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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ASSÉDIO PROCESSUAL COMO ESPÉCIE DE ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO AUTOR LINCOLN MARTINS COLLA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ASSÉDIO PROCESSUAL COMO ESPÉCIE DE ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

AUTOR

LINCOLN MARTINS COLLA

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ASSÉDIO PROCESSUAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Lincoln Martins Colla.

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Inicialmente, agradeço a minha família que contribuiu de alguma forma para mais essa empreitada e aos amigos mais próximos e os distantes que também de alguma forma torceram para mais uma vitória, bem como todos os professores.

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Dedico à conclusão de mais um curso especialmente aos meus familiares que sem o apoio deles não teria alcançado o êxito tão almejado.

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RESUMO

Pretende-se no presente trabalho estudar o assédio processual, enquanto espécie e característica de assédio moral, identificando-o, definindo sua duração como garantia constitucional, diferenciando com a litigância de má-fé. O assédio processual instituto jurídico que vem ganhando espaço paulatinamente na jurisprudência e doutrina trabalhista. O assédio processual pode ser conceituado como a atuação desproporcional da parte que por meio do abuso do direito de defesa que proporciona excessiva demora na prestação jurisdicional com o escopo de desestimular a contraparte a prosseguir com o feito através de seu poderio econômico, fazê-la desacreditar no judiciário, forçá-la a celebrar acordo prejudicial aos seus direitos, fazendo com que não suporte os efeitos do tempo no processo. Ele pode ser aferido quando a dimensão da violência empregada, a duração da conduta reprovável, o objetivo e a aptidão dos atos praticados – elementos caracterizadores do assédio moral que podem ser utilizados para reconhecimento do assédio processual que forem considerados pelo magistrado como tendente a retardar o regular andamento processual e causar à contraparte sofrimento, humilhação, angústia com o prolongar da demanda e desestímulo no prosseguimento do feito. Esta espécie de assédio não atinge apenas a parte contrária, mas também o Poder Judiciário. Diferencia-se da litigância de má-fé porque diferentemente desta, a condenação não pode ser aplicada ex-officio, depende de inúmeras condutas e não de apenas uma isolada, não existe limite para a condenação e pode ser reconhecido nos autos do processo em que se deu a conduta ilícita ou em ação autônoma. O dever de indenizar encontra-se expresso no art. 927 do Código Civil, que impõe a obrigação de reparar àquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem. Afastar o assédio processual em função de não existir norma jurídica específica sobre o instituto é ater-se ao termo jurídico, sem analisar que o assédio processual nada mais é do que uma modalidade de assédio moral efetivado no curso de uma relação processual. A Carta Magna, com a Emenda Constitucional n° 45/2004, positivou entre os direitos e garantias fundamentais o princípio da razoável duração do processo (art. 5°, LXXVIII). Por conta disso, juízes e Tribunais devem empreender esforços para efetivá-lo, o que pode ser feito por meio da condenação em litigância de má-fé e assédio processual da parte que, na relação jurídica processual, abusa do direito de defesa, descumpre os deveres que lhes competem e pratica atos atentatórios à dignidade da jurisdição. Na colisão entre os princípios do contraditório e da ampla defesa e o princípio da razoável duração do processo, ao magistrado caberá avaliar, no caso concreto, qual desses princípios deve prevalecer. Sob a alegação de estar velando pela celeridade não pode o juiz ser arbitrário, mas também não lhe compete sobrelevar em qualquer situação os princípios do contraditório e da ampla defesa, como vem acontecendo nos Tribunais trabalhistas.

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METODOLOGIA

O presente trabalho constitui uma descrição das peculiaridades do

instituto assédio processual ainda pouco utilizado pela doutrina e jurisprudência

brasileira, demonstrando a evolução do instituto pela doutrina e jurisprudência no

sistema processual vigente nacional e internacional sob o ponto de vista do direito

brasileiro.

Para tanto, o estudo que se apresenta foi buscado a efeito através de

métodos de pesquisas bibliográficos em que se extraiu conhecimento em diversos

tipos de informações como: livros, artigos, jurisprudências, jornais além de

publicações oficiais e Internet.

De outra forma, a pesquisa também resultou de exemplos verídicos

como à decisão da douta magistrada da 63ª Vara do Trabalho de São Paulo que

foi uma das primeiras a se manifestar sobre o instituto do assédio processual no

direito brasileiro.

Acrescentando, o estudo que resultou neste trabalho identificar-se-á

como um método de pesquisa aplicada por entender que reproduziu todo o

conhecimento para aplicação prática, bem como método de pesquisa qualitativa,

pois, procurou entender a realidade a partir de interpretações dos fenômenos

estudados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8

CAPÍTULO I

COMO IDENTIFICAR O ASSÉDIO PROCESSUAL............................................ 10

CAPÍTULO II

DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO COMO GARANTIA

CONSTITUCIONAL.............................................................................................. 15

CAPÍTULO III

ASSÉDIO PROCESSUAL E SUA DIFERENÇA COM LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ ...............................................................................................................................20 CAPITULO IV CARACTERISTICAS E ESPÉCIES DE ASSÉDIO PROCESSUAL COMO TIPO DE ASSÉDIO MORAL...........................................................................................27

CONCLUSÃO....................................................................................................... 32

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................33

ANEXOS............................................................................................................... 35

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INTRODUÇÃO

Na justiça do trabalho, o instituto jurídico assédio processual é pouco

estudado pela doutrina e foi aplicado pela primeira vez em um processo que

tramitava na 63º Vara do Trabalho por uma magistrada de São Paulo. Na

oportunidade, a douta juíza condenou o Reclamado por assédio processual, além

de aplicar a multa por litigância de má-fé, o que ocasionou bastante discussão

jurídica sobre os fundamentos da condenação.

Durante 15 (quinze) anos, o ex-empregado de grande instituição

financeira litigou na Justiça do Trabalho contra o seu ex-empregador, visando o

cumprimento de acordo judicial celebrado noutra Reclamação Trabalhista.

Pelo que fora estipulado no acordo, à instituição financeira deveria

complementar a aposentadoria do ex-empregado como se na ativa estivesse pelo

prazo pactuado.

No entanto, e reiteradamente, o Banco lhe pagava quantia a menor,

obrigando-o, ano a ano, o trabalhador ingressar com execuções das diferenças

cujos processos eram sistematicamente procrastinados com embargos, agravos,

enfim, toda sorte de recursos por parte da instituição financeira.

Assim foi, ao longo dos anos, até que, num pedido de tutela antecipada

deferida pela MM. Juíza do Trabalho, o reclamante obteve a penhora de recursos

financeiros do Reclamado para assegurar, também, a execução seguinte,

cominada com multa por litigância de má-fé e caso o executado mais uma vez

não cumprisse o acordo celebrado há quinze anos.

Finalmente, o Banco passou a respeitar o acordo judicial celebrado.

Os dois institutos assédio processual e litigância de má-fé, embora

parecidos não se confundem por terem características próprias. Aquele é certo

considerar que é um dos ramos do assédio moral quando visa claramente

obstaculizar o direito da parte vencedora impondo a ela condições humilhantes e

deveras infundadas.

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Na jurisprudência, o assédio processual vem sendo encarado como

uma ramificação do assédio moral, que vem sendo capaz de fazer cumprir às

condenações e trazer discussões sobre a razoável duração do processo na seara

trabalhista.

É importante relembrar, que a morosidade da justiça foi uma conquista

da democracia visto que um processo julgado rapidamente certamente ocorrerá

injustiças e afrontaria os princípios do contraditório e da ampla defesa

necessários para o regular esclarecimento da demanda. Na atual conjuntura e se

olhar por uma outra ótica, o tramite processual excessivamente estendido

também é capaz de violarem direitos e garantias fundamentais impedindo o

acesso ao bem da vida objeto da contenda.

Por essas razões, o legislador introduziu na Carta Magna a emenda

constitucional Nº45/2004, em seu inciso LXXVII do art. 5°, que assegura a todos,

no âmbito judicial e administrativo a razoável duração do processo e os meios que

garantam a celeridade de sua tramitação. O intento do legislador ao inserir na

Constituição Federal o direito fundamental à razoável duração do processo foi

reforçar o esforço do legislador ordinário que invariavelmente reformava a

legislação processual para tornar o processo mais célere, efetivo e justo.

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CAPÍTULO I

COMO INDENTIFICAR O ASSÉDIO PROCESSUAL Por ser um instituto processual recente em nossa legislação, torna-se

difícil sua classificação. Como ramificação do assédio moral abre diversas

hipóteses para identificá-lo, no entanto, tem-se uma especificação que o coloca

no ramo de assédio moral exemplificando: a perseguição ao empregado

relacionada ao processo e os meios inescrupulosos de que as pessoas fazem uso

para se eximir de pagar suas obrigações.

Outros problemas se apresentam: como qualificar corretamente o novo

instituto? Seria ele um tipo de litigância de má-fé, ou um novo tipo de assédio

moral, ou um instituto autônomo?

O assédio processual é difícil de classificar, tendo em vista ter uma

visão ampla e irrestrita de todos os seus componentes. Sendo assim,

considerando que na ciência nada é completamente certo e inatacável, a

jurisprudência, nas palavras primorosas da Juíza Mylena Pereira Ramos, nos

autos do processo nº 02784200406302004, da 63ª Vara do Trabalho de São

Paulo, no qual figuram como partes - Autor: Carlos de Abreu, Réu: Banco Itaú

S.A, buscou a melhor definição para o assédio processual:

João Batista Chiachio, em sua passagem de sua obra cita:

[...] procrastinação por uma das partes no andamento do processo, em qualquer uma de suas fases negando-se a cumprir decisões judiciais, amparando-se ou não em norma processual, para interpor recursos, agravos, embargos, requerimentos de provas, petições despropositadas procedendo de modo temerário e provocando incidentes manifestamente infundados tudo objetivando obstaculizar a entrega da prestação jurisdicional à parte contrária [...].

Pode extrair-se das palavras da douta magistrada, o Ordenamento

Jurídico Brasileiro inseriu um novo instituto que apresenta grande semelhança

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com a litigância de má-fé. Nesse contexto, como qualifica-lo? Seria um tipo de

litigância de má-fé?

Como já exposto alhures, ele está inserido dentro do assédio moral,

como ramo autônomo, tendo características semelhantes à litigância. Em

contrapartida, tem características muito particulares, que o colocam como uma

“modalidade de assédio moral, mas restrita a atuação da parte em juízo”

(PAROSKI, 2008, p. 36).

Na jurisprudência pátria, o assédio processual é um instituto pouco

utilizado nos julgados, mas, já muito utilizada por juízes em condenações que

impõem a parte uma obrigação de fazer com base em fundamentos injustificados

do aparato jurídico caso dos embargos declaratórios quando são interpostos com

intuito meramente protelatório.

Trabalho difícil ao julgador, tendo em vista sua semelhança com a

litigância de má-fé, o que muitas vezes leva realmente ao erro. Entretanto, por

serem condutas estritamente processuais, aquelas que levam a esse tipo de

assédio, além de que essas condutas serem formas de humilhar e ofender os

litigantes, torna-se mais fácil compreender que o assédio processual resvala em

condutas que prejudicam moralmente a parte que já ganhou a ação.

Uma importante diferença entre o assédio processual e a litigância de

má-fé está no fato da litigância visar à obtenção de vantagem processual,

enquanto que o assédio procura causar prejuízo à parte contrária,

independentemente de se obter uma vantagem com isso.

Na litigância de má-fé, a parte faz uso de atos ilícitos ou imorais, já no

que tange ao assédio processual os mecanismos usados são lícitos, porém, seu

uso indevido concede um caráter imoral ao processo.

É importante observar a distinção feita por Paim e Hillesheim (2006, p.

1114-1115) sobre a litigância de má-fé e o assédio processual:

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“enquanto a primeira é entendida como aquela previsão contida no artigo próprio das condutas tipificadas como sendo litigância de má-fé (art. 17 do CPC), a segunda pode conter a prática reiterada ou reincidente de alguma (s) das condutas definidas como litigância de má-fé, sempre cumulada com a inobservância dos deveres insculpidos como sendo das partes que de alguma forma participem do processo (art. 14 do CPC) e/ou incorrer numa das hipóteses de ato atentatório à dignidade da justiça (art. 600 do CPC) dentre outras práticas quaisquer que venham a atentar contra o bom andamento do processo”.

Ao contrário da litigância, o assédio depende da reiteração e por isso

não se consuma com a prática de um único ato. Algo preocupante com relação ao

assédio processual está no fato de sua vítima não ser apenas a parte contrária

(como acontece na litigância de má-fé), mas, o Estado na figura do Poder

Judiciário.

Os embargos declaratórios interpostos com intuito meramente

protelatório é um dos exemplos em que à parte que tem interesse em atrasar a

solução do conflito tem a sua disposição, o que é uma forma errônea de resolver

a demanda visto que atrapalha o regular andamento processual e

consequentemente o direito do pleiteante.

Para Francisco Xavier de Sousa Filho (2007, on line), o assédio moral

é um meio criminoso de obtenção de resultados, senão vejamos:

Surge então o assédio moral no processo quando a lesão de direito ocorreu, mas, sem motivo justo nenhum para contestação, a parte nega a procedência inarredável da ação. No propósito de arranjar meios condenáveis em adiar o final da ação, usando de artifício da malandragem e criminoso para lograr ou levar ao erro o julgador, como tem acontecido, o ato ilícito aparece.

Nas palavras de Roberto Benavente Cordeiro (2005, on line):

Inegável o prejuízo que a injustificada morosidade no andamento processual causa ao titular do direito a ser reconhecido, mormente em âmbito juslaboral, em que o cabimento de títulos de natureza alimentar, asseguradores do mínimo necessário à subsistência do ser humano é discutido. O empregado depende essencialmente desse núcleo mínimo de direitos para sobreviver. Uma vez não concedidas tais verbas ao longo do pacto laboral, resta claramente configurada afronta à dignidade humana do obreiro, o que por si só, resulta em abalo moral.

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Mário Vasni Paroski (2008, p. 38), continua sua definição de assédio

processual e muitas vezes o aproxima do conceito de litigância, mas deixa claro

que os dois são diferentes:

Entende-se, em linhas gerais, que assédio desta natureza consiste no exercício abusivo de faculdades processuais, da própria garantia da ampla defesa e do contraditório, pois, a atuação da parte não tem a finalidade de fazer prevalecer um direito que se acredita existente, apesar da dificuldade em demonstrá-lo em juízo, nem se cuida de construção de teses sobre assuntos em relação aos quais reina discórdia nos tribunais, a exemplo de uma matéria de direito, de interpretação jurídica, complexa e de alta indagação.

Nada disso. O verdadeiro propósito do litigante é dissimulado, pois, sob a aparência de exercício regular das faculdades processuais, deseja um resultado ilícito ou reprovável moral e eticamente, procrastinando a tramitação dos feitos e causando prejuízos à parte que tem razão, a quem se destina a tutela jurisdicional, além de colaborar para a morosidade processual, aumentando a carga de trabalho dos órgãos judiciários e consumindo recursos públicos para a prática de atos processuais que, sabidamente, jamais produzirão os efeitos (supostamente lícitos) desejados pelo litigante assediador.

Por todos esses fundamentos, o assédio processual, além de

prejudicar frontalmente a parte que obteve procedência em sua demanda,

prejudica a credibilidade da justiça brasileira quando atrasa a correta solução da

lide prejudicando o andamento processual.

O que se pretende buscar é que a Justiça Brasileira seja ágil e eficaz

para o jurisdicionado e que bate às portas do judiciário para vir seu direito

reconhecido. Tal agilidade e eficácia serão encontradas quando se fizer o uso

eficaz de todo o aparato jurídico à disposição e não fazer uso desse aparato de

modo temerário e abusivo, causando inúmeros e muitas vezes irremediáveis

prejuízos, não apenas às partes, mas toda a sociedade.

É importante destacar, que assim como na litigância de má-fé, à

prática do Assédio Processual vem acompanhada do apoio intrínseco de um

advogado. Muitas vezes, o que se observa é que na ânsia em defender seu

constituinte supera os limites éticos impostos à atuação profissional. Embora, o

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art. 133 da Constituição Federal de 1988 atribua ao advogado à condição de

“indispensável à administração da Justiça”, não apenas pode o mesmo figurar no

rol de atores judiciários capacitados a concorrer com a realização da danosa

ação, como quando o faz lesiona não apenas o litigante vitimado, como, segundo

já se disse, o próprio Estado.

A inviolabilidade constitucional prevista para o exercício de seus atos e

manifestações profissionais não pode servir para acobertar a vulneração de

direitos e garantias fundamentais de terceiros, tampouco para macular a

credibilidade do Poder Judiciário.

Vale ressaltar, que não apenas o advogado pode figurar como

coadjuvante na concretização do Assédio Processual, mas também o Poder

Judiciário, através de seus juízes e servidores na demora na tramitação da

demanda e na prática de procedimentos inadequados, inúmeros são os

condicionantes que podem influenciar no desenvolvimento do Assédio

Processual, que têm origem na deficiente estrutura judiciária.

Desta feita, quando o judiciário brasileiro impõe uma condenação por

uma decisão que julga procedente o pedido de uma demanda, se espera que ela

seja efetivamente cumprida e que, assim, se encontre a plena satisfação e se

faça a tão sonhada “justiça social”.

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CAPÍTULO II

DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO COMO GARANTIA CONSTITUCIONAL

Com o advento da Emenda Constitucional 45/2004, que acrescentou

ao art. 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o inciso

LXXVIII, erigindo à categoria de direito fundamental a razoável duração do

processo.

No entanto, bem antes da emenda constitucional em questão ser

aprovada e sua entrada em vigor, o próprio texto constitucional em seu artigo

quinto já possuía em seus incisos fazendo referência a que o Estado tem

obrigação de prestar a função jurisdicional de forma rápida e eficiente, consoante

o que apregoam os princípios da inafastabilidade do poder jurisdicional (art. 5º,

XXXV); do devido processo legal (art. 5º, LIV); do contraditório e da ampla defesa

(art. 5º, LV), todos asseguradores constitucionalmente de uma prestação

jurisdicional eficiente.

Por intermédio da força de tais princípios erigidos na lei maior, já era

garantido ao cidadão o direito a um processo que lhe garantisse usufruir de todas

as regalias, além de lhe conferir o direito a uma prestação eficiente, como bem

apregoa o art. 37, da CF, e célere, corolário das diversas modificações impingidas

pela Emenda Constitucional 45/2004.

Consoante apregoa nas atentas lições de Cândido Rangel Dinamarco,

o direito moderno não se satisfaz com a garantia da ação como tal e por isso é

que procura extrair da formal garantia desta algo de substancial e mais profundo.

Assim, acrescenta o jurista paulista, o que importa não é apenas oferecer

ingresso em juízo ou mesmo julgamento de mérito; “indispensável é que, além de

reduzir os resíduos de conflitos não jurisdicionalizáveis, possa o sistema

processual oferecer aos litigantes resultados justos e efetivos, capazes de

reverter situações injustas. Tal é a idéia de efetividade da tutela jurisdicional,

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coincidente com a plenitude do acesso à justiça e a do processo civil de

resultados”

Portanto, não há como o operador jurídico cogitar que o assédio processual careça de regulamentação legal para ser devidamente aplicado ao caso concreto.

“Assédio processual. Indenização. Retardamento do processo. Conduta reprovável”. (TRT, 9ª Região, 00511-2006-562.09.00-3 - AC 33280/2008 - 9ª Região - Tobias de Macedo Filho - Juiz Relator. DJPR: 16/09/2008).

O aparato jurídico da Carta da República Constitucional não só alberga

como fomenta a aplicação de qualquer instituto que colime imprimir a razoável

duração do processo, devendo o agente ser responsabilizado por todos os

prejuízos de ordem material e imaterial daí decorrentes. Ademais, acentua Mauro

Cappelletti, em alguma medida toda interpretação judicante é criativa, mostrando-

se inevitável um mínimo de discricionariedade na atividade jurisdicional, máxime

para efetivar a norma processual e os direitos sociais.

Nesse sentido, já vem decidindo alguns pretórios civis e trabalhistas:

“Configurado está o assédio processual quando a parte, abusando do seu direito de defesa, interpõe repetidas vezes medidas processuais destituídas de fundamento com o objetivo de tornar a marcha processual mais morosa, causando prejuízo moral à parte que não consegue ter adimplido o seu direito constitucional de receber a tutela jurisdicional de forma célere e precisa. A exclusão da pena de litigância de má-fé em recursos relacionados à presente questão, anteriormente interpostos, em nada influencia a configuração do assédio processual in casu, posto que só a análise de todos os atos que formam a relação processual permite verificar a conduta da parte e o seu intento procrastinatório.A quantificação do dano moral pela prática do assédio processual deve observar o número de incidentes praticados com intuito procrastinatório, bem como o tempo despendido na espera processual.” (TJMT – 6ª Câmara Cível – Relator Desembargador Mariano Alonso Ribeiro Travassos – Recurso de Apelação Cível nº. 89150/2007 – Classe II – 20 – Comarca de Lucas do Rio Verde – julgado em 10.09.2008 – disponibilizado no DJE nº. 7941 em 17.09.2008 e publicado em 18.09.2008).

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“A prática do assédio processual deve ser rechaçada com toda a energia pelo Judiciário. Os Tribunais brasileiros, sobretudo os Tribunais Superiores, estão abarrotados de demandas retóricas, sem a menor perspectiva científica de sucesso. Essa prática é perversa, pois além de onerar sobremaneira o erário público torna todo o sistema brasileiro de justiça mais lento e por isso injusto. Não foi por outro motivo que a duração razoável do processo teve de ser guindado ao nível constitucional. (...) O processo é um instrumento dialógico por excelência, o que não significa que possa admitir toda ordem de argumentação”. (TRT, 3ª. R., 4ª. T., Processo : 00760-2008-112-03-00-4 RO, Rel. Jose Eduardo de RC Junior, DJMG 21/2/09)

Na mesma esteira, a Declaração Universal dos Direitos Humanos,

adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações

Unidas em 10 de dezembro de 1948, já previa em seu art. X:

Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Do consignado na declaração dos direitos humanos depreende-se que

já havia uma preocupação com a garantia de uma assistência judiciária eficiente,

sendo assegurado a todos a um direito à assistência por um tribunal imparcial, na

defesa de seus interesses e garantias fundamentais.

Observar-se, a preocupação mundial com as causas sociais, haja vista

que hoje, não se admite, sobretudo em um estado democrático de direito, como o

é a República Federativa do Brasil, que não sejam respeitadas as liberdades e as

mínimas garantias fundamentais colocadas aos cidadãos.

Em 1950, a Convenção Européia para a Proteção dos Direitos

Humanos e Liberdades Fundamentais, estabeleceu em seu art. 6º, § 1º, o

seguinte:

Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada, equitativa e publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e imparcial, estabelecido pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação dos seus direitos e obrigações de carácter civil, quer sobre o fundamento de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra ela. O julgamento deve ser público, mas o acesso à sala de audiências pode ser proibido à imprensa

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ou ao público durante a totalidade ou parte do processo, quando a bem da moralidade, da ordem pública ou da segurança nacional numa sociedade democrática, quando os interesses de menores ou a protecção da vida privada das partes no processo o exigirem, ou, na medida julgada estritamente necessária pelo tribunal, quando, em circunstâncias especiais, a publicidade pudesse ser prejudicial para os interesses da justiça.

Nesse contexto, a conhecida convenção albergou em seu texto que a

causa deve ser examinada em tempo razoável, explicitando que as causas

examinadas se constituem em uma obrigação do Estado Democrático de Direito e

em um direito do cidadão de se ver assistido sendo permitido a ele gozar de suas

garantias, em tempo hábil.

No mesmo caminho, conclui-se do texto, que o acesso à justiça deve

ser apregoado em todas as situações, sem que os magistrados e todos aqueles

encarregados de analisar a situação no caso concreto, dentro dos ditames da lei,

se exima de prestar essa função eficientemente.

Em prosseguimento, a análise histórica da razoável duração do

processo, em 26.05.1992, o Congresso Nacional, mediante o Decreto 27, aprovou

a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, denominada de Pacto de

São José da Costa Rica. Com o Decreto 678, de 09.11.1992, a convenção foi

promulgada, obedecendo o disposto no art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, o

qual se manifesta também nesse sentido, senão vejamos:

Artigo 8º - Garantias judiciais

Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

No direito comparado algumas outras constituições no mundo, tais

como a da Espanha, da Itália, de Portugal e do Canadá, já traziam em seu texto

referências a que o processo deveria ser célere, justo e deveria ser deslindado

em tempo razoável, a que se garantisse, inclusive que o direito não perecesse em

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razão do tempo demasiadamente longo a que se desse resultado a uma

controvérsia.

Com o escopo de atender o anseio social para tornar mais claro o

advento de tal princípio dentro do Ordenamento Jurídico, foi que a Emenda

Constitucional nº 45/2004, trouxe ao texto do art. 5º, o inciso LXXVIII, o qual

estabelece que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...] LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (grifou-se).

Dessa forma, considerando que o direito à razoável duração do

processo está consagrado na carta Magna como direito fundamental, o que se

pode esperar é que o judiciário obedeça o que a Lex Fundamentalis apregoa, no

sentido de tornar a prestação do estado de direito algo eficiente e célere.

Logo, e pelo fato de uma das partes cometer ato ilícito endoprocessual, aqui nomeado de assédio processual, causando danos a outrem deverá repará-los na justa medida dos prejuízos que causarem”.

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CAPÍTULO III

ASSÉDIO PROCESSUAL E SUA DIFERENÇA COM LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Ante a sua proximidade, é importante distinguir as figuras do assédio

processual e da litigância de má-fé.

A litigância de má-fé contém suas hipóteses de configuração expressas

e casuisticamente previstas em lei (arts. 17 e 600 do CPC), inclusive em relação à

multa, estipulada pelo legislador entre 1% a 20% do valor atribuído à causa (art.

18, CPC), e em até 20% do valor atualizado da execução (art. 601, CPC).

Observa-se que em ambas as hipóteses, o legislador fez questão de dizer que

tais valores não prejudicam a fixação de outras sanções de natureza processual,

material ou indenizatória.

O Capítulo dos Deveres das Partes e Procuradores no Código de

Processo Civil, especialmente em seu artigo 14, ressalta que é dever de todos

aqueles que de alguma forma participam do processo, portanto, inclusos os

servidores do Judiciário, membros do Ministério Público, Magistrados,

testemunhas, peritos, assistente técnico, a todo e qualquer terceiro que, de

alguma forma participe do processo, além das partes e seus procuradores,

proceder com lealdade e boa-fé.

No entanto, observamos que, de todos os itens enumerados no artigo

17 do CPC, que trata de qualificar as condutas tidas como de má-fé, tem-se que

pelo menos 3 ou 4 deles possuem caráter subjetivo ou de difícil averiguação. Isso

porque as noções de lealdade e boa-fé, bem como os termos “resistência

injustificada”, “procedimento temerário”, “incidentes meramente infundados”, tem

significado demasiado relativo, tornando-os bastante vagos, dificultando a

aplicação das sanções pela litigância de má-fé de maneira automática ou

imediata.

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Nesse sentindo, Paulo R. Khouri assim define:

“A boa-fé é a boa conduta humana. A conduta que se

espera de todos nas relações sociais. É natural, nos

ordenamentos jurídicos modernos, que tem a dignidade da

pessoa humana como fundamento, a imposição dessa boa-

fé nas relações (...)”.

E no entendimento de Antonio Cláudio da Costa Machado:

“Lealdade significa o que é segundo a lei, a moral, a justiça,

o honesto, a franqueza, a transparência; contrapõe-se à

malícia, à hipocrisia, à falsidade, à artimanha. A boa-fé, por

seu turno, concerne ao aspecto subjetivo das atitudes;

ressalta o lado interno, as intenções mais profundas e boas

que devem legitimar os atos jurídicos processuais e seus

efeitos.”

Não obstante, a Lei nº 10.358/2001, que alterou os artigos em análise,

trouxe à tona o fato de que a obrigação da verdade, lealdade e boa-fé é estendida

a todos os sujeitos envolvidos no processo, e não somente às partes litigantes

propriamente ditas.

Nesse sentido, depreende-se que o espírito do legislador ao criar o

instituto, não era o de meramente proteger a parte inocente, mas de proteger o

processo, já que ele é o instrumento pelo qual às partes se valem para a

obtenção do bem da vida. Dessa maneira, seu objetivo principal é sem dúvida, o

de tutelar a boa marcha do processo, sendo que apenas de maneira mediata, a

vitima da litigância de má-fé é beneficiada pela sanção imposta pelo artigo 18 do

diploma processual civil.

É bem verdade que a litigância de má-fé demanda excessivo cuidado

do juiz competente para a causa no que se refere a sua caracterização, tendo em

vista que se analisado de maneira errônea, pode ocasionar no comprometimento

do direito que as partes alegam ter. Por este motivo, a litigância de má-fé se

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relaciona, entre outros princípios gerais do Direito, com o princípio da lealdade

processual.

Assim, o que fica claro é que, mesmo havendo previsão legal sobre a

responsabilidade de quem age com má-fé no processo, o Judiciário, na maioria

dos casos deixa de aplicar a devida punição, o que faz com que se torne cada vez

mais desprestigiada no meio jurídico.

Em relação ao assédio processual é importante salientar em primeiro

plano, que o tema além de recente, não encontra ainda bases tão sólidas. A

doutrina tem se posicionado de diferentes formas, ora numa tentativa de

diferenciar o assédio processual da litigância de má-fé, ora classificando o

instituto como espécie do gênero ‘assédio moral’.

Historicamente falando, a expressão foi utilizada pela primeira vez em

uma decisão de 1º grau, pela Juíza do Trabalho Mylene Pereira Ramos, que

assim conceituou o instituto:

“Denomino assedio processual a procrastinação por uma

das partes no andamento do processo, em qualquer uma de

suas fases, negando-se a cumprir decisões judiciais,

amparando-se ou não em norma processual, para interpor

recursos, agravos, embargos, requerimentos de provas,

petições despropositadas, procedendo de modo temerário e

provocando incidentes manifestamente infundados, tudo

objetivando obstaculizar a entrega da prestação jurisdicional

à parte contraria.”

Parcela considerável dos doutrinadores que já discorreram sobre o

tema, se posicionam acerca de ser o assédio processual espécie do assédio

moral, contudo reside não na relação de direito material, mas na relação de direito

processual. Nesse diapasão, as diferenças entre uma e outra modalidade de

assédio, consistem basicamente no que se refere ao local em que é praticado, já

que o assédio moral ocorre no ambiente de desenvolvimento do trabalho da

vítima, enquanto que o assédio processual se perpetua no âmbito forense.

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Ainda cabe salientar que, enquanto no assédio moral em âmbito

trabalhista, a única vítima é o empregado que se vê atingido por toda sorte de

humilhações no seu ambiente de trabalho, no assédio processual, além do

litigante prejudicado pelas falácias processuais da parte contrária, o Estado

Democrático de Direito figura como vítima, já que tais abusos são praticados

muitas vezes sob o manto dos direitos constitucionais vigentes.

Genericamente falando, o assédio processual consistiria então no

exercício abusivo dos direitos processuais, fazendo-se uso, inclusive, do direito

constitucional ao contraditório e à ampla defesa para que parte atinja seus

propósitos vis e até mesmo ilícitos.

Em outras palavras, o assédio processual aflora no momento em que o

litigante age dissimuladamente, pois sob a aparência de um exercício regular de

seu direito, o resultado que pretende é ilícito ou reprovável, uma vez que posterga

a prestação jurisdicional, causando prejuízos inimagináveis à parte detentora de

um direito.

Ora, enquanto todo o esforço deveria residir no rápido e eficiente

deslinde dos litígios levados até o Poder Judiciário, já que a finalidade da

prestação jurisdicional é a pacificação social, por meio da solução dos conflitos, o

assediador, ao contrário, colabora ainda mais para a morosidade processual,

criando obstáculos e entraves para que o processo não siga seu curso normal e

não satisfaça de maneira justa e efetiva as partes litigantes.

Outrossim, como o próprio nome sugere, aquele que assedia atua

dentro da relação jurídica processual, com o objetivo de retardar a prestação

jurisdicional e/ou intencionalmente prejudicar a parte contrária, por meio do

exercício reiterado e abusivo das faculdades processuais, geralmente sob a falsa

alegação de estar exercendo o seu direito ao contraditório e à ampla defesa.

Com efeito, assinala Mauro Paroski, o que caracteriza o assédio

processual “não é o exercício moderado dos direitos e faculdades processuais,

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mas o abuso e o excesso no emprego de meios legalmente contemplados pelo

ordenamento jurídico, para a defesa de direitos ameaçados ou violados”.

Contudo, é importante ressaltar que, dentro deste posicionamento

sobre o assunto, o assédio processual necessita da reiteração de atos contrários

ao propósito da Justiça, enquanto que para a caracterização da litigância de má-

fé, basta a prática de um único fato típico ali descrito, e uma única vez, para que a

má-fé se configure.

Nesse sentido, para alguns, a configuração do assédio processual

depende hoje da cumplicidade do próprio Poder Judiciário, uma vez que a prática

reiterada de atos que frustrem a prestação jurisdicional depende das mazelas de

um sistema que aceita tais condutas passivamente.

Se pensarmos no âmbito trabalhista, em que um dos princípios

consiste na capacidade de a parte poder postular em juízo (jus postulandi), o risco

da ocorrência do assédio processual é ainda maior, dada à complacência dos

magistrados com a parte que carece de defesa técnica num determinado

processo e com isso, o Poder Judiciário acaba por se tornar um coadjuvante

daquele que assedia.

O assédio processual não deixa de ser uma litigância maliciosa do

agente bem mais ampla porque caracterizada pela sucessão intensa de atos

processuais que em conjunto sinalizam para o propósito deliberado e ilícito de

impedir ou retardar a efetiva prestação jurisdicional e prejudicar o direito da parte

ex-adversa.

Na diferenciação também é essencial analisar o tempo ganho pela

parte com os artifícios dilatórios manejados no curso do processo. Para

caracterização do assédio processual é preciso verificar qual moroso se tornou o

processo em conseqüência dos instrumentos processuais utilizados para retardar

o andamento do feito trabalhista.

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Outro elemento importante na distinção é a indenização cabível.

Enquanto na litigância de má-fé a indenização não pode ser superior a 20% (vinte

por cento), segundo limite estabelecido pelo art. 18, parágrafo segundo do Código

de Processo Civil, na indenização por assédio processual, assim como ocorre

naquela decorrente de assédio moral, o juiz estabelecerá de acordo com o caso

concreto, com base na repercussão dos efeitos processuais na vida particular da

contraparte, no sofrimento causado, no tempo em que tramitou a causa, no

patrimônio do assediador, bem como na intensidade do dolo.

Em relação ao assédio não há multa, mas a fixação de uma

indenização que possa reparar os prejuízos materiais e compensar os danos

morais decorrentes. E nem se defenda a aplicação analógica da multa prevista

nos artigos 18 e 601, sob pena de ofensa à ordem constitucional na parte que

preceitua inexistir pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX).

Na litigância de má-fé a multa legal deve ser fixada dentro do próprio

processo, enquanto no assédio processual a indenização poderá ser buscada, a

posteriori, em ação autônoma ou arbitrada pelo próprio julgador que a declarou

dentro dos chamados efeitos reflexos da sentença, os quais, nas lições de Pontes

de Miranda, “são repercussões eventuais da decisão que, mesmo que não

previstas em lei, decorrem da própria eficácia natural da sentença”

A rigor o destinatário da multa e da indenização é a parte ex-adversa

que sofreu o prejuízo da prática do assédio, conforme dispõem o art. 927 do CC e

o art. 18 e 601 do CPC. Contudo, em casos especiais, sobretudo em sede de

Ação Civil Pública, a indenização e/ou a multa poderão ser revertidas em prol de

um fundo gerido por um Conselho Federal ou Estadual, a exemplo do FAT,

conforme prevê o art. 13 da Lei 7347/85.

É verdade que o Estado também tem interesse na celeridade

processual, contudo a sua compensação financeira pelo retardamento ou

obstrução provocado pelo agente já se encontra presente na incidência das

respectivas custas processuais sobre os valores da multa e/ou indenização

deferidas em juízo, ressalvada a fattispecie prevista no parágrafo único do art. 14

do CPC.

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É importante ressaltar, que pode acontecer de a causa se postergar no

tempo por conta de discussão de cunho jurídico em que não há consenso na

jurisprudência e na doutrina, neste caso, a parte não poderá ser apenada por

defender a tese jurídica que entende aplicável por meio do manejo de todos os

recursos disponíveis na legislação.

Do que foi observado até aqui, nota-se que a caracterização do

assédio processual nem sempre é tão simples, uma vez que suas condutas

podem até ser antiéticas, contudo nem sempre serão antijurídicas. Por isso é que

se diz, que a perda da dimensão ética é que caracteriza o assédio e a prática

atentatória à dignidade humana da parte contrária, por si só, abre direito à

indenização.

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CAPÍTULO IV

CARACTERISTICAS E ESPÉCIES DE ASSÉDIO PROCESSUAL COMO TIPO DE ASSÉDIO MORAL

Desta feita, surge para a parte um valioso instrumento de defesa contra

os abusos cometidos pela parte adversa, para se ver livre de pagar um direito

garantido por decisão judicial, além de proteger a parte vencedora de sofrer

abusos injustificados, no que concerne ao uso do seu direito.

Na atual conjuntura é mais fácil que antigamente ingressar com uma

demanda. Em contrapartida, aumentaram as situações em que as pessoas levam

anos para finalmente usufruírem os direitos declarados pela tutela jurisdicional.

Grande parte dos que são demandados fazem mau uso do processo,

objetivando o não cumprimento da prestação jurisdicional.

Miguel Reale acrescenta que o dano moral, em sua feição subjetiva, protege os direitos de personalidade, como a intimidade, a vida privada, a honra, a liberdade de pensamento, do uso do corpo, tudo o que envolve a faceta interna do indivíduo, sua visão de si para si, tudo o que pode gerar sentimento de dor, de abalo psíquico na pessoa, já que são direitos que envolvem ‘o homem consigo mesmo’. (SILVESTRIN, 2003, on line)

Na visão acima, o dano moral envolve situações que abalam

psiquicamente uma pessoa, que causam dor e sofrimento. Afirma-se com isso

que, assediar moralmente alguém, provocará dores e danos, muitas vezes

indeléveis.

Como imaginar então, que essa dor indelével será aliviada com algo

menos do que a satisfação pessoal de ver seus direitos respeitados?

Qualquer cidadão normal, que levanta cedo para trabalhar, sustenta

uma família e ainda tem que encontrar tempo para o lazer, sofre quando se vê

obrigado a ingressar com uma ação judicial e esperar anos para ter sua

satisfação. Esse sofrimento é resultante não somente da morosidade da justiça,

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mas, sobretudo, pelo fato de ela permitir que aconteçam situações processuais

vexatórias a seus protegidos.

Respaldado nesses pressupostos constitucionais, as partes que

ingressarem em juízo em busca de uma solução para o seu conflito estão

relativamente protegidas contra a ocorrência de qualquer tipo de dano, sendo

assegurado a todas indenização caso sofram assédio durante o período em que

permanecerem como partes em uma ação judicial.

A proteção apenas relativa abre um leque extenso de possibilidades de

subterfúgios, onde o mais forte economicamente acaba tendo razão, ou

encontrando meios de burlar o direito da outra parte, apenas para se ver livre de

cumprir uma obrigação.

Entre os vários ramos que o assédio moral possui, um está atualmente

em evidência: o assédio processual. Não por ser algo extraordinário ou de difícil

compreensão, mas pelas próprias especificidades que possui.

A justiça pátria infelizmente ainda é pouco célere, tendo o Direito do

Trabalho a árdua missão de conseguir uma razoável rapidez quando da

apreciação de seus julgados, não permitindo que se use de artifícios protelatórios

para atrasar o andamento do feito. Não obtém, contudo, em muitos dos casos, o

seu intento, mas tem a clara intenção de tentar acelerar ao máximo a resolução

da lide.

Dessa maneira, o magistrado tem em mãos um poderoso instrumento

para combater o uso de recursos meramente protelatórios, usados para se evitar,

o quanto possível, que o reclamante obtenha o que lhe é devido por direito.

O assédio processual é um ramo específico do assédio moral,

relacionado intimamente com o processo e seu razoável andamento, por certo,

que a vontade de todos aqueles que procuram o judiciário para a resolução de

alguma controvérsia, querem ver seu direito satisfeito e caso essa satisfação não

seja alcançada, que tenha sido dado às partes todo o aparato jurídico para que

tenham suas exigências examinadas.

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Desta forma, trata-se de um meio jurídico hábil a que se garanta a

plena satisfação do direito perseguido, sem que uma parte se veja prejudicada

por outra, quando esta interpõe recursos meramente protelatórios, com o claro

intuito de atrasar a satisfação pretendida.

O assédio processual tornou-se conhecido quando a juíza Mylena

Pereira Ramos acertadamente condenou uma grande instituição bancária a pagar

indenização devido ao assédio, bem como aplicou a multa por litigância de má-fé,

fazendo clara diferenciação entre os dois institutos. Nessa ação, o reclamante era

sempre obrigado a interpor ações para requerer seus direitos, já assegurados por

uma sentença judicial deixando claro que o banco sempre descumpria a ordem

judicial.

Durante muitas décadas, o único remédio jurídico eficaz contra os

recursos protelatórios era a litigância de má-fé, prevista no art. 17, do CPC,

porém, com advento do assédio processual ficou claro que existem outros meios

eficazes de combate ao atraso processual também previsto na carta magna.

Desta feita e dentro desse contexto de busca por uma definição real do

que significa o assédio moral, onde se enquadra o assédio processual, verificou-

se o pensamento de Luiz Salvador (apud SILVESTRIN, 2003, on line):

[...] O assédio moral é caracterizado pela degradação deliberada das condições de trabalho onde prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização.

A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Assediar é submeter pois alguém, sem trégua, a pequenos ataques repetidos com insistência, cujos atos tem significado e deixam na vítima o sentimento de ter sido maltratada, desprezada, humilhada, rejeitada. É uma questão de intencionalidade. A forma de agir do perverso é desestabilizando e explorando psicologicamente a vítima. O comportamento perverso é abusivo, é uma atitude de incivilidade.

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Os efeitos do assédio tem estilo especifico que deve ser diferenciado do estresse, da pressão, dos conflitos velados e dos desentendimentos. Quando o assédio ocorre é sempre precedido da dominação psicológica do agressor e da submissão forçada da vítima. A pessoa tomada como alvo percebe a má intenção de que é objeto, ela é ferida em seu amor próprio, sente-se atingida em sua dignidade e sente a perda súbita da autoconfiança. É um traumatismo que pode gerar uma depressão por esgotamento e doenças psicossomáticas. Nossos sistemas educativos nos ensinaram a temer os conflitos e por isso a vitima pondera as humilhações. É uma relação de dominante-dominado na qual aquele que comanda o jogo procura submeter o outro até que ele perca a identidade e fica cada vez mais difícil se defender. A recusa de reconhecer as diferenças pessoais também é um meio de desestabilizar uma pessoa pois ao formatar os indivíduos é mais fácil controlá-los e impor a lógica do grupo. O indivíduo que é vítima perde a confiança e tem a sensação de não saber nada. No trabalho as pessoas são desestabilizadas colocando em evidencia seus erros, colocando objetivos impossíveis de serem realizados e tarefas absurdas ou inúteis. Não fornecer a uma pessoa conscienciosa os meio de trabalhar é uma maneira eficaz, se for feito sutilmente, de lhe passar a imagem que ela é uma nulidade e que é incompetente, abalar sem que o outro compreenda o que aconteceu. A violência começa pela negação da própria existência do outro.

Diante desse cenário, o assédio processual se apresenta como uma

forma de prejuízo para uma das partes, quando ela se vê despida de aparatos

jurídicos para combater os abusos perpetrados por aqueles que têm obrigação de

fazer um bom uso do processo e não de torná-lo um calhamaço de papel sem

sentido algum.

Nesse sentido, não há que se caracterizar o assédio processual como

uma forma de litigância de má-fé, considerando que os dois institutos são

diferentes, e sim classificá-lo, tal como se apresenta, dentro do assédio moral,

ligado intimamente ao processo, quando há um claro prejuízo ao andamento

razoável do processo, direito esse albergado pela constituição, erigido à categoria

de garantia fundamental.

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O instituto ora em exame apresenta características que o distingue dos

outros ramos do assédio moral, bem como da litigância de má-fé, mostrando que,

dentro de suas particularidades, cada um deles tem a função de não prejudicar as

partes e assegurar a solução correta e justa da lide.

Desse modo, o assédio processual apresenta-se como um meio de

impedir que se instale o caos na Justiça Brasileira, já tão mitigada pelo errôneo

uso de todos os aparatos que oferece para que se consiga a plena realização da

justiça e que se encontre a verdade real.

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CONCLUSÃO

O processo do trabalho dessa forma, utilizando-se desse instituto e o

explorando ao máximo tem condições efetivas de prestar a tutela jurisdicional à

população, evitando-se que o estado e os próprios cidadãos que o compõem não

se prejudiquem pela demora excessiva na resolução de uma lide e pelo mau uso

dos institutos postos à disposição para retardá-lo ainda mais.

É indispensável, o enfoque desse tipo de instituto sobre a seara da

dignidade humana, defendendo-se uma efetiva proteção a todos os seres

humanos. Ora, o que se pode esperar de um país onde o processo demora anos

para ser resolvido senão que ele está infringindo a dignidade humana, impedindo

que essa pessoa tenha seus direitos respeitados.

Fundamental, então, que o próprio judiciário, por meio de seus

magistrados comece esse caminho de punições aos maus litigantes para que, em

face de uma pressão, eles não se sintam à vontade para atrapalhar o processo, e

sim, por mais que percam a causa, queiram vê-la resolvida, permitindo-se que o

vencedor da lide possa, finalmente, gozar de seus direitos.

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http://debatetrabalhista.blogspot.com/2011/08/trt-3-regiao-condena-re-por-assedio.html. Fonte: Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, 29/08/2011. http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5219 Organização das Nações Unidas. Convenção Americana sobre os Direitos Humanos. Decreto n° 678, de 6 de novembro de 1992. Termo de Adesão: 25 set. 1992. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/legislacao/vol1_4.htm>. Acesso em: 14 jan. 2012. PAIM, Nilton Rangel Barreto; HILLESHEIM, Jaime. Assédio Processual no Processo do Trabalho. Revista LTr, v. 70, n. 9, p. 1112-1118, set. 2006. PAROSKI, Mário Vasni. Reflexões sobre a morosidade e o Assédio Processual na Justiça do Trabalho. Revista LTR, Rio de Janeiro, v. 72, n. 9, p. 1112-1118, set. 2006. RAMOS, Mylena Pereira Ramos. Processo nº 02784200406302004. São Paulo, 2004. Autor: Carlos de Abreu. Réu: Banco Itaú S.A. SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: Método, 2007. SILVESTRIN, Gisela Andréia. O dano moral no direito do trabalho. Monografias, Rio Grande do Sul, set/out. 2003. Disponível em: <http//Br.monografias.com/trabalhos908/odano - moral.shtml>. Acesso em: 14 nov. 2012. SOUSA FILHO, Francisco Xavier de. O assédio moral processual na Justiça por arguição de preliminares ilícitas. Jornal Pequeno, Maranhão, mar. 2007. Disponível em: <http://www.jornalpequeno.com.br/2007/3/11/pagina52232.htm>. Acesso em: 14 jan. 2012. VADE MECUM. 5 ed. Atual. e amp. São Paulo: Saraiva, 2011. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Maria Cristina Vaz dos Santos Wind e Livia Céspedes.

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ANEXOS

TRT 3ª Região condena Ré por assédio processual

Juiz identifica caso de assédio processual

O assédio processual se caracteriza em situações nas quais uma das

partes tenta prejudicar a outra, agindo de forma a dificultar o andamento normal

do processo, fazendo uso excessivo dos recursos processuais existentes ou

utilizando-se de artifícios e manobras jurídicas com o intuito de convencer o juiz a

acolher teses infundadas. Em síntese, é o exercício abusivo dos direitos de ação

e de defesa. Muitos magistrados e juristas têm considerado o instituto do assédio

processual como ramo do assédio moral. Os julgadores que atuam em Minas têm

entendido que a JT é competente para analisar essa matéria, tendo em vista que

ela possui competência para julgar ações que têm como objeto o dano moral e

considerando que o assédio processual é classificado como uma modalidade do

assédio moral.

Na 21ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, o juiz titular José Eduardo

de Resende Chaves Júnior identificou um caso de assédio processual. Ficou

comprovado que a Caixa Econômica Federal contratou a empregada de uma

empresa de conservação, a Albina Conservação e Serviços Técnicos Ltda., para

a prestação de serviços tipicamente bancários. Apesar das evidentes

irregularidades, a Caixa tentou várias formas de paralisar o processo, insistindo

na tese de que a empregada realizava atividades secundárias como

recepcionista. Portanto, de acordo com as alegações da defesa, se o juiz

acolhesse o pedido de isonomia salarial da trabalhadora com os bancários estaria

declarando o vínculo direto dela com a Caixa, sem concurso público, o que é

proibido pela Constituição. Entretanto, esses argumentos foram rejeitados de

imediato pelo juiz sentenciante, que condenou a Caixa ao pagamento de multa de

1% sobre o valor da causa, por litigância de má-fé, além de indenização à parte

contrária de 20% sobre o valor da condenação, pelo prejuízo decorrente do

retardamento injustificado do processo.

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No caso, a empresa prestadora de serviços, real empregadora da

reclamante, não compareceu à audiência na qual deveria se defender. Em

consequência, o magistrado aplicou-lhe a pena de confissão ficta, isto é, ele

considerou verdadeiros os fatos narrados pela trabalhadora, já que não havia

provas em sentido contrário. A empregada alegou que, apesar de ter sido

contratada pela empresa de conservação, prestou serviços, com exclusividade,

para a Caixa, exercendo tarefas típicas de bancário, em atividade fim da

instituição. Por essa razão, ela reivindicou a declaração de que a terceirização foi

ilícita e a isonomia de tratamento em relação aos empregados diretamente

contratados pela Caixa. Negando a acusação de terceirização ilícita, a Caixa

afirmou que a contratação referiu-se a atividade meio, pois a reclamante realizava

serviços especializados de recepcionista. Entretanto, ao examinar o contrato de

prestação de serviços, o magistrado constatou que essa contratação nem de

longe caracteriza serviço especializado. "A especialização é tanta que a CEF não

se vexou de contratar para o apoio administrativo bancário uma empresa de

conservação", enfatizou o julgador.

Os depoimentos das testemunhas demonstraram que a reclamante

fazia atendimento a clientes, cadastramento do cartão cidadão, bolsa família e

Pró-jovem, além de abertura de contas e triagem da documentação de clientes.

Na avaliação do magistrado, não têm fundamento as alegações de que essas

atividades são secundárias ou periféricas. Ao contrário, são tarefas

indispensáveis ao pleno desenvolvimento da atividade da instituição bancária,

porque, se ausentes, não haveria a concretização dos demais serviços

operacionais e, sem estes, a Caixa de modo algum atingiria suas metas. Dessa

forma, ficou claro para o juiz que a Caixa praticou dois ilícitos: a terceirização

ilegal e a tentativa de burlar a Constituição ao pretender que tarefas típicas de

bancários concursados fossem realizadas por trabalhadores terceirizados. Para

agravar a situação, como frisou o magistrado, a Caixa praticou o assédio

processual ao insistir em discussões repetitivas e infundadas mesmo sabendo

que são argumentos superados, e, ainda, ignorando a difícil situação da

trabalhadora, que ficou sem receber seus créditos trabalhistas. Conforme

acentuou o juiz, o Judiciário não pode endossar condutas dessa natureza.

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Ao finalizar a sentença, o julgador deixou registrada a sua indignação:

"A secretaria deverá oficiar ao Ministério Público Federal e do Trabalho, em face

da improbidade administrativa praticada pelos administradores da CEF, que além

de contratarem empresa de conservação, para atuar em serviços administrativos

bancários, em desavergonhada fraude, contrataram com empresa

economicamente inidônea, onerando duplamente o erário público". O TRT mineiro

confirmou a sentença que condenou as reclamadas ao pagamento dos direitos

trabalhistas da reclamante, ressaltando apenas que a responsabilidade da Caixa,

no caso, é subsidiária. Inconformada com a condenação, a CEF recorreu ao TST.

Fonte: Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, 29/08/2011

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ÍNDICE

RESUMO............................................................................................................... 5

METODOLOGIA.................................................................................................... 6

SUMÁRIO.............................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8

CAPÍTULO I

COMO IDENTIFICAR O ASSÉDIO PROCESSUAL.............................................10

CAPÍTULO II

DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO COMO GARANTIA

CONSTITUCIONAL...............................................................................................15

CAPÍTULO III

ASSÉDIO PROCESSUAL E SUA DIFERENÇA COM LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ ...............................................................................................................................20 CAPITULO IV CARACTERISTICAS E ESPÉCIES DE ASSÉDIO PROCESSUAL COMO TIPO DE ASSÉDIO MORAL...........................................................................................27

CONCLUSÃO........................................................................................................32

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................33

ANEXOS................................................................................................................35