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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
MAINARA DOS SANTOS DA SILVA
TAINARA MAY MEURER
AVALIAÇÃO DE MISTURAS SOLO-RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PARA
APLICAÇÃO EM FUNDAÇÕES
Palhoça
2017
MAINARA DOS SANTOS DA SILVA
TAINARA MAY MEURER
AVALIAÇÃO DE MISTURAS SOLO-RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PARA
APLICAÇÃO EM FUNDAÇÕES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Engenharia Civil da Universidade
do Sul de Santa Catarina como requisito
parcial à obtenção do título de Engenheiro
Civil.
Orientador: Prof. Cesar Schmidt Godoi, Msc.
Palhoça
2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me dado sabedoria para seguir a diante.
A minha mãe Marisa, pelas palavras de conforto nos momentos em que pensei em
desistir e por todo amor dedicado.
Ao meu namorado Leonardo, que sempre esteve ao meu lado me dando carinho,
incentivo e por toda paciência durante todo este percurso.
A minha dupla Tainara, amizade que construí nestes cinco anos e que levarei para
o resto da vida. Pelas risadas e lágrimas que derramamos até chegar aqui, amiga enfim
conseguimos.
Ao nosso orientador Cesar Godoi, que foi uma das peças principais para a
conclusão deste trabalho, com muita dedicação, incentivo e por ter acreditado que seriamos
capazes. Professor a você o meu muito obrigado.
Agradeço a laboratorista Franciely, por toda explicação e ajuda durante a
realização dos ensaios.
Aos amigos que contribuíram com os momentos de distração e que sempre me
incentivaram e torceram por mim.
Mainara dos Santos da Silva
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pelo dom da vida, por ter colocado em meu caminho pessoas
tão maravilhosas.
Aos meus pais Amélia e Joãozinho que não mediram esforços para a realização
desse sonho, pelo incentivo constante, por acreditarem em mim e não deixarem faltar amor.
A minha irmã Talita por diversas vezes me acompanhar nos estudos, preparar
lanches e recados carinhosos, por todas as noites ao longo desses 5 anos me esperar para
conversar antes de dormir.
A minha companheira de faculdade, trabalho de conclusão de curso e amiga para
vida Mainara. Obrigada por todos os momentos de cumplicidade que vivemos juntas ao longo
desses 5 anos.
Ao professor Cesar Godoi por aceitar nos orientar compartilhando sua sabedoria e
sempre acreditar e nos mostrar o nosso potencial.
A laboratorista Franciely por toda orientação, companheirismo e paciência em
dias de ensaio.
Aos meus amigos, que sentiram minha ausência e sempre me incentivaram.
Tainara May Meurer
RESUMO
O trabalho apresenta a incorporação de resíduos provenientes da construção civil em misturas
com solo, para utilizar como melhoramento de fundações. A reutilização de RCC gera
resultados positivos ambientalmente e economicamente, diminuindo a geração de resíduos,
pois os resíduos ainda são gerados. O intuito do estudo é devido à elevada geração de resíduos
no setor, se baseando na análise de dados obtidos com a realização de ensaios em laboratório.
Foram realizados ensaios de análise granulométrica, determinação da massa específica real
dos grãos, limite de liquidez, limite de plasticidade, compactação, CBR, expansão e
cisalhamento direto, incorporando diferentes porcentagens de resíduo. Com a análise foi
verificado as alterações provocadas em cada mistura, com as respectivas porcentagens de
resíduos. Os resultados obtidos através dos ensaios mostraram que é viável a utilização de
misturas solo-resíduos da construção civil para aplicação em fundações superficiais como
melhoramento da resistência do solo, desde que seja avaliada a mistura adequada para cada
tipo de solo/resíduo, contribuindo com a redução de custos e quantidade de resíduos gerados
sem aproveitamento.
Palavras-chave: Resíduos da construção civil. Ensaios de laboratório. Misturas solo-resíduos.
Fundações.
ABSTRACT
The work presents the incorporation of waste from the civil construction in mixtures with soil,
to be used as foundation improvement. The reuse of RCC generates positive results
environmentally and economically, reducing the generation of waste, because the waste is still
generated. The purpose of the study is due to the high generation of waste in the industry,
based on the analysis of data obtained with laboratory tests. Grain size analyses,
determination of actual grain specific mass, liquidity limit, plasticity limit, compaction, CBR,
expansion and direct shear, incorporating different residue percentages were performed. With
the analysis the changes caused in each mixture were verified, with the respective percentages
of residues. The results obtained through the tests showed that it is feasible to use soil-waste
mixtures from the construction industry for application to surface foundations as soil
resistance improvement, provided that the appropriate mix for each type of soil / residue is
evaluated, contributing to the reduction of costs and quantity of waste generated without use.
Key words: Construction waste. Laboratory tests. Soil-waste mixtures. Foundations.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Resíduo gerado na passagem dos eletrodutos nas paredes ....................................... 17
Figura 2 - Exemplo dos principais tipos de blocos ................................................................... 21
Figura 3 - Classificação dos principais tipos de sapatas ........................................................... 22
Figura 4 - Fundação radier em corte ......................................................................................... 22
Figura 5 - Tipos de estacas ....................................................................................................... 23
Figura 6 - Tubulão a céu aberto ................................................................................................ 24
Figura 7 - Tubulão ar comprimido ........................................................................................... 24
Figura 8 - Estimativa do N médio ............................................................................................ 26
Figura 9 - Estimativa do valor médio da resistência de ponta (qc) .......................................... 27
Figura 10 - Superfície de ruptura .............................................................................................. 29
Figura 11- Carga excêntrica, área efetiva ................................................................................. 33
Figura 12 – Prensa conforme NBR 9895.................................................................................. 38
Figura 13 - Fluxograma das etapas da pesquisa ....................................................................... 40
Figura 14 – Área de estudos (Palhoça/SC) ............................................................................... 41
Figura 15 - Local de coleta do solo .......................................................................................... 41
Figura 16 - Início da escavação ................................................................................................ 41
Figura 17 - Amostra coletada ................................................................................................... 41
Figura 18 - Presença de matéria orgânica na parte superficial ................................................. 42
Figura 19 – Britador da Brooks ................................................................................................ 42
Figura 20 - Pilhas de RCC com granulometria diferentes ........................................................ 43
Figura 21 – Componentes identificados após a britagem do RCC ........................................... 44
Figura 22 - Secagem da amostra naturalmente ......................................................................... 45
Figura 23 - Destorroamento do solo ......................................................................................... 45
Figura 24 - Solo destorroado .................................................................................................... 45
Figura 25 - Material separado para o ensaio............................................................................. 46
Figura 26 - Material retido na peneira #10 ............................................................................... 46
Figura 27 - Montagem das peneiras ......................................................................................... 47
Figura 28 - Material com defloculante ..................................................................................... 48
Figura 29 - Dispersor elétrico ................................................................................................... 48
Figura 30 - Ensaio de sedimentação em andamento................................................................. 48
Figura 31 - Amostra imersa na água ......................................................................................... 49
Figura 32 - Bomba de sucção ................................................................................................... 49
Figura 33 - Bolhas de ar sendo retiradas .................................................................................. 49
Figura 34 - Homogeneização da amostra ................................................................................. 50
Figura 35 - Realização da ranhura ............................................................................................ 50
Figura 36 - Moldagem da amostra ............................................................................................ 50
Figura 37 - Fragmentos da amostra .......................................................................................... 50
Figura 38 - Compactação em andamento ................................................................................. 51
Figura 39 - Amostra sendo extraída ......................................................................................... 52
Figura 40 - Divisão da amostra................................................................................................. 52
Figura 41 - Compactação com soquete de 5 kg ........................................................................ 53
Figura 42 - Cilindro pronto ....................................................................................................... 53
Figura 43 - Cilindro imerso em água ........................................................................................ 53
Figura 44 - Amostra pronta para ser ensaiada .......................................................................... 54
Figura 45 - Cravação do molde ................................................................................................ 54
Figura 46 - Molde pronto para o ensaio ................................................................................... 54
Figura 47 - Início de aplicação da tensão ................................................................................. 55
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Fatores de capacidade de carga .............................................................................. 30
Gráfico 2- Fator de capacidade de carga .................................................................................. 32
Gráfico 3 - Curva granulométrica ............................................................................................. 35
Gráfico 4 - Curva de compactação ........................................................................................... 37
Gráfico 5 - Envoltória de Mohr Coulomb ................................................................................ 39
Gráfico 6 - Curva granulométrica do solo natural e misturas solo-resíduos ............................ 56
Gráfico 7 - Curva de compactação após ensaio ........................................................................ 59
Gráfico 8 - Curvas de CBR....................................................................................................... 60
Gráfico 9 - CBR versus porcentagem de solo .......................................................................... 60
Gráfico 10 - Tensão cisalhante versus tensão normal .............................................................. 61
Gráfico 11 - Tensão de ruptura versus porcentagem do solo por Terzaghi .............................. 63
Gráfico 12 - Tensão admissível versus porcentagem do solo por Terzaghi ............................. 63
Gráfico 13 - Tensão de ruptura versus solo por Skempton ...................................................... 64
Gráfico 14 - Tensão admissível versus solo por Skempton ...................................................... 65
Gráfico 15 - Tensão de ruptura versus solo por Brinch Hansen ............................................... 66
Gráfico 16 - Tensão admissível versus solo por Brinch Hansen .............................................. 67
Gráfico 17 - Comparativo das tensões admissíveis das misturas por diferentes métodos ....... 70
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Tensões Básicas segundo NBR 6122/2010 ............................................................. 25
Tabela 2 - Fatores de segurança e coeficientes de minoração para solicitações de compressão
.................................................................................................................................................. 28
Tabela 3 - Fatores de forma de Terzaghi-Peck ......................................................................... 31
Tabela 4 - Fatores de capacidade de carga ............................................................................... 34
Tabela 5 - Porcentagem passante da curva granulométrica ...................................................... 57
Tabela 6 - Parâmetros de granulometria dos solos ensaiados .................................................. 57
Tabela 7 - Massa específica dos grãos do solo obtida nos ensaios........................................... 58
Tabela 8 - Valores de expansão das amostras .......................................................................... 59
Tabela 9 - Valores utilizados para obtenção da tensão de ruptura e tensão admissível por
Terzaghi .................................................................................................................................... 62
Tabela 10 - Valores utilizados para obtenção da tensão de ruptura e tensão admissível por
Skempton .................................................................................................................................. 64
Tabela 11 - Valores utilizados para obtenção da tensão de ruptura e tensão admissível por
Brinch Hansen .......................................................................................................................... 66
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASTM - American Society for Testing and Materials
CBR - California Bearing Ratio
cm - Centímetro
cm³ - centímetro cúbico
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
D10 - Diâmetro efetivo
D30 - Diâmetro correspondente a 30 % passante
D60 - Diâmetro correspondente a 60 % passante
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
kg - Quilograma
kN - Kilonewton
kPa - Kilopascal
LEC - Laboratório de Engenharia Civil
m - Metro
min - Minuto
mm - Milimetro
MPa - Megapascal
N - Newton
NBR - Norma Brasileira Regulamentadora
PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
RCC – Resíduo da Construção Civil
SPT - Standard Penetration Test
t - Tonelada
UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 16
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ......................................................................................... 16
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 17
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 17
1.3.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 18
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 18
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 19
2.1 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL ....................................................................... 19
2.1.1 Classificação dos resíduos da construção civil .......................................................... 20
2.2 TIPOS DE FUNDAÇÕES ............................................................................................... 20
2.2.1 Fundação superficial ou direta................................................................................... 21
2.2.2 Fundação profunda ..................................................................................................... 23
2.3 MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA TENSÃO ADMISSÍVEL DE
FUNDAÇÕES DIRETAS ........................................................................................................ 24
2.3.1 Métodos Empíricos / Semi-Empíricos ....................................................................... 25
2.3.1.1 Método Terzaghi Peck ................................................................................................ 25
2.3.1.2 Ensaio Penetração Estática do Cone ........................................................................... 26
2.3.2 Métodos Teóricos......................................................................................................... 27
2.3.2.1 Método Terzaghi ........................................................................................................ 28
2.3.2.2 Método Skempton ...................................................................................................... 31
2.3.2.3 Método Meyerhof ....................................................................................................... 32
2.3.2.4 Método Brinch Hansen ............................................................................................... 33
2.4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO ..................................................................................... 35
2.4.1 Ensaio de análise granulométrica .............................................................................. 35
2.4.2 Ensaio de determinação da massa específica real dos grãos ................................... 36
2.4.3 Ensaio de limite de liquidez e limite de plasticidade ................................................ 36
2.4.4 Ensaio de compactação ............................................................................................... 36
2.4.5 Ensaio de California Bearing Ratio (CBR) ............................................................... 37
2.4.6 Ensaio de cisalhamento direto .................................................................................... 38
3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 40
3.1 MATERIAIS UTILIZADOS ........................................................................................... 40
3.1.1 Amostra de solo ........................................................................................................... 40
3.1.2 Amostra de resíduos de construção civil (RCC) ....................................................... 42
3.1.3 Misturas de solo-resíduos ........................................................................................... 44
3.2 REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS ..................................................................................... 44
3.2.1 Preparação da amostra ............................................................................................... 44
3.2.2 Análise granulométrica ............................................................................................... 45
3.2.2.1 Peneiramento grosso ................................................................................................... 46
3.2.2.2 Peneiramento fino ....................................................................................................... 47
3.2.2.3 Sedimentação .............................................................................................................. 47
3.2.3 Densidade real dos grãos ............................................................................................ 48
3.2.4 Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade ............................................................. 49
3.2.5 Compactação................................................................................................................ 51
3.2.6 Expansão e CBR .......................................................................................................... 52
3.2.6.1 Expansão ..................................................................................................................... 52
3.2.6.2 CBR ............................................................................................................................ 53
3.2.7 Cisalhamento direto .................................................................................................... 54
4 RESULTADOS ................................................................................................................. 56
4.1 RESULTADOS DA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA ................................................ 56
4.2 RESULTADOS DA DETERMINAÇÃO DA MASSA ESPECÍFICA DOS GRÃOS ... 57
4.3 RESULTADOS DO LIMITE DE LIQUIDEZ E LIMITE DE PLASTICIDADE .......... 58
4.4 RESULTADOS DA COMPACTAÇÃO ......................................................................... 58
4.5 RESULTADOS DA EXPANSÃO E CBR ...................................................................... 59
4.6 RESULTADOS DO CISALHAMENTO DIRETO ......................................................... 61
4.7 RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA TENSÃO ADMISSÍVEL DE UMA
FUNDAÇÃO POR DIFERENTES MÉTODOS ...................................................................... 61
4.7.1 Resultados do método de Terzaghi ............................................................................ 62
4.7.2 Resultados do método de Skempton .......................................................................... 64
4.7.3 Resultados do método de Brinch Hansen .................................................................. 65
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 68
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .......................................................... 71
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 72
APÊNDICES ........................................................................................................................... 75
APÊNDICE A - Planilha de ensaio de análise granulométrica com sedimentação (solo) 76
APÊNDICE B - Planilha de ensaio de análise granulométrica com sedimentação (solo +
5% de RCC) ............................................................................................................................ 77
APÊNDICE C - Planilha de ensaio de análise granulométrica com sedimentação (solo +
10% de RCC) .......................................................................................................................... 78
APÊNDICE D - Planilha de ensaio de análise granulométrica com sedimentação (solo +
15% de RCC) .......................................................................................................................... 79
APÊNDICE E – Planilha ensaio de compactação (solo) ..................................................... 80
APÊNDICE F – Planilha ensaio de compactação (solo + 5% de RCC) ............................ 81
APÊNDICE G – Planilha ensaio de compactação (solo + 10% de RCC) .......................... 82
APÊNDICE H – Planilha ensaio de compactação (solo + 15% de RCC) .......................... 83
APÊNDICE I – Planilha ensaio de expansão e CBR (solo)................................................. 84
APÊNDICE J – Planilha ensaio de expansão e CBR (solo + 5% de RCC) ....................... 85
APÊNDICE K – Planilha ensaio de expansão e CBR (solo + 10% de RCC) .................... 86
APÊNDICE L – Planilha ensaio de expansão e CBR (solo + 15% de RCC) .................... 87
APÊNDICE M – Planilha ensaio de cisalhamento direto (solo) ......................................... 88
APÊNDICE N – Planilha ensaio de cisalhamento direto (solo + 5% de RCC) ................. 89
APÊNDICE O – Planilha ensaio de cisalhamento direto (solo + 10% de RCC) .............. 90
APÊNDICE P – Planilha ensaio de cisalhamento direto (solo + 15% de RCC) ............... 91
16
1 INTRODUÇÃO
Os resíduos gerados pela construção civil são em grande volume, o que acaba
gerando preocupações quanto a sua destinação e ao esgotamento das fontes não renováveis. É
de conhecimento que a maneira mais eficaz de se evitar o esgotamento e a degradação do
meio ambiente é investindo na prevenção e métodos de reaproveitamento dos resíduos.
“Desde o início da década de 1990, o setor da construção civil empenha-se em
desenvolver mecanismos para minimizar os impactos ambientais, por meio de posturas
proativas, com estudos mais sistemáticos e resultados mensuráveis, como reciclagem de
resíduos [...]” (OLIVEIRA, 2002 apud CUNHA, 2007, p. 8).
Segundo Santos Junior (2015), uma das formas de reaproveitar os resíduos é
transformá-los em agregados, com o intuito de gerar um novo material ao mercado,
contribuindo economicamente para reduzir custos na construção, além de impactar
positivamente sobre o ponto de vista ambiental.
O agregado obtido da reciclagem dos resíduos de construção pode ter diferentes
granulometrias e aplicações, tendo em vista a contribuição para o melhoramento de algumas
propriedades físicas ou mecânicas do solo. Assim, neste trabalho iremos abordar a mistura de
solo-resíduo, avaliando as propriedades do agregado como melhoramento do solo para
aplicação em fundações.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
O setor da construção civil é um dos maiores consumidores de recursos naturais e
consequentemente o maior gerador de resíduos sólidos. A problemática se dá em virtude de
que os recursos, uma vez esgotados, não podem ser recuperados e também ao grande volume
de resíduo que é gerado e por fim descartado em local impróprio.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), 50,8% dos munícipios brasileiros possuem a destinação dos resíduos sólidos em
lixões a céu aberto, conforme relatado por meio da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
(PNSB, 2008). Apesar da melhoria nos últimos 20 anos, o setor requer soluções devido à
destinação ainda ser inadequada.
A Figura 1 retrata a quantidade de resíduo gerado durante a execução dos cortes
de parede para a passagem de eletrodutos, sendo uma das atividades do montante da obra. Em
apenas um cômodo foi gerada grande quantidade de materiais que podem ser reutilizados.
17
Com o exemplo mencionado, é possível compreender o porquê de o setor da construção ser
considerado o maior gerador de resíduos.
Figura 1- Resíduo gerado na passagem dos
eletrodutos nas paredes
Fonte: Das autoras, 2017.
A Brooks Ambiental, empresa em que foram coletados os resíduos, possui um
constante processo de idealizar soluções de reutilização para cada tipo de resíduo que é
coletado, realizando simultaneamente o gerenciamento dos resíduos.
1.2 JUSTIFICATIVA
O reaproveitamento de resíduos da construção civil (RCC) geralmente é destinado
a aterros sem fins de engenharia ou descartado em locais inapropriados, sem o devido
tratamento ambiental.
Desta forma a reutilização de RCC pode gerar resultados positivos
ambientalmente e economicamente para a sociedade e para as empresas do setor, com a
implementação do uso de misturas solo-resíduos contribuindo para baratear custos e suas
propriedades físicas ou mecânicas para melhoramento do solo.
1.3 OBJETIVOS
Os objetivos são apresentados em seções distintas como objetivo geral e objetivos
específicos.
18
1.3.1 Objetivo geral
O objetivo geral deste trabalho consiste em avaliar misturas de solo com resíduos
da construção civil, para possibilitar a aplicação em fundações como forma de tratamento
(reforço) de fundação direta.
1.3.2 Objetivos específicos
a) Identificar informações e pesquisas de autores com trabalhos similares ao
desenvolvido;
b) Investigar ensaios de caracterização de misturas de solo com resíduos da
construção civil;
c) Investigar ensaios de resistência das misturas solo-resíduo, California Bearing
Ratio (CBR) e cisalhamento direto;
d) Analisar a tensão admissível para uma fundação hipotética, típica de
residências unifamiliar de um pavimento;
e) Avaliar a possível aplicação prática para fundações diretas.
19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A revisão bibliográfica apresenta embasamentos a respeito dos conceitos que
serão abordados no decorrer do trabalho, assim como a descrição dos ensaios que serão
utilizados.
2.1 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Os resíduos provenientes da construção civil vêm causando grande preocupação
em relação aos impactos gerados ao meio ambiente e, consequentemente, a saúde da
população. A geração de resíduos é acumulativa desde os insumos até posteriormente as
etapas construtivas da obra, assim, cada vez mais as construtoras estão tendo que se adequar
as novas exigências do mercado.
Segundo a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (2002, p. 805) nº
307/02:
Art. 2º: I - Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções,
reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da
preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto
em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados,
forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações,
fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha;
[...]
Para Rocha e Cheriaf (2003, p. 73) a partir do momento que as empresas tomam
conhecimento da importância ambiental que os resíduos de construção representam, acabam
tornando-se conscientes mediante a necessidade de desenvolver destinação adequada. O
aproveitamento dos resíduos resulta na reutilização desses materiais como uma solução de
amenizar os impactos gerados, assim como a contribuição na preservação de recursos
naturais.
Os RCC são quase que inevitáveis dentro do setor, podem ser gerados a partir de
erros de projeto, execução, ou mesmo durante o transporte até a armazenagem dos materiais.
“A deposição de resíduos da construção civil está se tornando cada vez mais inviável devido o
aumento nos custos de eliminação desses resíduos e o aumento com as preocupações
ambientais.” (QUEIROZ; MELO, 2010, p. 3).
O gerenciamento desses materiais envolvem agentes que se encarregam de
responsabilidades como o manejo, destinação e o controle do cumprimento das determinações
20
normativas, desde os processos dentro do canteiro de obras até as operações nos aterros. Cabe
ao poder público orientar e fiscalizar os agentes para que os resíduos de construção civil
sejam tratados de forma adequada para não acarretar em problemas à saúde pública e ao meio
ambiente.
2.1.1 Classificação dos resíduos da construção civil
A destinação adequada dos resíduos se torna mais eficiente a partir da
classificação de cada material. Os RCC são classificados a partir da resolução nº 307/2002 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e são divididos em quatro classes:
a) classe A: são considerados os materiais que podem ser utilizados como
agregados (cerâmica, tijolo, azulejo, bloco, telha, argamassa, concreto e
solos);
b) classe B: os resíduos são destinados para diversos fins além da reutilização na
obra (papelão, plásticos, metais, vidros, madeiras e gesso);
c) classe C: são classificados os materiais que não possuem técnicas de
reciclagem e não são perigosos;
d) classe D: os resíduos desta classe são considerados perigosos e prejudiciais à
saúde e ao meio ambiente (tintas, solventes, impermeabilizantes, ferramentas).
O resíduo utilizado nesta pesquisa se enquadra na classe A, pois os materiais que
constituem a amostra podem ser aproveitados como agregados.
2.2 TIPOS DE FUNDAÇÕES
A fundação pode ser descrita como o elemento responsável pela transmissão de
esforços para o solo. No âmbito da construção civil nos deparamos com uma diversidade de
tipos de fundações, desse modo há uma classificação que as divide em dois grupos:
superficiais e profundas. O que as difere é a forma em que se dá a transmissão de tensões e o
formato construtivo.
21
2.2.1 Fundação superficial ou direta
A fundação superficial ou direta pode ser definida de acordo com NBR 6122/
2010:
Elemento de fundação em que a carga é transmitida ao terreno pelas tensões
distribuídas sob a base da fundação, e a profundidade de assentamento em relação ao
terreno adjacente à fundação é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010, p.2).
Velloso e Lopes (2012) descrevem como os principais tipos de fundações
superficiais:
a) blocos: elemento de apoio de concreto maciço, onde o concreto resiste aos
esforços de tração dispensando o uso de armaduras de aço. O bloco
caracteriza-se pela sua grande altura, conforme demonstrado na Figura 2,
sendo fundamental para que o bloco trabalhe a compressão;
Figura 2 - Exemplo dos principais tipos de
blocos
Fonte: Teixeira e Godoy (2012, p.227).
b) sapatas: elemento de apoio de concreto armado, onde o aço resiste às tensões
de tração. A sapata caracteriza-se pela economia e pouca altura se comparada
ao bloco. As sapatas podem ser construídas de diversas formas (quadrada,
redonda, retangular), segundo Figura 3, variando de acordo com a necessidade
22
de projeto. São classificadas como: sapata isolada, corrida, associada e de
divisa;
Figura 3 - Classificação dos principais tipos
de sapatas
Fonte: Teixeira e Godoy (2012, p.228).
c) radier: o elemento de apoio de concreto armado recebe toda a carga da
edificação e distribui ao solo, abrange todos ou parte dos pilares da estrutura,
conforme apresentado na Figura 4. Para a execução do radier é necessário
grande volume de concreto e aço, para economia é possível emprego de
concreto de protensão.
Figura 4 - Fundação radier em corte
Fonte: Souza (2016).
23
2.2.2 Fundação profunda
A fundação profunda é definida de acordo com NBR 6122/2010:
Elemento de fundação que transmite a carga pela base (resistência de ponta) ou por
sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas,
devendo sua ponta ou base estar assente em profundidade superior ao dobro de sua
menor dimensão em planta, e no mínimo 3,0 m. Neste tipo de fundação incluem-se
as estacas e os tubulões. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2010, p.3).
Velloso e Lopes (2012) descrevem como os principais tipos de fundações
profundas:
a) estaca: elemento de fundação submetido a um carregamento vertical destaca-
se pelo grande comprimento. Executado com auxílio de equipamentos e
ferramentas de grande porte. Os tipos de estacas variam de acordo com a sua
matéria prima e sua forma de execução. O tipo de estaca deve ser escolhido de
acordo com a necessidade do projeto e tipo de solo. Os diferentes tipos de
estacas são apresentados na Figura 5.
Figura 5 - Tipos de estacas
Fonte: Elaboração das autoras, 2017.
24
b) tubulão: elemento com formato cilíndrico, sua execução necessita da descida
de um operário para realizar o alargamento da base e retirada de material, pois
nesse tipo de fundação o esforço ocorre principalmente pela ponta. Pode ser a
céu aberto no caso em que não há encontro com o lençol freático, conforme
demonstrado na Figura 6, realizando uma escavação para abrir um poço de
modo que não ocorra desmoronamento, ou, pode ser por ar comprimido caso
haja encontro com lençol freático, conforme Figura 7, há necessidade de
comprimir o ar com a utilização de equipamentos.
Figura 6 - Tubulão a céu aberto
Fonte: Tubulões... (2012).
Figura 7 - Tubulão ar comprimido
Fonte: Fogaça (2012).
c) caixão: elemento com formato prismático onde a superfície é concretada e a
base é instalada por escavação interna.
2.3 MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA TENSÃO ADMISSÍVEL DE
FUNDAÇÕES DIRETAS
A tensão admissível é o valor máximo de tensão que o solo pode suportar
respeitando os limites de recalque ou deformação impostos pela NBR 6122/2010. A norma
descreve que a tensão admissível pode ser estimada de acordo com diferentes métodos:
empíricos, semi-empíricos, teóricos. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2010).
25
2.3.1 Métodos Empíricos / Semi-Empíricos
O método empírico é baseado em tabelas recomendadas por norma, para fins de
orientação. A capacidade de carga é obtida com base nas descrições do terreno e nas tabelas
de tensões básicas disponibilizadas pela NBR 6122/2010 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
A Tabela 1 apresenta os valores de tensões básicas para diversos tipos de solos,
deve-se levar em conta que os valores básicos são validos para sapatas de 2m de largura
apoiadas a 1 m de profundidade.
A NBR 6122/2010 da ABNT é considerada conservadora, pois cobre toda a
variação de solo existente do país. Logo, os valores mais adequados podem ser obtidos
através de investigações de campo.
Tabela 1 - Tensões Básicas segundo NBR 6122/2010
Classe Descrição Valores (MPa)
1 Rocha sã, maciça, sem laminações ou sinal de decomposição 3,0
2 Rochas laminadas, com pequenas fissuras, estratificadas 1,5
3 Rochas alteradas ou em decomposição Ver nota (c)
4 Solos granulares concrecionados, conglomerados 1,0
5 Solos pedregulhosos compactos a muito compactos 0,6
6 Solos pedregulhosos fofos 0,3
7 Areias muito compactas 0,5
8 Areias compactas 0,4
9 Areias medianamente compactas 0,2
10 Argilas duras 0,3
11 Argilas rijas 0,2
12 Argilas médias 0,1
13 Siltes duros (muito compactos) 0,3
14 Siltes rijos (compactos) 0,2
15 Siltes médios (medianamente compactos) 0,1 Notas:
a) Para a descrição dos diferentes tipos de solo, deve-se seguir as definições da NBR 6502.
b) No caso de calcário ou qualquer outra rocha cárstica, devem ser feitos estudos especiais.
c) Para rochas alteradas, ou em decomposição, tem que se levar em conta a natureza da rocha de atriz e o grau de
decomposição ou alteração.
Fonte: Teixeira e Godoy (2012, p. 239).
2.3.1.1 Método Terzaghi Peck
Terzaghi e Peck (1948) criaram um método para estimar a tensão admissível
( ) com base nos valores do ensaio de sondagem (Standard Penetration Test) do solo.
Válido para qualquer solo natural no intervalo de 5 ≤ N ≤ 20:
26
(1)
Onde:
N = valores de SPT.
O valor de N é o valor médio representativo da camada de apoio estimado dentro
da profundidade do bulbo de tensões da sapata, conforme pode ser visto na Figura 8:
Figura 8 - Estimativa do N médio
Fonte: Teixeira e Godoy (2012, p. 239).
2.3.1.2 Ensaio Penetração Estática do Cone
A tensão admissível para sapatas pode ser estimada com base no ensaio de
penetração de cone, sendo obtida a resistência de ponta (qc), conforme segue na Figura 9:
27
Figura 9 - Estimativa do valor médio da resistência de ponta (qc)
Fonte: Teixeira e Godoy (2012, p. 240).
Para obter a tensão admissível ( ), a expressão muda de acordo com cada
tipo de solo:
a) sapatas apoiadas sobre argilas:
(2)
b) sapatas apoiadas sobre areias:
(3)
2.3.2 Métodos Teóricos
Consiste na aplicação de métodos analíticos, considerando a natureza do projeto.
Devem ser analisados alguns fatores como: características geomecânicas do solo e subsolo,
nível do lençol freático, dimensões e profundidade dos elementos de fundação.
A tensão admissível ( ) é obtida através de uma equação, aplicando a tensão
de ruptura do solo ( ) determinado e o coeficiente de segurança. Esse coeficiente é
determinado de acordo com a Tabela 2 da NBR 6122/2010 da ABNT.
28
(4)
Onde:
– Tensão de ruptura;
F - Coeficiente de segurança.
Após obter valor da tensão admissível é necessária uma análise de recalques para
confirmar se o critério satisfaz a recomendações da norma.
Tabela 2 - Fatores de segurança e coeficientes de minoração para solicitações de compressão
Métodos para determinação
da resistência última
Coeficiente de minoração
da resistência última Fator de segurança global
Semi-empíricos a Valores propostos no próprio
processo e no mínimo 2,15 Valores propostos no próprio
processo e no mínimo 3,00
Analíticos b
2,15 3,00 Semi-empíricos a ou analíticos
b
acrescidos de duas ou mais
provas de carga, necessariamente
executadas na fase de projeto,
conforme 7.3.1
1,40 2,00
a Atendendo ao domínio de validade para o terreno local.
b Sem aplicação de coeficientes de minoração aos parâmetros de resistência do terreno.
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010, p.16)
Segundo Teixeira e Godoy (2012, p. 235) “a aplicação dessa metodologia esbarra
em dificuldades de ordem prática na avaliação da resistência ao cisalhamento dos solos
envolvidos, bastando citar como exemplos os casos de sapatas apoiadas em areias ou solos
residuais submersos ou não.”
Pertencendo aos métodos teóricos: método de Terzaghi, de Skempton, de
Meyerhof e de Hansen, dentre outros.
2.3.2.1 Método Terzaghi
Segundo Cintra (2011), Terzaghi desenvolveu a teoria da capacidade de carga de
um sistema sapata-solo considerando três hipóteses:
a) sapata corrida:
(L ≥ 5B)
29
Onde:
L – comprimento da sapata;
B – largura da sapata.
b) profundidade de embutimento da sapata:
(h ≤ B)
Onde:
h – profundidade de embutimento;
B – largura da sapata.
Assim, é possível substituir por uma sobrecarga:
(5)
Onde:
q – Sobrecarga;
γ – Peso específico;
h – Espessura da camada.
c) ruptura geral: ocorre devido a rigidez da base da sapata.
Seguindo as suas hipóteses, é possível esquematizar a superfície de ruptura
conforme demonstrado na Figura 10:
Figura 10 - Superfície de ruptura
Fonte: Terzaghi, (1943 apud CINTRA, 2011, p. 27).
30
Segundo Cintra (2011, p.26), “[...] três zonas distintas (I, II, III) no maciço de solo
com coesão (c), ângulo de atrito (ϕ) e peso especifico (γ). Por simetria é possível desenvolver
para esquerda (a partir do ponto O') a superfície potencial de ruptura.”
Terzaghi concluiu que é possível calcular a capacidade de carga considerando
uma sapata através da equação geral: (CINTRA, 2011).
(6)
Onde:
σr- Capacidade de carga (tensão de ruptura);
Nc, Nq e Nγ - Fatores de capacidade de carga (Gráfico 1);
C - Coesão;
Sc, Sq, Sγ - Fatores de forma (Tabela 3);
B - Tamanho da base da estrutura;
q - Pressão efetiva;
γ – Peso específico.
Gráfico 1 - Fatores de capacidade de carga
Fonte: Terzaghi e Peck (1967 apud CINTRA, 2011, p. 30).
31
Tabela 3 - Fatores de forma de Terzaghi-Peck
Sapata Sc Sq Sγ
Corrida (lado B) 1 1 1
Quadrada (B = L) 1,2 1 0,8
Circular (B = diâmetro) 1,2 1 0,6
Fonte: Cintra (2011, p. 31).
Com o resultado da capacidade de carga encontrado é necessário determinar a
tensão admissível (σadm) no solo, Terzaghi calcula relacionando a capacidade de carga e o
fator de segurança: (CINTRA, 2011).
(7)
Onde:
σr - Capacidade de carga (tensão de ruptura);
Fs - Fator de segurança.
2.3.2.2 Método Skempton
Segundo Cintra (2011), Skempton verificou que utilizando argilas saturadas na
condição não drenada se obtém: ϕ (ângulo de atrito) = 0, Nq (fator de capacidade de carga) =
1, Nγ (fator de capacidade de carga) = 0, simplificando a equação de Terzaghi para:
(8)
Onde:
σr - Capacidade de carga (Gráfico 2);
C – Coesão;
Nc – Fator de capacidade de carga;
Sc - Fator de forma;
q - Pressão efetiva.
Com essa nova condição, Skempton estabelece que o fator de forma seja dado
pela seguinte expressão: (CINTRA, 2011).
32
(9)
Onde:
Sc - Fator de forma;
B - Menor dimensão da sapata;
L - Maior dimensão da sapata.
Gráfico 2- Fator de capacidade de carga
Fonte: Skempton (1951 apud CINTRA, 2011, p. 35).
2.3.2.3 Método Meyerhof
Segundo Cintra (2011), Meyerhof elaborou um método considerando que a
superfície de ruptura se prolonga na camada superficial do terreno, logo, a resistência ao
cisalhamento do solo também contribui na camada.
O método propõe em casos de carga vertical excêntrica (Figura 11), que as
dimensões reais da base da sapata (B, L) sejam substituídas em cálculos de capacidade de
carga, por valores fictícios (B', L'), formando as expressões:
(10)
(11)
Onde:
33
eB – Excentricidade de carga;
eL – Excentricidade de carga.
Figura 11- Carga excêntrica, área efetiva
Fonte: Meyerhof (1953 apud CINTRA, 2011, p. 36).
2.3.2.4 Método Brinch Hansen
Cintra (2011) descreve que para Hansen a capacidade de carga ocorre devido o
acréscimo relacionado a maior profundidade de assentamento da sapata e pela diminuição
quando a carga for inclinada.
Com as considerações de Hansen em relação a capacidade de carga, há
necessidade da utilização de fatores de profundidade e inclinação de carga.
(12)
Onde:
σr - Capacidade de carga;
C – Coesão;
Nc, Nq e Nγ - Fatores de capacidade de carga (Tabela 4);
C - Coesão;
Sc, Sq, Sγ - Fatores de forma;
(13)
(14)
(15)
34
B - Tamanho da base da estrutura;
q - Pressão efetiva;
ic, iq, iγ - Inclinação de carga;
(16)
[
]
(17)
[
]
(18)
H – Força perpendicular a V;
V – Força normal;
Af – Àrea efetiva;
Ca – Adesão da base;
dc, dq, dγ - Fatores de profundidade;
(19)
D – Profundidade;
(20)
γ – Peso específico.
Tabela 4 - Fatores de capacidade de carga
ϕ Nc Nq Nγ Nq/Nc 2tanФ(1-sinФ)²
0 5.14 * 1.0 0.0 0.195 0.000
5 6.49 1.6 0.1 0.242 0.146
10 8.34 2.5 0.4 0.296 0.241
15 10.97 3.9 1.2 0.359 0.294
20 14.83 6.4 2.9 0.431 0.315
25 20.71 10.7 6.8 0.514 0.311
26 22.25 11.8 7.9 0.533 0.308
28 25.79 14.7 10.9 0.570 0.299
30 30.13 18.4 15.1 0.610 0.289
32 35.47 23.2 20.8 0.653 0.276
34 42.14 29.4 28.7 0.698 0.262
36 50.55 37.7 40.0 0.746 0.247
38 61.31 48.9 56.1 0.797 0.231
40 75.25 64.1 79.4 0.852 0.214
45 133.73 134.7 200.5 1.007 0.172
50 266.50 318.5 567.4 1.195 0.131
* = π + 2 como limite quando ϕ → 0°.
Fonte: Alterado e traduzido de Bowles (1996, p.223).
35
2.4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO
A realização dos ensaios ensaios em laboratório permitem a determinação de
parâmetros geotécnicos, para que sequencialmente sejam aplicados na determinação da
mistura de solo-resíduo.
2.4.1 Ensaio de análise granulométrica
“A análise granulométrica consiste na determinação dos diâmetros das diversas
partículas existentes no solo.” (KORMANN, 1997, p.15, grifo do autor). O ensaio é realizado
com peneiras de diferentes aberturas conhecidas, sua granulometria é determinada a partir da
análise do material passante e retido no peneiramento.
O ensaio de granulometria tem como objetivo por meio da determinação das
dimensões dos agregados, a obtensão da curva granulométrica que permite a caracterização
física dos agregados.
O resultado final (curva granulométrica) é obtido através dos valores do
peneiramento grosso, sedimentação e peneiramento fino, sendo que estes são obtidos
seguindo as prescrições da NBR 7181/2016, responsável por regulamentar o ensaio.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016).
No Gráfico 3 tem-se um exemplo de uma curva granulométrica:
Gráfico 3 - Curva granulométrica
Fonte: Kormann (1997, p.21).
36
2.4.2 Ensaio de determinação da massa específica real dos grãos
O ensaio tem por objetivo determinar a massa específica real dos grãos de solos,
seguindo as recomendações da NBR 6508/2016 da ABNT.
“A massa específica de um solo é a relação entre a sua massa total e o seu volume
total, incluindo-se aí o peso da água existente em seus vazios e o volume de vazios do solo.”
SILVA (2013, p.1).
Devem ser realizados ao menos dois ensaios para cada tipo de solo, com materiais
passantes na peneira de 4,8 mm e utilização de um picnômetro.
2.4.3 Ensaio de limite de liquidez e limite de plasticidade
O ensaio de limite de liquidez realizado conforme a NBR 6459/2016, representa o
teor de umidade do solo transitando do estado plástico para o líquido. Os resultados são
expressos em porcentagem e classificados como líquido ou não líquido.
Os dados são obtidos com a utilização do aparelho de Casagrande, onde a amostra
é colocada na concha e uma ranhura é realizada no solo, esta deve se fechar com até 25
golpes.
O ensaio de limite de plasticidade realizado conforme NBR 7180/2016, tem por
objetivo determinar o teor de umidade do solo transitando do estado semissólido para o
plástico e posteriormente determinar o índice de plasticidade.
O resultado do ensaio consiste na obtenção do valor da umidade da amostra
expressa em procentagem e se durante a realização do ensaio não for possível obter um
cilindro com 3 mm de diâmetro, o solo é classificado como não plástico.
2.4.4 Ensaio de compactação
O ensaio de compactação tem como objetivo determinar a relação entre o teor de
umidade e a massa específica aparente seca (Gráfico 4) de solos quando compactados.
Segundo NBR 7182/2016 o material deve sofrer secagem prévia até a umidade higroscópica.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016).
Deve ser adicionado água à amostra até obter certa consistência (a mistura deve
apresentar perfeita homogeneização).
37
A amostra deve ser compactada no molde cilíndrico, recebendo golpes
distribuídos uniformemente sobre a superfície. O colarinho e a base devem ser removidos e
pesado o conjunto cilíndro somado com o solo úmido compactado.
Uma pequena quantidade do material deve ser retirado do molde para a
determinação da umidade. O material deve ser desmanchado até que possa passar pela peneira
4,8 mm, em caso de reuso do material deve ser misturado ao restante da amostra inicial.
Deve-se adicionar água a amostra para homogeinizar. O processo deve ser repetido por mais
quatro vezes.
Gráfico 4 - Curva de compactação
Fonte: May e Silva (2016, p. 93).
2.4.5 Ensaio de California Bearing Ratio (CBR)
O ensaio de California Bearing Ratio (CBR) tem por objetivo determinar o valor
de resistência a penetração do solo. Segundo NBR 9895/2017 as amostras não podem ser
reutilizadas. O material deve passar na peneira 19 mm e devem ser realizados no mínimo 5
corpos de prova com teor de umidade diferentes. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2017).
Sequencialmente realiza-se a compactação com energia mecânica padrão
(proctor), respeitando o número de golpes e camadas correspondente à energia desejada,
intermediária.
Após a moldagem dos corpos de prova é possível obter os valores de expansão,
logo, o conjunto é preparado para o ensaio, imergido em água por no mínimo 4 dias. Durante
esse tempo devem ser realizadas leituras no extensômetro a cada 24 horas.
38
Para obter a resistência à penetração, o corpo de prova deve passar pelo período
de imersão e deve sofrer uma drenagem natural (por 15 minutos), logo, o corpo de prova deve
ser rompido através da prensa (Figura 12), onde será rompido através da penetração de um
pistão cilíndrico, sob uma velocidade de penetração 1,27 mm/min. Utilizando um anel
dinamômetro na prensa, registra-se os valores necessários para o cálculo das pressões de cada
penetração.
Com os valores da leitura é possivel traçar a curva pressão-penetração, sendo
possível visualizar o ponto de inflexão e obter as pressões.
Figura 12 – Prensa conforme NBR 9895
Fonte: Associação Brasileira de Normas
Técnicas (1987, p.12).
2.4.6 Ensaio de cisalhamento direto
O ensaio de cisalhamento direto tem como objetivo determinar os parâmetros de
resistência ao cisalhamento do solo, coesão (c) e ângulo de atrito (φ), através da análise da
envoltória de Mohr Coulomb. A realização do ensaio segue as prescrições da norma
americana ASTM D3080/2004, devido a não existência de norma regulamentadora brasileira.
O resultado do ensaio consiste na relação dos parâmetros tensão cisalhante versus
tensão normal (Gráfico 5), obtidos através da aplicação de uma força vertical com velocidade
controlada, medindo também a força e o deslocamento horizontal da caixa de cisalhamento.
40
3 METODOLOGIA
Com o objetivo de avaliar a mistura de solo-resíduo, foi traçado um fluxograma
das atividades desenvolvidas, conforme demonstrado na Figura 13.
Figura 13 - Fluxograma das etapas da pesquisa
Fonte: Elaboração das autoras, 2017.
3.1 MATERIAIS UTILIZADOS
Realizada a coleta da amostra de solo, deu-se continuidade aos ensaios com as
adições das porcentagens do resíduo da construção civil.
3.1.1 Amostra de solo
A amostra do solo foi coletada em uma área pertencente à Universidade do Sul de
Santa Catarina (Unisul), situada no município de Palhoça/SC (Figura 14 e Figura 15). O local
foi escolhido devido à proximidade com Laboratório de Engenharia Civil (LEC) e também
por estar contribuindo com pesquisas dentro do campus da universidade.
Revisão Bibliográfica
Definição dos Materiais
RCC
Ensaios
Análise Granulométrica
Massa Específica
Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade
Compactação CBR Cisalhamento
Direto
Análise de Resultados
Conclusão
41
Visando não interferir no funcionamento do estacionamento do campus, o local
escolhido era uma área de pouco acesso, assegurando a integridade do local em estudo.
Figura 14 – Área de estudos (Palhoça/SC)
Fonte: Google Maps.
Figura 15 - Local de coleta do solo
Fonte: Das autoras, 2017.
A coleta de amostras teve início em meados de julho de 2017 e para a realização
da mesma foram utilizadas ferramentas como o trado helicoidal, pá e escavadeira (Figura 16)
para auxiliar na remoção do solo. No local em estudo foi escavado aproximadamente 1m para
retirada da amostra (Figura 17) devido à presença de matéria orgânica nas camadas
superficiais (Figura 18).
Figura 16 - Início da escavação
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 17 - Amostra coletada
Fonte: Das autoras, 2017.
42
Figura 18 - Presença de matéria orgânica na parte
superficial
Fonte: Das autoras, 2017.
3.1.2 Amostra de resíduos de construção civil (RCC)
A amostra de RCC foi concedida pela empresa Brooks Ambiental, localizada na
Avenida Ivo Luchi, Palhoça/SC. A empresa recebe diariamente variados tipos de resíduos
provenientes de obras da região e realiza a separação dos materiais com seus respectivos
destinos.
A empresa foi escolhida por ser próxima a universidade e também por contribuir
com técnicas sustentáveis para a destinação dos materiais, seguindo as normas e leis
ambientais.
Realizada a separação dos resíduos, os classificados para a britagem (concreto,
cerâmica, mármore, argamassa, cimento, telha e tijolos) são postos no britador (Figura 19) por
uma retroescavadeira e seguem pela esteira até as pilhas da granulometria correspondente,
conforme demonstrado na Figura 20.
Figura 19 – Britador da Brooks
Fonte: Das autoras, 2017.
43
Figura 20 - Pilhas de RCC com granulometria
diferentes
Fonte: Das autoras, 2017.
Os resíduos oriundos da construção civil utilizados nos ensaios possuem
variabilidade de componentes, (Figura 21), tais como:
a) concreto: pedaços de concreto de cimento Portland com valor característico a
compressão variados. O concreto de cimento Portland é resultante do
endurecimento da mistura entre: cimento Portland, agregado miúdo e/ou
graúdo e água. Após endurecido o concreto deve apresentar resistência
mecânica e durabilidade;
b) cerâmica: Pedaços restantes provenientes de cortes para colocação das
cerâmicas, peças que foram descartadas devido a falhas;
c) mármore: Peças restantes provenientes de cortes para encaixe das peças. Peças
descartadas devido às quebras. O mármore é uma rocha metamórfica,
originada do calcário, formada principalmente por minerais, tem com
característica dureza;
d) telha: Resto de telhas provenientes de demolições, peças quebradas, peças
com algum defeito em geral;
e) tijolo: Resto de tijolos provenientes de demolições, peças quebradas, peças
com algum defeito em geral.
44
Figura 21 – Componentes identificados após a
britagem do RCC
Fonte: Das autoras, 2017.
3.1.3 Misturas de solo-resíduos
Para os ensaios foram utilizadas misturas como simulação do reforço de fundação
e para correlação dos resultados foram realizados ensaios com o solo natural. As misturas
foram designadas como:
a) 15% RCC + solo;
b) 10% RCC + solo;
c) 5% RCC + solo;
d) solo natural.
3.2 REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS
As misturas foram realizadas com proporções diferentes com o objetivo de
analisar os resultados a partir dos ensaios de caracterização física (granulometria, densidade
real dos grãos, limite de liquides e limite de plasticidade) e caracterização mecânica
(compactação, CBR e cisalhamento direto), conforme normas vigentes.
3.2.1 Preparação da amostra
Os ensaios são iniciados com o armazenamento da amostra em padiolas
devidamente identificadas. A NBR 6457/2016 descreve que para a realização dos ensaios de
45
compactação e caracterização física, a amostra deve estar com sua umidade próxima à
higroscópica. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016).
A umidade próxima à higroscópica é obtida através da secagem ao ar livre,
demonstrados na Figura 22.
Figura 22 - Secagem da amostra naturalmente
Fonte: Das autoras, 2017.
Depois de realizada a secagem da amostra, o material seco é destorroado com o
auxílio das ferramentas almofariz e mão de gral (Figura 23) e passado na peneira de 4,8mm
(Figura 24).
Figura 23 - Destorroamento do solo
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 24 - Solo destorroado
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.2 Análise granulométrica
O ensaio de análise granulométrica é realizado com a determinação da umidade de
1500g de material (Figura 25). Posteriormente o material é peneirado e o que fica retido na
46
peneira #10 (2 mm) é utilizado para o peneiramento grosso e o passante para o peneiramento
fino e sedimentação.
As etapas realizadas seguem as recomendações estabelecidas pela NBR
7181/2016.
Figura 25 - Material separado para o ensaio
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.2.1 Peneiramento grosso
Para a realização do peneiramento grosso, o material retido na peneira #10 (Figura
26) é lavado e colocado na estufa para secagem. Posteriormente é realizada a montagem das
peneiras de aberturas compreendidas entre 50 e 2 mm. O material é agitado manualmente e o
que fica retido em cada uma é pesado individualmente.
Figura 26 - Material retido na peneira #10
(2 mm)
Fonte: Das autoras, 2017.
47
3.2.2.2 Peneiramento fino
Para a realização do peneiramento fino, o material passante da peneira #10 é
colocado na peneira #200 (0,075 mm) para ser lavado e na sequência levado para a estufa.
Posteriormente é realizada a montagem das peneiras (Figura 27) de aberturas compreendidas
entre 2,0 e 0,075 mm. O material é agitado manualmente e o que fica retido em cada uma é
pesado individualmente.
Figura 27 - Montagem das peneiras
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.2.3 Sedimentação
Para a realização do ensaio de sedimentação são utilizadas aproximadamente 120g
do material passante da peneira #10. O material fica imerso com defloculante (Figura 28) por
um período de 12 a 24 horas. Após o período de imersão o material é agitado por 15 minutos
no dispersor elétrico, conforme demonstrado na Figura 29 e na sequência o material é
colocado em uma proveta com adição de 1000 ml de água (Figura 30) e é agitado novamente.
As leituras são realizadas por um período de tempo, este com ajuste caso
necessário e também verificada a temperatura.
48
Figura 28 - Material com defloculante
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 29 - Dispersor elétrico
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 30 - Ensaio de sedimentação em
andamento
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.3 Densidade real dos grãos
Para a realização do ensaio de densidade real dos grãos são utilizadas
aproximadamente 120g do material passante da peneira #10. O material fica imerso na água
por 24 horas (Figura 31). Após o período de imersão o material é agitado por 15 minutos no
dispersor elétrico e posteriormente a amostra é repassada para um picnômetro, com adição de
um terço de água do recipiente e colocado em uma bomba de sucção (Figura 32) para que
sejam retiradas todas as bolhas de ar do picnômetro (Figura 33) durante um período de 30
minutos. Passado o período na bomba, o picnômetro é completado com água e pesado na
sequência.
49
Para determinar a densidade real dos grãos, são seguidas as recomendações da
NBR 6508/2016.
Figura 31 - Amostra imersa na água
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 32 - Bomba de sucção
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 33 - Bolhas de ar sendo retiradas
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.4 Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade
Para a realização do ensaio de limite de liquidez e limite de plasticidade são
utilizadas aproximadamente 200g de material passante na peneira #40 (0,42 mm), com
umidade próxima à higroscópica,
Os limites são determinados com base nas prescrições da NBR 6459/2016 e NBR
7180/2016.
A determinação do limite de liquidez inicia com a homogeneização da amostra
com adição de água (Figura 34). Na sequência o material já homogeneizado é colocado na
50
concha com uma espessura de aproximadamente 1 cm e com o cinzel é realizada uma ranhura
(Figura 35) e dado início aos golpes. Os golpes devem ser controlados de modo que a
manivela gire duas vezes a cada segundo, este movimento é repetido até o fechamento da
ranhura. No local onde ocorreu o encontro das ranhuras é retirada uma quantidade pequena de
material para determinação da umidade. Na sequência o material retorna para a cápsula de
porcelana e é repetido por mais quaro vezes.
Figura 34 - Homogeneização da amostra
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 35 - Realização da ranhura
Fonte: Das autoras, 2017.
A determinação do limite de plasticidade inicia com a homogeneização da
amostra com adição de água. Parte da amostra deve ser moldada e rolada sobre a placa de
vidro (Figura 36) com a pressão da palma da mão até atingir 3 mm de diâmetro e 100mm de
comprimento. Após alcançar as dimensões desejadas, é necessário coletar fragmentos
fissurados (Figura 37) para determinação da umidade, o processo é repetido por no mínimo
quatro vezes.
Figura 36 - Moldagem da amostra
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 37 - Fragmentos da amostra
Fonte: Das autoras, 2017.
51
3.2.5 Compactação
Segundo a NBR 7182/2016, o ensaio tem o objetivo de “[...] determinar a relação
entre o teor de umidade e a massa específica aparente seca de solos quando compactados [...]"
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016, p. 1).
Realizada a preparação da amostra inicia-se o ensaio acrescentando água
gradativamente, mantendo a homogeneização da mistura. A amostra deve ser compactada em
um molde cilíndrico em 3 camadas similares (cada uma preenchendo cerca de um terço do
molde) e cada camada deve receber 26 golpes uniformemente distribuídos com o soquete de
aproximadamente 2,5 kg a 30 cm de queda, conforme Figura 38.
Figura 38 - Compactação em andamento
Fonte: Das autoras, 2017.
Após a compactação o colarinho é removido e a base é rasada para remoção do
excesso, sequencialmente é realizada a pesagem do conjunto de cilindro e solo úmido
compactado. Posteriormente a amostra é retirada do cilindro com o auxílio do extrator (Figura
39), dividida em três partes iguais, conforme Figura 40 e é retirada uma pequena parte da
porção do meio para determinação da umidade. Destorroa-se a amostra compactada para
passar na peneira #4 (4,8 mm), adicionando água e volta-se a repetir o processo por pelo
menos 4 vezes.
52
Figura 39 - Amostra sendo extraída
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 40 - Divisão da amostra
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.6 Expansão e CBR
Segundo a NBR 9895/2017, o ensaio tem como objetivo:
“[...] determinar o valor do índice de Suporte Califórnia e da expansão de solos em
laboratório, utilizando amostras deformadas, não reusadas, de material que passa na
peneira de 19 mm [...]” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2017, p. 1).
3.2.6.1 Expansão
O corpo de prova é moldado na umidade ótima (obtido no ensaio de
compactação). O molde cilíndrico deve ser fixado na base junto a um espaçador, a amostra
deve ser compactada em 5 camadas, cada camada recebe 8 golpes nas bordas e 4 golpes ao
centro do cilindro, cada golpe com um soquete de 5 kg e 45 cm de queda, conforme
apresentado na Figura 41.
53
Figura 41 - Compactação com
soquete de 5 kg
Fonte: Das autoras, 2017.
O cilindro deve ser invertido, removido o espaçador e pesado. Deve-se acrescentar
o prato perfurado com haste de expansão e sobrecargas (Figura 42) e imergir o cilindro com o
corpo de prova em água por 96 horas (Figura 43), realizando leituras de variação de expansão
a cada 24h.
Figura 42 - Cilindro pronto
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 43 - Cilindro imerso em água
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.6.2 CBR
Após a retirada do cilindro da imersão devem ser aguardados 15 minutos para
início da penetração. O conjunto de molde e corpo de prova são instalados na prensa,
conforme Figura 44, iniciando o processo de assentamento do pistão de penetração no solo
54
com uma carga aproximada de 45 N. Deve-se aplicar carregamento com velocidade de 1,27
mm/min, anotando a carga e penetração a cada 0,30 segundos até atingir o período de 8
minutos.
Figura 44 - Amostra pronta para
ser ensaiada
Fonte: Das autoras, 2017.
3.2.7 Cisalhamento direto
O ensaio inicia com a compactação da amostra com a umidade próxima da ótima,
após o processo de compactação a amostra é retirada do cilindro. Um molde quadrado é
cravado no corpo de prova (Figura 45) e o solo em excesso é retirado do entorno (Figura 46).
A amostra é colocada dentro da caixa bipartida e sequencialmente aplica-se o
cabeçote com ajuste do transdutor, iniciando a aplicação da tensão vertical com velocidade
controlada (Figura 47).
Figura 45 - Cravação do molde
Fonte: Das autoras, 2017.
Figura 46 - Molde pronto para o ensaio
Fonte: Das autoras, 2017.
55
Figura 47 - Início de aplicação da tensão
Fonte: Das autoras, 2017.
Ao atingir a estabilização das deformações da amostra, inicia-se o cisalhamento
com o ajuste do transdutor horizontal e do sensor. Durante o ensaio são realizados 3 estágios
de carregamento vertical.
56
4 RESULTADOS
Os resultados dos ensaios realizados com o solo natural e as misturas solo-
resíduos estão expostos no decorrer deste capítulo.
4.1 RESULTADOS DA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA
O resultado final do ensaio é a obtenção da curva granulométrica (Gráfico 6) que
permite definir as características físicas do agregado. Na curva é possível identificar a
classificação do solo como areno argiloso siltoso.
Gráfico 6 - Curva granulométrica do solo natural e misturas solo-resíduos
Fonte: Das autoras, 2017.
A Tabela 5 apresenta as porcentagens passantes do solo e das misturas realizadas
em relação ao diâmetro dos grãos (Tabela 6).
57
Tabela 5 - Porcentagem passante da curva granulométrica
Porcentagem passante (%)
Solo Solo + 5% RCC Solo + 10% RCC Solo + 15% RCC
Argila 28 % 16 % 18 % 16 %
Silte 39 % 33 % 35 % 29 %
Areia Fina 17 % 20 % 19 % 19 %
Areia Média 34% 33 % 31 % 34 %
Areia Grossa 10 % 12 % 10 % 9 %
Pedregulho 0 % 1 % 3 % 9 %
Fonte: Das autoras, 2017.
Tabela 6 - Parâmetros de granulometria dos solos ensaiados
Solo
Solo + 5%
RCC
Solo + 10%
RCC
Solo + 15%
RCC
Diâmetro Efetivo <0,001 <0,001 <0,001 <0,001
D 10 0,0001 0,00010 0,00010 0,00010
D 30 0,0041 0,05 0,04 0,055
D 60 0,3 0,96 0,98 0,3
Coeficiente de Uniformidade 3000 9600 9800 3000
Coeficiente de Curvatura 0,56 26,04 16,33 100,83
Fonte: Das autoras, 2017.
4.2 RESULTADOS DA DETERMINAÇÃO DA MASSA ESPECÍFICA DOS GRÃOS
Com a determinação da massa específica dos grãos do solo de cada amostra
(Tabela 7), são realizados ao menos dois ensaios para cada tipo de solo, recomendações
prescritas na NBR 6508/2016.
O resultado é considerado satisfatório quando comparando os ensaios, a massa
específica dos grãos do solo não ultrapassa a margem de 0,2 g/cm³. O valor é calculado
através da seguinte fórmula:
[
]
(21)
58
Onde:
– Massa específica dos grãos do solo;
M1 – Massa do solo úmido;
M2 - Massa do picnômetro + solo + água;
M3 - Massa do picnômetro cheio de água;
h – Umidade inicial da amostra;
Tabela 7 - Massa específica dos grãos do solo obtida nos ensaios
Massa específica dos grãos do solo (g/cm³)
Amostra 1 Amostra 2 Resultado
Solo 2,409 2,413 2,411
Solo + 5% RCC 2,454 2,660 2,557
Solo + 10% RCC 2,558 2,372 2,465
Solo + 15% RCC 2,655 2,660 2,657
Fonte: Das autoras, 2017.
4.3 RESULTADOS DO LIMITE DE LIQUIDEZ E LIMITE DE PLASTICIDADE
O resultado obtido através dos ensaios de limite de liquidez e plasticidade
caracteriza o solo e as misturas como não líquido e não plástico, devido o material ser
classificado como arenoso em sua maior proporção.
4.4 RESULTADOS DA COMPACTAÇÃO
Na realização do ensaio de compactação a análise do resultado é baseada na curva
de compactação (Gráfico 7). Os valores obtidos no ensaio com as misturas são muito
próximos, significando que a adição de resíduos na amostra não influencia na massa
especifica seca máxima e no teor de umidade ótima. Em contrapartida esse resultado
influencia nos demais, tais como: expansão, CBR, coesão e ângulo de atrito.
59
Gráfico 7 - Curva de compactação após ensaio
Fonte: Das autoras, 2017.
4.5 RESULTADOS DA EXPANSÃO E CBR
Durante o ensaio de expansão do solo e misturas, ou seja, quando imersos, foi
verificado um pequeno aumento de volume, conforme demonstrado na Tabela 8.
Tabela 8 - Valores de expansão das amostras
Expansão (%)
Solo 0
Solo + 5% RCC 0,4
Solo + 10% RCC 0,074
Solo + 15% RCC 0
Fonte: Das autoras, 2017.
Na Gráfico 8 é possível observar que o a mistura ideal para um bom CBR é RCC
+ 10%, pois o acréscimo de resíduo a partir de 10% na mistura faz com que o valor do CBR
reduza, ou seja, diminui a resistência.
15,00
15,50
16,00
16,50
17,00
17,50
14,0% 15,0% 16,0% 17,0% 18,0% 19,0% 20,0% 21,0% 22,0% 23,0%
Mass
a E
spec
ífic
a A
pare
nte
Sec
a (
kN
/m³)
Teor de Umidade (%)
Compactação Solo
Compactação Solo + 5%
Compactação Solo + 10%
Compactação Solo + 15%
60
Gráfico 8 - Curvas de CBR
Fonte: Das autoras, 2017.
Após chegar ao máximo valor de CBR (com 10% de resíduo) a mistura começa a
perder resistência no ensaio CBR, conforme indicado na Gráfico 9.
Gráfico 9 - CBR versus porcentagem de solo
Fonte: Das autoras, 2017.
0
1
2
3
4
5
6
0 2,54 5,08 7,62 10,16 12,7
Carg
a
(Kg
f/cm
²)
Penetração (mm)
CBR Solo
CBR Solo + 5%
CBR Solo+ 10%
CBR Solo + 15%
0,0%
0,5%
1,0%
1,5%
2,0%
2,5%
3,0%
3,5%
4,0%
4,5%
100,0 95,0 90,0 85,0
CB
R %
Solo %
61
4.6 RESULTADOS DO CISALHAMENTO DIRETO
O resultado do ensaio de cisalhamento direto se dá através da obtenção dos
valores de coesão e ângulo de atrito através da envoltória de Mohr Coulomb. Nesse ensaio
também é possível determinar as tensões cisalhante e normal da amostra.
O Gráfico 10 demonstra o comportamento do solo e das misturas, analisando, é
possível observar que a mistura de solo +5% RCC têm o melhor desempenho que as demais,
até atingir a tensão normal de 50 kN/m². Após, a amostra de solo começa a ter o melhor
desempenho.
Gráfico 10 - Tensão cisalhante versus tensão normal
Fonte: Das autoras, 2017.
4.7 RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA TENSÃO ADMISSÍVEL DE UMA
FUNDAÇÃO POR DIFERENTES MÉTODOS
Os métodos teóricos mencionados nas seções anteriores deste trabalho são
aplicados para a determinação da tensão de ruptura e tensão admissível de cada amostra.
Primeiramente adotou-se um pilar hipotético com uma sobrecarga de 10t, com
dimensões de 1m de base por 1,20m de embutimento. Para ambos os métodos (Terzaghi,
y = 0,5504x + 21,653
R² = 0,999 y = 0,6655x + 21,504
R² = 0,9991 y = 0,4728x + 32,545
R² = 0,8913
y = 0,5544x + 17,002
R² = 0,9421
0
20
40
60
80
100
120
140
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Ten
são
Cis
alh
an
te (
kN
/m²)
Tensão Normal (kN/m²)
Solo + 10 %
Solo
Solo + 5 %
Solo + 15 %
62
Skempton e Hansen) é necessário à obtenção dos valores da tensão de ruptura e do fator de
segurança, para determinar a tensão admissível do solo.
4.7.1 Resultados do método de Terzaghi
O resultado da aplicação do método de Terzaghi consiste na obtenção da tensão de
ruptura e posteriormente da tensão admissível, de tal forma que possibilite a análise do
comportamento do solo e das misturas quando aplicada a sobrecarga.
A Tabela 9 demonstra os dados que foram utilizados para a realização dos
cálculos.
Tabela 9 - Valores utilizados para obtenção da tensão de ruptura e tensão
admissível por Terzaghi
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
q [kN/m²] 19,82 20,09 20,11 19,52
C [kN/m²] 21,50 32,55 21,65 17
ϕ 33,64 25,30 28,86 33,6
Sc 1,2 1,2 1,2 1,2
Sq 1 1 1 1
Sγ 0,8 0,8 0,8 0,8
Nc 38 20 25 40
Nq 28 10 14 26
Nγ 26 10 13 29
B [m] 1 1 1 1
L [m] 1,2 1,2 1,2 1,2
γ [kN/m³] 19,82 20,09 20,11 19,52
σr [kN/m²] 1741,67 1062,34 1035,70 1549,95
σadm [kN/m²] 580,56 354,11 345,23 516,65 Fonte: Das autoras, 2017.
O solo foi quem apresentou o maior valor para σr e σadm, no entanto a mistura de
RCC 15% foi a que apresentou resultado mais próximo ao do solo, o Gráfico 11 e o Gráfico
12 permitem uma melhor visualização do comportamento das misturas.
63
Gráfico 11 - Tensão de ruptura versus porcentagem do solo por Terzaghi
Fonte: Das autoras, 2017.
No Gráfico 11 percebe-se que a mistura que apresentou o menor valor da tensão
de ruptura foi a de RCC 10%, sendo uma diferença relevante ao comportamento do RCC
15%.
Gráfico 12 - Tensão admissível versus porcentagem do solo por Terzaghi
Fonte: Das autoras, 2017.
No Gráfico 12 percebe-se também que a mistura que apresentou o menor valor da
tensão admissível foi a de RCC 10%, sendo uma diferença relevante ao comportamento do
RCC 15% que obteve o melhor resultado se comparada às outras misturas de RCC.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ru
p [
Kn
/m²]
Solo
0
100
200
300
400
500
600
700
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ad
m [
Kn
/m²]
Solo
64
4.7.2 Resultados do método de Skempton
O resultado da aplicação do método de Skempton consiste na obtenção da tensão
de ruptura e posteriormente da tensão admissível, de tal forma que possibilite a análise do
comportamento do solo e das misturas quando aplicada a sobrecarga.
A Tabela 10 demonstra os dados que foram utilizados para a realização dos
cálculos.
Tabela 10 - Valores utilizados para obtenção da tensão de ruptura e
tensão admissível por Skempton
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
q [kN/m²] 19,82 20,09 20,11 19,52
C [kN/m²] 21,50 32,55 21,65 17
Sc 1,167 1,167 1,167 1,167
Nc 7,7 7,7 7,7 7,7
B [m] 1 1 1 1
L [m] 1,2 1,2 1,2 1,2
γ [kN/m³] 19,82 20,09 20,11 19,52
σr [kN/m²] 213,00 312,45 214,63 172,24
σadm [kN/m²] 71,00 104,15 71,54 57,41 Das autoras, 2017.
A mistura RCC 5% foi quem apresentou o maior valor para σr e σadm, o Gráfico
13 e o Gráfico 14 permitem uma melhor visualização do comportamento das misturas.
Gráfico 13 - Tensão de ruptura versus solo por Skempton
Das autoras, 2017.
0
50
100
150
200
250
300
350
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ru
p [
Kn
/m²]
Solo
65
No Gráfico 13 percebe-se que a mistura que apresentou o menor valor da tensão
de ruptura foi a de RCC 15%. Este resultado é contrário ao apresentado por Terzagui, onde
esta mistura apresentou o melhor resultado entre as misturas de RCC.
Gráfico 14 - Tensão admissível versus solo por Skempton
Das autoras, 2017.
No Gráfico 14 percebe-se também que a mistura que apresentou o menor valor da
tensão admissível foi a de RCC 15%, sendo uma diferença relevante ao comportamento do
solo e do RCC 10%.
4.7.3 Resultados do método de Brinch Hansen
O resultado da aplicação do método de Brinch Hansen consiste na obtenção da
tensão de ruptura e posteriormente da tensão admissível, de tal forma que possibilite a análise
do comportamento do solo e das misturas quando aplicada a sobrecarga.
A Tabela 11 demonstra os dados que foram utilizados para a realização dos
cálculos.
0
20
40
60
80
100
120
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ad
m [
Kn
/m²]
Solo
66
Tabela 11 - Valores utilizados para obtenção da tensão de ruptura e
tensão admissível por Brinch Hansen
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
q [kN/m²] 19,82 20,09 20,11 19,52
C [kN/m²] 21,50 32,55 21,65 17
Sc 1,000 1,000 1,000 1,000
Sq 1,61 1,61 1,61 1,61
Sγ 0,67 0,67 0,67 0,67
Nc 40,94 21,17 27,66 40,81
Nq 28,28 11,03 16,29 28,16
Nγ 27,28 7,13 12,71 27,12
B [m] 1 1 1 1
L [m] 1,2 1,2 1,2 1,2
γ [kN/m³] 19,82 20,09 20,11 19,52
dc 1,48 1,48 1,48 1,48
dq 1 1 1 1
dγ 1 1 1 1
ic 1 1 1 1
iq 1 1 1 1
iγ 1 1 1 1
σr [kN/m²] 2386,50 1424,44 1499,45 2089,11
σadm [kN/m²] 795,50 474,81 499,82 696,37 Das autoras, 2017.
O solo foi quem apresentou o maior valor para σr e σadm, no entanto a mistura de
RCC 15% foi a que apresentou resultado mais próximo ao do solo, o Gráfico 15 e o Gráfico
16 permitem uma melhor visualização do comportamento das misturas.
Gráfico 15 - Tensão de ruptura versus solo por Brinch Hansen
Das autoras, 2017.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ru
p [
Kn
/m²]
Solo
67
No Gráfico 15 percebe-se que a mistura que apresentou o menor valor da tensão
de ruptura foi a de RCC 5%, comparando com os resultados dos métodos de Terzaghi (RCC
10%) e Skempton (RCC 15%) percebe-se que as misturas que tiveram o pior desempenho são
de porcentagens diferentes.
Gráfico 16 - Tensão admissível versus solo por Brinch Hansen
Das autoras, 2017.
No Gráfico 16 percebe-se também que a mistura que apresentou o menor valor da
tensão admissível foi a de RCC 5%. Este resultado é contrário ao apresentado por Skempton,
onde esta mistura apresentou o melhor resultado entre as misturas de RCC.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ad
m [
Kn
/m²]
Solo
68
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A incorporação do resíduo da construção civil no solo desencadeou em um novo
material com características próprias. Com a aplicação da metodologia e a obtenção dos
resultados através dos ensaios, pode-se chegar as seguintes conclusões:
I. Caracterização física
O solo e as misturas apresentaram predominância arenosa e uma média de 34% de
silte.
Quanto à graduação, ambas são mal graduadas e desuniformes no tamanho das
partículas.
A massa específica dos grãos do solo obteve um resultado satisfatório para todas
as misturas, não ultrapassando a margem de diferença entre elas de 0,2 g/cm³.
Os ensaios de limite de liquidez e plasticidade resultaram na caracterização do
solo e misturas como não líquido e não plástico, devido o material ser classificado como
arenoso em sua maior proporção.
Portanto, conclui-se que o solo e as misturas com suas devidas porcentagens de
RCC possuem variação no diâmetro e má distribuição dos grãos e quase em sua totalidade são
areia.
II. Compactação
Os ensaios resultaram que a adição de resíduos na amostra não influência na
massa específica aparente seca máxima e também no teor de umidade ótima, isto é devido à
proximidade dos valores resultantes.
III. Parâmetros de resistência
Os ensaios utilizados para analisar o desempenho da resistência das misturas
foram o CBR e o cisalhamento direto.
No CBR a mistura de 10% de RCC sofreu um pequeno aumento de volume
durante a expansão. Com o traçado das curvas, conclui-se que a mistura de 10% de RCC é a
ideal entre as misturas que receberam a porcentagem de resíduo, pois após os 10% a mistura
acaba perdendo resistência.
No ensaio de cisalhamento direto percebeu-se que o resíduo melhora a resistência
do solo com a mistura de 5% de RCC, que apresentou melhor desempenho que as demais, até
69
atingir a tensão normal de 50 kN/m². Após, a amostra de solo começa a ter o melhor
desempenho.
Conclui-se que a mistura solo-resíduo pode ser aplicada em aterros, também como
melhoramento da resistência do solo para aplicação de fundações superficiais e reforço de
subleito
IV. Métodos teóricos
Com a aplicação dos métodos teóricos de Terzaghi, Skempton e Brinch Hansen,
percebe-se que há divergência da mistura que apresentou o melhor comportamento quanto à
tensão de ruptura e a tensão admissível.
Para Terzaghi e Hansen a mistura que apresentou o melhor comportamento foi a
de 15% de RCC e a mistura com pior comportamento, apresentou resultado divergente, sendo
as misturas de 10% de RCC (Terzaghi) e 5% de RCC (Hansen).
No método de Skempton a mistura com melhor comportamento foi a de 5% de
RCC e a pior foi à mistura de 15% de RCC.
Os métodos teóricos apresentam resultados através da análise dos parâmetros.
Terzaghi analisa o ângulo de atrito e todos os componentes dos fatores de forma e capacidade
de carga. Skempton é mais breve, analisa os fatores de forma e capacidade de carga de
maneira mais sucinta. Brinch Hansen por sua vez, leva em consideração fatores de inclinação
e profundidade de carga.
Portanto conclui-se que a aplicação dos métodos teóricos é vista com relevância
para a análise de tensões. O método de Skempton foi o método que apresentou os menores
valores, pois é visto como o mais conservador por considerar a resistência não drenada, ou
seja, tempo igual a zero e ganho de resistência em curto prazo. Já os métodos de Terzaghi e
Brinch Hansen consideram a resistência drenada e a longo prazo.
Considerando a maior e menor tensão admissível obtida através dos métodos
teóricos aplicados nas misturas, um pilar hipotético com dimensões de 1,0m de base por 1,20
de embutimento, pode suportar uma força variando de 6,89t a 83,56t. Esses valores são
obtidos através da equação:
F = σ*A (22)
No Gráfico 17 são demonstrados o comportamento das tensões em cada método.
70
Gráfico 17 - Comparativo das tensões admissíveis das misturas por diferentes métodos
Das autoras, 2017.
Em resumo, os ensaios realizados neste trabalho apresentaram resultados que
permitem a utilização de misturas solo-resíduos da construção civil para aplicação em
fundações, com o intuito de melhoramento do solo e contribuindo para o ganho de resistência.
Esta aplicação também contribui economicamente para a redução de custos, diminuição na
quantidade de resíduos descartados sem aproveitamento e positivamente no meio ambiente.
Logo, o trabalho alcançou os objetivos estipulados.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Solo RCC 5% RCC 10% RCC 15%
Ten
são
Ad
m [
Kn
/m²]
Solo
σadm por Terzaghi
σadm por Skempton
σadm por Brinch Hansen
71
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Como seguimento desta análise, sugere-se:
a) Análise com outros tipos de solos para avaliar o comportamento dos mesmos;
b) Ensaios com proporções maiores de resíduos na mistura, com o intuito de
melhorar a precisão dos resultados;
c) Verificar se há contaminação do solo com a incorporação do resíduo;
d) Análise econômica da utilização do RCC como agregado;
e) Estudo para aplicação de misturas solo-resíduos em fundações profundas.
72
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