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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL DIEGO DE ALCÂNTARA BORGES GERENCIAMENTO VISUAL DE CANTEIROS DE OBRA: ESTUDO DE CASO EM FEIRA DE SANTANA FEIRA DE SANTANA 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

DIEGO DE ALCÂNTARA BORGES

GERENCIAMENTO VISUAL DE CANTEIROS DE OBRA: ESTUDO DE

CASO EM FEIRA DE SANTANA

FEIRA DE SANTANA

2010

DIEGO DE ALCÂNTARA BORGES

GERENCIAMENTO VISUAL DE CANTEIROS DE OBRA: ESTUDO DE

CASO EM FEIRA DE SANTANA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Departamento de Tecnologia da

Universidade Estadual de Feira de Santana

como requisito para obtenção de título de

bacharel em Engenharia.

Orientador: Prof. MSc. Cristóvão César Carneiro Cordeiro

FEIRA DE SANTANA

2010

DIEGO DE ALCÂNTARA BORGES

GERENCIAMENTO VISUAL DE CANTEIROS DE OBRA: ESTUDO DE

CASO EM FEIRA DE SANTANA

Monografia submetida à banca examinadora

como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do grau de bacharel em engenharia

civil.

Feira de Santana, 22 de Dezembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Prof. MSc. Cristóvão César Carneiro Cordeiro

Mestre pela Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro – Orientador.

Prof. MSc. Florentino Carvalho Pinto

Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia.

Eng. Civil Esp. Paulo Roberto da Silva Peruna

Especialista em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de

Santana, Bahia.

Dedico este trabalho aos meus pais pelo

amor, exemplo e apoio para que eu sempre

alcance meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por está sempre me acompanhando e iluminando meu

caminho, me ajudando a conquistar meus objetivos.

Agradeço aos meus pais, Miguel Borges dos Santos e Alvenita Sodré de Alcântara

Borges, pelo apoio incondicional em todos os momentos de minha vida, fundamentais para a

realização deste sonho. Sem eles não conseguiria chegar até aqui. Não posso esquecer minha

irmã que também sempre esteve do meu lado me apoiando e acreditando em mim.

Agradeço a minha família por parte de pai e de mãe pelo apoio e incentivo, sempre

bem recebido quando voltava para Amargosa. Em especial gostaria de agradecer ao meu tio e

padrinho João Borges dos Santos que faleceu a pouco tempo e que sempre me apoiou e me

ajudou a buscar este sonho.

Agradeço aos meus amigos de Amargosa e os que surgiram na Universidade, muitas

amizades verdadeiras que sempre estiveram ao meu lado. Em especial os Amigos do

Jambalaia que foram minha família em Feira de Santana.

Agradeço a minha namorada pelo apoio e compreensão nas horas dedicadas aos

estudos e a produção deste trabalho.

Aos professores da UEFS que contribuíram com seus conhecimentos para a minha

formação, em especial ao professor Cristovão pela minha orientação, apoio e paciência para a

produção deste trabalho.

Não posso esquecer a equipe da L.Marquezzo onde comecei minha trajetória na

construção civil. Sou muito grato pelas oportunidades, em especial para a realização desde

trabalho. Não poderia deixar de mencionar Marcus Estrela, José Carlos Ribeiro e Paulo

Peruna, pessoas importante na minha formação como profissional.

"Minha vida é uma enciclopédia, cada ano um

volume, cada dia uma página, cada hora novo

texto, cada minuto uma palavra, e a cada segundo

entre um sim e um não, muda-se a história."

(Elanklever)

RESUMO

BORGES, D. A. Gerenciamento Visual de Canteiros de Obras: Estudo de caso em Feira

de Santana. Feira de Santana, 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Feira de Santana.

A crescente competitividade tem levado as empresas dos mais diversos segmentos

produtivos a buscarem melhorias nos seus processos. Uma das ferramentas de extrema

importância para atingir resultados com baixo custo e elevada qualidade dos processos e

produtos é o planejamento, este que tem diversos seguimentos. O planejamento de canteiro

bem realizado torna a obra mais organizada, segura, com troca de informações eficientes, e

direciona os funcionários para uma maior qualidade e menos desperdícios. Assim, este estudo

busca avaliar a situação atual em um canteiro de obras localizado em Feira de Santana,

propondo melhorias através do gerenciamento visual para oferecer informações acessíveis e

simples, permitindo o seu compartilhamento, e melhorando a eficiência das operações e a

qualidade de vida dos operadores do processo produtivo. Este trabalho foi dividido nas

seguintes etapas: diagnóstico da situação atual para propor melhorias que facilitem a troca de

informações, aplicar um plano de intervenção no canteiro, realizar um diagnóstico final, e a

análise final do trabalho e das ações implementadas buscando avaliar a eficiência das

mesmas. Entre as principais conclusões deste estudo, constatou-se através das ferramentas de

avaliação que a intervenção surtiu efeito positivo, melhorando a situação do canteiro em

relação aos itens estudados, em um intervalo curto de tempo. Entretanto também foi possível

constatar que para melhorar e manter em funcionamento o gerenciamento visual, a

administração da obra precisa de um maior comprometimento, pois este processo é mais

complexo e depende de todos.

Palavras-chave: Canteiro de obras; Gerenciamento visual; Eficiência.

ABSTRACT

Borges, D. A. Visual Managemant of Construction Site: a case study in Feira de Santana.

Feira de Santana, 2010. Conclusion Course (Graduate in Civil Engineering) – Universidade

Estadual de Feira de Santana.

Heightened competition has led companies from various production sectors to search

improvements in their processes. Planning is a tool of utmost importance to achieve results

with low cost and high quality of products and processes, whatever is its application, like site

planning, for example. In fact, a well done planning of construction site can makes the work

activities more organized and secure, through an efficient exchange of information. This

process leads employees towards a high quality and less wastes. This paper proposes to

evaluate a current situation on a construction site located in Feira de Santana, Bahia, Brazil, in

order to propose improvements on site through visual management to offer information in an

accessible, share and simple way, and improving operational efficiency of the production

process as well as on job life quality for the site workers. This work was divided according

these steps: diagnosis of the current situation to propose improvements to facilitate the

exchange of information; implementation an action plan of the site; making a final diagnosis;

and final analysis of the actions implemented to evaluate the efficiency of this intervention.

Among the main conclusions of this study, there was found that intervention had a positive

effect, improving the site context in relation to items studied, even in a short interval of time.

However, it was also possible to note that for visual management improvements and its good

maintenance, the managers should search a greater commitment, and this process is more

complex and depends on every site works and external factors, like culture company.

Keywords: constructions site; visual management; efficiency.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fluxograma das atividades para planejamento do canteiro de obras (SOUZA,

2000)........................................................................................................................................ 23

Figura 2: Processo de aprendizagem através dos cinco sentidos. Fonte: Oakland (1999) citado

por Lazarin (2001)......................................................................................................... ..........32

Figura 3 - Delineamento da pesquisa................................................................................ .......43

Figura 4: Mapa de constructos......................................................................................... ........45

Figura 5 – Canteiro estudado.......................................................................................... .........47

Figura 6 – Índice de boas práticas em canteiro de obra (Check-List). (SANTOS, 2010)........ 49

Figura 7 – Exemplo de demarcação de estacionamento de equipamentos (SAURIN, 2010)..53

Figura 8 – Exemplo de demarcação de local de armazenamento (SAURIN, 2010)............... 53

Figura 9 – Exemplo de aviso de bons hábitos................................................................... .......54

Figura 10 – Exemplo de placa de segurança (CCB)........................................................... .....54

Figura 11 – Exemplo de sinalização de quantidade de estoque (CCB)................................... 55

Figura 12 – Notas do item Instalações provisórias...................................................................56

Figura 13 – Refeitório do canteiro de obras..............................................................................59

Figura 14 – Acesso do canteiro de obras..................................................................................60

Figura 15 – Notas das instalações de segurança.......................................................................61

Figura 16 – Circuitos elétricos para alimentação de equipamentos..........................................62

Figura 17 - Notas para o item sistema de movimentação e armazenamento de Materiais.......63

Figura 18 – Notas obtidas na gestão de resíduos sólidos no canteiro.......................................64

Figura 19 – Armazenamento em bag’s sem cobertura.............................................................65

Figura 20 – Armazenamento com possibilidade de mistura com o solo e sem proteção contra

chuva.........................................................................................................................................65

Figura 21 – Planilha para registro das notas em campo............................................................66

Figura 22 – Questionário Qualitativo do canteiro de obras......................................................67

Figura 23 – Aspecto visual do canteiro de obras......................................................................68

Figura 24 – Layout do canteiro estudado..................................................................................70

Figura 25 – Reunião com os funcionários................................................................................72

Figura 26 – Servente limpando o canteiro................................................................................73

Figura 27 – Funcionários trabalhando na carpintaria................................................................74

Figura 28 – Armadores organizando os aços............................................................................74

Figura 29 – Central da carpintaria antes da intervenção...........................................................75

Figura 30 – Central da carpintaria depois da intervenção.........................................................76

Figura 31 – Central de armação antes da intervenção..............................................................76

Figura 32 – Central de armação depois da intervenção............................................................77

Figura 34 – Limpeza do antigo local de armazenamento de entulho........................................78

Figura 35 – Terreno alugado antes da intervenção...................................................................78

Figura 36 – Terreno alugado usado como local de armazenamento.........................................79

Figura 37 – Local de armazenamento de aço antes da intervenção..........................................79

Figura 38 – Local de armazenamento depois da intervenção...................................................80

Figura 39 – Local próximo ao refeitório antes da intervenção.................................................80

Figura 40 – Local próximo ao refeitório depois da intervenção...............................................81

Figura 41 – Mural antigo usado no canteiro.............................................................................82

Figura 42 – Mural atual do canteiro..........................................................................................82

Figura 43 – Vias de circulação de veículos...............................................................................83

Figura 44 – Estacionamento para carro.....................................................................................84

Figura 45 – Placas de informações próximas ao refeitório.......................................................85

Figura 46 – Placa de identificação de material.........................................................................85

Figura 47 – Placa de identificação de local...............................................................................86

Figura 48 – Placa com indicação dos traços de argamassa e concreto utilizados na obra........86

Figura 49 – Kanbans de controle de estoque............................................................................87

Figura 50 – Balde dosador........................................................................................................89

Figura 51 – Copo dosador de aditivo........................................................................................89

Figura 52 – Fiada ímpar com blocos pintados..........................................................................90

Figura 53 – Notas das Instalações Provisórias no diagnóstico inicial e final...........................92

Figura 54 – Notas das Instalações de Segurança do canteiro no diagnóstico inicial e final.....93

Figura 55 – Identificação do local dos armadores....................................................................94

Figura 56 – Notas do Sistema de movimentações e armazenamento de materiais...................95

Figura 57 – Identificação das barras de aço..............................................................................96

Figura 58 – Quadro com os traços utilizados no canteiro.........................................................96

Figura 59 – Notas obtidas pelo canteiro no item Gestão dos Resíduos Sólidos no Canteiro...97

Figura 60 – Comparação dos resultados para Instalações Provisórias....................................98

Figura 61 – Comparação dos resultados para Segurança da Obra...........................................99

Figura 62 – Comparação dos resultados de SMAM................................................................99

Figura 63 – Gráfico comparativo dos resultados do diagnóstico inicial e final......................101

Figura 64 – Gráfico comparativo dos resultados do Diagnóstico inicial e final.....................102

Figura 65 – Layout do canteiro após intervenção...................................................................103

Figura 66 – Terreno alugado com acesso para rua principal..................................................104

Figura 67 – Baias para madeiras de reutilização.....................................................................105

Figura 68 – Espaço para criação de estacionamento de motos e bicicletas............................105

Figura 69 – Retirada do entulho da parte central do canteiro.................................................106

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Funções e regras para utilização do Kanban (Adaptado de Ohno, 1997) ..............31

Tabela 2 – Resultado da aplicação do check-list.......................................................................57

Tabela 3 – Notas referentes ao espaço físico do canteiro de obras...........................................68

Tabela 4 – Notas obtidas no segundo item do questionário......................................................69

Tabela 5 – Notas do check-list após a intervenção...................................................................91

Tabela 6 – Resultado do questionário para o primeiro assunto..............................................100

Tabela 7 – Notas referentes a segunda parte do questionário.................................................102

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16

1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 17

1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 18

1.2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 18

1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 18

1.3 METODOLOGIA ................................................................................................... 18

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ...................................................................... 19

2 REVISÃO TEÓRICA .............................................................................................. 20

2.1 CANTEIRO DE OBRAS ........................................................................................ 20

2.1.1 Tipos de Canteiro de Obras .................................................................................. 20

2.2 PLANEJAMENTO DO CANTEIRO ..................................................................... 21

2.3 PARTES COMPONENTES DO CANTEIRO ....................................................... 25

2.3.1 Instalações de Infra-estrutura ............................................................................... 25

2.3.1.1 áreas de vivência .............................................................................................. 25

2.3.1.2 armazenamento e estocagem de materiais ........................................................ 27

2.3.1.3 fornecimento de água ....................................................................................... 27

2.3.1.4 esgoto .............................................................................................................. 27

2.3.1.5 instalações elétricas .......................................................................................... 27

2.3.2 Instalações de Segurança ...................................................................................... 28

2.3.2.1 instalações de proteção do trabalho .................................................................. 28

2.3.2.2 proteção de vias públicas de tráfego................................................................. 29

2.4 GERENCIAMENTO VISUAL .............................................................................. 29

2.5 A FERRAMENTA 5S ............................................................................................ 32

2.5.1 Senso de Utilização (SEIRI) ................................................................................ 35

2.5.2 Senso de Ordenação (SEITON) ........................................................................... 36

2.5.3 Senso de Limpeza (SEISO) .................................................................................. 37

2.5.4 Senso de Saúde (SEIKETSU) .............................................................................. 38

2.5.5 Senso de Autodisciplina (SHITSUKE) ................................................................ 39

2.6 O Gerenciamento Visual e a ferramenta 5S ............................................................ 40

3 Método de pesquisa .................................................................................................. 42

3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................................. 42

3.2 ESTRATÉGIA DA PESQUISA ............................................................................. 42

3.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA ...................................................................... 43

3.4 DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO ................................................................ 46

3.4.1 Empresa Parceira .................................................................................................. 46

3.4.2 O Canteiro de Obras ............................................................................................. 46

3.4.3 Etapas da Pesquisa ............................................................................................... 47

3.4.3.1 Contatos com a Empresa .................................................................................. 48

3.4.3.2 Ferramentas de Avaliação ................................................................................ 48

3.4.3.3 Aplicação dos 3S’s ........................................................................................... 51

3.4.3.4 Dispositivos de Gerenciamento Visual ............................................................ 52

3.4.3.5 Análise dos dados ............................................................................................. 56

3.4.3.6 Conclusão ......................................................................................................... 56

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................. 57

4.1 DIAGNÓSTICO INICIAL ..................................................................................... 57

4.1.1 Índice Boas práticas em canteiro de obras (CHECK-LIST) ................................. 57

4.1.1.1 Instalações provisórias ..................................................................................... 58

4.1.1.2 Instalações de segurança .................................................................................. 60

4.1.1.3 Sistema de movimentação e armazenamento de materiais .............................. 62

4.1.1.4 Gestão dos resíduos sólidos no canteiro ........................................................... 64

4.1.2 Questionário qualitativo ....................................................................................... 66

4.1.3 Estudo do Layout ................................................................................................. 70

4.2 APLICAÇÃO DO PLANO DE INTERVENÇÃO ................................................. 71

4.2.1 Os 3S’s ................................................................................................................. 71

4.2.2 Métodos de Gerenciamento Visual ...................................................................... 81

4.2.2.1 Quadro com medições de desempenho ............................................................ 81

4.2.2.2 Demarcação de locais e de vias de circulação .................................................. 83

4.2.2.3 Placas de informações ...................................................................................... 84

4.2.2.4 Sinalização de quantidade de estoque .............................................................. 87

4.2.2.5 Crachás de identificação de visitantes .............................................................. 88

4.2.2.6 Melhorias nos processos ................................................................................... 88

4.3 DIAGNÓSTICO FINAL ........................................................................................ 90

4.3.1 Índice Boas práticas em canteiro de obras (CHECK-LIST) ................................. 91

4.3.1.1 Instalações provisórias ..................................................................................... 91

4.3.1.2 Instalações de segurança .................................................................................. 92

4.3.1.3 Sistema de movimentação e armazenamento de materiais .............................. 94

4.3.1.4 Gestão dos resíduos sólidos no canteiro ........................................................... 97

4.3.1.5 Comparação com outros resultados .................................................................. 97

4.3.2 Questionário qualitativo ..................................................................................... 100

4.3.3 Estudo do Layout ............................................................................................... 103

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES ........................................................................... 107

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 110

ANEXO A – ÍNDICE DE BOAS PRÁTICAS EM CANTEIRO DE OBRAS ...... 112

16

1 INTRODUÇÃO

A crescente competitividade, provocada por imposições de mercado, tem levado as

empresas dos mais diversos segmentos produtivos a buscarem melhorias nos seus processos.

Segundo Saurin e Formoso (2006), a indústria da construção civil comumente mensionada

como exemplo de setor atrasado, com baixos índices de produtividade e elevados

desperdícios, vem apresentando, em geral, desempenho inferior à indústria de transformação.

O planejamento prévio é um importante aliado na busca por melhorias significativas

no setor da construção civil. De acordo com Gehbauer et al. (2002), o objetivo deste

planejamento é obter o maior rendimento possível com os menores custos de execução.

Segundo Gehbauer et al. (2002), o planejamento prévio pode ser subdividido em

diversas áreas que, embora diferenciadas, possuem uma estreita relação entre si. Tais áreas

são:

Planejamento dos métodos de execução;

Planejamento da obra;

Planejamento dos recursos operacionais e financeiros;

Planejamento do canteiro de obras.

A escolha dos métodos a serem usados e as decisões tomadas durante o planejamento

geral da obra têm relação direta com o planejamento do canteiro de obras. Segundo Limmer

(1997), o projeto do canteiro de obras inclui-se como uma das partes mais importantes do

planejamento da obra, resultando em esquemas detalhados das locações e das áreas reservadas

às instalações provisórias, sendo que estas variam em sua natureza, mas tem o mesmo

propósito de dar suporte a execução da obra.

De acordo com Saurin e Formoso (2006), o planejamento do canteiro pode ser

definido como o planejamento do layout e da logística das suas instalações provisórias,

instalações de segurança e sistema de movimentação e armazenamento de materiais.

Embora seja conhecida a importância do planejamento das instalações do canteiro de

obra para conseguir eficiência nas operações, custo e qualidade da construção, muitos

gerentes de obra aprendem a realizar este planejamento através da experiência, do bom senso

e de modificações de outros projetos. Porém na realidade verifica-se que são necessárias

diversas informações técnicas, prescrições legais, entre outras, para a correta criação do

projeto do canteiro de obras.

17

O 5S e o Gerenciamento Visual são ferramentas importantes que não são comumente

usadas pelos gerentes de obra. De acordo com Lazarin (2001), as aplicações destas

ferramentas eliminam atividades desnecessárias e reduzem o tempo de resposta a problemas.

Isto contribui para reduzir controles e a necessidade de sistemas complexos de informações,

aumentando a confiabilidade da empresa e garantindo o atendimento de maneira mais eficaz

ao cliente.

1.1 JUSTIFICATIVA

Com o aquecimento do mercado da construção civil houve o aumento na concorrência

entre as empresas e conseqüente busca-se por eficiência, ou seja, menor tempo de execução

com menor custo. Além disso, o crescimento do setor fez com que se ganhasse mais

visibilidade às condições necessárias para realização dos serviços por parte dos funcionários,

havendo a necessidade de seguir as normas vigentes.

Então, para atender às normas e ao mercado cada dia mais competitivo, exigindo a

melhoria da qualidade e da produtividade das construções, torna-se necessário a elaboração do

projeto do canteiro de obras, como forma de atender as exigências legais e possibilitar a

otimização das condições de trabalho e segurança nas obras, contribuindo assim para o

funcionamento mais eficiente do sistema de produção.

De acordo com Souza (2000), a produtividade deve ser alcançada através da

eliminação dos desperdícios em geral, da redução dos sobreconsumos de materiais, mão-de-

obra e equipamentos. Ele fala que o estudo do canteiro de obras torna-se instrumento de

fundamental importância na busca da tão almejada qualidade e produtividade do processo

construtivo.

Ainda segundo Souza (2000), o canteiro de obra influencia as inúmeras linhas

hierárquicas envolvidas na Construção Civil, sendo que tal processo deve ser ao mesmo

tempo, analítico e criterioso, para se conseguir boas soluções, e ter a simplicidade que permita

o aproveitamento das idéias mais básicas associadas ao processo construtivo.

Lazarin (2001), informa que em um ambiente sem organização e limpeza e sem um

sistema de informação claro e direto afasta as empresas do objetivo de conseguir a eliminação

de todo tipo de desperdício para reduzirem custos e se tornarem mais competitivas. Ele fala

também que a identificação de problemas e sua comunicação para aqueles que podem resolvê-

los pode não ser eficiente e assim a capacidade produtiva pode ser desperdiçada, prejudicando

18

o atendimento ao cliente ou exigindo grandes estoques de materiais, puxando para cima o

estoque de segurança.

Com o aumento da transparência no canteiro de obras, as informações circulam com

mais facilidade, aumentando a eficiência das operações e consequentemente a qualidade dos

produtos e serviços.

Um canteiro limpo e bem organizado facilita as trocas de informações, além de

melhorar a qualidade de vida dos funcionários envolvidos no processo produtivo,

direcionando-os para um melhor desempenho.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Este trabalho busca avaliar a situação atual de um canteiro de obras localizado em

Feira de Santana, com a possibilidade de propor melhorias através do gerenciamento

visual para poder oferecer informações acessíveis e simples, permitindo o

compartilhamento das informações e melhorando a eficiência das operações, bem

como a qualidade de vida dos operadores do sistema produtivo.

1.2.2 Objetivos Específicos

Analisar o layout do canteiro de obras;

Avaliar o sistema de informação visual, a organização e limpeza do canteiro;

Verificar a aplicabilidade de ferramentas de gerenciamento visual, e a possível

manutenção dela com a aplicação do sistema de 5S.

1.3 METODOLOGIA

O trabalho tem como método de pesquisa o estudo de caso, que é o mais adequado

para avaliar um fenômeno contemporâneo, no qual o pesquisador não tem o domínio de todas

as variáveis (YIN apud ROESCH, 1999). Já o tipo do projeto se encaixa como proposição de

planos, de acordo com a tipologia descrita por Roesch (1999). A autora diz que na proposição

19

de planos o projeto objetiva apresentar soluções para problemas já identificados de forma a

buscar melhorias e se possível acompanhando a implementação dos planos para verificar a

eficácia dos resultados.

Inicialmente para fundamentar o trabalho será feita uma revisão teórica, buscando as

informações através de livros, revistas, internet, mas sendo os artigos técnicos o foco da

pesquisa.

Posteriormente será realizada uma análise das instalações de canteiros de obras de uma

empresa na cidade de Feira de Santana, Bahia.

A análise terá as seguintes etapas:

Avaliação do estado atual dos canteiros, a qual será feita com o uso de uma

lista de verificação (check-list), que permite uma analise qualitativa do

canteiro, um questionário criado pelo pesquisador, além de registro fotográfico.

Diagnóstico da situação atual para propor melhorias que facilitem a troca de

informações entre o canteiro, a administração, e os operários, buscando a

padronização dos processos e obtendo um feedback melhor para as partes

envolvidas.

Análise final do trabalho e das possíveis ações implementadas buscando

avaliar a eficiência das mesmas, satisfação dos colaboradores, diretoria da

empresa e clientes.

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Este trabalho está dividido em cinco capítulos. Sendo que o primeiro consiste na

introdução, que contém a introdução do tema, seguido da justificativa, objetivos gerais e

específicos, metodologia, e estrutura da monografia.

O segundo capítulo é a revisão teórica feita para embasar a monografia. Apresenta

conceitos básicos sobre canteiro de obra, planejamento de canteiro, Gerenciamento Visual,

etc.

No capítulo três refere-se ao método de pesquisa que foi utilizado no presente trabalho.

O capítulo quatro apresenta os resultados obtidos na pesquisa e discussões sobre os

mesmos.

O capítulo cinco é a finalização do trabalho, no qual são apresentadas as conclusões e

sugestões de temas para a continuidade de estudos na área.

20

2 REVISÃO TEÓRICA

2.1 CANTEIRO DE OBRAS

De acordo com a Norma Regulamentadora nº 18 (NR-18), que define condições e

meio ambiente de trabalho na indústria da construção, o canteiro de obras é definido como a

“área de trabalho fixa e temporária, onde se desenvolvem operações de apoio e execução de

uma obra”. E segundo a NBR-12284 Áreas de vivência em canteiros de obras, o canteiro é o

conjunto de “áreas destinadas à execução e apoio dos trabalhos da indústria da construção,

dividindo-se em áreas operacionais e áreas de vivência”.

As instalações do canteiro devem ser projetadas de acordo com imposições legais,

como a NR-18, e a NBR-12284, e também considerando-se a funcionalidade da obra, visando

um andamento dos processos contínuo e eficiente.

De acordo com Gehbauer et al. (2002), as instalações de infra-estrutura podem ser

consideradas como os projetos básicos para um desenvolvimento racional da construção.

Alguns dos componentes de infra-estrutura que devem estar presentes em todos os canteiros

de obra são:

áreas de vivência: que são o escritório da obra, o local para refeições, vestiários e

instalações sanitárias;

armazenamento e estocagem de materiais: basicamente o almoxarifado e depósitos;

central de carpintaria;

fornecimento de água;

esgoto da obra;

instalações elétricas;

caminhos para veículos e pedestres dentro do canteiro;

equipamentos de transportes.

As instalações de segurança são fixadas pela NR-18, sendo imprescindível que ela seja

seguida e esteja disponível para consulta nos canteiros de obras. Dentre as instalações de

proteção estão as instalações de proteção do trabalho, as proteção de vias públicas, e também

as instalações de proteções contra emissões.

2.1.1 Tipos de Canteiro de Obras

21

De acordo com Illingworth (1993), citado por Saurin e Formoso (2006), os canteiros

de obra podem ser classificados dentro de um dos três seguintes tipos:

a) Restritos: A construção ocupa o terreno completo ou grande parte, como em

construções em áreas no centro da cidade.

b) Amplos: A construção ocupa somente uma parte relativamente pequena do terreno,

como em construções industriais, conjuntos habitacionais horizontais, entre outros,

nos quais há disponibilidade de acesso de veículos e grandes áreas de estocagem de

material e acomodação dos funcionários.

c) Longos e estreitos: São restritos em apenas uma direção, com possibilidade de acesso

em poucos pontos do canteiro.

Dentre os tipos de canteiro, o mais complexo que necessita de um estudo aprofundado

para se obter a maior eficiência são os canteiros restritos, estes que devem ter planos de ações

para cada período, aproveitando o máximo das áreas disponíveis.

2.2 PLANEJAMENTO DO CANTEIRO

Segundo Saurin e Formoso (2006), o planejamento de um canteiro de obras pode ser

definido como o planejamento do layout e da logística das suas instalações provisórias,

instalações de segurança e sistema de movimentação e armazenamento de materiais.

De acordo com Gehbauer et al. (2002), as instalações do canteiro dependem

principalmente dos seguintes fatores:

Condições locais da obra: possibilidades de abastecimento, área disponível,

possibilidades de acesso;

Tipo e tamanho da obra: volume total e tipo de insumos a serem usados na construção;

Métodos de produção: produção em sequência, simultânea ou cadenciais;

Tempo de construção e planejamento da execução da obra: distribuição no tempo dos

transportes maiores;

Recursos operacionais disponíveis: número de trabalhadores, qualificação dos

mesmos, máquinas e equipamentos.

O planejamento dos canteiros deve ser normalmente realizado em quatro etapas:

diagnóstico, análise da situação problema, elaboração e por último a implantação e controle

do projeto (SAURIN, 2006).

22

De acordo com Saurin e Formoso (2006), o diagnóstico dos canteiros de obra já

existentes deve ser a primeira atividade a ser realizada em um programa de melhorias, uma

vez que são gerados informações para a realização das etapas de padronização e

planejamento.

Segundo Saurin (2006), o diagnóstico deve atingir os seguintes objetivos:

Identificar padrões já existentes e padrões novos que necessitarão ser criados;

identificar as deficiências mais freqüentes e graves nos canteiros, as quais poderão ser

priorizdas;

justificar a necessidade do trabalho de padronização e demonstrar a importância do

planejamento do canteiro, a partir do relato dos problemas.

Com os dados do diagnóstico, é feita uma reunião para apresentar e discutir os

resultados, e assim propor soluções para os problemas encontrados. É interessante a presença

de engenheiros, mestre-de-obras e diretores.

A elaboração do projeto do canteiro deve preferencialmente ser coordenada pelo

gerente técnico da obra (SAURIN E FORMOSO, 2006).

Ainda segundo Saurin e Formoso (2006), caso o estudo seja feito ainda durante a etapa

de anteprojeto, deve ser elaborada uma planta de anteprojeto do canteiro para ser

encaminhada a todos os projetistas, a fim de que todos verifiquem a existência de eventuais

interferências com seus projetos. Sendo a parte de implantação e controle do projeto a mais

importante, pois serve de subsídio para melhorias e base para novos projetos.

Quanto maior o cuidado em relação ao projeto e implantação do layout do canteiro de

obras, melhores as chances de sucesso quanto aos aspectos de produtividade, qualidade e,

segurança do trabalho. A NR-18 ao prescrever ações voltadas à segurança do trabalho tem no

canteiro de obras o palco para sua implementação. A exigência do Programa de Condições e

Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), apesar de contemplar

apenas a distribuição inicial das instalações, leva à criação de um projeto completo do

canteiro, onde além dos cuidados específicos quanto à segurança, surge a necessidade de se

determinar o processo construtivo de forma a minimizar os riscos à saúde dos trabalhadores e

outros. A Figura 1 demonstra as interfaces que existem e que devem ser consideradas para a

concepção do projeto do canteiro de obras (SOUZA, 2000).

23

Figura 1 – Fluxograma das atividades para planejamento do canteiro de obras

(SOUZA, 2000)

O planejamento tem como um dos objetivos principais a minimização das distâncias

dos transportes mais freqüente e volumosos no canteiro. Mesmo com o caráter provisório, há

uma grande importância no planejamento da eficiência e funcionalidade dos serviços, já que

deve-se evitar ao máximo os desperdícios (atividade que não agrega valor) durante a execução

da obra.

Segundo Koskela (1992), perdas podem ser definidas como tudo aquilo que consomem

recursos e tempo, mas não agregam valor. As atividades de fluxo (inspeção de material,

transporte e armazenamento) e de conversão (processamento do material) consomem tempo e

recursos, porém, só a ultima agrega valor ao produto. Ainda segundo o autor, apenas cerca de

20% das atividades do processo construtivo são de conversão.

De acordo com Formoso (2002), o modelo da Construção Enxuta, muito difundido

atualmente, assume que um processo consiste em um fluxo de materiais, que vai desde a

matéria prima até o produto final, sendo o mesmo composto por atividades de transporte,

espera, processamento e inspeção. As atividades de transporte, espera e inspeção não agregam

24

valor ao produto final, sendo por esta razão denominadas atividades de fluxo. E Nem toda a

atividade de processamento agrega valor ao produto.

Hines e Taylor (2000) citado por Lazarin (2001) afirmam que quando falamos sobre

desperdício é comum definir três diferentes tipos de atividades quanto à sua organização:

- Atividades que agregam valor: são atividades que, para o consumidor final, agregam

valor ao produto ou serviço. Ou seja, atividades que o cliente ficaria satisfeito em pagar;

- atividades desnecessárias que não agregam valor: são atividades que, para o

consumidor final, não agregam valor ao produto ou serviço e que são desnecessárias. Estas

atividades são claramente desperdícios e devem ser eliminadas imediatamente;

- atividades necessárias que não agregam valor: são atividades que, aos olhos do

consumidor final, não agregam valor ao produto ou serviço, mas que são necessárias. Trata-se

de desperdícios difíceis de serem eliminados em curto prazo, portanto, necessitam de um

tratamento em longo prazo. O setup é um exemplo. Setup representa o tempo de troca de

ferramentas para produção de um produto A até o produto B.

Segundo Shingo (1996) citado por Bulhões et al (2002), as operações são classificadas

em:

- Operações de setup: preparação antes e depois das operações, como exemplo,

remoção e ajuste de ferramentas;

- Operações principais: execução do trabalho necessário, que pode ser dividida em

duas subcategorias: operações essenciais e auxiliares. As operações essenciais constituem-se

na execução do processo de produção em si, enquanto que as operações auxiliares constituem-

se na execução de atividades que se encontram imediatamente antes e depois da realização

das operações essenciais;

- Folgas marginais ou não ligadas ao pessoal: são os tempos nos quais os operários não

estão realizando qualquer operação e suas causas não estão ligadas à ação direta das pessoas.

- Folgas ligadas ao pessoal: não se relacionam à operação e são relativas às

necessidades do trabalhador, que podem ser por fadiga e por necessidades pessoais.

Para Bulhões et al (2002), as operações vinculadas a processos secundários, como por

exemplo o setup, são consideradas como operações auxiliares. Sendo que parte delas são

essenciais, considerando um determinado nível de desenvolvimento do processo e que a outra

parte pode ser considerada como perda.

Ainda segundo Bulhões et al (2002), as operações improdutivas são as que não agregam

valor ao produto final e são consideradas como perda na sua totalidade. Destaca-se que

algumas das operações improdutivas são impossíveis de serem totalmente eliminadas do

25

processo de produção, principalmente por que estão relacionadas com folgas devido ao

cansaço físico e às necessidades pessoais e movimentos essenciais ao trabalho.

Todos os tipos de perdas são prejudiciais, mesmo sendo necessárias em alguns casos.

Porém as quantidades de perdas que não são necessárias se agravam quando se fala de

Construção Civil. Devido a isto deve-se ter uma preocupação maior no momento do

planejamento e no gerenciamento das obras, pois esses dois processos são fundamentais para

diminuírem esses desperdícios.

2.3 PARTES COMPONENTES DO CANTEIRO

2.3.1 Instalações de Infra-estrutura

A infra-estrutura é a parte básica para o desenvolvimento racional da construção. De

acordo com Ferreira (1998), O canteiro de obras tem como objetivo proporcionar infra-

estrutura necessária para a execução do edifício, com os recursos disponíveis, no momento

necessário para sua utilização.

2.3.1.1 áreas de vivência

De acordo com a definição da NR-18, as áreas de vivência (refeitório, vestiário, área

de lazer, alojamentos e banheiros) são áreas destinadas a suprir as necessidades básicas

humanas de alimentação, higiene, descanso, lazer e convivência, devendo ficar fisicamente

separadas das áreas laborais.

a) Escritórios da obra:

São destinados aos funcionários da administração da obra, como engenheiro, mestre-

de-obras, estagiários, e tem a função de proporcionar um local adequado para que possam

ser realizadas suas atividades. Segundo Saurin et al. (2006), a função complementar é

servir como local de arquivo da documentação técnica da obra que deve estar disponível

no canteiro, incluindo projetos, cronograma, licenças, etc.

26

Segundo Gehbauer et al. (2002), as salas do pessoal administrativo devem estar

dispostas nas laterais do canteiro, de preferência próximas ao acesso a obra. Além disso,

deve ser possível a partir das salas ter uma visão geral do canteiro.

b) Local para refeições:

Independente da quantidade de funcionários, todo canteiro de obras ter a disposição

um local adequado para os funcionários realizarem suas refeições. O local deve atender

todos os funcionários no horário das refeições de forma adequada.

Conforme Saurin et al. (2006), considerando que o refeitório é uma instalação que

abriga muitas pessoas simultaneamente, é indispensável que o mesmo possua uma boa

ventilação claridade, higiene e espaço para circulação dos usuários.

c) Vestiários:

Todo canteiro deve possuir vestiário provido de armários individuais com fechaduras e

cabides, e se possível na entrada da obra, isto partindo da idéia que os EPI’s básicos,

comuns a todos os trabalhadores (capacetes e botinas), sejam guardados no vestiário.

Desta forma busca-se que apenas o percurso vestiário-portão seja realizado sem o uso de

capacete e botina.

Normas exigem dimensionamento mínimo deste ambiente, mas segundo Saurin et al.

(2006), este critério é difícil de ser cumprido em canteiros restritos.

d) Banheiros:

As instalações são componentes básicos e essenciais de um canteiro de obras. Devem

ser compostas por vasos sanitários, mictórios, lavatórios e chuveiros.

A NR-18 apresenta critérios para o dimensionamento das instalações hidrossanitárias,

estabelecendo as seguintes proporções e dimensões mínimas:

1 lavatório, 1 vaso sanitário e 1 mictório para cada grupo de 20

trabalhadores ou fração;

1 chuveiro para cada grupo de 10 trabalhadores ou fração.

27

2.3.1.2 armazenamento e estocagem de materiais

a) Almoxarifado:

O almoxarifado é utilizado para o armazenamento de ferramentas e equipamentos,

bem como materiais que serão usados durante a construção. Ele deve ser instalado em

local de fácil acesso, e de acordo com Saurin et al. (2006), deve situar-se idealmente,

próximo a três outros locais do canteiro, de acordo com a seguinte ordem de prioridades:

ponto de descarga de caminhões, elevador de carga e escritório.

b) Galpões para depósito:

Os galpões usados como depósito para os materiais de construção como tijolos,

massas ou ferragem de armação devem ser dimensionadas adequadamente durante o

planejamento da obra. Este dimensionamento deve considerar principalmente a estocagem

das barras de aço para armadura. (GEHBAUER et al.,2002)

2.3.1.3 fornecimento de água

A água é importante para muitos fins no canteiro, é usada desde o preparo de mistura,

limpeza de equipamento, e consumo humano. Deve haver um dimensionamento adequado

para não ter comprometimento do funcionamento de serviços e instalações.

2.3.1.4 esgoto

A rede de esgotamento do canteiro através da rede pública é a solução mais econômica

e higiênica. Há casos onde não existe uma rede de esgoto pública, levando à utilização do

conjunto fossa mais sumidouro.

2.3.1.5 instalações elétricas

O planejamento do abastecimento de energia dever ser determinado com antecedência,

para posteriormente ser planejada a rede de distribuição de energia. O cálculo da demanda de

energia elétrica permite uma comparação com a demanda definitiva do empreendimento,

28

tendo a possibilidade de fazer uma única entrada de serviço. Dentre as vantagens deste

procedimento é a eliminação do custo devido ao aumento da carga pela concessionária, ter um

abastecimento seguro e não ter que esperar o prazo para a realização do serviço no final da

obra.

2.4.1.6 caminhos dentro do canteiro

Conforme Gehbauer et al. (2002), por motivos de segurança, deve-se tentar fazer a

separação de caminhos para veículos e para pedestres, mesmo que isso não ocorra na prática.

O trajeto das ruas dentro do canteiro deve ser feitas para que não haja situações de

conflito, evitando acidentes e aumentando a eficiência dos transportes e evitando desperdícios

de tempo e recursos. Segundo Gehbauer et al. (2002), para isso ocorrer devem ser

considerados os seguintes pontos:

A entrada e saída de veículos da obra deve ser posicionada de modo a permitir

boa visibilidade;

As ruas dentro do canteiro devem possibilitar uma ligação direta entre os meios

de transporte verticais e horizontais;

Se possível, deve-se tentar, através do traçado de ruas, facilitar o acesso dos

veículos aos principais pontos de produção dentro do canteiro;

Quando ocorrer o descarregamento de veículos no canteiro, os demais

transportes não devem ser prejudicados por esta atividade.

2.3.2 Instalações de Segurança

2.3.2.1 instalações de proteção do trabalho

As normas para estas instalações são fixadas pela NR-18 – Condições e Meio

Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. As condições de trabalho devem ser

sempre observadas no canteiro para evitar pontos de risco. Para Gehbauer et al. (2002),

segurança também significa limpeza no canteiro, pois em canteiros sem limpeza podem passar

despercebidas situações de risco para os trabalhadores.

29

2.3.2.2 proteção de vias públicas de tráfego

As vias que circundam a obra devem estar seguras contra eventuais acidentes

provocados pelos trabalhos realizados na obra. Para evitar estes acidentes existem medidas,

como o uso de sinais luminosos, letreiros, tela de proteção nas fachadas de prédios, entre

outros dispositivos que quando usados evitam danos materiais e físicos para os clientes

externos, além de evitar problemas para a empresa.

2.4 GERENCIAMENTO VISUAL

O Gerenciamento Visual é a adoção de princípios de transparência na gestão da

produção. A transparência é a habilidade de um processo de produção se comunicar com as

pessoas. O gerenciamento é perfeito quando alguém com pouco conhecimento técnico

entende o processo sem perguntas, ou seja, um local auto-explicativo. (SAURIN, 2010)

Para se obter o gerenciamento visual deve-se entender como funcionam os processos e

operações de produção, como destaca Shingo (1996), em seu trabalho:

Toda a produção, executada tanto na fábrica como no escritório, deve ser entendida como uma rede

funcional de processos e operações. Processos transformam matérias-primas em produtos. Operações

são as ações que executam essas transformações. Esses conceitos fundamentais e sua relação devem ser

entendidos para alcançar melhorias efetivas na produção.

Hall (1987) citado por Lazarin (2001) define a comunicação visual como uma

comunicação “sem palavras, sem voz”, não apenas das condições do chão de fábrica para os

trabalhadores, mas um verdadeiro mapa auto-explicativo das condições do fluxo do processo

produtivo para todos aqueles que podem ler e compreender sinais físicos, indicativos de

funcionamento dos espaços de trabalho.

Para ele, a proposta da visibilidade que a Gestão Visual oferece é o efetivo e imediato

“feedback”, cujos objetivos são:

oferecer informações acessíveis e simples, capazes de facilitar o trabalho

diário, aumentando a vontade de se trabalhar com maior qualidade;

aumentar o conhecimento de informações para o maior número de pessoas

possível;

reforçar a autonomia dos funcionários, no sentido de enriquecer os

relacionamentos e não enfraquecê-los;

30

fazer com que o compartilhamento das informações passe a ser uma questão de

cultura da empresa.

De acordo com Saurin (2010), para se obter a transparência na gestão da produção

deve-se:

tornar o processo diretamente observável, removendo obstáculos visuais,

melhorar a iluminação, criar layouts compactos;

manter a limpeza e a organização, isso pode ser obtido com o auxilio do 5S;

medição de desempenho, que seria tornar visíveis atributos invisíveis do

processo, como mostrar resultados (feedback) aos trabalhadores.

Com o gerenciamento visual o local de trabalho pode se comunicar por si só,

oferecendo uma imagem representativa da realidade. Segundo Lazarin (2001), se a

comunicação for simples e clara como é a proposta do Gerenciamento Visual, percebe-se uma

melhor integração dos operários com o local de trabalho e, conseqüentemente os produtos e

serviços prestados terão um direcionamento para uma maior qualidade.

Com o gerenciamento visual a idéia que os gerentes devem saber mais sobre os

processos que os operários acaba, além de simplificar o controle, em particular a comparação

com os padrões, que consequentemente reduz a propensão a erros e os tornam mais visíveis.

De acordo com Womack et al. (1992), a disseminação de informações possibilita a

qualquer um no seu local de trabalho responder rapidamente aos problemas e conhecer a

situação global. Ainda segundo ele numa fábrica enxuta, todas as informações, como metas

diárias de produção, panes em equipamentos, faltas de pessoal, necessidades de horas extras,

entre outros, são exibidas em quadros visíveis de todas as estações de trabalho e quando

acontece algo errado em qualquer local da fábrica, todo o empregado que possa ajudar vai até

o local.

O controle visual faz parte do gerenciamento visual, e segundo Liker (2005), o

controle visual é qualquer dispositivo de comunicação usado no local de trabalho para nos

dizer com rapidez como o trabalho deve ser executado e se há algum desvio de padrão. Esse

controle auxilia os funcionários que desejam realizar um bom trabalho a ver imediatamente

como o estão executando. Ele também fala que o controle visual pode mostrar a que categoria

os itens pertencem, quantos itens devem constar naquela categoria, qual o procedimento

31

padrão para uma determinada tarefa, o status do estoque em processo, e muitos outros tipos de

informações importantes para o fluxo de atividades no trabalho.

Os dispositivos de controles visuais são mecanismos intencionalmente projetados para

compartilhar informações de modo instantâneo e influenciar o comportamento, sem dizer uma

palavra.

Um dos dispositivos de controles visuais usados para inspeção é o Poka-yoke.

Segundo Shingo (1996), o dispositivo Poka-yoke em si não é um sistema de inspeção, mas

sim um método de detectar defeitos ou erros que pode ser usado com a função de inspeção.

Ainda segundo Shingo (1996), existem duas maneiras que o dispositivo pode ser

usado:

método de controle é o dispositivo corretivo que paralisa o processo até que a

condição causadora do defeito tenha sido corrigida.

método de advertência que permite que o processo que está gerando o defeito

continue, caso os trabalhadores não atendam ao aviso.

Outro dispositivo visual muito comum é o Kanban. De acordo com Ohno (1997), a

idéia para criação desta ferramenta foi retirada dos supermercados americanos e usada no

Sistema Toyota de produção como método de operação.

Ainda segundo o autor o Kanban tem a finalidade de atingir o Just-in-time, este que

significa que, em um processo de fluxo, as partes corretas necessárias à montagem alcançam a

linha de montagem no momento em que são necessários e somente na quantidade necessária.

Na tabela 1 abaixo são apresentadas as funções e regras para utilização do Kanban

segundo Ohno (1997).

Tabela 1 – Funções e regras para utilização do Kanban (Adaptado de Ohno, 1997)

Funções Regras para Utilização

Fornecer informação sobre apanhar ou

transportar

O processo subseqüente apanha o número de

itens indicados pelo kanban no processo

precedente

Fornecer informação sobre a produção O processo inicial produz itens na quantidade

e sequência indicadas pelo kanban

Impedir a superprodução e o transporte

excessivo

Nenhum item é produzido ou transportado

sem um kanban

Servir como uma ordem de fabricação

afixada às mercadorias

Serve para afixar um kanban às mercadorias

32

Impedir produtos defeituosos pela

identificação do processo que os produz

Produtos defeituosos não são enviados para o

processo seguinte. O resultado é mercadorias

100% livres de defeitos

Revelar problemas existentes e mantém o

controle de estoques

Reduzir o número de kanbans aumenta a sua

sensiblilidade aos problemas

Oakland (1999), citado por Lazarin (2001), demonstra em seu trabalho a porcentagem

de aprendizagem dos processos através dos cinco sentidos, destacando o sentido da visão,

como a mais importante função para o funcionamento do sistema fabril manipulado pelo

operário, conforme mostra o gráfico abaixo:

Figura 2: Processo de aprendizagem através dos cinco sentidos. Fonte: Oakland (1999), citado

por Lazarin (2001).

Na construção civil o nível de instrução da maioria dos operários é baixo, sendo este

método de comunicação visualmente eficiente, conseguindo-se atingir a todos de um modo

simples e rápido.

2.5 A FERRAMENTA 5S

Há muito tempo que se vem discutindo mudanças e melhorias nos processos de trabalho

da construção civil. A maneira de organizar o canteiro de obras é um dos pontos importantes

para atingir este objetivo. Na maioria das vezes as soluções são simples, mas quando não

73%

12%

6%

6%3%

VISÃO

AUDIÇÃO

TATO

OLFATO

PALADAR

33

planejadas acarretam um efeito multiplicador de problemas com fluxos de processos de

segurança e de desperdícios.

O 5S surgiu no Japão no inicio do século XX e pode ser definido basicamente no

empenho das pessoas em organizar o local de trabalho por meio de manutenção apenas do

necessário, da limpeza, da padronização e da disciplina na realização do trabalho, com o

mínimo de supervisão possível. Esse método explora três dimensões básicas: a dimensão

física (layout), a dimensão intelectual (realização das tarefas) e a dimensão social

(relacionamentos e ações do dia-a-dia). Estas três dimensões se inter-relacionam e dependem

uma da outra. No momento em que uma das dimensões é modificada, são sentidos os reflexos

nas outras duas (CAMPOS ET AL, 2005).

Observando a execução de tarefas, normalmente nota-se que diversas ações não

significam diretamente "trabalho produtivo" isto é, não agregam valor. Tais ações envolvem

manuseio, transporte de objetos (materiais, peças, ferramentas, etc.), procura de algum item,

locomoção, solicitação de algo, mudança de posição, dentre outros. Nestas situações, os

distúrbios causados não contribuem para que as pessoas se concentrem na execução do

serviço, além de significarem perda de tempo.

De acordo com Lazarin (2001), pode-se observar que a identificação dos itens necessários

no local de execução da tarefa, o descarte dos itens desnecessários, a disposição destes itens

em locais próximos ao uso ou aplicação, a identificação dos mesmos de modo que qualquer

pessoa possa reconhecer e localizar facilmente, a facilidade de acesso e retorno ao local após

uso, a limpeza, a disciplina em manter o ambiente organizado, constituem ações que

aumentam a eficiência do trabalho.

Os 5S são derivados de palavras japonesas, que iniciam com a letra “s”. Segundo Lazarin

(2001) os “s” são definidos da seguinte forma:

Etapa 1: Eliminar o desperdício (Seiri)

Envolve a seleção do conteúdo do ambiente de trabalho e a remoção dos itens

desnecessários.

Etapa 2: Organizar (Seiton)

Envolve a colocação dos itens no lugar e a facilidade ao acesso.

34

Etapa 3: Limpar (Seiso)

Envolve a limpeza de tudo, sua manutenção diária e o uso desta para inspecionar o

ambiente de trabalho e o equipamento em relação a defeitos.

Etapa 4: Padronizar (Seiketsu)

Envolve a criação de controles visuais e orientações para manter o ambiente de

trabalho organizado, arrumado e limpo.

Etapa 5: Manter o padrão (Shitsuke)

Envolve treinamento e disciplina para garantir que todos sigam os padrões 5S.

Conforme Habu et al (1992) citado em Campos et al (2005), Após a análise da

metodologia, pode-se notar a importância do senso de autodisciplina para o 5S e do 5S para

empresa. “O 5S traz a melhoria da estrutura da empresa, sendo que, para tal, o método de

abordagem adequado é a execução antes da teorização. Com a realização do 5S até o nível de

uma crença, os resultados obtidos são extremamente grandes tanto em termos quantitativos

quanto qualitativos”.

Segundo a Fundação Chistiano Ottoni (1991), citado por Gonzalez (2001), os objetivos

do 5S são: A melhoria da qualidade, prevenção de acidentes, melhoria da produtividade,

redução de custos, conservação de energia, prevenção quanto a paradas por quebras, melhoria

do ambiente de trabalho, aumento da moral dos empregados e incentivo à criatividade.

De acordo com Gonzalez (2001), o programa dever ser implantado por iniciativa da

administração em conjunto com todos os funcionários. Deve-se marcar uma reunião com

todos para iniciar a implantação, e assim envolver as pessoas e tentar conscientizá-las das

responsabilidades que cada um terá no contexto, fazendo com que crie vínculos com as

pessoas envolvidas para que todos se preocupem com o processo.

Segundo a Fundação Cristiano Ottoni (1991), citado por Gonzalez (2001), as principais

recomendações são:

O programa necessita de treinamento e educação sobre o assunto para todos os

Gerentes e Supervisores, já que eles que irão divulgar os projetos.

35

Realizar “check-list” para descobrir pontos falhos. A ação deverá ter a participação de

todos os funcionários.

Identificado os problemas, deve-se aplicar o Método de Solução de Problemas (QC

Story) que consiste em utilizar a pergunta “por quê” por três vezes, descobrindo suas

causas fundamentais.

Depois de descoberta as causas, realizar uma ação corretiva seguida de uma ação

preventiva.

Caso atingido o resultado esperado, deve-se padronizar a atividade.

A seguir passa-se a descrever os cinco sensos mais detalhadamente.

2.5.1 Senso de Utilização (SEIRI)

Sintetizando, o conceito é basicamente separar o útil do inútil, eliminando o

desnecessário. Nesta fase, o trabalho começa a ser colocado em ordem, para que só se utilize

o que for realmente necessário. Então passa a ser importante ter o necessário, na quantidade

adequada e controlada para facilitar as operações.

De acordo com Silva (2005), é essencial saber separar e classificar os materiais úteis dos

inúteis da seguinte forma:

O que é usado sempre: colocar próximo ao local de trabalho.

O que é usado quase sempre: colocar próximo ao local de trabalho.

O que é usado ocasionalmente: colocar um pouco afastado do local de trabalho.

O que é usado raramente, mas necessário: colocar separado, em local determinado.

O que for desnecessário: deve ser reformado, vendido ou eliminado, pois ocupa

espaço necessário e atrapalha o trabalho.

Segundo Campo et al (2005), ao implantar este senso alguns benefícios serão notados,

como por exemplo, a liberação de espaço físico, a diminuição de acidentes, a diminuição de

36

custos de manutenção, a reutilização de recursos, a melhoria do ambiente de trabalho, entre

outros.

2.5.2 Senso de Ordenação (SEITON)

O conceito básico deste senso pode ser descrito como identificar e arrumar tudo, para

que qualquer pessoa possa localizar facilmente.

De acordo com Campos et al (2005), este próximo passo a ser dado é desenvolver um

arranjo físico sistemático para organizar de maneira mais funcional o local de trabalho, isto é,

dispor os recursos eficiente e eficazmente de modo a facilitar o fluxo de pessoas, materiais e

informação e gerar um sistema de controle visual.

Este senso funciona como um otimizador da área de trabalho, ele define critérios e

locais apropriados para estocagem, depósitos de ferramentas e materiais, armazenamento e

fluxo de informações, fazendo com que as coisas necessárias sejam usadas com rapidez e

segurança a qualquer momento.

Segundo Campos et al (2005), para implementar o senso de ordenação. alguns

procedimentos devem ser tomados, dentre eles:

reorganizar a área de trabalho;

classificar os objetos (padronizando por nomes) e guardá-los segundo esta

classificação;

utilizar cores fortes e etiquetas para identificação;

utilizar quadros de aviso como fonte de informação;

praticar o sistema FIFO, first in first out (ou PEPS, primeiro a entrar primeiro a sair);

elaborar mapa de riscos.

Os benefícios gerados são inúmeros, pois em ambiente ordenado, o trabalho é mais

objetivo, aumentando a produtividade, reduzindo-se custos e acidentes de trabalho,

economiza-se tempo, entre outros benefícios.

37

2.5.3 Senso de Limpeza (SEISO)

Como o próprio nome já diz, este senso consiste em manter um ambiente sempre

limpo, eliminando as causas da sujeira e aprendendo a não sujar. Deve-se entender limpeza

inclusive no sentido visual e sonora.

De acordo com Lapa (1998) apud Campos et al (2005), a poeira, lama, lixo, e

semelhantes nos locais de trabalho, podem além de influenciar negativamente a saúde e

integridade dos trabalhadores como também causar danos, defeitos e falhas em equipamentos.

O resultado disto são quebras inesperadas de equipamentos, ferramentas não disponíveis,

deterioração de peças e materiais, etc.

Para implementar este senso Campos et al (2005) cita alguma medidas que devem ser

tomadas:

Educar para não sujar;

todos devem se comprometer com a limpeza de cada um;

descobrir e eliminar as causas da sujeira;

limpeza e clareza na comunicação;

ter em mente que não sujar é mais importante que limpar.

Segundo Silva (2005), de um modo mais amplo, pode-se incluir neste conceito, manter

dados atualizados, procurar ser honesto no ambiente de trabalho e manter bom relacionamento

com os colegas de trabalho. Sendo que tudo isso é importante para a imagem interna e externa

da empresa.

De acordo com Campos et al (2005), a implementação deste senso traz benefícios para

a empresa, como exemplo, a melhoria do ambiente de trabalho; a capacidade de detectar

falhas de equipamentos; a redução da taxa de deterioração dos equipamentos (maior vida útil),

e, portanto uma maior economia; o aumento da auto-estima no trabalho, etc.

38

2.5.4 Senso de Saúde (SEIKETSU)

Este senso é de extrema importância para a manutenção dos outros três já citados, pois

a melhoria da qualidade de vida no trabalho estimula a adesão e comprometimento de todos.

“Consiste basicamente em garantir ambiente não agressivo e livre de agentes

poluentes, manter boas condições sanitárias nas áreas comuns, zelar pela higiene pessoal,

gerar e disponibilizar informações e comunicados de forma clara e, no sentido mais amplo do

senso, ter ética no trabalho e manter relações interpessoais saudáveis, tanto dentro quanto fora

da empresa.” (CAMPOS ET AL, 2005)

Campos et al (2005), fala que para implementação deste senso alguns procedimentos

devem ser adotados:

Ter implementado os três primeiros sensos;

valorizar a aparência pessoal e da empresa;

evitar todas as formas de poluição;

manter condições para colocar em prática o controle visual;

cuidar da saúde dos colaboradores (alimentação, exercícios físicos, exames periódicos,

equipamentos de segurança – EPI, etc.).

As vantagens com a aplicação deste senso segundo Silva (2005) são:

Melhor segurança e desempenho pessoal;

prevenção de danos a saúde dos colaboradores;

melhor imagem da empresa internamente e externamente;

elevação do nível de satisfação e motivação do pessoal para com o trabalho.

Nesta fase é muito importante o uso de recursos visuais, como instruções para as

operações evitando erros, aviso e identificação de equipamentos e materiais, etc.

39

2.5.5 Senso de Autodisciplina (SHITSUKE)

O conceito baseia-se na idéia de fazer as atitudes descritas nos outros sensos um

hábito, transformando os 5S’s no modo de vida. Este é o mais difícil de ser implementado,

pois envolve a mudança de comportamento.

Os autores falam que com a consolidação da disciplina (SHITSUKE), pode se dizer

que o método 5S se consolida também. Segundo Campos et al (2005), a consolidação deste

senso determina que a mudança de valores está disseminada e enraizada em toda organização.

Para praticar este senso Campos et al (2005), cita algumas ações que devem ser

tomadas:

Não acobertar erros;

tomar providências mediantes aos erros;

elaborar normas objetivas e claras;

compartilhar visão e valores;

melhorar a comunicação em geral;

educar, não treinar;

ser rigoroso com horários;

criticar de forma construtiva e recebê-las sem tomar como algo pessoal.

De acordo com Gonzalez (2001), este é um passo bastante refinado que fica estabelecido a

necessidade de ter os operários comprometidos com o cumprimentos éticos, morais, e com a

melhoria contínua a nível pessoal e organizacional.

Segundo Silva (2005), com o tempo, a implantação do programa traz benefícios como:

Reduz a necessidade constante de controle;

facilita a execução de toda e qualquer operação;

evita perdas oriundas de trabalho, tempo, ferramentas, etc;

40

traz previsibilidade do resultado final de qualquer operação;

os produtos ficam dentro dos requisitos de qualidade, reduzindo a necessidade de

controles, pressões, etc.

2.6 O GERENCIAMENTO VISUAL E A FERRAMENTA 5S

Depois de explicitado sobre os conceitos do gerenciamento visual e do 5S, percebe-se

que eles estão entrelaçados, ou seja, o 5S é uma ferramenta que além de auxiliar na

implementação e manutenção do gerenciamento visual, ele mesmo já tem alguns processos de

controles visuais na sua metodologia.

O 5S além de outros benefícios proporciona um ambiente organizado, limpo e com um

aspecto visual melhorado, isto quer dizer que no local de trabalho muito da poluição visual

desnecessária vai deixar de existir, facilitando o fluxo de informações entre os funcionários.

Com o fluxo de informações eficiente e estável devido a implantação do 5S, este que

quando consolidado altera a cultura dos funcionários que passam a garantir a continuidade das

mudanças, o gerenciamento visual encontra as condições necessárias para um bom

funcionamento, aumentando a sua eficácia.

A aplicação dos três primeiros S’s pode ser um passo mais fácil para a introdução

deste método no contexto da construção civil, e posteriormente ser dada a continuidade para

os próximos dois S’s,”, pois os funcionários por terem em sua maioria um nível de instrução

mais baixo e possuírem uma cultura em que este tipo programa não é utilizado, trazida de

outras obras, torna sua aceitação mais difícil.

Com o primeiro passo dado com os três “S’s” os funcionários começam a notar uma

melhora na parte física do canteiro e passa a se sentirem parte do processo. Segundo Gonzalez

e Jungles (2001), o programa deve ser implantado por iniciativa da administração, mas em

conjunto com todos os funcionários. Para iniciar a implantação do programa a administração

deve marcar uma reunião com todos, para ocorrer o envolvimento com as pessoas havendo

consciência das responsabilidades que cada um terá no contexto, ou seja, que todos se

preocupem com o processo.

41

Devido às etapas demandarem tempo, é interessante passar o dia inteiro fazendo as

tarefas necessárias, cada funcionário cuidando do seu setor e o pessoal da administração

dando auxílio na supervisão. Segundo CAMPOS et al (2005), existe a necessidade de

condescendência de todos – se a alta gerência não se comprometer, o programa não se

implementará (pois, é um programa que deve ser disseminado top-down).

Com a implementação destes três S’s o canteiro torna-se um ambiente mais limpo e

organizado, facilitando as trocas de informações através de métodos de gerenciamento visual,

e melhorando a qualidade de vida dos funcionários e potencializando a eficiência das

operações.

42

3 MÉTODO DE PESQUISA

Após as questões tratadas anteriormente, doravante são apresentadas as estratégias e

procedimentos utilizados para a realização da monografia. Ela aborda os métodos, as

ferramentas e as técnicas usadas para a obtenção de dados, além de discutir os modos de

análise dos dados.

3.1 TIPO DE PESQUISA

O método de pesquisa utilizado neste trabalho foi o estudo de caso, com a proposição

de planos para os problemas já identificados, possibilitando melhorias. De acordo com

Roesch (1999), o propósito deste tipo de projeto é a proposição de planos para solucionar

problemas da empresa já diagnosticados, sendo que neste trabalho inclui a sua

implementação, não só a proposição.

3.2 ESTRATÉGIA DA PESQUISA

A estratégia de pesquisa adotada para a realização do trabalho foi o estudo de caso. De

acordo com Yin (2001), o estudo de caso é uma investigação empírica de um fenômeno

contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o

fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.

Segundo Schramm (1971), citado por Yin (2001), a principal tendência nos estudos de

caso, é que ela tenta esclarecer um conjunto de decisões, mais especificamente o motivo pelo

qual foram tomadas, como foram implementadas e quais os resultados obtidos.

Esta estratégia foi escolhida, tendo como foco a compreensão e interpretação mais

profunda dos fatos estudados, sendo que, em vários momentos, houve a participação do

pesquisador, facilitando o processo de coleta de evidências.

43

3.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA

De acordo com Bogdan e Bliken (1982) citado por Lima (2005), o delineamento da

pesquisa é um plano de como o pesquisador deve levá-la adiante.

O estudo de caso foi escolhido devido à possibilidade da pesquisa ser efetuada com a

Observação Participante, isto que é um método de coleta de dados tradicional e caracteriza-se

pelo fato do pesquisador fazer parte do processo em questão. Neste caso o pesquisador já

fazia parte do quadro de funcionários da empresa.

Nessa pesquisa foi realizado um estudo de caso em uma obra da empresa. O

delineamento da pesquisa está esquematicamente representado na figura 3 e suas etapas serão

explicadas na sequência.

Figura 3 - Delineamento da pesquisa.

A revisão bibliográfica foi realizada ao longo de toda a pesquisa, proporcionando o

embasamento teórico ao pesquisador. De acordo com Marconi e Lakatos (2002, p.71), a

pesquisa bibliográfica não deve ser uma mera repetição do que já foi dito ou escrito, mas deve

conter a análise de um tema sob novo enfoque ou abordagem, possibilitando conclusões

inovadoras.

Roesch (1996) fala que a revisão da literatura permite entre outros propósitos levantar

soluções alternativas para tratar de uma problemática, levantar métodos e instrumentos

alternativos de análise, o que, assegura ao autor originalidade em seu trabalho.

Na segunda etapa foi realizado o diagnóstico inicial através de estudos e coletas de

dados com auxilio de check-list, questionários e registro fotográfico, para estabelecer um

conhecimento da realidade da empresa e do empreendimento para o pesquisador. Nesta etapa

44

ficou decidido o cronograma de intervenção e quais métodos de Gerenciamento Visual seriam

aplicados, de acordo com a realidade da empresa e as necessidades do canteiro de obras em

estudo.

A terceira etapa do estudo destinou-se usar os 3S’s iniciais do sistema 5S para facilitar

a aplicação das ferramentas de gerenciamento visual e a sua possível manutenção, e a

aplicação dos métodos de gerenciamento visual.

Na quarta etapa foi feito um diagnóstico final, coletando dados através de check-list,

questionários com os operários, relatos dos envolvidos no processo, e registro fotográfico para

obtenção de informações relativas às modificações sentidas no canteiro de obra após a

intervenção.

Por fim, será feita uma avaliação final do trabalho para a apresentação dos resultados,

e propor soluções à empresa participante em um seminário de avaliação do estudo de caso.

A avaliação final será feita com base em constructos, estes que são criados

intencionalmente e podem ser delimitados e mensurados.

Segundo Martins (2005), constructo possui um significado construído

intencionalmente a partir de um determinado marco teórico, devendo ser definido de tal forma

que permita ser delimitado, traduzido em proposições particulares observáveis e mensuráveis.

Os constructos não são diretamente observáveis ou diretamente inferidos a partir de

fatos observáveis. Os constructos devem cobrir todas as funções das entidades inferidas: (1)

resumir os fatos observados; (2) constituir um objeto ideal para a pesquisa, isto é, promover o

progresso da observação; (3) constituir a base para previsão e a explicação dos fatos

(MARTINS, 2005).

Constructos podem ser entendidos como operacionalizações de abstrações

consideradas nas teorias, tais como: qualidade de vida; valor de uma empresa; status social;

custo social; inteligência; risco, etc.

Freqüentemente, devemos não só estar aptos a observar os constructos, mas também a

medi-los (Selltiz et al. 1987 citado por Martins 2005). Um constructo é uma variável –

conjunto de termos, de conceitos e de variáveis –, isto é, uma definição operacional robusta

que busca representar empiricamente um conceito dentro de um quadro teórico específico.

Como se pode depreender, um constructo poderá ser um embrião de um modelo.

45

Nesse trabalho, foi utilizado o conceito de constructo para a medição de variáveis

consideradas abstratas como a qualidade de vida no canteiro de obras, tendo em vista que esta

qualidade de vida pode ser observada e sentida, mas é algo difícil de ser medido, por isso essa

variável, componente do constructo “qualidade de vida no canteiro” se torna algo mais

impessoal, onde uma pesquisa qualitativa, a qual é compostas de perguntas que tem relação

com o constructo, e é quantificada através de nota junto aos funcionários do canteiro, podem

indicar uma maior ou menor nota geral no momento da aplicação e estes dados também

podem servir de base comparativa com aplicações futuras do questionário devido as

intervenções.

As variáveis envolvidas no processo que fazem parte do questionário e juntas podem

mensurar o constructo “qualidade de vida no canteiro” são: aspecto visual do canteiro e prazer

de trabalhar. A Eficiência nas Operações que é o outro constructo usado nesta pesquisa é

mensurado também através do questionário, e por meio do check-list Índice de Boas Práticas

no canteiro de obras (IBP).

Através do mapa de constructos é possível observar as variáveis e sub-constructos

definidos para esse trabalho nos seus dois aspectos: Eficiência nas operações e Qualidade de

Vida no Canteiro.

Figura 4: Mapa de constructos.

46

Como se pode observar no mapa, os constructos se dividem em sub-constructos, estes que

puderam ser medidos através do questionário criado pelo pesquisador e pelo Índice de Boas

Práticas. Com os dados medidos pode ser feito comparações e determinar como está o sistema

e se ele foi melhorado caso haja intervenções.

3.4 DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO

3.4.1 Empresa Parceira

A empresa que participou da pesquisa tem seu escritório central localizado na cidade

de Feira de Santana e foi fundada em 1998.

No seu inicio, a empresa desenvolveu projetos e construções de residências nos mais

diferentes bairros de Feira de Santana. Em 2000, com o crescimento e reestruturação da

empresa passou também a construir condomínios residenciais. Em 2008 lançou seu primeiro

empreendimento fora de Feira de Santana, este que foi em Jacobina. Hoje a empresa já atua

em Porto Seguro, Ilhéus, Santo Antônio de Jesus, Alagoinhas e Campo Formoso.

Hoje a empresa possui as seguintes certificações:

• ISO 9001

• PBQP-H – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Habitação.

A empresa possui cerca de 600 funcionários. Na maior parte das obras a mão-de-obra

utilizada é em sua maioria da própria empresa, com poucos terceirizados.

Os motivos da escolha desta empresa foram referentes à possibilidade da realização de

um estudo com um caráter de Observação Participante e da possibilidade de intervenção no

processo. Além disto, a empresa apresentou interesse na melhoria de suas práticas.

3.4.2 O Canteiro de Obras

.

47

Trata-se de um condomínio residencial constituído de 03 blocos de apartamento, cada

bloco com 28 unidades, guarita de segurança, com piscina, salão de festas, salão de jogos,

fitness, varanda gourmet, varanda, terraço, parque infantil, estacionamento e paisagismo das

áreas comuns.

O empreendimento está localizado em Feira de Santana-Ba. O terreno possui uma área

de 3.506,46 m2, sendo um canteiro restrito com dificuldades para entrada de veículos e no

armazenamento de materiais.

No período da pesquisa a obra se encontrava na execução das fundações (blocos de

coroamento e vigas do cintamento térreo) dos prédios e da laje do térreo, conforme ilustra a

figura 5.

Figura 5 – Canteiro estudado.

Dentro do canteiro existe um ambulatório, o qual realiza exames admissionais e

demissionais de toda a empresa, provocando uma circulação diária de pessoas que não fazem

parte do quadro de funcionários.

3.4.3 Etapas da Pesquisa

48

Nesta seção serão detalhadas as etapas do trabalho, estas que foram citadas no

delineamento da pesquisa.

3.4.3.1 Contatos com a Empresa

Após ter sido realizado grande parte da revisão bibliográfica, e com os objetivos da

pesquisa embasados, o pesquisador realizou uma reunião com o engenheiro da obra,

coordenador, diretor de engenharia, diretor de suprimentos, enfim, as pessoas que podem

interessar o estudo, para apresentar uma proposta de intervenção no canteiro e assim caso

fosse de interesse poder aplicar as ferramentas de gerenciamento visual.

A reunião foi realizada no inicio de julho, e os diretores acharam interessante o estudo

em questão, dando seus consentimentos para a realização da pesquisa, e propondo ser aquela a

obra piloto.

Na proposta de intervenção mostrou-se os objetivos da pesquisa, quais os resultados

que eram esperados, as etapas do trabalho, e as responsabilidades do pesquisador.

3.4.3.2 Ferramentas de Avaliação

Nesta seção encontram-se as descrições das ferramentas utilizadas para a coleta de

dados. Essas ferramentas foram utilizadas para obter um diagnóstico inicial e foi usado

posteriormente à intervenção para obter um diagnóstico final e assim poder comparar os

resultados.

Índice de boas práticas em canteiro de obra - Check-List

Esta ferramenta foi desenvolvida por Saurin (1997) e foi elaborada com base em

várias fontes, dentre elas: normas sobre armazenamento de materiais (NBR 12655 - Concreto

- Preparo, controle e recebimento) e segurança na obra (NR-18 - Condições e Meio Ambiente

49

de Trabalho na Indústria da Construção), um manual de melhorias de qualidade e

produtividade na construção civil (Scardoelli et al, 1994), um manual sobre segurança em

canteiros (Rousselet e Falcão, 1988), além de requisitos definidos a partir de sugestões de

profissionais com experiência na área e daqueles decorrentes de noções básicas de layout e

logística.

Segundo COSTA (2005), esta lista de verificação é a mais utilizada já que permite

uma análise qualitativa do canteiro de acordo com os seus principais aspectos: instalações

provisórias, segurança no trabalho, sistema de movimentação e armazenamento de materiais,

e o gerenciamento de resíduos da construção.

O preenchimento do check-list é simples, são três alternativas para cada item, “Sim

(S), Não (N), e Não se Aplica (NA)”, o executante deve marcar com um X a coluna que

representa a resposta da pergunta. A coluna não se aplica seria marcada, se o item em questão

não pode ser atrelado a obra. De acordo com SAURIN (1997), deve-se estar atento para com

aqueles itens que estabelecem mais de uma condição em uma única mesma frase, pois nestas

situações, deve-se assinalar sim, caso toda a especificação obtenha conformidade.

Abaixo, na figura 6, ilustra uma parte do check-list.

Figura 6 – Índice de boas práticas em canteiro de obra (Check-List), (SANTOS, 2010).

50

Ao final do preenchimento de cada um dos quatro aspectos analisados, obtêm-se uma

nota, e com a média das notas chega-se a nota geral do canteiro.

Questionário qualitativo

Abaixo está representado o questionário qualitativo aplicado no canteiro de obras:

- Cada questão deve ser dada uma nota entre 0 e 5, sendo que 0 é a pior situação e 5 a melhor.

- Caso o entrevistado não tenha opinião formada sobre alguma questão, em vez de nota,

colocar um NS (não sabe) no espaço em branco.

- No item B, o entrevistador quando entrevistar um funcionário com nível de instrução mais

baixo, deve procurar explicar de uma maneira mais simples para que seja entendido o sentido

da questão. Caso o entrevistador ainda perceba que a questão tenha sido interpretada de forma

erronia, ele deve colocar um NS como resposta.

A. Em relação ao espaço físico do canteiro de obras, qual sua nota:

1. Quanto a limpeza ( )

2. Quanto a organização ( )

3. Quanto ao aspecto visual ( )

4. Quanto ao prazer de trabalhar ( )

B. Em relação às trocas de informações no canteiro, qual a sua nota:

1. Sobre as informações repassadas pelo setor de segurança no trabalho ( )

2. Sobre as informações repassadas pelo setor de qualidade ( )

3. Sobre as informações repassadas pelo setor de execução ( )

4. Sobre as informações repassadas pelo setor planejamento ( )

5. Sobre as informações repassadas pelo R.H da obra ( )

6. Sobre as informações repassadas pelo almoxarifado da obra ( )

51

Este questionário foi criado para poder servir como indicador na avaliação do estudo

de caso. Foram feitas questões relacionadas diretamente ao espaço físico do canteiro e com as

trocas de informações que ocorrem no canteiro de obras.

O questionário é constituído de quatro questões relacionadas ao espaço físico do

canteiro, e seis questões relacionadas à troca de informações entre os setores (planejamento,

segurança do trabalho, etc.) e os funcionários. Em cada pergunta o entrevistado poderá dar

uma nota de 0 a 5, sendo 0 a pior situação e 5 a melhor. No caso do entrevistado não saber o

que responder, ou não consiga entender o sentido da pergunta, o entrevistador deve colocar

um NS (não sabe), e esta pergunta não será considerada nos cálculos.

Deve-se realizar este questionário com o máximo número de funcionários que estão

associados com o canteiro em estudo para poder se obter uma resultado mais real. Após a

obtenção dos dados, faz-se uma média das notas para cada pergunta, obtendo-se um valor que

representa a visão dos funcionários sobre os itens abordados.

No caso deste estudo, após a intervenção, este questionário foi aplicado novamente,

gerando outras notas que foram comparadas com as obtidas anteriormente.

Registro fotográfico

Esta ferramenta de avaliação é de fundamental importância, principalmente para este

trabalho que é direcionado para o “visual” do canteiro de obra.

Com o registro fotográfico anterior e posterior a intervenção pode-se fazer uma

comparação qualitativa das mudanças ocorridas no canteiro de obras, visto que as fotografias

constituem um registro indiscutível da realidade observada.

3.4.3.3 Aplicação dos 3S’s

Os 3S’s foram utilizados para proporcionar um ambiente mais propício para a

aplicação do gerenciamento visual. Como falado no capitulo anterior, a utilização dos três

primeiros “S’s” do programa 5S é devido a maior facilidade de aplicação no canteiro, além de

52

dar o primeiro passo junto aos funcionários para posteriormente conseguir implantar os outros

“S’s”.

Para iniciar a implantação do programa toda a administração esteve de acordo com a

data mais favorável decidida. No dia desejado foi marcada uma reunião com todos, na qual foi

explicado qual o intuito e a importância do programa para todos que trabalham no canteiro, e

as responsabilidades que cada um vai assumir em sua área de atuação.

O inicio do programa, ou seja, o primeiro “S” se baseia em fazer a separação do que é

útil para as realizações das tarefas diárias, e separar as outras coisas que não são usadas

normalmente e as que são inúteis, para descarte.

Em seguida ou até simultaneamente foi feita a organização (segundo “S”) de tudo que

vai ficar na área de trabalho de uma maneira funcional, em que fique de fácil utilização e

localização.

Após os dois primeiros “S’s” iniciou-se o terceiro, este que consistiu em limpar o

ambiente de trabalho, não só fisicamente, mas também de poluição sonora e visual. O tempo

foi suficiente, mas caso não seja suficiente para este último, poderia ser deixado para o outro

dia, sendo que uma equipe com serventes foi suficiente, já que esta última foi uma etapa

menos específica e que deve ser feita diariamente, ou seja, deve entrar na rotina dos

funcionários.

3.4.3.4 Dispositivos de Gerenciamento Visual

Nesta seção são apresentados os métodos de gerenciamento visual utilizados no

canteiro para facilitar o controle e aumentar a transparência dos processos.

Os dispositivos visuais são mecanismos intencionalmente projetados para compartilhar

informações de modo instantâneo e influenciar o comportamento, sem dizer uma palavra, e

serão descritos a seguir:

Quadro com medições de desempenho

Este dispositivo procura tonar visível atributos invisíveis do processo, como gráficos

com o nível de absenteísmo, satisfação com a alimentação medida através de questionários

53

quinzenais, número de acidentes, tudo o que pode ser transformado em dados e repassado

para os funcionários do canteiro aumentando a transparência.

Estes dados devem ser colocados em um mural, que deve está localizado em um local

de fácil visualização e de grande movimentação. Um local interessante é próximo ao relógio

de ponto.

Demarcação de locais específicos

Com a demarcação dos locais, há uma facilidade no entendimento do que deve ser

feito, evitando a ocorrência de erros ou acidentes indesejáveis. Pode-se exemplificar este tipo

de dispositivo, como a demarcação do caminho dos veículos, dos pedestres, de equipamentos,

locais de espera para visitantes de acordo com o seu interesse (medicina do trabalho, ficha de

contratação, etc.).

Figura 7 – Exemplo de demarcação de estacionamento de equipamentos (SAURIN, 2010)

Figura 8 – Exemplo de demarcação de local de armazenamento (SAURIN, 2010)

54

Placas de informações

Usadas para transmitir informações dos mais diversos tipos, dando desde sugestões de

como se comportar até indicações de locais. Podem ser exemplificadas com placas de

segurança, de sugestão de bons hábitos (desligue a luz ao sair, dê descarga ao terminar, etc.),

de localização, de identificação de materiais e equipamentos, de traços de concreto e

argamassas, entre outras.

Figura 9 – Exemplo de aviso de bons hábitos.

Figura 10 – Exemplo de placa de segurança (C.C.B.)

Sinalização de quantidade de estoque

Este dispositivo é usado para controlar a quantidade de estoque de determinando

material, e assim não deixar faltar. Ele é um tipo de Kanban, assunto que foi comentado na

revisão bibliográfica. Quando o material estiver com um quantidade satisfatória é colocado

55

uma sinalização verde, mas quando o estoque atingir o limite mínimo o sinal verde é trocado

por um vermelho, e assim as pessoas podem tomar providências para reabastecer.

O limite mínimo é decidido de acordo com o nível de consumo na obra e o tempo

necessário para que o material solicitado chegue a obra.

Os responsáveis pela troca de sinalização devem ser os funcionários que sempre estão

em contato com o material, por exemplo, os estoques de agregados para a produção de

concreto e argamassas deve ser controlado pelo betoneiro, este que está próximo do local e

em contato direto com estes materiais.

Figura 11 – Exemplo de sinalização de quantidade de estoque (C.C.B.).

Crachás de identificação de visitantes

Este dispositivo visa facilitar a identificação dos visitantes de acordo com o local

desejado, deste jeito evita-se a circulação de pessoas pelo canteiro sem o controle necessário,

diminuindo o risco de acidentes, a retirada da atenção dos funcionários que estão executando

serviço, e ainda facilita o atendimento das necessidades destes visitantes.

Os crachás são entregues na portaria de acordo com o setor que o visitante deseja.

Melhorias nos processos

Este método de gerenciamento baseia-se em identificar soluções para resolver

problemas ou facilitar as operações através de controles visuais e da transparência. O

pesquisador deve analisar as operações existentes no local de trabalho e assim criar métodos

visuais.

56

3.4.3.5 Análise dos dados

Com base nos dados obtidos com as ferramentas acima citadas, e com a realização do

plano de intervenção foi realizado um relatório, com auxílio da literatura e das normas

existentes, com os itens do canteiro que foram melhorados e que podem ser melhorados.

3.4.3.6 Conclusão

A participação dos funcionários durante a intervenção foi bastante positiva, porém no

momento em que não ocorriam mais intervenções a participação foi decaindo e a

conscientização e manutenção dos processos ficaram comprometidos.

A direção da obra em estudo participou ativamente enquanto o pesquisador atribuía

tarefas, porém a continuidade do processo foi afetada a partir do momento que o pesquisador

havia aplicado a maior parte das intervenções.

Reuniões e discussões com o envolvimentos de todos poderiam resultar em uma maior

motivação e participação dos envolvidos no processo.

57

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os resultados encontrados durante do

desenvolvimento deste estudo.

4.1 DIAGNÓSTICO INICIAL

Esta etapa foi realizada através de estudos e coletas de dados com auxilio de check-

list, questionário e registro fotográfico, para estabelecer um conhecimento da realidade da

empresa e do empreendimento para o pesquisador, e posteriormente na fase de diagnóstico

final servi de comparação com os dados coletados.

O registro fotográfico serve como acervo para ilustrar as etapas do trabalho, não sendo

colocada como uma seção separada.

4.1.1 Índice Boas práticas em canteiro de obras (CHECK-LIST)

Abaixo está uma tabela com a pontuação obtida pelo canteiro em cada categoria.

Tabela 2 – Resultado da aplicação do check-list.

Categoria Pontuação

A) Instalações Provisórias 7,02

B) Segurança da obra 6,67

C) Sistema de Movimentação e Armazenamento de Materiais 5,17

D) Gestão dos Resíduos Sólidos no Canteiro 4,00

Nota geral sem item D) 6,29

Nota geral com item D) 5,72

58

Esta diferenciação entre as notas com e sem o item “d” é devido a muitos trabalhos

terem sido realizados sem este item, podendo ser feito uma comparação, porém nos dias

atuais a preocupação com a gestão de resíduos levou a acrescentar este novo item ao check-

list.

SAURIN (1997), aplicou este Check-list sem o item D) em 25 canteiros e obteve uma

nota de 5,40. Como se pode ver, a nota obtida pelo canteiro estudado é superior a média

encontrada pelo autor.

4.1.1.1 Instalações provisórias

O canteiro obteve sua melhor nota neste item. Abaixo, na figura 12, estão as notas

individuais para os sub-itens.

Figura 12 – Notas do item Instalações provisórias.

O sub-item tapumes não gerou nota devido ao canteiro de obras ser cercado por

construções, apenas o portão de acesso que fica em uma rua.

6,25

NA

5,006,00

10,00 10,00

6,00

7,50

0,000,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Instalações Provisórias

59

A nota mais baixa foi para área de lazer que ficou com 0,00, este item que tem apenas

uma pergunta, que se refere a algum local do canteiro ter televisão ou jogos para os

funcionários, sendo que o canteiro não possui esta opção de lazer.

O canteiro teve dois sub-item que atingiram 10,0, que foram o almoxarifado e o

refeitório. O almoxarifado atingiu esta nota por ser feito de acordo com padrões da empresa,

os quais garantem o cumprimento das questões referentes ao check-list, já o local de refeições

(ver figura 13) atingiu esta nota devido ao cumprimento da obra e de toda empresa referente a

NR-18, pois a empresa passou por uma fiscalização e precisava se adequar as exigências desta

norma regulamentadora.

Figura 13 – Refeitório do canteiro de obras.

No sub-item tipologias das instalações provisórias podemos destacar como pontos

negativos o caso dos painéis não serem munidos de parafusos ou soluções equivalentes que

facilitem o processo de montagem e desmontagem, o não aproveitamento de construções pré-

existentes, e a não existência de uma planta da implantação da obra com o layout do canteiro

indicando locais de descarga, armazenamento, processamento e circulação.

Em relação a Acessos podemos destacar como fatores negativos a inexistência de

portão exclusivo para a entrada de pedestre, a falta de fechadura e de número do terreno no

portão de entrada, e a falta de caminho, calçado e coberto, desde o portão até a área edificada.

Na figura 14 é mostrado o acesso a obra.

60

Figura 14 – Acesso do canteiro de obras.

Da análise do sub-item escritório pode-se salientar como pontos negativos a falta de

um chaveiro com as chaves das instalações da obra, e o fato da documentação técnica da obra

não estar à vista e ser de fácil localização.

O vestiário deixa a desejar em dois aspectos, que é a falta de bancos e cabides que não

sejam pregos para os funcionários e a área não satisfaz a condição de 1,5 m² por pessoa. Este

último caso pode ser explicado pelo canteiro ser restrito, dispondo de pouco espaço para as

instalações do canteiro.

No sub-item Instalações Sanitárias os pontos negativos registrados pelo check-list

foram referentes ao mictório e lavatório que não são passiveis de reaproveitamento já que são

feitos de alvenaria; o local onde estão os chuveiros não é feito de material antiderrapante; e

não há suporte para sabonete e cabide para toalha corresponde à cada chuveiro.

4.1.1.2 Instalações de segurança

Neste item o canteiro recebeu a segunda maior nota (6,67), devido principalmente ao

fato da obra estar na fase da fundação e muitos dos sub-item não se aplicarem, além do

61

aumento da fiscalização e obrigação da empresa em cumprir as exigências da NR-18. Abaixo

na figura 15 estão as notas de cada sub-item.

Figura 15 – Notas das instalações de segurança.

Em relação à sinalização de segurança, o canteiro recebeu ponto negativo na parte de

identificação dos locais de apoio que compõe o canteiro, como vestiário, banheiros, escritório,

etc. Sendo que é importante ressaltar que por a obra estar na fundação alguns itens não se

aplicaram, como a existência de identificação dos andares, advertências quanto ao isolamento

as áreas de transporte e circulação de materiais por grua, guincho e guindaste, e a inexistência

no momento de um elevador de carga, não necessitando de placa com indicação da carga

máxima e a proibição do transporte de pessoas.

No sub-item EPI’s o canteiro recebeu nota 10,0, pois os itens que foram julgados

estavam sendo cumpridos, e houveram dois itens que não se aplicaram, que foi o relativo a

trabalhadores em andaimes externos ou qualquer outro serviço a mais de 2,0 metros de altura,

e o de utilização de cinto limitador de espaço durante elevação até 1,20 metros de altura.

No sub-item de instalações elétricas o canteiro teve ponto negativo pelo fato que junto

a cada disjuntor não havia identificação do circuito / equipamento correspondente, e por haver

partes vivas expostas dos circuitos, como mostra a figura 16.

0,00 NA NA NA NA NA

5,00

10,00

6,00

NA

8,33

NA NA0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Instalações de Segurança

62

Figura 16 – Circuitos elétricos para alimentação de equipamentos.

Na questão de proteção contra incêndio o canteiro recebeu 8,33, sendo que o único

ponto negativo foi a falta de uma equipe de operários treinada para o primeiro combate ao

fogo.

4.1.1.3 Sistema de movimentação e armazenamento de materiais

A figura 17 mostra as notas referentes aos requisitos do Sistema de movimentação e

armazenamento de materiais (SMAM).

63

Figura 17 - Notas para o item sistema de movimentação e armazenamento de Materiais.

Nas vias de circulação pode-se destacar como aspectos negativos a falta de contrapiso

nas áreas de circulação de materiais ou pessoas, e a inexistência de caminhos pré-definidos

para os principais fluxos de materiais nas áreas de produção de argamassa e armazenamento.

A solução para estes aspectos poderiam ajudar na prevenção de acidentes e na diminuição de

desperdício de materiais e tempo.

No sub-item armazenamento de materiais a nota obtida foi razoável, atingindo 6,19.

Para cada tipo de material analisado houveram aspectos negativos, sendo que a produção de

argamassa / concreto foi o aspecto que teve mais pontos negativos, destacando a falta de

indicação de traços em local visível, a dosagem não ser feita por peso, não existir um

equipamento dosador para a dosagem de água, e a betoneira não descarregar diretamente na

masseira ou carrinhos.

Nos outros aspectos de armazenamento o principal problema ocorrido foi a falta de

proteção contra o tempo e a inexistência de piso cimentado para o armazenamento.

Especificamente no caso do cimento o problema foi a falta da prática PEPS (o primeiro saco à

entrar é o primeiro a sair) e as pilhas não estarem com distância mínima de 0,30 m para

permitir a circulação de ar.

Pode-se salientar que muito dos aspectos negativos no armazenamento é a falta de

acompanhamento por parte do setor de qualidade da obra, este que é formado por uma técnica

3,33

6,19

2,00

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

Vias de circulação Armazenamento de materiais Produção de argamassa / concreto

Sitema de movimentação e armazenamento de materiais

64

de edificações recém contratada e que não tem experiência na construção civil. A empresa

tem procedimentos escritos para o armazenamento e recebimento de materiais.

4.1.1.4 Gestão dos resíduos sólidos no canteiro

Este item obteve 4,00, a nota mais baixa do check-list, isto pode ser devido a um certo

descaso na parte de gestão do resíduo. Abaixo, na figura 18, estão as notas obtidas em cada

sub-item.

Figura 18 – Notas obtidas na gestão de resíduos sólidos no canteiro.

Na parte de disposição dos resíduos sólidos o único aspecto positivo foi a separação

dos resíduos em Classe A, B C e D, porém o canteiro foi penalizado no que se refere a

disposição de resíduos em local adequado, o armazenamento em local que elimine a

possibilidade de mistura com o solo, e a proteção dos resíduos contra a chuva. Nas figuras 19

e 20 podem ser observados a separação do resíduo e o problema da falta de proteção contra a

chuva.

2,50

10,00

NA0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Disposição dos resíduos Transporte do resíduo Reutilização e reciclagem do resíduo

Gestão de resíduos sólidos no canteiro

65

Figura 19 – Armazenamento em bag’s sem cobertura.

Figura 20 – Armazenamento com possibilidade de mistura com o solo e sem proteção contra

chuva.

No aspecto de transporte de resíduos o canteiro obteve a nota máxima, pois ele só

conta de um item, este que foi cumprido. O item é referente ao encaminhamento dos resíduos

para locais adequados de descarga estabelecidos pelo município.

66

4.1.2 Questionário qualitativo

O questionário foi aplicado na obra no período compreendido entre os dias 03/11/2010

e 05/11/2010. Ele foi respondido por 25 funcionários, sendo que dentre eles 9 funcionários

que fazem parte da administração da obra.

Para facilitar a compilação das notas de cada funcionário o pesquisador criou uma

planilha para uso em campo, ilustrada na figura 21. Junto com a planilha o pesquisador tinha

em mãos o questionário (figura 22), este que foi descrito no capítulo anterior.

Figura 21 – Planilha para registro das notas em campo.

67

Figura 22 – Questionário Qualitativo do canteiro de obras.

Devido a este questionário ter sido desenvolvido pelo pesquisador, não há fontes

externas para comparar os resultados, mas ele é importante para ser analisado antes e depois

do plano de intervenção, bem como para comparação com os resultados obtidos no

diagnóstico final.

Na tabela abaixo estão as notas referentes ao primeiro assunto do questionário, que

trata do espaço físico do canteiro de obras.

68

Tabela 3 – Notas referentes ao espaço físico do canteiro de obras.

Questão Nota ADM Nota CAMPO Nota geral

A.1 Organização 2,89 2,88 2,88

A.2 Limpeza 3,00 3,00 3,00

A.3 Aspecto Visual 2,67 2,69 2,68

A.4 Prazer de Trabalhar 3,11 3,38 3,28

Média 2,92 2,99 2,96

Podemos observar na tabela que a nota do canteiro em relação ao espaço físico

recebeu uma valor razoável, mostrando que os funcionários da obra acreditam que o canteiro

deve melhorar consideravelmente em todos os quesitos.

As notas mais baixas foram para o aspecto visual do canteiro, isto devido

principalmente a pilha de terra para reaterro disposta no centro do canteiro, como ilustra a

figura 23. O pesquisador durante as entrevistas ouviu esta reclamação como justificativa para

a nota baixa a esta pergunta por parte da maioria dos entrevistados.

Figura 23 – Aspecto visual do canteiro de obras.

A questão sobre o prazer de trabalhar no canteiro de obras levando em consideração o

espaço físico foi a que obteve a maior nota, como também foi a que houve maior diferença

entre a nota da administração e dos funcionários de campo. O que se pôde observar durante as

69

entrevistas foi que muitos funcionários de campo eram mais influenciados pelo prazer

proporcionado pelas relações de amizades na obra, do que pelo espaço físico. .

Na tabela 4 encontram-se as notas obtidas na segunda parte do questionário, que se

refere às trocas de informações no canteiro de obras.

Tabela 4 – Notas obtidas no segundo item do questionário.

Questão Nota ADM Nota CAMPO Nota geral

B.1 Segurança no trabalho 3,22 3,50 3,40

B.2 Qualidade 2,89 3,38 3,20

B.3 Execução 4,00 3,94 3,96

B.4 Planejamento 3,22 2,44 2,72

B.5 R.H. 2,56 2,50 2,52

B.6 Almoxarifado 2,89 4,31 3,80

Média 3,13 3,34 3,27

Nessa segunda etapa do questionário a diferença entre as notas da administração e dos

funcionários de campo foram mais elevadas que a da primeira etapa. O pesquisador observou

durante as entrevistas que isto pode ter acontecido por dois motivos principais, o primeiro era

a pouca instrução dos funcionários da construção civil, que dificultava o entendimento do que

era perguntado, muitas vezes eles associavam a pergunta ao funcionário que era responsável

pelo setor, dando nota a pessoa e não ao tema, e mesmo com o pesquisador explicando e

detalhando o que vem a ser essa troca de informações, muitos funcionários não

compreendiam o suficiente.

O segundo motivo que possivelmente influenciou para a diferenciação das notas foi a

cultura de uma grande parte das empresas de construção civil, principalmente das construtoras

de pequeno e médio porte, sobre as trocas de informações no canteiro de obras, que muito

pouco era feito para as informações de cada setor circularem com eficiência dentro do

canteiro. Com isto, os funcionários que na maioria vieram de empresas desse tipo, não sabiam

o que esperar de informações desses setores, não havendo um comparativo, então em muitos

casos eles não sabiam ou não tinham o critério apurado para poder julgar e pontuar cada

questão.

70

4.1.3 Estudo do Layout

Nesta seção será analisado o layout do canteiro de obras, este que é ilustrado na figura

24.

Figura 24 – Layout do canteiro estudado.

O layout ilustrado na figura 24 foi criado para o canteiro na data de 27/10/2010, e nele

constam os principais locais de armazenamento e depósito de materiais, além dos setores de

apoio, como a administração, almoxarifado, carpintaria, etc.

Como se pode observar, o canteiro é restrito, havendo pouco espaço para

armazenamento de materiais e, para agravar este quadro, a área de lazer fica localizada no

local onde estão os aços e a armação, que também fica ao lado da entrada da obra. Atualmente

um dos problemas enfrentados pelo setor de engenharia é como executar a área de lazer sem

interromper a entrada de materiais e sem precisar comprar todo o material de uma só vez.

Outro ponto importante que merece destaque são os materiais para reaterro, que foram

retirados das fundações dos prédios e posteriormente serão utilizados. Este tipo material além

71

de influenciar no aspecto visual do canteiro, ocupa um espaço considerável na parte central do

canteiro, atrapalhando os fluxos de materiais e pessoas, e ocupando área que poderia servir

para armazenamento de materiais.

A parte onde está localizado o depósito de tubos e os bag’s foi alugada para aumentar

a área do canteiro, e posteriormente servir de entrada secundária da obra, porém esta área não

estava sendo aproveitada e tornou inviável a entrada de veículos, pois descobriu-se a

existência de uma fossa que está em utilização. Além disso, na calçada em frente a essa

entrada existe um poste de iluminação e uma placa comercial, limitando a manobra de

caminhões.

As madeiras das formas das vigas de fundação eram retiradas e colocadas

aleatoriamente na frente da carpintaria, desorganizando o local, além de gerar um número

maior de perdas, e piorar a limpeza e o aspecto do local.

O que se pode notar no layout é a inexistência de um estacionamento, principalmente

para motos e bicicletas, que são a maioria dos transportes dos funcionários. Estes meios de

transportes eram colocados em várias partes da obra.

4.2 APLICAÇÃO DO PLANO DE INTERVENÇÃO

Nesta seção serão detalhados como foram aplicados os itens do plano de intervenção

no canteiro de obras.

4.2.1 Os 3S’s

Para a aplicação dos 3S’s no canteiro o pesquisador combinou com o engenheiro e o

mestre-de-obras a data que fosse mais conveniente, para não afetar a produção, esta que ainda

é vista como foco principal da construção civil.

Foram remarcadas duas vezes a data para a aplicação dos 3S devido à ocorrência de

alterações na programação dos serviços de concretagem, sendo que estes necessitam da maior

parte da mão-de-obra do canteiro que contava com 35 funcionários de campo.

72

No dia 08/11/2010 foi marcada a intervenção, porém ocorreu uma reunião de urgência

com o coordenador de obras, o engenheiro, mestre, e o encarregado, cabendo ao pesquisador

reunir todos os funcionários e iniciar a aplicação dos 3S para não adiar novamente.

O acontecimento da reunião de urgência, impedindo a participação do engenheiro e do

mestre na intervenção não influenciou significativamente o processo, pois o pesquisador fazia

parte do quadro de funcionários há algum tempo, conseguindo a atenção e participação de

todos os funcionários. Porém a presença deles na intervenção poderia fortalecer a importância

do processo.

O pesquisador realizou uma reunião com todos os funcionários que trabalhavam na

produção (figura 25) para explicar sobre o intuito da intervenção e também para motivar e

cativar os funcionários em prol desta missão, que necessita da colaboração de todos.

Figura 25 – Reunião com os funcionários.

Ficou decidido e aceito por todos que cada equipe de profissionais iria trabalhar para

separar os materiais e equipamentos de acordo com sua necessidade de utilização. Assim, foi

solicitado que eles organizassem o ambiente em que trabalham, e que limpassem sua área e

outros locais nos quais haviam materiais de origem da equipe. Como exemplo pode-se citar os

73

carpinteiros, que ficaram responsáveis pela área de carpintaria e por toda a madeira espalhada

pelo canteiro.

Os funcionários que não tinham locais específicos, como os ajudantes (figura 26),

foram direcionados pelo pesquisador para limpar o canteiro e dar suporte para as equipes de

profissionais.

Figura 26 – Servente limpando o canteiro.

Abaixo seguem registros de imagens do inicio do trabalho dos funcionários no

canteiro.

74

Figura 27 – Funcionários trabalhando na carpintaria.

Figura 28 – Armadores organizando os aços.

O processo de aplicação dos 3S’s ocorreu durante o dia inteiro, como o pesquisador já

havia combinado com o engenheiro e mestre-de-obras. Por ser um canteiro pequeno, um dia

foi suficiente para obter resultados satisfatórios.

O pesquisador junto com o encarregado coordenou durante todo o período os

funcionários, dando o suporte e a supervisão necessária para que fossem realizadas as tarefas

de limpeza e organização.

75

Os funcionários junto com o pesquisador discutiram sobre soluções para organizar e

manter organizado o canteiro. Dentre as soluções ficou decidido a criação de baias individuais

para a colocação das sobras para reaproveitamento de barrote, madeira e ripão, também foi

identificada a necessidade de uma área para a colocação de todo o material para descarte e

materiais e equipamentos que não estavam sendo usados. Esta área foi um terreno que havia

sido alugado junto ao canteiro mas estava sem utilização. Outra decisão importante foi a

liberação de uma parte do espaço onde eram armazenado os aços para a criação de um

estacionamento de motos e bicicletas.

Foram registradas imagens do processo de intervenção para melhor ilustrar os

acontecimentos. Abaixo são apresentadas imagens do antes e depois da aplicação dos 3S’s.

Figura 29 – Central da carpintaria antes da intervenção.

76

Figura 30 – Central da carpintaria depois da intervenção.

Figura 31 – Central de armação antes da intervenção.

77

Figura 32 – Central de armação depois da intervenção.

Figura 33 – Local de armazenamento de entulho antes da intervenção.

78

Figura 34 – Limpeza do antigo local de armazenamento de entulho.

Figura 35 – Terreno alugado antes da intervenção.

79

Figura 36 – Terreno alugado usado como local de armazenamento.

Figura 37 – Local de armazenamento de aço antes da intervenção.

80

Figura 38 – Local de armazenamento depois da intervenção.

Figura 39 – Local próximo ao refeitório antes da intervenção.

81

Figura 40 – Local próximo ao refeitório depois da intervenção.

4.2.2 Métodos de Gerenciamento Visual

Para aplicar os métodos de gerenciamento visual buscou-se usar da criatividade, pois

não havia recursos para investir em ferramentas mais elaboradas. Serão descritos a seguir

quais métodos foram utilizados no canteiro estudado.

4.2.2.1 Quadro com medições de desempenho

Para a aplicação deste, o pesquisador teve ajuda da técnica de segurança e da técnica

de edificações, estas que criaram gráficos com dados obtidos na obra, como a satisfação com

a alimentação, número de acidentes, número de faltas e de atestados.

Foi criado um mural maior e com aspecto visual melhorado para colocar as

informações que servem como transparência, além de informações úteis, avisos, layout atual

da obra. Na figura 41 e 42 são apresentados o mural antigo e o novo, respectivamente.

82

Figura 41 – Mural antigo usado no canteiro.

Figura 42 – Mural atual do canteiro.

A criação do novo mural despertou uma maior curiosidade por parte dos funcionários,

que passaram a analisar os dados colocados. Porém a criação de gráficos de barras para

83

representar dados coletados (pesquisa de satisfação com alimentação, absenteísmo, etc)

tiveram um entendimento reduzido por parte de uma grande parte dos funcionários, e estes

solicitavam da equipe administrativa uma explicação do que representavam as figuras.

Possivelmente devido a construção civil agregar uma mão-de-obra de baixa instrução,

a representação de dados para gerar transparência deva ser pensada de uma forma que facilite

a visualização e o entendimento.

4.2.2.2 Demarcação de locais e de vias de circulação

Para realizar este método o pesquisador encontrou um empecilho no canteiro, que era

a falta de contrapiso no chão. O chão do canteiro era de terra, dificultando a marcação de vias,

estacionamentos, e locais de armazenamento.

Optou-se, então, por marcar o chão do canteiro como se delimita campo de futebol,

utilizando a cal. Com este processo, foi marcado a via de entrada do canteiro (figura 43) e

dois estacionamentos fixos (figura 44), assim evitou-se o bloqueio da via, pois não era

permitido estacionar ou deixar material no caminho, e melhorou-se o fluxo no canteiro. De

fato, por este ser restrito, os visitantes e funcionários estacionavam nos locais disponíveis,

causando transtorno no fluxo de materiais e na entrada de caminhões.

Figura 43 – Vias de circulação de veículos.

84

Figura 44 – Estacionamento para carro.

È importante salientar que estacionar o carro de ré, facilita a saída durante uma

urgência e evita pequenos acidentes, pois sair de ré como o carro estacionado na figura 44

diminui a visibilidade. Além disso é recomendado como condição de segurança, pois, caso

ocorra algum acidente no canteiro, no momento crítico o veículo encontra-se em posição mais

favorável para uso.

4.2.2.3 Placas de informações

Este método de gerenciamento já vinha sendo utilizado na empresa, mas não era

acompanhando constantemente, pois muitas placas estavam em locais inadequados, havia

materiais sem especificação, e as pessoas que eram responsáveis por este gerenciamento não

estavam dando o suporte necessário para manter atualizado este método.

Com o inicio da intervenção pelo pesquisador, as pessoas responsáveis por este

gerenciamento voltaram a acompanhar e ajudar para manter este método em funcionamento.

A técnica de segurança reorganizou as placas de avisos nos locais adequados e a técnica de

edificações que trabalhava na qualidade levantou todos os materiais sem especificação para

poder confeccionar as placas.

85

Abaixo são apresentadas figuras com exemplos de placas de informações.

Figura 45 – Placas de informações próximas ao refeitório.

Figura 46 – Placa de identificação de material.

86

Figura 47 – Placa de identificação de local.

Figura 48 – Placa com indicação dos traços de argamassa e concreto utilizados na obra.

87

Este método de gerenciamento visual é importante e de fácil aplicação, o importante é

manter sempre atualizado, assim não se necessita gastar muito tempo para reorganizar tudo de

uma só vez.

4.2.2.4 Sinalização de quantidade de estoque

Este método de controle de estoque, que é um tipo de Kanban foi implementado pelo

pesquisador utilizando materiais encontrados no escritório da obra para não gerar custos. Este

método foi o que chamou mais atenção dos diretores no dia que foi feita a reunião para

apresentação da proposta de intervenção.

Este kanban foi utilizado para o controle da cal, cimento, areia fina, areia grossa e

brita. Estes materiais eram os mais utilizados na obra. A seguir, na figura 49 são ilustrados os

dispositivos usados no canteiro.

Figura 49 – Kanbans de controle de estoque.

O funcionário que ficou encarregado de manusear os cartões de estoque foi o

responsável pela betoneira já que ele que utiliza os materiais para produção de argamassa e

88

concreto. Foram passados pelo pesquisador os procedimentos e os níveis de estoques mínimos

de acordo com o período de pedido até a chegada no canteiro.

4.2.2.5 Crachás de identificação de visitantes

Este dispositivo de controle não foi implantado durante a pesquisa devido aos custos

referente a aquisição do mesmo. Outro fator agravante nesse processo foi a dispensa do

porteiro da obra, este que seria responsável pela entrega dos crachás para os visitantes.

4.2.2.6 Melhorias nos processos

O pesquisador usou dos conhecimentos obtidos no estudo de gerenciamento visual,

que objetiva facilitar o controle e aumentar a transparência dos processos para melhorar

aqueles que estavam causando dúvidas.

Uma das melhorias foi a marcação de um balde utilizado para a dosagem da argamassa

e do concreto, ilustrado na figura 50. Antes dessa melhoria o funcionário responsável pela

dosagem usava do bom senso para adicionar a quantidade de água, influenciando

posteriormente na resistência e durabilidade do concreto e da argamassa.

89

Figura 50 – Balde dosador.

Devido ao traço da argamassa necessitar do uso de um aditivo, este que era medido em

mililitros, foi criada uma marcação em um copo para poder ser utilizada a quantidade exata.

Na figura 51 está ilustrado o copo dosador.

Figura 51 – Copo dosador de aditivo.

90

Outro processo que foi melhorado pelo pesquisador foi a leitura de projeto de fiada

impar, usada na demarcação do pavimento. As edificações, por serem de alvenaria estrutural

com blocos de concreto, sendo que as paredes são formadas por blocos de diferentes

dimensões, o que faz com que cada tipo possua seu local pré-determinado para assim ocorrer

a amarração correta das paredes auto-portantes. Os pedreiros responsáveis pela demarcação

não conseguiam diferenciar os blocos na planta, executando o serviço de forma errada, então

o pesquisador, modificou, com auxílio de pacote computacional gráfico, as cores dos blocos

de concreto nessa planta de fiada ímpar (figura 52) destacando-os de acordo com suas

dimensões, facilitando a visualização e diminuindo as chances de erros.

Figura 52 – Fiada ímpar com blocos pintados.

4.3 DIAGNÓSTICO FINAL

Após a intervenção do pesquisador no canteiro de obras, foi feito um diagnóstico final

para poder avaliar e comparar os resultados com o diagnóstico inicial.

91

4.3.1 Índice Boas práticas em canteiro de obras (CHECK-LIST)

Nesta seção apresenta-se os resultados obtidos no check-list aplicado após a

intervenção para poder comparar com o realizado no diagnóstico inicial. Na tabela 5 estão os

resultados encontrados para cada item.

Tabela 5 – Notas do check-list após a intervenção.

Categoria Antes Depois

A) Instalações Provisórias 7,02 7,66

B) Segurança da obra 6,67 7,89

C) Sistema de Movimentação e Armazenamento de

Materiais 5,17 6,33

D) Gestão dos Resíduos Sólidos no Canteiro 4,00 6,00

Nota geral sem item D) 6,29 7,29

Nota geral com item D) 5,72 6,97

Podemos observar que as notas do canteiro subiram em todos os itens em relação ao

diagnóstico inicial. A seguir serão detalhadas as notas de cada item para serem discutidas

quais mudanças ocorreram em relação ao diagnóstico inicial.

4.3.1.1 Instalações provisórias

Na figura 53, estão as notas dos sub-itens obtidas pelas instalações provisórias do

canteiro no diagnóstico inicial e no diagnóstico final.

92

Figura 53 – Notas das Instalações Provisórias no diagnóstico inicial e final.

No sub-item Tipologia das Instalações Provisórias a nota aumentou devido a criação

de uma planta da obra com o layout do canteiro indicando locais de descarga,

armazenamento, processamento e circulação. Esta planta pode ser vista na seção de estudo do

layout.

Em relação a os acessos, a nota aumentou devido à colocação de uma inscrição

identificadora e o número do terreno no portão da obra.

Os demais sub-itens mantiveram suas notas iguais as obtidas no diagnóstico inicial.

4.3.1.2 Instalações de segurança

As notas obtidas nesse quesito são apresentadas na figura 54 junto com as notas do

diagnóstico inicial.

6,25

NA

5,006,00

10,0010,00

6,00

7,50

0,00

8,57

NA

6,676,00

10,00 10,00

6,00

7,50

0,00

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Instalações Provisórias

Diagnóstico Inicial

Diagnóstico Final

93

Figura 54 – Notas das Instalações de Segurança do canteiro no diagnóstico inicial e final.

Em relação ao poço de elevador, foi criado um fechamento provisório, com guarda-

corpo e rodapé revestido com tela, e há um fechamento provisório e constituído de material

resistente fixado a estrutura.

A sinalização de segurança aumentou sua nota devido à identificação dos locais de

apoio, como banheiros, escritório, almoxarifado, etc. Na figura 55 é exemplificada a

identificação.

0,00 NA 0,00 NA NA NA

5,00

10,00

6,00

NA

8,33

NA NA

10,00 10,00 10,00

8,00 8,33

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Segurança na Obra

Diagnóstico Inicial

Diagnóstico Final

94

Figura 55 – Identificação do local dos armadores.

As instalações elétricas tiveram sua nota aumentada devido ao cumprimento do item

que fala sobre os circuitos e equipamentos não terem partes vivas expostas.

Devido ao atual momento da obra no período da pesquisa, vários itens não se

aplicaram, mantendo a nota do canteiro alta.

4.3.1.3 Sistema de movimentação e armazenamento de materiais

Na figura 56, estão as notas obtidas neste item para o canteiro estudado.

95

Figura 56 – Notas do Sistema de movimentações e armazenamento de materiais.

As vias de circulação do canteiro mantiveram a nota obtida no diagnóstico inicial, não

havendo melhora após a intervenção, isso mesmo após terem sido demarcadas as vias, pois a

demarcação foi feita apenas na entrada, estacionamentos e passagem de veículos, não foram

demarcadas as vias dos principais fluxos de materiais devido ao acumulo de bota-fora na parte

central do canteiro, que inviabilizava o tipo de marcação utilizada.

A questão do armazenamento dos materiais teve um aumento de sua nota, passando de

6,19 para 7,14, isto ocorreu devido a cobrança por parte da técnica de qualidade em relação a

utilização da estocagem do tipo PEPS, ou seja, o primeiro que entra é o primeiro que sai. O

funcionário que recebeu o treinamento foi o operador da betoneira, este que é responsável

pela utilização do cimento e da cal.

Outro quesito do armazenamento dos materiais cumprido foi a identificação e

separação das barras de aço de acordo com a bitola, como mostra a figura 57. Pode ser

observado na figura que houve um equivoco no momento da identificação, em vez da

denominação aço o material foi identificado como ferro. Este fato ocorreu devido à falta de

experiência da técnica de qualidade na construção civil, mas o equivoco já foi esclarecido e a

modificação da placa foi solicitada.

3,33

6,19

2,00

3,33

7,14

4,00

0,001,002,003,004,005,006,007,008,00

Vias de circulação Armazenamento de

materiais

Produção de argamassa

/ concreto

Sistema de movimentações e armazenamento de

materiais

Diagnóstico Inicial

Diagnóstico Final

96

Figura 57 – Identificação das barras de aço.

A nota relativa a produção de argamassa / concreto teve sua nota dobrada devido à

identificação dos traços utilizados no canteiro, e o mesmo está localizado em local visível,

próximo à betoneira. Na figura 58 é apresentado o quadro com os traços.

Figura 58 – Quadro com os traços utilizados no canteiro.

97

4.3.1.4 Gestão dos resíduos sólidos no canteiro

Na figura 59 estão as notas relativas a gestão dos resíduos sólidos no canteiro.

Figura 59 – Notas obtidas pelo canteiro no item Gestão dos Resíduos Sólidos no Canteiro.

A nota da disposição dos resíduos sólidos aumentou com a criação de locais

apropriados para depositar os materiais, de forma a não prejudicar a segurança e a circulação

de materiais e pessoas.

4.3.1.5 Comparação com outros resultados

É importante a comparação dos resultados finais obtidos na pesquisa com resultados

encontrados por outros autores.

Em um estudo feito por Saurin (1997), em 25 canteiros foram geradas notas para os

canteiros através da aplicação do Índice de Boas Práticas. Ele obteve a nota média dos

canteiros para cada item analisado, sendo que nesta pesquisa não foi aplicado o item que trata

da gestão de resíduos sólidos no canteiro. A nota média geral do check-list sem o item de

gestão de resíduos foi de 5,4, sendo que a nota obtida pelo canteiro estudado nesta pesquisa

2,50

10,00

NA

7,50

10,00

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Disposição dos

resíduos

Transporte do resíduo Reutilização e

reciclagem do resíduo

Gestão dos resíduos sólidos no canteiro

Diagnóstico Inicial

Diagnóstico Final

98

foi de 7,29. E mesmo que seja apenas a nota de um canteiro, isso mostra que com o passar dos

anos a preocupação dos profissionais com as boas práticas no canteiro de obras vem

melhorando. Vale ressaltar ainda que muitos itens não se aplicaram devido à fase atual da

obra, mantendo a nota do canteiro elevada.

O canteiro no período da pesquisa encontrava-se na execução das fundações dos

prédios, não havendo locais elevados, nem a necessidade de elevador de carga ou gruas,

ocasionando que vários itens do IBP não se aplicassem a situação do canteiro. Vale ressaltar

que esses itens que não se aplicaram, provavelmente são os que geram pontos negativos, já

que seu cumprimento com as boas práticas e com a norma são mais difíceis.

A seguir serão apresentadas figuras com a comparação dos resultados obtidos no

canteiro com os resultados de Saurin (1997) para cada item.

Figura 60 – Comparação dos resultados para Instalações Provisórias.

8,57

NA

6,676,00

10,0010,00

6,00

7,50

0,00

8,70

6,40 6,20 5,705,20 4,70 4,60

3,70 3,20

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Instalações Provisórias

Diagnóstico Final

SAURIN (1997)

99

Figura 61 – Comparação dos resultados para Segurança da Obra.

Figura 62 – Comparação dos resultados de SMAM.

Na figura 62 para a comparação das notas de armazenamento de materiais o

pesquisador fez a média aritmética das notas apresentadas por SAURIN (1997) em seu

trabalho, pois ele separou este item por tipo de material.

Podemos observar que dos 15 itens que se aplicavam no canteiro estudado que

puderam ser comparados, 12 obtiveram notas superiores as notas da pesquisa de SAURIN

(1997). Isso demonstra que o canteiro no presente momento da pesquisa estava acima da

média em vários quesitos, podendo evidenciar a melhora com o passar dos anos das condições

das instalações provisórias, de segurança, e de armazenamento de materiais.

0,00 NA

10,00

NA NA NA

10,00 10,00

8,00

NA

8,33

NA NA

4,80

2,30

5,70

2,203,00 3,30 3,80

6,90 7,106,00

3,30

6,40

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Segurança na Obra

Diagnóstico Final

SAURIN (1997)

3,33

7,14

4,00

6,50 6,846,30

0,001,002,003,004,005,006,007,008,00

Vias de circulação Armazenamento de

materiais

Produção de argamassa

/ concreto

Sistema de movimentações e armazenamento de

materiais

Diagnóstico Final

SAURIN (1997)

100

Podemos ressaltar que para obter uma análise mais fiel seria importante a aplicação

deste check-list no momento em que a obra estivesse em condições de aplicabilidade para

todos os itens.

4.3.2 Questionário qualitativo

O questionário foi aplicado após a realização do plano de intervenção, com o intuito

de poder comparar os resultados com o que foi realizado no diagnóstico inicial, e assim

analisar se houve ou não melhora observada pelos funcionários no canteiro de obras.

O pesquisador aplicou o questionário entre as datas 16/11/2010 e 23/11/2010, sendo

que ele foi respondido por 25 funcionários, dos quais 9 funcionários da administração da obra

(engenheiro, técnica de segurança, etc). Como no diagnóstico inicial, todos os funcionários da

administração responderam o questionário, já os de campo foram selecionados

aleatoriamente, mas tendo o cuidado de coletar uma amostra de todas as funções existentes no

canteiro, como pedreiros, eletricistas, encanadores, serventes, carpinteiros e armadores.

Abaixo segue uma tabela com as notas obtidas no primeiro assunto do questionário e

um gráfico comparativo com as notas do diagnóstico inicial.

Tabela 6 – Resultado do questionário para o primeiro assunto.

Questão Nota ADM Nota CAMPO Nota geral

A.1. Organização 3,89 3,78 3,82

A.2. Limpeza 4,33 4,22 4,26

A.3. Aspecto Visual 4,17 3,84 3,96

A.4. Prazer de trabalhar 4,22 3,84 4,22

Média 4,15 3,92 4,07

101

Figura 63 – Gráfico comparativo dos resultados do diagnóstico inicial e final.

A nota do canteiro em relação ao seu espaço físico aumentou significativamente após

o plano de intervenção, passou de 2,96 para 4,07, um aumento de 37,5%.

Podemos destacar a questão A.2 e A.3 que perguntam sobre a organização do canteiro

e o aspecto visual do mesmo, respectivamente, elas obtiveram os maiores incrementos nas

notas obtidas. Isso pode ser devido a criação de baias para a sobra de madeira que deixou de

ficar espalhada pelo canteiro, a criação de um local de descarte e depósito de equipamentos

velhos fora do canteiro, também a demarcação das vias do canteiro, e a identificação dos

locais e materiais do canteiro. Tudo isso feito com a aplicação dos 3S’s e dos métodos de

gerenciamento visual, e pode-se afirmar que surtiu efeito quase que imediato, já que a

pesquisa não foi realizada com um intervalo muito grande entre o diagnóstico inicial e final.

A questão A.1 sobre a limpeza do canteiro obteve uma melhora em sua nota em quase

24,6%, era de se esperar esse avanço devido à mobilização dos funcionários no dia da

intervenção, porém pode-se observar que existe uma diferença de mais de uma semana entre a

intervenção e o inicio do questionário, apontando para o fato que o canteiro foi mantido

limpo, já que a nota aumentou proporcional as outras.

A questão A.4 que se refere ao prazer de trabalhar no canteiro de obras também sofreu

um aumento, apontando para uma melhora na qualidade e na satisfação dos funcionários após

a aplicação do plano de intervenção. O pesquisador pôde observar quando realizava a

pergunta para os funcionários, que eles se sentiram parte do processo e com isso seu prazer

em trabalhar em um canteiro que eles próprios ajudaram a melhorar, aumentou.

2,88 3,002,68

3,282,96

3,824,26

3,964,22 4,06

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

Limpeza Organização Aspecto

Visual

Prazer de

Trabalhar

Média

Nota geral D.I.

Nota geral D.F.

102

As notas da segunda parte do questionário estão na tabela 7, e na figura 64 está um

gráfico comparativo com as notas do diagnóstico inicial.

Tabela 7 – Notas referentes a segunda parte do questionário.

Questão Nota ADM Nota CAMPO Nota geral

B.1 Segurança no trabalho 3,89 4,00 3,96

B.2 Qualidade 3,33 3,81 3,64

B.3 Execução 3,22 4,34 3,94

B.4 Planejamento 3,00 3,16 3,10

B.5 R.H. 3,44 3,13 3,24

B.6 Almoxarifado 3,22 3,94 3,68

Média 3,35 3,73 3,59

Figura 64 – Gráfico comparativo dos resultados do Diagnóstico inicial e final.

Em relação às trocas de informações no canteiro de obras as notas aumentaram em sua

maioria, porém os aumentos não foram muito significativos, um dos motivos para isso é a

maior dificuldade em melhorar o processo de troca de informações, este que depende de um

grande número de envolvidos.

As diferenças nas notas do questionário em relação ao primeiro tema (espaço físico do

canteiro), e o segundo tema (trocas de informações no canteiro), podem ser devido ao tempo

de aplicação entre os questionários, pois a intervenção surtiu o efeito quase que imediato para

3,43,2

3,96

2,72 2,52

3,8

3,27

3,963,64

3,94

3,10 3,243,68 3,59

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Nota geral D.I.

Nota geral D.F.

103

o primeiro tema ao passo que é modificado o espaço físico, já as trocas de informações é um

processo gradativo, que necessita do envolvimento de todos, além de uma mudança na cultura

da empresa e das pessoas, pois é um trabalho mais complexo.

O que podemos destacar como melhorias nas trocas de informações, como o próprio

gráfico mostra, são as informações passadas pelo setor de segurança do trabalho (B.1) e o

setor de planejamento (B.4). No primeiro podemos ressaltar a reorganização das placas de

segurança, a limpeza e organização da obra que pode ter causado um sentimento de mais

segurança para os funcionários, e até o maior empenho da técnica de segurança, que ajudou o

pesquisador na intervenção na obra e se sentiu parte do processo de melhoria.

No caso do setor de planejamento, pôde ser sentida uma melhoria, pois passou a haver

uma maior divulgação do planejamento da obra através de tabelas e em próprias conversas

com os funcionários. Vale salientar que este setor é de responsabilidade do pesquisador, como

ele está inserido no contexto, ele conseguiu perceber que ainda se podem melhorar outros

aspectos na troca de informações.

4.3.3 Estudo do Layout

Na figura 65 abaixo está ilustrado o layout após a intervenção.

Figura 65 – Layout do canteiro após intervenção.

104

Como pode ser observado no layout após a intervenção ocorreram algumas

modificações buscando a melhoria no fluxo de pessoas e materiais, a organização e a

manutenção da limpeza do canteiro.

O terreno alugado que não estava sendo aproveitado foi utilizado como bota-fora de

madeiras que não tinham utilidade e depósito de equipamentos velhos, como carros-de-mão.

O bota-fora fica perto de um portão com acesso para a rua principal, facilitando o transporte

pela empresa compradora do material e evitando o acumulo e posteriormente a entrada da

empresa compradora no canteiro para a sua retirada. O terreno alugado é apresentado na

figura 66.

Figura 66 – Terreno alugado com acesso para rua principal.

Foram criadas baias (figura 67) em frente a carpintaria para armazenar as madeiras

que podem ser reaproveitadas, assim evita o acúmulo de madeira em várias partes do canteiro,

mantendo o canteiro organizado e evitando desperdícios de materiais e de tempo dos

funcionários para procurar pedaços pelo canteiro.

105

Figura 67 – Baias para madeiras de reutilização.

Com a reorganização do aço existente na obra, foi criado um espaço junto a entrada da

obra para a criação de um estacionamento de motos e bicicleta (figura 68), evitando que os

funcionários coloquem seus transportes em lugares inadequados do canteiro.

Figura 68 – Espaço para criação de estacionamento de motos e bicicletas.

106

Durante a intervenção também foi retirado o entulho que estava no centro do canteiro

com o auxílio de um coletor, ilustrado na figura 69.

Figura 69 – Retirada do entulho da parte central do canteiro.

Além dessas modificações já descritas, foram criados dois estacionamentos para

carros, evitando a interrupção do trânsito dentro do canteiro.

107

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES

Como foi definido inicialmente, o objetivo principal deste estudo foi avaliar a situação

atual de um canteiro de obras localizado em Feira de Santana, com a possibilidade de propor

melhorias através do gerenciamento visual para oferecer informações acessíveis e simples,

permitindo o compartilhamento das informações e melhorando a eficiência das operações e a

qualidade de vida dos operadores do processo produtivo.

Foi possível avaliar a atual situação do canteiro através da aplicação do Índice de Boas

Práticas e do Questionário Qualitativo criado pelo pesquisador. O Índice de Boas práticas

indicou que o canteiro estudado está em uma situação satisfatória, pois ficou com notas acima

da média em vários itens, porém é importante salientar que na época em que o check-list foi

aplicado, a obra encontrava-se em uma fase em que vários itens não se aplicavam. O

Questionário Qualitativo foi de grande utilidade para saber a opinião dos funcionários e servir

de comparação com os resultados após a intervenção realizada pelo pesquisador.

A eficiência das operações e a qualidade de vida são variáveis abstratas, difíceis de

serem medidas, então como visto no capítulo 3, essas variáveis foram transformadas em

constructos para assim poderem ser delimitadas e medidas através das ferramentas de

avaliação.

A eficiência das operações no canteiro está ligada a limpeza, a organização e a

comunicação do mesmo, sendo que estas condições foram avaliadas antes e depois da

intervenção.

Em relação a limpeza do canteiro foi observado que antes da aplicação dos 3S’s as

opiniões dos funcionários indicavam que o canteiro tinha uma nota de 0 a 5 no valor de 2,88,

e após a intervenção o canteiro passou a ter uma nota no valor de 3,82, subindo 24,6%. Isto

comprova, pelo menos a curto prazo já que o intervalo de tempo entre a intervenção e a

aplicação do questionário foi pequena, que a aplicação dos 3S’s foi válida, e que a limpeza do

canteiro melhorou.

A organização do canteiro pôde ser medida tanto pelo Índice de boas Práticas como

pelo Questionário. O Índice de boas práticas como já citado anteriormente mostrou que o

canteiro se encontrava em situação acima da média, e após a intervenção sua nota aumentou,

melhorando ainda mais esta condição que influencia diretamente a eficiência das operações. O

108

Questionário comprovou a melhoria na organização, pois sua nota passou de 3,00 para 4,26,

um aumento de 42%.

A comunicação no canteiro de obras foi avaliada pelo Questionário Qualitativo, e sua

nota foi a que menos aumentou após a intervenção, passou de 3,27 para 3,59, um aumento de

9,78%. De fato, esta condição talvez pelo fato do período curto de aplicação, não foi

percebida satisfatoriamente pelos funcionários da obra. Além disso, a complexidade de

melhorar um sistema de informações em que há muitos agentes envolvidos,dificulta essa

percepção de forma mais nítida.

Em relação a qualidade de vida no canteiro de obras, duas das características que

influenciaram esta condição é o prazer de trabalhar e o aspecto visual, já que elas refletem as

condições do ambiente de trabalho. Estas características foram medidas conforme a percepção

da equipe da obra, e transformadas em valores através do Questionário Qualitativo.

O prazer de trabalhar antes da intervenção recebeu uma nota de 3,28, passando depois

para 4,22. Este aumento de 28,65% reflete a satisfação dos funcionários em trabalhar no

canteiro estudado, sendo que esta satisfação aumentou com a intervenção, principalmente pela

aplicação dos 3S’s que proporcionou um ambiente com maior qualidade para o dia-a-dia do

trabalhador.

O aspecto visual do canteiro foi a que recebeu a menor nota antes da intervenção,

atingindo uma nota de 2,68, mas depois passou para 3,96. Este aumento de 47,76% é em

grande parte devido a aplicação dos 3S’s, por tornar o ambiente mais limpo e organizado,

porém a aplicação do gerenciamento visual também influenciou diretamente, já que aumentou

as informações passadas visualmente através de placas, murais, demarcações de locais, etc.

Pode-se concluir que a aplicação dos 3S’s no canteiro de obra é eficiente e melhora as

condições para os métodos de gerenciamento visual serem aplicados. Porém é importante

ressaltar que os resultados obtidos com a aplicação dos 3S’s foram satisfatórios para um

período curto de coleta de dados. Também vale destacar a satisfação dos funcionários em

participar do processo e sentirem a diferença logo após a aplicação.

Pôde-se constatar que o gerenciamento visual obteve melhora com a aplicação de

alguns métodos de gestão visual, porém este gerenciamento depende do comprometimento de

todos, e principalmente daqueles que detêm as informações. Corroborando as afirmativas da

literatura sobre o tema, a vivência deste trabalho permite concluir que, sem a participação e

109

conscientização dos envolvidos, o processo de gerenciamento visual não tem eficiência,

ficando em segundo plano.

Considera-se, pois, que os objetivos iniciais da pesquisa foram atingidos, sendo que

além de propor melhorias, muitas delas foram implantadas, melhorando as condições do

canteiro em relação a eficiência das operações e a qualidade de vida da equipe.

A partir dos resultados que foram obtidos neste trabalho e de todos os conhecimentos

que foram adquiridos ao longo de sua realização, pode-se fazer algumas sugestões para o

desenvolvimento de novos estudos:

Continuar a análise do gerenciamento visual dos canteiros de obras de Feira de

Santana, com o intuito de aumentar o conhecimento da atual fase das construtoras e

assim poder propor melhorias e métodos de gerenciamento visual que possam ser

implantadas e mantidas.

Continuar a avaliação dos canteiros de obras de Feira de Santana através da aplicação

do Índice de Boas Práticas com uma amostragem maior de canteiros, gerando dados

mais relevantes para análise.

Avaliar a aplicação da ferramenta 5S nos canteiros de Feira de Santana, e assim poder

propor meios para a aplicação de acordo com a realidade das construtoras.

Estudar o que influencia a qualidade de vida dos funcionários nos canteiros de obras e

assim criar uma ferramenta de avaliação que possa vir a auxiliar no diagnóstico dos

canteiros.

110

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de obras: NBR-12284. Rio de Janeiro, 1991.

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ANEXO A – ÍNDICE DE BOAS PRÁTICAS EM CANTEIRO DE OBRAS

(fonte: Santos, 2009)

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