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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ECONOMIA TEORIA DE PREÇOS APLICADA À ENERGIA ELÉTRICA: COMENTÁRIOS SOBRE A TARIFA BRANCA. NATÁLIA MOURA DE OLIVEIRA Brasília 2014

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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

FACULDADE DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E CONTABILIDADE

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

TEORIA DE PRECcedilOS APLICADA Agrave ENERGIA ELEacuteTRICA

COMENTAacuteRIOS SOBRE A TARIFA BRANCA

NATAacuteLIA MOURA DE OLIVEIRA

Brasiacutelia

2014

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de discutir a modalidade tarifaacuteria branca agrave luz da teoria

econocircmica de precificaccedilatildeo Para isso apresentamos as teorias de preccedilo em

monopoacutelios naturais e em sistemas sujeitos a grandes variaccedilotildees de demanda ao

longo de um periacuteodo caracteriacutesticas do setor de energia eleacutetrica Em seguida a

modalidade tarifaacuteria branca seraacute detalhada Por fim analisaremos estudos sobre a

elasticidade preccedilo da demanda de energia eleacutetrica residencial para analisar se a

adoccedilatildeo da tarifa branca se justifica

SUMAacuteRIO

Introduccedilatildeo 3

Consideraccedilotildees Teoacutericas 3

O preccedilo da eletricidade 9

Investigaccedilatildeo sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias 10

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias 13

Modalidade tarifaacuteria branca 14

O que esperar da tarifa branca 16

Referecircncias bibliograacuteficas 23

3

Introduccedilatildeo

Este trabalho tem o objetivo de discutir a modalidade tarifaacuteria branca agrave luz da teoria

econocircmica de precificaccedilatildeo Para isso inicialmente seratildeo apresentadas as teorias de

preccedilo em mercados com as caracteriacutesticas do setor de energia eleacutetrica Em

seguida a modalidade tarifaacuteria branca seraacute detalhada Por fim analisaremos

estudos sobre a elasticidade preccedilo da demanda de energia eleacutetrica residencial para

discutir se a adoccedilatildeo da tarifa branca se justifica

Consideraccedilotildees teoacutericas1

O mercado de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica eacute caracterizado como um

monopoacutelio natural ou seja para qualquer volume de produccedilatildeo o custo da induacutestria

eacute minimizado quando apenas uma firma presta o serviccedilo Isto equivale a dizer que

( 1 )

Onde

A classificaccedilatildeo como monopoacutelio natural se daacute pela existecircncia de retornos

crescentes de escala na prestaccedilatildeo do serviccedilo de distribuiccedilatildeo Para entrar no

mercado uma firma deve instalar uma rede que permita o transporte da energia ateacute

os consumidores o que requer investimentos iniciais onerosos Uma vez instalados

os equipamentos o custo para atender um consumidor adicional eacute muito inferior ao

incorrido para entrar no mercado A funccedilatildeo de produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo apresenta a

seguinte propriedade

( 2 )

Onde

1 Esta seccedilatildeo se baseia no livro ldquoA estrutura tarifaacuteria de energia eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeordquo de Faacutebio

El Hage Lucas Ferraz e Marco Delgado

4

A existecircncia de economias de escala implica em custos meacutedios decrescentes

com o volume de produccedilatildeo jaacute que o custo meacutedio dada a quantidade seraacute

sempre superior ao custo marginal

( 3 )

( 4 )

Onde

Assim conclui-se que custos marginais natildeo satildeo paracircmetros adequados para

precificar o produto de uma induacutestria na qual existam custos marginais

decrescentes pois natildeo satildeo suficientes para cobrir os custos totais da firma

Para enfrentar esse problema Coase (1946) propocircs uma tarifaccedilatildeo natildeo linear

conhecida como tarifa em duas partes uma parcela fixa a tarifa de acesso e uma

parcela variaacutevel A soluccedilatildeo de Coase eacute aplicada pela Aneel2 na elaboraccedilatildeo das

modalidades tarifaacuterias disponiacuteveis para os consumidores

O problema mais comum com as tarifas de duas partes estaacute na definiccedilatildeo da

tarifa de acesso Como o mercado eacute composto por consumidores com diferentes

niacuteveis de renda uma tarifa de acesso muito alta pode impedir o atendimento de

consumidores de menor renda Aleacutem das criacuteticas sociais e poliacuteticas que poderiam

2 Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica agecircncia reguladora brasileira que tem como uma de suas

atribuiccedilotildees calcular as tarifas de energia eleacutetrica praticadas pelas distribuidoras de energia eleacutetrica

5

ser feitas a esse resultado do ponto de vista econocircmico esta seria uma alocaccedilatildeo

ineficiente

Em um mercado com consumidores de diferentes niacuteveis de renda podemos

supor curvas de demanda diferentes para cada tipo de consumidor Para

exemplificar consideremos um consumidor grande e outro pequeno Se a tarifa de

acesso for superior ao excedente do consumidor pequeno ele deixaraacute o mercado

Como consequecircncia a quantidade consumida cairaacute elevando consideravelmente o

custo meacutedio de produccedilatildeo Este resultado eacute ruim natildeo soacute para o proacuteprio consumidor

pequeno expulso do mercado mas tambeacutem para o consumidor grande que teraacute que

pagar um preccedilo maior pelo produto e para o produtor Para evitar essa alocaccedilatildeo

ineficiente pode ser interessante cobrar tarifas diferentes para consumidores

diferentes

Ateacute aqui natildeo foram feitas ponderaccedilotildees sobre como os preccedilos podem ser

diferenciados para os consumidores No entanto existem vaacuterios mecanismos de

discriminaccedilatildeo de preccedilos entre consumidores de um monopoacutelio natural Satildeo trecircs as

formas claacutessicas Na discriminaccedilatildeo de preccedilos de primeiro grau supotildee-se que o

produtor conheccedila a disponibilidade a pagar de cada um dos consumidores Desse

modo o monopolista cobraria de cada consumidor exatamente o seu preccedilo de

reserva se apropriando completamente do excedente do consumidor Essa forma

de discriminaccedilatildeo de preccedilos eacute estritamente teoacuterica dada a impossibilidade de o

produtor ter as informaccedilotildees necessaacuterias para aplicaacute-la O mecanismo de

discriminaccedilatildeo de preccedilos de segundo grau depende da quantidade consumida Jaacute a

discriminaccedilatildeo de preccedilos de terceiro grau aplica a cada grupo de consumidores um

preccedilo diferente de acordo com caracteriacutesticas qualitativas dos consumidores

Embora as tarifas de duas partes representem um avanccedilo na precificaccedilatildeo da

eletricidade por si soacutes natildeo satildeo suficientes para atingir o melhor desenho tarifaacuterio

possiacutevel Existe mais uma particularidade importante do setor de distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica que precisa ser considerada

Limitaccedilotildees tecnoloacutegicas impedem que a energia eleacutetrica produzida seja

armazenada de forma economicamente eficiente Deste modo toda a demanda por

eletricidade deve ser atendida instantaneamente pelos ofertantes jaacute que a formaccedilatildeo

de estoques natildeo eacute possiacutevel

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de discutir a modalidade tarifaacuteria branca agrave luz da teoria

econocircmica de precificaccedilatildeo Para isso apresentamos as teorias de preccedilo em

monopoacutelios naturais e em sistemas sujeitos a grandes variaccedilotildees de demanda ao

longo de um periacuteodo caracteriacutesticas do setor de energia eleacutetrica Em seguida a

modalidade tarifaacuteria branca seraacute detalhada Por fim analisaremos estudos sobre a

elasticidade preccedilo da demanda de energia eleacutetrica residencial para analisar se a

adoccedilatildeo da tarifa branca se justifica

SUMAacuteRIO

Introduccedilatildeo 3

Consideraccedilotildees Teoacutericas 3

O preccedilo da eletricidade 9

Investigaccedilatildeo sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias 10

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias 13

Modalidade tarifaacuteria branca 14

O que esperar da tarifa branca 16

Referecircncias bibliograacuteficas 23

3

Introduccedilatildeo

Este trabalho tem o objetivo de discutir a modalidade tarifaacuteria branca agrave luz da teoria

econocircmica de precificaccedilatildeo Para isso inicialmente seratildeo apresentadas as teorias de

preccedilo em mercados com as caracteriacutesticas do setor de energia eleacutetrica Em

seguida a modalidade tarifaacuteria branca seraacute detalhada Por fim analisaremos

estudos sobre a elasticidade preccedilo da demanda de energia eleacutetrica residencial para

discutir se a adoccedilatildeo da tarifa branca se justifica

Consideraccedilotildees teoacutericas1

O mercado de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica eacute caracterizado como um

monopoacutelio natural ou seja para qualquer volume de produccedilatildeo o custo da induacutestria

eacute minimizado quando apenas uma firma presta o serviccedilo Isto equivale a dizer que

( 1 )

Onde

A classificaccedilatildeo como monopoacutelio natural se daacute pela existecircncia de retornos

crescentes de escala na prestaccedilatildeo do serviccedilo de distribuiccedilatildeo Para entrar no

mercado uma firma deve instalar uma rede que permita o transporte da energia ateacute

os consumidores o que requer investimentos iniciais onerosos Uma vez instalados

os equipamentos o custo para atender um consumidor adicional eacute muito inferior ao

incorrido para entrar no mercado A funccedilatildeo de produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo apresenta a

seguinte propriedade

( 2 )

Onde

1 Esta seccedilatildeo se baseia no livro ldquoA estrutura tarifaacuteria de energia eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeordquo de Faacutebio

El Hage Lucas Ferraz e Marco Delgado

4

A existecircncia de economias de escala implica em custos meacutedios decrescentes

com o volume de produccedilatildeo jaacute que o custo meacutedio dada a quantidade seraacute

sempre superior ao custo marginal

( 3 )

( 4 )

Onde

Assim conclui-se que custos marginais natildeo satildeo paracircmetros adequados para

precificar o produto de uma induacutestria na qual existam custos marginais

decrescentes pois natildeo satildeo suficientes para cobrir os custos totais da firma

Para enfrentar esse problema Coase (1946) propocircs uma tarifaccedilatildeo natildeo linear

conhecida como tarifa em duas partes uma parcela fixa a tarifa de acesso e uma

parcela variaacutevel A soluccedilatildeo de Coase eacute aplicada pela Aneel2 na elaboraccedilatildeo das

modalidades tarifaacuterias disponiacuteveis para os consumidores

O problema mais comum com as tarifas de duas partes estaacute na definiccedilatildeo da

tarifa de acesso Como o mercado eacute composto por consumidores com diferentes

niacuteveis de renda uma tarifa de acesso muito alta pode impedir o atendimento de

consumidores de menor renda Aleacutem das criacuteticas sociais e poliacuteticas que poderiam

2 Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica agecircncia reguladora brasileira que tem como uma de suas

atribuiccedilotildees calcular as tarifas de energia eleacutetrica praticadas pelas distribuidoras de energia eleacutetrica

5

ser feitas a esse resultado do ponto de vista econocircmico esta seria uma alocaccedilatildeo

ineficiente

Em um mercado com consumidores de diferentes niacuteveis de renda podemos

supor curvas de demanda diferentes para cada tipo de consumidor Para

exemplificar consideremos um consumidor grande e outro pequeno Se a tarifa de

acesso for superior ao excedente do consumidor pequeno ele deixaraacute o mercado

Como consequecircncia a quantidade consumida cairaacute elevando consideravelmente o

custo meacutedio de produccedilatildeo Este resultado eacute ruim natildeo soacute para o proacuteprio consumidor

pequeno expulso do mercado mas tambeacutem para o consumidor grande que teraacute que

pagar um preccedilo maior pelo produto e para o produtor Para evitar essa alocaccedilatildeo

ineficiente pode ser interessante cobrar tarifas diferentes para consumidores

diferentes

Ateacute aqui natildeo foram feitas ponderaccedilotildees sobre como os preccedilos podem ser

diferenciados para os consumidores No entanto existem vaacuterios mecanismos de

discriminaccedilatildeo de preccedilos entre consumidores de um monopoacutelio natural Satildeo trecircs as

formas claacutessicas Na discriminaccedilatildeo de preccedilos de primeiro grau supotildee-se que o

produtor conheccedila a disponibilidade a pagar de cada um dos consumidores Desse

modo o monopolista cobraria de cada consumidor exatamente o seu preccedilo de

reserva se apropriando completamente do excedente do consumidor Essa forma

de discriminaccedilatildeo de preccedilos eacute estritamente teoacuterica dada a impossibilidade de o

produtor ter as informaccedilotildees necessaacuterias para aplicaacute-la O mecanismo de

discriminaccedilatildeo de preccedilos de segundo grau depende da quantidade consumida Jaacute a

discriminaccedilatildeo de preccedilos de terceiro grau aplica a cada grupo de consumidores um

preccedilo diferente de acordo com caracteriacutesticas qualitativas dos consumidores

Embora as tarifas de duas partes representem um avanccedilo na precificaccedilatildeo da

eletricidade por si soacutes natildeo satildeo suficientes para atingir o melhor desenho tarifaacuterio

possiacutevel Existe mais uma particularidade importante do setor de distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica que precisa ser considerada

Limitaccedilotildees tecnoloacutegicas impedem que a energia eleacutetrica produzida seja

armazenada de forma economicamente eficiente Deste modo toda a demanda por

eletricidade deve ser atendida instantaneamente pelos ofertantes jaacute que a formaccedilatildeo

de estoques natildeo eacute possiacutevel

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

SUMAacuteRIO

Introduccedilatildeo 3

Consideraccedilotildees Teoacutericas 3

O preccedilo da eletricidade 9

Investigaccedilatildeo sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias 10

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias 13

Modalidade tarifaacuteria branca 14

O que esperar da tarifa branca 16

Referecircncias bibliograacuteficas 23

3

Introduccedilatildeo

Este trabalho tem o objetivo de discutir a modalidade tarifaacuteria branca agrave luz da teoria

econocircmica de precificaccedilatildeo Para isso inicialmente seratildeo apresentadas as teorias de

preccedilo em mercados com as caracteriacutesticas do setor de energia eleacutetrica Em

seguida a modalidade tarifaacuteria branca seraacute detalhada Por fim analisaremos

estudos sobre a elasticidade preccedilo da demanda de energia eleacutetrica residencial para

discutir se a adoccedilatildeo da tarifa branca se justifica

Consideraccedilotildees teoacutericas1

O mercado de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica eacute caracterizado como um

monopoacutelio natural ou seja para qualquer volume de produccedilatildeo o custo da induacutestria

eacute minimizado quando apenas uma firma presta o serviccedilo Isto equivale a dizer que

( 1 )

Onde

A classificaccedilatildeo como monopoacutelio natural se daacute pela existecircncia de retornos

crescentes de escala na prestaccedilatildeo do serviccedilo de distribuiccedilatildeo Para entrar no

mercado uma firma deve instalar uma rede que permita o transporte da energia ateacute

os consumidores o que requer investimentos iniciais onerosos Uma vez instalados

os equipamentos o custo para atender um consumidor adicional eacute muito inferior ao

incorrido para entrar no mercado A funccedilatildeo de produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo apresenta a

seguinte propriedade

( 2 )

Onde

1 Esta seccedilatildeo se baseia no livro ldquoA estrutura tarifaacuteria de energia eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeordquo de Faacutebio

El Hage Lucas Ferraz e Marco Delgado

4

A existecircncia de economias de escala implica em custos meacutedios decrescentes

com o volume de produccedilatildeo jaacute que o custo meacutedio dada a quantidade seraacute

sempre superior ao custo marginal

( 3 )

( 4 )

Onde

Assim conclui-se que custos marginais natildeo satildeo paracircmetros adequados para

precificar o produto de uma induacutestria na qual existam custos marginais

decrescentes pois natildeo satildeo suficientes para cobrir os custos totais da firma

Para enfrentar esse problema Coase (1946) propocircs uma tarifaccedilatildeo natildeo linear

conhecida como tarifa em duas partes uma parcela fixa a tarifa de acesso e uma

parcela variaacutevel A soluccedilatildeo de Coase eacute aplicada pela Aneel2 na elaboraccedilatildeo das

modalidades tarifaacuterias disponiacuteveis para os consumidores

O problema mais comum com as tarifas de duas partes estaacute na definiccedilatildeo da

tarifa de acesso Como o mercado eacute composto por consumidores com diferentes

niacuteveis de renda uma tarifa de acesso muito alta pode impedir o atendimento de

consumidores de menor renda Aleacutem das criacuteticas sociais e poliacuteticas que poderiam

2 Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica agecircncia reguladora brasileira que tem como uma de suas

atribuiccedilotildees calcular as tarifas de energia eleacutetrica praticadas pelas distribuidoras de energia eleacutetrica

5

ser feitas a esse resultado do ponto de vista econocircmico esta seria uma alocaccedilatildeo

ineficiente

Em um mercado com consumidores de diferentes niacuteveis de renda podemos

supor curvas de demanda diferentes para cada tipo de consumidor Para

exemplificar consideremos um consumidor grande e outro pequeno Se a tarifa de

acesso for superior ao excedente do consumidor pequeno ele deixaraacute o mercado

Como consequecircncia a quantidade consumida cairaacute elevando consideravelmente o

custo meacutedio de produccedilatildeo Este resultado eacute ruim natildeo soacute para o proacuteprio consumidor

pequeno expulso do mercado mas tambeacutem para o consumidor grande que teraacute que

pagar um preccedilo maior pelo produto e para o produtor Para evitar essa alocaccedilatildeo

ineficiente pode ser interessante cobrar tarifas diferentes para consumidores

diferentes

Ateacute aqui natildeo foram feitas ponderaccedilotildees sobre como os preccedilos podem ser

diferenciados para os consumidores No entanto existem vaacuterios mecanismos de

discriminaccedilatildeo de preccedilos entre consumidores de um monopoacutelio natural Satildeo trecircs as

formas claacutessicas Na discriminaccedilatildeo de preccedilos de primeiro grau supotildee-se que o

produtor conheccedila a disponibilidade a pagar de cada um dos consumidores Desse

modo o monopolista cobraria de cada consumidor exatamente o seu preccedilo de

reserva se apropriando completamente do excedente do consumidor Essa forma

de discriminaccedilatildeo de preccedilos eacute estritamente teoacuterica dada a impossibilidade de o

produtor ter as informaccedilotildees necessaacuterias para aplicaacute-la O mecanismo de

discriminaccedilatildeo de preccedilos de segundo grau depende da quantidade consumida Jaacute a

discriminaccedilatildeo de preccedilos de terceiro grau aplica a cada grupo de consumidores um

preccedilo diferente de acordo com caracteriacutesticas qualitativas dos consumidores

Embora as tarifas de duas partes representem um avanccedilo na precificaccedilatildeo da

eletricidade por si soacutes natildeo satildeo suficientes para atingir o melhor desenho tarifaacuterio

possiacutevel Existe mais uma particularidade importante do setor de distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica que precisa ser considerada

Limitaccedilotildees tecnoloacutegicas impedem que a energia eleacutetrica produzida seja

armazenada de forma economicamente eficiente Deste modo toda a demanda por

eletricidade deve ser atendida instantaneamente pelos ofertantes jaacute que a formaccedilatildeo

de estoques natildeo eacute possiacutevel

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

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de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

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_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

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_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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24

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STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

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3

Introduccedilatildeo

Este trabalho tem o objetivo de discutir a modalidade tarifaacuteria branca agrave luz da teoria

econocircmica de precificaccedilatildeo Para isso inicialmente seratildeo apresentadas as teorias de

preccedilo em mercados com as caracteriacutesticas do setor de energia eleacutetrica Em

seguida a modalidade tarifaacuteria branca seraacute detalhada Por fim analisaremos

estudos sobre a elasticidade preccedilo da demanda de energia eleacutetrica residencial para

discutir se a adoccedilatildeo da tarifa branca se justifica

Consideraccedilotildees teoacutericas1

O mercado de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica eacute caracterizado como um

monopoacutelio natural ou seja para qualquer volume de produccedilatildeo o custo da induacutestria

eacute minimizado quando apenas uma firma presta o serviccedilo Isto equivale a dizer que

( 1 )

Onde

A classificaccedilatildeo como monopoacutelio natural se daacute pela existecircncia de retornos

crescentes de escala na prestaccedilatildeo do serviccedilo de distribuiccedilatildeo Para entrar no

mercado uma firma deve instalar uma rede que permita o transporte da energia ateacute

os consumidores o que requer investimentos iniciais onerosos Uma vez instalados

os equipamentos o custo para atender um consumidor adicional eacute muito inferior ao

incorrido para entrar no mercado A funccedilatildeo de produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo apresenta a

seguinte propriedade

( 2 )

Onde

1 Esta seccedilatildeo se baseia no livro ldquoA estrutura tarifaacuteria de energia eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeordquo de Faacutebio

El Hage Lucas Ferraz e Marco Delgado

4

A existecircncia de economias de escala implica em custos meacutedios decrescentes

com o volume de produccedilatildeo jaacute que o custo meacutedio dada a quantidade seraacute

sempre superior ao custo marginal

( 3 )

( 4 )

Onde

Assim conclui-se que custos marginais natildeo satildeo paracircmetros adequados para

precificar o produto de uma induacutestria na qual existam custos marginais

decrescentes pois natildeo satildeo suficientes para cobrir os custos totais da firma

Para enfrentar esse problema Coase (1946) propocircs uma tarifaccedilatildeo natildeo linear

conhecida como tarifa em duas partes uma parcela fixa a tarifa de acesso e uma

parcela variaacutevel A soluccedilatildeo de Coase eacute aplicada pela Aneel2 na elaboraccedilatildeo das

modalidades tarifaacuterias disponiacuteveis para os consumidores

O problema mais comum com as tarifas de duas partes estaacute na definiccedilatildeo da

tarifa de acesso Como o mercado eacute composto por consumidores com diferentes

niacuteveis de renda uma tarifa de acesso muito alta pode impedir o atendimento de

consumidores de menor renda Aleacutem das criacuteticas sociais e poliacuteticas que poderiam

2 Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica agecircncia reguladora brasileira que tem como uma de suas

atribuiccedilotildees calcular as tarifas de energia eleacutetrica praticadas pelas distribuidoras de energia eleacutetrica

5

ser feitas a esse resultado do ponto de vista econocircmico esta seria uma alocaccedilatildeo

ineficiente

Em um mercado com consumidores de diferentes niacuteveis de renda podemos

supor curvas de demanda diferentes para cada tipo de consumidor Para

exemplificar consideremos um consumidor grande e outro pequeno Se a tarifa de

acesso for superior ao excedente do consumidor pequeno ele deixaraacute o mercado

Como consequecircncia a quantidade consumida cairaacute elevando consideravelmente o

custo meacutedio de produccedilatildeo Este resultado eacute ruim natildeo soacute para o proacuteprio consumidor

pequeno expulso do mercado mas tambeacutem para o consumidor grande que teraacute que

pagar um preccedilo maior pelo produto e para o produtor Para evitar essa alocaccedilatildeo

ineficiente pode ser interessante cobrar tarifas diferentes para consumidores

diferentes

Ateacute aqui natildeo foram feitas ponderaccedilotildees sobre como os preccedilos podem ser

diferenciados para os consumidores No entanto existem vaacuterios mecanismos de

discriminaccedilatildeo de preccedilos entre consumidores de um monopoacutelio natural Satildeo trecircs as

formas claacutessicas Na discriminaccedilatildeo de preccedilos de primeiro grau supotildee-se que o

produtor conheccedila a disponibilidade a pagar de cada um dos consumidores Desse

modo o monopolista cobraria de cada consumidor exatamente o seu preccedilo de

reserva se apropriando completamente do excedente do consumidor Essa forma

de discriminaccedilatildeo de preccedilos eacute estritamente teoacuterica dada a impossibilidade de o

produtor ter as informaccedilotildees necessaacuterias para aplicaacute-la O mecanismo de

discriminaccedilatildeo de preccedilos de segundo grau depende da quantidade consumida Jaacute a

discriminaccedilatildeo de preccedilos de terceiro grau aplica a cada grupo de consumidores um

preccedilo diferente de acordo com caracteriacutesticas qualitativas dos consumidores

Embora as tarifas de duas partes representem um avanccedilo na precificaccedilatildeo da

eletricidade por si soacutes natildeo satildeo suficientes para atingir o melhor desenho tarifaacuterio

possiacutevel Existe mais uma particularidade importante do setor de distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica que precisa ser considerada

Limitaccedilotildees tecnoloacutegicas impedem que a energia eleacutetrica produzida seja

armazenada de forma economicamente eficiente Deste modo toda a demanda por

eletricidade deve ser atendida instantaneamente pelos ofertantes jaacute que a formaccedilatildeo

de estoques natildeo eacute possiacutevel

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

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COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

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FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

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SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

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24

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PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

4

A existecircncia de economias de escala implica em custos meacutedios decrescentes

com o volume de produccedilatildeo jaacute que o custo meacutedio dada a quantidade seraacute

sempre superior ao custo marginal

( 3 )

( 4 )

Onde

Assim conclui-se que custos marginais natildeo satildeo paracircmetros adequados para

precificar o produto de uma induacutestria na qual existam custos marginais

decrescentes pois natildeo satildeo suficientes para cobrir os custos totais da firma

Para enfrentar esse problema Coase (1946) propocircs uma tarifaccedilatildeo natildeo linear

conhecida como tarifa em duas partes uma parcela fixa a tarifa de acesso e uma

parcela variaacutevel A soluccedilatildeo de Coase eacute aplicada pela Aneel2 na elaboraccedilatildeo das

modalidades tarifaacuterias disponiacuteveis para os consumidores

O problema mais comum com as tarifas de duas partes estaacute na definiccedilatildeo da

tarifa de acesso Como o mercado eacute composto por consumidores com diferentes

niacuteveis de renda uma tarifa de acesso muito alta pode impedir o atendimento de

consumidores de menor renda Aleacutem das criacuteticas sociais e poliacuteticas que poderiam

2 Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica agecircncia reguladora brasileira que tem como uma de suas

atribuiccedilotildees calcular as tarifas de energia eleacutetrica praticadas pelas distribuidoras de energia eleacutetrica

5

ser feitas a esse resultado do ponto de vista econocircmico esta seria uma alocaccedilatildeo

ineficiente

Em um mercado com consumidores de diferentes niacuteveis de renda podemos

supor curvas de demanda diferentes para cada tipo de consumidor Para

exemplificar consideremos um consumidor grande e outro pequeno Se a tarifa de

acesso for superior ao excedente do consumidor pequeno ele deixaraacute o mercado

Como consequecircncia a quantidade consumida cairaacute elevando consideravelmente o

custo meacutedio de produccedilatildeo Este resultado eacute ruim natildeo soacute para o proacuteprio consumidor

pequeno expulso do mercado mas tambeacutem para o consumidor grande que teraacute que

pagar um preccedilo maior pelo produto e para o produtor Para evitar essa alocaccedilatildeo

ineficiente pode ser interessante cobrar tarifas diferentes para consumidores

diferentes

Ateacute aqui natildeo foram feitas ponderaccedilotildees sobre como os preccedilos podem ser

diferenciados para os consumidores No entanto existem vaacuterios mecanismos de

discriminaccedilatildeo de preccedilos entre consumidores de um monopoacutelio natural Satildeo trecircs as

formas claacutessicas Na discriminaccedilatildeo de preccedilos de primeiro grau supotildee-se que o

produtor conheccedila a disponibilidade a pagar de cada um dos consumidores Desse

modo o monopolista cobraria de cada consumidor exatamente o seu preccedilo de

reserva se apropriando completamente do excedente do consumidor Essa forma

de discriminaccedilatildeo de preccedilos eacute estritamente teoacuterica dada a impossibilidade de o

produtor ter as informaccedilotildees necessaacuterias para aplicaacute-la O mecanismo de

discriminaccedilatildeo de preccedilos de segundo grau depende da quantidade consumida Jaacute a

discriminaccedilatildeo de preccedilos de terceiro grau aplica a cada grupo de consumidores um

preccedilo diferente de acordo com caracteriacutesticas qualitativas dos consumidores

Embora as tarifas de duas partes representem um avanccedilo na precificaccedilatildeo da

eletricidade por si soacutes natildeo satildeo suficientes para atingir o melhor desenho tarifaacuterio

possiacutevel Existe mais uma particularidade importante do setor de distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica que precisa ser considerada

Limitaccedilotildees tecnoloacutegicas impedem que a energia eleacutetrica produzida seja

armazenada de forma economicamente eficiente Deste modo toda a demanda por

eletricidade deve ser atendida instantaneamente pelos ofertantes jaacute que a formaccedilatildeo

de estoques natildeo eacute possiacutevel

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

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FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

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24

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PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

5

ser feitas a esse resultado do ponto de vista econocircmico esta seria uma alocaccedilatildeo

ineficiente

Em um mercado com consumidores de diferentes niacuteveis de renda podemos

supor curvas de demanda diferentes para cada tipo de consumidor Para

exemplificar consideremos um consumidor grande e outro pequeno Se a tarifa de

acesso for superior ao excedente do consumidor pequeno ele deixaraacute o mercado

Como consequecircncia a quantidade consumida cairaacute elevando consideravelmente o

custo meacutedio de produccedilatildeo Este resultado eacute ruim natildeo soacute para o proacuteprio consumidor

pequeno expulso do mercado mas tambeacutem para o consumidor grande que teraacute que

pagar um preccedilo maior pelo produto e para o produtor Para evitar essa alocaccedilatildeo

ineficiente pode ser interessante cobrar tarifas diferentes para consumidores

diferentes

Ateacute aqui natildeo foram feitas ponderaccedilotildees sobre como os preccedilos podem ser

diferenciados para os consumidores No entanto existem vaacuterios mecanismos de

discriminaccedilatildeo de preccedilos entre consumidores de um monopoacutelio natural Satildeo trecircs as

formas claacutessicas Na discriminaccedilatildeo de preccedilos de primeiro grau supotildee-se que o

produtor conheccedila a disponibilidade a pagar de cada um dos consumidores Desse

modo o monopolista cobraria de cada consumidor exatamente o seu preccedilo de

reserva se apropriando completamente do excedente do consumidor Essa forma

de discriminaccedilatildeo de preccedilos eacute estritamente teoacuterica dada a impossibilidade de o

produtor ter as informaccedilotildees necessaacuterias para aplicaacute-la O mecanismo de

discriminaccedilatildeo de preccedilos de segundo grau depende da quantidade consumida Jaacute a

discriminaccedilatildeo de preccedilos de terceiro grau aplica a cada grupo de consumidores um

preccedilo diferente de acordo com caracteriacutesticas qualitativas dos consumidores

Embora as tarifas de duas partes representem um avanccedilo na precificaccedilatildeo da

eletricidade por si soacutes natildeo satildeo suficientes para atingir o melhor desenho tarifaacuterio

possiacutevel Existe mais uma particularidade importante do setor de distribuiccedilatildeo de

energia eleacutetrica que precisa ser considerada

Limitaccedilotildees tecnoloacutegicas impedem que a energia eleacutetrica produzida seja

armazenada de forma economicamente eficiente Deste modo toda a demanda por

eletricidade deve ser atendida instantaneamente pelos ofertantes jaacute que a formaccedilatildeo

de estoques natildeo eacute possiacutevel

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

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FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

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24

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SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

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STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

6

Essa caracteriacutestica impotildee que os sistemas de geraccedilatildeo transmissatildeo e

distribuiccedilatildeo devem ser projetados de forma a produzir e transportar o volume

correspondente ao pico de demanda Considerando que a demanda por energia

eleacutetrica apresenta grandes variaccedilotildees tanto diaacuterias quanto sazonais eacute comum que

sistemas de suprimento de energia soacute operem proacuteximos agrave sua capacidade maacutexima

por periacuteodos curtos tendo elevada capacidade ociosa no restante do tempo

Boieteux (1960) foi um dos primeiros autores a estudar a fundo o problema da

precificaccedilatildeo da energia eleacutetrica em periacuteodos de demanda maacutexima ramo que

posteriormente ficou conhecido como Teoria da Precificaccedilatildeo de Ponta (Peak-load

pricing theory)

Para simplificar a exposiccedilatildeo considera-se a existecircncia de apenas um gerador

e uma distribuidora que suprem todo o mercado A curva de custos totais eacute funccedilatildeo

da quantidade demandada (q) e da capacidade para a qual a rede foi projetada

(qpico) a demanda maacutexima esperada

( 5 )

Os custos desse sistema de suprimento se comportam da seguinte forma

independentemente da quantidade demandada existem custos fixos ateacute a

quantidade qpico os custos marginais crescem levemente a partir de qpico os custos

marginais crescem rapidamente como ilustra o graacutefico abaixo

Considerando que os custos operacionais do sistema dependem

principalmente dos custos de aquisiccedilatildeo de energia das perdas eleacutetricas e de alguns

outros custos de operaccedilatildeo eacute razoaacutevel supor que a capacidade do sistema natildeo eacute tatildeo

relevante para a definiccedilatildeo dos custos marginais ateacute o volume de demanda de pico

qpico

Cpico

Capacidade

Maacutexima

CT = f(qqpico)

Cf

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

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de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

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_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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24

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STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

7

No entanto conforme a demanda se aproxima da capacidade maacutexima do

sistema aumenta o risco de descontinuidade do atendimento o que afetaria todos

os consumidores Isto equivale a dizer que o risco de desabastecimento de energia

embutido no preccedilo cresce rapidamente quando a demanda se aproxima do limite de

capacidade de atendimento

Como a demanda maacutexima atendida em geral eacute crescente no tempo surge o

problema de como expandir a rede para atender a demanda ao longo do tempo No

longo prazo a soluccedilatildeo oacutetima de custo eacute a curva tangente agraves curvas de custo de

curto prazo para cada um dos momentos analisados

No curto prazo a curva de custos totais pode ser representada da seguinte

forma

( 6 )

Onde

Cf custos fixos

Cmg custos marginais de curto prazo (no nosso exemplo custo de

operaccedilatildeo)

Jaacute no longo prazo a curva de custos precisa incluir tambeacutem o custo de

expansatildeo que eacute feito em grandes blocos de capacidade representando custos

fixos Assim no longo prazo a derivada dos custos fixos em relaccedilatildeo agrave capacidade

operacional pode ser representada por

( 7 )

Onde

Considerando agora a funccedilatildeo de custos de longo prazo temos

( 8 )

Como jaacute discutido em paraacutegrafo anterior eacute possiacutevel desconsiderar a influecircncia

da dimensatildeo do sistema sobre os custos marginais o mais importante eacute saber se a

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

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de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

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_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

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_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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24

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STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

8

demanda estaacute proacutexima agrave capacidade maacutexima Assim substitui-se por

Derivando a funccedilatildeo anterior temos

( 9 )

O resultado eacute o custo marginal de longo prazo que eacute composto pelos custos

de expansatildeo e de operaccedilatildeo ( ) Segundo Boiteux (1960) a precificaccedilatildeo

eficiente para o atendimento agrave demanda para o qual o sistema foi projetado ( ) eacute

a precificaccedilatildeo pelo custo marginal de longo prazo Se forem considerados retornos

constantes de escala no longo prazo o custo marginal de longo prazo eacute suficiente

para operar e expandir o sistema garantindo o equiliacutebrio

Diante desses resultados Boiteux sugere que dos consumidores que

demandam potecircncia nos periacuteodos de ponta devem ser cobrados preccedilos iguais aos

custos marginais de longo prazo (operaccedilatildeo e expansatildeo) enquanto dos

consumidores que demandam potecircncia em periacuteodos de menor solicitaccedilatildeo do

sistema deve ser cobrado apenas o custo marginal de curto prazo (operaccedilatildeo)

Se o meacutetodo de precificaccedilatildeo de Boiteux for aplicado satildeo possiacuteveis duas

situaccedilotildees distintas a depender de como os consumidores reagiratildeo a sinais de

preccedilos Caso o periacuteodo de ponta se mantenha inalterado apoacutes a adoccedilatildeo de tarifas

mais elevadas estaremos diante de um caso de ponta firme (firm peak case) Por

outro lado se o periacuteodo de demanda maacutexima se desloca teremos um caso de

inversatildeo de ponta (shifting peak case)

Enquanto a soluccedilatildeo de Boiteux eacute adequada para o caso de ponta firme a

inversatildeo de ponta eacute ineficiente do ponto de vista econocircmico pois a expansatildeo seria

cobrada apenas da parcela da demanda que impotildee menos custo ao sistema

Diversos autores como Eckel (1987) e Steiner (1957) estudaram o problema e

chegaram agrave mesma soluccedilatildeo oacutetima No entanto a demonstraccedilatildeo de Joskow (2007) eacute

a de mais faacutecil compreensatildeo motivo pelo qual seraacute exposta a seguir

Definem-se as demandas a demanda no periacuteodo 1 e a

demanda no periacuteodo 2 sendo gt para qualquer preccedilo p O bem-estar

social maacuteximo seraacute dado por

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

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FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

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JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

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24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

9

ndash

( 10 )

Onde

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 1

eacute o excedente dos consumidores que consomem no periacuteodo 2

eacute o custo marginal de expansatildeo

eacute o custo marginal de operaccedilatildeo

eacute a capacidade do sistema

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 1 e

eacute o preccedilo sombra da demanda no periacuteodo 2

O resultado encontrado eacute

e

Da demonstraccedilatildeo de Joskow fica claro que a soluccedilatildeo oacutetima para o caso de

inversatildeo de ponta eacute a aplicaccedilatildeo de preccedilos diferenciados para os periacuteodos 1 e 2 de

tal forma que a as demandas e se igualem apoacutes a aplicaccedilatildeo desses preccedilos

O preccedilo da eletricidade

O produto energia eleacutetrica natildeo eacute adequadamente caracterizado apenas pela

quantidade comercializada (integral das demandas instantacircneas em um intervalo de

tempo) a capacidade maacutexima posta agrave disposiccedilatildeo de cada agente conectado ao

sistema tambeacutem tem papel relevante jaacute que eacute a demanda maacutexima que orientaraacute a

expansatildeo do sistema Para lidar com essa caracteriacutestica especial dos sistemas de

suprimento de energia em geral os consumidores satildeo taxados por tarifas binomiais

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

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BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

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COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

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Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

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FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

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JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

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24

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PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

10

Uma parcela tem como variaacutevel a maacutexima potecircncia demandada no periacuteodo e a

outra a quantidade total de energia consumida

No entanto devido a limitaccedilotildees tecnoloacutegicas dos tradicionais medidores

eletromecacircnicos eacute comum que consumidores de baixa tensatildeo paguem apenas

tarifas monocircmias Com o advento das redes inteligentes (smart grids) amplia-se o

leque de opccedilotildees de precificaccedilatildeo com alternativas mais aderentes ao custo real do

produto

No Brasil satildeo aplicadas praticadas tarifas monocircmias em baixa tensatildeo tanto

na modalidade convencional quanto na modalidade tarifaacuteria branca

Investigaccedilotildees sobre a eficiecircncia das tarifas horaacuterias

Embora o problema de precificaccedilatildeo segundo tarifas horaacuterias jaacute tenha sido

alvo de diversos estudos na literatura econocircmica ainda existe duacutevida se os

consumidores realmente respondem aos sinas de preccedilo contidos nas tarifas Essa

pergunta eacute especialmente relevante no caso da aplicaccedilatildeo da tarifa branca uma vez

que a adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria seraacute voluntaacuteria

Em uma anaacutelise de 34 estudos realizados sobre a resposta dos consumidores

agraves tarifas horaacuterias Faruqui e Sergici (2013) investigaram a consistecircncia dos

resultados obtidos No total compotildee a anaacutelise 163 ldquomodalidades tarifaacuteriasrdquo3

definidas pelos autores como uma combinaccedilatildeo entre as tarifas cobradas nos

periacuteodos de pico e fora de pico o tipo de tarifa horaacuteria adotada e o uso de

tecnologias que auxiliam na reduccedilatildeo do consumo em periacuteodos de ponta Os

trabalhos analisados obtiveram resultados aparentemente muito distintos em

resposta agrave adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias foram observadas reduccedilotildees no consumo que

variam entre 0 e 58 A hipoacutetese dos autores eacute que a razatildeo entre as tarifas

cobradas no periacuteodo de pico e fora dele eacute o principal determinante da variaccedilatildeo em

magnitude da resposta dos consumidores agraves tarifas horaacuterias

Usando um modelo log-linear os autores estimaram a resposta dos

consumidores agraves tarifas horaacuterias em funccedilatildeo da razatildeo entre as tarifas de ponta e fora

de ponta

3 No original os autores denominam treatments cada um dos desenhos tarifaacuterios

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

11

(11)

onde

reduccedilatildeo da demanda no horaacuterio de picoexpresso em percentual

logaritmo natural da razatildeo entre as tarifas praticadas no periacuteodo de pico e fora dele

interaccedilatildeo entre e a variaacutevel dummy para tecnologias auxiliares ( em que a tecnologia assume valor 1 quando satildeo adotadas tecnologias auxiliares em conjunto com as tarifas horaacuterias

Os resultados satildeo reproduzidos na tabela abaixo retirada do artigo original

Tabela 1 Resposta da demanda a tarifas horaacuterias segundo Faruqui e Sergici

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0051

0011

Ln ( Tecnologia) 0056

0008

Intercepto 0045

0020

R2 ajustado 0372

Estatiacutestica F 4902

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os resultados revelam que quando a razatildeo entre as tarifas de ponta e fora de

ponta aumenta a reduccedilatildeo da demanda eacute maior Aleacutem disso o coeficiente positivo e

estatisticamente significante de ln(price ratiotech) indica que o uso de tecnologias

auxiliares potencializa a resposta dos consumidores O R2 de 0372 mostra que

aproximadamente 37 da variaccedilatildeo da variaacutevel dependente pode ser explicada pelas

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

12

variaacuteveis independentes Os autores observam que alguns dos dados satildeo outliers

Para minimizar o impacto dessas observaccedilotildees sobre os paracircmetros da regressatildeo

foi usado um estimador-MM Os resultados da regressatildeo com estimadores-MM satildeo

mostrados a seguir

Tabela 2 Resultados da regressatildeo com estimadores-MM

Coeficiente Regressatildeo

Ln ( Razatildeo de preccedilos) 0054

0011

Ln ( Tecnologia) 0054

0008

Intercepto 0027

0016

Nuacutemero de outliers 3000

Observaccedilotildees 163

Desvios padratildeo mostrados sob as estimativas

p 0001

p 001

p 005

Os autores concluem que a magnitude da resposta cresce conforme a razatildeo

entre as tarifas de ponta e fora de ponta aumenta mas a taxas decrescentes

Quando tarifas horaacuterias satildeo adotadas em conjunto com tecnologias auxiliares a

resposta eacute potencializada Embora os autores reconheccedilam que muitos outros

fatores tais como a duraccedilatildeo do periacuteodo de pico o clima e o conhecimento dos

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

13

consumidores sobre as tarifas horaacuterias influenciam a reaccedilatildeo da demanda eles

apontam que os resultados de diversos estudos satildeo consistentes e indicam que a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias provoca uma reduccedilatildeo da demanda nos horaacuterios de pico

Aplicaccedilatildeo de tarifas horaacuterias4

Como explicado em paraacutegrafos anteriores sistemas de distribuiccedilatildeo devem ser

dimensionados para atender agrave demanda maacutexima ainda que sua capacidade total

seja utilizada apenas por um curto periacuteodo e parte dos ativos natildeo sejam usados

durante a maior parte do tempo Quanto mais ativos ociosos maior seraacute a relaccedilatildeo

entre custo e quantidade consumida

No intuito de corrigir essa distorccedilatildeo reguladores em diversas partes do

mundo aplicam tarifas diferenciadas de acordo com a hora do dia em que ocorre o

consumo conhecidas como tarifas horaacuterias (TOU do inglecircs Time of Use) Tais

tarifas podem ser classificadas como estaacuteticas em que a resposta da demanda ao

preccedilo depende de uma accedilatildeo do consumidor ou dinacircmicas quando a proacutepria rede

de distribuiccedilatildeo se comunica com os equipamentos eleacutetricos do consumidor e envia

sinais automaticamente para reduzir o consumo em periacuteodos criacuteticos Existe ainda a

possibilidade de tarifas que refletem os custos da energia a cada momento os

chamados preccedilos em tempo real (Real Time Pricing)

No Brasil as tarifas horaacuterias satildeo aplicadas para meacutedia e alta tensatildeo nas

modalidades horaacuterias verde e azul Em periacuteodos definidos como fora de ponta as

tarifas satildeo idecircnticas Jaacute nos periacuteodos de ponta as tarifas da modalidade verde satildeo

mais altas do que as da modalidade azul Em compensaccedilatildeo consumidores que

optam pela tarifa azul devem pagar uma taxa fixa pela demanda de potecircncia em

horaacuterios de ponta que inexiste na modalidade verde As modalidades foram

desenhadas de tal forma que consumidores que usam pouca energia em horaacuterios de

ponta se beneficiam ao aderir agrave modalidade verde enquanto consumidores com

maior demanda na ponta ficam em situaccedilatildeo melhor ao optar pela modalidade azul

Para a baixa tensatildeo estaacute sendo discutida a modalidade tarifaacuteria branca que seraacute

apresentada em detalhes mais adiante

4 Seccedilatildeo baseada nas notas teacutecnicas n

os 3612010-SRE-SRDANEEL e 3622010-SRE-SRDANEEL

ambas de 06 de dezembro de 2010

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

14

Na Inglaterra5 consumidores de baixa tensatildeo tecircm a sua disposiccedilatildeo algumas

modalidades tarifaacuterias horaacuterias Economy 7 Economy 10 e Dynamic Teleswitching

Na primeira modalidade o periacuteodo noturno tem tarifas mais baixas durante sete

horas contiacutenuas e tarifas mais altas do que as praticadas nos planos convencionais

durante o restante do tempo O horaacuterio de iniacutecio de fornecimento e a relaccedilatildeo entre

as tarifas do periacuteodo noturno e do periacuteodo diurno variam entre as distribuidoras da

energia A modalidade Economy 10 eacute semelhante agrave Economy 7 mas os periacuteodos de

tarifas mais baratas se dividem em trecircs postos um durante a tarde um durante a

noite e um durante a madrugada Embora ambas as tarifas sejam TOUs estaacuteticas

elas podem ser aplicadas de forma dinacircmica com auxiacutelio de um dispositivo que

permite ao distribuidor a desconexatildeo remota de alguns equipamentos do

consumidor Nesse caso temos as tarifas Dynamic Teleswitching

Modalidade tarifaacuteria branca

Atualmente a uacutenica modalidade tarifaacuteria disponiacutevel para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo no Brasil eacute a chamada tarifa convencional em que a

energia consumida tem o mesmo preccedilo em qualquer hora do dia ou dia da semana

Assim embora o custo da energia seja diferente ao longo do dia consumidores de

baixa tensatildeo natildeo tecircm qualquer sinalizaccedilatildeo sobre os periacuteodos em que o custo da

energia eacute mais baixo e por isso natildeo tecircm incentivos para ajustar seu consumo

Para aprimorar as tarifas dos consumidores de baixa tensatildeo atualmente estaacute

em discussatildeo na Aneel a modalidade tarifaacuteria branca Nessa nova modalidade

existiratildeo trecircs postos tarifaacuterios fora de ponta intermediaacuterio e ponta De acordo com a

agecircncia reguladora a existecircncia de um posto intermediaacuterio se justifica para evitar

que uma eventual reduccedilatildeo do consumo no periacuteodo de ponta se desloque para as

horas adjacentes

Segundo o submoacutedulo 71 dos Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria

(PRORET)6 o posto tarifaacuterio ponta eacute definido como o periacuteodo composto por tre s

oras diaacuterias consecutivas definidas pela distribuidora considerando o perfil de

consumo de seu sistema eleacutetrico O posto tarifaacuterio intermediaacuterio teraacute duas horas

5 Fonte httpwwwukpowercouk

6 Disponiacutevel em httpwwwaneelgovbrarquivosExcelPRORET20Submoacutedulo20720120-

20Procedimentos20Geraispdf

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

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MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

15

uma imediatamente anterior e outra imediatamente posterior ao periacuteodo de ponta

Por fim o posto tarifaacuterio fora de ponta seraacute composto pelas horas que natildeo estiverem

compreendidas nos outros postos tarifaacuterios

As tarifas seratildeo definidas de tal forma que a parcela da tarifa destinada a

remunerar os serviccedilos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo (TUSD7) do posto intermediaacuterio

seraacute trecircs vezes superior ao do posto fora de ponta enquanto a TUSD do posto ponta

seraacute cinco vezes superior agrave do posto fora de ponta A razatildeo entre as TUSD do posto

fora de ponta e da modalidade convencional seraacute representada pelo fator kz que

necessariamente seraacute inferior agrave unidade

Por padratildeo o fator kz seraacute definido como 055 mas seraacute possiacutevel alteraacute-lo no

processo de definiccedilatildeo das tarifas de cada distribuidora se for constatado que existe

um valor mais adequado de acordo com as especificidades de cada aacuterea de

distribuiccedilatildeo

A parcela destinada a cobrir os custos de compra da energia (TE8) seraacute mais

cara apenas durante o periacuteodo de ponta No posto intermediaacuterio seratildeo praticadas as

tarifas do periacuteodo fora de ponta

A tabela abaixo exemplifica algumas das tarifas residenciais definidas nos

reajustes tarifaacuterios de 2014

Tabela 3 Tarifas residenciais para algumas distribuidoras9

Distribuidora Tarifa

convencional (R$MWh)

Tarifa Branca(R$MWh) Fator kz

Eletropaulo

TUSD 11011 TUSD ponta

24633 TUSD

intermediaacuteria 16204

TUSD fora de ponta

7776

0706203 TE 17106

TE ponta

27125 TE

intermediaacuteria 16274

TE fora de

ponta 16274

TOTAL 28117 TOTAL 51758 TOTAL 32478 TOTAL 2405

Coelce

TUSD 18412 TUSD ponta

48778 TUSD

intermediaacuteria 30664

TUSD fora de ponta

12549

0681566

TE 1751 TE

ponta 30664

TE intermediaacuteria

16266 TE fora

de ponta

16266

7 Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiccedilatildeo (TUSD)

8 Tarifa de Energia (TE)

9 Fonte Resoluccedilotildees Homologatoacuterias n

os 1759 de 03 de julho de 2014 (Eletropaulo) 1711 de 15 de

abril de 2014 (Coelce) e 1700 de 07 de abril de 2014 (Cemig)

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

16

TOTAL 35922 TOTAL 79442 TOTAL 30664 TOTAL 28815

Cemig

TUSD 20968 TUSD ponta

50097 TUSD

intermediaacuteria 31979

TUSD fora de ponta

1386

0661007 TE 18664

TE ponta

29534 TE

intermediaacuteria 17676

TE fora de

ponta 17676

TOTAL 39632 TOTAL 79631 TOTAL 49655 TOTAL 31536

A adesatildeo agrave modalidade tarifaacuteria branca seraacute facultativa aos consumidores

atendidos em baixa tensatildeo exceto para as unidades consumidoras classificadas

como iluminaccedilatildeo puacuteblica ou residencial de baixa renda que natildeo teratildeo a opccedilatildeo de

adotar a tarifa branca

Unidades consumidoras atendidas em baixa tensatildeo agraves quais a tarifa branca

se destina satildeo enquadradas em uma das seguintes classes de consumo10 segundo

sua atividade principal B1 - residencial B2 - rural B3 - outras classes (nessa

categoria satildeo incluiacutedas unidades consumidoras industriais comerciais poder

puacuteblico e serviccedilos puacuteblicos) e B4 - iluminaccedilatildeo puacuteblica Consumidores desta uacuteltima

categoria natildeo teratildeo a opccedilatildeo de migrar para a tarifa branca uma vez que sua

liberdade para alterar os horaacuterios de consumo eacute extremamente limitada

O exerciacutecio de atividades diferentes dileneia haacutebitos de consumo de energia

eleacutetrica distintos Enquanto consumidores comerciais em geral tecircm seu consumo

concentrado durante o horaacuterio comercial consumidores residenciais tendem a

consumir mais durante periacuteodos complementares motivo pelo qual eacute necessaacuterio

investigar o comportamento de cada classe separadamente Este trabalho se

concentraraacute na anaacutelise dos haacutebitos das unidades consumidoras integrantes da

classe residencial eleita por ser a uacutenica atividade atendida quase exclusivamente

em baixa tensatildeo Como um futuro complemento a este trabalho os haacutebitos de

outras classes poderaacute ser estudado

O que esperar da tarifa branca

Ateacute agora foram apresentados os argumentos teoacutericos que justificam a

adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para a energia eleacutetrica Daqui para a frente seraacute feita

10

Fonte httpwwwaneelgovbrarquivospdfcaderno4capapdf p14

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

17

uma anaacutelise do desenho tarifaacuterio proposto para a tarifa branca com comentaacuterios

sobre as possiacuteveis consequecircncias da adoccedilatildeo de tarifas horaacuterias para consumidores

atendidos em baixa tensatildeo

A nota teacutecnica nordm 3622010ndashSRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

da Aneel descreve o objetivo da tarifaccedilatildeo horaacuteria

Todavia as tarifas com diferenciaccedil tempor tem o fito de

reduzir o consumo de energia mas de aproximar o preccedil

b rdquo

Para saber se esse objetivo pode ser alcanccedilado com consumidores

residenciais eacute necessaacuterio conhecer a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica nesse

segmento de consumo Alguns trabalhos jaacute se dedicaram ao caacutelculo dessa

elasticidade para o Brasil Mondiano (1984) foi o primeiro a usar teacutecnicas

economeacutetricas para estimar a sensibilidade a preccedilo da energia eleacutetrica no paiacutes O

autor usou dados anuais entre 1963 e 1981 para estimar as elasticidades preccedilo e

renda para quatro classes de consumo residencial comercial industrial e outros

usos As estimativas foram realizadas usando o meacutetodo de miacutenimos quadrados com

correccedilatildeo de correlaccedilatildeo serial pelo meacutetodo de Corchranne-Orcutt Foram estimados

dois modelos alternativos o primeiro pressupotildee ajustamento instantacircneo e o

segundo parcial Os modelos satildeo apresentados abaixo seguidos dos resultados

para as elasticidades preccedilo de longo prazo

Modelo 1

( 12 )

Modelo 2

( 13 )

Onde

qi demanda por energia eleacutetrica da classe i

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

18

y renda real da economia

pitarifa media real para a classe consumidora i

e elasticidades renda e preccedilo de curto prazo

e elasticidades renda e preccedilo de longo prazo

Tabela 4 Elasticidades de acordo com Modiano (1984)

Classe Elasticidade preccedilo de curto prazo

Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de curto prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0118 -0403 0332 113

Comercial -0062 -0183 0362 1068

Industrial -0451 -0222 0502 136

Outras -0039 -0049 026 0324

Com o intuito de melhorar as estimativas feitas por Mondiano Andrade e

Lobatildeo (1997) calcularam as elasticidades preccedilo e renda para a demanda de

consumidores residenciais O modelo foi modificado para levar em consideraccedilatildeo natildeo

soacute o preccedilo e a renda mas tambeacutem o preccedilo dos eletrodomeacutesticos segundo a

equaccedilatildeo

( 14 )

Onde

ct pt yt e pet satildeo respectivamente os logaritmos de Ct Pt Yt e PEt

Ct consumo residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Pt tarifa residencial de energia eleacutetrica no tempo t

Yt renda familiar no tempo t

Et esto ue domiciliar de aparel os eletrodomeacutesticos no tempo t

φ1=ln(K∆δ)φ2=αlt0φ3=β+δθgt0 e φ4=δμlt011

11

K βδ e α vieram da e uaccedilatildeo de demanda da energia eleacutetrica (

) enquanto

∆ e μ se referem agrave e uaccedilatildeo do esto ue de eletrodomeacutesticos (

)

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

19

Os coeficientes φ2 φ3 e φ4 representam respectivamente as elasticidades

da demanda residencial de energia eleacutetrica com relaccedilatildeo ao preccedilo de energia

eleacutetrica renda familiar e preccedilo dos eletrodomeacutesticos

As estimativas foram realizadas por trecircs diferentes meacutetodos miacutenimos

quadrados ordinaacuterios variaacuteveis instrumentais de dois estaacutegios e vetor

autoregressivo (VAR) com um modelo de correccedilatildeo de erros (VEC) Os autores

concluiacuteram que o a abordagem usando variaacuteveis instrumentais eacute a mais adequada

para calcular as elasticidades Os resultados obtidos com esse meacutetodo foram os

seguintes

Tabela 5 Resultados de Andrade e Lobatildeo

Classe Elasticidade

preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo

prazo

Residencial -0051 0213

Dentre os estudos feitos apoacutes a deacutecada de 90 um dos mais conhecidos

trabalhos acadecircmicos a estimar a elasticidade-preccedilo da energia eleacutetrica no Brasil foi

desenvolvido por Schmidt e Lima (2004) A partir de dados anuais os autores

usaram um modelo de vetores autoregressivos (VAR) para estimar as funccedilotildees de

demanda por energia eleacutetrica de trecircs classes de consumo A equaccedilatildeo eacute descrita

abaixo

LogCt = Logk + aLogPt + bLogYt + dLogLt + fLogSt ( 15 )

onde

Ct eacute o consumo (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Pt eacute a tarifa (residencial comercial ou industrial) de energia eleacutetrica no tempo t

Yt eacute a renda (rendimento do trabalhador no caso residencial e PIB nos casos

comercial e industrial) no tempo t

Lt eacute o preccedilo dos aparelhos eletrodomeacutesticos (residencial) ou eletrointensivos (ligados

ao comeacutercio ou agrave induacutestria) no tempo t

St eacute o preccedilo de um bem substituto agrave energia eleacutetrica no tempo t (o uacutenico segmento

que tem um possiacutevel bem substituto agrave energia eleacutetrica eacute o industrial)

xp = a eacute a elasticidade-preccedilo xr = b eacute a elasticidade-renda e xl = d eacute a

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

20

elasticidade-preccedilo do estoque dos aparelhos eletrodomeacutesticoseletrointensivos xl = f

eacute a elasticidade-preccedilo do bem substituto e k eacute uma constante Os resultados foram

Tabela 6 Resultados de Schmidt e Lima

Classe Elasticidade preccedilo de longo prazo

Elasticidade renda de longo prazo

Residencial -0085 0539

Comercial -0174 0636

Industrial -0129 1718

Vecirc-se que os valores das elasticidades calculadas nos estudos citados satildeo

bem diferentes variando entre -0451 e -0051 para a elasticidade preccedilo e 02 e

1718 para a elasticidade renda Ainda assim eacute possiacutevel inferir de forma geral que

a a resposta da demanda agraves variaccedilotildees de preccedilo eacute muito mais suave do que a

resposta agrave variaccedilatildeo de renda dos consumidores Diante desta constataccedilatildeo eacute natural

que se questione a oportunidade de adoccedilatildeo de tarifas com discriminaccedilatildeo de preccedilos

conforme o horaacuterio

Uma criacutetica que pode ser feita agraves estimativas de elasticidade citadas eacute o uso

de dados para todo o Brasil Ocorre que os haacutebitos de consumo de energia eleacutetrica

satildeo muito diferentes entre as diversas regiotildees do paiacutes Por esse motivo eacute possiacutevel

que as elasticidades-preccedilo regionais tambeacutem sejam significativamente diferentes

das estimativas realizadas Os graacuteficos a seguir retirados da Pesquisa de Posse e

Haacutebitos de Uso realizada pela Eletrobraacutes ilustra a diversidade de haacutebitos dos

consumidores residenciais brasileiros

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

24

MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

21

Figura 1 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Norte

Figura 2 Curva de carga diaacuteria da regiatildeo Sudeste

Uma nova modalidade tarifaacuteria exige numerosos estudos e discussotildees

planejamento cuidadoso e no caso da tarifa branca a troca dos medidores dos

consumidores que optarem pelo novo modelo de tarifaccedilatildeo Todas essas exigecircncias

implicam em custos para o sistema que soacute se justificam caso os benefiacutecios os

superem

Tipicamente consumidores residenciais possuem alguns equipamentos

eleacutetricos que natildeo oferecem flexibilidade quanto aos horaacuterios de uso O exemplo mais

evidente desse tipo de aparelho eacute a geladeira que precisa ser mantida ligada

constantemente Lacircmpadas tambeacutem oferecem pouca margem para modulaccedilatildeo da

carga pois seu horaacuterio de uso depende principalmente da disponibilidade de luz

22

natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

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MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

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natural A forma como estes equipamentos satildeo usados corrobora os resultados de

que a elasticidade-preccedilo para a energia eleacutetrica residencial eacute pequena

Por outro lado natildeo se pode perder de vista que as elasticidades-preccedilo podem

sofrer alteraccedilotildees ao longo do tempo Conforme a renda cresce famiacutelias tendem a

adquirir eletroeletrocircnicos que permitem maior gerenciamento quanto ao horaacuterio de

uso Este eacute o caso por exemplo de maacutequinas de lavar roupas lavadoras de louccedilas

e eletrocircnicos equipados com baterias tais como laptops e celulares Como as

elasticidades dos estudos acima foram calculadas com base em seacuteries de dados

coletados no maacuteximo ateacute 1999 podemos suspeitar que os haacutebitos de consumo

sofreram alteraccedilotildees ateacute o presente

Com o advento de alternativas como o carro eleacutetrico surgiratildeo ainda mais

oportunidades de ajuste do consumo para horaacuterios menos onerosos para o sistema

Desse modo embora tradicionalmente no Brasil a elasticidade preccedilo para energia

eleacutetrica residencial seja proacutexima a zero natildeo se pode concluir que a adoccedilatildeo de

tarifas horaacuterias para essa classe de consumidores seja inadequada

23

Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

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MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

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Referecircncias Bibliograacuteficas

AGEcircNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELEacuteTRICA (ANEEL) Tarifas de fornecimento

de energia eleacutetrica Brasiacutelia Aneel 2005 (Cadernos Temaacuteticos)

_________ Procedimentos de Regulaccedilatildeo Tarifaacuteria submoacutedulo 71 Procedimentos

Gerais de 28 de novembro de 2011

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1700 de 07 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1711 de 15 de abril de 2014

_________ Resoluccedilatildeo Homologatoacuteria nordm 1759 de 03 de julho de 2014

_________ Nota Teacutecnica nordm 3612010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010 _________ Nota Teacutecnica nordm 3622010-SRE-SRDANEEL de 06 de dezembro de 2010

ANDRADE Thompson Almeida LOBAtildeO Waldir Jesus Arauacutejo Elasticidade Renda e

Preccedilo da Demanda Residencial de Energia Eleacutetrica no Brasil Texto para discussatildeo

nuacutemero 489 do IPEA Rio de Janeiro1997

BOITEUX Marcel Peak Loading Price Traduzido por H W Izzard The Journal of

Business Chicago volume 33 nuacutemero 2 p 157-179 1960

COASE Ronald H The Marginal Cost Controversy Economica Londres volume 13

nuacutemero 51 p169-182 1946

ECKEL Catherine C Customer Class Price Discrimination by Electric Utilities

Journal of Economics and Business volume 39 nuacutemero 1 p19-33 1987

EL HAGE Faacutebio S FERRAZ Lucas PC DELGADO Marco P A Estrutura

Tarifaacuteria de Energia Eleacutetrica Teoria e aplicaccedilatildeo Rio de Janeiro Synergia 2011

ELETROBRAS Pesquisa de Posse de Equipamentos e Haacutebitos de Consumo ano

base 2005 Classe Residencial Relatoacuterio Brasil Rio de Janeiro 2007

FARUQUI Ahmad SERGICI Sanem Arcturus International Evidence on Dynamic

Pricing 2013 Disponiacutevel em httpssrncomabstract=2288116 acesso em 14 de

agosto de 2014

JOSKOW Paul Regulation of Natural Monopoly In POLINSKY A Mitchell

SHAVELL Steven Handbook of Law and Economics Amsterdatilde Elsevier 2007 v

2 p 1227-1348

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MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957

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MONDIANO Eduardo Elasticidade-renda e preccedilo da demanda de energia eleacutetrica

no Brasil Texto para discussatildeo nuacutemero 68 do Departamento de Economia da

PUC-Rio Rio de Janeiro 1984

SCHIMIDT Cristiane A J LIMA Marcos A M A Demanda por Energia Eleacutetrica no

Brasil Revista Brasileira de Economia Rio de Janeiro volume 58 nuacutemero 1 p

67-98 2004

STEINER Peter O Peak Loads and Efficient Pricing The Quarterly Journal of

Economics volume 71 nuacutemero 4 p585-610 1957