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JOÃO VIANEY MARVAL SILVA ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO DE CAROBA, IRARÁ-BAHIA FEIRA DE SANTANA 2008 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

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1

JOÃO VIANEY MARVAL SILVA

ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO DE CAROBA, IRARÁ-BAHIA

FEIRA DE SANTANA 2008

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

i

JOÃO VIANEY MARVAL SILVA

ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO DE CAROBA, IRARÁ-BAHIA

Monografia de Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à disciplina Projeto Final I, como requisito para obtenção do Grau de Engenheiro Civil.

Prof. Dr. Jardel Pereira Gonçalves Orientador

Prof. Dr. Washington Almeida Moura

Co-orientador

Feira de Santana 2008

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ii

João Vianey Marval Silva

ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NA IGREJA DE NOSSA

SENHORA DO LIVRAMENTO DE CAROBA, IRARÁ-BAHIA

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de Título de

Bacharel em Engenharia Civil, da Universidade Estadual de

Feira de Santana..

Feria de Santana, 15 de abril de 2008

Banca Examinadora:

___________________________________________

Prof. Dr. Jardel Pereira Gonçalves (Orientador) Universidade Estadual de Feira de Santana

___________________________________________

Prof. Dr. Washington Almeida Moura (Co-orientador) Universidade Estadual de Feira de Santana

__________________________________________

Profª. Drª. Mônica Batista Leite Lima Universidade Estadual de Feira de Santana

iii

“Vê mais longe a gaivota que voa mais alto.”

Richard Bach em

Fernão Capelo Gaivota

iv

Dedico este trabalho a minha família

pelo apoio em toda minha caminhada.

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me dar força nos momentos de fraqueza e adversidade e

pelos momentos bons que a vida me proporciona.

Agradeço aos Profs. Jardel Pereira e Washington Moura pela disposição e atenção

na orientação. Como também à Prof. Eufrosina pelos incentivos durante as aulas de

Projeto Final.

Agradeço, na pessoa da Historiadora Marilda Nogueira Ramos, a toda a

comunidade do município de Irará, em especial os moradores do povoado de Caroba e

os interessados pela Capela de N. Sra. do Livramento, pela atenção e apoio, sem o qual

esse trabalho não poderia ter sido realizado.

A minha querida Priscila, grande companheira em minha vida.

A todos os meus amigos e colegas pelo apoio durante a construção deste trabalho,

em especial Flávio Pimentel, Natson Gama, Cleber Marins, Manoela Santa Rosa e

Marçalo Scarante.

E a todos que direta e indiretamente auxiliaram na produção dessa monografia.

vi

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS..................................................................................................viii

RESUMO..........................................................................................................................x

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................01

1.1 JUSTIFICATIVA ..........................................................................................02

1.2 OBJETIVOS ..........................................................................................02

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................03

2. PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES....................................................................04

2.1 METODOLOGIA DE ABORDAGEM DOS PROBLEMAS

PATOLÓGICOS ......................................................................................................06

2.1.1 Levantamento de subsídios ......................................................07

2.1.2 Anamnese do objeto ..................................................................07

2.1.3 Exames complementares .......................................................07

2.1.4 Pesquisa ..........................................................................................08

2.2 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO...............................................................09

2.2.1 Madeira...........................................................................................09

2.2.2 Terra crua........................................................................................10

2.2.3 Materiais cerâmicos........................................................................13

2.2.3.1 Telhas...............................................................................13

2.2.3.2 Tijoleiras e ladrilhos.........................................................14

2.3.4 Revestimento..................................................................................14

2.3.5 Pintura............................................................................................15

2.3 NOÇÕES DE MANUTENÇÃO (CONSERVAÇÃO) PARA

MONUMENTOS ANTIGOS ..............................................................................15

3. ESTUDO DE CASO: LEVANTAMENTO DAS MANIFESTAÇÕES

PATOLÓGICAS............................................................................................................17

vii

3.1 Histórico do município e caracterização do objeto........................................17

3.2. Levantamento das manifestações e terapêutica............................................22

3.2.1 Visão Geral e ambiente externo......................................................23

3.2.2 Copiar..............................................................................................24

3.2. Nave..................................................................................................26

3.2.4 Capela-mor......................................................................................27

3.2.5 Sacristia...........................................................................................30

3.2.6 Sacristia (sem uso no momento).....................................................31

3.2.7 Ambiente desocupado.....................................................................33

3.2.8 Sala das almas.................................................................................34

4. COMPARATIVO COM A CAPELA DE BENTO SIMÕES................................36

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................40

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................41

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Fluxograma para investigação de um problema patológico.....................06

Figura 2.2 Meios de degradação da terra crua...........................................................12

Figura 3. Mapa de localização: Irará-Ba.................................................................18

Figura 3.2 Fachada principal da capela.....................................................................19

Figura 3.3 Croqui da capela de N. Srª. do Livramento.............................................20

Figura 3.4 Alvenaria de pedra irregular no salão das almas.....................................21

Figura 3.5 Alvenaria de adobe no salão das almas....................................................21

Figura 3.6 Contrafortes nos fundos da capela...........................................................21

Figura 3.7 Vista do Púlpito na Nave da capela.........................................................22

Figura 3.8 Problemas identificados na área externa (a) Degradação do passeio ao

redor da capela (b) Descolamento de revestimento por choque mecânico......................24

Figura 3.9 Manifestações patológicas apresentadas no Copiar (a) Fissuras no frontão (b)

Deterioração da tesoura em madeira, (c) Aspecto do telhado com telhas quebradas......25

Figura 3.10 Ocorrências na Nave (a) eflorescências no apoio de uma das tesouras, (b)

detalhe da eflorescências e degradação de apoio de uma das tesouras, (c)infiltração das

águas pluviais, (d) desgaste da tijoleira...........................................................................27

Figura 3.11 Problemas encontrados na Capela-mor (a) eflorescências e descolamento da

pintura, (b) detalhe do retábulo em madeira, (c) degradação da tijoleira, (d) forro em

madeira abobadada, (e) fissura no arco da Capela-mor...................................................29

Figura 3.12 Problemas identificados na Sacristia (a) recomposição inadequada de

frechal (b) estado inicial do descolamento de revestimento, (c) detalhe da seteira.........31

Figura 3.13 Manifestações patológicas verificadas na sacristia sem uso (a) degradação

da seteira (b) recomposição de revestimento (c) eflorescências no pano de parede.......32

Figura 3.14 (a) infiltração pela seteira (b) lixiviação do revestimento de barro, (c)ataque

de carunchos....................................................................................................................34

ix

Figura 3.15 Anomalias verificadas na Sala das Almas (a) danos na alvenaria em adobe

(aparente) (b) detalhe do telhado (c) desagregação na alvenaria de pedra e terra crua...35

Figura 4.1 Croqui da Capela de Conceição de Bento Simões 36

Figura 4.2Capela de Conceição de Bento Simões: (a) fachada principal, (b) altar-mor.37

Figura 4.3 (a) Escora em tesoura, (b) Detalhe da Escora................................................38

Figura 4.4 Problemas encontrados no telhado (a) e (b) peças substituídas.....................38

Figura 4.5 (a) e (b)Urnas com restos mortais de membros da família Costa Pinto.........39

x

RESUMO

A preocupação com a preservação de marcos históricos vem desde os primórdios

da civilização. Contudo, os monumentos sofreram séculos de degradação sem a devida

conservação. Assim se faz necessário ações mais profundas e complexas, no intuito de

restituir a função e características dos produtos da atividade humana.

Este trabalho estará concentrado em efetuar o levantamento das manifestações

patológicas na Capela de Nossa Senhora do Livramento de Caroba, Irará, Bahia; como

também estabelecer um comparativo entre o objeto de estudo e a Capela do Livramento

de Bento Simões.

Dessa forma, o trabalho proposto visa promover a reflexão sobre a ação em

intervenções em monumentos históricos e culturais pela necessidade de uma

manutenção preventiva eficiente e um esforço multidisciplinar nas obras de restauração.

Palavras-chave: restauração, monumentos históricos, patologia das construções.

1

1. INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização, o homem tem inerente a si a idéia de preservar o

produto de seu trabalho. A ação de preservar tem garantido a possibilidade de inter-relacionar

passado e presente, construindo uma memória que fortalece a consciência histórica de

diferentes culturas.

Pelo rápido desenvolvimento tecnológico, que vem causando mudanças no aspecto das

cidades e eliminando vestígios dos tempos passados, “a preservação do patrimônio cultural é

uma preocupação contemporânea, relacionada à preservação da nossa memória e dos nossos

antepassados e ao que nossa sociedade deixará para o futuro.” (COELBA, 2007)

A preservação é definida pela Carta de Restauro (ITÀLIA, 1972) do Ministério de

Instrução Pública do Governo da Itália, como salvaguarda, ou seja, “qualquer medida de

conservação que não implique a intervenção direta na obra”. É perceptível, atualmente, que a

conservação não é suficiente. Os monumentos sofreram séculos de degradação sem a

manutenção devida, fugindo da tendência internacional, gerando a necessidade de uma

intervenção efetiva, o restauro propriamente dito. Por essa razão se criou o instrumento

jurídico, chamado “tombamento”, que consiste segundo o IPHAN (2007), num “ato

administrativo pelo poder público, na esfera federal, municipal e/ou estadual para assegurar

a preservação de bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e afetivo para a

população”. O tombamento agrega valor ao imóvel, do ponto de vista turístico e comercial,

não impedindo ou restringindo seu uso.

Uma vez solicitado o tombamento de um bem a um órgão de preservação, é aberto um

processo para avaliar se o pedido é pertinente. Para isso, são colhidas inúmeras informações

técnicas para instruir o processo que, ao final, será julgado pelos conselheiros do órgão.

O tombamento de um bem gera a possibilidade de conseguir recursos de empresas

públicas e/ou privadas para a realização das obras de Conservação/Restauração.

Segundo BRANDI (2004), “entende-se por restauração qualquer intervenção voltada a

dar novamente eficiência a um produto da atividade humana. É um tratamento mais profundo

e complexo, constituído de intervenções mecânicas e químicas, estruturais e/ou estéticas, com

a finalidade de revitalizar um bem cultural, respeitando a integridade e as características

históricas, estéticas e formais do bem cultural.”

Nesse ponto, se configura a importância da análise das manifestações patológicas,

delimitando onde se faz necessária à intervenção, e garantindo a revitalização e a adaptação

do objeto ao seu uso; como também a importância da manutenção preventiva recomendada e

2

realizada por profissionais especialistas em patologia das edificações e das estruturas, para a

conservação dos monumentos de interesse histórico e cultural.

1.1 JUSTIFICATIVA

A Capela de Nossa Senhora do Livramento, situada no Distrito de Caroba, município de

Irará-BA, começou a ser construída no final do século XVII e só foi concluída no final do

século XVIII. A Capela é de grande importância, por ser umas das primeiras construções da

região, que abrigava os tropeiros que traziam os rebanhos para Feira de Santana-BA. Na

Capela já foram feitas três intervenções. A última no ano de 1992, mas apresenta avançado

estado de degradação, se fazendo necessária a intervenção imediata.

A conservação dos monumentos históricos na Bahia foi colocada em evidência após o

Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador que “funcionou como uma

campanha educativa espontânea, vindo assim a promover a conscientização sobre o valor

cultural dos diversos monumentos históricos e artísticos espalhados pelos mais diversos

pontos do Estado da Bahia” (BAHIA, 1995). Várias comunidades vêm se mobilizando e se

organizando para proverem meios e recursos necessários para a recuperação, conservação e

manutenção de seus bens patrimoniais.

Neste contexto, além do caráter emergencial da intervenção, faz-se necessário o

levantamento das manifestações patológicas para se delimitar onde e em que grau deve ser

feita a ação para recomposição das características e da funcionalidade da Capela de N. Sra. do

Livramento. Propõe-se também medidas para manutenção preventiva de monumentos

históricos.

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral desse trabalho é efetuar o levantamento das manifestações patológicas

presentes na Igreja de Nossa Senhora do Livramento de Caroba, município de Irará-BA.

Os objetivos específicos são:

a) elaborar um quadro das manifestações patológicas existentes nos elementos construtivos

do objeto de estudo;

b) auxiliar a comunidade de Caroba no processo de intervenção imediata no objeto estudado.

3

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

A estrutura deste trabalho está dividida em seis capítulos, conforme apresentado a

seguir.

No primeiro capítulo apresenta-se a introdução, a justificativa e os objetivos a serem

alcançados.

O segundo capítulo traz a revisão sobre patologia das edificações, citando problemas das

edificações antigas, além dos materiais que sofrem degradação no objeto de estudo.

O terceiro capítulo apresenta um resumo da história do município de Irará-BA,

contemplando a história da Capela de N. Srª. do Livramento, situada no Distrito de Caroba,

destacando sua importância regional. Serão avaliados os métodos construtivos utilizados na

Igreja, para, posteriormente, ser feito o levantamento das manifestações patológicas nos

diversos componentes do objeto (alvenaria, cobertura, revestimento, etc).

O quarto capítulo apresenta o comparativo das características da Capela situada em

Caroba e a Capela de Bento Simões, construídas no mesmo período.

No quinto capítulo, são feitas as considerações finais sobre o trabalho desenvolvido.

No sexto, são apresentadas as referências bibliográficas utilizadas para o

desenvolvimento desta monografia.

4

2. PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

Patologia é a ciência que estuda a origem, os sintomas e a natureza das doenças. No caso

das construções, patologia é o estudo sistêmico dos defeitos existentes nas construções tais

como: fissuras, descolamentos, deformações, rupturas, etc. Um problema patológico pode ser

entendido como uma situação em que o edifício ou parte dele, num determinado instante da

vida útil, não apresenta o desempenho previsto.

Segundo CANOVAS (1988), na Mesopotâmia, há quatro mil anos, o Código de

Hamurabi já assinalava regras para prevenir defeitos nos edifícios, sendo pois o primeiro

tratado conhecido sobre Patologia das Construções.

Não é possível precisar se os problemas patológicos das construções aumentaram nos

últimos anos, pois não havia estatísticas nessa área.

De acordo com CANOVAS (1988), as causas mais freqüentes dos problemas

patológicos, podem ser classificados da seguinte forma:

a) Uso normal

b) Utilização

b.1) Em condições normais

b.2) Em condições desfavoráveis

c) Modificações do solo e ação dos lençóis freáticos

d) Influências externas

e) Movimentos sísmicos ou ações similares de tipo oscilatório

f) Utilização inadequada

g) Erros

g.1) de projeto

g.2) de execução

h) Causas inevitáveis

As manifestações patológicas causadas pelo uso normal e utilização são decorrentes dos

fenômenos inevitáveis de degradação, fruto do envelhecimento dos materiais. Os defeitos da

5

estrutura vão exercer enorme influência na intensidade dos danos, diminuindo a vida da

estrutura. A manutenção e a vigilância periódica vão contribuir para a conservação em estado

normal.

As condições referentes a causas naturais são totalmente imprevisíveis, mas alguns

podem ser previstos como recalque de alicerces, ações sísmicas e vibrações. Conhecer as

características da região pode diminuir ou eliminar danos, mediante a adoção de medidas

preventivas. Esses danos nem sempre podem ser restaurados, devolvendo a funcionalidade ou

dar resistência novamente à estrutura.

Já as condições de utilização inadequada e erros de projeto e/ou execução, são as que se

apresentam como as condições que representam a maior porcentagem de danos evitáveis. Os

seus efeitos costumam anunciar-se e podem ser eliminadas na execução. Mas, se aparecerem

já em carga, deve-se encontrar a origem e o progresso, a fim de realizar a reparação ou reforço

conveniente e necessário.

É necessário para o levantamento das manifestações patológicas, delimitar qual será a

forma de inspeção no objeto e as etapas a serem seguidas. Para um perfeito conhecimento das

causas do aparecimento das manifestações patológicas numa obra é necessário que o

profissional conheça os materiais empregados e seus meios de degradação, os sistemas

construtivos utilizados e o tipo de estrutura que compõem a obra. Só assim, é possível

determinar os mecanismos de degradação do imóvel.

6

2.1 METODOLOGIA DE ABORDAGEM DOS PROBLEMAS PATOLÓGICOS

Baseado no trabalho de Barros et al. (1997), será utilizado o método de investigação das manifestações patológicas conforme apresentado na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Fluxograma para investigação de um problema patológico

(BARROS et. al, 1997)

7

A 1ª e a 2ª etapas do fluxograma acima apresentado serão tratadas no objeto de estudo.

Já a 3ª etapa, por se tratar de um monumento histórico regional, fica a cargo da restauração,

considerando as limitações dadas ao objeto tombado, não será tratada nesse trabalho.

2.1.1 Levantamento de subsídios

A 1ª etapa é importante, pois as demais dependerão de sua eficiência. Nela são

levantadas as manifestações presentes, através da elaboração de um quadro geral, onde devem

ser relatadas as evidências que provocaram a queda no desempenho.

Deve ser feita a vistoria do local e, em cada componente do objeto, determinar a

existência e a gravidade do problema patológico. Uma vez determinado isso, deve-se verificar

a extensão do problema, se localizada ou generalizada. É de fundamental importância a

condução dos serviços necessários ao levantamento pelo restaurador responsável, para que ele

apure a sua sensibilidade ao interpretar o edifício na leitura dos fatos, garantido pela

aproximação do responsável pelo objeto.

2.1.2 Anamnese do objeto

“Termo de origem médica que significa ‘conjunto de informações acerca de princípios

e evolução de uma doença’. Em restauração diz respeito à pesquisa e à reconstituição das

diversas intervenções executadas em datas anteriores.” (HOLANDA, 1986 apud

PUCCIONI,1997)

Quando há escassez de dados para o diagnóstico dos problemas na vistoria, deve-se

buscar o histórico do edifício, os métodos construtivos e as atividades na construção, que

possam ter contribuído para o surgimento do problema. Essa consulta deve ser feita pela

análise de documentos e, dependendo da fase em que se encontra o empreendimento, contato

com pessoas envolvidas com o empreendimento, através de entrevistas.

2.1.3 Exames complementares

Quando não for possível caracterizar a natureza das manifestações pelas avaliações

anteriores, efetuam-se exames. Seja no local ou em laboratório, de natureza destrutiva ou não-

8

destrutiva. Esses ensaios têm como objetivo quantificar e qualificar o comportamento físico-

químico dos materiais.

Para exemplificar, segundo CARASEK & CASCUDO (1997), “...para o diagnóstico de

problemas patológicos em revestimentos de argamassa, bem como para a caracterização

química e mineralógica de argamassas antigas (com fins de especificação de novas

argamassas), dentro dos procedimentos de restauração. As técnicas em questão são a

reconstituição de traço, a difração de Raios X e a microscopia eletrônica de varredura.”

2.1.4 Pesquisa

Tendo chegado à conclusão de que não se consegue diagnosticar o problema, devem-se

computar dados a partir de pesquisa em textos científicos e/ou experimentos realizados, a fim

de encontrar referências análogas à situação em que se encontra.

9

2.2 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

2.2.1 Madeira

Segundo BAUER (1994), nada mais oportuno que apresentar as madeiras como um

material excepcional e como matéria-prima industrial de múltiplo aproveitamento. Material e

matéria-prima que acompanham e sustentam a civilização desde os primórdios.

As madeiras em seu estado natural têm características próprias que podem ser alteradas

com tecnologias modernas.

Como material de construção tem todo um conjunto de características técnicas,

econômicas e estéticas que dificilmente se encontram em outro material existente. Assim, esse

material, segundo PUC-PR (2007):

- apresenta resistência mecânica tanto a esforços de tração com à compressão, além de

resistência à tração na flexão;

- tem resistência mecânica elevada em relação a seu peso próprio;

- tem resistência a choques e cargas dinâmicas, absorvendo impactos que dificilmente seriam

absorvidos por outros materiais;

- tem fácil trabalhabilidade, permitindo ligações simples;

- boa característica de absorção acústica e bom isolamento térmico;

- custo reduzido e é renovável, desde que convenientemente preservada;

- apresenta diversos padrões de qualidade e estéticos.

Mas vale ressaltar que só foi reconhecido como moderno material de construção, após

técnicas de beneficiamento a pouco desenvolvidos, que anularam suas características

negativas, quais sejam:

- perda de propriedades e surgimento de tensões internas secundárias devido a problemas de

secagem e umidade. Estes problemas são resolvidos com controle de umidade e de secagem

artificial;

- fácil deterioração em ambientes agressivos que desenvolvam predadores como fungos,

cupins, mofo, etc.;

10

- heterogeneidade e anisotropia naturais de sua constituição fibrosa, além de suas dimensões

limitadas, podendo estes inconvenientes serem resolvidos pela laminação, contra placados e

aglomerados.

Nos dias atuais, encontra-se a madeira na construção de casas e prédios com poucos

pavimentos, na execução do barroteamento de assoalhos, na construção de telhados, como

“esqueleto” de paredes de prédios antigos executados com blocos e em estacas de fundações.

As estruturas de madeira mais antigas têm resistido, apesar de não serem feitas

manutenções periódicas, porque eram dimensionadas com elevados coeficientes de segurança,

comparando-se com a. Deste modo, toda a construção do período colonial, sob o ponto de

vista de estabilidade, apresenta folga nas suas seções transversais.

OLIVEIRA (1995), apresenta como principais causas de degradação:

- o apodrecimento causado por fungos e bactérias, já que a madeira tem substâncias orgânicas,

umidade e maciez adequadas à proliferação tanto de fungos quanto de bactérias;

- ataque de insetos xilófagos, devido à presença de umidade e ar;

- ataque de moluscos e crustáceos, sejam eles incrustantes ou perfurantes;

- ação do fogo (as madeiras deterioradas são mais combustíveis);

- e outros agentes, como o vento, a ação química da poluição, etc.

Na busca de preservar as estruturas de madeira pode-se efetuar a impregnação com

substâncias tóxicas, seja sem pressão (por pincelamento ou por imersão) ou sob pressão

(Processo Bethell- vácuo ou Processo Rueping- pressão). Além disso, de forma preliminar,

pode-se efetuar o descortiçamento (aumentando a permeabilidade à solução do produto), o

desseivamento (uma espécie de esterilização, no qual o vapor permite aumentar a

preservação), e/ou a secagem (aumenta a absorção e evita o fendilhamento).

2.2.2 Terra crua

Segundo SANTIAGO (2001), a crosta da Terra é formada de rochas e através de fatores

diversos, tais como a ação do intemperismo (agentes atmosféricos e biológicos), de animais e

vegetais e de práticas agrícolas, a rocha se desagrega e/ou se decompõe, originando o solo.

11

O solo é um material denso e resistente composto por uma mistura natural de diversos

minerais, às vezes contendo matéria orgânica, que pode ser escavado simplesmente com o uso

de equipamento manuais ou mecânicos, pouco sofisticados.

Segundo JUSTI PISANI (2004), a terra como matéria-prima na elevação de alvenarias,

de abóbadas e de outros elementos construtivos tem sido empregada desde o período pré-

histórico. Na Turquia, na Assíria e em outros lugares no Oriente Médio foram encontradas

construções com terra apiloada ou moldada, datando de 9000 a 5000 a.C. No Egito antigo os

adobes de terra crua, assentados com finas camadas de areia, eram utilizados na edificação de

fortificações e residências, e uma espécie de argamassa feita de argila e areia era material de

preenchimento de lajes de cobertura estruturadas com troncos roliços. As muralhas da China

também foram edificadas com argila apiloada entre alvenarias duplas de pedra.

As construções com a terra como a matéria-prima básica apresenta vantagens e

desvantagens em relação a outros materiais clássicos de construção, como apresentado por

JUSTI PISANI (2004).

Vantagens:

• a terra crua regula a umidade ambiental. O barro possui a capacidade de absorver e perder

mais rapidamente a umidade que os demais materiais de construção;

• a terra armazena calor. Como outros materiais densos como as alvenarias de pedra, o

barro armazena o calor durante sua exposição aos raios solares e perde-o lentamente

quando a temperatura externa estiver baixa;

• as construções com terra crua economizam muita energia e diminuem a contaminação

ambiental. As construções com terra praticamente não contaminam o ambiente, pois para

prepará-las necessita-se de 1 a 2% da energia despendida com uma construção similar em

concreto armado ou tijolos cozidos;

• o processo é totalmente reciclável. As construções com solo podem ser demolidas e

reaproveitadas múltiplas vezes. Basta fragmentar o material e voltar ao processo de

preparo da massa de terra.

Desvantagens:

• não é um material de construção padronizado. Sua composição depende das características

geológicas e climáticas da região. Podem variar composição, resistências mecânicas,

12

cores, texturas e comportamento. Para avaliar essas características são necessários ensaios

que indicam as providências corretivas para corrigi-las com aditivos;

• é permeável. As construções com terra crua são permeáveis e estão mais suscetíveis às

águas, sejam pluviais, do solo ou de instalações. Para sanar esse problema é necessária a

proteção dos elementos construtivos: seja com detalhes arquitetônicos ou com materiais e

camadas impermeáveis;

• há retração. O solo sofre deformações significativas durante a secagem gerando fissuras e

trincas.

OLIVEIRA (1995) apresenta como fatores de degradação dos elementos em terra crua:

- a água, sendo o fator mais importante (ver Figura 2.2), gera na argila expansão, plastificação

e o material sofre erosão. Devido à capilaridade, gerando eflorescências e subeflorescências;

- dilatação térmica;

- vibrações, seja por tráfego ou terremoto, devido à falta de coesão;

- a ação eólica, pela abrasão por areias transportadas ou pelo aerossol salino;

- biodegradação, seja pelas raízes de plantas ou por animais em geral, inclusive insetos;

- além do vandalismo, destruição, mau uso e falta de manutenção.

-

Figura 2.2- Meios de degradação da terra crua (OLIVEIRA,1995)

13

2.2.3 Materiais cerâmicos

Chama-se cerâmica, a pedra artificial obtida pela moldagem, secagem e cozimento de

argilas ou de misturas contendo argila. Segundo BAUER (1994), a indústria da cerâmica é

uma das mais antigas do mundo.

Desde cestas de vime com barro no período neolítico até a porcelana com os chineses no

século VII. A partir do surgimento da louça branca na Inglaterra, houve um grande

desenvolvimento dessa indústria, com o desenvolvimento de tipos especiais de fornos que

possibilitaram a obtenção de cerâmicas com dimensões exatas, porcelanas de alta resistência,

etc.

A característica mais significativa das cerâmicas nas construções é o fato do peso variar

muito de peça para peça. Outra característica igualmente importante para durabilidade é a

resistência ao desgaste, que depende da homogeneidade da argila empregada e da

uniformidade do processo de cozimento. Além delas, têm-se a porosidade do material. Vale

salientar que a elevação da umidade está intimamente relacionada à diminuição da sua vida

útil, visto que a ação da água poderá provocar desagregação da cerâmica.

2.2.3.1 Telha

“As telhas são peças fundamentais para a conservação das edificações, pois a grande

maioria dos danos inicia-se pela infiltração de água através do telhado, aproveitando-se

muitas vezes da má qualidade das peças empregadas”. (PUCCIONI, 1997)

Para a produção de telhas cerâmicas, deve ser utilizada argila fina e homogênea, nem

muito gorda nem muito magra (quantidade de colóides), a fim de ser impermeável sem grande

deformação no cozimento. As telhas devem ser menos deformáveis que os tijolos comuns, ser

mais leves e tão impermeáveis quanto possível. Convém registrar que a impermeabilidade é

aumentada com o tempo. Elas tem que ser lisas, para deixar a água escorregar facilmente e

para diminuir a proliferação de musgo. Mas as telhas de olaria apresentam essas

características minoradas tendo em vista seu menor controle na produção, são permeáveis em

um tempo menor (comparativamente com as telhas atuais, que apresentam melhor controle) e

não têm um bom controle dimensional, gerando vazamentos entre as telhas com o decorrer do

tempo.

14

Temos as normas NBR 8947: Telha cerâmica - Determinação da massa e da absorção de

água, a NBR 8948: Telha cerâmica - Verificação da impermeabilidade e a NBR 9602: Telha

cerâmica de capa e canal - Determinação de carga de ruptura à flexão, que delimitam as

diretrizes para avaliar as telhas e que precisam balizar a avaliação das telhas com processo de

fabricação artesanal.

2.2.3.2 Tijoleiras e ladrilhos

As tijoleiras e ladrilhos são tijolos de pequena espessura, usados em pavimentações. Por

isso existem desde os tipos porosos, comuns, até os tipos prensados. Costuma-se chamar

tijoleiras quando se trata de cerâmica comum, e ladrilhos quando se trata de cerâmica

prensada. Eles devem ter certa porosidade para facilitar a aderência das argamassas de

assentamento e revestimento.

2.2.4 Revestimento

As principais características que um revestimento deve ser: resistência aos choques e aos

esforços de abrasão, a durabilidade e a impermeabilidade (BAUER, 1994).

Os revestimento também aumentam a resistência das paredes e proporcionam

acabamento na mesma. Em ambiente externo, atuam como camada de proteção à infiltração

das águas de chuvas. Para o revestimento das paredes, iremos tratar dos revestimentos

argamassados.

As argamassas são materiais de construção compostas por uma pasta e agregado miúdo.

A pasta é formada por um ou mais aglomerantes e água (VERÇOZA, 1975). As argamassas

são muito empregadas na construção. Um de seus usos é como acabamento.

Em se tratando de um monumento antigo, não havia o advento do cimento, sendo a

argamassa de cal, em camada única; diferente das argamassas de cimento e areia que

apresentam duas camadas ou mais.

Para o revestimento de piso, apresenta-se os revestimentos não argamassados. Esses

revestimentos são constituídos de elementos naturais ou artificiais, assentados sobre emboço

de regularização e argamassa colante ou estruturas especiais de fixação, como chumbadores

para revestimento com mármore e adesivo para plástico.

15

2.2.5 Pintura

Segundo PETRUCCI (2007), compreende-se como tintas qualquer material de

revestimento, de consistência líquida ou pastosa, apto a cobrir, proteger e colorir a superfície

de um objeto.

A pintura precisa apresentar três funções: estética, valorizando o elemento protegido;

proteção, ajudando a conservar as peças que reveste, aumentando a durabilidade; e funcional,

podendo ajudar a distribuir a iluminação, melhorar a higiene e /ou auxiliar a segurança.

Na função de prevenção, segundo VERÇOZA (1991), a pintura é uma terapêutica

preventiva. Ela deve ser encarada com um revestimento de sacrifício. Em estruturas que

utilizem terra crua, é de fundamental importância, pois a ação das chuvas e do vento são

imensamente degradantes a esse material. Tendo em vista essa importância, os custos com a

pintura são compensados.

2.3 NOÇÕES DE MANUTENÇÃO (CONSERVAÇÃO) PARA MONUMENTOS

ANTIGOS

Segundo SOUZA & RIPPER (1998) "por manutenção preventiva entende-se aquela que

é executada a partir das informações fornecidas por inspeções levadas a efeito em intervalos

regulares de tempo, de acordo com critérios pré-estabelecidos de redução das probabilidades

de ruína ou degradação da estrutura, visando uma extensão programada de sua vida útil."

Sendo assim, são necessárias vistorias periódicas do local, sendo sua periodicidade

indicada por fatores, como: tipo de obra, agressividade do meio e uso. A NBR 14037 (ABNT,

1998) recomenda os seguintes procedimentos para inspeções técnicas das edificações:

a) definição da freqüência de inspeções necessárias para componentes, instalações e

equipamentos da edificação e da qualificação técnica necessária do responsável pela atividade

de inspeção;

b) definição de roteiros de inspeções na edificação, com destaque para a observação de itens

relacionados à segurança e salubridade, ou críticos ao funcionamento da edificação,

descrevendo as condições especiais de acesso necessárias a todos os componentes, instalações

e equipamentos não diretamente acessáveis, como a utilização de escadas, andaimes,

equipamentos especiais de iluminação e ventilação, etc. Em se tratando de obras de

16

importância históricas e culturais, a qualificação técnica necessária é de técnico-restaurador,

usando, quando necessário, de profissionais de áreas afins para compor o parecer.

Através das vistorias é feito o levantamento das manifestações patológicas presentes e

sua importância no comportamento dos elementos. Após o levantamento das manifestações e

a elaboração dos quadros resumo da inspeção, o técnico restaurador irá propor as terapêuticas

para cada situação. Além das vistorias periódicas, podem acontecer vistorias devido a

problemas específicos, devido a perda de desempenho de um determinado elemento da

estrutura.

Para uma eficiente manutenção (conservação) de monumentos antigos, em especial os

situados na zona rural, deve-se atentar à necessidade de uma rotina de limpeza periódica.

Segundo SOUZA & RIPPER (1998) “...sementes de plantas, carregadas por pássaros, pelo

vento ou pelas enxurradas, podem ser agentes causadores de sérios danos à estrutura”. Nos

telhados, por exemplo, a proliferação das raízes, provocam o deslocamento das fiadas e

quebra de telhas. Aconselha-se que todas as superfícies estejam limpas e isentas de poeira e

óleos.

17

3.ESTUDO DE CASO: LEVANTAMENTO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Para realização do levantamento das manifestações patológicas na Capela de N. Sra. do

Livramento foram feitas 03 (três) vistorias, que objetivaram relatar informações táctil-visuais.

Informações dos moradores e pesquisadores envolvidos com o objeto foram adquiridas nessas

vistorias como também em outras 02 (duas) que ocorreram quando da escolha do objeto para

estudo. Foi também realizada uma vistoria após a visita dos técnicos do IPAC (Instituto do

Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia), que ocorreu no último trimestre de 2007.

Visando balizar as informações referentes às manifestações patológicas presentes no objeto de

estudo, foi feita a coleta, organização e fichamento de livros técnicos, artigos e teses. Vale

destacar as referências obtidas na UFBA, seja na Biblioteca da Escola Politécnica, seja na

Biblioteca de Arquitetura e Urbanismo.

A Capela não possui muitas referências à seu respeito na literatura especializada, e o

foco da patologia das edificações antigas não é tema corrente nos livros e artigos técnicos na

Bahia. Além disso, pelo processo de tombamento, foi impossibilitada a tentativa de

prospecções no objeto como meio de identificar de forma clara a situação real dos elementos

construtivos, em especial da fundação. Ressalta-se também a falta de equipamentos para

ensaios não-destrutivos. Não foram feitos exames complementares na capela, se limitando-se

a análise visual e dados fornecidos pela comunidade e pelo IPAC (Instituto do Patrimônio

Artístico e Cultural do Estado da Bahia).

3.1 Histórico do Município e Caracterização do Objeto de Estudo: Capela de N. Srª. do

Livramento

“Com a chegada ao Brasil dos padres da Cia. de Jesus, nos meados do século XVI,

estes, com o objetivo de catequese dos silvícolas, internaram-se pelos sertões da Bahia e

dentre outros lugares chegaram ao território do atual município onde encontraram uma

aldeia tapuia, no ano de 1562, que veio a se chamar mais tarde Água Fria e na qual

passaram a residir e construíram uma igreja, sob o orago de São João Batista, que foi

elevada à freguesia em 1718 com o nome de São João Batista de Água Fria. Estas terras

faziam parte da sesmaria de Garcia D'Ávila e a criação de gado e estabelecimento de currais

concorreram para o desbravamento do território a partir de 1673, assim como bandeiras à

procura de ouro e pedras preciosas e caça ao índio. Em 1832, outro arraial, Purificação de

18

Campos, se encontrava em fase de maior desenvolvimento econômico do que a vila de Água

Fria e para onde a sede da vila de São João Batista de Água Fria foi transferida com o título

de Vila de Nossa Senhora da Purificação dos Campos, o que só ocorreu na verdade dez anos

após e quando criado o município e a vila com o nome de Purificação dos Campos, sendo

extinto o de São João Batista de Água Fria. Em 1895 foi elevada à cidade com a

denominação de Irará”. (IRARA,2007)

O município de Irará está situado no norte do estado da Bahia. Faz parte da

microrregião de Feira de Santana, estando distante desta cerca de 50 km, e está incluído no

polígono das secas, conforme visto na Figura 3.1.

Figura 3.1 - Mapa de localização: Irará-Ba (Fonte: www.pfldabahia.org.br)

A Capela de Nossa Senhora do Livramento, vista na Figura 3.2, está localizada no

Povoado de Caroba, que fica a oeste do município de Irará e dista 3,5km deste.

19

Figura 3.2 – Fachada principal da Capela de N. Sra. do Livramento

“A Capela de Nossa Senhora do Livramento de Caroba no município de Irará, foi

construída nas terras pertencentes ao Morgado de Bento Simões. Este nasceu em São Cosme

do Vale, em Braga (Portugal), e fixou-se no Brasil aproximadamente no início do século

XVIII, em terrenos adquiridos do Coronel Francisco de Souza.

Bento Simões morreu por volta dos anos de 1726 e 1729, ficando a propriedade

pertencendo aos seus herdeiros, entre os quais o seu irmão Padre José Simões, que morreu

possivelmente em 1763. Posteriormente o encapelado foi passado ao português Antônio da

Costa Pinto que nasceu em 1760 e cuja posse das terras continuou pertencendo à sua família,

sendo dividido entre os herdeiros após a extinção dos morgados no Brasil em 1836.

A relação histórica da capela de Nossa Senhora do Livramento com a de Bento

Simões, e que foram construídas em meados no século XVIII pelo Padre Manuel Pajura da

Costa, cujos restos mortais encontram-se na Capela de Nossa Senhora do Livramento da

Caroba, onde existe uma lápide marcando o seu falecimento em outubro de 1743. Esse padre

administrou a capela até a sua morte, passando a incumbência da administração à diocese

de Feira de Santana até 1800, quando passou a pertencer à freguesia de Pedrão. Em 02 de

agosto de 1800 foi criada a freguesia do Sagrado Coração de Jesus de Pedrão por alvará do

Arcebispo Dom Frei Antônio Correia que ela fixou as igrejas e capelas do território da

Purificação dos Campos. Em 28 de fevereiro de 1842, através da lei provincial dos números

153, foi criada a freguesia de Nossa Senhora da purificação dos Campos de Irará que

desmembrou-se de Pedrão. A forma canônica estabelecida na diocese de em que foi criada

este freguesia, era de administrar a igreja de Nossa Senhora do Livramento da Caroba que

passou para título de capela, funcionando assim até a atualidade.” (RAMOS et al., sem ano)

20

No inventário de proteção do acervo cultural do IPAC, descreve-se assim a Capela

situada em Caroba: “Capela de relevante interesse arquitetônico, em estilo missionário.

Apresenta nave única, capela-mor, sacristias, copiar com acesso ao coro e sineira pela escada

externa, em alvenaria possuindo ainda, a sala das almas.” (Figura 3.3)

Figura 3.3 - Croqui da capela de N. Srª. do Livramento (Fonte: IPAC, 2002)

A Capela foi construída sobre uma fundação de alvenaria de pedra irregular com

argamassa de barro e cal pobre, componente usado em algumas alvenarias. Esse tipo de

fundação e alvenaria são bastante comuns em outras igrejas da região. As alvenarias

apresentam-se revestidas com argamassa de cal e são constituídas de pedra irregular com

argamassa de barro e cal pobre nas paredes principais (Figura 3.4) e adobe com estabilização

de “cacos” de telha e tijolo nas demais paredes (Figura 3.5). No fundo do altar-mor, na

intervenção feita no ano de 1992, foi executada a estabilização do objeto de estudo com o uso

de dois contrafortes (Figura 3.6).

A cobertura apresenta várias águas, o que veio a gerar problemas, como será visto

posteriormente. A nave tem um sistema de tesouras. O madeiramento conta com a estrutura

principal em estado natural, tendo sido trocados os caibros na segunda reforma. Nessa

intervenção foram trocadas também as telhas.

LEGENDA 1- Sacristia 2- Ambiente

desocupado 3- Capela-mor 4- Nave 5- Sala das almas 6- Copiar 7- Sem uso 8- Coro

6

4

1 7

5

3

2

8

21

Figura 3.4 - Alvenaria de pedra irregular no salão das almas

Figura 3.5 - Alvenaria de adobe no

salão das almas

Figura 3.6 – Aspecto dos Contrafortes

nos fundos da capela

A Capela não possui instalação hidro-sanitária, situação típica entre as igrejas

antigas. A instalação elétrica é bastante deficiente, sendo elevado o risco de curto-

circuitos. Não foi encontrado também nenhum item de combate a incêndio. Nela são

identificados objetos importantes no contexto de seu uso, como a pia batismal rebuscada

com ornamentos ovais em alto relevo e os dois depósitos de água benta em formato de

concha, todos feitos de lioz. Na parte esquerda da nave central, nota-se a presença de

um púlpito de madeira, que era utilizado pelo padre para fazer a homilia (Figura 3.7).

22

Figura 3.7- Vista do Púlpito na Nave da capela

3.2 Identificação das Manifestações Patológicas

A Capela de Nossa Senhora do Livramento, ao passar dos anos, não teve uma

manutenção preventiva. Sofreu apenas três intervenções, ao menos que se tenha

conhecimento pela comunidade, todas no século passado: a primeira no final da década

de 50 e início do 60, outras na década de 70 e a última no ano de 1992. Sua situação de

degradação é comum à grande maioria das igrejas e dos monumentos em geral no

Brasil, de forma mais evidente, no Nordeste.

As intervenções anteriormente feitas visaram resolver problemas que colocavam

em risco a integridade do objeto de estudo de forma imediata. Tendo em vista a falta de

uma ação visando conserva-los, justifica-se o estado avançado de degradação em vários

componentes.

As informações que serão discorridas a seguir, acerca das manifestações

patológicas presentes no objeto de estudo, serão apresentadas separadas por ambientes,

haja vista que os elementos são estritamente interligados e suas manifestações

patológicas são relacionadas.

Como dito anteriormente, o barro (terra crua) é um material presente em vários

elementos construtivos do objeto de estudo: fundação, alvenaria, revestimento.

Avaliando isso, será entendido as particulares deficiências e o nível de degradação

apresentadas na Capela.

23

3.2.1 Visão geral e ambiente externo

A Capela apresenta avançado estado de degradação. Essa situação, além do

processo de degradação natural dos materiais, foi acelerada provavelmente por um

processo de recalque de fundação ocorrido no fundo da lateral esquerda da capela, que

gerou uma rotação nas alvenarias e criou um deslocamento de todos os componentes,

principalmente da cobertura. Daí o uso dos contrafortes, como visto na Figura 3.6,

evitando evolução desse recalque. Esse provável recalque de fundação tem como

provável causa, associada à declividade do terreno, à ação das águas através da erosão

nas laterais da fundação. O que pode ser concluído pela utilização de passeio ao redor

da igreja executada durante a mesma intervenção na qual foram adicionados os

contrafortes no sistema estrutural. O passeio, mesmo sendo recente comparativamente

ao objeto, apresenta avançado estado de degradação, como mostrado na Figura 3.8(a).

Nesse trabalho, como na patologia das construções, não são levados em

consideração os danos causados por choques mecânicos, como na Figura 3.8(b).

Será preciso avaliar a possibilidade de um escoramento das alvenarias, para

manutenção de sua integridade, para a realização de um reforço de fundação em todo o

conjunto de infra-estrutura. Caso não se consiga manter a integridade e não se deseje

manter os contrafortes, deve-se realizar o reforço das fundações, suficiente para evitar a

evolução dos efeitos de recalque.

24

(a)

(b)

Figura 3.8 Problemas identificados na área externa (a) Degradação do passeio ao

redor da capela (b) Descolamento de revestimento por choque mecânico

3.2.2 Copiar

O madeiramento do copiar, como o de toda a capela, apresenta ataque de animais

xilófagos, no caso cupins (Figura 3.9(a)). A espécie que está presente nas madeiras do

objeto de estudo não atinge as camadas mais profundas da madeira, não apresentando,

ainda, risco à estrutura, tendo em vista que, como é padrão das obras antigas, as

estruturas são super-dimensionadas.

Para efeito de conforto visual (levando em consideração que essa manifestação

não gera risco de ruína), deve-se proceder a aplicação de fungicida nas peças de

madeira, através de tratamento superficial, haja vista que os métodos mais eficazes são

caros e de difícil ou impossível aplicação em obras já em uso. Além de tentar minorar a

ação da umidade nestas peças.

A platibanda ou frontão do copiar está exposta à ação das chuvas, além do

telhamento apresentar telhas quebradas (Figura 3.9(b)). Esses dois fatores são

responsáveis pelas eflorescências na pintura do frontão na parte interna do copiar, que

pela coloração, nota-se que está havendo degradação do revestimento e o descolamento

da pintura, como mostrado na Figura 3.9(b).

É necessária a substituição das telhas quebradas e a organização das fiadas. Depois

de garantido meios para que não haja evolução nas manifestações, deve-se proceder a

recomposição do revestimento com argamassa de barro e cal pobre, com traço definido

25

pela análise da argamassa existente e, posteriormente, recompor a pintura com cal, com

quantas demãos se julgar necessário. Aconselha-se o cuidado para que a argamassa de

barro e cal pobre e o adobe para a alvenaria tenham as propriedades mecânicas

equivalentes às existentes.

(a)

(b)

(c)

Figura 3.9 Manifestações patológicas apresentadas no Copiar (a) Fissuras no

frontão (b) Deterioração da tesoura em madeira, (c) Aspecto do telhado com telhas

quebradas

26

3.2.3 Nave

Na área dos apoios de uma das linhas de tesouras, ambos os lados apresentam alto

grau de degradação. Têm-se a infiltração no telhado através das telhas quebradas e o

processo de degradação do apoio da tesoura nas alvenarias. Esse processo é gerado pela

perda de eficiência das características mecânicas da alvenaria provocado pelo aumento

da umidade no adobe. Portanto, nota-se que a degradação do apoio tem como provável

causa as infiltrações no telhado, conforme Figura 3.10 (a) e (b).

Na Figura 3.10(c), temos a infiltração no telhado por telhas quebradas e

desalinhamento da fiada, resultando no aparecimento de eflorescência e descolamento

de parte da pintura da alvenaria, além do desplacamento de parte do revestimento,

deixando a alvenaria exposta à ação da umidade e de outros agentes nocivos.

Visando restabelecer as características do sistema construtivo e a integridade da

alvenaria e estética do objeto, recomenda-se repetir as mesmas medidas indicadas para o

item 3.2.2, na análise relacionada com as Figuras 3.9 (b) e (c).

O piso em tijoleira de barro sofreu abrasão, em função do uso no decorrer dos

anos, como mostrado na Figura 3.10 (d). Recomenda-se a manutenção das tijoleiras,

mas, caso hajam recursos suficientes, é aconselhável a substituição total ou parcial

delas. Vale ressaltar que na segunda intervenção feita na capela elas já haviam sido

substituídas.

27

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 3.10 Ocorrências na Nave (a) eflorescências no apoio de uma das tesouras,

(b) detalhe da eflorescências e degradação de apoio de uma das tesouras,

(c)infiltração das águas pluviais, (d) desgaste da tijoleira

3.2.4 Capela-mor

A Figura 3.11 (a) mostra a situação da pintura, já descolada e que tem como causa

a falta de cobertura na seteira da sacristia. A ação indicada depende da resolução do

infiltração na seteira, que fica situada na sacristia. Após sanar as infiltrações, indica-se a

solução apresentada no item 3.2.2, na situação referente à Figura 3.9 (a), que se refere a

recomposição do revestimento e da pintura

28

O retábulo do altar-mor (ver Figura 3.11 (b)) está em precário estado de

conservação, causado pela umidade, que facilita o ataque de animais xilófagos, tanto

cupins como carunchos. Deve-se proceder uma avaliação de cada peça componente e

efetuar substituição nas que se julgar necessário, depois fazer o tratamento superficial

na madeira em todo o conjunto.

As tijoleiras apresentam desgaste por abrasão como pode ser observado na Figura

3.11(c). Aconselha-se, em havendo recursos financeiros, substituir o piso.

O forro de madeira em abóbada apresenta avançado estado de degradação, tendo

já um trecho cedido. Este dano foi causado pelo excesso de umidade gerado pela

infiltração no telhado que apresentava telhas fora de fiada e quebradas. A infiltração foi

resolvida há algum tempo, como visto na Figura 3.11(d). A pintura está coberta por uma

camada de poeira e mofo, mas ainda está em bom estado. Até porque a sua aplicação foi

relativamente recente, provavelmente na segunda intervenção.

Tendo o problema de infiltração no telhado sido solucionado, deve-se avaliar a

situação do forro, substituir as peças defeituosas, evidenciando a restauração do forro e

a manutenção da pintura.

Na figura 3.11 (e), nota-se a presença de fissura no arco situado entre a Nave e a

Capela-mor. Uma das prováveis causas vem do recalque de fundação que provocou

deformação das alvenarias da parte esquerda nos fundos da capela, como dito em 3.2.1.

Outra provável causa, pode ser atribuída pelo empuxo no arco, que apresenta vão de

cerca de 3m. Seriam necessárias medidas em cada provável causa: no caso do recalque

seriam necessários ensaios específicos na avaliação da fundação. No que se refere ao

empuxo, uso de equipamentos para avaliar a evolução do dano e a posterior indicação

do uso de tirantes para conter a ação do empuxo.

29

(a)

(b)

(c)

(d)

(e)

Figura 3.11 Problemas encontrados na Capela-mor (a) eflorescências e

descolamento da pintura, (b) detalhe do retábulo em madeira, (c) degradação da

tijoleira, (d) forro em madeira abobadada, (e) fissura no arco da Capela-mor

30

3.2.5 Sacristia

Observa-se o descolamento do revestimento e as eflorescências, como mostrado

na Figura 3.12 (a), decorrente da umidade gerada pela infiltração da água das chuvas

pelo desalinhamento da fiada das telhas. Além disso, houve o apodrecimento do frechal

em madeira, estabelecendo a necessidade de sua substituição. Deve-se escorar a

alvenaria e o telhado para substituição do frechal, que se configura como em elemento

importantíssimo no sistema estrutural da capela.

O descolamento do reboco foi identificado pelo som (batida no revestimento com

som cavo). Desta forma pode-se avaliar a evolução do descolamento na parede abaixo

da janela da sacristia (Figura 3.12 (b)). Essa manifestação tem como provável causa

umidade ascendente, oriunda de infiltrações no passeio, que se apresenta bastante

degradado.

Deve-se buscar o restabelecimento do passeio em toda o entorno da capela, tanto

para evitar a umidade ascendente, como também manifestações na fundação.

Na figura 3.12 (c), mostra-se o detalhe da seteira. Pela luminosidade, percebe-se

que ela se encontra sem cobertura, gerando os danos em uma das alvenarias do Altar-

Mor.

31

(a)

(b)

(c)

Figura 3.12 Problemas identificados na Sacristia (a) recomposição inadequada de

frechal (b) estado inicial do descolamento de revestimento, (c) vista da seteira

3.2.6 Sacristia (sem uso no momento)

A seteira não apresenta cobertura devida, servindo assim de canalizador de águas,

gerando situação de alto grau de degradação de pintura, revestimento e alvenaria, tanto

do pano de parede do altar-mor como da própria sacristia, ver Figura 3.13 (a). Se

configura como extrema urgência a ação rápida na recuperação da cobertura nas

seteiras, evitando assim o agravamento dessa situação.

32

Na Figura 3.13(b) nota-se a recomposição do revestimento de argamassa de barro

e cal pobre, com uma argamassa de cimento, numa ação emergencial visando impedir a

ruína da estrutura do telhado.

A Figura 3.13 (c) apresenta situação semelhante em vários panos de parede da

capela, inclusive a causa: infiltração no telhado. Aconselha-se a substituição das telhas

quebradas e a organização das fiadas, para posteriormente recompor a pintura e o

revestimento.

(a)

(b)

(c)

Figura 3.13 Manifestações patológicas verificadas na sacristia sem uso (a)

degradação da seteira (b) recomposição de revestimento (c) eflorescências no pano

de parede

33

3.2.7 Ambiente desocupado

A seteira que está voltada para a sacristia tem sua abertura na alvenaria de divisa

entre os dois ambientes. A infiltração nela está gerando degradação de pintura,

revestimento e alvenaria também nesse ambiente..

Após recomposto o revestimento da seteira, efetuar a recomposição da pintura e

do revestimento, atentando para o nível de degradação da alvenaria,como visto nas

Figuras 3.13 (a) e (b). Para, sendo necessário, efetuar as intervenções necessárias.

Tendo em vista que os carunchos criam galerias para seu abrigo, houve a

formação de um ponto de deficiência em uma das peça de madeira da plataforma do

retábulo do Altar-mor, como visto na Figura 3.14 (c).

A única ação possível é a substituição da peça.

34

(a)

(b)

(c)

Figura 3.14 (a) infiltração pela seteira (b) lixiviação do revestimento de barro,

(c)ataque de carunchos na plataforma do retábulo

3.2.8 Sala das almas

Houve desabamento da cobertura há cerca de doze anos, deixando o ambiente

exposto às intempéries, como evidenciado na Figura 3.15 (a). A pintura apresenta alto

grau de degradação, apresentando desgaste total em alguma áreas e descolamento em

outros. Revestimento e alvenaria com argamassa de barro e cal pobre, apresentam alto

grau de descolamento e lixiviação, como pode ser visto nas Figuras 3.15 (b) e (c).

35

Diferente das situações anteriores, deve-se fazer uma avaliação da fundação e da

alvenaria, haja vista a exposição à ação direta dos agentes externos. Após avaliação da

fundação deve-se recompor a cobertura. Tomadas as medidas cabíveis em relação à

fundação e à alvenaria, procede-se com revestimento e pintura como nas situações já

relatadas.

(a)

(b)

(c)

Figura 3.15 Anomalias verificadas na Sala das Almas (a) danos na alvenaria em

adobe (aparente) (b) detalhe do telhado (c) desagregação na alvenaria de pedra e

terra crua

36

4. COMPARATIVO COM A CAPELA DE CONCEIÇÃO DE BENTO SIMÕES

A Capela de Conceição de Bento Simões tem relação histórica com a Capela de N.

Sra. do Livramento de Caroba, pois foram construídas no mesmo período pelo Padre

Manuel Pajura da Costa.

A Capela de Conceição de Bento Simões foi tombada pelo IPAC em 10 de

novembro de 1981. O fato do tombamento por si só demonstra um maior empenho da

população de Bento Simões, quando comparada a de Caroba, aliada ao fato de que

historicamente Bento Simões foi a sede da Sesmaria da família de Costa Pinto. Este fato

pode ser evidenciado pelo sepultamento de vários membros ilustres da família no

templo. A Capela foi conservada através dos tempos, sendo objeto de reformas, mas que

não afetaram substancialmente o conjunto.

A Capela de Bento Simões apresenta planta baixa bem próxima à de Caroba,

acrescida de uma torre e galeria de tribunas nas laterais da nave, como pode ser visto na

Figura 4.1. Os materiais usados e os sistemas construtivos foram bem semelhantes, dado

a isso a escolha para a análise comparativa.

Figura 4.1 Croqui da Capela de Conceição de Bento Simões

(Fonte: IPAC, 2002)

LEGENDA 1- Sacristia 2- Capela-mor 3- Corredor

lateral 4- Nave 5- Copiar 6- Vazio 7- Púlpito 8- Galeria de

tribunas 9- Coro

5

3 3 4

2 1 1

7

9

8

37

Seu estado de conservação na avaliação do IPAC é bom, o que pode ser

evidenciado pelas Figuras 4.2 (a) e (b), apresentadas a seguir:

(a)

(b)

Figura 4.2Capela de Conceição de Bento Simões: (a) fachada principal, (b) altar-

mor

A Capela de Conceição de Bento Simões apresenta algumas manifestações

patológicas em diferentes elementos, com menor freqüência e menor intensidade que na

Capela de N. Srª do Livramento.

Devido a um vazamento ocorrido no telhado há alguns anos, houve o

apodrecimento do frechal de madeira, o que poderá provocar a ruína do madeiramento

do telhado e de toda a cobertura. A Figura 4.3 ilustra estes problemas. Para evitar esse

dano, foi feito o escoramento até que as medidas cabíveis fossem tomadas, fato que

ainda não se realizou.

38

(a)

(b)

Figura 4.3 (a) Escora da tesoura, (b) Detalhe da Escora

Devido ao contexto histórico tratado no início do capítulo, nota-se uma ação muito

mais rápida na conservação da capela de Bento Simões, como pode ser visto na Figura

4.4. Observa-se que, quando uma peça apresenta ineficiência, é trocada para evitar

maiores problemas. Situação que não se percebe na capela de Caroba.

(a)

(b)

Figura 4.4 Substituição de peças de madeira no telhado (a) elevação da galeria

lateral, (b) ponto de infiltração no acesso à torre

39

Levando em consideração a ação mais efetiva da população, a influência da

família Costa Pinto e os elementos decorativos que enriquecem a Capela de Bento

Simões (ver Figuras 4.5 (a) e (b)), seu tombamento é justificado, além de seu bom

estado de conservação. Enquanto Caroba conta basicamente só com o esforço do

Movimento Viva Irará, que busca viabilizar o tombamento da Capela de Caroba pela

sua importância e relevância regional, além de sua estreita relação com a Capela de

Bento Simões. Vale ressaltar que a Capela de Bento Simões é de propriedade particular

da Família Costa Pinto, enquanto a de Caroba pertence a Igreja Católica.

(a)

(b)

Figura 4.5 (a) e (b)Urnas com restos mortais de membros da família Costa Pinto

40

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grau de degradação apresentado, em geral, pelos monumentos de grande valor

histórico e cultural em nosso país, indica que precisam ser tomadas medidas mais

urgentes e efetivas para evitar sua extinção. Medidas pontuais surgem, mas sem os

efeitos desejados. Tendo como base os objetos tratados nesse trabalho, percebemos a

importância de um empenho da sociedade organizada para a preservação de nossos

monumentos.

Medidas preventivas devem ser realizadas constantemente. A manutenção garante

as características construtivas e de componentes. A realização da manutenção

geralmente é garantida por movimentos e sociedade organizada. No comparativo entre a

capela de Caroba e a de Bento Simões, foi notada a influência bastante benéfica de

intervenções constantes e responsáveis.

Através do estudo e do levantamento das manifestações patológicas e da proposta

de terapias a serem aplicadas, as obras de restauração podem ser racionalizadas,

mantendo o respeito às características arquitetônicas e singulares de cada monumento.

Essa abordagem científica no tratamento da conservação e restauração de monumentos

é inadiável. Fica evidenciado a necessidade de se buscar métodos mais precisos de

diagnóstico, tendo em vista que não são aconselháveis, por exemplos, ensaios

destrutivos em monumentos históricos e outros tipos de ensaios são caros e/ou

imprecisos.

“Estudar o máximo para intervir o mínimo”. Daí se justifica a necessidade da

Patologia das Construções nos processos de Restauração, além de uma ação

multidisciplinar para balizar as intervenções necessárias nas obras de restauração como

também delinear as diretrizes para a conservação dos monumentos antigos.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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www.ricardobella.com/downloads/materiais_madeira.doc Acesso: 20/08/2007 RAMOS, M N; ALMEIDA, J C S de. Capela de Nossa Senhora do Livramento de

Caroba. Irará-BA.

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