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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA - MINISTÉRIO DO ESPORTE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR
ALESSANDRO BOER
O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES
Brasília
2007
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ALESSANDRO BOER
O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.
ORIENTADORA: MS. PROF.ª HAYDÉE DA SILVEIRA FRANÇA DE VARGAS
Brasília (DF), 2007
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BOER, Alessandro
O papel do esporte na socialização de crianças em idade
escolar: o processo de mudança de atitudes. Brasília, 2007.
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília.
Centro de Ensino a Distância, 2007.
1.Formação –2. Educação Física; 3.Esporte.
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ALESSANDRO BOER
O PAPEL DO ESPORTE NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: O PROCESSO DE MUDANÇA DE ATITUDES
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro
de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa
de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, para
obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar, avaliada pela comissão
formada pelos professores:
Leitora: Prof.ª MARISETE PERALTA SAFONS
Ms. Prof.ª HAYDÉE MARIA DA SILVEIRA FRANÇA DE VARGAS
Brasília (DF), dezembro de 2007.
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Dedico este trabalho a todos aqueles que doam um pouco de seu tempo para tornar a vida das crianças um pouco melhor do que seria sem eles.
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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pelo Dom da vida, da luz e da sabedoria que possuo; Agradeço a minha família, pelo companheirismo em momentos difíceis da vida; Agradeço aos amigos, tão presentes nas horas necessárias; Agradeço aos colegas, pelo incentivo na luta pela qualificação e crescimento; Agradeço à Universidade de Brasília, e ao Centro de Ensino à Distância, pela oportunidade de atualização; Agradeço, de forma especial, aos professores do Curso de Pós-Graduação, pelos conhecimentos adquiridos. Agradeço, com carinho, à Professora Haydée Maria da Silveira França de Vargas, Orientadora do Curso de Especialização em Esporte Escolar, pela dedicação e atenção prestados ao longo do tempo.
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"No que diz respeito ao empenho, ao
compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe
meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou
não faz. No que acredito mesmo é em Deus."
Airton Sena da Silva
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar as interferências do esporte escolar no desenvolvimento de atitudes socializantes e na formação do caráter e da personalidade do estudante, a partir de estudos e trabalhos já desenvolvidos sobre o tema. Através de uma pesquisa bibliográfica, analisando estudos de vários autores sobre o processo de socialização humana, destaca as fases da evolução infantil e considera a relevância do jogo como parte importante na afirmação da criança e como meio de contato com os outros indivíduos. Aborda o desenvolvimento da socialização e do desenvolvimento infantil e de adolescentes, procurando verificar a importância do esporte como formador de atitudes nas crianças e jovens, através do processo educativo escolar e do desenvolvimento do esporte na escola. Investigou-se que tipo de modificações se processam no adolescente a partir do esporte, os benefícios deste na formação do jovem e, finalmente, como o a atividade esportiva pode contribuir para a socialização da criança e do adolescente, determinando mudanças no seu comportamento a partir do papel do professor no planejamento e execução da educação física escolar.
Palavras-chave: Formação – Educação Física - Esporte
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracterização da amostra ...................................................................
Tabela 2 - Resultado da pesquisa no núcleo “A” ...................................................
Tabela 3 - Resultados da pesquisa no núcleo “B” .................................................
Tabela 4 - Resultado da pesquisa no núcleo “C” ...................................................
Tabela 5 Resultado da pesquisa no núcleo “D” .....................................................
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SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................1.1 JUSTIFICAIVA ..................................................................................................1.2 PROBLEMA ......................................................................................................1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................1.3.1 Objetivo geral ...............................................................................................1.3.2 Objetivos específicos .................................................................................. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: FORMAÇÃO / EDUCAÇÃO FÍSICA / ESPORTE ...............................................................................................................2.1 EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E SOCIEDADE .....................................................2.1.1 O aspecto social da educação ....................................................................2.1 2 A formação pedagógica no esporte da escola ..........................................2.2 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA ............2.2.1 O desenvolvimento infantil .........................................................................2.2.2 Desenvolvimento físico ...............................................................................2.2.3 Desenvolvimento psíquico e social ............................................................2.3 O SUJEITO APRENDIZ E A EDUCAÇÃO FÍSICA ..........................................2.3.1 Atividade física e sociabilidade ..................................................................2.3.2 O jogo na infância – prazer, liberdade e disciplina ...................................2.3.3 A importância do esporte para o adolescente ..........................................2.3.4 Benefícios biopsicossociais do esporte ....................................................2.4 O PERFIL ESTRUTURAL DO PROJETO 2º TEMPO NA ESCOLA ...............2.4.1 A relevância da concepção adotada no esporte da escola ......................2.4.2 O processo pedagógico na perspectiva da formação humana ............... 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................3.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA .............................................................................3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA ......................................................................3.4 COLETA DE DADOS ........................................................................................3.5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... ANEXOS .................................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a grande preocupação de professores, gestores de educação e
de especialistas - os pedagogos - não se refere tanto à aprendizagem
especificamente, mas aos fatores que nela interferem, em especial aqueles que
dificultam seu desenvolvimento. E entre estes fatores, a dificuldade de controle
disciplinar, a falta de atitudes é um dos fatores preocupantes na formação de
crianças e adolescentes.
Existem muitos tipos de atividades lúdicas e várias teorias para explicar seus
propósitos. Através do brincar as crianças crescem e exercitam suas capacidades
físicas, aprendem a respeito de seu mundo e fazem frente a emoções conflitantes.
"Para a criança, escreveu Claparéde (CHATEAU,1997), o jogo é o trabalho, o bem o
dever, o ideal da vida. É a única atmosfera na qual seu ser psicológico pode respirar
e, conseqüentemente pode agir". A criança é um ser que brinca/joga e nada mais.
Proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo é uma das tarefas
fundamentais da Educação Física, em especial se este indivíduo é uma criança ou
um adolescente, e se esta atividade é escolar. Esse desenvolvimento poderá ser
atingido, no entanto, de diferentes maneiras e por diversos caminhos, entre os quais
estão as mais variadas formas de atividade física, recreativa, desportiva e
competitiva que o professor poderá oferecer aos seus alunos. Ultimamente, os
problemas envolvendo a educação deixaram de ser discutidos apenas pelos
profissionais da área pedagógica, e muitos setores se preocupam com a importância
da atividade física no desenvolvimento da criança como um todo.
Para Papalia (1991), o jogo e o brinquedo da criança não representam para
ela o mesmo que o jogo e o divertimento para o adulto, passatempo com que ocupa
o seu lazer. Brincar não é ficar sem fazer nada, pois ensina a criança a viver.
Brinquedo é trabalho de criança, atividade através da qual ela se desenvolve,
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descobre seu papel, seu lugar e seu limite, experimenta novas habilidades e forma
um verdadeiro conceito de si mesma.
1.1 JUSTIFICAIVA
Em face do crescimento da indisciplina nas escolas, urge uma tomada de
atitudes frente ao problema. Incentivar a mudança de atitudes através da prática
esportiva tem se constituído em uma alternativa no tratamento de problemas de
aprendizagem e desvio de conduta como a indisciplina, para alunos do Ensino
Fundamental, em idade de pré-adolescência e adolescência.
Assim, esse trabalho visa obter dados importante acerca do comportamento
infantil, ao mesmo tempo que objetiva o reconhecimento e valorização do
profissional de Educação Física na busca de soluções dos problemas educacionais
atuais, sendo, por isso, de uma relevância ímpar e de fundamental importância como
meio de apoio a profissionais da área e professores na realização de um processo
de ensino-aprendizagem mais eficiente, sendo, por isso, plenamente justificada sua
elaboração.
O tema é importante na medida em que busca uma alternativa para o
problema da inadaptação escolar dos alunos, refletida por atos de indisciplina,
através de uma prática comum nas escolas: a atividade esportivo-recreativa.
1.2 PROBLEMA
Para Piaget (1932, apud BEE, 1997), é brincando que a criança aprende a
distinguir seus desejos e fantasias da realidade. Com os brinquedos aprende a
utilizar os objetos, a coordenar seus movimentos, tornando-os mais precisos. É
através de jogos e brinquedos que a criança encontra suas soluções e uma forma
pessoal de um lugar no grupo.
Se através do jogo a criança adquire e aprimora atitudes morais, esse
trabalho procura responder ao seguinte problema:
“De que forma o esporte escolar, na forma de atividade desportivo-recreativa,
desenvolvido na escola de forma lúdica, poderá contribuir para a sociabilização e
melhoria das atitudes das crianças na escola?”
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1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral
O objetivo geral deste estudo é analisar o esporte, enquanto atividade escolar
lúdica, como atividade de desenvolvimento social e na educação de atitudes em
crianças em idade escolar.
1.3.2 Objetivos específicos
São objetivos específicos deste estudo:
- Verificar o processo de socialização;
- Contextualizar a relação entre a escola e a comunidade;
- Constatar o elemento formador do esporte;
-Reconhecer o esporte como estratégia na prática esportiva, na promoção da
saúde mental, física e social do sujeito.
- Reconhecer o esporte, como estratégia na prática desportiva, na promoção
da saúde física, mental e social do sujeito.
O estudo foi dividido em partes, sendo esta primeira objetiva uma explanação
sobre o tema e o desenvolvimento do estudo, e abordando o ser humano dentro do
contexto social e seu desenvolvimento como indivíduo de sociedade. A segunda
parte enfoca o desenvolvimento infantil, destacando os seus aspectos físico,
psíquico e social. A terceira parte tem como meta analisar a formação do jovem e
sua relação com a atividade esportiva, traçando um paralelo entre o jogo e o
desenvolvimento infantil, sua importância na fase infantil e da adolescência e como
elemento de socialização da criança, promovendo a educação de atitudes e a
formação do caráter e o desenvolvimento do processo de socialização. Finalmente a
quarta parte refere a metodologia utilizada na elaboração do trabalho, onde é feita
uma pequena discussão dos dados apresentados nos referencial teórico, com o fim
de conduzir o estudo para as considerações finais.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: FORMAÇÃO/EDUCAÇÃO FÍSICA/ESPORTE 2.1 EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E SOCIEDADE
A pedagogia ativa apregoa que a educação equivale a formação, isto é, ao se
proporcionar condições de educação à criança, é preciso também proporcionar
oportunidades de o indivíduo crescer em todos os seus aspectos, e não apenas em
conhecimentos. Esta formação está ligada ao desenvolvimento da
capacidade/habilidade, ao engrandecimento e modificação da capacidade motora e
na integração social, aspectos que passam pela inserção desse indivíduo no grupo
em que vive, fazendo parte dele como membro atuante, e não apenas como
expectador.
Para Dressler e Willis (1998), uma sociedade consiste em todas as pessoas
que compartilham um modo de vida distinto e contínuo, isto é, uma cultura, e que
pensam em si mesmas como um povo unido, podendo ser uma pequena
comunidade rural, uma grande cidade, uma região ou uma nação inteira. Para Linton
(1936, apud LÜSCHEN e WEIS, 1999), a sociedade é uma unidade funcional e
operante e, embora composta de indivíduos, elas funcionam como entidades
próprias, onde o interesse de cada um de seus membros componentes são
subordinados àqueles do grupo inteiro. Para que uma sociedade sobreviva deve
procurar satisfazer às necessidades básicas para a ordem social: providenciar
condições materiais, renovar a população, educar crianças e reafirmar valores.
Para Dressler e Willis (1998), a socialização é o processo pelo qual se
perpetua c cultura, definindo a socialização como o processo pelo qual o indivíduo
aprende e adota os padrões e normas de comportamento tidos como apropriados
em sua cultura. Para os autores, as influências sociais operam de maneira diferente
e se dão através do meio e este pode ser definido como todas as condições e
circunstâncias externas que cercam um organismo em uma dada época.
Mosquera e Stobäus (1994) salientam que o ser humano aprende o
comportamento social, em parte, através da comunicação simbólica. Um símbolo é
qualquer expressão verbal falada ou escrita, não verbal, gesto ou som significativo
não produzido por um ser humano, que pretende representar ou transmitir um
significado.
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Dressler e Willis (1998) apontam que a aprendizagem do comportamento
social, isto é, a socialização, ocorre quando o indivíduo modifica seu comportamento
a fim de satisfazer uma necessidade, e a aprendizagem acontece quando existe
resposta à comunicação, seguindo o exemplo humano de utilizar tentativas de
ensaio e erro através de um processo de pensamento.
Para Mosquera e Stobäus (1994), algumas generalidades da socialização
podem ser apontadas. O conteúdo da socialização é transmitido tanto formal quanto
informalmente e quanto mais acordo houver entre as normas e os valores da
sociedade, mais facilmente ocorrerá a socialização. Esta é cumulativa, é contínua;
nenhum indivíduo interioriza a cultura total de uma sociedade e todas as sociedades
permitem um desvio de suas normas como processo normal de socialização.
A tendência da sociedade atual parece conduzir o indivíduo a sua própria
desumanização, na qual o corpo é silenciado enquanto elemento comunicativo, o
movimento livre é condicionado e a vida em coletividade sufoca as atitudes
cooperativas espontâneas, e o exercício da liberdade e da cidadania. Nesse
contexto estão inseridos os adolescentes, cujos interesses e expectativas
encontram-se em constante processo de transição e, contraditoriamente, são
permeados por estereótipos que lhes conferem atitudes socialmente impostas
(GÁSPARI e SCHWARTZ, 2001).
Para Richardson (1999), cada sociedade, em cada contexto histórico-cultural,
compreende de modo diferente as etapas da vida humana, definindo a duração
delas, suas características e direitos legais. Ao lado dessa legalidade, que confere
ao jovem direitos básicos - como o de brincar, de praticar esportes, de divertir-se, de
expressar opiniões próprias, de desfrutar de momentos de lazer e de participar da
vida política de sua comunidade -, emergem estereótipos, nos quais a sociedade
constrói e reforça determinada imagem para este ser em transição. É a
transitoriedade dessa etapa de vida humana adolescente que parece justificar tais
estereótipos, apoiada numa fragilidade que o caracteriza fora da cadeia produtiva e
como pessoa que ainda não sedimentou hábitos, atitudes e valores esperados pela
sociedade.
Face ao quadro exposto, o jovem tem buscado alternativas capazes de lhe
conferir condutas carregadas de senso crítico e, ao mesmo tempo, capazes de
exteriorizar suas contribuições para as transformações sociais necessárias. O
adolescente, enquanto sujeito e espectador da sociedade vê no esporte uma dessas
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alternativas, na qual tem a possibilidade de exercitar opções qualitativas,
incrementando suas experiências significativas. O fenômeno esportivo é
caracterizado por uma lógica própria, que difere da lógica social e é percebido
diversamente pelos inúmeros segmentos da sociedade. O adolescente,
representando um desses segmentos, é seu desenvolvimento próprio, com reflexos
em seu papel social.
2.1.1 O aspecto social da educação
A abertura da escola para a contribuição da comunidade pode incentivar, em
toda dimensão sócio-cultural cuja aprendizagem contempla o desenvolvimento de
capacidades cognitivas, afetivas, corporais, éticas, estéticas, de relação interpessoal
e de inserção social. Essas capacidades são contempladas ao se oferecerem
modalidades esportivas tanto de caráter individual, como coletivas, em ambiente de
competição ou de recreação. Para Caillois (2000), a escola deve estar integrada
com a comunidade através de práticas esportivas e recreativas, fazendo com que os
alunos aprendam a desfrutarem de jogos individuais ou coletivos, desenvolvendo
várias capacidades que os ajudarão no desenvolvimento e na sua formação física e
social.
Num sentido muito preciso, educação é formação do indivíduo em todos os
seus aspectos e possibilidades. Para Dunalop (apud BROOKOVER, 1995), educar é
formar o homem inteligente, o homem bom, o homem em suas faculdades gerais e
suas faculdades individuais, é proporcionar ao indivíduo os elementos de
aperfeiçoamento pessoal. Formar o indivíduo é, assim, o objetivo definitivo de todo o
processo educativo. Em suma, educação é o pleno desenvolvimento da
personalidade humana.
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que
não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e
desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais
reclamados pela sociedade política no seu conjunto, e pelo meio especial a que a
criança particularmente se destina. O aspecto social da educação vem sendo
acentuado por todos os especialistas modernos. O lado social é o grande problema
educativo.
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Para Jacquin (1990, apud RAMALHO, 2000), a educação é o fenômeno social
através do qual a geração adulta transmite à geração mais nova as conquistas da
sua civilização. A vida social se perpetua através da Educação. Não fosse esta, cada
geração teria que recomeçar a vida social quase no período selvagem. Fontoura
(apud RAMALHO, 2000), acrescenta ainda que para que a educação possa
desenvolver o aspecto social é indispensável que o próprio centro de educação, seja
ele de que natureza for, se organiza como uma pequena sociedade, reproduzindo,
dentro de seus domínios, a vida social da comunidade. Assim, ela não deve tratar
apenas de todos os assuntos que interessam à comunidade, mas, além disso, deve
reproduzir os processos de vida da comunidade.
À medida que os conhecimentos humanos foram sendo aumentados, as
ciências primitivas, clássicas, evoluíram, fragmentaram-se, subdividiram-se e cada
um de seus setores, das suas especializações agigantaram-se com bases de uma
ciência autônoma. Começa a se envolver mais no processo educacional, no
processo trabalhista, no processo político, no processo esportivo. A educação física,
então, começa a sair de seu espaço fechado, deixando de ser apenas uma ciência
formativa do corpo, da massa muscular, para alcançar seus verdadeiro caminho, o
do desenvolvimento físico, intelectual, moral e social do indivíduo.
Segundo Connolly, (apud MOREIRA, 2000), os movimentos são importantes
biológica, psicológica, cultural e socialmente. Biologicamente, por se constituem em
atos que solucionam problemas motores; psicológica, cultural e socialmente , porque
a comunicação, a expressão da criatividade e dos sentimentos são feitas através do
movimento. É através deles que o ser humano se relaciona com os outros, consigo
mesmo, aprende sobre si mesmo e, sobre o que é capaz de fazer.
Fontoura (apud RAMALHO, 2000) diz que, no entanto, a educação física não
acompanhou o movimento renovador da escola, conhecido pela denominação de
Escola Nova; manteve-se por muito tempo aferrada aos processos que utilizava e
que se caracterizam por um artificialismo exagerado, traduzido por exercícios
analíticos, que pretendiam fazer o organismo trabalhar por parcelas, cada uma de
per si, sem procurar atender às necessidades integrais, concomitantemente, como
reclama a própria criança. É indispensável atender aos seus impulsos genéticos,
oferecer-lhe atividades indispensáveis ao exercício das funções, para as quais os
órgãos vão alcançando maturidade espiritual. Mas é preciso, também que sejam
observados os aspectos interiores da criança.
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Seguindo a ótica de que estão havendo transformações no campo da
educação, no sentido de que esta se voltou ao desenvolvimento do homem como
um todo indivisível, participante, crítico, reflexivo, a atividade física, seja de que
natureza for, não poderia deixar de participar desse processo, lutando por espaços
onde possa atuar efetivamente para a formação deste homem. Uma das formas que
se tem para isso, é orientando a atividade física desde os primeiros anos e, para
isso, é preciso que se conheça a criança, suas características, necessidades e
interesses, que esteja bem definida a importância do movimento para o
desenvolvimento do ser humano em todos os seus aspectos.
Tem-se à disposição, na atividade física, uma variada gama de sugestões
educativas, mas o importante é que elas sejam desenvolvidas de acordo com os
objetivos da educação física global, atingindo, primeiramente, os efeitos fisiológicos
locais gerais, o sentido muscular, as funções de equilíbrio e os órgãos sensoriais,
que se aperfeiçoam, bem como objetivando o aperfeiçoamento das funções mentais,
como atenção, imaginação, memória, raciocínio, além da aquisição de bons hábitos
ou virtudes morais, como lealdade, bondade, espírito de cooperação e senso social
(RAMALHO, 2000).
2.1 2 A formação pedagógica no esporte da escola
A educação física infantil é de uma importância fundamental para o
desenvolvimento integral da criança e que se deve levar em consideração a prática
esportiva como um meio de socialização e que, para isso, é preciso que se dê
oportunidade a todos de participarem dos jogos, mesmos estes sejam competitivos
ou recreativos, na escola, nos centros de treinamentos, nas aulas. O
desenvolvimento de qualidades físicas, como força, agilidade, coordenação,
velocidade, estética, não é a única valência que deve ser buscada nas aulas de
educação física e nas atividades físico-desportivas. É necessário, antes de mais
nada, que se busque alcançar, fundamentalmente, os objetivos simples da
disciplina, quais sejam o do desenvolvimento integral do ser humano, principalmente
em se tratando crianças.
Para isso, os jogos desenvolvidos através de iniciação desportiva,
adequadamente respeitadas as individualidades dos alunos, suas capacidades
físicas e técnicas, e a importância e responsabilidade que esse jogo irá impor ao
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grupo trabalhado são de extrema importância, pois permitem o desenvolvimento de
todas as valências físicas, além dos valores morais, sem que o aluno perceba.
Neto e Beresford (1994) já apregoavam fórmulas para o desenvolvimento da
atividade esportiva na escola, como forma de se cultuar o respeito, a disciplina e a
valorização própria do aluno. Para isso, dizem os autores ser necessária a
participação maciça de todos nas aulas, e não apenas daqueles que são melhores,
que se destacam mais, que são mais habilidosos, competentes. As atividades
físicas, de um modo geral, têm objetivos e classificações diferenciadas, e cada
indivíduo pode organizar uma classificação própria em relação a um determinado
fim: estético, utilitário, técnico, social, pessoal, enfim.
2.2 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA
2.2.1 O desenvolvimento infantil
Segundo Le Boulch (1983, apud CHATEAU, 1997), toda criança, ao nascer,
tem inserida na sua constituição todas as potencialidades humanas; no entanto, ela
vai alcançando nos primeiros anos de vida, isto é, na infância, um amadurecimento
dessas potencialidades. O processo de desenvolvimento dos aspectos físico,
psíquico, emocional e social deste indivíduo se faz de maneira simultânea. Ao
nascer, a criança não apresenta esquema fixo de referência, mas vai aprendendo
conceitos que lhe permitem ordenar as coisas e adaptar-se ao ambiente de acordo
com a sua evolução.
2.2.2 Desenvolvimento físico
Baseados geralmente em necessidades e interesses manifestados pelas
crianças e adolescentes, Seybold (apud GALATTI e PAES, 2006) refere que há
muito tempo os psicólogos da Europa estabeleceram várias fases de
desenvolvimento, onde são enquadradas a primeira, a segunda e a terceira
infâncias, respectivamente correspondentes até o terceiro ano, até o sexto ano e até
o décimo primeiro ano. Na classificação por interesse, a segunda infância seria o
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estágio em que a criança tem interesse pelos jogos lúdicos e a terceira caracterizar-
se-ia pelo interesse nos jogos intelectuais, escolares e competitivos.
De acordo com a divisão etária adotada na Cátedra de Pediatria e
Puericultura da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, a
idade escolar agrupa meninos de 7 a 12 anos de idade e meninas de 7 a 10 anos de
idade. É nessa idade que são despertadas e devem ser adequadamente cultivadas
as qualidades físicas, intelectuais e morais da criança, sendo chamada a idade de
ouro, da elasticidade corporal e espiritual, em que se esboça o temperamento, o
caráter e a personalidade do futuro adulto, sendo ainda a idade em que ela adquire
o hábito e o prazer por determinadas atividades, das quais sentirá desejo e
necessidade por muito tempo, mesmo depois de haver acabado o período escolar
(MARQUES, 2001).
Sob o ponto de vista físico, até os oito anos de idade o peso e a altura
apresentam desenvolvimento paralelo. A partir dessa idade, o desenvolvimento é
alternado e progressivo, verificando-se, então, os conhecidos turgores e proceritas,
que são os períodos de crescimento rápido e os períodos estacionários no
crescimento, respectivamente. Os órgãos e sistemas orgânico também não se
desenvolvem em harmonia, mas através de etapas de alternância, com alongamento
dos ossos, aumento da musculatura esquelética, crescimento do tórax e coração
(BEE, 1997). Sob o ponto de vista intelectual, é grande a possibilidade de
desenvolvimento durante esse período, equilibrando a atividade motora com o
desejo do saber, instalando-se definitivamente o pensamento lógico. A criança
penetra com segurança no mundo da fantasia, tem claras noções de tempo e de
espaço e possui excelente espírito de aventura em todos os tipos de atividades das
quais participa.
2.2.3 Desenvolvimento psíquico e social
No que se refere ao aspecto emocional, Brooks (1988, apud BEE, 1997), seus
êxitos no domínio do próprio corpo e sua compreensão da realidade lhe propiciam
fortes sentimentos de valor, de segurança, de equilíbrio emocional. Em geral,
compreende, expressa e é capaz de sentir formas evoluídas de afeto, simpatia,
amizade, compaixão, gratidão e outros. Surgem ainda certas diferenças
relacionadas ao sexo.
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Segundo Jacquin (1990, apud RAMALHO, 2000), é imperioso reconhecer
também que a criança não apresenta uma maturidade psíquica, pois lhe faltam os
quatro elementos fundamentais e indispensáveis para uma atuação conveniente nas
atividades destacadamente agonísticas (que envolvem emoção acentuada, controle
emocional), isto é, personalidade ajustada, carga agressiva equilibrada, resistência
às frustrações e estabilidade emotiva. Neste período, segundo Hubert, citado por
Ramalho (2000), surge a passagem definitiva a um âmbito mais amplo que o
familiar, do bairro, da escola, havendo então a tendência para o trabalho em equipe.
A criança sente necessidade de pertencer a um grupo e de obter certos êxitos
sociais.
Nesta fase de crescimento e desenvolvimento, a criança possui necessidades
de auto-afirmação, de consolidação dos seus sentimentos de valor e segurança;
precisa de atividades vigorosas, energéticas, para alcançar o pleno domínio de suas
ações motoras e desenvolver os domínios psicomotores. Sente, segundo Aelbi
(2000), grande necessidade de atividades reais e concretas, que lhe proporcione
situações de dificuldade e complexidade crescentes e com problemas técnicos que
requeiram conhecimentos e, conseqüentemente, aprendizagem; precisa atuar
livremente e avaliar o seu progresso. Precisa também atuar em grupos, em equipes
que exijam, principalmente, participação ativa e responsabilidades; finalmente, ela
precisa expressar-se pelo movimento, que é a forma mais comum de afirmação.
Dos 8 aos 11 anos, predominam os interesses escolares, isto é, os interesses
por conhecimentos, idéias, técnicas, artefatos e padrões de conduta social, enfim,
pela cultura. Esses interesses aparecem numa fase em que o pensamento infantil da
criança começa a ser reflexivo e lógico. A criança é capaz de se deter no que pensa
e pode melhor entender os fenômenos do mundo que a cerca e em que vive. Entre
nove e onze anos existe um estágio crítico, quando começam a surgir alterações
mormente no comportamento mental e afetivo, proveniente da maturidade sexual e,
por volta dos 10 anos de idade, devido ao pensamento formal, aparece o
pensamento com teorizações e sistematizações próprios do adulto, período em que
se inicia a puberdade.
Durante a pré-adolescência existe uma revivência do egocentrismo,
predominando os desejos de oposição, de dominância, e é visível o ludismo afetivo.
O ser humano tem um sentimento mais exato do "eu", e descobre o que é liberdade,
ou melhor, o que é não ter liberdade. Todas as suas reações mais freqüentes, seus
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traços mais acentuados passam por uma transição evolutiva. Existem crises que
podem, muitas vezes, alterar profunda e definitivamente o sentido da vida da
pessoa. A adolescência é bem mais do que um desdobramento da infância
(RAMALHO, 2000).
Segundo Busch (1999), nesta fase de desenvolvimento a criança tem especial
interesse pelas atividades que solicitem a própria capacidade que lhe permitam
tentar progresso e aperfeiçoamento, interessando-se pelas atividades de força e
explosão, como corridas, saltos, lançamentos, transporte, salientadas por Flinchum
(1981, apud MOREIRA, 2000), utilizando-se de aparelhos e obstáculos reais. Tem
interesse pelos exercícios de agilidade d destreza, bem como pelo jogo,
principalmente os jogos que requerem destrezas especiais e apresentam
dificuldades técnicas.
Nos grandes jogos, a criança dessa idade demonstra interesse pelos
elementos próprios do jogo (como a bola), pela competição, pela tática do jogo.
Formar equipes, organizá-las e dirigi-las também é um de seus interesses
fundamentais. Os acampamentos e excursões, pelas oportunidades de aventura que
oferecem e de novos descobrimentos, de independência e de autonomia, também
despertam muito o seu interesse e a diferenciação sexual leva o menino à busca do
resultado de suas realizações e a menina à preocupação com estilo e forma de
execução do que faz.
Segundo Marinho (apud AELBI, 2000), a fase que vai dos seis aos onze anos
de idade é uma etapa na qual a criança passa por muitas modificações de ordem
emocional, pois aos 6 anos apresenta um tipo de comportamento emocional e aos
10-11 anos é quase o inverso. Tudo isso leva o pré-adolescente a uma constante
necessidade de acompanhamento, seja no desenvolvimento físico, pelas
transformações orgânicas a que está sujeito, seja no desenvolvimento psíquico, com
as pressões das próprias transformações físicas, do meio em que vive, do choque
de opiniões, da falta de afirmação da personalidade (WOOD, 1999). Portanto, o bom
desenvolvimento da criança depende, principalmente, da oportunidade, da variedade
e da qualidade de atividades físicas a que ele se submeterá, livre ou orientadamente
e disso dependerá, em muito, o seu desenvolvimento harmônico.
O conceito de espaço é fundamental para a criança ter sua localização no
mundo; no entanto, para adquiri-lo, é preciso que compare objetos diferentes e
distâncias distintas que a separam dela. O conceito de tempo desenvolve-se
23
lentamente. A educação pelo movimento deve ser para todos e por toda a vida, pois
apresenta-se como um meio de educação, atuando sobre o indivíduo como uma
totalidade, constituindo-se em meio essencial não somente no desenvolvimento
motor, mas na formação e no desabrochar de toda personalidade infantil.
A atividade física, seja de que natureza for, deve propiciar a aprendizagem
que mobilize aspectos afetivos, sociais, éticos e da sexualidade. A proposta para
qualquer atividade desta natureza é que os alunos participem repudiando a
violência, respeitando o próximo, adotando hábitos saudáveis de higiene e de
alimentação e tendo o espírito crítico em relação à imposição de padrões de saúde,
beleza e estética (TANI et al., 1998). É preciso ter em mente que qualquer atividade
física, seja ginástica, recreativa desportiva ou lúdica, precisa conter finalidades
específicas de preparar o indivíduo para sua vida adulta saudável e equilibrada,
integrando-o ao meio em que vive, e oportunizando situações para o
desenvolvimento individual, o que lhe facilitará o acesso aos mais diferentes grupos
de que, obrigatoriamente, fará parte futuramente.
2.3 O SUJEITO APRENDIZ E A EDUCAÇÃO FÍSICA 2.3.1 Atividade física e sociabilidade
Muitos pedagogos da Educação Física/Esporte têm realçado a contribuição
da atividade esportiva na socialização das crianças, contribuição essa que tem sido
utilizada como justificativa para a inclusão da Educação Física nos currículos
escolares. Neste sentido, as muitas considerações tecidas, indicam que a criança
através do esporte aprende que entre ela e o mundo existem "os outros", que para a
convivência social precisamos obedecer determinadas regras, ter determinado
comportamento (OBERTEUFER e ULRICH, 1977, apud BRACHT, 1997, p. 58);
aprendem as crianças, também, a conviver com vitórias e derrotas, aprendem a
vencer através do esforço pessoal; desenvolvem através do esporte a
independência e a confiança em si mesmos, o sentido de responsabilidade, entre
outras princípios e valores.
Todas estas afirmações têm em comum o fato de serem afirmações que
identificam um papel positivo-funcional para o esporte no processo educativo. O
esporte na cultura brasileira configura-se como elemento de interação social, como
24
agente do processo educacional, como mecanismo auxiliar à política de saúde e
como veículo de promoção do lazer. É um instrumento que permite aos indivíduos
de todas as classes sociais, raças e credos experimentar igualdade e justiça social.
Sendo assim, projetos de várias organizações governamentais e não-
governamentais, como o Projeto Olímpico da Mangueira, Projeto Esporte & Lazer,
Projeto Segundo Tempo, Projeto Escola Aberta, Projeto Gol de Letra, entre tantos
outros, são exemplos vivos de que ações comunitárias podem integrar inúmeros
pontos de uma rede de referência, o que vai além de evitar o envolvimento de
crianças com o crime e as drogas, que confere aos participantes melhoria real na
qualidade de vida e proporcionar condições de saúde, tudo isso associado ao livre
exercício da criatividade através do esporte (MOREIRA, 2000).
As atividades de lazer esportivo, mais do que preencher o tempo ocioso,
desempenham um papel importante na vida das pessoas: são fundamentais para o
desenvolvimento da sociabilidade e das relações interpessoais. Esporte é um
fenômeno social, na história da humanidade, as dimensões da motricidade humana
assumiram formas e significados distintos dependendo da geografia e o espaço
temporal. De acordo com Tubino (2001, p.10):
Admitindo-se que existiu um esporte da antigüidade, cujas
manifestações mais importantes foram os jogos gregos (olimpíadas gregas, jogos fúnebres, jogos típicos, etc.), percebe-se que o chamado esporte moderno surgiu no século passado, criado por Thomas Arnold, na Inglaterra. Numa perspectiva pedagógica que em momento algum restringiu os aspectos agonísticos das competições.
O esporte é como um instrumento fundamental no auxílio ao processo de
desenvolvimento integral das crianças, dos adolescentes e dos jovens; respeitando
as experiências e expectativas individuais, democratizando o acesso a espaço
esportivo, valorizando o esporte como complementar a técnica de saúde preventiva,
incutindo valores éticos e sociais, resgatando a cultura esportiva. O esporte como
instituição social não deve ser analisado fora de suas dimensões sociais.
Para Tubino (2001, p. 34), "constitui-se na efetiva dimensão do esporte: a) O
esporte-educação; b) O esporte-participação ou esporte popular; c) esporte
performance ou esporte de rendimento." O aprofundamento de qualquer dessas
dimensões sociais do esporte será o resultado da abordagem nas suas situações
25
intrínsecas. Na visão de Tubino (2001, p.57), "o esporte é um fenômeno social que
atingiu níveis muito complexos de desenvolvimento nas diversas sociedades.”.
Esta afirmação é constatável nas próprias leis esportivas, que nas suas
primeiras partes, na busca de uma consciência social, remetem as suas justificativas
para a necessidade de unidades sociais, os direitos e deveres das pessoas
humanas, o desenvolvimento dos praticantes, o exercício consciente da cidadania,
as relações com o tempo livre de trabalho, e outro ponto compromissador com as
próprias aspirações das nações. O esporte com todo o seu potencial integrador e
formativo, ao trabalhar em uma dimensão privilegiada da expressão humana, que é
ludicidade, pode dar para o processo educacional e para a melhoria da qualidade de
vida do cidadão.
Para Tubino (2001, p. 58):
O esporte, ao subordinar-se a uma teoria de sociedade, isto é, sem
constituir-se numa prática autônoma, contribui de forma decisiva para a interpretação da realidade social. O fenômeno esportivo, condicionado e condicionador de um processo social de um determinado momento histórico, não poderá jamais ser examinado na perspectiva simplista de uma leitura que o coloque como um simples reflexo social.
A idéia de comportamento coletivo pode ser interpretada das mais diversas
formas, mais especificamente falando-se do inter-relacionamento entre os membros
que compõem uma equipe de futebol. No âmbito social, diz Ferreira (apud
MOREIRA, 2000), o esporte tem função pedagógica no processo de formação do
indivíduo, ressaltando a disciplina, o respeito à hierarquia e às "regras do jogo", a
solidariedade, o espírito de equipe e outros fatores do desenvolvimento humano.
Marcílio (2002, p. 4), observou que:
A convenção exige que a família, sociedade, governo e a
comunidade internacional empreendam ações visando o cumprimento dos direitos de todas as crianças de maneira sustentável, participativa, e não discriminatória. Em termos práticos, isto significa que as crianças mais pobres, mais vulneráveis, e geralmente mais negligenciadas em toda sociedade, ricas e pobres, devem ter prioridade absoluta na destinação de recursos e esforços.
A era da informação e a tecnologia têm promovido mudanças na
conscientização social e nas aspirações individuais, não apenas redefinindo a noção
de cidadania, mas agregado-lhe valores, ou seja, o direito individual e daí para o
26
coletivo está cada vez mais abrangente. (DE LUCCA, 2002). Além de servir como
meio de lazer para atenuar as tensões e o desgaste provocado pelo dia-a-dia, a
prática desportiva faz o homem fugir do sedentarismo, melhorar o seu estado físico e
interagir com outros grupos sociais.
2.3.2 O jogo na infância – prazer, liberdade e disciplina
É interessante verificar como o jogo está intimamente ligado a todos os
grandes problemas psicológicos e pedagógicos da infância. O jogo está ligado ao
problema tão essencial para os educadores: o da educação moral. Jacquin (1990,
apud RAMALHO, 2000), destaca que os primeiros jogos, onde a criança toma
verdadeiramente consciência de sua personalidade, são jogos de ordem e
desordem. Ela brinca impondo a si mesma uma regra que ela deve esforçar-se por
seguir, e faz, através de todos os seus jogos, o aprendizado sucessivo das
diferentes espécies de leis.
De acordo com a autora, os jogos dirigidos e os grandes jogos coletivos, entre
10 e 14 anos, devem sempre deixar a cada criança/adolescente o máximo de
liberdade possível. O jogo coletivo é um novo progresso na aceitação deliberada de
uma lei exterior a que se desdobram as crianças e/ou adolescentes, da melhor
maneira possível, e cuja observância faz com que cada uma se sinta engrandecida.
A autora completa:
O jogo é a escola da disciplina do domínio de si e do senso moral. Pela
estreita coordenação que impõe entre a regra escolhida, a conduta individual e as
reações do grupo, o jogo disciplina toda a personalidade da criança e harmoniza
seus diversos dotes (JACQUIN, 1990, apud RAMALHO, 2000).
Desde a Idade Antiga já se pensava no esporte como elemento importante na
educação do homem. Nessa época, relatam Karsakas e Rose Jr. (2002), os gregos
atribuíam um grande valor às atividades físicas e esportivas na formação física e
moral de seus cidadãos. E ainda que a própria concepção de esporte tenha passado
por enormes transformações durante todos esses séculos, as discussões sobre a
sua relação com a educação continuam presentes.
A expansão do esporte moderno, um dos fenômenos sociais mais
significativos dos últimos tempos, impulsionada pelas transformações sociais
ocorridas no século XIX, acompanhou toda a evolução tecnológica e dos costumes
27
do século XX e chega ao novo milênio atingindo uma dimensão ímpar pela sua
abrangência dos campos político, econômico, cultural e educacional (KARSAKAS e
ROSE JR., 2002).
2.3.3 A importância do esporte para o adolescente
Para lidar com os problemas relacionados à adolescência, à educação física
escolar e ao ambiente esportivo, de forma clara e para trabalhar o esporte em sua
totalidade, alguns autores têm discutido aspectos que sinalizam para novos
procedimentos pertinentes à área da pedagogia do esporte.
Broto (1999) discute uma pedagogia do esporte que seja capaz de refletir e
transgredir e que provoque continuamente uma transformação da filosofia que
permeia o esporte. Já Marques (2001) aponta uma pedagogia que entende o
esporte como patrimônio da humanidade, centrada no homem, a partir da
compreensão da pluralidade deste fenômeno. Bayer (apud GALATTI e PAES, 2006),
que através da chamada Pedagogia das Intenções, incentiva o aluno à inteligência
tática, que garantirá um acesso ao conhecimento de forma crítica e autônoma. Paes
(2001) demonstrou um olhar ainda mais amplo para o esporte, preocupando-se em
atribuir ao fenômeno uma função educativa visando o desenvolvimento integral do
ser humano, tendo o jogo como instrumento facilitador desse processo.
De acordo com os Gáspari e Schwartz (2001), o envolvimento dos indivíduos
com o esporte pode ter conseqüências benéficas ou não, determinadas pela forma e
atitude desse envolvimento. No que concerne à forma, pode-se observar aspectos
passivos e ativos. A forma ativa pressupõe a íntima adesão ao processo esportivo,
no qual o adolescente posiciona-se enquanto sujeito singular, buscando ser bem
sucedido, ou seja, a busca pelo superar-se, autoafirmar-se, integrar-se socialmente
e aprender a cultura. Na forma passiva, ao contrário, o jovem assume uma
imobilidade que reitera sua incompletude, já que desconsidera a oportunidade de
aprender por experiências ativamente vividas.
Quanto à atitude, esta designa a maneira de ser, os processos ou sistemas
fundamentais, através dos quais o jovem ordena o seu meio e seu comportamento
na base de componentes afetivos e cognitivos. Um dos conceitos que bem esclarece
atitude é o proposto por Allport (apud MACHADO, 1997, p. 81): um “estado mental e
neural de prontidão, organizado através de experiência”. Este estado exerce
28
determinada influência sobre as ações do adolescente, frente às diversas situações
cotidianas. O esporte, nesse sentido, pode vir a ser um coadjuvante importante no
favorecimento de formação de atitudes, tanto positivas como negativas, conforme
valores e simbologias impregnados nessa prática. Na atividade esportiva, os
indivíduos têm a oportunidade de minimizar o controle exercido pela sociedade
sobre eles em função de que o esporte se caracteriza por objetivos próprios, com
uma realidade específica, não sendo superado por qualquer outra, conforme salienta
Balbino et al. (apud MACHADO, 1997).
Também há que se diferenciar o fenômeno esportivo enquanto perspectivas
de alto rendimento ou espetáculo e como prática de lazer. No esporte espetáculo há
uma tentativa de se reproduzir, no plano micro, a estrutura global da sociedade, na
qual imperam valores fortemente marcados pela competitividade, agressividade,
prestígio pessoal, político, entre outros. Como prática de lazer, o esporte contempla
a auto-motivação, colocando o elemento prazer em evidência. Além disso,
oportuniza, pelas vivências lúdicas espontâneas, situações significativas capazes de
interferir em mudanças atitudinais e de condutas.
Huizinga (1993) comenta sobre a conduta lúdica do esporte e afirma que o
mesmo é visto na sociedade moderna como o elemento lúdico mais significativo da
cultura. O autor acrescenta que o jogo se tornou muito sério e sua atmosfera lúdica
desapareceu em maior ou menor grau.
Na ação, quando realizada ludicamente, pode ocorrer o estado de fluxo, o
qual, conforme esclarece Csikszentmihalyi (apud GÁSPARI E SCHWARTZ, 2001),
permite às pessoas experimentarem a sensação de prazer total, uma vez que estas
proporcionam ao indivíduo mais alegria e satisfação. Ao comentar sobre a
importância dos parâmetros lúdicos, da alegria e do prazer nas atividades e
exercícios, Lorenzetto (apud GÁSPARI e SCHWARTZ, 2001) evidencia a
perspectiva do jogo encontrando um corpo para encarnar-se e tornar-se mais
humano e a do corpo que procura encontrar no jogo a possibilidade de relacionar-se
consigo próprio e com o outro, de conhecer-se melhor, levando à auto-realização.
Este autor aponta a competição, a arte e o jogo, como evidências dessa busca de si
próprio.
A alegria se revela no entusiasmo do adolescente quando está jogando, na
dedicação e esforço que dispensa na atividade que o conduz à satisfação e à
cooperação. Este aspecto relativo à solidariedade, conforme Seybold (apud
29
RAMALHO, 2000), deve ser incrementado a partir do processo educativo com a
finalidade de capacitar a convivência, o trabalho em conjunto, auxiliando no respeito
às individualidades.
Em pesquisas realizadas com jovens alemães, Seybold (apud RAMALHO,
2000) salienta que eles valorizam os esportes assim como o cinema e a televisão,
desde que lhes tragam prazer. Talvez, os indivíduos estejam reencontrando o
sentido original do esporte, o qual vem do latim disportare, isto é, distrair-se, divertir-
se. Essa autora afirma que os exercícios e atividades não adquirem valor pelo que
são, mas sim, pelo que trazem, como o aprimoramento da amizade, a
espiritualização do físico e a encarnação do espiritual. Neste sentido, propõe que a
educação física, atividade com maior teor de ligação com a temática esportiva, deve
aperfeiçoar o jovem a ser humano e não apenas técnicas de exercício.
Se o privilégio recai sobre a supervalorização do aspecto técnico, a atividade
esportiva passa a exigir do praticante condutas altamente competitivas, as quais o
submetem a interesses e regras metódicas rígidas, fazendo com que o indivíduo
busque exceder seus próprios limites. Essas condutas reforçam os aspectos de
agressividade, competitividade exacerbada, tornando o indivíduo suscetível aos
intensos fatores estressantes e que podem abreviar sua participação nessa
atividade, interferindo na qualidade de sua vida. A atividade esportiva tem na
cooperação possibilidades de formação de seres íntegros, equilibrados, alegres,
solidários, criativos, críticos, cientes de suas qualidades e dificuldades, respeitadores
dos menos habilidosos, sensíveis, com identidade pessoal preservada e cooperativa
no coletivo, entre outras.
Na introdução do livro de Brown, Barrera (apud FREIRE, 1998) ressalta a
subversividade característica dos jogos cooperativos, os quais permitem emoções
positivas no relacionamento com o outro, sem necessidade de derrotá-lo, ou seja,
onde um soma-se ao outro e não o exclui, salientando no jogo o valor da vitória
inerente ao prazer de jogar. O esporte pode fortalecer os laços no grupo, fabricar
símbolos, criar identidade com os outros e formar comunidades.
Nas atividades prazerosas, salientadas por Santin (1998, apud GÁSPARI e
SCHWARTZ, 2001), há uma ação que parte do corpo para o próprio corpo e o
aspecto educacional não está circunscrito aos domínios da escola. Ao contrário,
atividades prazerosas tomam o ser vivo com uma sabedoria inscrita em si mesmo,
permitindo-lhe usufruir a vida e construí-la a partir de parâmetros qualitativos.
30
Para Ramalho (2000), qualidade representa o desafio de fazer história
humana com o objetivo de humanizar a realidade e a convivência social. Não se
trata apenas de intervir na natureza e na sociedade, mas de intervir com sentido
humano, ou seja, dentro de valores e fins historicamente considerados desejáveis e
necessários, eticamente sustentáveis. A intensidade não é a força (som intenso, por
exemplo), mas da profundidade, da sensibilidade e da criatividade.
O importante, então, é a qualidade de vida voltada para a profundidade, para
a perfeição do ser, para o atendimento das reais necessidades humanas e, nesse
caso, do adolescente enquanto sujeito construtor de sua própria vida. Torna-se
instigante, pelo exposto, investigar como o adolescente nesta sociedade percebe as
relações entre sua condição adolescente e o papel do esporte no âmbito de sua
qualidade de vida.
2.3.4 Benefícios biopsicossociais do esporte
Pesquisa conduzida por Gáspari e Schwartz (2001) apontou dados
interessantes sobre as reações dos adolescentes na prática esportiva. Enquanto
pratica esporte, o jovem acredita que vai ter algum benefício para seu corpo (22, ou
100%); sente que, apesar de um colega ter um desempenho melhor que o outro,
todos precisam ser respeitados como pessoa (22, ou 100%); acredita que a
alimentação é importante para o bom desempenho na atividade física (22, ou 100%);
sente que a união faz a força do grupo (21, ou 95.45%).
Vinte dos entrevistados (90.90%) sentem que ficam mais felizes; o grupo lhes
ensina muitas coisas; aprendem a respeitar os menos habilidosos; os resultados
positivos dependem da sintonia do grupo; aprendem a conhecer, dominar e cuidar
melhor de seus corpos; precisam ser criativos; percebem que a torcida exerce um
papel importante sobre o time.
Outros resultados indicam que o esporte dá maior disposição (19, ou
86.36%); é mais importante competir do que ganhar (19, ou 86.36%). Igual número
(18 sujeitos, ou 81.81%) não necessita de drogas para superar seus problemas
diários; tem interesse em saber sobre os acontecimentos esportivos; aprende como
superar os obstáculos e dificuldades da vida; está convivendo socialmente e que
este convívio é muito bom para seu crescimento; as diferentes opiniões podem
contribuir para o fortalecimento dos laços no grupo.
31
Dezessete sujeitos (77.27%) têm mais confiança em si mesmo; estão se
divertindo; estão aprendendo com seus colegas; conseguem observar melhor seu
colega e compreendê-lo melhor; as maneiras de ser, pensar e agir de cada um na
equipe auxilia para que o mundo do esporte fique mais interessante; sabe que sua
participação é importante para o grupo; dezesseis (72.18%) conseguem respeitar
mais o seu colega; quinze deles (68.18%) ficam menos agressivo, violentos; em
algumas situações, são capazes de liderar a equipe; quatorze (63.63%) sentem mais
vontade de cooperar com o outro; estão fazendo lazer; doze sujeitos (54.54%)
sentem que liberam muitas tensões acumuladas no cotidiano; sentem mais vontade
de competir contra o outro; podem conseguir ser uma pessoa independente, capaz
de defender seus pontos de vista, mesmo se diferentes dos pontos de vista de
outros; precisam ser e agir com perseverança; onze indicam que repetir jogadas
sempre garantem bons resultados.
Nesta questão foram registrados dados importantes e de natureza
biopsicossocial. Na visão dos adolescentes foi unânime a opinião quanto aos
benefícios físicos trazidos pela prática da atividade esportiva regular. O respeito para
com os menos habilidosos, a cooperação, a participação individual para o sucesso
coletivo, o relacionamento interpessoal, a auto-confiança foram outros elementos
importantes por eles demonstrados.
Numa sociedade como a atual onde o esporte profissional tem revelado sua
faceta negativa (suborno, intolerância, violência, anabolizantes, cartéis, rivalidade e
competitividade exacerbada, interesses políticos e financeiros), a riqueza dos
elementos registrados falam por si só e sinalizam para intervenções pedagógicas
responsáveis no sentido de que, criticamente, assumam o lado construtivo do
esporte, ou seja, aquele que poderá promover diferenças positivas em sua qualidade
de vida, promovendo a formação adequada de seu caráter, sua personalidade e
balizando sua vida em sociedade.
Ramalho (2000) diz que a relevância do esporte ganha sentidos distintos
quando considerados separadamente os três elementos constituintes, embora haja
interpenetração evidente. Para o praticante, o esporte tem a finalidade de
aperfeiçoar o físico, enriquecimento intelectual, socialização, fortalecimento da
personalidade. Para o aficionado, que participa ativamente do esporte, os benefícios
são idênticos, à exceção do aprimoramento físico. Para os clubes, associações e
32
afins, os benefícios são o de promoção e, geralmente, de lucros, utilizando o
desportista e o espectador para alcançar tais fins.
Segundo Corrêa (1990, apud RAMALHO, 2000), inúmeras teorias, com o
ponto comum de atribuírem um papel positivo ao esporte, buscam uma explicação
psicológica para o prazer do esportista no desempenho de suas atividades: alguns
acreditam que esse prazer reside na auto-superação; outros, na possibilidade de
provar coragem, enfrentar desafios e superá-los, indispensável à satisfação do ego;
outros mais, na sensação de liberdade que é inerente à prática desportiva.
Huizinga (apud MOREIRA, 2000) diz que, do aspecto social, o esporte coloca-
se entre os setores responsáveis pela formação, conservação, desenvolvimento e
utilização adequada dos recursos humanos em um país; na formação, porque é
parcela relevante do processo educativo; na conservação e desenvolvimento,
porque o esporte é essencial à saúde da população; na utilização, porque ele serve
ao preenchimento adequado dos momentos de lazer e, portanto, influi no bem-estar
da população. Quanto mais a ventura esportiva intensificar-se neste mundo
coalhado de provações e vicissitudes sem conta, maiores serão os seus proveitos
humanos e sociais.
Para Mosquera e Stobäus (1994), o desporto vive da atividade física e do
jogo, é uma atividade muito complexa expressada pelo jogo e pela atividade física,
que dá maior desenvolvimento na dimensão social, pois não é participação passiva
ou viciária, mas ativa, proporcionando um auto-crescimento e crescimento mútuo,
um dos aspectos fundamentais a serem considerados pelos gregos nos Jogos
Olímpicos. A atividade desportiva pressupõe intencionalidade de quem joga,
deixando de ser espetáculo para ser modelador de personalidade e de caracteres,
não visando apenas o público, o clube, a instituição, mas o desenvolvimento das
pessoas que dele participam.
O esporte, por envolver manifestações da cultura que mergulha em todas as
camadas sociais, e o futebol no Brasil é o que mais expressa essa manifestação por
estar na raiz das manifestações populares, ter se desenvolvido juntamente com a
cultura popular do país, valoriza-se também eticamente, embora sua importância
ética não seja considerada pelos humanistas afeiçoados às alturas das torres de
marfim. Nenhuma comunicação de massa é mais direta do que a comunicação
propiciada pelo esporte, pois o povo-massa não tem acesso a todas as culturas, por
33
insuficiência de meios e por outras razões. A cultura mais acessível ao povo advém
da própria vida esportiva (MOREIRA, 2000).
É através do esporte, da cultura desportiva que o homem pode possibilitar
melhores desenlaces ou aprimoramentos do comportamento humano. De acordo
com Mosquera e Stobäus (1994), um clube, uma entidade esportiva, uma escolinha,
não apenas tem significado de clube, de entidade, de escolinha, ou de elemento
constitutivo social, mas é através da sua atividade desportivas que leva as pessoas
a se sentirem solidárias e participantes de toda uma dinâmica social e cultural. Neste
sentido, o futebol, como expressão máxima da atividade esportiva no país, passa a
ser um elemento-chave para proporcionar a abertura dos indivíduos, dentro de um
determinado contexto evolutivo que compõe o sentido mais amplo de humanidade.
2.4 O PERFIL ESTRUTURAL DO PROJETO 2º TEMPO NA ESCOLA 2.4.1 A relevância da concepção adotada no esporte da escola
A educação física escolar enfrenta entraves que, na visão de Kawashima e
Branco (2006), são agravados pelo desinteresse, desinformação, utilização de
pedagogias inadequadas, entre outras características do profissional que atua na
área. A especialização precoce é um problema grave constantemente presenciado
na escola, pois os professores tentam transformar crianças em atletas, inspirados
pela glória da vitória nos diversos jogos escolares.
Neste caso, além de gerar problemas como estresse na competição,
saturação esportiva, lesões, formação escolar deficiente, ausência da diversificação
de movimentos e reduzida participação em jogos e brincadeiras cultiva ainda a
exclusão dos menos aptos. Neste caso, o esporte é trabalhado de forma
desorganizada, sem a continuidade e a evolução necessária ao aprendizado, sendo
que há o hábito de repetir os conteúdos nas diferentes fases do ensino, por exemplo
o futsal trabalhado na 4ª série é o mesmo da 6ª série, que por sua vez é o mesmo
do ensino médio (PAES, 2002).
Portanto, são inúmeros os desafios que percorrem o ambiente esportivo e em
alguns casos, as aulas de educação física escolar. Dentre eles, Galatti e Paes
(2006) destacam: a) a busca da plenitude atlética em crianças ainda em formação;
b) a exacerbação da competição em detrimento de valores educacionais; c) a
34
pressão psicológica exercida pelos professores e colegas em alunos considerados
menos habilidosos; d) a especialização esportiva precoce e a singularidade das
aulas limitando um aprendizado que deveria ser o mais amplo possível.
Por outro lado, não se pode afirmar com muita exatidão até que ponto
determinada atividade tem condições de promover o desenvolvimento puramente
pessoal ou até que ponto o desenvolvimento é meramente pessoal; de qualquer
sorte, diz Requixa (apud MACHADO, 1997), toda a atividade que acrescente alguma
coisa ao indivíduo estará lhe permitindo não apenas o enriquecimento pessoal, mas
certamente estará lhe proporcionando condições para reconhecimento de suas
responsabilidades sociais.
Isto pode ser notado de pronto na participação social mais ampla que as
atividades esportivas proporcionam ao indivíduo. Convivendo em novos grupos, o
ser humano vai alargando as fronteiras de seu mundo, intensificando suas
comunicações nos contatos que mantém com novos grupos humanos. Tais
experiências, tais vivências, segundo Requixa (apud MACHADO, 1997), formam o
verdadeiro conteúdo sócio-educativo das atividades esportivas, lembrando que a
educação é hoje vista como o grande veículo para o desenvolvimento, e o esporte é
encarado como o excelente e suave instrumento para servir de impulso para o
indivíduo desenvolver-se, aperfeiçoar-se, a ampliar seus interesses e sua esfera de
responsabilidades, inclusive sua responsabilidade social como cidadão.
No entanto, há uma grande defasagem entre a lei e a realidade da prática
desportiva no país. Análises contextuais das sociedades contemporâneas permitem
inferir que o esporte, nas suas várias dimensões, tornou-se um dos sustentáculos
universais da cultura. Contudo, a despeito de estar inspirado nos fundamentos
constitucionais do estado democrático de direito, e apesar de todas as campanhas
institucionais para o fomento de sua prática nas mais diferentes camadas da
sociedade, a atividade desportiva não é democrática, ainda não é um direito de
todos.
Vários projetos buscam o resgate de crianças e adolescentes, abrindo um
caminho por onde elas possam ser socializadas, reintegradas na sociedade. Há
projetos que visam proporcionar a essas pessoas o acesso à educação integral e à
preparação para o mundo interventivo, tendo a educação física, através da atividade
desportiva, como componente curricular do processo pedagógico. Sob esse prisma,
a criança como ser humano integral e em desenvolvimento, pode ser resgatado da
35
situação marginal estando, pois, na essência da educação física, o poder de
transformar o anti-social em social pleno (CORREA, apud RAMALHO, 2000). É incontestável, no entanto, que no Brasil das crianças e adolescentes de rua,
das gangues organizadas, dos assaltos praticados por meninos e meninas, esta é
uma utopia que se insere no ordenamento jurídico, mas ainda não conseguiu
materializar-se na realidade social, a não ser por algumas tentativas tênues de
órgãos, entidades ou mesmo pessoas bem intencionadas, mas que esbarram na
falta de apoio governamental ou mesmo particular, de empresas e empresários que
não querem ver que a aplicação de recursos na recuperação de crianças, bem como
a criação de oportunidades sócio-culturais implica na diminuição da criminalidade.
Marques (apud RAMALHO, 2000) reafirma a necessidade da participação
maciça na atividade esportiva, quando apregoa que o esporte deve ser parte
integrante de todo sistema educativo, sendo necessário para a educação equilibrada
e completa das crianças e dos jovens, os quais ele prepara para a sã utilização de
seus lazeres na idade adulta. É incompatível com o espírito do desporto toda
tentativa de restrição ao seu acesso por considerações sociais, políticas ou
religiosas, ou estabelecer qualquer discriminação similar.
Para Caillois (2000), o esporte, como ocupa um papel importante nas
manifestações culturais e relações sociais, insere nos povos uma espécie de fonte
de comunicação das massas. O esporte ainda não se tornou direito para todos. Para
Marques (apud RAMALHO 2000), qualquer que seja o nível social, todo desportista
deve ter a oportunidade de conseguir no desporto o objetivo de suas possibilidades,
e todas as instalações desportivas devem permitir, a todos, a prática em
circunstâncias favoráveis, do desporto de sua preferência.
Ainda há pessoas que não se utilizam desse meio para poder encontrar
realizações e, por isso, são criados vários projetos que se valem da atividade
esportiva, da mesma forma que a escola, como uma fonte de solução para crianças
e adolescentes que não, possuem condições de participar do meio social, através de
idéias concretas, através das quais se pode chegar aos objetivos (Caillois, 1990).
Dentre esses projetos, surge o Projeto Segundo Tempo, iniciativa
governamental que tem como objetivo a extensão da prática esportiva
para além do espaço escolar e como complemento do horário da escola. A atividade
esportiva como ludicidade torna-se mais atrativa para a criança e a beneficia na
medida em que desenvolve os aspectos morais e sociais.
36
2.4.2 O processo pedagógico na perspectiva da formação humana
A Educação Física passou por inúmeras mudanças até os dias de hoje. Esta
não procura apenas o desenvolvimento de capacidades motoras, mas também
sociais e cognitivas, visando a integração, a saúde e o conhecimento. Esta evolução
técnica, táctica, física, psicológica ou regulamentar, traduziu-se num aumento
exponencial de jogadores, treinadores e espectadores, conferindo-lhe uma elevada
dimensão social e econômica. E os esportes surgem como necessidade de
adaptação ao material e ao espaço existente nas cidades e, por conseqüência, nas
escolas, procurando modalidades que se possam ensinar em espaços reduzidos e
com pouco material (TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006).
O aspecto relevante para a construção de uma proposta pedagógica que
norteie o esporte da escola (e todo o conteúdo da educação física) é a
sistematização dos conteúdos, relevando os diferentes níveis de ensino e a
diversificação dos conteúdos. No caso das modalidades esportivas, não diferente
dos outros conteúdos, deve-se obedecer a uma seqüência de aprendizagem,
respeitando as características dos alunos em cada faixa etária, e trabalhando o
esporte de forma organizada e sistematizada (PAES, 2001).
A diversificação de movimentos, das práticas e manifestações ampliam o
universo de possibilidades dos alunos, já que a educação física escolar dispõe de
uma diversidade de formas de abordagem para a aprendizagem, entre elas as
situações de jogo coletivo, os exercícios de preparação corporal, de
aperfeiçoamento, de improvisação, a imitação de modelos, a apreciação e
discussão, os circuitos, as atividades recreativas, enfim, todas devem ser utilizadas
como recurso para a aprendizagem.
Segundo Wagner (1998), a atividade física permite que se vivenciem
diferentes práticas corporais advindas das mais variadas manifestações culturais e
se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida
cotidiana. As danças, os esportes, as lutas, os jogos e a ginástica compõem um
vasto patrimônio cultural que deverá ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além
disso, esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não
preconceituosa e não discriminatória diante de manifestações e expressões dos
grupos étnicos e sociais e as pessoas que dela fazem parte.
37
Segundo o mesmo autor, atualmente, há uma busca de superação dessas
concepções. A prática esportiva permite vivências diferentes, fazendo com que não
haja distinção quanto ao preconceito e a discriminação, permitindo que todos
participem juntos, cada vez mais, o que permite às pessoas interagirem e se
movimentarem como sujeitos sociais e como cidadãos. O esporte é um fenômeno
social e como tal deve ser desenvolvido. Tem toda uma série de motivações
individuais, mas apenas o jogo (o ludens) tem caráter pessoal de realização. No
mais, quer como acontecimento, que como ressonância, significado e arcabouço, o
esporte é, sobretudo, um fato social.
Nos últimos anos temos observado um crescimento exponencial dos esportes
em geral, com inegável progressão em termos qualitativos. Verificou-se uma
melhoria a todos os níveis, tais como: equipamento dos atletas, no treino e suas
vertentes, no tratamento das lesões específicas de cada modalidade, etc. No
entanto, ainda não é atribuída a alguns esportes a importância que a modalidade
merece, quanto mais não seja pelo número de praticantes federados, acrescidos de
outros milhares inseridos no desporto escolar e não federados, em especial se for
levado em conta os aspectos não esportivo-competitivos, mas a abordagem social,
emotiva e psicomotora de cada esporte (PAES, 2001).
Quando uma criança pratica esporte, ela acaba tendo uma melhora em sua
saúde, pois seu corpo que está em desenvolvimento, acaba tendo uma quantidade
controlada de exercícios, auxiliando assim seu organismo no crescimento e a
possuir uma maior resistência. Por outro lado, Teixeira e Teixeira (2006) destacam
que a educação está relacionada à disciplina e hierarquia, pois a criança recebe do
professor orientação quanto às regras do jogo e a respeitar seu antagonista,
acatando as decisões do árbitro e aprendendo a se socializar.
Na nova legislação desportiva, todo cidadão tem o direito de praticar esportes,
sendo respeitado dentro desta legalidade e disponibilidades, culminando no
Ministério dos Esportes, e que hoje várias Instituições são delegadas pelo poder
público, para incentivar e incrementar o esporte.
Em razão das atividades desenvolvidas, as crianças acabam se afastando
das ruas e conseqüentemente das drogas e más companhias, tendo início à criação
de um bom caráter e de um verdadeiro cidadão, que é o interesse maior de nosso
trabalho social. Portanto, complementam Teixeira e Teixeira (2006), as atividades
esportivas que são consideradas esporte de "massa", são importantes veículos a
38
serem utilizados no processo de socialização e educação das crianças, pois está
cada vez mais perto de todos.
Marinho (1981), afirma ter o esporte toda uma série de motivações
individuais, encerrando um caráter próprio e pessoal de realização. No mais, quer
como conhecimento, quer como ressonância, significado e arcabouço, o esporte
como um todo é, sobretudo, um fato social, podendo-se resumir em duas as
coordenadas sociais deste como atividade humana:
a) a intensa interação que o esporte promove entre as pessoas e grupos;
nota-se o afluxo de pessoas a um estádio, a movimentação delas dentro do estádio,
as coreografias, a participação/interação com os jogadores;
b) o amplo alcance de suas causas e efeitos nos grupos mais extensos,
como se pode inferir no interesse demonstrado pela atividade esportiva por parte de
autoridades, do Estado e, principalmente, da mídia, seja no plano nacional, seja no
internacional.
Para Busch (1999), a influência dos fatores psicológicos do tipo socializador é
inegável, seja em quem exerce a atividade esportiva, seja naquele que a
acompanha como espectador. Na análise deste aspecto, Ramalho (2000, p. 3)
examina os seguintes pontos:
a) toda atividade esportiva, enquanto segue normas, normas estas
controladas pelos árbitros, traz consigo uma aceitação de pontos sociais, ou seja, a
afirmação do conceito de grupo;
b) toda atividade esportiva, mesmo a mais isolada, traz implicitamente o
conceito de equipe, de grupo, para o qual existe a possibilidade de determinar-se
uma socialização, já que toda atividade esportiva inclui o conceito de grupo
sociológico;
c) toda atividade agonística permite uma avaliação de sentimentos de
segurança e de culpa, avaliação esta que se torna mais fácil porque está incluída no
âmbito de uma dinâmica de grupo, e não no âmbito de apenas um indivíduo,
isoladamente;
d) toda atividade agonística traz consigo uma avaliação da percepção de
risco, isto é, uma percepção da situação de periculosidade; tal avaliação é efetivada
em sentido social, ou seja, o risco ou perigo social, e não o pessoa, é o que importa
e o que virá a ser medido.
39
Os esportes em geral, segundo Moreira (2000), englobam todas essas
premissas, pois como atividade esportiva, estão delimitados por parâmetros, que são
as regras, além dos regulamentos de competições, sejam elas recreativas, pré-
desportivas, desportivas ou competitivas, como também têm restrições impostas
pela presença de adversários, companheiros, árbitros, dirigentes espectadores e
outros. Por outro lado, como é desenvolvido em grupo, por si só já determina a
função social, onde os indivíduos participantes têm que procurar integração, co-
participação e co-responsabilidades, onde os participantes são todos membros de
um resultado, sendo todo o grupo responsável pelas conquistas ou frustrações.
Com essas premissas, diz Marinho (1981), é possível afirmar que a atividade
esportiva se constitui em importante fator de determinação da integração grupal,
onde o trabalho em equipe permite a convivência mais sólida e o aprendizado sadio
do espírito de união e responsabilidade. A identificação com campeões, a busca
incessante de imitar moldes e modelos, performances e estilos de vida de ídolos, tão
freqüentes em pré-adolescentes e adolescentes, é um aspecto de desenvolvimento
social muito importante no escopo das ciências sociais e da Educação Física e
Escolar, principalmente.
Huizinga (1993) ressalta o fato de que o esporte desperta nas sociedades
jovens o espírito de liberdade, influindo positivamente no desenvolvimento de sua
personalidade, no equilíbrio de suas emoções. Esse fato resulta em benefício trazido
à própria sociedade, pois o indivíduo, através da atividade esportiva, se sente mais
solto, mais capaz de realizar, de produzir, de evoluir, constituindo-se em elemento
social.
40
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 TIPO DE PESQUISA
Para a realização do presente estudo, foi feito um estudo bibliográfico, de
forma descritiva que, de acordo com Gil (1999), visa descrever as características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis. Pode envolver o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados, como
questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento,
e seu desenvolvimento é, prioritariamente, bibliográfico.
Para a complementação do estudo foi realizada uma pesquisa de campo, com
aplicação de um instrumento (Anexo A), desenvolvido pelo pesquisador e aplicado a
cinco professores que em núcleos do Projeto Segundo Tempo da cidade de Bagé,
RS, tendo como objetivo verificar os benefícios socializadores do esporte
desenvolvidos pelo trabalho dentro do referido programa.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A pesquisa foi realizada tendo-se como parâmetro os núcleos do Projeto
Segundo Tempo na cidade de Bagé, os professores envolvidos no projeto e os
alunos de escolas públicas que participam do programa.
A amostra foi composta cinco professores que atuam com crianças na faixa
etária de 9 a 12 anos, que participam de quatro núcleos do programa, totalizando
120 crianças, de ambos os sexos, escolhidas aleatória e intencionalmente, isto é,
todas as crianças pertencentes aos núcleos escolhidos e dentro da faixa etária da
pesquisa compuseram a amostra. As crianças freqüentam de 3ª série a 6ª série do
ensino fundamental em escolas públicas da cidade de Bagé, RS. Os núcleos que
compuseram a amostra foram escolhidos de forma aleatória, sem critério específico.
3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA
Para a realização da pesquisa foi elaborado um questionário com questões
fechadas, cuja resposta deveria ser com uma alternativa, visando com isso facilitar a
interpretação dos dados e minimizar o tempo para a elaboração dos resultados.
41
O instrumento (Anexo A) foi elaborado pelo pesquisador de acordo com os
objetivos da pesquisa.
3.4 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada através de pesquisa bibliográfica em livros,
revistas e documentos eletrônicos. O material foi selecionado, catalogado e,
posteriormente, editado para a elaboração do referencial teórico que deu suporte ao
trabalho. Para a pesquisa de campo, foi aplicado um instrumento de pesquisa a
cinco professores que atuam nos núcleos selecionados.
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
A análise e interpretação dos dados realizou-se através de uma análise
comparativa do referencial teórico, estabelecendo paralelos e divergências entre os
vários posicionamentos de diversos autores acerca da temática proposta, bem como
pelos dados da pesquisa de campo.
42
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Aplicando-se a pesquisa de campo em quatro núcleos do Projeto Segundo
Tempo da cidade de Bagé, RS, que trabalham com crianças na faixa etária entre 7 e
16 anos, procurou-se selecionar as que trabalham com maior número de crianças na
faixa etária entre 9 e 12 anos de idade, chegando-se a um total de 120 crianças
atingidas pela pesquisa, que foi realizada com professores que atuam nestes
núcleos (cinco professores).
Foi aplicado com os professores que atuam com as crianças dentro da faixa
etária da pesquisa, procurando-se investigar o comportamento a nível de
relacionamento social das crianças antes de iniciarem e após algum tempo de
treinamento desportivo (Anexo 1), tendo-se chegado aos seguintes resultados:
Tabela 1 Caracterização da amostra
NÚCLEO QUANTIDADE DE PROFESSORES
CRIANÇÂS ATENDIDAS
TEMPO DE TRABALHO
CLASSE SÓCIO-ECONÔMICA
A 2 40 2 anos Baixa
B 1 25 2 anos Média baixa
C 1 30 2 anos Baixa
D 1 25 2 anos Baixa
Na Tabela 1 é apresentada a característica da amostra que compôs a
pesquisa. Cada núcleo é identificado por letras maiúsculas. A amostra é
caracterizada pelo número de profissionais que nelas trabalham com crianças da
faixa etária da pesquisa, o número de crianças atendidas, o tempo de trabalho do
núcleo e a classe sócio-econômica das crianças atendidas.
Nota-se que a maioria das crianças atendidas pertencem à classe média
baixa, considerada aqui pelos professores as crianças que provém de famílias com
um nível sócio-econômico baixo, que enfrenta sérias dificuldades, e que apresentam
padrões de comportamento nem sempre satisfatórios na escola.
43
Esta é uma característica dos indivíduos que compõem os núcleos do
Programa Segundo Tempo na cidade, isto é, pertencerem a camadas sócio-
econômicas mais baixas da população, oriundos de comunidades pobres e com
poucas probabilidades de desenvolverem atividades esportivo-recreativas sem um
suporte público.
Normalmente são alunos de escolas públicas municipais, moradores de
bairros mais afastados do centro da cidade e que dependem até mesmo de
transporte gratuito para deslocarem-se até os núcleos.
As tabelas 2, 3, 4 e 5 apresentam o resultado do questionário aplicado junto
aos professores que atuam nos núcleos do programa na cidade de Bagé. A tabela 2
mostra os resultados da pesquisa no núcleo “A”, localizado no Bairro Getúlio Vargas.
Tabela 2 Resultado da pesquisa no núcleo “A”
Antes de Ingressar no Projeto
Após algum tempo de Projeto
NÍVEL
ATITUDE OT BM RG PS ÓT BM RG PS
Relacionamento com colegas
do núcleo
10
20
8
2
25
12
3
0 Relacionamento com
professores do núcleo
10
16
12
2
30
9
1
0 Relacionamento com outros
alunos de outros núcleos
15
10
15
5
30
9
1
0 Legenda:
OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo
A análise da Tabela 2 mostra uma grande evolução positiva nas atitudes dos
alunos que participaram por algum tempo dos trabalhos no núcleo “A”. Em todos os
níveis, segundo dados dos professores orientadores, houve melhora no
relacionamento com os demais elementos envolvidos no trabalho, principalmente
entre colegas.
A clientela do núcleo pertence, na sua maioria, a moradores de um bairro
próximo, cujo padrão sócio-econômico é médio-baixo. As crianças que freqüentam o
núcleo são, em grande parte, muito pobres.
44
O trabalho desenvolvido neste núcleo consta de futsal, basquetebol, voleibol e
atletismo, com modalidades de corridas de fundo e salto em distância. São
realizados dois encontros semanais com os alunos e as atividades são
desenvolvidas de forma alternada (um dia cada uma das modalidades) ou
concomitantemente (mais de uma modalidade por dia).
O tempo de desenvolvimento do trabalho com as crianças não é o mesmo,
haja vista que muitas crianças foram entrando no programa ao longo do
desenvolvimento deste, sendo possível que crianças que ainda não atingiram níveis
ótimo e bom na tabela de classificação acima estejam há menos tempo no programa
do que outros que já atingiram esses níveis.
A tabela 3 mostra os resultados da pesquisa no núcleo “B”. Este núcleo
localiza-se no Bairro Marília.
Tabela 3 Resultados da pesquisa no núcleo “B”.
Antes de Ingressar no Projeto
Após algum tempo de Projeto
NÍVEL
ATITUDE OT BM RG PS ÓT BM RG PS
Relacionamento com colegas
do núcleo
6
5
12
2
18
6
1
0 Relacionamento com
professores do núcleo
12
8
4
1
23
2
0
0 Relacionamento com outros
alunos de outros núcleos
10
8
5
2
21
2
1
1 Legenda:
OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo
A tabela 3 mostra os resultados da pesquisa realizada no núcleo “B”, onde
pode-se notar, a exemplo do núcleo “A”, que houve uma evolução acentuada nos
níveis de relacionamento das crianças que participam das atividades esportivas.
Neste núcleo são desenvolvidas atividades de atletismo nas modalidades de
salto em altura e distâncias, futsal, voleibol, basquetebol e handebol. Como no
núcleo “A”, as atividades são desenvolvidas de acordo com um planejamento e na
forma de dois encontros semanais com os alunos. As atividades são desenvolvidas
45
concomitantemente (mais de uma modalidade por dia), tendo em vista o pouco
tempo de contato com os alunos.
O tempo de treinamento das crianças também não é exatamente o mesmo,
sendo possível que alunos que ainda não atingiram níveis ótimo ou bom estejam há
pouco tempo no trabalho do núcleo.
A tabela 4 mostra os resultados da pesquisa desenvolvida no núcleo “C”. Este
núcleo localiza-se no Bairro Morgado Rosa, e abrange uma clientela formada por
crianças oriundas dos bairros adjacentes – Pró-Morar Brasil, Prado Velho, São
Judas e Balança, caracterizadas pelas condições sócio-econômicas baixas.
Tabela 4 Resultado da pesquisa no núcleo “C”.
Antes de Ingressar no Projeto
Após algum tempo de Projeto
NÍVEL
ATITUDE OT BM RG PS ÓT BM RG OS
Relacionamento com colegas
do núcleo
15
10
2
3
25
5
0
0 Relacionamento com
professores do núcleo
17
11
1
1
24
5
1
0 Relacionamento com outros
alunos de outros núcleos
15
7
6
2
23
6
1
0 Legenda:
OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo
A tabela 4 mostra os resultados da pesquisa realizada no núcleo “C”, onde, a
exemplo dos anteriores, houve uma evolução acentuada nos níveis de
relacionamento das crianças, com a maioria atingindo níveis ótimo ou bom, o que
evidencia um quadro de socialização bastante elevado.
As atividades desenvolvidas neste núcleo englobam futsal, basquetebol e
voleibol, além de atletismo, com saltos e arremessos. No entanto, a modalidade
mais praticada e desenvolvida é o voleibol. Como nos demais núcleos, os encontros
são duas vezes na semana e as atividades são desenvolvidas de forma
concomitante, isto é, mais de uma modalidade por encontro.
46
Como nos demais núcleos, o tempo de treinamento das crianças nem sempre
é o mesmo, podendo haver diversidade nos resultados em função dessa variante.
A tabela 5 mostra os dados do núcleo “D”, localizado no ginásio de esportes
Presidente Médici, que abriga alunos das comunidades de vários bairros da cidade,
principalmente Castro Alves, Stand, Vila Gaúcha, Comandante Kramer, entre outros,
cujas características sócio-econômicas se assemelham às das crianças dos outros
núcleos.
Tabela 5 Resultado da pesquisa no núcleo “D”.
Antes de Ingressar no Projeto
Após algum tempo de Projeto
NÍVEL
ATITUDE OT BM RG OS ÓT BM RG PS
Relacionamento com colegas
do núcleo
15
14
2
4
30
2
2
1 Relacionamento com
professores do núcleo
18
12
1
4
30
3
1
1 Relacionamento com outros
alunos de outros núcleos
10
10
12
3
28
2
4
1 Legenda:
OT – Ótimo; BM – Bom; RG – Regular; PS – Ruim/Péssimo
A tabela 5 mostra no núcleo “D”, como de resto nos demais, houve uma
significativa evolução do nível de socialização das crianças.
As atividades desenvolvidas neste núcleo englobam futsal, voleibol,
basquetebol e handebol e são realizadas duas vezes por semana com cada grupo.
Na análise dos resultados obtidos na pesquisa em quatro núcleos do Projeto
Segundo Tempo na cidade de Bagé, RS, nota-se que mais de 80% das crianças
atingiram níveis ótimo e bom depois de algum tempo freqüentando atividades
esportivas nos núcleos, o que demonstra uma grande evolução se comparado com
os resultados anteriores.
Com base nesses dados, pode-se fazer uma comparação com o que diz Lira
Filho (1973) sobre o aumento dos proveitos humanos e sociais a partir do alcance de
glórias do esporte num mundo conturbado e complexo. Da mesma forma, Mosquera
47
& Stobäus (1984) afirmam que é através da atividade esportiva que o indivíduo
desenvolve melhores oportunidades de aprimoramento do comportamento humano,
pois, consolidando esta opinião, Callois (1990) diz que o esporte é importante nas
relações sociais.
Os dados apontam para uma melhora nas relações entre colegas
freqüentadores dos núcleos, bem como do relacionamento entre participantes de
vários núcleos entre si, além do aumento da sociabilização nas relações com os
professores e monitores dos núcleos.
Esses resultados também apontam na direção do que diz Huizinga (1986),
que o esporte desperta o sentido de liberdade, sendo positivo no desenvolvimento
da personalidade e no equilíbrio emocional, bem como reafirmam a posição de
Marinho (1981), que diz ser a atividade esportiva excelente no fomento do trabalho
em equipe e do sentido de responsabilidade, desenvolvimento a convivência mais
sólida entre grupos e no grupo, bem como o aprendizado sadio da união e da
participação comunitária.
De acordo com os professores, 75% dos alunos participantes dos núcleos
tiveram uma mudança de atitudes muito grande após algum tempo no projeto; 15%
tiveram mudanças grande, 5% apresentaram apenas uma mudança média e para
5% a mudança foi pequena. Ainda segundo os professores entrevistados, quanto à
evolução do nível de sociabilidade dos participantes dos núcleos investigados,
consideram que 80 tiveram uma evolução muito grande, 10% uma grande evolução
e 10% entre média e pequena evolução. Os dados mais uma vez confirmam a
importância do esporte como fator de socialização em crianças, sendo estes
resultados limitados à faixa etária pesquisada.
A posse e o uso de conhecimentos da cultura corporal do movimento
possibilitam o cultivo do sentimento de pertinência ao grupo, desde o sócio-cultural
mais abrangente, até os grupos de convívio cotidiano. Podem constituir-se em
valioso instrumento de relacionamento social, pois ao jogar e praticar esportes, a
criança pode revelar intenções, expressar sentimentos, construir estratégias e criar
códigos de comunicação. Através da educação física e do esporte o indivíduo
aprende a conviver em grupos, sendo a relação social nesse caso, muito importante
no que se refere à satisfação de participar de atividades esportivas, aumentando
vivências e aprendizado (BROTTO, 1999).
48
Há indícios seguros de que o papel do esporte na formação e no
desenvolvimento do homem, bem como sua influência sobre a sociedade
contemporânea ainda não foram percebidos claramente por parcelas relevantes das
camadas dirigentes de inúmeros países, entre eles o Brasil (MACHADO, 1997;
BROTTO, 1999). A pesquisa esportiva compreende inúmeras incursões científicas
no campo do esporte de competição, buscando a causalidade anatômica, fisiológica,
intelectual, tática e ambiental na quebra de recordes (PAES, 2001) e no
aperfeiçoamento técnico em geral, permanecendo restrita a pequenos grupos,
florescendo em poucos países (MARQUES, 2001).
O senso comum, segundo Medina (1989, apud TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006),
considera freqüentemente o fato de que o espírito de equipe se adquire por uma
longa prática dos esportes coletivos, que forma um excelente meio de introdução à
vida em sociedade. Esporte praticado na escola através de modalidades esportivas,
prepara e orienta o aluno a ter uma formação e um convívio social (BRACHT, 1997).
Quando se fala em desenvolvimento pessoal, faz-se referência à possibilidade que a
prática de ocupações de lazer torna viável. Não é difícil imaginar o reflexo de tal
crescimento de compreensão e, sobretudo, de melhoria da faculdade de percepção
no que diz respeito ao melhor equipamento humano para responder e fazer face aos
problemas teóricos e práticos que o meio ambiente impõe. O indivíduo terá, então,
os meios para melhor compreender sua posição no grupo, na comunidade, na
sociedade em geral, revestir-se de responsabilidades e discernir seu papel de
participante para a realização dos objetivos maiores da sociedade (Requixa, 1980,
apud MACHADO, 1997).
Convivendo em novos grupos, o ser humano vai alargando as fronteiras de
seu mundo, intensificando suas comunicações nos contatos que mantém com novos
grupos humanos (GALLATI e PAES, 2006). Tais experiências, tais vivências,
segundo Gáspari e Schwartz (2001), formam o verdadeiro conteúdo sócio-educativo
das atividades esportivas, lembrando que a educação é hoje vista como o grande
veículo para o desenvolvimento, e o esporte é encarado como o excelente e suave
instrumento para servir de impulso para o indivíduo desenvolver-se, aperfeiçoar-se,
a ampliar seus interesses e sua esfera de responsabilidades, inclusive sua
responsabilidade social como cidadão.
Como principal facilitador do ensino do esporte, destaca-se a importância
do jogo no processo de formação do aluno, como é defendido por Freire (1998) e
49
Paes (2001). O jogo é o procedimento pedagógico mais utilizado na escola porque
necessita de poucos materiais, o que já se sabe é escasso nas escolas. Através do
jogo, a sociedade se desenvolve, o aluno é motivado a aprender, as habilidades são
aperfeiçoadas, desenvolvem a criatividade, a cognição e aprendem a resolver
problemas e a tomar decisões. Além de estimular a inclusão e o desenvolvimento
das inteligências múltiplas, entre outros (TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006). Sendo o o
esporte uma das manifestações mais populares do mundo, não se pode deixar de
destacar sua relevância para a cultura corporal de movimento na escola e sua
conseqüente influência na aprendizagem sociocultural e motora dos alunos
(KAWASHIMA e BRANCO, 2006).
Quando uma criança pratica esporte, ela acaba tendo uma melhora em sua
saúde, pois seu corpo que está em desenvolvimento, acaba tendo uma quantidade
controlada de exercícios, auxiliando assim seu organismo no crescimento e a
possuir uma maior resistência (PAES, 2001). A educação está relacionada à
disciplina e hierarquia (PAES, 2002), pois a criança recebe do professor orientação
quanto às regras do jogo e a respeitar seu antagonista, acatando as decisões do
árbitro e aprendendo a se socializar (KARKANSAS e ROSE, 2002).
O espírito desportivo abre, amplia e intensifica vínculos entre pessoas e
grupos; confraterniza, estreitando as relações comunitárias e a compreensão
humana. O futebol, o voleibol, o basqutebol, o handebol, entre tantos outros,
apresenta, segundo Azeredo (apud WAGNER, 1998), fatores de valorização, sem os
quais muitos jovens jamais teriam praticado esportes, pois eles vencem todos os
preconceitos da sociedade. Busch (1999) refere-se ao fato social em estado maciço
que os esportes consubstanciam, atuando, segundo Tubino (2001), no
comportamento do povo brasileiro e influenciando culturalmente a formação das
sucessivas gerações; chegando a criar, até mesmo, um novo status de vida
profissional. Hoje, o espetáculo futebolístico constitui uma atração que aplaca muitos
desvios perniciosos no itinerário aberto ao movimento social nutrido pelo povo
(WAGNER, 1998).
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas atividades complementares ao trabalho escolar têm sido
desenvolvidas por pessoas, órgãos ou entidades com o intuito de promover algum
tipo de envolvimento da criança em esportes, e essa iniciativa tem sido fundamental
para o desenvolvimento de aspectos afetivos do indivíduo. Isso foi demonstrado ao
longo da revisão de literatura deste trabalho, da mesma forma que é possível
comprovar através da observação de iniciativas nesse sentido, como o Projeto
Segundo Tempo, desenvolvido em várias cidades, entre as quais Bagé.
É impossível deixar de ressaltar a importância que a prática esportiva tem
desde a infância como relevante instrumento de socialização, de competição e de
convívio fraterno, além de incluir valores de responsabilidade e de dever que,
seguramente, influenciam a formação da personalidade e do caráter de crianças e
adolescentes. Por serem seres em desenvolvimento, as crianças e adolescentes
necessitam de trabalho físico e psíquico para atingir, na idade adulta, um
crescimento físico perfeito e um equilíbrio psicológico que lhe assegure solidez de
personalidade.
A possibilidade de convívio social, com regras delimitadoras, a possibilidade
de intercâmbio, de ajustamentos, de integrações e de interatividade dentro dos
grupos esportivos de que participa, em atividades de esportivo-recreativas, permite à
criança e ao jovem o desenvolvimento de seu aspecto social de forma mais intensa,
fazendo com que a aceitação dos padrões impostos pela sociedade e o reforço do
sentido familiar sejam muito maiores. Advém disso a importância que esse tipo de
atividade representa no desenvolvimento de vários valores afetivos da criança,
quando, num mundo conturbado e sem muitas regras, se tornam importantes todas
as iniciativas para o desenvolvimento harmônico do indivíduo, o que facilitará a sua
adaptação e aprendizado escolares.
51
O papel do professor é de extrema importância para o desenvolvimento de
valores na criança e no adolescente, através do fomento de novas atitudes através
de atividades que ela gosta, sendo preciso utilizar o interesse da criança por
atividades esportivas para acrescentar outros objetivos. Além disso, o profissional de
educação física é quase sempre o mais próximo dos alunos, pois a informalidade
dos trajes e o fato de a avaliação ser menos rigorosa são fatores que ajudam a
popularizá-lo.
Por outro lado, sendo a pessoa que joga o principal foco da pedagogia do
esporte e sendo a ele oferecidas possibilidades de desenvolvimento motor,
cognitivo, afetivo e social, o professor de educação física estará contribuindo não
apenas para o surgimento de atletas, mas também, e principalmente, para a
formação de cidadãos mais conscientes da comunidade em que vivem. Isso se dá
em função dos estímulos proporcionados no âmbito esportivo, sendo capazes de
analisar e intervir de forma crítica e transformadora na sociedade.
O trabalho desenvolvido na cidade de Bagé por várias entidades esportivas,
assim como pelos projetos engajados no desenvolvimento de atividades esportivo-
recreativas para crianças e adolescentes, ainda que não tenham estas como
objetivo prioritário o desenvolvimento de valores morais, permite constatar que a
atividade esportiva é importantíssima como elemento auxiliar no desenvolvimento de
espírito de grupo, na ampliação da responsabilidade comunitária, bem como na
mudança de atitudes da criança a partir do momento em que ela tem que aprender a
respeitar regras, companheiros, adversários, hierarquias.
Assim, a atividade esportiva, nas suas mais variadas manifestações, permite
uma participação maior, mais abrangente, menos excludente, facilitando a condução
das atitudes dos grupos de trabalho, dependendo isso da ação do professor que
atua no grupo, isto é, sendo muito importante o seu papel como elemento que
desencadeia o processo social na criança pela forma de atuação. Dessa forma, é possível concluir, com base no referencial teórico
desenvolvido ao longo deste estudo, que o esporte constitui-se em excelente meio
de desenvolvimento da sociabilidade da criança e do adolescente, sendo, dessa
forma, um caminho para a educação ou reeducação de atitudes num contexto
escolar em que se manifesta a indisciplina. Através de um programa de esportes,
que pelas suas características coletivas e obediência às regras, se projete como
52
esporte de educação do caráter e da personalidade, é possível remeter a uma
condição em que a criança e o jovem se sinta valorizado e, a partir disso,
desenvolva seu espírito de cidadania e espírito social.
Ações voltadas ao desenvolvimento de atividades esportivas, em todos os
níveis, abrangendo todas as modalidades e com vista a atingir cada vez mais um
maior número de crianças e adolescentes, será de extrema importância no
desenvolvimento de atitudes sociais, emocionais e afetivas dos grupos atingidos,
contribuindo para o desenvolvimento social e a mudança de atitudes de clientela
alvo.
O trabalho desenvolvido na cidade de Bagé pelos vários núcleos do Projeto
Segundo Tempo permite, de acordo com os resultados da pesquisa, pelas respostas
dos professores, concluir-se que a atividade esportiva desenvolvida nestes núcleos
tem sido importantíssimo em vários sentidos: como elemento auxiliar no
desenvolvimento de espírito de grupo, na ampliação da responsabilidade
comunitária, bem como na mudança de atitudes da criança a partir do momento em
que ela tem que aprender a respeitar regras, companheiros, adversários,
hierarquias. Assim como outras atividades que envolvem a criança, o esporte
permite uma participação maior nos grupos, mais abrangente e menos excludente,
facilitando a condução das atitudes dos grupos de trabalho, dependendo isso da
ação do professor que atua no grupo, isto é, sendo muito importante o seu papel
como elemento que desencadeia o processo social na criança pela sua forma de
atuação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA - MINISTÉRIO DO ESPORTE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR
ENTREVISTA
Núcleo: ....................................................... Prof.: ................................................
Tempo de Funcionamento: ............................ Tempo da Turma: ..........................
Nº de Alunos no Núcleo: ........... Nº de Alunos com 9 a 12 anos: .............
___________________________________________________________________
QUESTÕES: 1. Como era o relacionamento da criança quando entrou no núcleo?
a) Com os colegas: ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
b) Com o professor ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
c) Com outras escolinhas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
2. Como é atualmente o relacionamento da criança nas atividades do núcleo?
a) Com os colegas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
b) Com o professor ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
c) Com outras escolinhas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
3. Como os pais comentam ser o relacionamento da criança em casa quando do seu
ingresso no projeto:
a) Com os irmãos ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
b) Com os pais ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
c) Com outras crianças ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
4. Como os pais comentam ser o relacionamento da criança em casa após algum tempo de
freqüência ao projeto:
a) Com os irmãos ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
b) Com os pais ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
c) Com outras crianças ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
5. Você acredita que seus alunos tiveram alguma mudança de atitudes após começarem a
freqüentar as atividades no projeto, e essa mudança, se houve, foi?
( ) Muito Grande ( ) Grande ( ) Média ( ) Pequena ( ) Nenhuma
6. Você acredita que seus alunos evoluíram socialmente após começarem a freqüentar as
atividades no projeto, e essa evolução foi?