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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO KÁTIA TRINIDAD Itajaí (SC), junho de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO

KÁTIA TRINIDAD

Itajaí (SC), junho de 2008.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO

KÁTIA TRINIDAD

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Natan Benhur Braga

Itajaí (SC), junho de 2008.

AGRADECIMENTO

A Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.

Aos meus pais e irmãos e a toda minha família que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de

minha vida.

Ao professor Natan Benhur Braga pela paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia.

A todos os Professores da Cesusc de Florianópolis, e aos professores que tive a honra de conhecer nesta faculdade em especial a Professora

Bárbara Justina kniss .

Aos amigos e colegas, em especial, Flavia Bez Lopes, Bruna Lins Camisão , Fernanda Mocelin , Pámela Rosa , Priscila Duarte, Nina Rosa que sempre estiveram junto comigo até mesmo quando eu não estava

disposta.

Para as pessoas que fizeram a diferença em minha vida...Para as pessoas que quando olho para trás, sinto muitas saudades...Para as pessoas que

me aconselhara quando me senti sozinha, e me ajudaram a entender que não importa em quantos pedaços meu coração tenha se partido, pois o

mundo não irá parar para que eu o conserte...

Para as pessoas que amei...Para as pessoas que abracei...Para as pessoas que encontro apenas em meus sonhos...

Porque afinal de contas isso tudo é minha vida e sem essas pessoas eu não teria chego aqui !

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia as duas pessoas

mais importantes da minha vida Minha mãe Anelise Trinidad e meu pai

Francisco Trinidad.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), junho de 2008.

Kátia Trinidad Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Kátia Trinidad sob o título

Cláusulas Restritivas do Contrato de Seguro, foi submetida em [11/06/2008] à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: [NATAN BENHUR

BRAGA ] [_________________], e aprovada com a nota [9,3]

Itajaí (SC), junho de 2008.

Orientador e Presidente da Banca

Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART Artigo

CC Código Civil de 2002 – Lei nº 10.406, de 10.01.2002.

CC/1916 Código Civil de 1916 – Lei nº 3.071, de 01.01.1916

CPC Código de Processo Civil - Lei n. 5.869, de 11.01.1973.

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

ROL DE CATEGORIAS

Beneficiário

É a pessoa singular ou coletiva a quem a seguradora irá indenizar ou garantir um

pagamento por força de um contrato de seguro ou de uma operação de

capitalização.

Contrato

TContrato é o negócio jurídico bilateral ou plurilateral gerador de obrigações para

uma ou todas as partes, às quais correspondem direitos titulados por elas ou por

terceiros TTPF

1FPTT.

Co-segurador

Os componentes de uma pluralidade de seguradores que juntos realizam a

proteção integral do risco, na medida em que cada um é responsável por uma

porcentagem deste. O art. 761 do NCC admite que um dos co-seguradores,

escolhido pelo segurado, possa ser indicado na apólice assumindo a

administração do contrato e tornando-se representante dos demais co-

seguradores para todos os efeitos. Não há responsabilidade solidária dos co-

seguradores, obrigando-se cada um por uma parte do montante a ser.TPF

2FPT

Função Social

Assim, a Função Social do Contrato atende sempre a exigências éticas e sociais,

incorporando valores, princípios e regras de conduta abonadas uniformemente

pela sociedade. Reside também no conceito de Função social, portanto a idéia de

bem comum, de interesse geralTPF

3FPT.

Segurado

TP

1PT COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, 3º v. – São Paulo: Saraiva, 2005. p. 22.

TP

2PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62,

fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

3PT SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato, p.156.

O segurado é a pessoa física ou jurídica que tem interesse direto e legítimo na

conservação da coisa ou pessoa, fornecendo uma contribuição periódica e

moderada, isto é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá de, em

caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, perda

de faculdades humanas etc., indenizá-lo pelos danos sofridos TPF

4FPT.

Segurador

O segurador é a parte no contrato de seguro que Mediante o recebimento do

prêmio, assume o risco e passa a ter como contraprestação pagar a "indenização"

no caso da ocorrência do sinistroTPF

5FPT.

Responsabilidade Objetiva

A responsabilidade objetiva é fundada na teoria do risco, segundo o qual aquele

que através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros, deve ser

obrigado a repara-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam

isentos de culpa. A situação é examinada e se for verificada, objetivamente, a

relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano

experimentado pela vítima, esta tem direito de ser indenizado por aquele TPF

6FPT.

TP

4PT DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil, p. 318.

TP

5PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62,

fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

6PT RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil, p. 11.

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................ XI

INTRODUÇÃO....................................................................................12

CAPÍTULO 1

DOS CONTRATOS EM GERAL

1.1 HISTÓRICO ....................................................................................................14

1.2 CONCEITO .....................................................................................................20

1.3 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS.........................................................22

1.4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS....................................................................25

1.5 EFEITOS DO CONTRATO .............................................................................27

1.5.1 A ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO .........................................................28

1.5.2 O CONTRATO POR TERCEIRO A DECLARAR .......................................................29

CAPÍTULO 2

DA CLASSIFICAÇÃO E DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS

2.1 CLASSIFICAÇÃO...........................................................................................30

2.1.1 CONTRATOS QUANTO À NATUREZA ..................................................................31

2.1.1.1 Contratos unilaterais e bilaterais ...............................................................31

2.1.1.2 Contratos onerosos e gratuitos .................................................................32

2.1.1.3 Contratos comutativos e aleatórios ...........................................................33

2.1.1.4 Contratos causais e abstratos...................................................................33

2.1.2 CONTRATOS QUANTO À FORMA........................................................................34

2.1.2.1 Contratos consensuais e reais ..................................................................34

2.1.2.2 Contratos solenes e não-solenes..............................................................35

2.1.3 CONTRATOS QUANTO À DESIGNAÇÃO...............................................................35

2.1.3.1 Contratos nominados e inominados..........................................................35

2.1.4 CONTRATOS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS ...............................................36

2.1.4.1 Contratos principais e acessórios .............................................................36

2.1.5 CONTRATOS QUANTO AO TEMPO DE EXECUÇÃO ................................................37

2.1.5.1 Contratos de execução instantânea e de execução diferida .....................37

2.1.6 CONTRATOS QUANTO AO SEU OBJETO..............................................................38

2.1.6.1 Contratos definitivos e preliminares ..........................................................38

2.1.7 CONTRATOS QUANTO AO MODO DE FORMAÇÃO.................................................38

2.1.7.1 Contratos paritários e de adesão ..............................................................38

2.2 FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS..........................................................40

2.2.1 PRINCÍPIO DA PROBIDADE E DA BOA-FÉ ...........................................................42

2.2.2 PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA ................................................................46

CAPÍTULO 3

CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO

3.1 DEFINIÇÃO E CARACTERES JURÍDICOS DO CONTRATO DE SEGURO.48

3.2 SUJEITOS DO CONTRATO DE SEGURO ....................................................48

3.2.1 SEGURADOR ..................................................................................................48

3.2.2 SEGURADO ....................................................................................................49

3.2.3 BENEFICIÁRIO ................................................................................................49

3.2.4 CO-SEGURADOR.............................................................................................49

3.2.5 RESSEGURADOR ............................................................................................50

3.3 OBJETO DO CONTRATO DE SEGURO .......................................................50

3.3.1 INTERESSE.....................................................................................................50

3.3.2 RISCO............................................................................................................51

3.3.3 FORMA ..........................................................................................................52

3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS SEGUROS ...............................................................55

3.5 OBRIGAÇÕES E DIREITOS ..........................................................................57

3.5.1 DO SEGURADOR.............................................................................................57

3.5.2 DO SEGURADO...............................................................................................59

3.6 CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO .......................61

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................74

RESUMO

A presente Monografia tem como objeto o contrato de

seguro. O seu objetivo é analisar a legalidade das cláusulas limitativas neste tipo

de contrato. Para tanto, no primeiro momento se fez necessário uma abordagem

concisa sobre os contratos em geral, abrangendo seu histórico, conceito, sua

interpretação, seus elementos constitutivos e seus efeitos. Superadas essas

peculiaridades, o presente capítulo volta-se a análise da classificação e da função

social dos contratos, finalizando-se com o seu objetivo de se fazer uma análise

sobre as cláusulas restritivas do contrato de seguro frente ao Código Civil e ao

Código de Defesa do Consumidor, levando em considerações os princípios gerais

dos contratos. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o tema.

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o contrato de

seguro.

O seu objetivo é analisar a legalidade das cláusulas

limitativas neste tipo de contrato.

Para tanto, principia–se, no capítulo 1, os contratos em

geral, histórico, conceito, interpretação dos contratos, elementos constitutivos,

efeitos do contrato, a estipulação em favor de terceiro e o contrato por terceiro a

declarar

No capítulo 2, estudam-se a classificação e a função social

dos contratos, classificando os contratos quanto à natureza, contratos quanto à

forma, contratos quanto à designação, contratos reciprocamente considerados,

contratos quanto ao tempo de execução, contratos quanto ao seu objeto e

contratos quanto ao modo de formação. Após analisa-se a função social dos

contratos juntamente com o princípio da probidade e da boa-fé e princípio da

força obrigatória.

No capítulo 3, tratam-se da definição e caracteres jurídicos

do contrato de seguro, os sujeitos do contrato de seguro, segurador, segurado,

beneficiário, co-segurador e ressegurador. Analisa-se o objeto do contrato de

seguro, interesse, risco, forma. Classifica-se os cotratos de seguros, demosntra-

se as obrigações e direitos do segurador e do segurado e finalisa com uma

análise acerca das cláusulas restritivas do contrato de seguro.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o tema.

13

Para realização do presente trabalhos foram realizados os

seguintes questionamento:

1. Qual o conceito de responsabilidade civil?

2. Qual o elemento principal do contrato de seguro e no

que se baseia a questão da cobertura do risco?

3. Do que resulta a importância sócio-econômica dos

contratos de seguro nos dias?

4. As cláusulas limitativas encontrão plena harmonia com

o Código Civil?

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

1. O conceito de responsabilidade civil está sempre ligado

à idéia de violação do direito de outrem;

2. A importância sócio-econômica dos contratos de

seguro nos dias atuais resulta da imensa quantidade de contratações de diversas

modalidades;

3. O risco constitui um elemento principal do contrato de

seguro; na questão da cobertura do risco, o contrato de seguro se baseia em

determinados fundamentos.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

14

CAPÍTULO 1

DOS CONTRATOS EM GERAL

Para iniciar o presente trabalho científico, se faz necessário uma

abordagem concisa sobre os contratos em geral, abrangendo seu histórico,

conceito, sua interpretação, seus elementos constitutivos e seus efeitos.

Importante ressaltar que tais análises, bem como as análises que serão

apresentadas no segundo capítulo, servirão de Taporte teórico necessário ao

estudo do tema principal do referido trabalho.

1.1 HISTÓRICO

Segundo Lopes TPF

7FPT, “a formação do conceito de contrato, [...]

representa uma conquista, fruto de uma longa evolução”.

O homem vive em constante transformação. E desde os

tempos mais remotos vive em sociedade, que antigamente denominava-se de

tribo. Para melhor organizar a convivência em sociedade, o homem se viu em

meio à necessidade de instrumentalizar através de leis, as suas relações

sociais. Como forma de negociar os interesses que surgiam entre si é que

nasceu o que hoje se denomina de contrato.

Desde os primeiros tempos da humanidade, o contrato já

se fazia presente como forma de amparar as relações de economia e

substanciar o acordo de vontades entre as pessoas, encontrando, portanto, sua

origem nas mais antigas relações de direito.

Neste prisma relata Gomes TPF

8FPT:

[...] o contrato é o instrumento jurídico por excelência da vida econômica. [...] surge como uma categoria que serve a todos

TP

7PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 31.

TP

8PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 6.

15

os tipos de relações entre sujeitos de direito e a qualquer pessoa independentemente de sua posição ou condição social.

As civilizações antigas notaram a precisão de estabelecer

um reconhecimento da preservação de determinadas situações, principalmente

o que dizia respeito aos seus bens. Para tanto, criaram uma forma para a

celebração de certos atos de interesses comuns, os quais vieram mais tarde a

se transformar no instituto jurídico do contrato. Desta forma, já introduziam a

idéia do que atualmente é um contrato, muito embora, de maneira mais simples

e primária do que o instituto moderno.

Foi o direito Romano que veio a reger o método pelo qual,

haveria de ser conduzido os atos solenes indispensáveis e aplicáveis às formas

de manifestação de vontades, através da stipulatio e da promissio que

consistiam numa promessa solene feita em público, e que vinculava de forma

absoluta a pessoa que a proferisse. Por conseguinte, uma vez não cumprida a

promessa, resultaria na actio ex stipulatio, criando o direito assim, uma sanção

ao descumprimento de tal formalidade, de modo que contribuía para dar maior

garantia jurídica a essas relações. Outros atos solenes também compunham o

sistema romano, com o nexum a sponcio, que uma vez respeitados davam

origem a obligatio TPF

9FPT.

Assim preceitua VenosaTPF

10FPT: “No direito romano primitivo

[...], formas deviam ser obedecidas, ainda que não expressassem exatamente

a vontade das partes”.

Completa Lopes TPF

11FPT:

A palavra contrato, [...], no mais antigo Direito romano significava apenas o ato por meio do qual o credor atraía a si o devedor, submetendo-o ao seu jugo, como refém, garantia do inadimplemento do débito assumido. Tal era o resultado da idéia originária de obrigação, nascida com um caráter

TP

9PT MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais, p.40. TP

10PT VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, vol. 2: Teoria geral das obrigações e teoria geral

dos contratos, p. 394.

TP

11PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 32.

16

eminentemente penal: a pessoa, não o patrimônio, é que constituía o objeto da responsabilidade pelo débito assumido. O contrato era o ato constitutivo da obligatio; o nexum, no seu aspecto de fonte da obrigação, ou aquele estado físico de prisão, em que o devedor passava a garantir com a sua pessoa a própria dívida. Só depois da responsabilidade transformar-se de pessoal em patrimonial, [...], é que se começou por distinguir os contratos dos pacta e da conventio, sob o ponto de vista de que só os contratos pertencentes a uma daquelas categorias previstas no direito romano, eram protegidos pelas ações.

Discorre PereiraTPF

12FPT:

No Direito Romano, dado o caráter personalíssimo da obligatio, a ligação se estabelecia entre as pessoas dos contratantes, prendendo-os (nexum) e sujeitando os seus próprios corpos. Só muito mais tarde foi possível desbordar a execução que incidia sobre a pessoa do devedor para os seus bens (pecuniae creditae bona debitoris, non corpus abnoxium esse), porém, mesmo assim, ainda sobreviveu, no sistema, o sentido personalíssimo.

Com o surgimento do feudalismo na Idade Média, o

respeito ao contrato e às formalidades do direito romano tornou-se

enfraquecida. O contrato era tido como um instituto de aspecto rigoroso e

sacramental e suas exigências formais tornavam-se muitas vezes, alvo de

desrespeito.

“A concepção romana de contrato, com essa separação

entre o contrato e a conventio, tomando a sua defesa por meio de ações

dependentes do respeito a determinadas formas, recebeu golpe profundo na

idade média” TP

F

13FPT.

TP

12PT PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 4.

TP

13PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 32.

17

E segueTPF

14FPT: “O sistema feudal era econômico e político. O

senhor feudal fazia concessões, de onde a criação do instituto do precário,

deferido a quem lho suplicava”.

Em contrapartida, à luz das doutrinas, a igreja, por meio

de auxílio dos canonistas, possibilitou uma idéia no sentido de que as pessoas

poderiam celebrar contratos sem a necessidade de tanto rigorismo. Apenas

através da palavra de honra, baseada no princípio da pacta sunt servanda e

respaldada por instrumento que assegurasse o seu cumprimento.

Afirma GomesTPF

15FPT:

A contribuição dos canonistas consistiu basicamente na relevância que atribuíram, de um lado, ao consenso, e, do outro, à fé jurada. Em valorizando o consentimento, preconizaram que a vontade é a fonte da obrigação, abrindo caminha para a formulação dos princípios da autonomia da vontade e do consensualismo. [...] O respeito à palavra dada e o dever da veracidade justificam, de outra parte, a necessidade de cumprir as obrigações pactuadas, fosse qual fosse a forma do pacto, tornando necessária a adoção de regras jurídicas que assegurassem a força dos contratos, mesmo os nascidos do simples consentimento dos contraentes.

Neste sentido, também define LopesTPF

16FPT:

[...] a igreja, através dos canonistas, conseguiu manter a noção de contrato, reforçando-a e dignificando-a de modo a polir a própria noção romana, mediante o afastamento da clássica distinção entre contrato e convencio. O contrato assumiu, na concepção cristã, o caráter de um instituto decorrente da fé jurada, fundado no cumprimento do que se prometera perante Deus e a Igreja. [...] Destarte, do ponto de vista do plano social, os canonistas chegaram ao mesmo objetivo mais tarde atingido pelos partidários da autonomia da vontade e da liberdade de contratar, e sem os pecados do excesso por estes cometidos.

TP

14PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 32.

TP

15PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 5.

TP

16PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 32-33.

18

Acrescenta Pereira TPF

17FPT:

Durante a Idade Média, o direito do contrato sofreu longa e funda transformação. Partindo-se da necessidade de que fossem observadas as formalidades exigidas pelo Direito Romano, era corrente entre os escribas que reduziam a escrito as convenções, a pedido dos interessados, consignarem que todos os rituais haviam sido cumpridos, mesmo quando não o tivessem sido. e de tal forma generalizou-se a praxe, que se passou a entender que a menção do fato valia mais do que o próprio fato, isto é, passou a ter mais valor a declaração de que as formalidades haviam sido observadas do que a verificação de sua prática efetiva. Note-se que não houve a dispensa direta da sacramentalidade, porém a sua abolição indireta. [...] Abalou-se, portanto, o prestígio dos rituais do direito romano, desde que se acreditou no poder de uma declaração de vontade, enunciada sob a invocação da divindade.

Todavia, o termo Contrato volta a ter notória importância e

a ser considerado até mesmo ferramenta para se chegar à propriedade, em

meados do século XVIII, dado às ideologias político-econômicas que advieram

da Revolução Francesa, e que propiciaram a chamada ascensão da burguesia.

O conceito de liberdade nesta época, estava estreitamente associado ao de

propriedade, posto que só teria direito à liberdade aquele que tivesse

propriedade.

Leciona VenosaTPF

18FPT:

Para o código francês, a liberdade e a propriedade estão ligadas indissoluvelmente. Sem propriedade não poderia haver liberdade. [...] no sistema francês o contrato opera a transferência dos direitos reais, por que está ligado à propriedade. Trata-se do contratualismo levado ao extremo, baseando a própria estrutura do estado em um contrato, sob influência de Rosseau. [...] Todas as codificações que se seguiram no século XIX navegaram em águas do modelo francês.

TP

17PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 8.

TP

18PT VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil, vol. 2: Teoria geral das obrigações e teoria geral

dos contratos, p. 392-393.

19

No tocante aos aspectos modernos e atuais tem-se que o

instituto do contrato sofreu diversas alterações, face ao desequilíbrio que

ocorria entre os contratantes e à necessidade de oferecer uma forma de

segurança para aqueles que celebravam um contrato. Daí alguns motivos que

levaram à modernização do instituto.

Deste modo, leciona Gomes TPF

19FPT:

A suposição de que a igualdade formal dos indivíduos asseguraria o equilíbrio entre os contratantes, fosse qual fosse a sua condição social, foi desacreditada na vida real. [...] A interferência do Estado na vida econômica implicou, por sua vez, a limitação legal da liberdade de contratar e o encolhimento da esfera de autonomia privada, passando a sofrer crescentes cortes, sobre todas, a liberdade de determinar o conteúdo da relação contratual. A crescente complexidade da vida social exigiu, para ambos setores, nova técnica de contratação, simplificando-se o processo de formação, como sucedeu visivelmente nos contratos em massa, e se acentuando o fenômeno da despersonalização.

E também Bulgarelli TPF

20FPT :

Assim foi se formando a teoria geral dos contratos na sua formulação mais moderna, destacando-se alguns pontos essenciais, como a vinculação obrigatória por via do consentimento, a liberdade de contratar, a superação do formalismo, que somente remanesce ainda em uns poucos contratos ditos solenes.

O contrato é avaliado atualmente, como um instituto que

visa a garantir a realização do bem comum, assim como inovar em seus

aspectos formais e materiais, preocupando-se mais com a proteção dos

contratantes a fim de concretizar seu desígnio social.

Conforme o ensinamento de Gomes TPF

21FPT:

TP

19PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 7.

TP

20PT BULGARELLI, Waldirio. Contratos Mercantis, p. 59.

TP

21PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 8.

20

A mais importante conseqüência dessas transformações é a mudança nas preocupações do legislador quanto à rigidez do contrato. [...] Em relação aos contratos nos moldes contemporâneos, que se realizam em série, a preocupação é a defesa dos aderentes (contratos de adesão), mediante normas legais que proíbam cláusulas iníquas, até porque as regras sobre a declaração da vontade e os vícios do consentimento quase não se lhe aplicam.

Destarte, pode-se aludir que o contrato moderno assume

um papel de extrema relevância social, tanto nas searas atinentes às pessoas

físicas quanto nas jurídicas, desenfreando um crescente progresso no mundo

dos negócios jurídicos.

1.2 CONCEITO

São vários os conceitos existentes nas doutrinas acerca

da palavra contrato. Partindo desta premissa, é possível exprimir que o

Contrato é um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas, portanto, de

natureza bilateral ou plurilateral, visando assim a estabelecer uma

regulamentação de interesses entre as pessoas, com a finalidade de modificar,

adquirir ou extinguir relações jurídicas de caráter patrimonial.

Para Diniz: “O contrato constitui uma espécie de negócio

jurídico, de natureza bilateral ou plurilateral, dependendo, para a sua formação,

do encontro da vontade das partes, por ser ato regulamentador de interesses

privados” TPF

22FPT.

Acrescenta Beviláqua TPF

23FPT que:

Num contrato, as partes contratantes acordam que se devem conduzir de determinado modo, uma em face da outra, combinando seus interesses, constituindo, modificando ou extinguindo obrigações.

TP

22PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 23.

TP

23PT BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das obrigações, p. 132.

21

Para PereiraTPF

24FPT, situa-se a noção estrita de contrato como

sendo um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de

adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos e

descreveTPF

25FPT:

É um negócio jurídico bilateral, e de conseguinte exige o consentimento; pressupõe, de outro lado, a conformidade com a ordem legal, em o que não teria o condão de criar direitos para o agente; e, sendo ato negocial, tem por escopo aqueles objetivos específicosTPF

26FPT.

Para Bulgarelli TPF

27FPT, que o contrato, em sentido amplo, pode

ser tomado em várias acepções:

Como o negócio jurídico com origem num concurso de vontades, que costuma também ser confundido com a convenção, e ainda como o conjunto de normas, ou seja, o contrato normativo. Em sentido estrito, o contrato pode ser entendido como o acordo de vontades gerador de efeitos obrigacionais.

Para Gomes TPF

28FPT, o conceito de contrato está relacionado ao

de ato jurídico:

A escala na genealogia do conceito de contrato sobe ao negócio jurídico, denominado entre nós ato jurídico, e daí para o fato jurídico. Nessa perspectiva, o contrato é uma espécie de negócio jurídico que se distingue, na formação, por exigir a presença pelo menos de duas partes. Contrato é, portanto, negócio jurídico bilateral, ou plurilateral.

Sinteticamente, pode-se traduzir o Instituto Contrato como

sendo o acordo de vontades com o intento de produzir efeitos jurídicos e ainda,

TP

24PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 2.

TP

25PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 2.

TP

26PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 2.

TP

27PT BULGARELLI, Waldirio. Contratos Mercantis, p. 56.

TP

28PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 4.

22

constituir, regulamentar ou extinguir entre duas ou mais partes, uma relação

jurídico-patrimonial.

1.3 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS

Para Wald TPF

29FPT, “toda manifestação de vontade necessita de

interpretação para que se saiba o seu significado e o seu alcance, as situações

que previu e os efeitos que pretende ter”.

A interpretação dos contratos, como consta nas doutrinas,

serve para aclarar o sentido das declarações de vontade dos contraentes e

estipular o significado do acordo ou consenso estabelecido.

Nesta linha de raciocínio, BessoneTPF

30FPT explica:

A interpretação opera sempre sobre um ato de vontade, exprima-se este na lei ou no negócio jurídico. No primeiro caso, a vontade é do Estado e se formula através de normas abstratas e gerais. No segundo, ela emana de entes públicos ou privados e disciplina, concretamente, um certo negócio jurídico. Nos dois casos, a interpretação é uma operação lógica, que tem por objetivo determinar o significado de uma vontade manifestada.

Deste mesmo entendimento resulta a lição de GomesTPF

31FPT:

[...] Diz-se que, se o objeto da vontade contratual (negocia) são os efeitos do contrato, deve-se admitir, por dedução lógica, que o fim último da interpretação é a determinação de tais efeitos. Afinal, o que importa é definir a vontade contratual objetivamente expressa nas cláusulas, mesmo que não corresponda exatamente à intenção do declarante. É, de resto, comportamento obrigatório dos contratantes que demanda do intérprete clara definição e, se é juiz, a escolha do preceito aplicável em caso de controvérsia (lide).

TP

29PT WALD, Arnoldo. Obrigações e contratos, p. 202.

TP

30PT BESSONE, Darcy. Do contrato, p. 167.

TP

31PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 199.

23

Nota-se pela pesquisa, que o Código Civil Brasileiro

vigente não vem a tratar o conteúdo da interpretação dos contratos em um

capítulo específico, porém, é possível vislumbrar quatro normas interpretativas,

as quais vêm elencadas nos arts. abaixo declinados:

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.

Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.

Com o intuito de esclarecer o conteúdo dos art. 112 do

CCB/2002, DinizTPF

32FPT traz:

[...] Assim, o intérprete do sentido negocial não deverá ater-se, unicamente, à exegese do contrato, isto é, ao exame gramatical de seus termos, mas sim à fixação da vontade dos contraentes, procurando seus efeitos jurídicos, indagando sua intenção, sem se vincular, estritamente, ao teor lingüístico do ato negocial. Por outras palavras, o intérprete deverá, prendendo-se ao tipo contratual, reconstituir o ato volitivo dos contratantes, pesquisando qual teria sido a sua real intenção e os fins econômicos visados por eles, corrigindo sua manifestação, escrita ou verbal, erroneamente expressa.

Continuando, é o ensino da nominada autora TPF

33FPT, a respeito

dos arts. 114 e 819 do CCB/2002:

TP

32PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 65.

TP

33PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 66.

24

[...], isto é, o juiz não poderá dar aos contratos interpretação ampliativa, devendo limitar-se, unicamente, aos contornos traçados pelos contraentes, vedada a interpretação com dados alheios ao seu texto.

Com relação ao art. 113, ora citado, tem-se que este não

possuía respaldo jurídico no CCB/1916, vindo a ser consagrado com o advento

do Novo Código Civil.

Por sua vez, ocorrendo alguma interpretação que resulte

na impossibilidade ou na incoerência do cumprimento do contrato, este deve

ter sua interpretação modificada, a fim de poder ser executado. Ainda, se o juiz

verificar que há ausência de cláusulas necessárias ao bom entendimento do

sentido do contrato, este pode complementá-lo, com observância da prática

realizada no comércio.

Ratificando o exposto é o competente discurso de Wald TPF

34FPT:

Quando determinada interpretação leva ao absurdo, isto é, impossibilita a execução do contrato, o mesmo deve ser interpretado de tal modo que possa prevalecer e ser exeqüível. [...] Faltando cláusulas necessárias para a complementação do sentido do contrato, o juiz poderá suprir as falhas existentes recorrendo à prática existente no comércio. [...] Esta interpretação complementar do contrato é denominada por alguns autores interpretação integrativa, pois integra novos elementos no contrato. Na sua função de completar o contrato, o juiz atenderá aos princípios de equidade, aplicando normas supletivas ou, na falta das mesmas, a norma que estabeleceria se fosse legislador [...], desde que compatível com o espírito e as demais cláusulas do contrato. A interpretação integrativa só pode ocorrer em relação aos elementos secundários (não essenciais) do contrato.

Destarte, a interpretação dos contratos é de suma

importância e pode ser vista como uma forma de esclarecer o conteúdo do

TP

34PT WALD, Arnold. Obrigações e contratos, p. 205-206.

25

negócio jurídico, evitando que não se possa entender a declaração de vontade

dos contraentes.

1.4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

Preceitua o art. 104 do Código Civil Brasileiro que para a

validade de um negócio jurídico, ou seja, o contrato, há que se observar os

requisitos genéricos para a sua efetivação que versam sobre a capacidade do

agente, o objeto lícito, sendo este possível, determinado ou determinável, e a

forma prescrita ou não defesa em lei.

Tais requisitos podem ser de ordem subjetiva, objetiva e

formal. Como requisito subjetivo tem-se o elemento capacidade, a que a

doutrina ainda se refere como legitimação, em que o agente deve ser capaz e

legitimado para que não haja impedimento na prática do ato jurídico.

Merece destaque, o ensinamento de Gomes TPF

35FPT acerca da

legitimação:

[...] Para exercer o direito de ação, não basta ao titular ser capaz. Requer-se ainda que seja parte legítima, isto é, idônea, para movimentar a relação processual, por ter interesse a ser protegido. Pode alguém ser capaz, mas não ter legitimidade ad causam.

Quanto ao requisito objetivo vislumbra-se a possibilidade,

a liceidade e a determinação do objeto. Alguns autores ainda citam a

economicidade como complemento. O objeto será impossível quando uma

obrigação não gerar efeito, ou seja, não puder ser realizada, deixando esta de

existir. O objeto deve ser lícito, não podendo contrariar a lei, a moral, os

princípios da ordem pública e os bons costumes. Deve ainda ser o objeto

determinado ou determinável para que a obrigação do devedor possa ter aonde

incidir.

Leciona PereiraTPF

36FPT:

TP

35PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 47.

26

Objetivamente considerados, os requisitos do contrato envolvem a possibilidade, liceidade, determinação e economicidade. Diz-se impossível o objeto quando é insusceptível de realização. [...] A iliceidade do objeto e sua impossibilidade jurídica ocorrem quando a prestação afronta a ordem pública ou ofende os bons costumes. Deve o objeto ser determinado, para que a obrigação do devedor tenha sobre que incidir. Mas não se requer a determinação concomitante ao ajuste. Basta que se obtenha por ocasião da sua execução. A determinação dá-se pelo gênero, pela espécie, pela quantidade, pelas características individuais da res debita. Quando não está o objeto dede logo determinado, é mister venha a sê-lo, quer por ato dos contratantes ou de um deles, quer pela ação de terceiro, quer por fato impessoal. A determinação pode constar do contrato ou de instrumento à parte. Mas se o objeto for definitivamente indeterminável, o contrato é inválido, como o seria pela ausência completa de objeto. Finalmente, a prestação deve ser economicamente apreciável, já que nos alinhamos entre os que exigem o requisito da patrimonialidade para o objeto da obrigação.

Por sua vez, o elemento formal no instituto do contrato

não tem grande relevância, predominando a forma livre, a não ser como linha

de exceção nos contratos formais ou solenes, que ainda exigem para a sua

validade o respeito a certas formalidades.

Convém registrar o que relata LopesTPF

37FPT:

A forma do contrato pode ser livre ou especial. A regra geral é a de liberdade de forma, mas tão numerosas são as restrições impostas pela lei que mais se pode considerar exceção a forma livre do que regra geral. [...] A forma do contrato pode ser constituída pelos instrumentos públicos ou pelos particulares.

No mesmo contexto entende GomesTPF

38FPT:

Requisito essencial à validade dos negócios jurídicos em geral é a forma pela qual devem ser realizados. Para os contratos,

TP

36PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 15-16-17.

TP

37PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 79.

TP

38PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 53-54.

27

vigora o princípio da forma livre. Os contratos formais e solenes constituem exceção, mas, como é óbvio, os que devem ser estipulados por forma prescrita na lei não valem se não for observada. A invalidade somente se decreta se a forma prescrita for da substância do contrato. Quando exigida apenas para sua prova – ad probationem tantum – não o invalida. [...] Embora não exigida para a maioria dos contratos, a forma escrita é preferida. Sua superioridade sobre a forma verbal é manifesta, principalmente no que diz respeito à prova do contrato.

Por fim, em não sendo considerados os requisitos para a validade do negócio jurídico, a eficácia do contrato restará comprometida de modo a torná-lo inválido.

É o entendimento de Pereira TPF

39FPT:

Não sendo observados os requisitos de validade, anula-se o contrato. Em sentido genérico, diz-se que ele é ineficaz, uma vez que deixa de produzir os efeitos que lhe são próprios. É o que se qualifica como ineficácia lato sensu.

Portanto, o negócio jurídico entre as partes restará

ineficaz, se inexistirem os requisitos essenciais à sua validade, de modo a

deixar de produzir os efeitos que lhe são imanentes.

1.5 EFEITOS DO CONTRATO

O principal efeito do contrato consiste em criar

obrigações, estabelecendo um vínculo jurídico entre as partes contratantes.

Trata-se de uma verdadeira fonte de obrigações; por isso, todos os seus efeitos

são meramente obrigacionais, mesmo quando o contrato serve de título à

transferência de direitos reaisTPF

40FPT.

Diniz TPF

41FPT nota:

TP

39PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 18.

TP

40PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais, p. 94.

TP

41PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 94.

28

O principal efeito do contrato consiste em criar obrigações, estabelecendo um vínculo jurídico entre as partes contratantes. Trata-se de uma verdadeira fonte de obrigações; por isso, todos os seus efeitos são meramente obrigacionais, mesmo quando o contrato serve de título à transferência de direitos reais. Tais efeitos se manifestam não só na força obrigatória, mas também na relatividade do contrato.

Tais efeitos se manifestam não só na força obrigatória,

mas também na relatividade do contratoTPF

42FPT.

1.5.1 A estipulação em favor de terceiro

Antigamente, não era admitida tal figura, tendo em vista

que o Direito Romano negava a validade do contrato estipulado em favor de

terceiro, pelo fato de que até então, afirmava-se que o contrato feito entre as

partes não beneficia nem prejudica os terceiros. Nos dias de hoje, já se pode

vislumbrar a existência de tal contrato, que inclusive, encontra respaldo

jurídico.

Para a melhor compreensão do assunto, Diniz TPF

43FPT empresta

sua lição:

A estipulação em favor de terceiro vem a ser um contrato estabelecido entre duas pessoas, em que uma (estipulante) convenciona com outra (promitente) certa vantagem patrimonial em proveito de terceiro (beneficiário), alheio à formação do vínculo contratual. P. ex.: suponhamos a hipótese de uma separação consensual, em que o marido promete à mulher doar, ao único filho do casal, uma parte dos bens que lhe couber na partilha (RT, 159:202). Surge, assim, um contrato entre marido (promitente) e mulher (estipulante), convencionando uma obrigação, cuja prestação será cumprida em favor de um terceiro (o filho, que será o beneficiário) totalmente estranho ao contrato, pois não toma parte na formação do ato negocial.

TP

42PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais, p. 94.

TP

43PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 98-99.

29

Há que se observar por fim, que para a estipulação em

favor de terceiro ter validade, é necessária a aceitação por parte do

beneficiário, pois em caso contrário o efeito do contrato não se realizará.

1.5.2 O contrato por terceiro a declarar

adverte Lisboa TPF

44FPT que se trata do negócio jurídico

celebrado pelas partes, por meio do qual se prevê que uma delas poderá

indicar outrem para assumir a sua posição jurídica.

[...] o que liberaria o declarante, conseqüentemente, do vínculo originário. [...] No caso de resposta afirmativa, o nomeado passará a aquisição de todos os direitos e obrigações concernentes ao contrato principiado, desde que tenha se verificado a cientificação do promitente acerca da nomeação realizada.

Convém registrar o que entende GomesTPF

45FPT:

[...]. A pessoa designada toma, na relação contratual, o lugar da parte que a nomeou, tal como se ela própria houvera celebrado o contrato. O designante sai da relação sem deixar vestígios. [...], o contraente in próprio nomeia terceiro titular do contrato.

Isto posto, é conveniente ressaltar que existem outras

considerações nas doutrinas, acerca dos efeitos do contrato, porém, para fins

deste trabalho, as exposições apresentadas são suficientes.

TP

44PT LISBOA, Roberto Senise. Contratos difusos e coletivos, p. 131.

TP

45PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 166.

30

CAPÍTULO 2

DA CLASSIFICAÇÃO E DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS

Superadas as peculiaridades trabalhadas no primeiro

capítulo, o presente capítulo volta-se a análise da classificação e da função

social dos contratos.

2.1 CLASSIFICAÇÃO

São os contratos, alvo de inúmeras classificações dentro

do ordenamento jurídico brasileiro. Para RodriguesTPF

46FPT:

A classificação é um procedimento lógico, por meio do qual, estabelecido um ângulo de observação, o analista encara um fenômeno determinado, grupando suas várias espécies conforme se aproximem ou se afastem umas das outras. Sua finalidade é acentuar as semelhanças e dessemelhanças entre as múltiplas espécies, de maneira a facilitar a inteligência do problema em estudo.

Neste diapasão, o autor TPF

47FPT considera que existem várias

formas de agrupamento na classificação dos contratos, evidenciando que:

Se encararmos os contratos tendo em consideração a sua natureza, podemos classificá-los em contratos unilaterais e bilaterais, onerosos e gratuitos, comutativos e aleatórios e causais e abstratos. Se tivermos em vista a maneira como se aperfeiçoam, podemos distinguir os contratos em consensuais e reais e solenes e não solenes. Se nos ativemos à tradicional divisão, tendo em vista o fato de a lei lhes atribuir, ou não, um nome e lhes sistematizar as regras, podemos separar os contratos em nominados e inominados. Considerando uns em relação aos outros, os contratos se classificam em principais e acessórios. Tendo em vista o tempo em que devem ser

TP

46PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 25.

TP

47PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 25.

31

executados, separam-se em contratos de execução instantânea e contratos de execução diferida no futuro. Quanto ao seu objeto, pode-se ainda distinguir o contrato definitivo do contrato preliminar. Finalmente, quando se tem em vista a maneira como são formados, cumpre separar os contratos paritários dos contratos de adesão.

O que se busca com a classificação dos contratos, é um

agrupamento feito de acordo com os elementos comuns, sendo estruturais e

técnico-jurídicos, que apresentam entre si, bem como a sua tipologia isolada.

2.1.1 Contratos quanto à natureza

2.1.1.1 Contratos unilaterais e bilaterais

Diniz TPF

48FPT explicita que nos unilaterais um só dos

contratantes assumi obrigações, veja:

Unilaterais, se um só dos contratantes assumir obrigações em face do outro, de tal sorte que os efeitos são ativos de um lado e passivos do outro, pois uma das partes não se obrigará, não havendo, portanto, qualquer contraprestação. [...] Assim sendo, os contratos unilaterais, apesar de requererem duas ou mais declarações volitivas, colocam um só dos contraentes na posição de devedor, ficando o outro como credor.

E completa descrevendo que nos bilaterais, cada um dos

contraentes é simultânea e reciprocamente credor e devedor do outro, nota-se:

Bilaterais, em que cada um dos contraentes é simultânea e reciprocamente credor e devedor do outro, pois produz direitos e obrigações para ambos, tendo por característica principal o sinalagma, ou seja, a dependência recíproca de obrigações; daí também serem denominados contratos sinalagmáticos TPF

49FPT.

TP

48PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e

extracontratuais, p. 71-72.

TP

49PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e

extracontratuais, p.72.

32

Rodrigues TPF

50FPT ensina que a distinção entre estas duas

espécies de contrato é de enorme relevância, porque variam os efeitos do ato

conforme o ajuste seja unilateral ou bilateral.

2.1.1.2 Contratos onerosos e gratuitos

Pode-se entender que “os contratos a título oneroso são

aqueles que trazem vantagens para ambos os contraentes, pois estes sofrem

um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito almejado” TPF

51FPT.

A mesma autora TPF

52FPT, relata sobre os contratos gratuitos:

Os contratos benéficos ou a título gratuito são aqueles que oneram somente uma das partes, proporcionando à outra uma vantagem, sem qualquer contraprestação. Logo, apenas um dos contratantes obtém proveito, que corresponde a um sacrifício do outro, [...].

PereiraTPF

53FPT descreve que é importante não confundir as

classificações, nota-se:

É preciso não confundir a classificação dos contratos em bilaterais e unilaterais com a dos onerosos e gratuitos, embora haja coincidência de algumas espécies. Os contratos onerosos comumente são bilaterais, e os gratuitos da mesma forma unilaterais. Mas é apenas coincidência. O fundamento das classificações difere: uma tem em vista o conteúdo das obrigações, e outra, o objetivo colimado.

Para ele, não há uma correspectividade necessária, pois

que existem contratos unilaterais que não são gratuitos, e outros que são

bilaterais e podem ser gratuitos.

TP

50PT RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 28.

TP

51PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e

extracontratuais, p.74.

TP

52PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e

extracontratuais, p.74.

TP

53PT PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, p. 67.

33

2.1.1.3 Contratos comutativos e aleatórios

Nos contratos comutativos as partes podem prever suas

prestações e seus benefícios. Segundo PereiraTPF

54FPT:

São comutativos os contratos em que as prestações de ambas as partes são de antemão conhecidas, e guardam entre si uma relativa equivalência de valores. Não se exige a igualdade rigorosa destes, porque os bens que são objeto dos contratos não têm valoração precisa. Podendo ser, portanto, estimadas desde a origem, os contratantes estipulam a avença, e fixam prestações que aproximadamente se correspondem.

Define também os contratos aleatóriosTPF

55FPT:

São os contratos em que a prestação de uma das partes não é precisamente conhecida e suscetível de estimativa prévia, inexistindo equivalência com a da outra parte. Além disso, ficam dependentes de um acontecimento incerto.

Diniz destaca que:

[...], o contrato aleatório seria aquele em que a prestação de uma ou de ambas as partes dependeria de um risco futuro e incerto, não se podendo antecipar o seu montante. Aleatório será o contrato se a prestação depender de um evento casual, sendo, por isso, insuscetível de estimação prévia, dotado de uma extensão incerta.

Por sua vez, conceitua que “o vocabulário aleatório é

originário do latim alea, que significa sorte, perigo, azar, incerteza de fortuna,

indicando, portanto, um ato dependente do acaso” TP

F

56FPT.

2.1.1.4 Contratos causais e abstratos

Tem-se nas doutrinas que geralmente, as obrigações se

vinculam às causas que as motivaram e o devedor, quando acionado, pode

TP

54PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 39-40.

TP

55PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p.40.

TP

56PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 76.

34

ilidir o pedido, desde que prove a inexistência da causa que ensejou o contrato,

ou ainda, se evidenciar que ele se perfaz de causa imoral ou ilícita.

É o ilustre entendimento de Rodrigues TPF

57FPT:

Contrato abstrato é aquele que tira sua força da própria forma externa, independente da causa que o gerou. O exemplo típico do contrato formal e abstrato era a stipulatio, do Direito Romano, onde a mera circunstância de alguém proferir as palavras solenes da fórmula o vinculava de maneira absoluta.

2.1.2 Contratos quanto à forma

2.1.2.1 Contratos consensuais e reais

Assevera Lopes TPF

58FPT, que os contratos constituídos com a

anuência das partes contratantes, de regra, chamam-se consensuais. “Os

contratos reais, ao contrário, são aqueles para cuja formação não basta o

consentimento, mas lhes exige um outro elemento: a res, isto é, a entrega da

coisa”.

Para Rodrigues TPF

59FPT, “consensuais são aqueles que se

ultimam pelo mero consentimento das partes, sem necessidade de qualquer

outro complemento”; citando como exemplo, a compra e venda de bens

móveis, ou o contrato de transporte. “E reais, são aqueles ajustes que

dependem, para seu aperfeiçoamento, da entrega da coisa, feita por um

contratante ao outro”.

Portanto, contrato consensual é aquele que se aperfeiçoa,

realiza, através da manifestação inequívoca do consentimento do contratante.

Enquanto os contratos reais necessitam da entrega da coisa, ou seja, da

tradição do objeto.

TP

57PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 32-33.

TP

58PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 52.

TP

59PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 33.

35

2.1.2.2 Contratos solenes e não-solenes

Segundo Rodrigues TPF

60FPT, “solenes são os contratos que

dependem de forma prescrita em lei; e não-solenes, os de forma livre”.

Nesta linha de pensamento descreve Diniz TPF

61FPT:

Os contratos solenes ou formais consistem naqueles para os quais a lei prescreve, para a sua celebração, forma especial que lhes dará existência, de tal sorte que, se o negócio for levado a efeito sema observância da forma legal, não terá validade.

Isso posto, solenes são os contratos que dependem de

forma prescrita em lei; não solene, ou informal, é o contrato que independe de

qualquer formalidade para que tenha validade.

2.1.3 Contratos quanto à designação

2.1.3.1 Contratos nominados e inominados

Rodrigues TPF

62FPT descreve que “os contratos nominados ou

típicos são aqueles a que a lei dá denominação própria e submete a regras que

pormenoriza”.

E ressalta TPF

63FPT:

O Código Civil brasileiro cuida de dezesseis contratos típicos, a saber: compra e venda, troca, doação, locação, empréstimo, depósito, mandato, gestão de negócio, edição, representação dramática, sociedade, parceria rural, constituição de renda, seguro, jogo e aposta e fiança.

Ainda preceitua que TPF

64FPT:

TP

60PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 34.

TP

61PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais

e extracontratuais, p. 83-84

TP

62PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 34-35.

TP

63PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 35.

TP

64PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 35.

36

Inominados ou atípicos são os contratos que a lei não disciplina expressamente, mas que são permitidos, se lícitos, em virtude do princípio da autonomia privada. Surgem na vida cotidiana, impostos pela necessidade do comércio jurídico.[...]Assim, permite que o engenho individual supra tais falhas, através de construções lícitas, pela elaboração de esquemas contratuais diversos das convenções nominadas.

Há pertinente ensinamento de Diniz TPF

65FPT em relação aos

contratos inominados ou atípicos:

Os contratos inominados ou atípicos afastam-se dos modelos legais, pois não são disciplinados ou regulados expressamente pelo Código Civil ou por lei extravagante, porém são permitidos juridicamente, desde que não contrariem a lei e os bons costumes, ante o princípio da autonomia da vontade e a doutrina do número apertus, em que se desenvolvem as relações contratuais.

Portanto, inominados são aqueles que não se enquadram

em nenhum diploma legal e não têm denominação legal própria, e contratos

formais, denominados solenes, são os que somente se perfazem se for

obedecida forma especial.

2.1.4 Contratos reciprocamente considerados

2.1.4.1 Contratos principais e acessórios

Essa categoria analisa objetivamente os contratos, uns

em relação aos outros de forma que é possível dividi-la em contratos principais

e contratos acessórios.

Conforme RodriguesTPF

66FPT:

Contrato principal é aquele cuja existência independe da existência de qualquer outro. E contrato acessório é aquele que existe em função do principal e surge para lhe garantir a execução. [...] Dessa maneira, o contrato acessório depende

TP

65PT DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e

extracontratuais, p. 85.

TP

66PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 35.

37

da sina do principal. Exemplos típicos do contrato acessório são a da fiança e as arras.

Completa Lopes TPF

67FPT “contratos principais são os

aparelhados de existência autônoma, independente de qualquer outro contrato,

ao passo que os acessórios têm a sua vida dependente dos primeiros”.

Assim, é principal o contrato de locação como acessório é

o contrato de fiança, por ser destinado garantir as obrigações do locatário.

2.1.5 Contratos quanto ao tempo de execução

2.1.5.1 Contratos de execução instantânea e de execução diferida

Explicita-se para a melhor compreensão que se pode

igualmente encontrar como sinônimo do termo instantâneo, a palavra imediata

e do termo diferida, as palavras continuada, retardada e sucessiva.

Cumpre acrescentar que para PereiraTPF

68FPT:

[...] de execução imediata ou instantânea é o contrato em que a solução se efetua de uma só vez e por prestação única, tendo por efeito a extinção cabal da obrigação. E de execução diferida ou retardada é aquele em que a prestação de uma das partes não se dá de um só jato, porém a termo, não ocorrendo à extinção da obrigação enquanto não se completar a solutio.

Define Lopes TPF

69FPT, que contratos de execução imediata são

os que se exaurem num só momento, “como a compra e venda à vista,

enquanto que os de execução continuada se realizam através de prestações

contínuas e sucessivas”.

TP

67PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 59.

TP

68PT PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 41.

TP

69PT LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 60.

38

2.1.6 Contratos quanto ao seu objeto

2.1.6.1 Contratos definitivos e preliminares

Contrato preliminar, como o próprio nome apresenta,

consiste naquele por via do qual as partes contratantes têm o compromisso de

celebrar mais tarde outro contrato, que será o contrato principal.

Rodrigues TPF

70FPT, bem introduz a idéia de contrato preliminar

no ordenamento jurídico brasileiro: “O contrato preliminar mostra-se portador

de uma característica constante, isto é, a de ter por escopo, sempre, a

realização de um contrato definitivo”.

A propósito, o autor TPF

71FPT ainda conceitua o contrato

definitivo:

O contrato definitivo tem por objeto, como é óbvio, criar vários tipos de obrigações para os contraentes. Assim, a compra e venda impõe ao vendedor o mister de entregar a coisa e, ao comprador, o de entregar o preço. [...] Portanto, cada qual destes ajustes tem um objeto peculiar e as partes que a eles recorrem visam obter esse fim típico em questão.

Conclui-se que o contrato definitivo é o contrato puro, com

diversidades de objetos. Não é possível enumerar a gama de objetos que pode

ter um contrato definitivo, podendo contratar tudo que seja lícito, possível e

determinado TPF

72FPT.

2.1.7 Contratos quanto ao modo de formação

2.1.7.1 Contratos paritários e de adesão

Tem-se conhecimento nas doutrinas que o contrato de

adesão consiste naquele em que o contratante deve aceitar, aderir às cláusulas

estipuladas, de forma que não há possibilidades de modificar ou alterar o

conteúdo proposto.

TP

70PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 37.

TP

71PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 37.

TP

72PT AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos, p. 82/83

39

Neste sentido, discorre RodriguesTPF

73FPT:

Contrato de adesão é aquele em que todas as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, de modo que a outra, no geral mais fraca e na necessidade de contratar, não tem poderes para debater as condições, nem introduzir modificações, no esquema proposto. Este último contraente aceita tudo em bloco ou recusa tudo por inteiro.

É de se observar, que a idéia de contrato de adesão vem

a contrariar à de contrato paritário, pelo fato de que aquele impossibilita ao

contraente discutir as cláusulas, ao passo que este permite às partes

contratantes o tratamento do conteúdo.

Nesta linha de raciocínio emprega RodriguesTPF

74FPT:

No conceito clássico de contrato admite-se uma fase em que se procede ao debate das cláusulas da avença e na qual as partes, colocadas em pé de igualdade, discutem os temos do negócio. É a chamada fase de puntuação, onde as divergências são eliminadas através da transigência dos contraentes. A este tipo de negócio dá-se o nome de contrato paritário, pois supõe-se a igualdade entre os interessados. No contrato de adesão a fase inicial de debates e transigência fica eliminada, pois uma das partes impõe à outra, como um todo, o instrumento inteiro do negócio, que esta, em geral não pode recusar.

Não se pode olvidar que ainda existem outras disposições

de autores consagrados, acerca da classificação dos contratos. Muito embora,

as classificações mais difundidas no âmbito civil, por seus elementos

estruturais e técnico-jurídicos foram aqui apresentadas.

TP

73PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 42.

TP

74PT RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 42.

40

2.2 FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS

É necessário distinguir, em matéria contratual, as

cláusulas gerais e os princípios do direito contratual. A Função Social do

Contrato é uma cláusula geral, como leciona CoelhoTPF

75FPT:

As cláusulas gerais não são princípios. Há uma diferença significativa entre esses dois tipos de normas jurídicas. Os princípios, estudou-se, são normas de âmbito de incidência extremamente largo, que se projetam sobre as demais, informando-lhe a interpretação. Podem estar expressos em dispositivos de direito ou ser revelados pelos tecnólogos. Já as cláusulas gerais não se caracterizam pela amplitude do âmbito de incidência e, embora possam servir à interpretação de outras normas, não são propriamente vocacionadas para esse desiderato.

A diferenciação entre o princípio e cláusula geral é

importante porque a interpretação desta última não pode contrariar o primeiro.

Há uma hierarquia que privilegia o princípio sobre a cláusula e o destaca

relativamente à norma jurídica de qualquer outro tipoTPF

76FPT.

Nota-se que primeiramente, as cláusulas gerais podem

ser caracterizadas por princípios expressos pelo legislador no ordenamento

jurídico, dando-lhe maior credibilidade e aplicabilidade em nosso ordenamento.

Em um segundo momento o autor firma posicionamento da hierarquia do

princípio sobre a cláusula geral.

Com sapientes palavras, a doutrina do Ministro do STJ,

Ruy Rosado Aguiar TPF

77FPT, defende a inexistência de hierarquia entre o princípio e

cláusula geral.

Desta feita, conclui-se que a função social do contrato é

um princípio do direito contratual expressado por uma cláusula geral, para se

TP

75PT COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, p. 34.

TP

76PT COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, p. 34.

TP

77PT AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. O Poder Judiciário e a concretização das cláusulas gerais. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, n. 18, p. 221-228, 2000, p. 225.

41

defender esse entendimento encontra-se conforto em uma tese publicada na

revista da faculdade de direito da UFRGS de autoria do então Ministro do

Superior Tribunal de Justiça, Ruy Rosado de Aguiar Júnior TPF

78FPT:

Diante de termos indeterminados, basta ao juiz precisar o seu conteúdo para ter a norma pronta a ser aplicada, enquanto a cláusula geral exige um reenvio para outros fatores valorativos e um trabalho de criação. Para distinguir a cláusula geral dos princípios, a autora entende que o cerne da definição de princípio está em que ele é uma norma considerada como fundamento de outra. A cláusula geral pode expressar um princípio, mas não é um princípio. O princípio pode ser expresso ou não, enquanto a cláusula geral sempre é e só pode ser expressa. Tanto assim que no nosso Direito, antes de termos a cláusula geral expressa na legislação civil, tínhamos o princípio não expresso da boa-fé, implicitamente admitido e decorrente do sistema. ALEXIS, em trabalho recente sobre o direito brasileiro, observou que antes da regulamentação dos dispositivos constitucionais que não são auto-aplicáveis, podem tais preceitos funcionar como princípios orientadores do sistema.

Assim, a expressão ‘função social’ não pode ser

precisada e enunciada a menos que se cuide de caso concreto e específico TPF

79FPT.

Para Santos TPF

80FPT “como princípio do direito contratual, a

função social é diretiva flexível dotada de enorme variação de significados e

que orienta o exercício do direito de contratar”, o que o torna mais eficaz e útil

ao determinar que se cumpram às exigências do bem comum e da justiça

social.

AzevedoTPF

81FPT ao tecer comentários sobre o tema coloca a

função social como princípio contratual, ao ponto que percebe que o novo

Código retrata boa orientação contratual ao referir-se à função social do

contrato, pois que, embora exista este princípio, reconhecido pela Doutrina, às

vezes, ao aplicar da lei, são feridos valores sociais insubstituíveis. TP

78PT AGUIAR Jr., Ruy Rosado de. O Poder Judiciário e a Concretização das Cláusulas

Gerais: Limites e Responsabilidade, p. 225. TP

79PT SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato, p.128.

TP

80PT SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato, p.158.

TP

81PT AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos, p. 33.

42

2.2.1 Princípio da Probidade e da Boa-fé

TA questão da boa-fé atine mais propriamente à

interpretação dos contratos. TOs princípios da probidade e da boa-fé devem

existir não apenas na ocasião do contrato, mas, durante toda a sua duração,

assim esse princípio se estampa pelo dever das partes de agir de forma correta

antes, durante e depois do contrato. Isso porque, mesmo após o cumprimento

de um contrato, podem sobrar-lhes efeitos residuais.

A expressão boa-fé tem sua origem etimológica a partir da

expressão latina bona fides.

Martins TPF

82FPT nos ensina que:

Fides’ significa o hábito de firmeza e de coerência de quem sabe honrar os compromissos assumidos, significa, mais além do compromisso expresso, a fidelidade e coerência no cumprimento da expectativa alheia independentemente da palavra que haja sido dada, ou do acordo que tenha sido concluído, acordo entre homens honrados – compromisso expresso ou implícito de fidelidade e cooperação nas relações contratuais(confiança).P

P

Analisando a boa-fé, PasqualottoTPF

83FPT apresenta o seguinte

entendimento:

A boa-fé permite que o contrato converta-se numa ‘ordem de cooperação’, em que credor e devedor não ocupam mais posições antagônicas, dialéticas e polêmicas. A contraposição de interesses é superada pela convenção, que concerta e harmoniza os objetivos comuns das partes em torno do objeto do negócio. A partir do acordo de vontades, o cumprimento da obrigação de um representará a satisfação do crédito do outro. Por isso o vínculo jurídico que une os contraentes apresenta uma exigência inerente de ética e lealdade, para que não ocorra a frustração das expectativas.

TP

82PT MARTINS, Plínio Lacerda.O Abuso nas Relações de Consumo e o Princípio da Boa-Fé, p. 145.

TP

83PT PASQUALOTTO, Adalberto. Cláusulas Abusivas em Contratos Habitacionais. In: Revista de Direito do Consumidor [do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor]. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 40, out.-dez. 2001, p. 22.

43

Sob um aspecto genérico, a boa-fé pode ser considerada

como algo que deve estar presente em todas as relações jurídicas e sociais

existentes.

Consoante os ensinamento de Silva TPF

84FPT:

A boa-fé pode ser abordada em diferentes aspectos da vida social. Sob o aspecto psicológico, boa-fé é o estado de espírito de quem acredita estar agindo de acordo com as normas de boa conduta. Sob o ponto de vista ético, boa-fé significa lealdade, franqueza, honestidade, conformidade entre o que se pensa o que se diz o que se faz.P

A Lei não contém palavras supérfluas, razão pela qual

não se podem entender como sinônimos os princípios da probidade e da boa-

fé.

A probidade está diretamente legada ao conceito de

honestidade, integridade moral e dignidade. É o aspecto moral da contratação,

desde sua formação até a sua extinção. Implica lealdade da palavra, fidelidade

no tratamento e cumprimento adequado das obrigações tempo, lugar e modo

convencionados.

Os contratantes devem agir de forma leal para a

consecução dos objetivos delineados no instrumento negocial respectivo. Deve

existir entre os negociantes uma relação de confiança mútua e fidelidade ao

pactuado TPF

85FPT.

TNa análise do princípio da boa-fé dos contratantes, devem

ser examinadas as condições em que o contrato foi firmado, o nível

sociocultural dos contratantes, seu momento histórico e econômico. É ponto da

interpretação da vontade contratual.

TP

84PT SILVA, Agathe E. Schmidt da. Cláusula Geral de Boa-fé nos Contratos de Consumo. In: Revista de Direito do Consumidor [do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor]. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 17, janeiro/março, 1996, p. 154.

TP

85PT LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo, p. 87.

44

TNesse campo, o artigo 420 e especificamente o artigo 421

que faz referência ao princípio basilar da boa-fé objetiva: "Os contraentes são

obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,

os princípios de probidade e boa-fé".

Ensina Almeida Costa TPF

86FPT que:

Entende-se que, durante as fases anteriores à celebração do contrato – quer dizer, na fase negociatória e na fase decisória - o comportamento dos contratantes terá de pautar-se pelos cânones da lealdade e da probidade. De modo mais concreto: apontam-se aos negociadores certos deveres recíprocos, como, por exemplo, o de comunicar à outra parte a causa da invalidade do negócio, o de não adotar uma posição de reticência perante o erro em que esta lavre, o de evitar a divergência entre a vontade e a declaração, o de abster de propostas de contratos nulos por impossibilidade do objecto; e, ao lado de tais deveres, ainda em determinados casos, o de contratar ou prosseguir as negociações iniciadas com vista à celebração de um acto jurídico. O reconhecimento da responsabilidade pré-contratual reflecte a preocupação do direito de proteger a confiança depositada por cada um dos contratantes nas expectativas legítimas que o outro lhe crie durante as negociações, não só quanto à validade e eficácia do negócio, mas também quanto à sua futura celebração.

TA idéia primordial é no sentido de que, em princípio,

contratante algum ingressa em um conteúdo contratual sem a necessária boa-

fé. A má-fé inicial ou interlocutória em um contrato pertence à patologia do

negócio jurídico e como tal deve ser examinada e punida.

Azevedo leciona que o princípio da boa-fé “assegura o

que acolhimento do que é lícito e a repulsa ao ilícito”. TPF

87FPT

TO dispositivo do artigo 421 se reporta ao que se denomina

boa-fé objetiva, contudo é importante que se distinga da boa-fé subjetiva.

Leciona NoronhaTPF

88FPT que:

TP

86PT COSTA, Almeida. Direito das Obrigações, p. 224.

TP

87PT AZEVEDO, Alvaro Villaça de. Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos, p. 26.

45

Mais do que duas concepções da boa-fé, existem duas boas-fés, ambas jurídicas, uma subjetiva e outra objetiva. A primeira, diz respeito a dados internos, fundamentalmente psicológicos, atinentes diretamente ao sujeito, a segunda a elementos externos, a normas de conduta, que determinam como ele deve agir. Num caso, está de boa-fé quem ignora a real situação jurídica; no outro, está de boa-fé quem tem motivos para confiar na contraparte. Uma é boa-fé estado, a outra boa-fé princípio.

TNa boa-fé subjetiva o manifestante de vontade crê que T

Tsua conduta é correta, tendo em vista o grau de conhecimento que possui de

um negócio. Para ele há um estado de consciência ou aspecto psicológico que

deve ser considerado.

TPor outro lado, a boa-fé objetiva tem compreensão

diversa, parte de um padrão de conduta comum, do homem no caso concreto

levando em consideração os aspectos sociais envolvidos.

TAssim, a boa-fé objetiva se traduz de forma mais

perceptível como uma regra de conduta, um dever de agir de acordo com

determinados padrões sociais estabelecidos e reconhecidos.

Foi Orlando Gomes um dos doutrinadores que melhor

soube expor, a amplitude do conceito da boa-fé objetiva.

Em sua obra “Contratos”, o autor demonstra que a boa-fé

contratual está relacionada com o interesse social de segurança nas relações

jurídicas, expressando as palavras “lealdade, confiança e colaboração” que na

sua visão, traduzem muito bem o sentido do princípio da boa-féTPF

89FPT.

Vale trazer na íntegra do trecho em que Orlando Gomes

utiliza as três expressões:

Ao princípio da boa-fé empresta-se ainda um outro significado. Para traduzir o interesse social de segurança das relações jurídicas, diz-se, como está expresso no Código Civil alemão,

TP

88PT NORONHA, Fernando. O Direito dos Contratos e Seus Princípios, p. 132.

TP

89PTGOMES, Orlando. Contratos, p 42.

46

que as partes devem agir com lealdade e confiança recíprocos. Numa palavra, devem proceder com boa-fé. Indo mais adiante, aventa-se a idéias de que entre o credor e o devedor é necessária a colaboração, um ajudando o outro na execução do contrato. A tanto, evidentemente, não se pode chegar, dada a contraposição de interesses, mas é certo que a conduta tanto de um como de outro, subordina-se a regras que visam a impedir dificulte uma parte à ação de outra TPF

90FPT. T

Existem outros dispositivos que se reportam à boa-fé de

índole objetiva como o artigo 112 que versa que "Os negócios jurídicos devem

ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração".

Também o abuso de direito do artigo 186 que estabelece: "Também comete ato

ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo. Excede manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons

costumes".

2.2.2 Princípio da Força Obrigatória

Gomes TPF

91FPT ao tratar do assunto assim dispôs:

O princípio da força obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que seja, com observância de todos pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos. O contrato obriga os contratantes, sejam quais forem às circunstâncias em que tenha de ser cumprido. Estipulado validamente seu conteúdo, vale dizer, definidos os direitos e obrigações de cada parte, as respectivas cláusulas têm, para os contratantes, força obrigatória.

VenosaTPF

92FPT acerca da matéria leciona:

[...] O acordo de vontades faz lei entre as partes, dicção que não pode ser tomada de forma peremptória, aliás como tudo em Direito. Essa obrigatoriedade forma a base do direito

TP

90PT GOMES, Orlando. Contratos, p 42.

TP

91PT GOMES, Orlando. Contratos, p. 36.

TP

92PT VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos, p. 406-407.

47

contratual. O ordenamento deve conferir à parte instrumentos judiciários para obrigar o contratante a cumprir o contrato ou a indenizar pelas perdas e danos. Não tivesse o contrato força obrigatória estaria estabelecido o caos. Ainda que se busque o interesse social, tal não deve contrariar tanto quanto possível à vontade contratual, a intenção das partes.

As partes que contratavam necessitavam de forças

coercitivas para o adimplemento do seu contrato, clamando a obrigatoriedade

da prestação assumida. Daí surge o brocardo latino pacta sunt servanda, no

vernáculo, o pacto deve ser observado.

Para VenosaTPF

93FPT, é decorrente desse princípio a

intangibilidade do contrato, sendo afirmado que ninguém pode alterar, sem a

ouvida da outra parte, ou seja, unilateralmente, o contrato.

Esse princípio tem ligação estreita com o anterior

estudado, pois se pela autonomia da vontade, ninguém é obrigado a contratar,

se o fez deve ser cumprido. Esse princípio surge para fortalecer os negócios

jurídicos, dar a tão aclamada segurança jurídica TPF

94FPT.

TP

93PT VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos

Contratos. op. cit., p. 376 TP

94PT GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito das Obrigações: Parte Especial. op. cit.,

p.10.

48

CAPÍTULO 3

CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO

O presente capítulo tem como objetivo fazer uma análise

sobre as cláusulas restritivas do contrato de seguro frente ao Código Civil e ao

Código de Defesa do Consumidor, levando em considerações os princípios

gerais dos contratos. Utilizar-se-á, de artigos publicados on-line, como fonte de

pesquisa, além de matéria doutrinária.

3.1 DEFINIÇÃO E CARACTERES JURÍDICOS DO CONTRATO DE SEGURO

Pode-se encontrar a definição de contrato de seguro no

Código Civil, em seu art. 757, onde define o contrato como aquele pelo qual "o

segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse

legítimo do segurado, relativo à pessoa ou a coisa, contra riscos

predeterminados".

Da análise da definição do contrato de seguro podem-se

apontar os seus caracteres: bilateralidade, onerosidade, aleatoriedade, adesão,

execução continuada, consensualismo, e boa fé. Não sendo necessário, aqui,

discorrer acerca de cada um deles, posto que feito em momento anterior.

3.2 SUJEITOS DO CONTRATO DE SEGURO

3.2.1 Segurador

Segundo Loureiro TPF

95FPT, o segurador é a parte no contrato de

seguro que:

Mediante o recebimento do prêmio, assume o risco e passa a ter como contraprestação pagar a "indenização" no caso da

TP

95PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

49

ocorrência do sinistro. O parágrafo único do art. 757 do NCC, logo após definir o que é seguro, determina que: "Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada".

Assim, existe limitação quanto ao Segurador trazido no

Código.

3.2.2 Segurado

Segundo Diniz TPF

96FPT o segurado é a pessoa física ou jurídica

Que tem interesse direto e legítimo na conservação da coisa ou pessoa, fornecendo uma contribuição periódica e moderada, isto é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá de, em caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, perda de faculdades humanas etc., indenizá-lo pelos danos sofridos.

Dessa forma qualquer pessoa pode figurar na posição de

segurado, sendo necessário, em princípio, ter capacidade civil.

3.2.3 Beneficiário

É a pessoa singular ou coletiva a quem a seguradora irá

indenizar ou garantir um pagamento por força de um contrato de seguro ou de

uma operação de capitalização.

3.2.4 Co-segurador

LoureiroTPF

97FPT define o co-segurador, ou, os co-seguradores

como sendo:

Os componentes de uma pluralidade de seguradores que juntos realizam a proteção integral do risco, na medida em que cada um é responsável por uma porcentagem deste. O art. 761 do NCC admite que um dos co-seguradores, escolhido pelo segurado, possa ser indicado na apólice assumindo a

TP

96PT DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil, p. 318.

TP

97PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

50

administração do contrato e tornando-se representante dos demais co-seguradores para todos os efeitos. Não há responsabilidade solidária dos co-seguradores, obrigando-se cada um por uma parte do montante a ser pago (RT 308:231).

Para que haja solidariedade, tem de haver expressa

previsão no contratoTPF

98FPT.

3.2.5 Ressegurador

Figura do resseguro, Segundo LoureiroTPF

99FPT:

Consiste na transferência de parte ou toda a responsabilidade do segurador para o ressegurador, com a finalidade de distribuir para mais de um segurador a responsabilidade pelo adimplemento da contraprestação. Salta aos olhos a sua semelhança com o instituto do co-seguro analisado no tópico supra, já que ambos buscam a distribuição entre mais de um segurador a responsabilidade pela contraprestação de maneira a, com a repartição dos riscos, poder fazer frente a seguros vultosos.

Contudo no resseguro, não há relação entre ressegurador

e segurado, mas sim entre aquele e o segurador TPF

100FPT.

3.3 OBJETO DO CONTRATO DE SEGURO

3.3.1 Interesse

Em sendo um interesse o objeto do contrato de seguro,

este será presumido em várias situações ou provado, em outras, como no caso

do seguro de vida de terceiro que não seja cônjuge, ascendente ou

descendente. Loureiro descreve que:

TP

98PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

99PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

100PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

51

Não haverá interesse no caso de seguro de bem alheio e sim aposta, a menos que o proponente do seguro prove o seu interesse no caso concreto. O interesse a ser segurado, de acordo com o art. 757 do NCC, deverá ser legítimo, ou seja, há de estar em conformidade com a lei, o que não é uma característica específica deste contrato, já que todo e qualquer negócio jurídico, para ser válido, tem que ter objeto lícito (art. 82 CC e art. 104, I NCC)TP

F

101FPT.

Assim, não pode asegurar nem objeto ilícito ou que venha

de atividade ilícita , por exemplo, carro roubado, ou com documentação

irregular , ou podemos ir mais longe como contrabando ou dogras .

3.3.2 Risco

A principal característica do contrato de seguro é a

Aleatoriedade , que consiste no risco no acontecimento futuro e incerto previsto

no contrato, suscetível de causar dano. Quando este evento ocorre, a técnica

securitária o denomina sinistro.

A obrigação de garantia contida no seguro, só obriga a seguradora a pagar a indenização quando o risco se concretiza, de maneira que este acontecimento torna-se essencial. Dessa maneira, se o contrato segura determinado interesse frente a determinados riscos, faz-se necessário que eles sejam expressamente declarados na apólice e que seja indicado os termos inicial e final de vigência, no qual em ocorrendo o acontecimento ele será indenizadoTPF

102FPT.

O risco, sendo essencial ao seguro, é condição da possibilidade do interesse ser segurável. Relembrando que a doutrina moderna aponta como o objeto do seguro o interesse segurável, logo, o acontecimento danoso futuro e incerto tem que ser possível, sob pena de invalidade do contrato. Isto ocorre, pois a Teoria Geral dos Negócios Jurídicos determina

TP

101PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

102PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

52

que, além do objeto ser lícito, ele também há de ser possível (art. 82 CC e art. 104, I NCC) TP

F

103FPT.

O risco é fundamental para o contrato de seguro, pois é

baseado nas estatísticas e cálculos de probabilidade que se pode constatar

quais as chances de determinado evento danoso vir a, de fato, ocorrer .

3.3.3 Forma

Parte da doutrina defende que ele é consensual. A

redação do art. 1.433 do CC descreve que:

Art. 1.433. Este contrato não obriga antes de reduzido a escrito, e considera-se perfeito desde que o segurador remete a apólice ao segurado, ou faz nos livros o lançamento usual da operação.

Pereira citando Beviláqua alega que o contrato de seguro

pode ser formal, uma vez que a forma escrita faz parte da substância do ato.

Mais adiante, citando Gomes, afirma que pode considerá-lo contrato

consensual. E explica que isto ocorre, pois o instrumento escrito do seguro, a

apólice ou o bilhete do seguro, é seu elemento de prova, que pode ser suprida

por outro meio de prova.

O renomado autor considera inclusive conveniente a possibilidade de outros meios de prova como a perícia nos livros do segurador, pois é a que se compadece com as circunstâncias da própria vida, como no caso de perecer a apólice no sinistro a que visa cobrir, ou extraviar-se em lugar ignorado pelos beneficiáriosTPF

104FPT.

O CC adota posicionamento da maioria da doutrina,

quanto ao caráter probatório deste instrumento, nota-se:

TP

103PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

104PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

53

Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.

O Decreto-lei 73/66, arts. 9º e 10, passou a admitir

também como instrumentos do seguro a proposta e o bilhete do seguro.

Segundo Loureiro TPF

105FPT:

Este pode ser substitutivo da apólice quando a lei o permitir. A proposta é considerada instrumento do seguro baseado na Teoria Geral dos Contratos (art. 1.080 CC e art. 427 NCC, sendo este cópia ipse litteris daquele) quando se afirma que "a proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso". O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, amplia o alcance da proposta em seu art. 30 dispondo que "toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado"TPF

106FPT.

A proposta geralmente é formal e contém os elementos

do contrato a ser concluído, é o que leciona LoureiroTPF

107FPT:

Assinada a proposta, quer pessoalmente, quer por meio de representante, o segurado possui ainda 90 dias para decidir se a aceita ou recusa. A proposta pode ser tácita quando se deseja a continuação de um contrato, devendo, para tanto, o segurador emitir nova apólice ou declarar a prorrogação da primeira e o segurado pagar o prêmio. Caso o interessado não desista da proposta, emite-se a apólice ou bilhete,

TP

105PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

106PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

107PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

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considerando-se este o momento da formação do contrato, ainda que sua vigência tenha início em outro TPF

108FPT.

Considera-se perfeito o contrato de seguro com a entrega

da apólice.

Esta, por sua vez, é de grande importância na fase de execução contratual, posto que, como já foi dito, o contrato de seguro é de interpretação restritiva, não sendo admitida nenhuma presunção ainda que baseada em suas cláusulas TPF

109FPT.

Todo e qualquer aspecto da relação contratual a ser

celebrada deve estar inserido na apólice.

Ao lado destas, tanto o CC (art. 1.434) como o NCC (art. 760) determinam que também sejam mencionados os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia, o prêmio a ser pago e, nos casos em que se fizer necessário, o nome do segurado e o do beneficiário. No caso de co-seguro, a apólice deverá indicar o segurador que administrará o contrato, representando os demais TPF

110FPT.

Estando o contrato de seguro sobre a égide do Código de

Defesa do Consumidor, devem ser respeitadas as disposições desse diploma

legal quanto à redação de suas cláusulas. Dentre as várias, LoureiroTPF

111FPT

destaca:

Vedação de cláusulas redigidas de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance (art. 46); vedação de cláusulas que autorizem o segurador (fornecedor) alterar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração, bem como variar o preço de maneira unilateral

TP

108PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

109PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

110PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

111PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

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(art. 51, XIII e X, respectivamente); redação em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, de maneira a tornar mais fácil a sua compreensão ao consumidor (art. 54, § 3º); as cláusulas que limitarem direitos do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo imediata e fácil compreensão (art. 54, § 4º).

A apólice, dependendo das características que possua

pode ser classificada de várias maneiras.

3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS SEGUROS

As várias classificações apresentadas pela doutrina visam

a reunir os diversos seguros em categorias de acordo com as semelhanças

que estes guardem entre si. PereiraTPF

112FPT Leciona que:

Não obstante a variedade de espécies, predomina em nosso direito positivo o conceito unitário do seguro, segundo o qual há um só contrato que se multiplica em vários ramos ou subespécies, construídos sempre em torno da idéia de dano (patrimonial ou moral), cujo ressarcimento ou compensação o segurado vai buscar, mediante o pagamento de módicas prestações (…), ao contrário do conceito dualista que separa os de natureza ressarcitória (seguros de danos) daquele em que está presente apenas o elemento aleatório (seguro de vida), sem a intenção indenizatória (…) ou visando a uma capitalização (…).

LoureiroTPF

113FPT acrescenta que quanto ao número de

segurados:

Existem os individuais e os coletivos (ou em grupo). Quanto à liberdade de contratar, os seguros podem ser facultativos ou obrigatórios, no caso deste último, e.g., aqueles do art. 20 do Decreto-lei nº 73/66 (vide supra 3.3.1.2. Segurado). Os seguros podem ser sociais ou privados: estes são facultativos e dizem respeito a pessoas e coisas; já aqueles são obrigatórios, realizados pelo Estado diretamente ou por via de entidades

TP

112PT PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, p.303.

TP

113PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

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autárquicas e visam à tutela de determinadas classes de pessoas, por exemplo, acidentados no trabalho ou idosos.

O Decreto-lei nº 73/66 em ser artigo terceiro dispõe:

Art. 3º Consideram-se operações de seguros privados os seguros de coisas, pessoas, bens, responsabilidades, obrigações, direitas e garantias. Parágrafo único. Ficam excluídos das disposições deste Decreto-lei os seguros do âmbito da Previdência Social, regidos pela legislação especial pertinente.

Apesar das diversas classificações, pode-se classificar,

de acordo com o Código Civil, em seguros de dano e seguros de pessoa.

Os seguros de dano materiais são aqueles que visam à cobertura de danos ocorríveis com coisas (daí também serem chamados de seguros de coisas) resultantes de roubos, acidentes, incêndios, fenômenos da natureza e de todo e qualquer evento danoso. Já apresentamos em várias partes deste texto alguns dos regramentos a que se sujeitam os seguros desta espécie, como: a indenização não pode resultar em lucro para o segurado, logo, o seu valor deve ser o correspondente ao dano; não é permitido mais de um seguro total sobre o mesmo bem quanto aos mesmos riscos; não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada e não declarado pelo segurado. O NCC traz o regramento deste seguro nos arts. 778 ao 787 TPF

114FPT.

Porem na pratica tem-se como contratar um seguro

acrescentando porcentagem para valorizar o bem , ex : seguro automóvel que

se pode acrescenta até 20 % sobre o valor cotado pela tabela fipe ou molicar.

Os seguros de pessoa, visam a "garantir a pessoa

humana no que se refere a sua existência e higidez física"TPF

115FPTP

.P

TP

114PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008. TP

115PT VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil, p. 376.

57

3.5 OBRIGAÇÕES E DIREITOS

O seguro apresenta obrigações tanto para o segurador

quanto para o segurado.

3.5.1 Do Segurador

A principal obrigação do segurador consiste em garantir o

interesse legítimo do segurado. LoureiroTPF

116FPT descreve que:

Parece-nos equivocado apontar como obrigação principal do segurador o pagamento em dinheiro do valor segurado (obrigação de pagar), dentro dos termos da apólice, tal como o faz C. M. da Silva PereiraP

P e Carlos Roberto Gonçalves. Se o

seguro é contrato bilateral (caracterizado pela reciprocidade das prestações) está sujeito a exceptio inadimpleti contractus (condição resolutiva tácita), logo, se uma das partes não cumpre a sua prestação, a outra não fica obrigada à contraprestação TPF

117FPT.

Para o autor, se admitirmos ser a obrigação do segurador

um pagamento, uma vez este não sendo realizado, o segurado não teria que

pagar o prêmio podendo inclusive resolver o contrato. Nota-se:

Raciocinando baseados nestes pressupostos, o contrato de seguro seria impossível. O prêmio é uma porcentagem da indenização. A seguradora só pode pagar os valores devidos nos casos em que houver o sinistro se possuir fundos, os quais são o resultado da reunião de todos os prêmios pagos. Logo, se mesmo quando os riscos não se concretizassem, a seguradora não ficasse com o que lhe foi pago, não teria condições de pagar as indenizações TPF

118FPT.

TP

116PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 . TP

117PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008. TP

118PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008.

58

Prossegue descrevendo que o problema não ocorre se

admitimos que a obrigação da seguradora é de garantia.

Obrigação de garantia é aquela cujo conteúdo "‘é eliminar um risco que pesa sobre o credor’. A simples assunção do risco pelo devedor da garantia representa, por si só, o adimplemento da prestação" P

. PLogo, o contrato não é descumprido se a

indenização não vem a ser paga por inocorrência do sinistro, continuando o segurado obrigado ao prêmio. O pagamento, em ocorrendo, seria forma de execução contratual. Este parece ser o posicionamento mais acertado, não desnaturando a bilateralidade do seguro, nem o tornando impossível TPF

119FPT.

Ocorrido o sinistro, o segurador, uma vez que assumiu o

risco na apólice, deverá pagar em dinheiro, se outra forma não foi

convencionada, o prejuízo resultante do evento .

Nos seguros de bens materiais a indenização não terá de corresponder à quantia declarada, sendo esta o limite da cobertura. Destarte, o valor a ser pago dependerá de apuração real do prejuízo, pois o seguro não tem finalidade lucrativa (vedação do sobre-seguro: aquele que vai além do valor do efetivo prejuízo). No entanto, nos seguros pessoais, a indenização será paga pela importância constante da apólice, porque os bens cobertos são inestimáveis. A menos que haja expressa previsão na apólice, inclui-se na garantia todos os prejuízos resultantes ou conseqüentes do risco, ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano ou salvar a coisa (art. 779 NCC e art. 1.461 CC). A mora do segurador em pagar o sinistro enseja correção monetária, sem prejudicar a inclusão de juros de mora (art. 772 NCC)TP

F

120FPT.

O segurador se exime do pagamento provando que houve

dolo do segurado quanto ao sinistro.

Da mesma forma não está obrigado ao pagamento nos casos: de segundo seguro da mesma coisa pelo mesmo risco e valor

TP

119PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008. TP

120PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008.

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(art. 778 NCC); inexistência de cobertura para o sinistro ocorrido; caducidade da apólice pelo não-pagamento do prêmio; descumprimento de obrigações por parte do segurado, dentre as quais podemos destacar a falta de comunicação do agravamento dos riscos e de ocorrência do sinistro. Apesar dessas hipóteses em que se permite o não-pagamento da indenização, a jurisprudência não admite a resilição unilateral por parte da seguradora (RT 431:152) O art. 784 do NCC (art. 1.459 CC) exclui da garantia o sinistro decorrente de vício intrínseco da coisa segurada (defeito próprio da coisa, que não se encontra normalmente em outras da mesma espécie)TP

F

121FPT.

Entretanto, da mesma forma que este dispositivo protege

o segurador, o art. 773 determina que "o segurador que, ao tempo do contrato,

sabe estar passado o risco de que o segurado se pretende cobrir, e, não

obstante, expede a apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado".

O art. 786 do CC determina que "paga a indenização, o

segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações

que competirem ao segurado contra o autor do dano". A súmula 188 do STF

traz que: "O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo

que efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato". O § 1º do artigo

citado acima enuncia uma exceção ao caput, prevendo que "salvo dolo, a sub-

rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus

descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins" TPF

122FPT.

3.5.2 Do Segurado

A primeira obrigação do estipulante é o pagamento da

primeira parcela do seguro para emissão da apólice e logo o pagamento da

demais parcelas , LoureiroTPF

123FPT aduz:

TP

121PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008. TP

122PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008. TP

123PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008 .

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O descumprimento desta obrigação dá ensejo à rescisão contratual ou a caducidade da apólice. O pagamento pode ser anual e adiantado, o mais comum, ou em quotas mensais. Admite-se a concessão de um prazo de graça, geralmente de 30 dias, após o recebimento da apólice a fim de que o prêmio seja pago. Também se aceita a reabilitação do segurado em mora através do regate do débito acrescido dos juros de mora. A lei, todavia, prevê que não terá o direito de indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio em ocorrendo o sinistro antes que ela seja purgada (art. 763 NCC).

A não verificação do risco previsto no contrato não exime

o segurado do pagamento do prêmio.

A diminuição do risco no curso do contrato, a menos que de maneira diversa haja sido acordado, não acarreta redução do prêmio estipulado (art. 770 NCC). Todavia, se a redução do risco for considerável, caberá ao segurado exigir revisão do contrato ou resolvê-lo. Já se o segurado intencionalmente agrava o risco perderá o direito à garantia (art. 768 NCC e art. 1.454 CC) TP

F

124FPT.

Quando da celebração do contrato, fica o segurado ou

seu representante obrigado a fazer declarações (informar) exatas e completas,

incluindo todas as circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta

ou na taxa do prêmio. E prossegue:

A inobservância deste preceito por má-fé do segurado o faz perder o direito à garantia além de obrigá-lo a pagar o prêmio vencido. Não havendo má-fé o segurador terá a opção de resolver o contrato ou cobrar a diferença do prêmio mesmo depois de ocorrido o sinistro. O segurado deverá informar o segurador, o mais prontamente possível, sobre incidente que possa agravar o risco coberto. O descumprimento desta determinação trazida no art. 769 NCC implica na perda ao direito de receber a indenização TPF

125FPT.

TP

124PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008. TP

125PT LOUREIRO, Carlos André Guedes. Contrato de seguro . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3777>. Acesso em: 27 maio 2008.

61

No caso da ocorrência do sinistro, o segurado fica

obrigado a informá-lo o quanto antes ao segurador, permitindo-o tomar as

providências imediatas para evitar ou minorar as conseqüências. No caso de

omissão, se o segurador provar que oportunamente avisado poderia ter evitado

o sinistro, poderá se exonerar P

TF

126FTP.

3.6 CLÁUSULAS RESTRITIVAS DO CONTRATO DE SEGURO

Analisando-se o Contrato de Seguro sob o enfoque da

responsabilidade civil, nota-se que a intenção do legislador era de preservar o

segurado. Segundo DanielTPF

127FPT:

A importância sócio-econômica dos contratos de seguro nos dias atuais resulta da imensa quantidade de contratações de diversas modalidades, merecendo algumas considerações à questão do risco assumido pelo segurador, principalmente áquela, como por exemplo: a agravação do risco por ato intencional do segurado implica na perda da garantia (art. 768 CC), ou nos casos em que o segurado possui prazo (15 dias/ artigo 769 parágrafo 1º) para comunicar o evento à seguradora, sob pena de perda da garantia (art. 769 CC).

Assim, quando da cobertura dos riscos, aqueles

apresentados anteriormente, o contrato de seguro se baseia nos fundamentos

da mutualidade, cálculo das probabilidades e homogeneidade para que se

defina o valor de seu preço, de seu prêmio e a delimitação dos riscos que

estarão cobertos.

Como exposto anteriormente, tal contrato tem como

partes o segurador e o segurado, sendo que a obrigação do segurado é o

pagamento do prêmio, que ao segurador compete pagar a indenização prevista

ao segurado de seus prejuízos, na hipótese de ocorrer o risco previsto

contratualmente. Formando, como dito, a classificação do contrato em :

bilateral, oneroso, aleatório e de adesão.

TP

126PT PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, p. 306.

TP

127PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

Seguro a luz da Responsabilidade Civil no Código de 2002. Disponível em: HTwww.boletimjuridico.com.brTH. Acesso em 27 de mai. 2008.

62

Segundo DanielTPF

128FPT:

Do conceito extraído no Código Civil, não se pode negar que o segurador assume o risco do negócio, e por assumir os prejuízos que o segurado eventualmente vir a sofrer, devemos buscar o equilíbrio em tais relações, para que se passe em algumas situações a limitar determinadas cláusulas que o segurador tenha prejuízos de grande vulto em prol ao segurado. Com as inovações trazidas pelo Código Civil, refletem ainda uma preocupação do legislador ainda maior: a manutenção do equilíbrio contratual.

Assim, esta vem sendo a tendência geral no Código Civil

com a positivação dos institutos da lesão, do estado de perigo e da revisão do

contrato por excessiva onerosidade, conforme se depreende dos artigos: 156

157 e 478 do Código Civil.

DanielTPF

129FPT descreve que:

Na questão da cobertura do risco, o contrato de seguro se baseia em alguns fundamentos, sejam eles - mutualidade, cálculo das probabilidades e homogeneidade para que se defina o valor de seu preço, de seu prêmio e a delimitação dos riscos que estarão cobertos. Entretanto, sendo o contrato de seguro um contrato de adesão, onde as cláusulas já estão preestabelecidas, caberá à parte contraente aderir a todas as cláusulas, inclusive as limitativas, e estando ele sob a proteção contratual do Código de Proteção do Consumidor,

O conceito de responsabilidade civil está sempre ligado à

idéia de violação do direito de outrem. Neste sentido Silvio de Salvo Venosa TPF

130FPT

ensina:

Em princípio, toda atividade que acarreta um prejuízo gera responsabilidade ou dever de indenizar. Haverá, por vezes, excludentes que impedem a indenização, como veremos. O

TP

128PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

Seguro a luz da Responsabilidade Civil no Código de 2002. Disponível em: HTwww.boletimjuridico.com.brTH. Acesso em 27 de mai. 2008. TP

129PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

Seguro a luz da Responsabilidade Civil no Código de 2002. Disponível em: HTwww.boletimjuridico.com.brTH. Acesso em 27 de mai. 2008. TP

130PT VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, p.14

63

termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deve arcar com as conseqüências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar.

Para GonçalvesTP

5PT:

O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, pois a principal conseqüência da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para seu autor, de reparar o dano, obrigação esta de natureza pessoal, que resolve em perdas e danos. (...) A característica principal da obrigação consiste no direito conferido ao credor de exigir o adimplemento da prestação. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações.

Nota-se que é da responsabilidade civil que decorre da

obrigação de reparar o dano, desde que da prática de um ato omissivo ou

comissivo resulte prejuízo moral ou material a terceiro.

Tal ressarcimento estará condicionado a aplicação da

teoria do risco e da teoria da culpa.

Sobre tais teorias DanielTPF

131FPT leciona:

Na Teoria da Culpa o dever de indenizar estará atrelado à prova da culpa do agente ofensor na prática do ato que gerou o evento lesivo, estamos falando, portanto, de responsabilidade subjetiva. Já na Teoria do Risco, o ofensor do dano assume os riscos do ato praticado, razão pela qual o dever de indenizar independe de sua culpa, daí porque se denomina responsabilidade objetiva, porém, como trataremos, sofrerá (para o caso dos seguros) algumas limitações frente ao risco assumido em tais contratos. Do ponto de vista histórico, o instituto da responsabilidade civil evoluiu muito, haja vista que nos primórdios jurídicos a sua aplicação não estava atrelada à

TP

131PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

Seguro a luz da Responsabilidade Civil no Código de 2002. Disponível em: HTwww.boletimjuridico.com.brTH. Acesso em 27 de mai. 2008.

64

reparação do dano, mas sim a vingança decorrente do ato violador.

A teoria clássica do fundamento da responsabilidade civil

era a culpa do agente, teoria esta também denominada teoria da culpa, ou,

teoria subjetiva onde a culpa era considerada fundamento da responsabilidade

civil.

Arnaldo Rizzardo, sobre o aludido tema dispõe: “Só é

imputável, a título de culpa, aquele que praticou o fato culposo possível de ser

evitado. Não há responsabilidade quando o agente não pretendeu e nem podia

prever, tendo agido com a necessária cautela” TPF

132FPT.

Cavalheri Filho TPF

133FPT assim dispõe:

A idéia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra, ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva TPF

134FPT.

Portanto, pode-se concluir, partindo da concepção

clássica, que a vítima só obterá indenização se provar a culpa do agente. No

entanto, o legislador evoluiu para uma teoria mista, mantendo-se a Teoria da

Culpa no caput do artigo 927 e incluindo a Teoria do Risco no parágrafo único

do mesmo dispositivo, tal interpretação como se verá tem extrema importância

para extrairmos algumas conclusões sobre as cláusulas restritivas e

responsabilidade civil TPF

135FPT.

Nota-se:

TP

132PT RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002, p. 29.

TP

133PT CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p.39.

TP

134PT CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p.39.

TP

135PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

Seguro a luz da Responsabilidade Civil no Código de 2002. Disponível em: HTwww.boletimjuridico.com.brTH. Acesso em 27 de mai. 2008.

65

TArtigo 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único – Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem.

Venosa dispõe que “A teoria da responsabilidade objetiva

não pode, portanto, ser admitida como regra geral, mas somente nos casos

contemplados em lei ou sob o novo aspecto enfocado pelo corrente Código.

Levemos em conta, no entanto, que a responsabilidade civil é matéria viva e

dinâmica na jurisprudência” TPF

136FPT.

Rodrigues TPF

137FPT conceitua Responsabilidade Objetiva:

A responsabilidade objetiva é fundada na teoria do risco, segundo o qual aquele que através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros, deve ser obrigado a repara-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa. A situação é examinada e se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, esta tem direito de ser indenizado por aquele.

Assim, em regra geral a responsabilidade civil preside na

idéia de culpa, contudo, sendo insuficiente a idéia de culpa no sentido de

atender as evoluções advindas do progresso da sociedade, cabe ao legislador

fixar casos em que deverá ocorrer a obrigação de indenizar, independente de

que haja a noção de culpa.

Feitas essas considerações, pode-se verificar a

aplicabilidade da responsabilidade civil contratos de seguro.

Como visto anteriormente, o Contrato de Seguro, é a

espécie contratual em que uma parte denominada segurador assume os riscos

de terceiro, denominado segurado, mediante o pagamento de um prêmio.

TP

136PT VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil, p. 23.

TP

137PT RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil, p. 11.

66

O risco segurado trata dos limites de cobertura do

contrato de seguro, haja vista que o bem jurídico a ser protegido estará

resguardado dentro de limites estabelecidos pelas partes na contratação.

Como visto no segundo capítulo, o Princípio da Boa-Fé é

cláusula geral nos contratos. Diferente não é o Contrato de seguro, pois, a

intenção das partes na hora da contratação deve levar em conta tal princípio.

No que diz respeito a responsabilidade civil, está nasce

na hipótese do dever de indenizar que se impõe ao segurador decorrente do

objeto contratado no contrato de seguro.

DanielTPF

138FPT a respeito do bem jurídico protegido descreve

que:

O legislador disciplinou que a proteção do risco será

excluída e considerado nulo o contrato proveniente de ato dolos, vejamos, na

norma inserida no artigo 762: “Nulo será o contrato para garantia de risco

proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de

um ou de outro”.

Certo é que, o legislador quis resguardar aqui, o segurador da prática deliberada de má-fé por parte do segurado. É que é da natureza do contrato de seguro o elemento aleatório, ou seja, o sinistro pode ou não ocorrer, porém, quando o segurado provoca ou agrava o risco, ele desnatura o contrato ao modificar a natureza aleatória própria da espécie. Apesar de bem regrado, o tema contrato de seguro é muito controvertido no Direito brasileiro, haja vista que nem sempre o segurado presta as informações exatas sobre o bem jurídico protegido, ou quando presta, o segurador desconfia.

Outrossim, à violação do Princípio da Boa-Fé, caso se

comprove má-fé por parte do segurado, será suficiente para a rescisão

contratual e do não pagamento de eventual indenização a que teria direito o

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segurado, como bem disciplinou o legislador, é o que dispõe o art. 768 do

nosso código. “Artigo 768 – O segurado perderá o direito à garantia se agravar

intencionalmente o risco objeto do contrato”.

Como se viu anteriormente, o contrato de seguro tem

como fundamento a transferência do risco de um eventual evento danoso de

uma pessoa à outra.

Desta feita, DanielTPF

139FPT entende que:

A responsabilidade do agente segurador é decorrência da responsabilidade contratada a que o segurado que se afastar dos efeitos pecuniários, porém, quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do seguro o segurador não responderá por outros que venham a ocorrer, daí a responsabilidade é sempre restritiva. Vale dizer ainda que, passou despercebido pelo legislador que a falta de delimitação do conceito de atividade de risco, por certo, ao menos até que a jurisprudência se pacifique, isso sem dúvida constitui um obstáculo para restringir a responsabilidade do segurador.

Menciona-se que responsabilidade da Seguradora pode

ser de natureza contratual ou extracontratual:

Se, por exemplo, o prédio da seguradora incendeia, causando prejuízos aos vizinhos, a responsabilidade será avaliada mediante a verificação de culpa, posto que adstrita ao artigo 186, base da teoria subjetiva, combinado com o artigo 942, que encaminham a decisão para responsabilidade extracontratual subjetiva TPF

140FPT.

Quanto a existência da cláusula limitativa o segurador

poderia vir a se recusar face o risco assumido, é o que descreve Daniel TPF

141FPT:

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139PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

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141PT TDANIEL, Beatriz Castilho. TA interpretação das Cláusulas Restritivas do Contrato de

Seguro a luz da Responsabilidade Civil no Código de 2002. Disponível em: HTwww.boletimjuridico.com.brTH. Acesso em 27 de mai. 2008.

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Partindo do pressuposto de que o segurado tem o dever de se acautelar para que não haja o evento danoso coberto, como decorre do próprio dispositivo legal (artigo 768 CC), por conseqüência lógica a seguradora estará a indenizar os danos futuros causados a riscos previamente determinados (artigo 757 CC). Logo, o segurador assume a responsabilidade sobre os risco assumidos, subtendendo-se que aos riscos excluídos este não tem responsabilidade alguma.

E prossegue:

Daqui depreende-se que a seguradora dará cobertura ao risco contratado, devendo informar a apólice dia e hora exatos do início e do fim da cobertura, a fim de que não haja dúvida e evite discussões acerca de dado evento estar tempestivamente coberto ou não pelo contrato, podendo recusar-se (se caso haja discussão judicial) a recusa quanto a riscos não assumidos em contrato, dada a própria limitação da autonomia da vontade mesmo em se tratando de contratos de adesão, como no caso do seguro.

Neste ponto de vista a recusa justificada pela seguradora

será justa porque sua responsabilidade se encontra limitada pelo objeto

contratado.

O legislador é omisso com relação às atividades

consideradas como de risco o que constitui um obstáculo para restringir a

responsabilidade do segurador.

Porém, segundo DanielTPF

142FPT:

Face a regra de interpretação das cláusulas restritivas do contrato de seguro, podemos concluir que dado o desenvolvimento da idéia de sociabilização dos contratos, aqui depreendida da função social dos contratos e boa fé objetiva, o risco poderia vir a ser repartido por ambas as partes, em razão a própria natureza da atividade securitária.

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As conceituações doutrinárias apresentadas

anteriormente acerca dos contratos em geral, poderiam resolver a questão

quanto à repartição do risco entre segurado e segurador, pois sendo o contrato

de seguro um contrato de adesão o segurado, tem ou não a liberdade de

contratar o segurador.

Assim, face a liberdade de contratar, o risco constitui um

elemento principal do contrato de seguro, que ficará condicionado a evento

futuro e incerto, capaz de produzir uma diminuição patrimonial, um dano ou

prejuízo financeiro.

Assim, segundo Daniel TPF

143FPT, “por trazer conseqüências

patrimoniais a ambas as partes, como por exemplo, a ocorrência de um

incêndio, a inundação, o roubo, o acidente com veículos, o naufrágio, a morte,

a responsabilidade civil do segurador poderá encontrar uma limitação ora

decorrente da própria lei, face a mudança do risco durante a vigência do

contrato”.

No que tange às mudanças durante a vigência do contrato

a tese se reforça pelo fato do contrato ser de garantia um contrato de fazer, ou

qualquer outro que tivesse como característica a obrigação vinculada de

realizar. Por outro lado, argumenta DanielTPF

144FPT,:

Não se pode esquecer que a vistoria compõe exigência necessária para o estudo do risco e posterior aceitação do seguro, logo, o questionário de avaliação de riscos é um formulário que tem por objetivo a personalização dos riscos, é dever intrínseco do segurado respondê-lo com a mais estrita boa-fé, sob pena de perda do direito, bem como dos prêmios já vencidos, é o que alude o artigo 766CC. Caso não as tenha informado corretamente, o segurador estará isento de qualquer responsabilidade perante a ocorrência de danos oriundos de informações das quais o segurado silenciou em formulário.

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As cláusulas limitativas no contrato de seguro têm gerado

bastante controvérsias, de um lado, o CC autorizando certas cláusulas de

perda do direito da indenização, doutro, a lei consumerista requerendo maior

atenção a tais cláusulas, porém, a questão encontra pacificação a medida que

o segurador tenha observado as regras do CDC, como desde o início

afirmamos tal tese.

DanielTPF

145FPT acredita que:

Em se tratando de seguro, tal cláusula deve estar assentada não somente na proposta de adesão ao seguro, bem como na apólice ou qualquer outro documento legalmente aceito analogamente a tal (CC, art. 758), como citamos no caso do questionário da avaliação dos riscos. No entanto, para arrematar a questão principal deste trabalho, salientamos é próprio do contrato de seguro a imposição de cláusulas limitativas, com vistas a limitar a responsabilidade sobre os riscos assumidos, corroborando com o princípio milenar de que ninguém está obrigado a assumir obrigação maior do que deseja.

No que tange a legalidade da inserção de cláusula

limitativa e a abusividade da mesma, ou seja, se a cláusula impõe apenas

limitações ou se já se caracteriza como abusiva caso em que serão nulas de

pleno direito.

DanielTPF

146FPT define como cláusula abusiva:

Àquela na qual à parte redatora do contrato, por vezes utilizando-se de sua posição algumas vezes superiora, impõe condições deveras adversas, de forma ficar o consumidor totalmente desprovido da equidade contratual e da lealdade que merece de quem contrata, em especial num contrato de seguro. Contrariamente a cláusula somente limitativa, com o

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fim específico de delimitar a álea do segurador, não há de ser declarada nula, uma vez que o segurador tenha devidamente observado a norma consumerista, ou seja, traduzida toda situação ou estipulação que implicar ou cercear qualquer limitação de direito do consumidor, bem como a que indicar desvantagem ao aderente, deverá estar obrigatoriamente exposta, de forma mais clara, no contrato de adesão. Insta salientar também que as cláusulas limitativas (ou restritivas) devem ser incluídas na apólice ou em outro documento qualquer e entregue ao segurado, com total clareza e melhor transparência possível.

O contrato de seguro possui diversas cláusulas limitativas

que ocorre em decorrência de que o contrato de seguro se alicerça nos

fundamentos da à mutualidade, cálculo das probabilidades e homogeneidade

para definir o valor de seu preço. E mesmo com a chegada do Código de

Defesa do Consumidor, as cláusulas limitativas do risco não ficaram proibidas,

pois existe plena harmonia com o Código Civil, em seu artigo 1.460, que diz:

“que quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do seguro, o segurador

não responderá por outros que venham a ocorrer”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do presente trabalho confirmou-se a primeira

hipótese de pesquisa, ao ponto que se demonstrou que o instituto da

responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, pois a principal

conseqüência da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para seu

autor, de reparar o dano, obrigação esta de natureza pessoal, que resolve em

perdas e danos. A característica principal da obrigação consiste no direito

conferido ao credor de exigir o adimplemento da prestação. É o patrimônio do

devedor que responde por suas obrigações.

Igualmente se confirma à segunda hipótese, pois

demonstração da importância sócio-econômica dos contratos de seguro nos

dias atuais resulta da imensa quantidade de contratações de diversas

modalidades, merecendo algumas considerações à questão do risco assumido

pelo segurador, principalmente aquele, como por exemplo: a agravação do

risco por ato intencional do segurado implica na perda da garantia (art. 768

CC), ou nos casos em que o segurado possui prazo (15 dias/ artigo 769

parágrafo 1º) para comunicar o evento à seguradora, sob pena de perda da

garantia (art. 769 CC).

Com relação à terceira hipótese de pesquisa, nota-se que

em face da liberdade de contratar, o risco constitui um elemento principal do

contrato de seguro, que ficará condicionado a evento futuro e incerto, capaz de

por trazer conseqüências patrimoniais a ambas as partes, como por exemplo, a

ocorrência de um incêndio, a inundação, o roubo, o acidente com veículos, o

naufrágio, a morte, a responsabilidade civil do segurador poderá encontrar uma

limitação ora decorrente da própria lei, face a mudança do risco durante a

vigência do contrato. Na questão da cobertura do risco, o contrato de seguro

se baseia em alguns fundamentos, sejam eles - mutualidade, cálculo das

probabilidades e homogeneidade para que se defina o valor de seu preço, de

seu prêmio e a delimitação dos riscos que estarão cobertos. Entretanto, sendo

o contrato de seguro um contrato de adesão, onde as cláusulas já estão

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preestabelecidas, caberá à parte contraente aderir a todas as cláusulas,

inclusive as limitativas, e estando ele sob a proteção contratual do Código de

Proteção do Consumidor.

Conclui-se que o contrato de seguro possui diversas

cláusulas limitativas que ocorre em decorrência de que o contrato de seguro se

alicerça nos fundamentos da mutualidade, cálculo das probabilidades e

homogeneidade para definir o valor de seu preço. E mesmo com a chegada do

Código de Defesa do Consumidor, as cláusulas limitativas do risco não ficaram

proibidas, pois existe plena harmonia com o Código Civil, em seu artigo 1.460,

que diz que quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do seguro, o

segurador não responderá por outros que venham a ocorrer.

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