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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE EDUCA ÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRA NSVERSAL NO ENSINO DE CIÊN CIAS DE 5ª. A 8ª. SÉRIES Maria do Carmo Pastor Saladich Orientador Prof. Ms. Celso Sanchez Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRANSVERSAL

NO ENSINO DE CIÊNCIAS DE 5ª. A 8ª. SÉRIES

Maria do Carmo Pastor Saladich

Orientador

Prof. Ms. Celso Sanchez

Rio de Janeiro2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRANSVERSAL

NO ENSINO DE CIÊNCIAS DE 5ª. A 8ª. SÉRIES

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Educação Ambiental

Por: Maria do Carmo Pastor Saladich

3

AGRADECIMENTO

Agradeço especialmente aos meus familiares

pela paciência, compreensão e colaboração

ao longo de todo o curso.

Maria do Carmo Pastor Saladich

4

DEDICATÓRIA

Quero dedicar este trabalho a Deus que me deu

toda a força e a coragem necessária a essa

especial caminhada e também a todos os

professores do curso.

Maria do Carmo Pastor Saladich

5

“O sumo bem é a própria vida”.Bertold Brecht

6

RESUMO

No mundo moderno, os homens não têm se preocupado muito com a

preservação do meio ambiente. Nesse contexto, há uma evidente necessidade de

mudar o comportamento do indivíduo em relação à natureza, no sentido de promover

sob um modelo de desenvolvimento sustentável (processo que assegura uma gestão

responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os interesses das

gerações futuras e, ao mesmo tempo atender as necessidades das gerações atuais),

a compatibilização de práticas econômicas e conservacionistas, com reflexos

positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos. Para isso, é necessário

começar pela base, a escola, instituição formadora e transformadora de atitudes.

Este estudo analisa o papel da Educação Ambiental no ensino de Ciências em

turmas de 5a a 8a séries do ensino fundamental já que o movimento de renovação do

ensino de Ciências chega ao Brasil em meio a uma série de experiências inovadoras.

Com isso os indivíduos e a comunidade passam a tomar consciência do seu meio

ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades e experiências desde uma

perspectiva interdisciplinar, fazendo com que a inclusão da Educação Ambiental

como tema transversal seja um fator que influencia positivamente a melhoria da

qualidade de ensino das Ciências Naturais.

7

METODOLOGIA

A pesquisa foi feita a partir de visitas a várias bibliotecas e revisão de leituras

dos livros que possibilitaram o levantamento de dados sobre o assunto pesquisado.

Livros estes que estão listados na bibliografia. Também foram utilizados vários

artigos de revistas e periódicos, bem como consultas a sites na Internet sobre

Educação Ambiental e o ensino de Ciências. Esta coleta foi primeiramente registrada

em fichas bibliográficas com nome da obra e local onde puderam, posteriormente,

ser encontradas, informações, além de palavras-chave relacionadas ao tema em

questão.

Em seguida foi feita a leitura analítica desse material, através da qual houve o

destaque dos aspectos importantes do texto e do tema a ser abordado, bem como a

interpretação do mesmo.

Este estudo também conta com a análise de uma situação vivenciada pelos

alunos da 5ª série, na disciplina de Ciências. Relata-se um trabalho feito, no qual os

alunos teriam que, divididos em grupos de acordo com a localização (bairro) de sua

moradia, escolher uma das torneiras da própria casa e envolvê-la com um pedaço de

pano branco virgem (morim), de maneira que quando a torneira fosse aberta a água

passasse por esse pano. Depois de uma semana os alunos deveriam retirar o pano.

Com o auxílio do professor, eles então, montariam um painel, com todos os pedaços

de pano, localizando-os pelos bairros e analisando a qualidade da água de cada um

deles.

Ao final dos estudos e após a elaboração de um roteiro, o trabalho

monográfico foi finalmente redigido.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 09

CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONTEXTO HISTÓRICO .................... 18

1.1. AS PROPOSTAS EDUCACIONAIS COM RELAÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................................... 23

1.2. A LEGISLAÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................................... 26

CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE CIÊNCIAS ............ 32

2.1INVESTIGANDO OS MECANISMOS DE ESTABILIDADE E DE MUDANÇAS CURRICULARES ................................................................................................ 40

CAPÍTULO III – PRÁTICAS ESCOLARES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL –ESTUDO DE CASO ................................................................................................. 45

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 53

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .............................................................................. 56

ÍNDICE ...................................................................................................................... 62

9

INTRODUÇÃO

No ambiente urbano das médias e grandes cidades, a escola, além de outros

meios de comunicação, é responsável pela educação do indivíduo e

conseqüentemente da sociedade. Através deles há o repasse de informações, o que

gera um sistema dinâmico e abrangente a todos.

A população, cada vez mais envolvida com as novas tecnologias e com

cenários urbanos, está perdendo a relação natural que tinha com a terra e suas

culturas. Os cenários, tipo shopping-center, passam a ser normais na vida dos jovens

e os valores relacionados com a natureza não tem mais pontos de referência na

atual sociedade moderna.

Devido a isso, a Educação Ambiental se constitui numa forma abrangente de

educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo

pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma

consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica

a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.

O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um

mínimo de interferência nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pressão

exercida sobre os recursos naturais.

Atualmente, são comuns a contaminação dos cursos de água, a poluição

atmosférica, a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou

mesmo destruição dos habitats faunísticos, além de muitas outras formas de

agressão ao meio ambiente.

Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do

homem em relação à natureza, no sentido de promover sob um modelo de

desenvolvimento sustentável (processo que assegura uma gestão responsável dos

recursos do planeta de forma a preservar os interesses das gerações futuras e, ao

mesmo tempo atender as necessidades das gerações atuais), a compatibilização de

práticas econômicas e conservacionistas, com reflexos positivos evidentes junto à

qualidade de vida de todos.

10

Este estudo tem como objetivo principal analisar a importância da Educação

Ambiental como tema transversal no ensino de Ciências de 5ª a 8ª séries.

Com o intuito de produzir os melhores resultados no alcance das metas

traçadas, também pretende investigar a importância da inclusão da Educação

Ambiental no ensino de Ciências para turmas de 5ª a 8ª séries, bem como promover

a reflexão sobre as relações entre educação e meio ambiente, enquanto um

processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do

seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades e experiências

desde uma perspectiva interdisciplinar. E identificar de que forma a inclusão da

Educação Ambiental como tema transversal pode influenciar positivamente na

melhoria da qualidade de ensino das Ciências Naturais, descrevendo a melhor

maneira de se proceder nas diversas situações. O meio ambiente é um aspecto que

foi trazido de fora para dentro da escola. Entretanto, esse é um tema que permeia

nossa vida, já que o percebemos enquanto cidadãos.

Até os anos de 1990, os livros didáticos não incluíam o ambiente como

conteúdo importante. Atualmente, já é possível o professor de Geografia falar de

relevo e também das questões antrópicas e ambientais que estão envolvidas. É

necessário que se promovam ações em que o professor possa trabalhar questões

que capacitem o aluno como cidadão e os faça entender que somos homens

históricos.

O meio ambiente é o resultado de todas as ações humanas. A Educação

Ambiental, segundo a lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, é um componente

essencial e permanente da educação Nacional, devendo estar presente em todos os

níveis e modalidades do processo educativo formal e não-formal.

Por seu caráter humanista, holístico, interdisciplinar e participativo, a

Educação Ambiental pode contribuir muito para renovar o processo educativo,

trazendo a permanente avaliação crítica, a adequação dos conteúdos à realidade

local e o envolvimento dos alunos em ações concretas de transformação desta

realidade.

11

Para realmente abordar estes princípios e atingir seus objetivos a Educação

Ambiental precisa de uma ampla gama de métodos e do preparo dos educadores

neste sentido.

Um programa de Educação Ambiental para ser efetivo deve promover

simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades

necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental. Utiliza-se como

laboratório, o metabolismo urbano e seus recursos naturais e físicos, iniciando pela

escola, expandindo-se pela circunvizinhança e sucessivamente até a cidade, a

região, o país, o continente e o planeta. A aprendizagem será mais efetiva se a

atividade estiver adaptada às situações da vida real da cidade, ou do meio em que

vivem aluno e professor.

A Educação Ambiental há poucas décadas discutida no Brasil, vem assumindo

novas dimensões a cada ano, principalmente pela urgência de reversão do quadro

de deterioração ambiental em que vivemos, efetivando práticas de desenvolvimento

sustentado e melhor qualidade de vida para todos e aperfeiçoando sistemas de

códigos que orientam a nossa relação com o meio natural. Trata-se de compreender

e buscar novos padrões, construídos coletivamente, de relação da sociedade com o

meio natural.

No campo escolar a Educação Ambiental está presente nas Propostas

Curriculares do Ensino Fundamental de 21 estados brasileiros, incluindo o Estado de

Goiás, cuja Proposta Curricular de Ciências tem como eixo norteador o meio

ambiente e está presente também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

como tema transversal, perpassando todas as disciplinas do currículo. Pressupõe a

discussão de questões éticas, ecológicas, políticas, econômicas, sociais, legislativas

e culturais.

O trabalho educativo com alunos do segundo segmento do ensino

fundamental deve se inspirar na Pedagogia de Paulo Freire (1982), cuja estratégica

epistemológica principal é a interação dialógica dos sujeitos entre si e com a

realidade. O ensino de Ciências deve apresentar uma tentativa de trazer, junto às

mudanças de postura em relação aos ambientes, as imagens e representações que

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os indivíduos constroem de uma realidade e de um lugar, bem como a forma como

interpretam suas histórias e vivências nesse lugar.

Deste modo, estamos levando em conta não uma única realidade, totalizante

e absoluta, mas as diversas configurações que assume o imaginário dos sujeitos.

A problemática em questão se refere à importância que deve ser dada ao

ensino de Educação Ambiental como tema transversal inserido no conteúdo de

Ciências, nas turmas de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental.

Uma questão ainda bastante controversa e pouco incorporada nos currículos

escolares é a dimensão didático-pedagógica da Educação Ambiental. No Brasil,

embora os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, propostos pelo Ministério da

Educação - MEC em 1988, apresentem a temática Meio Ambiente como Tema

Transversal nos currículos do ensino fundamental, em geral, observa-se dificuldade

por parte dos professores, em inserir os fundamentos da Educação Ambiental em

suas práticas pedagógicas.

“A problemática ambiental, identificada em situações de ensino-

aprendizagem, está dissociada do contexto socioeconômico e

cultural, isto é, da realidade na qual estão inseridos professores e

alunos. Isto dificulta a percepção e compreensão dos mesmos

em razão da complexidade do meio em que vivem”.(LEFF, 2001,

p.54).

A proposta da Educação Ambiental é aproximar as pessoas da realidade e

possibilitar que elas consigam perceber as inter-relações entre os seres humanos e

seu meio biofísico e cultural, seus problemas e potencialidades, em toda a sua

complexidade. Nesse sentido, a inclusão da Educação Ambiental nos currículos

escolares é antes de tudo um ato político. Como não há neutralidade na educação, o

currículo deve ser pensado de maneira a formar cidadãos críticos, capazes de

interagirem e influenciarem na realidade, na perspectiva de um mundo mais

sustentável.

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Neste contexto, as idéias de educadores como Paulo Freire, podem ampliar as

discussões sobre a compreensão do processo educativo enquanto ação

transformadora. Embora o educador não tenha trabalhado especificamente com a

Educação Ambiental, sua leitura do mundo, tão ampla quanto profunda, possibilita

que façamos uma reflexão sobre a dimensão ética, política e pedagógica no ato de

ensinar-aprender.

Segundo a visão do autor:

“[...] o educador já não é mais o que apenas educa, mas o que

enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao

ser educado, também educa [...] na prática problematizadora,

vão os educandos desenvolvendo seu poder de captação do

mundo que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais

como uma realidade estática, mas como uma realidade em

transformação, em processo”.(FREIRE, 1979, p.40-41).

Desta forma, a prática da Educação Ambiental, na perspectiva que aqui

abordamos, tem como eixo estruturador a problematização dos conhecimentos.

Cabe explicitar que o caráter dialógico da problematização implica em compreender

e questionar os conhecimentos empíricos, fruto da interação dos sujeitos com a vida

cotidiana.

Uma concepção problematizadora pode abrir caminhos para a Educação

Ambiental no momento em que não parte de definições e ações prontas, mas pelo

contrário, discute-se, analisa-se, descobre-se a partir da problematização e da

interação entre os pares, proporcionados pelo trabalho coletivo, na busca de

soluções.

O saber científico contribui não só para a convivência e troca afetiva, mas,

principalmente, para resolução dos problemas.

“O conhecimento, pelo contrário exige uma presença curiosa do

sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora

14

sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em

invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada

um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece

conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o ”como” de

seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu

ato”. (FREIRE, 1983a, p.27).

Isso permite que não se definam os conceitos e problemas aos educadores e

educandos envolvidos em certa problemática, mas que estes, conscientemente

possam descobri-los e, assim, buscar a solução. O reconhecimento desta realidade

poderá abrir caminhos para que se reconstrua uma nova realidade, dotada de novas

relações e significados e desenvolvida a partir de outras racionalidades. Este

movimento dialético estabelecido entre conhecer e reconhecer, construir e

reconstruir a realidade pode ser desenvolvido em movimento ascendente, em que, a

cada passo, vão sendo descobertas relações que clarificam a compreensão de um

todo. Encaminha-se, portanto, para outros níveis: abstração, generalização e

classificação. A complexificação proporcionada pelas análises formais, conscientes e

racionais, gradativamente, garante ao educando a apreensão das teorias científicas.

“A tarefa do educador dialético é, trabalhando em equipe

interdisciplinar, este universo temático, recolhido na investigação,

devolvê-lo, como problema, não como dissertação, aos homens

de quem recebeu [...]”. (FREIRE, 1983b, p.119).

É importante observar que o caráter problematizador, maiêutico e dialógico

exige do educador um esforço maior, no sentido de estar atento às singularidades

das falas dos educandos. Essa busca pela compreensão de suas concepções e

vivências, de maneira a fornecer elementos contextuais possibilitam concretizar a

aquisição do conhecimento sistemático que a escola e o professor tanto almejam. As

contribuições de Paulo Freire nos levaram à reflexão sobre o papel da Oficina

Pedagógica, como espaço articulador e problematizador, de diferentes situações e

15

contextos, individuais ou coletivos, relacionados à Educação Ambiental, passíveis de

serem reavaliados e construídos.

A inserção do meio ambiente como um tema transversal no currículo escolar

de Ciências, impregnando a prática educativa indica a importância do tratamento

interdisciplinar, num processo onde a questão da cidadania assume um papel cada

vez mais desafiador, demandando novos saberes, para apreender questões que se

tornam cada vez mais complexas, tendo como meta reforçar seu uso pedagógico e a

sua presença em sala de aula.

O presente estudo tem a intenção de identificar de que forma a Educação

Ambiental como tema transversal, pode influenciar na qualidade do ensino de

Ciências em turmas de 5ª a 8ª série do ensino fundamental.

O tema transversal Meio Ambiente deve ser trabalhado de forma implícita nas

questões diárias de cada disciplina escolar.

A Educação Ambiental enfatiza as regularidades, e busca manter o respeito

pelos diferentes ecossistemas e culturas humanas da Terra. O dever de reconhecer

as similaridades globais, enquanto se interagem efetivamente com as

especificidades locais, é resumido no seguinte lema: Pensar globalmente, agir

localmente.

Há três níveis ou sistemas distintos de existência:

Físico: planeta físico, atmosfera, hidrosfera (águas) e litosfera (rochas e

solos), que seguem as leis da física e da química;

Biológico: a biosfera com todas as espécies da vida, que obedecem as leis

da física, química, biologia e ecologia;

Social: o mundo das máquinas e construções criadas pelo homem, governos

e economias, artes, religiões e culturas, que seguem leis da Física, da Química, da

Biologia, da Ecologia e também leis criadas pelo homem.

O material necessário para a vida (água, oxigênio, carbono, nitrogênio, etc.)

passa através de ciclos biogeoquímicos que mantêm a sua pureza e a sua

disponibilidade para os seres vivos. O ser humano está apenas começando a

planejar uma economia industrial complexa, moderna e de alta produtividade que

assegura a necessidade de reciclagem no planeta. Nos ecossistemas, os

16

organismos e o ambiente interagem promovendo trocas de materiais e energia

através das cadeias alimentares e ciclos biogeoquímicos.

“É absolutamente vital que os cidadãos de todo o mundo

insistam a favor de medidas que darão suporte ao tipo de

crescimento econômico que não traga repercussões prejudiciais

às pessoas; que não diminua de nenhuma maneira as condições

de vida e de qualidade do meio ambiente. É necessário encontrar

meios de assegurar que nenhuma nação cresça ou se

desenvolva a custa de outra nação (...) os recursos do mundo

deveriam ser utilizados de um modo que beneficiasse toda a

humanidade e proporcionasse a todos a possibilidade de um

aumento de qualidade de vida”. (Trecho da Carta de Belgrado.

In: DIAS, 1992: 65).

A capacidade de suporte para a vida humana e para a sociedade é

complexa, dinâmica e variada de acordo com a forma, segundo a qual o homem

maneja os seus recursos ambientais. Ela é definida pelo seu fator mais limitante e

pode ser melhorada ou degradada pelas atividades humanas.

A chave para o desenvolvimento é a participação, a organização, a

educação e o fortalecimento das pessoas. O desenvolvimento sustentado não é

centrado na produção, e sim nas pessoas. Deve ser apropriado não só aos

recursos e ao meio ambiente, mas também à cultura, história e sistemas sociais

do local onde ele ocorre.

“Os Parâmetros Curriculares Nacionais, produzidos com base na

LDB e lançados oficialmente em 15 de outubro de 1997,

documento que definiu como temas transversais, em função da

relevância social, urgência e universalidade: saúde, ética,

pluralidade cultural, orientação sexual e meio ambiente. (...) teve

o mérito de inserir a temática ambiental não como disciplina e de

17

abordá-la articulada às diversas áreas do conhecimento”.

(LOUREIRO, 2004, p. 83).

De acordo com os Parâmetros, o ensino da Educação Ambiental está

projetado e planejado para ocorrer desde o entendimento do significado das ações

cotidianas no local de vida, passando pela reconstrução e gestão coletiva de

alternativas de produção que minimizem e superem o quadro de degradação, até a

inserção política na sociedade como um todo, redefinindo o que se pretende por

qualidade de vida e propiciando a construção de uma ética que se possa nomear

como ecológica.

18

CAPÍTULO I:

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONTEXTO HISTÓRICO

A questão ambiental emerge como um problema significativo mundial, em

torno dos anos 70, expressando um conjunto de contradições entre o modelo

dominante de desenvolvimento econômico-industrial e a realidade socioambiental.

Essas contradições, engendradas pelo desenvolvimento técnico-científico e

pela exploração econômica, se revelaram na degradação dos ecossistemas e na

qualidade de vida das populações, levantando, inclusive, ameaças à continuidade da

vida no longo prazo. Os reflexos desse processo podem ser observados nas

múltiplas faces das crises social e ambiental e tem gerado reações sociais, em

escala mundial, e despertado a formação de uma consciência e sensibilidade novas

em torno das questões ambientais. Nacional e internacionalmente, embora de formas

diferenciadas, essa consciência ecológica cresceu e, gradualmente, foi se

materializando no seio da opinião pública, nos movimentos sociais, nos meios

científicos, nas agências e políticas públicas, nos veículos de comunicação social,

nos organismos e bancos internacionais, nas organizações não-governamentais e

nas iniciativas empresariais, entre outros. Viola e Leis (1991) analisam, com clareza,

a evolução do movimento e consciência ambientalista mundial e brasileiro.

Constatam que o movimento no Brasil, iniciado a partir de minorias de cientistas e

militantes ambientalistas, organizados em torno da denúncia de agressões e da

defesa dos ecossistemas, foi gradualmente se ampliando, conquistando novos

espaços, até ganhar a feição multissetorial que hoje o caracteriza. Do ponto de vista

das preocupações e temáticas orientadoras, expandiu-se o foco de atenção, para

incluir questões como a ecologia política, a questão demográfica, a relação entre

desigualdade social e degradação ambiental, a questão ética, as relações norte-sul e

a busca de um novo modelo de desenvolvimento.

O debate sobre a relação entre educação e meio ambiente se desenvolve no

contexto de problematização da própria crise ambiental e se institucionaliza através

da iniciativa da Organização das Nações Unidas - ONU, e de seus países membros,

19

que promoveram os primeiros encontros internacionais para discutir, estabelecer

diretrizes, normas e objetivos para o problema. Carvalho (1991) observa o debate

ecológico dos anos 70, como uma disputa de forças em busca de afirmar uma

determinada interpretação do problema socioambiental e, apresenta o discurso

ecológico oficial - aquele produzido pelos organismos governamentais nacionais ou

internacionais - como um esforço para instituir, mundialmente, uma interpretação da

crise ecológica que se torne “a verdade”, o consenso mundial sobre o assunto.

Assim, a abordagem da educação para o meio ambiente aparece

primeiramente em 1972, na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente

Humano, realizada em Estocolmo, Suécia. A Recomendação 96, da Declaração de

Estocolmo, indicava a necessidade de realizar uma Educação Ambiental, como

instrumento estratégico na busca da melhoria da qualidade de vida e na construção

do desenvolvimento (REIGOTA, 1995; GRÜN, 1996).

Em 1975, a UNESCO, seguindo as recomendações da Conferência de

Estocolmo, promove o Encontro de Belgrado, Iugoslávia, onde foram formulados

alguns princípios básicos para um programa de Educação Ambiental. Dois anos

depois, em 1977, novamente a UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente - PNUMA promovem, em Tbilisi, Geórgia, ex-URSS, a primeira

Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental. Este encontro tem sido

considerado um dos eventos decisivos nos rumos que a educação ambiental vem

tomando, sobretudo porque figura como marco conceitual no novo campo. Nesta

Conferência foram elaborados os objetivos, princípios, estratégias e recomendações

para a Educação Ambiental. Entre os resultados da reunião emergiram critérios

orientadores para o desenvolvimento da proposta que sugerem que a educação

deve:

a) ser atividade contínua, acompanhando o cidadão em todas as fases de sua vida;

b) ter caráter interdisciplinar, integrando o conhecimento de diferentes áreas;

c) ter um perfil pluridimensional, associando os aspectos econômicos, político,

cultural, social e ecológico da questão ambiental;

d) ser voltada para a participação social e para a solução dos problemas ambientais;

e) visar a mudança de valores, atitudes e comportamentos sociais (Dias, 1994).

20

Em 1987, uma nova Conferência Internacional foi promovida em Moscou, pela

UNESCO e PNUMA, com o intuito de avaliar os resultados desenvolvidos durante a

década e traçar uma estratégia internacional de ação em Educação Ambiental para a

década de 1990. Neste mesmo ano, foi publicado o Relatório “Nosso Futuro

Comum”, elaborado pela Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento - CNUMAD, criada pela ONU e presidida pela, então primeira-

ministra da Noruega, Gro Harlem Bruntland. O Relatório Bruntland, como também

ficou conhecido, a despeito de seus pontos polêmicos, revela uma nova perspectiva

de abordar a questão ambiental colocando-a como problema planetário, indissociável

do processo de desenvolvimento econômico e social. Apresenta o conceito de

desenvolvimento sustentável, que articula princípios de justiça social, viabilidade

econômica e prudência ecológica, como palavra de ordem e meta prioritária a ser, a

partir de então perseguida. No interior da nova estratégia de sustentabilidade é

destacada a importância da Educação Ambiental como alavanca indispensável de

sua construção (Reigota, 1994). Um dos últimos e significativos documentos

internacionais norteadores da educação para o ambiente é o “Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, elaborado pelo

Grupo de Trabalho das Organizações Não-Governamentais - ONGs, durante à

Conferência da Sociedade Civil sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

simultaneamente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992. Esse documento, produzido pelas

ONGs, enquanto representantes da sociedade civil organizada, apresenta um

discurso mais avançado e independente e, tem sido usado como uma das principais

referências éticopolíticas e teóricas pelos estudiosos da questão.

De um modo geral, esse conjunto de documentos oficiais é aceito como

referências neutras e legítimas e utilizado de uma forma, relativamente, acrítica por

grande número de agentes sociais envolvidos com a questão ambiental. No entanto

há, também, diversos estudiosos que os analisam, criticamente, chamando atenção

para suas contradições (nem sempre aparentes) suas omissões e principais matrizes

ideológicas.

21

Novaes comparando as propostas da Conferência de Tbilisi, em 1977, com

aquelas do Fórum das ONGs e Movimentos Sociais, de 1992 - Tratado de Educação

Ambiental para as Sociedades Sustentáveis - conclui que, embora as referências

básicas de Tbilisi tenham sido mantidas, alguns avanços importantes merecem

registro. Destaca, em primeiro lugar, a incorporação de elementos da educação

popular que, aprofundam as questões sócio-políticas no interior da proposta de

Educação Ambiental. Ressalta, também, um reforço nas críticas ao modelo de

desenvolvimento capitalista que, se expressa na substituição do conceito de

desenvolvimento sustentável pelo de sociedade sustentável. Com relação à

diferenciação desses conceitos, Diegues (1992) esclarece que o conceito de

sociedade sustentável permite a cada sociedade definir seus modelos de produção,

consumo e bem-estar a partir de sua cultura, de sua história e de seu ambiente

natural, abandonando a transposição imitativa de soluções padronizadas para

contextos e realidades bastante diferenciadas. Ainda, segundo Novaes (1993), as

propostas do Fórum Global avançam na ênfase à dimensão da participação social e

da cidadania e, portanto no fortalecimento político da sociedade civil na construção

da sustentabilidade social.

Brugger (1994) analisando propostas oficiais no documento “Estratégia

Internacional de Ação em Matéria de Educação e Formação Ambientais para o

decênio de 1990”, do PNUMA/UNESCO aponta sua tônica, de predomínio técnico e

naturalizante em detrimento dos aspectos éticos e políticos da questão ambiental.

Segundo essa autora o conteúdo do documento revela uma tendência a uma

educação adestradora que define como “uma instrução de caráter, essencialmente

técnico, fruto de uma visão de mundo cientificista e unidimensional”.

(Brugger,1994,p.14) E mais adiante esclarece: “é possível hoje, mais do que nunca,

ocultar sob a fachada de um saber “técnico” uma decisão na verdade política. Da

mesma forma, o universo da locução técnica serve para reproduzir e legitimar o

status quo e repelir outras alternativas que porventura se coloquem contra ele”

(Brugger, 1994, p.80). Carvalho (1991), por sua vez, desenvolve uma crítica mais

detalhada sobre as principais expressões do discurso ecológico oficial, definido como

aquele produzido pelas instituições governamentais nacionais e internacionais com

22

intenção de regular e disciplinar as práticas ecológicas. Para ela, o discurso oficial

pretende conciliar a preservação ambiental com o desenvolvimento industrial, dentro

de um modelo capitalista. Nessa ótica, os órgãos oficiais se esforçam para instituir

uma interpretação da questão ambiental que possa aparecer como “a verdade” sobre

o tema, apresentada como um consenso mundial. A partir da Conferência de

Estocolmo, em 1972, criaram-se no âmbito das Nações Unidas mecanismos

centralizados de disciplinamento e controle dos problemas ambientais que, por um

lado, apresentavam a “leitura correta” do problema e, por outro lado, “sugeriam” a

direção de sua abordagem e solução. Esses mecanismos, que demarcam as

referências da questão ambiental, são fundados numa perspectiva liberal e nos

valores da sociedade industrial.

Com relação às orientações de Tbilisi, Carvalho (1991) também observa o

predomínio de uma visão liberal de sociedade onde a mudança socioambiental e o

futuro dependem das esferas individual e comportamental. Para ela, mesmo quando

esse discurso faz referência à cidadania e à participação social o faz delimitando-as

num molde comportado, formal e planejado como se fora parte de uma estratégia

normativa e disciplinadora de abordar o problema. Portanto, embora tenha forte

conotação política, ao definir o que, para que e como deve ser tratada a relação

entre educação e questão ambiental aparece como um discurso técnico e neutro,

sobre o qual não cabem questionamentos e discussões.

Já no tocante ao conceito de desenvolvimento sustentável veiculado pelo

Relatório Bruntland, Carvalho (1991), embora reconheça sua maior elaboração,

observa seus limites dentro de uma concepção liberal, que evita os conflitos e que,

em última instância, busca garantir a manutenção da ordem estabelecida. Ou seja,

embora apresente um novo conceito de desenvolvimento, construído a partir da

crítica do modelo em esgotamento, não altera, fundamentalmente, o sentido da

dominação na ordem internacional. Esse mesmo conceito de desenvolvimento

sustentável tem sido alvo de críticas diversas, devido às suas ambigüidades,

indefinições e contradições, à ênfase economicista e desenvolvimentista, à ausência

de uma perspectiva espacial e de classes sociais em seu interior, à não explicitação

de como conciliar preservação e crescimento no contexto do capitalismo e à

23

possibilidade de ser apenas uma nova cara para uma fórmula velha e já esgotada

(Herculano, 1992; Rodrigues, 1996; Brugger, 1994; Stahel, 1995; Lima, 1997;

Santos, 1996).

A primeira constatação relevante na análise da relação entre educação e meio

ambiente é a de que não há “uma” educação para o ambiente, mas múltiplas

propostas, proporcionais, em número e, variedade, às tantas concepções de mundo,

de sociedade, e de questão ambiental existentes.

1.1. As propostas educacionais com relação à Educação

Ambiental

Sorrentino (1995) fazendo um esforço de classificar as principais correntes de

Educação Ambiental define-as como:

a) conservacionista;

b) educação ao ar livre;

c) gestão ambiental;

d) economia ecológica.

A corrente conservacionista, bastante presente nos países do norte, mas

também no Brasil, se organiza em torno da preocupação de preservar os recursos

naturais intocados, protegendo a flora e a fauna do contato humano e da

degradação.

O grupo da educação ao ar livre formado por naturalistas, espeleólogos,

escoteiros, alpinistas e educadores defendem as caminhadas ecológicas, o

ecoturismo, e o autoconhecimento em contato com a natureza.

A terceira categoria, da gestão ambiental, tem grande interesse político,

participa de movimentos sociais, da defesa dos recursos naturais e da participação

das populações na resolução de seus problemas. São críticos do sistema capitalista

e do caráter predatório de sua lógica. Teve atuação importante durante o período

autoritário no Brasil e ainda hoje é atuante.

24

A corrente da economia ecológica inspira-se no conceito de

ecodesenvolvimento, formulado por Ignacy Sachs, e é usada como modelo teórico-

metodológico por diversos organismos e bancos internacionais, como o PNUMA, o

WWF, a FAO, a UNESCO e o BIRD.

Comungam dessas idéias também diversas organizações não-governamentais

- ONGs e associações ambientalistas. Segundo Sorrentino (1995) essa última

vertente desdobra-se em duas outras:

1) os defensores do desenvolvimento sustentável que reúne empresários,

governantes e algumas ONGs, e

2) os defensores das sociedades sustentáveis, que se opõe ao atual modelo de

desenvolvimento e ao grupo “1”, anteriormente citado, por considerá-lo adepto do

status quo, embora com aparência reciclada.

Leonardi (1997), complementando Sorrentino (1995), observa que as diversas

interpretações da Educação Ambiental podem ser sintetizadas em quatro tipos de

objetivos, a saber: objetivos biológicos ou conservacionistas; objetivos

culturais/espirituais que buscam o autoconhecimento e o conhecimento do universo;

objetivos políticos que visam a democracia, participação social e a cidadania e os

objetivos econômicos que defendem o trabalho libertador, a autogestão e as metas

políticas acima citadas.

Brugger (1994), por sua vez, reconhece a diversidade de abordagens da

questão ambiental na educação. Contudo, devido à forma de organização do

conhecimento na sociedade distingue duas tendências gerais:

a) as propostas educacionais oferecidas pelas ciências humanas, onde os fatores

históricos e sociais são ressaltados, em detrimento dos aspectos técnicos e

naturais da questão ambiental. Tal tendência estaria mais ligada ao ensino formal

e, especialmente aos níveis de graduação e pós-graduação.

b) a outra tendência geral concentra sua abordagem, quase que exclusivamente,

sob os aspectos técnicos e naturais dos problemas ambientais. Essa tendência,

onde se destacam os temas ecológicos, tem, segundo a autora, prevalecido

sobre a tendência anterior.

25

Ela atribui essa prevalência à histórica fragmentação do saber, que divide as

ciências sociais e naturais e à dimensão instrumental do conhecimento

institucionalizado pela sociedade industrial. Explica ainda que, embora se possa falar

em tendências gerais, o campo da Educação Ambiental é bastante diversificado,

havendo um continuum que varia de uma extremidade à outra e, também a

possibilidade de encontrar trabalhos que não se encaixam em nenhuma destas

tendências.

Grün (1996), Penteado (1994) e Reigota (1994) entre outros, concordam que

subsiste o predomínio de uma perspectiva biológica nas propostas de educação para

o ambiente e alertam para os prejuízos desse reducionismo. Analisando essa

inclinação, Grün pondera que:

“ao confinar a Educação Ambiental quase exclusivamente ao

ensino de Biologia acaba por reduzir a abordagem

necessariamente complexa, multifacetada, ética e política das

questões ambientais aos seus aspectos biológicos”. (GRÜN,

1996, p. 105).

Carvalho (1995) é outra autora que discute as tendências das propostas

educacionais para o ambiente postas em prática no Brasil, ressaltando suas

respectivas concepções pedagógicas, filosóficas e políticas. Entende que, tanto o

discurso, quanto a prática dominante de Educação Ambiental no Brasil são marcados

por características conservacionistas, individualistas e comportamentalistas.

Segundo ela, concepções dessa natureza reduzem a questão ambiental a uma

questão exclusiva de sustentabilidade física/biológica, de gestão dos recursos

naturais, que esquecem a sustentabilidade política dos recursos naturais, em seu

entender o ponto central do problema. Em suas palavras:

“Além da sustentabilidade física, e mesmo constitutiva desta,

está a sustentabilidade política que poderia ser descrita pelas

relações de força que resultam numa gestão democrática que

26

não exclua grupos sociais do acesso aos bens ambientais,

compreendidos como os bens materiais e simbólicos sobre os

quais suas vidas estão construídas” (CARVALHO, 1995, p.60).

Com base nessa compreensão reducionista, essas propostas pretendem

reverter os processos de degradação apenas através da mudança de

comportamentos individuais que reforcem a conservação do ambiente. A própria

Carvalho (1991), em outro estudo de sua autoria, defende que novos valores não são

construídos, exclusivamente, através de programas educativos, mas nas práticas e

no cotidiano da vida social. A outra tendência possível, a qual a autora se filia, situa

“a Educação Ambiental dentro de uma matriz que considera as relações sociais e

ambientais sob o primado da política”. Nesse sentido, defende uma Educação

Ambiental articulada com os movimentos sociais comprometida com a democracia, a

participação social e a cidadania. Considera que o caráter reducionista da vertente

anterior perde muito de sua capacidade de transformar a realidade, ao restringir a

questão ambiental à esfera privada não a integrando à esfera pública, território dos

direitos de cidadania. Para a autora:

“a Educação Ambiental pode ser uma prática de ação política

que interpele a sociedade, problematizando a degradação das

condições ambientais e das condições de vida como processos

intrinsecamente articulados.” (CARVALHO, 1995, p.61).

1.2. A legislação sobre Educação Ambiental

O surgimento e desenvolvimento da Educação Ambiental como método de

ensino está diretamente relacionado ao movimento ambientalista, pois é fruto da

conscientização da problemática ambiental. A ecologia como ciência global trouxe a

preocupação com os problemas ambientais, surgindo a necessidade de se educar no

sentido de preservar o meio ambiente.

27

Segundo informa Genebaldo Freire Dias (1998), a expressão environmental

education foi ouvida pela primeira vez em 1965, na Grã-Bretanha, por ocasião da

Conferência em Educação, realizada em Keele, quando se chegou a conclusão de

que a Educação Ambiental deveria se tornar parte essencial da educação de todos

os cidadãos e que posteriormente, em 1970, os Estados Unidos aprovaram a

primeira lei sobre Educação Ambiental (Educação Ambiental – Princípios e Práticas.

Ed. Gaia, 4ª ed., 1992, p. 35 e 36). A Educação Ambiental pode ser considerada

como tendo seus primórdios também no Programa Internacional da UNESCO sobre

o Homem e a Biosfera MAB (Man and Biosphere) de 1971, que lançou as bases

científicas para a utilização de recursos naturais, introduzindo a importância da

Biosfera e em seguida pelo Clube de Roma, de 1972, quando foi apresentado o

diagnóstico dos problemas globais, promovendo a conscientização do problema e

apresentando ainda alternativas para solução.

Na Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano (The United Nations

Conference on the Human Environment) realizada de 5 a 16 de junho de 1972, em

Estolcomo, Suécia, surgiu em âmbito mundial a preocupação com os problemas

ambientais, reconhecendo-se a necessidade do desenvolvimento de uma Educação

Ambiental, recomendando-se o estabelecimento de programas neste sentido. Dessa

forma, surgiu a Educação Ambiental como uma nova ciência preocupada

principalmente em apresentar soluções aos problemas ambientais mundiais.

Já, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental de Tbilisi,

Rússia, 1977, reconheceu em âmbito mundial a necessidade de desenvolver

programas ambientais. Para isso apresentou 41 recomendações com as diretrizes

necessárias, as quais mostram a importância de se conhecer a interdependência dos

fatores econômicos, sociais, políticos e ecológicos e necessidade de se conscientizar

todos os segmentos da sociedade, para que agindo em conjunto, possam elaborar

planos de ação em busca de soluções globais para a problemática ambiental.

Entre as recomendações está que a Educação Ambiental é um método de

formação eficaz de integracionistas, isto é, de estudiosos que tem enfoque

pluridisciplinar, os quais com esta formação holística servem como integradores

entre os generalistas e especialistas, formando importante elo de interação de várias

28

ciências em prol do desenvolvimento. Por sua vez a Conferência das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, (United Nation Conference on

Environment and Development –UNCED ) a Rio 92, em sua Agenda 21, capítulo 36,

reforçou as recomendações de Tbilisi, propondo entre outras medidas a promoção

do ensino, da conscientização e do treinamento. Nesta conferência foi proposta a

reorganização do ensino e a Educação Ambiental foi incorporada definitivamente

como processo indispensável no caminho do desenvolvimento sustentável

preconizado pela Agenda 21, uma agenda de diretrizes para o século 21.

Porém, as soluções esperadas só poderão ser conseguidas se houver

programas ambientais desenvolvidos com toda a seriedade e técnicas exigidas ao

fim que se pretende. Assim, os programas ambientais foram incorporados no novo

processo desenvolvimentista, tornando-se de suma importância nas soluções dos

problemas ambientais e na melhoria da qualidade de vida, sendo verdadeiros

mecanismos de trabalho que podem e devem ser utilizados e desenvolvidos por

todos os segmentos da sociedade. Podem ser setoriais, regionais ou de âmbito

nacional, ou até mesmo internacional, mas, qualquer que seja sua abrangência,

deverão ter um desenvolvimento alicerçado em conhecimentos técnicos ambientais,

sociais, econômicos etc., já que a questão da Educação Ambiental envolve

praticamente todo o conhecimento humano.

Apesar de não ser um documento jurídico na sua maior expressão, a Agenda

21 é sem sombra de dúvida o mais importante documento a dar base às legislações

dos países ligados à ONU, pois ali estão as recomendações e os princípios

necessários à implantação de leis que refletem os anseios mundiais sobre a matéria,

e seu Capítulo 36 é todo dedicado à Educação Ambiental.

Constituição Federal:

Em termos jurídicos propriamente ditos, o parágrafo 1º, VI, do art. 255 da

Constituição Federal Brasileira, determina ao Poder Público a promoção da

Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. Mas, apesar desta previsão

constitucional, bem como o fato da Educação Ambiental já ser reconhecida

mundialmente como ciência educacional e também recomendada pela UNESCO e a

Agenda 21, pouco era feito no Brasil para a sua implantação concreta no ensino. O

29

que existia era fruto dos esforços de alguns abnegados professores e educadores,

não havendo a atenção que merece o tema pelo Poder Público e as entidades

particulares de ensino.

Lei 9.795, de 27/4/99:

A Lei 9.795, de 27/4/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a

Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Com a

publicação dessa lei, a questão tomou força, pois a implantação e aplicação da

Educação Ambiental como disciplina passou a ser obrigatória. A citada lei define

juridicamente Educação Ambiental, como:

“o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes

e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,

bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida

e sua sustentabilidade” (art.1º).

A Política Nacional do Meio Ambiente (art. 6º) foi instituída definindo seus

objetivos fundamentais como, por exemplo, o desenvolvimento de uma compreensão

integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo

aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos,

culturais e éticos, bem como o incentivo à participação individual e coletiva,

permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,

entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como o valor inseparável do

exercício da cidadania (art.5º). O interessante na nova legislação é que esta

reconheceu a Educação Ambiental como componente essencial e permanente da

educação nacional, distinguindo juntamente com o seu caráter formal, o caráter não-

formal. Ou seja, a Educação Ambiental não oficial, que já vinha sendo praticada por

educadores, pessoas de várias áreas de atividades e mesmo entidades obrigaram o

poder público em todas as suas esferas a incentivá-la. (art. 3º e 13º).

A referida lei determinou ainda que os Estados, Distrito Federal e Municípios,

na esfera de sua competência e áreas de sua jurisdição, definam diretrizes, normas e

30

critérios para a Educação Ambiental dentro das diretrizes da Política Nacional de

Educação Ambiental (art.16º). Isto quer dizer que estes entes públicos devem

implementar suas políticas de Educação Ambiental, através de leis locais e

programas.

Além de ser um processo educacional das questões ambientais, esta nova

disciplina alcança também os problemas socioeconômicos, políticos, culturais e

históricos pela interação de uma forma ou de outra destes campos com o meio

ambiente. Sua aplicação tem a extensão de auxiliar na formação da cidadania, de

maneira que extrapola o aprendizado tradicional, fomentando o crescimento do

cidadão e conseqüentemente da Nação. Aliás, como foi reconhecido pela nova lei,

daí a sua importância. Ademais, pela sua plenitude e abrangência, um programa de

Educação Ambiental incrementa a participação comunitária conscientizando todos os

participantes, professores, alunos e a comunidade estudada, ante a interação

necessária para o seu desenvolvimento.

Assim, em vista do desenvolvimento desta nova ciência e do disposto na Lei

9.795/99 é necessário rever e reestruturar os programas educacionais, incluindo na

educação formal entre outros os estudos da problemática ambiental, ensinando os

alunos os conceitos básicos de história natural, biologia, principalmente, e, ainda, o

entendimento correto e profundo dos ecossistemas terrestres e aquáticos, propondo-

se finalmente soluções concretas.

Portanto, o Poder Público, as empresas, os educadores, professores, alunos e

a sociedade como um todo, devem estar conscientes da necessidade de uma

implantação efetiva da Educação Ambiental como matéria no processo educacional

moderno público e privado e exigir dos órgãos competentes a aplicação da nova

legislação, bem como incentivar a Educação Ambiental não-formal, pois só assim

poderemos conseguir desenvolver uma sociedade sadia e coerente com os

princípios básicos de preservação do meio ambiente. Além da obrigatoriedade da

nova disciplina nos cursos no Brasil, como dito, há a obrigatoriedade do Poder

Público implementar a Educação Ambiental à população, o que deverá ser feito

através de diversos programas. Daí a importância de serem estudadas sistemáticas

e organogramas neste sentido. Mas, para criar e desenvolver um programa de

31

Educação Ambiental deve-se planejá-lo e executá-lo de forma mais criteriosa e

concreta possível, observando as seguintes etapas: 1ª etapa - avaliação da realidade

ambiental; 2ª etapa - identificação do público; 3ª etapa - identificação da mensagem;

4ª - seleção de uma estratégica educativa e 5ª etapa – avaliação, conforme expõem

David S. Wood e Diane Walton Wood no trabalho “Como Planificar um Programa de

Educacion Ambiental” (IIED-Instituto Internacional para el Medio Ambiente y

Desarrollo. El Servicio de Pesca y Vida Silvestre de los Estados Unidos).

É importante ressaltar, no entanto, que cada comunidade tem suas

necessidades e estas refletem no ambiente de maneira que estas necessidades

básicas devem ser conhecidas para que seja possível a aplicação adequada de um

programa, bem como, é preciso conhecer também os anseios da sociedade

estudada, para que se possa também saber o que é pretendido em um futuro

próximo e em longo prazo, para que programas mais consistentes sejam preparados.

32

CAPÍTULO II

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE CIÊNCIAS

No ensino de Ciências a questão ambiental deve ser enfocada a partir de uma

abordagem transdisciplinar.

O movimento de renovação do ensino de Ciências chega ao Brasil em meio a

uma série de experiências inovadoras que atingem o ensino secundário. Segundo

Maria Luisa Ribeiro & Míriam Warde (1995), tais experiências surgem de uma

insatisfação com a educação dualista ministrada em nosso país - que destinava um

ensino propedêutico às elites versus um ensino profissional para o restante da

população que crescentemente chegava à escola - e retomam os intensos debates

educacionais dos anos de 1930, os quais foram interrompidos com a instauração do

Estado Novo. Nesse novo momento, para essas autoras,

“A via tomada foi a de abrir a escola para questões mais ligadas

à vida (como forma de romper com o academicismo vigente),

permitir maior participação do aluno (como forma de superar o

verbalismo professoral), buscar maior integração entre as

matérias (como forma de ultrapassar a fragmentação do

conhecimento) e, em síntese, instalar os métodos ativos”

(RIBEIRO & WARDE, 1995, p. 214).

Não é por acaso, portanto, que encontramos no movimento de renovação do

ensino de Ciências uma forte opção por métodos ativos de ensino. Segundo Myriam

Krasilchik (1995, p. 177), esse movimento ligado às disciplinas escolares em

Ciências teve início em nosso país ainda nos anos de 1950, com o trabalho

desenvolvido na seção de São Paulo do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e

Cultura - IBECC -, voltado para “atualizar os conteúdos então ensinados nas escolas

secundárias, e tornar o ensino prático”. Muitos autores, entretanto, situam nos anos

de 1960 o surgimento de um movimento de renovação do ensino de Ciências mais

33

amplo. Afinal, foi somente após o lançamento do satélite artificial soviético Sputnik 1

em 1957 que os Estados Unidos e a Inglaterra começaram a organizar centros e

comitês nacionais para a produção de materiais didáticos e a financiar projetos em

países da América Latina (Barra & Lorenz, 1986). Nesse momento, as desvantagens

tecnológicas foram compreendidas, em parte, como decorrentes de uma educação

deficitária em ciências (Chassot, 2004). Dessa explicação resultaram crescentes

investimentos no ensino de Ciências, os quais atingiram tanto os dois países

anteriormente citados quanto diversos outros membros do bloco capitalista.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, a associação de cientistas, educadores e

professores em centros e comitês resultou, entre outros materiais, na produção de

coleções de livros didáticos para o atual Ensino Médio. Nos anos de 1960, essas

coleções foram traduzidas e adaptadas em nosso país pelo IBECC, sendo

publicadas por meio de um convênio com a Universidade de Brasília. Esse esforço

foi viabilizado, em primeiro lugar, pela Fundação Ford - que financiou o trabalho do

instituto - e, em segundo lugar, pela United States Agency for International

Development - USAID - que, de acordo com Barra & Lorenz (1986), se comprometeu

a financiar os primeiros 36.000 exemplares publicados. No caso específico da

disciplina escolar Ciências, nesse mesmo período o IBECC produziu um material

brasileiro - o projeto Iniciação à Ciência - que, segundo Krasilchik (1995, p. 186),

divergia dos materiais estrangeiros ao inserir as atividades práticas no próprio corpo

do texto, “fazendo parte de um conjunto que tornava obrigatória a execução das

experiências”. De acordo com essa autora, originalmente o material constava de uma

introdução - a qual os estudantes tinham a oportunidade de vivenciar algumas

etapas do método científico - e de unidades curriculares a serem organizadas pelos

próprios professores. Posteriormente, em função das dificuldades docentes na

organização dos conteúdos de ensino, bem como dos problemas advindos da

comercialização do referido material em fascículos, o “Iniciação à Ciência” foi

transformado em livro didático. Ainda segundo Krasilchik (1995), em ambos os

formatos do projeto a importância conferida à experimentação fez com que seus

idealizadores optassem pelo uso de materiais simples, que pudessem ser facilmente

encontrados pelos diversos professores.

34

O conjunto dos autores anteriormente citados - Barra & Lorenz (1986),

Krasilchik (1995) e Chassot (2004) - claramente percebe o contexto internacional

pós-Sputnik como o grande influenciador do movimento de renovação do ensino de

Ciências brasileiro. Seus trabalhos, entretanto, pouco analisam o referido movimento

no contexto das renovações educacionais que, simultaneamente, ocorriam no país.

Goodson (1996 e 1997) compreende que as influências do movimento de renovação

do ensino de Ciências internacional puderam penetrar mais fortemente no contexto

brasileiro porque seu ideário possuía afinidades com esse movimento de renovação

educacional mais amplo.

Como já anteriormente explicitado, as primeiras medidas educacionais

inovadoras ocorridas no Brasil ao final dos anos de 1950 foram impulsionadas pelos

debates em torno da dualidade de nosso sistema escolar. De acordo com Ribeiro &

Warde (1995), embora a Lei de Diretrizes e Bases promulgada no ano de 1964 tenha

conferido uma maior flexibilidade curricular aos diversos graus e ramos de ensino,

permitindo tanto a transferência de um ramo para outro quanto a correspondência

entre eles para o ingresso no ensino superior, não foi capaz de modificar

substancialmente o cenário educacional do país. As experiências inovadoras

surgiram, portanto, em meio a essa dualidade entre ensino propedêutico versus

ensino profissional, tendo se desenvolvido basicamente no ramo secundário do nível

Médio e ficando restritas, em grande parte, ao segundo segmento do ensino

fundamental. Do mesmo modo, em alguns colégios, as experiências inovadoras

trazidas pelo movimento de renovação do ensino de Ciências parecem ter atingido

preferencialmente a disciplina escolar Ciências, que ocupava a grade do segundo

segmento do ensino fundamental e igualmente reunia as melhores condições

institucionais para o surgimento de determinadas mudanças curriculares.

O conceito de Educação Ambiental varia muito em função do contexto em que

está inserido. Isso ocorre não só temporalmente, acompanhando as transformações

da sociedade e dos contextos informacionais que fundamentam a sua teoria e sua

prática, mas também varia de acordo com o lugar de onde é pronunciado. Portanto, a

instituição que pratica a Educação Ambiental, assim como todos os envolvidos

(professores, alunos, comunidade) e até mesmo o segmento social que a executa,

35

são determinantes na condução da prática e nas suas variadas versões.

Muitos autores tratam da prática da Educação Ambiental. Sorrentino (1995)

expressa a diversidade de orientações que guiam as distintas práticas de Educação

Ambiental. Para o autor, estaríamos vivenciando um quadro de divergências

conceituais que seriam produtoras de várias “educações ambientais” distintas entre

si. Reigota (1995) corrobora esta observação e salienta que estas variações ocorrem

também entre os distintos países, sendo que para a América Latina há uma versão

característica. Analisando a Educação Ambiental no Brasil, Maciel (1994), tentou

esboçar um diagnóstico geral de sua situação e evidenciando que haveria certas

divergências conceituais, as mesmas às quais se referia Sorrentino (1995) e que

estariam sendo refletidas na ambigüidade das inserções institucionais em que a

Educação Ambiental está subordinada. Ela encontra-se remetida tanto a órgãos de

educação, quanto a órgãos de meio ambiente, sendo ainda pouco comuns atividades

em conjunto, e o pior com linhas de atuação completamente diferentes. A

conseqüência negativa deste quadro consiste nos comuns impasses e conflitos entre

tais propostas. Por outro lado, há distinções claras quanto à introdução da atividade

de Educação Ambiental que ora aparece como tema transversal, ora como disciplina

obrigatória, e ainda um terceiro momento que diz respeito à Educação Ambiental em

comunidades onde não se estabelece o tipo de abordagem que deve ser

evidenciado. Vista dessa maneira, parece que se diz a mesma coisa por caminhos

diferentes, porém, estes podem ser, de fato, projetos distintos, mas que utilizam a

Educação Ambiental como meio de acesso para se falar de algo diferente entre si.

Para Krasilshik (1997), a Educação Ambiental foi incorporada ao ensino de

Ciências, mas o contrário também sucedeu. Para a autora, que estudou a evolução

do ensino de Ciências e Biologia no Brasil, a questão ambiental passou a ser um

eixo temático destas disciplinas, pois ambas acompanhavam as transformações da

sociedade mundial que nos anos 80 começava a alertar-se sobre a crise energética e

ecológica. A autora comenta:

“As agressões ao ambiente, decorrentes do desenvolvimento

industrial desenfreado, resultaram em contrapartida, no

36

recrudescimento do interesse pela educação ambiental e na

agregação de mais um grande objetivo ao ensino de Ciências: o

de fazer com que os alunos discutissem também as implicações

sociais do desenvolvimento científico. Este objetivo passou a

constituir a nova ênfase dos projetos curriculares, evidenciando a

influência dos problemas sociais que exacerbaram na década de

70 e determinaram um novo momento na expansão das metas

do ensino de Ciências” (KRASILSHIK. 1997, p.17).

Do ponto de vista do ensino de Ciências e Biologia, a Educação Ambiental foi

vista neste período como um importante divisor de águas, obrigando os professores

a reverem os seus objetivos principais, que eram de introduzir uma formação

científica básica. Com todos os questionamentos da época, final dos anos 70 e toda

a década de 80, o surgimento da Educação Ambiental passa a ser tema

fundamental, tornando-se um conteúdo e uma meta que deviam ser incluídos na

programação do currículo obrigatório. No entanto esta nova modalidade apresentava

uma abordagem diferente: visava interpretar e discutir o conhecimento científico e

questionava uma formação exclusivamente científica, preocupando-se muito mais

com a resolução de problemas ambientais concretos e inserindo uma dimensão

política no ensino de Ciências. Esta politização do ensino de Ciências e Biologia é

um dos logros iniciais da Educação Ambiental.

Por outro lado, a Educação Ambiental surge e se insere num contexto mundial

de transformações. O Brasil da década de 80 passava pela chamada transição

democrática e várias reformas estavam sendo propostas pela ditadura que não

conseguia mais se sustentar. A reforma educacional desta época é muito bem

explicada por Krasilchik (1997) e que evidencia as mudanças nos objetivos e metas

do ensino de Ciências e Biologia.

Enfim, uma das tendências da Educação Ambiental, são as suas raízes e

meandros que desenha por entre os parâmetros curriculares de Ciências e Biologia,

buscando ora uma inserção disciplinar, ora uma inserção transversal. Esta

37

ambigüidade deve se desenvolver e acentuar-se até que se possam diferenciar estas

áreas híbridas, tanto na teoria como nas práticas de ensino, sobretudo o formal.

Ao fazer uma análise das práticas de Educação Ambiental no Estado do Rio

de Janeiro (cf. Sánchez, 1995), é possível constatar mesmo na década de 1990, uma

forte tendência neste sentido. As práticas de Educação Ambiental no ensino de

Ciências foram detectadas pelos autores como algumas das principais áreas de

atuação dos educadores ambientais fluminenses.

Crespo (1999 apud Muniz, 1999) estudou as principais tendências da

Educação Ambiental, sistematizando-as e organizando-as segundo os critérios de

enfoque, abordagem e correntes de pensamento. Para a autora os enfoques podem

ser dados tanto aos problemas globais ou planetários, ou em problemas locais. Os

primeiros remetem a uma responsabilidade global dos países, grupos e indivíduos, já

os segundos, às responsabilidades destes atores sobre problemas locais que afetam

comunidades.

No que concerne às abordagens, podem ser destacadas as conservacionistas,

onde são levadas em consideração os impactos humanos sobre a natureza, e as

socioambientais, onde os conteúdos abordados destacam o entendimento da relação

sociedade natureza e a busca da sustentabilidade.

Já as correntes de pensamento na Educação Ambiental diferenciam-se em

comportamentalista, onde são privilegiados resultados mais imediatos não

provocando uma discussão mais aprofundada. Neste caso, a Educação Ambiental

funciona como um indutor da mudança de comportamento, e está baseada em uma

racionalidade tecno-científica como capaz de gerar mudanças de comportamento.

Para Muniz (1999) este tipo está mais presente em escolas e projetos

governamentais.

A segunda corrente de pensamento é o ambientalismo ideológico ou

ecologismo e segundo Muniz (op.cit), é aquela que:

“Tem por objetivo mudanças profundas na visão de mundo,

assumindo a Educação Ambiental como uma nova matriz para a

educação. Educação política ou orientada para uma nova

38

sensibilidade se liga a idéia de pensamento sistêmico ou

holístico, não privilegiando a razão. Tem como meta a

construção de uma nova sociedade baseada em novos valores,

transformando a relação do homem com o meio ambiente”

(p.89).

Muniz utilizou este quadro de projeção de tendências para analisar as

diferentes concepções sobre meio ambiente e seus significados na Educação

Ambiental, e através de leituras de conferências, cartilhas e documentos oficiais, e

utilizando-se do referencial teórico das representações sociais, elaborou um rico

trabalho sobre os principais eixos da Educação Ambiental. Para a autora:

“Observa-se ainda ser a Educação Ambiental constituída por dois

aspectos: um instrumental relacionado às informações e

conhecimentos necessários à compreensão da questão

ambiental; outro ético e político, relacionado à transformação

social, através de uma mudança de atitudes orientada por um

novo conjunto de valores sociais”. (MUNIZ, 1999, p.121).

Enfim pode-se dizer que há diferentes quadros de tendências que englobam

as várias faces da Educação Ambiental, ou talvez estejamos diante de diferentes

“educações ambientais”, como já sugeria Sorrentino (1995). Para Pedrini (1998), que

tem sido um importante crítico desta modalidade educativa, o quadro de confusão

conceitual sobre o tema talvez seja uma possível explicação para estas distinções. O

autor ainda comenta a falta de apoio governamental, que pode ser um dos fatores

para tal conflito. Em seu artigo, escrito em conjunto com Joel de Paula (Pedrini,

op.cit), os autores abordam criticamente a questão da seguinte forma:

“A Educação Ambiental brasileira ainda transita sem objetivos e

métodos de ação e avaliação claramente definidos por muitos de

seus praticantes. A base conceitual da Educação Ambiental tem

39

sido muito abordada em paralelo à sua prática pelos próprios

educadores ambientais, face ao caráter interdisciplinar da área”

(p.89).

A constatação dos autores sobre a falta de discussões sobre as metodologias

de ação e avaliação tem sido corroborada por vários autores como os já acima

citados, podendo estar indicando que é uma área ainda em fase de experimentação.

No entanto, tal como definida nas conferências internacionais, esta atividade

educativa destina-se a ser uma forma de educação onde ocorrem processos

específicos e distintos com objetivos, finalidades, estratégias e conteúdos

específicos, características particulares que a revelam como uma educação de

caráter ativo, pragmático, permanente e geral, de forma a promover uma (re)ação na

sociedade. Num dos momentos ela já chegou a ser conclamada da seguinte forma:

“Essa educação deve preparar o indivíduo, mediante a

compreensão dos principais problemas do mundo

contemporâneo, proporcionando-lhe conhecimentos técnicos e

qualidades necessárias para desempenhar uma função

produtiva, com vistas a melhoria da qualidade de vida e proteger

o meio ambiente, prestando a devida atenção aos valores éticos”

(DIAS, op.cit p.68).

Assim, a Educação Ambiental desponta, para muitos, como um novo

paradigma da Educação, ou até mesmo como a nova forma de Educação

contemporaneizada ao século XXI e, sendo assim, como uma educação mais

adequada às novas demandas que são do domínio socioambiental (Vasconcellos,

1997).

Este é talvez o desafio que mais contribua para o conflito conceitual, seja o de

ter que conjugar no bojo de sua prática, ao mesmo tempo, duas vozes bastante

distintas - a primeira, marcada por um discurso renovador, revolucionário,

transformador, utilizando-se para justificá-lo de palavras-chave do imaginário

40

contemporâneo, como interdisciplinaridade, complexidade, participação comunitária,

qualidade de vida, sustentabilidade; e uma sua segunda voz, também bastante

presente, que é calcada num discurso conservador, retrógrado e de certa forma

saudosista, onde as palavras-chave serão outras tais como conservação,

preservação, tradição e patrimônio.

A seguir traçaremos algumas considerações que nos parecem pertinentes

para esboçar nosso quadro teórico que permitirá uma análise das diferentes

concepções dos educadores ambientais sobre as suas práticas.

2.1.Investigando os mecanismos de estabilidade e de

mudança curriculares.

A história da disciplina escolar Ciências foi investigada por meio de

depoimentos e de documentos do currículo escrito. Nesse último caso, os livros

didáticos adotados no período constituíram uma inestimável fonte de estudo.

A influência norte-americana no movimento de renovação do ensino de

Ciências brasileiro se explicita no fato de, nos anos de 1950, os alunos estudarem

muito pouco de Ciências, porque naquela época, Ciências era dada na terceira e na

quarta séries. Na terceira série eram noções sobre os seres vivos e o corpo humano,

(...) um conteúdo, quantitativamente falando, muito pequeno. E na quarta série já era

Física e Química, mas um conteúdo também muito pequeno. A ciência parecia não

ser muito importante. O conhecimento científico não era muito priorizado. A partir de

1957, com a formação das escolas americanas, é que realmente começou-se a ter

um contato maior e as escolas começaram a modificar os seus currículos, até na

metodologia. Até então havia uma característica predominantemente humanista dos

currículos secundários no país até pelo menos os anos de 1960. Tal aspecto

certamente contribuiu para o modo como as instituições lidaram com as inovações

curriculares propostas para o ensino de Ciências nesse período. Entretanto, os

aspectos de ordem institucional que favoreceram a entrada de influências do

movimento de renovação dizem respeito, em grande parte, ao baixo status da

41

disciplina escolar Ciências quando comparada às disciplinas escolares Física,

Química e História Natural/Biologia. Afinal, a referida disciplina escolar possuía um

caráter mais generalista e menos específico, sendo preterida pelo catedrático - que

geralmente a entregava aos docentes mais novos no colégio - e não mais contava

com espaço físico próprio. Tal movimento pôde influenciar os rumos sócio-históricos

da disciplina escolar Ciências porque esta não constituía o foco de atenção da

maioria dos colégios e dos profissionais mais poderosos: os catedráticos.

De acordo com Goodson (1996 e 1997), todo estudo sobre mudanças

curriculares deve associar a análise de aspectos internos à constituição das várias

disciplinas escolares com contextos externos a elas. Para o autor, um dos

mecanismos a produzir estabilidade nos currículos escolares refere-se ao fato de

que, na maioria das vezes, as transformações planejadas em um determinado nível

não estão em sintonia com as idéias e os interesses produzidos nos outros níveis.

Embora o contexto disciplinar criado especialmente a partir dos anos de 1960 -

impulsionado pelas influências do movimento de renovação norte-americano e pela

criação dos Centros de Ciências no país - possa ter favorecido o surgimento de

mudanças curriculares na disciplina escolar Ciências em vários estabelecimentos de

ensino do país, aspectos referentes ao próprio currículo de determinados colégios

não necessariamente apontavam nessa mesma direção de mudança.

Isso significa dizer que, embora tenham existido modificações na seleção de

conteúdos e nos métodos de ensino da referida disciplina escolar durante o período

investigado, tais transformações não foram suficientes para promover uma reforma

curricular que atingisse a todos os docentes e que modificasse substancialmente

todo o ensino de Ciências nos colégios. Tal constatação, no entanto, não constitui

um problema para a realização desse estudo, uma vez que, apoiando-me em

Goodson (1995), a disciplina escolar de Ciências não é analisada como um bloco

monolítico, mas compreende a existência de um cotidiano conflituoso, que envolveu

disputas entre tradições disciplinares anteriores e todo um ideário do movimento de

renovação que começava a se delinear no período. Além disso, é preciso levar em

conta a noção de que também estavam em jogo as tradições de muitas instituições

escolares. Apesar de alguns professores catedráticos assumirem uma posição

42

profissional que guardava distância tanto dos funcionários quanto dos demais

professores dos colégios, as relações hierárquicas que se estabeleciam no período

foram definidas como um tempo em que havia muito reconhecimento pelos colegas e

pelos professores. Embora os catedráticos conferissem um caráter acadêmico às

suas disciplinas escolares, eles preferencialmente ministravam aulas no ensino

médio. Tal preferência se dava, em primeiro lugar, pela faixa etária dos estudantes;

em segundo lugar, pela possibilidade de trabalhar com uma disciplina escolar mais

específica, que permitisse abordar o assunto de sua especialidade como

catedrático. De acordo com Goodson (1997, p. 30), uma melhor compreensão da

estabilidade e da mudança nos currículos escolares passa, necessariamente, pela

constituição de modelos analíticos que busquem “examinar os assuntos internos 'em

paralelo' com as relações externas, como um modo de desenvolver pontos de vista

sobre a mudança organizacional e sobre as mudanças em categorias institucionais

mais amplas”. Afinal, para o autor, a estabilidade que usualmente observamos nas

diferentes disciplinas escolares pode ser muito menos uma ausência de

transformações, e sim o resultado de uma série de conflitos tanto no interior das

comunidades disciplinares quanto destas com os vários grupos externos. A disciplina

escolar Ciências não sofreu uma grande reforma no período investigado; apesar

disso, ao desconfiar da aparente estabilidade de seus currículos, é possível perceber

mudanças que foram sendo produzidas até mesmo para garantir a estabilidade

disciplinar, tais como a incorporação de certas inovações trazidas pelos profissionais

que participavam ativamente do movimento de renovação do ensino de Ciências.

Nos anos de 1960/70, isso ocorreu especialmente por meio da associação dos

catedráticos de História Natural/Biologia com outros professores, com a finalidade de

incorporar a retórica inovadora nos livros didáticos.Goodson (1997) possibilita uma

melhor compreensão dessa questão ao destacar que é pouco provável que

mudanças dessa natureza - isto é, ocorridas em apenas uma disciplina escolar, em

uma instituição específica -, sem um significativo apoio da própria instituição e/ou dos

grupos externos mais amplos, venham a produzir efeitos que permaneçam por longo

tempo. Segundo o autor, é justamente o estabelecimento de transformações de

caráter mais amplo, com um conjunto de práticas a elas associadas, que “acarreta as

43

sementes de novos padrões de tradição e inércia”, o que significa entender que, “em

suma, a mudança fundamental exige a 'invenção de (novas) tradições'“. (GOODSON,

1997, p. 31). Apesar disso, é possível afirmar que alguns movimentos viabilizaram

uma série de mudanças que, ao serem incorporadas nos currículos da disciplina

escolar Ciências, possibilitaram a constituição e a manutenção do prestígio

institucional de uma disciplina escolar que não necessariamente gozava de tal

atributo no passado. Na verdade, se, por um lado, a incorporação de conteúdos e

práticas curriculares que se encontravam explicitamente relacionadas ao movimento

de renovação do ensino de Ciências permitiu a atualização da retórica da referida

disciplina escolar, por outro lado, o estabelecimento desses novos conteúdos e

práticas, mesmo que executados pelos docentes mais novos no Departamento de

Ciências/Biologia, também exigiu a aprovação dos profissionais de maior prestígio.

Nesse sentido, tais conteúdos e práticas curriculares tiveram que se adequar ao que

já era tradicionalmente realizado na disciplina escolar, realizando uma série de

mudanças que, antes de reformá-la completamente, puderam efetivamente auxiliar

na sua estabilidade. Voltando aos escritos de Goodson (1995a), é possível

compreender que todo esse processo de incorporação de determinadas inovações

na disciplina escolar Ciências exigiu uma espécie de “invenção de tradição”.

Utilizando Eric Hobsbawm (2002) como referência, Goodson (1995, p. 27) defende

que “a elaboração de currículo pode ser considerada um processo pelo qual se

inventa tradição”, e que o currículo escrito é um exemplo perfeito dessa invenção,

uma vez que o termo “tradição inventada” refere-se a:

“um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras

tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou

simbólica, visam inculcar certos valores e normas de

comportamento através da repetição, o que implica,

automaticamente, uma continuidade em relação ao passado.

Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade

com um passado histórico apropriado. (HOBSBAWM, 2002, p.

09)

44

No sentido proposto por Goodson (1995), como os currículos escolares são

espaços conflituosos tanto de produção quanto de reprodução desses “valores e

normas de comportamento” citados por Hobsbawm (2002, p. 09), nos quais os

objetivos diretamente relacionados ao ensino encontram-se submetidos a um

conjunto de finalidades de ordem política e social mais ampla, eles acabam por

inventar tradições que precisam estar ancoradas em “um passado histórico

apropriado”. No caso específico da disciplina escolar Ciências, aqui investigada, as

mudanças propostas nos anos de 1960/70, embora executadas somente por uma

parcela de profissionais, normalmente os docentes mais novos -, tornaram-se parte

de uma retórica tradicionalmente adotada pelos catedráticos de História

Natural/Biologia. Tal retórica inovadora pôde ser disseminada no “mercado da

identidade social” (GOODSON, 1997, p. 27), especialmente por meio dos livros

didáticos produzidos no período, que atingiram não apenas a referida instituição

como, segundo o depoimento de um dos entrevistados, diversas outras partes do

país. Esses materiais didáticos, no entanto, trouxeram as inovações articuladas com

os conteúdos e práticas do passado, inventando uma tradição que pôde agregar o

tradicional/antigo com o moderno/renovado e, nesse sentido, manter o prestígio da

disciplina escolar Ciências tanto internamente, quanto no nível externo mais amplo.

45

CAPÍTULO III

PRÁTICAS ESCOLARES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ESTUDO DE CASO

Este capítulo apresentará algumas ações realizadas com alunos da 5ª a 8ª

séries do ensino fundamental, cujas práticas foram seguidas de teorização e

observações feitas e, a partir destas, construídos os conhecimentos referentes aos

conteúdos previstos. Ciências é o componente curricular que trata do estudo do

homem, dos seres vivos em geral, do meio ambiente e também das interações entre

estes elementos. De acordo com Borges (1997), “o ensino tradicional de Ciências, da

escola primária aos cursos de graduação, tem se mostrado pouco eficaz, seja do

ponto de vista dos estudantes e professores, quanto das expectativas da sociedade”.

A escola tem sido criticada pela baixa qualidade do ensino, por sua incapacidade em

preparar os estudantes para ingressar no mercado de trabalho ou para ingressar na

universidade. O autor escreve ainda que a escola tem sido criticada por não cumprir

adequadamente seu papel de formação de crianças e adolescentes, e pelo fato de

que o conhecimento que os alunos exibem ao deixar a escola é fragmentado e de

limitada aplicação. No passado se ensinava Ciências para todos, esperando que uns

poucos cientistas pudessem ser identificados precocemente. Os ensinamentos

teriam utilidade futura apenas para eles. Para os demais, que eram a grande maioria,

o ensino de Ciências era uma espécie de placebo pedagógico que tinha que ser

ingerido durante alguns anos seguidos sem qualquer utilidade (Bizzo, 1998). Para

Barbosa (2001), o “saber” escolar, revelando o seu caráter de classe, não considera

que os alunos possuem uma “cultura geral” resultante de práticas sociais, políticas e

econômicas de seu cotidiano, por isso não abre a possibilidade de essa cultura ser

integrada ao conhecimento que se ensina nas escolas para ser decifrada e ampliada.

A educação em Ciências deve proporcionar a todos os estudantes a oportunidade de

desenvolver capacidades que neles despertem a inquietação diante do

desconhecido, buscando explicações lógicas e razoáveis, levando os alunos a

desenvolverem posturas críticas, realizar julgamentos e tomar decisões

46

fundamentadas em critérios objetivos, baseados em conhecimentos compartilhados

por uma comunidade escolarizada (Bizzo, 1998).

Para Borges (1997), os professores de Ciências, tanto de nível fundamental

como de nível médio, em geral acreditam que o ensino poderia ser em muito

melhorado com a introdução de aulas práticas. Posicionamento similar lê-se em

Miguens e Garret (1991), os quais escrevem que a educação em Ciências deveria

dar, através de trabalhos práticos, oportunidades para aquisição de conhecimentos e

sua compreensão. Logo, se os estudos sobre o meio ambiente têm um lugar

significativo nos currículos de Ciências, estes deveriam ser explorados em trabalhos

de campo. Conforme Borges (1997), é um equívoco comum confundir atividades

práticas com necessidade de um ambiente com equipamentos especiais para a

realização de trabalhos experimentais. Segundo ele, atividades práticas podem ser

desenvolvidas em qualquer sala de aula, sem a necessidade de instrumentos ou

aparelhos sofisticados. Outros aspectos relevantes que se seguem à realização de

atividades práticas no ensino de Ciências são citados por Miguens e Garret (1991),

tais como: ajudam os alunos a obter um conhecimento sobre fenômenos naturais

através de novas experiências; facilitam uma primeira experiência, um contato com a

natureza e com o fenômeno que eles estudam; desenvolvem algumas habilidades

científicas práticas como observar e manipular; oportunizam a exploração, a

extensão e o limite de determinados modelos e teorias; permitem comprovar idéias

alternativas experimentalmente; possibilitam aumentar a confiança ao aplicá-las na

prática e explorar e comprovar a teoria através da experimentação. Como refere

Piaget (1998), é interessante observar que a criança começa pela substância, antes

de chegar às conservações verificáveis através das medidas. Borges (1997) ressalta

que “precisamos encontrar novas maneiras de usar as atividades prático-

experimentais mais eficientemente e com propósitos bem definidos”, mesmo

sabendo que isso não é a única solução para os problemas relacionados com a

aprendizagem de Ciências. Muito do que se faz nas aulas de Ciências de nossas

escolas evidencia a preocupação com a definição de conceitos, mas as dimensões

teórica e empírica do conhecimento científico não são isoladas. Não se trata, pois, de

contrapor o ensino experimental ao teórico, mas de encontrar formas que evitem

47

essa fragmentação do conhecimento, para tornar a aprendizagem mais interessante,

motivadora e acessível aos alunos. (Borges, 1997). Encontra-se em Pereira (1993)

uma resposta bastante satisfatória para esta questão, quando o autor escreve que

em nossa escola tradicional, a aula prática geralmente é colocada após a

apresentação dos conteúdos. Este fato leva o aluno a pensar que a prática é o fim da

ação pedagógica, servindo como fechamento do assunto. Sob o ponto de vista da

linha filosófica da Educação Ambiental, a prática é o meio pelo qual o aluno constrói

seu conhecimento, devendo preceder as ações teóricas, pois é a partir da prática

que se realizam as conceituações, já que a ação antes da abstração é uma lógica no

dia-a-dia das pessoas. Através da consulta à bibliografia constata-se que muitas

causas são arroladas para a explicação da problemática do ensino brasileiro, as

quais, associadas às críticas, constituem-se em farta argumentação; porém poucos

são os autores que apresentam propostas que contribuam para equacionar ou

minimizar tais problemas. Tentar contribuir para que tais questionamentos não sejam

apenas e simplesmente repetidos, enquanto a maioria dos alunos segue

memorizando conceitos que são apresentados ao professor em instrumentos de

avaliação, e buscar solução para os grandes problemas metodológicos que afetam

negativamente a escola brasileira constituem-se nos principais fatos que justificam a

realização do presente trabalho. Durante o ano letivo de 2005 foram realizadas nas

aulas de Ciências na Escola Municipal Leonel Azevedo, na Ilha do Governador, no

município e estado do Rio de Janeiro, nas turmas de 5ª série, o Projeto: Qualidade

da Água.

Nesse projeto os alunos trabalharam com os conceitos de água potável, água

limpa e água poluída. Os conceitos trabalhados foram baseados nos conteúdos

presentes no livro didático dos alunos. Alguns conteúdos foram desenvolvidos

iniciando-se pela prática com posterior teorização, enquanto outros conteúdos foram

desenvolvidos, iniciando-se pela teoria com a prática realizada após o conteúdo ter

sido trabalhado.

O projeto “Qualidade da Água” foi desenvolvido em turmas de cerca de 40

alunos, da seguinte maneira:

48

Os alunos teriam que, divididos em grupos de acordo com a localização

(bairro) de sua moradia, escolher uma das torneiras da própria casa e envolvê-la

com um pedaço de pano branco virgem (morim), de maneira que quando a torneira

fosse aberta a água passasse por esse pano. Depois de uma semana os alunos

deveriam retirar o pano. Com o auxílio do professor, eles então, montariam um

painel, com todos os pedaços de pano, localizando-os pelos bairros e analisando a

qualidade da água de cada um deles.

A análise dos trabalhos dos alunos possibilitou constatar que: alguns bairros

apresentavam água mais poluída do que outros, uma vez que o pano em

determinados locais se encontrava mais sujo do que em outras. Ou seja, nos bairros

do Galeão e Ribeira, o pano saiu mais sujo.

De acordo com as conclusões dos alunos acerca do trabalho realizado foram

feitas outras investigações como, por exemplo: as causas da poluição da água, ser

maior em uns bairros do que em outros.

O trabalho com a Educação Ambiental apresenta-se como uma nova forma de

abordagem dos conteúdos, que pretende substituir a metodologia tradicional

baseada somente no livro texto, a qual se demonstra incompetente para os objetivos

que pretende a educação moderna (Pereira, 1993 apud Teitelbaun, 1978). Para os

alunos que ainda precisam adquirir uma nova visão do ensino de Ciências diz-se que

devem ocorrer mudanças na prática pedagógica, o que implica reconhecer que não é

apenas o professor que deve modificar sua forma de ensinar, mas que uma série de

ordenamentos na escola e na comunidade devem ser considerados ao mesmo

tempo no sentido de sua transformação (Bizzo, 1998). Para Peña (2001), é preciso

ter coragem de mudar, de romper com o formal, com o objetivismo, de transformar o

ato pedagógico num ato de conhecimento da vida, para que o aluno saiba enfrentar a

vida num processo dialético entre a teoria e a prática. Segundo a autora, há

necessidade de o professor apropriar-se do conhecimento científico, de saber

organizá-lo e articulá-lo, enxergando o outro, construindo com ele o alicerce do

conhecimento, não só para servir a sociedade, mas para enaltecer a vida. Desse

modo teremos uma educação crítica e transformadora.

49

O planejamento, no caso do uso da Educação Ambiental no ensino de

Ciências, deve ser um instrumento válido e fidedigno de investigação científica, em

que a observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a

existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do

observador (Lüdke e André, 2003).

A experiência é, sem dúvida, o melhor teste de verificação da ocorrência de

um determinado fenômeno. Além disso, os resultados quantitativos apresentados

nesse trabalho demonstram a veracidade desse posicionamento. É importante

considerar os interesses e as vivências dos alunos, sendo que isso certamente o

levará a um envolvimento na atividade proposta, levando a trilhar o caminho da

aprendizagem. Como escreve Rosa (1999), é a partir dos problemas e interesses de

nossos estudantes que podemos integrar novas informações e conceitos ao

conhecimento do aluno. Cada aluno necessita de condições apropriadas e

adequadas, condições necessárias para aprender e desenvolver-se. Trabalhando a

Educação Ambiental o aluno exercita, na prática, a resolução de problemas e de

responder a questões que lhe são propostas no seu dia-a-dia. O que é concreto

ancora o conhecimento teórico, permitindo ao aluno relacionar o primeiro ao segundo

e assim abstrair, avançando na construção dos conceitos. Conforme escreve

Fazenda (1979), pela proximidade dos problemas tratados com as experiências

cotidianas, é possível, também, através de uma atitude interdisciplinar, a

manutenção de um interesse e curiosidades constantes, já que é mais motivador

tratar de problemas que se estejam vivenciando. Deve ser destacado que o aluno

passa a entender o mundo que o cerca ao se referir a plantas e animais, contribuindo

para a formação de um cidadão preocupado com o meio onde vive, o que é um dos

principais objetivos da Educação Ambiental.

Segundo Moreno (1999), a realidade é mais fantástica do que qualquer

produto da imaginação. Segundo Ferreira (2001), tudo o que existe se vela, desvela

e se revela ante os nossos olhos. Por isso, ao observar o objeto de seu estudo, o

aluno entende melhor o assunto, o que está sendo observado pode ser manipulado,

tocado, permitindo que da observação concreta possa se construir o conceito e não

50

apenas imaginá-lo. O aluno irá comparar a experiência vivida com os conteúdos

existentes nos livros, ficando clara, portanto, a necessidade de teorização.

O professor precisa, ao trabalhar transversalmente com a Educação Ambiental

no ensino de Ciências, planejar a observação dos fatos, o que significa determinar

com antecedência “o quê” e “como” observar, preparando as observações e

delimitando o objeto de estudo, definindo-se claramente o foco de investigação e sua

configuração espaço-temporal, ficando evidentes quais aspectos serão cobertos pela

observação (Lüdke e André, 2003).

Segundo Comenius (1957): o conhecimento necessariamente deve principiar

pelos sentidos, uma vez que nada se encontra na inteligência que primeiro não tenha

passado pelos sentidos. O acesso à explicação dos fatos não pode acontecer

apenas em seus aspectos sensorial ou perceptivo, mas necessita ser construído pelo

pensamento, portanto, abstratamente e expresso por meio de conceitos,

teoricamente (Fazenda, 2001).

As aulas, quando iniciadas por atividades práticas faz, certamente, com que o

aluno ao responder às questões, avance para a abstração e assim construa

conceitos, efetivando com sucesso o processo de aprendizagem. Além disso, para o

aluno a observação leva ao desafio e ao surgimento do problema ou a pergunta a ser

respondida, tornando a aula mais motivadora. Como escreve Moreno (1999): é difícil

imaginar que hoje em dia seja possível fazer os alunos compreenderem qualquer

conhecimento científico sem torná-lo, por sua vez, partícipe dos raciocínios e atitudes

que o originaram. Ao experimentar o concreto, ocorre o desenvolvimento do

raciocínio e a compreensão dos conceitos. Além disso, como escreve Lembo (1975),

as escolas devem proporcionar aos alunos oportunidades de desenvolver aptidões

que lhes possibilitem enfrentar o conhecimento em evolução. A justificativa

mencionada demonstra, ainda, que esse método facilita a comunicação entre

professor e aluno, sendo a construção do conhecimento mais clara e exata.

Ocorrendo a aprendizagem, o aluno, através de um conjunto de imagens,

passa a elaborar conceitos e leis que fundamentem os conteúdos. Conforme escreve

Moreno (1999), para que um conhecimento seja utilizável, a pessoa que o aprende

deve conhecer sua utilidade e ser capaz de reconstruí-lo em seu pensamento no

51

momento em que necessitar dele. Mas é impossível reconstruir aquilo que

previamente não se construiu, apenas foi confiado à memória.

Embora a aprendizagem cognitiva seja necessariamente um fenômeno

individual, as fontes mais ricas de experiência emocional resultam de associações

humanas. Estas são as experiências que nos mantêm através de nossos desafios

mais difíceis. Associações positivas fortalecem-nos a confiança e oferecem apoio

emocional para outros desafios (Novak, 1981). Pode-se dizer ainda que seres

humanos podem gerar novo conhecimento, porque cada indivíduo vê um evento de

maneira um tanto diferente e pode partilhar estas experiências através de muitas

formas de expressão (Novak, 1981). Meinardi & Chion (1997) trazem uma

contribuição bastante clara quanto à interação entre alunos na sala de aula,

escrevendo que em todas as etapas do ensino se deve privilegiar a interação aluno-

aluno, o que exige um sério replanejamento das relações pedagógicas que têm lugar

na aula, um novo posicionamento do docente na instância da aprendizagem. Já não

se pretende que seja o protagonista principal, senão um mediador no processo, que

oriente a investigação, no nível de debates, aporte a novas fontes e dados. Sem

dúvida, a nosso juízo, é importante assinalar que isto não significa perder de vista o

papel indiscutível do docente na explicação dos conceitos básicos e dos objetivos a

cumprir, em relação aos ditos conceitos. Imaginar um processo de aprendizagem em

que o aluno construa sozinho os conceitos, é utópico e carente de sentido, como

pensar que todos os conhecimentos se constroem: muitos deles são dados quase

impostos, por assim dizer, pelo docente.

Não são poucas as instâncias em que conduz o trabalho grupal, aclara

dúvidas, define conceitos e explica. Segundo Dias (2001), de nada adianta

questionar os alunos, se eles não têm como retorno a oportunidade de discutir, de

refletir, no sentido de se conscientizar da necessidade da busca da resolução dos

problemas de ensino-aprendizagem, a partir de um trabalho coletivo, em sala de

aula, alunos e professores juntamente.

Esta visão de uma escola flexível, onde se criam e recriam conhecimentos,

valores e significados, vai exigir o rompimento com uma visão de cotidiano estática,

repetitiva e disforme (André, 2002).

52

A importância do envolvimento ativo do aluno evidencia a necessidade de

apresentar os conhecimentos em contextos que o aprendiz reconheça como

significativos e merecedores de seu esforço intelectual. Demanda a proposição de

dinâmicas em sala de aula que permitam uma ação efetiva do aluno sobre os objetos

de conhecimento, onde se entende a ação como um ato de criação de significados e

não como mera atividade física ou de manipulação (Lima et al, 1999). Dir-se-ia ainda,

como Meinardi & Chion (1997) que atividade não é sinônimo de ativismo, em que o

valor resida na atividade em si, e com que os alunos fazem muitas coisas, porém

sem adequada reflexão e conceitualização. Para evitar isto é preciso definir objetivos

precisos a cada atividade proposta.

Esta abordagem de ensino é apresentada por Pereira (1993), quando o autor

afirma que a participação do aluno nas atividades pedagógicas abre espaço para

uma visão mais holística, menos compartimentada, permitindo a compreensão do

ambiente ou da situação em estudo. Este tipo de processo geralmente não termina

ao final do curso, aula ou atividade, mas proporciona elementos para futuras

aplicações no trabalho profissional e social, pois muitas vezes vivencia-se, mas não

se compreende aquilo que é freqüente.

Este caminho é interdisciplinar e amplo. Tavares (2001) escreve que somos

levados a refletir sobre a necessidade de professores e alunos trabalharem unidos,

conhecerem-se e se entrosarem para, juntos, vivenciarem uma ação educativa mais

produtiva. Neste caso, o papel do professor é fundamental no avanço construtivo do

aluno, pois é ele que pode captar as necessidades e efetivar os benefícios que a

educação pode lhe proporcionar ao estudante. A interdisciplinaridade do professor

pode envolver e modificar o aluno quando ele assim o permitir.

53

CONCLUSÃO

A consciência ecológica é a atitude fundamental que o educador ambiental

deve ter. Essa consciência, almejado alvo dos educadores ambientais, é

representada socialmente através de ações, num processo de transformação do

sujeito a partir da prática e do contato do mesmo com o ambiente em que atuam.

A consciência ecológica é importante para todos os educadores ambientais

porque se coloca como objetivo final, o meio e o estímulo para a prática da Educação

Ambiental. Dessa forma, ao estudar o que significa a Educação Ambiental visamos

uma mudança de valores, hábitos, atitudes, enfim, de comportamentos e posturas

diante da natureza, do natural e da sociedade como um todo.

Os educadores ambientais atualmente vêm ganhando destaque, por se

tornarem, a cada dia, um setor ativo na sociedade, consolidando-se como

importantes instrumentos na consolidação de uma nova sociedade, mais consciente

e seus problemas ambientais, e mais decidida a colaborar para resolvê-los.

A missão dos educadores ambientais no mundo atual é encontrar alternativas

para dar conta de questões como a sustentabilidade e desenvolvimento que nos são

impostas cotidianamente e que farão parte irremediavelmente de nosso futuro.

Esse conceito, elaborado em função do movimento dos grupos sociais é

razoavelmente recente, iniciado, sobretudo pelos ambientalistas nos anos de 1960, e

pelas propostas feitas através das manifestações contraculturais. A partir delas, há

uma influência decisiva nas posturas em relação ao meio ambiente por parte de

grande parcela dos países ocidentais, assumindo uma trajetória de emergência

nessas sociedades ao longo das últimas décadas.

A Educação Ambiental vem consolidando-se cada vez mais como uma

atividade estratégica para a saída da chamada crise ecológica. Atualmente, esta se

apresenta como um campo de informações sobre o qual vários discursos e

representações são criados por aqueles que nela intervém e atuam.

Sobretudo na área de educação, mais precisamente quando utilizada como

tema transversal no ensino de Ciências de 5a a 8a série, que é o tema desse estudo,

54

a Educação Ambiental desponta como um objeto social de reformulação constante,

buscando incessantemente a homeostase e aponta para uma dimensão bastante

ampla, do universo em transformação.

A cada instante aparecem novas informações, vindas de várias partes do

mundo. Muitos dados são de origem científica e, com isso, servem para remodelar,

rearticular e reorganizar as práticas e os conceitos dos educadores, servindo como

referencial na estruturação de seus discursos.

O conceito de Educação Ambiental é utilizado pelos educadores como algo

compartilhado, elaborado socialmente e que é trabalhado no sentido de orientar as

práticas sociais situando-se como uma forma de saber que os possibilita atuar e

intervir no mundo, construindo suas verdades e elaborações sociais.

A prática dos educadores está intimamente ligada com as suas motivações

pessoais, sendo esta importante elemento de construção das representações

existentes sobre o conceito de Educação Ambiental utilizado como tema transversal

em turmas do segundo segmento do ensino fundamental.

Para trabalhar a Educação Ambiental em sala de aula os educadores podem

adquirir três posturas:

A primeira, adotando uma atitude mais vivencial, na qual a motivação

declarada tem início em experiências familiares onde a Educação Ambiental aparece

como um processo auxiliar a outro a ser desenvolvido, ou seja, uma troca de

experiências.

A segunda postura assume um caráter mais político, onde a motivação se

inicia através de experiências profissionais que visam trazer a responsabilidade pela

preservação do planeta para o indivíduo a fim de torná-lo mais responsável por seus

próprios atos, exercendo, com isso, a cidadania. Nessa vertente a prática está mais

ligada à execução de atividades dinâmicas, lúdicas e artísticas, que envolvam,

inclusive, atividades com o corpo e seus movimentos.

A terceira postura é mais voltada para a conceituação, como os aspectos

teóricos da Educação Ambiental. A motivação inicial está vinculada a experiências

acadêmicas oriundas do envolvimento do sujeito com pesquisas que tenham

despertado nele a consciência ecológica. Com isso, seu objetivo é promover a

55

integração entre a teoria e a prática, levando o outro a um processo de reflexão

crítica, através da elaboração de projetos, cursos e atualizações para educadores,

por exemplo.

A Educação Ambiental, quando utilizada como tema transversal em turmas de

5a a 8a série do ensino fundamental, pode apresentar-se de forma integradora cuja

abrangência está voltada para uma visão de meio ambiente onde há uma “integração

entre meio natural e social”, ou seja, onde as “relações humanas devem ser mais

integradas” assim, privilegia-se uma prática onde haja interação entre os aspectos

“cognitivos e afetivos” da atividade de Educação Ambiental. Numa outra visão, pode

apresentar-se através de uma visão mais “política”, neste caso, a abrangência da

proposta da Educação Ambiental está voltada para uma dimensão ambiental ampla,

onde são contemplados os meios natural e social, vistos de forma integrada, assim

como as “questões mais de base” devem ser abordadas. O objetivo, nesse caso é a

solidariedade. Por fim, a Educação Ambiental também pode ser utilizada numa linha

mais formadora, cuja maior preocupação esteja voltada para a formação de um

senso crítico, e para a formação do indivíduo. Aqui a abrangência da Educação

Ambiental está voltada para a melhoria das relações humanas, para uma atividade

de fortalecimento da auto-estima, onde é importante “falar de si, questionar-se”.

Nota-se uma importante participação da História como elemento disparador do

processo de autoconhecimento.

De acordo com o que foi descrito no presente estudo, é possível concluir que

é muito importante o trabalho com a Educação Ambiental, utilizada como tema

transversal no ensino de Ciências em turmas de 5a. a 8a série do ensino

fundamental, pois, através de uma abordagem multidisciplinar, promove a relação

entre educação e meio ambiente num processo permanente no qual os indivíduos e

a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem valores,

conhecimentos, habilidades e experiências.

Dessa forma, a inclusão da Educação Ambiental como tema transversal pode

influenciar positivamente na melhoria da qualidade de ensino das Ciências Naturais.

56

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62

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

EPÍGRAFE 05

RESUMO 06

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO IEDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONTEXTO HISTÓRICO

18

1.1 - As propostas educacionais com relação à educação ambiental1.2

23

1.2 - A legislação sobre Educação Ambiental 26

CAPÍTULO IIA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE CIÊNCIAS

32

2.1 - Investigando os mecanismos de estabilidade e de mudança curriculares 40

CAPÍTULO IIIPRÁTICAS ESCOLARES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL- ESTUDO DE CASO

45

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 56

ÍNDICE 62