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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL LORENA AMANDA CARVALHO OLIVEIRA AVALIAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES LEGAIS NA OCORRÊNCIA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES - UM ESTUDO DE CASO Feira de Santana - BA 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

LORENA AMANDA CARVALHO OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES LEGAIS NA

OCORRÊNCIA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES

- UM ESTUDO DE CASO

Feira de Santana - BA

2010

LORENA AMANDA CARVALHO OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES LEGAIS NA

OCORRÊNCIA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES

- UM ESTUDO DE CASO

Projeto de Monografia apresentado à disciplina Projeto de Engenharia II, do Departamento de Tecnologia, oferecida ao Curso de Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana, como Avaliação da disciplina.

Orientador: Sérgio Tranzillo França

Feira de Santana - BA

2010

LORENA AMANDA CARVALHO OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES LEGAIS NA

OCORRÊNCIA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES

- UM ESTUDO DE CASO

Monografia submetida à banca examinadora como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de bacharel em engenharia civil.

Feira de Santana, 16 de Dezembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Prof. Sergio Tranzillo França

Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal da Bahia,

Bahia.

_____________________________________________________

Prof. Eduardo Antonio Lima Costa

Mestre em Engenharia Civil pela UFRGS

_____________________________________________________

Prof. Sarah Patrícia de Oliveira Rios

Doutora em Engenharia Química pela UFSCAR

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de

tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os podres nas

mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto.

Ruy Barbosa

AGRADECIMENTOS

O incentivo e o carinho dos que me amam está mais forte. E é justamente esse

conforto emocional experimentado neste momento, que estar patrocinando a minha

felicidade na conclusão deste trabalho, que se não cumprido conforme planejado no

início, não menos gratificante se apresenta nesse instante da minha vida.

Agradeço muito a Deus pela incessante companhia, me sustentando nas horas

mais difíceis. Agradeço a minha mãe Bárbara, por todo amor e zelo dispensados a

mim ao longo de todos os dias da minha existência, permitindo-me sentir sempre

acolhida. Agradeço ao meu pai Ivan, por me ensinar a ser uma mulher íntegra, digna e

honesta. Agradeço a minha irmã Larissa, por ter dividido comigo a intimidade e

confiança fraterna. Vocês três são escultores do meu caráter, responsáveis diretos

por minha felicidade. Agradeço a toda minha família, que sempre desejou o melhor

para mim. Sou muito feliz por ver em minhas tias(Tânia, Márcia e Simone), minhas

segunda Mãe, e em meu tio ( Albérico), meu segundo pai. Agradeço em especial a

minha avó Waldelice, por ter me revelado com a nobreza que lhe é própria, que o

amor reside nos traços mais simples da vida, no sorriso da manhã , ou no abraço

depois do almoço. Aos meus amigos, irmãos por escolha própria, os agradeço por me

fazerem rir o tempo inteiro. Em especial as minhas Amigas/Irmãs Marcy e Nanda, por

estarem sempre ao meu lado neste estressante e emocionante caminho da

Universidade. E ao meu grande Amigo/Irmão Leandro, sempre me passando a alegria

e a confiança de ter com quem contar em todos os momentos. Ao meu professor e

orientador Sergio Tranzillo, que me acompanhou, transmitindo-me tranqüilidade,

guiando meus pensamentos muitas vezes confusos, e ao professores que honram a

nomenclatura de mestre, José Mario e Maria do Socorro, onde encontrei bons

conselhos. Agradeço por fim, meu primeiro chefe e amigo, Samuel que, com a alegria

cativante original de sua postura me ensinou a grande responsabilidade de ser

Engenheiro.

A UEFS representa meu primeiro passo independente. Aqui aprendi a

caminhar, aprendi a amar, a errar e a acertar os atalhos e as alternativas. Como diria o

grande rei Roberto Carlos “Se chorei ou se sorrir o importante é que emoções eu vivi”

Sou o que fui, mas já não temo dizer que agora não me pergunto mais aonde vai a

estrada.

RESUMO

OLIVEIRA, L. A. C. Avaliação das responsabilidades legais na ocorrência e prevenção de acidentes Feira de Santana, 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Feira de Santana.

Aceitar a idéia de que o acidente do trabalho é fruto da fatalidade implica em aceitar

que não há como preveni-lo. Acreditar que os acidentes do trabalho são fenômenos,

decorrentes sobretudo, de atos inseguros praticados pelos trabalhadores, implica em centrar as

ações preventivas no comportamento dos trabalhadores.A segurança, higiene e saúde do

trabalho, no âmbito do Direito, direciona-se à regulação do vínculo de empregados e

empregadores em relação ao contexto do trabalho determinado e relaciona-se com

acontecimentos onde possa existir fatores agressivos para segurança ou para a saúde do

trabalhador no local de trabalho ou o reconhecimento da acumulação de fatores de risco

profissional no contexto da organização de meios que a empresa representa. Tem como

objetivo avaliar as condições de responsabilidades entre os integrantes do sistema que envolve

a segurança. Este trabalho foi baseado em discussão dos conceitos relativos às

responsabilidades em prevenção de acidentes, bem como a análises de processos judiciais,

observando-se a aplicação da legislação pertinente ao tema. Cabe salientar que o encontro

de responsável ou culpado, torna necessário investigar as causas do acidente, deixando

evidenciados os fatores que lhes deram origem, para que dessa forma, medidas corretivas

sejam adotadas

Palavra-Chave: Segurança do trabalho; responsabilidades administrativas;

deveres dos trabalhadores; deveres dos contratantes.

ABSTRACT

OLIVEIRA, L. A. C. Evaluation of legal liability on the occurrence and prevention of accidents Feira de Santana, 2010. End of Course Work (Graduate in Civil Engineering) -

Universidade Estadual de Feira de Santana.

Accepting the idea that the work accident is the result of the fatality involves accepting

that there is no way to prevent it. Believe that workplace accidents are phenomena, mainly

resulting from unsafe acts committed by employees, involves focusing on the preventive

behavior of Meeting.The safety, hygiene and health at work within the law, is directed to

regulation of link employees and employers in relation to the context of the determined and

relates to events where there may be aggressive factors for safety or health of workers at work

or recognition of the accumulation of risk factors in the context of professional

organization means that the company represents. Aims to evaluate the conditions of

responsibilities among members of the system that involves security. This work was based on

discussion of concepts related to responsibility for accident prevention, as well as the analysis

of court proceedings, observing the implementation of pertinent legislation. It should be noted

that the finding of guilty or responsible, it must investigate the causes of the accident, leaving

highlighted the factors that gave rise to that way, corrective measures are adopted.

Keyword: Occupational safety; administrative responsibilities, duties

of employees, duties of contractors.

LISTA DE SIGLAS

ART – Anotação de Responsabilidade Técnica

BTN – Bônus do Tesouro Nacional

CCB – Código civil Brasileiro

CF – Constituição Federal

CID – Código de Classificação Internacional de Doenças

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidente

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

CNAE – Classificação Nacional de Atividade Econômica

CPB – Código Penal Brasileiro

CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura

DRT – Delegacia Regional do Trabalho

EPC – Equipamento de Proteção Coletiva

EPI – Equipamento de Proteção Individual

INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social

MTE – Ministério de Trabalho e Emprego

NBR – Normas Brasileiras

NR – Normas Regulamentadoras

NTEP – Nexo Técnico Epidemiológico

PCMSO – Programa de Saúde Médico de Saúde Ocupacional

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

PSI – Política de Segurança da Informação

SAMU – Serviço de Atendimento Médico Urgente

SIT - Secretaria de Inspeção do Trabalho

SRTE – Superintendência Regional de Trabalho e Emprego

SSST – Secretaria de Saúde e Segurança do Trabalho

TRT – Tribunal Regional do Trabalho

UFIR – Unidade Fiscal de Referência

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 11

1.1 JUSTIFICATIVA ....................................................................................12 1.2 OBJETIVOS ......................................................................................... 13 1.2.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 13 1.2.2 Objetivo Específico ................................................................................ 13 1.3 METODOLOGIA .................................................................................... 14 1.3.1 Meétodo de Pesquisa ...........................................................................14 1.3.1.1 Tipo da pesquisa ..................................................................................14 1.3.1.2 Delineamento da Pesquisa ..................................................................15 1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA..........................................................17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................. 19

2.1 ACIDENTE DE TRABALHO...................................................................19 2.2 RESPONSABILIDADES ........................................................................ 20 2.3 DEFINIÇÕES SOBRE A LEGISLAÇÃO ................................................ 24 2.4 AGENTES RESPONSÁVEIS PELA FISCALIZAÇÃO ........................... 27 2.5 DEVERES DOS ENVOLVIDOS.............................................................30 2.5.1 Coordenadores e Gestores (Empregadores) ........................................ 30 2.5.2 Obrigação dos Trabalhadores (Empregados) ..... .................................. 33 3. ESTUDO DE CASO 35

3.1 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO DO ACIDENTE.........................35 3.2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA ......................................................... 35 3.3 APRESENTAÇÃO DO ACIDENTADO .................................................. 36 3.4 DESCRIÇÃO DO ACIDENTE ............................................................... 36

4. ANÁLISE DO ACIDENTE ..................................................................... 39

4.1 FATORES RELACIONADOS AO ACIDENTE DE ORIGEM DA ORGANIZAÇÃO ............................. ...................................................................39 4.1.1 Falta da Aprovação do Projeto pela Prefeitura ...................................... 39 4.1.2 Ausencia de Qualificaçao ou capacitação para exercer atividade ........ 40 4.1.3 Descumprimento das Normas de Segurança ....................................... 40 4.2 FATORES RELACIONADOS A ORIGEM SOCIAL ...............................40 4.2.1 Responsabilidade de Sustento da Família ........................................... 40 4.3 FATORES RELACIONADOS AO ACIDENTE DE ORIGEM TÉCNICA.. 41 4.3.1 Falta de Instrução e conhecimento dos riscos ..................................... 41 4.3.2 Falta de adaptação no uso do equipamento ........................................ 41 4.3.3 Falta de utilização de EPIs .................................................................. 41 4.3.4 Afastamento do galpão em relação ao muro ......................................... 42 4.3.5 Afastamento do muro em relação a rede de Alta Tensão .................... 42

5. IDENTIFICAÇÃO DE FALHAS ............................................................. 43

6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ........................................................... 45

6.1 CONCLUSÕES ................... ...................................................................45 6.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .....................................46

REFERÊNCIA ................................................................................................. 47

1. INTRODUÇÃO

A segurança, higiene e saúde do trabalho, no âmbito do Direito,

direciona-se à regulamentação da relação de empregados e empregadores

avaliando o contexto do trabalho determinado, e relaciona-se com certos

acontecimentos como: a existência de fatores agressivos para segurança ou

para a saúde do trabalhador no local de trabalho ou o reconhecimento da

acumulação de fatores de risco profissional no contexto da organização de

meios que a empresa representa. Esta consideração remete, implicitamente,

para a delimitação das obrigações que compete ao empregador e ao

trabalhador na relação que estabelecem entre si e em torno desta problemática

específica. A abordagem legal conheceu uma evolução considerável que

passou de uma finalidade restrita de evitar acidentes e doenças, até ao objetivo

mais abrangente de promover a segurança e a saúde do trabalho, integrando

processos contínuos de melhoria das condições de trabalho.

Evitar os passivos judiciais e administrativos é hoje um desafio para a

economia interna das empresas. A adoção de medidas que tendem a evitar

demandas e infrações, representa significativa preocupação dos

empregadores. Conhecer os riscos e atuar proativamente é a alternativa mais

segura nesses casos.

O novo Código Civil Brasileiro (CCB), em vigor a partir de 11 de janeiro

de 2003, define a responsabilidade a que estão sujeitos agentes que por ação

e/ou omissão venham a causar danos a outrem, e que em função dessa

responsabilidade assumem o ônus de prover indenização pelo dano causado.

A responsabilidade pela segurança do trabalho deve ser compartilhada

pelos diferentes autores de uma cadeia produtiva. O último elo dessa cadeia é

o responsável direto pela execução do trabalho, o qual, na maioria das vezes, é

o afetado pelo acidente. Por esta razão em especial, é importante o

envolvimento e a consolidação de um papel ativo do trabalhador na gestão da

segurança visando minimizar acidentes e melhorar as condições do trabalho.

Quando se deseja implantar uma Política de Segurança da Informação

(PSI) na empresa, o gestor se depara com a questão da dificuldade da

aplicação das normas regulamentadoras e das punições em caso de

incidentes. De acordo com os estudos de Pinheiro (2009), estabelecer uma

regra sem que haja qualquer tipo de penalidade para o seu descumprimento é

pior do que não ter regra nenhuma.

O monitoramento do uso de ferramentas de trabalho não é apenas um

direito do empregador, mas acima de tudo o mesmo deve encará-lo como uma

obrigação, pois empresa é responsável direta pelos danos causados ao

empregado e pelo mau uso de seus recursos, inclusive os tecnológicos.

ESCREVER SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL

1.1 JUSTIFICATIVA

Existe hoje uma grande preocupação ao que se refere à condição de

segurança nas organizações, contudo, muitas vezes a mesma é inferiorizada

ou até mesmo desconsiderada em detrimento a parâmetros capitalistas, onde o

lucro acaba sendo mais evidenciado.

Quando se conhece de fato os integrantes que detêm as

responsabilidades pelos requisitos de segurança, é possível intensificar

cobranças de aprimoramento, evitando a justificativa do desconhecimento do

dever legal.

A escolha deste tema deve-se a importância da identificação dos

prováveis pontos de riscos de acidentes de trabalho e os responsáveis para a

execução de subsídios que impeçam a ocorrência dos mesmos.

Espera-se, portanto com este trabalho, considerando seu contexto geral,

a intensificação das medidas de segurança por parte de todos os integrantes

do sistema ( empregados e empregadores), fazendo, ambas as partes, exercer

o cumprimento de suas obrigações legais em prol de um meio comum mais

seguro.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL:

Avaliar as condições de responsabilidades entre os integrantes do

sistema que envolve a segurança.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Avaliar responsabilidades de acidentes, mediante os instrumentos

legais.

Verificar sob que condições os trabalhadores atuam quanto ao

uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Equipamentos de

Proteção Coletivo (EPC).

Avaliar o conhecimento dos profissionais, sobre a Legislação por

parte tanto empregados quanto empregadores.

1.3 METODOLOGIA

Este trabalho, por ser fundamentado na aplicação do direito jurídico, foi

baseado em discussão dos conceitos relativos às responsabilidades em

prevenção de acidentes, bem como a análises de processos judiciais,

observando a aplicação da legislação pertinente ao tema.

Foram realizadas pesquisas nos códigos legislativos brasileiros e livros

de direito assim como pesquisas na internet em acontecimentos nos quais,

essa legislação pode ser aplicada; a partir disso, foram tiradas conclusões

próprias da importância da prevenção para não arcar com essas

responsabilidades.

Posteriormente aos esclarecimentos oriundos das Normas e pertinentes

a legislação do CCB, foi realizado um estudo de caso sobre um acidente

ocorrido em uma Empresa A, que atua no ramo da construção civil, na

confecção de peças pré-moldadas de concreto armado. Nesta análise, atestou-

se a culpabilidade do empregador. A partir desse material foi realizada uma

avaliação das condições em que o mesmo ocorreu, buscando verificar

responsabilidades com o objetivo de identificação dos potenciais de risco assim

como encarregados por essas atividades.

1.3.1 MÉTODO DE PESQUISA

Neste capítulo são apresentadas a estratégias gerais e os

procedimentos da pesquisa utilizados no desenvolvimento desta monografia.

São discutidos os métodos, técnicas e ferramentas para coletas de dados, bem

como os procedimentos para o processamento e análise dos mesmos.

1.3.1.1 TIPO DE PESQUISA

Segundo Roesch (1996), de acordo com seu propósito, as alternativas

de pesquisa podem ser classificadas em cinco: Pesquisa básica, Pesquisa

Aplicada, Avaliação de resultados, Pesquisa-ação e Avaliação Formativa.

Na Pesquisa Básica, pretende-se entender como o mundo opera,

procurando-se basicamente entender e explicar os fenômenos.

Já na Pesquisa Aplicada, procura-se trabalhar com problemas humanos,

buscando entender a natureza de problema para que se possa entender um

ambiente.

A Avaliação de Resultados propõe-se julgar a efetividade de um

programa, política ou plano.

A Pesquisa-ação procura resolver problemas específicos, dentro de um

grupo, organização ou programa.

E por fim a Avaliação Formativa, que é o tipo de pesquisa utilizado neste

trabalho. Na Avaliação Formativa, o propósito é melhorar ou aperfeiçoar

sistemas ou processos. A avaliação formativa normalmente implica um

diagnóstico do sistema atual e sugestões para sua reformulação; por isso

requer certa familiaridade com o sistema e, idealmente, a possibilidade de

implementar as mudanças sugeridas e observar seus efeitos. É um dos tipos

mais escolhidos pelos alunos que trabalham e identificam problemas ou

oportunidades de melhoria em sua organização.

1.3.1.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Este trabalho foi realizado com um estudo de caso. O estudo de caso,

de acordo com Roesch (1996), é uma estratégia de pesquisa que busca

examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto. Difere dos

estudos experimentais, como na pesquisa-ação, no sentido de que estes

deliberadamente separam o fenômeno em estudo de seu contexto. Igualmente,

estudos de caso diferem do método histórico, por se referirem ao presente e

não ao passado.

A. Etapas da Pesquisa

A pesquisa foi dividida em três etapas listadas abaixo:

Coleta de dados;

Análise dos dados e comparação dos resultados;

Análise final do trabalho

Paralela a essas etapas foi realizada a revisão bibliográfica, que se

caracterizou por ter sido contínua durante todo o processo de pesquisa, a qual

teve como principal fonte de informação artigos técnicos, dissertações, teses e

livros que tratem sobre o tema.

De acordo com Alves (2000)

A pesquisa bibliográfica é de grande importância para a

construção de uma teoria, pois fornece informações a respeito de

domínios de aplicação desta, as relações entre os seus elementos

constituintes e suas definições e, além disso, indica quais são as

relações importantes a serem investigadas no desenvolvimento de

uma pesquisa.

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Este trabalho é dividido em 6 capítulos para que haja um melhor

entendimento sobre do tema. O capítulo 1 correspondente a introdução onde o

tema é abordado e esclarecido, à justificativa, objetivos geral e específicos,

metodologia e a estrutura da monografia .

O capítulo 2 corresponde à revisão bibliográfica do tema abordado, onde

são apresentados os conceitos básicos, a fim de embasar o conteúdo teórico

do trabalho. Este capítulo está subdividido com o objetivo de tornar clara e

delimitada as questões de esclarecimento técnico.

O primeiro dos subitens do segundo capítulo retrata a definição de

Acidente de Trabalho de forma legal para assim orientar o trabalho no que rege

a legislação brasileira vigente.

O segundo subitem faz referência à definição das Responsabilidades,

dividindo-as em administrativa e legal.

O terceiro subitem é composto por conteúdo informativo sobre os

Conceitos Básicos da Legislação Brasileira vigente, para que dessa forma o

trabalho encontre base legal para afirmação.

O quarto subitem consta de um breve conteúdo histórico e definição dos

encarregados pelas fiscalizações realizadas nas organizações.

O quinto subitem, Deveres dos Envolvidos se subdivide em: Obrigações

dos Coordenadores e Gestores e Obrigações dos Trabalhadores. Em ambos

são denotado suas devidas responsabilidades para o conjunto do meio seguro.

No capítulo 3 é realizado a apresentação do estudo de caso, sendo

subdivido em metodologia de investigação do acidente; apresentação da

empresa; apresentação do acidentado; e por fim, descrição do acidente.

No capítulo 4 foi realizada uma análise do acidente descrito no capítulo

3, onde foi identificado os fatores que resultaram no acidente.

O capítulo 5 é dedicado a apresentação dos resultados, classificando

quanto a sua origem dos fatores, em organizacional, sociais e técnicos.

No capítulo 6 foram realizadas as conclusões do trabalho baseado nos

resultados apresentados do capítulo anterior

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ACIDENTE DE TRABALHO

Acidente, na linguagem popular, é um acontecimento imprevisto que

causa dano à coisa ou à pessoa. Segundo Plácido e Silva (2006), distingue-se

como acidente do trabalho todo e qualquer acontecimento infeliz que advém

fortuitamente ou atinge o operário, quando no exercício normal de seu ofício ou

de suas atividades profissionais. Essa era a definição vigorante no século XIX,

que considerava o acidente de trabalho como um acontecimento súbito, de

obra do acaso, casual, fortuito, ou imprevisto, de causa externa. A idéia era de

infelicidade e falta de sorte da vítima.

Atualmente essa definição não possui sustentação, pois grande parte

dos acidentes decorre da ausência de cuidados mínimos e especiais na

adoção de medidas coletivas e individuais de prevenção dos riscos ambientais.

Além disso, há inúmeras atividades perigosas, cujos acidentes não são

considerados meros infortúnios do acaso. São eventos que podem ser

previstos e prevenidos. Suas causas são identificáveis e podem ser

neutralizadas ou eliminadas. Não se deve confundir evento imprevisto com

evento imprevisível. O evento imprevisível é desconhecido da comunidade

humana que o observa; o evento imprevisto é indesejado tão somente.

Na legislação brasileira, o conceito de acidente de trabalho é abrangente,

incluindo as doenças profissionais do trabalho e outros eventos acidentários.

Estabelece o art. 19 da Lei 8.213/91 que acidente do trabalho:

É o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,

provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a

morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da

capacidade para o trabalho.

A lei também considera acidente de trabalho a doença profissional e a

doença do trabalho.

Segundo Silva (1999) a doença profissional é produzida pela exercício

do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação

elaborada pelo Ministério da Previdência Social (MPS). Já a doença do

trabalho é adquirida em função de condições especiais em que o trabalho é

realizado e com ele se relaciona diretamente, e constante da respectiva relação

elaborada pelo MPS

O ponto de distinção básico é que na doença profissional o fator

determinante é a atividade, enquanto na doença do trabalho a relevância está

nas condições em que a atividade é exercida.

Os artigos 20 e 21 da Lei 8.213/91 consideram outros eventos como

acidentes, pois delimitam e esclarecem situações de acidentes de trabalho

relacionadas ao artigo anterior quanto ao que se refere às doenças

ocupacionais, ou qualquer ocorrência que, embora não tenha sido a causa

única, haja contribuído diretamente para a lesão do trabalhador, caracterizando

o que se define como concausa (causas que concorrem para um resultado

comum).

2.2 RESPONSABILIDADE

Segundo Medeiros (2008), responsabilidade é a obrigação de dar, fazer

ou não fazer alguma coisa, de ressarcir ou reparar danos, de suportar sanções

penais, exprimindo sempre a obrigação de responder por alguma coisa

causada por atos alheios ou próprios. Portanto, a responsabilidade é o dever

contraído pelo causador da ameaça de dano, de assumir perante a esfera

pública, seja judicial ou extrajudicialmente, o prejuízo decorrente de seus atos.

A responsabilidade jurídica exige sempre a imediata reparação do equilíbrio

perturbado. O equilíbrio da situação social harmônica é fator essencial na

atuação firme do direito. Envolve a responsabilidade jurídica, desse modo: a

pessoa que infringe a norma, ou seja, a pessoa que pratica o ato ilícito; a

pessoa atingida pela infração; o nexo causal, a ligação entre a pessoa que

pratica o ato ilícito e o dano, ou seja, a ligação entre o infrator e infração; o

prejuízo ocasionado, o dano; a sanção aplicável e a reparação da produção do

dano. São esses assim, elementos fundamentais para o entendimento de

responsabilidade jurídica.

O conceito de ato ilícito é importante para compreensão de

responsabilidade. O ato ilícito é violação à lei ou contrato, é ato material (ato ou

omissão), portanto, delito civil ou criminal. O CCB (2002) define ato ilícito como

ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência que viola direito ou

causa prejuízo a outrem. Assim é responsável o agente que o praticou. Então a

responsabilidade é uma conseqüência da prática do ato ilícito. Esta pode ser

legal, quando é imposta por lei, caso o ato jurídico seja decorrente de violação

da lei, ou contratual, se decorre de acordo entre as partes.

A culpa é um elemento fundamental ao conceito de responsabilidade.

Existem dois tipos de atos com culpa: o ato doloso e o ato culposo:

No ato com dolo, tem-se a intenção, a vontade do autor de cometer o

ato ilícito.

No ato culposo não se tem a intenção do autor, mas ele é responsável

direto pelo ato. Este ato é caracterizado por imperícia, negligência ou

imprudência por parte do agente do ato ilícito.

Negligência, também conhecida como desatenção ou falta de cuidado

ao exercer certo ato, consiste na ausência de necessária atenção, implicando

em omissão ou falta de cuidado de dever, ou seja, aquele de agir de forma

atenta, prudente, agir com o devido cuidado exigido pela situação em tese.

Como exemplo podemos avaliar a postura de um condutor dirigindo um

veículo com pneus gastos

Já a imprudência, remete a algo realizado com falta de atenção, mas ato

que pode revelar-se de má-fé, ou seja, com conhecimento do mal e a intenção

de praticá-lo, a ação imprudente é aquela revestida de dolo – a má-fé

concretizada -, e, portanto, embora não tenha a intenção pelo agente também

não é considerada de absoluta ausência de intenção. Ou seja, age de forma

imprudente aquele que tem conhecimento do grau de risco envolvido, embora

mesmo assim acredita que seja possível a realização do ato sem prejuízo para

qualquer um; age, assim, além da justa medida de prudência que o momento

requer, excede os limites do bom senso e da precisão dos seus próprios atos.

Exemplificando utilizaremos um condutor que dirigi em velocidade

incompatível com a solicitada pela estrada ou acima do limite de velocidade.

Com relação à imperícia, ocorre quando falta ao agente técnica do

conhecimento, erro ou engano na execução, de outra forma, tem-se uma

omissão daquilo que o agente não deveria conhecer, pois consiste em sua

função, seu ofício exigindo dele perícia, uso de técnica que lhe é própria ou

exigível. Refere-se, por fim, a uma falta involuntária, mas também contida de

certa dose de má-fé com pleno conhecimento de que seus atos poderão vir a

resultar em dano.

Como exemplo temos um condutor que não possui autorização para

dirigir , ou seja não possui carteira de habilitação.

Sob o referencial do Direito Civil, Maria Helena Diniz assim define a

Responsabilidade Civil:

Aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral

ou patrimonial causado a terceiro em razão de ato do próprio

imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou

animal sob guarda, ou ainda, de simples imposição legal. A

responsabilidade civil requer prejuízo a terceiro, para particular ou

Estado, de modo que a vítima poderá pedir reparação do dano,

traduzida na recomposição do statu quo ante ou em uma importância

em dinheiro (DINIZ, 1998).

De acordo com o CCB - lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002, tem que:

Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,

ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao

exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim

econômico ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes.

A ampliação do ato ilícito, descrita no artigo 187, com redação

específica, refere-se aos limites que devem regrar os atos jurídicos, devendo

merecer os cuidados necessários que antecipem quanto aos problemas que de

sua falta de observação podem decorrer. Os tribunais entendem (com as

exceções previstas em Lei), que basta que o acidente de trabalho ocorra, para

que se possa buscar o ressarcimento do dano na esfera cível, já que a técnica

e o cumprimento das normas legais e/ou administrativas impediriam sua

ocorrência, ou seja, o acidente pode e deve ser controlado pela execução de

medidas técnicas, operacionais e administrativas, que visem a não ocorrência

do fato. Prevalece, neste caso o princípio da ordem pública, superveniente aos

interesses econômicos ou financeiros da empresa.

Em casos de acidentes é realizada uma análise em que são levantadas

questões de responsabilidades por parte de quem sofreu e da empresa

encarregada pelo funcionário. Partindo do pressuposto da responsabilidade, as

companhias têm obrigação de treinar funcionários, fazer análise de risco,

fornecer equipamentos de segurança e fiscalizar o uso, a empresa é colocada

pela legislação, como co-responsável por acidentes.

O prejuízo se dá de acordo com cada tipo de infração, se é questão de

não oferecer equipamento adequado, se não houve treinamento, se aconteceu

com um ou com vários trabalhadores, enfim, a multa pode ser de três a seis mil

reais, podendo ser multiplicada várias vezes.

A punição depende do nível de impacto e severidade da infração. E isso

deve ser pré-estabelecido, antes mesmo de o Programa de Segurança da

Informação (PSI) entrar em vigor. Não podendo haver decisões diferentes

sobre casos semelhantes.

Se a responsabilidade civil alcança os gestores, empregadores de

pessoal de forma quase indireta, a responsabilidade criminal é direta. Em caso

de morte por acidente de trabalho, tais profissionais poderão vir a ser

enquadrados no Código Penal Brasileiro (CPB) (artigo 121 parágrafo 3º -

homicídio culposo), e em caso de ferimentos ou seqüelas, no artigo 129,

parágrafo 1º - lesão corporal culposa.

2.3 DEFINIÇÕES SOBRE A LEGISLAÇÃO

As Normas Regulamentadoras (NR) da segurança do trabalho regem

multas e penalidades às empresas que não oferecem segurança aos

funcionários. Em evidência, a NR 28 estabelece os procedimentos a serem

adotados pela fiscalização trabalhista de Segurança e Medicina do Trabalho,

no que diz respeito à concessão de prazos às empresas para a correção das

irregularidades técnicas, como também, no que concerne ao procedimento de

autuação por infração às Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina

do Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica, tem a sua

existência jurídica assegurada, a nível de legislação ordinária, através do artigo

201 da CLT, com as alterações que lhe foram dadas pelo artigo 2° da Lei n°

7.855 de 24 de outubro de 1989, que institui o Bônus do Tesouro Nacional -

BTN, como valor monetário a ser utilizado na cobrança de multas, e

posteriormente, pelo artigo 1° da Lei n° 8.383 de 30 de dezembro de 1991,

especificamente no tocante à instituição da Unidade Fiscal de Referência -

UFIR, como valor monetário a ser utilizado na cobrança de multas em

substituição ao BTN.

Até o surgimento da Constituição Federal de 05 de outubro de 1988 a

empresa só respondia pelos danos de acidente do trabalho se a ele desse

causa por dolo ou culpa grave.

Fora essas hipóteses tão excepcionais, a empresa por mais nada

respondia em troca de um seguro de acidente do trabalho feito no INSS. A

empresa pagava o seguro de acidente do trabalho ao Instituto Nacional de

Segurança Social (INSS) e com este pagamento ganhava, na prática, a

isenção da obrigação de reparar os danos acidentários.

Desde a Constituição Federal (CF) de 1988 a situação mudou e a

empresa passou a responder pelos acidentes a que desse causa por qualquer

grau de culpa.

Passaram a existir então, efetivamente, dois tipos de ação de

indenização por acidente do trabalho. A ação contra o segurador que é o INSS

cujo fundamento legal é a existência do seguro na forma de monopólio estatal

e a ação contra a empresa cujo fundamento legal é a sua responsabilidade

civil, ou seja, a sua culpa.

Na ação contra o INSS não se fala em culpa porque o seguro de

acidentes do trabalho cobre qualquer caso, já na ação contra a empresa o

acidentado tinha que provar a culpa dela, em qualquer grau.

Contudo a partir de 11 de julho de 2007, o Tribunal Regional do Trabalho

(TRT) da 4ª Região (Rio Grande do Sul) decidiu que a culpa da empresa deve

ser presumida, ou seja, a empregadora é que tem que provar que não foi

culpada pelo acidente.

De acordo com o TRT:

Além disso, é sua a obrigação de zelar pela segurança de seus

empregados, inclusive, fiscalizando-os e coibindo eventuais condutas

imprudentes (artigo 157 da CLT) Por conta desses fatores a

presunção de culpa, no caso de acidente do trabalho por

descumprimento de normas de segurança, recai sobre a empresa e

não sobre o empregado.

Este julgado inverteu o ônus da prova, ou seja, cabe agora a empresa a

obrigação processual em provar que não possui responsabilidade na

ocorrência do acidente.

Cabe ao responsável pela administração do serviço de segurança

(Engenheiro, Técnico e afins) realizar a orientação à empresa para qual presta

serviço, de modo a enquadrá-la dentro das Normas Regulamentadoras e no

Código Civil Brasileiro.

Diz o artigo Art. 932 do Código Civil (2002):

"São também responsáveis pela reparação civil:

III - O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e

prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão

dele;”

Com a criação do NTEP Nexo Técnico Epidemiológico pela Lei nº

11.430/06 e regulamentado pelo Decreto nº 6.042/07, vindo a alterar o art. 337

do Decreto nº 3.048/99, fica regulamentado que a sua constatação ocorre

quando houver significância estatística da associação entre o Código da

Classificação Internacional de Doenças (CID), e o da Classificação Nacional de

Atividade Econômica (CNAE), ou seja, deve haver uma relação lógica entre

uma causa (ambiente de trabalho) e um efeito (doença). Deixando diretamente

ligado as doenças passíveis de ocorrência na execução das atividades

trabalhistas. Essa Lei acaba por dar maior validade ao julgado, pois a partir de

então caberá a empresa e não ao empregador provar que a doença não foi

ocasionada pela execução do ofício.

Na prática, isso significa que, se a empresa é acionada civilmente por

ato ilícito nos casos de acidentes ou doenças provocadas pelas condições de

trabalho, e ficar provado que os profissionais gestores e/ou administração de

pessoal (Engenheiros e Técnicos de Segurança e Saúde do Trabalho,

Engenheiro executor, entre outros) não adotaram providências que lhes

competia em razão de seus cargos ou função, a empresa poderá ingressar

com uma ação regressiva contra estes profissionais e cobrar deles,

judicialmente, o valor a que a justiça impôs.

A razão disso, é que tais profissionais devem orientar a empresa, e

executar todas as medidas voltadas para a proteção, que está intimamente

ligada ao seu trabalho. Faz-se assim, necessário que os profissionais

entendam os riscos inerentes a procedimentos de omissão quanto ao

cumprimento às normas prevencionistas, que não poderão ser explicados em

juízo com a simples desculpa de excesso de serviço ou de não saber como

fazer, já que existem meios e instrumentos que lhes permitem socorrer-se em

caso de dúvida.

2.4 AGENTES RESPONSÁVEIS PELA FISCALIZAÇÃO

Em 1930 foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, por

meio do Decreto nº 19.433, de 26 de novembro, assinado pelo Presidente

Getúlio Vargas. Em decreto posterior definiu-se sua estrutura que incluía o

Secretário de Estado; Departamento Nacional do Trabalho; Departamento

Nacional do Comércio; Departamento Nacional de Povoamento e

Departamento Nacional de Estatística.

Em décadas posteriores foram criados diversos órgãos de fiscalização e

normatização no ambiente trabalhista, entre os quais se destacam a Delegacia

Regional do Trabalho - DRT (atualmente Superintendência Regional do

Trabalho e Emprego - SRTE), o Conselho Nacional do Trabalho e o Conselho

de Gestão da Proteção ao Trabalhador. E, mediante a Medida Provisória nº

1.799, de 1º de janeiro de 1999, o atual nome do ministério é Ministério do

Trabalho e Emprego.

A missão geral desses órgãos é promover o aperfeiçoamento das

relações entre capital e trabalho e executar as políticas de emprego, visando

ao bem-estar social e à melhoria da qualidade de vida do trabalhador.

Na incidência das normas gerais de tutela do trabalho, mediante portaria

do Ministério do Trabalho, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)

regularizou normas a respeito da segurança do trabalho.

No seu artigo 156 define a competência das Delegacias Regionais do

Trabalho, quais sejam:

I - promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança

e medicina do trabalho; II - adotar as medidas que se tornem

exigíveis, em virtude das disposições deste Capítulo, determinando

as obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, se façam

necessárias; III - impor as penalidades cabíveis por descumprimento

das normas constantes deste Capítulo, nos termos do art. 201.

A NR 01, tópico 1.4 completa e esclarece acerca da jurisdição e função

das DRT, definindo-as como órgãos competentes para executar atividades

relacionadas com segurança e medicina do trabalho e ainda a fiscalização do

cumprimento dos preceitos legais e regulamentares sobre tais matérias.

Acrescenta-se à competência das DRT (hoje: SRTE) a possibilidade de adotar

medidas necessárias para a observância das normas impostas, podendo impor

penalidades por descumprimento, embargar obras, notificar empresa e,

atendendo requisitos judiciais, realizar perícias para controle de prevenção de

acidentes quando não houver engenheiro de segurança registrado no

Ministério do Trabalho.

Interessante observar que o art. 155 da CLT, em seus incisos, incumbiu

ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança coordenar,

orientar, controlar e supervisionar a fiscalização e demais atividades

relacionadas com segurança e medicina do trabalho. Tal disposição foi seguida

pelo tópico 1.3 da NR 01 ao discorrer das funções da antiga Secretaria de

Segurança e Saúde no Trabalho (SSST), atual Secretaria de Inspeção do

Trabalho (SIT).

Nenhum estabelecimento poderá iniciar suas atividades sem prévia

inspeção e aprovação das respectivas instalações pela autoridade regional

competente em matéria de segurança e medicina do trabalho. E até mesmo no

caso de nova inspeção a empresa fica obrigada a comunicar à SRTE (antiga

DRT) quando ocorrer modificação substancial nas instalações.

Diante disto o SRTE, diante do laudo técnico do serviço competente que

demonstre grave e iminente risco para o trabalhador, poderá interditar

estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento, ou embargar

obra, indicando na decisão, tomada com a brevidade que a ocorrência exigir as

providências que deverão ser adotadas para prevenção de infortúnios de

trabalho.

A CLT permite, ainda, ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições

complementares a várias medidas especiais de proteção ao trabalhador, como

exigência nas edificações, iluminação, máquinas e equipamentos, instalações

elétricas, entre outros. Neste contexto verifica-se a essencialidade das Normas

Regulamentadoras, criadas mediante Portaria n°3214/78 do MTE.

Por fim, tanto a CLT como a NR – 01 prevêem penalidades para

infrações concernentes à segurança do trabalho. Contudo não se restringe

apenas às multas, visto que as Superintendências Regionais do Trabalho,

como órgãos da Administração Pública, são dotadas de Poder de Polícia,

podendo, conforme citado anteriormente promover interdição, embargar obras,

canteiros, locais de trabalho e etc. como imposição das penalidades

administrativas pelo descumprimento. Tais ações relativas às penalidades

administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das

relações do trabalho são de competência dos tribunais e juízos do trabalho.

2.5 DEVERES DOS ENVOLVIDOS

2.5.1 COORDENADORES E GESTORES (EMPREGADORES)

Por lei, a empresa é responsável pela adoção e uso das medidas

coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador,

devendo prestar informações sobre os riscos da operação, da execução e do

produto a manipular, cabendo-lhe ainda cumprir e fazer cumprir as normas de

segurança e medicina do trabalho, e orientar os empregados, através de

ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar

acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais. Sendo responsáveis inclusive

por punir o empregado que, sem justificativa, recusar-se a observar as

referidas ordens de serviço e a usar os equipamentos de proteção individual

fornecidos pela empresa.

A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), juntamente com a Lei

8.213/91 e com a Normas Regulamentadoras, delimitam diversos fatores que

regem as obrigações que as empresas estão encarregadas com o objetivo de

promover a prevenção do acidente. Além disto, quando ocorre um acidente do

trabalho, o fato tem repercussões no âmbito penal, civil, previdenciário e

trabalhista, respondendo cada um que para ele ocorra, na medida de sua

participação

De acordo com a CLT é obrigação da empresa:

Art. 157 – Cabe às empresas:

I. Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do

trabalho

II. Instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto

às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou

doenças ocupacionais;

III. Adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelo órgão

regional competente;

IV. Facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade

competente.

Já na Lei 8.213/91 no Art. 19 temos:

§ 1 A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas

coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do

trabalhador.

§ 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a

empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.

§ 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizados

sobre os riscos da operação a executar e do produto a manipular.

Segundo o item 1.7 da Norma Regulamentadora –NR 01

1.7 Cabe ao empregador:

a) Cumprir e fazer cumprir as disposições legais e

regulamentadoras sobre segurança e medicina do trabalho;

b) Elaborar ordens de serviço sobre segurança e medicina do

trabalho, dando ciência aos empregados, com os seguintes objetivos:

I. Prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;

II. Divulgar as obrigações e proibições que os empregados devem

conhecer e cumprir;

III. Dar conhecimento aos empregados de que serão passíveis de

punição, pelo descumprimento das ordens de serviço expedidas;

IV. Determinar os procedimento que deverão ser adotados em

caso de acidente do trabalho e doenças profissionais ou do trabalho;

V. Adotar medidas determinadas pelo MTE;

VI. Adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e

sãs condições inseguras de trabalho.

c) Informar aos trabalhadores:

I. Os riscos profissionais que possuem originar-se nos locais de

trabalho

II. Os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas

adotadas pela empresa

III. Os resultados dos exames médicos e de exames

complementares de diagnostico aos quais aos próprios trabalhadores

foram submetidos

IV. Os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais

de trabalho.

Permitir que representantes dos trabalhadores acompanharem

a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre a

segurança e medicina do trabalho.

Além dos funcionários, a empresa que contrata serviços terceirizados é

obrigada a estender aos empregados da empresa contratada, a assistência de

seus serviços de segurança, saúde e higiene do trabalho.

Qualquer empresa, tanto pública quanto privada, que tenham

empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho são obrigadas a

organizar e manter em funcionamento, por estabelecimento, uma Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). A CIPA tem como objetivo observar

e relatar condições de risco nos ambientes de trabalho e solicitar medidas para

reduzir até eliminar os riscos existentes e/ou neutralizar os mesmos, discutir os

acidentes ocorridos, encaminhando aos serviços especializados em SST e ao

empregador o resultado da discussão, solicitando medidas que previnam

acidentes semelhantes e ainda orientar os demais trabalhadores quanto a

prevenção de acidentes.

2.5.2 OBRIGAÇÕES DOS TRABALHADORES (EMPREGADOS)

O papel dos trabalhadores no domínio da segurança e saúde do trabalho

não se limita a um dever de obediência. Cada trabalhador deve, na medida

das suas possibilidades, cuidar da sua segurança e saúde, bem como da

segurança e saúde das outras pessoas afetadas pelas suas ações ou

omissões no trabalho, de acordo com a sua formação e as instruções dadas

pela empresa.

Os empregados, assim como os empregadores, são agentes diretos na

prevenção do acidente de trabalho. Suas funções devem ser executadas

atentando-se sempre ao cuidado com a segurança. As Normas

Regulamentadoras, a Consolidação das Leis do Trabalho e o própria Lei

8.213/91, ditam algumas das responsabilidades a serem seguidas, tais como:

Normas Regulamentadoras – NR 01

1.8 - Cabe ao empregado:

a) Cumprir as disposições legais e regulamentares sobre

segurança e medicina do trabalho, inclusive as ordens de serviço

expedidas pelo empregador;

b) Usar EPI fornecido pelo empregador;

c) Submeter-se aos exames médicos previstos nas Normas

Regulamentadoras – NR

d) Colaborar com a empresa na aplicação das Normas

Regulamentadoras – NR

1.8.1 Constitui ato faltoso a recusa injustificada do empregado ao

cumprimento do dispositivo no item anterior.

1.9 o não cumprimento das disposições legais e regulamentares

sobre segurança e medicina do trabalho acarretará ao empregador a

aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente.

Reforçando os itens encontrados na NR 01, a CLT dispõe:

Art. 158 - Cabe aos empregados: (Redação dada pela Lei nº 6.514,

de 22.12.1977)

I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive

as instruções de que trata o item II do artigo anterior; (Redação dada

pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

Il - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste

Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa

injustificada: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma

do item II do artigo anterior; (Redação dada pela Lei nº 6.514, de

22.12.1977)

b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela

empresa. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

3.0 ESTUDO DE CASO

3.1 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO DO ACIDENTE

A análise do acidente teve como base a idéia mais recente de acidente de

trabalho, como sendo eventos que resultam de modificações ou desvios que

ocorrem no interior de sistemas de produção. Modificações ou desvios esses

que por sua vez, resultam da interação de múltiplos fatores. Avaliando a

empresa, foi possível identificar aspectos técnicos, organizacionais e sociais

que tiveram relação com o acidente.

Os múltiplos fatores relacionados ao acidente e suas interações foram

identificados na análise dos seguintes levantamentos:

Tomada de depoimentos de empregados que estavam presentes

no local do acidente e ajudaram a socorrer a vítima

Análise de documentos relacionados ao acidente, tais como atas

e relatório da CIPA, relatório da análise do acidente feito pela empresa,

procedimento, levantamento cadavérico, projeto arquitetônico, PPRA, PCMSO.

3.2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA

A empresa participante da pesquisa, denominada empresa A, não teve

os dados jurídicos revelados no momento da coleta de dados. As informações

fornecidas limitam-se ao informativo da área de atuação – Construção Civil e

dados sobre o descrição do acidente.

Empresa A – Localizada na cidade de Humildes, fundada em

2001, sua principal atividade é a fabricação de estruturas pré

moldadas de concreto armado. Em janeiro de 2010 contava com

56 (cinqüenta e seis) trabalhadores.

Durante a coleta dos dados de diferentes acidentes, foram apresentados

pelo MTE três ocorrências de acidentes. Contudo a escolha deste se deu pela

viabilidade de relacionar a aplicação do estudo previamente realizado neste

trabalho com as características de ocorrência do acidente.

3.3 APRESENTAÇÃO DO ACIDENTADO

Assim como ocorrido na apresentação da empresa, os dados pessoais

do acidentado também foram preservados. Neste trabalho o mesmo será

identificado por GLPS, para que seja possível sua citação no decorrer dos

textos.

GLPS – 22 anos, casado, com filhos, trabalhava a 7 meses

na empresa na função de operador de caminhão para içamento de

equipamentos entre outros – Guindauto ( sem capacitação para o cargo).

Tendo registro em carteira, apenas a função de motorista de carro de passeio.

3.4 DESCRIÇÃO DO ACIDENTE

A descrição do acidente a seguir foi feita com base nos depoimentos dos

empregados que estavam presentes no local do acidente, testemunhando o

fato ocorrido.

No dia do acidente, 21/01/2010, a equipe continuou a montagem do

galpão na qual já estava trabalhando há algum tempo. Quando chegaram pela

manhã, concluíram a montagem da última viga da segunda serie e começaram

então a montagem da primeira viga da terceira série, que era próxima ao muro

e a uma rede de distribuição de energia.

Os trabalhadores içaram a viga, como de costume, GPLS, o acidentado,

operava o Guindauto nos comandos que ficam ao lado direito do mesmo, os

demais operários seguravam com cordas presas às extremidades da viga. O

caminhão estava estacionado de frente para o vão onde a viga seria colocada

e para o muro, a uma distancia aproximada de 50 cm deste. Na subida, GPLS

havia girado a viga a uma distância em torno de três metros da rede, no sentido

vertical, pois estavam na posição errada.

Quando a colocaram no lugar, ela não encaixou perfeitamente,

perceberam então que estava 10 cm maior do que deveria. Resolveram baixar

a viga e providenciar equipamentos para cortar parte dela. Quando GPLS

tentou suspender a viga para tirá-la do lugar, esta girou e um pino que ficava

na parte superior direita tocou a rede de alta tensão, esse pino por sua vez,

tocava cabos metálicos com que o Munk sustentava a viga.

Após este evento os demais profissionais começaram a puxar a viga

para afastá-la da rede. Eles não haviam percebido que GLPS havia sido

atingido. Conseguiram afastar a viga, mas logo depois ela voltou a tocar a rede

de alta tensão. Finalmente conseguiram manter a viga afastada da rede e

prenderam as cordas. GLPS encontrava-se caído, e apresentava sintomas

semelhantes aos de uma convulsão; aparentemente respirava e tinha pulso.

Foi possível perceber também, que ele tinha os dedos dos pés

carbonizados e queimaduras em uma das mãos. Imediatamente os operários

acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que chegou

após meia hora, mas apesar do socorro GLPS veio a óbito.

Segundo o levantamento cadavérico, GLPS apresentava queimaduras

nos dedos da mão esquerda e nos pés. No momento do acidente, GLPS

trajava camiseta cor azul, camisa cor cinza, bermuda jeans e uma sandália na

cor preta.

A certidão de óbito indica como causa da morte Arritmia Cardíaca,

Eletrocussão e Choque Elétrico, indicando também o falecimento de GLPS às

9h15min.

O relatório da SAMU atesta ter socorrido GLPS, vítima de choque

elétrico, às 09h07min realizou atendimento e em seguida encaminhou ao

Hospital Geral Cleriston Andrade.

4.0 ANÁLISES DO ACIDENTE

Os fatores relacionados ao acidente de trabalho descrito foram

classificados quanto a sua origem em organizacionais, sociais, técnicos e

externos.

4.1 FATORES RELACIONADOS AO ACIDENTE DE ORIGEM NA

ORGANIZAÇÃO

São fatores relacionados ao acidente que tem origem nas decisões

adotadas pelos diversos escalões da empresa, incluindo, por exemplo,

tecnologias e meios a serem utilizados, fornecedores de matérias primas e

serviços, práticas gerenciais e estratégias a serem adotadas no processo

decisório, gerenciamento de tempos de produção / horário de trabalho, formas

de organizar a atividade / a produção, dentre outros.

4.1.1 Falta da aprovação do projeto pela prefeitura

Na análise do acidente fica evidente que um dos fatores que mais

contribui para a sua ocorrência foi a proximidade do galpão com a rede de alta

tensão.

A empresa não apresentou projeto aprovado pela Prefeitura Municipal e

informou que a obra não tinha alvará de funcionamento.

O comprovante de pagamento da Anotação de Responsabilidade

Técnica – (ART), junto ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura –

(CREA), tinha data do dia posterior ao dia do acidente, evidenciando que

durante o período que antecedeu ao acidente a obra não possuía Anotação de

Responsabilidade Técnica.

Estes fatos demonstram que o projeto foi feito sem observar as posturas

municipais, e outras normas como a Norma Brasileira (NBR) 5434, que

determina a faixa de servidão de 3,50 m para cada lado das redes de 13,5 KV.

4.1.2 Ausência de qualificação ou capacitação para exercer a atividade

O acidentado foi contratado para a função de motorista havia sete

meses, contudo a empresa não ofereceu treinamento para a operação do

caminhão Guindauto. Vale ressaltar que não havia nenhuma experiência em

carteira para operação do caminhão, constando apenas a função de motorista

de carro de passeio em contratações anteriores, segundo dados encontrados

na xerox da sua carteira de trabalho, fornecidos pelo MTE durante a coleta de

materiais.

Inexperiência na função e falta de qualificação ou capacitação são

fatores importantes para a ocorrência de acidentes de trabalho.

4.1.3 Descumprimento das normas de segurança

A empresa não mantinha uma cultura de segurança. Foram encontradas

falhas básicas nas normas de segurança.

A empresa no momento do acidente encontrava-se sem técnico de

segurança, apesar de contar com 56 trabalhadores e ter grau de risco 4.

Segundo o Quadro II da NR 04 item 4.2.5.2

Foi constatado que não houve reunião ordinária da CIPA do mês de

janeiro, mês em que ocorreu o acidente.

4.2 FATORES RELACIONADOS AO ACIDENTE DE ORIGEM SOCIAL

4.2.1 Responsabilidade de sustento da família

O trabalhador acidentado era chefe de família, com responsabilidade de

manter mulher e filha de dois anos. Este contexto social explica que um

trabalhador sem experiência comprovada, assuma função de maior

responsabilidade, como é o caso de um operador de Guindauto.

4.3 FATORES RELACIONADOS AO ACIDENTE DE ORIGEM TÉCNICA

São fatores relacionados ao acidente que tem origem na maneira como

os resultados são obtidos e os meios utilizados. Incluem ações ou

comportamentos observáveis dos empregados no trabalho, bem como alguns

aspectos cognitivos, psíquicos ou estratégias de regulação adotadas pelos

trabalhadores para fazer face às variabilidades – normal e incidental –

presentes no desenvolvimento da atividade.

43.1 Falta de instrução e conhecimento dos riscos

O item 10.8.9 da NR 10 estabelece que os trabalhadores com atividades

não relacionadas às instalações elétricas desenvolvidas em zona livre e na

vizinhança da zona controlada, conforme define a NR, devem ser instruídos

formalmente com conhecimentos que permitam identificar e avaliar seus

possíveis riscos e adotar as precauções cabíveis.

No caso do acidente descrito para uma tensão de 13,5 KV a zona de

segurança seria um raio de 1,38 m ao redor das instalações energizadas.

4.3.2 Falta de adaptação no uso do equipamento

O caminhão Guindauto utilizado pela vítima, não era o equipamento

comumente utilizado em suas atividades anteriores. Além de não possuir

qualificação profissional para exercer a função.

4.3.3 Falta de utilização de EPI

O acidentado não usava calçado de segurança na hora do acidente, pois

na descrição do levantamento cadavérico foi informado que a vítima calçava

sandálias pretas. Este fato contribui para facilitar a passagem da corrente

elétrica, através do corpo do acidentado. Caso este calçasse botas de

segurança a passagem de corrente poderia não ocorrer na mesma intensidade,

podendo ter sobrevivido a descarga elétrica. Além disto, apesar de não ter

contribuído diretamente com o acidente, o operário encontrava-se em trajes

desaconselháveis à execução do serviço.

4.3.4 Afastamento do galpão em relação ao muro

Os pilares que sustentariam a viga que tocou na rede estão a 2,50 m do

lado direito e 1,5 m do lado esquerdo, enquanto que na outra extremidade do

galpão onde foi iniciada a montagem essa distância é em torno de 4,00 m.

4.3.5 Afastamento do muro em relação a rede de alta tensão

O muro do terreno no qual foi instalado o galpão, que dá para uma rua,

não estar paralelo a rede. Com isso o local onde houve o contato com a rede,

do lado esquerdo do galpão, está mais próxima do muro

Este fator pode ter prejudicado a percepção do perigo que representava

a proximidade da rede elétrica pelos trabalhadores que estavam realizando o

serviço.

5. IDENTIFICAÇÃO DE FALHAS

Segundo os estudos anteriormente expostos e com base nas Ementas dos

Autos de Infração sobre as delimitações e obrigações dos empregados e

empregadores podemos destacar os itens abaixo como causas para a

ocorrência do acidente:

Deixar de realizar reunião ordinária de Comissão Interna de Prevenção

de Acidentes.

Deixar de fornecer aos empregadores, gratuitamente, equipamentos de

proteção individual adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e

funcionamento.

Deixar de exigir o uso dos equipamentos de proteção individual.

Permitir que o trabalhador assuma suas atividades antes de ser

submetido a avaliação clínica, integrante do exame médico admissional.

Deixar de entregar a segunda via do atestado de Saúde Ocupacional ao

trabalhador, mediante recibo da primeira via.

Deixar de manter serviço especializado em Engenharia de Segurança e

em Medicina do Trabalho.

Permitir que o trabalhador não qualificado opere máquina ou

equipamento que exponha o operador ou terceiros a riscos, ou deixar de

identificar por crachá o trabalhador que opere máquina ou equipamento que

exponha o operador ou terceiros a riscos.

Deixar de instruir formalmente os trabalhadores em atividades não

relacionadas às instalações elétricas desenvolvidas em zona livre ou na

vizinhança da zona controlada, com conhecimento que permitam identificar e

avaliar seus possíveis riscos e adotar as preocupações cabíveis.

Deixar de executar ou interpretar os exames médicos complementares

com base nos critérios constantes nos Quadros I e II da NR-7 ou deixar de

observar a periodicidade semestral para avaliação dos indicadores biológicos

do Quadro I da NR-7;

Deixar de adotar medidas preventivas quanto à sinalização e isolamento

da área no transporte e descarga de vigas e elementos estruturais.

Deixar de conceder período mínimo de 11(onze) horas consecutivas

para descanso entre duas jornadas de trabalho.

Prorrogar a jornada normal de trabalho, além de limite de 2 (duas) horas

diárias, sem qualquer justificativa legal.

Deixar de fazer consulta da ficha, ou de documento que legalmente a

substitua, o horário de trabalho do empregado em serviço externo.

6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

6.1 CONCLUSÕES

A concepção do comportamento de acidente de trabalho, que culpa a

vítima ou a equipe pelo acidente, se encontra ainda enraizada naqueles que

fazem análise deste tipo de evento tanto pela empresa contratante como pela

empresa contratada.

Segundo Binder e Almeida (2000), investigações que atribuem a

ocorrência do acidente a comportamentos inadequados do trabalhador

(descuido, negligencia, imperícia, desatenção etc.), evoluem para

recomendações centradas em mudanças de comportamento, “prestar mais

atenção”, “tomar mais cuidado”, “reforçar o treinamento”. Tais recomendações

pressupõem que os trabalhadores são capazes de manter elevado grau de

vigilância durante toda a jornada, o que é incompatível com as características

do ser humano. Em conseqüência, a integridade física dos trabalhadores fica

na dependência quase exclusiva de seu desempenho na execução das tarefas.

As abordagens centradas nos comportamentos e/ou nos erros dos

trabalhadores oferecem contribuição escassa ou nula em termos de prevenção,

uma vez que tendem a deixar omissas as condições que lhe deram origem.

Os acidentes acontecem como resultados de um somatório de fatores,

neste caso, isso fica evidente. O ponto do galpão onde ocorreu o acidente é

onde a rede estava mais próxima do muro, onde o muro estava mais próximo

do galpão e onde a rede estava mais baixa. Numa visão superficial pode não

ser verificada a extrema proximidade da rede no local onde ocorreu o

infortúnio, mas foi o que ocasionou o acidente exatamente neste ponto. Este

somatório de fatores pode ter levado o trabalhador a uma impressão enganosa

de segurança, já que o acidentado havia executado a mesma tarefa em

situação inicialmente semelhante.

Os fatores relacionados ao acidente com origem na organização foram

os eventos iniciadores, as causas raízes ou básicas, falhas que deram origem

a todas as demais. Oito dos nove fatores relacionados ao acidente, que foram

identificados na análise, tem origem em aspectos organizacionais e técnicos,

um tem origem em aspectos sociais, o que demonstra que as causas do

acidente não estão centradas no Acidentado GLPS, mas na organização. Com

base na análise deste acidente, é possível afirmar que existiu um mau

funcionamento organizacional e técnico na empresa estudada.

6.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Cabe destacar que este trabalho de avaliação das responsabilidades

legais na ocorrência e prevenção de acidentes pode ser ampliado e

aprofundado, visando dar continuidade a essa pesquisa aproveitando a revisão

bibliográfica assim como os dados iniciados e as considerações apresentadas.

Orienta-se seguir uma relação complementar de outros possíveis

desdobramentos e sugestão para trabalhos futuros:

Fazer estudos comparativos entre as condições de saúde, higiene

e segurança do trabalho da construção civil, com o objetivo de

confrontar as realidades encontradas em diferentes regiões para

detectar possíveis situações de risco e soluções adotadas

Desenvolver uma medida para estabelecer normas ou padrões a

serem aplicadas como diretriz para avaliação das condições de

saúde, higiene e segurança do trabalho

Criar e monitorar programas de segurança no sentido de avaliar e

propor correções para a melhoria das condições de risco no

ambiente de trabalho

REFERÊNCIAS

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