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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA - MINISTÉRIO DO ESPORTE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR ALESSANDRO BOER O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES Brasília 2007

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA - MINISTÉRIO DO ESPORTE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR

ALESSANDRO BOER

O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES

Brasília

2007

1

ALESSANDRO BOER

O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.

ORIENTADORA: MS. PROF.ª HAYDÉE DA SILVEIRA FRANÇA DE VARGAS

Brasília (DF), 2007

2

BOER, Alessandro

O papel do esporte na socialização de crianças em idade

escolar: o processo de mudança de atitudes. Brasília, 2007.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília.

Centro de Ensino a Distância, 2007.

1.Formação –2. Educação Física; 3.Esporte.

3

ALESSANDRO BOER

O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro

de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa

de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, para

obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar, avaliada pela comissão

formada pelos professores:

Leitora: Prof.ª MARISETE PERALTA SAFONS

Ms. Prof.ª HAYDÉE MARIA DA SILVEIRA FRANÇA DE VARGAS

Brasília (DF), dezembro de 2007.

4

Dedico este trabalho a todos aqueles que doam um pouco de seu tempo para tornar a vida das crianças um pouco melhor do que seria sem eles.

5

AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pelo Dom da vida, da luz e da sabedoria que possuo; Agradeço a minha família, pelo companheirismo em momentos difíceis da vida; Agradeço aos amigos, tão presentes nas horas necessárias; Agradeço aos colegas, pelo incentivo na luta pela qualificação e crescimento; Agradeço à Universidade de Brasília, e ao Centro de Ensino à Distância, pela oportunidade de atualização; Agradeço, de forma especial, aos professores do Curso de Pós-Graduação, pelos conhecimentos adquiridos. Agradeço, com carinho, à Professora Haydée Maria da Silveira França de Vargas, Orientadora do Curso de Especialização em Esporte Escolar, pela dedicação e atenção prestados ao longo do tempo.

6

"No que diz respeito ao empenho, ao

compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe

meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou

não faz. No que acredito mesmo é em Deus."

Airton Sena da Silva

7

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar as interferências do esporte escolar no desenvolvimento de atitudes socializantes e na formação do caráter e da personalidade do estudante, a partir de estudos e trabalhos já desenvolvidos sobre o tema. Através de uma pesquisa bibliográfica, analisando estudos de vários autores sobre o processo de socialização humana, destaca as fases da evolução infantil e considera a relevância do jogo como parte importante na afirmação da criança e como meio de contato com os outros indivíduos. Aborda o desenvolvimento da socialização e do desenvolvimento infantil e de adolescentes, procurando verificar a importância do esporte como formador de atitudes nas crianças e jovens, através do processo educativo escolar e do desenvolvimento do esporte na escola. Investigou-se que tipo de modificações se processam no adolescente a partir do esporte, os benefícios deste na formação do jovem e, finalmente, como o a atividade esportiva pode contribuir para a socialização da criança e do adolescente, determinando mudanças no seu comportamento a partir do papel do professor no planejamento e execução da educação física escolar.

Palavras-chave: Formação – Educação Física - Esporte

8

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caracterização da amostra ...................................................................

Tabela 2 - Resultado da pesquisa no núcleo “A” ...................................................

Tabela 3 - Resultados da pesquisa no núcleo “B” .................................................

Tabela 4 - Resultado da pesquisa no núcleo “C” ...................................................

Tabela 5 Resultado da pesquisa no núcleo “D” .....................................................

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42

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45

9

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................1.1 JUSTIFICAIVA ..................................................................................................1.2 PROBLEMA ......................................................................................................1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................1.3.1 Objetivo geral ...............................................................................................1.3.2 Objetivos específicos .................................................................................. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: FORMAÇÃO / EDUCAÇÃO FÍSICA / ESPORTE ...............................................................................................................2.1 EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E SOCIEDADE .....................................................2.1.1 O aspecto social da educação ....................................................................2.1 2 A formação pedagógica no esporte da escola ..........................................2.2 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA ............2.2.1 O desenvolvimento infantil .........................................................................2.2.2 Desenvolvimento físico ...............................................................................2.2.3 Desenvolvimento psíquico e social ............................................................2.3 O SUJEITO APRENDIZ E A EDUCAÇÃO FÍSICA ..........................................2.3.1 Atividade física e sociabilidade ..................................................................2.3.2 O jogo na infância – prazer, liberdade e disciplina ...................................2.3.3 A importância do esporte para o adolescente ..........................................2.3.4 Benefícios biopsicossociais do esporte ....................................................2.4 O PERFIL ESTRUTURAL DO PROJETO 2º TEMPO NA ESCOLA ...............2.4.1 A relevância da concepção adotada no esporte da escola ......................2.4.2 O processo pedagógico na perspectiva da formação humana ............... 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................3.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA .............................................................................3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA ......................................................................3.4 COLETA DE DADOS ........................................................................................3.5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... ANEXOS .................................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, a grande preocupação de professores, gestores de educação e

de especialistas - os pedagogos - não se refere tanto à aprendizagem

especificamente, mas aos fatores que nela interferem, em especial aqueles que

dificultam seu desenvolvimento. E entre estes fatores, a dificuldade de controle

disciplinar, a falta de atitudes é um dos fatores preocupantes na formação de

crianças e adolescentes.

Existem muitos tipos de atividades lúdicas e várias teorias para explicar seus

propósitos. Através do brincar as crianças crescem e exercitam suas capacidades

físicas, aprendem a respeito de seu mundo e fazem frente a emoções conflitantes.

"Para a criança, escreveu Claparéde (CHATEAU,1997), o jogo é o trabalho, o bem o

dever, o ideal da vida. É a única atmosfera na qual seu ser psicológico pode respirar

e, conseqüentemente pode agir". A criança é um ser que brinca/joga e nada mais.

Proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo é uma das tarefas

fundamentais da Educação Física, em especial se este indivíduo é uma criança ou

um adolescente, e se esta atividade é escolar. Esse desenvolvimento poderá ser

atingido, no entanto, de diferentes maneiras e por diversos caminhos, entre os quais

estão as mais variadas formas de atividade física, recreativa, desportiva e

competitiva que o professor poderá oferecer aos seus alunos. Ultimamente, os

problemas envolvendo a educação deixaram de ser discutidos apenas pelos

profissionais da área pedagógica, e muitos setores se preocupam com a importância

da atividade física no desenvolvimento da criança como um todo.

Para Papalia (1991), o jogo e o brinquedo da criança não representam para

ela o mesmo que o jogo e o divertimento para o adulto, passatempo com que ocupa

o seu lazer. Brincar não é ficar sem fazer nada, pois ensina a criança a viver.

Brinquedo é trabalho de criança, atividade através da qual ela se desenvolve,

12

descobre seu papel, seu lugar e seu limite, experimenta novas habilidades e forma

um verdadeiro conceito de si mesma.

1.1 JUSTIFICAIVA

Em face do crescimento da indisciplina nas escolas, urge uma tomada de

atitudes frente ao problema. Incentivar a mudança de atitudes através da prática

esportiva tem se constituído em uma alternativa no tratamento de problemas de

aprendizagem e desvio de conduta como a indisciplina, para alunos do Ensino

Fundamental, em idade de pré-adolescência e adolescência.

Assim, esse trabalho visa obter dados importante acerca do comportamento

infantil, ao mesmo tempo que objetiva o reconhecimento e valorização do

profissional de Educação Física na busca de soluções dos problemas educacionais

atuais, sendo, por isso, de uma relevância ímpar e de fundamental importância como

meio de apoio a profissionais da área e professores na realização de um processo

de ensino-aprendizagem mais eficiente, sendo, por isso, plenamente justificada sua

elaboração.

O tema é importante na medida em que busca uma alternativa para o

problema da inadaptação escolar dos alunos, refletida por atos de indisciplina,

através de uma prática comum nas escolas: a atividade esportivo-recreativa.

1.2 PROBLEMA

Para Piaget (1932, apud BEE, 1997), é brincando que a criança aprende a

distinguir seus desejos e fantasias da realidade. Com os brinquedos aprende a

utilizar os objetos, a coordenar seus movimentos, tornando-os mais precisos. É

através de jogos e brinquedos que a criança encontra suas soluções e uma forma

pessoal de um lugar no grupo.

Se através do jogo a criança adquire e aprimora atitudes morais, esse

trabalho procura responder ao seguinte problema:

“De que forma o esporte escolar, na forma de atividade desportivo-recreativa,

desenvolvido na escola de forma lúdica, poderá contribuir para a sociabilização e

melhoria das atitudes das crianças na escola?”

13

1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste estudo é analisar o esporte, enquanto atividade escolar

lúdica, como atividade de desenvolvimento social e na educação de atitudes em

crianças em idade escolar.

1.3.2 Objetivos específicos

São objetivos específicos deste estudo:

- Verificar o processo de socialização;

- Contextualizar a relação entre a escola e a comunidade;

- Constatar o elemento formador do esporte;

-Reconhecer o esporte como estratégia na prática esportiva, na promoção da

saúde mental, física e social do sujeito.

- Reconhecer o esporte, como estratégia na prática desportiva, na promoção

da saúde física, mental e social do sujeito.

O estudo foi dividido em partes, sendo esta primeira objetiva uma explanação

sobre o tema e o desenvolvimento do estudo, e abordando o ser humano dentro do

contexto social e seu desenvolvimento como indivíduo de sociedade. A segunda

parte enfoca o desenvolvimento infantil, destacando os seus aspectos físico,

psíquico e social. A terceira parte tem como meta analisar a formação do jovem e

sua relação com a atividade esportiva, traçando um paralelo entre o jogo e o

desenvolvimento infantil, sua importância na fase infantil e da adolescência e como

elemento de socialização da criança, promovendo a educação de atitudes e a

formação do caráter e o desenvolvimento do processo de socialização. Finalmente a

quarta parte refere a metodologia utilizada na elaboração do trabalho, onde é feita

uma pequena discussão dos dados apresentados nos referencial teórico, com o fim

de conduzir o estudo para as considerações finais.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: FORMAÇÃO/EDUCAÇÃO FÍSICA/ESPORTE 2.1 EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E SOCIEDADE

A pedagogia ativa apregoa que a educação equivale a formação, isto é, ao se

proporcionar condições de educação à criança, é preciso também proporcionar

oportunidades de o indivíduo crescer em todos os seus aspectos, e não apenas em

conhecimentos. Esta formação está ligada ao desenvolvimento da

capacidade/habilidade, ao engrandecimento e modificação da capacidade motora e

na integração social, aspectos que passam pela inserção desse indivíduo no grupo

em que vive, fazendo parte dele como membro atuante, e não apenas como

expectador.

Para Dressler e Willis (1998), uma sociedade consiste em todas as pessoas

que compartilham um modo de vida distinto e contínuo, isto é, uma cultura, e que

pensam em si mesmas como um povo unido, podendo ser uma pequena

comunidade rural, uma grande cidade, uma região ou uma nação inteira. Para Linton

(1936, apud LÜSCHEN e WEIS, 1999), a sociedade é uma unidade funcional e

operante e, embora composta de indivíduos, elas funcionam como entidades

próprias, onde o interesse de cada um de seus membros componentes são

subordinados àqueles do grupo inteiro. Para que uma sociedade sobreviva deve

procurar satisfazer às necessidades básicas para a ordem social: providenciar

condições materiais, renovar a população, educar crianças e reafirmar valores.

Para Dressler e Willis (1998), a socialização é o processo pelo qual se

perpetua c cultura, definindo a socialização como o processo pelo qual o indivíduo

aprende e adota os padrões e normas de comportamento tidos como apropriados

em sua cultura. Para os autores, as influências sociais operam de maneira diferente

e se dão através do meio e este pode ser definido como todas as condições e

circunstâncias externas que cercam um organismo em uma dada época.

Mosquera e Stobäus (1994) salientam que o ser humano aprende o

comportamento social, em parte, através da comunicação simbólica. Um símbolo é

qualquer expressão verbal falada ou escrita, não verbal, gesto ou som significativo

não produzido por um ser humano, que pretende representar ou transmitir um

significado.

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Dressler e Willis (1998) apontam que a aprendizagem do comportamento

social, isto é, a socialização, ocorre quando o indivíduo modifica seu comportamento

a fim de satisfazer uma necessidade, e a aprendizagem acontece quando existe

resposta à comunicação, seguindo o exemplo humano de utilizar tentativas de

ensaio e erro através de um processo de pensamento.

Para Mosquera e Stobäus (1994), algumas generalidades da socialização

podem ser apontadas. O conteúdo da socialização é transmitido tanto formal quanto

informalmente e quanto mais acordo houver entre as normas e os valores da

sociedade, mais facilmente ocorrerá a socialização. Esta é cumulativa, é contínua;

nenhum indivíduo interioriza a cultura total de uma sociedade e todas as sociedades

permitem um desvio de suas normas como processo normal de socialização.

A tendência da sociedade atual parece conduzir o indivíduo a sua própria

desumanização, na qual o corpo é silenciado enquanto elemento comunicativo, o

movimento livre é condicionado e a vida em coletividade sufoca as atitudes

cooperativas espontâneas, e o exercício da liberdade e da cidadania. Nesse

contexto estão inseridos os adolescentes, cujos interesses e expectativas

encontram-se em constante processo de transição e, contraditoriamente, são

permeados por estereótipos que lhes conferem atitudes socialmente impostas

(GÁSPARI e SCHWARTZ, 2001).

Para Richardson (1999), cada sociedade, em cada contexto histórico-cultural,

compreende de modo diferente as etapas da vida humana, definindo a duração

delas, suas características e direitos legais. Ao lado dessa legalidade, que confere

ao jovem direitos básicos - como o de brincar, de praticar esportes, de divertir-se, de

expressar opiniões próprias, de desfrutar de momentos de lazer e de participar da

vida política de sua comunidade -, emergem estereótipos, nos quais a sociedade

constrói e reforça determinada imagem para este ser em transição. É a

transitoriedade dessa etapa de vida humana adolescente que parece justificar tais

estereótipos, apoiada numa fragilidade que o caracteriza fora da cadeia produtiva e

como pessoa que ainda não sedimentou hábitos, atitudes e valores esperados pela

sociedade.

Face ao quadro exposto, o jovem tem buscado alternativas capazes de lhe

conferir condutas carregadas de senso crítico e, ao mesmo tempo, capazes de

exteriorizar suas contribuições para as transformações sociais necessárias. O

adolescente, enquanto sujeito e espectador da sociedade vê no esporte uma dessas

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alternativas, na qual tem a possibilidade de exercitar opções qualitativas,

incrementando suas experiências significativas. O fenômeno esportivo é

caracterizado por uma lógica própria, que difere da lógica social e é percebido

diversamente pelos inúmeros segmentos da sociedade. O adolescente,

representando um desses segmentos, é seu desenvolvimento próprio, com reflexos

em seu papel social.

2.1.1 O aspecto social da educação

A abertura da escola para a contribuição da comunidade pode incentivar, em

toda dimensão sócio-cultural cuja aprendizagem contempla o desenvolvimento de

capacidades cognitivas, afetivas, corporais, éticas, estéticas, de relação interpessoal

e de inserção social. Essas capacidades são contempladas ao se oferecerem

modalidades esportivas tanto de caráter individual, como coletivas, em ambiente de

competição ou de recreação. Para Caillois (2000), a escola deve estar integrada

com a comunidade através de práticas esportivas e recreativas, fazendo com que os

alunos aprendam a desfrutarem de jogos individuais ou coletivos, desenvolvendo

várias capacidades que os ajudarão no desenvolvimento e na sua formação física e

social.

Num sentido muito preciso, educação é formação do indivíduo em todos os

seus aspectos e possibilidades. Para Dunalop (apud BROOKOVER, 1995), educar é

formar o homem inteligente, o homem bom, o homem em suas faculdades gerais e

suas faculdades individuais, é proporcionar ao indivíduo os elementos de

aperfeiçoamento pessoal. Formar o indivíduo é, assim, o objetivo definitivo de todo o

processo educativo. Em suma, educação é o pleno desenvolvimento da

personalidade humana.

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que

não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e

desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais

reclamados pela sociedade política no seu conjunto, e pelo meio especial a que a

criança particularmente se destina. O aspecto social da educação vem sendo

acentuado por todos os especialistas modernos. O lado social é o grande problema

educativo.

17

Para Jacquin (1990, apud RAMALHO, 2000), a educação é o fenômeno social

através do qual a geração adulta transmite à geração mais nova as conquistas da

sua civilização. A vida social se perpetua através da Educação. Não fosse esta, cada

geração teria que recomeçar a vida social quase no período selvagem. Fontoura

(apud RAMALHO, 2000), acrescenta ainda que para que a educação possa

desenvolver o aspecto social é indispensável que o próprio centro de educação, seja

ele de que natureza for, se organiza como uma pequena sociedade, reproduzindo,

dentro de seus domínios, a vida social da comunidade. Assim, ela não deve tratar

apenas de todos os assuntos que interessam à comunidade, mas, além disso, deve

reproduzir os processos de vida da comunidade.

À medida que os conhecimentos humanos foram sendo aumentados, as

ciências primitivas, clássicas, evoluíram, fragmentaram-se, subdividiram-se e cada

um de seus setores, das suas especializações agigantaram-se com bases de uma

ciência autônoma. Começa a se envolver mais no processo educacional, no

processo trabalhista, no processo político, no processo esportivo. A educação física,

então, começa a sair de seu espaço fechado, deixando de ser apenas uma ciência

formativa do corpo, da massa muscular, para alcançar seus verdadeiro caminho, o

do desenvolvimento físico, intelectual, moral e social do indivíduo.

Segundo Connolly, (apud MOREIRA, 2000), os movimentos são importantes

biológica, psicológica, cultural e socialmente. Biologicamente, por se constituem em

atos que solucionam problemas motores; psicológica, cultural e socialmente , porque

a comunicação, a expressão da criatividade e dos sentimentos são feitas através do

movimento. É através deles que o ser humano se relaciona com os outros, consigo

mesmo, aprende sobre si mesmo e, sobre o que é capaz de fazer.

Fontoura (apud RAMALHO, 2000) diz que, no entanto, a educação física não

acompanhou o movimento renovador da escola, conhecido pela denominação de

Escola Nova; manteve-se por muito tempo aferrada aos processos que utilizava e

que se caracterizam por um artificialismo exagerado, traduzido por exercícios

analíticos, que pretendiam fazer o organismo trabalhar por parcelas, cada uma de

per si, sem procurar atender às necessidades integrais, concomitantemente, como

reclama a própria criança. É indispensável atender aos seus impulsos genéticos,

oferecer-lhe atividades indispensáveis ao exercício das funções, para as quais os

órgãos vão alcançando maturidade espiritual. Mas é preciso, também que sejam

observados os aspectos interiores da criança.

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Seguindo a ótica de que estão havendo transformações no campo da

educação, no sentido de que esta se voltou ao desenvolvimento do homem como

um todo indivisível, participante, crítico, reflexivo, a atividade física, seja de que

natureza for, não poderia deixar de participar desse processo, lutando por espaços

onde possa atuar efetivamente para a formação deste homem. Uma das formas que

se tem para isso, é orientando a atividade física desde os primeiros anos e, para

isso, é preciso que se conheça a criança, suas características, necessidades e

interesses, que esteja bem definida a importância do movimento para o

desenvolvimento do ser humano em todos os seus aspectos.

Tem-se à disposição, na atividade física, uma variada gama de sugestões

educativas, mas o importante é que elas sejam desenvolvidas de acordo com os

objetivos da educação física global, atingindo, primeiramente, os efeitos fisiológicos

locais gerais, o sentido muscular, as funções de equilíbrio e os órgãos sensoriais,

que se aperfeiçoam, bem como objetivando o aperfeiçoamento das funções mentais,

como atenção, imaginação, memória, raciocínio, além da aquisição de bons hábitos

ou virtudes morais, como lealdade, bondade, espírito de cooperação e senso social

(RAMALHO, 2000).

2.1 2 A formação pedagógica no esporte da escola

A educação física infantil é de uma importância fundamental para o

desenvolvimento integral da criança e que se deve levar em consideração a prática

esportiva como um meio de socialização e que, para isso, é preciso que se dê

oportunidade a todos de participarem dos jogos, mesmos estes sejam competitivos

ou recreativos, na escola, nos centros de treinamentos, nas aulas. O

desenvolvimento de qualidades físicas, como força, agilidade, coordenação,

velocidade, estética, não é a única valência que deve ser buscada nas aulas de

educação física e nas atividades físico-desportivas. É necessário, antes de mais

nada, que se busque alcançar, fundamentalmente, os objetivos simples da

disciplina, quais sejam o do desenvolvimento integral do ser humano, principalmente

em se tratando crianças.

Para isso, os jogos desenvolvidos através de iniciação desportiva,

adequadamente respeitadas as individualidades dos alunos, suas capacidades

físicas e técnicas, e a importância e responsabilidade que esse jogo irá impor ao

19

grupo trabalhado são de extrema importância, pois permitem o desenvolvimento de

todas as valências físicas, além dos valores morais, sem que o aluno perceba.

Neto e Beresford (1994) já apregoavam fórmulas para o desenvolvimento da

atividade esportiva na escola, como forma de se cultuar o respeito, a disciplina e a

valorização própria do aluno. Para isso, dizem os autores ser necessária a

participação maciça de todos nas aulas, e não apenas daqueles que são melhores,

que se destacam mais, que são mais habilidosos, competentes. As atividades

físicas, de um modo geral, têm objetivos e classificações diferenciadas, e cada

indivíduo pode organizar uma classificação própria em relação a um determinado

fim: estético, utilitário, técnico, social, pessoal, enfim.

2.2 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA

2.2.1 O desenvolvimento infantil

Segundo Le Boulch (1983, apud CHATEAU, 1997), toda criança, ao nascer,

tem inserida na sua constituição todas as potencialidades humanas; no entanto, ela

vai alcançando nos primeiros anos de vida, isto é, na infância, um amadurecimento

dessas potencialidades. O processo de desenvolvimento dos aspectos físico,

psíquico, emocional e social deste indivíduo se faz de maneira simultânea. Ao

nascer, a criança não apresenta esquema fixo de referência, mas vai aprendendo

conceitos que lhe permitem ordenar as coisas e adaptar-se ao ambiente de acordo

com a sua evolução.

2.2.2 Desenvolvimento físico

Baseados geralmente em necessidades e interesses manifestados pelas

crianças e adolescentes, Seybold (apud GALATTI e PAES, 2006) refere que há

muito tempo os psicólogos da Europa estabeleceram várias fases de

desenvolvimento, onde são enquadradas a primeira, a segunda e a terceira

infâncias, respectivamente correspondentes até o terceiro ano, até o sexto ano e até

o décimo primeiro ano. Na classificação por interesse, a segunda infância seria o

20

estágio em que a criança tem interesse pelos jogos lúdicos e a terceira caracterizar-

se-ia pelo interesse nos jogos intelectuais, escolares e competitivos.

De acordo com a divisão etária adotada na Cátedra de Pediatria e

Puericultura da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, a

idade escolar agrupa meninos de 7 a 12 anos de idade e meninas de 7 a 10 anos de

idade. É nessa idade que são despertadas e devem ser adequadamente cultivadas

as qualidades físicas, intelectuais e morais da criança, sendo chamada a idade de

ouro, da elasticidade corporal e espiritual, em que se esboça o temperamento, o

caráter e a personalidade do futuro adulto, sendo ainda a idade em que ela adquire

o hábito e o prazer por determinadas atividades, das quais sentirá desejo e

necessidade por muito tempo, mesmo depois de haver acabado o período escolar

(MARQUES, 2001).

Sob o ponto de vista físico, até os oito anos de idade o peso e a altura

apresentam desenvolvimento paralelo. A partir dessa idade, o desenvolvimento é

alternado e progressivo, verificando-se, então, os conhecidos turgores e proceritas,

que são os períodos de crescimento rápido e os períodos estacionários no

crescimento, respectivamente. Os órgãos e sistemas orgânico também não se

desenvolvem em harmonia, mas através de etapas de alternância, com alongamento

dos ossos, aumento da musculatura esquelética, crescimento do tórax e coração

(BEE, 1997). Sob o ponto de vista intelectual, é grande a possibilidade de

desenvolvimento durante esse período, equilibrando a atividade motora com o

desejo do saber, instalando-se definitivamente o pensamento lógico. A criança

penetra com segurança no mundo da fantasia, tem claras noções de tempo e de

espaço e possui excelente espírito de aventura em todos os tipos de atividades das

quais participa.

2.2.3 Desenvolvimento psíquico e social

No que se refere ao aspecto emocional, Brooks (1988, apud BEE, 1997), seus

êxitos no domínio do próprio corpo e sua compreensão da realidade lhe propiciam

fortes sentimentos de valor, de segurança, de equilíbrio emocional. Em geral,

compreende, expressa e é capaz de sentir formas evoluídas de afeto, simpatia,

amizade, compaixão, gratidão e outros. Surgem ainda certas diferenças

relacionadas ao sexo.

21

Segundo Jacquin (1990, apud RAMALHO, 2000), é imperioso reconhecer

também que a criança não apresenta uma maturidade psíquica, pois lhe faltam os

quatro elementos fundamentais e indispensáveis para uma atuação conveniente nas

atividades destacadamente agonísticas (que envolvem emoção acentuada, controle

emocional), isto é, personalidade ajustada, carga agressiva equilibrada, resistência

às frustrações e estabilidade emotiva. Neste período, segundo Hubert, citado por

Ramalho (2000), surge a passagem definitiva a um âmbito mais amplo que o

familiar, do bairro, da escola, havendo então a tendência para o trabalho em equipe.

A criança sente necessidade de pertencer a um grupo e de obter certos êxitos

sociais.

Nesta fase de crescimento e desenvolvimento, a criança possui necessidades

de auto-afirmação, de consolidação dos seus sentimentos de valor e segurança;

precisa de atividades vigorosas, energéticas, para alcançar o pleno domínio de suas

ações motoras e desenvolver os domínios psicomotores. Sente, segundo Aelbi

(2000), grande necessidade de atividades reais e concretas, que lhe proporcione

situações de dificuldade e complexidade crescentes e com problemas técnicos que

requeiram conhecimentos e, conseqüentemente, aprendizagem; precisa atuar

livremente e avaliar o seu progresso. Precisa também atuar em grupos, em equipes

que exijam, principalmente, participação ativa e responsabilidades; finalmente, ela

precisa expressar-se pelo movimento, que é a forma mais comum de afirmação.

Dos 8 aos 11 anos, predominam os interesses escolares, isto é, os interesses

por conhecimentos, idéias, técnicas, artefatos e padrões de conduta social, enfim,

pela cultura. Esses interesses aparecem numa fase em que o pensamento infantil da

criança começa a ser reflexivo e lógico. A criança é capaz de se deter no que pensa

e pode melhor entender os fenômenos do mundo que a cerca e em que vive. Entre

nove e onze anos existe um estágio crítico, quando começam a surgir alterações

mormente no comportamento mental e afetivo, proveniente da maturidade sexual e,

por volta dos 10 anos de idade, devido ao pensamento formal, aparece o

pensamento com teorizações e sistematizações próprios do adulto, período em que

se inicia a puberdade.

Durante a pré-adolescência existe uma revivência do egocentrismo,

predominando os desejos de oposição, de dominância, e é visível o ludismo afetivo.

O ser humano tem um sentimento mais exato do "eu", e descobre o que é liberdade,

ou melhor, o que é não ter liberdade. Todas as suas reações mais freqüentes, seus

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traços mais acentuados passam por uma transição evolutiva. Existem crises que

podem, muitas vezes, alterar profunda e definitivamente o sentido da vida da

pessoa. A adolescência é bem mais do que um desdobramento da infância

(RAMALHO, 2000).

Segundo Busch (1999), nesta fase de desenvolvimento a criança tem especial

interesse pelas atividades que solicitem a própria capacidade que lhe permitam

tentar progresso e aperfeiçoamento, interessando-se pelas atividades de força e

explosão, como corridas, saltos, lançamentos, transporte, salientadas por Flinchum

(1981, apud MOREIRA, 2000), utilizando-se de aparelhos e obstáculos reais. Tem

interesse pelos exercícios de agilidade d destreza, bem como pelo jogo,

principalmente os jogos que requerem destrezas especiais e apresentam

dificuldades técnicas.

Nos grandes jogos, a criança dessa idade demonstra interesse pelos

elementos próprios do jogo (como a bola), pela competição, pela tática do jogo.

Formar equipes, organizá-las e dirigi-las também é um de seus interesses

fundamentais. Os acampamentos e excursões, pelas oportunidades de aventura que

oferecem e de novos descobrimentos, de independência e de autonomia, também

despertam muito o seu interesse e a diferenciação sexual leva o menino à busca do

resultado de suas realizações e a menina à preocupação com estilo e forma de

execução do que faz.

Segundo Marinho (apud AELBI, 2000), a fase que vai dos seis aos onze anos

de idade é uma etapa na qual a criança passa por muitas modificações de ordem

emocional, pois aos 6 anos apresenta um tipo de comportamento emocional e aos

10-11 anos é quase o inverso. Tudo isso leva o pré-adolescente a uma constante

necessidade de acompanhamento, seja no desenvolvimento físico, pelas

transformações orgânicas a que está sujeito, seja no desenvolvimento psíquico, com

as pressões das próprias transformações físicas, do meio em que vive, do choque

de opiniões, da falta de afirmação da personalidade (WOOD, 1999). Portanto, o bom

desenvolvimento da criança depende, principalmente, da oportunidade, da variedade

e da qualidade de atividades físicas a que ele se submeterá, livre ou orientadamente

e disso dependerá, em muito, o seu desenvolvimento harmônico.

O conceito de espaço é fundamental para a criança ter sua localização no

mundo; no entanto, para adquiri-lo, é preciso que compare objetos diferentes e

distâncias distintas que a separam dela. O conceito de tempo desenvolve-se

23

lentamente. A educação pelo movimento deve ser para todos e por toda a vida, pois

apresenta-se como um meio de educação, atuando sobre o indivíduo como uma

totalidade, constituindo-se em meio essencial não somente no desenvolvimento

motor, mas na formação e no desabrochar de toda personalidade infantil.

A atividade física, seja de que natureza for, deve propiciar a aprendizagem

que mobilize aspectos afetivos, sociais, éticos e da sexualidade. A proposta para

qualquer atividade desta natureza é que os alunos participem repudiando a

violência, respeitando o próximo, adotando hábitos saudáveis de higiene e de

alimentação e tendo o espírito crítico em relação à imposição de padrões de saúde,

beleza e estética (TANI et al., 1998). É preciso ter em mente que qualquer atividade

física, seja ginástica, recreativa desportiva ou lúdica, precisa conter finalidades

específicas de preparar o indivíduo para sua vida adulta saudável e equilibrada,

integrando-o ao meio em que vive, e oportunizando situações para o

desenvolvimento individual, o que lhe facilitará o acesso aos mais diferentes grupos

de que, obrigatoriamente, fará parte futuramente.

2.3 O SUJEITO APRENDIZ E A EDUCAÇÃO FÍSICA 2.3.1 Atividade física e sociabilidade

Muitos pedagogos da Educação Física/Esporte têm realçado a contribuição

da atividade esportiva na socialização das crianças, contribuição essa que tem sido

utilizada como justificativa para a inclusão da Educação Física nos currículos

escolares. Neste sentido, as muitas considerações tecidas, indicam que a criança

através do esporte aprende que entre ela e o mundo existem "os outros", que para a

convivência social precisamos obedecer determinadas regras, ter determinado

comportamento (OBERTEUFER e ULRICH, 1977, apud BRACHT, 1997, p. 58);

aprendem as crianças, também, a conviver com vitórias e derrotas, aprendem a

vencer através do esforço pessoal; desenvolvem através do esporte a

independência e a confiança em si mesmos, o sentido de responsabilidade, entre

outras princípios e valores.

Todas estas afirmações têm em comum o fato de serem afirmações que

identificam um papel positivo-funcional para o esporte no processo educativo. O

esporte na cultura brasileira configura-se como elemento de interação social, como

24

agente do processo educacional, como mecanismo auxiliar à política de saúde e

como veículo de promoção do lazer. É um instrumento que permite aos indivíduos

de todas as classes sociais, raças e credos experimentar igualdade e justiça social.

Sendo assim, projetos de várias organizações governamentais e não-

governamentais, como o Projeto Olímpico da Mangueira, Projeto Esporte & Lazer,

Projeto Segundo Tempo, Projeto Escola Aberta, Projeto Gol de Letra, entre tantos

outros, são exemplos vivos de que ações comunitárias podem integrar inúmeros

pontos de uma rede de referência, o que vai além de evitar o envolvimento de

crianças com o crime e as drogas, que confere aos participantes melhoria real na

qualidade de vida e proporcionar condições de saúde, tudo isso associado ao livre

exercício da criatividade através do esporte (MOREIRA, 2000).

As atividades de lazer esportivo, mais do que preencher o tempo ocioso,

desempenham um papel importante na vida das pessoas: são fundamentais para o

desenvolvimento da sociabilidade e das relações interpessoais. Esporte é um

fenômeno social, na história da humanidade, as dimensões da motricidade humana

assumiram formas e significados distintos dependendo da geografia e o espaço

temporal. De acordo com Tubino (2001, p.10):

Admitindo-se que existiu um esporte da antigüidade, cujas

manifestações mais importantes foram os jogos gregos (olimpíadas gregas, jogos fúnebres, jogos típicos, etc.), percebe-se que o chamado esporte moderno surgiu no século passado, criado por Thomas Arnold, na Inglaterra. Numa perspectiva pedagógica que em momento algum restringiu os aspectos agonísticos das competições.

O esporte é como um instrumento fundamental no auxílio ao processo de

desenvolvimento integral das crianças, dos adolescentes e dos jovens; respeitando

as experiências e expectativas individuais, democratizando o acesso a espaço

esportivo, valorizando o esporte como complementar a técnica de saúde preventiva,

incutindo valores éticos e sociais, resgatando a cultura esportiva. O esporte como

instituição social não deve ser analisado fora de suas dimensões sociais.

Para Tubino (2001, p. 34), "constitui-se na efetiva dimensão do esporte: a) O

esporte-educação; b) O esporte-participação ou esporte popular; c) esporte

performance ou esporte de rendimento." O aprofundamento de qualquer dessas

dimensões sociais do esporte será o resultado da abordagem nas suas situações

25

intrínsecas. Na visão de Tubino (2001, p.57), "o esporte é um fenômeno social que

atingiu níveis muito complexos de desenvolvimento nas diversas sociedades.”.

Esta afirmação é constatável nas próprias leis esportivas, que nas suas

primeiras partes, na busca de uma consciência social, remetem as suas justificativas

para a necessidade de unidades sociais, os direitos e deveres das pessoas

humanas, o desenvolvimento dos praticantes, o exercício consciente da cidadania,

as relações com o tempo livre de trabalho, e outro ponto compromissador com as

próprias aspirações das nações. O esporte com todo o seu potencial integrador e

formativo, ao trabalhar em uma dimensão privilegiada da expressão humana, que é

ludicidade, pode dar para o processo educacional e para a melhoria da qualidade de

vida do cidadão.

Para Tubino (2001, p. 58):

O esporte, ao subordinar-se a uma teoria de sociedade, isto é, sem

constituir-se numa prática autônoma, contribui de forma decisiva para a interpretação da realidade social. O fenômeno esportivo, condicionado e condicionador de um processo social de um determinado momento histórico, não poderá jamais ser examinado na perspectiva simplista de uma leitura que o coloque como um simples reflexo social.

A idéia de comportamento coletivo pode ser interpretada das mais diversas

formas, mais especificamente falando-se do inter-relacionamento entre os membros

que compõem uma equipe de futebol. No âmbito social, diz Ferreira (apud

MOREIRA, 2000), o esporte tem função pedagógica no processo de formação do

indivíduo, ressaltando a disciplina, o respeito à hierarquia e às "regras do jogo", a

solidariedade, o espírito de equipe e outros fatores do desenvolvimento humano.

Marcílio (2002, p. 4), observou que:

A convenção exige que a família, sociedade, governo e a

comunidade internacional empreendam ações visando o cumprimento dos direitos de todas as crianças de maneira sustentável, participativa, e não discriminatória. Em termos práticos, isto significa que as crianças mais pobres, mais vulneráveis, e geralmente mais negligenciadas em toda sociedade, ricas e pobres, devem ter prioridade absoluta na destinação de recursos e esforços.

A era da informação e a tecnologia têm promovido mudanças na

conscientização social e nas aspirações individuais, não apenas redefinindo a noção

de cidadania, mas agregado-lhe valores, ou seja, o direito individual e daí para o

26

coletivo está cada vez mais abrangente. (DE LUCCA, 2002). Além de servir como

meio de lazer para atenuar as tensões e o desgaste provocado pelo dia-a-dia, a

prática desportiva faz o homem fugir do sedentarismo, melhorar o seu estado físico e

interagir com outros grupos sociais.

2.3.2 O jogo na infância – prazer, liberdade e disciplina

É interessante verificar como o jogo está intimamente ligado a todos os

grandes problemas psicológicos e pedagógicos da infância. O jogo está ligado ao

problema tão essencial para os educadores: o da educação moral. Jacquin (1990,

apud RAMALHO, 2000), destaca que os primeiros jogos, onde a criança toma

verdadeiramente consciência de sua personalidade, são jogos de ordem e

desordem. Ela brinca impondo a si mesma uma regra que ela deve esforçar-se por

seguir, e faz, através de todos os seus jogos, o aprendizado sucessivo das

diferentes espécies de leis.

De acordo com a autora, os jogos dirigidos e os grandes jogos coletivos, entre

10 e 14 anos, devem sempre deixar a cada criança/adolescente o máximo de

liberdade possível. O jogo coletivo é um novo progresso na aceitação deliberada de

uma lei exterior a que se desdobram as crianças e/ou adolescentes, da melhor

maneira possível, e cuja observância faz com que cada uma se sinta engrandecida.

A autora completa:

O jogo é a escola da disciplina do domínio de si e do senso moral. Pela

estreita coordenação que impõe entre a regra escolhida, a conduta individual e as

reações do grupo, o jogo disciplina toda a personalidade da criança e harmoniza

seus diversos dotes (JACQUIN, 1990, apud RAMALHO, 2000).

Desde a Idade Antiga já se pensava no esporte como elemento importante na

educação do homem. Nessa época, relatam Karsakas e Rose Jr. (2002), os gregos

atribuíam um grande valor às atividades físicas e esportivas na formação física e

moral de seus cidadãos. E ainda que a própria concepção de esporte tenha passado

por enormes transformações durante todos esses séculos, as discussões sobre a

sua relação com a educação continuam presentes.

A expansão do esporte moderno, um dos fenômenos sociais mais

significativos dos últimos tempos, impulsionada pelas transformações sociais

ocorridas no século XIX, acompanhou toda a evolução tecnológica e dos costumes

27

do século XX e chega ao novo milênio atingindo uma dimensão ímpar pela sua

abrangência dos campos político, econômico, cultural e educacional (KARSAKAS e

ROSE JR., 2002).

2.3.3 A importância do esporte para o adolescente

Para lidar com os problemas relacionados à adolescência, à educação física

escolar e ao ambiente esportivo, de forma clara e para trabalhar o esporte em sua

totalidade, alguns autores têm discutido aspectos que sinalizam para novos

procedimentos pertinentes à área da pedagogia do esporte.

Broto (1999) discute uma pedagogia do esporte que seja capaz de refletir e

transgredir e que provoque continuamente uma transformação da filosofia que

permeia o esporte. Já Marques (2001) aponta uma pedagogia que entende o

esporte como patrimônio da humanidade, centrada no homem, a partir da

compreensão da pluralidade deste fenômeno. Bayer (apud GALATTI e PAES, 2006),

que através da chamada Pedagogia das Intenções, incentiva o aluno à inteligência

tática, que garantirá um acesso ao conhecimento de forma crítica e autônoma. Paes

(2001) demonstrou um olhar ainda mais amplo para o esporte, preocupando-se em

atribuir ao fenômeno uma função educativa visando o desenvolvimento integral do

ser humano, tendo o jogo como instrumento facilitador desse processo.

De acordo com os Gáspari e Schwartz (2001), o envolvimento dos indivíduos

com o esporte pode ter conseqüências benéficas ou não, determinadas pela forma e

atitude desse envolvimento. No que concerne à forma, pode-se observar aspectos

passivos e ativos. A forma ativa pressupõe a íntima adesão ao processo esportivo,

no qual o adolescente posiciona-se enquanto sujeito singular, buscando ser bem

sucedido, ou seja, a busca pelo superar-se, autoafirmar-se, integrar-se socialmente

e aprender a cultura. Na forma passiva, ao contrário, o jovem assume uma

imobilidade que reitera sua incompletude, já que desconsidera a oportunidade de

aprender por experiências ativamente vividas.

Quanto à atitude, esta designa a maneira de ser, os processos ou sistemas

fundamentais, através dos quais o jovem ordena o seu meio e seu comportamento

na base de componentes afetivos e cognitivos. Um dos conceitos que bem esclarece

atitude é o proposto por Allport (apud MACHADO, 1997, p. 81): um “estado mental e

neural de prontidão, organizado através de experiência”. Este estado exerce

28

determinada influência sobre as ações do adolescente, frente às diversas situações

cotidianas. O esporte, nesse sentido, pode vir a ser um coadjuvante importante no

favorecimento de formação de atitudes, tanto positivas como negativas, conforme

valores e simbologias impregnados nessa prática. Na atividade esportiva, os

indivíduos têm a oportunidade de minimizar o controle exercido pela sociedade

sobre eles em função de que o esporte se caracteriza por objetivos próprios, com

uma realidade específica, não sendo superado por qualquer outra, conforme salienta

Balbino et al. (apud MACHADO, 1997).

Também há que se diferenciar o fenômeno esportivo enquanto perspectivas

de alto rendimento ou espetáculo e como prática de lazer. No esporte espetáculo há

uma tentativa de se reproduzir, no plano micro, a estrutura global da sociedade, na

qual imperam valores fortemente marcados pela competitividade, agressividade,

prestígio pessoal, político, entre outros. Como prática de lazer, o esporte contempla

a auto-motivação, colocando o elemento prazer em evidência. Além disso,

oportuniza, pelas vivências lúdicas espontâneas, situações significativas capazes de

interferir em mudanças atitudinais e de condutas.

Huizinga (1993) comenta sobre a conduta lúdica do esporte e afirma que o

mesmo é visto na sociedade moderna como o elemento lúdico mais significativo da

cultura. O autor acrescenta que o jogo se tornou muito sério e sua atmosfera lúdica

desapareceu em maior ou menor grau.

Na ação, quando realizada ludicamente, pode ocorrer o estado de fluxo, o

qual, conforme esclarece Csikszentmihalyi (apud GÁSPARI E SCHWARTZ, 2001),

permite às pessoas experimentarem a sensação de prazer total, uma vez que estas

proporcionam ao indivíduo mais alegria e satisfação. Ao comentar sobre a

importância dos parâmetros lúdicos, da alegria e do prazer nas atividades e

exercícios, Lorenzetto (apud GÁSPARI e SCHWARTZ, 2001) evidencia a

perspectiva do jogo encontrando um corpo para encarnar-se e tornar-se mais

humano e a do corpo que procura encontrar no jogo a possibilidade de relacionar-se

consigo próprio e com o outro, de conhecer-se melhor, levando à auto-realização.

Este autor aponta a competição, a arte e o jogo, como evidências dessa busca de si

próprio.

A alegria se revela no entusiasmo do adolescente quando está jogando, na

dedicação e esforço que dispensa na atividade que o conduz à satisfação e à

cooperação. Este aspecto relativo à solidariedade, conforme Seybold (apud

29

RAMALHO, 2000), deve ser incrementado a partir do processo educativo com a

finalidade de capacitar a convivência, o trabalho em conjunto, auxiliando no respeito

às individualidades.

Em pesquisas realizadas com jovens alemães, Seybold (apud RAMALHO,

2000) salienta que eles valorizam os esportes assim como o cinema e a televisão,

desde que lhes tragam prazer. Talvez, os indivíduos estejam reencontrando o

sentido original do esporte, o qual vem do latim disportare, isto é, distrair-se, divertir-

se. Essa autora afirma que os exercícios e atividades não adquirem valor pelo que

são, mas sim, pelo que trazem, como o aprimoramento da amizade, a

espiritualização do físico e a encarnação do espiritual. Neste sentido, propõe que a

educação física, atividade com maior teor de ligação com a temática esportiva, deve

aperfeiçoar o jovem a ser humano e não apenas técnicas de exercício.

Se o privilégio recai sobre a supervalorização do aspecto técnico, a atividade

esportiva passa a exigir do praticante condutas altamente competitivas, as quais o

submetem a interesses e regras metódicas rígidas, fazendo com que o indivíduo

busque exceder seus próprios limites. Essas condutas reforçam os aspectos de

agressividade, competitividade exacerbada, tornando o indivíduo suscetível aos

intensos fatores estressantes e que podem abreviar sua participação nessa

atividade, interferindo na qualidade de sua vida. A atividade esportiva tem na

cooperação possibilidades de formação de seres íntegros, equilibrados, alegres,

solidários, criativos, críticos, cientes de suas qualidades e dificuldades, respeitadores

dos menos habilidosos, sensíveis, com identidade pessoal preservada e cooperativa

no coletivo, entre outras.

Na introdução do livro de Brown, Barrera (apud FREIRE, 1998) ressalta a

subversividade característica dos jogos cooperativos, os quais permitem emoções

positivas no relacionamento com o outro, sem necessidade de derrotá-lo, ou seja,

onde um soma-se ao outro e não o exclui, salientando no jogo o valor da vitória

inerente ao prazer de jogar. O esporte pode fortalecer os laços no grupo, fabricar

símbolos, criar identidade com os outros e formar comunidades.

Nas atividades prazerosas, salientadas por Santin (1998, apud GÁSPARI e

SCHWARTZ, 2001), há uma ação que parte do corpo para o próprio corpo e o

aspecto educacional não está circunscrito aos domínios da escola. Ao contrário,

atividades prazerosas tomam o ser vivo com uma sabedoria inscrita em si mesmo,

permitindo-lhe usufruir a vida e construí-la a partir de parâmetros qualitativos.

30

Para Ramalho (2000), qualidade representa o desafio de fazer história

humana com o objetivo de humanizar a realidade e a convivência social. Não se

trata apenas de intervir na natureza e na sociedade, mas de intervir com sentido

humano, ou seja, dentro de valores e fins historicamente considerados desejáveis e

necessários, eticamente sustentáveis. A intensidade não é a força (som intenso, por

exemplo), mas da profundidade, da sensibilidade e da criatividade.

O importante, então, é a qualidade de vida voltada para a profundidade, para

a perfeição do ser, para o atendimento das reais necessidades humanas e, nesse

caso, do adolescente enquanto sujeito construtor de sua própria vida. Torna-se

instigante, pelo exposto, investigar como o adolescente nesta sociedade percebe as

relações entre sua condição adolescente e o papel do esporte no âmbito de sua

qualidade de vida.

2.3.4 Benefícios biopsicossociais do esporte

Pesquisa conduzida por Gáspari e Schwartz (2001) apontou dados

interessantes sobre as reações dos adolescentes na prática esportiva. Enquanto

pratica esporte, o jovem acredita que vai ter algum benefício para seu corpo (22, ou

100%); sente que, apesar de um colega ter um desempenho melhor que o outro,

todos precisam ser respeitados como pessoa (22, ou 100%); acredita que a

alimentação é importante para o bom desempenho na atividade física (22, ou 100%);

sente que a união faz a força do grupo (21, ou 95.45%).

Vinte dos entrevistados (90.90%) sentem que ficam mais felizes; o grupo lhes

ensina muitas coisas; aprendem a respeitar os menos habilidosos; os resultados

positivos dependem da sintonia do grupo; aprendem a conhecer, dominar e cuidar

melhor de seus corpos; precisam ser criativos; percebem que a torcida exerce um

papel importante sobre o time.

Outros resultados indicam que o esporte dá maior disposição (19, ou

86.36%); é mais importante competir do que ganhar (19, ou 86.36%). Igual número

(18 sujeitos, ou 81.81%) não necessita de drogas para superar seus problemas

diários; tem interesse em saber sobre os acontecimentos esportivos; aprende como

superar os obstáculos e dificuldades da vida; está convivendo socialmente e que

este convívio é muito bom para seu crescimento; as diferentes opiniões podem

contribuir para o fortalecimento dos laços no grupo.

31

Dezessete sujeitos (77.27%) têm mais confiança em si mesmo; estão se

divertindo; estão aprendendo com seus colegas; conseguem observar melhor seu

colega e compreendê-lo melhor; as maneiras de ser, pensar e agir de cada um na

equipe auxilia para que o mundo do esporte fique mais interessante; sabe que sua

participação é importante para o grupo; dezesseis (72.18%) conseguem respeitar

mais o seu colega; quinze deles (68.18%) ficam menos agressivo, violentos; em

algumas situações, são capazes de liderar a equipe; quatorze (63.63%) sentem mais

vontade de cooperar com o outro; estão fazendo lazer; doze sujeitos (54.54%)

sentem que liberam muitas tensões acumuladas no cotidiano; sentem mais vontade

de competir contra o outro; podem conseguir ser uma pessoa independente, capaz

de defender seus pontos de vista, mesmo se diferentes dos pontos de vista de

outros; precisam ser e agir com perseverança; onze indicam que repetir jogadas

sempre garantem bons resultados.

Nesta questão foram registrados dados importantes e de natureza

biopsicossocial. Na visão dos adolescentes foi unânime a opinião quanto aos

benefícios físicos trazidos pela prática da atividade esportiva regular. O respeito para

com os menos habilidosos, a cooperação, a participação individual para o sucesso

coletivo, o relacionamento interpessoal, a auto-confiança foram outros elementos

importantes por eles demonstrados.

Numa sociedade como a atual onde o esporte profissional tem revelado sua

faceta negativa (suborno, intolerância, violência, anabolizantes, cartéis, rivalidade e

competitividade exacerbada, interesses políticos e financeiros), a riqueza dos

elementos registrados falam por si só e sinalizam para intervenções pedagógicas

responsáveis no sentido de que, criticamente, assumam o lado construtivo do

esporte, ou seja, aquele que poderá promover diferenças positivas em sua qualidade

de vida, promovendo a formação adequada de seu caráter, sua personalidade e

balizando sua vida em sociedade.

Ramalho (2000) diz que a relevância do esporte ganha sentidos distintos

quando considerados separadamente os três elementos constituintes, embora haja

interpenetração evidente. Para o praticante, o esporte tem a finalidade de

aperfeiçoar o físico, enriquecimento intelectual, socialização, fortalecimento da

personalidade. Para o aficionado, que participa ativamente do esporte, os benefícios

são idênticos, à exceção do aprimoramento físico. Para os clubes, associações e

32

afins, os benefícios são o de promoção e, geralmente, de lucros, utilizando o

desportista e o espectador para alcançar tais fins.

Segundo Corrêa (1990, apud RAMALHO, 2000), inúmeras teorias, com o

ponto comum de atribuírem um papel positivo ao esporte, buscam uma explicação

psicológica para o prazer do esportista no desempenho de suas atividades: alguns

acreditam que esse prazer reside na auto-superação; outros, na possibilidade de

provar coragem, enfrentar desafios e superá-los, indispensável à satisfação do ego;

outros mais, na sensação de liberdade que é inerente à prática desportiva.

Huizinga (apud MOREIRA, 2000) diz que, do aspecto social, o esporte coloca-

se entre os setores responsáveis pela formação, conservação, desenvolvimento e

utilização adequada dos recursos humanos em um país; na formação, porque é

parcela relevante do processo educativo; na conservação e desenvolvimento,

porque o esporte é essencial à saúde da população; na utilização, porque ele serve

ao preenchimento adequado dos momentos de lazer e, portanto, influi no bem-estar

da população. Quanto mais a ventura esportiva intensificar-se neste mundo

coalhado de provações e vicissitudes sem conta, maiores serão os seus proveitos

humanos e sociais.

Para Mosquera e Stobäus (1994), o desporto vive da atividade física e do

jogo, é uma atividade muito complexa expressada pelo jogo e pela atividade física,

que dá maior desenvolvimento na dimensão social, pois não é participação passiva

ou viciária, mas ativa, proporcionando um auto-crescimento e crescimento mútuo,

um dos aspectos fundamentais a serem considerados pelos gregos nos Jogos

Olímpicos. A atividade desportiva pressupõe intencionalidade de quem joga,

deixando de ser espetáculo para ser modelador de personalidade e de caracteres,

não visando apenas o público, o clube, a instituição, mas o desenvolvimento das

pessoas que dele participam.

O esporte, por envolver manifestações da cultura que mergulha em todas as

camadas sociais, e o futebol no Brasil é o que mais expressa essa manifestação por

estar na raiz das manifestações populares, ter se desenvolvido juntamente com a

cultura popular do país, valoriza-se também eticamente, embora sua importância

ética não seja considerada pelos humanistas afeiçoados às alturas das torres de

marfim. Nenhuma comunicação de massa é mais direta do que a comunicação

propiciada pelo esporte, pois o povo-massa não tem acesso a todas as culturas, por

33

insuficiência de meios e por outras razões. A cultura mais acessível ao povo advém

da própria vida esportiva (MOREIRA, 2000).

É através do esporte, da cultura desportiva que o homem pode possibilitar

melhores desenlaces ou aprimoramentos do comportamento humano. De acordo

com Mosquera e Stobäus (1994), um clube, uma entidade esportiva, uma escolinha,

não apenas tem significado de clube, de entidade, de escolinha, ou de elemento

constitutivo social, mas é através da sua atividade desportivas que leva as pessoas

a se sentirem solidárias e participantes de toda uma dinâmica social e cultural. Neste

sentido, o futebol, como expressão máxima da atividade esportiva no país, passa a

ser um elemento-chave para proporcionar a abertura dos indivíduos, dentro de um

determinado contexto evolutivo que compõe o sentido mais amplo de humanidade.

2.4 O PERFIL ESTRUTURAL DO PROJETO 2º TEMPO NA ESCOLA 2.4.1 A relevância da concepção adotada no esporte da escola

A educação física escolar enfrenta entraves que, na visão de Kawashima e

Branco (2006), são agravados pelo desinteresse, desinformação, utilização de

pedagogias inadequadas, entre outras características do profissional que atua na

área. A especialização precoce é um problema grave constantemente presenciado

na escola, pois os professores tentam transformar crianças em atletas, inspirados

pela glória da vitória nos diversos jogos escolares.

Neste caso, além de gerar problemas como estresse na competição,

saturação esportiva, lesões, formação escolar deficiente, ausência da diversificação

de movimentos e reduzida participação em jogos e brincadeiras cultiva ainda a

exclusão dos menos aptos. Neste caso, o esporte é trabalhado de forma

desorganizada, sem a continuidade e a evolução necessária ao aprendizado, sendo

que há o hábito de repetir os conteúdos nas diferentes fases do ensino, por exemplo

o futsal trabalhado na 4ª série é o mesmo da 6ª série, que por sua vez é o mesmo

do ensino médio (PAES, 2002).

Portanto, são inúmeros os desafios que percorrem o ambiente esportivo e em

alguns casos, as aulas de educação física escolar. Dentre eles, Galatti e Paes

(2006) destacam: a) a busca da plenitude atlética em crianças ainda em formação;

b) a exacerbação da competição em detrimento de valores educacionais; c) a

34

pressão psicológica exercida pelos professores e colegas em alunos considerados

menos habilidosos; d) a especialização esportiva precoce e a singularidade das

aulas limitando um aprendizado que deveria ser o mais amplo possível.

Por outro lado, não se pode afirmar com muita exatidão até que ponto

determinada atividade tem condições de promover o desenvolvimento puramente

pessoal ou até que ponto o desenvolvimento é meramente pessoal; de qualquer

sorte, diz Requixa (apud MACHADO, 1997), toda a atividade que acrescente alguma

coisa ao indivíduo estará lhe permitindo não apenas o enriquecimento pessoal, mas

certamente estará lhe proporcionando condições para reconhecimento de suas

responsabilidades sociais.

Isto pode ser notado de pronto na participação social mais ampla que as

atividades esportivas proporcionam ao indivíduo. Convivendo em novos grupos, o

ser humano vai alargando as fronteiras de seu mundo, intensificando suas

comunicações nos contatos que mantém com novos grupos humanos. Tais

experiências, tais vivências, segundo Requixa (apud MACHADO, 1997), formam o

verdadeiro conteúdo sócio-educativo das atividades esportivas, lembrando que a

educação é hoje vista como o grande veículo para o desenvolvimento, e o esporte é

encarado como o excelente e suave instrumento para servir de impulso para o

indivíduo desenvolver-se, aperfeiçoar-se, a ampliar seus interesses e sua esfera de

responsabilidades, inclusive sua responsabilidade social como cidadão.

No entanto, há uma grande defasagem entre a lei e a realidade da prática

desportiva no país. Análises contextuais das sociedades contemporâneas permitem

inferir que o esporte, nas suas várias dimensões, tornou-se um dos sustentáculos

universais da cultura. Contudo, a despeito de estar inspirado nos fundamentos

constitucionais do estado democrático de direito, e apesar de todas as campanhas

institucionais para o fomento de sua prática nas mais diferentes camadas da

sociedade, a atividade desportiva não é democrática, ainda não é um direito de

todos.

Vários projetos buscam o resgate de crianças e adolescentes, abrindo um

caminho por onde elas possam ser socializadas, reintegradas na sociedade. Há

projetos que visam proporcionar a essas pessoas o acesso à educação integral e à

preparação para o mundo interventivo, tendo a educação física, através da atividade

desportiva, como componente curricular do processo pedagógico. Sob esse prisma,

a criança como ser humano integral e em desenvolvimento, pode ser resgatado da

35

situação marginal estando, pois, na essência da educação física, o poder de

transformar o anti-social em social pleno (CORREA, apud RAMALHO, 2000). É incontestável, no entanto, que no Brasil das crianças e adolescentes de rua,

das gangues organizadas, dos assaltos praticados por meninos e meninas, esta é

uma utopia que se insere no ordenamento jurídico, mas ainda não conseguiu

materializar-se na realidade social, a não ser por algumas tentativas tênues de

órgãos, entidades ou mesmo pessoas bem intencionadas, mas que esbarram na

falta de apoio governamental ou mesmo particular, de empresas e empresários que

não querem ver que a aplicação de recursos na recuperação de crianças, bem como

a criação de oportunidades sócio-culturais implica na diminuição da criminalidade.

Marques (apud RAMALHO, 2000) reafirma a necessidade da participação

maciça na atividade esportiva, quando apregoa que o esporte deve ser parte

integrante de todo sistema educativo, sendo necessário para a educação equilibrada

e completa das crianças e dos jovens, os quais ele prepara para a sã utilização de

seus lazeres na idade adulta. É incompatível com o espírito do desporto toda

tentativa de restrição ao seu acesso por considerações sociais, políticas ou

religiosas, ou estabelecer qualquer discriminação similar.

Para Caillois (2000), o esporte, como ocupa um papel importante nas

manifestações culturais e relações sociais, insere nos povos uma espécie de fonte

de comunicação das massas. O esporte ainda não se tornou direito para todos. Para

Marques (apud RAMALHO 2000), qualquer que seja o nível social, todo desportista

deve ter a oportunidade de conseguir no desporto o objetivo de suas possibilidades,

e todas as instalações desportivas devem permitir, a todos, a prática em

circunstâncias favoráveis, do desporto de sua preferência.

Ainda há pessoas que não se utilizam desse meio para poder encontrar

realizações e, por isso, são criados vários projetos que se valem da atividade

esportiva, da mesma forma que a escola, como uma fonte de solução para crianças

e adolescentes que não, possuem condições de participar do meio social, através de

idéias concretas, através das quais se pode chegar aos objetivos (Caillois, 1990).

Dentre esses projetos, surge o Projeto Segundo Tempo, iniciativa

governamental que tem como objetivo a extensão da prática esportiva

para além do espaço escolar e como complemento do horário da escola. A atividade

esportiva como ludicidade torna-se mais atrativa para a criança e a beneficia na

medida em que desenvolve os aspectos morais e sociais.

36

2.4.2 O processo pedagógico na perspectiva da formação humana

A Educação Física passou por inúmeras mudanças até os dias de hoje. Esta

não procura apenas o desenvolvimento de capacidades motoras, mas também

sociais e cognitivas, visando a integração, a saúde e o conhecimento. Esta evolução

técnica, táctica, física, psicológica ou regulamentar, traduziu-se num aumento

exponencial de jogadores, treinadores e espectadores, conferindo-lhe uma elevada

dimensão social e econômica. E os esportes surgem como necessidade de

adaptação ao material e ao espaço existente nas cidades e, por conseqüência, nas

escolas, procurando modalidades que se possam ensinar em espaços reduzidos e

com pouco material (TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006).

O aspecto relevante para a construção de uma proposta pedagógica que

norteie o esporte da escola (e todo o conteúdo da educação física) é a

sistematização dos conteúdos, relevando os diferentes níveis de ensino e a

diversificação dos conteúdos. No caso das modalidades esportivas, não diferente

dos outros conteúdos, deve-se obedecer a uma seqüência de aprendizagem,

respeitando as características dos alunos em cada faixa etária, e trabalhando o

esporte de forma organizada e sistematizada (PAES, 2001).

A diversificação de movimentos, das práticas e manifestações ampliam o

universo de possibilidades dos alunos, já que a educação física escolar dispõe de

uma diversidade de formas de abordagem para a aprendizagem, entre elas as

situações de jogo coletivo, os exercícios de preparação corporal, de

aperfeiçoamento, de improvisação, a imitação de modelos, a apreciação e

discussão, os circuitos, as atividades recreativas, enfim, todas devem ser utilizadas

como recurso para a aprendizagem.

Segundo Wagner (1998), a atividade física permite que se vivenciem

diferentes práticas corporais advindas das mais variadas manifestações culturais e

se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida

cotidiana. As danças, os esportes, as lutas, os jogos e a ginástica compõem um

vasto patrimônio cultural que deverá ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além

disso, esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não

preconceituosa e não discriminatória diante de manifestações e expressões dos

grupos étnicos e sociais e as pessoas que dela fazem parte.

37

Segundo o mesmo autor, atualmente, há uma busca de superação dessas

concepções. A prática esportiva permite vivências diferentes, fazendo com que não

haja distinção quanto ao preconceito e a discriminação, permitindo que todos

participem juntos, cada vez mais, o que permite às pessoas interagirem e se

movimentarem como sujeitos sociais e como cidadãos. O esporte é um fenômeno

social e como tal deve ser desenvolvido. Tem toda uma série de motivações

individuais, mas apenas o jogo (o ludens) tem caráter pessoal de realização. No

mais, quer como acontecimento, que como ressonância, significado e arcabouço, o

esporte é, sobretudo, um fato social.

Nos últimos anos temos observado um crescimento exponencial dos esportes

em geral, com inegável progressão em termos qualitativos. Verificou-se uma

melhoria a todos os níveis, tais como: equipamento dos atletas, no treino e suas

vertentes, no tratamento das lesões específicas de cada modalidade, etc. No

entanto, ainda não é atribuída a alguns esportes a importância que a modalidade

merece, quanto mais não seja pelo número de praticantes federados, acrescidos de

outros milhares inseridos no desporto escolar e não federados, em especial se for

levado em conta os aspectos não esportivo-competitivos, mas a abordagem social,

emotiva e psicomotora de cada esporte (PAES, 2001).

Quando uma criança pratica esporte, ela acaba tendo uma melhora em sua

saúde, pois seu corpo que está em desenvolvimento, acaba tendo uma quantidade

controlada de exercícios, auxiliando assim seu organismo no crescimento e a

possuir uma maior resistência. Por outro lado, Teixeira e Teixeira (2006) destacam

que a educação está relacionada à disciplina e hierarquia, pois a criança recebe do

professor orientação quanto às regras do jogo e a respeitar seu antagonista,

acatando as decisões do árbitro e aprendendo a se socializar.

Na nova legislação desportiva, todo cidadão tem o direito de praticar esportes,

sendo respeitado dentro desta legalidade e disponibilidades, culminando no

Ministério dos Esportes, e que hoje várias Instituições são delegadas pelo poder

público, para incentivar e incrementar o esporte.

Em razão das atividades desenvolvidas, as crianças acabam se afastando

das ruas e conseqüentemente das drogas e más companhias, tendo início à criação

de um bom caráter e de um verdadeiro cidadão, que é o interesse maior de nosso

trabalho social. Portanto, complementam Teixeira e Teixeira (2006), as atividades

esportivas que são consideradas esporte de "massa", são importantes veículos a

38

serem utilizados no processo de socialização e educação das crianças, pois está

cada vez mais perto de todos.

Marinho (1981), afirma ter o esporte toda uma série de motivações

individuais, encerrando um caráter próprio e pessoal de realização. No mais, quer

como conhecimento, quer como ressonância, significado e arcabouço, o esporte

como um todo é, sobretudo, um fato social, podendo-se resumir em duas as

coordenadas sociais deste como atividade humana:

a) a intensa interação que o esporte promove entre as pessoas e grupos;

nota-se o afluxo de pessoas a um estádio, a movimentação delas dentro do estádio,

as coreografias, a participação/interação com os jogadores;

b) o amplo alcance de suas causas e efeitos nos grupos mais extensos,

como se pode inferir no interesse demonstrado pela atividade esportiva por parte de

autoridades, do Estado e, principalmente, da mídia, seja no plano nacional, seja no

internacional.

Para Busch (1999), a influência dos fatores psicológicos do tipo socializador é

inegável, seja em quem exerce a atividade esportiva, seja naquele que a

acompanha como espectador. Na análise deste aspecto, Ramalho (2000, p. 3)

examina os seguintes pontos:

a) toda atividade esportiva, enquanto segue normas, normas estas

controladas pelos árbitros, traz consigo uma aceitação de pontos sociais, ou seja, a

afirmação do conceito de grupo;

b) toda atividade esportiva, mesmo a mais isolada, traz implicitamente o

conceito de equipe, de grupo, para o qual existe a possibilidade de determinar-se

uma socialização, já que toda atividade esportiva inclui o conceito de grupo

sociológico;

c) toda atividade agonística permite uma avaliação de sentimentos de

segurança e de culpa, avaliação esta que se torna mais fácil porque está incluída no

âmbito de uma dinâmica de grupo, e não no âmbito de apenas um indivíduo,

isoladamente;

d) toda atividade agonística traz consigo uma avaliação da percepção de

risco, isto é, uma percepção da situação de periculosidade; tal avaliação é efetivada

em sentido social, ou seja, o risco ou perigo social, e não o pessoa, é o que importa

e o que virá a ser medido.

39

Os esportes em geral, segundo Moreira (2000), englobam todas essas

premissas, pois como atividade esportiva, estão delimitados por parâmetros, que são

as regras, além dos regulamentos de competições, sejam elas recreativas, pré-

desportivas, desportivas ou competitivas, como também têm restrições impostas

pela presença de adversários, companheiros, árbitros, dirigentes espectadores e

outros. Por outro lado, como é desenvolvido em grupo, por si só já determina a

função social, onde os indivíduos participantes têm que procurar integração, co-

participação e co-responsabilidades, onde os participantes são todos membros de

um resultado, sendo todo o grupo responsável pelas conquistas ou frustrações.

Com essas premissas, diz Marinho (1981), é possível afirmar que a atividade

esportiva se constitui em importante fator de determinação da integração grupal,

onde o trabalho em equipe permite a convivência mais sólida e o aprendizado sadio

do espírito de união e responsabilidade. A identificação com campeões, a busca

incessante de imitar moldes e modelos, performances e estilos de vida de ídolos, tão

freqüentes em pré-adolescentes e adolescentes, é um aspecto de desenvolvimento

social muito importante no escopo das ciências sociais e da Educação Física e

Escolar, principalmente.

Huizinga (1993) ressalta o fato de que o esporte desperta nas sociedades

jovens o espírito de liberdade, influindo positivamente no desenvolvimento de sua

personalidade, no equilíbrio de suas emoções. Esse fato resulta em benefício trazido

à própria sociedade, pois o indivíduo, através da atividade esportiva, se sente mais

solto, mais capaz de realizar, de produzir, de evoluir, constituindo-se em elemento

social.

40

3 METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 TIPO DE PESQUISA

Para a realização do presente estudo, foi feito um estudo bibliográfico, de

forma descritiva que, de acordo com Gil (1999), visa descrever as características de

determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre

variáveis. Pode envolver o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados, como

questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento,

e seu desenvolvimento é, prioritariamente, bibliográfico.

Para a complementação do estudo foi realizada uma pesquisa de campo, com

aplicação de um instrumento (Anexo A), desenvolvido pelo pesquisador e aplicado a

cinco professores que em núcleos do Projeto Segundo Tempo da cidade de Bagé,

RS, tendo como objetivo verificar os benefícios socializadores do esporte

desenvolvidos pelo trabalho dentro do referido programa.

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A pesquisa foi realizada tendo-se como parâmetro os núcleos do Projeto

Segundo Tempo na cidade de Bagé, os professores envolvidos no projeto e os

alunos de escolas públicas que participam do programa.

A amostra foi composta cinco professores que atuam com crianças na faixa

etária de 9 a 12 anos, que participam de quatro núcleos do programa, totalizando

120 crianças, de ambos os sexos, escolhidas aleatória e intencionalmente, isto é,

todas as crianças pertencentes aos núcleos escolhidos e dentro da faixa etária da

pesquisa compuseram a amostra. As crianças freqüentam de 3ª série a 6ª série do

ensino fundamental em escolas públicas da cidade de Bagé, RS. Os núcleos que

compuseram a amostra foram escolhidos de forma aleatória, sem critério específico.

3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA

Para a realização da pesquisa foi elaborado um questionário com questões

fechadas, cuja resposta deveria ser com uma alternativa, visando com isso facilitar a

interpretação dos dados e minimizar o tempo para a elaboração dos resultados.

41

O instrumento (Anexo A) foi elaborado pelo pesquisador de acordo com os

objetivos da pesquisa.

3.4 COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada através de pesquisa bibliográfica em livros,

revistas e documentos eletrônicos. O material foi selecionado, catalogado e,

posteriormente, editado para a elaboração do referencial teórico que deu suporte ao

trabalho. Para a pesquisa de campo, foi aplicado um instrumento de pesquisa a

cinco professores que atuam nos núcleos selecionados.

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

A análise e interpretação dos dados realizou-se através de uma análise

comparativa do referencial teórico, estabelecendo paralelos e divergências entre os

vários posicionamentos de diversos autores acerca da temática proposta, bem como

pelos dados da pesquisa de campo.

42

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Aplicando-se a pesquisa de campo em quatro núcleos do Projeto Segundo

Tempo da cidade de Bagé, RS, que trabalham com crianças na faixa etária entre 7 e

16 anos, procurou-se selecionar as que trabalham com maior número de crianças na

faixa etária entre 9 e 12 anos de idade, chegando-se a um total de 120 crianças

atingidas pela pesquisa, que foi realizada com professores que atuam nestes

núcleos (cinco professores).

Foi aplicado com os professores que atuam com as crianças dentro da faixa

etária da pesquisa, procurando-se investigar o comportamento a nível de

relacionamento social das crianças antes de iniciarem e após algum tempo de

treinamento desportivo (Anexo 1), tendo-se chegado aos seguintes resultados:

Tabela 1 Caracterização da amostra

NÚCLEO QUANTIDADE DE PROFESSORES

CRIANÇÂS ATENDIDAS

TEMPO DE TRABALHO

CLASSE SÓCIO-ECONÔMICA

A 2 40 2 anos Baixa

B 1 25 2 anos Média baixa

C 1 30 2 anos Baixa

D 1 25 2 anos Baixa

Na Tabela 1 é apresentada a característica da amostra que compôs a

pesquisa. Cada núcleo é identificado por letras maiúsculas. A amostra é

caracterizada pelo número de profissionais que nelas trabalham com crianças da

faixa etária da pesquisa, o número de crianças atendidas, o tempo de trabalho do

núcleo e a classe sócio-econômica das crianças atendidas.

Nota-se que a maioria das crianças atendidas pertencem à classe média

baixa, considerada aqui pelos professores as crianças que provém de famílias com

um nível sócio-econômico baixo, que enfrenta sérias dificuldades, e que apresentam

padrões de comportamento nem sempre satisfatórios na escola.

43

Esta é uma característica dos indivíduos que compõem os núcleos do

Programa Segundo Tempo na cidade, isto é, pertencerem a camadas sócio-

econômicas mais baixas da população, oriundos de comunidades pobres e com

poucas probabilidades de desenvolverem atividades esportivo-recreativas sem um

suporte público.

Normalmente são alunos de escolas públicas municipais, moradores de

bairros mais afastados do centro da cidade e que dependem até mesmo de

transporte gratuito para deslocarem-se até os núcleos.

As tabelas 2, 3, 4 e 5 apresentam o resultado do questionário aplicado junto

aos professores que atuam nos núcleos do programa na cidade de Bagé. A tabela 2

mostra os resultados da pesquisa no núcleo “A”, localizado no Bairro Getúlio Vargas.

Tabela 2 Resultado da pesquisa no núcleo “A”

Antes de Ingressar no Projeto

Após algum tempo de Projeto

NÍVEL

ATITUDE OT BM RG PS ÓT BM RG PS

Relacionamento com colegas

do núcleo

10

20

8

2

25

12

3

0 Relacionamento com

professores do núcleo

10

16

12

2

30

9

1

0 Relacionamento com outros

alunos de outros núcleos

15

10

15

5

30

9

1

0 Legenda:

OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo

A análise da Tabela 2 mostra uma grande evolução positiva nas atitudes dos

alunos que participaram por algum tempo dos trabalhos no núcleo “A”. Em todos os

níveis, segundo dados dos professores orientadores, houve melhora no

relacionamento com os demais elementos envolvidos no trabalho, principalmente

entre colegas.

A clientela do núcleo pertence, na sua maioria, a moradores de um bairro

próximo, cujo padrão sócio-econômico é médio-baixo. As crianças que freqüentam o

núcleo são, em grande parte, muito pobres.

44

O trabalho desenvolvido neste núcleo consta de futsal, basquetebol, voleibol e

atletismo, com modalidades de corridas de fundo e salto em distância. São

realizados dois encontros semanais com os alunos e as atividades são

desenvolvidas de forma alternada (um dia cada uma das modalidades) ou

concomitantemente (mais de uma modalidade por dia).

O tempo de desenvolvimento do trabalho com as crianças não é o mesmo,

haja vista que muitas crianças foram entrando no programa ao longo do

desenvolvimento deste, sendo possível que crianças que ainda não atingiram níveis

ótimo e bom na tabela de classificação acima estejam há menos tempo no programa

do que outros que já atingiram esses níveis.

A tabela 3 mostra os resultados da pesquisa no núcleo “B”. Este núcleo

localiza-se no Bairro Marília.

Tabela 3 Resultados da pesquisa no núcleo “B”.

Antes de Ingressar no Projeto

Após algum tempo de Projeto

NÍVEL

ATITUDE OT BM RG PS ÓT BM RG PS

Relacionamento com colegas

do núcleo

6

5

12

2

18

6

1

0 Relacionamento com

professores do núcleo

12

8

4

1

23

2

0

0 Relacionamento com outros

alunos de outros núcleos

10

8

5

2

21

2

1

1 Legenda:

OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo

A tabela 3 mostra os resultados da pesquisa realizada no núcleo “B”, onde

pode-se notar, a exemplo do núcleo “A”, que houve uma evolução acentuada nos

níveis de relacionamento das crianças que participam das atividades esportivas.

Neste núcleo são desenvolvidas atividades de atletismo nas modalidades de

salto em altura e distâncias, futsal, voleibol, basquetebol e handebol. Como no

núcleo “A”, as atividades são desenvolvidas de acordo com um planejamento e na

forma de dois encontros semanais com os alunos. As atividades são desenvolvidas

45

concomitantemente (mais de uma modalidade por dia), tendo em vista o pouco

tempo de contato com os alunos.

O tempo de treinamento das crianças também não é exatamente o mesmo,

sendo possível que alunos que ainda não atingiram níveis ótimo ou bom estejam há

pouco tempo no trabalho do núcleo.

A tabela 4 mostra os resultados da pesquisa desenvolvida no núcleo “C”. Este

núcleo localiza-se no Bairro Morgado Rosa, e abrange uma clientela formada por

crianças oriundas dos bairros adjacentes – Pró-Morar Brasil, Prado Velho, São

Judas e Balança, caracterizadas pelas condições sócio-econômicas baixas.

Tabela 4 Resultado da pesquisa no núcleo “C”.

Antes de Ingressar no Projeto

Após algum tempo de Projeto

NÍVEL

ATITUDE OT BM RG PS ÓT BM RG OS

Relacionamento com colegas

do núcleo

15

10

2

3

25

5

0

0 Relacionamento com

professores do núcleo

17

11

1

1

24

5

1

0 Relacionamento com outros

alunos de outros núcleos

15

7

6

2

23

6

1

0 Legenda:

OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo

A tabela 4 mostra os resultados da pesquisa realizada no núcleo “C”, onde, a

exemplo dos anteriores, houve uma evolução acentuada nos níveis de

relacionamento das crianças, com a maioria atingindo níveis ótimo ou bom, o que

evidencia um quadro de socialização bastante elevado.

As atividades desenvolvidas neste núcleo englobam futsal, basquetebol e

voleibol, além de atletismo, com saltos e arremessos. No entanto, a modalidade

mais praticada e desenvolvida é o voleibol. Como nos demais núcleos, os encontros

são duas vezes na semana e as atividades são desenvolvidas de forma

concomitante, isto é, mais de uma modalidade por encontro.

46

Como nos demais núcleos, o tempo de treinamento das crianças nem sempre

é o mesmo, podendo haver diversidade nos resultados em função dessa variante.

A tabela 5 mostra os dados do núcleo “D”, localizado no ginásio de esportes

Presidente Médici, que abriga alunos das comunidades de vários bairros da cidade,

principalmente Castro Alves, Stand, Vila Gaúcha, Comandante Kramer, entre outros,

cujas características sócio-econômicas se assemelham às das crianças dos outros

núcleos.

Tabela 5 Resultado da pesquisa no núcleo “D”.

Antes de Ingressar no Projeto

Após algum tempo de Projeto

NÍVEL

ATITUDE OT BM RG OS ÓT BM RG PS

Relacionamento com colegas

do núcleo

15

14

2

4

30

2

2

1 Relacionamento com

professores do núcleo

18

12

1

4

30

3

1

1 Relacionamento com outros

alunos de outros núcleos

10

10

12

3

28

2

4

1 Legenda:

OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo

A tabela 5 mostra no núcleo “D”, como de resto nos demais, houve uma

significativa evolução do nível de socialização das crianças.

As atividades desenvolvidas neste núcleo englobam futsal, voleibol,

basquetebol e handebol e são realizadas duas vezes por semana com cada grupo.

Na análise dos resultados obtidos na pesquisa em quatro núcleos do Projeto

Segundo Tempo na cidade de Bagé, RS, nota-se que mais de 80% das crianças

atingiram níveis ótimo e bom depois de algum tempo freqüentando atividades

esportivas nos núcleos, o que demonstra uma grande evolução se comparado com

os resultados anteriores.

Com base nesses dados, pode-se fazer uma comparação com o que diz Lira

Filho (1973) sobre o aumento dos proveitos humanos e sociais a partir do alcance de

glórias do esporte num mundo conturbado e complexo. Da mesma forma, Mosquera

47

& Stobäus (1984) afirmam que é através da atividade esportiva que o indivíduo

desenvolve melhores oportunidades de aprimoramento do comportamento humano,

pois, consolidando esta opinião, Callois (1990) diz que o esporte é importante nas

relações sociais.

Os dados apontam para uma melhora nas relações entre colegas

freqüentadores dos núcleos, bem como do relacionamento entre participantes de

vários núcleos entre si, além do aumento da sociabilização nas relações com os

professores e monitores dos núcleos.

Esses resultados também apontam na direção do que diz Huizinga (1986),

que o esporte desperta o sentido de liberdade, sendo positivo no desenvolvimento

da personalidade e no equilíbrio emocional, bem como reafirmam a posição de

Marinho (1981), que diz ser a atividade esportiva excelente no fomento do trabalho

em equipe e do sentido de responsabilidade, desenvolvimento a convivência mais

sólida entre grupos e no grupo, bem como o aprendizado sadio da união e da

participação comunitária.

De acordo com os professores, 75% dos alunos participantes dos núcleos

tiveram uma mudança de atitudes muito grande após algum tempo no projeto; 15%

tiveram mudanças grande, 5% apresentaram apenas uma mudança média e para

5% a mudança foi pequena. Ainda segundo os professores entrevistados, quanto à

evolução do nível de sociabilidade dos participantes dos núcleos investigados,

consideram que 80 tiveram uma evolução muito grande, 10% uma grande evolução

e 10% entre média e pequena evolução. Os dados mais uma vez confirmam a

importância do esporte como fator de socialização em crianças, sendo estes

resultados limitados à faixa etária pesquisada.

A posse e o uso de conhecimentos da cultura corporal do movimento

possibilitam o cultivo do sentimento de pertinência ao grupo, desde o sócio-cultural

mais abrangente, até os grupos de convívio cotidiano. Podem constituir-se em

valioso instrumento de relacionamento social, pois ao jogar e praticar esportes, a

criança pode revelar intenções, expressar sentimentos, construir estratégias e criar

códigos de comunicação. Através da educação física e do esporte o indivíduo

aprende a conviver em grupos, sendo a relação social nesse caso, muito importante

no que se refere à satisfação de participar de atividades esportivas, aumentando

vivências e aprendizado (BROTTO, 1999).

48

Há indícios seguros de que o papel do esporte na formação e no

desenvolvimento do homem, bem como sua influência sobre a sociedade

contemporânea ainda não foram percebidos claramente por parcelas relevantes das

camadas dirigentes de inúmeros países, entre eles o Brasil (MACHADO, 1997;

BROTTO, 1999). A pesquisa esportiva compreende inúmeras incursões científicas

no campo do esporte de competição, buscando a causalidade anatômica, fisiológica,

intelectual, tática e ambiental na quebra de recordes (PAES, 2001) e no

aperfeiçoamento técnico em geral, permanecendo restrita a pequenos grupos,

florescendo em poucos países (MARQUES, 2001).

O senso comum, segundo Medina (1989, apud TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006),

considera freqüentemente o fato de que o espírito de equipe se adquire por uma

longa prática dos esportes coletivos, que forma um excelente meio de introdução à

vida em sociedade. Esporte praticado na escola através de modalidades esportivas,

prepara e orienta o aluno a ter uma formação e um convívio social (BRACHT, 1997).

Quando se fala em desenvolvimento pessoal, faz-se referência à possibilidade que a

prática de ocupações de lazer torna viável. Não é difícil imaginar o reflexo de tal

crescimento de compreensão e, sobretudo, de melhoria da faculdade de percepção

no que diz respeito ao melhor equipamento humano para responder e fazer face aos

problemas teóricos e práticos que o meio ambiente impõe. O indivíduo terá, então,

os meios para melhor compreender sua posição no grupo, na comunidade, na

sociedade em geral, revestir-se de responsabilidades e discernir seu papel de

participante para a realização dos objetivos maiores da sociedade (Requixa, 1980,

apud MACHADO, 1997).

Convivendo em novos grupos, o ser humano vai alargando as fronteiras de

seu mundo, intensificando suas comunicações nos contatos que mantém com novos

grupos humanos (GALLATI e PAES, 2006). Tais experiências, tais vivências,

segundo Gáspari e Schwartz (2001), formam o verdadeiro conteúdo sócio-educativo

das atividades esportivas, lembrando que a educação é hoje vista como o grande

veículo para o desenvolvimento, e o esporte é encarado como o excelente e suave

instrumento para servir de impulso para o indivíduo desenvolver-se, aperfeiçoar-se,

a ampliar seus interesses e sua esfera de responsabilidades, inclusive sua

responsabilidade social como cidadão.

Como principal facilitador do ensino do esporte, destaca-se a importância

do jogo no processo de formação do aluno, como é defendido por Freire (1998) e

49

Paes (2001). O jogo é o procedimento pedagógico mais utilizado na escola porque

necessita de poucos materiais, o que já se sabe é escasso nas escolas. Através do

jogo, a sociedade se desenvolve, o aluno é motivado a aprender, as habilidades são

aperfeiçoadas, desenvolvem a criatividade, a cognição e aprendem a resolver

problemas e a tomar decisões. Além de estimular a inclusão e o desenvolvimento

das inteligências múltiplas, entre outros (TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006). Sendo o o

esporte uma das manifestações mais populares do mundo, não se pode deixar de

destacar sua relevância para a cultura corporal de movimento na escola e sua

conseqüente influência na aprendizagem sociocultural e motora dos alunos

(KAWASHIMA e BRANCO, 2006).

Quando uma criança pratica esporte, ela acaba tendo uma melhora em sua

saúde, pois seu corpo que está em desenvolvimento, acaba tendo uma quantidade

controlada de exercícios, auxiliando assim seu organismo no crescimento e a

possuir uma maior resistência (PAES, 2001). A educação está relacionada à

disciplina e hierarquia (PAES, 2002), pois a criança recebe do professor orientação

quanto às regras do jogo e a respeitar seu antagonista, acatando as decisões do

árbitro e aprendendo a se socializar (KARKANSAS e ROSE, 2002).

O espírito desportivo abre, amplia e intensifica vínculos entre pessoas e

grupos; confraterniza, estreitando as relações comunitárias e a compreensão

humana. O futebol, o voleibol, o basqutebol, o handebol, entre tantos outros,

apresenta, segundo Azeredo (apud WAGNER, 1998), fatores de valorização, sem os

quais muitos jovens jamais teriam praticado esportes, pois eles vencem todos os

preconceitos da sociedade. Busch (1999) refere-se ao fato social em estado maciço

que os esportes consubstanciam, atuando, segundo Tubino (2001), no

comportamento do povo brasileiro e influenciando culturalmente a formação das

sucessivas gerações; chegando a criar, até mesmo, um novo status de vida

profissional. Hoje, o espetáculo futebolístico constitui uma atração que aplaca muitos

desvios perniciosos no itinerário aberto ao movimento social nutrido pelo povo

(WAGNER, 1998).

50

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas atividades complementares ao trabalho escolar têm sido

desenvolvidas por pessoas, órgãos ou entidades com o intuito de promover algum

tipo de envolvimento da criança em esportes, e essa iniciativa tem sido fundamental

para o desenvolvimento de aspectos afetivos do indivíduo. Isso foi demonstrado ao

longo da revisão de literatura deste trabalho, da mesma forma que é possível

comprovar através da observação de iniciativas nesse sentido, como o Projeto

Segundo Tempo, desenvolvido em várias cidades, entre as quais Bagé.

É impossível deixar de ressaltar a importância que a prática esportiva tem

desde a infância como relevante instrumento de socialização, de competição e de

convívio fraterno, além de incluir valores de responsabilidade e de dever que,

seguramente, influenciam a formação da personalidade e do caráter de crianças e

adolescentes. Por serem seres em desenvolvimento, as crianças e adolescentes

necessitam de trabalho físico e psíquico para atingir, na idade adulta, um

crescimento físico perfeito e um equilíbrio psicológico que lhe assegure solidez de

personalidade.

A possibilidade de convívio social, com regras delimitadoras, a possibilidade

de intercâmbio, de ajustamentos, de integrações e de interatividade dentro dos

grupos esportivos de que participa, em atividades de esportivo-recreativas, permite à

criança e ao jovem o desenvolvimento de seu aspecto social de forma mais intensa,

fazendo com que a aceitação dos padrões impostos pela sociedade e o reforço do

sentido familiar sejam muito maiores. Advém disso a importância que esse tipo de

atividade representa no desenvolvimento de vários valores afetivos da criança,

quando, num mundo conturbado e sem muitas regras, se tornam importantes todas

as iniciativas para o desenvolvimento harmônico do indivíduo, o que facilitará a sua

adaptação e aprendizado escolares.

51

O papel do professor é de extrema importância para o desenvolvimento de

valores na criança e no adolescente, através do fomento de novas atitudes através

de atividades que ela gosta, sendo preciso utilizar o interesse da criança por

atividades esportivas para acrescentar outros objetivos. Além disso, o profissional de

educação física é quase sempre o mais próximo dos alunos, pois a informalidade

dos trajes e o fato de a avaliação ser menos rigorosa são fatores que ajudam a

popularizá-lo.

Por outro lado, sendo a pessoa que joga o principal foco da pedagogia do

esporte e sendo a ele oferecidas possibilidades de desenvolvimento motor,

cognitivo, afetivo e social, o professor de educação física estará contribuindo não

apenas para o surgimento de atletas, mas também, e principalmente, para a

formação de cidadãos mais conscientes da comunidade em que vivem. Isso se dá

em função dos estímulos proporcionados no âmbito esportivo, sendo capazes de

analisar e intervir de forma crítica e transformadora na sociedade.

O trabalho desenvolvido na cidade de Bagé por várias entidades esportivas,

assim como pelos projetos engajados no desenvolvimento de atividades esportivo-

recreativas para crianças e adolescentes, ainda que não tenham estas como

objetivo prioritário o desenvolvimento de valores morais, permite constatar que a

atividade esportiva é importantíssima como elemento auxiliar no desenvolvimento de

espírito de grupo, na ampliação da responsabilidade comunitária, bem como na

mudança de atitudes da criança a partir do momento em que ela tem que aprender a

respeitar regras, companheiros, adversários, hierarquias.

Assim, a atividade esportiva, nas suas mais variadas manifestações, permite

uma participação maior, mais abrangente, menos excludente, facilitando a condução

das atitudes dos grupos de trabalho, dependendo isso da ação do professor que

atua no grupo, isto é, sendo muito importante o seu papel como elemento que

desencadeia o processo social na criança pela forma de atuação. Dessa forma, é possível concluir, com base no referencial teórico

desenvolvido ao longo deste estudo, que o esporte constitui-se em excelente meio

de desenvolvimento da sociabilidade da criança e do adolescente, sendo, dessa

forma, um caminho para a educação ou reeducação de atitudes num contexto

escolar em que se manifesta a indisciplina. Através de um programa de esportes,

que pelas suas características coletivas e obediência às regras, se projete como

52

esporte de educação do caráter e da personalidade, é possível remeter a uma

condição em que a criança e o jovem se sinta valorizado e, a partir disso,

desenvolva seu espírito de cidadania e espírito social.

Ações voltadas ao desenvolvimento de atividades esportivas, em todos os

níveis, abrangendo todas as modalidades e com vista a atingir cada vez mais um

maior número de crianças e adolescentes, será de extrema importância no

desenvolvimento de atitudes sociais, emocionais e afetivas dos grupos atingidos,

contribuindo para o desenvolvimento social e a mudança de atitudes de clientela

alvo.

O trabalho desenvolvido na cidade de Bagé pelos vários núcleos do Projeto

Segundo Tempo permite, de acordo com os resultados da pesquisa, pelas respostas

dos professores, concluir-se que a atividade esportiva desenvolvida nestes núcleos

tem sido importantíssimo em vários sentidos: como elemento auxiliar no

desenvolvimento de espírito de grupo, na ampliação da responsabilidade

comunitária, bem como na mudança de atitudes da criança a partir do momento em

que ela tem que aprender a respeitar regras, companheiros, adversários,

hierarquias. Assim como outras atividades que envolvem a criança, o esporte

permite uma participação maior nos grupos, mais abrangente e menos excludente,

facilitando a condução das atitudes dos grupos de trabalho, dependendo isso da

ação do professor que atua no grupo, isto é, sendo muito importante o seu papel

como elemento que desencadeia o processo social na criança pela sua forma de

atuação.

53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

57

Anexo 1: Instrumento de pesquisa

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA - MINISTÉRIO DO ESPORTE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR

ENTREVISTA

Núcleo: ....................................................... Prof.: ................................................

Tempo de Funcionamento: ............................ Tempo da Turma: ..........................

Nº de Alunos no Núcleo: ........... Nº de Alunos com 9 a 12 anos: .............

___________________________________________________________________

QUESTÕES: 1. Como era o relacionamento da criança quando entrou no núcleo?

a) Com os colegas: ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

b) Com o professor ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

c) Com outras escolinhas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

2. Como é atualmente o relacionamento da criança nas atividades do núcleo?

a) Com os colegas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

b) Com o professor ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

c) Com outras escolinhas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

3. Como os pais comentam ser o relacionamento da criança em casa quando do seu

ingresso no projeto:

a) Com os irmãos ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

b) Com os pais ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

c) Com outras crianças ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

4. Como os pais comentam ser o relacionamento da criança em casa após algum tempo de

freqüência ao projeto:

a) Com os irmãos ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

b) Com os pais ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

c) Com outras crianças ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

5. Você acredita que seus alunos tiveram alguma mudança de atitudes após começarem a

freqüentar as atividades no projeto, e essa mudança, se houve, foi?

( ) Muito Grande ( ) Grande ( ) Média ( ) Pequena ( ) Nenhuma

6. Você acredita que seus alunos evoluíram socialmente após começarem a freqüentar as

atividades no projeto, e essa evolução foi?