universidade candido mendes instituto a vez do … · o capítulo i trata da definição e...

59
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ATUALIDADES NO DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM DISLEXIA Por: Zaira Artur Dias Alves Orientadora Prof a Carly Machado Rio de Janeiro 2010

Upload: phungnguyet

Post on 16-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ATUALIDADES NO DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM

DISLEXIA

Por: Zaira Artur Dias Alves

Orientadora

Profa Carly Machado

Rio de Janeiro

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ATUALIDADES NO DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM

DISLEXIA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia.

Por: Zaira Artur Dias Alves

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter colocado pessoas

maravilhosas e competentes no meu caminho

e que colaboraram diretamente para a

realização deste trabalho.

À minha família, às professoras Rossana

Marinho, Catia Bastos, Rosemary Moraes e à

psicopedagoga Simone Barros pela

orientação e incentivo.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, aos

colegas e professores do Colégio Pedro II,

que muito contribuíram para a sua realização.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

5

RESUMO

A presente pesquisa tem por finalidade estudar as mais recentes descobertas científicas utilizadas no âmbito acadêmico e clínico no que tange ao diagnóstico e intervenção em Dislexia. Por conta de ser um transtorno específico do aprendizado, o trabalho com crianças disléxicas precisa ser feito a partir de uma intervenção multidisciplinar para desenvolver não apenas as habilidades de leitura e escrita, como também a auto-estima e outras questões sociais e emocionais. O conhecimento da Psicopedagogia tem muito a contribuir na relação da criança disléxica com a aquisição da leitura e na construção de estratégias para lidar com as dificuldades de linguagem escrita.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

6

METODOLOGIA

A metodologia adotada para desenvolver a pesquisa foi baseada em estudo

bibliográfico de teóricos que tratam do tema; visitas a páginas da internet;

análise de vídeos; entrevista oral com profissionais das áreas de educação e

saúde. Dentre os autores pesquisados, destacam-se Shaywitz, Bossa e Garcia

Sanchez.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

7

SUMÁRIO

Introdução 08

Capítulo I. Definição e Caracterização 11

Capítulo II. Diagnosticando a Dislexia na Criança em Idade Escolar 20

Capítulo III. Classificação das Dislexias 29

Capítulo IV. Intervenção 35

Capítulo V. O Envolvimento da Família e da Escola 44

Conclusão 50

Bibliografia 52

Índice 57

Folha de Avaliação 59

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

8

INTRODUÇÃO

“A sociedade humana, o mundo, o homem inteiro está no

alfabeto. ... O alfabeto é uma fonte.” (VICTOR HUGO,

1866 apud MORAIS, 1996, p. 64).

A aprendizagem é uma mudança de comportamento que resulta da

experiência.

A situação estimuladora, a pessoa que aprende e a resposta constituem

os elementos principais do processo ensino-aprendizagem. A maneira de

aprender tem sido, há muitos anos, objeto de longos estudos e pesquisas.

Por que algumas pessoas não aprendem a ler? O que determina as

condições necessárias para um bom aprendizado da leitura? Em que os

conhecimentos das áreas de Psicopedagogia e Psicologia podem contribuir

para facilitar essa aprendizagem? Todas essas perguntas foram o ponto de

partida para uma pesquisa sobre os problemas de aprendizagem e,

especificamente, sobre o diagnóstico e a intervenção em dislexia, que norteou

esse trabalho.

O tema “dislexia” representa, no mundo atual, um grave problema

escolar do qual nem todos os profissionais de educação estão conscientes. Na

verdade, mesmo entre os profissionais de saúde, os critérios para estabelecer

o diagnóstico de dislexia não são uma unanimidade. Por conta de ter um

transtorno específico do aprendizado, a criança disléxica precisa de uma

intervenção multidisciplinar para desenvolver não apenas as habilidades de

leitura e escrita, como também a auto-estima e outras questões sociais e

emocionais.

O diagnóstico e a avaliação da Dislexia são fundamentais, sobretudo,

para definir estratégias de intervenção, visando ao sucesso escolar. Assim

sendo, crianças e adolescentes disléxicos podem alcançar o sucesso escolar,

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

9bem como ter atividades profissionais apoiadas na leitura e na escrita, estando

o progresso acadêmico relacionado ao apoio recebido na escola, na família e

de profissionais especializados. Desta forma, os achados científicos descritos

ao longo do presente trabalho trazem um resumo de vários anos de pesquisa

que, longe de chegarem a um consenso, ainda assim já possibilitam vislumbrar

um caminho a seguir na abordagem da Dislexia. Com isso, pretende-se

contribuir para a identificação de crianças portadoras de dislexia; pesquisar

intervenções e critérios diagnósticos no campo educacional e familiar, a fim de

proporcionar melhor qualidade de vida para crianças disléxicas; coletar dados

para embasar propostas de cursos de formação continuada para docentes; e

sistematizar as intervenções em sala de aula para crianças disléxicas.

O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia,

abordando sua origem e etiologia.

O Capítulo II descreve os principais sintomas presentes no Transtorno

Específico de Leitura, em crianças e adultos de diferentes faixas etárias e

níveis de escolaridade, como uma forma de auxiliar os profissionais envolvidos

no encaminhamento dessa população, quer na área educacional, quer na área

clínica, para possibilitar uma intervenção precoce. Os critérios diagnósticos são

essenciais para estabelecer uma diretriz única, mundialmente reconhecida, na

descrição do quadro. Como exame complementar, a avaliação

neuropsicológica traça um perfil cognitivo do examinando, destacando suas

facilidades e dificuldades pessoais, que muito contribuirá para o planejamento

de estratégias de reabilitação.

O Capítulo III esmiuça as diferentes classificações de Dislexia, tanto as

chamadas dislexias adquiridas, quanto as dislexias do desenvolvimento, de

maior interesse no presente estudo.

O Capítulo IV aborda os diferentes tipos de intervenção, uma vez feito o

diagnóstico, desde estratégias pedagógicas específicas, até a contribuição de

campos do saber como a Psicopedagogia e a Psicologia.

O Capítulo V discute a participação da escola e da família no

acompanhamento e orientação dos portadores disléxicos, exemplificando

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

10casos de sucesso profissional e de que maneira conduzir o estudo contínuo no

ambiente doméstico.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

11

CAPÍTULO I

DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

Existem várias definições para o distúrbio específico da leitura conhecido

como dislexia; entre elas, podemos citar:

• “Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É

caracterizada pela dificuldade de fluência correta na leitura e por dificuldade na

habilidade de decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam

tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é

inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa

etária.” (INTERNATIONAL DYSLEXIA ASSOCIATION, 2003 apud ROCHA et

al, 2009, p. 243-244)

• “A dislexia está presente quando a automatização da identificação

(leitura) e/ou da escrita de palavras não se desenvolve, ou se desenvolve de

forma muito incompleta, ou com grande dificuldade.” (GERSONS-

WOLFENSBERGER; RUIJSSENAARS, 1997, apud VANDERMOSTEN et al,

2010, p. 10394).

• “Dislexia é uma dificuldade duradoura da aprendizagem da leitura e

aquisição do seu mecanismo em crianças inteligentes, escolarizadas, sem

qualquer perturbação sensorial e psíquica já existente.” (Vitor Fonseca, 1999,

apud http://www.dislexia-pt.com/definicao.htm ).

1.1 - Origem

A palavra “dislexia” vem da palavra de origem latina “dis”, que quer dizer

dificuldade, distúrbio, e da palavra estrangeira de origem grega “lexia”, que

significa palavra. As duas juntas significam dificuldade na leitura e na escrita.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

121.2 – Caracterização da Dislexia

Podemos dizer que a Dislexia é um transtorno específico de leitura, um

funcionamento peculiar do cérebro para o processamento da linguagem, um

déficit lingüístico. Mais especificamente, trata-se de uma falta de habilidade no

nível fonológico; uma dificuldade específica para aprendizagem da leitura, bem

como para reconhecer, soletrar e codificar palavras. Deve-se também excluir a

presença de dificuldades visuais, auditivas, problemas emocionais, distúrbios

neurológicos ou dificuldades socioeconômicas como origem do transtorno.

Entretanto, para entender de fato o que é dislexia, devemos nos aprofundar um

pouco mais na especificidade da leitura.

A leitura é uma atividade complexa, e não um processo natural.

Portanto, é necessário compreender tudo o que é preciso para uma boa leitura.

De acordo com o esquema a seguir, pode-se observar uma série de

aspectos relacionados à leitura. Por um lado, tem-se as atividades de análise,

incluindo identificação de letras (decodificação) e reconhecimento de palavras

(acesso direto ao dicionário mental); de outro, os processos de construção, que

incluem integração sintático-semântica (construção frasal e significado), acesso

ao significado (explícito e implícito), compreensão de enunciados (importante

para todas as disciplinas e não só o português) e relação com conhecimentos

prévios (que ancora a aprendizagem e permite a realização de interferências).

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

13

Quadro 1 – Processos da leitura (Adaptado de R. Mousinho, 2004).

Certamente uma leitura baseada somente na análise será insuficiente;

sem a possibilidade de construir, o objetivo final da leitura, que é compreender,

interpretar, estabelecer relações, realizar inferências, dentre outros, fica

prejudicado. Entretanto, identificar letras e reconhecer palavras são

necessários para a leitura e, portanto, fundamentais para a mesma.

Da mesma forma, a leitura baseada apenas na construção pode trazer

uma série de problemas, como adivinhação de palavras e pouca habilidade

para manipulação dos elementos menores das palavras, o que pode deixar a

leitura pouco econômica.

Secundariamente, a interpretação pode ficar prejudicada, apesar de

oralmente essas habilidades estarem íntegras. Cabe ressaltar que estas

atividades de construção não são exclusivas da leitura, ou seja, devem estar

presentes a partir da linguagem oral.

É neste último caso que se identificam os problemas dos disléxicos, que

apresentam alterações básicas que prejudicam as atividades de análise,

Leitura

Análise Construção

Identificar letras

Reconhecer palavras

Integração Sintático-Semântica

Acessar o Significado

Compreender Enunciado

Relação c/ Conh. Prévios

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

14fundamentais para a leitura, apesar de apresentarem, muitas vezes, facilidade

nas tarefas de construção.

Para compreendermos melhor onde ocorrem esses entraves na leitura,

vamos observar um modelo genético de estágios do desenvolvimento, de Uta

Frith (1985), e um modelo de processamento proposto por Ellis (2001), uma

vez que ambos explicam mais claramente as dificuldades encontradas pelos

disléxicos.

Uta Frith (1985) descreveu três estratégias, pelas quais todas as

crianças passam durante o processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

• Estratégia logográfica

- Correspondência global da palavra escrita com seu respectivo significado.

- Produção instantânea das palavras, apresentadas de acordo com suas

características gráficas, sem possibilidade de análise.

Ex.: Coca-Cola e bola → palavras memorizadas como se fossem

fotografias; não há uma leitura propriamente dita.

• Estratégia alfabética

- Capacidade de segmentar a palavra em fonemas, o que demanda

consciência fonológica.

- Aplicação das regras de conversão fonema-grafema.

- Escrita de palavras novas e inventadas.

- Escrita com apoio na oralidade.

Ex. 1: Pato e cavalo → pode-se ler na ordem das letras, que não

provoca alteração (exemplo de decodificação sequencial).

Ex. 2: Girafa e campo → é necessário prever qual o grafema que vem

depois para atribuir o valor sonoro à letra precedente. Caso contrário, a criança

pode ler “guirrafa”, pois normalmente o “g” possui esse som e o “r”, idem. Na

escrita, por mais que conheça a regra, se a criança não puder prever o grafema

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

15que vem depois (“p”, “b” ou outra consoante), colocará, aleatoriamente, um “m”

ou “n” (exemplo de decodificação hierárquica).

• Estratégia ortográfica

- Experiência suficiente com a leitura para se montar um dicionário visual das

palavras (léxico).

- Acesso visual direto à palavra.

- Agiliza a leitura e atinge o significado mais rapidamente.

- Permite escrita de palavras irregulares.

- Uso de analogias lexicais de palavras conhecidas para escrever novas

palavras.

Ex. 1: Táxi e exercício → só é possível ler corretamente se já estiver no

léxico. Caso contrário, o “x” pode ser lido com o mesmo som de “caixa”.

Ex. 2: Sinto e cinto → para se escreverem corretamente, os dois já

devem fazer parte do léxico que, como todo dicionário, possui o significado de

cada um.

O disléxico revela uma dificuldade mais importante na estratégia

alfabética. Alguns teriam dificuldade de chegar a esta fase, ficando presos a

uma leitura do tipo logográfica. Outros utilizariam a estratégia alfabética, mas

com muita dificuldade e esforço. Por esse motivo, leriam menos, apresentando,

então, o léxico com um número reduzido de palavras. Consequentemente, a

estratégia ortográfica ficaria prejudicada. Para observar tais aspectos, deve ser

considerado o processo natural de aprendizagem da leitura e escrita.

Em relação ao processamento de leitura, Ellis (2001) refere a existência

de duas vias de acesso: a rota fonológica e a rota lexical. As alterações nessas

rotas indicariam o tipo de dislexia (fonológica ou lexical).

Ø Rota fonológica

Leitura em voz alta e escrita sob ditado implica no processamento

fonológico através de informações baseadas na estrutura fonológica da língua

oral. Decodificação de estímulos gráficos. Para compreender, deve-se ouvir.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

16Ø Rota lexical

Caracteriza-se pela identificação da palavra com acesso direto ao

significado; arquivos que armazenam informações acústicas/ortográficas,

semânticas e fonológicas.

Atualmente, muito se tem estudado sobre as características dos

disléxicos e a natureza da dislexia. A hipótese do Distúrbio do Processamento

Temporal tem sido uma das mais discutidas, e envolve as funções de

percepção, nomeação, repetição, armazenamento, recuperação e acesso à

informação. São basicamente três os tipos de processamento temporal,

descritos por Torgensen, Wagner e Rashote (1994), relacionados à leitura e

escrita:

Rapidez e precisão no acesso ao léxico mental

- Associado à capacidade de nomeação, à informação fonológica e à fluência

verbal. Pode-se ter o vocabulário e o inventário de sons, mas não basta. Deve-

se poder acessá-lo rapidamente à medida que surge a necessidade.

Memória de trabalho fonológica

- Memória na qual armazenamos temporariamente informações que serão úteis

e depois descartadas – no caso da fonológica, refere-se mais especificamente

à retenção dos sons para recuperação consecutiva.

Consciência fonológica

- Capacidade de segmentar a fala em unidades menores como rimas, sílabas e

fonemas; por exemplo, podendo manipulá-las. Desta forma, há a possibilidade

de se refletir sobre a própria língua. Daí se originaria o Distúrbio Fonológico

descrito por Share (1995), diretamente relacionado aos déficits encontrados

nos disléxicos.

A literatura costumava dizer, há alguns anos, que não era possível dar o

diagnóstico de dislexia à criança antes da 2ª. série inicial fundamental (no

antigo sistema de 8 anos de Ensino Fundamental). Sem a menor dúvida, deve-

se considerar o processo de alfabetização que, aliás, não termina nesta série.

Entretanto, não há como compreender a criança sem a sua história: uma

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

17criança de 3º ano que cursou a Educação Infantil e aprendeu a ler formalmente

em uma Classe de Alfabetização, não pode ser comparada a uma criança cujo

meio não estimulou a leitura e que entrou na escola apenas no 1º ano do

Ensino Fundamental de 9 anos. O importante é verificar se a defasagem em

relação aos indivíduos com as mesmas oportunidades supera um atraso

simples de leitura, e se o perfil de avaliação é compatível com o quadro. Além

disso, há uma série de indicadores precoces que, se considerados, possibilitam

a melhor de todas as medidas: a prevenção.

v Indicadores

- Possibilidade de atraso de linguagem

- Dificuldade de nomeação

- Dificuldade na aprendizagem de música com rimas

- Ocorrência de erro na pronúncia de palavras; persistência de fala infantilizada

- Dificuldade em aprender e se lembrar dos nomes das letras

- Falha em entender como as palavras podem ser divididas (sílabas e sons)

- Dificuldade de alfabetização

v Dificuldades básicas apresentadas por disléxicos

- Leitura com muito esforço

- Leitura oral entrecortada, com pouca entonação

- Tropeços na leitura de palavras longas e não familiares

- Adivinhações de palavras

- Necessidade do uso do contexto para entender o que está sendo lido

- Dificuldade de alfabetização

• Desdobramento com o avançar da escolaridade

- Leitura lenta, não automatizada

- Dificuldade de ler legendas

- Falta de compreensão do enunciado prejudicando várias disciplinas

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

18- Substituição de palavras no mesmo campo semântico (ex.: mosca/abelha)

-Dificuldades para aprender outros idiomas

• Alterações na escrita

- Dificuldade na expressão através da escrita

- Dificuldade na concordância (sem que apresente oralmente)

- Dificuldade na organização e elaboração de textos escritos

- Omissões, trocas, inversões de grafemas (surdo/sonoro: p/b, t/d, f/v; em

sílabas complexas: paria ao invés de praia, por exemplo; e outros desvios

fonológicos)

• Habilidades

- Facilidade com raciocínio

- Criatividade, imaginação

- Excelente compreensão para histórias contadas

- Habilidade para gravar por imagens

- Boa performance em outras áreas, quando não depende da leitura, tais como:

matemática, artes, computação, biologia etc.

Apesar de termos visto que a dislexia não é causada por fatores

ambientais, o seu prognóstico depende de forma imprescindível do meio.

Portanto, uma educação que reconheça as dificuldades específicas desses

alunos muito poderá contribuir para o seu desenvolvimento.

Os disléxicos são predominantemente visuais e pensam de uma maneira

multidimensional; são intuitivos, altamente criativos e aprendem melhor quando

utilizam as mãos. Devido ao fato de seus pensamentos serem relacionados a

imagens, e não a palavras, os disléxicos apresentam dificuldade em entender

as letras, os símbolos, as palavras escritas, e se distraem com muita facilidade.

Isso causa uma leitura e aprendizagem fragmentadas e lentas, traçado gráfico

irregular, palavras escritas de forma estranha, dificuldade de soletrar, não

reconhecimento das palavras e troca de grafemas com sons ou grafias

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

19parecidas. Portanto, para que possam aprender a ler, escrever e ter mais

atenção nos estudos é necessário que sejam aplicados métodos adequados ao

seu estilo de aprendizagem.

Associadas a um tratamento interdisciplinar (por vezes, se faz

necessário uma escolha terapêutica, ou seja, priorizar um tratamento em um

dado momento), a escola e a família exercem um papel fundamental para que

a dislexia não se torne um fator de impedimento acadêmico. O professor é

indispensável nesse caminho identificando o quadro, em um primeiro momento,

e podendo compreender e auxiliar essas crianças e jovens em seu processo

educativo.

1.3 - Etiologia

Não podemos considerar como “comprometimento” sua origem

constitucional (neurológica), mas sim como uma diferença que é mais notada

em relação à dominância cerebral.

Há dados que mostram diferenças entre os hemisférios e alteração

(displasias e ectopias) do lado direito do cérebro. Isso implica, entre outras

coisas, numa dominância da lateralidade invertida ou indefinida, mas também

justifica o desenvolvimento maior da intuição, da criatividade, da aptidão para

as artes, do raciocínio mais holístico, de serem mais subjetivos e todas as

outras qualidades características do hemisfério direito.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

20

CAPÍTULO II

DIAGNOSTICANDO A DISLEXIA NA CRIANÇA EM

IDADE ESCOLAR

A avaliação feita hoje em dia para o diagnóstico de Transtorno

Específico de Leitura (ou Dislexia) coloca em prática tudo o que aprendemos

sobre a leitura. A avaliação segue as regras determinadas pela definição de

Dislexia: a dificuldade de leitura de uma criança ou adulto que, em todos os

outros aspectos, possui boa inteligência, forte motivação e escolaridade

adequada.

O diagnóstico de dislexia reflete uma dificuldade inesperada de leitura

em uma pessoa de determinada idade, inteligência, nível de escolaridade ou

profissão. É um diagnóstico clínico que tem como base uma síntese já

ponderada de informações – do histórico escolar da criança (ou do adulto), das

observações de sua fala e leitura e dos testes de leitura e de linguagem.

2.1 - Diagnóstico

Para se fazer um diagnóstico correto da Dislexia, deve-se verificar

inicialmente a história familiar, se existem casos de dislexia ou de dificuldade

de aprendizagem, e se no desenvolvimento da criança ocorreu algum atraso na

aquisição da linguagem (Marinho e cols, 1990). Na leitura dos disléxicos

notam-se confusões de grafemas cuja correspondência fonética é próxima ou

cuja forma é aproximada, bem como a existência de inversões, omissões,

adições e substituições de letras e sílabas. Em nível da frase, existe uma

dificuldade nas pausas e no ritmo, bem como são observadas dificuldades na

compreensão da informação lida.

Na produção escrita, aparecem sintomas semelhantes, verificando-se a

presença de muitos erros ortográficos e lacunas na estruturação e

sequenciação lógica das ideias, surgindo encadeamentos desordenados.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

21As principais manifestações da dislexia nas habilidades de leitura e

escrita são:

• Atraso na competência da leitura e escrita;

• confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia;

• confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com

diferente orientação no espaço;

• inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras;

• substituição de palavras por outras de estrutura similar, porém com

significado diferente;

• adição ou omissão de sons, sílabas ou palavras;

• leitura silábica, hesitante e com muitos erros;

• problemas de compreensão semântica;

• ilegibilidade da escrita, letra rasurada, presença de muitos erros

ortográficos e redação com ideias desordenadas e sem nexo.

Outros sintomas que podem estar associados são:

• Problemas ao nível da motricidade fina;

• problemas ao nível da dominância lateral (lateralidade difusa);

• problemas na percepção viso-espacial;

• problemas na organização espaço-temporal;

• leitura em espelho.

2.2 - Tratamento

Existem diversas abordagens terapêuticas para a Dislexia e a escolha

dependerá da opinião do profissional que tratar o caso. No tratamento do

disléxico há, ao nível da clínica médica, no âmbito da correção das

perturbações posturais e proprioceptivas, três processos que se

complementam:

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

22• Reprogramação postural e psicomotricidade;

• modificação da informação visual através de lentes prismáticas de

pequena potência;

• apoio psicopedagógico especializado.

2.2.1 - Sinais comuns de Dislexia

De acordo com Shaywitz (2006), os primeiros sinais estão relacionados

à fala. Os pais e a escola são os primeiros a perceberem quando a criança

apresenta uma inabilidade específica. Algumas dessas características podem

estar presentes num quadro de dislexia, mas não se faz necessária a presença

de todos os sinais.

O primeiro sinal de um problema de linguagem (e de leitura) pode ser a

demora em começar a falar.

2.2.2 - Na Educação Infantil

• Fala tardia;

• dificuldade para pronunciar alguns fonemas;

• demora na incorporação de palavras novas ao vocabulário;

• dificuldade em fazer rimas;

• dificuldade para aprender cores, formas, números e escrita do próprio

nome;

• dificuldade para seguir ordens e seguir rotinas;

• dificuldade na habilidade motora fina;

• dificuldade de contar ou recontar uma história na sequência certa;

• dificuldade para lembrar nomes e símbolos.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

232.2.3 - No 1º. e 2º. anos do Ensino Fundamental de 9 anos

• Dificuldade em aprender o alfabeto;

• dificuldade no planejamento motor de letras e números;

• dificuldade para separar e sequenciar sons;

• dificuldade com rimas (habilidades auditivas);

• dificuldade em discriminar fonemas homorgânicos;

• dificuldade em sequência e memória de palavras;

• dificuldade para aprender a ler, escrever e soletrar;

• dificuldade em orientação temporal;

• dificuldade em orientação espacial;

• dificuldade na execução de letra cursiva;

• dificuldade na preensão do lápis;

• dificuldade de copiar do quadro.

2.2.4 - Do 3º. ao 9º. anos do Ensino Fundamental

• Nível de leitura abaixo do esperado para sua escolaridade;

• dificuldade na sequenciação de letras e palavras;

• dificuldade na soletração de palavras;

• evitação de leitura em voz alta diante da turma;

• dificuldade com enunciados de problemas matemáticos;

• dificuldade na expressão através da escrita;

• dificuldade na elaboração de textos escritos;

• dificuldade na organização da escrita;

• dificuldade na compreensão de textos;

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

24• dificuldade na compreensão de piadas, provérbios e gírias;

• omissões, trocas e aglutinação de grafemas;

• dificuldade de planejar e organizar (tempo) tarefas;

• dificuldade na compreensão de linguagem não verbal;

• dificuldade em memorizar tabuada;

• dificuldade com figuras geométricas;

• dificuldade com mapas.

2.2.5 - Ensino Médio

• Leitura vagarosa e com muitos erros;

• permanência da dificuldade em soletrar palavras mais complexas;

• dificuldade para produzir histórias;

• dificuldade em planejar e fazer redações;

• dificuldade nas habilidades de memória;

• dificuldade em entender conceitos abstratos;

• dificuldade de prestar atenção em detalhes ou, ao contrário, atenção

demasiada a pequenos detalhes;

• vocabulário empobrecido;

• criação de subterfúgios para esconder sua dificuldade.

2.2.6 - Adultos

• Permanência da dificuldade para escrever em letra cursiva;

• dificuldade em planejamento e organização;

• dificuldade com horário;

• falta do hábito de leitura;

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

25• normalmente têm talentos especiais.

A Dislexia é muitas vezes associada a outros termos e perturbações. É

acompanhada frequentemente de disgrafia, isto é, dificuldade na grafia de

letras e de palavras.

Outro termo muito associado à dislexia é a disortografia, que é a

dificuldade em escrever corretamente as palavras (erros ortográficos). Às

vezes este pode ser o primeiro ou o único sintoma visível nas crianças

disléxicas. Podem surgir dificuldades na simbolização dos números –

discalculia.

Vários autores dizem que não se pode falar de dislexia antes dos 7

anos, ou antes de um atraso de pelo menos 2 anos na escolaridade pois, antes

desse período, erros dessa natureza são muito comuns mesmo em crianças

sem o transtorno.

Para um correto diagnóstico de dislexia é indispensável recorrer à

avaliação de profissionais experientes neste domínio (fonoaudiólogos,

psicólogos, neurologistas). É necessário verificar se é uma dislexia

propriamente dita ou se é um atraso no desenvolvimento da leitura decorrente

de fatores adversos, como uma deficiência sensorial ou atraso cognitivo. Há

casos em que pode ocorrer mais de um transtorno ao mesmo tempo, fenômeno

conhecido como comorbidade.

2.3 - Critérios diagnósticos para Dislexia, segundo o sistema DSM-IV:

De acordo com o sistema diagnóstico e estatístico proposto pela

Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV TR, 2002), há alguns critérios

para o estabelecimento do diagnóstico de Dislexia – ou Transtorno Específico

de Leitura:

A – O rendimento na leitura, medido através de provas normalizadas de

exatidão ou compreensão da leitura, aplicadas individualmente, situa-se

substancialmente abaixo do nível esperado para a idade cronológica do sujeito,

quociente de inteligência e escolaridade própria para a sua idade.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

26B – A perturbação do critério A interfere significativamente com o rendimento

escolar ou atividade da vida cotidiana que requerem aptidões de leitura.

C – Se estiver presente um déficit sensorial, as dificuldades de leitura são

excessivas em relação às que lhe estariam habitualmente associadas.

2.4 – Avaliação Neuropsicológica

Distúrbio de aprendizagem é um conceito específico, associado

necessariamente à presença de uma disfunção do sistema nervoso central.

Esses distúrbios pertencem a um grupo heterogêneo de alterações,

manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala,

leitura, escrita, raciocínio e/ou habilidades matemáticas. O distúrbio pode

ocorrer concomitante a outras situações desfavoráveis ou influências

ambientais, mas não é resultado direto de nenhuma dessas condições ou

influências (Gil, 2002).

Crianças quando não diagnosticadas e não tratadas corretamente,

tornam-se adultos com significativas dificuldades profissionais e desajuste

social. Normalmente, as crianças são indicadas para avaliação psicológica e

recebem orientação de tratamento somente nessa área; contudo, faz-se

necessário uma avaliação (que leve em consideração não somente os

aspectos psicológicos, mas também os cognitivos). Para tanto, a avaliação

neuropsicológica complementa o diagnóstico, utilizando baterias de testes e

abordando as diferentes esferas da cognição, como percepção visual,

capacidade de planejamento, memória, atenção, dentre outras.

A avaliação neuropsicológica visa à reabilitação utilizando-se de baterias

de testes específicos para estabelecer as forças e fraquezas de cada indivíduo,

para planejamento sistemático de um programa terapêutico.

2.4.1 – Neuropsicologia e dislexia

A avaliação neuropsicológica vai se correlacionar intimamente com o

desenvolvimento estrutural, funcional e comportamental, com o objetivo

primordial de ser um esforço multidisciplinar para se conhecer o funcionamento

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

27cerebral, processos psicológicos, linguísticos e motores, mostrando ao mesmo

tempo a interdependência e a independência dos mesmos.

Dentro de um processo avaliativo integrado, o principal foco passa a ser

o desempenho qualitativo, mostrado pela soma do desempenho potencial e

real do indivíduo associados, por exemplo, à imagem cerebral propriamente

dita.

Na avaliação neuropsicológica, começa-se a avaliar uma função que

corresponde ao produto final de uma sequência de atividades cerebrais, que

envolve várias atividades espalhadas atuando em uma combinação temporária.

Uma falha em qualquer uma dessas unidades resulta em uma deficiência de

desempenho em todas as funções necessárias para se desenvolver uma

atividade. Com uma avaliação bem feita, pode-se observar e inferir pelo

comportamento apresentado como está cada uma das áreas e zonas corticais

específicas e inferir sobre possíveis disfunções.

Para se avaliar uma criança deve-se, antes de qualquer procedimento,

saber exatamente o que pretendemos com a avaliação e a quem ela trará

benefícios. O investimento no processo diagnóstico procura suprir

necessidades de forma objetiva, no sentido de solucionar problemas frente à

demanda cada vez maior.

No Brasil, o enfoque neuropsicológico de intervenção nas dislexias de

desenvolvimento é ainda pouco difundido. Os poucos estudos nacionais em

geral enfocam a instrução em consciência fonológica e nas correspondências

grafema-fonema em crianças de pré-escola e anos iniciais com atrasos nas

habilidades fonológicas como forma de prevenção de dificuldades de leitura

(Capovilla e Capovilla, 1998, 2000 a, b, 2002; Santos e Navas, 1997).

Capellini e Ciasca (2000) aplicaram um programa de treinamento em

consciência fonológica em 2 grupos de crianças: 1) com distúrbio específico de

leitura/escrita; e 2) com distúrbio de aprendizagem. O treino de consciência

fonológica teve efeitos sobre o desempenho nas tarefas de consciência

fonológica e no nível de velocidade de leitura de ambos os grupos. Em outro

estudo nacional, Rego e Dubeux (1994) realizaram uma intervenção em

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

28crianças de pré-escola e primeira série, centrada na leitura em contexto,

envolvendo reflexão sobre a palavra como sequência de sons, para despertar o

conhecimento da estrutura do sistema de escrita alfabético. Seus resultados

foram favoráveis em termos de compreensão do sistema alfabético de escrita e

na leitura.

Existe uma grande quantidade de estudos de intervenção nas

habilidades de leitura-escrita e processamento fonológico na literatura

internacional, realizados principalmente no sistema de escrita da língua inglesa.

Algumas abordagens enfocam as habilidades de processamento fonológico da

linguagem (consciência fonológica) em pré-leitores e leitores iniciantes,

considerados de risco para desenvolver dificuldades específicas de leitura

(Byrne e Fielding-Barnsley, 1989; Berninger e cols, 2002). A maioria desses

estudos é consistente com a visão de que a instrução em consciência

fonológica pode auxiliar as crianças a aprender a ler (Bradley e Bryant, 1991) e

que consciência fonêmica e conhecimento de letras são necessários, mas não

suficientes, para proporcionar à criança a descoberta do princípio alfabético

(Byrne e Fielding-Barnsley, 1989; Ball e Blachman, 1991).

Em crianças que apresentam dificuldades específicas no aprendizado da

leitura, a instrução em consciência fonológica também tem se mostrado efetiva,

especialmente quando combinada com tarefas de leitura (Hatcher e cols,

1994), principalmente aquelas que enfocam o desenvolvimento da rota

fonológica (Berninger e cols, 1999). Na literatura internacional a intervenção em

leitura especificamente enfoca ou as habilidades de reconhecimento de

palavras isoladas (leitura fora de contexto), ou o processo de compreensão

textual (leitura em contexto). Outros estudos associam essas duas formas de

intervenção à instrução em consciência fonológica (Wise e cols, 1999). Na

pesquisa de Lovett e cols (1988) foi demonstrado que a intervenção direta em

reconhecimento de palavras isoladas é mais efetiva para melhorar a habilidade

de acesso ao léxico mental do que uma abordagem baseada na leitura e

compreensão textual.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

29

CAPÍTULO III

CLASSIFICAÇÃO DAS DISLEXIAS

A literatura especializada fala sobre diferentes tipos de Dislexia, sendo a

principal divisão entre “dislexias adquiridas” e “dislexias do desenvolvimento”.

Embora algumas dessas designações não sejam alvo do presente estudo,

descreve-se aqui as mais comumente referidas para não gerar confusão entre

o Transtorno Específico de Leitura e outras formas de dislexia.

3.1 Dislexias adquiridas

A dislexia adquirida foi estudada no final do século XIX por neurologistas

como Carl Wernicke, mas a maior parte das perguntas sobre dislexia adquirida

foi realizada a partir de meados da década de 70. Quando neuropsicólogos

cognitivos investigam a dislexia adquirida, sua abordagem não é tanto

perguntar que parte do cérebro está danificada, mas indagar que partes do

processo normal de leitura foram danificadas ou perdidas. Esses modelos

cognitivos incorporam diversos processos diferentes, que vão desde a

identificação da letra e reconhecimento visual de palavras, até a compreensão

semântica e apreciação fonológica das formas sonoras das palavras.

Shallice e Warrington (1980) introduziram uma distinção útil entre as

dislexias adquiridas: periféricas e centrais.

As dislexias periféricas são transtornos nos quais o sistema de análise

visual está danificado, resultando em uma faixa de condições nas quais a

percepção de letras nas palavras está prejudicada. As dislexias centrais são

um agrupamento de transtornos nos quais os processos, além do sistema de

análise visual, estão danificados, resultando em dificuldades que afetam a

compreensão e/ou comunicação de palavras escritas.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

303.1.1 - Dislexias Periféricas

• Dislexia por negligência – consecutivas a uma lesão parietal do

hemisfério direito, provocam perturbação na leitura do começo das palavras. A

pessoa passa, então, a não ler ou a trocar a primeira letra de uma palavra.

• Dislexia da atenção – os problemas nesses pacientes surgem quando

encontram várias letras em uma cadeia ou diversas palavras na página. Um

processo de atenção é necessário para a manutenção do foco sobre uma letra

ou uma palavra que está sendo identificada e para garantir que o indivíduo não

seja suplantado por demasiadas informações de outros pontos no mundo

visual.

• Leitura letra-por-letra – geralmente associada a uma hemioplasia lateral

homônima direita. Os pacientes ao verem uma palavra escrita, percorrem-na

laboriosamente, identificando as letras uma de cada vez antes de tentarem

dizer a palavra completa.

3.1.2 - Dislexias centrais

• Leitura não-semântica (assemântica) – é uma leitura normal, mas sem

acesso ao sentido, observada em pacientes com quadros demenciais.

• Dislexia de superfície – dano da via lexical, só permite uma leitura

fonológica; as palavras regulares são, então, decifradas, existindo uma

dificuldade para ler palavras irregulares. Os pacientes tratam as palavras

familiares como se fossem estranhas, decompondo-as em suas letras e

agrupamento de letras, convertendo cada uma em fonemas e pronunciando a

sequência sonora resultante. É normalmente acompanhada de distúrbio na

escrita e, frequentemente, de uma afasia fluida.

• Dislexia fonológica – designa a incapacidade de ler a partir da pronúncia

por perturbação da via fonológica. A leitura só pode ser feita após a ativação do

léxico visual. Os disléxicos fonológicos são capazes de fazer uso efetivo do

procedimento de leitura sublexical.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

31• Dislexia profunda – associa, à síndrome de dislexia fonológica, a

produção de erros (paralexia), que podem ser semânticos ou visuais. A dislexia

profunda coexiste anatomicamente com volumosas lesões do hemisfério

esquerdo. Os pacientes leem mais facilmente palavras que tem referencial

concreto do que palavras abstratas.

Um resumo elucidativo dessa classificação, estabelecendo a correlação

entre características clínicas e neuroanatômicas encontra-se na tabela

apresentada a seguir, extraída de um artigo publicado pelas autoras Schirmer,

Fontoura e Nunes (2004), da PUCRS e disponível no site www.autismo.com.br

Tabela 1 – Classificação das dislexias centrais e periféricas (Extraída do site www.autismo.com.br)

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

323.2 Dislexias do desenvolvimento

Descrita a primeira vez no fim do século XIX, com o nome de “cegueira

verbal congênita” (Morgan, 1896), a dislexia do desenvolvimento designa um

distúrbio na aquisição da leitura, que pode afetar o reconhecimento de palavras

e a compreensão da leitura e que não pode ser imputado a um retardo mental,

nem a uma escolarização inadequada, nem a um distúrbio sensorial, visual ou

auditivo, nem a uma lesão cerebral.

• Características da dislexia do desenvolvimento, de maneira que ela

possa ser comparada, e não confundida, com outros distúrbios em que há

dificuldade de leitura

- Na dislexia do desenvolvimento, a deficiência fonológica ocupa posição

principal, estando os outros componentes da linguagem intactos, e a

dificuldade de leitura está no nível da decodificação das palavras individuais,

inicialmente com precisão e depois com fluência. A inteligência não é afetada e

pode estar na faixa superior ou superdotada. O distúrbio está presente desde o

nascimento, não sendo adquirido.

- Na deficiência de aprendizagem da linguagem, o principal déficit envolve

todos os aspectos da linguagem, incluindo tanto os sons quanto os significados

das palavras. A dificuldade de leitura está no nível tanto da decodificação

quanto da compreensão, e as dificuldades de linguagem de todos os tipos são

evidentes. Os índices de inteligência verbal são significativamente afetados

pelos déficits de linguagem, e a inteligência pode estar em nível inferior à

média. As pessoas nascem com o problema.

- Na alexia adquirida, há uma perda ou diminuição da capacidade de leitura,

resultante de um trauma cerebral, um tumor ou um derrame que tenha afetado

os sistemas cerebrais necessários à leitura. Pode haver outros sintomas, tais

como a perda da fala ou fraqueza no lado direito do corpo, dependendo da

região exata afetada pela lesão cerebral. Ao contrário da dislexia do

desenvolvimento, esta disfunção é adquirida e é mais frequentemente

observada em pessoas de meia idade ou idosas.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

33- A hiperlexia é uma disfunção relativamente rara, cuja causa é desconhecida

sendo, em vários sentidos, a imagem espelhada da dislexia. As crianças que

nascem hiperléxicas aprendem a decodificar as palavras muito cedo, às vezes

por volta dos 3 anos ou na Educação Infantil. Demonstram um interesse

precoce e intenso pelas palavras, e sua excepcional capacidade de

reconhecimento das palavras é frequentemente nítida por volta dos 5 anos,

mas sua compreensão de leitura é extremamente deficiente. Além disso, há

déficits de raciocínio e na solução de problemas abstratos. Não é incomum que

as crianças com essa característica tenham dificuldades em estabelecer

relações com outras crianças e também com adultos.

Muitas pessoas confundem o Transtorno do Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH) com a dislexia. Alguns até usam os dois termos

indiscriminadamente. Mas o TDAH e a dislexia são disfunções completamente

diferentes. A dislexia é uma disfunção cuja base é a linguagem e que afeta a

leitura; o TDAH é um problema que reflete dificuldades para distribuir, focar e

sustentar a atenção.

A dislexia surge, às vezes, em crianças que têm antecedentes de

distúrbios do desenvolvimento da linguagem oral e, em geral, vem

acompanhado de dificuldades na escrita. A dificuldade na aquisição da leitura

pode estar associada a comportamentos perturbadores (hiperatividade,

distúrbio de oposicionamento).

o Dislexias fonológicas (disfonéticas) – têm a característica típica de

preservação da leitura das palavras, regulares ou irregulares. No plano

ortográfico, as dificuldades são bem menores com as palavras

familiares.

o Dislexia do desenvolvimento de superfície (disedéiticas) – caracteriza-se

pela preservação relativa da leitura de palavras regulares, sendo que a

leitura de palavras irregulares é muito difícil. A criança manifesta uma

tendência à regularização. No plano da escrita a criança escreve as

palavras como são pronunciadas.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

34Uma vez estabelecidas tantas denominações sob o mesmo termo

(dislexia), é importante a diferenciação apresentada para que diversos grupos

de pesquisadores e clínicos, em todo o mundo, possam fazer uso de uma

nomenclatura única, com quadros clínicos bem estabelecidos.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

35

CAPÍTULO IV

INTERVENÇÃO

A tarefa tem um enquadramento próprio que possibilita solucionar os

efeitos mais nocivos dos sintomas para, então, dedicar-se a afiançar os

recursos cognitivos. A intervenção é, a princípio, sintomática, situacional e

operativa.

O trabalho também deve ter como objeto, sempre que necessário, a

atenção e a memória. Somente a partir de uma clareza do educador na

identificação da problemática é possível trabalhar com um planejamento

adequado às necessidades do educando.

Dependendo do momento da constituição do sujeito, as estratégias e os

objetivos serão diferenciados, respeitando o que é necessário ser construído a

fim de favorecer o processo de aprendizagem ou, ainda, o que é preciso

“desconstruir”, quando falamos daqueles indivíduos que apresentam defesas

contra a aprendizagem e, eventualmente, receberam diagnósticos que os

deixaram no lugar de incapazes.

Considerando os vários fatores que estão relacionados aos sintomas de

dificuldades de aprendizagem e que influenciam o aparecimento destes,

poderemos colaborar para que este indivíduo seja resgatado na sua condição

de aprendiz, recuperando sua auto-estima, desenvolvendo e ampliando seus

recursos para o crescimento e amadurecimento de seu aprendizado.

Vários pontos são essenciais para uma intervenção de sucesso. O

primeiro é o conteúdo do programa. Aqui deve-se focalizar as questões de

implementação – quando, como, por quem e por quanto tempo a intervenção é

apresentada ao aluno. Em geral não percebidos como deveriam, esses fatores

determinam o sucesso ou fracasso, mesmo das melhores intervenções.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

364.1 - Intervenção precoce

O diagnóstico é o primeiro passo essencial para ensinar uma criança

disléxica a ler. Quanto mais cedo, melhor. As crianças que recebem ajuda

precocemente podem seguir o mesmo caminho de leitura de seus colegas. As

crianças identificadas mais tarde ressentem-se da falta de prática, que é

essencial.

Os leitores que apresentam dificuldades são os que recebem a menor

quantidade de prática de leitura sendo, na verdade, quem mais precisa dessa

prática. Eles evitam ler, leem menos e, com isso, ficam cada vez mais para trás

no que diz respeito à quantidade de palavras que leram e praticaram, quando

comparados a seus pares. Uma criança disléxica que não é identificada até o

4º. ano já está milhares de palavras atrás de seus colegas; uma lacuna que

deverá ser preenchida, para que um dia chegue ao mesmo nível deles. Assim,

a melhor intervenção é a prevenção na pré-escola ou a ajuda a partir do 1º. e

2º. anos.

4.2 - Ensino intensivo

O ensino da leitura para o leitor disléxico deve ser ministrado com

grande intensidade. Isso reflete a necessidade de mais ensino por parte da

criança disléxica – ensino que é regulado de maneira mais fina e mais explícita.

Não se esqueça de que ela está atrás de seus colegas e deve progredir mais

do que eles para alcançá-los. O disléxico deve dar um salto; caso contrário,

ficará para trás.

O ensino eficaz da leitura responde às necessidades únicas da criança,

a suas ações e a seu comportamento. Seu professor deve saber desacelerar,

repetir, aumentar a velocidade ou mudar o ritmo, encontrar uma explicação

alternativa e parar. Isso significa que o professor deve interagir com ela na

frequência suficiente para detectar mudanças e para ajustar o ensino de acordo

com tais mudanças.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

37Em uma situação ideal, a criança que tem dificuldades de leitura deveria

estar em um grupo de 3 e não mais do que 4 alunos, recebendo ensino

especializado de leitura pelo menos 4 ou, preferencialmente, 5 dias por

semana. Um grupo maior ou menos tempo de ensino diminuirá as

possibilidades de sucesso.

4.3 - Ensino de alta qualidade

O ensino de qualidade é ministrado por um professor altamente

qualificado. Ensinar uma criança disléxica a ler é muito difícil. É um processo

altamente interativo cujo efeito repercute rapidamente entre o professor e a

criança. Aumentar a atenção da criança requer um esforço constante de parte

do professor, que deve trabalhar ativamente para desenvolver a criança,

fazendo perguntas a ela ou pedindo para que justifique uma resposta. Ler é um

trabalho extremamente difícil para o aluno disléxico, e o objetivo do professor é

evitar que o aluno se distraia.

Para que a meta do professor tenha sucesso é preciso que ele possua o

conhecimento e experiência em métodos científicos para o ensino da leitura.

4.4 - Duração suficiente

Um dos erros mais comuns que se comete ao ensinar as crianças

disléxicas a ler é deixar de usar, prematuramente, o ensino que parece estar

funcionando. Uma criança que leia com precisão, mas não com fluência em

seu nível, ainda exige ensino intensivo. Uma criança com problemas de leitura

e que não seja identificada cedo pode exigir cerca de 150 a 300 horas de

ensino intensivo (pelo menos 90 minutos por dia em quase todos os dias de

aula durante um período de 1 a 3 anos) para que a lacuna existente entre ela e

seus colegas seja preenchida. E, é claro, quanto mais se atrasar a identificação

do problema e o ensino da leitura, mais necessidade a criança terá de chegar

ao nível de seus colegas.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

38Pode-se assegurar que a criança disléxica aprenda a ler da seguinte

maneira:

► Busca ajuda cedo;

► amplie ao máximo o tempo de instrução com sessões freqüentes,

pequenos grupos e com duração suficiente;

► insista em contar com professores qualificados;

► insista em contar com programas de leitura já testados.

4.5 - Psicopedagogia e Dislexia

Tendo em vista a dislexia, torna-se necessária a criação de estratégias

mais específicas de intervenção. Encontra-se excelentes resultados através de

um trabalho globalizado, abrangendo as diferentes áreas do conhecimento e a

área perceptomotora, que permite além de um melhor atendimento às

dificuldades do disléxico, o desenvolvimento do seu potencial cognitivo e

emocional como um todo. Deve-se tentar promover a multiplicidade das

inteligências, a diversidade de talentos e estilos cognitivos do indivíduo, bem

como desenvolver uma postura que vise à maior qualidade de vida do

disléxico. Dessa forma, trabalhar as possibilidades de um sujeito, seja ele

disléxico ou não, é dar a ele oportunidade de perceber este mundo através de

seus melhores canais receptivos e expressivos. É favorecer o desenvolvimento

das suas aptidões e do conhecimento de si mesmo e dos outros, ampliando

sua capacidade simbólica.

Um diagnóstico psicopedagógico engloba o professor, o aluno e o

conhecimento contextualizado na escola, especificamente na sala de aula,

lugar onde se constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas tendo

como pano de fundo a instituição escolar.

Os fundamentos desse diagnóstico também revelam um tempo, um

lugar e um espaço que é dado para aquele que aprende e para aquele que

ensina. Historicamente, a prática educativa e a psicopedagógica são derivadas

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

39das distintas teorias de aprendizagens que sustentam as concepções

diferentes em relação à tríade: professor-aluno-conhecimento.

O empirismo fundamenta-se na ideia de que o conhecimento está

unicamente fundado na experiência. Nesta concepção, o sujeito cognitivo é

comparável a uma folha de papel em branco, aonde vão se escrevendo as

impressões procedentes do mundo externo. Esta concepção admite um sujeito

epistêmico considerado como receptáculo, que a princípio está vazio e que

progressivamente vai sendo preenchido pelos dados fornecidos da realidade.

Logo, o processo de diagnóstico institucional é de grande valia, pois indicará

parâmetros de como intervir com eficiência nas escolas, sendo salutar observar

quais correntes filosóficas influenciam nas instituições escolares, bem como

embasam as teorias de aprendizagem que ora fundamentam a prática

pedagógica da escola.

Lidar com clientes disléxicos implica em envolver escola, pais e aluno no

processo de aquisição da leitura, o que muitas vezes recai sobre a questão da

inclusão num sentido mais amplo.

A educação inclusiva caracteriza-se pela crença em uma escola aberta

às diferenças. Entretanto, ainda existe uma ambiguidade em relação ao

atendimento diferenciado e propostas de alternativas pedagógicas que facilitam

ao disléxico compensar suas dificuldades, aprimorar suas habilidades e

adaptar-se às demandas educativas e sociais. Observou-se que um sistema de

inclusão de sucesso requer que a comunidade acredite na competência das

escolas em atender às necessidades de todos os estudantes. Os pais devem

ter confiança na capacidade das instituições escolares atenderem alunos com

e sem necessidades especiais. Assim, é possível afirmar que as atitudes

parentais em relação à inclusão escolar constituem uma variável fundamental

para determinar o sucesso da educação inclusiva.

A educação inclusiva é um projeto a ser construído por todos, família e

população em geral, e só terá êxito quando as atitudes em relação à inclusão

escolar forem positivas.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

40O futuro da educação inclusiva em nosso país dependerá de um esforço

coletivo, que obrigará a uma revisão na postura de pesquisadores, políticos,

prestadores de serviços, familiares e indivíduos com necessidades especiais, a

fim de buscar atingir uma meta comum: a de garantir uma educação de melhor

qualidade para todos.

Compete aos educadores, em conjunto com a comunidade e

profissionais em equipe multidisciplinar, demonstrarem que a escola tem

competência para atender às necessidades de todos os estudantes. Para

persuadi-los, retórica não basta; há necessidade de serem apresentados

propostas e resultados concretos, que garantam o acesso, a permanência e o

sucesso dos alunos. O atendimento educacional especializado deve integrar a

proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser

realizado em articulação com as demais políticas públicas.

Além disso, oportunizar propostas de intervenção e assessoria às

escolas, com vista à efetivação de uma educação inclusiva, reforçando a ideia

de que esta ação requer modificações nos processos de gestão, na formação

continuada de professores, na filosofia e metodologias educacionais e, ainda,

na interação com outros segmentos da sociedade. Dentre as dificuldades para

esse trabalho estão a falta de conhecimento sobre as dificuldades e a

inexistência de projeto pedagógico que atenda à diversidade.

Diante dessas ideias, chega-se à constatação de que a inclusão escolar

pressupõe, além da crença na inclusão, uma atitude inclusiva, que implica em

mudanças filosóficas e de paradigmas no contexto escolar, oportunizando

assim uma integração social aos portadores de dislexia.

4.6 – Aspectos psicológicos da Dislexia

Antes da alfabetização, dificilmente se observa a falta de habilidade com

as palavras, e a vida da criança parece fluir com tranqüilidade. Entretanto,

quando esta criança é apresentada às letras, parece que o seu mundo

desmorona. Todos os tipos de ansiedade podem surgir no momento em que

ela percebe que tem algo de diferente dos colegas que, com facilidade e

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

41naturalidade, iniciam o processo de alfabetização. Cada criança reage à sua

própria maneira: uns podem se intimidar, outros podem se agitar.

Pais relatam mudanças na atitude de seus filhos. Eles não querem ir

para a escola, o sono é intranquilo, tornam-se inseguros nas relações sociais e

acabam questionando a própria inteligência. Portanto, quanto mais cedo for

feito o diagnóstico diferencial entre dificuldades de aprendizagem em geral e

transtornos específicos de leitura, mais possibilidade haverá de oferecer uma

orientação adequada à família e escola.

Todos os disléxicos, até receberem o diagnóstico, enfatizam a fantasia

de serem “burros”. Esta fantasia, de modo geral, se instala junto com a

apreensão dos pais e professores quanto à capacidade intelectual destas

crianças. Relatos de adultos disléxicos que receberam diagnóstico tardio

descrevem o sofrimento de se acreditarem “burros” e o seu alívio emocional

quando descobriram que a dislexia não é uma deficiência intelectual.

A criança, por mais esforço que faça, não consegue aprender no ritmo

exigido pela escola. Os pais, decepcionados, porque é neste momento que seu

filho faz a inserção na cultura letrada, frequentemente não suportam as

circunstâncias, vivendo-as com ansiedade. O problema com a leitura e a

escrita é sério, persistente e se reflete na auto-estima da criança, que se sente

incapaz de corresponder às expectativas dos pais e da escola.

As consequências podem ser desastrosas. Quando não recebe o

suporte adequado, a criança insegura de sua capacidade pode desenvolver

uma baixa auto-estima. Se a família desorientada tratá-la como incapaz, isso

se refletirá na comprovação da sua auto-imagem, ou seja: “Se penso que sou

‘burro’, minha família e minha escola me olham como ‘burro’, então sou ‘burro’”.

A criança pode também escolher o caminho da falta de interesse ou relutância

frente à tarefa de que não dá conta e, facilmente, ser rotulada de preguiçosa.

Assim, ela vai arrastando a imagem de preguiçosa e incapaz carregando

adjetivos injustos pela vida afora, que irão influenciar na formação de sua

identidade.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

42A palavra existe não só como instrumento de comunicação com o meio

que nos cerca (o mundo externo), mas também como instrumento de pensar e

organizar o nosso mundo interno. Este é o ponto relevante para se entender

como a palavra é necessária para estabelecer o processo de comunicação e

organização interna. Pensamos com as palavras, é através delas que nos

organizamos. O disléxico, porém, em muitos momentos, se sente confuso e

desnorteado ao não encontrar a palavra que precisa para sua comunicação

com o mundo e consigo mesmo.

Há relatos de pacientes referindo a ocorrência de sintomas físicos de

estresse, tais como palpitação, sudorese, vertigem, falta de ar, quando

confrontados com provas orais e escritas.

Vale ressaltar o valor da plasticidade humana, buscando sempre novas

soluções para os problemas. É na fase de aprendizagem que a criança procura

construir novos recursos para as suas dificuldades. Caso esses recursos sejam

entendidos como soluções inteligentes e criativas, a criança se sentirá mais

capaz e reconhecida. Poderá caminhar na vida sem sentir-se um “deficiente” e,

sim, uma pessoa capaz de administrar sua dislexia com criatividade e valor.

(Atiê et al., 2009)

4.6.1 – Problemática emocional

As repercussões da dislexia são muitas vezes consideráveis, quer ao

nível do rendimento escolar, quer ao nível do comportamento da criança,

originando, nesses dois domínios, perturbações de gravidade variável.

Frequentemente as crianças disléxicas apresentam comportamento opositivo,

agressividade, fuga ou, pelo contrário, passividade, interiorização, enurese

secundária, perturbações do sono etc.

A instabilidade, as alterações da afetividade e a ansiedade são

efetivamente sintomas resultantes de uma dislexia. Essa sintomatologia não

permite, por seu lado, a natural concentração, interesse e desejo de aprender,

perturbando muitíssimo as condições de aprendizagem da criança.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

43A criança disléxica é geralmente triste e deprimida pelo repetido fracasso

em seus esforços para superar suas dificuldades; outras vezes, mostra-se

agressiva e angustiada. A frustração causada pelos anos de esforço sem êxito

e a permanente comparação com as demais crianças provocam intensos

sentimentos de inferioridade.

Em geral, os problemas emocionais surgem como uma reação

secundária aos problemas de rendimento escolar. As crianças disléxicas

tendem a exibir um quadro mais ou menos típico, com variações de criança

para criança, cuja reação característica é uma atitude depressiva diante das

suas dificuldades. A criança mostra-se deprimida, triste e culpada; recusa-se a

participar de situações e atividades que exijam a leitura e a escrita, devido ao

temor de viver novamente uma experiência de fracasso. Uma atitude agressiva

e pejorativa diante dos seus superiores e iguais, revelando negativismo,

agressividade e hostilidade para com figuras como professores e colegas mais

adiantados na escola também é comumente observada. Uma sensação de

antipatia concomitante a uma diminuição da auto-estima; sentimento de

insegurança, de vergonha e de desespero como resultado do seu sucessivo

fracasso; frustração pelo mau desempenho e, ainda, uma reduzida motivação

para as atividades que impliquem a mobilização de competências acadêmicas.

A problemática emocional tende a gerar um ciclo de inadaptação, conforme

apresentado na figura a seguir.

Quadro 2 – Ciclo de inadaptação

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

44

CAPÍTULO V

O ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA E DA ESCOLA

5.1 - Como os pais podem ajudar

a) Ser positivo

• Descobrir tudo o que puder sobre o desempenho do disléxico e os

melhores caminhos para ele

• Procurar o profissional adequado para ajudá-lo

b) Ser paciente e perseverante

• Tentar desenvolver um bom relacionamento com os professores e

discutir o problema com eles

• Tentar ficar calmo ao receber alguma notificação escolar

• Ensinar ao disléxico a fazer coisas sozinho, dando-lhe autonomia

• Ensinar ao disléxico como se organizar, usando seu tempo da melhor

maneira

• Ser paciente com os progressos que o disléxico fizer quando estiver

tendo atendimento apropriado. Não vão acontecer milagres

c) Ser atento

• Não deixar o disléxico desistir

• Devido aos esforços, o disléxico precisará, eventualmente, ter um dia

mais folgado

• Nunca fazer comparaçãoes

• O disléxico poderá ter muitos desapontamentos e sinais de estresse

(enurese, introversão etc). Não justificar todos os sinais pela dislexia

• Tomar cuidado com a superproteção

d) Ser prático

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

45• Ler para o disléxico

• Digitar suas anotações escolares

• Gravar as matérias em fitas cassete

• Desenvolver o interesse do disléxico por arte de um modo geral

• Assistir TV e vídeos com ele e depois conversar sobre o que viram

• Incentivar as atividades livres

• Elogiar, motivar, informar e estimular sua auto-confiança e sua auto-

estima

5.2 - Vivências de uma família disléxica

O relato a seguir foi extraído do site da Associação Nacional de Dislexia

(AND). Trata-se de B., um menino de 12 anos, que à época cursava o 7º. ano

e, atualmente, consegue acompanhar os estudos, mesmo com dificuldade. B.

conta:

“Somos 4 irmãos e meus dois irmãos mais velhos sofreram muito no

colégio. Eu me lembro que quando era pequeno, eu dizia em casa: ‘Estou

ouvindo, mas não entendo!’ Mesmo agora tenho que fazer um grande esforço

para entender o que dizem na escola. Até em casa, não consigo acompanhar

bem as histórias da televisão. Meu irmão mais velho vive perguntando à mulher

dele o que aconteceu no programa de TV. E por isso eu não me sinto tão burro,

pois eu sei que meu irmão não é burro!

Antigamente eu pensava que eu era idiota e não me relacionava com os

meus colegas. Eles me chamavam de burro. É claro que era mais fácil me

relacionar com os adultos. Agora, que estou mais velho, eu já consigo me dar

bem com outras crianças.

Na 2ª. série, eu comecei a receber ajuda – fui para a fono e comecei a

perceber que eu podia aprender, só que meu tempo era maior. Precisei de

muita ajuda para aprender a ler.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

46Meu irmão de 21 anos ainda tem problemas com a leitura e a escrita

(ortografia), mas ele é muito vivo para outras coisas. Ele compreende tudo

quando ouve e aprende rapidinho. Ele é melhor do que eu nessa parte.

Eu tive também aulas de computador, o que me ajudou muito no meu

trabalho escolar. Todos os meus livros, exceto matemática e gramática, estão

gravados em fitas. Preciso, ainda, de muita ajuda em casa: minha mãe é para

mim, uma professora muito especial! Conto também com a ajuda da fono!

Aliás, toda nossa família é especial – fora do comum! Nós 3 temos problemas

com a aprendizagem, mas todos os meus irmãos estão indo bem na faculdade,

embora tenham ingressado mais tarde. Um dos meus irmãos tem um colega

que anota tudo para ele, pois ele não consegue ler o que escreve! Nas

matérias com muita leitura, minha mãe faz resumos digitados no computador.

Pouco a pouco, também vou me sentindo bem.

Sei que meus irmãos são legais. Nós rimos muito das nossas besteiras.

Por exemplo, quando meu irmão mais velho se perde dirigindo, ou também

quando ele anota ao contrário o número do prédio que procura. Aliás, meu

irmão é igual à minha mãe. Quando dirige, vive se perdendo. Bem; o mais

importante é que estamos todos juntos, no mesmo barco, lutando para

conseguir vencer.”

5.3 - Disléxicos famosos

Uma outra maneira dos pais ajudarem seus filhos a compreender que o

diagnóstico de Dislexia não é impeditivo de um desenvolvimento profissional,

social e pessoal pleno é através da apresentação de casos de pessoas

famosas que conquistaram seu espaço no mercado de trabalho, apesar do

quadro clínico. Alguns exemplos são os descritos a seguir:

• Thomas Edison, inventor da lâmpada, foi chamado de deficiente mental

pelo professor, pois não conseguia aprender a ler

• Albert Einstein, não falou até os 4 anos de idade e somente conseguiu

ler aos 11 anos

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

47• Agatha Christie, escritora

• John Irving, conhecido autor dos livros “O Mundo segundo Garp” e ‘The

Sider House Rules”, além de escritor premiado pela Academia de Hollywood

por seus roteiros

• Wendy Wasserstein, “Ganhei o Prêmio Pulitzer de Dramaturgia e cresci

enfrentando problemas com a leitura”, autora experiente de comédias e sátiras

• Stephen J. Cannell, romancista e ganhador do Prêmio Emmy, escritor de

sucessos da TV, como Rockford Files A-Team. Para ele, a escola também era

um pesadelo

• Graeme Hammond, um dos cirurgiões de um grupo de elite que está

envolvido ativamente em pesquisa de ponta, além de ter uma agenda muito

cheia na mesa de operações. Cirurgião cardiotorácico, ele agora se dedica aos

transplantes, especialmente no desenvolvimento de métodos de

xenotransplantes, o transplante de tecidos ou órgãos de uma espécie para

outra.

• Os pintores Pablo Picasso e Michelangelo

• Aline Berghetti Simoni, fonoaudióloga, especialista em linguagem,

psicopedagoga

• Tom Cruise (ator) e Whoopi Goldberg (atriz), ainda trabalhando no meio

artístico etc.

5.4 - Orientações para professores sobre crianças com Dislexia

O professor tem um papel importante e essencial para poder encaminhar

o trabalho numa direção adequada, pois cabe a ele, percebendo as

dificuldades desta criança, ajudar e incentivar o aluno, de modo que ele

desperte como um leitor e não se acomode como alguém que fracassou,

refugiando-se num falso sono, confundido com o desinteresse, descaso,

incompetência, irresponsabilidade, falta de atenção, preguiça, falta de cuidados

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

48da família, e por aí seguem os “rótulos” que as pessoas vão agregando ao

nome próprio da criança.

São eles, “os rótulos negativos”, que vão apagando na criança disléxica

o seu desejo inicial de aprender a ler. A finalidade dos diagnósticos não é

segregar mas, sim, classificar uma dificuldade para melhor conhecê-la e então

oferecer os tratamentos adequados.

A escola tem importância fundamental no trabalho com crianças com

dificuldades de aprendizagem. Destacamos algumas sugestões consideradas

importantes para que ela se sinta segura, querida e aceita pelo professor e

pelos seus colegas.

• Acompanhar sempre que possível a agenda

• Certificar-se, sempre, de que o aluno entendeu as instruções ou

solicitações feitas por escrito

• Dar “dicas” e orientar o aluno sobre como organizar-se e realizar as

atividades na carteira, na sala etc

• Dar instruções e orientações curtas e simples que evitem confusões

• Incentivar, sempre que possível, o uso do computador

• Incentivá-lo nas coisas que ele gosta de fazer e que faz bem feito

• Não exercer pressão sobre ele a ponto de amedrontá-lo com a

perspectiva de não passar de ano

• Não permitir que os colegas o humilhem ou rejeitem por causa de suas

dificuldades

• Não insistir em exercícios de fixação, repetitivos e numerosos; isso não

diminui a sua dificuldade

• Ressaltar os acertos, ainda que pequenos, e não enfatizar os erros

• Sempre que possível, atribuir-lhe tarefas que possam fazê-lo se sentir

útil

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

49• Sempre que possível, propor estratégias lúdicas que favoreçam a

aprendizagem

• Valorizar sua grafia

• Não insistir para que o aluno leia em voz alta diante da turma, pois ele

tem consciência de seus erros. A maioria dos textos de seu nível escolar é

difícil para ele

• Valorizar o esforço e interesse do aluno

• Certificar-se de que o aluno pode ler todas as palavras de modo a

compreender o que lhe é pedido. Caso contrário, ler as instruções para ele

• Levar em conta as dificuldades específicas do aluno e as dificuldades da

nossa língua quando corrigir os deveres

• Estimular a expressão verbal do aluno

• Dar “dicas” específicas de como o aluno pode aprender ou estudar a sua

matéria

• Orientar o aluno sobre como se organizar no tempo e no espaço

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

50

CONCLUSÃO

A aprendizagem da criança é sua vivência, brincadeiras e descobertas

assistemáticas. Essa criança deve, desde muito cedo, ser desafiada a pensar

nas diferentes maneiras de tentar resolver os problemas que enfrentará no dia-

a-dia. Ao educador, cabe oferecer atenção a cada criança, pois ao ingressar na

escola começam a ser descobertos os primeiros problemas de aprendizagem.

Os problemas de aprendizagem são originários de vários fatores, muitos

deles ligados à desigualdade social promovida pelo sistema em que vivemos.

O autoritarismo, a relação entre os alunos baseada na dominação e na

competição; os métodos didáticos; o ambiente escolar estático e rígido, que

favorece a submissão, a passividade e a dependência; a organização familiar;

problemas psicológicos e orgânicos; deficiência física; são todos fatores que

prejudicam a aprendizagem.

Diante de uma dificuldade específica de leitura e escrita deve-se

procurar profissionais especializados na área, para que sejam realizadas

avaliações pertinentes a um caso de dislexia. Na busca de um diagnóstico

preciso e do planejamento para uma intervenção e acompanhamento

terapêutico, um completo diagnóstico diferencial deve ser feito, considerando a

sintomatologia do Transtorno Específico de Leitura. É necessário verificar se é

uma dislexia propriamente dita, ou se é um atraso no desenvolvimento da

leitura decorrente de fatores adversos.

Com o presente trabalho, procuramos dar uma visão geral sobre o que é

a dislexia e que tipo de intervenções podem ser feitas junto ao indivíduo

portador do transtorno, aos familiares, educadores e terapeutas.

O termo “dislexia” não significa uma doença; portanto, não se deve falar

em cura. Trata-se de um quadro clínico de origem congênita e hereditária, e

seus sintomas podem ser identificados logo na Educação Infantil.

Ao término deste trabalho, pode-se concluir que não há consenso na

literatura sobre a definição de dislexia, bem como se há ou não fatores

associados a ela. Além disso, o déficit de habilidades em consciência

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

51fonológica apresenta-se como um dos principais indicadores no diagnóstico e

necessita de intervenções visando o seu desenvolvimento.

Ressalte-se, ainda, a necessidade de publicações específicas,

realizadas por diferentes profissionais da área de educação e saúde que lidam

com a criança disléxica, sobre a intervenção nesses casos.

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

52

BIBLIOGRAFIA �

ANDRADE, V. M. et al. Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.

BALL, E.W.; BLACHMAN, B.A. Does Phoneme segmentation training in

kindergarten make a difference in early word recognition and developmental

spelling? Reading Research Quarterly. 26 (1): 49-66, 1991.

BERNINGER, V.W. et al. Early Intervention for Reading Disabilities: teaching

the Alphabet Principle in a Conectionist Framework. Journal of Learning

Disabilities. 32 (6): 491-503, 1999.

BERNINGER, V.W. et al. Comparison of faster and slower responders to early

intervention in reading: differentiating features of their language profiles.

Learning Disability Quarterly. 25 (1): 59-76, 2002.

BOSSA, Nádia A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre:

Artmed, 2000.

BRADLEY, L.; BRYANT, P. Phonological Skills Before and After Learning to

Read. In: BRADY, S.A.; SHANKWEILER, D.P. (orgs). Phonological Processes

in Literacy: A Tribute to Isabelle Y. Liberman. Hillsdale, New Jersey: Lawrence

Erlbaum Associates, 1991.

BYRNE, B.; FIELDING-BARNSLEY, R. Phonemic Awareness and letter

knowledge in the child’s acquisition of the alphabetic principle. Journal of

Educational Psychology. 81: 313-321, 1989.

CAPELLINI, S.A.; CIASCA, S.M. Eficácia do programa de treinamento com a

consciência fonológica em crianças com distúrbio específico de leitura e escrita

e distúrbio de aprendizagem. Temas sobre Desenvolvimento, 9(52): 4-10,

2000.

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

53

CAPOVILLA, A.; CAPOVILLA, F. Treino da consciência fonológica de pré 1 a

segunda série: efeitos sobre habilidades fonológicas, leitura e escrita. Temas

sobre desenvolvimento, 7(40): 5-15, 1998.

CAPOVILLA, A.; CAPOVILLA, F. Problemas de leitura e escrita: como

identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon,

2000a.

CAPOVILLA, A.; CAPOVILLA, F. Efeitos do treino de consciência fonológica

em crianças de baixo nível sócio-econômico. Psicologia: Reflexão e Crítica. 13

(1): 7-24, 2000b.

CAPOVILLA, A.; CAPOVILLA, F. Alfabetização: método fônico. São Paulo:

Memnon, 2002.

DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto

Alegre: Artes Médicas, 2002.

ELLIS, A. Leitura, Escrita e Dislexia – uma análise cognitiva. Porto Alegre:

Artmed, 1995.

FRITH, U. Beneath the surface of developmental dyslexia. In: Patterson, K.,

Coltheart, M., Marshall, J. C. Surface dyslexia. Hillsdale: Lawrence Erlbaum

Associates, 1985.

GIL, Roger. Neuropsicologia. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2002.

HATCHER, P.J. et al. Ameliorating Early Reading Failure by Integrating the

Teaching of Reading and Phonological Skills: The Phonological Linkage

Hypothesis. Child Development. 65: 41-57, 1994.

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

54LOVETT, M.W. et al. Treatment, Subtype, and Word Type Effects in Dyslexic

Children’s Response to Remediation. Brain and Language. 34: 328-349, 1988.

MARINHO, R.R. et al. A pré-escola e os problemas de aprendizagem

(monografia). Rio de Janeiro, 1990.

MORAIS, José. A arte de ler. São Paulo: Editora da Universidade Estadual

Paulista, 1996.

MOUSINHO, Renata. Conhecendo a dislexia. Revista Sinpro-RJ, Rio de

Janeiro, p. 26-33, 2004.

MOUSINHO, Renata. Desenvolvimento de leitura e escrita e seus transtornos.

In: GOLDFELD, M. (Org.) Fundamentos em Fonoaudiologia – Linguagem. 2ª

ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003, p. 39-59.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto

Alegre: Artmed, 1986.

REGO, L.L.B.; DUBEUX, M.H. Resultados de uma intervenção pedagógica no

pré-escolar e no primeiro grau menor. In: BUARQUE, L.L.; REGO, L.L.B.

(orgs). Alfabetização e construtivisno: teoria e prática. Recife: Editora

Universitária da UFPE (Série Estudos Universitários).

ROCHA, Maria Angélica M. et al. Dislexia: atitudes de inclusão. Revista

Psicopedagogia, 26(80):242-253, 2009.

SALLES, J. F. et al. As dislexias de desenvolvimento: aspectos

neuropsicológicos e cognitivos. Interações, vol. IX, no 17: 109-132, jan-jun

2004.

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

55SÁNCHEZ, Jesús N. G. Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção

psicopedagógica. Porto Alegre: Artmed, 1998.

SANTOS, M.T.M.; NAVAS, A.L.G.P. Distúrbios de leitura e escrita: uma

abordagem centrada na consciência fonológica. Revista da Sociedade

Brasileira de Fonoaudiologia. 1(1): 10-13, 1997.

SHARE, D. Phonological Recoding and self-teaching: sine qua non of reading

acquisition. Cognition, v. 55, n. 2, 151-218, 1995.

SHAYWITZ, Sally. Entendendo a Dislexia: um novo e completo programa para

todos os níveis de problemas de leitura. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Temas em Educação I – Livro das Jornadas 2002. Paraná: Futuro Congressos

e Eventos, 2002.

Temas em Neurologia e Psiquiatria Infantil: uma visão multiprofissional. VI

Congresso de Neurologia e Psiquiatria Infantil. São Paulo, 2002.

TORGENSEN, J.; WAGNER, R.; RASHOTE, C. Longitudinal studies of

phonological processing and reading. Journal of Learning Disabilities v. 27, p.

276-286, 1994.

VANDERMOSTEN, M et al. Adults with dyslexia are impaired in categorizing

speech and nonspeech sounds on the basis of temporal cues. PNAS, vol. 107,

n. 23, 10389-10394, 2010.

WISE, B.W. et al. Training Phonological Awareness with and without explicit

Attention to Articulation. Journal of Experimental Child Psychology. 72: 271-

304, 1999.

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

56

WEBGRAFIA

www.autismo.com.br Acesso em 30/06/2010.

http://dislexia-psicologia.blogspot.com Acesso em 28/02/2010.

www.andislexia.org.br Acesso em 12/05/2010.

www.dislexia.org.br Acesso em 28/02/2010.

www.dislexia.web.pt Acesso em 05/10/2009.

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

57

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Definição e Caracterização 11

1.1 – Origem 11

1.2 – Caracterização da Dislexia 12

1.3 – Etiologia 19

CAPÍTULO II

Diagnosticando a Dislexia na Criança em Idade escolar 20

2.1 – Diagnóstico 20

2.2 – Tratamento 21

2.2.1 – Sinais comuns da Dislexia 22

2.2.2 – Na Educação Infantil 22

2.2.3 – No 1º e 2º anos do Ensino Fundamental de 9 anos 23

2.2.4 – Do 3º ao 9º anos do Ensino Fundamental 23

2.2.5 – Ensino Médio 24

2.2.6 – Adultos 24

2.3 – Critérios diagnósticos para Dislexia, segundo o sistema DSM-IV 25

2.4 – Avaliação neuropsicológica 26

2.4.1 – Neuropsicologia e dislexia 26

CAPÍTULO III

Classificação das Dislexias 29

3.1 – Dislexias adquiridas 29

3.1.1 – Dislexias periféricas 30

3.1.2 – Dislexias centrais 30

Page 58: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

583.2 – Dislexias do desenvolvimento 32

CAPÍTULO IV

Intervenção 35

4.1. Intervenção precoce 36

4.2. Ensino intensivo 36

4.3. Ensino de alta qualidade 37

4.4. Duração suficiente 37

4.5. Psicopedagogia e Dislexia 38

4.6. Aspectos psicológicos da Dislexia 40

4.6.1 – Problemática emocional 42

CAPÍTULO V

O Envolvimento da Família e da Escola 44

5.1. Como os pais podem ajudar 44

5.2. Vivências de uma família disléxica 45

5.3. Disléxicos famosos 46

5.4. Orientações para professores sobre crianças com Dislexia 47

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA 52

WEBGRAFIA 56

ÍNDICE 57

FOLHA DE AVALIAÇÃO 59

Page 59: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · O Capítulo I trata da definição e caracterização do quadro de Dislexia, abordando sua origem e etiologia. O Capítulo II

59

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: