melamed, michel - regurgitofagia

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Page 1: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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~ORIFfIVA

'lnteliçente. doloroso,assustador e divertido. "

OGlobo

"Michel tele, zomba e faza melhor poesia sobre asquestões fundamentais."

Folha de S, Paulo

rV1ICHEL MELAMED

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ISBN 85-7302-655-3

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Page 2: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

Copyright © 2004 de Miche l Melamed

Todos os direitos d t dicãEDITORA OBJETIV;\;;A,çao reservados à

Rua Cosme Velho 103 - R' d J I22241 090 ' la e anairo-Rd- I : Tal: (21)2556-7824 , Fax: (21)2556-3322

www.obletlva.corn.br

Capa e Projeto GráficoOlívia Ferreira e Pedro Garavaglia/ RADIOGRÁFICO

RevisãoRose Schlesinger, Silvia Klein e Sonia Peçanha

Editoração Ele trônicaRADIOGRÁFICO

Impressão e acabamentoMarkgraph Gráfica e Editora Ltda

M517r

Melamed, MichelRegurgitofagia / Michel Melamed 'R' d J I ,

I la e anarro: Objetiva, 2005

136 p, ISBN 85-7302-655-3

L Literatura brasileira . Miscelânea. \.Título

CDD 8869.8

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Page 3: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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,,_ Tinha desejado durante toda a minha vida que admirásseis minha

, resistência à fome - disse o jejuador._ Ea admiramos - retrucou-lhe o inspetor._ Mas não devíeis admirá-Ia - disse o[sluador._ Bem, pois então não a admiraremos - retrucou o Inspetor - ; mas por

que não devemos admirar-te?_ Porque souforçado a [ejuar, não posso evitá-lo - disse o [sjuadcr.-Isso já se vê- disse o inspetcr-r-. mas por que não podes evitá-lo?_ Porque _ disse o artista dafome levantando um pouco a cabeça efalandona própria orelha doinspetor para que suas palavras não se perdessem, comlábios alargados como se fosse dar um beijo -, porque não pude encontrar

comida que me aqradasse."

Um Artista da Fomel Franz Kaíka

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':Sem bá rbaros o que será d~ nós?'Ahl eles eram uma solução."

À Espera dos Bórbaros/Konstantinos Kaváfis

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"Com uma ansiedade que beirava a agonia, acionei os instrumentos queacenderiam a faísca devida na coisa inanimada queeu acabara ds modelar,costurar, suturar e encher de sangue e oxigênio. Com os raios e trovõescortando o céu, a natureza providenoiou a eletricidade.

L,,) Foi quando vi, pela luz da chama a ponto de extinguir-se, o olho mortiçoe amarelo da criatura se abrir...Em seguida, respirou forte e seus membrossacudiram-se como numa convulsão,

Estava vival"

Frankensteínl MaryShelley

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Page 6: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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"Tudo O que nosseparava subitamente falhou."

Rubem Braga

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"tratamento de choque para acabar com a subversão"

Ministro Roberto Campos

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"Os g'rãndes caras da tortura no Brasil não são os bate-paus, os caras quechegam e te torturam, são os analistas, os 'garotos de gabinete' analisandoo que você diz enquanto apanha e procurando suas contradições,"

Pasquim n°490/ Fernando Gabeira

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REGURGITOFAGIAMICHEL MELAMED

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antes de mais nada tudo. I'

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Porque - diferentemente dos ávidos antropófagos - já deglutimos coisas demais.

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Page 12: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

Por isso, se me falam 'ponto',

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não sei, se é final, g{ nevrálgico, de encontro, de macumba,. facu ltativo, de cro chê{ de ônibus, pacífi co, de equilíb rio, aque lecara, q~e soprava otexto pros atores, de.exclarnação, interrogação,ebulição, morto, zero, picada produzida com a agulha que se enfia notscido, couro, pl .á stlco, etc., para passar ofio de costura, bordado,etc" porção de linha compreendida entre dois furos cada uma daslaçadas de li~ha ou de lã feitas no tricô ou no crochê, designaçãocornurn aos diversos tipos de nós.ou Iaçadas feitas com agu lha ousem ela em renda, macramé, etc., cerzidura em meia ou em tecidopequen? sin~1 ~e~elhante ao que a ponta de um lápis imprime n~papel, Sinal idêntico usado em abreviaturas [ponto abreviativo] esobre o i e o j, rnanchazlnha arredondada, lugar fixo e determinadoponto de parada, livro , cartão, folha, onde se registra a entrada ~saída d~ária dotrab~lho, cada um dosespaços em queestá divídidaa crayelra do sapateiro ou a do luvelro, gr.au pelo qual se mede algumvalor ~or acréscimo ou diminuição, grau deconsistência que se dáao aç úcar em calda, cada um dos pontos ou pintas marcadas nos.dados, peçasdedominó, etc., e que lhesindicam ovalor unidade devalor relativa a cartas de baralho ou à outros elementos de certosjogos, cada uma das unidades que, numa competição, se obtêmcomo vantaqem.sobre o adversário, cada uma das unidades de um~úmero variável que se convenciona tomar como objetivo em certosJogos de az~r, como, p.. ex" a loto, o bingo, a loteria esportiva, cadauma das unidades marcadas pelo jogador, segundo normas fixadaspara atingir um total preestabelecido, sem o qual não é possívelvenc.er, em certosjogos de azar, como o bacará, ogrupo de pessoasque Jogam contra a banca, ou as cartas tiradas contra esta sinal"que se dá para marcar otempo, unidade que, nas bolsas de valoresexprime a variação dos índices, grau de merecimento (ern lição:exame, comportamento, etc,), parte de um assunto,de uma ciência,arte, etc., em exames ou .concursos, a matéria tirada à sorte parasobre ela responder ou discorrer o aluno ou o candidato assunto

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materta, grau de adiantamento, altura em que se acha algumtrabalho, empreendimento, etc.ilance, momento, caso, problemaou questão importante, em que se tem vivo empenho, termo, fim,parada, suspensão,Porção de fi o fi rma da porum nó, deixada Ouma .estrutura ou num órgão depois de se efetuara introdução e retiradada agulha que a conduzia, a fim de prornovsra união dos tecidos[pode ,serou não removido, conforme a natureza ou a situação domaterial ernprsqado.]. configuração geométrica sem dimensão eque ss caracteriza po r sU a posi ção, ponto geométrico, elem eritocom que se define~ axiomaticamente as propriedades dum

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espaço, cada um dos modos por que se entretece um fio ou umalinha para coser lona ou outrotecido utilizando agulha de coser, acélula primária da notação neumática, régua de madeira escura,'que acompanha aforma e o comprlm.ent~do braço dosinstrumentos \de cordas, esobre a qua l os dedos do executante comprimem as .cordas, a posição, na carta náutica, de uma embarcação que estánavegando, pequena mancha de cor [cf. pontllhlsrno.l. unidadetipométrica básica (a sexta parte da linha) equivalente a O,3759mmno sistema didot e a O,351mm no sistema anglo-norte-americano,recurso utilizado..para passar a ator, apresentador, locutor, etc._ durante a apresentação de espetáculo ou de programa de tv_ deixa, orientação, texto de script, etc. , lugar, geralmentenas vias públicas, onde artigos ou serviços estão à disposiçãodo freguês, cantado, riscado, aberto, abreviativo, ponto alto,americano , anfidrômico, anglo-norte -americano , anquloso,cardeal, cego, central, cheio, colateral, crítico, culminante,cuspidal, de acumulação, de admiração, de afloramento,de apoio, de areia , de aumento, de auto -ignição, de bainha,de bala, de bolha, de cadeia, de canutilho, de cedênc!a,de condensação, -,de condição, de congelação, de contato, decristalização, de solidiflcaç ão, de cruz, de descontinuidade.de diminui ç ã o, d'e 's,s..Pada na, de es pi nha, rus s o, deest ranguIamento, de fase';' de festonê, de fIuidez, de fuga,de tulqor, de fusão, de gota, de haste, de honra, de ignição,de impacto, de inflexão, de libra, de luz, de marca, de meia, demeia potência, de mira, de nó, de orvalho, de osculação, depalomba, de parada, de paris. de passagem, de ramificação,de referência, de reparo, de repouso, quiescente, de reversão,de seção'; de sela, de simetria, de solidificação, de sombra,de, teIhado, de tomada, de t ransiç ã o, de t ricõ, deu niverso,de vaporização, de vista, do telhado, duplo, eletrônico,estacionário, exterior, fixo, fraco, gama, geométrico{ ideal,imagem, impróprio, infinito , interior, inverso, isoelétrico,isolado, material, múltiplo, negro, neutro, nodal, objeto,obri9ado,' ordiná rio, ponto por ponto, princ ipaI, re9uIar,rls cado, russo, antinodais , antiprincipais, conjugados,de acompanhamento, de carreira, de condução, de reticência,reticências, de suspensão, simples , singular, nodais,solsticial, triplo, umbilical, vernal, ao ponto, a ponto de,a ponto que, assinar o ponto, de ponto em branco, de pontofixo, dormir no ponto, em ponto, em ponto de bala, entregaros pontos, fazer ponto, ir ao ponto, não dar ponto semnó, pôr po~to a, pôr os pontos nos is. subir de: ponto

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Por isso, se me falam 'dando', pode ser dando zebr~ ; 'cJi~d'o deombros,

as costas, mancada, a volta por cima, mole, a bUj~à~, 'certol na vista,

bandeira, show, o braço a torcer, no couro, darido.t-0.d ·~ ~ dando certo,

errado, pro gasto, adoidado, a mínima, contado r~G~á' d o .®.© .TM

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Page 16: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

Essa é a história da borboleta que se apaixonou por um soco.

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... e esta eterna sensa ~comprando dlnhei çao de estar. eira ,.....,fritandofrigideira s-:cavando pá /"fotografando foto... v .trocando o qu 'áe J se tem pelo que ' daln a se tem ... ·

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Page 21: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

porque as três marias +os sete mares são os dez mandamentose as 7 maravilhas do mundo menos os 3 porquinhossão as 4 estações.ou os 4 cavaleiros doapocalipse ou os 4 rnosqueteircs.porqueos três patetas ou o tamba trio+os sete pecados capitais ou os7 gatinhos capitus ou os sete anões,dariam dez,bateria nota 10110!mas que menos a lua ou avida,dariam nove irmãos para nove irmãseque não passam dos 12-trabalhos de hárcules ou contos peregrinosmenos 1four de ás menos dois perdidos numa noite suja ...porque os trezentos e sessenta e cinco dias do ano,menos os jackson fivemenos 3vezes sem jurosmenos 26 poetas hojeos quarenta ladrões, a nona sinfonia e as 500 milhas de indianápolisnos levariam- mesmo que alterando a ordem dos fatores ou futuros -a lutarpara que todo OBS tenha um W.C.e não para que todo W.O. tenha um OKmas para que todo QG tenha HQ ....toda PM: PFBG: THCLSD: CBFOB: RJFMI: PCBMPB: SKICOI: MSTCIC: BUT CUT: VIC BIC: UNE VIP: SOSTODO ZAP: CEPBUG: TPM GLS: IFP ONU: ONA PV: FOPRAP: RAM IT: ALÁ CPC: VJ MST: NBATOP: TAB CAT: FAB PUC: SET ZEN: JET BEM: BIG POP: ONG DOG: CVVtodo GOL seja AÇOtodo BIP: BUMtodo FIM: PAZque todo PT tenha SAUDAÇÕESetoda PROPAROxíTONA: PARALELEPípEDOe que todo INCONSTITUCIONALlSSIMAMENTEtenhaOTORRI NOLARI NG OLOG ISTA.

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Sabe aquele 'teste roschard'? Aquele teste de psiquiatra que mostrauma mancha, um borrão no papel, e tudo que é maluco Já pensa emsexo ou morcego? Então, tem aver. Éoseguinte: você pega qualquerhistória: de amor, no trabalho, o que quiser, Ar você vai afastandoessa história, vai botando longe, lá longe, como se fosse uma cadeiade montanhas, lá... láno horizonte. Tem uma distância que você colocaas coisas, todas as coisas, qualquer coisa, que elas ficampequenininhas, só oessencial, como uma sombra, um vulto". equê éde sim ou de não. Tá acompanhando? É simples: tudo em últimaanálise é um sim ou um não. Éboa coisa ou é ruim pra você. Issoserve pra tudo, Por exemplo: pensa na tua mulher. Pensou? Agorajoga a tua mulher lá longe". oadeia de montanhas lá no horizonte".muito bem. Tá lá? No limite? A última forma? Vê o vulto? Ovultinhopequeniniiiinho? Ésim ou não? Hein? Sim ou não, rapaz] Sacou?/Pensa no teu trabalho .., Jogou o trabalho lá longe! Cadeia demontanhas lá no horizonte., Tá vendo o trabalhinho pequenininho?Sim ou não? Slrn-ou-não! Pensa rapaz, pensaI Tudo nessa vida éassim. De tudo pode restar apenas onão ou osim. Omundo é nossolPode olhar. Val.. joga o mundo lá longe pra verl

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Os telefones que sei de cor:

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Porque tudo tem conexão . Por exemplo,.. banco e... soluço:

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R: A conexão entre os bancos e os soluços são os sapatos.

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Vi da Morte.1 1.

Aconexão entre Vida e Mo rte é _

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Acon exão entre Eu e Nós é-----

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I EXERCíCIOS.Preencha as Lacunas:

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A conexão entre 8 é _

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Sugestões:

Oi eTchauSocorro e DinheiroFreud e BroméliaFavela 8 PinacotecaSucesso e ParmesãoLombriga e SambaAquário e CooperTVe Dionísio' '

'Chico e CaetanoLula e FHCBush 8 Hitler

Suas Propostas: '

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Exemplos para Formatação:

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tenho que confessar: sou a libido em pessoa, mais: só penso e sófaço sexo. como o mundo tem pormania trabalhos e outros afazeres,na ausência de uma mulher não me furto a penetrar frascos deremédios, cadernos e latas de refrigerante. já me masturbei nogabinete do computador, em copos de requeijão, e mesmo com oauxílio de uma cadeira meti na frincha do aquecedor do chuveiro,em suma, não há vivo objeto em que num 'roschard' (aquele teste depsiquiatra que.i.) enviesado eu não veja nuances femininas. meuproblema começou há cerca de um mês quando após ejacular natomada percebi que havia se esgotado. não há mais objetos virgenspra mim e pior: há muito me acostumei a esta prática e nã o sintomais desejo por mulheres, sonho com suas sombras, relances, fitá­las através de outrem - estes que findaram. olho a casa, submersaem espermas e me sinto só. do cinzeiro à torradeira, do sofá ao bife,minha porra como que cristalizada reflete minhas expressões dedescontentamento. é, acho que cheque i ao fim . desço o elevado r eem tudo que vejo, pelas ruas, cidades, as marcas do meu gozo. nãohá mais sentido em viver, vida de merda, porra de vida,

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Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz domundo. Amais linda,a mais amada, respeitada, cuidada ... A mais bem-comida .Eapessoamais namorada domundo e a mais casada. Ea mais festas, viagens,jantares... Casa comigo que te faço a pessoa mais realizadaprofissionalmente. Eamais grávida eamais mãe. Eapessoa mais asprimeiras discussões. A pessoa mais novas brigas ~ as discussõesde sempre. Casa comigo que te faço a pessoa mais separada domundo. Te faço a pessoa mais solitária com um filho pra criar domundo. A pessoa mais foi ao fundo dopoço e dá avolta porcima detodas. A mais reconstruiu sua vida. A mais conheceu uma novapessoa, a mais se apaixonou novamente... Casa comigo qus te faço

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Tudo nesse mundo deveria chama r-se pulôver. L6gico que não atravésde uma emenda inconstitucional, assim" da noite pro dia . Mas aos

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poucos como uma carícia num lóbulo. Então progressivamente opulôver iria tomando conta das frases :

- Eaí, rapaz?1 Que pulôver te verl- Etu! Como é que pulôver?l- Pu-lô-ver! Pulôver direto ... puloverzão... e tu?- Pô, cara, a minha mãe pulôver..._ Que pulôver... Mas, ó: pulôver pra frente ... Não pode deixar opulôver calr.,- É, cê que tá pulôver. , Eaí? Um puloverzinho dia desses?- Com pulôver!- Mas ól Não é papo de pulôver não, heinl Me pulôver mesmo I

Imagine que mundo maravilhosol Em primeiro lugar, findariam osproblemas da comunicação. Em segundo, erradicaríamos o arialfa ­betisrno... Agora , é .claro que pulôver é só uma idéia - e que trariaproblemas pra alquérn.que efetivamente fosse comprar um pulôver...Mas poderíamos fazer um plebiscito:

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- Eaí, rapaz?l Que bunda te verl- Etul Como é que bunda?l- Bun-dal Bundando direto .. , bundão,.. e tu?- Pô, cara, a minha mãe bunda ..._ Que bunda ... Mas, ó: bunda pra frente .. , Não pode deixar a bundacair..,

Imagine que mundo maravilhosol Em primeiro luga r, findariam osp.roblemas da comunicação. Em segundo, erradicaríamos o analfa­betismo ... Agora, é claro que bunda é só uma idéia - e que trariaproblemas pra alguém que efetivamente fosse comprar uma bunda ...Mas poderíamos fazer um plebiscito:

- Eaí, ra paz? I Que morreu te ver!- Etul Como é que morreu?1_ Mor-reu! Morrendo direto ... mortinho... e tu?---..: Pô, cara, a minha mãe morreu.

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Page 30: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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Exemplo:

Regurgifofagia =Re - de novoGu - do dialeto dos bebês, 'gugu dadá'RG - identidadeIt- charmeO- interjeição para espanto: 'oh.. ,'Fa - nota musicalG- ponto g, prazer ,la - verbo irno pretérito imperfeito do indicativo

Regurgitofagia :: Novamente a identidade da linguagem seduz eespanta a musicalidade do prazer que fica

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Page 31: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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EXERCíCIOS:

Caracol ::::

Bsfja-Plor ::::

Helicóptero ::::

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Rlode Janeiro::::

Brasil :::

Arthur Antunes-Colrnbra :::

Marla da Graça Xuxa Meneghel ::::

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Gerald Thomas ::::

Michael Jackson »

Sucesso ::::

Amor::::

Sexo :::

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Vida ::::

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Page 32: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

Faça" uma AUTOPALAVROLOGIA e dos seus(suas) amigos(as):

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Page 33: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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Regurgitar: expelir, fazer sair (o que em uma cavidade está emexcesso, principalmente do estômago).

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Page 34: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

Fagia: comer.

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Page 35: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

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Oswald d~ Andrade, no Manifesto Antropófago de 1928;' aludia àdeglutição do Bispo Sardinha pelos índios antr ópófaqos, para proporque, insplrados neles, de~:l1Jtíss8mos as vanguardas européias a fimde criarmos uma arte ge~mhatnente brasileira,

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E hoje? Continuamos a 'deglutir vangu,aidas' o~ tem-nos .sid~empurrada goela abaixo toda .a sorte de mformaçoes? ConceItos ,Produto$?

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Em surna.o quefazer com a imposs'ibilidade de assimilação, o estadode aceleração, a síndrome do excesso de informação (dataholicsLos milhões de estímulos visuais, auditivos, diários, que crescem emritmo diametra lmente oposto a reflexão?

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'vomitar' os excessos a fim ' de avaliarmos o que de fato queremosredeglutir. :

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... oxímoros .pleonásticos, caq:mos, eJetroconvulsoterapia ...o pavlov usava de artifícios qUl\'ic6s pra estimular o vômito afim de causa-rum reflexo concfionado. o ser humano usa nomáximal 00/0 doseu cérebro, ert ,e r9a 1%das luzes e ouve sonsaté 20.000 ciclos por segundo..t· .

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... o complexo de lego: se você é um leg':entrado, um legóico, tudo se encaixa ...

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.. : uma fitinha do senhor do bo~ remixada com exclusividade.' ~ .

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para o mercado japonês p'a se romper em três dias:envelhecida artificialmente ...

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... nós somos o que come(s I chicIetes carnívoros. ·~. t '

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'. ... enfim. uma cura que os cientistas larão anos para encontrar adoença.por isso se acredito no futuro da hum~idade é porque sempre haverá umacanção inédita dos beatles. amanhe "~o não faço parte do final do mundo,contudo me identifico com a maioriáas coxas, amo tudo que é estranho, .só confio em exceções...

... nas saunas do monte Iíbano e da !braic8, o calor das discussões serádevido única e ,exclusivamente éWom funcionamento da maquinaria.ondas não testadas, repito, ondas da' icadas se dirigem à praia. antenasa,asantena. quase o tim maia e a dey gonçalves apresentando o jornalnacional... I

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... esta frase eu levaria para 'uma ilhaeserta. essa, essa frase, uma armana mão e nada na cabeça: jáinda.adrão globo ocular de qualidade.ostress éaprova dos novos. mataramm estudante, podia ser seu torturador.

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mulhomem. ilha é uma pessoa cer~da de mágoas por todos os lados...I!

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.. , ABUSE EUZI. o antônimo de maxilar émint'lio. SOS '(sale our souls). fui tomado por umasensação de déjà vu g'eral,: olhava alatinha deirveja rosebudweisernegger, ouvia billie holidavon ice ou joão gilberto gil gomes lendo a i~ltentável leveza do' ser ou não ser aos 45 dosegundo tempo é dinheiro não traz felicidadefse embora: . "

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na dsstotoçrafla é assimprimeiro o flash depois o sorrisoa revelação antes do clicvocê relernbra "então viveo passa rinho é que te olhaevoc ê dize ndo sixxxxxxxxxxxx

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Em futuro estudo, a ser publicado em conceituada revista do meiocientífico, será comprovada não só a existência, mas os índicesalarmantes da incidência da cárie cerebral. Ofenômeno, que atingepovos pe diversos países, tem como Uma das suas principais causas,como é de se esperar, os péssimos hábitos alimentares daspopulações, cultivados, prl.ncipalmente, pelo consumo exagerado deenlataoos americanos, novelas açucaradas e conceitos embutidos.

Afim de evitar aextração do órgão sob risco de seqüelas irreversíveis,como por exemplo, o pensamento banguela, recome'nda-seexpressamente q uso contínuo e correto do fio mental. Eda escovade mentes.

Vamos juntos fazer do Brasil um país de sorriso branco", e preto emulato e cafuzo e índio e... hálito mestiço I

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eu queria escrever um livro em que as pessoa~ t,odas morressemse fodessem um livro de contos em que os adjetivos e os verbostodos fossem metáforas maravilhosas e cruéis que falasse da tardemodorrenta de' nuvens crispando garotos de onze anos bichasmulheres e que enfim todos morressem se fodessem que todo contoterminasse com percorreu-lhe a gota de sangue lisa o ar apa l~ando­lhe as mãos e a garganta transfigurada ou mesmo que terminasseassim de repente como uma impressão uma foto de cinema e sóa música pairando na réstia da página em branco é que em algummomento ela me falou das impossibilidades da sua depressão e decomo não via perspectivas e a saturação de tudo os filhos as co~tas

e eu faleimas nesse mundo tudoé possível nesse mundo tudo existemas ela disse que não e então eu falei você acha que nesse mundoninguém come cocô?! que não existem milhares de pessoas nessemundo que comerncocôjl? que agora mesmo n~o,tem um casal dejovens lindos em buenos aires se amando com fúria por ent:e suasmerdas?l? em bangcoc um homem não acaba de levarnuma Virulentagolfada com a mão direita amerda à boca?l? no desert~ d? atacamaum índio solitário não faz uma prece enão lambe asua propna bosta?!?em paris-berlim-cair0-moscou-em-todos-os-lugar,es?l? ,no [apão umhomem de meia-idade solitário emuito ricogrande investidor da bolsaem seu apartamento high-tech conduz solenemente seu cocô sobre abandeja de prata até repousá-Ia na n:esa romanticamente posta à lu~

de velas." que esse' homem vive pra Isso?I? que otrabalho ,na bol,s8 euma forma de não levantar suspeitas epara que ele possa investirrl?em merda?l? em desejo?l? e então ela me pergunta:

- qual é o contrário de comer cocô?

-~risteza, ,, não] frustração .

mas ela insiste e diz que quer saber em termos de paladar e eu meesforço pra sentir como é o gosto do cocô

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Page 46: MELAMED, Michel - Regurgitofagia

Alou? Alou? Tem alguém na linha? Não tem ninguém na linha? Tá noponto? Não tá no ponto ainda ... Mas eu queria aproveitara oportuni­dade'para agradecer. Agradecerao papaie mamãe, aovovô e à vovó,às ~rlanç~s - quesão, o futuro donosso país- e à juventude - queest.a perdida, Porque e graças a você, graças a vo.cêl, que eu tenhomaisde 100% da audiência nacional! Porgentileza, dá um close aqui:pode ver; o S)10W do Estupra? 100%1 Agora a concorrência: ShowdoAssassino? Etraço, Show do Ladrão? ÉtraçaI I Show do Fascista?Traçai! ITraçolll Traço/lI SóoShow doEstupra tem100% da audiêncianacional! II Muito obrigado... Deus ilumine todos vocês...

Mas o p~ograma d~ hoje está imperdível, você não pode perder....A ~egadlnha maneiralll Não é pegadinha não... É um pegadaçolllVejam q,ue. bem bolado: seqüestramos um rapaz, colocamos elenum catíveíro, nu, acorrentado... Comia pão e água quando tinha IIISe não, era açúcar mesmo... Arrancamos as .unhas dos pés dele!C.olocan:o: cola b.onder nas. narinas... nos cílios... Foi estuprado porCinco criclõas. .. Aliás,gostaria de auradecer a Talentos Efervescentesque.n?s m~nicla com seus atores maravilhosos, e, especialmente, êpartlc,'paçao do Roberto Jefferson, um grande ator, e que em breveestara nas novelas de todo o país. Mas não acabou ainda não. Vejamque bem boladol Um belo dia o rapazacorda e descobre:as correntesestão dsstrancadas e a porta está aberta... Ele sai, vejam que bembolado: começam a passar táxis de cinco em cinco minutos,.. e nin­guém párall Ninguém párall Mas ainda não acabou..Páralll PáralllPára111 Vocês têm certeza que querem continuar assistindo? I,? Muitobem, o rapaz chega em casa e o prédio deleestá sendoassaltado! São

. os atores da Talentos Efervescentes, o meu muito obrigado mais umavez: Aítem um ladrão que é o mais estouradlnho., Roberto Jefferson .Mu~to bem ca~acteriz .ado." é um talento.., o rapaz nem percebeu ..Eda logo um tiro na testa e outro na medula do rapazll! Vocês têmque ver a alegria do rapaz, acordando do coma, e descobrindo que~cabou de participar de mais uma ... PEGADINHA MANEIRA/li Nãoe u~a pega,di~ha, não, é um PEGADAÇO 1I1 Alou? Alou? Tem alguémna linha? Ja ta no ponto? Tá no ponto?l? Roda o VTI

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Masvamos mudar Um pouquinho o rumo dessa prosa, vamos mudarde assunto, porque chegou a hora de um 'quadro que todo mundogosta". Um quadro que já faz parte das tardes de domingo da famfliabrasileira ... URROS. O... O... (Éstupral Estupra] Estuprai) OGAME DOFODIDO I! IVINHEJAS EURROS, Vocês já conhecemas regras: o maisfodido, o mais desgraçado, desvalido, o mais miserável ganha111Vamos chamar aqui ÇlO palco o campeão da semana passada e suaacompanhantel!l Pode entrar... VINHETAS EURROS, Muito bem, muitobem ... Ele está preparado para vencer mais esta semana? Sim, SeuEstrupa, ele se preparou muito esta semana, URROS. Quer dizer entãoqueoSenhor se preparou? (O candidato babando..JPois euvou contarpravocês que a nossa produção foi atrás... Anossa produção correuatrás e taí com um' sujeito que o médico que o acampanha diz queele ganhaI Diz que hoje ele é que leva 111 URROS. Então que entre odesafiantelll VINHETAS EURROS, Como é o nome dele? Omédico queacompanha odesafiante:nãotemnome./iiiihhh, rapazlll Agora a coisaficou feia 1II Eu tô avisando, a produção caprichou essa semana ... Esseaí nãotá pra brincadeira não111 Não tá pra brincadeira nãoSenhorilVài ser difícil pro campeão hoje... Mas bem, como o nosso tempo' jáestá apertado, VINHETAS EURROS, vamos imediatamente começar.a competição, VINHETAS EURROS . Oque é que ele tem? Câncer de'garganta, responde a assistente do campeão. Eele?Écego, respondeo médico acompanhante dodesafiante. Você agoral Ponte de Safena ,Vocêl Asma, Você? Parkinson. Tu? Arteriosclerose. Vamos lá minhaqentel Tifo I Tétanol Tumorl Castradol Mudol Surdol Lepral AidslAlzheimerl Epilepsia I Diabetesl Tuberculosel Muito bemlll Muitobem! 11 Onosso tempo já está praticamente esgotado, ,, Aaaaahhh ...Eos candidatos estãomuito bem preparadoslll URROS. Uma salva depalmasl!l VINHETAS -E URROS. Vamos então diretamente para estapartequetodomundo gosta,do Fodido Físico para..,o Fodido Social! 1I

VINHETAS EURROS . Você? Nome no SPC. Você? Nome no SERASA.Vocêl Tentou o suicídio oito-vezes: tomou estricnina, formicida,raticida, inseticida, cicuta, arsênlco.. Tá, tá I Eesse? Também tentouo suicídio oito vezes (com sarcasmo despeitado): cortou os pulsos,tacou fogo na roupa, ligou o gás e fechou a janela, pulou pela janela.fechada, se jogou na frente de um caminhão, deitou.notrilho dotrem... Vamos lá minha gente, eu não tenho a vida inteira ... Eo Showprecisa confinuarlll ÉjudeuI Épalestinol Énegrol ÉhomossexuallÉmulhe rl Éíndiol Faveladol Periferial Matou a mulher e os filhoslEnterrou o pai e a mãe vivosl Comando Vermelhol pecI AI-Qaeda 11CIAII Desenvolve armas biolóqicssll] Em fase de testes da bombaatômica 111 Senhoras, senhoreslll Adisputa está muito boa, muito boa

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mesmo, mas infelizmente onosso tempo acaboull!Aaaaahhhhh."Maseles voltarão na semana que vem I! I URROS. Para ogrande tira-teima I! IURROS. Preparem-se muito bem, porque vocês já sàbem: quando adisputa está acirrada desse jeito, ..é nos detalhes que ela é resolvida II1URROS, Uma diarréia 111 URROS. Piolhos /'11 URROS. Torcicolo I Unhaencravada! Verruqasl!l Soluçoslllll URROS. URRO·S. URROS, Enãose descuidemI/I Mantenham-se vivos I! I Rarará 111 (Estupra I Estupra IEstuprai) Logo mais aCHACINA DOS CALOUROSIII (Estupra] Estuprai)Vamos aos nossos comerciais/li URROS E VINHETAS, INTERVALOCOMERCIAL.

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p/ Luciana

no nosso último jantarsentamos à mesa e comemos em silêncio (o próprio)bebemos vinho e não brindamossó se brinda quando existem planosnaquela noite, naquela mesanosso último jantar era a única certezaalguém que porventura bisbilhotasse nossa janelaveria talheres e copos flutuando sobre as velasno nosso último [antàr .sentamos à mesa e comemos transparentesalguém que porventura bisbllliótasse nossa janelaveria a comida sendo digerida dentro da genteno nosso último jantarsentamos à mesa e carcomemo-nosalguém que por ventura bisbilhotasse nossa janelanos veria por muito pouco tempo

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Confirmado, eu morri. Estou aqui apenas para esclarecer que não hávida após·a morte. Agente morre e fim. Acaba tudo geral. No exato

... segundo. em que se morre, perde-se a consciência e... Portanto nãoexiste alma, reencarnação, inferno nem reino dos céus, Aperguntaóbvia então: como é possível, se não existe nada após a morte, queeu, morto, esteja aqui querendo confirmar a inexistência? Simples,euestou escrevendo este texto antes de morrer, Éum misto deinsightcom presságio. De resto é poder contar com um pouco de sorte e euestou apostando todas as minhas fichas. Afinal, não havendo nadaapós a morte, não há o que ser descrito. Apenas esta confirmação,que tenho certeza, de onde eu estiver, uma vez mais assinareiembaixo. Gosfaria de aproveitar a oportunidade e agradecer por tervivido. Um beijo todo especial para o mundo inteiro, e sortee coragempra vocês. Té logo, quero dizer, té nuncal

gente é um~ bola c,om dois pontos é um traço assim e outro assime o,utro assln;, queria me ,dissol.ver na água porque mais que tudoma~s q~e voce amor ~a minha vida que papai mamãe e deus e sexo8 dínheiro e~ amo a ag~a as coisas podem acontecer naturalmenteacontece muito de me dizerem tchaue euouvirte amo meio italianadotchau ,tchau ,t~hau t~haum tchaum tiaum tiaumo tiaumo ti aumo tia~,u ,ti amo e Impo~slvel um lapso cocacólico quando é que alguémdiria aquele refrigerante .. , c.o~o é !2!.~smo", ai meu deus... aquelepreto parecido com a psps:.., ? nunc'al .serla imperdoável vocêpode esquecer a luz acesa a idade do seu pai o que era mesmo tudobe~ é aceitável mas o lapso cocacólico está em extinção existemc~lsas que não podem Sér magoadas mas não é por isso que aindanao escrevi a coisa mais bonita que escrevi até hoje (o fim dasideologias é uma falácia ao contrário vivemos o seu apogeu no meucaso porexemplo devo lutar para ser um michelista melamedniano enão um pré-michelista pós-melamedniano) nunca aconteceu de meperguntarem 'o quê?' e eu entender 'ok!'

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Confirmado. Eu morri. Estou aqui apenas para esclarecer que há vidaapós a morte.Agente morre e começo. Começa tudo geral . No exatosegundo em que se mo rre, ganha-se a consciência e...Portanto existealma, reencarnação, inferno e reino dos céus.Apergunta óbvia então:o que é que tem depois da vida? Compl ioado explicar. Porque estouescrevendo este texto antes de morrer. Éum misto de insight compresságio. De resto é· p.Qde r contarcom um po uco desortee euestouapostando todasas minhas fichas .Afi nal, havendo vida apósa morte,farei todo o possível para me ·mª.Q,ifestar e 'contar tintlm por tintim.Por enquanto, apenas esta confirmação, que tenho certeza, de ondeeu estiver, uma vez mais assinarei embaixo. Gostaria de aproveitar aoportun idade e agradecer por ter vivido. Um beijo todo especial parao mundo inteiro e sorte e coragem pra vocês. Até logo, que ro dizer,ei, você por aqui?l

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INVERSÃO DO EIXO (cena de platéia)Preciso de umvoluntário, um candidato.Você não...Você?Não...

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Aíííí!! Qual o seu nome? Fala alto rapá! Tu é viado?!,GuaJ o seu nome?!Então se você não é viado,tem uma namorada... urna mulher...Quando você tá em casa com a sua mulher, na intimidade, você gosta de chupar pum?Chupa-pum, rapá?!Tu é viado...Vi-a-do!! Vi-a-d o!!

Então faz o seguinte: canta rebolando. Canta rebolando, rapá! Can-ta re-bo-lan-do!l Can-ta re-bo-Ian-do!!Não sabe cantar rebolando?! Então., '.

Imita uma cotia!! Imita uma cotia, rapá!! I-mi-ta u-ma co-ti-aí! I-mi-ta u-ma co-ti-a!l L.)

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M.oSTRA OCHOQUE PARA O PÚBLICO

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Ser pisciano, judeu, poeta e carioca e correntista 'do Itaú é - alémda pulga como orelha - viver o eterno e generalizado déjà vu.

Não existem novidades no mundo. Moleza ouvir uma história e passara acreditar que é sua. Mais: ouvir sobre um lugar, como porexemplo,Botucatu, e lógico, grande. Botucatu, maravilhosa, conheço muito,bem, etc. e tal, EoFlavinho?

Há um tempo atrás fui a um blooo de carnaval. Entre as tetas damassa, este folião daqui, ao perceber uma janela acesa no últimoandardo prédio fronteiriço, imediatamente foi acometido de pungentenostalgia. Pude mesmo ver ovelhote daquela janela - Êlu'~ do altodos meus oitenta e poucos relembrando de mim aqui, no recôncavodajuventude, entre beijos e goles, neste mesmo bloco em queme vejoali relembrando de mim aqui sendo assistido de lá ...

Eentão tive a certeza da vida vã. Esorvi de um gole só meia lata decerveja. Equeimei os lábios ressequidos com chá de hortelã. Eentoeium samba. Ebocejei com as mãos trêmulas. Ebeijei a menina. Eminhavelha postou a mão sobre meu ombro. Efiquei melancólico com ofuturo: Esorri re/embrando o passado,

Você, que é um taurino, católico, dentista e baiano - correntista daCaixa; ou uma llbriana, muçulmana, publicitária e gaúcha - BancoSandy Junior; até mesmo Um leonino, ateu, ator e paulista ~ Bankde Boston, saiba: é muito estranho ser um pisciano, judeu, poeta ecarioca - correntista doItaú. Ter a sensação de quetudo queacabade' dizer, já foi dito. Foi pensado. Esquecido.

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ECA BIBLIOTECAUSP ~~503

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Porqu e tudo é metáfora pra vida. Por exemplo". O Mar. O madr é. r ueno outros gran e...

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r Porque tudo é metáfora pra vida". Por exemplo.". um." aço 9 .ma . M ada coisa tem um preçoAs coisas estão todas af, expostas.", [as c ~ de pedir o auxílio de .

e vo~êo~~~i~~ ~~~~~~a~ ::~~~haa;~..~ae ~~~;:~olher o que plantou:um Çf 'egfilé~mígnon um momento churrasquinho de gato, um a~ouma as , I'" alguém sem coraçaointeiro enchendo lingüiça ou uma re açao con: ld Vi tnã{de galinha) ... Porque, tudo é metáfora pra Vida ... uma VI a e ,uma vida centopéia...

Exercícios:

a. DESODORANTEb. LIXOc. FUTEBOLd. INDÚSTRIA AEROESPACIALe. TESTícU.LOSf PARALELEPípEDO~. INCONSTITUCIONALlSSIMAMENTEh. METÁFORAI. VIDA

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pl Waly Salomão '

Haja marginal, haja heróiquando ventos varridos das curvaSbaterem nOS teus parafusos soltos__ sem rabo~de·cavalo, coque b~.xuqu\nha :debaixo dos caracóis dos teus parafusos soltos como uma bandeira:

Haja marginal, haja herói_ para empinar parafusos:pipa na gaiola e parafuso solto .Substituir as pressas às peças substituir,Trocar tudo: Novo em folhaslAmaquinaria urinando pentelhos e bolhas ...Cilindro, eixo, manivela?Pipa na gaiola e parafuso solto.Condomínio, vIaduto, favela:Parafuso solto.Cadeia, manicômio, camisinha:Parafuso solto.Algema, ventre, braguilha'.Parafuso solto .Coleira, dinheiro, ma conha, embalagem... :Parafuso solto:Deu coceira na engrenagem'.AIL onde a roldana torce o rabo ,Gel na rabiolalPipa na gaiola e parafuso solto,(aqui, todas as palavras que pensar...]Qual o sentido davida - das máquinas?De onde vêm e para onde vão?Por que as máquinas existem?Cerol no rabo delaslAli

londe a roldana torce o rabo delas.

Pipa na gaiola e parafusO solto... para empinar bandeiras:

Haja marginal, haja herói

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rio de janeiro,menos 20 graus.os patinadores cavalgam parelhos no espelho de gelo da laqoa ,o cristo redentor,quase irreconhecível,assim,com a neve cobrindo-lheo dorso das mãos pés braços ombros cabeça...nãofosse a justa localização e tamanhopoderia se suspeitarque fosse outrem ali :um king-kong petrificado no apogeu da escalada;uma esfinge, de pé, propondo a pantomima do seu enigma;a estátua da liberdade - renunciando à tocha,os braços semi-erguidos como asas, livre;quiçá a torre eiffel obesaou mesmo um patético espantalho gigante afugentando o sol. ..a neve tomba sobre a..cidade .queda lentamente escorada pelo absoluto silêncio,este silêncio hibernado há mais .de quinhentos anos,lapidando as hélices dos flocospara o desbunde branco.casais sobre esquis descem o pão-de-açúcar,na bala de guanabara um pai puxa o filho notrenó.pingüins aplaudem a aurora boreal no posto 9.vai mesmoque o pau-brasil cisma desbotar na polôniae uma ave gargarejarna rússia.uzbequistão e suas palmeiras do mangue ".sibéria 40°".hoje,aqui,são as neves de março qU 'e fecham o verão.e promessa nenhuma.nunca mais.

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o homem-de-late afunda a.. pata no acelerador d.e sua caranga deca:ne-osso, avança sobre o centro nervoso da cidade desalmadaa f!m d~ lançar o coração como granada. a missão cumprida lança­o a rotl~a , homem-de-Iata envasa a direção de sua casa num vôopropulsionado a tapa n,a nuca, cascudo na carapinha, movido ap:egulça - ,como que Içado pelos pentelhos de bombril por umapinça, estaciona na garagem do prédio de carne-osso,' mete suachav~ de car.na ~a fechadura de osso, senta-se no sofá de ffgadoe abrindo uma latinha de sangue estupidamente barato encrosta-sena suatvde' ca.rtilagem plana ,dorme homem-de-lata, dorme. adentreesta mata de f',bra -ótica sob este céu de fusfve is. veja como é beloo mar de gasolina quebrando nos bytes da praia. sonha homem-de­lata , so~ha" o ~ue não te f?rtalece te mata . há de haver um lugar emque a vida e so aço, madeira, ferro, plástico, o mundo também é dosque apenassonham que podem conquistá-lo. homem-de-Iata acordasobr.es~alt.ado , onde haverá pedra neste mundo, pensa, estou farto desem/maquinas. senta-se à escrivaninha de gordura e lembrando-sedo amanhã, escreve em seu notebook de estrias: ' , "

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Acasa de Mariá Cardoso é de papelão. Engana-se quem constatarprematuramente neste relato, tratar-sede mais uma foto do SebastiãoSalgado. Não que não haja miséria ali, mas a casa de Mariá Cardosotoda feita em papelão possui seis quartos sendo três deles suítes; umasala de estar e outra de' tv; uma biblioteca, quatro banheiros e umacozinha de proporções industriais. Vale notarque no terreno existemainda: urna piscina, uma quadra de tênis e uma casinha de cachorroironicamente erguida em pau-a-pique.

Portanto Mariá Cardoso não está inserida no grupamento dosdesterrados , muito menos na minoria 'novidadista, fashion.Maríá Cardoso pertence ao quarto setor. Aquele que inaugura a'convergência. Assim como outras suas amigas, como por exemplo,Margareth Silva que acaba de erguerum barraco de ouro, cravejadode diamantes sob o viaduto . .

E assim, com a união de todos o país avança tendo-se os bensrepartidos e a qualidade devida nas alturas. Édese aplaudir também,estes que, pegando uma carona no bem suceder do projeto, fundammultinacionais de mendigos ou mesmo abrigos para empresários. Edigno de nota é a consolidação das Olimpíadas dosAnabolizantes, aschacinas realizadas pela polícia e o narcotráfico sendo comandadopor vereadores, deputados e senadores.

Porém, tendo certeza da boa intenção que a todos move, não tardarápara que estas iniciativas encontrem sua justa posição e, sendo assim,o mundo todo - por que não? - entrará definitivamente nos trilhos_ já que os trens estarão deslizando sobre as ondas. .

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A questão é quando forem comprovadas as propriedades medicinaisdo beijo,e, conseqüentemente,.~a língua, oconstrang imento da famíliadessa menininha, na fila de espera poruma lambida compatível comseu pequenino co ração.

Que com um simples beijo pode-se aprender um idioma não há dúvida,Você be ija uma chinesa,aprende ohinês; chupão no alemão: alemão;um estalinho na francesa:oui.

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há um barco no mare só

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senão seria apenas um barco no ar

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porque se não houvesse arseria só um barco

só um homem num barco

só um homem sufocando num barco

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JOÃO CABRAL

Ler um livro ao ritmo em-que foi escrito. Esta é a mais nova maravilhatecnoliterária. Oautor senta-se à frente do computador, a páginalívida . Liga o 'Gravando'. A partir deste momento, todas as vezesque acessar este arquivo, ele gravará não só o digitado, apagado,recortado, copiado, colado, mas, também, os, intervalos, entre, as,, -,s.e.s.s.o.e.s,

Daí que o leitor compra o 'co' (ou será OC?) (OOO?) (VOCÊ?) (enfim)e coloca no seu papiro virtual. Desloca a tecla 'P/ay', Um cronômetrono recanto - àsombra - superior datela indioa que foi exatamenteàs 18:23 que oautor oomeçou a prescrever. Ocliente enfoca orelógio:17:30. Liga tv- como quem crava uma trincheira . De súbito dorsal umsinal: o bip , Faltam apenas cinco dos minutos. Desliga tvs tal qual oescritor há estáticos dois anos e cinco diasatrás,prostra-se diante dapágina branca .Obip final: 01 minuto, A contagem regressiva começa.Oleitor excitado. Mais: extasiado. Mais: proscrito. Menos: ardente.Daqui a pouoos segundos a golfada de Inspiração virá.

.Palavras jorram na folha ao ritmo da digitação uma ou outra voltapara correção inversão de paráqfàtcs... O leitor acompanha doiscapítulos inteiros e mais algumas anotações, embevecido como seo livro estivesse sendo .escrito ali mesmo nesteexato instante aqui..0 livro pára (o escritor havia parado), O leitor, que optou pelo modo'Ao Vivo', vai dormir. Às 04:30 da madrugada um novo sinal. Ele revoaemdireção aoseu 'notebook' (ou será Oibuk?) (Eunuco?) (EU?), abrea maquinaria e/á estalará: o escritor havia recomeçado exatamenteàs 04:31 AM.

E, assim, nosso leitor acompanha pormadrugadas, fins de semana,nos horários mais imprevisíveis e estapafúrdios, o embate doseu escritor preferido com o desconhecido: anotações das ma isdiversas, pesquisas, momentos de puro [azz onde nada-mais-nada­menos que dezessete capítulosforam escritos, o.lrnpulso criativo, asfrases definitivas; mas também os dias modorrentos onde o silêncio- quando não o desespero - intercala-se com uma ou outrapalavrinha vã; e mesmo os dias de labuta incessante, onde elas, aspalavras, são tocadas e estas por outras e mais e mais vezes, a buscaincessante pela musicalidade e o sentido ideal.

Então durante exatos oito meses e nove dias o leitor acompanha asaga do esoritor neste livro maravilhoso, em que Imediatamente apóso 'fim' ser digitado, tudo é selecionado e poder-se-ia mesmo ouvir odedão esmagando a tecla delete,

notarque a vida tá crescidinhajá pode alçar seus próprios vôo~

não precisa mais de você

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MISÉRIA

De forma assertiva onovo governo decretou que areia vale dinheiro,isto é, cada grão correspcnde a um real. As notas de cinco serãosubstituídas por gotas d'água. As de dez porchamas (fósforo, isqueiro,etc.) e as de vinte por espirros. As de cinqüenta', uma tossida, e,finalmente. as de cem reais serão trocadas pelo ar.

Em outras palavras, estar na lama corresponde a seis reais. Umagripe aplenos pulmões, cento esetenta; e, finalmente, ninguém maisperderá tudo num incêndio: magnatas desfilarão com seus-lança­chamas.

Um único inconveniente são as casas de câmbio que, não sabendocomo se posicionar, têm gerado sucessivas confusões. Afinal, quantosdólares vale um grão? Quantos marcos cabem ernuma gota? Quantooxigênio em libras esterlinas? I

Problema deles, Para nós, esta é avida que pedimos aDeus. Mais umavez reitero meus parabéns às autoridades, que com sua sensib(lidadeestão fazendo do mundo um bom lugar para se viver, .

Edigo mais: não se preocupem com o capital internacional. Nuncasouberam quanto vale um beijo, que a dignidade não tem preço, quedirá ovalor de um homem.

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quando neva no Rio

diria que estou prenhe de palavrasveja, por exemplo, este 'dirimir' que salta de minha boca

dirimir para mim soa como dimitri '

dirimir é o filho russo que não tenhová dirimirl vá brincar com as outras criançasl .vá dirimirllogo você será um homem eterá a sua própria família I

vá dirimir... pois seu vàlho pa i está prenhe."veja, por exemplo, este 'vá' qu~?~\ta de minha boca

vá dirimirl

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Uma luz ocre incide sobre a passarela. Cantilenas em fade-in. Luzesfúcsias em tade-out. Flictz em Conto-de-Fade. O nome não sei aocerto (Glu-Glus?), mas sem dúvida alguma trata-se de africanos.Usam camisetas em que a parteocidentalmente destinada à cabeçaé vedada, conquanto duas golas ocorrem na região das axilas - poronde escorrem longilíneas e bem tratadas madeixas, rabos-de­cavalo, marias-chiqui nhasou na maior parte dos casos: lo ngastranças nos sovacos.

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Incitam a imaginação, onde não faltará quem os veja em sua terranatal, correndo pelo descampado com as 'partes' expostas, isto é,encobertas por outras longilíneas madeixas, rabos-de-cavalo, marias-chiquinhas - de pentelhos,

Importante fazer notar que não possuem um padrão de cor de peledefinido, Quando muito, pode-se dizer que em sua maioria sãobrancos(as). Mas, sem dúvida alguma, AF®I©@NOS T~ (Brim-Brins?).

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Woody Allen nunca havia revelado, a ninguém, mas seu sonho maiorsempre foi vestir a camisa dez canarinho. Desde a mais tenra idadedevaneava com jogadas sensacionais pela meia-esquerda, golsde placa e erguer o caneco ruborizado após roubar-lhe um beijo.Cinema, jazz, casamentos: escapismos - os quais esbravejava emseus quarenta etantos anos de psicanálise. '

Acontece que hoje, um senhor de idade, cabeça feita, celebridade,Woodytomou coragem num gole só e resolveu ligar para a CBF, Apósuma série de enganos - seja a descrença de tratar-se realmentedo renomado cineasta ou mesmo a ausência de um bom- tradutor,-W.oody, finalmente, vestirá a amarelinha, Será em Um jogo amistoso,no maior do mundo, domingo às dezessete horas. Seleção Brasileirae Woody Allen contra Resto do Mundo.

Anota triste é que, dada atemperatura elevadíssima do verão carioca,Woody, imediatamente após o pontapé inicial, sentiu-se fortementeindisposto e a desidratação era tal que não houve jeito.

No Cemitério São João Batista, o Presidente da República fez umdiscurso emocionado, Epara todos ficou claro, do Oiapoque ao Chuí:alguns sonhos, mesmo dos mais ardentes, são ridículos. Descanseem paz, Woody.

Obs.: Na semana seguinte um meninote perguntava ao pai quem eraessetalde Woody, no minuto de silêncio que antecedia Bangu XVoltaRe'donda, Opai, sem perder a pose, vaticinou: um grande jogador,meu filho. Do meu tempo, Vi muitas 'vezes Woody infernizar a defesaadversária aqui em Moça Bonita. Eo juiz apitou. Eo menino sorriu- se imag inando como Woody, dando um, dois, três lençóis na defesaadversária, Um dia eu serei como Wobdy, papai". '

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ameninadosseusolhosnãoémaismeninaéumamulher

evocêsótemolhosparaessamulher

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A colecionadora, uma moça de idéias, deteve mais uma: camisetascom letras garrafais prescrevendo "MariaPiovani Fisher Ferraz SeccoBrunet de Oliveira Lima" ou "João Buarque de Holanda AssunçãoPalmeira Nachtergaele Veloso", Ficou rica.

Como persistisse a dúvida de toda genialidade ser copiável ou não,pulularam pelo país as mais diversas variações dotema :' camisetasdescrevendo senhas e valores de contas bancárias; camisetasenumerando propriedades; camisetas com listas de parceiros sexuais,etc, Eis que anação passou aviver doque era impresso em camisetase estas se acomodaram como verdade. Não mais era necessárioconquistar nem mesmo ser, Bastava um sllk-scrsen e voilál, sou oque descrevo; ou 'ser é descrever', 'Des'crever ou não descrever, eisaquestão', 'Navegar é descrever,viver não é descrever' eaté mesmoo outrora nada abonador 'vale o escrito',

Portanto, um enqraçadlnho resolveu um dia usarde alguns símbolosao invés de palavras: brasão da família, Clube de Regatas Flamengo,Partido Comunista, Banco Tal, fruta Z, cor Y e assim por diante,conseguindo um resultado colossal e insuspeito para o resumo dosseus atributos e/ou anseios. Foi, um verdadeiro Deus nos sacuda:símbolos, sinais, signos jorravam pelas malhas não tardando acederem'vezaos códigos, ideogramas e, finalmente, ao expressionismo abstratoque impreterivelmente nos lançou novamente àidade-da-pedra, querodizer, da camiseta regata branca,

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não se surpreenda ao flagrar uma mulher extraindo .petr~leo do peitodiferentemente das espinhas o peito ao serespremido nao nasce em

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oTÁRTARO DOS DESERTOS

Li hoje aseguinte chamada para uma matéria: "a apresentadora Xdádicas para passar as férias em casa", Por não ter me aprofundado nareferida ou mesmo tendo~me' bastado apenas achamada, me permitoimaqiná-la, na foto de capa, postada frente aum lago azul-esverdeado­conqalado, nos confins de algum pafs nórdico, calçando skis egorro decetim com camadas crocantes de camurça. De qualquer modo. não éeste oponto que mais me chamou aatenção e, sim, aimpressionantesabedoria desta jovem, que não merece confiar tão raro poder atãoestreito objetivo,

Portanto, gostaria de solicitar à referida publicação que propusesseaesta invu/gar criatura, alguns desafios que, em se tratando de quemé, tenho certeza não serão nenhum sortiláqlo, muito pelo contrário:uma grata oportunidade para o exercício desta soberba capacidade,Pois bem: "nesta nova edição a apresentadora X dará dicas paraum banquete sem comida": "na semana que vern, a apresentadora Xdará dicas de sexo sem parceiro(a) (e masturbação sem rnernbrol":"milionário sem dinheiro", "esporte sem saúde", "arte sem talento" .. 'e "cidadania sem dlçnidade". Creio mesmo que não tardará para queaapresentadora Xnos dê atodos, porpuro espírito samaritano - oujá será vaidade? -, "dicas para uma vida a sete palmos do chão",Gostaria.ainda de suqarir, se não fordemais, que, caso as idéias sejamaceitas, que estas matérias sejam ilustradas com as fotos de suasviagens - com LSD.

MAR EM TRANSE

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omar?Segue trancafiado

A cada onda um arrastar de correntes

Não há um só caminho/ uma só bandeira

_ mas um exce?so de mastros

ehastese postese agulhasefósforose dedos em riste;

evigas

e pr~dios

Tudo"almeja o céu, espantalho

omar?

Não.Almeja mastros

e hastese postese agulhasefósforose dedos em riste;

evigas

e prédios

Omar segue trancafiado e bem

Muito bem trancafiado

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SAUDOSISMO

Sabe aquele pato da música? Da bossa-novarl? Opato, vinha cantandoalegremente quém quérn quém? Então, rapazl Ninguém te contou???Foi osegui nte :passaram uns anos da explosão da bossa-nova, outrosritmos fazendo a cabeça do pessoal daíque num natal aíotal pato foipra degolai É, rapazl Uma lcucural Segundos antes do abate alguémmais saudoso,ummenos atento às novidades, mais romântico mesmo,sacouque era elel Opato da bossa-nova II Dar que libertaram o bicho,deram alguma grana, ma rm ita, mochila enfim: o pato partiu .

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Mais alguns anos se passarame aíquando ni nguém mais sabiaoqueé que era bossa-nova, que dirá o gato da bossa-nova, um jornalistacom a namorada num parque de diversão, ao empunhar a carabinaa fim de fazer cumprir a promessa de presenteá-Ia com o ursinho depel úcia, pe la mi ramesmo anteviu oalvo e sentiu um frêm ito percorrer­lhe a medula aoconstatarqueentre-tantos patinhos, um deles, Ómaiscaquético, era justamente o pato da bossa-nova] I! Calma". calma ...Daí que o jornalista estancou. Ainda pela mira olhou o pato, pensoucomo avida eravã, como osvalores estãotodoserrados e pensou queele poderia propor uma matéria no jornal e tirá-lo dali, que terrível! Opato da bossa -nova confinado a pato debarraca-de-tirol, e quem sabeele conseguisse reerguer sua carreira, fazer um clipe, virar uma coisacult, quiçá um estrondoso sucesso:AVolta Do Pato Da Bossa-Nova ICantando Rap no Acústico MTVI Eque graças a ele tudo isso seriapossível. .. Mas represou a vaidade, não faria mais que sua obrigação,um dever cívico, pela cultura do paísl e oolho que não se debruçava namira escapou eflagroua namorada, aquela gracinha linda e serena esem pensar mesmo é quedisparou e agora já comprando um algodão'doce pra ela, agora que ela pede que segure o ursinho de pelúcia éque sente uma pontada de remorso mas imediatamente pensa queela é mesmo uma gracinha linda e serena e seu dedo indicador repeteinvoluntariamente o movimento de puxar o gatilho.

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a noite está tãosinto falta defriavocê

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OBRA-PRIMA

Uma idéia gen ial flanava por aíquando num encontrão com a mole iradum pitboy perpetrou-se. Muito bem. Palmas para Pitboy. Mas eagora? Oque poderá fazer um pelo outro e vice-versa infinitamente?Deixemos a pele de tatarne se esgueirar pelo sofá, a tv relinchar eo açal sublr, OBrasil é deles, temos todo o tempo do mundo, Afinal,mesmo genial t nenhuma idéia é imprescindível. Tempo ao tempo, acara a tapa,dente-por-dente.

Pitboy coça a cabeça como que intuitivamente tentando aindalivrar-se do incômodo, Mas eis que na calada da noite, ali onde ossonhos se irmanam em pontapés e cotoveladas, a idéia genial afiaradespertando-o. fome? Sede? Pitboy vai ao banheiro. Olha -se noespelho-se no escuro-se. Desfere um murro na outra mão fechada .Ét meu arniqo, agora é contigo,

Pitboy desbrava a manhã esbugalhandolhos. Quem procurar? Comodizer? Por quê?1 Por que eul?1 Pitboy vaga pelas ruas à procurade comportas por onde desaguar, Fita os transeuntes fazendo-sepresente e em contrapartida detém a anuência das massas, Vê ummoleque magrelo amando a namorada. Aproxima-se, Desfere umacabeçada s, lívido, novamente senhor de sl, empunha o caminhopara a casa esfregandolhos a bocejadas. Amanhã os jornais hão dese perguntar o porquê? Porém a obviedade - mais que estampadaentrelinhas - será marcial. Aqui a culpa detém os méritos. Mesmopara a criatividade há limite . Quem em sã consciência há de negara inspiração de um carro capotando, um tiro no olho, uma facadana testa71 .

Ai pitboy, .. Aiaiai pit.. , cantarola Dorival balançando na rede.

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DEUS[Do lat, deus.] S. m. 1. Princípio supremo considerado pelas religiõescomo superior à natureza.

NATUREZA(ê]. ~Oe natura + -sza.l S. f. 1. Todos os seres que'constituemo Universo.

UNIVERSO[Do lat. universu.] S. m. 1. Oconjunto detudo quanto existe.

EXISTIR(z). [Do lat. existere, sxslstere.l V. int. 1. Ter existência real' ser'haver. ' . ,

HAVER[Do lat. ha bere.] V. t. d. 1.P. uso Ter, possuir.

POSSUIR .[Do lat.*possidire, porpossidere.] V:ld.. 1. Ter oureter em seu poder'ter a posse de; deter: '

DETER[~o lat..detine.re.] V. t. d.1.F~zer parar, fazercessar; não deixarir pordiante; Impedir de avançar; Interromper.

INTERROMPER[Do lat. interrumpere.] V. t. d. 1. Fazer pararpor algum tempo.:

TEMPO'[00 lat. t.em~us, pel.a f. tempos, que foi sentida como um pl. porto deque se tirana um sinçular.l S. m. 1. A sucessão.dos anos, dos dias,das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente,passado efuturo.

FUTURO _[Do lat. futuru.] S. m. 1. Tempo que há devir.

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[Do lat, venire, pelo are. vêir, viir.l V. t. c. 1. Transportar-se deum lugar(para aquele em que estamos).

ESTAR[Do lat. stare.lV. pred. 1. Serem um dado momento.

MOMENTO[Do lat.momentu.l S. rn. 1.Espaço pequeníssimo, rTl as indeterminado,

. detempo; instante.

INSTANTE[Do lat. instante.] Adj. 2 g. 1. Que. está para acontecer, para vir;

iminente.

IMINENTE[Do lat. imminate, parto passo de imminere.l Adj. 2 g. 1. Que ameaça

acontecer breve.

BREVE[Do lat. breve.] Adj. 2g. 1. De pouca duração.

DURAÇÃO[De durar+-ção.l S. f. 1. Otempo que uma coisa dura.

DURA[Dev. dedurar.] S. f. 1. Duração.

DURAÇÃO[De curar« -ção.l S. f. 1. Otempo que uma coisa dura.

DURA[Dev. de durar.] S. f. 1. Duração.

DURAÇÃO[De durar+ -ção.] S. f. '. Otempo que uma coisa dura.

DURA[Dev. de durar.] S. f. 1. Duração;

DURAÇÃO[De durar+ -ção.l S. f. 1. Otempo que uma coisa dura.

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(26/03/2000)

Igreja cobra taxa na região onde bispo Sardinha foi devorado

ARI'CIPOLAda Agênciafolna, em Coruripe

AIgreja Católica recebe taxas dos moradores do pequeno municípiode Coruripe, em Alagoas. Olocal foi terrados índios caetés, lembradosporterem promovido omais conhecido "banquete antropofágico" dopaís.

Segundo o pároco local, Pedro Silva, atualmente o valor arrecadadocom os "impostos territoriais" é de cerca de ,R$ 1,2 mil por ano. "Épouco. ,A miséria que o governo deixou crescer na cidade é maldademaior que a que os caetés fizeram com o bispo Sardinha", disse opa ~re .

Em 16 de junho de 1556, os caetés devoraram o prime iro bispo doBrasil, dom Pedro Fernandes de Sardinha, e 90 tripulantes que nau­fragaramcom ele na região. Em conseqüência da ação contra obispo,os indígenas foramextintos em cinco anosde batalhasdeterminadaspelo governo português e apoiadas pela igreja. Historiadores definemcomo "guerra santa" as investidas contra os índios.

Com omassacre, as terras dos nativos, descritos como canibais, guer­reiros efortes, passaram para as mãos dos estrangeiros. Dois séculosdepois da morte do bispo Sardinha, 3.000 hectares foram doados àigreja pelocapitão Pedro Leite Sampaio, em nome de Nossa Senhorada Conceição, a padroeira de Corurlpe.

Foi nesse momento que se formou o centro urbano de Coruripe, efazendas de cana-de-açúcar foram insta ladas. Tanto nos terrenosurbanos quanto nossítios, dosquais a igreja ainda mantém a proprie­dade, seus ocupantes pagam taxas legais à diocese.

Os "impostes" são o laudêmio e o foro, cobrados também, mas comvalores diferentes, de ocupantes de terras devolutas da União . Se­gundo a igreja de Coruripe, a cobrança dessas taxas acontece emoutras cidades do país que se formaram nas propriedàdes dela.

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-...,.-----------o laudêmio, que é cobrado a cada transferência de posse, estáestipulado em 5% do valor do negócio. O qoverno tem um Impostosemelhante, o ITBI (Imposto de Transmissão de' Bens Imóveis), maso percentual é de 2%.

oforo é uma espécie de IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano} EmCoruripe, a taxaé calculada pela largura do lote de cada uma das 5.000casas ou terrenos da cidade. Cada metro custa R$l por ano.

Sem o pagamento do laudêmio e do foro, o proprietário do cartóriode Corurlpe, Jorge Azevedo Castro, não registra a posse em nome donovo morador da terra.

ColetorNo Pontal de Coruripe, bairro de pescadores localizado a quatroquilômetros do baixio de Dom Rodrigo - coluna de arree,ifes ondeteria batido e naufragado o navio Nossa Senho ra daAjuda, que levavao bispo Sardinha -, a igreja mantém até um "coletor de impostos"para receber o foro . .

"Ganho 25% do que arrecado", dlsss.Antõnlo Ferreira dos Santos,53.'Tem gente que mexinga quando vou 2õbraro foro . Se todos pagas­sem, eu ganharia bem."

A ig reja da cidade chegou a manter funcionários nomeados e comsalário fi xo para a coleta do foro . Eram os "Iabriqueiros". Mas, nosúltimos 20 anos,a igreja da cidadevendeu a maioria das fazendas paraposseiros que transferiram a propriedade das terras para produtoresde c?na e usinas de açúcar. Só restou um "fabriqueiro",

P: 'igreja ,d'e Coruripe possui hoje cem hectares, divididos emtrês pro ­priedades, arrendadas a pequenos produtores de cana, O bispo dePenedo, dom Valéria Breda, responsável peladiocese àqual Coruripeestá integrada, afirmou que a igreja perdeu o controle sobre a maiorparte de suas terras na cidade. Desde que assumiu a diocese, há doisanos, ele proibiu a venda das propriedades para não dilapidar aindamais o patrlrn ônlo do clero. "Não há escândalo na cobrança do foroe do laudêmio, que são taxas legais. O CÓdigo Canônico determinaque temos que mantera vontade dos doadores, que deixaram terraspara a igreja manterseus templos e culto", disse.

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ContradIções . .dApesar deversõesquenegam queobispo Sardinha tenhasido comi opelos.índios, a tese sobre o "banque~e" ,encont:a respaldo emdocumentos hístóricos, como cartas de [ssuítas da apoca.

Alguns historiadores levantam a hipótese de que o bispo tenha sidoassassinado por homens da guarda do entãogov~rnador-geral, Duarteda Costa a quem Sardinha vinha criticando publicamente, segundo ohistoriador Doug\as Aprato, da Universidade Federal de Alagoas.

De acordo com o historiador Moacir Soares Pereira; Sardinha ~oidevorado por índios, mas não os caetés nen: . ? ~ Alag~as. Na versaodele, o bispo foi alvo de tupinarnbás emterntono serglpano, .

Há dúvida ainda com relação a posslveis sobrevivente~ ?o naufr~gioe do "banqueta". Há relatos de que podem ter sobrevivido de tres a

dez homens.

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