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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA GLÁUCIA MACHADO A QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES DO SETOR DE PRODUÇÃO: Um estudo de caso a partir dos indicativos político e psicológico do modelo teórico de Westley Itajaí, (SC) 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

GLÁUCIA MACHADO

A QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES DO SETOR

DE PRODUÇÃO: Um estudo de caso a partir dos indicativos político

e psicológico do modelo teórico de Westley

Itajaí, (SC) 2006

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GLÁUCIA MACHADO

A QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES DO SETOR

DE PRODUÇÃO: Um estudo de caso a partir dos indicativos político

e psicológico do modelo teórico de Westley

Monografia apresentada como requisito paraobtenção do título de Bacharel em Psicologiapela Universidade do Vale do Itajaí.

Orientadora: MSc. Rosana Marques da Silva.

Itajaí, (SC) 2006

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Agradecimentos

As professoras Lízia Klan e Justina da Costa

Rodrigues, pela colaboração como membros da

banca.

A professora Rosana Marques da Silva, como

orientadora na elaboração desta pesquisa, por

toda sua atenção e paciência e, principalmente,

por aceitar e acreditar em minha sugestão e

apreciação do tema.

Aos amigos, por se fazerem presentes e

compartilhar minhas expectativas.

A organização de Mosaicos, que

disponibilizou a coleta dos dados com seus

trabalhadores.

A minha família, pela compreensão e

oportunidade de realizar meus sonhos e

objetivos, por chegar até aqui e ser quem eu sou.

A meu namorado Rafael Moreira Domingues,

pelo companheirismo em todos as horas.

A DEUS, pelo dom da vida.

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Dedicatória

A minha família, por

ser meu refúgio e pela

inspiração deste tema.

A meu namorado, por

todo companheirismo,

auxilio, compreensão,

amor e motivação. Sem

vocês, não chegaria até

aqui.

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SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................06

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. .... 07

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................ 112.1. Trabalho no Setor de Produção... ..................................................................... 112.2 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)............................................................... 16

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................. 253.1 Tipo de pesquisa... ............................................................................................ 253.2 Amostra... .......................................................................................................... 263.3 Instrumento........................................................................................................ 263.4 Coleta de dados................................................................................................. 273.5 Análise e interpretação dos dados..................................................................... 283.6 Procedimentos éticos......................................................................................... 29

4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................................. 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... .................................................................... 52

ANEXOS.................................................................................................................. 55Identificação e consentimento... .............................................................................. 56

APÊNDICES... ........................................................................................................ 57Roteiro da entrevista QVT... .................................................................................... 58Termo de consentimento livre esclarecido............................................................... 59Carta de autorização da Pesquisa........................................................................... 60

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LISTA DE QUADROS

01: Modelo Teórico de QVT..................................................................................... 19

02: Dimensões dos Indicativos do Modelo Teórico.................................................. 21

03: Descrição Operacional das Dimensões............................................................. 28

04: Caracterização da Amostra ............................................................................... 30

05: Valorização: Há Valorização.............................................................................. 32

06: Valorização: Não Há Valorização ...................................................................... 34

07: Segurança no Emprego: Sentimento de Segurança.......................................... 35

08: Segurança no Emprego: Sentimento de Insegurança ....................................... 37

09: Relacionamento com a chefia: Relacionamento Adequado .............................. 38

10: Relacionamento com a chefia: Relacionamento Inadequado............................ 39

11: Desenvolvimento Pessoal: Há Desenvolvimento Pessoal................................. 41

12: Desenvolvimento Pessoal: Não Há Desenvolvimento Pessoal ......................... 43

13: Desenvolvimento Profissional: Há Desenvolvimento Profissional ..................... 44

14: Desenvolvimento Profissional: Não Há Desenvolvimento Profissional.............. 46

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A QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES DO SETOR DE PRODUÇÃO:

Um estudo de caso a partir dos indicativos político e psicológico do modelo

teórico de Westley.

Orientador: MSc. Rosana Marques da Silva

Defesa: Junho de 2006

Resumo:

A qualidade de vida no trabalho é um tema que aborda as necessidades eexpectativas dos trabalhadores, o sentimento de auto-realização em desenvolver uma tarefasignificativa, bem como oportunidades de participar na organização onde se trabalha. Estapesquisa apresentou como objetivos: Investigar a partir dos indicativos político e psicológicodo modelo de Westley, a compreensão que os trabalhadores do setor de produção possuemsobre sua qualidade de vida no trabalho; investigar se os trabalhadores sentem-sevalorizados pelo trabalho que desempenham; Analisar se os trabalhadores sentem-seseguros em relação a sua estabilidade na organização; Verificar se o relacionamento com achefia interfere na qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores; Levantar quais fatoresorganizacionais influenciam o desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores. Foiutilizado o método qualitativo, onde os dados foram coletados por meio da entrevista semi-estruturada com sete trabalhadores de um setor de produção, de corte de pisos em umaorganização localizada no Vale do Itajaí, que atua no ramo de mosaicos. Os resultadosforam analisados a partir da análise de conteúdo, cujas dimensões de análise foramextraídas dos indicativos político e psicológico, sendo: valorização no cargo, segurança noemprego, relacionamento com a chefia, desenvolvimento pessoal e desenvolvimentoprofissional. No indicativo político, verificou-se que a maioria dos trabalhadores sentem-sevalorizados, uma vez que recebem elogios e não há reclamações do trabalho realizado. Emrelação à segurança no emprego, de modo geral, os trabalhadores sentem-se seguros,acreditando que desenvolvem adequadamente suas tarefas e funções. No que se refere aorelacionamento com a chefia notou-se ambigüidade, devido alguns trabalhadoresacreditarem que o relacionamento é bom e outros que este relacionamento temcaracterísticas de falta de postura diretiva, favoritismo e dificuldades na comunicação. Noque se refere ao indicativo psicológico, constatou-se que os trabalhadores percebem queseu desenvolvimento pessoal está condicionado ao relacionamento interpessoal e àsamizades desenvolvidas no ambiente organizacional. Quanto ao desenvolvimentoprofissional, é percebido através dos cursos e promoção a cargos oferecidos pelaorganização para o aprimoramento de seu trabalho.

Palavras-chave: Produção, Qualidade de Vida, Trabalho.

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho possui um grande valor na existência do homem, por este dedicar

grande parte de seu tempo em sua carreira profissional e pelo significado que ele

produz na vida dos sujeitos. Desta forma, o trabalho deve ser realizado de modo

que satisfaça suas necessidades de realização pessoal, profissional e social, pois na

constituição de sujeito a sociedade fez o homem perceber que o trabalho é uma

necessidade psicossocial.

O desenvolvimento histórico empresarial capitalista, desde a revolução

industrial, gerou mudanças no trabalho, tornando esse, muitas vezes, “barreiras ao

desenvolvimento social e pessoal” dos trabalhadores, e o que deveria ser uma

realização passa a ser um processo convertido em meio de subsistência.

(ANTUNES, 2002).

Quando a atividade realizada no trabalho não satisfaz o trabalhador, este

trabalho não possui um sentido para ele, transformando-se em fonte de sofrimento.

É freqüente, dentro destas situações, danos a sua saúde física e mental.

A saúde do trabalhador está comprometida desde o momento em que a

organização não atinge as expectativas dos trabalhadores. Para a promoção de

saúde do trabalhador não é suficiente que o trabalho supra somente as

necessidades de subsistência e bem-estar físico, mas também necessidades de

auto-realização, sociais e de auto-estima. É a partir desta realidade que os

programas de qualidade de vida no trabalho (QVT) vêm a favorecer o conjunto da

organização.

O tema QVT se constitui de extrema importância ao contexto organizacional,

sendo que um dos objetivos das atividades relacionadas à Psicologia Organizacional

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e do Trabalho, é a humanização do ambiente de trabalho, atendendo às

necessidades dos trabalhadores e favorecendo sua saúde.

A escolha do tema ocorreu devido à realidade dos trabalhadores que buscam

cada dia mais suprir suas necessidades e expectativas, a partir das atividades que

realizam em seu trabalho. Também, devido às dificuldades que gestores e

proprietários encontram na tentativa de diminuir os índices de rotatividade e

absenteísmo, principalmente nos setores ligados diretamente à linha de produção.

Ressalta-se necessidades do estudo deste tema para a melhor compreensão

de como as organizações e trabalhadores estão trabalhando para que esta

qualidade aconteça. É de nosso conhecimento que o trabalho pode ser fonte de

grande realização, como também fonte de grandes frustrações.

A QVT é um tema que vem sendo pesquisado há muito tempo, por isso

possui um extenso referencial teórico. No entanto, a literatura torna-se escassa, no

que se refere a pesquisas específicas sobre QVT em trabalhadores no setor de

produção.

Esta pesquisa se torna significativa por estudar o tema QVT junto a

trabalhadores de um setor de produção, onde é elevada a concentração do trabalho

repetitivo e monótono, exigindo, na maioria das vezes, uma sobrecarga física. Esses

setores geralmente são compostos por trabalhadores com baixo nível

socioeconômico e de escolarização, este fato limita o leque de empregabilidade para

funções mais especializadas.

Esta pesquisa norteia-se pelos indicativos de QVT da teoria de William

Westley (1979) sendo estes: Econômico, Político, Psicológico e Sociológico. O autor

analisa estes quatro indicativos para a aquisição de QVT.

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O modelo de Westley foi escolhido devido seus indicativos abrangentes, que

compreendem aspectos significativos da vida humana, pois a aproximação da

realidade do setor produção se torna evidente, pela questão da injustiça salarial,

pela falta de participação nas decisões da organização e pelo abalo psicológico que

este trabalho pode ocasionar. Devido ao curto espaço de tempo para a realização do

trabalho, esta pesquisa abordou dois indicativos da teoria de Westley sendo: Político

e Psicológico.

A opção pelo indicativo político foi estabelecida devido à instabilidade social e

econômica da atualidade, que gera a necessidade do trabalho para subsistência e a

insegurança do trabalhador sobre sua estabilidade no trabalho, fazendo com que

este perceba seu cargo como desvalorizado. Neste indicativo, serão pesquisadas as

dimensões de valorização do cargo, segurança no trabalho e relacionamento com a

chefia.

O indicativo Psicológico foi escolhido porque se verifica que a realização

pessoal e profissional é componente imprescindível para a QVT, pois fazer do

trabalho uma fonte de bem-estar pessoal e profissional é algo muito almejado nos

dias de hoje. Desta forma, as organizações precisam ter a preocupação em planejar

cargos que favoreçam a auto-realização do trabalhador, evitando a alienação no

trabalho. Neste indicativo, serão estudadas as dimensões desenvolvimento pessoal

e profissional.

Diante do exposto, esta pesquisa apresenta como objetivo geral investigar a

partir dos indicativos político e psicológico do modelo de Westley (1979) a

compreensão que os trabalhadores do setor de produção possuem sobre sua

qualidade de vida no trabalho. Também, como objetivos específicos pretende-se

investigar se os trabalhadores sentem-se valorizados pelo trabalho que

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desempenham, analisar se os trabalhadores sentem-se seguros em relação a sua

estabilidade na organização, verificar se o relacionamento com a chefia interfere na

qualidade de vida no trabalho nos trabalhadores, levantar que fatores

organizacionais influenciam o desenvolvimento pessoal dos trabalhadores, levantar

que fatores organizacionais influenciam no desenvolvimento profissional dos

trabalhadores.

A presente pesquisa está estruturada em seis capítulos incluindo introdução.

O capítulo dois apresenta a fundamentação teórica com dois tópicos; Trabalho no

Setor de Produção e Qualidade de Vida no Trabalho para uma elucidação do tema.

O capítulo três aborda os procedimentos metodológicos utilizados para a elaboração

da pesquisa; o capítulo quatro refere-se a discussão e a análise dos dados obtidos

com o referencial teórico. As considerações finais estão contidas no capítulo cinco; e

no capítulo seis contam as referências bibliográficas. Ao final do trabalho encontra-

se o anexo, identificação e consentimento, e os apêndices, roteiro da entrevista QVT

e termo de consentimento livre esclarecido.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capitulo será apresentado o marco teórico sobre o tema, sendo

distribuídos em duas seções: Trabalho no Setor de Produção e Qualidade de Vida

no Trabalho.

2.1 Trabalho no Setor de Produção

O trabalho é de extrema importância na constituição da identidade do sujeito,

faz parte de sua vida e a sociedade lhe designa muito valor. Ele sempre esteve

implícito na natureza humana, tanto para fins de sobrevivência na busca de

alimentos, quanto para a auto-realização do trabalhador “É com o trabalho

remunerado formal e informal que o sujeito consegue suprir suas necessidades”

(CORREIA, 2000, p.02).

Através do trabalho, o homem também cria expectativas de desenvolvimento

social e intelectual. O trabalho caracteriza um ícone significativo na vida do homem,

uma vez que atrelado a ele está sua satisfação pessoal e tudo mais que o homem

possa almejar. “O trabalho constitui um prolongamento da personalidade”

(DRUCKER, 1998, p.216).

Para Antunes (2002 p.125): o trabalho “mostra-se como momento fundante da

realização do ser social […] é o ‘motor decisivo do processo de humanização do

homem’”.

O trabalho é indesejado, justamente porque na atual sociedade,

com muita freqüência, ele se configura de uma forma totalmente

fragmentada e sem sentido, burocratizado, cheio de normas e

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rotinas, ou então, cheio de exigências e conflitivo com a vida social

ou familiar. (RODRIGUES, 2000, p.11).

Até o final do século XVII, o homem trabalhava basicamente com produção

em formato artesanal, onde esta produção não era organizada por funções

especializadas e obtinha uma industrialização em pequena escala. Os

trabalhadores produziam o produto como um todo, contando apenas com o

trabalho de familiares e aprendizes. Este trabalho é realizado de forma simples

com mão de obra não qualificada e como meio de subsistência (CORRÊA &

CORRÊA, 2004).

No Século XVIII, com a invenção da máquina a vapor, inicia-se a crescente

Revolução Industrial, trazendo uma nova concepção de trabalho e modificando a

estrutura social e comercial. Este fato acarreta grandes mudanças para a sociedade,

pois o crescimento deste século foi maior do que todo o milênio (CHIAVENATO,

1993). Esta revolução é caracterizada principalmente pela utilização de maquinários

no trabalho, gerando o aumento da produtividade e reduzindo os custos das

mercadorias. Com estas inovações, as pequenas empresas que não obtinham

capital para comprar maquinários, tiveram de fechar e passaram a trabalhar para as

grandes empresas que cresciam cada vez mais devido aos pequenos custos e ao

aumento de produtividade.

No século XIX, início da Administração Científica fundada por Taylor “onde

sua preocupação original foi tentar eliminar o fantasma do desperdício e das

perdas sofridas pelas indústrias e elevar os níveis de produtividade por meio da

aplicação de métodos da engenharia industrial” (CHIAVENATO, 1993, p.58). Os

donos das grandes empresas procuravam ganhar mais na hora do pagamento da

tarefa e os operários, como resposta, reduziam o ritmo de produção das máquinas

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procurando contrabalançar o pagamento por peça determinado pelos patrões.

Taylor concentrou-se em estudar o tempo e seus movimentos, eliminando os

movimentos desnecessários e passando a produção para série ordenada de

movimentos simples. Esta teoria procurou buscar a melhor maneira de se realizar

determinada atividade, o que explica a sua ênfase na análise e na divisão do

trabalho do operário onde cada trabalhador se especializa em uma pequena tarefa

para que a produção aumente com qualidade. A isto é chamado de racionalização

do trabalho, onde acredita-se que destrói a iniciativa e criatividade dos

trabalhadores, onde o sujeito precisou se adaptar às máquinas não tendo suas

necessidades básicas atendidas. A visão de sujeito que pode ser observada é de

um especialista com conhecimentos fragmentados (CORREIA, 2000).

Com o passar do tempo essas condições de trabalho vindas das idéias de

Taylor se tornavam difíceis de suportar pelo modo repetitivo e tedioso que os

trabalhadores estavam expostos, apresentando níveis de absenteísmo e até

alcoolismo. Sentia-se que os aspectos sociais seriam merecedores de atenção.

Diante da necessidade surge a abordagem chamada de sócio-técnica, procurando

melhores formas de organizar o trabalho, a fim de promover o bem-estar dos

trabalhadores (CORRÊIA & CORRÊIA, 2004).

A teoria das relações humanas surge enfatizando os aspectos emocionais no

comportamento humano, devido aos questionamentos de Mayo que existem outros

fatores que influenciam a produtividade. O objetivo desta teoria era estudar a

relação entre as condições de trabalho e a incidência de fadiga nos operários, e a

influência que os aspectos humanos poderiam trazer no resultado da

produtividade. A teoria das relações humanas vem contra os métodos rigorosos,

científicos e precisos que os trabalhadores tinham de se submeter, defendendo

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que os trabalhadores são motivados pela necessidade de reconhecimento, de

aprovação social e de participação nas atividades de grupos. A teoria enfoca os

aspectos psicológicos e sociológicos, preocupando-se com o fator humano onde

este deixa de ser tratado como um ícone em prol da produção, e passa a ser uma

pessoa com necessidades e expectativas de vida (CASTRO, 2002).

Este movimento histórico em busca da qualidade e produtividade foi de

grande valor para a sociedade, uma vez que os aspectos organizacionais sociais

foram levados em consideração.

O ano de 1945 marca o fim da segunda guerra mundial onde a capacidade

produtiva mundial encontrava-se severamente deprimida. Havia a necessidade da

população de suprimentos que devido à guerra tinha sido contida, e agora emerge

com grande intensidade e não acontecendo exigências de qualidade dos produtos.

Surge uma nova onda de produção em massa (CORRÊIA & CORRÊIA, 2004).

O Japão após a guerra encontra-se derrotado e com uma péssima imagem de

seus produtos no mercado internacional e descobre a saída para reerguer-se na

fabricação de produtos com qualidade. Esta qualidade seria o objetivo principal dos

negócios das organizações. O Japão passa a investir em grupos de gerentes para

aprendizagem sobre qualidade, contribuindo para mudança de procedimentos,

sistemas e métodos industriais. Implantaram uma política de valorização dos

trabalhadores, oferecendo oportunidades de participação no processo interno da

organização, divulgando as diretrizes da empresa para todos os funcionários com

o objetivo de conquistar o respeito e credibilidade dos trabalhadores (CARVALHO,

2000). Esta qualidade é o início do que pode-se chamar do modelo de qualidade

total, na qual as exigências alteraram além de critérios de eficiência de custos,

obtendo altos padrões de qualidade.

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Qualidade total tem seu diferencial principalmente por considerar todos os

fatores organizacionais relacionados com a qualidade dos produtos. Especialmente

fatores relacionados aos trabalhadores como ambiente de trabalho e relação dos

serviços prestados com a auto-estima do trabalhador, e a importância da imagem da

empresa para a satisfação dos clientes internos e externos. Apresenta-se a visão de

trabalhador de modo integral, um sujeito com necessidades diversas, sendo que

estas tem de ser satisfeitas. Correia (2000) comenta sobre a força do trabalho

esperada na atualidade onde o trabalhador tem de produzir não só quantidade, mas

além disso qualidade, executar várias funções, buscar soluções, ter iniciativa e

interagir com o grupo. Não basta a força física, há também a necessidade de

concentração e atenção do intelecto, sendo assim indispensável a mão-de-obra

escolarizada, o que ainda se mostra deficiente na sociedade brasileira.

Limongi (2004) esclarece a perspectiva de produção como aproveitar ao

máximo os recursos disponíveis para chegar a resultados cada vez mais

competitivos. A autora enfoca a grande experiência de relacionar produtividade com

qualidade de vida, trazendo a visão de bem-estar para trabalhadores no sentido de

integridade, cidadania e profissionalidade, “desenvolvendo indivíduos, cujas vidas

podem ser produtivas em sentido amplo” (LIMONGI, 2004, p.46).

Com esta nova concepção, as organizações necessitam perceber que o

trabalho manual está sendo ultrapassado pelo trabalho do conhecimento. A

tecnologia nos meios de produção faz com que o perfil destes trabalhadores se

altere, exigindo competências como escolarização, proatividade, conhecimentos

gerais e, também, fazendo com que as organizações alterem sua postura diante dos

trabalhadores, observando que estes passam a ser seus parceiros. Os

trabalhadores devem ser vistos como sujeitos ativos com potencialidades e

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necessidades. Dentro desta realidade, as organizações percebem o valor agregado

com trabalhadores satisfeitos devido a ótimos resultados na produção, nos lucros e

no clima da organização.

A melhoria da produtividade não pode ser discutida sem o

reconhecimento de que o conceito de produtividade vai além da

idéia de uma boa produção ou de ser eficiente. Ë também um

conceito que encontra suas raízes no dinamismo humano, porque

tem indispensável conexão com a melhoria da qualidade de vida de

cada indivíduo no trabalho e suas conseqüências fora desta esfera.

(BENNETT,1983 apud LIMONGI, 2004, p.45-46).

Esta nova realidade diante do trabalho também é colocada por Capitão &

Heloani (2003) que diante do acompanhamento a tecnicidade do mundo, vai-se

vagarosamente, necessitando de um trabalhador com maiores habilidades, ágil, que

saiba lidar com uma nova representação de mundo, mesmo que seja para ocupar

um cargo simples.

2.2 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)

A Qualidade de Vida (QV) é um tema de relevância na atualidade por se tratar

de uma constante busca da humanidade e pela complexidade de se estruturar um

conceito de algo que é muito subjetivo.

A QV é identificada por cada pessoa de uma maneira diferente, por isso a sua

dificuldade de conceituação. Na visão de Marques (1996), a busca desta

necessidade tem de ser apropriada por cada sujeito, pois está relacionada à melhor

expectativa de forma de viver, e isto é constituído pela realidade de cada um.

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“Qualidade de Vida é a relação existente entre o que se vive na realidade e o que se

tem como desejável” (MARQUES, 1996, p.54).

No artigo de Marques (1996, p.51-53) ela apresenta vários autores

conceituando QV e elencando termos para a melhor compreensão desta, como

Ferran e Powers (1985) que mencionam que a dimensão escolhida para o estudo da

qualidade de vida deveria ser a satisfação com a vida. Já Rios (1994), elege a

dimensão de bem-estar como sinônimo de QV. Riaño (1991) concebe QV como “um

constructo que só pode ser averiguado a partir da ótica e percepção verbalizada

pelo indivíduo”. Ele também articula que “QV não se resumiria a um sentimento de

satisfação ou bem-estar pessoal, é mais ampla, é uma avaliação que a pessoa faz

desse aspecto e de outros que considera importantes na sua vida atual e de forma

global, de sua vida completa”.

Diante desta busca pessoal de se viver bem de forma completa e satisfatória,

torna-se imprescindível levantar a questão do trabalho, já que esta é uma das

atividades que exige maior comprometimento do ser humano.

O tema QVT remete a valorização da constituição humana dentro da realidade

das atividades laborais desenvolvidas.

Rodrigues (2000) e Walton (1973, apud FERNANDES 1996) trabalham QVT

na perspectiva de satisfação dos trabalhadores e aumento de produção das

organizações. Já Vieira (1996, p.107) entende por QVT um conjunto de fatores que

se faz presente nas organizações, proporcionando aos trabalhadores o bem-estar

físico, mental, econômico e social, permitindo que cada indivíduo resgate sua

condição de cidadão.

A QVT está relacionada com a conciliação de interesses e benefícios dos

trabalhadores e da organização, sendo que os trabalhadores com maior qualidade

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de vida sentem-se motivados, aumentando a produção e realizando este trabalho

com qualidade. A empresa ganha funcionários comprometidos, fiéis, e tem melhores

condições de se desenvolver. (RUSCHEL, 1993).

Walton (1973, apud FERNANDES, 1996, p.39), conceitua QVT como o

“resgate de valores humanísticos e ambientais, que vêm sendo negligenciados pelas

sociedades industrializadas em favor do avanço tecnológico e do crescimento

econômico” e analisa oito questões como centrais para a pesquisa de QVT nas

organizações. São elas: (1) Compensação justa e adequada, (2) Condições de

trabalho, (3) Uso e desenvolvimento de capacidade, (4) Chances de crescimento e

segurança, (5) Integração social na empresa, (6) Constitucionalismo, (7) Trabalho e

espaço total de vida, (8) Relevância social da vida no trabalho.

Hackman & Oldham (1975, apud FERNANDES, 1996) avaliam três

características objetivas do trabalho. A primeira refere-se às dimensões da tarefa:

identificando variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da tarefa,

inter-relacionamento, autonomia e feedback. A segunda estados psicológicos

críticos, envolvendo a percepção da significância do trabalho, da responsabilidade

pelos resultados e o conhecimento dos reais resultados do trabalho. O terceiro são

os resultados pessoais e de trabalho, incluindo satisfação geral e a motivação

para o trabalho de alta qualidade, absenteísmo e rotatividade baixa.

Para Westley (1979, p.111) “Qualidade de vida no trabalho é aplicado a uma

diversidade de mudanças propostas nas empresas e nas funções, gerando uma

confusão considerável”.

Westley (1979) classifica e analisa quatro problemas que afetam diretamente

e tornam-se obstáculos a QVT: A desigualdade no pagamento que está relacionada

ao indicativo Econômico, a insegurança no trabalho surgindo de um indicativo

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Político, a alienação que faz parte de um indicativo Psicológico e a anomia que se

refere ao indicativo sociológico.

É apresentado no quadro 01 a síntese do modelo teórico de Westley (1979),

abrangendo desde a formação do problema a QVT, até as propostas para solucionar

estes.

Naturezado

Problema

Sintoma doProblema

Ação parasolucionar o

problemaIndicadores Propostas

Econômico InjustiçaUnião dos

trabalhadoresInsatisfação,

greves

Cooperação,divisão dos lucros,participação nasdecisões

Político Insegurança Posições políticasInsatisfação,

greves

Trabalho auto-supervisionado,conselho detrabalhadores,participação nasdecisões

Psicológico Alienação Agendes de mudançaDesinteresse,absenteísmo

Enriquecimentodas tarefas

Sociológico Anomia Auto-desenvolvimento

Ausência designificado dotrabalho,absenteísmo

Métodos sócio-técnicos aplicadosaos grupos

QUADRO 01: Modelo Teórico de QVT.Fonte: Westley (1979, p.122)

O indicativo econômico teve seu surgimento a partir da percepção dos

trabalhadores a respeito da desigualdade de seus pagamentos. Por haver uma

grande concentração dos lucros para os chefes fabris, os trabalhadores sentem-se

explorados por esta divisão desigual dos lucros.

O indicativo político tem como referência o problema da segurança no

emprego, que a partir da concentração do poder da chefia torna-se uma ameaça à

garantia de se manter no emprego, mesmo tendo um bom desempenho no trabalho.

Os gestores são dotados de todo poder de decisão, não proporcionando abertura

aos trabalhadores para participação nas decisões da organização, fazendo com que

os trabalhadores sintam-se inseguros a respeito de sua permanência no emprego.

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Nesta circunstância, o trabalhador gera uma ansiedade devido às dúvidas que a

falta do trabalho pode ocasionar em seu futuro e de seus dependentes e ter de

conviver com o medo de perder o emprego a qualquer momento.

O indicativo psicológico tem como sintoma à alienação, que Westley (1979,

p.116 ) menciona como “produto do vazio entre expectativas e realizações”. Cada

indivíduo tem uma necessidade diferente em relação ao trabalho e cria expectativas

diferentes também. A alienação no trabalho acontece quando as expectativas dos

trabalhadores não são supridas e este passa a realizar tal função devido a

necessidade de subsistência, acreditando que o trabalho está desvinculado à

realização pessoal, tornando o trabalho um sacrifício pessoal. Percebe-se que a

alternativa para solucionar a alienação seria proporcionar a auto-realização que

Toledo (1981, apud RUSCHEL, 1993) coloca só estará satisfeita quando o próprio

indivíduo sente que conseguiu determinada realização por seu próprio esforço.

O indicativo sociológico tem como principal indício a anomia, que devido a

maior racionalização das organizações o ambiente de trabalho passou a ter um

grande grau de supervisão e controle de mecanização, fazendo com que o trabalho

perdesse seu significado por se tornar algo fragmentado baseado em atitudes

instrumentais. Esta anomia resulta em um distanciamento das normas e valores dos

trabalhadores com a tarefa realizada.

A finalidade deste modelo foi prover um programa de mudanças de objetivos e

relacionar estes aos tipos de problemas gerados pelo sistema das fábricas. O autor

propõe que os meios para solucionar estes problemas sejam o enriquecimento do

trabalho em nível individual e a aplicação dos métodos sócio-técnicos, para a

reestruturação do grupo de trabalho.

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Estes quatro indicativos representam categorias genéricas, onde dentro de

cada um pode-se colocar a maioria dos esforços de humanização do trabalho. Cada

problema foi gerado pela natureza das organizações de trabalho na sociedade

industrial. (Westley, 1979).

Nesta pesquisa serão abordados os indicativos Político e Psicológico da

teoria de Westley (1979), incluindo quatro dimensões destes indicativos adaptados

por Ruschel (1993). No quadro 02 observa-se as dimensões dos indicativos da

teoria de Westley.

Econômico Político Psicológico Sociológico

- Equidade salarial

- Remuneração

adequada

- Benefícios

- Local de trabalho

- Carga horária

- Ambiente externo

- Segurança no

emprego

- Atuação sindical

- Retroinformação

- Liberdade de

expressão

- Relacionamento

com a chefia

- Valorização do

cargo

- Realização

potencial

- Nível de desafio

- Desenvolvimento.

Pessoal

- Desenvolvimento

Profissional

- Criatividade

- Auto-realização

- Variedade de

Tarefa

- Identidade c/ a

tarefa

- Participação nas

decisões

- Autonomia

- Relacionamento

interpessoal

- Grau de

Responsabilidade

- Valor pessoal

QUADRO 02: Dimensões dos Indicativos do Modelo TeóricoFonte: Ruschel (1993, p.114)

No Indicativo político, serão investigadas as dimensões: segurança no

emprego, valorização do cargo e relacionamento com a chefia. Já no indicativo

psicológico serão investigadas as dimensões de desenvolvimento pessoal e

desenvolvimento profissional.

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A segurança no emprego representa segundo Ruschel (1993) a garantia que

o trabalhador tem de que, realizando um bom trabalho, não será discriminadamente

dispensado. A ameaça de perder o emprego gera uma grande ansiedade e

insegurança no trabalhador, afetando diretamente a sua qualidade de vida no

trabalho. Herrick (1975, apud RUSCHEL, 1993) conceitua segurança no local de

trabalho como a necessidade do trabalhador de ser livre do medo e ansiedade

acerca de sua saúde e segurança, renda e futuro no emprego.

Na dimensão de valorização do cargo Ruschel (1993) comenta a necessidade

do trabalhador de sentir que as pessoas a sua volta valorizam a sua tarefa realizada,

sendo que quando o trabalhador considera sua função sem nenhuma importância,

encontra a insatisfação com o trabalho, estando vinculada também ao sentimento de

inferioridade por realizar uma função que não observa sentido e valor. Magnólia

(2004) comenta que ao produzir algo, o trabalhador sente-se valorizado e

reconhecido pelo que faz.

A ultima dimensão do indicativo político refere-se ao relacionamento com a

chefia. Esta dimensão relacionada com qualidade de vida no trabalho, no sentido de

quando se consegue um bom relacionamento com chefes ou gerentes, o trabalho

passa a ser realizado em parceria, obtendo-se bons resultados e tornando o clima

organizacional agradável para todos. Caproni (2002) coloca que relacionamento

entre chefe-subordinado é uma parceria entre dois seres humanos falíveis que

dependem da experiência, apoio e boa vontade mútua para eficácia profissional,

sendo que a melhor maneira para desenvolver relacionamentos eficazes com seus

chefes e subordinados é desenvolver a compreensão e a valorização das relações

de autoridade no trabalho.

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No indicativo psicológico serão pesquisados duas dimensões: o

desenvolvimento pessoal e desenvolvimento profissional. Para Boog (1994, p.141)

“o desenvolvimento seria e educação que visa ampliar, aperfeiçoar o homem para

seu crescimento em determinada carreira ou evolução pessoal”.

Na primeira dimensão do indicativo psicológico tem-se o desenvolvimento

pessoal, que de acordo com Ruschel (1993) compreende o trabalhador como peça

fundamental da organização, propiciando a este, elementos necessários ao seu

enriquecimento pessoal, proporcionando melhoria no seu desempenho. Magnólia

(2003) comenta que para a qualidade de vida no trabalho é importante que a

organização esteja voltada para desvendar o potencial criativo de seus empregados.

Para Bertelli (2004) o desenvolvimento pessoal se constitui pelos estímulos

oferecidos para o crescimento individual e fortalecimento de suas potencialidades. O

desenvolvimento de pessoas está relacionado à educação e orientação para o futuro

com processos de formação de personalidade e melhoria nas capacidades do

trabalhador (CHIAVENATO, 1999).

A segunda dimensão do indicativo psicológico é o desenvolvimento

profissional, para Ruschel (1993) o trabalhador tem expectativa de crescimento

profissional obtendo investimentos da organização como treinamentos e cursos em

geral e a possibilidade de aplicar esses conhecimentos em suas atividades. Para

Boog (1994) o desenvolvimento profissional está ligado a ampliação das

potencialidades do individuo para que ele possa reelaborar seu projeto de vida

profissional. O desenvolvimento está focalizado no crescimento do trabalhador

visando a carreira futura e não apenas o cargo atual (CHIAVENATO, 1999).

Com todas estas mudanças na sociedade fabril, com o intuito de satisfazer

trabalhadores e organização, os indicativos de Westley (1979) tornam-se

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norteamentos para a compreensão de qualidade de vida no trabalho, através de

uma visão de sujeito constituído por sua participação política na sociedade

conquistando seu sustento honesto e honrado, através de seu trabalho que lhe

proporciona realizações e reconhecimento pelo significado e valor atribuído a seu

trabalho.

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3 PROCEDIMENTOS MEDOTODOLÓGICOS

Será apresentado neste capítulo os procedimentos metodológicos utilizados

nesta pesquisa, abrangendo o tipo de pesquisa utilizada, os participantes da

amostra da pesquisa, o instrumento utilizado para a coleta de dados, bem como o

procedimento para análise dos dados e os procedimentos éticos utilizados com os

participantes da pesquisa e seus respectivos dados.

3.1 Tipo de pesquisa

Para a elaboração deste trabalho foi utilizada a pesquisa qualitativa, pelo fato

de corresponder a uma compreensão mais detalhada dos significados e ter uma

participação mais direta do investigador, possibilitando uma interpretação mais

fidedigna da compreensão de QVT em trabalhadores do setor de produção.

A pesquisa qualitativa busca a compreensão particular daquilo que estuda,

não se preocupando com generalizações, princípios e leis mantendo seu foco no

peculiar e no individual, sempre buscando a compreensão e explicação dos

fenômenos estudados (MARTINS, 1994).

Esta pesquisa caracterizou-se por um estudo de caso, por ser realizada junto

a trabalhadores de uma mesma empresa, que segundo Tachizawa (1999) permite a

análise de um caso real com relação a hipóteses, modelos e teorias.

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3.2 Amostra

Esta pesquisa foi realizada em um setor de produção, de uma organização

que atua no ramo de mosaicos, localizada no Vale do Itajaí. Inicialmente foi

realizado contato com o responsável do setor de recursos humanos da organização

elegendo o setor, e os trabalhadores que fizeram parte desta pesquisa, também

como horário onde foi realizada a referida pesquisa.

Nossa amostra foi composta por sete trabalhadores do sexo masculino de um

setor de produção de corte de mosaicos, sendo que este setor foi escolhido devido o

maior número de trabalhadores atuando a mais de um ano na organização.

Um trabalhador não quis participar da referida pesquisa, sendo respeitada sua

vontade. Todos os participantes deste estudo atenderam aos seguintes critérios:

Estar trabalhando, no mínimo, há um ano na organização: Tempo

necessário para o trabalhador apresentar opiniões a respeito dos aspectos

relacionados à organização, que foram abordados nesta pesquisa.

Trabalhar no período diurno: Devido à disponibilidade da pesquisadora

para coletar os dados.

Trabalhar no mesmo setor: Definição de uma amostra homogênea, para

diminuir as variáveis que possam interferir nos resultados.

3.3 Instrumento

O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista semi-estruturada

(apêndice I), cujo roteiro foi elaborado a partir dos indicativos Político e Psicológico

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do modelo de Westley (1979), sendo escolhidos as seguintes dimensões: segurança

no emprego, valorização do trabalho desenvolvido, desenvolvimento pessoal e

profissional, adaptados por Ruschel (1993). Cabe ressaltar que foi realizado uma

entrevista piloto com um trabalhador do setor de produção da mesma organização,

porém que não atua no mesmo setor pesquisado.

3.4 Coleta de dados

Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada realizada

com os trabalhadores do setor de produção de uma empresa de mosaicos. As

entrevistas foram marcadas antecipadamente com a pessoa responsável pela área

de recursos humanos da organização, sendo realizadas dentro desta, propriamente

no refeitório, local que não possuía interferência do barulho da produção, mantendo-

se reservado da influência de outras pessoas. A entrevista foi realizada respeitando

a disponibilidade dos participantes e normas da organização no horário de trabalho

particularmente após o intervalo, ou seja, no meio do expediente, durando em média

12 minutos. Foram realizadas três visitas a organização para a coleta dos dados, no

período da segunda semana de março à primeira semana de abril de 2006.

Antes de iniciar a entrevista, foram apresentados os objetivos da pesquisa e

solicitado aos entrevistados assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido,

(apêndice II) autorizando a utilização do gravador e das informações, sendo

garantido o sigilo e o anonimato.

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3.5 Análise e Interpretação dos Dados

A análise dos dados foi realizada por meio de análise de conteúdo que

consiste em uma técnica de investigação, que tem como função buscar os

significados, construir ligações entre premissas de análise e os elementos que

aparecem no texto, tendo um caráter interpretativo (BARDIN, 1977).

Os dados foram categorizados e analisados a partir dos indicativos da teoria

de Westley (1979) adaptados por Ruschel (1993) Sendo eles:

Indicativo Político Descrição operacional das dimensões

Segurança no empregoA garantia de trabalhar sem a ameaça de perder o

emprego discriminadamente.

Valorização do cargoSentir que a tarefa desempenhada e valorizada pelas

pessoas a sua volta

Relacionamento com a chefia

Relação de parceria entre trabalhadores e chefes,

obtendo-se resultados consideráveis na produção e no

ambiente de trabalho.

Indicativo Psicológico Descrição operacional das dimensões

Desenvolvimento Pessoal

Quando o trabalhador obtém da organização os

elementos necessários para seu enriquecimento pessoal

sentindo-se como peça importante desta organização.

Desenvolvimento

Profissional

Quando o trabalhador tem a oportunidade de ampliar seus

conhecimentos e coloca-los em prática conquistando o

crescimento profissional e seu enriquecimento pessoal.

QUADRO 03: Descrição Operacional das DimensõesFonte: Adaptado a partir de Ruschel, 1993.

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3.6 Procedimentos Éticos

Todas as entrevistas foram precedidas de um termo livre esclarecido de

consentimento (apêndice II), constando o objetivo principal da pesquisa, entre outras

informações a respeito da mesma. Todas as informações recolhidas durante a

entrevista foram de caráter sigiloso, preservando a identidade de cada participante.

O participante, no decorrer da entrevista, caso quisesse desistir ou parar, ele

pode comunicar ao acadêmico pesquisador e encerrar a entrevista, como aconteceu

na referida pesquisa. Desta forma, foi respeitada a opção do entrevistado de expor

ou não sua opinião sobre o assunto em questão.

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1Fonte: dados coletados junto aos trabalhadores do setor de produção. Março / Abril. 2006

4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os dados coletados nas entrevistas com os

trabalhadores do setor de produção de uma indústria do ramo de mosaico. Os dados

estão organizados pelas dimensões pesquisadas do modelo de QVT de Westley.

A instituição, onde os dados desta pesquisa foram coletados localiza-se no

Vale do Itajaí, atuando no mercado desde abril de 2003 e cujo ramo de atividades

refere-se ao desenvolvimento de mosaicos e cortes dos mais diversos materiais,

desde cerâmica e mármore até pedras e vidros. Hoje a empresa produz

mensalmente 120.000 peças entre cortes e mosaicos contando com uma equipe de

100 trabalhadores. A empresa é constituída por dois setores de produção nomeados

de corte e montagem, trabalhando em três turnos. Além disso, um setor chamado de

peças especiais que atua no horário comercial. Conta também com uma equipe de

criação e desenvolvimento para acompanhar todas as tendências do mercado de

mosaicos, fornecendo a seus clientes produtos que correspondam às suas

expectativas.

Os dados referentes à caracterização da amostra pesquisada estão expostos

no quadro 04.

E IDADE CARGO SEXO TEMPO DE SERVIÇO ESCOLARIDADE

E1 20 anos Mosaista Masc Dois anos Ensino Médio completo

E2 21 anos Mosaista Masc Um ano e sete meses 6º série Ensino Fund.

E3 27 anos Mosaista Masc Um ano e seis meses 4º série Ensino Fund.

E4 49 anos Mosaista Masc Dois anos 8º série Ensino Fund.

E5 35 anos Mosaista Masc Um ano e nove meses 4º série Ensino Fund.(Freqüentando )

E6 24 anos Mosaista Masc Um ano Ensino Médio completo

E7 19 anos Mosaista Masc Um ano e quatro meses 8º série Ensino Fund.

QUADRO 04: Caracterização da Amostra1

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Os sujeitos da amostra foram todos do sexo masculino, fazendo parte do

mesmo setor de produção referente a corte de pisos, exercendo o cargo de

mosaista, trabalhando no horário das 5:00 horas da manhã às 13:30 horas da tarde.

A idade varia entre dezenove e quarenta e nove anos e o tempo de serviço altera de

um a dois anos. O nível de escolaridade concentra-se no ensino fundamental até 8º

série, sendo que dois entrevistados possuem ensino médio completo e dois apontam

ter somente a educação infantil até a 4º série, sendo que o E5 comenta estar

freqüentando a alfabetização para adultos. Não notou-se tendência dos resultados

para as características de escolaridade e tempo de serviço.

No indicativo político, que aborda a segurança no emprego, inclui as

dimensões de valorização do cargo, segurança no trabalho e relacionamento com a

chefia.

O quadro 05 apresenta os dados referentes à dimensão valorização do

trabalho, descrevendo os relatos dos trabalhadores que se sentem valorizados pelo

trabalho que desenvolvem.

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Há valorizaçãodo cargo

Relato

Não háreclamação

“Para mim, até hoje eles não falaram nada, sempre para eles está bom”.(E1)“Não deixo nada fora, daí chega no final eles montam e não temnenhuma reclamação”. (E2)“Eu acho que sim, o meu é reconhecido. Em valor de serviço, no valor decargo, no valor que agente da para as pessoas ali dentro, a gente é bemreconhecido. Todo mundo gosta da gente, não tem nenhuma reclamaçãoaté hoje”. ( E4)“Até agora não vi ninguém reclamando do meu trabalho, trabalhocertinho, meço as peças certinho”. ( E5)“Eu vejo assim, por enquanto ninguém tem reclamado, então acho que taindo bem”. (E6)

Elogio

“Sempre elogiando a gente, nunca falando mal do serviço da gente.Sempre elogiando”. (E1)“Na montagem sai tudo certinho, daí eles falam que teu trabalho foiperfeito”. (E2)

Confiança notrabalho

“Eles me procuram para arrumar e fazer as coisas para eles. Algumtrabalho mais difícil eles me procuram para eu fazer. Eles confiammais na minha habilidade”. (E2)

Gratificaçãomonetária

“Eu via no começo, quando eu tinha recebido o aumento, é como todomundo vê. Só que é difícil assim, não é algo que vem sempre”. (E6)“Conforme eles vê que a gente ta trabalhando certinho cortando bem ecoisa ele dão tipo uma gratificação um aumento pra dizer que tastrabalhando certinho conforme mais trabalhar mais ganha”. (E7)

QUADRO 05: Valorização: Há Valorização1

Esta dimensão de valorização do cargo teve o objetivo de investigar se os

trabalhadores sentem-se valorizados pelo trabalho que desempenham. Observa-se

que dois trabalhadores percebem que seu trabalho é valorizado porque recebem

elogios e cinco trabalhadores porque não há reclamação da tarefa realizada.

Entende-se esta percepção como uma cultura instituída na organização através dos

trabalhadores, que partem do princípio que a valorização de seu trabalho é

relacionada com informações que a organização emite referente ao resultado de seu

trabalho. Para eles, havendo elogios e ausência de reclamação, significa que o

trabalho está sendo bem feito, conseqüentemente, percebendo que seu trabalho é

valorizado.

Conforme Hackman & Oldham (1975, apud RODRIGUES, 2000) o

conhecimento que o trabalhador possui dos resultados de seu trabalho é chamado de

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feedback, caracterizando este como intrínseco e extrínseco. No primeiro, estas

informações vêm através da execução da própria tarefa e no segundo de fatores

externos, como de superiores e colegas ou clientes. Este processo é necessário para

as trocas de informações, auxiliando no processo de comunicação.

(SCHERMERHON, 1999). Quando os entrevistados pontuam que não há reclamação

e que recebem elogios dos membros organizacionais, percebe-se que há feedback

extrínseco negativo e positivo referente a sua tarefa. Para eles, caso seu trabalho

não esteja sendo executado adequadamente, sabem que receberão reclamação.

Por outro lado, alguns trabalhadores percebem que a organização atribui

confiança no seu trabalho, por isso sentem-se valorizados através da procura ao

trabalhador para realizar determinadas atividades e também na forma de gratificação

monetária recebida no salário. Esta percepção de valorização do cargo está

relacionada com uma das necessidades da teoria da hierarquia das necessidades de

Maslow (1954, apud ROBBINS, 2002) chamada estima, que abrange sentimentos de

valor e reconhecimento de forma interna e externa. E, também, pode-se ressaltar que

na hierarquia de necessidades de Maslow a gratificação monetária auxilia no

suprimento das necessidades básicas do funcionário.

Segundo a teoria de motivação de Herzberg (1959, apud ROBBINS, 2002) um

dos fatores que conduz à satisfação no trabalho é o reconhecimento pela tarefa

realizada, sendo que este reconhecimento pode vir de várias formas, inclusive como

remuneração.

O quadro 06 também se refere a dimensão de valorização do cargo, porém

com os relatos de trabalhadores que percebem que não há valorização do cargo.

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Não há valorizaçãodo cargo

Relato

A empresa nãovaloriza

“Eu produzo, só que eles não vêem isso nem o meu chefe,encarregado, nem o gerente não vê isso, eu acho assim, eles temque dar valor àquele que ta produzindo, àquele que ta mostrandoserviço, mostrando trabalho, mostrando desempenho, agora nãoaquele que ta fazendo nada. Por isso que eu acho errado”. (E3)“Afeta porque as vezes a pessoa se empenha em um ponto e vêque esse empenho não ta chegando lá na frente, não ta sendoreconhecido, não sabe que você existe. As vezes, muitas pessoasque estão ali trabalhando e ta na mesma”. (E6)

O funcionário nãovaloriza

“Ah, reconhecimento, é que também o serviço não é tão “ohhh”...especial assim né, o que a pessoa pode fazer é o serviço dela”. (E6)

QUADRO 06: Valorização: Não Há Valorização1

Dois trabalhadores pontuam que a empresa não valoriza seu trabalho, E3 e

E6 colocam que a empresa não reconhece o valor do empenho no trabalho prestado

pelos trabalhadores.

O trabalhador E6 também comenta que seu trabalho não é especial para

merecer valorização, ou seja, o próprio funcionário não valoriza seu cargo. Minicucci

(2001) comenta que uma das maiores necessidades do homem é sentir-se

importante, é sentir que está realizando alguma coisa, que está fazendo algo de

valor.

Ruschel (1993) comenta que é importante na organização o funcionário sentir

que é valorizado, do contrário vai sentir-se insatisfeito com o sentimento de

inferioridade perante os outros. Para Herzberg (1959, apud ROBBINS, 2002) o fator

de reconhecimento identifica a questão da falta de valor que os trabalhadores

percebem referente à valorização do seu cargo. Pode-se caracterizar, também, esta

percepção da falta de valorização do cargo dos trabalhadores, com uma das

variáveis de Hackman & Oldham (1975, apud RODRIGUES, 2000) chamada

significância percebida no trabalho, na qual a tarefa se torna valiosa para o

indivíduo. Percebe-se que este trabalhador entrevistado não acredita ser significativo

seu cargo.

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Westley (1979) esclarece que a necessidade do trabalho significativo partiu

dos ideais de democratização e do resultado do vazio da sociedade industrial e que,

normalmente, as empresas não conseguem satisfazer esta necessidade.

O quadro 07 apresenta os dados referentes à dimensão de segurança no

emprego, sendo que os relatos expressam sentimentos de segurança.

Sentimento desegurança noemprego

Relato

Relação desegurança edesempenho(Confiança no

serviço)

“Eu vejo que eles confiam em mim, eles confiam no meu serviço”.(E1)“Fazendo tudo que dá e tem que fazer, certinho. Trabalhar, prestaratenção principalmente, e ir pra frente, né!” (E2)“Porque pelo meu desempenho, minha qualidade, pelo serviço queeu faço, peças difíceis de cortar eu vou lá e mostro que eu consigocortar, peças que ninguém consegue eu vou lá e mostro”. (E3)“Pelo que eu faço, tenho certeza que não, se eu tivesse fazendoalguma coisa errada. Aí tudo bem, mas eu tenho certeza que nãoestou errado. Essa é a segurança que eu tenho”. (E4)

Não há reclamação

“Eu acho que estou estável nisso aí porque, pra mim eu receboreclamação de nada, durante esse tempo, mais no começo, normal,eu acho assim que eu to sossegado. Não tem com que mepreocupar porque eu faço meu serviço. Ninguém reclama denada.Tipo te da uma estabilidade que é isso”. (E6)

Dependência daprópria vontade

“Eu acho que é boa. Ah, acontecer assim alguma coisa para mimsair, só se acontecer eu brigar ou o serviço não da mais certo, nãoda mais certo com o encarregado ai é uma coisa que não vai.No caso eu vou continuar trabalhando aqui porque eu gosto detrabalhar aqui neh, eu gosto de trabalhar ih não sei pra mim sairassim só se eu arrumar um serviço melhor, um serviço melhor praganhar mais, ai sim a gente vai”. (E7)

Bomcomportamento

“Obedecendo o encarregado, obedecendo o patrão, não faltandonenhum dia, fazendo tudo certinho”. (E5)

QUADRO 07: Segurança no Emprego: Sentimento de Segurança1

Nesta dimensão de segurança no emprego tem-se o objetivo de analisar se os

trabalhadores sentem-se seguros em relação a sua permanência na organização.

Grande parte dos trabalhadores entrevistados sentem-se seguros no

emprego, porque acreditam que devido às características do trabalho e seus

desempenhos eles não correm o risco de serem dispensados de uma hora para

outra. Observa-se que os trabalhadores reconhecem o significado de seu trabalho e,

por conseqüência disso, acreditam possuir segurança no emprego, sendo que desta

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forma a organização não teria motivos para dispensá-los repentinamente. Este

reconhecimento do trabalhador em relação a seu trabalho aumenta a auto-estima do

trabalhador, onde se pode encontrar características de feedback intrínseco. Que

pode-se compreender, por informações obtidas do próprio sistema sensorial do

indivíduo, onde ele recebe claras informações sobre seu desempenho e os

resultados da execução de sua tarefa, fazendo parte de propriedade cognitiva do

trabalhador. (TANI; MEIRA JR; GOMES, 2005; RODRIGUES, 2000).

Ruschel (1993, p.96) esclarece que “é recomendável que seja

entendido tanto pelos empregados como pelas empresas que

a segurança no emprego deve estar intimamente relacionada

com o desempenho no trabalho. Na medida em que o

funcionário tiver consciência de que através de um bom

desempenho na função não haverá demissão,

conseqüentemente, obtém-se uma maior qualidade de vida no

trabalho”.

O trabalhador E6 acredita possuir segurança no emprego pelo fato de não

receber nenhuma reclamação referente a seu trabalho, acreditando que este é

prestado com qualidade. Esta segurança é percebida pela falta de feedback

negativo, sendo que comenta não ter com que se preocupar por estar fazendo seu

serviço. Ruschel (1993) comenta que se este feedback não ocorre, o funcionário não

tem parâmetros sobre o quão bem ou mal está sendo executado seu trabalho, no

entanto obtendo-se avaliações de desempenho pode-se facilitar a comunicação nas

empresas e, conseqüentemente, à obtenção de uma melhor qualidade de vida no

trabalho.

O entrevistado E7 expressa sentimentos de segurança porque gosta de

trabalhar e comenta que sua saída da empresa depende de fatores ligados a sua

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satisfação ou a melhores condições de trabalho em outras empresas ou se

acontecer algum conflito com o encarregado. Ele apresenta segurança por poder

contar com este trabalho enquanto desejar. Por outro lado, um trabalhador acredita

que tendo um bom comportamento e realizando de forma correta o trabalho, ele

permanecerá na organização. Percebe-se que para ele, estão claros os critérios de

demissão da organização, questão que os outros entrevistados não pontuaram na

entrevista.

O quadro 08 também apresenta a dimensão de segurança no emprego,

porém com relato de sentimentos de insegurança.

Sentimento deinsegurança noemprego

Relato

Insegurança pordepender da chefia

“Não depende de mim, depende deles. Por mim eu vou ficar a vidatoda. Só depende deles, será que eles vão reconhecer isso?” (E3)

QUADRO 08: Segurança no Emprego: Sentimento de Insegurança1

E3 pontua que se sente inseguro no emprego por depender da chefia.

Também, devido à dúvida do reconhecimento que a organização vai oferecer a seu

trabalho.

Observa-se, novamente, o fator reconhecimento pontuado por Herzberg

(1959, apud ROBBINS, 2002). Como se pode observar, E3 apresenta dúvidas sobre

o reconhecimento da organização referente a seu trabalho. Este sentimento é

averiguado devido o trabalhador comentar que desenvolve uma boa produção e por

ele continuar a trabalhar, no entanto, a organização não reconhece este

desempenho.

Westley (1979) esclarece que um dos principais problemas que os

trabalhadores enfrentam é a insegurança devido à concentração do poder nas mãos

dos chefes e gerentes, resultando coação e ameaças para os operários.

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O quadro 09 apresenta a dimensão de relacionamento com a chefia com

relatos dos trabalhadores referentes a relacionamento adequado.

RelacionamentoAdequado

Relato

O relacionamentoé bom

“É bom o relacionamento com os funcionários. Quando eles chegame conversam com a gente, com o tipo que a gente estátrabalhando.Eles chamam, não falam na frente dos outros. Chamamno canto, falam e conversam com a gente”. (E1)“Tudo ótimo tenho comunicação com eles, pergunto quando tenhodúvida, se não vou no encarregado, vou direto no chefe”. (E2)“Boa, as vezes, eles conversam com nós, quando tem alguma coisaerrada explicam que tem que trabalhar certinho”. (E5)“Eu acho que é boa porque nunca vi brigando nunca vi discutindonada só conversa e coisa Em vez e quando acontece alguma coisaerrada mais vão lá faz de novo e explica”. (E7)

QUADRO 09: Relacionamento com a chefia: Relacionamento Adequado1

O objetivo nesta dimensão de relacionamento com a chefia é de verificar se o

relacionamento com a chefia interfere na qualidade de vida no trabalho dos

trabalhadores.

Percebe-se que alguns trabalhadores consideram o relacionamento com a

chefia bom, devido à comunicação e o relacionamento estabelecido com eles, pela

explicação do trabalho e por não acontecer brigas. Para desenvolver

relacionamentos eficazes deve-se ampliar a compreensão e a valorização das

relações no trabalho, criando condições que ofereçam aos trabalhadores a

possibilidade de se sentirem capacitados para melhorarem o ambiente de trabalho.

Nos relacionamentos de alta qualidade baseados em altos níveis de confiança,

comunicação e interação, chefes, subordinados e organização saem beneficiados.

(CAPRONI, 2002).

Segundo Chiavenato (1999) os subordinados requerem atenção e

acompanhamento, pois enfrentam várias contingências internas e externas à

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organização, sendo que estas devem oferecer assistência aos trabalhadores para

que estes problemas não afetem a vida e o desempenho do trabalhador.

Hampton (1983, apud RUCHEL, 1993) responsabiliza os gerentes pela

manutenção de um bom ambiente de trabalho. O fator comunicação é apresentado

pelos trabalhadores como um ponto forte para um relacionamento com a chefia.

Robbins (2002) coloca que a estratégia formal que as organizações utilizam para

orientar seus funcionários é a comunicação, sendo de extrema importância que seus

canais estejam abertos para realmente ser efetiva esta comunicação, transformando

o relacionamento em bons resultados para a organização e trabalhadores.

O modelo de Walton (1973, apud FERNANDES, 1996) no critério integração

social na organização, aliado ao indicador relacionamento, marca o auxílio

recíproco, sócio-emocional e uma parceria e respeito às individualidades.

O quadro 10 apresenta a dimensão de relacionamento com a chefia,

descrevendo os relatos de relacionamentos que os trabalhadores consideram

inadequados.

RelacionamentoInadequado

Relato

Falta de posturadiretiva

“O que eu vejo é que o encarregado é uma boa pessoa, só que ele temque mostrar o serviço dele, que ele foi capacitado para isso, mostrarque ele não deve ficar dando confiança para os empregados. tem quever que a determinação dele é essa, de ver o empregado que estáproduzindo, o empregado que está brincando, para ele corrigir”. (E3)

Há favoritismo

“Tem pessoas que vão ali e não fazem nada porque o encarregado asvezes ensina, as vezes não ensina, as vezes o encarregado gosta maisde outro, já deixa o outro pra trás, e isto não pode acontecer. Então temque ter um responsável pra começar desde o começo ao fim e olhartudo que acontece dentro da empresa”. (E4)

Dificuldade nacomunicação

“Eu acho que é bem distante não rola uma comunicação muito certa, euacho que as informações se perdem, não chegam até ele e não vempra cá, é meio assim, rola uma desorganização, tem que ser maisorganizado”. (E6)

QUADRO 10: Relacionamento com a chefia: Relacionamento Inadequado1

Constata-se que alguns trabalhadores acreditam que o relacionamento com a

chefia é inadequado, sendo que um trabalhador comenta sentir uma falta de postura

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diretiva por parte do encarregado para com os trabalhadores. Segundo

Schermerhorn (1999, p.230) “a liderança orientada para a realização, pode incentivar

os subordinados a lutar para atingir um alto padrão de desempenho e a ter confiança

na sua habilidade de atingir metas desafiadoras”. Estas atribuições do líder que os

trabalhadores se referem, aquele que exige, incentiva, transmite as informações

necessárias, passa confiança para a equipe da qual trabalha e por não acontecer

estas questões, os trabalhadores percebem dificuldades no relacionamento com a

chefia. Percebe-se que isto pode trazer sentimentos incômodos pelas expectativas

referentes à chefia não estarem sendo satisfeitas.

Um trabalhador esclarece que o relacionamento é inadequado devido à

postura do encarregado, que utiliza o favoritismo com alguns trabalhadores. Para

Walton (1974, apud LABEGALINI, 1999) a integração social no trabalho depende da

igualdade de oportunidades, no qual não são adequados o favoritismo e preferência

entre trabalhadores.

Também, o trabalhador E6 acredita que o relacionamento entre chefia e

trabalhador é distante, não acontecendo uma comunicação clara e organizada.

Castro (2002) coloca que a grande virtude de um líder é saber transmitir mensagens.

Em uma empresa a mensagem não entendida traduz ineficiência e entraves na

produção.

No indicativo psicológico que aponta a auto-realização como fator importante

para qualidade de vida no trabalho, inclui as dimensões: desenvolvimento pessoal e

profissional, que são apresentadas nos quadros 11, 12, 13, 14.

O quadro 11 apresenta a dimensão de desenvolvimento pessoal com os relatos

que o trabalho oferece fatores para o desenvolvimento pessoal dos trabalhadores.

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Oferecedesenvolvimentopessoal

Relato

Relacionamentointerpessoal

“A amizade dos funcionários”. (E1)“Tenho o relacionamento com as pessoas que a gente acaba porconhecer, as coisas que a gente não conhece a gente aprende comas pessoas mais velhas, a trabalhar junto e a união”. (E2)“O que ela passou pra mim, um ponto que eu aprendi mais que eu jásabia. Aprendi a trabalhar com os funcionários”. (E3)“Tem muitos colegas, Amigos e o Patrão”. (E5)

Conhecimento

“Crescimento pra mim foi o conhecimento de tudo. Das peças, detudo que aconteceu aqui dentro eles passaram pra mim. Aexperiência, a experiência de trabalho”. (E4)“Ser um mosaista neh, acho que é isso aprender a cortar mosaico eaprender a fazer um monte de coisa a trabalhar na máquina. Cadavez aprende mais nunca ninguém sabe tudo”. (E7)

Imagem de si “Coisas boas tenho certeza que vou sair bem falado. Trabalhava bem,não faltava nenhum dia”. (E5)

QUADRO 11: Desenvolvimento Pessoal: Há Desenvolvimento Pessoal1

Buscou-se levantar nesta dimensão desenvolvimento pessoal, os fatores

organizacionais que influenciam o desenvolvimento pessoal dos trabalhadores.

Grande parte dos trabalhadores relata que os fatores da organização que contribuem

para seu desenvolvimento pessoal é o relacionamento interpessoal que acontece no

ambiente de trabalho, adquirindo relações de amizade e aprendizado. D’Acri (2003)

em sua pesquisa com profissionais que trabalham com amianto encontra as relações

de amizade vivenciadas com muita significância no ambiente de trabalho,

apresentando-se como uma ampliação do mundo do trabalhador. Drucker (1998,

p.217-218) coloca que “o trabalho tem constituído um meio de atender à necessidade

humana de pertencer a um grupo e manter relações expressivas com outras

pessoas”. Pesquisas com aposentados demonstram que a falta do que sentem não é

do trabalho, mas sim dos colegas e amigos do trabalho (DRUCKER, 1998).

Dois trabalhadores percebem que os fatores que contribuem para seu

desenvolvimento pessoal é o conhecimento advindo da experiência do trabalho

desenvolvido na organização. “O trabalho possibilita aprender sobre um fazer

específico, criar, inovar e desenvolver novas formas para execução da tarefa, bem

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como são oferecidas condições de interagir com outros, de socialização e reforço

de identidade” (MAGNÓLIA, 2004). Segundo Bertelli (2004, p.101)

A aprendizagem é definida como mudança de

comportamento baseada na experiência. É um fator

fundamental do comportamento humano que afeta a maneira

de pensar, sentir e agir das pessoas e, também, suas crenças,

seus valores e objetivos.

Walton (1973, apud FERNANDES, 1996) aponta a importância do

crescimento pessoal para a qualidade de vida no trabalho, sendo necessário o

desenvolvimento de potencialidades e educação para os trabalhadores aplicarem

no trabalho estes conhecimentos.

Um entrevistado acredita que o fator que contribui para seu desenvolvimento

pessoal é ser bem visto pala organização. Percebe-se que este fato aumenta sua

auto-estima devido às pessoas perceberem que ele realiza um bom trabalho e é um

bom funcionário. A teoria de hierarquia de necessidades de Maslow (1974, apud

ROBBINS, 2002) no nível de estima ou amor e pertença, coloca a necessidade do

ser humano de ser reconhecido externa e internamente e quando não atendido esta

necessidade surgem sentimentos de inferioridade.

Magnólia (2004) expõe que produzir algo que é reconhecido e utilizado pela

sociedade permite um conhecimento de si próprio como alguém que existe e tem

importância para existência dos outros, transformando o trabalho em um meio para a

construção do homem na sua existência.

No quadro 12 é apresentada a dimensão de desenvolvimento pessoal,

descrevendo o relato de um trabalhador que acredita que não há fatores

organizacionais que favorecem seu desenvolvimento pessoal.

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Não oferecedesenvolvimentopessoal

Relato

Não se sentecomponente

importante daorganização.

“No caso você como funcionário você é só mais uma peça, você nãoé nada mais do que isso. Tipo, se você sair daqui com umaexperiência, não é um serviço que exige muito da pessoa, não precisater grandes coisas para cortar em uma máquina dessa. Então você émais uma peça, é um ser que vai ta ali do outro lado só mexendo praeles te trocarem, tanto faz. Não é uma coisa que te da tanta diferença.Não acho que possibilita o reconhecimento a pessoa que tem que irpor si só.Ah só aqui mesmo, só durante o horário de serviço, porquena vida mesmo nada, né”. (E6)

QUADRO 12: Desenvolvimento Pessoal: Não Há Desenvolvimento Pessoal1

O trabalhador percebe que a organização, incluindo principalmente seu

trabalho, não possui fatores que os desenvolvem pessoalmente. Comenta que seu

trabalho não lhe proporciona um diferencial, pois qualquer pessoa faria este

trabalho. Não atribui significado em seu trabalho, como trabalhador seria só mais

uma peça de uma máquina. O funcionário deixa claro que não se sente um

componente importante para a organização e que esta não oferece elementos para

seu enriquecimento pessoal. Pizzoli (2005, p.1061) comenta que:

“Para que o trabalho tenha importância, não é necessário

envolver assuntos de grande significado histórico; entretanto, o

trabalho precisa de um sentido para quem o faz. A pessoa

deve sentir que é um trabalho que vale a pena ser feito, que

reforça sua auto-imagem e faz com que ela se sinta parte de

um processo maior”.

Ruschel (1993) comenta que a organização não proporciona desenvolvimento

pessoal para o funcionário quando não percebe este como peça importante para sua

organização. Pontua também que “a divisão das tarefas provoca que cada

trabalhador execute uma pequena porção do trabalho total, pelo qual os

trabalhadores começam a perder seu significado social e aparecer sem sentido

algum” (p.40).

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O quadro 13 apresenta a dimensão de desenvolvimento profissional,

abordando os relatos dos trabalhadores que acreditam que há fatores

organizacionais que proporcionam desenvolvimento profissional.

Oferecedesenvolvimentoprofissional

Relato

Promoção

“Já mudaram eu de cargo, duas vezes. No caso quando eles aprovamo que a gente ta fazendo, se não aprovar não tem como a gente botarem prática”. (E1)“Às vezes assim, a hora que estou trabalhando na máquina manual.Os patrões pedem para mim trabalhar na máquina que plastifica aspeças, em vez em quando eu saia lá na minha máquina paratrabalhar ali, junto com as mulheres. As vezes é a oportunidade queeles estavam dando para trabalhar neste lugar”. (E5)

Cursos

“Fiz, eu já participei, de dois cursos e foi bom pra mim, melhorou maispra mim, eu conheci mais o sistema da empresa, melhorou cem porcento”. (E2)“Oferece curso, procurando só curso porque também é uma firmanova, ta começando também. Tem 2 ou 3 anos, então ela não temmuito o que dar para a gente ainda, né!Posso, posso usar estescursos no trabalho. Nessa empresa aqui que eu estou trabalhando,não faz tanto tempo, eu não tanto conhecimento, nunca trabalhei comesse tipo de produto. Eu tenho experiência de outras empresas, detecelagem, fundição, outros materiais com costura, coisa assim”. (E4).“Já fizemos curso de paquímetro, de ver se as peças prontas estãoboas, até agora o que eu não consegui foi pegar o paquímetro paramedir. Isso eu não consegui ainda”. (E5)“Em vez em quando tem um curso, a pouco tempo fizeram o curso depaquímetro pra quem não sabia ler o paquímetro, em vez em quandotem um curso.Claro o paquímetro é utilizado no serviço mexe com eleo dia todo pra gente medir as peças e coisa daí eles deram o curso,eles deram este curso pra quem entro pra quem não sabia aprende amexer o importante é saber cortar na máquina, sem o paquímetro tunão é nada, se tu não saber ler o paquímetro o que tu vai fazer namáquina não vai cortar nada”.(E7)

Experiência

“Na experiência que a gente vai fazendo, vai colocando, essaexperiência que eles vão notando, se o funcionário tem a capacidadede possuir aquele serviço. A gente tem experiência para dizer quechega, mas isso pra mim não adianta mais, porque eu já não usomais, entende? Eu tive que pegar a experiência porque essaexperiência é que eu estou fazendo atividade, se não dá. O que eudeixei para trás, deixou”. (E4)

QUADRO 13: Desenvolvimento Profissional: Há Desenvolvimento Profissional1

Nesta dimensão de desenvolvimento profissional tem-se o objetivo de levantar

que fatores organizacionais influenciam o desenvolvimento profissional dos

trabalhadores. Alguns trabalhadores percebem que o fator pelo qual eles são

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capazes de possuir desenvolvimento profissional é pela promoção na organização.

E1 comenta já ter conquistado um crescimento de cargo e E5 apresenta a

perspectiva de poder alcançar este crescimento. Chiavenato (1999, p.326) coloca

que “a carreira pressupõe desenvolvimento profissional”.

Grande parte dos trabalhadores entrevistados comenta que o

desenvolvimento profissional é alcançado pelos cursos fornecidos pela

organização, sendo que estes são utilizados para o aperfeiçoamento de seus

trabalhos. Na questão de participação em cursos, Chiavenato (1999) coloca que é

uma forma tradicional de desenvolvimento que oferece oportunidades de adquirir

novos conhecimentos e habilidades.

Um trabalhador acredita que possui desenvolvimento profissional por todas as

experiências que já teve em sua carreira e por conquistar mais esta no ramo de

mosaicos.

Ruschel (1993) explica que o aprimoramento profissional desenvolve nos

empregados, novas expectativas que resulta em melhoria no trabalho e no

desempenho de suas atividades. O desenvolvimento de pessoas dentro das

organizações apóia o processo de mudança individual impulsionando o grupo.

(BOOG, 1994). Para Walton (1973, apud FERNANDES, 1996) o processo de

educação para desenvolver potencialidades é um fator para a aquisição de

qualidade de vida no trabalho. Para Bertelli (2004) o desenvolvimento profissional é

a educação profissional que aperfeiçoa, amplia e desenvolve o homem para a

carreira dentro de uma profissão, para seu crescimento profissional.

O quadro 14 apresenta a dimensão de desenvolvimento profissional com

relatos dos trabalhadores que consideram que a organização não oferece

desenvolvimento profissional.

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Não oferecedesenvolvimentoprofissional

Relato

Não háoportunidade de

crescimento

“A gente quer mostrar o que a gente sabe, eles recuam, não deixama gente mostrar”. (E3)“Ah... sei lá, não é muita coisa. Se o cara sai daqui, arrumar outroserviço o que o cara aprender aqui talvez não vá servir pra nada. Sóse eu trabalhar no mesmo tipo de empresa. Pra que que vai servir?Deixa, deixa, mas não existe muita coisa, eu mesmo eu sei fazermuitas outras coisas, não é algo que serve pra cá, pelo meu tipo deserviço, entendeu?” (E6)

Não teve cursos

“Não oferece treinamento nenhum, a maioria do pessoal que entraaqui não sabe, eles vão saber depois mais tarde, que já tem mais amanha, que já tem mais a prática, único treinamento que eles deramfoi o de paquímetro, como é o paquímetro, como deve trabalhar como paquímetro. Agora de corte, estas coisas assim, não”. (E3)“Pelo menos pra mim nada, não sei para os outros ali, eu sótrabalhei no mesmo serviço sempre, eu já tinha vindo de uma outraempresa que já trabalhava com isso, mas também é a mesmacoisa”. (E6)

QUADRO 14: Desenvolvimento Profissional: Não Há Desenvolvimento Profissional1

Os trabalhadores comentam que a organização não proporciona fatores para

seu desenvolvimento profissional. E3 coloca não poder expor em seu trabalho todo

seu conhecimento, sendo que a organização recua, ou seja, não possibilita que o

funcionário demonstre suas potencialidades. Percebe-se que este funcionário não

observa oportunidade de crescimento na organização. E6 comenta que a tarefa não

utiliza todo seu potencial, que ele mesmo sabe fazer muitas outras coisas, só que

não podem ser utilizadas para aquela realidade na qual trabalha. Também, expressa

que esta experiência não lhe fornece um diferencial no mercado de trabalho.

Além disso, E3 menciona, que a organização não oferece cursos para todo

desenvolvimento da função, em cortes de mosaicos, único curso recebido foi o de

paquímetro, que se restringe a uma especialidade das medidas do corte de piso.

Observa-se que o trabalhador sente falta de cursos para uma especialização de seu

trabalho, no entanto, necessita de maior oportunidade de desenvolvimento.

E6 também coloca que não lhe foi oferecido nenhum curso para seu

desenvolvimento profissional, pois quando entrou na organização já possuía

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experiência por ter trabalhado em outra organização da mesma área, colocando que

o trabalho era desenvolvido do mesmo modo e desde que entrou na organização

desenvolve este mesmo trabalho.

Os comentários de E6 representam uma falta de significado do trabalho, não

transmitindo nenhuma perspectiva de mudança referente a ele. Bertelli (2004)

comenta que o desenvolvimento é o nível de complexidade que o individuo está

exposto e estimulado, sendo que a empresa deve apresentar espaços para que

possam usar seus conhecimentos, oferecendo aos trabalhadores desafios crescentes

e novas oportunidades de participação.

Chiavenato (1999) coloca que o desenvolvimento do trabalhador não é

necessariamente relacionado com o cargo atual, mas sim com oportunidades de

crescimento profissional. Percebe-se, no entanto, que os trabalhadores E3 e E6 não

acreditam que a organização oportunize desenvolvimento profissional, o que faz com

que estas dimensões do indicativo psicológico interfira em sua qualidade de vida no

trabalho.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A referida pesquisa teve como objetivo investigar, a partir dos indicativos

político e psicológico do modelo de Westley, a compreensão que os trabalhadores

do setor de produção possuem sobre sua qualidade de vida no trabalho.

Quanto ao objetivo investigar se os trabalhadores sentem-se valorizados pelo

trabalho que desempenham, constatou-se que estes se percebem valorizados,

principalmente por não receberem reclamações das tarefas realizadas, por

receberem elogios e por acreditarem que a empresa confia em seu trabalho.

No que se refere ao objetivo analisar se os trabalhadores se sentem seguros

em relação a sua estabilidade na organização, os dados apresentaram que os

trabalhadores sentem-se seguros, pois conseguem perceber o resultado de seu

trabalho (feedback intrínseco) e consideram que a empresa confia em seu trabalho

(feedback extrínseco). Somente E3 comenta da falta de reconhecimento que poderia

acarretar em uma demissão, sem levar em consideração seu desempenho no

trabalho.

Observa-se que a organização não possui uma avaliação sistemática e

formal do desempenho de seus funcionários, sendo que esta avaliação é realizada

de modo informal, onde o funcionário deduz que “se não há reclamação de seu

trabalho, isto quer dizer que está satisfatório seu desempenho”. No que se refere a

segurança no emprego, entende-se como a garantia que o trabalhador tem que

realizando um bom trabalho não será dispensado de uma hora para outra e

principalmente não tendo que conviver com o medo e ansiedade de perder o

emprego que garante seu sustento. Que compreende algo mais amplo do que os

resultados encontrados. Sabe-se que não se pode dizer que uma pessoa tem

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segurança porque não recebe reclamação de seu trabalho, no entanto, na

percepção dos funcionários entrevistados, o não receber reclamação de seu

trabalho faz com que eles não sintam o medo de perder o emprego a qualquer

momento.

Em relação ao objetivo verificar se o relacionamento com a chefia interfere na

qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores, os dados apresentaram-se

equilibrados, sendo esta a dimensão que apresentou maior número de fatores

negativos. Os fatores apresentados como inadequados no relacionamento, partiram

das questões de dificuldades na comunicação, favoritismo e falta de uma postura

diretiva do encarregado em relação aos trabalhadores. Percebe-se que a

organização também necessita estar atenta a esta questão, já que as expectativas

referentes à chefia não se encontram supridas.

Quanto ao objetivo de levantar quais fatores organizacionais influenciam o

desenvolvimento pessoal dos trabalhadores, as maiorias dos entrevistados

comentaram que o fator que mais contribui para este desenvolvimento é o

relacionamento interpessoal adquirido na organização, incluindo, sobretudo, as

amizades. No entanto, a partir do referencial teórico pesquisado, o desenvolvimento

pessoal caracteriza-se em processos mais profundos de formação de personalidade,

também relacionados à educação e orientação para o futuro (CHIAVENATO, 1999).

Interessante constatar que os entrevistados não abordaram aspectos relacionados a

fatores organizacionais que estão relacionados à ampliação pessoal para o futuro.

Referente ao objetivo levantar que fatores organizacionais influenciam o

desenvolvimento profissional dos trabalhadores, estes compreendem que os fatores

que contribuem para este desenvolvimento são os cursos e promoção de cargos

oferecidos pela organização. Nos discursos referentes a cursos, observou-se que os

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oferecidos são próprios para a atividade, já desenvolvida, do setor de corte, como o

curso de paquímetro e controle de qualidade. São cursos que desenvolvem

habilidades efetivamente para este trabalho específico. A questão da promoção é

algo que não se mostrou muito concreto dentro da organização, até porque a

mesma foi fundada há três anos e não apresenta plano de carreira nem possui

muitos cargos diversificados, sendo pouco provável que seja de acesso a muitos

esta ascensão profissional.

A dificuldade encontrada na coleta de dados surgiu referente à dificuldade de

alguns trabalhadores em compreender o que estava sendo perguntado, tendo, a

pesquisadora, muitas vezes, que reelaborar perguntas para obtenção das respostas.

Acredita-se que este fato aconteça pela baixa escolaridade dos trabalhadores de

produção, como também sua constituição social como classe menos privilegiada,

com pouco acesso à educação formal.

Percebe-se que os resultados obtidos que se mostram desfavoráveis à

qualidade de vida no trabalho, se restringiram aos relatos de dois trabalhadores E3 e

E6. Estes possuem em comum a situação de terem vindo de outra empresa do

mesmo ramo, apresentando certa experiência na área de mosaicos. Para estes

trabalhadores a organização não supre suas expectativas e necessidades. Este fato

parece estar relacionado ao sistema de trabalho desta empresa, que enfoca a

especialização das tarefas e trabalhos rotineiros, que não propiciam

desenvolvimento profissional a trabalhadores que já possuem certa experiência

nesse ramo, como é o caso desses dois trabalhadores entrevistados.

No que se refere aos indicativos político e psicológico, considerando-se as

dimensões pesquisadas, percebe-se que em relação ao indicativo político os

trabalhadores sentem-se seguros em relação a sua permanência na organização.

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Na questão do indicativo psicológico constata-se que a organização oferece poucas

oportunidades para o desenvolvimento de seus trabalhadores. Apesar da grande

parte dos trabalhadores não ter relatado explicitamente a falta de desenvolvimento,

compreende-se esta questão por uma falta de perspectiva de desenvolvimento para

o futuro dos próprios trabalhadores, sendo que eles não pontuaram perspectiva de

crescimento profissional e ascensão de carreira nesta empresa.

Sugere-se novas pesquisas sobre QVT, sobretudo a partir do modelo teórico

de Westley incluindo todos seus indicativos, junto a trabalhadores da linha de

produção, uma vez que a realidade do setor de produção ainda se configura com os

problemas da rotatividade e absenteísmo. Desta forma, tais pesquisas podem

fornecer direcionamentos para as organizações estruturarem novas políticas de

recursos humanos, incluindo como fator principal a qualidade de vida no trabalho

para atrair e reter os trabalhadores. Também, sugere-se pesquisas referentes ao

papel da Psicologia para a promoção da QVT no setor de produção.

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ANEXOS

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IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO (Anexo I)

Eu, __________________________________________________________

__________________________________________________________________

Declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será realizada e

no que consiste minha participação. Diante dessas informações aceito participar da

pesquisa.

Assinatura:_________________________________________________________

Data de nascimento:_____/______/ _______

Pesquisador: Prof. MSc. Rosana Marques da Silva

Assinatura:___________________________________

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia

Rua Uruguai, 438

F. 3341-7688

E-mail: [email protected]

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APÊNDICES

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ROTEIRO DA ENTREVISTA QVT (apêndice I)

Dados de IdentificaçãoIdade:Sexo:Escolaridade:Cargo:Tempo de Serviço:

Valorização do cargo

• 1- como você percebe o reconhecimento dos seus colegas e chefes no que

diz respeito as atividades que você executa na empresa?

*Em que situações você observa que (não) ocorre este reconhecimento?

*Em que situações você acredita que ocorre esse reconhecimento?

• 2- Como você percebe o resultado final de seu trabalho?

Segurança no Trabalho

• 3- Como você avalia a sua segurança em permanecer nesta organização?

Relacionamento com a chefia

• 4- Como você avalia a relação entre chefes e encarregados com seustrabalhadores?

Desenvolvimento Pessoal

• 5-Você acredita que a empresa lhe possibilita um crescimento pessoal, de

que forma isso acontece?

* O que a empresa ensinou para você que mesmo saindo daqui você vai levar

para sua vida pessoal?

Desenvolvimento Profissional

• 6 - De que forma a empresa possibilita que você coloque na prática os

conhecimentos e experiências que você possui?

• 7 - A empresa oferece treinamentos para melhorar seu desempenho

profissional? Quais?

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (apêndice II)

Gostaria de convidá-lo (a) para

participar de uma pesquisa cujo objetivo é

investigar a compreensão que os

trabalhadores do setor de produção

possuem sobre qualidade de vida no

trabalho.

Sua tarefa consistirá na participação

em uma entrevista semi estruturada.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria

de informar que:

A) Seus dados pessoais serão

mantidos em sigilo, sendo garantido o seu

anonimato;

B) Os resultados desta pesquisa

serão utilizados somente com finalidade

acadêmica podendo vir a ser publicado em

revistas especializadas, porém. Como

explicitado no item (A) dados pessoais

serão mantidos em anonimato;

C) Não há respostas certas ou

erradas, o que importa é a sua opinião;

D) A aceitação não implica que

você estará obrigado a participar,

podendo interromper sua participação a

qualquer momento, mesmo que já tenha

iniciado, bastando, para tanto, comunicar

os pesquisadores;

E)

F) Esta pesquisa é de cunho

acadêmico e não visa uma intervenção

imediata, ainda que tenha intenção de

implementar um programa de

monitoração dos níveis de estresse e de

controle do mesmo.

G) Durante a participação, se

tiver alguma reclamação, do ponto de

vista ético, você poderá contatar com o

responsável por esta pesquisa.

Pesquisador responsável: Prof°

MSc. Rosana Marques da Silva.

E-mail: [email protected]

Telefone: 47 – 341 7688

Curso de Psicologia da

Universidade do Vale do Itajaí – CCS

Rua Uruguai, 448- bloco 25B sala

401.

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CARTA DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO (apêndice III)

Tijucas, 24 de Outubro de 2005

Prezada Sr.,

Cumprimento-a cordialmente.

Venho por meio desta solicitar seu consentimento para a realização da

pesquisa de TCC intitulada "A Qualidade de Vida dos Trabalhadores do

Setor de Produção: Um estudo de caso a partir dos indicativos político e

psicológico do modelo teórico de Westley" , junto aos trabalhadores de um setor de produção

desta organização.

Cabe ressaltar que a referida pesquisa está sob a supervisão da professora Rosana Marques

da Silva.

Sem mais para o momento,

Atenciosamente,

Gláucia Machado Assinatura do Responsável pela

instituição