universidade estadual de feira de santanacivil.uefs.br/documentos/fabio da gama santana.pdf ·...

54
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA Fabio da Gama Santana AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE EPI’s POR OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE FEIRA DE SANTANA Feira de Santana, 2007

Upload: lythuy

Post on 10-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

Fabio da Gama Santana

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE EPI’s POR OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE FEIRA DE SANTANA

Feira de Santana, 2007

2

Fabio da Gama Santana

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE EPI’s POR OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE FEIRA DE SANTANA

Monografia apresentada à disciplina Projeto Final II do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito para obtenção da Graduação.

Orientador: Esp. Sergio Tranzillo França

Feira de Santana, 2007

3

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção da graduação do curso de Engenharia Civil da

Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, 2007.

Banca Examinadora:

_________________________ Prof.º Sergio Tranzillo França

Orientador

______________________________ Prof.a Sarah Patrícia de Oliveira Rios

_____________________________ Prof.º Eduardo Antonio Lima Costa

4

AGRADECIMENTOS

A meus pais, João e Auxiliadora, pelos princípios de vida que me ensinaram a viver,

lutando contra os obstáculos com os quais me deparei e pelo amor, nos momentos

aos quais estive ausente.

A minha noiva Valneide pelo amor e companheirismo incondicional que me ajudaram

durante a execução deste trabalho.

Aos meus Irmãos, Fabrício e João Antônio pela amizade fraternal e apoio moral nos

momentos mais difíceis.

Ao meu orientador Prof.º Sergio Tranzillo França, pela compreensão e confiança

depositada na elaboração deste trabalho.

Aos amigos e colegas pelos incentivos.

Aos membros da banca, a Prof.a Sarah Patrícia de Oliveira Rios e o Prof.º Eduardo

Antonio Lima Costa por aceitarem participar da defesa deste trabalho.

E acima de tudo a Deus.

5

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Capacete de segurança..........................................................................25

FIGURA 2 - Calçado de segurança............................................................................25

FIGURA 3 - Cinturão de segurança tipo pára-quedista..............................................26

FIGURA 4 – Construção da obra A............................................................................30

FIGURA 5 – Construção da obra B............................................................................31

FIGURA 6 – Você acha o uso do equipamento de proteção importante?.................34

FIGURA 7 – O uso do equipamento de proteção já evitou que sofresse alguma lesão

(ferimento)?................................................................................................................34

FIGURA 8 – O uso do equipamento de proteção já evitou que sofresse alguma lesão

(ferimento)? ...............................................................................................................35

FIGURA 9 – Você já presenciou algum acidente por causa da falta do uso do

equipamento de proteção? ........................................................................................35

FIGURA 10 – Você já presenciou algum acidente por causa da falta do uso do

equipamento de proteção? ........................................................................................36

FIGURA 11 – Já recebeu algum tipo de treinamento sobre o uso adequado do

equipamento de proteção? ........................................................................................37

FIGURA 12 – Já recebeu algum tipo de treinamento sobre o uso adequado do

equipamento de proteção? ........................................................................................37

FIGURA 13 – O uso do equipamento de proteção incomoda de alguma forma a

realização de suas atividades no canteiro de obras?.................................................38

FIGURA 14 – O uso do equipamento de proteção incomoda de alguma forma a

realização de suas atividades no canteiro de obras? ................................................39

FIGURA 15 – Você sabia que o uso do equipamento de proteção é obrigatório por

lei?..............................................................................................................................40

FIGURA 16 – Você sabia que o uso do equipamento de proteção é obrigatório por

lei? .............................................................................................................................40

FIGURA 17 – Você sabia que a empresa em que trabalhar tem obrigação de

fornecer gratuitamente seu equipamento de proteção e exigir seu uso?..................41

FIGURA 18 – Você sabia que a empresa em que trabalhar tem obrigação de

fornecer gratuitamente seu equipamento de proteção e exigir seu uso?.................41

6

FIGURA 19 – Você sabia que a guardar e conservar o equipamento de proteção é

de responsabilidade do funcionário?..........................................................................42

FIGURA 20 – Você sabia que a guardar e conservar o equipamento de proteção é

de responsabilidade do funcionário?..........................................................................43

FIGURA 21 – Casa de um pavimento........................................................................54

FIGURA 22 – Casa de dois pavimentos.....................................................................54

7

LISTA DE ABREVIATURAS

CA – Certificado de Aprovação

CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidente

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

DRT – Delegacia Regional do Trabalho

EP - Equipamento de Proteção

EPC – Equipamento de Proteção Coletiva

EPI – Equipamento de Proteção Individual

MPAS/INSS – Ministério da Previdência e Assistência Social/Instituto Nacional de

Seguro Social

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NR – Norma Regulamentadora

OIT – Organização Internacional do Trabalho

SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina

SINTRACON-SP - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil

de São Paulo

8

SUMÁRIO

RESUMO ABSTRACT CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA.......................................................11

1.1OBJETIVOS..................................................................................................13

1.1.1 Objetivo geral...............................................................................13

1.1.2 Objetivos específicos...................................................................14

1.3 METODOLOGIA........................................................................................14

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA.............................................................15 CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...............................................................16

2.1. CONCEITUAÇÃO LEGAL E PREVENCIONISTA DA SEGURANÇA DO TRABALHO......................................................................................................16 2.2. LEGISLAÇÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO...................................20

2.3. CONCEITO E OBJETIVO DO EPI............................................................22

CAPÍTULO 3 - COLETA DE DADOS.........................................................................27

3.1 ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO.......................................................27

3.2 MÉTODO DE AMOSTRAGEM..................................................................27

3.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA A...............................................29

3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA B...............................................30

3.3 AMOSTRAGEM DOS OPERÁRIOS..........................................................31

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................33

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES.................................................................................44 CAPÍTULO 6 – RECOMENDAÇÕES.........................................................................45 REFERÊNCIAS..........................................................................................................46 APÊNDICE.................................................................................................................50 ANEXO.......................................................................................................................52

9

RESUMO A construção civil brasileira apresenta características de atraso tecnológico por

possuir grandes índices de acidentes de trabalho, que são vistos como um dos

maiores da indústria brasileira. A presente monografia trata de avaliar a utilização de

EPI’s por operários da construção civil de Feira de Santana, com o objetivo de

analisar as condições de utilização destes equipamentos de uma amostra de

funcionários deste setor. A metodologia empregada baseia-se numa revisão teórica

e na análise feita de questionários aplicados com trabalhadores da construção civil

no canteiro de duas obras, com o intuito de avaliar a visão dos operários quanto a

questões de segurança do trabalho e a utilização adequada de EPI’s. Esses dados

podem servir de base para esboço de uma proposta de ação para prevenção dos

acidentes de trabalho na construção civil através de um melhor treinamento. Dentro

deste contexto, o presente trabalho buscou elaborar conclusões e recomendações

que contribuam para pesquisas futuras destinadas a dar prosseguimento a trabalhos

nesta área.

Palavras-chave: Equipamentos de proteção individual; Segurança no trabalho;

Construção civil.

10

ABSTRACT

For existing high levels of working accidents in building construction areas, which are

seen as one of the largest in industry, civil construction in Brazil presents

technological delaying characteristics. This monograph serves to evaluate the use of

IPE (individual protection equipment) by the construction workers of Feira de

Santana, aiming to analyze the conditions of the use of this equipment from a sample

of a construction staff. The methodology employed in this research is based on a

theoretic reviewing and on the analysis of questionnaires applied to civil construction

workers on two builders’ yards intending to evaluate their opinions about protection in

work and the correct use of the IPE. The data exposed here may be useful as a

source for a proposal sketch in preventing working accidents on civil construction

areas by offering a better training. On this context, present research tried to elaborate

conclusions and recommendations which can contribute for future researches

interested in continuing the subject worked here.

Key-words: Individual protection equipment; Security on working areas; Civil

construction.

11

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

A indústria da Construção Civil tem grande importância na economia nacional,

sendo um dos setores que mais absorve trabalhadores. Estes, geralmente, fazem

parte de estatísticas que comprovam altos índices de acidentes. Por isso, observa-

se que a busca por segurança do trabalho deve constituir um dos principais objetivos

da construção civil na atualidade, incluindo-se ai, a proteção individual do

trabalhador.

O setor da Construção Civil prioriza muito o crescimento, buscando redução

de custos, para obter mais lucro e coloca em segundo plano seu principal elemento,

o homem. Como conseqüência desta política, o setor deixa de fazer a interação

entre os objetivos empresariais com um eficiente programa de redução dos índices

de acidentes.

Atualmente, no setor da Construção Civil fala-se muito em qualidade, mas

não basta apenas ater-se à qualidade do material empregado e ao produto final;

deve-se levar em conta também a segurança e a saúde dos trabalhadores

envolvidos no processo. A falta de um bom sistema que gerencie a saúde e

segurança compromete a produtividade, a qualidade, os custos, os prazos de

entrega, a confiança dos clientes e o próprio ambiente de trabalho.

A qualificação de uma empresa depende primordialmente de seus recursos

humanos. E é inimaginável pensar que um operário possa desempenhar de maneira

satisfatória suas funções em um ambiente que não inspira segurança.

A Segurança do Trabalho é parte integrante do processo de produção e deve

ser um dos objetivos permanentes de uma empresa. Visa preservar o seu patrimônio

humano e material, de clientes e de terceiros e a continuidade das atividades em

padrões adequados de produtividade com qualidade de serviço.

No Brasil, as leis que começaram a abordar a questão da segurança no

trabalho só surgiram na década de 40, notadamente, com o Capítulo V do Título II

da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). No entanto, a primeira grande

reformulação deste assunto no país só ocorreu em 1967, quando se destacou a

necessidade de organização das empresas com a criação, por exemplo, do Serviço

Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT).

12

Segundo ESPINOZA (2002), o grande salto qualitativo da legislação brasileira

em Segurança do Trabalho ocorreu em 1978 com a introdução das 28 normas

regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), atualmente 33

normas. Ainda que quase todas as NR’s sejam aplicáveis à construção, destaca-se

entre elas a NR-18 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção, visto que é a única específica para o setor, e a NR-6 que trata de

Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Num artigo publicado pela Revista Escola de Minas de dezembro de 2004,

escrito por Professoras da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo em

Ribeirão Preto, alguns acidentes de trabalho na construção civil foram identificados

através de prontuários hospitalares. Foram pesquisados 6.122 prontuários,

objetivando investigar a quantidade de trabalhadores acidentados, assim como suas

características pessoais e dos acidentes, como as causas, as partes do corpo

atingidas pelos acidentes etc. De aproximadamente 6.000 prontuários hospitalares

de pacientes acidentados no trabalho, 150 referiam-se aos trabalhadores do setor da

construção civil. A faixa etária predominante foi a compreendida entre os 31 e 40

anos (34,7%). As causas predominantes foram as quedas (37,7%); as partes do

corpo mais lesadas foram os membros superiores (30,7%).

Em Feira de Santana, os números dos auxílios doença por acidentes de

trabalho, incluindo o setor da construção civil, concedidos pelo INSS nos últimos seis

anos totalizam 2.600 benefícios. Conforme determinação legal, essas informações

são obtidas através da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) emitidas pelas

empresas e encaminhadas posteriormente ao INSS. No entanto, o diretor tesoureiro

do Sindicato dos Trabalhadores da Construção relata que nem sempre isso

acontece, pois algumas empresas se negam a emitirem a CAT, devido às vantagens

oferecidas pela legislação previdenciária de redução das alíquotas de seguro social,

ou seja, a quantidade de acidentes é bem maior que o registrado.

Tal qual observa-se por todo Brasil, em Feira de Santana a ausência ou

utilização inadequada de EPI’s constitui uma grande preocupação. No ano passado,

em 14 de setembro de 2006, o Jornal Tribuna Feirense publicou uma reportagem

com a manchete “Brincando com a Vida”, a qual relata as condições de trabalho a

que se expõe um operário da construção civil numa obra em Feira de Santana. A

notícia traz a fotografia de um operário que se equilibra sobre um andaime sem

qualquer equipamento de proteção a 10 metros de altura. Pensando sobre essa

13

questão e visando contribuir para o cumprimento da legislação em vigor buscaremos

avaliar a utilização de EPI’s por trabalhadores da construção civil em Feira de

Santana, pois consideramos ser a prevenção de acidentes através da redução do

numero de lesões a melhor solução para a promoção da saúde e proteção da

integridade física dos trabalhadores no local de trabalho.

Verificamos que apesar de existir legislação e normas que orientem os

procedimentos de segurança e saúde do trabalhador, freqüentemente passamos por

obras de construção civil e nos deparamos com trabalhadores sem nenhum tipo de

EPI. Ficam então as seguintes suposições:

1) A não utilização de EPI’s se deve a falta de cobrança da empresa

acompanhada de uma possível tendência de redução dos custos. Numa pesquisa

realizada em Santa Maria no Rio Grande do Sul pela professora Márcia Zampieri

Grohmann verificou-se que “a não utilização dos EPI’s não é de exclusiva culpa dos

operários, pois, as empresas, que tem a responsabilidade e obrigatoriedade de

fornecê-los e exigi-los, não fornecem grande parte dos mesmos”.

2) A resistência dos funcionários à utilização adequada do EPI, está atrelada

a falta de conforto proveniente de um equipamento com ausência de especificação

adequada, ou seja, certificado de aprovação (CA). Num artigo da revista Téchne de

abril de 2005, que aborda o risco da utilização de EPI’s piratas, o presidente da

Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de

São Paulo) declara: “Além de não prover nenhuma segurança, são equipamentos

que machucam o trabalhador”.

Esclarecendo as questões acima, os resultados deste estudo podem subsidiar

ações futuras no sentido de melhorar as condições de vida do trabalhador,

propiciando melhorias nas condições de trabalho.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral:

Avaliar a utilização dos EPI’s em uma amostra de operários da construção civil de

Feira de Santana.

14

1.1.2 Objetivos específicos:

Demonstrar a importância da utilização adequada de EPI’s para a segurança do

empregado.

Apresentar sugestões que possam contribuir para um melhor treinamento dos

funcionários.

1.3 METODOLOGIA

1. Revisão bibliográfica, com a utilização de artigos, monografias, dissertações,

teses, livros, normas técnicas e qualquer outro material que possa oferecer

subsídios de pesquisa.

2. Elaboração do questionário, levando em consideração as hipóteses

apresentadas e os objetivos a serem alcançados. Nesta fase, analisaremos o

universo de pesquisa: operários da Construção Civil de duas obras de

construção com mais de cinco anos de atuação como também o nível de

formação e informação dos trabalhadores. A pesquisa busca identificar a

presença ou não de certo atributo qualitativo (condições de trabalho e de

utilização de EPI’s), e quantitativamente mensurar tais atributos, medindo seu

grau de presença ou atuação.

3. Solicitação formal da aplicação dos questionários junto ao responsável da

obra escolhida

4. Aplicação do questionário, que deverá ser feita pelo aluno. Este será

destinado a explorar a percepção de trabalhadores da construção civil com

relação a questões de segurança do trabalho e a utilização adequada de

EPI’s. Busca-se-a entrevistar o maior número possível de trabalhadores numa

única visita em cada obra, para alcançar a amostra e sucintamente será

prestado um esclarecimento aos mesmos quanto ao assunto a ser

questionado, explicando-se, que se trata de uma pesquisa acadêmica e não

uma pesquisa solicitada pela própria empresa para investigar seus

funcionários. Deverá ser esclarecido também, que, os nomes (tanto dos

trabalhadores quanto das empresas) não serão mencionados e os resultados

serão apresentados de forma geral e individualizados, por empresa

15

pesquisada. Pretende-se considerar os trabalhadores terceirizados no

canteiro de obra que estejam presentes no momento de aplicação do

questionário, já que a intenção da pesquisa é retratar a situação da

Construção Civil.

5. Tabulação dos dados, transformando as informações coletadas como base

para a elaboração das conclusões.

6. Análise dos resultados, promovendo considerações generalizada e

individualizada de cada questão aplicada nas obras, levando em

consideração os comentários que os operários faziam.

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

O trabalho está dividido em seis capítulos com a finalidade de organizar

metodologicamente o mesmo assim definida:

No capítulo 1, contém a introdução, na qual estão apresentadas a justificativa,

os objetivos e a metodologia.

No capítulo 2, apresenta-se uma revisão bibliográfica através de conceitos da

segurança do trabalho na visão legal e prevencionista, legislação da segurança do

trabalho do Brasil e conceito e objetivo do equipamento de proteção individual;

No capítulo 3, apresenta-se a coleta dos dados e descreve-se a elaboração

do questionário, como também, os conceitos da probabilidade utilizados tanto para

escolha das obras, quanto para a definição da amostra de operários;

No capítulo 4, apresentam-se os resultados e as análises da pesquisa de

campo;

No capítulo 5, são apresentadas as conclusões do trabalho relacionadas com

as hipóteses;

No capítulo 6, apresentam-se as recomendações e sujestões para trabalhos

futuros destinados a dar prosseguimento a pesquisas nesta área.

16

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CONCEITUAÇÃO LEGAL E PREVENCIONISTA DA SEGURANÇA DO TRABALHO

Numa sociedade democrática, as leis existem para delimitar os direitos e os

deveres dos cidadãos. Qualquer pessoa que sentir que seus direitos foram

desrespeitados pode recorrer à Justiça para tentar obter reparação, por perdas e

danos sofridos em conseqüência de atos ou omissões de terceiros.

As decisões da Justiça são tomadas com base nas leis em vigor. Conhecer as

leis a fundo é tarefa dos advogados. Mas é bom que o trabalhador, também tenha

algum conhecimento sobre as leis que foram elaboradas para proteger seus direitos.

Por isso, é importante saber o que a legislação brasileira entende por acidente do

trabalho. A Lei 8.213/91, que dispõe sobre o Plano de Benefícios da Previdência

Social, em seu artigo 19, define acidente do trabalho no seguinte termo:

“Art.19. Acidente do trabalho é aquele que ocorre no exercício do

trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados

referidos no inciso VII do artigo 11 desta lei, provocando lesão corporal ou

perturbação funcional que cause morte ou perda ou redução, permanente

ou temporária, da capacidade para o trabalho.

§ 1º A empresa é responsável pela adoção e uso de medidas

coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador.

§ 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a

empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.

§ 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas

sobre os riscos da operação a executar e do produto a manipular.

§ 4º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social fiscalizará e

os sindicato e entidades representativas de classe acompanharão o fiel

cumprimento do dispostos nos parágrafos anteriores, conforme dispuser o

regulamento.”

Esta mesma lei (8.213/91), no seu artigo 20, considera as doenças

profissionais são consideradas acidente do trabalho. Estas, segundo AYRES (2001),

são as que resultam não da profissão em si, mas das condições do exercício da

função e do meio ambiente de trabalho, ou seja, são aquelas decorrentes das

condições especiais em que o trabalho é realizado. Assim:

17

“Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo

anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I – doença profissional, assim entendida a produzida ou

desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade

e constante da respectiva relação elaborada pelo ministério do trabalho e

da previdência Social;

II – doença profissional, assim entendida a adquirida ou

desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é

realizado e com ele se relaciona diretamente, constante da relação

mencionada no inciso I;

§ 1º Não são consideradas como doenças do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente ao grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado, habitante da região em que ela

se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante da exposição ou

contato direto determinado pela natureza do trabalho.

§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença, não incluída na

relação prevista nos incisos I e II deste artigo, resultou das condições

especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona

diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.”

O conceito legal tem uma aplicação mais corretiva voltada basicamente

para as lesões ocorridas no trabalhador e este também enquadra como

acidente do trabalho os que ocorrem nas situações apresentadas a seguir:

“Art. 21. Equiparam-se a acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I – acidente ligado ao trabalho que embora não tenha sido a causa única, haja

contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da

sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica

para a sua recuperação;

II – o acidente sofrido pelo segurado no local e horário de trabalho, em

conseqüência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou

companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa

relacionada com o trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de

companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

18

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes

de força maior.

III – a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no

exercício de sua atividade;

IV – o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de

trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da

empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar

prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada

por estar dentro dos seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra,

independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo do

próprio segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela,

qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do

segurado.

§ 1º Nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da

satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante

este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a

lesão que, resulte de acidente de outra origem, se associe ou se superponha

às conseqüências do anterior.”

Segundo FRANÇA (2002), é importante definir legalmente o acidente do

trabalho, pois a intenção é de proteger o trabalhador acidentado, através de uma

compensação financeira enquanto este se encontra incapaz de trabalhar, ou com

indenização, se for caracterizada a incapacidade permanente.

De acordo com PIZA (1997) a definição legal, por ter sido criada pelo

Ministério da Previdência considera acidente somente aqueles do qual resultem

prejuízos físicos como lesões, mutilações, mortes, etc. Porém, se for analisado

acidente do trabalho na visão prevencionista, a lesão física não é fator

preponderante, já que esta abrange outras perdas como a de tempo e material. A

visão do acidente passa para um patamar onde o homem é o ponto central, rodeado

de todos os outros elementos que compõe um sistema: equipamentos, materiais,

instalações e hoje, numa visão mais moderna de qualidade, o meio ambiente e a

preservação à natureza.

19

Graças aos estudos de Heinrich, Bird, Fletcher e depois Hammer, foi que a

engenharia de segurança passou a ter um outro enfoque, dando surgimento às

doutrinas preventivas de segurança. Segundo esta nova visão, a atividade de

segurança só é eficaz quando essencialmente dirigida para o conhecimento e

atuação nas causas dos acidentes, envolvendo para isso toda a estrutura

organizacional, desde os níveis mais altos de chefia e supervisão até o mais baixo

escalão de uma empresa.

Estes autores se destacaram e desenvolveram importantes estudos buscando

uma melhor compreensão dos problemas relativos à segurança, propondo

metodologias para mudança no estilo de abordagem e trabalhando na obtenção de

melhores resultados.

Para BISSO(1990), são responsáveis pela segurança do trabalho cada qual

com sua parcela de responsabilidade, logicamente proporcional ao poder de decisão

da posição que ocupa: os poderes oficiais (executivo, legislativo e judiciário); os

empresários e dirigentes empresariais; os gerentes, chefes e supervisores e o

próprio trabalhador.

De acordo com FRANÇA (2002), todos estes estudos culminaram numa nova

conceituação para acidente do trabalho bem mais abrangente que da definição legal

estabelecida pela Lei 8.213/91, que se pode chamar de definição prevencionista:

Acidente do trabalho é toda ocorrência que interrompe o estado de

segurança e que pode degradar um ou mais dos componentes do

trabalho, assim como interromper parcial ou totalmente a condição

produtiva e/ou interferir no fator tempo.

É através desta mudança de abordagem, o termo “acidente” passa a ter outra

conotação: de causas fortuitas, desconhecidas e incontroláveis passou a ser visto

como sendo ocasionado por causas indesejáveis que podem ser conhecidas

previamente e, portanto, controladas. O acidente passou a ser visto de forma mais

ampla, onde sem relegar os acidentes com lesões pessoais, passaram a ser

considerados acidentes todas aquelas situações que de forma direta ou indireta

viessem a comprometer o bom andamento do processo produtivo, quer pela perda

de tempo, pela quebra de equipamento ou qualquer outro incidente envolvendo ou

20

não o trabalhador, provocando ou não lesão, mas que tenha provocado desperdício,

ou seja, perdas tanto a nível monetário quanto pessoal.

2.2 LEGISLAÇÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO

A Construção Civil, setor de reconhecida importância por sua finalidade e

abrangência, é contraditoriamente marcado por uma atividade que proporciona, na

ausência de ações preventivas, o constante convívio com situações de risco,

comprovadas pelo elevado número de acidentes, que causam incapacidades e

mortes (MANGAS, 2003).

Os alarmantes números da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

revelam que, a cada ano, acontecem cerca de 250 milhões de acidentes de trabalho

e 160 milhões de doenças profissionais no mundo, dos quais 1,1 milhão resultam em

mortes (AYRES, 2001). Já no Brasil através de dados do Ministério da Previdência e

Assistência Social, no ano de 2001, os acidentes chegaram a 339 mil, sendo 2.557

mortes (FRANÇA, 2002).

Diante disso, foram criadas no mundo e no Brasil regulamentações legais

sobre acidentes do trabalho como instrumento de proteção ao trabalhador. No Brasil,

em 1977, através da Lei 6.514 de 22/12/77, que altera o Capítulo V do Título II, da

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que em seu artigo 200, ficou determinado

que:

“Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições

complementares às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as

peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre”:

I – medidas de prevenção de acidentes e os equipamentos de

proteção individual em obras de construção, demolição e reparos”.

(COSTA,2001 p59)

Regulamentando o referido artigo, o Ministério do Trabalho sancionou, em 08

de junho de 1978, a Portaria 3.214, que cria as Normas Regulamentadoras (NR).

Foram estabelecidas na época 28 normas, sendo atualmente 33 normas,

relacionando diversos aspectos do trabalho, tais como inspeção, embargo, Serviço

Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), Comissão Interna

de Prevenção de acidentes (CIPA), Equipamentos de Proteção Individual (EPI),

21

riscos ambientais, trabalho na construção civil, sinalização, fiscalização e

penalidades, dentre outros. (FRANÇA, 2002).

No caso da segurança do trabalho, o papel das leis é de fundamental

importância, principalmente em países onde as condições de vida do trabalhador

não permitem garantir sua integridade física no seu ambiente de trabalho, como no

Brasil. Assim, do Código Civil, temos:

“Artigo 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência,

ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a

reparar o dano”.

“Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores,

os cúmplices e as pessoas designadas no artigo 1.521”.

III – o patrão, amo ou comitente, por seus empregados, serviços e

prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou por ocasião dele no

artigo 1.522 ““.

“Artigo 1.522. A responsabilidade estabelecida no artigo antecedente,

nº III, abrange as pessoas jurídicas, que exercerem exploração industrial”.

Segundo AYRES (2001) sendo questionada e demonstrada a culpa do

empregador, o lesado e/ou acidentado terá direito à reparação dos danos sofridos.

Essa variará de acordo com a extensão dos danos, podendo compreender das

despesas com tratamento médico-hospitalar, ressarcimento dos dias que deixou de

trabalhar e até a pensão vitalícia.

Do Código Penal temos:

“Artigo 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”.

Artigo 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e

iminente

Artigo 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo

sem risco pessoal, à pessoa ferida ou em grave e iminente perigo

Artigo 203. Frustração, mediante fraude ou violência, de direito

assegurado pela legislação trabalhista “.

A empresa, segundo AYRES (2001), que não adotar as medidas de

segurança e higiene do trabalho, a fim de proteger seus empregados contra os

riscos de acidentes do trabalho ou doenças do trabalho, seja por meio de medidas

de proteção coletivas ou equipamentos de proteção individual, além das sanções

legais por não cumprir as NR’s, do Ministério do Trabalho e Emprego, responderá

22

por crimes de homicídio, lesões corporais, ou crimes de perigo comum, previstos nos

artigos acima citados.

Pelo reconhecimento da grande quantidade de acidentes do setor da

construção civil é criada entre as 28 normas, a NR18-Condições e Meio Ambiente de

Trabalho na Indústria da Construção que, minimamente cumprida, reduziria ou

atenuaria as condições de trabalho duras e desgastantes, pelo menos no que diz

respeito às formas mais evidentes de agressão à saúde (Fundacentro, 1995).

2.3 CONCEITO E OBJETIVO DO EPI

Segundo ESPINOZA (2002) na Construção Civil, existe uma multiplicidade de

fatores de riscos que predispõe o operário ao acidente, tais como instalação

provisória inadequada, jornadas de trabalho prolongadas, a negligência quanto ao

uso de maneira correta do Equipamento de Proteção Individual (EPI) e a falta do

Equipamento de Proteção Coletiva (EPC). Outros fatores que também devem ser

considerados são o sócio-econômico, a alimentação, formação e a falta de

conscientização da mão-de-obra.

Quando todos esses fatores estão inter-relacionados, e onde as medidas de

segurança de ordem geral não são suficientemente eficazes contra os riscos de

acidentes, lança-se mão de recursos da proteção individual (ZOCCHIO, 2002). O

EPI, segundo a NR 6, é “todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo

trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a

saúde no trabalho”. E ele deve ser utilizado, segundo a mesma norma “enquanto as

medidas de proteção coletivas estiverem sendo implantadas, e para atender as

situações de emergência”.

Para a NR 6, o empregador deve fornecer de forma gratuita, todos os EPI’s

com o Certificado de Aprovação (CA), necessários à realização, com segurança, das

etapas construtivas para seus operários, exigir seu uso, orientar o empregado sobre

a sua utilização, guarda e conservação, trocar os EPI’s danificados e

responsabilizar-se pela higienização. Já o funcionário deve utilizar o EPI

corretamente, responsabilizar-se pela guarda e conservação e comunicar ao

empregador qualquer alteração que torne o equipamento impróprio para o uso e

cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado.

23

Os EPI’s devem ser especificados pelo Serviço Especializado em Segurança

e Medicina do Trabalho (SESMT), ou pela Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes (CIPA). Nas empresas desobrigadas a constituir qualquer um destes,

cabe ao empregador procurar orientação profissional tecnicamente capaz para

especificar o EPI e treinar os funcionários.

Segundo AYRES (2001) a seleção dos EPI’s adequados às atividades do

trabalho desenvolvido deve ser feita através de uma avaliação do responsável em

questão, considerando, no mínimo, as seguintes fases:

1. Identificação dos riscos: levantamento dos riscos existentes no

ambiente de trabalho, que sejam ou que tenham a possibilidade de

ser nocivos aos operários, afetando a sua saúde;

2. Avaliação dos riscos identificados: determinação da intensidade

e/ou extensão dos riscos (condição operacional), bem como a

freqüência e o tempo de exposição a eles, concluindo quanto às

conseqüências que poderão acarretar a integridade física e a saúde

dos operários, caso não usem a proteção adequada;

3. Indicação do EPI adequado: com as informações das fases

anteriores, é escolhido o EPI mais adequado a cada risco.

Em suma, a seleção do EPI envolve, basicamente, qualidade e facilidade de

utilização. Quanto à qualidade há duas exigências: o equipamento deve oferecer

proteção adequada contra o risco para o qual foi fabricado, e deve ser durável,

levando-se em conta o risco para o qual foi fabricado. Quanto à utilização: o

equipamento deve ser confortável, quando usado nas condições para os quais foi

fabricado, e ajustar-se à anatomia do usuário.

A NR6, destaca-se 9 grupos principais de EPI:

a -EPI para proteção da cabeça;

b -EPI para proteção dos olhos e face;

c -EPI para proteção auditiva;

d -EPI para proteção respiratória;

e -EPI para proteção do tronco;

f -EPI para proteção dos membros superiores;

g -EPI para proteção dos membros inferiores;

h -EPI para proteção do corpo inteiro;

24

i -EPI para proteção contra quedas com diferença de nível.

Segundo GROHMANN (2000) os únicos EPI’s que são 100% fornecidos pelas

empresas de Santa Maria-RS são: capacete, calçado fechado e cinto de segurança

e os EPI’s que apresentam fornecimento mais precário são os de proteção para o

tronco: 70,6% das empresas não os fornecem. Um dado extremamente importante e

preocupante é o de que muitas empresas não sabem quais são os EPI’s necessários

para a construção civil e, algumas desconhecem que os mesmos são obrigatórios.

Essa situação também acontece em Feira de Santana; segundo o auditor fiscal do

trabalho, da Sub-delegaçia do Trabalho de Feira de Santana, a maioria das

empresas da cidade não oferece EPI’s a seus funcionários, e quando fornecem

muitas destas compram equipamentos sem o Certificado de Aprovação exigido pela

lei (informação verbal).

Sendo assim, os EPI’s mais utilizados na construção civil de maneira geral

são:

1. Capacete: são os protetores mais comuns do crânio contra impactos em

geral, mas principalmente nos casos de queda de objetos de lugares elevados.

Então, a função dos capacetes é neutralizar a ação agressiva nos casos de batidas

contra algo, por algo ou queda de algum objeto. Segundo AYRES (2001) estes

podem ser encontrados de várias cores e são divididos em três classes:

Classe A: fabricados de material isolante, com resistência de até 2.200 volts e

resistentes a impactos;

Classe B: fabricados de material isolante, com resistência de até 20.000 volts

e resistentes a impactos;

Classe C: resistentes a impactos, mas que não possuem características de

proteção para trabalhos em ambientes de fios e cabos energizados, nem de produto

químicos.

Todos os trabalhadores ou visitantes que circulam pela obra devem utilizá-lo.

Em geral, demarca-se um ponto no canteiro e a partir daí o uso do capacete é

obrigatório. Os capacetes são compostos do casco e da suspensão para capacete

que é a armação interna que o mantém na devida posição sobre a cabeça (Figura

1).

25

FIGURA 1 - Capacete de segurança

2.Calçados de segurança: são usados para proteger os pés contra impacto

(principalmente contra queda de objetos), contra perfurações ou desconforto térmico,

contra produtos químicos, umidade, isolação elétrica etc. Em geral, todos os

trabalhadores da obra utilizam o EPI. Os mais utilizados na construção civil são

aqueles que resistem a impactos e perfurações como os calçados de biqueira de aço

(Figura 2).

FIGURA 2 - Calçado de segurança

3. Cinturão de segurança: são usados para proteção do funcionário contra

queda, quando desenvolve atividades em lugares com diferença de nível superior a

2 m (Figura 3). Podem ser encontrados nos tipos: pára-quedista e cadeira. Segundo

ZOCCHIO (2002) os usuários deste equipamento devem ter treinamentos especiais

prestados pelo serviço de segurança.

26

FIGURA 3 - Cinturão de segurança tipo pára-quedista

Salientamos que o fornecimento de EPI’s pelas empresas e a exigência de

seu uso não podem evitar acidentes se utilizados isoladamente, pois, um eficiente

sistema de segurança é caracterizado não apenas pelo simples cumprimento de

exigências legais, mas, principalmente, pela preocupação em fornecer aos

empregados um ambiente seguro, os mais adequados equipamentos de proteção

individual e um eficiente treinamento, sem levar em conta apenas à minimização dos

custos. O anexo 1 da orientações do EPI em função da atividade desenvolvida.

27

CAPÍTULO 3 – COLETA DE DADOS

3.1 ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Essa tarefa foi realizada com base na fundamentação teórica, nas hipóteses e

objetivos desta pesquisa. O questionário é um instrumento para levantar

informações a que se deve responder sem a interferência do pesquisador.

O questionário utilizado (apêndice 1) foi aplicado com a presença física do

pesquisador; esta modalidade, é bem aplicada em situações onde possa existir

resistência, quando são aplicadas pesquisas numa população pouco instruída

(CAMPOS, 2005).

Apesar deste tipo de questionário apresentar alto custo, pois era aplicado face

a face, com o deslocamento do pesquisador para lugares limítrofes da cidade; este,

porém, era o que melhor se adequava numa situação onde o nível educacional na

população de interesse poderia inviabilizar a pesquisa se um outro modelo de

aplicação de questionário fosse usado.

Entre os tipos de questionários, foi escolhido os de questões fechadas; estes

são os que apresentam apenas duas opções de respostas, do tipo: sim/não;

concordo/não concordo. Segundo MATTAR (1994), as principais vantagens das

questões fechadas são: rapidez e facilidade de aplicação, processo e análise;

facilidade e rapidez no ato de responder; menor risco de parcialidade do

entrevistador; apresentam pouca possibilidade de erros e são altamente objetivos.

3.2 MÉTODO DE AMOSTRAGEM

Foi utilizado para a definição do tamanho da amostra e da quantidade

das obras um conjunto de conceitos relacionados com a Teoria da Amostragem;

levando-se em consideração que dependendo do tipo de amostra probabilística que

se vai utilizar existem cálculos e considerações específicos para o seu tamanho.

Portanto, o que se deseja com a retirada da amostra e escolha das obras é ter certo

grau de certeza nas considerações dos dados.

A amostragem é uma etapa de grande importância no delineamento da

pesquisa capaz de determinar a validade dos dados obtidos. Segundo MATTAR

(1996), sua idéia básica refere-se "à coleta de dados relativos a alguns elementos da

28

população e a sua análise, que pode proporcionar informações relevantes sobre

toda a população".

O procedimento de amostragem pode ser realizado por meio de uma amostra

probabilística (aleatório) ou não probabilística (não aleatório). No primeiro caso, os

resultados podem ser projetáveis para a população total, já no segundo caso, os

resultados não podem ser generalizados.

Para a escolha do processo de amostragem, o pesquisador deve levar em

conta o tipo de pesquisa, a acessibilidade aos elementos da população, a

disponibilidade ou não de ter os elementos da população, a representatividade

desejada ou necessária, a oportunidade apresentada pela ocorrência de fatos ou

eventos, a disponibilidade de tempo, recursos financeiros e humanos etc (MATTAR,

1996).

A amostragem probabilística é aquela em que cada elemento da população

tem uma chance conhecida e diferente de zero de ser selecionado para compor a

amostra, e a amostragem não probabilística é aquela em que a seleção dos

elementos da população para compor a amostra depende ao menos em parte do

julgamento e do bom senso do pesquisador (LEVIN, 2004).

A superioridade da amostragem probabilística é incontestável. Porém,

existem situações em que o uso da amostragem não probabilística deve ser

considerado, pois é capaz de trazer resultados razoáveis. Portanto, no caso

especifico das empresas de Feira de Santana e das obras analisadas, a

amostragem não probabilística se adequou muito bem, já que, a cidade tem em

atividade muitas empresas de construção com as mesmas características das que

fizeram parte da pesquisa.

Em casos como esse, a melhor forma de se obter os dados é por meio de

uma amostra não probabilística, já que a principal razão para usar amostragem não

probabilística se refere às limitações de tempo, recursos financeiros, materiais e

pessoas necessários para a realização de uma pesquisa com amostragem

probabilística (MATTAR, 1996).

As empresas e as obras foram escolhidas usando-se a amostragem não-

probabilística do tipo conveniência, que ocorre quando o pesquisador seleciona os

membros da população (empresas e obras) dos quais é mais fácil se obter

informações. Segundo VIALI (2007) a amostra por conveniência é empregada

quando se deseja obter informações de maneira rápida e barata.

29

No entanto, VIALI (2007) é importante o senso crítico do pesquisador para

evitar vieses. Por exemplo, no caso desta pesquisa, selecionar obras de mesmas

características quanto ao aspecto segurança do trabalho, levando em consideração

seu porte e importância no mercado. Assim, a pesquisa foi realizada através da

aplicação de questionários em obras que possibilitassem melhor analisar os

principais aspectos a serem contemplados nesta monografia.

Participaram da pesquisa os operários da construção civil em pleno exercício

de suas atividades, das obras A e B de respectivamente duas empresas do subsetor

de edificações de Feira de Santana, com a exigência de terem sede local, e serem

incorporadoras e construtoras, que atuam na construção vertical e horizontal sendo

grandes responsáveis pelo crescimento imobiliário da cidade; são importantes no

setor de construção de Feira de Santana, com mais de cinco anos de atuação no

setor. Uma outra característica presente nestas, é que o uso de equipamentos de

proteção individual pelos operários ainda é restrito principalmente a botas e

capacetes.

3.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA A

A obra A, constitui-se de condomínio de apartamentos com quatro edifícios

em alvenaria estrutural (figura 4), com aproximadamente 10000 m2 de área total. Até

o momento da aplicação do questionário, não foi registrado nenhum acidente e no

período da aplicação do mesmo todos os 166 operários usavam os equipamentos de

segurança mínimos necessários. A obra possui em seu quadro de funcionários um

técnico de segurança que permanece na obra todas as terças e quintas-feiras.

Aparentemente a obra atende minimamente a NR 18, pois possui banheiros,

vestiário e armários para que os operários possam guardar seus equipamentos de

segurança.

30

FIGURA 4 – Construção da obra A

3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA B

A obra B, até o momento da pesquisa de campo, possui 50% de área

construída, com 300 casas, de um e dois pavimentos (anexo 2), com área total

aproximada de 13000 m2; os trabalhadores que executavam serviços em andaimes,

no dia da aplicação do questionário, não usavam o cinto de segurança; um deles foi

questionado a respeito da falta do cinto e admitiu não utilizar o mesmo, pois se

perdesse “teria que pagar”. E é o que provavelmente aconteceria, pois a obra não

possuía armários para guardar os equipamentos, e boa parte dos funcionários já

tinham perdido os capacetes que tentavam guardar escondidos na própria obra.

Visivelmente esta obra não atende a todos os requisitos da NR 18, pois não possui

em sua área vestiário e muito menos armários para a guarda dos EPI’s. A obra

possui em seu quadro de funcionários dois técnicos de segurança que permanecem

na obra todos os dias. Esta obra fere visivelmente as condições adequadas de

ambiente de trabalho, quando possui em vários pontos da mesma entulho e restos

de materiais, como mostra a figura 5.

31

FIGURA 5 – Construção da obra B

Um forte indício da situação inadequada do ponto de vista da segurança para

esta obra foi o fato de que nesta, enquanto era aplicado o questionário, um dos

funcionários, do total de 163 operários, pediu para sair mais cedo para ir ao médico

ver o que tinha acontecido com o olho. Ele relatava que provavelmente tinha sido

atingido por pedaços de telhas enquanto fazia o corte das mesmas, porém não

utilizava os óculos de segurança por que este, segundo ele, não oferecia boa

visibilidade, por estar completamente arranhado.

3.3 AMOSTRAGEM DOS OPERÁRIOS

A amostragem refere-se ao processo (probabilístico ou não probabilístico)

pelo qual se obtém uma amostra e deve ser realizada com técnicas adequadas

(amostra probabilística) para garantir a representatividade da população em estudo,

cabe ainda ressaltar que, sempre que possível, cada elemento da população deve

ter igual probabilidade de participar da amostra, evitando assim uma obliqüidade na

amostragem. As pesquisas por amostragem provêm algumas vantagens na

realização do estudo, principalmente com relação à fidedignidade dos dados.

O tipo básico de amostra aleatória foi o simples, pois cada membro do

universo de respondentes tiveram as mesmas chances de responderem ao

questionário e estes farão parte da amostra.

Segundo CAMPOS (2005), supondo que a propriedade de interesse distribua-

se segundo uma curva normal de probabilidade, o grau de confiança de que a

expressão adiante seja obedecida pode ser pensado como a probabilidade

32

associada ao intervalo de confiança cujo limite inferior é X-e e cujo limite superior é

X+e; numa média m de uma propriedade na população m = X±e (onde e é o erro da

amostra). Sendo que, o erro de amostragem (e=z.s) pode ser considerado em

função do grau de confiança no resultado desejado.

O tamanho da amostra irá depender principalmente do nível de confiança e

do erro da amostragem desejada, quanto mais confiança se deseja ter sobre os

resultados, maior a amostra solicitada. Nesta pesquisa especificamente, queremos

determinar o tamanho (n) de uma amostra a ser retirada de uma população (N) de

tal forma que o erro de amostragem (e) e o nível de confiança (z) sejam expressos

em porcentagem, aplicando a formula 1 abaixo.

(1)

Sendo que:

n: Tamanho da Amostra;

N: População;

e: Erro de Amostragem;

z: Nível de Confiança (valor tabelado).

Segundo CAMPOS (2005), de forma geral, o grau de certeza nos resultados

da pesquisa (conhecido como nível de confiança) é fixado para 95%(z=1,96), 97%

(z=2,17) e 99%(z=2,575) por exemplo. No caso especifico, de uma pesquisa que

trabalha com percentagens, os valores mais habituais para o erro de amostragem (e)

variam de 1% a 10%.

Estabelecendo o nosso problema de forma mais detalhada, queremos

determinar o tamanho da amostra a ser retirada de uma população N de 166 e 163

operários das obras A e B respectivamente.

Assim, escolhidas de forma tal que o erro de amostragem seja e igual a ±3

para as duas obras e o nível de confiança correspondentes para a obra A seja de

97% (z=2,17) e para a obra B de 95% (z=1,96), temos que, aplicando a formula 1 os

valores de amostra n para as obras A e B correspondentes a 86 e 69 operários a

serem questionados, como mostra tabela 1 resumo abaixo.

n= N . (z/e)2

33

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme os dados coletados através da aplicação de questionários com os

operários pode-se averiguar, de maneira geral, a percepção destes trabalhadores

quanto à utilização adequada de EPI’s em função das respostas dadas.

As considerações serão feitas num primeiro momento com os resultados

dispostos de maneira geral e, imediatamente depois, uma análise mais especifica de

cada obra, individualizada, para as questões propostas.

QUESTÃO 1 - VOCÊ ACHA O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO

IMPORTANTE?

Para primeira questão, percebe-se que de maneira geral, com ou sem o

cumprimento mínimo das normas regulamentadoras por parte das duas empresas,

todos os operários apresentam ótima percepção quanto à importância de se utilizar o

equipamento de proteção individual, já que foram obtidas 100% das respostas

positivas, como consta no figura 6. Nesta primeira questão, foi tomado o cuidado de

se perguntar quanto à importância da expressão Equipamento de Proteção (EP), já

que era mais familiar para os operários tratar do assunto nestes termos. A análise

não foi realizada separadamente, pois apresenta homogeneidade nas respostas.

Conclui-se que existe conscientização dos operários quanto à importância, o

controverso, no entanto, é o fato de que alguns operários da Obra B, apesar de

acharem importante a utilização da proteção, não as utilizam por acharem-se

capazes de contornar o acidente. Um dos operários durante a entrevista relatou que,

era bem melhor tentar se livrar da queda de um andaime do que ficar pendurado

pelo cinto de segurança, pois segundo ele, essa situação era constrangedora e

motivo de piadas por parte dos colegas de trabalho. Enquanto que na obra A, os

operários se sentiam obrigados a utilizar o EPI, pois o técnico de segurança,

segundo eles, assim orientava.

34

Questão 1

100% SIM

FIGURA 6 – Você acha o uso do equipamento de proteção importante?

QUESTÃO 2 - O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO JÁ EVITOU QUE

SOFRESSE ALGUMA LESÃO (FERIMENTO)?

Na segunda questão, podemos perceber através da análise da figura 7, o

motivo por que alguns operários não usam o EPI, mesmo quando os são exigidos;

os (23%) que responderam não, provavelmente nunca passaram por alguma

situação em que os equipamentos os protegessem ou mesmo com a utilização do

EPI ocorreu o acidente. Neste item, foi tomado o cuidado de questionar o acidente

como lesão ou ferimento, já que, muitos creditam erroneamente que o EPI evita o

acidente.

FIGURA 7 – O uso do equipamento de proteção já evitou que sofresse

alguma lesão (ferimento)?

Já quando individualizamos a analise (figura 8) podemos perceber que a

porcentagem de não 23% tem maior contribuição dos operários da obra B, que

Questão 2

77%

23%

NÃO

SIM

35

durante a aplicação do questionário foram os que menos utilizavam os EPI’s, talvez

por se sentirem menos motivados pelo ambiente do canteiro e pelo descaso da

própria empresa em não viabilizar condições que tornassem viáveis a utilização e a

guarda do EPI.

Questão 2

87%

65%

13%

35%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 8 – O uso do equipamento de proteção já evitou que sofresse

alguma lesão (ferimento)?

QUESTÃO 3 - VOCÊ JÁ PRESENCIOU ALGUM ACIDENTE POR CAUSA DA

FALTA DO USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO?

Na terceira questão, como indica a figura 9, a maioria dos operários já viu

alguns tipos de acidente acontecerem no canteiro pela falta de EPI, a questão não

aborda que tipo de acidente. O comentário mais comum, mesmo quando não era

perguntado qual o tipo de acidente, se destacava: queda com diferença de nível.

Esta informação dos operários não surpreende, já que o Brasil apresenta

estatisticamente altos índices de acidentes com queda de altura.

Questão 3

54%

46%

NÃO

SIM

FIGURA 9 – Você já presenciou algum acidente por causa da falta do uso do

equipamento de proteção?

36

Podemos perceber que os resultados das obras são relativamente uniformes,

(figura 10), o que evidencia a equivalência das respostas. Boa parte dos operários

de cada obra já viram acidentes acontecerem pela falta de EPI. Porém na obra B, a

quantidade maior de operários que já viram acidentes acontecerem pode estar

relacionada aos dois acidentes registrados na obra até a aplicação do questionário.

O interessante, porém é que, mesmo com os exemplos dos acidentes muitos ainda

se recusam a utilizar o EPI, por acharem-se capazes de livrarem-se de qualquer

situação de risco.

Questão 3

48%

57%52%

43%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 10 – Você já presenciou algum acidente por causa da falta do uso do

equipamento de proteção?

QUESTÃO 4 - JÁ RECEBEU ALGUM TIPO DE TREINAMENTO SOBRE O

USO ADEQUADO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO?

Historicamente no Brasil, as empresas preferem ter o mínimo custo possível

para cumprir as normas de segurança e as vezes podem negligenciar tarefas

obrigatórias para o cumprimento das exigências necessárias. Na quarta questão,

conforme a figura 11, o percentual encontrado de 24% de afirmações negativas,

evidencia essa possibilidade, pois esperava-se que 100% dos operários

respondessem sim ao recebimento do treinamento de utilização do EPI.

37

Questão 4

76%

24%

SIM

NÃO

FIGURA 11 – Já recebeu algum tipo de treinamento sobre o uso adequado do

equipamento de proteção?

Como mostra a figura 12, foi constatado durante a aplicação do questionário

que a maioria dos operários da obra A, responderam que passaram por treinamento.

No entanto, eles ficavam com duvidas a respeito, pois não se lembravam

exatamente se tinham recebido tal instrução, o que evidencia a falta de constância e

consistência do mesmo.

Na obra B, os operários que responderam sim ao questionário tinham um

pouco mais de certeza, comentaram que recebiam instruções. No entanto, boa parte

dos trabalhadores que responderam não, afirmaram que estão a poucos meses

trabalhando e que ainda não tinham passado por treinamento específico ou não

tinham certeza de tal, o que não justifica, já que a NR 18 no item 18.28 estabelece

que o treinamento deva ser admissional e periódico, visando garantir a execução

das atividades com segurança.

Questão 4

92%

57%

8%

43%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 12 - Já recebeu algum tipo de treinamento sobre o uso adequado do

equipamento de proteção?

38

QUESTÃO 5 - O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INCOMODA DE

ALGUMA FORMA A REALIZAÇÃO DE SUAS ATIVIDADES NO CANTEIRO DE

OBRAS?

Na questão cinco (figura 13) quando generalizamos as análises, devemos

levar em consideração: a má indicação e utilização do EPI, já que, por exemplo, a

indicação de um tipo inadequado de bota ou capacete podem causar danos e

incômodos aos operários.

Em muitos casos a indicação do EPI é a autorização, inclusive garantida pela

lei, de permitir a exposição do trabalhador a determinado risco por um determinado

tempo. Fica claro que, sendo o EPI com indicação imprópria, os danos podem

ocorrer. Assim, o trabalhador, na maioria das vezes mal informado sobre o assunto,

entende que fazendo uso do EPI protege-se, e acaba expondo-se ainda mais pela

confiança no meio de proteção, que em muitos casos, quando indicado

incorretamente, pode resultar em lesões e doenças.

Qustão 5

34%

66%NÃO

SIM

FIGURA 13 – O uso do equipamento de proteção incomoda de alguma forma a

realização de suas atividades no canteiro de obras?

Neste item, a eficiência de um bom um treinamento e a qualidade dos EPI’s

utilizados influenciam na resposta, como mostra a figura 14.

A obra A teve em grande maioria resposta não, quanto ao incômodo dos

EPI’s, o que talvez indique uma melhor qualidade dos equipamentos, como também,

um melhor esclarecimento dos operários quanto à importância da utilização dos

EPI’s, mesmo quando estes parecem incomodar.

39

A obra B, apresenta um equilíbrio quanto às respostas. Deve-se levar em

consideração fatores como a inadequação do tamanho do EPI, a estrutura física do

trabalhador, já que a NR 6 em seu item 6.2 diz que o EPI pode ser de fabricação

nacional ou importada desde que tenha o Certificado de aprovação – CA expedido

pelo órgão competente; assim, muitos EPI’s mantêm modelos ergométricos fora dos

padrões do operário de cada região do país.

Questão 5

25%

50%

75%

50%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 14 - O uso do equipamento de proteção incomoda de alguma forma a

realização de suas atividades no canteiro de obras?

QUESTÃO 6 - VOCÊ SABIA QUE O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO É

OBRIGATÓRIO POR LEI?

Essa questão, representada pela figura 15, e como as que seguem,

demonstram que, de maneira generalizada, os operários apresentam bons

conhecimentos da legislação de segurança do trabalho. Eles tinham idéia de que a

empresa poderia ser punida caso não atendessem as exigências legais. Alguns até

comentaram que já presenciaram a visita de um inspetor do trabalho no canteiro de

obras.

Porém, até que ponto esse conhecimento garante a eficiência de um bom

treinamento, já que, muitos dos operários não lembravam com facilidade que

receberam tal instrução.

40

Questão 6

97%

3%

NÃO

SIM

FIGURA 15 – Você sabia que o uso do equipamento de proteção é obrigatório

por lei?

Quando detalhamos as informações, figura 16, a percepção dos operários

não muda. Na obra A, os operários têm uma idéia mais clara das conseqüências do

não atendimento da lei por parte da empresa. Na obra B, os operários percebem o

descaso da situação, e submetem-se ao trabalho mesmo que este não ofereça boas

condições legais.

Questão 6

98% 96%

2% 4%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 16 - Você sabia que o uso do equipamento de proteção é obrigatório por

lei?

QUESTÃO 7 - VOCÊ SABIA QUE A EMPRESA EM QUE TRABALHA TEM

OBRIGAÇÃO DE FORNECER GRATUITAMENTE SEU EQUIPAMENTO DE

PROTEÇÃO E EXIGIR O USO?

Nesta, como na anterior, os operários de certa forma absorvem essas

informações, pois foi percebido que são as questões que mais se cogitam no

41

canteiro de obras, por que dizem respeito a obrigações da empresa, como também,

deveres do trabalhador. A maioria dos operários das duas obras apresentaram bom

entendimento quanto a essa questão, como mostram as figuras 17 e 18.

Questão 7

93%

7%

NÃO

SIM

FIGURA 17 – Você sabia que a empresa em que trabalhar tem obrigação de

fornecer gratuitamente seu equipamento de proteção e exigir seu uso?

Quando separamos o resultado das duas obras (figura 18) percebe-se que a

empresa B apesar de manter a tendência, esta não apresenta tão bem difundida

esta informação quanto a empresa A.

Questão 7

98%87%

2%13%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 18 - Você sabia que a empresa em que trabalhar tem obrigação de

fornecer gratuitamente seu equipamento de proteção e exigir seu uso?

42

QUESTÃO 8 - VOCÊ SABIA QUE GUARDAR E CONSERVAR O EQUIPAMENTO

DE PROTEÇÃO É DE RESPONSABILIDADE DO FUNCIONÁRIO?

Nesta última questão (figura 19) o conhecimento dos operários, de certa

forma não surpreende. Informações relacionadas a deveres e obrigatoriedade são

bem claras, já que, qualquer responsabilidade que envolva uma possibilidade de

custo (pagar o EPI) é muito bem difundida. Nesta questão, eles faziam mais

comentários a respeito e sempre citava um exemplo de algum colega que já perdeu

e teve que pagar o equipamento.

Para essa questão, não basta apenas o bom entendimento do operário para

guardar e conservar o equipamento, colabora também a empresa, quando atende

aos requisitos do item 18.4 da NR 18, que trata das áreas de vivência. A não

unanimidade das respostas afirmativas, explica-se pelo fato de uma possível

desatenção do operário durante a aplicação do questionário.

Questão 8

99%

1%

NÃO

SIM

FIGURA 19 – Você sabia que a guardar e conservar o equipamento de proteção é

de responsabilidade do funcionário?

Quando separamos os resultados das duas obras (figura 20) percebemos a

mesma tendência das respostas; observa-se, porém que, enquanto a obra A atendia

aos requisitos da NR 18 citados, a obra B, não o fazia. Esta última possuía refeitório,

mas não criava condições para que o trabalhador guardasse e conservasse o EPI.

Nesta, foi ainda observado o descaso de seus gerentes, e por conseqüência a

displicência dos operários, quando encontrados em alguns pontos da obra

capacetes jogados no chão, enquanto que, era raro encontrar algum na cabeça do

43

operário. Contudo, há de se observar que o conhecimento da lei não indica

categoricamente bom treinamento do operário.

Questão 8

100% 96%

0% 1%

Obra A Obra B

SIM

NÃO

FIGURA 20 - Você sabia que a guardar e conservar o equipamento de

proteção é de responsabilidade do funcionário?

44

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES A partir da análise dos questionários da observação do ambiente, e percepção de alguns comentários feitos pelos operários, podemos chegar as seguintes conclusões:

Falta fiscalização, já que, em uma das obras visitadas, as condições de

trabalho dos operários não atendiam visivelmente aos requisitos exigidos pela

NR 18. Esta fiscalização, porém, acaba sendo ineficiente devido a pouca

quantidade de fiscais que atendem a cidade de Feira Santana e região;

A falta de exigência por parte das empresas do uso dos equipamentos

quando são fornecidos, isso é um fator de extrema importância para o

trabalhador, o mesmo se sente sem obrigação ao uso;

As condições precárias do canteiro é fator desmotivante para o operário e

colabora com o não uso dos equipamentos;

A baixa qualificação e formação profissional de trabalhadores, impossibilitam

o reconhecimento dos riscos aos quais está exposto. A cultura do empregado

brasileiro que não dá valor à vida e corre risco desnecessário por considerar-

se o maior dos corajosos ou, simplesmente, por considerar ser uma fatalidade

um acidente;

O conhecimento da lei, não é fator determinante para que o trabalhador a

pratique.

45

CAPÍTULO 6 - RECOMENDAÇÕES

Que se proceda uma reformulação do treinamento de segurança na

construção civil, com ações que incentivem os operários; e principalmente

demonstre o quanto a empresa valoriza o seu empregado.

Que se promovam atividades, através do sindicato dos operários da

construção civil, visando à conscientização dos trabalhadores quanto aos

perigos da falta de EPI, ou seja, permitindo-lhes conhecer seus direitos e

deveres.

Que se realizem estudos destinados ao desenvolvimento de inovações

tecnológicas para EPC nas obras de construção civil.

Que se promovam, dentro do canteiro de obra, cursos de alfabetização e

profissionalizantes;

46

REFERÊNCIAS AYRES, Dennis de Oliveira; CORREA, Jose Aldo Peixoto. Manual de prevenção de

acidentes do trabalho: aspectos técnicos e legais. São Paulo: Atlas, 2001. 243p.

BISSO, Ely Moraes. O que é segurança do trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1990.

78p.

BRASIL. Ministério do trabalho e emprego. Fundacentro. Teses e Relatórios.

Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/CTN/teses_lista.asp?D=CTN>.

Acesso em: 2.out.2006.

CAMPOS, Áurea Chateaubriand Andrade (Org.), Metodologia Cientifica. Feira de

Santana, 2005. 89p. Apostila apresentada no curso de especialização em

engenharia civil da UEFS.

CONTRIBUIÇÕES para a revisão da NR - 18 - Condições e meio ambiente de

trabalho na indústria da construção: relatório de pesquisa. Porto Alegre: UFRGS,

2000. 134 p.

COSTA, A. C.; FERRARI, I.; MARTINS, M. R.; et al. Consolidação das Leis do

Trabalho. 28ª ed. São Paulo, 2001.

ESPINOZA, Juan Wilder Moore. Implementação de um programa de condições e

meio ambiente no trabalho na indústria da construção para os canteiros de

obras no sub setor de edificações utilizando um sistema informatizado, 2002.

107f,dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção de

grau Mestre em Engenharia de Produção).

FRANÇA, Sergio Tranzillo. Análise crítica das estatísticas de acidentes do

trabalho no Brasil, 2002. 62f, monografia (progressão na carreira do magistério

superior, de acordo com a lei 4.793, de 25 de julho de 1988).

47

FUNDACENTRO. Curso de engenharia de segurança do trabalho. [Brasilia]:

[FUNDACENTRO], v.6.

GROHMANN, M. Z.; Segurança no trabalho através do uso de epi’s: estudo de

caso realizado na construção civil de Santa Maria, 2000.

LEVIN, Jack,; FOX, James Alan,. Estatística para ciências humanas. 9.ed São

Paulo: Prentice Hall, 2004. 497p.

LEX – Coletânea de Legislação e Jurisprudência – Lei Nº 8.213 de 24 de julho de

1991 – Dispões sobre o Plano de Benefícios da Previdência e dá outras

providências. LEX – Legislação Federal e Marginália. Ano 55 – 3º trimestre de

1991. São Paulo – SP. 1991.

MANGAS, Raimunda Matilde do Nascimento. Acidentes fatais e a desproteção

social na construção civil no Rio de Janeiro, 2003. 81f, dissertação para a

obtenção do titulo de mestre pela escola nacional de saúde pública da Fundação

Oswaldo Cruz.

MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de marketing : metodologia, planejamento. 3. ed

São Paulo: Atlas, 1996.

NR 6 – Equipamento de proteção individual. Secretaria de Inspeção do Trabalho,

portaria nº 25 de 15 de outubro de 2001.

PIZA, F. T. Informações básicas sobre saúde e segurança no trabalho. São

Paulo – SP. CNI/SESI/SENAI, 1997.

PIZA, Fabio de Toledo. Conhecendo e eliminando riscos no trabalho. [S.l.]:

CNI/SESI/SENAI/IEL, 100p.

SEGURANÇA E TRABALHO. On line.Textos técnicos. Disponível em:

<http://www.segurancaetrabalho.com.br/>.Acesso em: 4.out.2006.

48

VIALI, Lori. Curso de graduação, Florianópolis-SC, 2007. 53p. Disponível em:

http://www.ufsc.br/. Acesso em: 4. set.2006.

ZOCCHIO, Álvaro. Prática da prevenção de acidentes: ABC da segurança do

trabalho. 7. ed. rev. São Paulo: Atlas, 2002. 277p.

49

APÊNDICE

50

Apêndice 1

QUESTIONÁRIO 1. VOCÊ ACHA O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO IMPORTANTE? ( ) SIM ( )NÃO 2. O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO JÁ EVITOU QUE SOFRESSE ALGUMA LESÃO (FERIMENTO)? ( ) SIM ( )NÃO 3. VOCÊ JÁ PRESENCIOU ALGUM ACIDENTE POR CAUSA DA FALTA DO USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO? ( ) SIM ( )NÃO 4. JÁ RECEBEU ALGUM TIPO DE TREINAMENTO SOBRE O USO ADEQUADO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO? ( ) SIM ( )NÃO 5.O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INCOMODA DE ALGUMA FORMA A REALIZAÇÃO DE SUAS ATIVIDADES NO CANTEIRO DE OBRAS? ( ) SIM ( )NÃO 6.VOCÊ SABIA QUE O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO É OBRIGATÓRIO POR LEI? ( ) SIM ( )NÃO 7. VOCÊ SABIA QUE A EMPRESA EM QUE TRABALHAR TEM OBRIGAÇÃO DE FORNECER GRATUITAMENTE SEU EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO E EXIGIR O USO? ( ) SIM ( )NÃO 8. VOCÊ SABIA QUE GUARDAR E CONSERVAR O EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO, É DE RESPONSABILIDADE DO FUNCIONÁRIO ? ( ) SIM ( )NÃO

51

ANEXOS

52

ANEXO 1 – QUADRO QUE RELACIONA O EPI A ATIVIDADE DO OPERÁRIO

53

54

ANEXO 2 – FOTOS DE DUAS CASAS DA OBRA B

Figura 21 – Casa de um pavimento

Figura 22 – Casa de dois pavimentos