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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ MICHEL FEUSER PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA À LUZ DAS AÇÕES DE REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO Biguaçu 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

MICHEL FEUSER

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA À LUZ DAS AÇÕES DE REVISÃO DE

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO

Biguaçu2010

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MICHEL FEUSER

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA À LUZ DAS AÇÕES DE REVISÃO DE

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO

Monografia apresentada à Universidade do Vale doItajaí – UNIVALI, como requisito parcial aobtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. Márcio Roberto Paulo

Biguaçu2010

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MICHEL FEUSER

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA À LUZ DAS AÇÕES DE REVISÃO DEBENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e aprovada pelo

Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Previdenciário: Benefícios Previdenciários: Prescrição e

Decadência

Biguaçu/SC, 08 de dezembro de 2010.

Professor MSc. Márcio Roberto PauloUNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientador

Professor MSc. Milard Zhaf Alves LehmkuhlUNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

Professora MSc. Tânia Margarete de Souza TrajanoUNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

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Dedico este trabalho, aos meus pais, JoãoJaime Feuser e Ana Antonio Feuser, exemplos devida, sem os quais, certamente não teria aprendidoos valores, princípios e educação por mimadquiridos.

À minha amada irmã, Michelle Feuser,companheira nos bons e maus momentos, semprecompreensiva na minha ausência devido aos estudos.

Aos demais familiares que sempre estiveramao meu lado.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS, amigo e conselheiro nas horas mais difíceis,

sem esquecer-me dos familiares e amigos amados.

A todos meus amigos não mencionados diretamente, mas que, de forma igual,

registro minha eterna gratidão pelo incentivo.

Aos meus amigos de turma e da faculdade, com os quais compartilhei bons

momentos de minha vida, pela grande amizade.

Ao Professor e Orientador Márcio Roberto Paulo, exemplo de profissionalismo,

pelo qual tenho enorme gratidão pelos ensinamentos por si ministrados, pela dedicação em

orientar-me do início até a conclusão deste trabalho, onde, por muitas vezes, dedicou seu

precioso tempo e ensino a fim de atender-me.

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"O bom juiz não deve ser jovem, mas ancião,alguém que aprendeu tarde o que é a injustiça,sem tê-la sentido como experiência pessoal eínsita na sua alma; mas por tê-la estudado,como uma qualidade alheia, nas almasalheias."

Platão

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a

coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu/SC, 08 de dezembro de 2010.

Michel Feuser

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RESUMO

O objeto do presente trabalho é demonstrar a aplicabilidade do instituto daprescrição e decadência à luz das ações de revisão de benefício previdenciário. No entanto,cabe considerar, inicialmente, que a vida humana está repleta de surpresas, condições econtratempos durante o período em que a população se destina a construir uma vida estável,tanto na parte financeira, quanto na expectativa do futuro, tornando imprescindível a análise ea busca pela justiça, onde as pessoas empreendem alcançar segurança e bem-estar social. Comefeito, o Estado Democrático de Direito preocupou-se com o futuro dos trabalhadores, hajavista em um determinado tempo, por motivos diversos, seja por anos em labor ou até mesmopor falta de condições físicas e mentais, necessitar garantir seu sustento, fazendo-se surgir aSeguridade Social no Brasil. É exatamente nesse sentido, que serão analisados a evoluçãohistórica da Seguridade Social, bem como os princípios constitucionais norteadores que oregem, prescritos no art. 194 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.Sucessivamente, serão analisados os tipos de benefícios e serviços previdenciários disponíveisao segurado e filiado do Regime Geral da Previdência Social, pois o cidadão, contribuinte esegurado da Previdência Social, ao filiar-se, seja por ser contribuinte individual, ou porvínculo empregatício com registro na CTPS, estabelece perspectivas futuras com o intuito deapós anos contribuindo para um fundo de aposentadoria, ou até mesmo, após sobrevier doençapatológica capaz de conceder aposentadoria, poder usufruir do direito investido. Todavia,verificar-se-á que com o passar dos tempos, e diante da enorme defasagem existente no paísfrente às aplicações de diversos índices de reajustes, há a necessidade de preservar aestabilidade adquirida à época da concessão da aposentadoria, ou até mesmo reaver e ou reverdireitos não aplicados. É dentro desse contexto que será demonstrado a importância dosinstitutos da prescrição e decadência, tornando-se relevante a verificação da aplicabilidadedos institutos com o objetivo de preservar direitos, com o fito de garantir a segurança jurídicae a operacionalidade da justiça.

Palavras-chave: Benefícios previdenciários. Revisão de benefícios. Prescrição. Decadência.

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ABSTRACT

The object of the present work is to demonstrate the applicability of the institute of theprescription and decadence to the light of the actions of revision of benefit pension. However,it fits to consider, initially, that human life is replete of surprises, conditions and setbacksduring the period in that the population is destined to build a stable life, so much in thefinancial part, as in the expectation of the future, turning indispensable the analysis and thesearch for the justice, where the people undertake to reach safety and social well-being. Witheffect, the Democratic State of Right worried about the workers' future, have seen in a certaintime, for several reasons, be per years in labor or even for lack of physical and mentalconditions, to need to guarantee your support, making her Social Security to appear in Brazil.It is exactly in that sense, that they will be analyzed the historical evolution of Social Security,as well as the beginnings constitutional guiding that govern him/it, prescribed in the art. 194of the Constitution of the Republic Federative of Brazil 1988. Successively, the types ofbenefits and services available pensions will be analyzed to the held and adopted of theGeneral Social Security Scheme, because the citizen, taxpayer and held of Social welfare,when joining, be for being contributory individual, or for entail employment with registrationin CTPS, it establishes future perspectives with the intention of after years contributing to aretirement bottom, or even, after it befalls pathological disease capable to grant retirement, tocan enjoy of the invested right. Though, it will be verified that with passing of the times, andbefore the enormous existent discrepancy in the country front to the applications of severalindexes of readjustments, there is the need to preserve the acquired stability to the time of theconcession of the retirement, or even recovering and or to review rights not applied. It isinside of that context that will be demonstrated the importance of the institutes of theprescription and decadence, becoming important the verification of the applicability of theinstitutes with the objective of preserving rights, with the aim of guaranteeing the juridicalsafety and the operability of the justice.

Keywords: Benefits pensions. Revision of benefits. Prescription. Decadence.

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ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

ADCT – Atos das Disposições Constitucionais Transitórias

ART – Artigo

CAP – Coordenadoria de Assuntos Parlamentares

CAPs – Caixa de Aposentadorias e Pensões

CEPS – Conselhos Estaduais de Previdência Social

CINTER – Coordenadoria de Assuntos Internacionais

CLPS – Consolidação das Leis da Previdência Social

CMPS – Conselhos Municipais de Previdência Social

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CNPS – Conselho Nacional de Previdência Social

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CONASP – Conselho Consultivo da Administração de Saúde Previdenciária

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

DATAPREV – Dados da Previdência e Assistência Social

DIB – Data de Início do Benefício

FAPI – Fundo de Aposentadoria Programada Individual

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência Social

IAPI – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários

IAPM – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

INSS – Instituto Nacional de Seguro Social

IPC – Instituto de Previdência dos Congressistas

IUJEF – Incidente de Uniformização

JEFs – Juizados Especiais Federais

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social

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MP – Medida Provisória

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

MPS – Ministério da Previdência Social

PASEP – Programa de Formação de Patrimônio do Servidor Público

PIS – Programa de Integração Social

PU – Pedido de Uniformização

RBPS – Regulamento de Benefício da Previdência Social

RCPS – Regulamento de Custeio da Previdência Social

RE-AGR – Agravo Regimental em Recurso Extraordinário

SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte

SEST – Serviço Social do Transporte

SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TRU – Turma Regional de Uniformização

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14

1 SEGURIDADE SOCIAL ......................................................................................... 16

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL.................................................................... 16

1.1.1 Constituição de 1824............................................................................................ 16

1.1.2 Constituição de 1891............................................................................................ 17

1.1.3 Constituição de 1934............................................................................................ 19

1.1.4 Constituição de 1937............................................................................................ 19

1.1.5 Constituição de 1946 ..................................................................................... 21

1.1.6 Constituição de 1967............................................................................................ 22

1.1.7 Emenda Constitucional n° 1, de 1969.................................................................. 23

1.1.8 Constituição de 1988............................................................................................ 27

1.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL ............................ 31

1.2.1 Universalidade da cobertura e do atendimento .................................................. 32

1.2.2 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas erurais.................................................................................................................... 33

1.2.3 Seletividades e distributividade na prestação dos benefícios e serviços............. 34

1.2.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios ............................................................. 35

1.2.5 Equidade na forma de participação no custeio................................................... 36

1.2.6 Diversidade da base de financiamento ................................................................ 37

1.2.7 Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestãoquadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dosaposentados e do governo nos órgãos colegiados ................................................... 37

1.2.8 Cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidosmonetariamente .................................................................................................... 39

1.2.9 Valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de-contribuição oudo rendimento do trabalhado do segurado não inferior ao do salário mínimo ......... 39

1.2.10 Previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional. 40

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2 BENEFÍCIOS E SERVIÇOS PREVIDENCIÁRIOS .................................................... 42

2.1 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS .......................................................................... 42

2.1.1 Da aposentadoria por invalidez........................................................................... 42

2.1.2 Da aposentadoria por idade........................................................................... 45

2.1.3 Da aposentadoria por tempo de contribuição..................................................... 48

2.1.4 Da aposentadoria especial ................................................................................... 50

2.1.5 Do auxílio-doença ................................................................................................ 53

2.1.6 Do salário-família ................................................................................................ 55

2.1.7 Do salário-maternidade ....................................................................................... 56

2.1.8 Da pensão por morte............................................................................................ 57

2.1.9 Do auxílio-reclusão .............................................................................................. 58

2.1.10 Do auxílio-acidente ............................................................................................ 60

2.1.11 Do seguro-desemprego....................................................................................... 60

2.2 SERVIÇOS PREVIDENCIÁRIOS ........................................................................ 62

2.2.1 Do serviço social................................................................................................... 62

2.2.2 Da habilitação e da reabilitação profissional ...................................................... 63

3 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ............................ 65

3.1 PRESCRIÇÃO NO DIREITO CIVIL.......................................................................... 65

3.2 DECADÊNCIA NO DIREITO CIVIL......................................................................... 71

3.3 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA À LUZ DAS AÇÕES DE REVISÃO DEBENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO .................................................................................... 74

3.3.1 Prescrição ............................................................................................................. 74

3.3.2 Decadência ........................................................................................................... 78

CONCLUSÃO.................................................................................................................... 89

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 92

ANEXO A – Sentença dos Autos n. 2009.72.66.002858-8, da Subseção de Laguna ........ 98

ANEXO B – Voto do Recurso Inominado dos Autos n. 2009.72.66.002858-8, da Subseçãode Laguna......................................................................................................................... 101

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INTRODUÇÃO

A investigação almejada neste trabalho acadêmico de conclusão de curso tem

como objeto abordar num estudo geral e introdutório, as questões complexas que envolvem a

Seguridade Social, especificando a aplicação da prescrição e decadência nas ações de revisão

de benefícios previdenciários com o fito de preservar a segurança e o bem-estar social do

segurado aposentado no âmbito do direito brasileiro.

Nesse sentido, discute-se que esses institutos passaram por diversas modificações,

sendo essas, legais, doutrinárias e jurisprudenciais, além do mais, promoveu-se uma lacuna

em sua norma jurídica quanto à aplicabilidade do instituto da decadência, no que tange as

ações de revisão do ato de concessão de benefícios previdenciários, garantindo os direitos

assegurados aos aposentados e segurados do Instituto Nacional do Seguro Social,

estabelecidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e pelo art. 103, da

Lei n. 8.213/1991.

Ademais, a presente pesquisa tem por objetivo adentrar em um tema atual e

relevante, a fim de obter respostas para uma questão de Direito Previdenciário, que tem suas

implicações diretas para a vida do segurado filiado a Previdência Social.

Quanto à metodologia empregada para atingir tais objetivos, registra-se que esta

será de forma exploratória, buscando investigar decisões judiciais dos Tribunais acerca do

tema, e verificar as possibilidades e argumentações advindas de tais correntes defendidas no

Direito brasileiro.

Para a realização da pesquisa, utilizou-se do método dedutivo, onde o estudo

referente à aplicabilidade dos institutos, caminha dos planos mais gerais, indo para as

constatações mais particulares, com base no método de procedimento monográfico.

Quanto aos procedimentos técnicos a pesquisa abrangerá a técnica de

documentação indireta, através da pesquisa documental, que envolverá as Leis n. 8.213/1991,

n. 9.528/1997, n. 9.711/98 e n. 10.839/04, que regulamentaram a redação do art. 103, bem

como jurisprudências e pesquisa bibliográfica em livros, artigos, jornais e revistas que versem

sobre os elementos que demonstram a aplicação da prescrição e decadência nas ações de

revisão de benefícios previdenciários.

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Para tanto, principiar-se-á, no primeiro capítulo, sobre a Seguridade Social,

demonstrando sua evolução histórica no Brasil, sob seu aspecto protetivo dos direitos

humanos e da dignidade da pessoa, trazendo as principais criações e transformações acerca do

Instituto. Ademais, torna-se necessária fazer ver o conceito dos princípios constitucionais que

regem a Seguridade Social, os quais devem nortear toda a interpretação das normas

infraconstitucionais.

No segundo capítulo, tratar-se-á de caracterizar especialmente os benefícios e

serviços previdenciários – prestações devidas aos segurados e dependentes filiados ao Regime

Geral de Previdência Social –, sendo necessária uma abordagem capaz de verificar a qual

segurado é devido cada tipo de benefício e serviço, trazendo-se a lume seus conceitos, seus

requisitos e as devidas situações para a concessão ou cessação do benefício, entre outras

peculiaridades.

E, por fim, no terceiro capítulo, pretender-se-á especificamente demonstrar a

aplicabilidade do instituto da prescrição e decadência à luz das ações de revisão de benefícios

previdenciários, identificando, inicialmente, os referidos institutos com base no Direito Civil

Brasileiro, verificando-se, consequentemente, por meio de tópicos jurisprudenciais os

diversos entendimentos sobre os referidos institutos.

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1 SEGURIDADE SOCIAL

Neste capítulo abordaremos, inicialmente, a evolução histórica da Seguridade

Social no Brasil, trazendo à baila suas principais criações, transformações, bem como o

surgimento de determinados Institutos. Sucessivamente, demonstraremos os Princípios

Constitucionais que regem a Seguridade Social, àqueles estabelecidos no art. 194, parágrafo

único da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, bem como no parágrafo

único do art. 1º do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999, no art. 2º da Lei n. 8.213 e no

parágrafo único do art. 1°, da Lei n. 8.212, ambos de 24 de julho de 1991.

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL

Com o fito de dar organização ao presente estudo, dividir-se-á a evolução

histórica da Seguridade Social no Brasil de acordo com cada Constituição vigente na época.

No entanto, a primeira criação no âmbito do Direito Previdenciário – o Decreto de

1° de outubro de 1821, de Dom Pedro de Alcântara, que concedera a aposentadoria aos

mestres e professores, após 30 anos de serviço – fora estabelecido antes da criação da

primeira Constituição do Brasil.1

1.1.1 Constituição de 1824

Durante a vigência da Constituição de 1824, foi criado o Decreto n. 9.912-A, de

26 de março de 1888, que regulamentou o direito à aposentadoria dos empregados dos

Correios, dos quais os requisitos para alcançar a aposentadoria, era ter 30 (trinta) anos de

serviço efetivo ou ter idade mínima de 60 (sessenta) anos. No mesmo ano através da Lei n.

1 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 6.

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3.397, de 24 de novembro – período do Império – foi criada uma “Caixa de Socorro” para os

funcionários das estradas de ferro estatais.2

No ano seguinte, foi criado o Decreto n. 10.269, de 20 de julho de 1889, onde

estabelecera um fundo de pensões para os empregados das Oficinas da Imprensa Régia.3

Em 1890, com a criação do Decreto n. 221, de 26 de fevereiro, ficou estabelecida

a aposentadoria para os trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Brasil, benefício que

depois foi aplicado a todos os ferroviários do Estado, através do Decreto n. 565, de 12 de

julho do mesmo ano. Ainda em 1890, através do Decreto n. 942-A, de 31 de outubro, criou-se

o Montepio Obrigatório dos Empregados do Ministério da Fazenda.4

1.1.2 Constituição de 1891

Durante a vigência da Constituição de 1891, foi criada a Lei n. 217, de 29 de

novembro de 1892, onde ficou determinada a aposentadoria por invalidez e a pensão por

morte dos operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro.5

Em 1911, através do Decreto n. 9.284, de 30 de dezembro, originou-se a Caixa de

Pensões dos Operários da Casa da Moeda. Quem também obteve a sua Caixa de Pensões

foram os trabalhadores das Capatazias da Alfândega do Rio de Janeiro, com a criação do

Decreto n. 9.517, de 17 de abril de 1912.6

Em 15 de janeiro de 1919, com o advento a Lei n. 3.724, tornou-se compulsório o

seguro contra os acidentes do trabalho, bem como o pagamento de indenização pelos

empregadores em favor dos empregados, devido ao acidente de trabalho sofrido.7

2 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 6.3 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 7.4 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 7.5 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 7.6 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-A.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.7 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direitoprevidenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 7.

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18

No entanto, o Decreto n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, mais conhecido como

Lei Eloy Chaves, foi o marco da instituição da Previdência Social no Brasil, criando Caixas

de Aposentadorias e Pensões para os trabalhadores de cada empresa ferroviária, sendo estes

contemplados com diversos tipos de benefícios: aposentadorias, pensões por morte,

assistência médica, etc.8 No mesmo ano, foi criado o Conselho Nacional do Trabalho com a

finalidade de decidir questões relativas à Previdência Social (Decreto n. 16.037, de 30 de abril

de 1923).9

Em 1926, através da Lei n. 5.109, de 20 de dezembro, foram estendidos aos

trabalhadores portuários e marítimos os benefícios da Lei Eloy Chaves e também

disponibilizados os mesmos benefícios aos empregados dos serviços telegráficos e

radiotelegráficos, com a criação da Lei n. 5.485, de 30 de julho de 1928.10

Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, através do

Decreto n. 19.433, de 26 de novembro, com o escopo de orientar e supervisionar a

Previdência Social, inclusive como órgão de recurso das decisões das Caixas de

Aposentadorias e Pensões.11 Ainda em 1930, com o advento do Decreto n. 19.497, de 17 de

dezembro, foi criada a Caixa de Aposentadorias e Pensões (CAPs) para os trabalhadores nos

serviços de força, luz e bondes.12

Com a criação do Decreto n. 20.465, de 1º de outubro de 1931, foram incluídos

aos benefícios da Lei Eloy Chaves os trabalhadores dos demais serviços públicos concedidos

ou explorados pelo Poder Público (telégrafos, água, portos, luz, etc.). No ano seguinte,

também foram incluídos aos mesmos benefícios os empregados de empresas de mineração.13

Em 1933, com a origem do Decreto n. 22.872, de 29 de junho, foi criado o

Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos (IAPM), sendo assim a primeira

8 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direitoprevidenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 7-8.9 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-A.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.10 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 8.11 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-A.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 8.13 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-A.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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instituição brasileira de previdência social de âmbito nacional, organizada por categorias

profissionais e não por empresas.14

1.1.3 Constituição de 1934

Durante a vigência da Constituição de 1934, o Conselho Nacional do Trabalho,

através da Portaria n. 32, de 19 de maio de 1934, criou a Caixa de Aposentadoria e Pensões

dos Aeroviários. Também foram criados no mesmo ano: o Instituto de Aposentadoria e

Pensões dos Comerciários (Decreto n. 24.272, de 21 de maio), a Caixa de Aposentadoria e

Pensões dos Trabalhadores em Trapiches e Armazéns (Decreto n. 24.274, de 21 de maio), a

Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Operários Estivadores (Decreto n. 24.275, de 21 de

maio) e o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (Decreto n. 24.615, de 9 de

julho). Ainda em 1934, foi modificada a legislação de acidentes do trabalho (Decreto n°

24.637, de 10 de julho) e os empregados de empresas de transportes aéreos começaram a

dispor dos benefícios da Lei Eloy Chaves.15

Após o começo da criação de Institutos de Aposentadoria e Pensões, foi criado em

1936 o Instituto dos Industriários (IAPI), através da Lei n. 367, de 31 de dezembro, onde estes

(trabalhadores) eram segurados obrigatórios.16

1.1.4 Constituição de 1937

Durante a vigência da Constituição de 1937, em 1938, mais dois Institutos eram

criados. O primeiro, em 23 de fevereiro, através do Decreto-Lei n. 288, foi criado o Instituto

de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado; e o segundo, em 7 de outubro, com o

14 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 8-9.15 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.16 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 9.

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advento do Decreto-Lei n. 775, foi criado o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos

Empregados em Transportes e Cargas.17

Em 1939, ficou estabelecido o começo da vinculação da categoria profissional,

filiando assim os condutores de veículos ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos

Empregados em Transportes e Cargas. Além da Caixa de Aposentadoria e Pensões, os

Operários Estivadores tiveram também a criação de seu Instituto de Aposentadoria e Pensões

(Decreto-Lei n. 1.355, de 19 de julho de 1939). Ainda em 1939, foi criado o Serviço Central

de Alimentação aos Industriários (Decreto-Lei n. 1.469, de 1° de agosto); e o Conselho

Nacional do Trabalho criou sua Câmara e seu Departamento de Previdência Social.18

No ano seguinte ficou estabelecido para os comerciantes um regime misto de

filiação ao sistema previdenciário (Decreto-Lei n. 2.122, de 9 de abril de 1940); e a criação de

um Serviço de Alimentação da Previdência Social (Decreto-Lei n. 2.478, de 5 de agosto de

1940).19

Em 1943, com o advento do Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio, foi aprovada a

Consolidação das Leis do Trabalho, promovida pelo Ministério do Trabalho, Indústria e

Comércio, que também organizou o primeiro projeto de Consolidação das Leis de Previdência

Social.20

Em 1944, através da Portaria n. 58, de 22 de setembro, houve a criação do Serviço

de Assistência Domiciliar e de Urgência; e a Legislação Trabalhista obteve uma reformulação

quanto aos seguros por acidentes do trabalho (Decreto-Lei n. 7.036, de 10 de novembro de

1944).21

Já em 1945, foi criado o Instituto de Serviços Sociais do Brasil, ou seja, um único

tipo de instituição de previdência social, com o escopo de uniformizar as normas a respeito

17 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 10.18 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.19 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.20 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.21 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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dos benefícios (Decreto-Lei n. 7.526, de 7 de maio).22 No mesmo ano, os Operários

Estivadores foram incluídos aos mesmos benefícios dos Empregados em Transportes e Cargas

(Decreto-Lei n. 7.720, de 9 de julho), e ficou estabelecido que as Aposentadorias e Pensões

não poderiam ser a baixo de 70% e 35% do salário mínimo.23

1.1.5 Constituição de 1946

Durante a vigência da Constituição de 1946, nesse mesmo ano, originaram-se: o

Conselho Superior da Previdência Social (Decreto-Lei n. 8.738, de 19 de janeiro) e o

Departamento Nacional de Previdência Social (Decreto-Lei n. 8.742, de 19 de janeiro). 24

Apenas em 1949, através do Decreto-Lei n. 26.778, de 14 de junho, o Poder

Executivo veio padronizar as Caixas de Aposentadorias e Pensões, eis que cada uma

(bancário, industriário, operários estivadores, etc.) tinha sua regulamentação própria.25

No ano seguinte ocorreu a regulamentação geral sobre os Institutos de

Aposentadorias e Pensões (Decreto-Lei n. 35.448, de 1° de maio de 1950).26

Destarte, em 1953 foi reconhecida a categoria de trabalhador autônomo, podendo

qualquer profissional liberal inscrever-se na condição de segurado, bem como foi aprovado o

novo Regulamento do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (Decreto-Lei n.

32.667, de 1° de maio). E ainda, no mesmo ano, todas as Caixas de Aposentadorias e Pensões

foram unificadas, fazendo assim uma Caixa Única.27

Somente em 1960, ocorreu a unificação da legislação previdenciária, com a

criação da Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS (Lei n. 3.807, de 26 de agosto), lei esta

22 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 62.23 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.24 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.25 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 63.26 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-B.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.27 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 11.

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a trazer inúmeros benefícios, tais como: auxílio-natalidade, auxílio-reclusão, auxílio-funeral,

entre outros. No mesmo ano foi aprovado o Regulamento Geral da Previdência Social

(Decreto n. 48.959-A, de 19 de setembro), e estabelecido que o tempo de serviço prestado à

União, às autarquias e às sociedades de economia mista, teria contagem equivalente para o

resultado da aposentadoria.28

Em 1963, com a finalidade de beneficiar os trabalhadores rurais, foi criado o

Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, através da Lei n. 4.214, de 2 de março.29

Em 1966, ocorreram três novas mudanças na Previdência Social: a criação do

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS (Lei n. 5.107, de 13 de setembro), a

modificação de alguns dispositivos da Lei Orgânica da Previdência Social (Decreto-Lei n. 66,

de 21 de novembro) e a concentração dos Institutos de Aposentadorias e Pensões em um só

instituto, o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS (Decreto-Lei n. 72, de 21 de

novembro), tendo vigência apenas em janeiro de 1967.30

1.1.6 Constituição de 1967

Durante a vigência da Constituição de 1967, era integrado à Previdência Social o

seguro sobre acidentes do trabalho (Lei n. 5.316, de 14 de setembro de 1967), deixando assim

de ser uma entidade privada. E com o advento do Decreto-Lei n. 61.784, de 28 de novembro

de 1967, o seguro sobre acidentes de trabalho obteve uma nova regulamentação.31

Em 1968, através do Decreto-Lei n. 367, de 19 de dezembro, os funcionários

públicos civis da União e das autarquias, começaram a ter seu tempo de serviço contado, para

quem sabe um dia ter a concessão de uma aposentadoria.32

28 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 11.29 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 9.30 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 12.31 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-C.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.32 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 12.

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1.1.7 Emenda Constitucional n. 1 de 1969

Durante a vigência da Emenda Constitucional n. 1, de 1969, os trabalhadores

rurais, principalmente os do setor agrário da agroindústria canavieira, foram incorporados à

Previdência Social através de um plano básico (Decreto-Lei n. 564, de 1° de maio de 1969),

sendo que este plano, no mesmo ano, foi estendido a outros vários trabalhadores do ramo

rural.33 Ainda em 1969, houve alterações na Lei Orgânica da Previdência Social (Decreto-Lei

n. 710, de 28 de julho e Decreto-Lei n. 795, de 27 de agosto) e a aprovação de um

regulamento para a Previdência Social Rural.34

No ano de 1970, foram criados através de leis complementares, dois tipos de

programas: o Programa de Integração Social – PIS (Lei n. 7, de 7 de setembro) e o Programa

de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Lei n. 8, de 3 de dezembro).35

Em 1971, através da Lei Complementar n. 11, de 25 de maio, o Plano Básico de

Previdência Social Rural foi transformado em Programa de Assistência ao Trabalhador Rural,

conhecido como PRÓ-RURAL, onde o trabalhador não precisava contribuir para ter o seu

direito reconhecido (aposentadoria, pensão, auxílio).36

Em 1972, houve a primeira regulamentação no programa aos trabalhadores rurais,

o PRÓ-RURAL (Decreto n. 69.919, de 11 de janeiro); e os empregados domésticos foram

incluídos à Previdência Social, tornando-se assim segurados obrigatórios.37

Em 1973, a Lei Orgânica da Previdência Social e o Programa de Assistência ao

Trabalhador Rural, voltaram a ser modificadas, com o advento da Lei n. 5.890, de 8 de junho

e Lei Complementar n. 16, de 30 de outubro, respectivamente. No mesmo ano, os jogadores

33 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 13.34 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-C.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.35 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-C.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.36 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 13.37 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 13.

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de futebol profissional, foram beneficiados com a criação do salário-de-benefício (Lei n.

5.939, de 8 de junho).38

Nos anos de 1974 a 1979, ocorreram inúmeras modificações, alterações e

criações no âmbito previdenciário. Em 74, foi criado o Ministério da Previdência e

Assistência Social, com sua estrutura básica; foi criado o Conselho de Desenvolvimento

Social, órgão este destinado a assessorar o Presidente da República; e também foi criado o

Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social.39

Ainda em 1974, foi instituído um abono previdenciário às pessoas maiores de 70

(setenta) anos ou inválidos, sem ao menos contribuir; benefício este conhecido como renda

mensal vitalícia (Lei n. 6.179, de 11 de dezembro). Incluiu-se também ao sistema

previdenciário o benefício salário-maternidade (Lei n. 6.136, de 7 de novembro); e os

trabalhadores rurais foram incluídos às pessoas com seguro sobre os acidentes do trabalho

(Lei n. 6.195, de 19 de janeiro [sic]).40

Em 1975, os benefícios do Programa de Assistência ao Trabalhador Rural foram

estendidos aos garimpeiros; o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social obteve uma nova

regulamentação; o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação de

Patrimônio do Servidor Público foram associados, criando assim o Fundo de Participação –

PIS/PASEP.41

No mesmo ano, a Lei n. 6.226, de 14 de julho, veio ressalvar o tempo recíproco

do serviço público federal e de atividade privada, como tempos para concessão de

aposentadoria; a Lei n. 6.243, de 24 de setembro, veio conceder o benefício pecúlio a

aposentados em atividade ou àqueles que após completar 60 (sessenta) anos ingressaram na

Previdência Social.42

No mais, a Lei n. 6.260, de 6 de novembro, trouxe aos empregados rurais, bem

como seus dependentes, diversos tipos de benefícios ou serviços previdenciários; e a Lei n.

38 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 14.39 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 14.41 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.42 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 14.

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6.269, de 24 de novembro, criou ao jogador de futebol, um sistema de assistência

complementar.43

Em 1976, com a aprovação do Decreto n. 77.077, de 24 de janeiro, foi

reformulado a Consolidação das Leis da Previdência Social; e com o advento da Lei n. 6.367,

de 19 de outubro, foi criada as últimas normas previdenciárias referente à acidentes do

trabalho.44

Ainda em 1976, foi aprovado um novo regulamento para o seguro de acidentes do

trabalho (Decreto n. 79.037, de 24 de dezembro) e também foi regulamentada a lei que no ano

anterior instituiu benefícios aos empregadores rurais e seus dependentes.45

No ano seguinte, ocorreu a extinção do Serviço de Assistência e Seguro Social

dos Economiários (Lei n. 6.430, de 7 de julho) e a criação de uma Previdência Complementar

(Lei n. 6.435, de 15 de julho): de caráter fechado, na qual é regida pelo Decreto n. 81.240/78,

e de caráter aberto, na qual é regida pelo Decreto n. 81.402/78.46

No mesmo ano, foi criado um novo sistema previdenciário; o Sistema Nacional de

Previdência e Assistência Social (SINPAS), através da Lei n. 6.439, de 1° de setembro, com o

propósito de trazer melhorias/estrutura na organização previdenciária brasileira, bem como

supervisionar todos os órgãos que são pelo sistema subordinados.47

Em 1979, com o advento dos Decretos n. 83.080 e n. 83.081, de 24 de janeiro,

foram aprovados, respectivamente, os regulamentos de Benefício (RBPS) e Custeio (RCPS)

da Previdência Social, bem como o regulamento da Gestão Administrativa, Financeira e

Patrimonial da Previdência Social (Decreto n. 83.266, de 12 de março).48

Em 1980, ocorreram duas importantes modificações dentro da Previdência Social;

que foi a nova alteração da legislação previdenciária (Lei n. 6.887, de 10 de dezembro), e a

43 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 14.44 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 64.45 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.46 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.47 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 64.48 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 15.

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criação de duas coordenadorias: uma para assuntos parlamentares – CAP, e a outra, para

assuntos internacionais – CINTER (Decreto n. 84.406, de 21 de janeiro).49

As formas de contribuições para o custeio da Previdência Social só foram ser

regulamentadas em 1981, através do Decreto-Lei n. 1.910, de 29 de dezembro. No mesmo

ano, o Ministério da Previdência e Assistência criou o Conselho Consultivo da Administração

de Saúde Previdenciária – CONASP (Decreto n. 86.329, de 2 de setembro).50

Ainda em 1981, através da Emenda Constitucional n. 18, os professores

perceberam o direito de aposentarem-se com seus proventos integrais, bastando completar,

exclusivamente na função de magistério, 30 (trinta) anos de serviço (eles) e 25 (vinte e cinco)

anos (elas).51No entanto, as formas de contribuições para os Benefícios da Previdência Social

apenas foram regulamentadas em 1982, através do Decreto n. 87.374, de 8 de julho.52

Em 1984, foi criada uma nova Consolidação das Leis da Previdência Social –

CLPS (Decreto n. 89.312, de 23 de janeiro), que consequentemente, seria a última alteração;

onde se buscou reunir todas as leis do âmbito previdenciário, bem como as decorrentes de

acidentes do trabalho.53

Após seis anos da criação do regulamento sobre o custeio da Previdência Social,

veio a sua primeira modificação, com o advento do Decreto n. 90.817, de 17 de janeiro de

1985.54

Em 1986, foram criados outros três novos órgãos na Previdência Social: a

Ouvidoria, criando assim a função de ouvidor (Decreto n. 92.700), o Conselho Comunitário,

tendo como membros contribuintes previdenciários (Decreto n. 92.701) e o Conselho

49 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.50 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.51 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 15.52 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-D.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.53 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 65.54 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-E.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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Superior, um órgão coletivo com caráter consultivo (Decreto n. 92.702); ambos criados no dia

21 de maio.55

No mesmo ano, foram criados: o benefício seguro-desempregado, através do

Decreto-Lei n. 2.283, de 27 de fevereiro, com a finalidade de garantir um abono temporário

aos desempregados; e um grupo de trabalho, com o escopo de realizar pesquisas, a fim de

reestruturar a previdência social e reformular seus planos de benefícios.56

1.1.8 Constituição de 1988

Durante a vigência da Constituição de 1988, na década de 90, houve as maiores

mudanças na Previdência Social, e que até hoje permanecem. A maior delas (Decreto n.

99.350, de 27 de junho de 1990) foi a fusão do Instituto Nacional de Previdência Social

(INPS) e o Instituto de Administração Financeira da Previdência Social (IAPAS), passando a

ser denominado Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, obtendo poderes para cobrar as

contribuições e pagar os benefícios.57

Em 1991, com a publicação das Leis ns. 8.212 e 8.213, de 24 de julho, foram

criados respectivamente, um novo e mais completo Plano de Custeio, com a finalidade de

organizar a Seguridade Social; e um Plano de Benefícios da Previdência Social, no qual seus

regulamentos foram aprovados no mesmo ano, respectivamente, através dos Decretos n. 356 e

n. 357, ambos de 7 de dezembro.58

No entanto, no ano seguinte os referidos planos tiveram nova redação em seus

regulamentos (Plano de Benefício, através do Decreto n. 611 e Plano de Custeio, através do

Decreto n. 612, ambos de 21 de julho de 1992), revogando assim os regulamentos

anteriores.59

55 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-E.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.56 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 15.57 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 67-68.58 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 16.59 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 16.

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Ainda em 1992, ocorreu a extinção do Ministério do Trabalho e da Previdência

Social, com a consequente criação do Ministério da Previdência Social – MPS; os

empregadores rurais começariam a contribuir para a Seguridade Social; e os salários teriam

uma própria Política Nacional.60

No ano de 1993, as principais novidades foram: a extinção do Instituto Nacional

de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS, sendo atribuídas suas funções ao

Sistema Único de Saúde – SUS (Lei n. 8.689, de 27 de julho); a criação da Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS, dispondo sobre a Organização da Assistência Social (Lei n.

8.742, de 7 de dezembro).61

No mesmo ano foram criadas ainda: a Lei n. 8.641, de 31 de março, que tratou de

normalizar as contribuições dos clubes de futebol e o parcelamento para com seus débitos; a

Lei n. 8.650, de 22 de abril, que trouxe normas sobre as relações de trabalho do treinador

profissional de futebol; a Lei n. 8.672, de 6 de julho, que arrolou normas gerais sobres os

desportos; e, a Lei n. 8.706, de 14 de setembro, que criou o Serviço Social do Transporte –

SEST e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte – SENAT. Ainda foram criados

os Decretos n. 994, de 25 de novembro, que regulamentou a arrecadação e distribuição do

salário-educação; e, n. 1.007, de 13 de dezembro, que tratou das contribuições referentes ao

SEST e ao SENAT.62

Em 1994, foi regulamentada a licença maternidade, através da Lei n. 8.861, de 25

de março. Com a criação da Lei n. 8.900, de 30 de junho, ocorreram alterações em alguns

dispositivos na Lei do seguro-desemprego. Também foi aprovado no mesmo ano o Decreto n.

1.330, de 8 de dezembro, onde se regulamentou a concessão do benefício de prestação

continuada, previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, em seu artigo 20.63

60 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-E.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.61 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 16.62 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-F.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.63 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-F.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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E mais, com o advento da Lei n. 8870, de 15 de abril, o abono de permanência em

serviço foi extinto das Leis n. 8.212 e n. 8.213; bem como excluído o 13° salário para o

cálculo do salário-de-benefício.64

Em 1995, logo no início do ano, ocorreu a transformação do Ministério da

Previdência Social – MPS em Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS,

através da Medida Provisória n. 813, de 1° de janeiro. No mesmo ano, o Brasil promulgou

acordo de Seguridade Social com Portugal e Espanha; e o regulamento da Organização e

Custeio da Seguridade Social obteve algumas alterações, através do Decreto n. 1.514, de 5 de

junho. Com a criação do Decreto n. 1.744, de 18 de dezembro, foi extinto o auxílio-

natalidade, o auxílio-funeral e a renda mensal vitalícia; bem como regulamentada a concessão

de benefício de prestação continuada à pessoa portadora de deficiência ou idosa.65

No ano seguinte, através da Medida Provisória n. 1.415, de 29 de abril de 1996,

ficou devido o reajuste do mínimo e dos benefícios da previdência social; bem como alterou

alíquotas de contribuição para a seguridade social.66

Em 1997, ocorreram novas mudanças no regulamento dos benefícios da

Previdência Social e no regulamento da organização e custeio da Seguridade Social, ambos

em 5 de março, através dos Decretos n. 2.172 e n. 2.173, respectivamente.67

No mesmo ano, foi criado o Fundo de Aposentadoria Programada Individual –

FAPI (Lei n. 9.477, de 24 de julho); foi aprovado o Estatuto Social da Empresa de

Processamento de Dados da Previdência e Assistência Social – DATAPREV (Decreto n.

2.115, de 8 de janeiro); e extinto o Instituto de Previdência dos Congressistas – IPC (Lei n.

9.506, de 30 de outubro).68

64 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 16.65 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-F.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.66 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-F.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.67 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 16.68 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-F.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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De mais a mais, seria instituído à Previdência Social o prazo decadencial para

ações de revisão do ato de concessão de benefício previdenciário, através da Medida

Provisória n. 1.523-9, de 27 de junho de 1997.69

Em 1998, a Previdência Social obteve umas de suas maiores reformas, com o

advento da Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro. Entre as principais mudanças

dessa reforma, foram: a criação do fator previdenciário, novas regras de cálculo de benefício,

novas exigências para as aposentadorias especiais e o novo tempo limite de idade nas regras

de transição para a aposentadoria integral no setor público (53 anos para homem e 48 para a

mulher).70

No ano seguinte, seria unificado o Regulamento da Previdência Social através do

Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999, revogando os Decretos n. 2.172 e n. 2.173, que

consequentemente passaria por algumas alterações no mesmo ano, com a criação do Decreto

n. 3.265.71

Sucessivamente, no ano de 2000, seria criada a Emenda Constitucional n. 29, que

alteraria a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, passando a assegurar

recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos da saúde.72

Em 2001, com o advento das Leis Complementares n. 108 e n. 109, ambas de 29

de maio, seriam estabelecidos os requisitos entre os entes políticos e as entidades fechadas de

previdência complementar, bem como regulamentado o regime de previdência complementar

na Constituição.73

No ano seguinte, a Lei n. 10.421, de 15 de abril de 2002, estenderia o direito à

licença-maternidade e ao salário-maternidade à mãe adotiva.74

69 BRASIL. Medida Provisória n. 1.523-9, de 27 de junho de 1997. Altera dispositivos das Leis n. 8.212 e n.8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras providências. Disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/1996-2000/1523-9.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.70 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-F.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.71 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 17.72 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 17.73 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 17.74 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-H.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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Em 31 de dezembro de 2003, fora promulgada a Emenda Constitucional n. 41, na

qual se alteraram as regras para a concessão de aposentadoria dos servidores públicos, bem

como aumentou o teto dos benefícios do Regime Geral para R$ 2.400,00 (dois mil e

quatrocentos reais).75

Em 2004, fora publicada a Lei n. 10.839, de 5 de fevereiro, que alteraria o prazo

decadencial para os direitos de ação pelo segurado ou beneficiário para a revisão do ato de

concessão do benefício, de 5 (cinco) para 10 (dez) anos.76

Conhecida como “reforma paralela”, a Emenda Constitucional n. 47, de 5 de julho

de 2005, tratou especialmente das regras previdenciárias para os funcionários públicos.77

No mesmo ano era criada a Secretaria da Receita Previdenciária, através da Lei n.

11.098, de 13 de janeiro. Seria também iniciado nesse ano o Censo Previdenciário, com o

intuito de atualizar os dados cadastrais dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional

do Seguro Social.78

Por fim, uma das últimas modificações previdenciária, se não a última, ocorreu

através do Decreto n. 5.872, de 11 de agosto de 2006, onde fora determinado que os

benefícios mantidos pela Previdência Social fossem atualizados em 5,010%, a partir de

1/04/2006. Contudo, a Lei n. 11.430, de 26 de dezembro 2006, viria a estabelecer o valor dos

benefícios em manutenção em um reajuste anual na mesma data do reajuste do salário

mínimo, com base no INPC.79

1.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

75 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 74.76 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-J.asp>. Acesso em: 01 de novembrode 2010.77 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 74.78 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-K.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.79 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Histórico da Previdência. Disponível em:<http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_12_04-L.asp>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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O sistema de seguridade social brasileiro é dividido em 3 (três) subsistemas: a

previdência social, a saúde e a assistência social, sendo que o fator diferenciador da

previdência social em relação aos outros dois subsistemas é o caráter contributivo.80

Os princípios são orientadores do direito, tanto na elaboração das normas, como na

aplicação destas. O art. 194, parágrafo único da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, bem como o parágrafo único do art. 1º do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de

1999, enumeram os seguintes princípios ou objetivos, norteadores da seguridade social,

citados a seguir.81

1.2.1 Universalidade da cobertura e do atendimento.

O sistema da seguridade social tem como objetivo básico a universalidade, onde

todos os residentes do país terão direito a seus benefícios, nos quais a diferença ou preferência

não existe, colocando segurados urbanos e rurais ao mesmo patamar.82

Também têm direito ao benefício os segurados facultativos, desde que estejam em

dia com o recolhimento da contribuição, bem como os estrangeiros residentes no país.83

O princípio da universalidade da cobertura (objetiva) tem como escopo assegurar

proteção social às pessoas necessitadas, ou seja, aqueles atingidos por uma impossibilidade

que reduz ou retira a capacidade de trabalhar, tais como a velhice, a maternidade, a doença,

acidentes, invalidez e a morte. Então, quando necessitadas, essas pessoas terão direito a

benefícios previdenciários: auxílio-acidente, auxílio-doença, aposentadorias diversas, salário-

maternidade, etc.84

80 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.19.81 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.19.82 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 53.83 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 53.84 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.19.

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Essa proteção surge a fim de dar uma estabilidade de quem dela necessita, ou seja,

tentar reparar ao máximo a impossibilidade do segurado de trabalhar.85

Quanto ao princípio da universalidade do atendimento (subjetiva), a sua finalidade

é proteger todos que necessitam ser atendidos pela Seguridade Social, desde que estas tenham

a qualidade de contribuinte, mediante efetiva demonstração de sua qualidade de segurado ou

dependente.86

Por fim, vale lembrar que o direito à saúde e à assistência social não necessita de

contribuição, uma vez que é um direito da pessoa e um dever do Estado. (art.196 da

CRFB/1988)87

1.2.2 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas erurais.

As prestações da Seguridade Social são divididas em benefícios e serviços. O

primeiro (benefícios) são prestações pecuniárias, ou seja, que consiste em dinheiro. Já o

segundo (serviços) são bens imateriais postos à disposição das pessoas, como é o caso da

reabilitação, da habilitação, do serviço social, etc.88

A Carta Magna, em seu art. 7º, prevê a uniformidade no tratamento dos direitos

trabalhistas entre trabalhadores urbanos e rurais, ou seja, está relacionado aos mesmos

benefícios e serviços, o que é concedido ao trabalhador urbano é também concedido ao

trabalhador rural.89

Embora seja concedido tanto ao trabalhador urbano, quanto ao trabalhador rural,

não haverá idêntico valor para os benefícios, uma vez que, em se tratando de previdência

social, o valor de um beneficio pode ser diferenciado de outro (dependendo do tempo de

contribuição, coeficiente de cálculo, sexo, idade, etc.), até porque a equivalência mencionada

85 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 98.86 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 98.87 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 53.88 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 54.89 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 98.

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não significa igualdade, e sim, aos mesmos eventos cobertos pelo sistema, ou seja, significa

que os benefícios serão calculados da mesma forma.90

Quando se fala em “as populações urbanas e rurais”, trata-se de todo o sistema de

Seguridade Social, ou seja, todas as pessoas, obtendo por analogia a classe do pescador, do

garimpeiro, do meeiro, etc. (art. 196 § 8º, da CRFB/1988), salvo os funcionários públicos, que

têm seu regime próprio.91

1.2.3 Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.

O princípio da seletividade busca selecionar prestações que melhor atendam aos

objetivos da Seguridade Social. Para corroborar, trazem-se a lume os ensinamentos de João

Batista Lazzari: “O princípio da seletividade pressupõe que os benefícios são concedidos a

quem deles efetivamente necessite, razão pela qual a Seguridade Social deve apontar os

requisitos para a concessão de benefícios e serviços.”92

Quanto ao princípio da distributividade, este se relaciona às pessoas que deverão

ser protegidas pela Seguridade Social. João Batista Lazzari, nos ensina que “o princípio da

distributividade, inserido na ordem social, é de ser interpretado em seu sentido de distribuição

de renda e bem-estar social, ou seja, pela concessão de benefícios e serviços visa-se ao bem-

estar e à justiça social (art. 193 da Carta Magna)”93

Há a preocupação de atender, primeiramente, as pessoas que estão em maior

estado de necessidade, mas nem sempre os mais necessitados terão direito a benefícios, pois

nunca contribuíram para o sistema.94

90 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 98.91 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 54.92 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 98-99.93 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 99.94 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 54.

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1.2.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 assevera, em seu art.

201 § 4º, o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor

real.95

A Carta Magna em seu art. 7º, inciso VI, também assegura a irredutibilidade do

salário, exceto quanto modificado por alguma convenção ou acordo coletivo.96

Desde a promulgação da Constituição, os benefícios mantidos pela previdência

social, teriam seus valores corrigidos, a fim de restaurar/recuperar o poder aquisitivo, que

percebia, quando da data de sua concessão (art. 58 da ADCT).97

Diante da redução demasiada dos benefícios o governo procurava um meio para

manter o poder aquisitivo real dos benefícios. E com a intenção de estabelecer esse meio, o

extinto Tribunal Federal de Recursos editou a Súmula n. 260, assentando que “no primeiro

reajuste do benefício previdenciário, deve-se aplicar o índice integral do aumento verificado,

independentemente do mês da concessão, considerado, nos reajustes subsequentes, o salário

mínimo então atualizado”.98

Também quanto ao reajuste do salário, a Lei n. 8.213/1991 – Lei de Benefícios

Previdenciários – em seu art. 41-A, estabeleceu que o benefício será corrigido quando for

revisto o salário mínimo.99

Para João Batista Lazzari, o princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios é

equivalente ao princípio da intangibilidade do salário dos empregados e dos vencimentos dos

servidores:

95 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.20.96 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 55.97 BRASIL. Atos das Disposições Constitucionais Transitórias. Vade Mecum RT. 4. ed. rev., ampl. e atual.São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 91.98 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 55.99 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Vade Mecum RT. 4. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 1506.“Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste dosalário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com baseno Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística – IBGE.”

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Princípio equivalente ao da intangibilidade do salário dos empregados e dosvencimentos dos servidores, significa que o benefício legalmente concedido– pela Previdência Social ou pela Assistência Social – não pode ter seu valornominal reduzido, não podendo ser objeto de desconto – salvo osdeterminados por lei ou ordem judicial –, nem de arresto, seqüestro oupenhora.100

Como se percebe, houve muita preocupação desde a vigência da Constituição – e

até antes –, quanto à irredutibilidade do valor dos benefícios, tendo em vista ter se verificado

que, com o passar dos anos, o beneficiário vinha tendo perda gradativa em sua

aposentadoria.101

1.2.5 Equidade na forma de participação no custeio.

O princípio da equidade busca garantir a contribuição de acordo com o poder

aquisitivo da pessoa, ou seja, os que percebem mais darão contribuição maior, os

hipossuficientes – economicamente desfavorável – contribuirão com menos, mas todos

contribuem da sua forma, na situação em que se encontram.102

O art. 20 da Lei n. 8.212/1991, bem como o art. 195 § 9º 103 da CRFB/1988 são

dispositivos que tratam da aplicação do princípio da equidade. O primeiro busca enquadrar o

trabalhador na proporção de sua retribuição pecuniária (salário), que poderia ser de 8%, 9%

ou 11%, dependendo do salário que perceba.104

Quanto ao dispositivo elencado na Constituição, ele estabelece uma forma de

financiamento, em que as contribuições de uma empresa ou empregador poderão ter alíquotas

100 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 99.101 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 55.102 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.20.103 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Vade Mecum RT. 4. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 73. “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,de forma direta ou indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: [...] § 9º As contribuiçõessociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de calculo diferenciadas, emrazão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da empresa o da condiçãoestrutural do mercado de trabalho.”104 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 56.

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ou bases de cálculo diferenciadas. O que diferencia este cálculo seria a razão da atividade

econômica, a utilização intensiva da mão-de-obra, o porte da empresa ou a condição de

estrutura do mercado de trabalho.105

1.2.6 Diversidade da base de financiamento.

O princípio da diversidade tem como propósito organizar a arrecadação de receita

à Seguridade Social, não ficando apenas restrita a empregadores, trabalhadores e o Poder

Público, mas buscando o maior número possível de fontes pagadoras.106

Foi com esse intuito, que a Carta Magna através de Emendas Constitucionais

estabeleceu diversas formas de custeio para com a seguridade social, como os mencionados

nos incisos do art. 195: por meio de empresas, de trabalhadores, sobre receita de concursos

prognósticos e do importador de bens ou serviços do exterior, sendo assim, financiada por

toda a sociedade.107

O Estatuto Supremo ressalva que a lei poderá, mediante lei complementar,

instituir a qualquer tempo outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da

seguridade social (art. 195, § 4º), observando a não-cumulatividade e que não tenham fato

gerador ou base de cálculo próprio, ou seja, semelhantes aos dos impostos do sistema ou das

contribuições sociais existentes (art. 154, inciso I).108

1.2.7 Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestãoquadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentadose do Governo nos órgãos colegiados.

105 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 56.106 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 99.107 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 57.108 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.21.

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O princípio do caráter democrático se preocupou em assegurar a participação dos

trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses

profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação (art. 10, da

CRFB/1988), isto é, que as pessoas que têm interesse em garantir seus direitos frente à

Seguridade Social deverão participar da sua gestão.109

Com o fim de discutir assuntos referente à Previdência Social junta à sociedade,

foi criado o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), constituído por 6 (seis)

representantes do Governo Federal e 9 (nove) representantes da sociedade civil, dos quais 3

(três) são representantes dos aposentados e pensionistas, 3 (três) dos trabalhadores em

atividade e 3 (três) dos empregadores (art. 3º, da Lei n. 8.213/1991).110

Subordinados, mas não com menos importância, foram criados os Conselhos

Estaduais de Previdência Social (CEPS) e os Conselhos Municipais de Previdência Social

(CMPS), a fim de cumprir a aplicação pertencente à Previdência Social, nos âmbitos estaduais

e municipais.111

Também criados para discussão frente à sociedade, o Conselho Nacional de

Assistência Social (CNAS), previsto no art. 17 da Lei n. 8.742/1993, é responsável pela

Política Nacional de Assistência Social; e o Conselho Nacional de Saúde (CNS), instituído

pela Lei n. 8.080/1990, tem a finalidade de promover proteção e recuperação da saúde, bem

como sua organização e seu funcionamento.112

Destarte, os princípios maiores da Seguridade Social listados no art. 194,

parágrafo único da Constituição Federal de 1988, também se encontram arrolados no art. 2º

da Lei n. 8.213 e no parágrafo único do art. 1°, da Lei n. 8.212, ambos de 24 de julho de 1991.

Cabe ressaltar que alguns são meras repetições, portanto, cabendo examinar apenas os

princípios que não foram explanados acima.

109 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.22.110 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 100.111 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 58.112 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 100.

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1.2.8 Cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição corrigidosmonetariamente.

Como previsto no art. 40, § 17 e art. 201, § 3º da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, os salários de contribuição considerados para o cálculo de

benefício serão devidamente atualizados.113

Esse princípio faz com que a Previdência Social adote uma fórmula que corrija

sempre o valor da base de cálculo da contribuição, com o intuito de evitar defasagem no valor

do benefício pago, porém, levando em conta os benefícios previdenciários que contam com a

média de salários de contribuição.114

Vale deixar claro que não é indicado qual o índice a ser adotado para a correção

monetária, assim o indexador a ser utilizado para a atualização a escolha do legislador.115

Por fim, convém ressaltar que tal princípio foi adotado para que não houvesse

perda no valor do salário pago aos beneficiários.116

1.2.9 Valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de-contribuição ou dorendimento do trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo.

Com a Emenda Constitucional n. 20/98 ficou determinado que nenhum benefício

que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado poderia ter

valor mensal inferior ao salário mínimo (art. 201 § 2º da CRFB/1988).117

Ano após ano, esse princípio ainda é muito debatido, devido à grande discussão

na época de reajuste do salário mínimo, reajuste este, que causa grande diferença entre o

salário mínimo dos trabalhadores e os benefícios pagos pela Previdência Social, haja vista a

aplicação de porcentagem ser diferente para cada um deles, fazendo que, com o passar do

113 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vade Mecum RT. 4. ed. rev., ampl. eatual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 36 e 74.114 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 105.115 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 106.116 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 105.117 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vade Mecum RT. 4. ed. rev., ampl. eatual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 74.

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tempo, os beneficiários cheguem a ter o valor de um salário mínimo, defasando assim sua

aposentadoria.118

Como nos ensina Castro e Lazarri, os beneficiários da Previdência também têm

direito a uma existência digna:

O beneficiário da Previdência também tem direito a uma existência digna, talcomo preconiza o art. 1º, III, da Carta Magna. Ora, se o trabalhador temnecessidades básicas, que devem ser cobertas pelo salário mínimo, obeneficiário da Previdência também as tem, e não em menor escala, senãopelo contrário. Deve-se recordar que, antes da previsão constitucionalvigente, os segurados recebiam como valor mínimo a metade do saláriomínimo devido aos trabalhadores.119

1.2.10 Previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional.

Este princípio, disposto no art. 202 da Carta Magna, estabelece que o regime de

previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao

regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que

garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.120

No entanto, não integram no contrato de trabalho dos participantes as

contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos,

regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada. Também não

integram a remuneração dos participantes, à exceção dos benefícios concedidos (art. 202 § 2º

da CRFB/1988).121

Para fixar a matéria, trazem-se a lume os ensinamentos de João Ernesto Aragonés

Vianna:

A previdência social ordinária tem por finalidade suprir necessidadesbásicas. Para além dessas, foi prevista a previdência complementarfacultativa pública, custeada por meio de contribuição adicional; entretanto,por força da nova redação do art. 201, § 7º, da Constituição Federal,conferida pela Emenda Constitucional n. 20/98, a previsão legal da

118 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 105.119 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 105.120 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vade Mecum RT. 4. ed. rev., ampl. eatual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 75.121 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 106.

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previdência complementar pública, que nunca existiu, foi implicitamenterevogada, restando, para os segurados do RGPS, apenas a previdênciacomplementar privada.122

Sendo assim, pode-se dizer que os princípios da Seguridade Social é um conjunto

de normas e garantias em prol de seus beneficiários.

122 VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 206.

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2 BENEFÍCIOS E SERVIÇOS PREVIDENCIÁRIOS

Este capítulo tem como finalidade apresentar os tipos de benefícios e de serviços

previdenciários, que são prestações devidas aos segurados e dependentes filiados ao Regime

Geral de Previdência Social e estão elencadas no art. 18, da Lei de Benefícios n. 8.213, de 24

de julho de 1991; salvo o seguro-desemprego, que é disciplinado pela Lei n. 7.998, de 11 de

janeiro de 1990, bem como arrolado como natureza de benefício previdenciário pelo art. 7º, II,

da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Destarte, demonstraremos a qual segurado é devido cada tipo de benefício e

serviço, trazendo-se a lume seu conceito, o tempo de carência, o valor da renda mensal do

benefício, o início do benefício, situações para a concessão e para a cessação do benefício,

entre outras peculiaridades.

2.1 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

2.1.1 Da aposentadoria por invalidez

Conceituada pelo art. 42 e seguintes, da Lei de Benefícios n. 8.213, de 24 de julho

de 1991,

“A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, acarência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo deauxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação parao exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á pagaenquanto permanecer nesta condição.”123

123 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Vade Mecum: Obra coletiva de autoria da Editora Saraivacom a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7.ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1494.

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Quanto à carência referida pelo artigo, a regra geral para este benefício é de 12

(doze) contribuições mensais, porém, nos casos de aposentadoria por invalidez acidentária, a

carência é dispensada.124

O valor do benefício para este tipo de aposentadoria, corresponderá a 100% (cem

por cento) do salário-de-benefício, mesmo que decorra de acidente de trabalho. Será

concedido um acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento) ao aposentado por invalidez que

necessite de assistência permanente de outrem125, nos seguintes termos:

Art. 45.[...]Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximolegal;b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor dapensão.126

As situações para a concessão deste acréscimo estão previstas no Regulamento da

Previdência Social, Anexo I, do Decreto n. 3.048/1999:

1 - Cegueira total.2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.3 - Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.4 - Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese forimpossível.5 - Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível.6 - Perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese forimpossível.7 - Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vidaorgânica e social.8 - Doença que exija permanência contínua no leito.9 - Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.127

Para obter a concessão deste benefício, o segurado não poderá ser portador de

doença ou lesão ao filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social; pois, caso tenha, não terá

124 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.319.125 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 247-248.126 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Vade Mecum: Obra coletiva de autoria da Editora Saraivacom a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7.ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1494.127 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o regulamento da previdência social, e dá outrasprovidências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/D3048.htm>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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direito ao benefício da aposentadoria por invalidez, exceto se houver progressão ou

agravamento da doença ou lesão já obtida.128

Quanto ao início do benefício, conforme o art. 43 da Lei de Benefícios, a

aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da concessão do auxílio-

doença, caso o segurado venha a encontrar-se em período de auxílio-doença. Caso não

decorra da conversão do auxílio-doença, será devido em conformidade aos incisos do § 1º do

referido artigo:

a) ao segurado empregado, a contar do décimo sexto dia do afastamento daatividade ou a partir da entrada do requerimento, se entre o afastamento e aentrada do requerimento decorrerem mais de trinta dias;b) ao segurado empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinteindividual, especial e facultativo, a contar da data do início da incapacidadeou da data da entrada do requerimento, se entre essas datas decorrerem maisde trinta dias.129

Regra geral, no que tange aos primeiros quinze dias de afastamento da atividade

por motivo de incapacidade, caberá à empresa pagar ao segurado emprego o salário.130

Quanto à cessação desde benefício, será cancelado ao verificar-se que o

aposentado por invalidez retornou voluntariamente à atividade. Por outro lado, há também a

hipótese de o Instituto Nacional do Seguro Social submeter o aposentado a perícia médica.

Caso seja constatado que o aposentado recuperou sua capacidade de trabalho dentro de 5

(cinco) anos, contados da data do início da aposentadoria, cessará de imediato o benefício

para o segurado empregado que tiver direito a retornar à função que desempenhava na

empresa antes de se aposentar. Aos aposentados que não tiverem direito a retornar a função

que desempenhava, para estes cessará após tantos meses quantos forem os anos de duração do

seu benefício.131

Por fim, quando houver recuperação parcial do aposentado, sendo assim apto a

uma função diversa, será assegurada a este a continuação do benefício por mais 18 (dezoito

meses): durante 6 (seis) meses no seu valor integral, contados da data em que for verificada a

128 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 544.129 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.319.130 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 322.131 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 325.

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recuperação da capacidade; após, por mais 6 (seis) meses com redução de 50% do valor; e os

último 6 (seis) meses, com redução de 75% do valor do benefício, cessando definitivamente

ao seu término.132

2.1.2 Da aposentadoria por idade

Regulamentada pelo art. 48 e seguintes da Lei de Benefícios n. 8.213/1991, bem

como disciplinada no art. 201, § 7º, II, da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, a aposentadoria por idade é devida ao segurado que completar 65 (sessenta e cinco)

anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, deste que cumprida a

carência exigida. Caso o segurado seja trabalhador rural, garimpeiro, pescador artesanal,

desde que comprove que trabalhe em regime de economia familiar, será reduzido em 5 (cinco)

anos o limite para ambos os sexos.133

No caso do trabalhador rural, os intervalos entre uma atividade rurícola e outra

não serão considerados perda da qualidade de segurado. Porém, quando o segurado reunir

todas as condições exigidas para a concessão desde benefício, deverá ele estar exercendo

alguma atividade rural.134

Os documentos exigidos para a comprovação do exercício de atividade rural estão

arrolados no art. 106 da Lei de Benefícios n. 8.213/1991, com redação dada pela Lei n.

11.718, de 2008.135

Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita,alternativamente, por meio de:I – contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e PrevidênciaSocial;II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;III – declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhadorrural ou, quando for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde quehomologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS;

132 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 547.133 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.325.134 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 52.135 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 551.

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IV – comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária – INCRA, no caso de produtores em regime de economiafamiliar;V – bloco de notas do produtor rural;VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 daLei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente daprodução, com indicação do nome do segurado como vendedor;VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativaagrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado comovendedor ou consignante;VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Socialdecorrentes da comercialização da produção;IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de rendaproveniente da comercialização de produção rural; ouX – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo INCRA.136

A carência referida no parágrafo anterior será de 180 (centro e oitenta)

contribuições mensais, para os segurados que contribuem com a Previdência Social a partir de

25/07/1991 (inclusive) (art. 25, II, da Lei n. 8.213/1991); e, para os segurados que contribuem

com a Previdência Social antes de 25/07/1991, será conforme a tabela progressiva de carência

prevista no art. 142, da Lei n. 8.213/1991137, vejamos138:

Ano de implementação das

condições

Meses de contribuições

exigidos

1991 60 meses

1992 60 meses

1993 66 meses

1994 72 meses

1995 78 meses

1996 90 meses

1997 96 meses

1998 102 meses

136 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Vade Mecum: Obra coletiva de autoria da Editora Saraivacom a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7.ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1501.137 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 247-250.138 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Vade Mecum: Obra coletiva de autoria da Editora Saraivacom a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7.ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1504.

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1999 108 meses

2000 114 meses

2001 120 meses

2002 126 meses

2003 132 meses

2004 138 meses

2005 144 meses

2006 150 meses

2007 156 meses

2008 162 meses

2009 168 meses

2010 174 meses

2011 180 meses

A renda mensal da aposentadoria por idade corresponderá a 70% (setenta por

cento) do salário-de-benefício, sendo que para cada grupo de 12 (doze) contribuições mensais

consistirá na soma de mais 1% (um por cento), não podendo ultrapassar 100% (cem por

cento) do salário-de-benefício (art. 50, da Lei de Benefícios n. 8.213/1991).139

Ao segurado filiado à Previdência Social até 28/11/1999, o cálculo do salário-de-

benefício consistirá na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,

correspondentes a no mínimo 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo,

decorridos desde a competência de julho de 1994. Já ao segurado filiado à Previdência Social

a partir de 29/11/1999, o cálculo do salário-de-benefício consistirá na média aritmética

simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% (oitenta por cento) de

todo o período contributivo, multiplicado pelo fator previdenciário, que será exposto no item

2.1.3., sendo neste benefício, facultativo.140

139 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 56.140 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.326.

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48

O fator previdenciário é aplicado apenas nas aposentadorias por idade e por tempo

de contribuição. Ocorre que na aposentadoria por idade o fator previdenciário é facultativo

devido ao seu risco social, ou seja, a idade avançada. Como a idade é um dos elementos-base

para o cálculo do fator previdenciário, o aposentado por idade poderia vir a ter prejuízo no seu

aposento.141

Quanto ao início do referido benefício, será retribuído ao segurado empregado

(inclusive o doméstico), a partir da data do desligamento do emprego, se requerido até essa

data ou até 90 (noventa) dias depois. Caso requerido após os noventa dias previstos ou quando

não houver desligamento do emprego, será devido a partir da data do requerimento. Destarte,

para os demais segurados será devido a partir da data do requerimento (art. 49, da Lei de

Benefícios n. 8.213/1991).142

O aposentado por idade não terá sua aposentadoria cessada caso volte a trabalhar.

No entanto, terá que contribuir para a Previdência Social, conforme sua categoria de segurado

e faixa salarial.143

2.1.3 Da aposentadoria por tempo de contribuição

Regulamentada pelos arts. 52 e seguintes da Lei de Benefícios n. 8.213/1991, bem

como disciplinada pelo art. 201, § 7°, I, da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, a aposentadoria por tempo de contribuição é devida ao segurado que obtiver 30 (trinta)

anos de contribuição, se mulher, ou 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem, desde

que cumprida sua carência.144

No caso de segurado professor, exceto professor universitário, será reduzido em 5

(cinco) anos o tempo de serviço, assim, a professora se aposentaria com 25 (vinte) anos de

serviço e o professor com 30 (trinta) anos de serviço, ambos com renda mensal de 100% (cem

141 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 338.142 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 350.143 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 58.144 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.329.

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por cento) do salário-de-benefício, desde que comprove que exerceu, exclusivamente, funções

de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.145

Em regra, a carência para este benefício ocorrerá nas mesmas condições da

aposentadoria por idade, ou seja, será de 180 (centro e oitenta) contribuições mensais, para os

segurados que contribuem com a Previdência Social a partir de 25/07/1991 (inclusive) (art.

25, II, da Lei n. 8.213/1991); e, para os segurados que contribuem com a Previdência Social

antes de 25/07/1991, será conforme a tabela progressiva de carência prevista no art. 142, da

Lei n. 8.213/1991, exposta acima no item 2.1.2.146

A renda mensal do aposentado por tempo de contribuição consistirá em 100%

(cem por cento) do salário-de-benefício, desde que preenchidos os dois requisitos necessários,

quais sejam, a carência e o tempo de serviço. Os segurados também poderão optar por obter

uma aposentadoria proporcional, na qual o salário de benefício consistirá em 70% (setenta por

cento), sendo mais 5% (cinco por cento) a cada ano completo de contribuição ao tempo

mínimo, sendo acrescido em 10% (dez por cento) no último ano. Vejamos no quadro

abaixo:147

Mulher Homem Percentual

30 anos 35 anos 100%

29 anos 34 anos 90%

28 anos 33 anos 85%

27 anos 32 anos 80%

26 anos 31 anos 75%

25 anos 30 anos 70%

Ao segurado filiado à Previdência Social até 28/11/1999, o cálculo do salário-de-

benefício consistirá na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição,

correspondentes a no mínimo 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo,

decorridos desde a competência de julho de 1994. Já ao segurado filiado à Previdência Social

145 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 247-253.146 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 561.147 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 78.

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a partir de 29/11/1999, o cálculo do salário-de-benefício consistirá na média aritmética

simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% (oitenta por cento) de

todo o período contributivo, multiplicado pelo fator previdenciário, obrigatoriamente.148

O fator previdenciário consiste no agrupamento de quatro elementos: o tempo de

contribuição do trabalhador; a alíquota de contribuição que sempre será de 0,31 (zero vírgula

trinta e um); a expectativa de sobrevida do trabalhador na data da aposentadoria, que é

estipulada através de tabela organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE; e, a idade do trabalhador na data da aposentadoria. Ao final da multiplicação entre

esses elementos, chegar-se-á ao valor de um coeficiente, que será multiplicado pelo numerário

do cálculo do salário-de-benefício, tendo assim o valor da renda mensal inicial do

aposentado.149

Em regra, a data de início deste benefício dar-se-á pelas mesmas condições

estabelecidas para a aposentadoria por idade; aos segurados empregados, inclusive o

doméstico, será a partir do desligamento do emprego, se requerido nesta data (do

desligamento) ou até 90 (noventa) dias depois. Caso requerido após os noventa dias previstos

ou quando não houver desligamento do emprego, será devido a partir da data do

requerimento. Destarte, para os demais segurados será devido a partir da data do requerimento

(art. 54, da Lei de Benefícios n. 8.213/1991).150

O aposentado por tempo de contribuição não terá sua aposentadoria cessada caso

volte a trabalhar. No entanto, terá que contribuir para a Previdência Social, conforme sua

categoria de segurado e faixa salarial.151

2.1.4 Da aposentadoria especial

Disciplinada pelos arts. 57 e 58, da Lei de Benefícios n. 8.213/1991, a

aposentadoria especial é devida ao segurado que tenha trabalhado entre 15 (quinze) a 25

148 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 420.149 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 468.150 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 342.151 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 81.

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(vinte e cinco) anos, conforme atividade profissional, em condições prejudicais a saúde e a

integridade física. Porém, o tempo necessário não é o bastante. Há também a necessidade de

comprovar a efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou

associação de agentes prejudiciais a saúde e a integridade física.152

Segundo Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari:

Entendem-se por agentes nocivos aqueles que possam trazer ou ocasionardanos à saúde ou à integridade física do trabalhador nos ambientes detrabalho, em função de natureza, concentração, intensidade e fator deexposição, considerando-se:- físicos: os ruídos, as vibrações, o calor, as pressões anormais, as radiaçõesionizantes, etc.;- químicos: os manifestados por névoas, neblinas, poeiras, fumos, gases,vapores de substâncias nocivas presentes no ambiente de trabalho, etc.;- biológicos: os microorganismos como bactérias, fungos, parasitas, bacilos,vírus, etc.153

A classificação dos inúmeros agentes nocivos para a concessão deste benefício

está prevista no Regulamento da Previdência Social, Anexo IV, do Decreto n. 3.048/1999.154

Para comprovação do contato com os agentes nocivos, deverá a empresa elaborar

e manter atualizado o perfil profissiográfico do segurado, contendo neste as atividades

desenvolvidas por ele, e fornecê-lo cópia autêntica do documento quando da rescisão do

contrato de trabalho.155

Em regra, a carência para este benefício se dará nas mesmas condições da

aposentadoria por idade e da aposentadoria por tempo de contribuição, ou seja, será de 180

(centro e oitenta) contribuições mensais, para os segurados que contribuem com a Previdência

Social a partir de 25/07/1991 (inclusive) (art. 25, II, da Lei n. 8.213/1991); e, para os

segurados que contribuem com a Previdência Social antes de 25/07/1991, será conforme a

152 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 103.153 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 565.154 BRASIL. Decreto n° 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o regulamento da previdência social, e dá outrasprovidências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/D3048.htm>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.155 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.342.

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tabela progressiva de carência prevista no art. 142, da Lei n. 8.213/1991, exposta acima no

item 2.1.2.156

Com a criação do Decreto n. 4.827, de 04 de setembro de 2003, ocorreu alteração

no art. 70 do Decreto n. 3.048/1999, na qual possibilitou a conversão de tempo de atividade

sob condições especiais em tempo de atividade comum, utilizando os seguintes fatores:157

Multiplicadores

Tempo a converter Mulher (Para 30) Homem (Para 35)

De 15 anos 2,00 2,33

De 20 anos 1,50 1,75

De 25 anos 1,20 1,40

Caso o segurado tenha exercido sucessivamente duas ou mais atividades em

condições especiais, estes períodos poderão ser somados seguindo a respectiva tabela de

conversão:158

Tempo a converter Multiplicadores

Para 15 anos Para 20 anos Para 25 anos

De 15 anos - 1,33 1,67

De 20 anos 0,75 - 1,25

De 25 anos 0,60 0,80 -

A aposentadoria especial terá o valor da renda mensal equivalente a 100% (cem

por cento) do salário de benefício. Salário de benefício para esta aposentadoria consiste na

média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% (oitenta

por cento) de todo o período contributivo (art. 29, II, da Lei de Benefícios n. 8.213/1991).159

156 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 247-263.157 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.343.158 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 104.159 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 105-106.

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Em regra, a data de início deste benefício dar-se-á pelas mesmas condições

estabelecidas para a aposentadoria por idade e para a aposentadoria por tempo de

contribuição; aos segurados empregados, inclusive o doméstico, será a partir do desligamento

do emprego, se requerido nesta data (do desligamento) ou até 90 (noventa) dias depois. Caso

requerido após os noventa dias previstos ou quando não houver desligamento do emprego,

será devido a partir da data do requerimento. Destarte, para os demais segurados será devido a

partir da data do requerimento (§ 2º, do art. 57, da Lei de Benefícios n. 8.213/1991).160

Como a aposentadoria especial se torna um direito adquirido, esta é cessada

apenas pela suspensão. Suspende-se o benefício quando o aposentado retorna ao exercício da

atividade ou permaneça voluntariamente. A aposentadoria é suspensa a partir da data do

retorno. Caso o segurado afaste-se novamente das atividades, o benefício voltará a ser

pago.161

2.1.5 Do auxílio-doença

Benefício disposto nos arts. 59 e seguintes da Lei de Benefícios n. 8.213 de 24 de

julho de 1991, que será devido ao segurado que ficar incapacitado para o trabalho ou para sua

atividade habitual, por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.162

Quanto à carência referida por este benefício, só terá direito a concessão do

auxílio-doença o segurado que contribuir com 12 (doze) prestações mensais, exceto quando

decorrer de acidente ou estiver relacionado no art. 26 da Lei n. 8.213/1991, não exigindo

assim contribuição mensal.163

As regras desse benefício equiparam-se ao da aposentadoria por invalidez, não

podendo o segurado ser portador de doença ou lesão ao filiar-se ao Regime Geral de

160 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 573.161 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.343.162 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.347.163 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 317.

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Previdência Social; pois caso tenha, não terá direito ao benefício auxílio-doença, exceto se

houver progressão ou agravamento da doença ou lesão já obtida 164

Quanto à data de início do benefício, será devido ao segurado empregado a contar

a partir do 16º (décimo sexto) dia do afastamento da atividade, sendo que os primeiros 15

(quinze) dias ao do afastamento serão pagos pela empresa o seu salário integral. Para os

segurados que não tem emprego, o auxílio-doença será devido a contar da data de início da

incapacidade até quando ele permanecer incapaz. Em outros casos, como de um segurado que

está afastado da empresa ou atividade por mais de 30 (trinta) dias, o benefício será devido a

contar da data da entrada do requerimento 165

O valor da renda mensal deste benefício corresponderá a 91% (noventa e um por

cento) do salário-de-benefício, mesmo que decorra de acidente de trabalho. O salário-de-

benefício, para os segurados inscritos até 28/11/1999, seria a soma de no mínimo, 80%

(oitenta por cento) maiores salários-de-contribuição de todo o período contributivo dividido

pelos mesmos, desde a competência de julho de 1994. Enquanto aos segurados inscritos a

partir de 29/11/1999, o salário-de-benefício seria a soma de 80% (oitenta por cento) dos

maiores salários-de-contribuição de todo o período contributivo, também dividindo pelos

mesmos (art. 29, II, da Lei n. 8.213/1991). 166

Considera-se licenciado todo segurado empregado que desfruta do benefício

auxílio-doença, ficando a empresa obrigada a pagar ao segurado a diferença entre o valor do

benefício e o valor garantido pela licença, durante todo o período de concessão do benefício.

Neste caso, ocorre apenas a suspensão do contrato de trabalho.167

Quanto à cessação do auxílio-doença, não será cancelado enquanto não houver o

segurado capacidade para o trabalho, ou então em casos em que o segurado não seja dado

como habilitado. Por outro lado, cessará quando houver recuperação da capacidade para o

trabalho, ou quando for convertido o benefício em aposentadoria por invalidez. Quando o

164 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 597.165 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 275.166 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.350.167 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 319-320.

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segurado contrair sequela que altere ou diminua sua capacidade para o trabalho que exercia, a

este será convertido em auxílio-acidente.168

2.1.6 Do salário-família

Criado pela Lei n. 4.266, de 3 de outubro de 1963, e conceituado pelos arts. 65 e

seguintes da Lei de Benefícios, o salário-família é devido aos segurados empregados, exceto

ao empregado doméstico; bem como aos aposentados por invalidez ou idade e os demais

aposentados acima de 65 (sessenta e cinco) anos (homem) ou acima de 60 (sessenta) anos

(mulher) que obtêm renda mensal de até R$ 810,18 (oitocentos e dez reais e dezoito

centavos), para auxiliar na manutenção dos dependentes de até 14 (quatorze) anos

incompletos ou inválidos.169

Para ter direito ao salário-família, a Previdência Social não exige tempo mínimo

de contribuição, ou seja, independe de carência.170

O valor recebido por este benefício será de R$ 27,64 (vinte e sete reais e sessenta

e quatro centavos) por filho, ao segurado que perceber até R$ 539,03 (quinhentos e trinta e

nove reais e três centavos) mensal. Ao segurado que receber entre R$ 539,04 (quinhentos e

trinta e nove reais e quatro centavos) até R$ 810,18 (oitocentos e dez reais e dezoito

centavos), a este será assegurado uma quantia de R$ 19,48 (dezenove reais e quarenta e oito

centavos) por filho de até 14 anos incompleto ou inválido.171

Quanto ao início do benefício, será a partir da comprovação do nascimento da

criança ou da apresentação da documentação necessária. Será exigida também a apresentação

de caderneta de vacinação, quando menor de 7 (sete) anos; e comprovante de frequência

escolar do filho, a partir de 7 (sete) anos de idade.172

168 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 600.169 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 316.170 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.356.171 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Portaria Interministerial MPS/MF n. 333, de 29 de Junho de 2010. Disponívelem: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/65/MF-MPS/2010/333.htm>. Acesso em: 01 de novembro de2010.172 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 278.

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Segundo Sérgio Pinto Martins, o direito ao salário-família cessará

automaticamente:

a) por morte do filho ou equiparado, a contar do mês seguinte ao do óbito.Não é, portanto, no próprio mês do óbito que há a cessação do salário-família;b) quando o filho ou equiparado completar 14 anos de idade, salvo seinválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário. Em relação àinvalidez, não há limite de idade;c) pela recuperação da capacidade do filho ou equiparado inválido, a contardo mês seguinte ao da cessação da incapacidade;d) pelo desemprego do segurado. Isso mostra que o benefício é devido aosegurado em razão de este estar empregado. Sendo dispensado, perde odireito ao salário-família;e) pela morte do segurado. Com a morte do segurado, deixa de existir arelação de emprego, cessando o pagamento do salário-família.173

2.1.7 Do salário-maternidade

No campo previdenciário, o salário-maternidade se encontra estabelecido nos arts.

71 a 73 da Lei de Benefícios n. 8.213/1991, e é devido às trabalhadoras nos primeiros 120

(cento e vinte) dias em que ficam afastadas do emprego por causa do parto, ou seja, em

virtude do nascimento de um filho.174

No entanto, as mães adotivas também estão asseguradas por este benefício: a) se a

criança tiver até 1 (um) ano de idade, o benefício é concedido por 120 (cento e vinte) dias; b)

se tiver de 1 (um) ano a 4 (quatro) anos de idade, será concedido por 60 (sessenta) dias; e, c)

se tiver de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, será concedido por 30 (trinta) dias.175

Quanto a sua carência, não são exigidas contribuições para a empregada

doméstica, para as trabalhadoras avulsas e empregadas. Por outro lado, será de 10 (dez)

contribuições para a contribuinte individual e facultativa, bem como para a segurada especial,

173 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 390.174 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.361.175 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 299.

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devendo comprovar seu trabalho rural nos últimos 10 (dez) meses imediatamente anteriores

ao requerimento do benefício (requerido antes no parto) ou da data do nascimento do filho.176

O valor do benefício salário-maternidade varia de acordo com a categoria da

segurada, devendo ser pago em pelo menos 1 (um) salário-mínimo. A segurada empregada e a

trabalhadora avulsa receberão uma renda mensal igual à sua remuneração integral; a segurada

empregada doméstica perceberá um valor correspondente ao do seu último salário-de-

contribuição; o da segurada especial consistirá em um doze avos do valor sobre o qual incidiu

sua última contribuição anual; e para as seguradas contribuintes individuais e facultativas,

será a média dos doze últimos salários-de-contribuição, apurados em um período não superior

a 15 (quinze) meses.177

Conta-se como início deste benefício, 28 (vinte e oito) dias antes do parto até que

chegue aos 120 (cento e vinte) dias estipulado. O atestado médico será determinante para o

início do afastamento do trabalho, bem como a certidão de nascimento do filho.178

Consequentemente, há a cessação do benefício depois de transcorrido o prazo

determinado (120 dias) ou pelo falecimento da segurada. Vale ressaltar que o benefício pode

ser prorrogado em casos excepcionais.179

2.1.8 Da pensão por morte

Disposto nos arts. 74 e seguintes da Lei 8.213/1991, o benefício pensão por morte

tem como finalidade remunerar os dependentes do segurado que falecer.180

A pensão por morte independe de carência, ou seja, não necessita de contribuição.

Porém, para ter direito a este benefício, o beneficiário precisa comprovar sua qualidade de

dependente, bem como comprovar a qualidade de segurado do falecido e o seu óbito.181

176 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 616-617.177 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 380.178 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 280.179 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 618.180 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 282.181 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.373.

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O valor da renda mensal da pensão por morte será de 100% (cem por cento) do

valor a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento ou

do valor da aposentadoria que o segurado recebia.182

Terá por início a partir do óbito, quando requerida por dependente maior de

dezesseis anos de idade, até trinta dias depois do falecimento; ou por dependente menor de

dezesseis anos de idade, até trinta dias após completar essa idade. Quando for requerida após

o prazo referido acima, terá início a partir do requerimento. No caso de morte presumida, terá

início da decisão judicial.183

A cota individual da pensão por morte cessará quando ocorrer à morte do

pensionista; quando o filho ou pessoa a ele equiparada obter a emancipação ou completar 21

(vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido; ou quando o pensionista inválido cessar a

invalidez.184

Caso haja mais de um pensionista, será a pensão dividida em partes iguais.

Quando dividida em dois ou mais pensionistas, reverterá em favor dos demais a parte daquele

cujo direito à pensão cessar. Quando o último pensionista tiver sua parte cessada, a pensão se

extinguirá.185

2.1.9 Do auxílio-reclusão

Disciplinado no art. 80 da Lei de Benefícios n. 8.213/1991 e arts. 116 a 119 do

Decreto n. 3.048 de 6 de maio de 1999, este benefício tem como escopo dar subsistência aos

dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão, desde que o segurado não esteja

recebendo nenhum outro benefício, nem percebendo remuneração de sua empresa.186

182 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 590.183 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 284.184 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 370.185 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.373.186 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 287.

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Para este tipo de benefício não são exigidas contribuições, ou seja, independe de

carência. Consequentemente, para sua concessão exige-se apenas que se comprove a situação

de segurado.187

Como o auxílio-reclusão é devido nas mesmas condições da pensão por morte, a

renda mensal deste benefício é de 100% (cem por cento) do valor a que teria direito se

estivesse aposentado por invalidez na data da prisão ou do valor que o segurado recebia188,

não podendo o salário-de-contribuição ultrapassar o valor de R$ 810,18 (oitocentos e dez

reais e dezoito centavos).189

Caso o requerimento do auxílio-reclusão seja feito em até 30 (trinta) dias após a

prisão do segurado, o dependente terá direito ao benefício a partir do seu recolhimento a

prisão; caso seja requerido depois de passados 30 (trinta) dias, a vigência será a partir do

requerimento.190

Segundo Ítalo, Jeane e Amauri, quanto ao fim do benefício, ter-se-á por dois

modos:191

Pela cessação: ou seja, será totalmente cancelada com a extinção da últimacota individual; se o segurado, ainda que privado de sua liberdade ourecluso, passar a receber aposentadoria; pelo óbito do segurado oubeneficiário; na data da soltura; pela emancipação ou quando completar 21(vinte e um) anos de idade, salvo se inválido; ou, em se tratando dedependente inválido, pela cessação da invalidez.Pela suspensão: ou seja, será o benefício apenas suspenso, no caso de fuga;se o segurado, ainda que privado de liberdade passar a receber auxílio-doença; se o dependente deixar de apresentar atestado trimestral, firmadopela autoridade competente, para prova de que o segurado permanecerecolhido a prisão; ou quando o segurado deixar a prisão pro livramentocondicional, por cumprimento da pena em regime aberto ou por prisãoalbergue.

187 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 605.188 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.380.189 PREVIDÊNCIA SOCIAL. Portaria Interministerial MPS/MF nº 333, de 29 de Junho de 2010. Disponívelem: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/65/MF-MPS/2010/333.htm>. Acesso em: 01 de novembro de2010.190 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 605.191 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.381-382.

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2.1.10 Do auxílio-acidente

Previsto no art. 86, da Lei de Benefícios n. 8.213/1991, o auxílio-acidente é pago

como forma de indenização ao segurado que contrai sequela definitiva decorrente de acidente,

na qual lhe impossibilita exercer sua atividade; não podendo ser confundido com auxílio-

doença, já que neste o segurado estará temporariamente incapaz de exercer sua atividade.192

As situações para a concessão deste benefício estão previstas no Regulamento da

Previdência Social, Anexo III, do Decreto n. 3.048/1999.193

Quanto à carência para se ter direito a este benefício, será de nenhuma

contribuição, ou seja, independe de carência.194

Toma-se por início do benefício, a contar do dia seguinte ao da cessação do

auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo

acidentado (art. 86, § 2º, da Lei n. 8.213/1991). Caso o segurado perceba salário mensal ou

qualquer outro tipo de benefício, salvo de aposentadoria, não trará prejuízo à continuação do

recebimento do auxílio-acidente (art. 86, § 3º, da Lei n. 8.213/1991).195

Quanto a sua renda mensal inicial, corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do

salário-de-benefício que deu origem ao auxílio-doença do segurado. Sendo que a sua cessação

se dará, em caso de o segurado obter uma aposentadoria, ou pelo seu falecimento.196

2.1.11 Do seguro-desemprego

Criado pela Lei n. 7.998, de 11 de janeiro de 1990, o seguro-desemprego não se

encontra disciplinado na Lei n. 8.213/1991, no entanto, não se retira sua natureza de benefício

192 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 424.193 BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o regulamento da previdência social, e dá outrasprovidências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.194 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.369.195 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 296.196 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 608.

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previdenciário, uma vez que o art. 7º, II, da Constituição da República Federativa do Brasil de

1998, afirma sua natureza previdenciária. Este benefício é devido aos trabalhadores urbanos e

rurais, em caso de desemprego involuntário (sem justa causa), para promover assistência

financeira temporária ao trabalhador, enquanto segue na busca de um novo emprego.197

Atualmente, o seguro-desemprego é concedido ao trabalhador que obtiver um

período aquisitivo de 16 (dezesseis) meses. O trabalhador que preencher esse requisito terá

direito ao benefício, a contar da data de dispensa que deu origem à primeira habilitação (art.

4º, da Lei n. 7.998/1990).198

Quanto ao seu requerimento, só será possível a partir do 7º (sétimo) dia

subsequente à rescisão do contrato de trabalho; sendo que este pedido é intransferível, ou seja,

o próprio trabalhador que foi dispensado deverá fazer (art. 6ª, da Lei n. 7.998/1990).199

Quanto à concessão do seguro-desemprego, existe um período variável de 3 (três)

a 5 (cinco) parcelas mensais: a) serão devidas 3 (três) parcelas, quando o trabalhador

comprovar seu vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, de

no mínimo 6 (seis) meses e no máximo 11 (onze) meses; b) serão devidas 4 (quatro) parcelas,

quando o trabalhador comprovar seu vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa

física a ela equiparada, de no mínimo 12 (doze) meses e no máximo 23 (vinte e três) meses; e,

c) serão devidas 5 (cinco) parcelas, quando o trabalhador comprovar vínculo empregatício

com pessoas jurídica ou pessoa física a ela equiparada, de no mínimo 24 (vinte e quatro);

ambas tendo como base o período de referência, os últimos 36 (trinta e seis) meses.200

Segundo Sérgio Pinto Martins, o seguro-desemprego será suspenso quando:

a) o trabalhador for admitido em novo emprego. Essa hipótese não é desuspensão do benefício, mas de sua cessação, pois o segurado passa a estarempregado;b) houver início de pagamento de benefício previdenciário, salvo auxílio-acidente;c) do início de percepção de auxílio-desemprego (art. 7º, III, da Lei nº7.998/1990). O auxílio-desemprego era anteriormente previsto na Lei nº4.923/65, que vigorou até a edição do Decreto-lei nº 2.284/86, quando foicriado o seguro-desemprego.201

197 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 297.198 BRASIL. Lei n. 7.998, de 11 de janeiro de 1990. Regula o Programa do Seguro-Desemprego. Disponívelem: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7998.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.199 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 298.200 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 446.201 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 449.

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Por outro lado, colhem-se os ensinamentos de João Ernesto Aragonês Vianna,

quanto ao cancelamento do seguro-desemprego:

I – pela recusa, por parte do trabalhador desempregado, de outro empregocondizente com sua qualificação e remuneração anterior;II – por comprovação de falsidade na prestação das informações necessáriasà habilitação;III – por comprovação de fraude visando à percepção indevida do benefíciodo seguro-desemprego;IV – pela morte do segurado.202

Além dos benefícios expostos acima, o Regime Geral de Previdência Social

dispõe aos seus segurados e dependentes outro tipo de prestação previdenciária, os serviços de

natureza imaterial.203

2.2 SERVIÇOS PREVIDENCIÁRIOS

2.2.1 Do serviço social

Previsto no art. 88 da Lei n. 8.213/1991, o serviço social foi criado com o escopo

de prestar orientação e apoio ao beneficiário, solucionando problemas pessoais e familiares,

bem como solucionar questões referentes a benefícios, de modo a esclarecer os direitos dos

beneficiários a tais benefícios e os meios de exercê-los.204

Para obter êxito nas soluções dos problemas, o serviço social, quando achar

necessário, utilizará intervenções técnicas, assistência de natureza jurídica, ajuda material,

recursos sociais, intercâmbio com empresas e pesquisa social, inclusive mediante celebração

de convênios, acordos ou contratos (§ 2°, do art. 88 da Lei n. 8.213/1991).205

202 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 299.203 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 635.204 EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso dedireito previdenciário: teoria, jurisprudência e mais de 900 questões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.388.205 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 635.

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O serviço social também buscará a participação do beneficiário junto à política

previdenciária, em articulação com as associações e entidades de classe, bem como prestará

assessoramento técnico aos estados e municípios na elaboração e implantação de suas

propostas de trabalho. (§ 3° e § 4°, do art. 88, da Lei n. 8.213/1991).206

2.2.2 Da habilitação e da reabilitação profissional

Disciplinado pelos arts. 89 e seguintes da Lei n. 8.213/1991, a habilitação e

reabilitação profissional tem como finalidade resgatar para o trabalho o beneficiário

incapacitado parcial ou totalmente. E, quanto às pessoas portadoras de deficiência, este

serviço deverá proporcionar meios de (re)educação e de (re)adaptação profissional e social,

fazendo com que elas participem do mercado de trabalho e do contexto onde vivem.207

Trazem-se a lume os ensinamentos de João Ernesto Aragonés Vianna quanto à

distinção de habilitação e reabilitação profissional:

É preciso não confundir os conceitos. A habilitação profissional tem porfinalidade habilitar o beneficiário, ou seja, dar capacidade profissional aquem não possuía. A reabilitação profissional, por outro lado, tem porobjetivo reabilitar o beneficiário, quer dizer, devolver a capacidadeprofissional a quem já tinha, mas, perdeu.208

Durante a reabilitação profissional, quando indispensável, serão fornecidos pelo

Instituto Nacional do Seguro Social, em caráter obrigatório, aparelhos de prótese, órtese e

instrumentos de auxílio para locomoção, com a devida reparação ou substituição caso fiquem

desgastados ou danificados pelo uso diário. Também será fornecida alimentação, bem como

transporte ao acidentado do trabalho, quando necessário.209

Com a conclusão do processo de habilitação ou reabilitação social e profissional,

será emitido pela Previdência Social certificado individual, mencionando as atividades que o

206 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 300.207 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 635.208 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 301.209 FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Manual de prática previdenciária. 3. ed. Leme/SP: AnhangueraEditora Jurídica, 2010. p. 323.

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beneficiário poderá exercer; podendo exercer qualquer outra atividade para a qual se

capacitar.210

Tanto o Serviço Social, como a Habilitação e a Reabilitação profissional,

independem de carência, ou seja, é dever do Instituto Nacional do Seguro Social amparar seus

segurados e dependentes.211

210 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente dotrabalho, assistência social e saúde. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 489.211 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 300.

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3 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Neste capítulo abordaremos o instituto da prescrição e da decadência no ramo do

direito previdenciário em matéria de ações de revisão de benefício previdenciário. Para isso,

inicialmente torna-se imperioso esclarecer os referidos institutos com base no Direito Civil

Brasileiro, para, consequentemente, demonstrar com maior enfoque a prescrição e a

decadência previdenciária.

Sucessivamente, apresentaremos o surgimento de ambos os institutos para o

Direito Previdenciário, que posteriormente passou por diversas modificações – principalmente

quanto aos prazos decadenciais –, alterando, de tempo em tempo o art. 103 da Lei n. 8.213, de

24 de julho de 1991, denominada Lei de Planos de Benefícios da Previdência Social.

Sendo assim, será demonstrada a divergência de decisões dos Tribunais quanto

aos referidos institutos.

3.1 PRESCRIÇÃO NO DIREITO CIVIL

O instituto da prescrição para o Direito Civil Brasileiro – paradigma para o

Direito Previdenciário – atualmente está disposto nos arts. 189 à 206, do Código Civil de

2002.212

A prescrição, segundo Gonçalves citando Miranda, seria “a exceção, que alguém

tem, contra o que não exerceu, durante certo tempo, que alguma regra jurídica fixa, a sua

pretensão ou ação.”213

Assim, quando o titular de um direito tiver este violado, aquele poderá exigir,

durante certo lapso de tempo, que o dano seja restabelecido, ou seja, devolvido, mediante uma

ação ou omissão.214

212 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.213MIRANDA apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. eatual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 469.214 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 469-470.

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Todavia, a renúncia da prescrição só valerá quando esta se consumar, não

podendo ter prejuízo a terceiro, sendo assim, não se admite a renúncia prévia do instituto,

podendo ser expressa ou tácita.215

Nesse sentido, dispõe o art. 191, do Código Civil de 2002: “A renúncia da

prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro,

depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do

interessado, incompatíveis com a prescrição”.216

Sobre a distinção da renúncia, Gagliano e Pamplona Filho lecionam:

Renunciar à prescrição consiste na possibilidade de o devedor de uma dívidaprescrita, consumado o prazo prescricional e sem prejuízo a terceiro, abdicardo direito de alegar esta defesa indireta de mérito (a prescrição) em face doseu credor. Se anuncia o pagamento, e o executa, renunciou expressamente.Se, embora não o haja afirmado expressamente, constituiu procurador,providenciou as guia bancárias para o depósito ou praticou qualquer atoincompatível com a prescrição, significa que renunciou tacitamente.217

Diniz também explica a diferença entre renúncia expressa e renúncia tácita:

Como se vê, não se permite a renúncia prévia ou antecipada à prescrição afim de não destruir sua eficácia prática, caso contrário todos os credorespoderiam impô-la aos devedores, portanto, somente o titular poderárenunciar à prescrição após a consumação do lapso previsto na lei. Narenúncia expressa o prescribente abre mão da prescrição de modo explícito,declarando que não a quer utilizar e na tácita pratica atos incompatíveis coma prescrição, p. ex., se pagar dívida prescrita, se efetivar transiçãoextrajudicial, se constituir garantia real ou fidejussória após o prazoprescricional, etc.218

Segundo Gonçalves, são dois os requisitos para a validade da renúncia: “[...] que a

prescrição esteja consumada; [...] que não prejudique terceiro.”219

215 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 474216 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.217 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral.11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 468.218 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 24. ed. rev. e atual. deacordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 394.219 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 474.

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A prescrição poderá ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem

aproveita, conforme afirma o art. 193 do Código Civil de 2002.220

Diniz complementa: “Pode ser invocada em qualquer fase processual; na

contestação, na audiência de instrução e julgamento, nos debates, em apelação, em embargos

infringentes, [...]”.221

Contudo, é inadmissível a arguição da prescrição perante o Superior Tribunal de

Justiça e o Supremo Tribunal Federal, eis que a esses Tribunais só cabe reexame de matéria já

decidida.

Gonçalves enfatiza:

Se a prescrição, entretanto, não foi suscitada na instância ordinária (primeirae segunda instância), é inadmissível a sua arguição no recurso especial,perante o Superior Tribunal de Justiça, ou no recurso extraordinário,interposto perante o Supremo Tribunal Federal, por faltar oprequestionamento exigido nos regimentos internos desses tribunais, que têmforça de lei.222

Com o advento da Lei n. 11.280, de 16 de fevereiro de 2006, fora revogado o art.

194 do Código Civil, que impossibilitava o magistrado reconhecer de ofício a prescrição; lei

esta que também modificaria o disposto no § 5°, do art. 219, do Código de Processo Civil, o

qual determinaria que a prescrição pudesse ser pronunciada de ofício pelo juiz.223

Artigo revogadoArt. 194. O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo sefavorecer a absolutamente incapaz.224

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e fazlitigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constituiem mora o devedor e interrompe a prescrição.[...]§ 5º O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.225

220 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.221 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 24. ed. rev. e atual. deacordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 395.222 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 475-476.223 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral.11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 469.224 BRASIL. Lei n. 11.280, de 16 de fevereiro de 2006. Revoga o art. 194 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de2002 - Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.225 BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L5869.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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A lei estabelece algumas causas que ocasionam o impedimento, a suspensão e a

interrupção do curso do prazo prescricional. As causas que impedem ou suspendem o curso

do prazo da prescrição estão elencadas do art. 197 ao art. 201, do Código Civil de 2002:

Art. 197. Não corre a prescrição:I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante atutela ou curatela.Art. 198. Também não corre a prescrição:I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados oudos Municípios;III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo deguerra.Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:I - pendendo condição suspensiva;II - não estando vencido o prazo;III - pendendo ação de evicção.Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízocriminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, sóaproveitam os outros se a obrigação for indivisível.226

Para corroborar, Schlichting define as causas de suspensão e de impedimento da

prescrição:

Impedimento da prescrição é a ocorrência jurídica que decorre de um fato-situação-jurídica que faz com que não se inicie a contagem do prazoestabelecido para que o agente pretensor busque, junto ao Poder Judiciário, atutela relativa à sua pretensão. [...] Suspensão da prescrição é a ocorrênciajurídica que decorre de um fato-situação-jurídica que faz com que acontagem do prazo estabelecido para que o agente pretensor busque, junto aoPoder Judiciário, a tutela relativa à sua pretensão, se já iniciado, fique emsuspenso, até que cesse a situação suspensiva.227

Assim, o que distingue impedimento e suspensão é quanto ao termo inicial. No

impedimento o prazo nem começa a fluir, enquanto na suspensão, tem-se o prazo iniciado,

que conseqüentemente é “paralisado”, até que se dê por fim a causa suspensiva.228

226 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.227 SCHLICHTING, Arno Melo. Prescrição, decadência, preclusão, imprescritibilidade: código civil de2002: identificação a priori: direito potestativo - ações de estado. Florianópolis: Momento Atual, 2004. p. 30.228 GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral.11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 471.

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É neste sentido, a observação de Pereira: “[...] se não teve ainda início a

prescrição, pela ocorrência de uma causa que se opôs ao seu começo, o que se verificou foi

ter-se impedido e não suspenso o prazo prescricional [...]”.229

Também elencadas pelo Código Civil de 2002, estão as causas que interrompem o

prazo da prescrição, vejamos:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez,dar-se-á:I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se ointeressado a promover no prazo e na forma da lei processual;II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;III - por protesto cambial;IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou emconcurso de credores;V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importereconhecimento do direito pelo devedor.Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do atoque a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.230

Segundo Maria Helena Diniz as causas que interrompem o prazo prescricional são

“as que inutilizam a prescrição iniciada, de modo que o seu prazo recomeça a correr da data

do ato que a interrompeu ou do último ato do processo que a interromper”.231

Analisando o artigo acima exposto, percebe-se em seu “caput” que a interrupção

da prescrição poderá ocorrer apenas uma vez, daí a diferença para o impedimento e a

suspensão do prazo prescricional, eis que estas não dispõem da quantidade que podem

ocorrer.232

Quanto à causa estabelecida no inciso I, do art. 202 do Código Civil, também está

prevista expressamente no Código de Processo Civil, que a interrupção da citação fará com

que o prazo recomece a fluir por inteiro, retroagindo à data da propositura da ação.

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e fazlitigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constituiem mora o devedor e interrompe a prescrição.

229 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: introdução ao direito civil: teoria geral dedireito civil. 22. ed. rev. e atual. de acordo com o Código Civil de 2002, por Maria Celina Bodin de Moraes. Riode Janeiro: Forense, 2008. p. 696.230 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.231 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. 20. ed. rev. aum. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 339.232 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 617.

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§ 1º A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação.233

O novel estatuto civil dispõe em seu art. 203, que a prescrição poderá ser

interrompida por qualquer interessado.234

Venosa nos ensina o significado de pessoa interessada:

O titular do direito, o prescribente, é o maior interessado em interromper aprescrição. Geralmente, é ele quem a promove. O representante legal doprescribente pode promover a interrupção. O assistente dos menoresrelativamente capazes pode fazê-lo, assim como os representantesconvencionais, pois contra os absolutamente incapazes não corre aprescrição. No mais, importa examinar no caso concreto quem possuiinteresse para promover a interrupção da prescrição. Em princípio,interrupção efetivada por quem não tenha interesse ou legitimação seráineficaz. Os terceiros, com legítimo interesse, podem promover ainterrupção, tais como os herdeiros do prescribente, seus credores, osfiadores, etc.235

Ademais, ressalta-se que os efeitos da prescrição são pessoais, porém, admitem-se

exceções; é o que o art. 204 e parágrafos, do Código Civil, dispõem:236

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aosoutros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seuherdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros;assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve osdemais e seus herdeiros.§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário nãoprejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate deobrigações e direitos indivisíveis.§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.237

Por fim, Venosa nos ensina que existe a possibilidade de leis especiais – como é o

caso da Lei de Benefícios, no direito previdenciário – disciplinarem sobre as causas de

233 BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L5869.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.234 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010235 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 560.236 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 484.237 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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impedimento ou suspensão do prazo prescricional: “Leis posteriores criaram outras situações

de impedimento e suspensão, como é o caso, entre outros casos, do art. 440 da Consolidação

das Leis do Trabalho: ‘Contra menores de 18 anos não corre nenhum prazo de prescrição’”.238

3.2 DECADÊNCIA NO DIREITO CIVIL

O instituto da decadência para o Direito Civil Brasileiro atualmente está disposto

nos arts. 207 à 211, do Código Civil de 2002.239

A decadência segundo Gonçalves citando Francisco Amaral “é a perda do direito

potestativo pela inércia do seu titular no período determinado em lei”.240

Entretanto, Diniz conceitua decadência como “a extinção do direito pela inação de

seu titular que deixa escoar o prazo legal ou voluntariamente fixado para seu exercício”.241

Venosa nos ensina a diferença da prescrição para a decadência: “A regra geral,

sempre admitida, é no sentido de que a decadência é contínua, não admitindo suspensão,

impedimento ou interrupção”.242

É nesse sentido a redação dada pelo art. 207 do Código Civil de 2002:

Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplica à decadência asnormas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.243

Sendo assim, o prazo decadencial em regra geral é aplicado contra todos, sem

paralisação. No entanto, há exceção com relação ao prazo decadencial conter causa de

impedimento e suspensão contra os incapazes, conforme dispõe os dispositivos do Código

Civil de 2002, in verbis:

Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.

238 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 555.239 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 01 de novembro de 2010.240 AMARAL, Francisco apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral.5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 486.241 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 24. ed. rev. e atual. deacordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 394.242 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 627.243 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contraos seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ounão a alegarem oportunamente.

Art. 198. Também não corre a prescrição:[...]I – contra os incapazes de que trata o art. 3°.

Art. 3°. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos davida civil:I – os menores de 16 (dezesseis) anos;II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessáriodiscernimento para a prática desses atos;III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir suavontade.244

Para corroborar, cabe trazer à tona os ensinamentos de Gonçalves, quanto à

exceção da aplicação da decadência:

Este dispositivo abre uma exceção com relação ao artigo anterior, nãoadmitindo a fluência de prazo decadencial contra os absolutamente incapazes(art. 198, I), bem como permitindo que os relativamente incapazesresponsabilizem os representantes e assistentes que derem causa àdecadência, não a alegando oportunamente em seu favor (art. 195).245

No mesmo sentido, segundo Venosa, “[...] pela nova lei, não correrá decadência

contra os absolutamente incapazes, e opera-se o direito regressivo de indenização, nas

hipóteses do art. 195”.246

Quanto ao instituto da decadência, o juiz deverá, de ofício, conhecê-lo, quando

estabelecido por lei. É nessa ordem a previsão do art. 210 do Código Civil de 2002: “Deve o

juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei”.247

Dessa forma, é o entendimento de Venosa, que dispõe: “A decadência deverá ser

conhecida de ofício pelo juiz, quando se tratar de prazo decadencial fixado por lei [...]”.248

244 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.245 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 484.246 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 627.247 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.248 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 627.

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Cabe ressaltar que, ao contrário da prescrição, a decadência é irrenunciável.

Assim prevê o art. 209 do Código Civil: “É nula a renúncia à decadência”.249

O principal fundamento para justificar a nulidade da renúncia é quanto a sua

própria natureza, ou seja, por versar questões de ordem pública. Assim é o entendimento de

Gonçalves:

A irrenunciabilidade decorre da própria natureza da decadência. O fimpredominante desta é o interesse geral, sendo que os casos legalmenteprevistos versam sobre questões de ordem pública. Daí a razão de não seadmitir que possam as partes afastar a incidência da disposição legal.250

Contudo, há exceção quanto à renúncia da decadência, ou seja, o instituto poderá

ser renunciado quando fixado por vontade das partes. A respeito, Venosa ressalta: “[...]

Admite-se, portanto, que a decadência pode ser fixada por vontade das partes, quando então

se admitirá a renúncia [...]”.251

Por fim, destaca-se a distinção entre decadência legal e decadência convencional.

A primeira tem como base os prazos fixados em lei, enquanto a segunda tem como prazo

aquele pactuado pelas partes.

No Novel Estatuto Civil, a decadência convencional está estabelecida no art. 211,

in verbis: “Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em

qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação”.252

Analisando o referido artigo, percebe-se que o magistrado está impedido de

reconhecer o instituto de ofício, pois, nesse tipo de decadência, quem deve alegá-la é a parte

prejudicada.

Assim, diante da síntese transcrita, verifica-se a importância dos institutos da

prescrição e decadência como pilar da vida civil, demonstrando a existência de direitos, lapso

temporal, bem como suas peculiaridades.

249 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.250 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 488.251 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 627.252 BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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3.3 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA À LUZ DAS AÇÕES DE REVISÃO DE BENEFÍCIOPREVIDENCIÁRIO

3.3.1 Da prescrição

Com a criação da Lei de Benefício n. 8.213/1991, o instituto da prescrição ao

direito das prestações não pagas pela Previdência Social, acabou sendo inserido no art. 103,

caput, da referida Lei.

Art. 103. Sem prejuízo do direito ao benefício, prescreve em 5 (cinco) anos odireito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria,resguardados os direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dosausentes.253

No entanto, o instituto da prescrição já existia muito antes do seu surgimento pela

referida Lei de Benefícios. Conforme o Decreto n. 20.910, de 06 de janeiro de 1932, a

prescrição já atingia às ações previdenciárias:

Art. 1º - As Dividas [sic] Passivas Da União, Dos Estados E DosMunicípios, Bem Assim [sic] Todo E Qualquer Direito Ou Ação Contra AFazenda Federal, Estadual Ou Municipal, Seja Qual For A Sua Natureza,Prescrevem Em Cinco Anos Contados Da Data Do Ato Ou Fato Do Qual SeOriginarem.

Art. 2º - Prescrevem Igualmente No Mesmo Prazo Todo O Direito E AsPrestações Correspondentes A Pensões Vencidas Ou Pôr [sic] Vencerem, AoMeio Soldo E Ao Montepio Civil E Militar Ou A Quaisquer Restituições OuDiferenças.

Art. 3º - Quando O Pagamento Se Dividir Por Dias, Meses Ou Anos APrescrição Atingira [sic] Progressivamente As Prestações, A Medida QueCompletarem Os Prazos Estabelecidos Pelo Presente Decreto.254

253 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social edá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm>. Acessoem: 01 de novembro de 2010.254 BRASIL. Decreto n. 20.910, de 06 de janeiro de 1932. Regula prescrição qüinqüenal. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D20910.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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Após vários julgados, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 85, com o

intuito de unificar o prazo prescricional em que a Fazenda Pública (Previdência Social) figure

como devedora:

SÚMULA 85 - Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a FazendaPública figure como devedora, quando não tiver sido negado o própriodireito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes doqüinqüênio anterior à propositura da ação.255

Desse modo, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região vêm aplicando em suas

decisões o teor da Súmula n. 85 do STJ, vejamos:

PREVIDENCIÁRIO. DECADÊNCIA. PRESCRIÇÃO. REVISÃO DEBENEFÍCIO. SALÁRIOS DE CONTRIBUIÇÃO. RECONHECIMENTODE PARCELAS SALARIAIS PERANTE A JUSTIÇA DO TRABALHO.[...]2. Apenas as parcelas anteriores ao quinquênio que antecede a propositura daação é que são alcançadas pela prescrição. Súmula nº 85 do STJ.256

Convém ressaltar que, após a inserção do instituto da prescrição na Lei de

Benefícios, este passou por algumas alterações, estando atualmente previsto no parágrafo

único do art. 103 da referida Lei.

Art. 103.[...]Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriamter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ouquaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social, salvo odireito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do Código Civil.(Incluído pela Lei nº 9.528, de 1997)257

Para asseverar esse entendimento, cabe transcrever os ensinamentos de Castro eLazarri com relação à matéria prescricionária nas ações de revisão de benefícios:

Sem prejuízo do direito ao benefício, prescreve em cinco anos, acontar da data em que deveriam ter sido pagas, o direito às prestações

255 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmulas. Disponível em:<http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=380>. Acessoem: 01 de novembro de 2010.256 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação cível n. 2008.70.00.011057-8/PR, 6° Turma.Relator Des. Federal João Batista Pinto Silveira. Decisão: 26 de maio de 2010.257 BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social edá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm>. Acessoem: 01 de novembro de 2010.

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vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pelaPrevidência Social, resguardados, na forma da lei civil, os direitos dosmenores, dos incapazes ou dos ausentes (art. 103, parágrafo único, daLei n. 8.213/91), contra os quais não corre a prescrição, enquantonesta situação. 258

Nesse sentido, ensina Vianna:

Na redação atual, prescreve em cinco anos, a contar da data em quedeveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestaçõesvencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devida pelaprevidência social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes,na forma do Código Civil. 259

Sendo assim, a prescrição existe no ramo previdenciário apenas para impedir que

o segurado/beneficiário da Previdência Social busque a qualquer tempo as prestações não

pagas pela autarquia, mas sim, dentro do prazo de 5 (cinco) anos. Portanto, tratando-se de

ação previdenciária, não há que se falar na prescrição de pretender buscar a declaração de um

direito, mas sim na prescrição de reclamar dentro de certo tempo cada uma das parcelas ou

diferenças devidas pela Previdência Social.

Para explicar o caráter prático do funcionamento da prescrição do direito

previdenciário, trazem-se a lume os ensinamentos de Castro e Lazarri:

A regra geral de prescritibilidade dos direitos patrimoniais existe em face danecessidade de se preservar a estabilidade das situações jurídicas. Entretanto,as prestações previdenciárias têm finalidades que lhes emprestamcaracterísticas de direitos indisponíveis, atendendo a uma necessidade deíndole eminentemente alimentar. Daí que o direito ao benefícioprevidenciário em si não prescreve, mas tão-somente as prestações nãoreclamadas dentro de certo tempo, que vão prescrevendo, uma a uma, emvirtude da inércia do beneficiário.260

Quanto ao direito dos menores, dos incapazes e dos ausentes, este não é afetado

pelo prazo prescricional. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, bem como outros

Tribunais, assim tem decidido:

PREVIDENCIÁRIO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. PENSÃO PORMORTE. DEPENDENTE MENOR. HABILITAÇÃO POSTERIOR.TERMO INICIAL. 1. O termo inicial da pensão por morte paga a

258 CASTRO, Carlos Alberto Parreira de; LAZARRI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7 ed. erev. São Paulo: LTr, 2006. p. 664-665.259 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 2 ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 308.260 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 665.

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dependente menor é a data do óbito do segurado instituidor do amparo. 2.Conforme a inteligência do art. 76 da Lei 8.213/91, a inscrição tardia dedependente não impede o percebimento integral por parte daquele que fazjus ao benefício desde data anterior. 3. Consoante entendimentopredominante nesta Corte, o absolutamente incapaz não pode ser prejudicadopela inércia de seu representante legal, até porque não se cogita de prescriçãoem se tratando de direitos de incapazes, a teor do art. 198, inciso I, doCódigo Civil c/c os artigos 79 e 103, parágrafo único da Lei de Benefícios,não se lhe aplicando o disposto no artigo 74 da Lei 8.213/91.261

Ainda:

PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS INFRINGENTES. PENSÃO PORMORTE DE PAI. REQUISITOS PREENCHIDOS. HABILITAÇÃOTARDIA. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. ABSOLUTAMENTEINCAPAZ. ÚNICOS DEPENDENTES CONHECIDOS E HABILITADOSNA ÉPOCA DA CONCESSÃO DA PENSÃO. BOA-FÉ.IRREPETIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES.1. Contra o menor absolutamente incapaz não corre a prescriçãoqüinqüenal, a teor do disposto no artigo 198, inciso I, do Código Civil, edos artigos 79 e 103, parágrafo único, ambos da Lei de Benefícios.2. O absolutamente incapaz não pode ser prejudicado pela inércia de seurepresentante legal, porquanto não se cogita de prescrição em se tratando dedireitos de incapazes, a teor do art. 198, inciso I, do Código Civil c/c osartigos 79 e 103, parágrafo único da Lei de Benefícios.3. Nessa esteira, a regra do artigo 76 da Lei 8213/91 deve ceder ante anatureza protetiva do arcabouço normativo construído para tutela dosincapazes.4. As prestações alimentícias decorrentes de benefícios previdenciários, sepercebidas de boa-fé, não estão sujeitas à repetição, mormente se eram osúnicos dependentes conhecidos e habilitados na época da concessão dapensão. Precedentes do STJ.262 (grifo nosso)

Desse modo, tramita na Câmara de Deputados o Projeto de Lei n. 6.505/2009, do

Deputado Dr. Ubiali, que prevê estender ao idoso (segundo Estatuto do Idoso, pessoa com

idade igual ou superior a sessenta anos) a imprescritibilidade de toda e qualquer ação para

haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência

Social. Caso seja aprovado, passaria a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1º O parágrafo único do art. 103, da Lei nº 8.213, de 24 de julho de1991 passa a vigorar com a seguinte redação:Art. 103.[...]

261 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Cível n. 2007.71.99.007201-0. TurmaSuplementar. Relator Ricardo Teixeira do Valle Pereira. Decisão: 24/08/2007.262 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Embargos Infringentes. Processo n. 2006.71.00.010118-2,Terceira Seção. Relator Victor Luiz dos Santos Laus. Decisão: 26/06/2009.

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Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriamter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ouquaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social, salvo odireito dos menores, idosos, incapazes e ausentes, na forma do CódigoCivil.263

Segundo o Deputado Dr. Ubiali, a justificativa para tal alteração seria:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Públicoassegurar aos menores, incapazes e ausentes, além do idoso, com prioridade,a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura,ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, aorespeito e à convivência familiar e comunitária.Conforme prevê a Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003 – Estatuto doIdoso, a pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos é consideradaidosa e tem [sic] assegurada, por lei e por instrumentos infralegais,oportunidades e facilidades que permitam a manutenção de sua saúde física emental e a preservação moral, intelectual, espiritual e social, sob a égide dadignidade e da liberdade.264

No entanto, a finalidade não é demonstrar o instituto da prescrição, eis que é

unânime o entendimento do referido prazo, ou seja, não há discussão jurisprudencial e nem

doutrinária acerca do instituto.

Sendo assim, passemos a discutir o instituto da decadência. Este sim gera

discussão entre os doutrinadores e magistrados; e caso seja acolhido o prazo deste instituto,

automaticamente será atingido o prazo prescricional, devido à perda do direito de ação.

3.3.2 Da Decadência

O instituto da decadência, hoje estabelecido pelo art. 103 da Lei de Benefícios n.

8.213, de 24 de julho de 1991, surgiu para o direito previdenciário através da Medida

Provisória n. 1.523-9, de 27 de junho de 1997, que consequentemente fora transformada na

263 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 6.505/2009, do Deputado Dr. Ubiali. Altera o parágrafoúnico do art. 103 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Data de apresentação: 29 de novembro de 2009.Disponível em: <http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=461748>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.264 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 6.505/2009, do Deputado Dr. Ubiali. Altera o parágrafoúnico do art. 103 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Data de apresentação: 29 de novembro de 2009.Disponível em: <http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=461748>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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Lei n. 9.528, de 10 de dezembro de 1997, no qual mencionava que o prazo decadencial para

aforar revisão do ato de concessão de benefício seria de 10 (dez) anos.

Art. 2º Ficam restabelecidos o § 4o do art. 86 e o art. 122, e alterados os arts.11, 16, 48, 55, 57, 58, 75, 86, caput, 96, 102, 103, 107, 124, 130 e 131 da Leinº 8.213, de 24 de julho de 1991, com a seguinte redação:[...]Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ouação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão debenefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento daprimeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimentoda decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo.265

No entanto, após um ano de vigência, o prazo decadencial fora reduzido para 5

(cinco) anos, através da Medida Provisória n. 1663-15, de 22 de outubro de 1998, que

conseqüentemente seria convertida na Lei n. 9.711, de 20 de novembro de 1998, passando a

ter a seguinte redação:

Art. 24. Os arts. 6º, 94, 103 e 126 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,passam a vigorar com as seguintes alterações:[...]Art. 103. É de cinco anos o prazo de decadência de todo e qualquer direitoou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão debenefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento daprimeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimentoda decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo.266

Contudo, a Lei n. 9.711, de 20 de novembro de 1998, não procedeu da conversão

da Medida Provisória n. 1663-15, de 22 de outubro de 1998, mas fora convertida pela Medida

Provisória n. 1663-14, de 24 de setembro de 1998, conforme preceitua o art. 30 da MP n.

1663-15/1998: “Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória nº

1.663-14, de 24 de setembro de 1998”.267

Ademais, depois de passados quase cinco anos da redução do prazo decadencial,

este voltou a fixar-se em 10 (dez) anos o prazo de decadência, através da criação da Medida

265 BRASIL. Medida Provisória n. 1.523-9, de 27 de junho de 1997. Altera dispositivos das Leis nºs 8.212 e8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras providências. Disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/1996-2000/1523-9.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.266 BRASIL. Medida Provisória n. 1.663-15, de 22 de outubro de 1998. Altera dispositivos da Lei nº 8.213, de24 de julho de 1991 e dá outras providências. Disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Antigas/1663-15.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.267 BRASIL. Medida Provisória n. 1.663-15, de 22 de outubro de 1998. Altera dispositivos da Lei nº 8.213, de24 de julho de 1991 e dá outras providências. Disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Antigas/1663-15.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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Provisória n. 138, de 19 de novembro de 2003, sendo então transformada na Lei n. 10.839, de

5 de fevereiro de 2004.

Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ouação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão debenefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento daprimeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimentoda decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo.268

Percebe-se que, com a criação e as alterações do prazo decadencial, existem 4

(quatro) etapas relacionadas ao referido instituto:

a) até o dia 27 de junho de 1997, inexistia o prazo decadencial para a revisão do ato de

concessão de benefício;

b) do dia 28 de junho de 1997 ao dia 20 de novembro de 1998, o prazo decadencial inicia-se

em 10 (dez) anos;

c) do dia 21 de novembro de 1998 ao dia 19 de novembro de 2003, o prazo decadencial passa

a vigorar no prazo de 5 (cinco) anos; e,

d) a partir do dia 20 de novembro de 2003, o prazo decadencial voltou a ser fixado em 10

(dez) anos.

Diante da existência de diversas alterações, diferenças de entendimentos são quase

certas de ocorrer.

Primeiramente, trazem-se a lume os ensinamentos de Castro e Lazarri quanto ao

início do prazo decadencial aos benefícios concedidos antes da criação do instituto da

decadência:

Nos casos dos benefícios concedidos anteriormente à instituição dadecadência, inexistia limitação no tempo à possibilidade de revisão, tendo seincorporado ao patrimônio jurídico do segurado o direito de questionar o atoconcessório a qualquer tempo. Em análise mais restritiva aos direitos dossegurados, podemos admitir que o prazo decadencial tenha começado acorrer da data da publicação da lei que instituiu a decadência, mas nãopodemos admitir como marco inicial a data de início dos benefícios jáconcedidos quando da edição dessa lei, pois estar-se-ia dando efeitoretroativo à decadência.269

268 BRASIL. Medida Provisória n. 138, de 19 de novembro de 2003. Altera e acresce dispositivo à Lei nº8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social. Disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Antigas_2003/138.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.269 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 10. ed.Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 667.

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Na mesma ordem é o entendimento das Turmas Recursais de Santa Catarina, que

editaram a Súmula n. 26, assim uniformizando a matéria:

É de dez anos o prazo decadencial para revisão de todo e qualquer benefícioprevidenciário concedido a partir de 27/06/1997 – data da nona edição daMedida Provisória nº 1.523/97, transformada na Lei nº 9.528/97, a qualalterou o artigo 103 da Lei 8.213/91.270

Para corroborar, cabe trazer à baila, parecer jurídico de Rodrigo Koehler Ribeiro,

Juiz Federal da 1ª Turma Recursal da Seção Judiciária do Estado de Santa Catarina: “Logo,

em síntese, para os benefícios concedidos até o dia 27/06/1997 (inclusive), não há prazo

decadencial para revisão. Para aqueles concedidos a partir de 28/06/1997 conta-se o lapso

temporal de 10 anos desde seu requerimento/concessão.” 271

Todavia, há quem diga que os benefícios concedidos antes da Medida Provisória

1.523-9/97, convertida em Lei n. 9.528/97, estariam sujeitos ao prazo decadencial, isto é,

teriam como termo inicial o primeiro dia do mês subsequente ao do recebimento da primeira

prestação após a publicação da referida Medida Provisória.

É nesse sentido que Juízes Federais editaram a Súmula n. 16, no 1º Fórum de

Juízes Previdenciários do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, in verbis: “Decai em 10

anos o direito de pleitear a revisão do ato concessório dos benefícios concedidos

anteriormente a 28.06.97 (data da edição da MP 1.523-9), sendo o termo inicial o dia

01.08.97.”272

No mesmo caminho, traz-se a lume trecho da sentença proferida pela Juíza

Federal Substituta Adriana Regina Barni Ritter, da Subseção de Laguna, Seção Judiciária de

Santa Catarina: “Quanto aos benefícios com DIB anterior à Medida Provisória n. 1.523-9,

tenho que também incide o prazo decadencial de dez anos, mas limitando-se a sua aplicação a

partir da vigência da citada MP, ou seja, 28.06.1997.”273

No tocante ao prazo decadencial para as ações que visem à revisão de ato

concessório de benefício previdenciário instituído anteriormente a criação da decadência, as

270 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4° Região. Súmulas das Turmas Recursais. Disponível em:<http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisprudencia/sumulas_tr.php>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.271 BRASIL. Justiça Federal do Estado de Santa Catarina. Recurso de sentença n. 2009.72.66.002858-8, deLaguna. Relator Juiz Federal Rodrigo Koehler Ribeiro. Decisão: 28 de julho de 2010.272 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Enunciados do Primeiro FOREPREV. Disponível em:<http://www2.trf2.gov.br/noticias/materia.aspx?id=2741>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.273 BRASIL. Justiça Federal do Estado de Santa Catarina. Processo n. 2009.72.66.002858-8, de Laguna. JuízaFederal Substituta Adriana Regina Barni Ritter. Jugado em: 02 de junho de 2010.

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Turmas Recursais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro também têm decidido através do

Enunciado n. 63: “Em 01.08.2007 operou-se a decadência das ações que visem à revisão de

ato concessório de benefício previdenciário instituído anteriormente a 28.06.1997, data de

edição da MP nº 1.523-9, que deu nova redação ao art. 103 da Lei nº 8.213/91.”274

Seguindo o mesmo rumo que a Turma Recursal da Seção Judiciária do Estado do

Rio de Janeiro, o Juiz Federal José Antônio Savares, da Primeira Turma Recursal da Seção

Judiciária do Paraná, dispõe de seu entendimento quanto ao prazo decadencial para os

benefícios concedidos antes da MP nº 1.523-9:

No que diz respeito à aplicação da regra decadencial para revisão debenefício previdenciário, com a ressalva de meu entendimento pessoal,alinho-me à recente posição adotada pela Turma Nacional de Uniformizaçãopor ocasião do julgamento do PU nº 2006.70.50.007063-9 (Rel. do acórdãoOtávio Martins Port, j. 08.02.2010), em que se aplicou a regra de decadência– estabelecida pela MP 1.523/97, de 27.06.1997 – do direito de revisão dosbenefícios previdenciários do Regime Geral da Previdência Social, mesmopara os concedidos em tempo anterior à sua edição.275 (grifo nosso)

Para fixação da corrente que aduz que os benefícios concedidos antes da criação

do instituto da decadência têm prazo decadencial, confere respeitável suporte doutrinário de

FÁTIMA MARIA NOVELINO SEQUEIRA:

Não me parece que o direito potestativo de obter revisão do ato de concessãose confunda ou integre o âmago do direito subjetivo às prestaçõesprevidenciárias. Os direitos são distintos, assim como seus efeitos. Além doque, sendo o prazo para exercício do direito potestativo fixado por lei, éperfeitamente possível que a lei nova o institua ou altere, majorando oureduzindo, desde que não lhe atribua eficácia retroativa.Ademais, a admitir-se o prazo decadencial afeto a cada benefício, de formaestanque, conforme os ditames da lei vigente à data da concessão, estar-se-iainstaurando tratamento injusto e desigual para idênticas situações jurídicas.Extrai-se, por outro lado, da exposição de motivos que acompanhou aproposta de edição da MP n.º 138/2003, o evidente intuito de ampliar oprazo decadencial, antes que os 5 anos anteriormente previstos seconsumassem, de forma que a ampliação beneficiasse também os titulares debenefícios concedidos na vigência da Lei n.º 9.711/1998.

274 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Enunciados das Turmas Recursais dos JuizadosEspeciais Federais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro. Disponível em:<http://www.trf2.jus.br/institucional/juizados/Documents/enunciadosrj.doc>. Acesso em: 01 de novembro de2010.275 BRASIL. Justiça Federal do Estado do Paraná. Primeira Turma Recursal da Seção Judiciária do Estado doParaná. Processo n. 2009.70.54.000293-2. Relator Juiz Federal José Antonio Savaris. Julgado em: 07 de junhode 2010.

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Portanto, entendo que a melhor interpretação é a que conclui que, em28/06/1997, teve início de contagem o prazo decadencial de 10 anosquanto a todos os benefícios concedidos anteriormente, incidindo, desdeentão, o mesmo prazo sobre os benefícios posteriormente concedidos, já quea MP n.º 138/2003 tornou absolutamente ineficaz a redução introduzida pelaLei n.º 9.711/98, ao revogar norma específica antes da consumação do prazode 5 anos.Assim, segundo as normas vigentes, somente a partir de 28/06/2007 ter-se-á a consumação da caducidade do direito à revisão de atos de concessão,quanto a qualquer benefício até então concedido.276

Quanto ao prazo decadencial de 5 (cinco) anos, estabelecido pela Lei n. 9.711, de

20 de novembro de 1998, abre-se ressalva, pois se percebe que o referido prazo existe apenas

na teoria, eis que na prática fora modificado para 10 (dez) anos antes do preenchimento total

do seu curso.

Entretanto, em decisões das Turmas Recursais do Rio Grande do Sul já se decidiu

pela aplicabilidade da referida Lei:

[...] Os benefícios concedidos entre a edição da MP 1.663-15, de 22.10.1998(convertida na Lei 9.711/98) até a da edição da Medida Provisória nº 138, de19 de novembro de 2003 (convertida na Lei 10.839/04) têm prazodecadencial para revisão de cinco anos. [...] O benefício da parte autora foiconcedido em 21.11.2000, enquadrando-se, por isso, na regra segundo a qualo prazo para decadência é de 5 (cinco) anos. Por isso, é o caso de se reformaro julgado, para o fim de declarar a decadência do direito de revisar obenefício, medida essa que é passível de aplicação de ofício.277

Recentemente, a Turma Regional de Uniformização (TRU) dos Juizados

Especiais Federais (JEFs) da 4ª Região, decidiram que o prazo decadencial entre a edição da

MP n. 1.663-15 (22.10.1998) até a edição da MP n. 138 (19.11.2003) é de 10 (dez) anos para

a revisão do ato de concessão de benefício previdenciário.

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO.DECADÊNCIA DO DIREITO DE REVISAR O ATO DE CONCESSÃODO BENEFÍCIO. BENEFÍCIO CONCEDIDO ENTRE 22.10.1998, DATADE EDIÇÃO DA MP 1.663-15/97, E 19.11.2003, DATA DE EDIÇÃO DA

276 SEQUEIRA, Fátima Maria Novelino. A decadência e a prescrição no âmbito da seguridade social indireito previdenciário – Coordenação Marcelo Leonardo Tavares. Editora Impetus, 2005. p. 168-169.277 BRASIL. Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Rio Grande do Sul. Recurso deSentença n. 2007.71.50.005695-9/01. Relator: Juiz Federal Loraci Flores de Lima. Decisão: 19 de setembro de2008.

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MP 138/98. FIXAÇÃO DO PRAZO DE 10 ANOS. OBSERVÂNCIA DOPRINCÍPIO DA ISONOMIA.1. É de 10 (dez) anos o prazo de decadência do direito de revisão do ato deconcessão de benefício previdenciário com DIB entre a data de edição daMedida Provisória nº 1.663-15, em 22.10.1998, e a data de edição da MedidaProvisória nº 138, em 19.11.2003.2. Recurso provido.278

O Superior Tribunal de Justiça também já se manifestou pelo restabelecimento do

prazo decadencial de dez anos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL.PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. ART. 103 DA LEI Nº 8.213/91.SUCESSIVAS MODIFICAÇÕES LEGISLATIVAS. [...] tendo em vista queo benefício da autora da ação foi concedido em 23 de abril de 1999, ou seja,após a Lei 9.711/98, a contagem do prazo decadencial para que o seguradopeça a revisão da renda mensal inicial do seu benefício [...] deverá serrealizada da seguinte forma: a) na vigência da Lei 9.711/98 foi iniciada acontagem do prazo de cinco anos, em 23/4/99; b) com o aumento do prazopara dez anos, de acordo com a Lei nº 10.839/2004, o termo ad quem dadecadência foi diferido [aumentado] em cinco anos, respeitado o termoinicial da DIB. Desta forma, o direito do autor somente decairá em 23 deabril de 2009.279

No mais, devido à interpretação da Turma Recursal da Seção Judiciária de Santa

Catarina – quanto a prazo decadencial aplicado aos benefícios concedidos antes da sua criação

– ser contrária à decisão de algumas Turmas Recursais, como é o caso da Turma Recursal da

Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Nacional do Seguro Social vêm

insistentemente propondo pedidos de uniformização, tentando obter na Turma Nacional de

Uniformização dos Juizados Especiais Federais que a Seção Judiciária de Santa Catarina use o

mesmo entendimento que as demais.

No entanto, a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais

vem proferindo decisões seguindo a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de

Justiça:

A aplicação retroativa do diploma legal em questão constituiria violação aoprincípio da segurança jurídica e absoluta iniqüidade, pois, até 1997, o nãoexercício da pretensão em comento não tinha o condão de acarretar a perdados direitos materiais a ela subjacentes. Assim, somente os segurados cujos

278 BRASIL. Turma Regional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região. IUJEF 0000683-58.2008.404.7162/RS. Relatora Juíza Federal Luísa Hickel Gamba. Decisão: 17 de agosto de 2010.279 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo de instrumento n. 963.258/RS. Relatora Min. Maria Therezade Assis Moura. Decisão: 05 de setembro de 2008.

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benefícios foram concedidos depois da vigência da MP nº. 1.523/97 estãosujeitos aos prazos nela estabelecidos, ou seja, em 26/06/97.280

E mais:

PREVIDENCIÁRIO. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO.CONTRARIEDADE À JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DOCOLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DECADÊNCIA.ARTIGO 103, DA LEI Nº 8.213/91. BENEFÍCIO CONCEDIDO ANTESDA EDIÇÃO DA MEDIDA ROVISÓRIA Nº 1.523-9/97. 1. O prazodecadencial previsto no artigo 103, da Lei nº 8.213/91, instituído pelaMedida Provisória nº 1.523-9/97, não se aplica aos benefícios concedidosantes da edição da referida Medida Provisória, como pacificado najurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça e desta TurmaNacional. 2. Como o juiz monocrático e a Turma de origem não chegaram ase pronunciar sobre o direito à revisão propriamente dito, limitando-se aacolher a tese da decadência, impõe-se a invalidação da sentença e dadecisão monocrática referendada, a fim de que os juízos ordináriosexaminem os demais aspectos meritórios da causa. 3. Pedido deuniformização parcialmente provido.281

Constata-se que, ao incluir o instituto da decadência no ordenamento jurídico

previdenciário, houve uma omissão por parte do legislador, quanto à aplicação do instituto em

relação às ações que visam revisar benefícios concedidos anteriores à data de sua vigência, ou

seja, concedidos antes de 28 de junho de 1997.

Quando da criação do instituto da decadência, esta deixou uma omissão quanto à

sua eficácia retroativa, fazendo com que os Tribunais decidissem por posicionamentos

diferentes.

Ademais, as Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais do Rio de Janeiro

tem usado constantemente a aplicação geral e imediata da lei nova, fazendo assim com que

em todos os benefícios concedidos antes de 27 de junho de 1997 (inclusive) seja reconhecido

o instituto da decadência.

REVISÃO DA RMI. BENEFÍCIO CONCEDIDO EM 04/01/1988. PRAZODECADENCIAL DE 10 ANOS PARA A REVISÃO DO ATOCONCESSÓRIO VIGENTE A PARTIR DA MP 1.523-9, DE 28/06/97.IMEDIATA APLICAÇÃO DA LEI. FLUÊNCIA A CONTAR DOPRIMEIRO DIA DO MÊS SEGUINTE AO DO RECEBIMENTO DOBENEFÍCIO JÁ NA VIGÊNCIA DA MP. INÍCIO DO PRAZO EM01/08/97. DECADÊNCIA OPERADA EM 01/08/2007. AÇÃO AJUIZADA

280 BRASIL. Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. Pedido de Uniformização n.2004.61.85.009918-9. Relatora Juíza Federal Renata Andrade Lotufo. DJU de 15.5.2006.281 BRASIL. Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. Pedido de Uniformização n.2008.51.68.001655-4. Relator Juiz Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho. DJU de 09.09.2009.

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EM 31/01/2008. SENTENÇA QUE PRONUNCIOU A DECADÊNCIAMANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NEGADO.282

De norte, o Superior Tribunal de Justiça, bem como o Supremo Tribunal Federal,

tem decidido em alguns julgados, pela irretroatividade do instituto da decadência e suas

alterações, uma vez que afrontaria o art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil.

RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO. REVISÃO DARENDA MENSAL INICIAL. PRAZO DECADENCIAL. ARTIGO 103 DALEI Nº 8.213/91, COM A REDAÇÃO DA MP Nº 1.523/97, CONVERTIDANA LEI Nº 9.728/97. APLICAÇÃO ÀS RELAÇÕES JURÍDICASCONSTITUÍDAS SOB A VIGÊNCIA DA NOVA LEI.1. O prazo de decadência para revisão da renda mensal inicial do benefícioprevidenciário, estabelecido pela Medida Provisória nº. 1.523/97, convertidana Lei nº 9.528/97, que alterou o artigo 103 da Lei nº 8.213/91, somentepode atingir as relações jurídicas constituídas a partir de sua vigência, umavez que a norma não é expressamente retroativa e trata de instituto de direitomaterial.2. Precedentes.3. Recurso especial não conhecido.283

Ainda:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTALNO AGRAVO DE INSTRUMENTO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.RENDA MENSAL INICIAL. REVISÃO. ART. 103 DA LEI N.º 8.213/91.ALTERAÇÃO LEGISLATIVA. PRAZO DECADENCIAL. APLICAÇÃOÀS SITUAÇÕES JURÍDICAS CONSTITUÍDAS A PARTIR DA NOVAREDAÇÃO DADA PELA MEDIDA PROVISÓRIA N.º 1.523/97.DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.1. A Medida Provisória n.º 1.523, de 27 de junho de 1997, instituiu um prazodecadencial para o ato de revisão dos benefícios e, não prevendo a retroaçãode seus efeitos, somente deve atingir os benefícios previdenciáriosconcedidos após o advento do aludido diploma legal.2. Na ausência de fundamento relevante que infirme as razões consideradasno julgado agravado, deve ser mantida a decisão hostilizada por seuspróprios fundamentos.3. Agravo regimental desprovido.284

E mais:

1. [...] em se tratando de benefícios com data de início (DIB) anterior àvigência das Leis nº 9.528/97 e 9.711/98 - que sucessivamente alteraram aredação do art. 103 da Lei nº 8.213/91 -, é inaplicável o prazo decadencial

282 BRASIL. Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro. Segunda Turma Recursal do Juizado Especial Federalda Seção Judiciária do Rio de Janeiro. Recurso de Sentença n. 2008.51.54.001965-0/01. Relatora Dra. PaulaPatrícia Provedel Mello Nogueira. Julgado em 12 de agosto de 2008.283 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 479.964/RN. 6ª Turma, Ministro Relator PauloGallotti. Data do Julgamento: 10 de novembro de 2003.284 BRASIL . Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n. 1287376/RS.Min. Relatora Laurita Vaz. Data do Julgamento: 22 de junho de 2010. Disponível em:<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=o+prazo+de+decad%EAncia+para+revis%E3o&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=3>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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nelas previsto, sob pena de indevida retroação, em afronta ao art. 6º da Leide Introdução ao Código Civil.285

A respeito da eficácia e aplicabilidade de lei nova, trazem-se a baila os

ensinamentos de Carlos Alberto Gonçalves:

Entre a retroatividade e irretroatividade existe uma situação intermediária: ada aplicabilidade imediata da lei nova a relações que, nascidas embora sob avigência da lei antiga, ainda não se aperfeiçoaram, não se consumaram. Aimediata e geral aplicação deve também respeitar o ato jurídico perfeito, odireito adquirido e a coisa julgada. O art. 6º da Lei de Introdução ao CódigoCivil preceitua que a lei em vigor “terá efeito imediato e geral, respeitados oato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.286

Dispõe a Lei de Introdução ao Código Civil:

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídicoperfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente aotempo em que se efetuou.§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguémpor ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termopré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já nãocaiba recurso.287

Observando os julgados aqui expostos, nota-se que as decisões dos Tribunais

Superiores vêm usando o entendimento de que deve prevalecer a irretroatividade da lei,

respeitando assim o direito adquirido, consoante o art. 6º da Lei de Introdução ao Código

Civil.

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INSS.PENSÃO POR MORTE. LEI N. 9.032/95. APLICAÇÃO RETROATIVA.NÃO OCORRÊNCIA. EXTENSÃO DO AUMENTO A TODOS OSBENEFICIÁRIOS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA.[...]2. Inexiste aplicação retroativa de lei nova para prejudicar ato jurídicoperfeito ou suposto direito adquirido por parte da Administração Pública,

285 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 376166/SC. Ministro Relator MoreiraAlves. Brasília/DF. Data do Julgamento: 14 de março de 2003. Disponível em:<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14809921/recurso-extraordinario-re-376166-sc-stf >. Acesso em:01 de novembro de 2010.286 GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2007. p. 61-62.287 BRASIL. Lei de Introdução ao Código Civil. Decreto-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Disponívelem: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2010.

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mas sim de incidência imediata de nova norma para regular situação jurídicaque, embora tenha se aperfeiçoado no passado, irradia efeitos jurídicos parao futuro.288

Deste modo, seria afastada a eficácia imediata e geral da nova lei, aos segurados

com benefícios concedidos antes da Medida Provisória n. 1.523/1997, que criou o instituto da

decadência.

Por fim, apenas cabe ressaltar a tramitação perante a Câmara dos Deputados, do

Projeto de Lei n. 4.959/2009, do Deputado Fernando Coruja, em que se prevê a modificação

do art. 103 da Lei de Benefícios, extinguindo o prazo decadencial para que seja requerida a

revisão do ato de concessão de benefício previdenciário no âmbito do Regime Geral da

Previdência Social.

O Deputado Fernando Coruja, propôs o presente projeto tendo a seguinte

justificativa:Independentemente da maior ou menor extensão do prazo concedido,entendemos que o simples emprego da decadência na situação em telaconstitui flagrante atentado a dispositivos da Constituição Federal. Em seuart. 5º, XXXV, a Carta Magna determina que “a lei não excluirá daapreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. No art. 7º, XXIV,a aposentadoria é consagrada como um direito de trabalhadores urbanos erurais, que tem como propósito a melhoria de sua condição social. Ao limitaro espaço temporal para que segurados e beneficiários solicitem a revisão deseus benefícios, o Poder Público, além de prejudicar sobremaneira suacondição social, cerceia o pleno exercício do direito que esses cidadãos têmde recorrer ao Poder Judiciário sempre que se sentirem lesados em razão doscritérios de cálculo adotados pela Previdência Social.289

Destarte, como é um tema atual, muito pouco se encontra a respeito do prazo

decadencial – que visa revisar o ato de concessão de benefício previdenciário concedido antes

da criação do instituto – nas jurisprudências dos Tribunais Superiores.

288 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE-AgR 422268/SP. Relator Ministro Eros Grau. Decisão: 30 de maiode 2005.289 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 4.959/2009, do Deputado Fernando Coruja. Modifica aLei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, extinguindo o prazo decadencial. Data de apresentação: 31 de março de2009. Disponível: <http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=428418>. Acesso em: 01 denovembro de 2010.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho monográfico teve como objetivo geral apresentar e discutir os

principais aspectos dos institutos da prescrição e da decadência à luz do direito previdenciário

em matéria de revisão de benefícios, verificando-se a possibilidade de sua aplicabilidade em

diversos momentos com base na doutrina, na jurisprudência e na legislação pertinente ao

tema.

Frente ao estudo dos referidos institutos, identificaram-se situações polêmicas, as

quais foram tratadas com maior enfoque no último capítulo, e que são relativas ao prazo

prescricional e a aplicabilidade da decadência e suas sucessivas alterações na legislação

previdenciária.

Para alcançar esse objetivo, verificou-se a significativa evolução histórica da

Seguridade Social no Brasil, ante a criação de várias Constituições, trazendo à baila suas

principais criações, transformações, bem como o surgimento de determinados Institutos.

Ademais, o ideal de Justiça se faz presente nas normas jurídicas que são postas

pelo Estado Democrático de Direito, onde as pessoas empreendem alcançar segurança e bem-

estar social, até porque diante da construção normativa foram implantados na Carta Magna de

1988 princípios constitucionais garantidores e norteados da vida humana e social.

Com efeito, o princípio da segurança jurídica é um resultado obtido junto à

construção da Constituição Federal, até porque esse garante a legalidade, a irretroatividade e a

anterioridade, condão este que permite garantir ao cidadão o amparo necessário com o fito de

confiar tanto na Administração quanto no Judiciário que conduz seus interesses, pilares

sustentadores do ordenamento Estatal.

Para corroborar e formar o pilar da Justiça frente à aplicabilidade da lei em seu

tempo e espaço, diante da enorme defasagem existente no país frente aos diversos índices de

reajustes, verificou-se a necessidade de preservar a estabilidade adquirida à época da

concessão da aposentadoria, ou até mesmo reaver e ou rever direitos não aplicados.

Diante da pesquisa realizada, confirmou-se que a regra geral do instituto da

prescrição existe com o fito de se preservar a estabilidade das situações jurídicas. Entretanto,

as prestações previdenciárias têm finalidades que lhes configuram características de direitos

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indisponíveis, atendendo a uma necessidade de cunho eminentemente alimentar. Nisso que o

direito ao benefício previdenciário em si não prescreve, mas tão somente as prestações não

reclamadas dentro de certo tempo, por ser prestação continuada, que vão prescrevendo, uma a

uma, em virtude da inércia do beneficiário.

A prescrição qüinqüenal somente começa a correr a partir da decisão definitiva

do processo administrativo, e o pagamento dos créditos do segurado deve se dar a partir dos

vencimentos destes, e não a partir das competências a que tais créditos se referem.

Quanto ao instituto da decadência, há divergência no entendimento de sua

aplicabilidade, objetivo máxime do presente estudo, pois frente à evolução, principalmente

jurisprudencial, que caminha ao lado da doutrina pesquisada, é de que, por não ter sido a lei

expressamente retroativa, por omissão do legislador, não poderá o instituto da decadência

atingir ao direito de revisão do ato de concessão daquelas pessoas que tiveram benefícios

concedidos antes de sua lei instituidora, pois, se assim ocorresse, conforme previsão

constitucional e infraconstitucional haveria afronta ao direito adquirido dos beneficiários.

Todavia, os magistrados têm se posicionado no sentido de que quando a

concessão do benefício for, ou seja, anterior à publicação da Lei n. 9.528/1997 que

determinou nova redação ao art. 103, da Lei n. 8.213/1991, eis que não existia prazo

decadencial do direito à revisão dos benefícios previdenciários, aplica-se a legislação vigente

à época das aposentadorias, sob a fundamentação de garantir uma segurança jurídica aos

segurados da Previdência Social.

Sendo assim, apesar de ser norma de ordem pública, a decadência não pode

retroagir para aqueles beneficiários, sendo reconhecida somente para os titulares de benefícios

concedidos posteriormente à Medida Provisória n. 1.523-9, de 27 de junho de 1997, que a

instituiu.

Quanto às pessoas que tiveram benefícios concedidos na vigência da Lei n.

9.711/1998 (21/11/1998 a 19/11/2003), quando o prazo decadencial era de cinco anos,

conclui-se que, utilizando-se das regras de interpretação da lei, devem-se considerar os

motivos expressamente expostos pelo legislador ao editar a Medida Provisória 138/2003,

havendo, desta forma, o restabelecimento do prazo decenal para tais pessoas.

Se assim não ocorrer, haverá manifestação contrária ao fim social pretendido pelo

legislador, pois, ao editar o ato normativo, através de exposição dos motivos, ficaram claras as

razões que lhe orientaram, sendo prudente que a norma atinja o fim pretendido, ou seja, a

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solução do problema identificado pelo legislador, que era a ampliação do prazo decadencial, o

qual estava prestes a fulminar com o direito de muitos beneficiários em 21 de novembro de

2003.

Para consolidar, a Súmula n. 359 do Supremo Tribunal Federal, estabelece e

fortalece o entendimento que as revisões previdenciárias são reguladas pela lei vigente a

época em que o segurado adquiriu ou reuniu os requisitos legais, somente podendo ser julgada

e revisada de maneira diversa quando estiver prevista em lei.

Assim, conclui-se pelos fundamentos trazidos ao presente trabalho,

principalmente jurisprudencial, que caminha ao lado da doutrina pesquisada, é de que, por não

ter sido a lei expressamente retroativa, por omissão do legislador, não poderá o instituto da

decadência atingir ao direito de revisão do ato de concessão daquelas pessoas que tiveram

benefícios concedidos antes de sua lei instituidora, pois, se assim ocorresse – conforme

previsão constitucional e infraconstitucional – haveria afronta ao direito adquirido dos

beneficiários.

Contudo, diante das poucas decisões encontradas, novas pesquisas devem ser

realizadas com o intuito de ter uma certeza sobre a aplicação do instituto da decadência

previdenciária.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A – SENTENÇA DOS AUTOS Nº 2009.72.66.002858-8, DA SUBSEÇÃODE LAGUNA

Justiça FederalSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA CATARINA

Autos nº : 2009.72.66.002858-8Autora : Celestino de Jesus AntonioRéu : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

SENTENÇA

Vistos etc.

Trata-se de procedimento especial no qual a parte autora requer a revisão dobenefício de Aposentadoria por Tempo de Serviço, retroativos a data da concessão, conformeo artigo 29, da Lei nº 8.213/91 vigente a época, aplicando no calculo apenas os últimos 36meses do período contributivo, bem como condenar ao pagamento das diferenças encontradasentre o benefício e o efetivamente recebido.

Decido.

Decadência

O art. 103 da Lei n. 8.213/91, em sua redação inicial, não previa prazodecadencial para a extinção do fundo de direito, mas somente a prescrição qüinqüenal dasrespectivas parcelas.

Ocorre que a Lei n. 9.528/97, resultado da conversão da Medida Provisória n.1.523-9, de 27.06.1997, publicada no Diário Oficial da União de 28.06.1997, deu novaredação ao citado art. 103, passando a prever, desde então, o prazo decadencial de dez anospara a revisão do ato da concessão do benefício.

Posteriormente, a Lei n. 9.711, de 20.11.98, reduziu para cinco anos o prazo dedecadência. E, por fim, a Lei n. 10.839, de 05.02.2004, alterando novamente a redação do art.103 da Lei n. 8.213/91, restabeleceu o prazo decadencial de dez anos.

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Desta feita, para os benefícios concedidos após a vigência da MedidaProvisória n. 1523-9, posteriormente convertida na Lei n. 9.528/97, é pacífico que o prazodecadencial de dez anos deve ser computado a partir “do dia primeiro do mês seguinte ao dorecebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimentoda decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo”, nos termos do dispositivo legalem comento.

Quanto aos benefícios com DIB anterior à Medida Provisória n. 1.523-9,tenho que também incide o prazo decadencial de dez anos, mas limitando-se a suaaplicação a partir da vigência da citada MP, ou seja, 28.06.1997.

É importante ressaltar que essa interpretação não implica aplicação retroativade norma de direito material (como o é a decadência), o que é vedado pelo ordenamentojurídico pátrio. Na realidade, trata-se de conferir, simplesmente, efeitos imediatos à nova lei,tendo em vista que o prazo decadencial em questão somente tem início a partir da data em quefoi criado. Aplicação retroativa só haveria se o prazo extintivo fosse contado desde a época daconcessão do benefício (sendo esta anterior à alteração legislativa), o que não é o caso, comovisto.

Saliente-se, de outro vértice, que tal interpretação acaba por sufragar oprincípio da isonomia, que certamente restaria ofendido ao se aplicar prazo decadencial para arevisão de alguns benefícios previdenciários e direito eterno de revisão para outros.

E nem se diga que o entendimento aqui adotado afronta o ato jurídico perfeitoou o direito adquirido. Afinal, conforme bem preceitua o Juiz Federal Eduardo GomesPhilippsen, em elucidativo artigo publicado na Revista de Doutrina da 4ª Região sobre o tema,cujo teor adoto como razões de decidir:

“De acordo com expressa definição legal, “reputa-se ato jurídico perfeito o jáconsumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou”. No caso em exame,qual ato que deve ser considerado, para os fins da lei? Não o de concessão dobenefício, justamente porque este ato o segurado pretende revisar; o ato a serconsiderado, então, é o próprio ato de revisão. Ora, somente haveria violação ao atojurídico perfeito se o segurado já houvesse requerido a revisão do benefício e sepretendesse aplicar retroativamente a regra decadencial. Se não houve o pedido derevisão do benefício – seja administrativo, seja judicial – não há falar em ato jurídicoperfeito que deva ser preservado. A conclusão é simples: em não tendo havido opedido de revisão da renda mensal inicial do benefício, o estabelecimento de umanorma estabelecendo o prazo para a prática deste ato não viola ato jurídico perfeitoalgum, já que o ato de revisão sequer foi praticado.

Caberia, por fim, analisar a questão pelo prisma do direito adquirido. De acordo como art. 6º, § 2º, da LICC, “consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular,ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termoprefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”.

É certo que o segurado possui o direito a requerer a revisão do seu benefício que foiconcedido erroneamente; e esse direito não foi retirado pela legislação, que apenascondicionou o seu exercício à observância de um lapso temporal. Desse modo, odireito à revisão não foi atingido; o que foi atingido, na verdade, foi o direito àrevisão em qualquer tempo, implicitamente previsto na legislação que até então vigia.Cabe perquirir, então, se o segurado possuía um direito adquirido à revisão em

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qualquer tempo e que tenha sido indevidamente atingido pela nova redação do art.103 da LBPS.

Não há tal espécie de direito em nosso ordenamento jurídico – o direito à“imunidade” a prazos decadenciais ou prescricionais –, porquanto a jurisprudênciapátria é pacífica no sentido de considerar que “não há direito adquirido a regimejurídico” e que as relações denominadas de “estatutárias” ou “institucionais” nãosão infensas a alterações, desde que não se modifiquem os atos já ocorridos nopassado.

Sem adentrar na discussão ampla sobre a conceituação de tais relações, certo é que arelação entre segurado e autarquia previdenciária é uma relação estatutária ouinstitucional, de modo que o segurado não possui direito adquirido a determinadoregime jurídico. Esse raciocínio é aplicado diuturnamente para várias questõesrelativas à sucessão de leis no direito previdenciário, e não haveria qualquer motivopara dar-se aplicação diversa no tocante à regra decadencial instituída na novaredação do art. 103 da LBPS.” (Philippsen, Eduardo Gomes. Decadência do direitoà revisão da renda mensal inicial de benefício previdenciário: uma análise sob a óticado direito intertemporal. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n.20,out/2007. Disponível em: < http://www.revistadoutrina.trf4.gov.br /artigos/edicao020/eduardo_philippsen.html > Acesso em: 25 fev. 2008).

Desta feita, como no caso em tela a aposentadoria por tempo de contribuiçãonº. 42/024.840.385-0 tem DIB em 26/04/1995 (CCON7, evento 1) e a ação somente foiajuizada em 25/11/2009, decaiu o direito de a autora pleitear a revisão do benefício em28/06/2007.

Vale frisar que o fato de o INSS ter a obrigação de realizar “automaticamente”a revisão prevista no artigo 144 da LBPS não a torna livre do prazo decadencial, pois inexistehipótese de direito eterno de revisão, conforme referido acima.

Ante o exposto, reconheço a DECADÊNCIA do direito de pleitear a revisãoem questão, a teor do art. 103 da Lei n. 8.213/91, e JULGO EXTINTO O FEITO, COMJULGAMENTO DO MÉRITO, nos termos do art. 269, inciso IV, do CPC.

Sem custas e honorários advocatícios - art. 55 da Lei 9.099/95, c/c art. 1º daLei 10.259/01.

Defiro a gratuidade da justiça.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se as partes da sentença proferida nospresentes autos, e para, querendo, dela recorrerem no prazo de 10 (dez) dias.

Interposto o recurso, intime-se a parte contrária para a apresentação decontrarrazões no prazo de dez dias.

Juntados os recursos e as contrarrazões, à Turma Recursal.

Transitada em julgado, arquivem-se os autos.

Adriana Regina Barni RitterJuíza Federal Substituta

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ANEXO B – VOTO DO RECURSO INOMINADO DOS AUTOS Nº2009.72.66.002858-8, DA SUBSEÇÃO DE LAGUNA

1ª Turma Recursal da Seção Judiciária do Estado de SantaCatarina

VOTO

Trata-se de recurso inominado interposto pelo autor, visando à reforma dasentença que reconheceu a decadência do direito de revisar o seu benefício previdenciário.

O instituto da decadência, para todo e qualquer direito ou ação do segurado oubeneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, foi introduzido no sistemanormativo previdenciário com a edição da Medida Provisória nº 1.523-9/97, convertida na Leinº 9.528/97, mediante a aplicação do prazo de dez anos, tempo este posteriormente reduzidopara cinco anos com a edição da Lei nº 9.711/98, e depois ampliado para dez anos pelaMedida Provisória nº 138/2003, convertida na Lei nº 10.839/2004.

Diante disso, entendo que o referido instituto tem aplicação somente emrelação a benefícios concedidos posteriormente a 27/06/1997, não podendo atingir relaçõesjurídicas constituídas anteriormente.

Esta Turma Recursal já se manifestou nesse sentido em inúmeras vezes, dasquais cito como precedente os autos n. 2007.72.56.003467-3, da relatoria da Juíza FederalLuísa Hickel Gamba, julgado em 30/04/2008. O Superior Tribunal de Justiça também tem seposicionado neste sentido, conforme se infere do seguinte precedente:

2. O prazo decadencial estabelecido no art. 103 da Lei 8.213/91, e suas posterioresalterações, não pode retroagir para alcançar situações pretéritas, atingindo benefíciosregularmente concedidos antes da sua vigência. Precedentes. (EDcl no Resp n. 527331 / SP.Autos n. 2003/0071827-5, Ministro Arnaldo Esteves Lima. 5ª Turma, julgado em 24/04/2008,DJe de 23/06/2008).

Recentemente, as Turmas Recursais de Santa Catarina editaram a súmula nº26, assim uniformizando a matéria:

É de dez anos o prazo decadencial para revisão de todo e qualquer benefício previdenciárioconcedido a partir de 27/06/1997 – data da nona edição da Medida Provisória nº 1.523/97,transformada na Lei nº 9.528/97, a qual alterou o artigo 103 da Lei 8.213/91.

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Logo, em síntese, para os benefícios concedidos até o dia 27/06/1997(inclusive), não há prazo decadencial para revisão. Para aqueles concedidos a partir de28/06/1997 conta-se o lapso temporal de 10 anos desde seu requerimento/concessão. No casoem exame, o benefício foi concedido anteriormente a 28/06/1997, época para a qual nãoincide a regra da decadência, conforme acima referido.

Outrossim, deve-se dar provimento ao recurso do autor, anulando-se a sentençae determinando o retorno dos autos à origem, para regular processamento.

Ante o exposto, voto por DAR PROVIMENTO ao recurso.

Sem condenação em honorários, tendo em vista o provimento do recurso.

Declaro prequestionados todos os dispositivos legais e constitucionaismencionados.

(Documento assinado eletronicamente, na forma do artigo 11, da Lei 11.419/2006.Verificação de autenticidade no site http://www.jef.jfsc.gov.br – consulta pública.)

RODRIGO KOEHLER RIBEIROJuiz Federal Relator.