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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A POLUIÇÃO COMO CRIME AMBIENTAL Por: André Luiz Rodrigues Cavalcanti Orientador Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2011 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A POLUIÇÃO COMO CRIME AMBIENTAL

Por: André Luiz Rodrigues Cavalcanti

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

2

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

<>

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<>

A POLUIÇÃO COMO CRIME AMBIENTAL

<>

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<>

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Ambiental

Por: André Luiz Rodrigues Cavalcanti

3

AGRADECIMENTOS

....aos meus pais e minhas irmãs que

sempre me apoiaram.

4

DEDICATÓRIA

.....Dedico este trabalho aos meus amigos

e amigas que sempre estão comigo.

5

RESUMO

Objetivamos neste trabalho a percepção do crime de poluição. Em um

primeiro momento conceituaremos poluição e suas formas mais freqüentes de

ocorrência. Depois iniciaremos uma análise das dificuldades e limitações da

conduta de poluição como crime, desde uma análise da tutela até o

destrinchamento da imputação do crime de poluição aos olhos da Lei de

Crimes Ambientais.

Por fim demonstraremos os mecanismos das infrações administrativas

ambientais que possuem uma efetividade em coagir o crime de poluição

ambiental por vezes muito superior as sanções criminais tendo em vista sua

melhor facilidade de aplicação e capacidade destrutiva dos empreendimentos

que não tem o cuidado necessário para com o meio ambiente, restando claro

que a punição administrativa poderia ser substitutiva da criminalização da

conduta de poluição.

6

METODOLOGIA

Para a concepção deste trabalho foi utilizado método de pesquisa

bibliográfica, pesquisa na internet e investigação secundária.

Buscou-se analisar os melhores autores, mediante pesquisa em suas

obras, com a finalidade de conhecer melhor o assunto e complementar o

conhecimento adquirido durante o curso.

Na aludida pesquisa, analisou-se o delito de poluição e suas

conseqüências penais e administrativas.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Poluição o conceito 11

CAPÍTULO II - A tutela do direito penal ambiental 20

CAPÍTULO III – A imputação do crime de poluição 25

CAPÍTULO IV – A infração administrativa ambiental 36 CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 46

ÍNDICE 49

FOLHA DE AVALIAÇÃO 51

8

INTRODUÇÃO

O meio ambiente, bem jurídico devidamente tutelado

constitucionalmente, enfrenta hoje uma importante discussão sobre a

efetividade da sua proteção jurídica, seja ela: civil, administrativa ou penal.

A sociedade pós-industrial, com suas diretrizes marcadas pelo

capitalismo selvagem contemporâneo, que vê na exploração dos recursos

naturais uma fonte inesgotável de lucros, finalmente se defrontou com seu

limite, qual seja, o meio ambiente, neste momento a natureza não pode ser

pensada sem a sociedade e a sociedade já não pode ser pensada sem a

natureza.

O dano e o impacto ambiental que, em sua maior parte, se

desenvolvem de forma paulatina, destruindo os ecossistemas, as relações

estabelecidas entre as espécies, a biodiversidade e todo o equilíbrio natural,

consegue alcançar o complexo de relações humanas e os conhecimentos

ancestrais, e até mesmo as práticas quotidianas. Assim, em razão dos

impactos ambientais causados de maneira antrópica, surgem as vítimas, desde

o cidadão atingido pelo acidente, passando-se pela localidade, regionalidade a

até mesmo pelo país como um todo, no caso de um acidente de grandes

proporções como o observado recentemente no Japão, onde um terremoto

seguido de um tsunami comprometeram plantas nucleares e causaram grandes

problemas[1].

O direito ambiental surge como resposta à necessidade, cada vez mais

sentida, de pôr um freio à devastação do ambiente em escala planetária,

embalada por duas ideologias - a do progresso, e a do desenvolvimento

econômico, [2]-, ambas apoiadas na ciência, a qual, devido aos êxitos

tecnológicos que propiciou, mudou rapidamente a compreensão e a face do

mundo.

Pelo exposto há a necessidade de eleição dos mecanismos

institucionais a pôr em marcha e que possibilitem a adoção de um modelo

sustentável de desenvolvimento [3]. Os estudos de impacto ambiental exigidos

para a concessão da licença são prévios e necessários para garantir que o

9

meio ambiente seja preservado com a atividade econômica e que nas próximas

gerações possa estar ainda preservado.

Em entrevista, Antonio Herman Benjamim, um dos precursores do

Direito Ambiental no Brasil, ao ser indagado sobre a efetividade das leis

ambientais no Brasil, assim respondeu: "Essa efetividade ainda é vaga. A lei é

boa, mas sua aplicação é ruim. Precisamos criar mecanismos que propiciem

uma boa aplicação da lei e o fortalecimento das instituições que têm

responsabilidade"[4].

O problema é agravado pela ainda existente falta de identidade do

Direito Penal Ambiental e da inexistência de uma jurisprudência consolidada

sob a égide da Lei 9605/98, sendo que a maioria dos delitos ambientais tramita

pelos juizados especiais criminais e suas respectivas turmas recursais.

Verificamos, ainda, a lamentável falta de compromisso ambiental por

parte de alguns aplicadores do direito (juízes, promotores, advogados, policiais

etc) que tratam das questões ambientais com a visão privatística do século

XIX, gerando decisões inócuas que refletem uma legislação penal ambiental já

confusa.

A dificuldade de se encontrar e desenvolver um ponto de equilíbrio,

verdadeiro divisor dos interesses que existem entre a proteção dos direitos

individuais e o da coletividade, talvez, seja um dos maiores causadores dessa

falta de efetividade na aplicação da tutela penal ambiental no Brasil, o que nos

leva ao questionamento da real necessidade do mesmo como método para

coibir a degradação ambiental.

O caminho para o desenvolvimento sustentável passa

necessariamente pela consideração de que a natureza precisa de uma

proteção efetiva, e o Direito é o instrumento cultural de tutela deste valor

jurídico.

A Lei n. 9.605/98 tutela a qualidade de vida por meio do Direito Penal,

protegendo a integridade do uso dos recursos naturais, e preservando –

também – a saúde humana contra as mais diversas formas de agressão.

Na referida lei, o título que se denomina Da Poluição e outros Crimes

Ambientais o art. 54 possui a seguinte redação:

10

Art. 54 – Causar poluição de qualquer natureza em níveis

tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde

humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou

a destruição significativa da flora:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - Se o crime é culposo:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

§ 2º – Se o crime:

I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a

ocupação humana;

II – causar poluição atmosférica que provoque a retirada,

ainda que momentânea, dos habitantes das áreas

afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da

população;

III – causar poluição hídrica que torne necessária a

interrupção do abastecimento público de água de uma

comunidade;

IV – dificultar ou impedir o uso público das praias;

V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos

ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em

desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou

regulamentos:

Pena – reclusão, de um a cinco anos.

§3º - Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo

anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a

autoridade competente, medidas de precaução em caso

de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

11

CAPÍTULO I

POLUIÇÃO

O CONCEITO

Legislação e doutrina brasileiras têm se esforçado para definir o que

venha a ser poluição.

Para a doutrina clássica de Direito Público, poluição é toda alteração

das propriedades naturais do meio ambiente, causada por agente de qualquer

espécie, prejudicial à saúde, à segurança ou ao bem-estar da população[5],

caracterizando-se por ser o modo mais pernicioso de degradação do meio

ambiente natural [6] .

A poluição caracteriza-se pela degradação da qualidade ambiental,

pois é exatamente a alteração adversa das suas próprias características que a

define.

O ambiente é constituído por inter-relações que lhe são peculiares e

próprias, e a inserção de elementos não comuns, e produzidos pelo homem ou

não (no caso de eventos naturais que impliquem na introdução de elementos

não comuns no meio ambiente, como a explosão de um vulcão) - é que

caracterizam a poluição.

A poluição diminui a qualidade ambiental, podendo ser entendida como

a introdução no meio de elementos exógenos, que causem desequilíbrio

prejudicial à saúde, à segurança, ao bem-estar da população, à fauna e à flora,

às condições estéticas e sanitárias do ambiente.

A poluição torna o ambiente inadequado a uma utilização específica e

o desnatura, retirando as suas características básicas. É uma alteração para

12

pior, fruto da atuação humana ou não, no sentido de fazer inserir elementos

exógenos ao meio.

A legislação brasileira, através da Lei 6.938/81, em seu art. 3º, inciso

III, definiu o que venha a ser “poluição” para efeitos de aplicação da legislação

atinente:

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental

resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar

da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e

econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do

meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os

padrões ambientais estabelecidos;

O conceito de “poluição” da legislação brasileira é bastante abrangente

e acolhe tanto a poluição causada na água, terra e ar, quanto a poluição

sonora e visual, haja vista a norma da alínea b e d. Além disso, todas as fontes

poluidoras e ecossistemas poluíveis estão previstos nesta definição. Até

mesmo a poluição por gases, líquidos ou sólidos está abrangida pelo conceito

legal.

Lembra Leme Machado que no conceito são protegidos o homem e

sua comunidade, o patrimônio público e privado, o lazer e o desenvolvimento

econômico por meio das diferentes atividades, alínea b, a flora e a fauna

(biota), a paisagem e os monumentos naturais, inclusive, os arredores naturais

desses monumentos – que encontram também proteção constitucional nos

arts. 216 e 225 da Constituição Federal de 1988 [7].

O vasto alcance do conceito de poluição – que por estar inserido na Lei

de Política Nacional do Meio Ambiente guarda foro de conceito aplicável à

matéria ambiental em qualquer ramo do Direito – determina a possibilidade de

aplicação da norma do art. 54 a todas as modalidades de poluição que a

13

própria legislação prevê. Lógico que sem descuidar da atenção ao princípio da

tipicidade. Interessante questão a pensar é se a poluição assim o é apenas se

houver infringência dos padrões estabelecidos, ou se é possível estar

caracterizada mesmo que a norma administrativa permita aquele índice de

introdução de elementos exógenos no ambiente.

O professor Leme Machado observa que pode haver poluição ainda

que se observem os padrões ambientais. A desobediência aos padrões

constitui ato poluidor, mas pode ocorrer que, mesmo com a observância dos

mesmos, ocorram os danos previstos nas quatro alíneas anteriores, o que,

também, caracteriza a poluição com a implicação jurídica daí decorrente [8].

Tal posicionamento prende-se à observação de que a alínea e afirma

ser poluição o lançamento de materiais ou energia com inobservância de

padrões ambientais estabelecidos. A contrario sensu, pode haver poluição

prevista nas outras alíneas independentemente do desrespeito aos padrões

administrativos, isto porque, quando quis estabelecer a vinculação do conceito

aos padrões oficiais, o legislador assim o fez.

Opinião divergente é aquela que vê no ato administrativo permissivo de

uma atuação a prova de que aquela conduta não é poluidora. É que não seria

aceitável que o Estado com um braço permitisse a conduta e com o outro a

rotulasse de poluente e proibida.

Entretanto, vale notar que a permissividade de uma conduta não pode

ter o condão de apagar a eventual nocividade da mesma conduta. A norma não

pode afastar a realidade. O que parece existir é uma presunção de que a

atitude em conformidade com os padrões de introdução de elementos

exógenos no meio ambiente não é poluidora, presunção esta que pode vir a ser

afastada em caso de prova técnica que demonstre o contrário e o equívoco da

norma administrativa permissiva.

Poluição assim conceituada pode se estender tanto na atmosfera

quanto na água, quanto no solo, e pode ser causada por várias fontes

poluidoras. Melhor forma de analisar a poluição é pensá-la a partir do bem

ofendido: poluição nos recursos hídricos, na atmosfera; ou ainda estudá-la a

14

partir das fontes poluidoras: aquelas causadas por agrotóxicos e remessa de

rejeitos perigosos e detritos sólidos.

1.1 - Tipos de poluição

O tratamento que será dado neste tópico não tem a intenção de

esgotar as modalidades de poluição existentes e estudadas dentro da Ecologia,

buscamos apenas fornecer uma visão geral e global da poluição nos seus

diversos modelos criados pelo homem e facilitar a compreensão.

1.1. 1 – Poluição das águas.

A poluição dos recursos hídricos pode ser definida como “qualquer

alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas das águas que possa

importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações e

ainda comprometer a sua utilização para fins agrícolas, industriais, comerciais,

recreativos e principalmente a existência normal de fauna aquática”. Esse

conceito, inserido no art. 3º do Decreto n. 50.877 de 29/06/61, define a poluição

das águas pelo ponto de vista da sua inaproveitabilidade para os diversos usos

a que se destina. Similar conceito está demonstrado no art. 13, §1º, do Decreto

n. 73.030/73, acrescentando-se a definição de poluição aquática a partir da

potencialidade do dano causado à fauna e à flora.

Esta poluição surge em razão do lançamento nos corpos de águas de

elementos orgânicos ou minerais, de fabricação humana ou livres na natureza,

que causam degradação do ambiente em razão de sua característica tóxica

para o ser humano, à fauna, à flora e ao ambiente como um todo.

Vale ressaltar que a poluição ocorre a partir do momento em que é

possível verificar o prejuízo à saúde, à segurança, ao bem estar, ou ainda

quando se constatar afetação desfavorável à biota além da afetação das

condições estéticas e sanitárias e o estabelecimento de condições

desfavoráveis ao exercício de atividades econômicas.

15

Todos os corpos de água perenes ou efêmeros estão sob o pálio da

legislação e é factível que sofram ação poluente.

Desta maneira, todo e qualquer corpo de água pode ser objeto de ação

poluidora, inclusive os já poluídos. Não existe em nosso planeta, água em seu

estado de pureza total. O que pode ser utilizado pelo homem são substâncias

que se manifestam sob a forma de numerosas dispersões aquosas, de

composição muito variável, que lhe conferem, em conseqüência,

características que nem sempre são aquelas que representam a condição

desejada [9].

Seria exigir demais da natureza, e para a manutenção dos recursos

hídricos, a consideração de que a água, para ser passível de poluição, deva

ser a água pura uma vez que esta inexiste.

O ato de poluir corpos de água completa-se a partir do momento em

que há realização das conseqüências caracterizadoras do evento dispostas no

conceito mencionado na Lei n. 6.938/81.

Para efeitos penais o que interessa como caracterizador da atividade

de poluir é exatamente a potabilidade da água, vista sob a ótica da sua

utilização pela comunidade, não sob o prisma da sua pureza maior.

Posto inexistir esta pureza de corpos de água, não seria de bom senso

admitir que o delito de poluição do art. 54 somente ocorreria se o corpo de

água estivesse imune a qualquer poluição anterior.

A água pode então ser considerada poluída quando houver alteração

de uma composição originária o bastante para inadequá-la aos usos que são

comuns ao homem e à natureza.

A poluição dos recursos hídricos talvez seja a mais avassaladora das

formas de degeneração dos recursos naturais com a qual o homem se

defronta, e as suas causas mais comuns são os produtos químicos e os

dejetos humanos e industriais.

A Resolução de n. 20/86 do Conama – Conselho Nacional de Meio

Ambiente – estabelece os níveis aceitáveis de presença de elementos nocivos

ao meio ambiente nas águas.

16

A referida Resolução ainda trata de índices em todas as oito classes de

águas que estabelece, e também faz referência à presença de outros

elementos que não os mencionados na norma transcrita.

Pode-se entender que a poluição se configura a partir do momento em

que se estiver diante da ruptura de tais índices, muito embora o contrário não

seja verdadeiro. Poderá haver poluição mesmo que os índices venham a ser

respeitados.

1.1. 2 Poluição atmosférica

Esta é a modalidade de poluição que mais afeta os grandes núcleos

urbanos. A qualidade do ar que se respira está constantemente ameaçada em

razão da emissão de fumaça, vapor, gás e produtos tóxicos, o que ocorre

constantemente nas grandes cidades

A poluição atmosférica é decorrente do progresso e vem a reboque da

quantidade de máquinas e bens de consumo que funcionam a base de energia

e liberam poluentes para a atmosfera.

Cabe ao Direito Ambiental disciplinar as atividades econômicas que

causem, como conseqüência de seu próprio desenvolvimento, danos à

atmosfera, pugnando pela realização de um desenvolvimento sustentável que

permita legar às gerações futuras um meio ecologicamente equilibrado.

A poluição do ar possui como uma de suas principais causas o

ininterrupto lançamento na atmosfera de produtos danosos à saúde humana e

ao meio em que vivemos.

O ilustre professor José Henrique Pierângeli que as quantidades de

produtos tóxicos que se encontram em suspensão na atmosfera são realmente

impressionantes, embora não sejam atingidos níveis verdadeiramente

perigosos [10].

O demasiado número de poluentes lançados ao ar é responsável pela

grande maioria das doenças respiratórias, e é exatamente aí que reside a

grande vilã dos meios urbanos mais desenvolvidos.

17

O renomado autor Gilberto Passos de Freitas nos traz um rol

interessante de desdobramentos da poluição do ar entre eles: o efeito estufa, a

chuva ácida, a inversão térmica, o aquecimento global, e o buraco na camada

de ozônio [11].

1.1. 3 Poluição do solo

Outra forma de poluição bastante comum nos dias de hoje é aquela

praticada contra a terra, a qual se reveste de poluição por líquidos ou por

sólidos. Em geral, a que mais agride a terra é a poluição por resíduos sólidos

ou poluição resultante do uso de elementos de consumo.

A quantidade de lixo acumulada nos grandes conglomerados urbanos

aumenta a cada dia, fruto do crescimento do consumo de produtos básicos, o

que o torna fonte de poluição do solo bastante significativa.

Também surge como elemento causador da poluição sobre a terra a

poluição causada por rejeitos perigosos que são aqueles materiais que

guardam consigo a especificidade de serem potencialmente danosos à saúde e

ao meio ambiente em níveis tais que faz com que mereçam atenção especial.

1.1. 4 Resíduos sólidos

Uma das formas de poluição mais degradantes do meio ambiente e

que foi alvo de regulamentação em 2010, através da Lei nº 12.305.

Temos a sua definição no art. 3º, inciso XVI:

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou

bem descartado resultante de atividades humanas em

sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe

proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados

sólido ou semissólido, bem como gases contidos em

recipientes e líquidos cujas particularidades tornem

inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou

em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica

18

ou economicamente inviáveis em face da melhor

tecnologia disponível;

O deposito de lixo em locais públicos é a grande manifestação de

poluição do solo por resíduos sólidos. O aumento da quantidade de habitantes

nas cidades e o crescimento significativo do volume de bens consumíveis que

geram resíduos, transformou o problema da destinação do lixo urbano uma

questão de absoluta importância para a saúde pública.

A ocorrência de poluição do solo por resíduos sólidos mais comum é o

seu depósito a céu aberto. O acúmulo de lixo causa a proliferação de ratos,

crescimento e desenvolvimento de germes e parasitas, e a ocorrência de

odores em razão da decomposição de elementos orgânicos e da fermentação,

causando diminuição das qualidades essenciais do solo, e ainda prejudicando

a sua utilização para agricultura, em razão da dispersão de elementos nocivos,

que podem ser repassados aos produtos, fruto de plantio.

Cabe aqui notar que essa acomodação do lixo a céu aberto não causa

somente poluição do solo, embora ali esteja o lixo colocado. Exatamente por se

tratar de um ambiente que interage, o depósito de dejetos a céu aberto

acarreta a poluição da atmosfera e também das águas, pois facilmente verifica-

se a plausibilidade de contaminação do lençol freático.

As formas de reprimir a poluição gerada pelo depósito a céu aberto,

são a utilização de aterros sanitários, incineração, transformação em resíduo

composto e reciclagem. Observa-se que todas elas causam, de uma forma ou

de outra, um pouco mais ou um pouco menos a poluição dos solos. Isto porque

o impacto ambiental é inevitável, pois não há forma de apenas se produzir na

humanidade elementos biodegradáveis que não ofendam solo, água e ar,

quando da sua decomposição após o uso.

Os sistemas de tratamento dos resíduos sólidos, na verdade, apenas

diminuem o impacto destes resíduos, dando destinação mais apropriada ao lixo

que se produz nas grandes cidades.

O lançamento de rejeitos perigosos a céu aberto, poluindo o solo, mas

também a água e o ar, dá pretexto ao cometimento do crime do art. 56, onde

nem sequer se perquire a possibilidade de aquele ato causar danos à saúde

19

humana, exatamente porque a periculosidade do resíduo pressupõe esta

possibilidade.

20

CAPÍTULO II

A TUTELA DO DIREITO

PENAL AMBIENTAL

A conhecida incapacidade do Direito Civil e do Direito Administrativo de

lidarem satisfatoriamente com o problema da degradação ambiental acabou

provocando o incremento da tutela penal ambiental nas últimas décadas em

vários países.

Muito embora devesse ficar com o Direito Administrativo a maior

parcela de responsabilidade do meio ambiente, verdade é que bem jurídico de

tamanha envergadura não pode, muitas vezes, prescindir da proteção do

Direito Penal. Deve este, é óbvio, ser utilizado minimamente, observado o

princípio da intervenção mínima, mas não se poderá jamais prescindir do uso

da lei penal, quando se sentir não bastar a sanção administrativa para o

impedimento de resultados extremamente danosos para a natureza[12].

A imposição de sanções civis e administrativas quando ocorresse

violação da legislação ambiental vinham se revelando, de certa forma,

eficientes para os casos em concreto, mas insuficientes para desacelerar o

processo de degradação ambiental. Condutas comprovadamente lesivas ao

ambiente nem sempre encontravam adequação típica, e quando isso ocorria,

na maioria das vezes caracterizava simples contravenção, em especial quando

o objeto jurídico era a flora [13]. A experiência brasileira mostra uma omissão

enorme da Administração Pública na imposição de sanções administrativas

diante das agressões ambientais. São comuns os casos de prefeitos nas

cidades pequenas que se omitem de aplicar o Código Florestal na zona

21

urbana, ora negligenciando a fiscalização, ora incentivando as pessoas a

esgotarem os recursos ambientais em troca de apoio político.

No tocante específico do Direito Penal Ambiental, o que se constata é

que o mesmo vive de forma permanente um constante atrito entre princípios do

Direito Penal e do Direito Ambiental. A criminalização[14] das infrações

ambientais cresceu na década de 70 e 80. Isso ocorreu em diversos países,

fruto de pressões dos movimentos sociais. Segundo Elena Larrauri a partir de

então o que se observa com desânimo é a facilidade com que os movimentos

progressistas recorrem ao direito penal. Grupos de direitos humanos, anti-

raciais, ecologistas, de mulheres, trabalhadores, reclamavam a introdução de

novos tipos penais: movimentos feministas chegam a exigir a introdução de

novos delitos e maiores penas para os crimes contra as mulheres; os

ecologistas reivindicam a criação de novos tipos penais e a aplicação dos

existentes para proteger o meio ambiente etc.

Ensina Eladio Lecey que o Direito Ambiental Penal [15] incrimina não

apenas o colocar em risco a vida, a saúde dos indivíduos e a perpetuação da

espécie humana, mas o atentar contra a própria natureza, bem que, por si

mesmo, deve ser preservado e objeto de tutela, pelo que representa às

gerações presentes e futuras[16]. A partir desta preocupante realidade e do

reconhecimento de que a preservação do meio ambiente ecologicamente

equilibrado é direito fundamental do homem e essencial para sua sadia

qualidade de vida, o legislador lança mão da ultima ratio, convocando o Direito

Penal para buscar dar efetividade à sua proteção[17].

Essas incoerências e falhas não são características específicas da

tutela penal ambiental no Brasil. O que se vê é a mesma coisa em outras

legislações. É esse o comentário sobre a tutela penal ambiental na França de

M. J. Littmann-Martin: "Multiplicidade de incriminações e incoerências

freqüentes das sanções são traços distintivos desse direito repressivo

heterogêneo. Ao que se acresce, ainda, um particularismo desfavorável aos

delinqüentes ecológicos e um papel específico reconhecido às associações de

proteção da natureza"[18].

22

Algumas características do Direito Penal Ambiental os distanciam

claramente do modelo do Direito Penal Clássico. São elas: existência de um

número elevado de normas penais incriminadoras com elementos normativos

do tipo, utilização costumeira dos crimes de perigo (abstrato[19] ou concreto),

etc. Todavia, o simples fato das características comuns do Direito Penal

Ambiental se afastarem do modelo clássico, não o caracteriza por si como

inconstitucional, desnecessário ou abusivo. A proximidade com as ciências

biológicas e a necessidade permanente de socorro a conceitos científicos e

técnicos não torna por si só o Direito Penal Ambiental um modelo desviado do

Direito Penal comum.

A tendência da moderna ciência penal é voltada para conceber o crime

ecológico como crime de perigo. Obtém-se dessa forma a confortadora

perspectiva de avançar a fronteira protetora de bens e valores, merecedores de

especial tutela. De um ponto de vista político-criminal, portanto, o recurso aos

crimes de perigo permite realizar conjuntamente finalidades de repressão e

prevenção, sendo certo que o progresso da vida moderna está aumentando em

demasia as oportunidades de perigo comum, não estando a sociedade em

condições de refrear certas atividades perigosas, tidas como essenciais do

desenvolvimento que se processa. Em tal contexto, torna-se evidente que uma

técnica normativa assentada na incriminação do perigo é mais adequada a

enfrentar as ameaças multíplices trazidas de muitas partes e por meios

estranhos ao sistema ecológico.

2.1 – A efetividade da tutela penal ambiental

A carência de efetividade da tutela penal ambiental possui diversas

causas. A insuficiente técnica legislativa, descaso ou falta de compromisso

ambiental de alguns aplicadores do direito, pouca clareza e certeza sobre

limites de um grande número de conceitos indeterminados [20] são apenas

alguns dos pontos que podemos citar inicialmente.

A professora Márcia Elayne Berbich de Moraes, critica a ineficiência do

Direito Penal moderno para a tutela do meio ambiente, analisando aspectos da

23

Lei 9605/98, conclui que: a) a seleção processual penal dos crimes ambientais

reflete o caráter simbólico da Lei 9605/98, uma vez que não demonstra estar

responsabilizando os verdadeiros poluidores e apenas estar atingindo

determinados segmentos da população; b) esse tipo de seleção desvirtua o

Direito Penal para uma função educativa ou coercitiva, transformando-o num

instrumento funcionalista; c) existe uma "capa protetora" ou "fator de

invisibilidade" que é negociado com as empresas potencialmente poluidoras

junto ao Estado, no sentido de permissão para poluir, uma vez que a atual

situação de nosso ecossistema demonstra sério desequilíbrio, deixando ainda

mais evidente a "irresponsabilidade organizada" do Estado; d) a situação

agrava-se com a dificuldade frente ao envolvimento científico que a solução do

problema acarreta, uma vez que é necessário um verdadeiro "domínio do

saber"para se conseguir o estabelecimento de novos critérios de licenciamento

ambiental.

A existência de um modelo efetivo de Direito Penal Ambiental não

revela um rompimento com o Direito Penal clássico, mas, apenas, uma

adequação da tutela penal em uma área que anteriormente não atuava. Negar

a necessidade da utilização das normas penais no controle da criminalidade

ambiental é uma postura inócua, reacionária e que só interessa aos infratores

contumazes [21].

Entretanto, tal utilização não pode descambar para o abuso. Mesmo

sendo utilizado na proteção penal ambiental, não pode o Direito Penal

Ambiental deixar sua característica de ultima ratio. Daí a importância de se

encontrar um ponto de equilíbrio na aplicação do Direito Penal Ambiental[22] .

Boa parte dos crimes ambientais, não chega às instâncias judiciais,

pela constante e interdependente negociação entre o Estado e empresas. O

argumento habitualmente utilizado, neste caso, é o de que as empresas

proporcionam o desenvolvimento sustentável, uma vez que dão empregos;

assim, a esfera ambiental deve interagir com o crescimento sócio-econômico

sem abrir mão dos benefícios aos cidadãos locais. Isso é refletido nos

licenciamentos ambientais[23] .

24

Desse modo, quando da ação da polícia na vigilância ou, até mesmo,

investigação do crime ambiental, já existe o licenciamento concedido para

poluir dentro de critérios técnicos e científicos muito pouco questionados pela

mídia ou população em geral. Os órgãos de licenciamento ambiental fazem a

negociação entre estado e empresas potencialmente poluidoras, mas sempre

geradoras de empregos, votos e propulsores da economia em geral[24].

25

CAPÍTULO III

A IMPUTAÇÃO DO

CRIME DE POLUIÇÃO

É de real importância para a compreensão do porque a criminalização

da conduta de poluição se tornar ineficaz e desnecessária diante da

possibilidade de sanções administrativas, entender como funciona a imputação

de tal delito as pessoas jurídicas, uma vez que o crime de poluição tem como

autor na maior parte dos casos prepostos de grandes empresas que agem com

culpa.

Avaliaremos que o crime de poluição praticado pela pessoa jurídica e

veremos mais adiante que as sanções administrativas já se encarregariam

muitas vezes pela “morte” daquela.

3.1 – A Criminalidade através da pessoa jurídica:

dificuldade na implementação da tutela penal ao ambiente

O bem juridicamente tutelado pelo Direito Ambiental Penal é o próprio

meio ambiente e um bem difuso por excelência. Uma ofensa ao ambiente,

embora reflexamente e por vezes de maneira imediata possa atentar contra

direitos individuais, como a vida e a saúde das pessoas, atenta contra a

coletividade e incide difusamente, dizendo não somente com as gerações

presentes, mas com as futuras gerações, consoante muito bem aponta a nossa

Constituição da República Federativa do Brasil que, em seu artigo 225,

determina:

26

Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum dopovo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para as presentes e futuras gerações .

O meio ambiente é um bem, um autêntico valor, ou melhor, uma

riqueza, em si, gerando interesses às pessoas individual e coletivamente

consideradas.

Devido a esta peculiaridade, emergem suas características como um

bem e interesse autônomo, supraindividual e com âmbito macrossocial.

Tais características especiais do bem tutelado pela norma ambiental

penal, criaram reflexos no Direito Ambiental Penal, de modo a diferenciá-lo do

direito penal tradicional, acentuando-se a prevenção geral, com adoção de

tipos de perigo a fim de serem atingidos os riscos, o caráter educativo, com

tipos dotados de elementos normativos e até normas penais em branco,

considerada também a interdisciplinaridade da questão ambiental e a

prevenção especial com tipos culposos, omissivos e até omissivos culposos.

Se fizeram necessários novos paradigmas e, dentre eles, destaca-se a

responsabilização criminal da pessoa jurídica. Na busca de uma mais efetiva

justiça ambiental e social, criminalizou-se a pessoa coletiva e seus dirigentes,

até por omissão, deixando-se, muitas vezes de criminalizar os funcionários

subalternos, autênticos “peixes miúdos” que, não raramente, acabam por sofrer

injusta imputação quando não poderiam agir doutra forma na estrutura da

empresa.

Em razão desses novos paradigmas, há que se pensar e repensar o

Direito Penal e o Direito Processual Penal, adequando-os, principalmente, aos

novos sujeitos trazidos ao pólo passivo do processo criminal.

27

3.1. 1 Responsabilização do dirigente. Concorrência de qualquer forma:

autoria, co-autoria ou participação.

A co-delinqüência expressa-se, sabidamente, sob duas maneiras: a

autoria e a participação. Na primeira existe adequação típica direta. O autor

realiza a totalidade da conduta típica, dominando-a finalisticamente, seja a

realizando de per si, seja se valendo de outrem que não realiza conduta,

coagindo-o fisicamente. É o autor direto, imediato.

Também temos a figura do autor indireto, que será aquele que, mesmo

não executando diretamente a conduta típica, a domina ou co-domina

finalisticamente, embora realizada de forma direta por outro com vontade livre

ou, ainda, aquele que realiza a conduta se valendo de outro que realiza a

conduta sem vontade livre, como ocorre, por exemplo, na coação moral

irresistível (autor mediato).

O partícipe, por seu turno, apenas coopera (dolosamente) na conduta

do autor. Como não é autor, inexiste adequação típica direta. Somente é

possível punir-se a participação por força de adequação típica indireta.

Verificamos que as normas das partes especiais dos Códigos Penais e

as das leis especiais, que descrevem os tipos, não incidem diretamente sobre a

conduta do partícipe. É indispensável a norma da parte geral, no caso

brasileiro, do artigo 29, caput, do Código Penal do Brasil, por força da qual é

que haverá incidência da norma tipificadora sobre a conduta daquele que

apenas concorre, ou seja, do partícipe. Trata-se, assim, de norma de extensão

da tipicidade.

Quanto à infração praticada por intermédio da pessoa coletiva, o

diretor, o administrador, o gerente, enfim, o seu dirigente, participando das

decisões conjuntas no seio da pessoa jurídica, uma empresa, por exemplo, já

está trazendo colaboração ao delito. De suas deliberações pode decorrer

danos ao meio ambiente.

Já a própria participação na decisão conjunta que levou à realização da

conduta incriminada constitui concorrência, o que poderá evidenciar

participação. Por vezes, esta deliberação do dirigente poderá assumir tal

28

relevância, de modo a não mais constituir mera participação, mas a revelar o

domínio finalístico do fato, configurando autêntica autoria pela teoria final-

objetiva.

Portanto, na responsabilização do sujeito ativo das infrações através da

pessoa jurídica, deve-se dar especial atenção, à figura do dirigente,

perquirindo, apuradamente, a par da causalidade no participar das decisões

que levaram à conduta de poluição, decisões muitas vezes conjuntas,

perquirindo, como dizia, do liame subjetivo a ligá-lo ao delito, liame que

também pode decorrer da decisão pela atividade poluidora,

exemplificativamente, ofensiva ao meio ambiente.

O dirigente da pessoa jurídica nem sempre poderá ter a consciência de

atentar contra a incolumidade da pessoa, contra sua saúde, ou sua vida, como

bens que possam ser atingidos reflexamente. Todavia, contra o bem principal

tutelado, o meio ambiente, mais facilmente poderá ter a consciência de atentar,

por suas (dele, dirigente) especiais condições e pelas conseqüências danosas

ou perigosas ao ambiente decorrentes da atividade a que concorreu no seio da

pessoa coletiva.

A responsabilidade do dirigente encontra amparo na sistemática

tradicional da criminalização da pessoa física e na regra geral do artigo 29,

caput, do Código Penal do Brasil, repetida na primeira parte do artigo 2º da Lei

nº 9605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como a Lei dos Crimes contra

o Meio Ambiente.

Como concorrente de qualquer forma, seja pela autoria, co-autoria ou

participação, o dirigente da pessoa coletiva poderá ter reconhecido seu

concurso à infração penal. Tal contribuição pode ser admitida, como já

destacado, segundo os consagrados princípios do Direito Penal dito tradicional,

aplicando-se as conhecidas regras sobre o concurso de pessoas ao crime e

dando-se a devida importância à concorrência do dirigente, inclusive e

principalmente, em razão de sua peculiar posição na pessoa jurídica como

agente de deliberações e determinações que podem levar à ocorrência do

crime de poluição.

29

3.1. 2 A co-responsabilização do dirigente por omissão no crime de

outrem

No Brasil, a Lei n 9605, em seu artigo 2º, referiu-se, expressamente, ao

dirigente da pessoa jurídica como concorrente em tais infrações. Foi além da

tradicional regra sobre a concorrência de qualquer forma e criou mais uma

hipótese de relevância da omissão, na esteira daquelas situações elencadas no

Código Penal, artigo 13, parágrafo 2º.

De regra, quem não age para impedir um delito executado por outra

pessoa, não se torna partícipe, não é cúmplice em matéria criminal. Não é

considerado concorrente para efeito penal, a não ser que tenha o dever jurídico

de agir.

As situações de dever agir para evitar o crime devem ser explicitadas

na lei, sob pena de não ser possível a punição do concorrente. Foi o que fez o

artigo 13, parágrafo 2º do Código Penal, elencando as situações de dever agir

que são restritas e expressas, sob a rubrica de “relevância da omissão”. Fora

delas, não há concurso de agentes por omissão na ação de outrem. É o que se

denomina de mera conivência não punível.

Agora, com a lei ambiental brasileira, nova situação de garantidor pelo

dever legal surgiu em nosso ordenamento. Estabelece a segunda parte do

artigo 2º da nova lei brasileira de proteção ao ambiente a responsabilidade

penal do diretor, administrador, membro de conselho e de órgão técnico,

auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica “que, sabendo da

conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia

agir para evitá-la”.

Efetivamente, o dirigente da pessoa jurídica e aquelas outras pessoas

referidas no artigo 2º da Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente, por suas

peculiares posições no comando da pessoa jurídica, tem o dever de agir para

evitar danos ao meio ambiente decorrentes, inclusive, das condutas criminosas

de outrem. Desta maneira, omitindo-se quando poderiam atuar, tornam-se

verdadeiros concorrentes por omissão. De regra tratar-se-á de participação por

omissão no crime de outrem, admitindo-se, no entanto, o reconhecimento da

30

co-autoria por omissão se a omissão assumir tamanha relevância a configurar

co-domínio finalístico do fato.

3.2 Responsabilidade criminal da pessoa jurídica

Como a maior parte dos crimes de poluição ocorrem na complexidade

da pessoa jurídica, quase sempre restando responsabilizados tão somente os

funcionários que agiram sob as ordens de dirigentes, e temendo represálias,

não os incriminam, surgiu a busca da criminalização da pessoa jurídica.

Temos duas teorias que tratam da questão:

a) a teoria da ficção, criada por Savigny, segundo a qual a pessoa

jurídica é fictícia, uma abstração sendo incapaz de delinqüir por lhe faltar

vontade e ação. Os delitos que por seu meio vierem a ser praticados o serão

por seus representantes, ou seja, pelas pessoas naturais que são a realidade

por trás da ficção.

b) a teoria da realidade, de Otto Gierke, afirma que a pessoa jurídica é

um ente real, tem existência real, independente dos indivíduos que a

compõem. Possui personalidade real e vontade própria, é capaz de ação e de

praticar infrações penais.

Tradicionalmente, a teoria da ficção prevalece, em especial nos

sistemas jurídicos de direito positivo. Embora, mesmo em países de tais

sistemas, a tendência vem sendo pela responsabilização da pessoa coletiva,

ainda grande e expressivo segmento da doutrina brasileira tem se posicionado

contrariamente à criminalização da pessoa jurídica.

Os principais argumentos apontam a impossibilidade de aplicar-se

pena de prisão à pessoa jurídica, a ofensa ao princípio da pessoalidade da

pena, a incapacidade de a pessoa coletiva realizar conduta e fato punível por

ausência de vontade e culpabilidade.

31

3.2. 1 Da possibilidade de sanções criminais à pessoa jurídica

No tocante à óbvia impossibilidade de aplicar-se pena de prisão, a que

é a principal sanção para a pessoa física em matéria criminal, outras podem

ser impostas de forma eficaz à pessoa jurídica, como as pecuniárias, serviços

comunitários, de recuperação e preservação ambiental, suspensão de

atividades e até a dissolução da empresa.

É o que estabelece a Lei 9605/98, prevendo como sanções às pessoas

jurídicas, multas, penas restritivas de direitos e de prestação de serviços à

comunidade (artigo 21). As restritivas consistem na suspensão parcial ou total

de atividades, na interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e

na proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,

subvenções ou doações (artigo 22).

Podemos destacar a prestação de serviços através do custeio de

programas e de projetos ambientais, execução de obras de recuperação de

áreas degradadas, manutenção de espaços públicos e contribuições a

entidades ambientais ou culturais públicas. Ditas sanções servirão como

autêntica forma de reinserção social da pessoa jurídica com expressivo retorno

à tutela do meio ambiente.

Tais medidas poderiam ser tomadas de maneira administrativa ou em

virtude de responsabilidade cível, não necessitando de se valer do direito

penal.

3.2. 2 O princípio da pessoalidade do direito penal e conciliação com a

responsabilidade criminal da pessoa jurídica

O reconhecimento da responsabilidade da pessoa jurídica em matéria

criminal feriria o Princípio da Pessoalidade, conquista e hoje princípio pacífico

no Direito Penal universal no sentido de que uma pena criminal somente pode

ser aplicada ao autor do fato criminoso por ele condenado. A imposição de

sanção criminal à pessoa jurídica atingiria o sócio inocente (por exemplo, o

32

sócio minoritário contrário à decisão da maioria pela realização de conduta

atentatória ao ambiente) que sofreria suas conseqüências.

Todavia, acaso comprovada a não concorrência do sócio ao crime de

poluição praticado através e no interesse da pessoa coletiva, a pena criminal,

por óbvio, não será imposta ao sócio inocente. A empresa terá a imposição da

sanção. O sócio inocente não terá pena.

É evidente que, assim como na esfera geral (civil ou administrativa),

reflexos da imposição da pena criminal à pessoa jurídica atingirão o sócio

inocente, mas não a imposição da pena.

3.2. 3 A responsabilidade penal da pessoa jurídica, conceito de fato

punível e redefinição de culpabilidade

Os mais sérios argumentos apontam a impossibilidade de conciliação

com o conceito de fato punível, que exige como base a ação e tem, pelo

entendimento majoritário, como um de seus elementos a culpabilidade.

Apenas o homem é capaz de vontade que integra a ação que é

vontade conscientemente dirigida a um fim para os finalistas. “Ação humana é

exercício de atividade final” [25]. No Brasil, Rene Ariel Dotti observa que ação,

“como elemento estrutural do crime é ação (ou conduta) do homem” [26].

Logo a culpabilidade não poderia ser encontrada na pessoa jurídica. Só

a pessoa humana tem capacidade genérica de entender e querer. A potencial

consciência da ilicitude, elemento da culpabilidade, é atributo exclusivo do ser

humano, da pessoa física. Impossível se encontrar numa empresa, por

exemplo, tal consciência. Nem seria razoável, continuam os argumentos

contrários, formular um juízo de reprovabilidade penal pelo desempenho de

uma instituição financeira [27].

Assentado em tais princípios, o Direito Penal tradicional tem concluído

que só pode ser sujeito ativo do delito a pessoa natural, única capaz de

vontade, de ação finalista e dotada de culpabilidade.

Todavia, a complexidade da vida moderna, das relações econômicas,

tem cada vez mais substituído a pessoa individual pelas empresas ou grupos

33

de empresas, através das quais tem sido praticadas as mais expressivas

infrações contra o meio ambiente. Daí decorre a criminalização da pessoa

jurídica que poderia tão somente ser alvo de sanções administrativas e

responsabilidade cível decorrente da pratica de poluição.

Para que haja tal responsabilização criminal, no entanto, há que se

repensar o Direito Penal, como observa José Henrique Pierangelli [28].

“Assim como surgiu uma dogmática dos delitos de

omissão diferente dos delitos de ação e uma dogmática

dos delitos culposos diferente dos delitos dolosos, tem

que surgir agora uma dogmática dos delitos com co-

atuação da pessoa jurídica diferente daquela em que

somente se dá a intervenção de uma pessoa natural” [29].

Não podemos ficar adstritos às regras do Direito Penal tradicional,

impondo-se um redimensionamento, à vista da peculiaridade da pessoa jurídica

como sujeito ativo do delito.

No tocante à capacidade de ação que apresenta, dentre seus

elementos, a vontade, a pessoa jurídica tem uma vontade que não é a mesma

de seus sócios, mas de determinado grupo majoritário. A divergência da

vontade dos sócios, por vezes, é que forma, na confluência da maioria, uma

diversa vontade, que não é a de cada sócio individualmente considerado. Esta

vontade é que constitui a conduta da pessoa jurídica.

A pessoa jurídica é capaz de conduta tanto no campo cível quanto no

penal. Se a pessoa coletiva pode contratar, pode fazê-lo fraudulentamente [30].

Assim, pode realizar conduta que é a base sobre a qual incide o conceito de

fato punível em matéria criminal.

Devemos rever o fato punível e a culpabilidade.

Pela maioria da doutrina, mesmo os finalistas, o fato punível tem como

seus elementos a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade (para alguns a

conduta seria também elemento, já para outros, seria a base como apontado).

No entanto, como destaca Welzel, a culpabilidade não se esgota na relação de

desconformidade substancial entre a conduta e o ordenamento jurídico, o que é

característica da ilicitude. A culpabilidade fundamenta a reprovação pessoal

34

contra o autor, no sentido de que não omitiu a ação antijurídica ainda quando

podia omiti-la [31]. A culpabilidade, pois, é do autor do fato.

A teoria finalista adotou a concepção normativa pura, de modo que a

culpabilidade não tem o dolo e a culpa como elementos (ao contrário da

concepção psicológica) e tão só a potencial consciência da ilicitude e a

exigibilidade de outra conduta, sendo pressuposto a imputabilidade. Por isso,

sustentável que, estando o dolo e a culpa já no tipo, o crime será somente o

fato típico e antijurídico. Culpabilidade é apenas a reprovabilidade da conduta,

de modo que não constitui elemento do fato punível e tão só pressuposto de

aplicação da pena ao autor da conduta típica e antijurídica [32].

Assim, capaz de ação, pode a pessoa jurídica realizar crime, ação

típica e antijurídica.

No tocante à culpabilidade, há que se redefini-la em relação à pessoa

coletiva. É possível um juízo de reprovabilidade a respeito de uma empresa, no

sentido de que poderia ter agido doutra forma.

A pessoa física é distinta da pessoa jurídica. Assim, devem receber

tratamento diferenciado. Não se pode buscar na pessoa jurídica a consciência

da ilicitude. Mas se pode encontrar uma conduta e chegar a um juízo de

reprovação social e criminal sobre a ação da pessoa jurídica.

Assim, distinto deve ser o conceito de culpabilidade com relação à

pessoa natural e à jurídica, não tendo como elemento, com relação à última, a

potencial consciência da ilicitude, exigível no tocante à pessoa física. Assim,

diferentemente deve ser medida e conceituada a culpabilidade das distintas

pessoas.

Na pessoa jurídica, como a finalidade da pena não é idêntica à

modificação da vontade (ao juízo interno de reconhecimento do erro como

ocorre em relação à pessoa natural), mas à exemplaridade e retribuição, basta

o juízo de reprovabilidade, que é sempre externo como já destacado, sem a

consciência da ilicitude (que só a pessoa humana pode ter) para que haja

culpabilidade e imposição de pena.

35

Possível, assim, a criminalização da pessoa jurídica, compatível com

um Direito Penal consentâneo com seu tempo de reclamo à punição da

criminalidade contra interesses coletivos e difusos, como o crime de poluição.

Mas pensando desta maneira, esquecemos que o direito penal deveria

ser a última ratio, e que medidas administrativas e civis poderiam punir a

reprovabilidade da conduta de poluição.

36

CAPÍTULO IV

INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

AMBIENTAL

Neste capítulo abordaremos as infrações administrativas e suas

sanções dentro do Direito Ambiental. Observaremos que muitas destas

sanções são normalmente aplicadas a conduta de poluição e por serem

pesadas muitas vezes comprometem a sobrevivência da personalidade jurídica

de uma empresa que incorra naquela conduta.

4.1 Conceito

Entende-se por infração administrativa ambiental como toda ação ou

omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e

recuperação do meio ambiente, sendo punida com as sanções do presente

diploma legal, sem prejuízo da aplicação de outras penalidades previstas na

legislação. Desta maneira, ao lavrar o auto de infração e de apreensão,

indicará a multa prevista para a conduta, bem como, se for o caso, as demais

sanções estabelecidas no decreto, analisando-se a gravidade dos fatos, os

antecedentes e a situação econômica do infrator.

A Lei de Crimes Ambientais, disciplinou as infrações administrativas no

Capítulo VI, em seus arts.70 a 76, tendo sido regulamentada pelo Decreto no

3.179/99. trata-se de lei federal que poderá ser suplementada pelos Estados

(art.24, § 2º, da constituição federal de 1998) e pelos Municípios (art. 30, II, da

constituição federal de 1998). No entanto, não poderá a norma suplementada

alterar a lei federal, exceto para pormenoriza-la ou restringi-la[33].

37

4.2 Procedimento administrativo

O procedimento administrativo é “uma sucessão ordenada de

operações que propiciam a formação de um ato final objetivado pela

Administração. É o iter legal a ser percorrido pelos agentes públicos para a

obtenção dos efeitos regulares de um ato administrativo principal” [34].

Devemos nos lembrar que o procedimento administrativo se

desenvolve em diversas fases: a) a instauração do procedimento pelo auto de

infração; b) a defesa técnica; c) a colheita de provas, se for o caso; d) a

decisão administrativa; e e) eventualmente, o recurso. Esgotada a fase

administrativa, o infrator poderá ainda utilizar-se da fase judicial, se ocorrer

lesão ou ameaça de direito, consoante permissivo constitucional previsto no

art. 5o, XXXV, da Constituição Federal. Além disso, para a aplicação da sanção

administrativa, a Administração Pública competente deverá estar revestida do

poder de polícia ambiental[35].

Uma vez realizada a autuação do infrator, o procedimento deverá se

instaurado na órbita da Administração Pública competente, analisando os

princípios constitucionais do processo judicial ou mais precisamente o direito à

ampla defesa e ao contraditório.

Vale ressaltar que o procedimento administrativo para apuração de

infração ambiental deverá analisar prazos máximos: a) vinte dias para o infrator

oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da data da

ciência da autuação; b) trinta dias para a autoridade competente julgar o auto

de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa

ou impugnação; c) vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à

instância superior dos órgãos integrantes do SISNAMA, ou à Diretoria de

Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação; e

d) cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da

notificação. Assim, com o fim este prazo, deverá a Administração Pública

promover a cobrança judicial do débito.

Atualmente a Constituição da República analisa diversos princípios

que devem ser observados pela Administração Pública, dentre eles: a) o

38

princípio da legalidade; b) o princípio da impessoalidade; c) o princípio da

moralidade; d) o princípio da publicidade; e e) o princípio da eficiência.

4.3 Sanções administrativas

O art. 72 da Lei 9.605/98, bem como o art. 2º do Decreto no 3.179/99,

apresentam o seguinte rol de sanções administrativas: a) Advertência; b) Multa

simples; c) Multa diária; d) Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da

fauna e flora, instrumentos, petrechos, e equipamentos ou veículos de qualquer

natureza utilizados na infração; e) Destruição ou inutilização do produto; f)

Suspensão de venda e fabricação do produto; g) Embargo de Obra ou

atividade; h) Demolição de obra; i) Suspensão parcial ou total das atividades; j)

Restritiva de direitos; k) Reparação dos danos causados.

4.3.1 Advertência

Será aplicada quando o infrator, por inobservância da lei ou

regulamento, deixar de sanar a irregularidade apurada pelo órgão fiscalizador;

4.3.2 Multa simples

Será aplicada quando o agente, por negligência ou dolo, advertido por

irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las no prazo

assinalado pelo órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos

do Ministério da Marinha, ou se opuser embargo à fiscalização dos órgãos do

SISNAMA ou da Capitania dos Portos do Ministério da Marinha. Assim, a multa

poderá ser também convertida em serviços de preservação, melhoria e

recuperação da qualidade do meio ambiente;

39

4.3.3 Multa diária

Será aplicada sempre que o cometimento da infração se perpetuar no

tempo, até a sua efetiva cessação ou regularização da situação mediante a

celebração, pelo infrator, de termo de compromisso de reparação do dano[29].

Os valores arrecadados serão revertidos aos Fundos criados por lei federal,

estadual e municipal. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico,

quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objetivo jurídico

lesado. O valor da multa de que trata esse decreto será corrigido,

periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente,

sendo o mínimo de R$ 50,00 e o máximo de R$ 50.000.000,00;

4.3.4 Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,

instrumentos, petrechos, e equipamentos ou veículos de qualquer natureza

utilizados na infração

Os animais serão devolvidos ao seu habitat, os produtos, subprodutos

e veículos serão avaliados e doados à entidade de caridade, às instituições

científicas ou hospitalares e os petrechos e equipamentos serão vendidos com

a garantia de sua descaracterização;

4.3.5 Destruição ou inutilização do produto

O produto da flora e da fauna será destruído ou inutilizado ou,

excepcionalmente, doado a instituições científicas, culturais ou educacionais;

4.3.6 Suspensão de venda e fabricação do produto

Trata-se de uma sanção não prevista em legislação anterior, cuja

eficácia será importante para obstar a continuidade da venda e do fabrico de

produtos nocivos à saúde, a segurança e ao bem-estar da população.

40

4.3.7 Embargo de Obra ou atividade

O órgão fiscalizador poderá embargar a obra ou a própria atividade

causadora da degradação ambiental;

4.3.8 Demolição de obra

O órgão fiscalizador poderá ainda determinar a demolição da obra

construída irregularmente;

4.3.9 Suspensão parcial ou total das atividades

O órgão fiscalizador poderá determinar a suspensão total ou parcial

das atividades, caso constate alguma irregularidade ou o descumprimento de

normas ambientais relevantes;

4.3.10 Restritiva de direitos

Abrangem a suspensão de registro como a licença, permissão ou

autorização; cancelamento de registro, licença, permissão ou autorização;

perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; perda ou suspensão da

participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de

crédito; e proibição de contratar com a administração pública, pelo período de

até três anos;

4.3.11 Reparação dos danos causados

Essa reparação independe da demonstração de culpa praticada pelo

autor da infração.

Portanto, tais sanções são obrigatórias para a União, podendo os

Estados e Municípios acrescentar outras que julgarem convenientes. Além

41

disso, tais sanções poderão ser aplicadas cumulativamente ao infrator que

cometer duas ou mais infrações administrativas.

Algumas das sansões administrativas expostas anteriormente quando

aplicadas a pessoa jurídica em decorrência da conduta de poluição se tornam

mais avassaladoras que a própria pena decorrente do crime, e muitas vezes

levam as empresas a fecharem suas portas, representando verdadeira “morte”

da personalidade jurídica.

Desta maneira observamos que todas as críticas a aplicação do direito

penal ambiental à pessoa jurídica e seus desdobramentos, poderiam ser

sanados com uma postura administrativa devidamente aplicada, sendo certo

que a apreciação judicial e o direito ao contraditório são igualmente respeitados

e garantidos ao infrator.

42

CONCLUSÃO

No mundo contemporâneo, onde as grandes empresas buscam o lucro

incessante em detrimento do meio ambiente, a poluição é uma conduta que

deve ter um tratamento de reprovabilidade extrema para que os jurisdicionados

tenham o cuidado ao exercer suas atividades sem prejudicar a todos.

A legislação brasileira prevê sanções criminais ao delito de poluição,

quando na verdade uma abordagem administrativa já se mostra bastante

eficiente tendo em vista que tais sanções administrativas muitas vezes

implicam no fechamento ou suspensão da atividade da empresa.

Somado a isto, as dificuldades na imputação da responsabilidade pelo

delito de poluição, leva os processos criminais decorrentes do referido delito a

uma verdadeira batalha de doutrinas que fazem com que os processos se

arrastem por anos, podendo dar azo a prescrição intercorrente da punibilidade.

Tais desdobramentos não ocorrem no procedimento administrativo,

onde temos a preservação do contraditório e da ampla defesa como garantias

do jurisdicionado, bem como uma forma de ação direta da Administração

Pública na busca de reparação pelo dano causado pela poluição e com

sanções administrativas eficientes, quando bem aplicadas, para coagir tal

prática tão reprovável e degradante ao meio ambiente.

43

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46

BIBLIOGRAFIA CITADA

[1] CARRERA, Francisco. Vitimologia e meio ambiente - o planeta Terra em

xeque - as infrações ambientais, o dano e o abuso de poder in Vitimologia no

terceiro milênio. Rio de Janeiro, Forense, 2004, p. 78.

[2] AZEVEDO, Plauto Faraco de. Do direito ambiental - reflexões sobre seu

sentido e aplicação. Revista de Direito Ambiental, 19, ano 5, São Paulo, RT,

julho-setembro de 2000, p. 54-55.

[3] SABSAY, Daniel Alberto. La problemática ambiental y del desarrollo

sostenible en el marco de la democracia participativa. Revista de Direito

Ambiental, 22, São Paulo, RT, abril-junho de 1001, p. 38.

[4] BENJAMIN, Antonio Herman. Temos uma das mais completas leis

ambientais do mundo. Mas a aplicação não é plena. Jornal da ABRAMPA. Belo

Horizonte, ano 1, julho de 2004, p. 5.

[5] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo:

Malheiros, 1990. p.164.

[6] SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros,

1994. p. 10.

[7] MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 8. ed. São

Paulo: Malheiros, 1998. p. 419.

[8] Idem, p. 420.

[9] BATALHA, Bem-Hur L. Controle da qualidade de água para consumo, p. 27,

apud MACHADO, Paulo Afonso Leme, op. cit., p. 425.

47

[10] PIERÂNGELLI, José Henrique. Escritos Jurídicos Penais. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1994. p.188.

[11] FREITAS, Gilberto Passos, op. cit., p. 130.

[12] BUGALHO, Nelson Roberto. Crime de poluição, do artigo 54 da Lei

9.605/98. Revista de Direito Ambiental , 11, ano 3, São Paulo, RT, julho-

setembro de 1998, p. 15.

[13] MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 10ª ed, São

Paulo, Malheiros, 2002, p. 651.

[14] LARRAURI, Elena. La herencia de la criminologia crítica. Ciudad de

Mexico, Siglo Veintiuno editores, 1992, p. 217.

[15] LECEY, Eladio. Novos direitos e juizados especiais. A proteção do meio

ambiente e os Juizados Especiais Criminais. Revista de Direito Ambiental, 15,

ano 4, São Paulo, RT, julho-setembro de 1999, p. 11.

[16] SÍCOLI, José Carlos Meloni. A tutela penal do meio ambiente. Revista de

Direito Penal Ambiental 9, ano 3, São Paulo, RT, janeiro-março de 1998, p.

131.

[17] LITTMANN-MARTIN, M.J. A proteção penal do ambiente no direito francês.

Tradução de Luiz Régis Prado. Revista de Direito Ambiental, 5, ano 2, São

Paulo, RT, janeiro-março de 1997, p.43.

[18] Em seminário no Brasil, em Porto Alegre, no mês de abril de 2003, o

penalista alemão Gunther Jakobs defendeu a plena constitucionalidade dos

delitos de perigo abstrato.

[19] MILARÉ, Édis; COSTA JÚNIOR, Paulo José. Direito Penal Ambiental -

comentários à lei 9605/98. Campinas, Millennium, 2002, p. 1,

48

[20] MORAES, Márcia Elayne Berbich de. A (in)eficiência do Direito Penal

Moderno para a Tutela do meio Ambiente na Sociedade de Risco (Lei

9605/98). Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2004, p. 187.

[21] GRECO, Rogério. Direito Penal do equilíbrio: uma visão minimalista do

Direito Penal. Dissertação de Mestrado, UFMG, julho de 2004, p. 16.

[22] MORAES, op. cit, p. 187.

[23] MORAES, op. cit., p. 187-188.

[24] PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO,

Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal -

aspectos práticos da Lei 9099/95, 3ª ed, São Paulo, Atlas, 1999, p. 130.

[25] Welzel, Derecho Penal Aleman, 2ª ed.castellana, pp. 50.

[26] Meio Ambiente e Proteção Penal, em Fascículos de Ciências Penais, 94,

nº 4, pp. 21.

[27] Dotti, Rene Ariel, Meio Ambiente, p. 24.

[28] Escritos Jurídicos Penais, p. 182.

[29] Ramirez, Perspectivas , pp. 11 e 12.

[30] Araújo Júnior, João Marcelo e Santos, Marino Barbero,A Reforma Penal.

Ilícitos Penais Econômicos p. 65.

[31] Welzel, Hans, Derecho Penal Aleman, 11a. Edicion, 2a. Edicion

Castellana,Editorial jurídica de Chile, p.197.

49

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

POLUIÇÃO O CONCEITO 11

1.1 – Tipos de Poluição 14

1.1. 1 – Poluição das águas 14

1.1. 2 – Poluição atmosférica 16

1.1. 3 – Poluição do solo 17

1.1. 4 – Resíduos sólidos 17

CAPÍTULO II

A TUTELA DO DIREITO PENAL AMBIENTAL 20

2.1 – A Efetividade da Tutela Penal Ambiental 22

CAPÍTULO III

A IMPUTAÇÃO DO CRIME DE POLUIÇÃO 25

3.1 – A Criminalidade Através da Pessoa Jurídica: Dificuldade na

Implementação da Tutela Penal ao Ambiente 25

3.1. 1 – Responsabilidade do dirigente. Concorrência de qualquer forma:

autoria, co-autoria ou participação 27

3.1. 2 - A co-responsabilização do dirigente por omissão no crime de

outrem 29

50

3.2 – Responsabilidade Criminal da Pessoa Jurídica 30

3.2. 1 - Da possibilidade de sanções criminais a pessoa

Jurídica 31

3.2. 2 – O princípio da pessoalidade do direito penal e conciliação com a

responsabilidade criminal da pessoa jurídica 31

3.2. 3 – A responsabilidade da pessoa jurídica, conceito de fato punível e

redefinição de culpabilidade 32

CAPÍTULO IV

INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA AMBIENTAL 36

4.1 - Conceito 36

4.2 – Procedimento Administrativo 37

4.3 – Sanções Administrativas 38

4.3. 1 - Advertência 38

4.3. 2 - Multa simples 38

4.3. 3 - Multa diária 39

4.3. 4 - Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,

instrumentos, petrechos, e equipamentos ou veículos de qualquer

natureza utilizados na infração 39

4.3. 5 – Destruição ou inutilização do produto 39

4.3. 6 – Suspensão de venda e fabricação do

Produto 39

4.3. 7 – Embargo da obra ou atividade 40

4.3. 8 – Demolição de obra 40

4.3. 9 – Suspensão parcial ou total das atividades 40

4.3. 10 – Restritiva de direitos 40

4.3. 11 – Reparação dos danos causados 40

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

BIBLIOGRAFIA CITADA 46

ÍNDICE 49