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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Dislexia Por: Teresa Neuma de Souza Silva Orientador Prof. Dayse Serra Rio de Janeiro, 20 de julho de 2011.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Dislexia

Por: Teresa Neuma de Souza Silva

Orientador

Prof. Dayse Serra

Rio de Janeiro, 20 de julho de 2011.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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O Professor e suas intervenções <>

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Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Psicopedagogia Por: Teresa Neuma

de Souza Silva.

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RESUMO

A dislexia é a incapacidade parcial da criança ler e escrever,

compreendendo o que se lê e o que se escreve, apesar da inteligência, audição

ou visão normal. Encontramos disléxicos tanto em famílias ricas, quanto em

famílias menos abastadas. Crianças com estas dificuldades, sem a devida

intervenção dos profissionais da educação, Fonoaudiólogos ou Psicólogos,

poderão persistir com o transtorno de linguagem e leitura na fase adulta.

O que têm em comum cientista como Einstein e Darwin; artistas e escritores como

Picasso, Leonardo da Vinci e Agatha Christie, um político como Churchill? A essa

lista de famosos com um talento especial, porém ainda não reconhecido como tal,

podem ser acrescentados John Lennon, o jogador de basquete Magic Johnson e

empresários como Henry Ford e Ted Turner, além de serem mundialmente

famosos, todos são disléxicos.

Em minha pesquisa, através de leitura de livros, revista e sites, abordei

e investiguei a DISLEXIA como Dom, pois no decorrer da mesma, através das

muitas leituras desejei que todos os professores, como eu, tentasse abordar este

“distúrbio”, como uma maneira diferente de aprender do nosso aluno.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa é do tipo bibliográfica com natureza de resumo de assunto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO I - O Problema 7

CAPÍTULO II - Dislexia 8

CAPÍTULO III - Metodologia 21

CONCLUSÃO 34

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

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INTRODUÇÃO

Pode-se entender aprendizagem num sentido amplo e num sentido restrito.

Este ultimo refere-se ao problema clínico, tal como se apresenta no consultório e

na escola. Outros são de caráter normativo e ideológico e na maioria dos casos

fatores contribuem como é evidente nos casos de erros de ortografia.

Pode-se considerar o problema de aprendizagem como um sintoma no

sentido de que o não, configura um quadro permanente, mas ingressa numa série

de comportamentos.

Os problemas de aprendizagem são considerados não como o contrário de

aprender, mas como um processo diferente um estado particular que para

equilibrar-se precisa adotar um determinado tipo de comportamento que

determina, o não aprender é que cumpre uma função positiva.

Os professores junto com orientadores e pais devem ser capazes de

reconhecer e mencionar as supostas dificuldades seja ela oral ou escrita e

compartilhar os acontecimentos sobre a evolução da aprendizagem dos

educandos.

Será abordado aqui, o transtorno de aprendizagem, conhecido como

dislexia existente nas salas de aulas, e que muitas vezes não é percebido e nem

detectado pelos educadores, as condições de aprendizagem e as diferenças

individuais como fator de aperfeiçoamento da construção do conhecimento e a

reeducação destes alunos.

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CAPÍTULO I

1 – O PROBLEMA

Qual o procedimento do professor em relação ao disléxico?

O objetivo desta pesquisa é analisar as condições de intervenção

para o domínio da leitura e da escrita com o disléxico.

Definir a origem da dislexia;

Definir elementos para atuação do professor em sala de aula;

Analisar a dificuldade de aprendizagem;

Trabalhar com a hipótese de Incrementar estratégias para a

aprendizagem do aluno.

1.2– DELIMITAÇÃO DE ESTUDO

O tema será desenvolvido por meio de cunho bibliográfico através

de revistas, livros, artigos de jornais e sites publicados em Português.

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CAPÍTULO II

2 - COMO RECONHECER DISLEXIA?

A dislexia é certamente um obstáculo difícil, mas não barreira

intransponível. Em primeiro lugar, o importante é que o obstáculo deve ser

reconhecido. Se os pais e professores compreenderem exatamente quais são as

dificuldades que uma criança com dislexia apresenta, eles poderão ser muito

úteis, não somente mostrando simpatia e encorajamento, mas principalmente

buscando uma didática mais adequada. A criança com dislexia difere das outra de

mesma idade de várias maneiras. Estas diferenças não são evidentes em todas as

crianças com dislexia e elas ocorrem em diversas combinações.

O nível das dificuldades também varia muito. Pais e professores poderão

reconhecer se as dificuldades são devidas a dislexia, fazendo a si próprios as

perguntas que se seguem. A dislexia ocorre mais em meninos, porém pode

aparecer também em meninas.

Segundo LUCZYNSKI (2002, P. 134) dislexia é muito mais do que uma

dificuldade em leitura, embora muitas vezes ainda lhe seja atribuído este

siguinificado circunscrito.

Refere-se á disfunção ou dano no uso de palavras. O prefixo “dys”, grego,

significando imperfeita como disfunção, isto é, uma função anormal ou

prejudicada; “lexia”, do grego referente ao uso de palavras (não somente em

leitura).

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2.1 - COMO IDENTIFICAR?

A dificuldade específica de leitura ou Dislexia é a mais conhecida e mais

estudada forma de dificuldade específica de aprendizagem, conforme já

afirmamos anteriormente.

Para que o termo Dislexia tenha algum significado, ele deve ser utilizado

somente para crianças que tenham consideráveis dificuldades para aprender a ler,

que estejam fora da média (SELIKOWITZ, 2001, p.5).

A Dislexia, normalmente, é diagnosticada quando a criança está na escola;

na maioria das vezes, ela não se torna evidente até que aumentem as exigências

do trabalho acadêmico, a partir dos oito anos de idade.

As áreas de aprendizagem envolvidas nas dificuldades reúnem habilidades

acadêmicas básicas: leitura, escrita, ortografia, aritmética e linguagem

(compreensão e expressão). Essas são habilidades fáceis de avaliar e são de

importância fundamental para o sucesso escolar.

De acordo com SELIKOWITZ (2001, p.4), é muito normal que uma criança

enfrente problemas em habilidades como leitura, escrita, ortografia e aritmética no

primeiro ou segundo ano escolar, mas, após esse período, ela deve atingir um

nível básico de competência. Deve-se suspeitar caso a criança pareça estar

aquém de suas potencialidades e não esteja demonstrando sinais de tornar-se

competente nas habilidades acadêmicas básicas. Se a criança continua a

encontrar dificuldades em leitura depois deste período, ela pode ter uma

dificuldade específica de aprendizagem. Deve-se observar o diagnóstico da

dificuldade específica de leitura se é baseado no grau de atraso e não em tipos

específicos de erros que a criança comete.

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De acordo com MARTINS, (2004), o diagnóstico é imprescindível para o

desenvolvimento contínuo das crianças disléxicas. Reconhecer as características

o primeiro passo para que se possam evitar anos de dificuldade e sofrimento

induzindo esta criança, fatalmente ao desinteresse pela escola e a tudo o que está

em torno dela, gerando às vezes quadros “quase fóbicos”, desta criança em

relação ás tarefas que exigem a leitura e a escrita.

Embora pais e professores sejam os primeiros a suspeitar que uma criança

tenha Dislexia, uma avaliação global deve ser providenciada.

2.2 - ALGUNS DOS SINTOMAS MAIS FREQÜENTES DA DISLEXIA

Segundo FRANK, (2003) os sintomas mais comuns da dislexia são:

desempenho inconstante, demora na aquisição da leitura e da escrita, lentidão nas

tarefas de leitura e escrita, mas não oral, escrita incorreta, com trocas, omissões,

junções e aglutinações de fonemas, dificuldade com os sons das palavras e,

conseqüentemente, com a soletração, dificuldade de associar o som ao símbolo,

dificuldade com a rima (sons iguais no final da palavra) e aliteração (sons iguais

no início das palavras), discrepâncias entre as realizações acadêmicas, as

habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo, dificuldade para a organização

espacial seqüencial, por exemplo: as letras do alfabeto, os meses do ano, tabuada

e semelhantes dificuldades em nomear objetos, tarefas e outros.

Dificuldade em organizar-se com tempo (hora), no espaço (antes e depois) e

direção (direita e esquerda), dificuldade em memorizar números de telefone,

mensagens, fazer anotações, ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a

memória imediata, dificuldade em organizar suas tarefas, dificuldade em cálculos

mentais, desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever e persistência

no mesmo erro, embora conte com ajuda profissional.

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A dislexia não é uma doença, mas um distúrbio específico de aprendizagem

na área da leitura e da escrita. Os indivíduos com dislexia caracterizam-se

justamente com a inteligência no mínimo média. Crianças com inteligência abaixo

da média se enquadram em outro tipo de dificuldade, portanto não são disléxicas.

2.3 - FATORES RELACIONADOS À DISLEXIA

A - Fatores Genéticos

Há forte evidência que um fator genético tenha participação na causa da

dislexia. Vários estudos têm demonstrado que é comum que a criança disléxica

tenha um parente próximo com o mesmo problema. Nenhum modelo consistente

de hereditariedade foi descrito: às vezes, parece ser herdado da mãe, e outras

vezes, do pai.

De acordo com SELIKOWITZ (2001, p.28) em todos os tipos de dificuldade

de aprendizagem, a incidência em meninos supera numericamente a incidência

em meninas, numa proporção de três para um. Esta vulnerabilidade dos meninos

sugere que genes transportados pelo cromossomo X podem inferir em muitos

casos.

Os meninos têm apenas um cromossomo X herdado da mãe e um cromossomo Y

herdado do pai; as meninas têm dois cromossomos X, um de cada progenitor. Se

um menino herda um cromossomo X com pequeno defeito que possa causar

dificuldade específica de aprendizagem, ele não terá outro cromossomo X para

neutralizar o seu efeito. Uma menina, por outro lado, seria protegida por ter o

segundo cromossomo X normal.

Embora os genes do cromossomo X sejam importantes, outros genes

conduzidos por outros cromossomos, provavelmente, contribuem para a causa.

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Existe outra razão para se suspeitar de que fatores genéticos têm

participação: é que as dificuldades específicas de aprendizagem são mais comuns

em crianças com certas síndromes genéticas. Nestes casos, os fatores genéticos

explicariam a incidência maior de dificuldades específicas de aprendizagem em

tais crianças.

B - Fatores Ambientais

Conforme SELIKOWITZ (2001, p.29), foram realizados vários estudos para

determinar se problemas durante a gestação e no parto, bem como nascimento

prematuro, acontecem com maior freqüência em crianças com dificuldades

específicas de aprendizagem. Os resultados destes testes foram inconsistentes:

alguns revelam certa relação, enquanto outros não. Alguns estudos demonstraram

que um conjunto de problemas está associado com mais freqüência à dificuldade

de aprendizagem específica do que problemas isolados.

Uma criança que tenha um grave episódio de encefalite virótica (inflamação

no cérebro causado por vírus) pode apresentar dificuldades semelhantes àquelas

com dislexia. Uma criança que lia bem antes da doença pode ficar incapaz de ler

depois de curada, apesar de permanecer inalterada em qualquer outro aspecto.

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2.4 - COMO E QUANDO PODEMOS PENSAR QUE UMA CRIANÇA

É DISLÉXICA?

Relativamente a esta questão, partindo do fato de ter referido todo um

conjunto de sintomas significativos da dislexia, é importante ter atenção: O não

querer; pois todas as crianças por natureza querem fazer coisas e aprender

coisas. Se isso não se verifica, talvez seja sintoma que não se sente capaz e está

fragilizada pela sua incapacidade. Isto, associado a alguns dos fatores referidos

acima, pode levar-nos a pensar em dislexia.

Existe uma relação evidente entre genética e dislexia. Antecedentes

familiares; Os filhos de pais disléxicos têm toda a probabilidade de o ser, existe

alto grau de concordância entre irmãos gêmeos. Estes são os dois elementos que

acrescentaria a todos os sintomas que anteriormente foi referido e que

eventualmente nos levam a pensar que uma criança possa ser disléxica.

Apesar de a criança ser brilhante e inteligente, rápida nos jogos e em outras

atividades e em nenhum aspecto inferior aos colegas da mesma idade, sua

grande dificuldade estava na incapacidade de ler. “A leitura é um processo

perceptivo-linguístico bastante complexo, que a maioria das pessoas desenvolve

rapidamente e que toma forma através da educação” (VALETT, 1989. P.5), ou

seja, o processo de leitura varia de individuo para indivíduo, na idade e maturação,

sexo, hereditariedade, experiência cultural, instrução, pratica e motivação. É

através da leitura que o indivíduo disléxico é deficiente. Na literatura consultada

verifica-se que as crianças disléxicas e espertas e de inteligência normal, seus

olhos são normais e sua visão é boa. O que diferencia a criança disléxica das

outras crianças é sua dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita.

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As áreas de aprendizagem envolvidas nas dificuldades reúnem habilidades

acadêmicas básicas: leitura, escrita, ortografia, aritmética e linguagem,

(compreensão e expressão). Essas são habilidades fáceis de avaliar e são de

importância fundamental para o sucesso escolar.

De acordo com SELIKOWITZ (2001, p.4), deve-se suspeitar caso a criança

pareça estar aquém de suas potencialidades e não esteja demonstrando sinais de

tornar-se competente nas habilidades acadêmicas básicas. Se a criança continua

a encontrar dificuldades em leitura depois deste período, ela pode ter uma

dificuldade específica de aprendizagem. Deve ser observado que o diagnóstico da

dificuldade específica de leitura é baseado no grau de atraso da leitura e não em

tipos específicos de erros que a criança comete.

Embora pais e professores sejam os primeiros a suspeitarem que uma

criança tenha Dislexia, uma avaliação global deve ser providenciada. Dislexia é

uma doença? Em todas essas condições existe uma alteração anatômica que

pode ser comprovada e, em decorrência anterior freqüentemente acompanhada

de outras alterações neurológicas. A definição atual da “doença” dislexia proposta

pelo world federation of neurology é a seguinte:

É uma desordem manifestada pela dificuldade na aprendizagem da leitura,

apesar de instrução convencional, de inteligência adequada e oportunidades

sócio-culturais. É dependente de uma capacidade congênita fundamental que é

freqüentemente de origem constitucional. (KEIRALLA, 1994)

Propõe-se para dificuldade de leitura a denominação de dislexia, como uma

categoria geral. E os professores mal informados confundem ocorrência instável

com sintomas de “dislexia”. Nesta perspectiva a aprendizagem da leitura é vista

como uma destreza motora complexa.

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E não é difícil avaliar os estragos que estas idéias causaram. Nas atividades em

sala de aula propostas pelo modelo de destreza, a ênfase recai sobre o

conhecimento de um vocabulário visual básico sons das letras, seja fazendo um

circulo em torno das palavras que se iniciam com o som, ou então combinando

letras com sons. Isto quer dizer que o ensino esta centralizado em aprendizagem

de unidades isoladas, critica contundentemente.

2.5 - PODEMOS FAZER UM DIAGNÓSTICO PRECOCE DA

DISLEXIA?

Pode-se fazer um diagnóstico precoce da dislexia, podemos estar atentos a

alguns sinais anteriores à aquisição da linguagem escrita, que se inicia por volta

dos 6 anos de idade. Em vez de unicamente os considerarmos sinais de

“imaturidade” podemos procurar avaliá-los com mais atenção.

Alguns destes sinais são:

Antecedentes familiares – verificar se existe familiares, pai, mãe com problemas

de dislexia;

Atraso na aquisição da linguagem oral;

Dificuldade em falar com clareza;

Confusão no vocabulário que diz respeito à orientação espacial;

Confusão na pronunciação de palavras que se assemelham atendendo à sua

fonética;

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Dificuldade em nomear coisas, pois não é capaz de recordar o nome que se lhes

atribui;

Dificuldade em elaborar rimas.

2.6 - O PERFIL DA CRIANÇA DISLÉXICA

São muitos os sinais que identificam a dislexia. Crianças disléxicas tendem

a confundir letras com grande freqüência. Entretanto, esse indicativo não é

totalmente confiável, pois muitas crianças, inclusive não disléxicas,

freqüentemente confundem letras do alfabeto e as escrevem espelhadas. Na

Educação Infantil, crianças disléxicas demonstram dificuldades ao tentar rimar

palavras e reconhecer fonemas. Na primeira série, elas não conseguem ler

palavras curtas e simples, têm dificuldade em identificar fonemas e reclamam que

ler é muito difícil. Da segunda à quinta série, crianças disléxicas têm dificuldades

em soletrar, ler em voz alta e memorizar palavras; elas também freqüentemente

confundem palavras. Essas são apenas algumas das dificuldades provocadas em

uma criança que sofre de dislexia.

Os problemas com dificuldade de aprendizagem diminuíram no ambiente

sócio-educacional em que as seguintes características eram observadas: os

professores interagiam com a classe toda e não com alunos individualmente, o

trabalho das crianças era exposto na parede da classe, padrões de disciplina eram

da escola e não de cada professor, havia passeios escolares e os alunos tinham

liberdade de consultar os professores sobre problemas pessoais, o ambiente

escolar era agradável e confortável, os alunos podiam assumir posições de

responsabilidade, as decisões administrativas eram tomadas em assembléias que

reuniam alunos e diretores, os professores tinham seus pontos de vista

respeitados em questão.

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Os trabalhos feitos pelos professores em casa recebiam nota e o desempenho

acadêmico era valorizado. Isso quer dizer que as chamadas dificuldades de

aprendizagem não configuram uma doença.

Seria demais lembrar a desigualdade das crianças de seis anos em relação

à escola e à aprendizagem da leitura. Em primeiro lugar, trata-se de um

“desenvolvimento mental”, tanto em seu aspecto global, quanto na inteligência

geral, como em diversas atitudes que são desde a psicomotricidade e a

dominância lateral, ai estruturação das percepções no espaço e no tempo,

passando pela linguagem oral, ponto de apoio essencial para a aprendizagem da

língua escrita.

De acordo com (AJURIAGUERRA, 1984.p.5,), além disso, há uma

desigualdade na organização da personalidade, quaisquer que sejam os termos

empregados para descrevê-la: maturidade, equilíbrio emocional, desenvolvimento

afetivo, modalidade de relacionamento.

“Os termos dislexia e disortografia não deveriam utilizar-se em

outro sentido senão aquele puramente descritivo, sem pressupor

uma enfermidade de dislexia ou um distúrbio constitucional

hereditário. (AJURIAGUERRA, 1984.p.6)”.

A expressão dislexia específica, ou dislexia de evolução, um conjunto de

sintomas reveladores de uma disfunção parietal ou parietal occipital, geralmente

hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num

contínuo que se estende do sintoma leve e severo. A dislexia é freqüentemente

acompanhada de transtornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e

redação. O termo dislexia é aplicável a uma situação na qual a criança é incapaz

de ler com a mesma facilidade na qual lêem seus colegas, apesar de possuir uma

inteligência normal.

As características descritas na leitura dos disléxicos raramente se

apresentam isoladamente, freqüentemente o disléxico apresenta dificuldade para

aprender os dias da semana, meses, ano e o alfabeto.

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Custa-lhe aprender a olhar a hora e tem dificuldades para relacionar um

acontecimento com outro fato no tempo. Em geral, tem dificuldades de aprender o

significado de seqüência e tempo.

Freqüentemente são os disléxicos incapazes de orientar-se com

propriedade no espaço e aprender a noção de direita e esquerda. Geralmente a

criança disléxica não consegue situar à direita e a esquerda em seu próprio corpo,

ou quando olha outra pessoa. Quando tenta obedecer a instruções em sala de

aula ou na ginástica, sente-se confusa e frustrada. Da mesma forma, tem

freqüentemente dificuldades para situar-se com relação aos mapas, globos

terrestres e em seu próprio ambiente.

Se a dislexia fosse inteiramente genética, então dois gêmeos idênticos (que

compartilham os mesmos genes) teriam problemas de leitura. Na verdade, em

apenas 65 a 70% dos casos, ambos os gêmeos são disléxicos; em 30 a 35% dos

casos, um dos gêmeos idênticos é disléxico e o outro, não (SHAYWITZ, 2006.

P.87).

2.7 - ANTECEDENTES DA DISLEXIA

A existência de um familiar próximo que apresente ou tenha apresentado

problemas de linguagem ou dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita,

dificuldades no parto: anoxia, hipermaturidade, prematuridade do tempo ou peso,

doença infecto-contagiosa que tenha produzido no sujeito um período febril, com

vômitos, convulsões ou perda de consciência, atraso na aquisição da linguagem

ou perturbações na articulação, atraso na locomoção, problemas de dominância

lateral, são manifestações de indivíduos disléxicos.

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Os antecedentes raras vezes se apresentam em sua totalidade na história

de um disléxico, entretanto, basta à presença de um ou mais para levar a suspeita

de uma possível disfunção neurológica. A característica mais marcante do

disléxico, ou seja, seu sintoma mais notório é a acumulação e persistência de

seus erros ao ler e escrever.

A análise quantitativa da leitura oral de um disléxico revelará alguma ou

várias das seguintes dificuldades: Confusão entre letras, sílabas ou palavras com

diferenças sutis de grafia; a - o; c - o; e - c; f - t; h - n; m - n; v - u; etc., confusão

entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação

no espaço: b - d; p - q; d - p; d - b; d - q; n - u; w - m;a - e, confusão entre letras

que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente

próximos: d - t; j - x; c - g; m - b; m – b - p; v - f, inversões parciais ou totais de

sílabas ou palavras: me - em; sol - tos; som - mos; sol - tas; pal - pla, substituição

de palavras por outras de estrutura mais ou menos similar ou criação de palavras,

porém com diferentes significado: soltou / salvou; era / ficava, contaminações de

sons, adições ou omissões de sons, sílabas ou palavras: famoso substituído por

fama; casa por casaco, repetições de sílabas ou frases, pular uma linha,

retroceder para linha anterior e perder a linha ao ler,excessivas fixações do olho

na linha, soletração defeituosa: reconhece letras isoladamente, porém sem poder

organizar a palavra com um todo, ou então lê a palavra sílaba por sílaba, ou ainda

lê o texto palavra por palavra, problemas de compreensão, leitura e escrita em

espelho, em casos excepcionais e ilegibilidade.

Em geral, as dificuldades do disléxico no reconhecimento das palavras

obrigam-no a realizar uma leitura hiperanalítica e decifratória. Como dedica seu

esforço à tarefa de decifrar o material, diminuem significativamente a velocidade e

a compreensão necessária para a leitura normal. Alguns disléxicos apresentam

dificuldades para lembrança imediata. Outra dificuldade para lembrar fatos

passados, enquanto que, outros apresentam muita dificuldade para memorizar

visualmente os objetos, palavras ou letras.

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O disléxico não sendo severamente disgráfico, consegue copiar, porém

quando escreve um ditado e na escrita espontânea revela sérias complicações e

ainda apresenta disgrafia que é uma dificuldade para escrever ou desenhar as

letras, os sinais ou conjuntos gráficos num espaço determinado.

O disléxico pode ser capaz de automatizar os aspectos operatórios, porém

apresenta dificuldades para aplicá-los na solução de problemas reais. Eles

invertem os números ou então sua seqüência.

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CAPÍTULO III

3 - A IMPORTÂNCIA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DISLÉXICA

O orientador educacional deve alertar os professores quanto à interferência

nas atividades das crianças, uma vez que a participação excessiva poderá

ocasionar uma acomodação ou até mesmo certa dependência da criança disléxica

na realização de suas obrigações. Enfim, o acompanhamento escolar da criança

disléxica deverá ser feito durante o ano inteiro, ajudando a criança nas suas

dificuldades.

O orientador educacional surge em um momento de muitas agitação e

insatisfação, por parte do povo com relação ao sistema econômico. Naquela

época a escolaridade era vista, por uma crença ingênua, com meio de mobilidade

social. O Orientador educacional seria aquele que iria reforçar a ideologia das

aptidões naturais,ou seja cada um em seu lugar com seu esforço e suas

capacidades e suas responsabilidades.(MAIA e GARCIA.1995.P.13)

Segundo (BICUDO, 1978, p.1), a orientação educacional é encarada, então,

como uma grande ajuda prestada ao processo de desenvolvimento ao educando

para que ele se torne um ser capaz de comporta-se adequadamente frente ás

situações em relação às quais precisa tomar decisões. Acredita-se que o ser

humanizado tem a possibilidade de vir a se dedicar plenamente e que a educação

pode auxiliá-lo nesta realização. A orientação educacional necessita conhecer o

meio no qual age o educando. Assim sendo, possibilita a compreender a cultura

da organização escolar para que ela possa avaliar as decisões assumidas.

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De acordo com (BICUDO. 1978.p.105), a função do orientador educacional

encarada do ponto de vista escolar adquire significado ao se pensar que o

processo de educação que ocorre na escola é intencional. Isto exige que todas as

atividades ali desenvolvidas sejam pensadas e analisadas de forma crítica e

reflexiva, tendo em vista um alvo específico, qual seja, o torna-se do educando.

O papel do Orientador Educacional na dimensão contextualizada diz

respeito, basicamente, ao estudo da realidade do aluno, trazendo-a para dentro da

escola, no sentido da melhor promoção do seu desenvolvimento. A Orientação

Educacional, como foi abordada, não existe para padronizar os alunos nos

paradigmas escolhidos como ajustados, disciplinados ou responsáveis. O

importante é a singularidade dentro da pluralidade, do coletivo. (Grinspun, 2001,

p.29).

A prática não vem desvinculada da teoria. Precisamos da construção do

conhecimento, do pensamento e da linguagem do nosso aluno. Cabe ao

orientador juntar aos demais profissionais da educação, e, dentro das suas

especificidades, favorecermos as relações entre o desenvolvimento e o

aprendizado do aluno.

Grinspun (2001) ressalta que Orientador Educacional deve fazer

observação em sala de aula a fim de constatar o comportamento grupal e

individual dos alunos, em face de uma noção introduzida através do sócio drama

em cada turma. Cabe o Orientador Educacional junto com os docentes fazer a

observação da criança dentro da sala ou fora da sala de aula na hora do recreio,

jogos, teatro e apresentações diversas na escola. Que em sala de aula os demais

se mostram interesse ou participam de um modo mais tranqüilo. Trabalhos em

pequenos grupos onde a criança possa participar das atividades.

Fazer atendimento individual com as crianças com dificuldades nessa

conversa pode-se solicitar a presença dos pais ou da professora, onde ambos

falarão da dificuldade dessa criança e o que precisa ser trabalhado com a mesma.

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A Orientação Educacional, como integrante do sistema escolar, por força da

legislação oficial, observa, analisa, reflete e realimenta o processo educacional

que ocorre na turma, na escola e na comunidade, considerando os fatores

psicológicos e sociais que envolvem, tendo como ponto de referencias o aluno

como pessoa. (Grinspun, 2001.p.97).

DICAS QUE PODEM AJUDAR:

1. Não o chame simplesmente de preguiçoso ou de desleixado; 2. Não faca comparações com outros membros da família ou com colegas de classe; 3. Não exerça pressão sobre ele a ponto de amedrontá-lo com a perspectiva de não passar de ano ou de deixar você desapontado; 4. Não exija que ele leia em voz alta perante seus colegas (sem seu consentimento); 5. Não espere que aprenda a soletrar uma palavra após escrevê-la repetidas vezes, com a finalidade de lembrá-la. Certamente não se lembrará; 6. Não fique surpreso se facilmente se cansar ou desanimar; 7. Não se surpreenda se a caligrafia for irregular ou feia. Boa caligrafia e muito difícil; 8. Não se surpreenda se o desempenho for incongruente; se em algumas ocasiões se sair bem e em outras não; 9. Não diga somente "tente esforçar-se", incentive nas coisas que gosta e faz bem feito.

3.1 - COMO A LEITURA É AVALIADA?

Há uma série de testes de leitura disponíveis para psicólogos e professores.

Segundo SELIKOWITZ (2001, p. 53), normalmente, é solicitado que a criança leia

em voz alta partes do texto graduadas de acordo com a dificuldade. Os textos

mais fáceis apresentam poucas palavras simples em letras grandes, comumente

com ilustrações. A criança progredirá para níveis cada vez mais difíceis até que

fique claro para o avaliador que ele alcançou seu limite máximo.

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Os testes normalmente determinam a velocidade de leitura da criança

comparada a outras crianças de sua idade. O número de erros que a criança

comete é também observado para que se estabeleça a precisão de leitura,

também comparada a padrões de idade. Após ter lido cada parte do texto, o

avaliador pode fazer uma série de perguntas padrão à criança sobre o que ela

acabou de ler para determinar a compreensão de leitura da criança; isto ainda

pode ser comparado a padrões de idade.

O avaliador observa os tipos específicos de erros que a criança comete. Ele

pode também aplicar alguns testes específicos para tentar estabelecer a natureza

exata do problema de leitura. Por exemplo, pode testar a percepção visual da

criança: a capacidade do cérebro de formar um sentido das coisas que os olhos

vêem. Pode comparar a capacidade da criança de ler palavras reais e palavras

sem sentido para avaliar suas habilidades fonológicas (SELIKOWITZ, 2001, p. 53).

Linguagem e leitura são funções intimamente relacionadas. Dificuldades na

linguagem estão freqüentemente presentes em crianças com dificuldade

específica de leitura (dislexia), embora elas possam ser sutis e difíceis de detectar.

Por esta razão, o ideal é que crianças com dificuldade de leitura fizessem uma

avaliação de linguagem por um fonoaudiólogo. A terapia fonoaudiológica pode

beneficiar alguns casos.

3.2 - HIPÓTESES NA CONSTRUÇÃO DA ESCRITA

Segundo COLELLO (1995, p.27) o processo de construção da língua

escrita é, na verdade, muito mais complexo do que supõem os educadores que

insistem em ensinar o abecedário, as famílias silábicas e a associação de letras

para a composição de palavras, sentenças e textos.

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A capacidade de ler e escrever não depende exclusivamente da habilidade do

sujeito em "somar pedaços de escrita", mas, antes disso, de compreender como

funciona a estrutura da língua e o modo como é usada em nossa sociedade.

As pesquisas de FERREIRO e TEBEROSKY (1986), citado por COLELLO

(1995, p.27), buscaram descrever e classificar as sucessivas etapas de produção

da escrita, tentando compreender o motor que impulsiona esse processo de

aprendizagem. Suas conclusões apontam quatro momentos básicos pelos quais

passam a maioria das crianças, independentemente do processo de

escolarização:

(I) A escrita pré-sílabica é produzida por crianças que ainda não compreenderam

o caráter fonético do sistema. Ela pode aparecer das seguintes formas

(COLELLO, 1995, p.27):

Escrita uni gráfica: reflete uma concepção elementar da escrita porque: ela

é mais ou menos semelhante na representação de diferentes palavras ou textos

(sem diferenciação interfigural); é impossível de ser analisada nos seus elementos

constitutivos (letras, ou sílabas). Contudo, essa forma de escrever demonstra que

a criança compreendeu o caráter arbitrário do traçado gráfico: o desenho de um

gato, por pior que seja, deve guardar alguma semelhança com o animal; a

inscrição desse termo está livre do compromisso de fidelidade figurativa. Nesse

caso, pode-se dizer que a criança descobriu a possibilidade de representar um

gato buscando um recurso não icônico (COLELLO, 1995, p.27).

Escrita com letras inventadas: como a criança não conhece as letras

convencionais, ela "cria o seu próprio sistema de escrita" cujas partes não têm

relação com o valor sonoro do que pretendeu representar. Esse tipo de escrita

pode aparecer com ou sem variação inter ou intrafigural (COLELLO, 1995, p.28).

Escrita com letras convencionais, mas sem valor sonoro convencional: pode

aparecer com ou sem variação figural (COLELLO, 1995, p. 27 e 28).

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(II) A escrita silábica representa um considerável avanço porque, nessa fase, a

criança compreendeu que o sistema é uma representação da fala. Na tentativa de

fazer corresponder "partes da fala" com "partes da escrita", ela faz valer uma letra

para cada sílaba. Tal como a escrita pré-silábica, as variações da escrita silábica

podem ocorrer pela presença de letras convencionais ou inventadas, usadas com

ou sem valor fonético convencional (COLELLO, 1995, p.28).

III) A escrita silábico-alfabética é marcada por um momento de transição, no

qual o indivíduo já percebeu a ineficácia do sistema silábico, mas ainda não

domina o sistema alfabético. Na tentativa de acrescentar letras, ela acaba usando,

numa mesma palavra, os dois critérios, podendo aproximar-se mais do silábico ou

do alfabético. O resultado disso é uma escrita aparentemente caótica, nem

sempre inteligível (COLELLO, 1995, p.28).

(IV) Quando a criança conquista a escrita alfabética, compreendendo o valor

sonoro de cada letra, ela pode ainda estar distante da escrita convencional, na

medida em que não domine as regras e as particularidades do nosso sistema. Se

considerarmos a ortografia, a pontuação, a acentuação, a divisão do texto em

partes (palavras e parágrafos) entre tantas outras particularidades da escrita, pode

haver ainda um longo e penoso caminho a ser percorrido (COLELLO, p.28 e 29).

Conforme FERREIRO e TEBEROSKY (1986), as sucessivas hipóteses na

conquista da escrita revelam, antes de tudo, o caráter essencialmente criativo da

construção do saber. Por trás de cada produção "incorreta" e aparentemente

aleatória, existe uma infinidade de concepções já formadas, de critérios

inteligentes e de tentativas tão fecundadas que, de algum modo, promovem a

evolução.

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3.3 - IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA E DA ESCOLA NO PROCESSO DE REEDUCAÇÃO.

Quando a criança demora a falar os pais geralmente acham normal, pois

parente ou ele mesmo demorou a falar. Sem saber que ele é uma pessoa

disléxica, pois jamais foi diagnosticado. Quando a criança começar a falar, as

dificuldades na pronúncia às vezes chamada de “conversa de bebê” que

continuam além do tempo normal podem ser o sinal da dislexia. “Segundo a

doutora (Shaywitz, 2006.p.85) Pais e professores podem ficar irritados com a

criança porque ela parece inteligente, e não conseguem entender porque ele

pronuncia a palavra errada”.

Cabe aos pais estarem sempre observando o desenvolvimento da

linguagem da criança, colocar sempre a criança para ler em voz alta, pois só

assim ele vai saber qual é a dificuldade de seu filho e qual for à dificuldade do seu

filho estar sempre comprometido para ajudar, e sempre é bom estar motivando a

criança nas dificuldades que ela encontrar para fazer os exercícios, buscando

sempre levantar a auto-estima dessa criança. O mais importante é que ambos os

pais estejam presentes na vida dessa criança. Enquanto os pais percorrem esse

caminho junto com seus filhos, pense o quanto vai ser importante para eles.

Quando os pais reagem com raiva à dislexia, a criança sente que os pais estão

bravos com ela.

Quando os pais reagem com aceitação e confiança, a auto-estima da

criança se eleva: ela aprende que você vai apoiá-la, não importa o que aconteça,

e começa a acreditar em si mesmo porque você acredita nela.

Os pais não precisam esconder seus sentimentos de raiva, tristeza e

frustração (é só conversar com a criança sobre os sentimentos dela e o seu).

Porém os pais devem passar confiança apoio e aceitação, mostrar para a criança

o quanto você o ama.

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Quer a família, quer a escola tem um papel fundamental no processo de

reeducação, pois são estes os meios privilegiados para reeducar o indivíduo

disléxico, fornecer-lhe instrumentos diversos e alternativos na aquisição da

linguagem, que tantos problemas acadêmicos e afetivos podem trazer ao

indivíduo. À família cabe, para além de perceber que certamente algo não está

bem, segundo alguns dos índices atrás referidos, ser o suporte afetivo da criança

disléxica. É muito importante fomentar a auto-estima, providenciar apoio

especializado e estar em interação com a escola. Uma criança disléxica não o é

por ter um coeficiente de inteligência inferior para a sua idade, pelo contrário, pode

até tê-lo superior, contudo a sua aprendizagem pode ser afetada por este fato, e

posteriormente promover outro tipo de situações em termos psicológicos:

depressão, agressividade...

É necessário ter expectativas corretas e providenciar o melhor apoio.

O que mais importa a pais e professores é saber "O que fazer?"

Partamos do princípio fundamental de que não há "receitas" infalíveis e

adaptáveis a todos os casos. Antes pelo contrário, cada caso é um caso e deve

ser encarado na sua singularidade e especificidade.

Todavia, podem-se apontar algumas pistas de conduta e facilmente

aplicáveis numa sala de aula como;

Colocar o aluno numa das carteiras mais próximas do professor para que

este o possa 'vigiar' a atenção e dificuldades do aluno;

Eliminar possíveis focos de distração (materiais desnecessários, janelas,

colegas desconcentrados, barulhos...);

Organizar os materiais de trabalho do aluno (organização da pasta,

esquemas de cores, pasta de arquivos de trabalhos realizados...);

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Aulas de apoio individualizado a Português (tendo em conta as dificuldades

mais relevantes apresentadas pelo aluno);

Tomar uma atitude de 'reforço positivo' junto do aluno, valorizando mais os

progressos que as falhas.

Se seu filho freqüenta uma escola, fale com o diretor, afim de que haja

perfeito entendimento entre vocês, e para que você possa estar certo de que os

professores de seu filho estão conscientes das dificuldades que ele enfrenta e

bem informados sobre o assunto.

Se você tiver interesse em escolas especializadas em dislexia ou

profissionais que possam ser consultados sobre problemas especiais de crianças

com dislexia, ABD - Associação Brasileira de Dislexia poderá colocá-lo em contato

com os mesmos.

Se ele se submeter a provas escritas, um atestado sobre as suas

dificuldades poderá ser remetido para o conselho examinador, através do diretor

da escola. Isto é aceitável somente pelo psicólogo escolar e somente depois de

ser feita uma avaliação detalhada.

Ao tentar aprender pelos métodos convencionais, o disléxico se concentra

ao ponto de se sentir mal, passando a ficar enjoado, ainda muito infantil, não

consegue entender o que está acontecendo com ele e sentindo-se pressionado na

escola pela professora, em casa pela família e na vida social, pelos próprios

colegas, ele sofre e com o passar dos anos escolares, procuram as suas próprias

maneiras de memorização, tentando aprender matemática com a ajuda dos

dedos, fazendo associação das palavras como os números são chamados,

procurando maneiras de aprender para que finalmente seja capaz de agradar a

professora. “Talvez agora ela goste de mim, pensei”. (BAUER 1997, p. 21).

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Segundo Vicente Martins, (2002, p. 21), “A dislexia é uma perturbação ou

transtorno ao nível de leitura”, por isso, uma criança com este distúrbio não vê o

menor sentido em ler Machado de Assis, porque não interpreta as estórias,

também não aprende bem matemática, porque não entende e não consegue

interpretar os enunciados dos exercícios, podendo facilmente cair em fracasso

escolar e ser empurrada para a delinqüência, em geral, os disléxicos poderão ser

muito talentosos nas artes, na musica, teatro, desenhos e também se destacam

nas áreas profissionais de vendas e comércio em geral.

Ainda de acordo com Vicente Martins, “o disléxico pode, também, ser um

portador de conduta típica, com síndrome e quadro de ordem psicológica e

lingüística, de modo que sua síndrome compromete a aprendizagem eficaz e

eficiente de leitura e escrita, mas não chega a comprometer seus ideais, idéias,

talentos e sonhos. Por isso, diagnosticar, avaliar e tratar a dislexia, conhecer seu

tipo, sua natureza, é um dever do Estado e da Sociedade...” (2002, p.12).

Portanto, sendo o Estado responsável pela educação em nosso país, todas

as famílias, ricas ou pobres têm o direito de reivindicar do governo, tanto o

diagnóstico, quanto o tratamento de suas crianças ainda em idade escolar, se

possível nas primeiras séries.

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§ Walt Disney

§ Whoopi Goldberg

3.4 - QUAIS INTERVENÇÕES CONDUZEM A UM MAIOR SUCESSO?

Estudos realizados por diversos investigadores mostraram que os métodos

multissensoriais, estruturados e cumulativos são a intervenção mais eficiente.

As crianças disléxicas, para alem do déficte fonológico apresentam

dificuldades na memória auditiva e visual bem como dificuldade de automatização .Os

métodos de ensino multissensoriais ajudam as crianças a aprender utilizando mais do

que um sentido, enfatizam os aspectos cinestésicos da aprendizagem integrando o

ouvir e o ver, com o dizer e o escrever.

A Associação Internacional de Dislexia promove ativamente a utilização dos

métodos multissensoriais, indica os princípios e os conteúdos educativos a ensinar:

Aprendizagem Multissensorial: A leitura e a escrita são atividades multissensoriais.

As crianças têm que olhar para as letras impressas, dizer, ou subvocalizar, os sons,

fazer os movimentos necessários à escrita e usar os conhecimentos linguísticos para

aceder ao sentido das palavras.

Os Métodos Fonomímicos-Multissensoriais utilizam simultaneamente os

diversos sentidos. As crianças ouvem e reproduzam os fonemas, memorizam as

lengalengas e os gestos que lhes estão associados ativando assim em simultâneo as

diferentes vias de acesso ao cérebro. Os diversos neurónios estabelecem interligações

entre si facilitando a aprendizagem e a memorização.

Estruturado e Cumulativo: A organização dos conteúdos a aprender segue a

sequência do desenvolvimento linguístico e fonológico. Inicia-se com os elementos

mais fáceis e básicos e progride gradualmente para os mais difíceis.

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Os conceitos ensinados devem ser revistos sistematicamente para manter e reforçar a

sua memorização.

Ensino Direto, Explícito: Os diferentes conceitos devem ser ensinados direta,

explícita e conscientemente, nunca por dedução.

Ensino Diagnóstico: Deve ser realizada uma avaliação diagnóstica das competências

adquiridas e a adquirir.

Ensino Sintético e Analítico: Devem ser realizados exercícios de ensino explícito da

“Fusão Fonémica”, “Fusão Silábica”, “Segmentação Silábica” e “Segmentação

Fonémica”.

Automatização das Competências Aprendidas: As competências aprendidas

devem ser treinadas até à sua automatização, isto é, até à sua realização, sem

atenção consciente e com o mínimo de esforço e de tempo. A automatização irá

disponibilizar a atenção para aceder à compreensão do texto.

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CONCLUSÃO

Hoje não podemos ignorar que diante de qualquer desvio do padrão de

comportamento, principalmente na escola, a primeira hipótese de explicação ainda

faz referência a um possível problema mental.

Como sujeito dotado tão somente de cabeça, desprovido de corpo, emoção

e sentimentos, a criança distante dos padrões de competência foi até bem pouco

tempo vitima de um julgamento equivocado e parcial.

Este procedimento se modificou em decorrência principalmente dos

avanços nas pesquisas neurológicas comprovando a plasticidade do cérebro, que

mesmo lesado, tem condições de reconstituir-se e garantir seu funcionamento,

bem como a pedagogia que repensando a sua prática investiga mais

profundamente a relação ensino e aprendizagem.

Percebe-se cada vez mais a evidência de que se faz necessário que uma

equipe multidisciplinar composta por profissionais competentes e pais envolvidos,

colaborem para que as crianças possam desfrutar plenamente de sua cidadania.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

1.1 – O problema 7

Objetivo do estudo

Geral

Específico

Hipótese

Delimitação de estudo

Procedimentos metodológicos

CAPÍTULO II

Dislexia 8

2- Como reconhecer a dislexia

2.1 – Como identificar 9

2.2 – Alguns sintomas freqüentes 10

2.3 – Fatores relacionados à dislexia 11

2.4 – Como e quando podemos pensar que a criança é disléxica? 13

2.5 – Podemos fazer um diagnóstico precoce da dislexia? 15

2.6 – O perfil da criança disléxica 16

2.7 – Antecedentes da dislexia 18

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CAPÍTULO III

O projeto de pesquisa 21

3 – Importância do orientador educacional no processo de aprendizagem da

criança disléxica

3.1 – Como a leitura é avaliada 23

3.2 – Hipótese na construção da escrita 24

3.3 – Importância da família e da escola no processo de reeducação 27

3.4 – Quais intervenções conduzem a um maior sucesso? 32

CONCLUSÃO 34

BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS 37

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Bibliografias Consultadas

BICUDO, Maria Aparecida Viggini. Fundamentos de Orientação Educacional. São

Paulo. 1978.

BAUER, James J. Dislexia : Ultapassando as barreiras do preconceito. São Paulo:

Casa do Psicólogo, 1997.

FRANK, Robert; A vida secreta da criança com dislexia, São Paulo. 2003.

GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin (org.) A prática dos educadores educacionais. 4.

ed.2001.

KEIRALLA, Dayse Maria Borges; sujeitos com dificuldades de aprendizagem,

campinas, São Paulo, 1994.

MAIA, Eny Marisa; GARCIA, Regina Leite. Uma orientação educacional nova para

uma nova escola. 7. Ed. Loyola. São Paulo.1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes da Prática Educativa. nº16.

Ed. Paz e Terra. São Paulo. 1996.

SHAYWITZ, Sally; Entendendo a Dislexia: um Novo e Completo Programa para

Todos os níveis de problemas de leitura. 2006.

VALLETT, Robert E. Dislexia: uma abordagem neuropsicológica para a educação

de crianças com graves desordens de leitura. São Paulo, 1984.

MARTINS, Vicente. Distúrbios das Letras. Vale do Acaraú: Ebookcult, 2002.

Disponível em: www.ebookcult.com.br. Acesso em: 31 mar. 2007.

ABD (Associação Brasileira de Dislexia) www.dislexia.org.br Acesso em: 03 Abr.

2011.