 Estimativa dos casos novos de câncer esperados para as mulheres
no ano 2014 e suas porcentagens no Brasil. 1
Tabela 1.2 Definições de FOM utilizadas em mamografia 9
Tabela 3.1 Modos de exposição do Selenia. 29
Tabela 3.2 Testes de controle de qualidade em equipamentos mamográficos 30
Tabela 3.3 Fatores 𝑔(mGy/mGy) para espesuras de mama de 2-11 cm e CSR
entre 0.30-0.60mmAl. 39
Tabela 3.4 Coeficientes para o ajuste polinomial da glandularidade como uma
função da espessura da mama (equação 4).
40
Tabela 3.5 Fatores 𝑐 para espesuras de mama de 2-11 cm, glandularidades de
0.1-100% e CSR de 0.30 mmAl. 41
Tabela 3.6 Fatores 𝑠 para espectros usados na prática clínica e o máximo erro
envolvido na sua utilização.
42
Tabela 4.1 Resumo dos resultados dos testes de aceitação. 50
Tabela 4.2 Combinações de parâmetros de aquisição más apropriadas e
comparáveis para ser testadas 51
Tabela 4.3 Resultado da 𝐷𝐺𝑀 para as tensões utilizadas com Mo/Mo, incluindo
os parâmetros automáticos, e as grandezas envolvidas no seu cálculo 53
Tabela 4.4 Resultado da 𝐷𝐺𝑀 para as tensões utilizadas com Mo/Rh, e as
grandezas envolvidas no seu cálculo. 53
Tabela 4.5 Valores obtidos do IQFinv 55
Tabela 4.6 Valores obtidos da FOM 56
Tabela 4.7 Valores obtidos da 𝐷𝐺𝑀, 𝐼𝑄𝐹inv e FOM para a otimização do mAs 58
Tabela 4.8 Comparação dos parâmetros automáticos com os parâmetros
otimizados
61
Tabela 4.9 Comparação das características das imagens adquiridas com os
parâmetros automáticos e com os parâmetros otimizados
65
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E MOTIVAÇÃO 1
1.2 ESTADO DA ARTE 3
1.3 OBJETIVOS 10
1.3.1 Geral 10
1.3.2 Específicos 10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 11
2.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO MAMÓGRAFO 11
2.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS SISTEMAS DIGITAIS 15
2.3 QUALIDADE DA IMAGEM 16
2.3.1 Contraste 17
2.3.2 Resolução espacial 18
2.3.3 Ruído 19
2.3.4 Razão Sinal-Ruído 19
2.3.5 Razão Contraste-Ruído 20
2.3.6 Função Transferência de Modulação 21
2.3.7 Espectro de Potencia do Ruído 21
2.3.8 Modelo de Rose 22
2.3.9 Análise contraste-detalhe 23
2.3.10 Análises ROC 24
3. METODOLOGIA 25
3.1 DETERMINAÇÃO DE UMA MÉTRICA DE AVALIAÇÃO
OBJETIVA DO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA IMAGEM EM
MAMOGRAFIA DIGITAL
27
3.1.1 Caracterização do equipamento 27
3.1.2 Monitoração da unidade mamográfica 29
3.1.3 Figura de mérito (FOM) usada para o estudo de
otimização
31
3.1.4 Escolha da métrica usada para avaliar a qualidade da
imagem
31
3.1.4.1 Objeto de teste CDMAM 32
3.1.5 Dose Glandular Média 37
3.1.5.1 Método de Dance 37
3.1.6 Determinação da DGM 42
3.1.7 Determinação dos parâmetros de aquisição da
imagem
44
3.2 OBTENÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS ÓTIMOS
PARA A AQUISIÇÃO DA IMAGEM.
45
3.3 COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS
OTIMIZADOS COM OS PARÂMETROS AUTOMÁTICOS
46
3.4 INCERTEZAS NAS MEDIDAS 47
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 49
4.1 TESTES DE CONTROLE DE QUALIDADE 49
4.2 OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS DE AQUISIÇÃO 51
4.2.1 Otimização do kVp 51
4.2.2 Otimização do mAs 58
4.3 TESTES DE VALIDAÇÃO 62
5. CONCLUSÕES 66
REFERÊNCIAS 67
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização e motivação
O câncer da mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o
mundo, com exceção do câncer de pele tipo não melanoma (Organização
Mundial da Saúde, OMS 2012). No Brasil, cerca de 57.960 casos novos dessa
neoplasia foram esperados para o ano de 2016 (Instituto Nacional de Câncer,
INCA 2015), o que representa 28,1% de todos os tipos de câncer (Tabela 1.1).
A idade continua sendo o principal fator de risco para o câncer de mama. As
taxas de incidência aumentam rapidamente até os 50 anos e, posteriormente,
esse aumento ocorre de forma mais lenta.
Fonte: INCA 2015
Contudo, outros fatores de risco já estão bem estabelecidos, como, por exemplo,
aqueles relacionados à vida reprodutiva da mulher (menarca precoce, idade da
primeira gestação a termo acima dos 30 anos, anticoncepcionais orais,
menopausa tardia e terapia de reposição hormonal), história familiar de câncer
de mama e alta densidade do tecido mamário (razão entre o tecido glandular e
o tecido adiposo da mama). Além desses, a exposição à radiação ionizante,
mesmo em baixas doses, também é considerada um fator de risco (INCA 2015).
O diagnóstico precoce é a forma mais eficaz para reduzir a mortalidade causada
por esta doença e aumentar a sobrevida dos pacientes (Michaelson et al 2002),
sendo a mamografia a técnica mais utilizada para esse fim (Yaffe 2008). O
Tabela 1.1. Estimativa dos casos novos de câncer esperados para as
mulheres no ano 2016 e suas porcentagens no Brasil.
2
exame mamográfico é útil no diagnóstico do câncer de mama, para avaliação de
uma área suspeita ou para a localização da lesão para a terapia. O seu objetivo
principal é facilitar a detecção de câncer de mama antes que seja possível
detectá-lo diretamente pelo exame clínico. Mas, os problemas que estão
relacionados à técnica são:
Distinguir por radiografia o tecido mamário que é composto basicamente
pelos tecidos glandular e o adiposo, onde todos possuindo números
atômicos e densidades semelhantes.
As massas respondem à radiação de forma muito semelhante ao tecido
glandular.
Do ponto de vista da dose absorvida, é um dos exames de
radiodiagnóstico que mais deposita dose no paciente.
Mesmo assim, atualmente, a mamografia digital é a ferramenta mais eficaz para
a detecção precoce do câncer de mama (Qian 2013). Mais pesquisas em
mamografia digital são importantes, visto que a tendência é a substituição dos
aparelhos analógicos pelos digitais com o passar do tempo (Furquim e
Nersissian 2011). Uma mamografia de qualidade é imprescindível para a
realização de um diagnóstico correto. Pelo fato de ser um exame por
radiodiagnóstico, devem ser levados em consideração os dois princípios básicos
de proteção radiológica do paciente, recomendados pela Comissão Internacional
de Proteção Radiológica (ICRP 1991), a justificação da prática e a otimização da
proteção radiológica, considerando os níveis de referência de dose de radiação.
A justificativa é o primeiro passo em proteção radiológica. Todo exame deve
resultar em um benefício para o paciente. Uma vez que o exame diagnóstico
tenha sido clinicamente justificado, a proteção radiológica do paciente deve ser
otimizada. Por isso, estudos de otimização em mamografia digital ajudam a
fornecer qualidade do exame e proteção ao paciente. Neste trabalho, será
desenvolvida uma metodologia de otimização que possa ser aplicada em
equipamentos de mamografia digital a fim de encontrar a melhor técnica de
aquisição da imagem com a menor dose de radiação no paciente.
3
1.2 Estado da Arte
A mamografia é um exame por radiodiagnóstico especializado na detecção do
câncer de mama (Qian 2013). Esta técnica precisa detectar objetos tais como
massas e microcalcificações, que são os sinais mais comuns da aparição de
câncer de mama. Na imagem radiológica, a identificação dos tecidos se
consegue pela diferença entre os coeficientes de atenuação deles, mas na
imagem mamográfica precisa-se distinguir estruturas com um fundo de tecido
mamário que é composto basicamente pelos tecidos adiposo e glandular, tendo
este último um coeficiente de atenuação muito próximo ao coeficiente de uma
massa tumoral, mostrando uma leve diferença nas energias próximas aos
20 keV (Figura 1.1a), faixa na qual se observa maior contraste entre as massas
e microcalcificações com o fundo de tecido fibroglandular (Figura 1.1b). Porém,
é um desafio na mamografia o desenvolvimento de técnicas que consigam a
diferenciação na imagem dos tecidos sadios dos sinais radiológicos do câncer
de mama.
(a) (b)
As microcalcificações são um grande indício do possível desenvolvimento de
câncer (Morgan et al, 2005). Embora apresentem maior contraste que as massas
(Figura 1.1b), podem ser tão pequenos variando de 100 μm a 200 μm. Estudos
recentes comparam a capacidade de detecção de microcalcificações dos
Figura 1.1 Comparação das características dos tecidos que compõem a mama com os objetos
procurados na mamografia. (a) Comparação dos coeficientes de atenuação linear de tecido
adiposo, tecido fibroglandular e tecido tumoral. (b) Contraste que apresentam uma massa e
uma microcalcificação com um fundo composto por 20% de tecido fibroglandular.
Fonte: Yaffe e Hill 2013.
4
diferentes tipos de detectores usados na mamografia. O primeiro tipo são os
detectores convencionais com sistema tela-filme. No segundo tipo estão
agrupados os detectores com fósforo foto-estimulável chamados detectores de
radiografia computadorizada (CR), os quais tem a vantagem de poder ser
utilizados nos equipamentos mamográficos convencionais. O terceiro tipo de
detectores são os detectores de radiografia digital (DR) que agrupa todos os
sistemas mamográficos com detector digital próprio (Chevalier, Torres 2010).
Warren et al (2012) pesquisou se a detecção de microcalcificações variava
significativamente com o uso de diferentes métodos de aquisição de imagens,
incluindo diferentes detectores, níveis de dose e algoritmos de processamento.
Usou 162 imagens de mamas normais adquiridas em um mamógrafo digital com
detector de selênio amorfo, onde na metade delas foram insertadas
eletronicamente agrupamentos de microcalcificações extraídas de imagens
magnificadas de mastectomias. As imagens foram processadas e modificadas
para simular a aparência das imagens adquiridas com um mamógrafo CR e
assim comparar os dois sistemas sem a necessidade de expor os pacientes mais
vezes. Também foram realizados estudos com o objeto de teste de contraste-
detalhe CDMAM (Contrast detail mammography), usando a média dos
parâmetros de exposição das 162 imagens. Os resultados mostraram um
aumento significativo na detecção de microcalcificações no sistema DR quando
comparado com o CR, adicionalmente encontraram que um menor limite da
espessura de disco de ouro nas análises do CDMAM implica em uma melhor
detecção de agrupamentos de microcalcificações. Esse resultado evidencia uma
das vantagens que traz a mamografia digital comparada com a mamografia
computadorizada.
Mais recentemente, Mackenzie et al (2015) comparou o desempenho de
mamógrafos com detector DR e CR. O detector DR apresentou melhor
desempenho em comparação com o CR, e, portanto, maior taxa de detecção de
microcalcificações, concluindo que o tipo de detector pode afetar as taxas de
detecção de câncer, sendo a detecção de microcalcificações a que presenta
maior variação.
Segundo Weber et al (2015) a mamografia digital de campo plano (FFDM, Flat
Field Digital Mammography) permite a otimização das imagens, aumentando a
resolução e o contraste. Nesse estudo, não fica claro se existe uma
5
superioridade geral da mamografia convencional sobre a digital, mas o processo
de transição à mamografia digital foi associado com um aumento na taxa de
detecção do câncer de mama. Além disso, comparado com a mamografia de
filme, a FFDM resultou em um número superior de casos detectados de
carcinoma ductal in situ em etapas intermediárias e de pequenos tipos de câncer
não invasivos. Nos resultados de Pisano (2005) já se mostrava a semelhança na
precisão do diagnóstico na mamografia digital e na convencional quando se
analisava toda a população, mas a sensibilidade do sistema DR era
significativamente superior em mulheres em idades inferiores aos 50 anos,
mulheres com densidade mamaria alta ou heterogênea, e mulheres na
prémenopausa ou na perimenopausa.
É importante ressaltar que a mamografia digital separa os sistemas de aquisição
e de exibição das imagens, o qual permite a otimização de ambos
separadamente. Qian (2013) afirma que os sistemas digitais oferecem um
grande rango dinâmico de operação, melhorando a visualização de todas as
áreas da mama. Além disso, o formato digital permite ajustar a escala de cinzas
e assim manipular o contraste para cada imagem, o qual pode ser incrementado
nas regiões mais densas onde o contraste, na maioria dos casos, é menor. Outra
vantagem da mamografia digital é a eliminação do filme e seu processamento,
diminuindo custos, tempo e resíduos. As imagens podem ser armazenadas na
estação de trabalho no padrão DICOM (Digital imaging and communications in
medicine), o qual facilita a organização da informação da paciente e da aquisição
da imagem (IAEA 2011). O uso da tecnologia digital possibilitou o
desenvolvimento de novas técnicas de formação de imagens para detecção do
câncer de mama como são a thomosyntesis e a tomografia computadorizada de
mama. Além disso, sofisticados sistemas de software para a formação da
imagem e também para diagnóstico assistido por computador têm sido
desenvolvidos com o objetivo de melhorar a detecção de lesões em estágio
inicial em mulheres assintomáticas (Ontario Association of Radiologists, OAR
2010).
Visando as vantagens que a mamografia digital traz, atualmente se está vivendo
uma transição dos equipamentos de mamografia convencional e
computadorizada ao sistema digital. Mas, no sistema DR, uma dose
6
excessivamente alta não será percebida na imagem porque não causa
problemas na qualidade da imagem, como acontece na mamografia
convencional, onde uma alta exposição à radiação resulta óbvia (IAEA 2011).
Furquim e Nersissian (2011) estudaram a otimização de dose e qualidade de
imagem nos processos de transição de mamografia CR a DR, e a possível
melhoria da imagem com o aumento desnecessário de dose quando não são
realizados processos de otimização. Avaliaram 4 equipamentos convencionais e
5 digitais obtendo valores de kerma no ar na entrada da pele para uma mama
padrão (4,5 cm) com as técnicas usualmente utilizadas na prática clínica e
usando a combinação alvo-filtro mais frequente para essa espessura, Mo/Mo.
Calcularam a DGM considerando a metodologia do American College of
Radiology (ACR) e concluíram que as novas tecnologias, mesmo após a
otimização, podem fornecer doses maiores, mostrando a importância de técnicas
de otimização especializadas para mamografia digital e estudos individualizados
nos novos equipamentos instalados.
Para um sistema mamográfico, é impossível fornecer uma maior resolução
espacial sem aumentar simultaneamente a dose de radiação (Qian 2013). Por
esta razão, a relação entre dose e qualidade da imagem deve ser aperfeiçoada
para a aplicação clínica específica. O princípio da otimização da proteção
radiológica foi regulamentado no Brasil por Portaria específica do Ministério da
Saúde (MS Portaria nº 453, 1998). Este processo implica a interação de três
aspectos importantes no processo da produção da imagem: 1) a qualidade da
imagem radiológica para fim de diagnóstico; 2) a escolha da técnica para se obter
a imagem e 3) a dose de radiação no (a) paciente (EC 1996). A garantia da
qualidade radiográfica está diretamente associada ao desempenho de todo
sistema de produção da imagem, desde a adequação dos procedimentos de
medidas dos parâmetros técnicos do sistema até os procedimentos de emissão
do laudo (Almeida 2014). Protocolos com procedimentos de controle de
qualidade e padrões de desempenho para mamografia vêm sendo
desenvolvidos e adequados para as novas tecnologias pela Comissão Europeia
(2006) e também pela Agencia Internacional da Energia Atômica (2011). Alguns
pesquisadores têm focado a caracterização dos sistemas digitais em termos do
desempenho do detector usando a função transferência de modulação (MTF,
Modulation Transfer Function), a eficiência quântica de detecção (DQE,
7
Detective Quantum Efficiency), o espectro de potência do ruído (NPS, Noise
Power Spectrum), (Warren et al 2012), o índice de detectabilidade da lesão (d’)
(Yaffe et al 2013, Maki et al 2014), o ruído equivalente ao número de quantos
(NEQ, Noise Equivalent Quanta) (Maki et al 2014). Estas métricas podem
descrever o desempenho intrínseco do detector utilizado pelo respectivo
sistema, mas não servem como indicador global da qualidade da imagem (Borg
et al 2012), além disso, não consideram fatores importantes como as mudanças
do espectro, o sinal e o ruído proveniente de estruturas anatómicas.
A qualidade da imagem pode ser um conceito complexo e deve estar incluído
nele a capacidade de percepção do observador humano (Finch et al 2001). Nas
orientações para a avaliação da qualidade da imagem publicada em 1996 pela
Comissão Européia, também estão incluídos os critérios da qualidade da
imagem clínica. Alguns autores relatam que esses critérios podem ser ambíguos
e não descrevem suficientemente todos os aspectos relevantes que
caracterizam a qualidade de uma imagem (Ongeval 2008). O grande desafio é
se desenvolver métricas de qualidade de imagem que sejam confiáveis e
reprodutíveis, mas que, ao mesmo tempo, permitam avaliar o quão bem um
sistema de imagem conseguirá atingir os objetivos do seu uso na prática clínica,
e não apenas na perspectiva física (Fausto 2013). A busca da melhor qualidade
de imagem no âmbito físico nem sempre representa a melhor imagem na
perspectiva do diagnóstico clínico. Hemdal et al (2005) desenvolveram um
conjunto de novos critérios da qualidade da imagem que se aplicam, inclusive,
para a mamografia digital. Os autores se propuseram a avaliar se estes novos
critérios podem ser usados por radiologistas para diferenciar mamografias,
obtidas com a dose no controle automático e com a metade da dose original,
com maior poder discriminatório do que os critérios originais. Os resultados
indicam que os novos critérios da qualidade podem ser utilizados para a
avaliação da qualidade da imagem em relação aos requisitos clínicos em
mamografia digital e que as doses de radiação podem ser substancialmente
reduzidas. Um estudo realizado por Ongeval et al (2008) propôs, para a
quantificação da qualidade da imagem clínica de mamografia digital, dois
conjuntos de parâmetros da qualidade da imagem. O primeiro conjunto é
composto por 12 critérios da qualidade da imagem e o segundo por 8 critérios
8
de características físicas da imagem. O primeiro conjunto avaliou a visibilidade
das estruturas anatômicas e as características típicas de uma imagem digital,
como o ruído e a saturação das regiões claras e escuras. O segundo conjunto
de critérios avaliou o contraste, nitidez, a representação das massas e
microcalcificações. A utilização destes critérios é relatada em estudos
retrospectivos, no qual o impacto da dose na qualidade da imagem na
mamografia digital foi avaliado. Os autores concluíram que a dose afeta, mais do
que o esperado, o contraste e a nitidez da imagem, enquanto que a visibilidade
das estruturas anatômicas permanece inalterada.
Os critérios que têm sido mais utilizados para avaliar a qualidade da imagem são
a razão contraste-ruído (CNR, Contrast to Noise Ratio) e a razão sinal-ruído
(SNR, Signal to Noise Ratio) (Borg et al 2012), sendo as grandezas que melhor
definem a informação radiológica que pode ser detectada na imagem digital. A
SNR depende da dose de radiação e do número de fótons utilizados para obter
a imagem. A CNR depende além do ruído, da diferença nos coeficientes de
atenuação do detalhe de interesse e o tecido do fundo, variando em função da
energia do feixe de radiação incidente (Chevalier, Torres 2010). Em mamografia
digital, o contraste pode ser manipulado, mas o ruído está limitado pela técnica
radiográfica em termos do kVp e o mAs.
Para comparar o desempenho entre sistemas mamográficos semelhantes e
seus parâmetros de exposição sob o critério da qualidade da imagem, surge a
Figura de Mérito (FOM, Figure of Merit). A FOM é um número calculado para
qualquer sistema em particular e cuja magnitude reflete o seu desempenho, ou
seja, quanto maior for o valor da FOM para aquele sistema, melhor é seu
desempenho (Fausto 2013). O uso da FOM é útil nas investigações para
comparar a compensação que deve existir entre qualidade da imagem e dose de
radiação, quando diferentes parâmetros operacionais são usados. Na Tabela 1.2
se resume as definições de FOM utilizadas em alguns trabalhos de investigação.
9
Tabela 1.2. Definições de FOM utilizadas em mamografia
Definição de FOM Aplicação Artigos
𝐶𝑁𝑅2 𝐸⁄
Aplicou-se a FOM num protótipo de mamógrafo digital onde se avaliou a utilização do alvo de tungstênio (W) com o filtro de ródio (Rh) em comparação com o conjunto alvo/filtro de Mo/Mo para diferentes espessuras e glandularidade da mama.
Samei et al 2005
𝑆𝐶𝜇𝐶2 𝐷𝐺𝑀⁄
Utilizou-se a simulação Monte Carlo para calcular a deposição de energia no interior do objeto simulador de mama e do sinal por baixo dele. Aplicou-se a FOM com diferentes espectros de radiação para diversas glandularidades de mama, tamanhos de lesões e composições. Para a mamografia digital calculou-se a FOM com o valor do CNR no lugar do SCμC.
Delis et al 2007
𝑆𝑁𝑅2 𝐷𝐺𝑀⁄
Utilizou-se a FOM para otimizar os parâmetros de exposição (alvo / filtro / kVp) em cinco equipamentos de mamografia (FFDM).
Williams et al 2008
𝐶𝑁𝑅2 𝐷𝐺𝑀⁄
Utilizou-se a FOM para comparar mamógrafos (FFDM); para investigar o efeito da combinação alvo/filtro em detectores de selênio amorfo (a-Se) e para a otimização das técnicas radiográficas.
Baldelli et al 2010 Kanaga et al 2010 Ranger et al 2010
𝐶𝑁𝑅2 𝐷𝑔⁄ Utilizou-se a FOM para investigar os espectros ótimos para mamógrafos CR, visando a reduzir a dose na mama e para estudar o funcionamento de diferentes espectros de raios X em mamografia DR, comparando as combinações alvo-filtro mas usadas em mamografia com outros espectros simulados com Monte Carlo.
Cunha et al (2013) Tomal et al (2015)
𝐼𝑄𝐹𝐼𝑁𝑉2 𝐷𝐺𝑀⁄ Utilizou-se a FOM para otimizar os
parâmetros de exposição (alvo / filtro, kVp e mAs) no mamógrafo Senographe DS da GE usando o critério de contraste-detalhe.
Fausto (2013)
Fonte: Fausto (2013) e Autor.
A FOM tem sucesso para propósitos de otimização e identificação dos melhores
espectros para mamografia digital (Borg et al 2012). É de destacar que os
autores comentam que as técnicas definidas para a otimização, foram
consistentes para os dois tipos de lesões procurados na mamografia (massas e
microcalcificações), o que implica que não há nenhuma necessidade de se
estudar distintas configurações técnicas para se manter a visibilidade dos dois
tipos de estruturas. O uso da FOM tem sido útil na avaliação do controle
automático de exposição (AEC, Automatic Exposue Controle) de sistemas
10
mamográficos, já que não necessariamente os parâmetros selecionados pelo
AEC do equipamento mamográfico são os mais adequados para diferentes
espessuras e composições de mama (Borg et al 2012; Tomal et al 2015). Por
esta razão, é de importância o estudo de técnicas de otimização especializadas
para mamografia digital e estudos individualizados em cada equipamento
instalado (Furquim e Nesissiam 2011) e a FOM, é uma ferramenta útil para
comparar a relação entre qualidade da imagem e dose de radiação para
diferentes técnicas de aquisição da imagem.
1.3 Objetivos
1.3.1 Geral
Otimizar os parâmetros de aquisição da imagem no exame de mamografia
digital do equipamento Selenia da Hologic.
1.3.2 Específicos
i. Determinar uma métrica de avaliação objetiva do processo de
aquisição da imagem em mamografia digital.
ii. Obter novos parâmetros físicos para otimização do sistema de
aquisição da imagem do mamógrafo digital estudado com base na
relação qualidade da imagem versus dose.
iii. Analisar e comparar parâmetros físicos otimizados obtidos para
uma espessura de mama e os parâmetros do sistema automático
de exposição do equipamento.
11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Características físicas do mamógrafo
No início do rastreio dos sinais de câncer de mama, era utilizado o equipamento
de radiologia convencional para obter a imagem mamográfica, mas esta não
fornecia a qualidade para o diagnóstico clínico devido às características
anatômicas e à composição da mama (Figura 2.1). Por isso, foram desenvolvidos
equipamentos específicos para a formação da imagem da mama e que permitem
flexibilidade para o posicionamento da paciente.
Figura 2.1 Exemplos de imagens mamográficas desde 1940 até 2006. Imagens desde 1940
até 1965 foram produzidas utilizando um equipamento de raios X de propósito geral. A imagem de 1973 foi realizada com o primeiro sistema tela filme dedicado à mama. Em 1976 foi
realizada usando uma unidade de xero-mamografia. A imagem de 1990 é de um mamógrafo tela filme moderno. A imagem de 2006 é de um mamógrafo digital.
Fonte: Smith et al 2007
Os componentes mais relevantes do equipamento de mamografia são
mostrados na figura 2.2. O tubo de raios X pode ser dividido em dois
componentes principais, o cátodo e o anodo. O cátodo é o eletrodo negativo, de
onde os elétrons partem por emissão termoiônica ao alvo, sendo acelerados
devido à diferença de potencial entre eles. O anodo é o eletrodo positivo que
contém o material alvo.
12
Figura 2.2 Componentes do equipamento mamográfico
Fonte: The Essential Physics of Medical Imaging, 2012
Os coeficientes de atenuação linear dos tecidos que compõem a mama e das
patologias são muito próximos, mostrando maior diferença em energias
próximas aos 20 keV, precisando de materiais alvo com espectros de raios X de
baixa energia, os quais começaram a ser utilizados quando os fabricantes
desenvolveram tubos de raios X com anodo de molibdênio (Mo) e ródio (Rh). Os
tubos com alvo de Mo tem a vantagem de produzir fótons com energias mais
baixas quanto por radiação característica (17,4 keV e 19,5 keV) quanto por
radiação de freamento (15 keV a 20 keV). O Rh tem ponto de fusão em
temperaturas mais baixas em relação ao Mo e por isso deve ser operado em
valores mais baixos de produto corrente-tempo. As energias características
produzidas pelo Rh são aproximadamente 2 keV mais altas que no Mo. Em geral,
é utilizado para mamas mais densas. Atualmente, o tungstênio (W) é utilizado
como material alvo em sistemas de mamografia digital, devido à produção de
radiação de freamento mais eficiente e reduzir a dose de radiação, mas ao
produzir fótons mais energéticos, o contraste na imagem é menor que quando
são utilizados Mo ou Rh. A utilização de filtros adequados e a capacidade de
processamento da imagem nos sistemas digitais permitem controlar o contraste
Tubo de raios X
Janela de Berilio
Filtro
Colimador
Placa
Compressora
Grade anti-
espalhamento
Detector de raios X
Sensor do AEC
13
ao usar o alvo de W. Alguns equipamentos disponibilizam mais de um material
de anodo. A seleção do anodo vai depender da espessura da mama comprimida
e seu conteúdo glandular. Esta seleção pode influenciar diretamente na
qualidade da imagem e na dose recebida pela mama. Atualmente, algumas
combinações de alvo e filtro são: Mo/Mo, Mo/Rh, Rh/Rh e W/Al. Para mamografia
convencional, a combinação Mo/Mo possui a radiação mais homogênea de
comprimentos de onda e energias discretas limitadas de forma útil (Figura 2.3)
sendo utilizada em mamas de pouca espessura. A combinação Mo/Rh é utilizada
para mamas de espessura ou densidade superior, devido a que o uso do filtro
de Rh resulta em uma fração maior de fótons nas energias mais altas em
comparação com o espectro resultante da combinação Mo/Mo (Figura 2.3).
Porém, os fótons mais energéticos tendem a diminuir o contraste devido a que
os coeficientes de atenuação linear da radiação nos diferentes tecidos da mama
são mais próximos com o aumento da energia dos fótons (Figura 1.1). no
entanto, a dose de radiação ao paciente e a carga térmica ao tubo de raios X
são ligeiramente mais baixas com a combinação Mo/Rh.
Figura 2.3 Espectros de raios X para as combinações Mo/Mo e Mo/Rh com 30 kVp.
Fonte: The Essential Physics of Medical Imaging, 2012
As combinações W/Al e W/Rh emitem radiação em uma energia maior e são
mais efetivas para obter imagens de mamas maiores, bem como no caso de
14
Rh/Rh. A principal função dos filtros é otimizar a relação entre a qualidade da
imagem e a dose em função da espessura e composição da mama. Após passar
pelo filtro, o feixe de raios X passa através do colimador para ajustar o tamanho
do campo de radiação segundo a área a irradiar.
É possível obter uma imagem da mama com qualidade adequada para o
diagnóstico quando a sua espessura é uniformizada durante o exame. Por esta
razão, no mamógrafo é acoplado um sistema de compressão. Consiste de uma
placa de acrílico que comprime a mama através de um comando mecânico
aplicando uma força previamente ajustada que pode variar de 11 a 18 kgf.
Quando a força de compressão aplicada é adequada, é possível além de
contribuir para reduzir a dose na mama, evitar a sobreposição de tecido
mamário, melhorando a visibilidade das estruturas, uniformizando o
enegrecimento e melhorando o contraste na imagem.
Outro dispositivo muito importante usado no mamógrafo é a grade anti-
espalhamento, a qual tem a finalidade de evitar que a radiação dispersa pela
mama alcance o detector da imagem, sendo posicionada entre a mama e o
detector, podendo se movimentar durante a exposição. Como tem a
característica de alta absorção de radiação, os valores de dose na mama tendem
a aumentar devido à necessidade de maior radiação chegando ao detector. Por
outro lado, o não uso da grade produz uma imagem de baixa qualidade para o
diagnóstico.
A qualidade da imagem depende da exposição apropriada chegando ao receptor
e se aplica para qualquer sistema de imagem. No caso do sistema filme/écran o
objetivo é expor o receptor a um nível que produzirá densidade ótica no filme
com o máximo de contraste. Com receptores digitais, o contraste geralmente não
depende do nível de exposição no receptor, mas é importante controlar a
exposição para diminuir o ruído na imagem e à dose de radiação na mama sob
os limites estabelecidos. Por estes motivos, os fabricantes introduziram no
mamógrafo um sistema automático que controla a exposição durante o exame.
Este sistema possui um detector de radiação, conhecido como controle
automático de exposição (AEC, Automatic Exposure Controle). Na hora do
exame ele é posicionado na região central da mama, onde normalmente
encontra-se o tecido mais denso. Como ele é ajustado para receber um
15
determinado valor de dose suficiente para formar a imagem, a exposição é
cortada automaticamente quando este valor de dose é atingido, evitando assim
a paciente ser exposta além do necessário.
A formação da imagem vai depender da radiação que atinge o detector de raios
X utilizado, podendo ser de três tipos: 1) detector convencional (sistema tela-
filme), 2) detectores de radiografia computadorizada (CR), 3) detectores de
radiografia digital (DR). A continuação se descrevem as características mais
importantes dos sistemas que utilizam detectores DR.
2.2 Características físicas dos sistemas digitais
Os sistemas de mamografia digital usam detectores DR para converter fótons de
raios X em sinais digitais para exibição em monitores de alta resolução. Nestes
sistemas os processos de aquisição da imagem, visualização e armazenamento
são individualizados permitindo assim a otimização de cada processo. A energia
que atinge o detector eletrônico, após passar pela mama, gera uma informação
que é gravada. Técnicas de processamento de imagem podem ser utilizadas no
computador, permitindo variações no brilho e contraste da imagem, sem a
necessidade de valores maiores de exposição ao paciente.
O desempenho do sistema mamográfico digital depende das características dos
detectores de raios X. O detector ideal deve ter eficiente absorção do feixe de
radiação incidente e adequada resposta linear para uma grande faixa de
radiação incidente. Nestes detectores também se espera baixo nível de ruído e
adequada resolução espacial.
Os sistemas digitais oferecem uma ampla faixa dinâmica de operação (níveis de
cinza), melhorando a visualização de todas as áreas da mama e aumentando a
latitude de exposição, devido à resposta linear do sistema. Além disso, o formato
digital permite ajuste nos tons de cinza para otimizar o contraste da imagem.
Os sistemas de mamografia digital DR podem ser divididos em duas classes pelo
tipo de conversão dos fótons de raios X em sinal elétrico: os de conversão
indireta e os de conversão direta. O sistema de conversão indireta usa um painel
plano cintilador de iodeto de césio (CsI) acoplado a uma matriz de fotodiodos de
silício amorfo (a-Si) associados com capacitores. Quando exposto, o cintilador
absorve os fótons de raios X e a luz produzida é detectada pelo conjunto de
16
fotodiodos que, por sua vez, transformam a luz em carga elétrica coletada no
capacitor.
Os sistemas de mamografia digital de conversão direta convertem os fótons de
raios X para cargas elétricas em uma única etapa, que se processa em uma
matriz de fotodiodos. Eles usam um painel plano de selênio amorfo (Se-a)
acoplado à matriz de fotodiodos associados com capacitores. Quando o painel
de Se-a é exposto ao feixe de raios X, ele produz diretamente as cargas elétricas
coletadas pelos capacitores. Após a exposição, a carga armazenada nos
capacitores é lida linha por linha e elemento por elemento para após ser
amplificada, digitalizada e armazenada para processamento e posterior
visualização. Cada elemento da matriz é responsável pela formação de um
elemento espacial da imagem (isto é, um pixel), registrado pelo dispositivo.
2.3 Qualidade da Imagem
A imagem mamográfica representa a projeção da distribuição espacial dos
tecidos que compõem a mama no campo de visão. A visualização dos detalhes
importantes requer a separação das estruturas de interesse do fundo, como
microcalcificações do tecido glandular.
A qualidade da imagem e a exposição à radiação não podem ser estudados de
forma independente. A qualidade dos componentes da cadeia da produção da
imagem (ponto focal, geometria, receptor da imagem, software de
processamento, tela de visualização) tem influência na imagem obtida. Isso deve
ser levado em consideração quando trata-se de otimizar a qualidade da imagem
e dose.
A Figura 2.4 sintetiza e propicia a visão geral dos conceitos envolvidos na
avaliação da qualidade da imagem (HASEGAWA 1991). O diagrama não sugere
uma hierarquia entre os conceitos, ele ilustra a unidade dos conceitos aplicados
à imagem médica que são elementos correlacionados e dependentes entre si.
Os três conceitos básicos utilizados para descrever a imagem, resolução
espacial, contraste e ruído, estão indicados nas caixas. Os conceitos
intermediários: o MTF, o NPS e a CNR, que integram os conceitos básicos são
indicados nas áreas entre eles, por exemplo, o CNR permite uma avaliação
17
conjunta do ruído e do contraste na imagem. E, finalmente, o Modelo de Rose,
com o conceito relacionado da curva contraste-detalhe (CD), e a análise ROC
(Receiver operating characteristic) encontram-se no centro, uma vez que
incluem elementos de todos estes conceitos se não explicitamente, pelo menos
implicitamente, permitindo uma avaliação global da qualidade da imagem.
Figura 2.4 Visão geral de avaliação da qualidade da imagem, desde os indicadores fundamentais (ruído, resolução espacial e contraste) às avaliações de conjunto (NPS, MTF e CNR) e avaliações globais (análise contraste detalhe (CD), modelo de rose e análise ROC).
Fonte: Adaptado de (HASEGAWA 1991)
2.3.1 Contraste
O contraste é gerado pelas diferenças de atenuação da radiação X pelos tecidos
irradiados. Além disso, o contraste na imagem é afetado pelo espectro de raios
X (material do alvo e a filtração da radiação X) e determinado pela tensão
aplicada. O contraste da radiação é transformado nas diferenças da densidade
ótica na mamografia tela-filme (contraste da imagem) ou em diferenças nos
valores do pixel na imagem digital. A capacidade do sistema de converter as
alterações de densidade dos tecidos do paciente em informação da imagem é
chamada resolução de contraste. Na Figura 2.5 é possível observar a definição
Ruído
Resolução
Contraste
CNR NPS
MTF
Modelo de Rose Análise CD
Análise ROC
18
do contraste na imagem radiográfica como a diferencia na exposição entre o
objeto de interesse e o fundo.
(a) (b)
Figura 2.5 Definição e cálculo do contraste na imagem (a) Imagem radiográfica de um objeto
circular atenuador. (b) Exposição Relativa em função da posição na imagem para a linha de
amostragem.
Fonte: Physics of Medical X-Ray Imaging, 2010
2.3.2 Resolução espacial
É a capacidade de um sistema de imagem para revelar a separação entre
detalhes pequenos e muito próximos, diferenciando-os claramente do fundo.
Outra definição mais quantitativa especifica a resolução espacial de um sistema
de imagem em termos de sua função propagação de ponto (PSF, point spread
function) obtida a partir da imagem de um objeto pontual ideal (Figura 2.6a). A
imagem de um objeto pontual é formada de forma difusa pelo sistema, mas pode
ser caracterizada em termos da largura a meia altura (FWHM, full width at half
maximum) como se mostra na figura 2.6b.
(a) (b)
Figura 2.6 Definição da PSF (a) Imagem radiográfica de um objeto pontual ideal. (b) PSF(x,y)
da imagem.
Fonte: Physics of Medical X-Ray Imaging, 2010
Exp
osi
ção
Rel
ativ
a
Linha de
amostragem
Contraste
Posição na imagem
19
2.3.3 Ruído
O ruído refere-se à incerteza com a qual o sinal é registrado na imagem, onde
se sobrepõe à informação (Figura 2.7). Este pode ser reconhecido em áreas
homogéneas de tecido por flutuações na densidade ótica. Uma imagem
radiológica é construída pelos fótons individuais de raios X absorvidos na área
do detector onde a contribuição de cada fóton de raios X é adicionada à imagem.
Quantos mais fótons sejam absorvidos por unidade de área, mais informação se
tem e menores são as flutuações devidas ao ruído, refletindo em um menor
desvio.
(a) (b)
Figura 2.7 Definição de ruído na imagem (a) Imagem radiográfica. (b) Exposição Relativa em
função da posição na imagem para a linha de amostragem. O desvio associado às flutuações
do sinal é o ruído na imagem.
Fonte: Physics of Medical X-Ray Imaging, 2010
2.3.3 Razão Sinal-Ruído
Cada um dos pixels na imagem digital armazena um valor, o qual representa o
seu tom de cinza devido ao nível de exposição. O valor médio do pixel (MPV,
Mean Pixel Value) é a soma de todos os valores dos pixels na região de interesse
(ROI, Region of interest) ou área selecionada, dividido entre o número total de
pixels nessa área, sendo DV o desvio da medida do MPV, relacionado com as
flutuações na exposição ou ruído na imagem. Por exemplo, na figura 2.8a
observa-se uma imagem de 12 pixels x14 pixels, onde o retângulo amarelo indica
uma ROI selecionada de 4 pixels x 5 pixels (Figura 2.8b). O MPV nessa área
será a soma dos valores dos pixels dividida entre os 20 pixels da ROI. O MPV
em uma ROI indica o sinal responsável da formação da imagem, e seu desvio é
o ruído associado nessa região, a Razão Sinal-Ruído (SNR, Signal to Noise
Posição na imagem
Exp
osi
ção
Rel
ativ
a Densidade ótica
Linha de
amostragem
σ
20
Ratio), é uma quantidade física flexível para a avaliação da qualidade da imagem
na região da imagem de maior interesse.
(a) (b)
Figura 2.8 Cálculo do MPV. a) Imagem de exemplo. b) ROI selecionada.
Fonte: Autor.
Na imagem digital, a SNR de uma ROI pode-se calcular com a equação 1.
𝑆𝑁𝑅 =𝑀𝑃𝑉
𝐷𝑉 (1)
Em mamografia digital, a qualidade da imagem pode ser descrita pela SNR
porque, quando temos a vantagem do processamento da imagem e o contraste
pode ser ajustado, a visualização de detalhes de baixo contraste só está limitada
pelo ruído.
2.3.4 Razão Contraste-Ruído
A medida da Razão Contraste-Ruído (CNR, Contrast to Noise Ratio) é o método
mais usado para avaliar o contraste em um sistema digital. Como o contraste é
variável na imagem digital, torna-se mais significativo representar a qualidade da
imagem em termos da CNR, para se considerarem as diferenças visuais na
imagem. Esta pode ser definida como mostra a equação 2.
𝐶𝑁𝑅 =𝑀𝑃𝑉𝐴−𝑀𝑃𝑉𝐵
√𝐷𝑉𝐴2−𝐷𝑉𝐵
2
2
(2)
Onde 𝑀𝑃𝑉𝐴 é o valor médio do pixel em uma região A e 𝑀𝑃𝑉𝐵 é o valor médio
do pixel em uma região B da imagem, e 𝐷𝑉𝐴 e 𝐷𝑉𝐵 são seus respectivos desvios.
21
2.3.5 Função Transferência de Modulação
Nas análises dos sistemas de imagem, o MTF é usado como uma medida da
transferência da amplitude do sinal transferido sobre um espectro de frequências
espaciais, ou seja, o MTF descreve o contraste produzido na imagem como uma
função da frequência espacial do objeto, como se observa na Figura 2.9.
(b) (c)
Figura 2.9 Definição de MTF (a) Imagem radiográfica de um objeto simulador de modulação.
(b) Exposição Relativa em função da posição na imagem na linha de amostragem para
diferentes frequências espaciais. c) Gráfico que mostra a razão entre a modulação de saída e
entrada em função da frequência espacial.
Fonte: Physics of Medical X-Ray Imaging, 2010
Para o cálculo da MTF é usado um objeto simulador de modulação, que
apresenta pares de linhas com diferentes espaçamentos, como o da figura 2.10.
Figura 2.10 Fantoma de pares de linhas para cálculo da MTF
Fonte: Smith 2003
2.3.6 Espectro de potência de ruído ou espectro de Wiener
O NPS representa o nível de ruído como uma função da sua frequência espacial.
Assim como a capacidade de um sistema de registrar o contraste na imagem
diminui com a dimensão espacial do objeto, a capacidade de um sistema para
registrar as flutuações do ruído diminui com a frequência espacial das flutuações.
Seu cálculo pode ser explicado na Figura 2.11.
Frequência espacial
MTF
22
(a) (b)
(c) (d)
Figura 2.11 Cálculo do NPS (a) Imagem radiográfica com exposição uniforme (b) Exposição
Relativa em função da posição para a linha de amostragem. c) Função de autocorrelação. d)
Espectro de Wiener ou NPS.
Fonte: Physics of Medical X-Ray Imaging, 2010
Partindo de uma imagem radiográfica uniforme (Figura 2.11a) deve-se separar
o ruído, restando da curva de exposição a média de exposição na imagem para
uma linha de amostragem (Figura 2.11b) e é calculada a função de
autocorrelação (Figura 2.11c). Finalmente, o espectro de Wiener ou NPS é a
transformada de Fourier da função de autocorrelação da imagem radiográfica de
exposição uniforme (Figura 2.11d).
2.3.7 Modelo de Rose
O modelo empírico definido por Rose indica que só é possível diferenciar na
imagem um objeto do fundo, se existe suficiente informação ou sinal, devido ao
contraste ou ao tamanho do objeto. O fato de que pequenos detalhes (como por
exemplo as microcalcificações) necessitem ter grande contraste para poderem
Posição Frequência espacial
Posição
Exp
osi
ção
Rel
ativ
a
Esp
ectr
o d
e W
ien
er
23
ser visualizados na imagem e que os detalhes de tamanho maior possam ser
visualizados com baixo contraste é expresso pela fórmula de Rose (AICHINGER
et al 2012):
𝐶 × 𝐷 = 𝑘 (3)
Nesta fórmula o produto do contraste 𝐶(unidade de comprimento) vezes o
tamanho do detalhe 𝐷(unidade de comprimento) no limiar de visibilidade é uma
constante. O parâmetro 𝑘 é importante na quantificação da qualidade da
imagem. Quando a qualidade da imagem é melhor, pequenos detalhes são
visualizados em menor contraste. Logo, quanto menor for o valor de 𝑘, melhor é
o sistema de imagem. Limites para o valor de 𝑘 ocorrem por causa das
propriedades dos sistemas e pelas restrições de doses.
2.3.8 Análise contraste-detalhe
A análise contraste-detalhe é uma técnica experimental baseada no modelo de
Rose para avaliar a capacidade de detecção de um objeto na imagem médica
no limiar de visibilidade humana. O método realiza uma curva de contraste-
detalhe (curva CD) que relaciona o limite de contraste necessário para detectar
um objeto na imagem, em função do seu diâmetro. Para construir a curva foram
desenvolvidos diversos objetos de teste, um exemplo é apresentado na Figura
2.12a. Este é uma placa que contém no seu interior discos de um material
atenuador de diâmetros em ordem ascendente no eixo x e espessuras
crescentes no eixo y. O aumento da espessura do disco implica o aumento do
contraste entre ele e o fundo na imagem. A curva CD é construída no limiar de
visibilidade, ou seja, no limite entre a região onde são visualizados os discos e a
região onde não. Os objetos de menor tamanho devem ter um maior contraste
para serem visualizados na imagem.
24
(a) (b)
Figura 2.12 Análise Contraste-Detalhe (a) Objeto simulador CD (b) Curvas CD a diferentes
níveis de dose.
Fonte: Pogue et al 2006
As curvas CD são representações gráficas do modelo de Rose. Um conjunto de
curvas a diferentes níveis de ruído (Figura 2.12b) permitem descrever o contraste
que deve apresentar um objeto de um diâmetro determinado para poder ser
visualizado na imagem.
2.3.9 Análise ROC
A análise ROC é usada geralmente para comparar uma técnica de aquisição de
imagem de outra usando a curva ROC. Nesta análise, a fração de verdadeiros
positivos de um conjunto de diagnósticos é plotada contra a fração de falsos
positivos. A fração de verdadeiros positivos é também chamada de sensibilidade
do teste, e indica se a prática tem sucesso na detecção de uma doença. Por
exemplo, se um médico está tentando diagnosticar a existência de um tumor em
um conjunto de imagens mamográficas, a fração de verdadeiros positivos é a
relação entre o número de vezes que o médico diz ter encontrado um tumor e o
número de vezes em que realmente existe um tumor. Similarmente, a fração de
falsos positivos é a relação entre o número de vezes que o médico diz ter
encontrado um tumor quando não há tumor presente e o número de casos em
que não existe tumor.
25
3. METODOLOGIA
Neste capítulo se descrevem os procedimentos metodológicos necessários para
conseguir os objetivos do trabalho. Na figura 3.1 é apresentado o marco
metodológico do trabalho, o qual está agrupado em três etapas, de acordo com
os objetivos específicos planejados.
Figura 3.1 Marco metodológico do trabalho
Fonte: Autor
A primeira etapa do trabalho está dividida em três fases. Na primeira fase se
realizou a caracterização do mamógrafo estudado para conhecer seu
TERCEIRA ETAPA: COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS OTIMIZADOS COM
OS PARÂMETROS FÍSICOS AUTOMÁTICOS
SEGUNDA ETAPA: OBTENÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS ÓTIMIZADOS PARA A
AQUISIÇÃO DA IMAGEM.
PRIMEIRA ETAPA: DETERMINAÇÃO DE UMA MÉTRICA DE AVALIAÇÃO OBJETIVA DO
PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA IMAGEM EM MAMOGRAFIA DIGITAL
26
funcionamento e faz-se os testes de aceitação no momento da instalação e
periodicamente os testes de controle de qualidade necessários. A seguir na
segunda fase foi definida a Figura de Mérito (FOM) com a qual se quer realizar
a otimização dos parâmetros físicos de aquisição, os quais são a combinação
A/F, da qual depende o espectro de energia dos raios X, a diferença de potencial
aplicada à ampola, mais conhecida como kVp (kilovoltagem pico) por ser o
indicativo do máximo valor de energia que podem alcançar os fótons do feixe de
raios X, e o produto corrente-tempo ou mAs, o qual fornece a carga aplicada,
sendo sua importância devido à relação de proporcionalidade com a quantidade
de fótons de raios X que são desprendidos do anodo. Esses três parâmetros de
exposição são responsáveis da obtenção da imagem e sua qualidade, por isso
a importância de sua otimização. As métricas selecionadas para compor a FOM
são um parâmetro de qualidade da imagem e uma grandeza relacionada com o
possível risco radio-induzido no paciente devido ao exame de mamografia, nesta
fase também são explicados os procedimentos utilizados para a determinação
das grandezas utilizadas no cálculo da FOM. Na terceira fase se descrevem os
procedimentos para encontrar os parâmetros físicos selecionados pelo
equipamento mamográfico no modo automático de exposição para uma
espessura de mama definida, os quais são chamados de parâmetros AEC, onde
A/F, kVp e mAs são os parâmetros físicos automáticos de aquisição da imagem.
Na segunda etapa do trabalho foi realizada a aplicação da nova metodologia de
otimização dos parâmetros de aquisição da imagem no mamógrafo Selenia da
Hologic, para a espessura de mama de 4,5 cm, com o objetivo de descobrir os
parâmetros de aquisição que vão fornecer a melhor relação entre qualidade da
imagem e DGM para uma determinada espessura de mama. A otimização foi
realizada em duas fases como é apresentado na figura 3.1. Na primeira fase, o
objetivo foi encontrar a combinação A/F e o kVp otimizados. Com essa intenção
foi calculado o valor da FOM para cada kVp na faixa disponível no mamógrafo
testado e assim construir o gráfico FOM vs. kVp para cada filtro utilizado. Foi
encontrada a curva de melhor ajuste para cada filtro, sendo o filtro ótimo o qual
apresentou maiores valores de FOM. O kVp otimizado foi selecionado da curva
do filtro ótimo, sendo o kVp que apresentou o máximo valor de FOM na curva de
ajuste. Com os resultados da combinação A/F e kVp otimizados, é possível
27
começar a segunda fase desta etapa, a qual tem como objetivo encontrar o valor
do mAs otimizado. Para esta finalidade, foi calculado o valor da FOM para
diferentes mAs na faixa que mantivera o nível de sinal apropriado na imagem,
em combinação com o A/F e kVp otimizados, e foi construído o gráfico
FOM vs. mAs. O mAs otimizado foi o que apresentou o máximo valor de FOM
na curva de ajuste. Ao final desta etapa devem-se obter os parâmetros físicos
de aquisição otimizados, combinação A/F*, kVp* e mAs*.
A terceira etapa do trabalho tem o objetivo de validar os resultados da
otimização, avaliando os parâmetros SNR e CNR na imagem do fantoma ACR
adquirida com os parâmetros físicos otimizados e fazendo uma comparação das
imagens adquiridas com os parâmetros otimizados e com os parâmetros
automáticos de exposição, e assim verificar que as imagens cumprem com os
padrões de qualidade da imagem requeridos.
3.1 DETERMINAÇÃO DE UMA MÉTRICA DE AVALIAÇÃO OBJETIVA DO
PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA IMAGEM EM MAMOGRAFIA DIGITAL
3.1.1 Caracterização do equipamento
Para este trabalho foi utilizado o mamógrafo digital direto do fabricante Hologic,
modelo Selenia, instalado no Centro de pesquisas de Ciências e Tecnologias
das Radiações (CPqCTR). Foram realizados tanto os testes de aceitação como,
periodicamente, os testes de controle de qualidade indicados pelo fabricante
para garantir o bom desempenho do equipamento. O mamógrafo Selenia,
mostrado na Figura 3.2, tem um tubo de raios X de Molibdénio (Mo) com filtros
de Mo e Ródio (Rh). A gama de tensões do gerador disponível é de 20 a 35 kVp
(quilovoltagem pico) e a do produto corrente-tempo é de 4 a 320 mAs. Pode-se
ampliar a gama de tensões com o filtro de Rh até 39 kVp, onde o valor máximo
do intervalo do produto corrente-tempo chega até 250 mAs.
O Selenia usa um sistema de aquisição da imagem que inclui um receptor digital.
Este receptor tem uma área de 24 cm x 29 cm e é um detector do tipo campo
plano e de captura direta, com um fotocondutor de selênio amorfo. O tamanho
do pixel é de 70 μm e da imagem é de 2560 x 3328 pixels.
28
Figura 3.2 Mamógrafo modelo Selenia da Hologic
Fonte: Autor
Para iniciar a aquisição da imagem, o operador deve criar um perfil para o
paciente, introduzir seus dados e selecionar um tipo de procedimento, o mais
comum é o bilateral, o qual ativa os espaços para as quatro incidências: Crânio
Caudal para mama direita, CC R (Right), Crânio Caudal para mama esquerda,
CC L (Left), Médio Lateral Obliqua para mama direita, MLO R e Médio Lateral
Oblíqua para mama esquerda, MLO L. Para cada incidência, deve-se escolher o
modo de exposição que vai ser utilizado, com o qual são selecionados os
parâmetros de exposição (kVp, mAs e Filtro). O Selenia possui 5 modos para
exposição apresentados na Tabela 3.1.
Cada modo possibilita a opção de escolher quais parâmetros serão automáticos
ou manuais. Nos três primeiros modos, vemos o uso do Controle Automático de
Exposição, AEC. O modo AEC faz uma pré-exposição na mama com um pulso
de reconhecimento de baixo mAs, e usando a espessura de compressão, calcula
o mAs que mantêm um sinal uniforme na posição do sensor do AEC selecionada.
Usando também a espessura da mama comprimida, o AEC seleciona o kVp e o
filtro, sendo de Mo para espessuras menores a 65 mm, e de Rh para espessuras
iguais ou superiores a 65 mm.
29
Tabela 3.1. Modos para exposição no Selenia
Fonte: Autor
Após se fixar os parâmetros, é realizada a exposição e são obtidas duas
imagens, uma imagem inicial sem processamento, chamada de imagem Raw, e
a imagem processada, a qual vai ser usada na avaliação médica. As imagens
obtidas são enviadas à estação de trabalho, onde a imagem processada pode
ser visualizada na tela e ambas as imagens são arquivadas no sistema. As
imagens que produz o Selenia estão no padrão DICOM (Digital Imaging and
Communications in Medicine), podendo armazenar informações importantes da
aquisição como os dados do paciente, os parâmetros físicos de exposição, a
espessura da mama, a força de compressão, a dose e muitas mais, que podem
ser visualizadas usando um software adequado.
3.1.2 Monitoração da unidade mamográfica
Para garantir o bom funcionamento do mamógrafo desde sua instalação, a
constância de seu desempenho no tempo e verificar se houveram modificações
depois de troca de peças, é necessário realizar uma série de procedimentos
chamados testes de controle de qualidade (Tabela 3.2). Na instalação do
mamógrafo Selenia, foram realizados os testes de aceitação, que são ensaios
realizados após a instalação de um novo equipamento, ou modificações maiores
no equipamento existente, a fim de verificar a concordância com as
MODO DE EXPOSIÇÃO
PARÁMETROS AUTOMÁTICOS
AJUSTES DO OPERADOR
AUTO-FILTER Filtro kVp
mAs
Seleciona a posição do sensor do AEC
AUTO-kV kVp
mAs
Seleciona o Filtro e a posição do sensor do AEC
AUTO-TIME mAs Seleciona o Filtro, kVp e a posição do sensor
do AEC
TEC Filtro kVp
mAs
Seleciona a Densidade da Mama e pode ajustar os parâmetros automáticos
MANUAL Não Aplica Seleciona todos os parâmetros de exposição ( kVp , mAs e Filtro)
30
especificações contratuais da compra. Esses testes coincidem com os
mostrados na Tabela 3.2. Foram realizados os respectivos analises, para
determinar se os resultados atingem o limite ou nível de referência. Além disso,
foram realizados os testes de constância com a periodicidade indicada, para
assegurar que o desempenho funcional do equipamento atenda aos critérios
estabelecidos. Tem sido efetuado o teste de controle de qualidade com o
fantoma ACR, em média, quatro vezes por semana fazendo um seguimento da
CNR e da SNR das imagens adquiridas
Tabela 3.2. Testes de controle de qualidade em equipamentos mamográficos convencionais com
as respectivas periodicidades mínimas e limites ou referências, de acordo com a Portaria 453/98
ou ACR/99
Fonte:Furquim 2012
31
A realização destes testes é parte importante do processo de otimização, para
garantir as características do bom funcionamento do mamógrafo, ter confiança
nos dados fornecidos por ele, sabendo que são reprodutíveis e estão dentro dos
limites de referência em conformidade com a
Portaria MS 453/98.
3.1.3 Figura de mérito (FOM) usada para o estudo de otimização
A FOM usada neste trabalho é calculada a partir do 𝐼𝑄𝐹inv elevado ao quadrado
e dividido pela dose glandular média, de acordo com a seguinte equação:
𝐹𝑂𝑀 =(𝐼𝑄𝐹inv )
2
𝐷𝐺𝑀 (4)
Esta FOM apresentada na equação (4) foi a usada por Fausto (2013) na
otimização do AEC do mamógrafo modelo Senographe do fabricante GE, é foi
escolhida no presente trabalho devido a que o numerador (𝐼𝑄𝐹inv )2 corresponde
a um fator de qualidade da imagem objetivo, que está ligado aos diversos
parâmetros técnicos de aquisição da imagem e que pode ser associado a maior
capacidade de detecção das microcalcificações. A grandeza DGM está
relacionada com o risco rádio-induzido na mama devido ao exame de
mamografia, já que o tecido mais radio-sensível na mama é o tecido glandular.
Assim é obtido um único valor para avaliar a qualidade da imagem produzida
para cada combinação de parâmetros, lembrando que um maior valor da FOM
indica uma melhor técnica de aquisição da imagem mamográfica.
3.1.4 Escolha da métrica usada para avaliar a qualidade da imagem
Na imagem de mamografia observa-se o tecido glandular e o tecido adiposo.
Detalhes de baixo contraste tipo massas, necessitam apresentar um mínimo de
contraste com o tecido circundante para poder ser visualizado. Esse limite de
contraste é dependente do tamanho da lesão, do contraste objeto (contraste
entre a lesão e o tecido circundante) e o ruído no sistema de imagem. Ou seja,
o sistema deve ter uma boa capacidade de transferência do contraste do objeto
para o contraste da imagem. A IAEA (2011) preconiza que para se detectar com
precisão as alterações mamográficas precocemente, a imagem digital precisa
ter excelente contraste para distinguir massas semelhantes à densidade
32
mamária, resolução espacial suficiente para revelar microcalcificações e nível de
ruído baixo. Por este motivo, para avaliar a qualidade da imagem será realizada
a análise contraste-detalhe, que envolve essas três importantes características
da imagem.
3.1.4.1 Objeto de teste CDMAM
Para avaliar a qualidade da imagem dos sistemas mamográficos, o objeto de
teste de contraste-detalhe, CDMAM (Contrast-Detail Mammography) foi
desenvolvido (Bijerk, Lindeijer e Thijssen, 1995). Com este instrumento pode ser
determinado o limite de contraste do sistema de aquisição da imagem como uma
função do diâmetro do objeto, pela detecção de pares de objetos de pequena
espessura.
O CDMAM é constituído por uma base de alumínio Al 1050 (99,5% de alumínio
puro) com 0,5 mm de espessura contendo discos (99,9999% de ouro puro) de
diferentes espessuras e diâmetros, totalmente protegida por uma cobertura de
polimetil-metacrilato (PMMA). Os discos de ouro foram depositados sobre a base
por meio de vaporização, sendo colocados dois discos em cada célula, um no
centro e outro das mesmas dimensões em uma das esquinas. As medidas
precisas dos discos cobrem um intervalo de espessura de 0,03 μm até 2,0 μm e
diâmetros que vão de 0,06 mm até 2,0 mm. Na placa de PMMA há uma cavidade
de 2 mm de profundidade, que acomoda a base de alumínio com os discos de
ouro, o conjunto (PMMA + alumínio) tem uma espessura total de 5 mm (Burght;
Thijssen; Bijkerk, 2009). O objeto de teste pode ser visto na Figura 3.3. No
CDMAM foram selecionados os tamanhos dos detalhes (diâmetros dos discos)
especialmente para simular os objetos mais difíceis de serem detectados na
mamografia que são as microcalcificações (Karssemeijer e Thijssen, 1996). Este
objeto de teste mamográfico foi construído especificamente para poder avaliar
dois importantes parâmetros de qualidade de imagem: o contraste e a resolução
espacial. A medida desta última com padrões de linhas não é apropriado, já que
as microcalcificações são melhor representadas por padrões de pontos. O
CDMAM apresenta detalhes de diferentes tamanhos (diâmetros dos discos) e
contrastes (espessuras dos discos) decrescentes que permitem efetuar uma
análise contraste detalhe, isto é, avaliar a resolução de contraste em função do
tamanho do detalhe.
33
Figura 3.3. Objeto de teste CDMAM 3.4
Fonte: Manual CDMAM 3.4
A partir da imagem do CDMAM pode-se obter a curva de contraste versus
detalhe que permite avaliar o limiar de visibilidade do sistema em função dos
parâmetros técnicos selecionados. Ele é um objeto de teste mamográfico que
está recomendado na publicação European guidelines for quality assurance in
breast cancer screening and diagnosis –Fourth Edition (2006) para ser utilizado
na avaliação da qualidade da imagem de um receptor de imagem digital.
A curva de contraste-detalhe pode ser determinada utilizando-se o CDMAM,
sendo usada para comparar a qualidade da imagem obtida com vários
equipamentos ou com várias técnicas de exposição, onde a detecção dos
detalhes depende do tamanho e do contraste no nível de limiar de visibilidade.
As imagens radiográficas obtidas com o CDMAM podem ser examinadas e
avaliadas por vários observadores, mas é um trabalho que precisa de muito
tempo e podem existir diferenças segundo o observador. É mais rápido e
eficiente o uso de um software especializado para encontrar o limite de
visibilidade, e assim construir a curva que vai delimitar o mínimo contraste e o
mínimo detalhe que se consegue distinguir na imagem. Karssemeijer e Thijssen
(1996) desenvolveram o software CDCOM que consegue a leitura das imagens
digitais do CDMAM no padrão DICOM e a identificação automática dos discos
em três passos: 1) determinação da posição, orientação e escala do CDMAM na
34
imagem, 2) construção do padrão de discos em cada esquina de cada célula, e
3) seleção das esquinas das células nas quais os discos são mais prováveis de
serem encontrados. No primeiro passo assume-se que o ângulo entre as linhas
que formam as grades do CDMAM e a direção na qual o contraste aumenta,
formam um ângulo no intervalo [0,90). Para determinar a posição, orientação e
escala do CDMAM, é aplicada na imagem a transformada de Hough, a qual é
uma ferramenta de segmentação que serve para detectar as retas que formam
a grade do CDMAM. O objetivo da transformada de Hough é encontrar pontos
alinhados que existam na imagem, ou seja, pontos que satisfaçam a equação da
reta em forma polar, além disso, a orientação das retas encontradas, a distância
entre elas, a posição e tamanho das células que formam ao cruzar-se e, por
tanto, seu centro. Com esta informação é identificada a posição da grade na
imagem do CDMAM. O CDCOM leva em consideração os desvios devido à
distorção geométrica na imagem e devido à pequena resolução no espaço de
Hough. Conhecer as coordenadas da célula permite a construção do padrão de
discos na esquina de cada célula, que é o segundo passo no processo de
identificação dos discos, usando o modelo do observador ideal. Em todas as
posições do padrão de discos é calculado o MPV o qual deve coincidir com o
valor do MPV na posição do disco central, e a esquina com o maior valor de MPV
será a de maior probabilidade de ter um disco nela, completando o terceiro passo
do processo.
Havendo localizado os discos na imagem, se realiza a avaliação marcando cada
célula da divisão realizada com um número que indica se o disco foi detectado
(1), se o disco não foi detectado (2) ou se a célula não existe (-1) como pode-se
observar na Figura 3.4. O CDCOM é um software livre que pode ser encontrado
no website da EUREF (European Reference Organisation for Quality Assured
Breast Screening and Diagnostic Services).
35
Figura 3.4 Avaliação das imagens do CDMAM com o software CDCOM
Fonte: Karssemeijer 2004
O Artinis, fabricante do CDMAM 3.4, realizou um software comercial baseado no
CDCOM que requer 8 imagens do CDMAM para combinar os resultados da
análise realizado pelo CDCOM, e tem uma taxa de detecção que pode ser
aumentada desde 50% até 75%. O software da Artinis complementa o resultado
obtido com o CDCOM, mostrando quais discos tem maior probabilidade de terem
sido encontrados. Com este software também é possível construir a curva de
contraste-detalhe apresentada na Figura 3.5, onde o usuário escolhe a taxa de
detecção.
Figura 3.5 Exemplo da curva Contraste-Detalhe para o objeto de teste CDMAM construída com o software da Artinis com taxa de detecção de 75%.
Fonte: Artinis
36
Assim, é possível conhecer o valor mínimo da espessura do disco que se pode
visualizar para cada diâmetro (Figura 3.5). A curva apresentada na figura 3.6 foi
construída a partir dos resultados do exemplo anterior, sendo coerente com a
curva que se espera na fórmula de Rose (equação 3).
Figura 3.6 Curva Contraste-Detalhe para o objeto de teste CDMAM
Fonte: Autor
Utilizando-se o software também se pode obter o valor da figura de qualidade da
imagem (IQF, Image Quality Figure), adicionando-se todos os produtos da
espessura (𝐶𝑖) pelo diâmetro do disco de ouro visível (𝐷𝑖) no limiar de visibilidade
indicado pela curva de contraste-detalhe,
𝐼𝑄𝐹 = ∑ (𝐶𝑖 . 𝐷𝑖) 𝑛𝑖=1 (5)
Quanto menor for o valor de IQF, melhor será a qualidade da imagem. O inverso
desta definição é intuitivamente uma definição mais adequada, ou seja, quanto
melhor for a qualidade da imagem maior será o valor do inverso da figura de
qualidade da imagem (IQFinv, Image Quality Figure Inverted). Assim, o IQFinv é
utilizado e definido como:
𝐼𝑄𝐹inv =1
𝐼𝑄𝐹 (6)
37
Optou-se por avaliar a qualidade da imagem, utilizando-se o IQFinv pois ele
expressa o limite de detecção do detalhe do objeto em função do seu contraste
para diferentes diâmetros (curva contraste-detalhe). Utilizando-se o software do
fabricante, foi calculado o IQFinv. Assim, se obteve resultados de uma forma
objetiva e independente para cada técnica de aquisição testada.
3.1.5 Dose Glandular Média
O tecido glandular é a região mais radio-sensível da mama e é de suma
importância estimar a dose que recebe no exame mamográfico. A dose glandular
média (DGM) é a grandeza mamográfica mais apropriada para esse fim, sendo
definida como a energia média absorvida por unidade de massa glandular. Não
é possível medir diretamente a DGM à qual a paciente está exposta durante um
exame de mamografia. Porém, foram desenvolvidas algumas metodologias para
seu cálculo. O método desenvolvido por Dance (1990, 2000) é o método adotado
no Protocolo Europeu (EC, 2006) e pela IAEA (HHS17, 2011), por isso foi o
método utilizado no presente trabalho.
3.1.5.1 Método de Dance
O estudo inicial para estimativa da DGM foi realizado por Dance (1990). Por meio
do método Monte Carlo, foram determinados fatores de conversão que
aproximassem o kerma (kinetic energy released in matter) no ar incidente
medido à DGM, como expressa-se na equação 7.
𝐷𝐺𝑀 = 𝐾𝑎,𝐼 . 𝑔 (7)
Onde,
𝐾𝑎,𝐼 Kerma no ar incidente
𝑔 Fator de conversão do 𝐾 em DGM para mama com 50% de
glandularidade.
O kerma está definido como a energia cinética transferida às partículas
carregadas de um meio por uma radiação indiretamente ionizante por unidade
de massa. O 𝐾𝑎,𝐼 é a grandeza que serve como indicador da energia que está
chegando à entrada da mama, onde o meio é o ar. Mas é preciso conhecer a
energia que está sendo absorvida pelo tecido glandular da mama. Por essa
38
razão, Dance calcula o valor da DGM em termos do 𝐾𝑎,𝐼 vezes um fator de ajuste
que depende das características da mama (tamanho e composição) e do feixe
de radiação. Assim surge o fator 𝑔. Este fator foi calculado da simulação por
método Monte Carlo, onde foi simulada a geometria de um exame mamográfico
(Figura 3.7a) e as características da mama padrão adotada pelo Instituto de
Ciências Físicas em Medicina (IPSM, Institute of Physical Sciences in Medicine
1989) e mostrada na Figura 3.7b.
(a) (b)
Figura 3.7 Simulação de Dance (a) Geometria usada na simulação. (b) Características da
mama padrão.
Fonte: Dance 1990
No programa usado na simulação, são usadas as seções transversais das
interações por efeito fotoelétrico, espalhamento coerente e incoerente
calculadas com o software XCOM: Photon Cross Sections on a Personal
Computer. Cada fóton simulado pelo programa sai do foco do tubo de raios X,
percorre todo o caminho e é seguido até saber se toda sua energia foi absorvida
ou se deixo o sistema. As energias que ficaram em cada região do sistema foram
registradas. Nesta simulação também foram levadas em consideração as
interações dos fótons com a placa compressora, a grade antiespalhamento e o
cassete.
O fator 𝑔 foi calculado por Dance usando os resultados da simulação por meio
da equação 8.
𝑔 =𝐸𝑎𝑏𝑠 𝑔𝑙𝑎𝑛
𝐾𝑎𝑟×𝑚𝑔𝑙𝑎𝑛 (8)
Onde,
16 cm
0,5 cm
4,5 cm
Tecido Adiposo
50:50
Tecido Adiposo
Tecido
Glandular Mama
60 cm
Foco
Placa compressora
Detector
39
𝐸𝑎𝑏𝑠 𝑔𝑙𝑎𝑛 Energia absorvida pelo tecido glandular na região central da mama.
𝑚𝑔𝑙𝑎𝑛 Masa do tecido glandular na região central da mama.
Na Tabela 3.3, mostram-se os valores do fator 𝑔 que depende da espessura da
mama, da energia e da qualidade do feixe de raios X, expressos no valor da
camada semiredutora (CSR).
Tabela 3.3 Fatores 𝑔(mGy/mGy) para espesuras de mama de 2-10 cm e CSR entre 0.30-0.60 mmAl. Os Fatores 𝑔 para espessuras de mama de 2-10 cm
Fonte: Dance 2000
Os fatores g da tabela são para a composição da mama padrão, 50% de
glandularidade, mostrando que para uma mesma espessura, o aumento do valor
da CSR faz aumentar o valor do fator g, é consequentemente, o aumento da
energia faz com que o valor da DGM aumente. Mas quanto maior seja a
espessura, a redistribuição do tecido glandular no volume da mama, implica a
diminuição da DGM.
Levando em consideração as diferentes composições das mamas das mulheres
em comparação à composição da mama padrão, e considerando a necessidade
de modificar os fatores de conversão ao uso de novas tecnologias, no ano 2000,
Dance e colaboradores ajustaram a equação da DGM a uma nova equação (9)
onde são incluídos os novos fatores.
𝐷𝐺𝑀 = 𝐾𝑎,𝐼 𝑔𝑡𝑐𝑡𝑠 (9)
Na equação 9:
40
𝐾𝑎,𝐼 kerma no ar à entrada da superfície sem retroespalhamento;
𝑔𝑡 fator que converte o 𝐾𝑎,𝐼 em DGM para uma mama com 50% de tecido
glandular
𝑐𝑡 fator de conversão para uma glandularidade de mama (Tabela 3.5)
𝑠 fator de correção que depende da combinação de alvo-filtro (Tabela 3.6)
Para determinar o fator 𝑐 para ser utilizado na equação 9, é necessário conhecer
a porcentagem de glandularidade da mama que vai se estudar. A dependência
entre a glandularidade da mama e a espessura foi estimada em dois estudos:
Guildford (Young et al 1998) e Northern Region (Beckett e Kotre 2000), os quais
compararam os fatores selecionados pelo AEC e a espessura que cada mama
foi comprimida, com os valores obtidos para fantomas de igual espessura e
diversas porcentagens de glandularidade. O valor do mAs selecionado pelo AEC
para uma mama comprimida a uma determinada espessura, foi comparado com
o valor obtido com fantomas de igual espessura, e a porcentagem de
glandularidade do fantoma que coincidia com um tipo de mama, foi a
glandularidade indicada a esse tipo de mama. A média da composição da mama
foi estabelecida para cada faixa etária pelo uso do método dos mínimos
quadrados, obtendo-se a equação 10.
𝐺𝑙𝑎𝑛𝑑𝑢𝑙𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒(%) = 𝑎𝑡3 + 𝑏𝑡2 + 𝑐𝑡 + 𝑑 (10)
Os valores dos coeficientes 𝑎, 𝑏, 𝑐 e 𝑑 estão na Tabela 3.4.
Tabela 3.4 Coeficientes para o ajuste polinomial da glandularidade como uma função da espessura da mama (equação 4). Os dados são fornecidos para mulheres com idades entre
40-49 anos e 50-64 anos.
Fonte: Dance 2000
41
Havendo calculado a porcentagem de glandularidade, e conhecendo o valor da
CSR, é possível obter o fator c da tabela 3.5. Nela se pode observar a diminuição
do fator 𝑐 com o aumento da porcentagem de glandularidade para uma mesma
espessura e CSR. Ou seja, para uma mesma energia e igual espessura, a DGM
é menor ao aumentar o conteúdo de tecido glandular, devido a que este
apresenta maior coeficiente de atenuação linear que o tecido adiposo, e o feixe
de radiação reduz sua intensidade mais rapidamente no tecido glandular que no
adiposo, sem conseguir atingir as camadas internas da mama. Também pode-
se observar na Tabela 3.5 que para mamas com glandularidade menor ao 50%,
o aumento da espessura resulta no aumento da DGM. Caso contrário, quando a
porcentagem de glandularidade é maior ao 50%, a DGM diminui com o aumento
da espessura. Nos dois casos, o aumento da espessura implica o aumento do
tecido glandular, mas no primeiro caso, o aumento da dose absorvida pelo tecido
é devido à pouca atenuação no tecido adiposo, deixando que maior quantidade
de fótons chegue ao tecido glandular. No segundo caso, o aumento da
porcentagem de glandularidade, implica uma redistribuição da energia em maior
quantidade de massa de tecido glandular, diminuindo assim a DGM na mama.
Tabela 3.5 Fatores 𝑐 para CSR de 0.30 mmAl em função da espessura e glandularidade da
mama.
Fonte: Dance 2000
Na Tabela 3.6 é possível observar que o uso da combinação Mo/Mo e Mo/Rh
implicam menor valor de DGM, devido ao espectro de energias mais definido e
42
homogéneo que apresentam, em comparação com os espectros das outras
combinações A/F utilizadas em mamografia.
Tabela 3.6 Fatores 𝑠 para espectros usados na prática clínica e o máximo erro envolvido na sua utilização.
Fonte: Dance 2000
3.1.6 Determinação da DGM
A grandeza DGM não pode ser medida diretamente. Ela é calculada a partir da
medida do kerma no ar incidente 𝐾𝑎,𝐼 , sem retroespalhamento. A medida de 𝐾𝑎,𝐼
foi realizada conforme a metodologia proposta no Protocolo Europeu de
Dosimetria em Mamografia (EC,1996). O cálculo de DGM foi realizado,
utilizando-se a fórmula proposta no Protocolo Europeu (EC, 2006) e pela Agência
Internacional de Energia Atômica (IAEA HHS17, 2011) como mostrava a
equação 8.
Os valores aplicados a 𝑔𝑡 , 𝑐𝑡 , 𝑒 𝑠 foram obtidos a partir das tabelas 3.2, 3.4 e
3.5 respectivamente.
A medida do 𝐾𝑎,𝐼 foi realizada utilizando-se o conjunto dosimétrico composto
pelo eletrômetro modelo 9015 da Radcal acoplado à câmara de ionização (CI)
dedicada à mamografia modelo 10x5-6M e multiplicando-se pelo fator de
calibração estabelecido no certificado de calibração nº 065RX/1014 emitido pelo
Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes da Universidad Federal de
Pernambuco (LMRI-DEN UFPE) . A câmara de ionização possui um volume ativo
de 6 cm3 e opera na faixa de energia de 10 a 40 keV (RADCAL, 2005). O
conjunto pode ser visto na Figura 3.8.
43
(a) (b)
Figura 3.8. Arranjo para medir o 𝐾𝑎,𝐼 (a) Posicionamento da câmara a 4 cm da parede torácica
e 4,5 cm do detector. (b) Conjunto dosimétrico da RADCAL modelo 9015 com câmara de ionização 10x9-6M
Fonte: Autor
Para a obtenção do fator 𝑔𝑡 foi necessário o cálculo da CSR usando a equação
11, como é sugerido no Protocolo ANVISA, para cada kVp na faixa escolhida (25
kVp até 35 kVp) e para cada combinação A/F utilizado (Mo/Mo e Mo/Rh).
𝐶𝑆𝑅 =𝑥𝑏𝑙𝑛(2
𝐿𝑎𝐿0
⁄ )−𝑥𝑎𝑙𝑛(2𝐿𝑏
𝐿0⁄ )
𝑙𝑛(𝐿𝑎
𝐿𝑏⁄ )
(11)
𝐿𝑎 Leitura de exposição imediatamente superior a 𝐿0 2⁄
𝐿𝑏 Leitura de exposição imediatamente inferior a 𝐿0 2⁄
𝑥𝑎 Espessura de Al correspondente à leitura 𝐿𝑎
𝑥𝑏 Espessura de Al correspondente à leitura 𝐿𝑏
Para a medida de 𝐿𝑎 e 𝐿𝑏 usando o arranjo mostrado na Figura 3.9. Foram
utilizadas placas de Al de 99% de pureza, suas espessuras foram medidas sendo
de 0,11 ± 0,05 mm para cada placa.
44
Figura 3.9. Arranjo para obter as medidas para cálculo da CSR. A CI é posicionada a 4 cm da parede torácica e 4,5 cm do detector. As placas de Al sobre o compressor a 20 cm do detector.
Fonte: Autor
3.1.7 Determinação dos parâmetros automáticos de aquisição da imagem
Os parâmetros automáticos de aquisição da imagem são aqueles selecionados
pelo AEC do mamógrafo quando o equipamento se encontra no modo
automático. No caso do mamógrafo Selenia, foi utilizado o modo Auto-Filtro,
porque é o mais utilizado na prática clínica, já que vai selecionar todos os
parâmetros de aquisição já mencionados: kVp, mAs e combinação A/F para cada
espessura de mama comprimida. Como neste trabalho se propôs estudar uma
nova otimização dos parâmetros de exposição, utilizou-se o a mama padrão
estabelecida pelo IPSM. Para determinar os parâmetros selecionados pelo
equipamento para este tipo de mama, é necessário usar um fantoma que simule
a espessura e composição que se quer testar. Para isso o fantoma ACR que
possui 4,5 cm de espessura e simula uma mama de 50% de glandularidade e
50% de adiposidade foi posicionado como se mostra na Figura 3.10a. Ao realizar
à exposição e adquirir a imagem com o modo auto-filtro, o mamógrafo seleciona
a combinação A/F e o kVp de acordo com a espessura de mama. Para selecionar
o mAs, utiliza o sensor do AEC posicionado embaixo do receptor da imagem, o
qual detém o disparo quando o sensor recebe a radiação suficiente para obter a
imagem com o nível de exposição desejado. Assim foram obtidos os três
parâmetros de aquisição automáticos: combinação A/F°, kVp° e mAs°.
45
(a) (b)
Figura 3.10. Fantoma ACR. a)Posicionamento do fantoma ACR para determinar os parâmetros automáticos de aquisição. b) Estruturas no interior do fantoma.
Fonte: Autor.
3.2 OBTENÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS ÓTIMOS PARA A
AQUISIÇÃO DA IMAGEM.
A otimização do kVp foi realizada usando a FOM mencionada na secção 3.1.3.
Para cada combinação A/F fornecida pelo mamógrafo, foi construída a curva
FOM vs. kVp na faixa de 25 até 35 kVp. O valor do mAs correspondente a cada
kVp foi selecionado de acordo com o critério utilizado por Ranger, Lo e Samei
(2010) que consiste em se utilizar os produtos corrente-tempo para os quais se
obtenha na imagem um MPV em torno de um determinado valor ou faixa pré-
estabelecida. E, conforme o apresentado na publicação do National Health
Service Breast Screening Programme – NHSBSP (2009) o fabricante recomenda
um MPV na faixa entre 200 e 500. Assim, definiu-se que o mAs selecionado para
ser utilizado em cada medida seria aquele para o qual se obtivera na imagem
um MPV em torno de 350, o qual foi medido na imagem do CDMAM usando
uma ROI de 400 mm2 , padronizando-se o mesmo nível de sinal em todas as
imagens, permitindo que elas pudessem ser comparadas.
46
A curva FOM vs. kVp foi construída calculando os valores de IQFinv e DGM com
os métodos definidos na etapa anterior para cada combinação de parâmetros, e
com eles foi calculado o valor da FOM correspondente a cada valor de kVp. O
kVp ótimo (kVp*) é o valor onde a curva de melhor ajuste tem o valor máximo de
FOM, assim como a combinação A/F com valores superiores de FOM, é a
combinação A/F ótima (A/F*). O ajuste das curvas obtidas para a otimização foi
realizado com o software CurveExpert 1.4.
O estudo de otimização em função do mAs, foi realizado construindo-se a curva
FOM vs. mAs usando a combinação A/F* e deixando constante o valor de kVp*.
A curva FOM vs. mAs foi construída calculando os valores de IQFinv e DGM para
cada combinação de parâmetros, e com eles é calculado o valor da FOM
correspondente a cada valor de mAs. O mAs que apresentou o maior valor de
FOM na curva ajustada é o mAs ótimo (mAs*). Assim, no final desta etapa,
obteve-se os três parâmetros de aquisição otimizados: combinação A/F*, kVp*
e mAs*.
3.3 COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICOS OTIMIZADOS COM OS
PARÂMETROS AUTOMÁTICOS
Havendo-se encontrado os parâmetros físicos otimizados (A/F*, kVp* e mAs*),
que realizam a aquisição da imagem com a melhor relação entre qualidade da
imagem e dose de radiação segundo a FOM utilizada, e os parâmetros
automáticos de aquisição (A/F°, kVp° e mAs°), surge a necessidade de comparar
as imagens obtidas, utilizando-se cada um dos conjuntos de parâmetros físicos.
Para verificar a validade da FOM proposta foi utilizado o fantoma ACR. Foram
realizados dois conjuntos de imagens, um conjunto com os parâmetros
resultantes da otimização realizada (imagens otimizadas) e outro com os
parâmetros escolhidos automaticamente pelo equipamento (imagens
automáticas), e elas são avaliadas e comparadas utilizando-se dois parâmetros
importantes que levam em consideração o ruído e o contraste na imagem como
são a SNR e a CNR, para definir com qual combinação de parâmetros é
adquirida a imagem com melhores características, mantendo a melhor relação
entre qualidade da imagem e DGM
47
3.4 Incertezas nas medidas
A incerteza da medida é um parâmetro que caracteriza a dispersão dos
valores que podem ser razoavelmente atribuídos ao mensurado. Ela é
composta por dois tipos:
Tipo A: são estimadas por métodos estatísticos para avaliar o grau de
dispersão das medidas em relação ao valor médio. É calculada
aplicando a equação (12)
𝜎𝐴 =𝜎
√𝑛 (12)
Onde:
𝜎 desvio padrão da medida, dado pela equação (13):
𝜎 = √∑ (𝑥𝑖−�̅�)2𝑛
1
𝑛−1 (13)
Onde:
𝑥𝑖 valor da i-ésima medida
�̅� valor médio da medida
𝑛 número de medidas realizadas
Tipo B: são estimadas por outros métodos que levam em consideração
fatores que não podem ser controlados, baseando-se em todas as
informações disponíveis sobre a possível variabilidade da grandeza
medida.
A incerteza total das medidas foi estimada pela equação (14)
𝜎𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = √(𝜎𝐴2 + 𝜎𝐵
2) (14)
No presente estudo, incertezas do tipo A foram calculadas para as medidas do
IQFinv pelo software CDMAM 3.4 e de 𝐾𝑎,𝐼 , 𝐿𝑎 e 𝐿𝑏 medidas com a câmara de
ionização. As incertezas do tipo B são provenientes da câmara de ionização,
pois há o coeficiente de calibração da câmara (0,984 ± 0,025) fornecido pelo
Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes da Universidade Federal de
Pernambuco (LMRI-DEN UFPE). Também foi levada em consideração a
incerteza instrumental da câmara (0,0005 mGy) considerada a metade da menor
48
medida que o monitor apresenta. A incerteza associada à DGM que é
apresentada nos resultados vem da combinação da propagação das incertezas
do 𝐾𝑎,𝐼, da CSR e dos fatores de conversão fornecidos por Dance (2010), assim
como a incerteza associada à FOM foi calculada com a propagação das
incertezas do IQFinv e da DGM.
49
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo, apresentam-se os resultados alcançados mediante a
metodologia descrita no capítulo anterior. Primeiro são mostrados os resultados
obtidos nos testes de controle de qualidade realizados no mamógrafo utilizado.
Em um segundo momento, são apresentados os resultados da otimização do
kVp para o fantoma de espessura 4,5 cm com os dois filtros disponíveis no
equipamento. De acordo com esses resultados, são apresentados os mAs
otimizados, e finalmente a melhor combinação de parâmetros encontrada e sua
comparação com os parâmetros automáticos de exposição.
4.1 Testes de controle de qualidade
Os testes de controle de qualidade fornecem confiabilidade nos estudos
realizados neste projeto. Se o mamógrafo em estudo não apresentar
conformidade na maioria dos testes aplicados, não haveria garantia dos
resultados obtidos. Os primeiros testes realizados no mamógrafo Selenia foram
os testes de aceitação após sua instalação, para verificar as condições do
equipamento entregue pelo fabricante e para estabelecer os valores de linha de
base para determinados parâmetros. Na Tabela 4.1 são apresentados os testes
realizados e sua conformidade com a Portaria MS 453/98.
Pode-se observar que o único teste não conforme foi o teste de coincidência
entre campos, o qual avalia se o campo luminoso que serve de referência para
o posicionamento da mama coincide com o campo de radiação. Esta não
conformidade deve ser corrigida, mas para os testes realizados neste trabalho
não apresentou nenhum inconveniente já que os objetos a serem irradiados
como o fantoma ACR, o objeto de teste CDMAM e a câmara de ionização,
sempre são posicionados no centro do detector próximos à parede torácica,
sendo irradiados na sua totalidade.
O teste de ponto focal não foi realizado já que este não se aplica para
equipamentos digitais. O teste de medida da Função de Transferência de
Modulação não foi realizado pela ausência do instrumento de teste requerido.
50
Tabela 4.1. Resumo dos resultados dos testes de aceitação.
Fonte: Furquim, relatório de testes de qualidade em equipamento de mamografia, UESC, Março 2015
Na Tabela 3.2 se mostra a periodicidade com a qual devem se repetir os testes,
na maioria dos casos é anual ou depois da troca de alguma peça, mas o teste
de avaliação da qualidade da imagem deve ser realizado mensalmente. Este
teste consiste na avaliação da imagem do fantoma ACR, e requer a visualização
de no mínimo 4 fibras, 3 massas e 3 grupos de microcalcificações (Figura 3.10b).
O teste de qualidade da imagem foi realizado diariamente junto com o teste de
CNR e de SNR. Em todos os períodos avaliados, houve conformidade na
visualização das fibras, massas e grupos de microcalcificações.
Garantindo o correto funcionamento e estabilidade do mamógrafo, iniciou-se as
aquisições das imagens e as medidas necessárias para alcançar o objetivo da
otimização dos parâmetros físicos de aquisição da imagem no mamógafo em
estudo.
51
4.2 Otimização dos parâmetros de aquisição para mama de
4,5 cm de espessura e composição 50/50
4.2.1 Otimização do kVp
Foram utilizadas as tensões na faixa entre 25 kVp e 35 kVp para as duas
combinações Alvo/Filtro disponíveis no mamógrafo que são Mo/Mo e Mo/Rh.
Para cada kVp foi selecionado o mAs que fornecera um MPV ao redor de 350 em
uma região de interesse. As combinações que cumprem essa condição são
apresentadas na Tabela 4.2, incluindo os parâmetros automáticos selecionados
pelo equipamento.
Tabela 4.2. Combinações de parâmetros de aquisição testados
MODO
kVp
mAs
Mo/Mo Mo/Rh
AEC 28 75 --------
MANUAL
25 190 130
26 140 100
27 110 85
28 85 70
29 60 55
30 47,5 45
31 40 37,5
32 30 32,5
33 26 27,7
34 20 22
35 18 20
Fonte: Autor
Para cada combinação manual e automática mostrada na tabela, foram
realizadas as medidas de 𝐾𝑎,𝐼, 𝐿𝑎 e 𝐿𝑏, necessárias para o cálculo da CSR
usando a equação 10. O fator 𝑔 da equação para a obtenção da DGM, depende
da espessura da mama e da CSR. Para obter o valor do 𝑔 para cada
combinação, foi realizada a interpolação dos dados da tabela 3.2 e obtida a
equação da curva que melhor descreve a relação entre o 𝑔 e a CSR (Figura 4.1).
52
Figura 4.1. Valores do fator 𝑔 em função da CSR. Resultados do Ajuste linear
Fonte: Autor
O valor do fator 𝑔 converte o 𝐾𝑎,𝐼 em DGM para uma mama de composição 50/50
(mama padrão). O fator 𝑐 faz a conversão para valores de composições da mama
diferentes a 50/50. Como em nosso estudo consideramos a composição da
mama padrão, o valor de 𝑐 é igual a 1 (Tabela 3.4 ). O valor do fator s depende
da combinação A/F, sendo para Mo/Mo 𝑠 = 1,000 ± 0,031 e, para Mo/Rh,
𝑠 = 1,017 ± 0,022. Havendo medido o valor do 𝐾𝑎,𝐼 e calculado o valor dos
fatores g, c e s, com suas respectivas incertezas, foi calculado o valor da DGM.
Os resultados são apresentados na Tabela 4.3. para Mo/Mo e na Tabela 4.4.
para Mo/Rh. Foram construídas as curvas com os resultados da DGM, tanto para
o modo automático como para o modo manual, sendo este último dividido entre
os resultados com o filtro de Mo e o filtro de Rh. Na Figura 4.2 são apresentados
os resultados.
0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60
0,18
0,20
0,22
0,24
0,26
0,28
0,30
0,32
0,34
0,36
Fatores para espessura 45mm
F
ato
r g
CSR (mmAl)
𝑔 = 0,03 + 0,52 ∗ 𝐶𝑆𝑅 𝑅2 = 0,99
53
Tabela 4.3. Resultado da DGM para as tensões utilizadas com Mo/Mo, incluindo os parâmetros automáticos, e as grandezas envolvidas no seu cálculo.
kVp 𝐾𝑎,𝐼
(𝑚𝐺𝑦)
𝜎𝐾
(𝑚𝐺𝑦)
CSR
(𝑚𝑚𝐴𝑙)
𝜎𝐶𝑆𝑅
(𝑚𝑚𝐴𝑙)
𝑔 𝜎𝑔 𝐷𝐺𝑀
(𝑚𝐺𝑦)
𝜎𝐷𝐺𝑀
(𝑚𝐺𝑦)
%Desvio
Relativo
AEC 28 8,77 0,22 0,39 0,01 0,23 0,01 1,99 0,09 4,86
25 15,14 0,37 0,35 0,01 0,21 0,00 3,14 0,14 4,51
26 12,77 0,31 0,37 0,01 0,22 0,01 2,79 0,13 4,62
27 11,39 0,28 0,38 0,01 0,22 0,01 2,56 0,12 4,79
28 9,90 0,24 0,39 0,01 0,23 0,01 2,26 0,11 4,90
29 7,75 0,19 0,40 0,01 0,23 0,01 1,80 0,09 5,02
30 6,72 0,17 0,41 0,01 0,24 0,01 1,59 0,08 5,18
31 6,32 0,16 0,42 0,02 0,24 0,01 1,53 0,08 5,38
32 5,14 0,13 0,42 0,02 0,24 0,01 1,25 0,07 5,46
33 4,94 0,12 0,43 0,02 0,25 0,01 1,22 0,07 5,60
34 4,07 0,10 0,43 0,02 0,25 0,01 1,02 0,06 5,72
35 3,95 0,10 0,45 0,00 0,26 0,00 1,03 0,04 4,26
Fonte: Autor
Tabela 4.4. Resultado da DGM para as tensões utilizadas com Mo/Rh, e as grandezas envolvidas no seu cálculo.
kVp 𝐾𝑎,𝐼
(𝑚𝐺𝑦)
𝜎𝐾
(𝑚𝐺𝑦)
CSR
(𝑚𝑚𝐴𝑙)
𝜎𝐶𝑆𝑅
(𝑚𝑚𝐴𝑙)
𝑔 𝜎𝑔 𝐷𝐺𝑀
(𝑚𝐺𝑦)
𝜎𝐷𝐺𝑀
(𝑚𝐺𝑦)
%Desvio
Relativo
25 6,88 0,03 0,46 0,01 0,26 0,00 1,85 0,07 3,74
26 6,23 0,03 0,47 0,01 0,27 0,01 1,78 0,06 3,80
27 6,10 0,03 0,48 0,01 0,28 0,01 1,72 0,07 4,03
28 5,71 0,03 0,49 0,01 0,28 0,01 1,63 0,06 4,19
29 5,05 0,03 0,50 0,01 0,28 0,01 1,46 0,06 4,31
30 4,60 0,03 0,50 0,01 0,29 0,01 1,33 0,06 4,38
31 4,25 0,03 0,51 0,02 0,29 0,01 1,26 0,06 4,62
32 4,05 0,03 0,52 0,02 0,30 0,01 1,22 0,06 4,78
33 3,58 0,03 0,53 0,02 0,30 0,01 1,09 0,05 4,93
34 3,37 0,03 0,53 0,02 0,30 0,01 1,04 0,05 5,12
35 3,22 0,03 0,54 0,02 0,31 0,01 1,00 0,05 5,27
Fonte: Autor
54
Figura 4.2. DGM estimada no fantoma de 4,5 cm de espessura e composição 50/50
Fonte: Autor
A diminuição da DGM com o aumento do kVp está relacionada com a diminuição
do mAs utilizado para cada tensão, já que para manter o nível de sinal no
detector, um maior kVp precisa de um menor mAs, como se pode observar na
tabela 4.2. No gráfico é possível observar a existência de parâmetros para os
quais a DGM é menor que a estimada para os parâmetros automáticos
escolhidos pelo equipamento. Também se observa que para as tensões
menores de 34 kVp, o cálculo da DGM é menor para a combinação Mo/Rh que
para a combinação Mo/Mo.
Foram encontrados os valores da figura de qualidade da imagem, o IQFinv para
cada combinação de parâmetros, adquirindo três séries de oito imagens com
cada combinação, para ser analisadas com o software CDMAM 3.4. Os
resultados são apresentados na Tabela 4.5. e podem se observar as curvas
obtidas na Figura 4.3.
24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
AEC
Mo/Mo
Mo/Rh
DG
M (
mG
y)
Tensão (kVP)
𝑦 = 24,6 − 1,3𝑥 + 0,02𝑥2 𝑅2 = 0,99
𝑦 = −17,2 + 2,1𝑥 − 0,1𝑥2 + (8,9 × 10−4)𝑥3 𝑅2 = 0,99
55
Tabela 4.5. Valores obtidos do IQFinv
MODO
kVp
IQFinv
(𝝁𝒎−𝟐)𝟏𝟎−𝟑
Mo/Mo
𝛔𝑰𝑸𝑭𝒊𝒏𝒗
(𝝁𝒎−𝟐)𝟏𝟎−𝟑
%Desvio Relativo
IQFinv
(𝝁𝒎−𝟐)𝟏𝟎−𝟑
Mo/Rh
𝛔𝑰𝑸𝑭𝒊𝒏𝒗
(𝝁𝒎−𝟐)𝟏𝟎−𝟑
%Desvio Relativo
MANUAL
25 121,5 0,6 0,5 109,3 0,8 0,7
26 117,0 0,7 0,6 105,9 0,6 0,6
27 113,1 0,1 0,1 103,3 0,7 0,1
28 109,4 0,6 0,5 100,4 0,3 0,3
29 100,0 1,8 1,8 97,1 0,5 1,5
30 97,6 1,3 1,3 95,1 1,6 1,7
31 96,3 0,7 0,8 92,1 1,5 1,6
32 86,6 1,0 1,2 89,9 0,9 1,0
33 78,9 1,4 1,7 84,71 1,2 1,4
34 70,6 0,6 0,9 80,5 1,5 1,9
35 68,2 2,1 3,1 78,4 2,0 2,6
AEC 28 101,9 0,8 0,7
Fonte: Autor
Figura 4.3. IQFinv calculado com o analise das imagens do objeto de teste CDMAM para 4,5 cm
de espessura, em função do kVp
Fonte: Autor
24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
60
70
80
90
100
110
120
130
AEC
Mo/Mo
Mo/Rh
IQF
inv (
m-2)1
0-3
Tensão (kVP)
𝑦 = 27 + 10,3𝑥 − 0,3𝑥2 𝑅2 = 0,99
𝑦 = 160 − 1,3𝑥 − 0,02𝑥2 𝑅2 = 0,99
56
Na figura 4.3 se apresentam os valores do IQFinv para cada combinação A/F
disponível, com suas respectivas incertezas e curvas de ajuste. Se pode
observar que a combinação Mo/Mo apresenta maiores valores de IQFinv na faixa
anterior a 31 kVp, mas próximo a esse valor as duas curvas se interceptam, e a
curva Mo/Rh decresce mais lentamente.
Na Tabela 4.6 apresentam-se os resultados obtidos para a FOM com os dois
filtros disponíveis e para os parâmetros do AEC.
Tabela 4.6. Valores obtidos da FOM
Fonte: Autor
A Figura 4.4 resume os resultados da FOM para todas as combinações de
parâmetros testadas. Podemos observar que os dados apresentam um valor de
FOM maior para a combinação Mo/Rh em toda a faixa de tensões, sendo
superior que a FOM obtida pelos parâmetros automáticos e pela combinação
Mo/Mo, sendo o primeiro resultado que Mo/Rh é a combinação alvo/filtro ótima
MODO kVp FOM (𝝁𝒎−𝟒𝒎𝑮𝒚−𝟏)𝟏𝟎−𝟔
Mo/Mo
𝛔𝐅𝐎𝐌 (𝝁𝒎−𝟒𝒎𝑮𝒚−𝟏)𝟏𝟎−𝟔
%Desvio
Relativo FOM
(𝝁𝒎−𝟒𝒎𝑮𝒚−𝟏)𝟏𝟎−𝟔
Mo/Rh
𝛔𝐅𝐎𝐌 (𝝁𝒎−𝟒𝒎𝑮𝒚−𝟏)𝟏𝟎−𝟔
%Desvio Relativo
MANUAL
25 4697 217
4,6 6457,6 240,93 6,9
26 4909 235
4,8 6300,5 251,34 6,8
27 4993 239
4,8 6204,1 250,39 6,9
28 5297 266
5,0 6184,2 258,34 6,8
29 5560 341
6,1 6457,8 278,53 6,3
30 5991 348
5,8 6800,1 296,89 5,8
31 6061 338
5,6 6732,1 310,89 5,8
32 5986 356
6,0 6624,6 316,94 5,8
33 5093 336
6,6 6583,3 324,97 5,4
34 4883 293
6,0 6231,0 319,69 5,3
35 4541 344
7,6 6146,6 323,38 5,3
AEC 28 5212 265
5,1
57
para uma mama de 4,5 cm de espessura. Como curva de ajuste para cada
combinação A/F, foi selecionada uma curva gaussiana, com a qual foi possível
determinar o valor de kVp que apresenta o máximo valor de FOM, sendo o valor
no centro da curva com combinação Mo/Rh, posicionado em 30,8 kVp.
Figura 4.4. FOM calculada para fantoma de mama com 4,5 cm de espessura e composição
50/50 em função do kVp
Fonte: Autor
Por esta razão, 30,8 kVp é o valor de tensão ótimo para a combinação Mo/Rh,
mas para a finalidade prática, não é possível ser aplicado porque no mamógrafo
testado são admitidos só valores inteiros de tensões. Por esta razão, precisamos
continuar nosso processo de otimização usando os dois valores de kVp mais
próximos ao valor encontrado, que são 30 kVp e 31 kVp .
O seguinte passo da otimização é o cálculo do mAs ótimo, para os dois valores
de tensões, 30 kVp e 31 kVp com a combinação alvo/filtro de Mo/Rh.
25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
Mo/Mo
28 kVP
75mAs
AEC
Mo/Mo
Mo/Rh
FO
M(
m-4m
Gy
-1)1
0-6
Tensão (kVP)
𝑦 = 5991,5𝑒−
(𝑥−30,5)95,1 𝑅2 = 0,99
𝑦 = 6791,2𝑒−
(𝑥−30,8)447,1 𝑅2 = 0,83
58
4.2.2 Otimização do mAs
Usando a metodologia já descrita, foram calculados os valores da DGM, do
IQFinv e da FOM para valores de produto corrente-tempo entre 30 e 110 mAs
para o valor de 30 kVp e entre 30 e 90 mAs para 31 kVp com filtro Mo/Rh. Não
foram realizados os testes para os produtos corrente-tempo entre 100 e 110 mAs
para a tensão 31 kVp porque a exposição no detector resultava muito alta, maior
ao valor máximo recomendado de MPV, de igual forma não foram utilizados
valores menores de 30 mAs devido à baixa exposição. Os resultados são
apresentados na Tabela 4.7, mostrando os valores de mAs utilizados pelo
equipamento.
Tabela 4.7. Valores obtidos da 𝐷𝐺𝑀, 𝐼𝑄𝐹inv e FOM para a otimização do mAs
kVp mAs 𝑫𝑮𝑴 (mGy)
%Desvio
relativo IQFinv
(𝝁𝒎−𝟐)𝟏𝟎−𝟑
%Desvio relativo
FOM
(𝝁𝒎−𝟒𝒎𝑮𝒚−𝟏)𝟏𝟎−𝟔
%Desvio relativo
30
29,4 0,9 4,6 73,0 1,0 6094,8 4,6
39,2 1,2 4,4 84,3 0,7 6114,5 4,4
49,1 1,5 4,8 95,0 0,7 6119,2 4,8
58,9 1,8 4,5 105,2 0,3 6211,8 4,5
69,2 2,1 4,6 112,5 0,4 6015,8 4,6
79,0 2,4 4,4 117,0 1,4 5781,1 4,4
88,9 2,7 4,5 120,8 1,2 5413,2 4,5
99,1 3,0 4,5 124,8 0,7 5190,0 4,5
108,5 3,3 4,5 125,4 1,0 4764,1 4,5
31
29,4 1,0 5,0 78,2 1,0 6115,9 5,0
39,2 1,3 4,7 90,2 0,7 6158,9 4,7
49,1 1,7 5,4 102,6 0,7 6175,4 5,4
58,9 2,0 4,8 106,4 0,3 5583,6 4,8
69,2 2,3 4,5 112,6 0,4 5437,8 4,5
79 2,8 5,6 118,6 1,3 5099,9 5,6
88,9 3,0 4,7 123,2 1,2 4989,0 4,7
Fonte: Autor
59
Na Figura 4.5 são apresentados os resultados da DGM em função do produto
corrente-tempo para as duas tensões testadas. Observa-se a dependência linear
da DGM com o mAs para uma mesma espessura e composição de mama.
Também se observa que os valores da DGM são superiores em toda a faixa de
mAs para a tensão de 31 kVp em comparação com a tensão de 30 kVp.
Figura 4.5. 𝐷𝐺𝑀 estimada no fantoma de 4,5 cm de espessura e composição 50/50 como
função do mAs. Fonte: Autor
Na Figura 4.6 são apresentados os resultados do IQFinv em função do produto
corrente-tempo para as duas tensões testadas. Observa-se o aumento do IQFinv
com o mAs de forma quadrática. Também se observa que até 50 mAs os valores
do IQFinv são semelhantes nas duas tensões, mas a partir de 50 mAs, começam
a ser superiores para a tensão de 31 kVp em comparação com a tensão de 30
kVp.
30 40 50 60 70 80 90 100 110
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
AEC
30 kVP Mo/Rh
31 kVP Mo/Rh
Mo/Mo
28 kVP
75mAs
DG
M (
mG
y)
Produto Corrente-Tempo (mAs)
𝑦 = −0,01 + 0,036𝑥 𝑅2 = 0,99
𝑦 = −0,05 + 0,042𝑥 𝑅2 = 0,99
60
Figura 4.6. IQFinv calculado com o analise das imagens do objeto de teste CDMAM para 4,5 cm
de espessura como função do mAs
Fonte: Autor
Na Figura 4.7 estão os resultados da FOM para as tensões 31 kVp e 30 kVp com
a combinação Mo/Rh. As duas curvas de ajuste correspondem a comportamento
gaussiano, com o valor máximo de FOM posicionado em 47,8 mAs para 31 kVp
e em 37,7 mAs para 31 kVp. Os valores de mAs encontrados não podem ser
selecionados manualmente no mamógrafo utilizado, então foram escolhidos os
valores mais próximos, sendo 50 mAs para 30 kVp e 40 mAs para 31 kVp.
30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
60
70
80
90
100
110
120
130
140
Produto Corrente-Tempo (mAs)
AEC
30 kVP Mo/Rh
31 kVP Mo/Rh
Mo/Mo
28 kVP
75mAs
IQF
inv (
m-2)1
0-3
𝑦 = 48,5 + 1,1𝑥 − 0,003𝑥2 𝑅2 = 0,99
𝑦 = 39,6 + 1,3𝑥 − 0,004𝑥2 𝑅2 = 0,99
61
Figura 4.7. 𝐹𝑂𝑀 calculado como função do mAs para as duas tensões testadas
Fonte: Autor
Na Tabela 4.8, se comparam os resultados obtidos de DGM, FOM usando os
parâmetros automáticos e os parâmetros otimizados.
Tabela 4.8. Comparação dos parâmetros automáticos com os parâmetros otimizados
PARÂMETRO
FÍSICO
PARÂMETROS
AUTOMÁTICOS
Mo/Mo
PARÂMETROS OTIMIZADOS
Mo/Rh
kVp 28 30 31
mAs 75 50 40
FOM
(𝝁𝒎−𝟒𝒎𝑮𝒚−𝟏)𝟏𝟎−𝟔 5212±265
6119±296
(18%)
6159±289
(18%)
𝑫𝑮𝑴
(mGy) 1,99±0,09
1,47±0,07
(-26%)
1,32±0,06
(-30%)
Fonte: Autor
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
4000
4250
4500
4750
5000
5250
5500
5750
6000
6250
6500
Mo/Mo
28 kVP
75mAsAEC
30kVP Mo/Rh
31kVP Mo/Rh
FO
M(
m-4m
Gy
-1)1
0-6
Produto Corrente-Tempo (mAs)
𝑦 = 6150𝑒−
(𝑥−47,8)3595,6 𝑅2 = 0,99
𝑦 = 6128𝑒−
(𝑥−37,7)3737,7 𝑅2 = 0,97
62
Analisando-se os dados da tabela 4.8 é importante destacar a diminuição da
DGM em 26% para 30 kVp e 30% para 31 kVp em relação à DGM calculada
usando-se o sistema AEC. A redução da DGM com utilização do filtro de Rh em
lugar do filtro de Mo é devido à redução dos fótons de baixa energia que chegam
à mama e só contribuem com a dose depositada, sem aportar à formação da
imagem. A tensão na ampola está relacionada com a energia dos fótons de
raios X produzidos, um maior valor de kVp implica fótons mais energéticos, que
passaram pela mama e conseguiram atingir o detector para formar a imagem. O
produto corrente-tempo influi no número de fótons produzidos pelo tubo de
raios X, ao selecionar um baixo mAs, menos fótons atingirão a mama,
depositando menor dose no tecido.
Também se observa um aumento de 18% da FOM para as combinações de
parâmetros Mo/Rh, 30 kVp e 50 mAs e 31 kVp e 40 mAs ao ser comparadas com
a FOM da combinação de parâmetros automáticos. A pesar de que as duas
novas combinações terem aumentado o valor da FOM consideravelmente, é
importante se verificar e comparar a qualidade das imagens obtidas utilizando
os novos parâmetros propostos com a qualidade da imagem obtida com os
parâmetro definidos pelo sistema automático de exposição. Isto foi realizado na
etapa seguinte do estudo.
4.2 TESTES DE VALIDAÇÃO
O teste de avaliação da qualidade da imagem com o fantoma ACR deve ser
realizado mensalmente, mas para fazer um seguimento da imagem do ACR
gerada com os parâmetros automáticos, foram realizadas periodicamente
imagens do fantoma desde o mês de outubro do 2015 até o mês de janeiro de
2016, sendo adquiridas 60 imagens dele usando o modo auto-filtro, mantendo
sempre 4,5 cm de espessura.
O teste realizado consiste na avaliação da imagem do fantoma ACR, e requer a
visualização de no mínimo 4 fibras, 3 massas e 3 grupos de microcalcificações,
além disso foi realizado o teste de CNR e de SNR em cada imagem. Em todas
as imagens avaliadas, houve conformidade na visualização das fibras, massas
e grupos de microcalcificações. As medidas necessárias para o cálculo da CNR
e SNR foram realizadas na imagem raw usando o software Jivex versão 4.6.3,
63
como é mostrado na Figura 4.8. As medidas do MPV foram realizadas na massa
de maior tamanho registrada na imagem, já que o uso do disco atenuador usado
geralmente, alterava a espessura de mama comprimida medida pelo
equipamento.
Figura 4.8. Medidas na imagem Raw do fantoma ACR Fonte: Autor
Os resultados da CNR e da SNR para as imagens dos meses avaliados podem
se observar nas Figuras 4.9 e 4.10 respectivamente.
Figura 4.9. Seguimento do 𝐶𝑁𝑅 no fantoma ACR Fonte: Autor
0 20 40 60 80 100 120
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
2,9
2,5
3,3
3,1
Ra
zã
o C
on
traste
-Ru
ído
Tempo (Dias)
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
JANEIRO
64
Figura 4.10. Seguimento do 𝑆𝑁𝑅 no fantoma ACR Fonte: Autor
O valor médio encontrado para o CNR e o SNR para esse período foi
𝐶𝑁𝑅 = 3,11 ± 0,09 e a 𝑆𝑁𝑅 = 52,4 ± 1,2. As flutuações nos valores podem estar
relacionadas com a temperatura do detector e da sala, a umidade e as diferenças
na calibração semanal do equipamento.
O teste de avaliação da qualidade da imagem indica que o valor da CNR na
imagem não pode variar mais de 15% do valor da CNR medido no teste de
aceitação, o qual foi de 2,9 para a massa de maior tamanho, e o valor da SNR
deve ser sempre maior ou igual a 50. Segundo estas condições, os valores de
CNR e SNR foram conformes, mostrando a estabilidade e bom funcionamento
do equipamento.
Para realizar a comparação dos parâmetros encontrados na otimização com os
parâmetros automáticos, foram realizadas dez imagens com cada combinação
de parâmetros encontrados na otimização, e medidas a CNR e SNR em cada
imagem para assim obter a média e seu desvio. Os resultados encontrados estão
apresentados na tabela 4.9.
0 20 40 60 80 100 120
20
30
40
50
60
70
47,2
57,6
52,4
Razão S
inal-R
uíd
o
Tempo (Dias)
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
JANEIRO
65
Tabela 4.9. Comparação das características das imagens adquiridas com os parâmetros
automáticos e com os parâmetros otimizados
PARÃMETRO FÍSICO PARÂMETROS
AUTOMÁTICOS
Mo/Mo
PARÂMETROS OTIMIZADOS
Mo/Rh
kVp 28 30 31
mAs 75 50 40
𝑪𝑵𝑹 3,11 ± 0,09 3,08±0,02
(-0,9%)
2,45±0,05
(-16,4%)
𝑺𝑵𝑹 52,4 ± 1,2 52,0±0,6
(-0,7%)
46,3±0,3
(-11,9%)
Fonte: Autor
As imagens obtidas do ACR com os parâmetros físicos otimizados, agora estão
sendo comparadas com as imagens do ACR obtidas utilizando-se o sistema
automático AEC. Usamos para sua comparação duas métricas já bem
estabelecidas como são a CNR e a SNR. A imagem adquirida com a combinação
de parâmetros Mo/Rh com 30 kVp e 50 mAs, apresenta igual valor quanto da
CNR como da SNR comparada com a imagem automática, considerando-se as
incertezas envolvidas. Mas a DGM associada ao uso dos parâmetros
automáticos é 26% maior que a DGM calculada para os parâmetros obtidos na
otimização. Ou seja, os parâmetros físicos Mo/Rh com 30 kVp e 50 mAs são os
parâmetros otimizados, pois são os parâmetros de aquisição que vão fornecer a
melhor relação entre qualidade da imagem e dose na paciente com mama 4,5
cm de espessura e 50% de glandularidade, e que comparados com os
parâmetros automáticos, adquirem uma imagem de igual qualidade, mas com
uma DGM reduzida em 26%.
66
6. CONCLUSÕES
A partir do resultado da FOM para mama de espessura 4,5 cm, se conclui
que com a utilização da combinação Mo/Rh, é possível obter imagens com
os parâmetros de qualidade requeridos, depositando menor dose de radiação
no tecido glandular, em comparação com a dose fornecida com a combinação
Mo/Mo para a mesma espessura de mama.
Foram encontrados com o processo de otimização parâmetros físicos que
adquirem uma imagem conforme com o análise contraste-detalhe realizado
com o objeto CDMAM e também com os testes de SNR e CNR realizados
com o fantoma ACR, mostrando que satisfazem os parâmetros de qualidade
para as diferentes métricas aplicadas.
A comparação dos parâmetros otimizados com os selecionados pelo modo
Auto-Filter do mamógrafo testado, mostram que o AEC do equipamento
poderia ser reajustado para otimizar a relação entre qualidade da imagem e
dose de radiação para a espessura de mama de 4,5 cm e composição 50/50.
A combinação de parâmetros físicos de aquisição da imagem obtida neste
trabalho, só pode ser utilizada no modelo do equipamento estudado, mas a
metodologia proposta pode ser utilizada em qualquer tipo de mamógrafo
digital, e também para outras espessuras e composições de mama.
A FOM utilizada é uma ferramenta útil para avaliar o processo de formação
da imagem, devido ao uso de uma métrica objetiva para comparar a
qualidade da imagem de diferentes processos de aquisição e além disso, leva
em consideração a dose de radiação associada ao risco radio-induzido.
67
REFERÊNCIAS AICHINGER H. et al. Radiation exposure and image quality in X-Ray diagnostic
radiology. Springer 2nd ed. Berlin, 2012.
ALMEIDA C. Otimização da dose glandular média na mama e da qualidade da
imagem nos sistemas de mamografia digital. Tese (Doutorado em Ciências)
Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2014.
BALDELLI P.; PHELAN N.; EGAN G. Investigation of the effect of anode/filter
materials on the dose and image quality of a digital mammography system based
on an amorphous selenium flat panel detector. The British Journal of Radiology.
London, v. 83, n. 988, p. 290-295, 2010.
BECKETT J. R.; KOTRE C.J. Dosimetric implications of age related glandular
changes in screening mammography. Physics in Medicine and Biology. London,
v. 45, p. 801-813. 2000.
BORG M.; BARD I.; ROYLE G. J. The use of figure-of-merit (FOM) for
optimization in digital mammography: A literature review. Radiation Protection
Dosimetry, Oxford, v. 151, n. 1, p. 81-88, 2012.
BORG M.; BADR I.; ROYLE G. J. Mammography equipment performance, image
quality and mean glandular dose in Malta. Radiation Protection Dosimetry.
Oxford, v. 156, p. 168-183, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria/ MS/SVS 453, de 1º de junho de 1998.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil) [Internet]. Brasília, DF.
Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/453_98.htm>.
______. Radiodiagnóstico Médico: desempenho de equipamentos e segurança.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Brasília, 2005.
BUSHBERG J. et al. Mammography. In: The essential physics of medical
imaging. Philadelphia, n.3, p. 238-276, 2012.
68
CHEVALIER M.; TORRES R. Mamografía digital. Artículo de revisión. Revista de
Física Medica. V. 11(1), p. 11-26, 2010.
CUNHA D. M.; TOMAL A.; POLETTI M. E. Optimization of x-ray spectra in digital
mammography through Monte Carlo simulations. Physics in Medicine and
Biology. London, v.57, p. 1019-1935, 2012.
DANCE D. R. Monte-Carlo calculation of conversion factors for the estimation of
mean glandular breast dose. Physics in Medicine and Biology. London, v. 30, n.
9, p 1211-1219. 1990.
DANCE D. R. et al. Additional factors for the estimation of mean glandular breast
dose using the UK mammography dosimetry protocol. Physics in Medicine and
Biology. London, v. 45, p 3225-3240. 2000.
DELIS H. et al. Evaluating the figure of merit in mammography utilizing Monte
Carlo simulation. Nuclear Instruments and Methods in Physics Research. v.580,
n.1, p. 493-496, 2007.
EUROPEAN COMMISSION. European guidelines on quality criteria for
diagnostic radiographic images. EUR 16260, Brussels. 1996.
______. European guidelines for quality assurance in breast câncer screening
and diagnosis. Officer for Official Publications of the European Communities,
4th ed. Luxembourg. 2006.
______. European protocol on dosimetry in mammography. EUR 1623.
Luxembourg. 1996.
FAUSTO A. M. F. Estudo de otimização de imagem e dose em mamografia
digital. 2013. 138f. Tese (Doutorado em Física) - Universidade de Aveiro,
Portugal, 2013.
FINCH A. et al. Assurance of quality in the diagnostic imaging department. The
British Institute of Radiology, 2nd. ed. London, 2001.
69
FURQUIM T. A. C.; COST, P. R. Garantia de qualidade em radiologia
diagnóstica. Revista Brasileira de Física Médica. Revista Brasileira de Física
Médica, Ribeirão Preto, v. 3, n. 1, p. 91-9, 2009.
FURQUIM T. A.; NERSISSIAN D. Y. Estudos de otimização de dose e qualidade
de imagem em processos de transição tecnológica em mamografia. Revista
Brasileira de Física Médica, Ribeirão Preto, v. 4, n. 3, p. 11-4, 2011.
HASEGAWA B. H. Medical – X Ray Imaging. Madison: Medical Physics
Publishing Company, 1991.
HEMDAL B. et al. Average glandular dose in routine mammography screening
using a Sectra MicroDose Mammography unit. Radiation Protection Dosimetry.
V.2015, n.1-3, p. 436-443, 2005.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Estimativa 2016: Incidência de
Câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva,
Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro, 2015.
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY (IAEA). Quality assurance
Programme for Digital Mammography. IAEA, Human Health Series 17. Vienna.
2011.
INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION (ICRP).
Recommendation of the ICRP. New York. Pergamon Press, Publication 60,
Annals of the ICRP 21, n. 1-3. 1991.
KANAGA K. C. et al. A critical comparison of three full field digital mammography
systems using figure of merit. Medical Journal of Malaysia. Kuala Lumpur, v. 65,
n. 2, p. 119-122, 2010.
KARSSEMEIJER N.; THIJSSEN M. Determination of contrast-detail curves of
mammography systems by automated image analysis. Proceedings of the 3rd
International Workshop on Digital Mammography. Elsevier, Amsterdam. P.155-
160, 1996.
70
LANCASTER J. L. Physics of Medical X-Ray Imaging. University of Texas Health
Science Center. San Antonio. 2010.
MACKENZIE A. et al. Breast cancer detection rates using four different types of
mammography detectors. European Society of Radiology. 2015.
MAKI A. K. et al. A task-based quality control metric for digital mammography.
Physics in Medicine and Biology. London, v. 59, p. 6621-6635, 2014.
MICHAELSON J. et al. The Pattern of Breast Cancer Screening Utilization and
Its Consequences. Cancer. V.94, n1, p. 37-43, 2002.
______.Predicting the Survival of Patients with Breast Carcinoma using Tumor
Size. Cancer. V.95, n4, p. 713-723, 2002.
MORGAN M. P.; COOKE M. M.; McCARTHY G. M. Microcalcifications
associated with breast cancer: an epiphenomenon or biologically significant
feature of selected tumors? Journal of Mammary Gland Biology and Neoplasia.
New York, v.10, n. 2, p. 181-187, 2005.
ONGEVAL C. et al. Clinical image quality criteria for full field digital
mammography: a first practical application. Radiation Protection Dosimetry.
V.129, n.1-3, p. 265-270, 2008.
ONTARIO ASSOCIATION OF RADIOLOGISTS (OAR). Delivering Modern
Digital Mammography in Ontario: A Plan to Modernise Ontario’s Mammography
Equipment. [Internet]. OAR, 2010. Disponível em:
http://www.oar.info/pdf/OAR_DIGITAL_MAMMO_EQUIP.pdf
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Breast Cancer: Estimated
Incidence, Mortality and Prevalence Worldwide in 2012 [Internet]. GLOBOCAN,
2012. Disponível em: http://globocan.iarc.fr/Pages/fact_sheets_cancer.aspx
POGUE B. W. Image analysis methods for diffuse optical tomography. Journal of
Biomedical Optics. V. 11, n. 5, p. 330, 2006.
71
PISANO E. D. et al. Diagnostic Performance of Digital versus Film Mammography
For Breast-Cancer Screening. The New England journal of Medicine. v.353, n.
17, p. 1773-83, 2005.
QIAN X. Fundamentals of digital mammography. In: Markey M. Physics of
mammographic imaging. London, p. 3-10, 2013.
RANGER N. T.; LO J. K.; SAMEI E. A. A technique optimization protocol and the
potential for dose reduction in digital mammography. Medical Physics. V. 37, n.
3, p. 962-969, 2010.
SAMEI E. et al. Framework for optimising the radiographic technique in digital X-
ray imaging. Radiation Protection Dosimetry. Oxford, v. 114, n.. 1-3, p. 220-229.,
2005.
SMITH A. Fundamentals of Digital Mammogrphy: physics, tecnology and
practical considerations. Radiology management. 2003.
SMITH R.A.; DUFFY S.; TABAR L. Breast cáncer screening: the evolving
evidence. Oncology. New York, v.26, n.5, p. 471-486, 2012.
TAUHATA L. Radioproteção e Dosimetria: fundamentos. IRD/CNEN. Rio de
Janeiro, v.4. 2002.
TOMAL A. et al. Experimental evaluation of the image quality and dose in digital
mammography: Influence of x-ray spectrum. Radiation Physics and Chemistry.
V. 116, p. 282-286, 2015.
WARREN L.M. et al. Effect of image quality on calcification detection in digital
mammography. Medical Physics. v. 39, p. 3202-3213, 2012.
WEBER J.P. et al. Screening outcome and surgical treatment during and after
the transition from screen-film to digital screening mammography in the south of
The Netherlands. International journal of cancer. V.137, p. 135-143, 2015.
WILLIAMS M. B. et al. Optimization of exposure parameters in full field digital
mammography. Medical Physics. V. 35, n. 6, p 2414-2423, 2008.
72
YAFFE M. J. et al. Comparative performance of modern digital mammography
systems in a large breast screening program. Medical Physics. V.40, n.12, p.
121915-1-121915-10, 2013.
YAFFE M.J.; MAINPRIZE J. G. Technical developments in mammography.
Health physics. V.95, n.5, p. 599-611. 2008.
______.Risk of Radiation-induced Breast Cancer from Mammographic
Screening. Radiology. V.258, p. 98-105, 2011.
YAFFE M. J.; HILL M. L. Contrast-Enhanced digital mammography. In: Markey
M. Physics of mammographic imaging. London, p. 12, 2013.
YOUNG K. C. et al. Optimal beam quality selection in digital mammography. The
British journal of radiology. London, v. 79, p. 981-990, 2006.
YOUNG K. C.; RAMSDALE M. L.; BIGNELL F. Review of dosimetric methods for
mammography in the UK breast screening programme. Radiation Protection
Dosimetry. V. 80, n. 1-3, p. 183-186. 1998.
ZANCA F. et al. The relationship between the attenuation properties of breast
microcalcifications and aluminum. Physics in Medicine and Biology. London,
v.55, p. 1057-1068, 2010.